Maria Alice Schuch
Mulher
Aonde vais? ConvĂŠm?
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© 2013 Maria Alice Schuch Todos os direitos desta edição reservados à Maria Alice Schuch, pela Lei 9.610 de 19/02/1998. É proibida a reprodução total ou parcial, com qualquer meio e para qualquer uso, sem a autorização prévia por escrito da Editora. Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto n˚ 1.825, de 20 de dezembro de 1907. S384d
Schuch, Maria Alice Castilho Donna aonde vai? Lhe convém? / Maria Alice Schuch. Porto Alegre: Ed. do Autor, 2013. 171 p.; il., color. ISBN 978-85-916407-0-6 1. Liderança feminina. 2. Empreendedorismo feminino. 3. Mulher Líder 4. Pedagogia da mulher líder. II Título.
CDU 658.3-057
Catalogado na publicação: Biblioteca Humanitas da AMF. Claudiane Weber CRB - 14/1272
Capa: Detalhe da obra “O Nascimento de Vênus” de Sandro Botticcelli Projeto gráfico e diagramação: Design Miranda Impressão e acabamento: Edelbra Gráfica Instituto de Ensino, Pesquisa, Extensão, Desenvolvimento Educacional e Liderança Internacional Recanto Maestro - RS - Brasil MARIA ALICE SCHUCH
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“A muitos é dado o dom, mas poucos possuem a lógica do dom”. Antonio Meneghetti
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Como dirigir uma Ferrari? Ganhei de presente uma Ferrari Completei o tanque com querosene Enchi o porta-malas com tijolos Ofereci carona a pedintes enlameados Circulei por caminhos esburacados Deixei-a ao relento dia e noite ... Eis que não funciona mais! Levo minha Ferrari ao mecânico - Que belo mecânico! Gostaria que dirigisse essa potente máquina Mas ele não é um motorista Então arregaço as mangas e começo a dirigi-la - Como é bela a minha Ferrari!
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Apresentação Jamais provei tamanha intimidade com um texto que redigi... Percebi, logo, que estava escrevendo um diário, não um artigo, e isto me deixou insegura num primeiro momento. Depois de algum tempo, no entanto, pensei: pois bem, se aconteceu naturalmente de ser um testemunho, então, que o seja. Eu poderia também denominá-lo vade-mécum, termo de origem latina que significa vai comigo, isto é, livro de conteúdo prático e formato cômodo que contém indicações das mais frequentes necessidades relativas a um particular tema. E eu penso: bem, isto é talvez um novo início e que, de qualquer modo, se inicie, o importante é começar: início é já prática de sucesso. Enamorei-me da ideia que me ocorreu: “escreve a história quem vence”. A história é escrita preferencialmente pelos homens há milênios e este fato deve-se à ausência da mulher, devido a muitos fatores. 9
Abro meu diário trazendo algumas coordenadas, indicações concretas, experiências vivenciadas por mim e por tantas outras mulheres nesses doze anos de estudo e de pesquisa prática. Essas evidenciam recorrentes impedimentos ao gênero feminino de acessar as altas esferas almejadas por todas nós e lá permanecer como protagonistas responsáveis no mundo da vida. Algumas estradas que percorremos, de modo consuetudinário, não nos convém, porém, são percebidos por nós apenas os seus efeitos nefastos. Inicio com minha crise dos 45 anos – eu tinha tudo! Sofria inclusive biologicamente, mas, não conhecendo a causa no seu nascedouro, não via a possibilidade de uma ação resolutiva. Sentia-me atormentada e, observando a minha avó, que, aos noventa anos de idade gozava de uma ótima saúde, me dei conta de estar defronte a uma crise existencial. O que fazer nos próximos quarenta e cinco anos? Concomitantemente eu sentia culpa porque todos me diziam não existir nada além daquilo que eu já possuía. Somente quando completei cinquenta anos de idade tive acesso à obra “A Graça: A Lógica do Dom” e, logo depois, a oportunidade de participar de um Residence Feminino conduzido pelo Acadêmico Professor Antonio Meneghetti, no qual eu soube que cada pessoa é um projeto único e que este não deve ser jamais desmentido. 10
Se eu sou um projeto, pensei, serei capaz de realizá-lo. Mas qual era o meu projeto? Este vade-mécum não encerra as minhas buscas, mas é mais um passo dado que me traz realização. Meu desejo ardente é que ele leve esta inspiração de esclarecimento, força e responsabilidade a todas nós, mulheres. Maria Alice Schuch
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Parte Primeira 13
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A mulher é luz, mas não se vê É força, mas tem medo Procura o amor, mas não é capaz Procura o falo, mas não o recebe Procura-se, mas não se sabe Procura a paz, mas faz a guerra - Onde está a estrada?
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Parte Segunda
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Um projeto Ela era um projeto, como tantas outras, mas jamais entendeu a natureza dessa dávida. Tem saúde, dinheiro, belas casas, uma família, marido, filho já formado. Tem o seu trabalho, gosta daquilo que faz, ganha muito bem. Ela confundiu projeto pessoal com realização de objetivos materiais. Mas, quando os atingiu, sem jamais ter calado a voz que dizia: - “torna-te aquilo que és”, desesperou-se. Da sacada de seu apartamento, em frente ao mar, admirando a belíssima paisagem, escreve:
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O golfinho Um golfinho alegre e feliz estava nadando nas águas azuis do oceano, rodeado por seus amigos, que o amavam e participavam de sua alegre dança. O seu gracioso rodopiar chamou a atenção de um pequeno tubarão que, em seu íntimo, deseja para si aquela alegria. Inicia-se, assim, um longo namoro. Algum tempo depois, o tubarão, tendo conquistado o amor do golfinho, faz a ele uma proposta: viver em uma bela e florida piscina, e, juntos, construírem uma bonita família e, assim, trabalharem para a realização de obras grandiosas. Para realizar estas obras, seria necessária uma enorme quantidade de oxigênio. A função do golfinho seria, então, aquela de obter todo o oxigênio possível para cumprir o grande projeto. O tubarão sabia que não conseguiria fazê-lo sem aquela dose extra do essencial e invisível gás. O trabalho seria grande. Ele não teria nada a perder, uma vez que a piscina onde habitava com a sua família era suja, triste, a sua vida era sem alegria e, além disso, queria aquele gracioso golfinho. Poderia ser feliz com ele. No início, o golfinho nem mesmo sentia a falta do oceano. Impulsionado pelo amor que o parceiro 21
demonstrava, trabalhava incessantemente, de modo a conseguir grande quantidade do precioso ar. Colocava tudo à disposição para atingir as metas do parceiro, que se tornava cada vez maior e mais forte. Viveram juntos por muitos anos, pareciam felizes, quando qualquer coisa começou a perturbar o então poderoso peixe. O golfinho era alegre e inteligente, e a sua capacidade começou a ser notada por todos com os quais convivia. Ele agradava a todos e todos que se aproximavam sentiam-se felizes, queriam nadar com ele e comentavam sobre a sua eficiência. O grande peixe, ouvindo os numerosos comentários e notando o entusiasmo daqueles, começou a sentirse deprimido e triste, aprisionado na sua própria armadilha. Sentia-se impedido, dependente do golfinho. Queria ser patrão das suas conquistas - talvez tivesse sido precipitado ao convidar o golfinho para compartilhar da sua piscina e da sua obra. Isso podia ter sido uma fraqueza. Talvez, se tivesse tido a coragem de nadar sozinho, tivesse conseguido obter mais. Arrepende-se do pacto proposto. Não queria mais dividir as glórias com o golfinho; sofre, sente-se em culpa, tem medo. Começa assim a mudar de atitude. Não permite mais que o golfinho o acompanhe para observar as edificações e os constructos, não o deixa livre e pede cada vez mais doses extras de oxigênio para mantê-lo 22
ocupado. Procura respirar sem ajuda, pois agora já é forte e potente. Em determinado momento, volta-se contra seu companheiro. O golfinho foi atacado, mas não sangra; sofre, mas não chora; não desiste, nada contra a correnteza. Ele procura qualquer coisa que funcione, ele quer fazer daquela piscina um lugar agradável para viver, onde todos alcancem o próprio sucesso no limite da própria capacidade e de acordo com a própria vocação profissional. Ele não quer machucar o tubarão, a menos que ele insista ou que isto tenha um sentido. O golfinho não recorda mais como era viver no oceano, mas sabe que esse ainda existe.
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O que falta? Ela pensa, procura, mas não sabe o que fazer. É bela, boa, é inteligente, tem tudo e, mesmo assim, às vezes experimenta esta particular insatisfação, falta-lhe alguma coisa, alguma coisa que determina uma tristeza, um vazio que não sabe como resolver. Cai em depressão e não consegue sair; não obstante, é brava, procura, e, como o salmão, nada contra a correnteza em busca da sua nascente. No momento da depressão, não tem emoção viva, talvez não somente o corpo, mas também a alma esteja aprisionada. Sente como se qualquer coisa a tivesse mandado em direção ao engano. Questiona-se: tomei a estrada errada, ou existem outros caminhos que devo ainda percorrer, que não os vejo?
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Parte Terceira
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