O TRABALHO DOS MEDIADORES DA INFORMAÇÃO: UMA COMPARAÇÃO ENTRE BIBLIOTECÁRIOS E AGENTES INTELIGENTES

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O TRABALHO DOS MEDIADORES DA INFORMAÇÃO: UMA COMPARAÇÃO ENTRE BIBLIOTECÁRIOS E AGENTES INTELIGENTES por LAURA ZICK Tradução de Michele Costa Introdução Agentes softwares inteligentes prometem cruzar e organizar espaços de informações para nós, alertar-nos, lembrar-nos, ligar para uma pessoa para consertar a geladeira, comunicar-nos uns com os outros… para alterar fundamentalmente a maneira como realizamos muitas das nossas tarefas diárias. Esses softwares vermelhos e revolucionários tem muito a aprender com os seus colegas humanos: bibliotecários. Enquanto eu leio e penso sobre como sistemas inteligentes raciocinam, procuram, classificam e filtram informações, eu me detenho repetidamente em como bibliotecários fazem exatamente as mesmas tarefas. Os dois atuam como mediadores de informação para o usuário final: os dois negociam espaços de informação e encontram as informações relevantes para um usuário em particular ou um objetivo. Bibliotecários têm realizado eficientemente muitas das tarefas que a comunidade de inteligência artificial agora está trabalhando para criar agentes softwares competentes. Por isso, o desenvolvimento de agentes software podem ser instruídos com uma olhada em como agentes humanos fazem seu trabalho. Esse artigo vai examinar as características do agenciamento, o trabalho dos bibliotecários como mediadores de informação, as diferenças entre agentes softwares e humanos, as tarefas possíveis para agentes software em bibliotecas, e especular sobre o futuro do agenciamento de humanos e softwares. Bonnie Nardi e Vicki O’Day, de quem muitas das idéias formadoras do meu pensamento vêm, afirmam isso: “Nós pedimos aos bibliotecários para levarem em consideração e se expressarem sobre seu papel crítico no design de uma ecologia diversa de informações.” .” (Nardi and O’Day, 1996. “What We Learned at the Library,” p. 86). Esse artigo é uma tentativa de fazer isso. Definições A definição de um agente inteligente é bastante controversa, mas essa serve bem: “Um agente inteligente é um software que ajuda pessoas e atua em nome delas. Agentes inteligentes trabalham permitindo que pessoas deleguem trabalho que eles poderiam fazer, para o agente software. Agentes podem, assim como assistentes podem, automatizar tarefas repetitivas, lembrar coisas que você esqueceu, resumir eficientemente informações complexas, aprender com você, e até lhe fazer algumas recomendações.” (Gilbert, 1998). Note a evidente semelhança para a definição do trabalho de um bibliotecário: “O usuário trabalha com um profeta (ex. bibliotecário especialista) que: o ajuda a elaborar o problema (ou um estado de conhecimento irregular), descreve o usuário e seu background, entende o tópico ou assunto, monta perguntas ou outros pedidos por informações desejadas, sabe como acessar e apresentar a informação relevante, e dá explicações quando é necessário.” (Fox). Tanto os bibliotecários quanto os agentes softwares fazem um trabalho que lhes é delegado pelo usuário; os dois dão sua opinião sobre o problema ou a necessidade do usuário; e os dois trabalham nos “bastidores”, realizando tarefas de acordo com a necessidade dos usuários. Como um bibliotecário lida com uma necessidade de informação típica “Bibliotecários são mais que técnicos. Eles são, ao que parece, terapeutas da informação que analisam problemas e também encontram respostas” (Nardi, O’Day, and Valauskas, 1997). Para mostrar uma comparação entre o trabalho feito por bibliotecários com o feito pelos softwares inteligentes, vamos acompanhar o pedido de um usuário típico de uma biblioteca da área médica, do seu estado inicial até o estado em que atinge seu objetivo particular. Bibliotecários usam o que é chamado de “entrevista de referência” para aprender como avaliar as necessidades dos clientes. A entrevista de referência é geralmente um processo interativo com muitas perguntas e respostas entre bibliotecário e cliente enquanto eles trabalham juntos para refinar a informação desejada. Esse processo pode ser muito delicado: muitos clientes não têm muita clareza sobre o que querem, e um bibliotecário habilitado pode ajudá-los a especificar e comunicar sua necessidade. O objetivo da entrevista é especificar o máximo possível a necessidade do cliente. O bibliotecário se esforça para ter um feedback relevante durante a entrevista, perguntando ao cliente “É isso que você quer dizer?” e “Mais desse jeito?”. O bibliotecário deve aprender sobre o contexto do usuário: conhecimento da situação do cliente, história e preferências, fornecendo um contexto para o questionamento.


Nesse exemplo, um médico identifica uma necessidade de informação e vai até uma das bibliotecárias da área médica na organização dele. O médico tem um paciente que está tomando uma erva medicinal, e o médico não sabe muito sobre ela. Aqui está um diálogo telefônico típico entre o médico e o bibliotecário da área médica: Médico: Você poderia fazer uma pesquisa sobre uma erva medicinal específica para depressão? O médico está consciente da disponibilidade desse serviço (e é capaz de fazer a pesquisa ele mesmo, mas prefere – devido à sua falta de familiaridade com o assunto – que o bibliotecário profissional faça isso), tendo usado esse serviço antes, e pede uma pesquisa numa revista da área. O médico expressa sua necessidade de informação de maneira vaga. Bibliotecária: Você está procurando informações para você ou para dar a um paciente? A bibliotecária começa o processo de definir a necessidade de informação: se a informação é para o médico, ela sabe que ele vai querer artigos científicos de seus colegas de profissão em revistas especializadas; se a informação é para ser dada a um paciente, ela terá que ser apresentada numa linguagem mais simples e tem que vir de fontes de informações de qualidade direcionadas para consumidores. A bibliotecária está eliminando incertezas, definindo o contexto de informação necessária, e estabelecendo um perfil de um consumidor de informação. Médico: Eu tenho uma paciente que está tomando uma erva medicinal; ela acha que isso irá ajudá-la com a depressão. Ela se chama “São alguma coisa”. Bibliotecária: Então você quer informação para você? Para que você possa aconselhá-la sobre como tomar essa erva? A bibliotecária continua a esclarecer e confirmar o contexto da necessidade de informação. Médico: Sim. O que você tem? Quando eu posso ter isso? Bibliotecário: OK, eu vou identificar a erva e encontrar artigos científicos genéricos sobre sua aplicabilidade para a depressão. Quantos anos de artigos você quer que eu pesquise: um, cinco ou vinte? A bibliotecária confirma o tópico e começa a traçar limites específicos para a necessidade de informação. Médico: Apenas os últimos anos. Você pode me mandar por fax? A bibliotecária pede o nome do médico, número de telefone, de fax e o endereço de e-mail, e daí a conversa termina. Depois de obter informações sobre o médico, ela preenche as lacunas de um formulário de pesquisa na literatura especializada existente. Criando a representação do problema O próximo passo que o bibliotecário dá é usar sua informação para formular a pergunta na sua mente: “O bibliotecário contribui para a atividade do cliente e para fazer isso eficientemente cria uma representação da atividade que guia e direciona a pesquisa. Essa representação vai além do entendimento da tarefa do cliente, simplesmente concebida, para uma descrição mais ampla do contexto do cliente, incluindo as suas preferências, limitações e ambiente.” (Nardi and O’Day, 1996. “What We Learned at the Library,” p. 75). A bibliotecária deve descrever os passos da pesquisa num papel, escolher bases de dados, termos para pesquisa e operadores, ou ela pode apenas formular essa representação mentalmente. Ela considera o custo da pesquisa, a qualidade das bases de dado à sua disposição, o perfil do consumidor, e a utilidade fundamental da informação requerida. Classificando informação A pesquisa da bibliotecária depende do trabalho de outros bibliotecários: aqueles que classificam informação indexando e resumindo os artigos incluídos na base de dados MEDLINE, a famosa base de dados clínica que é analisada por médicos, produzida pela U.S. National Library of Medicine. Os artigos na MEDLINE foram classificados a partir da extração de concepções-chave e designação de termos relativos aos assuntos ou a combinação de termos relativos aos assuntos a um vocabulário controlado existente, chamado MeSH (Títulos de Assuntos Médicos). Muitas ferramentas de busca do MEDLINE automaticamente ajustam o termo informado a um termo MeSH apropriado (ex. o usuários coloca “infecção auricular” e o sistema ajusta para “timpanite”). Esse esquema de classificação especializada organiza a informação clínica dentro de uma base de dados, para que o bibliotecário habilitado em pesquisa possa encontrar os artigos mais relevantes rapidamente e eficientemente.


Se a informação não for organizada com cuidado, o trabalho do bibliotecário será muito mais complicado. A rede mundial de computadores (WWW), por exemplo, não é bem organizada: mesmo os melhores programas de indexação e ferramentas de busca são ineficientes quando comparados com o esquema de classificação padronizado aplicado ao sistema de informações da MEDLINE. De fato, a Web tem sido comparada com uma livraria em que todos os livros foram tirados das prateleiras e foram jogados no chão, numa pilha. A classificação da informação que teve lugar nos “bastidores” é fundamental para o trabalho eficiente da bibliotecária, no nosso exemplo. Encontrando a informação Uma vez que a representação do problema é estabelecido, a bibliotecária escolhe em qual (is) base(s) de dados vai pesquisar. Já que essa informação será para o médico mesmo, ela escolhe a base de dados MEDLINE. Como o médico pediu os artigos mais recentes, a bibliotecário escolhe a parte da MEDLINE que cobre os anos de 1996 até hoje. O próximo passo é escolher os termos de pesquisa. Sabendo que a MEDLINE é baseada num vocabulário controlado, ela informa o termo “ervas” e depois procura em separado por “depressão”. Ela combina essas duas séries de pesquisa com o operador lógico “and”, resultando em uma citação. Ela vê essa citação e julga que é irrelevante; a estratégia de pesquisa dela deve ser revista. Procurando pelo termo mais amplo “medicina alternativa”, veio como resultado 5.847 entradas; esse grupo se junta com o das ervas, resultando em dez entradas. A bibliotecária dá uma olhada nesses dez e encontra dois que mencionam a Erva de São João. Um dos artigos dá o nome botânico da Erva de São João; ela procura por esse termo; essa pesquisa resulta em oito entradas. Ela dá uma olhada nessas oito e vê que elas se ajustam ao termo MeSH de “agentes antidepressivos”. Ela procura esse termo e o adiciona ao grupo de medicina alternativa, resultando em dezenove entradas. Ela restringe essas dezenove àquelas que estão em língua inglesa e que apresentam estudos sobre humanos, o que diminui o número para quinze. Ela dá uma boa olhada e descarta três que não são aplicáveis ao caso. Ela faz o download dessas doze para o seu disco rígido. Sabendo que o médico pratica a “Medicina baseada na evidência” (EBM, definida como “um esforço para trazer os princípios da continuidade de melhoria da qualidade para sustentar o processo de cuidado do paciente, ao invés de ver a prática como uma forma de arte, em que cada paciente é tratado como um experimento único” – Stead, 1998; p. 26), ela refaz a mesma pesquisa numa base de dados de artigos avaliados pela EBM (Cochrane Database of Systematic Reviews). Com isso, surge um artigo, que ela olha e faz o download. A bibliotecária agora tem um total de treze citações relevantes sobre o assunto. Uma vez com a pesquisa, se ela sentisse que precisava de mais orientações do médico, ela poderia entrar em contato com ele e perguntado que direção específica ele queria que a pesquisa tomasse. Por exemplo, se o resultado da pesquisa fosse um número muito grande de artigos, ela poderia perguntar ao médico como ele queria que ela restringisse os resultados; se ela o conhecesse bem, ela poderia saber que limitar o grupo apenas com artigos científicos seria aceitável para ele e assim, ela não precisaria ligar para ele. Uma experiência anterior com o cliente e o conhecimento do contexto dele para cada informação em particular requerida orienta a bibliotecária na sua pesquisa: se essa tivesse sido a primeira entrevista com esse médico em particular, a bibliotecária poderia ter que levar um pouco mais de tempo para saber sobre suas especificidades e preferências. Os melhores pesquisadores encontram o caminho certo numa pesquisa, utilizando experiências passadas e o conhecimento sobre o cliente em particular, o domínio do assunto, e as idiossincrasias do recurso para equilibrar as páginas encontradas (a porcentagem de páginas encontradas dentre aquelas disponíveis) e precisão (a porcentagem de páginas encontradas que são pertinentes) e para assegurar a relevância (a adequação das páginas encontradas à necessidade). Esse equilíbrio é delicado e dinâmico, e ilustra a real arte da pesquisa eficiente. A bibliotecária também sabe, por causa da sua educação formal, experiência anterior e familiaridade com as bases de dados que está usando, quando parar a pesquisa. Uma pesquisa pode continuar indefinidamente, por todas as bases de dados, uma atrás da outra, se a bibliotecária não tem o discernimento de saber quando está satisfeita com os resultados. Esse é um grande problema na área médica, principalmente quando o pesquisador fica tentado a pensar que se ela ou ele continuarem pesquisando, vão encontrar aquele artigo que irá salvar uma vida. A decisão de parar é geralmente uma decisão intuitiva e também importante para maximizar as limitações de tempo, computacionais e financeiras que um bibliotecário deve sempre equilibrar com o desejo da plenitude de resultados. Filtrando a informação “A filtragem da informação é um processo em que um agente filtrador lê cada documento numa linha de informação e a compara com um grupo de perfis de interesses. Se o documento combina com o perfil, o filtro o manda para a caixa de entrada do usuário apropriado ou a armazena em algum lugar para o usuário. O resto dos documentos é descartado.” (Williams, 1996; p. 174) A bibliotecária filtrou a informação de três diferentes maneiras: primeiro, o ato de selecionar uma base de dados ou mais para pesquisar foi uma atividade de filtragem. Essa escolha estabeleceu os limites dos resultados e definiu o espaço de pesquisa, incluindo o quanto a pesquisa poderia se aprofundar e até onde ela poderia ir. A segunda maneira como a bibliotecária filtrou a informação ocorreu no ato da escolha de termos e operadores (que também afetam os limites da pesquisa). Finalmente, quando ela eliminou falsas entradas (ruído) dos resultados, ela estava filtrando o resultado que o usuário final veria. Utilizando seu conhecimento do contexto da necessidade de informação e o perfil que ela construiu do usuário, ela pôde identificar resultados úteis para o médico, relevantes para o contexto específico da sua necessidade de informação em particular. Formatando a informação Bibliotecários fazem mais do que conectar pessoas com informações soltas: eles usam seu saber para ajudar clientes a fazer a informação ter sentido para eles. Bibliotecários geralmente organizam resultados de pesquisas e outros produtos de informações em séries personalizadas para seus clientes. A bibliotecária em nosso exemplo usou suas citações selecionadas para criar um relatório para o médico. Ela provavelmente adicionou uma folha de rosto com informações sobre como contatar sua biblioteca, arrumou as citações para que as partes que o médico precisasse estivessem presentes e descartou as que ele provavelmente não precisaria. Ela deve ter ordenado os resultados por relevância, e deve ter indicado no relatório quais artigos estavam disponíveis na biblioteca dela. Bibliotecários como agentes cooperativos e distributivos Bibliotecários podem ser vistos como agentes cooperativos e distributivos. Bibliotecários informam e negociam uns com os outros; a cooperação é construída na estrutura do trabalho na biblioteca. Não é exagero dizer que não existe um bibliotecário que trabalhe realmente


sozinho: bibliotecas com apenas uma pessoa certamente existem, mas aquele bibliotecário solitário trabalha dentro de uma comunidade de bibliotecas. Na verdade, há uma comunidade internacional de bibliotecários. Pro exemplo, um bibliotecário pode se conectar a um sistema de bibliotecas chamado WorldCat e dizer a um cliente, dentro de alguns minutos, quais bibliotecas do mundo possuem um exemplar de um certo livro. Mais ainda, um bibliotecário pode, com alguns cliques, enviar um requerimento para qualquer uma dessas bibliotecas pedindo para que se faça um empréstimo daquele livro para o cliente. Bibliotecários confiam uns nos outros em outras atividades; muitos bibliotecários praticam o desenvolvimento de coleções cooperativas. Nenhuma biblioteca da área médica, por exemplo, pode pagar pela assinatura de todas as revistas da área médica publicadas. Quando há a possibilidade de uma compra, o pessoal sempre procura saber se alguma biblioteca das redondezas possui aquele título, com a qual eles podem fazer um acordo de cooperação. As bibliotecas comunicam e compartilham informações de maneira fantástica. Bibliotecários são ótimos usuários de listas de e-mail da internet; algumas das listas com maior volume de informações são aquelas compostas por e para bibliotecários. Bibliotecários se comunicam o tempo todo: via e-mail, telefone, fax, e pessoalmente. Por exemplo, eu compareci a um encontro anual da Associação de Bibliotecas de Saúde da Indiana recentemente. Depois de um jantar, esse grupo de cerca de trinta bibliotecários ficou até quase onze horas da noite conversando, trocando idéias, estratégias e histórias. Eu fiz uma pequena apresentação na manhã seguinte. No dia seguinte, eu mandei cópias do meu planejamento de marketing extensivo por e-mail para bibliotecários de toda a Indiana que pediram. Nós temos poucos segredos e confiamos uns nos outros sem restrições. Pela natureza do nosso trabalho, bibliotecários são criaturas colaboradoras, que se comunicam constantemente e extensivamente. Nós distribuímos informação, compartilhamos documentos, estratégias e inovações uns com os outros. Aqueles de nós com saber no campo da medicina fazem perguntas a bibliotecários da área de direito, por exemplo. Um bibliotecário sozinho pode até ser visto como um sistema de agentes distributivos: um bibliotecário de referência coloca em campo o questionamento, passa para aquele da parte de aquisição (que faz as compras); o dos sistemas consulta o bibliotecário da área médica… Cada bibliotecário atua de forma independente com a constante opção de consultar outro agente bibliotecário. Dentro do campo da biblioteca, bibliotecários compartilham eficientemente conhecimentos e habilidades. Semelhanças entre agentes bibliotecários e softwares agentes – humanos e máquinas – possuem certas características. Agentes atuam em nome de um cliente realizando tarefas que o usuário não quer ou não sabe como fazer sozinho. Os dois agentes, humanos e softwares, trabalham “nos bastidores”; a maior parte do trabalho de uma biblioteca de agentes humanos é invisível de propósito. “Agentes humanos fazem questão de fazer seu trabalho parecer fácil. De um certo modo, isso é parte do serviço que prestam.” (Nardi and O’Day, 1996. “What We Learned at the Library,” p. 79). Tanto agentes humanos quanto softwares começam a atingir um objetivo ou resolver um problema construindo a representação situacional de um problema. Agentes softwares criam essa representação usando o conhecimento de técnicas de representação como a lógica do ordenamento primário e a do predicado. Agentes são guiados para seus objetivos: eles procuram resolver um problema específico, satisfazer uma necessidade específica. O contexto é de fundamental importância para os dois agentes; objetivos e recompensas dependem da situação. Cada ato de informação fica sem sentido quando não é relacionado a alguma meta específica. Tanto agentes humanos quanto softwares dominam certas áreas de conhecimento (ex. nenhum é especialista em todas as áreas de conhecimento). Agentes realizam seu trabalho usando alguma variação do perfil de um usuário. Agentes procuram minimizar seu trabalho buscando o equilíbrio e a alocação eficiente dos recursos temporais, financeiros e computacionais. O trabalho dos agentes, tanto humanos quanto softwares é de natureza interativa. Ao checar resultados, há muitas perguntas e respostas. Os dois têm como objetivos eficiência e otimização. Os agentes mecanizados usam inteligência artificial para atingir a otimização dos seus objetivos. Bibliotecários alcançam a otimização através do empenho para obter resultados relevantes rapidamente e com o melhor custo-benefício (como por exemplo, escolhendo uma base de dados mais barata, ao invés de uma mais cara). Os dois agentes trabalham em mundos incertos. Seus ambientes são dinâmicos e os próprios agentes afetam o estado da informação. Agentes humanos e softwares enfrentam muitos dos mesmos desafios, preocupações, e objetivos. Diferenças entre bibliotecários e agentes softwares Além de todas essas semelhanças entre bibliotecários e agentes softwares, há também diferenças marcantes. Pouca consistência Todos os programas de software inteligentes enfrentam o problema da pouca consistência: como eles podem funcionar bem numa tarefa que esteja do seu domínio limitado? Eles podem se sobressair no xadrez, mas ficam perdidos quando lhe pedem informações óbvias. Bibliotecários raramente são pouco consistentes: na verdade, somos tão ágeis ao lidar e encontrar nosso caminho pelos espaços da informação que nos tornamos modestos demais. Nossa flexibilidade ante cada pedido dos clientes é geralmente incrível. Como bibliotecária da área médica, eu tenho um pé nos dois mundos: biblioteconomia e medicina (na verdade, eu poderia adicionar marketing e educação e outras áreas nessa afirmação). Bibliotecários são muito flexíveis; na verdade, flexibilidade é uma chave para a nossa utilidade e relevância futuras. Usuários de bibliotecas ficam frequentemente assustados com a quantidade de informação que um bom bibliotecário tem em sua mente. (ex. “Sabendo do projeto em que você está trabalhando, eu vi este artigo e imaginei que poderia lhe interessar”). Atitudes dos usuários A aceitação de um agente por um usuário é algo bastante singular e baseado em preferências pessoais, níveis de habilidade, e experiências anteriores com um agente. Usuários têm vários níveis de habilidade. Muitos preferem delegar a maior parte das tarefas de pesquisa de


informação para um bibliotecário; alguns preferem procurar sozinhos. Alguns usuários nunca vão se sentir confortáveis com os resultados que um software lhe oferece; outros usuários preferem lidar com computadores a lidar com pessoas. Alguns usuários superestimam suas habilidades tecnológicas e alguns são uns antiquados que sentem faltam do catálogo de cartões com suas chamadas em papel. Alguns usuários necessitam de um toque humano, preferindo uma tempestade de idéias com um bibliotecário a lidar com um programa de computador literal. Quando uma pessoa tem uma boa experiência com um bibliotecário ou um software, esse usuário provavelmente vai usar este agente no futuro novamente. Competência Um bom bibliotecário é mais competente que um agente software no momento atual. Um bibliotecário realmente bom tem que se desenvolver por experiência e treinamento, assim como os agentes softwares fazem, mas o tempo de desenvolvimento de um agente humano é menor do que o de um software. Bibliotecários “custam” menos para serem instalados, e também para falarem. “Alugue” um, dê a ele ou ela cerca de um ano para se adaptar à velocidade da informação,e você tem um agente profissional que vai fornecer aos clientes informações relevantes. Uma vez instalados, no entanto, os bibliotecários são muito mais caros para manter e são mais lentos em seu trabalho do que os softwares. A comunidade de inteligência artificial está trabalhando para fazer agentes softwares mais ágeis e competentes. É apenas uma questão de tempo até que a inteligência artificial tenha instalações completamente apropriadas para realizar tarefas de baixo nível de referência de bibliotecários. O futuro: Colaboração Aqueles de nós que trabalham em bibliotecas têm ouvido falar das duas teorias: o bibliotecário humano é obsoleto – refere-se à “Teoria da Redundância” de Hathorn (1997) – e o outro extremo: esse é o momento do bibliotecário agarrar o anel de metal (internet) e fazer nossa organização mágica da sobrecarga de informação existente. Hathorn chama isso de “Teoria dos Mestres do Universo”. Na minha opinião, isso não vai chegar a nenhum dos extremos, apesar da ameaça da obsolescência ser real se nós bibliotecários não começarmos a fazer marketing das nossas imagens e lidarmos com elas. Um futuro lógico da informação vai incluir bibliotecários humanos e agentes softwares inteligentes. Já que uma inteligência artificial genérica real não está ainda à vista, um futuro de colaboração faz mais sentido. Agentes softwares podem automatizar algumas das mais tediosas e repetitivas tarefas e bibliotecários podem ficar livres para fazer o que fazem de melhor; orientar os usuários no labirinto até a melhor informação para aquela necessidade particular dele. “Ao invés de ver agentes humanos e softwares como competidores, disputando o mesmo lugar no nosso mundo, o caminho mais sábio é potencializar os pontos fortes de cada um, deliberadamente delineando práticas de trabalho e acordos institucionais que reflitam e explorem a possibilidade de colaboração entre agentes humanos e softwares”. (Nardi and O’Day, 1996, “What We Learned at the Library,” p. 83) Exemplos dessa colaboração incluem os cenários abaixo: Mediação entre pesquisador e informação: • Assistência com base de dados e seleção de sites da internet; • Pesquisa e retorno automáticos – baseados nas perguntas dos usuários – da internet, bases de dados online, e/ou depósitos de informações comuns; • Assistência com estruturação de questionamentos (ex. Ajustando termos dos usuários a vocabulários controlados, subtítulos, e termos de thesaurus, sugerindo termos e conceitos semelhantes) ; • Assistência com modificações de estratégias; • Assistência com a interpretação e seleção dos resultados. Referência virtual / automática: • Bom para serviço de referência 24hs; • Útil para prestar serviço a usuários de bibliotecas distantes geograficamente; • Útil para usuários que não tenham possibilidades físicas ou não queiram ir à biblioteca pessoalmente; • Fornece a criação e apresentação de contextos sensíveis e automáticos de perguntas frequentemente feitas sobre referências; • Tutoriais orientados (ex. Pesquisa em base de dados, aprendendo e usando aplicativos); e, • Indexando e resumindo; designando termos de indexação (combinação automática a tesaurus e vocabulários controlados) e resumindo (identificando frases-chaves). Automatizando processos seqüenciados: • Recomendação de títulos para aquisição; • Atualizando bases de dados quando os títulos mudam ou acabam; • Identificando algumas seqüências que estão faltando e fazendo reivindicações; e; • Processando estatísticas e gerando relatórios. Processando empréstimos entre bibliotecas: • Identificando as melhores fontes para os documentos requeridos; • Encaminhando documentos de requerimento para a fonte;


• Atualizando e notificando o pessoal da entrega do documento sobre o andamento de requerimentos em aberto; • Arquivando requerimentos terminados; e; • Gerando relatórios (ex. estatísticas sobre a entrega de documentos). Aquisições: • Recomendando aquisições baseadas em orçamento, análises, tamanho e tipo da instituição, histórico de compras e rejeições etc; • Missão de encontrar vendedores para os itens selecionados para aquisição; • Automatização do catálogo de cópias (e ser capaz de lidar com diversos formatos); e; • Função de aconselhamento para a catalogação humana (ex. assegurando o cumprimento de regras, eliminando duplicidades, identificação automática dos principais termos de lançamentos, catalogando tutoriais). Circulação: • Checando itens determinados para usuários; • Gerando avisos de atraso; • Processando renovações; • Gerando estatísticas e relatórios de circulação; e; • Gerando faturas para materiais perdidos ou em atraso. Bibliotecas digitais: • Indexando e classificando documentos; pesquisando e retornando documentos. Reunindo e selecionando informações pessoais: • Serviços personalizados de conhecimento atual; • Pesquisa automática e personalizada (às vezes em cooperação com outros agentes especializados no assunto); • Geração de jornais pessoais e web sites (ex. MyYahoo!); • Ferramentas de pesquisa personalizadas; • Programas de filtragem e seleção de e-mails; • Recomendações de itens e sites de interesse pessoal; e; • Tradução de documentos para outras línguas (Zick, 1999). Conclusão Bibliotecários estão pensando bastante sobre o futuro da biblioteconomia. Estamos sendo redundantes? Podemos ser substituídos por sistemas inteligentes? O que temos a oferecer que as máquinas não podem reproduzir? Um artigo sobre esse assunto sugere o que vem abaixo como “Características fundamentais do novo profissional da informação” : • Orientar-se frente a um futuro incerto • Colaborar • Priorizar e manter agilidade e flexibilidade frente a objetivos mutáveis • Delegar • Entender as capacidades centrais da organização de alguém, de um grupo de trabalho, e dos colegas (Griffiths,1998, p.8) Essas sugestões são quase idênticas aos objetivos do desenvolvimento dos agentes softwares inteligentes: evitar a ambigüidade, colaboração entre agentes, dar poder ao usuário, e a personalização da informação para um usuário em particular. Bibliotecários e agentes softwares inteligentes devem trabalhar juntos para equilibrar eficientemente suas cargas de trabalho da maneira mais otimizada possível para um usuário em particular e dentro do contexto específico desse usuário. Bibliotecários precisam resistir a ficar na defensiva sobre nossos empregos e nossos valores e nos concentrar em quais tecnologias e quais métodos fazem mais sentido para nossos clientes. Uma vez que decidimos acerca desses métodos, precisamos fazer o nosso trabalho da melhor forma possível para obter essas tecnologias, instruir nossos usuários como eles precisam ser instruídos, distribuir o conteúdo de melhor qualidade possível através dos nossos métodos. Se algum bibliotecário antiquado precisar atualizar suas habilidades, que o faça. Visões otimistas demais do futuro devem ser evitadas. A promessa de soluções fáceis baseadas em novas tecnologias deve ser baseada em fatos e comprovadas, não apenas baseadas em leituras entusiasmadas de um tecnófilo. Quem fez o trabalho não é tão importante quanto o fato de que o trabalho foi feito da melhor forma para o cliente. “Bibliotecários estão se tornando mais importantes nesse universo centrado na informação. Agentes inteligentes podem atuar como catalisadores para elevar o papel dos bibliotecários como a aurora do próximo século, anunciando um renascimento na ciência da informação e biblioteconomia. Bibliotecários já estão representando novos papéis como fornecedores de conteúdos, estrategistas de pesquisas, catalogadores digitais e mecânicos da informação. Esses papéis vão se ampliar, e novas oportunidades vão surgir, com o desenvolvimento dos verdadeiros “agentes inteligentes” que se constróem através da experiência de bibliotecários e profissionais da informação.” (Valauskas, 1997) Nossos usuários estão mais e mais sobrecarregados todos os dias e apenas uma abordagem conectiva entre práticas de trabalho inteligentes vai ser mais útil para eles. Sobre a autora


Laura Zick é uma bibliotecária especializada na área médica e ciência da computação no Programa de Treinamento de Bibliotecas da área médica e informática do Clarian Health Partners, Inc. in Indianapolis, Indiana. Ela obteve o título de mestra de ciência da informação pela Universidade de Indiana e é membro da Academia de Profissionais da informação de saúde, da Faculdade de Medicina da Universidade de Indiana, e muitas organizações profissionais. Seus interesses de pesquisa incluem aqueles assuntos de informática e medicina como medicina baseada em evidências, inteligência artificial na medicina, os comportamentos de profissionais da área da saúde na busca da informação… todos com o objetivo final de trazer inteligentemente, eficientemente e plenamente informações baseadas em conhecimentos da melhor qualidade para as atender as necessidades dos clínicos. E-mail: laura@dochzi.com Web: http://www.dochzi.com/ Original: http://www.firstmonday.org/issues/issue5_5/zick/


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