A segunda morte de Teodoro Recalde

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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Comunicação, Cultura e Realidade Brasileira

A segunda morte de Teodoro Recalde Tiago Lobo

RESUMO: Teodóro Recalde, 34 anos, pai de 4 filhos, foi morto a facadas no dia 27 de setembro numa fazenda invadida por sua tribo em Paranhos (MS). Este trabalho acompanha a cobertura do caso através da análise de matérias publicas em portais de notícias. Palavras-chave: Índios. Paranhos. Jornalismo. ABSTRACT: Teodóro Recalde, 34 years, father of 4 children, was stabbed to death on September 27 on a farm invaded by his tribe in Paranhos (MS). This work follows the coverage of the case through the analysis of material published in news portals. Keywords: Indians. Paranhos. Journalism.


INTRODUÇÃO: Este trabalho de pesquisa tem o objetivo de apurar o enfoque dado pela imprensa, especificamente portais de notícias, ao reportar um fato ocorrido no dia 27 de setembro, em Paranhos (MS). A história era sobre um índio Guarani Kaiowá nos grotões do Mato Grosso do Sul, que precisou de uma ordem da justiça para ser enterrado na terra onde foi assassinado. Teodóro Recalde, 34 anos, pai de 4 filhos, foi morto a facadas no dia 27 de setembro numa fazenda invadida por sua tribo em Paranhos. Eu viajei durante 15 horas, por 1.200 Km, até o local, como auxiliar de reportagem, e tive a oportunidade de apurar o caso direto nas fontes.

REPERCUSSÃO: Três portais na internet reportaram o fato. São eles: Brasil de Fato; Uol Notícias e Campo Grande News. Outros portais regionais, como Paranhos News e MS JÁ apenas copiaram o texto da versão do Campo Grande News.

ANÁLISE DAS REPORTAGENS:

Brasil

de

Fato

O portal Brasil de Fato publicava, no dia 03/10/2011 a matéria da repórter Maria Pena, intitulada “Ypo’i: menos um Guarani, mais indignação e dor”. A reportagem apresenta alguns problemas de apuração e desenvolvimento, tais como o nome do índio assassinado, que é apresentado como Teodoro Ricarte (o correto é Recalde, segundo documentação que acessei na Funasa de Paranhos), ausência de identificação das testemunhas que falam na reportagem (provavelmente uma seria a irmã de Teodoro, que prestou depoimento à Polícia Civil de Paranhos, acusando “Negão”.), falta de isenção da jornalista que não inclui versão de nenhum dos fazendeiros e informações superficiais que não permitem o total entendimento do fato. Os dois índios assassinados antes de Teodoro, mencionados na reportagem, eram professores de onde? A reportagem não responde. E aí mora um fato interessante: Genivaldo e Rolindo Vera eram primos de Teodoro Recalde e professores de uma Missão Alemã, que fica na beirada de uma reserva indígena. O principal proFoto: Tiago Lobo blema é o enfoque. Sustento: a reportagem bate na tecla de um índio assassinado, mas o extraordinário é que durante mais de 500 anos índios lutam por suas terras, agora, em um fato inédito, um deles precisou brigar pra ficar a sete palmos debaixo dela. Aí que está interesse público deste fato e o potencial de reflexão que o Entrada da Missão Alemã. caso gera.


Campo Grande News

Nas duas matérias do Campo Grande News existe o mesmo enfoque da versão do Brasil de Fato. Apesar de destacarem a questão da briga pelo sepultamento, o texto é técnico, frio e banaliza a questão. Teodoro Recalde é informado como tendo 33 anos no momento de sua morte, mas segundo informação oral do chefe do acampamento Y’poi, índio Rodolfo, ele teria (“sem sombra de dúvidas, tenho certeza”) 34 anos. O leitor que deparar-se-á com esta matéria burocrática, receberá uma história sobre um índio morto, uma especulação óbvia da reportagem sobre disputa de terras, e uma confusão judicial. Foto: Tiago Lobo

O mais próximo de Y’poi que nos permitiram chegar.

Foto: Renan Oliveira

As versões dos veículos que publicam matérias sobre os Guaranis daquela região alternam a grafia do nome da tribo Guarani entre Kaiowá e Caiuá. Segundo o portal Etnolinguística. org, que pesquisa as línguas indígenas da América do Sul, a grafia preferencial é Kaiowá (pronuncia-se Caiouá), pois esta “é utilizada nas escolas indígenas de ensino bilíngue, além de constar em materias bibliográficos produzidos com a participação de falantes da língua em questão”. Auto-denominação: Kaiowá Nomes e grafias alternativos: Caiuá, Kaiwá, Kaajova e Kaiová Filiação genética: Família Tupi-Guarani (subgrupo I) - Tronco Tupi Falantes: 25 mil pessoas Localização: Mato Grosso do Sul (Brasil) Fonte(s) de informação: Valéria Faria Cardoso (Unemat/Alto Araguaia)

Viatura da Polícia Federal na estrada para Y’poi.

http://www.etnolinguistica.org/lingua:kaiowa


UOL Notícias O UOL, peso-pesado dos portais analisados, não ficou pra trás nos erros de apuração, mantendo o mesmo enfoque nesta pauta. A data da morte de Recalde consta nos registros da Fundação Nacional da Saúde (Funasa) de Paranhos como manhã de terça, 27. Contrariando a informação do UOL Notícias. Foram além ao explicar a questão do sepultamento: “(...) o dono da área havia desautorizado que o funeral fosse feito lá. E, pela tradição, o índio deve ser sepultado em terra de seus ancestrais, daí a insistência (sublinho) dos guarani”. Outro ponto foi a informação de que 70 índios moram no acampamento, quando são 70 famílias. Mas pelo menos ouviram o fazendeiro, que “(...) afirma que, há pelo menos 120 anos, a área pertence a sua família”.

Um

pouco

de história

Foto: Renan Oliveira

A fazenda São Luís foi o pedaço de chão escolhido por uma tribo de índios Guarani Kaiowás para levantar acampamento, em Paranhos (MS). Os índios ocupam uma área de 80 hectares, dos 1900 da São Luís, desde o ano passado. Só as terras desta fazenda valem um bilhão e seiscentos Firmino Aurélio Escobar, 79, dono da Fazenda São Luís. mil reais. A propriedade é do clã Escobar desde 1880, quando Miguel , um espanhol naturalizado paraguaio, virou posseiro das terras. Miguel casou-se com uma viúva argentina de nome Saturnina, que tinha um bom dinheiro herdado do primeiro casamento. Então tiveram um filho, Ramão Escobar. Ramão teve uma prole vasta: 15 filhos. O 1° nasceu em 1930, a segunda foi Estér em 31, Firmino em 32 e outros 12. Os filhos herdaram, cada um, uma parte da terra, que foi sendo comprada por Firmino até que ele se tornou o patrão da Fazenda São Luíz, onde cria gado e soja. Firmino Aurélio Escobar tem 79 anos, ainda anda a cavalo e “arreia cedo e só desarreia a noite”, como conta o capataz Irineu, que nos acompanhou até o início das terras invadidas, Y’poi, pra garantir a ordem do patrão: não chegar até os índios. Seu filho leva seu nome e responde pela administração da fazenda, em Amambai. Para entrar na fazenda, acompanhamos duas viaturas da Polícia Federal, com três agentes, um Delegado Federal e um agente da Funai de Ponta Porã, Seu objetivo era buscar alguns índios para colher depoimentos. Quando chegamos, Firmino demorou mais de 30 minutos para receber as autoridades. Chegou montado em um cavalo Quarto de Milha, que vale 20 mil reais, e começou a contar como sofre, o pobre coitado. A sua versão da história é que comprou a fazenda para ter tranquilidade, mas os índios invadiram e ele tem medo. Diz que os Guaranis matam de quatro a cinco bois


por mês, vivem bêbados e drogados pelas estradas e não tem mais limites. Informa, ainda, que encontrou um boi com dois tiros de “arma comprida” recentemente. “Saindo desse problema acho que minha vida vai aumentar bem mais”, projeta o fazendeiro que informa aos federais que “com a minha vida melhorando, melhoram a de todos vocês”. “Só nesse sentido que eu quero dizer”, é o que o fazendeiro repete incessantemente antes de depois de cada frase sobre retirar os índios das suas terras. A conversa termina com ele insistindo para os policiais aceitaram acompanha-lo no almoço, mas o delegado tem horário. Em Paranhos, um índio professor Guarani de outra aldeia os esperava para servir de tradutor. Depois do fazendeiro autorizar o trabalho dos Federais, e limitar o acesso da nossa reportagem após 20 minutos de negociação, fomos guiados pelo capataz Irineu, até uma estrada com uma ponte improvisada sobre um córrego estreito: Y’poi em Guarani. Os Federais não conseguiram trazer nenhum índio para prestar depoimento, pois eles não queriam sair sem autorização do Cacique Rodolfo, que mora na reserva indígena próxima de Paranhos. Seguimos pra lá, até chegarmos na Missão Alemã, onde conheci Diego, 17, filho de pai Guarani e mãe Paraguaia, se preparando para dar aulas de informática para as crianças indígenas que estudam na Missão. Eram 12h30min do dia 05/10 e ele começava as aulas às 16h. Eu propus que nos levasse até a casa do Cacique, dentro da reserva, que nos traríamos de volta antes do horário da sua aula. Ele topou e assim conseguimos um guia. Diego nasceu dentro da reserva e conhecia seus caminhos com a palma de sua mão. Quando cheFoto: Tiago Lobo gamos na casa do Cacique, ele estava tomando banho em uma tina, nos recebeu desconfiado, pediu identificação de imprensa e nos convidou para esperar embaixo de uma árvore. Ligou pra Funai e perguntou se poderia nos levar até Y’poi. Os índios daquela reserva falam no celular, andam de moto e vestem camisetas Diego, nosso guia até o Cacique Rodolfo. de time de futebol. Dos 15 Guaranis que nos receberam na reserva, apenas Diego e o Cacique Rodolfo falavam Português. Os demais nos olhavam curiosos e desconfiados. O Cacique conversou um pouco conosco, contou que era primo de Teodoro e pediu para voltarmos na manhã do dia seguinte que então ele nos levaria até Y’poi. Mas precisávamos voltar pra Porto Alegre. Já tinhamos uma matéria. A estrada que leva até Paranhos (MS) passa pelas fazendas Santa Regina, Cristo Rei, São Paulo, Santa Fé do Sul, Santa Rosa, Santa Rita de Cássia, São Miguel, São Sebastião de Tacuru, Santa Paola, Santa Helena, Santa Clara e outras. Quase todas com nome de santos. Só podia: aquele lugar era um inferno.


CONCLUSÃO

Foto: Tiago Lobo

Todos os portais analisados apresentaram falhas na apuração, informações superficiais e falta de senso crítico no que tange o enfoque utilizado no desenvolvimento desta pauta. Segundo informações do fazendeiro Escobar, da Fazenda São Luís, doze jornalistas o visitaram desde o dia 27, até o dia 5/10, quando estivemos lá. Só cinco chegaram perto do acampamento Y’poi. Deste número, podemos tirar uma estimativa (talvez precipitada) do desinteresse e falta de olhar humano que acompanha o trabalho da imprensa brasileira. Nenhum portal que publicou matéria sobre a morte de Recalde saiu da superfície para entrar em Crianças indígenas na estrada para a Missão Alemã. uma questão muito mais relevante e de real interesse público. Infelizmente, o leitor está cansado de ler que índios são mortos. Até existe comoção da sociedade, no entanto, o Brasil precisa saber que um índio Guarani Kaiowá, que lutou por um pedaço de chão durante 34 anos, só ganhou suas terras no dia 1° de Outubro. Dos 1900 hectares da Fazenda São Luís, Teodoro Recalde conseguiu apenas o suficiente para cobrir seu caixão.

O repórter que acompanhei se chama Renan Antunes de Oliveira, tem 62 anos, e seis filhos. É vencedor do Prêmio Esso de Reportagem de 2004, na categoria Nacional, com “A Tragédia de Felipe Klein”, já passou pelos maiores veículos de comunicação do país, tais como Veja, IstoÉ, Folha e Estado de SP, TV Cultura, Rede Globo, RBS e outros. Foi correspondente internacional e percorreu boa parte do Oriente Médio, Ásia, América Latina, América do Norte e Europa, onde trabalhou na BBC. Atualmente é um repórter freelancer que vive de forma independente.


ANEXOS Brasil

de

Fato

Ypo’i: menos um Guarani, mais indignação e dor

A comunidade não se sente segura. No total, relatam, são 7 pistoleiros que trabalham para as três fazendas da área 03/10/2011 Texto e Fotos: Maria Pena, Campo Grande, Mato Grosso do Sul* A noite da última sexta-feira, 30/09, foi de tensão na comunidade de Ypo’i. Enquanto ecoava pela mata o som das rezas dos que velavam pelo corpo brutalmente assassinado do guarani Teodoro Ricarte, 34 anos, a comunidade permanecia em alerta para qualquer eventual ataque a mando dos fazendeiros que circundam a área retomada. Por decisão da Justiça Federal, e à revelia do proprietário da fazenda São Luiz, Teodoro seria enterrado como previsto pelos Guarani: em sua terra ancestral atualmente ocupada por essa fazenda, no município de Paranhos. O dia amanheceu, e Teodoro pôde ser enterrado na beira da mata de Ypo’i, na manhã do último sábado (1º de outubro). Teodoro Ricarte fora morto quatro dias antes, na última terça, 27. Regressava para a comunidade, no fim da tarde, em companhia de duas pessoas. Para chegar à área retomada, onde o grupo permanece por decisão judicial, é necessário atravessar a fazenda Cabeça de Boi, uma das três que incidem sobre a área reivindicada, atualmente à espera da conclusão dos trabalhos de identificação realizados pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Segundo contam, foi nesse percurso, ainda dentro da Cabeça de Boi, que foram abordados por “Negão”, como é conhecido um dos funcionários dessa fazenda. “Negão”, que habitualmente mantinha conversações pacíficas com os indígenas, desceu do seu cavalo, bateu na cabeça de Teodoro e lhe deu uma série de facadas, no rosto e pescoço. Os acompanhantes conseguiram correr para se salvar. Quando voltaram ao local, Teodoro já estava morto. Ali estiveram junto ao corpo até a manhã do dia seguinte, quando outros membros da comunidade foram ao seu encontro. O corpo foi levado pela Polícia Civil nessa mesma manhã do dia 28 de sentembro para Paranhos e retornou à comunidade para ser velado no dia seguinte, após a liminar da Justiça Federal. A hipótese dos membros da comunidade é que Teodoro foi morto por engano, confundido com uma importante liderança de Ypo’i. “Parecia que estava tudo tranquilo. Em agosto estávamos no silêncio, agora em setembro começaram as ameaças”, conta um integrante do grupo de Ypo’i. A tensão retornou à área depois de quase dois anos de relativa tranquilidade. Em 2009, durante o último processo de retomada dessa área tradicional, um ataque de pistoleiros à comunidade resultou no espancamento de alguns indígenas e na morte dos professores Rolindo e Genivaldo. O corpo de Rolindo segue desaparecido, e as investigações sobre os assassinatos ainda não foram concluídas. O assassinato de Teodoro aparentemente marca um novo período de conflito. Dois dias depois desse crime, um grupo de indígenas que ia pescar foi ameaçado por, no minimo, 8 disparos de balas de borracha pelos pistoleiros da fazenda São Luiz, segundo conta uma das lideranças que integrava o grupo atacado. A comunidade não se sente segura. No total, relatam, são 7 pistoleiros que trabalham para as três fazendas da área. As duas testemunhas oculares foram ouvidas por autoridades que investigam a morte de Teodoro, mas a comunidade tem sérias dúvidas


de que tenha havido um entendimento correto do depoimento delas, entre outros fatores, pela dificuldade das mulheres em comunicarem-se em português. “Quando um indígena testemunha, é como se ninguém tivesse visto, como se não valesse de nada”, comenta um membro da comunidade ao contar que, pese às denuncias, o assassino continua solto e na área da fazenda, tornando a ambiente ainda mais tenso. A comunidade ainda tenta entender o porquê do retorno das ameaças. “De certo estão fazendo isso porque estão perdendo essa luta. Estão apavorados. Ameaçam para ver se saímos, se abandonamos nossas terras. Mas não vamos sair!”, arrisca uma leitura da situação um dos membros da comunidade. Enquanto isso, ficam no aguardo de que a Justiça e a lei olhem por eles que, em dois anos, já perderam três de seus guerreiros na luta por um terra que lhes pertence.

*A reportagem contou com a colaboração de membros da comunidade.

Campo Grande News Justiça autoriza enterro de índio em fazenda Paulo Fernandes O juiz federal Eduardo José da Costa concedeu, nesta noite, autorização para que índios guarani-caiuá possam enterrar o também indígena Teodoro Recalde, de 33 anos, na fazenda São Luíz, no acampamento onde ele vivia, em Paranhos - na região Sudoeste de Mato Grosso do Sul. A fazenda é reivindicada como sendo a terra indígena Y´poi e a comunidade quer que Teodoro Recalde seja enterrado no acampamento, alegando que a tradição deles prevê o sepultamento na terra ancestral. No local, vivem 70 famílias guarani-caiuá. “Eles vão poder fazer o sepultamento; a decisão saiu nesta noite. O oficial de Justiça irá comunicar os proprietários da fazenda. Acredito que amanhã, pela manhã, Teodoro Recalde poderá ser sepultado”, afirmou o coordenador da Funai (Fundação Nacional do Índio) Silvio Raimundo. O pedido do sepultamento na fazenda havia sido feito aos proprietários da fazenda, que recusaram. Por isso, representantes da Funai (Fundação Nacional do Índio) e do MPF (Ministério Público Federal) em Ponta Porã procuraram o magistrado federal. Teodoro Recalde foi encontrado morto na madrugada de ontem, com sinais de espancamento, na fazenda Cabeça de Boi, no caminho para o acampamento onde vivia. O corpo está na funerária da cidade. Segundo a Comissão de Direito dos Indígenas da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o indígena morto é primo dos professores Genilvado Vera e Rolindo Vera, professores que desapareceram em 2009. Genivaldo foi encontrado morto, com sinais de espancamento. Rolindo nunca foi achado. A polícia investiga se o crime está relacionado à disputa de terra entre índios e proprietários rurais.

Índio deve ser sepultado à tarde em fazenda reivindicada por guarani-caiuá Enterro em área de fazenda de Paranhos foi autorizado pela Justiça Federal Marta Ferreira Já foi comunicada pela Justiça aos donos da fazenda São Luis, em Paranhos, a decisão do juiz federal Eduardo José da Costa, que autorizou o sepultamento em uma área da fazenda do índio Teodoro Recalde, 33 anos, morto na madrugada de quarta-


-feira. O corpo será enterrado no acampamento de guarani-caiuá montado com autorização judicial na propriedade, que é reivindicada como terra indígena. A previsão é que o sepultamento ocorra ainda hoje, uma vez que o corpo está desde ontem na funerária da cidade. O indígena foi encontrado morto na quarta-feira de madrugada, com sinais de espancamento. O crime está sendo investigado tanto pela Polícia Civil quanto pela Polícia Federal, acionada pelo MPF (Ministério Público Federal) para apurar se o assassinato tem relação com a disputa fundiária. De acordo com as informações da Funai em Ponta Porã, os donos da fazenda, que haviam negado o pedido dos índios para o sepultamento no local, não impuseram resistência. Por conta disso, não deve haver acompanhamento policial. Área polêmica-A fazenda é reivindicada como sendo a terra indígena Y´poi e a comunidade quer que Teodoro Recalde seja enterrado no acampamento, alegando que a tradição deles prevê o sepultamento na terra ancestral. No local, vivem 70 famílias guarani-caiuá. Teodoro Recalde foi encontrado morto na fazenda Cabeça de Boi, no caminho para o acampamento na fazenda São Luis O indígena morto é primo dos professores Genilvado Vera e Rolindo Vera, professores que desapareceram em 2009. Genivaldo foi encontrado morto, com sinais de espancamento. Rolindo nunca foi achado.

UOL Notícias Juiz manda enterrar corpo de índio assassinado em área disputada com fazendeiros em MS Celso Bejarano Especial para o UOL Notícias de Campo Grande A Justiça Federal concordou no início da noite de quinta-feira (29) com o recurso da Fundação Nacional do Índio (Funai), que pediu para que um guarani-caiuá assassinado na quarta (28) em Paranhos (MS), perto da fronteira com o Paraguai, seja enterrado em um acampamento instalado em fazenda disputada entre índios e um fazendeiro da região. A Funai ingressou com pedido na Justiça porque o dono da área havia desautorizado que o funeral fosse feito lá. E, pela tradição, o índio deve ser sepultado em terra de seus ancestrais, daí a insistência dos guarani. Teodoro Recalde, 33, foi morto a facadas e por espancamento na cabeça. O corpo dele foi localizado a uns 3 km do acampamento montado na fazenda São Luiz, onde 70 índios aguardam decisão judicial que deve determinar de quem é a terra – se deles ou do fazendeiro que habita o local e afirma que, há pelo menos 120 anos, a área pertence a sua família. A Polícia Federal foi acionada e investiga se o crime tem a ver com a disputa pela terra. Em outubro do ano passado, os 70 índios que moram hoje no acampamento foram expulsos da área. Segundo eles, por seguranças contratados por fazendeiros da região, que negam a informação. À época, dois professores índios sumiram. Um deles foi achado morto. Do outro não se tem notícias até hoje. Teodoro Recalde, assassinado na quarta-feira, era primo dos professores. Hoje, os índios vivem no acampamento graças a uma liminar concedida pela Justiça Federal.



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