Artigo ConVivencia - Revista Senhor e Sem Hora - JAN-12

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IDOSO: gerando empregos e distribuição de renda por meio do turismo acessível Com tantas mudanças no perfil do consumidor idoso, o diretor da Tribeca - Congressos, feiras, viagens e incentivo, Maurício Cavichion, conversa com a Dra. Maria Luisa Trindade Bestetti, professora de gerontologia da USP, em sua visita a Porto Alegre.

O turismo, mercado em franca expansão, tem sido uma das alternativas utilizadas pelos idosos para se manterem ativos. Ao viajar, eles aproveitam o tempo livre para conhecer novos lugares, pessoas, culturas, fazer compras, além de se divertir e fazer novas amizades. Vale ressaltar a carência de roteiros de viagens focados e profissionais treinados e preparados para atender ao turista idoso, lacuna que o programa Convivência pretende preencher com a comercialização de roteiros temáticos para os idosos, onde o enfoque inicial será a dança. A temática dança, aliada a viagens, corresponde a 80% da expectativa de um programa de viagem, segundo os entrevistados em nossas pesquisas de sustentabilidade e viabilidade dos produtos Convivência. Por outro lado, o trade turístico (leia-se: bares, restaurantes, hotéis, pousadas, parques temáticos, empresas de transportes e demais atividades comerciais periféricas ligadas direta ou indiretamente à atividade turística) vê na população idosa um consumidor potencial para os períodos de baixa ocupação, diminuindo a sazonalidade, transformando empregos temporários em empregos fixos, contribuindo para a justa distribuição das divisas de nosso país. Mas será que estamos preparados para atender aos desejos e às necessidades dessa população? Os produtos e serviços oferecidos correspondem às expectativas desse novo perfil de idoso? Esses e outros tantos questionamentos se fazem necessários. Atender às demandas turísticas do público idoso exige do trade a oferta de produtos e serviços diferenciados. Mas só isto não basta, há que se pensar em investir num turismo baseado nos conceitos de desenho universal, que promova os princípios da acessibilidade, 16 | Senhor & Sem Hora | Nº 27

visando ao bem–estar e à segurança do idoso com vistas à fidelização desse cliente que costuma viajar em grupos e em qualquer época do ano. A acessibilidade no turismo com ênfase no idoso será tema para amplos debates e discussões durante a Conferência Internacional sobre o Idoso, que estaremos realizando na cidade de Gramado, de 10 a 13 de junho de 2012 (www.brasilidoso.com. br), onde a Profª. Dra. Maria Luisa Trindade Bestetti*, arquiteta e professora no curso de Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP), irá proferir a palestra – Hospedando o Idoso: projeto arquitetônico. Em visita recente à Tribeca – congressos, feiras, viagens e incentivo, o momento foi de troca de ideias e ampliação de informações sobre o tema e, a seguir, apresentamos alguns questionamentos feitos por nós para a Dra. Maria Luisa Trindade Bestetti. Cavichion: Em linhas gerais, como podemos visualizar a aplicação concreta dos conceitos de desenho universal e acessibilidade no setor do turismo? Dra. Maria Luisa: O Desenho Universal define conforto e segurança para todos, incluindo idosos, crianças menores de 6 anos, gestantes, obesos e pessoas com deficiência, entre outras com necessidades especiais. (...) Onde houver calçadas seguras, sinalização eficiente e mobiliário adequado, certamente estará um turista satisfeito. Cavichion: No Brasil, é a Lei 10.098/2000 que estabelece critérios básicos para a promoção da acessibilidade, e as normas gerais estão contidas na NBR 9050. Em sua opinião, esse material de referência é conhecido e observado pelo mercado do turismo? Dra. Maria Luisa: A lei foi um passo importante e foi necessário um tempo para sua assimilação.

Houve maior compreensão dos benefícios da acessibilidade e a obrigatoriedade de se criarem novas estruturas sob o conceito do Desenho Universal, com vistas à inclusão social e profissional. Portanto, esta é uma transformação que passa pelas barreiras físicas e, também, pelas atitudinais, pois o preconceito também pode ser um obstáculo significativo. Acessibilidade previne riscos e, portanto, pode prolongar o envelhecimento saudável e ativo. A NBR 9050 estabelece parâmetros mínimos e referências para o desenvolvimento de projetos de adequação em espaços físicos, atendendo às condições brasileiras. Sua importância reside na normatização dos dados, possibilitando uma melhor compreensão dos requisitos necessários para atendimento desta demanda. Cavichion: Em nossas conversas, você citou o empreendedorismo em gerontologia. Como isso pode ser visto no segmento turístico? Pode nos citar um exemplo? Dra. Maria Luisa: (...) No curso de Gerontologia da Universidade de São Paulo, onde formamos pesquisadores, produtores de serviços e gestores, enfatizamos a importância de que a escolha, seja qual for, deve considerar a criatividade e as habilidades de cada novo profissional. A formação abrangente do gerontólogo permite que seja um consultor para planos de ação relativos ao envelhecimento e à velhice. No segmento turístico, podemos considerar a preparação da equipe receptiva através de treinamento, a proposição de programas de entretenimento com alternativas e constantes revisões e a adequação de atividades intergeracionais. Cavichion: Para o empresário que está pensando em investir no turista idoso, por onde começar? De que forma a discussão desse tema na Conferência Internacional sobre o Idoso poderá contribuir para a qualificação do segmento e beneficiar o turista idoso? Dra. Maria Luisa: Destacaria a obtenção de assessoria com profissionais profundamente envolvidos com as questões da velhice, especialmente

porque ainda precisamos avançar mais na desmistificação dos preconceitos existentes. Também ratifico que, apesar da lei, o mais importante é compreender que pequenos investimentos podem garantir boa imagem, melhores serviços e menores prejuízos com incidentes indesejáveis. Além disso, uma ambiência colaborativa e positiva melhora o encontro entre funcionários e clientes que participam da experiência turística. Durante a Conferência abordaremos questões práticas, pois não bastam barras de apoio no banheiro e uso de pisos antiderrapantes. Pequenos cuidados com o mobiliário garantem maior prazer na permanência, além da segurança. Cores são estimulantes, mas podem se tornar desorientadoras se utilizadas em excesso. Desenhos em pisos ou falta de contraste em degraus podem provocar acidentes. Enfim, o idoso está cada dia mais exigente, já que a autonomia que a boa saúde lhe confere permite que escolha os serviços que melhor atendam às suas necessidades e desejos, o que justifica o investimento para recebê-lo com diferenciais marcantes. Por Maurício Cavichion

Diretor da Tribeca - congressos, feiras, viagens e incentivo. Presidente executivo do Convivência - Conferência Internacional sobre o Idoso e Feira de Produtos, Serviço, Tecnologias e Bem-estar.

*Profa. Dra. Maria Luisa Trindade Bestetti: possui graduação em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1982), mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela USP (2002) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo também pela USP (2006). Complementou a formação cursando MBA em Gestão de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas (2008). Atualmente, é professora doutora no Curso de Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo - EACH USP. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto Arquitetônico, atuando principalmente nos seguintes temas: ambiência, acessibilidade, gerontologia ambiental, Gestão de Projetos e Design Thinking. www.senhoresemhora.com.br


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