Fauna e Flora do Verde Vale do Itapemirim

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FAUNA

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FLORA

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VERDE VALE DO ITAPEMIRIM: Vertebrados Terrestres (anfíbios, répteis, aves e mamíferos)

e Caracterização da Vegetação dos Remanescentes Florestais da Fazenda do Ouvidor

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_________________________________________________________________ Paz, Pedro Rogério de; Venturini, Ana Cristina; Helmer, José Luiz e Assis, André Moreira. A Fauna e Flora do Verde Vale do Itapemirim. Vila Velha, 2009. 169p. 1. Fauna. 2. Flora. 3. Taxonomia. 4. Anurofauna. 5. Herpetofauna. 6. Avifauna. 7. Mastofauna. 8. Fitofisionomia.

_________________________________________________________________

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A Fauna e a Flora do Verde Vale do Itapemirim: Vertebrados terrestres (anfíbios, répteis, aves e mamíferos) e Caracterização da Vegetação dos Remanescentes Florestais da Fazenda do Ouvidor

Relatório Técnico

Cachoeiro de Itapemirim, Janeiro de 2009

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Tramirim Instituto de Meio Ambiente e desenvolvimento Sustentável

usina paineiras s.a. Açúcar e Álcool

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INSTITUTO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – TRAMIRIM

Diretoria Carlos Alexandre Damasceno de Paz Ana Helena Cazetta Amarildo Souza Bristes Gabriel Rios André Aristides Fonseca Filho

Superintendente Executiva Vera Lúcia de Paz

USINA PAINEIRAS S.A

Diretoria Diretor Presidente Régis Sousa de Carvalho Britto

Diretor Superintendente Cláudio de Carvalho Britto Vital Brasil

Diretor Industrial Ruy Vital Brasil Filho

Estudos realizados a partir do Projeto Verde Vale do Itapemirim: Proposta de plano de comunicação, educação ambiental e capacitação para pequenos agricultores e agricultoras do entorno do Verde Vale do Itapemirim – área prioritária para a Conservação da Mata Atlântica (ISA/2000 e PROBIO / 2003) e apoio a criação da RPPN do Ouvidor.

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COORDENAÇÃO GERAL Vera Lúcia de Paz

COORDENADOR EXECUTIVO DE ATIVIDADES NA USINA PAINEIRAS Jorge Edson Machado Alves – Gestor Ambiental – Engenheiro Florestal

APOIO LOGÍSTICO (OPERACIONAL) - USINA PAINEIRAS Ailton Abílio Rosa – Apoio de campo nas trilhas José Antônio Satiro Gonçalves – Ex-Gerente de Pecuária José Augusto Binoti – Atual Gerente de Pecuária Jô Martins Reis – Serviços Gerais – Indústria Manoel de Oliveira Rosa – Apoio de Campo nas trilhas Maria das Graças Campos – Secretária da Diretoria Mario Sergio Venâncio da Silva – Topógrafo

EQUIPE – FAUNA

Empresa Consultora FAUNATIVA CONSULTORIA E COMÉRCIO LTDA

Técnicos Responsáveis Pedro Rogerio de Paz - Biólogo (CRBio 12721/02) Mastofauna Ana Cristina Venturini - Bióloga (CRBio 12707/02) Avifauna Dr. José Luiz Helmer - Biólogo (CRBio 7428/02) Anurofauna e Herpetofauna

Apoio de campo Cleunice Ferreira Pimenta Alexandre Mendonça Thiago Herzog Adeilto José Moreira Claudia Aparecida Pimenta

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EQUIPE – FLORA

Empresa Consultora BIÓTICA ESTUDOS E PROJETOS LTDA

Técnicos Responsáveis André Moreira de Assis – Biólogo, Msc. Biologia Vegetal (CRBio: 32.098/02) Karla Fabíola de Oliveira Faria – Bióloga Valdir Geraldo Demmuner – Biólogo

Apoio Logístico (Herbário e Filmadora no MBML) Helio de Queiroz Boudet Fernandes – Diretor do Museu de Biologia Mello Leitão (MBML) Rosemberg Ferreira – Chefe Técnico do MBML

Especialistas que auxiliaram na identificação botânica Anderson F. P. Machado: Museu Nacional / RJ - Moraceae André P. Fontana: MBML - Orchidaceae e famílias em geral Daniela M. Ferreira: Museu Nacional / RJ - Piperaceae Helio Q. B. Fernandes: MBML - Arecaceae e famílias em geral Ludovic J. C. Kollmann MBML: Begoniaceae, Bromeliaceae, Orchidaceae e famílias em geral Marcelo Viana Filho: Museu Nacional / RJ – Moraceae Milton Goppo: Universidade de São Paulo - Rutaceae

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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO _________________________________________________________15 AGRADECIMENTOS ______________________________________________________18

Capitulo 1: Fauna _____________________________________________________20 1. INTRODUÇÃO__________________________________________________________20 1.1. Enquadramento regional e caracterização da área_______________________________ 20 1.2. Enquadramento zoogeográfico _______________________________________________ 24

2. METODOLOGIA ________________________________________________________26 2.1. Equipe ___________________________________________________________________ 26 2.2. Procedimentos_____________________________________________________________ 27 2.2.1. Anurofauna______________________________________________________________________ 28 2.2.2. Herpetofauna ____________________________________________________________________ 30 2.2.3. Avifauna ________________________________________________________________________ 31 2.2.4. Mastofauna ______________________________________________________________________ 32

3. RESULTADOS E COMENTÁRIOS _________________________________________36 3.1. Anurofauna _______________________________________________________________ 37 3.1.1. Composição geral das espécies ______________________________________________________ 38 3.1.2. Espécies ameaçadas de extinção _____________________________________________________ 41 3.1.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica ________________________________________________ 41 3.1.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo ________________________________________ 43 3.1.5. Nomes locais ____________________________________________________________________ 44 3.1.6. Registro fotográfico _______________________________________________________________ 45

2. Herpetofauna _______________________________________________________________ 55 3.2.1. Composição geral das espécies ______________________________________________________ 55 3.2.2. Espécies ameaçadas de extinção _____________________________________________________ 58 3.2.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica ________________________________________________ 58 3.2.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo ________________________________________ 60 3.2.5. Nomes locais ____________________________________________________________________ 61 3.2.6. Registro fotográfico _______________________________________________________________ 62

3.3. Avifauna _________________________________________________________________ 68 3.3.1. Composição geral das espécies ______________________________________________________ 68 3.3.2. Espécies ameaçadas de extinção _____________________________________________________ 75 3.3.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica ________________________________________________ 77 3.3.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo ________________________________________ 78 3.3.5. Nomes locais ____________________________________________________________________ 79 3.2.6. Registro fotográfico _______________________________________________________________ 80

3.4. Mastofauna _______________________________________________________________ 96 3.4.1. Composição geral das espécies ______________________________________________________ 96 3.4.2. Espécies ameaçadas de extinção ____________________________________________________ 100 3.4.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica _______________________________________________ 102 3.4.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo _______________________________________ 104 3.4.5. Nomes locais ___________________________________________________________________ 105 3.4.6. Registro fotográfico ______________________________________________________________ 107

CONSIDERAÇÕES FINAIS ________________________________________________115 4.1. Análise geral da área ______________________________________________________ 115 4.2. Potencialidades ___________________________________________________________ 120 4.3. Necessidades _____________________________________________________________ 122

5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS________________________________________123 9


6. ANEXO : Licença Ibama 13212-1 __________________________________________128

Capitulo 2: Flora ____________________________________________________132 1. INTRODUÇÃO_________________________________________________________132 2. MATERIAL E MÉTODOS _______________________________________________135 2.1. Área de Estudo ___________________________________________________________ 135 2.2. Metodologia______________________________________________________________ 137

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ___________________________________________141 3.1. Fitofisionomia ____________________________________________________________ 141 3.1.1. Remanescente “Área A” __________________________________________________________ 141 3.1.2. Remanescente “Área B” __________________________________________________________ 144

3.2. Flora____________________________________________________________________ 147

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ______________________________________________162 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ______________________________________164

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ÍNDICE DAS FIGURAS Figura 1 - Mapa de localização geográfica referenciando o município de Itapemirim, sul do Espírito Santo, Brasil região do presente estudo. __________________________________21 Figura 2 - Mapa esquemático de localização da área central dos estudos de fauna dos vertebrados terrestres do Verde Vale do Itapemirim, Itapemirim, ES: Matas do Ouvidor. __22 Figura 3 - Aspecto da Mata do Ouvidor e a lagoa às suas margens um dos ambientes integrantes do Complexo do Verde Vale do Itapemirim. ____________________________23 Figura 4 - Detalhe da Mata do Vale Verde do Itapemirim (“Mata do Brejão”): o maior bloco florestal contínuo da região. __________________________________________________23 Figura 5 - Províncias zoogeográficas da América do Sul (Segundo Fittkau 1969), com algumas modificações, destacando a localização do presente trabalho. _________________25 Figura 6 - Equipe de campo da esquerda para direita: Ailton Abílio Rosa (guia de campo), Ana C. Venturini (Bióloga), Cleunice Pimenta e Alexandre Mendonça (técnicos de campo).26 Figura 7 - Equipe de Biólogos em trabalho de campo de fauna. A partir da esquerda: Pedro Paz, Ana C. Venturini, Claudia Pimenta, José L. Helmer e Adeilto J. Moreira.___________26 Figura 8 - Documentação de fauna (anfíbio) através de fotografia e filmagem.___________28 Figura 9 - Exemplo de anfíbio capturado manualmente._____________________________29 Figura 10 - Tomada de padrão biométrico (comprimento rostro-anal) de anfíbio._________29 Figura 11 - Equipe com exemplar de réptil capturado, manuseado com gancho, sendo documentado.______________________________________________________________30 Figura 12 - Tomada de padrões biométricos de réptil. ______________________________30 Figura 13 - Observação de aves com auxilio de binóculos e luneta.____________________31 Figura 14 - Uso de gravador e microfone para documentação de aves. _________________32 Figura 15 - Uso de rede de neblina para captura de aves no sub-bosque. ________________32 Figura 16 - Observação de mamífero com auxilio de binóculo. _______________________33 Figura 17 - Armadilha Tomahawk utilizada na captura de pequenos mamíferos. _________33 Figura 18 - Uso de armadilha Sherman para captura de mamíferos. ___________________34 Figura 19 - Uso de fita zebrada para a sinalização de pontos de captura por armadilha. ____34 Figura 20 - Armadilha fotográfica de trilha. ______________________________________35 Figura 21 - Número de espécies de animais de acordo com a classe. ___________________36 Figura 22 - Riqueza de espécies de anfíbios de acordo com as famílias. ________________39 Figura 23 - Distribuição das espécies de anfíbios de acordo com o ambiente. ____________40 Figura 24 – Leptodactylus spixi rã-de-bigode, espécie de anfíbio endêmica de Mata Atlântica. _________________________________________________________________42 Figura 25 - A perereca verde-pequena Sphaenorhynchus planicola é encontrada geralmente na vegetação aquática e também é endêmica da Mata Atlântica. ______________________43 Figura 26 – Rã-manteiga Lepitodactylus ocellatus, uma espécie de anfíbio cinegética. ___43 Figura 27 - Riqueza de espécies de répteis de acordo com as famílias. _________________56 Figura 28 - Distribuição das espécies de répteis de acordo com o ambiente. _____________57 Figura 29 - Gymnodactylus darwinin lagartixa-da-mata, réptil florestal endêmico da Mata Atlântica. _________________________________________________________________59 Figura 30 - Bothrops jararaca conhecida localmente como “surucucu” é uma das espécie endêmicas da Mata Atlântica registrada na área. __________________________________59 Figura 31 - Leptotyphlops salgueiroi cobra-da-terra. ______________________________60 Figura 32 - Helicops carinicaudus a cobra-d’água é endêmica da Mata Atlântica e uma importante espécie dentro do elo da cadeia alimentar da região. ______________________60 Figura 33 - Número de espécies de aves em cada ordem. ____________________________74 Figura 34 - Distribuição das espécies de aves de acordo com o ambiente. _______________74

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Figura 35 - O querequeté Pyrrhura cruentata psitacídeo ameaçado de extinção em nível estadual, nacional e global. As matas da região são importantes sítios de conservação da espécie no Estado já tendo sido observado um grupo com cerca de 50 indivíduos. ________76 Figura 36 – O papagaio Amazona rhodocorytha é uma espécie ameaçada de extinção no estado do Espírito Santo onde é considerada criticamente em perigo, porém é uma espécie bem freqüente na região do Verde Vale do Itapemirim. _____________________________76 Figura 37 - Macho de conconha Thamnophilus ambiguus Passeriforme endêmico da Mata Atlântica. _________________________________________________________________78 Figura 38 - Uma das aves noturnas o corujão Pulsatrix koeniswaldiana é uma espécie endêmica de Mata Atlântica. __________________________________________________78 Figura 39 - Número de espécies de mamíferos de acordo com as ordens. _______________97 Figura 40 - Distribuição das espécies de mamíferos de acordo com o ambiente.__________99 Figura 41 – A preguiça-de-coleira, Bradypus torquatus, pode ser considerada uma das espécies chaves na conservação da região. ______________________________________101 Figura 42 – Leopardus wiedii, gato-maracajá uma das espécies de felídeo presente nas matas do Verde Vale do Itapemirim. ________________________________________________101 Figura 43 – Cebus nigritus o macaco-prego é uma espécie quase ameaçada de extinção em nível global e endêmica de Mata Atlântica. _____________________________________102 Figura 44 - Didelphis aurita gambá, ocorre na Mata Atlântica de parte do Brasil, Paraguai e Argentina sendo endêmica deste bioma. ________________________________________103 Figura 45 – Marmosops incanus cuíca, endêmica da Mata Atlântica do leste do Brasil. __103 Figura 46 – Alouatta guariba barbado é um primata comum na área. ________________104 Figura 47 - Nasua nasua quati é utilizado como animal de estimação. ________________105 Figura 48 – Cuniculus paca. A paca é uma das espécies cinegéticas da região. Muito visada por caçadores. ____________________________________________________________105 Figura 49 - Poleiro construído por caçadores no interior da mata usualmente utilizado para abate de mamíferos como paca e tatus. _________________________________________116 Figura 50 – Armadilhas artesanais encontradas no interior da mata do Brejão em trilha de Tatu.____________________________________________________________________117 Figura 51 - Escada rudimentar construída em árvore na mata, encontrada na região de estudo, com objetivo de captura de filhotes de papagaio (e grupo) no ninho.__________________117 Figura 52 – Cachorro doméstico em comportamento de caça flagrado pela armadilha fotográfica no interior da mata _______________________________________________118 Figura 53 - Localização da Fazenda do Ouvidor (círculo vermelho), no município de Itapemirim (ES). Fonte: Google Earth 2007. ____________________________________135 Figura 54 - Localização dos remanescentes estudados “Área A” e “Área B” (setas vermelhas) na área potencial para criação da RPPN na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). ____________________________________________________________________136 Figura 55 - Atividades relacionadas ao registro de plantas na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) coleta de ramos com auxílio de podão; b) coleta de planta na borda da mata; c) preparação das exsicatas; d) prensas na estufa do Herbário MBML para desidratação do material coletado. _______________________________________________________139 Figura 56 - Atividades relacionadas à identificação das plantas na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) consulta ao herbário; b) observação na lupa de características morfológicas; c) consulta à literatura e comparação com exsicatas do herbário. ________________________________________________________________________140 Figura 57 - Aspectos da vegetação do remanescente florestal da “Área A” na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) borda com vegetação de grande porte; b) subbosque diversificado; c) sub-bosque com palmeiras; d) exemplo de epifitismo (Aechmea multiflora)._______________________________________________________________142

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Figura 58 - Aspectos da vegetação do remanescente florestal da “Área A” na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) liana de grande porte; b) borda de trecho secundário, com abundância de lianas; c) raízes adventíceas de arácea retirada para fazer corda; d) evidência de outro impacto antrópico: fezes bovinas no interior do remanescente florestal. _________________________________________________________________143 Figura 59 - Aspectos da vegetação do fragmento florestal na “Área B” na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) aspecto geral do fragmento; b) detalhe da borda da floresta; c) estrato interior da floresta; d) planta herbácea do sub-bosque: Griffinia sp. _145 Figura 60 - Vegetação do remanescente florestal na “Área B” - Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) exemplo do epifitismo no local; b) bromélia epífita: Aechmea multiflora; c) liana comum no sub-bosque: Abuta sp; d) exemplar de grande porte de braúna (Melanoxylon brauna) cortado._______________________________________147 Figura 61 - Distribuição do número de espécies dentre as principais famílias de plantas da Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). (Legenda: Leg= Leguminosae; Rub= Rubiaceae; Big= Bignoniaceae; Euph= Euphorbiaceae; Sapi= Sapindaceae; Arec= Arecaceae; Brom= Bromeliaceae; Mor= Moraceae; Myrt= Myrtaceae; Rut= Rutaceae; Apoc= Apocynaceae; Arac= Araceae; Pip= Piperaceae). _________________________________153 Figura 62 - Distribuição das espécies registradas na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES), de acordo com seu porte. (Legenda: Ar= árvore; Arb= arbusto; Ep= epífita; Esc= escandente; Hem= hemiepífita; Her= herbácea; Lia= liana; Pal; palmeira; Par= parasita). ________________________________________________________________________154 Figura 63 - Espécies ameaçadas de extinção no estado do Espírito Santo ocorrentes na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) Aechmea multiflora (Bromeliaceae); b) Galeandra beyrichii (Orchidaceae); c) Anthurium coriaceum (Araceae); d) Cyrtopodium gigas (Orchidaceae). _______________________________________________________159

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ÌNDICE DAS TABELAS

Tabela 1 - Espécies ameaçadas de extinção e/ou endêmicas de Mata Atlântica registradas no Verde Vale do Itapemirim e arredores entre agosto de 2007 e novembro de 2008. ________36 Tabela 2 - Anfíbios registrados no Verde Vale do Itapemirim e arredores entre agosto de 2007 e novembro de 2008. ________________________________________________________38 Tabela 3 - Riqueza de espécies de anfíbios em diferentes localidades no Espírito Santo. ___41 Tabela 4 - Anfíbios endêmicos de Mata Atlântica registrados na área de estudo. _________42 Tabela 5 - Répteis registrados no Verde Vale do Itapemirim e arredores entre agosto de 2007 e novembro de 2008. ________________________________________________________55 Tabela 6 - Riqueza de répteis em diferentes áreas de baixada no Espírito Santo.__________57 Tabela 7 - Répteis endêmicos da Mata Atlântica registrados na área de estudo. __________58 Tabela 8 - Aves registradas na Mata do Ouvidor e arredores, Itapemirim, Espírito Santo entre agosto de 2007 e novembro de 2008. ___________________________________________68 Tabela 9 - Riqueza de aves em diferentes áreas de baixada no Espírito Santo. ___________75 Tabela 10 - Aves ameaçadas de extinção que ocorrem na região do Verde Vale do Itapemirim. _________________________________________________________________________75 Tabela 11 - Espécies de aves endêmicas registradas na região. _______________________77 Tabela 12 - Mamíferos registrados no Verde Vale do Itapemirim e arredores, Itapemirim, Espírito Santo entre agosto de 2007 e novembro de 2008. ___________________________97 Tabela 13 - Riqueza de mamíferos em diferentes áreas de baixada no Espírito Santo. _____99 Tabela 14 - Mamíferos ameaçados de extinção registrados na região do Verde Vale do Itapemirim. ______________________________________________________________100 Tabela 15 - Espécies de mamíferos endêmicos de Mata Atlântica registrados na área. ____102 Tabela 16 - Lista de plantas registradas para a Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). ____________________________________________________________________148 Tabela 17 - Dez famílias com maior número de espécies na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES) e outras áreas do Bioma Mata Atlântica no sudeste brasileiro. _______155 Tabela 18 - Relação das espécies identificadas como ameaçadas de extinção, conforme legislação Estadual e Federal, na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). ___157 Tabela 19 - Espécies da Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES), com distribuição geográfica restrita/endêmica, de acordo com sua distribuição pelos estados brasileiros, presente na base de dados de herbários nacionais e estrangeiro.______________________160

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APRESENTAÇÃO Esta obra tem por objetivo levar a um público diferenciado, as informações produzidas a partir do levantamento de Fauna e Flora no Verde Vale do Itapemirim, um conjunto de fragmentos florestais com 1.546 hectares, de propriedade da Usina Paineiras S.A. que se sobressai no sul do Estado como área de importância para a preservação da Mata Atlântica. Os estudos de fauna e flora tiveram por finalidade apoiar a criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) da Fazenda do Ouvidor, com 195 hectares, inserida no Verde Vale do Itapemirim, um dos maiores fragmentos de Mata Atlântica do sul do Estado do Espírito Santo. Os levantamentos tornaram-se possíveis através do apoio do PDA (Projetos Demonstrativos), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e seus diversos parceiros: KWF, GTZ e Cooperação Técnica Brasil x Alemanha; do Projeto Corredores Ecológicos; do Instituto de Defesa Agroflorestal do Espírito Santo (IDAF) - Escritório Regional; da Secretaria de Agricultura de Itapemirim; do Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS); do Banco do Brasil e principalmente da Usina Paineiras S.A além da Faunativa Consultoria e Comércio LTDA que teve participação fundamental

nos trabalhos de campo de fauna e na elaboração e

edição deste documento.

A importância deste trabalho é retratada pela qualidade das informações, as quais dão um conhecimento precípuo de uma realidade que até então só nos foi possível imaginar. A "Mata do Ouvidor”, pertencente à Usina Paineiras, representa um oásis em uma região que vivenciou a era do “Verde Vale de Ouro” do “café”, do “surto industrial” do Governador Jerônimo Monteiro e hoje espanta aos olhos de quem a vê rodeada pelos solos desnudos, processos erosivos, pastos e intercaladas lavouras de mandioca, cana e abacaxi. É a mata que nos apresenta uma rica variedade de espécies da fauna e da flora típicos da Mata Atlântica.

Em um intervalo de 15 meses de levantamento de campo foram identificadas 251 espécies de vertebrados terrestres, 24 espécies de anfíbios, 18 espécies de répteis,

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172 espécies de aves, 37 espécies de mamíferos e 268 espécies vegetais.

Este trabalho ganhou uma significância ainda maior no momento em que se verificou que entre os vertebrados identificados há 11 espécies ameaçadas de extinção e 44 endêmicas de Mata Atlântica. Neste cenário Pyrrhura cruentata (querequeté), Amazona rhodocorytha (papagaio), Bradypus torquatus (preguiça-de-coleira) e Calicebus personatus (guigó) são espécies consideradas ameaçadas de extinção em nível estadual, nacional e global. Entre aves, anfíbios, répteis e mamíferos a variedade aponta para o endemismo da Mata Atlântica com 44 espécies registradas até o momento. Quanto aos aspectos da vegetação vale observar que este é um dos poucos locais onde há remanescentes da floresta estacional semidecidual com extensão considerável. Já foi possível catalogar 268 espécies, dentre as quais a Paradrypetes ilicifolia considerada regionalmente extinta.

São estas breves considerações que apontamos para este trabalho que exigiu paciência e obstinação por parte dos pesquisadores, dias que se estenderam em muitas horas mata adentro.

Quem passar pela “Mata do Ouvidor” e tiver folheado as páginas desta publicação, doravante não a verá mais como uma área “de sombra” entremeada por pastos, cana, abacaxi, mandioca e solos desnudos... O VERDE VALE DO ITAPEMIRIM retoma a força no cenário do Sul do Estado do Espírito Santo como mais uma conquista para a “preservação e a conservação da Mata Atlântica”.

Não se pode furtar de observar que este patrimônio de relevância global está em solo de propriedade privada desta empresa que o mantém por livre iniciativa desde os 27 de setembro de 1939, até então sem se dar conta da importância do patrimônio genético que preservou ao longo dos anos. Esta iniciativa envolvendo uma Organização não governamental, empresas (a proprietária da área e as de consultoria), o poder público, pesquisadores, agricultores e moradores rurais, deve ser vista como exemplo em um País onde nem

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sempre os diversos setores conseguem esta interação e interlocução. O Projeto VERDE VALE DO ITAPEMIRIM é mais do que um exemplo graças à persistência e ao excelente trabalho desenvolvido por todos os que participaram direta e indiretamente nesta ação, é um fato, uma realidade.

Vera Lúcia de Paz Coordenadora Técnica do Projeto Verde Vale do Itapemirim Instituto de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável -TRAMIRIM

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AGRADECIMENTOS Agradecemos a Deus por ter permitido a realização e conclusão deste importante trabalho e a todas as pessoas e instituições que contribuíram, de alguma forma, no desenvolvimento e finalização deste. Além da dedicação pessoal dos autores, este trabalho se tornou possível pelo empenho de diversas pessoas e instituições a quem somos gratos: •

Aos companheiros que ajudaram com dedicação e disciplina nos trabalhos de campo.

À equipe do Tramirim.

À equipe da Usina Paineiras S.A.

Ao PDA (Projetos Demonstrativos), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e seus diversos parceiros: KWF, GTZ e Cooperação Técnica Brasil x Alemanha;

Ao Projeto Corredores Ecológicos (Iema).

Ao Instituto de Defesa Agroflorestal do Espírito Santo (IDAF) - escritório regional de Cachoeiro.

À Secretaria de Agricultura de Itapemirim (PMI).

Ao Programa de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) do Banco do Brasil.

Um agradecimento especial a Vera Lúcia de Paz (Superintendente Executiva do Tramirim), a Cláudio de Carvalho Britto Vital Brasil (Diretor Superintendente da Usina Paineiras S.A.) e a Jorge Edson Machado Alves (Gestor Ambiental/ Coordenador Executivo de Atividades na Usina Paineiras S.A.) sem os quais este trabalho não teria sido efetuado.

Os autores

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Capitulo 1: Fauna 1. INTRODUÇÃO 1.1. Enquadramento regional e caracterização da área A área de estudo usualmente denominada “Verde Vale do Itapemirim” localiza-se no município de Itapemirim, sul do estado do Espírito Santo (figura 1) e pertence à Usina Paineiras S.A. Açúcar e Álcool. As coordenadas geográficas da área são 20º 58’ 15.5” S e 41º 02’ 56.9” W. Seu principal acesso é pela Rodovia ES-490 que liga o município de Cachoeiro de Itapemirim a Marataízes. Está inserida no microcorredor ecológico de Guanandy (definido pelo IEMA -Instituto Estadual do Meio Ambiente) e próximo

do

microcorredor

Burarama-Pacotuba-Cafundó

(em

Cachoeiro

de

Itapemirim). Localiza-se na bacia hidrográfica do rio Itapemirim. Possui áreas planas (vales) com morros ondulados em altitudes que variam de 20 a 100 m. A formação vegetal predominante é a Floresta Estacional Semidecidual (F.E.S). É considerada a segunda formação mais importante do Espírito Santo em termos de área ocupada (IPEMA 2005).

Os locais estudados englobaram os diferentes ambientes da região incluindo áreas na sede da Usina Paineiras S.A. (especialmente o alagado e parte da área urbanizada com jardins pomares e também parte do canavial) e as demais áreas de remanescentes florestais e seu entorno (pastagem, canavial e alagados). A área florestal, principal objeto do trabalho, integra a Fazenda do Ouvidor, em diferentes glebas (que recebem localmente diferentes nomes) que serão chamadas todas de “Matas do Ouvidor” (figura 2). Possui um total de 1.546,20 ha que se apresentam em dois principais fragmentos: •

a “Mata do Ouvidor” propriamente dita (ao lado direito da rodovia ES-490 sentido Marataízes x Cachoeiro) (figuras 2 e 3); e

a “Mata do Córrego do Ouro” e do “Barro Branco”, que formam

um só

fragmento (ao lado esquerdo da rodovia ES-490 sentido Marataízes x Cachoeiro ES-490) e a “Mata do Brejão” ao lado direito da mesma rodovia e separada das outras duas deste bloco pela Rodovia (figuras 2 e 4).

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Figura 1 - Mapa de localização geográfica referenciando o município de Itapemirim, sul do Espírito Santo, Brasil região do presente estudo.

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Figura 2 - Mapa esquemático de localização da área central dos estudos de fauna dos vertebrados terrestres do Verde Vale do Itapemirim, Itapemirim, ES: Matas do Ouvidor.

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Figura 3 - Aspecto da Mata do Ouvidor e a lagoa às suas margens um dos ambientes integrantes do Complexo do Verde Vale do Itapemirim.

Figura 4 - Detalhe da Mata do Vale Verde do Itapemirim (“Mata do Brejão”): o maior bloco florestal contínuo da região.

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1.2. Enquadramento zoogeográfico A área em estudo está localizada na região Zoogeográfica Neotropical que compreende toda a América do Sul, as Antilhas e México. A sua fauna é bastante diversificada, constituída principalmente por espécies autóctones (originárias do próprio local, nativas), ao lado das que invadiram mais recentemente (plioceno cerca de 12.000.000 de anos atrás). Existe abundância em espécies endêmicas (devido ao isolamento da América do Sul durante o Terciáro). Uma característica importante da fauna neotropical é o grande número de espécies com pequena abundância de indivíduos com alta especialização em habitats e recursos restritos o que está diretamente relacionado à diversidade morfoclimática (Paiva 1999).

A província neotropical desta região de estudo é a Tupi (figura 5) caracterizada por uma zona de matas costeiras e seus ecossistemas associados (manguezais, formações de restinga e campos de altitude) localizada do sul da Bahia, até Santa Catarina, incluindo todo território do Espírito Santo e Rio de Janeiro, parte oriental de Minas Gerais, grande parte de São Paulo e a porção oriental do Paraná e Santa Catarina (Fittkau 1969 in Paiva, 1999). Nela merecem destaque os primatas e as aves, juntamente com as espécies de maior porte, que se encontram entre os grupos mais ameaçados de extinção devido à destruição dos habitats naturais e por necessitarem de grandes áreas florestadas para sua sobrevivência (Paiva, 1999 modif.). Os endemismos da Mata Atlântica (que é o principal bioma da província Tupi) podem ser evidenciados em estudos realizados com anfíbios, répteis, aves, mamíferos e plantas vasculares, dentre outros grupos (Muller 1973, Bauer 1999, Arruda 2001).

24


Figura 5 - Províncias zoogeográficas da América do Sul (Segundo Fittkau 1969), com algumas modificações, destacando a localização do presente trabalho.

25


2. METODOLOGIA 2.1. Equipe O presente trabalho foi desenvolvido por pesquisadores com conhecimento e experiência de levantamento de campo em especial da fauna silvestre brasileira, com apoio de campo através de guias locais, conhecedores da região em estudo (figuras 6 e 7).

Figura 6 - Equipe de campo da esquerda para direita: Ailton Abílio Rosa (guia de campo), Ana C. Venturini (Bióloga), Cleunice Pimenta e Alexandre Mendonça (técnicos de campo).

Figura 7 - Equipe de Biólogos em trabalho de campo de fauna. A partir da esquerda: Pedro Paz, Ana C. Venturini, Claudia Pimenta, José L. Helmer e Adeilto J. Moreira.

26


2.2. Procedimentos Os dados deste trabalho foram obtidos através diferentes procedimentos: •

Informações primárias em cinco excursões de campo realizadas no período de 7 a 11/08/2007, 19 a 25/11/2007, 12 a 17/03/2008, 2 a 5/09/2008 e 11 a 14/11/2008 somando 190 h/campo.

Dados anteriores dos autores.

Dados bibliográficos (Bauer 1999 e Bauer et al. 1997 para aves) e

Entrevista com moradores da região que nasceram e moram na área e auxiliaram nos trabalhos de campo.

Os quatro grupos de vertebrados terrestres (anfíbios, répteis, aves e mamíferos) foram investigados em grande parte da região pertencente à Usina Paineiras especialmente, nos blocos de mata, mas também em outras áreas abertas. Podem ser assim determinadas: •

Ambiente florestal (F): engloba os diferentes blocos de floresta estacional semidecidual que recebem localmente nomes próprios: “Mata do Ouvidor, propriamente dita”, “Mata do Córrego do Ouro”, “Mata do Brejão” e “Mata do Barro Branco”.

Área alagada (A): engloba diferentes ambientes incluindo a “lagoa” (represa) na borda da Mata do Ouvidor, brejos e pasto alagado dentro da Usina Paineiras e outras área alagadas próximas aos córregos e matas.

Áreas abertas (C): em toda região de pastos e cultivo de cana-de-açúcar.

Pomar/jardim (P): dentro da Usina, próximo à área administrativa e outras similares.

Os nomes comuns para as espécies citadas neste relatório estão de acordo com nomes conhecidos localmente e/ou com a bibliografia específica de cada grupo.

Os animais registrados foram documentados, sempre que possível, através de gravação de vocalização (GV), fotografia (FO) e filmagem (FI) (figura 8).

27


Figura 8 - Documentação de fauna (anfíbio) através de fotografia e filmagem.

Para verificação do estado de conservação das espécies (status), verificando o grau de ameaça, foram consultadas as listas de espécies ameaçadas de extinção em nível estadual (Espírito Santo-DOE 2005), nacional (Machado et al. 2008) e global (IUCN 2007).

Para captura de indivíduos (licença de captura Ibama n° 13212-1, em anexo I) foram utilizados equipamentos específicos e metodologias de acordo com cada grupo, sendo que todos indivíduos capturados foram documentados, identificados e devolvidos ao local de captura. As diferentes metodologias de registro das espécies e as bibliografias utilizadas para cada grupo são descritas a seguir.

2.2.1. Anurofauna Para o estudo dos anfíbios foram realizadas capturas manuais (figura 9), especialmente na 2ª e 3ª excursão, através de busca ativa com auxílio de lanternas, nos diferentes locais como serrapilheira, árvore, troncos caídos, pedras, buracos no solo, clareiras, borda de estradas, vegetação marginal de áreas alagadas, brejos, e outros ambientes propícios. Especialmente à noite, a localização de indivíduos era orientada através da vocalização. Os indivíduos quando capturados eram acondicionados em sacos plásticos para se proceder à medição de tamanho (figura 10), identificação da espécie e documentação. Algumas espécies foram registradas

28


apenas através de vocalização e sua documentação foi através de gravação de vocalização com auxílio de gravadores e microfones.

Figura 9 - Exemplo de anfíbio capturado manualmente.

Figura 10 - Tomada de padrão biométrico (comprimento rostro-anal) de anfíbio.

Para a identificação das espécies, determinação de endemismo de Mata Atlântica e os nomes comuns foram consultadas as seguintes fontes: Kwet e Di-Bernardo (1999), Izecksonh e Carvalho-e-Silva (2001), Freitas e Silva (2004), Ramos e Gasparini (2004), Eterovick e Sazima (2004), Freitas e Silva (2005a), Sociedade Brasileira de Herpetologia (SBH 2008a), Deiques et al. (2007), Frost (2008), Amphibiaweb (2008). A sistemática segue SBH (op. cit.).

29


2.2.2. Herpetofauna O estudo dos Répteis foi desenvolvido através de busca direta de indivíduos com auxílio de ganchos (figura 11) ou de seus vestígios (muda de pele, rastro, ovos) revirando-se os diferentes substratos (serrapilheira, troncos caídos, buracos no solo, casca de árvores e outros) no ambiente florestal ou áreas abertas. Os exemplares capturados foram medidos, fotografados e/ou filmados (figuras 11 e 12). Tivemos registro de exemplares através de captura por terceiros e através de observação (sem captura).

Figura 11 - Equipe com exemplar de réptil capturado, manuseado com gancho, sendo documentado.

Figura 12 - Tomada de padrões biométricos de réptil.

30


A identificação das espécies, determinação de endemismo de Mata Atlântica e a determinação dos nomes comuns, quando necessário, foram realizadas através de : Grantsau (1991), Borges (2001), Marques et al. (2001), Lema (2002), Freitas (2003), Freitas e Silva (2005a), Sociedade Brasileira de Herpetologia (SBH 2008b), Deiques et al. (2007). A sistemática segue SBH (op. cit.)

2.2.3. Avifauna O estudo das aves foi realizado através da observação de indivíduos ou seus vestígios (ninhos, penas) com auxílio de binóculos e luneta (figura 13). Registro e procura de algumas espécies por play back foi realizado com auxílio de gravadores e microfones (figura 14). Para a captura de aves no sub-bosque do ambiente florestal foram utilizadas 4 redes de neblina durante a 2ª excursão perfazendo 32 horas/rede (figura 15).

As bibliografias utilizadas para auxiliar na identificação das espécies, verificação de espécies endêmicas de Mata Atlântica e nomes comuns, quando necessário, foram: Schauensee e Phelps Jr. (1978), Sick (1997), Ridgely e Tudor (1989 e 1994), Souza (1998) e del Hoyo et al. (1992, 1994, 1996, 1997, 1999, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005), Bencke et al. (2006), CBRO (2008). A sistemática está de acordo com CBRO (op. cit.).

Figura 13 - Observação de aves com auxilio de binóculos e luneta.

31


Figura 14 - Uso de gravador e microfone para documentação de aves.

Figura 15 - Uso de rede de neblina para captura de aves no sub-bosque.

2.2.4. Mastofauna Para o conhecimento dos mamíferos da região foram realizadas observações de indivíduos ou vestígios (como tocas, pegadas, unhas e fezes) com auxílio de binóculos e luneta (figura 16). O uso de play back através de gravadores e microfones foi utilizado para busca de algumas espécies. Capturas foram realizadas utilizando-se armadilhas do tipo Tomahawk (figura 17) e Sherman (figura 18) nas 3 primeiras excursões de campo totalizando um esforço de captura de 650 armadilhas/noite. Elas foram distribuídas dentro do ambiente florestal em pontos

32


eqüidistantes de 25 m sendo duas por ponto e cada ponto foi devidamente sinalizado (figura 19). As armadilhas foram iscadas com diferentes tipos de atrativo (banana, laranja, abacaxi, óleo de fígado de bacalhau, lingüiça e outras) e ainda foi preparada uma pasta especial composta por amendoim, óleo de fígado de bacalhau e canjiquinha. As armadilhas eram vistoriadas todo dia pela manhã e novamente iscadas à tarde. Armadilhas fotográficas (camaras trap) (4 nas duas primeiras excursões, 7 na terceira e 5 entre a quarta e quinta excursão) foram distribuídas na região de estudo, em locais estratégicos (cevas naturais, trilhas de animais previamente avaliadas) totalizando 416 armadilhas/dia (número de armadilhas fotográficas x número de dias – 24 horas) (figura 20).

Figura 16 - Observação de mamífero com auxilio de binóculo.

Figura 17 - Armadilha Tomahawk utilizada na captura de pequenos mamíferos.

33


Figura 18 - Uso de armadilha Sherman para captura de mamĂ­feros.

Figura 19 - Uso de fita zebrada para a sinalização de pontos de captura por armadilha.

34


Figura 20 - Armadilha fotográfica de trilha.

As bibliografias utilizadas para o estudo de mamíferos para auxiliar na identificação de espécies, nomes comuns quando necessário e determinação de espécies endêmicas de Mata Atlântica foram: Emmons (1990, 1997), Silva (1994), Fonseca et al. (1996), Eisenberg e Redford (1999), Câmara e Murta (2003), Freitas e Silva (2005b), Reis et al. (2005), Oliveira e Cassaro (2005), Mamede e Alho (2006), Auricchio e Auricchio (2006), Reis et al. (2006) e Canevari e Vaccaro (2007). A sistemática segue Wilson e Reeder (2005).

35


3. RESULTADOS E COMENTÁRIOS Foram registradas até o momento 24 espécies de Anfíbios, 18 espécies de Répteis, 172 espécies de Aves e 37 espécies de Mamíferos. Soma-se assim, 251 espécies registradas de vertebrados terrestres (figura 21).

Mamíferos

37

Aves

172

Répteis

18

Anfíbios

24 0

50

100

150

200

nº de espécies

Figura 21 - Número de espécies de animais de acordo com a classe.

Do total de espécies até agora registradas (n = 251), 11 são ameaçadas de extinção (4,4%) nos diferentes níveis aqui considerados (estadual, nacional e global) e 44 espécies (17,5%) são endêmicas de Mata Atlântica (tabela 1). Tabela 1 - Espécies ameaçadas de extinção e/ou endêmicas de Mata Atlântica registradas no Verde Vale do Itapemirim e arredores entre agosto de 2007 e novembro de 2008. Status: AE: espécie ameaçada em nível estadual (ES), AB: espécie ameaçada em nível nacional (Brasil), AG: espécie ameaçada em nível global e MA: espécie endêmica de Mata Atlântica. CLASSE

ESPÉCIE

NOME COMUM

Amphibia

Rhinella crucifer Haddadus binotatus Thoropa miliaris Aplastodiscus cavicola Dendropsophus anceps Dendropsophus berthalutzae Dendropsophus bipunctatus Dendropsophus branneri Dendropsophus decipiens Hypsiboas faber Hypsiboas semilineatus Phyllodytes kautskyi

sapo-comum rã-da-mata rã-da-pedra perereca-verde perereca-coral pererequinha pererequinha perereca-pequena perereca-pequena sapo-ferreiro perereca-dormideira perereca-de-bromélia

36

STATUS

-

MA MA MA MA MA MA MA MA MA MA MA MA MA


CLASSE

sub-total Reptilia

sub-total Aves

ESPÉCIE

NOME COMUM

Scinax alter Sphaenorhynchus planicola Leptodactylus spixi

perereca pereca-verde-pequena rã-de-bigode 15

lagartixa-da-mata cobra-da-terra cobra-d’água jararaca

Gymnodactylus darwinii Leptotyphlops salgueiroi Helicops carinicaudus Bothrops jararaca 4

jaó-do-sul inhambu-anhangá querequeté papagaio corujão mãe-da-lua-gigante rabo-branco-mirim picapauzinho conconha cuspidor-de-máscara-preta arapaçu-liso rabo-amarelo tiririzinho-do-mato miudinho bico-chato-grande capitão-de-saíra pavó tié-preto cambada-de-chaves

Crypturellus noctivagus Crypturellus variegatus Pyrrhura cruentata Amazona rhodocorytha Pulsatrix koeniswaldiana Nyctibius grandis Phaethornis idaliae Veniliornis maculifrons Thamnophilus ambiguus Conopophaga melanops Dendrocincla turdina Tripophaga macroura Hemitriccus orbitatus Myiornis auricularis Rhynchocyclus olivaceus Attila rufus Pyroderus scutatus Tachyphonus coronatus Tangara brasiliensis

STATUS

0 0 AE, AB AG AE, AB, AG AE, AB, AG AE AB, AG

sub-total

11

AE 7 AE, AB, AG AE, AB, AG AE, AB AE, AB 4

TOTAL

49

11

sub-total Mammalia

19

gambá catita; cuiquinha cuíca preguiça-de-coleira macaco-prego saui guigó barbado jabutirica gato-maracajá ouriço-cacheiro

Didelphis aurita Gracilinanus microtarsus Marmosops incanus Bradypus torquatus Cebus nigritus Callithrix geoffroyi Callicebus personatus Alouatta guariba Leopardus pardalis Leopardus wiedii Sphigurus sp.

MA MA MA MA 15 MA MA MA MA 4 MA MA MA MA MA MA MA MA MA MA MA MA MA MA MA MA 16 MA MA MA MA MA MA MA MA MA 9 44

3.1. Anurofauna Os Anfíbios foram os primeiros vertebrados a conquistarem o ambiente terrestre e atualmente ocupam os cinco continentes, estando ausentes apenas nas regiões polares e algumas ilhas oceânicas (Ramos e Gasparini 2004, Eterovick e Sazima 2004). De modo geral, são considerados importantes controladores biológicos de

37


insetos e outros invertebrados dos quais se alimentam. Porém, devido ao fato de a maioria das espécies dependerem de ambientes úmidos, muitas espécies não conseguem

sobreviver

em

ambientes

alterados

que

não

conservam

as

características necessárias para a sua existência.

A região neotropical possui a maior riqueza de espécies conhecida com mais de 1.740 espécies (Ramos e Gasparini op. cit). É um grupo ainda com conhecimento em ampla expansão existindo referência de 6.300 (Amphibiaweb 2008) a 6.347 espécies (Frost 2008) conhecidas no mundo. Somente no Brasil foram reconhecidas 59 novas espécies de anfíbios desde 2005 que somam, atualmente, 841 espécies (SBH 2008a). Assim, o Brasil se confirma como o país de maior riqueza de espécies de anfíbios, seguido por Colômbia e Equador (SBH op. cit.).

Os dados disponíveis para o Estado são esparsos e pulverizados em diferentes tipos de trabalhos. Os resultados obtidos da fauna de Anfíbios para a região do Verde Vale do Itapemirim apresentados a seguir contribuem para o conhecimento da diversidade deste grupo para o Estado bem como fornece uma idéia inicial da importância da área na conservação deste grupo.

3.1.1. Composição geral das espécies Foram registradas neste trabalho, até o momento, 24 espécies de Anfíbios pertencentes a 1 ordem (Anura) e 6 famílias de acordo com a sistemática adotada por SBH (2008a) (tabela 2). Tabela 2 - Anfíbios registrados no Verde Vale do Itapemirim e arredores entre agosto de 2007 e novembro de 2008. Local: F: floresta, A: alagado (margens de brejo e/ou pasto alagado), C: campo (áreas abertas:

estrada, pasto); Tipo de Registro: VI: visualização, VO: Vocalização, CM: captura manual, EN: entrevista (Manoel de Oliveira Rosa); Documentação (DOC.): IM: imagem (FO: foto, FI: filmagem), GV: gravação de vocalização. Entre aspas em negrito (“nome comum”): nomes populares atribuídos às espécies localmente. N°

ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE

NOME COMUM

LOCAL F

A

T. REGISTRO

DOC.

C

VI VO CM EN

IM

C

VI

CM EN

FO

VI

CM

FO

ANURA Bufonidae 1.

Rhinella crucifer

2.

Rhinella granulosa

“sapo-comum”

F

sapinho

F

38

GV


ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE

NOME COMUM

LOCAL F

3.

A

“sapo-boi”

Rhinella schneideri

T. REGISTRO

C

VI VO CM EN

C

EN

DOC. IM

GV

Craugastoridae 4.

rã-da-mata

F

VI

rã-da-pedra; rã-bode

F

VI

F

Haddadus binotatus

CM

FO FI

Cycloramphidae 5.

Thoropa miliaris

FO

Hylidae 6.

Aplastodiscus cavicola

perereca-verde

7.

Dendropsophus anceps

perereca-coral

A

VI VO CM

FO FI

8.

Dendropsophus berthalutzae

pererequinha

A

VI VO CM

FO

9.

Dendropsophus bipunctatus

pererequinha

A

VI VO CM

FO FI

GV

10.

Dendropsophus branneri

perereca-pequena

A

VI VO CM

FO

GV

11.

Dendropsophus decipiens

12.

Dendropsophus elegans

13.

Hypsiboas albomarginatus

14.

Hypsiboas crepitans

15.

Hypsiboas faber

sapo-ferreiro

16.

Hypsiboas semilineatus

perereca-dormideira

17.

Phyllodytes kautskyi

perereca-de-bromélia

F

18.

Scinax alter

19.

Sphaenorhynchus planicola

20.

Trachycephalus nigromaculatus

VI

FO GV

perereca-pequena

A

VI VO CM

FO

GV

perereca-de-moldura

A

VI VO CM

FO

GV

perereca-verde

A

VI VO CM

FO FI

GV

perereca

A

VI

F

A

VI VO CM

FO FI

F

A

VI VO CM

FO FI

CM

FO

VO

GV GV GV

perereca

A

VI VO CM

FO

GV

pereca-verde-pequena

A

VI VO CM

FO

GV

VI VO CM

FO FI

GV

perereca-cabeça-de-osso

F

Leiuperidae 21.

Physalaemus cuvieri

rãzinha

A

rã-assoviadeira

A

“rã"

A

VI

CM

FO

Leptodactylidae 22.

Leptodactylus fuscus

23.

Leptodactylus ocellatus

24.

Leptodactylus spixi

rã-de-bigode

C

VI VO CM VO

F 1 15 0

1 ordem / 6 famílias / 24 espécies

FO EN

VI VO CM 3

21

16 19

GV

FO FO FI

3

22-8

13

Dentre as famílias registradas, a que possui maior número de espécies é Hylidae (15 = 62,5%), seguida de Leptodactylidae e Bufonidae (3 = 12,5% cada) e Craugastoridae, Cycloramphidae e Leiuperidae (1 = 4,2% cada família) (figura 22). 3

3

1

1

1

15 Bufonidae

Craugastoridae

Cycloramphidae

Hylidae

Leiuperidae

Leptodactylidae

Figura 22 - Riqueza de espécies de anfíbios de acordo com as famílias.

39


De acordo com os dados obtidos até o momento as espécies foram agrupadas em 3 ambientes com predominância do florestal e alagados (tabela 2, figura 23). A maioria das espécies, até o momento, foram exclusivas de um só ambiente com predominância para o ambiente alagado de áreas abertas (brejos, pasto alagado, borda de córrego). As espécies registradas nos diferentes fragmentos florestais foram aquelas encontradas especialmente no chão da mata (serrapilheira) durante o dia (rã-da-mata Haddadus binotatus e rã-de-bigode Leptodactylus spixi), ou na borda da mata com alagado (sapo-ferreiro Hypsiboas faber e perereca-dormideira H. semilineatus) à noite, ou em bromélia arbórea (perereca-de-bromélia Phyllodytes kautskyi) ou em trilhas no chão à noite (sapo-comum Rhinella crucifer e sapinho R. granulosa). Já a perereca-cabeça-de-osso Trachycephalus nigromaculatus foi registrada à noite tanto no chão como nas árvores.

16

15

nº de espécies

14 12 10

10 8 6 4

3

2 0 Alagado

Floresta

Campo

Figura 23 - Distribuição das espécies de anfíbios de acordo com o ambiente.

Os dados levantados demonstram uma riqueza de espécies (n = 24) significativa especialmente se levar em conta que foram apenas 5 excursões de campo (entre agosto de 2007 e novembro de 2008), com busca ativa mais intensa na segunda e terceira excursão e não foi usado nenhum tipo de armadilha específica como, por exemplo, armadilhas de queda (pitfall). Outros trabalhos de regiões de baixada no Espírito Santo possuem os seguintes resultados (tabela 3):

40


Tabela 3 - Riqueza de espécies de anfíbios em diferentes localidades no Espírito Santo. Local

Riqueza de espécies

Fonte

Itaúnas (Parque Estadual e arredores), Conc. da Barra

31

Venturini e Paz in litt.

APA de Setiba e P. E. Paulo C. Vinha, Guarapari

36

Cepemar (2007)

Ubu, Anchieta

17

Lopes (s.d)

RPPN Cafundó e arredores, C. de Itapemirim

14

Paz e Ventuirini, 2008

Matas do Ouvidor e arredores, Itapemirim

24

presente trabalho

Apesar das diferenças de metodologia de cada trabalho (incluindo a duração dos mesmos) e dimensão de cada área é possível perceber que o número de espécies até agora registrado é, relativamente, elevado. Além disto, deve-se também levar em consideração o número de espécies endêmicas de Mata Atlântica (item 3.1.3) presentes na área de estudo.

3.1.2. Espécies ameaçadas de extinção De acordo com as espécies registradas até o momento nenhuma encontra-se ameaçada de extinção em nível estadual (Espírito Santo-DOE 2005), nacional (Machado et al. 2008) e global (IUCN 2007). Quando se consulta a lista global verifica-se que as espécies de anfíbios encontradas na região estão na categoria “least concern” ou “near threatened”, ou seja, porque não se enquadram em nenhuma das categorias de espécies ameaçadas (criticamente em perigo, em perigo e vulnerável).

3.1.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica A definição das espécies de anfíbios como endêmicas de Mata Atlântica ainda é uma tarefa complicada visto que o conhecimento sobre a distribuição das espécies está em franca expansão. Porém, baseado em algumas das fontes disponíveis (bibliografias já referidas para o grupo), foi possível chegar a uma relação de 15 espécies (62,5%) cuja ocorrência conhecida está inserida, basicamente, no domínio da Mata Atlântica (tabela 4, figuras 24 e 25).

41


Tabela 4 - Anfíbios endêmicos de Mata Atlântica registrados na área de estudo. ESPÉCIE Rhinella crucifer Haddadus binotatus Thoropa miliaris Aplastodiscus cavicola Dendropsophus anceps Dendropsophus berthalutzae Dendropsophus bipunctatus Dendropsophus branneri Dendropsophus decipiens Hypsiboas faber Hypsiboas semilineatus Phyllodytes kautskyi Scinax alter Sphaenorhynchus planicola Leptodactylus spixi

NOME COMUM

sapo-comum rã-da-mata rã-da-pedra perereca-verde perereca-coral Pererequinha Pererequinha perereca-pequena perereca-pequena sapo-ferreiro perereca-dormideira perereca-de-bromélia perereca perereca-verde-pequena rã-de-bigode 15 espécies

Figura 24 – Leptodactylus spixi rã-de-bigode, espécie de anfíbio endêmica de Mata Atlântica.

42


Figura 25 - A perereca verde-pequena Sphaenorhynchus planicola é encontrada geralmente na vegetação aquática e também é endêmica da Mata Atlântica.

3.1.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo Os anfíbios em geral não são utilizados para fins de alimentação ou como animal de estimação. Exceção já observada no Espírito Santo é a rã Lepitodactylus ocellatus usualmente utilizada como alimento (figura 26) e é possível que este fato também ocorra na região.

Figura 26 – Rã-manteiga Lepitodactylus ocellatus, uma espécie de anfíbio cinegética.

43


3.1.5. Nomes locais De acordo com as informações obtidas na região, pode-se constatar que o conhecimento do grupo é bem superficial. Há pouca diferenciação nos nomes locais, havendo referências genéricas para “sapo”, “rã” e “perereca”. Apenas três espécies citadas puderam ser associadas aos nomes científicos (tabela 2). Deve-se ressaltar que uma destas espécies, o sapo-boi Rhinella schneideri, não foi ainda detectada em campo o que demonstra a importância da participação de agentes locais no trabalho. Na tabela 2 destacamos entre aspas “nome comum” os nomes populares atribuídos às espécies de anfibios localmente.

44


3.1.6. Registro fotogrรกfico

45


46


47


48


49


50


51


52


53


54


2. Herpetofauna Os répteis são vertebrados terrestres com uma grande variedade na estrutura do corpo. Algumas espécies não possuem membros, outras possuem membros vestigiais, outras possuem patas com até 5 dedos e outras ainda os têm em forma de remos. Existem espécies que ocupam os mais diversos habitas, por exemplo, as espécies arborícolas, aquáticas e fossoriais e muitas das espécies são sensíveis às modificações de seus ambientes.

De acordo com Reptile database (2008) são conhecidas 8.734 espécies de répteis no mundo. Até o momento foram reconhecidas 701 espécies de répteis naturalmente ocorrentes e se reproduzindo no Brasil (SBH 2008b). Diante dos números atuais, o Brasil deve ocupar a terceira colocação na relação de países com maior riqueza de espécies de répteis, atrás da Austrália e do México. No Espírito Santo não existem dados atualizados da quantidade de espécies de répteis.

Serão apresentados a seguir os resultados de Répteis obtidos, até o momento, para a região do Verde Vale do Itapemirim.

3.2.1. Composição geral das espécies Foi possível registrar, até o momento, 18 espécies de Répteis distribuídas em 2 ordens e 11 famílias (tabela 5). Tabela 5 - Répteis registrados no Verde Vale do Itapemirim e arredores entre agosto de 2007 e novembro de 2008. Local: F: floresta, A: alagado (lagoa e outras áreas alagadas), C: campo (áreas abertas: estrada,

pasto); Tipo de Registro: VI: visualização, CM: captura manual, EN: entrevista (1: Ailton Abílio Rosa, 2: Manoel de Oliveira Rosa); Documentação (DOC.): FO: foto, FI: filmagem. Entre aspas em negrito (“nome comum”): nomes populares atribuídos às espécies localmente. N° ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE

NOME COMUM

LOCAL F

A

C

REGISTRO

DOC.

VI

FO FI

CM EN

CROCODYLIA Alligatoridae

1.

Caiman latirostris

“jacaré”

A

2

SQUAMATA Polychrotidae

2. 3.

Anolis punctatus Polychrus marmoratus

lagarto

F

VI

FO

“cambaleão”

F

VI CM

FO

Tropiduridae

55


N° ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE

NOME COMUM

LOCAL F

4.

Tropidurus torquatus

A

C

REGISTRO

DOC.

VI

FO FI

CM EN

“cambaleão”

C

VI

2

FO

“taruíra”

C

VI

2

FO

Gekkonidae

5.

Hemidactylus mabouia Phyllodactylidae

6.

Gymnodactylus darwinii

lagartixa-da-mata

F

VI CM

“lagarto, teu”

F

VI

cobra-da-terra

F

VI CM

FO

Teiidae

7.

Tupinambis merianae

2

FO

Leptotyphlopidae

8.

Leptotyphlops salgueiroi

FO

Boidae “jibóia”

F

cobra-veadeira

F

Chironius bicarinatus

cobra-cipó

F

Helicops carinicaudus

“cobra-d’água”

9. Boa constrictor 10. Corallus hortulanus

C

2 VI

FO FI

Colubridae

11. 12. 13. 14. 15. 16.

VI

FO

A

VI CM

FO FI

A C

VI CM

FO FI

Liophis miliaris

cobra-d’água

Liophis poecilogyrus

jararaquinha

F

VI

FO

cobra-cipó-bicuda

F

VI

FO

corredeira

F

VI CM

FO

“cobra-coral”

F

“surucucu” (jararaca)

F

Oxybelis aeneus Philodryas patagoniensis Elapidae

17. Micrurus sp.

1, 2

Viperidae

18. Bothrops jararaca

2 ordens / 11 famílias / 18 espécies

VI

13 3

4

15

1, 2 6

7

FO FI 15

4

A família com maior riqueza de espécies registrada foi Colubridae com 6 espécies (33,3%), seguida de Polychrotidae e Boidae com 2 espécies cada (11,1% cada), Gekkonidae,

Phyllodactylidae,

Alligatoridae,

Tropiduridae,

Leptotyphlopidae,

Elapidae e Viperidae com 1 espécie cada (5,5% cada) (figura 27). 1

1

1

2 1 1

6

1 1

2

Alligatoridae Gekkonidae Leptotyphlopidae Elapidae

Polychrotidae Phyllodactylidae Boidae Viperidae

1

Tropiduridae Teiidae Colubridae

Figura 27 - Riqueza de espécies de répteis de acordo com as famílias.

56


De acordo com os dados disponíveis até o momento o ambiente florestal foi o que teve maior número de espécies (13: 72,2%) com apenas 1 que não foi exclusiva deste ambiente (tabela 5, figura 28). 14

13

n° de espécies

12 10 8 6 4

4

3

2 0 Floresta

Campo

Alagado

Figura 28 - Distribuição das espécies de répteis de acordo com o ambiente.

O número de espécies registradas até o momento fornece uma idéia geral do grupo de répteis para a área de estudo. Deve-se ressaltar que o esforço empreendido ainda é, relativamente, pequeno e capturas com armadilhas de queda (pitfall) importante para o registro de espécies com deslocamento terrestre (como algumas espécies de cobras e lagartos) - ainda não foram realizadas. Apesar das diferenças de metodologia (incluindo duração dos trabalhos) e tamanho das áreas amostradas, comparativamente, outros trabalhos em áreas de baixada do Estado tiveram os seguintes resultados (tabela 6): Tabela 6 - Riqueza de répteis em diferentes áreas de baixada no Espírito Santo. Local

Riqueza de espécies

Fonte

Itaúnas (Parque Estadual e arredores), Conc. da Barra

29

Cepemar (2004)

APA de Setiba e P. E. Paulo C. Vinha, Guarapari

43

Cepemar (2007)

Ubu, Anchieta

14

Lopes (s.d)

RPPN Cafundó e arredores, C. de Itapemirim

10

Paz e Ventuirini, 2008

Matas do Ouvidor e arredores, Itapemirim

18

presente trabalho

Assim, pode-se verificar que o número de espécies para a área, mesmo que ainda através de dados iniciais, é relativamente significativo.

57


3.2.2. Espécies ameaçadas de extinção De acordo com as espécies registradas até o momento nenhuma está ameaçada de extinção em nível estadual (Espírito Santo-DOE 2005), nacional (Machado et al. 2008) e global (IUCN 2007). Em nível global, o jacaré Caiman latirostris está na categoria de “baixo risco – subitem Least concern”, ou seja, não se enquadra nas categorias de criticamente em perigo, em perigo ou vulnerável, porém, poderá vir a integrar uma destas categorias estando, no momento no subitem de menor preocupação.

3.2.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica De acordo com as informações disponíveis, 4 espécies (22,2%) podem ser, em princípio, consideradas como ocorrentes apenas no domínio da Mata Atlântica (tabela 7) e, por isto, serão consideradas como endêmicas deste bioma. Três são florestais: lagartixa-da-mata Gymnodactylus darwinii, (figura 29) jararaca Bothrops jararaca (figura 30) e cobra-da-terra Leptotyphlops salgueiroi (figura 31), e a última é também fossorial. Já a cobra-d’água Helicops carinicaudus (figura 32) é aquática e 1 exemplar foi capturado em anzol deixado por pescadores na “lagoa” do Ouvidor (na intenção de capturar traíra) e outro foi observado sendo predado por um socó Tigrisoma lineatum na mesma lagoa.

Tabela 7 - Répteis endêmicos da Mata Atlântica registrados na área de estudo. ESPÉCIE Gymnodactylus darwinii Leptotyphlops salgueiroi Helicops carinicaudus Bothrops jararaca

NOME COMUM

largartixa-da-mata cobra-da-terra cobra-d’água surucucu, jararaca 4 espécies

58


Figura 29 - Gymnodactylus darwinin lagartixa-da-mata, réptil florestal endêmico da Mata Atlântica.

Figura 30 - Bothrops jararaca conhecida localmente como “surucucu” é uma das espécie endêmicas da Mata Atlântica registrada na área.

59


Figura 31 - Leptotyphlops salgueiroi cobra-da-terra.

Figura 32 - Helicops carinicaudus a cobra-d’água é endêmica da Mata Atlântica e uma importante espécie dentro do elo da cadeia alimentar da região.

3.2.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo De maneira geral a população não possui um bom relacionamento ou empatia pelos répteis, especialmente pela ordem Squamata, subordem Ofídia (as cobras) devido ao fato de existirem espécies peçonhentas as quais podem ser potencialmente perigosas ao homem. Por isto, historicamente, as cobras são, preferencialmente,

60


eliminadas quando avistadas. Outras 2 espécies de répteis registradas na região são geral e historicamente de atividade cinegética: o teiú Tupinambis merianae e o jacaré Caiman latirostris.

3.2.5. Nomes locais As informações obtidas localmente demonstram uma relação da população com a fauna de répteis que enfoca as espécies de cobras (vários nomes foram citados, mas nem todos puderam ser identificados com a espécie correspondente), alguns lagartos e o jacaré. São espécies de grande porte (algumas que culturalmente foram ou ainda são utilizadas como alimento) e/ou as que são consideradas perigosas (as cobras).

Chama a atenção a denominação de Bothrops jararaca como “surucucu” e não ‘jararaca’. O nome de “jacaré” apenas ao invés, por exemplo, de ‘jacaré-do-papoamarelo’ faz sentido, visto que só ocorre uma espécie e não há necessidade de diferenciá-lo de outro. Na tabela 5 destacamos entre aspas “nome comum” os nomes populares atribuídos às espécies de répteis localmente.

61


3.2.6. Registro fotogrรกfico

62


63


64


65


66


67


3.3. Avifauna As aves, no geral, são consideras como um importante grupo na discussão de estratégias de conservação da biodiversidade, devido, especialmente ao fato de (I) a maioria ser de hábitos diurnos e, relativamente, de fácil observação facilitando a coleta de dados, (II) ocupar diferentes hábitats, sendo algumas espécies especialistas, e reagir às mudanças ambientais facilitando a detecção de tal mudança e (III) a sistemática e distribuição serem relativamente bem conhecidas, comparativamente a outros grupos animais (Alves e Silva, 2000).

O Brasil é um dos países com maior número de espécies de aves possuindo 1822 no total, segundo CBRO (2008). O Espírito Santo ainda não possui uma compilação de dados de aves mas Venturini e Paz (2003) estimam entre 620 e 700 espécies.

A avifauna da região zoogeográfica Neotropical possui cerca de 3300 espécies [este número deve ser maior atualmente] e é considerada a mais rica do mundo. Várias são as espécies que se originaram e evoluíram nesta região, apresentando vários centros de endemismos (ou seja, com espécies de distribuição geográfica restrita a esta região), em especial nas áreas de florestas como a Amazônia e a Mata Atlântica (Sick 1997).

Serão apresentados a seguir os resultados sobre o estudo de aves do Verde Vale do Itapemirim, incluindo as Matas do Ouvidor e arredores obtidos até o momento.

3.3.1. Composição geral das espécies Foram registradas até o momento 172 espécies de aves distribuídas em 20 ordens e 50 famílias de acordo com a sistemática adotada por CBRO (2008) (tabela 6). Tabela 8 - Aves registradas na Mata do Ouvidor e arredores, Itapemirim, Espírito Santo entre agosto de 2007 e novembro de 2008.

Local: F: floresta, A: alagado, C: campo, P: pomar, jardim, O: outros (em vôo, não identificado). Tipo de Registro: VI: visualização, VO: vocalização, NI: ninho, EN: entrevista (1: Ailton Abílio Rosa, 2: Manoel de Oliveira Rosa), BB (Bibliografia): a: Bauer 1999, b: Bauer et al. 1997, c: informações inéditas anteriores. Documentação (DOC.): IM: imagem (FO: fotografia, FI: filmagem), GV: gravação

68


de vocalização. Entre aspas em negrito (“nome comum”): nomes populares atribuídos às espécies localmente. N°

ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE

NOME COMUM

LOCAL

TIPO DE REGISTRO

F A C P O

VI VO NI EN

BB

DOC. IM GV

TINAMIFORMES Tinamidae 1.

Crypturellus soui

“tururim”

F

VO

2.

Crypturellus noctivagus

jaó-do-sul

F

VO

3.

Crypturellus variegatus

inhambu-anhangá

F

VO

4.

Crypturellus tataupa

“inhambu”

F

5.

Rhynchotus rufescens

“perdiz"

C

1, 2

6.

Nothura cf. maculosa

“codorna”

C

2

VO

1, 2

GV

a a a

1

GV

ANSERIFORMES Anatidae 7.

Dendrocygna viduata

“arerê"

A

VI

1

8.

Dendrocygna autumnalis

“arerê”

A

VI

1

“pato-do-mato”

A

VI

“marreca"

A

VI VO

9.

Cairina moschata

10.

Amazonetta brasiliensis

FO

1 1, 2

c

GALLIFORMES Cracidae 11.

Penelope superciliaris

“jacupemba”

F

1, 2

PODICIPEDIFORMES Podicipedidae 12.

Tachybaptus dominicus

“mergulhão"

A

VI

1

1, 2

c

CICONIIFORMES Ardeidae 13.

Tigrisoma lineatum

“socó", socó-da-mata

F A

VI

14.

Botaurus pinnatus

socó-boi-baio

A

VI

15.

Nycticorax nycticorax

savacu

A

VI VO

16.

Butorides striata

socozinho

A

VI VO

garça-vaqueira

17.

Bubulcus ibis

18.

Ardea cocoi

garça-moura “galça-grande”

19.

Ardea alba

20.

Syrigma sibilatrix

maria-faceira

21.

Pilherodius pileatus

“galça-azul”

22.

Egretta thula

C

c GV

VI

F

c

FO

c

FO

VI A

VI C

2

VI

FO

F A

VI

1

A

VI

2

“galça-pequena”

FO

FO

CATHARTIFORMES Cathartidae 23.

Cathartes aura

urubu-de-cabeça-vermelha

O

VI

24.

Cathartes burrovianus

urubu-de-cabeça-amarela

O

VI

25.

Coragyps atratus

“bica-couro”, “urubu”

O

VI

O

VI VO

O

VI

FO 1, 2

c c

FALCONIFORMES Accipitridae 26.

Leptodon cayanensis

27.

Elanoides forficatus

28.

Ictinia plumbea

29.

Geranospiza caerulescens

gavião-pernilongo “gavião-telha”

F

gavião-carijó

F

30.

Heterospizias meridionalis

31.

Rupornis magnirostris

32.

Buteo albicaudatus

33.

gavião-de-cabeça-cinza “gavião-tesoura”

F

sovi

F

1

VI O C

FO

VI VI VO

1

VI VO

gavião-de-rabo-branco

C

Caracara plancus

caracará

C

O

VI

34.

Milvago chimachima

“pinhé"

C

O

VI

35.

Herpetotheres cachinnans

36.

Micrastur semitorquatus

c c

VI

FO GV GV FO

Falconidae

“côa”

F

VI VO

falcão-relógio

F

VI VO

69

2 1, 2

c c

GV GV GV


ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE

NOME COMUM

LOCAL

TIPO DE REGISTRO

F A C P O 37.

Falco sparverius

“gavião-rapina”

C

VI VO NI EN VI VO

BB

DOC. IM GV

2

GV

GRUIFORMES Aramidae 38.

Aramus guarauna

A

VI VO

“saricória”

A

VO

saracura-sanã

A

VO

carão

FO GV

Rallidae 1

39.

Porzana albicollis

40.

Pardirallus nigricans

41.

Gallinula chloropus

“frango-d’água”

A

VI

42.

Gallinula melanops

frango-d'água-carijó

A

VI

43.

Porphyrio martinica

“frango-d’água”

A

VI

1 1

1

c c c b, c c

FO

Cariamidae 44.

Cariama cristata

“seriema”

C

VI VO

quero-quero

C

VI VO

CHARADRIIFORMES Charadriidae 45.

Vanellus chilensis

GV

c

Scolopacidae 46.

Gallinago undulata

47.

Tringa solitária

“rola-pau”

O

1

maçarico-solitário

A

VI

“piaçoca”

A

VI VO

rolinha-de-asa-canela

A

c

Jacanidae 48.

Jacana jacana

1

c

FO GV

COLUMBIFORMES Columbidae 49.

Columbina minuta

50.

Columbina talpacoti

51.

VI

rolinha

C

VI

Patagioenas picazuro

pombão

C

VI

a, c c

NI

FO

52.

Leptotila verreauxi

“juriti”

F

VO

2

GV

53.

Leptotila rufaxilla

“juriti"

F

VO

2

GV

54.

Geotrygon montana

“juriti”

F

VO

2

GV

“maracanã”

F

VI VO

1

periquito-maracanã

F

VI VO

PSITTACIFORMES Psittacidae 55.

Primolius maracana

56.

Aratinga leucophthalma

57.

Aratinga aurea

58.

Pyrrhura cruentata

periquito-rei “querequeté"

C F

“periquitinho”, periquito

C P

GV FO GV

VI VO

GV

VI VO

1,2

a

FO GV

59.

Forpus xanthopterygius

VI VO

1, 2

FO

60.

Pionus maximiliani

“maitaca”

F

VI VO

1, 2

FO GV

61.

Amazona rhodocorytha

“papagaio’

F

VI VO

1, 2

FO GV

F

VI VO

1, 2

F A

VI VO

2 2

CUCULIFORMES Cuculidae 62.

Piaya cayana

63.

Crotophaga major

64.

Crotophaga ani

65. 66.

“rabilonga’ “anum-coroi’ “anum’

C

VI VO

Guira guira

anu-branco

C

VI VO

Tapera naevia

“peixe-frito’

C

VO

coruja-da-igreja

C

VO

1

FO GV

c c c

FO FO

STRIGIFORMES Tytonidae 67.

Tyto alba Strigidae

68.

Megascops choliba

corujinha-do-mato

F

VO

69.

Pulsatrix koeniswaldiana

“corujão”

F

VI VO

1

70.

Glaucidium brasilianum

“caburé’

F

VO

2

71.

Athene cunicularia

“corujinha’

CAPRIMULGIFORMES

70

C

VI

FO

2

FO GV FO


ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE

NOME COMUM

LOCAL

TIPO DE REGISTRO

F A C P O

VI VO NI EN

mãe-da-lua-gigante

F

VI VO

“bacurau”

F

VI VO NI

BB

DOC. IM GV

Nyctibiidae 72.

Nyctibius grandis

FO GV

Caprimulgidae 73.

Nyctidromus albicollis

2

FO GV

APODIFORMES Apodidae 74.

Streptoprocne zonaris

taperuçu-de-coleira-branca

O

VI

75.

Chaetura cinereiventris

andorinhão-de-sobre-cinzento

O

VI

Trochilidae 76.

Glaucis hirsutus

77.

Phaethornis idaliae

78.

Eupetomena macroura

79.

Hylocharis sapphirina

beija-flor-safira

F

VI

80.

Hylocharis cyanus

beija-flor-roxo

F

VI

81.

Polytmus guainumbi

F A

VI

F

VI VO

balança-rabo-de-bico-torto

F

VI

rabo-branco-mirim

F

VI VO

beija-flor-tesoura

beija-flor-de-bico-curvo

P

a

FO

VI

a FO GV

c

TROGONIFORMES Trogonidae 82.

Trogon viridis

“joão-bobo”

1

FO GV

CORACIIFORMES Alcedinidae 83.

Megaceryle torquata

Martim-pescador-grande

A

VI

GALBULIFORMES Galbulidae 84.

Galbula ruficauda

bico-de-agulha

F

VI

FO

PICIFORMES Ramphastidae 85.

Ramphastos vitellinus

“tucano’

F

VO

1

86.

Pteroglossus aracari

“araçari”

F

VI VO

1

pica-pau-anão-barrado

F

GV

Picidae 87.

Picumnus cirratus

88.

Melanerpes candidus

“pica-pau-do-branco-branco’

89.

Veniliornis maculifrons

picapauzinho-de-testa-pintada

F

90.

Piculus flavigula

pica-pau-bufador

F

91.

Colaptes campestris

92.

Celeus flavescens

VI VO C

GV 1

VI VO

pica-pau-do-campo pica-pau-de-cabeça-amarela

VI VO

C

a c

VO

F

VI VO

GV

PASSERIFORMES Thamnophilidae 93.

Thamnophilus ambiguus

94.

Myrmotherula axillaris

“conconha’

F

VI VO

choquinha-de-flanco-branco

F

VI VO

GV

cuspidor-de-máscara-preta

F

VI VO

GV

arapaçu-liso

F

VI VO

GV

2

FO GV

Conopophagidae 95.

Conopophaga melanops Dendrocolaptidae

96.

Dendrocincla turdina Furnariidae

97.

Furnarius figulus

98.

Furnarius rufus

casaca-de-couro-da-lama

99.

Certhiaxis cinnamomeus

100.

Thripophaga macroura

rabo-amarelo

101.

Phacellodomus rufifrons

“joão-palito’

A C

joão-de-barro

C P

curutié

A

VI VO

c c c a

VI VO VI VO

F

VI VO C

VI VO NI

1

GV GV GV GV

Tyrannidae 102.

Leptopogon amaurocephalus

103.

Hemitriccus orbitatus

104.

Myiornis auricularis

cabeçudo

F

VO

tiririzinho-do-mato

F

VO

miudinho

F

VI VO

71

GV

a

GV GV


ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE

NOME COMUM

LOCAL

TIPO DE REGISTRO

F A C P O

VI VO NI EN

ferreirinho-relógio

C P

VI VO

guaracava-de-barriga-amarela

C P

VI VO

BB

DOC. IM GV

105.

Todirostrum cinereum

106.

Elaenia flavogaster

GV

107.

Camptostoma obsoletum

108.

Capsiempis flaveola

109.

Rhynchocyclus olivaceus

bico-chato-grande

F

VI

110.

Tolmomyias sulphurescens

bico-chato-de-orelha-preta

F

VI VO

GV

111.

Tolmomyias poliocephalus

bico-chato-de-cabeça-cinza

F

VI VO

GV

112.

Tolmomyias flaviventris

bico-chato-amarelo

F

VI VO

113.

Myiobius barbatus

assanhadinho

F

VI

guaracavuçu

F

c c

GV

risadinha

F

C

VI VO

GV

marianinha-amarela

F

C

VI VO

FO GV

114.

Cnemotriccus fuscatus

115.

Xolmis velatus

116.

Fluvicola nengeta

117.

Arundinicola leucocephala

118.

Machetornis rixosa

siriri-cavaleiro

119.

Myiozetetes similis

bentevizinho-penacho-vermelho

120.

Pitangus sulphuratus

121.

Myiodynastes maculatus

122.

Megarynchus pitangua

123.

Tyrannus melancholicus

124.

Tyrannus savana

125.

Rhytipterna simplex

126.

Myiarchus tuberculifer

freirinha

a

GV

a a

VI C

VI

A C

VI

A

VI

noivinha-branca lavadeira-mascarada

NI

C

c c

VI

C P

VI VO

P

VI VO

bem-te-vi

F

bem-te-vi-rajado

F

neinei

F

C

VI VO

siriri

F

C

VI VO

C

VI VO

tesourinha vissiá

F

VI VO

maria-cavaleira-pequena

F

VI

127.

Myiarchus ferox

maria-cavaleira

F

128.

Attila rufus

capitão-de-saíra

F

VO

pavó

F

VI VO

rendeira

F

VI

C

GV

c

VI VO

FO GV FO GV GV

c FO

a a

VO

Cotingidae 129.

Pyroderus scutatus

GV

Pipridae 130.

Manacus manacus

FO

Tityridae 131.

Pachyramphus polychopterus

132.

Pachyramphus marginatus

caneleiro-preto

F

VI VO

caneleiro-bordado

F

VI VO

GV

a

Vireonidae 133.

Vireo olivaceus

juruviara

F

VI VO

GV

134.

Hylophilus thoracicus

vite-vite

F

VI VO

GV

Hirundinidae andorinha-pequena-de-casa

O

135.

Pygochelidon cyanoleuca

136.

Stelgidopteryx ruficollis

andorinha-serradora

C

137.

Progne tapera

andorinha-do-campo

C

138.

Progne chalybea

139.

Troglodytes musculus

140.

Pheugopedius genibarbis

andorinha-doméstica-grande

VI VI VI

P

VI

P

VI VO

c

Troglodytidae corruíra garrinchão-pai-avô

F

c

VI VO

GV

Donacobiidae 141.

Donacobius atricapilla

japacanim

A

VI VO

Turdidae 142.

Turdus rufiventris

143.

Turdus leucomelas

144.

Turdus amaurochalinus

“sabiá-laranjeira”

F

sabiá-barranco

F

VI VO

sabiá-poca

F

VI VO

P

VI VO

2

Mimidae 145.

Mimus saturninus

sabiá-do-campo

C

VI VO

Coereba 146.

Coereba flaveola

cambacica

Thraupidae

72

F

P

VI VO

GV

c


ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE

NOME COMUM

LOCAL

TIPO DE REGISTRO

F A C P O

VI VO NI EN

saíra-de-chapéu-preto

F

VI

tiê-do-mato-grosso

F

VI VO

tiê-galo

F

147.

Nemosia pileata

148.

Habia rubica

149.

Tachyphonus cristatus

150.

Tachyphonus coronatus

tiê-preto

151.

Thraupis sayaca

152.

Thraupis palmarum

153.

Tangara brasiliensis

cambada-de-chaves

154.

Tangara cayana

155.

Dacnis cayana

156.

Cyanerpes cyaneus

157.

Hemithraupis flavicollis

158.

Conirostrum speciosum

VI P

VI

“sanhaço”

P

VI VO

sanhaço-do-coqueiro

P

VI

F P

“saíra”

VI VO

P

saíra-beija-flor

IM GV

a 2

VI VO

“saíra”

BB

DOC.

c a

2 2

F

VI

saíra-galega

F

VI VO

figuinha-de-rabo-castanho

F

VI VO

c c

FO

c c

FO

Emberizidae 159.

Ammodramus humeralis

160.

Sicalis flaveola

tico-tico-do-campo

C

VI VO

canário-da-terra-verdadeiro

C

VI VO

tiziu

C

VI VO

“papa-capim"

C

VI VO

161.

Volatinia jacarina

162.

Sporophila caerulescens

163.

Parula pitiayumi

mariquita

164.

Geothlypis aequinoctialis

pia-cobra

165.

Cacicus haemorrhous

“guaxo”

166.

Gnorimopsar chopi

“merro’

167.

Chrysomus ruficapillus

“godero”

168.

Molothrus bonariensis

vira-bosta

169.

Euphonia chlorotica

“gaturamo”

170.

Euphonia violacea

“gaturamo’

2

Parulidae F

VI VO

FO GV

VI VO

A

c

Icteridae F C A C

VI VO

2

VI VO

1

VI VO

1

GV

c

VI

Fringillidae P F

VI VO

2

VI VO

2

FO GV

Estrildidae 171.

Estrilda astrild

bico-de-lacre

C

VI VO

c

Passeridae 172.

Passer domesticus

Pardal

P 8 3 4 1 1 7 1 7 8 2

20 ordens / 50 famílias / 172 espécies

VI VO 147 109 4

c 58

64

41

62

Dentre as ordens registradas a que possui maior número de espécies é a Passeriformes com 80 (46,5%), seguida de Falconiformes com 12 (7%), Ciconiiformes com 10 (5,8%) e as demais tiveram entre 8 e 1 espécies (figura 33).

De acordo com as informações obtidas em campo, bem como com informações adicionais (dados de campo outubro 1997, Bauer 1999 e Baeur et al. 1999), é possível distribuir as espécies registradas em grandes grupos por ambiente (tabela 6 e figura 34).

73


6

4 11

10

3 12 7

80

111

8

Tinamif. Ciconiif. Charadriif. Strigif. Coraciif.

Anserif. Cathartif. Columbif. Caprimulgif. Galbulif.

8

5 2 5

Gallif. Falconif. Psittacif. Apodif. Picif.

7

4 6

Podicipedif. Gruif. Cuculif. Trogonif. Passerif.

Figura 33 - Número de espécies de aves em cada ordem.

100 90

87

nº de espécies

80 70 60 47

50 40

31

30

18

20

12

10 0 Floresta

Alagado

Campo

Pomar

Outros

Figura 34 - Distribuição das espécies de aves de acordo com o ambiente.

Dentre as espécies florestais (n = 87; 50,6%) 75 (43,6%), em princípio, são exclusivas deste ambiente. Isto reflete a importância da área para a conservação das espécies deste ambiente natural. As espécies de “campo” e “pomar” são especialmente as sinantrópicas. Foi utilizado o termo “outros” especialmente quando não se teve certeza do ambiente de registro e/ou a espécie foi registrada voando sobre a área.

74


A riqueza de espécies levantada para a área até o momento mostra-se significativa, especialmente quando consideradas as espécies ameaçadas de extinção e endêmicas de Mata Atlântica (itens 3.3.2 e 3.3.3).

Mesmo considerando-se as diferenças de metodologias, em outros trabalhos de aves em áreas de baixada do Espírito Santo, tem-se os seguintes resultados comparativos (tabela 9): Tabela 9 - Riqueza de aves em diferentes áreas de baixada no Espírito Santo. Local

Riqueza de espécies

Fonte

Itaúnas (Parque Estadual e arredores), Conc. da Barra

242

Venturini e Paz in litt.

Reserva da Vale, Linhares

369

Paz e Venturini (2003)

APA de Setiba e P. E. Paulo C. Vinha, Guarapari

225

Cepemar (2007)

RPPN Cafundó e arredores, C. de Itapemirim

257

Paz e Ventuirini, 2008

Ubu, Anchieta

91

Lopes (s.d)

Matas do Ouvidor e arredores, Itapemirim

172

presente trabalho

Deve-se ressaltar ainda que neste trabalho foi registrado o periquito-rei Aratinga aurea espécie que tinha sido considerada “possivelmente extinta” para a região sul do Espírito Santo de acordo com o trabalho de Bauer (1999). Esta espécie foi observada em pequenos bandos nas áreas mais abertas (pasto com árvores isoladas, borda de mata) próximo à “Mata do Córrego do Ouro”.

3.3.2. Espécies ameaçadas de extinção Dentre as 172 espécies até agora registradas, 7 (4,1%) estão inseridas em pelo menos uma das três listas de espécies ameaçadas de extinção nas diferentes categorias (tabela 10) e todas são aves florestais. Tabela 10 - Aves ameaçadas de extinção que ocorrem na região do Verde Vale do Itapemirim. ES: espécie ameaçada de extinção em nível estadual (CP: criticamente em perigo, EP: em perigo, VU: vulnerável); BR: espécie ameaçada de extinção em nível nacional; GL: espécie ameaçada de extinção em nível global (VU: vulnerável, EP: em perigo). ESPÉCIE NOME COMUM ES BR GL Crypturellus noctivagus Crypturellus variegatus Pyrrhura cruentata Amazona rhodocorytha Nyctibius grandis Tripophaga macroura

jaó-do-sul inhambu-anhangá querequeté papagaio mãe-da-lua-gigante rabo-amarelo

75

CP EP EP CP VU

BR BR BR

VU EP

BR

VU


ESPÉCIE Rhynchocyclus olivaceus

NOME COMUM

bico-chato-grande 7 espécies

ES

BR

GL

VU 6

4

3

Duas espécies se enquadram nas 3 listas: o querequeté Pyrrhura cruentata (figura 35) e o papagaio Amazona rhodocorytha (figura 36).

Figura 35 - O querequeté Pyrrhura cruentata psitacídeo ameaçado de extinção em nível estadual, nacional e global. As matas da região são importantes sítios de conservação da espécie no Estado já tendo sido observado um grupo com cerca de 50 indivíduos.

Figura 36 – O papagaio Amazona rhodocorytha é uma espécie ameaçada de extinção no estado do Espírito Santo onde é considerada criticamente em perigo, porém é uma espécie bem freqüente na região do Verde Vale do Itapemirim.

76


Duas espécies, Crypturellus variegatus o inhambu-anhangá e Rhynchocyclus olivaceus o bico-chato-grande são consideradas ameaçadas de extinção apenas em nível estadual.

Ainda em nível global, além das três categorias de espécies ameaçadas (criticamente em perigo, em perigo e vulnerável) existe a categoria quase ameaçada (near threatened) e indica que a espécie não está ainda em risco, porém, é uma série candidata a compor a lista das espécies ameaçadas se não forem adotadas medidas para sua conservação (IUCN 2007, Machado et al. 2008). Duas espécies se enquadram exclusivamente nesta categoria: a maracanã Primolius maracana e o tiririzinho-do-mato Hemitriccus orbitatus.

Deve-se ressaltar que, dentre as 7 espécies ameaçadas de extinção, 4 também são endêmicas de Mata Atlântica (ver tabelas 1 e 11, item 3.3.3).

3.3.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica Dentre as espécies de aves registradas (n = 172) 16 (9,3%) são endêmicas da Mata Atlântica de acordo com Bencke et al 2006 (tabela 11). Quatro delas também são ameaçadas de extinção. Todas ocorrem em ambiente florestal tais como Thamnophilus ambiguus o conconha (figura 37) e Pulsatrix koeniswaldiana o corujão (figura 38) sendo que, com exceção do tié-preto, que ocorre na borda da mata e pode ser também encontrado em áreas alteradas (como capoeiras e macegas), as demais são mais exigentes quanto ao habitat. Tabela 11 - Espécies de aves endêmicas registradas na região. ESPÉCIE

NOME COMUM

Crypturellus noctivagus Crypturellus variegatus Pyrrhura cruentata Amazona rhodocorytha Pulsatrix koeniswaldiana Nyctibius grandis Phaethornis idaliae Veniliornis maculifrons Thamnophilus ambiguus Conopophaga melanops Dendrocincla turdina Tripophaga macroura Hemitriccus orbitatus Myiornis auricularis

jaó-do-sul inhambu-anhangá querequeté papagaio corujão mãe-da-lua-gigante rabo-branco-mirim picapauzinho conconha cuspidor-de-máscara-preta arapaçu-liso rabo-amarelo tiririzinho-do-mato miudinho

77


ESPÉCIE Rhynchocyclus olivaceus Attila rufus

NOME COMUM

bico-chato-grande capitão-de-saíra 16 espécies

Figura 37 - Macho de conconha Thamnophilus ambiguus Passeriforme endêmico da Mata Atlântica.

Figura 38 - Uma das aves noturnas o corujão Pulsatrix koeniswaldiana é uma espécie endêmica de Mata Atlântica.

3.3.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo São conhecidas as interações entre homem e aves para os diferentes usos como alimentação, adorno e estimação desde a antigüidade. Este costume tem passado de geração a geração. Porém, o uso indiscriminado das espécies silvestres é um dos fatores de risco para a conservação da diversidade local. 78


Não são conhecidos dados atualizados sobre a realidade estadual ou local no que se refere ao uso de aves silvestres de maneira ilegal. Citamos algumas espécies registradas neste trabalho que, historicamente, são utilizadas como aves de estimação seja pelo canto (espécies canoras), pela coloração ou pela combinação de ambos ou ainda são usadas para fins de alimentação: todos representantes das famílias Tinamidae (especialmente para alimentação), Psittacidae (aves de estimação com destaque para o papagaio Amazona rhodocorytha) e alguns Passeriformes tais como - sabiás (Turdus spp.), sanhaços (Thraupis spp.) saíras (Tangara spp.), canário-da-terra (Sicalis flaveola), coleiros e afins (Sporophila spp), tempera-viola (Saltator maximus), dentre outros. Estas são algumas das espécies potenciais vítimas de caça na região. Durante a realização dos trabalhos foram encontradas pessoas em atividade cinegética na região.

3.3.5. Nomes locais Através das entrevistas realizadas foi possível verificar os nomes comuns conhecidos regionalmente para 58 espécies de aves (33,7%) (tabela 8). Usualmente são aquelas que, historicamente, são de atividades cinegéticas e/ou são comuns (ocorrendo inclusive nas proximidades das casas). Na tabela 8 destacamos entre aspas “nome comum” os nomes populares atribuídos às espécies de aves localmente.

Alguns nomes chamam a atenção como o “querequeté” Pyrrhura cruentata não tendo sido encontrada esta referência anteriormente no Estado (obs. pes.) e a literatura cita como sinônimo de “tiriba” gênero Pyrrhura (Andrade 1982). Outra espécie é a “conconha” Thamnophilus ambiguus cujo nome similar ‘concom’ foi encontrado em Setiba (Venturini et al. 1996). Alguns nomes genéricos parecem variantes locais (também utilizados no Estado em outras regiões) como “galça” ao invés de ‘garça’, “anum” para ‘anu’ e “siricória” ao invés de ‘saracura’. Este é um valor cultural que tem se perdido ao longo dos anos e corre o risco maior ainda com a globalização onde não se leva em conta as diversidades regionais isto se torna mais evidente em locais onde não é valorizada a cultura local e principalmente devido à falta de trabalhos visando à divulgação da fauna.

79


3.2.6. Registro fotogrรกfico

80


81


82


83


84


85


86


87


88


89


90


91


92


93


94


95


3.4. Mastofauna Os mamíferos são considerados os mais evoluídos na escala zoológica (Silva 1994, Canevari e Vaccaro 2007). Todos têm em comum a presença de glândulas mamárias como característica exclusiva da classe. Enquanto grupo possui variações morfológicas, anatômicas, fisiológicas e comportamentais que lhes permitem ocupar os meios terrestre, aquático e aéreo. Também possuem uma variação de cor, tamanho e hábitos. Desta forma, existem espécies que podem viver em habitats específicos e são sensíveis a mudanças nestes ambientes e outras que possuem grande capacidade adaptativa suportando até certo grau de alterações ambientais e, em alguns casos podem até se “beneficiar” (aumentar de número) com tais alterações.

Existem aproximadamente 5.416 espécies de mamíferos no mundo (Wilson e Reeder 2005) destas, 652 são listadas para o Brasil (Reis et al. 2006) incluindo as espécies continentais e as marinhas. Sendo assim, o Brasil figura como o país de maior riqueza de espécies de mamíferos do mundo.

Os resultados de mamíferos obtidos até o momento nas Matas do Ouvidor e arredores (Verde Vale do Itapemirim) e apresentados a seguir, somam importantes e inéditas informações para o estado do Espírito Santo.

3.4.1. Composição geral das espécies Foram registradas até o momento 37 espécies de Mamíferos pertencentes a 8 ordens e 19 famílias (tabela 12). A ordem com maior número de espécies foi Carnívora com 10 (27%)Rodentia com 9 (24,3%), Didelphimorphia com 6 (16,2%), Cingulata e Primates com 4 (10,8%), Pilosa com 3 (8,1%) e Chiroptera e Lagomorpha com 1 cada (2,7%) (figura 39).

96


6 10

4 1

1

3

4

Didelphimorphia Primates Carnivora

Cingulata Lagomorpha

Pilosa Chiroptera

Figura 39 - Número de espécies de mamíferos de acordo com as ordens. Tabela 12 - Mamíferos registrados no Verde Vale do Itapemirim e arredores, Itapemirim, Espírito Santo entre agosto de 2007 e novembro de 2008. Local: F: floresta, A: alagado, rio, C: campo; Registro: VI: visualização, VO: vocalização, CA:

captura,VE: vestígio (p: pegada, f: fezes, u: unhas), AF: armadilha fotográfica, AT: animais atropelados na Rodovia, EN: entrevista; Documentação (DOC.): IM: imagem (FO: foto, FI: filmagem), GV: gravação de vocalização. Entre aspas em negrito (“nome comum”): nomes populares atribuídos às espécies localmente. Nº

ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE

NOME COMUM

LOCAL F

C

A

REGISTRO

DOC.

VI VO CA VE AF AT EN

IM

GV

DIDELPHIMORPHIA Didelphidae “gambá”

F

CA

catita; cuiquinha

F

CA

Marmosa murina

cuíca

F

CA

FO

4.

Marmosops incanus

cuíca

F

CA

FO FI

5.

Metachirus nudicaudatus

6.

Philander frenatus

1.

Didelphis aurita

2.

Gracilinanus microtarsus

3.

jupati

F

“cuíca-quatro-olhos”

F

AF AT EN

FO FI GV FO

AF CA

FO EN

FO

CINGULATA Dasypodidae 7.

Dasypus novemcinctus

“tatu-galinha”

F

C

AT EN

8.

Dasypus septemcinctus

“tatu-mirim”

F

C

EN

9.

Euphractus sexcinctus

“tatu-testa-de-ferro” “ tatu-peludo” “tatu-de-rabo-mole”

F

C

EN

F

C

EN

“preguiça” preguiça-de-coleira

F

VI

tamanduá-mirim “tamanduá-colete”

F

VI

“sauí” sagüi-da-cara-branca “macaco-prego”

F

10. Cabassous sp

PILOSA Bradypodidae 11. Bradypus torquatus

u/l

AT EN

FO FI

Myrmecophagidae 12. Tamandua tetradactyla

AF

EN

FO

PRIMATES Cebidae 13. Callithrix geoffroyi 14. Cebus nigritus

EN

F

VI VO

AF AT EN

F

VI VO

EN

FO

Pitheciidae 15. Callicebus personatus

“guigó” sauá

97

GV


ORDEM/FAMÍLIA/ESPÉCIE

NOME COMUM

LOCAL F

C

A

REGISTRO

DOC.

VI VO CA VE AF AT EN

IM

GV

Atelidae 16. Alouatta guariba

“barbado”

F

tapeti; coelho-do-mato

F

morcego-fruteiro

F

“jabutirica” jaguatirica “gato-do-mato” gato-maracajá ”gato-do-mato-preto” jaguarundi

F

VI VO

f

EN

FO FI GV

LAGOMORPHA Leporidae 17. Sylvilagus brasiliensis

C

f

FO

CHIROPTERA(*) Phyllostomidae 18. Sturnira lilium

AF

FO

CARNIVORA Felidae 19. Leopardus pardalis 20. Leopardus wiedii 21. Puma yagouaroundi

AT EN

F

AF

F

C

F

C

EN

FO

EN

Canidae 22. Cerdocyon thous

“cachorro-do-mato”

VI

p

AF AT EN

FO

EN

FO

Mustelidae 23. Lontra longicaudis

“lontra”

A

f/ p

24. Eira barbara

“irara”

F

EN

25. Galictis cuja

“furão”

F

EN

Procyonidae 26. Nasua nasua

“quati”

F

27. Potus flavus

macaco-da-noite; jupará

F

“mão-pelada”

F

“caxinguelê’

F

VI VO

30. Oryzomys sp. Muridae

rato-do-chão

F

VI

31. Mus musculus

“camundongo”

F

C

CA

EN

“rato” rato-da-barriga-amarela “rato” rato-preto

F

C

CA

EN

F

C

CA

EN

28. Procyon cancrivorus

VI

EN

FO

EN

FO

EN

FO

VO p

RODENTIA Sciuridae 29. Sciurus aestuans

GV

Cricetidae

32. Rattus norvegicus 33. Rattus rattus

CA

FO FI

Erethizontidae 34. Sphiggurus sp.

“ouriço-cacheiro”

F

“preá”

F

C

VI

p

EN

FO

“capivara”

F

C

A

VI

f

EN

FO

36 12

2

11

EN

Caviidae 35. Cavia aperea 36. Hydrochoerus hydrochaeris

Cuniculidae 37. Cuniculus paca

“paca”

F

8 ordens / 19 famílias / 37 espécies

5

9

p

AF

7

8

6

EN

FO

29

22-5

4

(*) Ordem não levantada registro obtido por armadilha fotográfica.

Entre os mamíferos registrados a Lontra longicaudis (lontra) é uma espécie semiaquática já a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) desenvolve grande parte de sua atividade diária no ambiente aquático embora não seja estritamente dependente deste, pois utiliza ainda áreas abertas e florestas. Trinta e seis espécies (97,3%) foram registradas no ambiente florestal nos diferentes fragmentos (Mata do Ouvidor, 98


Mata do Barro Branco, Mata do Córrego do Ouro, Mata do Brejão) sendo que 24 (64,9%) somente foram registradas neste ambiente e 12 (32,4%) também foram registradas em ambientes abertos. Isto evidencia a importância das florestas para a manutenção da diversidade quantitativa e qualitativa da fauna silvestre da região (figura 40).

40

36

35 nº de espécies

30 25 20 15

12

10 5

2

0 Floresta

Campo

Alagado

Figura 40 - Distribuição das espécies de mamíferos de acordo com o ambiente.

Comparativamente com outros trabalhos de levantamento de mastofauna em áreas de baixada do Estado, apesar de ressalvar as diferenças metodológicas (incluindo a duração de cada trabalho) e o tamanho das áreas avaliadas, tem-se os seguintes resultados (tabela 13): Tabela 13 - Riqueza de mamíferos em diferentes áreas de baixada no Espírito Santo. Local

Riqueza de espécies

Fonte

Itaúnas (Parque Estadual e arredores), Conc. da Barra

49 *

Venturini e Paz in litt.

Reserva da Vale, Linhares

88 *

Paz e Venturini (2003)

APA de Setiba e P. E. Paulo C. Vinha, Guarapari

70 *

Cepemar (2007)

Ubu, Anchieta

19

RPPN Cafundó e arredores, C. de Itapemirim

55 *

Matas do Ouvidor e arredores, Itapemirim

37

Lopes (s.d) Paz e Ventuirini, 2008 presente trabalho

* - inclui estudo de Chiroptera

Pode-se perceber que a riqueza de espécies levantadas para a área, até o momento, é significativa, especialmente quando associada ao número de espécies

99


ameaçadas de extinção e endêmicas de Mata Atlântica (itens 3.4.2 e 3.4.3). Deve-se ainda ressaltar que as outras áreas em que as riquezas de espécies são maiores incluem estudos de Chiroptera o que neste trabalho não aconteceu (só foi registrada uma espécie, casualmente e não foi utilizada metodologia de captura específica para o grupo).

3.4.2. Espécies ameaçadas de extinção De acordo com a análise das listas de espécies ameaçadas de extinção nos 3 níveis (ES-DOE 2005, Machado et al. 2008 e IUCN 2007), 4 espécies (10,8%) dentre as registradas (n = 37) (tabelas 1 e 14) são consideradas ameaçadas de extinção. Tabela 14 - Mamíferos ameaçados de extinção registrados na região do Verde Vale do Itapemirim. ES: espécie ameaçada de extinção em nível estadual (EP: em perigo, VU: vulnerável); BR: espécie ameaçada de extinção em nível nacional; GL: espécie ameaçada de extinção em nível global (VU: vulnerável, EP: em perigo). ESPÉCIE NOME COMUM STATUS ES BR GL preguiça-de-coleira EP BR EP Bradypus torquatus Callicebus personatus guigó VU BR VU Leopardus pardalis jaguatirica VU BR Leopardus wiedii gato-do-mato; gato-maracajá VU BR 4 espécies 4 4 2

Todas as espécies ameaçadas são florestais. Isto reforça a importância da área na conservação e preservação destas e outras espécies. Bradypus torquatus (preguiçade-coleira), figura 41, e Callicebus personatus (guigó) aparecem como espécies chaves dentro do grupo, pois além de estarem ameaçadas para os três níveis conhecidos (estadual, nacional e global) são espécies estritamente florestais e endêmicas de Mata Atlântica.

Leopardus pardalis (jaguatirica) e L. wiedii (gato-maracajá), figura 42, são carnivoros florestais e suas populações locais sofrem pressão de caça, de moradores da região que alegam que estes atacam suas criações e ainda são vitimas de atropelamento na rodovia local.

100


Figura 41 – A preguiça-de-coleira, Bradypus torquatus, pode ser considerada uma das espécies chaves na conservação da região.

.

Figura 42 – Leopardus wiedii, gato-maracajá uma das espécies de felídeo presente nas matas do Verde Vale do Itapemirim.

Ainda quando se analisa em nível global, duas espécies são consideradas “quase ameaçadas de extinção”: o macaco-prego Cebus nigritus (figura 43) e o gatomaracajá L. wiedii (figura 42) que é considerado ameaçado em nível estadual e nacional.

101


Figura 43 – Cebus nigritus o macaco-prego é uma espécie quase ameaçada de extinção em nível global e endêmica de Mata Atlântica.

3.4.3. Espécies endêmicas de Mata Atlântica Foram registradas 9 espécies (24,3%) endêmicas de Mata Atlântica (tabela 15). Tabela 15 - Espécies de mamíferos endêmicos de Mata Atlântica registrados na área. ESPÉCIE Didelphis aurita Gracilinanus microtarsus Marmosops incanus Bradypus torquatus Cebus nigritus Callithrix geoffroyi Callicebus personatus Alouatta guariba Sphigurus sp.

NOME COMUM

gambá catita; cuiquinha cuíca preguiça-de-coleira macaco-prego saui guigó barbado ouriço-cacheiro 9 espécies

Das espécies endêmicas registradas Didelphis aurita gambá (figura 44), ocorre na porção leste do Brasil, sudeste do Paraguai e nordeste da Argentina em região de Mata Atlântica.

102


Figura 44 - Didelphis aurita gambá, ocorre na Mata Atlântica de parte do Brasil, Paraguai e Argentina sendo endêmica deste bioma.

Gracilinanus microtarsus catita, Marmosops incanus cuíca (figura 45), B. torquatus preguiça-de-coleira (figura 41), Cebus nigritus macaco-prego, Callithrix geoffroyi sagüi-da-cara-branca e Callicebus personatus guigó são endêmicos da Mata Atlântica do leste do Brasil. A espécie Sphigurus sp. pode se tratar de duas espécies diferentes de ouriço-cacheiro (S. insidiosus ou S. villosus) e ambos são endêmicos da Mata Atlântica. Alouatta guariba barbado ocorre na Mata Atlântica do leste brasileiro e existe um registro duvidoso para a Bolívia (Wilson e Reeder 2005).

Figura 45 – Marmosops incanus cuíca, endêmica da Mata Atlântica do leste do Brasil.

103


Figura 46 – Alouatta guariba barbado é um primata comum na área.

3.4.4. Espécies de atividade cinegética e de xerimbabo A relação do homem com a fauna remonta aos primórdios da existência humana, quando ainda era necessário caçar para se alimentar. Atualmente existem legislações específicas que visam proteger a fauna.

Não conhecemos dados atualizados sobre a realidade estadual ou local no que se refere ao uso de mamíferos silvestres de maneira ilegal. Historicamente, porém, são conhecidas diversas espécies da fauna silvestre, dentre os mamíferos, utilizadas pelo homem com diversas finalidades. Várias destas espécies ocorrem na região e algumas são citadas a seguir: espécies que têm registro para uso como animais de estimação - preguiça Bradypus torquatus, sagüi Callithrix geoffroyi, macaco-prego Cebus nigritus, quati Nasua nasua (figura 47), todos os Felidae; uso em atividade cinegética (caça: para alimentação) - tatus (Dasypodidae), preá Cavia aperea, capivara Hydrochaeris hydrochaeris, paca Cuniculus paca (figura 48); supostos fins “medicinais”- espinhos de ouriços (Sphiggurus sp.) utilizados especialmente no sul da Bahia através de infusões e outros métodos caseiros (Oliver e Santos 1991).

104


Figura 47 - Nasua nasua quati é utilizado como animal de estimação.

Figura 48 – Cuniculus paca. A paca é uma das espécies cinegéticas da região. Muito visada por caçadores.

3.4.5. Nomes locais O conhecimento da mastofauna pelos moradores locais é muito expressivo verificado não só pelo conhecimento de espécies de atividade cinegética, espécies de estimação, mas também espécies florestais ou menos perceptíveis. Este conhecimento foi importante na determinação de ocorrência de várias espécies do grupo que não puderam ser ainda ser registradas pelos outros métodos de estudo.

105


Dentre os nomes citados, destacamos ”jabutirica” que é uma variação da forma mais conhecida ‘jaguatirica’ também já registrado em outras partes do Estado. Este é um fator cultural que tende a ser perdido com o desconhecimento da fauna pelas novas gerações ou o uso de “nomes populares” de literaturas gerais que não levam em conta a regionalização ver tabelas. Na tabela 12 destacamos entre aspas “nome comum” os nomes populares atribuídos às espécies de mamíferos localmente.

106


3.4.6. Registro fotogrรกfico

107


108


109


110


111


112


113


114


CONSIDERAÇÕES FINAIS 4.1. Análise geral da área A região de estudo denominada de “Matas do Ouvidor”, no Verde Vale do Itapemirim, é uma área de Mata Atlântica pertencente à Usina Paineiras S.A., e considerada como uma das “Áreas prioritárias para a conservação da Mata Atlântica” na categoria “B” (muito alta importância biológica) baseada especialmente na presença de aves endêmicas e ameaçadas de extinção e a recomendação para ação de conservação é a criação de unidade de conservação (Rede de Ong’s da Mata Atlântica et al. 2001). De acordo com Conservation International do Brasil et al. (2000) na análise mais ampla, os grupos de importância biológica de fauna indicados para a área (ou ela em conjunto com outras) foram mamíferos (categoria B), aves (categoria C) e invertebrados (categoria A).

Os estudos faunísticos desenvolvidos na área até o momento, mesmo que ainda iniciais, apontam e reforçam a importância biológica da área. Foram registradas 251 espécies de vertebrados terrestres das quais 11 são ameaçadas de extinção (4,4%) nos diferentes níveis aqui considerados (estadual, nacional e global) e 44 (17,5%) são endêmicas de Mata Atlântica. Isto reforça não só a importância em termos quantitativos, mas também qualitativos. Quando comparamos os dados obtidos com outros trabalhos em áreas de baixada no Espírito Santo (apesar de metodologias diferentes incluindo a duração dos trabalhos, normalmente maior nas outras áreas) é possível confirmar a importância da área para a fauna localmente e no todo. Além disto, pode-se também verificar a importância do ambiente florestal para as diversas espécies estudadas devido ao uso deste pelos diferentes grupos de vertebrados. Estes resultados indicam uma alta diversidade e apontam para o reforço da importância ecológica da área e validam a prioridade da conservação da mesma para a conservação da Mata Atlântica.

Outro item revelado neste trabalho diz respeito à relação da população com a fauna através dos nomes locais pelos quais os animais são conhecidos. Muitos são bem particulares como o “querequeté” não tendo sido encontrado esta referência em outro local no Espírito Santo. Todo o conhecimento sobre a fauna local faz parte da cultura regional e que reflete várias coisas como a existência (mesmo que no

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passado) de uma relação direta com a fauna em ações de utilização (animais de estimação e/ou alimentação) ou perigo (espécies peçonhentas e venenosas) o que geralmente leva a criação de mitos e lendas. Existe, porém, uma tendência atual da não continuidade na difusão deste conhecimento o que compromete este valor cultural, portanto os trabalhos de educação ambiental na região devem ter como foco a realidade conservacionista atuando na linha de divulgação e conhecimento da fauna e flora (biota) da área e estas informações aqui geradas serão, sem dúvida, a base para esta ação de conscientização ambiental. Resaltamos aqui que esta área ainda é pouco estudada e aproveitada em seu potencial biológico, cientifico, educacional, turístico e de manejo.

Outras considerações importantes decorrentes dos trabalhos de campo dizem respeito a alguns problemas que afetam diretamente a fauna local: •

Atividades cinegéticas dentro da área: foram encontrados diferentes poleiros (figura 49) como, por exemplo, na região da “Mata do Córrego do Ouro” normalmente utilizado para a caça de mamíferos de trilha como paca (figura 48) e tatus. Na “Mata do Barro Branco” foram ouvidos cachorros em atividade cinegética e foram encontrados cartuchos de armas de fogo deflagrados. Na “Mata do Brejão” foram achadas armadilhas artesanais geralmente utilizadas na captura de tatus (figura 50).

Figura 49 - Poleiro construído por caçadores no interior da mata usualmente utilizado para abate de mamíferos como paca e tatus.

116


Figura 50 – Armadilhas artesanais encontradas no interior da mata do Brejão em trilha de Tatu.

Captura de animais de estimação: foram observadas “escadas” (figura 51) de acesso a ninhos de papagaios instaladas em árvores dentro da mata e, normalmente, utilizadas na apanha de filhotes para serem vendidos e/ou criados como animal pet. Este fato costuma ocorrer no Espírito Santo entre os meses de novembro/dezembro. Também nos arredores das matas foram observados

adolescentes

utilizando-se

de alçapão

para

captura

de

Passeriformes canoros (ex.: coleiros).

Figura 51 - Escada rudimentar construída em árvore na mata, encontrada na região de estudo, com objetivo de captura de filhotes de papagaio (e grupo) no ninho.

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Presença de cachorros domésticos: algumas vezes encontramos cachorrosdomésticos andando pela área. As armadilhas fotográficas registraram (figura 52) por diversas vezes a presença destes animais em atividade de forrageio (25% do total de fotos obtidas) provavelmente caçando animais silvestres, principalmente rasteiros como tatus, tinamídeos em geral, tamanduá e outros como já constatado em outras áreas (obs. pes.).

Figura 52 – Cachorro doméstico em comportamento de caça flagrado pela armadilha fotográfica no interior da mata

Impacto da Rodovia ES 490: durante os trabalhos algumas espécies foram encontradas atropeladas (mortas e/ou em estado agonizante). Embora não tenha sido feito um trabalho específico para este item, algumas informações obtidas em conversas com moradores locais apontam para este problema que demonstra ser freqüente atuando diretamente na redução das populações da fauna local. Espécies como jabutirica, tatu, cachorro-do-mato, gambá (e demais deste grupo), preguiça, jacupemba, papagaios, diferentes cobras, teiú e outros lagartos estão entre os mais citados como atropelados na área.

A continuidade dos trabalhos e o desenvolvimento de uma

metodologia para o levantamento do problema podem ajudar a esclarecer melhor esta realidade e indicar alternativas mais adequadas para solucionar e/ou amenizar esta situação.

118


A não ser por pequenas populações isoladas que vivem longe dos grandes centros urbanos, os animais silvestres não representam mais fonte básica de proteínas, tendo sido substituídos, neste papel, pelos animais de criação domestica. Mas o consumo de iguarias de caça tem tido um efeito muito negativo sobre os ecossistemas em geral e em particular à fauna. Na Mata Atlântica brasileira alguns animais mais ameaçados por esse motivo são, dentre os mamíferos: os tatus, a paca, alguns macacos; dentre as aves: os inhambus e jacupemba; dentre os répteis: jacaré e teiú e entre os anfíbios: as rãs de grande porte. Os caçadores de iguarias não respeitam o escasseamento dos recursos e nem mesmo as épocas de reprodução das várias espécies. Neste grupo podemos englobar uma variedade enorme de pessoas de diferentes classes sociais, níveis de instrução e escolaridade.

Não foi caracterizada na região a caça de subsistência (necessidade exclusiva de obtenção de proteína animal através da utilização de produtos silvestres) ao contrario identificou-se a caça predatória e desorganizada e ao que parece voltada para a necessidade simples de satisfação pessoal, como exemplo podemos citar a caça de espécies silvestres para se obter um “tira-gosto” a fim de se tomar uma “cahacinha” no bar da esquina e prosear com amigos. No mesmo nível citamos também o abate da fauna por pessoas de renda média a alta a fim de testar uma arma de fogo ou simplesmente pelo prazer de entrar na mata e dar um tiro em um animal que se movimenta.

Algumas espécies locais são muito visadas para animais de estimação: os primatas em geral, os papagaios e seus semelhantes, além dos pássaros canoros. Com isso, muito provavelmente, populações de animais silvestres locais estão desaparecendo em curto espaço de tempo, e os ambientes ficam ainda mais desprotegidos. Ações educativas de médio e longo prazo, associadas a planos eficazes de proteção à floresta como um todo (fauna e flora) tendem a reverter esta situação.

Estas questões apontam para a necessidade do incremento de ações com o envolvimento das comunidades do entorno para se tentar evitar a presença de cachorros e/ou caçadores na área, além de outras ações que envolvam um reforço do sistema de vigilância da área. Bem como alternativas de uso racional dos

119


recursos locais, que não venham afetar a já tão impactada fauna, podem ser avaliadas e implantadas a curto e médio prazo.

A expressiva diversidade da Mata Atlântica é comprovada neste trabalho através dos resultados levantados até o momento e demonstram a importância da preservação destes fragmentos florestais que são cruciais para a manutenção de um bom contingente populacional de espécies significativas da fauna brasileira. Entre outras, pode-se destacar a população de Pyhurra cruentata a tiriba fura-mato conhecida localmente como querequeté, um Psitacídeo ameaçado de extinção em todos os níveis e ainda encontrado com freqüência na área o que não ocorre em outros fragmentos especialmente no sul do Espírito Santo (obs. pess.) sendo esta área de grande importância para a conservação da espécie; o papagaio (Amazona rhodocorytha) que, embora localmente aparenta ser menos freqüente que a P. cruentata, é uma espécie também florestal que tem suas populações praticamente isoladas nestas áreas de ilhas de matas que restaram no ES. Mamíferos como a preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus), a jaguatirica (Leopardus pardalis), o gatomaracajá (L. wiedii), os diversos anfíbios e répteis também possuem na área um grande refúgio com possibilidade de conservação de suas espécies.

4.2. Potencialidades Já é recorrente o conhecimento de que o Brasil é um dos países de “megadiversidade” e que a Mata Atlântica contribui consideravelmente para este posto. Porém, a Mata Atlântica é um dos 34 hotspots, sendo a 5ª do ranking ou seja, está entre as 5 regiões biologicamente mais ricas e ameaçadas do planeta restando hoje em torno de 8% da sua cobertura original (Conservação Internacional do Brasil 2005).

O Estado do Espírito Santo está completamente inserido no domínio da Mata Atlântica e, portanto, a região de estudo, o Verde Vale do Itapemirim, com mais de 1.500 ha é um expressivo componente desta realidade no Estado, sendo um dos últimos fragmentos de baixada de Floresta Estacional Semidecidual que conserva um bom número de representantes de sua biota original.

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De acordo com as exposições anteriores, no que diz respeito especialmente à análise da fauna, pode-se elencar um rol de potencialidades que a região apresenta para a conservação da biodiversidade: •

Alta riqueza faunística.

Presença de espécies de vertebrados raros, a maioria florestal (muitas ameaçadas de extnção e/ou endêmicas de Mata Atlântica) dependentes destes fragmentos florestais.

Diversidade de ambientes em curto espaço a percorrer (o que facilita a exploração de atributos ecológicos e biológicos).

Topografia de fácil acesso para possíveis trilhas.

Localização estratégica e privilegiada (próximo a grandes centros urbanos e turísticos) e de fácil acesso rodoviário.

Ocorrência de espécies-alvo para observadores de aves (birdwatchers) do mundo inteiro como Tripophaga macroura, Amazona rhodocorytha, Pyrrhura cruentata, Hemitriccus orbitatus, Conopophaga melanops, Nyctibius grandis, dentre outras.

Possibilidade para desenvolver atividades educativas conservacionistas junto às comunidades locais e estaduais.

Marketing

verde

positivo para a

empresa representada

por

ações

conservacionistas através da manutenção e proteção da área. •

Faz parte do corredor ecológico Guanandy e está próximo do corredor Burararma-Pacotuba-Cafundó (Iema).

Grande

potencial

para

desenvolvimento

de

pesquisas:

estudos

de

comportamento, estudos de população, manejo de fauna silvestre, inventario faunístico e outros.

Tudo isto aponta para a necessidade e viabilidade de consolidar a área como uma Unidade de Conservação. Por se tratar de área particular e devido às suas características a categoria mais indicada é Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) uma categoria privada, porém reconhecida pelo poder público (federal ou estadual).

121


4.3. Necessidades De maneira bem objetiva citamos algumas ações que são necessárias para a consolidação da área como uma unidade demostrativa de conservação: •

Definição e delimitação da UC.

Implantação de um sistema de segurança (vigilância, queimadas e etc.).

Implantação de equipamentos para atender ao público em geral.

Criação de um núcleo de apoio a pesquisas e um centro de recepção.

Equipe mínima (vigilantes, orientadores ambientais, estagiários e outros).

Divulgação dos dados obtidos ao público em geral.

Apoio aos estudos de desenvolvimento e consolidação de um plano de zoneamento e manejo para a área em geral.

122


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127


6. ANEXO : Licenรงa Ibama 13212-1

128


129


130


131


Capitulo 2: Flora Flora 1. INTRODUÇÃO O Brasil é o país com uma das maiores biodiversidade do planeta, abrigando cerca de 14% das espécies de plantas conhecidas no mundo, destacando-se no ranking mundial de países megadiversos (Shepherd 2006).

Nesse aspecto o estado do Espírito Santo também demonstra-se em evidência pelos altos índices de diversidade encontrado em seus ecossistemas (Thomaz e Monteiro 1997; Assis et al. 2004a) e elevado grau de endemismos, corroborado com as constantes descobertas de espécies novas e de restrita distribuição geográfica (Amorim 2003; Baitello 2001; Chautems et al. 2005; Fernandes 1995; Kollmann 2003; Kollmann e Fontana 2006; Lombardi 2004; Mass e Westra, 2003; Sobral 2006; Leme e Kollmann 2007).

Em seu território podemos encontrar grande variedade de tipologias vegetais, como as formações de floresta ombrófila densa, floresta estacional semidecidual e as formações pioneiras, incluindo manguezais e restingas (IBGE 1983; 1987). A diversidade geomorfológica encontrada no Estado do Espírito Santo, juntamente com outros fatores como o clima, a natureza e o grau de permeabilidade dos solos, possibilitaram o estabelecimento desses diferentes ambientes naturais (Azevedo 1962).

Apesar

dessa

diversidade,

algumas

fitofisionomias

encontram-se

pouco

representadas nas coleções botânicas capixabas, principalmente os ambientes da floresta estacional semidecidual (Assis et al. 2007). Nos demais ecossistemas, os registros normalmente estão concentrados em poucos municípios (Assis 2007). O resultado desse cenário é a existência de muitas lacunas no conhecimento botânico ao longo do território do Espírito Santo, e, dentre elas, a região sul do estado.

A fragmentação excessiva em determinadas regiões do estado, como o Sul, aliado com o distanciamento geográfico desses trechos com principais centros de

132


pesquisas e herbários são fatores que poderiam explicar o baixo conhecimento da flora dessa região (Assis 2007).

A cobertura florestal, incluindo as formações primárias e secundárias em estágio médio e avançado de regeneração, em vários municípios do sul do estado não passa de 11% de seus territórios, como registrados em Cachoeiro de Itapemirim (10,52%), Itapemirim (5,94%), Marataízes (0,59%) e Rio Novo do Sul (9,21%) (Fundação SOS MATA ATLÂNTICA e INPE 2006).

Esses remanescentes da Bacia do Rio Itapemirim são indicados como de extrema importância biológica para a conservação da flora da Mata Atlântica brasileira (Conservation Internacional do Brasil et al. 2000). Essas áreas assumem grande importância por representarem praticamente os últimos remanescentes florestais na região sul do estado. Dessa forma, a área especificamente da Usina Paineiras, em Itapemirim, foi indicada como sendo de extrema prioridade para a conservação, também em nível estadual (IPEMA 2005a), e como prioritária para a criação de unidades de conservação no Espírito Santo (IPEMA 2005b).

A criação de unidades de conservação, uma das formas de se preservar os ambientes naturais e garantir a manutenção de seus processos biológicos, vem sendo focada, no estado do Espírito Santo, nas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), uma vez que uma das características da atual ocupação do solo em território capixaba é a concentração dos remanescentes florestais em propriedades privadas (Assis 2007).

A elaboração de listagens florísticas é reconhecida como importante ferramenta para o conhecimento da distribuição geográfica e dimensionamento do tamanho e distribuição etária das populações de espécies, dados estes essenciais para estratégias de conservação (Peixoto e Thomas 2005).

Assim, torna-se urgente o aumento no esforço de coleta de plantas em algumas localidades do estado do Espírito Santo, sobretudo aquelas com menor representatividade em coleções botânicas, a fim de ampliar o conhecimento sobre a flora do estado e subsidiar decisões referente ao seu manejo e conservação. Da 133


mesma forma é imprescindível a criação de novas áreas, legalmente protegidas como as RPPN, que protejam e garantam a sobrevivência dos representantes da rica fauna e flora capixaba.

134


2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Área de Estudo A Fazenda do Ouvidor está localizada no município de Itapemirim, zona sul do estado do Espírito Santo, na margem direita do Rio Itapemirim sendo cortada pela Rodovia Estadual ES-490, que liga Cachoeiro do Itapemirim e Marataízes. A Fazenda é de propriedade da Usina Paineiras S.A., sendo composta por várias glebas contendo pastagens e cultivo de cana-de-açúcar e alguns remanescentes florestais (figura 43).

5 km

Figura 53 - Localização da Fazenda do Ouvidor (círculo vermelho), no município de Itapemirim (ES). Fonte: Google Earth 2007.

A partir da indicação dos proprietários da Fazenda do Ouvidor, foi escolhida uma área para a criação da RPPN, e alguns dos fragmentos florestais incluídos nessa região foram objetos do levantamento florístico. Um desses remanescentes, denominado “Área A”, está inserido nas coordenadas geográficas, aproximadas, de

135


20º 55’57” S e 41º 3’ 17” W (Datum SAD69), e apresenta uma variação altitudinal de 20 a 100 m, com a presença de pequenos vales (“grotas”) em seu interior (figura 44). Essa área possui 125 ha floresta em diferentes estágios de preservação.

Um outro remanescente (“Área B”) corresponde a 195 ha de florestas em bom estado de conservação, localizado na porção noroeste de um grande bloco florestal, que é cortado pela Rodovia ES-490 (figura 2). Essa área também apresenta vales em seu interior e sua variação altitudinal é de 20 a 100 m. As coordenadas geográficas, do vértice dessa área próxima à Rodovia ES-490, são 20º 55’ 32,6” S e 41º 3’ 2,9” W (Datum SAD69).

Área A

Rio Itapemirim

Área B

2 km Rod. ES-490

Figura 54 - Localização dos remanescentes estudados “Área A” e “Área B” (setas vermelhas) na área potencial para criação da RPPN na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). Fonte: Google Earth, 2007.

De acordo com o mapa das Unidades Naturais do Estado do Espírito Santo (INCAPER/NEPUT, 1999), a região de estudo é caracterizada por apresentar terras acidentadas, quentes, secas e fracas. Isto indica que estão em locais cujo relevo possui declividade maior que 8%; apresentam temperatura média das máximas dos meses mais quentes entre 30,7 ºC e 34,0 ºC; possuem seis meses secos e agrupamento de solo sem componente eutrófico (INCAPER/NEPUT, 1999). A

136


unidade mapeamento de solo predominante no local é o Latossolo Vermelhoamarelo álico (IBGE, 1983).

A formação vegetacional predominante na região é a Floresta Estacional Semidecidual (IBGE, 1983), que ocorre em regiões onde os regimes hídricos apresentam uma estacionalidade de períodos chuvosos e secos demarcados. Esse fator climático limitante à vegetação (mais de 60 dias secos) faz com que os elementos arbóreos apresentem caducifolia parcial (20 a 50% dos indivíduos) como forma de adaptação ao estresse hídrico e/ou climático (IBGE, 1983).

De acordo com IBGE (1983), essa formação vegetal apresenta, para a região de estudo, uma subdivisão, de acordo com a altitude, sendo a floresta estacional semidecidual de terras baixas ocorrente em áreas com até 50 m acima do nível do mar e a floresta estacional semidecidual submontana, em áreas com altitude variando entre 50 e 500 m.

2.2. Metodologia A classificação das tipologias vegetais da Fazenda do Ouvidor seguiu proposta de Veloso et al. (1991). Para determinação dos estágios sucessionais da vegetação secundária, foi utilizado os preceitos da Resolução CONAMA Nº 29, de 07/12/1994 e a Lei Florestal do Espírito Santo (Lei Estadual Nº 5.361, de 30/12/1996).

Os aspectos fitofisionômicos observados para caracterização das tipologias vegetais foram o porte dos indivíduos, cobertura vegetal, presença de epífitas e lianas, formação de estratos verticais e presença de serapilheira, além de indícios de antropização, atuais ou pretéritos, como indivíduos cortados ou queimados, presença de gado bovino no interior dos remanescentes, e outras.

O levantamento florístico dos remanescentes florestais da Fazenda do Ouvidor foi realizado por meio de três campanhas de campo, com duração de dois a três dias cada, entre os meses de dezembro de 2007 e março de 2008.

137


As coletas foram obtidas a partir de caminhadas pelo interior e bordo dos fragmentos florestais, incluindo indivíduos férteis de todas as formas biológicas (figura 45). O material coletado foi processado (figura 45) para ser incorporado ao acervo do Herbário MBML, do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, localizado em Santa Teresa (ES). A coleta e o preparo das plantas seguiu metodologia indicada por Fidalgo & Bononi (1984).

Além das plantas coletadas na Fazenda do Ouvidor, foram incluídas, na listagem florística, espécies depositadas em herbário cuja localidade de coleta fosse na mesma região do presente estudo. Essas informações foram obtidas por meio do sistema de banco de dados virtual “SpeciesLink”, disponível na homepage: http://splink.cria.org.br

Outra categoria da lista são as espécies observadas, que correspondem àquelas plantas que se encontravam estéreis e, portanto, não puderam ser coletadas, mas que são de fácil reconhecimento em campo e com identidade biológica bem determinada, como é o caso do Astronium graveolens (aderne), Sparathospherma leucanthum (cinco-folhas), Gallesia integrifolia (pau-d’alho), dentre outras.

Também foram incluídas como observadas, as espécies conhecidas cujos frutos encontravam-se caídos no chão e que não puderam ser coletadas nos próprios ramos, como, por exemplo, a sapucaia (Lecythis pisonis). Em alguns casos onde a identificação dessas espécies fosse duvidosa, as plantas foram incluídas apenas em gênero, como as cactáceas epífitas Riphsalis e Epiphyllum, dentre outras.

-

138


a)

b)

c)

d)

Figura 55 - Atividades relacionadas ao registro de plantas na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) coleta de ramos com auxílio de podão; b) coleta de planta na borda da mata; c) preparação das exsicatas; d) prensas na estufa do Herbário MBML para desidratação do material coletado.

A identificação das plantas foi realizada por meio de literatura especializada, tais como as obras de Barroso et al. (1991a, 1991b), Barroso et al. (1999), Barroso et al. (2002), Carauta e Diaz (2002), Carvalho (1994), Lewis (1987), Lorenzi (1998, 2000, 2002) e Souza e Lorenzi (2005), comparação com material depositado no herbário MBML ou ainda com a colaboração de especialistas em determinadas famílias (figura 46).

A classificação das famílias botânicas seguiu o sistema de Cronquist (1981), sendo mantida a família Leguminosae como entidade única, utilizando-se o sistema de Engler.

a)

b)

139


c) Figura 56 - Atividades relacionadas à identificação das plantas na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) consulta ao herbário; b) observação na lupa de características morfológicas; c) consulta à literatura e comparação com exsicatas do herbário.

A partir da lista de espécies da Fazenda do Ouvidor foram determinadas as ameaçadas de extinção, com base na “Lista Oficial de Espécies da Fauna e da Flora Ameaçadas de Extinção do Estado do Espírito Santo”, conforme Decreto Nº 1.499R, de 14/06/2005 e na “Lista Oficial de Flora Ameaçada de Extinção”, conforme Portaria IBAMA Nº 37-N, de 3/4/1992.

Também foram identificadas as espécies com distribuição geográfica restrita ou, até mesmo, endêmicas. Essa informação foi obtida consultando a presença das espécies ocorrentes na Fazenda do Ouvidor, em bancos de dados digitais, tais como o “SpeciesLink”, “Mobot”, “NYBG” e “Herbário CEN”, que contém informações sobre o local de coleta dessas plantas. Apenas foram consideradas, nessa análise, espécies com distribuição restrita à, no máximo, quatro estados brasileiros, que representam casos de endemismos Pan-Atlântico, Regional (Sudeste) ou Local (ES), conforme critérios indicados por Lima et al. (1997).

Todo o material coletado será incorporado ao acervo do Herbário MBML e ficará disponível

para

consulta

online

pelo

sistema

“SpeciesLink”

(http://splink.cria.org.br/centralized_search? criaLANG=pt). A nomenclatura científica foi revisada a partir da página eletrônica do Missouri Botanical Garden, disponível no site: www.mobot.org.

140


3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Fitofisionomia Conforme apresentado anteriormente, foram designados dois remanescentes florestais para a realização da caracterização da vegetação e levantamento florística na Fazenda do Ouvidor (figura 44). O remanescente denominado “Área A”, além de menor extensão, encontra-se praticamente isolado, em meio à pastagens e estradas vicinais. Já a “Área B” está inserida em um grande bloco florestal que é cortado ao meio pela rodovia ES-490, tendo sido analisado apenas uma parte (195 ha) localizado na face noroeste do remanescente.

3.1.1. Remanescente “Área A” O remanescente da “Área A” apresenta vegetação de porte arbóreo com dossel variando de 15 a 20 metros e indivíduos emergentes alcançando 30 m de altura (figura 47). No estrato superior podemos encontrar Joannesia principes (boleira), Lecythis pisonis (sapucaia), Astronium graveolens (aderne), Crataeva tapia (tapiá) e Ficus spp (gameleira, mata-pau). Algumas dessas árvores possuem troncos com diâmetros superiores a 100 cm, embora os valores mais comuns de diâmetro estejam na faixa de 20-40 cm.

O sub-bosque é estruturado e diversificado com presença de indivíduos jovens de espécies do dossel além de arbustos e herbáceas (figura 5), tais como Bromelia antiacantha (gravatá), Heliconia spato-circinata (bananeirinha) Dychorisandra sp e Psycotria sp. Nos estratos médio e inferior destacam-se ainda as palmeiras (Figura 4), representadas pelas espécies Bactris setosa (tucum), Attalea humilis (pindoba) e Astrocaryum aculeatissimum (palmito margoso).

O epifitismo não é muito comum nesse fragmento florestal, estando representado por alguns indivíduos de aráceas (Philodendron sp e Anthurium coriaceum),

141


cactáceas (Epiphyllum sp, Riphsalis sp) e bromeliáceas (Tillandsia stricta, T. usneoides, Aechmea multiflora) (figura 5).

a)

b)

c)

d)

Figura 57 - Aspectos da vegetação do remanescente florestal da “Área A” na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) borda com vegetação de grande porte; b) sub-bosque diversificado; c) sub-bosque com palmeiras; d) exemplo de epifitismo (Aechmea multiflora).

A serapilheira é abundante em alguns trechos, principalmente nos fundos de vale (grota) onde a floresta também apresenta um maior desenvolvimento estrutural.

No interior da floresta são encontradas poucas lianas lenhosas, embora algumas apresentem caule de grosso diâmetro (figura 6). As principais famílias de cipós nessa área são Leguminosae, Sapindaceae e Malpighiaceae. Nas bordas essa forma de vida está mais presente, assim como árvores e arbustos de espécies pioneiras (Lorenzi 1998; 2002), como camará (Gochnatia polymorpha), cinco-folhas (Sparathosperma leucanthum), mululo (Aegiphila integrifolia) e aroeira (Schinus

142


terebinthifolius), evidenciando o efeito de borda decorrente da fragmentação na região.

Como indício da presença humana na “Área A” foi registrado apenas a retirada de raízes adventícias de aráceas para fazer corda (“cipó”) (figura 48). No entanto o gado bovino adentra em alguns trechos para o interior da mata, em busca de sombreamento. Essa situação representa um forte impacto para a floresta, em função do pisoteio dos animais sobre plântulas e espécies herbáceas do subbosque, assim como pela entrada de plantas daninhas a partir de propágulos oriundos das fezes ou do pêlo dos animais (figura 48).

a)

b)

c)

d)

Figura 58 - Aspectos da vegetação do remanescente florestal da “Área A” na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) liana de grande porte; b) borda de trecho secundário, com abundância de lianas; c) raízes adventíceas de arácea retirada para fazer corda; d) evidência de outro impacto antrópico: fezes bovinas no interior do remanescente florestal.

143


De acordo com informações de moradores antigos da região o fragmento da “Área A” nunca foi cortado, mas é provável que tenha sido realizado corte seletivo para exploração de madeiras de maior valor comercial. A ausência de representantes de grande porte de espécies enquadradas nesse critério corrobora essa hipótese.

Considerando o histórico da área e os aspectos florístico e fitofisionômico atuais do fragmento denominado “Área A”, bem como sua posição geográfica, conclui-se tratar de um remanescente com vegetação de Floresta Estacional Semidecidual em estágio avançado de regeneração, que predomina em grande parte desse fragmento florestal.

No entanto, alguns pontos da “Área A”, principalmente nas bordas, encontra-se com menor desenvolvimento estrutural e com composição florística formada quase que exclusivamente por espécies pioneiras. Nesse caso, esses trechos deveriam ser classificados como em estágio médio de regeneração.

3.1.2. Remanescente “Área B” A “Área B”, por sua vez, representa um remanescente florestal em excelente estado de conservação, sem evidências de interferências antrópicas atuais e com grande desenvolvimento estrutural.

A vegetação apresenta porte arbóreo com presença marcante de diferentes estratos, sendo o superior (dossel) atingindo alturas entre 15-20 m, com exemplares emergentes de até 30m (figura 49). A maior parte das árvores apresentam diâmetro variando entre 20-40cm, sendo alguns superiores a 120 cm. No estrato superior são comuns os angicos (Anadenanthera macrocarpa, A. peregrina, Albizia polycephala), a sapucaia (Lecythis pisonis), o aderne (Astronium graveolens), inuíba vermelha (Lecythis lurida), dentre outras. Os estratos médio e inferior são bem estruturados e diversificados, com muitos indivíduos pertencentes à espécies do dossel ou próprios dessas sinúsias (figura 49), com destaque para os representantes das famílias Rutaceae (Erythrochiton

144


brasiliensis, Esenbeckia grandiflora, Rauia sp), Rubiaceae (Faramea oligantha, Simira sp), Myrtaceae (Campomanesia sp), Marantaceae (Maranta incrassata, Saranthe leptostachya) , Acanthaceae (Justicia spp) e Bromeliaceae (Aechmea chlorophylla) (figura 49).

a)

b)

c)

d)

Figura 59 - Aspectos da vegetação do fragmento florestal na “Área B” na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) aspecto geral do fragmento; b) detalhe da borda da floresta; c) estrato interior da floresta; d) planta herbácea do sub-bosque: Griffinia sp.

O epifitismo é relativamente comum nesse fragmento florestal, representado principalmente pelas famílias Bromeliaceae (Aechmea multiflora, Bilbergia sp, Tillandsia stricta, T. usneoides,), Araceae (Monstera adansonii, Anthurium coriaceum), Cactaceae (Epiphyllum sp, Riphsalis sp) e Orchidaceae (Cyrtopodium gigas) (figura 50).

145


A presença de liana é pouco expressiva, até mesmo nas bordas. Porém são, normalmente, de grosso diâmetro e pertencentes às famílias Bignoniaceae, Sapindaceae e Menispermaceae (figura 50).

Em relação à outros aspectos fisionômicos da floresta na “Área B”, destaca-se a grossa camada de serapilheira no solo, ao longo de todo o trecho percorrido, condição inicial para o desencadeamento dos processos de decomposição da matéria orgânica e ciclagem de nutrientes, que representam o estoque potencial de nutrientes para a vegetação de florestas tropicais (Louzada et al. 1995).

Conforme mencionado anteriormente, a antropização no remanescente florestal da “Área B” é pouco evidente, pelo menos no trecho percorrido durante o presente estudo, na face noroeste do remanescente. No interior da floresta existem poucas trilhas e sem indícios recentes da presença humana. No entanto foram registrados alguns indivíduos de grande porte com o tronco cortado simetricamente, o que evidencia o uso de equipamentos específico de corte (figura 8). De acordo com suas características morfológicas, alguns desses troncos foram identificados como pertencentes à espécie Melanoxylon brauna (braúna). Isto confirma a informação de moradores antigos no local que mencionaram ter havido corte seletivo de madeira nos remanescentes em estudo.

146


a)

b)

c)

d)

Figura 60 - Vegetação do remanescente florestal na “Área B” - Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) exemplo do epifitismo no local; b) bromélia epífita: Aechmea multiflora; c) liana comum no sub-bosque: Abuta sp; d) exemplar de grande porte de braúna (Melanoxylon brauna) cortado.

A partir do histórico da área e das características florísticas e fitofisionômicas atuais da “Área B”, bem como sua posição geográfica, conclui-se tratar de um remanescente com vegetação de Floresta Estacional Semidecidual em estágio avançado de regeneração.

3.2. Flora As três campanhas de campo totalizaram oito dias de campo, sendo coletadas 278 plantas. Esse valor representa um aumento substancial no registro de plantas para a região, que era de apenas nove amostras (tabela 12), de acordo com a consulta aos principais herbários do Brasil e alguns do exterior pelo sistema SpeciesLink. Dessas

147


plantas, anteriormente coletadas na região, duas estão depositadas no herbário do Jardim Botânico de Nova Iorque (NY) e sete no Museu de Biologia Prof. Mello Leitão (MBML), todas da família Arecaeae (tabela 12).

Além dessas 278 amostras documentadas, outras 29 espécies foram incluídas na atual listagem, decorrentes das plantas observadas nas campanhas de campo (tabela 12). Apesar de essas espécies apresentarem ampla distribuição geográfica e serem freqüentes nos ecossistemas onde ocorrem, inclusive no território capixaba (Assis et al. 2004a; Thomaz e Monteiro 1997; Peixoto et al. 1998), deve-se empregar esforços na tentativa de coletá-las e incorporá-las ao acervo do herbário, para que fiquem legalmente registradas e disponíveis para futuras consultas.

A lista de espécies registradas para a Fazenda do Ouvidor, no município de Itapemirim (ES), é composta por 268 espécies distribuídas em 76 famílias (tabela 12). As principais famílias em número de espécies são Leguminosae (30), Rubiaceae (18), Bignoniaceae (14), Euphorbiaceae e Sapindaceae (9 cada), Arecaceae,

Bromeliaceae,

Moraceae,

Myrtaceae

e

Rutaceae

(8

cada)

e

Apocynaceae, Araceae e Piperaceae (6 cada) (tabela 12) (figura 51).

Ao todo, essas 13 famílias agrupam, aproximadamente, a metade das espécies encontradas no local de estudo, enquanto cerca de 10% das famílias (26) aparecem com apenas 1 espécie cada. A ocorrência de várias famílias com poucas espécies é comum em outras florestas costeiras (Assis et al., 2004a; Jesus & Rolim, 2005; Thomaz & Monteiro, 1997) e evidenciam uma característica desses ambientes tropicais de apresentarem grande diversidade de espécies. Tabela 16 - Lista de plantas registradas para a Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). (Porte: Ar= árvore; Arb= arbusto; Ep= epífita; Esc= escandente; Hem= hemiepífita; Her= herbácea; Lia= liana; Pal; palmeira; Par= parasita. Origem: c= coletada nas campanhas de campo; h= depositada em herbário; o= observada; Nº Col: número de coleta de A. M. Assis). # = espécie ameaçada de extinção; § ( ) = restrita/endêmico aos Estados entre parênteses Família

Acanthaceae

Amaryllidaceae Anacardiaceae

Espécies Aphelandra hirta (Klotzsch) Wassh. # § Justicia brandegeana Wassh. & Lor. B. Sm. Justicia sp1 Justicia sp2 Ruellia sp Griffinia sp Astronium graveolens Jacq. Schinus terebinthifolius Raddi

148

Porte Her Her Her Esc Her Her Ar Arb

Origem c c c c c c o c

N° Col 1360 1451 1425 1441 1249 1466 1310


Família

Annonaceae

Apocynaceae

Araceae

Arecaceae

Aristolochiaceae Asclepiadaceae Asteraceae Begoniaceae

Bignoniaceae

Bombacaceae

Boraginaceae

Bromeliaceae

Burseraceae

Cactaceae

Capparaceae

Espécies Spondias mobin L. Tapirira guianensis Aubl. Xylopia sp Rauvolfia grandiflora Mart. sp1 sp2 sp3 sp4 Tabernomontana sp Anthurium aff. harrisii G. Don Anthurium coriaceum G. Don # Heteropsis oblongifolia Kunth Monstera adansonii (Schott) Madison Philodendron glaziovii J. D. Hooker § Philodendron pedatum (W. J. Hooker) Kunth Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret Attalea humilis Mart. ex Spreng. Bactris caryotifolia Mart. Bactris pickelli Burret # Bactris setosa Mart. Desmoncus orthacanthos Mart. Desmoncus polyacanthus Mart. Geonoma elegans Mart. Aristolochia sp1 Aristolochia sp2 sp1 sp2 Gochnatia polymorpha (Less.) Cabrera Begonia hirtella Link. # Adenocalyma sp1 Adenocalyma sp2 Arrabidaea conjugata (Vell.) Mart. Clytostoma sp1 Clytostoma sp2 Jacaranda sp Lundia sp Phryganocydia corymbosa Bureau ex K.Schum. sp1 sp2 sp3 Sparathosperma leucanthum (Vell.) K. Schum. Tabebuia cassonoides (Lam.) DC. Tabebuia sp Eriotheca macrophylla (K. Schum.) A. Robyns Cordia taguahyensis Vell. Cordia tricloclada DC. Heliotropium sp Tournefortia sp1 Tournefortia sp2 Acanthostachys strobilacea (Schultes f.) Klotzsch Aechmea chlorophylla L. B. Smith § Aechmea multiflora L. B. Sm. Bilbergia sp Bromelia antiacantha Bertol Cryptanthus sp Tillandsia stricta Sol. ex Sims Tillandsia usneoides (L.) L. Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Brasilopuntia brasiliensis (Willd.) A. Berger Epiphyllum sp Pereskia aculeata Miller Pereskia grandifolia Hawarth Riphsalis sp Capparis sp1

149

Porte Ar Arb Ar Arb Lia Lia Lia Lia Arb Ep Ep Hem Ep Her Hem Ar Pal Pal Pal Pal Esc Pal Pal Lia Lia Lia Lia Arb Her Lia Lia Lia Lia Lia Ar Lia Lia Lia Lia Lia Ar Ar Ar Ar Arb Arb Her Arb Arb Ep Her Ep Ep Ep Her Ep Ep Arb Arb Ep Ep Ar Ep Arb

Origem c c c c c c c c c c c c c c c o h h c h c h c c c c c c c c c c c c c c c c c c o c o c c c c c c c c c o o o c o c c o o c o c

N° Col 1476 1250 1384 1217 1412 1432 1438 1223 1263 1365 1277 1257 1189 1427 1193 1454 1434 1352 1326 1461 1262 1297 1252 1212 1260 1423 1488 1325 1443 1251 1219 1307 1203 1407 1473 1246 1294 1318 1300 1354 1218 1237 1284 1421 1428 1197 1272 1375 1416 1265


Família

Caricaceae Cecropiaceae

Celastraceae

Chrysobalanaceae Clusiaceae Commelinaceae Convolvulaceae Cucurbitaceae Eleocarpaceae Erythroxylaceae

Euphorbiaceae

Flacourtiaceae

Heliconiaceae Hernandiaceae Hippocrateaceae Labiatae Lauraceae

Lecythidaceae

Leguminosae Caesalpinoideae

Leguminosae Faboideae

Espécies Capparis sp2 Crataeva tapia L. Jacaratia spinosa (Aubl.) A. DC. Cecropia glaziouvi Snethlage Cecropia hololeuca Miq. Cecropia pachystachya Trécul Coussapoa microcarpa (Schott) Rizzini Maytenus aquifolia Mart. Maytenus cestrifolia Reiss. § Maytenus cf. obtusifolia Mart. Maytenus sp Licania sp1 Licania sp2 Vismia brasiliensis Choisy Dychorisandra sp1 Dychorisandra sp2 Ipomoea sp sp Wilbrandia sp Sloanea sp1 Sloanea sp2 Erythroxylum sp Erythroxylum squamatum Sw. Actinostemon sp Joannesia princeps Vell. Paradrypetes ilicifolia Kuhlm. § Pera glabrata (Schott.) Baill. Pera sp Senefeldera verticillata (Vell.) Croizat sp1 sp2 sp3 Banara sp Carpotroche brasiliensis Endl. Carpotroche sp Casearia sylvestris Swartz Prockia crucis L. Heliconia spatocircinata Aristeg. Sparanthanthelium botocudorum Mart. Cheiloclinium sp sp Salvia sp sp1 sp2 sp3 Couratari asterotricha G. T. Prance # § Lecythis lurida (Miers) Mori Lecythis pisonis (Camb.) Miers Bauhinia longifolia (Bong.) Stend. Bauhinia ovata (Bong.) Vog. Caesalpinia ferrea Mart. Chamaecrista ensiformis (Vell.) H. S. Irwin & Barneby Chamaecrista sp Martiodendron mediterraneum (Mart. ex Benth.) Köppen Melanoxylon brauna Schott # Moldenhawera floribunda Schrad. Schizolobium parahyba (Vell.) S.F. Blake Senna sp sp Andira fraxinifolia Benth. Andira legalis (Vell.) Toledo Dalbergia nigra (Vell.) Allemao ex Benth. # Dioclea sp

150

Porte Arb Ar Ar Ar Ar Arb Arb Arb Arb Arb Arb Ar Arb Arb Her Her Lia Lia Lia Ar Ar Arb Arb Arb Ar Ar Ar Arb Ar Ar Arb Arb Ar Arb Arb Arb Arb Her Arb Arb Lia Her Ar Arb Arb Ar Ar Ar Ar Ar Ar Arb Arb Ar Ar Ar Ar Arb Ar Ar Ar Ar Lia

Origem c c c o c c c c c c c c c o c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c o c o c c o c c c o c o c c o o c c

N° Col 1244 1232 1373 1436 1248 1283 1364 1458 1235 1233 1419 1204 1351 1359 1313 1256 1321 1340 1455 1374 1303 1207 1192 1435 1491 1332 1201 1385 1270 1462 1276 1440 1208 1202 1383 1342 1302 1239 1298 1381 1241 1324 1430 1330 1474 1485 1312 1483 1315 1316 1266 1444 1205 1329


Família

Leguminosae Mimosoideae

Leguminosae Mimosoideae Loganiaceae Loranthaceae Malpighiaceae Malvaceae Marantaceae

Melastomataceae Meliaceae Menispermaceae

Moraceae

Myristicaceae Myrsinaceae

Myrtaceae

Nyctaginaceae Olacaceae Orchidaceae Passifloraceae Phytolaccaceae Piperaceae

Espécies Machaerium ovalifolium Glaz. ex Rudd Swartzia apetala Raddi Swartzia simplex (Raddi) Cowan Zollernia sp Abarema sp Affonsea densiflora Benth. § Albizia polycephala (Benth.) Killip Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Anadenanthera cf. macrocarpa (Benth.) Brenan Anadenanthera peregrina (L.) Speg. Inga capitata Desv. Inga edulis Mart. Inga sp Piptadaenia gonoacantha (Mart.) J. F. Macbr. Plathymenia reticulata Benth. Strychos sp Psittacanthus dichrous Mart. Byrsonima sp Heteropterys chrysophylla Kunth Heteropterys coleoptera Adr. Juss. Tetrapterys lalandiana Adr. Juss. # § Pavonia sp Calatea monophylla Koern. # § Calatea sp Maranta incrassata L. Andersson § Saranthe leptostachya Eichl. § Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin Miconia sp Trichilia hirta L. Abuta sp Chondodendron platyphyllum (A. St. Hil.) Miers § Brosimum alicastrum Swartz Brosimum lactescens (S. Moore) C. C. Berg Clarisia sp Dorstenia sp Ficus clusiifolia Schott Ficus sp Ficus trigona L. f. Sorocea guilleminiana Gaudich. Virola bicuhyba (Schott) Warb. Myrsine sp Campomanesia sp1 Campomanesia sp2 sp1 sp2 sp3 sp4 sp5 sp6 Guapira opposita (Vell.) Reitz Leucaster caniflorus Choisy § Ramisia brasiliensis Oliv. Heisteria perianthomega (Vell.) H.O. Sleumer sp Cyrtopodium gigas (Vell.) Hoehne # Galeandra beyrichii Rchb. f. # Oeceoclads maculata (Lindl.) Lindl. Passiflora edmundoi Sacco Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms Seguieria sp Ottonia sp Piper amalago L. Piper arboreum Aubl. Piper sp1

151

Porte Ar Ar Ar Arb Arb Ar Ar Ar Ar Ar Arb Ar Ar Ar Ar Arb Par Arb Lia Lia Lia Her Her Her Her Her Arb Arb Arb Lia Lia Ar Ar Arb Her Ar Ar Ar Ar Ar Arb Arb Ar Arb Arb Arb Arb Ar Arb Ar Esc Ar Arb Arb Ep Her Her Lia Ar Esc Her Arb Arb Arb

Origem c c c c c c c c c o c c c o c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c o o c c c c c c c c c h o c c c c c c o c c c c c

N° Col 1437 1487 1450 1238 1322 1213 1482 1299 1409 1226 1194 1369 1431 1288 1311 1210 1258 1308 1309 1349 1362 1190 1467 1475 1449 1281 1229 1327 1334 1289 1209 1363 1357 1291 1268 1225 1269 1295 1469 1459 1293 1282 1358 1278 1261 1206 1286 1415 1470 1465 1378 1492 1489 1338 1195 1317 1191


Família

Poaceae Polygalaceae Polygonaceae

Rubiaceae

Rutaceae

Sapindaceae

Sapotaceae Simaroubaceae Smilacaceae Solanaceae Sterculiaceae Tiliaceae Trigoniaceae Ulmaceae

Verbenaceae

Espécies Piper sp2 Piper tuberculatum Jacq. Pharus lappulaceus Aubl. Pharus latifolius L. sp Bredemerya sp Coccoloba sp Alibertia sp Alseis floribunda Schott Coccocypselum sp Coutarea hexandra (Jacq.) K. Schum. Faramea aff. pachyantha Muell. Arg. Faramea oligantha Muell. Arg. § Geophila repens (L.) I.M. Johnst. Melanopsidium nigrum Colla Palicourea sp Psychotria deflexa DC. Psychotria octocuspis Muell. Arg. § Psychotria sp Randia armata DC. Rudgea reflexa Zappi # § Simira sp sp1 sp2 Tocoyena formosa K.Schum. Almeidea rubra A. St. Hil. Conchocarpus sp Dictyoloma vandellianum Adr. Juss. Erythrochiton brasiliensis Nees & Mart. Esenbeckia grandiflora Mart. Galipea sp Ravenia infelix Vell. Alophyllus edulis Radlk. ex Warm. Cupania racemosa (Vell.) Radlk Matayba sp Paullinia meliifolia Juss. Paullinia rubiginosa Camb. Paullinia trigonia Vell. Serjania caracasana (Jacq.) Willd. sp1 sp2 Chrysophyllum splendens Spreng. Manilkara sp sp1 sp2 Picramnia sp Herreria sp Smilax spicata Vell. # § Brunfelsia hydrangeiformis (Benth.) Plowman Brunfelsia uniflora D. Don Solanum asperum Rich. Pterygota brasiliensis F. Allem. Luehea grandiflora Mart. & Zucc. Luehea sp Trigonia nivea Cambess. Trigonia rytidocarpa Casar. Celtis sp1 Celtis sp2 Trema micrantha (L.) Blume Aegiphila integrifolia (Jacq.) B.D. Jacks. Aegiphila sp1 Aegiphila sp2 Lantana cf. brasiliensis Link

152

Porte Arb Arb Her Her Her Arb Ar Arb Ar Her Arb Arb Arb Her Ar Arb Arb Arb Arb Arb Arb Ar Her Arb Arb Arb Arb Arb Arb Arb Ar Arb Arb Arb Ar Lia Lia Lia Lia Ar Lia Arb Ar Ar Ar Esc Lia Lia Her Arb Arb Ar Arb Arb Arb Lia Arb Esc Arb Arb Esc Arb Arb

Origem c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c o c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c c o c c c c c c c c c c c

N° Col 1196 1339 1254 1366 1446 1215 1460 1247 1274 1379 1273 1468 1413 1414 1335 1240 1347 1368 1453 1442 1377 1478 1242 1275 1279 1371 1463 1353 1319 1367 1457 1271 1411 1304 1230 1198 1406 1199 1243 1484 1216 1486 1245 1341 1464 1429 1350 1337 1320 1296 1331 1285 1323 1314 1255 1481 1236 1200 1301 1424 1380


Família Violaceae Vitaceae Vochysiaceae

Espécies Anchietea sp Cissus erosa Rich. Vochysia sp sp1 sp2 sp3

Indeterminada

Porte Lia Lia Ar Lia Arb Arb

Outras

N° Col 1221 1433 1439 1370 1267

131

Pip

6

Arac

6

Apoc

6 7

Rut

Famílias

Origem c c o c c c

M yrt

8

M or

8

Brom

8

Arec

8

Sapi

9

Euph

9

Big

14

Rub

18

Leg

30

0

20

40

60

80

100

120

140

Nº de Espécies

Figura 61 - Distribuição do número de espécies dentre as principais famílias de plantas da Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). (Legenda: Leg= Leguminosae; Rub= Rubiaceae; Big= Bignoniaceae; Euph= Euphorbiaceae; Sapi= Sapindaceae; Arec= Arecaceae; Brom= Bromeliaceae; Mor= Moraceae; Myrt= Myrtaceae; Rut= Rutaceae; Apoc= Apocynaceae; Arac= Araceae; Pip= Piperaceae).

Dentre as 268 espécies registradas nos remanescentes da “Área A” e “Área B” da Fazenda do Ouvidor, a maioria é de porte arbustivo e arbóreo, seguido pelas lianas e herbáceas (figura 52). Esses resultados vão de encontro à relação das famílias com maior riqueza, a exemplo das três de maior riqueza (figura 51), que apresentaram a maioria de suas espécies com porte arbóreo, arbustivo e como lianas, respectivamente (tabela 12). Também são indicativos da maior diversidade nos estratos médio e superior, e da importância das lianas nas sinúsias dessa floresta estacional, sobretudo nas borda dos remanescentes.

A pouca expressão de epífitas na área (figura 52) pode ser considerada normal, uma vez que em florestas estacionais semideciduais a condição climática e a conseqüente resposta fisiológica das plantas (caducifoilia), contribuem para o aumento da temperatura e diminuição da umidade no interior dessas formações florestais, condições estas desfavoráveis para o estabelecimento de epífitas (Assis et al. 2007). 153


Hem 0,7%

Her 11,4%

Esc Ep Pal 2,2% 3,0% 1,1% Arb 39,1%

Lia 16,2% Par 0,4%

Ar 25,8%

Figura 62 - Distribuição das espécies registradas na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES), de acordo com seu porte. (Legenda: Ar= árvore; Arb= arbusto; Ep= epífita; Esc= escandente; Hem= hemiepífita; Her= herbácea; Lia= liana; Pal; palmeira; Par= parasita).

Os resultados obtidos no presente estudo estão de acordo com a tendência apresentada em florestas estacionais semideciduais. Leitão-Filho (1987) indica, como principais famílias do componente arbóreo, Fabaceae (= Leguminosae), Meliaceae, Rutaceae, Euphorbiaceae, Lauraceae e Myrtaceae e, para os estratos inferiores, as famílias Rubiaceae, Myrtaceae, Euphorbiaceae e Rutaceae.

O levantamento fitossociológico realizado por Archanjo (2008) na Floresta Nacional de Pacotuba e na Reserva Particular do Patrimônio Natural Cafundó, ambas em Cachoeiro de Itapemirim e representando a floresta estacional semidecidual sul capixaba, as famílias arbóreas mais ricas foram Fabaceae (=Leguminosae), Sapotaceae, Euphorbiaceae, Myrtaceae e Meliaceae.

Dentre as outras famílias que se destacaram pela elevada riqueza na Fazenda do Ouvidor e que não estão presentes na lista dos autores loc. cit., novamente aparecem com destaque as espécies trepadeiras (liana), que formam a maioria das Bignoniaceae e Sapindaceae do local de estudo, contribuindo para o aumento do número de espécies dessas famílias (figura 52).

A outra família em destaque, Arecaceae, pode ter sua posição dentre as mais ricas, favorecida pelo esforço concentrado de coleta, em função do estudo acadêmico que 154


foi realizado com a mesma, e que contou com a Fazenda do Ouvidor como um dos locais de coleta (Fernandes 1995). Esse fato pode ser comprovado pelas espécies que já estavam depositadas em herbário pertencentes a essa família (tabela 12).

Por outro lado, Peixoto e Gentry (1990) indicam o predomínio de lianas da família Bignoniaceae e das palmeiras (Arecaceae) como característica de floresta neotropicais úmidas de baixada, o que também poderia ser uma característica própria dessa floresta, apesar de seu regime estacional.

Comparando as famílias com maior número de espécies na Fazenda do Ouvidor e outras áreas de Mata Atlântica, verifica-se maior semelhança entre os ambientes com a estação seca pronunciada (floresta estacional semidecidual) (tabela 2), e o predomínio de Leguminosae em todas essas áreas e até mesmo em ambientes mais úmidos, como na Estação Biológica de Santa Lúcia e na Ilha do Cardoso, onde a mesma ocupa a 4ª e 3ª posição, respectivamente, dentre as famílias mais ricas (tabela 13).

Asteraceae apareceu com destaque em quase todas as áreas comparadas, mas não na Fazenda do Ouvidor (tabela 13), isso pode estar relacionado com a característica reprodutiva da família, que apresenta síndromes de dispersão anemocórica (Barroso et al., 1999) e, plantas com esse tipo de estratégia reprodutiva, normalmente florescem e frutificam na estação seca (Yanamoto et al., 2007).

A região onde está localizada a Fazenda apresenta período mais seco entre os meses de julho a setembro, e, portanto, fora da época em que o presente estudo foi realizado (dezembro a março), em plena estação chuvosa (INCAPER/NEPUT 1999). Portanto, a coleta de mais indivíduos dessa família somente ocorreria alguns meses mais tarde, na estação seca. Além disso, essas plantas não são de fácil identificação a partir da morfologia externa (Barroso et al. 1991b) e, dessa forma, não figuram na listagem como “observadas”. Tabela 17 - Dez famílias com maior número de espécies na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES) e outras áreas do Bioma Mata Atlântica no sudeste brasileiro. (Águia Branca – Fernandes et al. 2007; EBC+PERD= Estação Biológica de Caratinga e Parque Estadual do Rio Doce - Lombardi e Gonçalves 2000; RFL = Reserva Florestal de Linhares – Peixoto et al. 1998; EBSL = Estação Biológica de Santa Lúcia - Fernandes e Assis 2001; Ilha do Cardoso –

155


Barros et al. 1991). FES = Floresta Estacional Semideicual; FEP = Floresta Estacional Perenifólia; FOD = Floresta Ombrófila Densa Águia Branca- ES (FES)

EBC+PERD - MG (FES)

RFL - ES (FEP)

EBSL - ES (FOD)

Ilha do Cardoso SP (FOD)

Leguminosae (27)

Leguminosae (125)

Myrtaceae (113)

Orchidaceae (119)

Orchidaceae (118)

Myrtaceae (26)

Rubiaceae (69)

Leguminosae (110)

Bromeliaceae (71)

Myrtaceae (70)

Bromeliaceae (25)

Asteraceae (51)

Orchidaceae (88)

Myrtaceae (55)

Leguminosae (63)

Orchidaceae (24)

Bignoniaceae (49)

Rubiaceae (59)

Leguminosae (42)

Poaceae (57)

Sapindaceae (9)

Rubiaceae (20)

Myrtaceae (39)

Asteraceae (46)

Arecaceae (9)

Bignoniaceae (19)

Faz. Ouvidor ES (FES) Leguminosae (30) Rubiaceae (18) Bignoniaceae (14) Euphorbiaceae (9)

Bromeliaceae (8)

Melastomataceae (18)

Euphorbiaceae (35) Solanaceae (33) Melastomataceae

Melastomataceae (33)

Rubiaceae (50)

Bignoniaceae (40)

Rubiaceae (30)

Asteraceae (43)

Sapotaceae (40)

Lauraceae (29)

Bromeliaceae (41)

Sapindaceae (38)

Arecaceae (28)

Cyperaceae (39)

Moraceae (8)

-

Myrtaceae (8)

-

Malpighiaceae (21)

Rutaceae (8)

-

Moraceae (19)

Lauraceae (37)

Asteraceae (17)

Piperaceae (26)

Total: 268

381

1.048

1.403

784

985

(31)

Euphorbiaceae (38)

Sapotaceae (24)

Melastomataceae (34)

Os resultados das outras áreas comparativas (tabela 13) representam o esforço de levantamentos florísticos realizados ao longo de vários anos de coleta, além desses locais apresentarem uma área amostral superior ao do estudo na Fazenda do Ouvidor e com mais formações vegetais (Fernandes e Assis 2001; Lombardi e Gonçalves 2000; Peixoto et al. 1998), o que poderia explicar a maior riqueza desses estudos. O levantamento em Águia Branca, no norte do Espírito Santo, mostrou riqueza próxima ao do presente estudo, porém os resultados apresentados para aquela região são preliminares (Fernandes et al. 2007) e, portanto os números podem ser superiores aos atuais.

Essas análises devem ser realizadas com certa cautela em função do esforço amostral no presente trabalho que, devido à característica desse tipo de estudo, foi concentrado em poucos meses e, como indicado nos parágrafos anteriores, não permitiu a coleta de algumas espécies cuja floração e frutificação se dá em meses além do período em que ocorreram as coletas.

156


O pouco tempo de estudo também pode ter contribuído para o alto número de plantas que não tiveram sua identificação completa. Apenas 56% das 268 espécies foram identificadas em nível específico, tendo ainda 31% identificadas apenas em gênero, 12% em família e 1% ficaram completamente indeterminadas (tabela 12). Dentre as plantas não determinadas até espécie, estão algumas famílias muito diversificadas e de difícil identificação (Barroso et al. 1991b; 1999; 2002), como Euphorbiaceae, Lauraceae e Myrtaceae, que necessitam, portanto, de serem analisadas por especialistas.

Essa problemática na identificação botânica é recorrente em estudos no Espírito Santo (Thomaz e Monteiro 1997; Fernandes e Assis 2001), e foi abordada por Assis (2007) que indica, dentre os fatores que contribuem na dificuldade de estudo com plantas nesse estado, a baixa representatividade em herbário de exemplares de alguns ecossistemas, como a floresta estacional semidecidual, que está relacionado ao conhecimento, atualmente, insuficiente sobre a flora desses ambientes.

A realização de coletas englobando os demais meses do ano permitiria também o registro de espécies que foram apenas observadas, como a sapucaia (Lecythis pisonis), que se apresenta fértil ao final da estação seca (Lorenzi 2002). Dessa forma a riqueza da Fazenda do Ouvidor tenderia a aumentar e a representatividade das famílias e espécies seria mais próxima à realidade local.

Dentre as 268 espécies registradas nos remanescentes da “Área A” e “Área B” da Fazenda do Ouvidor, estão presentes 13 (4,8 % do total) ameaçadas de extinção no estado do Espírito Santo conforme listas oficiais, sendo a maioria enquadrada no menor grau de ameaças (Fraga et al. 2007), ou seja, como “Vulnerável” (tabela 3) (figura 53).

Tabela 18 - Relação das espécies identificadas como ameaçadas de extinção, conforme legislação Estadual e Federal, na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES). EP = Em Perigo; V = Vulnerável; CP = Criticamente em Perigo

Família Acanthaceae Araceae Arecaceae

Espécies Aphelandra hirta Anthurium coriaceum Bactris pickelli

157

Porte Her Ep Pal

Status VU VU VU


Begoniaceae Lecythidaceae Leguminosae Caesalpinoideae Leguminosae Faboideae Malpighiaceae Marantaceae Orchidaceae Orchidaceae Rubiaceae Smilacaceae

Begonia hirtella Her Couratari asterotricha Ar

EP EP

Melanoxylon brauna

Ar

CP

Dalbergia nigra Tetrapterys lalandiana Calatea monophylla Cyrtopodium gigas Galeandra beyrichii Rudgea reflexa Smilax spicata

Ar Lia Her Ep Her Arb Lia

VU* VU VU VU VU EP EP

* apenas na Lista Nacional IBAMA - 1992 A espécie com maior grau de ameaça de extinção, conforme parâmetros utilizados no estabelecimento da Lista Oficial (Fraga et al., 2007), dentre as 13 registradas para a Fazenda do Ouvidor (tabela 14), é Melanoxylon brauna, classificada como Criticamente em Perigo. Essa espécie ocorre com certa abundância e dominância em outros ecossistemas capixabas, como nas Florestas de Tabuleiro no norte do Estado (Rizzini e Garay 2004; Jesus e Rolim 2005), porém foi muito explorada pelas propriedades de sua madeira, razão pela qual apresenta esse status de conservação no estado do Espírito Santo (Kollmann et al. 2007).

As demais espécies ameaçadas de extinção registradas na Fazenda do Ouvidor também ocorrem em outros ecossistemas capixabas, como as restingas: Cyrtopodium gigas (Assis et al., 2004b); floresta ombrófila densa: Anthurium coriaceum, Aphelandra hirta, Calathea monophylla, Galeandra beyrichii (Kollmann et al. 2007b); floresta estacional semidecidual: M. brauna, Dalbergia nigra (Archanjo 2008) e floresta estacional perenifólia (Tabuleiro): Couratari asterotricha, Bactris pickelli, M. brauna, D. nigra (Peixoto et al. 1998).

158


a)

b)

c)

d)

Figura 63 - Espécies ameaçadas de extinção no estado do Espírito Santo ocorrentes na Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES): a) Aechmea multiflora (Bromeliaceae); b) Galeandra beyrichii (Orchidaceae); c) Anthurium coriaceum (Araceae); d) Cyrtopodium gigas (Orchidaceae).

Pelo exposto, verifica-se que várias dessas espécies ameaçadas apresentam-se bem distribuídas ao longo do território capixaba, porém, de acordo com Kollmann et al. (2007a), a fragmentação dos ecossistemas é o principal fator de ameaça às angiospermas no estado do Espírito Santo. O cenário de isolamento causado pela fragmentação dificulta a reprodução entre as populações, acelerando a depreciação gênica, podendo levar à extinção das espécies (Primack e Rodrigues 2001). Para alguns grupos específicos, como Orchidaceae e Bromeliaceae, além desse fator 159


ainda existe a pressão extrativista com interesse comercial que leva à várias espécies dessas famílias a estarem ameaçadas (Kollmann et al. 2007a).

Dentro do mesmo enfoque conservacionista, foi identificada a presença, na Fazenda do Ouvidor, de 17 espécies (6,3 % do total) que apresentam distribuição geográfica restrita (tabela 15). Dentre essas, algumas apresentam Endemismo Local, pois ocorrem apenas no estado do Espírito Santo (Couratari asterotricha, Calatea monophylla, Rudgea reflexa), enquanto em outras predomina os padrões Endemismo Regional (Sudeste), como Philodendron glaziovii, Maytenus cestrifolia, Paradrypetes ilicifolia, Tetrapterys lalandiana, Leucaster caniflorus, Smilax spicata, e Endemismo Pan-Atlântico, pois estendem-se até o estado da Bahia (Aphelandra hirta, Aechmea chlorophylla, Chondodendron platyphyllum, Psychotria octocuspis) (tabela 4). Tabela 19 - Espécies da Fazenda do Ouvidor, município de Itapemirim (ES), com distribuição geográfica restrita/endêmica, de acordo com sua distribuição pelos estados brasileiros, presente na base de dados de herbários nacionais e estrangeiro.

Família

Espécies

Acanthaceae Araceae Bromeliaceae Celastraceae Euphorbiaceae Lecythidaceae Leguminosae Mimosoideae Malpighiaceae Marantaceae Marantaceae Marantaceae Menispermaceae Nyctaginaceae Rubiaceae Rubiaceae Rubiaceae Smilacaceae

Aphelandra hirta Philodendron glaziovii Aechmea chlorophylla Maytenus cestrifolia Paradrypetes ilicifolia Couratari asterotricha Affonsea densiflora Tetrapterys lalandiana Calatea monophylla Maranta incrassata Saranthe leptostachya Chondodendron platyphyllum Leucaster caniflorus Faramea oligantha Psychotria octocuspis Rudgea reflexa Smilax spicata

Ocorrência (Estado) RJ-MG-ES-BA SP-RJ-ES ES - BA SP - RJ - ES MG - ES ES BA SP - RJ - ES ES TO RJ RJ - MG - BA RJ - ES - MG BA RJ-ES-BA ES SP - RJ

Há casos, ainda, de plantas que não haviam sido coletadas no Espírito Santo (Affonsea

densiflora,

Maranta

incrassata,

Saranthe

leptostachya,

Faramea

oligantha), representando, dessa forma, os primeiros registros dessas espécies no

160


estado (tabela 15), e, consequentemente, a ampliação de sua área de ocorrência. Dentre essas, ressalta-se M. incrassata que possui distribuição geográfica com padrão Disjunto (Mori et al. 1981), pois há registros dessa planta apenas em um estado brasileiro (TO), no bioma Cerrado, e, a mesma reaparece nos registros de herbário, na Mata Atlântica do Espírito Santo.

Outra espécie com situação peculiar é Paradrypetes ilicifolia que foi classificada como “Regionalmente Extinta” no estado do Espírito Santo, em virtude de ser somente conhecida pelo material tipo e não ter sido coletada nos últimos anos no Estado (Kolmman et al. 2007a). Há registro, na rede SpeciesLink, de coletas de P. ilicifolia realizadas em meados do século passado em Minas Gerais e Espírito Santo (décadas de 1920 a 1950), e recentemente (2003) essa espécie foi recoletada no estado mineiro e também registrada em algumas localidades do centro-norte do Espírito Santo, nos municípios de Linhares (Rolim et al 2006), Águia Branca e Santa Leopoldina (H. Q. B. Fernandes, comunicação pessoal).

Dessa forma, a coleta de Paradrypetes ilicifolia representa a ampliação da distribuição geográfica da espécie, expandindo para o sul do território capixaba, e deve contribuir para a reavaliação do status de conservação indicada para a mesma, que havia sido considerada “Regionalmente Extinta” (Kolmman et al. 2007a).

As informações a cerca da composição florística da Fazenda do Ouvidor deverão ser refinadas quando for possível a dedicação de um maior tempo para coleta e diagnóstico

das

espécies,

partindo

para

um

estudo

minucioso

de

suas

características morfológicas e também comparação com o acervo de outros herbários da região, além da possibilidade de envio de material à especialistas de certas famílias. Novamente aqui, reitera-se a necessidade em se ampliar o período de estudo, visando o conhecimento pleno de flora desses remanescentes de floresta estacional semidecidual.

161


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Fazenda do Ouvidor, localizada no município de Itapemirim, região sul do estado do Espírito Santo, apresenta-se como um dos últimos locais que apresentam remanescentes da floresta estacional semidecidual com extensão considerável, ou seja, a “Mata do Ouvidor”.

Os dois fragmentos estudados na região possuem vegetação em bom estado de conservação, classificadas como floresta estacional semidecidual secundária em estágio médio e avançado de regeneração, com pouca interferência antrópica e que resguarda espécies típicas desse ambiente. O levantamento florístico aponta um grande potencial de estudo para o local haja vista o curto espaço de tempo dedicado ao levantamento e os resultados encontrados, com 268 espécies e 71 famílias, sendo 13 espécies ameaçadas de extinção no estado do Espírito Santo.

Dentre as espécies registradas na “Mata do Ouvidor”, 17 apresentam-se como endêmicas, com distribuição geográfica restrita ao sudeste brasileiro e estado da Bahia ou exclusivas do Espírito Santo. Algumas dessas espécies são mencionadas apenas para outros estados da federação, representando seu primeiro registro no estado capixaba.

Ressalta-se ainda a coleta de uma espécie considerada “regionalmente extinta” para o estado do Espírito Santo, que contribuirá para a revisão do status de conservação dessa espécie e demonstra a importância da realização de inventários florísticos em áreas pouco estudadas no estado.

Tendo em vista o pouco conhecimento acerca da flora das florestas estacionais semideciduais no estado do Espírito Santo, seria recomendável a continuidade do estudo botânico no local, com a realização de levantamento florístico sistemático visando a formação de uma coleção de referência para esse ecossistema localizado

162


na região sul do estado. Para tal é aconselhado um período mínimo de um ano de estudo, de forma a abranger a variação climática existente no local.

A implementação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é de fundamental importância, pois irá auxiliar na conservação dos remanescentes florestais da região e, o presente estudo deve servir como subsídio na elaboração de seu plano de manejo, que indiscutivelmente, deveria conter, dentro dos seus programas, linhas de pesquisa enfocando inventários florístico e fitossociológico, bem como ações de educação ambiental, considerando o potencial da área em termos biológicos e conservacionista.

Ainda considerando a importância da “Mata do Ouvidor”, por sua extensão e bom, estado de conservação, outra ação passível de ser implementada é a coleta de sementes para a produção de mudas, não na RPPN propriamente dita, por ser uma atividade legalmente não permitida em RPPN, mas na área de reserva legal da propriedade. Com isso seriam fornecidos, a viveiros da região, material em abundância e geneticamente diverso de espécies típicas de ambientes da floresta estacional semidecidual, evitando o uso de plantas alóctones à esse ecossistema, em projetos de reflorestamento no sul do estado do Espírito Santo.

Os remanescentes da “Mata do Ouvidor” representam o maior bloco contínuo de floresta estacional semidecidual no sul do estado, e ainda conservam parte da diversidade desse importante, e fragmentado, ecossistema capixaba, merecendo todos os esforços possíveis no intuído de implementar sua conservação e possibilitar mais estudos sobre a fauna e flora regionais, ampliando, dessa forma, o conhecimento científico sobre as florestas estacionais no Espírito Santo.

A criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) na área da Fazenda do Ouvidor (Usina Paineiras), no município de Itapemirim, certamente contribuirá com a conservação da diversidade biológica local, principal objetivo dessa categoria de unidade de conservação, atendendo, dessa forma, a indicação da comunidade científica que indica essa região como prioritária para a conservação da biodiversidade e para a implantação de unidades de conservação no estado do Espírito Santo. 163


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