Notícias trincheiras 2

Page 1

Notícias das Trincheiras

Nº 2 – Setembro/Outubro de 2014 Tal como havíamos prometido, aqui está mais um número do «Notícias das Trincheiras». Traz-vos novas do que tem acontecido, e levanta o véu do que vai acontecer. E neste capítulo, destaque óbvio para a Conferência do Prof. Fernando Rosas, que noticiamos na última página. Vem falar-nos sobre o “Milagre de Tancos” e a participação de Portugal na Grande Guerra. Milagre de Tancos vai entre aspas, porque sabemos bem no que esse “milagre” se transformou. Por isso ontem como hoje, há que desconfiar sempre de “milagres” e de “milagreiros”. Das trincheiras, saúda-vos o Mário Nuno Neves, Vereador do Pelouro da Cultura

“A Arte de Vender a Guerra” Esta é a designação genérica de três exposições a ter lugar entre 2014 e 2016, com o objecto principal da mostrar reproduções de cartazes de propaganda da Primeira Guerra Mundial. A deste ano versa os temas do recrutamento e da estigmatização do inimigo. Quer fossem para pedir aos cidadãos que se alistassem, que comprassem «selos» ou «acções» das economias da guerra, que apoiassem a Cruz Vermelha, ou que gerissem os stocks alimentares, os cartazes de propaganda produzidos durante a Primeira Guerra Mundial, em todos os países envolvidos no conflito eram maravilhas do design gráfico.

Aspecto da exposição.

Cartaz da Exposição. Esta foi prolongada até 15 de Novembro.

Alguns desses cartazes eram bastante chocantes; muitos eram extremamente bonitos; praticamente todos foram criados com um objectivo em mente: conseguir o espectador parasse, lesse e agisse. No 100 º aniversário do início da guerra, apresentamos um conjunto de cartazes que não são apenas esteticamente impressionantes, mas também capturam o nacionalismo da época, muitas vezes caindo no exagero. O facto de que ingleses, franceses, alemães, italianos, americanos, portugueses e praticamente todas as outras nações com soldados no combate criaram a sua própria marca de propaganda com contornos semelhantes só reforça o velho ditado miliar: na guerra, a primeira vítima é a verdade. Por isso, quase tudo vale para vender a guerra.


Aspecto da exposição.

Este tipo de propaganda gráfica não foi muito utilizado em Portugal. Os exemplares que apresentamos reflectem exactamente essa escassez. Além disso, a necessidade de «vender a guerra», também não se fez sentir grandemente, já que a mobilização e a entrada em combate foram tardias. Além disso o nosso país era essencialmente composto por analfabetos, pouco ou nada informados, a quem a guerra nessa altura disse pouco, para além de um punhado de lágrimas. Foi só depois dos ecos de La Lys, e sobretudo do armistício, que Portugal teve consciência dos horrores da Grande Guerra.

A consciencialização da Europa para o novo regime republicano é comummente aceite como uma das principais se não mesmo a principal causa da entrada de Portugal na guerra. Era preciso mostrar aos europeus, sobretudo aos seus governantes, que havia um outro Portugal, e que ele seria uma peça importante no xadrez europeu. Mau grado esse esforço, a consciência da mudança de sistema de governo em Portugal, mantevese ignorada por bastante tempo. Em vários postais, por exemplo, ao lado das bandeiras de outros beligerantes aliados, aparece a representar Portugal a bandeira… monárquica. Postal francês.

Postal francês, em cima, e postais americanos, ao lado e em baixo. No meio das bandeiras dos aliados, surge como bandeira portuguesa a bandeira da monarquia, abolida há quase quatro anos.

Três peças, uma russa e duas francesas, procurando “diabolizar” o inimigo, neste caso o exército alemão, sempre simbolizado pelo soldado usando o famoso capacete de ponta ou “pickelhaube”.


Seminário “A Grande guerra Portugal e o Mundo no conflito”

Numa organização do Instituto Cultural da Maia – Universidade Sénior, em colaboração com o Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Maia, iniciou-se no passado dia 10 de outubro, sexta feira, o seminário “A Grande guerra – Portugal e o Mundo no conflito”. Em nove sessões mensais procurará abordar doze temas principais, a saber: Introdução – Portugal e o Mundo antes do conflito; O Atentado de Sarajevo – O pretexto que alguns precisavam; O início da Guerra – A “guerra de movimento”; Portugal em África – Os primeiros movimentos de tropas; A “guerra de trincheiras” – Terríveis situações de conflito; Combates na frente e na retaguarda – Quotidianos da guerra; A Participação do Corpo Expedicionário Português; O retorno à “guerra de movimento – Adivinha-se o fim…; O fim da guerra – Armistício de 11/11/1918 e seus termos; As grandes mudanças do pósguerra – É já outro mundo…; Balanço da participação portuguesa; O que nos legou a “Grande Guerra”. Este seminário é orientado pelo Dr. José Maia Marques, da Câmara Municipal da Maia e do Instituto Universitário da Maia.

Decorre nas instalações do ICM, à rua do Doutor Augusto Martins 87-r/c, na Maia e a sua frequência é gratuita.

Um maiato na Grande Guerra – José Estêvão Coelho de Magalhães O Jornal Público, no seu número de 3 de Setembro, revelou aos seus leitores a existência deste militar. Mas já antes disso Margarida Portela, do Portugal 14/18 havia escrito sobre ele. Filho do Conselheiro Luís de Magalhães, José Estevão foi Alferes do Corpo de Artilharia Pesada. Tem uma história interessantíssima, a que voltaremos muito em breve. Em Lisboa, a 12 de Junho de 1917.

©Rita van Zeller


Para Novembro/Dezembro: Exposição Portugal e a Grande Guerra na Ilustração Portuguesa – 1914. Inaugura-se no próximo dia 10 de novembro na Biblioteca Municipal Dr. José Vieira de Carvalho. A Ilustração Portuguesa (1903-1923) foi uma revista de altíssima qualidade gráfica e literária que marcou o início do século XX. Entre os seus editores e directores contaram-se José Joubert Chaves, Carlos Malheiro Dias, António Ferro e António Maria de Freitas. E entre os seus colaboradores estiveram nomes maiores das artes e das letras, pontificando Stuart Carvalhais, Júlio Dantas, Hipólito Colomb, Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro e Joshua Benoliel, que foi seu repórter de Guerra. Graças à reprodução de uma selecção de páginas desta revista, procura-se mostrar ao público como foi feita a cobertura da Primeira Guerra Mundial. Na edição deste ano damos destaque ao início da participação portuguesa no conflito, através do envio de tropas para as colónias africanas.

Conferência pelo Prof. Doutor Fernando Rosas Terá lugar na Galeria do Fórum da Maia no próximo dia 14 de novembro pelas 21h30, aquele que será um dos pontos altos desta evocação, a Conferência do Prof. Doutor Fernando Rosas, intitulada «O “Milagre de Tancos” e a participação de Portugal na Grande Guerra». Fernando José Mendes Rosas, Licenciado em Direito, Mestre e Doutor em História Contemporânea, é Professor Catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, investigador do Instituto de História Contemporânea e presidente da sua Assembleia Geral. É consultor da Fundação Mário Soares e director da Revista História. Participou na fundação do Bloco de Esquerda em 1999, cuja Comissão Permanente integrou. Foi eleito deputado à Assembleia da República, em 1999 e 2005, por Setúbal, e em 2009, por Lisboa.

Notícias das Trincheiras

Projecto A Maia e os Maiatos na Grande Guerra

Edição: Câmara Municipal da Maia Nº 2 – Setembro/Outubro de 2014 Pelouro da Cultura

Director: Mário Nuno Neves Redactores: José Maia Marques Adriano Freire


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.