Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações brasileiras: O caso de Marechal Cândido Rondo

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Arquitetura Germânica E sua influência nas edificações brasileiras O caso de Marechal Cândido Rondon UNIPAR-UNIVERSIDADE PARANAENSE Arquitetura e Urbanismo Aluno: Arlen A. Güttges Orientador: Igor J. B. Valques


O Trabalho O tema escolhido para o trabalho final de graduação, apresenta uma abordagem histórica e cultural da arquitetura do município de Marechal Cândido Rondon, cidade localizada no extremo oeste paranaense e considerada por muitos, uma das mais germânicas do estado. Devido ao amplo incentivo, com o objetivo de manter viva a cultura tudesca, por parte da administração municipal e de descendentes alemães, na cidade, boa parte das edificações localizadas no meio urbano, destaca-se por apresentar elementos decorativos em suas fachadas, que procuram imitar estilos da arquitetura alemã, predominante do século XIX. A cultura germânica da cidade, de um modo geral, não se manifestou muito evidente na arquitetura da época de sua colonização, quando conformada em 95% de sua totalidade populacional por descendentes de alemães vindos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Dessa forma, é primordial ressaltar que o estilo de se projetar apresentado e escorado por muitos, é uma ação “imposta” no contexto cultural, ao contrário da dança, música e comida típica, que já se fazia presente na herança dos descendentes.


Objetivos -Estudar o histórico da cidade de Marechal Cândido Rondon; -Estudar e relacionar os estilos e fases da arquitetura alemã do período pré-guerra; -Definir os estilos arquitetônicos germânicos para a cidade; -Esclarecer sobre o enxaimel; -Sugerir diretrizes a serem adotadas; -Mostrar as viabilidades e inviabilidades do enxaimel; -Apresentar modelos de fachadas;


Os Alemães no Brasil O processo de colonização e a conseqüente chegada dos alemães ao Brasil, era o resultado de um programa de política colonizatória, que teve seu inicio com a chegada de Dom João VI. Após a independência do Brasil em 1822, os alemães protagonizavam o primeiro e o mais sistemático fluxo imigratório do país, fundando a primeira colônia em 1824 na cidade de São Leopoldo, estado do Rio Grande do Sul. O movimento imigratório teve como principal meta, trazer soldados alemães para garantir a soberania do Brasil, pois o mesmo acabara de conquistar sua independência. Outro motivo que trouxe muitos imigrantes alemães ao sul do país, foi a falta de emprego encontrada na Alemanha após a Revolução Industrial.


Os AlemĂŁes em M.C.Rondon


M.C.Rondon no Paranรก


Arquitetura da Colonização





Os dados gerais


Arquitetura Alemã do Pré-Guerra ROMÂNICO GÓTICO NEOCLÁSSICO BARROCO E ROCOCÓ ART NOUVEAU


O Enxaimel O enxaimel trata de um sistema construtivo muito utilizado na Europa dos séculos XVII e XVIII. Essa técnica, era muito executada no círculo campesino, sendo mais tarde trazida ao meio urbano, se tornando privilégio exclusivo da burguesia, principalmente por ser totalmente artesanal. Embora se tenha por muitos o Enxaimel como uma construção típica alemã, não podemos conferir-lhe essa mesma paternidade. Não se sabe ao certo sua origem, mas por estar presente em grande quantidade e variedade na Alemanha, muitos a tem como um exemplar tudesco. Segundo Vidor, essa técnica, técnica já era conhecida dos povos Etruscos (1000 a.C.), porém, muitas pessoas, principalmente do campo turístico e da imprensa insistem em classificá-lo como um estilo.


Características O Fachwerk alemão consistia de uma construção quadrada ou retangular cuja fundação de madeira tinha mais ou menos 10 metros de profundidade dependendo da composição do solo. O corpo da construção, cubo ou prisma tem nas suas arestas pilares de madeira, encaixados nos vértices. A cobertura, em alguns casos com ramos vegetais, muito comumente com placas de madeira, posteriormente com telhas planas de argila ou ardósia. A estrutura da construção é autoportante e com isso as paredes de vedação podiam ser de filetes de bambu ou similar, preenchidos com argila, ou ainda com tijolos sobrepostos no sentido longitudinal dos barrotes do piso. As coberturas eram distribuídas simetricamente nos lados do cubo ou prisma. Na Alemanha e em outros lugares da Europa estes prédios dificilmente ultrapassaram seis pavimentos.


O Enxaimel


O Enxaimel


Características Na cobertura, existiam mansardas, as quais serviam com janelas para a entrada da iluminação do sótão, muito utilizado como depósito e também aposento. É importante citar, que segundo Sauk, as coberturas possuíam uma inclinação com abertura de 52 graus, a mesma da utilizada na construção das pirâmides do Egito. Dessa forma, os moradores acreditavam na conservação do corpo e da alma. Com o passar do tempo, a fundação que era primitivamente de madeira, foi substituída por pedras ainda na Europa.


O Processo Construtivo





















O Enxaimel no Brasil No Brasil, o enxaimel ainda apresenta resquícios modificados em várias regiões do sul, em especial cidade como Blumenau, Pomerode e Itajaí. A adaptação, para este sistema, era inevitável quando da sua chegada, por isso, algumas alterações eram feitas para que a obra se adequasse ao local. O telhado, inicialmente formado por folhas de palmito, fora mais tarde substituído por tabuinhas de madeira, tendo hoje a predominância da telha cerâmica. A base, inicialmente formada por pedras da região, passa a ser de tijolos, suportando os barrotes que apoiavam o piso, feito com tábuas corridas. A elevação da edificação sobre pedras evitava que a mesma ficasse em contato direto com o solo, evitando assim o apodrecimento da madeira.


O Enxaimel em M.C.Rondon A arquitetura de Marechal Cândido Rondon, vem a alguns anos, sofrendo certas mudanças em sua identidade, principalmente após a criação da Lei de Incentivos Fiscais a edificações com características “Enxaimel” e “Casa do Alpes”. As casas e residências começam a receber adereços e elementos decorativos que procuram caracterizar a cidade como germânica. A aplicação desses ornamentos,vem trazendo conseqüências desastrosas para a paisagem arquitetônica, que vista de um modo mais técnico, confere a cidade um status de cenografia fachadista.


Norte

CASA COM CARACTERÍSTICAS GERMÂNICAS DELIMITAÇÃO DO PERÍMETRO URBANO RIOS, CÓRREGOS E SANGAS

Escala Gráfica 500m

1000m

SA

NG

A

PE RO BA

250m

270

Az 270º00

367 366 266 Az 90º00

Az 270º00

368

--------------- 12º P E R I M E T R O ----------------

365 Az 90º00

293

Az 270º00

Az 90º00

P E

379

IM E

Az 90º00

Az 90º00

T O

Az

Az 00º00

16 2º26

Az 90º00

378

Az 00º00

Az 00º00

Az 00º00

Az 00º00

360

373

LA AD JE O O AD RV CU

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Az 270º00

377

375

LR 297

DE

372

----------- --

ESTRADA DE RODAGEM

R

Az 90º00

361

Az 270º00

268

LR 293

R

371

RO DA P/ LIN GE M HA

380

Az 270º00

Az 270º00

PE RO BA >>

370

362

Az 90º00

-1 ----

363

Az 270º00

--------

Az 270º00

267

369

RUA SUBURBANA

364

359 Az 90º00

Az 270º00

LR 296/297 A

374

358

Az 90º00

Az 270º 00

Az 270º00

Az 270º00

A z 28 4º40

OPP 296

347

344

345

343

342

Az 17.40

341 340

337

338

336

RIO

GRAN

DE DO

15 12

Az 197.40

13

>>>

11

330 10

A z 197.40

Az 1 9 7.40

329 328

9 A z 28

7.40

A z 197.40

SUL

CEN TRO

14

Az 17.40

IDA

16

Az 1 7.40

AVEN

A z 27 4º00

17

Az 17.40

18

Az 17.40

MENDES

98

Az 1 7.40

<< P ORTO

339

DO SUL

A z 17.40

AV. RIO GRANDE

Az 1 7.40

Az 1 7.40

Az 17.40

Az 1 7.40

Az 1 7.40

17.40 Az

346

Az 284º40

A z 17.40

Az 00º00

348

Az 00º00

Az 00º00

349

Az 1 7.40

350

Az 17.40

351

Az 00º00

Az 00º00

Az 00º00

Az 00º00

352

Az 1 7.40

353

Az 00º00

Az 00º00

Az 00º00

354

Az 1 7.40

355

Az 1 7.40

356

Az 00º00

A z 12

º16

Az 00º00

Az 20º40

PERIMETRO URBANO ATUAL

A z 19

8

7.40

Az 1 9 7.40

7 6

Az 19 7.40

A z 197.40

5 4 3

Az 197.40

--------------- 12º P E R I M E T R O ----------------

A z 197.40

19

A z 19

7.40

A z 28 7º40

56

7.40

Az 287.40

A z 28

Az 1 9 7.40

55

Az 19 7.40

A z 28

40

Az 1 9 7.40

A z 287º

7.40

7º40

Az 197.40

A z 28

Az 197.40

Az 19 7.40

20

21

54

22

Az 287.40

Az

Az 2 8 7.40

287º40

53

23

A z 285.40

Az

A z 28

28 7º40

24

Az 181º

52 Az

57 7.40

52

58 287º40

Az 287.40

25

Az 95 º48

51

59

7.40

7.40

40

A z 19

Az 287º

A z 28

26 Az 90º00

A z 28 2º32

60

Az 287.40

27

50 Az 90º00 Az 27 7º01

61

Az 28 7.40

49

28

Az 90º00

Az 272º24 270º00

A z 282º29

APEPÚ

62

48

29 Az 270º00

Az 90º00

63

SANGA

A z 275º 08

47

30 Az 270º00

Az 90º00

64 31

Az 90º00

12 -------------

Az 270º00

Az 90º00

44 Az 270º00

ºP

34

Az 90º00

43

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Az 270º00

Az 90º00

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35

RO

Az 90º00

Az 270º00

------ --------

41 36

Az 90º00

Az 270º00

40

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Az 90º00

Az 270º00

39

38

Az 270º 00

AND GA

45

33

ORI NHA

46 Az 270º00

32

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357

65 Az 270º 00

66


Os erros de execução


Os erros de execução


O Enxaimel em M. C. Rondon


O Enxaimel em M. C. Rondon


O Enxaimel em M. C. Rondon


A Lei de Isenção do Iptu Elaborada em 1987, pela administração municipal, com iniciativa da Câmara Júnior, esta lei entrou em vigor em fevereiro de 1988 para conceder isenções às construções típicas em “Enxaimel” e “Casa dos Alpes”. A exemplo do que aconteceu em Blumenau, os resultados da aplicação dessa lei foram catastróficos, mostrando reflexo em edificações meramente fachadista sem a adoção de princípios culturais alguns.





O Enxaimel para o Rondonense Entrevsitados 5% 35% 60%

NĂŁo souberam explicar Explicaram

NĂŁo Conhecem


A Arquitetura e o Turismo Ao ser implantada no município, a lei que concede favores fiscais às edificações em enxaimel procurava em sua suma finalidade, tornar o turismo regional o eixo principal e o pistão que moveria o motor econômico da cidade no setor. Embora essa lei tenha vindo com o melhor escopo possível, muito deixou a desejar, gerando uma série de polêmicas entre os munícipes. Será que um município cuja atividade produtiva está baseada na agropecuária e na indústria pode pleitear a condição do uso turístico? Quais os atrativos histórico-culturais que a cidade possui para que o turismo seja alavancado juntamente com a arquitetura? Pode a arquitetura sozinha conquistar para a cidade o titulo de mais germânica do Paraná?


Considerações -Só a arquitetura não é suficiente; -A arquitetura é geralmente concebida – projetada – realizada – construída – em resposta a um conjunto de condições existentes; -O resgate da cultura é de fundamental relevância; -Promover atrativos; -Reformular o comércio; -Depende também da reeducação da população; -Os resultados desse processo surgirão em longo prazo; -Coibir a falta de coerência na execução das edificações com caráter germânico; -Modificar a lei; -Atrair o turista e alavancar o turismo



A ARQUITETURA GERMÂNICA E SUAS INFLUÊNCIAS NAS EDIFICAÇÕES BRASILEIRAS: O CASO DE M.C.RONDON Arlen Alberto Güttges Graduando em Arquitetura e Urbanismo da UNIPAR. Rua Mato Grosso, 888, Ap. 1501 – CEP 85.960-000 – M.C.Rondon - PR E-mail: arlenarquiteto@brturbo.com.br Igor J. B. Valques Professor da UNIPAR. E-mail: ijbv@brturbo.com.br RESUMO: O trabalho a seguir apresenta uma abordagem específica na forma de manifestação da cultura germânica através da arquitetura, no município de Marechal Cândido Rondon. Impulsionadas pela lei de isenção do IPTU, muitas das edificações da cidade começam um processo de remodelação, abarcando assim, um protótipo equivocado de estilo, adotando o típico alemão como o predominante, resultando numa total descaracterização. Nada ainda foi elaborado para determinar e delimitar as características necessárias para a coerente apresentação deste modelo arquitetônico alemão. Por isso, se faz necessário, um estudo aprofundado, para o esclarecimento sobre tais características e origens desse tipo de estilo (em especial o enxaimel), para que depois possam ser apuradas as viabilidades e possibilidades das aplicações do mesmo. Palavras –chave: arquitetura, germânica, enxaimel. 1. INTRODUÇÃO O tema escolhido para o trabalho final de graduação, apresenta uma abordagem histórica e cultural da arquitetura do município de Marechal Cândido Rondon, cidade localizada no extremo oeste paranaense e considerada por muitos, uma das mais germânicas do estado. Devido ao amplo incentivo, com o objetivo de manter viva a cultura tudesca por parte da administração municipal e de descendentes alemães na cidade, boa parte das edificações localizadas no meio urbano, destacam-se por apresentar elementos decorativos em suas fachadas, que procuram reproduzir estilos da arquitetura alemã, predominante do século XIX.


Embora essas imitações arquitetônicas busquem o resgate e a preservação da tradição germânica, muitas apresentam uma mistura de estilos e materiais que configuram de forma totalmente equivocada a identidade arquitetural do município, trazendo a tona um plágio mal elaborado das fachadas das cidades alemãs. Marechal Cândido Rondon, ao contrário de muitas cidades, apresenta características simbólicas, o que singulariza uma identidade própria de cidade interiorana, com um elevado potencial, devido a sua privilegiada localização geográfica, lindeira ao lago de Itaipu, sendo um pólo referencial para os pequenos municípios adjacentes. Com sua composição populacional bastante individualizada, compreendida essencialmente por descendentes de europeus, mais precisamente alemães, Rondon proporciona uma elevada qualidade de vida aos seus munícipes, mostrando baixos índices de problemas sociais e elevadas taxas de produtividade, conferindo-lhe o título de município da produção. A cultura germânica da cidade, de um modo geral, não se manifestou muito evidente na arquitetura da época de sua colonização, quando conformada em 95% de sua totalidade populacional por descendentes de alemães vindos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Dessa forma, é primordial ressaltar que o estilo de se projetar apresentado e escorado por muitos, é uma ação “imposta” no contexto cultural, ao contrário da dança, música e comida típica, que já se fazia presente na herança dos descendentes. Nada ainda foi elaborado com o intento de determinar as características necessárias para que se represente a arquitetura germânica fielmente, por isso, se faz necessário, em primeiro lugar, esclarecer sua origem e seus procedimentos, para que depois seja possível verificar a viabilidade de execução e possibilidades da aplicação desse tipo de “estilo”. Para que isso se concretize, será efetuado um agrupamento de informações técnicas, históricas e culturais, conformando um cabedal de diretrizes para a aplicação no mais alto rigor do estilo alemão na arquitetura rondonense em especial o sistema construtivo enxaimel. 2. METODOLOGIA ADOTADA Em primeiro lugar fora feito um levantamento histórico da cidade de Marechal Cândido Rondon, através de pesquisas bibliográficas, para buscar qual a sua relação com a cultura germânica e quais os fundamentos e aspectos que justificam a execução de edificações com características do estilo alemão. Após, foram estudados e relacionados os estilos e fases da arquitetura alemã do período pré-guerra, criando um quadro comparativo com a arquitetura local da cidade em estudo, pesquisando e analisando a atual situação do quadro arquitetônico alvo. Definidos os estilos arquitetônicos, foi elaborado um estudo mais aprofundado, agora enfatizando o sistema construtivo enxaimel, verificando a viabilidade de sua utilização para a execução de novas edificações, tanto no meio urbano como no meio rural.


Finalmente, a elaboração de um manual, com diretrizes a serem seguidas para a representação do sistema enxaimel, dará o fechamento e a contribuição final para a futura integração da arquitetura alemã com as demais áreas culturais, procurando assim, resgatar um pouco da cultura já desviada, reativando o campo turístico da região. 3. A ORIGEM DO ENXAIMEL Presente em vasta escala nas mais diversas regiões da Europa, o enxaimel se manifestava não como um estilo, mas como uma técnica de construção totalmente manual, desenvolvida primeiramente no círculo campesino e trazida, durante os séculos XVII e XVIII ao meio urbano, porém, com variados requintes de ações acentuadamente artesanais, como, madeiramento esculpido, floreiras trabalhadas e os mais diversificados tipos de adereços, que se misturam e confunde-se com a estrutura original. Para ressaltar o contraste e a miscelânea entre a estrutura e o fechamento, os painéis eram pintados na cor branca e a estrutura de sustentação em preto ou marrom.(vide fig. 01).

Figura 01 – Contraste entre a Estrutura e o fechamento. Ainda é possível encontrar, em cidades da Europa, principalmente Alemanha, centros inteiros edificados com esse tipo de técnica, a qual se mostrava em edificações de cunho considerado exclusivo da alta burguesia. O enxaimel não é uma criação alemã, assim como as construções ecléticas não são germânicas, nem açorianas, mas tem sua base nestes lugares. De base açoriana ou germânica engendra-se localmente outras formas e funções na construção e no cotidiano da arquitetura local / regional. É oportuno lembrar que o processo de reprodução da arte e da técnica acompanha o homem, modifica-se e adapta-se às condições locais, e quando representativo, permanece como testemunha de sua contribuição numa temporalidade determinada”. (VIDOR, 2000). Não se sabe ao certo a origem definitiva do enxaimel, mas se considera que seja um exemplar de nacionalidade européia.


4. O ENXAIMEL COMO SISTEMA CONSTRUTIVO O “Fachwerk” alemão (como é chamado o enxaimel) consistia de uma construção quadrada ou retangular cuja fundação de madeira tinha mais ou menos 10 metros de profundidade dependendo da composição do solo. O corpo da construção, cubo ou prisma tem nas suas arestas pilares de madeira, encaixados nos vértices (vide fig. 02). A cobertura possuía em alguns casos ramos vegetais, muito comumente com placas de madeira e posteriormente com telhas planas de argila ou ardósia. “A estrutura da construção é autoportante e com isso as paredes de vedação podiam ser de filetes de bambu ou similar, preenchidos com argila, ou ainda com tijolos sobrepostos no sentido longitudinal dos barrotes do piso. As coberturas distribuídas simetricamente nos lados do cubo ou prisma. Na Alemanha e em outros lugares da Europa estes prédios dificilmente ultrapassaram seis pavimentos”.(VIDOR,2000).

Figura 02 – Sistema de construção enxaimel. 5. O ENXAIMEL EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON A arquitetura de Marechal Cândido Rondon vem a alguns anos, sofrendo certas mudanças em sua identidade, principalmente após a criação da Lei de Incentivos Fiscais a edificações com características “Enxaimel” e “Casa do Alpes”. As casas e residências começam a receber adereços e elementos decorativos (vide fig. 03) que procuram caracterizar a cidade como germânica.

Figura 03 – Sede da Associação Comercial após a remodelação.


A aplicação desses ornamentos vem trazendo conseqüências desastrosas para a paisagem arquitetônica, que vista de um modo mais técnico, confere a cidade um status de cenografia fachadista. Analisando delicadamente a Lei que favorece a isenção de IPTU, podemos notar que falhas estão evidentes, em primeira instância, por não caracterizar ou propiciar exemplos de edifícios concretos, deixando uma lacuna muito extensa no que se refere aos estilos por ela citada, tanto “Enxaimel” como “Casa dos Alpes”. Outro fator que deve ser levado em consideração é o de que o enxaimel não está classificado como um estilo arquitetônico e sim como uma técnica de execução, por isso a relação de custo benefício que uma edificação em enxaimel pode trazer a seu executor pode torná-la inviável, se equiparada aos apoios financeiros cedidos por parte do poder público municipal, uma vez que essa técnica, mesmo sendo meramente fachadista, proporciona um aumento considerável no orçamento final da obra. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Se a obra não apresentar características fortes e marcantes, o edifício não passará de uma réplica mal elaborada do protótipo alemão. Nessa concepção, para que isso não passasse a ocorrer mais, uma mudança drástica deveria vir a calhar na Lei acima citada. Partindo da premissa de que um estudo profundo e embasado é imprescindível nesse momento, será elaborado um guia explicativo de execução do enxaimel, mostrando cada passo da evolução projetual e executiva (vide fig. 04), propondo diretrizes para que a edificação seja realmente significativa e apreciada.

Figura 04 – Passo a passo na edificação em Enxaimel.


O que esse “guia” fará, é nada mais do que fornecer subsídios para terminantemente coibir a falta de coerência na reprodução do processo construtivo, que demonstrando erros básicos, na concepção crítica, desrespeita a verdadeira identidade da obra, distorcendo também o campo turístico. Procura-se assim demonstrar com esse trabalho a possibilidade de adequação do arquétipo alemão à arquitetura de Marechal Cândido Rondon, sem descaracterizar e/ou comprometer as tipologias adotadas, atrelando o protótipo a novos materiais e formas, criando assim uma nova expressão para a arquitetura da cidade. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DEUTSCHLAND ALEMANHA. Frankfurt: Frankfurter Societäds, 1971-Bimestral. FOLLMAN, C. Inquietações sobre a arquitetura rondonense. Unioeste, 1999. (TCC) JÜRGEN, E.R. Frezeitlland Nordrein. Westfalen: Ed. Ringler&Co., 1978. KRESS, F. Der praktische zimmerer. Germany: Ed. Verlag, 1951. LOPES, M. A.; Espaços da memória, fronteiras.Cascavel,Pr: Edunioeste, 2000 REVISTA REGIÃO. Marechal Cândido Rondon,PR: Gráfica Germânica, 2001. Bimestral. SAATKAMP,V. Desafio, lutas e conquistas: História de Marechal Cândido Rondon. Cascavel, PR:Assoeste,1984. VENTURI, R. Complexidade e contradição em arquitetura. São Paulo, SP: Ed. Martins Fontes, 2995. VIDOR, V. Arquitetura: cultura e identidade local. Disponível em:<http://www.ufsc.br/Blumenau/enxaimel.htm >. Acesso em: 29 mar. 2003. WEIMER, G. A arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre,RS: Ed. Mercado Aberto, 1987. WEISSHEIMER, E. Imigração Alemã ao Brasil e Rio Grande do Sul – I. Disponível em: <http://www.mluther.org.br/Imigracao/imigracao_i.htm>. Acesso em: 16 mar. 2003. INTERNET http://library.wustl.edu/units/spec/archives/guides/sturgis2.html http://pharaohs.addr.com/germany.htm http://www.ass.schulnetz.hamm.de/flupe18/schulgarten.htm http://www.mcr.pr.gov.br/fotos/fotos_001.htm


Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

UNIPAR – UNIVERSIDADE PARANAENSE Trabalho Final de Graduação

ARQUITETURA GERMÂNICA E sua influência nas edificações brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

ARLEN ALBERTO GÜTTGES Orientador: Igor J. Botelho Valques Coordenadores: Ricardo Dias Silva e Elis Magna

Umuarama

Novembro de 2003

Arlen A. Güttges

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

UNIVERSIDADE PARANAENSE Curso de Arquitetura e Urbanismo

ARQUITETURA GERMÂNICA E sua influência nas edificações brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

Trabalho final de graduação apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Paranaense.

Aluno: Arlen A. Güttges Orintador: Igor J. B. Valques

Umuarama

Novembro de 2003 Arlen A. Güttges

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

Dedicatória Dedico este trabalho especialmente a meus pais Wilmar e Cleci Güttges, que fizeram o possível e o impossível para que pudesse chegar até aqui. Serei eternamente grato a vocês meus pais pela compreensão e confiança. Arlen A. Güttges

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

Agradecimentos A minha namorada Juliana Marconato, pela compreensão nos momentos difíceis; Ao professor Mestre César Ballarotti, por ter me sugerido a idéia para tal trabalho; Ao professor e meu orientador Igor J. Botelho Valques, pela paciência e amizade durante as orientações; Ao Dr. Dietrich Seyboth, pelos livros e orientações; Ao Sr. Herbert Bier, que não mediu esforços em auxiliar-me nas traduções; Ao Sr. Jurgen Henry Sauk, pelas longas conversas sobre arquitetura germânica; A todos da Construtora Plena e amigos da Prefeitura Municipal de M. C. Rondon; Aos demais amigos e familiares. Arlen A. Güttges

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

”Você utiliza pedra, madeira e concreto, e com esses materiais constrói casas e palácios. Isso é construção. A engenhosidade está em ação. Mas, repentinamente, você toca meu coração, me faz sentir bem. Estou feliz e digo: isso é bonito. Isso é arquitetura. A arte entra em ação. Minha casa é prática. Agradeço-lhe, como poderia agradecer aos engenheiros ferroviários ou ao serviço telefônico. Você não tocou meu coração. Mas suponhamos que as paredes se ergam em direção ao céu de tal maneira que fico emocionado. Eu percebo suas intenções. Seu estado de espírito foi gentil, brutal, encantador ou nobre. As pedras que ergueu me contam isso. Você atrai a minha atenção ao local e meus olhos o observam. Eles contemplam algo que expressa um pensamento. Um pensamento que se revela sem madeira ou som, mas tão somente por meio de formas que guardam uma certa relação entre si. Essas formas apresentam uma natureza tal que são claramente reveladas à luz. As relações entre elas não se referem necessariamente àquilo que é pratico ou descritivo. São uma criação matemática de nossa mente. São linguagem da Arquitetura. Através do uso de materiais brutos, e partindo de condições mais ou menos utilitárias, você estabeleceu certas relações que suscitaram as minhas emoções. Isso é Arquitetura “. Le Corbusier

Por uma arquitetura

1927

Arlen A. Güttges

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

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SUMÁRIO 1

INTRODUÇÃO 1.1

3

14

1.1.1

OBJETIVOS GERAIS

14

1.1.2

OBJETIVO ESPECÍFICO

15

1.2

2

OBJETIVOS

12

METODOLOGIA

A ORIGEM DA COLONIZAÇÃO ALEMÃ NO BRASIL

16

17

2.1

A COLONIZAÇÃO DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON

24

2.2

A CHEGADA DOS ALEMÃES EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON

27

2.3

A ARQUITETURA DO PERÍODO DA COLONIZAÇÃO

30

MARECHAL CÂNDIDO RONDON ATUAL 3.1

O PERFIL DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON

33 35

3.1.1

LOCALIZAÇÃO

36

3.1.2

ÁREA

36

3.1.3

ALTITUDE, CLIMA E TOPOGRAFIA

37

3.1.4

SOLO

37

3.1.5

VEGETAÇÃO

38

3.1.6

HIDROGRAFIA

39

3.1.7

PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA

39

3.1.8

POPULAÇÃO

40

Arlen A. Güttges


Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

3.2

4

6

42

3.2.1

DADOS GERAIS

42

3.2.2

GEOGRAFIA

42

3.2.3

DEMOGRAFIA

43

3.2.4

GOVERNO

43

3.2.5

ECONOMIA

44

3.2.6

RELEVO

44

3.2.7

CLIMA

45

3.2.8

PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA

45

ARQUITETURA ALEMÃ DO PERÍODO PRÉ-GUERRA 4.1

5

PERFIL DA ALEMANHA

-7-

AS FASES DA ARQUITETURA NA ALEMANHA

47 47

4.1.1

ROMÂNICO NA ALEMANHA

48

4.1.2

GÓTICO ALEMÃO

48

4.1.3

NEOCLÁSSICO DA ALEMANHA

49

4.1.4

BARROCO E ROCOCÓ NA ALEMANHA

50

4.1.5

ART NOUVEAU ALEMÃ

51

CIDADES DA ALEMANHA

52

5.1

AS GRANDES METRÓPOLES

52

5.2

AS PEQUENAS CIDADES

55

O ENXAIMEL 6.1

A ORIGEM DO ENXAIMEL

Arlen A. Güttges

89 89


Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

6.2

CHEGADA DO ENXAIMEL AO BRASIL

91

6.3

O CONHECIMENTO DA CONSTRUÇÃO DE ENXAIMEL

93

6.3.1 6.4

7

-8-

O CONHECIMENTO DO ENXAIMEL NAS CONSTRUÇÕES

94

EXECUÇÃO DE UMA OBRA DE ENXAIMÉIS

97

6.4.1

A EXIGÊNCIA LEGAL DE UM PROJETO

97

6.4.2

EXIGÊNCIAS PARA O INÍCIO DA CONSTRUÇÃO

98

6.4.3

PASSO A PASSO NA EXECUÇÃO

116

6.5

O ENXAIMEL ATUALMENTE

152

6.6

A REPRODUÇÃO DO ENXAIMEL NO BRASIL

155

O ENXAIMEL EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON

156

7.1

LOCALIZAÇÃO DAS OBRAS EM ENXAIMEL NO MUNICÍPIO

157

7.2

EDIFICAÇÕES QUE APLICAM O SISTEMA DE ENXAIMÉIS

158

7.3

EDIFICAÇÕES REFORMULADAS EM FACHADAS DECORATIVAS

159

7.4

A LEI DE CONCESSÃO DE FAVORES FISCAIS (IPTU)

164

7.5

O OLHAR CRÍTICO AO ESTILO GERMÂNICO

172

7.6

O ENXAIMEL PARA O RONDONENSE

175

7.7

ENTREVISTAS

176

8

A GERMANIZAÇÃO DA ARQUITETURA COMO ATRATIVO TURÍSTICO

187

9

CONSIDERAÇÕES FINAIS

189

10 BIBLIOGRAFIA

Arlen A. Güttges

195


Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

RESUMO O portal de entrada de Marechal Cândido Rondon, símbolo da marcante presença germânica na cidade, remonta aos tempos da colonização, homenageando àqueles que construíram o município, resgatando as suas origens. As comidas e trajes típicos, o folclore, as danças e as festas, atraem turistas do país e do mundo durante as comemorações em julho e outubro, fazendo de M. C. Rondon, uma das cidades mais germânicas do Paraná. Com uma população concentrada em descendentes de alemães, o município da produção conta com um acervo cultural invejável, porém, pouco difundido durante os tempos atuais. Na tentativa de reflorescer o turismo da região, tornando a cidade mais atrativa, os poderes públicos, ladeados por instituições sociais e uma parcela da comunidade, buscaram criar uma identidade para caracterizar a cidade, propondo o resgate dos costumes e do folclore tudesco como forma de reiteração cultural. Para isso, a prefeitura, após iniciativa da Câmara Júnior e manifestação do Poder Legislativo, criou uma lei a qual oferecia favores fiscais a edificações que apresentassem traços germânicos em suas fachadas. Dessa forma, a cidade passaria a ser um referencial perante o estado, se destacando e alavancando em definitivo o turismo e conseqüentemente a economia. Mas não foi bem assim.

Arlen A. Güttges

-9-


Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

Como a lei fora elaborada de forma incoerente em relação ao verdadeiro arquétipo alemão, faces catastróficas da arquitetura começaram a se mostrar evidentes, em edificações que nada lembravam a Alemanha e descaracterizavam a tipologia da cidade. Casas com adereços e apliques começaram a tomar conta da cidade. Telhados com inclinações acima de 50 graus eram depositados sobre marquises. Floreiras e guirlandas apareciam sob as janelas. O resultado final, após alguns anos de apreciação e acompanhamento foi o inesperado. Críticas e contradições entre as mais diversas classes profissionais e sociais em relação ao resgate cultural procurado e não alcançado; concentradas em um só alvo: a arquitetura da cidade. A cultura de uma cidade precisa estar representada não só na arquitetura, mas nas comidas típicas, nas danças e no folclore em si, na cara de cada um que vive e presencia essa cultura. É imprescindível que se busque uma melhora no quadro turístico da cidade, mas para que isso ocorra, se faz necessário um programa de conscientização e um processo de acompanhamento, para que a compatibilizacão entre os mais diversos campos e áreas esteja sempre em plenitude. Por isso, este trabalho busca orientar o leitor a respeito da verdadeira característica da arquitetura alemã, retratando as fases da mesma através de uma verdadeira viagem por algumas cidades da Alemanha. O sistema de enxaimel, representação construtiva bastante presente na cidade, será abordado de forma técnica, ressaltando as suas verdadeiras características, mostrando a sua correta aplicação e viabilidades. Arlen A. Güttges

- 10 -


Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

Uma análise sobre a lei que isenta edificações do IPTU é feita, abordando os equívocos nela presente, propondo a mudança e a reavaliação da mesma. Um quadro comparativo será elaborado, entre a Alemanha (país sede do arquétipo) e Marechal Cândido Rondon, analisando e contrapondo as características de cada um. Por fim, a proposta da união entre os mais diferentes campos, para a revitalização da cultura é sugestionada, para a busca da verdadeira representação da mais original arquitetura germânica em nossa cidade, tornando-a um eixo da cultura alemã no estado e recebendo o título até então ilusório de “A cidade mais germânica do Paraná”.

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- 11 -


Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

1 INTRODUÇÃO

O tema escolhido para o trabalho final de graduação, apresenta uma abordagem histórica e cultural da arquitetura do município de Marechal Cândido Rondon, cidade localizada no extremo oeste paranaense e considerada por muitos, uma das mais germânicas do estado. Devido ao amplo incentivo, com o objetivo de manter viva a cultura tudesca, por parte da administração municipal e de descendentes alemães, na cidade, boa parte das edificações localizadas no meio urbano, destaca-se por apresentar elementos decorativos em suas fachadas, que procuram imitar estilos da arquitetura alemã, predominante do século XIX. Embora essas imitações arquitetônicas busquem o resgate e a preservação da tradição germânica, muitas apresentam uma mistura de estilos e materiais que configuram de forma totalmente equivocada a identidade arquitetural do município, trazendo a tona um plágio mal elaborado das fachadas das cidades alemãs. Marechal Cândido Rondon, ao contrário de muitas cidades, apresenta características simbólicas, o que singulariza uma identidade própria de município interiorano, com um elevado potencial, devido a sua privilegiada localização geográfica, lindeira ao lago de Itaipu, sendo um pólo referencial para os pequenos municípios adjacentes. Com

sua

composição

populacional

bastante

individualizada,

compreendida

essencialmente por descendentes de europeus, mais precisamente alemães, M. C. Rondon proporciona uma elevada qualidade de vida aos seus munícipes, mostrando baixos índices de problemas sociais e elevadas taxas de produtividade, conferindo-lhe o título de município da produção. Arlen A. Güttges

- 12 -


Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

A cultura germânica da cidade, de um modo geral, não se manifestou muito evidente na arquitetura da época de sua colonização, quando conformada em 95% de sua totalidade populacional por descendentes de alemães vindos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Dessa forma, é primordial ressaltar que o estilo de se projetar apresentado e escorado por muitos, é uma ação “imposta” no contexto cultural, ao contrário da dança, música e comida típica, que já se fazia presente na herança dos descendentes, mesmo que desvirtuada. Nada ainda foi elaborado com o intento de determinar as características necessárias para que se represente a arquitetura germânica fielmente, em especial sobre o enxaimel, por isso, se faz necessário, em primeiro lugar, esclarecer sua origem e seus procedimentos, para que depois seja possível verificar a viabilidade de execução e possibilidades da aplicação desse tipo de “estilo”. Para que isso se concretize, será efetuado um agrupamento de informações técnicas, históricas e culturais, conformando um cabedal de diretrizes para a aplicação no mais alto rigor do estilo alemão, enfatizado pelo sistema de enxaiméis, na arquitetura rondonense.

Arlen A. Güttges

- 13 -


Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

1 .1

OBJETIVOS 1 .1 .1

OBJETIVOS GERAIS

Estudar o histórico da cidade de Marechal Cândido Rondon, qual a sua relação com a cultura germânica e quais os fundamentos e aspectos que justificam a execução de edificações com características do estilo alemão; Estudar e relacionar os estilos e fases da arquitetura alemã do período pré-guerra, criando um quadro comparativo com a arquitetura local da cidade em estudo; Pesquisar e analisar a atual situação quadro arquitetônico da cidade de Marechal Cândido Rondon, em especial das edificações com características germânicas; Enfatizar o sistema construtivo de enxaiméis, verificando a viabilidade de sua utilização para a execução de novas edificações, tanto no meio urbano como no meio rural; Sugerir diretrizes a serem adotadas através de um manual construtivo, para que o enxaimel, decorrente da arquitetura alemã e em Marechal Rondon representado, permaneça o mais próximo de sua originalidade, mesmo que com caráter figurado;

Arlen A. Güttges

- 14 -


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1 .1 .2

OBJETIVO ESPECÍFICO

Definir os estilos arquitetônicos alemães até o início da primeira guerra mundial, período em que a arquitetura germânica permanecera inalterada e incomum na Alemanha, criando um quadro comparativo com as edificações com características típicas alemãs de Marechal Cândido Rondon, destacando a presença do sistema de enxaiméis, mostrando todo seu processo construtivo para assim, colocar em análise a sua viabilidade de execução original, sugerindo a condição de uma cópia alternativa ou até mesmo cenográfica, empregando materiais e métodos adjacentes aos utilizados na Alemanha do século XIX, propondo assim um conjunto de diretrizes a serem observadas durante o processo de concepção da edificação com propriedades germânicas.

Arlen A. Güttges

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1 .2

METODOLOGIA

A partir do tema definido, voltamo-nos para o processo pelo qual o mesmo irá percorrer até se concluir, concretizando-se em desenvolvimento e dividindo-se em pesquisa, proposta e apresentação. O processo de pesquisa constitui o passo crucial do procedimento de desenvolvimento, pois constitui fase onde as informações, bibliografias, fotos e textos serão coletados, revisados e catalogados, para depois formarem um banco de dados, sendo a fonte para a alimentação do projeto. Ainda durante a pesquisa entrevistas serão catalogadas, para a chegada a uma conclusão mais bem definida. A proposta consiste em fazer um levantamento histórico sobre as edificações germânicas, as quais são a base para muitos dos projetos executados e Marechal Cândido Rondon, enfatizando o sistema construtivo de enxaiméis. Elaborar, com auxílio de ferramentas de composição virtual e de impressão, baseado nos dados coletados durante o processo de pesquisa, uma residência de enxaimel, demonstrando os procedimentos do processo construtivo do projeto à execução, comprovando as possíveis viabilidades deste tipo de obra para a cidade, compondo as diretrizes para que as reproduções mantenham características originais mesmo que adaptadas. A apresentação, último passo, compreenderá a utilização de meios de expressão como volumes teóricos, pranchas, maquetes virtuais e reais, protótipos e animações executadas a partir do computador. Arlen A. Güttges

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2 A ORIGEM DA COLONIZAÇÃO ALEMÃ NO BRASIL

É de suma importância, antes de tudo, levantar a procedência e a origem das civilizações germânicas do Brasil. O processo de colonização e a conseqüente chegada dos alemães ao Brasil, era o resultado de um programa de política colonizatória, que teve seu inicio com a chegada de Dom João VI. Segundo Vânia1 essa política tinha um caráter inovador, já que a proposta de renovar as estruturas aqui existentes com mão de obra européia, era uma das metas para tornar o país independente. “Pela proposta colonizatória se pretendia criar novas condições econômicas, políticas e sociais, formando uma mentalidade que permitisse ao país superar todos os obstáculos decorrentes de sua formação inicial, sustentada pelo tripé: latifúndio, monocultura e escravidão”.(HERÉDIA,2001). Para isso, começamos recordando o fato de que, logo após a independência do Brasil em 1822, os alemães protagonizavam um dos primeiros e mais sistemáticos fluxos imigratórios

1

Vania Herédia é Doutora em História das Américas - Universidade de Genova, Itália. Departamento de Sociologia da Universidade de Caxias do Sul, Brasil.

Arlen A. Güttges

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do país, fundando a primeira colônia em 1824 na cidade de São Leopoldo, estado do Rio Grande do Sul. O movimento imigratório teve como principal meta, trazer soldados alemães para garantir a soberania do Brasil, pois o mesmo acabara de conquistar sua independência. “Mas não havia soldados suficientemente preparados no país. Era necessário trazê-los do exterior. Além de soldados também necessitava o país de colonos que viessem se instalar no sul, onde a questão militar quanto à soberania sobre a Província Cisplatina havia gerado diversos conflitos com a Argentina. Por recomendação de D. Leopoldina, arquiduquesa da Áustria e filha do Imperador Francisco I com quem D. Pedro se casara em 1816, decidiuse trazer não só soldados, mas também colonos da Alemanha. Lá existiam milhares deles desempregados desde o fim das guerras napoleônicas”. (www.mluther.org.br/Imigracao/imigracao_i.htm). Outro motivo que trouxe muitos imigrantes alemães ao sul do país foi a falta de emprego encontrada na Alemanha após a revolução industrial, onde a situação, principalmente na área agreste não era boa, mesmo sendo o país essencialmente rural. “Enquanto que em alguns estados alemães havia a proibição, em outros existia o direito dos cidadãos à emigração. Principalmente nos estados da atual Renânia, onde, pela proximidade com a França, a destruição tivera sido maior, e onde mais se fizeram sentir os efeitos do fim do feudalismo. Os Arlen A. Güttges

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camponeses, que agora podiam abandonar o campo, não encontravam trabalho nas cidades, também já repletas de artesãos desempregados pela explosão demográfica. A revolução industrial estava substituindo a mão-deobra humana pelas máquinas que produziam mais e melhor. Os minifúndios criados pelo direito hereditário, aliado às terras exauridas por sua contínua exploração, foram fatores que determinaram a expulsão dos camponeses que, por não encontrarem ocupação nas cidades, tinham apenas uma saída: a emigração”.(WEISSHEIMER,2003). Ao longo dos cem anos seguintes, mais de 250 mil germânicos imigrariam para o Brasil, estimando-se que mais tarde, entre os anos de 1850 e 1909, entraram em nosso país cerca de 15 mil alemães por década, sendo apenas aproximadamente 6.938 desse total assentados em territórios abrangentes da região sul. “O maior fluxo ocorreu no período que se seguiu à primeira guerra mundial: na década de 1920 aqui chegaram cerca de 75.000 alemães, quase 30% do total. Segundo as estatísticas disponíveis, o total de imigrantes não ultrapassou 250.000 pessoas e destas, ignora-se quantos realmente permaneceram no Brasil (Carneiro 1950; Willems 1946; Diegues Jr 1964)”.

Arlen A. Güttges

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Navios

Data saída

Chegada RJ

Colonos

Soldados

Argus

27.07.1823

07.01.1824

134

150

Caroline( 1ª)

29.02.1824

14.04.1824

231

?

Anna Louise

24.03.1824

04.06.1824

126

200

326 39 primeiros S. Leopoldo

Germânia

09.05.1824

14.09.1824

124

277

401 P. Ehlers e Dr. Hillebrand

Georg Fried.

27.06.1824

11.10.1824

145

330

475 P. Voges, T.Forquilhas

Peter/Maria

27.07.1824

12.11.1824

64

206

270 5 médicos p / Brasil

Kranich (1ª)

25.09.1824

01.1825

282

77

359

Caroline (2ª)

17.01.1825

05.04.1825

192

60

282

Tríton

25.12.1824

13.03.1825

101

?

?

Wilhelmine

16.02.1825

22.04.1825

294

90

384

FridHeinrich

25.08.1825

08.11.1825

375

-

375

G.Friedrich

20.08.1825

20.11.1825

-

354

354

Creole

09.09.1825

12.1825

?

?

?

Fortune

09.06.1825

02.10.1825

52

200

252

Kranich (2ª)

20.09.1825

19.01.1826

216

85

301

Comp. Patie

10.10.1825

17.05.1826

81

-

Anna Louise

13.10.1825

26.02.1826

?

400

400

Caroline

16.11.1825

27.02.1826

?

?

200

Arlen A. Güttges

Total Observações 284 P. Sauerbronn / RJ ?

P. Klingelhoefer / Campo Bom

281 200 p / Buenos Aires

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Friedrich

01.06.1826

04.08.1826

86

152

238 Embarque em Bremem, pasando por Amsterdam 484 onde embarcaram mais dois imigrantes

Fliegender Adler

00.05.1827

16.12.1827

?

?

Brodtrae

07.07.1826

28.09.1826

122

155

277

Creole

22.07.1826

10.1826

130

170

300

Betzy/Maria

16.11.1826

02.1827

6

32

38

?

02.07.1828

?

?

?

Cäcilie

1828

29.09.1829

?

?

? Avariou-se Mar do Norte

Olbers

26.09.1828

17.12.1828

874

-

874 Maior navio passageiros

Fortune

31.12.1828

02.04.1829

?

Harmonie

Tabela 1-Relação dos navios e a quantidade de alemães que com eles vieram ao Brasil de 1824 a 1830. Fonte: www.mluther.org.br/Imigracao/imigracao_i.htm

Trazendo como primordiais objetivos, a ocupação as terras ameaçadas pelos vizinhos espanhóis e o equilíbrio da economia sulina, a colonização se deu ainda no final do primeiro reinado. “Apesar da omissão do Governo Imperial, que cumpriu pouca das promessas feitas aos imigrantes, os alemães arrancaram seu sustento das terras geralmente pouco férteis a eles destinadas, uniram-se em grupos fechados para preservar a cultura e as tradições de seu país de origem, e introduziram na região culturas agrícolas até então desconhecidas. As vilas por

Arlen A. Güttges

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eles fundadas transformaram-se em algumas das cidades mais progressistas do Sul do Brasil”.(MONTEIRO,2000). Podemos citar as cidades de Joinville e Blumenau, fundadas em 1850 e 1851, sendo consideradas exemplos vivos da tradição festeira (Foto 1), da arquitetura (Foto 2) e da culinária. Talvez pelo motivo acima citado, a cultura germânica preserva-se até hoje em várias cidades da região sul brasileira.

Foto 1-Banda alemã em Blumenau Fonte: Revista Caras

No estado do Paraná, a primeira colonização germânica se concentrou na cidade de Rio Negro, por volta de 1829, expandindo-se depois, para as demais regiões paranaenses, como em Campos Gerais, aonde em 1878, alemães de origem russa, vindos da região do Rio Volga se estabeleceram em forma de comunidade. “Neste século, colonos vindos de Santa Catarina fundaram a Colônia de Witmarsum, no município de Palmeira, suábios da região do Rio Danúbio criaram Entre Rios, em Guarapuava, e descendentes de imigrantes ocuparam a região de Cambé e Rolândia, no Norte do estado. A capital, Curitiba, também abriga

numerosa

comunidade

originária

dos

colonos

alemães

que

atravessaram o Atlântico para participar com seu trabalho da formação do povo singular que hoje habita a Região Sul do Brasil. (MONTEIRO,2000)”.

Arlen A. Güttges

Foto 2-Arquitetura de Blumenau Fonte: www.ufsc.br/Blumenau/enxaimel.htm


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Com embasamento em estatísticas existentes, estima-se que a população de alemães ocupa, no Brasil atual, o quinto lugar, ficando atrás dos italianos, portugueses, espanhóis e japoneses. “A concentração em algumas regiões do Sul, além da manutenção da língua e de outras características da cultura original e da presença marcante de uma imprensa, escola e associações germanizadas, criou condições para o surgimento de uma etnicidade teuto-brasileira, cuja marca é o pertencimento primordial a um grupo étnico demarcado pela origem alemã. Disto resultou uma longa história de atritos com a sociedade brasileira, que culminou com a campanha de nacionalização durante o Estado Novo (1937-1945) - uma tentativa de acelerar o processo assimilacionista. Os ideais primordiais de pertencimento étnico, embora atenuados, não desapareceram após a Segunda Guerra Mundial e podem ainda hoje, serem percebidos nas principais regiões de colonização alemã”. (SEYFERTH2, 2000).

2

Mestre em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu

Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutora em Ciências Humanas pela Universidade de São Paulo e professora do Departamento de Antropologia do Museu Nacional - UFRJ. Arlen A. Güttges

- 23 -


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2 .1

- 24 -

A COLONIZAÇÃO DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON

No final do século XIX, a região Oeste do Paraná, mais especificamente as terras onde hoje se localiza o município de Marechal Cândido Rondon, encontrava-se praticamente isolada devido à falta de estradas e a imponência da floresta subtropical que abraçava a região, tendo apenas o rio Paraná como meio de acesso, o qual estava sob domínio Argentino. Já no inicio do século XX, o Brasil concretizou sua ligação com a Província de Mato Grosso, através do acordo assinado entre os países da Bacia do Prata. A partir desta época, as terras localizadas a margem esquerda do rio Paraná, passavam a serem ocupadas por companhias estrangeiras, nas quais se destacavam as britânicas, proprietárias de concessões do governo brasileiro para a exploração da erva-mate e madeira em larga escala e a

Mapa 1-Portos do Município na Colonização Fonte: SAATKAMP, 1981.

conseguinte exportação para o Uruguai, Paraguai e Argentina. As empresas britânicas conseguiram legibilidade para instalar-se em solo brasileiro, porque o Brasil apresentava um débito muito elevado para com a Inglaterra, devido à compra de equipamentos ferroviários ainda antes da I Guerra Mundial (1914-1918). Como forma de pagamento dessa dívida, essas empresas receberam uma extensão de terras compreendidas desde a margem do Rio São Francisco até o Porto Artaza (Mapa 1), abarcando uma área de aproximadamente 274 mil hectares, área essa que mais tarde viria a ser denominada de “Fazenda Britânia” (Ilustração 1). Os anos compreendidos entre 1920 e 1923 caracterizaram um dos melhores períodos para os administradores da Fazenda Britânia, proporcionando grandes lucros com a extração

Arlen A. Güttges

Ilustração 1-Instalações do Porto Britânia Fonte: SAATKAMP, 1981.


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da madeira de lei, erva-mate e laranja apepú, produção esta, escoada aos países vizinhos através do Rio Paraná. “A presença em 1925, por mais seis meses, dos revoltosos da coluna do Marechal Isidoro Dias Lopes originária de São Paulo, a passagem da coluna Prestes vinda do Rio Grande do Sul e ainda a Lei do 2/3 criada no governo Getúlio Vargas, contribuíram para o enfraquecimento e destruição do império sócio-econômico instaurado no oeste paranaense”.(SATKAMP,1985,p. 13). A passagem acima citada caracteriza a primeira fase da colonização no município, marcada pela exploração da natureza, abrangendo de 1900 a 1946.

Foto 3-Sede da Companhia Mate Laranjeira Fonte: PREF. MUNICIPAL.

Ainda na década de 30, outra companhia se destacou durante o processo de colonização de Marechal Rondon, a Companhia Mate Laranjeira (Foto 3), compreendendo a primeira a comercializar terras. Instalada no Porto Mendes Gonçalves3 (atual distrito de Porto Mendes), a companhia construiu casas, armazéns, estação ferroviária, correio e uma linha telefônica que acompanhava a estrada de ferro que ligava o Porto até a cidade de Guaíra. Logo no final da década de 40, com a decadência da proprietária da Fazenda Britânia e maior concessionária de terras do oeste paranaense, a Companhia de Maderas Del Alto Paraná, surge um grupo de comerciantes do Rio Grande do Sul demonstrando um grande interesse em adquirir as áreas para fins de colonização, fundando assim a Industrial Madeireira 3

O Porto Mendes Gonçalves foi assim denominado como uma forma de homenagear o Capitão Heitor

Mendes Gonçalves, um dos primeiros sócios da companhia Mate Laranjeira. Arlen A. Güttges

Foto 4-Escritório da Cia. Maripá Fonte: PREF. MUNICIPAL


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Colonizadora Rio Paraná S/A – MARIPÁ (Foto 4), dando inicio a segunda fase histórica do município. A MARIPÁ, dá inicio a um processo de formação de um núcleo populacional, com divisões políticas territoriais (Foto 5), configurando a característica urbana que hoje se apresenta no município (Foto 7). Foto 5-Vista da Rua Santa Catarina 1953. Fonte: Pref. Municipal.

“A organização, o planejamento e a perfeita adaptação constituíram as características do processo de colonização teuto-brasileiro no Oeste do Paraná. Essa fácil adaptação no inicio da colonização, ao contrario do que ocorreu com os italianos, não chega a surpreender, uma vez que, na segunda metade dos anos 40, quando a Industrial Madeireira Colonizadora Rio Paraná S/A – MARIPÁ, passa a desenvolver o projeto, a colonização alemã no Brasil já superava a marca dos 120 anos”. (REGIÃO, 2001, p. 12). Foto 6-Vista M.C.Rondon em 1966. Fonte: Pref. Municipal.

Dentro deste argumento, ressaltarmos a constatação dos antropólogos Oberg e Jabine (1956), onde se afirmava que o plano de colonização da Industrial MARIPÁ incluía em seu processo de colonização o colono gaúcho e catarinense. Nesse momento, a fase histórica da colonização vem a apresentar os primeiros vestígios da característica germânica atual, uma vez que a população de imigrantes era originada dos estados sulinos, principais sedes das colonizações alemãs no Brasil. Foto 7-Vista de M.C.Rondon, 2002. Fonte: Pref. Municipal.

Arlen A. Güttges


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2 .2

A CHEGADA DOS ALEMÃES EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON

Voltando um pouco na colocação dos fatos, a companhia colonizadora MARIPÁ, ao planejar a ocupação de suas terras, inclui o colono agricultor do Rio Grande do Sul e Santa Catarina como futuro proprietário de suas áreas sob o seguinte argumento: “Esse agricultor, descendente de imigrantes italianos e alemães, com mais de cem anos de aclimatação no país, conhecedor de nossas matas, dos nossos produtos agrícolas e pastoris, primando pela sua operosidade e pelo seu amor pela terra em que trabalha...” (SATKAMP,1985, p.43)4 Dessa forma, a seleção passava a ser feita pelos próprios responsáveis pela companhia, que contratavam corretores para fazer a divulgação das terras. “Cada corretor fazia a propaganda de sua gleba, falando das boas terras e do clima bom”.(REGIÃO, 2001, p 13.). Estudos comprovam que os corretores possuíam afinidades específicas com as variadas etnias e religiões da região. Um exemplo dessa relação é o fato de que se o vendedor

4

Relatório organizado por Ondy Hélio Niederauer, chefe dos escritórios da MARIPÁ e aprovado por

Willy Barth e Egon W. Bercht, em 1955. Arlen A. Güttges

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fosse polonês e católico, seus compradores também eram, sendo assim, da mesma forma com italianos e alemães. Com o pleno funcionamento do processo de comercialização das terras pela companhia MARIPÁ, a colonização começou a surtir efeito, marcando o início crucial da entrada do povo alemão na cidade. “As primeiras visitas, feitas nesta região por pessoas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, interessadas na compra de terras, ocorreram por volta de 1949, mas a aquisição de terras, segundo os primeiros moradores, se deu a partir

de

1950,

ano

em

que

também

chegavam

algumas

mudanças”.(REGIÃO, 2001,p 13). “Mas foi a partir de 1951 que efetivamente a migração sulina tomou vulto, configurando o novo quadro populacional da região”.(REGIÃO, 2001, p. 13). Os pioneiros do processo de colonização, assim, começavam a fixar suas residências, formando o pequeno povoado denominado na época de Vila General Rondon, distrito do município de Toledo. Sua conformação inicial, registrada até o ano de 1956, compreendia uma população total de 587 habitantes, sendo quase que em sua totalidade, descendentes de Europeus e vindos dos dois outros estados sulinos, estimando a concepção em 95% de famílias alemãs e 5% de famílias italianas e luso-brasileiras. Arlen A. Güttges

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Muitos dos descendentes de alemães, originados dos estados gaúcho e catarinense, vieram para cá após uma breve passagem por outras regiões do país (Tabela 2) enquanto outros com natalidade em estados brasileiros também migravam (Tabela 3). LOCAL DE NASCIMENTO

%

Rio Grande do Sul Santa Catarina Paraná (exceto Toledo) São Paulo Minas Gerais Outros Estados Outros Países

68,6 16,3 7,0 1,9 1,1 1,2 3,9

TOTAL

100,00%

Tabela 2-População total em porcentagem, do local de nascimento. Fonte: Revista Região, 2001. ESTADOS

Pernambuco Bahia Minas Gerais São Paulo Paraná Espírito Santo Sta. Catarina Mato Grosso Rio. G. do Sul Outros

TOTAL

HOMENS

MULHERES

TOTAL

%

28 66 282 139 6.576 44 4.787 22 10.56033 33

25 45 205 142 6.220 46 4.429 14 9.586 20

53 111 487 281 12.796 90 9.216 39 20.102 53

0,12 0,26 1,13 0,65 29,60 0,21 21,32 0,08 46,51 0,12

22.439

20.732

43.225

100%

Tabela 3-População total, por sexo e Estado de origem do Município de Marechal Cândido Rondon. Fonte: IBGE - Cascavel,1970.

Arlen A. Güttges

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Assim, podemos concluir que os descendentes de alemães aqui recém chegados levavam em sua denominação, a descendência em terceira geração oriunda da Alemanha, colocando em questão a real origem da tipologia arquitetônica aplicada na cidade.

2 .3

A ARQUITETURA DO PERÍODO DA COLONIZAÇÃO

Se levarmos em conta todo o período de ocupação da região, poderemos concluir que a tipologia arquitetônica do local passou por fortes influências inglesas, antes de se concretizar na alemã, que é, até hoje, apresentada de forma errônea e pouco embasada.

Foto 8-Sede da Cia. Mate Laranjeira. Fonte: Pref. Municipal

Quando a companhia britânica se instalou na cidade, sua infra-estrutura arquitetônica inicial já apresentava fortes traços neoclássicos e ecléticos (Foto 8), com colunas e arcos em edificações com estrutura de concreto e tijolos maciços. Apenas mais tarde, com a fixação da companhia MARIPÁ é que se manifesta a característica “germânica”, mas de forma bastante discreta e subjetiva, apenas na utilização da madeira e detalhes singelos. Quando da época da colonização, os imigrantes não possuíam suas próprias casas,

Foto 9-Barracão da Cia Maripá Fonte: SATKAMP, 1984.

portanto, moravam em barracões construídos pela companhia MARIPÁ (Foto 9). Na região a madeira se fazia abundante, porém, as primeiras casas eram muito simples e mal acabadas (Foto 10), sendo que apenas os que possuíam recursos financeiros construíam casas melhores, adquirindo madeira beneficiada das serrarias existentes em General Rondon.

Arlen A. Güttges

Foto 10-Casas de madeira. Fonte: Venilda Saatkamp, p. 32.


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“Muitos ranchos, foram feitos com toco de madeira redonda, sendo o teto coberto com folhas de palmito, não entrando água quando chovia”. (LIMBERGER Apud FOLLMAN,1995. Op. Cit. P. 10). Mais tarde, com a grande presença de serrarias que concentravam a produção a todo vapor, várias edificações começaram a ser executadas, agora com uma qualidade maior. Essas eram muitas vezes, totalmente de madeira, com a cobertura formada com lascas de pinheiro e o piso com tábuas corridas. Mais tarde, com a introdução de novos materiais e a acessibilidade dos colonizadores aos mesmos, casas de alvenaria passaram a ser introduzidas na vila, configurando uma nova

Foto 11-Hospital Filadélfia. Fonte: Pref. Municipal.

estruturação para o local. Concluindo, podemos citar a hipótese de que a arquitetura do período da colonização buscava a praticidade, o baixo custo de execução e a funcionalidade para o local, uma vez que a matéria prima, a madeira, utilizada, apresentava-se em grande quantidade na região. Mesmo assim, os colonizadores assim que pudessem, optavam pela alvenaria, por ser mais adequada ao clima e características do local. A primeira grande edificação em madeira da vila foi o Hospital Filadélfia (Foto 11), com 37 metros de comprimento por 7,5 metros de largura, executado em 1953 e de propriedade do Sr. Dietrich Rupperecht Seyboth. Essa edificação já apresentava uma das primeiras características da manifestação arquitetônica germânica, as mansardas, um tipo de janela no telhado que serviria para a iluminação do sótão.

Arlen A. Güttges

Foto 12-Internato. Fonte: Venilda Saatkamp, p.181.


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Outra edificação que demonstrava fortes indícios da arquitetura alemã era o internato (Foto 12) construído pela administração municipal em 1958 para abrigar estudantes e professores que vinham de outras localidades. Em destaque, podemos ressaltar a tipologia da cobertura chamada de krüppelwamdach e a utilização do sótão.

Arlen A. Güttges

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3 MARECHAL CÂNDIDO RONDON ATUAL

A cidade de Marechal Cândido Rondon hoje, conta com uma população bastante distanciada de sua cultura primitiva, uma vez que as danças e festejos ensaiados na época da promoção da germanização, não se fazem mais presentes. A Oktoberfest (ou festa de outubro) é um exemplo dessa dissipação. Há anos comemorada na cidade, da mesma forma como em Munique na Alemanha, e em outras cidades brasileiras, porém em menores proporções, como forma de resgate dos costumes e da tradição alemã, acabou por se transformar em um “carnaval fora de época”, segundo residentes de longa data do município. “As festas municipais recriadas, têm-se constituído num fato social e cultural de alta monta, com o aparecimento do turismo de massa e do lazer como um assunto que envolve questões econômicas, sociais, psicológicas e culturais. O turismo de massa e o lazer são fenômenos da sociedade pósindustrial e aparecem como um manancial econômico de primeira linha, além da preocupação com o uso do tempo do não trabalho de forma administrável. Com a urbanização e com a industrialização, o lazer tornou-se uma necessidade, além de uma atividade econômica de grande importância”. (WOLF,1999).

Arlen A. Güttges

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Devemos com louvor reconhecer o fato da comemoração ser um ponto importante no momento de citarmos o resgate cultural, porém devemos ter em mente o por quê e como realizá-la. Como forma de abancar novamente a germanização da cultura, promover o turismo e conseqüentemente a economia da região, um título fictício, em forma de slogan, foi imposto ao município, como a cidade mais germânica do Paraná. Dessa forma, os incentivos e investimentos locais girariam em prol de uma reformulação cultural, trazendo a tona,

Foto 13-ACIMACAR antes da caracterização Fonte: M.C.Rondon 25 anos, p. 23.

promoções do folclore tudesco. Com essa busca desenfreada pela remodelação cultural, a arquitetura de Rondon, a qual possuía uma identidade embora subjetiva, mas original, acabou sofrendo conseqüências lastimáveis, que se mostram evidentes até hoje. Uma lei, impulsionada pela Câmara Júnior, elaborada e aprovada pela Prefeitura Municipal, cuja proposta era promover incentivos financeiros, proporcionava isenções de percentagens do Imposto Territorial e Predial Urbano (IPTU) aos munícipes que

Foto 14-ACIMACAR já caracterizada. Fonte: Carlos Follman, p. 27.

demonstrassem características germânicas nas fachadas de suas obras. Essa lei, a qual buscava retratar faces de edificações típicas alemãs, acabou por transtornar o quadro arquitetônico local. A busca pelo exemplar decorativo, com predominância do enxaimel sem que se tivesse alguma base da técnica do sistema, levou parte da arquitetura da cidade a um estado deplorável, com obras totalmente imitantes do arquétipo alemão, sem nenhuma consistência ou embasamento histórico cultural. Um exemplo claro dessa desconfiguração com maquiagens é a sede da Associação Comercial e Industrial de Marechal Cândido Rondon – ACIMACAR (Foto 14), que passou pelo processo de germanização de seu prédio que antes possuía fortes traços do modernismo (Foto Arlen A. Güttges

Foto 15-ACIMACAR hoje. Fonte:O Presente, 2003.


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13). Hoje, com uma nova reformulação (Foto 15), esse edifício é exemplo da dificuldade em executar e principalmente oferecer manutenção ao enxaimel. Dessa forma, buscamos apresentar, algumas cidades da Alemanha, como forma inicial de comparação com o efetivo local, para mais adiante mostrar as viabilidades e propostas de arquitetura, não de modo imposta como feito até então, mas como projeto cênico de finalidade plenamente decorativa, propondo diretrizes para a execução do estilo germânico, em especial o enxaimel.

3 .1

O PERFIL DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON

A importância de apresentar o perfil da cidade, retrata o ponto inicial de todo projeto. É necessário ter-se em mente que a proposta em si, depende de uma série de fatores para que se alcance a perfeição. Por isso, algumas características do município são exibidas a seguir, como forma de trazer uma pequena e inicial avaliação das probabilidades da permanência do estilo germânico de se projetar, na cidade.

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Ilustração 2-M.C.Rondon no Brasil. Fonte: Internet. www.mcr.pr.gov.br

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3 .1 .1

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LOCALIZAÇÃO

Localizada a cerca de 600Km da capital Curitiba, na região extremo oeste do Estado do Paraná (Mapa 2); M.C.Rondon faz fronteira ao norte com o município de Nova Santa Rosa; ao leste com os municípios de Quatro Pontes e Toledo; ao sul com os municípios de São José das Palmeiras e Pato Bragado; ao oeste com a República do Paraguai (Lago de Itaipu); ao noroeste com o município de Mercedes (Mapa 3). Marechal Cândido Rondon

3 .1 .2

ÁREA

Curitiba

Mapa 2-M.C.Rondon no Paraná. Fonte: www.ibge.com.br

Sua superfície é de 575,48 km2, perfazendo uma área total de 57.581 há, sendo constituído por 7 distritos, sendo 5 administrativos e 2 judiciários (Mapa 4). Distribuição da área por distrito: •

Sede 16.443 ha

Novo Horizonte 5.200 ha

Novo Três Passos 5.600 ha

São Roque 5.000 ha

Margarida 13.366 ha

Porto Mendes 4.772 ha

Iguiporã (Iguiporã + Bom Jardim) 7.200 ha Mapa 3-Divisas de M.C.Rondon. Fonte: Pref. Municipal.

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3 .1 .3

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ALTITUDE, CLIMA E TOPOGRAFIA

Marechal Cândido Rondon encontra-se a 420 metros acima do nível do ar. Seu clima é sub-tropical úmido. A temperatura média varia entre mínima é de 14ºC e máxima de 28ºC. O relevo predominante é suave ondulado com os seguintes planos: •

Relevo plano:

15 %;

Relevo suave-ondulado:

45 %;

Relevo ondulado:

30 %;

Forte ondulado:

10%.

3 .1 .4

Mapa 4-M.C.Rondon e Distritos. Fonte: Pref. Municipal.

SOLO

O solo da cidade é de origem vulcânica, argiloso, profundo e bem drenado; Classificação dos Solos do município: •

Latossolo Roxo Eutrófico

48 %

Terra Roxa Estruturada

32 %

Latossolo Roxo Distrófico

14 %

Associação de Solos Litólicos Eutróficos

3%

Solos Hidromórficos Gleisados Indiscriminados

3%

Uso Atual dos Solos do município Arlen A. Güttges


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Lavouras anuais

68,40 %

39.385 ha

Pastagem formada

17,20 %

9.900 ha

Matas nativas e ciliares

3,60 %

2.072 ha

Reflorestamento

0,80 %

460 ha

Áreas inaproveitáveis

1,40 %

806 ha

Área urbana e sedes

8,00 %

4.606 ha

Outros fins

0,60 %

352 ha

3 .1 .5

VEGETAÇÃO

A vegetação nativa predominante é subtropical, perenifólia. A área coberta com matas nativas, incluindo reservas legais, averbadas e matas ciliares é em torno de 3,6 %. A maioria das áreas de matas nativas está localizada isoladamente dentro das propriedades agrícolas, tem pequena importância para a fauna nativa, tem poucos espécimes característicos da floresta nativa (peroba, ipê, canafistula, palmito, etc.) e formadas geralmente por matas secundárias; As áreas ciliares dos principais cursos de água do município, estão parcialmente conservadas. Cerca de 75 % dos cursos perenes de água do município apresentam área de mata ciliar abaixo do recomendado pelo código florestal; A área reflorestada do município é de 460 ha. As principais espécies plantadas são eucalipto, grevílea, erva-mate e pínus. Arlen A. Güttges

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3 .1 .6

HIDROGRAFIA

Principais bacias hidrográficas no interior do município: •

Arroio Fundo

11.520 ha

Arroio Marreco

8.640 ha

Arroio Quatro Pontes

4.600 ha

Sanga Guavirá

5.760 ha

Rio Branco

8.000 ha

Arroio Curvado

2.300 ha

Lageado São Cristovão

2.400 ha

Outras bacias

14.360 has

3 .1 .7

PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA

A precipitação média do município, do ano de 1985 ao ano de 1995, foi de 1.809,80 mm, com concentração nos meses de outubro, novembro e dezembro. Os meses de menor concentração de chuvas foram julho, agosto e setembro.

Arlen A. Güttges

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3 .1 .8

POPULAÇÃO

Zona urbana: 33.881 habitantes;

Zona rural: 12.580 habitantes;

Total: 46.461 habitantes.

Povoamento do município na área urbana e rural por distrito (Tabela 4):

DISTRITO

URBANA

RURAL

TOTAL

Bom Jardim

110

700

810

Iguiporã

847

1561

2408

Margarida

1351

2567

3918

Novo Horizonte

697

769

1466

Novo Três Passos

355

1767

2122

São Roque

564

813

1377

Porto Mendes

1407

1281

2688

Sede

28550

3122

31672

Tabela 4-Povoamento do Município na área urbana e rural por distrito. Fonte: Pref. Mun. de M.C.Rondon.

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Para concluirmos, podemos caracterizar a tipologia da técnica arquitetônica local como simples e desprovida de altas tecnologias, concentrando casas em alvenaria e madeira que compreendem quase cem por cento de seu contingente arquitetônico.

Foto 16-Vista noturna da Cidade. Fonte: Pref. Municipal.

Arlen A. Güttges

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3 .2

PERFIL DA ALEMANHA5

É de suma importância também, que seja feito o levantamento do perfil do país sede da referência arquitetônica estudada, uma vez que a comparação se torna imprescindível para a avaliação total das obras, em todos os aspectos, incluindo os culturais, históricos e econômicos, além dos geofísicos, que justificam a presença de determinadas tipologias na cidade de Marechal Cândido Rondon.

3 .2 .1

DADOS GERAIS

A Alemanha (Mapa 5), segundo maior país da Europa depois da Rússia, com aproximadamente 82,2 milhões de habitantes, sendo 7,3 milhões estrangeiros, está localizada no centro da Europa. Sua capital é Berlim, e a língua falada é a Alemã, com variações devido aos dialetos locais. A religião predominante é o cristianismo (protestantes e católicos).

3 .2 .2

GEOGRAFIA Mapa 5-Alemanha. Fonte: Internet. www.isep.org⁄nug⁄de.

Situada no centro-norte da Europa, tem seus limites com os mares Báltico e do Norte, Dinamarca (N); Polônia (L); Rep. Tcheca (SE); Áustria, Suíça (S); França, Bélgica, Luxemburgo e Holanda (Países Baixos) (O). 5

Fonte: Almanaque Abril, 2000.

Arlen A. Güttges

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Dentre as cidades mais populosas estão Berlim (3,4 milhões hab.); Hamburgo (1,6 milhão); Munique (1,2 milhão); Colônia (950,2 mil); Frankfurt (641,3 mil); Leipzig (513,6 mil); Dresden (493,2 mil) (1990). Seu fuso horário em relação à Brasília apresenta uma diferença de 4 horas a mais.

3 .2 .3

DEMOGRAFIA

Com uma população estimada em 82,2 milhões de habitantes, sendo que 85,3% desse total, está na zona urbana, a Alemanha apresenta uma das maiores densidades demográficas do mundo, com 225,8 habitantes por km2. Sua composição compreende, alemães (74,7 milhões), turcos (1,8 milhão), iugoslavos (775 mil), italianos (560 mil), gregos (337 mil), poloneses (271 mil), austríacos (190 mil), espanhóis (135 mil), holandeses (112 mil) e outros (1,7 milhão). As faixas etárias estão distribuídas da seguinte forma: 0-14: 16,2%; 15-59: 63,4%; mais de 60: 20,4%.

3 .2 .4

GOVERNO

Sua região administrativa está dividida em 16 estados, apresentando uma República Parlamentarista, com o regime partidário concentrado no pluripartidarismo, sendo os principais

Arlen A. Güttges

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partidos a União Democrata Cristã, Social-Democrata, Os Verdes, Democrático Livre, União Social Cristã e Democrática Socialista.

3 .2 .5

ECONOMIA

A composição da economia alemã é formada pela agricultura, pecuária, pesca, indústrias e minerais. Exportam cerca de US$ 429,7 bilhões; sendo os principais produtos, as máquinas industriais, automóveis, químicos e manufaturados básicos. Importam aproximadamente US$ 407,2 bilhões em produtos como máquinas industriais, equipamentos de transporte e matérias-primas. Entre seus parceiros comerciais estão os países membros da União Européia (UE). Apresenta uma inflação anual de 3,9% e um índice de desemprego de 6,6% .

3 .2 .6

RELEVO

O seu relevo apresenta uma planície baixa e alagada ao norte; relevo ondulado, grandes lagos e vales ao centro e cadeias montanhosas, Alpes Bávaros e Floresta Negra ao sul, tendo seu ponto culminante no monte Zugspitze com 2.963 metros.

Arlen A. Güttges

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3 .2 .7

CLIMA

Seu clima é de transição entre o atlântico (temperaturas suaves, chuvas abundantes e regulares) e o continental (temperaturas baixas no inverno e menos umidade). A temperatura média varia entre 20º em julho e 0º em janeiro.

3 .2 .8

PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA

As precipitações procedem das massas de ar atlântico que penetram pelo oeste e noroeste. Embora o nível das chuvas seja regular durante o ano, a influência do anticiclone continental (zona de alta pressão atmosférica) durante o inverno, determina uma menor quantidade de precipitações nessa estação. Apesar da relativa homogeneidade climática no território, é possível distinguir certa variação do oeste para o leste e de norte para sul, com precipitações maiores nos litorais setentoriais e nas regiões ocidentais; e condições climáticas temperadas no centro, bem como progressivo esfriamento no sul e no sudeste, em conseqüência da altitude e continentalidade. Através das comparações acima relacionadas, podemos verificar que a Alemanha apresenta algumas diferenças notáveis em relação, principalmente ao clima e o relevo, fatores estes que determinavam a necessidade das inclinações nos telhados em enxaimel, caracterizando um exemplar arquitetônico da região. Arlen A. Güttges

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Na questão social, política e econômica, também há uma grande diferença, embora não tão relevante quando nos referimos à arquitetura.

Arlen A. Güttges

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4 ARQUITETURA ALEMÃ DO PERÍODO PRÉ-GUERRA A arquitetura da Alemanha passou por grandes fases representativas, caracterizando o país como uma referência mundial no âmbito arquitetônico, mesmo no período pré-guerra. Este período é levantado como o principal no trabalho estudado, uma vez que as construções de Marechal Cândido Rondon trazem consigo, características presentes desta fase, quando alemães chegavam ao Brasil carregando em suas bagagens a cultura da época. Ainda é importante ressaltar que, a Alemanha passou por uma forte e importante modificação na sua paisagem arquitetural, em primeiro lugar, pelo fato da mesma ter sido, em

Foto 17-Bauhaus. Fonte:Internet.http://www.tuharburg.de/b/kuehn

grande e considerável parte destruída pela ação das grandes guerras no país destrinchadas e, em segundo, pela forte influência que teve a mais notável escola de artes, fundada em Weimar por Walter Gropius, e denominada Bauhaus (Foto 17). Não é necessário entrar em mais detalhes sobre a Bauhaus, uma vez que a mesma compreende o período pós-guerra. Apenas será citado como referência o arquiteto Maria Ludwig Mies Rohe (Foto 18), que, como percussor, liberta para o mundo as características do estilo internacional como um dos mestres do modernismo, utilizando em algumas de suas obras, princípios do sistema enxaimel, mas com uma nova aplicação de materiais e técnicas.

4 .1

AS FASES DA ARQUITETURA NA ALEMANHA

A Alemanha, como vários outros países da Europa, sofreu a influência de muitas fases que caracterizaram a arquitetura mundial, as quais deixaram como legado, uma verdadeira obra viva, fonte de pesquisas e estudos para muitos países. Arlen A. Güttges

Foto 18-Mies Van Der Rohe Fonte:Internet.www.germanheritage.com/biogr aphies


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Dentre as influências manifestadas de forma mais clara, podemos destacar algumas que mais foram significativas, tanto na Alemanha quanto no mundo, e trazem seus reflexos como arte arquitetônica em muitas cidades.

4 .1 .1

ROMÂNICO NA ALEMANHA

Período que compreendeu os anos de 792 A.C. até 1144 A.C. e se caracterizava pela presença da Basílica, símbolo do cristianismo. Possui como o marco de sua passagem na Alemanha, a Catedral da cidade de Aaschen (Foto 19). Construída entre os anos de 790 e 800 pelo imperador Charlemagne, foi originalmente

Foto 19-Catedral de Aschen. Fonte: Buil Atlas.

inspirada nas igrejas orientais do império Romano, com suas fachadas características da Idade Média.

4 .1 .2

GÓTICO ALEMÃO

Movimento do final do século XIV nas artes plásticas, que se manifestou na arquitetura em diversas regiões da Europa. Tem como característica a valorização do detalhe decorativo e linearidade, que proporcionam efeitos de refinamento e elegância. Dentre as obras arquitetônicas mais significativas deste movimento, presentes na Alemanha, destacamos as Catedrais, principal alvo representativo gótico, e entre elas estão a de Mainz (Foto 21), de Speyer (Foto 20) e a de Worms (Foto 22).

Arlen A. Güttges

Foto 20-Catedral de Speyer. Fonte: Build Atlas.


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Foto 21-Catedral de Meinz. Fonte: Build Atlas Hamburg

4 .1 .3

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Foto 22-Catedral de Worms. Fonte:Build Atlas

NEOCLÁSSICO DA ALEMANHA

Estilo que buscava uma nova expressão romântica do Classicismo. Adequado as formas de uma cidade progressista como Berlim, o museu de Altes (Foto 23;Foto 24) é um dos

Foto 23-Museu de Altes. Fonte: Internet. www.greatbuildings.com

mais importantes edifícios públicos, construído entre 1824-28, principalmente por adaptar o modelo grego ao uso de uma invenção do século XIX, a galeria de arte. “O reflorescimento da influência grega (1790-1830) causou um fascínio contínuo

pela

arquitetura

da

Antigüidade

Clássica,

estimulado

pelas

descobertas arqueológicas na Europa e no Oriente Médio”. (STEVENSON, 1998, p.64)

Arlen A. Güttges

Foto 24-Museu de Altes. Fonte: Internet. www.greatbuildings.com


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4 .1 .4

BARROCO E ROCOCÓ NA ALEMANHA

Estilo da arquitetura originado na Itália no início do século XVII, cujas manifestações aparecem em quase todos os países Europeus, está presente na Alemanha em destaque na Igreja Wies (Foto 26), na cidade de Bavária, como um dos exemplos mais perfeitos do estilo. Heinrich Wölfflin, em Conceitos fundamentais para a história da arte (1915), foi o primeiro a assinalar as diferenças fundamentais entre a arte do século XVI e a do século XVII, afirmando que "o barroco não é nem o esplendor nem a decadência do classicismo, mas uma arte totalmente diferente". Outros grandes marcos do movimento estão presentes em várias cidades da Alemanha como nas fotos a seguir:

Foto 26-Vista da Igreja Wies. Fonte:www.greatbuildings.com

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Foto 25-Catedral de Otobeuren. Fonte: www.greatbuidings.com

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4 .1 .5

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ART NOUVEAU ALEMÃ

A Europa, no final do século XIX, passava por uma fase de muita agitação, principalmente por parte de artistas e escritores, descontentes com o rumo que a arte tomava. Sonhavam com uma arte mais significativa e autêntica, ao contrário das produções industriais em massa. “Enquanto uma pequena parte das pessoas visava um retorno às condições medievais, a maioria dos artistas ansiava por uma” Nova Arte “. O Art Nouveau”.(QUENTAL, 2000).

Foto 27-Acesso da Casa. Fonte: www.greatbuildings.com

Teve seu maior desenvolvimento entre 1890 e a Primeira Guerra Mundial, caracterizando-se por uma manifestação eminentemente decorativa, com formas torcidas e sinuosas. Na arquitetura alemã, destacamos a Casa Behrens (Foto 28), datada do ano de 1901 e projetada pelo arquiteto Peter Behrens, localizada na cidade de Darmstadt.

Foto 28- Casa Behrens Fonte:www.greatbuildings.com

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5 CIDADES DA ALEMANHA

Para que seja elaborado um quadro comparativo, se faz necessário a apresentação das obras arquitetônicas precursoras e suas localizações. Dessa forma, segue abaixo uma breve apresentação de cidades alemãs, as quais servem como fonte de pesquisa para o confronto entre o original e o plágio cênico.

5 .1

AS GRANDES METRÓPOLES

Abaixo estão dispostas algumas das maiores cidades da Alemanha, as quais apresentam uma grande importância dentro do quadro mundial tanto arquitetônico quanto econômico: BERLIM: Capital da Alemanha com cerca 3,4 milhões de habitantes, tem um histórico bastante surpreendente. Passou pela Segunda Guerra Mundial, foi dividida ao meio por um muro que impedia a livre passagem de seus habitantes e ainda foi governada por quatro países diferentes. O mais impressionante é que tudo isso aconteceu a pouco mais de dez anos. Hoje Berlim é considerada a nova metrópole Européia. Esta cidade apresenta fortes destaques no quesito arquitetura. Entre as obras mais importantes destacamos o Parlamento Alemão (Foto 31), terminado em 1894, sendo depois incendiado durante o período nazista e mais tarde reconstruído. Ainda, outros estilos se mostram vibrantes, como o rococó, na Ópera Arlen A. Güttges

Mapa 6 – Alemanha Fonte:Internet.www.luizorrico.de/A_Natureza/Rios/rios


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e a Universidade com mais de 250 anos. Ainda é possível se notar alguns resquícios da Segunda Guerra, principalmente na Igreja Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche (Foto 29), que foi construída em 1895 e simbolizava o marco da Berlim Ocidental.

Foto 31-Reichstag, parlamento alemão Fonte: Build Atlas.

Foto 30-Universidade de Berlim Fonte: Buil Atlas.

Foto 29-Igreja Kaiser Fonte:www.cronicas-dalilian.com.br/cronica_lilian_27.htm

HAMBURGO: Com aproximadamente 1,7 milhões de habitantes e rodeada por rios, é considerada um grande pólo econômico alemão. Possui em sua arquitetura, um exemplar único da imponência e do orgulho imperial alemão em aço e vidro, o Hauptbahnhof (Foto 33), uma estação de trem do ano de 1906. Hamburgo também presenciou e agora demonstra o destaque do gótico na Prefeitura (Foto 32), com 647 aposentos.

Foto 32-Prefeitura de Hamburgo. Fonte:www.voudemochila.com.br/dicamochileiro /dicas/Cidades/alemanha Foto 33-Estação Hauptbahnhof Fonte: www.voudemochila.com.br/dicamochileiro/dicas/Cidades/alemanha

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DRESDEN: Comemorando 800 anos em 2006, Dresden busca, sem restrições a reconstrução do seu centro histórico (Foto 35), que mostra ainda nos dias atuais as cicatrizes da devastação causada pela Segunda Guerra Mundial.Com 474 mil habitantes, esta cidade ainda preserva grandes marcas dos estilos arquitetônicos como o Castelo Zwinger (Foto 34). LEIPZIG: Com 481.000 habitantes, foi um dos principais centros da resistência pacífica ao regime da antiga Alemanha Oriental. Após o processo de unificação, um grande número de

Foto 34-Castelo Zwinger. Fonte: www.luizorrico.de/Saxonia/saxonia

indústrias foi incapaz de competir com o mercado nacional e foram fechadas. Atualmente, no entanto, a região econômica de Leipzig-Halle está vivenciando um forte impulso nos setores comerciais e de serviços. MUNIQUE: Conhecida como a terra da cerveja, München (nome em alemão) é também apresentada pelos moradores locais como Paris alemã (Foto 36). Ocupa uma área de 34 mil hectares e fica com a terceira colocação no contingente populacional alemão, com 1,3

Foto 35-Centro Histórico de Dresden. Fonte: Build Atlas.

milhões de habitantes. Possui em seu acervo histórico, mais de vinte museus e muitas igrejas representativas do estilo barroco e gótico. Esta cidade conforta uma das maiores festividades conhecidas no mundo, a Oktoberfest, que serviu de exemplo e inspiração para as realizadas em algumas cidades brasileiras.

Foto 36-Vista parcial de Munique. Fonte:www.brazil-club.com/munique

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FRANKFURT: A sexta maior cidade da Alemanha (Foto 37) situada no coração da Europa, é segundo maior centro financeiro depois de Londres. Possui o segundo maior aeroporto europeu e teve um desenvolvimento impressionante nos últimos anos. Apresenta um forte contraste entre o novo e o antigo.

5 .2

Foto 37-Vista parcial de Frankfurt. Fonte: www.brazil-club.com/frankfurt

AS PEQUENAS CIDADES

A seguir, serão

apresentadas algumas cidades Alemãs, citadas na tabela e

localizadas com pontos vermelhos no mapa (Mapa 7). São cidades menores e, por esse motivo, menos conhecidas que metrópoles como Berlim, Hamburgo, Dresden, Hanôver ou Munique. Embora apresentem pouco destaque em tamanho e contingente populacional, estes pequenos

núcleos

possuem

importâncias

peculiares,

sob

diversos

aspectos,

tanto

arquitetônicos como históricos. Através da apresentação destas cidades, poderemos compreender um pouco mais sobre a arquitetura alemã, seus períodos e suas caras, que variam muito de região para região, buscando assim auxílio para a futura caracterização e comparação da arquitetura de Marechal Cândido Rondon.

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CIDADES Alfeld Altensteig Amberg Ansbach Arnsberg Arolsen Bernkastel-Kues Biberach Blaubeuren Bottrop Breisach Bremerhaven Burghausen Darmstadt Duderstadt Eisenach Eisenhüttenstadt Emden Erlangen Esslingen Flensburg Friedrichstadt Fulda Fürstenfeldbruck Furtwangen Hachenburg Haltern Hanau Hof an der Saale Idar-Oberstein Jena Kempten

POPUL.(mil)

LOC. MAPA

22,0 9,6 42,6 37,0 74,1 14,7 6,8 21,0 10,8 114,6 9,9 126,6 16,7 134,0 22,3 50,9 48,2 50,1 99,8 90,5 86,5 2,6 54,3 30,3 9,7 4,5 32,7 83,4 51,1 33,6 107,0 50,3

D-E 5 C 10 F-G 9 E9 C6 D6 B8 D 11 D 11 B6 B 11 C3 G-H 11 C 8-9 E6 E7 J5 B3 F9 D 10 D1 D2 D7 F 11 C 11 B-C 7 B6 D8 F-G 8 B9 F7 E 12

Mapa 7-Alemanha. Fonte: Dep. de Imprensa e Informação do Governo da República Federal da Alemanha.

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CIDADES Kleve Königlutter Lemgo Mettlach Neubrandenburg Neuburg Neuss Neustrelitz Oldenburg Padeborn Plauen Potsdam Rastatt Ratzeburg Remscheid Rendsburg Saarlouis Schwäbisch Hall Speyer Stade Stendal Straubing Uelzen Verden Weil der Stadt Weimar Wernigerode Wittenberg

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POPUL. (mil)

LOC. MAPA

44,1 16,1 38,1 11,8 83,7 24,1 144,8 27,0 140,1 110,7 77,9 138,0 40,0 11,7 120,0 30,7 37,2 31,2 44,0 40,9 45,8 40,1 35,0 23,7 16,1 63,6 35,5 54,0

A5 E5 D5 A9 H3 F 10 A6 G3 C3 C6 G8 G5 C 10 E3 B6 D2 A9 D 10 C9 D3 F4 G 10 E4 D4 D 10 F7 E5 G5

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DUDERSTADT: Grande cenário resplandecente da idade média alemã com suas casas burguesas de enxaimel (Foto 39).

Foto 39- Rua com casa de enxaimel. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 38-Catedral de Duderstadt. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

WERNIGERODE: Assim como em Duderstadt, esta cidade também é grande representante do enxaimel, vivente não só em suas fachadas (Foto 41,Foto 40) mas também na concepção estrutural e técnica.

Foto 41-Fachada na cidade. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Foto 40- Fachada na cidade. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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WITTENBERG: Cidade na qual o monge Martinho Lutero lecionava, pregando suas 95 teses, dirigidas contra as inconveniências eclesiásticas. Sua arquitetura tem como sede um marco, o Palácio de Wittenberg (Foto 43,Foto 42), onde Martinho se tornou o fundador de uma nova confissão, o cristianismo evangélico-luterano.

Foto 43-Vista da Igreja do Palácio. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 42- Vista da Igreja do Palácio. Fonte: Schulbuchverlag,1996

SPEYER: Comemorando seu 2000º aniversário em 1990, esta cidade sedia a mais antiga Catedral (Foto 45,Foto 44), inaugurada em 1061, pelo imperador Henrique IV. Foi, durante o período de 1527 a 1689, hospedeira do Tribunal Superior Imperial, uma das mais altas instâncias jurídicas do Sacro Império Romano Germânico.

Foto 45-Catedral. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Foto 44- Catedral. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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WARTBURG: “Escondido em um burgo coberto por ervas, descobriste a bíblia e o idioma alemão”, escreveu o poeta germano-suíço Conrad Ferdinand Meyer, referindo-se a Martinho Lutero, que entre 1521 e 1522 manteve-se escondido nesta cidade, traduzindo o Novo Testamento para o Alemão. Tem como ponto culminante arquitetônico a Igreja onde Elisabeth foi canonizada pelos católicos.

Foto 46-Vista de Wartburg. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

EISENACH: Cidade natal de Johann Sebastian Bach, é uma cidade de grande importância para o desenvolvimento da música alemã, especialmente a sacra.

Foto 47-Vista da Catedral de Eisenach. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

JENA: Conhecido muito além da Alemanha, por sua indústria óptica, criada por Carl Zeiss, esta cidade conserva até hoje o legado arquitetônico da época, como a Prefeitura(Foto 49), remanescente do século XIV.

Foto 49-Prefeitura. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 48-Centro de Jena. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

POTSDAM (Foto 51): Assim como Berlim, foi ampliada nos séculos XVII e XVIII pelos detentores do poder prussiano, para ser cidade residencial. Possui grandes edificações, construídas por ordenação do rei Frederico II da Prússia. Dentre elas destacamos o Palácio de Sanssouci (Foto 50), a qual teve sua configuração paisagística elaborada pelo arquiteto paisagista Peter Joseph Lenné.

Foto 51-Vista do centro. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Foto 50-Palácio de Sanssouci Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

RASTATT: Domicílio de grandes e faustosos palacetes erguidos por muitos príncipes alemães, que procuravam imitar o rei da França Luis XIV.

Tem como destaque em sua

arquitetura, um marco em memória aos movimentos liberais da historia alemã, o museu no Palácio de Rastatt (Foto 53), grande ícone do barroco na Alemanha.

Foto 53-O primeiro grande palácio barroco. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 52- Residência. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

FURTWANGEN: Cidade de onde saiam os renomados relógios da Floresta Negra. É uma cidade pequena (Foto 54), mas serve como exemplo por causa do seu alto nível de industrialização.

Foto 54-Vista da Cidade. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

WEIMAR: Talvez uma das cidades alemãs mais representativas dentro da história da arquitetura. Sede da escola marco para as artes, a Bauhaus (Foto 57), foi de grande importância, revelando imprescindíveis talentos da arte mundial como Mies Van Der Rohe e Le Corbusier. Mesmo antes da fundação da escola, esta cidade já possuía uma arquitetura muito singular com características peculiares.

Foto 55-Vista da praça. Fonte: Schulbuchverlag,1996

Foto 56- Vista do Monumento. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 57-Bauhaus em Weimar. Fonte: www.tuharburg.de/b/kuehn

AMBERG: Os balcões das casas burguesas (Foto 58), com seus ornamentos, representam a forte presença dos estilos gótico e romano.

Foto 59-Vista da ponte. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Foto 58-Balcão. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

REMSCHEID: Sede da fábrica que produziu os primeiros canos de aço sem costuras do mundo, esta cidade ainda preserva firme e deslumbrante os edifícios do centenário passado. Um exemplo é o museu Röntgen (Foto 60), que possui em sua fachada colunas jônicas, disfarçadas, mas remanescentes das ordens clássicas da arquitetura greco-romana.

Foto 60-Museu Röntgen. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

UELZEN: Muito destruída durante a Segunda Guerra Mundial, ainda preserva sua igreja central de Santa Maria, cuja torre, em estilo gótico, tem oitenta metros de altura.

Foto 62-Centro Hoteleiro de Uelzen. Fonte: www.uelzen.de.

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Foto 61-Vista dos Telhados Fonte: www.uelzen.de.

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FÜRSTENFELDBRUCK: Todo o esplendor do barroco bávaro com seus afrescos, se ostenta na antiga igreja do claustro de Fürstenfeldbruck (Foto 64), construída em meados do século XVIII.

Foto 64-Igreja do Claustro. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 63-Vista interna. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

ALFELD: Apresenta o marco da arquitetura moderna, como monumento mais notável, o edifício da Fagus (Foto 65), fábrica de solas de sapato, de autoria do fundador da Bauhaus Walter Gropius. Embora a construção citada tenha destaque, a cidade ainda mostra sua história retratada no prédio da Prefeitura (Foto 66), de 1586 e do Museu Regional de 1610.

Foto 65-Fábrica Fagus. Fonte: Khan, 1999.

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Foto 66-Vista da Prefeitura. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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NEUSS: Cidade portuária, as margens do Rio Reno, é residência de achados do Período Romano, o que comprova que a cidade tem mais de mil anos de idade. Dentro dela, está a Igreja de São Quirino (Foto 67) do século XVIII.

Foto 67-Igreja de São Quirino. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

WEI DER STADT: Cidade com bastante representatividade, principalmente por apresentar características da era medieval. Terra natal de Johanner Kepler (1571-1630), descobridor das leis planetárias.

Foto 69-Detalhes peculiares. Fonte: Schulbuchverlag,1996

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Foto 68-Vista Mercado Central. Fonte: Schulbuchverlag,1996

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

BREMERHAVEN: Por ser relativamente nova (1827) em relação a outras cidades alemãs,

apresenta uma arquitetura pouco diversificada, mas sedia o maior terminal de

contêineres da Europa e do maior porto alemão de pesca.

Foto 70-Vista do porto. Fonte: Schulbuchverlag,1996

LEMGO: Provindo do século XVI, o bairro antigo de Lemgo preserva suas casas em enxaimel de duas ou mais cores (Foto 71), suas fachadas com frontões de pedra e igrejas que se conservam incólumes.

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Foto 72-Fachadas. Fonte: Schulbuchverlag,1996

Foto 71-Casas em Enxaimel. Fonte: Schulbuchverlag,1996

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STENDAL: A prefeitura (Foto 74) e a Igreja de Santa Maria , lembram a prosperidade da cidade durante o século XV. Com características peculiares, apresenta fachadas diversificadas e estilos arquitetônicos variados, das mais diferentes épocas.

Foto 74-Prefeitura de Stendal. Fonte: Schulbuchverlag,1996

Foto 73-Igreja de Sta. Maria. Fonte: Schulbuchverlag,1996

HACHENBURG: Situada à margem direita do Reno, tem em seu perímetro, ao lado da igreja, uma das mais antigas hospedarias (Foto 75) da Alemanha, construída no século XIII e conservada com as características da época.

Foto 76-Vista do centro. Fonte: Schulbuchverlag,1996

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Foto 75-Hospedaria. Fonte: Schulbuchverlag,1996

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

FRIEDRICHSTADT: Refúgio dos fugitivos religiosos holandeses, foi fundada no primeiro quarto do século XVII. As casas com frontões (Foto 78) oferecem um quadro da antiga cidade da Holanda.

Foto 77-Vista do lago. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 78-Frontões. Fonte: Schulbuchverlag,1996

AROLSEN: Como edifício mais representativo, inspirado no palácio real de Versalles, o museu municipal (Foto 80) foi sede da residência do Soberano príncipe do século XVIII. Outra bela faceta da cidade são as ruas com casas burguesas em enxaimel (Foto 79) , fornecendo um cenário adequado a festas populares.

Foto 80-Museu municipal. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Foto 79-Casa em enxaimel. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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OLDENBURG: Um dos mais antigos edifícios da cidade é e torre do antigo hospital do Espírito Santo (Foto 82), de 1468. Outra obra de grande destaque, com fortes características do renascimento holandês, é a Prefeitura (Foto 81), construída em 1840.

Foto 81-Prefeitura. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 82-Torre do Hospital. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

METTLACH: Situada em uma região onde as pessoas gostam de passear ou fazer excursões, esta cidade porta a construção de um grande convento do barroco tardio (Foto 83), hoje sede de uma grande fábrica de cerâmica.

Foto 84-Vista do convento. Fonte: Schulbuchverlag,1996. Foto 83-Entrada do Convento. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

EMDEN: Através do portal (Foto 85), situado no porto, vê-se a prefeitura de Emden, construída no último quarto do século de XVI e reconstruída de forma mais simplificada, depois de graves danificações ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial.

Foto 85-Portal de Emdem. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

BOTTROP: Abarca muitos prédios industriais do século XIX, como por exemplo a torre de extração “Prosper II” (Foto 86), substituída em sua função mediante uma ampliação.

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Foto 86-Vista da Torre. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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VERDEN: Cidade dos Cavaleiros de Verden, concentra em seu entorno a impressionante Catedral Gótica (Foto 87), edificada entre os séculos XII e XV, e também a luxuosa casa campestre burguesa de 1577 (Foto 88).

Foto 88-Casa Burguesa. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 87-Vista Catedral. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

SCHWÄBISH HALL: Chegando a prosperidade devido à extração de sal, preserva as edificações burguesas da época de 1803 (Foto 90), em estilo enxaimel como na prefeitura (Foto 89).

Foto 90-Edificação burguesa. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Foto 89-Prefeitura. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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NEUSTRELITZ: Fundada em 1733 como residência dos duques de MecklenburgStrelitz, mostra uma volta ao século XVIII, com a Prefeitura (Foto 92) e a igreja do parque do palácio (Foto 91), edificada em 1855.

Foto 92-Prefeitura de Neustrelitz. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 91-Igreja. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

FULDA: Por ser sede de grandes encontros das conferências dos Bispos Católicos Alemães, concentra em seu centro muitos prédios barrocos (Foto 94), construídos no século XVIII por ordem dos abades príncipes.

Foto 94-Edifico no centro. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Foto 93-Rua Central. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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FLENSBURG: Pertencente a coroa dinamarquesa durante quatrocentos anos até o século XIX adentro, está situada no mar Báltico, possuído uma característica arquitetônica bastante singular, representada em seu portal de entrada (Foto 95), que cumprimenta os que chegam e os que partem.

Foto 95-Portal de entrada. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

SAARLOUIS: Com porte de uma das mais modernas fábricas de automóveis da Europa, Saarlouis ainda preserva cinzas do neogótico, como a torre da igreja (Foto 96), do século XIX.

Foto 96-Torre da Igreja. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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NEUBRANDENBURG:

Englobando

em

seu

quadro

arquitetônico

fortificações

medievais (Foto 98) que sobreviveram à Segunda Guerra Mundial, ao contrário do restante da cidade, que, fundada em 1250, apresenta seu centro totalmente mudado, cercado por uma muralha de 2,3 km, interrompida apenas pelas quatro portas de acesso (Foto 97).

Foto 98-Casas em Enxaimel. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 97-Portal de acesso. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

EISENHÜTTENSTADT: Passando por várias mudanças, inclusive no nome, essa cidade do leste alemão preserva em seu contexto muitas obras do estilo gótico como a Catedral (Foto 99).

Foto 100-Prédio no centro. Fonte: : Schulbuchverlag,1996.

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Foto 99-Catedral. Fonte: : Schulbuchverlag,1996.

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BIBERACH: A igreja matriz , dos séculos XIV e XV, e a prefeitura de 1503, fazem parte dos mais belos e notáveis prédios históricos da cidade.

Foto 102-Prefeitura.. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 101-Igreja Matriz. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

PADERBORN: Tem como símbolo da cidade a torre da Catedral, do século XI com seu teto afilado (Foto 104). Também preserva um grande acervo de edifícios em enxaimel (Foto 103).

Foto 104-Catedral. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Foto 103-Edifício em enxaimel. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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KEMPTEN: É uma das mais antigas cidades da Alemanha, com fortes influências romanas. As graves lesões, causadas pela Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), estão curadas a um certo tempo. Possui uma forte expressão do gótico na edificação da prefeitura, (Foto 106) mostrando destaque também com a Igreja o convento de São Lourenço, de 1601 (Foto 105), no mais pleno vigor do barroco.

Foto 106-Prefeitura. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 105-Convento de São Lourenço. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

ANSBACH: Sede do evento “Semana Bach de Ansbach”, em homenagem ao artista Johann Sebastian Bach, é casa da Igreja de São João, exemplar vivo do gótico tardio, construída na metade do XVIII.

Foto 107-Torre. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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STADE: Assim como em Padeborn, essa cidade possui como marco a torre da igreja matriz (Foto 109), com sua cúpula barroca de 1682. Uma preciosidade preservada é a carreira de casas as margens de um afluente do rio Elba (Foto 108), nas qual destacamos a residência do Prefeito Hinkel , branca e vermelha, remontando à primeira metade do século XVII.

Foto 109-Cúpula da Torre. Fonte: Schulbuchverlag,1996

Foto 108-Casas as margens. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

STRAUBING: Muito bem localizada, na parte navegável do Rio Danúbio, Straubing esteve sempre em uma condição econômica favorável. Em sua arquitetura, retrata o gótico em suas igrejas.

Foto 111-Igreja central. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Foto 110-Torre do Relógio. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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ESSLINGEN: Importante cidade industrial, conservou intacto seu núcleo medieval. Com um relógio astronômico, o prédio suntuoso da Prefeitura (Foto 112) retrata a arquitetura do fim do século XVI.

Foto 114-Vista parcial. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 113-Torre da Catedral. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 112-Fachada da Prefeitura. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

BURGHAUSEN: Tem destaque na arquitetura pela presença imponente do maior Castelo da Alemanha (Foto 116), cujo nome é o mesmo da cidade. Com mais de um quilômetro de comprimento, foi edificado entre o século XIII e fins do século XV e está implantado na parte mais alta da cidade.

Foto 116-Vista do Castelo. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Arlen A. Güttges

Foto 115-Centro da Cidade. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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BREISACH: Muito cobiçada em guerras entre a Alemanha e a França por sua favorável condição geográfica, mostra em sua face arquitetônica, retrato do estilo romântico em suas igrejas.

Foto 118-Vista parcial. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 117-Entrada do Castelo Fonte: Schulbuchverlag,1996. .

BERNKASTEL-KUES: Situada entre as margens do rio Mosela (Foto 120), apresenta em destaque o burgo de Landshut, construído no século XIII, com casas em enxaimel (Foto 119).

Foto 119-Casas em Enxaimel. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Foto 120-Vista da cidade. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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KÖNIGSLUTTER: A Catedral do Imperador (Foto 122), com fortes influências do estilo romântico italiano do século X.

Foto 122-Vista da Catedral. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 121-Vista da torre da igreja. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

HALTERN: Situada em meio a um grande parque natural, tem um marco central determinante: a Prefeitura (Foto 124), que foi reconstruída após graves destruições ocorridas na Segunda Guerra Mundial. O gótico também se manifesta em sua igreja (Foto 123).

Foto 124-Prefeitura. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Arlen A. Güttges

Foto 123-Igreja. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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NEUBURG EN DER DONAU: Sede de dois grandes castelos o século XIV, esta cidade possui também casas antigas cuja restauração dá ensejo a festas.

Foto 126-Vista parcial. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 125-Castelo. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

BLAUBEUREN: Construído em 1493, o altar da igreja do convento de Blaubeuren é uma obra prima do entalhe em madeira da época gótica tardia.

Foto 127-Vista da cidade. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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HANAU: Possui o Palácio Philippsruhe, inspirado segundo o modelo francês, foi construído no início do século XVII. É também um centro industrial de suma importância para a Alemanha.

Foto 128-Palácio. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

ERLANGEN: A vista da cidade apresenta um choque entre o antigo e o novo de uma só vez. A igreja da Universidade e o edifício da Siemens (Foto 130) confrontam o modernismo e o barroco.

Foto 130-Contraste entre antigo e novo. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Foto 129-Sede da Prefeitura. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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HOF NA DER SAALE: Possui como grande remanescente do estilo gótico a Catedral (Foto 131) com suas torres imponentes no centro da cidade.

Foto 131-Catedral. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

PLAUEN: Cidade que teve setenta e cinco por cento de sua totalidade destruída em 1945, preservando ainda como grandes monumentos históricos da arquitetura a Prefeitura (Foto 133), do ano de 1508 e a igreja de São João (Foto 132), quarenta anos mais nova.

Foto 133-Prefeitura. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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Foto 132-Igreja de São João. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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RATZEBURG: Abriga a impressionante Catedral (Foto 134) dos séculos XII e XIII, imagem real da representação do estilo gótico.

Foto 134-Catedral. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

IDAR-OBERSTEIN: Outra cidade com sobejos do estilo gótico como a igreja (Foto 135) construída em um rochedo no século XV. Possui jazida de pedras semipreciosas como ágata e ametistas ainda do tempo romano.

Arlen A. Güttges

Foto 135-Vista da Igreja. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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ARNSBERG: A fonte em frente à torre da fortaleza (Foto 137), com sua cúpula barroca, relembra o período dos últimos príncipes eleitores de Colônia, cuja cidade tomavam com sede para suas residências de verão. Em 1815 a cidade passou para o estado prussiano que construiu prédios classicistas, como a igreja da ressurreição (Foto 136).

Foto 137-Cúpula Barroca. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 136-Igreja da Ressurreição. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

RENDSBURG: Cidade antiga que abriga uma das mais antigas hospedarias da Alemanha, a Landsknecht, que em 2001 completou quatrocentos e sessenta anos.

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Foto 138-Hospedaria. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

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DARMSTADT: Muito destruída pela ação da Segunda Guerra Mundial , a cidade possui grandes obras arquitetônicas, datadas do século XVIII como o Palácio (Foto 139). Já no início do século passado foi construída a chamada Torre de Núpcias (Foto 140), monumento destacado do movimento art nouveau alemão.

Foto 139-Palácio. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Foto 140-Torre de Núpcias. Fonte: Schulbuchverlag,1996.

Pudemos concluir após o levantamento e catalogação de algumas das cidades mais representativas da Alemanha que, muitas fases arquitetônicas se sucederam desde o período imperial até o contemporâneo, conferindo a este país, o marco de um exemplo vivo da história da arquitetura. Pudemos reparar ainda, que vários estilos se fixaram no país, mesmo por causa da grande miscigenação dos povos que por lá passaram. Por isso, a Alemanha apresenta uma diversidade muito grande em relação às edificações. Analisando criteriosamente, observamos que o enxaimel, predominante na cidade em estudo e alvo principal de críticas, está presente em quase todas as cidades acima citadas.

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Por isso, será elaborado um quadro comparativo, para se chegar a um denominador que trará a tona às viabilidades e possibilidades de execução, como forma simbólica ou até mesmo original, desse tipo de arquitetura, sanando assim quaisquer tipos de dúvidas existente entre a sociedade em geral.

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6 O ENXAIMEL Embora muito se comente sobre o enxaimel no município de Marechal Cândido Rondon, pouco se sabe a respeito desse tipo de construção, tratado por muitos como um estilo arquitetônico. Como um exemplo de edificação presente em larga escala na Europa do século XVIII e plagiada, em muitas cidades do Brasil, esse sistema é a base do estudo mais aprofundado do trabalho, por estar presente em quase todas as cidades da Alemanha. Ao tratarmos de Marechal Cândido Rondon, o enxaimel é o arquétipo mais presente dentre as edificações com características germânicas da cidade, justificando o fato da proeminência do mesmo dentro deste trabalho. Assim estenderemos a seguir a correta afirmação do verdadeiro enxaimel (Foto 141) e suas necessidades, pendências e vantagens, tudo voltando-se para a região da cidade em estudo.

6 .1

A ORIGEM DO ENXAIMEL

Presente em vasta escala nas mais diversas regiões da Europa, o então chamado enxaimel se manifestava não como um estilo, mas sim como uma técnica de construção totalmente artesanal, a qual mais adiante iremos explicar.

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Foto 141-Casa em Enxaimel. Fonte: www.greatbuildings.com

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Segundo Vidor6, essa técnica, conhecida dos etruscos de VI a.C., pode ter tido seu começo até um século antes. “... até agora nenhum pesquisador pode atestar uma paternidade cultural reconhecida da origem da técnica construtiva primitiva ou secundária dos enxaiméis, muito menos de sua hipotética etnicidade ou exclusividade nacional, embora intelectuais, imprensa, autoridades e pessoas vinculadas ao turismo, os incluam, equivocadamente, na categoria de estilo arquitetônico e considerá-lo como germânico”.(IMHOF, 2000).

Esta técnica, desenvolvida primeiramente no círculo campesino, é trazida, durante os séculos XVII e XVIII ao meio urbano, porém, com variados requintes de ações acentuadamente artesanais, como, madeiramento esculpido, floreiras trabalhadas e os mais diversificados tipos de adereços, que se misturam e confunde-se com a estrutura original. Para ressaltar o contraste e a miscelânea entre a estrutura e o fechamento, os painéis eram pintados na cor branca e a estrutura de sustentação em preto ou marrom. Ainda é possível encontrar, em cidades da Europa, principalmente Alemanha, centros inteiros edificados com esse tipo de técnica, a qual se mostrava em edificações de cunho considerado exclusivo da alta burguesia.

6

Vilmar Vidor é Diretor do IPUB - Instituto de Planejamento Urbano de Blumenau.

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Foto 142-Centro de Munique. Fonte: Biller,1987.


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“O enxaimel não é uma criação alemã, assim como as construções ecléticas não são germânicas, nem açorianas, mas tem sua base nestes lugares. De base açoriana ou germânica engendra-se localmente outras formas e funções na construção e no cotidiano da arquitetura local / regional. É oportuno lembrar que o processo de reprodução da arte e da técnica acompanha o homem, modifica-se e adapta-se às condições locais, e quando representativo, permanece como testemunha de sua contribuição numa temporalidade determinada”. (VIDOR, 2000).

Não se sabe ao certo a origem definitiva do enxaimel, mas se considera que seja um exemplar de nacionalidade européia.

6 .2

CHEGADA DO ENXAIMEL AO BRASIL

O enxaimel trata de um sistema construtivo bastante simples. Trazido ao Brasil pelos imigrantes alemães do final do século XIX, e apresentado como símbolo de uma época, esse sistema desanda ao período renascentista, desenvolvido em alguns países Europeus. Tratando-se da Alemanha, esse método de construção bastante rudimentar e artesanal, já se mostrava ultrapassado entre os séculos XVI e XVII. Executado em algumas regiões do país, em especial no sul, não é, em sua totalidade, original. Arlen A. Güttges

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“O desenvolvimento da técnica enxaimel aconteceu no sul do Brasil, por europeus que trouxeram consigo, arquivado em suas memórias, conhecimentos

produzidos

no

cotidiano,

nos

respectivos

lugares

de

origem”.(VIDOR, 2000). O que o caracteriza como um exemplar de devida importância, é seu caráter simbólico, em representar na forma arquitetônica cristalizada a transformação pela qual a cultura passa, em prol o culto da memória. “... se reveste de importância pela sua transmutação, adaptabilidade e forte significado de um período onde procurou-se sedimentar um novo modo de vida, o evento de um processo cultural em gestação. O importante não é o ato, a originalidade intrínseca da tecnologia, ou no caso da arquitetura, mas da reinvenção de um processo cultural para justificar a cidadania nova”. (VIDOR, 2000). O enxaimel foi e ainda é alvo de críticas constantes, tanto pela forma como executado quanto pela apresentação. No Brasil, muitas cidades deparam esse tipo de arquitetura e dentre elas podemos destacar apenas algumas que realmente manifestam a ascendência para a cultura germânica. Embora seja encontrado com maior destaque e quantidade nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o enxaimel se faz presente também em outras cidades do país como em Campos do Jordão (Foto 145), Petrópolis, Rolândia e Marechal Cândido Rondon. Arlen A. Güttges

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Mantendo o enfoque na cidade em estudo (Marechal Cândido Rondon), a relação do enxaimel com o município vem causando diversas contradições. Segundo entrevistas e pesquisas envolvendo membros da administração municipal, o estilo enxaimel, abrolha no município incentivado pela lei de isenção do IPTU, como um objeto de resgate cultural expresso em imagens do nosso cotidiano. Esse tipo de construção, em Marechal Cândido Rondon, visa adolescer o turismo

Foto 143-Petrópolis. Fonte:www.rio2001negocios.com.br/ petropolis/

regional, assegurando o giro econômico procurado para o município. Embora a intenção seja a melhor possível, infelizmente, pela ausência de informações e falta de orientação sobre o verdadeiro estilo germânico, em destaque o enxaimel (cuja paternidade é desconhecida); na cidade, as pessoas ensejam obras de arquiteturas quiméricas, caracterizadas pela criação de estilos incoerentes e sem semelhança técnica alguma com o verdadeiro exemplar alemão.

6 .3

O CONHECIMENTO DA CONSTRUÇÃO DE ENXAIMEL7

Foto 144-Pomerode. Fonte:www.teutonia-latina.net/br/SantaCatarina/pomerode/

Os trabalhadores responsáveis pela execução das construções residenciais na Alemanha das décadas de 30 e 40, eram divididos em dois campos profissionais, sendo os carpinteiros, respondendo pelas edificações de enxaimel e os pedreiros, que se dedicavam as construcões em alvenaria. Embora as duas profissões se resignavam a sistemas construtivos diferentes, as

7

Todos os dados deste capítulo foram retirados o livro Der praktische zimmerer.

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Foto 145-Portal de Entrada. Fonte:wwwtvturismo.terra.com.br/campos_do_j ordao/ informacoes.htm


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técnicas caminhavam sempre juntas quando se tratava de uma obra de enxaimel, pois a combinação entre a alvenaria e a madeira, era evidente. A aplicação do sistema de enxaiméis tem regredido consideravelmente nos últimos 100 anos, em primeiro lugar pelas dificuldades encontradas durante sua execução e em segundo, pelo alto custo que sua manutenção apresenta, situação bem diferente da encontrada na confecção de estruturas para coberturas, onde até o presente momento, não se encontrou matéria prima mais barata e de fácil manuseio do que a madeira. Mesmo não sendo mais difundido, o enxaimel merece uma profunda consideração, pois nesse tipo de construção se apresentava a base dos conhecimentos da concepção estrutural, sendo considerado um exemplo a ser seguido durante as execuções em alvenaria, pois se parte em tese, dos mesmos princípios: pilar, viga, engaste, travamentos, contraventamentos, etc.

6 .3 .1

O CONHECIMENTO DO ENXAIMEL NAS CONSTRUÇÕES “Enxaimel é cada componente de madeira (caibro, viga, pilar, escora,

etc.) usado na armação das paredes de taipa, para receber e suster o barro amassado. Fach, do alemão, quer dizer Prateleira ou divisão”.(KRESS, 1940). “Zachwerkbau, é a denominação em alemão para o enxaimel sendo traduzido sob a denominação de construção em prateleiras e através dela se designa uma construção em que as paredes são estruturadas por uma tramado de madeira aparelhada em que as pecas horizontais, verticais e Arlen A. Güttges

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inclinadas são encaixadas entre si e cujos tramos são posteriormente preenchidos com taipa, adobe, pedras, tijolos, etc...”.(WEIMER, 1983, p. 45). “O Fachwerk alemão consistia de uma construção quadrada ou retangular cuja fundação de pedra tinha sua profundidade limitada pela composição do solo. O corpo da construção, cubo ou prisma tem nas suas arestas pilares de madeira, encaixados nos vértices. A cobertura, em alguns casos com ramos vegetais, muito comumente com placas de madeira, posteriormente com telhas planas de argila ou ardósia. A estrutura da construção é autoportante e com isso as paredes de vedação podiam ser de filetes de bambu ou similar, preenchidos com argila, ou ainda com tijolos sobrepostos no sentido longitudinal dos barrotes do piso. As coberturas distribuídas simetricamente nos lados do cubo ou prisma. Na Alemanha e em outros lugares da Europa estes prédios dificilmente ultrapassaram seis pavimentos”.(VIDOR,2000). As construções de enxaiméis eram limitadas de um a três pavimentos, podendo ser o térreo ou o subsolo (parte estrutural), usado como cômodos da casa. A fundação, geralmente formada por pedras encontradas no local, era delimitada de acordo com o tipo do solo e a profundidade do lençol freático. Muitas residências utilizavam-se do espaço interno propiciado pela fundação, para a utilização como adegas e porões.

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A figura abaixo (Ilustração 3) mostra claramente o princípio do sistema, tomando como exemplo um canto de uma casa de dois pavimentos, mais o embasamento. As paredes são duplas e alternadas (com duas fileiras de travas), tendo a base em pedras servindo de apoio para o primeiro pavimento. Componentes do sistema: 1- Barrote de base (apoiada sobre a base); 2- Viga de parede inferior; 3- Viga de parede superior; 4- Viga de travamento; 5- Trava de janela (verga e contra verga); 6- Viga vazia ou de meio; 7- Viga de assoalho; 8- Viga de canto de assoalho; 9- Esteios ou pilar de canto (aprumadas); 10- Pilar de janela; 11- Escora; 12- Viga de apoio da cobertura; 13- Base em pedra.

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Ilustração 3-Vista de canto de uma casa (esqueleto em madeira). Fonte:Autor a partir de Kress, 1951.


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6 .4

EXECUÇÃO DE UMA OBRA DE ENXAIMÉIS

A seguir iremos tratar de um projeto completo de uma casa de enxaiméis. Muitos dos carpinteiros e pedreiros não têm o conhecimento necessário a respeito do preparo das exigências técnicas, que antecedem o trabalho prático da construção de uma nova obra. Por isso, daremos um exemplo, através de um manual, das cobranças feitas desde a concepção técnica até a obra concluída.

6 .4 .1

A EXIGÊNCIA LEGAL DE UM PROJETO

A primeira etapa para os que buscavam executar uma residência na Alemanha da década de 40 era a confecção de um projeto, o qual deveria conter uma planta desenhada por um profissional da área da engenharia ou arquitetura, de forma clara e limpa, na escala de 1:100. Esse primeiro projeto era denominado “projeto de aprovação” e serviria, além de oferecer uma prévia da residência ao proprietário, para garantir a aprovação nos órgãos competentes. Nessa planta, deveriam estar representadas as divisões dos ambientes da edificação, a localização dos equipamentos e acessórios complementares (hidráulico e estrutural). Ainda, juntamente com essa planta, se fazia necessário um desenho topográfico do local a ser implantada a futura obra, podendo ser este em escala de 1:1000 ou 1:1500. Além disso, era

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ainda exigida uma planta de localização, utilizada para a vistoria e o levantamento das divisas e implantações da casa em relação aos terrenos vizinhos, pelo topógrafo.

6 .4 .2

EXIGÊNCIAS PARA O INÍCIO DA CONSTRUÇÃO

Com o projeto de aprovação em mãos, o carpinteiro pouco podia fazer. Por isso, depois de apresentado e devidamente aprovado pelos órgãos responsáveis, um novo projeto, agora mais detalhado, chegava às mãos dos construtores. Esse novo pacote de pranchas continha uma planta de cada pavimento e os cortes (transversal e longitudinal), todos devidamente cotados e com as informações necessárias, em escala de 1:50. Depois de analisado e estudado o projeto, o mestre de obra passa a traçar um plano, relatando toda a trajetória da obra, em forma de um cronograma. Isso servia para a organização dos serviços e a compra dos materiais e hora e quantidade certa. Tomaremos como exemplo uma residência unifamiliar8 (Ilustração 4) com três pavimentos mais o embasamento, apresentando os componentes e as fases da execução de uma obra de enxaiméis, descrita passo a passo logo a seguir.

8

É importante ressaltar que esse exemplo atem-se apenas ao sistema construtivo e material de

acabamento.

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Ilustração 4-Casa de enxaiméis com embasamento de pedras. Fonte: Autor a partir de Kress, 1951.

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A ilustração a seguir, mostra a localização das linhas de corte na planta.

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A casa, acima apresentada, conta com uma área de aproximadamente 360m2, distribuídos em três pavimentos (incluindo o sótão), mais o térreo, que por se encontrar em um terreno em declive, abriga um subsolo parcial.

6 .4 .3

PASSO A PASSO NA EXECUÇÃO

O passo crucial para o começo da obra é a escolha do terreno, pois ele influenciará significativamente, principalmente na etapa inicial. Neste caso, optou-se por um terreno com um pequeno e suave declive (Ilustração 5). É de fundamental importância o conhecimento também do tipo de solo, pois ele determinará qual a profundidade da fundação a ser executada.

Ilustração 5-Terreno em declive. Fonte: Autor a parti de Kress,1951.

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O segundo passo é a adequação do terreno em relação à obra que será nele implantada. Neste caso, trabalharemos com uma edificação enterrada parcialmente no solo, por isso necessitaremos de movimentação de terra (Ilustração 6).

Foto 146-Base em pedra. Fonte:www.germanframework.com.de

Ilustração 6-Terreno já com as escavações feitas, pronta para receber a fundação. Fonte: Autor.

Depois de preparado, o terreno receberá a base que servirá de apoio para toda a estrutura de enxaiméis dos pavimentos subseqüentes. Antigamente, as fundações eram executadas com as pedras encontradas na própria região onde as casas eram edificadas (Foto 146). Mais tarde, os tijolos de barro e os blocos estruturais em concreto (Foto 147) substituiriam esse método. O assentamento das pedras podia ser feito de várias maneiras, dependendo do tipo e da forma das pedras encontradas.

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Foto 147-Embasamento em blocos de concreto. Fonte:www.germanframework.com.de


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No exemplo a seguir (Ilustração 8), notemos que a profundidade do embasamento não ultrapassa 1,20m (vide corte DD, pág.110) abaixo do nível mais alto do terreno. Isso ocorre por causa da proximidade do lençol freático em relação à superfície, acarretando uma necessária elevação das paredes da base, deixando o então porão no nível térreo. O rejuntamento das pedras era feito com argila e as paredes possuíam de 25cm a 45cm de espessura, dependendo da carga que a mesma deveria suportar. O embasamento também tinha a função de elevar a casa, isolando a estrutura de madeira do solo, assegurando-a contra a umidade. Para o apoio do barrote da base, era deixado uma pequena reentrância de 5cm no canto superior das paredes, nas quais o mesmo se apoiava (Ilustração 7).

Ilustração 7-Reentrância para o apoio. Fonte: Autor a partir de Kress,1951. Ilustração 8-Embasamento em pedra. Fonte: Autor a partir de Kress,1951.

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Ilustração 9-Colocação da viga de piso inferior. Fonte: Autor a partir de Kress,1951.

Após a completa execução do embasamento, eram confeccionadas as vigas de assoalho (Ilustração 10) que geralmente apresentavam uma sessão de 15x25cm e se estendiam, geralmente, no menor sentido da planta baixa. Esse vigamento era apoiado diretamente sobre a base de pedras e estrangulado pela viga de parede inferior, na qual serão, mais adiante, encaixados os pilares.

Ilustração 10-Vigamento do piso. Fonte: Autor a partir de Kress.1951

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Foto 148-Vigamento do piso apoiado sobre a base. Fonte: www.germanframework.com.de


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A próxima etapa compreende a fase de elaboração e confecção das amarras que irão configurar o conjunto das paredes de enxaiméis. Para uma boa execução, deve-se primeiro traçar um plano com a seqüência de montagem com os respectivos encaixes. É de suma importância que se tenha o conhecimento da quantidade de aberturas que cada fachada terá, pois assim será possível determinar a quantidade de vigas, pilares e escoras dimensionadas para tal parede. A partir disso, separa-se o material necessário, organiza-se o canteiro e posicionam-se as peças a serem usadas. Usaremos brevemente uma fachada mais simples (Ilustração 11) para constatarmos o princípio estrutural. Tendo a quantidade e o posicionamento das aberturas, podemos definir os conjuntos de pilastras (neste caso A,B e C), que formarão a estrutura portante da obra. Em seguida, obtendo a distância entre as aberturas, calculamos a dimensão do conjunto de pilastras, que na fachada citada se apresenta da seguinte forma, como na Ilustração 12.

Ilustração 12-Parede de enxaimel. Fonte: Kress.1951

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Ilustração 11-Fachada de uma casa. Fonte: Kress 1951.


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Podemos notar que as pilastras A e C possuem uma largura de 1,35 m e a pilastra B 1,40m, lembrando que estas distâncias são variáveis de acordo com cada projeto, ressaltando que as pilastras centrais, na maioria das vezes, apresentarão medidas diferentes das de canto. O próximo passo é o dimensionamento das peças de acordo com os vãos existentes na estrutura. Geralmente os esteios ou pilares de canto (vide Ilustração 3, pág. 91) , aparecem com uma seção de 20x20cm e são os responsáveis por suportar a maior parte do peso da estrutura superior, transmitindo-a para a base.

Juntamente com os esteios, os pilares de

janela “c” (Ilustração 13) dividem a função estrutural, mas de forma mais amena. Com uma sessão de 14x12cm, eles servem de suporte para a viga de parede superior, responsável pelo travamento final do conjunto. Para o escoramento dos esteios, utilizam-se madeiras inclinadas “b” com seção em geral de 12x12cm, também chamadas de escoras. Em um sistema de enxaimel, devem ser usadas duas escoras em cada canto, podendo ocorrer o cruzamento das mesmas com as vigas de travamento. As inclinações das escoras devem ser as mesmas em todos os cantos, sendo estas, obtidas através do seguinte processo: primeiramente obtêm-se a altura dos esteios nos quais serão colocadas as escoras, desde a viga de parede inferior até a viga de parede superior. Na Ilustração 13, podemos verificar que a medida é de 2,34 metros. Após, esta medida é dividida por três, que neste exemplo compreende 78 centímetros, resultando assim na distância que a parte inferior da escora terá do esteio. Ainda lembramos que é recomendada a conservação de 10 centímetros entre o esteio e a parte superior da escora, assegurando que a viga de parede superior não lasque ou rache, uma vez que dois encaixes se mostram muito próximos (esteio x viga e escora x viga). Arlen A. Güttges

Ilustração 13-Fragmento da parede enxaimel. Fonte: Kress,1951


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A colocação da viga de travamento (vide Ilustração 3, pág. 91) é resultado da distância entre o esteio e o pilar de janela, usada para garantir um menor trabalho da escora e maiores facilidades durante a montagem da estrutura. As escoras, sempre deverão ser empurradas na direção de seus encaixes superiores, observando para que todas as vigas do mesmo pavimento estejam no mesmo sentido. Para isso, recomenda-se que cada piso da obra de enxaiméis seja montado separadamente. Em uma obra de dois ou mais andares, é importante que ocorra a alternância entre as escoras, porém é imprescindível que a escora do último pavimento, abaixo da cobertura, seja empurrada para fora (Ilustração 14), garantindo à estrutura de enxaiméis molejos e oscilações uniformes. Para a união das peças, são utilizados encaixes, cada um devidamente entalhado em função da situação de emboque. Tomaremos aqui, alguns tipos de ligações para o modelo da Ilustração 13. No caso do esteio “a” 20x20cm, ocorre um corte em sua parte superior para a formação de um pino e uma lingüeta que subirá por trás da viga de parede superior (Ilustração

Ilustração 14-Canto de uma estrutura enxaimel de 2 pavimentos. Fonte: Autor a partir de Kress.1951

15) Já na sua parte inferior, o esteio possui um pino angulado em 90º (Ilustração 16) ou apresenta um encaixe mais detalhado que se encontra com a viga de parede inferior (Ilustração 17).

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Ilustração 17-Encaixe do esteio. Fonte: Kress.1951

Ilustração 16-Encaixes inferiores de esteios e pilares de janela. Fonte: Kress.1951

Ilustração 15-Encaixe superior do esteio. Fonte: Kress.1951


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Na colocação das escoras inclinadas, o corte para a formação dos pinos superior e inferior se faz em ângulo (Ilustração 18). Como acontece em muitas obras, os carpinteiros preferem deixar o pino apenas inclinado, acompanhando a escora (Ilustração 19), sem ângulo, resultando na necessidade de entalhes na viga de parede inferior de forma inclinada em ambos os lados, acarretando em um trabalho muito impreciso, uma vez que se torna difícil a exatidão na angulação interna. Para que haja uma maior perfeição nos encaixes, as perfurações devem ser feitas na vertical em ambos os lados para os pilares e esteios, e na vertical em um lado e angulado em

Ilustração 18-Pino em ângulo com molde de ferro. Fonte: Kress.1951

outro para as escoras (Ilustração 20). Para os cortes angulados, utilizamo-nos de um molde de ferro em ângulo, conforme Ilustração 18. Para que os carpinteiros pudessem diferenciar os entalhes inclinados dos verticais, eram feitos sinais na madeira com um formão ou haste de ferro. Um risco significava que o furo estava na vertical e dois riscos furos indicavam uma perfuração inclinada. Nas vigas de travamento, eram freqüentemente utilizados encaixes em cruzamento (Ilustração 23), sendo este método bastante desaconselhado, pois com as fortes pressões das

Ilustração 19-Pino sem ângulo. Fonte: Kress.1951

cargas existentes na estrutura como um todo, as travas e escoras oscilam e se desencaixam, causando ondulações nas paredes. O melhor processo é a utilização de encaixes com pinos (Ilustração 22), onde as traves são perfuradas parcialmente, atenuando a perda de sua resistência. No encontro com os pilares de janela e esteios, as vigas de travamento recebem um pino, encaixando-se nos mesmos.

Ilustração 20-Encaixe do pilar e escora. Fonte: Kress.1951

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Ilustração 21-Encaixe das escoras com a viga de parede inferior. Fonte: Kress.1951 Ilustração 22-Encaixe das escoras com pinos. Fonte: Kress.1951

Nas travas superiores de janela, em função de sua altura e por estar em muitos casos muito próxima da viga de parede superior, era apenas assentada, tendo seu encaixe com pino, que era angulado ou reto (Ilustração 25). A seguir, apresentaremos as etapas do processo de montagem de uma parede de enxaiméis e para isso, tomaremos como exemplo uma parede mais curta com cinco postes e duas escoras (Ilustração 24) Ilustração 23- Encaixe das escoras em cruzamento Fonte: Kress.1951

Ilustração 24-Parede sem janelas em enxaimel montada e pronta. Fonte: Kress.1951

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Ilustração 25-Encaixe da trava de janela. Fonte: Kress.1951


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Primeiramente as vigas e os barrotes (Ilustração 27) são colocados em cima um do outro para a demarcação e a confecção dos entalhes que receberão os encaixes dos pilares.

Ilustração 27-Barrotes e vigas marcadas e preparadas para receber a perfuração. Fonte: Kress.1951

A perfuração era feita com formões (Ilustração 26) através de moldes confeccionados em ferro para cada entalhe. Após a perfuração ter sido feita, deitam-se as vigas de parede inferior e superior sobre dois suportes formado por cavaletes de madeira (Ilustração 28) afastados (este afastamento varia de acordo com a necessidade em função da altura da parede a ser montada) e nivelados. Ilustração 26-Moldes em ferro. Fonte: Kress.1951

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Ilustração 28-Apoio para montagem das paredes. Fonte: Kress.1951

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Depois de devidamente apoiados sobre os cavaletes, os pilares são cortados na sua extremidade superior e encaixados na viga de parede superior. Uma vez encaixados em um dos lados os pilares precisam ser alinhados e para isso recebem um ripa que pregada determinará o esquadro dos pilares (Ilustração 29).

Ilustração 29- Pilares encaixados e pregados com a ripa. Fonte: Kress.1951

Em seguida, as escoras são deitadas sobre a ripa e a viga de parede superior para a demarcação e o entalhe das mesmas conforme Ilustração 30.

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Ilustração 30-Escoras deitadas sobre a ripa e a viga de parede superior. Fonte: Kress.1951

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Após o entalhe e corte das escoras, estas são encaixadas e pregadas juntamente com os pilares na ripa (Ilustração 31).

Ilustração 31-Escoras já encaixadas e pregadas na ripa. Fonte: Kress.1951

Em seguida são colocadas as vigas de travamento sobre as escoras e pilares para que sejam feitas as marcações e cortes nas medidas necessárias (Ilustração 32).

Ilustração 32-Vigas de travamento sobre os pilares e escoras.. Fonte: Kress.1951

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Cortadas as vigas de travamento, a ripa é removida e as mesmas são encaixadas. Neste momento a viga de parede inferior é colocada sobre as escoras e pilares (Ilustração 33) para a compatibilizacão dos entalhes.

Ilustração 33-Viga de parede inferior colocada sobre os pilares e escoras (a ripa é retirada). Fonte: Kress.1951

Após o entalhe, a viga de parede inferior é colocada novamente sobre os pilares e escoras para que desta vez, os mesmos sejam demarcados e cortados, dando seqüência com a confecção dos pinos para o encaixe na viga de parede inferior. Nota-se que as vigas de travamento são desencaixadas e apenas colocadas sobre os pilares e escoras definindo o espaçamento, através do seu ressalto.

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Ilustração 34-Delimitação para o corte das sobras. Fonte: Kress.1951

Depois de cortados os pilares são encaixados e as escoras apoiadas para o corte (Ilustração 35).

Ilustração 35-Escoras apenas apoiadas para o corte das sobras. Fonte: Kress.1951

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Por fim, ao madeiramento é colocado sobre o chão e estrangulado entre as vigas de parede inferior e superior, finalizando o processo de montagem da parede de enxaiméis (Ilustração 36 e Ilustração 37).

Ilustração 36-Parede pronta para o estrangulamento. Fonte: Kress.1951

Ilustração 37-Parede pronta para a montagem. Fonte: Kress.1951

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Este processo de montagem se repete em todas as paredes de enxaiméis da obra, variando pouco de acordo com a configuração de cada uma. Depois de montadas, as paredes seguem para o local da colocação definitiva, se encaixando entre si, formando um conjunto auto portante que irá configurar a estrutura da casa. Em seguida, colocam-se todas as paredes em alinhamento utilizando um processo

Ilustração 38-Parede encaixada e alinhada. Fonte: Kress.1951

chamado pelos carpinteiros de “processo de três metros” (Ilustração 38), onde era empregado um triângulo de , 2,40m de base por 1,80m de altura, resultando em uma hipotenusa de 3,00m, a qual garantia que a angulação de 90º estava perfeita e as parede ajustadas em prumo. Para manutenção das paredes na vertical, eram utilizadas escoras que permaneciam até que os esteio estivessem perfeitamente encaixados. As estruturas, unidas por encaixes que recebiam cunhas (Ilustração 41), ou ainda pregos e cavilhas de madeira (Ilustração 39) tinham uma aplicação para cada caso.

Ilustração 41-Encaixe com a utilização de cunhas. Fonte: Kress.1951

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Ilustração 40-Encaixe com o uso de cavilhas. Fonte: Kress.1951

Ilustração 39-Prego e cavilha de madeira. Fonte: Kress.1951


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A seguir, alguns tipos de encaixes e suas respectivas utilidades na montagem da estrutura.

Ilustração 42- Encaixes usados em vigas de parede inferior e superior. Fonte: Kress.1951

Ilustração 43-Encaixes usados no encontro de duas vigas. Fonte: Kress.1951

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Ilustração 44-Encaixes usados em conexões entre duas vigas. Fonte: Kress.1951

Ilustração 45 Encontro de vigas de assoalho com as vigas de parede inferior. Fonte: Kress.1951

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A parede de enxaiméis, depois de encaixada, permanece apoiada sobre o vigamento de assoalho (Ilustração 46) já depositado sobre a base.

Fotos 149- Montagem das paredes de enxaiméis. Fonte: Internet www.zimmereiberger.de

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Ilustração 46-Parede de enxaiméis já montada e apoiada sobre vigamento do assoalho. Fonte: Kress.1951

Assim que concluída a montagem das paredes externas, começa a montagem das paredes internas da casa (Ilustração 47), as quais servirão de apoio para o madeiramento do piso superior (Ilustração 48) que neste pavimento de posicionam em sentido transversal. As paredes do interior são montadas com por pilaretes de 10x10cm, com escoras e vigas de travamento, aplicadas como na estrutura externa.

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Ilustração 47-Montagem da estrutura das paredes internas. Fonte: Autor a partir de Kress.1951

Ilustração 48-Vigamento do piso superior já com os vazios para as escadas. Fonte: Autor a partir de Kress.1951

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Foto 150-Vigamento do piso. Fonte: Internet www.zimmereiberger.de

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Depois de assentados os vigamentos do piso, são montados os frontões, utilizando-se do mesmo processo usado na confecção das paredes. Em seguida os frontões são encaixados e escorados até que as paredes internas (as quais apoiarão novamente o vigamento do piso superior dando o travamento longitudinal) estejam prontas (Ilustração 49).

Ilustração 49-Acima colocação dos frontões e abaixo estrutura das paredes internas. Fonte: Autor a partir de Kress.1951

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Em seguida o vigamento do piso (Ilustração 50) superior é encaixado nos frontões e apoiado sobre a estrutura das paredes internas, desta vez no sentido longitudinal. Logo acima eram colocados os pilares que suportaria a viga de cumeeira (Ilustração 51).

Ilustração 50-Vigamento do piso superior. Fonte: Autor a partir de Kress.1951

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Ilustração 51-Pilares apoiando a viga de cumeeira. Fonte: Autor a partir de Kress.1951

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A estrutura da cobertura e as tesouras eram geralmente apoiadas sobre o vigamento do piso ou em uma viga transversal ao mesmo (Ilustração 52), dependendo do tipo e da forma do telhado, geralmente se apresentando com uma inclinação bastante acentuada (acima de 45 graus), em resposta as tempestades de neve provenientes do clima predominantemente frio encontrado em toda Europa. É de grande importância citar, que segundo Sauk9, os telhados das edificações na Alemanha, possuíam em geral uma inclinação de 52 graus, a mesma utilizada nas pirâmides do Egito. Com essa inclinação, acreditava-se que as casas propiciariam aos seus moradores,

Ilustração 52-Apoio da tesoura. Fonte: Kress.1951

energias para a conservação do corpo e da alma, a exemplo do que acontecia com faraós embalsamados. As tesouras eram travadas no encontro com a viga de cumeeira. Com a grande inclinação, o sótão era projetado de forma a ser utilizado também pelos moradores como depósito ou mesmo um ambiente da casa. Para isso era deixado um pé direito livre com altura suficiente para circulação em pé.

Ilustração 54-Encaixes utilizados para travamento das tesouras. Fonte: Kress.1951

9

Jürgen Henry Sauk é Engenheiro e Bioquímico, nasceu na Alemanha em 1909 e veio para o Brasil em

1966. Arlen A. Güttges

Ilustração 53-Tipos de encaixes das tesouras. Fonte: Kress.1951


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Abaixo, seguem alguns tipos de tesouras utilizadas para a liberação da área logo abaixo do telhado (Ilustração 55).

Ilustração 55 -Tipos de tesouras que estruturavam coberturas. Fonte: Kress.1951

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Depois de instalada, a estrutura da cobertura recebe em seu conjunto a estrutura da mansarda (Ilustração 56), um tipo de janela projetada para fora do telhado que servia para a iluminação da área compreendida dentro do telhado (no caso da residência em exemplo, os quartos e o sótão).

Ilustração 56- Estrutura do telhado com a mansarda estruturada. Fonte: Autor a partir de Kress.1951

As mansardas poderiam ser de várias formas (Ilustração 57), também variando de acordo com o tipo e forma do telhado, mas sempre exercendo a mesma função. Em alguns casos, para facilitar a execução do telhado, algumas telhas eram substituídas por chapas de vidro, dispensando assim a confecção das mansardas (Foto 152). Ilustração 57-Tipos de mansardas. Fonte: Kress.1951

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Foto 151-Alguns exemplos de mansardas. Fonte: Internet www. berger-reetdach.de

Foto 153-Vista interna da mansarda. Fonte: Internet www. berger-reetdach.de Foto 152-Telhado com aberturas em vidro. Fonte: Build Atlas

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Ilustração 58-Tesouras da cobertura já com os contrafeitos pronta para receber o ripamento. Fonte: Autor a partir de Kress, 1951.

Antes da colocação do ripamento para a sustentação do telhamento, eram feitas as alterações no caimento. Para isso eram utilizados os contrafeitos (Ilustração 59), madeiras com a mesma sessão das tesouras, que tinham a finalidade de suavizar o caimento, mudando ligeiramente a direção da queda da água, impulsionando a mesma para longe da edificação.

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Ilustração 59-Contrafeitos. Fonte: Autor.

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Ilustração 60-Ripamento já colocado. Fonte: Autor a partir de Kress, 1951.

Finalmente, após a colocação do ripamento, o esqueleto da casa de estrutura em enxaimel está pronto. O próximo passo é a cobertura, onde neste caso estaremos trabalhando com telhas de tábuas, como era em sua originalidade. Mas o tipo de cobertura pode variar bastante (Foto 154). Existiam residências que apresentavam telhas de ardósia, outras coberturas em palha e ainda as com telhas de barro. Hoje a telha mais utilizada é a de cerâmica, variando muito em seus formatos, mas sempre respeitando a função da aplicação.

Foto 154-Alguns tipos de coberturas. O primeiro de palha, o segundo em telha de barro e o terceiro em lascas de madeira. Fonte: www.museumsverbund-ol.de

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Ilustração 61-Estrutura em enxaimel já coberta com telha de madeira. Fonte: Autor a partir de Kress, 1951.

Com a colocação da cobertura(Ilustração 61), a obra está praticamente protegida contra a ação dos agentes naturais, por isso, nessa fase começa o processo do acabamento da obra. O passo seguinte é a colocação das escadas e a montagem dos assoalhos de todos os pavimentos, começando pelo inferior. As escadas eram inteiramente de madeira, podendo ser auto portantes (Ilustração 62) ou engastada nas paredes através de escoras. O espelho era geralmente limitado em 20 centímetros, resultado de uma pequena quantidade de degraus. O piso dos pavimentos era feito de madeira em tábuas corridas (Ilustração 63) apoiadas sobre as vigas de assoalho. As formas de assentamento levavam em consideração a questão acústica, por isso os espaços compreendidos entre o assoalho e o forro do pavimento inferior eram preenchidos com materiais que tinha a finalidade de isolar acusticamente contra os barulhos do sapateado que se propagavam para os pavimentos inferiores. Arlen A. Güttges

Ilustração 62-Escada do estábulo. Fonte: Autor a partir de Kress, 1951.

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Entre os materiais mais utilizados estavam o carvão moído, tábuas e ripas remanescentes da obra, areia, lama e rejeitos da taipa. Quando se tinham vãos muito grandes entre duas vigas de assoalho, eram utilizadas cascas de árvores em meia-lua. Abaixo podemos ver alguns cortes transversais de fragmentos de pisos (Ilustração 64).

Ilustração 63-Vista do interior do 2º Pavimento Fonte: Autor a partir de Kress, 1951.

Ilustração 64-Cortes longitudinais de fragmento do piso com os isolamento acústicos. Ao lado corte transversal. Fonte: Kress, 1951.

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Com o piso já assentado e os acessos aos pavimentos facilitados com a colocação das escadas, chega o momento de aplicar o fechamento das paredes internas e externas da obra. Os fechamentos, inicialmente de barro, apresentavam um trabalho bastante rudimentar. Consistia na confecção de tramas de madeira ou bambu, os quais receberiam o barro amassado. Primeiramente as vigas de travamentos eram brocadas (perfuradas) para o encaixe das madeiras verticais da trama, colocadas logo em seguida. Lascas de madeira fina transpassavam as madeiras verticais formando uma trama muito fechada (Ilustração 65). Essa trama, depois de pronta recebiam o barro para o fechamento final (Foto 155).

Ilustração 65-Etapas do fechamento da parede de enxaiméis. Fonte: www.fachwerkhaus.de

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Foto 155-Aplicação do barro na trama de galhos. Fonte: www.fachwerk.de


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Depois de pronta, a parede era regularizada e já com o barro seco, recebia uma demão de tinta branca, com a finalidade de contrastar com a estrutura e servir como um isolante contra as intempéries.

Foto 156-Fragmento de uma parede. Fonte: www.fachwerk.de

Ilustração 66-Fechamento com barro. Fonte: www.fachwerkhaus.de

Quando o fechamento da parede era feito com tijolos (Ilustração 68), o processo era mais simples, porém, contava com uma peça triangular (Ilustração 67) colocada junto dos pilares com a finalidade de garantir fixação do tijolo a estrutura. Para que isso ocorresse, o tijolo era fresado (Ilustração 69) no formato da peça triangular.

Ilustração 67-Peça triangular para fixação do tijolo. Fonte: www.fachwerk.de

Ilustração 69-Tijolo em planta e perspectiva (fresado) Fonte: www.fachwerk.de Ilustração 68-Parede fechada com tijolos maciços. Fonte: www.fachwerkhaus.de

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As paredes ainda podiam ser em pedras (Foto 159) e madeira, dependendo da disposição do material no local e da condição financeira do proprietário da obra. Algumas paredes porém, apresentavam uma dupla camada (Ilustração 70) que tinha a finalidade de abrigar melhor a casa contra o frio europeu. Foto 157-Fechamento em tijolos. Fonte: www.fachwerkhaus.de

Ilustração 70-Corte de fragmento de paredes demonstrando as camadas. Fonte: www.fachwerkhaus.de

Nesta etapa a obra pode ser considerada pronta (Ilustração 71), uma vez que a casa já está habitável, faltando somente as esquadrias das aberturas.

Foto 158-fechamento em barro. Fonte: www.fachwerk.de

Foto 159-Fechamento em pedras. Fonte: www.fachwerk.de

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Ilustração 71-Obra com fechamento. Fonte: Autor a partir de Kress, 1951.

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As aberturas eram em madeira e variavam principalmente em função da situação financeira do proprietário da casa. As janelas eram geralmente de duas folhas com venezianas. A seguir alguns modelos de aberturas mais presentes nas remanescentes das edificações em enxaiméis.

Foto 160-Tipos de aberturas portas. Fonte: www.fachwerkaus.de

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As aberturas, portas e janelas, eram pintadas nas cores verde, branca ou marrom, quase sempre com floreiras e guirlandas enfeitando-as (Foto 161). Após a colocação das esquadrias, a obra já está pronta para ser habitada.

Foto 161-Aberutas. Fonte:Build Atlas.

Ilustração 72-Casa pronta. Fonte: Autor a partir de Kress, 1951.

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6 .5

O ENXAIMEL ATUALMENTE

Embora seja de uma riqueza arquitetônica honrável, essa técnica passa a se tornar obsoleta nos tempos atuais, principalmente em cidades com climas como o do Brasil, onde a consideração dos efeitos da ação do tempo é um fator de predominante importância no momento da concepção do projeto. As casas que hoje adotam esses princípios apresentam requintes de sofisticação, com materiais nobres e acabamentos de primeira, configurando uma nova forma de construção de enxaiméis.

Foto 162-Casas de enxaiméis da década de 70 a 80. Fonte: www.fachwerkhaus.de

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Algumas

empresas,

principalmente

na

Alemanha,

se

tornaram

construtoras

especializadas nesse tipo de edificação, edificando residências pré-montadas em tempos recordes, utilizando o sistema de enxaiméis.

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Foto 163- Processo de construção de casa pré-fabricada de enxaiméis. Fonte: www.zimmerei-luebben.de/fachwerkbau.html

Construir uma obra com a técnica de enxaiméis requer muita experiência por parte dos carpinteiros, pois se trata de um processo bastante artesanal, aumentando assim os gastos, tornando a construção financeiramente inviável para muitos. Arlen A. Güttges

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Para se construir uma casa com aproximadamente 130 metros quadrados, seria necessário desembolsar cera de 75.000 euros, que equivale à quantia de 246 mil reais, resultando em 1.890 reais por metro quadrado de construção.

6 .6

A REPRODUÇÃO DO ENXAIMEL NO BRASIL

No Brasil, o enxaimel ainda apresenta resquícios modificados em várias regiões do sul, em especial cidade como Blumenau, Pomerode e Itajaí. A adaptação, para este sistema, era inevitável quando da sua chegada, por isso, algumas alterações eram feitas para que a obra se adequasse ao local. Em conseqüência do clima subtropical predominante no Brasil, não se faziam necessários, telhados com inclinações superiores 45 graus, tomando-se apenas como medida de proteção contra ação de chuvas, a construção de varandas (Foto 164). O telhado, inicialmente formado por folhas de palmito, fora mais tarde substituído por tabuinhas de madeira, tendo hoje a predominância da telha cerâmica. A base, inicialmente formada por pedras da região, passa a ser de tijolos, suportando os barrotes que apoiavam o piso, feito com tábuas corridas. A elevação da edificação sobre pedras evitava que a mesma ficasse em contato direto com o solo, evitando assim o apodrecimento da madeira.

Arlen A. Güttges

Foto 164-Casa em Sta. Catarina. Fonte:Gazeta do Paraná,2003.


Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

7 O ENXAIMEL EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON

A arquitetura de Marechal Cândido Rondon, vem a alguns anos, sofrendo certas mudanças em sua identidade, principalmente após a criação da Lei de Incentivos Fiscais a edificações com características “Enxaimel” e “Casa do Alpes”. As casas e residências começam a receber adereços e elementos decorativos que procuram caracterizar a cidade como germânica. A aplicação desses ornamentos vem trazendo conseqüências desastrosas para a paisagem arquitetônica, que vista de um modo mais técnico, confere a cidade um status de cenografia fachadista. Algumas casas foram catalogadas para que se fosse feita uma comparação em relação as apresentadas anteriormente na Alemanha. A seguir,algumas das casas consideradas germânicas em Marechal Cândido Rondon, as quais estão classificadas em ordem distintas.

Arlen A. Güttges

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

7 .1

LOCALIZAÇÃO DAS OBRAS EM ENXAIMEL NO MUNICÍPIO

Norte

CASA COM CARACTERÍSTICAS GERMÂNICAS DELIMITAÇÃO DO PERÍMETRO URBANO RIOS, CÓRREGOS E SANGAS

Escala Gráfica 500m

1000m

SA NG

A

PE RO BA

250m

270

Az 270º00

367 366 266 A z 90 º00

Az 270º00

368

--------------- 12º P E R I M E T R O ----------------

365 A z 90 º00

293

Az 270º00

A z 90 º00

E

379

LR 293

R

371

IM

Az 90º00

R

RO DA G

378

162º26

DE

Az 00º00

Az 00 º00

A z 00 º00

A z 00 º00

Az

A z 00º00

373

O AD JE LA O AD RV CU

EST RA DA

ESTRADA DE RODAGEM

----------

Az 270º00

377

375

Az 90º00

----

372

360

EM

O

268

P/

T

A z 90º00

361

Az 270º00

LR 297

LI

E

A z 90 º00

NH A

380

Az 270º00

A z 270º00

PER OB A>>

370

ºP 12 ---

362

A z 90 º00

----

Az 270º00

----

363

----

Az 270º00

267

369

RUA SUBURBANA

364

359 Az 90º00

Az 270º00

LR 296/297 A

374

358

Az 90º00

Az 270º00

Az 270º00

A z 270º00

Az

284º

40

OPP 296

348

347

346

344

345

343

342

341 340

337

338

336

MENDES

Az

DO

A z 197.40

>>

1 7.40

12 13

11

330 10

329

197.40

Az

197.40

A z 197.40

SUL

CEN TRO>

14

17.40

DE

15

Az

GRAN

17.40

RIO

Az

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16

17.40

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Az 27 4º00

17

98

Az

18

17.40

Az

<< PORTO

339

SUL

17.40

DO AV. RIO GRANDE

Az

349

Az 17.40

350

Az

351

17.40

352

Az

353

17.40

354

Az

355

Az 17.40

356

1 7.40

Az

357

284º40

17.40

17.40

1 7.40

Az

Az

Az

17.40

17.40 Az

Az

Az

17.40

17.40

17.40

Az

Az

A z 00 º00

Az 00º00

Az 00 º00

A z 00 º00

Az 00º00

A z 00º00

Az 00º00

A z 00º00

A z 00º00

A z 00 º00

A z 00 º00

A z 12º16

A z 00 º00

Az

20º40

PERIMETRO URBANO ATUAL

328

197.40

Az

9 Az 28 7.40

Az

8

Az

197.40

7 6 197.40

5 197.40

Az

Az

4 3

197.40

--------------- 12º P E R I M E T R O ----------------

287º40

Az

Az

197.40

Az

19 7.40

Az

19

56

Az

287.40

Az

55

A z 197.40

Az

A z 197.40

A z 287.40 287º40

197.40

Az

19 7.40

Az

19 7.40

20

21

Az 287.40 287º40

197.40

Az

Az

54

22

Az Az

287.40 Az 287.40

287º40

53

23

Az 285.40

Az

57

A z 287.40

287º40

24

Az

181º52

52 Az

58 287º40

A z 287.40

25

Az 95 º48

Az 287.40 287º40

59

51

197.40

Az

Az

26 A z 90 º00

A z 282º32

Az

27

60 287.40

50 A z 90 º00 A z 277º01

61 A z 287.40

49

28

A z 90 º00

Az 27 2º24 0º00

Az 282º29

APEPÚ

62

48

29

A z 90 º00

Az 27 0º00

SANGA

63 A z 275º08

47

30 Az 27 0º00

A z 90 º00

64 31

A z 90 º00

-------------

44 A z 90º00

Az 27 0º00

ºP 12

34

43

ER

Az 90º00

Az 27 0º00

IM 42

ET

35

RO

A z 90 º00

Az 27 0º00

----------

41 36

A z 90º00

----

Az 27 0º00

40

37

A z 90º00

Az 27 0º00

39

38

Arlen A. Güttges

Az 270º00

AND A z 90º00

SAN

GA

45 A z 27 0º 00

33

ORIN HA

46 A z 27 0º 00

32

65 Az 270º00

66

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7 .2

EDIFICAÇÕES QUE APLICAM O SISTEMA DE ENXAIMÉIS

Foto 167-Edifício Industrial. Fonte: Acervo pessoal.

Arlen A. Güttges

Foto 166-Residência. Fonte: Acervo Pessoal.

Foto 165-Residência. Fonte: Acervo Pessoal.

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7 .3

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EDIFICAÇÕES REFORMULADAS EM FACHADAS DECORATIVAS

Foto 171-Escritório Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 173-Sede Banco Sicredi. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 177:Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Arlen A. Güttges

Foto 170-Sede Banco Itaú. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 174-Centro de Eventos. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 176-Sede Banco HBC. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 168-Edifífio Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 169-Edifício Industrial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 172-Residência. Fonte:Acervo pessoal.

Foto 175-Edifício Irmãos Lamb. Fonte: Acervo pessoal.


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Foto 180-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 187-Hotel. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 184-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Arlen A. Güttges

Foto 179-Casas p/ Exposição. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 182-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 183-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 178-Edifício na praça. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 181-Portal da Cidade. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 189-Câmara Júnior. Fonte: Acervo pessoal.

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Foto 186-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 185-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 188-Edifício comercial

F


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Foto 192-Edifício comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 199-Sede Emater. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 194-Posto de saúde. Fonte: Acervo pessoal.

Arlen A. Güttges

Foto 191-Loja Cercar. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 198-Ciretran. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 193-Hotel Bavária. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 190-Centro Cultural. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 200-Edifício comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 197-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 196-Edifício Link. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 195-Banca de revistas. Fonte: Acervo pessoal.

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Foto 204-Casa do Artesão. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 205-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 211-Residência. Fonte: Acervo pessoal.

Arlen A. Güttges

Foto 203-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 206-Residência. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 210-Fórum municipal. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 202-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 207-Residência. Fonte: Acervo pessoal.

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Foto 201-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 208-Edifício Residencial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 209-Edifício comercial. Fonte: Acervo pessoal.


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Foto 212-Edifício comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 215-Edifício comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 220-Edifício comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Arlen A. Güttges

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Foto 214-Edifício comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 213-Edifício comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 217-Residência. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 219-Edifício comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 216-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 218-Edifício Comercial. Fonte: Acervo pessoal.


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7 .4

A LEI DE CONCESSÃO DE FAVORES FISCAIS (IPTU)

Elaborada em 1987, pela administração municipal, com iniciativa da Câmara Júnior, esta lei entrou em vigor em fevereiro de 1988 para conceder isenções às construções típicas em “Enxaimel” e “Casa dos Alpes”. A exemplo do que aconteceu em Blumenau, os resultados da aplicação dessa lei foram catastróficos, mostrando reflexo em edificações meramente fachadistas sem a adoção de princípios culturais alguns. “O patrimônio de uma cidade está representado não só nos edifícios, mas nos objetos, na paisagem, nos costumes, nas tradições, nas festas. Enfim, em tudo aquilo que se reconhece ávida, a historia e os valores culturais expressos pelos vários segmentos da população”. (GALENDER, 1982, P. 126). A cidade precisa apresentar um embasamento cultural e histórico, fator de importância muito mais abrangente que a mera descendência, ainda por que a população rondonense de hoje, se preserva apenas em sua quinta geração, quase totalmente desligada da Alemanha. É imprescindível que a arquitetura seja algo originário de forma natural, sem imposições, para que englobe dentro de um todo com as mais diversas áreas culturais em mais um atrativo, sendo mais do que um elemento desastroso com “boas intenções”.

Arlen A. Güttges

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Decreto nº 090/87 Data: 22 de junho de 1987. SÚMULA: APROVA O REGULAMENTO PARA A CONCESSÃODE FAVORES FISCAIS ÀS CONSTRUÇÕES TÍPICAS EM “ENXAIMEL” E “CASA DOS ALPES”. O prefeito Municipal de Marechal Cândido Rondon, estado do Paraná, usando as atribuições que lhe são conferidas pelo artigo 26, Inciso X e Artigo 93, Incisos I e XXIX, da Lei Complementar nº 27, de 08 de janeiro de 1986 (Lei Orgânica do Município) e tendo em vista o disposto no Artigo 4º da Lei nº 1.627, de 14 de julho de 1986 e Artigo 2º do Decreto nº 015/87, de 23 de fevereiro de 1987, DECRETA Artigo 1º-Fica aprovado o Regulamento para a concessão de favores fiscais aos imóveis construídos no município de Marechal Cândido Rondon, para fins comerciais, residenciais isolados ou conjuntos, com a apresentação dos estilos arquitetônicos típicos conhecidos como “ENXAIMEL” e “CASA DOS ALPES”. Artigo 2º - Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Gabinete do Prefeito Municipal de Marechal Cândido Rondon, Estado do Paraná, em 22 de junho de 1987. REGULAMENTO DA LEI nº 1.627 de 14 de julho de 1986, que concede favores fiscais às construções típicas para fins residenciais e comerciais, aprovada pelo Decreto nº 090/87, de 22 de junho de 1987. CAPÍTULO I Dos Favores Fiscais Arlen A. Güttges

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Artigo 1º - Fica o chefe do Poder Executivo Municipal, autorizado a isentar do pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU, até o limite de 100% (cem por cento), os imóveis que forem construídos no Município de Marechal Cândido Rondon, para fins comerciais, residenciais isolados ou conjuntos, que apresentarem os estilo arquitetônicos típicos conhecidos como “ENXAIMEL” e “CASA DOS ALPES”. Parágrafo Único – Os benefícios referidos na Lei nº 1.627, de 14 de julho de 1986, serão extensivos às edificações adaptadas aos estilos mencionados no “caput” deste artigo. Artigo 2º - Os favores estabelecidos no Artigo 1º da mencionada Lei, serão concedidos por um período de até 10 (dez) anos, contados da data expedição do “Alvará de Habite-se”. Artigo 3º - A comissão a que se refere o Artigo 3º da Lei nº 1.627, de 14 de julho de 1886 e Artigo 9º deste regulamento, dará o seu parecer ao pedido de isenção, após vistoriar a obra, cabendo ao Poder Executivo expedir o competente ato de isenção. CAPÍTULO II Dos Estilos Artigo 4º - Para efeito de concessão dos benefícios fiscais de que trata a Lei nº 1.627, de 14 de julho de 1986, fica entendido que: a) – Estilo arquitetônico conhecido como “Enxaimel” é aquele que apresenta: Índices de Pontuação da Fachada 1- Cobertura - inclinação mínima de 60% - Telhas - Francesa - Chata (Germânica) - Colonial - Estrutura da cobertura aparente em madeira com testanas - Mansardas

40 10 06 10 04 10 10

2- Esquadrias - De madeira - De metal

10 10 05

Arlen A. Güttges

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3- Travejamento - Madeira embutida - Madeira sobreposta - Ressalto em alvenaria ou concreto pintado

30 30 25 10

4- Tratamento de Fachada - Reboco pintado de branco, creme ou similar - Revestimento com pedras, tijolos tijoletes - Floreira sob as janelas, revestidas externamente com madeira

20 03 07 10

b)

Estilo arquitetônico conhecido como “Casa dos Alpes” é aquele que apresenta:

5- Cobertura - inclinação mínima de 60% - Telhas - Francesa - Chata (Germânica) - Colonial - Estrutura da cobertura aparente em madeira com testanas - Mansardas - Extremidades das terças escalonadas em madeira

40 10 06 10 04 10 05 05

6- Esquadrias - De madeira com veneziana - De metal com veneziana

10 10 05

7- Sacadas - De madeira

30 30 25 20 10

- De metal

- trabalhada - reta - trabalhada - reta

8- Tratamento de Fachada - Reboco pintado de branco, creme ou similar - Revestimento com pedras, tijolos tijoletes - Floreira sob as janelas, revestidas externamente com madeira Arlen A. Güttges

20 03 07 10

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Parágrafo Único – As edículas (apêndices), quando existirem, devem acompanhar, obrigatoriamente, o estilo da edificação, bem como muros e grades. Comunicação visual, propagandas, luminárias, ar condicionado, etc. , devem receber tratamento adequado para que se harmonize com o conjunto. CAPÍTULO III Das Sanções Artigo 5º - Durante o período de vigência da isenção, o proprietário beneficiado não poderá proceder mudanças ou reformas estruturais que venha descaracterizar o imóvel; se o fizer, cessarão os favores concedidos em qualquer época e sem qualquer formalidade legal. Artigo 6º - Em caso de reparos ou recuperação parcial da edificação, bem como em caso de ampliação ou redução da construção original beneficiada, a continuidade da isenção dependerá da sempre de um novo requerimento do proprietário e de uma nova vistoria por parte da comissão encarregada do julgamento. Artigo 7º - Quando o proprietário se julgar prejudicado com o indeferimento ou com a suspensão dos benefícios, poderá recorrer da decisão do órgão competente, apresentando neste caso, um laudo técnico assinado por, no mínimo, 02 (dois) profissionais, cabendo a comissão a que se refere o Artigo 9º deste Regulamento, rever o processo ratificando o parecer inicial ou reformulando-o. CAPÍTULO IV Dos Pedidos da Isenção Artigo 8º - Os postulantes dos favores fiscais deverão instruir os seus pedidos com um requerimento especifico em duas etapas: 1º Etapa – antes do inicio da execução da obra deve ser apresentado o projeto arquitetônico, para analise inicial da comissão, que emitirá parecer, favorável ou não; 2º Etapa – devem ser apresentados: a) – parecer favorável da comissão na primeira etapa; b) – projeto arquitetônico; c) – fotografia de diversos ângulos da edificação, em cores; d) – xerox do “Habite-se” ou o próprio original. Arlen A. Güttges

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Parágrafo 1º - O parecer favorável da Comissão na primeira etapa da analise não implicara em nenhum compromisso prévio a aprovação do pedido de isenção, dependendo esta da execução da obra de acordo com o projeto apresentado. Parágrafo 2º - O projeto arquitetônico constituir-se-á de: - Planta baixa – esca. 1:50; - Cortes transversais e longitudinal – esc. 1:50; - Fachada – esc. 1:50; - Perspectiva; - Memorial descritivo. CAPÍTULO V Do Órgão Julgador Artigo 9º - A comissão encarregada de das parecer nos pedidos da concessão de favores fiscais às “Casas Típicas”, será designada pelo Prefeito Municipal e constituirá dpor um coordenador, indicado pela Prefeitura Municipal e cinco arquitetos ou engenheiros civis indicados pelas seguintes entidades: Câmara Municipal, Prefeitura Municipal, Associação Comercial e Industrial de Marechal Cândido Rondon – ACIMACAR, Câmara Júnior de Marechal Cândido Rondon- CAJUMAR e Associação representativa da classe, de acordo com o Artigo 3º, da Lei Municipal nº 1.627, de 14 de julho de 1986. Parágrafo Único – A comissão que trata este artigo, terá 15 (quinze) dias para dar seu parecer aos processos, contados da data do recebimento do requerimento, ressalvados aos casos de diligencia, enviando o mesmo para despacho final do Executivo,Municipal, o qual confirmará no todo ou em parte, a decisão da comissão através de Decreto. Artigo 10 – A comissão de “Casas Típicas” prestará seus serviços sem ônus para a Prefeitura e exercerá suas atividades em expediente normal de trabalho, estando autorizada a valer-se de viaturas e funcionários da Prefeitura Municipal para o perfeito desempenho de suas atividades. CAPÍTULO VI Disposições Gerais

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Artigo 11 – A assessoria de Planejamento e de Orçamento fica encarregada de fornecer aos profissionais ou aos proprietários interessados na construção de “Casas Típicas”, os elementos técnicos e arquitetônicos dos estilos favorecidos pela Lei, objeto deste regulamento. Parágrafo Único – A orientação técnica e os subsídios que foram fornecidos pela Assessoria de Planejamento e Orçamento, não implicarão tacitamente, em qualquer compromisso prévio na aprovação ou rejeição final do pedido de isenção, tendo em visa que a decisão final cabe ao Prefeito Municipal, que o fará através de Decreto. Artigo 12 – Os projetos técnicos das edificações pretendentes aos favores fiscais da lei das “Casa Típicas”, terão que ser, obrigatoriamente, elaborado por profissionais cadastrados e registrados. Artigo 13 – As despesas decorrentes com a vistoria das edificações e outras que se fizerem necessárias a um perfeito julgamento do processo, ocorrerão por conta o interessado. Artigo 14 – A comissão poderá reduzir a seu critério os favores concedidos e o período da isenção. Artigo 15 – As questões omissas no presente Regulamento, serão resolvidas pela comissão, de comum acordo com o Chefe do Poder Executivo Municipal e a parte interessada. Gabinete do Prefeito Municipal de Marechal Cândido Rondon, Estado do Paraná, em 15 de junho de 1987.

Analisando delicadamente a Lei, podemos notar que falhas estão evidentes, em primeira instância, por não caracterizar ou propiciar exemplos de edifícios concretos, deixando uma lacuna muito extensa no que se refere aos estilos, tanto “Enxaimel” como “Casa dos Alpes”. Outro fator que deve ser levado em consideração é o de que o enxaimel não está classificado como um estilo arquitetônico e sim como uma técnica de execução. Um fator que ainda deve ser lembrado é a relação do custo benefício que uma edificação em enxaimel pode trazer a seu executor em relação aos apoios financeiros por parte Arlen A. Güttges

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do poder público municipal, uma vez que essa técnica, mesmo sendo meramente fachadista, proporciona um aumento considerável no orçamento final da obra. Alem dos fatores acima citados, um manual de execução com diretrizes se faz extremamente necessário, para que a edificação seja realmente significativa e apreciada. Dessa forma, muitas questões são levantadas, principalmente no caso dos benefícios da Lei, a qual, segundo muitas pessoas não traz incentivos suficientes. “Só uma fachada não torna a obra tão bonita e atrativa quanto se fosse seguido um estilo germânico com rigor”. (FRANCO apud GIACOBBO, 2001, p. 12). Se a obra não apresentar características fortes e marcantes, o edifício não passará de uma réplica mal elaborada do protótipo alemão. Nessa concepção, para que isso não passasse a ocorrer mais, uma mudança drástica deveria vir a calhar na Lei acima apresentada. A mudança inicial, talvez estivesse na obrigatoriedade da presença total dos adereços, para que a “maquiagem de fachada” (assim denominada a intervenção com o enxaimel) tivesse caráter imitativo em seu todo e não apenas em partes distintas. Outra mudança, na verdade um acréscimo, estaria na questão de orientação e educação para os profissionais e partes interessadas, para que houvesse um esclarecimento maior sobre o assunto em destaque.

Arlen A. Güttges

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Assim, o objetivo de tornar Marechal Cândido Rondon uma cidade com fortes traços germânicos, seria antecipado, trazendo, em longo prazo (é importante ter isso em mente), a revitalização do turismo local e, como conseqüência, o reaquecimento da economia. Apesar dessas mudanças, muitos outros esforços deverão ser dispensados, principalmente no campo do turismo em geral, que deverá ser trabalhado para que o município como um todo seja atrativo, com restaurantes típicos,danças e outros dotes que representam a cultura e o folclore alemão, para assim, considerar a arquitetura dentro do contexto turístico, como mais um complemento, dentro dos elementos representativos.

7 .5

O OLHAR CRÍTICO AO ESTILO GERMÂNICO

As edificações em enxaimel de Marechal Cândido Rondon apresentam alguns equívocos se comparados com os originais, mesmo como forma de reprodução. Com um olhar voltado para a técnica e analisando as questões culturais e funcionais, apresentam-se a seguir algumas comparações das adaptações feitas pela cidade, como forma de mostrar intervenções errôneas na busca pela fachada germânica. Sede do Banco Sicredi: o telhado depositado sobre o edifício, cujo revestimento é todo em mármore, traz a tona a dúvida entre a proporcionalidade funcional ou busca da estética. Se comparada com edificações originais, reparamos que a conclusão foge da intenção, mostrando uma adaptação implantada sem fundamentação técnica e histórica. Os dois pontos afilados

Arlen A. Güttges

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desta cobertura, se faziam presentes com exclusividade nas torres das edificações alemãs. Outro ponto é o frontão, que dificilmente ultrapassava a cobertura na qual se encontrava.

Foto 223-Sede Banco Sicredi. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 222-Cobertura de torre. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 221-Frontão. Fonte: Acervo pessoal.

Edifício Link: o telhado em telha francesa, não se fazia presente em edificações enxaimel ou casa dos Alpes. A torre, aplicada de forma desproporcional e em balanço, remonta a ausência de composição com o restante da edificação. Outro fato é o de que o travejamento é realizado de forma errônea, em concreto ressaltado, criando um contraponto com o madeiramento da edificação em geral.

Foto 225-Edifífio Link. Fonte:Acervo pessoal.

Arlen A. Güttges

Foto 224-Torre em balanço. Fonte: Acervo pessoal

Foto 226-Travejamento em alvenaria. Fonte: Acervo pessoal

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Loja Cercar: o telhado é o alvo principal no quesito descaracterização em relação ao original em quase todas as obras. São poucos os que apresentam certa coerência. Neste caso podemos encontrar, além da cumeeira “invisível” (Foto 227), as mansardas (Foto 228) sem a presença de aberturas, ficando aparente a falta de funcionalidade, mesmo que ilusória.

Foto 229-Loja Cercar. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 228-Ausência de Abertura. Fonte: Acervo pessoal.

Foto 227-Incoerência na concepção da cobertura Fonte: Acervo pessoal.

Edifício Comercial na Avenida Maripá: talvez este seja o exemplar mais pitoresco dentro do quadro arquitetônico germânico dentro de Marechal Cândido Rondon. Um modelo perfeito da confusão total na leitura dos estilos propostos na lei. A colocação do travejamento de forma clara e meramente decorativa parafusada sobre a alvenaria (Foto 232), sem sequer representar corretamente o sistema enxaimel. Outro detalhe é o telhado (Foto 231), que mais uma vez apoiado sobre a laje busca representar o que nunca foi proposto. Ainda podemos verificar o contraste entre a busca pelo tradicional e o novo, nas aberturas, todas em vidro temperado.

Foto 232-Travejamento. Fonte: Acervo pessoal.

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Foto 231-Cobertura. Fonte: Acervo pessoal

Foto 230-Edifício em área central. Fonte: Acervo pessoal.

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Os exemplos acima citados são apenas alguns dos existentes na cidade, representados aqui apenas para demonstrar os erros mais freqüentes quando da elaboração desse tipo de projeto.

7 .6

O ENXAIMEL PARA O RONDONENSE

Para aprofundar ainda mais a pesquisa, algumas entrevistas foram realizadas para descobrir o nível de conhecimento das pessoas em relação ao verdadeiro enxaimel, tão comentado dentro da sociedade. As questões foram formuladas de forma simples, aplicadas diretamente ao entrevistados sem aviso prévio, para que se tivesse uma melhor abordagem. Os escolhidos para as entrevistas foram pessoas dos mais diversos campos e níveis sociais, incluindo profissionais da área de engenharia e arquitetura, alem de moradores e proprietários residentes em edificações em “enxaimel”. As perguntas eram as seguintes: 1-O que é o enxaimel? 2-Qual seu valor para a cidade? 3- Você é a favor ou contra a germanização arquitetônica? A seguir seguem as entrevistas:

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7 .7

ENTREVISTAS

Primeiro entrevistado: E. O que é o enxaimel? “Enxaimel na minha concepção, no conhecimento que eu tenho, ele trás uma originalidade de uma característica de uma arquitetura que define a origem e a procedência do estilo”. Qual seu valor para a cidade? “Na concepção que foi feita a própria legislação do município de M.C.Rondon naquela ocasião, como a tradição de M.C.Rondon naquela época, era caracterizada mais de 90% de origem germânica, procurou se identificar M.C.Rondon como uma cidade germânica, mas pra essa cidade ser germânica tiveram que colocar algumas opções para que caracterizasse a cidade na própria divulgação, e o Enxaimel veio pra isso, só que o acompanhamento na engenharia, na arquitetura, não se deu pela originalidade total, as pessoas estão tirando fotos de determinadas regiões, revistas, livros, determinadas cidades, e estavam colocando da forma como quiser, colocam telha, ou forro de pinos, ou uma madeira, pintava e caracterizava aquilo lá como estilo enxaimel. Na minha concepção, no meu entendimento particular, não é isso, Arlen A. Güttges

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nós não podemos enganar pessoas de fora, principalmente de outros países, ou pessoas que conhecem a arquitetura, a história da arquitetura, a originalidade, colocando isso como forma enxaimel parafusando uma ripa numa parede e assim por diante.Se fizer um estilo aonde eu acredito que deve ser revista essa legislação, porquê hoje ela não tem atrativo nenhum pra essas isenções, o atrativo é muito pouco para as pessoas fazerem isso. Eu diria que o enxaimel na verdade está sendo visto de várias formas, até porquê as pessoas que passam no poder público, nem todas elas estavam preparadas nos seus cargos, de planejamento, indústria e comércio, o próprio prefeito em ter o conhecimento da engenharia e arquitetura suficiente para poder dar todos os incentivos ou até para aplicar a leia que foi feita na época, mais não com as características originais. É nesse sentido. Essa lei foi feita numa ocasião, para dar os primeiros incentivos às pessoas a criarem o hábito de poder fazer suas residências, o próprio poder público, fazer o estilo, para atrair as pessoas, como se fosse uma cidade totalmente germânica, por exemplo Pomerode, cidades de Santa Catarina tem estas características também e as pessoas formulavam isso aí pra trazer para M.C.Rondon. M.C.Rondon descaracterizou um pouco nesse estilo, e lei na época não foi mudada e discutida amplamente com a sociedade, foi feita uma lei, e as pessoas pra ter essas isenções, elas tinham que buscar a lei, e quando viam a lei, não conseguiam se caracterizar nelas, e perdiam as invenções. Então não teve mais um estímulo pra isso. Eu acho que deve ser revista essa leia, discutir com um arquiteto, um engenheiro, propor novamente a M.C.Rondon, agora, você não tem como exigir de Arlen A. Güttges

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algumas pessoas ou também de órgãos estaduais e federias, muitas vezes as próprias obras municipais com recursos estaduais e federais”. são”. obras padrões, você pega uma creche padrão é aquela creche padrão, você pega uma casa padrão é uma casa padrão, se você muda o estilo não caracteriza entre o projeto ou o financiamento que ta vindo internacional do governa estadual. Isso deve ser revisto e discutido com a sociedade organizada”. Você é a favor ou contra a germanização arquitetônica? “Eu sou a favor com algumas ressalvas, eu não posso pedir por exemplo, vou fazer uma determinada obra num município e essa obra custa por exemplo um valor de R$ 50.000,00, e se tiver que fazer no estilo enxaimel o sistema arquitetônico diferente a obra custa 100 ou 150.000 e eu não tenho esse recurso. Nesse sentido a gente deve ver isso, acho que devemos ter o aval dos estados inclusive na própria legislação estadual com os próprios deputados federais, colocando que os municípios que tem a caracterização, poderão modificar os seus projetos dentro de um acordo, de um artigo na própria legislação, pra quando viesse uma creche ou um posto de saúde, uma delegacia, onde o município terá que aplicar o dinheiro dele, ele pudesse fazer essas alterações com a autorização do governo estadual e federal”.

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Segundo entrevistado: K. O que é o enxaimel? “Na verdade para se construir no estilo Enxaimel deveria se utilizar essas características construtivas que eram utilizadas na Alemanha. Estrutura em madeira, não tinha concreto armado, tijolo ia encima da madeira, não se utiliza parafusos, eram parafusos de madeira, todas as ligações e travamentos, não entendo muito disso, mas isso é o que eu imagino. Não vejo muita vantagem você fazer uma construção e daí você faz uns fios, com bastante cimento, e faz um aplique de madeira na baixada, e as vezes nem de madeira é, é de argamassa, fazer só as baixadas, esses prédios devem ter todos uma característica interna, externa, aleatória, também adaptada ao clima, pois na Alemanha eles tinham o estilo de construção porquê era muito frio, tinha neve, era o estilo da época, agora temos que ver se isso é interessante para nós, pois aqui é uma região quente a maior parte do tempo, e você vai fazer construção com telhado que não tem a característica, mas em termos de turismo é só pegar as cidades do Rio Grande do Sul, Gramado e Canela que deram certo, mas aqui ainda não deu certo”.

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Qual seu valor para a cidade? Eu acho que a idéia é excelente, mas não está sendo fácil implantá-la, hoje em dia se tornou meio caro para fazer uma construção neste estilo, e o custo de manutenção dela é alto, e falta melhores critérios para definir o quê é em Enxaimel. É razoável, mas acho que deveria ser revisado. Você é a favor ou contra a germanização arquitetônica? Sou a favor, mas teria que ter um plano geral, porquê o principal motivos destas construções seria o turismo, agora não adianta fazer construções neste estilo se não tiver toda uma estrutura para atrair os turistas com opções de visitação, aí então teria que ser não só o estilo de construção, mas o conjunto, o terra, preparando a população para atender as pessoas, os turistas com a receptividade. Eu sou a favor, mas não é só a construção, é um conjunto de coisas que estão envolvidas aí. Como eu falei não adianta você ter só uns apliques e a obra não ter um contexto, não ter uma história por trás.

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Terceiro entrevistado: U. O que é o enxaimel? “Pelo que eu tenho de conhecimento de pesquisa e análise do que se fala à respeito de Enxaimel seria no estilo de construções, baseado mais ou menos no que se faz na Alemanha, é o que eu tenho entendido pelo que se faz aqui. Como nós somos leigos em termos de construções, em termos de estilos, então você vai pelo que se tem de usual, do que se fala, pelo que nós temos visto, pelas construções que são feitas, seria um estilo baseado na germanização da Alemanha no estilo germânico da Alemanha”. Qual seu valor para a cidade? Eu não gostaria e sinceramente em termos turísticos faria muita diferença se a cidade fizesse uma característica germânica, isso facilitaria e possibilitaria um deslanche do turismo, mas nós percebemos que não é bem isso que nós temos, nós temos algumas construções adaptadas, poucas casas que nós classificaríamos dentro do que é este estilo. Então eu penso que, pode-se conseguir alguma coisa, mas a longo prazo, desde que se faça uma conscientização meio que continuada, encima desse processo, porquê as pessoas que constroem hoje não estão buscando construir um estilo que seja parecido, a muitas construções modernas, a muitas construções que fogem do Arlen A. Güttges

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padrão, mesmo as próprias construções públicas que na lei diz que seriam dentro desse padrão, hoje já não atendem a essa norma. Então a lei se for colocada efetivamente em prática nós teríamos que cobrar de todos, então se à esse entendimento, se à esse querer da população e do poder público é preciso que ele seja efetivado. Você é a favor ou contra a germanização arquitetônica? Em termos de viabilização o enxaimel mesmo, como ele é, tecnicamente não haveria possibilidade de se implantar aqui, por ser um clima totalmente diferente da Alemanha, da Europa, o nosso aqui. Com referência a leia e com referência ao que se faz o estilo, me parece que está um pouco longe do que se queria. Se nós pegarmos um veículo e ao mesmo sairmos a pé e acompanharmos as várias construções que nós temos na cidade, nós podemos verificar que não é efetivamente um estilo que se tem, é uma adaptação de estilo. Seria de suma importância, que a própria associação dos engenheiros junto com o poder público tentasse, verificasse e fizesse isso, porquê aí poderia se dizer que está dentro disso aqui está realmente atendendo a lei, e terá os benefícios que a lei requer, mas eu concordo que se de benefícios amparados pela lei de uma construção que não é efetivamente o que requer o estilo.

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Quarto entrevistado: E. Reportagem publicada e cedida pelo entrevistado como forma de resposta. “Quando falamos em germanização, ou cultura alemã de uma cidade, sempre nos remetemos à Arquitetura em Enxaimel, que foi um traço bastante marcante dos imigrantes que por aqui chegaram, mais especificamente no R.G.do Sul e Santa Catarina. Sabe-se que esta técnica construtiva consiste em transformar as paredes maciças em um tramado vazado de madeira, que necessitam de escoras transversais para garantir a estabilidade das paredes e conseqüentemente da sua construção. Este SISTEMA CONSTRUTIVO, e não estilo, como é habitualmente chamado, possui sistemas de construção diferentes, próprios de cada povo, já que a Alemanha foi habitada por povos germânicos de culturas diversas. O sistema franco foi mais pitoresco, por apresentar motivos diferenciados em seus contraventamentos, resultando este o mais atrativo e o qual mais se imita em nossos dias. Este sistema construtivo quando aqui chegou trazido por imigrantes, sofreu transformações para melhor adequar-se ao nosso país, Isto já demonstrava necessidade de adaptação que sofreu o sistema ao defrontar-se com o relevo e materiais diferentes. Estes exemplos foram executados, e alguns ainda estão edificados nas regiões primeiramente ocupadas pêlos imigrantes. (R.G.do Sul e Santa Catarina). Em nossa região, absolutamente nova, infelizmente não dispomos de nenhum exemplo arquitetônico desse sistema, a população descendente de Alemães Arlen A. Güttges

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que para aqui vieram, são em sua maioria. de sexta ou sétima geração. e quando chegaram já não dispunham da técnica enxaimel, e nem era viável, pois o que dispomos como exemplos arquitetônicos da época são suas construções de madeira, que assim que puderam, os nossos colonizadores, às deixaram e partiram para suas moradias em alvenaria, por serem mais limpas e de melhor acondicionamento térmico. Isto demonstra uma evolução simples e de acordo com as necessidades da população, não vemos nenhum individuo que vá construir sua moradIa que a execute em enxaimel, muito pelo contrário. O que resta como referência arquitetônica é uma memória que deve ser resgatada de forma coerente e não estereotipada como vem ocorrendo em algumas construções, onde a proposta surge falsa como uma maquiagem. A arquitetura é uma parte importante da cidade, mas não é tudo, temos aspectos culturais e estilos de vida diferenciados, justamente pela colonização da cidade. Não deveríamos buscar salientar mais estas características? Às vezes passam desapercebidas pôr serem espontâneas, mas são verdadeiras. A arquitetura de uma cidade deve ser o reflexo de sua idade, estar em consonância com as evoluções técnicas e de materiais, deve ser caracterizada de forma a deixar para a posteridade algo digno e permanente de sua história. Podemos criar formas, propostas e estudos que possam dignificar a memória da Cidade, e com isso buscar a verdadeira imagem, e, por conseguinte, ser uma cidade em que todos os que aqui vivam se sintam bem e os que à visitem fiquem com saudades”.

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Segundo o vereador e ex-presidente da Câmara de Vereadores de Marechal Cândido Rondon, Ítalo Fernando Fumagali, a germanidade deveria ser preservada, considerando-a uma boa marca para a cidade. “O edil lembrou do projeto da Câmara Júnior, que prevê incentivos fiscais para quem construir em estilo enxaimel e enalteceu a iniciativa do exprefeito Ademir Bier, que priorizou a construção do portal de acesso à cidade em

estilo

germânico”.(www.rondonet.com.br/camara/noticias/not5-29-04-

03.htm,2003) “Para Fumagali, apesar de ser apenas uma maquiagem nos prédios, a germanização garante valor étnico, cultural e comercial para o município”. É uma marca da nossa cidade e, por isso, ela precisa ser preservada”, destacou o edil”. (www.rondonet.com.br/camara/noticias/not5-29-04-03.htm,2003) Ao findarmos as perguntas com algumas pessoas também questionadas, mas não transcritas aqui, pudemos concluir que em uma média geral de trinta entrevistados, apenas dois souberam definir claramente o sistema enxaimel, apresentando suas características e origens. Para a imprensa, o enxaimel sempre é alvo de críticas, principalmente quando alguma edificação adepta do germânico reformula sua fachada, devido a uma série de fatores, abandonando o estilo alemão.

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Ilustração 74-Nota no Jornal. Fonte: O Presente, 2003.

Ilustração 73-Reportagem em Revista. Fonte: Revista Oeste, 1990. Ilustração 75-Nota. Fonte: O Presente, 2001.

Dessa maneira, o fator que deve ser levado em conta no momento da implantação da tipologia germânica na cidade é a profunda falta de conhecimento real sobre o enxaimel, delimitando assim, como primeiro passo para a mudança, a conscientização da população e o esclarecimento sobre o assunto nas mais diversas áreas.

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8 A GERMANIZAÇÃO DA ARQUITETURA COMO ATRATIVO TURÍSTICO

Ao ser implantada no município, a lei que concede favores fiscais às edificações em enxaimel procurava em sua suma finalidade, tornar o turismo regional o eixo principal e o pistão que moveria o motor econômico da cidade no setor. Embora essa lei tenha vindo com o melhor escopo possível, muito deixou a desejar, gerando uma série de polêmicas entre os munícipes. Será que um município cuja atividade produtiva está baseada na agropecuária e na indústria pode pleitear a condição do uso turístico? Quais os atrativos histórico-culturais que a cidade possui para que o turismo seja alavancado juntamente com a arquitetura? Pode a arquitetura sozinha conquistar para a cidade o titulo de mais germânica do Paraná? Essas são apenas algumas das perguntas que nos fazemos ao depararmos com a forma de tratamento que a cidade atura, em relação ao turismo cultural, principal atrativo da cidade. O município já explora o potencial natural que possui como forma de movimentação de turistas, mas isso se torna insuficiente por atrai apenas um número limitado de adeptos. “Na sociedade pós-industrial a operação de serviços de natureza turística, nas áreas de motivação, organização de viagens e excursões, comercialização, Arlen A. Güttges

transportes,

recepção,

hospedagem,

alojamento,

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alimentação, atividades recreativas programadas, transportes local, produção e comercialização

de

artesanato

de

referência

cultural,

atendimento

e

distribuição de informações, dentre outros segmentos produtivos afins, são elementos determinantes para que o espaço possa adquirir uso turístico e manter-se no mercado, cuja característica hegemônica é a acirrada competitividade”.(Governo do Estado do Paraná, 2000). É bastante importante lembrar que o turismo é um conjunto de fatores que unidos, proporcionam uma característica própria a uma cidade, tornando-a conhecida e peculiar nacional e internacionalmente.

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9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A arquitetura é geralmente concebida –projetada – e realizada – construída – em resposta a um conjunto de condições existentes. Essas condições podem ser de natureza puramente funcional ou podem também, refletir em graus variados, a atmosfera social, política e econômica. Analisando o estudo e o levantamento dos dados realizados durante o trabalho de pesquisa, podemos checar uma gama bastante diversificada de conclusões adotadas para a tentativa de manutenção da arquitetura germânica na cidade. É importante ressaltar novamente que, a arquitetura em si, não sugere a solução social, política ou econômica para um município no campo turístico. “É enorme o número de bens que compõe o patrimônio cultural de um povo, uma nação, ou mesmo de um pequeno município. E nunca houve, ao longo de toda história da humanidade, interesses voltados a preservação de artefatos do povo. Esta questão da memória social, tão dependente da preservação do patrimônio cultural, tem sido tratada com sinceridade somente agora, em tempos recentes. Devemos então de qualquer maneira, garantir a compreensão da nossa memória social, preservando o que for significativo dentro do nosso vasto repertório de elementos componentes do patrimônio cultural”. (GOYA,1982). Arlen A. Güttges

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O resgate da cultura é de fundamental relevância, pois se utilizar apenas das edificações para a promoção do turismo não tem trazido resultados positivos, como pudemos compreender até o presente momento em Marechal Cândido Rondon. Mesmo por possuir um grande número de descendentes germânicos, o resgate da cultura a partir de diversas iniciativas, parece não surtir o efeito desejado, principalmente por causa da falta de interesses do poder público. Sabemos que a cultura deve prevalecer de forma generalizada, englobando uma série de fatores predominantes além da arquitetura, por isso devemos avaliar a contribuição da mesma e de suas obras em que realmente se apresenta, para criarmos um seguimento dentro das etapas de resgate cultural. “Em todos os casos, entretanto, devemos entender que as figuras, os elementos positivos que atraem nossa atenção, não poderiam existir sem um fundo contrastante. Figuras e seu fundo, portanto, são mais do que elementos opostos. Juntos, formam uma realidade inseparável – uma unidade de opostos -, da mesma maneira como os elementos da forma e do espaço juntos, formam a realidade da arquitetura”. (CHING,1999,p. 94). A reflorescência da germanidade do município depende também da reeducação da população, mostrando os benefícios e a verdadeira história da origem alemã e da conservação de exemplos vivos existentes, disponibilizando assim, para as pessoas, mais informações, tornando Marechal Cândido Rondon uma cidade mais culta.

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É válido lembrar que os resultados desse processo surgirão em longo prazo. Por isso, o interesse, em qualquer área, seja política, social, econômica ou turística, deve seguir em prol do benefício múltiplo de toda a população, não sendo utilizado para autopromoções, propagandas e aparecimentos. “Dentro do sistema cultural urbano,

a arquitetura tem uma figura

disciplinar complexa e não muito diferente da figura da língua: é uma disciplina autônoma, mas ao mesmo tempo, constitutiva e expressiva de todo o sistema. Também por essa razão, querendo-se dar da arquitetura uma definição coerente com as coisas que faz e de que se ocupa, é preciso dizer que ela forma um só todo com a cidade, de modo que tudo o que não funciona na cidade, em ultima análise, os defeitos da cultura arquitetônica, ou revela sua incapacidade de preencher suas funções institucionais. Sem falar, além disso, dos arquitetos que, colocando-se a serviço da especulação, traem a ética não apenas na disciplina, mas também da profissão”. (ARGAN,95,p.243). O que precisa ser terminantemente coibido na reprodução dos estilos arquitetônicos germânicos em Marechal Cândido Rondon, é a falta de coerência para com o seu processo construtivo, que demonstrando erros básicos, na concepção critica, desrespeita a verdadeira identidade da obra, distorcendo também o campo turístico. Muitas vezes isso ocorre pela falta de um profissional adequado para o acompanhamento (isso por que muitas obras acabam por ficar nas mãos de mestres-de-obra),

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ou também pela ausência de conhecimento do profissional contratado, que busca rapidez e remuneração, dispensando toda a história e a cultura que existe por trás desse estilo. Mesmo sendo o sistema de enxaiméis demonstrado através da representatividade, sua conformidade com a estrutura original deveria apresentar certa coerência, uma vez que se torna bastante inviável e pouco compensatória a execução adotando os princípios originais. A cidade precisa, além da arquitetura, formar subsídios para fazer com que o turista venha para a mesma e também permaneça nela. A oferta precisa ainda ser maior que a demanda, e isso é o que aconteceria logo no inicio, até que o município tivesse sua divulgação concluída e o resultado adquirido. Essa ausência de atrativos é um fator determinante para que o turismo seja emergente, pois dificilmente um passante virá de longe para apreciar apenas a arquitetura local. Ele virá também, com o intuito de buscar o conhecimento e o apreço pela cultura local e, para que isso ocorra, grupos folclóricos precisariam estar sempre prontos para apresentações, comidas típicas deveriam ser oferecidas e um núcleo de apoio ao turista deveria ser formado. A cidade ofereceria atendentes trajadas com roupas típicas e um itinerário seria formado para o passeio com turistas. O comércio em geral, deveria oferecer a opção da compra de artigos e roupas germânicas, para que o excursionista venha à cidade e dela leve alguma recordação. Marechal Cândido Rondon já possui a Oktoberfest desde 1987, festa essa que mesmo descaracterizada, atua como divulgadora da cidade a nível nacional. Nessa festa são servidos pratos típicos como o einsbein (Foto 234) e realizadas apresentações do folclore alemão como danças (Foto 233). Embora seja de grande importância, esta comemoração acontece apenas durante alguns dias do mês de outubro. Arlen A. Güttges

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Foto 235-Café colônial. Fonte: Pref. Municipal.

Foto 234-Einsbein ( joelho de porco) Fonte: Pref. Municipal.

Foto 233-Danças típicas. Fonte: Pref. Municipal.

A história também precisa ser resgatada, apresentando ao viajante as origens do tipo de cultura e o seu passado, justificando o folclore local. “O caráter orgânico do sistema urbano é dado, em todo caso, pela história, mesmo quando a cidade nasceu a pouco tempo e tem uma historia breve. De fato, a idéia de que temos a cidade e que, por enquanto não foi mudada, é a de um acumulo cultural que dá ao núcleo a capacidade de organizar uma are mais ou menos extensa de território”. (ARGAN,95,p.243). A cidade, em seu todo, deve começar assim o processo de resgate e manutenção cultural, primeiramente salvando sua própria história, deixando todos cientes de suas origens. A partir daí, apresentar uma proposta coerente de ajuda mútua entre todos os campos do

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empreendedorismo municipal e o poder publico, para que a germanização, mesmo que em um longo espaço de tempo (ressalta-se a importância de ter isso em mente) surta efeito. Depois disso, com cada um fazendo a sua parte, começa o processo de conscientização para com o governo, de que este processo necessita de continuidade, para continuar gerando resultados positivos para a sociedade em geral. Para isso, esse trabalho servirá como um material de apoio para elaboração de diretrizes e metas, amparando o campo arquitetônico muito defasado hoje na cidade no que se reflete a arquitetura alemã. Um correto manual de execução será elaborado, para que os profissionais tenham em mente a correta aplicação das fachadas germânicas e respeitem seus princípios. Para o poder público que proporciona incentivo, será esclarecida a necessidade de um incentivo maior e uma enérgica fiscalização, favorecendo os que executarem de forma correta a representação da arquitetura alemã. Por fim, a busca pela alteração da lei que oferece favores fiscais seria proposta, pois mais que urgentemente necessita de reformulações. Assim esperamos contribuir para que o município avance cada vez mais ao seu objetivo, galgando um grande degrau no cenário nacional e até mundial, adquirindo assim o titulo até hoje ilusório de “A cidade mais germânica do Paraná”.

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Arquitetura Germânica e sua influência nas edificações Brasileiras: o caso de Marechal Cândido Rondon

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