Livro Virtual Entre na Roda

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Minha Hist贸ria de Leitura


A

presentação

Se cada um de nós se perguntar quando a leitura passou a fazer parte do seu universo como possibilidade de relação com o mundo, a resposta virá, quase sempre, envolvida em memórias de infância, nas quais os lugares, os objetos e as pessoas ganham a dimensão especial do afeto. E essa aproximação com a palavra escrita e com a ficção, seja precoce ou tardia, vem sobretudo mediada pela mão e pela voz de pessoas que invariavelmente nos marcaram. Cenas distantes fluem, filtradas pelo olhar do leitor que somos hoje. São essas cenas que os depoimentos aqui registrados nos trazem. A voz da mãe contadora misturada ao barulho da máquina de costura; o irmão mais velho que acolhe, protege e orienta; o pai, cuja leitura de jornais traz para o menino a possibilidade de imaginar e de viver sonhos; o tio-avô, com suas histórias repletas de “princesas, castelos, temporais, amores impossíveis, perdas e conquistas”; o avô e suas histórias fantásticas, anedotas, músicas, trovas e causos “do tempo em que os bichos falavam”; a avó que assustava o avô com seus contos de assombração; a professora, encantada com a profunda emoção da menina leitora; os gibis dados pelos pais ou comprados quando era possível; o livro dos sonhos encontrado por acaso numa lata de lixo... A partir de experiências diversas, os autores destes depoimentos descobriram que ler é vital e que “a vida seria sempre menos do que ela é, sem o livro”. Folheie este livro e conheça suas histórias.

Maria Alice Armelin

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umário

História de leitura de: Ana Carolina D Eca Rodrigues São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)

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Ângela Cristina Trainotti Hortolândia – Turma Biblioteca de São Paulo (SP)

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Aracidelma Aparecida Rezende Carvalho Três Corações – Turma Três Corações (MG)

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César Augusto Pimentel de Souza Francisco Morato – Turma G10 (SP)

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Claudia Maria Naves de Avelar Três Corações - Turma Três Corações (MG)

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Cléo Lima São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)

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Edneide do Nascimento Pereira São Paulo-SP – Turma Biblioteca de São Paulo (SP)

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Fabiana Maria de Paula Santa Cruz do Rio Pardo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)

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Grinauria Enedina da Silva São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)

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Izabel Diório Peres Alexandrino Reginópolis – Turma G12 (SP)

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José Cetra Filho São Paulo – Turma G-10 (SP)

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umário

Karina Adelia Franco Saliba Peruíbe – Turma Peruíbe (SP)

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Maria Aparecida Palazzolli da Silva Pirapora do Bom Jesus – Turma Pirapora do Bom Jesus (SP)

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Maria Salete Victor de Almeida Piedade – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)

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Nailda Souza Soares São Bernardo do Campo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)

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Shirley de Souza São Bernardo do Campo – Turma São Bernardo do Campo (SP)

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Silvia Angela Zanata Duarte Pongai – Turma G12 (SP)

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Vanessa Lima dos Santos São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)

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Vilma Teixeira de Carvalho São Bernardo do Campo – Turma São Bernardo do Campo (SP)

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Créditos

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Minha história de leitura

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uando era bem pequena, talvez entre uns cinco ou seis anos, lembro de diversos livros nas estantes de minha casa: meu tio assinava o Círculo do Livro e minha tia é professora, porém não liam ou contavam histórias para mim e minha irmã, mas sempre estive cercada pelas histórias. Já na escola, no ensino fundamental, por volta da 5ª ou 6ª série, lembro-me das fichas de leitura que tínhamos que preencher e assim a professora de Português levava toda a sala para a "sala de livros", pois não mantinha os critérios necessários a uma biblioteca e nem sempre estava disponível para os alunos. Éramos encaminhados aos livros para nossa idade, em sua maioria eram os da série Vaga-lume. Dos que li, adorei O mistério dos cinco estrelas, de Marcos Rey, e Tráfico de anjos de Luiz Puntel, embora fosse uma leitura obrigatória, pelo menos tínhamos a opção de escolher a história. O que marcou muito minha história de leitura foram as diversas tardes que passei depois das aulas em uma biblioteca de uma escola de idiomas que ficava bem próxima da escola em que estudava e nesta biblioteca, havia uma sala infantil, com decoração agradável, livros brinquedos e vários "Onde está Wally?". Embora minha mãe ou minha avó não tenham feito leituras de livros comigo, me contaram diversas histórias reais de vida, que acredito que tenham contribuído pelo gosto pela leitura. E a escola foi sim o cenário que favoreceu em boa parte o apego aos livros.

Ana Carolina D Eca Rodrigues – São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)

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Minha experiência como leitora

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Ângela leitora nasceu embalada pela voz suave e dedinhos ágeis da mamãe Lila nos momentos de espera pelo ônibus na rodoviária de Campinas. A prazerosa leitura vinha dos gibis Tio Patinhas e Pato Donald que engordavam a coleção, quase a não caber mais na gavetinha da máquina de costura que ficava em meu quartinho de menina. Se na banca/livraria da rodoviária minha leitura iniciava, era no meu quarto/cantinho de costura de mamãe que a leitura pela mamãe se repetia infinitas vezes até o momento em que a pequena menina “lia” fantásticas histórias, mesmo ainda sem saber ler, no auge de seus quatro/cinco aninhos... Se fechar os olhos ainda consigo ouvir alguns trechos embalados pela sinfonia daquela máquina de costura... A menina cresceu, foi pra escola e surpreendeu pela intimidade que tinha com os textos escolares e muito feliz ficava com livros-presentes que ganhava da professora de primeira série, Dona Maria Elisa. Livros estes que m a n t é m g u a r d a d o s a t é h o j e ! Quanto a minha coleção de gibis, ela começou a se dissipar quando eu, já formada professora, levava-a para meus alunos lerem em classe, em casa, na biblioteca da escola... Já ouvi dizer que “livros não se perdem, só mudam de dono”, acho que é verdade. Houve um tempo em minha vida em que os gibis foram asfixiados por outras necessárias leituras: da graduação, da pós, do trabalho etc., etc., porém, hoje, eles (os gibis) voltaram a freqüentar minha casa e já formam uma coleção bem gorducha de Mônicas e Cebolinhas. Onde? Nas gavetinhas das camas dos quartos de minhas filhinhas...

Ângela Cristina Trainotti – Hortolândia – Turma Biblioteca de São Paulo (SP)

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Memorial de uma leitora

s lembranças de minha infância são poucas, mas o que ficou foi muito bom. De família humilde, não tínhamos muitas condições materiais, mas havia muito amor e doação por parte de meus pais e meu irmão acima de mim (diferença de oito anos). Éramos quatro irmãos. Meu pai era açougueiro e minha mãe costurava dia e noite, segurando a barra. O relacionamento com meus irmãos era muito vago, pois a diferença de idade era muito grande, quase quinze anos e, quando se é pequeno, isso pesa muito, além de todos serem homens. Quem mais foi meu companheiro foi o meu irmão acima de mim, pois tinha a maior paciência comigo. Era muito inteligente e sempre me ensinava coisas novas, contava histórias e brincava comigo. Não tinha muitos brinquedos, o que tinha era um cachorrinho e uma galinha garnizé que me distraíam bastante. Era muito criativa em minhas brincadeiras. Diante disso, a ida para a escola era uma grande expectativa. Em casa, meu irmão e minha cunhada já me ensinavam as primeiras lições. Tinha facilidade para aprender, era uma menina muito esperta. Quando entrei para a pré-escola, já sabia escrever meu nome, conhecia o alfabeto, contar e realizar pequenas operações. Lembro-me até de um caderninho de capa verde com uma águia preta se destacando. Em casa meu irmão já possuía um pequeno acervo de livros que ele comprava de outras pessoas. O que mais me chamava a atenção era aquela coleção azul de capa dura: “Os Pensadores”. Mas o livro que realmente me cativava e que sempre pedia para ele ler era: Poesias Infantis, de Olavo Bilac (que tenho até hoje). Tinha uma poesia em especial que decorei rapidinho: Plutão, linda e triste. Em seguida já na escola, minha primeira cartilha foi a do Carequinha, achava linda e a gente podia colorir os personagens. Tinha o maior cuidado com ela, devia ter guardado. Logo na 1ª série, quando já estava bem desenvolvida na leitura, ganhei uma coleção de minha mãe, com seis volumes e cada volume com uns oito ou dez contos, todos ilustrados. Eram de capa dura.

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Memorial de uma leitora Continuação...

Ainda tenho quatro, os outros dois minha sobrinha os perdeu. Além de livros, eu adorava ler revistas em quadrinhos, meus personagens favoritos: Mickey, Pato Donald, Zé Carioca; com o passar do tempo: Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali etc. Quando na escola a professora passava livros para ler, eu adorava. Eram livros pequenos, que a gente comprava por catálogos, eu acho, não lembro bem, ficava em cima de minha mãe para comprar. Meu irmão mudou para o Rio de Janeiro e sempre que vinha nos visitar, trazia livros para eu ler. O Pequeno Príncipe foi o primeiro, li várias vezes. Depois veio “O Menino do dedo verde” e coleções do Eça de Queiroz, que eu perdi com uma chuva que entrou em meu quarto e molhou toda. Meu irmão era um poeta, com 23 anos escreveu um livro e com 24 anos morreu. Sua trajetória marcou muito minha adolescência, me ensinou muito sobre os cantores da época, a MPB: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Vinícius de Moraes e outros. Sempre fui amante da leitura, durante a adolescência fazia parte do Círculo do Livro. Lia Agatha Christie, Sidney Sheldon, Khalil Gibran, Hermann Hesse e outros. Assinava revistas de psicologia e lia todas Quando casei e tive filhos tinha o maior prazer em contar histórias a eles antes de deitar. Nunca me imaginei sendo professora, mas acabei abraçando essa causa e adorava contar histórias aos meus alunos. Fiquei 10 anos na direção e o lugar mais prazeroso para mim era a biblioteca. Adorava organizar, emprestar livros, “copiar modas” como diziam os professores. Estava sempre envolvida com os projetos de biblioteca na escola Atualmente estou trabalhando diretamente na biblioteca de nossa escola, que antes não existia –no final do ano de 2008 montamos uma – e está funcionando com muito dinamismo. Espero com esse projeto, Entre na Roda – Educação Infantil, aperfeiçoar a minha prática, enriquecê-la e aplicá-la com os alunos e a comunidade.

Aracidelma Aparecida Rezende Carvalho – Três Corações – Turma Três Corações (MG) 8


Memórias de leitura

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esde muito pequeno (três ou quatro anos) já recebia livros de meus pais, principalmente de minha mãe, pois, mesmo não sendo professora de formação acadêmica, tinha bons hábitos de leitura e, sobretudo, um jeito bem pedagógico de agir conosco. Eram pequenos livros, histórias em quadrinhos, gibis. E mesmo antes de estar alfabetizado, chamava as pessoas para ouvir as histórias que, pela repetição, já estavam decoradas. Pegava os livros de “ponta-cabeça”, às vezes de trás para frente, mas lia. Tinha estímulo e motivo para fazê-lo. Independentemente da leitura matinal de jornais pelo meu pai, dos livros de romance de minha mãe, também tive influências bem marcantes de outras pessoas da minha família. Por exemplo, minha tia Maria, quando nos levava para sua casa, pegava grandes livros ilustrados, e lia deliciosos Contos de Fadas realizando as paradas e entonações que toda boa tia que se preza faz, para assustar ou encantar os sobrinhos. Meu saudoso avô materno, filho de italianos, que não sabia falar sem gesticular com as mãos, morava numa chácara rodeada de criação de animais, árvores e pomares, (lugar este onde passaria minha adolescência), tinha o maravilhoso costume de me sentar na beira da cama e apresentar histórias fantásticas, anedotas de caipiras incrivelmente engraçadas, contos de assombração, músicas e trovas esquisitas, e causos “DO TEMPO EM QUE OS BICHOS FALAVAM” – afirmava ele com um risinho irônico. Eram histórias únicas. Esquecia-se de como terminar uma história anteriormente contada, mas, não havia problema algum, pois as histórias jamais começavam e terminavam da mesma maneira. Ele, com seu breve esquecimento, ampliava diariamente seu repertório, e me concedia o magnífico benefício da dúvida e a expectativa do inesperado.

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Memórias de leitura Continuação...

Na escola, nas séries iniciais, infelizmente, meu contato com leitura ficava restrito a breves palavras e frases soltas relacionadas às famílias silábicas contidas no livro didático cartilha. Com oito anos, na 2ª série (período primário), minha professora indicou a leitura do Pequeno Príncipe de Antoine Saint-Exupéry, uma literatura que a primeira vista não seria muito indicada a uma criança dessa idade. Ao ter contato com um Aviador perdido no deserto do Saara totalmente a mercê do tempo e espaço, que havia sido conduzido a deixar seus dotes artísticos quando criança, por pessoas “grandes” e com um esquisito menino vestido como príncipe que se preocupava com o significado de simples desenhos, que conseguia capturar as mais íntimas características das pessoas, e que nunca, nunca, desistia de uma pergunta, passei a conhecer naquele instante o mais incrível universo de sensações e descobertas – a leitura. Mesmo alfabetizado com seis anos de idade, considero que minha primeira experiência de leitura foi aos oito, quando me deparei com o Pequeno Príncipe. Fez sentido. Foi engraçado. Fiquei indignado. Algumas vezes me identifiquei com o Aviador egoísta, outras, com o ingênuo Príncipe, outras até, com os estranhos habitantes dos planetas visitados pelo monarca. Então, quis muito que a história não terminasse. Mas enfim terminou. Consegui entender que muitos outros príncipes e seres extraordinários poderiam ser despertados, enfurecidos, poderiam inclusive deixar de serem príncipes para serem alpinistas ou acendedores de lampiões, quem sabe até experimentadores de bolo de chocolate. Por que não? Eu é que deveria encontrá-los e descobrir seus segredos.

César Augusto Pimentel de Souza - Francisco Morato – Turma G10 (SP) 10


História de leitura

E

assim começou a minha história com a leitura. Eu, criança, 6 anos, não conhecia nem entendia bem as letras. Sabia que juntas, era possível contar histórias, mas não tinha tido ainda nas mãos nenhum livro. Ouvia então histórias de um tio avô que me levava a sua casa para contar histórias e passar horas alegres. Enquanto isso, em minha casa, a máquina de costuras de minha mãe não parava nunca. Na casa de meu tio avô, lá ficava eu, ouvindo atenta as histórias que ele me contava com todo o cuidado. Falava de princesas, de castelos, de temporais, de amores impossíveis, de perdas e conquistas que ficaram guardadas em minha memória por muito tempo. Hoje, resta uma névoa do que se passou num tempo distante e fica forte aquela vontade de encontrar em livros aquilo que me foi tão importante na infância. Resta buscar em livros novas aventuras, novas descobertas, novas histórias de princesa, castelos e amores impossíveis e voltar a viajar na imaginação. Quando iniciei minha escolarização na Escola Estadual Bueno Brandão, fui alfabetizada com o livro O Barquinho Amarelo e até hoje tenho um exemplar guardado junto a tantos livros que fazem parte de meu acervo. Divido com carinho este meu acervo com meu filho, João Victor, que diferente de mim iniciou sua vida de leitor bem mais cedo que eu. Fico feliz e acredito que toda criança deveria ter na vida alguém para lhe dar o exemplo da leitura. É maravilhoso. Boas histórias devem ser contadas. Boa leitura para todos.

Claudia Maria Naves de Avelar – Três Corações - Turma Três Corações (MG)

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História de leitura

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minha história de leitura começou com leituras de histórias em quadrinhos e gibis da Turma da Mônica. Logo depois eu passei a ler revista de esporte como a 'Placar' e realmente as primeiras leituras que me fizeram despertar para o mundo literário e aguçar o meu senso crítico foi O Capital para principiantes e Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. Após a minha entrada na Universidade passei a ler livros e artigos técnicos sobre biblioteconomia e clássicos da literatura brasileira como, por exemplo, Mémorias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis , A hora da estrela de Clarice Lispector e Vidas secas de Graciliano Ramos. Mas apesar de ter lido essas obras fundamentais para o desenvolvimento do meu hábito e gosto pela leitura, o que me chamou à atenção foi a Biografia de Ernesto "Che” Guevara, pois eu também me considero um "guerrilheiro" como ele.

Cléo Lima – São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP) 12


Diário de bordo

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eço licença a Alberto Mussa para usar uma frase sua para dar início ao meu „Diario de bordo‟. “Não sou capaz de dizer que obra ou autor inoculou em mim o vício da leitura...” (Decompondo uma biblioteca – Alberto Mussa – 03.03.2010). Infelizmente não nasci entre os livros, nem cresci com eles espalhados por toda casa. Cresci sim, com os contos falados. Não sei em que momento minha mãe começou a contá-los, mas lembro-me das noites iluminadas por um candeeiro a querosene e os cinco filhos reunidos para ouvi-la. Eram mágicos seus contos, suas histórias... Que saudade! Não sei se tudo aquilo era verdade. Mas, para ela sim, era tudo real. Sacis, lobos, rezas fortes, cumadre fulôzinha, espíritos bons e maus. No entanto não fui educada para sonhar, mas para viver cada dia. E, vivendo-os crescí. Um dia descobri que teria de ler para fazer os trabalhos de literatura da escola. Foi só aí que conhecí alguns escritores. Q u e g r a n d e d e s c o b e r t a ! Terminei a escola e não parei mais até ser guiada por Deus, por caminhos que me levaram a livros, e mais livros, e mais... Espera! Tem uma biblioteca neste caminho. Parei! Pelo menos por enquanto.

Edneide do Nascimento Pereira – São Paulo-SP – Turma Biblioteca de São Paulo (SP) 13


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Minha história de leitura

inceramente, cheguei a pensar que não teria nada a declarar sobre a minha história de leitura, mas, felizmente isso não aconteceu. Acredito que todos, ao longo de suas vidas, devem ter ao menos uma palavra a dizer sobre sua história de leitura, seja ela boa ou ruim. Ao voltar no tempo da minha infância, constatei que a leitura nunca fez parte do meu ambiente familiar. Lembro que o meu primeiro contato com os livros foi através de uma professora que os levava para a escola. Alguns deles ficaram marcados em minha memória, como O jogo do contrário, A limpeza de Tereza, entre outros. Depois dessa experiência, ainda não consegui criar gosto pela leitura e desenvolver o hábito de ler. Dificilmente eu conseguia ler um livro inteiro para fazer os resumos que os professores de português pediam. Considerava isso uma chatice e geralmente copiava trechos dos livros para fazer os resumos e não me interessava por eles. Por outro lado, quando passava perto da biblioteca ou a visitava para fazer alguma pesquisa escolar, me sentia culpada por ver tantos livros à minha disposição, saber da importância que eles tinham e mesmo assim não ser capaz de pegar ao menos um para ler. Até que um dia, aos meus dezoito anos resolvi prestar um concurso público justamente para trabalhar em uma biblioteca, mas posso garantir que não foi por amor aos livros, e sim por acaso. O tempo foi passando, hoje, depois de dez anos em contato com livros, me tornei apaixonada, não consigo mais viver sem eles e digo que fui contemplada, pois aprendi a gostar de ler e sei que posso levar outras pessoas a gostar também.

Fabiana Maria de Paula – Santa Cruz do Rio Pardo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP) 14


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Minha história de leitura

ou paulistana e minha infância foi desprovida de livros, meus pais eram analfabetos, não havia incentivo à leitura. Então, como muitos, minha leitura iniciou na escola, com as exigências da literatura clássica, porém, sempre que ganhava algum dinheiro ia correndo comprar gibi da Turma da Mônica, e depois conheci as revistas de horóscopo, pensei até em ser astróloga...o conhecimento despertava minha paixão de ler. Tive uma profª de português - Maria Helena no ginásio que sempre nos alertava sobre a importância de ler jornal, revistas etc. Retornando a leitura da escola, fiquei apaixonada pelas histórias de Iracema, O Moço Loiro, e outras mais. Infelizmente o acesso aos livros era restrito, sem condições financeiras, sem tempo para ir às bibliotecas... Até que chegou o grande dia de ingressar na faculdade, e na procura pelo curso no guia dos Estudantes - lá estava: Biblioteconomia. Fiquei emocionada em saber que existia um curso sobre o conhecimento dos livros, da informação, da biblioteca. A partir daí, a paixão da leitura tornou-se amor pelo conhecimento, pela magia das palavras. Hoje, posso afirmar que minha vida é mais bela e feliz:"A leitura encanta Faz-me sorrir Enxuga meus prantos Mostra o caminho a seguir".

Grinauria Enedina da Silva – São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP)

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Leituras e lembranças, lembranças e leituras...

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screver esse relato me fez viajar nas lembranças de infância, adolescência e juventude, quanta saudade! Lembranças essas que tiveram início com leituras de jornais, e por incrível que pareça gostava de ler as notícias policiais, mas depois ficava com medo, à noite, para dormir. Eu creio que antes de saber ler mesmo, folheava a cartilha de minha irmã, que depois se tornou a minha cartilha também, recordo ainda dos nomes das personagens (Paulinho, Marita, e um cachorrinho de nome Tupi) que por sinal foi o nome dado ao primeiro cachorrinho. Depois disso vieram muitas outras leituras. Em minha casa não tinha muito acesso a livros, mas na casa da minha avó Izabel (avó paterna, muito querida), podia viajar na imaginação, através da leitura de gibis do Walt Disney, como Tio Patinhas, Pato Donald e seus sobrinhos, Margarida, Pateta etc. (recordo que minha história em quadrinhos favorita era a do Fantasma), também lia Seleções de Reader‟s Digest, tudo isso porque meu tio Maurílio (irmão de meu pai), que era professor de Geografia, me proporcionou esse acesso e ao mesmo tempo me estimulou, sem nem mesmo saber, no mundo encantador da leitura. Desde essa época já lia com muito prazer, porém sem ter conhecimento da importância ou da influência que teria em meus estudos, em minha vida escolar, e até mesmo na minha trajetória como professora. Sou encantada pela leitura e acredito que devo passar isso para os meus alunos, todos os dias, no momento em que faço a “Hora da Leitura” em minha sala de aula.

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Leituras e lembranças, lembranças e leituras... Continuação...

Durante a adolescência e juventude, vou ser sincera, os livros que eram solicitados na escola para eu ler, como obrigação, não me estimulavam. Mas, nessa mesma época fiquei sócia do círculo do livro e então tive contato com livros que eu mesma escolhia para ler: Sidney Sheldon, Agatha Christie, Khalil Gibran etc. Depois, já no Magistério, tive contato com livros relacionados à profissão, ou melhor, passei a ler não só por prazer, mas também para pesquisar, estudar, me informar, me atualizar. Já na faculdade, lia os livros de estudo das disciplinas, mas sempre procurava me aprofundar mais nos conteúdos, foi então que na disciplina de filosofia, tive contato com o livro O mundo de Sofia, livro este que trago para indicar aos meus colegas do “Entre na roda”. Atualmente, leio muito sobre as pesquisas de Emilia Ferreiro, Délia Lerner, Telma Weisz, Katia Lomba Bräkling etc., autoras que fazem parte de nossa capacitação, para melhor desempenhar nossa profissão, tão inebriante, eloquente, quanto elucidante. Gosto tanto de ler, que um dos meus presentes favoritos, tanto para eu ganhar como para eu presentear, principalmente crianças, são livros. Creio que minha história de leitura não acaba por aqui, ao contrário, a cada dia tem um novo recomeço.

Izabel Diório Peres Alexandrino – Reginópolis – Turma G12 (Arealva - SP)

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História de leitor

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inha primeira lembrança de leitor tem a ver com jornais. Diariamente meu pai comprava o jornal “A Gazeta”. Ele lia o jornal de trás para frente e à medida que ia deixando os cadernos, eu pegava para ver, ainda sem saber ler. Eu adorava os quadrinhos do Professor Nimbus! Aos domingos era a festa. Meu pai comprava “O Estado de São Paulo” e aquele monte de cadernos espalhados pela sala era um verdadeiro mar de surpresas no qual eu mergulhava maravilhado. Tinha verdadeiro fascínio pelas páginas com propagandas de filmes e de peças de teatro e, já um pouco mais velho, as recortava para enfeitar o teatrinho virtual que eu tinha no fundo do quintal. Voltando às leituras, se bem me lembro, comecei a decifrar as primeiras letras no colo do meu pai, olhando para o jornal. Meu pai tinha uma coleção da revista Fon Fon encadernada, com folhetins do escritor francês Michel Zevaco. Eu adorava revirar aquelas folhas amareladas e admirar as gravuras das capas. Ler eu ainda não lia. Minha mãe não via com bons olhos eu manusear aqueles livros com títulos como “Os Bórgias” e “O Caso Dreyfuss”, mas como eu não sabia ler e contentava-me com as gravuras, ela permitia que eu o fizesse e ainda brincava com o meu nome (Zé) e o sobrenome do autor (Zevaco). Quanto ao objeto livro, creio que o primeiro que caiu em minhas mãos foi a cartilha, cuja primeira folha mostrava a gravura de um bicho estranho seguida do seguinte texto: “Eu vejo um tatu. Ta-tu Ta-ta.” Fui um bom aluno no primeiro ano e ganhei como prêmio “O pássaro de fogo” da Dona Iracema, saudosa primeira professora. Daí em diante eu não abandonei mais os livros e nem eles a mim. Sucederam -se Monteiros Lobatos, Júlios Vernes e tantos outros, existindo uma atração mútua, linda e inexplicável. Tudo com um gostinho de Bolero de Ravel, uma das minhas primeiras experiências musicais (trazidas também pelo meu pai em dois bolachões 78 RPM, onde o Boler o ocupava três lados).

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História de leitor Continuação...

Sempre que eu tento me lembrar das primeiras leituras, o Bolero e o meu pai surgem e permanecem. E falando em leitura, eu não posso deixar de lado outras três experiências inesquecíveis: - A primeira enciclopédia: Eu devia ter uns dez anos. Vi uma propaganda das obras completas de Shakespeare na revista “Seleções”. Preenchi um formulário pedindo mais informações e enviei pelo Correio. Dias depois um vendedor aparece na porta de casa disposto a vender as tais obras de Shakespeare. Minha mãe atendeu a porta e disse que aquilo não era obra para uma criança. Mas ele insistia e insistia. Nisso eu virei a esquina, com um litro de leite na mão e um filão de pão debaixo do braço. Minha mãe me apontou e falou para o vendedor: “Aquele é o pretenso comprador das obras de Shakespeare!”. Eles riram, mas o vendedor acabou voltando à noite para oferecer outros produtos e meu pai acabou me presenteando com o Lello Universal, respeitável enciclopédia portuguesa daquela época. - A revista “Filmelândia”: Aos dez anos eu comprava a revista que trazia o enredo dos filmes que estavam em cartaz e dramatizava esses textos, criando diálogos e rubricas. Acho que a paixão pelo teatro germinou aí. - A revista “Teatro Brasileiro”: Aqui eu tinha quase doze anos (janeiro de 1956). Descobri (não sei como) que havia uma revista que tratava de teatro e que só era vendida na livraria Marconi no centro da cidade. Meu pai ia ao centro toda segunda-feira tratar das contas do seu negócio e eu pedi para ele comprar a revista. Ela trazia reportagens e fotos de espetáculos em cartaz, assim como o texto completo de uma peça (o primeiro número que ele comprou trazia o texto de “Woyzeck” de Büchner). Como já disse, eu tinha um teatrinho virtual no fundo do quintal e na minha imaginação criava até propaganda dos espetáculos, criando também nomes de atores que compunham o elenco. É claro que “Woyzeck” foi o maior sucesso da minha Companhia de Teatro!!

José Cetra Filho – São Paulo – Turma G-10

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Como a leitura entrou na minha vida

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eu caso com a leitura começou muito cedo. Desde pequena minha mãe contava histórias da família, causos para ser mais precisa, pois eram todas engraçadas – que vinham acompanhadas de fotos ou caricaturas que ela mesma desenhava. Os melhores diziam respeito ao meu avô, que era super medroso e à minha avó. Sendo ela muito mais nova que ele, usava a esperteza para convencê-lo de certas coisas, principalmente quando era contrariada. Ela assustava meu avô com histórias de assombração. Quando faltava luz, além das histórias, ela ascendia uma vela, colocava bem posicionada embaixo do rosto, e contava histórias aos filhos e meu avô, diz minha mãe, morria de medo, implorava para ela parar! Herdando este fascínio por amedrontar com causos, minha mãe passou isso para nós. Mais tarde, achei esses causos em livros folclóricos. Além deste fato, outros dois me marcaram bastante. Um, nesta mesma época e, outro, já na adolescência. O primeiro diz respeito ainda a minha família materna, mais precisamente a uma prima. Ela é ainda hoje uma figurinha (tem 1,50m no máximo) espetacular. Lia e contava histórias do “Sítio do Pica Pau Amarelo” à noite entre outras - e durante o dia, o nosso sítio se transformava como mágica. Usávamos (eu e meus primos) roupas “velhas” que pareciam fantasias. Estas rasgavam durante o dia e à noite ela costurava para começarmos tudo novamente. As histórias noturnas tinham direito ainda à trilha musical, visto que a família é composta de músicos. Aprendi com ela também a fazer fantoches e descobri mais tarde que para ser uma boa contadora de histórias teria de lê-las e transformá-las a minha maneira. O último fato marcante, já quase na adolescência, devia ter por volta de 11 anos, foi quando a escola solicitou que lêssemos “Quando florescem os Ipês”. Eu não queria ler de forma alguma, ainda mais nas férias de julho! Minha mãe, novamente muito esperta, começou a ler o livro em voz alta para mim. Quando chegou na metade do livro, e a história ficou tão interessante... ela me perguntou: – Você quer saber o que acontece agora? É claro que eu queria! E veio a maldade (pode!)! – Então leia, porque eu já terminei! Fiquei desconcertada mas... tive que ler o livro. Desse fato em diante virei uma grande amante da leitura, sem preconceitos. Aprecio o que estiver com vontade de ler!

Karina Adelia Franco Saliba – Peruíbe – Turma Peruíbe - (SP) 20


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Minha história de leitura

resci ouvindo minha avó contar histórias, fábulas, lendas. Meu avô todos os dias recebia o jornal cedinho em casa e ficava lendo na sala de estar muito atento e virava aquelas folhas que para mim eram enormes. Na sala havia uma estante enorme que pegava toda a parede e era cheia de livros e coleções. Aprendi a ler bem cedo e não via a hora de alcançar os livros mais bonitos da estante, que ficavam na parte mais alta. Com o passar dos anos fui aprendendo e meus avós diziam que ali havia bons livros para pesquisas escolares. Lembro-me da Enciclopédia do Estudante, Barsa, Mirador Internacional, fábulas e também um livro super grande e pesado que se chamava Tudo e que fazia jus ao nome, porque qualquer pesquisa ou palavra desconhecida encontrávamos nele de forma resumida. Ah! Em um canto também havia uma vitrola , como era chamada naquela época e na parte mais baixa da estante ficavam discos com histórias infantis. Lembro também quando o meu avô comprou uma máquina de escrever “Olivetti” com letra de mão para que pudéssemos aprender a datilografar e fazer nossos trabalhos com mais capricho. Enfim, tudo que esteve ao alcance de meu avô naquela época ele nos proporcionou para que os seis netos pudessem ter acesso. Minha avó, sempre muito presente, adorava contar as fábulas e lendas. Também havia um álbum do mundo animal que lembro muito bem, pois todos nós gostávamos de ver, sempre junto deles para nos falar que animal era aquele, onde vivia etc. Esse álbum era guardado com muito cuidado, pois era completo. Com sorte, minha filha pôde conhecê-los, conviveu mais com minha avó porque meu avô partiu quando ela completou dois anos, porém ela conheceu esse álbum e gostava muito dele. Quando íamos à casa de minha avó, ela adorava ouvir fábulas e as brincadeiras cantadas. Bem, vou parando por aqui, foi muito bom poder relembrar esses momentos de minha infância, a sala de estar da casa de meus avós, onde sempre nos reuníamos para conversar, nos alimentar, enfim momentos preciosos que até hoje estão vivos em minhas lembranças.

Maria Aparecida Palazzolli da Silva – Pirapora do Bom Jesus – Turma Pirapora do Bom Jesus (SP) 21


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Minha história de leitura

ão sei dizer quando teve início minha história de leitura até porque acredito que ela esteja em construção, não tenho lembranças de meus pais lendo ou contando histórias para nós (eu e meus irmãos), embora eles sempre tenham nos alertado para a importância de ler, de estudar. Me recordo dos dois lendo o jornal do começo ao fim, lendo até a coluna dos falecidos, para ver se alguém conhecido estava lá . Durante minha vida escolar eu sempre estava na biblioteca da escola, participava de concursos de poesia e redação, mas não era uma exímia leitora, adorava ir a Biblioteca Municipal no centro da cidade fazer pesquisa. Ai, aqueles corredores repletos de livros eram maravilhosos, me deliciava em ver o acervo, ver como um assunto era abordado de diferentes maneiras, toda a semana se pudesse tinha uma pesquisa que tinha que ser feita na BP, outro lugar nem tinha o que procurava e foi assim nas inda e vindas da biblioteca escolar e da biblioteca pública que fui me interessando e, lá pela adolescência, comecei a desenvolver minha “embriã” leitora, porém uma gestação bem maior que nove meses que continua até hoje com as leituras para minha filha. Foi com ela que descobri alguns contos de fadas, O gato de botas, O soldadinho de chumbo, que não conhecia ou não me recordava. Outra coisa que me ajudou foi trabalhar em biblioteca escolar. Eu queria tirar o estigma de que a biblioteca é um lugar chato: fez bagunça na sala vai fazer pesquisa na biblioteca. Queria mesmo a biblioteca cheia, mas de prazer e não de temor, então para realizar a hora do conto precisava me preparar, afinal criança sabe quando o adulto não conhece a história: isso me estimulou a ler mais um pouco. Em 2008 assumi a Biblioteca Pública de Piedade e, conversando com usuários, vi que o meu repertório estava pequeno. Então passei a também ser usuária da biblioteca: reler livros, ler livros que antes não haviam me despertado interesse. – Como oferecer aos meus clientes um material que desconheço? – Nessas leituras de campo estou a cada dia descobrindo romances, contos, crônicas que com certeza estavam nas estantes da BP de minha adolescência.

Maria Salete Victor de Almeida - Piedade – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP) 22


Minha história de leitura

T

ive uma infância difícil, a condição financeira de meus pais era bastante difícil, família simples, mas batalhadora. Sempre me destaquei na escola, gostava de muito de ler e de escrever. Escrevia excelentes redações, fui até premiada em uma redação que na época fora encaminhada para Brasília por ter sido a melhor do concurso. Embora meus pais não tivessem dinheiro para comprar livros, eu encontrava formas de ter contato com eles emprestando-os de amigos que tinham melhores condições que eu e utilizando a biblioteca pública. Não culpo os meus pais por essa carência literária, sei que fizeram o melhor que puderam e que se orgulham da minha formação. A partir da minha adolescência ampliei o contato com os livros, o que possibilitou o conhecimento de diversos gêneros literários e hoje como educadora desenvolvo um trabalho incansável de motivação à leitura levando os meus alunos a terem contato com todos os dispositivos informacionais: livros diversos, periódicos, DVDs, CDs, pois acredito que tenho que colocá-los em contato com toda essa diversidade literária para motiválos a adentrar nesse mundo maravilhoso que é a leitura. E hoje, participando do grupo Entre na Roda, busco formas de dinamizar o meu trabalho e sou grata aos responsáveis por esse belo projeto que possibilita a todos os participantes enriquecimento profissional e

Nailda Souza Soares – São Bernardo do Campo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP) 23


Minha história de leitura

Q

uando ouço histórias de leitores que se iniciam com pais e avós lendo para seus filhos e netos, sinto uma pontinha de inveja. Vinda de família pobre com quase nenhum contato com a escrita literária, as leituras em casa eram de rótulos de produtos e vez ou outra uma revista ou uma folha de jornal. Meus pais mal sabiam escrever seus nomes, portanto minha formação leitora não aconteceu em casa. Tenho uma dívida com a escola. Isso é importante que se diga, pois essa é a realidade de muitas crianças ainda hoje, que conhecem a visão romântica de mães lendo para seus filhos apenas pela TV. Apesar de suas deficiências é na escola pública o lócus, por vezes o único, que muitas crianças conhecem histórias. Eu fui uma dessas. Meu legado leitor é totalmente advindo da escola que freqüentei, mais precisamente após o 5º ano, porque até a 4ª série do primeiro grau a maioria dos textos que li foram nas cartilhas escolares. Tenho uma dívida de gratidão principalmente com as professoras Dona Tereza e Dona Rita de Cássia, com quem conheci meus primeiros encantamentos. Primeiro perdi o fôlego com o suspense presente no livro de Agatha Christie - O caso dos dez negrinhos. Lembro-me de ficar sozinha durante a madrugada na cozinha lendo, apreensiva com pequenos barulhos, respiração ofegante, vivendo cada palavra daquele suspense, quase em transe entre um sumiço e outro dos personagens. Minha mãe acompanhava com certa curiosidade essa minha inserção no mundo da leitura, achando por vezes estranho uma garota de 11, 12 anos ficar tanto tempo “com a cara enfiada num livro”, como ela dizia. Sua curiosidade tornou-se preocupação quando ela foi acordada por um choro copioso no meio de uma fria madrugada de inverno.

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Minha história de leitura Continuação...

Quando ela chegou à cozinha encontrou-me enrolada num cobertor, chorando num sofrimento sem explicação. No colo um livro - Capitães de Areia de Jorge Amado. Minha mãe preocupada queria saber o que estava acontecendo e eu só consegui dizer: “Dora morreu!” Fui dormir soluçando. No dia seguinte minha mãe foi à escola investigar, tentar saber o que estava acontecendo. Ficou sabendo quem era Dora e saiu da escola achando que todo mundo era meio doido, porque a professora ficou encantada ao saber que eu havia me emocionado tanto. Isto me causou certo embaraço, pois a professora achou o meu descompasso um encanto, mas eu era uma adolescente e comentar isso numa sala cheia de alunos da mesma idade é o maior mico. Mas o preço valia a pena. Durante toda a minha vida profissional, como professora e hoje coordenadora, li e leio para meus alunos porque sei que para muitos deles pode ser que eu seja sua única referencia de leitura. Na minha vida pessoal leio para meus filhos desde seus primeiros dias de nascidos, porque meus pais não liam para mim porque não podiam, mas eu posso e devo, mas é um grande prazer fazer isso para eles, Arthur e Sofia poderão dizer que seu modelo leitor começou em casa. Porém acredito que minha obrigação é ainda maior, por isso leio em qualquer reunião de família para sobrinhos e quem mais quiser ouvir, aliás, um número cada vez maior e variado de pessoas. Fico propositalmente aguardando, observando a movimentação das crianças e sinto-me ligeiramente lisonjeada quando um deles toma coragem, aparece do meu lado com olhos brilhantes e faz a pergunta que não tarda aparecer em todo acontecimento: “Tia, você pode contar uma história pra gente hoje?” Em família sou a Tia que lê histórias, na escola sou aquela que adora ler histórias para os alunos e para os pais, na minha comunidade sou a maluca que gosta de ler para as crianças e certamente serei a Vovó que Lê e conta histórias para quem quiser ouvir. E quando dessa terra partir que meu epitáfio seja: Aqui jaz alguém que dividiu seu maior tesouro como todos que conheceu: Lia para eles.

Shirley de Souza – São Bernardo do Campo – Turma São Bernardo do Campo (SP) 25


E

Minha história de leitura

m casa quando pequena Leitura e diálogo nenhum, Mas ouvia muitos causos Contados por um vizinho. Toda noite era um. Meu primeiro contato com livros Foi na escola: "Cartilha". Professor muito severo! Autoestima e estímulo zero. Muito tímida e insegura Na diretoria, exame de leitura. Não soube ler a lição de "casa", Castigo! Experiência marcante, Para mim decepcionante! Gostava muito quando ia passar Finais de semana e férias Na casa de meus tios no sítio. Lá as noites eram preciosas, Pois ficávamos sentados ao luar Ouvindo a Hora do Brasil E causos contados pelo meu tio. Na adolescência com Sabrina Chorei, sonhei, viajei... Livros de amigas emprestados Sonhos realizados de menina. Mais tarde: livros comprados, Sociedade com minhas irmãs E por isso foram agora doados Comigo não ficou nenhum Só lembranças de cada um. Hoje, ler!!! Ler para estudar, Ler para informar, Ler para aprender, Sem tempo de ler por prazer.

Silvia Angela Zanata Duarte – Pongai – Turma G12 (Arealva-SP) 26


Experiência de leitura

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eu início ao mundo da leitura foi um tanto tardio. Na minha infância não tive contato com os livros. Meus pais, naquela época muito pobres, não tinham condições de comprar livros e a biblioteca que havia na minha cidade era longe e havia a necessidade de gastar dinheiro com o transporte. Meu pai nessa época já trabalhava em uma biblioteca, mas era uma biblioteca universitária e especializada, não havia livros infantis. Na escola, no ensino básico, não me recordo de ter tido grande contato com a leitura. As professoras não tinham o hábito de ler para os seus alunos. Somente no ensino fundamental, por volta da 6ª ou 7ª série que eu passei a ler na escola. E também passei a ter livros em casa. Acredito que foi a partir deste período que eu me encantei com este mundo tão fantástico, maravilhoso em que cada um pode deixar sua imaginação fluir, em que cada um pode sonhar o seu sonho e ter a visão que quiser sobre determinado assunto, além de descobrir novos mundos e novas possibilidades. Não tive uma pessoa específica ou um fato específico que tenha me instigado a ler, só sei que desde que comecei nunca mais parei... Sempre que possível estou com um livro em mãos. A leitura pra mim tem que ser algo prazeroso, por isso não me importo se o livro é um clássico ou um best seller...tem que me encantar. Hoje, sabendo da importância que a leitura tem, tento de todas as formas incentivar aqueles que estão a minha volta para que possam construir carinho e amor pela leitura...

Vanessa Lima dos Santos – São Paulo – Turma Museu da Língua Portuguesa (SP) 27


Minha história de leitura

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inha historia de leitura começou quando eu tinha entre 10 e 12anos de idade, pois eu não tinha TV em casa e às vezes assistia na casa da minha tia, só que infelizmente ela desligava a TV para que eu fosse pra casa, pois não queria criança sujando lá. Mas meu maior desejo naquele momento era assistir a O sítio do picapau amarelo que estava passando na TV, então me sentia triste pelo fato de não conseguir assistir. Foi então que em um lixo de um bazar perto da minha casa, lá estava um livro em mau estado mas o livro mais maravilhoso que já li, lá estava o livro As caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato. Esse livro me fez acreditar que tudo é possível, que um sonho pode se tornar realidade... Sou muito feliz por Deus ter me dado a oportunidade de ler este livro, hoje não consigo mais parar de ler.

Vilma Teixeira de Carvalho - São Bernardo do Campo – Turma São Bernardo do Campo (SP) 28


C

réditos

Fundação Volkswagen Via Anchieta, km 23,5 CPI 1394 Bairro Demarchi09823-901 São Bernardo do Campo / SP http://www.vw.com.br/fundacaovw

Coordenadora Técnica Maria Amabile Mansutti Gerente de Projetos Locais Claudia Petri

Presidente do Conselho de Curadores Líder do Projeto Entre na Roda Josef-Fidelis SennDiretor Maria Alice Armelin Superintendente Eduardo de A. Barros Diretora de Administração e Relações Institucionais Conceição Mirandola CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária R. Minas Gerais, 228 Higienópolis São Paulo SP http://www.cenpec.org.br Presidente do Conselho de Administração Maria Alice Setubal Superintendente Maria do Carmo Brant de Carvalho

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Formadoras do Projeto América Marinho Cecília Felix Godoy Imaculada Pereira Maria Alice Cerdeira Maria Cristina Pires Maria Helena Pelizon Gestora do Site e da Comunidade Virtual Território Escola Fernanda da Silva Ribeiro Concepção e produção Fernanda da Silva Ribeiro Thiago Cantarim Projeto Gráfico Thiago Cantarim Revisão América Marinho


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