Condutas em Neurologia Infantil
Ana Carolina Coan
Lisiane Seguti Ferreira
Quarta Edição
Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler
Jeanne Alves de Souza Mazza
Ana Carolina Coan
Lisiane Seguti Ferreira
Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler
Jeanne Alves de Souza Mazza
Ana Carolina Coan
Lisiane Seguti Ferreira
Katia Maria Ribeiro Silva Schmut zler
Jeanne Alves de Souza Mazza
T hieme
Rio de Janeiro• Stut tgar t• New York•Delhi
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)
C746
Condutas em Neurologia Infantil/Ana Carolina Coan... [et al.]. – 4.ed. – Rio de Janeiro, RJ: Thieme Revinter, 2025.
16 x 23 cm
Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-5572-315-1
eISBN 978-65-5572-316-8
1. Neurologia pediátrica. I. Coan, Ana Carolina. II. Ferreira, Lisiane Seguti. III. Schmutzler, Katia Maria Ribeiro Silva. IV. Mazza, Jeanne Alves de Souza.
CDD 618.928
Elaborado por Maurício Amormino Júnior –CRB6/2422
Contato com as autoras: Ana Carolina Coan acoan@unicamp.br
Lisiane Seguti Ferreira lisiane@unb.br
Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler katiamrs@uol.com.br
Jeanne Alves de Souza Mazza jeannemazzamed@gmail.com
© 2025 Thieme. All rights reserved.
Thieme Revinter Publicações Ltda. Rua do Matoso, 170 Rio de Janeiro, RJ CEP 20270-135, Brasil http://www.thieme.com.br
Thieme USA http://www.thieme.com
Design de Capa: © Thieme Créditos Imagem da Capa: imagem gerada por IA: Cerebral palsy - © Lila Patel/stock.adobe.com
Impresso no Brasil por Forma Certa Gráfica Digital Ltda. 5 4 3 2 1
ISBN 978-65-5572-315-1
Também disponível como eBook: eISBN 978-65-5572-316-8
Nota: O conhecimento médico está em constante evolução. À medida que a pesquisa e a experiência clínica ampliam o nosso saber, pode ser necessário alterar os métodos de tratamento e medicação. Os autores e editores deste material consultaram fontes tidas como confiáveis, a fim de fornecer informações completas e de acordo com os padrões aceitos no momento da publicação. No entanto, em vista da possibilidade de erro humano por parte dos autores, dos editores ou da casa editorial que traz à luz este trabalho, ou ainda de alterações no conhecimento médico, nem os autores, nem os editores, nem a casa editorial, nem qualquer outra parte que se tenha envolvido na elaboração deste material garantem que as informações aqui contidas sejam totalmente precisas ou completas; tampouco se responsabilizam por quaisquer erros ou omissões ou pelos resultados obtidos em consequência do uso de tais informações. É aconselhável que os leitores confirmem em outras fontes as informações aqui contidas. Sugere-se, por exemplo, que verifiquem a bula de cada medicamento que pretendam administrar, a fim de certificar-se de que as informações contidas nesta publicação são precisas e de que não houve mudanças na dose recomendada ou nas contraindicações. Esta recomendação é especialmente importante no caso de medicamentos novos ou pouco utilizados. Alguns dos nomes de produtos, patentes e design a que nos referimos neste livro são, na verdade, marcas registradas ou nomes protegidos pela legislação referente à propriedade intelectual, ainda que nem sempre o texto faça menção específica a esse fato. Portanto, a ocorrência de um nome sem a designação de sua propriedade não deve ser interpretada como uma indicação, por parte da editora, de que ele se encontra em domínio público.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida por nenhum meio, impresso, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização por escrito.
ÀProfessora Doutora Maria Valeriana Leme de Moura-Ribeiro que soube conciliar a carreira vitoriosa com os desafios perenes da maternidade. Para a mulher, mãe, educadora por excelência e vocação, a admiração uníssona dos filhos é mais um grau de reverência. Muito obrigado, Professora!
Nós, filhos, agradecemos imensamente a essa múltipla mulher, mãe, avó, bisavó, profissional maravilhosa, que sempre esteve ao nosso lado em todos os momentos de nossas vidas. Somos filhos de uma mulher à frente do seu tempo, que sempre nos instruiu e nos deu exemplos de caráter, honestidade e profissionalismo. Nossa mãe construiu uma carreira brilhante como médica e pesquisadora e, em paralelo, formou uma família unida e muito feliz. Mãe, te amamos! Seus filhos, Eduardo (in memoriam), Ana Vera, Adriana e Renato.
N o princípio, era somente um desejo longínquo de uma jovem médica correndo atrás dos seus sonhos nos corredores do Hospital Universitário. O tempo passou, veio o Doutorado e as orientações imprescindíveis das Professoras Maria Valeriana Moura-Ribeiro e Marilisa Guerreiro foram sedimentando o caminho para a primeira edição do Livro –Condutas em Neurologia Infantil, fruto de lastro perene com a marca de excelência da UNICAMP.
O objetivo é altamente desafiador – compilar condutas atualizadas para o manejo de condições comuns e de maior interesse ao profissional que atende crianças com transtornos neurológicos nos mais distintos cenários. Com a explosão exponencial de conhecimentos, essa tarefa se torna ainda mais árdua, pois a medicina, como irmã siamesa da ciência, não pode fechar os olhos ao novo. Assim, vieram as edições subsequentes em 2010 e 2017, sempre no afã e com a consciência de que – “em nome da lealdade e da ética, este livro precisa ser constantemente renovado e questionado, obedecendo aos inexoráveis avanços da medicina”.
Dez anos depois da primeira edição e impulsionada pela história e exemplo das suas professoras, aquela residente, agora Professora da Universidade de Brasília (UnB), resolve abraçar um novo desafio e, em 2016 cria o Programa de Residência Médica (PRM) em Neurologia Infantil no Hospital Universitário de Brasília (HUB). Desde então, excelentes profissionais se formaram e replicam seus conhecimentos, assumindo cargos de Coordenação, Supervisão, Direção. Alguns já se tornaram Professores de Instituições reconhecidas. Além dos especialistas formados, atuando em diferentes estados do Brasil, a Residência de Neurologia Infantil pavimentou a criação do PRM em Neurologia e Neurofisiologia Clínica. Passaram-se exatos 20 anos até chegarmos nesta 4ª edição, totalmente ampliada, atualizada e com um novo olhar, o que reforça o valor da aliança de duas grandes escolas – UNICAMP e UnB, que trazem a vanguarda e o protagonismo de instituições compromissadas com o ensino de qualidade. Esta edição foi elaborada por quatro experientes organizadoras e dezenas de profissionais de ambas as escolas, unidos num mesmo propósito – compromisso com a ciência e com a ética, sem se curvar às controvérsias das redes sociais ou aos apelos da indústria farmacêutica. Esse é o nosso princípio, o nosso meio e o nosso fim.
Lisiane Seguti Ferreira Professora Associada da Universidade de Brasília
ANA CAROLINA COAN
Professora Livre-Docente de Neurologia Infantil do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista Infantil e Neurofisiologista pela UNICAMP
LISIANE SEGUTI FERREIRA
Professora Associada da Área de Medicina da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB)
Neurologista Infantil e Neurofisiologista pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
KATIA MARIA RIBEIRO SILVA SCHMUTZLER
Mestrado e Doutorado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP)
Pós-Doutorado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Neurologista Infantil com Certificação em Medicina do Sono pela EPM
Responsável pelo Setor de EEG/Polissonografia do Centro de Atenção à Saúde da Mulher da Universidade Estadual de Campinas (CAISM/UNICAMP)
Neurologista Infantil (AMB/SBP/ABN) do HC-UNICAMP
JEANNE ALVES DE SOUZA MAZZA
Fundadora e Coordenadora do Ambulatório de Neurogenética e Transtornos do Neurodesenvolvimento do Hospital Universitário de Brasília (HUB/UnB)
Preceptora do Programa de Residência Médica de Neurologia Infantil do HUB/UnB
Neurologista Infantil pelo Hospital de Base do Distrito Federal
ALBERTO ROLIM MURO MARTINEZ
Professor Assistente de Neurologia do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista e Neurofisiologista pela UNICAMP
ALFREDO DAMASCENO
Coordenador do Serviço de Neuroimunologia do Departamento de Neurologia da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Doutorado e Pós-Doutorado em Ciências Médicas/Neurologia UNICAMP
ANA TERESA VILLAÇA LOTFI
Mestrado em Ciências Médicas pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista Infantil pela UNICAMP
ANAMARLI NUCCI
Professora Livre-Docente de Neurologia do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista e Neurofisiologista pela UNICAMP
ANDREI FERNANDES JOAQUIM
Professor Livre-Docente e Chefe da Disciplina de Neurocirurgia, Departamento de Neurologia da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurocirurgião do Centro Infantil Boldrini – Campinas, SP
ANNA ELISA SCOTONI
Mestrado em Neurociências e Doutorado em Ciências Médicas pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Especialista em Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo e Neurologia Infantil pela UNICAMP
BIANCA GOMES WANDERLEY
Residente de Neurocirurgia da Universidade de Campinas (UNICAMP)
CAMILA FERNANDA LOPES SALLA
Mestrado em Ciências Médicas pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista Infantil pela UNICAMP
CARLOS EDUARDO VASCONCELOS MIRANDA
Neurocirurgião pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
CAROLINA CAMARGO DE OLIVEIRA
Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade São Francisco
Mestre pelo Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médica da Universidade de Campinas (FCM/UNICAMP)
Fisioterapeuta pela Universidade de São Paulo (USP)
CÁSSIO EDUARDO RAPOSO DO AMARAL
Cirurgião Plástico do Hospital de Crânio e Face SOBRAPAR – Campinas, SP
Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP)
Titular da Associação Brasileira de Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial (ABCCMF)
CÉSAR AUGUSTO RAPOSO DO AMARAL
Cirurgião Plástico do Hospital de Crânio e Face SOBRAPAR – Campinas, SP
Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP)
Titular da Associação Brasileira de Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial (ABCCMF)
CHARLINGTON MOREIRA CAVALCANTE
Neurologista Infantil pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurofisiologista Clínico
Mestre em Ciências Médicas pela UNICAMP
CLEITON FORMENTIN
Neurocirurgião e Doutorado pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Fellow em Endoscopia de Base de Crânio Associação Brasileira de Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial –Universidade de Pittsburgh
Fellow em Neurocirurgia Oncológica – SNOLA
CONCEIÇÃO CAMPANÁRIO DA SILVA PEREIRA
Doutoranda pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
Mestrado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Neurologista Infantil pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
CYNTHIA BONILHA
Doutorado em Ciências Médicas pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Professora - Faculdade São Leopoldo Mandic – Campinas, SP
Neurologista Infantil pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP
DANILO DE ASSIS PEREIRA
Professor de Neurologia Infantil da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Mestre em Educação nas Profissões da Saúde da PUC-SP
Neurologista Infantil pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
DANILO DOS SANTOS SILVA
Doutorado em Ciências Médicas pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Fellowship em Neurovascular, Neurointensivismo e Doppler Transcraniano pela UNICAMP
Neurologista pela UNICAMP
EDILSON ZANCANELLA
Professor Colaborador, Coordenador do Serviço de Distúrbios do Sono do Instituto de Otorrinolaringologia Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade de Campinas (IOU/UNICAMP)
Mestrado pela Universidade de São Paulo (USP)
Doutorado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Pós-Doutorado pela UNICAMP
ELIZABETH B. QUAGLIATO
Professora Assistente de Neurologia, Departamento de Neurologia da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista e Eletrofisiologista (Potenciais Evocados) na Clínica Quagliato
ENRICO GHIZONI
Professor Livre-Docente de Neurocirurgia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Visiting Professor of Pediatric Neurosurgery of the Kaiser Permanente Hospital
FABIANO REIS
Professor Associado do Departamento de Anestesiologia, Oncologia e Radiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (FCM-UNICAMP)
Livre-Docente em Neurorradiologia da FCM-UNICAMP
Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR)
FELIPE FRANCO DA GRAÇA
Médico Assistente do Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN)
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica (SBNC)
FELIPE VON GLENH
Professor Adjunto de Neurologia da Faculdade de Medicina da UNB
Pós-Doutor em Neuroimunologia pela Harvard Medical School
Mestrado e Doutorado em Ciências Médicas, Concentração em Neurologia pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
FERNANDO CENDES
Professor Titular do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista e Neurofisiologista pela UNICAMP
GABRIEL DE DEUS VIEIRA
Neurologista pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Neuroimunologista pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Doutorando em Ciências Médicas na UNICAMP
GERALDO MAGELA FERNANDES
Professor Adjunto da Área de Medicina da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da UnB
Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da UnB
Pediatra e Neonatologista pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
GERUZA PERLATO BELLA
Doutorado em Ciências da Cirurgia pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Mestre em Fisiologia pelo Instituto de Biologia da UNICAMP
Fisioterapeuta do Serviço de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Hospital das Clínicas da UNICAMP
HUMBERTO BELÉM DE AQUINO
Doutorado em Ciências Médicas pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Fellowship em Neurocirurgia Pediátrica no Primary Children Medical Center – Utah University –Salt Lake City/USA
Pós-Graduação em Neurociências no Instituto de Ensino e Pesquisa Albert Einstein
INGRID FABER DE VASCONCELLOS
Doutorado em Ciências Médicas pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista da UNICAMP
Neurologista e Neurofisiologista do Hospital Universitário de Brasília/UnB
ISADORA DE OLIVEIRA CAVALCANTE
Supervisora do Programa de Residência Médica em Neurologia Pediátrica do Hospital Universitário de Brasília da Universidade de Brasília (UnB)
Pediatra e Neurologista Infantil pela UnB
Médica pela Universidade Federal de Goiás (UFG)
ISCIA LOPES CENDES
Professora Titular de Genética Médica e Medicina Genômica do Departamento de Medicina
Translacional da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (UNICAMP) e do Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia de Campinas, SP
JAENE ANDRADE PACHECO AMORAS
Preceptora do Programa de Residência Médica em Neurologia Pediátrica do Hospital Universitário de Brasília da Universidade de Brasília (UnB)
Neurologista Infantil do Hospital Universitário de Brasília da UnB
JAMIL PEDRO DE SIQUEIRA CALDAS
Professor Associado do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (FCM-UNICAMP)
Diretor do Serviço de Neonatologia do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti do Centro de Atenção à Mulher (CAISM) da UNICAMP
Membro do Grupo Executivo de Programa de Reanimação Neonatal da Soeciedade Brasileira de Pediatria (SBP)
JANAÍNA APARECIDA DE OLIVEIRA AUGUSTO
Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
Doutoranda em Ciências do Desenvolvimento Humano pela UPM
Especialista em Neuropsicologia pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
JEAN-PIERRE LIN
Neurologista Infantil, Evelina London Children’s Hospital, Guy’s St Thomas Hospital NHS Trust
Honorary Reader Faculty of Life Sciences and Medicine (FoLSM), King’s College London, UK
JOÃO PEDRO LEITE PEREIRA
Neurocirurgião pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Fellow em Cirurgia de Epilepsia pela UNICAMP
Graduação em Medicina pela Universidade de Brasília (UnB)
JOSÉ ALFREDO LACERDA DE JESUS
Professor Adjunto da Área de Medicina da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB)
Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da UnB
Pós-Doc nas Universidades Livre de Bruxelas e NOVA Medical School de Lisboa
JULIANA PASTANA RAMOS DE FREITAS
Professora Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual do Pará (UEPA)
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI)
Neurologista Infantil pela Universidade de Brasílica (UnB|)
KARINA NASCIMENTO COSTA
Professora Associada da Área de Medicina da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB)
Doutora em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina da UnB
KARINE TEIXEIRA
Chefe do Ambulatório de Doença Neurodegenerativas do Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Mestrado em Ciências Médicas pela UNICAMP
Médica Assistente da Disciplina de Neurologia Infantil, Departamento de Neurologia da UNICAMP
KARLA MARIA IBRAIM DA FREIRIA ELIAS
Mestrado e Doutorado em Ciências Biomédicas pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Fonoaudióloga da Associação Paparella de Otorrinolaringologia – Ribeirão Preto, SP
Especialista em Distúrbios da Comunicação Humana/Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
KÊNNEA MARTINS ALMEIDA AYUPE
Professor Adjunto da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB)
Pós-Doutorado em Ciência da Reabilitação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Doutorado em Ciência da Reabilitação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
LAURA GOMES VALLI
Neurologista Infantil e Neurofisiologista da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Pós-Graduanda em Neurociências pela Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP
LAURA SILVEIRA-MORIYAMA
Professora Livre-Docente do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Honorary Clinical Lecturer, UCL Queen Square Institute of Neurology
LÍVIA LUCENA DE MEDEIROS CAPELATTO
Doutorado em Ciências Médicas pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista Infantil e Neurofisiologista pela UNICAMP
Títulos de Especialista em Pediatria (SBP) e Neurologia Infantil (AMB, ABN)
LUCIANA ARRUDA CARRIÇO
Neurologista Infantil e Neurofisiologista pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
LUÍSA SILVA WITZEL DA COSTA AMORIM
Neurologista Infantil pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre
Pediatra pela Universidade de Brasília (UnB)
MAGDA LAHORGUE NUNES
Professora Titular de Neurologia do Núcleo de Neurociências da Escola de Medicina da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Coordenadora do Laboratório de Processamento de Sinais Biomédicos do InsCer
Doutorado em Neurociências pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
MARCO ANTÔNIO ARRUDA
Professor Colaborador da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Doutor em Neurologia pela Universidade de São Paulo (USP)
Neurologista Infantil, Membro Titular da ABN
MARCONDES CAVALCANTE FRANÇA JR.
Professor Livre-Docente de Neurologia do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista e Neurofisiologista pela UNICAMP
MARIANA RABELO
Doutoranda pelo Programa de Fisiopatologia Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas ( FCM/UNICAMP)
Membro Titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN)
Residência Médica em Neurologia e Neurofisiologia Clínica pela UNICAMP
MARIA AUGUSTA MONTENEGRO
Clinical Professor Department of Neurosciences Rady Children’s Hospital, University of California San Diego
Neurologista Infantil e Neurofisiologista pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
MARIA ISABEL C. R. MORAIS JACINI
Graduação em Medicina pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista Infantil pela UNICAMP
Mestre em Ciências Médicas pela FCM-UNICAMP
MARIA LUIZA BENEVIDES
Doutora em Neurociência Translacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Neurologista Infantil pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI)
MARIA VALERIANA LEME DE MOURA-RIBEIRO
Professora Titular de Neurologia Infantil da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Professor-Associada da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP)
MARIELI TIMPANI BUSSI
Mestranda em Serviço Distúrbios do Sono pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Fonoaudióloga
Certificação em Fonoaudiologia do Sono/ABMS
MARILISA MANTOVANI GUERREIRO
Professora Titular de Neurologia Infantil do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista Infantil e Neurofisiologista pela UNICAMP
MARINA JUNQUEIRA AIROLDI
Mestrado em Ciências Médicas pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Doutoranda pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Fisioterapeuta
MARTA RODRIGUES DE CARVALHO
Mestrado em Ciências Médicas pela Universidade de Brasília (UnB)
Neurologista pelo Hospital de Base de Brasília
Neurofisiologia Clínica pelo Hospital Universitário da UnB
MATHEUS ROCHA PEREIRA KLETTENBERG
Responsável pelo Ambulatório de Doenças Neurovasculares do Hospital da Criança de Brasília José Alencar
Neurologista Infantil pela Universidade de Brasília (UnB)
Consultor Técnico em Neurologia Infantil da Secretaria de Saúde do Governo do Distrito Federal
MEIMEI GUIMARÃES JUNQUEIRA DE QUEIRÓS
Professor Adjunto da Área de Medicina da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB)
Doutorado em Alergia e Imunologia Clínica pela Universidade Federal de Uberlândia
Título de Especialista em Terapia Intensiva em Pediatria
MILA CUNHA
Mestrado em Serviço Distúrbios do Sono pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Fisioterapeuta
Certificação em Fisioterapia do Sono/ABMS
MÔNICA APARECIDA PESSOTO
Professora Doutora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (UNICAMP) e da Divisão de Neonatologia do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti - CAISM/UNICAMP
Coordenadora do Banco de Leite Humano do CAISM/UNICAMP
Consultora Nacional do Método Canguru da Coordenação de Atenção à Saúde das Crianças, Adolescentes e Jovens do Ministério da Saúde (CGCRIAJ/DGCI/SAPS/MS)
NADSON BRUNO SERRA SANTOS
Doutorando em Fisiopatologia Médica pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Fellow em Doenças Neurogenéticas e Neuromusculares pela UNICAMP
Neurologista pela UNICAMP
PATRÍCIA DUMKE DA SILVA MÖLLER
Responsável pelo Ambulatório de Transtornos do Movimento Pediátricos do Hospital da Criança de Brasília José Alencar
Neurologista Infantil pela Universidade de Brasília (UnB)
Pediatra pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
PAULA MARIA PRETO MIMURA
Professora da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Sorocaba (PUC Sorocaba)
Mestre em Ciências Médicas pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Neurologista Infantil e Neurofisiologista pela UNICAMP
PAULO AFONSO MEI
Professor Associado de Neurologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí
Doutorado em Neurociências pela Universidade de Campinas (UNICAMP)/Universidade de Cambridge, Reino Unido
Neurologista e Neurofisiologista pela UNICAMP
PAULO EMÍDIO LOBÃO CUNHA
Supervisor do Programa de Residência Médica em Neurofisiologia Clínica da UnB
Neurologista Infantil e Neurofisiologista Clínico pela Universidade de São Paulo (USP)
Membro do Departamento Científico de Neurologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)
RACHID MARWAN PINHEIRO SOUSA
Título de Especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pelo CBR
Radiologista pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (UNICAMP)
Fellow de Neurorradiologia da FCM-UNICAMP
RENATA CRISTINA FRANZON BONATTI
Professora Associada de Neurologia do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Neurologista Infantil e Neurofisiologista pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
RENATO ARRUDA
Mestrado, Danish Headache Center, University of Copenhagen
Neurologista, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP)
Graduação em Medicina pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
RÔMULO AUGUSTO ANDRADE DE ALMEIDA
Pesquisador do Departamento de Neurocirurgia do MD Anderson Cancer Center (Houston, Texas) Neurocirurgião pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
RONAN JOSÉ VIEIRA NETO
Fellowship em AVC na Infância e Adolescência pelo Hospital for Sick Children de Toronto
Residência em Neurologia pela Universidade de Campinas (UNICAMP) Especialização em Neurologia Pediátrica pela UNICAMP
SABRINA VECHINI GOUVÊA
Neurologista
Fellow em Distúrbios do Movimento, Departamento de Neurologia, Faculdade de Ciências Médica da Universidade de Campinas (UNICAMP)
SÉRGIO TADEU MARTINS MARBA
Professor Titular do Departamento de Pediatria da Universidade de Campinas (UNICAMP) e da Divisão de Neonatologia do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti –CAISM/UNICAMP
Membro do Grupo Executivo e Instrutor do Programa de Reanimação Neonatal da SBP e da SPSP Consultor Neonatal e do Método Canguru da Coordenação – Geral de Atenção à Saúde das Crianças, Adolescentes e Jovens do Ministério da Saúde (CGCRIAJ/DGCI/SAPS/MS)
SIMONE APARECIDA CAPELLINI
Professora Titular do Departamento de Fonoaudiologia e dos Programas de Pós-Graduação em Educação e em Fonoaudiologia da Faculdade de Filosofia e Ciências – FFC/UNESP – Marília, SP
Coordenadora do Laboratório de Investigação dos Desvios da Aprendizagem (LIDA) do Departamento de Fonoaudiologia – FFC/UNESP – Marília, SP
Doutorado pela Faculdade de Ciências Médicas pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
TAMIRIS CARNEIRO MARIANO
Neurologista Infantil pela Universidade de Brasília (UnB)
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil
Diretora do Departamento de Neurologia Infantil da Sociedade Cearense de Neurologia e Neurocirurgia (Socenne)
TANIA APARECIDA MARCHIORI
Docente do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (FACM-UNICAMP)
Neurologista e Neurofisiologista
Especialista em Medicina do Sono
VALÉRIA PAES LIMA
Professora Adjunta da Área de Doenças Infecciosas da Universidade de Brasília (UnB)
Médica Infectologista da UnB
VICTOR ALVES RODRIGUES
Residência Médica em Neurologia Infantil pelo Hospital Universitário de Brasília (UnB)
Residência Médica em Pediatra pelo Hospital Universitário Clemente de Farias/Universidade
Estadual de Montes Claros
WALTER LUIZ MAGALHÃES FERNANDES
Docente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina UNIVAS
Residência em Neurologia Infantil pela Universidade de Campinas (UNICAMP)
Residência em Pediatria pelo Hospital de Clínicas Samuel Libânio – UNIVAS
Jeanne
Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler Ana Carolina Coan
Lisiane
Ana Carolina Coan Lisiane Seguti Ferreira
Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler Jeanne Alves de Souza Mazza
Maria Augusta Montenegro Lívia Lucena de Medeiros Capelatto Luciana Arruda Carriço
Maria Luiza Benevides
França
Felipe Franco da Graça Cynthia Bonilha Marcondes Cavalcante França Jr.
Anamarli Nucci
Renato Arruda Lisiane Seguti Ferreira
Juliana Pastana Ramos de Freitas Lisiane Seguti Ferreira
Mônica Aparecida Pessoto Jamil Pedro de Siqueira Caldas
Sérgio Tadeu Martins Marba Marina Junqueira Airold
Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler
Ronan José Vieira Neto Maria Valeriana Leme de Moura-Ribeiro
Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler
Carolina Camargo de Oliveira
Karla Maria Ibraim da Freiria Elias
Janaína Aparecida de Oliveira Augusto
Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler Danilo dos Santos
Enrico Ghizoni Cássio Eduardo Raposo do Amaral César Augusto
Humberto
Ghizoni Cleiton Formentin
Bianca Gomes Wanderley Enrico Ghizoni Andrei Fernandes Joaquim
Karina Nascimento Costa Geraldo Magela Fernandes José Alfredo Lacerda de Jesus
Magda Lahorgue Nunes Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler
Karina Nascimento Costa Geraldo Magela Fernandes José Alfredo Lacerda de Jesus
PARTE IX ENCEFALOPATIAS CRÔNICAS NÃO PROGRESSIVAS 29 PARALISIA CEREBRAL: DEFINIÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ....
Laura Silveira-Moriyama Sabrina Vechini Gouvêa Geruza Perlato Bella Jean-Pierre Lin
30 TRATAMENTO DAS INCAPACIDADES RELACIONADAS COM A PARALISIA CEREBRAL ...
Patricia Dumke da Silva Möller Kênnea Martins Almeida Ayupe
PARTE X
31 TRANSTORNO ESPECÍFICO DA APRENDIZAGEM ........................................................
Simone Aparecida Capellini Maria Isabel C. R. Morais Jacini Jeanne Alves de Souza Mazza
32 TRANSTORNO DO
Maria Luiza Benevides Marco Antônio Arruda
33 TRANSTORNO DO ESPECTRO DO
Jeanne Alves de Souza Mazza Walter Luiz Magalhães
Jaene Andrade Pachêco Amoras Danilo de Assis Pereira Jeanne Alves de Souza Mazza 35 TRANSTORNOS
Jeanne Alves de Souza Mazza Victor Alves Rodrigues Simone Aparecida Capellini
Laura Silveira-Moriyama Elizabeth B. Quagliato
Laura Silveira-Moriyama Sabrina Vechini Gouvêa Geruza Perlato Bella
Charlington Moreira Cavalcante Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler
CRIANÇA
Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler 40
Charlington Moreira Cavalcante Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler
Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzle Paulo Afonso Mei Tânia Aparecida Marchiori
Paulo Afonso Mei Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler
Edilson Zancanella Marieli Timpani Bussi Mila Cunha
Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler
Isadora de Oliveira Cavalcante Felipe Von Glenh
Lisiane Seguti Ferreira
Tamiris Carneiro Mariano Jeanne Alves de Souza Mazza
Alves de Souza Mazza
Lívia Lucena de Medeiros Capelatto Lisiane Seguti Ferreira Ana Carolina Coan
56
Paulo Emidio Lobão Cunha Renata Cristina Franzon Bonatti
João Pedro Leite Pereira Enrico Ghizoni
Rômulo Augusto Andrade de Almeida Enrico Ghizoni Andrei Fernandes Joaquim
Paulo Emidio Lobão Cunha Meimei Guimarães Junqueira de Queirós Lisiane Seguti Ferreira
Fabiano Reis Rachid Marwan Pinheiro Sousa Fernando Cendes
Iscia Lopes Cendes
Lisiane Seguti Ferreira Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler
23-3
Jeanne Alves de Souza Mazza Lisiane Seguti Ferreira
Katia Maria Ribeiro Silva Schmutzler Ana Carolina Coan
Apesar dos avanços atuais significativos nas áreas de neurofisiologia, neuroimagem e neurogenética, a semiologia clínica continua sendo a ferramenta diagnóstica mais importante para pacientes neurológicos. 1,2 A utilização de exames complementares, quando necessária, deve sempre ser orientada por uma abordagem inicial criteriosa e atuará como um complemento da propedêutica principal que é a anamnese e o exame neurológico. 2
A avaliação clínica da criança exige habilidades como sensibilidade, atenção e paciência e pode ser desafiadora, pois no geral o informante é um terceiro (pais, avós, cuidadores) que nem sempre sabe relatar as informações mais importantes ao contexto clínico.1,3,4 Um complicador particular na semiologia neurológica infantojuvenil é que, em cada etapa do crescimento e do desenvolvimento, o sistema nervoso se altera, modificando seu comportamento, seu físico e por conseguinte a sua sintomatologia.2,3,5-8
A qualidade de uma boa história clínica depende tanto do informante (memória, cooperação) quanto das habilidades médicas para ajustar a abordagem à dinâmica familiar, garantindo um processo confortável para a criança e seus cuidadores.7 Também é fundamental entender que a semiologia não se limita apenas à coleta de informações clínicas, mas envolve a observação das relações e dos comportamentos do paciente/cuidador, o reconhecimento de sinais não verbais e a criação de um ambiente que facilite a comunicação e o detalhamento da queixa.3,7,9
Em suma, a anamnese neurológica completa e minuciosa é o passo mais importante na semiologia neurológica infantojuvenil. Neste capítulo, focaremos nesta etapa, que deve ser conduzida de maneira sistemática e abrangente, objetivando caracterizar a evolução dos sintomas que levaram à consulta, os antecedentes fisiológicos e familiares, além de especificar o desenvolvimento do paciente até o momento. Todo esse processo, juntamente com um exame neurológico preciso, é crucial para identificar possíveis diagnósticos sindrômicos, topográficos e etiológicos, bem como orientar as decisões subsequentes.10
Segue uma sugestão de roteiro para uma anamnese neurológica infantil completa:
Identificação do Paciente
Nome, data de nascimento, sexo, raça, naturalidade, procedência, endereço, telefone. Nome e ocupação dos cuidadores.
• As informações básicas ajudam a contextualizar o paciente e podem indicar predisposições a certas condições. Os dados de contato permitem acesso mais rápido com o paciente ou familiar. E informes sobre os cuidadores permitem adaptar o vocabulário para uma comunicação mais adequada.9
Descrição do sintoma principal: solicitar ao cuidador que fale o principal problema de maneira clara e objetiva (o que trouxe o paciente a esta consulta).
História
Traçar uma linha evolutiva do início dos sintomas até a consulta, explorando as informações:9
Início dos sintomas: quando e como os sintomas começaram; se foi súbito, agudo (horas), subagudo (dias), insidioso (semanas, meses).3,11
Evolução dos sintomas: como têm progredido ao longo do tempo (melhora, piora, oscila).
Localização: onde exatamente os sintomas são sentidos (cabeça, tronco, membros).
Qualidade dos sintomas: descrição detalhada (p. ex., dor: em aperto, pulsátil, latejante).
Intensidade, duração, frequência: intensidade dos sintomas em uma escala de 1 a 10; duração de cada sintoma/episódio; se a frequência é constante ou periódica (p. ex., diária, 2×/semana, 4×/mês); predomínio em algum horário específico.
Fatores desencadeantes e aliviadores: o que parece piorar ou melhorar os sintomas; se há períodos de exacerbação.
Sintomas associados: outros sintomas que apareceram juntamente com a queixa principal ou após instalação do quadro.
Tratamento prévio: se já procurou outros especialistas e quais condutas foram tomadas; se fez ou está fazendo algum tratamento para esse fim e qual foi a resposta terapêutica.
1. Antecedente gestacional: idade dos pais na concepção.
Pais acima de 35 anos de idade predispõem a prole a risco maior de doenças genéticas e maior índice de doenças neuropsiquiátricas.12
2. Histórico materno: número de gestações, abortos, prematuridade, óbitos neonatais.
3. Perinatal do paciente: se a gravidez foi planejada, desejada e se fez pré-natal completo (número de consultas), sorologias, vacinas. Interrogar se apresentou gestoses: infecções (período da gestação, quais, uso de antibiótico, complicações). Presença de diabetes, hipertensão/DHEG, sangramentos, perda de líquido, acidentes, traumas. Movimentos fetais. Uso de teratógenos: medicamentos controlados, tabagismo, álcool, drogas ilícitas.
Parto: apresentação (cefálica, pélvica, córmica); tipo (vaginal, cesárea, fórceps), tempo de bolsa rota, se mecônio, parto prolongado. Idade gestacional ao nascer; se adequado para idade gestacional (AIG), PIG ou GIG; peso, comprimento, perímetro cefálico (PC), apgar; se necessitou reanimação. Grupo sanguíneo Mãe/RN.
Intercorrências no berçário: interrogar sobre hipoglicemia, icterícia, necessidade de UTIN (unidade de terapia intensiva neonatal), incubadora, oxigenioterapia (qual método e por quanto tempo cada); se necessitou de HV, alimentação suplementar (oral, por sonda orogástrica, nutrição parenteral), fototerapia (idade, por quanto tempo), exsanguinotransfusão. E se teve infecções, convulsões, apneias ou outras complicações. Qual período de internação da criança e da mãe. Resultado de testes de triagem neonatal.
4. Aleitamento materno: sim ou não. Qual foi o tempo total da amamentação e o quanto deste tempo foi exclusivo. E como foi o desmame.
5. DNPM (desenvolvimento neuropsicomotor):7 registrar a idade em que apresentou cada marco de desenvolvimento. No Quadro 1-1, segue o teste de triagem de desenvolvimento Denver II (TTDD-II) com a idade em que o marco é alcançado.8,10,13
Quadro 1-1. Marcos motores do desenvolvimento X idade que a criança executa13
Controle cervical (firma o pescoço) 2,5 meses 3,7 meses
Segura objetos 3,3 meses 3,9 meses Rola na cama 3,2 meses
Senta-se sem apoio 5,9 meses 6,8 meses
Fica em pé com apoio 7,2 meses 8,5 meses
Arrasta ou engatinha*8,10 6,5 meses 9 meses
Pega com o polegar e o indicador (pinça) 8,2 meses 10,2 meses
Fica em pé sozinha (10 s) 11 meses 13,9 meses
Abaixa-se (cócoras) e levanta-se sem apoio 12,2 meses 14,6 meses
Anda independente 12,3 meses 14,9 meses;
Anda para trás, sem cair 13,5 meses 16,9 meses
Corre bem, quase sem cair 15,10 meses 19,9 meses
Sobe escadas com apoio 16,6 meses 21,6 meses
Chuta bola sem apoio 17,1 meses 23,2 meses
Pula no mesmo lugar (apoio bipodal) 23,8 meses 28,8 meses
Salta pequeno obstáculo 31 meses 36 meses
Copia um círculo e desenha pessoas com 2 a 4 partes10 40 meses 48 meses
Pula com um pé só e alterna (apoio unipodal) 43 meses 50,4 meses (2 pulos) 60 meses (5 metros)
Marcha em tandem: ponta-calcanhar 55 meses 68,4 meses
*Engatinhar não é universal, pois muitos bebês não passam por essa etapa, por isso, muitos estudiosos não o consideram um marco de desenvolvimento. No entanto, bebês que engatinham tornam-se mais sensíveis ao lugar onde os objetos estão e isto os ajuda a avaliar distâncias e a perceber profundidade.8 Interrogar se ele apresentou essa etapa, se foi um engatinhar típico (apoio nos quatro membros) ou atípico (p. ex., puxando uma perna, quadril para cima, arrastando-se com o bumbum ou barriga, para trás).
Interrogar: se a criança cansa muito rápido, se é desastrada, incoordenada, se derruba muito os objetos, se tropeça frequentemente, se tem dificuldade para correr.
Perguntar: quando se deu o controle dos esfíncteres: vesical diurno: até 36 meses; anal: 48 meses; noturno: 60 meses;
• Doenças neuromusculares: podem ter atraso em todos os marcos motores, associado a fadiga fácil, intolerância a exercícios, mialgias, disfunção cardiorrespiratória. Em casos mais sutis o comprometimento é principalmente para agachar-se, correr, e subir/descer escadas.
• Transtornos do neurodesenvolvimento (TND): podem apresentar atrasos ou dificuldade nos marcos motores, assim como dificuldades com controle de esfíncteres, sendo mais comum no transtorno do espectro autista (TEA) e no transtorno do desenvolvimento intelectual (TDI): e o atraso é diretamente proporcional à gravidade.
• TDAH, superdotação, altas habilidades: frequentemente não apresentam o engatinhar – bebês podem perceber que é mais rápido andar que engatinhar e “pulam” esta fase.
• TEA: costuma engatinhar de forma atípica e ter dificuldade com triciclo, bicicleta. Pode ter “pausas” no desenvolvimento (p. ex., anda, mas cai ou esbarra em algo e passa semanas para voltar a andar). É comum também, apresentar tropeços, derrubar objetos, bem como atrasos para cortar com tesoura, arremessar, chutar, equilíbrio estático e dinâmico; todavia, estas alterações podem ocorrer, em menor intensidade, em todos os TND.
5.1 Linguagem: considera-se fala a expressão de uma palavra não imediatamente repetida e intencionalmente direcionada a alguém ou alguma coisa. Estudos dos últimos 30 anos evidenciaram que bebês, desde o nascimento, pensam, sentem, agem, comunicam-se e interagem. E sabe-se que as relações sociais e afetivas precoces interferem em todo desenvolvimento posterior da criança.3,5,8 No Quadro 1-2 estão descritos os marcos de linguagem e socioafetivos das crianças.
Registrar em meses que idade apresentou:
Interrogar: se criança atende 100% das vezes que é chamada (em até três chamados). Isso é esperado num neurotípico até 9-10 meses de idade, mesmo sendo chamado por um estranho, com a criança de costas e brincando.
Indagar sobre a linguagem expressiva da criança, se é fluente, se tem trocas fonológicas; se apresenta ecolalia imediata (repetição imediata do que foi pronunciado), ecolalia tardia (repetir discurso de outro, vozes e frases de personagens, slogans). E se relata fatos vivenciados, conta histórias. E como é a linguagem receptiva (a compreensão), se precisa repetir as informações, ou fornecer pistas; ou se a criança apresenta idiossincrasias (responde algo que não foi perguntado, ou faz intervenção fora de contexto).
Perguntar sobre o uso de chupeta ou se chupou o dedo; especificar qual deles e até que idade.2,3,8
1. Déficits auditivos: crianças comumente apresentam atrasos de fala e não respondem ao chamado do nome, assim como em alguns TND mais graves, no entanto os marcos de apontar, usar gestos, socializar (sorriso, contato visual, compartilhar atenção), intenção comunicativa e brincar de faz de conta, estão todos preservados.
Quadro 1-2. Marcos neuropsíquicos X idade que a criança executa5,8,10,11,13
Marcos da comunicação, linguagem e psicossocial 50% das crianças 90% das crianças
Observa um rosto13 Ao nascimento (termo) Ao nascimento
Presta atenção a som do ambiente, vozes5,8 Nascimento 1 mês
Mantém contato visual5 1 mês 2 meses
Sorriso social espontâneo13 1 mês 2,1 meses
Vocaliza (vogais, gutural)13 2,5 meses 3,7 meses
Volta-se para o chamado (+ de conhecidos)13 3,3 meses 6,6 meses
Atenção compartilhada8 6 meses 9 meses
Balbucio (sílabas)8 6 meses 10 meses
Atende sempre ao chamado do nome (mesmo estranhos)3,8 9 meses 11 meses
Apontar imperativo (pedir)3,8,10 9 meses 11,9 meses
Primeiras palavras10,13 9,4 meses 12 meses
Dá tchau se despedindo13 8 meses 14 meses
Usa gestos sociais8 12 meses 14 meses
Brinca de “faz de conta”3,8 12 meses 18 meses
Apontar declarativo (mostra algo: lua, avião)3,8 12 meses 16 meses
Frases com significado13 18 meses 25,2 meses
Fala até 1.000 palavras; 80% inteligível8
Fala corretamente, sem erros8
2. TEA: no autismo praticamente todos os marcos descritos no Quadro 1-2 estarão atrasados, ou serão atípicos, ou não ocorrerão espontaneamente (só após estímulos/intervenções). E mesmo os que desenvolvem linguagem com inúmeras palavras antes de 2 anos, não é comunicativa (que seria: chamar alguém, conversar, explicar) e sim nomeativa: nomear números, alfabeto, cores, animais.
5.2 Sensorial: perguntar se a criança apresenta importante incômodo ou fascínio por barulhos, objetos luminosos, pisca-pisca, objetos girando. Se costuma cheirar tudo que pega ou não parece sentir odores agradáveis/desagradáveis. Leva à boca todos os objetos. Incômodo com toques, carinhos, lavar cabelo, cortar unhas; ou necessidade constante de estar passando a mão em texturas, segurando algum objeto ou alguém.
• TEA: comumente apresenta mais de uma disfunção sensorial, também denominada transtorno de integração sensorial, que frequentemente causa desequilíbrio emocional. Estas disfunções também podem ocorrer, geralmente menos desregulatórias, em pacientes prematuros (principalmente nascidos com menos de 32 semanas de IG),14 assim como em pacientes com deficiência intelectual; e mais rara e em menor intensidade, nos outros transtornos de neurodesenvolvimento.
5.3 Interação social: socializa-se bem com crianças, adultos, conhecidos e estranhos. E se prefere brincar com crianças da sua idade, mais novas, mais velhas; ou prefere brincar sozinho. E se consegue brincar com seus pares, sabe compartilhar brinquedos, brincadeiras. Se compartilha objetos, alimentos e interesses com a família. Se a criança somente brinca se for “do jeito dela”, caso contrário se zanga, chora, grita, agride. Se apresenta heteroagressividade verbal e/ou física (que tipo, com quem). Presença ou não de autolesão.
6. História vacinal: atualizada ou vacinas atrasadas, reações adversas.
7. Revisão de sistemas:4
Alimentação: adequada, aceita frutas e verduras, come bem comida de sal. Se paciente é seletivo, repetitivo. Se experimenta novos alimentos, tem interesse em participar da cena familiar (sentar à mesa com a família na hora das refeições), se tem incômodo em segurar alimentos (frutas, biscoitos) ou com texturas alimentares (pastosos, secos, molhados).
Sintomas gerais: febre, fadiga, tonturas, déficit de crescimento, perda/ganho de peso.
Sistema gastrointestinal: engasgos, náuseas, vômitos, constipação, dor abdominal, diarreia, dificuldade de ganho ponderal.
Aparelho respiratório: dispneia, tosse, dor torácica, coriza, obstrução nasal.
Aparelho geniturinário: enurese noturna, incontinência urinária, polaciúria.
Alterações cutâneas: manchas hipo ou hipercrômicas, hemangioma, fibromas.
Sistema sensorial: queixas visuais, visão dupla, uso de óculos; déficit auditivo.
Cardiovascular: dor torácica, palpitações, cianose, dispneia aos esforços.
Antecedentes Patológicos Pregressos3,4,7,9
Interrogar sobre: internações, cirurgias, traumas, doenças crônicas. Caso de adolescentes deve questionar sobre uso de álcool, tabaco, cigarro eletrônico, drogas ilícitas e hábitos sexuais.10
1. Medicações em uso: medicações atuais e de uso crônico – tempo de uso, horários.
2. Alergias: medicamentos, alimentos ou outras substâncias.
Antecedentes Familiares3,4,7,9
História de consanguinidade entre os pais (qual parentesco).
• Quanto mais próximo for a relação parental maior a chance de compartilhar genes de doenças de herança autossômica recessiva, bem como a expressão dos distúrbios poligênicos.12
Casos semelhantes na família, se for positivo indagar sobre a evolução clínica.
Casos na família de:3 doenças crônicas, epilepsia, transtorno de aprendizagem, TDAH, autismo, doenças hereditárias, deficiência intelectual, tiques, AVC, esclerose múltipla. bem como, sobre doenças psiquiátricas: ansiedade, depressão, bipolaridade, esquizofrenia; casos de suicídio.
1. Escolaridade: quando iniciou, como foi a adaptação inicial. Série/ano atual; se consegue acompanhar a turma ou apresenta queixas escolares: dificuldade na leitura, escrita, matemática ou em todas as áreas. Se tem desatenção, distração, inquietação, hiperatividade, agitação psicomotora. Se levanta frequentemente na hora da aula para tomar água ou ir ao banheiro, tem conversas paralelas ou intervenções inadequadas
na hora da aula. Perguntar se o paciente consegue fazer os deveres de casa sozinho ou necessita de ajuda, se necessita de reforço escolar. E se costuma ir e voltar da escola tranquilamente.
Caso tenha havido mudança ou regressão no aprendizado (em criança previamente neurotípica), excluir diagnóstico de transtornos regressivos como: erro inato do metabolismo, leucodistrofias. E se a mudança tiver componente comportamental importante – ou exclusivo –, considerar possibilidade de bullying.
2. Sono: interrogar se ainda tem cochilo diurno (tempo total) e sobre o sono noturno (hora que costuma dormir e acordar). Como é o padrão de sono: tranquilo, agitado, mexe a noite toda, tem despertares noturnos. Se apresenta parassonias (sonilóquio, sonambulismo, enurese, pesadelos, terror noturno); ou movimentos relacionados com o sono (bruxismo, pernas inquietas). Se paciente dorme sozinho na cama, no quarto.
3. Atividades extraclasse: indagar quais realiza, reforço escolar e/ou terapias (quais e que frequência). Se o esporte é somente no ambiente escolar, ou pratica outro esporte em grupo (futebol, basquete) ou individual (natação, artes marciais, dança) e qual frequência.
4. Tempo total de telas (incluindo celular, tablet, videogame, TV):
A utilização precoce e por tempo prolongado de telas está associada a impaciência, imediatismo, impulsividade, problemas de socialização, transtornos de linguagem, dificuldades escolares, transtornos de sono, ansiosos e depressivos, problemas auditivos (por uso de headphones), problemas visuais, problemas posturais, lesões por esforço repetitivo. E caso esse uso seja livre, sem censuras e sem respeitar sua faixa etária, o paciente encontra-se em alto risco de exposição à pornografia, violência extrema, mutilações, “brincadeiras e desafios” que pode culminar em danos físicos e/ou psicológicos graves, incluindo coma e óbito. Bem como estará mais sujeito a compra e uso de drogas e a sofrer cyberbullying, abuso sexual, entre outros.7
5. Atividades de vida diária (AVDs) = atividades de autocuidados (Quadro 1-3): interrogar se o paciente tem autonomia para realizar (sem ajuda ou direcionamento) os autocuidados.
Indagar: se a criança tem autossuficiência para realizar (sem auxílio ou supervisão): tomar banho, lavar cabelo, pentear-se. Se identifica se a roupa está pelo avesso; define frente/trás; reconhece direita/esquerda. Amarra sapatos, arruma seus brinquedos, pertences, quarto; ajuda nas tarefas domésticas.
Quadro 1-3. Autonomia para as AVDs X idade que a criança executa (ttDD-II)13
Autocuidados
das crianças 90% das crianças
Coloca na boca alimento oferecido (fruta, biscoito) 4,8 meses 6,5 meses
Bebe em copo ou xícara e derrama menos da metade 8,8 meses 17,1 meses
Ajuda em tarefas simples (jogar no lixo, guardar brinquedos) 12,8 meses 19,9 meses
Usa colher/garfo derramando pouco 3,3 meses 3,9 meses
Retira vestimenta/calçado 13,3 meses 23,9 meses
Veste-se (com supervisão) 20,5 meses 28 meses
Escova os dentes com ajuda 16,1 meses 32,4 meses
Veste uma camiseta, sem ajuda 27,6 meses 40,8 meses
Veste e calça tudo, sem ajuda (exceto cadarço, zíper, botões) 36 meses 54 meses
Escova dentes sem supervisão 31,2 meses 60 meses
Perguntar se necessita de lembretes ou supervisão (total ou parcial) para poder fazê-las; ou se é mais lento para realizar alguma dessas tarefas.
• Criança neurotípica: deseja e consegue realizar todas as AVDs até os 5 anos de idade, exceto dar um laço no tênis, que pode desenvolver-se até os 6-7 anos. Crianças com transtornos de neurodesenvolvimento, em especial o TDI e mais acentuadamente o TEA, apresentam dificuldade e imaturidade, por isso aceitam (e alguns casos até necessitam) ajuda e intervenção dos cuidadores nos autocuidados por muito mais tempo. Isso resulta em déficits de habilidades manuais (como disgrafia e dificuldade com a letra cursiva e equilíbrio). Por isso, sentem-se incapazes, são mais dependentes e imaturos em relação aos pares, o que pode favorecer explorações e bullying.
• Avaliar a rotina diária da criança, o tipo de disciplina em casa, o acesso a recreações e atividades extracurriculares, e a exposição à tecnologia que contribuem significativamente para a compreensão do bem-estar físico e emocional da criança, influenciando diretamente o planejamento do tratamento e as recomendações de cuidados.4
1. História de formação da família/relacionamentos familiares: relacionamento dos pais e familiares entre si e com a criança. Averiguar: principal cuidador, se os pais convivem com a criança, ou são separados; com quem a criança mora, em que cidades a família residiu.
2. Condições de moradia: número de moradores na casa, número de cômodos, se tem saneamento básico. Animais de estimação: se criança gosta, cuida.
Roteiro inicial dirigida às queixas mais comuns na neurologia infantil abaixo:
1. Cefaleia: há quanto tempo, qual a localização, frequência (semanal, mensal), duração da dor, características da dor (em pontada, pulsátil, em peso, em aperto/constrição, latejante, lancinante, como uma “facada ou furada”), intensidade em uma escala de 1 a 10. Fatores precipitantes (jejum, alimentos, atividade física, ciclo menstrual, privação de sono, exposição solar), fatores que pioram ou aliviam a dor (luz, som, silêncio, dormir). Uso de analgésicos e outras medicações ou tratamentos realizados. 2,6
2 Crises epilépticas: caracterizar tipo de crise, duração, sintomas pré e pós-crise, número de episódios; se alteração de consciência ou não (disperceptiva ou perceptiva). E se foi associada a febre, traumatismo, intoxicações, infecções. Investigar se após o início das crises houve indícios de involução neurológica (regressão da linguagem, aparecimento de déficit motor, déficit de memória, prejuízo cognitivo).2,11
3. Desmaio, síncope, tontura, vertigem: primeiro vamos caracterizar resumidamente esses termos clínicos: Desmaio: perda rápida da consciência por qualquer motivo. Síncope: tipo específico de desmaio causado por uma redução temporária do fluxo sanguíneo cerebral, ou queda da saturação de oxigênio, ou as duas; resultando em perda de consciência (sinal: pele fria e pálida).2 Tontura: sensação de desequilíbrio corporal, uma instabilidade que pode ser do tipo rotatória ou não. Vertigem: tontura do tipo rotatório caracterizadas pela ilusão de que o ambiente está se movendo ao seu redor, ou vice-versa. Deve-se descrever minuciosamente os episódios e caracterizá-los em
relação ao início (idade/tempo), número de episódios, duração, frequência, posição ou decúbito do paciente no início do quadro. Fatores precipitantes, sintomas associados. Tratamentos prévios, uso de fármacos e suas doses.2,6
4. Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor: interrogar se é desde o nascimento (de partida) ou após período de DNPM normal. Se o comprometimento é parcial ou global: motor, linguagem, social, cognição (memória, aprendizado, pensamento, atenção), afetivo, e/ou comportamental (de humor, de conduta). Em caso de regressão se foi progressivo ou súbito, se teve relação com alguma condição (estado comatoso, cirurgia/anestesia, infecção, vacinação).2 Problemas relacionados com o desenvolvimento e comportamento acometem até 20% a 25% das crianças pequenas e, se não detectados e tratados, poderão evoluir para transtornos graves.11
5. Alteração do perímetro craniano: deformidades cranianas, microcefalia, macrocrania, com ou sem hidrocefalia. Interrogar se a alteração foi pré-natal (congênita) ou pós-natal. Microcefalia: investigar se intercorrências perinatais, sorologias (descartar infecções congênitas); se há história sugestiva de síndrome álcool-fetal ou uso de teratógenos; outros sinais clínicos, dismorfias, déficit auditivo, visual. Macrocefalia: interrogar sobre história familiar de macrocrania, síndromes neurocutâneas ou genéticas, sinais de hipertensão intracraniana, regressão do DNPM. 11
6. Fraqueza muscular: interrogar sobre consaguinidade, abortamentos, RCIU; hipotonia, fraqueza muscular, atraso motor, dificuldades alimentares e respiratórias, choro fraco, dificuldade para se levantar (quando deitada, sentada), distúrbios sensoriais, déficits de nervos cranianos, ptose, atrofia muscular, fenômeno miotônico, miocardiopatia ou distúrbio de ritmo, anormalidades osteoesqueléticas, contraturas e retrações musculares.1,8,11,12
7. Dificuldade escolar – avaliar as causas:
Deficiência auditiva: muito mais frequente em crianças que necessitaram cuidados de UTI no período neonatal quando houver suspeita, solicitar audiometria tonal e vocal, imitanciometria, BERA ou encaminhar para otorrinolaringologia.
Deficiência visual: e quando houver suspeita encaminhar para oftalmologia.
Deficiência intelectual: anamnese com antecedentes pré-natais, marcos do desenvolvimento neuropsicomotor e genético (ver Capítulo 34)
A diagnose neurológica é baseada em três pilares: diagnósticos sindrômico, topográfico e etiológico. Por isso, quando se avalia um paciente com suspeita de comprometimento neurológico a anamnese deve ser minuciosa, para que os dados obtidos possam ser utilizados na formação desses três aspectos.
E cada um desses aspectos aborda uma dimensão diferente do diagnóstico, ajudando a compreender a apresentação clínica, a localização da lesão e a causa subjacente.9 Tentar pular etapas para tentar chegar imediatamente ao diagnóstico pode levar a resultados insatisfatórios e exames complementares desnecessários.2
Refere-se ao conjunto de sinais e sintomas que se agrupam de forma consistente, indicando um padrão clínico específico (Quadro 1-4).
Quadro 1-4. Diagnósticos sindrômicos X algumas características clínicas2,6,11
Síndromes Características
Neurônio motor superior, piramidal: liberação/ deficitária
Neurônio motor inferior ou hipotônica
Extrapiramidal ou discinética
Meningítica (irritação meningorradicular)
Cerebelar ou atáxica
Nervos cranianos
Bulbar ou pseudobulbar
Neuropática (motora e/ou sensitiva)
Miopática
Epiléptica
Hipertensão intracraniana
Paresia ou paralisia muscular com hipertonia apendicular, hipotonia axial, hiper-reflexia, sinal de Babinski e seus sucedâneos (Hoffman e trömner), arreflexia cutaneobdominal, clônus, sinal do canivete2,6
Paralisia flácida, fraqueza muscular proximal, atrofia muscular, hipo ou arreflexia profunda, fasciculação, posição de batráquio1,2,11
Distúrbios do movimento em excesso (hipercinesias: tremor, coreia, distonia, acatisia) ou diminuídos (hipo, bradi ou acinesias)2,11
Cefaleia, febre, vômitos, alteração da consciência, fotofobia e sinais meningorradiculares: rigidez de nuca, Brudzinski, Kernig, Lasègue11
Marcha com base alargada, disartria, dismetria, disdiadococinesia, decomposição dos movimentos, nistagmo, tremor intencional2,11
Oftalmoplegias ou paresias, alteração: da mímica e da sensibilidade facial, auditiva, da fonação, deglutição, movimentação da língua etc.
Disfonia, disartria, disfagia, dispneia. Pode ocorrer por disfunção do bulbo ou vias próprias do bulbo. Quando ocorre por lesão da via cortinuclear, que inerva o bulbo, usa-se o termo pseudobulbar
Mais comum: fraqueza muscular distal ascendente, simétrica, distribuição “em bota e luva” com hiporreflexia, câimbras, atrofia muscular; dor neuropática, parestesia, perda sensorial1,2,6,12
Hiperlordose lombar, báscula da bacia durante a marcha, dificuldade para subir escadas, ptose, dificuldade de deglutição, miotonias1,2,11,12
Abalos simétricos ou assimétricos (clônica); perda súbita do tônus muscular (atônica); atividade motora +/- coordenada (automatismos), alterações autonômicas (autonômica); flexão e/ou extensão súbita dos músculos proximais e tronco (espasmos); contração(ões) súbita(s), breve, involuntária, única/múltipla (mioclônicas); Início súbito, interrupção das atividades em curso, olhar vazio (ausência)11
Cefaleia (clássica: pior no período matutino, com melhora ao longo do dia). Vômito: pode ou não ser em jato (precedido por náuseas); papiledema (fundoscopia); distúrbios de nervos cranianos (mais comum, disfunção do VI nervo); crises epilépticas, alterações comportamentais e do nível de consciência (agitação até coma)2,11
Atraso do DNPM de partida; ou regressão
Cognitiva-comportamental
Déficits congênitos ou regressivos em uma ou todas as áreas: motora, linguagem, social, intelectual, comportamental2,3,11
Alterações congênitas, agudas ou progressivas de: atenção, funções executivas, afetivas, sociais, de memória, perceptomotor e emoções3
Dismórfica ou genética Dismorfias, malformações, comprometimento de vários órgãos12
Infecciosa
Febre, cefaleia, irritabilidade, confusão mental, crises epilépticas, alterações comportamentais, disfunções sensoriais/motoras e de fala2 (Continua)
Quadro 1-4. (Cont.) Diagnósticos sindrômicos X algumas características clínicas2,6,11
Síndromes
Desmielinizante
Neurocutânea
Álgica
Disautonômica
Rebaixamento do nível de consciência
Características
Disfunções aguda ou subagudas: motoras, sensitivas, visuais, autonômicas, linguagem. Encefalopatia, ataxia, crises epilépticas2
Alterações de pele + neurológicas + tendências a hiperplasias12
Dor localizada, irradiada ou generalizada em segmento ou órgão6
Disfunção esfincteriana, sexual, gastrintestinais, de sudorese, tonturas, síncopes, labilidade da PA, frequência cardíaca, termorregulação2,6
Diminuição, ou ausência, de resposta aos estímulos externos, que pode manifestar-se como: sonolência, obnubilação, torpor ou coma6
DNPM: Desenvolvimento neuropsicomotor.
Diagnósticos Topográficos
Os diagnósticos topográficos referem-se à localização anatômica da lesão dentro do sistema nervoso. Exemplos incluem:
1. Córtex cerebral.
2. Tronco cerebral.
3. Cerebelo.
4. Núcleos da base.
5. Nervos cranianos.
6. Medula espinhal.
7. Sistema nervoso periférico.
8. Sistema nervoso autônomo (simpático/parassimpático).
9. Sistema neurovascular.
10. Junção neuromuscular (mioneural).
11. Muscular (miopático).
Diagnósticos Etiológicos
Os diagnósticos etiológicos referem-se às causas subjacentes das patologias neurológicas. Exemplos incluem:
1. Infeccioso: meningite, encefalite, abscesso cerebral.
2. Inflamatório/autoimune: esclerose múltipla, Guillain-Barré, vasculites cerebrais.
3. Congênito: malformações cerebrais, espinha bífida, hidrocefalia congênita.
4. Genético/hereditário: doença de Huntington, ataxia de Friedreich, distrofias musculares.
5. Metabólico/tóxico: encefalopatia hepática, neuropatias diabéticas, por metais pesados.
6. Traumático: traumatismo cranioencefálico (TCE), lesão medular.
7. Neoplásico: tumores cerebrais primários, metástases.
8. Vascular: acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico ou hemorrágico.
9. Degenerativo: doença de Alzheimer, de Parkinson, esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Durante a anamnese neurológica infantojuvenil, ocorre o primeiro contato com o paciente e a oportunidade de estabelecer confiança e empatia com ele e sua família. Nesse momento, é possível observar a dinâmica familiar e as condições sociais e emocionais que influenciam a saúde deste indivíduo. A caracterização dos sintomas é essencial para orientar o pensamento clínico, direcionar o exame físico e permitir a elucidação diagnóstica. Portanto, a qualidade dessa anamnese é a base fundamental para um diagnóstico preciso, uma condução adequada e um plano terapêutico eficaz.
A anamnese neurológica em crianças e adolescentes é a pedra angular para a avaliação e o diagnóstico de distúrbios neurológicos e variantes do desenvolvimento neuropsicomotor, orientando tanto o exame físico quanto a escolha de exames complementares.
Esta etapa deve ser realizada de forma sistemática, visando detalhar a evolução dos sintomas que motivaram a consulta, investigar os antecedentes fisiológicos e familiares, e descrever o desenvolvimento do paciente até o presente momento.
Um desafio significativo na neurologia infantil é a constante mudança no sistema nervoso e no comportamento infantojuvenil, conforme progride seu desenvolvimento, demandando do examinador perspicácia e cuidado para interpretar adequadamente esses novos achados.
Informações fornecidas pelos cuidadores podem ser insuficientes ou imprecisas, e a falta de colaboração ou de comunicação verbal das crianças exige do médico paciência e sensibilidade para adaptar sua abordagem a cada situação.
A semiologia neurológica fundamenta-se em três pilares: o diagnóstico sindrômico, topográfico e etiológico. Cada um aborda uma dimensão distinta, ajudando a entender a apresentação clínica, a localização da lesão e a elucidar a causa subjacente.
Uma anamnese criteriosa é essencial para desenvolver todos esses aspectos; ignorar etapas pode levar a diagnósticos incorretos e à realização de exames desnecessários.
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A conduta clínica diária em Neurologia Infantil, tanto em ambientes hospitalares (pronto-socorro, enfermaria, UTIs) quanto em contextos ambulatoriais.
Nesta quarta edição de Condutas em Neurologia Infantil, a colaboração entre duas importantes instituições, Unicamp e UnB, permitiu a atualização de grande parte dos tópicos das edições anteriores. Esta nova edição reforça a importância da semiologia como base, aprofunda diversos temas e inclui conteúdos inéditos, especialmente nas áreas de neurogenética e transtornos do neurodesenvolvimento, refletindo de forma mais precisa a prática clínica atual da especialidade.
Organizado em tópicos e com uma abordagem prática, o principal objetivo deste livro é apoiar a conduta clínica diária em Neurologia Infantil, tanto em ambientes hospitalares (pronto-socorro, enfermaria, UTIs) quanto em contextos ambulatoriais. Sem a pretensão de esgotar os temas abordados, sua finalidade é oferecer orientações iniciais e guiar o manejo de casos neurológicos na faixa etária infantojuvenil. Trata-se de um livro de consulta pensado para integrar o dia a dia dos profissionais, como uma ponte entre o que a teoria ensina e o que a prática revela e exige.
Destinado principalmente a neurologistas infantis, pediatras, neurologistas e neurocirurgiões, também é de interesse para estudantes de graduação e pósgraduação em Medicina, bem como para profissionais de outras áreas da saúde, que buscam uma fonte de aprendizado nesse campo científico tão vasto quanto desafiador.
ISBN 978-65-5572-315-1
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