Jornal ufg 82

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JORNAL ANO X – Nº 82 SETEMBRO 2016

Carlos Siqueira

Desafios das mães universitárias Creches, apoio dos familiares, professores e colegas contribuem para que mães consigam conciliar maternidade e graduação p. 10 e 11

Coordenadora do Setembro Amarelo fala sobre prevenção ao suicídio p.3

Mesa-redonda discute proposta de reforma da previdência p. 6

Lei de Acesso à Informação ainda é pouco conhecida pela sociedade p.12


JORNAL

EDITORIAL

Coragem e apoio para enfrentar desafios Michele Martins*

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m agosto, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) divulgou o resultado de uma ampla pesquisa de atualização sobre o Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais Brasileiras. Temas como moradia, acesso a atividades culturais e esportivas, idade, raça, cor, etnia e renda estão entre os diversos quesitos avaliados nas 63 universidades federais brasileiras. Nessa pesquisa foi revelado o aumento da presença de mulheres estudando nas universidades federais. Atualmente elas representam 52% do total de estudantes. É nesse contexto que importa sabermos como essas mulheres conciliam os papeis de estudante, de trabalhadora e de mãe cotidianamente. A principal matéria dessa edição retoma o tema da maternidade e conta histórias de mulheres para mostrar a persistência de mães estudantes que, contrariando todas as dificuldades, dividem o seu tempo para educação e os cuidados dos filhos, o trabalho e as obrigações de quem é estudante. Como podemos saber um pouco mais sobre a vida dessas mães estudantes dentro da Universidade? Que tipo de apoio a UFG pode dar para essas famílias? Como se comportam as famílias indígenas quando uma mãe decide estudar também? Quais os amparos legais que mães e crianças podem ter, considerando que, atualmente, o número de vagas em creches públicas é muito menor que a demanda? Algumas respostas estão na matéria Mãe e Acadêmica que, de forma encantadora e informativa, expõe uma realidade de diversos estudantes.

Na entrevista dessa edição abordaremos um tema ainda considerado tabu: o suicídio. Pela gravidade do problema, que tem se intensificado entre os jovens, foi instituído o Setembro Amarelo para a realização de atividades de conscientização e prevenção do suicídio. A coordenadora do Projeto Inter-vir, Célia Maria Ferreira da Silva Teixeira, revela a importância de se discutir o assunto na sociedade. Falaremos nessa edição também sobre a atuação conjunta das áreas de comunicação da UFG (As-

sessoria de Comunicação, Rádio Universitária e TV UFG), que reunirá esforços para realizar uma cobertura especial das Eleições 2016 com o compromisso de proporcionar aos eleitores uma leitura mais crítica sobre as propostas dos candidatos, assim como fornecer informações sobre o processo eleitoral e as mudanças na legislação que terão impacto no pleito desse ano. Essa iniciativa é um dos marcos da proximidade que esses veículos e órgãos da UFG têm mantido em prol da construção em conjunto de uma política de comunicação institucional. Outra iniciativa que deve ser acompanhada pela comunidade universitária é a série de encontros temáticos que se seguirão até o mês de novembro com o objetivo de abrir um debate sobre os temas ligados à comunicação na Universidade, tendo em vista a construção democrática dessa Política de Comunicação. Confira o anúncio na página nove sobre esses encontros e programem-se para participar.

Temas diversos estão também nessa edição, mas a reforma da previdência ganhou destaque ao ser pautada para a mesa-redonda. Os convidados dessa edição discutiram a proposta que ainda não está totalmente fechada e avaliaram o contexto de implantação dessa reforma,que aponta para a adoção de regras mais rígidas para os trabalhadores. Confiram ainda matérias sobre o monitoramento oficial do Cerrado, que alerta para o avanço do desmatamento e das queimadas, além da ameaça para a biodiversidade do ecossistema; e sobre a liberdade e os demais benefícios do uso de software livres na UFG, que ainda encontra desafios de implementação na instituição.

Enfim, termino esse editorial com uma despedida especial para toda a equipe da Ascom UFG. Quando esta edição do Jornal UFG estiver circulando, a coordenação de jornalismo da Ascom já estará sob a responsabilidade do jornalista Luiz Felipe Fernandes e eu estarei licenciada para cursar a pós-graduação. Com muito orgulho de fazer parte dessa equipe, estarei de longe apenas como leitora, ansiosa para ler a próxima edição. Para os meus colegas, desejo um ótimo trabalho nos próximos meses. Aos leitores, uma ótima leitura !! *Coordenadora de Imprensa da Ascom

COMUNIDADE PERGUNTA Arquivo Pesssoal

Universidade

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Aline Goulart, estudante do 6º período de Jornalismo na Faculdade de Comunicação e Informação

Quando será reaberta a cantina do Centro de Convivências no Câmpus Samambaia?

Carlos Siqueira

A cantina está em novo processo de licitação para atendimento à comunidade universitária. A previsão é que até o final do mês de outubro ela volte a funcionar. A cantina está fechada desde setembro de 2015 em função do término do contrato com a empresa que atuava naquele local.

Aproveitou-se para fazer uma reforma daquele espaço, que incluiu a substituição de pisos e paredes da cozinha e outras áreas internas, bem como a recuperação das instalações elétricas e hidráulicas visando dar melhores condições de higiene e o melhor funcionamento das atividades. Para a licitação da cantina, foram necessários também ajustes no termo de referência e no edital com o objetivo de adequar o contrato às novas exigências legais.

Marco Antônio Oliveira, diretor do Centro de Gestão do Espaço Físico da UFG

Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás ANO X – Nº 82 – SETEMBRO DE 2016 – Universidade – Reitor: Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor: Manoel Rodrigues Chaves; Pró-reitor de Graduação: Luiz Mello de Almeida Neto; Pró-reitor de Pós-Graduação: José Alexandre Felizola Diniz Filho; Pró-reitora de Pesquisa e Inovação: Maria Clorinda Soares Fioravanti; Pró-reitora de Extensão e Cultura: Giselle Ferreira Ottoni Cândido; Pró-reitor de Administração e Finanças: Carlito Lariucci; Pró-reitor de Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos: Geci José Pereira da Silva; Pró-reitor de Assuntos da Comunidade Universitária: Elson Ferreira de Morais. – Jornal UFG – Coordenadora de Imprensa: Michele Martins; Editora: Kharen Stecca; Editora-assistente: Angélica Queiroz; Conselho editorial: Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Estael de Lima Gonçalves (Jataí), Luís Maurício Bini, Pablo Fabião Lisboa, Reinaldo Gonçalves Nogueira, Silvana Coleta Santos Pereira, Thiago Jabur (Catalão) e Weberson Dias (Cidade de Goiás); Suplente: Mariana Pires de Campos Telles; Projeto gráfico e editoração: Reuben Lago; Fotografia: Carlos Siqueira; Reportagem: Angélica Queiroz, Camila Godoy, Giovanna Beltrão e Luiz Felipe Fernandes; Revisão: Fabiene Batista e Bruna Tavares; Bolsistas: Adriana Silva e Ana Fortunato (Fotografia), Natália Esteves (Jornalismo); Impressão: Centro Editorial e Gráfico (Cegraf ) da UFG; Tiragem: 7.000 exemplares ASCOM Reitoria da UFG – Câmpus Samambaia Caixa Postal: 131 – CEP 74001-970 Goiânia – GO Tel.: (62) 3521-1310 /3521-1311 www.ufg.br – www.ascom.ufg.br jornalismo.ascom@ufg.br @ufg_oficial


Carlos Siqueira

Como família e amigos podem ajudar?

Setembro Amarelo: prevenção ao suicídio Angélica Queiroz

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egundo estimativa da Organização Mundial de Saúde, a cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo. Numa tentativa de reduzir esse número em pelo menos 10% até 2020, a Associação Internacional de Prevenção do Suicídio propõe a instituição do mês de setembro, mês do dia de prevenção ao suicídio – 10 de setembro –, para a realização de uma campanha preventiva e de conscientização sobre o assunto. A professora aposentada da UFG, coordenadora do projeto Inter-vir suporte em perdas e do Setembro Amarelo em Goiânia, Célia Maria Ferreira da Silva Teixeira, conversou com o Jornal UFG sobre o assunto e lembrou que a sociedade precisa aprender a identificar os sinais do comportamento suicida.

Falar de morte constitui um grande tabu na nossa sociedade e falar de morte por suicídio passa a ser um tabu maior

Por que o suicídio é tratado como tabu? Falar de morte constitui um grande tabu na nossa sociedade e falar de morte por suicídio passa a ser um tabu maior. Há um estigma social do suicídio. Em muitas culturas o suicídio é percebido como vergonhoso. A pessoa que se suicida é vista como fraca, egoísta ou manipuladora. Essas crenças são tanto da sociedade como um todo, como daqueles que experimentam pensamentos suicidas. Tudo isso contribui para reforçar o sigilo e o silêncio.

soa deprimida sobre suicídio irá provavelmente fazê-la cometer suicídio. Ao contrário, sabe-se que muitas pessoas deprimidas que têm planos ou pensamentos suicidas ficam aliviadas quando alguém toma conhecimento de tais planos e é capaz de ajudá-las quanto a isso. Contudo, há importantes aspectos que devem ser considerados na interação com uma pessoa potencialmente suicida como ser empático e ouvir com atenção e sem julgamento. Isso implica em possuir habilidade na escuta e saber encaminhar essa pessoa para um profissional médico e psicólogo.

Como funciona o projeto Inter-vir?

O Projeto Inter-vir suporte em perdas, formado por psicólogas e médico psiquiatra, desenvolve ações voltadas às pessoas que passam por situações de perdas por morte, tentativa de suicídio, doenças crônicas e incapacitantes, separação e aposentadoria, oferece atendimento psicológico e psiquiátrico às pessoas com comportamento suicida e a familiares enlutados por suicídio. Desenvolvemos ainda atividades voltadas à capacitação de profissionais para atuação nas questões vinculadas a perdas, em especial à morte por suicídio, além de atividades de prevenção do suicídio e atividades científicas.

Quais as propostas do evento organizado pelo Inter-vir, em parceria com a UFG, para esse mês de setembro?

Os jovens estão cada vez mais vulneráveis a comportamentos suicidas?

Primeiro é preciso compreender o termo “comportamento suicida”, que se refere a todo ato pelo qual um indivíduo causa lesão a si mesmo, independente do grau de intenção letal e de conhecimento do verdadeiro motivo desse ato. Existe então um continuum que passa pelo pensamento de autodestruição, ameaças, planos, tentativas de suicídio e, finalmente, o suicídio. Os índices de suicídio e de tentativas de suicídio são mais frequentes nos grupos etários mais jovens e nos idosos. Universalmente sabe-se que o suicídio é uma das três causas de morte mais frequentes em pessoas entre 15 e 24 anos. Adolescentes e jovens vivem com grande intensidade o presente e têm dificuldades de se projetarem no futuro. Muitos vivem essa fase do ciclo vital com muita angústia e desesperança e, a depender do nível de dor psíquica existente, instala-se um conjunto de pensamentos que apontam para a incapacidade do indivíduo em atender as exigências do ideal por ele concebido. A dor é tamanha que matar-se passa a ser a única forma de livrar-se dela.

Quais são os principais fatores que levam ao suicídio? Como podemos identificar os alertas? É fundamental que abandonemos um pensamen-

Falar sobre o assunto pode ajudar na to linear. Devemos pensar no suicídio como um prevenção? fenômeno multifacetado. Há vários fatores de risExistem muitos mitos criados à respeito do tema suicídio, por exemplo o de que falar com uma pes-

A família e os amigos devem conhecer os fatores de risco e de proteção e saber identificar os sinais de alerta do suicídio. Algumas orientações devem ser adaptadas a cada caso, como estabelecer um relacionamento aberto e uma comunicação franca, não deixar a pessoa sozinha e não ignorar a situação. Em caso de tentativa de suicídio, as orientações são: levar a pessoa ao pronto socorro para o primeiro atendimento, conduzi-la ao Pronto Socorro Psiquiátrico após alta hospitalar e apoiá-la no sentido de ter um acompanhamento psiquiátrico e psicoterapêutico.

co para o suicídio: fatores sociais e demográficos (idade, gênero, orientação sexual, isolamento social); fatores psiquiátricos (transtornos do humor,

...há importantes aspectos que devem ser considerados na interação com uma pessoa potencialmente suicida como ser empático e ouvir com atenção e sem julgamento

O Setembro Amarelo marca o mês de prevenção do suicídio. Este mês foi escolhido pela Associação Internacional de Prevenção do Suicídio para alertar sobre a importância de ações de prevenção. O objetivo do evento é dar destaque ao problema, encarado por muitos como um tabu, bem como, conscientizar as pessoas para as possibilidades de ações de prevenção nos diversos contextos da sociedade. O evento, liderado pelo projeto Inter-vir suporte em perdas, conta com importantes parceiros como, por exemplo, a Universidade Federal de Goiás, um espaço privilegiado para a prevenção. Integram a programação rodas de conversa, palestras – com professores convidados da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Brasília (UnB_ – debates, mesa-redonda e caminhada em favor da vida. Contamos com a UFG para uma ampla divulgação, pois a prevenção do suicídio é uma tarefa para muitas mãos.

3 Entrevista Célia Maria Ferreira da Silva Teixeira

dependência e abuso de álcool e drogas, transtornos de personalidade); fatores psicológicos (perdas recentes, dinâmica familiar conturbada, impulsividade); fatores médicos (doenças orgânicas incapacitantes, dor crônica, neoplasias malignas, doença renal crônica); fatores relacionados ao comportamento suicida (tentativas de suicídio prévias); fatores familiares (histórico familiar de suicídio, histórico familiar de doença psiquiátrica). Para identificar os sinais de alerta do suicídio precisamos conhecer mais sobre o fenômeno do suicídio, lendo a literatura específica, conversando com profissionais da área e participando de ações de prevenção como o Setembro Amarelo.


Extensão

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Materializando o aprendizado

Segundo a professora Andréia Nascimento, o intuito dessa equipe é participar da competição nacional BAJA SAE Brasil, representando a UFG.

Alunos de Engenharia da UFG desenvolvem projeto fora da sala de aula para aplicar os conceitos estudados no curso Natália Esteves

Outra equipe que integra o projeto é o baja, cuja construção se baseia na aplicação do conhecimento de Engenharia desde a concepção até a fabricação de um veículo off-road, veículo de pequeno porte projetado para competir em estradas de terra.

Divulgação

O projeto é coordenado pela professora Andréia Nascimento e tem também a supervisão dos professores Felipe Mariano, Ademyr Gonçalves e Fillipi Albuquerque, todos da Escola das Engenharias Elétrica, Mecânica e de Computação (EMC). Além dos incentivos da Universidade, os alunos também oferecem cursos de Matlab, Planilhas/Excel e plataformas de Cad para ajudar nos custos dos protótipos, que são altos. O aerodesign está avaliado em cerca de 15 mil reais, o kart em 20 mil e o baja em 60 mil reais.

Carlos Siqueira

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necessidade e a vontade dos alunos de Engenharia Mecânica da UFG de colocarem em prática o que aprendem em sala de aula resultou no projeto Implantando Sonhos: Desenvolvendo Engenharia, iniciativa que surgiu em 2013, na qual os estudantes constroem protótipos de veículos definidos como modelos em fase de testes. Atualmente o projeto conta com a participação de 42 estudantes do curso de Engenharia Mecânica, dois de Engenharia Elétrica e um de Engenharia da Computação, divididos em três equipes:

kart, minibaja e aerodesign.

das Profissões em junho, no Câmpus Samambaia da UFG. Atualmente os estudantes estão trabalhando em um segundo modelo que irá representar a Universidade no campeonato SAE Aerodesign 2016, que reúne também participantes de países da América Latina. O Aerodactyl será a primeira equipe de Goiás a competir no SAE Aerodesign.

Em 2015, os alunos conseguiram finalizar o primeiro protótipo do aeromodelo, que foi exposto no Espaço

O Aerodactyl e mais 43 equipes foram selecionadas entre 90 inscritos para participarem da competição que ocorrerá no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) em São José dos Campos, em São Paulo, entre os dias 3 e 6 de novembro de 2016. As equipes da UFG vão competir na modalidade regular para estudantes de graduação.

A equipe kart passou a integrar o projeto no ano de 2014 por iniciativa dos próprios alunos e utiliza os conhecimentos de Engenharia Mecânica na área automobilística. Segundo um dos integrantes da equipe, Maurílio Lopo, que participa desde a fundação do projeto, a ideia começou a partir da construção de um carrinho de rolimã feito pelos estudantes do curso para uma competição no 4º Congresso de Engenharia e Tecnologia (CET), quando alcançaram o segundo lugar.

Depois da competição, os próprios alunos se organizaram para dar continuidade à proposta. Maurílio diz que eles se reuniram para a construção do kart e que tudo era feito fora da Universidade até ingressarem no projeto. “Um dos alunos que fazia parte da construção do kart conversou com a professora Andréia Nascimento, coordenadora do Implantando Sonhos, e ela nos convidou para fazer parte do projeto que era composto pelo mini-baja e o aerodesign”, explica. Atualmente o kart está em processo de construção. Uma das peças principais, o chassi, já está pronto e os alunos estão trabalhando na sistema de direção do veículo. Segundo a professora Andréia, os objetivos da equipe de kart da UFG, que adotou o nome de Optimus Kart, são representar a Universidade no campeonato Fórmula Universitária, que visa formar pilotos e capacitar engenheiros para o automobilismo de competição.

Divulgação

O último dos projetos é o aerodesign, que se fundamenta nos conceitos de Engenharia Mecânica, Elétrica e de Computação para o desenvolvimento de um protótipo de aeromodelo cargueiro a combustão. O projeto surgiu no ano de 2013, a partir de uma ideia da aluna Isadora Silva e do professor Felipe Pamplona. No início, utilizaram o programa Jovens Talentos e depois, em 2014, iniciaram o processo seletivo para os primeiros membros, resultando na equipe que hoje se chama Aerodactyl UFG.

Segundo a aluna de Engenharia Mecânica Isadora Silva, o intuito da competição é o aprendizado. “Comprar um aeromodelo pronto é fácil, mas a competição está mais preocupada com a teoria que estamos usando, se estamos entendendo os métodos que aplicamos”, explica a estudante, lembrando que a competição analisa também o relatório que os estudantes entregam junto com o resultado final do aeromodelo.

No momento, o primeiro protótipo Caryocar Baja UFG, que tem o nome de Uruntu – primeiro tanque de guerra do Brasil –, está em construção e ainda precisa de ajustes para competir. Porém, segundo Gustavo Bastos, aluno de Engenharia Mecânica que participa do Baja desde a criação, o protótipo deve ficar pronto em outubro. “Esse projeto vem para incrementar o aprendizado do aluno na faculdade, fazendo uma ponte entre a teoria e a prática, fechando a conexão entre o que está escrito no livro com o que realmente acontece”, completa.


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Freepick

Somos livres? Uso de software livres na Universidade traz liberdade ao usuário e muitos outros benefícios, mas implementação ainda é desafio Camila Godoy

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m tempos de internet, é muito comum associar informática à liberdade. Afinal, a rede mundial, acessada por dispositivos digitais, possibilita que o usuário se conecte a uma gama de informações, compartilhe dados, disponibilize conteúdos e escolha quando e como acessar tudo isso. Um verdadeiro avanço ao compararmos com outros meios em que, praticamente, a única opção existente é a de utilização ou não desse veículo. Contudo, essa “liberdade” que parece ser a maior conquista da sociedade nos últimos tempos é bastante questionável ao se pensar no que está por trás das tecnologias, ou quem está, visto que, na maioria das vezes, utiliza-se programas e ferramentas desenvolvidos por grandes empresas. Assim, ainda que seja possível acessar, os dados já têm donos.

Segundo o professor do Instituto de Informática da UFG (INF), Marcelo Akira, até a década de 1970, nos primórdios da computação moderna, as ferramentas existentes eram predominantemente software livres. Ou seja, programas de computador que tinham seu código-fonte aberto aos usuários. Assim, por meio de uma linguagem computacional, era possível acessar todas as instruções necessárias para compreender e modificar o programa. No entanto, o professor explicou que, com o advento do computador pessoal, o cenário mudou e várias empresas resolveram comercializar programas sem disponibilizar o código-fonte, surgindo assim o software privativo.

“Praticamente, todos os usuários eram programadores e compartilhavam entre si seu conhecimento por meio da distribuição do código-fonte, sem restrições. Assim, quatro liberdades essenciais eram garantidas aos usuários, que podiam executar o software para qualquer propósito, estudar e adaptar o programa, redistribuir cópias do sistema e redistribuir novas versões da ferramenta”, explica o professor. Além disso, para ele, o software livre garante outros direitos, como segurança, portabilidade de dados, controle do sistema e compartilhamento de conhecimentos.

Marcelo Akira afirma que, com a liberdade de editar o código-fonte, o usuário pode verificar se o programa executa ações maliciosas como propagandas indevidas, espionagem ou roubo de dados, pode estudar o formato dos dados produzidos e assim facilitar sua portabilidade e pode também programar a comunicação com outros softwares. “O software privativo oferece uma falsa sensação de propriedade. Quem o compra, na verdade, licencia um software para uso restritivo. Quem compra software livre estimula o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, segura e com mais livre concorrência”, defende.

Uso na UFG

Com pensamento parecido, o professor do Instituto de Física da UFG, Salviano de Araújo Leão, incentivou o uso de programas com códigofonte aberto em todos os computadores do Instituto. “Transformei o nosso laboratório para que todos os computadores só rodassem software livre. No início foi um problema, todo mundo reclamou, depois perceberam que nosso laboratório estava cheio de alunos. Eles vinham até mesmo de outras unidades para usar nossas máquinas, porque todas elas funcionavam, não tinham vírus”, relata. Segundo o professor, a resistência quanto ao uso de software livre muitas vezes surge devido ao desconhecimento: “As pessoas estão acostumadas com determinados ícones sempre nos mesmos lugares, mas não podemos nos prender a um botão que faz aquilo que eu posso fazer de outra forma, às vezes até melhor ou mais fácil. Os sistemas operacionais livres nos oferecem maior liberdade, permitindo que façamos a mesma tarefa de diversas maneiras”. Salviano de Araújo explica ainda que, em tempos de crise, a adaptação a esses programas renderia uma grande economia para a universidade. “Com as pesquisas, é muito comum fazer tratamento de dados e, para isso, é necessário utilizar diversos recursos, que nos software proprietários custam valores absurdos. Além disso, posso automatizar tarefas pela linha

de comando do sistema, economizando tempo e evitando erros. Tudo isso ocupando menos espaço na máquina e customizando a ferramenta de acordo com as minhas necessidades”.

O técnico da Tecnologia da Informação do Centro de Recursos Computacionais da UFG (Cercomp), Marcello Moura, afirma que a Universidade busca esclarecer a comunidade universitária e incentivar o uso de software livres. “Pela facilidade, na maioria dos casos as pessoas acham melhor utilizar software privativos e se esquecem que a compra de licenças de empresas estrangeiras escoam

Participante dessa Comissão, Salviano de Araújo faz um alerta para problemas que vêm antes do uso de software em si: a falta de padrões para documentos. Segundo ele, a era digital exige ainda mais que se pense em gestão da informação, de forma que qualquer usuário consiga entender a organização e localizar os arquivos que necessita. “Essa prática criará uma memória institucional, evitando a perca de arquivos com o tempo”, afirma. Informações podem ser obtidas no endereço eletrônico

uma iniciativa que tem dado certo “Imagine um belo dia em que uma das principais redes sociais da atualidade, como o Facebook, apague todos os registros que você fez em sua linha do tempo. Ele vai apagar parte da sua história”. A fala é do professor da Faculdade de Informação e Comunicação da UFG, Dalton Martins, ao analisar a importância de preservar objetos digitais a longo prazo por meio de repositórios confiáveis. Dalton Martins faz parte de um projeto da Universidade em parceria com Ministério da Cultura que tem feito sucesso entre aqueles que estão preocupados com essa questão. Fruto de um trabalho de uma equipe multidisciplinar, a UFG criou o software livre Tainacan, uma plataforma de gestão de arquivos digitais diferente das existentes até então, proporcionando interatividade e maior participação social. Segundo o professor, em linhas gerais, o sistema criou uma interface que simplifica trabalhos de classificação de objetos e de organização de coleções, que antes seriam feitos por profissionais da informação, museólogos, arquivistas, bibliotecários, entre outros.

O professor da FIC, Marcel Ferrante Silva, que também participou do projeto, explica que o Tainacan é um espaço para compartilhar e disponibilizar objetos digitais, em diferentes arquivos, que possibilita ao usuário trazer dados das redes sociais e classificar a relevância daquilo que é colocado. Segundo ele, já é possível utilizar o Tainacan, mas ele ainda é um projeto de pesquisa que pre-

cisa de apoio para expandir. “Estamos tentando evoluir com cuidado, devagar, para que ganhemos escala na medida em houver condições para isso ”, detalha. O professor da Faculdade de Artes Visuais da UFG, Ravi Passos, lembra que as vias para possibilitar o uso podem ser: hospedagem no site do Ministério da Cultura, utilização do código-fonte do programa e utilização por meio de outras instituições que usem essa ferramenta e deem o suporte necessário. Essa terceira opção, segundo ele, tem dado muito certo. O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) fez uma cooperação técnica com a equipe do Tainacan para aperfeiçoar o sistema e implantá-lo nos museus brasileiros. O Instituto, que é um órgão ligado ao Ministério da Cultura e que formula políticas públicas para área, vai testar o software em alguns museus e, caso o resultado seja positivo, recomendará seu uso. Além disso, ele fará o inventário de todos os museus com um sistema integrado, usando o Tainacan. “Temos apostado nossas fichas nisso. Estamos apoiando a inciativa de criação do Museu da Ciência da UFG. O Tainacan será o sistema utilizado pela própria iniciativa para que possamos conhecer o acervo da universidade”, destaca Dalton Martins. Conheça o Tainacan no link

Tecnologia

o capital para fora do país não gerando emprego e renda”. Na tentativa de mudar essa hábito, a UFG criou, em 2015, uma Comissão de Implantação de Software Livres, com diversos profissionais. Além disso, o Cercomp, em parceria com a Pró-reitoria de Assuntos Institucionais e Recursos Humanos da UFG criou a campanha “Seja Livre”, que divulga o conceito e a importância do uso de sistemas operacionais livres.


Mesa-redonda

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Precisamos de uma reforma na previdência? Ascom, TV UFG e Rádio Universitária

Mais de dez pontos estão em análise e preveem mudanças na forma de concessão e no prazo para aposentadorias e pensões, tanto urbanas quanto rurais, na iniciativa privada e no setor público. E não apenas dos futuros trabalhadores, mas também para quem já está no mercado. A proposta ainda não está fechada, mas muito se fala, por exemplo, em tornar mais rígidas regras para concessão de auxílio doença e estabelecer uma idade mínima para a aposentadoria. As propostas impopulares têm gerado polêmica, e para discutir o assunto, a mesa-redonda convidou o economista Danilo Orcida, a Presidente da Comissão de Direito Previdenciário e Securitário da Ordem dos Advogados do Brasil de Goiás (OAB-GO), Delzira Menezes, e o advogado, historiador e assessor jurídico de entidades sindicais na área de previdência, José Geraldo de Santana. Você pode participar das próximas mesas-redondas enviando sugestões de temas e convidados pelo telefone: 3521-1311 ou jornalismo.ascom@ufg.br

Confira os vídeos do Programa Conexões no QR Code ao lado.

José Geraldo – A crise que se prenuncia ou que se anuncia vai nos trazer um horizonte muito sóbrio. A reforma é necessária? Depende do ponto de vista de sua análise. Se for para ampliar o direito e a base de financiamento da seguridade social, ela é necessária. Agora se for para retirar direitos, como pretende o governo, ela é catastrófica. A seguridade social, notadamente a previdência e a assistência, representam o maior instrumento de distribuição de renda da história do Brasil. Então, qualquer reforma que venha suprimir direito é absolutamente desnecessária e nociva à sociedade.

Delzira Menezes – A previdência, hoje, mantém a maioria dos municípios do nosso estado e do país. Se houver a reforma nos moldes que estamos comentando, será muito prejudicial para toda a sociedade. De que forma? A diminuição do piso e a desconsideração do valor do salário mínimo, por exemplo, provocariam prejuízos muitos grandes, porque muitas pessoas sobrevivem de benefícios previdenciários e assistenciais.

Danilo Orcida – Hoje no Brasil é preciso equacionar as contas públicas e a previdência. A seguridade social representa um grande desafio, uma vez que, se considerarmos o quadro de despesas públicas, falamos de uma despesa de quase 23% por parte do governo federal. Isso tem de fato um impacto significativo nas contas do governo, mas a grande questão é discutir uma reforma que não represente um retrocesso com retirada de direitos.

Como fazer para equacionar?

José Geraldo – Para que tenhamos a dimensão exata do que é a previdência social no Brasil, é preciso lembrar que 60% dos municípios brasileiros têm como principal fonte de riqueza o benefício previdenciário. Para esses municípios, esse benefício representa mais do que o Fundo de Participação dos Municípios, que é a principal fonte de renda. E por que isso representa tanto para os municípios? Principalmente porque temos a vinculação do benefício previdenciário com o salário mínimo e ninguém recebe menos que um salário mínimo. E o salário mínimo, nos últimos 13 anos, não só foi corrigido pela inflação como teve um aumento real de 72%. Isso representa distribuição de renda. Como equacionar? O que nós precisamos fazer é estabelecer ou ampliar a base de financiamento da seguridade social. A previdência, por exemplo, é financiada pela contribuição dos trabalhadores e dos empregadores, mas nós temos nos últimos anos a desoneração da folha de pagamento de 160 ramos de atividades econômicas, o que representa diminuição na arrecadação da previdência social. A previdência urbana, apesar disso, ainda é superavitária, arrecada mais do que paga. A previdência rural é deficitária porque as propriedades não pagam. Ao invés de fazer forte aquilo que é justo, pretende-se fazer justo aquilo que é forte, que é o interesse do capital. O que está em jogo, na verdade, não é a equação da previdência social, são os interesses inconfessos, inclusive representados por esse governo. Delzira Menezes – A previdência é tripartite e deveria ter contribuição do empregador, do empregado e do governo. As duas primeiras existem, a do governo, infelizmente, não. O que acontece ainda é que, além de não contribuir, ele ainda retira. Inclusive com a desvinculação da receita, ele reti-

Danilo Orcida – Acredito que a equação passa pela visualização do cenário atual, mas quando se fala de previdência é preciso enxergar um contexto futuro. Temos uma projeção do IBGE de que, no ano de 2050, teremos 56% da população como população ativa, praticamente equiparando com a quantidade de inativos no país. Então, nós precisamos compreender que a proposta de discussão deve passar justamente pela sua fonte de financiamento, enxergando a dificuldade no cenário atual, mas pensando também nessa nova roupagem em que a sociedade se enquadrará num momento futuro, como é o caso das projeções para os próximos anos. Fotos: Carlos Siqueira

Segundo estimativas do Tesouro, no ano passado a previdência social registrou um déficit de 87,89 bilhões de reais, valor que deve crescer para mais de 160 bilhões em 2016. Pensando em possíveis saídas, a equipe econômica do governo interino de Michel Temer está trabalhando em uma proposta de reforma da previdência que, caso seja aprovada, vai alterar muito a maneira como o sistema funciona hoje.

Essa reforma é necessária? Existe realmente uma crise no sistema previdenciário do país?

ra mais de 30% do orçamento da previdência sem colocar o dinheiro que seria da assistência. Nesse caso, se houvesse o crédito da parte do governo e se não houvesse a desvinculação das receitas, não haveria problema nenhum na previdência. A previdência social, que é urbana e rural, não tem déficit, ela é superavitária. A contribuição da população rural existe, porque todo produtor rural contribui sobre aquele produto que ele vende. Falta a fiscalização dessa receita, mas a previdência rural não torna a previdência deficitária.

José Geraldo

...tudo o que se diz até agora sobre reforma da previdência social interessa ao capital e é altamente nocivo à sociedade, principalmente aos trabalhadores José Geraldo – O problema não está na aposentadoria rural, está na contribuição, que não é efetiva. A aposentadoria rural é, sem dúvida nenhuma, a maior conquista que a Constituição de 1988 assegurou. Hoje são mais de nove milhões de beneficiários no campo.

Quais consequências a desvinculação da aposentadoria com o salário mínimo podem trazer ao trabalhador?

Delzira Menezes – Isso pode trazer grandes prejuízos porque todas as pessoas contribuem e, quando são aposentadas, é feita uma conta para saber o valor do benefício. Se esse benefício for desvinculado do salário mínimo, a atualização ficará diminuída e, com o tempo, não se conseguirá mais comprar com o mesmo valor.

Danilo Orcida – Se considerarmos o ano de 2015, o reajuste do salário mínimo foi de 8,8% e, em Goiás, fechamos o ano com a inflação de 14,18%. O salário mínimo vem sendo corroído com o tempo. O próprio reajuste muitas vezes não acompanha o indicador da inflação. De 2015 para 2016 houve uma proposta de reajuste do salário mínimo de


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José Geraldo – Se for aprovada a desvinculação dos benefícios previdenciários e o salário mínimo, este será um grande dano social. Para que nós tenhamos a exata dimensão do que isso representa, em 2003 o teto do regime geral da previdência social era de R$2.400, o que correspondia exatamente a dez salários mínimos. Hoje o teto é de R$5.189,72 e corresponde a 5,9 salários mínimos. Os benefícios previdenciários continuaram sendo corrigidos pela inflação, mas o benefício do salário mínimo foi corrigido pelo salário mínimo, ou seja, teve 72% além da inflação. Então nós teremos um empobrecimento absoluto. Hoje são mais ou menos 28 milhões de previdenciários e, se nós multiplicarmos pelo menos por duas ou três pessoas, teremos mais de 60 milhões de brasileiros que sofrerão o empobrecimento com essa desvinculação. Além do que, se a idade mínima for para 65 anos, isso vai implicar que o filho do trabalhador que começa como menor aprendiz aos 14 anos e pode entrar no mercado de trabalho aos 16, vai trabalhar entre 49 e 51 anos para ter direito à aposentadoria. Isso representa retrocesso social, o que inclusive é vetado pela Constituição.

Delzira Menezes

Acredito que a reforma seja sim, necessária, mas não para diminuir direitos. Sendo assim, precisamos fazer ajustes, mas os direi tos sociais duramente adquiridos precisam ser mantidos E em relação à idade mínima? O tempo de trabalho deve aumentar? Delzira Menezes – Essa proposta não vai resolver o problema, porque se fala muito que no Brasil não existe idade mínima, mas ela já existe, apenas não está na lei. Em 1998, quando houve a reforma, e depois em 1999, com a criação do fator previdenciário, houve, sim, a criação da idade mínima, porque a pessoa pode até se aposentar antes dos 60, mas terá a renda diminuída, às vezes em quase 50% do valor que efetivamente contribuiu. Em 2015, com a criação da fórmula 85/95, que na verdade é 90/100, mais uma vez se colocou a idade mínima e, mesmo com essa mini reforma de 2015, não houve melhora e nem haverá, porque não é a questão da idade que traz problemas para a previdência.

Danilo Orcida – A questão da idade é uma tentativa que se coloca para ampliar o tempo de contribuição. É uma solução simples para uma causa complexa. A questão passa por soluções complexas e não por uma causa única como, por exemplo, a tentativa de manobra em relação à idade. Ampliar a fonte de financiamento passa, por exemplo, por uma releitura das pensões. O cidadão tem uma família de quatro pessoas e quando ele falece a pensão é o valor integral daquele salário que ele recebia, mas agora para uma família que passa a ser composta por três pessoas. Por que não pensar em uma redução proporcional dessa pensão? Vejo que teríamos assim uma redução de despesas na ótica do governo e, querendo ou não, conseguiríamos equacionar já que o valor atenderia a uma família com quantidade menor de pessoas. Essa questão da redução das pensões também está sendo pautada como uma das propostas e vejo que a solução para essa questão da previdência é complexa e deve trilhar vários caminhos para uma solução efetiva.

José Geraldo – Eu não concordo com a proposta da redução de pensões porque, embora o número de pessoas seja menor, as necessidades não diminuem e as dificuldades aumentam. Na verdade, as pensões já sofreram reformas com a medida provisória que reduziu consideravelmente os direitos, passando a exigir a comprovação de pelo menos dezoito contribuições em dois anos de união estável ou casamento para que o cônjuge sobrevivente faça jus à pensão por morte e ela não é mais vitalícia, dependendo da idade. Há casos em que falece o segurado e a viúva ou o viúvo conseguem a pensão por morte apenas por quatro meses. Essa reforma já foi altamente prejudicial para o segurado de baixa renda. Sobre a questão da idade mínima, ela já existe – 60 anos para a mulher e 65 para o homem. Essa não é a grande questão. O que se quer é aumentar o tempo de contribuição sem que a previdência dê retorno ao segurado. Isso é o pretendido. Muito se diz sobre a idade mínima em outros países, mas a realidade social desses países é completamente distinta da nossa. Não podemos comparar grandezas diferentes sob pena de cometermos injustiças. O que se pretende realmente é elevar para, no mínimo, 49 anos o tempo de trabalho necessário para a aposentadoria ou até 51, se a PEC que reduz a idade de ingresso no mercado de 16 para 14 anos for aprovada. Ou seja, tudo o que se diz até agora sobre reforma da previdência social interessa ao capital e é altamente nocivo à sociedade, principalmente aos trabalhadores.

Danilo Orcida – Com relação às pensões, quando eu advoguei a ideia da redução do valor do benefício, coloquei em pauta a figura da razoabilidade da proporcionalidade do valor se comparado ao número de integrantes da família, tentando apontar isso como um caminho ou uma solução para ter esse equilíbrio entre os valores que são pagos pelo Estado e os valores que são recebidos pelos seus pensionistas. Se houve uma redução na quantidade de membros do seio familiar, por que não pensar essa possibilidade? Vejo isso como um caminho. Aí não teríamos redução de benefício, porque a redução que sinalizo como proposta, seria proporcional à redução do seio familiar. É enxergar uma proporção entre o valor do salário que é pago em vida para a pensão que é paga na ocasião da morte. Delzira Menezes – Também discordo plenamente disso, porque a nossa previdência é contributiva. Você contribui durante toda a sua vida para que possa ter um benefício ao final de sua carreira trabalhista. E você pagou para ter um valor definido. Se houve um infortúnio e você perdeu alguém, ainda assim, houve a contribuição. Portanto, não há justificativa para que esse valor seja diminuído. Sou totalmente contra essa alternativa. Acredito que a reforma seja sim, necessária, mas não para diminuir direitos. Sendo assim, precisamos fazer

Mesa-redonda

11,25% mas, ainda assim, vivemos num contexto de inflação. Portanto, vejo com grande preocupação essa proposta de desvinculação por si só que, de imediato, pode ser uma solução simples para essa causa complexa mas, a longo prazo, talvez não atenda a necessidade daquele beneficiário de fazer frente às suas necessidades básicas.

Danilo Orcida

Diante desse cenário de redução de direitos, a previdência privada se apresenta como um caminho para se manter a mesma renda ajustes, mas os direitos sociais duramente adquiridos precisam ser mantidos.

A previdência social dos setores público e privado deve se igualar ou algumas diferenças serão mantidas? José Geraldo – Essa reforma foi tentada em 1998, quando já foi estabelecida idade mínima para o regime próprio de previdência social dos servidores públicos civis. Naquela oportunidade o governo tentou fazer a mesma reforma, mas quando se discutiu a reforma do regime geral, lamentavelmente o deputado Antônio Kandir errou o voto – eram necessários 308 e a reforma deu 207. Aí o governo se vingou e trouxe o fator previdenciário, que é a coisa mais nociva que já se criou na história desse país, chegando a reduzir em 50% os proventos de aposentadoria. A discussão sobre a unificação dos regimes também é complexa. Desde que sejam respeitados os direitos e não haja retrocesso social, que é vetado constitucionalmente, pode-se discutir a unificação. Mas o que se pretende até agora é exatamente a redução de direitos, é para beneficiar a previdência privada, que é um regime de capitalização, não é um regime de repartição simples como é o regime geral, como é o regime próprio de previdência social. Delzira Menezes – Essa unificação simplesmente vai diminuir direitos. Hoje um servidor se aposenta e tem sua remuneração integral. Os servidores que entraram a partir de 2013 já não têm mais isso. Para que eles tenham uma remuneração da ativa, têm que fazer uma previdência privada complementar. A unificação pode ser interessante, mas precisa ser melhor estudada. Danilo Orcida – Como economista, eu destaco o aspecto da possibilidade da previdência privada num momento futuro representar uma complementação. Diante desse cenário de redução de direitos, a previdência privada se apresenta como um caminho para se manter a mesma renda e o mesmo padrão de consumo desse trabalhador no momento da aposentadoria.

José Geraldo – É importante destacar que a partir de 2013 já houve uma unificação no que diz respeito ao teto – o da União passou a ser o mesmo do regime geral. O servidor que quiser mais precisa contribuir e, não só com os 11%, mas com mais 11% que seriam da União. Então já houve essa unificação em prejuízo do servidor público.


Alexandre Carmargo Coutinho

Pesquisa

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Com nome estranho, que une as iniciais de quatro estados brasileiros: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, Matopiba é uma região brasileira que tem ganhado destaque mundial pelo seu potencial de produção de grãos e já é considerada por alguns como a última fronteira agrícola da Terra. Os 337 municípios dos quatro estados que a compõem têm clima favorável à atividade, além de áreas chapadas, solo desenvolvido e abundância de águas.

A região ficou ainda mais propícia para a agricultura quando, em 2015, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento lançou o Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba. O projeto deu legalidade para a abertura de novas áreas de cultivo e tem atraído diversos investidores. No entanto, para além dos ganhos econômicos, a proposta representa também uma ameça à sobrevivência de 46 unidades de conservação, 35 terras indígenas, 745 assentamentos e 36 comunidades quilombolas localizadas na área. Divulgação

UFG de olho no Cerrado

Você sabe o que é Matopiba?

Universidade participa do monitoramento oficial do bioma e as notícias não são boas: avanço do desmatamento e das queimadas ameaçam a biodiversidade do ecossistema

Camila Godoy

Q

uase todas as notícias sobre o Cerrado são catastróficas. E não é para menos, afinal, segundo o Ministério do Meio Ambiente, mais da metade da cobertura vegetal desse bioma já se perdeu e o que resta está fragmentado. A situação preocupante fez com que os pesquisadores da ONG Conservation International classificassem o Cerrado como um dos 34 hotspot do planeta, ou seja, um ambiente em um ritmo elevado de degeneração que pode não ter condições de se restabelecer. No entanto, ainda que os olhos do mundo estivessem sobre essa área, até 2013 o Brasil não monitorava oficialmente esse ecossistema.

A professora do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (Iesa) da UFG, Elaine Barbosa da Silva, coordenou regionalmente o projeto. Segundo ela, o monitoramento é fundamental para a criação de políticas públicas de preservação. “O Cerrado tem mais de dois milhões de quilômetros quadrados e quando falamos, por exemplo, que o desmatamento nessa área é, em média, 5% ao ano, precisamos saber onde está concentrando essas taxas, porque não é o bioma todo. Então, quais são os principais municípios onde o governo precisa concentrar seus esforços?”, questionou.

Fronteiras agrícolas

Elaine Barbosa da Silva estuda a ocupação do Cerrado e suas fronteiras agrícolas há bastante tempo. Para ela, as modificações nesse cenário ocorrem em consonância com os interesses econômicos e políticos do

De acordo com a pesquisadora, o centro goiano foi a segunda área a ser explorada. Agora, segundo ela, a expansão caminha para o norte do bioma, abrangendo as bordas da Amazônia e uma região denominada Matopiba, formada por partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. “Os incentivos e a implantação da agropecuária no Cerrado deram muito certo, ao ponto de que em quatro décadas tivemos aproximadamente 50% de conversão dessas áreas para a implantação dessas atividades”, disse. No entanto, os dados que podem parecer bons para a economia, não têm sido vistos com bons olhos pela ciência. Segundo Elaine Barbosa da Silva, para criar grandes pastos e plantações, os produtores desmatam a vegetação nativa, sendo esse o pontapé inicial para outros grandes problemas, como uma menor captação de gás carbônico da atmosfera e as consequentes mudanças no regime climático, um menor abastecimento dos lençóis freáticos, assoreamento dos rios e perda da biodiversidade de fauna e flora, entre outras questões. Ainda assim, para ela, esse ciclo catastrófico pode ser interrompido. “Nossa melhor opção é otimizar a pecuária, que utiliza cerca de 70% do solo ocupado. Assim, se tivermos um pasto melhor, onde o gado precise se espalhar menos para se alimentar e onde o pecuarista possa colocar mais cabeças em menos áreas, poderemos investir na recuperação da terra e inserir agricultura nas pastagens sem precisar expandir para as áreas de vegetação. É possível sim, que agricultura cresça sem que derrubemos nenhuma árvore”, destacou.

Mapa mostra estados que compõem a região do Matopiba

Quando a natureza vira fumaça Monitoramento realizado pelo pesquisador Fernando Moreira de Araújo, do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (Iesa) da UFG, revelou que o Cerrado é o bioma brasileiro mais afetado por queimadas. Além da tendência natural para a propagação do fogo, um fator tem preocupado o pesquisador: o avanço da agricultura na região conhecida por Matopiba. Com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e da Nasa, o pesquisador detectou que o

avanço agrícola e seu consequente desmatamento e aumento das queimadas ameaçam a biodiversidade da região.

O estudo comprovou que nos últimos quinze anos a área queimada na região soma mais de 67 milhões de hectares, representando, aproximadamente, 52% do total de área incendiada em todo o Cerrado. “Há uma cultura de recorrer às queimadas para ‘limpeza’ de pastos, afinal esse recurso é o mais barato. No entanto, elas trazem fortes consequências ao solo, vegetação, atmosfera e a toda biodiversidade”, afirmou o pesquisador. Carlos Terrana

A história só mudou quando o Governo Federal lançou o projeto TerraClass Cerrado, com a participação da UFG, entre outras instituições. O trabalho envolveu pesquisadores e profissionais para diagnosticar a cobertura e a ocupação do bioma por meio da análise de imagens geradas pelo satélite Landsat8, equipamento da Nasa que envia imagens detalhadas da Terra. Hoje, o dado mais confiável e atual do Cerrado é fruto desse trabalho.

país. “Até a década de 70, a região sul do bioma, principalmente o sul goiano, era a parte mais ocupada e onde havia maior incidência de agricultura e pecuária, muito disso por estar mais próximo ao Sudeste brasileiro. Com o projeto do governo militar de explorar o potencial de todas as regiões do Brasil, o Cerrado, por ter certa infraestrutura, além de uma topografia plana e de fácil mecanização, passou a ser destinado à produção agropecuária”, explicou.

Cerrado é o bioma mais afetado por queimadas

Veja a publicação TerraClass Cerrado


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Nasa

Extensão

Viajando com a Nasa Projeto de extensão da Regional Jataí divulga missões espaciais realizadas pela agência americana para alunos do Ensino Médio

Angélica Queiroz e Camila Godoy

S

ol, Terra, Marte, vida fora da Terra, campo magnético, origem do universo, buracos negros... Os assuntos, que despertam o interesse de muitos estudantes, estão entre os objetos de estudo da Nasa (sigla em inglês de National Aeronautics and Space Administration), agência americana responsável pelo envio do homem à Lua e conhecida por diversas pesquisas no espaço. Sabendo dessa curiosidade geral, a própria Nasa produz vídeos para divulgar para o mundo missões futuras e já realizadas. No entanto, por ser em inglês, esse material acaba não sendo acessível a muitos estudantes, apesar do

interesse desses pela temática. Atento a essa realidade, o professor de Física da Regional Jataí, Paulo Freitas Gomes, criou o projeto de extensão “Viajando com a Nasa”, por meio do qual legenda esse material e leva às escolas de Ensino Médio, onde discute os assuntos abordados com os estudantes, despertando neles o interesse pela ciência.

Paulo Gomes conta que a ideia do projeto surgiu durante seu pós-doutorado, antes de entrar na UFG, quando teve o primeiro contato com os vídeos produzidos pela Nasa. “São vídeos profissionais muito bonitos, didáticos e direcionados ao público em geral. Naquela época eu ainda não tinha

ideia de que poderia fazer um projeto de extensão, mas gostei bastante dos vídeos e queria divulgar. Fiz então um teste e legendei um primeiro vídeo”, lembra. O projeto começou em agosto de 2015 e, desde então, o professor legenda os vídeos, com a ajuda de bolsistas, permitindo que os alunos de Jataí – sabendo inglês ou não – possam entender a mensagem de cada produção. Todos os vídeos legendados pela equipe são também colocados no Youtube, permitindo que outras pessoas possam ter acesso ou que os alunos possam revê-los. O projeto é aberto a todos os interessados em colaborar, tanto professores quanto alunos. Segundo o professor, a experiência de pouco mais de um ano do projeto tem sido muito positiva, pois consiste em uma interação universidade e comunidade, que reforça a importância da universidade dando um retorno para a comunidade. “Além disso, muitos alunos podem se interessar pelo tema e escolher estudar algum curso rela-

cionado, como Física, Química ou Matemática, por exemplo. A comunidade ganha, pois toda divulgação científica é benéfica, podendo despertar futuros cientistas, além de enriquecer as aulas e o aprendizado de ciências”, ressalta. A data de cada visita sempre é definida pelo professor da turma onde será feita a apresentação no horário da aula dele. “Cada visita consiste de uma apresentação, na qual falamos, mostramos vídeos e debatemos sobre um tema”, explica Paulo Gomes. Segundo o coordenador do projeto, o desafio é continuar fazendo novas apresentações e visitar mais escolas. “As possibilidades são muitas e em cada escola há muitos alunos realmente interessados, fazendo muitas perguntas sobre os mais variados temas”, completa. Confira alguns dos vídeos legendados no blog do projeto


Mãe e acadêmica Estudantes relatam como conciliar filhos, trabalho e graduação

Kharen Stecca

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uando uma mulher torna-se mãe, toda a sua rotina também muda. Mesmo as que planejaram a maternidade vivem uma reviravolta em suas vidas. E quando a gravidez vem sem planejar? Ou a oportunidade de fazer uma graduação só aparece depois da maternidade? Como é conciliar vida de mãe com a vida acadêmica quando em nossa sociedade a responsabilidade sobre os filhos costuma recair sobre as mães? Essa é a realidade de diversas mulheres na UFG, que passam por inúmeras dificuldades, encontram apoio onde é possível e seguem em busca do sonho de concluir uma graduação.

Uma graduação, dois filhos e uma colação de grau

Persistência é o primeiro desafio que mães universitárias precisam enfrentar. “Pensei várias vezes em desistir, mas tive apoio da minha mãe, dos professores e dos meus colegas de turma. Além disso, sonhos exigem sacrifícios”, relata Kennia Gurgel, que acaba de se formar em Relações Públicas na UFG. Ela tem dois filhos que nasceram enquanto cursava a graduação: João Vitor, 4 anos, e Filipe Augusto, 2 anos e meio. Hoje, divorciada do pai de seus filhos, Kennia conta que não tem apoio dele, que vê os filhos a cada 15 dias.

Kennia conseguiu vaga para o filho mais velho aos cinco meses no Departamento de Educação Infantil do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada a Educação (DEI-Cepae), a antiga creche da UFG. Vaga essa bastante desejada por diversas pessoas da comunidade, já que a única forma de acesso ao DEI-Cepae é via sorteio, realizado uma vez ao ano. Já para o mais novo só consegui uma vaga em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) aos dois anos. Nesse meio tempo, Kennia conciliou as duas gestações com a graduação, o divórcio, o estágio e a monitoria, dividindo os cuidados dos filhos com sua mãe. “Eu só conseguia estudar depois que as crianças dormiam. Conciliar faculdade com maternidade é um tanto quanto complicado, e exige sacrifícios, como trocar o sono pelos livros”. Por conta da maternidade, Kennia acredita ter perdido algumas oportunidades, como por exemplo, participar de mais congressos, eventos e também de ter conseguido estágio ou emprego na área. “O caminho vai ser um pouco mais longo do que os dos meus colegas de turma”, afirma. Mas, contrariando as dificuldades, Kennia ingressou na Pós-graduação em Assessoria de Comunicação e Marketing da Faculdade de Informação e Comunicação da UFG e hoje procura por um emprego como Relações Públicas.

Do intercâmbio para a vida de mãe universitária Lohany Arnos, aluna do curso de Jornalismo, é mãe de Mayra, 1 ano. A gravidez, não planejada, ocorreu quando acabava de voltar de um intercâmbio e estava cheia de planos. Durante sua gestação, novo baque: a separação de seus pais. Trancou sua matrícula na universidade e só voltou no quinto mês de gravidez. Ao contrário de muitas mães, Lohany afirma ter apoio do pai da criança, agora seu marido. “Ele sempre esteve ao meu lado, me ajuda no que pode, mas trabalha o dia todo e só pode ficar com nossa filha à noite”, conta. Hoje a filha vai ao CMEI, porém, entre os 3 e 8 meses de idade, esteve com a mãe na universidade várias vezes, quando não havia com quem deixá-la. “Assistir as aulas com ela agora é bem complicado, pois não para mais quieta. Os professores são bem compre-

ensivos, desde que engravidei tive ajuda de vários deles. Ganhei um carrinho de bebê para ela não ficar no colo o tempo todo. Tanto os alunos como os professores sempre me ajudaram”, afirma.

Sobre conciliar maternidade e universidade, Lohany reconhece a dificuldade, mas afirma não ser impossível. “Dá um trabalho danado. Tentei dar o melhor nas duas tarefas, mas uma sensação de não ter conseguido sempre me acompanha. Agradeço por ter tido professores compreensivos e uma mãe que me ajudou muito nessa jornada. Sempre tive muita ajuda. A UFG é um exemplo, em vista de outras instituições por aí. Algumas nem permitem levar as crianças”, ressalta. Para Lohany, o ideal seria facilitar o acesso à creche da Universidade, e, também, adaptar banheiros ou criar espaços para mães e bebês descansarem nos intervalos de aulas.

“Conciliar papéis é difícil, mas não impossível”, afirma Lohayne Arnos

Por que a UFG não oferece mais reservas de vagas para estudantes e servidores da UFG na creche? Uma questão que inquieta os estudantes e também servidores e foi, inclusive, pauta do movimento de ocupação da Reitoria realizado por estudantes em junho, é o por que de a creche (hoje Departamento de Educação Infantil do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada a Educação – Dei/Cepae) não oferecer vagas para mães estudantes e mães servidoras. Segundo a coordenadora pedagógica do Dei/Cepae, Ana Rogéria de Aguiar, a mudança ocorreu em um processo histórico de construção da educação infantil nas universidades e no país e culminou com a Resolução nº 1 de 2011, do Conselho Nacional de Educação de 2011. Uma das exigências dessa resolução é o acesso universal a essas unidades. Para atender essa demanda, o DEI oferece vagas via edital de sorteio, realizado uma vez por ano, no início de cada ano letivo do Cepae/UFG.

Carlos Siqueira

Universidade

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Pensei várias vezes em desistir, mas tive apoio da minha mãe, dos professores e dos meus colegas de turma. Além disso, sonhos exigem sacrifícios Kennia Gurgel

Victor Martins

Trocar o sono pelos livros foi um dos sacrifícios de Kennia Gurgel


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Fotos: Ana Fortunato

“Não fazemos nada 100%”, afirma Giovanna sobre a sobrecarga de papéis

Trabalhar, estudar, maternar Giovanna Silveira Santos é aluna do curso de Museologia e tem uma filha, Yasmin, de quatro anos. Ela engravidou no 3º ano do Ensino Médio, com 16 anos. Tentou terminar os estudos, mas não conseguiu conciliar maternidade, estudos e o trabalho, que precisava para manter-se. “Trabalhei até a semana que ela nasceu e, assim que terminou meu resguardo, voltei a estudar. Quando terminou a licença maternidade voltei a trabalhar. Jornada de 44 horas por semana no trabalho, acordava cedo, tirava leite e deixava ela com minha avó, saia às 18h do serviço, passava em casa correndo, tomava um banho, amamentava e ia para a escola até as 22h. Quando eu chegava ela já estava dormindo”, lembra Giovanna. A estudante conta que foi um ano difícil, pois pouco convivia com a filha. “Quando as aulas eram de uma

professora que não se importava, a levava a escola para poder ficar um pouco mais perto dela, mas isso também diminuía minha concentração nas aulas”. Do pai da criança não tem apoio. Hoje, casada, Giovanna afirma ter o apoio do atual marido, que a filha tem como pai, mas ele também estuda à noite, da mesma maneira que ela. Ela sabe que não é fácil conciliar papéis: “Trabalhar e estudar ao mesmo tempo já é difícil, sendo mãe então... não fazemos nada 100%. Essa sobrecarga resulta em poucas horas de sono, alimentação inadequada, ansiedade, pouco tempo para dar atenção e cuidado para uma criança que está em fase de desenvolvimento. Criança sente falta da mãe, cobra presença, tempo e dedicação. Conheço muitas mulheres mães que estudam e trabalham e têm essa mesma reclamação, falta de tempo para realizar todas as demandas, o que resulta em notas baixas, reprovações, desistências e jubilações”.

Juliana e Taís Krahô com a prima Simone, que ajuda no cuidado das crianças

Indígenas: um exemplo do apoio familiar Há um ditado que diz que é preciso uma aldeia para cuidar de uma criança. Não por acaso os indígenas são um bom exemplo de como o apoio de pessoas próximas pode auxiliar as mães no sucesso dos estudos. Os estudantes indígenas do curso de Educação Intercultural vêm até Goiânia durante alguns meses no início e no meio do ano para as aulas. Nesse período trazem suas crianças, mas também pessoas que os auxiliam nos cuidados, em especial daquelas crianças menores, que ainda amamentam. Esse é o caso de Juliana

Krahô, mãe de Emilly, 2 anos; e, também, de Taís Krahô, mãe de Lucas, 4 anos. As duas estão cursando desde 2014 o curso de Educação Intercultural. Juliana começou o curso ainda grávida de Emilly. Elas contam com a ajuda da prima Simone Krahô, que veio para Goiânia para auxiliar no cuidado com as crianças. “Ficamos mais tranquilas, mais concentradas e conseguimos captar melhor o que os professores nos passam, estando perto das crianças”, explica Taís. Ainda assim, elas percebem que não é realmente o melhor lugar para eles: “Seria bom se houvesse um lugar próprio para eles, com brinquedos e atividades”, ressalta Juliana.

Segundo a coordenadora em substituição do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude do Ministério Público do Estado de Goiás (CAO/MP-GO), Simone Disconsi, não há norma legal que proíba ou permita expressamente a presença de crianças em sala de aula. O ordenamento jurídico prevê a licença de três meses, a partir do oitavo mês de gestação, para que a estudante possa realizar suas atividades em casa e se submeter às avaliações finais (Lei n.º 6.202/75). Por outro lado, segundo a coordenadora, existe o direito da mãe e da criança à amamentação, bem como à proteção integral à primeira infância (Lei n.º 13.257/16 – Marco Legal da Primeira Infância), que precisam ser interpretados de forma ampla.

Também é preciso, segundo Simone, considerar que, muitas vezes, a presença da criança em determinado ambiente e horário é prejudicial para ela. “Evidente que os estudos são importantes e o esforço comum deve ser feito no sentido de que a mãe não abandone a faculdade. Mas, em qualquer caso, é preciso verificar outras possibilidades que possam ser mais vantajosas para a criança. O ideal é que as universidades pudessem contar com espaços adequados para amamentação e descanso, bem como permitissem a presença de acompanhantes para ajudar a mãe estudante, em especial as mães que ainda amamentam”, afirma a coordenadora. Segundo a professora da Faculdade de Informação e Comunicação da

UFG, Angelita Lima, que trabalha a temática do feminismo e que também já recebeu mães estudantes em sala de aula, há várias questões envolvidas que precisam ser contempladas na discussão. “A mãe que leva um filho para a sala de aula o faz por não ter outra alternativa viável e a universidade não tem o que oferecer a ela como apoio. Quando essa mãe entra na universidade, ela não deixa simplesmente a vida dela lá fora, ela a traz consigo”.

Angelita afirma que a creche ou espaços específicos para estudantes são importantes e constituem a principal bandeira de luta para as mães estudantes. No entanto, a professora acredita que há alternativas enquanto a creche não se torna realidade: “A universidade poderia repensar o Regime Geral dos Cursos de Graduação (RGCG) de forma a contemplar mais situações em que a mãe estudante tivesse flexibilidade no atendimento por parte dos professores. Hoje ele contempla atendimento especial apenas no período do parto e primeiros meses, mas quem é mãe sabe que um filho demanda mesmo após os dois anos de idade”. A professora explica que, ainda que, via de regra, a criança não deva estar em uma sala de aula, até porque não é o ambiente adequado para o seu desenvolvimento, em determinados momentos os professores fazem uma série de rearranjos por conta própria para apoiar essas mães, e não há como condenar nem a aluna, nem o professor. No entanto, mesmo que a mãe alegue que assistir aula com a criança não atrapalha seu aprendizado, isso não vale para todas elas: “a mãe acaba tendo interferências em algumas situações”.

Silivan e Persília com o filho mais novo e a sobrinha Ana Carolina O coordenador do curso, Carlos Bianchi, explica que a orientação da coordenação é que as crianças maiores fiquem na aldeia ou que os pais se organizem para buscar alternativas. “As crianças menores, em especial as que dependem de amamentação, em geral ficam com cuidadores que são familiares que vêm com os estudantes das aldeias”, explica. “Precisamos nos adaptar e ser compreensivos com a forma de cuidado deles com as crianças e a maior parte dos professores já entende isso. As crianças indígenas também são bastante independentes, o que facilita o cuidado”, afirma o professor.

Silivan Apinajé e Percília Dias também são alunos do curso de Educação Intercultural. Trouxeram o pequeno Angelo de 1 ano e 8 meses com eles para Goiânia e a sobrinha Ana Carolina para auxiliar nos cuidados. No entanto, deixaram na aldeia as outras duas filhas de 4 e 9 anos. “O coração fica apertado de estar longe”, explica Percília. Angelo ainda é amamentado e, por isso, os pais escolheram trazê-lo para a Universidade. O pai afirma que com o apoio da sobrinha fica mais fácil concentrar-se nas aulas, mas acredita que é necessário pensar em alternativas para que as crianças tenham um local mais apropriado.

Universidade

Universidade e o apoio possível


Sociedade

12 ticos. Ambos os municípios ficam no Paraná, estado que lidera em número de OSs, seguido por Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul.

Divulgação

Contribuições da arquivologia

INFORMAÇÃO

arma de quem participa A Lei de Acesso à Informação (LAI) garante os portais da transparência pública e delega poder de controle à população

Silvânia Lima

E

m tempos de crise, seja no campo político, econômico ou social, lançar mão dos meios possíveis de promoção da transparência pública é uma importante ação que confere ao cidadão o direto de se informar diretamente de fontes oficiais e o poder de questionar e de cobrar lisura sobre os gastos públicos. Apesar dos quatro anos em vigor, a Lei de Acesso à Informação (LAI – Lei nº 12.527, de 18 /11/11) ainda é pouco utilizada pela população brasileira, mas já são registrados casos bem sucedidos de otimização de recursos públicos – leia-se redução de gastos – a partir da ação de populares com base no uso do Serviço de Informação ao Cidadão (SIC) e o apoio de órgãos como o Ministério Público e a Controladoria Geral da União (CGU).

Além de um importante mecanismo de prevenção à corrupção e de fortalecimento da cidadania, o aumento na difusão de informação acarreta o crescimento do acesso a serviços e direitos, à vida política e até às oportunidades de negócio. As diversas

Adenísio Souza afirma que no governo interino do Presidente Michel Temer, a CGU mantém os seus plenos poderes, mesmo sem o status de ministério. O representante da CGU alerta para o fato de a fiscalização sobre os gastos públicos não ser função de apenas um órgão, mas sim, de uma ação conjunta entre Estado e sociedade. Desse modo, a LAI reforça iniciativas de controle social, como o Observatório Social do Brasil (OSB), uma instituição não governamental, sem fins lucrativos, que em rede reúne cidadãos e técnicos de todo o país para monitorar voluntariamente as compras públicas em seus municípios. No Brasil, desde que foram implantados, os SICs registraram 398 mil solicitações, com um índice de 98,5% de pedidos respondidos, num tempo médio de 14 dias. Em 76%, as solicitações foram concedidas. Os observatórios sociais já existem em mais de 110 municípios, em 19 estados, com o envolvimento de mais de três mil pessoas no acompanhamento dos gastos públicos, desde a licitação até a entrega das mercadorias e serviços. O trabalho de combate à corrupção e ao desperdício dos observatórios sociais tem resultado em significativa economia para a administração pública. Como exemplo, Adenísio Sousa cita o caso de Maringá, onde processos irregulares de licitação, nas áreas de saúde e educação, foram barrados; e de Paranaguá, que deixou de gastar R$ 7 milhões em sacos plás-

LAI: efetividade A lei veio fomentar a cultura da transparência e do controle social. O serviço é essencial para a prevenção à corrupção em instâncias públicas. Diferentes leis promulgam a interação entre o Estado e a Sociedade, mas a LAI foi necessária para regulamentar obrigações, procedimentos e prazos para a divulgação de informações pelas instituições públicas, garantindo a efetividade do direito de acesso por meio de rotinas para o atendimento ao cidadão. Também ajuda a organizar e proteger o trabalho do servidor público.

Leia as informações do SIC na UFG

A fim de acompanhar as ações empreendidas por estados e municípios no tocante ao direito de acesso à informação, a CGU criou uma metodologia específica, a Escala Brasil Transparente (EBT), por meio da qual é possível avaliar o grau de cumprimento das organizações com os objetivos da lei.

Veja aqui a publicação Escala Brasil Transparente

Ouvidoria ≠ SIC Embora se afinem enquanto canais de acesso e prestadores de serviço ao cidadão, as funções do SIC e da Ouvidoria são diferentes. O primeiro tem como objetivo fornecer informação, mediante procedimentos objetivos com comprometimento direto, transparente, claro e ágil. O segundo destina-se ao acolhimento e encaminhamento de solicitações, reclamações, críticas, sugestões e elogios, funcionando como um mediador entre o cidadão e as diversas instâncias da instituição. Em várias instituições, ambos os serviços funcionam juntos.

O SIC na UFG Qualquer cidadão pode buscar informação sobre qualquer assunto do seu interesse, sem a necessidade de justificar o pedido, por meio do SIC. Na UFG, não há informação com necessidade de classificação de sigilo. Porém, existem documentos com restrição de acesso, amparados por legislação específica. O serviço funciona no Centro de Informação, Documentação e Arquivo (Cidarq). No site <www.sic.ufg.br> há informações detalhadas sobre a LAI, o acesso aos serviços no Brasil e ao sistema eletrônico e-SIC. Fotos: Ana Fortunato

Um dos motivos pelos quais a LAI ainda não está presente em todo o território nacional é que a lei é nova, sua regulamentação em âmbito federal data de 2012, e depende dos governantes dos estados e municípios para que chegue às diversas regiões brasileiras. Ou seja, a luta do cidadão pela implantação dos serviços proporcionados pela lei, como os observatórios sociais, os SICs e a integração dos dados do seu município no Portal da Transparência, começa no local onde reside. Mas a concepção da transparência passiva – em que as informações são disponibilizadas por solicitações –, como ocorre na LAI, não é nova, está garantida pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 1948 e pela Constituição Federativa do Brasil de 1988.

vantagens da LAI e seus mecanismos de transparência foram enfocados por Adenisio Álvaro Oliveira de Souza, servidor da Secretaria de Transparência e Prevenção à Corrupção da CGU, durante o II Seminário sobre a Lei de Acesso à Informação, promovido em junho pelo Centro de Informação, Documentação e Arquivo da UFG (Cidarq).

A perspicácia de Fabio Nascimento Sousa, arquivista do Cidarq, que observou a estreita ligação entre a LAI e a arquivologia, resultou em trabalho acadêmico, apresentado no mesmo evento, promovido pelo Cidarq, onde atua como coordenador da Rede de Arquivos e Protocolos Setoriais. Ao analisar a relação da lei com as funções arquivísticas, Fábio constatou a presença de termos semelhantes entre os artigos da lei e essas funções, especialmente no que tange à difusão (36%), classificação (32%), preservação (10%), criação e produção (6%). De acordo com o estudo, apenas 13% dos artigos da LAI não têm nenhuma relação com as funções arquivísticas. Segundo ele, os dados demonstram clara intenção dos legisladores em aproximar o público dos arquivos, especialmente em promover a divulgação da informação pública

Escala Brasil Transparente

Adenisio Alvaro Oliveira de Souza explica como o acesso às informações possibilita o controle social


13 Universidade

Pesquisa estuda hábitos do consumidor Luiz Felipe Fernandes

N

a tentativa de aumentar as vendas, muitas indústrias lançam mão de uma série de artifícios para tornar seus produtos mais atrativos nas prateleiras dos supermercados. Mas de acordo com a pesquisa Persuasão no Universo das Embalagens, realizada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Regional Catalão, o consumidor está atento às armadilhas do varejo e, mesmo com os artifícios de persuasão contidos nos rótulos, procura alternativas mais baratas. O estudo foi realizado pelo acadêmico Pedro Capingote, integrante do grupo de pesquisa Mercado, Consumo e Consumidor – M2C, composto por estudantes do curso de Administração e coordenado pelo professor Solon Bevilacqua. Em um primeiro momento, os produtos foram apresentados como uma cesta de consumo aos participantes, que indicavam quais itens comprariam. Na cesta havia água mineral, repelente em pastilha, iogurte, bebida láctea, adoçante, suco, néctar, limpador cremoso e esponja de aço. A seguir era apresentada uma etiqueta com o termo “super

promoção”, com o preço mais barato que o da etiqueta anterior. Novamente os participantes faziam suas escolhas. Na segunda fase do experimento, os rótulos foram alterados, com destaque para informações que eram vistas como sedutoras e persuasivas.

“O aumento da informação do rótulo não fez com que os participantes comprassem os produtos não sedutores, não alterou o padrão de consumo”, explica Solon. O experimento mostrou que o real efeito se deu em relação ao preço. “Quando o preço baixou, os participantes migraram para os produtos mais baratos, mesmo informados que eram subprodutos. Os produtos melhores somente eram consumidos quando vistos como baratos frente suas opções alternativas”. O coordenador do grupo de pesquisa acrescenta que, para a existência de um efeito de persuasão, deve haver uma predisposição para isso. “O consumidor é persuadido mediante seu interesse nesta persuasão, pois sempre se inclina ao preço mais barato. Muda suas opções mediante a oferta de preço quando existe um interesse pelo mais barato”, conclui.

UFG na cobertura especial das eleições Atuação conjunta envolve Rádio Universitária, TV UFG, Faculdade de Informação e Comunicação e Assessoria de Comunicação

Luiz Felipe Fernandes

O

s veículos de comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG) preparam uma cobertura especial das eleições municipais deste ano, que vão definir os próximos prefeitos e vereadores. A força-tarefa que integra Rádio Universitária, TV UFG, Assessoria de Comunicação (Ascom) e Faculdade de Informação e Comunicação (FIC) trabalhará na produção e exibição de conteúdos antes e durante o pleito, com o envolvimento de servidores, professores e estudantes.

Um dos diferenciais da atuação conjunta é a garantia de participação da comunidade acadêmica, da sociedade civil organizada, dos movimentos sociais e dos eleitores de Goiânia. Integrantes destes setores terão a oportunidade de fazer perguntas aos candidatos a prefeito da capital. Eles terão seus questionamentos gravados antecipadamente, os quais serão respondidos pelo candidato, após sorteio ao vivo, durante edição especial do programa Conexões. As entrevistas com os candidatos também abordarão assuntos que vão

proporcionar ao eleitor uma leitura mais crítica de cada postulante. Foram definidos nove temas: educação, cultura, saúde, direitos humanos, meio ambiente, administração pública, desenvolvimento econômico e social, planejamento e mobilidade urbana e segurança pública. “A UFG pretende abrir espaço para a exposição de ideias e de projetos para a cidade de Goiânia e contribuir para um debate eleitoral qualificado sobre os problemas e desafios a serem enfrentados pela próxima administração da capital”, ressalta o diretor-geral da TV UFG, Michael Valim.

Antes e durante

Durante todo o período que antecede a votação, os veículos de comunicação da UFG também vão levar ao ar conteúdo relacionado ao processo eleitoral, por meio da produção de uma série de entrevistas especiais com especialistas e autoridades. Entre os temas estão as mudanças na legislação eleitoral e seus impactos no pleito de 2016, panorama geral das eleições municipais, funções e responsabilidades de prefeitos e ve-

Freepick

Efeito de persuasão em rótulos e embalagens é tema de estudo realizado por estudantes da Regional Catalão

Vendedores silenciosos Solon explica que as embalagens dos produtos comercializados no varejo são concebidas como vendedores silenciosos. Cumprem o papel de divulgar, informar e, principalmente, vender. “Ocorre que nem tudo é ético neste universo”, destaca. Entre os artifícios está a “maquiagem verde” ou greenwashing, em que as marcas adotam selos verdes concedidos por elas próprias, embora o produto não seja de fato ambientalmente sustentável. Há também o efeito trade dress, quando uma marca denominada seguidora imita traços, linhas, rótulos, cores e formas de outras embalagens para se parecer com a líder de mercado.

vidativos. É o que ocorre, por exemplo, com o suco e o néctar, com o iogurte e a bebida láctea. Néctar e bebida láctea são subprodutos do suco e do iogurte, embora sejam apresentados de forma sugestiva ao consumidor, geralmente mais baratos.

Outro problema são as informações dúbias, em que o produto se apresenta como inovador, embora sua formulação seja exatamente a mesma. Há também as composições obtidas com subprodutos, oferecidas a preços con-

O grupo de pesquisa Mercado, Consumo e Consumidor – M2C é formado por graduandos do curso de Administração da Regional Catalão e tem realizado diversas pesquisas com foco no comportamento do consumidor. Em breve serão divulgados os resultados de outros estudos. Em um deles, feito em Goiânia, várias pessoas foram entrevistadas para uma avaliação dos aspectos constituintes da identidade a partir do uso de jeans customizados. A chamada moda Plus Size é o foco de outra pesquisa do grupo. Já em outro experimento foram editados vídeos do YouTube para verificar a efetividade desta mídia na geração de resultados.

readores, além dos desafios para a próxima gestão municipal de Goiânia.

recer subsídio à cobertura eleitoral, indicando fontes para as entrevistas.

A Rádio Universitária, com a participação de alunos de Jornalismo da FIC, levará ao ar pequenas inserções de serviço com informações úteis aos eleitores e à sociedade sobre as eleições. Também tem inserido em seu noticiário diário discussões e informações sobre o pleito. Todas as segundas-feiras um cientista social estará no estúdio, comentando e trazendo abordagens qualificadas sobre os candidatos, o momento político e as regras da eleição. No dia 2 de outubro, a TV UFG fará uma cobertura especial com boletins ao vivo até o fim da apuração, em conjunto com a Rádio Universitária e com a contribuição de estudantes da FIC. Cada boletim contará com matérias factuais produzidas pelas equipes de reportagens de rua, notas sobre o processo de votação, entradas ao vivo sobre o clima das eleições e entrevistas ao vivo no estúdio sobre a conjuntura política de Goiânia.

“No dia das eleições, a ideia é ter repórteres por toda a cidade com flashes ao vivo durante toda a programação”, explica a diretora da Rádio Universitária, Márcia Boaratti. A participação de estudantes de Jornalismo da UFG, por meio de laboratórios e projetos de extensão, além de contribuir para levar informação aos espectadores, serve como atividade pedagógica e de formação profissional. Por fim, a Assessoria de Comunicação da UFG vai ofe-

A atuação conjunta e integrada nas eleições pretende contribuir para o debate eleitoral deste ano. O pleito de 2016 é o primeiro depois da minirreforma eleitoral aprovada pelo Congresso Nacional no ano passado. Entre as novidades estão a diminuição do tempo de campanha e a proibição de doação de pessoas jurídicas a candidatos e partidos políticos, mudanças que impactam na forma como as campanhas atuarão em busca dos eleitores e como elas serão financiadas.

Fique de Olho A cobertura especial das eleições municipais 2016 poderá ser acompanhada pela Rádio Universitária (frequência AM 870 ou pelo <www.radio.ufg.br>) e pela TV UFG (canal 14 UFG e canal 21 NET-Goiânia ou pelo <www.tvufg.org.br>).


Carlos Siqueira

Universidade

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Centro de Seleção UFG consolida e amplia atuação Órgão é responsável por processos seletivos da Universidade e pela realização de concursos públicos dentro e fora do Estado Luiz Felipe Fernandes

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ão é exagero chamar de operação de guerra uma tarefa que envolve um batalhão de pessoas, que exige precisão e que permite pouca ou nenhuma margem de erro. Assim é a realização de um concurso público. O dia em que os candidatos fazem as provas é apenas uma das várias fases que envolvem o planejamento e a execução de um processo seletivo, atribuição que, na UFG, está sob a responsabilidade do Centro de Seleção (CS), órgão vinculado à Reitoria e supervisionado pela Pró-Reitoria de Graduação (Prograd).

O CS sucedeu, em maio de 2000, à antiga Comissão Especial do Concurso Vestibular (CECV), órgão encarregado da realização dos processos seletivos da UFG desde 1971. Com a adesão da Universidade ao Sistema de Seleção Unificada (SiSU), que utiliza as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o vestibular tradicional deixou de ser feito. Atualmente, o foco principal do CS é a realização de concursos públicos, mas engana-se quem pensa que o trabalho diminuiu.

O presidente do CS, Wagner Wilson Furtado, explica que o órgão realiza todos os processos seletivos da UFG que não utilizem o SiSU como forma de ingresso – cursos que exigem Verificação de Habilidades e Conhecimentos Específicos (Arquitetura e Urbanismo da Regional Goiânia, Música, Musicoterapia e Teatro), Educação do Campo, Educação Intercultural, vagas extras para indígenas e quilombolas, licenciatura em Letras/Libras para candidatos surdos, cursos de graduação ministrados a distância, além do processo seletivo para preenchimento de vagas remanescentes. Além disso, o CS continua atuando na seleção realizada por meio da lista de espera do SiSU para as chamadas subsequentes. Atua também na análise de renda dos candidatos optantes pela Lei de Reserva de Vagas e participa de todas as etapas da matrícula. “Apesar de não conduzir mais a seleção aos cursos de graduação que participam do SiSU, a UFG está presente, indiretamente, na seleção de seus candidatos ao participar ativamente do Banco Nacional de Itens (BNI), de

onde são retiradas questões para as provas do Enem. É bastante comum vermos questões elaboradas por professores da UFG nos cadernos de provas do Enem”, acrescenta Wagner.

Outros concursos

A excelência na atuação ampliou e diversificou as atividades do CS. Outras instituições se valem da experiência da UFG para selecionar seus funcionários. Além de concursos na capital e no interior de Goiás, o CS tem conduzido processos seletivos de outros Estados, como os concursos da Universidade Estadual do Amapá (professores e técnicos-administrativos), a elaboração das provas para o concurso da Polícia Civil do Tocantins e processos seletivos para a Fundação UnirG – Centro Universitário, em Gurupi (TO). Organizou ainda o Exame Nacional para Ingresso na Pós-Graduação em Computação (Poscomp) em 2015. “A iniciativa de condução de concursos públicos decorreu da experiência na realização de nossos processos seletivos. A partir dessa experiência, o Centro de Seleção se viu convidado a assumir o seu papel social e institucional de contribuir com a seleção de pessoal para ocupação de cargos públicos nas esferas municipal, estadual e federal e de cargos em empresas particulares”, ressalta Wagner. O CS também realizou, nos últimos anos, vários concursos públicos para a ocupação de vagas nas prefeituras de Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Senador Canedo, Caldas Novas e Goianésia. Além disso, para o Instituto Federal de Tecnologia Goiano (IFGoiano), Universidade Federal da Grande Dourados, Conselho Regional de Enfermagem, Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc), Promotoria de Justiça do Estado de Goiás, Defensoria Pública do Estado de Goiás, Câmara Municipal de Itaberaí, Centrais Elétricas de Goiás, Assembleia Legislativa de Goiás, entre outros. Foi também o organizador das eleições do Conselho Tutelar de Goiânia nos anos de 2013 e 2015. Atualmente é o CS que seleciona os residentes da Comissão de Residência Médica (Coreme) e da Comissão de Residência Multiprofissional

(Coremu) para as Unidades de Saúde da Secretaria Estadual de Saúde (Hugo, Hugol, Crer, HGG, Huapa, HDT e HMI) e da Coreme da Fundação UnirG. Para o âmbito interno da UFG, o CS conduziu todos os concursos públicos e processos seletivos para o quadro de pessoal Técnico-Administrativo em Educação, médicos residentes para o Coreme do Hospital das Clínicas, diversos profissionais para a Coremu/UFG e vários programas de pós-graduação.

Força tarefa

O corpo técnico do Centro de Seleção da UFG é relativamente pequeno. Conta com um presidente, dois coordenadores e 23 técnicos que trabalham nos setores Administrativo, Financeiro, Jurídico, Atendimento ao Público, Pedagógico, Tecnologia da Informação (TI), Logística e Apoio.

Etapas da realização de um concurso público 1. Contato entre a empresa contratante e o Centro de Seleção. A escolha do CS se dá por concorrência pública ou dispensa de licitação.

2. Com o contrato assinado, define-se o edital, com suas datas e procedimentos. O trabalho leva cerca de um mês e envolve uma comissão da contratante e todo o pessoal do CS.

3. A partir da contratação, a equipe de TI gerencia e mantém toda a estrutura de informática utilizada. Atua desde o desenvolvimento das páginas do concurso na internet até o resultado final.

4. O edital é publicado nos Diários Oficiais e na página do CS. É veiculado, em média, por mais de um mês antes da abertura das inscrições.

Entretanto, um único certame pode envolver milhares de pessoas. Este ano, no concurso público da Secretaria de Educação e Esporte da Prefeitura de Goiânia, trabalharam cerca de 7 mil pessoas, das quais mais de 6 mil eram aplicadores de prova. Mais de 104 mil candidatos se inscreveram para concorrer a uma das vagas do concurso. Com o auxílio do presidente do CS, Wagner Wilson Furtado, o Jornal UFG traz um passo a passo do planejamento e da execução de um concurso público, desde o contato com a empresa ou órgão contratante, até a aplicação das provas. Embora o trabalho seja ainda mais amplo, já que envolve correção das provas, divulgação dos resultados, análise de recursos, homologação e convocação dos aprovados, é possível ter uma noção da estrutura física e de pessoal que se mobiliza para esse trabalho.

12. Por fim, é realizado todo o processamento e divulgação dos resultados. Ao candidato é disponibilizada a imagem de suas provas.

11. Após a aplicação das provas, todo o material utilizado (cartões, provas discursivas, atas e outros documentos) é digitalizado. Os cartões são lidos eletronicamente e as provas discursivas, corrigidas pelas bancas por meio de um sistema automatizado.

10. A prova é aplicada por equipe treinada pelo Centro de Seleção e acompanhada pela Polícia Federal e pela Polícia Civil.

9. De forma simultânea, o setor de logística trabalha na organização de todo o certame, incluindo escolha de locais de aplicação, seleção de supervisores, coordenadores e aplicadores de prova, pessoal de manutenção, transporte, médicos, socorristas, entre outros.

5. As inscrições também ficam abertas por cerca de um mês. O candidato se inscreve pela internet.

8. Durante todo o processo, um trabalho de atendimento a candidatos com deficiência ou com agravo de saúde temporário é desenvolvido por um grupo de funcionários, que busca proporcionar as condições especiais de realização das provas.

6. O trabalho da equipe pedagógica se inicia logo após a contratação, definindo os membros das diversas bancas examinadoras e os procedimentos de elaboração das questões, que são analisadas e revisadas por professores.

7. O caderno de questões é diagramado, passa por testes de impressão e vai para a impressão final.


15 CAMINHOS DA PESQUISA

Cultura da ética ou ética da cultura? Wagner Gouvêa dos Santos, Unidade Acadêmica de Ciências da Saúde da Regional Jataí

P Divulgação

ode até parecer, mas não se trata de título de filme, o código de honra ou de conduta como referido por alguns, é uma prática usual em várias universidades. A primeira vez que me deparei com esse termo foi quando tive a oportunidade, como professor, de lecionar em uma universidade americana onde, em todas as provas que aplicava aos estudantes de graduação, era necessário incluir um pequeno texto na forma de uma declaração onde os estudantes assinavam se comprometendo a não cometer nenhum ato de cola, incluindo passarem informações para os colegas durante o exame.

Erika Cristine Kneib*

A mobilidade urbana no contexto da Universidade

O

A mobilidade urbana pode ser entendida como a capacidade de deslocamento de pessoas e bens no espaço urbano. Muitas são as variáveis e os elementos que impactam a mobilidade e são por ela impactados, tendo um efeito notório e cada vez mais relevante na qualidade de vida dos centros urbanos.

No Brasil, muitas cidades foram pensadas e planejadas visando garantir velocidade e fluidez dos automóveis. Vias largas, asfaltadas e impermeáveis, com amplos espaços de estacionamentos, que favorecem a velocidade, potencializam a degradação do espaço e dificultam a relação das pessoas com a cidade. Esse modelo de (i)mobilidade vem sendo questionado na busca por cidades com maior qualidade, nas quais o veículo deixe de ser o protagonista e o espaço urbano passe a ser pensado, concebido e desenvolvido para as pessoas.

Esse modelo de (i)mobilidade vem sendo questionado na busca por cidades com maior qualidade, nas quais o veículo deixe de ser o protagonista e o espaço urbano passe a ser pensado, concebido e desenvolvido para as pessoas Cidades que buscam uma mobilidade urbana mais sustentável apoiam-se em quatro princípios: prioridade ao pedestre e ao ciclista; valorização do transporte público coletivo; racionalização do uso do automóvel, com o objetivo de fazer um uso consciente e adequado dos veículos motorizados individuais; e planejamento das redes urbanas, de modo que haja compatibilidade entre as ativi-

dades urbanas e os sistemas de transporte. Tais princípios contribuem sobremaneira para uma cidade mais justa, mais humana, com uma economia forte e um ambiente sustentável.

No ambiente universitário – de pensamentos, questionamentos e reflexões –, há de se questionar até quanto e até quando este modelo de cidade voltada à fluidez dos automóveis pode ser replicado na distribuição e concepção dos espaços dos câmpus universitários. Até quando os espaços verdes, de lazer e de convívio serão prejudicados em busca de uma velocidade e fluidez veicular e espaços de estacionamento asfaltados e impermeáveis que só tendem a prejudicar a segurança, o convívio das pessoas e a qualidade do espaço. Uma pesquisa desenvolvida na Faculdade de Artes Visuais da UFG mostra que, no Câmpus Samambaia, por exemplo, mais de 60% das pessoas se deslocam para o câmpus a pé, de bicicleta ou de transporte público coletivo; enquanto 37% se deslocam por automóvel.

Como potencializar os deslocamentos a pé, por bicicleta e por transporte coletivo ao Câmpus e dentro do Câmpus? Como tornar o espaço da universidade um modelo de mobilidade sustentável capaz de mudar paradigmas que possam ser refletidos positivamente em toda a cidade? Perguntas e reflexões que devem permear o debate acadêmico e contribuir, de forma técnica, científica e pragmática com a qualidade dos espaços dos campi e também com a mudança de paradigmas capazes de contribuir para a concepção de novos espaços nos câmpus e na cidade, mais justos socialmente, mais adequados ambientalmente e capazes de colaborar qualitativamente com a mobilidade urbana e com a qualidade de vida nas cidades goianas e brasileiras. *Professora da Faculdade de Artes Visuais da UFG

O Jornal UFG não endossa as opiniões dos artigos, de inteira responsabilidade de seus autores.

A princípio, a prática institucional de se colocar um texto relembrando o “código de honra” em provas seja um “costume” estranho para a maioria de nós brasileiros e cause até certa surpresa. Talvez o motivo dessa surpresa seja o fato de não fazer parte da nossa cultura acadêmica, pelo menos até pouco tempo, refletir muito sobre as questões éticas e as possíveis implicações de uma “simples” cola em provas, na formação humana, cidadã e profissional do estudante. Ao contrário, estamos acostumados a visualizar a cola como uma situação comum, corriqueira e inconsequente, sendo muitas vezes tema de anedotas, a começar pela frase muito utilizada “quem não cola não sai da escola“, que parece conferir um caráter aceitável e ordinário para esta atitude. Esta constatação é corroborada pelo fato de se ouvir muitas vezes os comentários “orgulhosos” de quem conseguiu praticar este ato sem ser notado pelo professor. Mais preocupante é a disseminação de técnicas para prática de cola pela internet, onde dicas e formas de cola são ensinadas, inclusive sugerindo formação de quadrilhas em uma classe de alunos supostamente “unida”. Vocês acreditam nisso? Até que ponto de sofisticação chegou tal atitude! Na verdade o código de honra acadêmico não se limita apenas à situação de cola, mas agrupa um conjunto de princípios éticos que se espera da comunidade acadêmica baseado em ideais que definem o que constitui um comportamento que merece respeito ou de honra dentro da comunidade acadêmica. Geralmente o objetivo dos códigos de honra é impedir a desonestidade acadêmica.

O fato é que cola constitui-se em fraude ou, no mínimo, falta de respeito, além de uma desonestidade para consigo mesmo e com seus pares. A visão de que a cola é algo corriqueiro e faz parte da cultura da vida acadêmica deve ser combatida e entendida como um meio ilícito que pode ser a base de corrupções em escala maior por parte de quem as comete. A honra está relacionada ao respeito que queremos e a que temos direito em uma sociedade e, de acordo com o filósofo Kwame Appiah, evolui junto com a sociedade e suas práticas. Ela é distinta de tendência moral, embora possa haver interseções onde um código de honra pode eventualmente apoiar um bem moral.

Falamos muito em corrupção como se ela estivesse apenas no âmbito político e esquecemos que a cola pode ser considerada um tipo de corrupção e um caminho para prática de ilícitos mais preocupantes. A situação sócioeconômica e política que atravessamos é uma grande oportunidade que temos para refletir sobre o que podemos ainda fazer para ter esperança em um futuro melhor, com menos corrupção, mais justiça e honestidade. Para atingir essa meta, agir agora é necessário promover a (re)educação e o exercício do respeito em todos os níveis, enfatizando sempre valores e atitudes éticas, parece ser um bom recomeço.

Opinião

ARTIGO


Brincadeira no céu

Fotos: Adriana Silva

Pesquisa

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Pesquisa revela que hábito de soltar pipas sofreu alterações ao longo do tempo

Luiz Felipe Fernandes

D

ias ensolarados e vento forte são a combinação perfeita para uma prática que resiste ao crescimento das cidades: empinar pipa. Passada de geração em geração, a brincadeira é bem mais que divertimento para crianças, adolescentes e até adultos. Ela também contribui para contar a história da capital, como ficou demonstrado na pesquisa História e Memória da Pipa em Goiânia, da Faculdade de Educação Física e Dança da Universidade Federal de Goiás (FEFD/UFG). O estudo integrou o projeto de extensão Educação e Culutra na História das Práticas Corporais em Goiânia (1935-2005): o corpo entre a cidade e o sertão. A investigação baseou-se em relatos de moradores, pesquisas em livros de memórias e no noticiário urbano, comparando dois períodos da história de Goiânia: a década de 1940 e a de 1990. Um dos aspectos observados foi a mudança do nome usado para designar o brinquedo: raia, papagaio e pipa. Uma hipótese é a influência da cultura escolar e da mídia para a popularização do termo “pipa”, embora a denominação “raia” ainda seja comum entre as crianças de Goiânia. Outro aspecto observado foi a mudança no material utilizado para confeccionar a pipa. No início era usado o grude, uma cola artesanal feita com farinha branca e água. Depois passou-se a usar uma cola de madeira comum na construção civil,

progressivamente substituída pela cola plástica de origem industrial.

A professora da FEFD/UFG, Rubia-Mar Nunes Pinto, explica que a mudança no material colante guarda estreita relação com a história da cidade. “Nas primeiras décadas, a quase ausência de produtos industrializados impelia a produção artesanal da cola; posteriormente, o uso de um material colante típico da engenharia e da arquitetura mostra-se coerente com a expansão privilegiada da indústria da construção civil em uma cidade planejada. E, por fim, a substituição deste material pela cola plástica industrializada revela o processo de industrialização e circulação de mercadorias vivenciados no estado de Goiás e em sua cidade-capital”.

A pesquisa também abordou as relações entre a pipa e o ordenamento espacial de Goiânia ao longo da história. Uma delas se refere ao modelo da pipa. A pesquisa traz o relato de um morador dos anos 1990, que diz que Goiânia poderia ser dividida em duas grandes regiões a partir do predomínio de dois modelos: flechinha (formato de losango) e arraia (formato de hexágono). “Neste aspecto, a história da pipa em Goiânia diz respeito à história da ocupação urbana e das relações entre bairros e setores”, explica Rubia-Mar. Nas décadas iniciais da capital, havia grandes espaços vazios entre os bairros, criando grupos “rivais” com características próprias.

Com o crescimento da cidade, praças e parques são opções para empinar pipa

Cerol Outra abordagem é o uso do cerol. Os vazios urbanos possibilitavam que a mistura de cola e vidro na linha fosse usada sem riscos e perigos para a circulação de pessoas e veículos. As distâncias entre bairros e setores permitiam que as “guerrinhas” de cerol fossem travadas entre crianças de regiões urbanas distintas. No céu das fronteiras entre bairros, separados por distâncias seguras, as crianças de um lado “toravam” as pipas das crianças de outro. O processo de urbanização fez do cerol um problema devido aos acidentes causados principalmente a ciclistas e motociclistas, embora os efeitos prejudiciais do uso deste tipo de linha revelem que há cada vez menos espaços públicos de lazer para a população goianiense, sobretudo para as crianças. Há quatro anos fabricando e vendendo pipas, o comerciante e pipeiro Cleuber Fernandes explica que é preciso diferenciar o uso da linha com

cerol em vias públicas com o que é feito em locais seguros e apropriados, sem risco de acidentes. Trata-se da modalidade esportiva da pipa. “A prática esportiva se diferencia da prática indevida de bairro, que é perigosa. A nossa prática é em local seguro”. Segundo Cleuber, Manaus e algumas cidades do interior de São Paulo, por exemplo, já possuem locais adequados, longe do trânsito, em que é possível usar a linha cortante com segurança. É essa conscientização que o comerciante busca levar nas oficinas e palestras educativas das quais participa. Para ele, a brincadeira de empinar pipa é saudável e precisa ser mantida. “Percebo que muitas brincadeiras vêm sendo deixadas de lado porque a criança gosta mais de videogame e computador, mas a pipa continua. As crianças gostam de pipa”, comemora Cleuber. Ele ressalta ainda que, a exemplo de sua própria experiência, muitas pessoas trabalham e vivem do comércio de pipa.

Todo ano a prefeitura de Goiânia promove a campanha Pipa Sem Cerol para conscientizar crianças, adolescentes e adultos dos riscos do uso da linha cortante em vias públicas. Em 2016, até o fim de junho, não foram registrados acidentes com vítima fatal. Nesse período foram feitas 89 denúncias no telefone 153 e apreendidos 500 carretéis de linha com cerol e da chamada linha chilena, ainda mais cortante. A região com maior número de ocorrências foi a Oeste, com 22% dos registros. Nos últimos anos, só em 2012 e 2014 não ocorreram acidentes com morte em Goiânia, embora tenham sido registrados acidentes considerados graves. Em 2010 foram 47 vítimas de linhas com cerol, com quatro mortes. Em 2011, 2013 e 2015 ocorreram ao todo três mortes – uma em cada ano. O trabalho da GCM tem o apoio das Secretarias Municipais de Educação; de Turismo, Eventos e Lazer; e de Assistência Social, além das Polícias Civil e Militar e dos Conselhos Tutelares.


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