a Oração
nossa de cada dia
Carlos queiroz
a Oração
nossa de cada dia aprendendo a orar com Jesus
A ORAÇÃO NOSSA DE CADA DIA – APRENDENDO A ORAR COM JESUS Categoria: Espiritualidade / Estudo bíblico / Vida cristã
Copyright © 2013, Carlos Queiroz Primeira edição: Março de 2013 Coordenação editorial: Bernadete Ribeiro Preparação e revisão: Lícia Rosalee Santana Diagramação: Bruno Menezes Capa: Ana Cláudia Nunes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Queiroz, Carlos A oração nossa de cada dia : aprendendo a orar com Jesus / Carlos Queiroz. — Viçosa, MG : Editora Ultimato, 2013. ISBN 978-85-7779-086-9 1. Espiritualidade 2. Oração de Jesus 3. Presença de Deus 4. Vida espiritual - Cristianismo I. Título. 13-01956 CDD-242.72
Índices para catálogo sistemático: 1. Oração de Jesus : Teologia devocional
242.72
Publicado no Brasil com autorização e com todos os direitos reservados Editora Ultimato Ltda Caixa Postal 43 36570-000 Viçosa, MG Telefone: 31 3611-8500 Fax: 31 3891-1557 www.ultimato.com.br
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Sumário
prefácio
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Apresentação
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1. Como não orar – oração e hipocrisia
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2. Como não orar – oração e idolatria
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3. Como orar ou como viver?
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4. A oração modelo
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5. Intimidade e soberania
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6. Santidade e testemunho
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7. Governo e história
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8. Comunhão e bens
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9. Oração e perdão
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10. Oração e tentação
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Amém
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Prefácio
Aprendemos a orar lendo livros?
Lembro-me de bons autores que me ajudaram a crescer na vida de oração. E agora chegam as reflexões de Carlos Queiroz sobre a oração do Pai-Nosso. Muitos de nós conhecemos irmãos e irmãs de oração que nunca leram um livro sobre o assunto. E possivelmente já ouvimos reflexões sobre a oração de pessoas que não oravam. Não é o caso de Carlos. Ele fala do que faz e do que é. Dos meus amigos, é o mais marcado pela vida de Jesus. Aprender a orar não é algo técnico, com cinco pontos para lá e sete para cá. Oram as pessoas que desenvolvem uma intimidade duradoura com Deus e que assumem um compromisso consequente com sua vontade. Oram os que fazem uma revisão de vida constante na presença de Deus, os que buscam pureza de coração e lutam por um mundo transformado por amor e justiça, as duas normas do reino de Deus. A vida de oração nos leva a fazer de nossa vida inteira uma oração. Primeiro, precisamos encontrar um lugar e um tempo para estarmos totalmente transparentes na presença de Deus. É na solidão e no silêncio que superamos os ruídos de dentro e de fora, e Deus transforma nossos corações. Então, começamos a refletir sobre seu caráter e nos tornamos pessoas com discernimento espiritual.
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Segundo, a vida de oração é firmada em uma relação íntima com o Pai bondoso, mas cujos mistério e soberania nunca deixam de existir. Orar não é só pedir coisas, nem manipular pessoas ou situações. É ser cativado pela presença misteriosa do amor inefável e ser transformado por ele. Terceiro, santificar o nome de Deus não é aumentar sua santidade, mas torná-la visível por meio da conversão e do arrependimento, especialmente por meio de uma vida íntegra e pura, que testemunha a santidade de Deus porque a reflete em todas as dimensões de vida. Quarto, a vida de oração nos torna inconformados com o mundo e nos faz sonhar com o reino de Deus e sua justiça. Orar como Jesus orou tem implicações sociais, políticas, econômicas e ambientais. Quinto, vida de oração é vida de generosidade. Quer pão para todos. A falta de pão tem a ver tanto com a falta de Deus, bem como com a falta de justiça. A vida de oração não se preocupa em acumular, mas tem o poder de compartilhar. Sexto, a vida de oração é uma vida que abraça e reconcilia. Quem recebe o perdão de Deus aprende a perdoar tanto ofensas como dívidas. Cultiva um senso de comunidade, e nunca o individualismo, muito menos o rancor, o ódio ou a amargura. Sétimo, a vida de oração discerne as suas tentações e vence o mal com o bem, embora tenha consciência de que a vida pode ser desvirtuada. Por isto se apega à vontade de Deus como bem supremo. Vida de oração conduz ao comprometimento. A Oração Nossa de Cada Dia deve ser lido de maneira meditativa, ponderada. Aos que assim o fizerem, brotará uma vida de oração mais significativa. Manfred Grellert
[apresentação]
Oração, um estilo de vida
“
Certo dia Jesus estava orando em determinado lugar. Tendo terminado, um dos seus discípulos lhe disse: “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou aos discípulos dele”. Lucas 11.1-2
Os discípulos de Jesus Cristo pediram que ele lhes ensinasse a orar, como João Batista havia ensinado aos discípulos dele. Possivelmente, os discípulos de Jesus Cristo estavam condicionados aos formatos das orações de sua cultura religiosa. Em muitas religiões, a oração é praticada de maneira burocrática, com técnicas conduzidas por mestres especializados, de modo que os iniciantes
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precisam ser treinados para fazer as suas preces de acordo com o enquadramento e forma de tais mestres especializados. Na verdade, há muitas lições a serem aprendidas dessas pedagogias litúrgicas; todavia, elas não são suficientes para atender às peculiaridades de cada pessoa. Há pessoas organizadas e sistemáticas, que conseguem se conectar com peças literárias de oração mais estruturadas, para quem uma forma litúrgica bem elaborada pode fazer algum sentido. Mas há também pessoas de vida espiritual dinâmica, cuja prática de oração acontece de maneira livre e espontânea, sob a inspiração das atividades cotidianas e diante das surpresas e dos acontecimentos imprevisíveis da vida. A informalidade e a espontaneidade são características, por exemplo, das comunidades carismáticas e das pentecostais populares. Com certeza os discípulos presenciaram Jesus Cristo orando várias vezes. Alguma coisa de especial nas orações do Mestre deve ter causado admiração. Pode ter sido a sua eficácia, pois, de fato, suas orações eram sempre respondidas. Havia uma conexão permanente entre o Jesus Cristo de Nazaré e a vontade de Deus. Ele rogava, pedia, intercedia e o Senhor respondia. Os discípulos queriam a mesma eficácia? Estavam realmente interessados em aprender? Independente das motivações, eles queriam que Jesus lhes ensinasse a orar. Em geral, pensamos que há um jeito poderoso de “dobrarmos” Deus aos nossos interesses e aspirações. Sempre acreditamos em técnicas especiais para a oração. Conhecemos várias expressões como “oração poderosa”, “oração de fogo”, “oração forte”, “orar com ousadia”, “orar com determinação” etc. Sermos ousados em nossos propósitos e projetos da vida é uma coisa; sermos ousados e determinados como técnica para
apresentação
pressionar Deus quando oramos é pura relação idolátrica e desconhecimento da graça e soberania de Deus. A princípio, a forma pode fazer algum sentido para quem ora, mas para o Deus eterno, que nos acolhe em nossas orações, o mais importante é a comunhão e a relação entre Pai e filho. Então, quando os discípulos pediram a Jesus Cristo que lhes ensinasse a orar, qual foi a sua resposta?
Orar é um modo de ser em comunhão com Deus
Aprender a orar com o Jesus Cristo de Nazaré é uma das mais fascinantes descobertas para o caminho de nossa espiritualidade. Para ele, orar é um estilo de vida, um modo de ser em comunhão com Deus. Com ele, não aprendemos a orar segundo a lógica repassada pelos gurus das religiões. Assim como respirar funciona para a oxigenação do corpo, orar existe para a pneumatização da alma. Ninguém nunca nos ensinou a respirar, simplesmente respiramos. É como se Jesus Cristo estivesse dizendo aos seus discípulos: quando vocês orarem, simplesmente orem. As religiões ensinam técnicas e artifícios como meio para sensibilizar as divindades. Para o Pai celestial, essas técnicas não fazem sentido. A oração no evangelho não é ensinada, é degustada com o paladar do coração, contemplada com os olhos da interioridade, escutada no silêncio profundo da alma, sentida pela aproximação invisível de Deus. A oração é a experiência que gera um sentimento de se viver na companhia de Deus. O pedido dos discípulos está na narrativa de Lucas, mas usamos aqui o texto de Mateus 6.5-13 para explicar o ensino de Jesus sobre a oração.
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Na narrativa de Mateus, o Mestre procurou, primeiro, desconstruir os dois arquétipos negativos mais usados nas orações para, depois, explicar como orar: Não orar com o arquétipo mental dos hipócritas – Os religiosos acreditam em si mesmos, de tal maneira, que fazem suas preces nos espaços públicos em busca de publicidade pessoal (Mt 6.5). Não orar com o arquétipo mental dos gentios – Estes acreditam em artifícios espirituais eficientes, capazes de curvar os ídolos aos seus interesses (Mt 6.7). Como se deve orar – Depois da desconstrução, Jesus ensina o que espera da oração de seus discípulos (Mt 6.9-13) Observando bem o texto, é como se Jesus estivesse dizendo aos discípulos: primeiro vocês precisam desconstruir as formas religiosas de oração aprendidas anteriormente. Então, de imediato, a tarefa é saber como não se deve orar e depois será mais fácil entender como se deve orar. Com Jesus, aprendemos que a oração não cabe numa estrutura fechada e burocratizada. A oração é tão dinâmica quanto a vida, é tão livre quanto o Espírito Santo que a fecunda. Quem ora, nasceu do Espírito e, tal qual o vento, “não sabe de onde vem, nem para onde vai” (Jo 3.8). Quem assim ora, fica apenas na certeza de que Deus se interessa, cuida, supre o necessário. Ele cuida das aves dos céus e dos lírios dos campos, e cuida muito mais dos seus filhos e filhas (Mt 6.26-34).
O risco de se tirar a muleta sem oferecer uma perna
Esperamos não falhar na pedagogia desta apresentação. Poderíamos apresentar primeiramente como se deve orar. Vamos
apresentação
começar, porém, pela desconstrução dos dois arquétipos negativos apontados por Jesus – a oração dos hipócritas e a oração dos idólatras. Na metodologia de Jesus Cristo aplicada a Nicodemos, o Mestre lhe disse: “Você precisa nascer de novo” (Jo 3.3). Ou seja, se Nicodemos não nascesse de novo, todo o ensino repassado por Jesus seria entendido e interpretado por ele a partir de seus arquétipos mentais, formatados nas suas experiências culturais e religiosas anteriores. Portanto, usando essa mesma lógica da desconstrução, comecemos explicando, primeiro, como não se deve orar. Mesmo assim, ainda corremos um risco. Ainda bem jovem, fraturei a perna esquerda jogando futebol. Ele precisou usar muletas por mais de três meses. Elas foram necessárias para um corpo doente. Evidentemente, ele preferia a minha perna sadia, com a qual poderia caminhar e correr livremente. Quando ele se percebeu melhor, desistiu das muletas. Não andou bem de um dia para o outro, mas foi retomando o ritmo, o jeito natural de andar. As muletas foram escoras necessárias, porém totalmente descartáveis quando as pernas se fortaleceram. Eram as pernas que completavam o seu corpo em sua totalidade. Então, não vamos tirar as nossas muletas religiosas sem oferecer “pernas sadias” para a nossa peregrinação espiritual.
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