POR: JULIANA DIAS TIAGO ABS
VIVENCIAR ARQUIVO DE EXPERIÊNCIAS EM IMERSÕES
TIAGO ABS
JULIANA DIAS
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UM ENCONTRO SERENO O Sereno é um sítio agroecológico situado no Sana, distrito de Macaé. Construído a partir de princípios ecológicos e em harmonia com o meio ambiente, é um local onde se é possível realizar estudos sobre alimentos, recursos naturais, bioconstrução, etc. Nesta primeira ocasião, em junho de 2019, nos propusemos uma imersão para estudarmos o feitio de tintas naturais a partir de terra. Para quem olha de fora, pode parecer algo muito difícil, mas se trata de um processo bastante simples e intuitivo. Tudo começa com o gesto de colher a terra. Você seleciona o solo que vai dar cor à sua tinta e logo após, peneira caso queira que a tinta fique mais lisa. Após o trabalho com a peneira, acrescenta-se água, cola branca e está pronto. O importante em todo processo é sentir e experimentar. Por isso não aprendemos uma receita com quantidades exatas. É preciso pôr a mão na massa e investigar de perto.
Isso serve também para tintas que utilizam outros elementos como folhas, frutos e sementes. A diferença é que no caso da tinta de terra, basta peneirá-la. Tintas vegetais precisam passar por processos de maceração, cocção, às vezes infusão em álcool. A terra você peneira, mistura em água e cola, está pronta e fortíssima: não desbotam com facilidade. Em tintas vegetais é preciso dar textura misturando ao invés de água, em elementos como babosa, clara de ovo, óleo de linhaça e por serem elementos menos resistentes, precisam de fixadores e conservantes como limão, vinagre e cola. Esses saberes vão ao encontro da permacultura e sua filosofia de criação de sistemas humanos sustentáveis desenvolvendo técnicas de utilização consciente dos recursos. Pudemos aprender, portanto, como os saberes ancestrais aliados à tecnologias atuais podem criar soluções simples, de baixo custo e impacto ambiental. As fotos são de Juliana Dias.
CAMINHOS DENTRO E FORA DE Nร S MESMOS .
Sigo pelas trilhas, onde muitos jรก estiveram um caminho que sรณ Eu mesmo posso Seguir Dentro de mim Tiago Abs
Andando pela mata, observando tudo em busca de material pra fazer arte.
Hidratando a terra para o feitio das tintas.
Mistura do caldeirĂŁo de tinta de terra logo apĂłs a cola ser adicionada.
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OFICINA IMERSIVA Após esta primeira experiência, tornou-se necessário expandir os conhecimentos recebidos. Organizamos portanto a oficina imersiva "Da Lama ao Caos do Caos à Dança" que aconteceu dentro da programação do I Encontro Fronteiras do Sensível, Arte Corpo e Psicologia, em 29 de agosto de 2019, na UFF-Rio das Ostras. Nesta ocasião, tivemos a colaboração da artista Raquel Ferreira. A oficina foi dedicada a propor um contato maior com a natureza, do auto-conhecimento e da ancestralidade através da arte. Numa abordagem abrangente das linguagens artísticas como música, dança, pintura, performance e outros. A experiência começou a partir do encontro das subjetividades num ambiente sutil. Preparamos um café da manhã com uma conversa descontraída com os participantes da oficina. Partilhamos algumas informações sobre como preparar a terra e outros materiais para serem aplicados na pintura do tecido. Deixamos o material de molho enquanto começávamos a preparar a nós mesmos. Corpo e mente. O processo envolveu dinâmica corporal meditativa guiada. A música que acompanhava era de Gabrielle Roth, que foi a inspiradora da oficina, a partir do seu trabalho com os "5 ritmos". Atabaques e flautas tocados durante a movimentação do grupo. Trechos do Tao Te Ching eram recitados como forma de alimentar o fluxo do grupo com ideias inspiradoras. Após o preparo físico e mental, a pintura pode acontecer livremente. Ao final, uma roda de conversa para partilharmos tudo o que sentimos durante a experiência. As fotos são de Acauã, Iris Pimentel, Jade Lemos e Tiago Abs.
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VIVÊNCIA NO SANA Em setembro de 2019 acontece a vivência "Da Lama ao Caos do Caos à Dança" no Sereno Sana. Esta imersão foi nossa da experiência imersiva com o público. Preparamos o encontro a partir da metodologia que desenvolvemos e que se movimenta a partir de três grandes ativadoras da pesquisa: os estudos do feitio de tintas a partir de terra e pigmentos naturais, trabalho da expressão e consciência corporal para contato com o sensível e a busca de uma experiência intuitiva coletiva em conexão com o território ao seu redor. A experiência aconteceu durante o final de semana, junto com o feriado de 7 de Setembro. Nosso grupo acampou no sítio do Sereno durante esses dias trabalhando de forma leve, permitindo que o tempo fluísse com tranquilidade e calma pra cada prática. Explorar as trilhas, rios, terras, alimentos e até o próprio silêncio, afetos, tudo que permitia uma conexão mesmo que sútil com nós mesmos e o entorno. Saímos deste encontro com novos horizontes, visão e energias renovadas. Nosso olhar e relação com a arte certamente se ampliou e muito com esse contato. Vivenciar o processo artístico se mostrou mais do que criar um objeto final mas, como se já não fosse tão óbvio, vivenciar emoções, pensamentos e práticas cotidianas que nos permitiram crescer como seres viventes. Dessa maneira, podemos criar em coletivo movimentos que refletem em nossa maneira de viver. Deixar que o corpo em performance se movimente através de suas criações e tenha seu potencial explorado a partir da ideia de processualidade, criando um imaginário mediante à invenção em relação com a natureza, é uma boa maneira de conceber os afetos que queremos em relação ao mundo. Uma relação que ao invés da recorrente exploração, seja de muito respeito por esse organismo que nos dá todo tipo de vida, basta que cuidemos dele. As fotos são de Marina Nascif.
foto:
sementes e grĂŁos de Guando
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Urucum
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Urucum hidratado com babosa e cachaรงa
Juliana Dias juvssdias@gmail.com Tiago Abs www.tiagoabs.weebly.com