PROPOSTA DE INTERVENÇÃO URBANA E ARQUITETÔNICA: GLEBA DO LAVAPÉS Arquitetura e Urbanismo Universidade Paulista | Anchieta
Thuany Stephany Barreto da Silva | C39AGC-8
Universidade Paulista Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO URBANA E ARQUITETÔNICA: GLEBA DO LAVAPÉS
Thuany Stephany Barreto da Silva RA: C39AGC-8
Trabalho Final de Graduação apresentado à Universidade
Paulista, para obtenção do título de arquiteta e urbanista.
Orientadora | Fernanda Militelli
São Paulo 2019
Dedico este trabalho à minha mãe que, com muito esforço, carinho e amor, me ajudou a conquistar mais um sonho.
“Um espaço público seguro e não excludente, em todas as suas formas desde os grandiosos até os mais íntimos, é fator essencial para a integração e coesão social. A democracia encontra sua expressão física nos espaços multifuncionais de domínio público, na vitalidade de suas ruas. E no centro de tudo isso está a forma como os edifícios contém ou atuam como pano de fundo para a encenação espontânea e caótica da vida cotidiana.” Richard Rogers
ÍNDICE
Apresentação
Este Trabalho de Conclusão (TC) do curso de Arquitetura e Urbanismo tem como objetivo elaborar uma proposta de intervenção urbana e arquitetônica em um trecho de dois bairros, Cambuci e Liberdade, localizados na região central da cidade de São Paulo. O terreno do projeto está localizado em uma gleba cercada pela Rua do Lavapés, Rua Teixeira Mendes, Rua Junqueira Freire e Rua Otto de Alencar .
trizes do Plano Diretor Estratégico e conceitos desenvolvidos para a melhoria das cidades do mundo. O capítulo 2 apresenta a área de intervenção do trabalho e o diagnóstico realizado em cima dos estudos elaborados. Também apresenta um panorama da ocupação do terreno escolhido para o projeto ao longo dos anos e explica o por quê da escolha
do tema para este trabalho. O 3° capítulo é focado nos estudos de casos que foram utilizados como referência para o projeto arquitetônico. Nele são mostrados os desenhos de cada projeto (plantas e cortes), levantamento de áreas, fotos e uma breve análise sobre o projeto. No capítulo 4 é apresentado todos os parâmetros urbanísticos utilizados para o desenvolvimento do trabalho e o estudo de viabilidade para a ocupação da gleba. Os capítulos 6 e 7 mostram o desenvolvimento do projeto urbano e arquitetônico e o resultado final.
Fonte: Google Maps. Acesso em 08/10/2019.
A proposta do trabalho é promover o adensamento da área e levar vitalidade à região que está sofrendo com a degradação do espaço público e dos edifícios do entorno. Para isso foi proposto o parcelamento deste terreno para permitir a continuidade das vias; a implantação de edifícios com vários usos para diversificar atividades na região; habitação para promover o adensamento do local e realocar a população que vive nos cortiços próximos; e, a implantação de um parque para proporcionar lazer às pessoas e auxiliar na drenagem das águas pluviais da região que sofre com alagamentos em períodos de chuvas intensas. O trabalho está apresentado em 6 capítulos que explicam todo o desenvolvimento da proposta de intervenção urbana e arquitetônica da gleba do Lavapés. No 1° capítulo é abordado o processo de evolução da mancha urbana da cidade de São Paulo e como este processo contribuiu para transformar a cidade em setores fragmentados. Também apresenta estratégias de reversão da situação a partir de dire-
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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1. O processo de urbanização e a RMSP contemporânea
A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) desenvolveu-se a partir das primeiras ferrovias que conectavam a área portuária com os demais munícipios.
São Caetano do Sul e São Bernardo do Campo) e que isso gerou grandes demandas habitacionais devido as ofertas de emprego que atraíram os trabalhadores da metrópole.
“[...] o sistema ferroviário implantado na segunda metade do século XIX no território paulista estava
Com o passar dos anos, a Região Metropolitana de São Paulo começou a sofrer com os proble-
voltado, sobretudo, para o transporte de carga. Mais tarde ganhou características de serviço públi-
mas gerados pelo crescimento das cidades, pois elas foram se expandindo de maneira desordenada e
co, na medida em que se tornou o mais importante meio de transporte de passageiros para os municípios do entorno e mesmo para os bairros mais afastados da cidade [...]” (Meyer, 2013, p.35)
A partir disso, o advento da industrialização contribuiu para o avanço das grandes cidades através do surgimento do automóvel e das indústrias que geravam emprego à população. Por isso vemos
em regiões com necessidades de preservação ambiental. “Nas franjas periféricas distantes, precárias e desvalorizadas no mercado imobiliário, os conflitos
se manifestam entre a preservação ambiental e a demanda por assentamento urbano de população pobre, sem acesso a alternativas habitacionais oferecidas pelo mercado ou pelo Estado, as-
que as pessoas passaram a migrar das áreas rurais para viver nas cidades urbanizadas em busca de
sentando-se de modo precário, irregular, junto aos mananciais e às áreas protegidas, em condi-
oportunidades de trabalho. No caso do estado de São Paulo, essas pessoas foram em direção às áreas
ções de prejuízo ambiental.” (Martins, 2011, p. 63)
centrais da capital e para a região do ABC paulista. Em relação ao centro:
A imagem 1 mostra a expansão da metrópole ao longo dos últimos anos e confirma o que mui-
“Até meados dos anos 1950, o que hoje se denomina centro da cidade era chamado pela popula-
tos pesquisadores, teóricos e profissionais de diversas áreas vêm chamando a atenção para esta ques-
ção de cidade, lugar que concentrava serviços públicos, empregos, comércio, áreas de lazer [...],
tão ao afirmarem que estes acontecimentos são decorrentes da insuficiência de políticas urbanas
bem como os altos prédios [...], além de prédios de instituições públicas [...], em oposição às áreas
(habitacionais, de infraestrutura, etc.) que devem atender a demanda do crescimento da população.
periféricas da cidade onde havia a falta ou precariedade de equipamentos públicos [...].” (Alves, 2011, p. 110)
Ao mesmo tempo que cresceu o número de pessoas vivendo no centro da cidade, o preço da
Imagem 1 - Evolução da área urbanizada - 1949 a 1992
terra aumentou devido à alta valorização do espaço. Assim, começou a surgir a necessidade de expandir este centro para acomodar a população e promover solo urbano mais barato para os novos empreendimentos. “Na década de 1960, [...] a expansão horizontal atingia a escala metropolitana, e nesse contexto a questão do trânsito passa a se configurar de outra forma [...] E é justamente a partir de 1960 que o sistema viário principal vai ser ampliado significativamente, ganhando uma estrutura com nível crescente de integração, abrangendo toda a região central da mancha urbana.” (Rolnik; Klintowitz, 2011, p. 94)
O espraiamento urbano e a crescente dependência dos automóveis aumentaram a demanda da
infraestrutura viária para que os habitantes fizessem seus deslocamentos. Foram implantadas diversas estruturas viárias que fazem a ligação do município de São Paulo e os municípios externos, sendo algumas rodovias, Anchieta, Imigrantes, Régis Bittencourt, Bandeirantes, e, avenidas, Marginal do Rio Tietê, do Estado, das Nações Unidas, entre outras. Meyer (2013, p. 36) aponta que o Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitscheck em 1950 foi fator principal para a constituição da Grande São Paulo, pois a concentração de investimentos na região levou à instalação de indústrias do setor automobilístico na região do ABC paulista (Santo André,
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Fonte: Meyer, 2013, p.44
Bonduki (2011) afirma que a expansão da cidade de maneira horizontal é um problema porque
Imagem 2 - Vetor de expansão de atividades do terciário
além de destruir as áreas de preservação ambiental contribuindo para o aquecimento global e os episódios de enchentes e inundações, também gera o surgimento de assentamentos precários ao mesmo tempo que gera a implantação de condomínios fechados de classes de média e alta renda. O autor também fala sobre os edifícios obsoletos, vazios ou subutilizados no centro antigo (p. 26) referenciando a cidade de São Paulo, e apresenta uma alternativa a este processo: “Dentre as áreas que requerem reabilitação, uma das mais importantes é o centro histórico e os bairros que ficam no seu entorno. Trata-se de um desafio que exige ações de peso para reverter o processo combinado de subutilização e de exclusão que ela vem sofrendo. É necessário compatibilizar a reabilitação com a produção de habitação, até mesmo para a população de baixa renda, objetivando aproximar o morar do trabalhar.” (Bonduki, 2011, p. 32)
Atualmente o centro de São Paulo vem passando por diversos estudos e intervenções para que seja novamente um local adensado. Isso está acontecendo porque no século XX a região perdeu a força de “centro histórico” e comercial devido às novas atividades que a cidade ganhava. Essas atividades
Fonte: Meyer, 2013, p.184
foram deslocadas do centro em direção à região sudoeste (vide imagem 2). “[...] O eixo de movimentação das atividades centrais rumo a esses novos espaços dirigiu-se, no
Imagem 3 - Concentração de emprego e infraestrutura x áreas de maior vulnerabilidade social
final dos anos 50 e durante os anos 60, para região da avenida Paulista, e caminhou, na década de 1970, para o sudoeste, consolidando novos setores, tais como, a avenida Faria Lima e a região do Itaim, alcançando as avenidas marginais ao rio Pinheiros, e as regiões das avenidas Luís Carlos Berrini e Verbo Divino, nos anos 80 e 90.” (Meyer, 2013, p. 182)
Este eixo é hoje considerado um dos maiores territórios da cidade onde estão localizadas as empresas que ofertam inúmeras vagas de trabalho no setor terciário. Enquanto no eixo do ABC as ofertas de trabalho acontecem no setor secundário (indústrias). A diferença é que naquele eixo está concentrada a população de alta renda e neste está a população de baixa renda. “Analisando distribuição espacial das classes sociais no município de São Paulo, verifica-se que há uma região geral da cidade onde ocorre uma excepcional concentração das classes de mais alta renda. Essa região é integrada por vários bairros, das mais distintas classes sociais, porém a maior parte daquelas classes está concentrada nessa região.” (Villaça, 2011, p. 42)
Por causa desta oferta de emprego na região sudoeste da cidade, muitas pessoas se deslocam todos os dias para essas regiões e isso vem causando diversos transtornos na vida dessas pessoas, pois elas levam horas para chegar em seus locais de trabalho. Ainda é mais difícil para as que moram nas cidades-dormitórios – cidades que abrigam as pessoas durante a noite, pois as mesmas não estão
Fonte: Gestão Urbana, acesso em 3 de junho de 2019.
presentes durante o dia no local –, pois às vezes levam o dobro de horas para chegar no trabalho. O mapa da imagem 3 ilustra essa situação nos mostrando a distribuição dos empregos formais e as regiões de vulnerabilidade social.
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Como parte de reversão deste processo, o Plano Diretor Estratégico (PDE) de São Paulo de 2014 determinou algumas estratégias como:
Melhorar a mobilidade urbana (qualificar as condições de mobilidade e a integração entre os meios de transporte, reduzir o tempo de viagem da população, etc.) realizando ações que incentivem a utilização do transporte público e a requalificação de calçadas.
Orientar o crescimento da cidade nas proximidades do transporte público (promover adensamento habitacional e de atividades urbanas ao longo do sistema de transporte público). Para esta ação indica estratégias como a qualificação de centralidades existentes, a criação de novas centralidades e ampliação na oferta de habitação de interesse social e equipamentos urbanos e sociais).
Reorganizar as dinâmicas metropolitanas (definir incentivos urbanísticos e fiscais para levar emprego aos perímetros de incentivo ao desenvolvimento econômico, consolidação do centro como área de abrangência metropolitana, garantindo meios para sua dinamização e ampliação do nú-
mero de moradias, especialmente as voltadas à população de baixa renda, etc.) indicando estratégias para enfrentar áreas subutilizadas e propor novos projetos urbanos para melhorar a qualidade de vida;
Promover o desenvolvimento econômico da cidade (distribuir equitativamente a oferta de emprego na cidade, com polos estratégicos de desenvolvimento econômico, etc.). Para esta ação indica estratégias como o fortalecimento de redes de centralidades polares e lineares existentes, ou seja, promover melhorias nas proximidades do centro histórico, dos centros de bairros e eixos de transporte.
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1.2. Modelos urbanos - Cidade Compacta
“[...] O imenso gargalo do déficit habitacional e a falta de diversidade socioterritorial nas grandes
Da mesma maneira que Acioly (2011) afirma que “[...] Densidades residenciais influenciam o nú-
cidades brasileiras devem ser resolvidos com novos modelos de desenvolvimento urbano sustentá-
mero e tipos de viagem e o modo de locomoção. O número de viagens por pessoa por automóvel indivi-
vel, incorporando processos que promovam moradias em áreas mais densas e compactas, com mistura de usos, próximas ao sistema de mobilidade, que ofereçam diversidade tipológica e promovam a vida urbana mais inclusa e menos isolada.” (Leite, 2012, p. 161)
dual/privado diminui à medida que as cidades e bairros tornam-se mais densos”. Leite (2012) diz “[...] A metrópole atual, permeada por terrenos vagos, determina uma rede des-
Como uma proposta de repensar o planejamento das cidades de maneira a unir a moradia e o
conexa de espaços residuais, vazios urbanos [...]”. Assim se encontra o centro da cidade de São Paulo
trabalho para evitar o movimento pendular que as pessoas realizam todos os dias através de seus des-
atualmente. Apesar de ser uma região dotada de boa infraestrutura de transporte e ter importantes ruas
locamentos surge a proposta da cidade compacta.
de comércios, vem sofrendo com o seu esvaziamento tanto dos edifícios desocupados ou subutilizados,
Rogers (2015) define a cidade compacta como uma cidade que: “[...] cresce em volta de centros de atividades sociais e comerciais localizadas junto aos pontos
quanto dos terrenos vazios em seu entorno. Para solucionar estes problemas é necessário requalificar o espaço público para incentivar o retorno da população à região.
nodais de transporte público, pontos focais, em volta dos quais, as vizinhanças se desenvolvem. A
O Plano Diretor Estratégico também propõe diretrizes a serem seguidas de maneira que promo-
Cidade Compacta é uma rede destas vizinhanças, cada uma delas com seus parques e espaços
va essa requalificação, sendo uma delas “qualificar a vida urbana nos bairros” que estabelece o incenti-
públicos, acomodando uma diversidade de atividades públicas e privadas sobrepostas”. (Rogers,
vo à fachada ativa, a ampliação da rede de equipamentos urbanos e sociais (educação, saúde, espor-
2015, p. 38)
tes, cultura, etc.), ampliação da quantidade de parques na cidade, entre outras.
Os núcleos compactos e de uso misto reduzem as necessidades de deslocamentos e criam bairros sustentáveis e cheios de vitalidade
Esses diversos estudos e conceitos apresentados pelos autores Rogers, Leite e Acioly nos mostram que é possível fazer intervenções no espaço público para promover a sua requalificação. Para isso
se faz necessário analisar a relação da cidade com o pedestre e isso pode ser feito através dos conceitos da quadra aberta e da cidade para pessoas.
Fonte: Rogers, 2015, p. 39
O conceito de cidade compacta afirmado por Rogers nos mostra que é possível resolver o problema dos deslocamentos da população na cidade de São Paulo quando ele diz: “A premissa da Cidade Compacta [...] composta de atividades sobrepostas, por exemplo, permite maior convivência e pode reduzir as necessidades de deslocamentos em automóveis, o que, por sua vez, reduz drasticamente a energia utilizada para transporte [...].” (Rogers, 2015, p. 49)
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1.3. Modelos urbanos - Quadra Aberta e Cidade para Pessoas
Em seu texto, “A Terceira Era da Cidade”, Christian de Portzamparc define o que pode ser considerado a quadra aberta:
Assim como a autora Jane Jacobs também incentiva a diversificação destes usos: “Se esse leque de usos distribuir por todo o dia uma boa variedade de necessidades e preferências
“[...] A quadra aberta permite reinventar a rua: legível e ao mesmo tempo realçada por aberturas
de consumo, todos os tipos de serviços e estabelecimentos tipicamente urbanos e especializados
visuais e pela luz do sol. Os objetos continuam sempre autônomos, mas ligados entre eles por
poderão surgir, processo que se multiplica por sim mesmo. Quanto mais complexa for a mistura de
regras que impõem vazios e alinhamentos parciais. Formas individuais e formas coletivas coexis-
grupos de usuários – e daí sua eficiência –, maior será o número de serviços e lojas necessários
tem. [...] As fachadas externas deslocam-se com alternância, constituindo uma atmosfera densa e
para pinçar sua clientela dentre todos os tipos de grupos de pessoas, e consequentemente maior
íntima. Os espaços vazios, os intermédios, dão lugar a terraços privativos que permitem passar a
será o número de pessoas atraídas”. (Jacobs, 2011, p. 178)
luz e o olhar.” (Portzamparc, 1997, p. 46)
ZAC Massêna - croqui explicativo das regras impostas pelo Plano Urbano que possibilitam a formação das quadras abertas
Por fim, com esta breve análise da urbanização da cidade de São Paulo vimos que a cidade apresenta dispersão de suas atividades devido ao seu espraiamento e consequentemente o esvaziamento da sua região central, mas que é possível com os modelos apresentados promover as mudanças necessárias para que o centro volte a ser habitado e frequentado pela população. O objetivo deste trabalho é propor uma solução para uma área vazia na região central do munícipio de São Paulo utilizando os conceitos dos autores apresentados juntamente com as diretrizes do Plano Diretor Estratégico que muito se assemelham com os conceitos.
Fonte: Portzamparc, 1997, Revista Oculum, p. 42
Isso quer dizer que a relação da cidade com o pedestre é possível através da relação dos cheios e vazios nos terrenos. Quadras com edificações de diferentes dimensões e com aberturas que criam possibilidades de caminhos além da rua, transformam o espaço público, ou seja, permite que o pedestre caminhe por locais que recebem boa ventilação, iluminação e que é atrativo ao olhar, pois nunca é repetitivo. Apesar disso, a quadra aberta e caminhos diferentes, sozinhos não requalificam o espaço. É necessário diversificar o uso deste solo para que ele seja o mais bem aproveitado em qualquer hora do dia e por públicos diversos. Gehl (2015) e Jacobs (2011) defendem esta variedade de usos de maneira a promover espaços de qualidade. “[...] Áreas urbanas com diversidade de funções proporcionam, todo o tempo, mais atividades dentro e perto das edificações. Áreas habitacionais, em especial, significam boas conexões com os espaços comuns importantes da cidade e um reforço acentuado da segurança real e da percebida, mesmo à noite. Então, ainda que a rua esteja deserta, nas áreas residenciais, as luzes das janelas enviam um sinal reconfortante de que há pessoas por perto.” (Gehl, 2015, p. 99)
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2. ÁREA DE INTERVEÇÃO
2.1. Levantamento de dados
Como apresentado no capítulo 1 deste trabalho, a cidade de São Paulo vem passando por diver-
Ano de 1988 – toda área demarcada tem sua configuração consolidada e se mantém desta ma-
sas modificações em sua urbanização com o passar dos anos. A região central da cidade que antes era
neira até os dias de hoje – ano de 2019. É possível perceber que onde antes não havia parcelamento
uma área de grandes potencialidades, há algum tempo vem passando por um processo de esvaziamen-
do solo, trecho do Cambuci, agora, além de ter novas quadras e sistema viário, existem novas tipologias
to, apesar de ser dotada de boa infraestrutura com ampla rede de transportes e equipamentos.
como os IAPI’s que foram construídos para servirem de moradia aos trabalhadores das indústrias da
A área estudada neste trabalho se localiza em uma parte de dois bairros da região central da cidade, Liberdade e Cambuci. A seguir apresenta-se alguns mapas desta área e algumas observações
levantadas a partir de análises. Ano de 1916 – o parcelamento das quadras era semelhante ao que existe atualmente. A diferença que encontramos está à direita, na região do Cambuci, na várzea do Rio Tamanduateí. No local não havia parcelamento do solo, apenas uma grande gleba onde estava localizada uma fábrica de tecidos.
região. Apesar de não ter sido totalmente implementado, o projeto melhorou o adensamento do local. Mesmo com o parcelamento do solo nesta região, ainda hoje existe uma gleba. Por alguns anos ela foi ocupada com a instalação da companhia Light, mas hoje é apenas um enorme vazio com poucas edificações em seu perímetro. Também é possível notar (ano 1988) no lado oposto, trecho da Liberdade, a implantação da Avenida 23 de Maio, importante via da cidade de São Paulo.
Ano de 1943 – a região do tecido urbano que não estava parcelada aparece com novas quadras e sistema viário.
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Processo Histórico de Evolução - 1916 Mapa produzido por: João Vitor Barroso
Processo Histórico de Evolução - 1943 Mapa produzido por: João Vitor Barroso
Fonte: Levantamento cadastral da cidade de São Paulo - Prefeitura Municipal - 1916
Fonte: Planta da Cidade de SP - Organizado pela repartição de eletricidade - 1943
Processo Histórico de Evolução - 1988 Mapa produzido por: João Vitor Barroso
Processo Histórico de Evolução - 2019 Mapa produzido por: João Vitor Barroso
Fonte: GeoSampa - Publicação 1988
Fonte: Google Maps - Imagem Gerada - 2019
2019 - Atualmente, as quadras desta região estão quase 100% ocupadas por edificações, mas como será apresentado a seguir, há discrepância entre os dois bairros, onde na Liberdade existe uma concentração de edifícios de alta densidade e equipamentos como hospitais e faculdades, e no Cambuci, há uma ocupação marcada por residências unifamiliares e cortiços. Também neste lado, existe
um terreno de grandes dimensões que encontra-se vazio.
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Ao realizar o levantamento do tipo de uso de cada lote inserido no perímetro de estudo,
Uso do Solo Mapa produzido por: Thuany Stephany Barreto
identificou-se grande quantidade de equipamentos (identificados no mapa de equipamentos) e serviços próximos à Avenida Liberdade e grande concentração de habitação no centro da área estudada. Também foi possível notar que os comércios da região têm importância apenas às ruas próximas e mesmo nessa escala não incentivam a circulação de pessoas na rua. Com relação ao mapa de cortiços, terrenos vazios, imóveis subutilizados e estacionamentos, podemos ver que há muitas áreas disponíveis para serem ocupadas de maneira que promovam a requalificação da região. Isto é possível através da implantação de novas habitações para realocar as famílias que vivem nos cortiços e criar áreas de fruição pública no meio das quadras.
Fonte: Google Maps e visita de campo
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Equipamentos, Marcos na paisagem e Bens Tombados Mapa produzido por: Maíssa Lopes e Stefanye Mantovan
Cortiços, Terrenos Vazios, Subutilizados e Estacionamentos Mapa produzido por: Maíssa Lopes e Thuany Stephany Barreto
Fonte: GeoSampa
Fonte: GeoSampa e Google Maps
O mapa de modelos e padrões de ocupação demonstra a configuração das quadras ao lon-
Gabarito Mapa produzido por: Thuany Stephany Barreto
go da área estudada. Por ser uma região com características mais consolidadas devido maior investimento do mercado imobiliário que é influenciado pela Zona de Estruturação Urbana definida na Lei de Uso e Ocupação do Solo, ao longo do trecho da Avenida Liberdade existem prédios com gabarito mais alto, mas à medida que o relevo da região vai mudando até chegar à área de várzea do rio Tamanduateí, vemos que a ocupação do solo se transforma para modelos de edificações com baixo gabarito. Ao comparar o mapa de gabarito de altura das edificações e o mapa de densidade, percebemos que não há relação entre a altura do edifício e a densidade da quadra onde ele está inserido. Próximo à Avenida Liberdade há diversos prédios de muitos pavimentos, mas isso não significa que esta é uma região adensada, pois em sua grande maioria, a tipologia de uso das edificações é voltada para serviços ou equipamentos institucionais, sendo muito pouco para habitação. Enquanto isso, no centro da região de estudo é possível identificar que a densidade é a alta apesar da grande quantidade de terrenos vazios. Além da maioria das construções serem destinadas ao uso habitacional, a densidade também é explicada devido à presença de cortiços na região, pois neles vivem grande número de famílias.
Fonte: Google Maps e visita de campo
Modelos e Padrões de Ocupação Mapa produzido por: Stefanye Mantovan
Densidade Demográfica Mapa produzido por: Maíssa Lopes
Fonte: Google Maps
Fonte: GeoSampa e IBGE
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No mapa de macroacessibilidade estão demarcados os pontos de ônibus que são servidos
Hierarquia Viária x Macroacessibilidade Mapa produzido por: Yorrã Vellar e Stefanye Mantovan
pelo transporte público da região. Algumas ruas não são ofertadas com este transporte enquanto outras contam com vários pontos de ônibus que são servidos com várias linhas que levam a vários destinos. Isso está diretamente relacionado com a disponibilidade de equipamentos institucionais, escolas e faculdades, e de serviços, como os hospitais. No mapa de microacessibilidade foi identificada a qualidade das calçadas da região de estudo. A maioria delas apresenta condições adequadas de utilização para a caminhabillidade do pedestre, assim como, circulação dos transeuntes com mobilidade reduzida. O mapa de cruzamentos expressa como são as conexões do sistema viário atual. Quanto maior o número de cruzamentos, maior será o número de conexões que consequentemente pro-
movem diversificação das rotas de destino de determinado ponto. Isto para o pedestre é essencial, pois as distâncias a serem percorridas tendem a diminuir, mas é necessário que nos cruzamentos com maior número de vias, exista um desenho de rua (esquinas, faixa de pedestres, etc.) que promova segurança à eles.
Fonte: GeoSampa, Google Maps, SPTrans, LEED
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Cruzamentos e Sentidos das Vias Mapa produzido por: Stefanye Mantovan
Microacessibilidade Mapa produzido por: Yorrã Vellar
Fonte: Google Maps
Fonte: GeoSampa e Google Maps
A topografia é um dos principais fatores que são levados em consideração para fazer o par-
Topografia Mapa produzido por: João Vitor Barroso
celamento do solo. Ao analisar este mapa juntamente ao mapa de dimensão das quadras é possível perceber que as quadras maiores estão localizadas nas áreas com maior declividade (quando as curvas de nível estão muito próximas), pois estes são os locais mais difíceis de serem construídos. O mapa de hidrografia, bacias e áreas de enchente mostra que houve mudanças no percurso dos córregos devido à canalização. É possível perceber a diferença ao comparar este mapa atual com o mapa do ano de 1916 (folha 4). Além disso, a identificação da área de enchente, definida pelo Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (PDE), demonstra que há necessidade de rever as áreas impermeabilizadas da região e considerar que existe uma carência de solo permeável que poderia fazer a drenagem natural das águas pluviais, evitando assim, o risco de novas inundações no meio urbano, como mostra a imagem anexada.
Fonte: GeoSampa
Hidrografia, Bacias e Áreas de Enchente Mapa produzido por: João Vitor Barroso
Dimensão das Quadras Mapa produzido por: Stefanye Mantovan
Fonte: GeoSampa e PDE - Lei 16.050/2014
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2.2. Anรกlise e Proposta urbana MAPA Sร NTESE
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DIRETRIZES URBANÍSTICAS
“Dentre as áreas que requerem reabilitação, uma das mais importantes é o centro histórico e os bairros que ficam no seu entorno. Trata-se de um desafio que exige ações de peso para reverter o processo combinado de subutilização e de exclusão que ela vem sofrendo. É necessário compatibilizar a reabilitação com a produção de habitação, até mesmo para a população de baixa renda, objetivando aproximar o morar do trabalhar.” (Bonduki, 2011, p. 32)
Durante a visita de campo na área de estudo foi possível perceber, com exceção de alguns pontos marcantes da Liberdade, que a região não tem uma identidade própria através de sua arquitetura, desenho urbano ou pelo menos identificação com a população local. Há muitos lotes vazios, muitos cortiços, pouca atividade comercial e em alguns pontos, pessoas em situação de rua. O arquiteto e teórico Nestor Goulart Reis propõe dar atenção à áreas vazias da cidade e fala sobre a identidade local: “[...] temos de reconhecer que as mudanças nas áreas centrais se relacionam também com outra ca-
Desta maneira, foi escolhido um trecho da área onde seria o local mais “vulnerável” e que tivesse maior possibilidade de receber uma intervenção possível de conectar dois bairros. A proposta é dinamizar urbanisticamente o eixo entre a estação de metrô Liberdade (linha azul) que está instalada em uma centralidade consolidada e a estação de metrô prevista para o Largo do Cambuci (linha laranja) que está próxima à centralidade proposta para a gleba. Para promover a dinamização e requalificação do trecho, está sendo proposto o incentivo ao uso misto e a arborização das áreas não ocupadas, criar aberturas de praças e passagens para pedestres no interior das quadras de modo a promover a fruição pública através dos lotes vazios e interior dos edifícios. Também é proposto a qualificação das vias a partir do nivelamento das calçadas, para melhor circulação de pedestres, implantação de árvores, aterramento da fiação elétrica e implantação de novas ciclovias.
tegoria de problema: o esvaziamento dos locais de convivência entre os diferentes setores sociais, dificultando a construção de uma identidade comum e, como consequência, da vida cívica. ”. (Reis, 2006, p. 69)
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2.3. Contexto histórico da gleba do Lavapés
A gleba está localizada na região do Cambuci na Rua do Lavapés. Antigamente esta rua era chamada de Caminho do Lavapés, uma importante rota que fazia a ligação entre a região central da cidade de São Paulo e a cidade de Santos ao conectar-se ao vale do Tamanduateí. Localização do conjunto das Oficinas do Cambuci
Oficinas da Light
Final do século 19 – instalação das primeiras ofici-
1917 – único elemento vertical do conjunto, a caixa
nas e estábulos de bondes à tração animal da antiga
d’água metálica, considerada um marco na região.
Novembro de 1927 – Interior da seção de máquinas da Oficina.
Companhia Viação Paulista.
1901 – Companhia Light adquire os primeiros terrenos da gleba para instalar novos imóveis e atividades.
Imagem do Morro do Piolho, no Cambuci. Em primeiro plano estão as casas da Rua do Lavapés e ao fundo, o conjunto da Light
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Junho de 1926 – Áreas em construção.
Vista de galpões com cobertura em shed
Década de 1960 – encerramento do uso de bondes elétricos Até 1940 – edifícios construídos em estrutura metálica e
em São Paulo promoveram a modificação dos usos dos galpões.
alvenaria de tijolos aparente. A cobertura, com telhado
Exemplo: instalação de um setor criado pela Eletropaulo para cui-
de duas águas ou sheds, caracterizavam o conjunto.
dar de seu patrimônio (histórico, arquitetônico e documental).
1930 – Novo muro das oficinas do Cambuci na Rua
1942 – Bomba de gasolina no pátio das oficinas do
2012 – a AES Eletropaulo, proprietária da gleba desa-
Barão de Iguape.
Cambuci.
tivou as instalações, inclusive o setor do patrimônio, realizou a venda do terreno para a empresa GTIS Cambuci Empreendimentos e Participações Ltda.
Fonte das informações e imagens: Vitruvius e acervo da Fundação de Energia e Saneamento (vide bibliografia).
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2.4. Gleba do Lavapés e entorno - 2019
As fotos a seguir são do acervo da autora e foram tiradas no dia 27 de julho de 2019 para que ilus-
gleba se configura como uma barreira que impede a conexão das vias e não incentiva nenhum tipo de uso
trasse como está a gleba e seu entorno nos dias atuais. Durante a visita de campo foi possível perceber a
ao seu redor, pois é cercada por muros muito altos, ou seja, não é um local atrativo para permanência,
deterioração da região a partir dos diversos lotes subutilizados, a falta de atividades diferentes para atrair
além de ser inseguro para passagem.
público e alguns imóveis vazios ou ocupados com cortiços. Além disso, foi importante observar como a
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11
12
13
14
15
16 29
30
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
31
2.5. Justificativa do tema
Para o Trabalho de Conclusão (TC) do curso de Arquitetura e Urbanismo pretende-se desenvol-
modenatura, pode desabrochar sem ser contida por um exercício de fachada imposto entre duas fachadas contíguas" (PORTZAMPARC, 1997)
ver um projeto de intervenção urbana e arquitetônica para a Gleba do Lavapés. Atualmente este terreno de aproximadamente 127 mil m² está parcialmente vazio com algumas construções e tem seu perímetro fechado por muros e tapumes que criam uma barreira física e visual na região central da cidade de São Paulo. Há um projeto em fase de aprovação para este grande terreno. Porém, este projeto tem como
Para o desenvolvimento do projeto arquitetônico será adotada a proposta de unir o habitar, trabalhar e lazer cultural em um mesmo conjunto de maneira que seja realizada a cidade compacta onde as necessidades do cotidiano estejam próximas para evitar os grandes deslocamentos da população. Não pretende-se desenvolver uma megaestrutura que atenda essas três necessidades, mas sim propor um projeto que esteja espacializado na quadra.
proposta implantar uso residencial para classe média, média/alta sem realizar o parcelamento do solo adequadamente, ou seja, destinando percentuais de área pública através do sistema viário, áreas verdes e/ou institucionais. Será colocada apenas uma rua de acesso aos condomínios, mas que não será
A nível de detalhamento será escolhida apenas uma quadra para desenvolver o projeto arquitetônico.
convidativa para uso público. O autor Carlos Leite traduz esse acontecimento quando diz: “[...] A metrópole atual, permeada por terrenos vagos, determina uma rede desconexa de espaços
PROJETO PARA A GLEBA DO LAVAPÉS
residuais, vazios urbanos. Um território permeado por fraturas urbanas. Os cidadãos perdem, então, o senso de totalidade, da abrangência da urbe, do seu território. Passamos a ser, então, nas nossas cidades, estrangeiros na sua própria terra.” (Leite, 2012, p. 57)
Dessa maneira, o Trabalho de Conclusão tem como objetivo promover a reflexão de como ocupar os vazios das regiões urbanas consolidadas para devolver a cidade à todas as pessoas e não segregar a um uso limitado delas. O primeiro passo para resolver este problema é propor o parcelamento do solo para criar novas conexões nas regiões do entorno. Será considerada a área de alagamento prevista pelo Plano Diretor Estratégico e proposta a criação de um parque que tem como objetivo auxiliar a drenagem das águas pluviais. Neste parque será proposto alguns equipamentos de incentivo ao esporte. Para o loteamento das quadras serão considerados como referências os conceitos de Cidade Compacta de Richard Rogers e Quadra Aberta de Christian de Portzamparc, de maneira a melhorar a relação dos edifícios com a cidade. “A Cidade Compacta abrange todas essas questões. Ela cresce em volta de centros de atividades sociais e comerciais localizadas junto aos pontos nodais de transporte público, pontos focais, em volta dos quais, as vizinhanças se desenvolvem. A Cidade Compacta é uma rede destas vizinhanças, cada uma delas com seus parques e espaços públicos, acomodando uma diversidade de atividades públicas e privadas sobrepostas.[...]” (ROGERS, 2001, p. 38) "quadra aberta permite reinventar a rua: legível e ao mesmo tempo realçada por aberturas visuais e pela luz do sol. Os objetos continuam sempre autônomos, mas ligados entre eles por regras que impõem vazios e alinhamentos parciais. Formas individuais e formas coletivas coexistem. Uma arquitetura moderna, isto é, uma arquitetura relativamente livre de convenção, de volumetria, de
32
Fonte: produzido por Thuany Stephany
Quadra escolhida para desenvolvimento do projeto arquitetônico
3. ESTUDOS DE CASO
3.1. Estudo de caso 01 - Central St. Giles
FICHA TÉCNICA
Tipologias
Projeto: Central St. Giles Cliente: Legal & General with Mitsubishi Estate Corporation Stanhope PLC Arquiteto: Renzo Piano + Fletcher Priest Architects
(m²)
(%)
Escritórios
39.000
75,03
Residências
8.800
16,93
Restaurantes e comércios (térreo)
2.137
4,11
Praça pública
2.044
3,93
Ano: 2010
Área construída total 49.937
96
Localização: Londres, Reino Unido
Área total do projeto 51.981
100
Programa Geral: escritório; comércio; restaurante e habitação Área: terreno - 7.082 m² 8400 m² residencial: 56 apartamentos particulares e 53 unidades habitacionais ocupam um prédio de 14 andares na extremidade oeste do local. E 38.000 m² de escritórios estão divididos em dez andares.
DESCRIÇÃO DO PROJETO “[...] o empreendimento Central St Giles substitui um bloco massivo,
Acesso à praça Acesso aos edifícios
impudente e impenetrável de antigos escritórios do governo, com um
Planta da área pública / Fonte: Fondazione Renzo Piano
mix permeável, vibrante e escultural de volumes contendo escritórios,
Editado por: Thuany Stephany
O estudo de caso foi escolhido devido as características seme-
lhantes aos conceitos desejados para o projeto de TC. A principal é a relação com a cidade através de sua quadra aberta que possibilita
apartamentos, restaurantes e varejo. [...]
vários acessos em diferentes direções às ruas ao lado, assim, o pe-
Cercada por áreas de conservação [...], era essencial que esse novo
destre tem diversas opções de caminhos.
desenvolvimento considerável se encaixasse na escala e na paisa-
Além disso, a volumetria foi outro ponto importante na escolha
gem urbana dessa área antiga do centro de Londres. Quebrar o local
deste estudo, pois ao olhar de fora da quadra, a sensação é que há
da ilha sólida em uma série de volumes, respeitando as alturas do
vários edifícios e não apenas dois. Essa ideia se torna interessante
edifício vizinho [...]
porque visualmente a edificação não parece um grande bloco. A pro-
[...] Os terraços do telhado e as formas irregulares dos edifícios au-
posta apresentada no projeto mexe com os sentidos do observador.
mentam a impressão de uma coleção de edifícios menores lado a
E por último, mas não menos importante, é o térreo deste edifí-
lado, ecoando a variedade de estilos de construção encontrados lo-
cio que tem comércios e restaurantes ao redor de uma praça central.
calmente.
Isso promove atividades em diferentes momentos do dia trazendo
Os dois edifícios, um residencial e outro para escritórios, rodeiam um
vitalidade para o local.
novo pátio público, o coração do projeto Central St Giles. Aqui, [...] restaurantes e cafés saem para o espaço aberto e animam o espaço. O acesso [...] é incentivado através de cinco passagens, criando uma série de novas rotas de passagem”.¹
1. Fonte: CENTRAL ST. GILES COURT MIXED-USE DEVELOPMENT. [S. l.], [2010?]. Disponível
em:
http://www.rpbw.com/project/central-st.-giles-court-mixed-use-
development. Acesso em: 28 abr. 2019.
36
ANÁLISE
Croqui de fluxos / Fonte: Fondazione Renzo Piano
Michel Denance
Michel Denance
Michel Denance
Michel Denance
Planta pavimento tipo / Fonte: Façades Confidential
Michel Denance
Planta pavimento tipo mostrando o esquema de revestimento colorido 1 Apartamentos populares
2 Apartamentos privados
3 Pátio/praça 4 Escritórios Michel Denance
Corte esquemático - Fondazione Renzo Piano
Corte esquemático - Fondazione Renzo Piano
Corte esquemático - Fondazione Renzo Piano
37
3.2. Estudo de caso 02 - Empreendimento MEET
FICHA TÉCNICA
Implantação / Fonte: Archdaily
Projeto: Empreendimento MEET Cliente: Incorporadora Fibra Experts Arquiteto: Escritório Königsberger Vannucchi Ano: 2018 Localização: R. Alves Guimarães, 1120 - Pinheiros, São Paulo - SP
1
1
2
2
7
9
8 8
Programa Geral: escritórios e habitação
10
2
Área: 8.471 m²
5 DESCRIÇÃO DO PROJETO
3
4
“O MEET [...] teve como partido arquitetônico a criação de uma praça cujo objetivo é se tornar
11 12
o ponto de encontro para as atividades, sendo este um local de convivência com volumes que acolhem a escala humana, usufruindo de um paisagismo tangível e sinestésico. O terreno, por estar em uma local de aclive, acolheu a torre residencial pelo bairro e a torre comercial ganhou imponência e visibilidade em relação à sua vizinhança. Para a concepção
da fachada foram escolhidos materiais que remetem a cores orgânicas como terra, corten e Acesso público
marrom. Para a torre comercial foram definidos caixilhos piso teto com vidros refletivos, abas
Acesso aos edifícios
e brises para melhorar eficiência energética do empreendimento”.¹
01: apto. tipo 01 - 50 m²; 02: apto. tipo 02 - 34 m²; 03: apto. tipo 03 - 32 m²; 04: salão coletivo 01 - 52 m²; *Área construída total - 8.471,00 m² Torre residencial - 9 pavimentos Torre corporativa - 7 pavimentos (m²) (%) (m²) (%) Residências 232,68 2,74 Escritórios P.D. Simples 170,46 2,01 Áreas de uso coletivo 250,37 2,95 Escritórios P.D. Duplo 162,67 1,92 Térreo Serviços gerais 17,04 0,20 Térreo Hall 24,80 0,29 Circulação Horizontal 199,21 2,35 Circulação Horizontal 170,41 2,01 Circulação Vertical 129,63 1,53 Circulação Vertical 39,12 0,46 Residências 4052,08 47,83 Escritórios P.D. Simples 2623,95 30,97 Serviço 19,36 0,22 Escritórios P.D. Duplo 148,06 1,75 8 pav. 6 pav. Circulação Horizontal 408,40 4,82 Circulação Horizontal 314,10 3,71 Circulação Vertical 203,20 2,39 Circulação Vertical 184,38 2,18 **Área construída 5511,97 65,03 **Área construída 3837,95 45,30 * Área construída dita pelo escritório. ** Áreas aproximadas, levantadas a partir da planta.
1. Fonte:
PEREIRA, Matheus. Empreendimento MEET. [S. l.], 31 jan. 2019. Disponível em: https://
www.archdaily.com.br/br/909849/empreendimento-meet-incorporadora-fibra-experts-konigsberger-vannucchi-
arquitetos-associados. Acesso em: 28 abr. 2019.
38
05: salão coletivo 02 - 104 m². 07: escritório tipo 01 - 28 m²; 08: escritório tipo 02 - 26 m²; 09: escritório tipo 03 - 58 m²; 10: escritório tipo 04 - 54 m²; 11: escritório tipo 05 - 42 m²; 12: escritório tipo 06 - 82 m².
ANÁLISE
A escolha deste projeto como estudo de caso se deu, principalmente, por causa dos escritórios. O objetivo era ter referência de como organizar salas comerciais. Além disso, apesar do prédio residencial não ser Habitação de Interesse Social, ele também foi referência em como organizar diferentes tipologias de habitação. O ponto em comum de observação das duas torres foi como são os acessos. Estes são independentes, tanto no acesso do pedestre quanto do carro, mas que também se relacionam pela praça no térreo.
Pedro Vannucchi
Pedro Vannucchi
Pedro Vannucchi
Pedro Vannucchi
Plantas/ Fonte: Archdaily
3
3
4
4
2
5
6
7
8
2
2
Pedro Vannucchi
2
2
1
2 10
9
1 10
TORRE RESIDENCIAL
9
TORRE ESCRITÓRIOS
01: apto. tipo 01 - 64.50 m²; 02: apto. tipo 02 - 43.60 m²; 03: apto. tipo 03 - 30 m²; 04: salão coletivo 01 - 29 m². 05: escritório tipo 07 - 68.50 m²; 06: escritório tipo 08 - 65.30 m²; 07: escritório tipo 09 - 61 m²; 08: escritório tipo 10 - 60 m²; 09: escritório tipo 11 - 58 m²; 10: escritório tipo 12 - 70 m² Corte 01/ Fonte: Archdaily
39
3.3. Estudo de caso 03 - Complexo Habitacional Cultural Júlio Prestes
FICHA TÉCNICA
Residencial
Fonte: Secretária de Habitação/SP
Nº pavtos.
Nº aptos.
Área Construída (m²)
(%)
Torre 1 a 4 Quadra 49 Torre 5
Térreo + 17 tipos
680 (170 cada torre)
44.628
46,93
Térreo + 13 tipos
234
16.160
17,00
Quadra Torre 6 e 50 7
Térreo + 12 tipos
216 (156 e 60)
15.744
16,56
Quadra 50
Térreo + 12 tipos
72
5.321
5,60
Área total de residências
81.853
86,09
Área total do projeto
95.085
100
-
4.253
4,47
66
4.637
4,88
1
6.926
7,28
1
1.669
1,75
Área total de outros usos (exceção do lazer)
13.232
13,91
Área total do projeto
95.085
100
Projeto: Complexo habitacional cultural Júlio Prestes Cliente: Parceria Público Privada — PPP Arquiteto: Biselli & Katchborian Arqt. Associados Ano: 2018
HIS
Localização: Campos Elísios, São Paulo - SP Programa Geral: habitação; escola de música; creche. Área: terreno - 29.364,43 m² / área construída - 94.596,11 m²
HMP Permeabilidade e fruição pública
Espaços verdes
Torre 8
DESCRIÇÃO DO PROJETO
Não Residencial
“A área onde funcionou o Terminal Rodoviário da Luz entre os anos
Quadra Áreas de 49 e 50 lazer
de 1960 e 1980 foi incorporada à PPP Lote 1 – Área Central da Cidade de São Paulo como contrapartida do Governo do Estado de São
Lojas 1 pavto. Quadra Escola de 49 5 pavtos. música
Paulo, para a implantação do Complexo Júlio Prestes. O empreendi-
mento ocupa as quadras 49 e 50, além de incorporar, no âmbito das ações da PPP, a requalificação da Praça Júlio Prestes. Além das
Quadra 50
HISs e HMPs e das áreas comuns dos condomínios residenciais, o empreendimento integra a nova sede da escola de música Tom Jobim, creche para 200 crianças, quadra de esporte, praça e espaços Habitação
para o uso comercial e oferta de serviços. Ainda, no âmbito das
Comércios e áreas de interesse público
obras de infraestrutura a cargo da concessionária, caberá a requalifi-
Quadra 49
cação da Unidade do 2º Grupamento de Bombeiro da Capital”.¹
Quadra 50 II
O estudo de caso foi escolhido devido a variedade de usos no projeto con-
III
centro da cidade.
VII
cional, comercial e cultural. [...] Mais do que um projeto convencional
Durante a visita de campo foi possível perceber que apesar dos esforços do projeto em promover a qualificação da região, que fica ao lado da cracolândia,
II
de um complexo residencial, a proposta avança para uma concepção
o objetivo não foi alcançado. Isso porque todo o projeto é cercado por muros al-
urbanística que engloba sugestões para vias de circulação e preten-
tos não sendo possível ter relação com a cidade, até mesmo através dos aces-
de integrar os vários edifícios de apartamentos e da sede da escola
VI
sos, pois devido a situação de degradação da região, quase não foi possível lo-
I
II
com a cidade”.²
Planta-chave IV
V IV
2. Fonte: MELENDEZ, Adilson. REGENERAÇÃO COM A MISTURA DE FUNÇÕES. [S. l.], 2018. Disponível em: https://www.arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/
biselli--katchborian-arquitetos-associados-complexo-habitacional-e-cultural---ppp-julioprestes-sp#. Acesso em: 28 abr. 2019.
40
3 pavtos.
forme imagem ao lado (planta-chave), por conter HIS e por estar localizado no
por ter tomado como elemento central a mistura das funções habita-
1. Fonte: LOTE 1 - Complexo Júlio Prestes. [S. l.], [2016?]. Disponível em: http:// www.habitacao.sp.gov.br/icone/detalhe.aspx?Id=13. Acesso em: 28 abr. 2019.
Creche
ANÁLISE
“[...] Mais do que a forma arquitetônica dos edifícios, o trabalho é relevante no que se refere à estratégia para regenerar o entorno [...]
-
II
II
I - Escola de música; II Condomínio HIS; III Condomínio HMP; IV Área comercial; V - Praça central; VI - Quadra; VII Creche.
calizar os acessos das edificações. Analisando somente a proposta do projeto é possível perceber que ele tem potencial para qualificar o entorno, mas ainda assim é necessário intervenção pública para lidar com os problemas da cracolândia. Em nenhum momento da visita foi possível sentir segurança de andar pelo local e nem foi visto a presença dos moradores do conjunto. Havia apenas moradores da cracolândia circulando
pela região.
Maquete eletrônica, Biselli & Katchborian
Thuany Stephany
Nelson Kon
2
3 2
2
2
2
2
2
Thuany Stephany
2
2
Thuany Stephany
2
2
2
2
2
2 2
1 2
2
2
2 2
2
TORRE 7
TORRE 8
TORRE 6
Plantas / Fonte: Arcoweb
Legenda:
2
2
2
2
2
2
2
2
2
1 - Unidade de 01 dormitório: 36.5 m² 2 - Unidade de 02 dormitórios: 38.5 m²
2
2
2
1
3 - Unidade de 03 dormitórios: 53.0 m² Obs.: m² aproximado
2 2
2
2
2
2
2
2
2
1
2
TORRE 5
1
2
2
2
TORRES 1 A 4 41
3.4. Estudo de caso 04 - Centro Cultural Porto Seguro
Planta do térreo / Fonte: São Paulo Arquitetura
FICHA TÉCNICA
TABELA DE ÁREAS
Projeto: Centro Cultural Porto Seguro
9
8
Cliente: Porto Seguro - Seguros Arquiteto: Yuri Vital, São Paulo Arquitetura e Miguel Muralha
Térreo
Ano: 2016
7
Localização: Campos Elísios, São Paulo - SP
6 5
Programa Geral: espaço cultural Área construída: 3.800m²
1
2
3
4 1° pav.
(%)
Hall de entrada
18,40
0,48
Coquetel
63,19
1,66
Exposição interna
81,50
2,14
Exposição externa
22,56
0,59
Ateliê
23,00
0,60
Sala de aula
13,68
0,36
Loja
13,05
0,34
Área técnica
10,00
0,26
Banheiros
19,87
0,52
Circulação horizontal e vertical
108,29
2,84
Exposição mezanino
92,00
2,42
Sala de aula
45,43
1,19
Banheiros
19,87
0,52
DESCRIÇÃO DO PROJETO
Circulação horizontal e vertical
96,58
2,53
“[...] Concebido para ser local de desenvolvimento e apresentação das mais variadas
Curadoria
31,75
0,83
Administração
13,68
0,36
Banheiros
19,87
0,52
Circulação horizontal e vertical
49,25
1,29
Estacionamento
506,58
13,33
Área técnica
30,31
0,80
10
expressões artísticas contemporâneas, o espaço tem como objetivo abrigar: exposições, ateliês, cursos, workshops, simpósios, feiras, festas e festivais. Portanto, a diversidade da espacialidade dos espaços internos foi pensada para conferir grande
01: acesso pedestre; 02: hall de entrada; 03: coquetel; 04: exposição interna; 05: exposição externa; 06: ateliê; 07: sala de aula; 08: praça; 09: loja; 10: área técnica.
2° pav.
flexibilidade de uso, o que possibilita, assim, diversos arranjos de curadoria e escalas 1° subsolo
de exposições. [...]”. ¹
6,48
0,17
Circulação horizontal e vertical
209,30
5,50
lugares que cercam o espaço cultural, como o restaurante, o outro prédio da Porto
Exposição interna
294,28
7,74
Seguro e uma loja ao fundo. De acordo com Vital, a praça proporciona um respiro
Reserva técnica
35,80
0,94
Sala de ar condicionado
40,85
1,07
Copa
14,17
0,37
Sala de dados
17,00
0,44
Q.G.B.T
17,13
0,45
Sala de "no break"
8,48
0,22
D.M.L
4,35
0,11
Depósito
2,78
0,07
Sala de segurança
13,00
0,34
Banheiros
27,00
0,71
Circulação horizontal e vertical
134,70
3,53
Á. construída levantada a partir das plantas 2104,18
55,24
Área construída total 3800,00
100,00
“Através da praça, um vazio é criado para ser o ponto de conexão entre os demais
Planta 1° pavimento / Fonte: São Paulo Arquitetura
que separa as edificações e, sobretudo, respeita a antiga construção do liceu, situado na via oposta. “Ao subirmos a rampa de acesso ao mezanino, a transparência do vidro revela toda a fachada da escola. É como se a trouxéssemos para dentro da gale-
2
ria de arte”, se entusiasma Yuri Vital.
2
Por se tratar de um espaço de exposições, o Espaço Cultural Porto Seguro exigia
atenção especial quanto à acústica dos ambientes, que deveria impedir a produção
1
de ecos. Sem qualquer intervenção de revestimento específico, esse objetivo foi alcançado através da própria arquitetura, apenas com a disposição das paredes, que não são paralelas, e assim, melhor dissipam a onda mecânica da voz”. ²
1. Fonte: CENTRO Cultural Porto Seguro. [S. l.], 2 maio 2016. Disponível em: https:// www.archdaily.com.br/br/786322/porto-seguro-cultural-center-sao-paulo-arquitetura. Acesso em: 28 maio 2019 2.
Fonte:
MATUZAKI,
Thais. Dobras
instigantes. [S. l.], [2016?]. Disponível em: https://
www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/sao-paulo-arquitetura_yuri-vital_/espaco-cultural-porto-
seguro/2868. Acesso em: 28 maio 2019.
42
(m²)
01: exposição mezanino; 02: sala de aula.
2° subsolo
Banheiros
Acervo São Paulo Arquitetura
Acervo Yuri Vital
Acervo São Paulo Arquitetura
Acervo São Paulo Arquitetura
Planta 2° pavimento / Fonte: São Paulo Arquitetura
ANÁLISE Este projeto foi escolhido como estudo de caso, pois buscava-se um espaço cultural um pouco menor do que os espaços mais utilizados, tanto em dimensões quanto em programa. A respeito disto, foi utilizado como referência o ambiente de exposições que é pequeno, mas tem sua
2
1
planta livre para ser flexível ao objeto exposto. Apesar de ser um projeto bastante elegante, viu-se que não foi interessante fazer fachadas cegas, apesar do programa interno "exigir", pois pouco se relaciona com o entorno. Corte AA / Archdaily
01: curadoria; 02: administração. Planta 1° subsolo / Fonte: Archdaily
Planta 2° subsolo / Fonte: São Paulo Arquitetura
3 8
9 10
7
1
11
Corte BB / Archdaily
5
6 1
2
2
01: estacionamento; 02: área técnica.
2
4
3
2
01: exposição interna; 02: reserva técnica; 03: sala de ar condicionado; 04: copa; 05: sala de dados; 06: Q.G.B.T.; 07: sala de “no break”; 08: caixa d’água; 09: D.M.L.; 10: depósito; 11: sala de segurança.
Corte CC / Archdaily
43
3.5. Estudo de caso 05 - IMS Paulista
FICHA TÉCNICA
TABELA DE ÁREAS Cabine de segurança Cozinha Restaurante Térreo Banheiros
ACESSOS E CIRCULAÇÕES Fonte: Archdaily
Projeto: IMS - Paulista Cliente: Instituto Moreira Salles Arquiteto: Andrade Morettin Arquitetos
Elevador de carga
Ano: 2017
(m²) 11,38
(%) 0,13
40,35
0,47
114,80
1,33
10,75
0,12
18,30
0,21
Átrio Térreo ElevaRecepção, livraria e café do Banheiros
45,00
0,52
307,88
3,55
18,00
0,21
Midiateca (+4.20)
Biblioteca e bibliotecário
178,88
2,07
Administração
122,77
1,42
Midiateca (+7.35)
Área de espera
16,85
0,19
Sala de aula
70,40
0,81
Foyer e bar
111,15
1,28
Área técnica
20,70
0,24
Auditório
161,00
1,86
to particulares; um museu, enfim, de caráter marcante, que proporcione uma
Palco Vestiário Apoio de palco
55,77 7,95 28,40
0,64 0,09 0,33
experiência única e pessoal para quem o visita.
Sala de projeção
25,20
0,29
A espacialidade do museu é dada e percebida, sobretudo, a partir dos vazios
Sala de tradução Rádio Vestiário Camarim Banheiros
3,44 14,00 7,95 28,40 33,23
0,04 0,16 0,09 0,33 0,38
370,30
4,27
370,30
4,27
193,60 8,58
2,24 0,10
16,71
0,19
104,53
1,21
o edifício um segundo registro, que é mutável em função da natureza do am-
Área construída levantadas em planta 2516,57
29,04
biente e da posição do observador. Como resultado, o interior do museu se
Área construída total do projeto 8662,00
100,00
Localização: Av. Paulista, 2424 - Bela Vista, São Paulo - SP Programa Geral: museu, centro cultural Área construída: 8662.0 m²
DESCRIÇÃO DO PROJETO “[...] Imaginamos um museu acessível, ancorado no presente, que tenha uma relação franca e direta com a cidade e que, ao mesmo tempo, ofereça
Acesso público
Circulação de visitantes
um ambiente interno tranquilo e acolhedor; um museu capaz de equilibrar a
Midiateca (+10.50)
vibração das calçadas com a natureza e a escala dos espaços museológicos; um espaço que exige uma qualidade de luz e percepção do tempo mui-
Midiateca (+13.65)
do edifício, que são os espaços de circulação e encontro que se espalham entre os volumes de programa e a fachada do edifício. [...] imaginávamos o interior do museu como um remanso – um espaço tranquilo e acolhedor para o visitante. Da mesma maneira, a luz que toma conta desses espaços carrega com ela o rastro da cidade, trazendo para o interior do museu a memória
Circulação de funcionários
do mundo que está a sua volta.
Carga e descarga
Por fim, existe a questão de como o edifício se coloca na cidade. O uso do vidro translúcido como segunda pele faz com que o museu seja percebido como um volume bem definido, íntegro, com a força necessária para estabelecer o seu lugar em meio aos vizinhos e aos demais edifícios da Av. Paulis-
Exposições Sala de exposições (+22.60) Exposições Sala de exposições (+32.90) Sala de exposições Exposições Laboratório (+38.05) Banheiros Workshop
ta. Por outro lado, as suas propriedades de luz e de translucidez criam para
manifesta sutilmente no espaço urbano”.²
Fonte: INSTITUTO Moreira Salles. [S. l.], 8 nov. 2017. Disponível em: https:// www.archdaily.com.br/br/883093/instituto-moreira-salles-andrade-morettin-arquitetos.
em: 1 jun. 2019.
44
Acesso
Acesso de veículos
Fonte: Archdaily
Salas de exposição
Facilidades técnicas
Midiateca
Estacionamento
Administração
Restaurante
Reserva técnica
Nelson Kon
Nelson Kon
Nelson Kon
Nelson Kon
Nelson Kon
Plantas / Fonte: Archdaily
3
f
b c
5
d
1
e
b
5 6
2 4
1
+7.35 Midiateca
+32.90 Exposições
05: área de espera; 06: sala de aula.
2 3 01: entrada; 02: cabine de segurança; 03: cozinha; 04: restaurante; 05: banheiros; F: acesso de veículos.
b c 6
12
9
0.00 Térreo
c 10
7
d
8
10
7 8
11
4
01: sala de exposições; 02: laboratório; 03: banheiros;
+10.50 Midiateca
a
4
+38.05 Exposições
e 9
1
13
07: foyer; 08: bar; 09: área técnica; 10: auditório; 11: palco; 12: vestiário; 13: apoio ao palco.
04: workshop.
ANÁLISE
+17.00 Térreo elevado
Este projeto foi escolhido como referência por dois principais motivos:
15 14
06: átrio; 07: recepção; 08: livraria; 09: café; 10: banheiros; A: escadas rolantes; B: escada de visitantes; C: elevador de visitantes; D: elevador de funcionários; E: elevador de carga.
o primeiro, pois a edificação "se abre" para o espaço público através da
17
16 +13.65 Midiateca
2
4
térreo que é uma continuidade da calçada e que convida o pedestre a entrar no edifício. O segundo, é devido a setorização dos espaços, mais preci-
14: sala de projeção; 15: sala de tradução; 16: rádio; 17: camarim.
1
fachada que transmite o espaço de dentro para fora e vice-versa, e, pelo
samente os espaços de serviço que se localizam em uma única lâmina permitindo que os ambientes nos pavimentos fiquem livres.
b c
1
d
e
b
+4.20 Midiateca 01: biblioteca; 02: bibliotecário; 04: administração. +22.60 Exposições
01: sala de exposições; B: escada de visitantes; C: elevador de visitantes; D: elevador de funcionários; E: elevador de carga.
45
3.6. Estudos de caso - Síntese
Central St. Giles
Empreendimento MEET
Complexo Habitacional e Cultural Júlio Prestes
Centro Cultural Porto Seguro
Fonte: Google Imagens
Fonte: Pedro Vannucchi
Fonte: Google Imagens
Fonte: Fabio Hargesheimer
Instituto Moreira Salles Fonte: Nelson Kon
Abaixo está o levantamento da porcentagem de áreas de cada projeto dos estudos de
caso, fazendo um comparativo na quantidade de espaços propostos dentro de cada edificação para auxiliar no desenvolvimento do projeto arquitetônico deste trabalho.
Uso Habitacional Projeto
46
Arquiteto/escritório
Uso Comercial
Uso Corporativo
Uso Cultural e/ou Educacional
Lazer
Privado
Comum
Serviços
Privado
Comum
Serviços
Escritórios
Comum
Serviços
Restrito
Comum
Serviços
Público
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
(%)
Central St. Giles
Renzo Piano, Fletcher Priest Architects
16,93
-
-
-
4,11
-
75,03
-
-
-
-
-
3,93
Empreendimento MEET
Konisberger Vannucchi
50,57
2,95
0,42
-
-
-
36,65
0,29
-
-
-
-
-
Complexo Habitacional e Cultural Júlio Prestes
BIselli & Katchborian
86,09
-
-
-
4,88
-
-
-
-
-
9,03
-
4,47
Centro Cultural Porto Seguro
Yuri Vital, São Paulo Arquitetura, Miguel Muralha
-
-
-
-
0,34
-
-
-
-
20,44
10,48
0,55
-
Instituto Moreira Salles
Andrade Morettin Arquitetos
-
-
-
0,47
1,45
-
-
-
-
3,97
23,15
-
-
4. LEGISLAÇÃO E ESTUDO DE VIABILIDADE URBANA
4.1 Legislação
Legislação Mapas produzido por: João Vitor Barroso
Legenda: OUC Bairros do Tamanduateí
Legenda: Macrozona de Estruturação e Qualificação Urbana
Operação Urbana Centro
Legenda:
Legenda: Macroárea de Estruturação M.
Eixos de Estruturação da Transformação Urbana
PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO DO MUNÍCIPIO DE SÃO PAULO - Lei n° 16.050, de 31 de julho
Macroárea de Urbanização Consolidada
de 2014 A seguir estão as principais diretrizes descritas no Plano Diretor Estratégico (legislação vigente)
renda de modo a aproximar a moradia do emprego;
VI – redefinição dos parâmetros de uso e ocupação do solo que promovam mescla e maior proxi-
que servirão de orientação para a produção do Trabalho de Conclusão (TC):
midade de diferentes tipologias residenciais para grupos de baixa, média e alta renda.
Título II - Capítulo I - Subseção I - Artigo 12 - § 3º Os objetivos específicos da Macroárea de Estru-
O terreno escolhido para o desenvolvimento do trabalho está localizado em ZEIS 3, conforme indi-
turação Metropolitana no Setor Central são:
50
IV – estímulo à provisão habitacional de interesse social para a população de baixa renda e média
I – fortalecimento do caráter de centralidade municipal, aumentando a densidade demográfica e a
cado no mapa abaixo. Em seguida, temos as principais diretrizes do PDE para esta Zona que servirão de orientação para o trabalho:
oferta habitacional, respeitando o patrimônio histórico, cultural e religioso, otimizando a oferta de
Título II - Capítulo II - Subseção I - Artigo 52 - Nas ZEIS 3 que contenham um conjunto de imóveis
infraestrutura existente; renovando os padrões de uso e ocupação e fortalecendo a base econômi-
ou de quadras deverá ser elaborado um projeto de intervenção contendo, de acordo com as característi-
ca local;
cas e dimensão da área, os seguintes elementos:
III – projeto com proposta para o parcelamento ou remembramento de lotes e plano de massas
Título II - Capítulo II - Subseção I - Artigo 44 - As Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), [...] são
associado a quadro de áreas construídas por uso;
porções do território destinadas, predominantemente, à moradia digna para a população da baixa renda
IV – previsão de áreas verdes, equipamentos sociais e usos complementares ao habitacional, a depender das características da intervenção. Legislação - Perímetro das Zonas Mapas produzido por: João Vitor Barroso
por intermédio de melhorias urbanísticas, recuperação ambiental e regularização fundiária de assentamentos precários e irregulares, bem como à provisão de novas Habitações de Interesse Social – HIS e Habitações de Mercado Popular – HMP a serem dotadas de equipamentos sociais, infraestruturas, áreas verdes e comércios e serviços locais, situadas na zona urbana.
Artigo 45 - As ZEIS classificam-se em 5 (cinco) categorias [...]: III – ZEIS 3 são áreas com ocorrência de imóveis ociosos, subutilizados, não utilizados, encortiçados ou deteriorados localizados em regiões dotadas de serviços, equipamentos e infraestruturas urbanas, boa oferta de empregos, onde haja interesse público ou privado em promover Empreendimentos de Habitação de Interesse Social.
Fonte: LPUOS - Lei 16.402/2016
§ 1º O projeto de intervenção, no caso das ZEIS 3, poderá ser elaborado como uma Área de Estruturação Local ou Área de Intervenção Urbana – AIU e poderá utilizar o Reordenamento Urbanístico Integrado, previstos no arts. 134, 145 e seguintes desta lei. Art. 134. [...] desenvolver Projetos de Intervenção Urbana para promover o ordenamento e a reestruturação urbana em áreas subutilizadas e com potencial de transformação, [...], para maior aproveitamento da terra urbana e o consequente aumento nas densidades construtivas e demográficas, implantação de novas atividades econômicas e emprego e atendimento às necessidades de habitação e de equipamentos sociais para a população. Art. 145. As áreas de intervenção urbana são [...] destinadas à reestruturação, transformação, recuperação e melhoria ambiental de setores urbanos com efeitos positivos na qualidade de vida, no atendimento às necessidades sociais, na efetivação de direitos sociais e na promoção do desenvolvimento econômico. Identificado que o terreno utilizado para o desenvolvimento do trabalho está localizado em ZEIS 3, segue as definições dessa ZEIS de acordo com a legislação vigente.
51
4.1 Legislação
Abaixo estão os parâmetros urbanísticos determinado pela legislação mais recente e que serão utilizados no desenvolvimento do trabalho: LEI DE PARCELAMENTO, USO E OCUPAÇÃO DO SOLO - Lei n° 16.402, de 22 de março de 2016 (Zoneamento) Nota: a gleba onde será desenvolvido o projeto tem 126.908,30 m². Assim, os parâmetros aqui apre-
sentados são aplicados exatamente para este tipo de terreno e para o que se pretende atingir no projeto.
QUADRO 2 - Percentuais de destinação de área pública Área do lote ou gleba (m²)
Percentual mínimo de área verde (%)
Percentual mínimo de área institucional (%)
Percentual mínimo de sistema viário (%)
Percentual mínimo de área sem afetação previamente definida
Total do percentual mínimo de destinação de área pública (%)
Maior que 40.000m² (a)
10
5
15
10
40
QUADRO 2A - Parâmetros de parcelamento do solo (dimensões de lote) por zona Tipo de zona
Zona
Qualificação - ZEIS
ZEIS - 3
Dimensões mínimas de lote
Dimensões máximas de lote
Frente mínima (m)
Área mínima (m²)
Frente máxima (m)
Área máxima (m²)
5
125
150
20.000
QUADRO 3 - Parâmetros de ocupação, exceto de Quota Ambiental Coeficiente de Taxa de ocupação Recuos mínimos (m) aproveitamento máxima Gabarito Cota parte máxide altura Fundos e laterais Tipo de zona Zona ma de terreno T.O. para lotes igual máxima Altura da edificação por unidade (m) C.A. máximo Frente Altura da edificação (m) ou superior a 500m² menor ou igual a 10 superior a 10m m Qualificação ZEIS - 3 4 0,7 NA 5 NA 3 (j) NA ZEIS (j) Os recuos laterais e de fundo para altura da edificação superior a 10m serão dispensados conforme disposições estabelecidas nos incisos II e III do artigo 66 desta lei QUADRO 3A - Quota Ambiental: Pontuação mínima, Taxa de Permeabilidade Mínima e fatores por perímetros de qualificação ambiental Taxa de permeabilidade (b) Pontuação QA mínimo Fatores Perímetro de qualifiCobertura cação ambiental Lotes maior ou igual a Lote > 5000 e menor ou Lote > vegetal Drenagem (beta) 500m² igual 10000m² 10000 m² (alfa) PA 1 0,25 0,8 1 0,5 0,5 (b) Quando a somatória da taxa de permeabilidade do Quadro 3A com a taxa de ocupação do Quadro 3 dor superior à 1,00 (um inteiro), a taxa de permeabilidade deverá ser respeitada e a taxa de ocupação reduzida proporcionalmente
52
4.1. Legislação 4.2. Estudo de viabilidade urbana DECRETO n° 57.377, de 11 de outubro de 2016
Para este terreno foi proposto atingir o Coeficiente de Aproveitamento (CA) máximo. Assim, foi definida a volumetria de cada edifício e atribuído um tipo de uso do solo para cada pavimento
QUADRO 1 - Categorias de HIS e HMP permitidas por zona Categoria de uso Subcategoria de uso
Residencial HMP
abaixo:
ZEIS - 3 Sim
Unifamiliar HIS
(vide diagramas a seguir). Quando as áreas são somadas, chega-se aos valores demonstrados
Qualificação
Modalidade
Conjunto horizontal
Sim
Conjunto vertical
Sim
Unifamiliar
Sim
Conjunto horizontal
Sim
Conjunto vertical
Sim
QUADRO 3 - Percentuais de área construída computável em EZEIS ZEIS
HIS 1
HIS 2
ZEIS 3
Mínimo 60%
Permitido
HMP
Total Permitido
Total Atingido
Metragem geral para HIS (m²)
304.579,92
303.093,00
Metragem geral para HMP (m²)
101.526,64
101.883,00
Metragem geral para outros usos (m²)
101.526,64
91.967,70
HIS + HMP + OUTROS USOS =
507.633,20
496.943,70
OUTROS USOS Máximo 20%
QUADRO 6 - Percentuais de destinação de áreas públicas Percentual mínimo de área verde e de área institucional (%)
Área do lote ou gleba (m²) Maior que 100.000m² e menor ou igual a 200.000m²
Percentual máximo de área passível de ser destinada (%) (a)
15
30 (c)
(a) majoração a critério da SAEHIS/SEL (c) incluindo o sistema viário do loteamento
Ao ser necessário determinar percentuais mínimos de área construída na ZEIS, foram feitos os seguintes levantamentos para a ocupação da gleba:
Gleba (m²) =
126.908,30
Gleba x Coeficiente de aproveitamento =
CA mínimo
CA básico
CA máximo
0,5
1
4
63.454,15
126.908,30
507.633,20
Percentual geral para HIS (%)
60
38.072,49
76.144,98
304.579,92
Percentual geral para HMP (%)
20
12.690,83
25.381,66
101.526,64
Percentual geral para outros usos (%)
20
12.690,83
25.381,66
101.526,64
53
4.2. Estudo de Viabilidade Urbana
SEM ESCALA
54
SEM ESCALA
55
5. PROCESSO DE PROJETO
5. Processo de projeto
Abaixo está o processo de projeto desenvolvido ao longo dos meses de estudo do Trabalho de Conclusão. Os estudos vão desde o projeto urbano para a gleba do Lavapés até a volumetria que se deseja atingir na quadra escolhida para o projeto arquitetônico.
01: ENSAIOS PARA ADENSAMENTO DA GLEBA
03: ENSAIOS PARA ADENSAMENTO DA GLEBA
02: ENSAIOS PARA ADENSAMENTO DA GLEBA
58
04: ENSAIOS PARA ADENSAMENTO DA GLEBA
05: ENSAIOS PARA ADENSAMENTO DA GLEBA
06: ENSAIOS PARA IMPLANTAÇÃO DO PARQUE
08: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA
07: ENSAIOS PARA ADENSAMENTO DA GLEBA
09: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA TÉRREO CORPORATIVO
59
10: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA - CORPORATIVO E CULTURAL
12: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA
13: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA
14: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA
11: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA - HABITAÇÃO
15: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA CORPORATIVO E CULTURAL
60
16: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA HABITAÇÃO
17: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA - CORPORATIVO, CULTURAL E HABITAÇÃO
19: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA - CORPORATIVO E CULTURAL
18: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA - CORPORATIVO E CULTURAL
20: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA - CORPORATIVO E CULTURAL
20.1: ENSAIOS PARA VOLUMETRIA DA QUADRA ESCOLHIDA - CORPORATIVO E CULTURAL
61
6. O PROJETO
6. O projeto
A proposta de projeto urbano e arquitetônico da gleba do Lavapés partiu de uma reflexão ao conhecer a área de intervenção e perceber as necessidades que ela apresentava. Estudando os conceitos de cidade compacta, de Richard Rogers, e quadra aberta, de Christian de Portzamparc, e, reconhecendo a gleba como um local potencial para receber intervenções que trouxessem vitalidade para a região, decidiu-se escolher a mesma como lote de estudo do projeto. O primeiro passo para a concepção do projeto foi a implantação de novas redes viárias para permitir a conexão da região, ou seja, dar novas possibilidades de acesso entre os bairros de maneira que fosse acessível, principalmente aos pedestres, pois atualmente a gleba se configura como uma grande barreira local.
Após a distribuição das novas quadras foram retomados os estudos iniciais da análise urbana para identificar onde o Plano Diretor Estratégico da cidade previu a área de alagamentos que ocorrem na região nos períodos de chuvas intensas. Visto que esta área está localizada em 3 quadras do projeto, optou-se por implantar um parque nesta região de maneira que ele servisse como drenagem natural das águas pluviais, aumentando a permeabilidade do solo, na tentativa de resolver os problemas causados devido aos alagamentos.
Além disso, a implantação deste parque tem como propósito melhorar a qualidade ambiental do ar no local, proporcionar outras formas de lazer para os habitantes próximos e convidar pessoas de outras regiões da cidade para usufruir de seus espaços trazendo vitalidade para a área. Além disso, é proposto que as ruas que conectam as quadras do parque tenham a tipologia de rua compartilhada onde
NOVOS CRUZAMENTOS VIÁRIOS
CAMINHOS DO PEDESTRE E DO AUTOMÓVEL
pedestres, ciclistas e veículos circulem no mesmo nível e em velocidade reduzida. Esta escolha se deu devido entender que era necessário unificar o parque e não fragmentá-lo em três quadras, mas ainda assim, permitir a conexão viária proposta.
ÁREAS PERMEÁVEIS E PÚBLICAS
Para fazer o parcelamento do solo foi considerado as diretrizes de alguns estudiosos do
campo do urbanismo como Jane Jacobs e Jan Gehl que sugerem a criação de quadras menores para atender a escala do pedestre. Assim, a gleba foi dividida em 11 quadras com distâncias de até 150 metros, aproximadamente, entre uma rua e outra. Essa escolha também é justificada por Jeff Speck quando ele diz:
mento, Uso e Ocupação do Solo de 2016 da cidade de São Paulo, em qual zona ele está localizado. Viu “[...] quadras menores criam cidades melhores [...] quanto mais quadras por quilômetro quadrado,
-se que se encontra na ZEIS 3 – Zonas Especiais de Interesse Social que são áreas com ocorrência de
mais escolhas o pedestre poderá fazer e mais oportunidades ele terá para alterar seu trajeto e che-
imóveis ociosos, subutilizados, não utilizados, encortiçados ou deteriorados localizados em regiões do-
gar a um endereço útil, um café ou uma lavanderia. Essas escolhas também tornam a caminhada
tadas de serviços, equipamentos e infraestruturas urbanas, boa oferta de empregos, onde haja interes-
muito mais interessante, ao mesmo tempo que diminuem as distâncias entre os destinos.” (Speck,
se público ou privado em promover Empreendimentos de Habitação de Interesse Social.
2017, p. 150)
64
O terceiro passo foi identificar as legislações urbanísticas do lote e verificar na Lei de Parcela-
Durante as análises da região, da legislação e da proposta que se pretende atingir, transformar a
“A vida nas ruas tem um impacto sobre a segurança, mas a vida ao longo da rua também tem um
gleba em uma nova centralidade com intervenções que promovam o adensamento do local, decidiu-se
papel considerável. Áreas urbanas com diversidade de funções proporcionam, todo o tempo, mais
retirar os imóveis que estão implantados atualmente em alguns trechos da borda da gleba. A decisão foi
atividades dentro e perto das edificações.” (Gehl, 2015, p. 99)
tomada porque após analisar lote a lote viu-se que os usos que estão ali são incompatíveis com a pro-
Para o projeto arquitetônico entendeu-se que era necessário diversificar os usos das edificações
posta, pois existem poucas casas de baixa densidade e outros imóveis vazios e/ou subutilizados. Para
implantadas na quadra para aplicar a teoria da cidade compacta e também para entender a relação de
não expulsar a população que reside nessas casas, o objetivo é realoca-la para as novas habitações
edificações com usos distintos e como elas podem se relacionar no pavimento térreo fazendo a transi-
propostas.
ção do espaço público para o espaço privado.
Assim, deu-se início aos estudos de volumetria das edificações que serão implantadas em cada
Os usos escolhidos foram Habitação de Interesse Social e Habitação de Mercado Popular, pois o
quadra. Estas volumetrias fazem parte de um estudo de plano de massas que seguem algumas diretri-
projeto é desenvolvido dentro de área de ZEIS; corporativo, pois a proposta do projeto é aproximar o
zes estabelecidas para a proposta urbana utilizando os conceitos de quadra aberta apresentados no
trabalho da moradia; espaço cultural, que tem o objetivo de promover lazer e cultura para a população;
início do caderno e, atendendo aos usos de ocupação do solo definidos na ZEIS 3 (60% de Habitação
e um térreo comercial com fachada ativa através de comércios, serviços e restaurantes que possam in-
de Interesse Social – HIS, 20% de Habitação de Mercado Popular – HMP e 20% de outros usos).
centivar o uso do espaço público por todas as pessoas, assim como diz Carlos Leite:
Além de ser necessário seguir a legislação que determina o uso do solo, utilizar os critérios de ocupação da ZEIS 3 como um local que é passível de receber diferentes usos nos ajuda a intervir no espaço urbano de maneira qualitativa para atrair diversos públicos, assim como diz Douglas Farr:
“A população residente tem mais oportunidades para interação social, bem como uma melhor sensação de segurança pública, uma vez que se estabelece melhor o senso de comunidade – proximidade, usos mistos, calçadas e espaços de uso coletivo vivos – que induz à diversidade socioterritorial – uso democrático e por diversos grupos de cidadãos do espaço urbano.” (Leite, 2012, p. 135)
“Uma variedade de usos permite que os moradores morem, trabalhem, se divirtam, se exercitem, façam compras e satisfaçam suas necessidades diárias a pé. Uma variedade de tipos de edificações permite que as pessoas com diferentes rendas e estilos de vida vivam no mesmo bairro sem prejuízo para seu caráter ou qualidade.” (Farr, 2013, p. 122)
Além destes conceitos, a análise de Jan Gehl também colaborou para o desenho do plano de massas: “[...] o caminho pode ser dividido em segmentos viáveis, onde as pessoas podem andar de praça em praça, quebrando naturalmente a caminhada, ou ao longo de uma rua atraentemente sinuosa, que convida o pedestre a ir de um trecho a outro. Uma rua sinuosa não deve ter curvas fechadas demais, que impeçam o pedestre de ver muito à frente, mas deve constantemente levar a voltas e curvas de onde novas vistas se abram.” (Gehl, 2015, p. 129)
Depois foi selecionada uma das quadras do plano de massas para ser detalhado o projeto arquitetônico. A quadra escolhida está situada próximo ao parque, pois desta forma é possível aprofundar o estudo do edifício e sua relação com o entorno de maneira que seja possível entender os conceitos de cidade compacta que apresenta várias funções. Gehl também fala sobre a importância da relação com o entorno:
65
PROPOSTA URBANA PLANTA DE SITUAÇÃO
Escala Gráfica
0
10
20
40
60
120m
Escala Grรกfica
PROPOSTA URBANA CORTE
0
10
20
40
60
120m
A
Começando pelo térreo comercial, a proposta foi deixar o espaço livre para permitir fruição pública onde o pedestre pode atravessar de um lado para o outro por dentro da quadra. No embasamento das torres residenciais foi proposto espaços de comércio para a fachada ativa e restaurantes com aberturas voltadas para a calçada e o miolo da quadra, de maneira que criasse um ambiente de apoio aos estabelecimentos com mesas para os clientes e permanência para as demais pessoas. Além disso, os acessos às residências receberam um "hall" semi-privado, pois faz parte do espaço público (junto à calçada), mas está mais reservado aos moradores. Isso também acontece no embasamento da torre corporativa que tem um "hall" mais reservado para acesso dos trabalhadores que leva à recepção, enquanto, o restante do espaço é destinado à ambientes comerciais. Já no embasamento do espaço cultural, optou-se por deixar o térreo livre para dar continuidade ao parque e a rua compartilhada, e também, para as pessoas utilizarem livremente, assim como acontece em alguns museus das cidades brasileiras como o MASP, em São Paulo, e o MAM no Rio de Janeiro. B
B
A
N
1
IMPLANTAÇÃO
A A
2
PLANTA - 2° SUBSOLO
A A
3
PLANTA - 1° SUBSOLO
Para o uso corporativo foi proposto criar espaços semelhantes ao de um coworking onde há uma área para uso coletivo, salas para uso privado destinadas a equipe de uma única empresa, sala de reunião, salas de uso individual para reuniões de uma a duas pessoas, copa e uma área de estar comum com vista para o parque. Devido as duas fachadas principais estarem voltadas para o norte e oeste, foram inseridos brises verticais como proteção solar. O projeto do espaço cultural foi desenvolvido com a proposta de oferecer espaços independentes em uma única torre. Ou seja, cada pavimento tem um tipo de uso (exposição, biblioteca e terraço com restaurante e mirante), mas para acessar determinado andar não é necessário passar por dentro de outro. Isso acontece pela circulação principal: a rampa, um elemento arquitetônico proposto neste edifício para dar continuidade ao espaço público da cidade, a rua, e ainda com vista para o parque. Por causa disso decidiu-se inseri-la no edifício de concreto como um elemento diferente, sendo de estrutura metálica atirantada, dando a sensação de como se estivesse suspensa, mas encaixada na edificação. Além disso, a rampa foi implantada na face norte da torre para servir como proteção solar aos espaços internos, pois estes são vedados com vidro para permitir a sensação de continuidade do espaço público no espaço privado.
A
N
PLANTA - 1° PAVIMENTO
A
4
A
N
PLANTA - 2° PAVIMENTO
A
5
A
N
PLANTA - 3° PAVIMENTO
A
6
A
N
PLANTA - 4° PAVIMENTO
A
7
A
N
PLANTA - 5° PAVIMENTO
A
8
9
CORTE AA
A
B
B
A
N
10
PLANTA - 1° AO 9° PAVIMENTO
Na disposição das tipologias de unidades habitacionais optou-se por implantar unidades de Habitação de Interesse Social (HIS) e Habitação de Mercado Popular (HMP) no mesmo pavimento para promover a interação das pessoas de diversas classes sociais. Como partido de projeto, devido a configuração da quadra, percebeu-se que seria mais interessante implantar as torres no formato lâmina onde os espaços privados (dormitórios) das habitações estivessem voltados para as faces externas das lâminas de modo que recebessem melhor ventilação e iluminação natural e que ficasse no lado oposto da circulação central para ter mais privacidade. Enquanto isso os espaços sociais das habitações ficam voltados para a circulação central de modo que propõe a ideia de continuidade do espaço público. A respeito da circulação central, o projeto propõe a sensação do espaço semi-privado, pois ao escolher não fazer vedações, permite que a cidade se relacione com o espaço privado. Além disso, os vazios entre as unidades habitacionais e o corredor central permite que ocorra iluminação e ventilação natural para dentro das residências e faz a divisão do espaço comum com o espaço privado, ou seja, quem circula pelo corredor não consegue visualizar o que ocorre dentro das casas.
A
B
B
A
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PLANTA - 10° AO 12° PAVIMENTO
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PLANTA TIPO 1 - HIS
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PLANTA TIPO 2 - HIS
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PLANTA TIPO 1 - HMP
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PLANTA TIPO 2 - HMP
Como proposta de adensamento da região, ao todo foram distribuídas 261 unidades habitacionais no projeto. Prevendo que haja variação de 1 a 5 pessoas em cada unidade, o projeto oferece espaço de moradia à aproximadamente 1.000 pessoas dentro de unidades habitacionais de 12.924 m², quando somadas.
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CORTE BB
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