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PUBLICAÇÃO DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – ANO IX – Nº 69 – NOVEMBRO/DEZEMBRO 2014
Mudanças e novidades no caminho à Universidade Confira nesta edição as novidades para o ingresso na graduação e as novas opções de cursos que serão oferecidas a partir de 2015: Engenharia de Transportes e Geologia
Comissão Nacional da Verdade recebe críticas por dificuldades de se fazer justiça p. 6 e 7
UFG investe na expansão de redes elétricas internas para solucionar quedas de energia no Câmpus Samambaia p. 8
Pesquisas avaliam qualidade da água da hemodiálise em hospitais e da linguiça frescal em açougues p. 10 e 11
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Jornal UFG
EDITORIAL
Constantes mudanças
OPINIÃO
Goiânia, novembro/dezembro 2014
CAMINHOS DA PESQUISA Revistas científicas: acesso e tendências Gerência de Informação Digital e Inovação
Kharen Stecca*
A
s mudanças na UFG não pararam de ocorrer em 2014. Em pleno processo de consolidação da universidade e de suas Regionais, ainda há muito espaço para novidades, que viabilizam a continuação do crescimento de nossa instituição e adaptam-na aos novos desafios. O Jornal UFG chega à última edição deste ano com destaque para algumas novidades e mudanças. A UFG oferece novos cursos para 2015: Geologia e Engenharia de Transportes, no Câmpus de Aparecida de Goiânia, cursos inéditos, Arquitetura e Urbanismo, na Regional Goiás, e uma nova turma de Medicina, na Regional Jataí. Além disso, para os ingressantes na graduação, este será o primeiro ano em que a UFG não realizará o Vestibular, utilizando apenas o Sistema de Seleção Unificada (SiSU), com exceção para cursos com Verificação de Habilidades e Conhecimentos Específicos (VHCE) e Educação a Distância, que terão edital próprio, usando também as notas do Enem. A mudança que ocorreu em diversas universidades alterou a rotina dos estudantes de escolas públicas e privadas. Para discutir o assunto, o Jornal UFG traz as matérias “UFG é 100% SiSU. E agora?!”, com depoimentos de diretores de instituições de ensino médio, e “UFG ofertará novos cursos”. Nesta matéria, pode ser conferida a tabela, estipulada pela UFG, com os pesos que serão utilizados no cálculo das notas de seleção, de acordo com a área de conhecimento de cada curso. Outra mudança é a respeito das cotas. A UFG, seguindo a lei que definiu o sistema de reserva de vagas, para 2015, reservará 40% das vagas para alunos de escolas públicas, pretos, pardos e indígenas. Para 2016, serão 50% das vagas reservadas. Isso significa uma mudança cada vez maior do perfil do estudante da UFG. Para que a universidade esteja preparada para acolher as diferenças, foi inaugurada a Coordenadoria de Ações Afirmativas (CAF). O Jornal UFG traz uma entrevista com a coordenadora da CAF, Luciene Dias, que explica como será o trabalho deste novo espaço. Internamente, a universidade também tem se organizado para se adaptar às novas demandas. Esta edição destaca o que tem sido feito com relação a problemas recorrentes na UFG, como as constantes quedas de energia e a violência na instituição. O crescimento também engloba solucionar desafios e demandas, junto à comunidade acadêmica, que surgem com todo esse processo, e a UFG está atenta a isso. Conheça um pouco das discussões e mudanças iniciadas em 2014 e veja como participar da construção das soluções de problemas dentro da universidade. Boa leitura!
A Gerência de Informação Digital e Inovação da Biblioteca Central (BC) assessora os editores na criação de revistas e orienta sobre as bases indexadoras – agrupamentos de periódicos científicos selecionados. Quanto mais indexações a revista tiver – diferentes bases a qual for ligada – mais credibilidade e maior visibilidade ela terá no meio científico. Duas das revistas mais antigas editadas na UFG, a Ciência Animal Brasileira e a Pesquisa Agropecuária Tropical Animal, estão na Scientific Eletronic Library Online (Scielo) – considerada a base indexadora brasileira de mais alto grau de exigência. Essa biblioteca eletrô-
nica sedia uma coleção selecionada de periódicos científicos de várias áreas do conhecimento publicados no Brasil e em outros países. É nesta Gerência que os trabalhos publicados nas revistas da UFG recebem o registro Document Object Identifier (DOI), identificação padrão de documentos em redes de computadores. O sistema atribui um número único e exclusivo a todo e qualquer material publicado, permitindo sua localização e acesso. Esse mesmo número é visível no Curriculum Lattes do CNPq, conferindo “certificação” aos produtos então relacionados.
Visibilidade e credibilidade dos periódicos O valor da publicação científica está diretamente relacionado ao seu nível de impacto, ou seja, ao seu potencial como referência. Há muito tempo são criados mecanismos para quantificar e avaliar esse impacto. Os mais conhecidos no âmbito internacional são o Journal Citation Report (JCR), criado pelo Institute for Scientific Information (ISI), e o Scopus, editado pela Elsevier, que verificam o fator de impacto, por meio de um indicador bibliométrico utilizado para medir as citações de um determinado periódico. Também há o Google Scholar, mais uma ferramenta de análise de citações. O fator de im-
pacto varia muito entre as diferentes áreas de pesquisa. Um sistema de avaliação referência em nível nacional é o Qualis Capes, que utiliza um conjunto de procedimentos para a estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação. O Qualis afere a qualidade da produção científica por área do conhecimento, a partir da análise dos artigos, periódicos científicos e anais de eventos, atribuindo os conceitos A1, mais elevado A2, e B1 a B5. O nível C é considerado zero. As revistas da UFG já consolidadas estão assim avaliadas: 4 (A2), 7 (B1), 6 (B2), 3 (B3), 6 (B4) e 5 (B5).
*Coordenadora de Imprensa da Ascom
Jornal
UFG
Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás ANO IX – Nº 69 – NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 2014 www.jornalufgonline.ufg.br ASCOM – Reitoria da UFG – Câmpus Samambaia C.P.: 131 – CEP 74001-970 – Goiânia – GO Tel.: (62) 3521-1310 /3521-1311 www.ufg.br – jornalismo.ascom@ufg.br – www.ascom.ufg.br
Universidade – Reitor: Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor: Manuel Rodrigues Chaves; Próreitor de Graduação: Luiz Mello de Almeida Neto; Pró-reitor de Pós-Graduação: José Alexandre Felizola Diniz Filho; Pró-reitora de Pesquisa e Inovação: Maria Clorinda Soares Fioravanti; Pró-reitora de Extensão e Cultura: Giselle Ferreira Ottoni Cândido; Pró-reitor de Administração e Finanças: Carlito Lariucci; Pró-reitor de Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos: Geci José Pereira da Silva; Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária: Elson Ferreira de Morais. Jornal UFG – Coordenadora de Imprensa e editora-geral: Kharen Stecca; Editora: Michele Martins; Conselho editorial: Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Luís Maurício Bini, Pablo Fabião Lisboa, Reinaldo Gonçalves Nogueira e Silvana Coleta Santos Pereira; Suplente: Mariana Pires de Campos Telles; Projeto gráfico e editoração eletrônica: Reuben Lago; Fotografia: Carlos Siqueira; Reportagem: Angélica Queiroz, Camila Godoy, Serena Veloso e Silvânia de Cássia Lima; Colaboração: Renan Vinicius Aranha e Welliton Alves; Revisão: Letícia Braz; Estagiários: Dúnia Esper, Thaíssa Veiga e Warlos Morais; Bolsistas: Adriana Cristina e Letícia Antoniosi; Impressão: Centro Editorial e Gráfico (Cegraf) da UFG; Tiragem: 10.000 exemplares
Jornal UFG
ENTREVISTA Luciene Dias
Goiânia, novembro/dezembro 2014
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Michele Martins
A
pesar dos avanços que a universidade tem registrado em relação à promoção de oportunidades de inclusão de uma parcela da população que permanece, por décadas, socioculturalmente marginalizada e sem acesso à educação superior pública, ainda é um consenso de que a efetiva inclusão ainda não ocorreu. De acordo com membros da comunidade acadêmica ligados diretamente a esses indivíduos, constatouse que eles querem ser vistos e ouvidos. Esse posicionamento tem impulsionado estratégias de ação que superam os meros levantamentos quantitativos e estatísticos sobre programas como o UFGInclui. Nesse contexto, foi inaugurada em 30 de outubro de 2014 a Coordenadoria de Ações Afirmativas (CAAF), um novo espaço, cuja função é ouvir e dar soluções aos indivíduos em situação de vulnerabilidade que estão entrando na universidade. Em entrevista, a professora da Faculdade de Comunicação e Informação (FIC) e coordenadora da CAAF, Luciane Dias, informa sobre como são orientados os trabalhos dessa coordenadoria. Confira!
Adriana Cristina
Um espaço para ações afirmativas
Como podemos avaliar as ações afirmativas efetivadas pela UFG até a criação da Coordenadoria de Ações Afirmativas?
A UFG demorou para perceber a importância das ações afirmativas, mas entrou com força quando entendeu a necessidade de estabelecer políticas específicas. Essas ações começaram com o projeto Passagem do Meio, que teve início há cerca de dez anos na Faculdade de Ciências Sociais (FCS), com o objetivo de preparar estudantes da graduação para ingressarem na pós-graduação. A partir desse projeto e para atender a uma demanda nacional de criação de um sistema de cotas para ingresso nas universidades, a equipe da Reitoria iniciou discussões sobre ações afirmativas.
A partir dessas discussões que surge o Programa UFGInclui?
Exatamente. Em 2008, foi criado o Programa UFGInclui, que, no ano seguinte, trouxe para diversos cursos da universidade estudantes negros, indígenas, quilombolas e estudantes de escolas públicas. Contudo, toda política de ação afirmativa implantada demanda acompanhamento diário, porque essas pessoas que passam a compor o universo acadêmico são aquelas as quais a instituição não estava acostumada lidar. É preciso trabalhar com essas diferenças no sentido de construir uma vida melhor na universidade. Porém, não sei se já conseguimos respeitar as diferenças. Isso é um processo. Outra demanda que temos
Queremos liberdade para atuar na condução de políticas de ações afirmativas na UFG buscado atender é a da qualificação. Estudantes que entram para cursos como Física têm alto índice de reprovação na disciplina Cálculo. Para resolver esse problema, o curso de Física criou uma disciplina específica, como uma introdução ao Cálculo, para que estudantes com dificuldades tenham condições de conduzir o curso de forma satisfatória.
Como foi idealizada a Coordenadoria de Ações Afirmativas?
Ela surgiu de um coletivo dentro da universidade, tendo como participantes diversos núcleos de pesquisa, de estudo, professores e professoras negras e pessoas que passaram pela universidade não como cotistas, porque isso ainda não existia. Esse coletivo realizou uma série de reuniões para tentar instituir uma proposta. Quando foi aberto o processo eleitoral para escolha do novo reitor da UFG, em 2013, membros desse coletivo, o qual também faço parte, apresentaram ao professor Orlando Amaral a nossa proposta e solicitaram que ele a incorporasse em seu plano de gestão. Assim que tomou posse, ele convidou o coletivo para conversar e criar a Coordenadoria de Ações Afirmativas vinculada à Reitoria. Essa demanda foi, portanto, social e não institucional.
Como é a estrutura dessa Coordenadoria?
A CAAF foi inaugurada no dia 30 de outubro, com sede no Centro de Convivência do Câmpus Samambaia. A reunião do Conselho Universitário (Consuni) aprovou a criação
da CAAF em maio de 2014. Após a formação da equipe, vamos elaborar um estatuto e pensar em estratégias de ação. Todas as Pró-Reitorias estão vendo com bons olhos a criação da CAAF. Ninguém foi contra sua criação no Consuni, até porque ela não engloba só pessoas negras e pobres, mas também pessoas com deficiência, cada vez mais presentes na universidade. Temos um grupo muito bom e disposto a trabalhar. A estrutura tem servidores e bolsistas, além da coordenadora. A intenção é também instituir um conselho consultivo, para manter a ideia dos grupos de pesquisa, dos núcleos, das pessoas sensíveis da universidade. Queremos liberdade para atuar na condução de políticas de ações afirmativas na UFG.
Quem irá compor o conselho consultivo e quais serão as frentes de ação?
O coletivo que elaborou a proposta da CAAF não se destituiu, dessa forma, pessoas desse coletivo devem compor o conselho consultivo, mas ainda não temos os nomes. A CAAF deve agir para além do acompanhamento e permanência estudantil, não só em ações pontuais dirigidas aos estudantes, mas na política como um todo. Vamos pensar, por exemplo, o assédio moral dos servidores que é grande na universidade e também levantar áreas de pesquisa envolvidas com ações afirmativas na UFG. O contato com a Coordenadoria de Ações Afirmativas pode ser feito pelo e-mail: caf.ufg@gmail.com
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E AGORA?!
Jornal UFG
EDUCAÇÃO
Goiânia, novembro/dezembro 2014
UFG é 100% SiSU
Confira como a adesão integral da UFG ao SiSu repercutiu no ensino de três colégios diferentes
REDE ESTADUAL
Já os perfis dos mais de mil alunos do Colégio Estadual Santa Luzia, localizado em Aparecida de Goiânia, são bem diferentes. O diretor da escola, Glodiomez Correia, diz que lá existem alunos que se destacam e correm atrás da aprovação nos processos seletivos, mas também há aqueles que só querem terminar o ensino médio por conta do mercado de trabalho ou porque os pais obrigam e, em sua escola, estes são maioria. Segundo Glodiomez Correia, o principal desafio que sua gestão tem encontrado é conscientizar os estudantes de que o ensino é um direito e que como tal deve ser reivindicado: “Todos os dias encontramos alunos que torcem para não terem aula. Geralmente, esse tipo de estudante não se preocupa com os Processos Seletivos das universidades, nem cogita continuar os estudos depois do terceiro ano do ensino médio, às vezes, alegando falta de oportunidade e outras, por desinteresse”. Ainda assim, o diretor afirma que o clima na escola foi de entusiasmo ao receberem a notícia da adesão integral da UFG ao Sisu. “Muitos achavam que o Vestibular era uma etapa intransponível, só para a elite. Agora, esses alunos não têm mais a desculpa de que o Processo Seletivo é um empecilho para estudar na instituição”, disse. Glodiomez Correia, contudo, enfatiza que a medida não resolve, mas contribui com a democratização do acesso à UFG. No Colégio Estadual Santa Luzia já era comum a elaboração de provas por grandes áreas, ao estilo do Enem, desde sua inauguração, em 2003. No entanto, a equipe de docentes considerou que esse método avaliativo não era o mais adequado. Para o diretor, a decisão pode ser repensada. Hoje, somente os simulados são por áreas e realizados bimestralmente.
Camila Godoy
D
urante muito tempo o Vestibular da Universidade Federal de Goiás (UFG) norteou os estudos de milhares de estudantes do ensino médio interessados em ingressar na instituição. Porém, em maio de 2014, a UFG aderiu integralmente ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), substituindo o Processo Seletivo tradicional pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A mudança repercutiu em escolas de todo o Estado de Goiás que alteraram suas práticas pedagógicas para melhor se adequarem ao estilo da prova. O fato de direcionar planos pedagógicos a processos seletivos não é novidade e sempre foi alvo de críticas. A psicopedagoga Cristiane Silva, por exemplo, alerta que a excessiva atenção à meritocracia dos exames e vestibulares não é saudável. “Muitas escolas se esqueceram do caráter formador típico dessa etapa. O ensino médio é uma fase importante para o indivíduo se conhecer e se socializar, a aprovação em processos seletivos é apenas uma consequência”, defendeu.
Apesar disso, a diferença nos estilos de provas do Enem e do Vestibular da UFG não passou despercebida por gestores de muitas instituições. No Colégio Protágoras, escola privada de Goiânia, a decisão de adesão integral da UFG ao Sisu resultou na redistribuição dos conteúdos em grandes áreas e na oferta de aulas temáticas, em que um assunto é trabalhado por professores de áreas distintas em uma mesma sala de aula. O diretor do colégio, Marcos Araújo, explicou as mudanças: “Ao invés de Biologia, Física e Química, temos Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Em relação às aulas temáticas, se o tema for, por exemplo, Radioatividade, explicamos a história da Segunda Guerra Mundial e a Física e a Química envolvidas no funcionamento da bomba atômica”. Além disso, o diretor também aponta que a maioria de seus alunos escolhe o curso de Medicina e, por isso, desde o primeiro ano do ensino médio, todos são submetidos a um pesado ritmo de estudo: “Nós preparamos para os estudantes curso de maior concorrência, porque temos a filosofia de que quem se prepara para Medicina, se prepara para qualquer outro curso, apesar de sabermos que o melhor é aquele que o aluno quer fazer, independente da área. Queremos formar bons cidadãos e também que eles tenham notas altas nos vestibulares e no Enem”.
A ex-diretora do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae) da UFG, Maria José Oliveira de Faria Almeida, que esteve à frente da instituição por oito anos, destaca que o objetivo do Cepae não é preparar o aluno para os processos seletivos, e sim para a vida. Maria José Oliveira diz com orgulho que todos os seus 180 alunos do ensino médio do colégio são extremamente questionadores e estimulados a reivindicarem toda ordem de direitos. “Alunos questionadores nos fazem repensar práticas, porque não somos donos da verdade”, confirmou. Com a adesão integral da UFG ao Sisu, a ex-diretora afirma que os simulados do colégio deixarão de seguir os padrões do Centro de Seleção (CS) da UFG. Maria José Oliveira explica que, a partir deste ano, questões de Educação Física, Filosofia e Sociologia serão cobradas, assim como acontece no Enem. Outra provável mudança será o fim do projeto de extensão que analisa obras literárias exigidas no Processo Seletivo: “Era um projeto aberto à comunidade, muito requisitado, atuante há mais de 20 anos e que já chegou a receber mais de três mil inscritos. As análises eram verdadeiros estímulos aos estudos de literatura”.
D E S A F I O S O ensino médio brasileiro possui tantos quesitos e missões, que muitos educadores se sentem perdidos sobre quais pontos priorizar. O superintendente do ensino médio em Goiás, professor Fernando Pereira, considera que por esse motivo, essa etapa se tornou o principal problema da educação: “É ilógico termos 14 disciplinas obrigatórias nessa fase de ensino. Estamos muito preocupados com o currículo”. A professora da Faculdade de Educação (FE) da UFG, Amone Inácia, lembra que os alunos, em geral, têm muita dificuldade de unir e inter-relacionar as disciplinas, que são muitas, plurais: “Precisamos aprender a trabalhar por grandes áreas, inclusive na universidade”, disse.
Foto: Adriana Cristina
REDE PRIVADA
COLÉGIO DE APLICAÇÃO
Ensino Médio: formação humanista é mais importante do que preparação para exames e vestibulares
Jornal UFG
VIDA ACADÊMICA
UFG ofertará novos cursos
Os cursos de Engenharia de Transportes e Geologia são as duas opções inéditas na universidade Caroline Almeida
O
ano de 2015 terá mais opções de cursos para os futuros acadêmicos. Três novas graduações serão oferecidas pela Universidade Federal de Goiás (UFG), nas Regionais Goiânia, Goiás e Jataí, sendo dois deles inéditos. No Câmpus Aparecida de Goiânia, a UFG receberá os cursos de Engenharia de Transportes e Geologia, enquanto o câmpus da Cidade de Goiás, o curso de Arquitetura e Urbanismo. A Regional Jataí também terá novidades: mais uma turma do curso de Medicina. Planejados para receber as primeiras turmas logo no primeiro semestre do próximo ano, as unidades acadêmicas ainda passam por adaptações na estrutura física. A maior parte iniciará suas atividades com turmas menores, buscando ampliar a quantidade de vagas ao longo do desenvolvimento das instalações. Como exemplo, o caso do curso de Arquitetura e Urbanismo, no câmpus da Cidade de Goiás, que iniciará com uma turma de 25 alunos anualmente, aumentando de forma progressiva até corresponder à proposta do Ministério da Educação (MEC), que é de 50 alunos.
Com a nova graduação, a Regional Goiás chega ao seu quinto curso. Segundo a diretora da unidade, Maria Meire de Carvalho, a novidade responde a uma demanda existente na região, que é carente de profissionais da área. “Além de se tornar uma oferta necessária há algum tempo, esse curso vem para consolidar o Câmpus da Cidade de Goiás, com possibilidades de ensino em áreas bastante distintas”, afirmou. Em Jataí, o atual modelo de turmas semestrais de Medicina, cada uma com 30 vagas, deve ser substituído pela entrada anual de 60 alunos, assim que o prédio definitivo for concluído. “Atualmente, utilizamos instalações oferecidas pela prefeitura e temos feito uso compartilhado dos laboratórios dos cursos das áreas de Ciências Biológicas e da Saúde”, explicou Eliana Morais, coordenadora de Graduação da Regional Jataí e coordenadora pedagógica do curso. Em 2015, a cidade terá mais duas turmas com 30 vagas cada, semestralmente. O Câmpus de Aparecida de Goiânia, já com uma graduação em andamento, receberá mais dois cursos. Enquanto a sede
não é concluída, os alunos de Engenharia de Produção, têm tido aulas nas instalações da Universidade Estadual de Goiás (UEG), o que também deve ser mantido para o início dos cursos de Engenharia de Transportes e Geologia. As novas opções aparecidenses surgem com estímulos diferentes. A graduação em Engenharia de Transportes, por exemplo, chega motivada pelo pioneirismo. “Esse vai ser o primeiro curso de bacharelado da área no Brasil e um dos primeiros da América Latina”, comemorou Cristiano Farias, da Escola de Engenharia Civil (EEC). O curso de Geologia, outra opção inédita, é impulsionado pela demanda regional. “A mineração corresponde a parcela significativa do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, o que cria uma demanda constante por profissionais”, explicou Tereza Brod, professora do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa). Vale lembrar que o ingresso nos novos cursos, assim como nos já existentes, será possível por meio da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), única forma de seleção para os cursos de graduação.
Notas para ingresso na UFG serão compostas conforme áreas do conhecimento A entrada dos novos estudantes na UFG, a partir de 2015, será por meio do Sistema de Seleção Unificada (SiSU), que utiliza as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para preencher as vagas ofertadas pela instituição. As notas serão compostas sob diferentes pesos, de acordo com grupos de cursos. Os cursos que exigem Verificação de Habilidades e Conhecimentos Específicos (VHCE) não participarão do SiSU, mas os mesmos pesos se enquadram para seus Processos Seletivos específicos, que também utilizarão as notas das provas do Enem.
Provas
Grupo 1 Grupo 2 Grupos 3 e 4
REDAÇÃO
1,5
1,5
1,5
LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS
3,0
3,0
3,0
MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS
1,5
1,0
1,0
CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
1,0
1,0
3,5
CIÊNCIAS DA NATUREZA E SUAS TECNOLOGIAS
3,0
3,5
1,0
Goiânia, novembro/dezembro 2014
Engenharia de Transportes
Medicina
Geologia
Arquitetura e Urbanismo
Titulação: Bacharel em Engenharia de Transportes Vagas anuais: 40 Turno: Integral Regime: Semestral Local: Regional Goiânia (Câmpus de Aparecida de Goiânia) Contato Institucional: (62) 3518-7106 (62) 3278-3729
Titulação: Geólogo Vagas anuais: 40 Turno: Integral Regime: Semestral Local: Regional Goiânia (Câmpus de Aparecida de Goiânia) Contato Institucional: (62) 3518-7106 (62) 3278-3729
Titulação: Médico Vagas anuais: 60 (atualmente, 30 por semestre) Turno: Integral Regime: Semestral Local: Regional Jataí (atualmente, no Câmpus Riachuelo) Contato Institucional: (64) 3606-8130
Titulação: Arquiteto e Urbanista Vagas anuais: 25 Turno: Integral Regime: Semestral Local: Regional Goiás Contato Institucional: (62) 3371-1511
Confira a divisão de grupos e pesos das provas do Enem, aprovada pela Câmara de Graduação da UFG: Grupo 1 – Agronomia, Ciências Ambientais, Ciências da Computação, Engenharia Ambiental e Sanitária, Engenharia Civil, Engenharia de Alimentos, Engenharia de Computação, Engenharia Elétrica, Engenharia Física, Engenharia Florestal, Engenharia Mecânica, Engenharia de Minas, Engenharia de Produção, Engenharia Química, Engenharia de Transportes, Engenharia de Software, Estatística, Física, Física Médica, Geologia, Gestão da Informação, Matemática, Matemática Industrial, Química e Sistemas de Informação. Grupo 2 – Biotecnologia, Biomedicina, Ciências Biológicas, Ecologia e Análise Ambiental, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia e Zootecnia. Grupo 3 – Administração, Biblioteconomia, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Ciências Sociais (todos), Comunicação Social (todos), Direito, Educação Física, Filosofia, Geografia, História, Letras (todos), Museologia, Pedagogia, Psicologia, Relações Internacionais e Serviço Social. Grupo 4 – Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais, Dança, Design de Ambientes, Design Gráfico, Design de Moda, Direção de Arte, Música (todos) e Musicoterapia.
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MESA-REDONDA
Goiânia, novembro/dezembro 2014
Comissão Nacional da Verdade recebe críticas Equipe Ascom e TV UFG
No ano em que se completa o cinquentenário do golpe militar, o Jornal UFG continua colocando em evidência os desdobramentos desse fato histórico que repercutem até os dias atuais. Uma das principais reivindicações da sociedade brasileira, após o longo período de Ditadura Militar, é o estabelecimento de processos jurídicos capazes de julgar e condenar aqueles que praticaram perseguições e crimes políticos. Nesse sentido, iniciativas importantes surgiram, como a criação da Comissão Nacional da Verdade (CNV), cuja finalidade é examinar e esclarecer graves violações de direitos humanos praticadas no período da ditadura no Brasil. Contudo, com a morosidade dos resultados, essa comissão tem recebido muitas críticas e a expectativa para a conclusão dos trabalhos tem aumentado na mesma proporção. Confira a seguir o debate que o Jornal UFG e a produção do programa Conexões, da TV UFG, trazem sobre o assunto com o jornalista Renato Dias, o presidente da Comissão da Verdade da Ordem dos Advogados do Brasil de Goiás (OAB-GO), Egmar José de Oliveira, e o professor do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da UFG, Romualdo Pessoa. A Comissão Nacional da Verdade conseguirá dar resultados ainda em 2014? Renato Dias: A presidente Dilma Rousseff prorrogou os trabalhos da comissão até dezembro de 2014. A expectativa é que os integrantes da CNV consigam elucidar os casos dos desaparecimentos ocorridos de 1964 a 1985. Como exemplo, o caso do meu irmão Marcos Antônio Dias Batista, que participava da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), mesma organização da qual fez parte Dilma Rousseff, e de outros que somam 15 casos de mortos e desaparecidos em Goiás. Têm-se também os casos do ex-deputado estadual, José Porfírio de Souza, e de seu filho Durvalino de Souza, e de seis militantes do Movimento de Libertação Popular (Molip). Espero que todas essas ocorrências sejam apuradas para que fatos dessa natureza não ocorram nunca mais no Brasil. Como podemos avaliar o trabalho da CNV ? Romualdo Pessoa: Sou bastante cético, mas considero extremamente relevante a existência da Comissão Nacional da Verdade. Acho que ela deveria ter surgido exatamente no período de transição da ditadura para
o governo civil, mas demorou muito para aparecer. Isso porque, no Brasil, ocorreu uma transição bastante conciliadora. Muitos dos que participaram da Ditadura Militar também estiveram presentes nesse processo de transição. Nesse período, evitou-se falar de questões extremamente relevantes, como a responsabilidade daqueles que estiveram envolvidos em perseguições, assassinatos e torturas. Egmar de Oliveira: É importante ressaltar que hoje, a CNV não está cumprindo o papel que os familiares pleiteiam, como o de localizar os corpos dos desaparecidos. Acho que esse é o grande problema por causa da composição negociada pelo governo da comissão. Tem sido desconsiderado, por exemplo, o trabalho de vários anos da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, vinculada à Secretaria Nacional de Direitos Humanos, criada na época do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, e, sobretudo, da Comissão de Anistia, conduzida pelo Ministério da Justiça, que tem o maior acervo documental da história do período da ditadura no Brasil. Nessa última comissão, chegaram cerca de 74 mil pedidos de anistia. Para ser declarada a anistia política e ter direito à reparação financeira, o interessado tem de provar isso. Lamentavelmente, no Brasil, o ônus da prova não é do Estado e sim da pessoa que foi perseguida. Para conseguir seus direitos, a pessoa deve apresentar todos os documentos possíveis e, por isso, a Comissão de Anistia tem um grande acervo documental que é desconsiderado pela CNV. Renato Dias: É preciso considerar também que parte da "justiça de transição" que ocorreu no Brasil, iniciada em agosto de 1979 com a Lei da Anistia, desenvolveu-se somente em 1995, quando surgiu a Lei nº 9.140, que estipulou a criação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, e com a criação da Comissão de Anistia, da qual Egmar José foi vice-presidente. Porém, é necessário lembrar que, se fizermos uma comparação com Chile, Argentina e África do Sul, o Brasil está anos luz atrás, considerando, sobretudo, que não houve no Brasil uma “ditabranda”, conforme os números de pedidos de anistia apresentados pela Comissão de Anistia. Romualdo Pessoa: Queria completar que, para mim, uma das pessoas mais importantes da Comissão Nacional da Verdade se afastou por divergências internas. Falo do ex-procurador Cláudio Fonteles, que estava à frente do processo de identificar os problemas por traz da Guerrilha do Araguaia. Essas divergências internas são responsáveis por limitar a atuação da comissão, mas não são só elas. O governo Dilma Rousseff é um governo de composição política e é evidente que nos bastidores há uma pressão muito grande para que os trabalhos da comissão não se-
jam aprofundados. Outro limitador é o próprio Supremo Tribunal Federal, que recentemente dificultou o prosseguimento de investigações que responsabilizem aqueles que praticaram crimes de tortura, com base na Lei da Anistia. Por que, no Brasil, a CNV não quis punir pessoas envolvidas com torturas e mortes durante a ditadura, como fez a Argentina, por exemplo? Romualdo Pessoa: As limitações da comissão são políticas e também jurídicas. A Lei da Anistia existente no Brasil impede que se responsabilize aqueles que praticaram torturas. E isso atrapalha o trabalho da Comissão de Anistia. Existem também outras questões internas na própria composição da comissão. Sinto falta, por exemplo, da presença de historiadores na Comissão Nacional da Verdade. Existem várias pesquisas realizadas sobre esse período e eu, como pesquisador do caso da Guerrilha do Araguaia desde 1992, não fui convidado para falar sobre minha pesquisa e não tenho conhecimento de nenhum outro pesquisador que tenha sido convidado. Renato Dias: Não estou no papel de advogado da CNV, mas existem, sim, grupos de trabalho dos quais fazem parte historiadores. Um deles é coordenado pela professora Heloisa Starling, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela fez a apresentação do balanço de um ano de trabalho da Comissão Nacional da Verdade, em Brasília. Sobre a Guerrilha do Araguaia existe um grupo de trabalho também, ao qual faz parte Hugo Studart. Acho que é preciso focar na questão dos desaparecidos, sobretudo, para elucidar onde estão os restos mortais dos guerrilheiros do Araguaia. Essa seria a primeira tarefa. Entretanto, alguns avanços já foram obtidos, como o esclarecimento da Chacina de Quintino, na qual morreram quatro militantes da VAR-Palmares no Rio de Janeiro, a revelação sobre as circunstâncias da morte e tortura de Raul Amara Nin, a exumação dos restos mortais do João Goulart, que teria sido assassinado em 1976, e a elucidação das circunstâncias da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, em agosto de 1976. Romualdo Pessoa: Reconheço todos esses avanços, mas nada disso surgiu por conta do trabalho da Comissão Nacional da Verdade. Todos esses dados que o Renato Dias está apresentando, que são corretos, já eram objetos de pesquisas e, em muitos casos, já levantados nos processos da Comissão de Anistia, ou seja, os avanços que poderiam haver efetivamente dentro da CNV seriam de responsabilizar os culpados pelos crimes praticados. Esse é o grande salto que a comissão deveria dar, mas não dará porque sua composição e seus objetivos não seguem nessa direção, por questões jurídicas e por falta de coragem
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MESA-REDONDA
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por dificuldades em cumprir seus objetivos de ir a fundo e responsabilizar quem praticou crimes de tortura. No caso da Guerrilha do Araguaia, a CNV só avançaria se os que cometeram os crimes fossem obrigados a apontar onde estão os corpos dos guerrilheiros desaparecidos. Renato Dias: É possível sentir que há uma mudança no judiciário sobre os crimes da ditadura. O Egmar José foi advogado da família do João Baptista Drummond, morto na chacina da Lapa, e o seu atestado de óbito foi retificado, o coronel Sebastião Curió foi processado e a justiça aceitou uma denúncia contra o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ou seja, o judiciário muda pouco a pouco com a evolução dos trabalhos da CNV. Egmar de Oliveira: É importante esclarecer que nenhuma comissão da verdade no mundo tem o papel de punir alguém. O papel estabelecido em lei federal é de investigar os casos de violação de direitos humanos ocorridos no Brasil no período de 1964 até 1985. Então o papel da CNV é identificar e apontar os casos de violação, produzir um relatório e encaminhar às autoridades competentes. O relatório final da comissão deverá ser encaminhado ao presidente da República, ao presidente do Congresso Nacional e ao procurador geral da República, que tem a obrigação legal no País de propor as ações penais, quando for o caso.
Vocês acreditam que haverá algum torturador preso no Brasil? Romualdo Pessoa: Essa é a razão do meu ceticismo. No caso da Guerrilha do Araguaia, por exemplo, muitas buscas realizadas na região se devem à decisão de uma juíza de Brasília, Solange Salgado, e das ações de familiares junto à Organização dos Estados Americanos. No entanto, a Lei da Anistia, ainda em vigor, impede a responsabilidade desses crimes. Renato Dias: A CNV, por meio de um de seus coordenadores, Paulo Sérgio Pinheiro, e da advogada, Rosa Maria Cardoso, propõe remeter o relatório final ao judiciário, o que é uma posição significativa. Também a transferência da entrega do relatório final para depois das eleições é mais um indicativo de que a prisão de algum torturador possa ocorrer.
Romualdo Pessoa: Teríamos de discutir o que vai acontecer após a realização do relatório. Concordo plenamente com tudo que o Renato Dias disse e pergunto: A Comissão Nacional da Verdade surgiu para quê? Se o que ela faz já estava sendo feito, vai apenas estabelecer um resumo de todos os processos que já existiam? Para mim, não deveria ser essa a função da comissão, mas a de apontar os crimes que foram cometidos e responsabilizar aqueles que os cometeram. Renato Dias: A lei que regulamenta a CNV não prevê a responsabilização penal dos envolvidos em violação dos direitos humanos, mas pode indicar e remeter o relatório final para o Ministério Público Federal, que pode oferecer denúncia e, de acordo com o judiciário, acatar ou não, punir ou não os responsáveis. Egmar de Oliveira: Observe, qual é o papel da Comissão da Verdade? Quem tem a função legal de produzir o relatório é a CNV e não a Comissão de Anistia, que era limitada a Lei n° 10.559, ou a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, regida por outra lei. É claro que todos nós queremos que os responsáveis por violação dos direitos humanos sejam punidos, mas existem coisas importantes que precisam também de atenção. O papel da CNV seria também o de chegar, por exemplo, nessa universidade, produzir um relatório e entregar para todos os
Renato Dias
Romualdo Pessoa
Egmar de Oliveira
Será que a Comissão Nacional da Verdade vai produzir um relatório que aponte de fato a responsabilização de quem provocou mortes e torturas durante a ditadura?
trabalho dessas comissões, possamos chegar a uma conclusão para que as autoridades brasileiras possam mudar a estrutura do Estado, que ainda é contaminado pela violência, e democratizar efetivamente as instituições.
alunos da UFG, para que eles saibam que em 1972 o Conselho Universitário deliberou expulsar estudantes, professores e funcionários dessa universidade. Hoje temos uma universidade democrática, porque hoje um estudante fala e faz tudo, mas existiu um período que ele não podia fazer nada. Fui estudante da UFG. Estou exemplificando com um caso específico, mas existem outros. Enfim, acho que a comissão deveria apurar os fatos e espero ainda que o relatório final avance um pouco mais e que se aproveite o trabalho já feito pela Comissão de Anistia e pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.
Fotos: Carlos Siqueira
Egmar de Oliveira: Já está estabelecido por lei a quem deverá ser encaminhado o relatório final. Se há indícios de crime, o Ministério Público tem de ter conhecimento para tomar as medidas legais. Mais importante do que punir torturadores é a possibilidade, a partir desse relatório, de promover no Brasil a "justiça de transição". O poder judiciário tem resquícios da Ditadura Militar e a polícia é violenta, sobretudo contra pobres e negros. É preciso que se mude a estrutura do Estado. Espero que, a partir de todo o
Egmar de Oliveira: Existe um relatório muito rico, que foi produzido ainda na década de 1980 pela Arquidiocese de São Paulo e Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), publicado com o título Brasil: nunca mais. Trata-se de um relatório circunstanciado de episódios graves de violação dos direitos humanos ocorridos durante a Ditadura Militar, inclusive com uma lista de torturadores. A Lei 10.559 de 2002, que criou a Comissão de Anistia, fixou que o objetivo dela era fazer a reparação dos danos causados pela ditadura. Porém, fomos muito além, fizemos parte do trabalho que viria a ser da CNV. A Comissão de Anistia fez quatro audiências públicas, na região onde ocorreu a Guerrilha do Araguaia, e ouviu 320 camponeses vítimas da ação das forças armadas naquele período. Nos arquivos do Ministério da Justiça, existem 70.000 processos e cerca de 300 processos de camponeses ex-militantes da Guerrilha do Araguaia. Em suma, era só a CNV compilar os documentos e os fatos narrados por essas pessoas e juntar com os quatro relatórios produzidos por essas audiências públicas que se chegaria a um avanço muito grande sobre o episódio. Egmar de Oliveira: Observamos na Comissão Nacional da Verdade certa tendência de apurar determinados fatos como se esses fossem mais relevantes do que outros.
Romualdo Pessoa: A meu ver, isso extrapola o objetivo da Comissão Nacional da Verdade. Quando falamos de "justiça de transição" devemos estar situados em um período transitório de um regime militar para um governo civil. Isso aconteceu há 21 anos. A comissão só teria condições de tornar esse processo conclusivo se fosse mais a fundo nas investigações e isso não está ocorrendo. Qual o resultado que a Comissão Nacional da Verdade vai apresentar quanto aos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia? Portanto, esperar uma responsabilidade da CNV, naquilo que deveria ser do estado brasileiro, dos governos civis, para mim, extrapola os sentidos que eu, enquanto historiador, espero da Comissão. Renato Dias: O conceito de “justiça de transição” surgiu no pós-guerra para elucidar e punir os crimes produzidos pelo nazismo. A "justiça de transição" do Brasil é uma tarefa inconclusa, porque ocorreu anos depois da instauração da nova República. Acho fundamental também resgatar o direito ao luto, que é um patrimônio imaterial da humanidade. O direito das famílias ao luto, de poder enterrar os restos mortais de seus parentes de acordo com as crenças e rituais religiosos de cada família.
Romualdo Pessoa: Nenhum regime militar funciona só com a estrutura dos militares. Na Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e em vários outros países, parte da sociedade civil deu apoio aos golpes militares. O termo civil é um termo muito genérico, já o termo militares não, pois eles são uma corporação. Foi a sociedade civil que se levantou contra a Ditadura Militar. Então, é preciso saber quais civis, quais classes e quais setores deram esse apoio. Acredito que a CNV cumpre um papel relevante. No entanto, para que o relatório final não seja um relatório que não se possa aprofundar na responsabilidade dos crimes, acho que uma comissão de historiadores deveria ser convocada para participar desse trabalho e fazer uma compilação de todas as pesquisas já realizadas e que não são poucas. Minha crítica é nessa direção, não nego a importância da Comissão Nacional da Verdade.
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UNIVERSIDADE
O fim da escuridão! UFG investe na expansão de redes elétricas internas e demanda à Celg ações para solucionar os problemas de sobrecarga e quedas de energia no Câmpus Samambaia Serena Veloso
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rédios sem energia, salas de aula vazias. Nos últimos meses, a universidade passou por constantes quedas de energia em função da manutenção dos cabos dos circuitos elétricos que fornecem energia da subestação Xavantes, localizada no município de Nova Veneza, para a UFG. A medida integra uma das ações da Celg para ampliação da rede elétrica dessa subestação, com o intuito de melhorar a distribuição e a qualidade da energia fornecida para o Câmpus Samambaia e regiões próximas e reduzir as oscilações causadas pela sobrecarga do sistema.
entrou em contato com a Assessoria de Imprensa da Celg sobre o assunto, que não se pronunciou até o fechamento dessa edição. O engenheiro eletricista do Centro de Gestão de Espaço Físico (Cegef) da UFG, Manfred Schaitl, também avalia como fatores para a sobrecarga nos circuitos da região a criação de empreendimentos como o Shopping Passeio das Águas e loteamentos. Outro problema na distribuição seria a distância entre a universidade e a subestação. “Por ser uma rede que percorre uma distância muito grande, as influências do trecho têm provocado uma baixa qua-
Melhorias na rede de distribuição de energia da subestação Xavantes vão aumentar a qualidade energética oferecida à universidade
Desde 2008, a UFG buscou negociar com a Celg melhorias no atendimento de sua demanda de energia, uma vez que a instituição passou por uma grande expansão da infraestrutura, a partir das ações do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Desde então, a falta de adequações à rede de distribuição provocou uma série de interrupções no fornecimento de energia. Entretanto, a companhia tomou providências somente em 2014. O Jornal UFG
lidade da energia”, explicou Manfred Schaitl. Para resolver o problema, o engenheiro eletricista destacou que a Celg está instalando um ramal de 3.800 volts na subestação Xavantes, com uma linha que irá percorrer a distância de dois a três quilômetros até a universidade, e construindo novos circuitos ligados aos das subestações Ferroviária e Meia Ponte. Com isso, caso um dos sistemas de distribuição falhe, os outros serão acionados. Também integra as ações a troca dos cabos de alimentação por cabos cobertos para diminuir as pos-
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sibilidades de interrupção. Apesar da iniciativa, os desligamentos não-programados causaram transtornos à universidade nos últimos tempos, que teve suas atividades interrompidas em várias unidades acadêmicas e órgãos, além de prejuízos, como a queima de equipamentos. O diretor do Cegef, Marco Antônio Oliveira, informou que está sendo feito um levantamento do número de equipamentos danificados para que a UFG solicite à Celg o repasse dos custos. Alternativas – A universidade também está investindo na construção de redes internas de alta tensão e na expansão das redes elétricas de edifícios antigos, além da compra de geradores para as unidades acadêmicas. As obras estão sendo realizadas nos prédios do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), do Instituto de Física (IF), da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) e da Escola de Agronomia (EA). Segundo Manfred Schaitl, a previsão é de que as redes internas sejam instaladas até o final de novembro. Reduzir o consumo – Com o calor intenso durante grande parte do ano e a mudança nos padrões de consumo energético no Brasil, o antigo vilão das contas de energia – o chuveiro – foi substituído por um novo: o ar-condicionado, também um dos principais responsáveis pelas oscilações no sistema de distribuição. A utilização inadequada de equipamentos elétricos também aumenta o consumo de energia e provoca ruídos – distúrbios provocados pelos circuitos internos dos equipamentos que atingem o sistema – sobrecarregando a rede de distribuição. “É necessário investir na compra de equipamentos de melhor qualidade, orientar o usuário sobre a utilização e avaliar se ele realmente precisa do equipamento”, ressaltou Manfred Schaitl, que apontou como medida para redução do consumo o uso compartilhado de aparelhos.
A UFG está investindo na aquisição de novos geradores para garantir o fornecimento de energia em casos de interrupção
Novas fontes de energia Algumas alternativas podem contribuir para a geração de energia de forma menos impactante ao meio ambiente, com o aproveitamento de recursos naturais, como a irradiação solar. Um projeto da Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação (EMC) tem como propósito a produção de energia a partir de painéis solares fotovoltaicos, dispositivos compostos por células solares que convertem a energia da luz do sol em energia elétrica. Sob coordenação do professor Sérgio Pires Pimentel, o projeto envolve a instalação de painéis de 34 kWp (quilowatts-pico) no telhado do Bloco B da EMC, prevista para ser iniciada em 2015. Financiada pela empresa Espora Energética, a iniciativa irá monitorar o comportamento do sistema fotovoltaico conectado à rede elétrica de distribuição, diante das condições de irradiação solar do local, na geração distribuída de energia. Trata-se da produção de excedentes, resultantes do período em que não há
consumo no prédio. Essa energia excedente seria injetada na rede da Celg que alimenta o prédio e compensada em forma de crédito na fatura, segundo regulamentação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A pesquisa, realizada por docentes, alunos de graduação e pós-graduação da UFG e pesquisadores externos, também tem por intuito verificará a capacidade que os painéis possuem de alimentar os equipamentos do prédio em horários com maior consumo. “34 kWp não seriam suficientes para suprir a demanda do prédio inteiro. Contribuiriam para esses momentos de pico, mas não fariam uma alimentação isolada”, observou Sérgio Pimentel. Para o diretor da EMC, Marcelo Stehling de Castro, o projeto pode se tornar um modelo a ser implantado na universidade para redução do consumo de energia. “A energia solar não vem para substituir a elétrica, mas para compor uma matriz energética diversificada”, afirmou.
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Ilustração: Dúnia Esper
m dos grandes desafios do sistema educacional brasileiro é a preparação de professores e escolas para receberem alunos com deficiência intelectual. A mobilização, nos últimos anos, sobre a necessidade da promoção de uma educação inclusiva incentivou a abertura dos espaços escolares para pessoas com deficiência. Porém, suscitou também uma série de indagações sobre a permanência e a verdadeira inclusão desses estudantes na rede de ensino convencional. Contudo, qual é a visão desses alunos sobre o assunto? Como eles se percebem no ambiente escolar? A professora e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFG, Reclane Ataíde, procurou analisar as consequências da sociabilidade de pessoas com deficiência intelectual em instituições regulares de ensino e a imagem que elas constroem de si como estudantes, a partir de um estudo realizado em 11 escolas municipais de Goiânia. A pesquisa intitulada Auto-representação de estudantes com deficiência intelectual: a imagem de si na escola pública regular em Goiânia foi premiada em primeiro lugar, na área de Ciências Humanas, no Prêmio SBPC/GO de Popularização da Ciência 2014. O trabalho foi orientado pelo professor Francisco Rabelo e defendido em fevereiro deste ano. A professora entrevistou 20 alunos com deficiência intelectual, com idades entre 13 e 22 anos, matriculados nos três últimos anos do ensino fundamental, e também seus familiares. Na entrevista, foram abordados assuntos diversos referentes à escola, tais como: a opinião sobre o ambiente escolar, o papel do estudante, o relacionamento com os colegas, professores e funcionários e a percepção desse estudante diante
SOCIEDADE
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de seus potenciais e suas dificuldades. Para Raclene Ataíde, a noção de deficiência intelectual é instituída por consenso da sociedade. No entanto, apesar das características que são atribuídas a essas pessoas, algumas delas não se enxergam como tal. A professora acredita que a imagem que se constrói sobre esses sujeitos muitas vezes não condiz com a realidade, por exemplo, quando associados a comportamentos passivos, infantis e até mesmo assexuados. “Tive condição de perceber de modo mais realista como essas pessoas são de fato. Assim como as outras, há aqueles mais extrovertidos, muito tímidos, extremamente alegres e outros mais sérios”, apontou. Desafios da inclusão – A falta de uma política no País para formação de professores que contemple as diferenças, a estrutura inadequada das escolas e a resistência dos outros alunos e familiares na aceitação da convivência com o deficiente intelectual são algumas das barreiras encontradas na promoção de uma educação que respeite essas diferenças. Para Raclene Ataíde, esses aspectos compõem os argumentos daqueles que são contrários à inclusão e que acreditam que a educação para o deficiente deve ser diferenciada, com escolas específicas voltadas para esse público. No entanto, um dos pontos percebidos na pesquisa foi o interesse dos alunos com deficiência em permanecer na escola regular. Por meio de suas falas, a professora observou a motivação deles em estabelecer uma convivência com os demais colegas, além da confiança que mantinham nos professores e amigos. “Eles têm consciência de sua condição, de que há algumas limitações, mas, ao mesmo tempo, consciência de que estão desenvolvendo outras habilidades, como as de convivência social”, destacou Reclane Ataíde.
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Inserção e qualificação – Apesar dos desafios que envolvem a inclusão do aluno com deficiência intelectual nas escolas, Raclene Ataíde acredita que o processo de qualificação dos professores e profissionais das instituições de ensino deve acontecer paralelamente à inserção desses estudantes nas escolas. “A própria convivência propicia o movimento de conhecimento, de qualificação. Mas isso de modo algum pode ser entendido como algo que desresponsabilize os sistemas de ensino, as universidades e as organizações classistas de promover processos de debate e de formação”, comentou. Mesmo que o nível de aprendizado nem sempre se equipare em relação aos demais estudantes, para a professora e para a família desses jovens, a maior preocupação é que eles possam aprender aos poucos os conhecimentos sistematizados. Vencendo os preconceitos – A pesquisadora também verificou questões como o enfrentamento de situações de isolamento e preconceito. Raclene Ataíde observou que alguns alunos com deficiência nem sempre participavam ativamente em momentos de recreação e de sociabilidade com os colegas. Ainda assim, muitos deles não relacionavam os conflitos que tinham com outros alunos à questão da deficiência. “Mesmo relatando essas situações de isolamento, eles não se colocavam como coitados, vítimas ou menosprezados. Pelo contrário: eles se valorizavam como estudantes”, afirmou. A professora dará continuidade à pesquisa no doutorado, abrangendo os aspectos da vida cotidiana de pessoas com deficiência intelectual fora das escolas.
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DE OLHO NAS BACTÉRIAS! Pesquisas da Faculdade de Nutrição avaliam qualidade microbiológica da água da hemodiálise em hospitais e da linguiça frescal em açougues
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té que ponto os alimentos que consumimos são seguros? Quais os riscos que a ingestão ou o contato com produtos contaminados podem trazer à saúde? Duas pesquisas realizadas no Laboratório Controle Higiênico-Sanitário de Alimentos, da Faculdade de Nutrição (Fanut), da UFG, estão analisando os microrganismos presentes na linguiça frescal suína e de frango e também na água utilizada na hemodiálise para verificar a qualidade higiênico-sanitária dos produtos e serviços oferecidos à população. Com a orientação das professoras Liana Jayme Borges e Maria Raquel Hidalgo Campos, as pesquisas, que estão em fase final, compõem duas dissertações de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde da UFG. Ambos os trabalhos foram realizados com o apoio das Vigilâncias Sanitárias de Goiânia e de Aparecida de Goiânia. Na pesquisa desenvolvida pela mestranda Bárbarah Gregório de Araújo Souza, foram coletadas amostras de água tratada para hemodiálise de 12 hospitais de Goiânia e Aparecida de Goiânia para verificar a presença de microrganismos prejudiciais à saúde. A análise microbiológica foi feita de acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), n. 11 de 13 de março de 2014, que dispõe sobre os requisitos de boas práticas de funcionamento para os serviços de diálise. De acordo com essa resolução, foram pesquisados coliformes totais e bactérias heterotróficas nas amostras de água. A pesquisadora também avaliou se as amostras continham coliformes termotolerantes, como Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa, microrganismos patogênicos cada vez mais comuns no ambiente hospitalar, mas não descritos na resolução. Segundo a professora Liane Jayme, os coliformes totais e as
bactérias heterotróficas são indicadores de falhas no processo de higiene, por isso a legislação preconiza níveis mínimos de contaminação que determinam se a água da hemodiálise está própria para uso. Já bactérias como a Escherichia coli e a Pseudomonas aeruginosa, não citadas na norma, podem desencadear graves quadros de infecções hospitalares e sintomas como febre, calafrios, hipotensão e choque, podendo levar até à morte de pacientes submetidos a esse tipo de tratamento. “Esses danos dependem de vários fatores, como quantidade de bactérias presentes na água, o estado imunológico do paciente e ainda o tipo de bactéria que o atingiu”, explicou. As coletas foram realizadas em quatro pontos por onde passam a água durante o procedimento, desde o abastecimento dos hospitais pela rede de saneamento até a entrada da água na máquina da hemodiálise. No material analisado, sete amostras estavam contaminadas com coliformes totais – que deveriam estar ausentes segundo padrões exigidos na RDC – e 18 com bactérias heterotróficas. Já a Pseudomonas aeruginosa estava presente em amostras de seis hospitais. A Escherichia coli não foi encontrada em nenhuma coleta. Uma das hipóteses da pesquisa é de que a água tenha sido contaminada dentro das máquinas que realizam a hemodiálise, o que indicaria problemas na higienização dos aparelhos. O estudo também irá testar o efeito de antibióticos nas bactérias para analisar a resistência aos medicamentos. “Com esses resultados, verificamos que as condições higiênico-sanitárias da água utilizada nos grandes centros de hemodiálise das cidades de Goiânia e Aparecida de Goiânia são insatisfatórias, colocando em risco a saúde dos pacientes. Essas informações podem servir como alerta aos gestores dos hospitais para tomarem medidas para melhorar a qualidade da água”, ressaltou Bárbarah Gregório.
MANIPULAÇÃO
• O manipulador deve utilizar luvas, toucas e uniformes limpos; • As mãos devem estar limpas, unhas cortadas, sem esmalte ou acessórios; • O açougueiro não pode manipular dinheiro e alimento ao mesmo tempo; • A superfície onde a carne é cortada deve estar limpa.
APARÊNCIA Infografia: Dúnia Esper
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• As carnes bovina e suína devem ter a cor vermelha viva, com gordura na cor branca, enquanto • O frango deve apresentar cor amarela pálida, ligeiramente rosada sem manchas esverdeadas; • A carne deve estar com uma consistência firme; • Não apresentar cheiro desagradável; • Não compre embutidos e frios, como a linguiça, caso haja muito líquido dentro da embalagem original, estejam com a superfície úmida e pegajosa ou amolecidos.
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HIGIENE X CONTAMINAÇÃO
AMBIENTE
Já na pesquisa realizada pela mestranda Samira Obeid Georges, verificou-se a qualidade microbiológica da linguiça frescal suína e de frango vendida em 44 açougues em Aparecida de Goiânia. A pesquisadora coletou 100 gramas de cada tipo do alimento nos estabelecimentos para averiguar a presença de microrganismos, caracterizados na RDC n. 12 de 2 de janeiro de 2001 (coliformes termotolerantes, Salmonella sp., estafilococos coagulase positiva e clostrídio sulfito redutor a 46ºC), que em certas quantidades trazem riscos à saúde. Durante a visita aos açougues, também foi aferida a temperatura dos balcões de refrigeração para conferir se a carne estava sendo armazenada de forma adequada. Segundo Samira Obeid, devido à correria do dia a dia e à crescente demanda da população, as unidades produtoras de alimento agilizam os processos de produção, preparo, manipulação e conservação dos produtos, o que pode acarretar em falhas nos cuidados com a qualidade. “Uma vez ocorrendo uma falha nessas etapas, o alimento pode ser contaminado e gerar doença em quem o consome, o que chamamos de Doença Transmitida por Alimento”, explicou. Somente uma das amostras coletadas apresentou coliformes termotolerantes acima dos limites permitidos pela legislação, enquanto os níveis de estafilococos coagulase positiva estavam dentro do exigido. Não foram identificados os outros tipos de bactérias pesquisadas. A pesquisadora alerta que mesmo após submetido a altas temperaturas durante o preparo, o alimento ainda pode estar contaminado com toxinas termoresistentes produzidas pelas bactérias que podem ser perigosas à saúde. “Grande parte das amostras apresentavam uma contagem considerável de bactérias que, embora dentro dos limites previstos pela legislação, indica falhas higiênico-sanitárias no processo”, confirmou. A ideia é que, a partir desses resultados, seja feita uma capacitação com os profissionais dos açougues para evitar a recorrência de contaminação nos alimentos e incentivar as boas práticas em sua manipulação.
• Observe se o açougue está limpo; • O local deve possuir uma pia para que o atendente lave as mãos.
ARMAZENAMENTO
Carlos Siqueira
• A porta do balcão de armazenamento deve estar sempre fechada; • Não pode haver moscas dentro do balcão; • Os produtos não podem ficar agrupados em grande quantidade no balcão, isso impede a circulação de ar e a conservação da temperatura; • Verifique se diferentes tipos de carne não estão misturados no balcão; • Confira se o balcão está refrigerado; • Se a carne não estiver embalada, peça para moer na hora, pois a carne moída que já está no balcão pode conter misturas, como sebo, pelancas e produtos químicos tóxicos.
Pesquisadoras do Laboratório Controle Higiênico-Sanitário investigam falhas nas resoluções da Anvisa quanto a qualidade da água da hemodiálise e da linguiça frescal
FALHAS NA LEGISLAÇÃO
PRAZO DE VALIDADE
• Solicite ao atendente do local a data de fabricação, o prazo de validade quando lacrado e a data em que o produto foi retirado da embalagem ou fatiado (após removido da embalagem original, o produto também possui um prazo para ser consumido); • Cortes limpos, embalados a vácuo e congelados podem ser conservados por até 60 dias, sem risco de contaminação.
Além de verificar se os estabelecimentos têm seguido as resoluções da Anvisa para o controle higiênico-sanitário, as pesquisadoras se preocuparam em discutir as próprias falhas da legislação e sugerir melhorias que garantam a qualidade da água da hemodiálise e dos alimentos consumidos pela população. “A legislação está mais rigorosa. Antes os parâmetros eram maiores, então podia ser encontrado maior número de bactérias na água da hemodiálise. Mesmo tendo essa mudança, encontramos ainda outras bactérias que não estão especificadas na resolução”, afirmou Bárbarah Gregório sobre as normas para os processos de diálise reformuladas no início de 2014. Para a professora Liana Jayme, os parâmetros determinados pela Anvisa para a qualidade dos alimentos, como a linguiça, é contraditório, já que certos níveis de bactérias permitidos por lei podem não ser prejudiciais a pessoas com saúde estável, mas poderiam desencadear problemas em pessoas com estado imunológico debilitado.
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ocorrências nas quatro Regionais da UFG e na Ouvidoria; e, por fim, a pesquisa qualitativa com os diversos segmentos da comunidade universitária. O trabalho de campo junto à comunidade universitária teve início na última semana de setembro e deve ir até dezembro, com a aplicação de questionários e a realização de entrevistas em profundidade e de grupos focais. Ampla abrangência – O professor Dione Antônio de Carvalho, coordenador do Necrivi, ressalta que o grupo trabalha com uma definição mais ampla de violência, que engloba não só crimes contra pessoas e patrimô-
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nios, mas também conflitos decorrentes de hierarquias, preconceito, discriminação e outros, entre os diversos segmentos da comunidade. A pesquisa trata ainda de temas como consumo de drogas, tráfico, roubos, furtos, visando, ainda, detectar possíveis situações de discriminação, intolerância, assédio e outros conflitos internos. O professor Ricardo Barbosa Lima, coordenador do NDH, salienta o pioneirismo da iniciativa. “Não há notícia de outra pesquisa com essa dimensão entre as Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes). Trata-se de uma ação institucional ousada que, certamente,
resultará em muitos benefícios para a comunidade universitária. O principal deles é dar elementos para a UFG construir o seu próprio plano de segurança”, disse o professor. O estudo tem a participação de docentes, estudantes de graduação e de pós-graduação da FCS e da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) da UFG, além do apoio da Geseg/ UFG, na Regional Goiânia. Também há o envolvimento de entidades e de pessoas das outras Regionais na efetivação da pesquisa de campo, cujos dados servirão ainda como subsídios para trabalhos acadêmicos.
Carlos Siqueira
UFG realiza ampla pesquisa sobre violência
UNIVERSIDADE
Objetivo é identificar situações de violência, conflitos e crimes vivenciadas pela comunidade universitária. Dados subsidiarão o debate para formulação da Política de Segurança da UFG. Silvânia Lima
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UFG está empenhada na construção da sua política de segurança e informação. Para tanto, a instituição desenvolve uma série de projetos e ações que busca abarcar as necessidades de todas as Regionais. A preocupação inicial estava mais relacionada à preservação do patrimônio, bens públicos e particulares daqueles que frequentam os espaços da universidade. As discussões apontam novos rumos para as estratégias de segurança e qualidade de vida nos câmpus. No momento, a instituição efetua a coleta de dados junto à comunidade universitária, a fim de captar subsídios para as futuras ações. Em agosto, uma ação no Bosque Auguste de Saint-Hilaire viabilizou manifestações sobre a reserva natural do Câmpus Samambaia. Em setembro, teve início o trabalho de campo de uma ampla pesquisa sobre violência na UFG. No início de 2015, está previsto um seminário aberto para discutir o assunto. “O sucesso de toda e qualquer medida, que vise à qualidade de vida na universidade, requer o envolvimento das unidades dos órgãos e setores em cada Regional. É preciso que todos participem informando, sugerindo,
reivindicando e acolhendo medidas e ações”, ressaltou Ubirajara Pereira, responsável pela Central de Monitoramento da Gerência de Segurança (Geseg) da UFG. Por meio da pesquisa intitulada Violências, conflitos e crimes: subsídios para a formulação da política de segurança da UFG, a instituição quer conhecer os tipos, níveis e como se dá a violência em seus espaços de convivência, da mesma forma, conhecer a opinião e as sugestões da comunidade sobre que ações podem e devem ser tomadas para minimizá-la. Cerca de 40 pessoas estão envolvidas no trabalho, sob coordenação-geral de Dijaci David de Oliveira, diretor da Faculdade de Ciências Sociais (FCS), com o envolvimento direto do Núcleo de Estudos da Criminalidade e da Violência (Necrivi/FCS) e do Núcleo de Direitos Humanos (NDH), ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI). A investigação está estruturada em três frentes de trabalho, todas em andamento: a primeira faz o levantamento bibliográfico e de pesquisa em todas as universidades brasileiras, com o objetivo de conhecer estudos semelhantes em âmbito universitário; a segunda realiza levantamento quantitativo e qualitativo sobre o registro de
Além da segurança do patrimônio público e privado, a pesquisa visa detectar outros tipos de violência no âmbito da universidade
O ambiente universitário deveria ser diferente? O cotidiano está repleto de situações de violência, das mais sutis às mais perversas, e são muitos os fatores que levam as pessoas, muitas vezes, a agirem de forma desrespeitosa e truculenta, no convívio com outras. O mais comum deles, sem dúvida, constitui-se nos modelos apreendidos no processo de socialização, em que os indivíduos aprendem ao longo da vida a pensar e a agir em determinadas situações, inclusive conflitos inevitáveis. Dijaci Oliveira diz que “muitas sociedades obtiveram avanços na construção de práticas e valores que garantiram formas não violentas de solução dos conflitos. Já outras, contudo, na ausência de sistemas educativos formais e informais, diante da presença de organizações sociais enfraquecidas, ou pela deficiência de mecanismos de resolução de conflitos, acabam por ceder espaço para a cultura de violência”.
Manifestações desta cultura de violência podem ser observadas em diversos níveis. Fatos corriqueiros estão relacionados ao desrespeito às normas que diferenciam o espaço público do espaço privado. O que pertence a todos (público) não deve ser regido pelos interesses privados. Dijaci Oliveira ressalta, todavia, que em muitos espaços da sociedade observamos essa espécie de infração “tanto nos governantes (corrupção), quanto nos grupos criminosos (domínio territorial). Entre os cidadãos em geral, no uso de prerrogativas variadas, como o chamado ‘jeitinho’, a realização de ‘justiça com as próprias mãos’ ou a simples destruição de um bem, a prática do vandalismo”. Apesar do favorecimento ao debate de ideias e às livres manifestações, o ambiente universitário não está imune ao que ocorre
no restante da sociedade e pode ter nele a reprodução de situações semelhantes àquelas encontradas em qualquer ambiente externo. “Ainda é forte a tradição de que o conhecimento torna os indivíduos mais aptos para a resolução dos conflitos de forma não violenta, ao mesmo tempo em que são mais preocupados com a preservação do espaço público. Mas essa tese se mostrou falha em vários momentos, como exemplo, na ascensão do Nazismo, que ocorreu em uma sociedade com avançado desenvolvimento educacional e cultural. Contudo, continuamos a apostar no processo educativo como prática necessária para ampliar as possibilidades de constituição e consolidação de valores de defesa da coexistência, convivência e defesa do espaço público não violento e aberto para todos”, afirmou Dijaci Oliveira.
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Bosque em debate Serena Veloso
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Grupo efetivador do trabalho de campo em uma das reuniões de preparação para a coleta de dados nas Regionais da UFG
Sistema Integrado de Segurança Conforme já noticiado pelo Jornal UFG, o serviço de segurança da instituição passa por melhorias em sua estrutura, atualmente, mais voltada para a segurança patrimonial. O Sistema Integrado de Segurança (SIS), ligado à Geseg/UFG, é composto por quatro supervisões: •
Supervisão de Prevenção e Combate a Incêndio (Brigadas), sob responsabilidade de Joaci Gonçalves;
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Supervisão de Sistema Eletrônico de Segurança, responsável pela Central de Monitoramento, a cargo de Ubirajara Pereira;
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Supervisão de Vigilantes e Vigias Terceirizados, a cargo de Osmar Ferreira que, juntamente à equipe da Vigilância Orgânica, realizam o monitoramento das áreas em postos fixos e ronda motorizada;
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Supervisão de Assuntos Estratégicos, que efetua o serviço de investigação, tanto de caráter preventivo quanto apurativo, sob responsabilidade de Assis Brasil.
Contatos Segurança da UFG
Caso seja necessário, entre em contato com a Segurança da UFG pelos telefones: Regional Goiânia Câmpus Samambaia – (62) 3521-1093 / 1337 Câmpus Colemar Natal e Silva – (62) 3209-6003 Regional Goiás – (62) 3371-2900 Regionais Catalão e Jataí – Serviço de segurança em implantação
comissão interdisciplinar responsável pela campanha Vamos conversar sobre o bosque? Diz Aí!, realizada nos dias 19 e 20 de agosto, fez um balanço dos resultados parciais da ação a partir das percepções e sugestões feitas pela comunidade acadêmica para melhoria do Bosque Auguste de Saint-Hilaire, localizado no Câmpus Samambaia. Estudantes e servidores da UFG puderam registrar o que pensam sobre o espaço em painéis e urnas espalhados em quatro pontos do Câmpus Samambaia. Na análise do material coletado, a comissão verificou que a comunidade considera como necessidades prioritárias para a promoção da qualidade de vida no espaço a melhoria da infraestrutura – como iluminação e instalação de mais bancos, mesas e lixeiras – e a preservação do bosque. Outro ponto bastante citado foi o reforço da segurança, diferentemente da temática do uso de drogas, que foi pouco citada.
Para a professora do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae), Sirley Aparecida de Souza, apesar de toda a mobilização, que incluiu atividades culturais, rodas de conversa e música itinerante, a participação dos alunos foi pequena. Com base nos resultados da ação, a comissão pensará propostas para maior participação da comunidade acadêmica nas discussões e ações posteriores e, ainda, apresentará os resultados para a gestão da universidade para avaliação de medidas a serem tomadas. Paralelamente ao trabalho da comissão interdisciplinar, outro grupo, sob coordenação professora Marilda Schuvartz, foi formado para repensar o uso coletivo do espaço e a conservação ambiental. O grupo é composto por professores do Cepae, das Faculdades de Enfermagem (FEN), de Informação e Comunicação (FIC); dos Institutos de Ciências Biológicas (ICB), de Física (IF), de Química (IQ), de Estudos Socioambientais (Iesa); do curso de Engenharia Ambiental; da Unidade de Conservação, além de servidores das Pró-Reitorias de
Pesquisa e Inovação (PRPI), de Graduação (Prograd), de Extensão e Cultura (Proec) e de Assuntos da Comunidade Acadêmica (Procom); do Centro de Gestão do Espaço Físico (Cegef); da Assessoria de Comunicação (Ascom) e de representantes do DCE da UFG. Segundo a Sirley Aparecida de Souza, um dos objetivos do grupo é retomar atividades que deixaram de ser realizadas no espaço, como o projeto A Escola Vai ao Bosque Auguste de Saint-Hilaire, além de outras relacionadas à educação ambiental, ao ensino, à extensão, à pesquisa e à formação de professores. Também está sendo pensada a inclusão do espaço em um circuito do Museu de Ciência, que ainda será criado, e atividades que causem pouco impacto ambiental. Outra proposta é a de ampliar a arborização, com a estruturação de corredores ecológicos entre os grandes fragmentos de mata que viabilizarão a circulação dos animais nativos, no intuito de aumentar o fluxo gênico entre as espécies.
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Jornal UFG
UNIVERSIDADE
Goiânia, novembro/dezembro 2014
Empresas juniores:
uma opção de experiência dentro da Universidade Alunos da UFG reforçam aprendizado por meio do Programa Empresa Junior
Carlos Siqueira
Jovens empreendedores recebem orientações do Núcleo das Empresas Juniores, ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação Warlos Morais
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s empresas juniores surgiram pela iniciativa de estudantes de instituições de ensino superior. Elas são instituídas como associações civis que oferecem e realizam projetos e serviços para a comunidade. Na Universidade Federal de Goiás, as atividades que vão além da extensão e pesquisa no meio acadêmico têm a finalidade de impulsionar a cultura do empreendedorismo entre os estudantes e auxiliar o desenvolvimento econômico e social. As empresas juniores da UFG se destacam pela autonomia dos estudantes empreendedores, embora ainda recebam orientações de professores. Em 2010, a Universidade aprovou a resolução de criação do Núcleo das Empresas Juniores (NEJ), que normatizou o programa institucional, vinculando as empresas a UFG. O núcleo é uma organização que incentiva a
criação de empresas juniores e acompanha o desenvolvimento delas. Atualmente, a UFG tem 22 empresas. Além do apoio do NEJ, elas têm o auxílio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI). Em reuniões com membros das empresas, o NEJ e a PRPI discutem o diagnóstico atual de cada uma, para detectar possíveis falhas, e debatem ideias para aprimorar o plano de gestão. Participaram das reuniões as empresas Consultoria Integrada de Produção e Processamento de Alimentos (Cippal), da Escola de Agronomia; ELO, das engenharias; Federal Prime, de Ciências Contábeis e Gaia, do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa). Porém, um problema que a maioria das empresas juniores enfrenta é a falta de infraestrutura, por também depender da disponibilidade de recursos fornecidos pelas unidades acadêmicas. Os membros da Federal Prime, por exemplo, por muito tem-
po, atenderam seus clientes na sala da coordenação do curso. “Isso é um grande problema, pois a equipe é grande, obrigando-nos a fazer um revezamento e até mesmo trabalhar em casa”, diz Marcos Felipe, presidente da empresa. A equipe aguarda uma nova sede anexada ao prédio da Faculdade de Administração, Ciências Contábeis e Ciências Econômicas (Face), que será compartilhada com outras duas empresas juniores, a do curso de Administração e a de Ciências Econômicas. Marcos Felipe acredita que a nova sala contribuirá com o rendimento da empresa e espera que, além de um espaço mais confortável, haja uma boa convivência entre os integrantes. A Gaia também aguarda por um novo espaço para a sede da empresa, que será fornecido pelo Iesa; enquanto isso, ela continua instalada na antiga sala dos serviços gerais, com apenas três computadores à disposição dos 27 membros da empresa.
Cippal
Com 14 anos de existência, a Cippal é a pioneira das empresas juniores da UFG e se apoia em três pilares: professor, aluno e cliente. A orientação dos professores foi fundamental para o êxito da empresa, pois eles contribuíram para a consolidação do contato com os clientes. A demanda de projetos é em torno de 60 a 80 por ano. A Cippal atua em consultorias e elaboração de eventos, prestação de serviços, desenvolvimento de projetos para empresas e entidades do setor Alimentício e do Agronegócio e, constantemente, na pesquisa de mercado e análise
de alimentos. Hoje, a equipe é formada por 15 membros, que passaram por um processo trainee, sendo direcionados para a área mais adequada a seu perfil. Contatos: 35211548 | cippal.agro.ufg.br
Federal Prime
A Federal Prime foi criada em 2009, mas se consolidou no mercado em 2011. Em sua terceira gestão, a empresa vem conquistando posição de destaque na Universidade. Atualmente, com 14 membros, ela presta serviços tanto para outras empresas juniores, quanto para microempresas fora da Universidade. Sua atuação consiste em fornecer assessoria financeira e jurídica às novas empresas. O presidente da Federal Prime, Marcos Felipe, conta que a empresa júnior de contábeis tem ampla capacidade de promover a formação de novos membros com cursos profissionalizantes e workshops, mas afirma que as trocas de gestão, feitas anualmente, e até mesmo a falta de estrutura, em alguns momentos, interferem nas propostas de novos projetos e dificultam o processo. Contatos: 81420287 | http://federalprime. com
ELO
Fazem parte da ELO os cursos de Engenharias Ambiental, Civil, de Computação, Elétrica, Mecânica, Química e de Arquitetura. Essa união foi importante, pois fortaleceu a empresa e possibilitou abrangência nos atendimentos prestados, que são feitos nas principais áreas, construção civil, indústrias e processamento, automação e TI e meio ambiente. Uiatã Pires, engenheiro químico
e ex-presidente da ELO, ressaltou em entrevista publicada no perfil virtual da empresa, que os maiores ensinamentos adquiridos em sua gestão foram a experiência, a capacidade de lidar com os erros cometidos, pois a empresa funciona como um laboratório, e o relacionamento social, que é um dos fatores mais importantes de uma organização. Contatos: www. eloengenhariajunior.com
Gaia
A mais nova empresa júnior da UFG, a Gaia, foi criada pelos estudantes do curso de Ciências Ambientais e deu seus primeiros passos em 2013. O presidente Gustavo Couto Pires lembra que inicialmente houve um embate entre os estudantes do Iesa, pois a maioria era resistente à ideia de implantação de uma empresa dentro do instituto. Agora professores e estudantes apoiam a iniciativa. A empresa começou com seis membros e hoje, possui 27, divididos em diretorias de projeto, de marketing e de recursos humanos. A empresa ainda não fornece serviços, mas já criou um projeto de marketing turístico inscrito em edital do ICMbio Chico Mendes. Com a aprovação do projeto, será realizado um workshop em Mambaí/GO. Outro projeto criado pela Gaia que tem chamado a atenção na Universidade é o Bituca Zero. Elaborado em parceria com a Incubadora Social da UFG, o projeto visa coletar as bitucas de cigarro em lixeiras personalizadas colocadas em pontos estratégicos no Câmpus Samambaia e reeducar os fumantes da universidade. Contatos: 9394-6259 | gaiajr.blogspot. com.br
Jornal UFG
SAÚDE
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Desnutrição e sobrepeso nas comunidades quilombolas Angélica Queiroz
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mbora seja frequente a insegurança alimentar (risco de falta de alimentos) nas comunidades quilombolas no Estado de Goiás, muitas crianças e adolescentes apresentam sobrepeso. Essa contradição foi tema da dissertação da nutricionista Mariana de Morais Cordeiro, premiada na 4ª edição do Prêmio Nacional Henri Nestlé em Nutrição em Saúde Pública. O trabalho Excesso de peso em estudantes quilombolas e a insegurança alimentar em seus domicílios foi orientado pela professora Estelamaris Tronco Monego do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde, da Faculdade de Nutrição (Fanut), da UFG. A estudante afirma em sua dissertação que, embora muitas crianças e adolescentes estejam acima do peso, isso não significa que elas estejam bem nutridas, porque nem sempre a alimentação oferecida a elas é saudável, com a presença, por exemplo, de muitos alimentos industrializados. “O alimento é oferecido para suprir a fome, sem a preocupação de nutrir. Isso é um problema”, explicou a autora do trabalho. Segundo Mariana Cordeiro, o prêmio foi um importante reconhecimento
Fotos: Divulgação
Trabalho da Faculdade de Nutrição sobre alimentação de estudantes nessas regiões conquistou o segundo lugar no Prêmio Nacional Henri Nestlé
Mestranda da Fanut concluiu que alimentação escolar de crianças e adolescentes de comunidades quilombolas é inadequada da pesquisa, principalmente por dar oportunidade à divulgação dessa realidade. “Queremos socializar cada vez mais esses dados para atentar às necessidades de mudança nas comunidades quilombolas”, afirmou.
Parceria entre UFG e comunidades continua A dissertação apresentada por Mariana Cor-
Mariana Cordeiro e professora Estelamaris Monego no Prêmio Nacional Henri Nestlé
deiro é, conforme ela explica, um recorte de um trabalho maior que vem sendo realizado pela Fanut desde 2010, por meio do Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar (Cecane) da UFG/Centro-Oeste. Dentro do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), foi desenvolvido pelo Cecane um projeto de pesquisa, do qual Mariana Cordeiro participou, para avaliar os aspectos relacionados à alimentação, saúde e qualidade de vida escolar dos quilombolas. A pesquisa foi realizada com a participação de líderes de 13 comunidades quilombolas do Estado. “Os quilombolas têm receio, porque já foram muito explorados por pesquisadores e não tiveram retorno. Por isso, tivemos o cuidado de desenvolver esse trabalho junto à comunidade”, explicou. Segundo a estudantes, foram realizadas reuniões com essas lideranças, que participaram da pauta da pesquisa, opinando e suge-
rindo alterações de acordo com as necessidades específicas de cada grupo. Dessa forma, as pesquisadoras conseguiram criar vínculos com a comunidade, viabilizando o estudo. O trabalho envolveu entrevistas com os conselheiros e administradores da alimentação escolar, nutricionistas, educadores, estudantes, professores, diretores de escolas, ma-
nipuladores de alimentos e pais. Mariana Cordeiro conta que essas comunidades enfrentam diversas dificuldades quando o assunto é alimentação escolar. Entre elas, desinformação, problemas de logística e armazenamento de alimentos e número de nutricionistas insuficientes. “Muitos gestores não sabiam que tinham alunos quilombolas e outros não recebiam a verba destinada especificamente aos quilombolas porque as escolas não estavam cadastradas no censo escolar”, exemplificou. Com base nos dados colhidos, as pesquisadoras apresentaram às comunidades propostas de intervenção, respeitando os hábitos alimentares locais, a diversificação agrícola, com foco na alimentação saudável. “Sugerimos mudanças nos cardápios, incentivando a produção agrícola familiar”, detalhou Mariana Cordeiro. Uma das principais contribuições do trabalho foi estreitar o caminho da comercialização dos alimentos da agricultura familiar para a alimentação escolar dos municípios. “As mudanças dependem de uma série de fatores e do envolvimento de diversos setores, mas a parceria do Cecane com essas comunidades continua e juntos eles estão superando as dificuldades”, concluiu a mestra.
Pesquisadores da UFG avaliam nutrição de estudantes em comunidade
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Jornal UFG
INTERIOR
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Audiência pública é promovida pela equipe gestora da Regional Catalão Welliton Alves
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o dia 21 de outubro, foi realizada na Regional Catalão uma audiência pública que tratou de questões referentes à implantação do Restaurante Universitário (RU). A audiência foi conduzida pelo diretor da Regional Catalão, Thiago Jabur Bittar, que prestou esclarecimentos sobre o processo de implantação do restaurante e a fase de edição do edital de licitação para escolha da empresa de alimentação que gerenciará o restaurante. Participaram da audiência o pró-reitor adjunto de Assuntos da
Comunidade Universitária da UFG , Joaquim Leite de São José, a assistente social do Setor de Assuntos da Comunidade Acadêmica da Regional Catalão, Laurita Bomdespacho, a nutricionista do Serviço de Nutrição da Pró-Reitoria de Assuntos da Comunidade Universitária (Procom), Gilciléia Inácio de Deus, e a representante da Vigilância Sanitária da cidade de Catalão, Lucélia Cristina, além de estudantes. O pró-reitor adjunto da Procom destacou a constante luta da instituição para atender às demandas da comunidade universitária, buscando sempre a horizontalização dos recursos por meio da assistência estudantil da UFG. Na oportunidade, Gilciléia Inácio esclareceu sobre diferenças do RU e do Restaurante Executivo (RE) e deu explicações sobre cuidados com o cardápio e detalhes em relação à responsabilidade da empresa contratada que devem constar no edital. Os estudantes que compareceram à audiência pública expuseram suas opiniões e sugestões, que serão consideradas para a finalização do edital de licitação. A equipe gestora da Regional Catalão apresentou dados sobre a necessidade de implantação do restaurante e expôs os impedimentos para a abertura do RU até agora. A equipe reforçou o pedido para que os estudantes continuem participando das discussões e anunciou a criação de uma comissão de implantação do RU, que se estabelecerá para continuar tratando do assunto em novos debates em prol da implantação do restaurante na Regional Catalão.
Projeto da Regional Goiás promove reuniões sobre saúde popular Michele Martins Por meio de uma parceria entre a UFG e a Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular e Saúde (Aneps), ocorre de abril de 2014 a abril de 2015, o projeto de extensão Saberes, fazeres e sabores: encontros de saberes e práticas integrativas da Política Nacional de Educação Popular e Saúde (PNEPS) em Goiás e articulações com o Centro-Oeste. O projeto, coordenado pela professora do curso de Direito da Regional Goiás, Fernanda Sousa Oliveira, visa contribuir com a divulgação e implementação da PNEPS no âmbito do SUS. A iniciativa surgiu para atender à Resolução nº 9, de dezembro de 2013, do Ministério da Saúde (MS) que estabelece estratégias e ações que orientam o plano operativo para implementação da PNEPS-SUS. Fernanda Sousa Oliveira informou, que as ações ocorreram a partir do diálogo e da problematização das necessidades locais na área da saúde para a construção compartilhada do conhecimento com a construção do projeto democrático e popular. “São as experiências populares no
trato com a relação saúde-doença que darão suporte aos diálogos, para posteriormente, termos condições de compilar os dados focados nestas ações populares para a obtenção/ manutenção da saúde”, disse a professora. De acordo com Fernanda Sousa, até o momento, foram realizadas três rodas de diálogos. Uma delas ocorreu na Regional Goiás, com a participação de 56 pessoas entre agentes de saúde, representantes políticos, usuários do SUS, líderes de movimentos sociais da localidade, além de estudantes e professores da UFG. Em Senador Canedo e em Goiânia, cerca de 140 pessoas participaram. Em Cuiabá, nos dias 20, 21 e 22 de novembro, houve um encontro regional para discutir os desdobramentos da PNEPS e fortalecer as práticas populares de saúde. Nos meses de janeiro a abril de 2015 as rodas de diálogos serão realizadas novamente em Ceres, Cidade de Goiás Goiás, Hidrolândia, Rio Verde e Aparecida de Goiânia. Segundo a professora, os resultados obtidos até o momento revelam o crescente interesse da população em se tornar parte ativa da construção de um projeto político, democrático, inclusivo e solidário.
Fotos: Divulgação
Regional Catalão discute implantação do Restaurante Universitário
Acadêmicos aprovaram a realização do evento no interior do Estado
Conpeex é realizado pela primeira vez na Regional Jataí Renan Vinicius Aranha
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proximar comunidade e universidade é uma tarefa que a Regional Jataí tem buscado. A exemplo de outros eventos de popularização da produção acadêmica regional, os alunos da Regional Jataí também puderam apresentar seus trabalhos, na própria cidade onde estudam, no Congresso de Ensino, Pesquisa e Extensão (Conpeex) da UFG, no período de 3 a 5 de novembro. A ação foi uma forma da universidade apresentar à comunidade externa o que está sendo desenvolvido em suas instalações. O evento foi realizado no Câmpus Riachuelo, no centro da cidade, onde aconteceram exposição de painéis, palestras, mesas-redondas e minicursos, além da oferta de atendimentos de saúde para a comunidade. De acordo com a assessora de Comunicação da Regional Jataí, Estael de Lima Gonçalves, a realização do Conpeex no interior do Estado atende não só aos anseios da comunidade acadêmica local, que há tempos sentia a necessidade de ampliar sua participação no evento sem se deslocar para a Regional Goiânia, mas também confere maior autonomia das Regionais e permite a ampliação da troca de informações entre integrantes de diversas áreas do conhecimento. “A Regional Jataí fortalece sua produção acadêmica ao realizar um grande evento como o Conpeex em suas dependências”, ressaltou Estael Gonçalves. A novidade foi bem recebida pelos acadêmicos da Regional Jataí. “Participei pela primeira vez do Conpeex. Tive a oportunidade de apresentar e popularizar minha pesquisa para a comunidade acadêmica, além de conhecer outros projetos de pesquisa aqui realizados”, comentou o estudante Willian Garcias de Assunção.
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UNIVERSIDADE
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Ensino ganha novas formas Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação recebe doação de impressora 3D de ex-alunos, que auxiliará no aprendizado acadêmico
Warlos Morais
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Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação (EMC) recebeu, em agosto de 2014, a doação de uma impressora 3D. A iniciativa partiu de ex-alunos que se preocuparam com a necessidade de haver na faculdade recursos e ferramentas que contribuam para a formação acadêmica. O engenheiro André
Rodovalho, juntamente a outros 19 ex-alunos das turmas de 2006 e 2007, uniram-se e levantaram o dinheiro necessário para comprar a impressora 3D. “Conseguimos também a doação do material para fabricação do móvel de apoio do equipamento e a placa memorial com os nomes dos que contribuíram”, explicou André Rodovalho. De acordo com ele, mesmo com o esforço dos
gestores e professores da unidade acadêmica, colocar uma ideia como essa em prática na academia não depende só de disposição. Para que o projeto de doação saísse do papel, foi preciso empenho coletivo e insistência. A Fundação de Apoio à Pesquisa (Funape) entrou como parceira agilizando o processo, desde a compra até a entrega do equipamento. A dinâmica de uso
Fotos: Divulgação
Objetos de variadas formas podem ser criados a partir da recomposição de finas camadas de material plástico, de acordo com projetos desenvolvidos em software específico
Alguns dos ex-alunos que fizeram a doação da impressora 3D no dia da entrega do equipamento
da impressora pelos servidores e estudantes da unidade acadêmica foi definida em reunião pelo Conselho Diretor da EMC. A impressora 3D produz objetos de uso do cotidiano a partir do acúmulo de camadas micrométricas de um filamento plástico derretido, aderindo um ao outro até compor o objeto desejado. Com o equipamento é possível criar maquetes, como de prédios, peças mecânicas, próteses e moldes
projetados com o auxílio de um software específico. Para o diretor da Faculdade de Engenharia Elétrica, Marcelo Stheling, a iniciativa dos ex-alunos foi importante, pois, além do equipamento servir de ferramenta para colaborar com o aprendizado dos estudantes, ações como essa devem servir de exemplo e incentivar outros estudantes a retribuir a formação profissional que receberam da instituição.
Jornal UFG
UNIVERSIDADE
Goiânia, novembro/dezembro 2014
COMUNIDADE PERGUNTA
Dijaci David de Oliveira* / Dione Antonio de Carvalho de S. Santibanez**
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violência está inscrita em todas as esferas sociais em maior ou menor escala. Dessa forma, podemos afirmar que não existem ambientes livres da prática de violência. Contudo, embora ela esteja em todos os lugares, podemos criar mecanismos para que sua manifestação seja mais ou menos controlada. Para tanto, isso demanda que se conheça as razões de sua manifestação, ou seja, o que motiva as práticas violentas. Nas eleições atuais, no campo da segurança, observamos que muitos candidatos têm apresentado propostas absurdas e mirabolantes. Entre as proposições temos a pena de morte, a castração química e a redução da maioridade penal como formas de enfrentamento da violência. Essas promessas absurdas ou são lançadas para “fisgar” eleitores distraídos ou mal informados, ou são feitas sem nenhum compromisso social. Podemos afirmar isso, pois, onde se aplicou essas propostas, não se verificou o efeito esperado. Para fugir da promessa vazia, o ideal é que enfrentemos o problema de modo inteligente, com persistência e ampla participação da sociedade. Precisamos de envolvimento das diferentes instituições de segurança pública, contando com o cumprimento de seus diferentes papéis e reforçando o respeito à cidadania e aos Direitos Humanos. Para colocarmos as políticas de enfrentamento à violência nesse patamar, devemos aprofundar o conhecimento acerca do problema que queremos solucionar. É necessário que identifiquemos os elementos que envolvem a criminalidade e determinados grupos sociais. A partir de um quadro mais elaborado, saberemos como agir para inibir ou mesmo eliminar certos tipos de violência. Enfim, precisamos pesquisar para compreender. Como dissemos, a violência está em todos os lugares, e, ainda que o câmpus esteja entre os lugares mais seguros do Estado de Goiás, presenciamos algumas práticas de violência dentro da Universidade Federal de Goiás (UFG). O problema chamou a atenção da Reitoria e também do Núcleo de Estudos em Criminalidade e Violência (Necrivi), que buscam compreender mais sobre as práticas de violência dentro da universidade. Para tanto, os membros do grupo estão levantando todos os dados sobre ocorrências registradas pela seção de vigilância da UFG, fazendo análise qualitativa das percepções e dos sentimentos de insegurança na comunidade universitária e estudo exploratório de modelos de segurança efetivados por outras Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes). De modo geral, o estudo pretende elucidar quais seriam os tipos de conflito recorrentes na UFG, evidenciando as situações em que eles se manifestam de forma violenta. Um dos objetivos dessa pesquisa é contribuir diretamente para a elaboração de uma política de segurança em nossa universidade. A partir dos resultados apontados pelo estudo, unidades acadêmicas, Pró-Reitorias, centros acadêmicos e demais órgãos e entidades da UFG poderão fundamentar propostas de um modelo de segurança, em que os diversos tipos de violência sejam considerados. Dessa forma, a respectiva pesquisa será um importante instrumento para subsidiar a reflexão acerca do tipo de segurança que queremos para os câmpus. Esperamos que possamos contribuir para a elaboração de uma política de segurança para a UFG, que proporcione um ambiente mais livre e estimulante para todos. Para saber mais a respeito da pesquisa, entrem em contato pelo e-mail necrivi@gmail.com. * Diretor da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) ** Coordenador do Núcleo de Estudos da Criminalidade e Violência (Necrivi)
Caroline Almeida
Compreender e enfrentar a violência
Quais são os atendimentos oferecidos pelo Centro de Saúde Câmpus Samambaia? Giuliane Alves, estudante de Comunicação Social - Jornalismo
Gilma Moreira de Sousa, diretora do Centro de Saúde Câmpus Samambaia Carlos Siqueira
Divulgação
Carlos Siqueira
ARTIGO
O Centro de Saúde Câmpus Samambaia foi criado em novembro de 2013, a partir de um convênio entre a UFG e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), com objetivo de atender a comunidade acadêmica, exigindo apenas um comprovante de vínculo do paciente com a Universidade. As consultas são realizadas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). O local oferece atendimentos nas áreas de Clínica Médica, Enfermagem, Ginecologia e Psicologia, que podem ser agendados por telefone ou pessoalmente. Além disso, emergências de caráter leve também fazem parte da rotina do local. Os atendimentos médicos são realizados em dois períodos, das 7h às 12h e das 13h às 16h. Já a parte administrativa, que inclui encaminhamentos, agendamentos e emissão de vale exames, conhecido como “chequinho”, tem funcionamento das 7h às 19h. O Centro de Saúde também tem um Grupo Antitabagismo, que promove atividades e reuniões para grupos fechados. Os interessados podem entrar em contato com o Centro para buscar informações e realizar inscrições no programa de apoio pelo telefone 3521-1868.
Ciro Marcondes Filho ministra palestra na UFG Serena Veloso
O
pesquisador do CNPq e professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Ciro Marcondes Filho, esteve na UFG, no dia 20 de outubro, para ministrar uma palestra, na Faculdade de Informação e Comunicação (FIC), que integrou a abertura do VIII Seminário de Mídia e Cidadania e o VI Seminário de Mídia e Cultura (Semic), do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFG. Ele também é coordenador do Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação e reconhecido por estruturar um dos fundamentos da Nova Teoria da Comunicação. Durante a pales-
tra, Ciro Marcondes Filho ressaltou a necessidade de se pensar teoricamente o campo da comunicação nos cursos de graduação e pós-graduação, voltados atualmente muito para os aparatos técnicos como a televisão, o jornal impresso e o cinema. O pesquisador discutiu sobre as manifestações ocorridas em junho de 2013 e o impacto delas nos grandes veículos de comunicação, principalmente nas redes sociais, traçando um paralelo entre o conceito de comunicação criado por ele e o processo de formação da opinião pública no atual contexto político do Brasil. De acordo com o pesquisador, a sociedade está envolta em um complexo de sistemas comunicacionais,
sendo que a comunicação só acontece no momento em que algo no mundo vem de encontro ao interesse dos indivíduos e mobiliza novas reflexões sobre concepções anteriores. “O acontecimento comunicacional é esse momento mágico que nos faz repensar o mundo”, explicou. Ciro Marcondes Filho acredita que as redes sociais tiveram um papel fundamental na mudança dos processos políticos e se tornaram espaços de expressão democrática e de organização dos movimentos sociais, diferentemente das grandes empresas de comunicação. Enquanto os debates políticos se ampliavam dentro das redes, os veículos maiores tentaram encobrir as manifestações e passaram a se
posicionar partidariamente. “Se durante um tempo os veículos tentaram uma fachada supostamente imparcial, hoje eles não a sustentam mais. Aparecem de forma crua na opinião pública como veículos de setores conservadores”, comentou o pesquisador, que considera ainda necessário maior engajamento político nas redes sociais, porém de forma consciente. Para o ele, o silenciamento das manifestações de rua e a instabilidade política do País vão trazer ainda novos desdobramentos. Pode-se aumentar o debate político com as redes sociais, aumentar a participação e os movimentos de rua. Porém, isso não,automaticamente forma consciência.
Letícia Antoniosi
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Jornal UFG
INTERNACIONAL
Goiânia, novembro/dezembro 2014
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Intercâmbio em casa Programa Convívio Cultural estimula integração entre estudantes brasileiros e estrangeiros na instituição goiana
Letícia Antoniosi
tros países também muda a rotina dos brasileiros que auxiliam na adaptação dos intercambistas. “A vinda do aluno estrangeiro proporciona mudança. Quando tem um estrangeiro assistindo a uma aula, repercute no outro, no ambiente como um todo”, explicou a coordenadora. CONVIVÊNCIA – Uma das moradoras da CEU é a argentina Anahi Portugal. A estudante veio estudar licenciatura em Educação Física por um curto período na Faculdade de Educação Física e Dança (FEFD) da UFG e está em Goiânia desde o dia 13 de agosto. Segundo ela, a experiência superou suas expectativas:
“Pensei que fosse mais difícil, eu tinha muito receio. Mas as pessoas ao meu redor me ajudaram a vencer esse medo, para que eu pudesse fazer minhas coisas com perfeita naturalidade”. Um dos responsáveis pela rápida adaptação da argentina é o também morador da CEU, Francieudes Pereira, estudante do curso de Engenharia Ambiental. Ele participa do Programa Convívio Cultural e, além de ter “apadrinhado” Anahi Portugal, ajuda todos os outros estrangeiros da Casa do Estudante. Segundo ele, esse aprendizado pode ajudá-lo a se adaptar rapidamente a uma nova realidade, em um futuro intercâmbio.
O estudante Francieudes Pereira auxilia na adaptação de alunos estrangeiros
Alex Maia
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o se mudar para outra cidade ou para um país completamente diferente do seu de origem, leva-se um tempo para se adaptar, por exemplo, à alimentação e ao transporte. Apesar disso, estudantes que escolhem fazer um intercâmbio durante sua formação encaram todos esses e outros desafios em busca do aprendizado de uma nova cultura. No Brasil, a presença de alunos estrangeiros é cada vez maior. Até 2013, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores, o número de estudantes de outros países era de 12.557. No mesmo ano, a Universidade Federal de Goiás (UFG), recebeu 63 intercambistas que permaneceram de seis meses a um ano. Com esse crescimento, a Coordenadoria de Assuntos Internacionais (CAI) lançou o Programa Convívio Cultural para promover a integração acadêmica e social dos estudantes estrangeiros junto aos estudantes nativos. O projeto visa inserir o estrangeiro na realidade da universi-
dade e da cidade por meio de “apadrinhamento” voluntário de alunos brasileiros. Os participantes ficam responsáveis por orientar o intercambista em questões como documentação e lazer. Em troca, o voluntário tem a oportunidade de aperfeiçoar um novo idioma e conhecer outras culturas.
“As pessoas ao meu redor me ajudaram a vencer esse medo, para que eu pudesse fazer minhas coisas com perfeita naturalidade” Anahi Portugal
O estudante da UFG que se interessar e quiser fazer parte do programa deve preencher o formulário de inscrição, com seus dados pessoais e acadêmicos, além do detalhamento das atividades que pretende desenvolver com o estudante estrangeiro e sua disponibilidade de tempo. A ficha de inscrição está disponível na página da CAI (www.cai.ufg.br).
PARTICIPAÇÃO – Um dos objetivos do projeto é alcançar alunos estrangeiros que não tenham contato direto e frequente com estudantes brasileiros e que possam ter maior dificuldade de adaptação por não ter orientação pessoal e específica. Estes alunos vêm para o País por meio do Programa de Intercâmbio Acadêmico Internacional (PIAI). Os estudantes brasileiros que participam do Programa Convívio Cultural, têm auxiliado os intercambistas que chegam sem local para ficar. A coordenadora da CAI, Ofir Bergemann, exemplifica como funciona essa cooperação: “Às vezes o aluno chega à noite no aeroporto e a UFG não tem facilidade para disponibilizar veículo nesse horário. Então, a gente vê se algum aluno tem condições de ir buscar”. Para os que convivem diariamente, o projeto também tem tido êxito. Um bom exemplo é a Casa do Estudante Universitário (CEU), onde moram estudantes de diversas nacionalidades. Para Ofir Bergemann, a convivência com estudantes de ou-
BENEFÍCIOS DE APADRINHAR UM ESTRANGEIRO • Ter contato com outras culturas • Aprender ou aperfeiçoar outro idioma • Criar laços de amizade e contatos no exterior • Contribuir para a internacionalização da UFG e difusão da cultura brasileira • Exercer a solidariedade e colaborar para a cooperação entre os povos • Receber um Certificado de Participação do Programa
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EXTENSÃO
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De volta ao território Kalunga Terceira edição do projeto de extensão Kalunga Cidadão da UFG leva serviços a comunidades quilombolas, localizadas no município de Cavalcante, em Goiás
Camila Godoy
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ais uma vez a Universidade Federal de Goiás (UFG) rompeu os limites de seus muros e promoveu a terceira edição do Projeto Kalunga Cidadão, realizado no dia 27 de setembro. A ação mobilizou, aproximadamente, 140 pessoas entre estudantes, servidores docentes e técnico-administrativos da UFG, para a zona rural da cidade goiana Cavalcante. O Kalunga Cidadão, coordenado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI), aconteceu na comunidade Engenho II e desenvolveu ações comunitárias, oferecendo serviços gratuitos a cerca de 350 quilombolas Kalunga que vivem na região. A terceira edição do projeto foi o momento em que diversas unidades acadêmicas, que já atuam nas comunidades Kalunga em projetos de extensão e pesquisa, em parceria com a Prefeitura de Cavalcante, o Grupo Flor de Pequi e o Exército Brasileiro, uniram -se para promover atendimentos à saúde humana, palestras e oficinas sobre o Programa UFGInclui, educação ambiental, turismo, poesia e ciência. Também foram realizadas apresentações culturais, como teatro e brincadeiras de roda. Praticamente todas as atividades realizadas foram reivindicadas pelos moradores da região. Além dessas ações, membros da Escola de Agronomia (EA) construíram uma horta na comunidade, da Faculdade de Direito (FD) fizeram atendimentos jurídicos e da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) promoveram vacinação, vermifugação, exames de sangue, ultrassom e cirurgias em animais domésticos. A estudante do 6º período do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFG, Lamara Barcelos, participou da oficina sobre Educação Ambiental, que ensinava as crianças das comunidades sobre a importância e os cuidados necessários com a água e proteção das matas, além da maneira correta de descartar o lixo e as possibilidades de reciclagem. A atividade faz parte de um projeto desenvolvido por estudantes da empresa júnior da UFG, Elo Engenharia, que visa encontrar técnicas para abastecer tal população com água, visto que a maioria das comunidades Kalunga fica localizada acima do nível dos rios e, sem energia elétrica, não consegue bombear a água até as casas.
COMO T UDO COMEÇOU...
Maria Clorinda Soares Fioravanti, pró-reitora de Pesquisa e Inovação da UFG e professora da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ), há anos se dedica ao estudo do gado Curraleiro, raça de bovino que foi trazida pelos portugueses, mas que se adaptou ao cerrado brasileiro. Ela conta que, assim como a maioria dos sertanejos, os Kalunga criavam esses bovinos, que foram praticamente dizimados, devido à preferência a outros tipos de raça, como a Nelore. O trabalho de Maria Clorinda Soares é considerado de referência nessa área, por isso, quando o Ministério da Integração Nacional (MI) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) criaram um projeto para reintroduzir o gado Curraleiro na região quilombola, o nome da professora foi lembrado e ela foi convidada a dirigi-lo. “Desde então, os Kalunga começaram a ter uma relação muito forte com a UFG e a achar que podíamos resolver vários outros problemas. E eu não consegui ficar indiferente”, explicou. A partir desse projeto, diversos outros foram propostos e desenvolvidos por pesquisadores da UFG, que se reuniram, em 2010, e decidiram fazer o primeiro Kalunga Cidadão. A primeira edição incluiu membros da Escola de Agronomia (EA), da EVZ, da Faculdade de Direito (FD), da Faculdade de Medicina (FM), da Faculdade de Nutrição (Fanut), da Faculdade de Odontologia (FO) e do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa). Maria Clorinda Soares explica que os interessados em participar das próximas edições da ação precisam entrar em contato com a coordenação do programa, que terá a professora Maria Cristina Vidotte, da FD, à frente. Edições para 2015 e 2016 já estão confirmadas e previstas para acontecer nos municípios goianos de Monte Alegre e Teresina de Goiás.
VOCÊ SABIA?
O Programa UFGInclui gera uma vaga extra em cada curso de graduação da UFG para estudante indígena e outra para quilombola, quando oriundos de escola pública. O acadêmico indígena ou quilombola que participa do UFGInclui também desfruta de uma bolsa permanência do Ministério da Educação (MEC), de 900 reais, bem como de acompanhamento acadêmico por parte da UFG.
Programa coordenado por professora da UFG reintroduziu o gado Curraleiro nas comunidades Kalunga
Fotos: Carlos Siqueira
Terceiro Kalunga Cidadão promoveu brincadeiras de roda, construção de hortas e atendimentos de saúde a animais domésticos de comunidades quilombolas
Milhares de quilombolas vivem na Comunidade Engenho II, zona rural do município de Cavalcante (GO)
QUEM SÃO OS KALUNGA?
Cerca de sete mil pessoas, remanescentes de quilombos, estão distribuídas em mais de 30 comunidades nas zonas rurais dos municípios goianos de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás. A região, de 253 mil hectares, é chamada de Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, e remonta a 1722, época em que os bandeirantes traziam negros escravizados para trabalharem nas minas de ouro. Parte desses escravos, buscando a liberdade, rebelou-se, fugiu e se escondeu entre serras e vãos, locais de difícil acesso, ainda nos dias de hoje, onde organizaram os famosos quilombos. Atualmente, o termo Kalunga designa um povo e toda uma microrregião da Chapada dos Veadeiros, no norte de Goiás. Quase 300 anos depois da formação dos quilombos, as condições de vida no território pouco mudaram. Eles enfrentam problemas pela ausência de estradas, energia elétrica, assistência médica e escolas e lutam pela regularização de suas terras. Apesar do tamanho de seu território, apenas 30% da área é agricultável. Assim, a maior parte dos Kalunga sobrevive da agricultura familiar. Mesmo com as dificuldades, o sentimento entre a maioria dos moradores é de orgulho e alegria por pertencer àquela terra. A quilombola e estudante do 8º período do curso de Direito da UFG, Vercilene Francisco Dias, sonha em retornar para a região: “Meu maior incentivo para estudar sempre foi esse. Na maioria das comunidades, não há água, transporte, nem energia e eu luto para conseguir estudar e melhorar a vida deles”.