Exposição Arte por Toda Parte

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SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 12/8/2013

Cartografia do Abismo: Antonin Artaud sem as propostas do teatro da crueldade? Luciano da Matta / Ag. A TARDE

Eduarda Uzêda euzedaluna@gmail. com

O espetáculo Cartografia do Abismo, o primeiro solo do ator Caio Rodrigo (Pólvora e Poesia) 12 anos de carreira, se propõe a estabelecer um diálogo sobre a obra do ator, diretor, poeta e teórico francês Antonin Artaud (1896 -1948), que teve diversas releituras e reinterpretações por parte de grupos, principalmente a partir da década de 60. Com direção de Luís Alonso (Outra Tempestade) a montagem traz compilação de vários textos de Artaud: O Teatro e seu Duplo, Van Gogh, o Suicidado Pela Sociedade, Linguagem e Vida, Eis Antonin Artaud, Carta Aberta... aos Poderes, entre outros e citações do intérprete. O solo, adaptado por Caio Rodrigo e Hilda Nascimento, tem como mérito trazer ao público aspectos da vida do autor, refletir sobre loucura e lucidez, ficção e realidade atual, civilização e natureza, além, é claro, de poder constituído e intolerância e mostrar a poética do autor, um ícone do teatro do século 20.

Experimentação

Teatro da crueldade

O maior equívoco é que o espetáculo que fala sobre Artaud não aprofunda em termos de encenação, pressupostos básicos do teatro da crueldade, conjunto de ideias teatrais propostas pelo ator francês, que rejeita as características de teatro tradicional, a racionalidade da sociedade ocidental e que serviu de referência ao Living Theatre, a Peter Brook, ao happening, ao Teatro Oficina e até ao Théâtre du Soleil. Artaud defendia um teatro ritualístico, re (sacralizado), capaz de abalar o espectador, não mais no nível do intelecto, mas

O espetáculo Cartografia do Abismo, com Caio Rodrigues em seu primeiro solo, poderia apostar mais nas sensações do que no discurso

O diretor Luís Alonso não teme arriscar e acerta no tempo do espetáculo (enxuto) e na atmosfera sombria

O equívoco é que o espetáculo sobre Artaud não aprofund a, em cena, pressupostos básicos do teatro da crueldade Mila Cordeiro / Ag. A TARDE

Saguão de A TARDE abrigará, até o dia 30 de setembro, as principais obras do artista plástico baiano

Antonio Carlos Rebouças participa em A TARDE do projeto Arte por Toda a Parte THUANNE SILVA

Composta por 18 obras, a mostra do artista plástico baiano Antonio Carlos Rebouças fica exposta até o dia 30 de setembro, no hall de A TARDE, pelo projeto Arte por Toda a Parte. A exposição faz um passeio pela carreira do artista, cujo trabalho é composto por telas e esculturas. “É um apanhado de tudo que eu fiz nos últimos 20 anos”, revela Rebouças sobre a mostra.

Obras

Em seus quadros, o artista autodidata opta pelo expressionismo. “É a técnica na qual eu me encontro melhor”, comenta. Essa opção é justificada pela sua inquietude, que também é refletida nesse tipo de expressão artística. Além disso, suas obras são figurativas e abstratas. As temáticas abordadas por Rebouças nas telas estão ligadas à cultura negra, como a música e a religião, além de fazer referências a habitações em suas obras, remetendo à infân-

ator Caio Rodrigo, há incômodo, mas este desconforto, infelizmente, não se alastra). E mais: o intérprete investe num emaranhado de textos quando o modelo artaudiano rejeita a supremacia das palavras. Artaud defende a interação entre atores e espectadores e o fim da divisão entre palco e plateia. Em Cartografia do Abismo, a interação entre ator e público é mínima e há delimitação clara no espaço entre palco e plateia. São contradições.

cia humilde que teve. Para isso, utiliza técnicas mistas, acrílico sobre tela e acrílico sobre eucatex. Nas esculturas, o artista se inspira no corpo feminino e utiliza elementos químicos como resina e poliéster, agregando materiais como pó de pedra, gesso e mármore.

Carreira

Durante muitos anos, Antonio Carlos Rebouças trabalhou em polo petroquímico. Ele utiliza da experiência com materiais e composições químicas para a criação de suas obras, principalmente das esculturas.

As temáticas abordadas por Rebouças estão ligadas à cultura negra, como a música e a religião

Seu contato com a arte começou cedo, na infância, como aluno da Escola Parque. Lá foi despertado para as artes plásticas. Entretanto, apenas no final dos anos 80 que Antonio, estimulado pelos artistas baianos Joaquim Pedroso e Waldo Robatto, resolveu investir na arte profissionalmente. “A arte foi uma cura. Ela me abriu caminhos e ajudou com problemas pelos quais eu passei. Foi um vetor de desenvolvimento social em minha vida”, diz o artista plástico.. “Fico muito feliz pelo jornal A TARDE disponibilizar um espaço para que os artistas baianos possam expor seus trabalhos”, afirma. Nomes como Leonel Mattos e Ricardo Franco o influenciam. Além de exposições na cidade, o artista plástico já participou de mostras na França e Itália. EXPOSIÇÃO ANTONIO CARLOS REBOUÇAS / DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA, DAS 9H AO MEIO-DIA E DAS 14H ÀS 17H / ATÉ DIA 30 DE SETEMBRO NO HALL DE A TARDE / ENTRADA FRANCA

no nível do inconsciente (o modelo artaudiano propõe colocar o espectador em estado de transe). O cruel, neste contexto, diz respeito a abalar as certezas do mundo, exceder os limites. Sim, o ator Caio Rodrigo investe num teatro físico, e a encenação, como defendia Artaud, acontece em espaço teatral e não tradicionaI. Isto é louvável, mas se sente falta do ri-

tualístico, do predomínio das sensações em vez das ideias. (“Proponho um teatro em que as imagens físicas violentas triturem e hipnotizem a sensibilidade do espectador), diz Artaud em O Teatro e seus Duplos. As imagens do espetáculo são belas e inquietantes, mas não chegam a ser chocantes (quando é tirado sangue em cena do

Mas a iniciativa aposta na investigação e experimentação, o que merece aplausos. O diretor cubano Luís Alonso, que não teme arriscar, acerta no tempo do espetáculo (enxuto), na atmosfera sombria, na trilha sonora (ele também assina) que traz Ravel e Debussy e nas imagens que fundem Artaud com Jean Paul Marat (político da Revolução Francesa, morto na banheira e retratado na tela do pintor Jacques-Louis David). Caio Rodrigo é bom ator e utiliza a respiração para exercitar ”a musculatura afetiva”, como preconiza Artaud em O Teatro e seu Duplo, mas penso que, neste espetáculo – em se tratando do teórico francês –, faltou mais provocação, não nas palavras, mas nas sensações para abalar o espectador. O figurino de Hamilton Lima traz retalhos, sinalizando para a fragmentação do pensamento do artista. O cenário de Rodrigo Frota, que casa com a proposta do espetáculo, traz ao palco uma cama e banheira (Artaud foi internado em vários hospitais psiquiátricos). Pedro Dultra utiliza pouca luz, valorizando o universo sombrio do francês. CARTOGRAFIA DO ABISMO / SEX E SÁB, 21H HORAS / CASA 149 (RESTAURANTE LA TAPERIA) / RUA DA PACIÊNCIA 149, RIO VERMELHO / R$ 20 E R$ 10 (MEIA)


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