TFG - Conexões Criativas

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CONEXÕES CRIATIVAS UM HUB PARA A PRODUÇÃO DE IDEIAS E MODA NO BOM RETIRO

THAÍS OLIVAL MONFRÉ THAÍS OLIVAL MONFRÉ



CONEXÕES CRIATIVAS UM HUB PARA A PRODUÇÃO DE IDEIAS E MODA NO BOM RETIRO

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU | ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO – TFG II|DEZEMBRO DE 2015

THAÍS OLIVAL MONFRÉ | RA 201101095 | 4º AARM ORIENTADOR: SÉRGIO SALLES


“As cidades precisam criar condições para as pessoas pensarem, planejarem e agirem com imaginação.” (LANDRY, 2013) 4


Dedico este trabalho a todos que, de alguma forma, contribuíram para a realização de um sonho. Agradeço, primeiramente, à minha família, pelo apoio, força e paciência, sem os quais, eu não chegaria até aqui. Ao Bruno, pelo companheirismo, conselhos, compreensão e carinho, que foram fundamentais nas horas mais difíceis. Aos colegas e amigos que fiz durante esses cinco anos, especialmente Érika Fernanda, Hellen Carmo, Guilherme Anacleto, e Mônica Vieira. Obrigada por compartilharem as alegrias e dores dessa longa jornada, pelos bons trabalhos (e outros nem tanto), pelas poucas horas dormidas, pelas conversas e principalmente, pelo crescimento. A todos os professores e ao meu orientador, que ao longo desses anos, nos deram base e motivação para concluir o primeiro passo de uma nova etapa.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO

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1. A PRODUÇÃO CONTEMPORÂNEA 11 1.1. DESINDUSTRIALIZAÇÃO, INOVAÇÃO, REINVENÇÃO 12 1.2. CONCEITOS: ECONOMIA, INDÚSTRIA E CIDADE CRIATIVAS 15 1.3. OS ESPAÇOS DA CRIATIVIDADE: EDIFICIO, RUA E CIDADE 17 2. BOM RETIRO 23 2.1. DESENVOLVIMENTO URBANO 24 2.2. BOM RETIRO E A PRODUÇÃO DA MODA 25 2.3. A MODA E A ECONOMIA CRIATIVA 27 3. O LUGAR 31 3.1. APROXIMAÇÃO DO LUGAR 32 3.2. PLANOS E PARÂMETROS URBANÍSTICOS 48 4. REFERÊNCIAS 4.1. VISITAS TÉCNICAS 4.2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REFERÊNCIAS CONCEITUAIS

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5. PROJETO 5.1. PROGRAMA 5.2. DIRETRIZES DE PROJETO 5.3. HUB

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6. BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO

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A cidade, desde sua origem, esteve relacionada com a produção econômica, uma vez que esta gera demanda por programas e espaços específicos. A partir dessa relação, entende-se a importância da reinvenção do território para abrigar a produção contemporânea, a Indústria Criativa, que ao estabelecer como matéria-prima o conhecimento e a cultura, estimula, não só a formação de novos espaços produtivos, como também intensifica a relação existente entre pessoas e cidade. Dessa forma, essa nova Indústria estabelece princípios para reativação de lugares da cidade que sofreram com o processo de mudança no paradigma econômico: da indústria para os serviços, bairros fabris tiveram suas infraestruturas deixadas para trás, processo que teria provocado perda de qualidade urbana. Dentre esses bairros, pretende-se estudar o Bom Retiro, onde a agitação do comércio, ocupando densamente a malha urbana, convive com o silêncio de edificações destinadas ao uso industrial e edificações abandonadas, configurando contradições em seu território. Adotando como premissa os conceitos de Cidades Criativas, é reconhecida a influência do ambiente para o desenvolvimento da criatividade e da inovação, seja ele na cidade ou no edifício, uma vez que estes são resultantes de interações sociais e do compartilhamento de ideias. Assim, percebe-se que o Bom Retiro apresenta uma condição urbana propícia à inserção da nova indústria, pois além de sua multiplicidade cultural, apresenta uma atividade produtiva criativa, a Moda, que move a economia e a dinâmica local.

1. Espaços que concentram pessoas para trabalhar, criar, imaginar, estabelecendo redes e compartilhando experiências.

interação e permanência, reinserindo no contexto urbano um pedaço da cidade que hoje se constitui como lugar de passagem, “vazio de significados”. Em vista dessas questões, o capítulo seguinte introduz discussões acerca da Indústria Criativa, analisando seus princípios e de que forma eles refletem em novas organizações urbanas e programáticas. Posteriormente, o bairro do Bom Retiro é analisado tanto com relação a sua morfologia e desenvolvimento urbano quanto com sua produção, de forma que se possa compreender a necessidade de reinvenção de suas atividades e espaços. Após a análise anterior que relaciona tema e lugar, o trabalho aborda questões relacionadas à proposta de projeto, apresentando primeiramente o critério de escolha do local de intervenção, que buscou estabelecer conexões com a cidade existente. Depois, são demonstrados os conceitos e referências que apoiaram sua conceituação e, por fim, a proposta arquitetônica para o “Hub de Criatividade e Moda”.

A ideia de produção contemporânea, no presente trabalho, é sintetizada em um “Hub1 de Criatividade e Moda” , cujo desenvolvimento da Economia Criativa acontece através de conexões e redes sociais em espaços colaborativos e inspiradores, capazes de reinventar não só os métodos e ambientes produtivos, como a cidade. Assim, em contraposição aos ambientes fechados das edificações presentes hoje na Rua Anhaia, a proposta consiste em um espaço arquitetônico público e aberto à cidade, que trabalhado nas bordas do bairro através de costuras urbanas, proporciona uma nova articulação à malha consolidada, criando espaços de 9


“A cidade é uma máquina de possibilidades. Há lugares para se reunir, conversar, misturar, permutar e brincar. Há cor, diversidade multicultural, uma vez que isso significa uma característica distintiva e percepções variadas. É um local ‘intercultural’, onde o foco é misturar culturas e experiências diferentes e compartilhar juntos ideias e projetos.” (LANDRY, 2013)

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1. A PRODUÇÃO CONTEMPORÂNEA 11


1.1. DESINDUSTRIALIZAÇÃO, INOVAÇÃO, REINVENÇÃO “Uma curva mostra o movimento ao longo do tempo: da economia agrária para a economia guiada pela criatividade. Fomos essencialmente uma sociedade agrária por milênios, uma sociedade industrial por 200 anos, uma sociedade cuja criação de riqueza foi amplamente guiada pelo valor instituído pela informação por 30 anos, e agora falamos das economias guiadas pelo conhecimento, pela inovação e, cada vez mais, pela criatividade.” 2 O arquiteto Charles Landry (2013), na citação acima, ilustra a evolução da sociedade com base em seu processo produtivo, o qual teria provocado não só mudanças socioculturais como reflexos na organização do território urbano, uma vez que as cidades se originam a partir de seus sistemas econômicos, sendo esta uma relação indissociável. Nas grandes metrópoles, como São Paulo, a produção econômica gerou marcas no espaço urbano: a ascensão de determinada atividade estimulou a origem e desenvolvimento de territórios. Da mesma forma, o abandono delas resultou no esvaziamento de lugares.

[FIG. 01] PAISAGEM DA ORLA FERROVIÁRIA: BOM RETIRO E CAMPOS ELÍSEOS

A chegada da ferrovia Railway (Santos-Jundiaí) em São Paulo, em 1867, é um dos melhores exemplos que ilustra este processo, pois possibilitou a instalação da atividade industrial, condicionando a ocupação ao longo dela e a formação de bairros como Bom Retiro, Brás, Pari, Belém, e outros. Contudo, a partir da década de 70, a cidade tem sofrido um processo de reestruturação produtiva, cujas novas dinâmicas e programas acabaram provocando o surgimento de espaços ociosos. “Por um lado, constata-se o início de um movimento de deslocamento funcional da atividade industrial para outras regiões do Estado de São Paulo, em busca de melhores resultados econômicos. Por outro, em decorrência do primeiro, observa-se o abandono de grandes complexos industriais e gradual substituição e adaptação desses espaços por edificações comprometidas com novas funções da metrópole, sobretudo àquelas identificadas com o setor terciário” 3. 12

2. LANDRY, Charles. Origens e Futuros da cidade criativa. São Paulo: SESI-SP Editora, 2013, P. 13.

[FIG. 02] OCUPAÇÃO AO LONGO DA FERROVIA NO BOM RETIRO, ANTIGA ESTRADA DE FERRO SANTOS-JUNDIAÍ.

3. MEYER, Regina Maria Prosperi; GROSTEIN, Marta Dora; BIDERMAN, Ciro. São Paulo metrópole. São Paulo: Edusp: Imesp, 2004, P. 43


Diversos fatores contribuíram para que a produção industrial dependesse cada vez menos de sua localização como a racionalização da produção, a introdução de novos sistemas de informação e expansão da malha rodoviária, resultando no deslocamento da indústria para outras áreas da região metropolitana ou periferia, no abandono de plantas industriais e no esvaziamento populacional. Além disso, na era da globalização e da informação, os setores industriais acabaram perdendo espaço para outras atividades, onde, se valoriza a mão-de-obra qualificada e o trabalho intelectual. Assim, em São Paulo, esses serviços se concentraram em novas áreas de investimento, para onde a classe dominante se deslocou, no setor Sudoeste [Fig.03]. No Centro, a gradativa falta de investimentos e de manutenção de suas infraestruturas existentes teria contribuído significativamente para o deslocamento da população para outras regiões. No entanto, não se pode afirmar, como reforça Comin (2004), que houve um “esvaziamento do Centro”, pois milhares de pessoas são atraídas diariamente por sua oferta diversa de comércios, que quando não acontecem, conformam grandes vazios urbanos, reforçando o caráter de passagem da região.

4. EMPRESA MUNICIPAL DE URBANIZAÇÃO. Caminhos para o centro: estratégias de desenvolvimento para a região central de São Paulo. São Paulo: EMURB, 2004, P. XIXi 5. LEITE, Carlos; AWAD, Juliana Di Cesare Marques. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre, RS: Bookman, 2012, P. 56.

“Cumpre observar, antes de tudo, que é equivocado falar em ‘esvaziamento’ da região. Ela segue sendo densamente ocupada tanto econômica quanto residencialmente, além de ser importantíssimo ponto de passagem, compras e lazer de milhões de cidadãos todos os dias. O que se verificou nas últimas décadas foi uma importante mudança no perfil desta ocupação, com efeitos, na maior parte dos casos, de queda na qualidade de vida e relativo empobrecimento.” 4 Os agitados núcleos comerciais populares de alguns bairros do Centro, como o Bom Retiro, contrastam-se, portanto, com as ruas vazias da noite, além das áreas abandonas pela indústria e pequenas confecções, onde há um grande número de terrenos ou edificações vagos e locais sem qualidade urbana. Entendendo esses espaços como consequência da reorganização produtiva, Carlos Leite (2012) afirma que tais vazios são lugares onde há “liberdade de expectativas de mudanças” 5 . Entretanto, se não reinventados, podem se tornar cicatrizes urbanas, contribuindo para o surgimento de espaços desconexos na cidade.

ATÉ 1950 - CENTRO 1950 – 60 - PAULISTA 1960-1970 – ITAIM BIBI 1970 – FARIA LIMA 1980-1990 – VILA OLIMPIA E BERRINI 1990-2000 – MARGINAL PINHEIROS 2000 – MARGINAL, VILA LEOPOLDINA

[FIG. 03] CONCENTRAÇÃO DAS ATIVIDADES DO SETOR TERCIÁRIO AO LONGO DAS DÉCADAS.

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A falta de interesse nessas regiões faz com que os vazios (edificados ou não) sejam substituídos por outras funções, muitas vezes se tornando alvos de especulações. Logo, são notados antigos galpões, aos poucos, dando lugar a grandes condomínios murados, pequenas edificações sem uso ou terrenos que esperam alguma valorização abrigando, por exemplo, estacionamentos. Tais substituições continuam sendo cicatrizes na malha urbana, pois não contribuem para que o espaço seja reativado como o local de diversidade e intensa dinâmica sociocultural que deveria ser. “As grandes transformações que os territórios metropolitanos vêm sofrendo ao passar de cidade industrial para a pós-industrial, de serviços, abandonando imensas áreas de atividades secundárias, explica, em grande parte, o surgimento dos terrenos vagos: terrenos baldios e galpões desocupados junto aos antigos eixos industriais, antigas áreas produtivas, hoje inoperantes, massas arquitetônicas do passado industrial, atualmente vazias, em processo de deterioração física (por exemplo, os moinhos presentes na orla ferroviária paulistana).” 6 Enquanto no Brasil, a discussão sobre a reestruturação produtiva e suas consequências ainda é muito recente, nos países desenvolvidos, que sofreram o processo na década de 1970 (após a Crise do Petróleo), discute-se a necessidade de reinvenção do território a partir de novas dinâmicas econômicas há muito tempo. Esses países, como Inglaterra, Austrália e Espanha, perceberam a necessidade da inserção do conhecimento nos setores produtivos para agregar vantagens competitivas à economia. Para isso, investiram em novos arranjos urbanos nas áreas que sofreram consequências do processo de desindustrialização, gerando espaços propícios à inovação econômica. Ainda na década de 1960, segundo Landry (2013), “(...) discutiram o surgimento de uma sociedade pós-industrial baseada menos na força muscular e mais no poder cerebral e em seu conhecimento resultante” 7 antecipando, então, a discussão a respeito de uma produção resultante do esforço intelectual e de ativos intangíveis e menos dependente de elementos físicos, como carvão e petróleo. 14

Reconhecendo tal realidade, surgiu uma nova indústria, a Indústria Criativa, que através de novas demandas, resulta em outra forma de organização territorial e na reinvenção do papel das cidades. “(...) o lugar passa a desempenhar novamente um papel decisivo para a economia, já que fatores econômicos chave, como talento, inovação e criatividade, não estão distribuídos igualmente pelo mundo, mas sim reunidos em determinadas localidades, em uma concentração crescente de talentos e pessoas produtivas ao redor de cidades-regiões, que se tornam cada vez mais motores de desenvolvimento e crescimento econômico.” 8 A chamada Economia Criativa, a qual Carlos Leite (2012) nomeia de “nova economia”, necessita de novos espaços e, portanto, seus novos programas estabelecem relações com a cidade e dessa com seus usuários de forma diferente da que acontecia nas cidades industriais dos séculos XIX e XX, uma vez que as pessoas passam a ser os motores 9 dessa produção. Portanto, se a mudança no paradigma produtivo teria gerado a degradação de regiões devido ao abandono de determinada atividade econômica, pretende-se, justamente, apostar na recuperação do território a partir de uma produção condizente à realidade contemporânea. Suas novas infraestruturas darão a essas regiões “esquecidas” da cidade outras funções ou, simplesmente, reinventarão suas atividades, de forma que tornem os lugares, onde estão inseridas, mais interessantes e dinâmicos.

6. LEITE, Carlos; AWAD, Juliana Di Cesare Marques. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre, RS: Bookman, 2012, P. 57. 7. LANDRY, Charles. Origens e Futuros da cidade criativa. São Paulo: SESI-SP Editora, 2013. P. 18. 8. LEITE, Carlos; AWAD, Juliana Di Cesare Marques. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre, RS: Bookman, 2012, P. 92.

[FIG. 04] “BOM RETIRO 958 METROS” PEÇA DE RUA DO GRUPO DE TEATRO VERTIGEM, QUE LEVOU AS PESSOAS A VIVENCIAREM AS SILENCIOSAS E VAZIAS RUAS DA REGIÃO, QUANDO O COMÉRCIO SE FECHA.

9. Carlos Leite cita Richard Florida que valoriza a classe criativa e seu capital humano como ativos da Economia Criativa.


1.2. CONCEITOS: ECONOMIA, INDÚSTRIA E CIDADE CRIATIVAS Apesar das questões acerca da nova economia serem discutidas desde meados da década de 70, o termo “Indústria Criativa” é bastante recente e tem sua origem na Austrália, em 1994, momento em que se percebeu a necessidade da reinvenção em sua cadeia produtiva. No entanto, foi na Inglaterra, em 1997, que a Indústria Criativa foi considerada de fato como força produtiva, quando a crise afetou a produção manufatureira, sendo preciso investir em outros setores da economia, os criativos 10. Alguns fatores contribuíram para alavancar esses novos setores. Dentre eles está a globalização que, facilitando trocas de maneira cada vez mais rápida, obrigou os setores da economia a inovarem e investirem na diferenciação de produtos e serviços, tornando-os mais competitivos no mercado global. Ao mesmo tempo, a tecnologia da informação e novas mídias criaram ambientes propícios à nova economia, onde as trocas de informações e redes passaram a ser fundamentais.

PATRIMÔNIO

ARTES

MÍDIAS

CRIAÇÕES FUNCIONAIS

LOCAIS CULTURAIS

ARTES CÊNICAS

AUDIOVISUAIS

SERVIÇOS CRIATIVOS

MUSEUS, BIBLIOTECAS

MÚSICA, TEATRO

CINEMA, RADIO E TV

ARQUITETURA, PUBLICIDADE

EXPRESSÕES CULTURAIS

ARTES VISUAIS

MÍDIA IMPRESSA

NOVAS MÍDIAS

PINTURA, ESCULTURA

LIVROS, PUBLICAÇÕES SOFTWARE, GAMES

[FIG. 05] SETORES CRIATIVOS

MODA, INTERIORES, GRÁFICO

ARTESANATO, FESTIVAIS

DESIGN

No Brasil, a discussão da Indústria Criativa é mais tardia, surgindo em meados de 2004, quando aconteceu o “Consenso de São Paulo”, realizado pela XI Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD XI). A classificação da Organização das Nações Unidas (ONU) 11 considera como atividades criativas tanto àquelas relacionadas à cultura e tradições locais, quanto às relacionadas à produtividade. Classifica-se a Economia Criativa em quatro grandes grupos, como pode ser observado na [Fig.05]. 10. Em 1997, Tony Blair, ministro da Inglaterra, elegeu 13 setores criativos. 11. Relatório de Economia Criativa 2010. Economia Criativa: Uma opção de desenvolvimento viável. UNCTAD, 2010. Disponível em: http:// w w w 2 . c u l t u r a . g o v. br/ e c on om i a c r i a tiv a/ w p - c o n t e n t / uploads/2013/06/ 12. Ibid, P. 8

[FIG. 06] EMPREGOS FORMAIS EM ATIVIDADES ECONOMICAS CRIATIVAS.

O objeto de estudo no presente trabalho se baseará na última classificação, as atividades funcionais, ou seja, aquelas que impulsionam o desenvolvimento econômico local, onde seus benefícios podem refletir no desenvolvimento urbano. “Este grupo constitui indústrias mais impulsionadas pela demanda e voltadas à prestação de serviços, com a criação de produtos e serviços que possuam fins funcionais.” 12 Segundo relatório da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (FUNDAP), em 2009, na pesquisa realizada, constatou-se que setores da Economia Criativa já eram responsáveis por 3% dos empregos formais da cidade [Fig. 06], apresentando também um crescimento maior que os demais setores [Fig.07].

[FIG. 07] VARIAÇÃO DOS EMPREGOS FORMAIS NOS SETORES DA ECONOMIA CRIATIVA ENTRE 2006 E 2009.

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1.2.1. PRINCÍPIOS Através do entendimento de diversas definições a respeito da Indústria e Economia Criativa, entende-se que esta consiste em uma cadeia produtiva – criação, produção e distribuição – que tem como matéria prima a propriedade intelectual. Assim, a criatividade e o conhecimento, combinados com a cultura local, são os insumos básicos que promovem a Indústria do século XXI. Tendo em vista a Economia Criativa como um processo produtivo, entende-se que esta não pode ser resumida somente como um conjunto de produtos, mas sua essência está na concepção, onde serão dados valores intangíveis ao produto final. Em vista disso, a economista Ana Carla Fonseca (2011) defende que a Indústria Criativa não nega a indústria tradicional, mas a potencializa através de ativos intangíveis (conhecimento e criatividade), que atribuem agregados aos processos tradicionais, tornando-os mais competitivos e valorizados. “É exatamente na passagem da confecção à moda que a cadeia econômica se beneficia da agregação de atributos tecnológicos (novos tecidos, novos processos), de marketing e culturais.” 13

A Indústria Criativa também pode ser uma boa estratégia de desenvolvimento socioeconômico, porque ao incorporar valores intangíveis como diferenciais, dá oportunidade a novas ideias e à cultura local. Essa postura reflete no planejamento urbano, visando oferecer novas funções ao território a partir de suas potencialidades e reconhecimento cultural. Além disso, defende-se que o desenvolvimento dessa indústria demanda de um investimento em capacitação, educação, informação, de forma a criar ambientes favoráveis à inovação. Portanto, novos arranjos produtivos e ambientes para a produção contemporânea passam a ser discutidos. Daí surge o conceito de Cidade Criativa, a “casa” da Economia Criativa.

13. REIS, Ana Carla Fonseca. Cidades Criativas Análise de um conceito em formação e da pertinência de sua aplicação à cidade de São Paulo. (Tese de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo). FAU-USP, São Paulo, 2011, P. 42.

Dessa maneira, o estímulo ao trabalho criativo fomentou o surgimento de novos métodos produtivos, como por exemplo, a ideia de “Do It Yourself” 14 (Faça Você Mesmo). Através de recursos tecnológicos, como máquinas 3D e laser, cada pessoa pode colocar suas habilidades em prática, transformando suas ideias em protótipos, no contexto das FabLabs. 15

14. O conceito de “Do It Yourself” busca a diferenciação e exclusividade, estimulando novas ideias, ao contrário da padronização das indústrias.

Tais espaços e métodos concretizam o que alguns chamam de uma “Nova Revolução Industrial”, em que a tecnologia aliada à criatividade contribui para o surgimento de novas relações de trabalho e produção. Ao mesmo tempo, esses movimentos questionam o contexto de produção capitalista a que a sociedade se prende há anos. Ao contrário do ambiente enclausurado das indústrias, os ambientes propostos pela Economia Criativa procuram ser, como afirma a diretora executiva da Garagem Fab Lab Brasil, “terrenos férteis à inovação” 16.

15. Fab Labs são espaços dotados de máquinas básicas para que seja feito “quase tudo” sem depender da escala industrial.

Assim, o processo de criação na Economia Criativa tem como 16

princípios o aprendizado na prática, espaços abertos ao público, além de caráter multidisciplinar, onde os setores da Economia Criativa interagem entre si e para melhores resultados, estimula-se a formação de redes e processos colaborativos.

[FIG. 08] DIAGRAMA DO PROCESSO DE REINVENÇÃO DAS CIDADES SEGUNDO CARLOS LEITE.

16. EYCHENNE, Fabien e NEVES, Heloisa. Fab Lab: A Vanguarda da Nova Revolução Industrial. São Paulo: Editorial Fab Lab Brasil, 2013. P.10


1.3. OS ESPAÇOS DA CRIATIVIDADE: EDIFICIO, RUA E CIDADE

17. LANDRY, Charles. BIANCHINI, Franco. The Creative City. Demos: Londres, 1995. Disponível em: http:// c h a r l e s l a n d r y. c o m / resources-downloads/ documents-fordownload/ - Acesso em 07/04/2015. 18. LEITE, Carlos; AWAD, Juliana Di Cesare Marques. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre, RS: Bookman, 2012. P. 70. 19. LERNER, Jaime. Acupuntura Urbana. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. 20. Charles Landry teoriza a “engenharia urbana” como sendo composta de dois tipos de infraestrutura: “hardware” que permite que as funções aconteçam, como redes viárias, esgoto, transporte; e “software”, que se relaciona com a maneira com o sentimento que a cidade promove no habitante. 21. LANDRY, Charles. Origens e Futuros da cidade criativa. São Paulo: SESI-SP Editora, 2013. P. 27 22. Ibid., P. 77.

Uma vez que a força da Economia Criativa é o conhecimento, o “capital humano”, a cidade deve ser pensada não mais para as máquinas, mas para as pessoas, de forma que elas se sintam parte do ambiente urbano e sejam protagonistas do mesmo. Landry, no artigo “The Creative City” 17 reforça a ideia mencionada acima, em que, novas formas de produção necessitam de novas infraestruturas e lugares. Dessa forma, se antes a indústria dependia fortemente da proximidade de seus recursos físicos, como rios ou linhas férreas, desenvolvendo-se ao longo deles, hoje a indústria depende de ambientes que estimulem as relações sociais, trocas de ideias e criatividade. “No nível mais básico, a economia do conhecimento refere-se a pessoas criativas se juntando – a cidade é o diferencial que propicia isso - para adicionar valor ao trabalho através da troca de informações, gerando, assim, novas ideias.” 18 Além do conhecimento, as trocas sociais estimulam as manifestações culturais, cujo cenário, é a cidade. Assim, pessoas e cultura passam a ser protagonistas da Indústria Criativa. Para Jacobs (1961), o potencial criativo está justamente na diversidade e logo, os centros urbanos seriam ambientes propícios à inovação, uma vez que a diversidade é parte de seu cotidiano, estando presente nos âmbitos cultural, social, econômico, de seus edifícios e usos, onde as ruas podem ser ocupadas por pessoas diferentes a todo o momento. Em São Paulo, cidade cosmopolita, bairros tradicionais do Centro compartilham da multiplicidade cultural e teriam forte potencial para o desenvolvimento da nova economia. No entanto, devido ao processo histórico, já estudado, apresenta espaços urbanos degradados, que desestimulam a vivência na cidade. Como contraponto a essa realidade é preciso que sejam estimulados espaços de permanência e de qualidade urbana. Trabalhando intervenções pontuais e estratégicas nessas áreas, como uma “acupuntura urbana” 19 , é possível criar uma nova dinâmica, reativando e requalificando o local.

As cidades criam, então, condições para a criatividade, através da integração social e da diversidade cultural. Para Landry (2013), a essência das Cidades Criativas está justamente na sua característica que vai além da infraestrutura composta por edifícios, redes de esgoto e estradas 20 , mas sim, na possibilidade de criar ambientes diversos e estimulantes, onde “(...) a infraestrutura da cidade criativa é uma combinação de equipamentos e programas, inclusive a infraestrutura mental, o modo como uma cidade aborda oportunidades e problemas; as condições ambientais que ela cria para gerar uma atmosfera criativa e os dispositivos de ativação que ela promove, gerados por meio de suas estruturas de incentivos e normas.” 21 O arquiteto defende que elementos essenciais da infraestrutura para a criatividade são os difusores do conhecimento como universidades, incubadoras, centros de pesquisa, além de espaços públicos e culturais. A característica desses lugares se opõe aos ambientes fechados de indústrias, shoppings centers e centros empresariais: inseridos na malha urbana, devem estimular a troca de experiências entre usuários das mais diversas culturas, sendo propícios aos eventos e estimulantes a ponto de promoverem a apropriação da cidade. “Na cidade que estimula o aprendizado e o intercâmbio, as instituições educacionais não deveriam ser como ilhas que operam isoladamente, mas entrelaçadas de várias maneiras na estrutura urbana”. 22 Portanto, os espaços criativos podem ser cidades, praças, ruas ou edifícios, sendo possível analisar, em diferentes escalas, como as relações de intercâmbios de experiências acontecem: no edifício, ateliês e oficinas colaborativas estimulam a troca de ideias. Enquanto na rua, a calçada se torna um dos espaços públicos mais importantes, onde Jacobs (1961) defende que o “ballet de pessoas” estimula o espaço urbano a ser propício a encontros e manifestações socioculturais. Já na escala do planejamento urbano, os “clusters”, aglomeração de indústrias de setores semelhantes, facilitam a cooperação e formação de redes entre elas. 17


1.3.1. ATMOSFERAS CRIATIVAS Com o intuito de demonstrar de que forma essa nova economia reflete nos espaços arquitetônicos e urbanos, seguem alguns exemplos de espaços de difusão da produção contemporânea e de cidades criativas, cujos conceitos deram subsídios à elaboração do programa proposto no presente trabalho.

PESSOAS NA RUA DIVERSIDADE CULTURAL COOPERAÇÃO E COLETIVIDADE

ESPAÇOS CRIATIVOS

TOLERÂNCIA

CONCENTRAÇÃO DE EQUIPAMENTOS E EVENTOS [FIG. 09] SÍNTESE DOS ESPAÇOS CRIATIVOS, BASEADO NOS PRINCÍPIOS DE CARLOS LEITE , CHARLES LANDRY E JANE JACOBS.

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CASA FIRJAN DA INDÚSTRIA CRIATIVA, Lompreta Nolte Arquitetos, Rio de Janeiro

HUBS A criatividade não depende de um método específico para acontecer, mas há meios de estimulá-las e dentre eles estão concentração de pessoas e conexões de ideias. Assim, surge uma nova forma de produzir, onde o compartilhamento de ideias torna os ambientes mais propícios à imaginação. Os Hubs são lugares físicos para as redes sociais e produtivas, onde é possível estabelecer conectividade entre pessoas e experiências, sendo propícios para se reunir, trabalhar, criar, imaginar. Funcionam através de múltiplos acontecimentos como coworking, escola, incubadora, consultoria e laboratório de inovação, onde as pessoas pensam e empreendem juntas.

Primeiro lugar do concurso para a Casa FIRJAN da Indústria Criativa, o projeto pretende criar um polo de produção de conhecimento na cidade, através de um Hub que conecte profissionais e atividades relacionadas à Indústria Criativa. O projeto contará com três núcleos que vão promover as trocas sociais e de experiências: Formação Profissional; Atividades Culturais e Articulação Profissional.

THE IMPACT HUB SÃO PAULO, São Paulo Faz parte de uma rede internacional que reúne microempreendedores sociais, cujos negócios estão engajados em ideias inovadoras que visam um mundo melhor.

[FIG. 11]

O espaço compartilhado para trabalho e reuniões permite que os profissionais de diferentes áreas troquem experiências e criem novas redes profissionais. [FIG. 10]

[FIG. 12]

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UNIVERSIDADES ESCOLA DE ARTES DE MANCHESTER, Manchester, Inglaterra

A RUA CRIATIVA THE PLAZA,UNIVERSIDADE DE HARVARD, Estados Unidos Espaço público com feiras e espaços de estar promovem interações sociais e vivência na cidade.

Através de uma galeria que une os dois edifícios mais antigos, a Universidade propõe um espaço que pretende diminuir a distância entre educação e produção profissional. Aberto, o ambiente funciona como grande ateliê colaborativo e espaço expositivo.

[FIG. 15]

[FIG. 13]

CRIATIVIDADE ITINERANTE “Pop-Up Store” de moda, loja temporária instalada em espaços públicos, promovendo a marca e novos acontecimentos no lugar onde é instalada.

[FIG. 14]

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[FIG. 16]


REATIVAÇÃO DE ÁREAS INDUSTRIAIS LX FACTORY, Lisboa, Portugal

FÁBRICA SANTO THYRSO, Santo Tirso, Portugal A antiga fábrica foi redescoberta e devolvida à cidade através da ocupação de empresas criativas e diversas atividades culturais, funcionando como um catalisador urbano. Empreendedores promovem um ambiente de experiências devido à possibilidade de contatos, cooperação, misturas de usos e descontração.

Antiga fábrica têxtil transformada em Incubadora de Moda e Design, conta com vários núcleos para a promoção da atividade: empresas incubadas, que contam com espaços de lazer e oficinas de uso compartilhado; laboratórios de fabricação digital e espaços para eventos.

[FIG. 17]

VILLAGE UNDERGROUND, Lisboa, Portugal Containers foram transformados em “cápsulas” para a criatividade, onde funcionam escritórios de Economia Criativa.

[FIG. 19]

[FIG. 18]

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2. BOM RETIRO O Bom Retiro, assim como outros bairros centrais da cidade de São Paulo é exemplo de um lugar cujo desenvolvimento se deu, sobretudo, a partir da produção econômica, onde seus traços característicos começaram a aparecer juntamente com a implantação da indústria. Hoje, ainda persistem as pequenas indústrias familiares, que mantém a produção da região. Apesar da intensa produção e vendas de artigos de vestuário, principalmente, o bairro não se reinventou, restando espaços urbanos sem qualidade. Ficam evidentes, portanto, contradições em seu território: um núcleo dinâmico formado por um aglomerado de ruas comerciais, que se diferem do seu entorno, caracterizado pelo silêncio de antigas edificações fabris, com ou sem uso. Assim, apresenta-se densamente edificado, poucos terrenos vazios, mas muitas edificações “vazias de significado”, que conformam lugares de passagem. Entendendo a necessidade de reinvenção de seu território e seus potenciais de transformação, a escolha do bairro se deu, sobretudo, por este apresentar alguns elementos interessantes para a implantação da Indústria Criativa: bairro central com grande diversidade sociocultural; aglomeração transitória de pessoas (como fazer com que elas permaneçam?); existência de espaços culturais e, por fim, uma vocação produtiva clara, que é a produção de artigos de vestuário, movida por um setor criativo, a Moda.

23


2.1. DESENVOLVIMENTO URBANO Antes de ser reconhecido como bairro fabril e operário, o Bom Retiro foi uma área de chácaras, no período entre 1828 e 1972, “retiro” para classes nobres da cidade nos finais de semana, até que algumas dessas chácaras foram loteadas em meados de 1880, efetivando a urbanização do bairro. A transformação do lugar de bairro de chácaras para industrial se deu devido à implantação da estrada de ferro Railway (Santos-Jundiaí), em 1867, sendo uma localização estratégica para a implantação de indústrias, e usos complementares a ela como armazéns e depósitos. No momento em que essa indústria ganha força, no período de 1872 e 1900, o bairro passa a atrair mais moradores.

[1825] JARDIM DA LUZ [1828-1872] “RETIRO” DE SEMANA PAULISTANA

[1867] ESTRADA DE FERRO SANTOS-JUNDIAÍ

CHÁCARAS DE FINAL DA ELITE

[1880-1890] LOTEAMENTO DAS CHÁCARAS

INSTALAÇÃO DE INDÚSTRIAS AO LONGO DA LINHA FÉRREA

Com a chegada da ferrovia e aumento da população, se instalaram também várias instituições de ensino como o Liceu de Artes e Ofícios e a Escola Politécnica, dando ao Bom Retiro a característica de um bairro central. Delimitado por barreiras como a linha férrea e várzea do Tietê, o bairro só se expandiu a partir do momento em que são rompidos esses limites. A transposição da Alameda Nothmann até a Rua Silva Pinto e a ligação da Rua General Couto de Magalhães com a Rua José Paulino, por volta de 1900, permitiu a expansão comercial. Posteriormente, a retificação no curso do Rio Tietê, na década de 70, permitiu a ocupação das várzeas, que antes eram áreas desvalorizadas.

[1900] TRANSPOSIÇÃO NOTHMANN - SILVA PINTO / TRANSPOSIÇÃO VIADUTO COUTO MAGALHÃES

RETIFICAÇÃO DO RIO TIETÊ E IMPLANTAÇÃO DA MARGINAL

AUMENTO DAS COMERCIAIS NA PAULINO

[1974] IMPLANTAÇÃO DO METRÔ E ESTAÇÕES (LUZ, TIRADENTES E ARMÊNIA)

ATIVIDADES RUA JOSÉ

CORREDOR NORTE-SUL / AV. TIRADENTES

OCUPAÇÃO VÁRZEAS DO TIETÊ

[FIG. 20] DIAGRAMAS DE EVOLUÇÃO URBANA DO BAIRRO.

24

DAS RIO

[1993] GATO

FAVELA

DO

[1990] INÍCIO DA OCUPAÇÃO DA FAVELA DO MOINHO

[2000] CONJUNTO HABITACIONAL FAVELA DO GATO


2.2. BOM RETIRO E A PRODUÇÃO DA MODA Grandes fábricas, como a Olaria Manfred e Fábrica de Tecidos Anhaia, atraiam imigrantes, que se tornaram agentes importantes da conformação do bairro. Portugueses e Italianos, seguidos por israelitas e, em menor escala, sírios e libaneses davam ao bairro uma atmosfera multicultural, presente até hoje, com a chegada de coreanos e bolivianos. Os imigrantes foram responsáveis pelo desenvolvimento econômico do bairro, uma vez que não eram somente mão-de-obra assalariada, mas também pequenos empresários, que iniciaram seus pequenos negócios, dando origem a um característico traço produtivo da região. Já na década de 1940, era possível observar a predominância de fábricas de malharia e tecidos, segundo Sarah Feldmann 23. Assim, os bairros centrais industriais, como menciona Feldmann (2013), a partir do imigrante como agente produtor, deu origem ao pequeno negócio de uso misto, que associa residência e produção ou produção e comércio. Em paralelo às indústrias de grande porte, surgem essas pequenas indústrias, que não ocupam grandes terrenos, mas também não se configuram somente como comércio, mas se camuflam com outros usos, acontecendo muitas vezes, em “fundos de quintal”.

23. FELDMAN, Sarah. Bairro Múltiplo, identidade étnica mutante. Encontros Nacionais da Anpur. V.15, 2013. Disponível em: http://unuhospedagem. com.br/revista/rbeur/ index.php/anais/article/ view/4512/4381. Acesso em 30/01/2015, P. 13.

[FIG. 21] RUA JOSÉ PAULINO EM 1979.

A implantação desse modelo produtivo, portanto, demandava de algumas transformações no território, que na verdade não implicaram em alterações em sua malha urbana, tampouco na configuração de seus lotes, principalmente na área mais próxima ao Centro. Caracterizados por frente estreita e grandes profundidades, não sofreram alterações em seu parcelamento, cujas edificações eram substituídas por outras que pudessem abrigar a associação de usos - produção, residência e comércio. No geral, a mudança se deu pela verticalização, conformando edifícios estreitos de 3 a 5 pavimentos, que permanecem até hoje, abrigando a produção do bairro. [FIG. 22] RUA JOSÉ PAULINO ATUALMENTE. LOTES ESTREITOS, ONDE ESTÃO OS PEQUENOS NEGÓCIOS. COMÉRCIO NO TÉRREO E PRODUÇÃO NOS ANDARES SUPERIORES SÃO PERMANÊNCIAS DO BAIRRO.

25


Atualmente, o Bom Retiro, juntamente com Brás, Mooca e Pari formam importante concentração de produtores e comerciantes de artigos têxteis e de vestuário. Brás e Bom Retiro, principalmente, se destacam além da produção, na comercialização de atacado e varejo, onde alguns autores como Rolnik (2004) os consideram como “cluster” 24 . “(...) A concentração de atividades, por sua vez, cria lugares de referência para fornecedores e consumidores, reforçando a preferência dos comerciantes por aquela localização, que tende a se valorizar e se torna, em última instância, um endereço indispensável.” 25 O Bom Retiro caracteriza-se principalmente pela produção e comercialização de artigos de vestuário feminino, sendo o mais importante do Brasil, responsável por 55% da produção de moda feminina, segundo dados da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL). Considerada por muito tempo como “polo de moda popular”, estudos mostram que muitas marcas, hoje consideradas “grifes” com diversas filiais espalhadas pelo Brasil, tiveram origem no Bom Retiro.

24. Clusters consistem na aglomeração de indústrias de setores semelhantes, facilitando a cooperação e formação de redes entre elas. 80% Produção Feminina

1700 Lojas Cadastradas

20% Produção Masculina, infantil, acessórios, lingerie, aviamentos e maquinário

1400 Delas fabricantes

[FIG. 23] ESTATÍSTICAS DO BAIRRO.

26

são

Número de pessoas que passam pelo bairro em dias de evento passa de 80 para 120 mil pessoas

[FIG. 24] MAPA DE INTENSIDADE DA DISTRIBUIÇÃO DA MODA NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, POR DISTRITO. OS MAIS ESCUROS SÃO OS MAIS IMPORTANTES PRODUTORES, ENTRE ELES ESTÁ O BOM RETIRO.

25. EMPRESA MUNICIPAL DE URBANIZAÇÃO. Caminhos para o centro: estratégias de desenvolvimento para a região central de São Paulo. São Paulo: EMURB, 2004. P. 147


2.3. A MODA E A ECONOMIA CRIATIVA Levando em conta que a Indústria Criativa, através da inovação e valorização de aspectos intangíveis, agrega valor aos produtos dos setores tradicionais, enxerga-se a importância do estreitamento de laços entre indústria e criatividade. Assim, a relação entre produção têxtil e vestuário e a moda vem ganhando cada vez mais espaço nessa cadeia produtiva. A produção de têxtil e de vestuário, nos últimos anos, tem enfrentado dificuldades no mercado devido à forte concorrência com produtos chineses, os quais apresentam grande investimento em tecnologia e inovação e, portanto, fortes concorrentes no mercado. Há, portanto, a necessidade de reinvenção do setor, a valorização de redes que fortaleçam o compartilhamento de ideias e, principalmente, o investimento em inovação. Segundo estudo de Bernardes e Brito (2005), a inovação, que é proveniente em grande parte do desenvolvimento tecnológico e de informação, acaba sendo pouco explorada em São Paulo, nos seus principais aglomerados de produção têxtil e vestuário (Brás e Bom Retiro), devido ao pouco investimento na fabricação digital, persistindo ainda os métodos manuais. 26. BRITO, Maria das Graças. BERNARDES, Roberto. Simples aglomerados ou sistemas produtivos inovadores? Limites e possibilidades para a indústria do vestuário na metrópole paulista. São Paulo em Perspectiva. V.19 n.2, 2005.P. 7 27. EMPRESA MUNICIPAL DE URBANIZAÇÃO. Caminhos para o centro: estratégias de desenvolvimento para a região central de São Paulo. São Paulo: EMURB, 2004, P. 303 28. Ibid., P. 302

“Com efeito, nesse segmento, os maiores avanços ocorreram no desenho e no corte, pela utilização de sistemas CAD (computer aided design) e CAM (computer aided manufacturing). Entretanto, grande parte das empresas desse segmento desenvolveram suas operações produtivas de forma não automatizada, não suprindo as atividades artesanais e anuais no processo produtivo baseadas ainda na relação um operador/uma máquina.” 26 Percebe-se, que o setor têxtil apresenta baixíssimo índice de inovação, onde Garcia e Cruz 27 enfatizam que as empresas, ao invés de investirem em tecnologia e conhecimento, acabam recorrendo para caminhos “mais fáceis” como a subcontratação e trabalho informal, para que seus produtos ofereçam preços mais competitivos. Falta, na opinião do autor, um estímulo à competitividade sustentável, que poderia ser impulsionada pela intensificação das relações entre empresários, associações e instituições de ensino.

Em 2011 foi elaborado o Relatório “Economia e Cultura na Moda no Brasil”, onde é mencionada a necessidade de espaços na cidade que estabeleçam maior relação de proximidade entre os indivíduos e intercâmbio de ideias, como feiras e eventos, assim como a importância das incubadoras e espaços voltados empreendedorismo de novos projetos e pesquisa de tecnologia nessa produção. “Essa interação se torna particularmente importante quando se observa a proliferação de cursos de ensino superior e de pósgraduação ligados à moda, os quais podem contribuir ainda mais para a obtenção de ganhos mais expressivos de produtividade e para a criação de vantagens competitivas relacionadas com elementos virtuosos de inovação e desenvolvimento de produto e design.” 28

[FIG. 25]

[FIG. 27]

[FIG. 26]

[FIG. 28]

ACESSÓRIOS DE MODA PRODUZIDOS ATRAVÉS DE TÉCNICAS DA PRODUÇÃO DIGITAL.

27


Outra característica da Moda é que se constitui como uma cadeia produtiva muito ampla, envolvendo agentes além do processo de fabricação do produto. Além de ser necessário investimento em marketing e desenvolvimento de marcas, apresenta grande interatividade com outras áreas do conhecimento, principalmente outras áreas da Economia Criativa, como fotógrafos, agências de publicidade, novas mídias, entre outros. Dessa maneira, entende-se que o processo criativo, necessário à inovação do setor, depende diretamente da colaboração entre profissionais de moda e outros agentes, gerando, portanto, redes produtivas específicas. Por exemplo, o São Paulo Fashion Week vai além de uma mera “semana de desfiles”, mas é um espaço onde se difundem ideias, tendências e experiências, além da aproximação de profissionais de vários nichos e níveis, visando à inovação e fortalecimento do setor.

[FIG. 29] DESFILE NA INCUBADORA DE MODA E DESIGN FÁBRICA SANTO THYRSO, EM PORTUGAL

“Atualmente em produtos criativos que se restrinjam a uma única área ou segmento criativo. Desfiles de moda, por exemplo, são realizados com espetáculos de música; espetáculos de dança se integram a projeções audiovisuais; a editoração de livros se faz por meio da indústria de conteúdos das novas mídias, etc. A mescla de várias linguagens e áreas tornou-se prática comum nessa nova economia”. 29 Para o fortalecimento da cadeia produtiva, é propício o surgimento dos clusters. Alguns autores, como Garcia e Cruz (2004), defendem que para que o Bom Retiro se consolide como um cluster, onde a aproximação de empresas do mesmo setor podem fortalecer seus laços, é preciso que haja maior cooperação entre empresas e instituições que apoiem essa produção, o que não acontece hoje na região apesar da concentração de atividades nesse setor. Atualmente, o bairro carece de um espaço de referência voltado à moda, vestuário e produção têxtil. A unidade SENAI, que se localizava na Rua Anhaia, era uma dessas instituições, mas foi desativada, tendo todas as suas atividades deslocadas para a unidade do Brás.

28

[FIG. 30] SÃO PAULO FASHION WEEK VERÃO 2015 . A FACHADA DO EVENTO PENSADA COMO GALERIA DE ARTE.

29. Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações, 2011 – 2014. Brasília, Ministério da Cultura, 2011. Disponível em: http:// w w w. c u l t u r a . g o v. b r /


2.3.1. ESCRAVOS DA MODA x LIBERDADE CRIATIVA Além dos desafios citados anteriormente, o setor da Moda enfrenta outros entraves em sua produção. Dentre eles está o trabalho informal de imigrantes latino-americanos, os quais estão sujeitos a condições análogas à escravidão. Essa perversa realidade, escondida atrás do “glamour” das passarelas, nega completamente os princípios da Economia Criativa: enquanto a produção da Moda deveria ser um processo de trabalho criativo e engajado culturalmente, a maioria das confecções faz dos seus trabalhadores “máquinas de produzir e reproduzir”. Sem qualquer fiscalização, os imigrantes ficam vinculados a condições exploratórias de trabalho onde, segundo Iara Rolnik (2007), são submetidos a jornadas de mais de 12 horas por dia de trabalho com direito a somente uma folga por semana; realizam todas as suas atividades em um único local, o que contribui para o isolamento dessa comunidade; sujeitos a condições inóspitas de ventilação e iluminação; além de receberem uma quantia extremamente baixa por peça produzida. A questão do trabalho maçante nas indústrias, visando atender o desenfreado consumo da sociedade capitalista, é um assunto que vem sendo abordado por diversos estudiosos, como Domenico De Masi (2000), cujos conceitos podem ser relacionados com a realidade aqui estudada. 30. DE MASI, Domenico. O Ócio Criativo / Domenico De Mais: entrevista a Maria Serena Palieri. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. P.59

De Masi questiona o enclausuramento das fábricas, que impedem o trabalhador de ter qualquer contato com o mundo exterior. Somam-se aos ambientes físicos, os métodos de trabalho, os quais se tornaram inapropriados para a produção contemporânea, condicionada pelo esforço intelectual.

31. Fashion Labs: Inovação entre Moda e Tecnologia. Disponível em: http://www. stylourbano.com.br/ fashion-labs-inovacaona-uniao-entre-modavarejo-e-tecnologia/ Acesso em 24/08/2015.

“A fábrica, caracterizada pelos muros que a circundam e que interditam o ingresso de estranhos, destila seus princípios no interior do seu próprio universo tecnológico. Uma vez que entra na fábrica, o trabalhador não tem mais, durante o dia todo, contato algum com o exterior: não dispõe de telefone, e seu corpo e sua alma ficam segregados.” 30

Segundo o autor, a sociedade pós-industrial dá mais valor às atividades intelectuais e, logo, se faz necessária uma mudança nos métodos de trabalho e seus respectivos ambientes, dando melhores condições ao processo de criatividade. A tecnologia, por exemplo, deveria contribuir para diminuir o esforço físico dos trabalhadores, dando a eles, mais tempo para exercer as atividades intelectuais. Assim, defende-se que as jornadas de trabalho não deveriam ser tão exaustivas e os ambientes de trabalho não deveriam ser compostos apenas de uma única função visando somente à produção, mas estarem associados ao lazer e ao estudo, criando condições ao que De Masi chama de “ócio criativo”, o tempo livre em que a mente relaxa e se torna mais propícia à criatividade. Em oposição à pressão produtiva a que o trabalhador da Moda está sujeito, surgiram os “Fashion Labs” , como uma alternativa à produção em massa. Esses espaços consistem em uma “(...) junção de laboratórios de pesquisa tecnológica, cowsewing (cocostura) e startups (...)” 31 para empresas inovadoras ou designers emergentes que não tem condições financeiras nem o maquinário necessário e buscam ambientes onde possam criar e experimentar novas ideias. Portanto, a Economia Criativa e suas cooperativas alternativas de produção pertencentes ao “Movimento Maker” e “Do It Youself” desconstroem a realidade de produção maçante imposta pela produção industrial tradicional, através da liberdade de criação e produção, colaboração e democratização da tecnologia.

29


30


3. O LUGAR 31


3.1. APROXIMAÇÃO DO LUGAR CONTEXTO URBANO Além da proximidade à Marginal Tietê e presença de transporte sobre trilhos (metrô e trem) o bairro encontrase em um importante eixo de ligação entre as zonas Norte e Sul da cidade, representado pela Avenida Tiradentes. Além da mobilidade, este é um importante eixo cultural na região central, uma vez que abriga no seu entorno grande quantidade de equipamentos urbanos, de usos diversos. LOCALIZAÇÃO DO PROJETO EIXO COMERCIAL – JOSÉ PAULINO VIAS ESTRUTURAIS - (A) Av. Tiradentes / (B) Marginal Tietê / (C) Av. do Estado / (D) Av. Rudge LINHA DE METRÔ – LINHA 1 LINHA DA CPTM – LINHAS 7 / 8 ESTAÇÃO DE TREM ESTAÇÃO DE METRÔ

[FIG. 31] PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS E VIAS

32

EQUIPAMENTO CULTURAL

EDUCAÇÃO

LAZER

SERVIÇOS PÚBLICOS

1.PINACOTECA 2.MUSEU DA LINGUA PORTUGUESA 3.ESTAÇÃO PINACOTECA 4.SALA SÃO PAULO 5.MUSEU DA ENERGIA 6.OFICINA CULTURAL OSWALD DE ANDRADE 7.MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO PAULO 8.TEATRO TAIB 9.TEATRO POPULAR UNIÃO

1.FATEC / ETEC 2.ESCOLA DE MODA 3.COLÉGIO DE SANTA INÊS 4.ESCOLA ESTADUAL 5.ESCOLA DE MODA 6.ESCOLA DE MODA 7.INSTITUTO CRIAR DE TV E CINEMA 8.SENAC 9.LICEU CORAÇÃO DE JESUS

1.SESC BOM RETIRO 2.CONJUNTO ESPORTIVO CULTURAL 3.CENTRO ESPORTIVO TIETÊ 4.PRAÇA DA LUZ

1.ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO 2.POLICIA MILITAR 3.SECRETARIA DA SAÚDE PÚBLICA 4.FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO EDUCAÇÃO 5.BATALHÃO DA POLÍCIA MILITAR 6.DETRAN

DA


A fim de identificar os potenciais de intervenção na região, foi feito um levantamento preliminar utilizando como base o Google Street View, Mapa Digital da Cidade e levantamento de uso do solo de Regina Meyer. Nele foram sobrepostas informações de uso do solo por predominância de quadra e terrenos em potencial, incluindo: estacionamentos, edificações abandonadas ou sem uso e edificações em mau estado de conservação. Percebe-se a presença de um núcleo consolidado de comércio e possíveis intervenções em torno dele. À leste, nas proximidades da Av. Tiradentes, há terrenos em potenciais localizados próximos à área residencial do bairro e, portanto, com grande tendência à verticalização residencial. Assim, notase outra possibilidade à oeste, nas áreas mais industriais, a Rua Anhaia, que faz a transição entre as duas zonas e apresenta maior possibilidade de conexão com o núcleo dinâmico do bairro. RESIDENCIAL COMERCIAL / SERVIÇOS INSTITUCIONAL [FIG. 32] POTENCIAIS DE INTERVENÇÃO NO BAIRRO. INDUSTRIAL POTENCIAL DE INTERVENÇÃO: ESTACIONAMENTOS; EDIFICAÇÕES SEM USO; EDIFICAÇÕES EM MAU CONSERVAÇÃO

ESTADO

DE

RUA ANHAIA

33


A FERROVIA Após a análise preliminar dos potenciais, percebeu-se que as áreas lindeiras à ferrovia, apesar de próximas a aglomeração comercial, não se reinventaram. Da mesma forma que a linha férrea trouxe a ocupação, com o abandono da atividade industrial, esta se tornou uma barreira, contribuindo para a decadência da região. Tal fato pode ser ilustrado pela tese defendida por Jane Jacobs em relação às áreas de fronteira, onde os usos vão se tornando menos intensos a medida em que aproxima-se da mesma. “No caso de uma linha férrea, o distrito que fica de um dos lados dela pode se dar melhor que o distrito que fica do outro lado. Mas os lugares que se saem pior, fisicamente, costumam ser aqueles próximos à ferrovia, de ambos os lados.” 32 O processo de desindustrialização e abandono da região aparece no bairro de diferentes maneiras, marcado por: [1] Invasão de áreas abandonadas; [2] Subutilização industrial;

do

1958

[1] Moinho Central, hoje Favela do Moinho. Grandes infraestruturas abandonadas e o descaso em relação às bordas da linha férrea configuraram-se em espaços oportunos para ocupação irregular. Ocupada inicialmente na década de 1990, em 2008 o edifício do moinho sofreu um incêndio, sendo demolido posteriormente.

2004

[FIG. 33] MOINHO CENTRAL

patrimônio

[3] Substituição de edificações em prol da especulação. 32. JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. 3ª Ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011. P. 285 [FIG. 34]

34


2012

2013

2015

[2] Antiga Fábrica da Ford, grande edificação, hoje abandonada com pichações e mal estado de conservação, sendo exemplo de edificação subutilizada.

[FIG. 35] FÁBRICA DA FORD

[FIG. 36]

[3] Antiga Fábrica da Neofarm instalada na Rua Anhaia, lindeira a ferrovia, foi demolida em 2013 para dar lugar a um estacionamento, ilustrando um de inúmeros exemplos de patrimônios industriais da cidade que foram demolidos em prol da especulação imobiliária. Esse é um dos sítios de intervenção.

[FIG. 37] ANTIGA FÁBRICA.

[FIG. 38]

35


PAISAGEM DA ORLA FERROVIÁRIA A partir da análise anterior, percebese que a orla ferroviária necessita de requalificação, principalmente em seu maior vazio, onde hoje está a Favela do Moinho. Segundo conceitos de Jacobs (1961), o maior problema das áreas de fronteira é a falta de dinâmica, pois geralmente não há usos atrativos nessas áreas, sendo necessário, portanto, criar condições para que as pessoas se desloquem em direção a mesma. Além da requalificação de seu entorno, é interessante ocupar a própria fronteira, de forma que ela se torne uma nova linha de costura na cidade. Dessa forma, propostas de projeto no Plano Diretor junto à Prefeitura pretendem tornar esse grande vazio, um Parque Linear, onde a população em situação irregular seria relocada, dando lugar a uma área verde e de lazer.

LOCALIZAÇÃO DO PROJETO SAÍDA DA POPULAÇÃO EM ESTADO DE PRECARIEDADE ESTAÇÃO DE METRÔ PREVISTA ESTAÇÃO CPTM PREVISTA PROPOSTA: PARQUE LINEAR ÁREA DESTINADA À HIS

36

[FIG. 39] PROPOSTA PARA UM PARQUE LINEAR – MAPA ELABORADO COM BASE NAS DIRETRIZES PÚBLICAS PARA A ÁREA, ENTRE ELAS, A DA SECRETARIA DE HABITAÇÃO (HABISP) E DO PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO.


[FIG. 40] A FERROVIA ATRAVESSANDO OS DISTRITOS DO BOM RETIRO E SANTA CECÍLIA.

37


INTERVENÇÃO NA RUA ANHAIA Rua Anhaia, parte lindeira a linha férrea, configura-se hoje como uma rua de passagem, cujo movimento constante se dá nos horários em que as pessoas se deslocam para seus locais de trabalho, nas ruas comerciais das proximidades. Ao contrário de suas ruas “vizinhas”, como Rua Silva Pinto, Rua dos Italianos e Rua José Paulino, não apresenta concentração de comércios no térreo, sendo estes pontuais. Tão próxima da dinâmica urbana e ao mesmo tempo tão distante. Ponto de convergência, um nó na cidade. A rua, que devido à proximidade à linha férrea abrigou indústrias, hoje tem uma caracterização que parece indefinida, marcada por térreos fechados de pequenas confecções, algumas lanchonetes que se misturam a estacionamentos e edificações sem uso.

1

A intervenção teve como princípio a criação de um lugar de permanência na cidade, como um respiro urbano em meio à malha densamente edificada da região.

2

O ponto de partida foi a identificação dos estacionamentos e edificações sem uso. A partir deles, analisou-se o contexto onde percebeu-se que, na Quadra 01 existia predominância de gabarito baixo e seus usos não contribuíam para a ativação da dinâmica urbana. Além disso, suas edificações dão costas à ferrovia, reforçando seu caráter de barreira. Quanto a Quadra 02, lojas de gabarito baixo na Rua dos Italianos foram demolidas, de forma a criar uma continuidade com a galeria existente e uma condição de costura urbana, conectando o projeto à dinâmica existente. [FIG. 41] ÁREA DO PROJETO

38


ÁREA DE INTERVENÇÃO 6138 M2


TRANSPOSIÇÃO DA LINHA FÉRREA – FLUXO DE PESSOAS DA ESTAÇÃO JULIO PRESTES / LUZ ATÉ O BOM RETIRO.

INTENSO TRÁFEGO DE CARROS E PESSOAS EM DIREÇÃO AOS SEUS LOCAIS DE TRABALHO, POR VOLTA DAS 8 HORAS DA MANHÃ.

40

A RUA POR VOLTA DAS 11 HORAS DA MANHÃ, COM MENOR FLUXO DE PESSOAS E VEÍCULOS. / TÉRREOS INATIVOS

ESTACIONAMENTO EM LOTE DE ESQUINA


ESTACIONAMENTO.

A RUA DURANTE UM DOMINGO À TARDE, PRATICAMENTE VAZIA.

IMÓVEIS SEM USO.

O MURO DA LINHA FÉRREA AO FUNDO DA RUA JULIO CONCEIÇÃO.

EDIFICAÇÃO ABANADONADA.

GALERIA LOMBROSO AO FUNDO.

41


A linha férrea representa uma barreira no bairro, uma vez que sua presença dificulta a mobilidade de veículos e pedestres. Assim, a localização próxima à transposição faz com que a Rua Anhaia esteja em um lugar estratégico do bairro. Além disso, encontra-se nas proximidades das principais ruas de comércio, cujas galerias representam uma interessante possibilidade de percurso até o local de intervenção.

RUA ANHAIA

EQUIPAMENTOS ÂNCORA 1. PINACOTECA / PRAÇA DA LUZ 2. MUSEU DA LINGUA PORTUGUESA / ESTAÇÃO DA LUZ 3. ESTAÇÃO PINACOTECA 4. SALA SÃO PAULO / ESTAÇÃO JULIO PRESTES 5. SESC BOM RETIRO TRANSPOSIÇÃO DA LINHA FÉRREA LOCALIZAÇÃO DO PROJETO GALERIAS EXISTENTES PRINCIPAIS RUAS COMERCIAIS RUA JOSÉ PAULINO CONEXÕES

42

[FIG. 44] CONEXÕES URBANAS


A identificação dos terrenos em potenciais foi o ponto de partida para a escolha do terreno. A partir deles, analisou-se o que havia no entorno para possível intervenção.

[FIG. 45] LEVANTAMENTO DE TERRENOS EM POTENCIAIS

OCUPAÇÕES EDIFÍCIOS SEM USO (ALUGA-SE)

EDIFICAÇÕES ABANDONADAS

ESTACIONAMENTOS ÁREA DO PROJETO

43


A planta de gabarito permite analisar que a Rua Anhaia não apresenta, predominantemente, edifícios com mais de 5 pavimentos. Assim, um dos critérios de intervenção foi a escolha de lotes, preferencialmente, de até térreo + 2 pavimentos.

[FIG. 46] LEVANTAMENTO GABARITO TÉRREO

TÉRREO + 1

TÉRREO + 2 TÉRREO + 3

TÉRREO + 4 OU MAIS

ÁREA DO PROJETO

44


A rua apresenta usos diversificados predominando pequenas confecções nos pavimentos superiores com térreo não ativo. Procurou-se intervir principalmente nesses lotes. Além disso, considerou-se também que o uso residencial de gabarito baixo não é pertinente para a região.

SEM USO

INDÚSTRIAS

OFICINAS / CONFECÇÕES

[FIG. 47] LEVANTAMENTO DE USOS

COMÉRCIO VESTUÁRIO/ TEXTIL + CONFECÇÕES OUTROS COMÉRCIOS / SERVIÇOS

RESIDENCIAL / COMÉRCIO + RESIDENCIAL

INSTITUCIONAL ESTACIONAMENTOS ÁREA DO PROJETO

45


As galerias aproximam a rua do edifício e viceversa, diminuindo a diferença entre o domínio público e privado. Assim, se configuram como ruas internas, promovendo uma continuidade com o espaço público, sendo favoráveis a interações na cidade. “Na medida em que a oposição entre as massas dos edifícios e o espaço da rua serve para distinguir – grosso modo- o mundo privado do público, o domínio privado circunscrito é transcendido pela inclusão de galerias. O espaço interior se torna mais acessível, enquanto o tecido das ruas se torna mais unido.” 33

[FIG. 48 ] LOTES EM FRENTE À GALERIA JOSÉ PAULINO

33. HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1999. P. 77

46

[FIG.49] CENTRO COMERCIAL BOM RETIRO.

[FIG. 51] CENTRO COMERCIAL BOM RETIRO

[FIG. 50] GALERIA LOMBROSO

[FIG. 52] GALERIA JOSÉ PAULINO


1

5

2

4

3 6 QUADRAS ÁREA DO PROJETO GALERIAS 1. CENTRO COMERCIAL BOM RETIRO 2. SEM NOME 3. GALERIA AIMORÉS 4. SEM NOME 5. GALERIA JOSÉ PAULINO 6. GALERIA LOMBROSO

[FIG. 53] LEVANTAMENTO DE GALERIAS

CONEXÕES GALERIAS PERCURSO GALERIAS EXISTENTES PERCURSO PROJETADO

47


3.2. PLANOS E PARÂMETROS URBANÍSTICOS 3.2.1. PLANOS PARA O BAIRRO A área em estudo encontra-se na Macroárea de Estruturação Metropolitana, segundo a Lei 16.050. [Fig. 54] Esta área, devido ao processo de deslocamento do centro, apresenta desequilíbrio entre moradia e trabalho, além de carência de investimentos em infraestrutura. Dentro dessa Macroárea, o Bom Retiro é um dos distritos que se insere no perímetro do Arco Tietê, plano que ainda está em estudo. Apesar disso, é importante reconhecer suas propostas que tem como objetivo não só a aproximação da população ao local de trabalho, mas também a potencialização de suas atividades, visando o desenvolvimento urbano de forma que possam gerar mais empregos. Tal desenvolvimento econômico será dado, segundo os estudos apresentados, através da criação de polos de desenvolvimento econômico, dentre eles, os polos de economia criativa. Estes, além de atraírem novas atividades, diversificando e requalificando as atividades das regiões, beneficiarão as empresas já instaladas, como as pequenas confecções e comércios de vestuário nos bairros indicados no diagrama acima, Bom Retiro, Pari e Brás. [Fig. 55]

[FIG. 54] MACROÁREAS DO NOVO PLANO DIRETOR DE SÃO PAULO. EM VERMELHO, A MACROÁREA DE ESTRTURAÇÃO METROPOLITANA, DESTACANDO-SE O DISTRITO DO BOM RETIRO.

Na proposta para o novo zoneamento, ainda não aprovado, a área de estudo encontra-se em Zona de Desenvolvimento Econômico, que “são porções do território com presença de uso industrial, destinadas à manutenção, ao incentivo e à modernização desses usos, às atividades produtivas de alta intensidade em conhecimento e tecnologia e aos centros de pesquisa aplicada e desenvolvimento tecnológico (...).” 34 No outro lado da linha férrea, percebe-se a concentração de ZEIS-3 (Zona de Interesse Social), que incentiva a moradia próxima a empregos oferecidos pelas áreas centrais. No entanto, para que essa integração aconteça, é necessário que se ofereçam oportunidades de inserção dessas pessoas no mercado de trabalho intermediadas pela implantação de instituições, sejam elas públicas ou em parcerias público-privado. Analisando as propostas acima citadas, percebe-se, a pertinência da implantação de um equipamento voltado à capacitação, empreendedorismo e inovação de Moda e Design, que localizado junto à orla ferroviária e nas proximidades da aglomeração comercial, visa a potencialização das atividades locais, integração social e requalificação das bordas da cidade através da Indústria Criativa. 48

[FIG. 55] ÁREA DO ARCO TIETÊ. PONTOS EM DESTAQUE INDICAM OS POLOS DE ECONOMIA CRIATIVA PROPOSTAS PELO ARCO, SENDO QUE UM DELES ESTÁ NO BOM RETIRO.

34. Artigo 137, LEI Nº 16.050, DE 31 DE JULHO DE 2014, Prefeitura do Município de São Paulo.


3.2.2. PARÂMETROS URBANÍSTICOS Como a cidade de São Paulo encontra-se em um momento de transição de legislação, onde há um Plano Diretor Estratégico aprovado, mas o zoneamento ainda está sofrendo discussões, procurou-se adotar os parâmetros de Coeficiente de Aproveitamento e Taxa de Ocupação, da Lei 16.050, já aprovada, e os demais, do Plano Regional da Subprefeitura da Sé, aprovados pela Lei 13.885. A área de intervenção encontra-se, no Plano Regional em uma Zona de Centralidade Polar-b / ZCL-b [Fig.56], e no projeto de lei do novo Plano Diretor como Zona Desenvolvimento Econômico 1 / ZDE-1 [Fig. 57].

Coeficiente de aproveitamento máximo = 2 Taxa de Ocupação Máxima = 70% Área permeável mínima = 15%

[FIG. 56] LOCALIZAÇÃO DO TERRENO NA ZONA DE CENTRALIDADE

Além desses parâmetros, adotou-se como critério a possibilidade de seguir o alinhamento da rua, uma vez que todas as edificações da rua não apresentam recuo frontal. Da lei 13.885, “Art. 185. Não será exigido recuo mínimo de frente nas zonas ZM-2 e ZM-3, ZMp, ZCP, ZCL, ZCPp, ZCLp, ZPI e ZEIS quando no mínimo 50% (cinqüenta por cento) da face de quadra em que se situa o imóvel esteja ocupada por edificações no alinhamento do logradouro, no levantamento aerofotográfico do Município de São Paulo, de 2000.”

[FIG. 57] LOCALIZAÇÃO DO TERRENO NA ZONA DE DESENVOLVIMENTO ECONÕMICO

49


50


4. REFERÊNCIAS 51


4.1. VISITAS TÉCNICAS As visitas técnicas ao SENAI Vestuário, no Brás, e ao SENAC, unidade Lapa Faustolo, tiveram como objetivo a elaboração de parte do programa, correspondente ao ensino e produção, e o entendimento da dinâmica dos cursos de moda e vestuário. A unidade do SENAC visitada apresenta como foco cursos de Moda com habilitação tanto em modelagem e estilismo, como negócios e produção da Moda, sendo estes de pós-graduação, extensão universitária, cursos técnicos e livres. Além dos laboratórios para as atividades práticas, a unidade apresenta uma infraestrutura interessante e necessária para o processo de pesquisa e criação: A Biblioteca integrada à Teciteca e Modateca, onde os alunos podem ter referências não só teóricas como também, amostras de tecidos e peças de vestuário para o processo criativo de suas peças; além do Auditório de múltiplo uso, cujo espaço livre permite que aconteçam atividades que vão desde desfiles produzidos pelos alunos, aulas práticas ou workshops. Já o SENAI, apresenta cursos em todos os níveis, que vão desde a formação técnica a pós-graduação. A unidade é constituída de laboratórios que abrangem tanto a área têxtil como áreas voltadas a produção de vestuário e design, as quais interessam neste trabalho. A unidade apresenta equipamentos interessantes que são essenciais não só a formação técnica como também podem ser ferramentas para que os alunos produzam aquilo que idealizaram, como os ateliês mais livres com equipamentos necessários para a produção assim como laboratórios que estreitam as relações entre Moda e Tecnologia, como o Laboratório de Corte Mecânico e de Estamparia Digital. Já a visita à Garagem Fab Lab foi importante para o conhecimento do método de trabalho “Do it Yourself” e da fabricação digital a favor da criatividade, em uma oficina colaborativa de trabalho. O espaço faz parte de uma rede mundial de Fab Labs e apoia a ideia de design livre e Economia Criativa, dando oportunidade a profissionais de qualquer área do conhecimento concretizarem suas ideias através de maquinários específicos, como também participarem da criação de uma rede colaborativa. Além das máquinas, o espaço promove cursos, palestras e os chamados “Open Days”, isto é, dias abertos para o público em geral. Dessa forma, as visitas possibilitaram a elaboração de um programa que tem como intenção promover a criatividade e redes colaborativas, sendo necessários espaços tanto de aprendizado e especialização, como também espaços mais livres que promovam novas ideias 52


SENAC LAPA FAUSTOLO

[FIG.58] AUDITÓRIO MULTIUSO, ONDE AS PASSARELAS VIRAM MESAS, PARA OS ATELIERS DE MODA.

[FIG.60] ÁREA EXTERNA, QUE DÁ ACESSO AO AUDITÓRIO DANDO POSSIBILIDADE QUE OS EVENTOS SE EXTENDAM ALÉM DO ESPAÇO FECHADO.

[FIG.59] DESFILE.

[FIG.61] WORKSHOP.

53


[FIG.62] SALA DE AULA COM MÁQUINAS DE COSTURA INDUSTRIAL E MANEQUINS PARA MODELAGEM.

[FIG.63] SALA DE AULA COM MESAS DE CORTE E MÁQUINAS PORTÁTEIS.

54

[FIG.64] TECITECA, ONDE FICAM AMOSTRAS DE TECIDOS.

[FIG.65] MODATECA, ONDE SÃO FICAM PEÇAS DE ROUPAS, PRINCIPALMENTE ÚLTIMAS TENDÊNCIAS DA MODA, PARA SERVIR DE REFERÊNCIA PARA OS ESTUDANTES.


SENAI BRÁS

[FIG. 66] ENFESTADEIRA E MÁQUINA DE CORTE MECÂNICO. SISTEMA CAD/CAM.

[FIG. 68] ATELIÊ DE PRODUÇÃO LIVRE.

[FIG. 67] MESA DE CORTE MANUAL.

[FIG. 69] SALA DE AULA.

55


GARAGEM FAB LAB

[FIG. 70] PROTÓTIPOS CRIADOS NO FAB LAB.

[FIG. 71] ESPAÇO DOTADO DE MAQUINAS 3D, FRESADORAS, IMPRESSOAS A LASER, ENTRE OUTROS , ESTIMULANDO A CRIAÇÃO.

56

[FIG. 72] MÁQUINA DE CORTE A LASER.

[FIG. 73] MÁQUINAS DE IMPRESSÃO 3D .


“Por detrás do termo ‘do it yourself’ (faça você mesmo), popularizado há mais de 10 anos pela Make Magazine1 há uma ideia-chave: encorajamento da criatividade individual através da consciência e responsabilidade social. Muito popular nos Estados Unidos, o ‘faça você mesmo’ faz parte do modelo de inovação típico dos inventores de garagem à imagem de Steve Jobs e Steve Wozniak quando desenvolveram o primeiro computador em sua garagem. Estes amantes da bricolagem (makers, em inglês) se interessam também por estuário, costura, mobiliário, música, robótica, pelos ‘drones2’ e automóveis. Dale Dougherty, redatorchefe da revista Make Magazine, diz que estas práticas não são novas. A única novidade é que elas ganharam impulso com a chegada da internet, o que permitiu a relação entre os makers e os espaços de discussão colaborativos. Com isto, o maker do nosso tempo não faz mais sozinho, e sim com os outros (DIWO – do it with others).” (EYCHENNE e NEVES, 2013) 57


4.2. FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA E REFERÊNCIAS CONCEITUAIS A partir da reflexão sobre Economia Criativa e sua relação com o espaço urbano e arquitetônico, percebe-se que a difusão dessa produção acontece em espaços que promovem a interação entre pessoas, despertando o sentimento de coletividade. Mais do que isso, a cidade e os edifícios passam a ser projetados para pessoas, de forma que elas possam vivenciá-los. Assim, alguns conceitos teóricos, mesmo que não sejam contemporâneos a essa nova produção, apresentam estratégias que podem proporcionar ambientes mais criativos, estimulando a liberdade, a flexibilidade e a cooperação entre seus usuários. Hertzberger, arquiteto que discute a relação entre espaço e seus usuários, afirma que essa sociabilidade pode estar presente nos edifícios através de uma arquitetura que permita sua apropriação, tornando-a agradável e propícia a encontros casuais. Assim, a arquitetura é aberta a interpretações individuais, deixando o espaço aberto a diversos usos sem, no entanto, que a arquitetura perca sua essência. Já Tschumi, através de uma visão mais contemporânea da arquitetura, estabelece uma estrita relação entre ela e seus usuários, onde afirma que não existe arquitetura sem programa e pessoas. Então, a arquitetura passa a ser resultado da interação entre espaço e corpo e o deslocamento deste no espaço é o que se conhece por movimento. 35 O movimento potencializa o contato entre os corpos, e a relação destes com o espaço, dando origem aos eventos, acontecimentos não programados e singulares. Estes, por sua vez, encorajam as pessoas a se apropriarem dos espaços e se socializarem, sendo mais estimulantes aqueles que não possuem um uso definido, os “between spaces”. “Espaços de movimento – corredores, escadas, rampas, passagens, soleiras; é aí que começa a articulação entre o espaço dos sentidos e o espaço da sociedade(...)” 36

58

Além de permitir a interação entre pessoas, o movimento passa a desenhar espaços, uma discussão que se deu ainda na arquitetura moderna. O passeio arquitetônico, promenade architecturale 37 , valoriza o percurso, permitindo que o objeto arquitetônico possa ser vivenciado a partir do deslocamento do usuário, o qual passa a ser surpreendido através da variação de elementos arquitetônicos e espaciais. Esta relação, ao ser analisada no âmbito da cidade, é discutida por Cullen, que afirma que o percurso reforça a percepção do corpo aos elementos da cidade através dos espaços sequenciais, proporcionando um ambiente mais rico, onde os contrastes, como pontos focais, estreitamentos, alargamentos e desníveis, podem gerar diversas surpresas e um passeio mais interessante. 38

PROJETOS DE REFERÊNCIA Os estudos da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo, do arquiteto Vilanova Artigas e da Escola de Arquitetura de Marne-la-Vallée, do arquiteto Bernard Tschumi são interessantes para o presente trabalho por aplicarem os conceitos anteriormente discutidos, apresentando como premissa a arquitetura como espaço de encontros e eventos. Construídos em contextos e épocas completamente diferentes resultaram em arquitetura distintas, devido à materialidade e tecnologia utilizadas. No entanto, partem de princípios semelhantes, como a do vazio articulador de espaços e da promenade architecturale ficando evidentes, portanto, as diferentes formas de aplicabilidade desses conceitos.

35. NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica (1965-1995). 2ª Ed. São Paulo: Cosac Naify, 2008, P. 178. 36. NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica (1965-1995). 2ª Ed. São Paulo: Cosac Naify, 2008, P. 181. 37. Conceito da Arquitetura Moderna, de Le Corbusier, presente no projeto Villa Savoye. 38. CULLEN, Gordon. Paisagem urbana. São Paulo, SP: Edições 70.


FAU-USP - Vilanova Artigas São Paulo, 1967 Artigas organiza o edifício a partir de dois blocos e um vazio central, o Salão Caramelo, sendo interligados por rampas. Através delas, o arquiteto se apropria dos conceitos da promenade, deixando com que o percurso estruture o programa [Fig 81]. Dessa maneira, o edifício permite fluidez do usuário, que sai do espaço público para o privado sem ser impedido por nenhuma barreira. Da mesma forma, os espaços internos permitem o passeio arquitetônico, onde o programa é organizado gradualmente, sendo os níveis mais baixos correspondentes aos ambientes mais acessíveis e os mais altos, aos mais restritos [Fig. 80]. Os espaços foram constituídos de forma que permitissem os encontros entre pessoas e discussão de ideias. Para isso, Artigas projeta espaços transparentes entre si, que são reforçados pelos meio-níveis e abertura dos andares, sendo possível ter um panorama geral do edifício. Tal transparência reforça a ideia de espaços coletivos, apresentando três elementos nesse sentido: as rampas, que são largas, onde as pessoas se chocam, o vazio central iluminado por zenital, cujo uso é indefinido e permite a apropriação de seus usuários [Fig. 74] e os ateliês [Fig. 75], que são amplos e separados por paredes baixas.

[FIG. 74] O SALÃO CARAMELO COMO ESPAÇO DE DEBATES E AS RAMPAS AO FUNDO.

[FIG. 75]ATELIÊS.

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[FIG. 76] ORGANIZAÇÃO DO PROGRAMA – PLANTA DO SUBSOLO

ATELIÊS OFICINAS E LABORATÓRIOS MUSEU CARACOL / CAFÉ APOIO AUDITÓRIO DEPARTAMENTOS CIRCULAÇÃO SALAS DE AULA SALÃO CARAMELO

60

[FIG. 77]ORGANIZAÇÃO DO PROGRAMA – PLANTA DO TERREO

[FIG. 78] ORGANIZAÇÃO DO PROGRAMA – [FIG. 79]ORGANIZAÇÃO DO PROGRAMA – PLANTA DA BIBLIOTECA E DEPARTAMENTOS PLANTA DOS ESTÚDIOS E SALAS DE AULA


[FIG. 80]ORGANIZAÇÃO DO PROGRAMA – CORTE TRANSVERSAL

[FIG. 81] TRANSPARÊNCIA ENTRE OS PAVIMENTOS

[FIG. 82] TRANSPARÊNCIA ENTRE OS PAVIMENTOS

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Escola de Arquitetura Marne-la-Vallée – Bernard Tschumi Marne-la-Vallée, França, 1999 O programa da Escola está presente em oito blocos fechados, organizados pelo vazio central, aprogramático. De um lado estão os blocos que correspondem às salas de aula e do outro, os setores administrativos e de pesquisa [Fig. 85]. Os espaços estão organizados por uma circulação perimetral através de corredores abertos, o que permite que as escadas estejam em lugares diferentes, promovendo a ideia de movimento dos usuários. O auditório [Fig. 83] elevado serve também como articulador entre os dois lados do vazio, que tem diferentes programas. O vazio é um local de encontros, promotor do conceito “espaçoevento”, assim como se pretende demonstrar o caráter político da arquitetura, onde os debates são reforçados pela presença do auditório. Desse espaço, é possível perceber a dinâmica das salas de aula, que são fechadas por elementos transparentes [Fig. 84].

[FIG. 83] AUDITÓRIO SUSPENSO COMO ELEMENTO ARTICULADOR TANTO DO PAVIMENTO SUPERIOR QUANTO INFERIOR. .

“(...) é preciso notar que toda preocupação com a substância material tem implicações que vão além da mera estabilidade estrutural. A materialidade da arquitetura, afinal de contas, está em seus sólidos e vazios, em suas sequências espaciais, suas articulações e colisões.” 39

[FIG. 84] VAZIO CENTRAL APROGRAMÁTICO. CORREDORES ABERTOS E SALAS ENVIDRAÇADAS REFORÇAM A TRANSPARÊNCIA, DE ONDE É POSSÍVEL VER A DINÂMICA

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39. NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica (1965-1995). 2ª Ed. São Paulo: Cosac Naify, 2008, P. 180.


CENTRO DE EXPERIMENTAÇÃO PRAÇA CENTRAL APOIO ATELIÊS DE PROJETO SALAS DE AULA CIRCULAÇÃO SETOR ADMINISTRATIVO / PESQUISA AUDITÓRIO / ANFITEATRO [FIG. 85] ORGANIZAÇÃO PROGRAMÁTICA – PLANTA DOS PAVIMENTOS SUPERIORES. BLOCOS PROGRAMÁTICOS SE ORGANIZAM AO LONGO DO VAZIO E SÃO INTERLIGADOS POR UMA CIRCULAÇÃO PERIMETRAL, DE ONDE É POSSÍVEL TER UM PARÂMETRO DE VÁRIOS ESPAÇOS DO EDFÍCIO.

[FIG. 86] ORGANIZAÇÃO PROGRAMÁTICA – PLANTA DOS PAVIMENTOS SUPERIORES. BLOCOS PROGRAMÁTICOS SE ORGANIZAM AO LONGO DO VAZIO E SÃO INTERLIGADOS POR UMA CIRCULAÇÃO PERIMETRAL, DE ONDE É POSSÍVEL TER UM PARÂMETRO DE VÁRIOS ESPAÇOS DO EDFÍCIO.

PRAÇA CENTRAL APOIO ATELIÊS DE PROJETO SALAS DE AULA CIRCULAÇÃO SETOR ADMINISTRATIVO / PESQUISA AUDITÓRIO / ANFITEATRO

[FIG. 87] ORGANIZAÇÃO PROGRAMÁTICA – CORTE. O VAZIO CENTRAL PERMITE CONEXÕES VISUAIS DENTRO DO EDIFÍCIO. ALÉM DISSO, TRABALHA-SE COM DIFERENTES NÍVEIS E VOLUMES, COMPOSTOS PELOS ESPAÇOS FECHADOS DOS AUDITÓRIOS, QUE DÃO DINÂMICA AO ESPAÇO, DANDO A ELE DIFERENTES POSSIBILIDADES DE USOS.

MIDIATECA

63


64


5. PROJETO 65


“Pôr o estudante na rua é fundamental. Em muitos lugares, o estudante é segregado do espaço da cidade, cercado por estruturas que se convencionou chamar de campus universitário. Ás vezes, o espaço é tão vazio que é um verdadeiro ‘matus’ universitário. Logo ele, estudante, que precisa conviver mais com a cidade para ter uma visão mais generosa da sociedade. Senão, ele vai receber gotas de informação de uma sociedade com a qual pouco convive. (...) Mesmo com as estruturas centralizadas de alguns campi, é possível trazer setores para dentro da cidade, principalmente ligados à seminários, atividades culturais etc. Ou então levar a cidade para dentro dos campi.” 40 A proposta de projeto tem como ponto de partida a costura da malha urbana, onde o programa é diluído de forma a criar novas âncoras, valorizando o percurso e a vivência na cidade. Dessa forma, o passeio urbano é dado a partir de elementos programáticos e aprogramáticos do projeto, ora livres ora edificados, constituindo novos espaços de permanência e respiro em meio à quadra densamente edificada. A condição dada pela intervenção, dois terrenos separados pela Rua Anhaia, impõe que as atividades estejam distribuídas, aproximando a arquitetura da cidade. Buscando a continuidade com o espaço público, os térreos dos edifícios procuram diminuir a barreira existente entre domínios públicos e privados. A “soleira”, a qual discute Hertzberger 41 , permite que a cidade adentre o edifício, de forma que a arquitetura crie condições para que o programa se organize gradativamente, do mais acessível para o mais restrito.

40. LERNER, Jaime. Acupuntura Urbana. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. P.49. 41. HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1999.

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Térreo público como extensão da calçada e passeio Plano inclinado que leva o pedestre, gradativamente, da rua ao edifício Travessia de quadra e novas possibilidades de percurso urbano

Galerias e conexões com a dinâmica existente

[FIG. 88] OS TÉRREOS LIVRES PERMITEM QUE A DINÂMICA URBANA SE INSIRA NA RUA ANHAIA , REATIVANDO O LOCAL ATRAVÉS DE NOVOS FLUXOS E ACONTECIMENTOS. A ARTICULAÇÃO DOS EDIFÍCIOS É DADA PELO ESPAÇO LIVRE NA ESQUINA, PONTO DE CONVERGÊNCIA DOS FLUXOS DOS PEDESTRES.


Os diferentes núcleos do “Hub de Criatividade e Moda” são interdependentes, onde o entrelaçamento do programa cria uma nova dinâmica na Rua Anhaia e propicia aos seus usuários a vivência na cidade.

CAPACITAÇÃO E QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

EVENTOS

TROCA DE EXPERIÊNCIAS, NETWORKING

CENTRO DE REFERÊNCIA

PESQUISA

INCUBADORA

INCENTIVO A NOVAS IDEIAS E EMPREENDEDORES CRIATIVOS

COMÉRCIO TEMPORÁRIO

DIVULGAÇÃO DE IDEIAS

[FIG. 89] NÚCLEOS DO PROGRAMA.

COMÉRCIO EXISTENTE RUA SILVA PINTO

COMÉRCIO EXISTENTE

CENTRO DE REFERÊNCIA

COMÉRCIO TEMPORÁRIO

INCUBADORA

ENSINO PRODUÇÃO COLABORATIVA EVENTOS

FUTURAS HABITAÇÕES SOCIAIS

A distribuição do programa nos terrenos levou em consideração não só o equilíbrio entre as áreas referentes a cada atividade como também as possíveis conexões que poderiam ser estabelecidas entre si e com a cidade.

ENSINO

LINHA FÉRREA

O programa, por sua vez, não visa se restringir somente à Moda, uma vez que esta se relaciona a diversas outras áreas. Através de espaços abertos ao público, como os Fab Labs e espaços de múltiplo uso para eventos e cultura, permite-se abrigar outras atividades relacionadas à Economia Criativa uma vez que uma de suas das premissas é a articulação de diversos campos da sociedade e disciplinas.

CRIAÇÃO, PROTOTIPAGEM, REDES, EXPERIMENTAÇÃO

RUA RUAANHAIA ANHAIA

Através de uma rede de atividades, pretende-se dar subsídios àqueles que procuram capacitação profissional ou profissionais de Moda que precisam se qualificar, concretizar suas ideias de maneira livre e estabelecer redes profissionais.

PRODUÇÃO COLABORATIVA

RUA DOS ITALIANOS

O “Hub de Criatividade e Moda” tem como intenção impulsionar as atividades da região do Bom Retiro para além da mera produção comercial, aproximando-a da Economia Criativa, que está associada ao processo de concepção dessa produção.

HUB DE CRIATIVIDADE E MODA

5.1. PROGRAMA

RUA JULIO CONCEIÇÃO

[FIG. 90] ORGANIZAÇÃO DO PROGRAMA NO ESPAÇO URBANO.

67


Ensino

[FIG. 91] PRODUÇÃO + ENSINO + EVENTOS TERRENO DA RUA ANHAIA, LINDEIRO À LINHA FÉRREA.

Produção Colaborativa

[FIG. 92] DIAGRAMAS SÍNTESE

68

Espaços de Eventos e Convívio


Centro de Referência

Módulos Dinâmicos: Incubadoras e “Pop-Up Stores”

[FIG. 93] INCUBADORA + COMÉRCIO + CENTRO DE REFERÊNCIA TRAVESSIA DE QUADRA, DA RUA DOS ITALIANOS À RUA ANHAIA.

[FIG. 94] DIAGRAMAS SÍNTESE

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PRODUÇÃO + ENSINO + EVENTOS Eventos e Convívio

Ambiente Ambiente

Ambiente específico

Observações

Área (m)

no Pessoas

Quantidade

Total

Área Total (m2)

2890

Ensino

70

Total

1605


Produção

Ambiente

Ambiente específico

Observações

Área (m)

no Pessoas

Quantidade

Total

Área Total (m2)

1190

Administrativo

Total

464

71


Ambiente

Ambiente específico

Observações

Área (m)

no Pessoas

Quantidade

Área Total (m2)

Total

3365

Apoio

Circulação

72

1955 (25%)


INCUBADORA + COMÉRCIO + CENTRO DE REFERÊNCIA Comércio

Ambiente

Ambiente específico

Observações

Área (m)

no Pessoas

Quantidade

Total

Área Total (m2)

200

Centro de Referência

Total

1285

73


Ambiente

Ambiente específico

Observações

Área (m)

no Pessoas Quantidade

Área Total (m2)

Incubadora

Total

510

Convívio Total

260

Apoio

Total

115 905 (26%)

74


ÁREAS GERAIS DO PROJETO PRODUÇÃO + ENSINO + EVENTOS Área do Terreno (m²)

4180

Área Ocupada (m2) TO

2017 / 48%

Área Permeável (m2)

630 / 15%

Área Construída Computável (m2) / CA

8051 / 1,92

INCUBADORA + CENTRO DE REFERÊNCIA + COMÉRCIO Área do Terreno (m²)

1958

Área Ocupada (m2) TO

1140 / 58%

Área Permeável (m2)

294 / 15%

Área Construída Computável (m2) / CA

3400 / 1,73

75


76

6o ANDAR 5o ANDAR

Sala de Desenho Sala de Informática Exposições de Produção Fab Lab Oficina de Costura Ateliê de Modelagem Sala de Tecidos Apoio

4o ANDAR

Sala de Desenho Sala de Informática Oficina de Corte Ateliê de Modelagem Oficina de Costura Estudio de Fotografia Espaço Multimídia Apoio

3o ANDAR

Fab Lab Administração Diretoria e Coordenação Funcionários Apoio

2o ANDAR

Espaço Multiuso Ateliê Colaborativo de Criação Apoio

1o ANDAR

Convívio e Estar Praça Elevada e espaço expositivo Apoio

TÉRREO [FIG. 95] DISTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA POR PAVIMENTO

Sala de Desenho Sala de Informática Ateliê Colaborativo de Criação Salas de Aula Teórica Apoio

Auditório Restaurante Praça Baixa Apoio


4o ANDAR 3o ANDAR

Acervo e Leitura Processamento Técnico Apoio

2o ANDAR

Acervo de Periódicos e Leitura Administração Empresas Incubadas Salas de Reunião Apoio

1o ANDAR

Modateca / Teciteca Empresas Incubadas Consultoria Apoio

TÉRREO

Acervo e Leitura Oficina de Restauro Funcionários Apoio

Pop-Up Stores Espaço Multimídia Espaço Expositivo Atendimento e Recepção Café Praça Coberta Apoio

[FIG. 96] DISTRIBUIÇÃO DO PROGRAMA POR PAVIMENTO

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5.2. DIRETRIZES DE PROJETO PRODUÇÃO + ENSINO + EVENTOS PARTIDO Hoje, a grande massa edificada, sem recuos ou transparências, reforça a condição da ferrovia como uma barreira. Assim, o ponto de partida do projeto se dá através da contraposição a essa situação, de forma que, visualmente, o trem volte a fazer parte da paisagem urbana. No trecho da intervenção, a ferrovia encontra-se em um nível baixo, subindo gradativamente de 2 a 3,5 metros, em média. Partindo-se da linha do trem de cota mais alta, cria-se uma Praça Elevada, valorizando a paisagem da orla ferroviária e área verde proposta. A intenção de elevar o primeiro pavimento em relação à rua permite a fluidez do pedestre, valorizando o passeio urbano e aproximação do edifício com a cidade. O rompimento de um único bloco cria uma condição de cheios e vazios, buscando valorizar a transparência da paisagem urbana – rua e ferrovia, a partir de diferentes perspectivas.

? Rompimento da massa edificada

Transparência e Permeabilidade: Fluidez do pedestre + Paisagem da orla ferroviária + Vazios Internos

Articulação dos blocos: Circulação Vertical + Cobertura

Articulação de usos e pessoas: Circulação Vertical + Passarelas + Produção Colaborativa

[FIG. 97] SÍNTESE DO PARTIDO.

78

[FIG. 98 ] SÍNTESE DO PARTIDO


EDIFÍCIO O programa está organizado em três blocos, os quais são articulados por passarelas e vazios. A circulação horizontal cruza o bloco central, onde estão os ateliês colaborativos, que funcionam como os principais articuladores das atividades no Hub. Assim, o sistema formado por ateliês e passarelas reforça a ideia de encontro e movimento dos usuários no edifício, proporcionando o choque entre pessoas e, logo, a troca de ideias. Com relação à materialidade do edifício, pretende-se explorar a dualidade existente no terreno: de um lado, a rua e de outro, o trem. Assim, a fachada voltada para rua, pretende reforçar a dinâmica do edifício, através de planos horizontais coloridos das passarelas, que demarcam a ideia de movimento dos usuários. Estas, por vezes, são interrompidas por “caixas” transparentes na fachada, grandes janelas, que conformam espaços de estar nos ateliês colaborativos, de onde o usuário enxerga a dinâmica da cidade, e a cidade, enxerga os usuários no edifício. A chapa perfurada metálica envolve parte do edifício, protegendo-o da incidência solar, como uma pele uniforme e neutra, reforçando as grandes aberturas e planos coloridos. Já a fachada posterior, voltada para o trem, mantém o ritmo volumétrico dos três blocos para quem passa rapidamente avistando o edifício a partir do trem. Ao contrário da rua, cuja fachada é mais vibrante como o espaço urbano, nesta, optou-se pela neutralidade de forma que o edifício se insira delicadamente na paisagem preexistente da ferrovia, mantendo sua volumetria o mais pura possível. A escolha pelo U Glass, material translúcido, se deu a partir da intenção em equilibrar o barulho e movimentação do trem com a necessidade de concentração das atividades internas, onde a total permeabilidade visual poderia fazer tal intenção se perder, enquanto a opacidade completa negaria a presença da ferrovia e de sua paisagem revitalizada. Assim, a pele translúcida confere o equilíbrio necessário, de onde é possível observar os espectros de movimento dentro do edifício como também da orla ferroviária, sendo às vezes interrompida por aberturas, as quais enquadram a paisagem ferroviária.

[FIG. 99] DIAGRAMA SÍNTESE

Circulação Horizontal, Vertical e Apoio

79


80


81


AUDITÓRIO TRANSFORMÁVEL O auditório tem como conceito a multiplicidade de usos, devido à diversidade do programa proposto, podendo servir a palestras, apresentações culturais, desfiles de moda, espaço para debates e outros eventos. Assim, o auditório está organizado em uma parte fixa, composta por um corredor de acesso e apoio; balcão, no acesso superior; e uma área transformável, onde o piso móvel formado por um sistema que associa plataformas pantográficas sobre praticáveis telescópicos automatizados, possibilita diversas relações entre plateia e palco.

Livre

Palco Italiano

Como referência de auditório transformável, o projeto do escritório Dal Pian Arquitetos Associados, ganhador do concurso para Centro Cultural, de Eventos e Exposições em Paraty, exemplifica o funcionamento do piso móvel, nas figuras abaixo.

1

Arena

2

1. Plataforma Sistema Pantográfico 2. Praticável 3. Sistema Telescópico

3

BALCÃO

[FIG. 100] PROJETO DE REFERÊNCIA, DAL PIAN ARQUITETOS ASSOCIADOS.

82

ACESSOS

APOIO

PISO MÓVEL

Passarela [FIG.101] ESQUEMAS DE CONFIGURAÇÃO DO AUDITÓRIO


ELEMENTOS CONSTRUTIVOS 15 17

1

16

2

3

4 6 5 10 11

7 9

13 14

8

12

20

23

21

24

22

18

19

[FIG. 102] ESQUEMAS DOS PRINCIPAIS ELEMENTOS CONSTRUTIVOS E SEUS MATERIAIS SEM ESCALA.

1. Vidro seletivo solar 2. Telha zipada perfurada 3. Estrutura metálica secundária da cobertura 4. Estrutura metálica principal da cobertura 5. Chapa perfurada - superfície difusora de luz 6. Vigas perfil duplo I - sustentação dos tirantes 7. Tirantes 8. Laje alveolar protendida

9. Núcleos de concreto 10. Vigas metálicas 11 Perfis de enrijecimento da laje 12. Forro metálico linear suspenso 13. Nervuras de enrijecimento das passarelas 14. Fechamento das passarelas em chapa metálica pré-pintada RAL

15. U glass 16. Treliça espacial triangular sustentação do U glass em pé direito duplo 17. Pilaretes da fachada 18. Passadiços metálicos 19. Chapa Perfurada

20. Vidro comum 21 Vidro temperado 22. Piso monolítico 23. Piso em madeira 24. Painéis metálicos pré-Pintados 83


INCUBADORA + COMÉRCIO + CENTRO DE REFERÊNCIA Galeria existente

PARTIDO A abertura de quadra permite a fluidez da Rua dos Italianos à Rua Anhaia, que ganha uma nova dinâmica. Assim, rompese com a ideia de lotes de frente única, conformando o edifício como uma extensão da rua. A ideia de galeria aberta permite não só a permeabilidade da quadra como também pretende levar a dinâmica da Rua dos Italianos para a Rua Anhaia.

?

? Abertura da Quadra + Conexões

De forma a tornar o longínquo e estreito passeio mais dinâmico, associa-se a flexibilidade do programa à flexibilidade da arquitetura, de forma que as empresas incubadas e lojas se constituam como módulos dinâmicos, “encaixados” em planos horizontais. Dinâmica do Passeio

EDIFÍCIO O edifício é composto por duas lâminas, uma do Centro de Referência, cuja arquitetura é menos flexível, e outra, dinâmica, composta por módulos de elementos pré-fabricados que abrigam empresas incubadas. Assim, o bloco fixo abriga os núcleos de apoio e circulação, os quais alimentam também os módulos, e ambos se conectam por passarelas, de onde é possível ter a visual tanto para a Rua Anhaia quanto para a Rua dos Italianos. A pele dupla do edifício do Centro de Referência, de vidro translúcido, regulariza a forma irregular do terreno, além de conformar um espaço de transição entre a rua e o programa, demarcando a entrada. A neutralidade desse elemento se opõe às caixas coloridas e dinâmicas das empresas, destacando-as. A travessia de quadra é marcada por uma praça coberta linear sob o edifício da incubadora, servindo como uma grande galeria urbana, seguida por um sequenciamento de patamares que vencem gradativamente o desnível entre as ruas, onde são implantadas lojas temporárias, que por vezes, podem dar lugar a patamares livres para outras atividades. O percurso, através de rampas e escadas, busca a conexão da galeria existente até o Hub. 84

[FIG. 103] SÍNTESE DO PARTIDO


Circulação Vertical, Circulação Horizontal e Apoio

Travessia em patamares

[FIG. 104]

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1

MÓDULOS E A OCUPAÇÃO EFÊMERA NA CIDADE

2

INCUBADORA DE EMPRESAS As salas ocupadas pelas empresas incubadas constituemse em módulos independentes apoiados sobre lajes, podendo ser alterados de acordo com a sua necessidade de utilização.

3 4 5

6

7 1. Vigas metálicas transversaistravamento da estrutura 2. Viga metálica - atirantamento das lajes - Perfil duplo I 3. Laje Steel Deck

4. Tirantes 5. Parede de concreto 6. Estrutura metálica - Perfis I 7. Pilar metálico revestido de concreto - ligação pilar-viga tipo rígida

POP-UP STORES Lojas temporárias ocupam o espaço público, dando uso à travessia de quadra.

[FIG. 105]

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[FIG. 98] ESQUEMA DOS PRINCIPAIS ELEMENTOS CONSTRUTIVOS DO DA INCUBADORA - SEM ESCALA

OCUPAÇÃO EM PARQUES E PRAÇAS Na área verde proposta, entre as linhas férreas, módulos de ocupação temporária podem servir de espaços de estar, abrigar pequenos comércios e serviços, ou oficinas. As caixas são dispostas sobre trilhos, podendo ser movimentadas de acordo com a necessidade.

[FIG. 106]


Porta basculante articulada

Painel de policarbonato translúcido Calha Telha metálica sanduíche trapezoidal

Vedação externa: Painel “Termo Wall” PUR - Acabamento externo em aço galvalume pré pintado

Estrutura - Perfis metálicos “U” Revestimento interno em Compensado Pinus: acabamento e proteção termoacústica

Tabuleiro de Piso em perfis metálicos “U”

Piso em madeira pinus

[FIG. 107] ESQUEMA MONTAGEM DOS MÓDULOS DE COMÉRCIO SEM ESCALA

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HUB


IMPLANTAÇÃO



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CORTE PERSPECTIVADO



ELEVAÇÃO DA RUA ANHAIA


RUA ANHAIA


ESQUINA DA RUA ANHAIA COM A RUA JULIO CONCEIÇÃO


FACHADA POSTERIOR


FACHADA POSTERIOR E PAISAGEM DA ORLA FERROVIÁRIA


PERSPECTIVA INTERNA A PARTIR DA CIRCULAÇÃO


JANELAS PARA A CIDADE

ÁREA DE CONVÍVIO


INCUBADORA E CENTRO DE REFERÊNCIA NA RUA ANHAIA 132



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TRAVESSIA DA QUADRA : INCUBADORA + CENTRO DE REFERÊNCIA


CENTRO DE REFERÊNCIA: PERSPECTIVA A PARTIR DA PASSARELA


COMÉRCIO NA RUA DOS ITALIANOS


6. BIBLIOGRAFIA Fundamentação Teórica HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1999. NESBITT, Kate (org.). Uma nova agenda para a arquitetura: antologia teórica (1965-1995). 2ª Ed. São Paulo: Cosac Naify, 2008. LERNER, Jaime. Acupuntura Urbana. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. CULLEN, Gordon. Paisagem urbana. São Paulo, SP: Edições 70. São Paulo MEYER, Regina Maria Prosperi; GROSTEIN, Marta Dora; BIDERMAN, Ciro. São Paulo metrópole. São Paulo: Edusp: Imesp, 2004. EMPRESA MUNICIPAL DE URBANIZAÇÃO. Caminhos para o centro: estratégias de desenvolvimento para a região central de São Paulo. São Paulo: EMURB, 2004. Bom Retiro DIAFÉRIA, Lourenço. Um século de Luz. São Paulo: Scipione, 2001. DERTÔNIO, Hilário. O bairro do Bom Retiro. São Paulo, SP: Secretaria de Educação e Cultura, 1971. AMADIO, Decio. Desenho Urbano e Bairros Centrais de São Paulo. Um estudo sobre a formação e transformação do Brás, Bom Retiro e Pari. (Tese de Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) FAU-USP, 2004. CRUZ, Moreira, J.; GARCIA, R. O complexo Caminhos para o centro: têxtil – vestuário: um cluster resistente. In: Empresa Municipal de Urbanização. Estratégias para o desenvolvimento para a região central de São Paulo. São Paulo: EMURB, 2004. XAVIER, Iara Rolnik. CYMBALISTA, Renato. A Comunidade Boliviana em São Paulo: definindo padrões de territorialidade. Cadernos Metrópole. n. 17, 2007. p. 119-133. Disponível em: http://www.cadernosmetropole.net/component/content/article/31/51-17 . Acesso em: 01/03/2015. FELDMAN, Sarah. Bairro Múltiplo, identidade étnica mutante. Encontros Nacionais da Anpur. V.15, 2013. Disponível em: http://unuhospedagem.com.br/ revista/rbeur/index.php/anais/article/view/4512/4381. Acesso em 30/01/2015. MANGILI, Liziane Peres. Transformações e permanências no bairro do Bom Retiro, SP (1930-1954). (Tese de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). EESC-USP, São Paulo, 2009. BRITO, Maria das Graças. BERNARDES, Roberto. Simples aglomerados ou sistemas produtivos inovadores? Limites e possibilidades para a indústria do vestuário na metrópole paulista. São Paulo em Perspectiva. V.19 n.2, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010288392005000200007&script=sci_arttext. Acesso em 15/03/2015. Cidades e Economia Criativa LEITE, Carlos; AWAD, Juliana Di Cesare Marques. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes: desenvolvimento sustentável num planeta urbano. Porto Alegre, RS: Bookman, 2012. 152


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LISTA DE IMAGENS

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51. Acervo do autor. 52. Acervo do autor. 53. Acervo do autor. 54. Mapa editado da Prefeitura Municipal de São Paulo disponível em: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/arquivos-da-lei/ - Acesso em 30/01/2015. 55. Mapa editado da Prefeitura Municipal de São Paulo disponível em: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/arquivos-arco-tiete/ - Acesso em 25/02/2015. 56. Mapa editado da Prefeitura Municipal de São Paulo disponível em: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/arquivos-da-lei/ - Acesso em 30/01/2015. 57. Mapa editado da Prefeitura Municipal de São Paulo disponível em: http://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/arquivos-da-lei/ - Acesso em 30/01/2015 58. Acervo do autor. 59. http://www.sp.senac.br/jsp/default.jsp?tab=00002&newsID=a22464.htm&subTab=00000&testeira=733&uf=&local=&l=&template=&unit= - Acesso em 18/05/2015. 60. Acervo do autor 61. http://redesociallapa.blogspot.com.br/2011/07/emprego-apoiado-no-senac.html - Acesso em 18/05/2015. 62. Acervo do autor. 63. Acervo do autor. 64. Acervo do autor 65. Acervo do autor. 66. Acervo do autor. 67. Acervo do autor. 68. Acervo do autor. 69. Acervo do autor. 70. Acervo do autor. 71. Acervo do autor. 72. Acervo do autor. 73. Acervo do autor. 74. https://www.flickr.com/photos/kuk/516826369/in/album-72157623606431735/ - Acesso em 16/04/2015 75. http://www.qu4tro.com.br/blog/?p=3356 – Acesso em 16/04/2015. . 76. Acervo do autor. 77. Acervo do autor. 78. Acervo do autor. 79. Acervo do autor. 80. Acervo do autor. 81. Acervo do autor. 82. Acervo do autor. 83. http://www.tschumi.com/projects/15/ - Acesso em 16/04/2015 84. http://www.tschumi.com/projects/15/ - Acesso em 16/04/2015 85. Acervo do autor. 86. Acervo do autor. 87. Acervo do autor. 88. Acervo do autor. 89. Acervo do autor. 90. Acervo do autor. 91. Acervo do autor. 92. Acervo do autor. 93. Acervo do autor. 94. Acervo do autor. 95. Acervo do autor. 96. Acervo do autor. 97. Acervo do autor. 98. Acervo do autor. 99. Acervo do autor. 100. http://www.arqbacana.com.br/internal/FIMDE/read/13803/dal-pian-arquitetos-associados-centro-cultural,-de-eventos-e-exposi%C3%A7%C3%B5es – Acesso em 02/09/2015. 101. Acervo do autor. 102. Acervo do autor. 103. Acervo do autor. 104. Acervo do autor. 105. Acervo do autor. 106. Acervo do autor. 107. Acervo do autor.

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