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Editorial do Boletim da UAEM Brasil

A ciência desempenha papel fundamental na história da humanidade. Graças a ela, superamos epidemias, fomos à lua, conectamos o mundo, ampliamos nosso olhar sobre nós mesmos e sobre a vida. O desenvolvimento científico e tecnológico é essencial para garantir a soberania de um país. É, ainda, essencial para garantir o direito à saúde de uma população.

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No Brasil, quem produz ciência é a universidade pública. E é a pesquisa pública que busca atender ao interesse público, incluindo aí as necessidades em saúde de uma população. Já o mercado visa atender a interesses privados. Nesse sentido, causa enorme preocupação o projeto em curso no Brasil de sucateamento e privatização das políticas de educação superior e ciência, tecnologia e inovação. Em 2019, ano em que uma das iniciativas mais importantes de apoio à pesquisa em saúde no Brasil, o Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), comemora 15 anos com mais de 3700 pesquisas financiadas em mais de 291 instituições do país, o governo federal tem promovido cortes financeiros e mudanças normativas que ameaçam a sustentabilidade e a autonomia das universidades federais e da ciência brasileira.

Diante deste contexto, a UAEM Brasil, confiante no papel fundamental das universidades e instituições públicas de pesquisa na superação da crise mundial de acesso a medicamentos, une-se às vozes que bradam pela resistência a esses retrocessos. Um de nossos quatro projetos em curso em 2019 atua na valorização e no incentivo à inovação biomédica democrática, direcionada às necessidades da população brasileira, e a defesa do financiamento público de pesquisa. Busca, sobretudo, levar ao conhecimento da sociedade brasileira a importância das universidades públicas no desenvolvimento soberano e democrático do nosso país. E é com muito orgulho e vontade de somar que, como produto do projeto Investir em pesquisa pública é desenvolver o Brasil, lançamos a primeira edição do Boletim da UAEM Brasil em 2019.

O Boletim tem três objetivos principais: contribuir para o debate público acerca da educação, ciência, desenvolvimento e democracia; fomentar a discussão na sociedade sobre a realidade atual das universidades, no âmbito do ensino, pesquisa e extensão, e as mudanças que estão em curso pelo governo federal; e, sobretudo, defender a pesquisa e a educação pública, gratuita e de qualidade como um dos pilares da democracia e da igualdade, especialmente no âmbito da saúde e do acesso a medicamentos.

Para cumprir com os objetivos propostos, iniciamos o Boletim com um texto manifesto Por que o ataque às universidades é um ataque à democracia brasileira, escrito pela coordenadora do projeto Mariana Bicalho. Mariana convida a todos a compreender os ataques ideológicos e econômicos que recaem sobre as

universidades brasileiras atualmente, especialmente as universidades públicas, e como esses ataques afrontam um projeto político, econômico e social mais justo e mais democrático para todos os brasileiros.

Em seguida, apresentamos uma excelente entrevista com nosso crush da vez: Reinaldo Guimarães. Reinaldo é uma das maiores referências nacionais sobre Ciência, Tecnologia e Inovação, em especial no âmbito da saúde. Em suas respostas, o vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) aponta a importância dos insumos científicos e tecnológicos para a saúde humana e a sustentabilidade do SUS, ressalta a importância da democratização do saber científico e convoca a todos os estudantes ativistas a resistirem às oscilações políticas e econômicas. Não vamos contrariar nosso crush, não é mesmo?

Logo depois, Marcela Amaral, integrante do capítulo de Belo Horizonte da UAEM Brasil, apresenta alguns destaques das universidades brasileiras com relação à inovação em saúde e ressalta a importância de parcerias entre as universidades e programas governamentais, como o Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS), que contribuiu decisivamente para o acesso à saúde da população brasileira.

Em parceria com o projeto Acesso e resistência a antimicrobianos, também da UAEM Brasil, Rafael Almeida, Isak Batista e Barbara Carvalho nos contemplam com uma excelente reflexão sobre a importância da pesquisa pública para o enfrentamento à resistência antimicrobiana. Para eles, não há dúvidas sobre a importância do investimento público para o desenvolvimento de medicamentos inovadores.

Um outro caso claro de necessidade de investimento público em pesquisa é trazido pelos membros do capítulo da UAEM Fortaleza Antônio Delerino, Brenna Gadelha, Gabrielle Rocha, Nayla Andrade e Thainá Andrade: as doenças negligenciadas. Eles detalham o panorama epidemiológico das DTN no Brasil e evidenciam a importância de ampliar o conhecimento crítico, científico e histórico sobre tais doenças como caminho para diminuir as desigualdades regionais e proporcionar um Brasil mais democrático e igualitário.

Em seguida, Matheus Falcão, membro do projeto Investir em pesquisa pública é desenvolver o Brasil, por meio de uma análise de conjuntura norte-americana e brasileira no caso das insulinas, apresenta uma excelente reflexão sobre a importância dos laboratórios públicos para resguardar a soberania e o desenvolvimento dos países, e, sobretudo, para uma política de assistência farmacêutica mais eficaz e barata.

Por fim, matamos um pouco a saudade da nossa ex-membro Luiza Pinheiro. No nosso quadro Diz que é verdade, que tem saudade, Luiza explica como a UAEM foi importante na sua formação pessoal e profissional, e deixa o recado: todo esforço dedicado na organização é recompensado em dobro!

Esperamos que este boletim contribua nas discussões sobre saúde, educação, ciência e tecnologia, isto é, nas discussões sobre o projeto de país que nós – estudantes, ativistas, pesquisadores, professores, funcionários, trabalhadores – queremos. Apresentamos nestas páginas argumentos, fatos, visões de mundo, posições científicas e políticas, que acreditamos serem essenciais para garantir o direito à saúde no Brasil e para construir uma sociedade mais justa e mais democrática. Convidamos todas (os) à leitura e, sobretudo, a desmontar os muros que impedem a abertura a novos conhecimentos. A via democrática é a da troca, da aprendizagem constante com o outro. Seguimos juntos!

Mariana Ferreira Bicalho - Coordenadora do Projeto Investir em pesquisa pública é desenvolver o Brasil

Luciana de Melo Nunes Lopes - Diretora Executiva da UAEM Brasil

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