Cristianismo Equilibrado

Page 1





john stott

c r i s a n i s e qu i b r a Tradução mariane lin

t i mo l i do


CRISTIANISMO EQUILIBRADO Categoria: Igreja / Liderança / Vida cristã

Copyright © 2014, John Stott’s Literary Executors Publicado originalmente por InterVarsity Press, Downers Grove, IL, Estados Unidos Título original em inglês: Balanced Christianity

Primeira edição: Março de 2017 Coordenação editorial: Bernadete Ribeiro Tradução: Mariane Lin Revisão: Lis da Matta Emerick Diagramação: Bruno Menezes Capa: Lucas Gonçalves

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Stott, John, 1921–2011 Cristianismo equilibrado / John Stott ; tradução Mariane Lin. — Viçosa, MG : Ultimato, 2017. Título original: Balanced Christianity Bibliografia ISBN 978-85-7779-161-3 1. Apologetica 2. Apologética - História - Século 20 3. Cristianismo 4. Fé 5. Igreja Católica - Apologética I. Título. 17-01995

CDD-239

Índices para catálogo sistemático: 1. Apologética : Cristianismo 239

Publicado no Brasil com autorização e com todos os direitos reservados Editora Ultimato Ltda Caixa Postal 43 36570-000 Viçosa, MG Telefone: 31 3611-8500 www.ultimato.com.br


Sumário 1. Unidade, liberdade e caridade

2. Razão e emoção

7 13

3. Conservador e radical

23

4. Forma e liberdade

35

5. Evangelismo e ação social 6. Vida no Espírito da verdade Uma entrevista com John Stott Notas

41 49 81


Todos os direitos deste livro foram irrevogavelmente cedidos ao Langham Literature (antigo Evangelical Literature Trust), um programa do Langham Parternship International. Langham Literature distribui livros evangélicos a pastores, professores e estudantes de teologia, e também a bibliotecas de seminários em países em desenvolvimento. Além disso, promove a produção e a publicação de literatura cristã em muitos idiomas regionais. Para mais informações sobre Langham Literature e Langham Partnership, visite o site www.langham.org.


1

Unidade, liberdade e caridade

Meu propósito é chamar atenção para uma das grandes tragédias da cristandade contemporânea. Uma tragédia que é especialmente evidente entre aqueles que são chamados, e que nós mesmos chamamos, cristãos evangélicos. Numa só palavra, essa tragédia é a polarização, mas precisarei esclarecer o que quero dizer com isso. O contexto dessa tragédia é o nosso consenso considerável sobre o cristianismo histórico, bíblico. Nossa unidade nos fundamentos da fé cristã é uma coisa maravilhosa e gloriosa. Cremos em Deus Pai, infinito, pessoal, santo, o Criador e o sustentador do universo. Cremos em Jesus Cristo, o único Deus-homem, em seu nascimento


8

cristianismo equilibrado

virginal, sua vida encarnada, seu ensino com autoridade, sua morte reconciliadora, sua ressureição histórica e em seu retorno como pessoa. Cremos no Espírito Santo, por cuja inspiração especial foram escritas as Escrituras, e por cuja graça especial pecadores são justificados, nascidos de novo, transformados na imagem de Cristo, incorporados à igreja e enviados ao mundo para servir. Nessas e noutras grandes doutrinas bíblicas continuamos firmes pela graça de Deus e permanecemos juntos. No entanto, não estamos unidos. Separamo-nos uns dos outros em questões de menor importância. Algumas dessas questões controversas são teológicas, outras são temperamentais. Teologicamente, por exemplo, podemos discordar na relação exata entre soberania divina e responsabilidade humana; na ordem e no ministério pastoral da igreja (se deve ser episcopal, presbiteriano ou independente) e até onde cristãos evangélicos podem envolver-se com uma denominação “mista” sem comprometer a si mesmos e a sua fé; em relações entre igreja e estado; em quem é qualificado para ser batizado e no volume de água a ser usado; em como as profecias são interpretadas; e em como dons espirituais estão disponíveis hoje e quais são os mais importantes. Essas são algumas das questões nas quais cristãos igualmente devotos e bíblicos discordam. Elas pertencem ao grupo que os reformadores chamavam de adiaphora, questões “indiferentes”. Embora desejemos continuar argumentando sobre nossas convicções acerca da Escritura sob a luz que até hoje nos foi dada, não devemos forçar nosso posicionamento nessas questões de forma dogmática sobre outras consciências cristãs, mas devemos dar liberdade uns aos outros em amor e respeito mútuos.


Unidade, liberdade e caridade

O melhor que alguém pode fazer é citar o famoso epigrama atribuído a um certo Rupert Meldenius e citado por Richard Baxter: Nas coisas essenciais, unidade; Nas coisas não essenciais, liberdade; Em todas as coisas, caridade.

Também somos divididos uns dos outros temperamentalmente. Às vezes, esquecemo-nos de que Deus ama a diversidade e criou uma rica profusão de tipos, temperamentos e personalidades humanos. Além disso, nosso temperamento tem mais influência em nossa teologia do que costumamos perceber ou reconhecer. Ainda que nossa apreensão da verdade bíblica dependa da iluminação do Espírito Santo, ela é inevitavelmente influenciada pelo tipo de pessoa que somos, pela época em que vivemos e pela cultura a que pertencemos. Alguns de nós, seja por temperamento ou por criação, somos mais intelectuais do que emocionais. Outros, mais emocionais do que intelectuais. Além disso, o hábito natural da mente de muitas pessoas é conservador, ou seja, elas detestam mudança e sentem-se ameaçadas por ela. Outras são, por natureza, contra a tradição, pois detestam monotonia e consideram mudança algo muito agradável. Questões como essas surgem a partir de diferenças básicas de temperamento. Porém, não devemos permitir que nosso temperamento nos controle. Ao contrário, devemos permitir que as Escrituras julguem nossas tendências temperamentais naturais, senão perderemos o equilíbrio cristão. O título deste livro é Cristianismo Equilibrado, pois uma das maiores fraquezas que nós cristãos (especialmente cristãos

9


10

cristianismo equilibrado

evangélicos) apresentamos é a tendência ao extremismo ou ao desequilíbrio. Parece que não há passatempo que o diabo aprecie mais do que fazer cristãos perderem o equilíbrio. Mesmo não tendo um relacionamento próximo com sua pessoa ou informações privilegiadas sobre sua estratégia, imagino que esse é um de seus hobbies favoritos. Minha convicção é que devemos amar o equilíbrio tanto quanto o diabo o odeia e promovê-lo tão vigorosamente quanto ele deseja destruí-lo. Quando digo “desequilíbrio”, quero dizer que parecemos apreciar habitar numa ou noutra região polar da verdade. Se pudéssemos manter um pé simultaneamente em ambos os polos, atingiríamos um equilíbrio bíblico saudável. Em vez disso, temos uma tendência a polarizar, assim como Abraão e Ló separaram-se um do outro. Empurramos outras pessoas para outro polo, enquanto tentamos manter o polo oposto como nosso território. Teologicamente, nenhuma outra pessoa da igreja britânica avisou-nos desse perigo mais claramente do que Charles Simeon, membro do King’s College e pároco da Holy Trinity Church em Cambridge, no início do século 19. Considere essa conversa imaginária com o apóstolo Paulo que ele incluiu numa carta a um amigo em 1825: A verdade não está no centro nem em um dos extremos, mas em ambos os extremos.... Aqui estão... dois extremos, calvinismo e arminianismo... “Como te posicionas em relação a esses, Paulo? No meiotermo, o número de ouro?” “Não.” “Em direção a um extremo?” “Não!”


Unidade, liberdade e caridade

“Como então?” “Em direção a ambos os extremos; hoje eu sou um forte calvinista; amanhã, um forte arminiano.” “Pois bem, Paulo, vejo que estás fora de ti; vai até Aristóteles e aprende o número de ouro.”

Simeon continua: Porém, querido irmão, sou desafortunado; li Aristóteles no passado e gostei muito; desde então, tenho lido Paulo e adquirido algumas de suas ideias, oscilando (não vacilando) entre um polo e outro. Às vezes, sou um extremo calvinista, outras vezes um extremo arminiano. Portanto, se extremos te agradam, sou a pessoa certa para você; apenas lembre-se de que não é para um extremo que vamos, mas para ambos.1

As palavras de Simeon são sábias para os dias de hoje. Devemos evitar polarizações, sejam elas primariamente teológicas ou temperamentais. Deixe-me dar quatro exemplos da insensatez da polarização desnecessária.

11



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.