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Voz-Levante: Vivas Sueli Car- neiro

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vivaS a Sueli carNeiro

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Estive na Ocupação em homenagem a Sueli Carneiro no Itaú Cultural. É quase inexplicável a emoção de ver uma mulher negra homenageada em vida. Emoção semelhante senti somente na Ocupação que agraciou Conceição Evaristo. Em ambas a alegria de compartilhar a existência, de viver na mesma época delas foi enorme. A homenagem a uma feminista antirracista num momento de absurdos da política nacional é um suspiro para a população negra, é um raiar de esperança e fé, representado na vida e na luta dessa intelectual cuja grandeza é inquestionável. Carneiro teve uma vida de sabedoria que nos permite aprender caminhos e estratégias de sobrevivência. Embora saibamos que a vida dela foi e é de batalha, foi glorioso perceber, nas inúmeras fotos expostas na Ocupação, os risos de Sueli ao lado de familiares e amigos nos lembrando o valor de cada conquista e da luta antirracista e antimachista.

Circular pela Ocupação permitiu conhecer aspectos da vida e da luta de Sueli Carneiro que até então desconhecia. E foi lindo ver a grandiosidade dessa mulher incrível ganhar outra dimensão, digo isso, pois creio que a ação contribui para tornar ainda mais popular e acessível todos o trabalho dessa grande mulher. Sueli Carnei-

ro é uma dessas pessoas, como diz Cidinha da Silva em vídeo divulgado durante a exposição, que tem a vida dedicada a prática de limpar o chão para a afastar o que nos pode ferir. Essa fala diz muito da vida da mulher feminista antirracista – nome percursor do feminismo negro brasileiro. Fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, espalhou seus escritos por inúmeras páginas pela impressa nacional e fez sua voz ecoar para além das fronteiras nacionais. Ressaltando sempre a importância do fazer coletivo, teve participações políticas inquestionáveis e foi nome forte na luta e na defesa das cotas. A ocupação foi criada com uma abertura repleta de plantas significativas para as religiões afro-brasileiras, além disso, sua história foi contada em torno de uma árvore feita de escamas do peixe camarupim em referência a Oxumaré, orixá da intermediação entre o céu e a terra. Com as bençãos dos Orixás foi levado ao público momentos de sua infância, artigos de jornais e livros, vídeos de amigos e amigas, objetos pessoais diversos, um sopro da complexidade da vida dela.

A Delícia de visitar a Ocupação é sentir como palpável essa dimensão que muitas vezes não conhecemos dos nossos ídolos - o aspecto pessoal. E poder participar um pouquinho do seu cotidiano de lutas, mas também das festividades com familiares e amigos. Perceber que sua existência de setenta e um anos – comemorada com justiça com a Ocupação, vai além. Que suas lutas têm raízes profundas e que suas bases são bem alicerçadas. A ocupação acabou, mas a vida e aluta de Sueli Careiro com certeza se estenderão por muitos e muitos anos. Os Orixás que a guiaram até este momento se encarregarão desse cuidado.

Online tem muita informação em: https://www.itaucultural.org.br/ocupacao/

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