Em Carne Viva

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Madu Dumont

EM CARNE VIVA


São Paulo 2013

Em Carne Viva Designer da capa – PAULO BRAZIL MARIA DO CARMO DUMONT ROCHA

Proibida e reprodução total ou parcial desta obra sem a prévia autorização do autor. Esta é uma obra de ficção qualquer semelhança, com nomes, pessoas, locais ou fato, terá sido mera coincidência.

Direitos de Distribuição e Comercialização TDL http://www.tribodasletras.com



Para Gabriela, Sylvia e os amigos que me ajudaram tanto... Porque vocês sabem que este livro é muito mais de vocês, que meu.



“Não se aprende a sofrer menos, mas a evadir-se da dor.” Escrevo estas páginas com o propósito de evadir-me da dor. Espero que os fatos que registro aqui sublime meus atos. Acabou se tornando um hábito, uma prolongação de mim mesma. Aqui estou forte como nunca fui, inteira, coerente, febril. Meu diário é meu único confidente.


Prólogo

Eu me lembro daquele momento, pois foi o instante em que acreditei que tudo que eu mais desejava estava prestes a se realizar. Não sou boa para perceber quando estou pronta para a vida, a não ser que as coisas apareçam bem definidas na minha frente. Meu dom, ou defeito fatal, é a esperança. Já me acusaram de exigir a perfeição, de rejeitar os desejos do coração, mas a solidão sempre foi uma companheira oportuna. Creio que posso dizer que meu grande ponto fraco é uma espécie de hipermetropia: só bem à distância e


quase sempre tarde demais, eu consigo ter a noção exata do que está acontecendo comigo. Meu maior medo não é o medo da morte, mas o medo de viver. Eu sou um ser vivo, portanto existo. Isso é um fato que não posso modificar. A partir daí preciso viver. E então, tenho uma responsabilidade, pois sou chamada a ser a autora de minha vida. Tal como uma obra de arte, devo inicialmente querê-la; em seguida, imaginá-la, pensá-la e por fim, realizá-la, modelá-la, esculpi-la, e fazer isto em meio a todos os acontecimentos felizes ou infelizes que sobrevêm sem que nada eu possa fazer. Sempre tive medo de me abrir plenamente para a vida, de acolher seu fluxo imperioso. Preferi controlar minha existência levando uma vida estreita, delimitada, com o menos de surpresas possível. Em meu medo da vida estive principalmente em busca da segurança da existência. Eu procurava, no final das contas, mais sobreviver do que viver. Ora, sobreviver é existir sem viver... O que já é morrer. Passar da sobrevivência à vida foi uma das coisas mais difíceis que já fiz, assim como foi difícil e assustador aceitar ser a criadora de minha vida. Antes eu preferia viver como apenas mais uma, sem refletir muito, sem assumir muitos riscos, sem ousar me entregar aos meus sonhos mais


profundos, que eram, contudo, minha melhor razão para viver. A essência da vida é dizer “sim” a vida. Eu disse sim a vida no momento em que conheci Alex. Tudo que pensei que jamais me aconteceria, surgiu à minha frente naquele momento em que o vi. E ele me viu, e foi aí que comecei a existir. Não sei ao certo o que senti, sei que minha vida, naquele momento em que nossos olhares se cruzaram, pertencia a ele, e eu o queria só meu. Amor, talvez fosse amor, ou algo ainda maior, que eu não conhecia: paixão, obsessão, loucura. Em um instante, Alex era o centro do meu universo, meu príncipe encantado, meu sonho de amor adolescente. Uma vida além da minha vida. Eu estava entorpecida por um sentimento com o qual havia sempre sonhado e nunca havia tido coragem de viver. É necessário que eu diga tudo isso, na esperança de que eu mesma possa compreender o que aconteceu comigo. Dentro das paredes frias do meu quarto, passo as horas sonhando com Alex, sinto a loucura próxima da minha mente, vivo e me alimento desse amor.


Decidi vive-lo, aconteça o que tenha que acontecer. Viverei as conseqüências.


10 de maio – sexta-feira Ultimamente eu andava com certa prevenção em relação a eventos sociais, principalmente para uma comemoração potencialmente caótica, como o aniversário de Clara. Tenho que reconhecer que ela conseguiu combinar alguns tipos de prazeres em sua lista de convidados. Havia alguns rostos conhecidos, e por outro lado, o lugar estava cheio de homens que geralmente usavam ternos, mas que, neste momento, usavam jeans e camisas caras. Muitos deles acompanhados, a maioria por suas esposas, mas havia alguns solitários, os quais, fui


conhecendo no correr da noite, ajudada e estimulada por Clara. Dei-me conta de que depois de um dia de trabalho exaustivo, era-me impossível achar qualquer um interessante, mesmo porque, sempre tive aversão a esses encontros “casuais”, que são na verdade estimulados por amigos, que estando vivendo uma relação, não conseguem acreditar que você possa estar bem, quando está sozinha. De repente vi-me sentada em um banco, nos fundos do jardim, sob uma pérgula de bouganville, meio que fugindo de novas apresentações. Foi então que ele chegou. Imediatamente tive a impressão de conhecer sua alma. Emocionada, senti que o controle me escapava por entre os dedos. Uma doçura estranha surgiu em meu coração. Um homem jovem e simpático, um nariz afilado e reto, queixo quadrado, olhos cor de mel, cabelos negros, boca carnuda e inquieta, barba densa e por fazer, beleza marcante. Conhecer Alex foi uma surpresa indescritível, como abrir minha “Caixa de Pandora”. Que esforço enorme foi desprender-me de minha baixa estima que, como uma dor aguda e paralisante não me deixava acreditar que houvesse algum interesse dele por mim.


Lembro-me apenas que se apresentou e começou a conversar como se fôssemos amigos de longa data. Meus olhos se prenderam aos dele, como que hipnotizada. Não conseguia ouvir suas palavras, na verdade, sei que falava dos talentos cinematográficos de Wood Allen, de uma maneira que sugeria tanto inteligência quanto modismo. Eu só captava fragmentos, estava inebriada. Nossos corpos se aproximaram instintivamente, um ao lado do outro no banco do jardim, o calor de seu corpo acendia meu desejo, reprimido desde que terminei minha última relação. Ele me olhava com seus olhos grandes, tocava meu braço enquanto falava, com suas mãos quentes. Fui gradativamente me perdendo em suas palavras, agora já não ouvia nada, cedendo a esta loucura de emoções que me invadia: desejo, admiração, sutileza. Sentia-me como uma pessoa sedada, insana, que acorda um belo dia em uma claridade idílica – renascida. Sentia-me cada vez mais atraída por ele e era como se estivéssemos ali sozinhos, só nós dois, com meu corpo gritando apenas com a força de seu olhar, cada terminação nervosa vibrando dentro de mim, uma eletricidade me puxando para ele, cada vez mais forte, mais intensa. Eu olhei para ele enquanto falava e comecei a divagar, me perdi em meus pensamentos, não sei se pela sua beleza, se pelo excesso de vinho, ou se pelo aroma cítrico e sensual que exalava dele, mas


meus pensamentos eram profundamente eróticos, senti meus hormônios todos espalhados em torno de mim. Um curto circuito na minha razão. Minha mente confusa levou-me ao delírio. A mão dele é macia, os dedos longos. Imaginei-me lambendo-os. O pensamento é absurdo, o que ele faria se eu tirasse a roupa aqui e ficasse nua, aqui no jardim, na frente dele? Enlouqueci, não podia estar pensando assim. Tomei um gole de vinho e quase me engasguei de vontade de rir. 

O último filme é uma... O que foi? Perguntou ele.

 Nada. Só umas idéias malucas.  Se, são tão engraçadas, gostaria de ouvi-las.

– Duvido muito, disse eu. Ele sorriu gentilmente, sensualmente. Conseguiu ficar ainda mais bonito. Eu já estava um pouquinho alta com o vinho e, perdida de paixão instantânea, senti que era hora de voltar para casa, enquanto tinha algum domínio sobre meus atos. Foi loucura minha pensar e delirar desta forma, mas ele me incitou com o seu olhar. Foi loucura minha beber tanto, enquanto olhava seu


rosto, como eu nunca ousei olhar para homem nenhum. Não sei explicar meus pensamentos, ao mesmo tempo em que tudo nele me fascinava, senti que era perigoso, que eu estava debruçando sobre um abismo, ou estava cortejando a dor. Trocamos telefones, eu fiquei de ligar, ele insistiu em me acompanhar, mas eu sabia que aquela mistura de fascínio e vinho, seria fatal para mim. Consegui sair sozinha, à francesa, sem me despedir de ninguém. Sonho… Eu estava em meu quarto, aquele homem parado na minha frente, completamente nu, empurrei-o gentilmente, colocando-o de costas sobre a cama, deslizando pelo corpo dele até ficar de joelhos na sua frente, usando a língua como guia, conduzindo-a por lugares que ele nem imaginava. Ele suspirou, depois empurrou minha cabeça mais para baixo, na direção de seu pênis, e eu, senti que ele estava à mercê da minha luxuria, eu o tinha deixado indefeso. Enquanto minha língua descia, minha mão subia até o triângulo de pele macia, pouco acima do pênis.

11 de maio – sábado Não consegui sair de casa na esperança de que, a qualquer momento, meu telefone tocasse. Eu queria que fosse ele a me procurar, não eu. Nem me passou pela cabeça que o celular toca onde quer que eu esteja. Nunca me senti desse jeito com


relação a ninguém. Lembranças fragmentadas da noite de ontem estão a me atormentar.

15 de maio – quarta-feira A semana está se arrastando, minha ansiedade me consumindo, mas não posso, não devo ligar para ele. Ele é a chama, e se eu chegar muito perto, posso me queimar. Queria não pensar tanto naquele homem, a quem eu mal conhecia. Sai para caminhar um pouco pelas ruas depois do trabalho. O ar fresco, anunciando o inverno, me fez bem. Senti-me absurdamente alegre por estar na rua, sem ficar a todo instante olhando para o visor do telefone. Andei por mais ou menos uma hora sem perceber. Senti necessidade de pegar um taxi para voltar, estava exausta da caminhada. Assim que alcancei a avenida, parei, esperando por um taxi. Depois de alguns minutos, um carro com dois rapazes parou no sinal, o que estava no banco do passageiro abaixou o vidro. – Oi gata! Quer uma carona? – Não obrigada. – Respondi com irritação. Estou esperando alguém. E esse alguém é Alex. Pensei. – Eu sei. Por mim. – Disse ele rindo. Idiota! Mil vezes idiota! Quase gritei...


O sinal abriu e eles saíram em disparada, ainda pude ouvir suas gargalhadas à distância. Quando finalmente consegui um taxi, dei meu endereço ao motorista e me acomodei no banco traseiro, recostei no assento, estava exausta, mas feliz por ter quebrado aquela espera infernal de um telefonema que não acontecia.

17 de maio – sexta-feira Cheguei à conclusão de que esse desejo obsessivo de receber uma ligação de Alex é apenas fruto da minha solidão, minha carência. Desde o fim de meu último relacionamento, há mais de um ano, tenho estado muito só. Sinto falta de um amor de qualidade mais densa, mais intenso, do que os que já vivi. As paixões que me atraíram até hoje, foram abstratas. Eu sei que sou capaz de capitular em nome da felicidade, do amor – acima de tudo, em nome do amor. Chego a minha casa, e antes de fazer qualquer coisa, ligo meu som. A música da orquestra enche o ar. Stravinsky. Eu explodo junto com a música. Fico de pé, no meio da sala e cubro o rosto com as mãos e rio – rio como talvez nunca rira antes – e a risada se transforma em choro, um choro alto como um uivo. Choro a minha solidão, a minha incapacidade de amar, meus medos, choro meus vazios. Choro o amanhã. O amanhã que pode estar a anos de distância.


Sonho… estou em uma festa (acho que é um casamento, mas não vejo os noivos), um homem muito atraente olha para mim. Ele me convida para dançar e fala sobre a mulher que ama. Algumas mulheres me olham com ciúmes. Carícias deliciosas do homem. Acordo palpitante. Ainda estou na sala e a música acabou. O melhor é tomar um banho e dormir, talvez eu leia um pouco.

18 de maio – sábado Para minha surpresa, na noite passada, dormi quase que imediatamente. Tinha chorado até esvaziar o coração. Quando despertei o sol brilhava e o céu exibia seu mais intenso azul. Céu de maio. Fiquei deitada – sentindo-me pesada, sonolenta, talvez por ter dormido demais. O relógio na cabeceira marcava 11h15min. Acho que não liguei o despertador. Agora ouço os barulhos da cidade plena de vida. Rememoro as últimas horas da noite anterior – como sou instável – bastou eu ver o sol nessa manhã, e toda a angústia evaporou-se. A luz do dia iluminou todas as minhas sombras e não vou me dar ao trabalho de encontrá-las novamente. Levantei-me, fiz um café saboroso e resolvi:


Este final de semana será dedicado a por a leitura em dia. Minha nova vida está começando hoje, ontem ri e chorei todas as minhas dores. Quero aproveitar a influência da lua cheia nesta semana. Lua cheia que me faz sensual e sensível. Sabedoria e sensualidade – essas serão minhas asas, aquelas que me salvarão das influências nebulosas que já estão no passado.

Capítulo -1 19 de maio – domingo

Acordei com o toque do telefone. – Olá Martha, bom dia! Acordei você? Meu coração fremente. A adrenalina percorrendo todo o meu corpo, – ainda bem que me acordou. – Martha? Você está aí? – Alô! Quem é? – Falo como se não reconhecesse a voz. Aqui é o Alex, nos conhecemos no aniversário da Clara.


Você me deu seu telefone, ficou de me ligar. Esperei a semana toda e nada. Está lembrada? Claro que me lembro, aliás, não consegui me esquecer, e olha que eu tentei... – Não resisti esperar mais e resolvi ligar para você hoje. Fiz mal? Perguntou. – Claro que não Alex. É que a semana foi complicada, muito trabalho. Por isso não liguei, me desculpe. Que mentira! – Martha, eu vou ser franco, a verdade é que pensei muito em você nesta semana e gostaria de reencontrá-la. O que acha de jantar comigo hoje? Conheço um restaurante que pode lhe agradar. Meu coração dispara de novo. – Hoje? Mas é domingo, não posso ficar até tarde, amanhã tenho muito trabalho. Por que falei isso? Sou uma idiota. – Prometo que não vamos demorar. Coloco você na cama bem cedinho. – Já que é assim, está combinado, você pode me pegar às oito horas? Sou mesmo maluca. Era tudo que eu queria, e agora sinto um temor estranho.


– Claro, me passa seu endereço, as oito em ponto, estarei aí. Posso ver seu sorriso maravilhoso do outro lado da linha. Este telefonema aqueceu meu coração, e ao mesmo tempo fez meu inconsciente emitir um sinal de alerta. – Uma manhã gloriosa de domingo me recebe tudo parece irreal agora. Uma fantasia, um sonho, um castelo no ar. A poesia deste dia transforma minha vida em um rio furta-cor onde são tragados definitivamente meu tédio e minhas dores. O alcançável é sempre azul. Vou pedir os favores de “Afrodite”. É assim mesmo a vida. Estremeço só de pensar que vou ver Alex. Levanto-me da cama sentindo-me leve como uma pluma. Agora é passar o dia preparandome para a noite. Pego o telefone e ligo para Clara, “a rainha do consumo”, pergunto onde encontrar um salão de beleza que funcione aos domingos, me justifico, dizendo que a semana foi de muito trabalho e não tive tempo de me cuidar, agradeço pela festa de aniversário e corto a conversa o mais rápido que consigo. Tomo um café e com os endereços que Clara me forneceu, parto para o início de minha jornada da beleza. A vida é uma grande sedução, onde tudo se seduz, e hoje é a minha vez, estou com medo da minha falta de medo.


Luzes no cabelo, depilação, sobrancelhas, unhas feitas, um lanche rápido no almoço, e agora vamos às compras. Lingerie branco, nada muito ostensivo, apenas levemente sensual. Um vestido. Preciso de um vestido, hoje nada de jeans. Para não cometer erros, decido pelo clássico pretinho básico, mas com um corte bem moderno. Tudo pronto. São sete horas, já estou completamente vestida, leve maquilagem e a espera vai me deixando cada vez mais ansiosa. Não deveria estar pronta tão cedo. O tempo é permanente, nunca termina e agora não passa. Meus pensamentos divagam enquanto espero por ele. Será que estou conhecendo o inferno da paixão, antes mesmo de conhecer de verdade o objeto desta minha paixão? Meu fervor é mudo, só posso escrevê-lo, pois sei mais silêncios que palavras ditas. Estou criando sonhos acordada, respirando o infinito, vivendo muitas vidas em um só momento. Vou me obedecendo, mas esta emoção que desconheço, ultrapassa-me.

20 de maio – segunda-feira Ontem quando a campainha tocou a adrenalina fez estragos no meu corpo. Uma curiosa mistura de força e fragilidade apossou-se de mim. Estava olhando para a porta e não conseguia me mover. Meu coração transbordava. O sangue em erupção turbilhonava com a rapidez de um raio.


Não desejo delirar mais que já delirei. Abri a porta. E ele estava ali, mais bonito ainda, se é que isto era possível. Ele apertou os olhos, me olhou na contra luz da sala, e então abriu um sorriso malicioso e sensual. Isso me desarmou, minha tensão derreteu-se em seu sorriso deslumbrante. Era como se o seu prazer, entendesse o meu. Eu poderia ficar olhando eternamente para ele. Sua barba por fazer, eu louca para passar os dedos em seu queixo e senti-lo roçando em meu rosto. Enrubesci ao constatar a direção de meus pensamentos. Ele continuou me olhando, esperando que eu dissesse alguma coisa, até que me entregou o vaso de tulipas vermelhas que trazia nas mãos. Ainda não consigo definir a gama de emoções que tomou conta de mim. – Olá Martha, estas flores, são para você. Eu quase muda só consegui sussurrar um – Obrigada! – Você está ainda mais linda do que em minha lembrança. Disse essas palavras com seu rosto colado ao meu, enquanto me cumprimentava com um delicado beijo no rosto.


Eu ainda não havia recuperado todos os meus sentidos e agindo como uma autômata, peguei minha bolsa, para sairmos dali o mais rápido possível. A noite estava linda – o céu iluminado por milhões de estrelas, minha alma acalentava-se com a beleza da noite, embalada pela voz sensual daquele homem. Alex me levou a um pequeno e aconchegante restaurante peruano, onde a comida era excelente, mas os avisos sobre os temperos não eram de todo corretos, e um dos pratos de pimenta quase arrancou o céu da minha boca. Pelo menos, serviu de motivo de risadas, enquanto eu bebia água desesperadamente. Este pequeno incidente serviu para eu relaxar mais. Comecei a desfrutar o fato de estarmos juntos. Enquanto Alex, já completamente à vontade, e consciente do efeito que provocava em mim, conversava naturalmente. Falou do seu trabalho como dentista, da clínica que tinha no centro da cidade, da morte dos pais quando ele era ainda adolescente... Eu quase não conseguia falar, apenas respondia a suas perguntas. Falei que trabalhava no jornal, conversamos sobre algumas reportagens que eu havia escrito, coisas que ele leu e já conhecia, além das rotinas do dia a dia.


Não vi o tempo passar, só me dei conta de que já era tarde, quando olhei em volta e vi o restaurante vazio. Ao fim da segunda garrafa de vinho, meu único pensamento era estar em minha cama com este homem encantador, capaz de me dominar apenas com seus olhos grandes e seu olhar de mel. Alex pediu a conta. Quando estávamos nos dirigindo para o carro, ele parou e de repente me puxou em sua direção, me dando o beijo mais macio e gostoso que já beijei, tatuou sua boca na minha boca como uma marca de sangue na carne viva. Tive um arrepio de tesão e medo. Uma maldição que salva, mas será que estou procurando a salvação no risco? Será que já esqueci o que aprendi com meus amores passados? A esperança agora é meu maior pecado. Nossos olhares foram lentamente possuídos de ternura e desejo. Nenhuma palavra dita, o caminho parecia longo, sem fim, o som do carro tocava um delicado jazz. Quando finalmente ela parou em frente à minha casa, eu o convidei para uma última taça de vinho. Descemos. E parados no meio da sala, olhávamos um para o outro. Senti neste momento junto de mim um coração pulsante, e vi o fogo interior que brilhava em seus olhos.



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