Notícias trincheiras 6

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Notícias das Trincheiras Nº 6 – Maio/Junho de 2015

Este é o sexto número do «Notícias das Trincheiras» que chega às vossas mãos. Significa isto que se completa um ano sobre o início da actividade pública do Projecto «A Maia e os Maiatos na Grande Guerra». Nestes doze meses levamos a cabo muitas actividades. Paulatinamente, sem alaridos desnecessários, organizamos exposições, conferências, workshops e seminários. Participamos em colóquios e mesas redondas. Estivemos em organizações levadas a cabo por outras entidades. Estabelecemos parcerias. Realizamos visitas de estudo. Mas paralelamente, contactamos pessoas e instituições à procura de protagonistas que tenham participado na Grande Guerra. E investigamos nos arquivos históricos. E, não menos importante, publicamos estes seis números do «Notícias», que enviamos para o site oficial das comemorações e que distribuímos. Para conhecimento presente e para memória futura. Das trincheiras, como sempre, saúda-vos o

Foi um dos navios Ingleses mais famosos do seu tempo. Bateu recordes e foi o último a operar de Liverpool. Juntamente com o seu irmão gémeo “Mauretania”, viu a velocidade aumentada em 2 milhas por hora a cada travessia do Atlântico. Foram os maiores navios do seu tempo por uma larga margem.

Era inconfundível com o seu enorme porte e as suas quatro chaminés. Era rápido, luxuoso, confortável, motivo de orgulho dos britânicos. Foi considerado o máximo na sua categoria.

O seu sucesso deveu-se ao aumento de 75 por cento de potência nas respectivas máquinas, graças à aplicação de turbinas a vapor, iniciando uma nova era, que se prolongou ao longo de várias décadas. Esse extraordinário factor de progresso, garantiu inicialmente ao “Lusitania” e depois ao “Mauretania” a prestigiada “Flâmula Azul”, que embandeiraram durante mais de 20 anos. Foi construído nos estaleiros de John Brown & Co. em Clydebank, Escócia. Deslocava 44.060 toneladas, tinha de comprimento 239,90 m. e de boca 26,80 m. para um calado de 10,2m. Foi lançado à água a 29 de Junho de 1906. Originalmente podia transportar 560 passageiros em 1ª classe, 460 em 2ª e 1.180 em 3ª e uma tripulação de 860 pessoas. As melhores previsões apontavam para um consumo de carvão na ordem das 850 toneladas diárias, quando a navegar à força máxima, ou seja 25,4 milhas por hora.

Postal da época. O Lusitânia unindo pelo mar a Grã-Bretanha e os Estados Unidos

Postal oficial da Cunard Line. O Lusitânia navegando a todo o vapor

Mário Nuno Neves Vereador do Pelouro da Cultura

O afundamento do Lusitânia: tragédia e pretexto. O Lusitânia


Houve a intenção de transformar os navios em cruzadores auxiliares, numa eventual situação de conflito armado, mas em Agosto de 1914, o Almirantado Britânico chegou à conclusão, que ambos eram demasiado grandes para o efeito, mantendo o trafego habitual. Após Novembro de 1914, enquanto o “Mauretania” ficava atracado em Greenock, o “Lusitania” foi mantido em serviço. O afundamento No dia 7 de maio de 1915, ainda no início da Primeira Guerra Mundial, o transatlântico britânico Lusitânia, proveniente de Nova Iorque, é afundado por um submarino alemão nas costas da Escócia, 10 milhas ao largo de Old Head of Kinsale. O navio foi atingido por um torpedo disparado, sem aviso prévio, pelo submarino alemão U.20, sob o comando do capitão Walter Schwieger, atingindo em cheio a primeira das salas das caldeiras. Afundou-se em apenas 18 minutos causando 1.198 vítimas, entre as quais se contavam 124 americanos.

Como a «Ilustração Portugueza» viu o afundamento

Segundo depoimentos de muitos dos 671 sobreviventes, ouviram-se duas explosões no navio, antes deste se afundar.

Não deixa de ser curiosa a publicação de um anúncio da Embaixada Alemã, lado a lado com a publicidade da Cunard ao Lusitânia, avisando para o perigo que representava viajar naqueles navios, considerando eventuais ataques como actos de guerra legítimos. Há também quem afirme que o Almirantado descurou protecção do navio, mantendo-o a navegar próximo da costa Escocesa sem a presença de escolta, face à evidente ameaça submarina. A ser verdade, especulando sobre a possibilidade de levar os Americanos a participar na guerra, foi evidente que a provocação gerada pelo ataque, deu o argumento que faltava aos Estados Unidos para entrar no conflito.

A revolta causada, bem expressa na cobertura jornalística, acabou por justificar apelos à mobilização, à vingança, enfim, transformou-se não só numa afirmação de repulsa como numa motivação extra para a continuação da guerra e a entrada dos Estados Unidos, até aí neutrais. J.M.M.

À volta do naufrágio Os alemães sempre justificaram este acto afirmando que o navio transportava munições e outro material bélico, transformando-se assim em «alvo legítimo» e identificando a segunda explosão como prova da existência dessas munições, algumas das quais teriam rebentado. Os britânicos, por seu lado, afirmavam que o submarino teria disparado dois torpedos, sendo essa a razão da dupla explosão. Mesmo assim muita gente questiona o torpedeamento de um navio de passageiros.

Cartazes apelando ao alistamento, tendo como motivo principal o afundamento do «Lusitania»


Final do Seminário “A Grande guerra – Portugal e o Mundo no conflito”. Realizaram-se em Maio e Junho as duas últimas sessões deste Seminário, que tiveram lugar e foram uma organização do Instituto Cultural da Maia – Universidade Sénior, com a colaboração da Câmara Municipal da Maia. Tiveram por título «O fim do pesadelo – balanço possível» e «O mundo depois da guerra – nunca digas nunca mais…». Pcurou-se estabelecer um balanço final do conflito e perspectivar o mundo novo do pós-guerra. Orientado pelo Dr. José Maia Marques, da Câmara Minicipal da Maia e do Instituto Univsitário da Maia, o Seminário teve mais de 30 inscritos.

VAMOS FAZER: Périplo pelos espaços portugueses da Grande Guerra Na última semana de Julho o «Notícias das Trincheiras» vai participar num périplo pelos espaços portugueses da Grande Guerra. Será uma viagem que se iniciará em Hendaia (onde ficou instalado (!!!) o nosso Hospital de Guerra), que chegará a Boulogne sur Mer, em cujo cemitério há um talhão português, mas que se centrará no local de presença maciça do Corpo Expedicionário Português – a Flandres.

Deste périplo resultará a realização de várias exposições e palestras e um workshop. Uma dessas exposições será itinerante e começará por percorrer as Escolas do Concelho. Iremos dando notícias…

Em Almeida: Exposição sobre o soldado português na Grande Guerra No Museu Histórico Militar de Almeida esteve de 8 de Maio a 30 de Junho a exposição «O Soldado Português na I Grande Guerra», visando rememorar, através de um périplo fotográfico, as condições de vida e de combate dos soldados portugueses e as consequências devastadoras do conflito.

Deslocamo-nos a Almeida para ver a exposição e aquilatar do seu interesse para o projecto «A Maia e ao Maiatos na Grande Guerra». Trata-se de uma iniciativa meritória da Liga dos Combatentes, que itinerou já por vários concelhos do país. É composta por um conjunto significativo de reproduções fotográficas de postais da época, das conhecidas séries «Os portuguezes na frente de batalha» e «Os portuguezes em França», com fotografias do famoso Arnaldo Garcez, numa edição do Serviço Photographico do C.E.P. / Lévy & Fils C.ie, Paris. Numa montagem que, em alguns casos, poderia ser melhorada, a exposição procura ilustrar a diversidade das situações de guerra vividas pelos soldados portugueses, graças às expressivas fotografias de Garcez que, a par com Joshua Benoliel, por exemplo, fizeram a cobertura da presença portuguesa no conflito. A ver vamos se teremos esta Exposição entre as iniciativas a levar a cabo na Maia em 2016.

Um dos postais editados com fotografia de Arnaldo Garcez


PARA LER:

VISITAMOS: Evocações da Grande Guerra em Berlim Numa breve viagem a Berlim aproveitamos para visitar algumas referências à Grande Guerra. Destacamos hoje a «Neue Wache» que serviu de monumento evocativo dos soldados que morreram durante a guerra contra Napoleão. Depois, teve o mesmo fim em relação aos soldados da Grande Guerra. Hoje é o “Memorial Central da República Federal da Alemanha para as Vítimas da Guerra e da Tirania”. Edifício neoclássico, o seu interior mostra-nos «apenas» a impressionante escultura «Mãe com seu filho morto», obra autobiográfica de Käthe Kollwitz que perdeu o seu filho na guerra. A escultura fica sob a abertura no tecto, estando exposta à chuva, à neve e ao sol, simbolizando assim o sofrimento dos civis durante os conflitos.

Entre a Morte e o Mito, de Sílvia Correia

Desta obra diz Nuno Severiano Teixeira: “Não há maior mérito para um historiador que o de dar voz a uma experiência que o tempo silenciou ou de fazer emergir uma história que o mito apagou. E é esse o mérito de Sílvia Correia e da sua obra, doravante incontornável para se compreender a memória da Grande Guerra em em Portugal.” Apenas acrescentamos que tratando-se de um trabalho académico, se lê com o mesmo prazer com que «devoramos» uma obra de ficção. Prova que rigor científico e escrita agrdável não são antagónicos. Lisboa: Temas e Debates/Círculo, 2015.

Exterior e interior da «Neue Wache». Fotos de José Maia Marques.

Exposição “A Grande Guerra e a Literatura – escritores combatentes” Esta exposição estará patente na Biblioteca Municipal da Maia de 6 a 25 de Juho. Dará atenção a escritores que participaram na Guerra como combatentes. Nomes como o de Tolkien, de Chandler ou de Priestley são normalmente associados a outros campos que não os da literatura de guerra.

Notícias das Trincheiras Nº 6 – Maio/Junho de 2015

Palestra de Jorge Silva na Feira do Livro da Maia

No dia 5 de Julho pelas 21h00 realiza-se no auditório da Feira do Livro da Maia uma palestra de Jorge Silva intitulada Portugal

em África na Grande Guerra: Máscaras de uma neutralidade ficcionada. A entrada é livre. Projecto A Maia e os Maiatos na Grande Guerra

Director: Mário Nuno Neves

Edição: Câmara Municipal da Maia Pelouro da Cultura

Redactores: José Maia Marques Adriano Freire


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