Saúde
Por Thaís Barcellos Fotos Divulgação
Cuidado com a
farmacinha doméstica EXISTEM REMÉDIOS LIBERADOS PARA COMPRA E USO SEM RECEITA MÉDICA, MAS ABUSAR DESSAS SUBSTÂNCIAS OU USAR OUTRAS PROIBIDAS SEM PRESCRIÇÃO PODE AFETAR A SAÚDE E LEVAR À MORTE
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or de cabeça, cólica e febre são alguns dos sintomas com os quais estamos acostumados, e sempre temos na bolsa ou em casa remédios para resolver esses problemas. Mas, a automedicação, embora muitas vezes seja a forma mais simples de alívio e solução imediata, pode trazer sérios problemas à saúde. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade do estado de Goiás, em 12 capitais, mostra que 32% dos brasileiros se automedicam. No ranking das capitais em que a pratica é de maior incidência está Salvador, onde 96,2% dos habitantes usam remédios por conta própria. Já Belo Horizonte é a cidade em que o hábito de ingestão é menos frequente, com 35% da população admitindo usar medicamentos sem prescrição médica. De acordo com o cirurgião bariátrico Marcelo Zollinger, entre os principais motivos para o uso indiscriminado de medicamentos está a comodidade e rapidez em obtê-los e a dificuldade do acesso aos consultórios médicos. “Toda medicação deve vir precedida de uma avaliação médica, com orientação de dose e duração do tratamento. A automedicação é prática extremamente perigosa e , por desconhecimento da composição química e dos efeitos colaterais – que podem advir do uso da medicação –, os prejuízos para a saúde serão os mais diversos e numa escala muito danosa”, adverte. Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) alertam que a intoxicação por medicamentos ocupa o primeiro lugar entre as causas de intoxicação registradas em todo o país, à frente dos produtos de limpeza, dos agrotóxicos e dos alimentos estragados. “A diferença entre remédio e veneno está na dose de prescrição”. A frase, dita pelo médico e físico Paracelso, no século XVI, prova que a ingestão de medicamentos em excesso pode colocar a saúde se-
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Alguns colírios antibióticos, se usados por tempo prolongado, reduzem a resistência imunológica e aumentam à predisposição de úlceras e outras infecções na córnea
riamente em risco. Segundo a farmacêutica Sara Moura Rodrigues, a prática pode tornar as bactérias mais resistentes, ocasionando a multiplicação das concentrações das doses de medicamentos, além de efeitos colaterais graves, reações alérgicas e dependência. Pode também mascarar sintomas graves de alguma doença ou até agravar o quadro clínico do paciente. Outra preocupação em relação ao uso do remédio refere-se à combinação inadequada, em que o uso de um medicamento pode anular ou potencializar o efeito do outro. Antes de ingerir um medicamento, deve-se prestar bastante atenção, pois, o uso de remédios que só conseguem ser vendidos com retenção de receituário e que necessitam de acompanhamento médico,
como psicotrópicos, entorpecentes, ansiolíticos, anfetaminas ou narcóticos podem causar danos irreversíveis a saúde e até levar à morte. “Alguns colírios antibióticos, se usados por tempo prolongado, reduzem a resistência imunológica e aumentam à predisposição de úlceras e outras infecções na córnea, já que o uso indiscriminado de colírios anti-inflamatórios pode causar catarata e glaucoma!”, exemplifica a farmacêutica. Muitos brasileiros possuem a sua “farmacinha” em casa para sanar qualquer dor ou inflamação, mas muito cuidado, pois o uso irracional de antibióticos causa resistência de certas bactérias e micro-organismos. “Estes se multiplicam na presença das concentrações mais altas do que as doses
terapêuticas dadas ao indivíduo. Isso significa que em vez de erradicar completamente uma infecção, os medicamentos só eliminarão organismos sensíveis, deixando que os resistentes se reproduzam, disseminando seus genes”, alerta Sara. Já o uso indiscriminado dos anti-inflamatórios pode provocar úlceras no estômago e sangramento, inflamação renal, insuficiência renal aguda ou crônica, dores de cabeça, confusão mental, alucinações, depressão, tremores, risco de desenvolvimento de meningite medicamentosa, vertigem, zumbidos e, até mesmo, distúrbios visuais. Os anti-inflamatórios podem, ainda, inibir a produção seletiva ou até causar falência da medula óssea, provocando uma anemia, leucopenia ou plaquetopenia.
Medicamentos isentos de prescrição
Em 2003, a Anvisa publicou o regulamento dos Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP), que estabelece quais são esses medicamentos, através da lista de Grupos e Indicações Terapêuticas Especificadas (GITE). Se um medicamento apresenta indicações que se enquadram dentro do GITE, ele será considerado um MIP. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os medicamentos isentos de prescrição são aqueles liberados pelas autoridades sanitárias para tratar sintomas menores, como acidez estomacal e azia, febre, prisão de ventre, assaduras, hemorroidas, dores na garganta e congestão nasal, desde que seja orientada a dose correta pelo farmacêutico. Eles estão disponíveis para compra sem prescrição ou receita médica devido à sua segurança e eficácia, quando utilizados conforme as orientações disponíveis nas bulas e rotulagens. l
Confira a lista de medicamentos aprovados pela OMS: 3 Antiacneicos tópicos e adstringentes para tratamento de acne e espinhas; 3 Antiácidos, antieméticos, eupépticos e enzimas, para acidez estomacal, azia, desconforto estomacal, epigastralgia, má digestão e esofagite; 3 Antibacterianos tópicos para tratamento de infecções bacterianas da pele; 3 Antidiarreicos, para diarreia e disenteria; 3 Antiespasmódicos, para cólica renal, intestinal, menstrual e dismenorreia; 3 Anti-histamínicos, para alergias, coceiras, coriza, rinite alérgica, urticária, picada de inseto, conjuntivite alérgica, dermatite e prurido ocular alérgico; 3 Antisseborréicos, que servem para o tratamento e combate da caspa e seborreia;
3 Antissépticos para aftas, dor de garganta, profilaxia das cáries; assaduras; 3 Cremes vaginais; 3 Suplemento vitamínico para idosos e recém-nascidos; 3 Anti-inflamatórios para lombalgia, mialgia, torcicolo, dor articular e muscular, artralgia e inflamação da garganta; 3 Anti-helmínticos; 3 Analgésicos, antitérmicos e antipiréticos; 3 Cicatrizantes para ferimentos e fissuras na pele; 3 Descongestionantes nasais; 3 Relaxantes musculares; 3 Estimulante do apetite, astenia.
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