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1, $ R s
Novo Hamburgo. Agosto, 2014.
N hnews oia
O Jornal do Residente Multiprofissional em Saúde Mental Coletiva em Novo Hamburgo
Desafios da Rede e o olhar da Residência
Fatos estranhos rondam CASE e Canudos vive Tensão!!
Por dentro do CAPS
“Ela chega ao serviço todas as manhãs de segunda-feira. Senta no sofá. Levanta. Vai ao banheiro. Fuma o seu cigarro no pátio. Vai ao banheiro novamente. Senta de cócoras no pátio perto das árvores. Vai ao banheiro novamente. Não pára”.
“Angústias do fazer/ vivenciar a residência” reflexões sobre uma identidade profissional flutuante.
Segundo Caderno
Curta inclusão e diversidade A cultura sem fronteiras
“Num pedaço de papel com canetas coloridas as histórias ganham vida!”
Festejos julinos aquecem os campos de residência
Carta para o leitor
Mariana Statzner
Desafios do trabalho em rede Uma questão que sempre me angustiou foi a dos encaminhamentos. Aliás, o que fazer com os casos de baixa complexidade. E a partir daí, nascem novos questionamentos: o que fazer com aqueles não candidatos ao Caps? O que fazer com aqueles com alta mas que necessitam de um olhar? No percurso da residência conheci um dispositivo interessante e de muita potencialidade: a reunião de rede. Essas reuniões são organizadas por territórios e contam com diversos setores: saúde, educação, assistência social, cultura, etc. Nesse espaço além de conhecermos as experiências de outros serviços, também nos deparamos com situações semelhantes e com o atendimento de um mesmo usuário em vários lugares. Desse primeiro contato nos lançamos a novas parcerias e formamos micro-redes, pensando como podemos articular nossas ações, repensando sempre o plano terapêutico construído. A partir das parcerias já estabelecidas, do conhecimento de algumas redes e de seus movimentos, me vejo atualmente, em meus cenários de prática- Caps infantil e Oficina de Geração de Renda- trabalhando com a ideia do encaminhamento implicado, onde há toda uma mudança de paradigmas e de atitude. Se até então, nos deparamos com a lógica do encaminhamento "via papel", agora vamos ao serviço, apresentamos o caso, a história de vida do usuário e de sua família, pensamos na questão logística, a fim de garantir a ida ao novo espaço e mantemos um canal aberto de possíveis encontros.
Editorial Mariana Statzner - R2 Andressa Duarte - R1 Caroline Bevilaqua - R2 Conrado Bueno - R1 Caruso Lucca - R2 Dinaê Martins - R1 Franciela Batistella - R1 Thaís Leite - R1
Colunistas
Andressa Duarte
O bicho carpinteiro "Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente num sonho que ele me falou..." (Gita- Raul Seixas) Ela chega ao serviço todas as manhãs de segunda-feira. Senta no sofá. Levanta. Vai ao banheiro. Fuma o seu cigarro no pátio. Vai ao banheiro novamente. Senta de cócoras no pátio perto das árvores. Vai ao banheiro novamente. Não pára. Um belo dia estamos no CAPS conversando com os usuários e ela senta ao nosso lado. Uma brecha para conversar. Para começarmos a conversar. Lembro-me que em reunião de equipe o seu perambular pelo CAPS e o não “parar quieta” eram sempre falados, que ela ia ao banheiro mexer no nariz pois em seu histórico havia o uso de cocaína. O dia que ela sentou ao nosso lado e falou um pouco sobre a sua vida, entendi o porquê do ir para lá e para cá e não parar nunca no mesmo lugar. J. nos contou que quando era mais jovem casou-se e foi morar em Florianópolis com o marido. Se separaram em um certo momento e ela como não conhecia ninguém e sua mãe não queria mais saber dela, tomou como rumo em sua vida ir para os postos de gasolina e andar com os caminhoneiros. Nessas andanças, ela contou que sempre estava para lá e para cá. Acreditamos que talvez ela se prostituísse e que foi por isso que surgiu o uso da cocaína. Ou seja, esse estar para lá e para cá no CAPS tem um motivo, uma história de vida por trás. Esse perambular, caminhar, afeta os usuários que estão na ambiência. Eles não conseguem conversar com J. Já a apelidaram de bicho carpinteiro. Talvez a equipe e os usuários não saibam dessa parte (pequena parte) de sua história de vida. Tampouco dos seus desejos. J. foi capturada em Florianópolis e trazida para acompanhamento em Novo Hamburgo. J. mora no abrigo da cidade e realiza tratamento no CAPS Centro NH. Anteriormente já realizou acompanhamento no CAPS ad, mas a rede decidiu encaminhá-la ao CAPS Centro NH. Quando a convidamos para sair do CAPS, ir até o Centro de Cultura ou à praça da cidade, J. não quer. Até que um belo dia, ela aceitou ir junto ao CAPS ad conversar sobre o Conselho Municipal de Saúde, a mobilização, o protagonismo e os direitos dos usuários! Esse ir junto provocou nos outros usuários o cuidado. Eles queriam cuidar dela. Para que ela não fugisse, para que ficasse perto de nós. Quando penso o trabalhar com a saúde mental, sinto um pouco desse perambular, de não parar quieto, de ir para lá e para cá. Encontrar novas, diversas formas de cuidado que são construídas junto com os usuários, possibilitar com que os caminhos sejam percorridos juntos e estimular o protagonismo dos sujeitos. É perambular, se encontrar, se afetar, ir para lá e para cá.
Conrado Bueno Amar, brincar, alegrar, divertir, mas o sofrer? O sofrimento como pertencente aos saberes do(da) residente multiprofissional em saúde. A residência multiprofissional em Saúde é uma chance para que o profissional e pessoa que convive no dia-a-dia dos serviços tenha a oportunidade de continuar seu processo de construção de saberes para que se otimize os processos de intervenção juntamente a sistemática dos serviço e principalmente para com os usuários nos espaços aonde se expõem saúde. Através de uma carga-horária prática demarcadamente maior que a carga-horária teórica, os programas de residência multiprofissional da saúde objetivam implicita e explicitamente os saberes da prática como momentos importantes para que o(a) residente faça sua construção como profissional da área da saúde, refletindo assim, na sua pessoa, na sua existência. No entanto, na angústia de fazer/vivenciar as melhores ações possíveis, na construção/reconstrução/descontrução de sua identidade profissional e em processos que modificam o seu ser durante o cotidiano, o(a) residente cria e produz processos intensos de crises e sofrimentos, que em alguns momentos, não gerencia e sustenta conscientemente esses, acabando à buscar dispositivos de escape/fuga/reflexão, como por exemplo psicoterapia, biotecnologias, práticas corporais, substâncias, entre outros, para que se clareie e amenize sua vida. Anteriormente à entrada no Programa de Residência do Educasaúde, cada um de nós passou por um curso de graduação, sendo critério de fator primordial possuir e passar por um processo de formação em alguma área para que adentrassemos nesse programa através de um processo seletivo. A graduação, fortemente demarcado como saberes ligados a teoria, envolvendo os saberes currículares, disciplinares e que fogem, em alguns momentos, da realidade para qual a universidade tem como porque e surge para tentar transformá-la, se mostra desconexo e com um jogo de interesses que não possuem um alinhamento para algo/ alguém que necessite dos processos de intervenção, sendo a universidade como uma utopia de teorias do mundo da lua. Durante o processo, a crise de uma identidade profissional em relação ao seu curso de formação acaba se esfarelando numa ressignificação e caracterização/descaracterização de um diferente profissional, o profissional da área da saúde. Ele(ela) milita, trabalha, estuda campos na qual a saúde mental coletiva se ensaboa para diversas áreas. Podemos comparar o residente como um alquimista. O(a) alquimista é um ofício que envolve diversos conhecimentos, como os da química, antropologia, astrologia, metalurgia, magia, filosofia, matemática, misticismo e religião. O(a) residente é um alquimista dos tempos atuais, ele(ela) constrói/ absorve conhecimentos das artes, educação física, terapia ocupacional, psicologia, enfermagem, serviço social, saúde mental, saúde coletiva, entre outros. A nossa formação de origem, desalinhada astralmente e curricularmente para o cotidiano, se desestabiliza ainda mais durante a residência multiprofissional na saúde. Cabe questionar-se também quais os saberes que a residência proporciona para os estudantes e/ou trabalhadores que atuam nos campos durante o processo. Na maioria das vezes falta técnica e metodologias que não se sustenta para determinado serviço, usuários e entre outros atores. Acabamos nos levando pelo acaso, construindo nossas experiências em relação as nossas percepções e sensações em torno das nossas ações.
NoiaH Social
Caroline Bevilaqua Aconteceu em Novo Hamburgo: Festa Julina A Escola Municipal de Educação Infantil Paulo Sérgio Gusmão recebe crianças de 0 a 3 anos e integra o bairro Jardim Mauá no município. Neste espaço são desenvolvidas algumas ações da Residência Multiprofissional em Saúde Mental Coletiva, do Núcleo de Educação, Avaliação e Produção Pedagógica em Saúde, da UFRGS, vinculadas às atividades do setor de Educação Inclusiva e Diversidade, da Secretaria de Educação de Novo Hamburgo. As ações abrangem o acompanhamento de uma turma com crianças de 3 anos de idade, e buscam refletir a respeito da temática da educação inclusiva e diversidade em interlocução com a saúde mental coletiva nas escolas e na cidade. No mês de julho, a EMEI foi cenário de um evento que movimentou a escola, reunindo professores, alunos, funcionários e residentes em Saúde Mental Coletiva. A festa Julina na escola celebrou o dia de São João no ritmo de músicas, brincadeiras e comidas típicas. As crianças divertiram-se nas pescarias, tiro ao alvo, rodas e danças. A escola encheu-se de saúde ao propor um espaço aconchegante e interativo, proporcionando trocas afetivas entre as criançaos alunos de todas as turmas. Alguns cliques foram registrados abaixo: Festa Julina trouxe modelos edgy Momento para a foto
E para um tchauzinho Drinks fizeram a cabeça da gurizada.
Segundo Caderno
Franciela Batistella
TECENDO OS TECIDOS DE MUITAS E DIVERSAS CORES DESSA HISTÓRIA Num pedaço de papel Com canetas coloridas As histórias ganham vida!
Certa feita Eduardo Galeano nos agracia com sua brilhante síntese da escola do mundo ao avesso e descreve: “O mundo ao avesso nos ensina a padecer a realidade ao invés de transformá-la, a esquecer o passado ao invés de escutá-lo e a aceitar o futuro ao invés de imaginá-lo: assim pratica o crime, assim o recomenda. Em sua escola, escola do crime, são obrigatórias as aulas de impotência, amnésia e resignação. Mas está visto que não há desgraça sem graça, nem cara que não tenha sua coroa, nem desalento que não busque seu alento. Nem tampouco há escola que não encontre sua contra-escola.” Na tentativa de buscar a graça e o alento, das desgraças e desalentos do vivido é que venho descobrindo um pouco mais dessa contra escola que escuta o passado, imagina o futuro e transforma a realidade. Para contar essas descobertas compartilho aqui um pouquinho dos momentos vivenciados no espaço da ambiência do CAPS centro de Novo Hamburgo. Tudo inicia quando um usuário em ‘crise’ começa a ficar muito agitado no espaço da ambiência e eu e Andressa vamos conversar com ele. Pego um papel e as canetinhas coloridas, pergunto o que ele sente, e escrevo nesse papel, peço pra ele que cores ele quer usar para cada sentimento e ele escolhe. Nesse caso os sentimentos eram a síntese de uma história que muito pouco ele queria contar para nós, mas que traduzia o que ele estava sentindo naquele momento. Depois disso conseguimos compreender a causa da agitação psicomotora e desenvolver juntos formas de cuidado que respeitasse o contexto vivido por ele. Depois dessa experiência foram surgindo outras e mais outras histórias, que foram sendo tecidas com papel e canetas coloridas. Nessas histórias os personagens e os cenários são reais, concretos, se fazem e se constroem na trama da vida onde cada um é protagonista de sua história que se trança com outras e compõem a grande ciranda da vida. É na singularidade dessas histórias que estou aprendendo a encontrar a pluralidade que as enlaçam, é nessa singularidade que acontece o encontro com o mundo onde essas histórias são vividas, um mundo ao avesso. E é esse mundo que tenho incansavelmente me questionado como parte inseparável da trama dessas histórias que pulsam para o movimento de um outro mundo possível. Inspirações: Histórias de vida dessa gente bonita do CAPS De pernas pro ar a escola do mundo ao avesso – Eduardo Galeano Redescobrir – Gonzaguinha interpretada por Elis Regina
Thaís Leite
No sábado do dia 12 de Julho o setor de educação inclusiva da Secretaria Municipal de Educação participou do Escola Integrada no Bairro na Escola Municipal de Ensino Fundamental Eugênio Nelson Ritzel no bairro Kephas, zona norte de Novo Hamburgo, onde os vídeos produzidos na segunda edição da Mostra Experimental de Curta-metragens foram exibidos. A comunidade escolar pôde se rever nos vídeos e relembrar o processo de criação. Foram expostos os troféus Ubunto que simbolizaram a premiação das mostras anteriores. Além disso, uma exposição da diversidade etnico-racial com o tema Cultura Indígena convidou crianças e adultos a vivenciarem um pouco esta cultura que também constitui a nossa identidade brasileira. Desenhos feitos pelas crianças com tinta de urucum
Na mostra da Cultura Indígena apresentamos colares de sementes produzidos por índios caingangues e guaranis, zarabatana, bichos esculpidos em madeira e músicas dos índios Guarani Mbya, com suas respectivas traduções. As crianças puderam fazer pinturas usando a tintas produzidas a partir de sementes de urucum. Também tivemos um momento de contação de histórias com a lenda Mundo Novo - o paraíso terrestre, do autor Walde-Mar Andrade e Silva, sentados em círculo como os índios faziam. A mostra da diversidade deve acompanhar o Curta Inclusão e diversidade Andarilho em outros eventos. Além da cultura indígena, também pretendemos destacar a cultura afro-brasileira, por reconhecermos a importância desta na construção de nossa identidade e da necessidade de incluí-la nos diversos espaços. Quem se interessou, pode conferir a mostra no próximo Escola Integrada no Bairro. Nós também disponibilizaremos alguns elementos constitutivos da mostra aqui para que possam instigar novos olhares sobre a nossa cultura. Um pouco do nosso percurso também ficará disponível na página Mostra da diversidade
Página policial
Caruso Lucca Ontem, fomos informados de fatos ocorridos no Case/NH, localizado no bairro Canudos, Novo Hamburgo. Segundo nossas fontes, tem havido situações estranhas naquela unidade. Estes eventos parecem ter sido estimulados pela presença de um grupo de agitadores vindos de Porto Alegre. O referido grupo, vem visitando a unidade, desde de fevereiro, e, pior com aquiescência da equipe técnica da casa. Esse grupo tem se reunido com a equipe técnica e com alguns socioeducadores. Os motivos da presença do grupo ainda é motivo de investigação. Porém, a partir de escutas telefônicas, já se conseguiu apurar que, esses meliantes têm como objetivo explícito causar uma revolução nas estruturas da unidade. Eles têm como meta causar mudanças e, para isso não estão poupando táticas das mais coercitivas para alcançar seus objetivos. Segundo consta, o mentor do grupo, é um perigoso elemento, com amplo histórico de provocações. O nome de referido elemento é Paulo Freire. Possivelmente não seja o nome verdadeiro do elemento. Diligências estão sendo efetuadas para a localização do mesmo. Uma das táticas terroristas do grupo vindo da capital gaúcha, é propor espaços onde se possibilite uma circulação livre da palavra, onde todos tenham a possibilidade de falar, sem preocupação com os níveis hierárquicos. Como veem uma provocação das mais sérias. Imaginem, leitores se isso se disseminar na soiciedade? Toda a nossa civilização ocidental estará em PERIGO! E, temos um exemplo concreto do quanto esse grupo é perigoso. Através de escutas, tivemos acesso ao que foi falado numas das reuniões. O grupo foi compelido pela chefe do grupo vindo da capital, a escrever sobre uma ação de saúde, que houvessem avaliado ter executado na unidade. E, o que ouvimos, leitores, vocês não vão acreditar. Alguém de um substrato inferior, um mero agente socioeducador, fala de uma ação de saúde, onde ele, sem nenhuma capacitação formal, fala de um atendimento, a um adolescente, na calada da noite...E, creiam, o grupo de agitadores, diz que o que foi relatado era uma ação de saúde muito boa. C. ,o referido agente, relata que, estando no seu turno de trabalho, à noite, ouve um adolescente gritar. Ao atender o adolescente, fica sabendo que ele estava gritando pois, acabara de sonhar que estava sendo esfaqueado pelo colega de sela. A forma do agente conter o adolescente, não foi mandá-lo calar a boca, mas, acreditem, foi ouví-lo, acalmá-lo, e prometer que no dia seguinte iria trazer um livro de sonhos. Segundo o agente isso acalmou o adolescente. Leitores, vocês já pensaram se, todas as pessoas pudessem usar instrumentais da saúde, de forma assim tão empírica? Em que mundo estamos? Onde anda a direção da Fase, que permite que esses agitadores semeiem a discórdia, incentivem a prática de ações de saúde, por pessoas sem formação devida, e mais ainda, subvertam a ordem estabelecida. Os órgão de classe já estão informados destas práticas escusas e, estão tomando providências.Esperamos que esse grupo, bem como seu mentor, esteva logo atrás das grades, não descansaremos até que todos estejam presos.