Candido Portinari no Ensino em Saúde
Luiza Otero Villela
Ana Paula de J. F. Fernandes
Yohana Sotero B. de Amorim
Ana Luisa Rocha Mallet
Luiza Otero Villela
Ana Paula de J. F. Fernandes
Yohana Sotero B. de Amorim
Ana Luisa Rocha Mallet
Médica pela Universidade Estácio de Sá – IDOMED
Bolsista de Iniciação Científica–PIBIC/ RJ
Monitora do Grupo Humanidades, Medicina e Ar te e do L aboratório de Habilidades do Curso de Medicina da Universidade Estácio de Sá – IDOMED Poeta e Escritora. Participante do Grupo NarrHr te, de Medicina Narrativa a
Enfermeira
Especialista em Enfermagem do Trabalho pela São Camilo, SP
Médica pela Universidade Estácio de Sá – IDOMED
Bolsista de Iniciação Científica–PIBIC/ RJ
Monitora do Grupo Humanidades, Medicina e Ar te e da Disciplina Saúde da Família do Cur so de Medicina da Universidade Estácio de Sá – IDOMED
Acadêmica de Medicina do 10º Período da Universidade
Estácio de Sá – IDOMED
Bolsista de Iniciação Científica–PIBIC/ RJ
Monitora do Grupo Humanidades, Medicina e Ar te e Monitora de Anatomia e Habilidades do Curso de Medicina da Universidade
Estácio de Sá – IDOMED
Presidente da Liga Acadêmica de Gastroenterologia e Cirurgia Digestiva da Universidade Estácio de Sá - DigES (2022)
Mestre e Doutora em Cardiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Médica do Hospital de Bonsucesso e da UFRJ
Professora do Curso de Medicina da Estácio – IDOMED
Graduação em Literaturas de Língua Inglesa e Pós-Doutora em Literatura
Comparada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)
Participante dos grupos "Ar te na Veia" (UFRJ), "Humanidades, Medicina e Ar te" (Universidade Estácio de Sá – IDOMED) e "NarrHar te", de Medicina
Narrativa
Luiza Otero Villela
Ana Paula de JFFernandes ..
Yohana Sotero B de Amorim .
Ana Luisa Rocha Mallet
T hieme
Rio de Janeiro• Stut tgar t• New York•Delhi
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)
C217
Candido Portinari no ensino em saúde/Luiza Otero Villela... [et al.]. – Rio de Janeiro, RJ: Thieme Revinter, 2023.
14 x 21 cm
Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-5572-222-2
eISBN 978-65-5572-223-9
1. Portinari, Cândido, 1903-1962. 2. Medicina – Estudo e ensino. I. Villela, Luiza Otero. II. Fernandes, Ana Paula de Jesus Ferreira. III. Amorim, Yohana Sotero Barbosa de. IV. Mallet, Ana Luisa Rocha.
CDD 371.334
Elaborado por Maurício Amormino Júnior –
CRB6/2422
Contato: Luiza Otero Villela luizaotero9@gmail.com
© 2023 Thieme. All rights reserved.
Thieme Revinter Publicações Ltda. Rua do Matoso, 170 Rio de Janeiro, RJ CEP 20270-135, Brasil http://www.ThiemeRevinter.com.br
Thieme USA http://www.thieme.com
Design de Capa: © Thieme Créditos Imagem da Capa: Candido Portinari –O Menino com o Pássaro
Impresso no Brasil por Forma Certa Gráfica Digital Ltda. 5 4 3 2 1
ISBN 978-65-5572-222-2
Também disponível como eBook: eISBN 978-65-5572-223-9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida por nenhum meio, impresso, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização por escrito.
Àqueles que continuam acreditando que as Artes contribuem para uma formação humanística tão necessária a todos nós.
E a João Candido Portinari, que tem sido incansável na divulgação da obra de seu pai, um dos maiores artistas brasileiros, permitindo que essa riqueza seja compartilhada com aqueles muitas vezes excluídos dessa possibilidade.
Temáticas e emoções podem ser acessadas pelas artes. Muitas vezes, a arte nos permite acessar sensações que sabemos que existem, mas com as quais ainda não entramos em contato e, não fossem as representações artísticas, talvez, jamais tivéssemos a oportunidade de vivenciá-las.
“Não sabíamos que sabíamos” (Mia Couto)
Mia Couto, grande escritor e biólogo moçambicano, em seu livro “E se Obama fosse africano”, faz uma de suas mais belas metáforas ao falar das “línguas que não sabemos que sabíamos”, uma língua que, segundo ele, não é falável, que é múltipla, que nem sempre é capturável pela lógica racionalista, que é cega, em que todas as coisas podem ter todos os nomes – línguas que não apenas “servem”, mas transcendem essa dimensão, elas “fazem-nos ser”.
Também o encontro clínico é um momento de comunicação onde precisamos traduzir em correspondentes clínicos (sinais e sintomas) o falar dos pacientes para chegar às hipóteses diagnósticas – meta essa que não deveria ser alvo único. Outrossim, a tradução ipsis litteris para o “idioma médico” por vezes não é exitosa.
Exprimir da forma mais próxima da fidedigna exige escuta atenta, empática, conectada e uma dose de criatividade, para que sejam “lidas” as sutilezas das subjetividades trazidas pela pessoa que busca o atendimento de saúde, sem a necessidade da tradução literal.
A assistência fornecida por máquinas e a frieza humana podem-se instalar no processo de adoecimento e afastar o cuidado. A pessoa doente perde suas vestes nos hospitais, deixa de ser vista por seus entes, perde adereços, e, muitas vezes, perde também nome, identidade. Vira doença, vira número de leito, estatística.
As dores, os odores, os sons, o urrar não verbal e o calar tornam o adoecer um aprendizado particular que todo médico deverá vivenciar em maior ou menor grau a depender de sua especialidade ou linha de atuação, mas (futuros) profissionais de saúde devem desejar sempre enxergar a pessoa que necessita de seus cuidados. Nem sempre o papel será o de curar, mas de ajudar a caminhar, de cuidar e possibilitar meios de compreensão do adoecer e do estar doente.
A expansão das discussões na Educação em Saúde sobre a necessidade de promover conexões artísticas que aprofundem o contato dos estudantes e profissionais de saúde com a criatividade, a subjetividade e as próprias emoções, nos trouxe à Medicina Narrativa.
A metodologia, desenvolvida por Rita Charon, recorre às artes (literatura, cinema e artes plásticas) em três movimentos: atenção, representação e vinculação com a finalidade de aprimorar a percepção e respeito ao outro e fortalecer os elementos necessários no processo de obtenção de hipóteses diagnósticas e para uma assistência centrada na pessoa, não somente na doença. A partir de um comprometimento contínuo de escuta, “a leitura do paciente” ocorre em seu próprio idioma.
“Estivemos
tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas”.
(Mia Couto)
Por ser uma metodologia internacional, a Medicina Narrativa nem sempre utiliza como estimuladoras da narrativa obras relacionadas às especificidades do nosso país, o que nos levou a Portinari, pintor do século XX que retratou tão bem a “alma brasileira”. Reconhecido como “o pintor social”, ele mostrava na composição de cores a pobreza, as dificuldades e as dores de seu povo. O Projeto Portinari foi iniciado, em 1979, pelo filho do pintor, João Candido Portinari, que percebeu que a maioria das obras de seu pai eram inacessíveis ao público geral. Esse projeto consistiu em um resgate sistemático e minucioso da vida e obra de Candido Portinari, buscando democratizar o acesso a essas informações catalogando mais de 5 mil pinturas, desenhos e gravuras, bem como 25 mil documentos sobre a sua obra e vida, além do processamento digital e a organização de todos os dados sobre o artista.
Outra ferramenta fundamental foi a parceria pioneira do Projeto Portinari com a plataforma Google Arts & Culture. Juntos, colocaram à disposição do público obras e documentos do artista, em ordem cronológica e por predominância de cor.
Somado a isso, ferramentas digitais, ArtCamera e Street View, na casa do artista em Brodowski – SP, permitem também a visualização de detalhes em alta resolução, ampliando o acesso às produções artísticas do ilustre Brodosquiano.
O artista das cores era ainda poeta, autor de diversos poemas reunidos pela Fundação Nacional de Artes (FUNARTE) em um livro ilustrado com suas obras. Acreditamos que, por meio das Artes, podemos aperfeiçoar nossa capacidade de escuta e, como Portinari, contar também com as palavras e desenhar todas as cores das dores, alegrias e memórias trazidas pelos pacientes.
Durante um ano (2021/2022), estivemos em contato com a obra de Portinari, sempre desenvolvendo pequenas narrativas e considerando a possibilidade de sua utilização em oficinas de Medicina Narrativa, especialmente, para profissionais da área de saúde, com ênfase na graduação médica. Esperamos que o resultado seja capaz de estimular esse objetivo.
“Quanta coisa eu contaria se pudesse, e se soubesse ao menos a língua, como a cor”.
(Portinari)
Este livro me impressiona por muitos motivos. Um deles, talvez não o mais importante, mas possivelmente o mais tocante, é termos aqui um trabalho de arte e poesia, autorado por médicas!
Médicas que, já por esta aqui demonstrada porosa e sensível humanidade, encarnam o sonho de qualquer paciente…”
João
Candido Portinari
Em um encontro com o grupo Humanidades, Medicina e Arte (HUMA) da Universidade Estácio de Sá, Campus Vista Carioca – RJ, João Candido Portinari, filho de Candido Portinari, percorreu a história e as obras do pai destacando o seu legado ético e humanista. Ao mostrar, em forma de arte, a pluralidade do povo brasileiro, tão cara à prática médica nas assistências integral e universal no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), abordou o tema: “A compaixão na obra de Portinari.”
A partir daí, as monitoras do HUMA, acadêmicas de Medicina da Universidade Estácio de Sá, foram instigadas a se aprofundarem na vida e obra do grande artista brasileiro. Em julho de 2021, o estudo tornou-se um projeto de Iniciação Científica (PIBIC-UNESA). As estudantes e a orientadora iniciaram as leituras dos livros: “Portinari na coleção Castro Maya” organizada pelo Museu do Estado do Pará – Belém e Museu Inimá de Paula – Belo Horizonte; “Poemas de Portinari” organizado pela Fundação Nacional de Artes, do “Catálogo Raisonné” – organizado pelo Projeto Portinari e do catálogo on-line.
Em setembro de 2021, o grupo inscreveu-se no 59º Congresso Brasileiro de Educação Médica (COBEM) para apresentação de pôster intitulado “Vida e Obra de Candido Portinari e sua aplicabilidade na Educação Médica”, sendo reconhecido entre as melhores apresentações em sua categoria e recebendo menção honrosa na ocasião pelo desempenho.
Em 2022, o grupo colaborou com um capítulo do livro: “Reflexões e inovações multidisciplinares em saúde no século XXI” com a mesma temática. Ainda nesse ano, o trabalho foi apresentado no XIII Seminário de Pesquisa da UNESA (IDOMED) e na X Jornada Científica da Universidade Estácio de Sá –PIBIC/UNESA.
Este livro foi pensado a partir dos exercícios de Medicina Narrativa inspirados em algumas obras de Portinari. Para sua elaboração, foram realizadas reuniões semanais das alunas com a orientadora em que se exercitou a Medicina Narrativa após a análise de obras de Portinari com limitação de tempo entre cinco e oito minutos para a conclusão da criação textual. Alguns dos textos foram escritos simultaneamente durante os encontros, outros em momentos assíncronos anteriormente acordados.
A metodologia de escrita variou praticamente em dois aspectos. Aleatoriamente, algumas obras foram analisadas em grupo. Nesses casos, discutia-se sobre as personagens retratadas, as cores utilizadas e sobre suas relações com a prática médica momentos antes da produção dos textos. Em um dos casos, por exemplo, uma das alunas contou a história de um paciente atendido por ela no internato de medicina que faleceu como indigente. Citou então o documentário de Débora Diniz, chamado “Solitário anônimo”. Essa associação fez
com que as participantes optassem por usar essa temática como disparador (estimulador). Já em outras ocasiões, os textos foram escritos sem o uso de qualquer disparador que pudesse dar um direcionamento específico para a obra em análise ou para as histórias e sentimentos suscitados durante a contemplação da arte selecionada, evitando uma linha uníssona de pensamento. Individualmente, cada autora tinha o tempo de até 8 minutos para escrever e, em outro momento, as narrativas foram lidas. Cada autora apontava qual era seu desejo de expressão textual, e cada ouvinte indicava sua interpretação. No decorrer do livro, as narrativas serão apontadas como 1, 2, 3 e 4, sendo escritas por Luiza Otero Villela, Ana Luisa Rocha Mallet, Ana Paula de Jesus Ferreira Fernandes, Yohana Sotero Barbosa de Amorim, respectivamente. Além dos exercícios de Medicina Narrativa, a partir do contato com as obras de Portinari, foram elaboradas também releituras instigadas através do diálogo entre a realidade retratada e os contextos vivenciados pelas estudantes de medicina.
A concretização desse projeto de Iniciação Científica não seria possível sem o trabalho incansável de João Candido Portinari que mantém o legado de seu pai por meio de seu compromisso com a preservação e aprimoramento de formas de acesso universal às grandiosas obras de Portinari. João, que certa vez escreveu ao pai: “como disse Jorge Amado, ‘de tuas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança de nossa gente’, por que tua obra continua escondida dessa mesma gente?” Com sua feição gentil, genuinamente democratizou o acesso às preciosas obras de seu pai, eternizando em pinceladas coloridas as memórias do nosso povo, da nossa terra e produzindo frutos diários que afloram os questionamentos sobre as inquietações sociais ano após ano. Especialmente em duas ocasiões João Candido Portinari abordou questões que muito se relacionam ao tema que tentamos tratar nesse livro: a primeira, em 6/02/2020, pouco antes do início da pandemia, com o tema “O sofrimento humano na obra de Portinari”, realizada no Hospital Samaritano (disponível em https://vimeo.com/389887176); a segunda na aula inaugural do Centro-Técnico Científico da PUC-Rio, em 23/03/3023, com o título “Celebrando 44 anos de integração entre ciência, tecnologia, arte e cultura com o Projeto Portinari. Um trabalho de amor e técnica” (disponível em https://m. youtube.com/watch?v=b9I-icvjU2I&feature=youtu.be ) Agradecemos ao grupo Humanidades, Medicina e Arte, berço profícuo para o desenvolvimento de habilidades humanísticas e científicas fundamentais à prática médica e à Universidade Estácio de Sá por dar espaço e visibilidade à temática dentro de um projeto de Iniciação Científica (UNESA/PIBIC).
"... uma pintura que não fala ao coração não é arte, porque só ele a entende. Só o coração nos poderá tornar melhores, e é esta a grande função da arte..."
Candido Portinari foi um dos mais expressivos artistas do século XX. Sua obra retratou fiel e afetivamente a realidade do povo brasileiro, continuando muito atual.
A partir de um programa de Iniciação Científica da Faculdade de Medicina da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, foram realizados exercícios narrativos que dialogaram com algumas das obras do artista. Acreditamos que a expansão dessa experiência, inclusive em ambientes de Graduação, possa contribuir para uma maior aproximação e entendimento dos profissionais de saúde daqueles por eles atendidos, muitas vezes com realidades tão distintas e tão bem retratadas por Portinari.
ISBN 978-65-5572-222-2