UFRB - 5 Anos - Caminhos, Histórias e Memórias

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Reitor

Paulo Gabriel Soledade Nacif Vice-Reitor

Sílvio Luiz de Oliveira Soglia Pró-Reitoria de Graduação

Dinalva Melo do Nascimento Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

Carlos Alfredo Lopes de Carvalho Pró-Reitoria de Extensão

Aelson Silva de Almeida Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis

Rita de Cássia Dias Pereira de Jesus Pró-Reitoria de Planejamento

Warli Anjos de Souza Pró-Reitoria de Gestão de Pessoal

Maria Inês Almeida de Oliveira Pinto Pró-Reitoria de Administração

Rosilda Santana dos Santos Chefia de Gabinete

Luiz Flávio Godinho


Caminhos, Histórias e Memórias 1ª Edição Cruz das Almas Universidade Federal do Recôncavo da Bahia 2010


Uma universidade qu toda sua importância p condi

O livro, a data, nosso caminho.

A UFRB é resultado de uma mobilização de todo do Recôncavo, dos mais diversos setores da comunidade. E é por isso que, em toda a ocasião em que se celebre essa história, compartilhamos o nosso orgulho com muita gente.

“O fim duma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.” José Saramago Cada aniversário, além de uma comemoração, é um momento que nos convida a refletir, observar a caminhada, e olhar pra o futuro. A UFRB completa 5 anos, um tempo que parece correr ligeiro, e começa a emoldurar essa história, revelando sua grandiosidade. O momento ainda é novo, mas tudo começou muito antes. O projeto de uma universidade no Recôncavo remonta aos tempos do império, quando a Câmara de Vereadores de Santo Amaro, em 1822, já pleiteava uma insti-

tuição de ensino superior. Do Imperial Instituto de Agronomia, depois de muitas transformações até ser Escola de Agronomia da Ufba, finalmente, chegamos à primeira universidade federal do interior da Bahia. Um percurso que contou com a participação de muitos. Temos muito orgulho dos nossos servidores docentes, servidores técnico-administrativos e estudantes: os que foram pilares da Escola de Agronomia e iniciaram a UFRB, bem como aqueles que foram chegando depois e enriquecem cada vez mais a nossa Instituição. A UFRB é resultado de uma mobilização de todo o Recôncavo, dos mais diversos setores da comunidade. E é por isso que, em toda a ocasião em que se celebre essa história, compartilhamos o nosso orgulho com muita gente. Pessoas de todas as cidades do Recôncavo que caminharam juntas nessa jornada, olharam pra o horizonte, abraçaram esse desejo, acreditaram em uma causa, e construíram algo verdadeiro e forte para o futuro. Cada


ue nasceu depois de muito tempo de exclusão. Esta região, com para o país, passou muito tempo sem investimentos relevantes e izentes com sua dimensão cultural e histórica.

cidadão e cidadã que moveu esse sonho pode e deve sentir-se autor dessa realização chamada UFRB. Uma universidade que nasceu depois de muito tempo de exclusão. Esta região, com toda sua importância para o país, passou muito tempo sem investimentos relevantes e condizentes com sua dimensão cultural e histórica. A UFRB surge, portanto, com a marca do resgate histórico. Acreditamos que podemos apontar um novo começo para o Recôncavo, através da arte, da ciência e do conhecimento. Através dessa invenção humana tão audaciosa a que chamamos universidade. Justamente nessa região tão rica em pluralidade e diversidade, tão repleta de linguagens e sabedorias, tão forte em suas resistências e misturas, temos a ambição de transformar esse lugar em um grande espaço de vivências e aprendizagem. Nosso desafio, depois de conquistar a Universidade Federal do Recôncavo é transformar o Recôncavo em uma Universidade.

Assim, após 5 anos daquele histórico 2005, quando a nossa Universidade Federal do Recôncavo da Bahia tornou-se, enfim, uma realidade, queremos comemorar contando um pouco da nossa história. Daí nasceu este livro, um pequeno registro da trajetória e do nascimento desta instituição. A consolidação de uma universidade é tarefa para muitas gerações. Uma bela história nos trouxe até aqui, e sabemos que uma longa jornada ainda temos pela frente. Nossa comemoração e o registro que fazemos neste livro são apenas marcos nessa viagem, que segue rumo ao futuro. Para que a UFRB seja, para o Recôncavo e para a Bahia, um instrumento de emancipação de um povo, de transformação através da educação, da oportunidade e da inclusão. Pois somos nós, seres humanos, formados e modificados pelo conhecimento, os responsáveis permanentes pela vida e pela construção de uma sociedade mais justa e melhor.


A UFRB E O RECÔNCAVO DA BAHIA por Walter Fraga*

A palavra Recôncavo significa terra em redor de qualquer baía. No Brasil ela terminou se vinculando mais fortemente à região que circunda a Baía de Todos os Santos. O processo de ocupação da região seguiu determinados vetores que por muito tempo definiram os caminhos e percursos que ligavam a capital da Bahia às localidades mais distantes do litoral. Quando o governo português decidiu ocupar em definitivo o território que mais tarde se chamaria Brasil, o Recôncavo foi a primeira região da América Portuguesa a ser sistematicamente colonizada. Em 1549, quando se fundou a cidade do Salvador, a ideia era erguer uma cidade-fortaleza que pudesse servir de apoio à ocupação do território seguindo o curso dos grandes rios, o Paraguaçu, o Jaguaripe e o Subaé. Nos baixios formados nas margens desses rios, especialmente nos limites onde era possível a navegação, estabeleceram-se os primeiros núcleos

populacionais. Surgiram então as povoações que mais tarde dariam origem às cidades de Cachoeira, São Félix, São Francisco do Conde, Maragojipe, Santo Amaro, Jaguaripe e Nazaré das Farinhas. Foi no extremo navegável do Paraguaçu que foram edificadas a vila de Cachoeira e o povoado de São Félix. Estas localidades cresceram ao longo das duas margens do rio, espremidas entre o rio e as montanhas e se transformaram nos grandes entrepostos comerciais ligando a cidade da Bahia, era assim que também se chamava a cidade do Salvador, ao interior mais distante, genericamente conhecido como sertão. Desses núcleos populacionais a colonização se expandiu para o interior do território baiano, um processo que se estendeu até fins do século XVIII com a expansão das fazendas de gado pelo Vale do São Francisco. Quando as primeiras levas de colonizadores


Cachoeira e o povoado de São Félix. Estas localidades cresceram ao longo das duas margens do rio, espremidas entre o rio e as montanhas e se transformaram nos grandes entrepostos comerciais ligando a cidade da Bahia A ponte Dom Pedro II liga Cacheira a São Félix

São Félix, a cidade presépio


portugueses chegaram à região encontraram diversos povos e culturas indígenas. A Ilha de Itaparica, os arredores da cidade do Salvador e o Vale do Paraguaçu eram ocupados há séculos por índios tupinambás. Mas à medida que a ocupação colonial se expandiu para os sertões outros grupos indígenas foram forçados a migrar para as povoações do Recôncavo. Muitos vieram para combater outras comunidades indígenas que resistiam à ocupação ou à catequização jesuítica. Outros foram trazidos para trabalhar como escravos nas nascentes lavouras de cana. O fato é que os indígenas contribuíram profundamente para a formação cultural do Recôncavo. Traços da cultura indígena estão presentes nos hábitos alimentares, na religiosidade e nos costumes. Nomes como Muritiba, Murutuba, Capivari, Paraguaçu, Iguape, ainda hoje identificam a topografia local. Mais tarde, chegaram os africanos. Provavelmente os primeiros africanos que aqui aportaram faziam parte da expedição de Tomé de Souza que veio com a incumbência de fundar a cidade do Salvador. Os africanos vieram à força como escravos para erguer a ci-

dade e trabalhar na lavoura de cana. Vinham de diferentes regiões da África. O encontro de etnias, línguas, costumes e religiosidade africanas se processou no Recôncavo, algo que iria se repetir em outros lugares do Brasil. Para aqui vieram povos da África Centro-Ocidental genericamente chamados de congos, angolas, cabindas e benguelas. Do norte da África, sobretudo da região do Golfo do Benim, vieram os iorubas (também chamados nagôs), haussás, jejes, tapas e outros. Muitos desses povos não se conheciam na África, falavam línguas diferentes, cultuavam divindades diferentes. E no Recôncavo eles criaram novas alianças e estabeleceram novas trocas culturais que moldaram as formas de viver e sentir das populações locais. Em fins do século XIX, os africanos e seus descendentes já representavam a maioria da população do Recôncavo; quase 70 por cento da população local eram negra e mestiça. Parte significativa dessa população negro-mestiça ainda vivia a experiência da escravidão. Mas a despeito da escravidão e das desigualdades sociais, os africanos e seus descendentes tiveram papel fundamental na mol-


Assim como em outros lugares do Brasil, aqui emergiram formas exuberantes de catolicismo afro-brasileiro. dagem cultural do Recôncavo. As memórias da África marcariam para sempre a musicalidade, os sentimentos, a forma de vestir, alimentar-se, divertir-se, de criar os filhos, de celebrar a vida e lidar com a morte. Nas cidades do Recôncavo, mulheres negras dominavam o comércio ambulante levando para as ruas tabuleiros com acarajé, abará, caruru e outras iguarias. Os saberes africanos também foram incorporados na cura de doenças físicas e mentais. Quando a medicina falhava era no Recôncavo que a população baiana buscava os mais famosos curandeiros africanos. Assim como em outros lugares do Brasil, aqui emergiram formas exuberantes de catolicismo afro-brasileiro. No Recôncavo as festas de santos e santas são animadas com muita música, dança, comida e bebida. Isto porque o catolicismo popular incorporou característica importante das tradições religiosas de matriz africana: a celebração da vida. Isso fez das celebrações religiosas momentos de fé carregados de muito colorido, movimento e alegria de festa de largo. Entre as manifestações do catolicismo afro-brasileiro destacam-se as irmandades A pesca é meio de subsistência para muitas famílias em Maragogipe

Capoeira nas ruas de Cachoeira

Cerâmica produzida em Coqueiro, distrito de Maragogipe


O fato de receber povos de diferentes lugares da África que aqui coexistissem tradições religiosas africanas

Cerimônia da festa da Boa Morte. Foto: Jomar Lima


a permitiu diversas religiosas. Nas cidades existiam muitas irmandades formadas por homens e mulheres, africanos, mulatos e crioulos (assim eram chamados os negros nascidos no Brasil). Em diversas localidades havia irmandades negras que celebravam Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Nossa Senhora da Boa Morte. As irmandades da Boa Morte e a de Nossa Senhora do Rosário, em Cachoeira, são as mais famosas e até hoje persistem com seus rituais e celebrações. Além do culto católico, o objetivo principal das irmandades era promover ajuda mútua, socorrer os irmãos e irmãs em dificuldades e garantir enterro digno em local consagrado. Sabe-se que no tempo do cativeiro muitas dessas irmandades promoviam a alforria de irmãos e irmãs. O fato de receber povos de diferentes lugares da África permitiu que aqui coexistissem tradições religiosas africanas diversas. Ainda hoje os candomblés do Recôncavo se organizam a partir de “nações”, ou seja, cultuando deuses e divindades de determinadas regiões da África. Porém, essas tradições religiosas africanas foram modificadas ou reinventadas. Uma característica importante do

candomblé é a sacralização dos elementos da natureza. Rios, árvores, montanhas e animais abrigam divindades ou encarnam as próprias divindades. Daí que muitos lugares do Recôncavo são territórios sagrados, de encantamento. Foi nessa região de encontro de diferentes povos africanos, indígenas e portugueses que surgiu uma sociedade culturalmente complexa e diversificada. A diversidade desse encontro nem sempre amistoso ainda hoje está presente nas formas de viver e crer das populações locais. Foi dessa diversidade que surgiram ritmos musicais que terminaram se incorporando ao patrimônio cultural do Brasil. O samba de roda certamente é a expressão maior dessa rica musicalidade. A palavra “samba” vem de semba, que na região de Angola denomina a reunião em círculo de músicos e dançarinos que se alternam executando passos cadenciados com braços, pernas e quadris. O ritmo se espalhou por várias regiões do país, sobretudo o Rio de Janeiro onde ganhou nova roupagem rítmica, espaço nas rádios e nas avenidas através das escolas de samba. Esse encontro cultural ocorreu num Foto: Diego Almeida de Souza. Samba de roda em Santo Amaro


Depois da independência a luta contin sigualdades sociais e a escravidão persi contexto de conflitos e desigualdades sociais. A riqueza aqui consumida e exportada foi fruto da escravização de indígenas e africanos. A sociedade era desigual e intolerante com as tradições culturais indígenas e africanas. Até a década de 1970, os terreiros de candomblé da região eram obrigados a pedir permissão à polícia para realizarem suas celebrações. A capoeira só foi reconhecida como cultura na década de 1930. E o samba de roda, muitas vezes chamado pelas elites brasileiras de “batuque”, só ganhou as ruas e o reconhecimento de bem cultural depois de muitos anos de luta contra o preconceito. Esse legado de luta contra a intolerância é também um traço cultural dos povos que formaram a sociedade do Recôncavo. Aliás, esse legado cultural marcou a própria fundação do Brasil como país. Isso mesmo, aqui na Bahia a independência do Brasil do colonialismo português ocorreu em meio a muita luta e o Recôncavo foi o palco de episódios decisivos. Quando em 1821, tropas portuguesas ocuparam a cidade do Salvador, a resistência se organizou nas cidades de Santo Amaro, Cachoeira, Maragogipe e Itaparica. Comandavam as tropas do chamado Exército Libertador, membros das elites locais, senhores de engenho e escravos,

C


nuou. As deistiram.

Convento em São Francisco do Conde

mas quem esteve nas frentes de batalha foi a gente livre pobre e liberta. Entre esses combatentes participaram mulheres como Maria Quitéria e Maria Felipa. Em 2 de julho de 1823, as tropas que marcharam do Recôncavo retomaram a cidade do Salvador. Esse episódio até hoje é lembrado e celebrado nos desfiles cívicos que acontecem em Salvador e em várias cidades da Bahia. O ponto alto da festa é a “levada” das imagens do caboclo e da cabocla, os símbolos da participação do povo pobre, negro e mestiço, nas lutas de independência. Depois da independência a luta continuou. As desigualdades sociais e a escravidão persistiram. A gente pobre do Recôncavo retornou às ruas para travar outras batalhas. Em diversos momentos, protestaram contra a carestia, a exclusão social e a intolerância religiosa. Mas fundamentalmente lutavam por uma Bahia sem escravidão e com cidadania. Em 1832, ocorreu a Revolta Federalista de São Félix e, em 1837, a Sabinada, movimentos rebeldes que mobilizaram muita gente e ambicionavam outro ordenamento político para o Brasil. Foi nessa mesma conjuntura crítica do pós-independência que escravos do Recôncavo fizeram suas próprias revoltas contra a escravidão. A maior dessas Ceramista de Coqueiros, distrito de Maragogipe.


A luta do povo do Recôncavo contra o cativeiro e pe emergiu com força no movimento antiesc revoltas, conhecida como Revolta do Malês, em 1835, teve como palco as ruas de Salvador. A luta do povo do Recôncavo contra o cativeiro e pela cidadania avançou pelo século XIX e emergiu com força no movimento antiescravista das décadas de 1870 e 1880. Na Bahia, o movimento antiescravista mobilizou grande número de populares, especialmente dos que viveram a experiência da escravidão. Cachoeira e São Félix abrigaram os movimentos abolicionistas mais atuantes do interior da província. Quando a escravidão acabou, no dia 13 de maio de 1888, ex-escravos e populares saíram às ruas para festejar. A festa celebrava a vitória contra os que não queriam o fim da escravidão. Mas depois da abolição do cativeiro foi preciso lutar por terra, por escola e cidadania. São lutas que se estendem até nossos dias. O contato permanente com Salvador moldou a vida cultural do Recôncavo. Ao longo do século XIX, Salvador foi o centro gravitacional de toda a região. Mas, o Recôncavo concentrava a maior parte da população e

onde se produziam os principais gêneros de exportação da província, o açúcar e o fumo. Daqui saíam também a farinha de mandioca que abastecia Salvador, um dos maiores portos das Américas, empório de produtos vindos da Europa, da África e do extremo Oriente. No Recôncavo se formou a mais antiga rede urbana do Brasil. Antigos caminhos partiam de Cachoeira para o norte, via Jacobina, descendo em seguida na direção de Maracás, Caetité e norte da Província de Minas Gerais. Essa rede de comunicações fez a riqueza de Cachoeira, São Félix, Nazaré das Farinhas e Santo Amaro. Para ali chegavam embarcações carregadas de novidades vindas de Salvador e dali reenviadas para o interior em tropas de muares. Podemos imaginar o cotidiano desses centros, o apito dos vapores, a marcha apressada dos estivadores, o sobe e desce de caixeiros viajantes, carroceiros, canoeiros, saveiristas e tropeiros. A ferrovia na década de 1880 só reforçou a posição daqueles centros como os grandes entrepostos comerciais do interior. Na década de 1940, transformações aceleradas


ela cidadania avançou pelo século XIX e cravista das décadas de 1870 e 1880 ocorreram no Recôncavo. Naquela época as estradas de rodagens criaram outros percursos ligando a capital com o interior. O caminhão foi substituindo os saveiros e os vapores que singravam os grandes rios da região. As estradas de rodagens deram projeção a Feira de Santana, Cruz das Almas e Alagoinhas em detrimento de antigos portos fluviais como Cachoeira, São Félix e Santo Amaro. Não por acaso, versos de conhecido samba de roda da região cantava: “O Vapor da Cachoeira não navega mais no mar”. Sem a navegação a vela, nem os velhos navios de cabotagem, e com as novas estradas de rodagens, Salvador viu desaparecer grande parte de seu vínculo com o Recôncavo, com suas águas, com o mar. A cidade perdeu seu interior imediato. A exploração e o refino de petróleo na década de 1950 causaram grande impacto cultural e econômico no Recôncavo. Como por ironia, poços de petróleo foram descobertos em áreas onde outrora funcionavam engenhos e usinas de açúcar. Em 1950, foi fundada a Refinaria Landulpho Alves, em São Francisco do Conde. Mais tarde, em 1957, foi construído o terminal marítimo em Madre de Deus. As atividades petrolíferas transformaram a vida econômica e social da região. Mas os ganhos advindos do petróleo se concentraram nas cidades diretamente envolvidas naqueEstação Ferroviária de São Félix


Assim, a Universidade Federal d carrega uma rica hist贸ria de e

Samba de roda 茅 patrim么nio imaterial do Rec么ncavo. Foto: Renata Machado


do Recôncavo da Bahia nasce numa região que encontros, contradições e trocas culturais. las atividades como Salvador, Candeias e São Francisco do Conde. Na década de 1960, o governo criou o CIA, Centro Industrial de Aratu, área infra-estruturada para receber investimentos, algo que terminou aumentando o distanciamento entre Salvador e Recôncavo. Esses arrancos desenvolvimentistas terminaram modificando os vetores de desenvolvimento da região e aprofundando desigualdades intra-regionais. As áreas de ocupação antiga da região ficaram de fora desse processo. Assim, a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia nasce numa região que carrega uma rica história de encontros, contradições e trocas culturais. A UFRB faz parte e se reconhece como parte dessa história, pois é fruto das aspirações e da mobilização das comunidades locais. Daí que ela também é herdeira das tradições culturais de luta do povo do Recôncavo. Mas como lugar de encontro e de diversidade, o Recôncavo sempre foi terreno fértil para a invenção e reinvenção. Não por acaso um dos compromissos fundadores da UFRB é com a invenção de outra perspectiva de desenvolvimento que promova a melhoria da vida das pessoas e o exercício pleno de suas capacidades humanas. * Walter Fraga, Professor Doutor em História e Superintendente de Cultura da UFRB.


RECÔNCAVO DA BAHIA: UM UNIVERSO ENTRE OOs responsáv meira expediç MAR E O SERTÃO ra da Terra de por Paulo Gabriel Soledade Nacif*

Era primeiro de novembro de 1501 e a primeira expedição portuguesa exploradora da Terra de Santa Cruz navegava em torno da latitude 12º Sul. Ao identificarem um pequeno golfo, os responsáveis pela expedição denominaram o acidente geográfico de Baía de Todos os Santos. Aquela Baía, com 1.052 km², num litoral pobre em recortes, logo se constituiu em um ponto de referência precioso; como consta nos dicionários, a área continental que se apresenta em forma de arco em torno da Baía passou a ser chamada de Recôncavo. A Baía de Todos os Santos e o seu Recôncavo se originam de um sistema de fraturas e falhas geológicas que

denominaram Todos os Sant golfo que encon aproximarem 13º

definem uma importante depressão ou bacia sedimentar (rifte). Este rifte teve origem há cerca de 180 milhões de anos e se associa ao processo de separação entre a América do Sul e a África. O complexo substrato geológico da região se originou nos últimos milhões de anos, por novos processos tectônicos e mudanças climáticas que possibilitaram transgressões e regressões marinhas no continente que, por sua vez, são responsáveis pelo processo erosivo regional. Essa dinâmica é fundamental para explicar, por exemplo, a existência de diferentes manchas de solos nas terras do Recôncavo, que definiram, primariamente, a distribuição das culturas agrícolas nessa região.


veis pela prição exploradoe Santa Cruz m de Baía de tos o pequeno ntraram ao se m da latitude º. Mapa dos confins do Brazil com terras da Coroa de Espanha na América. Fonte: KEATING V. & MARANHÃO R. Caminhos da Conquista: A Formação do Espaço Brasileiro. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2008.


A abrangência geográfica do Recôncavo sempre foi m milaridade entre alguns traçados dessa região pr A Baía de Todos os Santos e o Recôncavo no Império Português do século XVI

LISBOA AÇORES

MACAU ILHA DA MADEIRA GOA ILHAS CANÁRIAS MINA

ILHAS DE CABO VERDE

CALICUTE LUANDA

RECÔNCAVO DA BAHIA

CABO DA BOA ESPERANÇA

Fonte: A implantação da capital da colônia portuguesa nas Américas – Salvador. Disponível em: <http://www.atlas.ufba.br/atlas_2004_2/adriano_mila_carolina/baia.htm>. Acesso em: 27 out. 2010.

MALACA


motivo de controvérsias, entretanto, é notável a siropostos desde o século XVIII até o presente.

Luis Henrique Dias Tavares (1926), historiador baiano, destaca que depois que os governos de Duarte da Costa e Mem de Sá dizimaram dezenas de aldeias de tupinambás nos arredores da cidade do Salvador, a expansão dos colonos alcançou terras dos vales dos rios Paraguaçu e Jaguaripe. Na franja litorânea e nos vales dos rios que desembocam na Baía de Todos os Santos se estabeleceram os primeiros engenhos da Bahia e em torno desses surgiram os primeiros povoados. Neste aspecto, vale lembrar a observação do sociólogo brasileiro Gilberto Freire (1900 - 1987): “se os grandes rios já foram glorificados em monumento... aos rios menores, tão mais prestadios, falta o estudo que lhes fixe o importante papel civilizador em nossa formação. Os

grandes foram por excelência os rios do bandeirante e do missionário... os outros, os do senhor de engenho, do fazendeiro, do escravo, do comércio de produtos da terra. Aqueles dispersaram o colonizador; os rios menores fixaram-no tornando possível a sedentariedade rural”. É bastante conhecida a emergência do complexo canavieiro ao norte da Baía de Todos os Santos, espacialmente nucleado numa área com domínio de classes de solos localmente denominadas de massapês. As outras áreas, no sul do Recôncavo e ao norte de Salvador, se especializaram na produção de gêneros alimentícios, principalmente a mandioca, e madeiras para abastecimento dos engenhos e de Salvador; o cultivo do fumo ganhou importância nessas áreas, se tornando uma atividade subsidiária

da lavoura açucareira, dado o papel que desempenhava na compra de africanos. Nesse processo, os colonizadores portugueses fizeram do Recôncavo um dos principais destinos mundiais da diáspora africana. Aqui, as ações dos donos do poder encontraram infinitas formas de resistências por meio de rebeliões, fugas, negociações e redimensionamentos culturais, exercitadas pelos povos dominados. Essas páginas da história foram traduzidas em belos versos pelo poeta baiano Caetano Veloso (1942): “o coração/ que é soberano e que é senhor/ não cabe na escravidão/... e o povo negro entendeu/ que o grande vencedor/ se ergue além da dor”. Originalmente, o Recôncavo era coberto pela Mata Atlântica. Atualmente, a região apresenta um dos


O Recôncavo produziu grandes riquezas. No entanto, a resistência às inovações está entre os motivos que determinaram um grave atraso na sua modernização socioeconômica. mais baixos percentuais de remanescentes florestais do Brasil. A mata foi rapidamente destruída a fim de abrir terrenos para a lavoura, fornecendo pranchas de madeira de lei para os estaleiros, inclusive à armada portuguesa e, talvez de maneira mais devastadora, para obter combustível, inicialmente para os engenhos e, depois, também para as diversas atividades de uma região que foi rapidamente povoada. O Jesuíta italiano André João Antonil (1649 – 1716), quando escreveu sobre o Brasil do início do século XVIII, relatou: “junto à casa da moenda, que chamam casa do engenho, segue-se a casa das fornalhas, bocas verdadeiramente tragadoras de matos, cárcere do fogo e fumo perpétuo e viva imagem dos vulcões, Vesúvios e Etnas e, quase disse, do Purgatório ou do Inferno. Nem faltam perto destas fornalhas seus condenados, que são os escravos boubentos e os que têm corrimentos, obrigados a esta penosa assistência para purgarem com suor vio-

A malha da rede do Recôncavo no século XVIII

lento os humores gálicos de que têm cheios seus corpos”. O Recôncavo produziu grandes riquezas. No entanto, a resistência às inovações está entre os motivos que determinaram um grave atraso na sua modernização socioeconômica. A modernidade no Recôncavo, inclusive em Salvador, só ocorreu com a exploração do petróleo a partir da metade do século XX, quando aconteceram importantes mudanças nas relações de poder nessa sociedade. Todo esse processo ajuda a explicar o lugar do Recôncavo nas divisões do trabalho em escalas global e nacional e seus desdobramentos locais. A abrangência geográfica do Recôncavo sempre foi motivo de controvérsias. Entretanto, é notável a similaridade entre alguns traçados dessa região propostos desde o século XVIII até o presente. Nesses estudos o Recôncavo forma um semicírculo com uma área de cerca de 11.000 Km2, com a seguinte

Percorrendo o Recôncavo, um observado de p


Cidade do Salvador da Bahia de todos os Santos - 1549 Vila de São Francisco da Barra do Sergipe do Conde - 1698 Vila de Nossa Senhora da Purificação e Santo Amario - 1725 Vila de Nossa Senhora do Rosário do porto da Cachoeira - 1698 Vila de São Bartolomeu de Mangabeira - 1724 Vila de Nossa Senhora da Ajuda do Jaguaripe Caminhos e estradas Povoados Sede das vilas Sede da cidade do Salvador

CRUZ DAS ALMAS

CACHOEIRA

AMARGOSA

SALVADOR SANTO ANTÔNIO DE JESUS

Fonte: ANDRADE, A. B. A espacialização da rede urbana no Recôncavo Baiano setecentista à luz da cartografia histórica. In: SIMPÓSIO LUSO-BRASILEIRO DE CARTOGRAFIA HISTÓRICA, 3., 2009, Ouro Preto, MG. Anais... Belo Horizonte: UFMG, 2009. Disponível em: <http://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/ resumos-trabalhos.htm>. Acesso em: 27 out. 2010.

abrangência: o norte de Salvador até Mata de São João e Alagoinhas; a área de solos massapês, localizada ao norte da Baía de Todos Santos e que segue até a região de Teodoro Sampaio; a península de Saubara-Iguape; as terras baixas de Maragogipe a Jaguaripe; e as regiões mais elevadas de Cruz das Almas e Santo Antônio de Jesus. Os limites do Recôncavo devem ser percebidos como ensinou o sociólogo baiano Luiz de Aguiar Costa Pinto (1920 - 2002): “em verdade, as fronteiras sociológicas do Recôncavo não se representaria por linhas, mas sim por faixas, faixas de transição, nas quais os seus caracteres geográficos, econômicos e sociais mesclam-se com traços típicos de outras áreas adjacentes, que tendem a predominar na medida em que nos afastamos das margens da Baía para as matas do Sul, para as caatingas do Sudoeste ou do Nordeste, para as praias do Litoral Norte”. Em 1989, quando o IBGE definiu novos critérios e nomenclaturas para a regionalização do Brasil, o antigo traçado do Recôncavo continuou como referência, verificando-se grande semelhança entre o que o IBGE denominou de Mesorregião Metropolitana de Salvador (com 38 municí-

or do cotidiano notará entre seus habitantes uma sensação pertencimento à região


Mapa da Bahia e suas Mesorregiões

Na segunda metade do século XX o Recôncavo passou por muitas transformações. pios e 11.200 Km2) e o velho Recôncavo. Esta é uma grande evidência da real vitalidade deste território que, segundo o geógrafo baiano Milton Santos (1926 - 2001), ensaiou, antes do restante do Brasil, um processo então notável de urbanização e constituiu-se na rede urbana de caráter regional mais antiga das Américas. É extraordinária a consistência dos vínculos que determinam a existência dessa região no entorno da Baía. Contribuem para isso o subespaço longamente elaborado e por muito tempo estável, as presenças de Salvador e da Baía de Todos os Santos, a área, relativamente pequena, e, como lembra Milton Santos, “as iconografias que mantém a idéia de região através da noção de territorialidade, que une indivíduos herdeiros de um pedaço de território, uma determinada fração do espaço”. Percorrendo o Recôncavo, um obser-

vador do cotidiano notará entre seus habitantes uma sensação de pertencimento à região, o reconhecimento de uma história comum e uma interessante referência a muitos hábitos e tradições. Evidentemente, tudo isso foi forjado “aos trancos e barrancos” – no sentido que o sociólogo brasileiro Darcy Ribeiro (1922 -1997) emprestou ao termo. Isso, talvez, valorize ainda mais esta terra. Na segunda metade do século XX, o Recôncavo passou por muitas transformações. Mudanças da matriz de transportes criaram uma densa rede de estradas e redefiniram o protagonismo de determinados centros urbanos. A área mais próxima de Salvador se constituiu numa região metropolitana (não confundir com a Mesorregião Metropolitana de Salvador). A exploração de petróleo e a instalação do Pólo Petroquímico de Camaçari de-


Mesorregião metropolitana de Salvador

Cachoeira, uma cidade do Recôncavo da Bahia

Mapa da Bahia e suas Mesorregiões, de acordo com o IBGE

finiram novos subespaços. O forte desenvolvimento de Feira de Santana estabeleceu um sombreamento de áreas de influências. Tudo isso ocorreu sem articulação com a cultura e os processos econômicos e, assim, houve uma redução da coerência funcional da região, mas não suficiente para sua diminuição territorial ou conceitual. A diversidade amalgamada neste pedaço da crosta terrestre constitui uma gênese representativa da própria formação do nosso país, e, talvez por isso, a socióloga baiana Maria de Azevedo Brandão sempre destaca que o Recôncavo, por tudo que representa para a civilização brasileira, necessita

ter sua unidade fortalecida, a partir de uma nova concepção de desenvolvimento e organização territorial que possa assegurar um melhor equilíbrio ambiental à área, melhores condições de vida e permanente afirmação cultural da região. Diante do mundo, é justamente pela força especial e única do seu lugar, do seu chão, da sua cultura e narrativas, que deve estar a base para a construção da dignidade e alegria de um povo. * Reitor e Professor Associado da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia


A UFRB Politicas Afirmativas e estudantis, Ensino, Pesquisa e Extens達o. Os valores, perspectivas e objetivos que formam o nosso perfil institucional e como continuaremos a construir a universidade que queremos.


Prof. Carlos Alfredo Lopes, Profª Maria Inês Almeida, Prof. Aelson Silva, Rosilda Santana, Pró-Reitores da UFRB

Vista aérea do prédio da Reitoria. Foto: Capitão Cristiano Gouveia, GRAER-BA

Prof ª Dinalva Melo, Prof. Warli Anjos, Profª Rita Dias, Pró- Reitores da UFRB


O sentido de diversi respeito às diferenças tidade brasileiras, nã clusão que estão

Políticas afirmativas e estudantis na UFRB Nascida a partir de uma ampla mobilização da sociedade baiana e em especial das regiões do Recôncavo e do Jiquiriçá, a UFRB traz em sua essência uma expressão e proposição de saberes, conhecimentos, formação, pesquisa e extensão diretamente relacionada à transformação social, notadamente, no que concerne a inclusão e igualdade sócio-racial. Essa perspectiva revela-se ainda mais significativa quando se considera o contexto da realidade educacional brasileira e baiana, em seu empenho para superar os limites relativos à democratização do acesso, da permanência e da qualidade da educação, e em especial do ensino superior, sobrelevando a necessidade de políticas de ampliação e interiorização dessa modalidade educacional. A presença da diversidade, e dos valores de convivência, de respeito às diferenças, tolerância e pacifismo, tão caros à alma e identidade brasileiras, não impediram os processos de discriminação e exclusão que estão na base da desigualdade social bra-

sileira. Muitos grupos sociais tiveram negados seus direitos a bens culturais e econômicos, instrumentos que deveriam permitir a efetiva e plena participação social e política desses grupos. Essa exclusão se constitui como um processo histórico relacionado a questões como raça, classe social, gênero, etnia e regionalidade. As ações afirmativas partem do reconhecimento da pluralidade da nossa sociedade, ao entender que todos os grupos sociais que a constituem têm direito de acesso às políticas públicas e institucionais que visem a promoção da equidade. A UFRB assumiu o compromisso de garantir o acesso, a permanência e a pós-permanência de estudantes oriundos de escolas públicas, que se declaram pretos ou pardos, índio ou descendentes, índios aldeados e remanescentes de quilombos, através da Política Institucional de Ações Afirmativas. Esse comprometimento tornou-lhe pioneira na implantação de uma pró-reitoria específica, a Fotos: Renata Machado


idade, assim como os valores de convivência, de s, tolerância e pacifismo, tão caros à alma e idenão impediram os processos de discriminação e exo na base da nossa tamanha desigualdade.


Esse grau de comprometimento nos levou ao pioneirismo de instituir pro-reitoria para atuar especificamente nessa questão, a PROPAA Pro - Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudanti PROPAAE – Pró-Reitoria de Políticas Afirmativas e Assuntos Estudantis. A UFRB instituiu as ações afirmativas e os assuntos estudantis como um amplo conjunto interdependente e complementar de propostas e estratégias que integram formação acadêmica e políticas de equalização social e assistência estudantil, ao contemplar o direito à educação, a democratização do acesso de estudantes de origem popular, a permanência qualificada com êxitos acadêmicos e vivência comunitária, e a pós-permanência em articulação com o desenvolvimento regional. A PROPAAE atua de forma sistêmica, na formulação de políticas e na gestão de recursos, integrando programas e objetivos institucionais e sociais. A PROPAAE tem como missão a execução de Políticas Afirmativas e Estudantis na UFRB, garantindo à comunidade acadêmica condições básicas para o desenvolvimento de suas potencialidades, visando a inserção cidadã, cooperativa, propositiva e solidária nos âmbitos cultural, político, econômico e social. São princípios desta política: a co-responsabilidade, o mutualismo, a solidariedade o protagonismo. São referenciais das políticas afirmativas e estudantis da PROPAAE/UFRB: a. Política, programas e ações em prol do acesso, permanência e pós-permanência dos discentes no ensino superior, em especial, os oriundos das escolas públicas, os Fotos: Arquivo PROPAAE


r uma AE – is. que se declaram pretos ou pardos, índio ou descendentes, índios aldeados e remanescentes de quilombos; b. Política de assistência socioeconômica, pedagógica e psicológica; c. Programa de formação que contribuem para a ampliação da qualidade educacional na Região do Recôncavo- Ba, sobretudo, na implantação das Leis 10.639-03 e 11.645-08, que alteram a LDB 9394/96 e incluem nos currículos oficiais das redes de educação básica, as temáticas de história e cultura afro-brasileira e indígena. d. Desenvolvimento regional relacionado à formulação e implantação de políticas de promoção da igualdade racial e inclusão social. e. Programa de Acolhimento e Convivência Comunitária–PVCOM, integrando ações que visam garantir a acessibilidade e assistência a pessoas com deficiências. f. Programa de Permanência Qualificada que articula a atenção a demanda material à qualificação da formação acadêmica através da participação em projetos de pesquisa, monitoria e extensão. São disponibilizadas diferentes modalidades de auxílio: à moradia; à alimenta-

ção; pecuniário à moradia e à alimentação; ao deslocamento; pecuniários vinculados a projetos de Extensão, Pesquisa e Ensino; Auxílios acadêmicos (participação em eventos científicos, aquisição de material didático, promoção de eventos); Auxílio à promoção da saúde. Através das ações afirmativas, a UFRB fortalece sua responsabilidade social, defendendo o ensino superior deve estar permanentemente vinculado a ações amplas em prol da democratização do acesso à educação, um tributo a ser dado às classes populares em nosso país. Esse resgate deve adotar o compromisso da inclusão e da reparação, respondendo às distorções históricas engendradas e acumuladas na formação da nossa sociedade. A igualdade, valor e perspectiva fundamental para a vida comum, deve ser promovida e garantida, sendo condição essencial para que a UFRB possa cumprir seu papel, sua missão e o sonho que inspiraram seu nascimento como instituição.

Rita de Cássia Dias, Pró-Reitora de Políticas Afirmetivas e Assuntos Estudantis, Cláudio Orlando C. do Nascimento


Ensino na UFRB Dizer do papel do ensino em uma Universidade significa discutir o sentido do conhecimento e de sua gestão na contemporaneidade, considerando que é na graduação que os jovens se deparam, de forma mais consciente, com as exigências de acumular o saber e ao mesmo tempo reinterpretá-lo com um nível de criatividade capaz de dar-lhe um khow how competitivo, especialmente em um momento de reorientação paradigmática. Assim, entendendo a informação e o conhecimento como recursos primordiais ao desenvolvimento da sociedade atual e a aprendizagem como ponto central do desenvolvimento, compreende-se a dimensão do papel que o ensino de graduação possui em uma Instituição de Ensino Superior. Enquanto lócus da gestão do conhecimento é preciso que a Universidade e seu corpo de atores sejam capazes de abordagens diferenciadas, garantindo assim a diversidade tanto teórica quanto metodológica e a efetivação dos princípios sempre presentes nos documentos que conformam as bases dos cursos ofertados: alunos capazes do domínio cognitivo, mas também e principalmente, ao considerar no centro desse processo um ser humano, uma formação crítica, reflexiva, questionadora, permitindo o acesso a formas evolutivas do que vem a ser conhecimento e

sua apropriação, traduzida em uma práxis de sobrevivência em tempo de grandes transformações. O conhecimento é a ferramenta disponibilizada ao aluno, aguçando-lhe a capacidade de agir intelectual e fisicamente, já que o conhecimento segundo Chun Wei Choo, é a informação transformada, pelo uso da razão e reflexão, em crenças, explicações e modelos mentais que antecedem a ação, construído através do acúmulo de experiências. È lugar comum afirmar que o fator econômico sempre foi decisivo para a riqueza de uma nação. Atualmente se enfatiza o lugar de destaque ocupado pelo conhecimento, embora nenhuma Era, seja a industrial ou a da informação tenha sido gestada sem o acúmulo do saber historicamente construído, revelando a importância destacada que o ensino precisa ter ou adquirir nas Universidades. Em assim sendo, a história tem mostrado que o caminho da transformação de uma sociedade não acontece sem a apropriação do saber, permitida pela democratização de oportunidades educacionais. Uma instituição de ensino superior nasce com o compromisso de ser viabilizadora do alcance desse objetivo. A UFRB, como as demais IES brasileiras fruto da interiorização, nasceu comprometida com a efetivação desse ideário e principalmente para asse-

O ensino objeti capazes d prol do


o, tanto na graduação como na pós-graduação, ivam a formação de profissionais e cidadãos de atuação na sociedade de forma criadora, em desenvolvimento, da sustentabilidade e da inovação

gurar aos que vivem no interior da Bahia acesso ao conhecimento, tornando-os capazes de geri-lo e usá-lo em benefício da coletividade. O ensino de graduação na UFRB não nasceu e cresceu aceleradamente apenas e tão somente para indicar o crescimento da nossa universidade, ele foi articulado como fator decisivo da inclusão social. Trazer para a academia a comunidade do interior da Bahia é o pensamento uníssono que permeia a instituição. Os nativos precisam adentrar os muros acadêmicos para aqui pesquisar, pensar, construir e retornar com uma marca capaz de disseminar o conhecimento produzido pela prática, pelo contato, alterando caminhos e pensamentos que estorvam o desenvolvimento social. Nesse rumo, partimos da centena de envolvidos para mais de quatro mil estudantes, na busca de um objetivo grandioso que não se concretiza sem os percalços desafiadores que a graduação enfrenta em todo país. Ainda temos muito que pensar e discutir para encontrar soluções que garantam a permanência de nossos discentes; refletir também sobre que saberes, enquanto formadores, devemos nos aportar a fim de garantir que o conhecimento seja fruto de uma construção por parte desses e, não menos importante, buscar meios que permitam a articulação com a educação básica. Assim, na busca do fortalecimento da nossa graduação ainda temos muito que lutar, mas sem perder de vista que ela pode ser o principal instrumento para transformar nossa sociedade. Dinalva Melo Pró-Reitora de Graduação


A extensão é desenvolvida, na num encontro do sabe A pesquisa na UFRB O desafio de implantar e consolidar a pesquisa e o ensino de pós-graduação stricto sensu em uma nova Universidade requer planejamento, articulação entre os gestores e corpo docente, além de forte aproximação com as agências de fomento estaduais e federais. A estrutura para pesquisa na UFRB expandiu rapidamente com os investimentos do processo de implantação dos novos Cursos e, sobretudo, pela forte política de captação de recursos externos, cujos frutos já podem ser contabilizados em apenas cinco anos. Além dos projetos institucionais de infra-estrutura submetidos à FINEP, muitos docentes têm aprovado projetos de pesquisa junto ao CNPq e a FAPESB, como também em outras instituições

como o BNB e a Petrobrás. Embora ainda seja necessário ajustes em determinados aspectos da infra-estrutura básica, a expectativa é que as medidas tomadas nesses cinco anos permitam a consolidação do lastro principal da pesquisa para abrigar os projetos e linhas de investigação desenvolvidas pelos docentes e discentes da UFRB. A organização dos Grupos de Pesquisa, a formação de Núcleos de Estudos e o fortalecimento das Redes inter e intra institucionais devem ser o próximo desafio, com reflexo direto sobre os Programas de Pós-Graduação. A pós-graduação nasceu junto com a UFRB, com os Cursos de Mestrado e de Doutorado em Ciências Agrárias. Logo em seguida foi iniciado um proces-

Foto: Renata Machado


a UFRB, como elo de interação com a sociedade, er acadêmico com outros conhecimentos. so de nucleação, que resultou em mais cinco Mestrados nesta grande área do conhecimento. Agora o desafio para os próximos anos é implementar novos Cursos de Mestrado em todos os campi da UFRB, e Doutorados nos Programas existentes. Os atuais Programas de Pós-Graduação e Grupos de Pesquisa, o estímulo constante na participação dos editais de apoio a pesquisa, o forte programa de iniciação científica e tecnológica, a construção de convênios e parcerias externas, a implementação do plano de capacitação docente, a organização e consolidação dos grupos de pesquisa e o diálogo constante com as agências de avaliação e de fomento, permitem nutrir a expectativa de otimismo para a expansão e consolidação da pesquisa e a pós-graduação, contribuindo, juntamente com os cursos de graduação e as atividades de extensão, com a consolidação da UFRB como liderança no Território do Recôncavo, na Bahia e no Brasil. Carlos Alfredo Lopes Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação


Apresentaçã de Grupo de Samba de Roda durante atividade de extensão. Foto: Renata Machado

Comunidade cigana atendida pelo topa. Foto: Renata Machado


A Extensão na UFRB A presença da UFRB na sociedade está em sua própria razão de ser. Estar inserida na vida das pessoas e suas organizações deve ir muito além da pura difusão de conhecimentos e tecnologias e primar pela interação permanente e dialógica com as práticas sociais. Dessa forma, a extensão universitária ocorre plenamente na ação, mediada pelo encontro do saber acadêmico com todas as outras formas de conhecimento. Nesses cinco anos, a extensão em nossa universidade realizou seu primeiro ciclo de estruturação e apontou os caminhos para sua institucionalização, condição essa necessária ao aprofundamento da relação com os segmentos sociais diversos, mas também reforçou a indissociabilidade entre a pesquisa e o ensino. Como conseqüência dessas ações, já podemos perceber a formação integral e mais adequadamente próxima da realidade de nossa comunidade acadêmica e os primeiros frutos que evidenciam a relação transformadora entre universidade e população. Mais concretamente, temos procurado estabelecer as parcerias necessárias, especialmente para a promoção do acesso de pessoas

e segmentos populares às políticas públicas. Nesse particular, a UFRB tem contribuído para a geração de trabalho e renda; preservação ambiental e desenvolvimento sustentável; combate ao analfabetismo; promoção da segurança alimentar e nutricional; formação de gestores de cultura no Território do Recôncavo; formação de gestores de cooperativas populares; formação de professores; popularização da ciência e outras iniciativas de igual importância social e acadêmica. Compreendemos, portanto, que devemos intensificar ainda mais o processo de institucionalização da extensão na UFRB. Ressaltamos que, em momento algum, devemos deixar de estabelecer estratégias que visem ao alcance dos objetivos fundamentais: reafirmar a extensão como indispensável à formação e qualificação da comunidade acadêmica, construída no confronto com a realidade social; integrar as políticas de extensão às demais políticas de ensino superior, e inserir a extensão no mesmo nível e articulada ao ensino e à pesquisa. Aelson de Almeida Pró-Reitor de Extensão


EU VIM DE LÁ, EU VIM DE LÁ... D.Pedro II, Óleo sobre tela, acervo MEA, do Memorial do Ensino Agrícola.

Ata de criação do Imperial Instituto Agrícola.

Foi uma sessão festejada e concorrida. Não poderia ser diferente, uma vez que o próprio Imperador estava presente. E também o Presidente da Província e a elite açucareira do Recôncavo, com seus barões, viscondes, coronéis e comendadores. A Ata de criação está recheada de assinaturas importantes. Era 1859 e Dom Pedro II criava naquele momento o Imperial Instituto Baiano de Agricultura. O Brasil enfrentava uma grave crise agrícola, provocada por atraso tecnológico, problemas de mão-de-obra, e diminuição do preço do açúcar no mercado internacional. Para responder às pressões do setor, representado pelos ricos fazendeiros donos dos engenhos, o governo do império criou os Imperiais Institutos de Agricultura em diversas regiões do país.

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Sala dos Conselhos, Acervo MEA


+Hoje só restam as ruínas do que outrora foi um prédio imponente: As ins campus ofereciam moradia para alunos e professores, salas de aula, bibliot capela, curral, estrebaria e áreas de campo experimentais. Entre as ações do Instituto para a recuperação da economia açucareira foi criada a Escola de Agricultura da Bahia, que entrou em funcionamento em 1877. Nascia a primeira escola superior de agricultura da América Latina, em São Bento das Lages, entre os municípios de Santo Amaro e São Francisco do Conde. Hoje só restam as ruínas do que outrora foi um prédio imponente: As instalações do campus ofereciam moradia para alunos e professores, salas de aula, biblioteca, museu, capela, curral, estrebaria e áreas de campo experimentais. Eram dois graus de ensino: o elementar, que formava lavradores e regentes florestais e o supletivo, para formação de engenheiros agrônomos e veterinários. A primeira turma de engenheiros foi diplomada em 1880. No início do século XX a Escola passa por um período de instabilidade. Cortes de verbas por parte do governo federal terminam por transferir a instituição ao controle do Estado, em 1904. Em 1911, com o nome de Escola Média Teórico-Prática de Agricultura, retorna ao controle governo federal. Em 1919, passa novamente ao comando do estado, agora com o nome de Escola Agrícola da Bahia. A Escola foi transferida para Salvador em 1931. A nova sede era a Hospedaria dos Imigrantes, próxima ao forte Monte Serrat. O local aparentemente privilegiado, de frente para o mar, em meio à paisagem da baía de Todos os Santos, era pouco adequado para o ensino agrícola, sem áreas de plantio, criação e locais de pesquisa. Acervo do Memorial do Ensino Agrícola

+Hoje só restam as ruínas do que outrora foi um prédio imponente: A aul


stalações do teca, museu,

Ruinas da Escola de Agronomia em São Bento das Lages

As instalações do campus ofereciam moradia para alunos e professores, salas de la, biblioteca, museu, capela, curral, estrebaria e áreas de campo experimentais.


No seu período de funcionamento como Instituto Imperial, a escola formou 273 engenheiros agrônomos, e muitos deles se dedicariam à docência e à pesquisa em novas instituições científicas na Bahia e em outros estados.

Primeira Pesquisa (These) de Graduação


O Imperial Instituto Baiano de Agricultura abriu caminhos para a ciência e a docência. A Escola Imperial Agrícola da Bahia foi a primeira do gênero na América Latina, já associando o ensino e a pesquisa. A Segunda instituição de pesquisa em ciências agrárias criada no Brasil foi a Estação Agronômica de Campinas (SP), em 1887, a qual deu origem ao Instituto Agronômico de Campinas. O segundo curso só surgiria em 1891, na Escola Superior de Agricultura Eliseu Maciel, de Pelotas (RS). No seu período de funcionamento como Instituto Imperial, a escola formou 273 engenheiros agrônomos, e muitos deles se dedicariam à docência e à pesquisa em novas instituições científicas na Bahia e em outros estados. As teses produzidas constituíram um valioso acervo para a ciência agronômica, gerando e difundindo conhecimentos que iam muito além da produção instalada no Recôncavo, possibilitando a diversificação das atividades e da própria economia regional. Assim, a instituição Acervo do MEA

teve um papel fundamental na criação de um ambiente científico e cultural na Bahia oitocentista. A pesquisa realizada pelo Instituto foi decisiva também na organização de instituições de pesquisa por produto, em apoio à economia agro-exportadora. As mais conhecidas foram o Instituto de Cacau da Bahia, ICB e o Instituto Baiano de Fumo, o IBF. O século XIX foi um período efervescente em pesquisas no campo da agropecuária, principalmente na Europa. Muitas das descobertas dos centros de pesquisas na Alemanha, França e Inglaterra, bem como técnicas de plantio e variedades de cana-de-açúcar utilizadas com sucesso nas ilhas Maurício e nos Estados Unidos, eram difundidas na Bahia através do IIBA. Isso contribuiu significativamente para o desenvolvimento das lavouras e recuperação da economia do estado nesse período.

O século XIX foi um período efervescente em pesquisas no campo da agropecuária, principalmente na Europa.

Fonte: BAIARDI, A. . O Papel do Imperial Instituto de Agricultura na Formação da Comunidade de Ciências Agrárias da Bahia.

Equipamento da Escola Agricola


Escola de Agromonia de São Bento das Lages.

Uma área de 1879 hectares, com fontes e riachos, amplos pavilhões, auditório, residências para professores, alojamentos para estudantes, campos para plantio e criação, laboratórios.


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Os primeiros laboratórios da Escola de Agronomia

“Apresentando um magnífico conjunto de monumentais pavilhões modernos, de estrutura elegante e majestosa, a Escola Agronômica da Bahia oferece ao visitante, logo à primeira vista, uma impressão de grandiosidade. E, de fato, pelo grande conjunto arquitetônico, pela enorme área que rodeia, em larga planície, o estabelecimento baiano de ensino agronômico superior impressiona mesmo aos mais leigos da matéria.” Boletim da Secretaria de Agricultura Indústria e Comércio do Estado da Bahia, 1946.

Em Cruz das Almas, a Escola Agronômica da Bahia Em 1938, o presidente Getúlio Vargas nomeou Landulfo Alves interventor federal na Bahia. Filho de pequeno fazendeiro, Landulfo Alves, estudou agronomia na Escola de São Bento das Lages, e dedicouse à construção de uma nova escola. Contou com o apoio de Lauro de Almeida Passos, ex-prefeito de Cruz das Almas e então presidente da Caixa Econômica Federal, que garantiu os recursos para a aquisição das terras onde seriam construídas as novas instalações da instituição. Em 1942, a Escola de Agricultura e Medicina Veterinária da Bahia mudouse para sua nova sede, e em 1946, ganha novo regulamento e denominação, passando a chamou-se Escola Agronômica da Bahia. Uma área de 1879 hectares, com fontes e riachos, amplos pavilhões, auditório, residências para professores, alojamentos para estudantes, campos para plantio e criação, laboratórios. Enfim, uma completa estrutura que resgatava o passado da escola e a tornava pronta para o futuro.


Jayme acredita que em sua vida não tem nada de extraordinário que me sobre ela, mas pelo menos nisso ele está errado, pois sua vida é como se fos sinamentos que servem para qualquer pessoa, pois sua vid

Vida de estudante na década de 40 Com mais de um século de tradição, são muitas as histórias e personagens que passaram pela Escola de Agronomia. Uma dessas histórias de sucesso está no livro Só Você Pode, Jayme, de autoria do jornalista e professor Sérgio Mattos. O livro conta a trajetória de Jayme Ramos de Queiroz, que ingressou na primeira turma a prestar vestibular em Cruz das Almas, para a então Escola Agronômica da Bahia, em 1944. A Escola funcionava em Cruz das Almas desde 1942, mas o vestibular era realizado em Salvador. A vinda para prestar o vestibular já era uma odisséia para os jovens soteropolitanos, como Jayme. O livro conta: “Na época, para chegar a Cruz das Almas, era necessário tomar um navio até Cachoeira e daí pra frente, de trem ou pegando carona, procurar chegar ao destino, pois não existia um serviço de transporte regular. O navio Paraguaçu, que saía às 7 horas do Porto de Salvador, chegava na cidade de Cachoeira, quando no horário, ao meio-dia. Isto, quando não encalhava

na ‘Coroa de Maragogipe’.” A Escola Agronômica representou uma grande experiência na vida do jovem Jayme. Segundo Sergio Mattos, “em Cruz da Almas, Jayme aprendeu a dançar, tomar conta da república, andar de bicicleta, “comer qualquer comida”, e organizar a solenidade de formatura”. A adaptação cultural à vida na cidade, longe da capital, não foi diferente: “Namorar as moças de Cruz da Almas era uma dificuldade, pois elas diziam que estudante ‘não quer casar” e, portanto, não iam perder tempo”. O engenheiro agrônomo, diplomado em 1947, construiu uma carreira de êxito inquestionável. Foi professor universitário, secretário da Agricultura da Bahia, Diretor Presidente da CEASA (Central de Abastecimento), onde participou da criação da EBAL (Empresa Baiana de Alimentos), do qual também foi Diretor, e também da criação do programa Cesta do Povo, foi ainda Diretor Superintendente da Bahia Pesca e trabalhou em altos cargos na Acervo MEA


erca destaque especial, ainda mais um livro sse uma fonte luminosa, de onde brotam enda é um exemplo a ser seguido

Estudante Jayme na década de 40. Foto: arquivo pessoal

Jayme Ramos de Queiroz. Foto: arquivo pessoal

iniciativa privada. É de diversos episódios em sua carreira que vem o nome do livro, quando, à frente das tarefas que pareciam mais complicadas, alguém sempre dizia “só você pode, Jayme”. Em 2010, aos 84 anos e em plena forma, Jayme esteve novamente em Cruz das Almas e visitou os antigos prédios da antiga Escola Agronômica, hoje UFRB, para o lançamento da sua biografia. Na ocasião, Jayme contou histórias da sua passagem por Cruz das Almas e compartilhou as experiências da sua brilhante carreira. O evento contou com a presença de professores e alunos da UFRB, além do professor Sérgio Mattos, autor do livro, e do Reitor Paulo Gabriel Nacif. Uma justa homenagem para alguém que representa a importância e a história dessa escola. Nas palavras de Sérgio Mattos: “Jayme acredita que em sua vida não tem nada de extraordinário que mereça destaque especial, ainda mais um livro sobre ela, mas pelo menos nisso ele está errado, pois sua vida é como se fosse uma fonte luminosa, de onde brotam ensinamentos que servem para qualquer pessoa, pois sua vida é um exemplo a ser seguido.”


A trajetória da escola desde o Instituto Imperial Agrícola, descreve esse ção, de sofrimento, de luta e de pertinaz resistência aos que tentaram destrui

já diplomou milhares de profissionais da agricultura, que passaram a servir melhor à sua pátria como professores, pesquisadores, extensionistas, empresários, produtores rurais, vereadores, deputados, secretários de estado, governadores UFRB 2010. Vista aérea dos prédios antigos herdados da AGROUFBA. Foto do Capitão Cristiano Gouveia, GRAER-BA


e percurso como “uma história de peregrinair UFBA Em 1967 a Escola voltou a ser instituição federal, quando passou a integrar a UFBA-Universidade Federal da Bahia. A mudança renovou a escola, que adotou novo regimento e estrutura de cursos a partir de 1970, fortalecendo seu papel fundamental na formação profissional e no desenvolvimento científico para a agropecuária no estado. O professor Joelito Rezende, docente e autor de um minucioso trabalho sobre a trajetória da escola desde o Instituto Imperial Agrícola, descreve esse percurso como “uma história de peregrinação, de sofrimento, de luta e de pertinaz resistência aos que tentaram destruir; de honrosas conquistas e glórias, pois já diplomou milhares de profissionais da agricultura, que passaram a servir melhor à sua pátria como professores, pesquisadores, extensionistas, empresários, produtores rurais, vereadores, deputados, secretários de estado, governadores”.

Brasão da Escola de Agronomia

UFRB Finalmente, em 2005, a Escola de Agronomia foi desmembrada da UFBA. Nasceu a UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, como resultado de uma ampla mobilização da comunidade regional. A primeira universidade federal no interior do estado era uma reivindicação antiga de diversos setores da sociedade. A nova instituição representa um marco para o ensino superior na Bahia. UFRB 2010. Vista aérea dos prédios antigos herdados da AGROUFBA. Foto do Capitão Cristiano Gouveia, GRAER-BA


1859 1º nov.

LINHA DE TEMPO A escola passa ao controle do Estado

1888 1889 1904 1911

O estado retoma a escola, que passa a funcionar como Escola Agrícola da Bahia

O governo Federal reassume a escola, com ao nome de Escola Média Teórico-Prática de Agricultura

Proclamação da República

1877 15 fev

Abolição da escravatura

Inauguração da Escola de Agricultura da Bahia

Criação do Imperial Instituto Agrícola da Bahia

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, como resultado de uma ampla mobilização da comunidade regional. Imagens do Acervo do MEA

1917


1931 1938

1943 1945 1964 1967

Criação da UFRB

A escola passa a ser vinculada à UFBA

Início da Ditadura Militar

Fim da Segunda Guerra Mundial

1938

Transferência da Escola para Cruz das Almas

Decreto nº 10.831, que define a mudança da escola para Cruz das Almas

Início da II Guerra Mundial

Transferência da Escola para a Hospedaria dos Imigrantes, em Salvador

A primeira universidade federal no interior do estado era uma antiga reivindicação de diversos setores da sociedade. A nova instituição representa um marco para o ensino superior na Bahia.

2005


ESPERO O AMANHÃ QUE CANTE A criação da UFRB é uma aspiração da comunidade do recôncavo desde as lutas pela independência. Concretizada em uma ação acadêmica e política visionária, mobilizou a sociedade regional e marca decisivamente a história da educação superior na Bahia. O Brasil sequer era independente quando, pela primeira vez, se pensou em uma universidade na região do Recôncavo Baiano. A reunião na câmara da cidade de Santo Amaro, em 14 de Junho de 1822, destinava-se justamente a manifestar o desejo pela independência do país. A ata de vereação é um documento ousado, que propunha um regime federalista com autonomia para as províncias, abertura ao comércio internacional e liberdade religiosa, além da criação de uma universidade. Assim, no pensamento da sociedade que almejava a soberania, a educação superior já era base para a emancipação e a liberdade.

O interior da Bahia, no entanto, precisou esperar muito para ter uma universidade federal, porque o ensino superior federal sempre esteve longe de corresponder à importância que o estado tinha no cenário nacional - berço da chegada dos portugueses, primeira capital da colônia, palco de lutas pela independência, um dos maiores estados da federação, em território e população, de forte presença histórica, cultural, social e econômica. A educação superior, contudo, sempre foi uma grave lacuna no tratamento dispensado à Bahia.

Berço da ch Primei Palco de lu Um dos maior terri Forte presen cial e e


hegada dos portugueses; ira capital da colônia; utas pela independência: res estados da federação, em itório e população; nça histórica, cultural, soeconômica no Brasil. A nova Universidade renova a esperança de acesso ao ensino superior para o interior da Bahia.


Nosso Estado possu larização dos espaço

O novo momento não passou despercebido na Escola de Agronomia em Cruz das Almas. Era a oportunidade de mudança, que permitiria à instituição ter um novo papel para a comunidade

O descompasso entre a importância da Bahia, inclusive com longa tradição de lideranças políticas, e a situação retratada por seus indicadores socioeconômicos foi chamada de “enigma baiano” por Octávio Mangabeira, governador do estado entre 1947 e 1951. Essa situação persistiu na história dos investimentos federais no ensino superior. A partir da década de quarenta do século XX, a criação de universidades ganhou grande impulso no Brasil, mas a Bahia manteve-se apenas com uma única universidade federal, criada em 1946. Como resultado, o estado chegou ao século XXI com o menor número de matrículas no ensino federal superior no nordeste e o segundo pior do Brasil. A relação de 1,49 matrículas para cada mil habitantes, apresentada pela Bahia, corresponde à metade da apresentada por Pernambuco. Os investimentos federais em ensino superior no estado são muito inferiores aos destinados a outros estados com população similar, e próximos apenas daqueles que possuem populações muito inferiores como Santa Catarina, Ceará e do Rio Grande do Norte. Apesar das dimensões territoriais, econômicas, populacionais e da nossa multipolarização dos espaços geográficos, que justificariam a existência de outras universidades, tal situação se manteve, evidenciando um grave desvio do pacto federativo em relação ao estado, e, talvez o mais grave, com um incômodo silêncio de gerações de baianos e suas lideranças.


ui dimensões territoriais, economia, população e uma multipoos urbanos que sempre justificaram a existência de outras universidades federais Era evidente que a oferta do ensino superior estava muito aquém das necessidades dessa região. No entanto, o contexto político das décadas de 1980 e 1990, sob forte ideário neoliberal, resultava na diminuição dos investimentos no ensino público superior e fortalecimento da atividade privada no setor. Parecia cada vez mais distante a criação de novas universidades. Essa situação muda a partir de 2003, já no governo Lula, quando o Ministério da Educação anuncia o Plano de Expansão e Interiorização do Ensino Público Superior. O novo momento não passou despercebido na Escola de Agronomia em Cruz das Almas. Era a oportunidade de mudança, que permitiria à instituição ter um novo papel para a comunidade do Recôncavo. O plano da nova universidade começa surgir, delineado em uma ação política e acadêmica visionária, encampada por um grupo de pessoas liderado pelo Reitor da UFBA, professor Naomar Monteiro, e pelo então diretor da AGRUFBA, professor Paulo Gabriel Nacif. Era chegada a hora de planejar uma universidade plena, que contemplasse as mais diversas áreas do conhecimento, e que atendesse a todo o recôncavo, principalmente a sua juventude, oferecendo oportunidades verdadeiras para a inserção no universo do conhecimento e nas possibilidades de formação profissional. Assim, em 14 de maio 2003, quando da posse do Diretor da Escola de Agronomia, Paulo Nacif, em reunião do Conselho Universitário realizada em Cruz das Almas, foi proposta a criação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, a partir do desmemAntigo bairro dos professores. Acervo MEA


bramento da Escola de Agronomia. A escola de Cruz das Almas já era um ponto forte da idéia, pois reduziria substancialmente os investimentos iniciais na construção de instalações para a nova instituição. A partir desse momento, iniciou-se a tarefa de elaborar o projeto de criação da nova universidade, bem como de mobilizar a comunidade regional em torno desse objetivo. Mesmo que o governo federal apresentasse a intenção de criar novas instituições, estava clara a necessidade de construir uma força política em torno da concretização da UFRB. A idéia começou então a ganhar vida para além da comunidade acadêmica. “A opção foi fazer uma base popular. Nós fizemos mais de 50 reuniões e audiências em todos os confins desse Recôncavo”, relata o professor Geraldo Costa, um dos integrantes da comissão formada para elaborar o processo de implantação. “Apresentava-se o projeto, e se abria para a discussão sobre as necessidades e características. Uma dessas audiências contou com a presença de mais de 40 prefeitos da região, que assina-

ram um documento de compromisso com a criação da universidade”. A mobilização envolveu também o movimento estudantil, a imprensa regional, entidades de classe como Clubes de Dirigentes Lojistas, lideranças religiosas , sindicatos e toda comunidade civil. Todo o movimento em torno de um ideal foi fundamental, já que a proposta da UFRB concorria com diversos projetos de novas universidades pelo Brasil. Um momento decisivo foi a reunião da Comissão de Educação da Câmara Federal, realizada aqui, na então Escola de Agronomia, em 17 de Outubro de 2003. “Foi um marco nesse processo. Vieram parlamentares da Bahia, de outros estados, de vários partidos. Para essa reunião foi convidado o então ministro do Trabalho Jaques Wagner, para quem foi entregue o projeto”, conta o professor Silvio Soglia, na época integrante da Comissão de Implantação e hoje Vice-reitor. Em 2005, o projeto foi aprovado no Congresso Nacional e em 29 de Julho do mesmo ano o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sanciona a Lei nº 11.151, que cria a UFRB.


O Ato de Criação da UFRB Sob o sol do Recôncavo, diante do prédio principal da antiga escola de Agronomia, mais de 10 mil pessoas, vindas de toda a região, viviam um dia histórico. Foi em 21 de março de 2006, ato solene de criação da UFRB. Era a concretização de um anseio popular, e a coroação de um árduo trabalho realizado. O Presidente da República, ministros, prefeitos, representantes da UFBA e da UFRB, lideranças e autoridades saudaram a multidão, e reafirmaram a importância daquele momento. “A criação dessa universidade simboliza a reparação de uma injustiça histórica com o povo baiano” Orlando Peixoto, Prefeito de Cruz das Almas “Hoje um sonho se realiza. Não é o sonho de uma pessoa, mas o sonho de muitos, é o sonho de várias gerações, o sonho de toda uma região.” Naomar Monteiro, Reitor da UFBA “Esperamos construir uma Universidade solidária, participativa e socialmente referendada.” Jason Ferreira, Representante dos estudantes da UFRB “É um prazer enorme estar aqui nesse momento. Essa nação tem compromisso com a sua redenção, com o pagamento das dívidas históricas, e a redenção para o futuro, para fazer dessa nação uma nação de gente, uma nação mestiça, profunda, alegre, satisfeita, uma nação de festa, trabalho e pão” Gilberto Gil, Ministro da Cultura em 2006 “O maior legado que um pai ou uma mãe, por mais rico que seja, ou por mais pobre que seja, pode deixar para um filho é a sua formação. Assim como o maior legado de um governo é a criação de escolas.” Lula, Presidente da República Sede da reitoria da UFRB. Foto: Prof. Celso Borges


“A UFRB foi criada com a participação de toda a comunidade do Recôncavo. Isso, pra mim, foi o ponto mais importante e diferente das demais universidades criadas na época. Foram marcantes aquelas discussões, as audiências públicas. Quando chegávamos às cidades éramos recebidos com fogos, por toda a comunidade. Isso mostrou que o ato que estávamos construindo teria que avançar. E hoje, depois de cinco anos, temos uma universidade referenciada por toda a região. O diferencial maior do Recôncavo, hoje, é a UFRB, porque ela vai crescer junto com essa região. Foi uma luta de todos, e isso é o que fica. Essa participação do povo e de toda a comunidade.” Professor Mesquita, Vice-Reitor da UFBA e Presidente da Comissão de criação e implantação da UFRB.

‘“A comissão começou o trabalho fazendo estudos, levantamento de dados econômicos e sociais. Depois começaram as audiências públicas, quando cresceu a vontade da população, o interesse muito grande, todos engajados nessa bandeira. Os funcionários conseguiram garantir mais participação na gestão da universidade. Houve um grande avanço nisso, uma valorização dos servidores técnico-administrativos no processo de implantação da UFRB. Foi uma grande realização e a nossa expectativa continua. Seguimos otimistas, ansiosos por esse processo de construção e implantação. Vejo a UFRB de forma muito positiva, cumprindo suas metas, crescendo para atender as necessidades do Recôncavo, e sinto muito orgulho de ter participado.” Edson Santana, representante do corpo técnico-administrativo na Comissão de criação e implantação da UFRB.

“Participei da Comissão de Estudos para a Viabilização da Implantação da UFRB. As reuniões, na maioria das vezes, eram em Salvador, com freqüência quinzenal. Nessa comissão não houve grandes embates e todos tinham o mesmo objetivo. O maior impasse era a definição dos cursos ligados à área de saúde, que defendíamos ficar em Santo Antônio e havia outra proposta para ficar em Cruz das Almas. Também participei da segunda comissão, formada para a construção do Estatuto da UFRB. Nesta tivemos vários impasses em assuntos que interessavam diretamente aos estudantes e funcionários, e houve uma coalizão entre essas categorias. Foi uma honra ser estudante e participar destas Comissões, das discussões, de poder inserir o Recôncavo baiano no cenário nacional da educação, defendendo os interesses dos estudantes que ainda estavam por vir e de poder contribuir para minimizar as desigualdades educacionais na Bahia. Hoje quando vejo essa ‘pequena gigante’ sou tomado por uma deliciosa sensação de dever comprido.” Amistander José dos Santos Engenheiro Agrônomo


Comissão responsável pelos estudos gerais, necessários à implantação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Portaria No 521/04 de 22 de dezembro de 2004 – UFBA/Gabinete do Reitor) Francisco José Gomes Mesquita Presidente da Comissão, Vice-Reitor Benedito Marques da Costa Professor titular, Escola de Agronomia João Lamarck Argolo Professor adjunto, Instituto de Geociências Maria Hilda Baqueiro Paraíso Professora adjunta Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Paulo Gabriel Soledade Nacif Diretor da Escola de Agronomia Paulo de Arruda Penteado Filho Professor adjunto, Escola de Administração Edson de Jesus Santana Representante do corpo técnico-administrativo Amistander José dos Santos Representante do corpo discente Alan Oliveira Santos Representante do corpo discente

Comissão elaboradora dos subsídios para criação e implantação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Portaria No 251/03 de 09 de julho de 2003 – UFBA/Gabinete do Reitor)

Francisco José Gomes Mesquita Presidente da Comissão, Vice-Reitor Benedito Marques da Costa Professor titular, Escola de Agronomia João Lamarck Argolo Professor adjunto, Instituto de Geociências Maria Hilda Baqueiro Paraíso, Professora adjunta da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas Paulo Gabriel Soledade Nacif Professor adjunto e Diretor da Escola de Agronomia Paulo de Arruda Penteado Filho, Professor adjunto da Escola de Administração Walrli Anjos de Souza, Escola de Agronomia Weliton Antônio Bastos de Almeida, Professor adjunto da Escola de Agronomia Edson de Jesus Santanak, Representante do corpo técnico-administrativo Antônio Gabriel Pinto Júnior, Representante do corpo discente Gustavo Eduardo Rocha Machado, Representante do corpo discente

Representantes das Comissões Municipais em prol da Criação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Raul Lomanto Neto Representante do Município de Amargosa Gildete Calumbi da S Moura Representante do Município de Cachoeira. Orlando P. Pereira Filho Representante do Município de Cruz das Almas Hipólito de Brito Representante do Município de Nazaré Jorge Portugal Representante do Município de Santo Amaro Clóvis Ezequiel Santos Representante do Município de Santo Antônio de Jesus Martiniano José Costa Representante do Município de Valença

Hoje quando vejo essa ‘pequena gigante’ sou tomado por uma deliciosa sensação de dever comprido.”


Prof. Geraldo Costa, Prof. Silvio Soglia, Prof. Paulo Gabriel Nacif

O esforço

O desejo de tornar o campus da Escola de Agronomia da UFBA em uma universidade autônoma é antigo e a sustentação à proposta foi o movimento da sociedade do Recôncavo. O projeto da UFRB foi elaborado durante o período das audiências públicas, resultado das discussões, e à medida que o movimento foi crescendo as pessoas passaram a acreditar. Era impressionante a participação das pessoas. Eram centenas, que se deslocavam para as audiências e reuniões. Foi um movimento da sociedade civil organizada: estudantes, sindicatos, organizações civis como OAB, CDL’s, igrejas, lideranças políticas. A presença da universidade no Recôncavo trouxe uma renovação da esperança de uma retomada do crescimento desta região. Todos os investimentos que foram feitos e a velocidade com que a universidade foi instalada trouxeram um novo ciclo de desenvolviFoto de Cristiano Gonveia, GRAER-BA mento, tanto econômico quanto social. Do ponto de vista pessoal, é uma satisfação enorme ter participado da construção de algo tão significativo para os jovens e para o futuro de toda a população desta região e da Bahia. O Recôncavo tem uma identidade e a universidade tem toda afinidade com isso, em torno das suas atividades, suas políticas, suas ações. É gratificante

ver que esse movimento todo deu certo. A universidade é uma realidade, e o que precisamos fazer daqui pra frente é consolidar e melhorar cada vez mais. Professor Silvio Soglia Vice-reitor da UFRB

O primeiro concurso em Cruz das Almas O primeiro concurso para professor, realizado em Cruz das Almas, teve mais de 500 inscritos, para o preenchimento de mais de 50 novas vagas docentes. “No primeiro concurso realizado em Cruz das Almas, em 2008, houve um colapso na agência dos correios da cidade. Foram mais de 500 inscrições, pelo correio, currículos de mestres e doutores em quatro ou cinco cópias enviados por sedex, do Brasil todo. Também se esgotaram totalmente as vagas de hospedagem na cidade. Era preciso abrigar os candidatos, os professores das bancas examinadoras, parentes e acompanhantes. As hospedarias de Cruz das Almas não deram conta de tanta gente.” Professor Geraldo Costa

Encontrar locais para início das aulas dos novos cu que só foi possível graças às importantes parcerias c


o valeu a pena para a consolidação do projeto Quando eu cheguei por aqui... A UFRB iniciou suas atividades em 2005, sob a tutoria da UFBA durante seu primeiro ano, assegurando a transição administrativa e acadêmica necessária para uma universidade que foi criada em pleno funcionamento. Em 2006, a UFBA foi parceira na coordenação do primeiro concurso de professores para a UFRB e também no primeiro vestibular para a nova universidade. Aos quatro cursos existentes na antiga Escola de Agronomia, somaram-se mais nove cursos nos campi de Santo Antônio de Jesus, Amargosa e Cachoeira. Era necessário assegurar as condições de funcionamento para os novos cursos, incluindo instalações, espaço físico, professores, materiais e estrutura administrativa. Exigiu-se, para isso, um trabalho intenso em todos os sentidos, dado o tamanho da tarefa e um prazo muito curto. Encontrar locais para início das aulas dos novos cursos foi outra grande tarefa, que só foi possível graças às importantes parcerias com o estado e prefeituras. Em Cachoeira, Santo Antônio de Jesus e Amargosa, os cursos começaram em salas de escolas municipais e estaduais, enquanto ainda se iniciava a construção e reforma de prédios para instalações definitivas. O esforço valeu a pena para a consolidação do projeto UFRB, ao passo que demonstrou, mais uma vez, o compromisso da região com a nova universidade. No dia 3 de Julho de 2006, o professor Paulo Gabriel assume a reitoria pro-tempore da universidade, sendo o professor Silvio Soglia, vice-reitor.

ursos foi outra grande tarefa, com o estado e prefeituras.

Vista aérea de Cruz das Almas. A chegada da UFRB impulsiona o mercado imobiliário e as cidades do Recõncavo crescem. Foto do Capitão Cristiano Gouveia, GRAER-BA


Se a vaga à pres “...hoje, nos seus 60 anos, a UFBA recebe a comunidade baiana para a posse do Reitor da segunda Universidade Federal da Bahia, a nossa UFRB. Ser sujeito dessa história é um imenso orgulho e faço, associado ao Professor Silvio Soglia e em nome da comunidade acadêmica que nasce, um solene juramento de que buscaremos honrar esta tradição.” “...hoje começamos corrigir um grave desrespeito da federação brasileira para com a Bahia. É inadimissível que durante o século XX, numa evidente quebra do pacto federativo, a Bahia tenha sido tratada como um Estado de segunda categoria no que diz respeito a investimentos federais no ensino superior.” “No passado, as tribos indígenas buscaram resistir heroicamente à invasão de suas terras. No passado, os diferentes povos lutaram pelo direito ao exercício da sua fé; os negros lutaram pela liberdade; o Recôncavo foi pioneiro na luta pela independência da Bahia e do Brasil; Fomos pioneiros na América Latina pela criação de uma instituição superior de ensino de ciências agrárias; fomos pioneiros na produção de Petróleo e na luta pela nacionalização desta riqueza; lutamos contra o autoritarismo. Então pelo que poderiam lutar os homens e mulheres de hoje? “Com suas diferentes visões de mundo, eles lutam por muitas coisas, mas resolveram honrar a nossa tradição de maneira muito especial e se uniram em torno da construção de uma Universidade.” Não podemos esquecer: O ensino, a pesquisa e a extensão são importantes porque por meio deles a univer-

sidade ajuda a elevar a existência do ser no mundo. Mas devemos estar atentos: nós, professores, servidores, estudantes, cientistas, técnicos, cidadãos, somos os produtos verdadeiramente preciosos que são oferecidos à sociedade e nós, com a vontade de potência, nossa força humana, somos capazes de enriquecê-la e melhorá-la. Esse é o nosso papel, gerar pessoas, nos gerar, nos construir permanentemente e nos oferecer cada vez melhores à sociedade em que estamos inseridos e que nos mantêm. “Os nossos desafios são imensos, mas enfrentaremos com honra, dignidade e orgulho. Esperamos que a UFRB se torne uma musa libérrima e audaz, inspiradora para muitos professores, estudantes, servidores, homens e mulheres que queiram ser sujeitos da história, que deve ser percebida também como um constante vir a ser. E, assim, possamos, inspirados por essa musa, ressaltar a existência das pessoas e das coisas que não têm voz. Esperemos o falar da nossa musa, como pediu Castro Alves à Eugênia Câmara: “Se a estrela se cala, Se a vaga à pressa resvala Como um cúmplice fugaz, Perante a noite confusa... Dize-o tu, severa musa, Musa, libérrima, audaz!”” Trechos do discurso de posse do Professor Paulo Gabriel como Reitor pro-tempore da UFRB 3 de Março de 2006


“Se a estrela se cala, ssa resvala Como um cúmplice fugaz,

década de 40. A implantação em Cruz das Almas da Escola de Agronomia


O crescente número de alunos exigiu a construção de novos espaços que abrigassem não só salas de aula, mas toda a estrutura deREUNI funcionamento.

O REUNI é o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, criado pelo Decreto nº 6.096, de 24 de Abril de 2007. Trata-se de uma ampla ação do governo federal, que visa disponibilizar recursos para que as instituições possam melhorar a qualidade dos cursos de graduação, a infra-estrutura física e os recursos humanos. Assim, as universidades que aderiram ao programa estão comprometidas em aumentar o número de vagas, ampliar ou abrir cursos noturnos, reduzir o custo por aluno, flexibilizar os currículos e combater a evasão escolar. (fonte: http://pde.mec.gov.br)

A recuperação do patrimônio herdado da UFBA foi uma das ações do plano de expansão e reestruturação da UFRB.


Só quero saber do que pode dar certo... Desde a sua implantação a UFRB viveu um período de intenso crescimento. Com cursos herdados da antiga Escola de Agronomia, a universidade, em 2010, já contava com 35 cursos. O crescente número de alunos exigiu a construção de novos espaços que abrigassem não só salas de aula, mas toda a estrutura de funcionamento. Em Cachoeira, esse espaço foi criado a partir da reforma do prédio conhecido como quarteirão Leite Alves, onde originalmente funcionou uma fábrica de charutos com o mesmo nome. O prédio histórico, patrimônio arquitetônico da cidade, foi restaurado através do Programa Monumenta, do governo federal, através do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Os Campi de Cruz das Almas, Amargosa e Santo Antônio de Jesus ganharam pavilhões de aulas inteiramente novos, além de residências universitárias e prédios administrativos.

O REUNI na UFRB A adesão ao REUNI – o plano de reestruturação das universidades federais (veja quadro) - em 2007, trouxe novas possibilidades para o crescimento e consolidação da UFRB. O programa garantiu os recursos necessários para investimentos em estrutura física, contratação de professores e servidores e criação de novos cursos. Significou ainda a ampliação de políticas de acesso e permanência, fortalecendo o projeto de uma UFRB inclusiva, solidária, um espaço de geração de conhecimento e participante do desenvolvimento da sociedade em que está inserida. Mesmo trazendo a tradição de mais de um século desde a Imperial Escola Agrícola, a UFRB é uma universidade nova, e, pode-se dizer, em processo de nascimento. Esses cinco anos de implantação significam a consolidação inicial de um projeto, os primeiros passos de uma caminhada. O que foi construído e conquistado até aqui já faz da UFRB uma realidade e demonstra a força das possibilidades para o futuro.


PELOS CAMINHOS AMARGOSA Cidade-jardim, encontro do recôncavo com o sertão e tradição educacional. Através da cultura e educação, Amargosa busca um novo desenvolvimento. “Vamos às amargosas”, diziam os caçadores que apreciavam as pombas de carne amarga, encontradas naquelas redondezas. E assim se criou o nome da cidade, no século XIX. Encontro do sertão e do recôncavo, a cidade surgiu e cresceu com o ciclo do café e também por ser um importante ponto na rota entre o semi-árido e o litoral. Por reunir diferentes características naturais, climas e culturas que participaram da sua

formação, Amargosa traz a marca da diversidade. Uma multiplicidade que aparece tanto na sua geografia quanto na sua população, hábitos, expressões e festas populares. Amargosa une, é caminho e passagem, entrada e saída, abrigo de muitos povos e manifestações. É, portanto, diálogo, interação e convivência. Sua história, povo e cultura são orgulhos de sua gente, que olha para o futuro com alegria e confiança.

Am e pa da, ab


margosa une, é caminho assagem, entrada e saíbrigo de muitos povos e manifestações.

As praças bem cuidadas são cartões postais de Amargosa


A universalização do ensino exige uma escola de da sociedade. Nesse cenário, a formação de ticas públicas, recursos e práticas pedagógi Cidade jardim O planejamento paisagístico é uma marca de Amargosa desde o seu surgimento como centro urbano. Praças bem cuidadas e ruas arborizadas podem ser vistas por toda parte. A tradição de uma cidade ornamentada surgiu com a riqueza do ciclo do café, sob influência de modelos de planejamento que andavam na moda na Inglaterra no início do século XX. Mas também revela uma forte ligação com a natureza, proporcionando à cidade um ambiente acolhedor e harmonioso.


a capaz de atender toda a pluralidae professores, a gestão da escola, políicas são questões urgentes. A UFRB em Amargosa A Diocese de Amargosa, criada em 1941, demonstra a importância econômica e política da cidade no início do século XX. A Diocese estendia-se do Recôncavo até o norte de Minas Gerais, abrangendo, na época, uma população de 800 mil habitantes. A Igreja Católica fundou na cidade o Colégio Sacramentinas, iniciando a forte tradição educacional da cidade. A escola recebia alunas de diversas cidades, desde as mais próximas a Amargosa como mais distantes como Jequié e Vitória da Conquista. Durante seu funcionamento, entre os anos de 1953 e 1973, o Curso Pedagógico, como era chamado, formou 455 professoras, que atuaram em toda a região. Essa trajetória do ensino inspirou a presença de Amargosa no projeto de criação da UFRB. O Centro de Formação de Professores atende ao perfil histórico e cultural da cidade, bem como à necessidade de formação superior para os profissionais de educação de Amargosa e região.

Prédio onde funcionou o Colégio Sacramentinas no Sec. XX


A universalização do ensino exige uma escola capaz de aten ciedade. Nesse cenário, a formação de professores, a gestão d recursos e práticas pedagógicas são questõ

Coração de Estudante Formação consistente e compromisso social para a prática educativa. O pensamento do CFP. “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.” Paulo Freire Educar é ação política. É tentar possibilitar a inserção de todos na sociedade da informação e do conhecimento. Caminho para emancipar o ser humano em um mundo onde o saber é também poder. São muitos os desafios a serem enfrentados por quem se propõe a atuar em educação. A universalização do ensino exige uma escola capaz de atender toda a pluralidade da sociedade. Nesse cenário, a formação de professores, a gestão da escola, políticas públicas, recursos e práticas pedagógicas são questões urgentes. Da alfabetização à educação de adultos, há muito a fazer. Aos educadores e educadoras é exigido muito mais que o conhecimento de suas áreas e disciplinas. Espera-se


nder toda a pluralidade da soda escola, políticas públicas, ões urgentes.

“Ser professor é um desafio em todos os aspectos. O principal é conscientizar os jovens sobre a importância do conhecimento. O CFP já começou a mudar a realidade da educação em nossa região. Além da formação dos professores, temos um trabalho direto com alunos de todos os níveis de ensino, promovendo a melhoria da educação para a região inteira”. Davi Barreto, Aluno do CFP “A inclusão e a formação de professores são os grandes desafios da educação, hoje em dia. Isso exige a atuação da universidade bem como a articulação com as políticas públicas. O maior objetivo deve ser um ensino de qualidade, que trabalha com a perspectiva de cada aluno, da sua realidade e suas necessidades.” Josilândia Barreto , Aluna do CFP “É a garantia para buscar um futuro melhor, uma expectativa de desenvolvimento como pessoa, bem como a busca de uma profissão. As pessoas precisavam migrar para ter uma universidade. A expectativa muda para os jovens e o pessoal já tem essa visão. Temos a vontade de entrar na universidade, ingressar no mundo acadêmico e evoluir.” Tiago Oliveira, Aluno do ensino médio


A UFRB, através do Centro de Formação de Professores, história da educação no recô Aos educadores e educadoras é exigido muito mais que o conhecimento de suas áreas e disciplinas. Espera-se também a compreensão dos caminhos pelos quais se aprende, para uma prática pedagógica que considere o aluno em sua historicidade e promova aprendizado de forma dialógica. Mais ainda: a consciência do seu papel social, considerando a educação um processo de inserção que deve trazer em si mais que a reprodução de estruturas e valores, mas o questionamento e a mudança. A UFRB, através do Centro de Formação de Professores, pretende oferecer sua contribuição na história da educação no recôncavo. Instalado em Amargosa, lugar que tem o traço da diversidade, interagindo com nossa cultura, caminhamos para a construção de uma nova realidade educacional, que traga o sonho de garantir a cada cidadão o direito à participação e à cidadania de forma plena, crítica e transformadora.

Jabes Francisco Andrade Silva

Susana Pimentel


, pretende oferecer sua contribuição na ôncavo. “No CFP buscamos a formação do professor em parceria com a escola bá­sica. Nosso aluno está aprendendo em contato com o “chão da escola” desde o primeiro momento do curso, vivenciando o espaço escolar e conhecendo de perto a realidade da educação. Procuramos implementar um currículo onde teoria e prática caminham juntas, para for­mar um professor comprometido com a educação pública e com a resolução dos problemas existentes na educação local. O CFP tem características de um Centro multidisciplinar, porém objetivamos a for­mação interdisciplinar do estudante que aqui ingressa, propiciando a ele a convi­vência e o diálogo com diferentes áreas do conhecimento num mesmo espaço. Ou­tro aspecto importante é o compromisso com a cultura local. Pretendemos formar um professor conectado com o mundo globaliza­do e vinculado ao seu espaço territorial.” Susana Pimentel, Professora do CFP

“O Brasil é uma potência econômica com um projeto de educação muito frágil. As classes populares chegaram à escola, a escola se abriu, se democratizou, mas nunca se preparou para esse público. Quanto mais a escola for democratizada mais a sua tarefa política fica complexa. Nosso papel de universidade é fundamental, não apenas em formar professores, mas colaborar para o desenvolvimento de políticas públicas. Temos que pensar na formação de um professor para os valores da vida pública, que possa trabalhar em prol de uma realidade menos desigual. Nosso aluno vai enfrentar as diversas situações de ensino, estará nas secretarias de educação, publicarão livros. Pensamos em um profissional comprometido com a sociedade, com clareza crítica, com visão política, que possa atuar nesse mundo de maneira criativa, desafiadora e corajosa.” Alessandra Gomes, Professora do CFP

“O educador, de qualquer disciplina, deve ter um leque aberto, ampliar seus horizontes, pensar no conhecimento de mundo, no ser cidadão. Muito mais que conteúdos, o professor é um exemplo para o seu aluno.” Jabes Francisco Andrade Silva , Professor do CFP Alessandra Gomes


Um novo ciclo na economia da cidade, e o significado da nova universidade na cultura e na educação. Os impactos da UFRB em Amargosa. Eu e você, Você e eu. Um novo ciclo na economia da cidade, e o significado da nova universidade na cultura e na educação. Os impactos da UFRB em Amargosa. “A chegada da UFRB trouxe uma mudança substancial na economia de Amargosa, que retomou seu crescimento nos últimos anos. Além disso a universidade se insere na nossa tradição na educação, que é um dos nossos valores mais importantes, e a UFRB traz novamente o desenvolvimento educacional e cultural para a nossa cidade.” Miguel Silva, Professor e historiador “A universidade trouxe crescimento em vários aspectos, desde econômicos até sociais e culturais. Eu destaco essa alavancada cultural, e a UFRB desmistifica, mostra que a universidade não é só de quem está estudando, mas de toda a sociedade. A universidade ajuda a promover e difundir não apenas os saberes, mas os fazeres culturais. A UFRB vem somar muito para Amargosa.” Ivan Couto, Artista plástico

“A UFRB é um marco importante da história de Amargosa. Mais importante que a questão econômica é a própria inserção da universidade na sociedade. Desde 1962 Amargosa tinha um projeto de um centro de formação de professores de nível superior e isso se concretiza com a UFRB, uma universidade que nasceu com essa proposta de mudança, de resgatar um débito histórico que a sociedade tem com o Recôncavo. A UFRB é um exemplo para o Brasil, porque a comunidade regional discutiu, clamou por isso e foi à luta. Eu me orgulho muito de ter participado do processo e toda vez que eu falo, me emociono.” Valmir Sampaio, Prefeito de Amargosa

Ivan Couto


Raul Lomanto. Foto do arquivo pessoal

Valmir Sampaio

Miguel Silva

“A UFRB é fruto de uma luta, é uma conquista do povo do recôncavo. Todo mundo fala da nossa cultura, do saber, da dança, da história, mas é um povo excluído de tudo. A UFRB é um novo 2 de Julho, dessa vez para inserir, incluir uma população, entendendo as diferenças e trabalhando para que essas diferenças se somem. A UFRB já nasce com essa grandeza, como o maior símbolo da união do recôncavo”. Raul Lomanto, Engenheiro agrônomo


PELOS CAMINHOS CACHOEIRA E SÃO FÉLIX O verde das montanhas, as fachadas coloridas das casas e sobrados projetam-se nas águas do rio Paraguaçu tal qual uma pintura. E realmente, a paisagem e sua projeção nas águas formam um conjunto que impressiona os olhos. Pelas ruas de pedra vemos as cores, enfeites nas fachadas, portas e janelas. Os séculos foram pousando nas paredes, nos telhados, varandas e alpendres. Imagem que nos reporta a outras épocas, mas não é máquina do tempo, nem imagem de filme. É uma cidade. Duas aliás. Estamos em São Félix e Cachoeira. Arquitetura feita de história e que nos

conta histórias. Pelas esquinas, pelas calçadas, pelas ruas estreitas caminharam vidas, riquezas, escravidão, resistência, encantos e desencantos, fé e festa. Tudo junto. Tudo muito intenso e vivo. Passado, presente e futuro misturando-se não necessariamente nessa mesma ordem. É assim que este lugar se exibe aos que passam. Sua beleza, seu povo, seu passado construíram esse cenário. É bonito de se ver, conhecer, andar, provar. Estar em Cachoeira e São Félix é sentir mais intensamente o Recôncavo, como se fez e o caminho percorrido até aqui.

É assim que este lugar se exibe aos que passam. Sua beleza, seu povo, seu passado construíram esse cenário.


Foto: Igor Fraga


Importante centro urbano e econômico desde a colon Cachoeira e São Félix se tornaram exemplos da confluê culturas que formam o recôncavo.

A modernidade e a tradição nas ruas de Cachoeira

Produção de charutos em São Félix


nização, ência de

Cachoeira e São Félix estão entre as primeiras cidades do Recôncavo, surgidas no início da colonização do Brasil. Em 1534 os portugueses chegaram a essas terras, então ocupadas pelos índios tupinambás, para dar início às plantações de canade-açúcar. As duas cidades são protagonistas de momentos marcantes da história. Em 1822, a Câmara de Vereadores de Cachoeira proclamou D. Pedro I “Príncipe Regente do Brasil”. Uma atitude de rebeldia ao colonialismo português. Nesse mesmo momento, iniciou-se a resistência aos portugueses, quando batalhões de diversos municípios vizinhos, organizados pelas câmaras municipais e pelos senhores de engenho, se concentraram e tomaram um navio de

guerra português ancorado no rio Paraguaçu. Este é considerado um marco das lutas que consagraram a independência da Bahia em 2 de Julho de 1823. Em reconhecimento, o governo do estado é sediado em Cachoeira todos os anos no dia 25 de Junho, data do início do movimento. Importante centro urbano e econômico desde a colonização, Cachoeira e São Félix se tornaram exemplos da confluência de culturas que formam o Recôncavo. Assim, apresentam um grande mosaico das manifestações criadas e desenvolvidas na região. Religiosidade, música, culinária, arquitetura. Uma mistura que traz a história, beleza e resistência dos vários povos que geram a alma desse lugar.


A cidade de Cachoeira foi tombada pelo IPHAN e o segundo maior conjunto arquitetônico histór Irmandade da Boa Morte – As Irmandades eram grupos de leigos católicos muito comuns até o século XIX. Em locais de forte influência afro-descendente, a manifestação incorpora elementos sincréticos aos seus rituais. Essas organizações perderam força durante o século XX, mas a Irmandade da Boa Morte, exclusivamente feminina, resiste ao tempo, mantendo suas tradições. A festa da Irmandade acontece no mês de Agosto, atraindo uma multidão de fiéis e turistas para a cidade.

O patrimônio arquitetônico A cidade de Cachoeira foi tombada pelo IPHAN em 1971. A cidade tem o segundo maior conjunto arquitetônico histórico do Brasil, depois de Ouro Preto-MG. São Félix tem seu processo de tombamento em curso. Casas, prédios, Igrejas, a ponte Dom Pedro II, formam uma paisagem arrebatadora e um valioso patrimônio da Bahia e do Brasil. Mulhheres da Boa Morte preparam se pra procissão. Foto: Jomar Lima


em 1971. A cidade tem rico do Brasil

Conjunto Museo do Convento do Carmo


A UFRB em São Félix e Cachoeira O CAHL – Centro de Artes, Humanidades e Letras, está localizado em Cachoeira, no quarteirão Leite Alves. O prédio, que no século XIX era a Fábrica de Charutos Leite & Alves, foi restaurado através do programa Monumenta, do Ministério da Cultura e IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Conta com salas de aula,

laboratórios, salas de vídeo, auditório, biblioteca e praça de convivência. Em São Félix, foram doados prédios para abrigar anexos (pavilhão de laboratórios) do CAHLUFRB. A cidade também é sede da residência estudantil da universidade.

CAHL, Pensamento e palavra Não é por acaso que Cacho- dos das artes e das humanidades. A eira e São Félix abrigam o Centro maneira como nossa organização sode Artes, Humanidades e Letras cial avança traz uma complexidade da UFRB. A trajetória histórica e a nova. A globalização, comprimindo diversidade do seu povo e das suas tempo e espaço, impõe a tudo uma manifestações fazem das duas cida- escala e velocidade vertiginosas. des um local claramente harmoni- Compreender as relações sociais e zado com nossas áreas de ensino. as expressões humanas nesse con O mundo contemporâneo texto requer novos olhares, novas traz desafios inéditos para os estu- sensibilidades.


O recôncavo é um museu ao ar livre. Temos essa imensa diversidade de patrimônio e a universidade busca entender a região nesse contexto. “O recôncavo é um museu ao ar livre. Temos essa imensa diversidade de patrimônio e a universidade busca entender a região nesse contexto. Preservar o patrimônio é preservar o ser humano. É o ser humano que faz o patrimônio. O aprendizado é sobre o homem, quem é, e o que faz. O que fica é a sua experiência, orgulho, vivência, sua história de vida. Patrícia Verônica, Professora do CAHL

“Arte e comunicação tem um imbricamento muito grande e ambíguo. A arte contemporânea propõe discutir a sociedade da informação, suas relações, ditames e estereótipos. Isso tem um impacto, porque problematiza e desestrutura. O maior paradigma da contemporaneidade é a inclusão. Como incluir os excluídos. Uma universidade pode trazer essa democratização, quando permite que pessoas das camadas populares, das comunidades carentes entrem no ensino superior. Essa produção acadêmica e artística vai trazer essas diferenças, essas experiências e uma problematização social por esses sujeitos. Um avanço que vai propor para que a sociedade mude.” Júlio Sanches, Aluno do CAHL


Responder a esse admirável mundo novo é a pista para a construção do conhecimento e formação das pessoas em nosso centro. Responder a esse admirável mundo novo é a pista para a construção do conhecimento e formação das pessoas em nosso centro. O profissional ou estudioso que temos como horizonte deve estar pronto para a diversidade e para o múltiplo. A realidade nos impõe a ciência e a arte como instrumentos de ação. Ação numa sociedade que não espera, mas se organiza e pressiona. Arte e expressão da pluralidade sob o risco permanente da hegemonia e da uniformização trazido pela cultura de massa. O CAHL-UFRB busca estar pronto para esta tarefa. Sabemos que, para isso, devemos estar atentos e flexíveis ao que se transforma permanentemente. A exuberância artística e humana dessas duas cidades nos oferece uma força e ambiente singulares para que a UFRB, através do CAHL, seja uma universidade integrada à sociedade. Assim, poderá interagir e preparar os mediadores para o desenvolvimento, a cidadania, a igualdade e a manifestação plural e subjetiva do ser humano na sua vida em comunidade.

Vista Interna do Centro de Artes, Humanidades e Letras.


‘Inserido em um conjunto arquitetônico único que traz visitantes do mundo inteiro, o Centro de Artes, Humanidades e Letras da UFRB tem a ambição de mergulhar nas raízes múltiplas deste berço da nação brasileira que é o Recôncavo da Bahia; participar ativamente, através de ensino, pesquisa e extensão, da emancipação de comunidades historicamente discriminadas, promovendo mudanças sócio-econômicas e oferecendo oportunidades novas, com base na excelência acadêmica, para os jovens desta terra; desenvolver as mais diversas formas de arte em uma região cuja produção artística e cultural conta entre as mais significativas do país e, enfim, abrir-se para o mundo, através de convênios com universidades dos cinco continentes, aproveitando o potencial de atração acadêmico e científico que o Recôncavo da Bahia exerce cada vez mais. Com a força e o axé do povo determinado e lutador do Recôncavo, tenho certeza que conseguiremos alcançar esses ambiciosos objetivos!’ Xavier Vatin, Professor do CAHL

“Vivemos uma crise nos padrões de sociabilidade. As ciências sociais aplicadas tem importância fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas capazes de reverter esse quadro de aprofundamento das desigualdades e das diferentes formas de dominação. Essa efervescência cultural e política que o recôncavo nos apresenta, propicia novas descobertas e articulações com a comunidade. Buscamos fazer uma pesquisa que seja mais que uma descrição, e que tenha um caráter de proposição, no sentido de melhorar as condições de vida no recôncavo.” Valéria Miranda, Professora do CAHL

Xavier Vatan

“O desafio da história, hoje, é dar espaço e voz aos grupos que ao longo do processo histórico foram colocados como subalternos. Mudando o espaço que as pessoas podem ocupar na sociedade, a UFRB pode contribuir de forma significativa com a mudança econômica e social do recôncavo.” Lucas Café , Aluno do CAHL

Lucas Café


A universidade trouxe um diálogo para o recôncavo. Essa refle o recôncavo seja um consórcio, que cada espaço tenha o seu sabor sua vocação. Eu e Você, Você e eu. Os impactos da UFRB em Cachoeira e São Félix. Muito mais que contribuir para a economia local, a universidade mudou costumes e trouxe novas possibilidades para a educação dos jovens e maneiras de se compreender a própria realidade do povo e do lugar. “Nesse momento, a maior contribuição da universidade é nos costumes. O recôncavo é lindo, mas tem seu lado careta, que é a expressão senhorial. A presença dos jovens que vêm pra cá, mexe com os olhares, pois eles trazem o que há de mais contemporâneo, que é a construção do conhecimento. Os meninos e meninas estão nas nossas ruas, se divertindo, e a rua é o lugar da liberdade. Isso fortalece o discurso da resistência, para que nossas relações sociais se equilibrem mais, pois as famílias daqui querem que seus filhos entrem na universidade também, um espaço da elite sendo vivenciado, sendo questionado de outra maneira. Só um grupo muito grande de estudantes pode trazer essa contribuição, essa provocação, elevando o nível de discussão sobre a região, com conhecimento científico e sistematizado.” Pedro Arcanjo Diretor do Centro Cultural Dannemann

“O impacto mais direto é na economia da cidade, no comércio, no setor imobiliário. Mas o mais importante é que a universidade criou uma situação favorável ao desenvolvimento cultural, percebendo a cultura ao lado da educação. Eu vejo pessoas da periferia da cidade estudando na UFRB, possibilitando a inserção desses jovens para participar e contribuir com uma cidade viva. Isso é sinônimo de desenvolvimento. A universidade trouxe um diálogo para o recôncavo. Essa reflexão para que o recôncavo seja um consórcio, que cada espaço tenha o seu sabor, seu poder e sua vocação. A UFRB tem provocado isso, dentro do limite de uma jovem de cinco anos que agora começa a falar.” João Moraes, Poeta


exão para que r, seu poder e

Fernando Pereira

Pedro Arcanjo

‘“Cachoeira passa por um novo momento com a chegada da universidade. Precisamos nos moldar a isso e a universidade também precisa se moldar à vida da cidade. A universidade tem muito a contribuir para a nossa vida social. A UFRB é uma conquista para todo o recôncavo. Temos a marca das nossas lutas, iniciamos aqui a guerra pela independência do Brasil e a universidade, com certeza, foi uma das coisas mais importantes da história de Cachoeira. Queremos uma universidade parceira e presente na vida dos cachoeiranos”. Fernando Pereira (Tato) Prefeito de Cachoeira “A universidade trouxe alunos, professores, uma movimentação e uma dinâmica novas para a cidade. A presença da UFRB transformou a educação em nosso município. Estamos trabalhando para que os nossos jovens possam entrar na universidade preparados, em condições plenas para essa trajetória. A UFRB é de todo o recôncavo, e nós queremos que a nossa juventude se beneficie com a oportunidade do ensino superior.” Alex Aleluia, Prefeito de São Félix O prédio do CAHL foi recuperado pelo programa Monumenta IPHAN

Alex Aleluia


O poeta das imagens Damário Dacruz, nascido em Salvador, escolheu Cachoeira para viver e também realizar seu sonho: um local dedicado à arte e poesia, ao qual chamou Pouso da Palavra. Damário participou ativamente do processo de implantação da UFRB, sendo um atuante representante da comunidade na mobilização em prol da nova universidade. Seu apoio foi do cidadão e artista que colocou sua obra a favor da valorização da cultura do Recôncavo. Jornalista, fotógrafo e poeta, fez arte combinando palavra e imagem, sempre expressando sua terra, gente, tempo e sentimentos. Precocemente, aos 56 anos, Damário partiu em 2010, deixando-nos, em suas criações, o olhar único e uma sensibilidade sempre reveladora. Obrigado, poeta!

Foto: arquivo pessoal


Foto: Edmar Santos

Todo risco Damário Dacruz

A possibilidade de arriscar É que nos faz homens Vôo perfeito no espaço que criamos Ninguém decide sobre os passos que evitamos Certeza de que não somos pássaros e que voamos Tristeza de que não vamos por medo dos caminhos


PELOS CAMINHOS CRUZ DAS ALMAS Era uma cruz de madeira no ponto mais alto do planalto, fincada pelos tropeiros, que vinham do sertão com destino a São Félix e Cachoeira, e ali paravam para descansar e rezar pelas almas. Daquele cruzeiro cresceu o povoado, que virou cidade em 1897. Cruz das Almas, a 140 km de Salvador, é a cidadesede da reitoria da UFRB. Sua economia é baseada principalmente na cultura do

fumo, laranja e mandioca. A cidade vive um momento de intenso desenvolvimento, ampliando sua rede de comércio e serviços e atraindo novos investimentos. Como em todo o Recôncavo, Cruz das Almas apresenta grande diversidade em manifestações populares, sendo nacionalmente conhecida pelo seu animado São João, uma tradição local.

Era uma cruz de mad alto do planalto, fin ros, que vinham do s a São Félix e Cachoei para descansar e re


Foto do Capitão Cristiano Gouveia, GRAER-BA Vista aérea de Cruz das almas, cidade que abriga a sede da UFRB.

deira no ponto mais ncada pelos tropeisertão com destino ira, e ali paravam ezar pelas almas. A manufatura artesanal das espadas, fogos de artifícios tradicionalmente usados no São João.

O são João de Cruz das Almas é atração turística.


Cruz das Almas tornou-se um pólo da educação su agrícola. Gerações sucessivas de profissionais da a cuária foram formadas aqui, A tradição do ensino agronômico

Com a chegada da Escola Agronômica da Bahia, na década de 40, Cruz das Almas tornou-se um pólo da educação superior agrícola. Gerações sucessivas de profissionais da agropecuária foram formadas aqui, levando conhecimento técnico-científico fundamental para o trabalho e desenvolvimento da produção no estado da Bahia e em todo o Brasil. Em 1946, foi instalado em Cruz das Almas o Instituto Agronômico do Leste, integrado em 1973 à Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Essas instituições fortaleceram o papel da cidade na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para o sistema produtivo do setor agrícola e do agronegócio.

A Embrapa de Cruz das Almas é referência em pesquisas com mandioca e fruticultura, principalmente cítricos.


uperior agrope-


Depois de tanto tempo, os desafios apenas aumentaram. Esta diante da missão de reconstruir nossos laços com o ambiente em vivemos. A UFRB em Cruz das Almas Além de sede da Reitoria, Cruz das Almas abriga dois centros de ensino da UFRB, o CCAAB, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas e o CETEC, Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas. O campus de Cruz das Almas está instalado numa área de 1600 hectares. Esse espaço abriga pavilhões de aulas, prédios administrativos, biblioteca, laboratórios e campos experimentais de plantio e criação de animais. O campus, que deu origem à UFRB a partir da Escola de Agronomia da UFBA, ampliou sua abrangência para contemplar diversas áreas de conhecimento científico, em sintonia com as necessidades da geração de conhecimento e formação profissional exigidas em nosso tempo.

O ensino, a aprendizag rias, ambientais e bioló

Pavilhão de Aulas 1 do Campus de Cruz das Almas Foto do Capitão Cristiano Gouveia, GRAER-BA


amos m que

“O profissional deve se atualizar.A cada momento novas pesquisas são realizadas,o profissional precisa seguir as tendências, evoluirpara que possa manter atividade sem causar prejuízos para o meio ambiente” Jaylson Araújo, Aluno

“Não podemos fazer ciência da mesma maneira como se fazia no passado. Mudar não é fácil. Estamos nesse momento de impacto, de repensar. Temos que promover as mudanças de paradigmas. Por mais que valorizemos nossas tradições, temos que responder aos desafios que estão colocados. A universidade precisa dar respostas e a sociedade exige isso. A UFRB é um divisor de águas, porque traz uma perspectiva de promover avanços para o nosso entorno, não só pela inserção dos jovens no ensino superior público e gratuito, mas também por reconhecer os valores, os talentos e a história do povo do recôncavo. Temos um papel protagonista no desenvolvimento dessa região”. Alexandre Almassy, Professor do CCAAB

gem e a pesquisa de ciências exatas, tecnológicas, agráógicas passam por esses questionamentos.


Queremos formar profissionais éticos, solidários e que tenham cuidado com meio ambiente,

“A ciência e a tecnologia vivem a era da imprevisibilidade, e os nossos jovens assimilam tudo com uma rapidez muito grande. A velocidade é o grande paradigma da ciência e da tecnologia em nosso tempo. Precisamos oferecer ao nosso aluno uma base sólida, para que ele possa construir conhecimento e continue sua formação por toda a vida. Nosso desafio é estar na vanguarda, enxergar o que está pela frente, se projetar para atender às demandas futuras.” Celso Borges Professor do CETEC


A ciência e as coisas Foto do Capitão Cristiano Gouveia, GRAER-BA

“Se ensinares, ensina ao mesmo tempo a duvi- de ciências exatas, tecnológicas, agrárias, ambientais e biológicas passam por esses quesdar daquilo que estás a ensinar.” José Saramago tionamentos. O CCAAB e o CETEC-UFRB assumem a tarefa de construir conhecimentos Talvez a maior proeza humana na sua e instrumentalizar profissionais e pesquisadotrajetória como espécie seja sua relação com a res para essa realidade. É preciso desenvolver natureza. Tivemos a descobrir maneiras de re- novas formas de engenharia para uma societirar nosso sustento da terra, das plantas, dos dade em que as demandas se multiplicam e as animais. Desvendamos as estações, os ciclos, o mudanças são rápidas. Somente assim podejeito como a vida funciona, inventamos o nos- remos ser capazes de atender às necessidades so próprio modo de estar no mundo. E cria- sociais e econômicas de modo consciente e mos a ciência, que investiga, duvida e se refaz responsável, entendendo que compartilhamos dialeticamente em busca da compreensão dos a terra com cada espécie, com todos os rios e florestas, dividindo um patrimônio indispeneventos que nos cercam. Depois de tanto tempo, os desafios sável às nossas vidas e das futuras gerações. apenas aumentaram. Estamos diante da missão de reconstruir nossos laços com o ambien- “A universidade deve formar um profissional te em que vivemos. Desenvolver com susten- com um papel a cumprir, que dê uma resposta à societabilidade. Utilizar e preservar. Alimentar e dade. Uma resposta ética, pensando no ser humano e proteger. Uma atitude que já não pode mais na qualidade de vida do planeta. Nossa contribuição prescindir de respeito e ética, pois já não nos ao recôncavo é relacionar a prática agrícola ao meio vemos como os donos do planeta, mas parte ambiente, à saúde das pessoas e às questões sociais.” dele, de um todo indivisível. Beatriz Santos, Aluna O ensino, a aprendizagem e a pesquisa


Eu e você, você e eu. A UFRB por Cruz das Almas

Foto do Capitão Cristiano Gouveia, GRAER-BA

“O último investimento de peso no recôncavo baiano foi a construção da barragem de Pedra de Cavalo, na década de 1970. A UFRB trouxe uma esperança completamente nova para o povo, para os jovens. A cidade vive uma dinâmica de crescimento extraordinária. Quem conheceu Cruz das Almas antes da UFRB e a visita hoje se surpreende com o impacto. E a Universidade só começou, imagine o que será dessa região daqui a mais dez, quinze, vinte anos, e as oportunidades que a UFRB trará na formação de profissionais e na geração de conhecimento e de novas tecnologias. Formei-me na antiga Escola de Agronomia, hoje UFRB, e tenho orgulho de ter participado como sujeito dessa transformação.” Orlando Peixoto, o Orlandinho, Prefeito de Cruz das Almas


“A UFRB trouxe para Cruz das Almas novas influências, contatos, gente diferente. A cidade ganhou em crescimento, em movimento. A universidade faz circular conhecimentos, informações e isso muda a mente das pessoas. É um outro ambiente cultural que se cria, e com isso, as manifestações artísticas da cidade vivem um momento novo. As pessoas passam a ver a arte de um jeito diferente e podem apreciar e consumir os produtos culturais que a cidade oferece. Todos em Cruz das Almas percebem e se orgulham da presença da UFRB, pois sabemos que nossos jovens tem uma oportunidade para estudar e participar do desenvolvimento dessa região.” Dina Garcia, Artista Plástica

“A universidade é também uma alternativa para a economia da cidade. Aluguei um ponto na frente da UFRB, que estava em férias. Na primeira semana de aula, com a chegada dos alunos eu pude perceber a oportunidade. As pessoas procuravam muitas coisas, o ponto ficou pequeno, e eu tive que ampliar o negócio. Quem sustenta meu estabelecimento são os estudantes e é em função deles que eu pretendo crescer, oferecer mais e atendê-los melhor. Cruz das Almas foi agraciada pela universidade. Fico feliz em ver a UFRB oferecendo educação e desenvolvimento para a região.” Luciano Lordeiro, Comerciante


PELOS CAMINHOS SANTO ANTÔNIO DE JESUS No século XVIII, o oratório para Santo Antônio reunia fiéis das proximidades, que aos poucos foram se estabelecendo no local e iniciando um povoamento. Em pouco tempo, o pequeno arraial atraía comerciantes, vendedores e prestadores de serviços, que instalaram as primeiras lojas e armazéns. Do oratório construiu-se uma capela, que depois tornou-se Igreja Matriz. O arraial cresceu, virou povoado, vila, e, em 1891, o governo do estado elevou Santo Antônio de Jesus à categoria de cidade. Nas últimas décadas, Santo Antônio de Jesus teve um expressivo crescimento em sua população e em

sua economia, tornando-se um importante centro urbano do interior do estado. A rede médico-hospitalar, com diversas clínicas e hospitais, atende grande parte da população dos diversos municípios vizinhos. O comércio, variado e dinâmico, é um orgulho da comunidade. Escolas e universidades completam a rede de serviços, tornando a cidade uma referência regional. Localizada na porção sul do Recôncavo, às margens da BR 101, Santo Antônio de Jesus tem a marca de estar voltada para o futuro. A cidade é feita por um povo empreendedor, que aposta no trabalho e na criatividade para conquistar o progresso.


Prefeitura de Santo Ant么nio de Jesus


A presença do CCS harmoniza-se com o perfil de San Jesus, que se constitui como um importante centro d médico-hospitalar para toda a região do recôn A UFRB em Santo Antônio de Jesus Santo Antônio de Jesus sedia o CCS – Centro de Ciências da Saúde da UFRB. O campus foi instalado na área de uma antiga escola agrotécnica desativada, e que foi recuperada pela prefeitura da cidade para receber a nova universidade. Posteriormente, a UFRB construiu um pavilhão inteiramente novo, com mais salas de aulas, núcleo administrativo e biblioteca. A presença do CCS harmoniza-se com o perfil de Santo Antônio de Jesus, que se constitui como um importante centro de atendimento médico-hospitalar para toda a região do recôncavo. A cidade dispõe de uma ampla rede de estabelecimentos de saúde, entre clínicas e laboratórios, incluindo o hospital regional, que está preparado para funcionar como hospital-escola da UFRB.

A cidade dispõ


nto Antônio de de atendimento ncavo.

Centro de cultura

õe de uma ampla rede de estabelecimentos de saúde, entre clínicas e laboratórios,


Queremos formar um profissional de saúde com uma visão de cuidado com o todo, com a promoção da saúde, com o ser humano.

Quem somos Um novo olhar sobre a saúde para uma formação universitária comprometida e cidadã. Assim pulsa o CCS. Quem decide atuar na área de saúde assume, mais que uma profissão, a possibilidade de lidar com alguns extremos da condição humana. Certamente vai se defrontar com a vida em sua força e fragilidade, com momentos de nascimento e dor, testemunhando e intervindo nos limites da mente e do corpo, pois o milagre da vida traz consigo a sua própria luta. A tarefa exige mais que técnica e ciência, impondo um compromisso ético e solidário. As demandas da sociedade atual exigem pensar em saúde como algo muito mais que doença e cura, estendendo-a como condição de todos os aspectos da teia social. Atuar na perspectiva da promoção da saúde significa assegurar condições amplas para uma vida saudável. Isso diz respeito desde aos hábitos da

população até as condições estruturais como habitação, água e saneamento; desde renda e trabalho até lazer e cultura. Partindo dessa nova forma de abordagem é que a UFRB, através do seu Centro de Ciências da Saúde orienta-se para a construção de conhecimento da área. Nossa missão, além da formação de profissionais para o setor, passa também pela contribuição para as políticas públicas em saúde, através da compreensão aprofundada sobre nossa realidade regional. Assim, pela perspectiva de comprometimento com a sociedade, é que buscamos agir, também no que tange à saúde, para a transformação e desenvolvimento do Recôncavo, tendo a vida e o ser humano como valores centrais da nossa ação e reflexão.

“Nosso desafio não é só o de apenas formar excelentes profissionais, mas também cidadãos de fato, impulsionadores de uma revolução, para o bem, da sociedade que os cercam. Quanto ao aspecto formativo específico da área de saúde, se faz necessário quebrar a lógica de visão apenas curativa, em prol de uma que vislumbre a promoção do bem-estar físico, mental e social do ser humano. Conseguindo atingir estes objetivos, certamente a UFRB justificará, perante a sociedade que por anos lutou por sua implantação, a razão de sua existência.” Luiz Favero, Professor

N par


Nossa missão, além da formação de profissionais ra o setor, passa também pela contribuição para as políticas públicas em saúde,

alunos do CCS


Nossos cursos buscam uma nova visão sobre saúde. Tanto na f ção profissional como nas políticas públicas


Nosso país ainda é muito carente na saúde pública. Precisamos de um olhar mais atento principalmente para a camada menos favorecida da população.

forma-

“Acredito que a saúde deve ser entendida considerando seus valores humanistas. Estamos superando o modelo biomédico, baseado na doença, para um modelo baseado na promoção da saúde e do desenvolvimento humano. A UFRB, por ser uma universidade nova, traz essa marca, esses valores que por muito tempo foram massacrados por uma perspectiva técnica, biologicista, que colocou a saúde até como mercadoria. A região do Recôncavo passou por um histórico de exclusão, principalmente em educação e saúde. A UFRB tem muito a oferecer a esta região, em formação de pessoas e em produção e conhecimento sobre a nossa realidade, possibilitando soluções e desenvolvimento.” Pedro Dantas, Aluno do CCS

“Nosso país ainda é muito carente na saúde pública. Precisamos de um olhar mais atento principalmente para a camada menos favorecida da população. Acredito que a interiorização das universidades, como se insere a UFRB, é um avanço nessa questão. O profissional da área, por sua vez, precisa se libertar de preconceitos e estereótipos. Nosso trabalho é cuidar de pessoas, e para isso temos que compreender a dimensão do papel social da saúde.” Flávia Dias, Aluna do CCS


Eu e você, você e eu A UFRB por Santo Antônio de Jesus

Santo Antônio de Jesus é um importante centro regional. Ainda assim, os efeitos da chegada da UFRB foram amplamente sentidos na vida e na economia da cidade. O comércio e o mercado imobiliário são os setores imediatamente beneficiados. A universidade é um novo fator de progresso e geração de renda. O efeito mais importante, no entanto, está na educação e cultura da cidade. A UFRB representa uma nova perspectiva para os jovens, que ganham alternativas para sua inserção na sociedade. O ensino superior traz novos parâmetros de desenvolvimento, com educação e conhecimento como parte de um projeto para o presente e o futuro. “Com a UFRB os estudantes tem um incentivo maior e uma nova motivação para estudar. Ter a universidade na cidade é uma possibilidade real para os jovens. As escolas mudaram, e tentam melhorar em função da universidade, pois precisamos nos preparar para entrar e cursar o ensino superior. A UFRB faz parte do nosso projeto de vida.” Talita Silva, Estudante do ensino médio em Santo Antônio de Jesus


Pavilhão de aulas

“Santo Antônio tem uma história natural na área de saúde, pois é sede de microrregião, pólo regional de saúde e temos um hospital regional. Tudo isso nos credencia para ter o CCS em nossa cidade. A influência da UFRB para o município tem sido muito positiva. Sentimos uma mudança de conceitos na cidade, uma nova formação de opinião. Nos últimos cinquenta anos, a UFRB foi o fato mais positivo para o Recôncavo da Bahia. A universidade é um grande marco, define uma nova época e a gente vai sentir isso no futuro.” Euvaldo Rosa, Prefeito de Santo Antônio de Jesus


O livro A realização desse livro faz parte das comemorações pelos 5 anos de criação da UFRB, com o objetivo de fazer um registro da história dessa instituição, desde a criação do Imperial Instituto Agrícola, em 1873, e também do processo que permitiu a criação da UFRB. Buscamos relatar também como a UFRB se apresenta hoje, resultado do trabalho para sua consolidação nesses 5 anos de existência, sua estrutura e expansão para que possa cumprir o projeto para o qual foi instituída. Para isso, recorremos a trabalhos bibliográficos e acadêmicos já existentes sobre a instituição e sobre o Recôncavo. Também foram realizadas diversas entrevistas com professores, alunos, autoridades e pessoas que participaram do processo de criação da UFRB. As entrevistas realizadas permitiram reconstituir o processo de mobilização que tornou possível a criação da UFRB e delinear as aspirações e valores que norteiam a ação e objetivos da universidade. Agradecemos a todos que colaboraram conosco nesse projeto, compartilhando seus conhecimentos, memórias e vivências. Em especial o Capitão Cristiano Gouveia por ceder as imagens aéreas e ao Major Lázaro Monteiro, Comandante do GRAER-BA.

Referências: BAIARDI, A. . O Papel do Imperial Instituto de Agricultura na Formação da Comunidade de Ciências Agrárias da bahia. In: 7º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia, 2000, São Paulo. Anais do 7º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia. São Paulo : Editora da Universidade de São Paaulo, EDUSP, 1999. v. único. LINS, Robson de Oliveira. A região de Amargosa: transformações e dinâmica atual (Recuperando uma contribuição de Milton Santos). Salvador, 2007 (dissertação de mestrado; orientador: Prof. Dr. Sylvio Bandeira de Mello e Silva) REZENDE, Joelito de Oliveira. Recôncavo baiano: berço da Universidade Federal Segunda da Bahia: passado, presente e futuro. Salvador: P & A, 2004. SILVA, Miguel José. Educação da rainha do lar – Um estudo sobre a formação das mulheres no Ginásio Santa Bernadete em Amargosa – 1946/1973. Santo Antônio de Jesus, UNEB, 2006 (monografia; orientadora: Profª Maria José de S. Andrade). MATTOS, Sérgio. Só você pode, Jayme. Salvador, editora Contexto & Arte, 2009. Músicas que inspiraram alguns títulos de capítulos deste livro: Alguém me avisou, de Dona Ivone Lara. Coração de Estudante, de Wagner Tiso e Milton Nascimento. Go Back, de Sérgio Britto. Sampa, de Caetano Veloso. Soy loco por ti, America, de Gilberto Gil e J. C. Capinam. Você e eu, eu e você, de Tim Maia


Organizadores: Coordenação Geral, Revisão e Projeto Fotográfico:

Alene Lins

Projeto gráfico, edição de imagens e diagramação:

Renata Machado

Pesquisa, entrevistas e Textos:

Aquilino Paiva

Entrevistados: Alessandra Gomes, professora Alex Aleluia, prefeito de São Félix Alexandre Almassy, professor Amistander Santos, engenheiro agrônomo André Itaparica, professor Beatriz Santos, estudante Celso de Oliveira, professor Davi Barreto, estudante Dina Garcia, artista plástica Edson Santana, técnico-administrativo Euvaldo Rosa, prefeito de Santo Antônio de Jesus

Flávia Dias, estudante Geraldo Costa, professor Ivan Couto, artista plástico Jabes Andrade, professor Jaylson Araújo, estudante João Moraes, poeta José Fernandes, professor Josilândia Barreto, estudante Júlio César Santos, professor Júlio Sanches, estudante Lucas Café, estudante Luciano Lordeiro, comerciante Luiz Favero, professor Miguel Silva, professor Orlando Peixoto,

prefeito de Cruz das Almas Patrícia Santos, professora Pedro Arcanjo, diretor do Centro Cultural Danneman Pedro Dantas, estudante Raul Lomanto, engenheiro agrônomo Silvio Soglia, professor e Vice-Reitor da UFRB. Suzana Pimentel, professora Talita Silva, estudante Tato Pereira, prefeito de Cachoeira Tiago Oliveira, estudante Valéria Miranda, professora Valmir Sampaio, prefeito de Amargosa




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