Faculdade dos Meios de Comunicação Social Estética e História da Arte Tiago Lobo Turma: 359
O Pintor que Imobilizou o Tempo Impressões sobre a obra de Iberê Camargo
Porto Alegre/ RS 2011
“O pintor é o mágico que imobiliza o tempo” foi frase célebre do mestre do expressionismo que nasceu no dia 18 de novembro de 1914 no município de Restinga Seca: Iberê Bassani de Camargo, ou apenas Iberê Camargo.
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Foto de Tiago Lobo
O Pintor que Imobilizou o Tempo
Divulgação
ua obra é dividida em “Paisagens”, Carretéis”, “Retratos”, “Ciclistas”e “Idiotas”, cada qual com sua proposta e subtexto. “Retratos” trás uma questão muito interessante de autoconhecimento revelando um artista que “como modelo me transmuto em forma. Sou, então, pintura. Ao me retratar, gravo minha imagem no vão desejo de permanecer, de fugir ao tempo que apaga os rastros. O auto-retrato é uma introspecção, um olhar sobre si mesmo. É ainda interrogação, cuja resposta é Museu Iberê Camargo também pergunta.”. E com seus “Ciclistas” “(...) cruza desertos e busca horizontes que recuam e se apagam nas brumas da incerteza. Realidade e miragem se confundem.”. “Idiotas” revela o aspecto mais ferino de Iberê e demonstra recordações da infância, precisão e busca pela perfeição dos elementos da composição de cada tela, pois o artista tinha o costuma de retocar seus quadros, mesmo durante exposições. “As figuras que povoam minhas telas envolvem-se na tristeza dos crepúsculos dos dias de minha infância, guri criado na solidão da campanha do Rio Grande do Sul. Para construir o quadro, que é o mundo concreto do pintor, procedo como um artesão obcecado na busca incansável da forma. Nele, nenhum detalhe é supérfluo. Faço e refaço até alcançar a síntese das figuras que pinto.” Iberê parecia ter uma íntima preocupação social: “O drama, trago-o na alma. A minha pintura, sombria, dramática, suja, corresponde à verdade mais profunda que habita no íntimo de uma burguesia que cobre a miséria do dia-a-dia com o colorido das orgias e da alienação do Iberê Camargo povo. Não faço mortalha colorida.” O aspecto que me salta os olhos no Museu Iberê Camargo, ao confrontar as pinturas do autor, é a desconstrução da figura humana para uma distorção dramática e o excesso de tinta, quase quadros em relevo, que dão uma densidade sufocante ao óleo sobre tela. Mas minha maior surpresa foi descobrir que o pintor foi também escritor, e de um dos gêneros mais difíceis da prosa: o conto. Ao ler Hiroshima achei muito interessante que a estética do texto conversa diretamente com a linguagem de suas obras, é melancólico, dramático e sofrido, como é possível demonstrar na abertura do texto: “Conta-se que certo dia, numa nublada manhã de outubro, o céu de Hiroshima se tornou de imprevisto mais luminoso e ardente do que o sol. Uma onda de luz e de calor inusitado a envolveu e a transformou numa ruína. No epicentro da explosão, nenhum ente vivo, apenas escombros. Aqueles que sobreviveram à luz que veio do céu tiveram os padrões das vestes impressos na carne e suas sombras estampadas nas paredes das casas destruídas. Outros que se encontravam afastados, nos subúrbios, distantes do núcleo da explosão, agonizavam no percurso do tempo. Entre eles, o homem-pintor.”.