Notícias das Trincheiras
Nº 3 – Novembro/Dezembro de 2014 Este terceiro número de “Notícias das Trincheiras”, sai em cima do Natal. A chamada quadra natalícia é muito propícia a balanços e votos. Quanto aos primeiros, creio que se vem cumprindo com os objectivos a que nos propusemos. Com excepção da Conferência do Prof. Fernando Rosas, a quem aproveito para desejar um total restabelecimento, tudo se realizou. Mesmo esta Conferência foi apenas adiada para data a designar em breve. Quanto aos segundos, esperamos continuar a proporcionar aos maiatos e a quem nos visita, uma programação de qualidade. 2015 será ano de Bienal. Uma Bienal de Arte mas também de artes: música, literatura, fotografia, etc. Talvez a «Grande Guerra» também aí esteja presente… Das trincheiras, como sempre, saúda-vos o
Mário Nuno Neves
Vereador do Pelouro da Cultura
Natal até nas Trincheiras… No meio do panorama horrendo da «Guerra das trincheiras» do final de 1914, primeiro ano da «Grande Guerra», ocorreu um fenómeno que prova que o homem pode sempre superar os seus medos, os seus instintos, os seus preconceitos, mesmo a própria realidade, por mais cruel que ela seja. Ficou conhecido como «Christmas Truce» - Trégua de Natal. A vida nas frente de combate era um verdadeiro inferno. Do fulgor inicial da guerra em movimento, caíra-se na guerra de trincheiras. No fim do ano a moral das tropas estava já muito em baixo. A guerra arrastava-se havia quase um semestre.
Todo este quotidiano de horrores foi minando a inicial vontade de lutar. Uma semana antes do Natal em Armentières, na França, soldados alemães atiraram um pacote para as trincheiras britânicas. Continha um bolo de chocolate e um bilhete onde os alemães pediam um cessar-fogo nessa noite, entre as 19h30 e as 20h30 pois era o aniversário do capitão e eles queriam surpreendê-lo com uma serenata. Os britânicos concordaram e, na hora da festa inimiga, sentaram-se no parapeito para apreciar a música. Aplaudidos pelos rivais, os alemães anunciaram o encerramento da serenata – e da trégua – com tiros para o ar. No meio da barbárie, estes pequenos gestos de cordialidade tinham grande significado. Mais ainda, na noite do dia 24, em Fleurbaix, na França, os soldados britânicos ficaram estupefactos quando viram, iluminadas por velas, pequenas árvores de Natal enfeitando as trincheiras inimigas.
Mas, como conta Bruno Leuzinger, a surpresa aumentou quando um tenente alemão propôs que cada lado enterrasse os seus mortos. Um sargento inglês, contrariando ordens, foi ao seu encontro. Combinaram reunir-se no dia seguinte, 25 de Dezembro. Então ao longo de toda a frente ocidental, soldados armados apenas com pás escalaram as suas trincheiras e enterraram os mortos no meio da terra de ninguém.
O capelão escocês J. Esslemont Adams organizou um funeral colectivo para mais de 100 vítimas. Os corpos foram divididos por nacionalidade, mas na hora de cavar, todos se ajudaram. O capelão abriu a cerimónia recitando o salmo 23. “O senhor é meu pastor, nada me faltará”. Depois, um soldado alemão, exseminarista, repetiu tudo no seu idioma. No fim, acompanhado pelos soldados dos dois países, Adams rezou o pai-nosso. Esta situação já era inusitada, mas o que se viu depois foram cenas surreais. Em Wez Macquart um britânico cortava o cabelo de qualquer um – aliado ou inimigo – em troca de alguns cigarros. Em Pervize, homens que na véspera se tentavam matar trocavam presentes: tabaco, vinho, carne enlatada, sabonete.
Mas o melhor estava para vir. Nos dias 25 e 26, foram organizados animados jogos de futebol. Centenas jogaram à bola nos campos de batalha. Em muitos casos o jogo foi só pelo prazer da brincadeira, ninguém prestou atenção ao resultado. Mas houve também jogos “sérios. Num deles, que se tornou lendário, os alemães derrotaram os britânicos por 3 a 2.
Este acontecimento teve foros de escândalo, quando noticiado pelos grandes órgãos de comunicação. Os comandantes britânicos, postos em causa proibiram esta «trégua informal». O mesmo aconteceu com os comandantes inimigos.
Quem também não gostou nada desta «gracinha» foi um jovem cabo bávaro chamado Adolph Hitler, que disse: «Estas coisas não deviam acontecer durante do tempo de guerra. Porventura os alemães perderam já todo o sentido de honra?» Não, Adolph, o que aconteceu é que o espírito de Natal foi muito superior ao espírito da guerra. Se é que este existe. J.M.M.
Seminário “A Grande guerra – Portugal e o Mundo no conflito”. Realizaram-se em Novembro e Dezembro mais duas sessões deste seminário A primeira, no Fórum da Maia, versava o início do conflito e o envio de tropas para África, e foi complementada com uma visita guiada às exposições do Fórum, A segunda teve como tema principal “Da guerra de movimento à guerra de trincheiras”.
Exposição “Portugal e a Grande Guerra na Ilustração Portuguesa – 1914”. Esta exposição mostrou ao público como foi feita por esta revista a cobertura do início da Grande Guerra. Na edição deste ano demos destaque à primeira das participações portuguesas neste conflito, através do envio de tropas para as colónias africanas. Baseada na reprodução de páginas da revista, foi visitada, além do público em geral, por frequentadores da Biblioteca Municipal e por público escolar, incluindo o Instituto Cultural da Maia.
Exposição “A Arte de Vender a Guerra” Designação de três exposições (2014 a 2016), com cartazes da Grande Guerra. A deste ano versou os temas do recrutamento e da diabolização do inimigo. Objecto de várias visitas de estudo, foi prolongada até 15 de Novembro.
Conferência do Prof. Doutor Fernando Rosas adiada A Conferência do Prof. Doutor Fernando Rosas, intitulada «O “Milagre de Tancos” e a participação de Portugal na Grande Guerra», que devia ter tido lugar na Galeria do Fórum da Maia no passado dia 14 de novembro pelas 21h30, foi adiada para data a designar. O adiamento prendeu-se com motivos de saúde que desaconselhavam totalmente a sua deslocação. Brevemente daremos conta aos nossos leitores da nova data marcada para esta intervenção, que será certamente ponto alto da nossa programação. Ao Prof. Fernando Rosas votos de rápido restabelecimento.
Para Janeiro/Fevereiro: Sessões 4 e 5 do Seminário “A Grande guerra – Portugal e o Mundo no conflito”. Nos dias 9 de Janeiro e 6 de Fevereiro realizar-se-ão mais duas sessões. A primeira terá como tema “Combates na frente e na retaguarda – Quotidianos da guerra”, e a segunda “A Participação do Corpo Expedicionário Português”.
Palestra “A Trincheiras”.
Alimentação
nas
O que comiam e como e quando comiam os combatentes nas trincheiras? Como se confeccionava a alimentação? Como era distribuída a comida quente? Já havia «rações de combate»? Quais eram as rações base para cada um dos lados? Como é que a rectaguarda abastecia a frente? José Maia Marques, da Câmara Municipal da Maia e do Instituto Universitário da Maia, Antropólogo, Historiador e investigador de História da Alimentação, procurará responder a estas e outras questões no dia 20 de Fevereiro, pelas 21 horas no Fórum da Maia. A entrada é livre.
Agradecimentos: Daniel Espain (modelismo) e Decathlon Maia (manequins)
Notícias das Trincheiras
Projecto A Maia e os Maiatos na Grande Guerra
Edição: Câmara Municipal da Maia Nº 3 – Novembro/Dezembro de 2014 Pelouro da Cultura
Director: Mário Nuno Neves Redactores: José Maia Marques Adriano Freire