Notícias trincheiras 4

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Notícias das Trincheiras

Nº 4 – Janeiro/Fevereiro de 2015 Cá estamos pela quarta vez. Este número que agora vê a luz do dia, reflecte bem o que é um mundo em guerra – não apenas os combates em si, mas tudo aquilo que é necessário fazer para que se possa combater. Não apenas as vitórias, as conquistas, os sucessos, mas também as derrotas, os insucessos, as perdas. Afinal tal como a vida real, tal como o mundo «cá fora», onde os combates são constantes, as vitórias são difíceis e as derrotas muitas vezes fatais. Onde o inimigo também espreita a cada esquina, e onde, muitas vezes, temos de travar os combates sozinhos. E na guerra, como na vida, é muito importante aprendermos com os erros, com os insucessos, para que não voltemos a cair neles. Como aconteceu com Gallipoli. Das trincheiras, como sempre, saúda-vos o

Mário Nuno Neves Vereador do Pelouro da Cultura

O fiasco de Gallipoli

(Parte I) Estávamos a 23 de Abril de 1915, uma chuvosa madrugada de primavera na costa oriental do Mar Mediterrâneo. O mau tempo que insistia em encobrir a região mais lembrava o das ilhas britânicas, de onde vinha parte dos soldados instalados em navios mercantes e de guerra. Outros milhares de homens oriundos da França e das suas colónias, além da Austrália e da Nova Zelândia, também aguardavam melhores ventos para desembarcar na península de Gallipoli, litoral da Turquia. A operação era uma das esperanças dos aliados para reverter os resultados negativos nas frentes de luta europeias.

Mas a campanha, que começou dois dias depois daquela madrugada e durou nove meses, foi uma das maiores derrotas da Tríplice Entente, formada por Grã-Bretanha, França e Rússia. E um dos maiores banhos de sangue de toda a guerra. Morreram ali 60 mil aliados e 90 mil turcos. Segundo documentos do governo inglês, o número de baixas foi de quase meio milhão de homens, entre mortos, feridos e desaparecidos. A operação foi pensada pelo alto comandante da marinha britânica, Winston Churchill. A estratégia tinha objectivos militares, mas também psicológicos. Ingleses e franceses estavam desiludidos com a estagnação da guerra na Frente Ocidental. Há meses, a luta nas trincheiras rendia poucos frutos. Para Churchill, a ideia de abrir uma nova frente de combate acenava com possibilidades de sucesso para a Entente. E maior ânimo para as tropas aliadas. A operação em Gallipoli pareceu ainda melhor depois que a Turquia entrou na guerra ao lado dos alemães. Os aliados russos, por outro lado, passavam sérias dificuldades na Frente Oriental. O czar Nicolau II pediu auxílio em forma de tropas e munições. Portanto, um ataque bem-sucedido contra a capital turca, Constantinopla, mataria dois coelhos com uma só cajadada: representaria uma derrota para a Tríplice Aliança e abriria um flanco de auxílio aos russos. Parecia o plano quase perfeito. Só que quase não havia homens nem barcos disponíveis. A solução foi utilizar os poucos homens que restavam – e os navios já retirados. Com esse tosco arranjo, a ideia tornou-se prática em Fevereiro de 1915. O objectivo era usar a frota naval para atacar as fortalezas turcas que defendiam o Estreito de Dardanelos.


No local, que ganharia o nome de Anzac Cove (Abrigo Anzac), os homens encontraram um terreno bastante difícil de atravessar, com muitos barrancos e uma vegetação cortante. Mesmo assim conseguiram estabelecer-se na região. A outra base foi instalada em Helles, na ponta da península, exactamente como planeado. A partir daí, começaram os confrontos terrestres. A luta era penosa, principalmente para os soldados aliados.

Com apenas 7 quilómetros de largura, o estreito liga o Mar Mediterrâneo ao Mar de Marmara, acesso para Constantinopla e para o Mar Negro, que costeia a Rússia. O bombardeio, no entanto, não obteve êxito. “O ataque naval dos aliados fracassou devido à falta de bons equipamentos de busca de minas e à eficiente artilharia turca, estacionada em ambos os lados do estreito”, afirma Timothy Travers, autor de Gallipoli e professor de história da Universidade de Calgary. De acordo com ele, as minas marítimas provocaram grandes estragos nos navios britânicos e franceses. Os aliados perceberam que a única forma de furar a defesa turca seria uma invasão por terra. Eram precisos mais soldados. Os franceses convocaram 18 mil homens sobretudo da África Ocidental. Os ingleses mobilizaram 75 mil voluntários das Anzac (Australia and New Zealand Army Corps) que vinham a caminho da Europa. Para comandar, os ingleses indicaram o general Ian Hamilton. O desembarque na costa da península de Gallipoli não era uma tarefa fácil. A geografia acidentada da região, a rapidez com que os planos foram mudados e a má preparação das tropas, sobretudo das Anzac, faziam com que a operação fosse bastante arriscada. A data do ataque foi escolhida - 23 de Abril de 1915. Mas devido à chuva e ao mar muito agitado, o comando teve de esperar até o dia 25 para iniciar o desembarque. Devido a uma inexplicável mudança de rota, a maior parte dos integrantes das Anzac desembarcou a 2 quilómetros do ponto planeado.

Enquanto eles tinham de avançar em condições duras, subir e descer barrancos, cavar trincheiras, carregar armas, os turcos contavam com fortalezas e linhas de abastecimento terrestre contínuo. Os aliados também sofreram com o calor abrasador, com os insectos atraídos por corpos em decomposição, com as condições inadequadas de higiene e de alimentação, além da potente artilharia inimiga.

A intenção era que eles se unissem às tropas Anzac e avançassem juntos. A Entente precisava da vitória. Os alemães haviam acabado de massacrar os russos na Frente Oriental. Mas, de novo, nada deu certo. Segundo Travers, vários problemas se acumularam: “Era o começo da guerra e as tropas aliadas eram inexperientes, especialmente nas ofensivas. Tinham mais facilidade em defender uma posição do que em atacar, como precisavam de fazer em Gallipoli. Também havia sérios problemas de comando no lado aliado. Hamilton usou tácticas erradas e obsoletas. Em contraste, os turcos eram duros defensores – e tinham bons comandantes”. Enquanto isso, a Sérvia, aliada da Entente, era invadida pelos alemães. Abre-se uma nova frente e para defendê-la seria necessário enviar homens para lá. (Conclui no próximo número)

J.M.M.


Seminário “A Grande guerra – Portugal e o Mundo no conflito”. Realizaram-se em Janeiro e Fevereiro mais duas sessões deste seminário. Versaram o tema «Combates na frente e na retaguarda - quotidianos da guerra». A primeira delas centrou-se no conhecimento da vida quotidiana dos soldados nas trincheiras e das suas dificuldades. A segunda tratou a questão das retaguardas e do reabastecimento.

Visitamos em Tomar: Exposição “Portugal e a Grande Guerra”

Visitamos a exposição «Portugal e a Grande Guerra», uma organização do Instituto de História Contemporânea, que está patente na Casa dos Cubos em Tomar. Gostamos sinceramente do que vimos, ou não fosse um trabalho da Profª Maria Fernanda Rollo e da sua equipa. Já contactamos a responsável para aferir da possibilidade de termos esta interessante e importante exposição entre nós. Brevemente vos daremos conta de novos desenvolvimentos.

Palestra «A Alimentação nas Trincheiras. Aconteceu no dia 20 de Fevereiro, na Biblioteca Municipal da Maia, e o palestrante foi José Maia Marques, Técnico Superior da Câmara Municipal da Maia e Docente no Instituto Universitário da Maia. A palestra desenrolou-se em duas partes distintas. Na primeira o autor abordou algumas questões genéricas que enquadravam o tema principal: organização e vida nas trincheiras, problemas de reabastecimento, papel da alimentação no conservar e fortalecer do moral das tropas. Na segunda, e indo de encontro ao tema central, o conferencista focou o problema da alimentação nas trincheiras, nomeadamente a dificuldade de os alimentos lá chegarem, serem suficientes e haver possibilidade de os confeccionar. Fez ainda uma breve abordagem à história e evolução da alimentação nas frentes da Grande Guerra, terminando com a evocação dos soldados portugueses e das suas próprias questões alimentares nas trincheiras. Seguiu-se um momento de perguntas e respostas e no final foi servido um Porto que teve como objectivo possibilitar que os assistentes trocassem impressões entre si.

Dois aspectos da Palestra e divulgação da mesma no site do Centenário http://www.portugal1914.org/ do IHC


Possibilidade de colaboração com a Escola Prática de Serviços

Para ler:

Recebemos um contacto da EPS - Escola Prática de Serviços (Póvoa de Varzim), que abre a porta a colaborações futuras com esta unidade militar. A EPS tem um programa de evocações da Grande Guerra com aspectos que nos interessam, e vice-versa sendo que em breve estudaremos acções de cooperação. Como curiosidade refira-se que a EPS publica um boletim com artigos de interesse também para civis.

Obra de referência, ponto. Explica o como e o porquê de esta guerra, que dividiu e alterou o mundo ocidental para sempre, ter sido travada travada. Esta é a história internacional da I Guerra Mundial, no seu período mais grave e influente no futuro. Max Hastings explica em simultâneo como se desencadeou o conflito e o que aconteceu a milhões de homens e de mulheres durante os primeiros meses da contenda.

Catástrofe, de Max Hastings.

Amadora: 20/20 editora, 2014 [série Vogais]

Para Março/Abril: Sessões 6 e 7 do Seminário “A Grande guerra – Portugal e o Mundo no conflito”. Nos dias 13 de Março e 3 de Abril realizar-se-ão mais duas sessões que têm lugar e são uma organização do Instituto Cultural da Maia – Universidade Sénior, com a colaboração da Câmara Municipal da Maia. As sessões versarão a participação de Portugal na Grande Guerra, procurando-se estabelecer um balanço histórico e político da nossa presença e uma visão crítica da nossa prestação. A primeira sessão terá como balizas cronológicas 1914-1917 e a segunda 1917-1919. A entrada é livre

Palestra “Portugal na Grande Guerra – mitos e realidades” pelo Prof. Doutor Sérgio Veludo Coelho A participação de Portugal na Grande Guerra encontra-se envolta num conjunto de “mitos” e de ideias feitas que, muitas vezes, não correspondem à verdade. O Prof. Doutor Sérgio Veludo Coelho, da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto, irá abordar o tema procurando justamente desfazer os mitos e ressaltar as realidades. Todos certamente ficaremos mais ricos depois desta palestra, que terá lugar no dia 24 de Abril, pelas 21 horas, no Fórum da Maia. A entrada é livre.

Notícias das Trincheiras Nº 4 – Janeiro/Fevereiro de 2015

Palestra

“Portugal na Grande Guerra: mitos e realidades” Prof. Doutor Sérgio Veludo Coelho Fórum da Maia, 24 de Abril, 21h00 Entrada Livre

Projecto A Maia e os Maiatos na Grande Guerra

Director: Mário Nuno Neves

Edição: Câmara Municipal da Maia Pelouro da Cultura

Redactores: José Maia Marques Adriano Freire


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