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Nossos Assuntos
Como vencer o desafio da eficiência em pequenas áreas
T
amanho não é documento, diz a chamada da reportagem de capa, mas o desafio de ser eficiente e lucrativo fazendo pecuária sem muita terra não é pequeno. Tomando como base propriedades com áreas de até 600 hectares no Brasil Central e menores que isso no Sudeste e Sul, consultores ouvidos pelo repórter Ariosto Mesquita apontam o que consideram essencial para a viabilidade da pecuária de corte, desde ser tope em tecnologia a estar muito atento às oportunidades, além de foco muito definido, como só recria ou recria e engorda. Bons exemplos disso Ariosto trouxe da Estância Bacuri, de São José dos Quatro Marcos, no MT, que consegue rentabilidade de soja, ou seja, cerca de R$ 1.000 por hectare/ano, com menos de 300 ha de pasto; e da Fazenda Ledacara, de Selvíria, MS, com lucratividade equivalente em sistema de recria, numa área produtiva de 555 ha. Vale conferir as estratégias de cada uma e outras alternativas levantadas na reportagem, como a do cooperativismo que se tem revelado boa no Paraná. No dia a dia do mercado, a recuperação forte na cotação da arroba em agosto não avançou em setembro e a visão dos analistas se dirige para 2019, quando se espera a reversão sustentável do ciclo pecuário. Para quem se dedica à cria, a recomendação é de que vale a pena o esforço de preservar o plantel de matrizes para usufruir da valorização dos bezerros que irão nascer no ano que vem. Com o título “João K, o embaixador da integração”, a seção Prosa Quente traz a entrevista com João Klutskouski que vale, ao mesmo tempo, como uma homenagem a este respeitado pesquisador da Embrapa, considerado um dos pais da Integração Lavoura-Pecuária. O primeiro programa que desenvolveu nesta direção foi o Sistema Barreirão, lançado em 1983, consórcio de lavoura e capim que barateava a reforma de pastagens degradadas e base para outros sistemas na mesma linha, tão difundidos na integração. Na entrevista, João K diz que hoje a Embrapa toda trabalha com integração, envolvendo mais de 200 pesquisadores, prevendo que a exploração em sistemas integrados chegue a 20 milhões de hectares nos próximos três a quatro anos.
osta Demétrio C
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4 DBO outubro 2017
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Publicação mensal da
DBO Editores Associados Ltda. Diretores
Daniel Bilk Costa Demétrio Costa Odemar Costa Redação Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Moacir de Souza José Editora Assistente Maristela Franco Repórteres Fernando Yassu, Marina Salles, Mônica Costa e Renato Villela Colaboradores Alisson Freitas, Ariosto Mesquita, Carolina Rodrigues, Denis Cardoso, Enrico Ortolani, Mariane Crespolini, Niza Souza, Rogério Goulart, Sérgio De Zen e Tatiana Souto. Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves, Célia Rosa e Raquel Serafim Coordenação Gráfica Walter Simões comercial/Marketing Gerente: Rosana Minante Supervisora de Vendas: Marlene Orlovas Executivos de Contas: Andrea Canal, José Geraldo S. Caetano, Maria Aparecida Oliveira, Mario Vanzo e Vanda Motta Circulação e Assinaturas Gerente: Edna Aguiar Tiragem e circulação auditadas pelo
Impressão e Acabamento Log&Print Gráfica e Logística S.A.
DBO Editores Associados Ltda. Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 Tel.: 11 3879-7099 Para assinar, ligue 0800 11 06 18, de segunda a sexta, horário comercial. Ou acesse www.assinedbo.com.br Para anunciar, ligue 11 3879-7099 / 3803-5500 ou comercial@midiadbo.com.br
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Arames Belgo: uma marca da Belgo Bekaert Arames
Sumário Prosa Quente 12 J oão K fala da integração e da
Integração 70 B oi mostra seu valor
Mercado 24 C oluna do Cepea – Cria,
74 I LPF impulsiona produção
importância dela para a pecuária
desafios e oportunidades.
26 E m “voo de galinha”, mercado fica estável em setembro.
28 B ezerro sobe mais de 10% no Mato Grosso do Sul
30
oluna do Rogério – A alta C da arroba, sob três ângulos.
Cadeia em Pauta 32 C om suspensão temporária
de compras, JBS dá susto em produtores.
Eventos 46 A os 10 anos, Interconf muda de nome a local de realização.
50 N o encontro da Scot, debate sobre a baixa utilização da inseminação.
Pastagens 64 P lanejamento forrageiro, arma contra a emissão de gases.
68 E mbrapa lança cultivar mais produtiva de azevém
54 Reportagem de capa
no reino do arroz
Pequenas só no tamanho Fazendas com área reduzida mostram elevada eficiência e rentabilidade
de carne no MT
Instalações 80 S uplemento determina tamanho do cocho
Seleção 84 O Canchim São Tomé faz ver para crer
Genética e Reprodução
Edição: Edgar Pera Arte final: Edson Alves Foto: Ariosto Mesquita (portão de entrada da fazenda ledacara, em Selvíria, MS)
90 B alanço da Asbia mostra
recuo na venda de sêmen
92 B ólus-termômetro é nova
ferramenta na detecção do cio
Nutrição 98 E mbrapa vai lançar sal
108
oluna do Ortolani – C Neospora, o protozoário assassino.
102 R ação extrusada combina
Manejo 110 “ Materneiro” bem treinado
Saúde Animal 104 C alendário ajuda a combater
Leilões 116 M ercado volta a registrar
mineral com indutor de cio praticidade e eficiência
melhor doenças reprodutivas
reduz índice de mortalidade
baixas históricas
Seções
8 DBO on line 10 Do Leitor 20 Giro Rápido
6 DBO outubro 2017
34 Cadeia em Pauta notas 88 Raças em Notícia 120 Eventos/Agenda
122 Empresas e Produtos 130 Sabor da Carne
DBOonline
portaldbo.com.br
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Presidente da Asbia prevê crescimento nas vendas de sêmen em 2017. Em entrevista ao editor Moacir José, Sérgio Saud diz que a retração nas vendas do segmento de corte no primeiro semestre deverá ser compensada no segundo. Além disso, há boa reação no mercado da genética para leite. No Rally, a pecuária mostra sua cara. Maurício Palma Nogueira, coordenador do Rally da Pecuária e entrevistado da seção Prosa Quente da DBO de setembro, destaca o papel da expedição do Rally na identificação das tendências da pecuária. Para ele, o crescimento do confinamento é e será sempre, no Brasil, reflexo da melhora da produtividade da pecuária a pasto. “A lei é frouxa em relação à qualidade de sementes de forrageiras”, diz executivo. Em entrevista a Thuany Coelho, Álvaro Peixoto, diretor geral da Barenbrug, diz que a legislação ainda permite a venda de material com baixo grau de pureza, cabendo em parte às empresas conscientizar os pecuaristas sobre a importância em investir em sementes de melhor qualidade.
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Dia a dia do boi gordo
Acompanhe no Portal DBO as cotações diárias do boi gordo nas principais praças pecuárias por meio da análise de Sidnei Maschio, tirada do programa Terraviva DBO na TV.
Alta pressão melhora a qualidade da carne.
Pesquisadores da Embrapa Agroindústria de Alimentos apontam como promissora a tecnologia da alta pressão hidrostática para melhorar a maciez da carne e a vida útil de produtos derivados com mínimas alterações de características nutricionais e de sabor. O processo é feito com a colocação dos produtos embalados em plástico numa câmara fechada hermeticamente e completada com líquido, que através de bombas e intensificadores tem sua pressão elevada até o nível desejado. Ou seja, a maciez da carne que não for conseguida pela pressão da seleção genética poderá ser obtida com essa outra alta pressão.
DEZ notícias a um clique
1. RS avalia retirar vacina contra
aftosa em 2019. Estado solicitará auditoria ao Mapa para mudar status sanitário antes do prazo estipulado no Plano Nacional de Erradicação da Febre Aftosa.
2.
Mapa publica edital de concurso. Serão contratados 300 médicos veterinários para atuarem como auditores fiscais agropecuários.
3. Anffa volta a criticar o Mapa.
Sindicato dos auditores fiscais agropecuários reitera que não foi consultado em relação à reforma administrativa do sistema de sanidade.
8
DBO outubro 2017
4. Exportações de carne em alta em 2017. De janeiro a agosto, país exportou 5,5% a mais do que no mesmo período do ano passado.
5. Angus prospecta negócios na Alemanha.
Associação marcou preseça na feira de Anuga visando aumentar exportações de carne certificada.
6. Turquia puxa vendas de gado vivo. País foi
destino de quase um terço das 55 mil cabeças embarcadas em agosto.
Documento editado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária entrou em vigor em setembro e traz mudanças em relação a bem-estar animal e proíbe indicações de estabelecimentos comerciais.
9. Como a recuperação de pastagens
pode ajudar o meio ambiente? Estudo do Observatório ABC mostra que recuperar 15 milhões de hectares degradados pode reduzir as emissões em 40,2 milhões de toneladas de CO2 equivalente ao ano.
7. Pecuária bovina cresceu em 2016, diz IBGE. 10. Ferramenta calcula custos de Total do rebanho passa de 218 milhões de cabeças, com 34,4% no Centro-Oeste.
8. Veterinários têm novo código de ética.
produção do confinamento. Modelo desenvolvido na USP é gratuito; universidade também fornece indicador mensal de custos para a atividade com base em SP e GO.
Do leitor Brincos em bovinos Lendo reportagem “Colar de mãe”, na pág. 114 da DBO de setembro sobre a colocação de plaquinha de identificação em bovinos, gostaria de saber o seguinte: tempos atrás comprei um furador de orelhas para proceder exatamente como a reportagem orienta. Furava a orelha de bezerros recém-nascidos ou no máximo após dez dias de nascidos. Cerca de 20 dias depois colocava o brinco. Ocorre que após uns sete dias o furo já estava fechado. Com isso, acabei voltando ao método tradicional: colocava o brinco tão logo tivesse oportunidade, pois trabalho com poucas vacas. Vendo o bezerro citado na reportagem, notei que ele não tem o furo feito na orelha. Daí não entendi bem como se faz esse procedimento. Então, gostaria de saber como fazer o furo e evitar que o mesmo se feche antes da cicatrização.
Wilson Ferreira Paraíso do Tocantins, TO
O zootecnista Adriano Gomes Pascoa responde:
Ainda não existem estudos específicos sobre o tempo que o furo fecha em bovinos. O que se sabe é que em algumas raças, como os cruzamentos com Angus, o furo acaba fechando mais rápido do que no caso do Nelore. Outra observação é que furos feitos no primeiro dia de nascimento fecham mais rápido do que os feitos a partir do segundo dia, quando a cartilagem já está mais resistente. Além disso, os alicates furadores têm de estar bem afiados e com as almofadas em bom estado, para que a colabagem (quando a pele dos dois lados da orelha gruda uma na outra) seja eficaz. O uso de pomada cicatrizante também diminui o risco de o furo fechar. O animal na foto não tem a orelha furada, pois nessa
10 DBO outubro 2017
propriedade os furos são feitos uma semana após a liberação da mãe e bezerro para outro piquete.
Embriões de TE Tenho notado que produtos provenientes de transferência de embriões são diferentes em relação a crescimento, produção, tipo de padrão, etc. Mas minha dúvida é se eles não deveriam ser idênticos ou pelo menos similares, partindo-se do princípio de que os embriões foram coletados de uma vaca escolhida a dedo, excelente doadora de embriões. Temos nos assustado bastante com produtos de TE e fertilização in vitro (FIV) em gado de corte tanto nacional quanto importado. Não tem importado a fazenda ou a linhagem – vários produtos mostravam grande diferença na padronização.
Willy Groot Holambra, SP
O médico veterinário Pietro Baruselli responde:
Tentando responder, sabemos que normalmente os bovinos ovulam apenas um folículo por ciclo estral. Entretanto, quando uma vaca recebe um tratamento com hormônio FSH para promover uma superovulação, ocorre o recrutamento de vários folículos presentes nos ovários. Esses folículos, que fisiologicamente não ovulariam, possuem também um ovócito de qualidade, que, após a fertilização, é capaz de produzir um embrião que gera um bezerro semelhante ao da monta natural ou inseminação artificial. Vários estudos científicos foram realizados em todo o mundo e não foram detectadas alterações nas progênies que pudessem comprometer a utilização da técnica de transferência de embriões.
Combate às moscas Gostaria de saber se posso usar, para combater a mosca-dos-estábulos, o mesmo tratamento proposto para a mosca-dos-chifres, publicado na reportagem sobre o assunto, na edição de julho último, à página 78.
Mário Campos São Francisco de Paula, MG
O pesquisador Thadeu Barros, da Embrapa Gado de Corte, responde:
“Apesar de a mosca-dos-chifres e a mosca-dos-estábulos serem hematófagas e pertencerem à mesma família (Muscidae), são espécies que possuem características biológicas e ecológicas bem distintas. Portanto, medidas de controle recomendadas para o controle de uma espécie não seriam adequadas à outra. N.R.: DBO publicou, na edição de maio de 2017, reportagem sobre a eficácia de um método de controle no combate à mosca-dos-estábulos.
Correções Por um erro de digitação, foi publicado um número errado na reportagem de capa da edição de setembro (“Sem interrupção”, Especial de Genética e Reprodução), que está na página 60, no bloco do intertítulo “Sem problema com a mão de obra”. O rebanho total da Fazenda Periquitos no ano de 2009 era de 14.000 animais e não de 40.000. Já na seção “Cadeia em Pauta”, nota da página 42 sobre o frigorífico Frigol, o município onde está a sede da empresa está errado: o correto é Lençóis Paulista, não Agudos, como saiu publicado.
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Prosa Quente
João K,
o embaixador da integração
Q
O jovem Klutskouski aos 14 anos, na formatura do colégio agrícola, em 1964.
uem conhece João Kluthcouski (o João K) logo percebe que ele é movido a entusiasmo. Um combustível que pode queimar rápido, mas que reacende na mesma velocidade, quando encontra meio adequado; e contagia quem está por perto, faz as pessoas acreditarem que tudo é possível. Dono de gestos largos, voz de arauto e tiradas engraçadas, João K, 67 anos, é um comunicador nato. Recentemente agraciado pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) com o prêmio Norman Borlaug, por sua contribuição à agricultura tropical, ele é velho conhecido de DBO. Frequenta nossas páginas desde os anos 90, quando começou a forjar sistemas de integração e difundi-los Brasil afora. Poucos pesquisadores são tão respeitados (e admirados) por produtores de todo o Brasil (andam até lhe pedindo autógrafos...). João também transita facilmente entre os trabalhadores do campo, partilhando da mesma simplicidade, com sua camisa polo, seu rosto afogueado pelo sol e suas inseparáveis sandálias de couro. Agrônomo de formação, ele tem vasta lista de serviços prestados ao agronegócio. Pode ser chamado, sem medo, de um dos pais da integração lavoura-pecuária no Brasil ou talvez seu “padrinho” mais fiel. Como pesquisador da Embrapa, desenvolveu quatro sistemas de ILP (o Barreirão, o Santa Fé, o Santa Brígida e o Vacaria), mas, quando jovem, sonhava com outra profissão: veterinária. “Sou o caçula de seis irmãos. Meus pais eram filhos de imigrantes poloneses e ucranianos. Trabalhavam duro no sítio onde morávamos, em Apucarana, PR, cidade onde nasci, em 1950. Não tínhamos dinheiro, mas havia fartura de frutas, verdura. Tive uma infância extraordinária. Eu entregava leite a cavalo, cuidava das galinhas, dos gansos. Quando terminei o colégio agrícola, fui para Curitiba fazer cursinho para o vestibular de veterinária. Dois irmãos meus, que nem estavam estudando, decidiram fazer o mesmo. Adivinha quem passou? Eles. Quando chegaram de cabeça pintada, eu desabei no choro. Entrei no ônibus em Curitiba chorando e cheguei em Apucarana chorando”, relembra.
12 DBO outubro 2017
Salvo pelo gongo Acontece que João também fizera vestibular para agronomia na Universidade de Pelotas, RS, cujo resultado nem havia conferido, porque queria ser veterinário. Seu irmão mais velho descobriu que ele tinha passado, conseguiu que fosse matriculado mesmo fora do prazo e o colocou no ônibus para Pelotas. “Deus sabe o que faz, a veterinária não era meu caminho. Eu não tinha dinheiro, por isso alguns colegas me deixaram dormir em um colchãozinho, no chão do quarto onde moravam. Como retribuição pela ajuda, eu ia comprar pão para eles. Vendo minha situação, o português da padaria me olhou e falou: ‘Filho, quando você tiver fome, vem aqui que te dou pão; um dia, quando puder, você me paga’. Nunca vou esquecer isso”, relembra João K, emocionado, sem conter as lágrimas. Um ano após se formar, em 1973, ele passou no processo de seleção da Embrapa (então recém-criada) e foi trabalhar na unidade de Cruz das Almas, BA, hoje Embrapa Mandioca e Fruticultura. Em 1975, a instituição o enviou para fazer pós-graduação nos Estados Unidos, junto com outros pesquisadores. “Fomos primeiro para Buffalo, no Estado de Nova York, para aprender inglês. A professora falava ‘first of all’ (em primeiro lugar), eu entendia festival (risos)”. João fez mestrado na Universidade do Mississipi, em fertilidade de solo. De volta ao Brasil, em 1976, foi trabalhar no Centro Nacional de Arroz-Feijão (CNPAF), em Goiânia, GO, onde ajudou a desenvolver o Sistema Barreirão. Em 1985, tornou-se consultor de a órgãos governamentais; voltou ao CNPAF em 1990 e, em 1998, fez doutorado em fitotecnia, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). Dois anos depois, desenvolveu o Sistema Santa Fé e não parou mais. Hoje, atua como difusor de tecnologias da Embrapa Cerrados, viajando pelo Brasil todo como “embaixador” da integração lavoura-pecuária. A entrevista a seguir, concedida aos jornalistas Moacir José e Maristela Franco, é também uma homenagem a esse pesquisador genial.
Com pelo menos quatro sistemas de ILP no currículo, o pesquisador da Embrapa diz que sem a braquiária não há salvação para os solos arenosos Maristela - Como surgiram os sistemas de integração lavoura-pecuária da Embrapa? Conta pra gente um pouquinho dessa história. João K - Em 1981/82, eu trabalhava com fertilidade do
solo e participei de um trabalho com aração invertida [conduzido à época pelo Centro Nacional de Pesquisa Arroz-Feijão (CNPAF), em parceria com o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento(Cirad), da França]. O que era essa aração invertida? Em vez do preparo convencional, que formava o chamado pé-de-grade, causava erosão, deixava a cultura do arroz de sequeiro sujeita aos veranicos, principal causa de perda da lavoura, nós usávamos o arado de aiveca, que corta a uma profundidade de até 55 cm, apenas virando (invertendo) o perfil do solo, sem desestruturá-lo, o que permitia a incorporação da matéria orgânica, a descompactação do solo e a infiltração de água da chuva. O arroz, agradecido, respondia com alta produção. Isso virou manchete, capa de revista. Em uma semana, recebemos mais de 11.000 cartas. Os produtores começaram a nos procurar para adotar a tecnologia e resolver outros problemas. Foi nessa época que o Vasco Rodrigues da Cunha, de Cromínea, GO, me pediu para fazer lavoura de arroz com aração invertida em uma área de pastagem degradada onde ele queria plantar café. O objetivo era acabar com a braquiária, muito difícil de controlar, mas o resultado foi oposto. O arroz deu uma produtividade fantástica, mas a braquiária voltou com tudo. O Vasco falou: “João, quebramos”, e eu pensei: “Quebramos a cara” (risos). Moacir - Não tinha a opção de dessecar esse capim? João K - Não, na época nós não tínhamos os herbici-
das que temos hoje para fazer a dessecação do capim. A forma de abaixar o pasto era a boca do boi, ou então usando grade. O Vasco colocou um monte de gado lá pra acabar com a braquiária, mas não conseguiu, porque ela estava adubada. Sem querer, eu havia descoberto uma alternativa barata para reformar pastagens degradadas. Dessa propriedade, fui para uma fazenda vizinha, a Barreirão, de Augusto Zacharias Gontijo, de Piracanjuba, GO, onde a equipe da Embrapa montou mais de 60 experimentos para pesquisar o comportamento do consórcio e medir seus resultados. Esse trabalho culminou no lançamento do Sistema Barreirão, em 1983. Ele foi o embrião de todos os outros sistemas de consórcio que tivemos depois no País e que ajudaram a viabilizar a integração lavoura-pecuária em larga escala. O Barreirão foi um sucesso. A indústria do arado de aiveca passou a ter três turnos de fabricação. O sistema virou uma febre
[foi objeto de reportagem do Anuário DBO quando já completava 10 anos no campo, em 1994]. Maristela - E você nunca mais parou de casar capim com culturas graníferas. Como surgiu o Sistema Santa Fé? João K - Após ficar cinco anos fora da Embrapa, pri-
meiro como assessor da Codevasp (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e depois como diretor do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, eu voltei para a pesquisa. Um dia fui visitar a Fazenda Santa Fé, em Santa Helena de Goiás, do produtor Ricardo Merola, que produzia feijão irrigado e estava tendo problemas com uma doença terrível de solo, chamada mofo branco. Intrometido que sou, disse a ele: “Merola, me deixa tentar sufocar esse fungo com palha de braquiária, assim ele não emerge do solo”. Consegui um hectare para o experimento, onde plantei milho com capim (como no sistema Barreirão), mas sem usar aiveca, pois o solo era corrigido e podíamos fazer plantio direto. Montei vários tratamentos, para fins comparativos, e o resultado foi fantástico: nenhum efeito negativo sobre a produtividade do milho. O Merola plantou cerca de 100 hectares com o Santa Fé para controlar o mofo branco nas áreas de pivô e, assim, viabilizar novos cultivos de feijão. Um dia o Tarcísio Cobucci, à época também pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Arroz-Feijão (CNPAF), levou o pessoal da Basf à fazenda para mostrar nosso trabalho e eles decidiram firmar parceria com a Embrapa, para transformar o Sistema Santa Fé em uma tecnologia nacional. Investiram US$ 250.000 no pro-
Com os jornalistas Maristela Franco e Moacir José, no estúdio da DBO.
outubro 2017 DBO
13
Prosa Quente
Com a economista Lídia Yokoyama, em reportagem de DBO sobre Sistema Barreirão, em 1994.
Os pesquisadores João K e Tarcício Cobucci com Ricardo Merola (à dir.) mostrando o Sistema Santa Fé.
jeto, que foi testado em várias partes do Brasil. O que é o Santa Fé? É um sistema de consórcio para solos corrigidos. Qual o objetivo dele? Produzir palha para o plantio direto, pra cobrir o solo, e comida para o boi na entressafra. A DBO, por meio da Maristela, foi o primeiro veículo de comunicação do Brasil a apresentar o sistema e agradeço muito a vocês por isso.
Moacir - Você disse símbolo mundial. Onde mais se usa o sistema Santa Fé? João K - Na África, na América do Sul praticamente
Maristela - Fizemos nossa reportagem de capa sobre o Santa Fé em 2000. Como está o sistema hoje, João? Ainda é muito usado? João K - Temos 12 milhões de hectares com integração
O Santa Fé já é praticado em 10 milhões de ha”
no Brasil e vamos chegar a 20 milhões nos próximos três ou quatro anos. Acredito que o Santa Fé seja praticado em pelo menos 10 milhões de hectares. É o consórcio mais popular do País. Tem Santa Fé com milho, sorgo, milheto, girassol e até com soja. No começo, plantávamos a braquiária misturada com o adubo, cerca de 4 a 6 cm abaixo da semente do milho, para evitar que ela atingisse a posição da espiga, prejudicando a produção e a colheita dos grãos. Hoje, não se faz mais isso. A braquiária é distribuída a lanço; na sequência, planta-se a cultura granífera e a própria plantadeira enterra as sementes da forrageira. Nascem as duas juntas, mas, para dar uma vantagem ao milho, antecipamos a adubação nitrogenada. Assim, ele cresce rápido e sombreia o capim. Por sorte, nos primeiros 40 dias de vida, a braquiária desenvolve mais seu sistema radicular do que sua parte aérea. É um casamento perfeito. Se o produtor cometer algum erro na adoção do sistema e o capim crescer demais nessa fase inicial, basta aplicar uma subdose de graminicida. Foram criados mecanismos para garantir a produtividade de grãos. O Sistema Santa Fé introduziu definitivamente o capim na rotação de culturas, resolveu o problema da oferta de palha para o plantio direto, se tornou um símbolo mundial de integração. Antes dele, era obrigatório semear milho no limpo e colher no limpo. Nós passamos a semeá-lo no limpo e colhê-lo no “sujo”, que é o capim. Isso mudou a visão dos produtores, das universidades. Muita gente dizia: “Esse João K é louco”. Quebrou-se um paradigma.
14 DBO outubro 2017
inteira, no cinturão tropical do globo. Todas essas tecnologias que nós desenvolvemos são para os trópicos. Por isso, os países de clima temperado ficam de orelha em pé: enquanto nós fazemos três safras a cada 12 meses na mesma área, eles fazem uma. Maristela - Quantos sistemas de consórcio para integração lavoura-pecuária a Embrapa já validou até agora? João K - Acho que sete: Barreirão, Santa Fé, Santa Brí-
gida, Vacaria, Santa Ana, São Mateus e São Francisco. Fomos os primeiros a escrever um livro sobre a importância da palhada de braquiária no plantio direto. Maristela - Qual o papel do capim nesses consórcios? João K- Acho que foi o John Landers, pioneiro no de-
senvolvimento do sistema de plantio direto na palha (SPDP), quem disse em uma publicação: braquiária é mais do que pasto. Essa frase eu uso sempre. A braquiária é formadora de palha, alimento para o boi, fonte de fósforo, inimiga de fungos causadores de doenças e controladora das plantas daninhas, porque não admite competição. Com seu sistema radicular profundo e agressivo, ela ajuda a recuperar o solo, cria o que eu chamo de “avenidas de água”. A braquiária é uma fábrica de água, que, ao invés de escorrer, se infiltra com facilidade nos canais criados pelo capim. Na região de Rancharia, SP, onde foi desenvolvido o Sistema Vacaria, vi áreas com declive de 8% sem nenhuma curva de nível e sem erosão, por causa da braquiária.
Moacir - E eram solos arenosos... João K - Sim, essa é a maior revolução que está ocor-
rendo no País.
Maristela - Você já me disse que a braquiária é a salvação desses solos arenosos, pois viabiliza a lavoura. Sem braquiária não dá? João K - Sem braquiária, esquece os solos arenosos para
produção agrícola. É preciso cobri-los, por causa das al-
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Prosa Quente zendo sobressemeadura de avião] – e colocássemos nessas pastagens cinco garrotes por hectare, teríamos 115 milhões de animais em palhadas. Trata-se de um número utópico, mas que demonstra o potencial desse belo país chamado Brasil. Os agricultores têm tudo para fazer integração, mas precisamos encontrar alternativas para que o pecuarista aprenda a fazer lavoura. Como ele aprende? Arrendando áreas, fazendo parcerias com os “lavoureiros”.
Detalhe do Sistema Santa Brígida desenvolvido por João: consórcio de milho (aqui já colhido) com capim e guandu anão.
Moacir - Esse é o melhor caminho? João K - Sim. Já conversei com pecuaristas que arren-
tas temperaturas, e incorporar-lhes matéria orgânica, para que retenham água. Somente com capim se consegue isso. Estima-se que 50 milhões de ha de pastagens degradadas no País estejam em solos arenosos, começando pelo oeste da Bahia, MS. Somente em São Paulo são 9,5 milhões de ha, nessa faixa oeste que vai da divisa com Minas até Rancharia, Marília, Lins. Tudo aquilo lá é arenoso, degradado. Ninguém acreditava ser possível plantar soja nessa região, mas a braquiária viabilizou isso. Moacir - Na série de reportagens de DBO sobre a saga do pecuarista Carlos Viacava como integrador iniciante [na Fazenda Campina, em Presidente Venceslau, cujos solos também são arenosos], você disse que o pecuarista, depois que começa a fazer integração, não para mais. Qual é o principal desafio de quem está começando? João K - O primeiro desafio é tomar a decisão. É preci-
so estar disposto a começar – pequeno, mas pensando grande. O segundo desafio é o domínio das técnicas de cultivo. Faltam extensionistas no Brasil. A Cocamar, por exemplo, contratou mais de 20 técnicos somente para orientar os produtores interessados em fazer integração nos solos arenosos do Arenito Caiuá, no noroeste do Paraná. Não temos isso em outras regiões. O terceiro desafio é que o pecuarista brasileiro é igual a São Tomé: tem de ver para crer. Chega, às vezes, a ser tecnofóbico [avesso à tecnologia]. O quarto desafio é que ele não tem máquinas, galpões, implementos e conhecimento agronômico. Como vai plantar soja de um dia para outro? Maristela - Por isso é mais fácil o agricultor fazer integração do que o pecuarista? Você já me disse que, se os “lavoureiros” aderissem de fato à ILP a produção de carne do Brasil aumentaria substancialmente. João K - Sim, porque eles já têm a estrutura necessá-
ria para plantar capim, falta o boi, conhecimento sobre o animal, estrutura de cercas e água. Estima-se que 23 milhões de hectares cultivados no Brasil ainda não fazem segunda safra. Imagine se fizéssemos plantio aéreo de capim sobre soja nessa área enorme – o “mombaça nela” [título da reportagem de DBO sobre o Sistema São Francisco, que possibilita formar pastagens de safrinha na fase de maturação da soja, fa16 DBO outubro 2017
daram áreas e eles me falaram assim: “agora já sei fazer lavoura; se o arrendamento não der mais certo, compro meu maquinário e faço sozinho”.
Maristela - Mas, e os agricultores, João, porque não fazem mais integração? João K - Porque estão acostumados a fazer soja-milho, so-
ja-milho, e o preço das commodities tem estado tão atrativo que eles pensam: “Pra que mexer com boi?”. A pecuária exige cercas, cochos, bebedouros, tecnologia (não basta colocar o boi e deixar lá). Hoje, muitos agricultores paulistas e paranaenses plantam capim junto com milho-safrinha, para produzir palha, e deixam a área vazia. Infelizmente, não se deram conta de quanto podem ganhar produzindo carne, por causa da conjuntura complicada. A reposição até pouco tempo atrás estava muito difícil, o bezerro muito caro, a semente de capim, um absurdo. São empecilhos que tornam as mudanças mais lentas. Há 11 anos fazemos integração na Santa Brígida, por exemplo, e somente dois vizinhos aderiram ao sistema. Nosso homem do campo é tremendamente resistente a mudanças. Não estamos falando de uma cultivar salvadora, mas de um sistema, que exige, acima de tudo, consultoria. Maristela - Voltando ao projeto do Viacava que acompanhamos por dois anos. No começo foi muito difícil, ele perdeu muita soja, porque não tinha matéria orgânica no solo e os veranicos são frequentes. Você acha que os produtores ainda têm medo de fazer integração nessa região arenosa? João K - Veja bem, Maristela, você acompanhou esse pro-
cesso e deve lembrar que, em uma área de 100 ha, muito arenosa, a soja sofreu degola, cozinhou, por falta de palha, mas na sequência, plantamos milheto para silagem e depois capim. As arrobas produzidas nessa área na seca pagaram os custos, não ficamos no vermelho. Hoje, há domínio sobre os solos arenosos. O pessoal já acredita, já tem muitos adeptos da soja na região de Presidente Prudente, Presidente Venceslau, Rancharia. Eu somaria ali uns 80 produtores, alguns já fazendo integração. Maristela - João, todos esses sistemas foram desenvolvidos mais no campo do que no laboratório. Você sempre foi um misto de pesquisador e extensionista. Acha que a pesquisa deveria estar mais próxima do produtor? João K - Sim. Para propor um projeto de pesquisa, é
preciso estar próximo da natureza e da realidade do
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Prosa Quente gional. Quem mais usa o ABC é o Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e talvez Goiás. O Nordeste fica de fora, porque não tem ninguém que sabe lidar com o ABC. Os gerentes de banco do Brasil, quando alguém chega perguntando pelo programa, dizem: “o que é isso?” Não foram treinados para atender essa linha. Poucas pessoas no Brasil sabem elaborar um projeto nessa área. Moacir - O Nordeste seria beneficiado pela integração? Que culturas você empregaria lá? João K - A integração é a grande solução para o Nordes-
Ninguém acreditava ser possível plantar soja na areia, mas a braquiária viabilizou isso”
produtor, que não está na internet. Se o produtor chegar pra mim e disser – “isso aqui não vou usar” – eu paro. É no campo que a gente tem as boas ideias. Por exemplo: a tentativa de controlar o mofo branco deu origem ao Sistema Santa Fé. É assim que funciona na natureza. Tem parte da pesquisa que precisa ser feita em laboratório, pesquisa de base, para explicar, por exemplo, porque o milho consorcia bem com a braquiária. Os fisiologistas fizeram toda uma análise de crescimento das duas espécies para entender isso. Hoje a equipe de integração no Brasil passa de 200 pesquisadores. A Embrapa toda está trabalhando com integração, em todas as regiões. Agora, tem uma lacuna grande entre aqueles que atuam em áreas como biogenética, transgenia, que estão lá no céu, e os caras que vão para o campo. Devido ao atual sistema de avaliação, com base em publicações e outros critérios, a pessoa não precisa sujar o sapato. Maristela - Os cortes de recursos do governo têm atingido muito a pesquisa? João K - Sim, todo mundo reclama. A equipe de trans-
ferência de tecnologias é pequena, a equipe de fitotecnistas que vai ao campo é pequena, o recurso é bem regrado. Mas nós tivemos a sorte, eu e as equipes com as quais trabalhei, de sempre contar com o apoio da iniciativa privada. A integração é uma solução tão boa que cinco grandes empresas criaram a Rede de Fomento, junto com a Embrapa, destinando R$ 500.000/ ano para desenvolvimento de projetos.
Moacir - O Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), que tem por meta recuperar 15 milhões de pastagens degradadas até 2020, também poderia ajudar, mas um levantamento do Alexandre Mendonça de Barros, da Consultoria MB Agro, de SP, diz que somente 20% da verba destinada ao programa foi liberada. Como você avalia isso? João K - Não tenho acompanhado essa questão da li-
beração de recursos, mas sei que já existem centenas de contratos assinados. Percebo uma concentração re18 DBO outubro 2017
te. Já está forte no Maranhão, no Piauí, no oeste baiano. Está começando no Recôncavo e nos tabuleiros costeiros de Sergipe, onde chove tanto quanto em São Paulo ou Goiás. Só que começa em maio, ao invés de outubro. Lá dá soja, milho, feijão, sorgo, milheto, girassol, que é altamente tolerante ao deficit hídrico. Temos N opções. Se manejarmos aquele ambiente com palha e conservarmos a água que Deus manda, o Nordeste vai ser um celeiro. A Embrapa Semiárido, em Petrolina, trabalha bastante com integração, mas ainda sem cacarejar... Maristela - Tá faltando cacarejar? (risos) João K - Sim, falar, divulgar, o que vocês fazem tão bri-
lhantemente. Eu trouxe meio avião de nordestinos para visitar a fazenda do Viacava. Esses caras compraram toda a semente de guandu daqui e levaram pra lá. O Sistema Santa Brígida está migrando para o Nordeste. O Paulo Herrmann, da Rede de Fomento, diz que o processo de adoção da ILP obedece à curva do “S”. Gostei dessa frase. A adoção começa lenta, tem um momento de agressividade, outro de consolidação, outro de agressividade e depois estaciona em cima. Estamos entrando na primeira curva do “S”, com 12 milhões de hectares, imagina quando nós completarmos essa curva. Maristela - João, você costuma dizer que o Brasil agropecuário passou por várias revoluções. Pode explicar isso? João K - Posso. Isso é lindo, merecia pelo menos cinco
prêmios Nobel. Até o início da década de 70, o Brasil era importador de alimentos. Não tínhamos comida suficiente para por na mesa para nossos filhos. Eu tomava leite da Aliança para o Progresso mandado pelos Estados Unidos, na época dos Kennedy. Sem ordem cronológica, a primeira grande revolução foi o domínio dos Cerrados, por meio da correção da acidez e da tropicalização da soja, que é uma planta de clima temperado. Dois pesquisadores brasileiros chamados Romeu Afonso de Souza Kiihl e Irineu Alcides Bays introduziram na soja o gene da juvenilidade, retardando seu período de florescimento e permitindo que ela produzisse bem nessa região. A segunda revolução foi o plantio direto, que começou com Herbert Bartz, no norte do Paraná. A terceira foi o zebu, a quarta a braquiária, a quinta a safrinha e a sexta a integração lavoura-pecuária, que é mistura de tudo isso. Essa é a revolução que está em curso e nos promete grandes conquistas. n
Giro Rápido Fiscais federais criticam reforma na Defesa Agropecuária
O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical) tem se mobilizado contra proposta de mudança no sistema de Defesa Agropecuária apresentada em meados de setembro por uma consultoria contratada pelo Ministério da Agricultura. O foco da mudança está na Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) e, segundo o sindicato, abre a possibilidade de terceirização da fiscalização agropecuária. A Anffa Sindical relata, em nota, que a consultoria contratada pelo ministério não conversou com nenhum auditor fiscal federal agropecuário. “No grupo que a Pasta montou para acompanhar o trabalho também não há nenhum representante da carreira”, criticou o presidente do sindicato, Maurício Porto. “Não houve transparência”, definiu. Outra crítica é que o diagnóstico apresentado pela consultoria conta com percepções limitadas, seletivas e generalistas sobre a carreira e o trabalho da Secretaria de Defesa Agropecuária. “A apresentação traz percepções direcionadas a um fim preconcebido e preconceituoso contra as atividades desenvolvidas pelos fiscais. Chega a dizer que o atual modelo de gestão de defesa agropecuária do Brasil não garante a prevenção e o controle fito e zoossanitário, o que é um absurdo completo”, afirma Porto. Para ele, o que está claro é o objetivo da consultoria em justificar a terceirização da Defesa Agropecuária. “Mas o diagnóstico não aborda temas importantes, como o fato de que vários países do mundo não permitem fiscalização de produto de origem animal por profissional que não seja servidor oficial”, emendou. 20 DBO outubro 2017
Censo busca os números do agronegócio Começou no dia 1 de outubro o novo censo agropecuário que vai levantar os dados da cadeia de produção agropecuária. O último censo foi realizado em 2007 e foi nesse período que o setor registrou um grande avanço no uso de tecnologia de produção e na produção e a conquista do mercado externo, tornando o País um grande player no mercado mundial de soja (grãos e farelo), açucar, café, frango, carne bovina e couro bovino. Portanto, os números do agro brasileiro entre
2007 e 2017 mudaram muito. E o censo vai exatamente atrás desses dados. Os números servirão para os governantes planejar os investimentos em infraestrutura que podem eliminar gargalos logísticos – rodovias, ferrovias e portos – e vai ajudar as agroindústrias a planejarem seus novos investimentos (armazens e fábricas). O Censo Agropecuário vai medir a produção física e econômica (valor bruto de produção), mão-de-obra empregada, área de produção, agriculturas empresarial e familiar, ás áreas usadas para a produção, maquinários, crédito e retorno econômico. O resultado parcial deve ser divulgado em maio de 2018. O IBGE estima que os 26 mil recenseadores visitarão 5 milhões de propriedades rurais.
João Martins é reeleito na CNA O presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, foi reeleito no dia 19 de setembro para um novo mandato, com duração de quatro anos, até 2021. Conforme nota da CNA, ele concorreu em chapa única e obteve o apoio das 27 Federações de Agricultura dos Estados do Brasil e do Distrito Federal. Martins chegou à primeira vice-presidência da CNA em 2012, com a então presidente e atual senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). Acabou assumindo interinamente o principal posto da entidade em 2014, com as licenças da senadora para a campanha à reeleição
de Dilma Rousseff (PT) e, posteriormente, para ser ministra da Agricultura. Em 2015, assumiu definitivamente o posto. Martins reforçou que um dos desafios da nova diretoria será “incentivar a contribuição sindical voluntária”. “Nossa atividade precisa, como nunca, de uma CNA forte, organizada, preparada para os novos tempos”, disse, lembrando da recente decisão do Congresso Nacional, de abolir a contribuição sindical na reforma trabalhista.
ABCZ
Aplicativos atualizados O portal Pró-Genética online e o aplicativo de celular ABCZ Móbile foram atualizados com um novo módulo, que vai possibilitar que produtores rurais cadastrem suas intenções de compra de touros PO com Registro Genealógico Definitivo (RGD). O objetivo da equipe responsável pela atualização do programa é aproximar compradores e extensionistas da Emater de vendedores de reprodutores melhoradores. “Com essa ferramenta, a negociação ficará ainda mais fácil. Uma via de mão dupla, onde vendedores também descobri-
rão onde estão os compradores para seus produtos”, destaca o diretor da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Rivaldo Machado Borges Júnior, que é responsável pelo Pró-Genética Online. Atualmente, são 65 vendedores cadastrados de todas as regiões brasileiras. Estão à venda, pelo aplicativo 350 touros. Os interessados em adquirir os animais podem pesquisar por região e raças. Com a implantação do novo módulo, o inverso também estará disponível, sem custo para o associado vender os touros pelo portal.
Pelo terceiro ano consecutivo, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), ficou em quinto lugar no ranking internacional do jornal U.S. News and World Report, que elenca as melhores faculdades de ciências agrárias do mundo. Ao todo, 200 instituições foram avaliadas e a mais bem classificada foi a Universidade de Wageningen, na Holanda, seguida pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e da Universidade Agrícola da China e Universidade de Cornell, Nova Iorque, EUAPara o diretor da Esalq, Luís Gustavo Nussio, figurar entre as cinco melhores escolas do setor é motivo de orgulho e motivação para continuar formando profissionais reconhecidos no mercado. “São os egressos que constroem a nossa imagem, aliados ao desenvolvimento de pesquisas inovadoras e à transferência do conhecimento para o bem público”, afirma.
Fonte: Cepea, Celeres, Scot Consultoria, FNP, Rabobank2017 *Considerando custos com boi magro, milho, farelo de soja e manutenção de pastagems
Grãos impulsionarão intensificação Nos próximos dez anos, a produção brasileira de carne bovina crescerá em torno de 2% ao ano, em média, alavancada pelo processo de intensificação do uso de suplementos nutricionais (proteicos e energéticos) e/ou rações. É o que prevê o relatório de setembro divulgado pelo Rabobank, instituição financeira de origem holandesa focada no agronegócio. O pasto continuará sendo a fonte principal de alimento nas fazendas, mas diferentes estratégias de intensificação serão utilizadas: suplementação estratégica, integração lavoura-pecuária, semiconfinamento e
confinamento. Atualmente, de acordo com o banco, 30% da produção de carne bovina no Brasil apresenta algum grau de intensificação, percentual que saltará para 45% em 2026. Nesse cenário, os animais serão terminados mais rapidamente e com carcaças mais pesadas. Esse conjunto de fatores elevará a eficiência da pecuária brasileira, tornando-a mais competitiva. Entre os sistemas adotados, o Rabobank destaca o uso da integração lavoura-pecuária, modelo com potencial para apresentar o maior retorno financeiro (veja gráfico).
Mundo: dinâmica do consumo de carne bovina Consumo mundial em 2016: 58,7 milhões de toneladas
EUA Brasil
TOP 10 = 79% UE
China
Rússia México Argentina -8% -6% -4% -2% 0%
Índia Paquistão 2% 4% 6%
8% 10% 12% Velozes
Crescimento médio anual de consumo (2011-2016)
Fonte: USDA / Elaboração: Wedekin Consultores
Esalq-USP é a 5ª melhor universidade agrária do mundo
Infográficos que sintetizam informações importantes da pecuária
Estimativa de margem operacional* por cabeça em um giro (média 2010 – 2016)
Maiores
Por decisão do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, o novo presidente da Câmara Setorial da Carne Bovina é Sebastião Costa Guedes. Ele substitui Luiz Claudio Paranhos, que pediu afastamento em março. De lá para cá, o cargo ficou vago e Guedes planeja agora retomar os trabalhos rapidamente. Entre as prioridades, está somar esforços para a retirada da vacina contra febre aftosa, processo que deve ser concluído, em nível nacional, em 2023. Junto com o ministério, ele pretende agir para alterar o calendário da vacinação de forma a evitar riscos de abortos na IATF; exigir rapidez na melhoria da vacina e assegurar recursos para a Defesa Sanitária Animal. Atualmente, Guedes também é vice-presidente de Relações Internacionais do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC) e presidente do Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa (Giefa).
Infopec
Participação no consumo mundial (2016)
Sebastião Guedes na Câmara Setorial da Carne
China já tem 3º maior consumo de carne bovina Em cinco anos (2011 a 2016), a China se tornou o terceiro maior consumidor de carne bovina do mundo, com crescimento anual de 3%. Se aproximou bastante da segunda colocada, a União Europeia, e superou o Brasil. Na figura, o eixo vertical mostra a participação (market share) dos países top 10 no consumo mundial de carne bovina, estimado em 58,7 milhões de toneladas em 2016. Quanto maior e mais alta é a bola, maior a participação do país no mercado. Os Estados Unidos, por exemplo, representam mais de 20% do consumo global. O eixo horizontal
indica se as populações dos 10 países analisados estão comendo mais ou menos carne. Os três grandes líderes tradicionais do consumo (EUA, União Europeia e Brasil) estão cravados no eixo, com retração ou crescimento muito pequeno. Rússia e México apresentam queda de 2% a 4%, os países asiáticos (China, Paquistão e Índia) seguem em crescimento anual de 2 a 3% e a Turquia segue a todo vapor, com aumento de 8% a 9% no consumo. Os dados são do USDA, Departamento de Agricultura dos Estados, e a figura da Wedekin Consultores.
outubro 2017
DBO 21
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Coluna do Cepea
Cria, desafios e oportunidades.
A
pós baixas no preço do bezerro, o abate de fêmeas segue em alta neste ano. No primeiro trimestre de 2017, as vacas e novilhas representaram 45% da participação total de animais que foram ao gancho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No segundo trimestre, a quantidade de matrizes abatidas atingiu 43%, de acordo com os valores mais recentes, referentes a setembro. Os índices de 2017 representam os maiores percentuais de fêmeas no abate total de bovinos desde 2015. Este é um momento de desafio, visto que, com a queda nos preços do bezerro, o criador precisa vender fêmeas para gerar fluxo de caixa. Pode ser, porém, um momento de grande oportunidade. Criadores que planejarem a produção e puderem investir nas matrizes, mesmo com o atual cenário de incerteza, podem obter bons resultados em 2019 e 2020. A maior participação de fêmeas no abate total ocorre geralmente em anos de queda no preço do bezerro, cenário verificado em 2017. Considerando-se as médias reais de setembro de 2015 (R$ 1.351,50) e de 2016 (R$ 1.246,27) e a da parcial deste mês (até o dia 25), de R$ 1.168,78, o indicador do bezerro Esalq/BM&FBovespa (Mato Grosso do Sul, Nelore de 8 a 12 meses) é 13,52% mais baixo do que o de 2015 e 6,22% do que o de 2016. Se considerada a média do ano, de janeiro a setembro, a queda é de 23,29% no comparativo com 2015 e de 15,34%, com 2016 – os dados foram atualizados pelo IGP-DI de agosto de 2017. Considerando-se a série histórica do IBGE, iniciada em 1997, a participação das fêmeas no abate total é sempre maior no primeiro trimestre e, na sequência, no segundo trimestre. O que ocorre é que, após o período de reprodução, nos primeiros meses do ano, pecuaristas con-
Sergio De Zen Professor doutor da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP (Universidade de São Paulo), e pesquisador responsável pela área de pecuária do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP
firmam quais fêmeas não estão prenhes e as enviam para abate, na intenção de liberar áreas de pastagem e melhorar o fluxo de caixa. Assim, a participação das matrizes no terceiro e quarto trimestres se reduz, ajudando a sustentar os preços do boi no período da entressafra. A confirmação do maior abate de fêmeas neste momento, por sua vez, tende a diminuir a oferta de bezerros a partir de 2018, com maior intensidade para 2019. Como se observa no gráfico abaixo, existe uma sazonalidade na participação das fêmeas no abate total, relacionada, principalmente, aos preços do bezerro. O conceito na teoria econômica é que o produtor rural, sendo um agente racional, é tomador de preço e reage a ele na sua estratégia de produção. Nesse sentido, quando os preços do bezerro sobem, o produtor tende a abater menos fêmeas, como pôde ser visto em 2015, quando o preço do bezerro foi recorde, e o abate de fêmeas muito menor ante o observado em 2014. Quando os preços do bezerro estão em queda, como é o caso de 2017, o criador se desanima e, consequentemente, há maior abate de fêmeas.
24 DBO outubro
2017
fev.17
fev.16
fev.15
fev.14
fev.13
fev.12
fev.11
fev.10
fev.09
fev.08
fev.07
fev.06
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fev.02
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fev.00
Percentual
R$/Bezerro
Desinvestimentos É difícil prever o futuro, especialmente no curto prazo. Mas em meio a tantos choques e crises na bovinocultura de corte, existe uma oportunidade em 2017. Em períodos como este, especialmente quando os preços estão mais baixos do que em anos anteriores, os produtores tenMariane Crespolini Mestre e doutoranda dem a reduzir investimentos e se sentem desanimados. em economia pela Com as quedas no preço do bezerro, os criadores tamUnicamp (Universidade bém reduzem a suplementação mineral, bem como outros Estadual de Campinas) investimentos nas fêmeas reprodutoras. Adicionalmente, e pesquisadora do Cepea todos os choques ocorridos na cadeia em 2017 reforçam esse cenário de incertezas e desinvestimentos. Isso gera uma oportunidade que só será concretizada no futuro, quando a produção se reduzir e os preMovimento inversamente proporcional ços subirem. Entender o fenômeno descrito e INDICADOR DO BEZERRO ESALQ/BM&FBOVESPA – MATO GROSSO DO SUL – VALORES REAIS ilustrado neste artigo é perceber tal oportuni55 1.800 PARTICIPAÇÃO DAS FÊMEAS NO ABATE TOTAL dade, que tem de ser “plantada” em 2017. Os 1.600 investimentos de agora resultarão no bezerro 49% 50 49% 48% 1.400 47% desmamado em 2019. 47% 46% 46% 46% 45% 45% Observando-se, novamente, os dados do 45 1.200 43% 42% 42% gráfico, fica evidente que o número de fême41% 1.000 38% as com possibilidade de emprenhar se reduz 40% 40 800 a partir deste ano. Apesar da dificuldade de se 37% 36% 36% 35% preverem os efeitos disso para 2018, o total de 35 600 33% 33% 33% 32% 32% 32% bezerros disponíveis para comercialização em 400 30% 2019/2020 deve ser menor do que o observa30 27% 200 do em 2016/2017, considerando os nove meses de gestação, somados ao período de amamen25 0 tação. Assim, ao criador cabe ver os desafios de 2017 como uma oportunidade a partir de 2019. Obs: deflacionados para agosto/2017 – Fontes: Cepea e IBGE. Para 2018, o cenário segue incerto. n
Mercado
Voo de galinha: boi fica estável em setembro. Após a explosão mensal de preço em agosto, arroba estaciona ao redor dos R$ 140. Denis Cardoso
D
epois do surpreendente disparo de preço em agosto, quando a arroba subiu quase 15% em um único mês, a poeira baixou em setembro e o valor do boi gordo ficou estável. O indicador Boi Gordo Esalq/B3 fechou o mês passado a R$ 142,76 (valor médio, à vista), em São Paulo, ante o preço final de R$ 142,96 do mês anterior, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). No acumulado de 2017, o mesmo indicador apresentou desvalorização nominal de 4,5% em relação ao preço da arroba registrado no último dia útil de dezembro do ano passado, de R$ 149,46. No entanto, mesmo diante de uma arroba bem aquém do valor considerado satisfatório pelo recriador/invernista, analistas de mercado observam que este é o momento ideal para investir na formação de estoques de arrobas “baratas” na fazenda. Ou seja, com a aproximação do período das águas, chegou a hora de o pecuarista planejar a estratégia de compras, visando aproveitar os baixos custos da reposição. “Embora o criador não aceite muito
Indicador Boi Gordo fica estável em setembro na praça paulista Datas da liquidações dos contratados negociados na BM&FVBovespa 29/09/2017 31/08/2017 142,76 R$ 142,96
Especificações Preço à vista
Fonte: Cepea/Esalq/USP/BM&FBovespa. Média dos últimos cinco dias úteis em São Paulo. O valor é usado para a liquidação dos contratos negociados a futuro na BM&FBovespa.
Preço do bezerro do MS tem elevação de 5% em setembro Datas de levantamento do Cepea Especificações Preço à vista por cabeça Peso médio/kg Preço por kg Preço por arroba
31/8/2017 1.184,20 195,53 6,05 181,69
31/8/2017 1.122,59 206,44 5,44 163,13
Fonte: Cepea/Esalq/USP
Preço futuro do boi aponta arroba do boi a R$ 142,50 em dezembro próximo Mês para a liquidação dos contratos na BM&FBovespa Data dos pregões
30/7/2017 31/8/2017 29/9/2017
jan
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Fev Mar Abr Mai Jun -
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Fonte: BM&FBovespa.
26 DBO outubro 2017
-
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Jul 124,20 -
Ago
Set
Out
Nov
Dez
130,30 132,60 134,75 134,83 135,01 141,66 143,90 142,55 140,25 143,63 142,03 142,20 141,00 142,50
essa definição sobre o mercado, podemos dizer que o bezerro está em liquidação”, sentencia o analista Hyberville Neto, da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP. Ele apresentou a palestra “Reposição estratégica para os novos cenários”, durante o evento Encontro de Criadores, realizado no início de outubro, em Ribeirão Preto, SP. Segundo Neto, em termos nominais (descontando-se a inflação), entre janeiro de 2016 e setembro de 2017 os preços do bezerro e do boi magro recuaram 22% e 17%, respectivamente, em São Paulo, enquanto o valor real da arroba do boi gordo teve decréscimo de apenas 6,6% no mesmo período. “Para o recriador, a relação de troca atual é uma das mais favoráveis dos últimos quatro anos”, destaca o analista Alex Lopes, também da equipe de consultores da Scot. Lopes diz que a compra de gado hoje mira a reação do mercado a partir de 2019, quando se espera uma reversão sustentável do atual ciclo de baixa da pecuária, que já dura dois anos. Na avaliação de Hyberville Neto, não só o recriador/invernista ganhará lá na frente, ao investir agora na formação de estoques de arrobas na propriedade. A despeito da atual situação difícil para quem atua exclusivamente na atividade, os criadores que conseguirem preservar o seu plantel de fêmeas nas fazendas terão ótimas oportunidades no momento da virada dos preços para o viés de alta. “O preço do boi gordo não vai se recuperar sozinho; a reposição tende a acompanhar essa alta”, ressalta Neto. Dados divulgados no início de outubro pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) corroboram as análises da Scot. Com a recente chegada das chuvas no Mato Grosso, os pecuaristas intensificaram a procura por animais de reposição, animados pelo maior poder de compra da população, informa o Imea. Em setembro último, segundo o instituto, a relação de troca boi gordo/bezerro alcançou seu maior patamar em um ano, ficando em 1,99, número 6,3% maior em relação a setembro de 2016, quando era possível comprar 1,87 bezerro. “Isso ocorreu com a maior desvalorização no preço do bezerro, que no período de setembro/2016 a setembro/2017 caiu 6,9%, enquanto a arroba recuou 1%”, compara o Imea. Custos em baixa Também no início de outubro, o Imea divulgou os dados de custos de produção da bovinocultura de corte, referentes aos sistemas de cria, recria/engorda e ciclo completo, durante o segundo trimestre do ano. Nos três sistemas, houve queda nos custos de produção em relação ao primeiro trimestre/2017 - a maior baixa foi observada no sistema de recria/engorda, que cedeu 2% no comparativo trimestral. De modo geral, a maior parte dos insumos barateou, com destaque para os itens de maior peso na planilha, ou seja, a aquisição de animais e a suplementação, que, no comparativo dos trimestres, tiveram queda, e a abundante oferta de grãos. Já no curtíssimo prazo, em outubro, espera-se uma maior pressão baixista para os preços do boi gordo, diante da elevação de oferta este mês de animais de confinamento, oriundos do segundo giro de engorda. n
Mercado
Bezerro sobe mais de 10% no MS em setembro
da Scot, lembrou que, embora os criadores tenham que conviver, em 2018, com mais um ano ruim para atividade, a boa notícia é que “se espera um mercado novamente aquecido a partir de 2019”. “Até lá, a crise de consumo de carne bovina deve ter sido resolvida e o abate de fêmeas terá enxugado a oferta de animais no mercado, o que dará forças para novas altas”, prevê Lopes. No mesmo evento, o analista Gustavo Aguiar, outro especialista em mercado da Scot, frisou que “hoje é preciso estar com as atenções voltadas para o mercado de 2019, que remunerará os investimentos feitos em 2017 e 2018”. Nesse sentido, enfatiza Alex Lopes, “quem desinvestir agora na atividade pode não ter bezerros em volume e qualidade suficientes para aproveitar um período de alta no momento da comercialização desses animais”.
Recentes altas são pontuais, dizem analistas, que preveem reversão do ciclo de baixa somente a partir de 2019.
E
Denis Cardoso
nquanto o preço médio do boi gordo estacionou na casa dos R$ 140/@ em outubro, com estagnação sobre o valor médio de agosto, as cotações dos animais de reposição subiram fortemente no mês passado, um movimento atípico para a atual fase do mercado da cria, que ainda passa pelo período de baixa do ciclo pecuário, acentuado pela forte elevação dos abates de matrizes no primeiro semestre deste ano. No Mato Grosso do Sul, o berço da atividade de cria no País, o valor médio do bezerro desmamado disparou 10,7% em setembro, para R$ 1.067,50, ante o valor médio verificado em agosto (R$ 964), segundo levantamento da Scot Consultoria, de Bebedouro (SP). Ainda nessa praça de comercialização, o Indicador Bezerro Esalq/B3 (animal Nelore, de 8 a 12 meses) atingiu R$ 1.184,20 no fim do último mês, o que significou acréscimo de 5,5% na comparação com o valor de fechamento de agosto, de R$ 1.122,59, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). No entanto, embora o animal de 6@ tenha superado novamente a casa dos R$ 1.000 em setembro, as oscilações de alta dessa categoria registradas nos últimos dois meses são pontuais, e refletem a própria recuperação recente do mercado do boi gordo. “O mercado de reposição já vinha acompanhando a alta do boi desde agosto e apenas esticou essa trajetória também para setembro”, avalia Hyberville Neto, analista da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, para quem o cenário da reposição “continua o mesmo”, ou seja, com previsão de continuidade do “viés de baixa até pelo menos 2018”. Neto participou de um ciclo de palestras sobre o mercado pecuário durante o Encontro de Criadores, evento da Scot Consultoria, realizado no início de outubro, em Ribeirão Preto, SP. Na ocasião, Alex Lopes, também do time de analistas
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Valor médio do garrote, em São Paulo, no mês passado; elevação de 7,3% em relação ao mês anterior.
Cotação do boi magro em Goiás, em setembro; valorização de 3% frente a agosto.
R$ 1.184,20
R$ 1.420
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Preço do bezerro desmamado, no Mato Grosso do Sul, em setembro; alta de quase 11% na comparação com agosto.
28 DBO outubro 2017
Altas generalizadas Em setembro, todas as categorias de reposição subiram de preço, em todas as praças de comercialização, segundo a pesquisa mensal realizada pela Scot. Considerando a variação média de preços de animais machos e fêmeas anelorados em 14 praças pecuárias do Brasil, o mercado avançou quase 4% no mês passado em relação ao valor médio de agosto. As altas mais expressivas foram registradas nos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Na praça paulista, o bezerro desmamado (6@) teve acréscimo de 8% em setembro, para R$ 1.062,50, ante o valor de agosto. A alta mensal do garrote (9,5@) foi de 7,3%, atingindo R$ 1.420. O valor médio do boi magro (12@) subiu 4,5% no mês passado, para R$ 1.732,50, enquanto a novilha (8,5@) apresentou aumento de 3,6%, fechando a R$ 1.108,75. No Mato Grosso do Sul, além das altas do bezerro já mencionadas no primeiro parágrafo do texto, o garrote teve forte acréscimo mensal de 9,4%, atingindo o valor médio de R$ 1.364. Nessa mesma praça, o boi magro subiu 6,1%, ficando a R$ 1.618, em média. O valor médio da novilha teve elevação parecida, de 6,3%, para R$ 1.040. Ainda no Centro-Oeste, Goiás também apresentou forte alta mensal do bezerro de 6@, que atingiu R$ 1.067,50 em setembro, acréscimo de 7%. O garrote e o boi magro registraram o mesmo percentual de aumento, de 3%, atingindo R$ 1.457,50 e R$ 1.725, respectivamente. A novilha subiu 1,5%, para R$ 1.080. No Mato Grosso, os aumentos dos animais de reposição foram mais amenos em setembro. Entre todas as categorias, a maior alta mensal foi da novilha, de 5%, para R$ 1.040. No Estado do Tocantins, em setembro, as maiores altas ocorreram com o bezerro e o garrote, de 3% e 5,5%, respectivamente, para R$ 1.000 e R$ 1.410. Na Bahia, a maior alta mensal foi verificada no bezerro de 6@: de 3,3%, para R$ 997,50. n nnn
R$ 1.725
R$ 1.040
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Preço da novilha no Mato Grosso, em setembro; acréscimo de 5% sobre o mês anterior.
Fora da Porteira
Rogério Goulart
A alta do boi, sob três ângulos.
V Administrador de empresas, pecuarista e editor do informativo semanal “Carta Pecuária”, de Dourados, MS.
ocê escolhe a forma como anda pela fazenda para vistoriá-la, certo? Pode ser a pé, a cavalo, de moto ou quadriciclo, ou de carro... Para alguns, de avião ou, hoje em dia, há a opção do drone. Cada maneira de realizar a tarefa resulta, porém, em informações diferentes, conforme o meio utilizado. Vamos, então, limitar a situação a três categorias. Duas são mais comuns e uma terceira, mais moderna. Quando queremos dar uma rodada na fazenda, podemos fazer isso a cavalo, de carro e também visualizá-la por meio de um drone. De dentro do carro, provavelmente poucas coisas conseguem ser vistas em detalhes. O carro traz mais a sensação de como a coisa está sendo tocada. Conseguimos ver uma lasca quebrada, uma erosão, mais adiante um cupim teimando em se erguer no meio do capim e o estado geral dos animais. Já quando estamos encilhados, a cavalo, a visão é outra. Dá para observar as coisas mais do alto e consequentemente mais longe. Na cadência do animal, temos mais tempo para observar detalhes. Muitos, na verdade. Desconheço quem não saia com pelo menos dez anotações de coisas a fazer após uma cavalgada dessas. A partir do drone, você também vê tudo mais longe, mas sob outra perspectiva, do alto. Consegue observar falhas na formação do capim, o traçado que o gado faz para beber água e as imperfeições de forma contínua. Além disso, conecta a área e todos os seus pastos em praticamente uma única imagem. De longe, parece que toda a fazenda está de alguma forma interligada. É revelador. Fiz essa comparação para mostrar que a gente também pode enxergar o mercado em que nosso negócio está inserido de três formas, caro leitor. E cada uma delas resulta em informações diferentes. Podemos olhar para o boi, a vaca, o bezerro, a novilha, o touro. Aqui, mostro o exemplo dos preços do boi gordo. Observe a Figura 1. Ela mostra o que aconteceu com os preços do Indicador Cepea, base São Paulo, nos últimos meses. A principal informação é a de que tivemos uma alta até o fim de agosto. Que legal. Agora, porém, o mercado sentiu a alta e tentou brecá-la, para recuperar o fôlego. Mas essa informação é
Fig. 1 – Preços no curto prazo
30 DBO outubro 2017
suficiente? Já, quando olhamos para a Figura 2, podemos enxergar em vermelho o que ocorreu na Figura 1 e mais alguma coisa. “Poxa, Rogério, essa alta aí, que parecia bacana, na realidade não é nada mais do que uma pequena correção da queda de 2016 para cá?” Exato, caro leitor. Podemos ficar animados com o que ocorreu recentemente, mas, levando o foco para um pouco mais longe, a situação nos deixa preocupados. A arroba tem que subir um pouco mais para recuperar preço. Será que sobe? Aí colocamos sobre a mesa a Figura 3, que pega ainda mais cotações, e vê o mercado mais alto e longe, como um drone. Observe as duas anotações das figuras anteriores e como elas se inserem no ciclo pecuário. O que aconteceu já ocorreu antes, em 2006, 2009, 2012 e 2017. Ou seja, o mercado não só sobe. Ele tem seus momentos de queda também. Mas, quando essas quedas ocorrem, isso é importante. E pode acreditar: o recuo de preços da arroba este ano foi um dos piores da história. A alta veio a reboque em seguida. Como também ocorreu em 2007/2008 e entre 2013 e 2016. Uma boa notícia. Gosto de enxergar o mercado dessas três formas. Você tem como agir nos três gráficos. Os meses mais recentes lhe informam sobre a janela de compra e a venda de gado no dia-a-dia. Os anos mais recentes informam a tendência de preços um pouco mais longa. Já o ciclo pecuário dá uma visão que suaviza as oscilações do cotidiano e oferece o mais importante: o “norte” da atividade. Para mim, com o piso nos preços de 2017 e, agora, com essa aparente retomada, os números me dizem que voltamos a investir na atividade. Quando você se deparar com conversas de preços que tratam do que aconteceu ontem ou antes de ontem no mercado, levante o alerta. O foco não pode ser 100% no curto prazo. Pense sobre essas três visões da mesma forma com que percorre a fazenda. Se andar só a cavalo está incompleto. Só de carro, também, assim como só o drone. Há oportunidades enormes de enxergar um pouco mais longe e o que escrevi aqui é só o aperitivo e um esforço para abrir seu apetite e buscar mais informações. n
Fig. 2 – Preços no médio prazo
Fig. 3 – Preços no longo prazo
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Cadeia em Pauta
JBS dá susto em produtores Empresa suspendeu abates por quatro dias em setembro, mas se esforça para superar crise provocada pela rescisão da colaboração premiada de seus executivos mercialização. A companhia já havia tomado a decisão de paralisar abates em março, quando a Operação Carne Fraca deflagrou grande crise no setor e suspensão das importações por vários países. Na ocasião, a JBS alegou a necessidade de gerenciar estoques para justamente não “derreter” os preços da carne no atacado. Dessa vez, teria agido de forma diferente, o que aumentou o nível de desconfiança dos fornecedores. Procurada por DBO, a companhia não quis se pronunciar sobre o assunto. As compras foram retomadas nos dias 18 e 19 de setembro.
Uma das plantas da JBS no Mato Grosso, Estado que sentiu mais a paralisação
Maristela Franco
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maristela@revistadbo.com.br
gigante JBS deu um susto nos pecuaristas, em setembro. Parou de comprar bois por quatro a cinco dias, dependendo da região, e paralisou seus abates por pelo menos três dias, segundo informaram fontes do setor à DBO. A medida gerou grande apreensão e foi um dos principais assuntos discutidos na Internconf, Conferência Internacional de Pecuaristas, realizada nos dias 18 e 19 de setembro, em Goiânia. Questionou-se, principalmente, se a paralisação denunciava maior fragilidade da empresa ou se representava apenas uma "parada técnica", frente às turbulências causadas pela prisão de seu presidente, Wesley Batista, no dia 13 de setembro, em decorrência da Operação Tendão de Aquiles, que investiga operações irregulares no sistema financeiro. O cargo ficou vago até a noite do dia 16, quando foi assumido por José Batista Sobrinho (o Zé Mineiro), por decisão do conselho administrativo. Segundo analistas, essa situação excepcional justificaria medidas excepcionais, porém causou estranheza o fato de a companhia ter suspendido os abates ao mesmo tempo em que vendia carne a preços mais baixos no mercado. O quilo do produto desossado estava a R$ 9,80 no período e, segundo eles, a JBS começou a vender por R$ 9, o que indicaria dificuldade de co-
32 DBO outubro 2017
Impacto moderado Apesar das dificuldades que vem enfrentando, a JBS tem conseguido preservar sua estrutura de abate no País, que ainda é gigantesca. Em 2015, a companhia controlava mais de 50 frigoríficos, agora mantém 36 funcionando, em 10 Estados brasileiros. Várias unidades arrendadas foram devolvidas e outras paralisadas, seja em função de uma necessária "reengenharia operacional" (quando o abate é ajustado à oferta de boi), seja por questões administrativas, mas o grupo ainda tem peso enorme no setor. Seus movimentos afetam diretamente o mercado, mas essa paralisação de setembro não chegou a desestabilizar os preços. "Tivemos uma queda pequena, pois as exportações estão fluindo bem e nos encontramos em um período de entressafra. Quando a arroba começou a cair forte, após as delações, em maio, estávamos ainda na safra", lembrou Alberto Pessina, presidente da Assocon, Associação Nacional de Pecuária Intensiva. No Mato Grosso, o susto foi maior, pois a JBS detém 50% da capacidade de abate do Estado, com 17 unidades distribuídas pelas principais regiões produtoras, das quais apenas 11 estão funcionando. Há tempos, esse cenário incomoda os produtores. A suspensão de 100% das compras de gado por cinco dias em setembro fez aumentar a intranquilidade e também gerou transtornos. Como as distâncias são muito grandes, alguns pecuaristas tiveram de buscar comprador bem longe de casa. Além disso, o aumento de oferta derrubou os preços, que demoraram alguns dias para voltar ao patamar anterior. “Qualquer diminuição na capacidade de abate em um Estado que tem o maior rebanho do Brasil gera impacto. Espero que a atual crise da JBS se resolva o mais rápido possível, para o bem de todos, mas também estamos estudando alternativas”, informa
Luciano Vacari, diretor-executivo da Acrimat, Associação dos Criadores de Mato G rosso. A entidade encomendou à Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais, um plano de negócios para uma unidade frigorífica com capacidade para abater 500 cabeças/ dia, que poderia ser arrendada dentre as muitas paralisadas no Estado. O plano inclui custos, receitas variadas, governança profissional e possibilidade de exportação. “A Fundação Dom Cabral prometeu nos entregar esse estudo em 70 dias. Quando ele estiver pronto, será apresentado em várias regiões do Mato Grosso. Se algum produtor ou grupo de produtores se interessar pela montagem da indústria, vamos apoiá-los”, salientou Vacari. Seja em função das plantas fechadas ou de dificuldades conjunturais, a JBS estaria abatendo apenas 30.000 bovinos no MT, quando tem capacidade instalada para 50.000, afirma-se no mercado. Movimentação dos concorrentes Enquanto o líder do setor busca superar dificuldades, os concorrentes aproveitam o momento de preços atrativos do boi (para a indústria) e expandem sua capacidade de abate. A Marfrig, por exemplo, reativou cinco unidades que estavam paradas: Nova Xavantina, no sudeste do Mato Grosso; Pirinópolis, próximo a Goiânia, GO; Paranaíba, no nordeste do Mato Grosso do Sul; Ji-Paraná, em Rondônia, e Alegrete, no Rio Grande do Sul. A empresa também estaria negociando o arrendamento de mais dois frigoríficos no Mato Grosso, um no município de Monte Verde, com capacidade para abate de 1.500 cabeças/dia, e outro em Pontes e Lacerda, para processamento de 1.000 bovinos/dia. As unidades pertenciam à Arantes Alimentos, que entrou em recuperação judicial em 2009, e estavam sendo operadas pela JBS. As negociações, segundo a assessoria de imprensa da Marfrig, ainda não haviam sido concluídas até
Comportamento da arroba em função das crises de 2017
Valores em reais/@; Carne Fraca: 17/3/2017; Delação: 16/5/2017; Atualizado até 22.8.17. Fonte: Cepea-B3; Elaboração: Wedekin Consultores
o fechamento desta edição. Se o negócio for fechado, a empresa passará de sete para 14 plantas em operação no Brasil, o que deverá elevar sua capacidade de abate para 300.000 cabeças/mês até 2017. O Minerva também se mobilizou para aproveitar o período de preços baixos do boi para a indústria, reabrindo a planta de Mirassol d'Oeste, no Mato Grosso, que estava parada desde 2015. O Frigol informa que deverá aumentar seus abates em 17%. Até o final do ano, estará operando com 100% de sua capacidade instalada, visando ao processamento de 48.000 cabeças/mês. Frigoríficos pequenos também aproveitaram a onda favorável e estão abatendo em ritmo mais acelerado, pois muitos pecuaristas passaram a integrar sua lista de fornecedores, especialmente para garantir pagamento à vista, modalidade comercial que somente agora a JBS voltou a praticar, esporadicamente, em algumas localidades. n
Prova de resistência A resiliência (capacidade de resistência) da JBS continuará sendo testada nos próximos meses. Ainda pairam incertezas sobre a manutenção do acordo de leniência da empresa, fechado com o Ministério Público (MP) antes da rescisão da deleção premiada dos executivos Joesley Batista e Ricardo Saud, mas a companhia continua dando seguimento ao chamado plano de desinvestimento (venda de ativos) para reequilibrar suas contas e pagar a multa de R$ 10,3 bilhões estabelecida pelo MP. Até o momento, teriam sido vendidas cinco empresas – a indústria de celulose Eldorado,
por R$ 15 bilhões; a Alpargatas, por R$ 3,5 bilhões; as participações na Vigor e Itambé, ambas processadoras de lácteos, por R$ 4,9 bilhões e a JBS Mercosul, por R$ 1 bilhão. Antes disso, a JBS havia vendido a Five Rivers, empresa de confinamento nos Estados Unidos, por US$ 40 milhões. Em setembro, a Pilgrim’s, que pertence à JBS USA, incorporou a Moy Parks, empresa de carne de frango do Reino Unido, por US$ 1 bilhão. O mercado estima que a holding, já reduzida à metade do seu tamanho, teria arrecadado mais de R$ 24,5 bilhões com venda de ativos. Ainda estaria tentan-
do negociar a termoelétrica Âmbar, por R$ 800 milhões; a empresa de higiene e limpeza Flora, por R$ 400 milhões, e o Banco Original. Tudo isso para preservar seu principal negócio: a JBS, que faturou R$ 170 bilhões em 2016. Neste ano, ela está perdendo dinheiro e teve de renegociar dívidas de curto prazo com os bancos (R$ 8 bilhões com vencimento previsto para 2017), mas ainda é uma empresa forte, que tem tudo para sobreviver à tempestade em curso, agravada pela CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) no Congresso, que investiga sua relação com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
outubro 2017
DBO 33
Cadeia em Pauta Projeto “Carne de Zebu” é lançado em Figueirão, MS Fincado no norte do Mato Grosso do Sul, região tida como referência em produção de bezerros nelore de qualidade, o pequeno município de Figueirão, com seus pouco mais de 3 mil habitantes, foi palco do lançamento nacional do projeto Carne de Zebu, idealizado pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). A cerimônia aconteceu no dia 30 de setembro e fez parte da programação de aniversário da cidade, que completou 14 anos de emancipação. A ideia da ABCZ é mostrar e levar para a pecuária comercial a eficiência genética dos touros PO (puros de origem) de raças zebuínas na produção de carne. A primeira experiência começa a ser tocada em uma fazenda do município sul-mato-grossense: a 3R, do pecuarista Rubens Catenacci. A fase atual é de acompanhamento e levantamento de anuncio_soesp_18,4x12cm.pdf
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dados zootécnicos dos animais, feitos por técnicos da Associação. Cada um é pesado na desmama e ao sobreano. Posteriormente, todos passam por uma avaliação de carcaça por ultrassonografia. Ao final, equipes da ABCZ acompanharão os abates para medir o resultado em nível de qualidade final da carne. O presidente da ABCZ, Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges, foi o encarregado da apresentação do projeto. Ele justificou iniciar a faze experimental pela 3R em função do histórico da fazenda: “É uma propriedade que preza por qualidade e que defende a raça nelore há anos”, disse. O pecuarista Rubens Catenacci é reconhecido como um dos mais eficientes produtores de bezerro nelore do Brasil. Dentre suas façanhas está a constante desmama de animais com peso aproximado ou superior a 300 kg. Logo após o lançamento oficial do projeto, a ABCZ
01/08/17
17:28
Pecuaristas reunidos em Figueirão durante a apresentação do projeto
já recebia consultas de pecuaristas dispostos a fazer parte do projeto. As modalidades de participação são: investidor de genética (quem fornecerá o material genético) e rebanho comercial de gado de corte (responsável pelo recebimento da genética e avaliação das progênies dos touros inscritos). Os interessados devem entrar em contato com o departamento técnico da Associação pelo fone 34-3319-3900.
ARENAS, A EVOLUÇÃO DA GENÉTICA
A WV Leilões sente orgulho em ter participado do Leilão Arenas que aconteceu no dia 16 de setembro no Club Med Lake Paradise. Reconhecida nos leilões de cavalos, a WV Leilões agora também está presente no crescimento dessa raça fantástica, o Senepol. O nosso obrigado a todos que fizeram parte do exclusivo mundo Arenas!
www.wvleiloes.com.br
Tel.: (18) 3551-9696
Cadeia em Pauta Brasil volta a exportar carne termoprocessada para os EUA Cinco frigoríficos brasileiros obtiveram autorização do Serviço de Segurança e Inspeção de Alimentos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para voltar a exportar carne termoprocessada para os norte-americanos. O anúncio foi feito em 27 de setembro pelo Ministério da Agricultura brasileiro, que informou que as plantas em questão foram embargadas preventivamente pelo governo federal por causa de problemas como o rompimento de embalagens. Os produtos processados termicamente representam a maior parte da exportação de carne brasileira para os EUA. Sobre as exportações de carne in natura, suspensas após o episódio em que foram encontrados abscessos em um dos carregamentos enviados aos Estados Unidos, o ministro Blairo
36 DBO outubro 2017
Maggi afirmou que a expectativa é de que o embargo seja suspenso em outubro, após avaliação de um documento que responde às questões da missão norte-americana que visitou o País no primeiro semestre deste ano.
Transporte de gado vivo na pauta da Câmara Projeto de lei 6.392/16, em discussão na Câmara dos Deputados, quer aumentar de 4,4 para 4,7 metros a altura de caminhões de dois andares que transportam gado. A proposta do deputado Zé Silva (SD-MG), autor do projeto, é uma demanda da Associação dos Caminhoneiros de Iturama, município do Triângulo Mineiro. Segundo o deputado, os motoristas chegavam a cortar a parte superior das carretas para não serem multados por maus-tratos aos bovinos em postos da Polícia Rodoviária. “Hoje os caminhões
contam com apenas 1,65 m em cada andar, o que faz com que os animais fiquem muito apertados e batam a cabeça no teto quando o caminhão passa por vias irregulares”, diz o deputado. Do lado dos fabricantes de veículos, a principal queixa é a de que não há maneira de reduzir ainda mais a altura do chassi ou dos pneus para ganhar espaço interno nas carrocerias. “Nesse imbróglio, perdem o pecuarista, o frigorífico e o consumidor, por causa das lesões nos bovinos”, ressalta o deputado. Após as discussões, o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) levantou como preocupação a viabilidade de os veículos circularem nas rodovias em função de pontes, passarelas e viadutos. Zé Silva e as transportadoras alegaram que hoje caminhões tipo cegonha, que transportam automóveis, têm 4,95 m de altura, o que não os impede de rodar pelo País. O projeto ainda precisa passar por análise do Senado e da Presidência da República para ser aprovado.
Cadeia em Pauta Planta da BRF em Mineiros, GO, será reabilitada. A BRF poderá voltar a exportar seus produtos a partir do frigorífico instalado em Mineiros, GO, informou o Ministério da Agricultura, em 20 de setembro. Já a BRF informou, em nota, que espera receber nos próximos meses missões comerciais de fora do Brasil para conduzir vistorias técnicas que precedem o processo de habilitação da planta e,
consequentemente, o reinício das exportações. A unidade estava impedida de realizar vendas externas desde a Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, deflagrada em 17 de março deste ano. A unidade goiana produz cerca de 7 toneladas de alimentos por mês e emprega aproximadamente 2.000 pessoas.
Argentina libera carne bovina in natura do Brasil A Argentina reabriu seu mercado à carne bovina in natura do Brasil após cinco anos de negociações, informou o secretário de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Odilson Luiz Ribeiro e Silva. As exportações da proteína estavam embargadas pelo país vizinho desde 2012, quando o Brasil notificou à Organização
38 DBO outubro 2017
Mundial de Saúde Animal (OIE) um caso suspeito de EEB (encefalopatia espongiforme bovina), conhecida como doença da vaca louca. Para o secretário a decisão da Argentina deve ter efeito direto nas negociações em andamento entre o Mercosul e a União Europeia para estabelecer um acordo de livre comércio.
IMA faz recadastramento de pecuaristas O Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) iniciou em 16 de setembro uma campanha de recadastramento dos criadores de bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos e equídeos. O recadastramento é obrigatório e deverá ser feito até 29 de dezembro, informou o instituto. Para se recadastrar, o criador deverá comparecer a uma unidade do IMA e apresentar original e cópia dos documentos pessoais e de comprovante de endereço. O criador que não o fizer estará impedido de transitar com seus animais dentro e fora de Minas Gerais, o que o impedirá, inclusive, de vender animais do seu plantel ou participar de eventos agropecuários. Conforme o IMA, a medida tem também o objetivo de regularizar os dados dos criadores junto ao instituto, tendo em vista que muitos produtores deixaram a atividade ou venderam seu rebanho e não fizeram a devida comunicação.
Cadeia em Pauta Frigol abre escritório na Rússia
Plano ABC, mais barato mas pouco contratado.
O Frigol, um dos maiores frigoríficos do País, comunicou em setembro a abertura de escritório em Moscou, como parte do seu projeto de aumento da presença global e aproximação com mercados-alvo de grande potencial para as carnes brasileiras. Esse projeto foi iniciado em novembro de 2016, com a abertura de uma base em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Entre janeiro e agosto de 2017, a Rússia comprou mais de US$ 830 milhões de carnes bovina e suína do Brasil. “Ampliamos nossa presença no mercado internacional para respaldar o plano de crescimento das exportações de carnes, especialmente bovina. Investimos R$ 12 milhões em infraestrutura para abate e processamento de bovinos e duplicação da capacidade de abate de suínos. Além disso, já solicitamos autorização para exportação de carne suína e a Rússia é o maior comprador dessa proteína do Brasil”, informa Dorival Jr., gerente comercial do Frigol.
Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas por meio de seu projeto Observatório ABC, que visa engajar a sociedade no debate sobre a produção sustentável, mostra que são menores do que se imaginava os custos de implementar as metas do Plano para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC) até 2020. De acordo com o levantamento, o valor necessário para recuperar 15 milhões de hectares de pastagens gira em torno de R$ 26,7 bilhões a R$ 31,3 bilhões, valor bem abaixo do apresentado pelo governo federal quando ele lançou o plano, de R$ 43,9 bilhões. A questão é saber se o ritmo de adesão ao Programa ABC, linha de crédito específica para a iniciativa, permitirá cumprir a meta no prazo. Do total ofertado para o programa na safra 2016/2017, foram contratados pelos produtores rurais 63% (R$ 1,81 bilhão), enquanto na safra anterior o percentual havia sido de 68%, de uma oferta de R$ 2,05 bilhões. Os recursos podem ser usados
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na expansão do sistema de plantio direto, em reforma de pastagens, adesão aos sistemas integrados, uso de tecnologias para tratamento de dejetos animais e reflorestamento.
Mataboi encerra recuperação judicial Após seis anos, o frigorífico Mataboi, desde fins de 2014 sob o comando da JBJ Agropecuária, que assumiu uma dívida de R$ 480 milhões, encerrou em setembro o seu projeto de recuperação judicial. De acordo com diretor presidente do Mataboi, José Augusto de Carvalho Júnior, o processo de recuperação da empresa tomou força em função das novas estratégias adotadas e da aplicação de esforços concentrados. Ele credita ao empresário José Batista Júnior, o “Júnior Friboi”, a ousadia de ter adquirido a empresa, em situação pré-falimentar, fazendo aportes de capital e imprimindo uma profissionalização da gestão da Mataboi.
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62 . 3310.8133 64 . 3441.8844 66 . 3545.9898 66 . 3439.9898
Cadeia em Pauta Gaúchos modernizam pecuária O site Observatório Gaúcho da Carne é o primeiro projeto de uma série de iniciativas anunciadas pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi) do Rio Grande do Sul, para assegurar a evolução do processo de rastreabilidade e a criação de um selo da carne gaúcha. Prevista para ser lançada no primeiro trimestre de 2018, a plataforma vai agrupar informações como dados de abate (origem, destino, ano, mês e forma de abate), sanidade, exportação e circulação de animais, entre outros. O
objetivo é formar um grande banco de dados para um estudo de inteligência da pecuária do Estado. O próximo passo será a criação da Agência Gaúcha da Carne, em mais uma tentativa de organizar o setor de carne bovina no Rio Grande do Sul. De acordo com Ernani Polo, secretário da Seapi, com estes projetos o setor terá condições de adotar medidas de longo, médio e curto prazos. “Só assim poderemos pensar, para um futuro, no selo da carne gaúcha, agregando maior valor à pecuária de corte regional.”
De volta ao termo Após vários meses sem comprar boi a termo a preço fixo, alguns frigoríficos voltaram a fechar esse tipo de contrato, embora em escala bem inferior à praticada anteriormente. Uma dessas empresas é o Minerva, que destina entre 70% e 80% de sua produção à exportação. Para atender determinados
mercados externos, a companhia precisa de bois confinados, com padrão específico, cuja captação fica mais fácil por meio de contratos a termo. “Estamos fechando alguns negócios com clientes específicos”, informou Fabiano Tito Rosa, gerente de compra de gado do Minerva.
Setembro em chamas O mês de setembro de 2017 entra para a história como o período com maior número de focos de incêndio desde 1999, quando o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) começou a registrar tais ocorrências. Foram registrados 105.000 focos, a maioria na Amazônia, e o ano de 2017 já é considerado o segundo com mais pontos de calor, no período de janeiro a setembro. Os Estados mais afetados foram: Pará, com mais de 22.000 focos, quase cinco vezes mais que no mesmo mês do ano passado;
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Mato Grosso, que mesmo com o período proibitivo para queimadas continua registrando novos pontos de incêndio a toda hora; Mato Grosso do Sul que registrou 2.595 focos até o dia 22 e Tocantins, onde já foram detectados 9.109 pontos de calor. Um incêndio no Parque Nacional do Araguaia já destruiu 70% de sua área. Segundo Alberto Setzer, pesquisador do Inpe, dois fatores explicam o aumento dos pontos de queimadas: a estiagem prolongada em boa parte dos Estados e a ausência de fiscalização.
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Eventos
Interconf completa 10 anos Um dos eventos mais importantes do País na área de pecuária completa uma década com mudanças substanciais
Maristela Franco
conf refletem esse cenário e também a necessidade, segundo Pessina, de maior aproximação com os produtores, que tradicionalmente já participam da feira Goiás Genética e se sentem em casa no parque de exposições.
Evento deste ano foi no Parque de Exposições Pedro Ludovico
Mudanças visam maior aproximação com os produtores, que já frequentavam a Goiás Genética” Alberto Pessina, presidente da Assocon.
Maristela Franco de Goiânia, GO
C
maristela@revistadbo.com.br
om histórico respeitável – centenas de palestras, bastidores agitados e debates memoráveis, como o dos frigoríficos em 2009, mediado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, quando a JBS anunciou a compra do Bertin – a Interconf, atual Conferência Internacional de Pecuaristas, completou 10 anos, nos dias 18 e 19 de setembro, com mudanças substanciais. Trocou o Oliveira’s Place, na região sul de Goiânia, GO, recinto que ocupou por nove anos, pelo Parque de Exposições Pedro Ludovido Teixeira, partilhando uma estrutura móvel com a feira Goiás Genética, realizada na sequência (dias 20 a 23), pela Associação Goiana dos Criadores de Zebu (AGCZ). O evento também ficou mais compacto, com ligação direta entre a área de palestras e os stands das empresas. A mudança parece não ter afugentado o público, que, segundo os organizadores, foi de 1.100 pessoas. “Estamos estudando esse novo formato, que pode ou não ser mantido no próximo ano”, informou Alberto Pessina, presidente da Assocon, Associação Nacional de Pecuária Intensiva, entidade promotora da conferência. Quando a Interconf foi realizada pela primeira vez, em 2008, a Assocon (à época representante apenas de confinadores), tinha três anos de vida e navegava em conjuntura bem diferente da atual. A crise provocada pelos sucessivos golpes desferidos à pecuária em 2017 – Operação Carne Fraca, delações da JBS e posterior rescisão do acordo de colaboração premiada da empresa – abalou o mercado e encolheu patrocínios. As mudanças na Inter-
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Foco no mercado O primeiro dia de palestras da conferência se concentrou, principalmente, nas análises de mercado, tanto externo quanto interno, tarefa inicialmente assumida por Zeina Latif, da XP Investimentos, de SP, que fez um balanço do cenário econômico. Segundo ela, tudo indica que a economia mundial esteja iniciando um novo ciclo de alta. No Brasil, a produção industrial, que caiu dramaticamente, se deslocando da onda de crescimento dos demais países emergentes, ensaia uma recuperação, mas vai demorar para que isso se reflita no PIB (produto interno bruto). “Se o País crescer 3% ao ano, vamos levar cinco anos para recuperar a renda per capita pré-crise. A queda na inflação, que costumo comparar à febre de um paciente, indica que a economia está se recuperando. Não é simplesmente reflexo da recessão”, disse Latif. Segundo ela, espera-se redução ainda maior dos juros (para patamares de 7% a 8%), aumento no consumo, melhoria na confiança dos empresários e queda no desemprego. O pior já teria passado no mercado de crédito. Com a queda na inadimplência e nos pedidos de recuperação judicial, a oferta de dinheiro aumentou. O grande desafio será controlar o déficit fiscal, sem o qual o País terá apenas uma recuperação passageira, “um voo de galinha”, ressaltou Latif. “Será necessário um esforço fiscal de 5,8% do PIB para equilibrar as contas públicas”, alertou. Isso exigirá, segundo a analista, uma reforma da previdência, que, mantidas as regras atuais, consumiria 70% do orçamento da União. A melhoria na produtividade no trabalho e nas empresas seria outro grande desafio do País. “A partir de meados da década de 70, o crescimento da população ativa em relação à inativa minimizou o impacto da baixa produtividade, mas esse ‘bônus demográfico’ deverá se esgotar a partir de 2030. Será necessário melhorar o ambiente de negócios e qualificar a mão de obra”, alertou. Com análise mais focada no agronegócio, o economista Ivan Wedekin lembrou que o setor é responsável por 24% do PIB, 47% das exportações e 37% dos empregos do País. “Acabamos de colher uma safra recorde (239 milhões de toneladas, 52 milhões a mais do que no ano anterior), o que resultou em deflação no preço dos alimentos no mercado interno. O agronegócio gera saldo de US$ 69 bilhões em exportações, valor próximo do déficit da China, nosso maior cliente. Os chineses importam soja e nosso agro se transforma”, disse Wedekin. O con-
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Divulgação Interconf
Eventos
Área destinada a empresas: mais compacta neste ano.
sumo mundial já chegou a 58,7 milhões de t/ano e a China é o terceiro maior importador mundial desse produto. “Os australianos fizeram um estudo para entender o crescimento das exportações brasileiras entre 2000 e 2014, constatando que ela se deve, em 37%, ao menor custo em do boi; em 55%, ao maior acesso a mercados e, em apenas 8%, ao aumento na renda dos importadores”, explicou o economista. Como fica a arroba Wedekin anunciou ainda aos pecuaristas uma boa notícia: “não teremos forte pressão sobre os custos da pecuária no próximo ano”, por causa do grande estoque de grãos (quase 20 milhões de t de milho no Brasil), energia mais barata, aumento na oferta de crédito e preços dos insumos sob relativo controle. Isso, segundo ele, pode minimizar o efeito da queda nos preços da arroba. No debate que se seguiu às palestras da manhã, o confinador André Perrone e os analistas Rodrigo Albuquerque, da NF2R, de GO, e Leandro Bovo, da Radar Investimentos, disseram que já esperavam preços menores do que os de 2016, mas não contavam com tan-
tos fatores imponderáveis. “Foi um dos anos mais desafiadores da história da pecuária, com quedas abrutas no preço da arroba”, salientou Albuquerque. “O pecuarista aguentou muito desaforo neste ano: estoque de boi magro caro, mercado futuro em baixa e uma revoada de cisnes negros”, completou Perrone, referindo-se à Operação Carne Fraca, aos escândalos políticos e ao embargo americano à carne brasileira. Durante o evento, mais um cisne negro sobrevoava o setor – a paralização dos abates pela JBS (veja reportagem à página 32) – , mas os analistas não previam efeito tão grande sobre a arroba, porque o episódio ocorreu durante a entressafra do boi. Outro susto foi a alta inesperada no preço dos animais de reposição, classificada como especulativa. “Sejam cautelosos”, recomendou Albuquerque, “boi magro a R$ 150/@ é um preço normal para Goiás neste momento; mais que isso, não se paga. E busquem proteção de risco no mercado futuro”. O bloco de palestras técnicas incluiu temas como controle de invasoras, pneumonia em confinamentos, técnica de manejo “nada nas mãos” (objeto de reportagem de capa de DBO, em julho), seleção genética e balanças para pesagem voluntária de animais confinados. Problemas técnicos, como o rompimento de um cabo de energia, atrapalharam um pouco a programação, que apresentou alguns furos. O evento foi encerrado, no dia 19, com as palestras da advogada Samanta Pineda, sobre legislação ambiental, e do ex-professor da Unicamp, Pedro de Felício, sobre qualidade de carne. “É difícil falar em qualidade no Brasil, quando a indústria frigorífica exporta principalmente cortes do tipo commodity para Hong Kong, China e Egito, faturando US$ 3,8 bilhões entre janeiro e agosto deste ano. Não se ofendam, mas, se fosse nos Estados Unidos, boa parte da carne que produzimos seria moída. É preciso mudar isso”, alertou. n
A Interconf recebeu, neste ano, a visita de 13 produtores e executivos de frigoríficos da África do Sul e Austrália, que vieram ao País conhecer nossa pecuária, a convite da empresa de aditivos Phibro. “Queríamos entender como o Brasil consegue tamanha competitividade no mercado de carne commodity”, salientou James Palfreeman, diretor de confinamento da JBS Austrália, que também fez uma palestra na Interconf sobre o sistema de engorda de seu País, sistemas de certificação e organização institucional da cadeia produtiva australianas. O grupo permaneceu 12 dias no Brasil, visitando a fábrica de virginiamicina da Phibro, a Usina Vale do Rosário, o Confinamento Monte Alegre e um frigorífico do Minerva, todos em São
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Paulo; as Fazenda Conforto, de Alexandre Negrão, e a Fazenda Colorado, da JBJ, em Goiás, além de universidades e empresas de suplementação mineral. Palfreeman explicou à DBO que a Austrália não produz apenas carne de alta qualidade, como muitos pensam. Na parte sul da costa leste, onde se concentra a pecuária do país, o rebanho é predominantemente Angus e a produção dirigida (conforme a demanda do cliente); na parte central, trabalha-se mais com cruzamento e, na parte norte, com zebu (Brahman). “Pelo menos 20% dos animais de nossos confinamentos são exportados para os Estados Unidos, para produção de hambúrguer”, explicou o executivo. Segundo Danilo Grandine, diretor global de marketing da
Maristela Franco
Estrangeiros de olho no Brasil
Executivos da JBS Austrália, Richard Nichols e James Palfreeman (à dir.). Phibro e cicerone do grupo, a pecuária da África do Sul é bem diferente. Os animais são abatidos com no máximo 16 meses e 480 kg de peso vivo. Segundo os visitantes, uma palavra define o Brasil: oportunidade – pela fatura de terras, água, mão de obra, gado, capacidade instalada de abate e potencial de ganhos produtivos.
BELA MAGRELA
Evento
Especialistas reunidos no Encontro dos Encontros, da Scot Consultoria: evento atraiu cerca de 1.500 pessoas.
IATF avança, mas reprodução ainda tem baixa eficiência. Especialistas em genética debatem soluções e gargalos para aumentar a precocidade, fertilidade e produtividade do rebanho brasileiro. Denis Cardoso
E
de Ribeirão Preto, SP
m 15 anos, tempo em que a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) passou a ser adotada no Brasil, houve significativos avanços nas áreas de reprodução de bovinos, resultando em consideráveis ganhos de eficiência em fazendas de gado de corte. Mas o consenso entre especialistas do setor de genética é de que esta e outras técnicas de reprodução de bovinos, facilmente disponíveis, ainda estão longe de alcançar seu verdadeiro potencial nas fazendas do País. Segundo o professor Pietro Baruselli, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ-USP), 90% das matrizes brasileiras ainda são cobertas por touros (monta natural), sendo que apenas 50.000, ou 8% de um universo de 600.000 reprodutores que são repostos anualmente no rebanho, possuem algum tipo de avaliação genética – hoje, estima-se um plantel de touros ao redor de 3 milhões de cabeças, to-
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mando como base a relação de 1 touro para 25 matrizes, com uma taxa anual de reposição de 20%. Baruselli participou, juntamente com outros especialistas do setor, de um debate sobre genética e reprodução de bovinos no Encontro dos Encontros (Criadores/Adubação e Pastagens/Pecuária Leiteira), evento da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, ocorrido de 2 a 5 de outubro, em Ribeirão Preto, com um público de 1.500 pessoas. O professor da USP continuou sua exposição dizendo que apesar de somente 10% do plantel de vacas ser atualmente inseminado no País, a técnica apresentou crescimento em 15 anos – basta ver a quantidade de doses de sêmen comercializadas no período, que saltou de 7 milhões em 2002 para 11,7 milhões em 2016 (corte e leite), de acordo com a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). Esse crescimento foi motivado sobretudo pela IATF, que passou de 1% das inseminações, há 15 anos, para 85% das inseminações realizadas no ano passado. Ainda segundo Baruselli, no ano passado foram comercializados 8 milhões de doses de sêmen bovino de gado de corte no Brasil, com a produção de 3,2 milhões de bezerros de inseminação por ano, considerando uma taxa de 40% de nascimentos. Isso representa uma oferta anual de 1,6 milhão de machos e 1,6 milhão de fêmeas. São abatidos cerca de 40 milhões de animais por ano, sendo 60% de machos (ou 24 milhões de cabeças) e 40% de fêmeas (16 milhões de cabeças). “Infelizmente, dentro dessa realidade, a inseminação artificial contribuiu somente com 6% do total dos abates dos machos no Brasil no ano passado”, diz Baruselli. No caso da reposição, o uso da tecnologia de inseminação representou somente 11% dos abates das fêmeas em 2016. Foco no uso de genética “Mesmo dentro do pequeno universo dos criadores que hoje utilizam tecnologias reprodutivas, há pecuaristas – e não são poucos – errando feio a mão no uso da genética”, alertou o professor José Bento Ferraz, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (FZEA/USP), também presente ao debate. Bento diz ser contrário ao modelo de escolha de reprodutores baseado unicamente nos conceitos de percentil determinados para touros avaliados em programas de melhoramento genético. Também rejeita os chamados “índices totais” de classificação das Diferenças Esperadas de Progênie (DEPs) de reprodutores, que igualmente são analisados em projetos de seleção. “Um touro tope 0,1%, ou seja, considerado excelente no universo de touros de um programa de melhoramento, pode se mostrar totalmente inadequado para o sistema de produção de uma determinada fazenda”, observa Ferraz. Segundo ele, é preciso ter foco no uso da genética que resultará em ganhos efetivos ao pecuarista. “Olhar unicamente para um índice geral que reúne um mundaréu de características genéticas, na minha opinião, significa, na verdade, não olhar para
Evento
Somente 8% dos reprodutores repostos anualmente no rebanho possuem algum tipo de avaliação genética” Pietro Baruselli, professor da FMVZ-USP
nada”, enfatiza. Com ele concordou o médico veterinário Leonardo Souza, sócio diretor da Qualitas Melhoramento Genético, empresa com sede em Goiânia e responsável pelo programa Nelore Qualitas. “Por mais bem classificado que esteja em programas de melhoramento, um determinado touro nunca será capaz de resolver o problema de todas as fazendas brasileiras”, afirma. Nesse sentido, observa Souza, antes de mais nada, o pecuarista precisa “conhecer o próprio sistema de produção e sua real necessidade do ponto de vista genético”. A partir disso, é fundamental, diz ele, que também se saiba o tipo de trabalho de quem produz e está ofertando essa genética no mercado. Ainda é pouco Apesar dos avanços da IATF, o professor Baruselli,da FMVZ-USP, acrescenta que o Brasil ainda tem um dos piores índices do mundo em produção de bezerro, de apenas “0,6 animal por vaca/ano, diz ele, citando dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP). Outro dado que demonstra a baixa produtividade da pecuária brasileira, relata o professor, é o índice ligado à idade à primeira cria. Em vários países de pecuária no mundo, afirma o professor da USP, mais uma vez citando os números do Cepea, novilhas empre-
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nham hoje com 14 meses, resultando no primeiro parto aos 24 meses. No Brasil, o índice médio de idade ao parto supera os 40 meses. Outros dois índices ruins da pecuária brasileira são a baixa taxa de desmama, ao redor de 65%, e o baixo peso ao desmame, em torno de 160 kg. Nas contas de Baruselli, uma vaca por hectare, com bezerro de 160 kg e com 65% de taxa de desmame, resulta em faturamento de R$ 500 por ano, enquanto um arrendamento de cana oferece atualmente em torno de R$ 1.500/hectare/ano. “Ou seja, essa pecuária de baixa produtividade não é sustentável”, afirma o professor da USP, que sugere o uso de tecnologias reprodutivas como saída para resolver a atual ineficiência da cria. Nos cálculos de Baruselli, atualmente, o Brasil apresenta uma produção anual de bezerros ao redor de 50 milhões de cabeças. Vendido ao preço de R$ 5,50 o quilo, o faturamento com a venda da safra alcança ao redor de R$ 40 bilhões/ano. Porém, continua, se uma fazenda conseguir elevar a sua taxa de desmame para 80% e o peso ao desmame para 180 kg, “índices perfeitamente possíveis de serem alcançados com as tecnologias disponíveis atualmente”, o faturamento sobe para R$ 63 bilhões por ano, um aumento de 57%, sem que seja necessário aumentar o rebanho de matrizes. n
Capa
Tamanho
não é documento Fazendas com áreas inferiores a 600 ha, consideradas pequenas para a pecuária do Brasil Central, demonstram eficiência no uso dos recursos produtivos, com elevada rentabilidade. ariosto mesquita de São José dos Quatro Marcos, MT, e Selvíria, MS.
C
Dá para ganhar dinheiro, desde que se aprenda a ser tope em tecnologia” Alcides Torres, da Scot Consultoria
Nem sempre a fazenda mais produtiva é a mais rentável”, André Aguiar, da Boviplan
omo diz o ditado popular, nem sempre quem é grande tem capacidade nem quem é pequeno deve ser previamente julgado como não a tendo. No caso da pecuária, o recado que está por trás do ditado também é válido. Quem tem área pequena pode muito bem ser eficiente na atividade, o que, a cada dia, se mostra mais necessário. O conceito de pequeno não é uma unanimidade. Consultorias ouvidas por DBO expressaram essa divergência: pode ser determinada pelo tamanho da área, pelo tamanho do rebanho, pela capacidade de entrega do que se propõe a produzir, pela proporção entre o que tem de estrutura e o que fatura.... Para facilitar as coisas, DBO optou pela escala física como sendo o parâmetro para classificar o pecuarista como pequeno, médio ou grande. Alcides Torres Júnior, o Scot, proprietário da Scot Consultoria, de Bebedouro, SP, lembra que o último Censo Agropecuário do IBGE, de 2006, aponta que 2,5 milhões de propriedades com bovinos possuíam até 500 ha de área produtiva. Isso representa quase 95% do total com bovinos (ou seja, apenas 5% estavam nas mãos de médios e grandes). André Aguiar, engenheiro agrônomo e sócio da Boviplan, de Piracicaba, SP, ressalta que “a partir do tamanho, fica mais fácil avaliar todas as variáveis”. A consultoria adota como parâmetro de pequena propriedade de bovinocultura de corte área produtiva de até 600 hectares para o Centro-Oeste e de até 1.000 ha para os Estados do Norte. As duas regiões, juntas, detêm aproximadamente 55% do rebanho bovino brasileiro, estimado em 212,3 milhões de cabeças (IBGE 2016). Em outras regiões, como a Sudeste e a Sul, os limites para uma propriedade ser considerada pequena são mais reduzidos. No Paraná, por exemplo, a Cooperativa Maria Macia (de Campo Mourão, região Oeste) considera este teto em 300 ha.
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Parâmetros necessários Produção de carne acima de 12@/ha/ano, capacidade de suporte nos pastos superior a 1,5 UA/ha, ganho de peso médio diário (GMD) do gado acima de 450 gramas e um custo de produção da arroba nunca superior a 60% do valor da arroba comercializada. Estes são os indicadores tomados como referências principais pelo Instituto Terra de Métricas Agropecuárias (Inttegra) – uma espécie de franquia de consultoria originada da empresa Terra Desenvolvimento Agropecuário, com sede em Maringá, PR –, para que uma propriedade pequena possa almejar eficiência na atividade. Segundo Rodrigo Patussi Nascimento, gestor do Inttegra, outra especialidade que os gestores de fazendas com esses indicadores devem cultivar é a capacidade de produzir alimento de sobra. “O aumento da lotação deve estar ligado à disponibilidade de forragem, que deve incluir uma boa estratégia para a entressafra”, diz ele, citando como exemplo a reserva de uma área para confinamento, que deve ser utilizada pontual e habilmente, para atender situações circunstanciais provocadas por agentes externos como clima (secas) e mercado (insumos extremamente baratos). Ele considera a cria, em seu modelo tradicional, como o sistema de produção pecuário mais complexo para ser adotado em uma propriedade com disponibilidade de área limitada: “Exige lotes diversificados, com diferentes categorias e necessidades distintas. Numa emergência, haveria grande dificuldade para reduzir a lotação. Não é impossível, mas desafiador”, define. A Inttegra presta serviço atualmente a 263 propriedades no Brasil e 22 no Paraguai, somando 888.000 ha de área produtiva e um rebanho de pouco mais de um milhão de cabeças. Levantamento feito com exclusividade para DBO revela que deste total de fazendas, 39 têm área produtiva de até 500 ha, sendo 27 em sistema de recria-engorda. A maioria (22) não possui confinamento e está voltada para a produção comercial de carne (35). Este grupo de fazendas apresenta um lucro líquido médio (chamado de resultado gerencial global) de R$ 341/ha/ano, obtido em uma área de pastagem
(média) de 259 ha com uma produção global de 17,84 @/ha/ano e um GMD global de 494 gramas. Para André Aguiar, da Boviplan, a propriedade eficiente, independentemente do tamanho, é aquela que atinge o ponto de equilíbrio entre produtividade e rentabilidade, com tendência a manter ascendente a curva dos dois. “Nem sempre a fazenda mais produtiva é a mais rentável”, diz o sócio consultor da Boviplan, que presta serviço a 32 fazendas de pecuária (19 no Brasil e 12 na Bolívia), que representam uma área produtiva de 83.000 ha e um rebanho em torno de 105.000 cabeças. Aguiar destaca que a gestão de procedimentos geralmente é menos complicada para as propriedades de pecuária consideradas pequenas. “No entanto, para serem bem-sucedidas, elas têm de estar abertas a oportunidades e não devem se fixar num sistema único de produção”, recomenda o consultor, apontando como exemplo a Fazenda Ledacara, de Selvíria, MS, um dos três clientes da Boviplan com área produtiva de até 600 ha, que deixou o ciclo completo para se dedicar à recria-engorda e este ano concentrou o trabalho mais na recria e menos na engorda, sempre mantendo uma elevada rentabilidade (veja reportagem à página 60). Trata-se de privilegiar a rápida tomada de decisões, algo que se tornou prerrogativa para a sobrevivência de muitos pecuaristas, especialmente em anos de incertezas e de margens apertadas, como este 2017. Localização também conta Alcides Torres, da Scot Consultoria, pondera que, no mercado agropecuário, a produção de alimentos a baixo custo só é viável em grande escala, sejam eles soja, milho, trigo, arroz ou carne bovina. Nesse sentido, ele tenderia a sugerir a produtores detentores de áreas pequenas que partissem para outras atividades, mais compatíveis com essa realidade, como horticultura, fruticultura ou pecuária leiteira. Mas ressalva: “Se a propriedade estiver localizada numa região onde o forte é a bovinocultura de corte, ela poderá tranquilamente apostar na atividade, desde que aprenda a ser tope em tecnologia”. Este imperativo, segundo ele, vem da necessidade de se intensificar ao máximo o sistema produtivo. Neste sentido, classifica a informação como primeiro e essencial insumo. “Uma propriedade de até 600 ha produtivos no Brasil Central consegue gerar renda no mesmo patamar que um trabalhador urbano de classe média consegue. Dinheiro público para financiar os ajustes necessários existe. O mais complexo é o acesso ao conhecimento. As informações técnicas estão disponíveis, mas só isso não basta. Carecemos de mecanismos de difusão”, observa o consultor, lembrando o sucateamento pelo qual passaram as empresas públicas de extensão rural nas últimas décadas. “Este papel está hoje praticamente a cargo das empresas fabricantes de insumos”, completa.
Para ganhar força e competitividade, Torres sugere que pecuaristas desse porte se organizem em torno de núcleos regionais de produção ou em cooperativas. “No Paraná, onde ainda existe um esforço de extensão rural por parte da Emater (Empresa de Assistência Técnica Rural), as cooperativas de produtores de carne funcionam muito bem, algumas reunindo microprodutores, cada um com seus 50 a 80 hectares de área disponível na propriedade”, lembra (veja mais sobre o Paraná na página 56) “Risco de extinção” Professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), Júlio Otávio Jardim Barcellos lembra que, nesses casos, a diferenciação de produtos – para atender a nichos de mercado – garante a sobrevivência de quem tem menor escala de produção. “Nela, é possível um maior controle de procedimentos ligados ao bem-estar, ao que se convencionou chamar de ‘atividade limpa’ e à sustentabilidade”, diz ele, apontando o sistema de recria-engorda como o que apresenta melhores possibilidades. Fora desse perfil e com dependência exclusiva da renda da pecuária, o professor se mostra bastante pessimista: “A produção em escala limitada, em pequenas propriedades, cujo dono busca se manter exclusivamente da bovinocultura de corte, está com seus dias contados.” O motivo: a incapacidade delas de competir com as grandes empresas na aquisição de tecnologias que levem ao aumento da produtividade, o que exige grande quantidade de capital. “O desaparecimento desse pessoal é uma questão de tempo”, prevê. Barcellos acredita, no entanto, que a pecuária de corte em pequenas áreas continuará existindo, mas sob a gestão do que ele chama de “novos pecuaristas” – aqueles marcados pela aura de investidores, como os profissionais que já trabalham com outras atividades e que têm vínculos com o meio rural. “Seriam exatamente os que, por sucessão familiar ou por investimento no negócio, compartilham parte do seu tempo com a fazenda”, esclarece. O professor da UFRGS também concorda que a escala física em hectares não determina, por si só, o resultado de produção em uma propriedade. Diversos fatores como qualidade de solo, região, logística, acesso à tecnologia e mercado devem ser considerados. “Uma área de 500 hectares com solos de boa qualidade e que tenha condições de passar por uma intensificação, poderá ter uma escala de produção superior a uma fazenda de 5.000 hectares dentro de uma região como o Pantanal do Mato Grosso do Sul”, exemplifica.
Lotação e forragem têm de caminhar juntas” Rodrigo Patussi, do Inttegra
Sucessores e investidores ocuparão esses pequenos espaços. São os novos pecuaristas” Júlio Barcellos, da UFGRS
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Capa Cooperativismo, uma das saídas. Agrupar-se numa cooperativa, de preferência que participe ou esteja empenhada em conseguir fazer parte de um programa de carne de qualidade. Essa é uma das estratégias possíveis para pecuaristas de pequenas áreas. Um bom exemplo vem da Cooperativa Maria Macia, de Campo Mourão, região noroeste do Paraná. Desde 2005, como uma aliança de produtores, e a partir de 2008, como cooperativa, seu foco é a produção de carnes consideradas especiais, oferecendo ao mercado 24 cortes, entre populares (patinho, picanha, alcatra, etc.) e gourmet (t-bone, prime rib, etc.). Boa parte dela vem de um contingente de aproximadamente 20 produto-
res que têm área de até 300 ha, de um total de 170 pecuaristas e abate mensal médio de 1.300 cabeças. Segundo o veterinário Paulo Emílio Prohmann, diretor-secretário da cooperativa, há fazendas até menores, de 170 ha, mas também aquelas com até 3.000 ha. “A média fica em 700 ha de área produtiva”, informa ele, apontando os 300 ha como parâmetro para ser considerado pequeno. Ele enumera três grandes vantagens para esses associados, no que diz respeito a reunir condições para uma melhor produtividade: compra de insumos mais baratos, assessoria técnica e comercialização a preços acima dos de mercado. “Conseguimos descontos de até 30% na aquisição de suplementos
minerais e de 5% em medicamentos. Na compra de lonas, brincos, calcário e sementes, varia de 5% a 30%”, revela Prohmann. Na comercialização, cita o exemplo recente, do início da segunda quinzena de setembro: “Nosso produtor recebeu R$ 153 à vista, pela arroba do macho, enquanto que o mercado da região não pagava mais do que R$ 145”. Para ter direto à bonificação, é necessário que o pecuarista entregue o animal dentro das características específicas de tipificação de carcaça. Dentre elas, fêmeas com peso acima de 400 kg, machos acima de 480 kg (ambos com idade de até 24 meses), além de cobertura de gordura mínima de 5 mm.
Para indústria, tamanho não interessa. No longínquo município de Rolim de Moura, no leste de Rondônia, distante 483 km da capital, Porto Velho, produtores com minúsculas áreas entre dois a cinco hectares são fornecedores de gado para abate. “São os chamados “chacareiros”, que vendem de três a quatro animais, eventualmente, para os frigoríficos. Para Fabiano Ribeiro Tito Rosa, gerente executivo de compra de gado
do Minerva Foods, esse pequeno terminador costuma apresentar algum tipo de problema, como documentação incompleta, por exemplo. Mas isso não significa que a porta da empresa estará fechada para ele. “O tamanho da propriedade não limita nosso negócio. Existem soluções para tudo, mesmo que a quantidade de animais seja ínfima. Muitas vezes tenho de mobilizar um caminhão para
recolher os bois em mais de uma propriedade, até formar uma carga de 18 animais”, conta, considerando pequeno quem entrega até 400 cabeças/ano para o frigorífico. Questionado sobre quanto percentualmente esse grupo representaria para o negócio do Minerva, Fabiano diz tratar-se de “informação estratégica”. Procurado, o frigorífico Marfrig alegou não poder atender à reportagem.
Equipe deve ser enxuta e generalista Contratação de tratorista, capataz, campeiro, gerente geral, gestor de compras, inseminador, serviços gerais e motoristas definitivamente não deve constar da agenda de uma pequena fazenda voltada para a bovinocultura de corte. O alerta é do zootecnista Rodrigo Gomes, pesquisador nas áreas de nutrição e alimentação animal da Embrapa Gado de Corte, de Campo Grande, MS, para quem o produtor deve focar em
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medidas que possam reduzir os custos de produção. “A equipe de trabalho deve ser bem enxuta, bem capacitada e generalista. Se o sistema adotado for o de recria e engorda, com um rebanho entre 600 e 900 cabeças por exemplo, duas ou três pessoas são suficientes”, diz ele. Ou seja, a relação razoável é de 1 funcionário para cada 300 cabeças. Ainda que não descarte a possibilidade de se trabalhar com cria em áreas
pequenas, Gomes também considera a recria como atividade mais adequada para os pequenos, desde que haja uma oferta forrageira abundante para aproveitar o melhor momento do animal em eficiência de ganho de peso: “Não se pode perder de vista que o recurso em potencial é o pasto e que a recria é a fase mais propícia para se fazer arrobas em quantidade e a um custo bem barato”.
DE PRODUTOR PARA PRODUTOR
VENDA DIRETA DE TOUROS ANGUS DA GERAÇÃO 2015 SELEÇÃO FOCADA NO CRUZAMENTO ANGUS X NELORE
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No MT, lucratividade de soja em área de 272 ha. Eficiente manejo de pasto, controle contábil e estratégia de compra e venda garantem recria altamente rentável. Fotos: Ariosto mesquita
Garrotes de 20 meses e 11,5@ em pasto de braquiarão na Estância Bacuri, em São José do Quatro Marcos, MT: venda garantida. No detalhe, identificação do piquete.
T
omando como base as referências das consultorias citadas no bloco anterior, a Estância Bacuri se encaixaria como pequena propriedade até em terras paranaenses. Localizada no município de São José dos Quatro Marcos, no sudoeste do Mato Grosso (distante 318 km da capital, Cuiabá), conta com uma área produtiva de 272 ha, de um total de 319 ha, tamanho que a isenta da obrigatoriedade de recuperar área de reserva legal, pois tem menos do que quatro módulos fiscais. Desde 2012, trabalha exclusivamente com recria, depois de 10 anos focados na engorda a pasto, sistema de produção que o proprietário, o contador Luiz Zimermann,
nnn
Ficha da Estância Bacuri
MT São José dos Quatro Marcos Cuiabá
Localização: São José dos Quatro Marcos, MT (318 km da capital, Cuiabá) Área total: 319 ha Área produtiva: 272 ha Atividade atual: recria Rebanho médio: 850 cabeças (estimativa 2017) Rentabilidade: R$ 998/ha/ano (2016)
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acabou concluindo inadequado para o tamanho da área. Hoje, a propriedade tem “lucratividade de soja”, como faz questão de observar o veterinário e consultor Juliano Dalcanale. Nos últimos anos o ganho líquido médio da Bacuri fechou em patamares de dar inveja: R$ 1.046 em 2014; R$ 848 em 2015 e R$ 998 em 2016. A leve variação ocorreu em função de causas estratégicas e climáticas, justifica Zimermann, que lança mão de sua qualificação profissional para ter a fazenda “nas mãos”. “Em 2015 a estiagem veio forte e, na medida em que ela se prolongava, eu tive de diminuir a carga animal. Quando a chuva chegou, não havia gado para ocupar as pastagens. Mas em 2016 tomamos mais cuidado: minhas compras começaram ainda em setembro, em plena seca”, informa. “Urbano de raízes rurais”, como se autodefine, Zimermann é paranaense e está no Mato Grosso desde 1972, quando chegou (aos quatro anos de idade) com sua família. Segundo ele, a fazenda lhe garante um terço de sua renda, exigindo apenas 15% de seu tempo total de trabalho. Os outros dois terços saem da empresa de contabilidade que ele mantém na vizinha cidade de Mirassol D´Oeste, que fica a apenas 20 km da fazenda e onde ele reside. A proximidade permite a ele acompanhar, com detalhes, como tudo está funcionando na fazenda. Avesso a cavalos, comprou um quadriciclo, sobre o qual percorre os pastos, confere o abastecimento de água e vistoria os lotes de animais. Tem a gestão e a tecnologia como prioridades, contando com apenas um funcionário contratado, o gerente Adenilson Costa, o diarista José Luiz da Costa, que cuida da manutenção de cercas e da estrutura geral, e dois colaboradores – o corretor Cláudio Buzati Vieira, responsável pela compra de animais, e o consultor técnico Juliano Dalcanale. Manejo de pasto A associação de um bom manejo de pasto – diversificado e incrementado por uma adubação leve – e um esquema de compra e venda de animais bem ajustado à capacidade de lotação dos pastos tem sido a receita da propriedade para atingir o excelente faturamento dos últimos anos. A pequena área não foi empecilho para a Bacuri trabalhar com cinco tipos de forrageiras, três delas com os produtivos panicuns massai, zuri e tanzânia, que ocupam 119 ha da área rotacionada. No pastejo contínuo, as braquiárias marandu (“braquiarão”) e piatã. “Esta diversificação tem um papel importante na variação de lotação. Quando há uma superprodução nos rotacionados, deixamos as braquiárias com lotação mais baixa. Assim, elas acumulam massa. Isso serve para evitar problemas no rodízio dos pastos mais produtivos, caso ocorra algum veranico em novembro, dezembro ou janeiro. Se isso ocorrer, as braquiárias entram em cena, funcionando como pasto pulmão, uma reserva estratégica de forragem”, explica Dalcanale.
O contador Luiz Zimermann: proximidade da fazenda, que ele inspeciona, de quadriciclo.
Zimermann e sua equipe: atrás, o consultor Juliano Dalcanale (esq.) e o gerente Adenilson Costa; na frente, o diarista José Luiz da Costa (esq.) e o responsável pelas compras, Cláudio Vieira.
O objetivo de produzir a maior quantidade de massa possível sem afetar a qualidade do solo (que recebe leve adubação periódica) proporcionou também experiência numa área de 30 ha onde foram plantados, em consórcio, os capins zuri (80%) e massai (20%). “A ideia é ter uma espécie rasteira que cubra mais a superfície (massai) junto com um capim de corte alto e produtivo, mas que deixa algumas falhas (zuri). Dessa forma, tenho mais comida e proteção do solo”, diz o consultor, sem saber precisar o quanto a mais esse consórcio produz em relação aos cultivos solteiros. “Mas é um procedimento que já tem cinco anos e vem nos agradando”, conta Dalcanale, que além da Bacuri atende mais 10 fazendas do sudoeste do MT. O manejo de pasto tem como alicerce estratégico usufruir de comida quando a oferta é grande e baixar a lotação quando o capim começa a rarear. Segundo o consultor, no pico do período das águas (janeiro e fevereiro), a capacidade máxima de suporte da fazenda atinge 1.200 animais, o que, numa área de 272 ha, significa lotação de 4,5 cabeças por hectare (ou 2,6 UA/ha). A capacidade mínima, no pico da seca (agosto e setembro) fica em 400 cabeças (0,9 UA/ha). Em função disso, não há como dissociar os períodos de compra e venda de animais da disponibilidade de pasto. Assim, a reposição deve começar no final da seca, concentrando-se logo após as primeiras chuvas. A venda, por sua vez, deve ser diluída nos primeiros meses secos (abril/maio/junho), quando a disponibilidade de pasto geralmente começa a decair. Para obter bons desempenhos das forrageiras, optou-se por um “nível de adubação leve” (não é feita todos os anos), na casa dos 200 kg/ha de amônio fosfatado (MAP, que carrega 11% de nitrogênio e 52% de fósforo) e 150 kg/ha de ureia. “Assim, evitamos custos desnecessários, uma vez que o manejo eficiente de pastos vem nos garantindo resultados crescentes”, justifica. Compra e venda Na parte de comercialização do gado, a Bacuri procura comprar bezerros Nelore desmamados, com peso acima de 180 kg, de um rol de vendedores conhecidos,
que estejam próximos, para economizar no frete. “Buscamos fidelizar o bom produtor para sempre comprar dele”, explica Zimermann. A ideia é que o animal fique o mínimo de tempo possível na fazenda, no máximo 11 meses. Isto porque a Bacuri não comercializa gado magro; só garrotes com peso entre 11 e 11,5@. “Os compradores normalmente ainda fazem uma recria a pasto, para levá-los até umas 14@, antes de irem para o confinamento”, informa. Neste ano, entre março e agosto, a Bacuri comercializou 611 garrotes pelo preço médio de R$ 1.625, valor que equivale a R$ 147/@, bem superior aos R$ 121/@ que ele receberia caso entregasse seus animais com 14@. “É isso que o confinador me pagaria”, argumenta, referindo-se à cotação do boi gordo, em meados de agosto, na praça de Cuiabá. Os indicadores obtidos pela propriedade são significativos. Por exemplo: em 2016, foram produzidas, 14,3@/ha/ano, quatro vezes mais do que as 3,4@/ha/ ano da média da pecuária do Estado, de acordo com dados (de 2012) do Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (Imea). Os indicadores da propriedade lhe valeram o prêmio “Sistema Famato em Campo”, por estar entre sete propriedades consideradas referência na pecuária do Mato Grosso. n Indicadores
Pouca oscilação no lucro 2014 2015
2016
@ vendidas
5.647
10.044
9.397
@ compradas
4.318
7.860
3.575
@ produzidas
3.789
3.081
3.875
13,9
11,3
14,3
57
89
89
132
163
159
502.536
504.886
617.979
218.118
274.292
346.697
Lucro líquido 1
284.418
230.594
271.281
Lucro ha/ano 1
1.046
848
998
@ produzidas/ha Custo da @ produzida 1 Valor médio da @ comercializada 1 Receita produzida 1 Despesa de custeio/ investimento 1
Bezerros de 10 meses em pasto consorciado com os panicuns zuri e massai: alta produção de massa e solo protegido.
Fonte: Juliano Dalcanale/Luiz Zimermann. 1 Valores em reais.
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No MS, sistema de produção ditado pelo mercado. Movida por oportunidades, fazenda obtém lucros na casa de R$ 1.000/ha/ano em 555 ha de área produtiva.
Novilhas Nelore em área de braquiária xaraés, uma das três cultivares manejadas em sistema de pastejo rotacionado da Fazenda Ledacara, em Selvíria, MS.
N
um ponto oposto a São José dos Quatro Marcos, distante 900 km, está o município de Selvíria, no leste do Mato Grosso do Sul, onde outra propriedade mostra que é possível fazer uma pecuária de corte eficiente em reduzida extensão de terras. A Fazenda Ledacara fechou 2016 com o invejável lucro R$ 985/ha/ano, quase dez vezes maior do que obteve em 2010. Isso, numa área produtiva de 555 ha. Mais: a propriedade tornou-se o carro chefe dos negócios da empresa – a Ledacara Empreendimentos, Construções e Agropecuária Ltda., com sede em Maringá, PR–, a nnn
Ficha da Fazenda Ledacara MS
Selvíria Campo Grande
Localização: Selvíria, MS (410 km da capital, Campo Grande) Área total: 647 ha Área produtiva: 555 ha Atividade atual: recria Rebanho médio: 1.330 cabeças (estimativa 2017) Rentabilidade: R$ 985/ha/ano (2016)
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ponto de vez por outra socorrer financeiramente os outros negócios da companhia: empreendimentos em construção civil e imóveis de aluguel. Para chegar a esse ponto, os proprietários – os irmãos Leuane, Daniel, Carlos e Rafael Garcia Rezende, cujas sílabas iniciais dão nome à fazenda – tiveram de tomar a decisão de imprimir uma gestão profissional na atividade, uma vez que aqueles R$ 100/ha não seriam suficientes para bancar a sobrevivência dos quatro sócios. As outras opções eram vender a fazenda ou arrendá-la para o plantio de eucalipto, uma vez que na região (Três Lagoas) atuam duas das maiores indústrias de celulose do Brasil, a Fibria e a Eldorado. No mesmo ano de 2010 contrataram o administrador Rodrigo Silva e, em 2012, os serviços da consultoria paulista Boviplan, de Piracicaba. A primeira medida foi deixar o ciclo completo e partir para o sistema de recria-engorda. “Para conseguir parte do dinheiro vendemos quase todo o gado da fazenda – 1.339 cabeças, parte lotada aqui e parte num arrendamento de 1.212 ha. Estávamos tomando prejuízo e por isso decidimos retirar o gado para a reforma, liberando espaço e fazendo caixa. Entregamos o arrendamento, vendemos os animais e chegamos ao final de 2012 com 74 cabeças. Também conseguimos, no final de 2013, R$ 948 mil do programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono) do Governo Federal com juros de 5,5%/ano”, lembra o administrador. A fazenda foi totalmente redesenhada: partiu para o pastejo rotacionado, na maior parte de sua área, instalando 12 módulos com piquetes, sistema hidráulico que abastece cada ponto da propriedade e uma rede de carreadores para facilitar o trânsito de animais. Ganhou também um confinamento com capacidade estática para 500 animais. Em 2014 e 2015, recebeu mais R$ 315 mil do programa governamental (ainda tem mais 5 parcelas a receber, de R$ 64 mil cada), investindo, no total, R$ 1,8 milhão. Diversificação Optou-se também por uma diversificação de forrageiras, antes limitadas à braquiária decumbens e ao braquiarão, além de uso pontual de uma variedade mais antiga do xaraés, com folha mais curta e crescimento inferior à utilizada na reforma. Nas áreas intensivas (rotacionadas) são 252 ha de capim xaraés, 143 ha de piatã e 88 ha de marandu. Existem ainda 41 ha de pasto extensivo com braquiária decumbens e mais 31 ha de semi-intensivo com um mix de variedades. Entre 2013 e 2014, a fazenda já contava com pastos vigorosos, mas só tinha 105 cabeças (69 bois, 26 vacas, 10 novilhas, além de 15 vacas leiteiras). Cabia mais. Depois de avaliar o mercado e fazer “muitas contas” junto com os técnicos da Boviplan, Silva
Capa
O encarregado Alexsandro ajudou a comprar mais vacas paridas. O administrador Rodrigo Silva: do ciclo completo para a recriaengorda e, atualmente, só recria. Pasto de xaraés em agosto, aguardando a entrada de animais: reserva estratégica.
substituiu a compra de bezerros pela aquisição de 721 vacas paridas. Três meses depois, desmamou os bezerros, segurando os machos e vendendo as fêmeas, e manteve as vacas no pasto. Com boa oferta de forragem, de ótima qualidade, um mês depois elas já estavam gordas e foram enviadas para o abate. Outras mudanças Em 2015, a leitura de mercado fez o administrador da Ledacara tomar nova postura. “Estudando o índice de preços da região, que me é enviado diariamente pela consultoria, montei um gráfico do ágio do boi magro em relação ao boi gordo. Isso me ajudou a decidir em não confinar. Resolvemos vender quase tudo. Ficaram apenas vacas paridas que chegaram prenhas, fêmeas remanescentes do início da reforma dos pastos e bezerrinhos”, conta Rodrigo Silva. Em apenas duas semanas do mês de abril, foram vendidos 667 animais, que geraram uma entrada de mais de R$ 1,4 milhão. De acordo com as planilhas daquele ano, o ágio obtido sobre o valor da arroba de boi gordo ficou em 49% para os bezerros (vendidos a R$ 202/@), 42% para os garrotes (R$ 197/@) e 25% Redução no preço da @ teve pouco impacto
Indicadores @ vendidas @ compradas @ produzidas @ produzidas/ha Custo da @ produzida 1 Valor médio da @ comercializada 1 Receita produzida 1 Despesa de custeio/investimento 1 Lucro líquido 1 Lucro ha/ano 1 Fonte: Rodrigo Silva. 1 Valores em reais.
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2014
2015
2016
41.984 4.837 20.157 36,3 108 121 2.614.229 2.614.229 435.392 784
26.920 8.038 12.408 22,3 133 169 2.265.982 2.265.982 611.594 1.101
30.610 25.511 15.331 27,6 99 148 2.065.795 2.065.795 547.076 985
para os bois magros (R$ 173/@), para um valor da arroba do boi gordo cotada à época, em R$ 139). “Foi um ano de bons negócios e de baixo custo. Não comprei milho, farelo ou ração. Também não adubei. Trabalhamos com o residual de adubação e as forrageiras responderam bem. Com isso, nosso lucro bateu na casa de R$ 1.100/ha/ano”, revela o gestor, acrescentando que usou parte do dinheiro em caixa para cobrir necessidades de outros negócios da empresa. Em 2016, Silva e o encarregado geral da fazenda, Alexsandro (Sandro) Roberto dos Santos (um dos cinco funcionários da propriedade) saíram novamente em busca de vacas paridas. Compraram perto de 1.000 cabeças e repetiram a estratégia de 2015. O ano fechou com mais de meio milhão de reais em caixa, um lucro de R$ 985/ha. “Produzimos 420 kg/ha, o equivalente a 28@/ha”, pontua o administrador. Em 2017, diante das turbulências causadas pelas operações da Polícia Federal e pela delação dos sócios da JBS, a fazenda tirou o pé do acelerador. “Resolvemos dispor de parte do estoque para reforçar o caixa. Entendemos que não é o momento de se arriscar, pois a chance de errar é grande”, justifica Rodrigo. Assim, no fim de agosto, em pleno período de seca, a Ledacara contava com 1.086 animais nos piquetes, lotação próxima de 1,5 UA/ha, no aguardo de melhores preços. Os bons resultados da fazenda já renderam a realização de dois dias de campo (julho/2015 e novembro/2016), em parceria com a Boviplan. Rodrigo Silva garante que “pegou a mão do negócio” e hoje mantém um olho dentro da fazenda e outro fora da porteira: “Dessa forma, o negócio dá resultado. Por isso, valorizo o trabalho da consultoria e o da minha equipe de campo: eles entenderam bem a necessidade de atuarmos de forma diferente. Assim, continuamos pequenos em tamanho, mas nos tornamos grandes em eficiência”. n
Pastagens
Planejamento, arma contra o efeito estufa. Simpósio da Esalq apresenta ferramentas para reduzir prejuízos com mudanças climáticas MÔNICA COSTA de Piracicaba, SP monica@revistadbo.com.br
A
inda há muita descrença sobre os efeitos das mudanças climáticas na agropecuária. Por isso o pecuarista não tem se preocupado em adotar medidas que possam reduzir os efeitos do aquecimento global sobre sua produção, diz o zootecnista Gustavo José Braga, especialista em Ciência Animal e Pastagem e pesquisador da Embrapa Cerrados, de Brasília, DF. O que ele acha um erro, diante dos riscos que se começa a correr. “Uma das possibilidades das mudanças climáticas, por exemplo, é o seu efeito sobre o prolongamento do período de estiagem”, diz Braga, que defendeu, em evento em Piracicaba, SP, investimentos maiores no planejamento forrageiro, para que amenizar os efeitos do clima e garantir que a demanda da propriedade seja atendida. O pesquisador participou do 28º Simpósio sobre Manejo da Pastagem, dias 5 e 6 de setembro,
na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), que teve como tema os desafios e as oportunidades das mudanças climáticas e seus efeitos sobre pastagens (Veja na página 66). Segundo Braga, na região central do País, o período de estiagem é de aproximadamente 150 dias, sendo que a produção de forragem nos pastos cai a níveis próximos de zero entre maio/junho. Somente a partir de setembro/outubro, com a volta das chuvas, as gramíneas começam a rebrotar. Em sua exposição, porém, o pesquisador apresentou mudanças que já vêm ocorrendo neste cenário. Exibindo uma série histórica da estação meteorológica da Embrapa Cerrados em Planaltina, município no entorno de Brasília, comprovou a redução de cerca de 250 milímetros por ano na precipitação pluviométrica, que representa cerca de 15% menos ante a média atual de 1.500 mm. Além disso, detectou-se aumento anual de 1o Celsius na temperatura máxima desde meados da década de 1980 – ou seja, os anos estão ficando mais secos e quentes, concluiu o pesquisador. “Para as pastagens,
Planejamento para melhor aproveitamento da pastagem Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Marandu x BRS Piatã
Pastejo diferido
Basilik x BRS Paiaguás
Pastejo diferido
Mombaça,Tanzânia e BRS Zuri x Xaraés
Sem uso
Massai
Sem uso
Andropógon Planaltina
Sem uso
Pasto consorciado estilosante Campo Grande
Sem uso Sem uso
Capim elefante e cana-de açúcar
Capineira
Milho e sorgo
Silagem
Milheto Fonte: Gustavo Braga. Adaptado por DBO Pastejo
64 DBO outubro 2017
Crescimento
Florescimento
Plantio
Set
Out
Nov
Dez
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fotos: Arquivo DBO
Pastagens
Em breve, os modelos de previsão serão ferramentas para financiamento da atividade” Carlos Pedreira Zootecnista e professor da Esalq
...Já a Paiaguás, mais precoce, é candidata a maior uso durante períodos secos.
Andropógon, de florescimento tardio, deve ser usado preponderantemente nas águas...
menos chuvas resultam em uma diminuição importante na produção de massa verde. A situação é ainda mais deletéria quando ocorre sob a forma de prolongamento da estação seca e/ou aumento da ocorrência de veranicos em plena estação chuvosa”, explicou. Braga acrescentou que a situação exige medidas ou práticas de adaptação para evitar limitações à atividade. Aí é que entra o planejamento forrageiro, especialmente para aquele produtor que intensifica a pastagem por meio de aumentos em taxa de lotação. O esquema de planejamento apresentado à plateia, formada essencialmente por pesquisadores e estudantes, foi desenvolvido com base nas condições climáticas de Planaltina, mas pode servir de referência para regiões com condições climáticas semelhantes. O pesquisador explicou o potencial de cada forragem de acordo com o mês de plantio e floração e incluiu algumas alternativas de uso para forrageiras anuais (próprias para silagem e feno, por exemplo). “Os limites de uso para plantio, pastejo, diferimento e colheita das diferentes forrageiras decorrem do clima local e de características das forrageiras associadas ao florescimento (precoce ou tardio).” Assim, as cultivares forrageiras de florescimento precoce, como a BRS Paiaguás, que mantêm o valor nutritivo mais alto e possuem menor risco de acamamento, são candidatas ao diferimento das pastagens, na seca. Por outro lado, as forrageiras de florescimento tardio, como os capins Mombaça, Xaraés e Andropógon, devem ser usadas preponderantemente durante a estação das águas. No sistema proposto por Braga, o Andropógon gayanus CV Planaltina e o capim Massai cumprem um papel importante na composição das forrageiras porque rebrotam mais rapidamente do que as braquiárias no início das chuvas. “Em regiões do Centro-Oeste (centro-norte de Goiás) onde se tem observado a morte da braquiária por causa de longos períodos de seca, o Andropógon tem maior chance de sobrevivência”, (veja tabela na página 64).
O pasto como solução A decisão de abordar os efeitos das mudanças climáticas sobre as pastagens no simpósio na Esalq foi estrategicamente pensada. Para o zootecnista Carlos Guilherme Silveira Pedreira, professor associado do Departamento de Zootecnia da Esalq e coordenador do simpósio, o tema é relevante para a pecuária, que está “sob um holofote negativo”. “De um lado, é acusada pela sociedade de ser responsável pelo aquecimento global; de outro, essas mesmas mudanças climáticas obrigam o produtor a fazer adequações no uso da terra”, explica. Para ele, conhecer a pastagem é ferramenta importante para o pecuarista enfrentar as mudanças climáticas. “Já sabemos que forrageiras mal colhidas ou de má qualidade aumentam a emissão de gases de efeito estufa. Temos que apostar em medidas de mitigação”, recomenda. A agrônoma Cacilda Borges do Valle, pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, MS, também enfatizou a importância do manejo adequado das forrageiras. “Os pecuaristas precisam aprender, por exemplo, a usar a régua de manejo para manter a altura adequada da planta e evitar o sub ou sobrepastejo. Esta também é uma forma de respeitar o solo de acordo com o clima”, afirmou. O também agrônomo Luís Gustavo Barioni, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, de Campinas, SP, estabeleceu uma relação entre a intensificação sustentável da produção animal em pastagens e o consumo de carne bovina e assegurou que a intensificação reduz as emissões de gases de efeito estufa. “Nossos estudos apontam que o aumento da demanda por carne bovina estimula investimentos em sistemas de intensificação, aumentando a taxa de lotação e a captura de gás carbônico da atmosfera.” Todas as palestras apresentadas durante o 28º Simpósio foram compiladas e os detalhes e mapas estão disponíveis em anais que podem ser adquiridos pelo email cdt@fealq.org.br. n
66 DBO outubro 2017
Pastagens
Fotos: Paulo Lanzetta
Embrapa lança azevém ideal para ILP
Segundo Andréa Mittelmann, o capim também serve à produção de silagem pré-secada ou feno.
Material é 5% mais produtivo e de ciclo 20 dias mais curto do que o de seu antecessor, o azevém ponteio. Ariosto Mesquita, de Campo Grande, MS
U
ma forrageira de inverno de alta produtividade, própria para o clima temperado da Região Sul (com boas perspectivas como pasto de altitude também no Sudeste) e indicada para sistemas de produção de carne e leite. Este é o Azevém Integração, apresentado pela Embrapa durante a 40ª edição da Expointer, em Esteio, RS (26.08 a 03.09 de 2017), e que deve chegar ao mercado até o início de 2018 para plantio a partir de abril, na safra de inverno. No momento, o cultivo foca a produção de sementes. A expectativa é de que a primeira leva ofereça aproximadamente 25 toneladas. O capim, como o próprio nome indica, apresenta características para adoção em sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP). O material, segundo os pesquisadores envolvidos em seu desenvolvimento (que levou 15 anos de trabalho), é 5% mais produtivo e de ciclo 20 dias mais curto do que o seu antecessor, o Azevém Ponteio, lançado em 2007 e até então a única gramínea deste gênero botânico concebida pela Embrapa. Segundo a empresa, o Ponteio é responsável hoje por 60% da produção nacional de sementes de azevém. A adaptabilidade ao ciclo dos sistemas integrados é um dos seus atributos mais significativos. “Na ILP, as sementes desta forrageira caem no solo antes do plantio da lavoura de verão. Em função de uma característica própria, passam por uma espécie de adormecimento com duração aproximada de quatro meses. Ao final deste período se tornam viáveis. Assim, quando a soja, por exemplo,
Produtividade de azevém (MS/kg/ha) em seis ambientes Local
Ano
C. do Leão
2006
4.225
3.764
3.648
3.518
Ponta Grossa
2006
7.326
6.731
6.907
6.382
Bagé
2006
5.571
5.971
6.203
6.233
Passo Fundo
2006
9.568
9.068
7.960
7.451
C. do Leão
2014
5.773
5.490
-
4.318
Ponta Grossa
2014
10.400
9.454
-
6.600
68 DBO outubro 2017
BRS/Integ. BRS Ponteio Comum
LE 284
estiver sendo colhida, o azevém estará brotando”, explica a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora, MG) – hoje lotada na Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) – Andréa Mittelmann. Com o Integração, o estabelecimento da pastagem ocorre em até 50 dias “desde que bem manejada”, observa Mittelmann, melhorista líder deste trabalho que reuniu mais sete pesquisadores e “dezenas de apoiadores”. Este manejo, segundo ela, passa principalmente por uma boa adubação de base (no momento do plantio) e aplicação de nitrogênio no início do perfilhamento. Apesar de possibilidades de desempenho variado em função de região, clima e acompanhamento a campo, a Embrapa sugere sua semeadura no mês de abril para que possa ser utilizado a partir de junho com aproveitamento intenso até setembro. A produção de sementes geralmente ocorre a partir de outubro. Como é tolerante ao acamamento, a colheita destas sementes pode ser feita mecanicamente. Também é possível usar o capim para a produção de silagem pré-secada (processo que reduz a umidade da forrageira pela exposição ao sol, após o corte, por até seis horas) ou feno. Nos estudos da Embrapa, a produtividade do Integração foi comparada, nos anos de 2006 e 2014, com três outros azevéns: Ponteio, Comum (hoje com impedimentos de plantio) e o LE 284 (normalmente cultivado no Uruguai). A avaliação de valor de cultivo e uso (VCU), exigida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), foi feita em áreas de quatro municípios distintos: Ponta Grossa (PR), Bagé (RS), Passo Fundo (RS) e Capão do Leão RS. Em quase todas as comparações (exceção de Bagé, em 2006) o Integração superou os demais (veja quadro) em produtividade (produção de matéria seca em quilos por hectare). O Azevém Integração foi desenvolvido a partir de uma seleção massal (com base em uma população original e distinção por fenótipo) seguida por avaliações em diversos ambientes e testes para registro e proteção da cultivar. Este trabalho foi capitaneado pelas unidades da Embrapa Gado de Leite e Clima Temperado com a colaboração das bases Pecuária Sul (Bagé, RS) e Trigo (Passo Fundo, RS) e parcerias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e Associação Sul-Brasileira para o Fomento e a Pesquisa de Forrageiras (Sulpasto). n
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Integração
A boa receita do boi com arroz Integração lavoura-pecuária impulsiona ganho de carne por hectare e renda com a cultura do cereal nas terras baixas do Rio Grande do Sul PauloMarsiaj
Área de cultivo de arroz cedida para experimento de ILPF na Fazenda Corticeiras.
O
Renato Villela de Cristal, RS renato.villela@revistadbo.com.br
arroz e o boi são companheiros de longa data nas terras baixas da metade sul do Rio Grande do Sul. A parceria, forjada nos terrenos inundáveis da região, alterna o cultivo irrigado do cereal no verão com o pastejo do gado, que aproveita a soca da cultura ou as forrageiras cultivadas no inverno, em especial o azevém. Essa dobradinha, no entanto, dá sinais de esgotamento da forma como tem sido conduzida, pois segue um modelo extensivo, no qual a pecuária entra de improviso, sem adubação ou manejo de pastagem. A falta de planejamento, além do resultado aquém do que o sistema é capaz de produzir, pode prejudicar a cultura agrícola seguinte, por ocasionar problemas de compactação do solo. Mas um trabalho de pesquisa multidisciplinar pretende mudar essa realidade. A proposta é mostrar ao produtor que a integração lavoura-pecuária (ILP), feita nos moldes preconizados, aliada à diversificação de culturas e ao manejo correto do solo, pode trazer maiores ganhos de carne por hectare e mais lucro com o arroz, seja pelo aumento de produtividade – já comprovado –, seja pela redução nos custos de produção, em razão da menor necessidade de uso de herbicidas e adubo. Iniciado em 2013, o projeto Sistemas Integrados de Produção Agropecuária em Terras Baixas (SIPAtb) está sendo conduzido na Fazenda Corticeiras, no município de Cristal, Sul do Rio Grande do Sul, a 160 Km de Porto Alegre. Numa área experimental de 18 hectares, cedida pela propriedade, são simulados cinco sistemas de produ-
70 DBO outubro 2017
ção (veja tabela na pág. seguinte), onde o cultivo de arroz “retorna” para a mesma área em um, dois ou quatro anos, sendo intercalado pelo cultivo de espécies de verão (soja, milho e capim sudão) e inverno (azevém com trevo branco, trevo persa e cornichão). Por segurança estatística, cada tratamento é dividido em três áreas (repetições). O pastejo é contínuo, mas a lotação, variável. O objetivo é manter o azevém sempre com 15 cm, considerada a altura ideal da forrageira para o melhor desempenho animal, além de fornecer cobertura vegetal (palhada) para o plantio direto da cultura de verão. O porte da forrageira é mantido por meio de animais “reguladores”, bezerros de desmama Angus e Devon que são inseridos ou retirados do sistema de acordo com a necessidade. Pelo menos três animais – chamados de “testes” – sempre permanecem em cada tratamento, para avaliação do ganho de peso. O trabalho é coordenado pelo professor Paulo César de Faccio Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e nasceu de uma parceria entre a universidade, a Embrapa Pecuária Sul, o Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), a Integrar Gestão e Inovação Agropecuária, e o Serviço de Inteligência em Agronegócio (SIA). O projeto tem várias linhas de pesquisa e conta com a participação de inúmeros estudantes (graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado), além de pesquisadores das instituições parceiras. Vencendo a desconfiança A despeito de historicamente estar presente nas terras baixas, o boi sempre foi visto de forma desconfiada por aquelas bandas. “Há uma crença de que a pecuária nas áreas de arroz não aprensenta bons resultados, por causa dos terrenos alagadiços”, conta o agrônomo Paulo Marsiaj Oliveira Neto, mestrando em Zootecnia pela UFRGS, um dos pesquisadores do projeto. O que também ajuda a explicar por que a atividade nunca foi conduzida da forma como deveria é o receio de que comprometa a produção arrozeira. “Muitos produtores enxergam o boi como vilão, porque acreditam que o pisoteio compactará o solo, prejudicando a cultura do arroz”, afirma. Segundo Carlos Nabinger, professor da universidade gaúcha, a compactação, de fato, pode ocorrer em áreas de difícil drenagem, como é o caso das terras baixas, mas o problema é facilmente contornável. “Basta ajustar a carga animal de modo a controlar a intensidade do pastejo”, afirma. A altura adequada da espécie forrageira permite que a planta tenha área residual de folhas suficiente para captar energia solar e transformar em novas folhas e raízes. “O sistema de raízes bem
Mais arroz, menos herbicida. A eficiência da ILP nas terras baixas também pode ser comprovada pelo aumento da produtividade de grãos. Os resultados indicam ganhos em produtividade variando de 0,5 t/ha até 1,7 t/ha no sistema integrado, com plantio direto, culturas intercaladas e azevém pastejado no inverno. Quando comparado ao sistema tradicional de cultivo de arroz, em monocultura e sob preparo convencional do solo (T1), a diferença é imensa. A produtividade do arroz no sistema T3, na safra 2014/2015, por exemplo, superou este último em 2,6 t/ha, o que evidencia o benefício da adoção de práticas como o plantio direto e a rotação de culturas, neste caso a soja. “Quanto mais diversidade maior a segurança na produção agrícola e pecuária. Em áreas em que se intensifica a rotação das culturas, se consegue produzir mais grãos e mais carne”, diz Débora Rubin Machado, graduanda em Zootecnia na UFRGS. A jovem estudante, já com
O pesquisador Paulo Marsiaj e a estudante Débora Machado: entusiastas do sistema integrado de produção.
PauloMarsiaj
desenvolvido auxilia no controle da compactação.” No que diz respeito à produtividade de carne por hectare, os resultados da primeira fase do projeto, concluída este ano (2013-2016/2017), mostram que nas áreas de integração nas quais há maior diversificação de culturas os resultados de produtividade agrícola e pecuária são melhores. No Tratamento 2, onde é feito somente o monocultivo de arroz irrigado em plantio direto com azevém no inverno sob pastejo, o ganho de peso médio diário decresce no período, de 0,67 quilo em 2013 para 0,45 kg em 2016. O mesmo acontece com o ganho por área, que despenca de 348,27 kg para 101,35 kg de peso vivo/hectare em igual intervalo. Ao se introduzir uma nova cultura agrícola na integração – arroz num verão e soja no outro, por exemplo, intercalando com o azevém no inverno (T3), a curva se inverte, muito em função da janela maior de pastejo por causa da oleoginosa (Veja quadro). Nesse modelo de ILP, que tem sido o mais utilizado pelos produtores da região e é conhecido como “pingue-pongue”, o ganho de peso médio diário salta de 0,72 kg para 0,99 kg. O ganho por área, a despeito do recuo inicial – de 423,5 kg de peso vivo/ha em 2013 para 130,17 kg de peso vivo/ ha em 2014 –, também apresenta tendência de crescimento, fechando o primeiro ciclo de produção no ano passado com 201,93 kg de peso vivo/ha. (veja tabela).
ares de pesquisadora, acompanhou, com o colega Paulo Marsiaj, a reportagem de DBO pelos campos experimentais da fazenda. O ganho na produção de grãos que a pesquisa tem comprovado até aqui é, sem dúvida, o que mais chama a atenção dos arrozeiros O experimento, no entanto, quer ir além e mostrar aos produtores que é possível reduzir o custo de produção do cereal com a ILP. O professor Carlos Nabinger explica que a introdução do boi ou outra cultura pode ajudar a controlar invasoras como o capim-arroz ou canevão (Echinochloa spp) e o arroz-vermelho (Oryza sativa L.), considerado atualmente a principal planta invasora da lavoura arrozeira irrigada. “Ao serem consumidas pelos animais, essas espécies produzirão menos sementes, de modo que a cada ciclo o banco de sementes nas áreas de cultivo tende a diminuir, assim como sua presença. Com isso, espera-se que o gasto com herbicida para controle dessas pragas seja menor com o passar dos anos”, explica. Adubação do sistema Após o término da primeira fase do experimento com a colheita do arroz e a instalação das pastagens de inverno, em abril deste ano, teve início o segundo ciclo do protocolo SIPAtb, que vai de 2017 a 2020/2021. O arranjo dos diferentes sistemas será mantido, no entanto está prevista uma mudança bastante significativa e inovadora no que diz respeito ao manejo de adubação das culturas. Em vez de adubar as culturas separadamente em duas etapas – forrageira de verão e inverno –, a operação será feita uma única vez. A novidade: o adubo será lançado na pastagem, e não na cultura agrícola, como rege o modelo tradicional da ILP. “Quando falamos isso para o produtor, ele come Ganho por hectare (kg de pv/ha)
Ganho médio diário (kg/dia/animal) Ano/Tratamento
Ano/Tratamento
T2
T3
T4
T5
Média
348,27
423,5
351,04
371,39
373,55
2014
136,5
130,17
144,05
249,71
165,10
2015
127,47
166,92
212,75
262,18
192,33
2016
101,35
201,93
*
354,38
219,22
Média
178,39 230,63 235,94 309,41
T2
T3
T4
T5
Média
2013
0,67
0,72
0,61
0,64
0,66
2013
2014
1,06
0,43
0,40
0,54
0,61
2015
0,71
0,79
0,67
0,49
0,66
2016
0,45
0,99
-
0,78
0,74
Média
0,72
0,73
0,56
0,61
T2: monocultivo de arroz irrigado, em plantio direto com azevém no inverno sob pastejo. T3: rotação arroz-soja em plantio direto, com azevém no inverno sob pastejo. T4: rotação arroz-capim sudão-milho-soja em plantio direto, com azevém + trevo branco (trevo persa) no inverno sob pastejo. T5: arroz em plantio direto em rotação com campo nativo melhorado acrescido de azevém
+ trevo branco (trevo persa) + cornichão. *Não houve pastejo neste período.
Obs: No tratamento T1, sem animais, foi medida somente a produtividade de arroz/ha
outubro 2017 DBO
71
Integração
Apenas a pastagem será adubada na segunda fase do experimento
as unhas. Acha que não vai dar certo”, diz o pesquisador Paulo Marsiaj, relatando o estranhamento da proposta. Segundo o professor Carlos Nabinger, concentrar a adubação na pastagem é uma estratégia que trará uma série de benefícios. O primeiro ganho é operacional. Ao ir a campo com a semeadora-adubadora contendo apenas sementes para a implantação da cultura agríco-
la, a operação torna-se muito mais rápida, pois elimina-se todo o trabalho de transporte e deposição de adubo no implemento. “Isso permite que o produtor aproveite melhor a janela de plantio.” Outra vantagem é a garantia da adubação do pasto, já que o produtor muitas vezes negligencia esse cuidado na ILP, reservando à forrageira somente o “adubo residual” da cultura agrícola anterior. “A planta bem nutrida, além de assegurar uma taxa de lotação mais alta, ajuda a evitar problemas de compactação”, diz. O professor acredita que a estratégia não trará prejuízo para a produção de grãos na safra seguinte, uma vez que o animal atuará como um reciclador de nutrientes para a cultura posterior. “É o que nos permite falar não mais em adubação da cultura, mas do sistema.” Segundo Nabinger, a expectativa é que o experimento traga essas respostas nos próximos anos. “Com os resultados em mãos, teremos condições de fazer recomendações com base científica para auxiliar ainda mais o produtor”, diz. n
Soja garante mais dias de pastejo para o gado O ganho maior em produtividade de carne por hectare ao se introduzir a soja no sistema integrado de produção se deve principalmente à janela mais estendida quando o arroz é rotacionado com a oleoginosa. Enquanto o arroz deve ser plantado preferencialmente até a última semana de setembro, a semente de soja pode ser jogada na terra da terceira semana de outubro até a primeira quinzena de novembro. “Em média, são 15 a 20 dias a mais de pastejo”, afirma o pesquisador
72 DBO outubro 2017
Paulo Marsiaj. Além disso, a entrada dos animais no azevém costuma ser mais rápida quando a pastagem é precedida pela soja. Além de a cultura produzir menos palha do que o arroz, as áreas nas quais o cereal é cultivado costumam estar prontas para a introdução da pastagem mais tardiamente. É que os produtores costumam esvaziar os talhões de arroz – parar de irrigar e deixá-los secar – faltando apenas uma semana para a colheita. Daí é preciso esperar algumas semanas para jogar a se-
mente do azevém, que não sobrevive no terreno encharcado. Segundo Marsiaj, os arrozeiros adotam essa estratégia na esperança de que os grãos de arroz possam “encher” mais encurtando o prazo até a colheita, o que é um equívoco. “Não faz diferença alguma no enchimento do grão. O produtor pode retirar a lamina de água das áreas com 30 dias de antecedência sem prejuízo à cultura, de modo a colher o arroz no seco, sem prejudicar o estabelecimento da pastagem posterior.”
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Integração
Vista aérea do campo experimental da Embrapa Agrossilvipastoril
ILPF impulsiona produção de carne no MT Pesquisa mostra que o modelo de integração aumenta em até dez vezes a produção média em arrobas/ha no Estado.
A
Renato Villela renato.villela@revistadbo.com.br
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é o sistema de produção que garante os maiores ganhos em arroba por hectare. Essa é a conclusão de uma pesquisa que comparou quatro modelos produtivos: pecuária tradicional, Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Pecuária-Floresta (IPF), além da própria ILPF. O estudo mostrou que o modelo de produção que contempla o componente arbóreo pode alcançar, com um pequeno incremento de adubação da pastagem e baixos níveis de suplementação proteica, mais de 40 arrobas/ha/ano, o que representa uma produtividade dez vezes superior à média do Estado do Mato Grosso, que é de 4 arrobas/ha/ ano. O trabalho foi conduzido pela Embrapa Agrossilvipastoril em parceria com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), que financiou parte dos custos do experimento, e Associação dos Criadores do Norte de Mato-Grosso (Acrinorte), que cedeu os animais. A pesquisa ocupou uma área de 72 ha, localizada no campo experimental da instituição, em Sinop, MT. Na porção onde a agricultura é parte da integração, foram cultivados soja e milho safrinha de 2013 a 2015, quando então a pecuária foi introduzida com pastagem de braquiarão (brachiaria brizantha cv Marandu). O pastejo, iniciado
74 DBO outubro 2017
em julho de 2015, seguiu pelos próximos dois anos. Na primeira avaliação, que compreende o biênio 2015/2016, a produtividade na ILPF, que conta com linhas simples de eucalipto a cada 37 metros, já mostrou sua superioridade. O resultado indicou 30,9 @/ha, contra 24,3 @/ha da ILP e 18,7 @/ha da pecuária tradicional, sem qualquer tipo de integração (veja quadro). Nos quatro tratamentos, os animais receberam suplementação proteica correspondente a 0,1% do peso vivo. A pastagem, por sua vez, foi adubada com 50 kg de NPK/ha. Salto com tecnologia A partir do ano passado, a suplementação alimentar dobrou (0,2% do peso vivo), assim como a adubação (100 kg de NPK/ha). O aporte maior de tecnologia refletiu consideravelmente nos sistemas de produção. Numa primeira olhadela para os números, chama a atenção o acréscimo de produtividade na área exclusiva de pastagem, que pulou dos 18,7 @/ha para 30,1@/ha, na avaliação realizada entre julho de 2016 e julho deste ano. “Isso mostra que a pecuária tradicional, quando bem feita, traz resultados extraordinários”, diz Bruno Pedreira, pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril e um dos coordenadores do trabalho. No caso da ILPF, o salto também foi grande. A produtividade de carne atingiu 40,6 @/ha, montante 30% superior às 30 @ de média produzidas nos demais sistemas de integração. Outro dado que não passa despercebido é o da produtividade de carne na ILP, que ficou muito aquém do esperado e igualou-se, nessa segunda fase, ao resultado obtido no sistema exclusivo de pecuária, com 30,1@/ha. Talvez você estranhe este número. Os pesquisadores também estranharam. “Havia uma expectativa de produtividade muito maior na Integração Lavoura-Pecuária, mas que não se concretizou”, diz Pedreira. Segundo o pesquisador, essa área sofreu com a cigarrinha nos primeiros meses deste ano. O ataque da praga, explica, foi mais senProdutividade* dos sistemas de integração Pecuária IPF ILP ILPF Suplementação proteinada Adubação (kg NPK/ha)
18,7 @/ha1 30,1 @/ha2 19,6 @/ha1 30,5 @/ha2 24,3 @/ha1 30,1 @/ha2 1 30,9 @/ha 40,6 @/ha2 Entradas de insumos 0,1% de peso 0,2% de peso vivo/dia vivo/dia 50 100
*Média Brasil – 6@/ha; Média Mato Grosso – 4@ha Ano 1 (2015/2016)1 / Ano 2 (2016/2017)2
Acúmulo de forragem (kg.ha-1.ano-1) Ano 1 (2015/2016)
Ano 2 (2016/2017)
Diferença entre os anos
Pecuária
13.410
20.940
56%
IPF
14.880
20.176
36%
ILP
21.520
22.082
3%
ILPF
21.430
25.055
17%
Integração tido do que nas demais glebas. Pedreira diz não ser possível afirmar com exatidão o porquê da predileção do inseto ao piquete da ILP – a área será acompanhada mais de perto nos próximos anos -, mas cita como contraponto a alta produtividade na ILPF. “Quanto mais componentes tiver um sistema produtivo, mais equilibrado ele será, inclusive com a presença de outros insetos que podem promover o controle biológico de pragas”, afirma. Ganho por área A maior disponibilidade de forragem aliada ao aumento da suplementação no segundo ano fez o ganho
Produtividade em área de ILPF é de 40@/ ha/ano.
de peso médio diário crescer aproximadamente 100 g por animal nos quatro sistemas avaliados. Não houve, entretanto, diferença estatística no ganho de peso entre eles, variando de 678 g a 777 g por dia. O que contribuiu para o aumento de produtividade na ILPF foi a maior capacidade de lotação do sistema, de 3,47 UA/ha (média anual), contra 3 UA/ha da IPF, 2,78 UA/ha da pecuária e 2,66 UA/ha da ILP. “A ILPF traz maior ciclagem de nutrientes, melhoria do microclima, menor perda de água, dentre outras vantagens que favorecem a produção de forragem e, consequentemente, da taxa de lotação”, explica. A despeito de o estudo comprovar a eficiência dos sistemas de integração em produzir mais carne por hectare, há um ganho que não está estampado nos números. É o que Pedreira chama de “poder de decisão”. Ao diversificar as atividades econômicas, a integração permite que a fazenda atue de modo diferente no mercado, sem ficar refém de um único produto. “Se o preço do milho não está bom, por exemplo, o produtor pode optar por não vender nem estocar o grão, mas engordar bois no confinamento, agregando valor à sua produção. É dessa forma que muitos agricultores vão para a pecuária”, afirma. A pesquisa foi prorrogada até 2019. Os dados econômicos do estudo já foram gerados e serão avaliados em breve, segundo o pesquisador. n
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Instalações
Suplemento determina tamanho do cocho Dimensionamento da área depende não apenas da categoria animal, mas do tipo de alimento a ser fornecido. renato villela
U
m dos aspectos mais importantes da suplementação a pasto refere-se à área de cocho, que deve ser dimensionada levando-se em conta não apenas a categoria animal, mas também o tipo de suplemento a ser fornecido. Na prática, entretanto, pouca gente se atenta a isso. O Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), grupo de pesquisa filiado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tem conduzido trabalhos nessa direção, especialmente na área de suplementação mineral _ linha branca e misturas múltiplas. A conclusão é preocupante: o espaçamento recomendado para suplementação mineral comumente adotado nas fazendas está totalmente subestimado. Ou seja, o comprimento linear de cocho, em centímetros/cabeça, é menor do que deveria ser. “O resultado é que o consumo de sal mineral torna-se irregular e não produz os efeitos produtivos esperados, especialmente quan-
do se utilizam misturas de maior consumo (0,05% a 0,1%)”, afirma o professor Júlio Otávio Jardim Barcellos, coordenador do Nespro. De acordo com o professor, a falta de recursos ou até mesmo a dificuldade em encontrar fornecedores especializados, fazem com que o produtor improvise, utilizando cochos precários ou subdimensionados. Além disso, muitas vezes esses comedouros são colocados em locais inapropriados no piquete (veja quadro na página seguinte), ou ainda com área de acesso inferior ao número de animais do lote. “Planejar e corrigir esses problemas antes de iniciar um programa de suplementação é vital para tornar a tecnologia viável”, garante. Outro ponto negligenciado diz respeito a uma prática bastante frequente no campo: o hábito de colocar os cochos, em especial aqueles destinados à suplementação com o uso de concentrados, em paralelo com a cerca do piquete. “A medida pode ser útil quando a distribuição do suplemento é mecanizada, fazendo com que o trânsito do veículo seja feito pelo corredor. No entanto, exige o dobro do comprimento linear do cocho, pois os animais consomem a suplementação apenas de um lado. Nem sempre o produtor se atenta a essa questão”, afirma. Fotos: júlio barcellos
Júlio Barcellos, coordenador do Nespro. “Dimensionamento está subestimado”
renato.villela@revistadbo.com.br
De acordo com o tipo de suplementação, é recomendada uma metragem diferente para cada cocho.
80 DBO outubro 2017
Fio de arame que corre entre os mourões impede a passagem dos animais e preserva a estrutura
Instalações Comprimento do cocho de acordo com o tipo de suplemento Tipo de alimento
Área linear de cocho - cm/cabeça*
Suplementação mineral - linha branca
2
Suplementação mineral - misturas múltiplas (energéticos, proteinados)
5
Resíduos de grãos e seus farelos - fornecimento diário
50
Resíduos de grãos e seus farelos - sistema de autoconsumo
10
Volumosos (feno, silagem, tortas)
60
Dieta concentrada - alto grão
60
*considerando que a chegada dos animais é por apenas um lado do cocho. FONTE: Nespro
Ao longo dos últimos 15 anos em que se debruça sobre o tema, o Nespro reuniu dados de GPS, imagens obtidas por meio de vídeocâmera, observações do comportamento e contagem do número de animais que acessam o cocho diariamente. O esforço, que culminou no diagnóstico do problema a campo, também permitiu propor uma solução. Com as informações em mãos, os pesquisadores estipularam o dimensionamento mais adequado para cada tipo de suplementação.
Atenção à localização Além de dimensionar o cocho de acordo com o tipo de suplemento e a categoria animal, o produtor deve se preocupar com a escolha do local onde o comedouro será alocado. É preciso considerar o tipo de solo, dando preferência àqueles bem drenados que não favoreçam a formação de atoleiros ou erosão em decorrência do trânsito dos veículos Solo mal drenado favorece que abastecem o cocho de a formação de lama suplemento ou pelo próprio pisoteio dos animais. Se isso não for possível, convém que o modelo do cocho a ser utilizado tenha uma estrutura que facilite o seu deslocamento. É importante também considerar a facilidade de acesso, evitando locais que demandem grandes deslocamentos. “A alocação dos cochos deve favorecer o pastejo, obviamente respeitando a logística de distribuição do suplemento e até mesmo seu armazenamento”, afirma Júlio Barcellos, coordenador do Nespro. A orientação é outro aspecto a ser considerado. A disposição deve ser no sentido contrário aos ventos e chuvas predominantes na região. No caso de comedouros com acesso às duas laterais, há uma particularidade a se observar. Para evitar que os animais danifiquem a estrutura, ao passarem de um lado para o outro, recomenda-se colocar um fio de arame ou cabo de aço no centro do comedouro, no sentido longitudinal.
82 DBO outubro 2017
Para misturas múltiplas, por exemplo, a recomendação _ considerando um animal adulto de 400 kg _ é de 5 cm/cabeça, enquanto para dieta de alto grão preconizam-se 60 cm/cabeça (veja tabela). No caso da suplementação para diferentes categorias _ bezerros, novilhas, vacas adultas _ o cálculo da área de cocho deve ser feito a partir da categoria de maior porte. Assim, para um suplemento à base de sal proteinado, num lote de 100 vacas, por exemplo, serão necessários 5 m lineares (100 x 0,05 m), sendo um cocho onde os animais comem de um lado só, ou 2,5 m se o acesso for por ambos os lados. Caso sejam bezerros (considerando peso médio de 200 kg) esse comprimento seria suficiente para suplementar o dobro de animais. Numa fazenda especializada em recria, por exemplo, onde o rebanho é composto desde bezerros à desmama até bois magros, a recomendação é calcular o dimensionamento utilizando a metade da área preconizada para um animal adulto. “É para evitar gastos excessivos com o superdimensionamento dos cochos”, ensina Barcellos. O professor lembra, contudo, que o investimento em cocho tem um retorno sobre o valor investido em, no máximo, três anos. “Portanto é melhor pecar pelo excesso do que pela falta.” Largura também conta A largura e a profundidade do cocho são tão importantes quanto o seu comprimento linear. Além de determinar a capacidade de abastecimento do comedouro, essas duas medidas interferem diretamente na possibilidade de os animais consumirem a suplementação em ambos os lados. Quando se dimensiona o cocho com livre acesso pelas laterais, imagina-se que cada metro linear permita o dobro de animais, pois o consumo se dá pelos dois lados. Não é bem assim. “Sobre esse ponto reside um grave equívoco da maioria das suplementações. Para que os animais consumam frente a frente é preciso que a base do cocho tenha, no mínimo, 40 cm de largura”, afirma. Desse modo, para um lote de 100 novilhas suplementadas com farelo de algodão, cuja recomendação é de 50 cm/cabeça, o cocho deve ter 25 m (100 m x 0,50/2) de comprimento, pois os animais acessam pelos dois lados. Se, no entanto, essa medida for inferior, o que é muito comum nos cochos com formato em “V”, esse cálculo não serve, pois o espaço que falta na largura deve ser compensado pelo comprimento. “Nesse caso, consideramos que a medida deve ser correspondente a 70% do comprimento linear de um cocho acessado por um lado só.” No exemplo acima, o dimensionamento _ cocho com acesso às duas laterais _ ficaria da seguinte forma: 100 novilhas x 0,5 m (área de cocho linear) x 0,7 (70%) = 35 m de cocho. n
Seleção Foram adquiridas de 10 em 10 novilhas em fazendas nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná para o ínício dos trabalhos. Já no ano seguinte, os acasalamentos passaram a contar com a assessoria do técnico Maury Dorta Júnior, etapa fundamental na estruturação do plantel, hoje constituído de 1.400 animais, dos quais 1.000 fêmeas, 600 delas em reprodução. O time de matrizes gera cerca de 300 touros comerciais por safra, além da produção de reprodutores de central, nicho de mercado em que a Fazenda São Tomé vem se inserindo nos últimos anos. O primeiro touro contratado na história da fazenda foi Dom MN São Tomé, animal que começou a produzir sêmen aos 13 meses de idade e conquistou o também o grande campeonato durante a Exposição Nacional do Canchim, realizada em Rio Verde, em 2014. Atualmente, são quatro touros em centrais de inseminação. Produção de touros para uso em seleção e cruzamento industrial gira em torno de 300 animais/ano
Canchim São Tomé faz ver para crer Investimento em sistema integrado de produção garante superioridade genética no sudoeste goiano
A
Carolina Rodrigues
lexandre Cruvinel tem a pecuária no sangue. Seu pai sempre atuou na área, mas foi há nove anos que, juntos, descobriram o Canchim. Uma história recente recheada de títulos em exposições agropecuárias, campeonatos em provas de desempenho e, mais recentemente, a exportação de 10 novilhas prenhes para Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes. O segredo do sucesso, eles atribuem a três fatores: bom manejo, boa nutrição e a raça certa. Dourivan Cruvinel começou a criar Canchim por um acaso do destino. Era início de monta e ele precisava de dois touros para o repasse da vacada Nelore inseminada com Angus, Simental e Limousin para garantir a continuidade da heterose no cruzamento industrial, atividade que levava há 30 anos na Fazenda São Tomé, em Rio Verde, GO. O resultado da escolha, lembra ele, foi uma bezerrada “bruta” que chegou à desmama com vantagem de 20 a 30 quilos em relação aos demais. O desempenho satisfatório o levou a buscar informações na Associação Brasileira de Criadores de Canchim (ABCCAN) e indicações de planteis que pudessem servir de base genética para o ínicio de trabalho com o gado puro. “Gostei tanto dos bezerros, que decidi abandonar o cruzamento para me tornar selecionador”, lembra Dourivan.
84 DBO outubro 2017
Sem almoço de graça Para que a produção de touros seja uma atividade econômica viável na Fazenda São Tomé, a família Cruvinel faz do rebanho de fêmeas uma fábrica eficiente de tourinhos. Elas seguem o mesmo rigor de seleção dos machos, que começa nas avaliações dos técnicos credenciados na associação aos seis meses de idade - quando passam pelo primeiro descarte - e termina no sobreano quando são avaliados também os critérios reprodutivos. Os protocolos de IATF (inseminação artificial em tempo fixo) são aplicados aos 14 e15 meses de idade, quando as novilhas são expostas aos touros. As que não emprenham até os 20 meses de idade, idade limite de acordo com o período de monta, são automaticamente descartadas. O rigor da seleção é alicerçado por um eficiente sistema de manejo nutricional. “Tratamos bem o gado. Damos condições para que ele expresse potencial reprodutivo. Se não emprenhou até o fim da estação é porque não deve estar na linha de frente da produção”, diz Alexandre. A Fazenda São Tomé está inserida no sistema de produção integrado de vegetais e animais. Adota o sistema de plantio direto e a integração-lavoura-pecuária (ILP) em uma área útil de 1.200 hectares, dos quais 300 ha de pasto e 800 ha de agricultura. Todo o processo resulta na produção da silagem utilizada “sem economia” na suplementação dos animais, algo que começa desde cedo na propriedade. A São Tomé adota crep-feeding nos bezerros, aporte que segue após a desmama na proporção de 1 Kg de ração para 100 Kg de peso vivo. O objetivo da boa nutrição é garantir o desenvolvimento dos animais na fase reprodutiva, o que vem ocorrendo ano a ano. Na última avaliação aos 18 meses (sobreano) alguns animais pesaram 550 Kg. Fator adicional dos bons índices de desempenho são as condições de pasto em que os animais são recriados. Além da soja e do milho safrinha, a propriedade se dedica também à suinocultura, atividade que permite a utilização de
Seleção
nnn Taxa de lotação é de
6 UA/ha na Fazenda São Tomé
nnn
Dourivan e Alexandre Cruvinel: pai e filho conduzem projeto de seleção há nove anos.
Fêmeas seguem o mesmo rigor de seleção dos machos: bom desempenho e eficiência reprodutiva
dejetos como adubo de pastagem. A taxa de lotação atual é de 6 UA/hectare, número quase cinco vezes superior à média nacional, em torno de 1,5 unidades animal hectare.
dos diferenciais do projeto é a intensificação e os investimentos em genética”, diz Maury Júnior.
Foco na máxima eficiência O sistema de intensificação tem gerado benefícios diretos na estação reprodutiva. Atualmente, a taxa de prenhez beira 90% na monta. Além do cuidado excessivo na seleção das matrizes e das novilhas que farão a reposição do plantel, são utilizados no serviço apenas touros superiores nas avaliações genéticas do Geneplus, equilibrados para características de desempenho e conformação frigorífica. “O que define como será a próxima safra são os touros que o criador vai utilizar e quanto vai utilizar de cada um”, observa Maury Júnior. Os animais devem ter conformação frigorífica 4 ou 5 à desmama e ao sobreano - nota que classifica bom estado corporal: nem carcaça de mais, nem carcaça de menos. Um dos maiores atributos do Canchim está na composição de um gado de porte médio e tipo compacto, características impressas pela Embrapa na criação da raça na década de 1950, a partir do cruzamento do Nelore e Charolês. Cuidado adicional está no uso linhagens diferentes para que haja variabilidade genética nos acasalamentos dirigidos. Hoje, 60% das fêmeas são inseminadas com touros provados e o restante com touros jovens “pescados” do programa de avaliação de touros jovens e das provas de desempenho da Embrapa. Ao todo, são utilizados cinco tourinhos jovens a cada safra. “Usamos, mas com parcimônia”, brinca Alexandre Cruvinel, que também investe na compra de animais de terceiros. “Eu faço genética, então devo estar atento ao que meus companheiros produzem também”. O criatório investe na genética de terceiros, de olho no que possa agregar ao plantel. No último ano, além de animais de produção própria foram utilizados na vacada sêmen de touros da Fazenda dos Ipes, de Raphael de Freitas, e Canchim da Ilma, de Adriano Lopes. “Um
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Geração de “craques” Em 2016, a propriedade teve dois touros classificados como elite e superiores na principal prova de desempenho da raça, a Prova Canchim de Avaliação de Desempenho (PCAD), conduzida pela ABCCan e supervisionada pela Embrapa Gado de Corte, que avalia 200 animais de 15 principais criatórios do País. Eles são avaliados em 11 características ligadas ao ganho de peso, precocidade sexual, rendimento frigorífico e acabamento, além de aspectos morfológicos inerentes à raça. Entre as ferramentas utilizadas na avaliação está a ultrassonografia de carcaça para melhor estimar características ligadas ao rendimento, acabamento frigorífico e qualidade de carne (AOL, EG e MAR). Os dois garrotes classificados pela São Tomé foram contratados pela CRV Lagoa. Cristiano Leal, gerente de produto de corte europeu da empresa, e responsável pelas contratações, observa: “O touro Canchim é uma opção interessante para produtores que buscam a utilização das fêmeas F1 meio-sangue britânicas, já que ele permite aumentar o volume de IATF, elevando o desempenho produtivo e o fator adaptação”, diz. Satisfeito com o desempenho da tourada, Alexandre Cruvinel diz que a abertura das centrais à genética Canchim reflete o longo trajeto percorrido na seleção. “O produtor deve se associar às ferramentas que ajudem a fazer um diagnóstico do rebanho. O PCAD é hoje a principal referência e para a escolha os criadores que desejam compor rebanho ou adquirir genética para melhorar seu rebanho. Para nós, um termômetro e tanto.” Um dos animais ranqueados no PCAD foi também classificado ao teste de progênie do Geneplus, o programa de avaliação genética da Embrapa Gado de Corte. Fantástico 912 MN da São Tomé foi ranqueado na categoria Elite Ouro, pontuação máxima da prova. Além do “pelo zero” e da alta capacidade para ganho de peso, o animal é destaque também nas avaliações para marmoreio. n
Raças Sindi
Rendimento acima da média Para comprovar que o cruzamento da raça Sindi com Nelore resulta em melhoria no rendimento de carcaça, o criador Adaldio Castilho promoveu, na segunda quinzena de setembro, a 10ª edição do abate técnico de seus animais. “Todos os anos submeto meu rebanho de animais cruzados a esta avaliação técnica, mas cada vez faço em um frigorífico para provar que os elevados rendimentos de carcaça,
Carcaça de animais 1/2 sangue
Brahman
Parceria com Senar valoriza manejo sanitário A Associação dos Criadores de Brahman do Brasil (ACBB) formou uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) de Minas Gerais para a oferta de cursos gratuitos de manejo sanitário para todos os criadores da raça no País. O convênio foi assinado no dia 28 de setembro durante a Expobrahman 2017, realizada entre os dias 25 de setembro e 1o de outubro, no Parque Fernando Costa, em Uberaba, MG.
Senepol
Raça premia pesquisa e divulgação A Associação Brasileira dos Criadores de Bovino Senepol (ABCB Senepol) vai premiar cientistas e jornalistas que tenham contribuído para a divulgação da raça no País. O Prêmio ABCB Senepol de Pesquisa Científica & Inovação é destinado a pesquisadores das áreas de Genética e Melhoramento, Sanidade, Nutrição, Fisiologia,
88 DBO outubro 2017
A primeira turma a receber capacitação foi formada pelos 16 tratadores que trabalharam durante a exposição. O mini-curso de 8 horas abordou temas como o uso correto de equipamentos e protocolos de sanidade do gado, dentre eles a forma indicada de aplicação da vacina contra a febre aftosa, a esterilização de agulhas e administração de medicamentos. Eles ainda aprenderam na prática como preparar e aplicar a vacina no animal.
Produção, Bem-estar, Ambiência, Qualidade de Carne e Economia e Mercado. Podem ser inscritos trabalhos publicados a partir de 2015. Não serão aceitas revisões ou monografias. A pré-inscrição pode ser feita até o dia 18 de abril de 2018 e a versão final do trabalho deverá ser enviada até o dia 10 de julho de 2018. Já para o Prêmio de Jornalismo poderão concorrer reportagens que abordem o tema “Contribuição da raça Senepol para a inovação e o desenvolvimento da bovinocultura no Brasil”.
sempre acima de 58%, são características dos animais da raça”, afirma Castilho. Segundo o criador, a iniciativa tem estimulado investimentos neste tipo de cruzamento. “Temos observado o aumento no volume de sêmen sindi comercializado e esperamos em breve contar com uma participação maior destes animais meio sangue para atender o mercado”, estima. Este ano a prova zootécnica foi realizada na planta do Minerva, em José Bonifácio, SP, onde 24 animais meio sangue Sindi x Nelore, que ficaram confinados por 102 dias e apresentaram 59% de rendimento de carcaça em jejum e cobertura de gordura uniforme em 80% do lote.
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Raça promove “Beef Week” Cortes bovinos da raça Angus serão servidos em pratos preparados por restaurantes participantes da 2a edição do Beef Week São Paulo entre 11 e 19 de novembro, na capital paulista. O projeto, parceria entre a Associação dos Criadores de Angus e a Terra Viva, foi lançado no dia 4 de outubro no Open Kitchen, em São Paulo, com a presença de Fábio Medeiros, gerente do Programa Carne Angus Certificada e, Carla Tucílio, do Terra Eventos. “Vislumbramos uma oportunidade de conversar com os consumidores e apresentar as características e o processo de produção da carne Angus”, afirma. Os consumidores receberão um kit sobre a procedência e marca dos cortes. “Queremos envolver toda a cadeia de forma integrada reforçando as alianças entre o produtor, frigorífico e os pontos de venda”, finaliza Medeiros.
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Tropeço no primeiro semestre Venda de sêmen de corte recua 3,4% no período, mas esboça reação, diz Asbia. Denis Cardoso
A
comercialização brasileira de sêmen de gado de corte caiu 3,4% no primeiro semestre deste ano, na comparação com igual período de 2016, seguindo a tendência de desaceleração verificada no ano passado, quando o setor registrou queda anual de 3%, freando um longo e vigoroso ciclo de quase uma década de crescimento. “Nessa primeira metade do ano, os elos mais importantes da cadeia da carne, incluindo as próprias centrais de genética e os pecuaristas, tiraram o pé dos investimentos, pois ninguém sabia o que aconteceria dali para a frente”, justificou o médico veterinário Sérgio de Brito Prieto Saud, presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), entidade responsável pelo “Relatório Asbia Index – 1º Semestre de 2017”. Saud se refere ao conjunto de fatores negativos que atingiram a pecuária nacional ao longo da primeira metade do ano, a lembrar: forte redução nos valores da arroba do boi gordo, tanto no mercado físico quanto futuro; a Operação Carne Fraca, da Política Federal, (que investiga fraudes na fiscalização de alimentos); o retorno da cobrança do Funrural e os es-
Desta vez, leite foi melhor que o corte Comercialização no mercado interno* 2017
2016
Variação 17/16
Corte
2.572.611
2.662.547
-3,4%
Leite
2.112.896
1.692.396
24,8%
Total
4.685.507
4.354.943
7,6%
Exportações Corte e leite
162.871
101.554
60,4%
Prestação de serviços Corte e leite
1.059.954
671.215
57,9%
Total do mercado de sêmen no Brasil Corte e leite
5.908.332
*Dados do primeiro semestre. Fonte: Index Asbia
90 DBO outubro 2017
5.127.712
15,2%
cândalos de corrupção revelados na delação premiada dos sócios da JBS, Joesley e Wesley Batista. Além desses fatores, o mercado de inseminação artificial já vinha sofrendo lentamente os reflexos da crise econômica brasileira, que em 2016 derrubou drasticamente o consumo interno de carne bovina, interferindo negativamente nos negócios de toda a cadeia pecuária. “Foram tantos problemas, ocorridos quase que de uma vez só, que esperávamos um comportamento do mercado de sêmen de corte ainda mais desanimador ao longo do primeiro semestre”, relata o presidente da Asbia, para quem a queda de “apenas” 3% no período representou um certo “alívio”. Foram comercializados 2,57 milhões de doses de sêmen de bovinos de corte de janeiro a junho, ante o montante de 2,66 milhões de doses do primeiro semestre do ano passado. No setor leiteiro, diante da recuperação nos preços da matéria-prima, houve um expressivo aumento nas vendas de sêmen no período em questão, atingindo 2,11 milhões de doses, 25% acima do volume de igual intervalo do ano passado (1,69 milhão de doses). Na somatória das vendas internas de sêmen de corte e leite, o mercado cresceu 7,6% no primeiro semestre, para 4,68 milhões de doses, ante 4,35 milhões de doses observados nos seis primeiros meses de 2016. Do lado da produção/estoques de sêmen pelas centrais, também houve desaceleração dos investimentos no primeiro semestre. Foi importado 8,2% mais sêmen (entre leite e corte) no período, totalizando 2,98 milhões de doses (ante 2,75 milhões no primeiro semestre de 2016), resultado atribuído em grande parte à recuperação do setor leiteiro. Em contrapartida, a produção total interna de sêmen recuou 10,5% no período, para 2,93 milhões de doses, ante 3,28 milhões do ano passado, demonstrando, em grande parte, o pessimismo inicial das centrais em relação ao comportamento do mercado doméstico de corte. Reversão de expectativa Segundo Sérgio Saud, que também é diretor executivo da CRI Genética, de São Carlos, SP, neste segundo semestre o mercado de sêmen de corte “virou o jogo”, influenciado sobretudo pela forte recuperação no preço do boi gordo, fator que animou novamente o pecuarista a investir em tecnologias, como a compra de sêmen para o incremento de IATF (inseminação artificial em tempo fixo) nesta próxima estação de monta (2017/2018). “Em parte, esse avanço da arroba foi puxado pelo próprio comportamento da JBS, que, para recuperar credibilidade no mercado, voltou a aceitar do pecuarista pagamentos à vista (no período em que estourou a deleção premiada dos irmãos Batista, o frigorífico passou somente a comprar boi a prazo, com 30 dias de espera para o acerto financeiro)”, avalia Saud. Ainda segundo ele, houve uma surpreendente retomada no preço do boi, que saiu de um patamar de R$ 120/@, no primeiro semestre, para algo em torno
de R$ 140/@. “Os mais otimistas previam uma arroba na casa dos R$ 130, no máximo, R$ 135.” No entendimento do presidente da Asbia, é bem provável que o mercado de sêmen de corte feche 2017 com estabilidade ou até mesmo um pouco acima do resultado de 2016. “Com certeza, as perdas do primeiro semestre serão absorvidas neste atual período do ano, pois o mercado para o corte encontra-se bastante aquecido”, garante Saud, acrescentando que, tradicionalmente, a maior parte dos negócios anuais envolvendo raças de corte (cerca de dois terços do total vendido anualmente) ocorre ao longo do segundo semestre, período marcado pelo início da estação de monta nas regiões pecuárias do País, a partir de outubro/novembro. No ano passado, as vendas no setor de corte atingiram 8 milhões de doses, abaixo dos quase 8,3 milhões de doses registradas em 2016. Outros segmentos Os destaques no primeiro semestre do ano ficaram para os setores exportação e de prestação de serviços. Na área de exportações, os negócios ainda são irrisórios, se comparados ao total de doses comercializado no mercado interno, mas o segmento tem mostrado forte aceleração, sobretudo na área de corte, informa o presidente da Asbia. “No primeiro semestre, pela primeira vez, os embarques de sêmen de raças de corte superaram os do leite”, compara ele, que atribui esse crescimento ao maior interesse da Bolívia e do Paraguai pela genética zebuína brasileira. No período, exportaram-se 88.000 doses de sêmen de corte e 74.000 de leite, resultando em vendas totais de 162.800, elevação de 60% sobre 2016 (101.500 doses). Também chama a atenção no relatório semestral da Asbia o forte crescimento do setor de prestação de serviços, que consiste na terceirização do processo de coleta e processamento de sêmen. No período de janeiro a junho deste ano, esse segmento foi responsável pela produção de 1,06 milhão de doses de sêmen (incluindo leite e corte), 58% acima das 671.200 doses registradas no primeiro semestre de 2016. Segundo Bruno Grubisich, diretor de Marketing da Asbia e diretor-presidente da Seleon Biotecnologia, de Itatinga (SP), um conjunto de motivos levou ao incremento do segmento de prestação de serviços na primeira metade do ano. Um deles, diz Grubisich, é a própria crise econômica, que fez muitos pecuaristas deixarem de procurar os catálogos de touros das centrais de comercialização para investir na coleta de seus próprios reprodutores da fazenda. “É uma maneira que o pecuarista tem de reduzir custos sem necessidade de abrir mão do uso de tecnologia, no caso a IATF”, avalia Grubisich. Outro fator que faz com que cresça o interesse de pecuaristas pelos serviços terceirizados de coleta, segundo o diretor de Marketing da Asbia, é a disponibilidade cada vez maior de animais com
As dez principais raças mais comercializadas no mercado de inseminação artificial* Raças Aberdeen Angus Nelore Nelore Ceip Red Angus Brangus Nelore mocho Braford Hereford mocho Senepol Tabapuã
2016 3.695.011 2.098.161 537.526 312.476 272.159 227.196 210.859 128.232 113.372 78.120
Fonte: *número de doses de sêmen em 2016. Fonte: Idex Asbia
genética superior, inseridos em diversos programas de melhoramento das mais importantes raças de corte. Nesse sentido, diz ele, há uma procura crescente de criadores e/ou programas de seleção pelas centrais prestadoras de serviço, com objetivo único de coletar sêmen de touros jovens, selecionados para participar de testes de progênies. Além disso, informa Grubisich, muitos dos reprodutores adquiridos em leilões promovidos por importantes criatórios do País são destinados aos piquetes das centrais prestadoras. Forte domínio do Angus A Asbia também divulgou o relatório de mercado de sêmen contendo o detalhamento de dados individuais por raça (de leite e corte) referentes ao ano passado. No corte, o Aberdeen Angus continuou soberano na frente do ranking de vendas anuais, com 3,69 milhões de doses negociadas, seguido pelo Nelore, com 2,09 milhões de doses (veja tabela). No período de 2010 a 2016, o Angus de pelagem preta registrou significativo avanço de 214%. No entanto, embora tenha mantido com folga a liderança no ranking por raças em 2016, a venda de sêmen do Aberdeen recuou 5% na comparação com 2015. Por sua vez, nesse mesmo intervalo de comparação, houve expansão de 5% utilização de sêmen de Nelore. “Muitas fazendas voltaram a investir na inseminação com Nelore por causa da necessidade de repor o plantel de matrizes, em falta nas fazendas depois do avanço do cruzamento industrial e, consequentemente, da maior produção de fêmeas meio-sangue”, explica Saud. Ainda segundo o presidente da Asbia, há uma tendência de crescimento do uso de touros Nelore com Ceip (Certificado Especial de Identificação e Produção), em detrimento do Nelore PO (Puro de Origem). No ano passado, foram comercializadas 537.500 doses de sêmen de Nelore Ceip, um acréscimo de 10% sobre o resultado do ano anterior (488.000 doses). n
Série de fatores negativos no corte e alta no preço do leite refletiram resultados do mercado de sêmen no 1º semestre do ano, avalia Sérgio Saud, da Asbia.
outubro 2017 DBO
91
Tecnologia
Previsão de cio e parto à moda hi-tech Medições de temperatura feitas com bólustermômetros podem auxiliar o produtor a aumentar seu ganho sem investir em mão de obra
Bólus-termômetro desenvolvido pela Embrapa tem vantagens em relação a modelo importado
Marina Salles marina.salles@revistadbo.com.br
P
Com o bólus, o produtor pode aumentar a prenhez na IATF” Nathália Anache, da UFMS
ecuaristas que fazem inseminação artificial em tempo fixo (IATF) e querem aumentar a taxa de prenhez sem contratar mais mão de obra, poderão dispor em breve de bólus-termômetros nacionais, desenvolvidos pela Embrapa. Em forma de cápsula, o aparelho, introduzido no corpo das vacas com o auxílio de uma pistola de pressão, é capaz de identificar, mediante alterações específicas na temperatura corporal, reconhecidas por um software acessível ao produtor, se o animal está no cio. Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e da Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS) fizeram um estudo sobre o uso do equipamento, conduzido em parte como trabalho de mestrado da médica veterinária Nathália Anache e do cientista da computação Fernando Rech, ambos da
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UFMS, sob a orientação do pesquisador Pedro Paulo Pires, da Embrapa. Realizado no início deste ano, o experimento foi feito com 56 vacas Nelore, cujas temperaturas, para identificação do cio, foram monitoradas por dois dias, mais precisamente no intervalo entre o oitavo dia (D8) e o décimo dia (D10) da realização dos implantes hormonais de progesterona nos animais. Enquanto Rech fazia a triagem dos animais que não haviam expressado o cio de acordo com o bólus, Nathália aplicava um indutor de ovulação nessas fêmeas. “Quando a vaca não expressava o cio, eu aplicava nela o GnRH, que é o hormônio liberador de gonadotrofina, um indutor da ovulação. Porque a questão é que, se a vaca não expressou o cio, há grandes chances de ela não ovular e, se ela não ovula, não emprenha”, explica Nathália. O papel do bólus, nesse sentido, foi indicar em quais animais valia a pena aplicar o hormônio, que custa em torno de R$ 60 o frasco e rende em torno de 20 aplicações. Com essa intervenção, as matrizes que não expressavam cio podiam ser inseminadas. Após duas IATFs, a taxa de prenhez no experimento foi de 82%. A pesquisa não teve grupo controle. Como explica a médica veterinária da UFMS, o intuito da medição é captar um padrão que se repete nas matrizes bovinas: um aumento de temperatura de 0,4°C quando estão prestes a entrar no cio. No período de um dia, segundo ela, a temperatura dos bovinos costuma variar na casa 1,3°C, sendo a característica da alteração provocada pelo cio uma elevação considerada abrupta, que acontece num espaço de tempo de uma a duas horas. “O que o software que recebe as informações do bólus faz é captar esse padrão e emitir um alerta, que mostra que a vaca ainda tem pela frente, em média, 12 horas de cio”, explica. Além de identificar o cio, o bólus pode ser usado para predizer o parto dos bovinos, permitindo que vacas que dão à luz a bezerros grandes demais ou produzidos por fertilização in vitro (FIV) sejam assistidas e, assim, se evite perdas no nascimento. No caso da pesquisa em parceria entre a Embrapa e a UFMS, a técnica será avaliada no final deste ano, quando forem computados os dados dos nascimentos dos bezerros cujas mães foram inseminadas. A expectativa é de que o alerta com a predição do parto chegue dois dias antes de o bezerro nascer. Produção nacional O aparelho usado nos experimentos foi fabricado nos Estados Unidos. Ele é introduzido por via esofágica nos animais e fica alojado no rúmen. De lá, mede a temperatura corporal da vaca de uma em uma hora, tendo capacidade de gravar até 12 marcações. A bateria tem durabilidade de dois anos. Passado esse período, o equipamento não precisa ser removido do corpo do animal e permanece no rúmen até o abate.
Tecnologia
Quando introduzido por via esofágica no corpo do animal, o bólus se aloja no rúmen
O pesquisador Pedro Paulo Pires, afirma que, no Brasil, o bólus-termômetro ainda não é muito usado, mas que a tecnologia tem potencial para ser adotada em escala. O modelo da Embrapa, feito de resina de mamona e recoberto por material plástico inerte e biocompatível, já foi patenteado. Só não foi adotado no experimento, segundo Pires, por falta de tempo hábil para produzir a quantidade necessária de aparelhos antes do início da pesquisa. “Esse bólus pode chegar ao mercado custando, em média,
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R$ 6 (o norte-americano custa o equivalente a R$ 30), mas ainda não temos empresas interessadas em fabricar o produto”, diz o pesquisador. Diferentemente do importado, o bólus-termômetro da Embrapa foi feito para ser colocado no umbigo dos animais, mesmo adultos, e faz referência à temperatura retal, o que, segundo Pires, traz duas vantagens em relação ao aparelho usado no experimento. A primeira é que a temperatura retal é referência para uma série de análises clínicas na medicina veterinária. A segunda é que oscila menos do que a do rúmen, já que não varia por conta do consumo de pasto ou água gelada, por exemplo. “Hoje, o bólus que importamos dos Estados Unidos nos obriga a desprezar picos de temperatura que sabemos ser resultado de fatores externos, o que medindo a temperatura retal não será necessário”, diz. Outra vantagem do aparelho brasileiro é que ele não conta com bateria e dura a vida toda do animal. A transferência dos dados se dá pela aproximação da vaca do campo magnético da antena de transmissão, que gera a energia necessária para o aparelho funcionar. O ponto nevrálgico é a distância: o animal precisa estar a uma distância de um metro e meio da antena para os dados serem captados. n
A pecuária de precisão veio também para automatizar os processos no campo” Pedro Paulo Pires, da Embrapa
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Genética Boliviana Asocebu firma convênio com a ABCZ A Asociación Boliviana de Criadores de Cebú (Asocebu) e a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) firmaram convênio de transferência de tecnologia genética de zebuínos no dia 22 de setembro, durante a 42ª Feira Internacional de Santa Cruz (ExpoCruz), em Santa Cruz de La Sierra, no país andino. O acordo oficializou o início da versão internacional do
Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos, tocado pela associação brasileira. Para o presidente da ABCZ, Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges, a Bolívia tem um importante rebanho zebuíno nos quesitos qualidade, genética, fenótipo e produtividade. Para o presidente da Asocebu, Erwin Rek, o PMGZ Internacional deverá agregar mais produtividade ao rebanho da Bolívia.
Megaoperação na Rússia A In Vitro Brasil (IVB), empresa de biotecnologia focada em produção de embriões bovinos por fertilização in vitro (FIV), está trabalhando em uma megaoperação de transferência de embriões batizada de “Projeto Rússia”. Na empreitada mais recente, concluída no dia 23 de setembro, foram coletados 61.260 oócitos a partir de 3.462 doadoras para a transferência de 20.000 embriões Angus em 60 dias. Segundo técnicos da IVB, 15.000 receptoras
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já foram diagnosticadas, e a taxa de concepção está acima de 43%. O projeto teve início em 2015 e naquele ano foram produzidos 11.000 embriões e no ano seguinte, outros 10.000. A empresa contratante é uma agroindústria russa, com operação verticalizada que vai desde a cria dos animais, passando pelo confinamento, abate e dessosa até o varejo no mercado russo. Também exporta a proteina vermelha para outros países da Europa.
Nutrição
Mais prenhez e redução da idade à 1ª cria Fotos: Eriklis Nogueira
Tecnologia desenvolvida pela Embrapa Pantanal e testada tanto em novilhas quanto em vacas multíparas prevê a inclusão de progesterona em blocos de sal proteinado.
Segundo os pesquisadores, o uso da progesterona oral integrado à suplementação resultou num aumento superior a 20% na condição de puberdade no início das estações
Ariosto Mesquita de Campo Grande, MS
Q
uatro experimentos conduzidos por pesquisadores da Embrapa Pantanl entre 2014 e 2017 testaram indutor de cio (MGA – acetato de melengestrol, conhecido como progesterona oral) integrado a blocos de sal proteinado. Três deles foram realizados com novilhas na Fazenda São Bento, no Pantanal da Nhecolândia, em Corumbá, MS. O quarto, com vacas multíparas, foi dividido entre a Fazenda Nhumirim, no Pantanal do Abobral, também em Corumbá, e a Fazenda Bom Jar-
98 DBO outubro 2017
dim, situada nas imediações de Campo Grande. O objetivo era mensurar até que ponto o consumo destas estruturas no cocho pode substituir a inserção intravaginal do indutor e a suplementação deste produto em sal farelado com vantagens, sobretudo, na redução e simplificação das operações de manejo. Analisando o desempenho das fêmeas, os pesquisadores comprovaram a antecipação da puberdade em novilhas e um aumento da taxa de prenhez em vacas multíparas submetidas à avaliação. “Todo o conceito de suplementação com MGA nos blocos foi desenhado na tentativa de simplificar o manejo. Colocando o material no cocho, evitamos os trabalhos de montagem da estrutura de aplicação, condução dos animais ao mangueiro, introdução do indutor e de retorno dos animais aos pastos”, explica o pesquisador da Embrapa Pantanal (Corumbá, MS) Eriklis Nogueira, líder do trabalho. Segundo ele, os experimentos na Fazenda São Bento envolveram apenas novilhas. O trabalho foi concentrado entre 2014 e 2016 ao longo das estações de monta, com uso de MGA em blocos nos meses de outubro. “Observamos, no geral, que o uso da progesterona oral integrado à suplementação sólida levou a um aumento superior a 20% na condição de puberdade no início das estações. Neste mesmo tempo, o aumento de prenhez foi de aproximadamente 6%. Nesta categoria animal, os experimentos não se utilizaram de inseminação artificial em tempo fixo (IATF). As fêmeas passaram por monta natural ou foram inseminadas após observação de cio”, explica. No primeiro estudo, em monta natural, já foi possível avaliar a indução de puberdade e a taxa de prenhez. Um lote de 412 novilhas, com idade entre 22 e 24 meses, foi dividido em quatro grupos de tratamento: Bloco MGA (consumindo o suplemento sólido com a progesterona), Controle (consumo do bloco sem MGA), Implante P4 (aplicação intravaginal) e Proteico MGA (progesterona em suplemento farelado). O Bloco MGA obteve 59,8% de prenhez no início da estação, 17,5% acima do segundo grupo de melhor desempenho (Controle, com 42,3%). Esta avaliação foi feita através de exames ultrassonográficos para diagnóstico de gestação ao final dos primeiros 30 dias pós monta.
Com relação às vacas multíparas, o MGA em blocos foi oferecido após a IATF. Neste caso, foram testados dois períodos de suplementação. Além de uma ligeira antecipação da concepção no início da estação (58,4% com MGA aplicado entre 6 e 18 dias pós IATF contra 56,4% no MGA fornecido entre 13 a 18 dias pós IATF), foi observada uma elevação considerável na taxa de prenhez (57,4% no consumo de MGA contra 48,5% no grupo que consumiu o bloco proteico sem o MGA). Origem e necessidades A tecnologia teve origem a partir de dois projetos de pesquisa na Embrapa: “Soluções em biotecnologias reprodutivas para os novos sistemas de produção do Brasil” e “Inovações para a cria no Pantanal e Cerrado visando à produção de novilho precoce”. O uso do bloco de sal proteinado com progesterona em alguns protocolos de reprodução bovina, além das vantagens de estímulo à precocidade e elevação do índice de prenhez, prevê também menor custo graças ao consumo via oral (em relação ao processo de inserção intravaginal do indutor de cio). Por enquanto esta diferença ainda não foi mensurada – de acordo com Nogueira, uma tese de mestrado neste sentido está em desenvolvolvimento na Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Jaboticabal. A expectativa da Embrapa Pantanal é de que o MGA em blocos de suplementos resista melhor aos fatores climáticos e permita um consumo mais regular. Conforme os pesquisadores, a progesterona em pó misturada a suplementos farelados tem reduzida utilização na bovinocultura devido a ingestão variável e inconstante e baixa resistência às intempéries climáticas. A tecnologia também atende as demandas da pecuária intensiva em áreas de planalto, de acesso mais fácil a pastos e instalações, porém é mais eficaz em áreas extensivas e, principalmente, no Pantanal, considerado um dos principais berçários da pecuária brasileira, com produção anual estimada
Dois blocos de 25 kg atendem 25 animais ao longo de seis dias, sem a necessidade de reabastecimento do cocho, considerando consumo médio de 350 gramas/animal/dia.
em um milhão de bezerros/ano. “O acesso difícil e as grandes extensões das propriedades no bioma fazem com que o abastecimento diário de cochos seja uma tarefa muito complexa”, comenta a também pesquisadora da Embrapa Pantanal, Juliana Correa. Segundo cálculos da equipe, dois blocos de 25 kg atendem 25 animais ao longo de seis dias, sem a necessidade de reabastecimento do cocho, considerando um consumo médio de 350 gramas/animal/dia. A expectativa de Juliana é de que a tecnologia do MGA em blocos, aliada a outras ferramentas, possa ajudar a reduzir o ciclo produtivo dentro do Pantanal: “Hoje, as fêmeas pantaneiras ficam prenhas, em média, aos três anos de idade. Caso a
Rápido perfil do Pantanal O bioma ocupa uma planície temporariamente inundável no estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul de 138,2 mil quilômetros quadrados, equivalente a 13,8 milhões de hectares (área superior à de Pernambuco e Alagoas, juntos). De acordo com estudo recente, só o município de Corumbá, MS, detém 64,9 mil km2 (três vezes a área de Sergipe), 95% dos quais na planície pantaneira. Segundo
estimativa da Embrapa, o rebanho bovino de Corumbá soma 1,6 milhão de cabeças (15 vezes superior ao número de pessoas, hoje ao redor de 110 mil habitantes), representando 43% de toda a população bovina pantaneira, calculada em 3,8 milhões de cabeças. O Pantanal abriga dois sistemas distintos de produção de gado de corte: cria nas áreas de planície e terminação
Juliana Correa espera que a tecnologia reduza o ciclo produtivo
nas partes mais altas. Estas últimas, de acordo com os pesquisadores da empresa, possuem capacidade de suporte três vezes superior aos pastos sujeitos a alagamentos anuais. A estimativa da Embrapa relacionada à produção de bezerros se aproxima dos valores não oficiais relatados por entidades de classe (sindicatos e associação de produtores da região) que apontam um total de dois milhões de vacas e geração anual de aproximadamente 1 milhão de bezerros.
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Nutrição Desempenho comparativo de taxa de prenhez em diferentes aplicações de indutor de cio % de prenhez no
% de prenhez ao
novilhas
início da estação de monta1
final da estação de monta2
MGA em blocos3
102
59,8
75,5
Controle4
104
42,3
70,8
Implante P45
108
37
64,5
Proteico MGA6
98
34,7
72,9
Tratamento
Número de
(1) 30 dias após monta, (2) 90 dias após monta, (3) consumo de blocos de suplementos com progesterona, (4) consumo de blocos de suplementos sem progesterona, (5) inserção intravaginal de indutor de cio, (6) consumo de MGA em suplemento farelado. (*) Adaptado e resumido a partir de original da Embrapa (Experimento 1 – MGA – indução puberdade e prenhez – Fazenda São Bento – Pantanal do Abobral – Corumbá, MS)
gente consiga reduzir este período para 24 meses, já teríamos um avanço e tanto. Isso vale também para a idade à primeira cria, hoje beirando a casa de quatro anos. Gostaríamos muito de ter fêmeas parindo aos dois anos de idade, mas o Pantanal é um ambiente restritivo. É comum, por exemplo, a ocorrência da Síndrome da Vaca Falhada, quando a fêmea deixa de parir ao longo de um ano, não por 2_gasparim_revista_DBO_print.pdf 1 29/09/2017 17:09:50
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causa dela, mas sim pelo meio onde ela vive não oferecer uma adequada nutrição. Por isso a tecnificação deve ser feita com equilíbrio”, observa. Indagada sobre o controle da ingestão a campo, Juliana admite que é complexo. “Não temos como garantir que cada animal consumirá o bloco em volume adequado ou em quantidades idênticas. A nossa certeza vem dos resultados dos experimentos. Não nos preocupamos pontualmente se uma vaca consumiu mais ou menos. O que importa é o resultado coletivo”, salienta. Um ponto não avaliado remete à ação de agentes externos e comuns dentro do bioma. “Não analisamos, por exemplo, a interferência de eventual consumo do bloco pela fauna silvestre pantaneira”, afirma a pesquisadora. Na formulação da peça nutricional e indutora de cio, a Embrapa recomenda o uso do MGA na ordem de 2,28 gramas/animal/dia. A previsão da empresa é de que ainda este ano sejam finalizados os detalhes burocráticos e oficiais para produção e comercialização em escala do MGA em blocos, que deve ficar a cargo de estabelecimento especializado e devidamente licenciado. A publicação dos artigos científicos relacionados aos experimentos está prevista para 2018. n
Nutrição
Ração extrusada no cocho Tecnologia promete otimizar digestão de bovinos e dar mais flexibilidade ao criador FOTO: NUTRATTA
ce nos aquários). No caso dos bovinos, a massa fundida flutua no rúmen e fica mais próxima do local de maior concentração de bactérias, tornando o processo fermentativo mais eficiente. “Basta colocar em um copo de água um produto extrusado e outro peletizado (farelado). Por sua densidade, o primeiro boia, já os demais se desmancham, separando sua composição e gerando perdas da eficiência do aproveitamento nutricional”, compara Anselmo.
Graças à sua densidade, a ração boia no rúmen bovino, o que facilita sua digestibilidade.
Mônica Costa
A
monica@revistadbo.com.br
ração extrusada, muito comum na alimentação de cães, gatos e peixes, agora também está no cocho de bovinos confinados. A tecnologia, exclusiva e nacional, foi adaptada ao consumo de ruminantes com a inclusão de fibras de forragem em níveis que variam de 5% a 70% no concentrado e a submissão de todos os ingredientes à extrusão. Nesse processo, todas as matérias-primas são submetidas à pressão sob uma temperatura acima de 100ºC, o que provoca o rompimento da parede das células vegetais e a total fusão dos produtos. Segundo o zootecnista Rodrigo Anselmo, gerente técnico da Nutratta Nutrição Animal, de Itumbiara, GO, após a extrusão o produto se transforma em uma massa única e estável, o que estimula o aumento da eficiência alimentar. “A quebra das barreiras físicas nos grãos eleva em até 12% a digestibilidade dos nutrientes na flora bacteriana do rúmen. Já a inclusão de fibras no processo melhora o aproveitamento desses nutrientes”, explica. Uma das características da ração extrusada é a sua densidade, que permite que o alimento se mantenha na superfície do líquido (como aconte-
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Mais ganho de peso Na Fazenda Lajinha, em Presidente Olegário, região do Alto Paranaíba mineiro, onde o confinador Francisco Pinheiro de Campos mantém 1.050 bovinos em terminação, a tecnologia começou a ser utilizada em 2015. “ Tive problema com falta de silagem para o gado e me apresentaram essa linha de produtos extrusados”, se recorda. Os resultados foram satisfatórios e, no ano seguinte, o criador não abriu mão da silagem de milho, produzida na própria fazenda, e do caroço de algodão, adquirido por preços competitivos na região. Mas os demais ingredientes _ torta gorda de algodão, núcleo mineral com ureia e ionóforo e o calcário calcítico _ foram substituídos pelo concentrado extrusado contendo 1 quilo de volumoso seco (o equivalente a 3 kg de uma silagem com 30% de matéria seca), 80 gramas de ureia, 250 miligramas de monensina sódica e 175 mg de virginiamicina. “O ganho de peso diário da boiada subiu de 1,7 para 2 kg, em média, o que me rendeu maiores ganhos financeiros”, explica o criador, que valoriza bastante esta característica já que, como estratégia de mercado, passou a trabalhar com rendimento de carcaça fixo em 53% para garantir o pagamento à vista. A despesa diária com a alimentação dos bovinos confinados aumentou 3%, de R$ 10,78 para R$ 11,12. Em compensação, o custo da arroba produzida ficou 12% mais barata. Isso porque o tempo de confinamento caiu de 68 para 61 dias. No fim, a estratégia garantiu lucro de R$ 44,65 por cabeça. “Se eu tivesse mantido a dieta tradicional, amargaria um prejuízo de quase R$ 50 por animal” afirma o criador (Veja a tabela). “Além da melhoria nos índices zootécnicos, a estratégia elimina etapas da operação de montagem das dietas em vagões misturadores, o que reduz também o volume de alimento transportado numa propriedade”, explica Rodrigo Anselmo.
Maior ganho de peso garantiu o lucro da fazenda Extrusado
Convencional
Ganho de peso diário (kg)
1,998
1,751
Ganho de peso no período (kg)
121,9
119,1
Dias de confinamento
61
68
@ líquidas produzidas1
5,28
5,08
Diária/cabeça (R$)
11,12
10,78
Custo @
produzida (R$)2
134,31
153,44
Valor carcaça magra (R$)3
2.53
2,198
Custos operacionais (R$)4
30,51
41,10
Custo alimentar (R$)5
678,36
738,36
3.293,25
2.928,78
Receita por animal (R$)6 Resultado por animal (R$)7 1Peso
44,65
48,672Custo
final x rendimento de carcaça/15-peso inicial/30; operacional+diária+dias confinamento/@ produzidas; 3Peso inicial/30x R$ @ carcaça magra; 4Equipamentos, funcionários e manutenção; 5Tempo de confinamento x diária; 6Peso final x rend. carcaça/15 x R$@; 7Receita – custos alimentar, operacional e R$ carcaça magra. FONTE: NUTRATTA
Silagem extrusada Com 70% de fibra forrageira, a linha chamada de “volumoso industrial” é o lançamento mais recente da Nutratta. “O produto contém mais de 90% de matéria seca, ante 25% a 35% da silagem; 7% de proteína bruta e 65% de NDT”, afirma o gerente técnico. O objetivo da linha é substituir total ou parcialmente a silagem tradicional no cocho, dando mais flexibilidade ao criador, que pode intensificar o uso da terra e aumentar a lotação. “O manejo fica bem simples, pois apro-
ximadamente 1 kg do volumoso industrial substitui 3,5 kg da silagem convencional, reduzindo o transporte de alimentos para o rebanho na fazenda em até 60%”, continua Anselmo. Em Talismã, município no sul do Tocantins, o criador Francisco José Villela Martins, que termina cerca de 300 animais com grão inteiro, substituiu um núcleo tradicionalmente utilizado para terminação de bovinos sem volumoso pela silagem extrusada na fase de adaptação dos animais ao confinamento. “Foi uma beleza”, lembra o pecuarista. “Não tive problema com acidose e o consumo da ração, que sempre caía de 9 para 3 kg entre o 10º e 15º dia, recuou de 9 para 6 kg com o novo produto”, estima. Segundo o professor Gilberto de Lima Macedo, responsável técnico pelo Setor de Pequenos Ruminantes na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a capacidade de transformação da fibra insolúvel em fibra solúvel por intermédio da extrusão, aumenta a taxa de digestibilidade da fibra pelo bovino em até 30%. “O maior consumo observado pelos animais que recebem a silagem extrusada no cocho pode ser explicado pela alteração da matriz dos nutrientes (amido, proteínas e fibras), tornando estes mais digestíveis, ou seja, são fermentados mais rapidamente no rúmen, ocupam menor volume pelo fato de a partícula fibrosa ficar com 2 milímetros, aumentando a taxa de passagem do alimento”, explica o professor, com base em resultados de um estudo realizado com 18 ovelhas da raça Santa Inês, onde o consumo do volumoso industrial apresentou melhores índices de consumo e taxa de glicemia com a nova tecnologia. n
nnn Toda a fibra utilizada na ração extrusada é proveniente de feno de braquiária. A Nutratta faz parcerias com fazendas produtoras de sementes e, após a colheita, retira a palhada para a fenação e armazenamento. Outra opção usada pela empresa é a cana-de-açúcar, após a coleta do colmo.
nnn
outubro 2017
DBO 103
Saúde Animal
Hora de combater doenças Calendário compacto desenvolvido pela Embrapa Gado de Corte traz recomendações sobre manejo sanitário, reprodutivo e zootécnico.
MARINA SALLES de Campo Grande, MS
A
marina.salles@revistadbo.com.br
Danila Frias
queda nos índices reprodutivos das matrizes pode se dar por uma série de fatores, como estresse térmico, manejo, ataque de predadores e também pela contaminação do rebanho por doenças infecciosas. Neste último caso, mais do que encontrar formas de tratar as doenças, o mais interessante é saber como preveni-las. Uma pesquisa de pós doutorado realizada pela Universidade Brasil (Campus de Fernandópolis, SP) em parceria com a Embrapa e que resultou na elaboração de um calendário de manejo sanitário, reprodutivo e zootécnico, mostra a importância da prevenção, capaz de elevar indicadores reprodutivos e, consequentemente, econômicos. Os produtores das fazendas acompanhadas pelo estudo, de rebanhos comerciais e de seleção, tiveram um incremento médio de 5% na taxa de prenhez do plantel e uma queda de 50% no fundo de maternidade (vacas que tiveram diagnóstico de prenhez positivo,
Quanto à sanidade, no estudo, rebanhos de seleção e comerciais mostraram ter índices próximos
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mas não pariram) e abortos de um ano para o outro, após adotar recomendações simples. De acordo com Danila Fernandes Rodrigues Frias, professora titular da Universidade Brasil, responsável pelo estudo, a vacinação na época correta, adesão a protocolos de higiene, cuidado com os bezerros e avaliação reprodutiva associada ao descarte de fêmeas são algumas das estratégias adotadas no experimento que podem fazer parte da rotina nas propriedades de corte. A pesquisa, que teve duração de dois anos, avaliou por meio de exames específicos a saúde de 4.620 animais das raças Nelore, Caracu e Senepol, de dez propriedades, distribuídas por diferentes áreas do Estado de Mato Grosso do Sul, quanto à prevalência de leptospirose, brucelose, rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) e diarreia bovina viral (BVD). No calendário proposto a partir dela estão contemplados os manejos para essas doenças e também para clostridioses, diarreia neonatal, raiva e febre aftosa. Vacinação Durante o trabalho de pós doutorado, Danila Frias observou que, das 10 propriedades analisadas, apenas uma, da Embrapa Gado de Corte, vacinava os animais contra as quatro doenças monitoradas no estudo. Constatação feita a campo, o dado reflete a realidade da maioria das fazendas brasileiras, no que a pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, Vanessa Felipe de Souza - que orientou a pesquisa de Danila junto ao colega Luiz Otávio Campos da Silva - não vê necessariamente um problema. Nas palavras dela, a principal recomendação para utilização de uma vacina não obrigatória é realmente confirmar se aquela doença existe no rebanho. “Daí a necessidade de um médico veterinário avaliar a situação das fazendas caso a caso, fazer uma anamnese (análise clínica) e, a partir dela, decidir se precisa de exames complementares, como os que fizemos no início do projeto, para definir quais vacinas recomendar”, diz Vanessa. Ela defende que a adoção, inclusive proposta pelo calendário da Embrapa, seja feita aos poucos e na medida necessária, o que garante um custo-benefício positivo. Hoje, ao ser vacinada contra clostridiose, IBR, BVD, leptospirose e diarreia neonatal, uma matriz gera um custo aproximado de R$ 18,50 para o pecuarista, segundo levantamento feito por Danila, o
que pode ser recompensado por uma taxa maior de nascimentos. Em um exemplo hipotético, uma fazenda com 1.000 matrizes, taxa de prenhez de 70%, fundo de maternidade de 15% e taxa de abortos de 10%, elevaria de 56% para 70% sua taxa de nascimentos caso obtivesse os mesmos resultados positivos que a vacinação trouxe para as propriedades alvo do estudo. Nesse caso, o custo com a vacinação seria de R$ 18.500 e o ganho com as matrizes vacinadas seria cinco vezes maior, graças ao nascimento de 138 bezerros, que o produtor deixaria de perder (o incremento foi calculado a partir de um aumento de 5% na taxa de prenhez e queda de 50% do fundo de maternidade e de abortos com a vacinação). Supondo que os bezerros fossem vendidos ao preço de R$ 1.000, o lucro da operação é de R$ 101.000 descontado o custo da vacina. A simulação deixa claro o que aconteceu no caso do experimento, protocolo que Danila não recomenda ser adotado sem a orientação de um médico veterinário. Historicamente, o custo com sanidade na pecuária está entre os mais baixos. Levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) adaptados pela DBO para o Anuário 2017 mostram que em 2016, sobre o custo operacional total das fazendas, o gasto com vacinas era de 1,03%, sendo ainda menor em 2015, de 0,99%. Em termos unitários, segundo dados de Danila, à exceção das doses de vacina polivalente contra IBR, BVD e leptospirose (R$ 7,10) e diarreia neonatal (R$ 4,70), o custo da vacinação contra outras doenças fica na casa de R$ 1. Para ter sucesso no controle sanitário, Vanessa lembra, no entanto, que é indispensável fazer a aplicação de doses de reforço no rebanho conforme a doença. Com exceção da vacina contra brucelose [veja no quadro abaixo], as demais, aqui citadas,
exigem reforço. “O reforço vem como uma nova carga de estímulo para aumentar a concentração de anticorpos”, explica a pesquisadora, e permite que diante de um desafio epidemiológico o animal consiga responder melhor a um ataque de antígenos. A título de exemplo, os desafios podem surgir como resultado da falta de higiene na propriedade, do contato dos animais com alimentos mal conservados ou com água contaminada. Medidas complementares Junto da vacinação devem vir outras precauções. Uma delas é evitar o fácil acesso de animais silvestres (porcos do mato, por exemplo) a alimentos de dentro da propriedade, com o intuito de afastá-los do rebanho, o que ajuda a prevenir a transmissão de doenças como a brucelose e a leptospirose. No caso do armazenamento de ração, o cuidado deve ser de coibir a entrada de ratos nos galpões, já que eles podem transmitir pela urina a bactéria causadora da leptospirose. Quanto à silagem, a preocupação do produtor deve ficar por conta da vedação do silo – o que ficou patente em agosto último quando 1.100 animais morreram depois de consumir silagem de grão de milho úmido contaminada com toxinas botulínicas. Associado às demais medidas, o uso de bebedouros artificiais, em detrimento de aguadas naturais e cacimbas, é recomendado por Danila, sempre e quando houver a possibilidade de instalá-los. Outra das constatações da pesquisa, incorporada no calendário, foi a necessidade de cuidados especiais com os bezerros. É fundamental que eles recebam colostro nas primeiras seis horas de vida, já que a placenta dos bovinos é impermeável à passagem de proteínas e eles nascem sem anticorpos. “Como os anticorpos que o recém-nascido vai ter estão limita-
A ideia é que o calendário ajude o produtor a organizar o seu manejo sanitário” Danila Frias, professora da Universidade do Brasil
Quando vacinar? A época de vacinação recomendada para cada doença varia principalmente em função da categoria animal que se quer proteger. No calendário da Embrapa, o produtor terá acesso, por uma consulta mês a mês, aos períodos em que o manejo sanitário deve ser feito. Confira quais vacinas são obrigatórias ou não e quais demandam reforço: Diarreia Neonatal - Vacinar as novilhas 60 dias e 30 dias antes do parto. Aplicar reforço anual em todas as matrizes. Leptospirose - Vacinar os animais aos 4 meses e repetir após 30 dias. Aplicar reforço em todos os animais, que pode ser semestral ou até mesmo trimestral, a critério do médico-veterinário. Clostridioses - Vacinar os animais com idade de 4 meses e repetir após 30 dias. Aplicar reforço anual em todos os animais. Rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) e diarreia bovina viral (BVD) - Vacinar os animais aos 4 meses e repetir após 30 dias. Aplicar reforço anual em todos os animais. A utilização
de “vacinas reprodutivas” pode auxiliar na redução de perdas gestacionais e na melhoria dos índices reprodutivos. Uso conforme recomendação do médico veterinário. Brucelose - Vacinação obrigatória. Seguir orientações determinadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Raiva - Vacinação obrigatória em áreas endêmicas. Seguir orientação do Mapa. Febre aftosa - Vacinação obrigatória. Seguir calendário determinado pelo Mapa.
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Arquivo DBO
Saúde Animal
A vacinação contra brucelose é obrigatória no Brasil e foi instituída por um programa nacional de erradicação
dos aos da mãe, também é muito importante que antes do parto a vaca seja vacinada contra algumas doenças, como a diarreia neonatal, problema que costuma afetar muito os bezerros”, diz Vanessa. Segundo ela, fazer a cura do umbigo bem-feita é outra medida in-
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dispensável prevista no calendário, já que esta é uma porta de entrada de patógenos que dão chance para infecções oportunistas. O tratamento do umbigo consiste em imergir o cordão em solução com produtos antissépticos, como álcool iodado 10% ou similares também nas primeiras horas depois do nascimento. Na fase de desmama, a orientação da pesquisadora é acompanhar de perto a condição sanitária dos animais por conta do estresse causado pela separação das mães, que pode baixar a imunidade deles. A pesquisadora da Embrapa destaca, por fim o papel da avaliação reprodutiva (exame andrológico e diagnóstico de gestação) associada ao descarte de fêmeas como um cuidado que ajuda a melhorar os indicadores de saúde do rebanho.”Descartando novilhas que não emprenharam, e vacas que falharam pela segunda vez (consecutiva ou não), o produtor vai selecionando suas melhores matrizes. E o mesmo vale para os touros”, completa. No calendário disponibilizado pela Embrapa o produtor encontra folhinhas com uma lista de manejos programados para acontecer mês a mês e uma tabela com a relação de todas as recomendações por categoria animal e período do ano. Uma ficha com orientações gerais acompanha o material. Acesse o calendário em: cloud.cnpgc.embrapa.br/cmrsz2017 n
Fatos & Causos Veterinários
Enrico Ortolani
Neospora, o protozoário assassino.
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Professor titular da Clínica de Ruminantes da FMVZ-USP ortolani@usp.br
nnn Vários estudos constataram que vacas que já abortaram por neosporose triplicam o risco de terem novos abortos
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o artigo anterior, nosso personagem central foi o cão boiadeiro, seu papel no manejo do gado e quando ele se torna mais vilão do que herói. Agora, a figura central é um protozoário que vive originalmente no cão, por isso se chama cientificamente de Neospora caninum. Ele é o principal causador de abortos em bovinos: 25% das ocorrências são ocasionadas por esse protozoário. A criatura passou despercebida até que, em 1988, descobriu-se que ela causava “descadeiramento” em cachorros por sua presença no cérebro e na musculatura. Em 1991, constatou-se que era o principal algoz dos fetos bovinos na Califórnia. As comprovações no Brasil surgiram em 1999. Esse parasita é microscópico. Seus ovinhos (oocistos) são esféricos e com 10 micrômetros (μm) de diâmetro (1 μm é o metro dividido por 1 milhão). Dentro do oocisto há oito espoizoítos, que são as menores formas vivas do parasita, com 2 μm. O ácido do estômago provoca o rompimento do oocisto e a liberação do espoizoítos, que são absorvidos nos intestinos. Daí, essas formas migram para muitos tecidos, podendo passar pela placenta, contaminando o feto. A cadela não aborta, mas a vaca sim, pois o protozoário provoca danos graves ao feto. Alguns sobrevivem ao aborto, mas morrem no primeiro dia de vida. É chover no molhado afirmar que o aborto traz más consequências à reprodução da vaca. O aborto é seguido de retenção de placenta, infecção uterina (metrite), anestro (ausência de atividade ovariana) pós-parto mais prolongado ou repetição de cio. Esse parasita tem como hospedeiro definitivo os cães e os cães-do-mato (graxains ou surros, no Rio Grande do Sul). Só eles eliminam os oocistos nas fezes, contaminando pastagens, água e alimentos. Dependendo das condições de umidade e sombra, podem aí permanecer por meses ou até anos. O parasita resiste à maioria dos desinfetantes, mas a temperatura de 100ºC pode trucidar o danado. O cão pode se contaminar pela via vertical e horizontal. A vertical ocorre pela passagem do parasita pela placenta da cadela para o feto, ou ainda pelo seu leite. A via horizontal se dá pela ingestão de água, ou alimento contaminado – por exemplo, tecido bovino contendo formas hibernadas do parasita, em especial quando come placenta, feto abortado, fígado e cérebro. Um horror! A idade do cão é muito importante na disseminação dos oocistos. Cãezinhos novos contaminados podem eliminar quantidades imensas de oocistos nas fezes, enquanto os “totós” mais erados excretam bem
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menos, mas ainda constituem problema. Assim, o nascimento de cachorrinhos em propriedades já contaminadas aumenta o risco de se transmitir o parasita ao rebanho. Cães errantes, que visitam a fazenda sem convite, também são um risco, para não falar do incontrolável cão-do-mato. Um recentíssimo estudo brasileiro comprovou que fazendas que têm cães com acesso ao rebanho mais que duplicam o risco de abortos (2,3 vezes) por Neospora. Porém, em casos nos quais não existem cães na fazenda, a neosporose pode se manter no rebanho bovino pela passagem do parasita da placenta até o feto. Vários estudos constataram que vacas que já abortaram por neosporose triplicam o risco de terem novos abortos. Um estudo nos Estados Unidos demonstrou que vacas mais velhas têm maior risco de abortar, mas no estudo brasileiro isso só foi mais visto em fêmeas entre o primeiro e o quarto partos. Os autores se dividem sobre o controle da doença nos bovinos, em especial sobre a convivência de cães e a vacada na fazenda. Fiz uma enquete com dez especialistas brasileiros. Oito são a favor de banir o contato de cães com o rebanho, dois acham que não. Banir não significa obrigatoriamente eliminar por meio de sacrifício ou retirada da matilha da propriedade, mas segregar, prendendo os cães em áreas restritas, longe do gado. Eu me junto à maioria dos especialistas. O xis da questão é o que fazer com a vaca que abortou. Um trabalho europeu identificou três cenários: a não eliminação da fêmea; o descarte da vaca com resultado laboratorial positivo para Neospora e o descarte imediato de qualquer fêmea que abortou. Como esperado, no primeiro cenário “tudo continua como d’antes no quartel de Abrantes”; no segundo, o número de abortos por neosporose caiu muito marcadamente após dez anos; no últimos, os abortamentos despencariam após quatro a cinco anos. Outra pergunta é o que fazer com o feto abortado. Por sorte, até onde se sabe, a neosporose não passa dos animais para o homem. Assim, manipular este feto não teria problemas, mas não nos esqueçamos da brucelose e da leptospirose, que podem acometer o homem. Por isso, jamais manipule fetos abortados sem luvas. Seu veterinário de confiança está treinado para coletar materiais para confirmação laboratorial. Caso não tenha esse privilégio, queime completamente o feto, placenta e os líquidos fetais. Infelizmente, ainda não foi criada uma vacina contra a neosporose, assim depende de seu técnico e de você a escolha de como prevenir o problema. Sejam sábios nessa e “pé na tábua”! n
Manejo
O guardião da bezerrada tem nome Fotos: marina salles
Quando possui perfil ideal para atividade e é capacitado, “materneiro” pode ajudar a reduzir índice de mortalidade da fazenda
Nascido em Capitão Poço, PA, Evandro Marques descobriu, no Mato Grosso, suas habilidades na lida com os bezerros.
E
Marina Salles, de Jaciara, MT marina.salles@revistadbo.com.br
m um País com índices de mortalidade de bezerros do nascimento à desmama ainda muito altos (média de 9%), os chamados “materneiros” – nome que se dá aos vaqueiros responsáveis por cuidar dos partos e das crias em seus primeiros dias de vida – têm ganhado status crescente nas fazendas, por fazerem real diferença na rentabilidade do negócio. Esse profissional (nem sempre valorizado) precisa ser dedicado, observador e paciente, características que Evandro Marques da Silva tem de sobra. Há um ano e meio exercendo a função na Fazenda Araponga, em Jaciara, região sudeste de MT, ele já ajudou a baixar a taxa de mortalidade do plantel da propriedade, composto por 710 vacas puras e 170 receptoras cruzadas. Em função da melhoria no manejo, esse índice caiu de 8,9% para 5,4%. Para o proprietário, Shiro Nishimura, selecionador de Nelore PO há 30 anos, as mortes pós-natais representam grande prejuízo e devem ser reduzidas a no máximo 4% no próximo ano, meta nada fácil de atingir quando se trabalha com FIV (fecundação in vitro), cujos produtos nascem mais frágeis.
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O materneiro Evandro Marques tem consciência da importância de seu trabalho. “Se eu não fizer meu serviço bem-feito, a fazenda perde dinheiro e meus colegas não têm animais para cuidar”, diz. Melhor remunerado do que outros vaqueiros, ele tem o perfil certo para a função e capacitação adequada. Foi orientado pela veterinária Fernanda Macitelli, integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal (Etco) e docente da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), de Rondonópolis, MT. Ela e sua equipe desenvolvem um “trabalho de formiguinha” na região, para orientar os materneiros sobre cuidados neonatais, comportamento mãe-filho e manejo carinhoso dos animais. No último ano, Fernanda treinou oito profissionais de quatro fazendas. O trabalho inclui cursos e orientações a campo, inclusive para realização de autopsias visando à identificação da causa mortis (ainda um problema no Brasil), auxílio ao parto e lida no curral. Segundo Elisa Nishimura, filha do proprietário, o trabalho realizado no último ano salvou pelo menos 15 bezerros, evitando uma perda de R$ 97.000, considerando-se que esses animais serão vendidos como tourinhos que valem 50@ de boi gordo, arroba a R$ 130. O benefício não para por aí. Fernanda Macitelli explica que um animal melhor cuidado em seus sete primeiros dias de vida, que mamou o colostro da mãe e teve o umbigo curado corretamente tende a ser mais saudável tanto ao pé da vaca quanto na desmama e recria. “Somado ao investimento em genética e nutrição, o manejo racional, que começa ainda na maternidade, é a chave para ter touros mais dóceis, que, nos leilões realizados na propriedade, chamam a atenção dos compradores por sua calma”, acrescenta Deise Mescua Zuim, zootecnista da empresa. Rotina prazerosa O trabalho do materneiro Evandro Marques da Silva começa cedo e consiste em monitorar vacas em pré-parto e bezerros recém-nascidos. Às cinco horas da manhã, quando entra para trabalhar no pasto maternidade, sua primeira tarefa é identificar quem deu à luz na madrugada e quais as próximas vacas da fila de parição. “Eu costumo observar se a vulva delas está mais escura, sinal de que aumentou a pressão sanguínea na área e o parto está próximo”, diz. Na hora do nascimento, o bezerro que aponta os dois cascos para fora não lhe causa maior preocupação e nasce sozinho, o que acontece na maioria
Fernanda Macitelli aposta nos ganhos proporcionados pelo bem-estar animal
dos casos com vacas Nelore. “Agora, se preciso intervir, vejo se consigo manipular o animal dentro da cérvix e se é necessário prender a fêmea”, conta. É Evandro quem vai de vaca em vaca para ver se suas tetas estão cheias e os bezerros mamando. Essa verificação garante que o fornecimento de colostro seja feito, no pasto (se tudo estiver conforme), no curral (se houver necessidade de auxílio) ou com uso do banco de colostro (se a vaca abandonar a cria). O materneiro também é responsável pela cura do umbigo, pesagem e vermifugação dos bezerros, procedimentos realizados em um cercado ao qual as vacas não têm acesso, para garantir a segurança do funcionário. Os bezerros que nascem à tarde têm o umbigo curado na manhã do dia seguinte e os que nascem logo cedo passam por esse protocolo ao entardecer. Isso para estimular ao máximo o contato entre mãe e filho após o nascimento. A média de partos na Fazenda Araponga é de quatro por dia, mas pode chegar a nove, em determinados períodos. Nos dois piquetes maternidade, ambos com 20 hectares (um para novilhas e outro para multíparas, com o intuito de que as fêmeas mais eradas não roubem a cria das mais novas), a lotação é de até 40 vacas nos meses de parição, época que vai de setembro a outubro. “A ideia é que as matrizes entrem no piquete maternidade no mínimo 48 horas antes do parto e saiam sete dias depois do nascimento do bezerro”, explica Evandro. O restante do plantel ocupa os pastos pré e pós-maternidade, ficando sob os cuidados de outros três funcionários. Um piquete em frente à sede, de 3 ha, abriga as receptoras cruzadas de embriões fecundados em vitro que estão perto de parir e são de responsabilidade do materneiro, além de vacas que tiveram problemas de parto, mães de gêmeos e bezerros machucados ou fracos, que não conseguem mamar sozinhos e contam com a assistência de outro funcionário. “Ali, todos conseguimos ver o que está acontecendo e atender rapidamente os animais”, explica a zootecnista Deise Zuim. Processo de capacitação Em Jaciara e em outras fazendas onde realiza o trabalho de formação de materneiros, Fernanda costuma reunir todos os funcionários responsáveis pela cria para treinamento. “O objetivo é fazê-los falar a mesma língua e evitar que apenas o materneiro saiba realizar bem seu serviço. Assim, caso ele fique doente ou precise viajar, poderá ser
substituído”, diz a professora. O curso dura, em média, três dias e pode se estender conforme o desempenho do pessoal no campo. No primeiro dia, Fernanda acompanha o trabalho dos funcionários e, calada, filma e fotografa o que vê. No segundo dia, ensina conceitos de anatomia e fisiologia, mostra tabelas, gráficos, estudos de caso e dados de pesquisa científica. “Vou falando sempre com um linguajar muito acessível, para que eles entendam o porquê de determinados procedimentos e não sejam apenas instruídos a fazer algo mecanicamente”. Nesse mesmo dia à tarde, ela revê os manejos praticados na fazenda mostrando o que registrou em foto e vídeo. O terceiro dia é dedicado a uma verdadeira aula prática, com todo o trabalho sendo supervisionado a campo por Fernanda. “O meu foco é melhorar as ações em benefício das pessoas e dos animais”, afirma. Diante de um funcionário resistente ou contrário às mudanças propostas, ela alerta que o melhor remédio é conversar e, se não houver acordo, trocar a pessoa por outra que corresponda ao perfil do materneiro (confira no box como selecionar o profissional). “Não existe um jeito único de fazer o manejo, mas certas coisas que o vaqueiro não pode fazer, pois impactam diretamente no bem-estar animal e no bolso do dono da fazenda”, diz. Um exemplo é ajoelhar sem comedimento sobre o bezerro na hora do manejo, o que pode deslocar sua paleta ou machucar sua mandíbula. Outro exemplo é arrastar o animal com o laço, o que facilita a entrada de poeira em suas narinas, aumentando as chances de que ele desenvolva pneumonia. A comunicação entre o materneiro e a especialista continua após o treinamento, sempre que possível. Evandro conta que o sucesso do controle de mortalidade na Fazenda Araponga depende também da análise das causas do óbito, tarefa para a qual Fernanda lhe dá suporte. “Eu mando ví-
Condução do bezerro é feita sem pressa, mesmo debaixo do sol quente
MT Jaciara
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Ficha da Fazenda Araponga
Localização: Jaciara, MT Área total: 1.787 Área de pastagem: 1.300 ha Atividades: ciclo completo e seleção de Nelore Rebanho total: 2.400 cabeças Plantel: 880 matrizes (Nelore PO e receptoras)
Cuiabá
Prenhez em multíparas: 83,8% Prenhez em primíparas: 76,5% Prenhez em novilhas: 90,1% Peso ao nascimento: 36 kg Peso à desmama: 230 kg ♂ e 210 kg ♀ Taxas de desmama: 76,6% (sem FIV) e 68% (com FIV) outubro 2017 DBO
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Manejo
O treinamento do materneiro trouxe resultados positivos para toda a fazenda” Deise Zuim, zootecnista da Fazenda Araponga
deo, tiro minhas dúvidas com ela e juntos tentamos chegar a alguma conclusão”, afirma. No dia da visita da reportagem de DBO, uma vaca amanheceu vigilante ao lado de seu bezerro já morto. Fernanda fez a autopsia do animal, suspeitando que ele não tinha conseguido respirar, o que se confirmou após o exame. “Não é tudo que conseguimos controlar: tem perda por onça, ataque de urubus à noite e até pisada de vaca, que acontece, mas a gente faz o possível para não perder bezerro”, diz Evandro Marques. Deise conta que, antes, quase 100% das mortes de bezerros eram atribuídas a causas desconhecidas ou fraqueza, o que mudou depois do treinamento. Além desses problemas, os registros agora apontam mortes por diarreia, má formação, infecções ou acidentes, o que contribui para que medidas efetivas sejam tomadas. Com as anotações feitas por Evandro em uma pequena caderneta, cujos canhotos são entregues diariamente à chefia, que digita as informações no computador, foi possível reduzir as mortes por diarreia e abortos ocasionados pela ingestão de plantas tóxicas. Agora, a diarreia é tratada no momento que o materneiro identifica o problema, independentemente de sua gravidade, e as vacas prenhas deixaram de ser colocadas em pastos mais sujos, próximos a reservas. Para atender a demandas sanitárias pontuais, Evandro também foi orientado a carregar medicamentos básicos consigo e a seguir um protocolo preventivo de aplicação de antibiótico nos bezerros ainda no primeiro manejo, o que está sendo testado para ver se ajuda a reduzir a taxa de mortalidade na fazenda. Identificação é fundamental A divisão dos pastos em três estações (pré, pós e ma-
ternidade), associada a uma rígida conferência do número de animais alojados nos piquetes, é outro resultado da mudança no manejo. No momento da cura do umbigo, além de marcar a orelha dos bezerros com o número da mãe, Evandro criou a estratégia de tatuar na costela deles seu número identificador, o que facilita o trabalho no pasto maternidade. Quando não encontra o par cria/vaca, ele corre para procurar a cria e, se o animal está machucado, trata de levá-lo para o piquete em frente à sede. Com o número individual tatuado em tamanho grande na costela dos bezerros, Evandro também facilita a transferência deles do piquete maternidade para o pós-maternidade. Neste, como os filhotes continuam ao pé das mães, todas as matrizes que perderam suas crias, em algum estágio, são apartadas e avaliadas. Mantém-se sempre a razão 1:1 entre bezerros e vacas. Antes desse sistema de manejo, a equipe apenas constatava a falta de alguns animais na desmama, quando já não tinha como recuperá-los ou saber qual a razão de seu desaparecimento. O desafio, neste e no próximo ano, será reduzir as perdas nas primeiras 48 horas de vida e dar atenção maior aos partos provenientes de FIV. “Estamos tendo casos de bezerros que nascem, mamam, o Evandro trata e, no dia seguinte, aparecem mortos. Isso exigirá um esforço nosso em observações e registros, para combater as raízes do problema”, diz Deise Zuim. A zootecnista também está estudando uma forma de sincronizar os nascimentos das receptoras. “Hoje, não temos como saber quando o parto ocorrerá. Então, tem bezerro que enrosca de madrugada”, conta Deise. A professora Fernanda Macitelli afirma que o trabalho exige persistência, mas é possível chegar a uma mortalidade próxima de 2,5%. Para isso, a fazenda tem de trabalhar.
Cuidados que poupam vidas
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Caderneta de anotações funciona como diário do materneiro
ara reduzir o índice de mortalidade na fazenda é fundamental seguir algumas diretrizes, como a escolha correta dos pastos maternidade, que devem ser baixos, mas de qualidade; próximos à sede ou ao curral, para que os animais fiquem à vista, e limpos, livres de grutas, valetas fundas e matas fechadas. Assegurar-se de que eventuais buracos sejam tapados e de que cercas e bebedouros estejam em ordem. Segundo Fernanda Macitelli, também é importante ter um responsável pelos partos. “Escolha o materneiro e crie protocolos para casos de parto distócico, falta de colostro, morte da vaca ou do bezerro, acidentes etc”, explica. O funcionário deve contar com todo o material necessário para realizar seu trabalho, como medicamentos, tatuador, pasta para tatuagem, aplicador de brincos, tesoura, pinça, agulhas, seringas, balança e luvas. O bloco de notas deve funcionar como um diário
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de bordo do materneiro, que, nele, deve anotar o número de identificação do bezerro, seu sexo, data do nascimento e tamanho, escore corporal da vaca e condição do parto (com ou sem assistência). Detalhes sobre rejeição materna e dificuldade de mamar devem ser registrados no campo de observações. O ideal é que o pasto-maternidade seja monitorado pelo menos uma vez pela manhã e outra pela tarde, em horários mais frescos. Detectado algum problema de parto, dificuldade de o bezerro se levantar, falha na mamada, bezerro pouco vigoroso ou vaca rejeitando a cria, o materneiro deve prestar socorro, se estiver capacitado para isso, ou comunicar o problema ao responsável da fazenda para que ele tome as devidas providências. Veja a seguir outros procedimentos essenciais na cria:
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Tenha cuidado no manejo – A recomendação de Fernanda Macitelli é não manejar os recém-nascidos nas primeiras 6 horas após o parto;
Frota renovada de navios em operação contínua.
Manejo se possível até 12 horas e nunca arrastá-los. O laço deve servir para capturar e não para enforcar. Se fazendo necessário, pode servir para conduzir o animal com calma, até mesmo preso ao arreio do cavalo. É recomendável instalar um “curralzinho” ou outra instalação semelhante no pasto maternidade para apartar os bezerros de suas mães, sem risco para o materneiro.
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Saiba imobilizar o bezerro – Segure-o pela virilha e o pescoço, apoie-o na perna e faça-o escorregar cuidadosamente até o chão. Quando o animal estiver deitado, use o peso de seu corpo de forma a evitar que ele tente se levantar. Jamais solte seu peso sobre o bezerro. Caso a fazenda tenha manta de contenção (veja reportagem no Especial de Instalações de maio e vídeo no Portal DBO), o animal deve ser segurado pela virilha e pescoço e apoiado na perna do manejador para facilitar a colocação de suas pernas nos buracos da manta, que fica suspensa em um suporte munido de balança. Caso a fazenda registre o peso do animal ao nascer, esse é o momento ideal.
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Faça a cura do umbigo bem-feita – O cordão umbilical não precisa ser cortado, se seu tamanho não oferecer risco de pisoteio pela vaca ou o bezerro. Ele deve ser limpo com iodo diluído e tratado com um cicatrizante/repelente, aplicado na parte que entra em contato com a pele do abdômen.
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Identifique o bezerro – Se o método utilizado for a tatuagem, lembre-se de que o indicado é passar primeiro a tinta entre as nervuras da orelha do bezerro e só então usar o tatuador. Na sequência, espalhe a tinta novamente para fixá-la bem.
Seleção do materneiro A seleção de funcionários para exercer a função de materneiro deve ser criteriosa. Quando convidou Fernanda Macitelli para orientar o manejo na fazenda do pai, Elisa Nishimura queria que os peões entendessem que o gado precisa confiar neles e não ter medo ou responder ao uso da força, opinião compartilhada pela professora da UFMT. “Eu não humanizo os animais, mas quero que o materneiro entenda que um bezerro é um recém-nascido. Você não pega um bebê e joga no chão, arrasta, deixa com frio, com fome”, diz. Nas entrevistas com o pessoal da fazenda para seleção dos que mais se aproximam do perfil ideal do materneiro, Fernanda faz perguntas para compreender os laços do funcionário com a profissão. Avisa que não vai passar as informações para o patrão, pergunta quantos anos ele tem, há quanto tempo e por
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Aplique o endectocida prescrito pelo seu veterinário – Geralmente, o medicamento é ministrado por via subcutânea (embaixo da pele). Nesse procedimento, devem ser usadas seringa e agulha limpas. O local mais indicado é na região da tábua do pescoço. Algumas fazendas fazem uso de outros produtos, como antibióticos, que devem ser receitados por um médico veterinário. Atente-se à posologia e ao local correto de aplicação.
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Obser ve se o bezerro ingeriu colostro – De olho no vazio do animal e no úbere da vaca, verifique se o bezerro mamou. Caso não tenha, ajude-o. Para tanto, a mãe pode ser amarrada no pasto, quando é mansa, ou levada para o curral para ser presa no tronco de contenção. Sendo necessário o fornecimento artificial de colostro, recorra ao banco de colostro e descongele o leite em banho maria até que atinja temperatura entre 35 e 37° C. Estes animais devem ser ajudados até que consigam mamar por conta própria na mãe ou na vaca madrinha (geralmente leiteira).
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Mantenha o olhar sempre atento – Mesmo os bezerros que já passaram pelo manejo pós-parto podem apresentar problemas como diarreia, bicheiras, dificuldade de respiração ou infestação por carrapatos. Na rotina de visitas à maternidade, verifique como está sua condição sanitária. n
que está trabalhando nessa área, quem lhe ensinou o ofício, se está satisfeito com o trabalho. Quando recebe uma negativa, pergunta o que poderia melhorar, se é a infraestrutura da fazenda ou algum processo que o torna menos eficiente. Indaga que outra profissão o candidato gostaria de ter, com o intuito de perceber se continuaria na agropecuária. “Também pergunto se ele gostaria que os filhos fizessem o que ele faz, para ver se se sente valorizado. Pergunto do que ele tem medo e vejo se pende para o emocional (de perder os filhos, por exemplo) ou racional (medo de picada de cobra)”. Então, a professora fica alguns dias na fazenda e observa a relação do funcionário com a família, os animais, a tropa e outros colegas. “E escolhemos quem tem o perfil de cuidador, que mesmo debaixo de um sol de 40°C vai tentar não perder a paciência. Vai ver que dá para tocar a vaca sem se machucar, e não vai arrastar o bezerro”.
O NELORE É A NOSSA MOEDA. SUA VALORIZAÇÃO DEPENDE DE INVESTIMENTO E COMPROMETIMENTO.
LEILÃO VIRTUAL TOUROS COLORADO
09 DE OUTUBRO - 21h - CANAL RURAL MARCELO RIBEIRO DE MENDONÇA E OUTRO VIRTUAL (16) 3852-1427
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12 À 14 DE OUTUBRO MUNDIAL AGROPECUÁRIA SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SP (17) 3214-9800
L eiLão
Vila dos Pinheiros N eLore eDiÇão 2017
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LEILÃO VIRTUAL NELORE VISUAL
30 DE OUTUBRO - 21h - TERRA VIVA FAZENDA VISUAL VIRTUAL (43) 3372-1111
7º LEILÃO NELORE MUNDIAL E CONVIDADOS
14 DE OUTUBRO - 13h30 - CANAL RURAL MUNDIAL AGROPECUÁRIA SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SP (17) 3214-9800
9º LEILÃO VIRTUAL MUNDIAL E CONVIDADOS ESPECIAIS
14 DE OUTUBRO - 15h30 - CANAL RURAL MUNDIAL AGROPECUÁRIA VIRTUAL (17) 3214-9800
LEILÃO VIRTUAL TOUROS SANTA MARINA 2017
24 DE OUTUBRO - 21h - CANAL RURAL FAZENDA SANTA MARINA VIRTUAL (18) 3622-1197
L eiLão
Vila dos Pinheiros N eLore eDiÇão 2017
L eiLão
Vila dos Pinheiros N eLore eDiÇão 2017
LEILÃO VILA DOS PINHEIROS NELORE PRENHEZES 2017
27 DE OUTUBRO - 21h - CANAL X AGROPECUÁRIA VILA DOS PINHEIROS INDAIATUBA - SP (19) 3885-2999 - (11) 2187-1466
LEILÃO VILA DOS PINHEIROS NELORE ANIMAIS ELITE 2017
28 DE OUTUBRO - 13h - CANAL RURAL AGROPECUÁRIA VILA DOS PINHEIROS INDAIATUBA - SP (19) 3885-2999 - (11) 2187-1466
2º LEILÃO VIRTUAL ELITE E GENÉTICA CARTHAGO
31 DE OUTUBRO - 21h - CANAL RURAL GRUPO CARTHAGO VIRTUAL (34) 3331-6800
5º LEILÃO VIRTUAL DE TOUROS FAZENDA ARARAS
05 DE NOVEMBRO - 14h - CANAL RURAL FAZENDA ARARAS VIRTUAL (31) 3539-9100
LEILÃO VRJC EDIÇÃO VIRTUAL
9 DE NOVEMBRO - 21h - CANAL RURAL JOSÉ CARLOS PRATA CUNHA VIRTUAL (18) 99786-0435 - (18) 99143-9390
LEILÃO VIRTUAL DE FÊMEAS NELORE MATA VELHA 2017
23 DE NOVEMBRO - 21h - CANAL RURAL FAZENDA MATA VELHA VIRTUAL (34) 2103-5252
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Leilões
Mercado volta a ter queda expressiva Fraco desempenho nas exposições leva setembro a ter a pior receita dos últimos cinco anos Alisson Freitas alisson@portaldbo.com.br
A Receita
–20% Oferta
–18,6% Média
–1,8%
pós ensaiar uma recuperação em agosto, o mercado de leilões de animais voltou a sofrer baixas históricas em setembro. Durante o mês foram realizados 101 leilões, que venderam 10.260 lotes de machos, fêmeas, prenhezes e embriões de raças bovinas de corte por R$ 88,7 milhões. Foi o pior faturamento para o mês desde os R$ 79,3 milhões de 2012, de acordo com o Banco de Dados DBO. Já a oferta foi a mais baixa desde os 9.354 lotes negociados em setembro de 2010. Na comparação com igual período no ano anterior, quando 112 remates arrecadaram R$ 111 milhões, a receita caiu 20%. Já no caso da oferta, a queda alcançou os 18,6% em relação aos 12.607 lotes negociados em setembro de 2016. O preço médio foi a categoria que se manteve mais equilibrada, mas também não passou imune. Os R$ 8.653 de média deste ano são 1,8% menores do que os R$ 8.810 do ano anterior. O desempenho do mês está atrelado à baixa nas vendas de animais de elite e produção em exposições
Raças taurinas, sintéticas e compostas foram responsáveis pela movimentação de R$ 30,3 milhões Lotes
Leilões
Renda (R$)
Média
Máximo
Nelore
Raças
6.089
608
55.745.730
9.155
603.000
Angus
1.564
2012
9.869.490
6.310
105.600
Brangus
967
86
6.053.370
6.260
36.000
Senepol
704
8
9.125.020
12.962
300.000
Tabapuã
388
71
2.657.870
6.850
28.500
Braford
336
88
2.732.050
8.131
36.800
Hereford
97
44
893.600
9.212
29.600
Brahman
80
43
915.400
11.443
-
Guzerá
60
22
208.850
3.481
-
Canchim
45
1
365.760
8.128
14.700
Simental
40
22
440.400
11.010
-
Marchigiana
32
1
107.360
3.355
-
Devon
24
11
357.360
14.890
48.000
Wagyu
22
1
333.000
15.136
26.400
Caracu
18
11
95.200
5.289
-
10.466
101
89.900.460
8.590
603.000
Total
Critério de oferta.(-) Dados das leiloeiras Agreste, BC, Camargo Agronegócio, Cambará, Capitaliza, Central, Connect, Correa da Costa, Estância Bahia, EDS, JC, Leiloboi, Leilosul, Leilogrande, Leilonorte, Leilosat, Minas, Neto Dantas, Nova, Pampa, Panorama, Programa, Santa Rita, Tarumã, Teixeira Mattos, Trajano Silva, Triângulo e WV Leilões. (-) Quantidade de remates em que a raça dividiu pista com uma ou mais raças. Elaboração DBO.
116 DBO outubro 2017
agropecuárias por todo o País. Entre elas, destaque para Expoinel, em Uberaba, MG, que teve desempenho bem abaixo do verificado na mostra do ano passado. A feira foi palco de sete leilões, quatro a menos do que os 11 de 2016. A oferta caiu 29,5%, saindo de 398 para 281 lotes. Já a receita de R$ 6 milhões representa um recuo de 53% em relação aos R$ 12,9 milhões do ano anterior. De acordo com o leiloeiro Nilson Genovesi, encarregado do comando do martelo na maioria dos remates da feira, a queda já era prevista e reflete o atual movimento no mercado de elite do Nelore. “Os leilões têm sido mais enxutos e os produtores têm distribuído a sua oferta ao longo do ano”, destacou, acrescentando que, para reduzir custos, os pecuaristas também têm deixado de lado os remates presenciais para apostar nos virtuais. Além do corte de gastos, o leiloeiro destaca o recuo no consumo interno de carne bovina como outro fator de baixa. “Quando a carne está em alta, ela puxa toda a cadeira produtiva. A cotação da arroba sobe e leva o bezerro junto, valorizando também as matrizes, e assim sucessivamente, até chegar aos reprodutores”, avaliou. Outra mostra que teve queda expressiva foi a Camaru, de Uberlândia, MG, que saiu da receita R$ 4,8 milhões no ano passado para R$ 2,5 milhões, um recuo de 47,2%. No sentido contrário, a alta mais expressiva foi a da Goiás Genética. Com 273 animais vendidos por R$ 2,4 milhões em quatro remates, a feira dobrou o seu número de leilões em relação à edição anterior e cresceu 55% na oferta e 53,6% no faturamento. Primavera gaúcha Com o início da temporada de remates de primavera, o Rio Grande do Sul foi a praça mais aquecida do mês. O Estado foi palco de 12 leilões, que venderam 2.356 animais, 21,3% a mais do que os 19.43 animais do ano passado. A receita se manteve no mesmo patamar, com R$ 13,9 milhões. O leiloeiro Marcelo Silva afirma que essas vendas do início de primavera têm surpreendido. “A qualidade da oferta dá o tom da liquidez nesse começo de temporada e os preços impressionam. Há pouco mais de cem dias jamais imaginaríamos esses valores. No entanto, é necessário cautela, pois o setor ainda está em um momento de recuperação.” Como de costume, o grande pregão de setembro foi o Megaleilão da GAP Genética, de Uruguaiana, que arrecadou R$ 5,2 milhões, com a venda de 767 animais do quarteto de raças bovinas mais tradicionais do RS: Angus, Brangus, Hereford e Braford. n
Jornal de Leilões www.jornaldeleiloes.com.br
direto da pista
raio x Em entrevista ao JL, Antônio Sciamarelli, da Semex, fala sobre as principais características dos touros de seleções focadas em qualidade de carne e rendimento de carcaça. Segundo ele, esse tipo de animal ajuda encurtar o ciclo produtivo dentro das propriedades e a aumentar a receita das fazendas.
balanços e análises Goiás Genética retoma agenda robusta Com o dobro de remates em relação ao ano passado, receita da feira cresceu mais de 53%. Venda de genética volta a crescer na Expointer Com oferta de bovinos, caprinos e equinos, leilões da gigante gaúcha faturaram R$ 12,1 milhões
O Jornal de Leilões acompanhou em setembro os resultados de 151 leilões de raças bovinas de corte e leite e ovinos. A movimentação financeira foi de R$ 282,4 milhões para 12.977 lotes, entre machos, fêmeas, prenhezes, aspirações e coberturas.
coluna jl Sinal de alerta “Os programas de melhoramento genético são fundamentais. Mas, é necessário cuidado para não se exaltar indivíduos sem as qualidades morfológicas necessárias para ser um reprodutor.” José Luiz Niemeyer, Fazenda Terra Boa. Operação de risco “O momento atual não permite aventuras. Os produtores devem fazer o uso do maior número de informações genéticas possíveis relacionadas à produção, resistência e adaptação”, Valter Potter, Estância Guatambu. União das raças “Não há motivo para encararmos as outras raças como concorrentes do Senepol no Brasil. Nosso concorrente é o boi de boiada, sem qualidade genética comprovada” Pedro Crosara, ABCB Senepol.
resultados • GAP Genética fatura alto em praça gaúcha • Genética Aditiva engrossa oferta de primavera • Brangus JMT emplaca R$ 7.215 de média • Virtual Katispera tem touros provados pela ANCP • BSB Agropecuária encerra agenda Goiás Genética • Agro Pontieri fatura R$ 2,1 milhões • Reprodutores Bodoquena saem a 66,2@ • Ari Ambrosi oferta produção de Tabapuã • DeltaGen reforça presença no mercado Ceip • Genética Valônia completa três edições • Touro é vendido por R$ 75.000 no Angus Rio da Paz • Mega Carpa tem receita de R$ 6,5 milhões outubro 2017 DBO
117
Leilões Conversa Rápida com
Paulo Marques
P
elo terceiro ano consecutivo, Paulo de Castro Marques abriu as porteiras da Fazenda Santa Ester, em Silvianópolis, MG, nos dias 8 e 9 de setembro, para o Leilão Casa Branca. O criador é uma das principais personalidades da pecuária brasileira e colocou à venda touros e matrizes de suas premiadas seleções de Angus, Brahman e Simental. Em dois dias, foram vendidos quase 200 animais por R$ 2,1 milhões. A raça de maior destaque foi o Angus, com médias de R$ 11.854 para os touros e R$ 20.675 para as fêmeas. Entre eles estava o grande campeão de Avaré, PWM Ruido TEICB1641 Candelero, vendido em 50% por R$ 72.000 para Abel Leopoldino, da Fazenda Califórnia, de Água Boa, MT. As vendas da raça foram pulverizadas para vários Estados. Em conversa com a DBO, Marques falou sobre o resultado do leilão e como tem sido a demanda por Angus em diferentes regiões do Brasil. Como avalia o resultado do leilão?
Foi ótimo. As negociações fluíram normalmente de raça para raça, o que era uma das nossas preocupações. Tivemos poucas diferenças de preços e a liquidez foi de 100%. O que nos chamou a atenção foi a distribuição dos compradores. Vendemos para 15 Estados diferentes e também para a Bolívia e para o Paraguai.
A que pode ser atribuída essa grande variedade de compradores?
Temos um grande índice de recompra, o que mostra que nossa genética tem dado resultado em diferentes regiões. Os próprios produtores usam os nossos animais e indicam para os amigos. Nós também damos uma grande atenção ao trabalho de orientação e pós-venda, onde sempre tentamos conhecer cada projeto para indicar os animais e raças mais adequados para aquele sistema de produção. Já teve caso de um produtor vir à nossa fazenda para compra um touro Angus e sair com um Brahman.
Nesse leilão tivemos um comprador de Angus do Sergipe. A raça tem conseguido aguentar o clima da região Nordeste?
Em casos isolados, sim. Existem alguns trabalhos em áreas do Norte/Nordeste com clima mais ameno. Inclusive, um de nossos clientes trabalha com Angus em Alagoas. Ficamos curiosos para saber como a raça estava respondendo na região e descobrimos que os resultados têm sido excelentes. A fazenda dele está localizada em uma região mais alta, o que faz com que o clima não seja tão quente em relação ao restante do Estado e facilita a adaptação dos animais.
118 DBO outubro 2017
Brahman reestreia em grande estilo no Leilão Sant’Anna Depois de dois anos ausente, a raça Brahman voltou à pista do Leilão Sant’Anna, realizado no dia 17 de setembro, em Rancharia, SP. O criatório de Jovelino Mineiro havia interrompido a venda da raça durante esse perío do para corrigir problemas de fertilidade. A reestreia foi em grande estilo. Os oito reprodutores em oferta foram vendidos ao preço médio de R$ 20.070. “O Brahman tem papel muito importante em rebanhos F1 e anelorados pelo Brasil afora. Fizemos um forte aperto de seleção e parece que estamos obtendo sucesso. Pouco a pouco nosso Brahman melhorado está voltando ao mercado”, destacou Jovelino Mineiro. Embora o Brahman tenha atraído parte dos holofotes, o foco da oferta foi o Nelore. A raça teve 124 touros vendidos a R$ 10.610. Também foram comercializados cinco touros Gir Leiteiro PO e POI a R$ 5.664 e duas fêmeas a R$ 5.700. O total arrecadado foi de R$ 1,5 milhão.
Aliança mantém pista cheia A sexagenária seleção da família Rodrigues da Cunha, hoje conduzida por Ronaldo Rodrigues da Cunha (foto), fez novamente a maior oferta de reprodutores do mês de setembro com mais uma edição do Leilão Aliança. O remate aconteceu na tarde de 10 setembro, na sede da fazenda, em Pontes e Lacerda, MT, e negociou 717 reprodutores Nelore aspados e Mochos à média de R$ 10.050, movimentando mais de R$ 7,2 milhões. Na relação de troca, os animais saíram a 78,5@ de boi gordo para pagamento à vista. Todos com avaliação genética do PMGZ, da ABCZ. Como de costume, os compradores puderam optar pelo pagamento em 40 parcelas. Além da liderança do mês, a Aliança registrou a segunda maior oferta de touros do ano. De acordo com o Banco de Dados da DBO, o remate fica atrás apenas dos 1.000 Touros Grendene, realizado em agosto deste ano, em Cáceres, MT.
Braford brilha na serra catarinense Dois tradicionais criatórios catarinenses reuniram as suas produções de reprodutores e novilhas Hereford e Braford no 7º Leilão Mãe Rainha e Meia Lua, realizado no dia 16 de setembro, em Lages, SC. O Braford foi o grande destaque do remate, com os dois animais mais valorizados da noite. O touro Mãe Rainha R01 Paysano Taura Hércules foi vendido por R$ 36.800 para Zoni Pereira de Souza
e a fêmea Mãe Rainha P203 Trevo Dourada foi arrematada por R$ 28.800 para Ademir Hoinaski Filho. No geral, a média de 20 touros da raça foi de R$ 18.800 e das fêmeas foi de R$ 15.200. Já no Hereford, as médias foram de R$ 17.100 para os touros e de 17.900 para as fêmeas. Os destaques da raça saíram por R$ 29.660 e R$ 24.000, macho e fêmea, respectivamente. Ambos foram adquiridos pelo criador Celso Arcanjo Rosa, da Fazenda Ramada.
Arenas Soledade fatura R$ 3,4 milhões Uma das mais consagradas linhagens da raça Senepol foi o foco da oferta e das discussões do Encontro Arenas Soledade, realizado entre os dias 15 e 17 de setembro, no resort Club Med Lake Paradise, em Mogi das Cruzes, SP. O evento, promovido por Ricardo Carneiro (foto), foi marcado pelo lançamento do programa de melhoramento genético Arenas, que visa identificar os melho-
res animais da linhagem Arenas e multiplicar essa genética por meio de acasalamentos orientados. Ponto alto do fim de semana, o Leilão Arenas teve a maior receita dos remates de Senepol do ano ao arrecadar R$ 3,4 milhões com a venda de fêmeas e embriões. Além do público brasileiro, o remate também contou com a participação de pecuaristas paraguaios. Entre eles estava
udovic Capdevielle, atual preL sidente da Associação de Senepol do Paraguai.
mo de R$ 48.000, e três matrizes a R$ 12.720, totalizando R$ 357.360. Foi a maior receita da raça do ano.
Também passaram pelo tatersal lotes de Angus, Hereford e Braford. No total, o remate arrecadou R$ 1 milhão com a venda de 71 animais. “Essa genética é fruto de três décadas de investimentos em linhagens dos EUA, Argentina e do RS. Não esperávamos tanta receptividade dos nossos clientes”, arrematou Werner Kunze, titular da Arapari.
Devon puxa vendas no Arapari Principal pista de Devon do calendário, o Leilão Arapari celebrou a sua 14ª edição na tarde de 23 de setembro. O palco foi o Parque de Exposições Nova Vicenza, em Água Doce, SC. Foram vendidos 21 touros a R$ 15.200, com lance máxi-
Sampa estreia com números reluzentes Com oferta de bezerras e prenhezes, o Leilão Sampa estreou no calendário do mercado de elite do Nelore na noite de 14 de setembro. Como o próprio nome já leva a deduzir, o remate aconteceu em São Paulo, SP, mais precisamente na Sociedade Hípica Paulista. Foram vendidos 20 lotes por R$ 1,8 milhão, com média de R$ 120.637 para as fêmeas e de R$
67.733 para as prenhezes. O grande destaque foi a bezerra Princesa FIV da HRO, de apenas 7 meses, vendida em 50% por R$ 242.400 para a Rima Agropecuária. A promoção do evento ficou a cargo dos neloristas Alceu Vasone e Frank Vieira, da Nelore AF; João Aguiar Alvarez, da Fazenda Valônia; e Hélio Propheta, da HRO Empreendimentos e Agro Pecuária.
Kobe Premium e a Nacional de Wagyu Conhecido mundialmente pelo alto valor de sua carne, o Wagyu teve um evento de gala em Americana, SP, no dia 16 de setembro. A Fazenda Angélica foi palco do 6º Leilão Kobe Premium, que arrecadou R$ 369.500 com touros, novilhas e doses de sêmen. Além do pregão, também foi realizada a Exposição Nacional da raça, que contou com 47 animais em pista.
outubro 2017 DBO
119
Eventos Agenda Encontro da Scot Em 17 de novembro, em São Paulo, acontece o Encontro de Analistas da Scot Consultoria. Dividido em dois blocos, um sobre macroeconomia e outro sobre o mercado do boi gordo, o evento se propõe a discutir de que forma o cenário político e econômico atual tem interferido no setor agropecuário, com um panorama também do que esperar para 2018. Estarão presentes representantes das consultorias MB Agro, Scot Consultoria, Wedekin Consultoria e Radar Investimentos, além de membros do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea) e do
120 DBO outubro 2017
Centro de Conhecimento em Agronegócios (Pensa USP). www.scotconsultoria.com.br/ encontrodeanalistas 4°Simpa O 4° Simpósio de Produção Animal (Simpa) organizado pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri acontece de 22 a 24 de novembro em Diamantina, MG. O objetivo é congregar profissionais da área de produção animal e acadêmicos de graduação e pós-graduação para discutir os principais desafios e oportunidades de aumento da produtividade no setor agropecuário. Na programação, estão previstas palestras sobre formulação de ração e adubação
de pastagens em sistemas de produção animal. www.simpaufvjm.wixsite.com/ ivsimpa2017 8º Simpósio sobre Corte Entre os dias 7 e 8 de dezembro a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) e o Departamento de Zootecnia da Escola realizam o 8º Simpósio sobre Bovinocultura de Corte com o tema nutrição e manejo de bovinos em confinamento. O evento é uma oportunidade de difundir conhecimento técnico para aumento da eficiência da produção, apresentar a conjuntura econômica do setor pecuário no Brasil e as interações entre os sistemas de produção. www.fealq.org.br
Empresas & Produtos
Sementes incrustadas de alta qualidade Holandesa Barenbrug busca nicho de produtores mais tecnificados
S Mais tecnologia: para o agrônomo Álvaro Peixoto, diretor-geral da Barenbrug no Brasil, produtor adotará cada vez mais sistemas integrados entre lavoura e pecuária.
ementes incrustadas, de alta qualidade, de forrageiras tropicais próprias para pastagens e rotação de culturas no sistema de integração lavoura-pecuária (ILP). Essa é a estratégia adotada pela Barenbrug do Brasil Sementes Ltda., subsidiária da Royal Barenbrug Group, centenária empresa holandesa com sede em Arnhem, sudeste dos Países Baixos, especializada em melhoramento genético, produção e tratamento de sementes de forrageiras. Segundo seu recém-empossado diretor-geral, o engenheiro agrônomo Álvaro Peixoto, a estratégia se alinha com a visão de que a pecuária mais tecnificada continuará a ganhar corpo no Brasil, assim como o interesse de agricultores em sistemas integrados. Desde 2012 no Brasil, a empresa promete para 2019 o lançamento de cinco híbridos de braquiária. Um deles terá a preferência de comercialização por parte da Dow Agrosciences, multinacional norte-americana com a qual a Barenbrug mantém parceria para o desenvolvimento de híbridos ou cultivares e também para o processo de incrustação de sementes do híbrido Mulato II, de propriedade da Dow. Segundo Peixoto, já foram feitos testes desses híbridos com produtores parceiros e universidades, que englobam dois anos de corte e dois de pastejo. “Temos um banco genético próprio, parte dele oriunda da parceria com a Dow no México. Quando esses materiais estiverem prontos, a Dow escolherá um deles e os demais serão comercializados por nós”, diz o executivo da Barenburg. Peixoto explica que a política da empresa é trabalhar com híbridos adaptados a cada bioma brasileiro e que essa
condição favoreça o agricultor que vai dessecar a forrageira para semear soja em plantio direto. “Hoje, o produtor não confia no que está sendo vendido no mercado de forrageiras”, diz ele, numa referência à qualidade duvidosa dos produtos encontrados, com baixo teor de pureza (40%). “Como vamos oferecer um produto de alta qualidade, só atenderá a quem realmente estiver interessado em aumentar sua produtividade. Nosso diferencial é justamente esse: trabalhamos 100% com sementes incrustadas e com no mínimo 95% de teor de pureza”, diz Peixoto. Ele explica que esse nível de qualidade só foi possível graças à instalação de um moderno parque de máquinas, no município de Guaíra, norte de São Paulo, já na vinda da empresa holandesa para o Brasil. Ali funciona a sede, com planta de beneficiamento e incrustação de sementes, laboratórios e área para pesquisa. Nestes cinco anos, a empresa investiu R$ 60 milhões, entre ativos (área, benfeitorias, máquinas, entre outros) e inativos (aquisição do banco de germoplasma, programa de pesquisa e investimentos na marca). A aposta de crescimento feita pelo executivo da Barenbrug está calcada na estimativa de que 8% dos cerca de 100 milhões de hectares de pastagens cultivadas no Brasil sejam renovados anualmente, o que resulta em 8 milhões de hectares. Além disso, mais 3 milhões de hectares viriam do uso de braquiária em sucessão ao milho safrinha, o que totaliza um mercado potencial de 11 milhões de hectares a ser trabalhado anualmente. “É o grande mercado. Só para se ter ideia, o mercado de sementes de algodão trabalha com 1 milhão de hectares anuais”, compara. A empresa também trabalha com forrageiras de clima temperado, como o azevém, mas este segmento contribui com apenas 16% do mercado de sementes forrageiras no Brasil (20.000 toneladas/ano, ante 120.000 t/ano). Posiciona-se como uma das dez maiores empresas de sementes forrageiras do País, de um universo de 250 em atividade atualmente, e prevê que vá comercializar em torno de 2.500 t de sementes este ano. “A meta é chegarmos a número 1 em cinco anos”, revela o executivo. A Barenbrug do Brasil exporta para Paraguai, Colômbia, Panamá, Equador e Honduras e tem presença também na África do Sul. A empresa não revela o faturamento; só o global, da Barenbrug Group, que foi próximo dos 260 milhões de euros em 2016. “Nossa participação é pequena, mas tem uma importância estratégica muito grande”, limita-se a informar Peixoto. Mais informações sobre a empresa podem ser obtidas no site www.barenbrug.com.br. (MF e MJ)
Calculadora da Zoetis mede custo da vacinação A multinacional do setor veterinário Zoetis acabou de lançar a calculadora CattleMaster Gold, que permite ao pecuarista medir os custos de vacinação do rebanho com itens como vacina, mão de obra e inseminação e o retorno econômico que se obtém com a prevenção de doenças, sobretudo as ligadas à reprodução. Com a vacinação contra doenças 122 DBO outubro 2017
reprodutivas e a melhora na taxa de prenhez, os custos com inseminação do rebanho diminuem, exemplifica a Zoetis. A ferramenta foi desenvolvida pela equipe de médicos veterinários e estatísticos da empresa, que explica que ela contribui, também, para os produtores tomarem decisões sobre investimento em sanidade no rebanho. Zoetis, www.zoetis.com.br
Empresas & Produtos Flytion contra carrapatos, moscas e bernes.
O
laboratório Clarion lançou o Flytion EC 50, medicamento específico para o controle de carrapatos em bovinos, que, além de matar o parasita, também o desseca. O medicamento também controla moscas e bernes. Segundo a empresa, o produto possui a maior concentração de clorpirifós do mercado (50%), princípio ativo que se associa à cipermetrina. Essa formulação favorece a eficácia no controle de cepas resistentes a outros carrapaticidas, garante a Clarion. Tal mistura permite também a homogeneização da calda, maior espalhamento e aderência do produto no couro e no pêlo do animal, facilitando o contato do medicamento com os parasitas. O produto age tanto sobre parasitas adultos como sobre as larvas. Segundo informa o laboratório, o Flytion EC 50 é ideal para ser incluído em programas de controle estratégico. Clarion: www.clarionbio.com.br
Tecnovax começa a operar no Brasil Líder no mercado de medicamentos biológicos veterinários na Argentina, com uma fatia de mercado de 24% naquele país e venda anual de 120 milhões de doses de vacina por ano, a Tecnovax começou a operar no Brasil. Ela atua também em países da Oceania, Ásia, África e das Américas do Sul e do Norte. Para sua estreia em território nacional, a Tecnovax trouxe duas vacinas líderes de venda na Argentina: Providean Respiratória e Providean Repro 12. A primeira é indicada para prevenção de doenças respiratórias em animais confinados e a segunda para animais em reprodução. Mais informações: www.tecnovax.com.br
Fazen inaugura loja em Goiânia e realiza evento em SP
Loja física da Fazen inaugurada em Goiânia e Oliveira Neto: atender ao pecuarista por todos os meios possíveis.
A Fazen, comandada pelo empresário do setor de logística Vasco Oliveira Neto, estreou no mercado, em setembro, com duas ações de marketing: inaugurou, no dia 11, sua loja física em Goiânia, GO, e exibiu, dia 19, um documentário com trechos de uma coletânea de entrevistas com importantes atores da cadeia pecuária bovina brasileira no Museu da Imagem e do Som (MIS), na capital paulista. Ambos contaram com a presença de pecuaristas, líderes empresariais do setor e consultores. A inauguração da loja faz parte da estratégia de oferecer ao mercado o que o empresário chama de “novo conceito de comercialização de produtos e serviços para uma fazenda”, inspirado em modelo praticado nos Estados Unidos: atender aos pecuaristas por todos os meios possíveis, incluindo internet, telefone e equipe de consultores para grandes contas. Promete, também, oferecer uma completa plataforma de serviços, que inclui consultoria, programas de computador, gestão e treinamento. “O objetivo é atender a 100% da necessidade de consumo de um pecuarista, seja ele de corte ou de leite, para que tenha ganho em produtividade e rentabilidade”, define o empresário, que destaca ser a loja “um espaço físico que servirá de ponto de encontro para que se efetive uma rede de relacionamento entre pecuaristas e
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profissionais da cadeia da pecuária”. Na outra iniciativa, em São Paulo, foi exibido no MIS o documentário “Pecuária Brasileira – História, Presente e Futuro”. A maioria da plateia, inclusive, pôde se ver na tela, em trechos de depoimentos que somaram quase 27 horas de gravação, de um total de 84 entrevistas, e que demandaram um trabalho de seis meses. A coletânea poderá ser vista na internet pelo canal YouTube, em 19 vídeos. O mesmo trabalho também renderá a publicação de um livro, a cargo da jornalista Ana Whately. “A ideia surgiu num contexto de valorização do fazendeiro, sua cultura, raízes, história e importância para a sociedade brasileira”, definiu Oliveira Neto, na apresentação. Teca Vendramini, do Núcleo Feminino do Agronegócio; Cesário Ramalho, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira; Fernando Saltão, ex-diretor executivo da Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon), e Rogério de Betti, açougueiro e dono da marca De Betti Dry Aged, foram os escolhidos para expressar suas opiniões sobre a iniciativa. A empresa de logística de Vasco Oliveira Neto que tornou o projeto viável é a AGV, que tem 46 centros de distribuição e atende 3.500 pontos de entrega em todo o Brasil. A Fazen tem como investidores a Monashees _ fundo de capital norteamericano que já investiu em empresas como a 99Táxi e Elo7 _, a Kinea Investimentos, private equity do Grupo Itaú Unibanco, e a GEF Capital (Global Environment Fund). Mais informações, pelo site www.fazen.com.br
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Sabor da Carne
Hugo Rodas
Sai o churrasco, entra a lasanha. De costela. Hugo Rodas é paulistano, mas mora em Cuiabá, MT, onde é proprietário do restaurante “Seu Majó” – nome dado em homenagem a seu avô baiano –, que funciona há quatro anos no bairro das Goiabeiras.
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amos deixar o tradicional churrasco de lado e falar hoje de culinária italiana. E de como ela pode ser tão versátil, a ponto de uma massa aceitar tranquilamente uma combinação com carne bovina. Estou falando de um dos pratos de maior sucesso do meu restaurante, a lasanha de costela. Bovina, é claro. No Seu Majó, que funciona em um casarão centenário no Bairro das Goiabeiras, em Cuiabá, MT, conto com clientes fiéis, que já me disseram com todas as letras que “não conseguem” pedir outro prato no estabelecimento, a não ser a minha lasanha de costela. De um lado, fico feliz em confirmar, por meio da clientela, o sucesso desta receita. De outro, gostaria que esses assíduos frequentadores também arriscassem degustar os mais de 50 pratos oferecidos na casa, vários deles feitos também com massa. Nosso cardápio tem uma identidade própria, que mistura cozinha brasileira “de vó” com gastronomia contemporânea, mas também tem influência regional, italiana, peruana, árabe, espanhola, entre outras. Voltando à carne que acompanha a lasanha, sempre gostei muito de trabalhar com cortes como fraldinha e costela _ equivocadamente chamados de cortes “de segunda”. Eu os considero como cortes “de primeira”, porque têm mais gordura entremeada e nas bordas e, por isso, são muito saborosos. E vamos combinar: tudo o que é mais saboroso tem
gordura. Chego a pensar, inclusive, que a carne de primeiríssima, o filé mignon, apesar de macio, não tem o paladar marcante de alguns cortes com maior teor de “banha”. Basta, obviamente, saber preparar essas carnes. Sempre fiz muito churrasco típico gaúcho, com fogo de chão, no qual a costela bovina é ingrediente que não pode faltar. Partindo dessas preferências, decidi arriscar fazer a lasanha, que mistura culinária italiana com um tempero meio mato-grossense, meio gaúcho – já que boa parte do Estado foi colonizada pelos povos do Sul. Na pressão O preparo da costela deve ser feito na panela de pressão. Em primeiro lugar, douro a costela em alho e cebola, previamente refogados em um pouco de óleo. Ela deve ser cortada em cubos grandes, com lados de 3 centímetros, mais ou menos. Quando estiver dourada, pego folhas de louro e as adiciono na panela, juntamente com água, até que o líquido cubra a carne. A costela deve ser cozida para que seu sabor seja “ativado”. Após 40 minutos a 1 hora na pressão, desligo o fogo e deixo a mistura descansando, até esfriar. Em seguida, separo a carne do caldo do cozimento. A carne é desfiada. Quanto ao caldo, adiciono molho inglês, shoyu e vinho tinto, reduzindo-o pela metade em fogo baixo. Em seguida, preparo um roux, mistura de manteiga e farinha de trigo em partes iguais utilizada para engrossar o caldo. Com o roux pronto e homogeneizado, vou colocando o caldo aos poucos, para não empelotar. E, por fim, adiciono a costela desfiada neste caldo grosso, misturando tudo. Com todos os ingredientes prontos – além da massa da lasanha, obviamente –, vou fazendo as camadas com molho de tomate pelati ao sugo e queijo. Em seguida, levo ao forno só para derreter o queijo e temos uma lasanha de costela pronta. Embora seja possível fazer este prato com outros cortes bovinos, como a fraldinha, devo dizer que a costela é a minha preferida, pois tem mais sabor, justamente por causa da gordura. Bom apetite! n
Lasanha de costela Prato criado pelo chef Hugo Rodas e um dos preferidos pelos clientes em seu restaurante. O ingrediente básico, a saborosa costela bovina, dá um sabor marcante a esta massa, principalmente por causa de seu teor de gordura.
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