TCC: Revitalização do Mercado Público de Betânia: O Equipamento Urbano c/ Extensão do Espaço Público

Page 1

1 REVITALIZAÇÃO DO MERCADO PÚBLICO DE BETÂNIA O EQUIPAMENTO URBANO COMO EXTENSÃO DO ESPAÇO PÚBLICO

Dedico este trabalho a Deus, pelo amor e misericórdia derramada sobre a minha vida, bem como iluminar minha mente em momentos difíceis. Dedico este, bem como todas as minhas demais conquistas, aos meus pais, Mário e Simone. O apoio, esforço e dedicação de vocês foram fundamentais para que eu chegasse até aqui.

Aos meus avós, Ziro e Leuza, por sempre serem minha paz. A minhas irmãs, familiares e amigos. Em especial, minha dupla acadêmica, Eduarda, pelo companheirismo e dedicação.

Ao meu orientador, Ricardo, que me auxiliou no desenvolvimento do trabalho e ajudou-me a acreditar na minha ideia.

Por fim, todos que não foram citados mas também fizeram parte dessa história.

Que venha o futuro!

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO UNICAP ICAM-TECH Escola de Arquitetura e Urbanismo Thayane Marielle Alves Flor

O

REVITALIZAÇÃO DO MERCADO PÚBLICO DE BETÂNIA:

EQUIPAMENTO

URBANO COMO EXTENSÃO DO ESPAÇO PÚBLICO

RECIFE 2022

2 3
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelo amor e misericórdia derramada sobre a minha vida e por ter me permitido chegar ao final do curso com saúde.

Dedico este, bem como todas as minhas demais conquistas, aos meus pais, Mário e Simone . Obrigada por terem investido emocionalmente e financeiramente em mim. O apoio, esforço e dedicação de vocês foram fundamentais para que eu chegasse até aqui.

Aos meus avós, seu Ziro e dona Leuza , por serem minha paz desde criança. A minhas irmãs, Thamires e Thamara, familiare s e amigos de forma geral.

A minha amiga e dupla acadêmica, Eduarda , pelo companheirismo e cumplicidade ao longo dos últimos anos.

Ao meu orientador, Ricardo , que me auxiliou no desenvolvimento do trabalho e ajudou-me a acreditar na minha ideia.

Por fim, a todos que não foram citados mas também fizeram parte dessa história.

Que venha o futuro!

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO

UNICAP ICAM-TECH Escola de Arquitetura e Urbanismo Thayane Marielle Alves Flor

REVITALIZAÇÃO DO MERCADO PÚBLICO DE BETÂNIA:

O EQUIPAMENTO URBANO COMO EXTENSÃO DO ESPAÇO PÚBLICO

Trabalho final de graduação desenvolvido pela aluna Thayane Marielle Alves Flor, sob a orientação do professor Ricardo Pessoa de Melo como requisito final para obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco.

RECIFE 2022

4 5
AGRADECIMENTOS

O Mercado é um dos principais equipamentos urbanos que uma cidade pode apresentar, é um local onde se tem o conhecimento da história e cultura de uma região. Este trabalho final de graduação tem o objetivo de revitalizar o Mercado Público Herácio Gomes Lima, no interior de Pernambuco, devido à atual subutilização do espaço e por não potencializar a região economicamente e culturalmente. Após a pesquisa bibliográfica, análise de referências, propõe-se a requalificação do Mercado e seu espaço público imediato, atendendo a critérios de espaço públicos de qualidade e estimulando a participação contínua da população no espaço.

Palavras chave: reforma, mercado púlbico, espaço urbano.

6 7
RESUMO

SUMÁRIO

01.

INTRODUÇÃO

1.1 Narrativa

1.2 Justificativa

1.3 Objetivo geral

1.4 Objetivo específico

1.5 Procedimentos Metodológicos

02.

HISTÓRIA DOS MERCADOS

2.1 Advento do comércio e dos espaços de troca

2.2 O mercado e suas tipologias

2.3 Os Mercados Público no Brasil

03.

OS ESPAÇOS PÚBLBICO

3.1 História dos espaços público

12- 23 26- 37 40- 44

04. 48- 91

CONCEITUAÇÃO

TEMÁTICA

4.1 O Planejamento arquitetônico aplicado ao mercado

4.2 Elementos projetuais e construtivos 4.3 Acessibilidade e Valorização do espaço urbano

4.4 Arquitetura da cidade e dos mercados: tipos de conexão

4.5 A cidade viva, segura, sustentável e saudável de Jan Geh 4.6 O espaço Público 4.7 O Edifício 4.8 Arquitetura Bioclimática 4.8.1 Roteiro para construir no Nordeste de Armando de Holanda 48.2 Bioclima em Edifícios Públicos

06.

PRECEDÊNCIAS PROJETUAIS

6.1 Requalificação Arquitetônica do Mercado Municipal de São Paulo

6.2 Mercado Público de Lages - SC 6.3 Mercado cubierto Secrétan 6.2.1 Síntese Conclusiva

O TERRITÓRIO

05. 94- 117

5.1 Aprendendo a área: do micro ao macro

5.2 Escala Micro: o mercado em si 5.3 Escala Macro: o entorno

5.4 A paisagem

5.4.1 Caminhos

5.4.2 Bairros

5.4.3 Pontos Nodais

5.4.4 Marcos 5.5 O lote de intervenção: condicionantes climáticos

5.6 Sintese Conclusiva

07.

A PROPOSTA

7.1 Escala de Atuação

7.2 Diretrizes para o Macro 7.3 Conceito

7.4 Programa de Necessidades 7.5 Zonemaneto

08.

O PROJETO

8.1 Memorial Descritivo

8.2 Consideraçãoes Finais

120 - 143 158 - 177

146 - 156

8 9

1.0 INTRODUÇÃO

10 11

1.0

INTRODUÇÃO

Este trabalho procede de um estudo acerca de Mercados Públicos, que se organiza em duas partes. A primeira, onde se discorre uma investigação sobre os mercados no âmbito da contemporaneidade, relacionando com aspectos de sua origem, evolução e funcionamento. A segunda parte, consiste na aplicação teórica apreendida como ponto de partida para a realização de uma requalificação no mercado público de Betânia - PE.

A trajetória histórica dos mercados está intrinsecamente relacionada com a consolidação das cidades. Os lugares do mercado, em praça aberta ou na rua de barracas ou lojas, desenvolviam-se em áreas centrais da cidade, onde se caracterizavam os lugares de encontro, de diversidade de atividades e significados. Segundo Castellas (2000), a centralidade urbana formada por catedral, e composta pelos prédios de autoridade local, somando as praças de mercado é a imagem clássica da cidade medieval, compilando e coexistindo as principais funções cívicas, religiosas e comerciais.

Esses espaços atendiam a demanda de abastecimento da população urbana e das regiões próximas, o que garantia a articulação política, territorial e econômica em sua região de influência (VARGAS, 2011).

A palavra mercado, remete a um

“lugar de gêneros alimentícios e trocas”, ou seja, lugar de trato, de compra e venda. Com o encontro e contato direto entre vendedores, compradores e visitantes pressupõem-se o ato da conversa a fim de se fazer negócio (VARGAS, 2011).

Assim, é reconhecível a relevância do mercado quanto ao seu aspecto de social, já que ali se constitui uma interação recíproca entre os indivíduos, favorecendo comunicação através de costumes e comportamentos relacionados a diversas atividades, as quais historicamente definem seu lugar (FERREIRA,2010).

O produto dessa sociabilidade é fundamental na constituição da vitalidade urbana, devido a “sua espontaneidade, imprevisibilidade e a diversidade do encontro, além da pluralidade e heterogeneidade de atividades e frequentadores” (2006, f. 61).

As cidades são compostas pelos espaços públicos e privados, cada um com funções e características distintas.

Nos espaços privados, o domínio e o controle são claramente estabelecidos por limites definidos(SCHLEE et al., 2009) e o acesso não é livre a todo e qualquer indivíduo.

Quanto à esfera pública, “no plural, o termo ‘espaços públicos’ compre -

12 13

ende os lugares urbanos que, em conjunto com infraestruturas e equipamentos coletivos, dão suporte à vida em comum: ruas, avenidas, praças, parques” (CASTRO, 2013).

O âmbito dos espaços públicos deve ser tido como uma das prioridades do poder executivo municipal e ser objeto de estudo e aprofundamento por parte dos profissionais ligados à área, pois reconhecido o valor e influência desses lugares na vida urbana. Eles afetam diretamente a vida dos cidadãos, positivamente ou negativamente: . É sob essa perspectiva que se analisaram a seguir o objeto de estudo deste trabalho final de graduação, o Mercado Municipal de Betânia (figura 01).

“Os espaços públicos têm poder. Não é apenas o número de pessoas que os usam, mas o número ainda maior de pessoas que se sentem melhor na sua cidade só por saber que estão nela. Espaços públicos podem mudar como você vive em uma cidade, o que você sente da cidade, se escolhe uma cidade em vez de outra, e o espaço público é uma das razões mais importantes para ficar em uma cidade. Acredito que uma cidade de sucesso é como uma festa incrível. As pessoas ficam nela porque estão se divertindo” (BURDEN, 2014).

Figura 01: Acesso principal ao Mercado Público Fonte: a autora, 2022.

14 15

1.1

NARRATIVA

A escolha do Mercado Público Herácio Gomes Lima, localizado em Betânia, interior de Pernambuco (figura 02), surgiu a partir da vivência na faculdade de arquitetura e urbanismo, cujas aulas e discussões revelam o importante papel dos mercados quanto a referência simbólica, social e economica de uma localidade. No município, há pouquíssimas oportunidades de emprego e renda, essas se concentram sobretudo na agricultura, setor de serviços e gestão pública, portando é necessário que um equipamento como o Mercado seja protagonista do espaço onde está inserido.

Esee está localiza do estrategicamente em frente à prefeitura nicipal e entre praças, reforçando gêneses das localidades centrais históricas, como abordado na introdução deste trabalho. Em sua estrutura coberta, há comércios, confecções, restaurantes, vestuário e floricultura, contudo, são subutilizados.

Sendo assim, reforçando-se do papel do mercado público quanto ao seu poder de gerador de vitalidade urbana no âmbito social e urbano, atrelado a diversidade de frequentadores e atividades produzidas por ele, emerge-se no desafio de garantir que o mercado público de Betânia e seu entorno imediato seja requalificado quanto ao seu potencial a oferecer diversidade sócio-econômica a cidade.

16 17
Figura 02: Localização de Betânia, no mapa do Brasil, em Pernambuco. Fonte: a autora, 2022.

JUSTIFICATIVA

A importância dos mercados públicos no processo de formação da cidade é notório. Os mercados fazem parte da cultura de cada sociedade e por isso são espaços onde as raízes populares e regionais são facilmente encontradas.A perda do protagonismo desses equipamentos é um problema a ser enfrentado de forma geral.

O mercado público de Betânia está localizado no centro da cidade, com grande potencial de visibilidade como equipamento urbano qualificador, no entanto a edificação atualmente e o entorno são pouco funcionais e não oferecem atividades para o público. São observados in loco problemas de usos inadequados, falta de usos, falta de infraestrutura sanitária adequada, espaços convidativos e interessantes.

Assim, como o que vem acontecendo em boa parte dos mercados públicos espalhados pelo mundo é um processo de ude reinvenção e releitura conceitual desses equipamentos.

Há atualmente a necessidade da transformação para que seja um local de encontro, lazer e turismo através de estratégias elaboradas para trazer à tona o mercado como elemento significativo e atrativo para a cidade.

Assim, a intervenção arquitetônica tem como objetivo a valorização desse espaço, gerando benefícios para a economia local, para a popu -

lação e para a cidade e região como um todo.

18 19
1.2

1.3

OBJETIVO GERAL

Elaboração de um estudo preliminar de requalificação do mercado público de Betânia-PE, melhorando a sua imagem e aumentando sua visibilidade, atraindo novos investimentos e visitantes, bem como retomar a ideia de um espaço de convergência de pessoas e de convívio so cial.

1.4

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Apreender como este equipamento tem papel na transformação do espaço urbano sendo capaz de potencializar a cidade economicamente e no turismo.

2. Propor na arquitetura do mercado soluções de melhorias de espacialidade, funcionalidade, acessibilidade e conforto térmico.

3. Implementação de sistema de infraestrutura capaz de adequar todas a instalações necessárias para o funcionamento do Mercado;

4. Incentivar diferentes usos para que o mercado seja frequentado por vários grupos de pessoas em variados horários do dia.

5. Qualificar a ambiência do Mercado e do entorno imediato.

20 21

1.5

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho tem como premissa o estudo analítico de teóricos que apresentem informações sobre a história e evolução dos Mercados Públicos, os Espaços Públicos e sua importância na configuração urbana.

Em seguida é explanado a abordagem metodológica e teórica com base micro de funcionamento de um mercado e abordagem macro com os doze critérios de qualidade do espaço público.

O objetivo é de se aplicar a apreensão urbanística ao projeto arquitetônico, à luz do conceito de que a arquitetura e o urbanismo são inerentemente correlaciona.

É realizada também o levantamento junto a prefeitura da área de estudo com o objetivo de identificar os potenciais e problemáticas a partir da estrutura existente do mercado. Se faz o estudo de projetos semelhantes a fim produzir referências projetuais quanto à análise das soluções arquitetônicas escolhidas. .

O projeto fruto dessas compreensões visa contemplar espaços com diversidade de usos e soluções para evocar a vitaldade da urbe em seu programa.

22 23

2.0

HISTÓRIA DOS MERCADOS

24 25

2.0

HISTÓRIA DOS MERCADOS

2.1

ADVENTOS DO COMÉRCIO E OS ESPAÇOS DE TROCA

A origem dos Mercados está diretamente ligada ao surgimento do comércio, no momento em que o homem deixou de produzir para seu próprio consumo e passou a produzir excedentes, esse então seria um espécie de moeda de troca, através do escambo, para outros produtos. Para Oliveira Júnior (2006), o aperfeiçoamento e desenvolvimento de novas tecnologias, além de novas facilidades de deslocamento entre cidades, intensificou ainda mais a prática de troca de excedentes e tornou possível o crescimento dessa nova atividade denominada mercado. As relações de troca ligadas às primeiras manifestações mercantis, não eram limitadas a trocas dos excedentes, mas também de bens manufaturados e matérias primas.

O intercâmbio desses insumos ocorreria a partir do ato do encontro,o que permite o contato compessoas de diferentes localidades. Estas práticas tinham como característica

Figura 03: Ilustração de uma feira medieval. Fonte: História da Europa, 2011.

Figura 04:Mercado público no Império Romano. Fonte: Vargas, 2001.

26 27

marcante a espontaneidade comrção ao espaço urbano, já que “[...] não obedeciam a qualquer plano urbanístico, [...] e exaltava a vida ao ar livre acima de tudo” (SENNETTE, 1997, P. 53).

A troca é uma atividade que nasce com o homem e que, na maior parte da história da humanidade, para trocar era preciso o encontro. É dessa necessidade de encontro que vai nascer o Mercado. Conforme Lefebvre (1991), os eventos de cunho econômico presente no tecido urbano, comunicaram o surgimento de fenômenos sociais e culturais, como as feiras livres. Essas surgiram na idade média, em fomento ao chamado valor de troca e na importância que este tinha no fortalecimento das relações entre os passantes e a cidade.

A feira medieval (figura 04), segundo Sennett (2003), acontecia apenas em períodos de festas e com a popularização deste comércio, houve o aumento da clientela e a necessidade de torná-la recorrente. Uma vez que a feira tornou- se uma constante no espaço urbano, houve a intenção de regularizar-lá em meados do século XII, mas essa operação não obteve sucesso, pois os comerciantes se mostravam relutantes a ela. Na atualidade a feira livre é um organismo representativo do comércio popular, que se mostra saliente no espaço urbano (figura 06). No Brasil, de acordo com Bolzani e Mascare -

nhas (2008), às feiras configuram como um tipo de mercado varejistas ao ar livre, se apropriando de ruas e praças.

São autônomas, no que diz respeito ao seu ciclo vital, desde sua instalação no espaço, a sua consolidação como um local de trabalho, vivência e troca, para os grupos sociais que atuam nela. O relato de feiras na contemporaneidade, guarda algumas particularidades de sua configuração inicial; correspondendo a um cenário intenso de atividade se destacando a diversidade de cores, cheiros e texturas.

Os espaços físicos mais significativos deocorrência do comércio vãoperder parte da essência de ser umespaço público por excelência,adotando algumas características de espaço privado. (VARGAS, 2001, p.159)

28 29

2.2

Guillén (s. d. apud Bonduki, 2010), afirma que “[...] conhecer uma cidade é conhecer seu mercado [...]”, pois ele possui o mesmo vínculo que as feiras possuíam com o desenvolvimento da cidade. Os mercados, nesse sentido, traduzem aspectos do estilo de vida dos frequentadores, além de desempenharem funções atribuídas ao espaço público, por serem abertos a troca no sentido das relações sociais.

Na Grécia antiga o comércio era realizado próximo à Acrópole, mas com o aumento da população transferiu-se para a Ágora. Segundo Viegas (2001), a Ágora era um local de encontros cívicos e comércios varejistas.

No império Romano, o comércio acontecia nos Fóruns, esses eram edifícios monumentais que abrigavam atividades comerciais, religiosas e políticas.

“ Era um espaço público descoberto que continha o prédio do senado e da Justiça em situação oposta ao lugar do mercado” (VARGAS, 2001, p.123).”

Havia Mercado, um espaço aberto, onde camponeses e comerciantes instalaram suas bancas e no centro uma fonte de água pública. Assim, o espaço era rodeado por colunas que

levavam a lojas e escritórios de comerciantes.

Na idade média, segundo Vargas (2001), o mercado acontecia nas imediações de vias importantes, próximas às muralhas da cidade e no encontro das vias. A aproximação com as regiões centrais, então, foi consequência da consolidação dos comerciantes e da necessidade de aproximação com a população.

Existia, também, a presença do comércio em praças e alguns espaços públicos a ruas desordenadas durante este período da cidade medieval. Essas praças serviam de locais para espetáculos, encontros, festas, debates de ideias e notícias, além de abrigar o comércio.

“As praças de mercado não requerem a presença de nenhum edifício, elas eram o próprio edifício. Isto é, o comércio apenas precisava de fluxos de pessoas para acontecer.

(VARGAS, 2001,p. 138)”

As cruzadas dos séculos XI e XII foram os responsáveis pela reabertura do comércio europeu, restabelecendo relações entre o Ocidente e Oriente. De forma que, feiras eram realizadas entre rotas e nos pontos de encontro entre elas, caracterizando, assim, o comércio do Renascimento.

A atividade de troca continuava a acon -

30 31

tecer em locais, não exclusivamente comerciais, mas que abrigavam atividades sociais e comerciais, surgindo, dessa forma, o espaço público do mercado propriamente dito.

De acordo com Vargas (2000), sua localização é estratégica, situando-se onde há grandes fluxos de pessoas ou próximos a centros urbanos, ligado à formação da cidade, como é o caso do mercado alvo desta pesquisa. Nele as relações socioeconômicas, vão além do intraurbano, por muitas vezes é frequentado por pessoas da cidade ou povoados próximos, que também contribuem de forma direta para a sua dinâmica.

É sabido que o Mercado, surgiu a partir da feira livre e que sua persistência na atualidade, segundo Pitaudi (2006), deve-se ao fato de seu poder em dialogar com novas diretrizes urbanas e comerciais da contemporaneidade; do contrário, este modelo arquitetônico já teria sido extinto.

Contudo, tendo em vista as práticas comerciais no meio urbano tendem a acompanhar o avanço das cidades, no sentido de estimular ou atualizar sua matriz conceitual se nota que isto não acontece com a maior parte dos mercados públicos brasileiros, estes então se encaminham para a obsolescência.

Partido da posição do poder público diante desta problemática, compreende-se que os mercados chegam ao limite da sua existência, já que são marginalizados pela iniciativa pública, que valoriza outras formas de abastecimento alimentício mais modernas e capitalistas. Simionato (2009), discorre sobre a recorrente abandono de muitos mercados, em favor de sua reversão do quadro atual, em que se encontram esses estabelecimentos.

A existência do mercado, então, encontra-se em um delicado estado de vulnerabilidade. Eles estão perdendo seu lugar na paisagem urbana e imaginário da sociedade, o que é resultado de seu esquecimento por parte dos governantes muniA título de compreensão dos preceitos higienistas, que vão de encontro com o estado atual dos Mercados, se faz necessário o estudo de suas tipologias mais recorrentes,, onde a definição de tipo é entendida como estrutura interior da forma ou como princípio que implica em si a possibilidade de infinitas variantes formais.

32 33

Figura 05: Imagem: Evolução ilustrada do mercado / Fonte: Bueno, 2013

2.3

MERCADOS PÚBLICOS NO BRASIL

Os mercados públicos e as feiras livres foram introduzidos no Brasil pelos colonizadores portugueses, seguindo os padrões do Império Portugues, e segundo Vargas (2001), eram edificações implantadas nos centros urbanos de forma que em seu entorno aconteciam as feiras.

Neste período da história, previamente a instalação dos mercados públicos, a maioria das cidades coloniais, possuíam o comércio informal para o abastecimento de alimentos, esse se desenvolvia nas ruas e praças públicas.

34 35

O Mercado Público de Porto Alegre é um prédio histórico e já se consolidou como polo gastronômico, além da sua função esscial de comércio de alimentos e especiarias. Um ponto turístico muito visitado, contudo a falta de segurança nas ruas afeta na sua relação com o entorno e é uma reclamação constante dos moradores e turistas.

O Mercado Público de Florianópolis é um dos principais pontos turísticos da cidade, além da função de mercado, recepciona os visitantes com opções gastronômicas variadas , além de apresentações artísticas ligadas ao foclore e artesanato realizado pelos moradores da cidade. Há pouco tempo foi instalada uma cobertura no vão central, possibilitando seu uso independente das c ondições climáticas.

Figura 06: Linha do tempo — Mercados Públicos no Brasil / Fonte: Bueno, 2013, adpatado pela autora, em 2022.

O Mercado Modelo está próximo ao elevador Lacerda e à marina, privilegiando sua localização na cidade. Apesar de apresentar características de um mercado público, oferecendo atividades e produtos relacionados à cultura e identidade de Salvador, a edificação está em situação decadente, não há preocupação com a conservação e manutenção do local e, por ser um local turístico, os vendedores cobram valores exagerados nos produtos.

O Mercado de São José foi inspirado nos mercados da França, na arquitetura típica do ferro, do século XIX. Além da falta segurança e limpeza, os turistas e moradores da cidade costumam reclamar dos corredores na parte interna da edificação, da falta de amplitude e o rganização do local .

36 37

3.0 HISTÓRIA DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

38 39

A primeira vez em que se pensa o espaço público, enquanto propriedade pública e acessível a todos, é na civilização grega, “a ágora ganha estátua de espaço público, lugar onde os homens livres e iguais podem se encontrar a qualquer hora”.

A configuração desse espaço era aberto, geralmente delimitado por um mercado, no qual se praticava a democracia direta, visto ser este o local específico para discussão e debate entre os cidadãos.

É nas cidades renascentistas que a organização do espaço público passa por transformações. O lugar dos edifícios públicos, seus espaços, forma, dimensão e localização de praças e templos, e também, é a partir desse momento que a separação entre o público e o privado fica mais claro.

Segundo Silva (2009), no início do século XX, novas transformações ocorreram na cidade dado o contexto da revolução industrial, como abertura de ruas, bulevares, parques e praças.

“O espaço público, enquanto espaço de sociabilidade, toma forma paralelamente à importância dada à circulação, às preocupações com higiene urbana e com o embelezamento das cidades. (SILVA, 2009, p.19)”

No Brasil, foi introduzida pela colonização que se desenvolveu de forma particular no contexto braisliero, as praças estão relacionadas a espaços verdes, ajardinados e arborizados, mais coerentes com o clima tropical vigente. Diversos urbanistas propuseram planos para a cidade que incluíam o tratamento dos espaços públicos, como um local de lazer, culto ao corpo e encontro de pessoas.

Ainda segundo Silva (2009), o impacto modernista leva a revisão do espaço público a fim da valorização desses espaços dentro da vida urbana. O Novo Urbanismo tenta recriar uma vida pública mais participativa, por meio do “ conceito de diversidade, tanto de usos quanto de usuários, incentivando, a pedestrianização e diversificação (SILVA, 2009, p.21).”

Figura 07: Evolução ilustrada dos espaços públicos. Fonte: Bueno, 2013.

40 41

O conceito de espaços públicos foi, assim, sofrendo modificações seguindo as necessidades da sociedade (figura 08), tanto em relação à sua função quanto à sua forma física. Apesar das diferentes maneiras de expressão desses espaços no tempo, sua função fundamental sempre envolveu o encontro, a troca e o convívio.

A vida urbana sem os espaços públicos de sociabilidade de qualidade é incompleta, a função deste é fazer com que as pessoas sintam-se bem-vindo a participar da vida da cidade. O desafio de trabalhar em praças e seu entorno reflete a complexidade de envolver os cidadãos em um pensamento de bem comum, de ocupar o mesmo local que os demais, mantendo a ordem e o respeito.

Por isso, é necessário que certos aspectos sejam estudados e trazidos à tona no momento de projetar não somente praças, mas os espaços públicos em geral.

Diante da crescente escassez da vitalidade da vida pública na cidade, surge o interesse por revitalizar centros no intuito de reinseri-los na sociedade, assim como, levantou-se também a questão da requalificação dos Mercados Públicos.

Apesar deste processo de desestruturação das experiências urbanas e atomização das práticas simbólicas - reflexos da

homogeneização da cultura, do consumo e da sociabilidade -, não se anulam as particularidades dos lugares (CANCLINI, op.cit.).

O lugar, neste contexto, adquire valor simbólico para os habitantes representando a luta pela existência e pelo “direito à cidade”, isto é, a luta pela apropriação dos espaços e pela construção de significados na cidade (CARLOS, 2004). Poderia-se dizer que se tratam de reafirmações do território urbano, tentativas de-se manter o sentido da cidade como expressão da sociedade local (CANCLINI, op.cit.).

É necessário pensar em uma nova cultura de espaços públicos, uma nova forma de vida pública, mais dinâmica, que ofereça o que os usuários procuram e o que a cidade precisa.

A conceituação temática a seguir se desenvolve através de análises no espaço definido como objeto de estudo, o Mercado Público Herácio Gomes Lima e seu entorno imediato, localizado em Betânia. Para isso, se analisa os conceitos teóricos desenvolvidos por Jan Gehl (2010) acerca da cidade aos níveis dos olhos, no que consta a arquitetura e administração dos espaços públicos. Somando as contribuições de Armando de Holanda (1976) em “Roteiro para Construir no Nordeste” e “Projetos de edifícios públicos” (2018) de Mário Hermes Stanziona Viggiano, com o

42 43

objetivo de uma abordagem cultural, econômica, ambiental e arquitetônica à concepção e desenho de edificações de uso público.

O caminho a ser percorrido a partir das análises bibliográficas auxiliaram no processo de desenvolvimento do tema, a fim de se compreender os processo que impulsionam a vitalidade do espaço público.

44 45

4.0

CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA

46 47

Este capítulo apresenta o desenvolvimento do embasamento teórico da presente pesquisa, compondo a construção conceitual do objeto de estudo. Essa etapa discutirá acerca do conteúdo relacionado ao tema da arquitetura de uma edificação, funcionamento e contexto urbano, trazendo subsídios para o entendimento e conceituação do projeto arquitetônico a ser proposto nas próximas etapas.

Os equipamentos varejistas como o Mercado, desde os tempos mais remotos, exercem um papel importante na distribuição de alimentos à população urbana, como já foi abordado em capítulos anteriores deste trabalho. Segundo Vargas (2001), a síntese do papel varejista na sociedade atual envolve a concepção e o desenvolvimento de um equipamento comercial através de ações de priorização das necessidades, aspirações e percepções do consumidor. A manutenção desse mecanismo está diretamente relacionada a sua flexibilidade, sustentabilidade ambiental e a ao modo como esse é capaz de incorporar funções visando atender as necessidades dinâmicas do cliente potencial, aprimorando constantemente a qualidade e principalmente criando serviços diferenciados que tem o objetivo de fidelizá-los.

Segundo Vargas (2001), absorvidos pela indústria norte-americana desde a década de 1950, o conceito de marketing chegou ao varejo brasieleiro no final da década de 1980. Esse elemento sensibilizou a criação de novas redes varejistas, atacados de alimentos, formas de comercialização de forma a exigir um sistema de gestão mais eficaz para garantir a manutenção e o acesso a esses equipamentos. Ou seja, a mudança de foco da compra e da distribuição do produto para uma direção alinhada à percepção do mercado consumidor. Um dos objetivos é aumentar a permanência do cliente no ponto de venda e cultivar a relação cliente e fornecedor. Além disso, as grandes redes varejistas acabam absorvendo algumas características próprias dos espaços públicos dedicados ao comércio como a espontaneidade do encontro, a simplicidade e o calor humano.

Não há bem mais caro para a humanidade do que a própria existência. A manutenção por parte da sociedade civilizada não é uma questão apenas de sobrevivência, mas sim de oferecer condições dignas para o usufruto da cidadania. O acesso à alimentação adequada de qualidade é condição sine qua non no conjunto de particularidades que remetem a manutenção da vida plena, saudável e ativa.

Tornar os alimentos acessíveis é funda -

48 49
4.1
4.0

mental para garantir condições de vida. É imprescindível o papel do Estado na regulação do abastecimento alimentar e na intermediação principalmente de comércios de grande e médio porte em fortalecer os equipamentos públicos como mercados, varejões, sacolões e feiras livres conforme descata Guimarães, são importantes meios na distribuição da pequena produção rural e industrial artesanal e familiar, corroborando com a construção de um modelo econômico social mais justo. Mott (2000) relata como as feiras e mercados existem em todo o território brasileiro sendo responsáveis pelo abastecimento de gêneros alimentícios primarios que o comércio tradicional não atende de forma satisfatória. Outro aspecto muito importante é a capacidade de geração de inúmeras oportunidades de trabalho geradas a partir delas.

E diante de uma sociedade consumidora mais consciente e exigente, o poder público não pode se isolar da necessidade de capacitação destes agentes comerciais supracitados quanto a manutenção dos alimentos, noções de higiene, qualidade e os direitos do consumidor.

Os reflexos desses novos conceitos refletem na arquitetura espaço físico, a variedade de produtos, os preços, a postura dos funcionários, serviços prestados, entre outros, poderá influenciar diretamente a experiência de compra, tornando-a mais atraente e significativa.

Figura 08: Resposta emocional ao meio construido.. Fonte:Oliveira, 2006.

50 51
4.2
ELEMENTOS PROJETUAIS E CONSTRUTIVOS

O ambiente físico remete a localização e ao espaço onde os produtos estão dispostos para avaliação antes de serem adquiridos. A localização geográfica e qualidade do espaço urbano são, assim, fatores decisivos no grau de atratividade do consumidor ao ponto de venda. A atmosfera do varejo, envolve elementos como arranjo físico, aromas, sons, cores, conforto térmico e lumínico, além de densidade de pessoas que ocupam um espaço podem inibir ou aproximar o cliente. Além disso, a percepção de uma loja tende a ser positiva quando há formação funcional dos espaços e características físicas e psicológicas determinam seus ambientes.

Assim, segundo Mowen & Minor (2003, apud SAMARA & MORSCH, 2005) o ambiente varejista deve ser capaz de explorar os elementos físicos capazes de despertar nos consumidos estados emocionais favoráveis, através da vivência positiva e acolhedora do ambiente.

Portanto, apropriar-se destas informações e promover as adaptações necessárias ao ambiente do Mercado alvo desse trabalho é possível desenvolver um ambiente de comércio adequado ao processo de compra e em sintonia com as necessidades e expectativas do consumidor.

O espaço urbano é o resultado de um traba -

lho socialmente útil que imprescindivelmente agrega um valor. Vargas (2001) ressalta que a municipalidade deve desprender uma atenção mais apurada quanto a implantação de grandes empreendimentos varejistas como um mercado público. Para a autora, esse complexos comerciais devem ser analisados à luz da potencialidade socioeconômica e da corrente inserção na malha urbana de uma cidade. Mercados públicos são compostos basicamente por áreas de comercialização,contando com boxes, áreas de apoio, administração, plataforma de carga e descarga,áreas de coleta de lixo. Assim, as dimensões e o arranjo espacial destes equipamentos estão relacionados a sua área de abrangência na cidade, ao tamanho da população a ser atendida, a variedade e a quantidade de produtos a ser comercializada.

As circulações são elementos arquitetônicas que merecem atenção especial quanto a sua definição, essas devem ser dimensionadas de modo a permitir acessibilidade a todas as dependências do edifício, a fim de desviar, quando possível, o cruzamento dos acessos do comércio com os acessos de serviços como carga e descarga e coleta de lixo.

Além disso, enquanto equipamentos públicos os materiais a serem utilizados devem visar a longa durabilidade, alta resistência à abrasão e

52 53
4.3
ACESSIBILIDADE E VALORIZAÇÃO DO ESPAÇO URBANO

a fácil higienização e manutenção de paredes e pisos. Já as vedações devem inibir o ataque de pragas, como roedores, mas essencialmente permitir a ventilação cruzada no ambiente, de modo a criar um clima ameno e agradável. Portanto, a solução da coberta deve considerar a possibilidade de venção de vãos maiores, viabilizar a exaustão do ar e captar a iluminação natural de forma indireta valorizando, portanto, recursos passivos para a promoção de conforto térmico, o que contribuirá para a conservação de energia e eficiência energética da edificação.

baseado no desentirece pela vivência da cidade.

Com a implantação desse uso arquitetônico, seja ele de serviço ou de comércio, densa ou não o crescimento e ocupação, a recepção de áreas urbanas deteriorada, atende ao interesse coletivo.

4.4

ARQUITETURA DA CIDADE E DOS MERCAODS: TIPOS DE CONEXÃO

O comércio e a sua implantação tem relação direta com o local implantado, influenciando em sequência e sendo influenciado pelo seu entorno, criando alterações significativas nos espaços. No caso de Betânia, o mercado público está inserido em um espaço comercial ativo e protagonista capaz potencializar o comércio local, trazendo vida, circulação de pessoas e consequentemente aumentando o relacionamento entre pessoas. Para Jacobs, a importância de que o comércio é gerar segurança e circulação de pessoas na rua, trazendo mais vida, e portanto potencializando o relacionamento entre pessoas e conhecendo de novos organicamente indo de encontro ao sistema

A visibilidade que as propostas de mercado tendem a trazer para eles são baseados na sua estrutura física e reputação que esse tipo de comércio desenvolve ao longo do tempo, para isso acontecer em Betânia é necessário que a arquitetura seja usada favoravelmente. Isso significa que a edificação deve passar a ideia de um bom atendimento, organização espacial, segurança, permeabilidade visual, acolhimento ao visitantes, limpeza, atratividade, movimentação interna, sendo consonante com seu entorno, transparecendo consonância e conectividade com seu entorno e sendo um local de fácil acesso.

54 55

4.5

A CIDADE VIVA, SEGURA, SUSTENTÁVEL E SAUDÁVEL DE JAN GEHL

“Nas cidades antigas e tradicionais, até metade dos anos 1950, a vida urbana era natural. Era simplesmente aceita e por uma boa razão. Agora, em várias partes do mundo, a vida não é mais natural, mas um recurso valioso e relativamente limitado que os urbanistas devem conduzir com muito cuidado. (Jan Gehl, (2013), p. 89)”.

A consideração pelos sentidos das pessoas é crucial para determinar se elas podem andar, sentar, ouvir e falar dentro de prédios, no bairro ou na cidade. A luta da qualidade se dá na escala menor” (Jan Gehl, p. 118).

Segundo Jan Gehl (2010), quando o objetivo é desenvolver cidades com qualidade urbanas desejáveis e valiosas, como uma cidade viva e ativa, a dimensão humana e o encontro entre pessoas estabelecem-se como prioridade. Quando se quer atrair pessoas para caminhar e viver em uma cidade, é fundamental trabalhar com atrações que estimulem, em muitas vertentes, a vida na cidade como um processo e atração principal. Segundo o autor o “processos, convites, qualidade urbana, o importantíssimo fator tempo e espaços convidativos de transição suave são palavras-chave para este trabalho”.

A gestão cuidadosa da dimensão humana em todos os tipos de cidade e área urbana é um direito humano básico. As medidas para que isso aconteça devem ser capazes de se desdobrar em todas as condições possíveis da paisagem.

Para o planejamento em pequena escala se aplica a cidade de Betania por ser uma cidade pequena, portanto o ponto principal está ligado à qualidade dos sentidos e ao aparelho motor. Gehl (2013) pontua a importância de garantir que os espaços ofereçam conforto e atraiam pessoas para atividade em espaço públicocaminhar, permanecer, sentar, olhar, conversar, ouvir e ainda atividades de auto expressão.

Se o objetivo é tornar um espaço público, como o espaço ocioso do entorno do Mercado, atuante na dinâmica de uma cidade é preciso que esse seja munido de ferramentas bem planejadas que garantam o interesse e convide a população.

Conceitos abordado por Gehl:

Cidade viva: é um conceito muito relativo e constantemente mal interpretado. Segundo Gehl, não se trata apenas de quantidade, mas sim a sensação de que o espaço da cidade é convidativo e popular, constituído de significado.

Para que a cidade seja viva é preciso ter vida

56 57

urbana variada e complexa. Ou seja, as cidades vivas são um produto de um planejamento cuidado de seu espaço, voltado para pessoas.

Segura: as cidades seguras são aquelas que garantem os convites para caminhar, pedalar e permanecer. Assunto delicado de se discutir, já que envolve grandes problemas sociais, culturais e econômicos, mas que tenta por várias medidas oferecer segurança à cidade.

Sstentável: o foco é dar a vários grupos da sociedade oportunidades iguais de acesso ao espaço público e também a possibilidade de se movimentar pela cidade; mesmo sem carro as pessoas devem ter acesso ao que a cidade oferece e a oportunidade para uma cotidiana significativa sem restrições impostas por precoces de transporte.

Saudável: devido as mudas de hábitos para um estilo de vida não saudável na sociedade atual, é de extrema importância que hajam políticas que proporcionem uma infraestrutura física na forma de percursos de boa qualidade, para combater o crescimento da obesidade e problemas de saúde relacionado ao estilo de vida sedentário.

Nesse sentido, os níveis de intervenção de deslocam entre a arquitetura de uma edificação e os espaços como um todo no qual ele está inserido, não podendo ser separados, eles se integram.

Um prédio individual pode ter um bom desenho - da perspectiva da rua - porém se o restante da rua tem, por exemplo, fachadas cegas ou arredores ociosos, ele não funcionará sozinho na manutenção da dinâmica de centro urbano.

Para o florescimento da urbanidade, segundo Holanda (2010), é necessário uma arquitetura com determinados atributos: espaços públicos bem definidos, forte contingente entre edifícios, frágeis fronteiras entre espaços internos e externos, continuidade do tecido urbano, etc. A cidade, as ruas e os edifícios são “participantes” ativos na construção da urbanidade

“Hoje em dia, no planejamento de uma cidade, muitas vezes a interação e a multifuncionalidade entre ruas, espaço públicos e as fachadas dos prédios no andar térreo foram ignoradas e negligenciadas. Geralmente, as ruas são vistas como ligações numa rede de ruas possibilitando deslocamentos, e isso muitas vezes acaba definindo como as suas são usadas; Onde o espaço público é inadequado, mal desenhado ou privatizado, a cidade se torna cada vez mais segregada. Onde o andar térreo de um prédio e sua relação com a rua e o espaço público são ignorados, o seu so e desenho faz com que o espaço seja pouco atraente, e às vezes, inseguro” (JOAN CLOS - UN - Habitat, In GEHL, 2017

58 59

O ESPAÇO PÚBLICO

A cidade precisa de uma vida urbana diversificada, onde diferentes atividades estejam combinadas, deixando espaço necessário para a circulação de pedestres e tráfego, bem como a oportunidade de participação urbana.

Ao privilegiar a construção do edifício como um objeto final do século XX, surgiram muitas áreas sem vida no espaço urbano, as quais dividiram vizinhanças, isolaram pessoas e as edificações do entorno, Gehl (2013) afirma que é importante reforçar a função social do espaço da cidade como um local de encontro que contribui para objetos da sustentabilidade social e para uma sociedade democrática e aberta.

O espaço público é enten dido como ruas, becos, edifícios, praças e tudo que possa ser considerado como parte do ambiente construído. Para Gehl e Savarre (2018), a vida na cidade também deve ser compreendida como um organismo completo, as edificações e tudo que acontece entre essas mesmas edificações.

Segundo Secchi (2012), o projeto da cidade contemporânea confia ao desenho dos es -

FIgura 09: Os dozes criterios para esapço públicos de qualidade.

Fonte: Gehl, Gemozoe, Kirknes, Sondergaard, “New City Life” Copenhague: The Danish Architectural Press, 2006. Further developed: Gehl Architects - Urban Quality Consutants, 2009.

60 61
4.6

paços abertos a missão de ser o lugar onde se experimentam e aperfeiçoam as novas ideias.

Ao desempenhar essas tarefas, os diversos espaços definem com maior clareza o fato de serem materiais urbanos fundamentais, enquanto seu conjunto assume importantíssimo papel de intermediação entre diferentes fragmentos urbanos, entre suas posições, dimensões, características técnicas e papéis, organizando-o segundo grandes figuras.

De forma geral, pode-se dizer que os espaço públicos como praças possuem uma grande relação com o local onde estão inseridos: “simultaneamente uma construção e um vazio, a praça não é apenas um espaço aberto, mas também um centro social integrado ao espaço urbano”, (Alex, 2011, p.23).

Os critérios necessários para que os espaços públicos cumpram a sua função de promover encontros e servir como palco para diversas atividades humanas foi abordado por Gehl (2013), onde o autor destaca a importância de priorizar a dimensão humana e focas nas necessidades das pessoas que utilizam o espaço.

As cidades devem pressionar os urbanistas e os arquitetos a reforçarem as áreas de pedestres como uma política urbana integrada para desenvolver cidades vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis. Igualmente urgente é re -

forçar a função social do espaço da cidade como local de encontro que contribui para os objetivos de sustentabilidade social e para uma sociedade democrática e aberta. (GEHL, 2013, p.6).

O quadro a figura a seguir, também disponível no livro “Cidades para Pessoas” simplifica as diretrizes a serem seguidas para garantir um espaço público bem sucedido através de 13 critérios. Segundo o autor, o primeiro conceito é garantir o conforto ambiental para os usuários, além da proteção contra o tráfico, insegurança e ferimentos físicos. É também necessário que os espaços atraiam os usuários para diversas atividades como caminhar, permanecer em pé, sentar-se, ver, ouvir, conversar e praticar atividades físicas

Os critérios de espaço público também foram trabalhados pela Project for Publics Spaces (PSF), organização sem fins lucrativos de Nova York, fundada em 1975 com o objetivo de expandir o trabalho de William H. Whyte - autor de ‘The Social Life of Small Urban Spaces” (figura 09). O foco é ajudar pessoas a criar espaços e manter espaços públicos e assim construir comunidades mais fortes.

Depois de analisar diversos espaço públicos pelo mundo, a organização chegou a quatro qualidade fundamentais que definem um espaço público bem sucedido: sociabilidade, aces -

62 63

sibilidade, conforto e usos. A partir dessas informações, foi elaborado um panorama geral.

Acesso e conexões: Espaços acessíveis possuem uma boa relação com seu entorno, podem ser utilizado por todas as pessoas, incentivam o caminhar e permeabilidade urbana

Conforto e Imagem: Este item está relacionado com o estado físico do lugar. A segurança e atratividade promovida pela movimentação das pessoas tem grande importância na geração do bem estar e potencializa o espaço público.

Usos e atividade: Espaços públicos alegres e ativos incentivam cada vez mais pessoas a utilizá-los e mantê-los, quando não há atividades nos espaços eles ficam vazios e levam a sensação de insegurança.

Sociabilidade: Quando um lugar incentiva e possibilita as trocas sociais entre pessoas, elas tendem a sentir um forte senso de lugar e apego a sua comunidade.

Através do estudo e análise das características que compõem espaços público de qualidade, levantou-se algumas diretrizes que serão retomadas como referências projetuais para a praça civica proposto neste trabalho final de graduação (figura 10):

64 65
Quadro 10: Resumo para bons espaços públicos Fonte: a autora, 2022.

O EDIFÍCIO: E A CIDADE SE ENCONTRAM

O edifício, como afirma Scott Brown e Venturi (2004), é como signo parte integrante de um todo sígnico, que é representado pelo contexto, em que seus significados estão incondicionalmente ateados. Ou seja, a perda de significado em um implicará a perda de significado do outro. A arquitetura e o urbanismo devem ser analisados como um sistema formado pelo conjunto de elementos heterogêneos (MONTANER, 2008).

Os edifícios não são simples objetos, eles formam o pano de fundo da vida na cidade. Para Rogers (2012), a arquitetura é a arte a qual estamos expostos em todos os momentos, dia e noite. Ela amplia ou reduz nossa vida uma vez que cria ambientes onde nossas experiências cotidianas acontecem. Os edifícios ampliam a esfera pública de várias formas: elas conformam a silhueta da massa edificada, marcam a cidade, conduzem a exploração do olhar. Contudo, mesmo no nível mais simples, a forma com os detalhes dos edifícios se relaciona com a escala humana tem um impacto no cenário urbano.

Gehl (2013) propõe que uma vez definido os espaços públicos e as conexões, as edificações - mais precisamente o térreo - podem ser localizadas para garantir a melhor coexistência entre vida, espaço e edifícios. A logística quanto a garantia de térreos ativos e atraentes ao longo da rota do pedestres, em termos de experiências visuais tem um papel

Figura 11: Ritmo em ruas comerciais de Nova York: experiências agradáveis para o pedestre a cada quatro ou cinco segundos há algo para se ver Fonte: Cidade para pessoas (2013).

66 67
4.7

determinante. (Gehl, 2010, p. 77). Caminha na cidade torna-se mais interessante e significativo, onde o tempo passa mais rapidamente e as distâncias parecem mais curtas quando há o que se vivenciar nas áreas ao nível da rua.

Para Jan Gehl (2013), o projeto dos espaços, ricos em detalhes construtivos, paisagismos, áreas verdes em frente a lojas impulsionam e influenciam na qualidade dos percursos e prazer em caminhar. Ainda segundo o autor, ao abrir espaços de transição entre a cidade e os edifícios, a vida interior das edificações e a rua funcionam conjuntamente. Isso de fato já ocorre no entorno comercial do Mercado, as lojas de pequeno porte, apresentam uma interação constante com a rua e o interior das edificações, contudo, esses espaços de transição não são tratados para permanência (figura 11, ritmo das fachadas proposto por Gehl, a esquerda, e o que acontece com o comercio de Betania, a direita).

“Basicmante andar é um movimento linear que leva o caminhante de um lugar para o outro, mas é, também, muito mais que isso “ Gehl (2013).

sa na rua - possíveis clientes - e vendedores, enquanto várias portas garantem vários pontos de troca entre a parte interior e exterior. Os shopping centers fazem uso do princípio de unidades estreitas e muitas portas, o que além de abrir espaço para mais lojas, há mais espaço para ofertas tentadoras. O que se observa na arquitetura do mercado, é a adoção de unidades térreas com pouquíssimas portas muito espaçadas, o que torna a fachada monótona e seu percurso se torna mais longo e tedioso.

Para melhorar o ritmo das fachadas, é importante garantir que as fachadas térreas tenham articulação vertical. Esse artifício faz com que as fachadas térreas parecem mais interessantes. A fachada atual do mercado, projetada com longas linhas horizontais, faz as distâncias parecerem mais longas e cansativas. Unidades estreitas e inúmeras portas, além de uma grande diversidade de funções, garantem inúmeros pontos de interesse entre o interior e exterior. Portanto, quando a fachada comercial é configurada com unidades estreitas, muitas portas e movimento vertical a experiência de caminhar se torna mais prazerosa e mais tentadora.

Para Gehl (2013), o princípio de inúmeras unidades estreitas e muitas portas ao longo de ruas comerciais proporciona as melhores oportunidades de interação entre quem pas -

O cuidado detalhe das fachadas se tornam interessantes para pedestres que caminham lentamente. Áreas atraentes ao nível da rua oferecem textura, bons materiais e riqueza de detalhes.

68 69

“Estudos fisiológicos feitos com pessoas em ambientes sem qualquer estímulo mostram que os nossos sentidos precisam de estímulos em intervalos de quatro a cinco segundos. No mundo todo, lojas e barracas em ruas comerciais ativas e prósperas, têm uma fachada de cinco ou seis metros de comprimento, o que corresponde a 15-20 lojas. Em um ritmo normal de caminhada, cerca de 80 segundos/100 metros, o ritmo de fachada indica que, a cada cinco segundos, há novas atrações e atividades para serem vistas” (JAN GEHL, p. 77) .

O s espaços de transição entre interior e exterior são uma zona de troca, esses espaços proporcionam uma oportunidade para a vida, dentro da edificação ou bem na frente a elas, de interagir com a vida na cidade. É nessas zonas onde as atividades realizadas dentro das edificações podem ser levadas para fora, para o espaço da cidade (JAN GEHL, 2010).

Para Bentley (1985), apenas lugares que são acessíveis ao público podem oferecer alternativa de escollha. A capacidade de um ambiente de conceder alternativas de penetração visual, de um lugar a outro, é a medida de sua vitalidade. O ambiente construído tem que proporcionar aos seus visitantes uma proposta essencialmente democrática.

Para Gehl (2013), os acessos de edificações devem ser fáceis de serem “sociáveis, fáceis de entrar e sair”.

É importante, também, que esses espaços funcionem como bordar suaves no espaço privado, capazes de proporcionar momentos de descanso, com bancos sombreados por árvores, pergolados e oportunidades de relaxar habitualmente. A popularidades do café e as permanências relativamente longas neles oferecem algumas combinações de atratividade: cadeiras razoavelmente confortáveis e uma boa visão dos passantes. Pode ser a oportunidade de descansar tomando um café.

O autor cita, também, que podemos descrever a oportunidade de experiência a partir da análise de dois extremos. Um cenário onde a rua é uma “transição suave” com lojas alinhas, fachadas transparentes, grandes janelas, muitas aberturas e mercadorias expostas.

Há o que se ver, trocar. No cenário oposto - muito parecido com tratamento das interfaces do Mercado - a rua com “transição rígida”, onde as fachadas são fechadas de vidro preto, concreto ou alvenaria.

Há poucas, ou nenhuma porta e no geral, há pouco para se vivenciar; não há sequer motivo para escolher adentrar um espaço. Ruas com transição suave tem influência marcantes sobre padrões

70 71

Transparência: caminhar na cidade pode ser uma experiência intensificada se os pedestres poderem ver as mercadorias em exposição e o que acontece no interior das edificações.

Apelo aos sentidos: Todos os nosso sentidos são ativados quando estamos perto de edificações que despertam interesse e oportunidade de interesse Diversidade de funções: unidades e inúmeras portas, além de uma grande diversidade de funções, garantem pontos de intercâmbio entre o interior e o exterior.

Interativo

FACHADA ATUAL

passivo e monótono

Variado

convidativo

Texturas e deta lhes: as edificações da cidade são atrações para pedestres que caminham lentamente. Á reas atraentes ao nível dos olhos oferecem textura e riqueza de detalhes.

Convidativo: Unidades relativamente pequenas (10-14 portas a cada 100m) interessante

Ritmos e fachadas verticais : área com ritmo de cada basicamente vertical , tornam o caminhar interessante. vertical

72 73
Aberto fechado unifrome e horizontal Figura 12: Analise das fachadas do Mercado.

Nas últimas décadas do século XX, a humanidade desperta para a necessidade de repensar sua postura diante dos elementos da natureza de forma a garantir sua sobrevivência.

Há nesse processo, o reconhecimento de que a arquitetura desempenha um papel fundamental quanto a sua adequação aos preceitos sustentáveis, ou seja, aqueles capazes de explorar as particularidades de uma determinada região para que uma edificação seja beneficiada da melhor maneira com as fontes naturais de sol e ventilação.

Isso implica na diminuição do uso de iluminação artificial e de equipamentos para a climatização de edifícios. Ainda nos anos vinte do século passado, Frank Lloyd Wright, pioneiro no conhecido movimento “orgânico” , propunha uma arquitetura integrada ao contexto físico e natural, onde os edifícios não fossem construídos como elementos isolados mas sim, como a continuidade da paisagem natural, levando em conta os materiais locais e as condições climáticas da localidade a ser implantada.

Nesse sentido, as soluções construtivas devem ser fruto da cultura, da paisagem, do clima, da topografia, do relevo e da vegetação que caracterizam cada lugar. Em princípio, toda arquite tura deveria ser bioclimática, pelo empre -

go de estratégias passivas de conforto ambiental e uso racional de energia, contudo, esse aspecto muitas vezes é negligenciado no projeto. Para Lamberts et al (2004), os arquitetos deveriam projetar edificações mais eficientes, isto é, que possibilitasse o uso racional de energia e garantem o conforto térmico para o maior número possível de usuários.

Mossoró (1983) ressalta que nas regiões de clima tropical e subtropical, a luz e a radiação são mais intensas, mesmo quando o céu está encoberto por nuvens. Portanto, a edificação deve ser concebida de modo que ela amenize os extremos da iluminação natural, da umidade do ar e das temperaturas.

A escolha dos procedimentos projetuais e soluções construtivas devem ser personalizadas para cada lugar, com o objetivo de adequação climática de cada lugar e assim contribuir para a formação da identidade arquitetônica (regional) e para a maximização e racionalização da energia.

O início do debate brasileiro sobre as questões climáticas nas regiões tropicais tem como marco inicial a visita de Le Corbusier ao Brasil em 1929. Lucio Costa, então passa a ser o principal articulador entre a arquitetura e o clima tropical no Brasil. Na década de 70, este debate foi intensificado com a crise

74 75
4.8

do petróleo, a questão energética passou a ser encarada a partir de um novo ponto de vista:

O dramático aumento do preço do petróleo [...] combinado com aumentos das taxas internacionais de juros, repentinamente terminaram com a era da energia barata, levando a um questionamento do modelo de desenvolvimento adotado até então[...]. Ainda hoje, ela representa um fator de preocupação na área econômica e, mais recentemente, na área ambiental (JANNUZZI, 1997; apud VIGGIANO, 2001).

Nesse contexto, o arquiteto pernambucano Armando de Holanda, contribuiu no debate em torno dos estudos bioclimáticos aplicados à arquitetura da faixa intertropical e observou o trabalho, discurso e a prática de algumas gerações de arquitetos que atuavam em Recife entre as décadas de 30 e 70.

Esses arquitetos buscavam adaptar os princípios de arquitetura moderna ao clima quente e úmido do Recife. Holanda, assim, consubstanciou uma sérei de experiências empíricas em seu livro denominado “Roteiro para Construir no Nordeste: Arquitetura como lugar ameno nos trópicos ensolarados” publicado em 1976 pela Universidade Federal de Pernambuco.

Trabalhemos no sentido de uma arquitetura livre e espontânea, que seja clara e expressão da nossa cultura e revele uma sensível apropriação de nosso espaço; trabalhemos no sentido de uma arquitetura sombreada, aberta, continua, vigorosa, acolhedora e envolvente, que, ao nos colocar em harmonia com o ambiente tropical, nos incite a nele viver integralmente. (HOLANDA, 1976, p.43)

O livro de Armando de Holanda apresenta uma série de recomendações projetuais que objetivam orientar a criação da arquitetura no Nordeste, onde o clima tropical é marcado por fortes presença da luz e vegetação típica: a mata Atlântica e os ecossistemas a ela associados (restinga e manguezal) na faixa litorânea e caatinga no agreste e sertão. Essas recomendações se desenvolvem como um “roteiro”, contudo se adequam melhor a faixa litorânea do Nordeste, onde o clima é quente e úmido.

As recomendações de Holanda são: Criar sombras – um amplo e expressivo abrigo do sol e da chuva, facilitando a troca de massas de ar e favorecendo a diminuição da temperatura do ambiente.

Vazar os muros – propor paredes vazadas que permitem a passagem da bri -

ROTEIRO PARA CONSTRUIR NO NORDESTE DE ARMANDO DE HOLANDA

76 77
4.8.1

Figura 13: As paredes sob essa sombra recuada, pro- tegidas do sol e do calor, das chuvas e da umidade, criando agradáveis áreas externas de viver.

Figura 14: Construir frondoso

Fonte: Holanda, 1976

Figura 15: Abertuas externas com projeções e quebra-sol para que, abrigadas e sombreadas possam perma- necer abertas. Redesenho segundo traço oringinal de Lúcio Costa

Fonte: Holanda, 1976.

Figura 16: As paredes sob essa sombra recuada, protegidas do sol e do calor, das chuvas e da umidade, criando agradáveis áreas externas de viver.

Fonte: Holanda, 1976.

sa e filtram a excessiva luz tropical;

Proteger as janelas - proteger as aberturas da envoltória da incidência direta do sol e da chuva, para que possam permanecer abertas nos dias chuvosos (figura 15);

Recuar paredes – proteger as paredes da incidência direta do sol e da chuva, gerando áreas de transição para o convívio (figura 16);

Abrir as portas – permitir o contato visual, estimulando a integração entre espaço interno com o espaço externo, e vazar as folhas que compõem as esquadrias;

Continuar os espaços – promover a continuidade do espaço, deixando-o desafogado. Separando apenas os espaços onde a privacidade fosse imprescindível (figura 18);

Construir com pouco – usar materiais existentes na região e racionalizar a construção evitando desperdícios;

Conviver com a natureza – usufruir do sombreamento da vegetação e propor um paisagismo com o e prego da flora nativa (figura 17)

Construir frondoso – construir de forma livre e espontânea, respeitando a cultura e o clima locais. Produzindo uma arqui -

78 79

tetura vigorosa, acolhedora e envolvente, que coloque o usuário de seus espaços em harmonia com a natureza (figura 14).

Tentemos aprender a fluência entre a paisagem e a habitação, entre o interior e o exterior, para desenhamos portas que sejam um convite aos contatos entre mundo coletivo e individual. ((HOLANDA, 1976,p. 27)

As recomendações do Roteiro para Construir no Nordeste sugerem importantes soluções arquitetônicas que visam proporcionar o melhor desempenho térmico e luminoso para as edificações nas regiões de clima quente e úmido da faixa litorânea da região Nordeste. Vale ressaltar as importantes contribuições do artigo “Praspecos do Regionalismo Crítico” publicado em 1983 por Kenneth Frampton onde se discute a possibilidade de uma arquitetura com maior significado experimental.

Para Frampton (1997), é necessário uma filtragem crítica, não só dos recursos tecnológicos, como o uso indiscriminado do ar condicionado, mas também a reinterpretação de elementos provenientes de outras culturas, de modo que a arquitetura regionalista deve enfatizar a arquitetura contemporânea voltada para o lugar através do respeito ao clima, a topografia, a malha

Figura 17: Abrir as portas. Fonte: Holanda, 1976.

Figura 18: Situação das praças no entorno do Mercado.

Fonte: Google Maps, editado pela autora em 2022.

80 81

viária, a paisagem natural e a uma técnica que consiste na mao de obra, materiais e técnicas construtivas locais, que permitam que os ambientes assim construídos sejam uma experimentado por seus usuários em todos os sentidos.

Sua crítica reflete sobre uma arquitetura alternativa e autêntica baseada na compreensão de dois aspectos: o lugar e a tectônica. “Relocar” a arquitetura sem prescrever uma estratégia específica.

Nesse sentido, o regionalismo crítico não traz uma receita pronta a ser seguida, já que a obra é uma resposta única, específica do lugar, diferindo portanto de um estilo. O “roteiro” proposto por Holanda (1976) foi elaborado à luz, não só do clima, como também do jeito de viver do povo nordestino.

Sob a perspectiva sugerida por Frampton (1983), é possível entender a proposta como “regionalismo crítico”, haja vista a ampla interface entre os discursos desses autores.

Tendo em mente os dois contextos analisados, é possível utilizar algumas diretrizes desenvolvidas por Holanda (1976), no contexto do clima semiárido. Como a proteção das janelas, ventilação cruzada e da utilização de um generoso sombreamento vegetal, fazendo com que as árvores dos jardins, das vias, das praças se prolonguem nos espa -

ços. É possível dizer que as praças que cercam o Mercado - localizadas na rua Luis Epaminondas e praça na Rua Manoel Jeronimo - não possuem arborização o que é decisivo para a não utilização do seu espaço.

Dadas as contribuições de Armando de Holanda, se faz necessário medidas ainda mais direcionadas, ou seja, aquelas que levam em consideração o estudo climático específico de macro e micro clima da Betânia.

A partir disso, serão traçadas diretrizes bioclimáticas gerais que nortearam as decisões projetuais do Mercado Municipal e seu entorno composto por espaços públicos (figura 19). A partir disso, serão traçadas diretrizes bioclimáticas gerais que nortearam as decisões projetuais do Mercado Municipal e seu entorno, esse que atualmente encontra-se em péssimas condições do no se diz respeito à manutenção de um bom conforto térmico, como por exemplo as praças, que por falta de arborização adequação não é capaz de oferecer sombra para os espaços. As diretrizes complementares serão propostas a partir do estudo climáticos dos fatores e elementos climáticos abordados por Mário Viggiano Projeto de edifícios públicos sustentáveis: uma abordagem cultural, econômica, ambiental e arquitetônica publicado em 2019.

82 83

BIOCLIMA EM EDIFÍCIOS PÚBLICOS

“ Nosso mundo globalizado requer soluções rápidas e eficazes. Os pessimistas afirmam que já não há mais tempo e que estamos indo em direção a uma crise sem retorno. Os românticos ainda sonham com a volta do primitivismo autóctone, em que é possível se ter banheiros secos e as matas preservadas. Os otimistas, como eu, pensam que o momento é de ação. A ação requer estratégia e projeto, uma maneira de boicotar os egoístas e aproveitadores é uma mudança radical na nossa maneira de aproveitar os recursos. (VIGGIANO, 2008)”

Ao se afirmar que um projeto é sustentável significa dizer que este é capaz de se manter utilizando os recursos naturais disponíveis no nosso patrimônio natural tais como o potencial energético e biodiversidade.

Assim, uma edificação sustentável é aquela que se beneficia na forma de conforto térmico, funcionalidade, satisfação e qualidade de vida, gerando o mínimo de impacto no meio ambiente e alcançando o máximo de autonomia. Para termos uma edificação sustentável, vários são os caminhos, mas dois princípios são fundamentais: um projeto que contemple os conceitos sustentáveis e de eficiência energética.

Figura 19: Mapa de climas do estado de Pernambuco.

Fonte: IBGE, 2002.

84 85
4.8.2

A arquitetura como “casca” que proporciona abrigo e proteção, faz a conexão entre os seres humanos e o clima que habitam, e uma arquitetura bioclimática é aquela que realiza a conexão de forma plena.

A manutenção de um ambiente confortável mediante ao controle efetivo do calor e da ventilação - climatização natural - é a condição fundamental quando se quer obter a eficiência energética em uma edificação.

Assim, a climatização natural é conseguida através do estudo climático (macro e micro clima) da região em que o edifício será localizado.

A partir desses estudos, são traçadas as diretrizes bioclimáticas, essas soluções que auxiliam a arquitetura a cumprir as diretrizes e agregam, além de soluções formais, a escolha de cores de fachada e materiais, recursos de ventilação e iluminação natural.

A Região Nordeste ocupa aproximadamente 18,3% do território brasileiro, com uma área de 1.561.177,8 km² (IBGE, 2005). NIMER (1979) classifica a climatologia do Nordeste (figura 20) como uma das mais complexas do mundo devido a irregularidade de distribuição das chuvas.

É possível encontrar desde o clima super-úmido, o predominante em Betania característico das zonas litorâneas, até o clima seco quase

desértico do sertão: o semi-árido (NIMER, 1979).

Esta delimitação tem como critérios o índice pluviométrico, o índice de aridez e o risco de seca. O que significa, pela matriz de diretrizes e soluções bioclimáticas (figura 21), a utilização de materiais com alta inércia térmica, como tijolos maciços nas paredes e telha sanduiche no telhado. O objetivo é que a arquitetura do Mercado seja uma alternativa mais econômica para a melhoria da qualidade ambiental a partir da adequação ao clima local e dos usos estratégicos passíveis de condicionamento.

Esse importante termo é composto pelas palavras BIO, originária do grego βιος – bios = vida, e se refere à própria biologia dos seres humanos e às condições que são necessárias para a sua manutenção plena; CLIMÁTICO, referente ao clima,que são as condições naturais atmosféricas de temperatura, umidade e pressão, influenciadas pelos elementos vegetais, relevo e correntes marinhas, dentre outros (VIGGIANO, 2008, p.256).

O conceito de eficiência energética se refere a obtenção do máximo de benefícios de um equipamento ou sistema com o míni -

86 87

mo de gasto energético. Para isso, a edificação pode se seguir a partir de ações como:

1. Correta orientação da edificação, uso eficiente do paisagismo como proteção e melhoramento ambiental, definição da forma da construção, localização e tamanho das aberturas e disposição correta dos dispositivos de sombreamento (LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA F., 2004)

2. Utilizar sistemas construtivos passivos de climatização, como: paredes ventiladas, ventilação por efeito chaminé.

3. Iluminação natural dos ambientes internos conseguida com a correta orientação do edifício, considerando a necessidade de proteção contra penetração excessiva do calor.

4. Zoneamento de climatização (figura 22), que estabelece as áreas de ventilação natural, ventilação mecânica e incidência de sol natural o estudo da orientação solar para o conforto térmico serve para se equacionar os ganhos e perdas térmicas de uma edificação. De forma geral, no hemisfério Sul, a melhor orientação para a captação de energia solar é o norte.

Enquanto as orientadas para o sul podem receber planos de vidro e janelas fartas,

pois recebem pouca insolação direta. As fachadas a oeste recebem muito sol à tarde e caso esse não seja o objetivo, o uso de brises verticais pode amenizar a insolação. Na edificação do Mercado Municipal, todas essas variantes de orientação solar não são levadas em consideração de forma que todas as fachadas são tratadas exatamente da mesma maneira.

Somado ao fato de não possuírem beirais, o sombreamentos da fachada, então, ficam por conta dos toldos dos comércios.

Outro ponto importante a ser considerado é a iluminação. A iluminação sustentável deve contemplar, primeiramente, os recursos naturais diurnos, complementados pela iluminação noturna com lâmpadas de baixo consumo, como as LEDs. Na arquitetura existem vários recursos que podem ser utilizados para ampliar o alcance e otimização da quantidade de luz durante a manhã no interior de uma edificação, tais como bandejas refletoras e iluminação zenital.

É importante atentar que como o mercado municipal está localizado em uma área semiárida, um projeto incorreto de aberturas pode acarretar em uma exposição excessiva das aberturas, trazendo calor.

O projeto arquitetônico pode minimizar esse risco, promovendo aberturas direcionadas a

88 89

ocupação de luz e não sol diretamente, colocando brises nas aberturas exageradamente isoladas.

Deve-se então buscar alternativas mais econômicas para a melhoria da qualidade ambiental das edificações residenciais, o que é possível através da adequação da arquitetura ao clima local e do uso de estratégias passivas de condicionamento.

Os pontos discutidos nesse capítulo tem por fim, o intuito de munir o mercado com estratégias que visam produzir um local agradável, já que por questões econômico-financeiras, não são todas as edificações que são capazes de ter acesso a esse tipo de equipamento.

O debate da adequação da arquitetura ao clima ressurgiu pela crise de abastecimento de energia elétrica de (2001/2002), no qual a população brasileira teve que enfrentar o “desconforto” nos dias de pico de verão, com restrições do uso de ventiladores e ar condicionado de ar.

Figura 20: Quadro resumo de diretrizes bioclimáticas Fonte: a autora,2022.

90 91

5.0 O TERRITÓRIO

92 93

5.1

APRENDENDO A ÁREA

Para melhor compreensão da relação entre a cidade e o equipamento urbano em questão, realizou-se uma análise da área, a partir de um recorte que apresenta o mercado em escala micro e macro.

Figura 21: S ituação do Mercado

Fonte: Prefeitura de Betania, editado pela autora em 2022

5.2

ESCALA MICRO O MERCADO EM SI

O mercado público está implantado num lote de quadra de 1.564,65 m2 situado entre as ruas Manoel Jeronimo e Luis Epaminondas na cidade de Betânia, Pernambuco. O lote é composto por quatro blocos de lojas com abertura para as ruas adjacentes e in ternamente existem dois pátios cobertos, um funciona como açougue e o segundo serve de abrigo para mesas do restaurante existente.

Com base no levantamento realizado no mer cado, foi possível identificar como princi pais usos: 24% é destinado a comercializa ção de lanches e refeições, 54% é voltado para o varejo, 12% voltado para venda de car nes e 10% está sem uso. Os blocos voltados para a rua Rufina Passos Jardim apresen tam-se com as duas maiores unidades de lo jas, de venda de bebidas e floricultura, de xx. As lojas da rua Vereador Alfredo José dos San tos, Rua Manoel Jerônimo, são os blocos que

Figura 22: Zoneamento do mercado atualmente.

Fonte: Prefeitura de Betania, editado pelaemautora 2022

94

apresentam as maiores quantidade de unidades comerciais, configurando-se com 5,54, m2 de profundidade, 6,54 de largura e pé direito de 3,20. Todos os módulos são edificações térreas que possuem como sistema construtivo a estrutura de vigas e pilares de concreto armado com vedação em tijolos ceramicos. A laje de fechamento foi executada utilizando vigas pré-moldadas e a cobertura é feita com telhas cerâmicas para apoiar, coberta por forro de gesso.

Os acessos ao mercado foram dispostos por meio de portas de portão de ferro vazado e nas lojas os fechamentos são de rolo de aço, essas aberturas não seguem um alinhamento específico, variando de 2,40m a 1,80 com altura de 2,30m.

No centro do mercado funcionam os banheiros, um masculino e um feminino, ambos composto por apenas um bacia sanitária, uma única cuba e um chuveiro. Como mostra a figura, os banheiros não são acessíveis, pois possuem dimensão de 1,45m de largura e 2,45m de comprimento, além de não serem suficientes para atender a demanda do Mercado. É notória a falta de condições adequadas de higiene, acessibilidade e salubridade, para o funcionamento das instalações internas, problema que vem sendo agravado com o passar dos anos, em virtude da falta de atividades de manutenção e reparos, que não possibilitam o livre acesso aos usuários e expõem a riscos de infecção pelas instalações insalubres.

Figura 23: Fachada descaracterizada.

Fonte: a autora, 2022

Figura 24: Banheiro sem acessibilidade e em quantidade insuficiente.

Fonte: a autora, 2022

96 97

Por se tratar de um local público, o espaço deveria apresentar condições adequadas para o acesso de pessoas com deficiência e mobilidade reduzidas, visto que a Lei nº 10.098, fomentada em 19 de dezembro de 2000, estabelece as normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação.

As fachadas estão pintadas em variações do tom de amarelo e detalhe em maia parede e tem apresentado várias desconfigurações: a instalações de toldos, inserção de novas esquadrias ou oclusão total com alvenaria e instalação de grades nas fachadas. As alterações, em grande parte, são provenientes das alterações na distribuição interna dos ambientes, da conjunção das unidades comerciais. Além disso, fica claro a falta de manutenção e reparos do interior do mercado.

As atividades realizadas no interior do Mercado atualmente resumem-se às atividades do açougue onde os comerciantes organizam as assentes em expositores de granilite sob uma cobertura. De acordo com a opinião dos produtores e moradores que frequentam o espaço, o açougue atende a função mas precisa de melhorias. As bancadas de exposição são pequenas, geralmente cada produtor ocu -

98 99
Figura 26: Local desagradvel devido a falta de infraestrutura. Fonte: a autora, 2022 Figura 27: Tipologia de bancadas do açogue. Fonte: Prefeitura Municipal editado pela autora, 2022 Figura 25: Dimensionamento da bancada dificulta o funcionamento do açogue. Fonte: a autora, 2022

Figura

Fonte: a autora, 2022

pa duas bancadas para suprir a necessidade de espaço, medem 2,35 de largura e 0,65 de profundidade. Além disso, o açougue não conta com a infraestrutura adequada para armazenamento e limpeza das carnes, atualmente não há câmara frigorífica e apenas um lavatório externo. Essa área é protegida por portões de aço, fechado à noite para proteção dos boxes.

Figura

Fonte: a autora, 2022

100 101
28: Área de mesas de restaurante existente. Figura 30: Interior de restaurante existente. 29: Condições de armazenamento.

5.3

ESCALA MACRO: O ENTORNO

Gehl (2013), afirma que a distância correspondente a 500 m, é uma caminhada aceitável a se percorrer para chegar em um determinado ponto desejável. Portanto, foi adotada esta metodologia, para o entendimento do comportamento da área em um raio de 500 metros em torno do Mercado Público Municipal de Betânia (figura 39).

Também baseado nos conceitos de Gehl (2013) abordados na conceituação temática onde se discute os atributos que qualificam o espaço urbano, tanto do viés do funcionamento, usos e como de sá a apreensão da cidade ao nível dos olhos; optou-se por analisar os conceitos de ocupação do solo, gabarito das edificações e dos percursos, dentro do raio de influência do Mercado.

De acordo com o mapa de gabarito (figura 24) é possível verificar que o entorno imediato é composto por edificações de uso misto e comercial, estes que ocupam a maior parte da tipologia térreo + 1.

Além disso, é percebe-se que esses usos comerciais seguem se configurando ao longo das vias principais que têm como centro o mercado e seu entorno. As demais áreas da cidade são compostas por residências e de baixo gabarito.

Quanto à dinâmica da área de estudo, há

Figura 31: Mapa de usos

Fonte: Google Maps, editado pela autora, Figura 32: Mapa de gabarito

Fonte: Google Maps, editado pela autora, 2022.

102 103

uma grande concentração de uso comercial (figura 41), o que estimula a vivacidade das ruas, atraindo pessoas durante o dia. Contudo, este uso torna as ruas obsoletas durante a noite, quando esses estabelecimentos fecham. Para que o equipamento urbano torna-se um integrador de espaço público é necessário trazer mais oportunidades e atrativos para os usuários.

Por ser uma cidade pequena em nível territorial, o município não dispõe de transporte público, a população urbana costuma utilizar motos e bicicletas para se deslocarem dentro da cidade. Quase todas as vias da poligonal de estudo (figura 24), são locais, ou seja, de baixo fluxo. A única via arterial presente na cidade, é a que recebe o maior fluxo de automóveis que vem das cidades circunvizinhas.

A rua Manoel Jerônimo, via onde localiza-se o Mercado Público, é uma via de médio fluxo, que por a feira livre situar-se nela, resulta em vários transtornos nas sextas-feiras para o fluxo de pedestres e automóveis.

Analisando o mercado na escala da rua onde se localiza, nos deparamos com a feira livre local, que apresenta um comportamento diferente durante os dias de seu funcionamento. Nas sextas, a feira contribui na variedade de produtos à venda, atraindo um grande número de pessoas e veícu -

los tornando o centro um ambiente inseguro para os pedestres, comerciantes e feirantes.

Figura 33 : Entorno imediato do Mercado com feira.

Fonte: a autora, 2022

Figura 34 : Entorno imediato do Mercado com feira.

Fonte: a autora, 2022

104 105

Figura 35: A nalise das instalações atuais Fonte: a autora, 2022

Figura 36: Fachada sul existente. Fonte: Prefeitura Municipial, 2022.

Figura 37: Fachada leste existente. Fonte: Prefeitura Municipial, 2022.

Sentido das vias do entorno do mercado

Lojas com abertura para a rua, criando um esvaziamento do interior.

Ciruculação interna existente.

01

02 03 04 01 02

03 04

Figura 38: Entorno imediato do Mercado com feira. Fonte: a autora, 2022

106 107

5.4

A PAISAGEM

Com base nas reflexões de Kevin Lynch (1997), a respeito da percepção da imagem da cidade pelas pessoas, é possível destacar cinco elementos: os caminhos, os limites, os bairros, os pontos nodais e os marcos. Através desses grupos, apresenta-se uma breve percepção da paisagem da cidade de Betânia.

5.4.1

CAMINHOS

“São canais ao longo dos quais o observador costumeiramente, ocasionalmente, ou potencialmente se move. Podem ser ruas, calçadas, linhas de trânsito, canais, estradas de-ferro”. (LYNCH, 1997, p. 47)

Para a maioria das pessoas entrevistadas no estudo de Lynch (1997), os caminhos foram considerados como os principais elementos estruturadores da percepção do ambiente, as pessoas percebem a cidade enquanto vivem a experiência de se deslocar pelos caminhos. Algumas especificidades podem conferir relevância a determinados caminhos, quando encontram um tipo especial de uso, por exemplo, ou quando têm características diferenciadas (ruas muito largas ou muito estreitas, ruas com um tratamento intenso de vegetação, ruas com visuais ou vistas de outras partes da cidade, etc.).

Em Betânia, os comércios então localizado em

Figura 39: Relação com os espaços públicos.

Fonte: Fernanda Pontes, 2016.

108 109

BAIRROS

dois pontos, no entorno do Mercado Público, rua Manoel Jerônimo e rua Luis Epaminondas onde o uso é marcado quase que exclusivamente por comércios e pontos pontuais de uso misto (comércio + residência). Na segunda rua comercial, a Vereador José dos Santos, há pontos comerciais, contudo o uso misto e residencial são mais presentes. Em ambos os pontos de convergência do comércio da cidade existe uma característica em comum: são configurados em torno de praças, que apresentam consecutivamente os mesmo problemas, que são a falta de arborização e atividades que incentivem seu uso, seu uso se dá como uma espécie de canteiro, dividindo as vias de boa proporção, 8 metros de largura.

De acordo com o autor, os bairros não são limites administrativos, eles são partes da cidade, “na qual o observador “entra”, e que são percebidas como possuindo alguma característica comum, identificadora.“ (LYNCH, 1997, p. 66) Essa característica pode ser uma textura, material, forma, detalhe, uso, atividade, entre outras variadas maneiras de diferenciar e identificar um bairro na configuração urbana. Desta forma, Betânia apresenta três quatro bairros principais, a zona central e arredores, onde estão as edificações com gabaritos maiores e de usos misto, co -

110 111
5.4.2
Figura 40: Vista de pássaro de Betania. Fonte: Fernanda Pontes, 2022

mercial e serviços, onde os moradores costumam trabalhar. Nesse bairro, os comércios

têm abertura direta para a rua (figura 46) enquanto as residências têm muros que cercam toda a edificação. No segundo bairro, estão localizadas as edificações de gabarito predominantemente baixo, sendo exclusivamente residenciais, na parte plana da cidade, nesse caso as residências são de porta e janela, sem muros. O terceiro tipo também é composto por residências essencialmente com baixo gabarito, contudo se localizam em uma área de suave aclive, com residências mais humildes e com ruas bem menos largas do que as encontradas no centro da cidade.

Para Lynch (1960), os pontos nodais são pontos estratégicos na cidade, pontos de convergência, como terminais de ônibus por exemplo, onde é possível que o observador entre, possa ir e vir. Variam conforme a escala de análise, podendo ser esquinas, praças, bairros, etc. Em Betânia, o principal ponto nodal é a rua em frente a prefeitura Municipal da cidade, possui uma rua larga e é onde se localizam os eventos que a cidade recebe, como a festa anual do Padroeiro Santo Antôni têm abertura direta para a rua (figura 46) enquanto as residências têm muros que cer -

cam toda a edificação. No segundo bairro, estão localizadas as edificações de gabarito predominantemente baixo, sendo exclusivamente residenciais, na parte plana da cidade, nesse caso as residências são de porta e janela, sem muros. O terceiro tipo também é composto por residências essencialmente com baixo gabarito, contudo se localizam em uma área de suave aclive, com residências mais humildes e com ruas bem menos largas do que as encontradas no centro da cidade. A principal característica dos marcos é a singularidade, Lynch (1960) explica que eles devem apresentar algum diferencial, seja no tamanho, podendo ser visto de diversos lugares da cidade e servindo como referência, ou estabelecer um contraste com os elementos próximos a ele.

É um objeto físico e pode ter diversas escalas, como torres, edifícios, esculturas, etc. O Clube de Campo Oásis do Sertão pode ser considerado o principal marco na cidade, nele está localizada uma grande estrutura de hotel, restaurantes e piscinas. É uma atração turística para quem visita a cidade e é comum a presença de turistas que frequentam o espaço, contudo está localizado um pouco distante do centro da cidade, às margens da PE-340.

112 113
5.4.3
5.4.4 MARCOS

CONDICIONANETES CLIMÁTICOS

A insolação, de acordo com Dutra, Lamberts e Pereira (2004, p. 99), pode-se dizer que ele está localizado na chamada Zona Bioclimática 7; zona esta, que “suas principais diretrizes construtivas são o uso de pequenas aberturas e totalmente sombreadas, o uso de paredes e coberturas leves e refletoras e o uso de ventilação cruzada permanente o ano todo”.

Conforme Beraldo e Rieth (2002) os ventos predominantes em Betânia são do sudoete e a velocidade média é de 22 km/h. A média anual relativa do ar é de 85%, com variações de 39 a 98% .

O terreno onde o Mercado Público está lo alizado apresenta lojas em toda a sua periferia, portanto alguns comércios são mais ou menos bem localizados quanto a sua localização (figura 33), contudo como um todo a edificação apresenta uma boa orientação solar.

Em dias de feiras e bancas de rua costuma estar mais concentrada na fachada noroeste, o que deve ser levado em consideração na proposta arquitetônica uma vez que, em dias de feira o trecho fica bastante conturbado tanto pelas barreiras físicas quanto pela grande movimentação de carros e motos.

Figura 41: Estudo de insolação esquematico. Fonte: Archdaily, 2022

114 115
5.5

SINTESE CONCLUSIVA

ATUALIDADE

PROBLEMAS [ - ] E POTENCIALIDADE [ + ]

ESCALA MACRO

ESCALA MICRO

[ - ] Massiva presença de veículos na rua; [ - ] Acesso de baixa qualidade e nas extremidades da quadra; [ - ] Percursos pouco interessantes; [ - ] Falta de equipamentos urbanos; [ - ] Sem possibilidade de acessos ao miolo do mercado; [ + ] Local da feira popular da cidade; [ + ] Intenso comércio; [ - ] Falta de acessibilidade; [ - ] Mercado Municipal subaproveitado [ - ] Loja internas x Lojas Externas [ - ] Fachada descaracterizada [ - ] Interior do mercado sem movimento, poucas pessoas [ - ] Ausência de infraestrutura adequada para os tipos de uso [ - ] Falta de identidade local [ + ] O mercado como marco na paisagem [ - ] Necessidade de utilização de iluminação e ventilação mecânica [ + ] Região de intenso movimento de pessoas

- Infraestrutura urbana de qualidade pensada para o pedestre; - Requalificar e criar os acessos e caminhos; - Favorecer o fluxo e permanência de pessoas na quadra; - Reduzir espaço para automóveis; - Diversificar usos para atividades funcionando ao longo do dia; - Propor estratégias de sombra e iluminação a fim de qualificar a ambiência; - Propor nova tipologia que estimulou o caráter sócio-cultural.

- Reafirmar o mercado como espaço de trocas e convivências - Estimula o acesso ao interior do mercado - Eliminar despadronização das fachadas - Reorganizar o programa do Mercado - Potencializar caráter sócio-cultural - Estratégias bioclimáticas na arquitetura

OBJETIVOS ESCALA MICRO

OBJETIVOS

ESCALA MESO

116 117
5.6

6.0

PRECEDÊNCIAS PROJETUAIS

118 119
Figura 42: Vista interna do Mercado de São Paulo. Fonte: Archdaily, 2022

6.0

PROCEDÊNCIAS PROJETUAIS

Os projetos selecionados como referências para o presente trabalho contém princípios e ideias voltados para a qualificação do Mercado Público como equipamento urbano, a valorização da paisagem e adequação dos ambientes para o uso dos visitantes e moradores da cidade. São referências arquitetônicas, paisagísticas e urbanas norteadoras e que auxiliaram na proposta de diretrizes do Partido Geral.

6.1

REQUALIFICAÇÃO ARQUITETÔNICA DO MERCADO MUNICIAPL DE SÃO PAULO

Um exemplo de mercado de mercado no Brasil que precisou passar pelo processo de modernização e de requalificação, é o mercado Municipal de São Paulo. Com o passar do tempo, a sua estrutura física não conseguiu acompanhar o crescimento da metrópole e o mercado perdeu o posto de principal centro de abastecimento de alimentos com o surgimento da CEASA (Centrais Estaduais de Abastecimento) na década de 60.

Em 1973, após sofrer uma inundação em 1966, o mercado quase é demolido senão fosse a intervenção do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico - CONDEPHAAT ao conseguir incluir o edifício na lista de tombamentos. Em 1980 e 1990 algumas reformas são feitas, mas é apenas em 2004 que o mercado passa por uma intervenção e qualificação arquitetônica em maior escala. A modernização previu a modernização da estrutura, ponto de partida para a intervenção, foi

122 123
Figura 44: Mezanino. Fonte: Archdaily, 2022 Figura 43: Tipologia de box. Fonte: Archdaily, 2022

seguida pela criação de dois novos pavimentos: um subsolo, para serviços e um mezanino para restaurantes e cafés. Previu-se também a ocupação das quatro torres que compõem o Mercadão, que eram subutilizadas e desconhecidas pelos frequentadores, por restaurantes com funcionamento e acessos próprios, desvinculando os demais serviços oferecidos.

A estrutura metálica independente do sistema construtivo original assinala o que há de novo dentro das torres e da antiga construção. Sobre o mezanino, uma pérgola branca serve de forro para as instalações técnicas e ainda oferece uniformidade visual ao conjunto do estabelecimento. Para manutenção da estrutura original, os profissionais utilizaram aço e virdro para garantir a integração com a pré-existência.

Além de introduzir novos usos e adaptar o mercado às condições atuais de operacionalidade e segurança, a reforma partiu de um trabalho de prospecção para restaurar elementos da arquitetura original. Novas instalações foram criadas, como o mezanino que une as torres A e B, formando uma praça de alimentação que permite enxergar todo o interior do Mercadão, e o melhoramento da acessibilidade para pessoas com dificuldade de locomoção, com elevadores e escadas rolantes.

Foram propostas as seguintes intervenções:

Figura 45: Zoneamento Mercado Paulistano.

Fonte: Archdaily, editado pela autora em 2022

124 125

- Conservação do bem tombado;

- Recuperação da coberta do edifício, incluindo a captação das águas pluviais;

- Implementação de sistema de infraestrutura capaz de adequar todas as instalações necessárias ao funcionamento do mercado;

- Iluminação interna e externa monumental;

- Substituição do piso interno das circulações; Proposta de acessibilidade local incluindo a urbanização e sistemas viários.

- Estacionamento operacional/ Doca de cargas e descarga com plataforma elevada; Estacionamento para clientes;

- Modernização de toda a infraestrutura (água, esgoto, drenagem de águas pluviais, elétricas, telefônica, logística, proteção a incêndio)

-Reforma física e programática do edifício, incluindo: Novas circulações e acessos de carga e descarga, serviço e público;

- Subsolo abrigando novos itens do programa (sanitárias públicos, vestiários de funcionários, refeitório, enfermaria, posto de segurança, acondicionamento de lixo, escritórios de agronegócios, central de informática, administração, Reformulação das torres do mercado, obrigando, então, restaurantes, padarias, chapelaria e piano bar (SARAIVA, 2005).

Ao compreender um pouco do que foi proposto pela intervenção, fica claro o impacto que

este equipamento passou a fazer na região onde está implantando assim como em todo o tecido urbano antes em declínio, além do impacto direto no desenvolvimento econômico. Por tanto, o mercado voltou a ser força como equipamento público de requalificação do espaço urbano, além de devolver a dignidade do patrimônio arquitetônico, resgatando-o como um marco referencial histórico e turístico.

Escritório: Zulian Broering + Zanatta Figueiredo

Co- autores: Talita Broering, Vinicius Figueiredo e Vitor Zanatta Ano: 2014 Cidade: Lages - Santa Catarina Tipologia de projeto: Intervenção em edificação existente Área: 2.166,71 m² Estrutura: Metálica

O mercado público de Lajes foi construído nos anos de 1040, caracterizando um importante remanescente do estilo Art Déco na cidade, assim é protegido por leis municipais do patrimônio cultural. Funcionou até 2009, quando foi desativado devido a precariedade em que se encon -

126 127
6.2
MERCADO PÚBLICO DE LAGES - SC
Figura 46: Vista externa do Mercado de Lajes. Fonte: Archdaily, 2022

trava sua estrutura e instalações elétricas.

O mercado público de Lajes foi construído nos anos de 1940, caracterizando um importante remanescente do estilo Art Déco na cidade, assim é protegido por leis municipais do patrimônio cultural. Funcionou até 2009 (figura 34), quando foi desativado devido a precariedade em que se encontrava sua estrutura e instalações elétricas.

O concurso teve, então, o objetivo de escolher a melhores propostas para seu restauro e ampliação, no intuito de sua inserção no âmbito social e urbano.

O projeto vencedor do concurso é de autoria dos escritórios Zulian Broering e Zanatta Figueiredo, que optaram por manter praticamente intacta a edificação existente em art-déco e marcar as intervenções através das cores e materiais contemporâneos, fazendo somente alterações necessárias para restauro devido ao estado crítico (BARATTO, 2014).

O produto resultante reflete a identidade, a tradição e os costumes da região a qual está inserido. Além de tratar o espaço do Mercado como um espaço de lazer, de passagem, de permanência, de turismo, de sociabilidade e de formador de vínculos.

Figura

Figura 48: Tipologia de box. Fonte: Archdaily, 2022

130 131
Figura 47: Fachada do Mercado antes da Refrorma Fonte: Archdaily, 2022 49: Interação com a feira. Fonte: Archdaily, 2022

Foi incluído no projeto um subsolo sob o antigo estacionamento e o edifício passou por demolições. O pavimento ocupa uma área de aproximadamente 1.523m2, sendo disposto um estacionamento com capacidade para cinquenta veículos, trinta motos e bicicletas totalizando 1.303m2, dois depósitos de 102,00m2 e dois banheiros sem iluminação e ventilação natural igual a 41 m2. A circulação vertical foi comprometida sendo destinado apenas um elevador para o uso social e serviço, além da implantação de uma escada voltada para a área de serviço com menos de 1,59m.

No térreo, foi proposto a demolição dos setores II e III dos mercados para uma nova cobertura de estrutura mista em concreto armado e aço, com pé esquerdo superior em concordância com o entorno. Somando a isso, foi adicionado sanitários para o público masculino, feminno e uniseex para PCDs. Os boxes foram organizados de forma física, com divisórias em alvenaria de tijolos cerâmicos e vigas em aço de perfil I, com esquadrias de fechamento em muxarabis de madeiras.

Há a implantação de uma área coberta destinada ao uso de mesas e a realização de eventos e área ajardinada de 70m2. O projeto inseriu uma doca para carga e descarga de mercadorias, com o uso de dois caminhões por vez. No pavimento foi demolido as paredes internas

132 133
Figura 50: Zoneamento. Fonte: Archdaily, editado pela autora em 2022. Térreo PRIMEIRO PAVIMENTO SUBSOLO

permitindo o acesso por meio da escada e do elevador para o setor dos feirantes. Foi incluído, em seu programa de necessidade, um café com 244,00m2, um restaurante na antiga sede administrativa de 109,04 m2, lois lavabos não acessíveis de 14 m2 e cinco salas administrativas com circulação inferior de 1,5m. A disposição dos ambientes permitiu, assim, a criação de uma área de mesas com vista para o setor de feirantes, que não possui guarda-corpo podendo contribuir para futuros acidentes.

Segundo o arquiteto Henrique Zulian, a proposta era destacar a imponência do antigo edifício e resgatar a ideia da antiga praça como local de encontro da população. Há referências simbólicas como o uso de portas basculantes como releitura do clássico toldo de proteção e a construção de um muro com pedras como analogia aos antigos caminhos de tropa na região. Quanto às esquadrias, só foram substituídas as que estavam em um estado crítico. Por fim, com base na análise cooperativa entre as plantas originais e as plantas propostas arquitetônicas, foram feitas várias demolições internas e abertura na fachada para possibilitar a integração dos espaços.

Figura 51: Calçcada do Mercado de Lajes.

Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 52: Vista do Restaurante.

Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 36: As lojs funcionam em hararios independentes ao Mercado.

Fonte: Archdaily editado pela autora, 2022.

134 135

O MERCADO CUBIERTO DE SECRÉTAN

Escritório: Architecture Patrick Mauger

Co- auteures: Sodéarif, Banimmo, Bouygues

Ano: 2015 Cidade: Paris, França Tipologia de projeto: Intervenção em edificação existente Área: 4.228m²

Estrutura: Materialidade: Fonte: Archdaily, 2022.

Quase esvaziado de suas lojas e completamente fechado, o Mercado Coberto de Secrétan havia se tornado um objeto cada vez mais estranho no bairro em que estava inserido. No século de sua construção, 1868, era construído sobre alvenaria de tijolos e ferro fundido, com fachadas em vidro (figura 42), mas ao longo do século XX após inúmeras modificações, como a substituição das vidraças por painéis em vidros maiores e a mudança das persianas em vidro por painéis de madeiras.

O projeto de restauração do edifício tinha como objetivo readequar a estrutura às demandas comerciais atuais e a recuperação do edifício enquanto monumento histórico francês. Somado, a demanda de aproximação do público geral ao espaço e reintegração ao tecido urbano.

As paredes de tijolos e os postes de ferro fundido foram restaurados. As partes superiores

Figura 53:

Pátio interno do Mercado cubierto Secrét

Fonte: Archdaily, 2022.

136 137
6.3

Fonte:

Figura 54: Fachadas restauradas e com detalhes interessantes para os passantes. Archdaily, 2022.

envidraçadas foram substituídas por uma parede cortina com caixilhos de aço. As fachadas da avenida Secrétan e da rua de Meaux (figura 44) foram perfuradas ao nível do piso térreo para abrir as lojas ao bairro. Um conjunto de estruturas de concreto armado, estruturalmente independentes do envelope (e, portanto, modificáveis no futuro), foi construído dentro do contexto do volume original (figura 43).

Isso permitiu criar as superfícies necessárias para integrar o programa, incluindo dois níveis adicionais (subsolo e piso parcial). Para preservar a total visibilidade das rendas de ferro fundido da edificação original, essas próprias estruturas de concreto possuem uma cobertura limpa e inclinada, o que permite manter a percepção total do monumento histórico.

O programa desenvolve-se numa superfície líquida de 4228 m²: na cave, um clube desportivo Neo Ness; no térreo, um supermercado orgânico “Les 5 fermes”, uma loja de e um açougue; e, finalmente, no mezanino, uma brinquedoteca (figura 46). Cada um desses espaços tem seu próprio acesso independente. As entradas principais estão localizadas nas avenidas principais, a Secrétan e rue de Meaux. As entradas secundárias (entregas, saídas de emergência) estão nas ruas Bouret e Baste, ruas de menor movimento.

Figura 55: Criação de mezanino e subsolo. Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 56: Planta baixo térreo. Fonte: Archdaily, 2022.

140 141

Figura 57: Tratamento do entorno do Mercado para que este funcione em diferentes horários do dia.

Fonte: Archdaily editado pela autora, 2022.

A partir dos estudos de caso é possível perceber que em ambientes distintos socioeconomicamente o mercado permanece como um elemento agregador dentro das respectivas cidades. Ou seja, é um equipamento que quando implantado de forma coerente com suas questões arquitetônicas é capaz de agregar valor ao espaço, agregar movimentação e, consequentemente, agregar vitalidade urbana.

No Mercado Coberto de Secrétan é possível perceber o tratamento realizado na fachada, antes eram poucos acessos e praticamente não existia vitrine, após a reforma houve a substituição dos antigos painéis mosaicos por persianas de vidro. Em paralelo, o Mercado de São Paulo é um excelente exemplo de intervenção arquitetónica e urbanística bem sucedida, onde foram levados em consideração os processos da experiência histórica e da evolução do varejo de alimentos. No projeto do Mercado de Lajes é possível destacar que analisando o projeto foi identificado o dimensionamento padrão de 20m2 para box de produtos, valor que será levado em consideração para o Mercado de Betânia. Diante de todos os projetos apresentados, nota-se a importância do Mercado em ter acessos variados e bem definidos, a relação com o interior e que possuam uma ortogonalidade central geradora de fluxos primários

Figura 58: Fachada restauradas e com detalhes interessantes para os passantes.

Fonte: Archdaily, 2022.

142 143
6.4 SINTESE DAS PRECEDÊNCIAS PROJETUAIS

7.0 A PROPOSTA

144 145

O objetivo desse trabalho é, com base nos estudos apresentados, buscar meios, estratégicos, arquitetônicos e urbanos para transformar o Mercado Público Herácio Gomes Lima em um instrumento de revitalização urbana no entorno imediato em que está inserido e consequentemente servir de modelo para a qualificação urbana na cidade. Esse trabalho não vai aprofundar-se em propor projetos de requalificação para as praças e feiras intermitentes, mas vai pontuar diretrizes gerais pertinentes para cada uma, a fim de demonstrar a importância de não tratar a revitalização de forma isolada de seu contexto e entorno.

A proposta será focada na escala micro que tem viés arquitetônico. O propósito é explorar o potencial do mercado em agregar pessoas e promover a convivência, fator que impacta diretamente na tradição, cultura, desenvolvimento, economia e convivência da cidade que faz parte. São nos espaços públicos que os cidadãos dão vida a uma cidade, a um bairro, são neles que todos são iguais, independentemente da classe social, credo ou religião. E a finalidade desse é possibilitar que esses espaços sejam palco da vida em comunidade.

146 147

7.1

ESCALA DE ATUAÇÃO

Uma vez que o mercado está inseriDO na área central de Betânia, marcado pelo intenso movimento de veículos e pessoas, compõem um marco na paisagem e está inserido em um desenho urbano característico: em frente ao poder municipal, praça central. Como descrito em fases anteriores deste trabalho, o objetivo é trabalhar o mercado como instrumento de revitalização urbana no contexto em que está inserido. Dessa forma este trabalho abrange as seguintes escalas de intervenção: micro (projeto arquitetônico) e macro (propostas de intervenção urbana).

O estudo do tema parte de um tipologia (o Mercado) para sua inserção no contexto geral, enquanto abordagem do tema em termo de partido da intervenção. Ou seja, em termos de estudo segue a escala: micro - maso, em termos de diretrizes e projeto: meso - macro. A escala meso foca na quadra do Mercado e sua relação com o entorno. A escala micro é o Merc ado Municipal em si. Até o momento o trabalho abordou as escalas paralelamente, contudo, deste ponto em diante abordará o desenvolvimento de diretrizes e propostas projetuais para a escala micro.

148 149
R. MANOEL JERONIMO R. VER. ALFREDO JOSÉ DOS SANTOS R. RUFINA PASSOS JARDIM R. LUIS EPAMINONDAS FIGURA 59: Mapa de Localização do Mercado Fonte: Google Maps, editado pela autora em 2022.

7.2

DIRETRIZES PROJETUAIS PARA O

A principal intenção para a elaboração do partido geral foi a caracterização do Mercado Público como espaço de qualidade.Nesse sentido, o desenvolvimento da proposta é baseado nas informações levantadas a respeito do tema, nas análises realizadas na área de intervenção através de fotos e por fim, nas referências projetuais apresentadas até então.

7.3

CONCEITO

1) Requalificação a partir da preexistência;

2) Fazer uso de iluminação e ventilação natural;

3) Edificação permeável;

4) Infraestrutura adequada que o mercado demanda;

5) Tratar a fachada, mais portas e acessos; 6) Reapropriação do entorno imediato;

7) Criar espaços de convivência de qualidade;

8) Inserir novos usos.

FIGURA 60: Nova coberta. Fonte: a autora, 2022.

FIGURA 61: Edificação permeável. Fonte: a autora, 2022.

FIGURA 62: Objetivos. Fonte: a autora, 2022.

FIGURA 63: Refroma da fachada. Fonte: a autora, 2022.

150 151

7.4

O PROGRAMA DE NECESSIDADES

O programa de necessidades adotado é bastante simples e composto por quatro zonas:

A zona pública , composta por áreas do entorno do Mercado, com áreas livres, espaços de convívio e áreas verdes.

A zona de serviço , composta por ambiente destinados a prestar serviços ao público, como sala de segurança e administração.

A zona de infraestrutura , composta por áreas de organização para o bom funcionamento do mercado como banheiros, os depósitos de materiais e ambiente para os funcionários.

A zona de Comércio, esta zona está subdividida em quatro outras zonas: úmida, seca e gastronômica. A zona úmida é destinada a áreas molhadas, como a venda de carnes A zona seca é destinada a venda de temperos, grãos, laticínios, utilizadas, plantas, artesanato e vestuário. A zona gastronômica é destinada à venda de produtos alimentícios de consumo imediato, além da venda de bebidas.

FIGURA 64:

Tabela com programa de necessidade. Fonte: a autora, 2022.

PROGRAMA E NECESSIDADE E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

ESPAÇOS QUANT. ÁREA UNIDADE (M2) ÁREA TOTAL (M2) ÁREA ZONA (M2)

Zona Serviço

DML Térreo 1 7 7 PNE Unissex 2 9 18

Banheiro Mezanino 2 9 18

Banheiro Fem, e Masc. 6 9 54 123

Descanso / Copa 1 12 12

Zona Pública Via Compatilhada 2 - -Zona Infraestrutura

DML Mezanino 1 7 7

DML Espaço Multifucional 1 7 7

Sala de Segurança 1 10 10 233

Administração 1 20 20

Armazenamento de Prod. - Coletiva 1 12 12 Camara Fria - Coletiva 1 12 12 Doca 1 52 52 Lixo 1 7 7 Esapço multiuso 1 130 130 Úmida

Camara FriaIndividual 4 8 32

Seca

Temperos 1 15 15 Salaria 1 15 15 Chaveiro 1 15 15 Utilidades 1 15 15 Produtos 30 30 Adega 1 30 30 Cosméticos 1 30 30 Moda Intima 1 30 30

Box Carne 4 15 60 516 Zona Comércial

Plantas e Flores 1 30 30 Artesanato 1 30 30

Vestiário 1 30 30 Perfumaria 1 30 30 Utilidades 1 30 30

Zona Gastronomica

Lanchonete 2 15 30 Café 1 15 15 Bebidas 1 15 15 Restaurante 2 17 34

152 153

7.5

ZONEAMENTO

Legenda: ZONA COMERCIAL ZONA SERVIÇO ZONA INFRAESTRUTURA ZONA PÚBLICA NOVOS ACESSOS

FIGURA: Zonemaneto térreo. Fonte: a autora, 2022.

FIGURA 65: Zonemaneto mezanino. Fonte: a autora, 2022.

154 155

O PROJETO

7.0

156 157

8.1

MEMORIAL DESCRITIVO

A requalificação do mercado teve como objetivo criar um espaço capaz de gerar impacto social, cultural e econômico, além do desenvolvimento de um comércio local de identidade marcante para Betânia. As decisões projetuais adotadas levaram em conta a preexistência do edifício original que nortearam a reestruturação dos blocos comerciais. As ruas Manoel Jerônimo e Luis Epaminondas foram pedestrianizadas para permitir a criação de ruas mais largas, que potencializam a caminhabilidade, a acessibilidade, a relação dos pedestres com o entorno e podendo ser ocupada pelos feirantes nas sextas-feiras, as lojas desses blocos passam a ter acesso interno ao mercado.

Segundo Brito (2012, p.21), o traffic calming trata do gerenciamento do tráfego, a partir de intervenções físicas no sistema viário, atuando no comportamento do motorista, e na organização urbana, visando o bem-estar social. As modificações das vias quebram as barreiras entre ruas e calçadas, permitindo a caminhabilidade.

Quantos aos acessos, às lojas das ruas Vereador Alfredo José dos Santos e Rufina Passos Jardim continuam com os acessos originais pela área externa do mercado. Essa decisão projetual se deu pela proximidade com o comércio local existente, assim as lojas mais distantes - aquelas voltadas para as praças - ou

seja, mais distantes do comércio passam a contribuir com o estímulo à ocupação interna do mercado.

O pavimento térreo segue a marcação estrutural existente para organizar a zona úmida, seca e gastronômica em torno dos novos acessos e circulação, os 8 boxes possuem estrutura e dimensionamento adequado e em contrato com os estudos de caso, que incluem local para câmaras frigoríficas e armazenamento de produtos, respectivamente. Os comércios de alimentação são existentes no mercado, contudo disputam espaço entre mesas e atuação da cozinha, além de serem espaços individuais para cada lanchonete. Na requalificação foi proposto 4 boxes de bares e lanchonetes que funcionam em conjunto com os boxes da zona seca e úmida, estando voltados para o centro do mercado que passa a funcionar como um grande espaço coberto de pé direito duplo e mesas para a socialização.

A inserção de novos espaços de convívio fundamenta-se no conceito de placemaking, que tem por definição “transformar espaços em pontos de encontro – ruas, calçadas, parques, edifícios e outros espaços públicos – lugares, que estimulem maiores interações entre as pessoas e promovam comunidades mais saudáveis e felizes, de forma alternativa e empírica” (PEREIRA et al.,2015, p.02). Propor espaços

FIGURA 66: Conceitos aplicado ao mercado.

Fonte: a autora, 2022.

158 159

públicos com a inclusão de atividades recreativas, associado a espaços multifuncionais, possibilita a vivacidade e o bem-estar de seus usuários, de modo a diminuir as reações de apatia e desuso.

Também na área central mas locados nas extremidades do edifícios estão instalados os banheiros públicos, posto de vigilantes, DML, circulação vertical e docas. Locados estrategicamente para que as pessoas que estão ocupando a área central tenham possibilidade de manter-se no espaço após o horário de funcionamento do comércio.

Ainda no térreo foi instalado a área de docas para o recebimento de produtos, depósito e câmaras frigoríficas comunitários dos comerciantes, local de lixo e DML, novos elementos para o mercado já antes não contavam com suporte para os comércios que funcionam internamento. Para o dimensionamento do armazenamento da utilização da água do mercado foi levado em consideração que a cada 1 m2 é utilizado 5L de água, totalizando 10 mil litros de água por dia no mercado, para isso foram instalados dois reservatórios inferiores próximos aos boxes de açougue e boxes de produtos.

No mezanino conta um espaço multiuso para a exposição e eventos culturais que devem ser

incentivados na cidade. Também foi instalado DML, copa, área de banheiros feminino e masculino para apoio dos funcionários e setor administrativo.

Quanto à câmara frigorífica de box, será assim: reserve um local adequado para higienização, armazenamento em câmara fria individual. Esses equipamentos não podem ser deixados de lado, uma vez que são decisivos para proteger a carne de forma segura de agentes patológicos e evitar que se decomponham. O local será pintado em aço pré-pintado e contará com núcleo isolante em EPS (poliestireno), a fim de garantir um isolamento uniforme.

Todas as fachadas devem passar por requalificação, sendo propostos as seguintes alterações: demolição de duas unidades de lojas para abertura de novos acessos. A proposta para as novas portas de acesso ao mercado são porta em ferro e fechamento superior com gradil também de ferro. Já as vitrines das lojas são com alisar em ferro e fechamento em vidro.

Os acessos do Mercado foram criados permitindo uma melhor circulação interna, diminuindo as áreas ociosas. Como o Mercado Público de Betânia está localizado em um lote inteiro, os novos acessos foram criados pois cria-se fluxos internos resultando em corredores que abrigam boxes comerciais ligados ao miolo do

160 161

FIGURA 67:

Relação com o entorno imediato.

Fonte: a autora, 2022.

FIGURA 68: Acesso da rua Alfredro José dos Santos. Fonte: a autora, 2022.

FIGURA 69:

Fachada da rua Luis Epaminondas..

Fonte: a autora, 2022.

FIGURA 70: Novo pátio central.

Fonte: a autora, 2022.

FIGURA 71: Vista interna. Fonte: a autora, 2022. FIGURA 72: Vista do primeiro pavimento. Fonte: a autora, 2022.

FIGURA 73:

Vista para o acesso central do mercado.

Fonte: a autora, 2022.

FIGURA74: Nova relação das lojas internas. Fonte: a autora, 2022.

FIGURA 75: Vista interna. Fonte: a autora, 2022.

8.2

CONSIDERAÇÃOES

FINAIS

O estudo realizado reuniu reflexões com base em diversos autores acerca da sistematização dos elementos urbanísticos e a fim de encontrar soluções viáveis para enfrentar o desafio de requalificar um equipamento urbano como o Mercado Público. O desenvolvimento teórico deixa claro a complexidade e a interdisciplinaridade do desenvolvimento da cidade, para adequar-se à centralidade. O projeto, assim, desenvolveu-se na escala micro com viés arquitetônico, tornando o mercado um equipamento urbano no qual a população pode se apropriar e interagir, entre si e com os produtores locais, ou seja espaço de troca e de convívio.

Para melhor adequação a atividades e funções pautadas na crescente demanda de organização e padrões higiênicos-sanitários do comércio varejistas, fez-se necessário a mudança na configuração e usos do Mercado existente, o que garantiram a maior permeabilidade,adaptando-se elementos de qualidade estética e funcional além de detalhes arquitetônicos que valorizam a ventilação e iluminação natural.

A requalificação criou um novo modo de relacionamento entre o consumidor e edifício do mercado, fornecendo subsídios de arranjo físico espacial, adaptando-se ao movimento espontâneo dos clientes sem áreas ociosas e de baixo movimento dentro do Mercado, evitando o que era uma constante na antiga edificação.

Outro aspecto fortalecido foi a reestruturação dos espaços destinados ao comércio de alimentos para que ocorra o estímulo sensorial a permanecer o maior tempo possível no local. É indiscutível o potencial do Mercado em Betânia, contudo sua valorização depende de constantes esforços que passam por fundamentos de melhoria das instalações físicas, condições sanitárias e diversidade de usos ofertados. A área externa tornou-se um espaço de acessibilidade, que pode ser utilizado pela população garantindo a necessidade de um espaço público, a permanência e integração das pessoas.

Por fim, atingiu-se o objetivo desejado, um projeto qualificado, que envolve o mercado e seu entorno imediato e atende as necessidades de um espaço público, com diversidade de atividades e maior oferta de lazer e cultura para a população de Betânia. Os possíveis desdobramentos têm-se a perspectiva do desenvolvimento mais aprofundado de novas pesquisas como o mapeamento da distribuição das feiras livres no entorno do mercado, assim como a sua relação com a implantação do mercado.

180 181

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERREIRA, RICARDO LOPES. Considerações sobre mercados públicos: relação da sociedade e vitalidade urbanas nas cidades. III Colóquio Internacional sobre Comércio e Cidade: uma relação de origem. 2010. 16p.

VARGAS, Heliana Comin. Espaço Terciário: Olugar, A Arquitetura e a Imagem do Comércio. São Paulo: Ed. SENAC, 2001

GEHL, J. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013.

JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. 1ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 516 p. (Coleção “a”)

MONTEZUMA, Roberto; MARQUES, Isabel de Holanda (Orgs.). CAVALCANTI, Armando de Holanda. Roteiro para construir no Nordeste / Guidelines to build in northeast Brazil.

Arquitetura como lugar ameno nos trópicos ensolarados / Architecture as a pleasant place in the sunny tropics. 3ª Edição, Brasília, CEPE - Companhia Editora de Pernambuco, Família Amando de Holanda Cavalcanti, 2018.

HOLANDA, Armando de. Roteiro para construir no Nordeste. Recife, MDU/ UFPE, 1976.

LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade São Paulo: Martins Fontes, 1997

ARCHDAILY. Primeiro lugar no concurso para a requalificação do mercado público de Lages-sc / zulian broering + zanatta figueiredo. Disponível em: <http:// www.archdaily.com.br/br/755352/ primeiro-lugar-no-concurso-para-a-requalificacao-domercado-publico-de-lages-sc-zulian-broering -plus-zanatta-figueiredo>. Acesso em: 01 mai. 2022.

MONITEUR, Le. Réhabilitation de la

halle Secrétan à Paris (XIXe), par Architecture Patrick Mauge. Disponível em: < https://www.lemoniteur.fr/ photo/rehabilitation-de-la-halle-secretan-a-paris-xixe-par-architecture-patrick-mauger.836909/programme.2#galerie-anchor>. Acesso em 20 de abril. 2022.

ARCHDAILY. Mercado Coberto Secrétan / Arquitetura Patrick Mauger Disponível em: < https://www.archdaily.com/794084/secretan-covered-market-architecture-patrick-mauger?ad_medium=gallery >. Acesso em: 01 maio. 2022.

IBGE CIDADES. Pernambuco Betânia código: 2601805. Disponível em: <hhttps://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/pe/betania.html> Acesso em: 20 março. 2022.

VIAJANDO TODO O BRASIL. Betânia Disponível em: < https://viajandotodoobrasil.com.br/betania/>. Acesso em: 20 mARÇO. 2022.

MORAES, Francianny Keyla Cabral. O

mercado público como equipamento de modernização urbana: O ver-o-peso e o Francisco Bolonha em Belém. 2017. 108 f.Dissertação (Mestrado em arquitetura) – Universidade Federal do Pará, Belém.

182 183

LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Acesso principal ao Mercado Público Fonte: a autora, 2022

Figura 02: Localização de Betânia, no mapa do Brasil, em Pernambuco. Fonte: a autora, 202

Figura 03: Ilustração de uma feira medieval. Fonte: História da Europa, 2011. Fonte: História da Europa, 2011.

Figura 04: Mercado público no Império Romano. Fonte: Vargas, 2001 Fonte: História da Europa, 2011.

Figura 05: Imagem: Evolução ilustrada do mercado. Fonte: Bueno, 2013.

Figura 06: Imagem: Linha do tempo — Mercados

Públicos no Brasil

Fonte: Bueno, 2013, adpatado pela autora, em 2022.

Figura 07: Imagem: Evolução ilustrada dos espaços públicos. Fonte: Bueno, 2013.

Figura 08: Imagem: Resposta emocional ao meio construido. Fonte: Oliveira, 2006.

FIgura 09: Imagem: Os dozes criterios para esapço públicos de qualidade .

Fonte: Gehl, Gemozoe, Kirknes, Sondergaard, “New City Life” Copenhague: The Danish Architectural Press, 2006. Further developed: Gehl Architects - Urban Quality Consutants, 2009.

Quadro 10: Imagem: Resumo para bons espaços públicos Fonte: a autora, 2022

Figura 11: Imagem: Ritmo em ruas comerciais de Nova York: experiências agradáveis para o pedestre a cada quatro ou cinco segundos há algo para se ver Fonte: Cidade para pessoas (2013).

Figura 12: Imagem: Analise das fachadas do Mercado. Fonte: a autora, 2022.

Figura 13: Imagem: As paredes sob essa sombra recuada, pro- tegidas do sol e do calor, das chuvas e da umidade, criando agradáveis áreas externas de viver Fonte: Holanda, 1976.

Figura 14: Imagem: Construir frondoso Fonte: Holanda, 1976.

Figura 15: Imagem: Abertuas externas com projeções e quebra-sol para que, abrigadas e sombreadas possam

permanecer abertas. Redesenho segundo traço orinnal de Lúcio Costa Fonte: Holanda, 1976 .

Figura 16: Imagem: As paredes sob essa sombra recuada, protegidas do sol e do calor, das chuvas e da umidade, criando agradáveis áreas externas de viver. Fonte: Holanda, 1976.

Figura 17: Abrir as portas. Fonte: Holanda, 1976

Figura 18: Imagem: Situação das praças no entorno do Mercado. Fonte: Google Maps, editado pela autora em 2022.

Figura 19: Imagem: Mapa de climas do estado de Pernambco.. FONTE: IBGE, 2002.

Figura 20:

184 185

Quadro resumo de diretrizes bioclimáticas

Fontes: a autora, 2022.

Figura 21: Imagem: Planta de situação do Mercado.

Fonte: Prefeitura de Betania, editado pela autora, 2022.

Figura 21: Imagem: Zoneamento do mercado atualmente.

Fonte: Prefeitura de Betania, editado pela autora, 2022.

Figura 22: Identificação da área a ser analisada. Fonte: Google Maps, editado pela autora, 2022.

Figura 23: Imagem: Fachada descaracterizada. Fonte: a autora, 2022.

Figura 24: Imagem: Banheiro sem acessibilidade e em quantidade insuficiente

Fonte: a autora, 2022.

Figura 25: Imagem: Dimensionamento da bancada dificulta o funcionamento do açogue Fonte: a autora, 2022.

Figura 26: Imagem: Local desagradvel devido a falta de infraestrutura. Fonte: a autora, 2022.

Figura 27: Imagem: Tipologia de bancadas do açogue.

Fonte: Prefeitura Municipal, 2022.

Figura 28: Imagem: Área de mesas de restaurante existente. Fonte: a autora, 2022.

Figura 29: Condições de armazenamento. Fonte: a autora, 2022.

Figura 30:

Imagem: Interior de restaurante existente.

Fonte: a autora, 2022

Figura 31: Imagem: Mapa de usos Fonte: Google Maps, editado pela autora,

Figura 32: Imagem: Mapa de gabarito Fonte: Google Maps, editado pela autora, 2022.

Figura 33: Imagem: Entorno imediato do Mercado com feira. Fonte: a autora, 2022

Figura 34: Imagem: Entorno imediato do Mercado com feira. Fonte: a autora, 2022

Figura 35: Imagem: Analise das instalações atuais

Fonte: a autora, 2022.

Figura 36: Imagem: Fachada sul existente. Fonte: Prefeitura Municipial, 2022.

Figura 37: Imagem: Fachada leste existente. Fonte: Prefeitura Municipial, 2022.

Figura 38: Imagem: Entorno imediato do Mercado com feira. Fonte: a autora, 2022.

Figura 39: Imagem: Relação com os espaços públicos.

Fonte: Fernanda Pontes, 2016.

Figura 40: Imagem: Vista de pássaro de Betania. Fonte: Fernanda Pontes, 2022.

Figura 41: Analise climática Fonte: a autora, 2022.

Figura 42: Imagem: Vista interna do Mercado de

186 187

São Paulo.

Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 43: Imagem: Tipologia de box. Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 44: Imagem: Mezanino. Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 45: Imagem: Zoneamento Mercado Paulistano. Fonte: Archdaily, editado pela autora em 2022.

Figura 46: Imagem: Vista externa do Mercado de Lajes.

Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 47: Imagem: Fachada do Mercado antes da Refrorma Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 48:

Imagem: Tipologia de box. Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 49: Imagem: Interação com a feira. Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 50: Imagem: Zoneamento de São Paulo. Fonte: Archdaily, editado pela autora em 2022.

Figura 51: Imagem: Calçcada do Mercado de Lajes. Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 52: Imagem: Vista do Restaurante. Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 53: Imagem: Pátio interno do Mercado cubierto Secrét Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 54: Imagem: Fachadas restauradas e com

detalhes interessantes para os passantes. Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 55: Imagem: Criação de mezanino e subsolo. Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 56: Imagem: Planta baixo térreo. Fonte: Archdaily, 2022.

Figura 57 : Imagem: Tratamento do entorno do Mercado para que este funcione em diferentes horários do dia. Fonte: Archdaily editado pela autora, 2022.

Figura 58: Imagem: Fachada restauradas e com detalhes interessantes para os passantes. Fonte: Archdaily, 2022

Figura 59: Imagem: Mapa de Localização do

Mercado .

Fonte: Google Maps, editado pela autora em 2022.

Figura 60: Imagem: Nova coberta. Fonte: a autora, 2022.

Figura 61: Imagem: Edificação permeável. Fonte: a autora, 2022.

Figura 62: Objetivos. Fonte: a autora, 2022.

Figura 63: Refroma da fachada. Fonte: a autora, 2022.

Figura 64: Tabela: Tabela com programa de necessidade. Fonte: a autora, 2022.

Figura 65: Imagem: Zonemaneto mezanino. Fonte: a autora, 2022.

188 189

Figura 66: Imagem: Conceitos aplicado ao mercado.

Fonte: a autora, 2022

Figura 67: Imagem: Conceitos aplicado ao mercado.

Fonte: a autora, 2022.

Figura 67: Imagem: Fonte: a autora, 2022.

Figura 68: Imagem: Acesso da rua Alfredo José dos Santos. Fonte: a autora, 2022.

Figura 69: Imagem: Fachada da rua Epaminondas.

Fonte: a autora, 2022.

Figura 70: Imagem: Novo pátio central. Fonte: a autora, 2022.

Figura 71: Imagem: Vista interna. Fonte: a autora, 2022.

Figura 72: Imagem: Vista primeiro pavimento. Fonte: a autora, 2022.

Figura 73: Imagem: Vista para o acesso central do mercado. Fonte: a autora, 2022.

Figura 74: Nova relação das lojas internas Fonte: a autora, 2022.

Figura 74: Imagem: Vista interna Fonte: a autora, 2022.

190 191
192

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.