e o projeto meninos da porteira
abcdefghijklmnopqrstuvwxyzzabcdefghijklmn Ceprevi é Alfabetização 04 referência 10 nacional de crianças
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Ceprevi, trazendo qualidade de vida e inclusão social
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portadoras de necessidades visuais
14 Intervenção precoce
15 Oficinas de Argila
Poeta do 20 Monte Santo
16 Danças caipiras
22 Nhô Bentico
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Tavares 24 Rossini de Lima
Orquestra de Viola Caipira
Editorial
E
sta revista retrata a história do Ceprevi que ao longos destes anos vem vencendo desafios e junto com os deficientes, quebrando limites. O grande impulso provocado pelo ponto de cultura “Meninos da Porteira” transformou pessoas e comunidade. Provou que através da cultura, música e arte, é possível promover inclusão social e reabilitação. Inclusão que se dá pelo protagonismo das pessoas com deficiência visual, onde eles são os atores principais de sua arte. Reabilitação: com a melhora na autoestima, vem a necessidade de viver... Viver melhor, superando a deficiência, adaptando se a novas habilidades e desenvolvendo novas possibilidades. Todo este sucesso vem de todos que passaram pela entidade (voluntários, profissionais, diretoria e beneficiários) e que forma especial deixaram sua colaboração, a quem agradecemos muito. Expediente:
nopqrstuvwxyzzabcdefghijklmnopqrstuvwxyzz da 27 Meninos Porteira
33 Empreender no social
de pontos 38 Rede de cultura
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34
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Teatro Experimental
30 Goalball
Especialistas falam dos pontos de cultura
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É tudo tão comum!
Ações externas e outros eventos
A arte de Antonio 42 Carlos Estanagel
faz a 44 Instituição diferença na vida das pessoas
46 Adoimplantação Ceprevi foi uma conquista extraordinária
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ceprevi
referencia
nacional
em
seu
seguimento
CEPREVI é referência S
nacional em seu
segmento Em uma década, instituição firmou-se nacionalmente como exemplo no atendimento á pessoas especiais e transformou a vida de muita gente
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urgido em 2003, o Centro de Pesquisa e Reabilitação Visual de Itapetininga – Ceprevi – tornou-se, em uma década, referência nacional na reabilitação de deficientes visuais e no desenvolvimento de projetos e ações integradas entre cultura e saúde. O centro surgiu em 2003, por iniciativa de pais de alunos e voluntários, sendo instalado em uma chácara na Vila Paulo Ayres. Atualmente, o Ceprevi ocupa um imóvel no Jardim Colombo, mas em breve transferirá suas instalações para uma nova sede, com 700 m², no Jardim Bela Vista. “O embrião do Ceprevi foi a sala de Educação Especial para Deficientes Visuais da escola Abílio Fontes”, lembra Ana Murosaki, uma das fundadoras do centro. Ela recorda que o então diretor da escola, Adalberto Christo das Dores, apoiava a iniciativa. “Os alunos saíam do Abílio e não tinham para onde ir; daí os pais resolveram montar o Ceprevi”, conta Ana Murosaki.
Outro nome importante na história do centro é José Roberto da Silva, idealizador da oficina de argila. Deficiênte visual, Silva decidiu montar, em 2005, uma oficina de trabalho voltada para os adultos que frequentavam o Ceprevi. O material escolhido para começar foi a argila. “O Zé Roberto queria manifestar sua veia artística através do artesanato e queria que outros deficientes fizessem isso também”, contou Ana. A opção pela argila se deu em razão de que ela é um material que estimula o tato e isto é importante para o deficiente visual. Mas o trabalho enfrentava dificuldades, como a falta
de equipamentos adequados e até argila inadequada, obtida junto a uma cerâmica local. O grande impulso ao trabalho do Ceprevi foi dado em 2009, quando a instituição iniciou o projeto Meninos da Porteira e transformou-se em um Ponto de Cultura. “O começo de uma instituição sempre é difícil; só contávamos com voluntários, não havia profissionais e material adequado”, diz Ana Murosaki. Mesmo assim, o Ceprevi seguiu em frente, conquistando a admiração e o reconhecimento da comunidade e de cidadãos itapetininganos, muitos dos quais atuaram como voluntários no projeto.
O dentista Roberto Lara é uma dessas pessoas que se impressionaram com o trabalho do centro. “Em 2006, ele conheceu e se encantou com o Ceprevi”, afirma Ana, acrescentando que aí surgiu a ideia de fazer um teatro inspirado em Charles Chaplin; foi também quando foi feita a primeira experiência dos alunos com música, que depois transformou-se em uma oficina de canto e depois no coral da entidade. Em uma década, a instituição firmou-se nacionalmente como exemplo no atendimento á pessoas especiais e transformou a vida de muita gente.
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Ponto de Cultura
Meninos da porteira
“O Ponto de cultura veio de encontro aos trabalhos desenvolvidos, propiciou recursos e aquisição de equipamentos, mas as ações já aconteciam”, afirma Ana Murosaki. “A ideia do ponto de cultura no Brasil surgiu para justificar manifestações de cultura no país”, conta Marcos Terra, que entrou como voluntário no Ceprevi em 2007. “Na época o Ceprevi oferecia todas essas atividades (oficinas de argila, artesanato, esporte (goalball) e canto. A gente conversava muito sobre ampliar projetos e o acesso ao centro, criando possibilidades. Havia muito diálogo e tudo nasceu disso”. Moraes recorda que percebeu que as coisas “iam super bem no Ceprevi. Na época, o Zé Roberto me explicou toda a visão de como era trabalhar com argila. Mas não tinha a estrutura necessária para um projeto grande e queríamos fazer algo a mais, algo que fizesse o Ceprevi ser referência”. Um ponto importante, e que pesou para que a instituição recebesse o ponto de cultura, foi o fato do Ceprevi manter, já naquela ocasião, um intenso diálogo com a comunidade, inclusive realizando intercâmbio com outras entidades. “Também havia o interesse em ter um projeto específico para a área de cultura, e o Ceprevi já vinha desenvolvendo algumas ações”, relata Marcos Terra. “Itapetininga sempre teve relação com a cultura caipira e nós pensamos em um projeto que dialogasse com a cidade, mas também fortalecesse o Ceprevi”, conta o ex-voluntário, que atualmente atua na área cultural na capital paulista, mas nunca perdeu o vínculo com o centro.
A partir desta proposta de identidade com a cultura local, surgiu o projeto Meninos da Porteira, batizado assim em homenagem ao compositor itapetiningano Teddy Vieira, autor de um dos maiores sucessos da música sertaneja: Menino da Porteira. “É uma composição conhecida nacionalmente e nós queríamos mostrar o que há de melhor na cidade, homenageando Teddy Vieira, cuja história é conhecida por poucos”, afirmou Moraes. Segundo ele, o projeto consistia em três ações: oficinas de argila, de canto e de viola caipira. Está última, voltada para o público externo, através de parcerias com entidades como a Epam (Entidade de Proteção e Apoio à Mulher) e a Escola Municipal de Música, onde eram ministradas as aulas de música, com a participação do professor e violeiro Bob Vieira. “Este projeto sintetiza o ideal do Ceprevi, que visa não só a relação com a pessoa atendida, mas com a comunidade”, disse Marcos Terra, acrescentando que “uma comunidade culturalmente solidificada trata com mais dignidade o deficiente. A cultura pode e deve ser um instrumento de mudança de espírito”. Elaborado em 2009, nesse mesmo ano o projeto foi inscrito no edital que cria os pontos de cultura no Estado de São Paulo, através de uma parceria entre o estado e o Governo Federal, que tinha por objetivo apoiar trezentos projetos em todo território paulista. “Na semana em que o Meninos da Porteira foi escolhido, o professor Zé Roberto morreu. Ele era o executor do projeto da argila; tinha tudo na mente dele. A ideia era uma oficina de argila e música. Foi muito difícil. Ele era a referencia. O projeto teve de
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ser recriado”, contou Moraes, ressaltando que o artista plástico José Gomes Heleno assumiu a oficina, realizando “um excelente trabalho”. “O Ponto de Cultura foi o pontapé inicial. Agora precisamos ser autossuficientes; o repasse de recursos encerrou e hoje temos equipamentos e professores. As ações continuam”, disse Ana Murosaki. “Quem foi ponto de cultura sempre será. O projeto deixa sua marca. Além disso, as ações são identificadas com a sustentabilidade de cada trabalho”, observou Moraes.
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Este projeto sintetiza o ideal do Ceprevi, que visa não só a relação com a pessoa atendida, mas com a comunidade.
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Referencia nacional
Transformando vidas
“O Meninos da porteira tornou o Ceprevi reconhecido também pelo trabalho artístico e hoje o centro é referência na reabilitação e em ações envolvendo cultura e saúde, pois as pessoas identificam ações culturais dentro da saúde”, observou Marcos Terra, lembrando que funcionários do centro já estiveram ministrando palestra na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Rio de Janeiro. Durante os três anos em que o projeto esteve ativo, o mesmo chamou a atenção e acabou servindo de inspiração para duas ações paralelas na área de cultura. Em uma dessa iniciativas, o professor, pesquisador e músico Bruno Sanchez veio para Itapetininga para conhecer o Meninos da Porteira. “A Funarte (Fundação Nacional da Arte) tinha um projeto chamado Interações Estéticas, que premiava quem fosse a um ponto de cultura e realizasse um trabalho lá. Por intermédio de um amigo, o Bruno, que era pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) ficou sabendo do Meninos da Porteira e veio para Itapetininga conhece-lo. Aqui se deparou com um projeto sólido, executado por uma entidade bem organizada”, contou Moraes. Segundo ele, Sanchez realizou vários encontros para diagnosticar a cultura local e esse trabalho virou um curta metragem premiado. “Um fato interessante é que, quando o Bruno estava em Itapetininga, o músico Bob Vieira, que da as aulas de viola caipira no projeto, foi convidado para ser Secretário Municipal da Cultura. Então, o Bruno ficou como professor até o final do projeto”, disse Moraes. Outro projeto inspirado no Meninos da Porteira foi um DVD sobre a memória cultural nos pontos de cultura.
De muitas maneiras, o Ceprevi tem sido um divisor de águas no trabalho de reabilitação de deficientes visuais, oferecendo a possibilidade de ter uma vida independente, inclusive com inserção no mercado de trabalho. “O nosso principal trabalho é resgatar a autoestima dos alunos para que eles tenham vontade de viver”, afirmou Ana Murosaki, citando o depoimento emocionado de uma mãe. “Ela disse que seu filho chegou aqui sem rumo e hoje ela sabe que ele tem um mundo de possibilidades para conquistar”. Com 90 deficientes visuais cadastrados e atendendo regularmente entre 40 e 50 pessoas de diversas faixas etárias, o Centro de Pesquisa e Reabilitação Visual de Itapetininga (Ceprevi) desenvolve diversas atividades que têm como objetivo melhorar a qualidade de vida e promover a inclusão social da pessoal portadora de deficiência visual. Entre essas ações estão: pesquisas e programas de prevenção, diagnóstico e reabilitação do deficiente, além do apoio à família do mesmo. O Ceprevi mantém cursos de escrita e leitura em Braille, matemática para cegos (Soroban), estimulação precoce de crianças, acompanhamento psicológico, orientação e mobilidade, prática cotidiana, fisioterapia e educação física adaptada, oficina de artes, informática adaptada e apoio psicológico à família, inclusive com trocas de experiências. O centro mantém convênio com prefeituras da Região, atendendo pessoas de outros municípios. Desde 2004, a entidade foi declarada de utilidade pública em Itapetininga.
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O nosso principal trabalho é resgatar a autoestima dos alunos para que eles tenham vontade de viver”
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Ceprevi, trazendo qualidade de vida e inclusão social ceprevi
Em 2013, o Centro de Pesquisa e Reabilitação Visual de Itapetininga, o Ceprevi, completou 10 anos e desde sua fundação muitas pessoas passaram pelo local, trocando experiências, aprendizados e esperanças. Vamos conhecer um pouco mais desse projeto?
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O
Ceprevi foi fundado em 2 de abril de 2013, a partir de um sonho, de pais de deficientes visuais e a comunidade, que procuravam um centro que oferecesse suporte para atender a necessidade de desenvolvimento e a autonomia da pessoa cega ou com baixa visão, buscando assim, a reinserção na sociedade de forma ativa e participativa. Sendo assim, o Ceprevi tem como objetivo, desenvolver e manter programas de ação e de pesquisa na área de prevenção, diagnóstico e reabilitação da deficiência visual, visando melhorar a qualidade de vida e a in-
trazendo
quali
clusão social dos deficientes visuais. Segundo o coordenador e professor do Ceprevi, Sidney Matos, em primeiro lugar, existe um processo de avaliação, para diagnosticar o tipo de deficiência visual, já que para cada tipo de deficiência, existe um tratamento específico, após esse processo de identificação, o aluno passa a ser inserido nas oficinas. O projeto que há 10 anos, começou com 24 pessoas, hoje chega a 83 atendidos, que não são apenas de Itapetininga, mas também de cidades da região, como São Miguel Arcanjo, Tatuí, Alambari, Guareí,
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idade
de
Atendemos desde crianças até idosos, trabalhamos práticas sociais do dia a dia, como educação, alfabetização, mercado de trabalho, para que essa pessoa possa ser inserida ou voltar a conviver vida e inclusao em sociedade”
Paranapanema e Capão Bonito. No local, são desenvolvidas diversas oficinas que estimulam o desenvolvimento dos alunos. Psicomotricidade, escrita e leitura em braile, soroban (matemática para cegos), estimulação precoce, apoio especializado ao professor, orientação e mobilidade, atividade de vida diária e prática, terapia ocupacional, educação física adaptada, inclusão no mercado de trabalho, arte e educação- argila e musicalização, informática adaptada, atendimentos psicossociais, além do grupo de mães. Sidney explica ainda, que o
objetivo do Ceprevi é desenvolver a autonomia e independência dos alunos. “Atendemos desde crianças até idosos, trabalhamos práticas sociais do dia a dia, como educação,alfabetização, mercado de trabalho, para que essa pessoa possa ser inserida ou voltar a conviver em sociedade”,afirma. O Ceprevi conta com uma equipe especializada na área: coordenador professor especialista em deficiência visual, psicóloga, terapeuta ocupacional, assistente social, professores de educação física adaptada, professora de musica,
instrutor de informática, além de estagiários em Serviço Social, Terapia Ocupacional, Administração e um voluntário de economia. Quer ser voluntário e fazer parte dessa rede de solidariedade e inclusão, procure o Ceprevi. O Centro está localizado na rua Sulpízio Colombo, nº 30, Jardim Colombo – próximo ao Clube dos Bancários, Itapetininga, SP. Fone: (15) 3272-5260, e-mail: ceprevi@ceprevi.org.br A partir de 2015, nossa sede será na rua Josefa Zaglobinski Krapt, 932, Jardim Bela Vista.
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Al fa be ti za ção de crianças portadoras de necessidades visuais
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alfabetizacao Apresentamos neste artigo os diferentes caminhos que o professor deve percorrer para obter sucesso na alfabetização de crianças cegas, levando-as a construir conhecimento, ter contato com aprendizagens significativas e interagir com outras crianças, pois num mundo globalizado como o que vivemos atualmente, é inadmissível que uns possam ter acesso à educação de qualidade e outros, por serem diferentes, não possam exercer esse direito. Essas crianças são amparadas por leis de vanguarda e a sociedade esforça-se para que, efetivamente, todas tenham acesso à educação de qualidade.
de
O
criancas
professor é o profissional que vincula (Não seria veicula?) a transformação na sociedade e como tal o sistema escolar procura se adequar cada vez mais em acessibilidade e capacitação de recursos humanos, pois um professor para alfabetizar crianças portadoras de necessidades especiais visuais deve saber as técnicas adequadas, ter conhecimentos de adaptações curriculares, avaliações diferenciadas, noção de tecnologias inclusivas e principalmente fundamentação teórica aliada à prática pedagógica, conhecimento, criatividade para trilhar caminhos diferenciados sem perder o foco e os objetivos, versatilidade e flexibilidade em seu cotidiano pedagógico e acima de tudo comprometimento para que suas ações propiciem realmente uma mudança na leitura de mundo dessas crianças, fazendo delas um cidadão alfabetizado, possibilitando sua verdadeira inclusão na sociedade. Baseando-se em pressupos-
s
portadoras tos da Teoria Piagetiana, chamada Construtivismo, fundamentando-se que a capacidade de conhecer é fruto da troca entre o organismo e o meio, tais trocas são responsáveis pela capacidade de conhecer. Sem as mesmas a capacidade não se constrói. Um exemplo bastante conhecido é de Hellen Keller, surda-cega, que até os 3 anos de idade não havia conseguido estabelecer trocas significativas com o meio, apresentando alterações comportamentais. Através da mediação e interação Anne Sullivan, sua professora, facilitou o processo de trocas constantes com pessoas e coisas, possibilitando assim a Hellen a construção de sua inteligência e apesar de sua condição com, déficit duplo sensorial, chegou a ser conferencista e escritora. A cegueira pode ser congênita quando se apresenta desde o nascimento ou, em período imediato após o mesmo, quando a criança perde a visão até aproximadamente
de
necessidades
os dois anos de idade, também se pode considerar congênita, pois esse período é de intenso desenvolvimento cerebral e a criança não terá lembranças de aquisições de conhecimentos durante esse período. A cegueira pode ser adquirida ocorrendo em qualquer momento da vida da criança (exceto os acima citados) devido as mais variadas causas. No primeiro caso a criança não terá memória visual, então em sua aprendizagem deveremos valorizar a construção do conhecimento e no segundo caso ela poderá lembrar-se de informações que aprendeu quando ainda era vidente dependendo da idade em que perdeu a visão. É importante lembrarmos também que existem classificações sobre a cegueira em aspectos diferenciados como o clínico (médico/diagnóstico) e o educacional (funcional), sendo que um não exclui o outro e respectivamente são quantitativo e qualitativo. Assim como a criança vidente, a
visuais
criança portadora de necessidades especiais visuais também deverá ter sido trabalhada antes do processo de alfabetização, pois a visão não é somente mais um dos sentidos e sim o sentido que integra todos os outros, fornecendo-nos noções como tamanho, distância, cor, profundidade entre outras características dos objetos e ambiente que a cerca e deverá aprender usar seus sentidos remanescentes funcionalmente que no caso da criança portadora de necessidades especiais visuais são o tato, paladar, olfato, audição e a cinestesia que em linhas gerais é a percepção dos movimentos corporais. Há estudos que afirmam que é da visão que obtemos cerca de 80% dos estímulos ambientais e um sentido não “nasce” para suprir os outros, eles existem para serem integrados, ou seja, trabalharem juntos, o que acontece na cegueira é que a criança tem que se adaptar a uma situação real e irreversível.
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Diante desse quadro, um programa de estimulação precoce é fundamental para suprir os possíveis atrasos nos desenvolvimentos que a falta da visão pode acarretar sob os aspectos cognitivo, psicomotor, social e afetivo se essa criança não for estimulada adequadamente desde pequena. Concebe-se estimulação precoce como o “conjunto dinâmico de atividades e de recursos humanos e ambientais, incentivadores que são destinados a proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências significativas para alcançar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo”. (SEESP/MEC/UNESCO, 1995, p. 76). Quando a criança chega ao ambiente escolar é esperado que ela já
tivesse internalizado um acervo de conhecimentos, como usar suas mãos funcionalmente, que tenha domínio da lateralidade, noções corporais, de espaço, tempo, desenvolvida a linguagem satisfatória para idade, certa independência e autonomia, quer dizer: se já frequentou um programa de intervenção precoce teve estimuladas noções de orientação e mobilidade, atividade de vida diária, que são fundamentais nesses casos tem-se expectativas também que ela saiba reconhecer e discriminar objetos e situações cotidianas, o que acontece é que muitas vezes essas habilidades podem não estar tão desenvolvidas como esperávamos e o professor precisa estar preparado para isso, pois conceber o conhecimento do
mundo sem a visão não é tarefa fácil. Muitas vezes, essas crianças podem apresentar algum tipo de maneirismos que são movimentos repetitivos e estereotipados, ou ecolalia que é a repetição de palavras sem saber o que significam ou terem noções “na teoria” das coisas, objetos e ambientes e não noções “concretas” do que realmente acontece em cada situação, geralmente isso ocorre quando essa criança nunca passou por nenhum atendimento específico antes de entrar na escola, nessas situações é imprescindível que o professor e os outros terapeutas que trabalham com essa criança, e com a família, realizando uma “ponte” para auxiliar cada um em sua área, mas visando o desenvolvimento global da criança.
Alfabetização a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u Especificando o processo de alfabetização em si, um programa que venha atender verdadeiramente às necessidades básicas de uma criança portadora de necessidades especiais visuais, precisa estabelecer conteúdos que venham prepará-la para o desempenho satisfatório nas tarefas de ler e escrever. Pelo fato de não possuir a visão desde o nascimento ou ainda perdê-la na infância, podem ocorrer prejuízos incalculáveis, para o seu desenvolvimento de uma maneira geral, por esse motivo é importantíssimo que o trabalho de estímulo com ela seja contínuo e maciço, a fim de aprimorar áreas fundamentais envolvidas nesse processo. Ações que levam a criança à experimentação concreta em diferentes situações dentro de diferentes contextos são primordiais para o desenvolvimento e aprendizagem como a manipula-
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ção, a percepção, a coordenação, oferecendo a criança à oportunidade de se deparar com situações concretas que serão base para a escrita. A utilização do lúdico para despertar o interesse das crianças em vivenciar novas experiências é muito rica trazendo resultados positivos para a aprendizagem da leitura e escrita posteriormente. Salas de aulas com materiais diversificados como livros de historinhas, regletes punções, miniaturas de veículos e animais, bonecos entre outros objetos são subsídios para a prática pedagógica dentro desse contexto. A descrição detalhada de objetos se faz necessária nesses casos e também incentiva a criança a conhecer os objetos de seu ambiente através do tato, percebendo suas características e funções, o uso de texturas estimula a percepção da ponta dos
dedos, desenvolver a lateralidade é essencial, pois a criança deficiente visual necessita de informações precisas sobre o meio para movimentar-se com independência e segurança. Há uma grande preocupação com a alfabetização da criança portadora de necessidades especiais visuais, mas não podemos nos esquecer de que ela também deve aprender noções de quantidade, tamanho, distância, formato conceitos estes que antecipam a matemática propriamente dita, ou seja, estimular o desenvolvimento do raciocínio lógico, todo esse processo deve ser primeiramente realizado no concreto, quer dizer, tridimensionalmente com o objeto propriamente dito, bidimensionalmente e depois no plano (papel) com as devidas adaptações, no estímulo à coordenação motora fina pode-se trabalhar com blocos de encaixar, empilhar,
O Sistema Braille A história do Sistema Braille começa com Valentin Haüy, que fundou, em meados do século XVIII, o Instituto Real de Jovens Cegos de Paris. Mas o método como o conhecemos hoje foi criado por Louis Braille, em 1829, e até hoje não está superado. Pois nada surgiu para substituir o sistema de representação simbólica do alfabeto por combinação dos seis pontos que constituem o código Braille. O Braille é constituído de combinações de pontos em alto relevo, sendo que, cada combinação corresponde a um caractere diferente formando ao todo sessenta e três sinais, dentre os quais são encontradas letras, números, sinais de pontuação, símbolos matemáticos e notas musicais. Os instrumentos utilizados para a escrita braille são diferenciados, essa escrita é em alto relevo e pode ser sentida através do tato, tais instrumentos diferentes são necessários, pois o uso da caneta ou lápis não são indicados para realizarem saliências no papel podendo perfura-lo e até rasga-lo. Os instrumentos específicos possibilitam que a grafia braille seja feita corretamente pois na cela que conte os seis pontos eles devem estar bem próximos. A reglete é composta de duas réguas ligadas por uma dobradiça do lado esquerdo e possui quatro linhas, chamada de grade, nela constam vários retângulos pequenos que são as chamadas celas ou células braille, ela é amparada por uma prancheta que a prende e segura o papel e o instrumento para realizar as perfurações no papel com os pontos específicos formando letras, sílabas e palavras em braille é o punção que pressiona o papel. A máquina braille é parecida com a máquina de datilografia com menos teclas, sendo que uma é para dar o espaço, uma para pular linhas, uma para voltar (retrocesso) quando necessário e três teclas do lado esquerdo que correspondem aos pontos 1,2,3, e três teclas do lado direito correspondendo aos pontos 4, 5, 6, tendo portanto todos os pontos correspondentes da cela braille possibilitando a escrita nesse sistema. Existe também a impressora braille que facilita muito a produção de materiais uma vez que, basta enviar um texto do computador para ela, usando um programa chamado “Braille Fácil”, e esta começará a imprimir o documento, livro ou texto, sem qualquer esforço humano, esse tipo de material é mais encontrado em escolas ou instituições destinadas à integração dos cegos à sociedade.
a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0
montar e desmontar, dobraduras entre outras atividades, estimular os “dedinhos” será importante para a aprendizagem da leitura tátil. Observa-se que dentro desse universo tão único, há a necessidade de desenvolver um trabalho considerado pré-braille, ao apresentar o sistema Braille para a criança, se ela não tiver noção de mundo sob vários aspectos, funcionalidade nas mãos, conhecimento de seu corpo e entendimento do ambiente que a cerca é pouco provável que essa criança não apresente entraves consideráveis na alfabetização em braille, justificando as lacunas mencionadas em citação anteriormente no texto. Entre os objetivos finais da alfabetização, podemos citar que a criança deverá ser capaz de expressar seus pensamentos com espontaneidade, clareza e criatividade nas mais diversas situações que estiver inserida, compreender pequenos textos com diferentes tipos de mensagens, conseguir escrever com desempenho satisfatório com estruturas simples e fazendo uso funcional de seu vocabulário. É importante definir um método a ser adotado, realizar um planejamento dividindo-o por unidades ou etapas, com aumento do grau de complexidade conforme absorção de conteúdos por parte do aluno, pois a alfabetização no Sistema Braille tem suas particularidades e o processo de avaliação também deverá ser diferenciado que por ser tão específico é no mínimo interessante que o professor avalie não só o aluno, mas também realize uma auto avaliação, é importante nos colocarmos no “lugar do outro”, será que forma como estou apresentando as atividades está suficientemente clara para o meu aluno?
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A visao pode ser entendida como sendo 14
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visão pode ser entendida como sendo nosso sentido mais integrador, que permite com que conheçamos o mundo, nos possibilitando o pleno desenvolvimento. Um alteração visual pode afetar todos os aspectos de adaptação da criança ao seu meio ambiente e na sua vida social de forma geral. Através do programa de terapia ocupacional em intervenção precoce, atuamos na fase inicial do desenvolvimento infantil. Utilizamos da seleção de materiais, atividades e análise das mesmas, objetivando fazer com que o deficiente visual descubra e utilize estratégias que facilitem o aprendizado de habilidades, fortaleçam a eficiência das funções essenciais para a adaptação ao meio, promovam e mantenham o crescimento, o desenvolvimento e a saúde. Sendo assim, uma das principais características do programa se descreve em auxiliar a criança também na descoberta e desenvolvimento das diferentes modalidades sensoriais, auxiliando na compreensão das várias informações que recebemos dos sentidos. Sabe-se que quando a deficiência visual é diagnosticada no primeiro ano de vida e a criança recebe estimulação prontamente, obtêm-se melhores repercussões na eficiência visual e, conseqüentemente, em todos os aspectos do desenvolvimento.
Assim, logo que é diagnosticada a deficiência visual, a família que procura o programa e participa do mesmo obtêm resultados significativos em diversas esferas. Mediante a aquisição das habilidades básicas, a criança vai sendo preparada também para ingressar nas demais oficinas, como atividades de vida diária, alfabetização, orientação e mobilidade, música, psicomotricidade, dentre outras. Pesquisas realizadas na entidade, comprovam que crianças que participaram do programa de intervenção precoce logo após ao nascimento ou após o diagnóstico precoce da deficiência visual, adquiriram mais rapidamente condutas adequadas nos diversos comportamentos adaptativos e habilidades nas diversas áreas: social, educacional, familiar, etc. Ainda, apresentaram maior grau de autonomia e compreensão no processo de desenvolvimento da marcha, alfabetização e orientação e mobilidade. Deste modo, concluímos que este programa é essencial para um bom desenvolvimento neuropsicomotor e global da criança, e deve ser iniciado o mais breve possível, o que garante a aquisição de excelentes resultados!
Patricia Mendes Henrique Crefito 3 - 11193-TO Terapeuta ocupacional especialista em reabilitação aplicada a neurologia infantil e Conceito Neuroevolutivo Bobath
Oficinas de Argila
desenvolvem a capacidade motora no Ceprevi oficinas Através do Ponto de Cultura, Meninos da Porteira, aulas de argila são desenvolvidas no Ceprevi. Os trabalhos trazem de volta a sensibilidade e a alegria para os alunos.
de
T
argila
rabalhos manuais são muito importantes para o desenvolvimento motor e no tratamento dos deficientes visuais. Na ação a argila os resultados são comprovados na prática. Aprimorar o tato é apenas um destes benefícios, auxiliando em toda a formação escolar direcionada para a preparação de uma vida produtiva e feliz. Para Ana Somaglia, artesã e voluntária desde abril de 2013, no Ceprevi,os trabalhos manuais trazem de volta, a alegria para as pessoas. “Alguns chegavam muito deprimidos por conta de ter não ter a visão, parcialmente ou totalmente. Conforme eles começam a trabalhar com a argila e fazer as peças, a auto estima foi aumentando e com isso, a alegria era visível”, explica. Segundo a artesã, para desenvolver as peças em cerâmicas não é preciso que a pessoa tenha a visão, já que a atividade permite trabalhar
desenvolvem manualmente. “ Eles se sentem úteis, o mundo não acabou porque a pessoa deixou de enxergar ou está enxergando menos. Existe um mundo novo que você pode entrar nele e o mundo da cerâmica é ótimo!”, conta. As aulas de argila desenvolvem peças criativas e desperta talentos antes desconhecidos e adormecidos por falta de incentivo. “Os alunos desenvolvem peças belíssimas, eles possuem talento, mas precisavam ser despertados. Com a alegria e auto estima elevada, eles produzem muito mais”, diz. Somaglia finaliza dizendo que a deficiência visual não é sinônimo de limitação. “Trabalho voluntariamente, gosto deles é interessante estar com eles. Lá no Ceprevi, eles não são coitadinhos, eles são pessoas que tem uma deficiência, mas isso não quer dizer nada, porque eles são capazes e independentes”, conclui.
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pesquisador
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cultura
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Pesquisador resgata a cultura atravĂŠs das
danças caipiras 16
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runo Sanches, músico e pesquisador, especialista em cultura e viola caipira,quando chegou à Itapetininga, tinha a intenção de pesquisar sobre a catira, dança do folclore brasileiro, em que o ritmo musical é marcado pela batida dos pés e mãos dos dançarinos. Mas, no entanto, em suas primeiras investigações percebeu que o termo catira em Itapetininga, possuía duplo sentido. “Em conversa com os dançadores do Grupo de Catira Nossa Senhora Aparecida, soube que a dança que praticavam era chamada de fandango antigamente e que depois foi renomeada como catira”, comentou. Segundo o pesquisador, a descoberta o intrigou muito, como poderia uma dança simplesmente mudar de nome? E ainda, essas danças são tão parecidas a ponto de serem confundidas? Bruno resolveu a partir daí se aprofundar e conhecer um pouco mais sobre o assunto. “Quando me aprofundei em minhas pesquisas, descobri que catira e fandango são danças diferentes, apesar de parecidas e que mesmo nomeando sua dança como catira, musicalmente e coreograficamente aquele grupo ainda praticava o fandango, dança tão tradicional nessa região do Sudoeste Paulista”, disse. O fandango caipira de Itapetininga é uma dança de sapateados e palmeados, acompanhada por viola caipira. É feita predominantemente em círculo, com excessão da coreografia chamada de quebra-chifre, onde os tocadores dançam um frente ao outro. É realizado em número par de dançadores que comumente usam esporas presas às botas, também chamadas de chilenas. Essas chilenas funcionam como um instrumento de percussão
“
que soma seu timbre aos sapateios. Musicalmente o fandango se caracteriza por seus ostinatos rítmicos (ritmos que são repetidos obstinadamente) realizados pelos dançadores e pela viola acompanhante, sempre em ritmo binário simples. Além dos palmeados e sapateados, há grupos na região que utilizam os estalos de dedos, chamados de castanholas, no começo de cada coreografia. “No município de Itapetininga há dois grupos, um de moradores do Bairro da Várzea, zona rural do município e outro de moradores da área urbana, que se intitula Grupo de Catira Nossa Senhora Aparecida.Os dançadores do primeiro grupo são o Pinhé (Salvador Messias), Gumercindo Messias, Lucídio Proença e Crídio (Euclides) Proença. Nesse Grupo os violeiros também dançam e são os dois últimos citados.No segundo grupo os dançadores são o Zé Neves (José Estanagel de Barros) e o João Coragem (João Maria Rodrigues); o violeiro é o João Marques”, relata. Além do fandango, Sanches conheceu em Itapetininga, a dança de São Gonçalo, uma dança religiosa do catolicismo popular que é praticada em Portugal desde o século XVI. Nela, os mestres violeiros cantam canções em forma de moda de viola para convidar o povo para dança, antes de cada “vorteada”. “ Essas vorteadas são compostas por coreografias circulares, onde todos os dançarinos interagem, mas sem que se toquem , como em algumas coreografias praticas pelas cortes européias no século XVII por exemplo, é uma dança devocional, feita normalmente para a paga de promessas, como
...a dança que praticavam era chamada de fandango antigamente e que depois foi renomeada como catira...”
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squisador
resgata
agradecimento por graças recebidas por intermédio do santo. Na crença popular, São Gonçalo é o casamenteiro das mulheres mais velhas, além de ser o protetor dos violeiros”, conta. Além do fandango e da catira, Sanches também conheceu outra prática tradicional da região que encontra representantes em Itapetininga, o cururu, que é uma das formas de canto improvisado do caipira, caracterizado pelo desafio entre cantadores e que atualmente é acompanhado somente pela viola caipira. Dentre suas pesquisas e andanças pela nossa região, Sanches descobriu muita coisa além de danças e culturas caipiras, ele descobriu que um povo precisa preservar suas culturas e raízes para que sua identidade para ser preservada. “Um povo sem cultura é um povo sem memória e um povo sem futuro, acho que essa frase explica bem o que penso sobre resgatarmos nossa cultura, pois conhecer de onde nos
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a
cultura
viemos, ajuda a encontrar os melhores caminhos para onde devemos ir e saber com firmeza da própria identidade. Isso pode ajudar para que a sociedade seja menos manipulada pela indústria cultural que nos força culturas estrangeiras na maneira de vestir, comer, escutar e pensar”, diz. Para Sanches, há muito o que se pesquisar sobre a cultura. “Além de tudo o que já disse nesta entrevista, com minha pesquisa sobre o fandango, aprendi que há muito a descobrir sobre a cultura musical do caipira e que ela possui riquezas ainda inexploradas e que certamente devem interessar aos estudantes de música, de arte e de cultura em geral. É uma estética muito particular e ao mesmo tempo traz características comuns às culturas populares do mundo todo”, finaliza.
atrav
Bruno Sanches é Bacharel em Música com Habilitação em Instrumento (Viola Caipira) pelo Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (CMU - ECA – USP). Atualmente é da Escola Municipal de Artes Prof. Jupyra Cunha Marcondes, de Presidente Prudente, desenvolve trabalho solo com a viola caipira e faz parte do Ser Tão Trio, onde atua como violeiro e cantador.
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Orquestra de Viola Caipira
Teddy Vieira Levando a cultura de Itapetininga para todo o Brasil.
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ormada em 2008 por um grupo de fãs de música caipira, que resolveu homenagear o compositor sertanejo mais renomado de Itapetininga, a Orquestra de Viola Caipira Teddy Vieira, é formada por 13 músicos com idades que variam entre 16 e 74 anos. A “gente faz essa homenagem ao Teddy Vieira, cantando as músicas dele, e também pra não esquecer a viola caipira”, comenta o coordenador da orquestra Bob Vieira. Em seu reportório, sucessos sertanejos como O Menino da Porteira, Boiadeiro Errante, Couro de Boi, João de Barro, Pagode em Brasília, Rei do Gado, além de outros sucessos da música sertaneja raiz.
orquestra
“São toadas, cateretês, cururus, modas de viola, catiras e outros ritmos que fazem parte da identidade cultural do interior paulista”, diz. Nascido e enterrado em Itapetininga, Teddy Vieira ficou conhecido nacionalmente depois de compor sucessos sertanejos como “O Menino da Porteira”, música que inspirou até um filme. Fundado há 7 anos, o grupo gravou um cd em 2010, Teddy Vieira ao Som da Orquestra de Viola Caipira Teddy Vieira de Itapetininga – através do edital Proac da Secretaria de Estado da Cultura. O grupo espalha a cultura caipira em diversas apresentações no Brasil: Festival de Artes de Itu, Virada
de
viola
Cultural em Araraquara, Festival Sertanejo em Andradas(MG), Música na Praça em Tatuí, Mostra Regional do Sesi em Itapetininga, Sorocaba e Votorantim, Viola Caipiracicabana no SESC Piracicaba, Ribeirão Grande, São Miguel Arcanjo, Alambari, Campina do Monte Alegre, Botucatu, Itaberá, Pilar do Sul, entre outras. Uma curiosidade une ainda mais o grupo de violeiros, a equipe é formada por vários Josés: Zé Martins, Zé Coelho, Zé Carlinho Ligeirinho e Zé da Banda, além de Alberto, João Marques, Gabriel Viola, Dito Martins, Verdegás e Antônio Camargo. A coordenação fica sob responsabilidade de Bob Vieira.
caipira
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Poeta do
Monte Santo
A poesia é repleta de sentidos poéticos, muito original e criativa, simples e muito bem ritmadas, muito atraentes e acessíveis inclusive às crianças.
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m simpático velhinho que aproveitava qualquer ocasião para declamar suas poesias, fosse na fila do banco, no ponto de ônibus ou em outro lugar onde se juntasse uma pequena multidão. Assim era Edison de Abreu Souza, mais conhecido como o Poeta do Monte Santo, bairro itapetiningano localizado às margens da rodovia Raposo Tavares. A poesia de Souza agradava a todos, mas encantava pincipalmente as crianças. E foi exatamente assim que o músico e também poeta, Luiz Antônio Vieira (Bob Vieira) conheceu o octogenário poeta. Fascinado pela figura de Souza, Bob o ajudou a concretizar
o sonho de publicar o primeiro livro, aos 89 anos, o que fez com que Edison de Abreu Souza entrasse para o Guiness Book of Records (edição de 1996), com a pessoa mais velha a publica um livro pela primeira vez. Veja agora um relato dessa experiência. “Conheci o Poeta quando observava aquela figura declamando poesias em pontos de ônibus, filas de bancos, supermercados e onde houvesse gente parada.Logo fiquei admirado com a qualidade das poesias e com a reação positiva das pessoas que ouviam seus versos. A simpatia daquele velhinho contagiava e irradiava alegria. Certo dia fui visitá-lo em sua casa e ele mostrou um caderno com mais de cem poesias escritas à mão por ele. Foi então que resolvemos ajudá-lo a publicar o seu livro”, conta Bob Vieira. Para ele, “a poesia (de Edison de Abreu Souza) é repleta de sentidos poéticos, muito original e criativa, simples e muito bem ritmadas, muito atraentes e acessíveis inclusive às crianças”.
poeta do velhinho
Recorde
Bob Vieira conta que o poeta en-
monte santo. um simpatico
trou para o Guiness em 96, mas já foi superado por outro autor. “Ele tinha 89 anos quando publicou seu primeiro livro. Dois anos mais tarde publicou o segundo livro. Participar de toda preparação dos textos, revisão, escolha das poesias, produção, busca de patrocínios, edição e divulgação, foi uma grande honra. Vê-lo vendendo seus livros e tornando seu sonho uma realidade, foi uma experiência inesquecível. Acompanhá-lo em suas visitas nas escolas e creches despertou em mim uma grande vontade de seguir por esse caminho. Hoje sigo tocando e cantando nas escolas e entidades, com meu livro “Brincando com Rimas” (lançado em 2004), totalmente inspirado no grande Poeta do Monte Santo”. Para quem quer conhecer um pouco do trabalho do Poeta do Montes Santo – e outros nomes da poesia local, como Nhô Bentico – Bob Vieira informa que está disponibilizado na Internet um livro digital com obras dos autores e ilustrado por alunos da escola estadual Alceu Gomes, com coordenação da professora Eleni Souza. Segundo Bob Vieira, a contribuição de Edison de Abreu para a cultura local é muito importante, pois “ele despertou em muita gente o gosto pela poesia. Até hoje muitas escolas utilizam o seu trabalho na alfabetização infantil, pois as crianças gostam muito de seus versos”.
“
Ele despertou em muita gente o gosto pela poesia. Até hoje muitas escolas utilizam o seu trabalho na alfabetização infantil, pois as crianças gostam muito de seus versos.”
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Nhô Bentico: Ele fazia
poesia
das coisas bem simples da vida
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bílio Victor, Nhô Bentico como era conhecido, nasceu em Itapetininga em agosto de 1889. Era um homem simples, popular, poeta, caipira nato e com muita facilidade em fazer trovas. Não imitava o caboclo, nem fazia de conta que era poeta, pois ele era na sua formação, na interpretação e na vida, o próprio caboclo da nossa região. Era maravilhado com a natureza, integrado com a terra, com suas tradições e costumes. “Antigamente em Itapetininga os jovens tinham a tradição de namorar, flertar em torno da praça
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e tinha o falante, onde os rapazes ofereciam musicas para as moças, então era muito comum, as moças chegarem no alto falante e falarem, “Nhô Bentico”, tem como fazer uma trova para mim? e ele fazia na hora, ele era repentista, ele tinha um dom maravilhoso de fazer trovas, de rimar”, explica a professora Nívia Guarnieri, grande admiradora da obra de Nhô Bentico. Foi carpinteiro, tipógrafo, trabalhou no Jornal O Ideal e muitos outros jornais da cidade. Ficou conhecido com radialista na PRD-9, com o Programa Manhãs de Minha terra, que foi sucesso por mais de 10 anos e onde se consagrou popularmente, e notabilizou-se como um dos maiores poetas sertanejos, a nível regional e nacional. Nívea lembra com saudades do poeta, “Eu era criança, mas lembro perfeitamente da figura dele, magro, alto, usava um terno claro, bem solto, cabelo comprido cacheado, usava um chapéu na cabeça e andava com uma bengala. Passava todos os dias na frente da minha casa, eu o ficava esperando na porta, já que para mim ele era um herói da minha época, ele passava eu corria para sala, para poder ouvir seu programa no rádio”, lembra. Nhô Bentico fazia das coisas bem simples da vida e escrevia poemas que mexiam com o imaginário das pessoas. “Suas poesias, além da pureza dos versos e da rima correta, destacavam-se pela incrível forma descrita, essa qualidade pode ser percebida tanto nas poesias trágicas, como nas jocosas”, conta Nívea. Escreveu vários poemas ainda hoje muito conhecidos como: Pitoco, casamento do pato, carnavá do sapo, rosinha, lágrimas do pai, João Paiáço, Cavalinho de Sabugo, entre tantas poesias.
Seu poema “Pitoco”, que contava a história de um cachorro valente que morreu para salvar seu dono, ficou conhecida nacionalmente e ainda emociona à todos que a ouvem. Rolando Boldrim, na estreia de seu programa Som Brasil, recitou a poema de forma comovente e citou a melhor forma de amizade que pode existir entre um menino e um cão. Muitas das obras de Nhô Bentico ficaram perdidas no tempo, já que não foram publicadas e por não existirem registros de gravações de seus programas. “Poucas poesias de Nhô Bentico foram escritas e publicadas, já que ele costumava fazer seu programa no Bar do Garcia, ali ele sentava, rimava os comerciais, escrevia seus poemas em papel de pão e levava para rádio, acabava o programa, ele jogava o que havia escrito no lixo”, lamenta. Dois livros foram publicados pelo poeta, Folhas do Mato (1939) e Favas Ingá(1950). “Como ele trabalha na tipografia, ele acabou produzindo alguns livros das suas obras, ninguém sabe se ele fez uma tiragem grande, o fato que em Itapetininga não existem mais esses livros. Em 1980, através de uma comissão, esses livros foram condensados, tentando assim, resgatar a história de Nhô Bentico”.diz. Nhô Bentico, foi casado com Benedita Soares Victor e teve 5 filhos. O poeta morreu cedo, “viajou fora do combinado”, como citou Rolando Boldrin, na abertura de seu programa em 1982. O poeta faleceu em 7 de outubro de 1952, com apenas 53 anos. Seu enterro foi o mais concorrido, que se tem registro na história de Itapetininga.
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(...) ele era repentista, ele tinha um dom maravilhoso de fazer trovas, de rimar”
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Rossini Tavares de Lima Fundador do Museu do Folclore, deixou sua marca na cultura paulista Conhecido pelo temperamento forte e apaixonado, este entusiasta da cultura popular faleceu em 1987
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ilho do professor Mozart Tavares de Lima, desde cedo Rossini teve contato com a música e cultura. Turrão, rabugento e briguento. Assim era Rossini Tavares de Lima. Inflexível na defesa de seus ideais, mas também apaixonado pelo que fazia. Um homem que deixou sua marca em seu trabalho e nas pessoas que o conheceram. O professor Antônio Macedo é uma dessas pessoas. Em 1997, ano do aniversário de 10 anos da morte de Rossini, Macedo presidia a Comissão Estadual do Folclore e escreveu um artigo sobre sua convivência com o mestre, como o então jovem aluno se referia ao professor. Macedo destaca a teimosia de
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Rossini. “O briguento Rossini Tavares de Lima. Brigou com muitos. Ou com todos? Brigou até o fim da vida. Até quase o fim. No leito do hospital, segredou: “Ah! Meu filho. Este velho professor não vale mais nada”. Jogou a toalha, como se costuma dizer. As lágrimas rolaram: Rossini também sentia”. Antônio Macedo lembra que nem mesmo ele conseguiu evitar as famosas brigas do mestre. “Mas não sei como, aprendi a admirá-lo. A admirar aquele homem teimoso que encontrei tantas e tantas vezes, bomba de inseticida em punho, travando uma batalha corporal com cupins, traças e outros inimigos do seu Museu. Defendendo sua toca como uma leoa parida. A toca/museu que criou e em que se enclausurou depois de se desiludir
com os comunistas. Sim. Foi comunista convicto, de carteirinha e de suor, liderando passeatas e indo preso várias vezes”, escreveu Macedo. Ele lembra ainda que “pelo começo dos anos 50, já casado e pai de filhos, ajudou a liderar passeata no Vale do
Anhangabaú. Foi preso com outros 5 colegas. Um tio seu, delegado de polícia arranjou para que fosse solto. Sempre turrão, teimou em não sair sozinho. Ficou. Até que todos foram soltos. Rompeu com o Partido, mas manteve-se materialista e ateu até o fim: não quis cerimônia fúnebre e pediu para ser cremado. Materialista e apaixonado pelo folclore, capaz de lidar diuturnamente com as mais diversas expressões da religiosidade popular, sem o menor preconceito”, afirma Macedo, ressaltando que, neste aspecto, Rossini Tavares de lima se diferenciava “da maioria dos materialistas históricos: enquanto estes viam a cultura do povo como sinal de atraso, consideravam a arte do povo desprovida de qualquer valor estético, Rossini ressaltava a sua criatividade, se extasiava com o belo na cultura popular. Trazia a paixão pela música, marca de família, impressa no próprio nome e no fervor que dedicou ao piano, no qual marcava encontro com Lizt, Chopin e para o qual fez arranjos de modinhas e outras canções populares”.
Acadêmico
“Membro efetivo da Academia Brasileira de Música, ocupando a cadeira de que é patrono Luciano Gallet (fato que quase ninguém sabia), Doutor Honoris Causa, tendo participado de bancas de exames de Mestrado e doutorado na USP e na Escola de Sociologia e Política, anunciava-se simplesmente como folclorista. Gostava de ser tratado por professor. O erudito e o folclorista”, escreve Macedo em seu artigo, para em seguida completar: “apaixonado e sempre ávido de informações a cada conhecido que chegava, per-
guntava sem cerimônia: “ Por onde você tem andado? O que tem visto? O que você traz aí?”. Ávido e lúcido até o fim. Dias antes de sua morte rompi o isolamento que havia se imposto, passando com ele um dia no hospital. Eu havia chegado de uma pesquisa no Maranhão. “Trouxe algo para eu ver ?”, foi logo perguntando. E, entre uma terapia e outra, no leito ou na cadeira de rodas, examinou, atentamente, com comentários e perguntas, as mais de trezentas fotos do documental realizado. Preocupado com sua obra até o fim. No leito do hospital, a partir das leituras que fazia e do que ouvia, preparava relações de aquisição de livros para a Biblioteca João Ribeiro, que embalou desde o embrião, ainda em sua casa. De lá, do hospital, também mandava tarefas de pesquisas”. O discípulo lembra ainda que “por diversas vezes, ouvia as pessoas como que ignorando o interlocutor. Lembro-me que certa vez, depois de ter feito um registro de “boi de roça” com migrantes em um cortiço, fui ao Museu e relatei ao professor as características do registrado e a dificuldade em encontrar referências. Rossini parecia alheio. Sentindo que não recebia atenção, retirei-me. Minutos depois, sem dizer nada, aproximou-se e colocou à minha frente um livro que tratava de aboios de cova ou aboios de roça: Pronto, meu filho! E pude entender o que o nosso povo chamava de “boi de roça”. Lia tudo e guardava tudo. Memória privilegiada. Trazia a Biblioteca que criou mapeada em sua cabeça. Idealista colaborou com tantos durante boa parte de sua vida. Emotivo e apaixonado amargurava-se com o não reconhecimento pela significativa colaboração que prestou
ao grande mestre potiguar para a 3ª edição do seu Dicionário do Folclore. Nos seus ímpetos de emoção também cometeu injustiças. Certamente muitas. Não media as palavras. E isto amealhou-lhe inimizades.
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Entretanto a marca que ficou foi a de seu idealismo, grande o bastante para sua principal obra: o museu que ora leva seu nome, unanimemente, reconhecido como um dos maiores acervos do gênero no mundo”, finaliza Antônio Macedo. 25
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projeto, que funciona através de uma parceria entre o Ceprevi e os Governos Federal( Ministério da Cultura) e Estadual ( Secretaria de Estado da Cultura), visa resgatar e enaltecer a cultura tradicional caipira em Itapetininga e região, além de desenvolver atividade artísticas, educacionais e sociais, em Itapetininga e região. Meninos da Porteira tem como finalidade homenagear os grandes itapetininganos que contribuíram efetivamente para que o município fosse destaque no cenário nacional, como podemos destacar Teddy Vieira e Nhô Bentico. Em Itapetininga, o projeto é desenvolvido em quatro centros de convivência, atendendo aproximadamente 200 alunos. Através de aulas de arte e cultura, são ministradas noções de viola caipira, destinada a comunidade local, além de aula em argila e canto coral, direcionadas aos deficientes visuais atendidos pelo Ceprevi, como forma de socialização e bem estar. Além dessas ações, nos dois primeiros anos do projeto ( 2010 e 2011), foram criadas parcerias, as quais geraram vários espetáculos. Destaque para o show “Inclusão e Diversidade”, apresentado no Teatro do Sesi do município, que reuniu no mesmo palco o coral, formado pelos deficientes visuais e o grupo de viola formado pelo comunidade.
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Meninos d
A partir da necessidade do Ceprevi, ampliar para toda a comunidade, em 2009, foi criad O sucesso foi tanto que o evento foi incluído no projeto Revelando São Paulo, do Governo do Estado de São Paulo. O maestro João Carlos Martins, conhecido internacionalmente pela sua competência e história de superação, foi um dos espectadores do grupo. O projeto foi destaque, também na apresentação do cantor Sergio Reis na cidade. O artista citou o grupo durante seu show e fez uma homenagem ao projeto que leva o nome de uma música eternizada em sua voz.
Professora Aline História selecionada entre as 10 melhores histórias de experiências educativas, entre 400 participantes “Logo no início do meu trabalho no Ceprevi (Centro de Pesquisa e Reabilitação Visual de Itapetininga) tive muitas dificuldades no trabalho com educação musical para alunos cegos e com baixa visão. Não havia
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porteira.
da Porteira
sua área de atuação e expandir seu trabalho do o Ponto de Cultura, Meninos da Porteira. uma fórmula a seguir. Conforme as dificuldades foram aparecendo, também vieram as soluções.Parte dos alunos não possuem apenas deficiência visual, apresentam outras deficiências associadas e com isso as necessidades de adaptação durante as aulas também são diferentes. Descobri aos poucos o que dava certo para uns e para outros, desde levar um CD para ouvir em casa, uma folha com a letra ampliada, braile e alguns decoravam facilmente durante
as aulas. Muito lentamente consegui a afinação do grupo em canto uníssono e atualmente conseguimos realizar grupos em dois naipes, ou seja, duas vozes, o Ceprevi foi premiado com um ponto de cultura Meninos da Porteira, que teve por objetivo resgatar a cultura local de nossa cidade, Itapetininga, através da música sertaneja e raiz da nossa Região, homenageando o compositor Teddy Vieira, que nasceu aqui. É neste ponto que, voltando agora
ao tema, gostaria de narrar uma experiência audiovisual que vivenciamos. Uma das composições que mais chamava a atenção dos alunos era a música Coro de Boi. Em uma determinada aula, os alunos sugeriram criar um clip que contasse a história dessa música. Ficaram animados por algumas semanas, trouxeram os figurinos e os objetos necessários, como por exemplo: paletó, chaleira e canecas. Iniciamos o trabalho que depois de pronto foi disponibilizado no Youtube. Através da produção audiovisual foi possível realizar a integração do uso da tecnologia na escola. A metodologia foi baseada em três momentos: discussão verbal (debate) de como seria a produção; momento de escuta da música, deixando-os livre para expressarem suas próprias interpretações, estimulando a criatividade e a imaginação (reflexão), e por último, o momento prático (experimentação), aósdecidrem cada cena as representaram contracenando enquanto o registro era realizado através de fotos e pequenos vídeos. Minha colaboração foi com a ajuda nos ensaios, filmagem e edição do vídeo, o vídeo foi apresentado no Sesi para familiares e comunidade. Foi uma nova forma de inclusão digital e social. Eles ficaram muito felizes e provaram para si e para a sociedade que podem participar de atividades artísticas sim e vencer as limitações pessoais encontradas no caminho.”
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“Foi uma experiência gratificante trabalhar com uma instituição como o Ceprevi
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Me envolvi mesmo e passava dias e noites pesquisando a obra de Charles Chaplin”
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TEATRO EXPERIMENTAL Fã de Charles Chaplin, montou peça com alunos da instituição.
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onvidado para ministrar uma palestra sobre higiene dental aos alunos do Ceprevi em 2006, Roberto Lima de Lara se emocionou e se entusiasmou com a instituição, que o brindou com um cartão escrito pelo método Braille. Logo decidiu que gostaria de fazer mais pelo centro e optou por desenvolver um trabalho na área de cultura, segmento ao qual é muito ligado. Fã incondicional de Charles Chaplin, Lara escolheu montar uma peça teatral baseada nos filmes e na música do gênio Chaplin, que imortalizou nas telas de cinema o personagem Carltos. Nascia assim o Teatro Experimental do Ceprevi, que emocionou a cidade com apenas duas apresentações. Uma vida curta, mas que deixou marcas em muita gente, inclusive, claro, o seu idealizador. “Foi uma experiência gratificante trabalhar com uma instituição como o Ceprevi”, conta Roberto Lara, “me envolvi mesmo e passava dias e noites pesquisando a obra de Charles Chaplin”, acrescentou. Com o apoio da esposa Elza e a colabo-
ração de muita gente, Lara resolveu levar até o fim a empreitada. Roberto Lara lembra que os alunos do Ceprevi já desenvolviam atividades culturais, como a leitura de livros (com a professora Tânia Moreno) e aulas de música (professor João Placco). “Resolvi juntar tudo e começamos os ensaios, contando com 17 alunos do Ceprevi e 10 voluntários, entre eles o neto do ex-prefeito Tardelli”. A recepção ao projeto não poderia ter sido melhor. “Os alunos foram se entusiasmando dia a dia com as músicas; alguns até quiseram aprender violão e os ensaios eram baseados na música de Chaplin”, lembra Roberto Lara. O desafio mais difícil para ele foi sintetizar, junto com a esposa, detalhes dos filmes do cineasta. Obras como O Grande Ditador, Luzes da Cidade e Tempos Modernos são clássicos do cinema e cheios de críticas sociais. Como transcrever isso para o teatro? Certamente, como muita dedicação. E foi o que Roberto Lara fez. “Eu ia todas s tardes ao Ceprevi, junto com a Elza e a professora Tânia”.
Por seu lado, os alunos também se esforçaram e procuraram representar com perfeição. Não é sem motivo que a montagem fez muita gente chorar. Mesmo com todo o sucesso, o Teatro Experimental teve vida curta. Foram somente dus apresentações no anfiteatro da Prefeitura. E o motivo é um só: o imenso trabalho que dá fazer uma produção como essa. “Tínhamos que pensar em cada detalhe”, observa Roberto Lara. Para ele, a experiência “foi totalmente válida. Foi também uma transformação para os alunos e divulgou a instituição e o trabalho que ela fazia, pois até o Ceprevi era desconhecido e conseguimos divulgá-lo, como era o nosso objetivo. “Foi muito importante para a minha vida. Marcou. Eu tinha acabado de me aposentar; geralmente, qunado a pessoa se aposenta, fica na casa de pijama, mas eu sempre gostei de teatro, teve até um irmão da minha mãe que montou um grupo de teatro em Itapetininga, no ano de 1922”, afirma Roberto Lara, que tem na pintura outra paixão.
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omo forma de incentivar a inclusão no esporte, os alunos do Ceprevi participam desde 2007,de aulas de goalball. O esporte, também conhecido por goalball, é um jogo praticado por atletas que possuem deficiência visual, cujo objetivo é arremessar uma bola sonora com as mão no gol do adversário. O esporte é jogado tanto por homens, como por mulheres. E um dos atletas do goalball no Ceprevi, foi destaque em âmbito nacional no esporte. Rafael Tavares de Moraes, de 21 anos, foi convocado esse ano para defender o Brasil no Mundial da categoria nos Estados Unidos, em julho. Na oportunidade, a seleção brasileira ficou com a medalha de bronze na competição. “O esporte criou mais uma alternativa, faz bem para a saúde, o goalball tornou minha paixão, o meu esporte”, conta Rafael. Para Ana Murosaki, uma das fundadoras do Ceprevi, o esporte ajuda a ultrapassar as limitações e a criar vencedores. “ A equipe do Ceprevi participou de várias competições e conseguiu bons resultados. O Rafael em especial, se destacou e mereceu representar o Brasil esse ano. O goalball, sem dúvida é importante para os deficientes visuais, para derrubar as barreiras das limitações e a partir disso, aceitar a deficiência e a voltar a sorrir”, explica.
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O que é o Goalball?
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Segundo o professor Leandro de Almeida Murat,,”o goalball é um esporte criado para deficientes visuais, diferente de todos os outros esportes, que são adaptados para o deficiente. Ele é jogado numa quadra com as mesmas dimensões da de vôlei (18x9m). Ela é totalmente demarcada em alto relevo com barbante e fita adesiva, para que os jogadores possam se localizar em quadra. São 3 jogadores de cada lado, todos eles são defensores e arremessadores, o objetivo do jogo é arremessar a bola rasteira do lado adversário e fazer o gol”. Parece quase impossível que um deficiente visual pratica um esporte como esse, mas o segredo está na bola utilizada, de acordo com Leandro Murat. “A bola possui guizos para que os atletas saibam a direção em que ela vai, e o jogo é realizado em silencio para que se possa ouvir o som da bola, a não ser no momento do gol em que se pode comemorar.Quando o Goalball foi inventado, seu principal objetivo era para reabilitação. Mas ele foi muito além, hoje em dia podemos afirmar que o esporte traz benefícios físicos e psicossociais ao deficiente”, contou Murat. A experiência tem sido tão boa e gratificante que o jovem professor garante que pretende continuar com ela. “já conquistamos muitas vitórias e já temos alguns títulos no currículo. E a cada ano, temos um objetivo ainda maior a ser conquistado e quero estar lá para partilhar dessa alegria”.
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Estou no CEPREVI há 7 anos, e desde então, aprendi muita coisa, e continuo aprendendo, cada dia é uma experiência nova, vejo nos meus alunos exemplos de vida e superação”.
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Professor fala da experiência de trabalhar no
CEPREVI A frase ao lado é do professor de Educação Física Leandro de Almeida Murat, que ministra aulas aos alunos do Centro de Pesquisa e Reabilitação Visual de Itapetininga (Ceprevi). Murat treina o time de Goalball do centro, que vem se destacando no esporte, inclusive conquistando diversos títulos. Desenvolvido para portadores de necessidades especiais (no caso, deficientes visuais), este esporte ajuda a elevar a autoestima, proporciona maior coordenação motora e outros benefícios, indo muito além da atividade física, Saiba agora um pouco da
história do professor que continua aprendendo com seus alunos. “A idéia surgiu em 2006, quando procurei a entidade para fazer voluntariado, tive identificação com a disciplina de educação física adaptada na graduação da minha faculdade, e a curiosidade de trabalhar com pessoas com deficiência me levou ao Ceprevi. A indicação do centro veio através de uma tia que também é professora de Educação Física, e com quem eu fazia estágio na época”, conta Leandro Murat.
Empreender
no social: uma dimensão subjetiva na objetividade
A única finalidade aceitável das atividades humanas é a produção de uma subjetividade que enriqueça de modo contínuo sua relação com o mundo.” Félix Guattari, Três Ecologias (1992)
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ode-se entender empreendedorismo como uma habilidade de identificar as oportunidades no mercado e ter coragem de investir no desenvolvimento dessas oportunidades. O empreendedor social percebe que há uma disfunção economica e social relacionada às mazelas sociais como o desemprego, a falta de atendimento na saúde, educação e assim por diante. Esse ator tem visão ampla, enxerga a questão como oportunidade para empreender e beneficiar a todos. O empreendedor pode ir além de apenas criar seu projeto, pode também trabalhar para despertar a consciência dos investidores sociais, aqueles que vão doar para um determiando projeto. Ele pode fazer com que eles se sintam também empreendedores, não apenas doadores mecânicos que pagam um boleto ou depositam um certa quantia em dinheiro por mês. O que está subjacente ao ato de doar? A doação para organizaçoes não governamentais pode estar na
ordem da subjetividade vinculada a fazer caridade, a uma ideologia, à busca de identidade, a um interesse, a uma culpa, a bondade, ao querer agradar alguém e assim por diante. Falemos aqui um pouco sobre o que mobiliza alguém a ajudar. A subjetividade enraizada, incorporada, recorrente, pode provocar como consequencia ações objetivas permanentes, mas qual desses valores ao ser despertado poderia criar uma corrente de ajuda de cooperação no campo social e com isso uma onda coletiva de empreendedorismo? As Ongs precisam de dinheiro para manter seus projetos sociais, mas como despertar esse desejo de doar em cidadãos que muitas vezes têm seu interesse voltado para o consumo e investem seus recursos em bens materiais que supram seus próprios desejos? Que desejos seriam esses que podem mobilizar uma pessoa a ajudar outras pessoas? O sujeito quando investe em um empreendimento social pode pensar primeiro de uma maneira individual, depois por instinto etológico
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e assim resolver deslocar alguma renda, objetivamente, para auxiliar na construção de uma nova estrutura beneficiando programas que atendam pessoas em situação de pobreza. Esse mesmo pensamento pode ser invertido: o sujeito se percebe no coletivo e verifica que pode beneficiar pessoas com sua doação, pensa individualmente, verifica se é pertinente doar e opta por ajudar. A subjetividade da pessoa diante de uma realidade é incorporada no cotidiano de outras pessoas de maneira concomitante e inseparável. Segundo Guattari --pensador, polêmico, envolvido em movimento sociais-- a subjetividade é essencialmente social, assumida e vivida pelos indivíduos em suas existências particulares. Guattari e Rolnik no livro Micropolitica - Cartografias do Desejo - (1986), escrevem: “é a subjetividade individual que re-
sulta de um entrecruzamento de determinações coletivas de várias espécies, não só sociais, mas economicas, tecnológicas, de mídia”. Tal subjetividade individual, quando se a transporta sem muito questionar não será favorável para a singularização do sujeito que é inerente à transformação do social. Cumpre mencionar a importancia de se produzir um novo processo e pensar em empreendedorismo na sua potência de produção de subjetividades singulares, isto é, modos de sensibilidade e de relação com o outro que amplifiquem a voz do coletivo, o desejo de dividir bens materiais, ideias, opiniões, pensamentos para somar interesses numa equação que tenha como resultado não somente o discurso mas sim o fazer, isto é uma vontade de construir o mundo no qual nos encontramos.
Miriam Ferrari Itapetiningana, graduada em serviço social pela PUC-CAMPINAS, pósgraduada em psicologia social (PUC-CAMPINAS), mestranda do curso psicologia social (PUC-SP). Atualmente é professora de Gestão de Projetos Sociais da PUC de São Paulo, professora da Unianhanguera - campus Osasco. E-mail: miriam.ferrari@terra.com.br
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Especialistas falam sobre a importância dos pontos de cultura
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importância dos pontos de cultura para o fomento da produção cultural paulista é um dos pontos levantados por dois nomes envolvidos com a preservação e divulgação da arte e cultura regionais. Para Raquel Fayad, Coordenadora do Museu Histórico Paulo Setúbal e diretora geral do ponto de Cultura Amart Cultural, em Tatuí, o ponto de cultura “é um lugar onde a cultura pode ser produzido, fomentada, compartilhada, divulgada e fruída. Um lugar da arte. No nosso municí-
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pio o Ponto de Cultura possibilitou encontros, desenvolvimento e uma produção diferenciada, além de sacramentar-se como local de arte e cultura. Acredito que os pontos de cultura ficarão na história porque além de serem um incentivo para os que acreditam na arte dando-lhes a chance de mostrar o que o pode ser realizado, também uniu o meio cultural, fez contatos, criou rede”. Rafael Francis, professor e produtor cultural na cidade de São Miguel Arcanjo, revela que a instalação do ponto de cultura no município mudou
o cotidiano cultural local, pois o serviço tornou-se “uma referência em produção cultural por aqui, onde os ponteiros eram procurados para a discussão de políticas culturais para nosso município. Tanto é que estão passando por aqui as reuniões para a formação do Conselho de Cultura, estamos reunindo agentes culturais com vistas a formação de uma Associação Cultural, estamos, junto com o poder legislativo implantando a Lei Cultura Viva e se tornando uma espécie de incubadora de projetos para a cidade”
!
É tudo tão
comum
Campanha pela Cultura Viva Comunitária busca destinar legalmente um mínimo de 0,1% do orçamento público para o “fazer cultural” autônomo e protagonista, potencializando os pontos de cultura existentes. Trata-se de uma experiência de lei continental, que se estende da Terra do Fogo ao Rio Grande, unindo 21 nações
“
Uma notícia está chegando lá do exterior. Não deu no rádio, no jornal ou na televisão”
E
m minhas centenas de viagens aos pontos de cultura pelo interior do país, sempre cantarolava a música “Notícias do Brasil”, de Milton Nascimento com letra de Fernando Brant. Queria compartilhar este país que eu tinha oportunidade de ver com meus próprios olhos, um Brasil energizado e unido pelos pontos de cultura, com gente criativa e valente, fazendo coisas diferentes na defesa do bem comum. De certa forma, pude contar essas histórias no meu livro Ponto de cultura: o Brasil de baixo para cima, tanto que começo fazen-
do um diálogo com essa música e a história dos meninos e meninas de Araçuaí (Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais) e o presente que deram à sua cidade: um cinema. Agora, há mais de um ano e meio fora do Ministério da Cultura, relembro a música e apenas faço uma mudança na letra, trocando “interior” por “exterior”. A vida tem me levado para fora do Brasil e desde março tenho recebido incontáveis convites para conferências e cursos em outros países, sobretudo na América Latina, mas também na Europa. No período em que estava trabalhando no Ministério da Cultura, evitei as viagens oficiais ao exterior, pois tinha consciência de que, naquele momento, minhas responsabilidades estavam em dar conta de meu trabalho para o povo brasileiro, atendendo aos milhares de entidades culturais comunitárias do país, e assim o fiz. Agora, sem responsabilidades de governo, posso sair difundindo não mais um programa governamental, mas teoria, conceitos e experiências que podem e devem ser compartilha-
dos. Com isso, já estamos realizando uma campanha continental pela Cultura Viva Comunitária, que busca destinar legalmente um mínimo de 0,1% do orçamento público para o “fazer cultural” autônomo e protagonista, potencializando os pontos de cultura existentes em cada país. Essa é uma experiência de lei continental, que se estende da Terra do Fogo ao Rio Grande (o rio seco que separa o México do estado norte-americano do Texas), unindo 21 nações. Uma primeira percepção com essas viagens: é tudo tão comum! Eu nos vejo quando estou na Guatemala, com a Caja Lúdica, fundada por um casal de colombianos de Medellín. Neles encontro os tantos casais que diariamente levam adiante seus pontos de cultura no Brasil (entre os muitos pontos de cultura que conheci, aqui e no exterior, sempre encontro a presença dedicada e cúmplice de casais). Na verdade, a Caja Lúdicada Guatemala atua como um pontão de cultura, articulando, capacitando e difundindo pontos de cultura por todo o país e mesmo en-
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tre seus vizinhos da América Central. São cinquenta pessoas em trabalho diário, vivendo da caixa lúdica, sendo remuneradas por ela (não muito, pois sabemos o quanto é dura a vida de quem opta por trabalhar em uma perspectiva do bem comum, mas suficiente para uma vida digna e feliz). A iniciativa dessilencia um povo silenciado pelos genocídios recentes (a guerra civil que assolou o país até o final do século XX fez mais de 50 mil desaparecidos e 200 mil mortos em genocídio, de uma população com pouco mais de 14 milhões de habitantes) e passados (a Guatemala está no centro da civilização maia), retomando a medicina tradicional dos maias, seus ritos e histórias; mobilizando jovens e difundindo a cultura de paz no país com o segundo maior índice de homicídios do mundo (setenta assassinatos para cada 100 mil habitantes; no Brasil, a taxa é de 22 por 100 mil); recuperando brincadeiras infantis; e ocupando as ruas e praças com teatro, dança e música. Na Guatemala, eles não contam com uma política pública como o Cultura Viva e obtêm recursos financeiros por meio de acordos de colaboração internacional, mas querem que o Estado assuma sua responsabilidade reconhecendo a cultura como um direito humano inalienável. Em agosto de 2011, participei de uma comparsa (passeata festiva) nas ruas da Cidade da Guatemala, a capital; éramos mais de quinhentos manifestantes, gente em perna de pau (lá descobri que a perna de pau era usada pelos maias há milênios), com roupas diferentes, máscaras e muito sorriso no rosto. O que queriam e querem? Pontos de cultura como base e a cultura viva como alavanca para o desenvolvimento sustentável.
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Identidade na diversidade Em outro extremo da América, a Argentina, nova manifestação em novembro de 2010: El pueblo hace cultura. Igualmente, mais de quinhentas pessoas nas ruas. Grupos de Teatro do Oprimido se apresentando “en las calles” (com sotaque bem portenho, em que dois eles formam gê). As avenidas largas de Buenos Aires foram palco de uma linda manifestação com tambores e caminhões artísticos do Calderón Timbal(outro pontão de cultura que preenche com arte a periferia da Grande Buenos Aires). Juntos, saímos do Congresso Nacional e fomos até a Casa Rosada (palácio presidencial), concentrando-nos na histórica Plaza de Mayo e provando que Crear vale la pena!(mais um ponto de cultura). E, para lavar a festa, uma chuva de verão, com direito a sol e arco-íris. Na Argentina, já há edital do governo para seleção de pontos de cultura e projeto de lei no Congresso. Mais ao norte, no Peru, novas manifestações pela Cultura Viva por una nueva Lima. O governo da capital peruana já está aplicando o programa como estratégia para o desenvolvimento local, e o Ministério da Cultura, após a vitória do presidente Ollanta Humalla, definiu os pontos de cultura como prioridade; há até um sloganno site do ministério: “Punto de cultura, la identidad en la diversidad!”. Tudo começou com uma moça peruana que esteve na Teia de Fortaleza e que leva o nome de pomba: Paloma. Hoje são tantas as pessoas engajadas nas terras incas que nem é possí-
vel contá-las. Tudo em tão pouco tempo, e já voam como a cultura viva que se espalha pelo mundo. Atravessando os Andes e regressando à América Central: Costa Rica. Pura vida! É assim que eles definem a vida por lá, um país de gente corajosa, que há sessenta anos decidiu viver sem forças armadas e priorizar o investimento em cultura e educação. Um país pequeno, com um povo feliz e educado; eles se autodefinem como “ticos”, pois têm o hábito de se referir a tudo no diminutivo. O ministro da Cultura é um músico entre o erudito, o tradicional e o jazz e há anos sai recolhendo ritmos e sons da cultura popular da América Central, depois compõe em coisas novas com a orquestra da Papaya, pura mistura, como a realizada a partir dos prêmios do Interações Estéticas do Cultura Viva. Há redes de cultura no interior do país, na montanha, no litoral, entre vulcões, na capital; surpreendam-se! Em San José (a capital, com 1,5 milhão de habitantes), há vinte teatros com programação regular, de quarta a domingo; e no primeiro Encontro Nacional pela Cultura Viva Comunitária reuniram mais de cem entidades de todo o país. Todos querem ser ponto de cultura; ou melhor: PunTicos de cultura. Mais ao norte: México. Um país-continente como o Brasil. A terra das cores vibrantes, das mil culturas, das pirâmides e da sabedoria ancestral ameríndia. O ponto de encontro foi a Cidade do México, enorme, e para lá foi gente de todo o país. Na fronteira
com os Estados Unidos, uma cidade assolada pelos cartéis do tráfico de drogas e a superexploração da mão de obra em fábricas maquiadoras de produtos importados, Ciudad Juárez, combate o genocídio de mulheres com biblioteca comunitária e ações de leitura e gênero; mais um ponto de cultura que já é. Há outros, na periferia da capital, nos estados de Oaxaca, Chiapas, falando em espanhol ou em idiomas indígenas. Há também um enorme interesse das universidades mexicanas por toda a experiência brasileira. Na Faculdade de Economia da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), a conferência foi “Economia viva e economia criativa?”; na IberoAmericana, sobre cultura digital; e na Universidade do Distrito Federal, sobre cultura e direitos humanos. Pura troca em que fui acompanhado por um ponto de cultura do Brasil, o Vídeo nas Aldeias. Unindo as partes desta América diversa e ensolarada, a Colômbia. Uma surpresa! Eu próprio, acostumado a combater estereótipos e preconceitos, me surpreendi com aquele país. Um povo tão gentil e amável. Como podem viver em meio a tanta violência? Narcotraficantes, contras, guerrilheiros. Como é possível? Em sua cultura ancestral, vi uma das mais delicadas metalurgias, só trabalhos em ouro, com imagens de flores, pássaros, macacos, nenhuma arma, nenhuma cena de violência. Enquanto visitava essa bela ourivesaria no Museu do Ouro de Bogotá, comparava-a com a cultura grega, romana ou dos demais povos europeus ou asiáticos e me lembrava das imagens de guerra e destruição, das armas e batalhas aterradoras. Com a arte dos primeiros habitantes do El Dorado (os conquistadores espa-
nhóis supunham que a cidade de ouro estava no território da atual Colômbia) só vi beleza e paz. Para eles, os pontos de cultura têm um significado: “desesconder” a Colômbia ancestral e religar o presente com a paz. Em Bogotá, há toda uma articulação da prefeitura municipal pela cultura viva; em Cali, mais de cem grupos defendem os conceitos da cultura viva (autonomia, protagonismo e empoderamento social) e, em Medellín, um dos mais instigantes laboratórios de tecnologias sociais no mundo. Uma cidade que se reinventa pela cultura (5% do orçamento público vai para a Pasta da Cultura), que faz lindas bibliotecas em meio a favelas, que estabelece um compromisso cidadão e trata bem seu povo; assim estão superando as marcas do narcotráfico e das desigualdades. Mas faltava um ponto a aproximar ainda mais governo e povo, um ponto de potência que só se encontra nas comunidades ativas. Quem fez esse ponto e alavanca foi um ponto de cultura que já é, Nuestra Gente, uma casa comunitária em meio à favela, com Jorge Blandon e tantos amigos gentis. Nuestros hermanos, em todos os países, gente comum a todas as outras que conheci em cada viagem pelo interior do Brasil e agora por nuestra América.
Célio Turino Historiador, escritor e gestor de políticas públicas, foi idealizador e gestor do porgrama Cultura Viva e dos pontos de cultura, tendo exercido diversas funções públicas, entre elas secretário de Cultura e Turismo em Campinas/SP (1990 -92), diretor de Esporte e Lazer em São Paulo/SP (2001-2004) e secretário da Cidadania Cultural no Ministério da Cultura (2004 2010). Autor dos livros Na trilha de Macunaíma: ócio e trabalho na cidade (Senac, 2005) e Ponto de Cultura: o Brasil de baixo para cima (Anita Garibaldi, 2009) entre outros.
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Rede de pontos de cultura será ampliada no Estado O número de projetos deverá passar de 400, segundo Antonieta Jorge Dertkigil, diretora do Núcleo de Editais da Secretaria de Cultura do Estado.
A
rede de pontos de cultura no Estado de São Paulo deve ser ampliada este ano e em 2015. A avaliação positiva da iniciativa foi decisiva para que o governo estadual optasse por ampliar a rede. “Contemplaremos mais de 400 projetos, entre os de continuidade, novos, para coletivos e Pontões. Esse edital abarca todo o Estado, não sendo particular a nenhuma região específica”, afirmou Antonieta. Segundo ela, a secretaria “tem se preocupado cada vez mais em garantir o acesso da sociedade aos programas executados por ela”. Antonieta ressalta que os pontos de cultura “são projetos provenientes de entidades da sociedade, de caráter cultural ou com histórico de atividades culturais, legalmente constituídas, sem fins lucrativos, que explo-
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rem diferentes meios e linguagens artísticas e lúdicas, a inclusão digital, de forma que potencializem ações e contribuam com a ampliação e garantia de acesso aos meios de fruição, produção e formação cultural”. “O Ponto de Cultura deverá funcionar como um instrumento de pulsão e articulação de ações e projetos já existentes nas comunidades do Estado, desenvolvendo ações continuadas em pelo menos uma das áreas de Culturas Populares, Grupos Étnico-Culturais, Patrimônio Material e Imaterial, Audiovisual e Radiodifusão, Culturas Digitais, Gestão e Formação Cultural, Pensamento e Memória, Expressões Artísticas, e/ou Ações Transversais. Os Pontos de Cultura são elos entre a Sociedade e o Estado que possibilitam o desenvolvimento de ações culturais sustentadas pelos princípios
da autonomia, protagonismo e empoderamento social, integrando uma gestão compartilhada e transformadora da instituição selecionada com a Rede de Pontos de Cultura”, conta a diretora do núcleo, acrescentando que “em breve, os interessados poderão participar do Edital, acompanhando as notícias através do site: www. cultura.sp.gov.br, A população pode ter acesso ao catálogo com o mapeamento da Rede Estadual dos Pontos de Cultura pelo site da Secretaria”. A proposta dos pontos de cultura começou a ser viabilizada em dezembro de 2009, quando a Secretaria da Cultura do Estado lançou um Edital para pontos de cultura, conveniado com o Ministério da Cultura, visando a seleção de 300 Pontos de Cultura. Entre eles, estava o Meninos da Porteira, do Ceprevi de Itapetininga.
“A experiência é extremamente positiva”, diz representante do Ministério da Cultura Para Valério Benfica, os pontos de cultura deram certo, mesmo com alguns problemas de gestão
A
experiência dos Pontos de Cultura é extremamente positiva. Com certeza é uma experiência que deu certo. É claro que existiram problemas de gestão. Muitas vezes as pequenas organizações contempladas pelo programa não estavam preparadas para lidar com o enorme número de exigências da legislação de convênios. E, por outro lado, o Estado brasileiro também tem muitas limitações para compreender os mecanismos de funcionamento da sociedade. Mas tudo isso está sendo superado, com o esforço tanto do governo quanto da sociedade”, a afirmação é de Valério Benfica, Chefe da Representação Regional do Ministério da Cultura em São Paulo. Ele explica que “um Ponto de Cultura é uma organização que já desenvolve atividades culturais. São iniciativas locais, comunitárias, que
respondem às necessidades de uma população específica, que trabalham com manifestações características de todos os cantos do Brasil. A ideia do Programa Cultura Viva é reconhecer e apoiar tais iniciativas, repassando recursos e equipamentos e dando-lhes visibilidade. Busca-se também integrar, principalmente através de iniciativas virtuais, mas também presenciais, organizações que trabalhem com temáticas semelhantes ou complementares. As palavras-chave do programa são: protagonismo, empoderamento e gestão compartilhada. O acesso aos recursos é sempre feito por meio de Editais Públicos”. Benfica conta que a iniciativa deve ser ampliada e a proposta é de chegar a 15 mil pontos de cultura em funcionamento no país, até 2020. “No final de 2013 renovamos o convênio com o Governo do Estado de São Paulo, que
resultará em mais de 500 iniciativas premiadas no período de dois anos. Organizações de Itapetininga poderão concorrer”, revela o representante do MinC. Segundo ele, somente na cidade de São Paulo serão selecionados 85 pontos de cultura. Acesso à Cultura ainda é difícil Benfica reconhece que o acesso à cultura no Brasil ainda é restrito. “Por vários motivos o acesso à cultura é pouco, enquanto a nossa produção é gigantesca e riquíssima. O esforço do Ministério da Cultura é justamente esse: possibilitar que toda esta produção chegue à população seja através de iniciativas como os Pontos de Cultura, ou por meio do Vale Cultura, dos Editais de Produção e Circulação. A defasagem ainda é grande, mas estamos avançando a passos largos”, finalizou.
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Gestora conta sua história com os
pontos cultura de
Bárbara Rodarte, coordenadora da rede entre 2009 e 2011, fala sobre sua experiência
A transformação e o impacto que os Pontos de Cultura proporcionaram nas suas comunidades, as vidas das pessoas que de alguma forma melhoraram com as ações das entidades. A formação dos gestores dos Pontos, além dos alunos, que hoje são extremamente engajados nas questões culturais e reivindicam os seus direitos de participação nas políticas públicas de cultura. Tá aí o resultado: o Cultura Viva sendo retomado! A história é dos Pontos de Cultura! Tenho certeza que o Ponto de Cultura Meninos da Porteira agora tem a sua história para contar”.
A
frase da gestora de projetos culturais Bárbara Rodarte sintetiza o impacto e a importância que a implantação de uma proposta como o Ponto de Cultura teve sobre a área cultural do Estado de São Paulo. Fruto de uma parceria com o Governo Federal, o projeto foi lançado oficialmente em 2009, com a contratação de 300 pontos de cultura, espalhados por todo território paulista. Formada em cinema, Bárbara acompanhou todo o processo desde o início e foi responsável pela implantação da iniciativa, atuando como coordenadora da rede. Revista Ceprevi - Conte sobre sua experiência na Secretaria de Cultura Bárbara - Eram muitas horas
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diárias de trabalho na Secretaria para viabilizar a Rede de Pontos de Cultura e outros projetos. Mas tudo deu certo e o edital para a seleção dos 300 Pontos de Cultura que comporiam a Rede Estadual, no segundo semestre de 2009. Divulgamos o edital e fizemos oficinas de capacitação por todas as regiões do estado. O resultado foi que tivemos 1188 inscrições ou algo próximo a isto e um tempo muito curto para viabilizara seleção, as contratações e os pagamentos das entidades ainda em 2009. Como o recurso era daquele ano, deveria ser executado no mesmo ano, normas da administração pública. Apesar dos pesares, avalio positivamente a iniciativa, que já conta com mais de 300 pontos de cultura em todo o Estado.
Bárbara Rodarte Gestora Cultural Coordenadora da Rede Estadual de Pontos de Cultura de SP (2009-2011) Atualmente presta assessoria na área cultural para prefeituras do estado, através da “RodArte e Cultura – Projetos Culturais”.
Ações externas e outros eventos
A
lém das ações prioritárias dentro do CEPREVI que eram as aulas de argila e de música, o projeto realizou dezenas de ações externas. A principal delas foram as aulas de viola caipira, que no primeiro ano aconteceram no Centro Cultural em Itapetininga e nas entidades EPAM e CESIM. As aulas eram para divulgar e disseminar a viola caipira e sua importância no cenário cultural e histórico de Itapetininga. No primeiro período de inscrição tivemos mais de 100 inscritos, mostrando o interesse e a importância desse instrumento para a nossa cidade e região. Nos centros de convivência, foram feitos diversos encontros onde os alunos tiveram aulas de arte, priorizando as danças caipiras (fandango e catira), também foram feitos concursos literários com as crianças. Foram realizados dois espetáculos no teatro do SESI em Itapetininga, com o Coral do CEPREVI, no primeiro ano com a Orquestra de Viola Teddy Vieira e no segundo ano com os alunos de viola caipira. O Projeto ainda participou de encontros de nível nacional como a Teia dos Pontos de Cultura em Fortaleza e também em um encontro nacional de cultura e saúde realizado no Rio de Janeiro pela Fiocruz. O Projeto também chamou atenção e realizou encontros em Itapetininga trazendo para a cidade lideranças de nível nacional de diversas entidades (Ministério da Cultura, Unesco
acoes
externas
e Secretaria de Estado da Cultura) e dezenas de entidades regionais. O Projeto ainda foi destaque em algumas edições do Revelando São Paulo, levando o Coral e os alunos do curso de viola a algumas cidades paulistas (Iguape, São Jose dos Campos, São Paulo, Alambari e São Miguel Arcanjo) além de diversas apresentações em Itapetininga. O Coral ainda ativo se apresenta em vários eventos. O Projeto chamou atenção de outas organizações e artistas. Entre ações não previstas no projeto original, aconteceram: O projeto “Viola Recortada” de resgaste e registro das danças caipiras na Região de Itapetininga com o músico e pesquisador da USP Bruno Sanches. Sua pesquisa foi premiada pela Funarte. Também pela Funarte os artistas e produtores culturais Priscilla Leal (São Paulo) e Carlos Ferreira (Bahia) realizaram o projeto “Tecendo nossa história” criando um documentário sobre o projeto. A Associação dos Jornais do Interior do Estado (ADJORI-SP), fez na cidade sua oficina de criação de jornal, produzindo um impresso com alunos do Meninos da Porteira. Em parceria com o grupo de teatro Tapanaraca e o grupo de catira N. S. Aparecida, circularam em várias escolas e entidades representando a história de Nho Bentico e também apre-
e
outros
sentando nossas danças tradicionais. O músico Sergio Reis, quando esteve em Itapetininga, soube do projeto com nome da música eternizada em sua voz e; fez uma belíssima homenagem durante o show. Outro grande nome da música brasileira o Maestro João Carlos Martins, visitando a cidade para uma de suas apresentações, conheceu alguns projetos sociais, entre eles estava a apresentação do coral do CEPREVI com o grupo de alunos de viola, o maestro não segurou a emoção e falou lindas palavras ao grupo, inesperadamente durante o seu show para mais de cinco mil pessoas ele vestiu a camiseta do projeto. Ainda para o estimulo e divulgação da cultura tradicional caipira, foi criado um material impresso sobre os grandes nomes itapetininganos do folclore nacional. Em formato de desenho para chegar até as crianças foram contadas a história de Teddy Vieira, Nho Bentico, Poeta do Monte Santo e também de Rossini Tavares de Lima. O CEPREVI criou um projeto para além dos muros da entidade, chamou atenção e ficou conhecido nacionalmente como um projeto único que atuou transversalmente entre a saúde, a educação, a cultura tradicional e o folclore.
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A M
adeira, pneus, metais, materiais descartados em ferros velhos e serralherias, o que para muitos parece sucata, nas mãos do artesão itapetiningano, Antonio Carlos Estanagel, viram obras de arte. Estanagel é escultor de miniaturas em madeiras e também produtor de peças que usam materiais recicláveis. Seu trabalho começou ainda na adolescência, de forma autodidata. “Meu primeiro trabalho foi aos 14 anos, quando peguei um pedaço de madeira e uma faca. Em pouco tempo, havia feito a figura de um homem”, conta. Suas criações são feitas em uma
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e d e t r a
oficina que montou em casa. A paixão do artista são os elementos da natureza, como pássaros e cavalos, instrumentos musicais e motos, mas de vez em quando se arrisca a sair da rotina e cria esculturas no formato humano. “Tem a escultura de uma moto criada a partir de correntes, uma réplica do 14- bis e de vez em quando arrisco uma escultura no formato humano, Neymar, Rambo, Andróides”, comenta. Para Estanagel, a beleza das peças está nos detalhes. “São os detalhes que fascinam as pessoas, se não tiver detalhes, a obra está incompleta”, ressalta.
O artista trabalhou por 21 anos como representante comercial, pondo um fim nesse ciclo em janeiro de 2011, de lá para cá busca seu espaço como artista, espaço esse que vem sendo conquistado com prêmios importantes. Em 2012, foi vencedor do 25º Salão de Artes da Associação Comercial de Pinheiros, em São Paulo. “Foram 600 inscrições para essa galeria, no segmento esculturas fiquei em primeiro lugar, atingindo a nota máxima na opinião dos jurados”, explica. A obra vencedora foi a escultura de uma águia construída com pneus
o ni o t An arlos agel C Estan de bicicleta. A peça que tem mais de um metro de altura chama a atenção também pelos detalhes. As obras do concurso ficaram expostas na Assembleia Legislativa em São Paulo. E seu trabalho tem rompido as barreiras do país. Em Chicago, nos Estados Unidos, uma obra de Estanagel participou de uma exposição por lá. A obra chamou tanto a atenção por suas peculiaridades, entrou em contato com o artista. “A revista Dollhouse Miniatures,fez uma matéria comigo de duas páginas, falando sobre o trabalho, minha técnica e isso é uma grande satisfação para um artista, ser reco-
nhecido internacionalmente”, diz. Para o artista, a utilização de materiais descartados esta sendo uma tendência para muitos artistas plásticos no mundo. “Muitos artistas utilizam o matéria reciclável em suas obras. A retirada desse material é muito simples, basta olhar ao nosso redor, sempre tem algo que não se usa mais, principalmente pneus, que podem ser reaproveitados. As pessoas simplesmente descartam o que não usam mais. Eu vou lá e faço disso minha arte”, explica. O artista pensa em passar sua arte para outras pessoas. “Seria egoísmo da minha parte não fazer isso, além
de capacitar outras pessoas, a arte continuará viva. Gostaria de passar a mensagem para a sociedade, através da minha arte, que o planeta em que moramos começa dar sinais de que algo não está bem. O dia em que os homens destruírem os animais, rios e florestas, descobrirão que dinheiro não se come”, finaliza. Em 2013, umas de suas exposições foi na Fábrica da Goodyear em São Paulo, durante a semana do Meio Ambiente.
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Instituição faz a
diferença na
vida
das pessoas Alunos falam da experiência de frequentar o Ceprevi
F
requentar as oficinas e as aulas de uma instituição como o Ceprevi ajuda aos alunos a superarem suas limitações, possibilitando levar uma vida mais independente e com mais qualidade. Para muitos deles, ficar em casa é sinônimo de depressão. Uma das oficinas que mais emocionam – sejam alunos, professores ou mesmo visitantes – é a de aulas de canto e do coral da instituição. “O trabalho do Ceprevi mudou a nossa vida”, afirmou Maria Benedita Silva, que estava entrando em depressão. Ela conta que ficou cinco anos sem fazer crochê, atividade que fazia antes de perder a visão. “Até que um dia vim conversei com a psicóloga daqui e ela colocou a linha na minha mão e disse: vai fazer sim”. Depois dessa conversa, dona Benedita já fez mais de 20 tapetes
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desde que passou a frequentar o Ceprevi. “Se não viesse aqui, ficaria em casa dormindo”, afirmou. Aluno mais antigo entre os que participam da oficina de canto, João Batista frequenta o Ceprevi “há mais ou menos 10 anos. No começo, não tinha aula de canto”, disse o aluno, que também é jogador do goalball, “mas surgiu essa oportunidade e eu embalei nas aulas. Isso faz bem para mim”, acrescentou. Para ele, que perdeu a visão aos oito anos devido a um tumor no cérebro, o Ceprevi “ensina muita coisa”. Além da oficina de canto, a instituição possui aulas de artesanato em argila e também oficina de mobilidade, que ensina, por exemplo, a pessoa a usar a bengala. Esta é uma atividade que visa melhorar a mobilidade da pessoa.
instituicao
o
Meninos da Porteira
Família
O Ceprevi já tinha um projeto de música”, contou a professora Aline Albuquerque Carriel Pires, “o Meninos da Porteira veio nos beneficiar com mais recursos para aquisição de instrumentos e uniformes. O projeto foi importante também porque possibilitou a troca de experiências culturais com outros corais e muitas apresentações ao longo de três anos”, afirmou a professora, ressaltando que o projeto chegou ao fim, mas a oficina de canto continua. “Estamos abertos a convites para novas apresentações. Chamou, a gente está lá”, brincou Aline Pires. Além do coral adulto, as crianças também participam de um coral da instituições.
“Isto aqui se tornou uma nova família para eles”, afirmou a professora, confessando que trabalhar no local também faz bem para ela. O trabalho, contudo, não é fácil: foi uma longa jornada até que os alunos cantassem como um coral. “Cada um teve um método diferente para aprender”, lembra Aline. Hoje, o coral já canta em duas vozes. “É uma experiência muito boa, a gente se sente mais leve”, contou dona Ana, aluna da oficina. Ele afirmou que “nunca participei de aulas de canto antes”. Osvaldo José de Assis chegou há pouco tempo ao Ceprevi. Com apenas dois por cento de visão, ele lembra que chegou a ficar em depressão com o problema, que surgiu há cerca de dois anos, devido à diabetes, doença que ele só descobriu quando era muito tarde. “Mas aqui no Ceprevi é só alegria”, conta o ex-administrador dee fazendo, que veio da região de Itaí para Itapetininga. “O Ceprevi mudou a minha vida”.
que
faz
diferenca
na
vida
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implantação
do Ceprevi foi
uma conquista extraordinária Ex-secretária da Educação do município fala sobre o trabalho do centro
Com duas décadas de atuação na área de Educação Especial, a diretora de escola e ex-secretária municipal de Educação, Suzana Eugenia de Mello Moraes Albuquerque, fala sobre
Revista Como a senhora conheceu o Ceprevi?
Suzana Albuquerque - Conheci o Ceprevi por intermédio da Professora Jasdimilia Santos da Rocha e do Professor Adalberto Christo das Dores. Antes mesmo da fundação da entidade, a Jasdimilia, na ocasião professora da Sala de Recursos para Deficientes Visuais na Escola Estadual Abílio Fontes, me contatou para orientá-la na formulação do Estatuto, bem como para participar da composição da Diretoria do Ceprevi, considerando minha experiência na área de Educação Especial e também como Secretária de Promoção Social.
sua experiência junto ao Ceprevi. Ela avalia ainda que a educação inclusiva evoluiu bastante na rede municipal nos últimos anos, mas ainda há problemas, sobretudo devido à falta de profissionais e professores capacitados a atuar na área. Veja agora a entrevista completa da educadora. 46
Revista - Como foi essa experiência?
Suzana Albuquerque - Minha formação acadêmica é voltada à Educação Especial e aos alunos portadores de deficiência, dessa forma, durante 20 anos trabalhei nessa área. Acompanhei o empenho e a dedicação dos diretores, voluntários e profissionais que atuaram e que ainda atuam no centro e posso atestar que a implantação do Ceprevi foi uma conquista extraordinária, não só para a nossa cidade, como também para a região.
Revista - Cite um fato marcante passado junto à instituição
Suzana Albuquerque - Toda instituição que trabalha com pessoas e principalmente as que estão envolvidas em situações de exclusão, sempre têm muitas histórias para contar, estão sempre cercadas de fatos marcantes e episódios de superação, e com o Ceprevi não é diferente. Neste sentido, eu teria muitos fatos a relatar, mas garimpando um acontecimento marcante cito o evento nacional realizado em Itapetininga, promovido pela ONCB – Organização Nacional dos Cegos do Brasil e o Ceprevi, em 2011, organizado com grande competência pela Presidente Ana Murosaki e pelo jovem Wesley Gamaliel.
Revista - Quando ocupou a Secretaria de Educação do município, quais as ações desenvolvidas com relação aos alunos com necessidades especiais?
Suzana Albuquerque - A Secretaria Municipal de Educação de Itapetininga, antes mesmo da minha gestão como Secretária, já realizava um trabalho de destaque regional na Educação Inclusiva e no período em que estive à frente da Secretaria foi possível ampliar consideravelmente o atendimento educacional especializado, de 6 salas em 2008 para 20 salas em 2012, e ainda estender o atendimento de alunos incluídos nas salas regulares. Alunos com necessidades educacionais especiais da zona rural que não tinham acesso à educação passaram a frequentar as salas de AEE e/ou as classes regulares e ainda serem acompanhados por equipe multidisciplinar com psicólogos, fonoaudiólogo e professores especializados. O transporte escolar passou a ser realizado em veículos apropriados aos alunos com problemas de locomoção e todas as entidades que atendem portadores de deficiência, inclusive o Ceprevi, foram favorecidas com transporte gratuito aos seus beneficiários. Considero outras duas importantes ações, os Seminários de Educação Inclusiva realizados anualmente objetivando a capacitação de professores nas áreas de Educação Especial e Inclusiva, e a implantação do DEISA - Departamento de Educação Inclusiva e Suporte ao Ensino e Aprendizagem destinado especialmente para a organização, estruturação e o desenvolvimento da Educação Inclusiva e de Suporte ao Ensino e Aprendizagem, no âmbito das Unidades Educacionais do Sistema Municipal de Ensino de Itapetininga, definindo diretrizes para a política de atendimento a crianças, adolescentes, jovens e adultos com Necessidades Educacionais Especiais.
Revista - Como a senhora avalia a educação especial e a inclusão de pessoas com necessidades especiais na rede de ensino municipal?
Suzana Albuquerque - Considero que a Educação Especial e a Inclusão de pessoas com necessidades especiais evoluíram notavelmente nos últimos anos na rede de ensino municipal, porém ainda insuficiente, principalmente pela carência de profissionais e professores capacitados para atuar nesse segmento educacional.
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