Identidade Comunicativa

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Identidade Comunicativa

Pessoas Trans, Travestis e Não Binárias

Rodrigo Dornelas

Vanessa Veis Ribeiro

Mara

Identidade Comunicativa

Pessoas Trans, Travestis e Não Binárias

Rodrigo Dornelas

Fonoaudiólogo

Especialista em Voz pelo CFFa

Coach

Vocal pelo Centro de Estudos da Voz (CE V)

Doutor pelo Programa de Pós- Graduação em Comunicação Humana e Saúde da Pontifícia Univer sidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

Professor do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina e do Programa de Pós- Graduação em Ciências da Reabilitação da Univer sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Clínico e Pesquisador do Ambulatório Transidentidades no Hospital Univer sitário Pedro Ernesto, na Univer sidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)

Professor do Curso de Especialização em Voz do Centro de Estudos da Voz (CE V)

Vanessa Veis Ribeiro

Fonoaudióloga

Especialista em Estatística pela Univer sidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Especialista em Voz pelo CFFa, com Cur so no Centro de Estudos da Voz (CE V)

PósDoutora em Distúrbios da Comunicação Humana pelaUniversidade Federal de São Paulo (Uni fesp)

Professora do Curso de Fonoaudiologia, do Programa de Pós- Graduação em Ciências Universidade de Br asília (UnB)

Médicas e em Ciências da Reabilitação da

Professora do Curso de Especialização em Voz do Centro de Estudos da Voz (CEV)

Mara Behlau

Fonoaudióloga

Especialista em Voz pelo CFFa

Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Unifesp

Pós- outoramento em Audiology and Speech Sciences na Univer sit y of D California San Francisco, EUA

Consultora em Comunicação Humana Especializada em Neuroliderança pelo Neuroleader ship Institute (NLI)

Coach Acreditada ACC, pela International Coaching Federation (ICF), EUA

Professora de Comunicação no Insper

Diretora do Centro de Estudos da Voz (CE V)

Identidade Comunicativa

Pessoas Trans, Travestis e Não Binárias

T hieme
Rio de Janeiro• Stut tgar t• New York•Delhi

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

D713i

Dornelas, Rodrigo.

Identidade comunicativa: pessoas trans, travestis e não binárias / Rodrigo Dornelas, Vanessa Veis Ribeiro, Mara Behlau. – Rio de Janeiro, RJ: Thieme Revinter, 2024.

16 x 23 cm

Inclui bibliografia.

ISBN 978-65-5572-257-4

eISBN 978-65-5572-258-1

1. Fonoaudiologia. 2. Saúde pública.

I. Ribeiro, Vanessa Veis. II. Behlau, Mara. III. Título.

CDD: 616.85

Elaborado por Maurício Amormino Júnior –CRB6/2422

Contato com os autores: Rodrigo Dornelas rodrigodornelas@medicina.ufrj.br,

Vanessa Veis Ribeiro fgavanessavr@gmail.com

Mara Behlau mbehlau@cevbr.com

© 2024 Thieme. All rights reserved.

Thieme Revinter Publicações Ltda. Rua do Matoso, 170 Rio de Janeiro, RJ CEP 20270-135, Brasil http://www.ThiemeRevinter.com.br

Thieme USA http://www.thieme.com

Design de Capa: © Thieme

Impresso no Brasil por Hawaii Gráfica e Editora Ltda. 5 4 3 2 1

ISBN 978-65-5572-257-4

Também disponível como eBook: eISBN 978-65-5572-258-1

Nota: O conhecimento médico está em constante evolução. À medida que a pesquisa e a experiência clínica ampliam o nosso saber, pode ser necessário alterar os métodos de tratamento e medicação. Os autores e editores deste material consultaram fontes tidas como confiáveis, a fim de fornecer informações completas e de acordo com os padrões aceitos no momento da publicação. No entanto, em vista da possibilidade de erro humano por parte dos autores, dos editores ou da casa editorial que traz à luz este trabalho, ou ainda de alterações no conhecimento médico, nem os autores, nem os editores, nem a casa editorial, nem qualquer outra parte que se tenha envolvido na elaboração deste material garantem que as informações aqui contidas sejam totalmente precisas ou completas; tampouco se responsabilizam por quaisquer erros ou omissões ou pelos resultados obtidos em consequência do uso de tais informações. É aconselhável que os leitores confirmem em outras fontes as informações aqui contidas. Sugere-se, por exemplo, que verifiquem a bula de cada medicamento que pretendam administrar, a fim de certificar-se de que as informações contidas nesta publicação são precisas e de que não houve mudanças na dose recomendada ou nas contraindicações. Esta recomendação é especialmente importante no caso de medicamentos novos ou pouco utilizados. Alguns dos nomes de produtos, patentes e design a que nos referimos neste livro são, na verdade, marcas registradas ou nomes protegidos pela legislação referente à propriedade intelectual, ainda que nem sempre o texto faça menção específica a esse fato. Portanto, a ocorrência de um nome sem a designação de sua propriedade não deve ser interpretada como uma indicação, por parte da editora, de que ele se encontra em domínio público.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida por nenhum meio, impresso, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização por escrito.

DEDICATÓRIA

Atodas as pessoas trans, travestis e não binárias, cuja coragem e resiliência são inspiração diária. Que este livro seja uma voz para o avanço do conhecimento, instrumento de transformação e valorização de todas as formas de comunicação.

Dedicamos este livro a vocês, com profundo respeito, reconhecimento e admiração, na busca por um mundo mais inclusivo e justo, em cada interação.

À Fga. Maria Elza Dorfmann, que com generosidade, abertura e empatia foi pioneira no atendimento às pessoas trans e ofereceu uma inestimável contribuição na área.

APRESENTAÇÃO

Vivemos em um país complexo, com realidades diferentes e desigualdades gritantes. A comunidade trans, motivo de piadas, alvo de agressões, violência desmedida e manifestações de preconceito, faz um esforço enorme para ter sua voz ouvida, valorizada e, acima de tudo, respeitada. Apesar desse panorama de profunda injustiça e ignorância, profissionais da saúde e membros da comunidade trans têm explorado iniciativas pioneiras e admiráveis que nos fizeram refletir sobre a necessidade de expor as suas vivências ao público em geral.

Nas últimas décadas o Brasil passou por mudanças importantes, relacionadas com esse tema, das quais destacam-se promulgação de políticas públicas de saúde e a publicação de portarias que estimulam iniciativas para a criação de ambulatórios específicos para atendimento em saúde da comunidade trans, mesmo em regiões carentes e distantes dos grandes centros urbanos; desenvolvimento de instrumentos de avaliação e estratégias de intervenção específicas para as demandas das pessoas trans; criação de programas de readequação vocal e otimização da comunicação específicos para essa população; relatos de experiência com a comunidade trans e produção de evidências científicas; e apresentações sobre esses temas em reuniões científicas. Paralelamente, foram criadas leis para regulamentar e assegurar os direitos das pessoas trans, o que trouxe maior visibilidade às reivindicações da comunidade.

Nós, organizadores deste livro, somos fonoaudiólogos especialistas em voz, contribuintes dessas iniciativas, especialmente naquelas relacionadas com a melhora da comunicação e da expressão da identidade de gênero. O contato com colegas e pessoas trans de todo o Brasil nos fez refletir sobre a necessidade de reunir as informações e o rico material que obtivemos em um livro que registrasse a realidade brasileira no atendimento a essa população, privilegiando a contribuição da Fonoaudiologia para atender as demandas vocais e de comunicação da comunidade trans em uma perspectiva de atendimento multiprofissional.

Os autores deste livro, profissionais da saúde, desenvolveram seus textos em parceria com pessoas trans ou representantes dos movimentos sociais dessa comunidade, aliando conhecimento científico à prática e à vivência, sob uma perspectiva mais abrangente e com maior chance de refletir as diversas realidades de regiões distintas do nosso país. Os capítulos apresentam conceitos, orientações teóricas vigentes e relatos dessas diversas experiências, algumas delas pioneiras, e que se constituem em marcos históricos que merecem ser registrados. Os textos foram organizados em três partes: 1. Contexto, cenário social e de políticas públicas no Brasil; 2. Considerações sobre a avaliação vocal na comunidade trans; e 3. Estratégias utilizadas para a otimização vocal.

Agradecemos a todos os colaboradores por terem aceitado prontamente a fazer parte desse projeto. Nosso propósito é sensibilizar os leitores, reunir informações que inspirem mais colegas a contribuírem na área e favorecer o aumento de recursos para a melhora das condições de atendimento em saúde da comunidade trans. Tivemos o cuidado de manter ao máximo o que foi enviado pelos autores, compreendendo que as diferenças apresentadas entre os diversos capítulos espelham a realidade em que vivemos. Assim, os autores respondem pelas informações apresentadas, ideias expressas, argumentos e pontos de vista, que podem diferir de outros capítulos.

Entendemos que disseminar conhecimento é um poderoso antídoto contra a ignorância, a incompreensão e a discriminação transfóbica. Três “erres” sustentam este livro: Reconhecimento da realidade trans, Respeito ao ser humano em todas as suas diferenças e Representatividade justa em um mundo multifacetado. Que em sua leitura você identifique esse denominador comum, em todos os capítulos.

Boa leitura!

Mara Behlau Rodrigo Dornelas Vanessa Veis Ribeiro

COLABORADORES

ADRIANA LOHANNA DOS SANTOS

Assistente Social

Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe (UFS)

Referência Técnica LGBTQIAP+ da Secretaria de Estado da Inclusão e Assistência

Social do Estado de Sergipe

Presidente do Conselho Estadual LGBT de Sergipe

AKIRA SILVA LIMA

Discente do Curso de Graduação em Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

ALANA DANTAS BARROS

Fonoaudióloga

Doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade de Brasília (UnB)

Fonoaudióloga da Secretaria de Saúde do Distrito Federal

Membro da World Professional Association for Transgender Health (WPATH)

ALEXANDRE SAADEH

Médico Psiquiatra, Psicodramatista

Doutor pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)

Supervisor do Serviço de Psicoterapia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP

Coordenador do Ambulatório

Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP (AMTIGOS)

Professor Colaborador do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Professor Doutor do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (FaCHS-PUC-SP)

Membro da World Professional Association for Transgender Health (WPATH)

ALINE EPIPHANIO WOLF

Fonoaudióloga

Especialista em Voz pelo CFFa, com Curso no Centro de Estudos da Voz (CEV)

Doutora em Ciências Médicas pela

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Docente do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP)

Coordenadora do Laboratório de Voz e Comunicação (LabComT)

Membro da World Professional Association for Transgender Health (WPATH)

ALLINE RODRIGUES BRASIL

Fonoaudióloga

ANA CAROLINA CONSTANTINI

Fonoaudióloga

Especialista em Voz pelo CFFa, com Curso no Centro de Estudos da Voz (CEV)

Doutora em Linguística pela Universidade

Estadual de Campinas (Unicamp)

Professora do curso de Fonoaudiologia da Unicamp

ANA NERY BARBOSA DE ARAÚJO

Fonoaudióloga

Especialista em Voz

Doutora em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Docente do Curso de Fonoaudiologia da UFPE

ANA PAULA CESQUIM

Tecnóloga da Informação

ANA PAULA DASSIE-LEITE

Fonoaudióloga

Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Professora do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro)

Especialista em Voz pelo CFFa, com Curso no Centro de Estudos da Voz (CEV)

ANABELLA PAVÃO DA SILVA

Doutora em Serviço Social pela Universidade

Estadual Paulista (Unesp)

Assistente Social Judiciário do TJSP –Comarca de Nuporanga-SP

Vereadora no município de Batatais, SP

ARIANE DAMASCENO PELLICANI

Fonoaudióloga

Especialista em Voz pelo CFFa, com Curso no Centro de Estudos da Voz (CEV)

Doutora em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP)

Professora do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Sergipe, Campus Lagarto

ARTHUR SANTOS DANTAS

Representante da população Trans, se identifica como homem trans Trabalha com Teleatendimento

BERNARDO AUGUSTO CARVALHO DA SILVA

Fonoaudiólogo

BRUNO CALDEIRA

Músico

Mestre em Música pela Universidade

Federal de Uberlândia (UFU)

Professor de Arte da Rede de Ensino de Uberlândia

Regente do Coral da UFU

CAROLINA BASTOS DA CUNHA

Médica Endocrinologista

Mestre em Ciências – Fisiopatologia Clínica e Experimental pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Médica Endocrinologista do Hospital

Universitário Pedro Ernesto – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE/UERJ)

CONGETA BRUNIERA XAVIER Fonoaudióloga

Especialista em Voz pelo CFFa, com Curso no Centro de Estudos da Voz (CEV)

Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Professora do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade Sant'Ana – Ponta Grossa, PR

DANIEL LUIS SCHUEFTAN GILBAN

Médico Endocrinologista

Mestre em Endocrinologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Médico Endocrinologista Pediátrico do Hospital

Universitário Pedro Ernesto –Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE/UERJ)

DANIEL LIMA MENEZES

Farmacêutico

Especialista em Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica

Mestrando em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de Sergipe (UFS)

DANIELA MARTINS GALLI Fonoaudióloga

Mestre em Clínica Fonoaudiológica pela

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

Fonoaudióloga Clínica e Pesquisadora do Instituto de Infectologia

Emílio Ribas

Fonoaudióloga Clínica e Supervisora

Consultório Particular

DANILO GUARNIERI FERNANDES Fonoaudiólogo

DIANA ESTEVAM DE CARVALHO

Assistente Social

Analista de Sistemas no Banco Itaú

DIEGO HENRIQUE DA CRUZ MARTINHO

Fonoaudiólogo

Especialista em Voz pelo CFFa, com Curso no Centro de Estudos da Voz(CEV)

Mestre em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

DIVINA MENEZES DA SILVA Enfermeira

GIOVANE ALVAREZ MORALES

Ativista LGBTQIA+

Criador de Conteúdo do @generofluidobr

Especialista de Mkt e Martech

Cientista do Consumo pela ESPM

Designer pela Belas Artes

GUILHERME RIBEIRO

Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP)

HELENA BATISTA FÉLIX VICENTE

Graduanda em Psicologia na Universidade

Federal do Paraná (UFPR)

Ativista e Pesquisadora do Laboratório de Psicopatologia Fundamental da UFPR

ISABELA SANTOS

Fonoaudióloga

Coach Vocal pelo Centro de Estudos da Voz (CEV)

Especializanda em Voz pelo CEV

Mestranda em Aspectos Funcionais e Reabilitação em Fonoaudiologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

JARDA MARIA ANDRADE DE ARAÚJO

Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Atuante na Secretaria Executiva de Juventude da Prefeitura do Recife

JOÃO LOPES

Fonoaudiólogo

Especialista em Voz pelo CFFa

Pós-Doutor em Ciências pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (INI/FIOCRUZ)

Doutor em Fonoaudiologia pela Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

Mestre em Fonoaudiologia pela Universidade Veiga de Almeida, RJ

Coordenador do Projeto de Confirmação

Vocal de Pessoas Trans e Travestis

INI/FIOCRUZ e Centro de Saúde Veiga de Almeida (CSVA)

Professor da Faculdade de Fonoaudiologia Universidade Veiga de Almeida, RJ

Professor da Faculdade CAL de Artes Cênicas

JONIA ALVES LUCENA

Fonoaudióloga

Especialista em Voz pelo CFFa, com Curso no Centro de Estudos da Voz (CEV)

Doutora em Psicologia Cognitiva pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Docente do Curso de Fonoaudiologia da UFPE

JORDHAN LESSA

Graduando de Terapias Integrativas e Serviço Social

Escritor

Palestrante de Humanização e Inclusão

Premiado em 2019 pela ALERJ – Cidadania, Direito e Respeito à Diversidade

JULIANA FERNANDES GODOY

Fonoaudióloga

Doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru –Universidade de São Paulo (USP)

Professora Adjunta do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

JULIANA PORTAS

Fonoaudióloga

Especialista em Voz pelo CFFa, com Curso no Centro de Estudos da Voz (CEV)

Especialista de Motricidade Orofacial pelo CFFa

Doutora em Ciências, Fundação Paulo Prata –Hospital do Amor

Docente do Curso de Especialização em Voz do CEV

Consultora do Instituto Tiê

Fonoaudióloga da Clínica Cuidar do Hospital

Albert Einstein – Sociedade Beneficente

Israelita Brasileira, Enfoque no Atendimento de Pessoas Trans e Travestis

JULIE VIGANO

Fonoaudióloga

Atriz

Membro do Projeto de Extensão Voz que (Trans)forma pela Universidade do CentroOeste, vinculado ao Centro de Pesquisa e Atendimento a Travestis e Transexuais

KÁTIA MARIA BARRETO SOUTO

Graduada em Comunicação Social pela

Universidade Federal de Goiás

Especialista em Educação em Saúde

Especialista em Bioética

Mestre em Sociologia pela UnB

Doutora em Saúde Pública pela Escola

Nacional de Saúde Pública Sérgio

Arouca\Fiocruz

Ex-Diretora do Departamento de Apoio à Gestão Participativa/SGEP/MS (2011-2016)

KEILA SIMPSON SOUSA

Presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA)

Secretária da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT)

Diretora Executiva da Associação Brasileira de ONGs (ABONG)

KELLY DA SILVA

Fonoaudióloga

Doutor em Psicobiologia pela Universidade de São Paulo (USP)

Professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS)

KENYA AYO-KIANGA DA SILVA FAUSTINO

Fonoaudióloga

Especialista em Voz pelo CFFa, com Curso no Centro de Estudos da Voz (CEV)

Mestre em Ciências da Reabilitação pela

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)

Especialização em Gestão de Saúde Pública pelo Fiocruz

Gerente de um Centro de Convivência e Cooperativa

Fonoaudióloga em Ambulatório de Especialidades na Processo Transexualizador e no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (AMTIGOS), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP

LEONARDO WANDERLEY LOPES

Fonoaudiólogo

Especialista em Voz pelo CFFa, com Curso na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Doutor em Linguística pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Professor do Curso de Fonoaudiologia da UFPB Presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia SBFa – Gestão: 2020-2024

Editor Executivo da revista CoDAS

LUCIANO RODRIGUES NEVES

Médico Otorrinolaringologista

Doutor em Ciências pelo Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Professor do Curso de Especialização em Voz Centro de Estudos da Voz (CEV)

Editor-Associado do Brazilian Journal of Otorrhinolaryngology (BJORL)

MAIRA CARICARI SAAVEDRA

Fonoaudióloga

Especialista em Saúde Coletiva pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

Atua no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (AMTIGOS), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)

MARCIA DOS SANTOS SOUZA

Fonoaudióloga

Mestre em Saúde da Comunicação

Humana pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSC)

Professora Preceptora em Fonoaudiologia na FCMSC

MARISA BARBARA

Consultora em Comunicação Humana

Mentora e Coach PCC-ICF para Lideranças, Executivos e Conselheiros de Administração

Especializada em Neuroliderança

Professor do Curso de Conselho de Administração no Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)

Professor do Curso de Pós-Graduação de Direito e na Educação Executiva no Insper Professor do Curso Formação Integrada em Voz – Coaching – FIV-C do Centro de Estudos da Voz (CEV)

MATEUS MORAIS AIRES

Médico Otorrinolaringologista

Especialista em Laringologia e Voz pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Doutor em Ciências pela Unifesp

Professor Adjunto de Otorrinolaringologia da Universidade de Pernambuco (UPE)

Otorrinolaringologista Assistente e Preceptor do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

MICHELLE DE MOURA BALARINI

Médica Endrocrinologista

Mestre em Endocrinologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Médica Endocrinologista do Hospital Universitário Pedro Ernesto – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE/UERJ)

RAPHAELA BARROSO GUEDES-GRANZOTTI

Fonoaudióloga

Doutora em Neurociências pela Universidade de São Paulo (USP)

Professora do Curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS)

ROXANE DE ALENCAR IRINEU

Fonoaudióloga

Especialista em Voz pelo CFFa, com Curso no Centro de Estudos da Voz (CEV)

Doutora em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Sergipe (UFS)

Professora do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Campus Lagarto

Coordenadora do setor de Fonoaudiologia do Ambulatório Trans de Sergipe, Muncípio de Lagarto

SARA WAGNER YORK

Letróloga

Pedagoga

Especialista em Gênero e Sexualidade pelo Instituto de Medicina Social pela

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ

Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação –Processos Formativos e Desigualdades

Sociais da UERJ

THAYS VAIANO

Fonoaudióloga

Especialista em Voz pelo CFFa, com Curso no Centro de Estudos da Voz (CEV)

Doutora em Distúrbios da Comunicação pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Especialização em Fisiologia do Exercício pela Unifesp

Professora do Curso de Especialização em Voz do CEV

Fonoaudióloga do Núcleo de Atenção à Pessoa

Trans do Hospital Sírio Libanê (HSL)

YAGO BONFIM VIANA

Fonoaudiólogo

PREFÁCIO

AFonoaudiologia, enquanto ciência e profissão, trabalha, essencialmente com a conexão humana: com a conexão entre pessoas e com a conexão da pessoa consigo mesma, quando contribuímos para que alguém identifique e manifeste a congruência entre quem ela é e como ela se apresenta ao mundo.

Tradicionalmente, a Fonoaudiologia priorizou a compreensão sobre o manejo (diagnóstico e reabilitação) dos transtornos da comunicação, permitindo que seus portadores recebessem o melhor cuidado fonoaudiológico e tivessem a possibilidade de participação efetiva na sociedade. Ao longo do tempo, compreendemos que a relação entre a comunicação e a participação social envolve bem mais que a ausência de um transtorno. A participação social envolve, essencialmente, a comunicação da identidade humana, em seus aspectos culturais, sociais, psicológicos e emocionais, os quais definem quem somos, como vemos o mundo ao nosso redor e como queremos nos manifestar nele.

É exatamente nesse contexto, da comunicação como via de participação social e da manifestação da identidade de cada ser humano, que quero introduzir os leitores nessa obra, intitulada “Identidade comunicativa para pessoas trans, travesti e não binária”. Inicialmente, preciso dizer o quanto me senti honrado, ao ser convidado para fazer o prefácio deste livro. Estou diante de três organizadores (Dr. Rodrigo Dornelas, Dra. Vanessa Veis Ribeiro e Dra. Mara Behlau) pelos quais tenho um profundo respeito e admiração. Por outro lado, não posso negar o desafio: deparei-me com uma obra que, certamente, consistirá em um marco na nossa profissão.

Obviamente, aquele que faz o prefácio de um livro tem os seus privilégios: a oportunidade da leitura prévia do texto integral. Fiz questão de ler todas as páginas que foram repassadas pelos organizadores e testemunhar a generosidade dos autores que, cuidadosamente, construíram uma obra com aporte teórico, reflexivo, técnico e científico em relação ao tema.

As demandas de comunicação trazidas pelas pessoas trans, travestis e não binárias são desafiadoras, pois envolvem uma mudança de perspectiva em relação aos “tradicionais” marcadores sociais de gênero na comunicação e um reposicionamento do fonoaudiólogo para corresponder efetivamente as necessidades dessas pessoas. Nós, fonoaudiólogos, temos sido transformados ao entrar em contato com essa população, que nos ensina sobre o quanto a comunicação é um elemento estratégico para o posicionamento social. Mais que isso, as pessoas trans, travestis e não binárias nos ensinam que somente a própria pessoa pode nos indicar as características de comunicação que, de fato, a representa com singularidade no mundo.

Ao ler os capítulos desta obra, percebi o cuidado dos autores em posicionar-se enquanto aprendizes de um conhecimento ainda incipiente na área, mas com uma atitude de acolhimento e defesa da comunicação e participação como um direito humano. Nesse sentido, quando digo que essa obra é um marco, refiro-me ao seu potencial de ampliar a visão de fonoaudiólogos (e qualquer outro profissional) e estudantes de Fonoaudiologia acerca da temática. Além disso, o conteúdo e a estrutura deste livro (com a inclusão de pessoas trans, travestis e não binárias) tem a força de nos sensibilizar para o engajamento efetivo na defesa dos interesses das pessoas que vivenciam desvantagem e limitação na participação social, em virtude de necessidades específicas na comunicação. Preciso destacar que essa obra é estruturante, traz os fundamentos e as estratégias necessárias para que os fonoaudiólogos ofereçam o melhor cuidado às pessoas trans, travestis e não binárias. Agradeço aos organizadores a possibilidade de escrever este prefácio. Mais que isso, agradeço a oportunidade de ser transformado por tudo que li e por testemunhar uma Fonoaudiologia comprometida com a diversidade, com a inclusão e com as necessidades reais daqueles que nos procuram.

A entrega deste livro à comunidade profissional é um convite a explorar e celebrar a diversidade da expressão humana. Desejo que a leitura dessa obra produza descobertas, reflexões e transformações em direção a uma Fonoaudiologia sem fronteiras, feita para e com todas as pessoas. Espero, em um futuro breve, ver a continuidade dessa obra, quando não será mais necessário definir termos, mas trazer a narrativa dos novos desafios e dos avanços em relação à diversidade e inclusão das pessoas trans, travestis e não binárias.

Leonardo Wanderley Lopes

Professor Titular do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia – Gestão: 2020-2024

Editor Executivo da revista CoDAS

Divina Menezes da Silva ▪ Raphaela Barroso Guedes-Granzotti

Daniel Lima Menezes ▪ Kelly da Silva

Ana Paula Dassie-Leite ▪ Helena Batista Félix Vicente ▪ Congeta Bruniera Xavier

Alline Rodrigues Brasil ▪ Yago Bonfim Viana

Ana Carolina Constantini ▪ Diego Henrique da Cruz Martinho

Bernardo Augusto Carvalho Silva ▪ Leonardo Wanderley Lopes

Julie Vigano ▪ Juliana Portas ▪ Rodrigo Dornelas 9

Aline Epiphanio Wolf ▪ Anabella Pavão da Silva

Arthur Santos Dantas ▪ Alana Dantas Barros

Maíra Caricari Saavedra ▪ Ana Paula Cesquim

Alexandre Saadeh ▪ Kenya Ayo-Kianga da Silva Faustino

NÃO

Carolina Bastos da Cunha ▪ Daniel Luis Schueftan Gilban

Michelle de Moura Balarini ▪ Sara Wagner York

Bruno Caldeira ▪ Guilherme Ribeiro

Jonia Alves

João Lopes ▪ Jordhan Lessa

Roxane de Alencar Irineu ▪ Adriana Lohanna dos Santos ▪ Ariane Damasceno Pellicani

Identidade Comunicativa

Pessoas Trans, Travesti e Não -Binária

Parte I Contexto, Cenário Social e de Políticas Públicas no Brasil

IDENTIDADE DE GÊNERO E COMUNICAÇÃO

Highlight

Este capítulo descreve o conceito de gênero como uma construção sociocultural que envolve características, papéis e normas associadas a homens e mulheres. Ao contrário do sexo biológico, o gênero é determinado por atributos socialmente construídos e pela autoidentificação. A diversidade de gênero vai além do binário masculino e feminino, destacando-se a existência de identidades não binárias. A comunicação é importante para a expressão da identidade de todos os gêneros. Por isso faz-se necessário acolher e respeitar as pessoas trans e travestis e não binárias no contexto dos serviços de saúde.

Descritores: construção social do gênero; diversidade de gênero; identidade de gênero; transexualidade; voz

O CONCEITO DE GÊNERO

Gênero vem do latim genus, genere, generum, que significa nascimento, família, tipo. De modo geral, corresponde a um agrupamento de indivíduos, animais, plantas, objetos e ideias que compartilham características comuns.

Ao contrário do sexo, que é determinado biologicamente como masculino e feminino, por distinções cromossômicas e anatômicas do corpo, o gênero refere-se aos atributos socialmente construídos e que se relacionam à autoidentificação com grupos específicos de indivíduos. Por ser casualmente usado como sinônimo de sexo (algumas vezes chamado de “gênero de nascença”), gênero também é, comumente, classificado em duas possibilidades: masculino e feminino. Evidentemente, essa classificação biológica binária, transferida para o gênero, é reducionista, limitada e inadequada. O gênero interage com o sexo biológico, mas é um conceito distinto.1

Tradicionalmente, o entendimento do gênero relaciona-se com as características apresentadas por homens e mulheres, nas relações sociais e pessoais, nos papéis sociais, na divisão de trabalho, nos interesses, nas necessidades e nos comportamentos esperados, tais como linguagem corporal, modo de pensar e de falar. Essas características foram, ao longo do tempo, transformadas em normas sociais de gênero, firmando-se como crenças coletivas sobre o que compõe atitudes e comportamentos adequados para homens e mulheres na sociedade. Portanto, gênero é uma construção sociocultural que cria padrões determinados. Buscar padrões é uma das tarefas mais comuns de nosso cérebro, que em instantes reúne aspectos que identificam um determinado grupo ou pessoa e, por meio de previsibilidade,

classifica os estímulos recebidos durante esse processo. Essa classificação cerebral é feita de modo automático e com baixo consumo de energia, ou seja, sem a necessidade de usar as complexas funções cognitivas do cérebro, que levam muito tempo e consomem recursos energéticos maiores. Vale destacar que, geralmente, essa classificação é imprecisa para quem a faz e desconfortável para quem a recebe, já que nem sempre as pessoas pensam e agem de acordo com as normas que sua cultura e sociedade procuram impor pelo simples fato de serem homens ou mulheres.

Atualmente, a Organização Mundial da Saúde reconhece a diversidade de gênero e sexo para além do binário e está modernizando seu Manual de Integração de Gênero,2 cuja última versão disponível foi publicada há mais de uma década.3 A atualização está sendo realizada com base em novas evidências científicas e nos progressos conceituais sobre gênero, saúde e desenvolvimento, isso está contribuindo para reposicionar a identidade de gênero como um continuum. 4,5

Entender que gênero é um conjunto de possibilidades em um continuum entre feminino e masculino ajuda a compreender que uma pessoa possa se perceber e se expressar, em maior ou menor grau, de forma diferente da que as normas sociais de gênero indicam, sendo que isso pode variar ao longo da vida. A esse continuum, porém, deve ser acrescida a possibilidade de que uma pessoa não se identifique com nenhum dos lados do constructo social de gênero, o que implica em ter uma identidade e expressão não limitadas aos papéis geralmente associados ao masculino ou feminino: esse gênero passou a ser denominado não binário.

A não binaridade não é um fenômeno recente. Ela tem sido relatada em vários momentos da história e em diferentes regiões do mundo, a exemplo dos Mahu, da Polinésia francesa e do Havaí, muitas vezes chamados de terceiro sexo, pessoas com uma identidade de gênero ambígua, incorporando características masculinas e femininas expressas em conjunto.6 Também em povos aborígenes dos Estados Unidos da América e do Canadá foram identificados indivíduos como Two Spirit (Dois Espíritos), que possuíam no mesmo corpo o espírito masculino e o feminino.7 A suprema corte de justiça da Índia reconheceu, em 2014, os hirjas (transgêneros, travestis e eunucos) como um terceiro gênero, que são localmente uma comunidade temida e respeitada pela possibilidade de abençoar ou amaldiçoar pessoas.8 No Brasil, a travesti também pode ser definida como membro de um terceiro gênero ou de um não gênero, pois elas não se reconhecem como homem ou mulher, porém, deve ser tratada por pronomes femininos.9

Gênero também é, muitas vezes, confundido com orientação sexual, que se refere ao desejo sexual que uma pessoa tem por outra. A orientação sexual, o impulso relacionado com a atração sexual afetiva e/ou física, pode ser por pessoas do mesmo gênero (homossexual), do gênero oposto (heterossexual), por qualquer gênero (bissexual), por nenhum gênero (assexual) e por pessoas em geral, independente do gênero e da orientação sexual (pansexual). Assim, não existe um paralelismo entre sexo, gênero e orientação sexual. Por exemplo, uma pessoa nascida com o sexo biológico feminino pode-se identificar com os papéis masculinos, ou seja, com uma identidade transgênero e pode ser homossexual, heterossexual ou bissexual. Portanto, a identidade de gênero não é definida pelo sexo biológico e nem pela orientação sexual, já que ela se refere a como cada um se percebe e se expressa. As relações interpessoais são formadas pelas interações comunicativas. Nosso cérebro é social e está configurado para trabalhar em rede, formando conexões sociais, uma das necessidades mais básicas para seu funcionamento normal.10 A comunicação é a base da teia social.

O som da nossa voz e a forma de nos comunicarmos estão entre os marcadores mais importantes de nossa identidade e expressão de gênero. O impacto do som da voz é imediato e constitui a base da comunicação oral: é com a voz que são transmitidas as ideias, por meio das palavras, e as emoções, por meio das modulações vocais, pausas, velocidade de fala e tipo respiratório. O mais importante axioma da comunicação, “É impossível não se comunicar!”,11 espelha a importância da comunicação como característica humana e ferramenta de sobrevivência. Todo o comportamento humano pode ser visto como uma forma de comunicação em si mesmo.12 A comunicação humana tem um aspecto verbal, composto por palavras, frases e argumentos, e outro não verbal, formado pelo som da voz, pausas, expressão facial, respiração e gestos. O impacto do aspecto não verbal, principalmente da voz, é decisivo na imagem que o outro fará de nós.

Todos os indivíduos têm impressões de como deve soar a voz de uma pessoa, seja homem ou mulher, e como cada uma delas projeta expectativas ao interagir. Tais impressões são formadas por uma interrelação complexa entre as características anatômicas de uma pessoa e as normas socioculturais que determinam um certo comportamento na comunicação. Muitas dessas impressões correspondem a aspectos baseados na cisgeneridade. Evidentemente, a configuração anatômica da laringe e do trato vocal do homem e da mulher favorecem produtos vocais diferenciados: os homens, por terem pregas vocais mais longas e com mais massa, terão vozes mais graves (grossas), à semelhança de instrumentos com cordas longas e caixas de ressonância grandes, como o violoncelo; já as mulheres, por terem pregas vocais mais curtas e com menos massa, terão vozes mais agudas (finas), à semelhança de instrumentos com cordas mais curtas e caixas de ressonância pequenas, como o violino. Esse dimorfismo vocal sexual é universal e fica mais evidente a partir da adolescência, pelo impacto dos hormônios sexuais sobre a laringe, o que provoca a muda vocal, mais evidente nos meninos em decorrência da testosterona. Portanto, uma voz adulta mais grave ou mais aguda é em grande parte determinada pelo tamanho da laringe e pelo comprimento e massa das pregas vocais.13 Por outro lado, quanto à percepção auditiva, no que diz respeito a atributos associados a vozes mais graves ou mais agudas, comprovou-se que homens com vozes mais graves são considerados mais atraentes,14 fisicamente mais fortes,15 dominantes e atraem um maior número de parceiras sexuais.16,17 Competência e confiabilidade,18 assim como força e integridade,19 também são associadas a vozes mais graves. No mundo das organizações, uma análise de vozes de homens chiefs executives officers (CEOs) em comunicados públicos, mostrou que os que tinham vozes mais graves ganhavam mais, tinham maiores bônus e permaneciam mais tempo em cargos de liderança.20

Tanto homens como mulheres com vozes mais graves são vistos como tendo maior liderança e são os preferidos em uma escolha para cargo político.18,21 Se por um lado, mulheres com vozes mais graves são percebidas como socialmente dominantes,22 por outro lado, mulheres com vozes mais agudas são consideradas mais atraentes e femininas.14

Essas evidências relacionadas com as características associadas a vozes mais graves ou mais agudas são impressionantes. Contudo, três observações reduzem o peso desses resultados: 1. muito do que se espera do uso da voz, em termos de modulação de frequência e de intensidade, além de todos os aspectos que envolvem a comunicação oral, como respiração, articulação, prosódia e fluência, é o resultado de uma convenção sociocultural e varia entre as culturas e sociedades; 2. a baixa representatividade de mulheres em cargos de liderança e nas pesquisas desenvolvidas dificulta conhecer o perfil real dessas líderes; e, 3. as pesquisas desenvolvidas até recentemente não consideraram o gênero ou a

cultura dos participantes e ouvintes, apenas o sexo. Os principais dados disponíveis são, em sua maioria, de americanos, brancos, provavelmente cisgêneros e heterossexuais. Futuros estudos multiculturais, com falantes e ouvintes de diversos gêneros e culturas poderão mostrar um panorama diverso, mais variado e mais próximo do real.

Contudo, como dito anteriormente, o cérebro é uma máquina de buscar padrões e previsibilidade, por isso classificar uma voz como masculina ou feminina é uma tendência natural do automatismo cerebral. Isso ajuda os indivíduos a rapidamente categorizar um determinado falante e agir de acordo com um padrão esperado, o que também ocorre na comunidade de pessoas transgênero. Porém, considerando a classificação binária de gênero como reducionista e excludente, a busca por um mundo mais justo e abrangente exige que essa percepção seja ampliada e que a categorização binária seja substituída por um espectro que englobe a diversidade vocal. Apesar da falta de dados robustos, está claro que as padronizações rígidas existentes hoje sobre o que seria a voz ideal para uma identidade de gênero, não refletem a variabilidade humana e não representam a diversidade vocal encontrada no dia a dia, na vida social e nas vozes artísticas. Além das características biológicas e socioculturais já destacadas, a voz manifesta traços psicológicos, emoções e sentimentos. Como um indivíduo se percebe e se expressa na comunicação é essencial para a afirmação de sua própria identidade de gênero. Não há uma solução simples para se conquistar uma identidade vocal que corresponda ao gênero vivenciado, assim como não há uma estratégia única para se buscar a voz autêntica. Na busca por essa conquista da identidade vocal, em dezembro de 2022 foi realizado um fórum com os autores desse livro, grupo formado por representantes da comunidade trans, travesti e não binárias, e profissionais da saúde de diversas formações educacionais, ocupações e gêneros. Desse trabalho surgiram reflexões que merecem ser registradas:

ƒ Há serviços de atendimento à comunidade trans e travesti nas principais cidades brasileiras e em alguns locais do interior, com iniciativas louváveis que merecem ser compartilhadas e por isso são apresentadas neste livro. Contudo, é ainda difícil encontrar profissionais de saúde com conhecimento nessa área e acolhimento adequado.

ƒ O acolhimento e escuta consciente das necessidades das pessoas trans e travestis revelou um panorama muito mais rico, complexo e desafiador, do que geralmente se percebe.

ƒ Embora já se tenham obtido muitas conquistas legais no Brasil – como o uso do nome social em repartições públicas,23 incluindo o Sistema Único de Saúde (SUS), retificação do registro de nascimento para pessoas trans sem cirurgia, eleições de mulheres trans e travestis para o legislativo federal (com mais de 50 candidaturas na última eleição), parada do orgulho LGBTQIAPN+, união estável e casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, possibilidade de hormonização (também conhecida como tratamento hormonal, terapia hormonal ou hormonoterapia) e tratamento cirúrgico na rede pública, incluindo a cirurgia de redesignação sexual – a vergonhosa marca de recorde mundial é a violência, as dificuldades de acesso a serviços especializados e os preconceitos expressos em todas as mídias que são causa de profunda frustração,24 sofrimento e revolta da comunidade trans e travesti brasileira.

ƒ O desejo de uma determinada voz e um certo padrão de comunicação que seja compatível com a identidade de gênero de uma pessoa é uma consideração central para a maioria das pessoas trans e travestis e esse desejo pode estar ou não apoiado nos estereótipos vocais extremos de gênero masculino e feminino.

ƒ A descrição das vozes trans e travestis têm sido baseadas em referenciais cisgênero, assim como os padrões dos parâmetros acústicos, o que precisa ser revisto, para evitar julgamentos perceptivo-auditivos e acústicos inadequados.

ƒ Não há ainda uma sistematização da prática clínica e protocolos para ajudar profissionais da saúde iniciantes nessa área, o que dificulta a produção de evidências científicas para respaldar a prática clínica do fonoaudiólogo.

ƒ A variabilidade que algumas pessoas trans e travestis desejam em relação à sua voz e comunicação exige que os profissionais da saúde tenham uma escuta atenta, consciente e que busquem a confirmação da perspectiva de cada pessoa, em sua singularidade.

ƒ Para algumas pessoas trans e travestis, identificar-se com o masculino ou o feminino é uma questão prioritária para segurança e conforto na comunicação com o outro. Já outras pessoas trans e travestis preferem uma voz neutra e entendem que isso pode contribuir para reduzir os estereótipos de gênero e a busca de padrões por vezes irreais.

ƒ A passabilidade, um termo vindo do inglês no século passado (passing – passar por), foi inicialmente utilizado por estadunidenses que desejavam se fazer passar como pertencente a um grupo étnico diferente do seu. O termo passou a ser usado pela comunidade trans e travestis como uma estratégia importante para atingir a expressão de gênero desejada, inclusive como uma estratégia de autopreservação, por refletir a capacidade de ser considerada membro de um grupo identitário, favorecendo a aceitação social e reduzindo o preconceito. Porém, esse termo perdeu força por dar a impressão de querer se fazer passar por algo que não é autêntico, sendo atualmente rejeitado por alguns grupos ou considerado uma etapa transitória na busca da identidade vocal.

ƒ Os problemas de voz e de comunicação nas pessoas trans e travestis impedem uma expressão da identidade de gênero autodesignada, prejudicam o pertencimento e dificultam a habilidade desse grupo de interagir socialmente.

ƒ É essencial a criação de espaços seguros para a construção de uma voz e um padrão de comunicação múltiplo e que represente a identidade de cada pessoa trans ou travesti.

ƒ A variabilidade vocal vem manifestando-se em alguns nichos, como nas artes, sendo mais presente nas gerações mais jovens, mas há ainda muito preconceito e intolerância, onde deveria haver respeito.

ƒ O respeito à diversidade vocal deve ainda ser conquistado, mas é essencial ampliar as possibilidades da imagem vocal, para trazer legitimidade e legalidade às pessoas trans e travestis.

Essas observações trouxeram à tona a complexa e difícil realidade brasileira que as pessoas trans e travestis enfrentam no acesso a serviços de saúde, no qual, muitas vezes, os próprios profissionais que deveriam promover o acolhimento, são os que estigmatizam. Esforços físicos, mentais e emocionais coletivos devem promover educação e provocar políticas públicas para se produzir um cenário de acesso à saúde com maior inclusão, equidade e na perspectiva da integralidade.

Os profissionais da saúde devem dar especial atenção a uma pessoa trans ou travesti, desde o primeiro contato, para que se estabeleça uma parceria com bases justas, mitigando possíveis vieses. O uso do nome social e do pronome solicitado pela pessoa trans ou travesti é o início dessa parceria.

Mitigar vieses deve ser um processo consciente e planejado, antes que ocorra uma situação potencial de julgamento que possa estigmatizar e estereotipar uma pessoa. Sabe-se que a avaliação inicial de pessoas é feita em menos de meio segundo, dos quais em 0,007 s ocorre a percepção inicial e em 0,4 s a resposta comportamental.25

Isso significa que, em menos de 1 segundo, avalia-se e reage-se à presença de uma outra pessoa, usando o sistema rápido do cérebro, favorecendo quem é semelhante e desfavorecendo os diferentes.26 O sistema rápido de tomada de decisão fica ainda mais ativo quando se está sob estresse, uma condição frequente entre os profissionais da saúde. O estresse pode induzir a decisões equivocadas, baseadas em padrões pré-existentes, preconceitos e experiências vividas, com grande possibilidade de interferência de suposições, estereótipos e vieses cognitivos.

Vieses funcionam como um sistema de segurança e são condutores inconscientes que influenciam a forma como uma pessoa vê o mundo, responsáveis por escolhas acidentais, não intencionais e sutis, influenciando o processo de avaliação do outro. Vieses de similaridade – “Pessoas como eu são melhores que as outras” –, e de experiência – “Minhas percepções são precisas”27 –, podem estar facilmente presentes na interação com pessoas trans e travestis. Combater vieses requer esforço cognitivo e é muito mais fácil quando feito em grupo e não individualmente. Para tanto, devem-se criar práticas e processos grupais com antecedência, com estratégias para barrar as homolesbotransfobias institucionais, enraizadas por processos socioculturais que devem ser abolidos, assim se prevendo a interferência de vieses, já que no momento de decisão eles são difíceis de serem gerenciados. Contudo, não são somente vieses que interferem na avaliação do outro. Nas interações com o outro, o processo de avaliação de uma pessoa recebe influências de diversas vias, que atuam das seguintes formas:

1. Percepção consciente: feita em menos de 0,5 s e explicada anteriormente como avaliação inicial.

2. Necessidades e desejos: processamento sobre o quanto a presença do outro me afeta e o quanto eu a considero bem-vinda.

3. Atitudes, valores e crenças: percepção do quanto o outro é parecido ou não comigo.

4. Autoimagem e autoestima: percepção do quanto o outro me deixa inseguro ou não.

5. Experiências pessoais: confirmação se essa pessoa faz parte do que eu já vivi em meu mundo.

6. Vieses: quais tendências naturais de julgamento são ativas em mim.

7. Genética: quais aspectos de minha herança são instintivos em mim.28

A falta de proximidade com pessoas trans e travestis, o desconhecimento da dura realidade em que essas pessoas vivem, a falta de experiência de interação com os membros dessa comunidade, a percepção de que as pessoas trans e travestis podem intimidar os profissionais da saúde, por não se considerarem preparados para esse atendimento, são algumas das influências facilmente observáveis na avaliação de uma pessoa trans ou travesti. Ao ampliar a visão de mundo, tem-se a chance de reduzir a influência de vieses no atendimento às pessoas trans e travestis, aprendendo a apreciar a diversidade da natureza humana, buscando maior justiça e equidade. Todos os profissionais da área de saúde, especialmente da fonoaudiologia, por se ocupar da comunicação, deveriam ser exemplos de uma atitude plural e acolhedora.

A igualdade de gênero consiste na igualdade de direitos, reponsabilidades e oportunidades para todas as pessoas.1 O não reconhecimento do gênero para além do binário aumenta a rejeição social, provoca dor e dificulta o atendimento na área da saúde, o que é garantido pela Constituição Federal de 1988, que assegura a todas as pessoas o direito a tratamentos adequados, fornecidos pelo poder público.29

Respeito, atenção e conhecimento não são suficientes, mas é o mínimo que as pessoas trans e travestis merecem para se criar um ambiente de comunicação favorável à busca da identidade de gênero, sem a qual a vida pode ser ameaçada por falta de referência, sentido e segurança.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Um retrato da realidade brasileira e da participação de profissionais da saúde para apoiar os processos envolvidos na busca da identidade individual e de grupo.

Ter uma identidade que nos representa é uma necessidade essencial para a vida do ser humano. Compreender quem somos, a que grupos pertencemos e quais são nossos valores, crenças e preferências nos ajuda a ter uma vida mais autêntica e aumenta a chance de termos sucesso e sermos felizes. Uma identidade mais clara contribui para definir a forma como queremos nos apresentar ao mundo, nos comunicare ser reconhecidospelos outros.

Este livro aborda diversos aspectos da busca pela identidade comunicativa com foco na população trans, travesti e não binária. Autores de diversas formações acadêmicas e representantes dessa populaçãocompartilham seus conhecimentos e experiências, com o objetivo de provocar reflexões sobre a identidade de gênero, educar o leitor e reforçar o respeito e a dignidade que todas as pessoas merecem, princípios fundamentais dos direitos humanos. A produção dos capítulos com a participação de membros da comunidade acadêmica é um privilégio para o leitor, que receberá uma informação mais real, rica e validada. Aspectos variados – como o contexto, o cenário social e as diferentes políticas públicas no Brasil – são apresentados, com capítulos introdutórios, a fim de se explorar a avaliação e as estratégias de otimização vocal, para que a identidade comunicativa seja adequada ao desejo da pessoa.

Nas últimas décadas, houve avanços nas conquistas da população trans, travesti e não binária, como a legislação antidiscriminação, o acesso a cuidados de saúde, a visibilidade mais ampla nas mídias e a representação em diversas instâncias. Contudo, a persistência da violência contra esse grupo é inaceitável, a educação não é inclusiva e as oportunidades de trabalho são raras. A distância entre o que temos e o que se deve obter é enorme e os desafios a serem enfrentados só não são intransponíveis pela resiliência espetaculardessa comunidade, que tanto tem a contribuir.

Este livro traz um retrato da realidade brasileira e da participação de profissionais da saúde para apoiar os processos envolvidos na busca da identidade individual e de grupo. Ao reunir colaboradores de diversas regiões do Brasil, os organizadores oferecem diversas perspectivas de desenvolvimento da identidade comunicativa para essa população e desejam que a leitura seja motivadora, para que mudanças positivas ocorram.

ISBN 978-65-5572-257-4

www.ThiemeRevinter.com.br

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