Hist贸ria do Kabiko Agosto 2013 Escrito por Tulia Lopes Ilustrado por Fabiana Azevedo
E
ra uma vez, em uma grande, impenetrável e secreta floresta chamada Kaá, vivam os Cayuas.
Eles viviam felizes curtindo a riqueza, abundância e prazeres que a floresta oferecia. O chefe da tribo, chamado Morubixaba, era conhecido por toda a floresta por ser muito sábio e generoso.
Ele tinha uma filha linda e muito querida, chamada Amana, que era casada com o guerreiro mais forte e valente de Kaá. O nome dele era Aram. Eles eram muito felizes e se amavam profundamente, porém, suas vidas não eram completas. Eles não tinham filhos.
Depois de haver tentado todos os rituais que as mulheres da tribo ensinaram, e que não funcionaram, Amana decidiu consultar o mais sábio de todos os sábios em Kaá, o Pagé. Ele morava bem longe da tribo, em uma Suioca, que era uma oca muuuuito longe de todas as outras ocas da tribo. O Aram e a Amana tiveram que viajar por muitos dias e noites até chegarem na casa secreta do Pagé. Depois de uma viagem longa e cansativa, eles finalmente encontraram a Suioca do Pagé, bem no topo da montanha mais alta de Kaá.
Eles estavam tão nervosos e cansados quando se encontram com o Pagé que quase não conseguiram explicar a ele o motivo da visita. O Pagé era conhecido por ser muito bom e generoso - o mais Sábio de todos os Sábios. Porém, todos também sabiam que ele somente concedia desejos especiais em casos muito especiais, porque ele acreditava que todas as pessoas tinham o poder para encontrar o caminho para resolver seus próprios problemas; quando fossem capazes de abrir as portas do próprio coração. Depois de ouvir a história da Amana e do Aram, Pagé fechou os olhos e permaneceu em silêncio por um tempo. Amana e Aran estavam ansiosos, de mãos dadas, sem saber se o Pagé ia conceder a eles esse milagre, o milagre de ter um filho. A Amana e o Aran eram pessoas especiais. Eles sempre honraram e respeitaram suas famílias, parentes e amigos; sua cultura e tradições. Eles sempre foram bons filhos; sempre cumpriram seus deveres com responsabilidade e com seriedade e sempre estavam dispostos a ajudar aos menos privilegiados. Depois de um silêncio, que pareceu durar uma eternidade, o Pagé abriu os olhos e mirando diretamente e atenciosamente a cada um deles abriu um sorriso, e com uma voz que mostrava autoridade, mas também compaixão, disse:
“Amana, seu nome significa Chuva; Aran, seu nome significa Sol. Virá um dia onde a Chuva e o Sol aparecerão ao mesmo tempo. Nesse dia um arco colorido aparecerá no céu. Nesse dia, vocês dois terão que seguir esse arco, e no final desse arco estará um grande pote dourado, e dentro desse pote vocês encontrarão seu filho tão desejado. Essa criança deverá ser chamada Kabikodepu, que significa arco-íris. Essa criança trará amor, compaixão, empatia e tolerância a vocês e a todos cujas vidas ele tocar. Essa criança se chamará Kabikodepu ou simplesmente Kabiko; ele simbolizará um arco-íris e como um arco-íris ele terá muitas cores e será cheio de alegria, representando todas as diferentes raças do mundo; como um arco-íris ele aparecerá em qualquer lugar pelo mundo afora e celebrará as diferentes culturas; e como um arco-íris ele será
admirado, protegido e amado, como todas as crianças devem ser. E, a missão de vocês, como pais, será ensinar ao Kabiko a respeitar, amar e cuidar das pessoas, animais e todas as criaturas na natureza; educar o Kabiko sobre o verdadeiro valor da nossa jornada neste mundo, que é encontrar a felicidade dentro de nós mesmos e sermos agradecidos aos Deuses pelo presente que nos foi dado, a vida!“ Amana e Aram não tinham palavras para expressar ao Pagé sua felicidade. Deram sua palavra de honra e prometeram cumprir com o que o Pagé tinha pedido a eles até o dia em que Votu, o vento todo-poderoso, levasse com ele os seus últimos suspiros. Eles então se despediram do Pagé e tomaram o caminho de volta à tribo. Mal podiam esperar para contar as novidades aos seus pais, as novidades sobre Kabiko. Eles foram pelo caminho em silêncio. Cada um deles guardava ansiedade e se perguntavam quando seria o dia que a chuva e o sol apareceriam ao mesmo tempo para que eles pudessem seguir o arco-íris e encontrar seu precioso Kabiko. “Demoraria muito?” Se perguntavam sem atrever perguntar um ao outro. Continuaram caminhando, em silêncio, e começaram a rezar… Até um momento onde já não podiam conter tanta emoção vinda de seus corações e olhando um para o outro disseram ao mesmo tempo, “Só espero que não
demore muito ….”
E nesse momento, Tupã, o Deus de todos os Deuses, ouviu suas preces e com uma grande tempestade - que soou como
o rugir de um enorme Jaguaretê, o maior jaguar da floresta uma chuva violenta desabou. Amana e Aran tentaram se proteger embaixo de uma árvore. Mas a chuva era tão forte e o vento tão poderoso que seus esforços foram em vão. Corriam de um lado para outro tentando encontrar um lugar seguro onde pudessem escapar da tempestade.
O céu ficou completamente escuro e a única luz visível era a dos relâmpagos disparados contra a terra. Eles corriam, corriam, sem parar. Estavam exaustos, completamente molhados, mas continuram correndo. Quando de repente, chegaram em um vale. Que surpresa! Eles não podiam acreditar na beleza daquele vale.
Mesmo com a tempestade, a chuva e os relâmpagos, o vale era impressionante! O vale mais bonito que eles jamais tinham visto. Fascinados pela beleza do vale, eles ignoraram a tempestade completamente e pararam para contemplá-lo. E então, milagrosamente, as nuvens começaram a se dispersar e um céu com um azul intenso surgiu e com ele, um arco-íris impressionante, com cores vibrantes e esplêndidas. Sem pensar duas vezes eles saíram correndo em direção ao final do arco-íris. Eles não se lembram quanto tempo correram; simplesmente não podiam parar de correr, com seus corações latejando e vibrando pensando em Kabikodepu, seu tão desejado e esperado filho, seu Kabiko. Quando chegaram no final do arco-íris quase não tinham fôlego. O lugar estava cheio de flores de várias cores e animais de todas as espécies, como se todos ali estivessem esperando por eles. Eles pararam sem saber para onde ir; não conseguiam ver nenhum pote… E então, lentamente, cada animal começou a se mover para os lados, abrindo um caminho para que eles passassem. Amana e Aran deram as mãos novamente; seus corações latejavam tão rápido e tão alto que eles mesmos podiam ouvi-lo. À medida que atravessavam o caminho cada animal se abaixava em reverência. Eles estavam surpresos, sem entender a razão de tudo aquilo, mas se sentiram amados e conectados com cada um deles. Quando finalmente chegaram no final da passarela de animais, puderam ver um lindo pote dourado.
Correram até ele, e dentro dele, lá estava, sorrindo para eles, o tão esperado Kabiko. Amana e Aram quase explodiram de tanta alegria e felicidade quando pegaram Kabiko em seus braços pela primeira vez. Naquele momento, todos os animais expressaram sua alegria emitindo sons inimagináveis que ecoaram por toda a floresta, chegando até as vilas mais distantes do planeta. E, naquele momento, todas as criaturas vivas do mundo souberam que Tupã, o Deus de todos os Deuses, os tinha abençoado uma vez mais!
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