GrĂŠcia Antiga 1
Grécia Antiga: início da história da civilização ocidental Não se desce duas vezes o mesmo rio. Heráclito
A História da Civilização Ocidental teve seu início há mais de dois mil e oitocentos anos, na Grécia Antiga. A civilização grega se dividiu em cidades-estado, que se distribuíram em um território, limitado pelos Mares Mediterrâneo, Jônio e Egeu. Na Idade do Ouro dessa civilização, chamada Época de Péricles, de 480 a 430 a. C., uma explosão de criatividade resultou em um nível de excelência, sem paralelo, em vários campos do conhecimento: arte, arquitetura, poesia, teatro, filosofia, política, leis, lógica, história e matemática, cuja influência é notada até hoje.
O homem é a medida de todas as coisas
A filosofia grega pode ser resumida nas palavras do filósofo e legislador grego, Protágoras de Abdera (480 a.C. - 410 a.C): “O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são." Assim como a dignidade e o valor do homem centralizavam os conceitos gregos, a figura humana era o principal motivo da arte grega. Enquanto a filosofia destacava a harmonia, a ordem e a clareza de pensamento, a arte e a arquitetura refletiam um respeito semelhante pelo equilíbrio e a beleza. Homem de Vitruviano – estudo do arquiteto romano do século I a.C., Vitruvius, que tomou a geometria pitagórica como base de seus estudos
Pitágoras e o número de ouro Pitágoras é considerado como o inventor da escala musical e para os pitagóricos as razões e proporções regiam a beleza musical, a beleza física e a beleza matemática. Pitágoras utilizou, pela primeira vez a palavra “Cosmos" que significa ordem. O Universo era previsível e ordeiro e tudo podia ser traduzido por números. Compreendê-lo era tão simples como compreender a matemática das proporções. Pentagrama - símbolo dos Pitagóricos – de onde se extrai o número de ouro
A proporção determinada por Ф (phi = 1,618…) número de ouro extraído do pentagrama de Pitágoras representava a beleza matemática e era conhecida pelos gregos como a Divina Proporção ou Proporção Àurea (proporção de ouro) que pode ser encontrada tanto no corpo humano como em várias outras formas da natureza. O que era verdadeiro para Pitágoras, em breve tornou-se verdadeiro para o mundo que o rodeava, mais tarde para os renascentistas e sua influência perdura até aos dias de hoje. Homem estrela
Retângulo de ouro
Culto ao corpo Entender a corporeidade na Grécia Antiga implica no fazer a leitura do modo de vida dos gregos. O homem grego dava grande importância ao corpo forte e sadio, requisito importante tanto para suas atividades de guerra, quanto para os fazeres de subsistência – a agricultura, e, posteriormente, nas atividades do desportista. Mas o médico grego, Hipócrates (pai da medicina) foi mais além em seus escritos, disseminando a idéia de que os exercícios físicos eram não só benéficos para a saúde dos músculos, mas também para a saúde mental.
Figura do atleta - “O discóbolo”
Esta idéia foi semeada, primeiro entre os gregos e depois entre os romanos, de onde vem “Mens sana in corpore sano” (Mente sã em corpo são), frase atribuída ao poeta romano Juvenal, que remonta aos primeiros séculos da era cristã e quase sempre é usada em apologia ao corpo.
Anatomia e Medicina
Terapia manual na Grécia Antiga
Asclépio e seu bastão em forma de serpente, símbolo da Medicina
O curso da história da medicina mudou a partir do pensamento filosófico – médico dos gregos, quando os deuses, responsáveis pelas moléstias e também pelas curas, começaram a ser substituídos pela observação clínica dos profissionais. O tratamento dos doentes passou a se apoiar em conhecimentos detalhados de fisiologia e anatomia humanas, e não mais na magia. Sendo assim, Panacéia, deusa de todas as curas, e Hígia, deusa da saúde pública, filhas de Asclépio, cederam lugar à prática médica mais racional. Asclépio, filho do deus Apolo (deus solar e da saúde) e da ninfa Coronis, foi retirado do ventre da mãe morta pelo pai, quando estava para nascer o que lhe proporcionou o simbolismo da “vitória da vida sobre a morte”. A arte da medicina foi ensinada a ele pelo centauro Quirón e uma serpente ensinoulhe como usar uma certa planta para dar vida aos mortos. Por isso o símbolo de Asclépio é um bastão com uma cobra enrolada e até hoje, esse símbolo é usado para medicina. Os principais estudos realizados na área médica foram compilados no “Corpus Hipocraticum”, que deram impulso à ética médica. E Hipócrates, o “pai da medicina” na Grécia Antiga, é até hoje lembrado pelos médicos, ao realizarem o “juramento hipocrático”.
Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses. (inscrição do Templo de Delfos)
Os deuses
Os gregos eram politeístas (acreditavam em vários deuses). Seus deuses eram poderosos e imortais, embora tivessem a forma e os sentimentos humanos. Zeus, o filho caçula do Titã Chronos, deus do tempo, destronou o pai e libertou seus irmãos, os quais Chronos havia devorado.
Zeus http://www.myastrologybook.com/Zeu s-Jupiter-Jove-Wotan-Thor.jpg
Montou então seu domínio, dividindo-o em “setores”, com: Hera sua esposa e deusa dos lares; Demeter, deusa da Terra e agricultura; Apolo, o deus do Sol e da saúde; Artemis - deusa da caça e da Lua (irmã gêmea de Apolo); Atena, símbolo da inteligência e da guerra justa; Hermes, mensageiro dos deuses; Afrodite, deusa do amor e da beleza; Hefesto, deus do fogo e das habilidades manuais; Hades - senhor dos infernos e do mundo subterrâneo; Posidon, deus do mar e das águas; Ares, deus da guerra; Dioniso, deus do vinho, do teatro e da fertilidade; Perséfone, filha de Deméter e esposa de Hades, deusa das colheitas.
As musas
A imagem das musas como inspiradoras das artes mostra a força do legado grego à cultura ocidental. Da palavra µοῦσα (musa), derivam as palavras museu (templo consagrado às musas), música e músico. Cada musas era ligada a uma das atividades: Clio (à história); Euterpe (música); Tália (Comédia); Melpômene (Tragédia); Terpsícore (dança); Urânia (astronomia); Érato (poesia lírica); Polímnia (retórica); Calíope (poesia épica). As musas eram filhas de Mnemosine - deusa da memória - e Zeus - deus dos raios e o mais poderoso de todos os deuses gregos. Elas eram representadas como belas e jovens, com vestes esvoaçantes e, cada qual, com um atributo característico nas mãos: uma máscara de tragédia e da comédia (Melpômene e Tália), um instrumento musical (Calíope, Erato ou Terpsícore), um pergaminho (Clio), um globo (Urânia).
A música e a dança Os pensadores gregos construíram teorias musicais mais elaboradas do que qualquer outro povo da Antigüidade. Pitágoras, um grego que viveu no século VI a.C., achava que a Música e a Matemática poderiam fornecer a chave para os segredos do mundo. Ele acreditava que os planetas produziam diferentes tonalidades harmônicas e que o próprio universo cantava. Essa crença demonstra a importância da música no culto grego, assim como na dança e nas tragédias. Os gregos usavam as letras do alfabeto para representar notas musicais. Agrupavam essas notas em tetracordes (sucessão de quatro sons). Combinando esses tetracordes de várias maneiras, os gregos criaram grupos de notas chamados modos. Os modos gregos até hoje são usados pelos músicos: Jônico ou Jônio; Dórico; Frígio, Lídeo, Mixolídeo; Eólio; Lócrio. A Grécia representou, na dança, um meio caminho entre as primitivas danças da Pré-história e as da Roma Imperial. A dança coral era parte integrante do teatro, na tragédia e do drama satírico, e se mostrava em filas. Provavelmente, na transição para o espetáculo de dança tenha-se desenhado em uma ligeira marcação circular.
A educação Mais que honra e glória, os gregos pretendiam com a educação alcançar a excelência física e moral. Os principais atributos, que o homem da época deveria alcançar, eram a beleza e a bondade. E para alcançar este ideal era proposto um programa educativo que implicava em dois elementos fundamentais: a ginástica para o desenvolvimento do corpo, e a música (aliada à leitura e ao canto) para o desenvolvimento da alma. No final da época arcaica, este programa educativo ainda se completava com estudos da gramática. Mas, se até então o objetivo fundamental da educação era a formação do homem individual, a partir do século V a. C., exige-se algo mais da educação: formar também o cidadão. A antiga educação, baseada na ginástica, na música e na gramática deixa, com isso, de ser suficiente. Academia de Platão – Mosaico de Pompéia
"(...) a essência de toda a verdadeira educação ou Paideia é a que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento” Platão
É então que o ideal educativo grego aparece como Paideia: formação geral que tem por tarefa construir o homem como pessoa e como cidadão. Na Grécia Antiga as meninas não recebiam qualquer educação formal, apenas aprendiam os ofícios domésticos e os trabalhos manuais com suas mães. O principal objetivo da educação grega era mesmo preparar o menino para ser um bom cidadão.
O teatro O teatro surgiu na Grécia como decorrência das manifestações que aconteciam a cada nova safra de uva, em forma de procissões, conhecidas na época com o nome de ditirambos, em homenagem ao deus do vinho, Dioniso. Téspis, um dos primeiros organizadores desses ditirambos, introduziu o uso de máscaras nessas manifestações para que, através delas, todas os espectadores pudessem “visualizar” a emoção da cena. Os gregos usavam dois tipos de máscaras em seu teatro: uma para representar a comédia e outra, a tragédia. Os trabalhos do herói Perseu com a cabeça da Medusa
Máscaras gregas da comédia e da tragédia
Os teatros aconteciam em grandes anfiteatros ao ar livre e sempre aconteciam ao amanhecer. O teatro fazia parte da educação de um grego e tinha, para eles, também um efeito catártico (purificação da alma através da arte). Foram os gregos que criaram, no teatro, a Tragédia Grega, que descreve realidades e mitos: histórias de heróis em luta contra o próprio destino e histórias dos deuses, sempre prontos a recompensar a coragem e punir a rebeldia.
A arquitetura O período considerado mais importante da cultura e da arquitetura grega é aquele que se desenvolve entre o séculos VII a.C. e IV a.C. Parthenon, o mais emblemático dos templos da Acrópole, dedicado à deusa Atena. Ictino e Calícrates foram seus arquitetos e Fídias, escultor e diretor da obra.
Concentra-se na arquitetura religiosa – construção de templos – com grande rigor nas proporções matematicamente precisas, baseadas no número de ouro estudado pelos pitagóricos.
As construções foram feitas de mármore. O Parthenon, templo dedicado à deusa Atena, na Acrópole de Atenas, erguido entre 447 a.C. e 438 a.C., no governo de Péricles, é uma das mais conhecidas e admiradas construções do período.
A razão entre a largura e o comprimento do retângulo de ouro foi considerada a proporção mais agradável à visão Esta razão recebeu o nome Número de Ouro dos Gregos, mais especificamente do escultor grego Fidias.
Um traço marcante da arquitetura grega é o uso de colunas, estabelecendo as "ordens" características: dórica, jônica e coríntia.
A pintura A vida é breve, a arte é perene. Hipócrates
Os gregos tinham amplo conhecimento de pintura. E, com ela, os artistas atingiram o ápice dos efeitos realistas, os chamados tromp l’oeil. Entretanto as habilidades gregas na pintura chegaram aos dias de hoje apenas através dos escritos e das pinturas em vasos e objetos domésticos, pois as obras não suportaram os efeitos do tempo e das invasões. Os gregos, através das pinturas nas cerâmicas contaram a história dos seus deuses e heróis e registraram eventos do cotidiano, como as festas, as danças, as conquistas, as guerras, e seus costumes.
A escultura “Essa era a maneira de entender daquele povo; eles só puderam conceber o invisível através do visível, sentir e criar a beleza a partir daquela que viam ao redor de si e que abstraíam mediante a luz da mente”.
Os gregos introduziram o nu na escultura. As proporções ideais das estátuas representavam também a perfeição do corpo humano: a cabeça deveria medir 1/8 da altura do corpo todo. Os gregos buscaram na vida estabelecer um equilíbrio entre dois pólos do comportamento humano – emoção e razão. Os artistas, por sua vez, procuraram reproduzir em suas obras toda a beleza e o vigor do corpo humano. As estátuas gregas eram policromadas (pintadas com várias cores). Entretanto, hoje, as conhecemos sem suas cores originais, que não resistiram à ação do tempo.
Afrodite de Milo (130 - 100 d.C,) http://bohemianalien.files.wordpress.com/2007/1 1/venus_de_milo.jpg
E ainda, muitas das estátuas que existem hoje, são apenas réplicas das originais, feitas pelos romanos.
Os períodos da Escultura • Período Arcaico - quando a estatuária ainda mostra muita semelhança com o estilo da estatuária egípcia, com figuras estáticas (sem movimento), geometrizadas, rígidas, e simétricas em relação a um eixo central. Período Arcaico
Período Helenístico
• Período Clássico - quando a estatuária grega alcança o máximo de sua exuberância e beleza, com figuras apresentando mais movimento, assimetria e maior equilíbrio no conjunto, embora seguindo leis rigorosas de proporção. • Período Helenístico - quando a estatuária demonstra mais movimento na representação do corpo, aliando efeitos de panejamento (movimento dos panos da roupa) que dão idéia de transparência e leveza, com o objetivo de despertar emoção no observador.
O vestuário As roupas usadas pelos gregos eram simples e confeccionadas com linho (para o verão) e lã (para o inverno). Geralmente eram as esposas, filhas ou escravas quem as faziam, quase sempre mantendo a cor original dos fios, mas já adotavam um processo de tingimento dos tecidos. A vestimenta principal dos gregos - o quiton - era um retângulo de tecido semelhante a uma túnica, colocada sobre o corpo, presa nos ombros com broches ou agulhas – fíbulas e debaixo dos braços, por um cordão. Nos adultos essa vestimenta era longa, até a altura dos tornozelos; já nos jovens, o quiton cobria apenas os joelhos. A vestimenta feminina era ligeiramente diferente da masculina, apresentando cordões e correntes na altura da cintura, e decote acentuado. As mulheres usavam também uma outra roupa como proteção contra o frio - o himation que cobria o corpo todo. Os filósofos gregos usavam o himation como traje básico. Vestido da mulher grega
Ornamentos que simbolizavam a cidade-estado de origem, eram aplicados nas roupas das pessoas para identificá-los. O uso de brincos, anéis, correntes, gargantilhas ou outra jóia era restrito às famílias mais ricas.
Os cuidados com o corpo A beleza e o asseio do corpo eram, para os gregos antigos, dois requisitos importantes, mesmo a água sendo escassa e os banhos, públicos. As mulheres usavam óleos perfumados e evitavam expor-se ao sol, visto o bronzeado não ser considerado belo na época. Tanto os homens quanto as mulheres gostavam de usar perfumes feitos à base de flores e ervas. É possível que os gregos não tenham conhecido o sabão, e então limpavam os seus corpos com blocos de barro, areia, pedra pomes e cinzas e, em seguida, os untavam com óleo, raspando seguidamente com um instrumento de metal, chamado strigil, para tirar a sujeira e o suor. Os penteados eram bem diferenciados, com destaque para os cabelos encaracolados e arranjos feitos com ceras e loções. As mulheres mantinham os cabelos longos, adornados com presilhas de metal ou fitas coloridas. Já os homens mantinham os cabelos curtos e conservavam as barbas e os bigodes, se não pertencessem ao exército.
GrĂŠcia Antiga