Desconectar é preciso

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Comportamento

Desconectar

é preciso

Uso excessivo de tecnologia e passar horas conectado às redes sociais adoecem o corpo e a mente; além de atrapalhar as relações interpessoais

Texto Thaís Barcellos

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O mundo está cada vez mais conectado à redes sociais como Facebook, Twitter e WhatsApp. A rotina gira em torno dessas ferramentas de interação e a ânsia pela comunicação deixa as pessoas cada vez mais dependentes, afetando a saúde do corpo e da mente, que ficam prejudicados pelo uso excessivo de celulares e computadores. Há casos de gente que interrompe o próprio sono para responder mensagens e visualizar e-mails durante a madrugada. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope)/YouPix, 92% dos jovens brasileiros que acessam a internet usam as redes sociais. O estudo também

concluiu que no Brasil, levando em conta todas as faixas etárias, 76% das pessoas utilizam alguma rede social. Ainda segundo os dados levantados pelo Ibope/YouPix, o Brasil é o segundo país que mais possui usuários no Facebook. Ao todo, 57,2 milhões de brasileiros também acessam regularmente a Internet. Deste total, 38% se conectam diariamente. A tecnologia veio para facilitar e dar acesso a informações de forma mais completa e não é necessário que se elimine do cotidiano o uso de aparelhos e ferramentas de interação, mas que o usuário saiba reduzir a frequência das conexões e, quando preciso, que dê uma pausa.


A psicóloga Emili Barberino explica que essa consciência em maneirar o tempo de navegação deve partir da própria pessoa. “Sabemos o quanto essas ferramentas são úteis e colaboram positivamente para muitas demandas. Mas indico que as pessoas busquem reservar um tempo para o convívio familiar e também momentos de atividades ao ar livre, com prática de esportes, passeios, caminhadas etc., primando pela saúde física e mental”, defende. Emili Barberino pontua também que existe uma pressão social para que todos estejam sempre conectados e não percam nenhuma nova informação. “É importante primeiro a conscientização sobre os problemas de saúde que ser ‘escravo’ do celular, do computador, das redes sociais e de outras ferramentas tecnológicas podem desencadear. A dificuldade é quando se gasta uma quantidade exagerada de energia para atender a todas as demandas que a tecnologia da informação nos impõe”, acrescenta. Nos dias atuais, quem está offline chega a ser discriminado por não se atualizar das novidades da rede. Mas segundo Emili, o mais importante é saber os pontos positivos e negativos que esse excesso de interação virtual está trazendo para a vida das pessoas.

Dependência de tecnologia Acordar de madrugada para responder mensagens, se sentir mal quando acaba a bateria do celular ou quase enlouquecer quando entra no avião e é preciso desligar os aparelhos eletrônicos são alguns dos sintomas apresentados por pessoas que se tornaram dependentes da internet e da tecnologia. Muitas não percebem e acham que estar conectado 24 horas por dia é uma necessidade vital. “A dependência em si é o maior problema, ocasionando diversos fatores negativos para a saúde das pessoas. Quando ultrapassamos o dito normal, acentuadamente, as alterações mentais tornam-se visíveis. Qualquer tipo de dependência poderá ocasionar prejuízos no ser humano, como retraimento social, dificuldade para expressar seus sentimentos, sensibilidade afetiva muito aumentada e incapacidade de lidar com perdas e frustrações”, enumera Emili Barberino.

O portal dependenciadeinternet.com foi criado em 2006 por um grupo de psicólogos e psiquiatras com o objetivo de tratar e mostrar para as pessoas os malefícios causados pela dependência tecnológica. Muitos acham que dependente e viciado é só aquele que não consegue parar de jogar pela internet, por exemplo, mas existem vários outros tipos de dependência relacionadas a internet, como a compulsão por checar e-mails, o vício em chats (salas de bate-papo) e o desejo incontrolável de acessar sites com conteúdos específicos (eróticos, de relacionamento, bolsa da valores, busca de informações etc.) No portal consta uma lista de oito critérios nos quais a própria pessoa pode se basear e fazer o teste para ver se possui dependência ou não. Caso a pessoa selecione cinco critérios, conclui-se que se trata de uma dependência e é recomendado que ela busque ajuda terapêutica.

Os oito critérios são: >> Preocupação excessiva com a Internet; >> Necessidade de aumentar o tempo conectado (on-line) para ter a mesma satisfação; >> Fazer esforços repetidos para diminuir o tempo de uso da Internet; >> Apresentar irritabilidade e/ou depressão; >> Quando o uso da Internet é restringido, apresenta labilidade emocional (Internet como forma de regulação emocional); >> Permanecer mais conectado (on-line) do que o programado; >> Ter o trabalho e as relações familiares e sociais em risco pelo uso excessivo da internet; >> Mentir aos outros a respeito da quantidade de horas conectadas.


Comportamento Detox digital Assim como o organismo precisa de uma limpeza para eliminar as impurezas, a mente também necessita de uma dieta, restringindo o uso da tecnologia e o tempo de conexão. A reeducação digital nada mais é do que voltar a usar a tecnologia de forma saudável. Como na alimentação, os primeiros dias são sofridos, mas logo a pessoa se acostuma, garantem os especialistas no chamado detox digital. Desconectar não significa abandonar e banir a internet e a tecnologia da vida. Mas viajar, ir à praia, fazer programas com os amigos (sem o uso do celular) são algumas opções simples que ajudam não só a mente a descansar de tanta exposição tecnológica, mas também deixam a saúde do corpo muito melhor. No Brasil, existem algumas iniciativas para ajudar as pessoas que desejam passar um período longe das redes sociais a fazerem uma desintoxicação. O Spa Botanique, de São Paulo, oferece três meses de descanso em uma

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propriedade luxuosa, em Campos do Jordão, com preços um pouco superiores a um tablet ou celular ultramodernos. No local, os hóspedes que optam pelo pacote do detox são convidados a deixar seus aparelhos eletrônicos na recepção e só retiram celulares, notebook e tablets no check-out. Fora do Brasil, hotéis e campings de países como Estados Unidos, Irlanda e Ilhas Cayman já contam com diárias de desintoxicação digital. Em Pittsburgh na Pensilvânia, o Renaissance é um hotel que também na hora do check-in o ‘hóspede detox’ deixa todos os eletrônicos na recepção, incluindo carregadores. Nos quartos não há internet, TV e nem relógio. Já o telefone só faz chamadas para a recepção. Fora esses tratamentos de choque, em todo o mundo estão se tornando comuns os centros holísticos que oferecem atividades como ioga, meditação e massagens relaxantes com a intenção de desviar o foco dos interessados da compulsão por checar o WhatsApp a cada segundo.


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