A corporeidade na adolescência (em tribos clubers)

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A corporeidade na Adolescência (em Tribos Clubbers) Tiago A. M. Malta*

Resumo: O presente estudo tem por objetivo enfocar a visão do corpo na adolescência e a cultura clubber, analisando seus movimentos e a partir daí problematizar o conceito de corporeidade. Corporeidade se expressa na totalidade do seu corpo: expressão de valores, não apenas estéticos, mas também sociais, éticos, religiosos, cultural, relacional e emocional. “A adolescência é o período que o adolescente busca a sua identidade, através de um processo que lhe vem acontecendo desde as fases mais primitivas do desenvolvimento humano”. Introdução A visão do corpo humano tem sido sempre motivo de curiosidade e causa de prazer no oriente e no ocidente, em todos os tempos e em todas as culturas. A representação do corpo é extremamente significativa, seja essa representação do corpo nu ou vestido, registrados ao longo da história. Buscamos o corpo adolescente nas suas percepções, sensações e a maneira singular que apresentam para encarar tantas transformações. Estas transformações são inerentes à multiplicidade de relações que eles experimentam na sociedade pós­moderna. Essas relações podem também, nos remeter a um caminho que seja alternativo, onde enfatizamos uma conscientização do corpo, não no sentido de uma simples análise corporal, mas sim a partir dos elementos vividos e experimentados na relação com o mundo, acreditando assim, que poderemos quebrar concepções e hegemonias estabelecidas. Breve resumo da historia da musica eletrônica: A Cultura da Música Eletrônica fundamenta a formação de grupos como os clubbers ou ravers, que significa literalmente "aquele quem freqüenta casas noturnas", ela também fundamenta a produção musical computadorizada, festas raves, vestimentas, cultura DJ, clubbing, ideologias (PLUR­ Peace, Love, Unity and Respect), dentre outros. O

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movimento clubber tem seu inicio no final dos anos setenta em nova York, antes mesmo da chegada da musica eletrônica nos Estados Unidos, marcada por festas underground; mas as primeiras raves se iniciaram no final da década de oitenta em Manchester na Inglaterra e em seguida em Ibiza na Espanha. Os anos oitenta é um período intitulado de pós­ modernidade, características desse período histórico pós­ industrial, a saturação da forma política e do individualismo, a deterioração, a massificação das sociedades e o consumismo, entre outros, são criticados por essas tribos. O que é ser clubber? Define­se como clubber (num sem tido mais completo do termo) aquele que ouve musica eletrônica em seu cotidiano, não só se restringindo a casa noturna, mas sim em casa também; neste sentido está inserido o individuo que conhece de musica eletrônica, sabendo definir diferentes estilos (House, Techno, Acid, dentre outros); outro aspecto que o define é por conhecer de DJs e boates especializadas em musica eletrônica; e por ultimo, mas o que mais marca é pelo vestir­se de um modo um tanto extravagante, mas sempre diferente de outros clubbers buscando sempre uma identidade única. Engloba­se em vestirem­se também outros tipos de adornos, como acessórios (bolsas, e mochilas), maquiagens e etc. Este será o ponto central deste trabalho que traça uma paralela entre o que este imerso para o jovem vestir­se e o significado para ele. "Para se reconhecer como clubber é preciso desvincular o vestir­se como tal privilegiando a ligação com a musica. se for assim, destacando a característica do nível de conhecimento dos ritmos eletrônicos e a preferência pelo que é vanguarda é provável que esta pessoa acabe aceitando, admitindo­se clubber... Mesmo deixando este quesito, do vestir­se como clubber, em segundo plano, o visual, talvez não tão matizado, também é uma preocupação, uma forma de valorizar­se estrategicamente com um tipo criativo, até mesmo excêntrico." (Carolina Rodrigues Paz) Atitudes Durante o processo de desenvolvimento biopsicossocial o adolescente é moldado pela cultura, permitindo durante sua socialização a aquisição de comportamentos, atitudes, valores e representações adequadas à cultura em que vive. Sendo a cultura apreendida através da educação do indivíduo e de suas reações com a sociedade. As diferenças de padrões e regras, fatores climáticos, religiosos irão influenciar cada cultura de cada povo. Assim, o jovem vai desencadear diferentes comportamentos congruentes à cultura em torno da sociedade, família e tradições que o influenciam. Esta modificação

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que acompanha as variações da idade dos jovens transforma­os, molda­os para o cumprimento de papéis sociais e em alguns casos em ritos a serem cumpridos. A formação da atitude surge no processo de socialização no decorrer dum processo de reforço e modelagem (aprendizagem) sendo conseqüências de um determinismo social de viverem em centros urbanos. Neste contexto das novas tecnologias que nascem entre estes jovens, imersos nas culturas digitais inspirados de filmes clássicos dos anos 80 como "Blade Runner" e "Trom" aos mais modernos como "Matrix" e "Hackers". Mesclado as novas formas de musicas sintéticas e a busca pela individualidade inalcançável. A atitude tem a função de ajudar­nos a lidar como o ambiente social nos incluindo num determinado grupo que apresentam uma atitude igual ou no mínimo semelhante. O sociólogo Tim Weber em uma pesquisa sobre a cultura Rave, conclui que os jovens buscam em festas raves, uma experiência libertadora, como remédio ao clima estressante em que vivem. “Os jovens vêem as raves como micro­férias, pois têm poucas alternativas para diversão”, afirma Weber. Isso é visto, também, no discurso do jornalista Mattew Collen, quando ele explica essa sua definição de e­music: “é o uso da tecnologia para acelerar a percepção do prazer. É uma forma de se libertar da experiência mundana do dia­a­dia e viver várias visões de drama, vitalidade e alegria.” "As atitudes sociais criam um estado de predisposição à ação, que quando combinado com uma situação especifica desencadeante resulta em comportamento" (A. Rodrigues) Identidade A identidade é gerada pela socialização e garantida pela individualização numa perspectiva Ericksoniana, ou seja, o jovem clubber busca esta continuidade de semelhança com seus companheiros, mas também procura se destacar sempre destes mesmos como ser único e individual, talvez isso aconteça com qualquer adolescente e até mesmo com qualquer pessoa, mas na cultura Clubber este traço fica mais evidente pelo fato de não poder haver “imitação de estilo” apenas "inspiração", como se fosse um mediador, mas nunca um padronizador. "Nossa identidade se mostra como a descrição de uma personagem (como em uma novela de TV), cuja vida, cuja biografia aparece numa narrativa (uma historia com enredo, personagens, cenários, etc.), ou seja, como personagens que surge num discurso (nossa resposta, nossa história). Ora, qualquer discurso, qualquer historia costuma ter um autor, que constrói a personagem..." (Antonio da costa Ciampa)

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Vestimentas (montando o visual) Os clubbers e ravers distinguem­se dos demais pelas roupas coloridas e irreverentes, pelos acessórios ousados e pelos penteados e cortes de cabelo excêntricos. Essas vestes podem servir de código para expressar uma identidade tribal. Na gíria clubber o termo utilizado para esta atitude é “montar o visual”, que significa a partir de um dado instante ele vai decidir se vestir de um modo peculiar, e como o visual é "montado", para cada ocasião ele pode estar representando um personagem diferente, que se distingue pelos acessórios que estão usando e como estão portando. Na cultura clubbers os adereços e componentes apresentam uma simbologia. Segue alguns exemplos: 1 Roupas coloridas: é uma maneira agradável de ver a vida; 2 Roupas de Nylon, borracha, lycra: Modismo a favor da Utopia futurista 3 Tecidos Camuflados: Protesto Antimilitar 4 Coturno: movimento contra o serviço militar, “antipatriotismo”; 5 All Star: Humildade 6 Chuquinha: representam o espírito infantil; 7 Cabelos arrepiados: protesto contra as guerras e armamentos nucleares; 8 Moicano: Protesto contra o conformismo (resistência) 9 Moicano em Pé (levantar moicano): contra o armamento nuclear 10 Óculos de acrílico: Irreverência 11 Objetos fluorescentes: cada ser é capaz de emitir bons fluidos, uma luz própria a favor da paz; 12 Bodyart: Apesar do nome em inglês ela define uma das primeiras formas de arte da humanidade que é o de adornar o próprio corpo muito utilizado em culturas tribais em todo mundo, pintando o corpo (maquiando­o), tatuando e até perfurando a própria carne para enfeitá­la (piercings). Remetendo a estes grupos traços tribais e os aproximado pela significância coletiva que para eles se apresenta cada adorno corporal. E este é um ponto muito importante de nosso estudo, pois para cada local que é posto há uma simbologia totalmente diferente. 13 Maquiagens fortes: um protesto quanto à falsidade das pessoas, simboliza as máscaras; 14 Piercings: é um protesto contra o aborto, apologia a homossexualidade, desrespeito, melhorar o dom da oratória e etc. Estes significados se apresentam dependendo do local onde ele for feito e ainda pelo material que for utilizado (metal cirúrgico, plástico fosforescente, dentre outros) 15 Tatuagens: é o conhecimento do próprio corpo e a liberdade de usá­lo como vitrine

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para um novo mundo; 16 Tatuagens de E.T.s e discos­voadores: representa que é uma sociedade pronta para viver em paz com qualquer outra; 17 Tatuagens Tribais: Representa a redescoberta da sua identidade primitiva 18 Tatuagens de personagens de quadrinhos: Retomada da infância, e dependendo do personagem pode estar representando com um signo que a pessoa se identifica. Exemplo: Magali (comilona), Pateta (desajeitado) e etc. Assim como os punks se vestem de preto para dizer que ninguém tem que seguir uma moda, o colorido dos clubbers é uma mistura de todas as modas, e é como se falassem que qualquer moda pode ser aceita sem preconceito algum, que qualquer um se veste do que quiser. A questão da corporeidade mais extravagante num clubber geralmente é mais representada nos adolescente, talvez por uma maior necessidade impositiva como indivíduo único dentro da "cena eletrônica", já que o falta conhecimento sobre outras questões como a historia do clubber como um movimento cultural e identificar diferentes estilos de música, por isso uma compensação pelo visual mais agressivo. Tribos e Comportamento Grupal Comportamentos grupais, que tem seus primeiros estudos nos espaços topológicos e os sistemas de forças de K. Lewin, é definido como um grupo de pessoas que se conhecem, procuram objetivos comuns, possuem ideologias semelhantes e interagem com certa freqüência, assim criando certa interdependência. E como não poderia ser diferente um clubber também este imerso num comportamento grupal, que o limita e o restringe aquela determinada cultura. Mas para o estudo destes é costumeiro utilizar pelos antropólogos e psicólogos sociais o termo "Tribos Urbanas" Ao utilizar o termo “tribos urbanas”, antes de tudo, deve­se ter presente o sistema de significações de onde foi retirado esse termo. O termo “tribo” tem seu domínio original da etnologia e nela, uma forma de organização da sociedade. “Para avaliar até que ponto esse termo ajuda a entender os fenômenos que ocorrem nas sociedades contemporâneas é importante definir os significados que ele tem no campo em que é manejado como termo técnico, nas sociedades indígenas. Tribo constitui mais que uma divisão em clã, linhagem, aldeia. Trata­se de um pacto que aciona lealdades para além dos particularismos de grupos domésticos e locais.” (Magnani, 2002) É paradoxal o uso do termo “tribo” para denominar tipos de agrupamentos nas sociedades urbano­industriais já que esses grupos evocam particularismos, simbologias, regras, costumes, marcas de uso e significados restritos. E no contexto das sociedades

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indígenas “tribo” aponta para alianças amplas. “Quando “tribo” é empregada como uma metáfora pode­se dizer que evoca, primitivo, selvagem, natural, comunitário, características que se supõe estarem associadas, acertadamente ou não, ao modo de vida de povos que apresentam, num certo nível, a organização tribal.” (Magnani, 2002) Em um primeiro significado, mais geral, tribo urbana tem como referente determinada escala que serve para designar uma tendência oposta ao gigantismo das instituições e do Estado nas sociedades modernas: diante da impessoalidade e anonimato destas últimas, tribo permitiria agrupar os iguais, possibilitando­lhes intensas vivências comuns, o estabelecimento de laços pessoais e lealdade, a criação de códigos de comunicação e comportamento particulares. Em outro contexto, quando tribo evoca o “primitivo”, designa pequenos grupos concretos com ênfase nos elementos que seus integrantes usam para estabelecer diferenças, por exemplo, vestimentas, cortes de cabelo e tatuagens, piercings, a cor da roupa. Quando evoca o “selvagem”, o termo designa principalmente o comportamento agressivo, “anti­social” e contestatório. Ainda, quando são referidas grandes concentrações – festas raves, shows (envolvendo ou não consumo de drogas ou comportamentos coletivos tidos como irracionais), evocam­se algo confusamente imaginado como “cerimônias primitivas totêmicas”. Nas tribos urbanas, o que não se aplica às indígenas, vê­se grupos cujos integrantes vivem simultânea ou alternadamente muitas realidades e papéis, assumindo sua tribo apenas em determinados períodos ou lugares, por exemplo, o bancário que só depois do expediente é clubber, o universitário que só à noite é dark, rapper que oito horas por dia é office­boy e etc. (Magnani, 2002) Primitivos Modernos Podem­se definir Pós­Modernidade como sendo a combinação de modernidade e pré­modernidade. Em um mundo onde o “velho” (tradições e crenças populares) é cada vez mais abandonado, nada pode ser tão “moderno” do que reintroduzi­lo. É nesse contexto que o movimento dos “primitivos modernos” se constitui, determinados a “seguir simultaneamente as trilhas do passado e do futuro rumo a sua inevitável colisão” (Mizarch, 2002). Maffesoli (1987), questiona­se se “o ato de recorrer à história passada (folclore, recuperação das festas populares, recredenciamento da sociabilidade, fascinação pelas histórias locais), não é uma maneira de escapar à ditadura da” “história acabada”, progressiva, e dessa maneira de viver no presente”. O que torna o movimento, dos Primitivos Modernos incomum é a busca pela sensação. Essa característica pode ser explicada como resposta à industrialização e da modernização, que produziram um “entorpecimento psíquico”. Os ModPrims (Primitivos

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Modernos) utilizam­se da dor, perfurando­se (piercing) para atingir um estado de transe, como se através da negação da dor demonstrassem a “possessão” pelo divino. Retorna a idéia do conhecimento através da dor que a modernidade esqueceu. As experiências multisensoriais são vividas nas festas raves, como um sinal de unidade entre o passado e o futuro. A “rave” é ao mesmo tempo “primitiva”, com sua reunião de “tribos” de gente jovem para experimentar a “participação mística” através de cinéticos e MDMA (Ecstasy), da dança e música tribais, e “futurística” (ou moderna) com seu uso de música sampleada e remixada digitalmente, efeitos de luz e laser e exposições de multimídia. Os “ravers” vestem­se ao mesmo tempo de modo que signifique passado e futuro: perfurando suas peles e narinas, usando calças dos anos 70 com bijuterias e hologramas futurísticos, combinando as modas do folk e do punk. Os ModPrims clamam que suas performances são uma busca de transcendência, provando a capacidade da mente de ir além do estabelecido e das limitações do corpo. Nas batidas repetitivas da música eletrônica, muitas vezes lembrando mantras, os clubbers e ravers buscam um estado alterado da consciência, estado de transe, de transcendência. Muitos ModPrims pensam que saímos da linha passado­futuro, tempo histórico, e entramos em algum outro tipo de tempo cíclico, ou talvez mesmo o “fim da história”. Estudos indagam se este florescimento do primitivismo moderno, com sua explícita rejeição de antigas noções de progresso linear e evolução têm algo a ver com a mudança da base material da cultura. Existe o fato de que entramos numa economia pós­industrial de informação e serviço “desconectada” da produção material. Quebra­se com o ponto de vista “industrial”, onde o tempo é a fonte da progressiva criação de riqueza, e se reconhece o ponto de vista “pós­industrial”, onde o tempo pode ser fonte da vida humana e experiência. Portanto, passa­se do tempo linear para o circular que passado e futuro estão conectados (Mizarch, 2002). Ideologia e Vida Urbana Apesar de não ser muito explicito, existe uma ideologia além da questão visual, algumas mais estruturadas, outras num campo mais moral, mas o importante que se tenha em mente e se desmistifique o estereótipo de que um clubber é qualquer pessoa que se veste colorido e usa drogas em festas noturnas. Aqui segue uma lista destas ideologias: Orientalismo:este conceito é dividido em dois pontos. O primeiro refere­se a influencia no budismo tibetano e a elevação do espírito através de uma busca pessoal. O desenvolvimento do self do jovem não acontece através do processo de separação e nem de uma evolução rápida. O jovem oriental não passa por um processo grupal de tiagomaltapsi@gmail.com http://tiago-malta.blogspot.com.br


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separação e de individualização. O adolescente é considerado um pequeno eu que mantém a sua independência no contexto familiar que é considerado o grande eu, ou seja, o centro regulador e mantenedor dos padrões culturais da sociedade primitiva. Estudos antropológicos indicam que nas sociedades primitivas, a adolescência é marcada apenas pelo desenvolvimento físico. Com freqüência uma simples cerimônia de iniciação integra o indivíduo na vida adulta. Esse conceito pode ser evidenciado na forma de como eles dançam, de uma forma bem introspectiva, mas nunca solitária onde cada um busca seu modelo de encontrar a forma de ser na pista. A segunda tem haver com a grande Tóquio e sua cultura de tecnologia de ponta sempre avançando cada vez mais rápido, e isso influencia no modo da musica sempre estar se renovando e os jogos de luzes hipnotizantes. O jovem que nasce imerso nesta cultura, de TVs, Vídeo Games, terá uma nova leitura de tudo que esta em sua volta, expandido seus limites e assim puxando um gancho para o próximo conceito. Ciborguização: termo criado por Isaac Asimov, onde o homem torna sua continuidade a partir da maquina e a maquina se torna capaz de interagir com o homem. Celulares, laptops, palmtops, tudo se torna parte do corpo deste jovem urbano e sub­urbano, já que é preciso isso, de um modo a facilitar a sua vida. A partir deste conceito nos tornamos além de carne também maquinas (um Ciborgue). "Computadores avançam, artistas pegam carona/ Cientistas criam o novo, artista levam a fama" (Fred 04 ­ Computadores Fazem Arte) Paz e Amor: O movimento Clubber é pacifista e buscam minimizar seu preconceitos. O “amor à vida” está refletido no modo de se vestirem, sempre com um colorido "vivo". Unidade e continuidade: A união é uma qualidade muito ressaltada de um clubber. Mesmo que não se conheçam, numa casa noturna ao se reconhecerem como tal dois ou mais clubbers podem dançar juntos. Apenas para afirmarem a união do movimento e auto afirma sua imagem continuando ramificado em outro semelhante. Musica eletrônica e Curtição: Os termos mais fortes e mais explícitos, o primeiro se refere ao tipo de som que ouvem, que se explica por si só. Já o segundo refere­se da necessidade do clubber sempre sair pra se divertir, de preferência em Boates e Festas Raves. “Uma vez que a cidade só existe enquanto relação entre os diferentes grupos que interagem em um dado sistema produtivo, construindo sistemas simbólicos. A noção de grupos é essencial ao entendimento da dinâmica cultural urbana“. (Amaral, 1992, 2002) tiagomaltapsi@gmail.com http://tiago-malta.blogspot.com.br


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Tribos Urbanas e Ciências Sociais Agora, com um melhor entendimento da composição grupal, do período histórico e do local onde os clubbers vivem, aprofundaremos como essas e outras tribos urbanas estão se subjetivando através do campo da ciências sociais e da psicologia social. No campo das ciências sociais, o fenômeno das tribos tem sido mencionado por vários autores como Caiafa/1985; Calligaris/1996; Canclini/1997; Castro/1998; Featherstone/1997; Maffesoli/1987 e Sarlo/1997. Maffesoli é quem mais se destaca pela importância dada em sua análise da sociedade contemporânea ao estudo das tribos urbanas. Propõe que o "tribalismo" ou o "neotribalismo" seja tomado como um novo paradigma, que vem substituir o paradigma do individualismo na compreensão da sociedade contemporânea. Maffesoli afirma que a humanidade vive um "período empático", em que predomina a indiferenciação e o perder­se em um "sujeito coletivo", chamado por ele de "neotribalismo". O neotribalismo é presidido pelas noções de “comunidade emociona” ou "nebulosa afetiva" em oposição ao modelo de organização racional típico da sociedade moderna. É seguida pelas noções de policulturismo e proxemia que são suas conseqüências. Nas tribos, o ethos comunitário é designado pelo conjunto de expressões que remete a uma subjetividade comum, a uma paixão partilhada. A adesão a esses grupamentos é sempre fugaz, não há um objetivo concreto para estes encontros que possa assegurar a sua continuidade. Trata­se apenas de redes de amizade pontuais, que se reúnem ritualisticamente com a função exclusiva de reafirmar o sentimento que um dado grupo tem de si mesmo. Já para Canclini, as tribos compensam a atomização e a desagregação das grandes cidades, negligenciadas pelas macropolíticas, oferecendo a participação em grupos. Ainda em sua perspectiva, as tribos funcionam como referências simbólicas, suplências aos aparatos políticos e culturais que se tornaram obsoletos. Já Sarlo enfatiza que nas tribos busca­se uma certa estabilidade em um universo simbólico, que anteriormente era garantida pela vigência de uma moral que entrou em crise. A transitoriedade e o imediatismo se congregam numa certa apologia do presente vivida na tribo, não há projetos futuros ou preocupações com o destino da tribo. É o próprio movimento do consumo que determina o futuro das tribos. Assim, a segmentação de grupos de consumidores de diferentes gêneros musicais é um dos fatores que tomam parte na formação e difusão de diversas tribos, como ocorreu com os clubbers. Ao

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mesmo tempo, diferentes adereços e vestimentas são associados a diferentes estilos musicais, tendo função de distintivos do bando em relação ao todo da massa e em relação a outros bandos.

Conclusão A pós­modernidade remete­nos a deterioração, onde a nacionalidade, como a individualidade, não diferencia mais os grupos. Nesse contexto, as tribos surgem como resposta contrária ao fenômeno da globalização, ao caráter homogêneo que essa produz, pois elas particularizam grupos socioculturais produzindo diferenças. Mas a heterogeneidade criada pelas tribos urbanas acaba por contribuir para a globalização, já que essas tribos não são características de determinados países ou culturas, mas sim da sociedade global. A partir, dessa lógica pode­se entender o porquê da denominação clubber e raves derivarem de espaços. Como as sociedades não mais se identificam por sua nacionalidade, cultura local, criam­se grupos que tenham na sua fundamentação o lugar que freqüentam. É como se os clubbers e ravers dissessem “eu pertenço ao club/rave, portanto minha nacionalidade é clube”. Com a diversidade de culturas em um mesmo local, os “iguais” se agrupam formando as tribos. No caso dos clubbers e ravers, o ponto de conexão entre os integrantes é a música eletrônica. A partir dela, busca­se uma experiência compartilhada de sensações em comum, o que é definido por Maffesoli como “paradigma estético”. Aliás, a busca por sensações, pelo prazer é muito presente na Cultura da Música Eletrônica,.caracterizada pelo hedonismo da busca pelo prazer através da diversão, da dança, das festas, do uso de drogas como ácidos e ecstasy. Pode­se pensar que as festas que envolvem a música eletrônica, principalmente as raves, não são simples eventos, ou um mero encontro entre as pessoas. Elas são uma verdadeira viagem subjetiva. Elas visam congregar, fazer com que as pessoas possam viver uma experiência boa de interação dos participantes. O próprio “U” (Unity – unidade) do dogma PLUR nos remete essa característica. Deve­se comentar ainda sobre o consumismo tão presente em nossa sociedade. Os clubbers e ravers através do objeto de consumo se diferenciam de outros grupos. Esses objetos acabam por possuir um valor simbólico de pertencimento a determinada tribo, ou seja, o subjetivo está subordinado ao objetivo. Portanto, as “identidades” estão submetidas aos objetos de consumo, e é a partir desse fato que podemos entender a lógica da troca de papeis no mundo pós­moderno. Exemplificando, como se em um local pessoa ao trocar de roupas pudesse também mudar de personalidade. Aqui estão algumas das questões que se construíram ao longo do trabalho. Penso que a Psicologia tiagomaltapsi@gmail.com http://tiago-malta.blogspot.com.br


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Social tem muito a explorar sobre essa cultura que tem tanto a nos dizer sobre as formas de ser e de habitar na pós­modernidade.

Bibliografia RODRIGUES, A.; Psicologia Social, Editora vozes, 2002, Petrópolis. LANE, S.T.M.; Psicologia social (O homem em Movimento), Editora Brasiliense, 1994, São Paulo. GALLATIN, J.; Adolescência e individualidade, Tradução Antonio Carlos Pereira, 1978, São Paulo. BOTTOMORE, T.B.; Introdução a Sociologia, Editora Harbra, 1987, Rio de Janeiro. GUARESCHI, P.A.; Psicologia Social Contemporânea, Editora Vozes, 2003, Petrópolis. Grupo Critical Art Esemble, Distúrbio Eletrônico, Editora Corad, São Paulo. Manual Pra Elaboração de Trabalhos Acadêmicos, dissertações e teses da Unesa WebGrafia REVISTA DIGITAL DE ANTROPOLOGIA URBANA :::::: ISSN: 1806­0528 http://www.aguaforte.com/antropologia/osurbanitas/revista/Clubbers4.html

Tiago A. M. Malta (Rio de Janeiro 18 de Setembro de2013) Endereço Eletrônico: tiagomaltapsi@gmail.com BLOG: http://tiago­malta.blogspot.com.br

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