Revista do Festival de Cinema de Gramado - Nº 1

Page 1


EXPEDIENTE

Realização: Prefeitura Municipal de Gramado e Festival de Cinema de Gramado Edição: Um Cultural (www.umcultural.com.br) Coordenação: Ralfe Cardoso e Daniel Henz Chefia de Edição: Felipe de Oliveira (MTb/RS 14029) Jornalista Responsável

Reportagem e Redação: Vanessa Hauser (MTb/SC 4348) Assistência de Reportagem e Redação: Mônica Neis Fetzner Secretaria de Redação: Fabiana Both Projeto Gráfico e Diagramação: Beto Soares (Estúdio Boom) Impressão: Gráfica Pallotti Tiragem: 3 mil exemplares Endereço: Av. Nações Unidas, 2390/904, Centro, Novo Hamburgo/RS CEP: 93320-020. Telefone: (51) 3066-6229 E-mail: contato@umcultural.com.br DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

2

Festival de Cinema de GRAMADO


Divulgação/Prefeitura de Gramado

EDITORIAL

Um registro do passado, para o futuro O Festival de Cinema de Gramado chega, em 2013, à sua 41ª edição. São mais de 40 anos de edições ininterruptas. Com essas características, trata-se do mais longínquo evento cinematográfico do Brasil. Uma trajetória que dispensa apresentação. Mas o que confere à Gramado a condição de um dos mais importantes festivais de cinema latino-americanos, além da longevidade, é o pioneirismo e a criatividade dos profissionais envolvidos nessa construção. Uma construção coletiva, e em constante processo. Alguém poderá supor que 41 anos é tempo demais, claro. O que fazer para reinventar-se? A resposta é dada ano a ano. E quem responde são renomados diretores, equipes de produção cinematográfica, celebridades, a imprensa do mundo todo... Ou os mais de 150 mil visitantes que estiveram na Serra Gaúcha no ano passado durante o evento. E tem mais. O número de filmes inscritos nas mostras competitivas aumenta a cada edição, ampliando o significado e o glamour que o evento empresta a quem levanta um Kikito. A novidade, agora, é a primeira edição da Revista do Festival. Afinal de contas, histórias para contar não faltam. Histórias que rememoram um passado que inscreve Gramado no circuito nacional e internacional de cultura e turismo; que projetam um futuro promissor, de diálogo com o mundo da sétima arte. Um futuro no qual o Festival reforça a condição de catalizador da produção, circulação e do debate sobre o cinema gaúcho, brasileiro e latino-americano, pautado em estratégias de integração ante a globalização. Pois histórias é o que você encontrará nas próximas páginas: da criação, passando pela consolidação, à expansão do Festival no calendário do cinema mundial. Mas nem só de histórias vive um festival. A revista oferecerá também a você, leitor e leitora, a possibilidade de atualizar-se sobre o que circula no meio; curiosidades; entrevistas com profissionais, críticos e personalidades. Uma leitura que vale a pena. Para o Festival de Cinema de Gramado, é uma honra contar com o seu prestígio. Boa leitura a todos! Gramado, RS, Brasil. 2013.

Rosa Helena Volk Secretária de Turismo do Município de Gramado Coordenadora Geral do Festival de Cinema

Festival de Cinema de GRAMADO

3


Leonardo Peixoto

SUMÁRIO

Curadoria: Festival renovado

Gramado, cinema E TURISMO

Conexão Gramado/Havana

50

Química perfeita: nos últimos 40 anos, história da cidade de Gramado se confunde com a do Festival de Cinema, que acontece ininterruptamente desde 1973.

32 > Campanella 4

14

José Wilker, Marcos Santuario e Rubens Ewald Filho contam sobre a experiência na curadoria do Festival e suas percepções sobre o cinema contemporâneo.

22

Curtas gaúchos premiados em Gramado, em 2012, foram exibidos no Festival de Cinema de Havana. Parceria consolida interlocução de nível continental.

34 > 360

Festival de Cinema de GRAMADO

39 > Canal Brasil

Mais maduro e cheio de histórias

Flores Raras

60

O diretor Bruno Barreto volta a Gramado para a estreia de seu novo longa-metragem, escolhido para abrir a 41ª edição do evento.

42 > Debates 44 > Entidades


SUMÁRIO

06

Festival inicia sua 5ª década mais maduro e com novos rumos traçados para se consolidar como evento cinematográfico de referência na América Latina.

Os troféus do Festival de Gramado

47

Conheça um pouco da história dos prêmios entregues no Palácio dos Festivais e que há 40 anos emocionam, surpreendem e celebram os realizadores da sétima arte.

26

Diálogo com o público foi o destaque do filme “Colegas”, vencedor do Festival em 2012, na opinião do diretor Marcelo Galvão.

O Som ao Redor: Unanimidade

36

Após percorrer o mundo com seu longa-metragem, diretor Kleber Mendonça exibiu o filme pela primeira vez no Brasil durante o Festival de Gramado.

O trio que conquistou Gramado

Jorge Furtado

40

Num bate-papo sobre a sétima arte, o diretor gaúcho relembra sua história, a relação com o Festival de Gramado e comenta a situação atual da produção audiovisual no Estado.

55 > Roger Lerina 58 > Secretaria de Cultura 64 > Fichas dos filmes

Festival de Cinema de GRAMADO

5


GRAMADO 40 ANOS

Mais maduro e cheio de histórias Festival de Cinema de Gramado inicia sua 5ª década mais maduro e com novos rumos traçados para se consolidar como evento cinematográfico de referência na América Latina.

E

m 40 anos de história, comemorados em 2012, o Festival de Cinema de Gramado foi palco de reflexões, de discussões. Ajudou a construir a história do cinema nacional. Se no início estimulou a polêmica e a liberdade de expressão contra o Regime Militar, também foi porta de entrada para o cinema latino-americano, reinventando-se quando o Governo Collor praticamente aniquilou a produção nacional – numa ofensiva até mais grave do que a dos militares. Do glamour da juventude à crise da meia idade, o Festival –segundo a surgir no país – começa sua caminhada rumo aos 50 anos revigorado e mais seguro sobre suas razões de ser: consolidar-se como referência na difusão e debate da produção cinematográfica brasileira e latino-americana. Era janeiro de 1973 e provavelmente fazia calor no Sul do Brasil. Em Gramado, na Serra, talvez o clima fosse um pouco mais ameno, claro. Ainda assim, eis uma imagem bastante diferente em relação à conhecida Gramado da neve, do frio, do chocolate e do Festival de Cinema. Mas, por incrível que pareça, é num verão que essa história começa. O Brasil era governado por Médici e vivia o auge da ditadura. Muitas obras culturais nacionais estavam sob o olhar rígido da censura. Em Gramado, o vereador Horst Volk e o secretário de turismo, Romeu Dutra, peça-chave para o Festival, corriam atrás de um grande objetivo para marcar de vez a cidade no mapa: criar um festival de cinema, ampliando a mostra cinematográfica que já era realizada durante a Festa das Hortênsias. Apesar da distância, das dificuldades de comunicação com o resto do país e do contexto político e econômico da época, a ideia saiu do papel. E o primeiro Festival de Cinema de Gramado aconteceu, precisamente, entre os dias 10 e 14 de janeiro daquele verão. Foi uma parceria entre a Prefeitura, a Companhia Jornalística Caldas Júnior, a Embrafilme, a Fundação Nacional de Arte e as secretarias de Turismo e de Educação e Cultura do Estado do Rio Grande do Sul. É hoje o mais longínquo evento do cinema brasileiro com edições ininterruptas.

6

Festival de Cinema de GRAMADO


Festival de Cinema de GRAMADO

7 Edison Vara/Pressphoto

GRAMADO 40 ANOS


no seu propósito: inserir o Rio Grande do Sul no cenário audiovisual do país. “Tivemos muita coragem, pois a cidade não estava preparada para um evento assim. Fomos criticados e testemunhamos protestos para que não houvesse a segunda edição”, lembra Horst Volk, que envolveu-se diretamente na organização administrativa e financeira das cinco primeiras edições para evitar que o projeto sucumbisse. Superadas as dificuldades, o segundo Festival também virou realidade. Curtas-metragens também passaram a participar da mostra competitiva e o vencedor da categoria foi Emprise, de José Rubes Siqueira. O grande vencedor de 74 foi o longa Vai Trabalhar Vagabundo, de Hugo Carvana. Transcorridos os três primeiros anos, para alguns dos personagens dessa história os mais desafiadores da primeira década, já que tratava-se de uma iniciativa ousada para a região, em 1976, na quarta edição, houve uma ampliação significativa nas premiações: além dos Kikitos entregues para melhor filme, diretor, ator e atriz e melhor curtametragem, passam a ser premiados o melhor roteiro, melhor ator e atriz coadjuvante, fotografia, trilha sonora e curta-metragem gaúcho. O destaque da edição de 1977 foi Arquivo pessoal de Horst Volk

GRAMADO 40 ANOS

Primeiros passos A grande musa nacional, Darlene Glória, foi a vencedora do primeiro prêmio de melhor atriz, por ter estrelado o polêmico e também vencedor Toda Nudez Será Castigada, de Arnaldo Jabor. Paulo Porto, que contracenou com Darlene, foi um dos grandes incentivadores das primeiras edições. Foram distribuídos, ainda, outros três Kikitos: melhor ator para Carlos Kroeber, de A Casa Assassinada,e prêmios especiais para Antônio Carlos Jobim pela música do mesmo filme e André Faria pela fotografia de Roleta Russa. Realizadas sempre no verão, as primeiras edições, analogamente, foram acaloradas. Eram repletas de debate e polêmica em torno do sensacionalismo e da nudez, uma marca do cinema da época. O tom de “escândalo” deu visibilidade ao festival - algumas atrizes chegavam a fazer topless nas piscinas dos hotéis da região. O ano de 1974 representou a certeza de que Gramado deveria dar continuidade ao projeto que havia representado um salto no turismo e na cultura da cidade. Ainda que uma parcela da comunidade local tenha realizado protestos para impedir a realização da segunda edição, os idealizadores mantiveram-se firmes

Primeira edição do Festival de Cinema, em 1973

8

Festival de Cinema de GRAMADO

a premiação de Dona Flor e seus Dois Maridos, maior sucesso de público do cinema brasileiro até 2010, quando foi superado por Tropa de Elite. Bruno Barreto, que dirigiu o filme, levou o troféu de melhor diretor. A estrutura do Festival é modificada novamente em 1978, quando passa a integrar os prêmios de melhor montagem e melhor cenografia. Já em 1981, é entregue o primeiro Kikito para o melhor som. No ano seguinte, o evento estabelece premiações específicas para filmes de curta-metragem. Os anos 80/90 e a crise do cinema nacional No desenrolar desta trajetória, o Festival de Cinema de Gramado vai adquirindo a robustez do inverno e em 1984 muda, definitivamente, de estação. Para aproveitar o ápice turístico da Serra, Gramado passa a promover o evento durante um dos meses mais frios do ano: agosto. Antes disso, fora realizado, além de janeiro, também nos meses de março e junho. Também é na década de 1980 que encontra seu maior prestígio, transformando-se em um dos maiores do gênero no país. Neste período, o Festival consolidou-se como um espaço privilegiado e indispensável para a divulgação, o debate e o incentivo da produção audiovisual no Brasil.


Cuba e Colômbia participaram das competições, realizadas entre os dias 15 e 22 de agosto. O longa-metragem colombiano Técnicas de Duelo, de Sergio Cabrera, levou o Kikito de melhor filme, mas o grande vencedor foi o próprio festival, cuja repercussão foi muito boa em todo o país. Esse momento coincide, ainda, com a criação do MERCOSUL e uma tentativa de aproximação e integração política e econômica dos países da América do Sul. Outro destaque de 92 foi a premiação de melhor diretor para o espanhol Pedro Almodóvar, por Tacones Lejanos, que também conquistou os prêmios de melhor atriz (Marisa Paredes) e melhor trilha sonora original. A partir de 1993, com a criação da Lei do Audiovisual, o cinema nacional começa a renascer. Somente em 1996, contudo, é que um longa brasileiro volta a conquistar o prêmio de melhor filme em Gramado: Quem Matou Pixote?, de José Joffily. Nos anos anteriores venceram os estrangeiros Amnésia(1995), de Gonzalo Justiniano, Morango e Chocolate(1994), de Tomáz Gutierrez Alea e Juan Carlos Tabio, e Um Lugar no Mundo(1993), de Adolfo Aristarain. A 30ª edição O Festival de Cinema de Gramado entra na década de 2000 abrindo espaço para os documentários. Em 2001, as premiações já ocorrem separadamente em cinco mostras competitivas: longa-metragem latino, longa-metragem brasileiro, curtametragem 35mm, curta-metragem 16 mm e curta-metragem gaúcho. Em 2002, o evento passa a premiar os melhores documentários numa mostra competitiva específica para o gênero que durou até 2005 – o primeiro vencedor foi Edifício Master, de Eduardo Coutinho. Ao comemorar, naquele ano, 30 edições ininterruptas,

Gramado premia Durval Discos na categoria melhor longa-metragem brasileiro e divide o prêmio de melhor longa latino entre La Perdicion de Los Hombres (México/Espanha) e O Filho da Noiva (Argentina/Espanha). A década também é marcada pela estréia de bons filmes nacionais, como A Festa da Menina Morta, de Matheus Nachtergaele, que, em 2007, recebeu prêmios de melhor ator, para Daniel de Oliveira, melhor fotografia, prêmio especial do júri, melhor música, prêmio da crítica e melhor filme pelo júri popular. O grande vencedor naquele ano foi Nome Próprio, de Murilo Salles – outro destaque do festival, cuja protagonista Leandra Leal recebeu o troféu de melhor atriz. O destaque latino em 2007 é El Baño Del Papa, de Enrique Fernández e César Charlone, que arrebatou os prêmios de melhor ator e atriz para César Troncoso e Virginia Méndez, melhor roteiro, prêmio da crítica e melhor filme pelo júri popular. 40 anos Ao completar 40 anos e 40 edições ininterruptas, em 2012, o Festival de Cinema de Gramado apontou para uma mudança na organização, na curadoria e também em seu perfil. Premiou como melhor filme Colegas, de Marcelo Galvão, e destacou o pernambucano O Som Ao Redor, de Kleber Mendonça – melhor filme escolhido pelo júri popular e pela crítica. O Festival celebrou sua história homenageando o primeiro vencedor, Arnaldo Jabor, Horst Volk e outras personalidades do cinema nacional e latino, como Eva Wilma, Betty Faria e o diretor argentino Juan José Campanella. Uma festa marcada pela boa programação, ingressos mais baratos para o público e sessões lotadas. O cinema como uma experiência estética única, celebrado em toda a sua pluralidade e capacidade de causar emoção e envolvimento – é por esse caminho que Gramado pretende percorrer os próximos anos, como festival de referência na América Latina.

Festival de Cinema de GRAMADO

9

GRAMADO 40 ANOS

Edisson Vara/Pressphoto

Outra conquista também marcou a época: a aproximação iniciada com o cinema latino-americano. Mostras não competitivas passaram a trazer para Gramado filmes da Argentina, Peru, México, Cuba, Venezuela e Colômbia. Uma produção gaúcha, no entanto, se destaca neste período: em 1989, Ilha das Flores, de Jorge Furtado, recebe o prêmio de melhor curta metragem nacional e, logo depois, ganha o mundo. Com a posse de Fernando Collor de Mello no início da década de 1990, iniciou-se, no Brasil, um período de quase extinção do cinema nacional – o então presidente decretou o fechamento da Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes S/A), que havia sido criada em 1969 como órgão de cooperação do Instituto Nacional de Cinema (INC). O Conselho Nacional de Cinema e a Fundação do Cinema Brasileiro também tiveram suas atividades encerradas, o que representou, por fim, o fechamento de um ciclo da história do cinema nacional. E como um evento cinematográfico pode sobreviver a esta crise? A estratégia adotada em Gramado foi tornar-se internacional. Por isso, já na 20ª edição, em 1992, o Festival de Cinema passou a ser de cinema ibero-americano. Filmes vindos da Venezuela, Peru, México, Portugal, Brasil, Argentina, Chile, Espanha,

Romeu Dutra e Horst Volk, foram homenageados na 40ª edição do Festival de Cinema de Gramado


O reencontro de Arnaldo Jabor com o Festival de Cinema de Gramado, no seu aniversário de 40 anos, foi marcado pela nostalgia. O diretor de Toda Nudez Será Castigada, longametragem premiado como melhor filme na primeira edição, em 1973, foi o grande homenageado. Além de entregar a Jabor o Troféu Eduardo Abelin, o Festival exibiu seu filme numa sessão comemorativa. E Jabor não foi premiado só em 1973. Com o longa O Casamento, recebeu também o prêmio O seu filme Toda Nudez Será Castigada foi o primeiro vencedor do Festival de Cinema de Gramado. Poderias relembrar o que o prêmio significou para a tua carreira? Foi um momento muito importante. Na ocasião, nem fui ao Festival, pois pensávamos que não havia nenhuma chance de conquistar o prêmio. Foi um susto e o Kikito inaugurou um prestígio para o filme, o que foi fundamental. Qual a relação do filme com o contexto histórico da época e do próprio aparecimento do Festival de Gramado? Em 1973, vivíamos o Cinema Novo no Brasil, um cinema político demais. O Nelson Rodrigues, autor do texto em que baseei o filme Toda a Nudez Será Castigada, era considerado um sujeito conservador, muito criticado pela esquerda da época. Houve muita polêmica em torno disso, inclusive na imprensa. Mais tarde, entretanto, o filme foi proibido pela censura e mesmo assim concorremos no Festival de Berlin – onde Toda Nudez conquistou o Urso de Prata. Outro escândalo: como um filme ganhador do Urso de Prata era proibido em seu país de origem? Depois disso, ele foi liberado aqui, com cortes, e ainda teve uma audiência expressiva nas salas de cinema – cerca de 3,5 milhões de

10

Festival de Cinema de GRAMADO

Edison Vara/Pressphoto

GRAMADO 40 ANOS

O dono do Kikito nº 1

especial do júri, três anos depois. O cineasta e jornalista não tem planos de voltar a filmar. Pelo menos, não por enquanto. Sua carreira no cinema, no entanto, lhe proporciona uma memória recheada de histórias e curiosidades. Jabor parou de produzir filmes na década de 1990, durante o governo Collor, e voltou-se à televisão. “Gosto de ser jornalista. Inclusive, acho que virei uma espécie de personagem de mim mesmo na TV”, explica. Nesta conversa, Jabor relembra momentos do cinema brasileiro e sua relação com o Festival de Cinema de Gramado.

espectadores. Mas a censura prejudicou o filme, sem dúvida. Naquela época, início da década de 1970, como era o cenário audiovisual no país em comparação com os dias atuais? As condições eram precárias na época, os equipamentos não tinham a universalidade tecnológica que possuem hoje. A digitalização do cinema provocou uma grande modernização. Vejo que a qualidade de imagem e som da produção audiovisual brasileira é, hoje, praticamente igual ao resto do mundo. Como tu avalias o cenário do cinema nacional atual? Vejo duas correntes. De um lado o cinema totalmente mercadológico,

Gramado criou a ideia de festival de cinema no Brasil. feito para ganhar dinheiro – o que eu chamaria de uma espécie de neochanchada. E aí temos o lado oposto disso, filmes mais autorais, mas que não passam para o público ou que apenas circulam em festivais menores espalhados pelo país e acabam ficando escondidos do grande público. Como foi receber o troféu Eduardo Abellin em um momento tão marcante da história do festival, a comemoração dos seus 40 anos? O Festival de Gramado se destaca como um evento fundador, que criou a ideia de festival de cinema no país. Por isso, ser homenageado em seu aniversário de 40 anos foi realmente muito emocionante.

Polêmico e marcante Toda Nudez Será Castigada é, sem dúvida, um filme que não passou sem deixar marcas na história do cinema nacional. O longa chegou para a primeira edição do Festival de Cinema de Gramado envolto em polêmicas, já que conta a história de um homem que decide se casar com uma prostituta, rejeitando todos os costumes de sua época. Baseado em um texto de Nelson Rodrigues, Toda Nudez é considerado pelo próprio Arnaldo Jabor como o filme que mais marcou sua carreira. “Foi meu primeiro filme de ficção, muito mais de acordo com os meus desejos do que Pindorama, que era um trabalho anterior e mais adequado às regras da época”, admite o cineasta.



GRAMADO 40 ANOS

OS VENCEDORES 1973 O ano em que tudo começou!

do Sul”, de Antônio Carlos Textor, e “Um Século de Fé – A Procissão Navegantes”, de Clóvias Mezzomo e Antônio Oliveira.

1977

LMB: Melhor Longa-metragem Brasileiro LME: Melhor Longa-metragem Estrangeiro

Sorriso”, de Heitor Capuzo e José Armando Pereira da Silva, e “Balas e Bolas Número 2”, de Jorge Camilo Abranches; CMG: “Ave Soja, Santa Soja”, de Rubens Bender.

1981

LMB: “Toda Nudez Será Castigada”, de Arnaldo Jabor; MENSÃO HONROSA: “O Homem do Corpo Fechado”, de Schubert Magalhães.

1974 LMB: “Vai Trabalhar Vagabundo”, de Hugo Carvana; CMN: “Emprise”, de José Rubes Siqueira; PEJ: “O Cinema Gaúcho nos Anos 20″, de Antônio Jesus Pfeil.

1975

LMB: “À Flor da Pele”, de Francisco Ramalho Júnior; PEJ: Anísio Medeiros, por “Dona Flor e Seus Dois Maridos”; CMN: “O Homem é o Limite”, de Rui Santo.

1978 LMB: “Doramundo”, de João Batista de Andrade; CMN: “O Grande Circo Místico”, de João Carlos Horta; CMG: “O Leão do Caverá”, de Rubens Bender e Antônio Jesus Pfeil.

1979

LMB: “O Amuleto de Ogum”, de Nelson Pereira dos Santos; PEJ: “Uirá – Um Índio à Procura de Deus”, de Gustavo Dahl; CMN: “Ponto Final”, de José de Anchieta.

LMB: “Raoni”, de Luiz Carlos Saldanha e Jean Pierre Dutilleux; CMN: “Associação dos Moradores de Guararapes”, de Sérgio Péo, e “Litoral”, de Ruy Solberg; CMB: “Porto Alegre, Adeus”, de Antônio Jesus Pfeil.

1980

12

1982 LMB: “Pra Frente Brasil”, de Roberto Farias; CMN: “Profissão Travesti”, de Olívio Tavares de Araújo; CMG: “No Amor”, de Nelson Nadotti.

1983 LMB: “Sargento Getúlio”, de Hermano Penna; PEJ: “Sargento Getúlio”, de Hermano Penna; CMN: “Tzubra Tzuma”, de Flávio Del Carlo; CMG: “Urbano”, de Antônio Carlos Textor.

Festival de Cinema de GRAMADO

LMB: “Anjos do Arrabalde”, de Carlos Reichenbach; CMN: “Uakti – Oficina Instrumental”, de Rafael Conde; CMG: “Passageiros”, de Glênio Póvoas e Carlos Gerbase.

1988 LMB: “A Dama do Cine Shangai”, de Guilherme de Almeida Prado; CMN: “A Voz da Felicidade”, de Nelson Nadotti; CMG: “A Voz da Felicidade”, de Nelson Nadotti.

1989

1991 LMB: “Não Quero Falar Sobre Isso Agora”, de Mauro Farias; CMN: “Wholes”, de A.S. Cecílio Neto; MMB (16mm): “Guerra dos Meninos”, de Sandra Werneck; CMN (16mm): “Projeto Pulex”, de Tadao Miaqui.

1992 Ano da internacionalização do Festival LMB: “Técnicas de Duelo”, de Sergio Cabrera; CMN: “PR Kadeia”, de Eduardo Caron; CMN (16mm): “Zero a Zero”, de João Emanoel Carneiro; MMB (16mm): “A Cidade e o Corpo”, de Chico Botelho; CMG (16mm): “Batalha Naval”, de Liliana Sulzbach.

1993 LMB: “Um Lugar no Mundo”, de Adolfo Aristarain; CMN: “Batiman e Robim”, de Ivo Branco; CMG: “O Zeppelin Passou Por Aqui”, de Sérgio Silva; CMN (16mm): “Os Calangos do Boiaçu”, de Ricardo Dias.

1994

LMB: “O Baiano Fantasma”, de Denoy de Oliveira; CMN: “Idos Com o Vento”, de Isay Weinfeld e Marcio Kogan.

LMN: “A Marvada Carne”, de André Klotzel; CMN: “A Longa Viagem”, de Francisco Botelho Júnior; CMG: “As Cobras”, de Otto Guerra Neto, José Maia e Lancast Motta, e “Cone Sul”, de José Guilherme Reis da Silva e Ênio Staub. LMB: “Gaijin – Caminhos da Liberdade”, de Tizuka Yamasaki; CMN: “Um Estranho

1987

1984

1985

1976 LMB: “O Predileto”, de Roberto Palmari; PEJ: “O Casamento”, de Arnaldo Jabor; CMN: “Rodolfo Arena – Um Ator do Brasil”, de Stepan Nercessian; CMG: “As Colônias Italianas do Rio Grande

LMB: “Cabaret Mineiro”, de Carlos Alberto Prates Correia; PEJ: “Até a Última Gota”, de Sérgio Rezende; CMN: “Belmonte”, de Ivo Branco; CMG: “São Miguel dos Sete Povos”, de Antonio Jesus Pfeil, e “O Papa é Gaúcho”, de Antônio Oliveira.

Capa Preta”, de Sérgio Rezende; CMN: “O Dia Em Que Dorival Encarou a Guarda”, de Jorge Furtado e José Pedro Goulart, “A Espera”, de Maurício Farias e Luiz Cardoso, e “Ma Che Bambina”, de A.S. Cecílio Neto; CMG: “O Dia Em Que Dorival Encarou a Guarda”, de José Pedro Goulart e Jorge Furtado.

1986 LMB: “O Homem da

LMB: “Festa”, de Ugo Giorgetti; CMN: “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado; CMG: “Ilha das Flores”, de Jorge Furtado.

1990 LMB: “Stelinha”, de Miguel Faria Jr.; CMN: “Arabesco”, de Eliana Caffé; CMG: “O Macaco e o Candidato”, de Henrique de Freitas Lima e Kais Muza;

LMB: “Morango e Chocolate”, de Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío; CMN: “Amor”, de José Roberto Torero; CMG: “Ventre Livre”, de Ana Luiza Azevedo; CMN (16mm): “Geraldo Voador”, de Bruno Vianna.


CMG: Melhor Curta-metragem Gaúcho

MMB: Melhor Média-metragem Brasileiro

PEJ: Prêmio Especial do Júri

1995 LMB: “Felicidade é…”, de José Pedro Goulart, José Roberto Torero, Jorge Furtado e A.S.Cecílio Neto; CMN: “Deus Exmachina”, de Carlos Gerbase; CMG: “Deus Exmachina”, de Carlos Gerbase; CMN (16mm): “Criaturas Que Nasciam em Segredo”, de Chico Teixeira.

1996

CMN: “Decisão”, de Leila Hipólito; CMG: “O Pulso”, de José Pedro Goulart; MMB (16mm): “Átimo”, de Romeu di Sessa.

1998 LMB: “Pizza, Birra, Faso”, de Bruno Stagnaro e Israel Caetano; CMN: “O Trabalho dos Homens”, de Fernando Bonassi, e “Um Dia e Logo Depois Um Outro”, de Nando Olival e Renato Rossi; MMB (16mm): “Caminho das Onças”, de Sérgio Sanz.

Barcinski; CMN (16mm): “Macabéia”, de Erly Vieira Jr., Lisandro Nunes e Virgínia Jorge; CMG: “O Tamanho Que Não Cai Bem”, de Tadao Miaqui.

2002

2005

1999

LMB: “Quem Matou Pixote?”, de José Joffily; LME: “Guantanamera”, de Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío; CMN: “O Enigma de Um Dia”, de Joel Pizzini; CMG: “Um Homem Sério”, de Dainara Toffoli e Diego de Godoy; CMN (16mm): “Terral”, de Eduardo Nunes.

LMB: “À Sombra dos Abutres”, de Leonel Vieira; CMN (35mm): “E no Meio Passa um Trem”, de Fernando Meirelles e Nando Olival; MMB (16mm): “Bela e Galhofeira”, de Paulo Halm; CMN (16mm): “Nocturnu”, de Dennison Ramalho.

2000

LMB: “Durval Discos”, de Anna Muylaert; LME: “La Perdición de Los Hombres”, de Arturo Ripstein; CMN (35mm): “Como se Morre no Cinema”, de Luelane Loiola Corrêa; CMN (16mm): “Justiça Infinita”, de Cacá Nazário; CMG (35mm): “Isaura”, de Alex Sernambi.

LMB: “Pantaleón y las Visitadoras”, de Francisco Lombardi; CMN: “Passadouro”, de Torquato Joel; CMN (16mm): “Uma Nação de Gente”, de Margarita Hernandez e Tibico Brasil; CMG: “Sargento Garcia”, de Tutti Gregianin.

2004

LME: “Um Amor de Borges”, de Javier Torre; LMB: “Memórias Póstumas”, por André Klotzel; CMN (35mm): “Palíndromo”, de Philipe

2006

Israel Cardenas e Laura Guzman; CMN: “Areia”, de Caetano Gotardo; CMG: “Um Dia Como Hoje”, de Eduardo Wannmacher.

2009 LMB: “Corumbiara” de Vincent Carelli; LME: “La Teta Asustada”, de Claudia Llosa; CMN: “Teresa”, de Paula Szutan e Renata Terra; CMG: “De Volta ao Quarto 666”, de Gustavo Spolidoro.

2010 LMB: “Bróder”, de Jeferson De; LME: “Mi Vida com Carlos”, de Germán Berger-Hertz; CMN: “Carreto”, de Cláudio Marques e Marilia Hughes.

2011 LMB: “Uma Longa Viagem”, de Lúcia Murat; LME: “Medianeiras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual”, de Gustavo Taretto; CMN: “Céu, Inferno e Outras Partes do Corpo”, de Rodrigo John; CMG: “De Lá pra Cá”, de Frederico Pinto. LMB: “Serras da Desordem”, de Andréa Tonacci, e “Anjos do Sol”, de Rudi Lagemann; PEJ: “Pro Dia Nascer Feliz”, de João Jardim; LME: “El Violin”, de Francisco Vargas Quevedo; CMN (35mm): “Alguma Coisa Assim”, de Esmir Filho.

2012

2007 LMB: “Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais”, de Carlos Prates; LME: “Nacido y Criado”, de Pablo Trapero; CMN (35mm): “Alphaville 2007 d.C”, de Paulinho Caruso; LMG: “Rolex de Ouro”, de Beto Rodrigues.

2001 LME: “O Testamento do Senhor Nepomuceno”, de Francisco Manso; LMB: “For All – O Trampolim da Vitória”, de Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz;

LMB: “Gaijin – Ama-me Como Sou”, de Tizuka Yamasaki; LME: “Un Mundo Menos Peor”, de Alejandro Agresti; CMN (35mm): “Entre Paredes”, de Eric Laurence; CMN (16mm): “Noturno”, de Daniel Salaroli; CMG (16mm): “Prato do Dia”, de Rafael Figueiredo; CMG (35mm): “Início do Fim”, de Gustavo Spolidoro.

2003 LMB: “De Passagem”, de Ricardo Elias; LME: “Los Lunes al Sol”, de Fernando Leon de Aranoa; CMN (35mm): “Carolina”, de Jefferson De; CMN (16mm): “Cinema Pagador”, de Isabel Ribeiro e Henrique Pires; CMG (35mm): “Pesadelo”, de Tomas Creus.

1997

CMN (35mm): “Momento Trágico”, de Cibele Amaral; CMN (16mm): “Noite de Sol”, de Marcela Arantes; CMG (16mm): “Jesus, o Verdadeiro”, de Fabiano Pires Flores; CMG (35mm): “Nave Mãe”, de Otto Guerra.

LMB: “Vida de Menina” de Helena Solberg; LME: “Whisky”, de Juan Pablo Rabello e Pablo Stoll;

2008 LMB: “Nome Próprio”, de Murilo Salles; LME: “Cochochi”, de

LMB: “Colegas”, de Marcelo Galvão; LME: “Artigas, La Redota”, de César Charlone; CMN: “Menino do Cinco”, de Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira; CMG: “Elefante na Sala”, de Guilherme Petry.

Festival de Cinema de GRAMADO

13

GRAMADO 40 ANOS

CMN: Melhor Curta-metragem Nacional


ENTREVISTA COM CURADORES 14

Festival de Cinema de GRAMADO


Leonardo Peixoto

ENTREVISTA COM CURADORES

Curadoria

Festival renovado

José Wilker, Marcos Santuario e Rubens Ewald Filho foram os curadores convidados para a 40ª edição do Festival de Cinema de Gramado. Ao encarar o desafio de escolher os filmes que seriam exibidos e competiriam durante o evento, também se dedicaram a pensar novos rumos.

Os curadores uniram suas experiências com a sétima arte para a construção de outra proposta, pautada na diversidade cinematográfica, na potencialização das características do Festival de Gramado e em suas possibilidades de diálogo com o mundo globalizado. “O trabalho da curadoria tem ampliado o diálogo com o setor e reforçado Gramado como referência de festival”, avalia Ralfe Cardoso (na foto à direita), da produtora Um Cultural. Os três novos curadores compartilham também a sensação de gratificação por integrarem um projeto nascido há 40 anos e que conquistou um espaço privilegiado entre os festivais de cinema do Brasil e do mundo. Em entrevista, Santuario, Wilker e Ewald Filho contam um pouco dessa experiência, que segue em 2013, e falam de suas percepções sobre o cinema contemporâneo.

Festival de Cinema de GRAMADO

15


Edison Vara/Pressphoto

ENTREVISTA COM CURADORES

Marcos Santuario 16

Festival de Cinema de GRAMADO


O envolvimento de Marcos Santuario com o Festival de Cinema de Gramado teve início lá pelos anos de 1980, quando começou a acompanhá-lo como jornalista e crítico de cinema. É membro fundador da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Frequenta os principais festivais de cinema do Brasil e faz questão de estar, anualmente, no Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá. Atua ainda como jornalista no caderno de cultura do jornal Correio do Povo (RS), na função de subeditor, e é professor do curso de jornalismo da Universidade Feevale (RS). Em 2012, encarou o desafio de dedicar-se, como curador, ao festival que considera o maior do Brasil, o de Gramado.

A curadoria do Festival passou por uma transformação em 2012. Que mudança foi essa e qual o maior desafio do processo? O Festival de Gramado vinha com outro perfil, privilegiando filmes mais autorais, mas que começavam a apresentar dificuldades em dialogar com o público. Pensou-se, entretanto, que este perfil já não se adequava mais à contemporaneidade e que o Festival deveria propor outro formato a partir dos seus 40 anos, voltando-se à diversidade. Essa mudança teve uma repercussão muito importante, o que nos faz acreditar que estamos no caminho certo. O desafio maior refere-se à grandiosidade do Festival de Gramado e ao fato de termos embarcado nesse projeto em um momento de transformação. Que novo formato é esse que vocês pensaram? É um tipo de escolha curatorial que está pautado na diversificação e no diálogo entre três aspectos: a crítica cinematográfica, o interesse do público e o mercado. Nesse sentido, não queremos apenas filmes feitos para festivais, que só dialogam com a crítica especializada, sendo bastante autorais e herméticos; também não nos interessam filmes centrados no apelo popular, que dispensam os elementos mais essenciais do cinema, sem propor uma densidade reflexiva, que se pautam por um discurso fácil, produção fácil, com capacidade de diálogo imediato com o público para tornarem-se filmes de bilheteria; tampouco, filmes que somente interessam aos distribuidores. O nosso olhar para realizar a escolha, portanto, é para a diversificação. Quais são os principais desafios da produção gaúcha e brasileira nesse contexto de diversificação? O cinema brasileiro refletido no exterior tem se mostrado a partir de dois focos principais: ou ele é popularesco ou é

fechado demais em torno do seu autor. Esse é um cinema que não interessa ao momento contemporâneo, a esse universo da cultura que é expressão do mundo globalizado. O cinema é a expressão artística de uma sociedade em movimento. E para a nossa produção ser consumida em outros lugares precisa ser capaz de propor diálogos com outras formas de cinema e com outras culturas. Observo, no cinema gaúcho, essa tentativa de criar narrativas que proponham diálogos com universos temáticos mais amplos. Há mais produção cinematográfica facilitada pelos avanços tecnológicos, o que acaba permitindo também uma diversificação temática importante. Como você avalia a importância do Festival para o cinema gaúcho, tendo acompanhado de perto boa parte de sua trajetória? São histórias quase inesgotáveis de filmes e pessoas que, através do Festival de Gramado, ganharam o Brasil e até o mundo. Ilha das Flores, por exemplo, um dos filmes mais reconhecidos, respeitados e aplaudidos da produção gaúcha e que repercutiu por causa do Festival. Em Teu Nome, filme do Paulo Nascimento, é o mesmo caso. O Paulo, inclusive, foi contratado pela Rede Globo no dia seguinte à exibição de seu filme em Gramado. Essa é a significação do Festival como janela, como porta de entrada para um maior conhecimento e diversificação cultural. A ideia é que Gramado volte a ser essa vitrine da produção brasileira e latina – que ele possa significar essa passagem importante do idealizador e sua obra para um diálogo muito maior do que o universo do Festival. Gramado não quer ser um espaço no qual os filmes nascem e morrem ali, mas sim ser um festival em que os filmes possam ganhar caminho próprio, transitando por outros universos.

Festival de Cinema de GRAMADO

17

ENTREVISTA COM CURADORES

Gramado quer um diálogo com o mundo, através da diversidade


José Wilker

18

Festival de Cinema de GRAMADO Gustavo Lourenção/Academia Internacional de Cinema

ENTREVISTA ENTREVISTA COM CURADORES


Sua estreia no cinema foi em 1965, no longa-metragem A Falecida. De lá pra cá, José Wilker já atuou em mais de 60 filmes. Entre os que mais se destacam, Dona Flor e Seus Dois Maridos e Guerra de Canudos. Lançou-se como diretor em 2013, com a comédia Giovanni Improtta. Na televisão, interpretou personagens marcantes como Roque Santeiro e o presidente Juscelino Kubitschek. É também crítico de cinema: comenta o Oscar na TV Globo e apresenta o programa “Palco e Plateia”, no Canal Brasil, em que entrevista diretores e atores do teatro, cinema e televisão. Precisaria de mais alguma justificava para ser um dos curadores do Festival de Cinema de Gramado? Pois tem. A capacidade de catalisar esforços pela promoção da sétima arte. Em 2012, aceitou o convite para compor a curadoria. Neste papo-papo, sugere uma parceria mais intensa entre o cinema e a televisão e fala de outros aspectos do cinema nacional.

Tu assumiste a curadoria do Festival num momento de redirecionamento e transformação. Qual foi o maior desafio nesse processo? O nosso grande desafio foi restabelecer uma conversa do cinema com o público em Gramado. Essa conversa estava um pouco difícil, mas ficamos muito contentes porque a edição passada iniciou um diálogo mais tranquilo e mais produtivo. Tens uma intensa participação no cenário cinematográfico brasileiro e recentemente lançaste o teu primeiro filme como diretor. Deste lugar, como tu avalias a produção nacional atualmente? Existem 300 novos diretores trabalhando com cinema, desde a chamada retomada para cá [período posterior ao governo de Fernando Collor, cujo marco é considerado o lançamento do filme Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil, em 1995]. Com ou sem dificuldades, o Brasil está realizando filmes e isso é muito legal, significativo. O problema é que não tem onde exibir essa produção. Os festivais, que seriam a janela para o mercado, acabam se transformando na carreira dos filmes. O país não está equipado para consumir a produção audiovisual. A grande maioria das cidades não possui salas de cinema, por exemplo. O Brasil perde para o México e para a Argentina nesse quesito. Além disso, as empresas têm se queixado da carência de roteiristas. Quer dizer que a produção brasileira é expressiva e de

qualidade, mas não consegue chegar efetivamente ao público? O Brasil deixou de investir em equipamentos para o consumo do cinema. Existem centenas de filmes prontos, mas sem janela de exibição. O que vemos, então, é uma associação necessária entre o cinema nacional e a televisão, como acontece nos Estados Unidos, onde os dois veículos trabalham em parceria. A Lei do Audiovisual pode contribuir com isso. Mas na TV aberta, atualmente, pouquíssimos canais exibem filmes nacionais. Uma adesão maior do público brasileiro às produções cinematográficas do Brasil também representaria uma conquista muito boa para o nosso cinema. Qual a importância do Festival de Cinema de Gramado nesse sentido? Como ele contribui para disseminar o cinema nacional? O Festival de Gramado foi o melhor farol para o cinema brasileiro. Foi também a resistência. Nos anos em que o cinema precisou resistir, ele resistiu. Não se rendeu ao governo de Fernando Collor e se abriu para o cinema latino-americano. E é, além disso, um apoio fundamental para a produção cinematográfica no Rio Grande do Sul. Quais são os maiores desafios para os festivais e o cinema nacional? Não gosto de falar em desafios, mas em incentivo. Se as autoridades compreenderem a relevância do audiovisual, isso será um estímulo da maior importância. Também percebo a integração entre os festivais latino-americanos como algo muito produtivo. Festival de Cinema de GRAMADO

19

ENTREVISTA COM CURADORES

O Festival de Gramado foi o melhor farol para o cinema brasileiro


Edison Vara/Pressphoto

ENTREVISTA COM CURADORES

Rubens Ewald Filho 20

Festival de Cinema de GRAMADO


Dos primeiros jornalistas a escrever sobre cinema no Brasil, Rubens Ewald Filho tornouse um crítico extremamente respeitado. Ao transitar por festivais espalhados pelo mundo, acumula uma experiência riquíssima para olhar a produção audiovisual em nível local e global. Atualmente, comenta a transmissão do Oscar, do Globo de Ouro e do Screen Actors Guild Awards pela TNT. O envolvimento com o cinema começou, porém, do outro lado da crítica: Rubens já atuou e dirigiu filmes. Em 2012, tornou-se curador do Festival de Cinema de Gramado, evento que considera um espaço privilegiado.

Tu transitas pelo cinema de diversas partes do mundo. Como avalias o lugar ocupado hoje pelo Festival de Cinema de Gramado no contexto internacional? Não há lugar mais adequado para fazer um festival do que em Gramado. Claro que há outras cidades turísticas, mas elas geralmente ou são grandes demais (e o efeito de um festival se dilui), ou esbarram num público pouco interessado. O Brasil inteiro conhece a cidade de Gramado em função do Festival. Porém, não acho que Gramado tenha uma presença compatível com o que sua história merece no continente latinoamericano. É preciso intensificar isso, buscar mais conexões externas, viajar à Cannes, por exemplo, onde se reúnem todas as cinematografias latinas para estabelecer pontes e contatos. Isso tudo ainda é algo a ser realizado. O próximo grande passo do Festival, sem dúvida, é conquistar o exterior. Ainda podemos avançar muito neste sentido. Tu foste curador de outros festivais. Qual a principal diferença de Gramado em relação aos demais eventos do gênero no Brasil e na América Latina? Nenhum festival tem a tradição e a longevidade de Gramado. A paisagem e a localização tão agradável, bonita e prazerosa. É impossível voltar da cidade sem estar encantado e apaixonado. Gramado é um modelo

de festival para o Brasil e também paga esse preço. Em função da cobertura maciça da imprensa, tudo repercute, para o bem e para o mal. De que modo a tua experiência com cinema inspira a curadoria de Gramado? Traz referências de outros festivais dos quais participou ou comentou? Acredito que aprendemos mais com os erros do que com os acertos. E meus colegas curadores têm inspirações tanto ou mais do que eu. Mas fico lisonjeado em fazer parte disso e trazer todos os bons e maus momentos que vivemos cotidianamente na profissão, a frequência intensa em todos os festivais importantes do mundo, para construir conjuntamente o Festival de Cinema de Gramado. Os festivais internacionais cumprem um papel importante em termos de fomentar a pluralidade de formas artísticas e incentivar a tolerância entre diferentes culturas? Acho que o cinema, de modo geral, em festivais ou não, cumpre bem esse papel. Um exemplo é o cinema argentino no Brasil, que foi e é recebido com a maior simpatia e até mesmo apontado como exemplo para o nosso. Infelizmente conhecemos pouco dos irmãos da América Latina e acredito que a arte é o melhor caminho para entendêlos e nos ajudar mutuamente.

Festival de Cinema de GRAMADO

21

ENTREVISTA COM CURADORES

Gramado é um modelo de festival para o Brasil


PARCERIA HAVANA 22

Festival de Cinema de GRAMADO


PARCERIA HAVANA

Leonardo Peixoto

Conexão Gramado/ Havana Curtas gaúchos premiados em Gramado, em 2012, foram exibidos no Festival de Cinema de Havana. Parceria consolida interlocução de nível continental. “Sensacional essa parceria!” Quem comemora é Guilherme Petry, cineasta que esteve em Cuba, em dezembro de 2012, para exibir seu curta-metragem Elefante na Sala. Foi no Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano. “A parceria nos dá a dimensão do tamanho do Festival de Gramado. Estar com parceiros grandes te torna grande também, avalia.” Ao lado de Petry, que levou os prêmios de melhor curta gaúcho e melhor roteiro em Gramado, viajaram Vicente Moreno, representando Casa Afogada, Bruno Dodecke,

por Garry, Bruno Polidoro, de Fez a Barba e o Choro, Eduardo Wannamacher, com 24 Horas com Carolina, e Abel Roland, por Lobos. Todos premiados durante a 40ª edição do Festival de Cinema de Gramado, na Mostra Gaúcha de Curtas – Prêmio Assembleia Legislativa. Integraram a comitiva o assessor de Relações Internacionais do Gabinete do Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Ricardo Rabeno, e o diretor do Instituto Estadual de Cinema (IECINE), Luiz Alberto Cassol.

Hotel Nacional, em Havana, é a sede principal do Festival Internacional Del Nuevo Cinema Latinoamericano

Festival de Cinema de GRAMADO

23


PARCERIA HAVANA

E

m 13 de agosto de 2012, logo após a premiação dos vencedores da Mostra Gaúcha de Curtas – Prêmio Assembleia Legislativa, Ralfe Cardoso, diretor da Um Cultural (produtora do Festival de Gramado) anunciou aquela que seria a novidade da noite: a parceria com o Festival de Havana estava consolidada e os curtas premiados seriam exibidos em uma programação paralela no evento cubano. “Foi um esforço de muita gente. Uma conquista realmente importante no sentido de impulsionar a produção audiovisual do Rio Grande do Sul para o mundo”, defende Cardoso. Outra boa notícia: o secretário de Estado da Cultura, Luiz Antônio de Assis Brasil, anunciava que o Governo ofereceria as passagens para que um representante de cada curta pudesse viajar a Havana. A iniciativa de propor conexões entre os festivais concretizou-se após a participação da diretora de programação do evento cubano, Zita Morriña, como jurada na mostra de longas-metragens estrangeiros de Gramado. “Foi aí que consolidamos esta parceria entre dois dos mais antigos e prestigiados festivais de cinema do nosso continente”, lembra Zita, denotando satisfação com o resultado da iniciativa. Ralfe Cardoso entende a parceria como uma forma de consolidar o Festival de Gramado internacionalmente e favorecer as trocas cinematográficas e culturais entre os países da América Latina e do Caribe. “Essa troca de experiências e o diálogo aberto com Havana só tem a favorecer a produção audiovisual local, mostrando o cinema gaúcho para o mundo e consolidando Gramado como um festival que pretende ampliar-se como referência.” La Habana, a menina dos olhos Elefante na Sala foi o primeiro filme dirigido por Guilherme Petry depois de concluir o curso de Publicidade e Propaganda. E o cinema? Seu trabalho

24

Festival de Cinema de GRAMADO

FOTO

Vencedores do Prêmio Assembleia Legislativa, da Mostra Gaúcha de curtas-metragens, em 2012

Filmes premiados na Mostra DE CURTAS GAÚCHOS 2012 MELHOR FILME: Elefante na Sala, de Guilherme Petry MELHOR MÚSICA: Bunker Studio (Fez a Barba e o Choro) MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: Iara Noemi e Gilka Vargas (Casa Afogada) MELHOR MONTAGEM: Bruno Carboni (Garry) MELHOR FOTOGRAFIA: Bruno Polidoro (Fez a Barba e o Choro) MELHOR ROTEIRO: Guilherme Petry e Samir Arrage (Elefante na Sala) MELHOR DIRETOR: Richard Tavares e Bruno Carboni (Garry) PRÊMIO EXIBIÇÃO CURTAS GAÚCHAS: Garry, de Richard Tavares e Bruno Carboni MELHOR ATRIZ: Fernanda Carvalho Leite (Lobos) MELHOR ATOR: Guto Zuster (24 Horas Com Carolina)

A janela de exibição de Gramado é uma potência. Ter sido chancelado ali, como melhor filme e melhor roteiro, é algo que legitima o nosso trabalho. de conclusão de curso, o curta de ficção Como Ser um Grande Escritor, já havia lhe rendido um prêmio no Gramado Cine Vídeo, ainda em 2009. E o jovem diretor descobriu logo a dificuldade de fazer circular curtas. “O grande desafio para quem produz é fazer o curta rodar. Ele tem um formato de difícil inserção em salas de

cinema e até mesmo na televisão. Os festivais acabam sendo a vida deles.” Não haveria oportunidade melhor, então, do que ser premiado em Gramado e, de quebra, ter o filme exibido em Havana. “Para os realizadores, isso representa um enorme estímulo – produzir para estar em Havana; a possibilidade de mostrar o trabalho em outros países”, avalia Petry. “Havana sempre é uma menina dos olhos do cinema. Estar com cineastas de todas as partes do Brasil e do mundo, respirando cinema e falando sobre cinema 24 horas por dia é estimulante. Voltamos com mais vontade filmar.” Foram quatro dias em Havana. E os gaúchos conheceram a Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antônio de Los Baños, a cerca de 40 quilômetros da capital.


exemplo de evento bem sucedido, em termos de curadoria, grandeza, alcance, repercussão internacional e integração com a população.” Sobre a relação com Gramado, ele avalia a oportunidade como uma chance de diálogo. “Outra questão que me impactou foi imaginar, durante a exibição do Elefante na Sala, como o público cubano o receberia. Afinal, são realidades diferentes e, apesar de tratarmos de um drama humano, ele é contextualizado num universo adolescente de classe média alta.”

Zita Morriña

O Festival de Havana, o Festival de Gramado A primeira edição do Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano remonta a 1979. Precisamente, 10 de dezembro aquele ano. Seis anos depois da criação do Festival de Cinema de Gramado. Enquanto um é ambientado no frio intenso da Serra Gaúcha, o outro é embalado pelo calor tropical do Caribe. Para além das diferenças, semelhanças. E uma estreita relação. Segundo Zita Morriña, Cuba tem participado do festival brasileiro há muitos anos. Assim como o Brasil tem presença marcante em Havana – ela diz que ao longo dos 35 anos do festival, participaram mais de 1,3 mil filmes brasileiros. “O Brasil tem tido uma participação muito importante nos festivais de Havana e a cinematografia brasileira é uma das favoritas do público. Além disso, já ganhou muitos prêmios, desde

a primeira edição”, revela Zita. “Estreitar ainda mais essa colaboração, exibindo os curtas premiados no programa não competitivo do Festival de Havana, é uma forma de garantir a apresentação e o conhecimento do cinema – e seus respectivos realizadores – produzido no sul do Brasil.” Em 1993, Fresa y Chocolate (Morango e Chocolate) conquistou o primeiro prêmio de popularidade concedido na 15ª edição do Festival de Havana. No ano seguinte, o filme de Juan Carlos Tabío e Tomás Gutiérrez Alea levou, em Gramado, o Kikito de melhor longa-metragem, o prêmio de melhor filme pelo júri popular, prêmio da crítica e de melhor atriz coadjuvante para Mirta Ibarra. Além disso, os protagonistas do longa, Jorge Perugorria e Vladimir Cruz, conquistaram o Kikito de melhor ator. O que mais chamou a atenção de Guilherme Petry em Havana foi a magnitude do festival. “É Leonardo Peixoto

A instituição recebe alunos de todo o mundo e foi fundada em 1986 pelo escritor colombiano Gabriel García Marquez, pelo poeta e cineasta argentino Fernando Birri e pelo cubano Julio García Espinosa.“Los Baños é uma referência para todo mundo que conhece e estuda cinema”, explica Guliherme Petry. A trupe fez uma visita guiada para conhecer a estrutura, os cursos e os projetos da instituição.

O ator Jorge Perugorría participou do Festival de Havana em 2012

Havana Das características do Festival de Havana, Zita destaca a vasta programação cultural, que inclui seminários teóricos, conferências, lançamentos de livros e revistas sobre cinema, exposições de arte, concertos e o Fórum Internacional sobre a Infância e seu Universo Audiovisual. “A participação do público, nesse sentido, é bastante expressiva: mais de 400 mil espectadores por ano. É uma grande festa.” Com o júri de sua primeira edição presidido por Gabriel García Marquez, a mostra competitiva abarca os gêneros de ficção, documentário e animação, em longa e curta metragem, incluindo roteiros e cartazes impressos. Também há, na programação não competitiva, uma mostra da produção audiovisual do continente latino-americano e do cinema internacional, com atenção especial às produções pouco exibidas nos circuitos internacionais. Em Havana, sede principal do evento, uma cadeia de mais de 20 salas exibem 500 títulos, em média, programados para cada edição. “O Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano tem uma grande importância cultural e social para Cuba. É um evento de caráter nacional, já que as salas de cinema de todo o país exibem os filmes que participam do Festival”, conclui Morriña.

Festival de Cinema de GRAMADO

25

PARCERIA HAVANA

Itamar Aguiar/Pressphoto

O Festival de Gramado está passando por uma etapa de renascimento, reorganização e crescimento, necessários para ocupar de novo o lugar importante que sempre teve entre os festivais do Brasil e da América Latina.


FILME COLEGAS

O trio que conquistou Gramado Diálogo com o público foi o destaque do filme vencedor do Festival em 2012, na opinião do diretor Marcelo Galvão. 26

Festival de Cinema de GRAMADO


Festival de Cinema de GRAMADO

27 Cleiton Thiele/Pressphoto

FILME COLEGAS


28

Festival de Cinema de GRAMADO

Edison Vara/Pressphoto

FILME COLEGAS

D

e protagonistas do filme Colegas, Ariel Goldenberg, Rita Pokk e Breno Viola entraram também para a lista de personagens principais do Festival de Cinema de Gramado em 2012, num dos momentos mais marcantes do evento. O trio subiu ao palco do Palácio dos Festivais para receber o prêmio especial do júri por sua atuação no filme de Marcelo Galvão, agraciado com os Kikitos de melhor longa-metragem brasileiro e melhor direção de arte. A emoção dos jovens atores tomou conta do Brasil, estampada em capas de jornais, revistas e em imagens na televisão. Colegas saía de Gramado para ganhar o mundo. Depois, vieram prêmios na Itália, na Rússia e no Festin, Festival de Cinema que acontece em Lisboa, Portugal. A principal conquista, no entanto, está na relação que o longa, que levou sete anos para ser concluído, do roteiro até a edição final, foi capaz de estabelecer com o público. Na primeira exibição, em São Paulo, onde foi gravado, Colegas emocionou e arrancou aplausos da plateia, formada por amigos e familiares da equipe. “As pessoas, de um modo geral, estavam muito envolvidas com o filme. Não tínhamos como saber, por mais importante que aquela recepção fosse, se essa opinião representava o que o público fora dali pensaria”, lembra o diretor. O próximo passo era a exibição no Festival de Cinema de Gramado: outro cenário, outro público e uma expectativa imensa por parte da equipe. Como o Festival receberia um longa-metragem cuja história sobre sonhos e amizade era protagonizada por três atores portadores da Síndrome de Down? “Gramado é o ninho do cinema nacional e eu não fazia ideia do que iria acontecer lá”, confessa Galvão. A resposta foi surpreendente. “Fomos aplaudidos de pé, como na primeira exibição. Nesse dia, percebi que o filme dialogava com

Fiquei extremamente feliz com a sensibilidade do júri de Gramado ao premiar os três. A delicadeza do júri em dar um prêmio para cada um foi a melhor coisa que aconteceu. Marcelo Galvão Diretor do filme Colegas

todos os públicos. E essa receptividade toda foi o maior prêmio que eu podia receber.” Além da reação positiva do público, outro elemento alegraria a equipe envolvida na produção: Colegas recebeu mais três prêmios, entre eles o reconhecimento máximo que um Festival pode conceder, o prêmio de melhor longa-metragem. Segundo Marcelo Galvão, a expectativa de ganhar o Kikito era pequena, tendo em vista a qualidade dos concorrentes. “Ganhar o prêmio em Gramado é uma chancela que abre muitos caminhos, muitas portas em outros lugares. Abriu


diretor conviveu por muito tempo com um tio portador da Síndrome de Down e essa proximidade proporcionou inúmeros elementos para ajudá-lo a criar o roteiro. “Meu tio era uma pessoa muito especial, tinha um coração enorme, era engraçado, divertido e via o mundo de uma forma lúdica. Sempre gostei de me aproximar dele, porque para além das diferenças, tínhamos muito em comum”, conta. “Eu queria fazer um filme que tivesse essa alegria, esse jeito viver, essa energia boa.” Assim, Colegas se tornou a história

de três jovens apaixonados por cinema que decidem fugir do instituto onde vivem para realizar seus sonhos: Stalone, interpretado por Ariel, quer conhecer o mar; Aninha, personagem de Rita, pretende encontrar um marido que saiba cantar; e Marcio, vivido por Breno – o nome do personagem é uma homenagem de Galvão ao seu tio –, quer voar de balão até a lua. Os três saem em uma viagem inspirados no filme Thelma & Louise, a bordo do carro conversível do jardineiro do instituto, e vivem aventuras pelo caminho. De São Paulo a Buenos Aires, experimentam a liberdade. Edison Vara/Pressphoto

Despretensioso e inclusivo Marcelo Galvão queria contar uma história sobre sonhos e amizade. Mas faz logo uma ressalva: a história do longa-metragem não pretende levantar nenhuma bandeira, não se constitui como uma narrativa cujo objetivo é falar da síndrome. Pretende, simplesmente – e reside nesta sutileza um de seus principais méritos –, narrar uma aventura como outra qualquer. A inspiração é na vida real. O

Colegas chegou aos cinemas brasileiros em março de 2013 e foi assistido por mais de 160 mil pessoas em todo o país

“Receber esse prêmio foi uma grande surpresa. Muito emocionante”, relata o ator Ariel Goldenberg

Sonhos reais Os protagonistas têm algo a mais em comum com a história de Colegas: são sonhadores, daqueles que não medem esforços para pôr em prática seus planos. Ninguém melhor para um papel que tenha o sonho em sua gênese do que Ariel Goldenberg, por exemplo, que ajudou Galvão a captar recursos para o filme. Prova é o encontro de Ariel com o ator Sean Penn, em Los Angeles – concretização da frase que, em determinada passagem do filme, Stalone diz para Aninha, no meio de um campo de girassóis: “tome cuidado com aquilo que você deseja, porque você pode acabar conseguindo”. Dos sonhos que se transportam

Festival de Cinema de GRAMADO

29

FILME COLEGAS

ELENCO Galvão conheceu Ariel e Rita ao assisti-los no programa de entrevistas de Marília Gabriela e não teve dúvidas: seriam bons protagonistas. O mesmo aconteceu com Breno, que ele conheceu num programa sobre esportes; o ator é faixa preta em judô. O diretor entrevistou cerca de 300 atores para definir o elenco, formado ainda por outros 40 jovens com Síndrome de Down. Atores mais conhecidos do grande público, como Lima Duarte, Leonardo Miggiorin e Juliana Didone, também participaram do filme.

Divulgação

muitas portas pra mim. É um prêmio que todo o cineasta quer ganhar, extremamente significativo.”


Repercussão na mídia Ariel, Rita e Breno ganharam manchetes e capas em todo o país e também no exterior. Ao lado, recortes dos jornais Diário do Comércio (SP) e Las Últimas Notícias (Chile), além da capa da revista paulista Veja São Paulo.”

que só existe quando há ignorância.” Para Ariel, é o público quem deve dizer se Colegas é ou não capaz de propor formas de romper com o

Divulgação/Colegas, O Filme

FILME COLEGAS

da tela para a vida real, os atores sabem bem. Romperam todas as possíveis barreiras para mostrar que, através de muito trabalho, puderam transformar-se em artistas reconhecidos. “A experiência com o Marcelo foi muito importante. Espero fazer outros trabalhos com ele”, projeta Ariel, entusiasmado. Uma chance a mais, para o cinema e para os atores, de questionar preconceitos e, acima de tudo, propor diálogos entre diferentes pontos de vista sobre o mundo. “O filme é inclusivo, sem dúvida. Você os coloca ali, na tela do cinema, e em cinco minutos o público esquece que eles têm Síndrome de Down. E quando esquece, aí é que inclui”, argumenta o diretor. “A exposição acaba com o preconceito,

#VemSeanPenn Se o sonho do personagem Stalone era conhecer o mar, o sonho de Ariel, na vida real, era um pouco mais ousado. Ele queria que o ator Sean Penn viesse ao Brasil para a estreia de Colegas. Sabendo que ele não desistiria fácil do objetivo, Marcelo Galvão e a equipe da Gatacine criaram um

30

Festival de Cinema de GRAMADO

vídeo contando a história do ator e convidando o público a compartilhá-lo nas redes sociais. Assim, quem sabe, o convite chegaria ao destinatário. No final do vídeo, vários atores buscam sensibilizar Sean Penn. A iniciativa repercutiu. O singelo pedido tornou-se um dos assuntos mais comentados nas redes sociais

preconceito. E pelo sucesso do filme, dá para supor uma resposta. “A recepção do público foi muito boa”, avalia Ariel.

no Brasil. O vídeo, publicado no YouTube, teve mais de 1,5 milhão de visualizações, mas Sean Penn não veio. Fim do sonho? Que nada! Ariel e Rita decidiram embarcar para Los Angeles e simplesmente tocar a campainha da casa do astro, em Malibu. Sean Penn não só atendeu a porta como recebeu os atores e entregou a Ariel, de presente, o certificado de sua indicação ao Oscar por Uma lição de amor, filme que, há alguns anos, deu início à admiração de Ariel. Na história, Penn interpreta um pai portador de uma deficiência mental, que não mede esforços para criar a sua filha, com a ajuda de amigos. “Foi uma experiência muito gostosa”, relembra o ator brasileiro, que agora está articulando uma campanha para levar Colegas ao Oscar. “A Aleksandra [Aleksandra Zakartchouk é diretora de comunicação do filme] me deu a ideia de criar essa campanha, chamada ‘Vamos ao Oscar’, e divulgar nas redes sociais. Agora estou trabalhando nisso.”



JUAN JOSÉ CAMPANELLA

Diretor argentino dos premiados “O Filho da Noiva” e “O Segredo dos Seus Olhos” foi homenageado com o Kikito de Cristal em 2012

32

Festival de Cinema de GRAMADO

Juan


Gramado é o festival mais importante do cinema latinoamericano.

E

m 2002, o roteirista e produtor argentino Juan José Campanella chegava pela primeira vez ao Festival de Cinema de Gramado com O Filho da Noiva. Voltara para casa com o prêmio da crítica e do júri popular, mais o Kikito de melhor atriz pela atuação de Norma Aleandro. Dez anos depois, volta ao Palácio dos Festivais como um dos homenageados, na 40ª edição, em 2012. Sai dono do Kikito de Cristal. Seu nome, a partir de então, figura ao lado de Eduardo Coutinho, Renato Aragão, Ruy Filmografia A carreira de Campanella é marcada por longasmetragens de grande sucesso nos cinemas argentinos e do mundo. No entanto, o diretor também se destaca por dirigir episódios das séries norteamericanas House e Law & Order. Recentemente, foi o responsável pela direção da animação em 3D Metegol, ainda não lançada no Brasil.

Guerra e Manuel Martínez Carril na galeria de premiados com o troféu criado em 2007 para destacar expoentes do cinema latino. O argentino recebeu o Kikito das mãos de César Charlone, diretor uruguaio premiado em Gramado pelos filmes O Banheiro do Papa e Artigas, La Redota. Foi uma festa para celebrar também a diversidade cinematográfica do continente. Campanella defende uma maior proximidade entre o Brasil e a Argentina e, na ocasião, não deixou de entrar no clima sadio de provocação: “Sempre que venho ao Brasil, me pergunto por que nossos países não têm um maior intercâmbio cultural, hoje restrito a uma rivalidade futebolística – embora nós sempre ganhemos”. Ele lembra que quando esteve pela primeira vez no Festival de Gramado ficou impressionado com o fato de dois países vizinhos se conhecerem tão pouco em termos cinematográficos. “Tudo o que possa servir para unir nossos dois países

sempre será muito bem-vindo.” O Kikito de Cristal consolida uma produção cinematográfica de destaque nos últimos anos. “É a primeira vez que recebo um prêmio por toda a minha obra, e não por um filme específico. E o sentimento é ainda mais contundente por vir do Festival de Cinema de Gramado que, sem dúvida, é o festival mais importante do cinema latinoamericano”, comemora o diretor argentino, deixando a impressão de que “sentia-se em casa”. Ao receber o Kikito, não escondeu a emoção. “Sabemos que os brasileiros são exagerados, mas isso já é demais”, brincou. Exagero ou não, o diretor é tido como um dos responsáveis por popularizar o cinema argentino e tornar o mundo um pouco mais atento à América Latina. O Segredo de Seus Olhos conquistou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010. O Filho da Noiva concorreu na mesma categoria anos antes, “em 2002.”

Metegol (2013) O Segredo dos Seus Olhos (2009) Clube da Lua (2004) O Filho da Noiva (2001) O Mesmo Amor, a Mesma Chuva (1999) Ni El Tiro Del Final (1997) Victoria 392 (1982)

Festival de Cinema de GRAMADO

33

Cleiton Thiele/Pressphoto

JUAN JOSÉ CAMPANELLA

José Campanella


FERNANDO MEIRELLES

Olhar de 360 graus Longa-metragem do diretor Fernando Meirelles abriu a 40ª edição do Festival de Cinema de Gramado, em 2012, inaugurando projeto pautado na diversidade e na sintonia com o cinema global e contemporâneo.

“É

uma honra ter essa sessão em um Festival que sempre resistiu bravamente e que, agora, quer sintonizar com tudo o que está acontecendo no cinema.” A frase é de um dos mais renomados diretores do cinema brasileiro e constitui-se como indício do reconhecimento de um projeto inaugurado na 40ª edição do Festival de Cinema de Gramado: a aposta na diversidade e no diálogo com o cinema global e contemporâneo. O longa-metragem 360, de Fernando Meirelles, foi a atração da sessão de abertura do evento, no dia 10 de agosto de 2012. Também estiveram em Gramado Maria Flor, uma das atrizes do filme, Marcio Fraccaroli, diretor

34

Festival de Cinema de GRAMADO

da distribuidora Paris Filmes, e Ciça Meirelles, esposa do diretor e responsável pela trilha sonora. “Estive aqui só uma vez, em meados dos anos 1990, mas não consegui assistir ao filme de abertura porque o teatro estava lotado. Fico muito feliz que 16 anos depois eu possa participar desta 40ª noite”, revelou Fernando Meirelles, em entrevista coletiva realizada com a equipe que trabalhou no longa. A ideia de trazer a estreia nacional de 360 para Gramado começou a ser construída pela curadoria, com um objetivo principal: mostrar, logo de cara, que o Festival estava começando a traçar um novo rumo, focado em uma diversificação maior dos longasmetragens; um olhar mais amplo e aberto para selecionar os filmes das

mostras competitivas. “A seleção em 2012 foi sem preconceitos. E a abertura com o 360 só reforçava a universalidade do que estávamos por ver durante o Festival”, explica Marcos Santuario, curador ao lado de José Wilker e Rubens Ewald Filho. De acordo com Santuario, a presença do filme de Meirelles foi extremamente importante para mostrar o caminho que Gramado está trilhando após ter passado por uma série de renovações: “O Festival tem a ideia de, nos próximos anos, trabalhar com essa diversificação que é característica do mundo globalizado”, reforça. Um filme do mundo E o que justificaria 360 na abertura do Festival? O filme estrearia nos


cinemas sete dias após a exibição em Gramado. Antes, tinha sido lançado na França e na Inglaterra. Abriu o Festival de Londres e participou dos festivais de Toronto e Munique. E tem mais. O roteiro de Peter Morgan (A Rainha e O Último Rei da Escócia) conta nove histórias interconectadas, contribuindo para a tentativa de Gramado de propor um olhar globalizado sobre a sétima arte. Tudo começa em Viena, passa por Paris, Londres, Bratislava, Rio de Janeiro, Denver e Phoenix. No elenco, Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes), Jude Law (O Talentoso Ripley), Rachel Weisz (O Jardineiro Fiel) e outros nomes internacionais, além dos brasileiros Maria Flor e Juliano Cazarré. Pronto: 360 é um filme do

mundo, dirigido por um brasileiro, mas sem território marcado. Narra dramas humanos imersos no paradoxo da contemporaneidade; entre as possibilidades infinitas de conexão e a solidão. O próprio diretor não o considera um filme brasileiro. É, sim, uma história globalizada, como outras já dirigidas por Meirelles. “Considero 360 um filme austríaco e inglês. Ele é uma coprodução brasileira e tem pessoal brasileiro, foi finalizado aqui, a edição, os efeitos especiais.” 360 é inspirado na clássica peça La Ronde, de Arthur Schnitzler. E se as histórias narradas rodam o mundo em 360 graus, voltando ao seu ponto de origem, isso representa também o caminho que o Festival de Cinema de Gramado quer seguir, ampliando

ainda mais seus horizontes, seus diálogos com o mundo e com o dinamismo contemporâneo; sem perder, é claro, as referências locais que o transformaram no mais duradouro festival de cinema do país. Diretor do mundo Depois de Cidade de Deus (2002), autenticamente brasileiro e que ganhou o mundo, inclusive indicado ao Oscar, Meirelles dirigiu O Jardineiro Fiel, cuja história se passa na África e também traz no elenco atores estrangeiros. Além disso, daptou para o cinema o livro do escritor português José Saramago, Ensaio Sobre a Cegueira – outra história global, sem território definido e com atores de diversas nacionalidades.

Festival de Cinema de GRAMADO

35

FERNANDO MEIRELLES

Cleiton Thiele/Pressphoto

Maria Flor, Fernando Meirelles e Ciça Meirelles na 40ª edição do Festival de Cinema de Gramado


FILME O SOM AO REDOR

O Som ao Redor:

Unanimidade Após percorrer o mundo com O Som ao Redor, diretor Kleber Mendonça Filho exibiu o filme pela primeira vez no Brasil no Festival de Gramado: surpreendeu a crítica e surpreendeu-se com a recepção.

36

Festival de Cinema de GRAMADO

R

otterdam, Nova York, Washington, Copenhague, São Francisco, Lisboa, Paris, Sydney, Los Angeles, Sarajevo, Melbourne, Amsterdam... Foi mais ou menos essa a rota percorrida por Kleber Mendonça Filho e seu primeiro longa-metragem, O Som ao Redor, até chegar ao Festival de Cinema de Gramado, em 2012. “Passamos cerca de oito meses viajando pelo mundo, em diferentes festivais, sempre muito bem recebidos”, lembra. Na 41ª edição do Rotterdam International Film Festival, na Holanda, O Som ao Redor foi escolhido pela Federação Internacional de Críticos (Fipresci) como melhor filme. O Tiger Awards, prêmio concedido pelos holandeses, marcou a première internacional do longa-metragem de Mendonça Filho e inaugurou um roteiro internacional de exibição marcada pelo reconhecimento. Nada mal para uma obra cinematográfica. Nos Estados Unidos, o crítico de cinema A. O. Scott listou-o como um dos 10 melhores filmes do ano no jornal The New York Times. E a revista Cahiers du Cinéma, da França, cita a direção do longa como exemplo de trabalho competente. “Não é pouco, num tempo em que a produção brasileira tem sido sistematicamente ignorada fora do país”, avalia Luiz Zanin, crítico de cinema do jornal O Estado de S. Paulo.


Divulgação

Festival de Cinema de GRAMADO

37

FILME O SOM AO REDOR

Os personagens João (Gustavo Jahn) e Sofia (Irma Brown) em uma das cenas de “O Som ao Redor”


Uma crônica brasileira Ao narrar o cotidiano de uma rua de classe média de Recife (PE) impactada pela chegada de uma milícia que promete segurança aos moradores, O Som ao Redor é exaltado por captar o momento atual do Brasil, marcado pela ascensão econômica de setores sociais historicamente marginalizados, em meio a conflitos e relações ainda cravadas em outros tempos: contradições e hierarquias permanecem, ainda que com novos personagens. “Uma reflexão sobre história, violência e barulho”, define a sinopse. A rua retratada, aliás, é onde o próprio diretor vive. A aproximação com o enredo, diz Kleber Mendonça Filho, dá um tom honesto à narrativa. “Não consigo ver a produção de outra maneira. Todos os

38

Festival de Cinema de GRAMADO

Edison Vara/Pressphoto

FILME O SOM AO REDOR

De volta pra casa A repercussão internacional de O Som ao Redor é anterior ao reconhecimento em casa. Alguém poderia presumir que Kleber Mendonça, com base no sucesso do exterior, previa a mesma resposta dos conterrâneos. Engana-se. Ansioso, o diretor fez a primeira exibição à brasileira no Festival de Gramado. “Mesmo com a boa recepção internacional, tinha dúvida sobre como o filme seria visto aqui. Afinal, é sobre o Brasil”, confessa, numa fala que deixa indícios de que o resultado fora positivo. E foi. Mendonça levou os prêmios da crítica e do júri popular, além de Kikitos para melhor direção e melhor desenho de som. “Foi uma estreia importantíssima, acertei na escolha. Queria exibir o filme diante de uma tribuna de crítica importante e não diluí-lo em pequenos eventos. Estreamos, portanto, em Gramado, diante da presença intensa da imprensa nacional e a publicidade espontânea gerada por isso foi muito relevante.”

O cinema é uma arte que está querendo falar alguma coisa. Os grandes festivais são essa vitrine do que o cinema está querendo dizer. Kleber Mendonça Filho Diretor do filme O Som ao Redor

filmes são muito pessoais. Isso tem sido muito discutido atualmente.” A isso, soma-se o aspecto realista e o tom natural dos personagens, de suas histórias sutis, que despertam a reflexão sobre a sociedade brasileira. Mas o longa-metragem tem outro personagem de destaque: os ruídos que inundam o ambiente retratado. “Eu queria uma trilha mais de efeito de som e menos de música”, explica o diretor. O que poderia ser apenas

uma questão técnica transformase em elemento para retratar personagens, como a dona de casa que não suporta mais o latido do cão do vizinho e sofre de estresse, inclusive, por causa desse som. Com uma história que aborda a realidade brasileira, ambiente e luz de Recife e sotaque pernambucano, O Som ao Redor não teve dificuldades para dialogar com o público e poderia se passar em qualquer grande cidade. “O filme se comunica bem fora do Brasil. As situações que ele mostra são muito humanas. E as especificidades da história local não se transformaram em um standart que vire obstáculo entre as culturas. Isso pode acontecer com alguns filmes, mas não foi o caso”, argumenta Mendonça Filho. De pequeno à grande Com um público total estimado em 100 mil espectadores, o filme tomou proporções maiores do que a sua própria bilheteria. E mesmo neste aspecto, surpreendeu: “O mercado, atualmente, atribui papéis aos filmes: ou você será grande ou será pequeno. Nosso filme recebeu o papel de filme pequeno, mas não se contentou. Tínhamos nove cópias em 35 mm e cinco cópias digitais. Fizemos 100 mil espectadores, quando a maioria dos filmes ditos ‘pequenos’ faz cerca de 20 mil. Atualmente, só os filmes comerciais já saem com possibilidade de serem grandes”, considera o diretor. O Som ao Redor começou com exibição em 16 salas de cinema brasileiras, número que chegou a 24 devido à boa recepção do público. “Fiz o filme da melhor maneira possível, mas nada me preparava para essa recepção fantástica. O mais fascinante é que o filme virou uma bactéria, como eu costumo dizer, que se desenvolvida nas condições certas, permanece viva”, comemora Mendonça Filho.


Débora 70

O cinema brasileiro na televisão Cinema ocupa quase 70% da programação do canal de TV por assinatura que estreou em 1998. A apresentadora do Cinejornal, Simone Zuccolotto

A

Programação do Canal Brasil foi ao ar pela primeira vez em setembro de 1998. Em sua origem, foi dedicado exclusivamente ao cinema brasileiro, como um espaço para a resistência da riqueza e pluralidade da cultura nacional. Ampliou-se, no entanto, anos mais tarde, para abarcar música, informação e arte de modo geral, mas sem perder o foco na sétima arte. A história do canal, aliás, reflete aspectos importantes da trajetória do cinema brasileiro e do próprio Festival de Gramado: o primeiro longa-metragem exibido, Sonho Sem Fim, de Lauro Escorel Filho, relata a história de Eduardo Abelin. Ele que foi um dos pioneiros do cinema nacional e que, atualmente, dá nome ao troféu entregue em Gramado para homenagear personalidades importantes da sétima arte. Abelin lutava pela consolidação de uma produção essencialmente brasileira. O longa-metragem sobre sua história conquistou quatro prêmios no Festival de Gramado, em 1986: melhor atriz

coadjuvante para Imara Reis, melhor fotografia, melhor figurino e o prêmio especial do júri pela contribuição ao resgate da memória do Cinema Brasileiro. Em seus 15 anos de história, o Canal Brasil pôs no ar mais de 1200 longas brasileiros e latino-americanos, 207 médias-metragens e 985 curtas. O cinema ocupa quase 70% da grade. Os grandes sucessos e estreias são exibidos na Seleção Brasileira; as produções clássicas da pornochanchada podem ser vistas em Como Era Gostoso; os melhores documentários em É Tudo Verdade, que conta com curadoria e apresentação do crítico Amir Labaki; e as animações brasileiras na sessão Anima Mundi. Os curtas-metragens estão diariamente na sessão Curta na Tela, e os filmes que abordam a diversidade sexual em CineMix Brasil, com curadoria de André Fisher. O canal dedica ainda uma faixa às produções sul-

americanas: Cone Sul, apresentada pelo ator franco-argentino Jean Pierre Noher. As entrevistas e reportagens sobre a produção audiovisual e a cobertura de pré-estreias e dos mais importantes festivais de cinema do país estão na atração semanal Cinejornal, apresentada por Simone Zuccolotto, com reportagem de Bernadete Duarte (Rio de Janeiro), Roger Lerina (Porto Alegre) e de Kiko Mollica (São Paulo). Destaque também para a participação do público, que escolhe semanalmente os seus filmes preferidos na Sessão Interativa e uma vez por mês pode conversar com diretores e elenco no Cine Chat, através do site do canal. Em 2013, na 41ª edição do Festival de Cinema de Gramado, o Canal Brasil será homenageado com o Troféu Eduardo Abelim, dedicado à grandes diretores, cineastas ou entidades do cinema brasileiro. Festival de Cinema de GRAMADO

39

CINEMA NA TV

Canal Brasil


Fábio Rebelo

ENTREVISTA JORGE FURTADO

Jorge

Furtado

E

le trocou a faculdade de medicina pelo jornalismo e resolveu dedicar sua vida à produção audiovisual. Do Rio Grande do Sul, apresentou ao mundo uma série de produções cujo marco, sem dúvida, é o curtametragem Ilha das Flores, de 1989, exibido e premiado no Festival de Cinema de Gramado e em outros tantos do exterior. Atualmente, produz um documentário em longametragem sobre jornalismo, chamado O Mercado das Notícias. Ainda em 2013, o projeto é rodar o longa de ficção – um drama – intitulado Beleza. “O que eu procuro, na medida do possível, é não imitar a mim mesmo. Tudo o que eu espero de um filme, como realizador e espectador, é que ele não seja o que eu espero.” Num bate-papo sobre a sétima arte, Jorge Furtado – sócio-fundador da Casa de Cinema de Porto Alegre relembra sua história, a relação com o Festival de Gramado e comenta a situação atual da produção audiovisual no Estado.

40

Festival de Cinema de GRAMADO

O que tu destacarias sobre a história do cinema produzido no Rio Grande do Sul? O cinema gaúcho possui uma longuíssima tradição. Temos filmes do início do século 20, como O Crime do Pântano. Sempre tivemos cinema, com alguns intervalos, é claro, mas sempre produzimos coisas de sucesso, com o Teixeirinha, o Pára Pedro... Tivemos Vento Norte, um filme fora do padrão. E também, desde o início da década de 1980, produzimos um cinema urbano muito vigoroso, que começou com Deu Pra Ti Anos 70, mas passou por vários filmes em super-8, curtas, médias e longas-metragens. E como tu avalias a produção atual no cinema gaúcho? Hoje, temos uma produção constante. O Rio Grande do Sul é, acredito, o terceiro polo de cinema do país, talvez disputando com Pernambuco. Temos, aqui, uma

continuidade de produção e devemos isso, em grande parte, ao próprio Festival de Gramado. Quando eu comecei a fazer cinema, nos anos de 1980, a gente fazia filmes para Gramado. A gente queria passar na sala do Festival, nossa janela mais próxima. Gramado é muito ligado à história do cinema gaúcho. Ilha das Flores é um marco na tua carreira, destaque do cinema gaúcho e brasileiro. Olhando para trás, o que tu lembras sobre essa obra? Ilha das Flores foi o meu primeiro filme mais autoral, o primeiro que eu escrevi o argumento original. Antes, já tinha feito três curtas [Temporal, O Dia em que Dorival Encarou a Guarda e Barbosa], mas todos baseados em contos ou histórias de outros autores. O interessante é que Ilha das Flores foi feito exatamente antes do Governo Collor, quando o cinema brasileiro praticamente acabou. E graças à


Quando comecei a fazer cinema a gente produzia para o Festival de Gramado.

Em que contexto Ilha das Flores foi parar no Festival de Gramado? Há uma curiosidade no Ilha que quase ninguém repara. Talvez esse seja o único filme do mundo que tem, dentro dele, a data de estreia. A gente fez o filme pensando o lançamento para o Festival de Gramado. Então, projetamos mais ou menos a data, e depois batalhamos para que o filme fosse lançado mesmo neste dia, 15 de junho de 1989. Aí, colocamos a data impressa na camiseta do japonês dono da plantação de tomates que aparece no filme. Se quiser saber a data de estreia, é só olhar no peito do japonês, aquela plaquinha tem a data da primeira exibição em Gramado.

lance o filme para outros lugares. O filme tem que abrir espaço num mercado muito competitivo e tomado, quase inteiramente, pela produção norte-americana. E o Festival de Gramado é, nesse sentido, um dos grandes festivais do cinema brasileiro, um dos mais antigos. Passou por várias fases, teve momentos difíceis. Quando o cinema brasileiro quase acabou, o Festival se internacionalizou; saiu para a América Latina. Continuou vivo. Em 1992, aliás, eu fiz um filme de episódios, Felicidade é..., que ganhou prêmios em Gramado, em Brasília, em Cuiabá. Por um motivo muito simples: não havia outros filmes brasileiros.

E como foi a estreia? Ninguém sabia nada sobre o filme. Foi uma grande surpresa. Quando eu comecei a fazer filmes, em 1984, o cinema de curta-metragem era basicamente de documentários. E eu comecei fazendo ficções neste formato. Depois, cada vez mais, foi se fazendo ficção. O ano de 1986 ficou conhecido, inclusive, como a primavera do curta. Em 1989, no Festival de Gramado estavam inscritos 10 filmes e o único que não era exatamente uma ficção era o Ilha das Flores. Houve uma inversão, já que todos esperavam uma ficção. O filme foi um grande acontecimento; teve uma reação incrível do público. Dali, ganhou o mundo. Que importância tu atribuis aos festivais de cinema, como o de Gramado? O festival deve ser uma vitrine, uma janela ou um trampolim, que

A conversa entre os regionalismos e uma linguagem mais global é marca das tuas obras. Como isso foi construído ao longo da tua carreira? Eu não acho ruim o filme que canta sua própria aldeia. Mas O Homem que Copiava, Saneamento Básico e mesmo Meu Tio Matou um Cara poderiam se passar em qualquer lugar. O Homem que Copiava tem muitos cenários porto-alegrenses, mas poderia ser em qualquer cidade. Já Houve uma Vez Dois Verões, não. É um filme totalmente gaúcho; uma sociologia da praia daqui. Nem por isso deixa de encantar um carioca, por exemplo: “Olha, que curiosas essas praias”. É outra lógica. A gente gosta de se ver, de se reconhecer na arte, e a gente gosta de se surpreender também. Quero ver uma coisa que conheço, mas quero ver o que não conheço. Quero ver um filme iraniano,

tailandês, que não tem nada a ver com minha cultura, e aprendo a respeito. A arte não tem regra, pode ser de qualquer jeito. Pode ser o contrário do que estou falando. Mudando um pouco de assunto: tecnologia. É um tema muito atual também no cinema. Como tu percebes as possibilidades que ela proporciona? Eu sempre digo para quem está começando: faz um filme, faz um filme! Hoje, tem celular que filma, tem programas de edição no computador, tem o You Tube... A minha filha de 12 anos já fez vários. Dá para fazer. Mas em qualquer formato, você tem que ter alguma coisa para dizer. Qual o assunto? Por que isso vai ser importante para as outras pessoas? Temos que pensar numa coisa que o Stravinski (Ígor Stravinski, compositor russo) falava: a arte requer comunhão. Eu não escrevo para mim, não filmo para mim. Filmo para outras pessoas, para dividir com elas uma sensação agradável ou triste, a minha tristeza ou o meu espanto com alguma coisa. Isso é que é a arte. Tem que falar com o outro. Para finalizar, o que tu destacarias como desafio para o cinema no sentido de dialogar bem com o público? Tem uma frase do Horácio, um poeta romano, que diz: “O poema ensina ou delicia. Ou ambos. E isso é o que vicia”. Tu podes fazer algo que só delicia, uma comédia fácil, ou o drama fácil, ou a tragédia fácil – coloca a arma na mão de alguém e pronto, está feita a tragédia fácil. Depois tem o filme que só ensina; aquela arte importante, que você praticamente tem obrigação de conhecer, mas que não te delicia, é um sofrimento. Agora, quando junta as duas coisas, aí é Shakespeare, Mozart, Dom Quixote, Guimarães Rosa... Muda tua vida e ao mesmo tempo é divertidíssimo. Não tem nada mais divertido, para mim, do que um grande filme ou um grande livro.

Festival de Cinema de GRAMADO

41

ENTREVISTA JORGE FURTADO

boa repercussão em Gramado, eu pude continuar trabalhando nos anos seguintes, em coproduções estrangeiras. Fiz um filme para a televisão inglesa – Essa não é sua vida – e depois A Matadeira, para uma TV alemã. Recebi, também, muitos convites para trabalhar em televisão aqui no Brasil.


Cleiton Thiele/Pressphoto

DIÁLOGO (RE)ABERTO

A tradição dos debates de Gramado Entre as mudanças que marcaram a 40ª edição do Festival, está a retomada, com ainda mais ênfase, de eventos paralelos e, especialmente, dos históricos debates.

42

Festival de Cinema de GRAMADO

O

s debates sempre foram uma característica dos festivais de cinema. Não seria diferente em Gramado. Espaços destinados a diálogos sobre a política audiovisual do Rio Grande do Sul e do Brasil; características estéticas e narrativas dos filmes; conversas entre produtores, artistas, diretores e público sobre os filmes exibidos nas mostras competitivas... É verdade que a presença dos debates no evento gaúcho oscilou aos longo de suas 40 edições. Mas são uma marca do evento. “O Festival de Cinema de Gramado tem uma importância histórica. Foi o evento que não só premiou e consagrou cineastas, artistas e filmes, como também foi a arena de debates e reuniões que permitiram a consolidação de políticas fundamentais para o desenvolvimento do cinema brasileiro”, destaca Alfredo Barros, ex-presidente da Associação Profissional de Técnicos Cinematográficos, a APTC. Além de fortalecer a crítica cinematográfica, em discussões com diretores, produtores e atores sobre as obras que circularam pelo


A crítica Os debates são uma tradição de décadas, diz Mônica Kanitz, presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (Accirs). Na 40ª edição, em 2012, o diretor Fernando Meirelles e a atriz Maria Flor participaram de uma conversa sobre o filme 360, mediada por Carlos Eduardo Lourenço Jorge. Outros filmes da mostra competitiva compuseram atividades semelhantes durante todo o evento. “Além das discussões sobre os filmes, a Accirs promove alguns encontros especiais durante o evento, com convidados, para debater questões mais abrangentes do cinema nacional e gaúcho”, conta Mônica. No ano passado, a entidade convidou o diretor Roberto de Farias para uma conversa sobre crítica cinematográfica. Em 1982, o diretor foi premiado com o Kikito de melhor filme brasileiro, por Pra Frente Brasil. “Tenho convicção de que a valorização da crítica dentro do Festival de Cinema de Gramado trará novas perspectivas na análise dos filmes vistos, bem como o entendimento de que um encontro desse porte só cresce com a troca entre realizadores, público e crítica”, avalia Luiz Alberto Cassol, diretor do Instituto Estadual de Cinema do Rio Grande do Sul (IECINE). Ação de Cinema em Gramado O projeto Ação de Cinema em Gramado, proposto pela Fundação Cinema RS (Fundacine). Objetivo? Criar um espaço para o debate político sobre o audiovisual e também para ações voltadas ao mercado cinematográfico. Quem explica é João Barone, presidente da entidade. “A exemplo do

Diretor Roberto Farias e presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, Mônica Kanitz, durante debate promovido pela entidade na 40ª edição do Festival

O Festival de Cinema de Gramado foi a arena de debates e reuniões que permitiram a consolidação de políticas fundamentais para o desenvolvimento do cinema brasileiro. Alfredo Barros Ex-presidente da APTC que ocorre nos principais festivais do mundo, esta iniciativa é fundamental para que Gramado possa se fortalecer dentro de uma dinâmica de crescimento que está em andamento no mercado brasileiro.” No ano passado, a programação ocupou dois dias, envolvendo encontros de negócios, voltados para o fechamento de contratos entre produtores, realizadores e empresas investidoras, além de seminários destinados à discussão sobre políticas públicas da atividade audiovisual e encontros individuais entre os convidados, com intensão de firmar parcerias. “Além de painéis e conferências sobre temas importantes do mercado, esse evento tem realizado mesas de negócios com participação de agentes nacionais e internacionais”, acrescenta Barone. Luiz Carlos Barbosa da Silva, diretor do Departamento de Relações Públicas e Atividades Culturais da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul,

assinala a importância de debater e promover articulações para a inserção do cinema feito no Brasil em um universo mais abrangente, porém extremamente competitivo. “Acredito que o Festival de Gramado pode operar como uma espécie de passaporte para o cinema brasileiro no âmbito internacional”, defende. “Pode pautar, de um lado, os elementos estéticos, do vocabulário contemporâneo para qualificar e atualizar a produção nacional e, de outro, promover articulações de mercado. Esse segundo aspecto é decisivo, e começa, antes de tudo, pelas condições de produção e de seu financiamento.” João Barone cita exemplos que justificam a opinião de Barbosa. “Em 2011, tivemos a participação de uma distribuidora italiana que compra filmes para todos os mercados da Europa”, lembra. “Trouxemos também uma agente de vendas da França. Estas duas profissionais participaram das mesas com os produtores interessados e ficaram em Gramado durante dois dias, fazendo consultorias individuais; desde projetos de coprodução até compras de filmes prontos.” O projeto Ação de Cinema em Gramado contou com a parceria, em 2012, do Programa Cinema do Brasil, da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX), do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério da Cultura, do SESC-RS, da APTC e do Sindicato da Indústria Audiovisual do Rio Grande do Sul. Começou a ser desenvolvido em 2007 e em 2013 realizará sua sexta edição.

Festival de Cinema de GRAMADO

43

DIÁLOGO (RE)ABERTO

Cleiton Thiele/Pressphoto

Festival no ano passado, as entidades representativas do setor também se envolveram na consolidação de eventos paralelos. O intuito é fomentar as trocas de experiências sobre o mercado audiovisual e as possibilidades de negócios entre realizadores e distribuidores.


ENTIDADES

Um projeto de festival coletivo

Edison Vara/Pressphoto

Reaproximação com as entidades representativas do cinema brasileiro e gaúcho foi uma das transformações mais significativas da edição comemorativa de 40 anos. Diálogo segue em 2013.

O cinema é uma atividade global por natureza. Os filmes produzidos no RS precisam, cada vez mais, encontrar meios para que possam circular nos mercados internacionais. Essa é uma contribuição que o Festival de Gramado pode ainda avançar muito, criando espaços para a comercialização internacional. João Barone Presidente da Fundação Cinema RS

44

Festival de Cinema de GRAMADO

O

Festival de Cinema de Gramado é um projeto coletivo, feito a muitas mãos. A frase forte justifica-se pela política adotada pela organização desde o ano passado. A intenção é fortalecer a interlocução com as entidades que atuam no meio cinematográfico gaúcho e brasileiro. Uma meta que segue em 2013. “A hora também é de ousar”, defende Ralfe Cardoso, diretor da Um Cultural, produtora do evento. Cardoso destacou a iniciativa, definida em conjunto com as instituições promotoras, na coletiva de imprensa que divulgou os filmes selecionados, em julho. Desde a organização da 40ª edição, a proposta é reaproximar as entidades


ENTIDADES

Edison Vara/Pressphoto

As mudanças conquistadas a partir da aproximação das entidades com a organização do festival qualificam a exibição dos filmes e garantem um melhor posicionamento do cinema gaúcho junto ao público do festival. Gramado ainda é nossa melhor oportunidade de mostrar para o Brasil a qualidade do cinema feito aqui no Rio Grande do Sul. Alfredo Barros Ex-presidente da Associação Profissional dos Técnicos Cinematográficos - Mandato 2011-2012

Itamar Aguiar/Pressphoto

representativas; abrir um diálogo mais denso, agregando propostas e visões diferentes sobre como fortalecer ainda mais o festival de cinema mais duradouro do país, celebrando seus 41 anos em 2013. A Associação Profissional dos Técnicos Cinematográficos (APTC), a Fundação Cinema RS (Fundacine), a Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), o Instituto Estadual de Cinema do Rio Grande do Sul (IECINE) e a Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul protagonizaram diversas reuniões para propor estratégias. “Tivemos a oportunidade de sugerir mudanças significativas para uma participação mais relevante do cinema gaúcho em Gramado”, destaca Alfredo Barros,

ex-presidente da APTC. Novos olhares Entre as mudanças propostas pelas entidades, estão a realização de uma mostra de longas-metragens gaúchos, a volta da mostra competitiva de curtas produzidos no Rio Grande do Sul para o Palácio dos Festivais e sua ampliação para dois dias, além da parceria com o Festival de Cinema de Havana. “Essas mudanças qualificam a exibição dos filmes e garantem um melhor posicionamento do cinema gaúcho junto ao público do festival. Gramado ainda é nossa melhor oportunidade de mostrar para o Brasil a qualidade do cinema feito no Rio Grande do Sul”, avalia Alfredo Barros. Para Luiz Alberto Cassol, diretor do

IECINE, a mostra de longas gaúchos, não-competitiva, demonstra a força do atual momento da produção local. ”Ela consolida nossas obras audiovisuais e faz reverberar nossas propostas estéticas e narrativas. A mostra será novamente realizada em 2013. O que, mais uma vez, viabilizará muitos contatos e futuras exibições das produções gaúchas.” A participação das entidades do setor audiovisual no Festival de Gramado passou por diferentes etapas nos 40 anos de evento. É a opinião de João Barone, presidente da Fundacine. “Desde a criação da APTC, em 1985, houve uma mudança e uma abertura para essa participação.” A aproximação de todas as entidades, segundo Barone, representa uma contribuição

A cinematografia brasileira e, no nosso caso, a gaúcha, é plural e com diferentes abordagens estéticas e narrativas. Isso precisa ser cada vez mais conhecido. Em Gramado, a possibilidade de intercâmbio com curadores e organizadores de outros festivais é muito grande. Por isso acredito nesse potencial. Luiz Alberto Cassol Diretor do Instituto Estadual de Cinema do Rio Grande do Sul

Festival de Cinema de GRAMADO

45


Edison Vara/Pressphoto

ENTIDADES

A participação das entidades e de instituições de cinema na organização do Festival de Cinema de Gramado exprime uma coesão necessária para fortalecer não apenas um evento, porque o Festival de Gramado é mais que isso. Afinal, essa perenidade de mais de 40 anos transforma-o em um processo cultural. Luiz Carlos Barbosa da Silva Diretor do Departamento de Relações Públicas e Atividades Culturais da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul

Cleiton Thiele/Pressphoto

significativa ao Festival. “Isso é muito positivo para a organização, que pode contar com o olhar daqueles que fazem e pensam a atividade em suas diferentes dimensões.” Foi a abertura do diálogo com as entidades o que permitiu que a classe audiovisual gaúcha fizesse suas propostas. De acordo com Luiz Alberto Cassol, muitas das sugestões foram incorporadas ao Festival. Outras poderão ser colocadas em prática nos próximos anos. “O diálogo está aberto, o que me parece ser o mais importante. E deve ser permanente e orgânico, buscando sempre a maior participação das entidades representativas da nossa produção na efetivação do festival.” Para a ACCIRS, que organiza

debates especiais durante as edições do evento cinematográfico gaúcho, a aproximação com a organização é um movimento importantíssimo para que seja possível projetá-lo para os próximos anos. Mônica Kanitz, diretora da associação, destaca ainda que Gramado é protagonista quando se trata do cinema produzido no Brasil. Representante da Assembleia Legislativa, Luiz Carlos Barbosa da Silva argumenta que a participação de entidades e instituições de cinema na organização exprime uma coesão necessária para fortalecer o evento. Mais do que isso, destaca o Festival, que com mais de 40 anos, já se constitui como um processo cultural. “É um evento capaz de catalisar as atenções do conjunto da sociedade

Desde a sua primeira edição, há quatro décadas, o Festival de Gramado é um protagonista do cinema feito no Brasil, pela visibilidade que empresta aos filmes concorrentes. Estar em Gramado é sempre uma vitrine. Mônica Kanitz Presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul

46

Festival de Cinema de GRAMADO

nos invernos gaúchos. Gramado afirma a identidade cultural regional e nacional”, ressalta, considerando a reunião dos segmentos do cinema como a revelação de uma percepção estratégica dos organizadores e dos próprios representantes das entidades. “Unidos, somam experiências, capacidade e legitimidade para fortalecer o Festival.” A Assembleia é umas das responsáveis pelo fortalecimento da Mostra Gaúcha de CurtasMetragens. Em 2004, instituiu o Prêmio Assembleia Legislativa de Cinema para o segmento. Também é responsável pela elaboração da lei que declara o Festival de Gramado como parte do Patrimônio Histórico e Cultural do Estado.


Os troféus do Festival de Gramado Evento cinematográfico já premiou diversos longas e curtasmetragens, atores, atrizes, diretores, roteiristas. Homenageou, ainda, outras tantas personalidades importantes do cinema nacional e latino-americano. Conheça um pouco da história dos prêmios entregues no Palácio dos Festivais e que há 40 anos emocionam, surpreendem e celebram os realizadores da sétima arte. Festival de Cinema de GRAMADO

47

Fotos: Edison Vara/Pressphoto

OS TROFÉUS DE GRAMADO

Da madeira ao cristal


Kikito Em 33 centímetros de altura, cabe a maior honra concedida pelo Festival de Cinema de Gramado. O risonho Kikito, que já foi feito de madeira de imbuia e atualmente é confeccionado com bronze, é mais antigo do que o próprio evento. O “deus do bom humor” foi criado em 1966, pela artesã Elisabeth Rosenfeld, e era o símbolo da cidade de Gramado. Na 40ª edição, em 2012, o Kikito de melhor longa-metragem brasileiro foi para Colegas, de Marcelo Galvão.

48

Festival de Cinema de GRAMADO

O nome é longo: Oscar Lourenço Jacinto da Imaculada Conceição da Teresa Dias. Sua contribuição para o cinema brasileiro é igualmente grande. O apelido do artista nascido em Málaga, na Espanha, em 1906, batizou o Troféu Oscarito, premiação concedida pelo Festival de Gramado desde a sua 18ª edição, em 1990, para grandes atores e atrizes do cinema nacional. A carreira de Oscarito, o artista, inclui 46 filmes, realizados entre 1933 e 1975, com destaque para o período das chanchadas no país. O primeiro agraciado com o prêmio foi justamente um dos parceiros do ator em comédias das décadas de 1940 e 1950: Grande Otelo. Antônio Fagundes, Fernanda Montenegro, Glória Menezes, Tarcísio Meira e Walmor Chagas foram outros dos 24 homenageados com o troféu. Na 40ª edição, a honra oferecida pela Petrobras foi entregue a Betty Faria.

Cleiton Thiele/Pressphoto

OS TROFÉUS DE GRAMADO

Troféu Oscarito

Todos os premiados Grande Otelo (1990) Walter Hugo Khouri (1991) Anselmo Duarte (1992) Alberto Ruschel (1993) Carlos Manga (1995) Cinédia, representada por Alice Gonzaga (1996) José Lewgoy (1997) Nelson Pereira dos Santos (1998) Lucy Barreto e Luiz Carlos Barreto (1999) Paulo José (2000) Hugo Carvana (2001) Marieta Severo (2002) Milton Gonçalves (2003) Lima Duarte (2004) Glória Menezes e Tarcísio Meira (2005) Antônio Fagundes (2006) Zezé Motta (2007) Walmor Chagas (2008) Reginaldo Faria (2009) Paulo Cesar Pereio (2010) Fernanda Montenegro (2011) Betty Faria (2012)

CIDADE DE GRAMADO Eva Wilma recebeu destaque especial ao ser homenageada na 40ª edição do Festival com o troféu Cidade de Gramado, oferecido pela Oi, por ter contribuído para o crescimento e divulgação do evento gaúcho. Em seu discurso na ocasião, a atriz relembrou a primeira vez que esteve no evento, 40 anos antes, na primeira edição. O prêmio foi criado para exaltar quem sempre teve ligação com a história da cidade.


Troféu Eduardo Abelin O Troféu Eduardo Abelin homenageia um dos pioneiros do cinema nacional, nascido em Pelotas (RS). É entregue desde 2001 aos grandes diretores, cineastas ou entidades de cinema do Brasil. Em 2009, Abelin foi duplamente homenageado na entrega do prêmio que leva seu nome. O cineasta Walter Lima Júnior dedicou o troféu a ele no 37º Festival de Gramado. A vida do precursor do cinema gaúcho ainda virou base para o documentário Sonho Sem Fim, roteirizado por Lima Júnior. Na 40ª edição, a honra oferecida pela Oi foi entregue a Arnaldo Jabor. Cacá Diegues, a Casa de Cinema de Porto Alegre, Carlos Reichenbach, Domingos de Oliveira, Hector Babenco eTizuka Yamasaki também já receberam a homenagem.

Todos os premiados

OS TROFÉUS DE GRAMADO

KIKITO DE CRISTAL Entregue ao diretor argentino Juan José Campanella na 40ª edição, o Kikito de Cristal foi criado em 2007. A honra, que destaca grandes expoentes do cinema latino-americano foi oferecida pela Stella Artois ao vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2010 com “O segredo dos seus olhos”. Ao receber o prêmio em Gramado, Campanella declarou que os brasileiros são “exagerados” e que “não precisava tudo isso”. O troféu é confeccionado pela empresa Cristais de Gramado, uma referência nacional na arte da fabricação do cristal artístico. O documentarista brasileiro Eduardo Coutinho foi o primeiro a ser premiado, na 35ª edição, em 2007. Coutinho foi seguido por outro brasileiro, Renato Aragão.

Todos os premiados Eduardo Coutinho (2007) Renato Aragão (2008) Ruy Guerra (2009) Manuel Martínez Carril (2010) Juan José Campanella (2012) Obs. O troféu não foi concedido em 2011.

Carlos Reichenbach (2001) Roberto Farias (2002) Carlos Diegues (2003) TizukaYamasaki (2004) Hector Babenco (2005) Vladimir Carvalho (2006) Casa de Cinema de Porto Alegre (2007) Júlio Bressane (2008) Walter Lima Jr. (2009) Ana Carolina Teixeira Soares (2010) Domingos Oliveira (2011) Arnaldo Jabor (2012)

Festival de Cinema de GRAMADO

49


TURISMO EM GRAMADO 50

Festival de Cinema de GRAMADO


Gramado,

cinema e

turismo

Festival de Cinema de GRAMADO

51

Edison Vara/Pressphoto

Nas últimas quatro décadas, a história de Gramado se confunde com a do Festival de Cinema, que ocorre anual e ininterruptamente desde 1973. É o mais longínquo evento do cinema brasileiro com essas características. Não é difícil supor que o município da charmosa Serra Gaúcha, com pouco mais de 32 mil habitantes, tem na cultura um de seus trunfos. Uma fórmula para o fomento da economia local que tem mais um elemento essencial: o turismo. Química perfeita.

TURISMO EM GRAMADO

Química perfeita


2012. “O Festival de Cinema é um cartão de visitas. Gramado e o Festival são praticamente sinônimos”, define Rosa Helena Volk, secretária municipal de Turismo e responsável pela coordenação geral do evento. Opinião parecida tem o atual prefeito gramadense, Nestor Tissot. “O Festival é um marco para o nosso município e para todo o país”, defende, denotando todo o orgulho de receber profissionais, críticos e amantes da sétima arte de todo o mundo. “A importância do evento para Gramado faz com que toda a cidade se orgulhe em saber que um dos maiores festivais de cinema, realizado ininterruptamente, faz parte dessa terra.” “O turismo em Gramado começou com o Festival de Cinema”, resume Rogério Poloni, diretor-presidente da Gramadotur, autarquia municipal responsável pela organização de eventos culturais e turísticos. E acrescenta: “A cidade, antes

conhecida em muitos pontos do Brasil como ‘Gramacho’, atraiu a atenção nacional e internacional com a realização do Festival. E isso não se deve apenas à presença de atores e diretores, mas à própria forma como consolidamos a discussão da produção audiovisual em nível nacional e latino.” O Palácio dos Festivais (Cine Embaixador) é, em decorrência das atividades que lá ocorrem, um dos destinos mais visitados. Sede de exibição dos filmes participantes do Festival, recebe artistas consagrados de diversas nacionalidades e lança no mercado filmes de curta e longametragem. O Lago Negro, a Igreja São Pedro, a Rua Coberta e museus (com temáticas que vão desde a época medieval até perfumes e chocolates, passando por carros antigos) são outros atrativos que complementam a experiência dos turistas na cidade serrana. Leonid Streiliav

TURISMO EM GRAMADO

T

erceiro destino mais procurado do Brasil. Maior infraestrutura turística do Rio Grande do Sul: dois grandes centros de feiras e eventos, ampla rede hoteleira e uma rede de culinária que garante atendimento simultâneo a 15 mil pessoas; 151 estabelecimentos gastronômicos e 140 hotéis e pousadas com 11,5 mil leitos. Precisa de mais alguma referência para conferir a Gramado o glamour das grandes cidades turísticas pelo mundo? Tem mais, sim. Abriga o evento com edições anuais e ininterruptas com maior tempo de duração do cinema brasileiro, desde 1973. Na semana em que realiza o Festival de Cinema de Gramado, tradicionalmente em agosto, a cidade recebe cerca de 120 mil visitantes. E no ano em que comemorou o 40º aniversário do evento, ultrapassou a marca de 170 mil pessoas passeando pela Região das Hortênsias. Foi em

Sede da Prefeitura Municipal de Gramado

52

Festival de Cinema de GRAMADO


Estamos investindo cada vez mais em divulgar tanto o Festival como os outros eventos em todo o Brasil e na América Latina. A intenção é fazer com que Gramado continue sendo referência como modelo de cidade. Nestor Tissot Prefeito de Gramado

de verbas para a cultura, o Festival sobreviveu a todos os momentos turbulentos do cenário político nacional, acontecendo ano a ano e firmando-se como fundamental para a evolução e visibilidade de Gramado.” “O Festival é, em nível nacional, um dos protagonistas da sempre necessária celebração ao cinema – arte que, antes de indústria, é, especialmente, uma das principais manifestações da cultura de uma nação e também responsável por apresentar as ideias e reflexões do imaginário de um povo”, complementa o presidente da Gramadotur. Uma cidade que respira cinema Engana-se quem pensa que a sétima arte só marca presença no calendário de Gramado em agosto. É culturalmente intrínseca ao dia a dia da cidade. Prova são atividades de cinema nos bairros, desenvolvidas em parceria com a Secretaria de Educação, em que os estudantes são envolvidos no meio cinematográfico.

Festival de Cinema de GRAMADO

53

TURISMO EM GRAMADO

Leonid Streiliav Cleiton Thiele/Pressphoto

Patrimônio Histórico e Cultural O Festival de Cinema foi o evento que colocou Gramado no mapa do Brasil, tanto em termos culturais quanto turísticos, conforme salienta Rogério Poloni. Ao longo de seus 41 anos, firmou-se como o maior festival ininterrupto de cinema do Brasil, recebendo atores e realizadores do cinema brasileiro e estrangeiro para exibições de filmes, premiações e debates, promovendo um diálogo amplo com a América Latina. Associações, entidades de cinema, imprensa e o público também participaram dessa construção. Razões pelas quais o evento foi instituído como Patrimônio Histórico e Cultural do Estado do Rio Grande do Sul. O Festival atualmente configurase como espaço fundamental para a cinematografia nacional e latina. Difundiu o nascimento de novas linguagens e diretrizes do cinema, argumenta Rogério Poloni. “Mesmo passando por crises como, por exemplo, a do Governo Collor, o fechamento da Embrafilme e a falta


Gramadotur É redundante reiterar a importância do turismo para Gramado. Só que é inevitável. Tanto é que, recentemente, o município criou uma estrutura de administração especialmente dedicada ao turismo. A Gramadotur, concebida em 2012. Trata-se de um novo modelo de gestão turística, pouco conhecido no país, conforme destacou Rogério Poloni na posse da autarquia, em 06 de maio deste ano. É vinculada ao gabinete do prefeito, foi criada por iniciativa do poder público e administra os eventos do município. A secretária Rosa Helena Volk, que participa do Conselho da Gramadotur, defende a autarquia como agente na otimização do turismo do município. “A ideia é fixar com mais ênfase Gramado como

54

Festival de Cinema de GRAMADO

Divulgação/Prefeitura de Gramado

TURISMO EM GRAMADO

Filmes premiados são exibidos em ginásios e auditórios das escolas. E os atores principais dos filmes interagem com a meninada. O município mantém também o projeto “Educavídeo”. A intenção é criar uma cultura do audiovisual desde cedo, proporcionando a produção de “curtíssimas” por cinco escolas públicas. Os melhores filmes entram na programação da mostra paralela do Festival de Cinema. Além disso, os alunos têm a oportunidade de assistir a palestras e participar de workshops com renomados diretores do cinema nacional. “Nossa administração sempre investiu em propagar o nosso município e tudo que aqui foi criado para o mundo”, diz o prefeito Nestor Tissot. “Através de recursos adquiridos, estamos investindo cada vez mais em divulgar tanto o Festival como os outros eventos em todo o Brasil e na América Latina. A intenção é fazer com que Gramado continue sendo referência como modelo de cidade, despertando a vontade das pessoas de conhecer-nos.”

O Festival é um dos protagonistas da sempre necessária celebração ao cinema – arte que, antes de indústria, é uma das principais manifestações da cultura de uma nação e responsável por apresentar as ideias e reflexões do imaginário de um povo. Rogério Poloni diretor-presidente da Gramadotur

melhor destino turístico do Brasil. Temos que manter este case nacional investindo, inovando e crescendo.” Trata-se de uma política sólida, que aposta na fórmula composta pelas belezas naturais e históricas somadas à internacionalização do Festival de Cinema. Anualmente, Gramado recebe praticamente o mesmo número de estrangeiros que o resto do Brasil. “Hoje, podemos dizer que o turismo gerado abrange dois segmentos: o cultural e o de entretenimento, ambos com exigências sofisticadas”, explica Rogério Poloni, justificando a glamourização do perfil turístico da cidade. Além de toda a estrutura fixa de gastronomia, hospedagem e lazer, durante o Festival de Cinema, Gramado é também palco de eventos sociais que atraem os mais variados públicos. E ainda conta com a iniciativa privada promovendo eventos paralelos. “O Festival trouxe visitantes e promoveu um grande salto cultural e turístico. Hoje, já é referência no calendário de eventos nacionais, o que se reflete no público registrado na última edição”, acrescenta Poloni.


Júlio Cordeiro

Soy loco por ti, Gramado *Roger Lerina

O

relacionamento do Festival de Gramado com o cinema estrangeiro não nasceu em clima de festa: o casamento foi forçado. Com a extinção da Embrafilme pelo governo do expresidente Fernando Collor de Mello e o consequente desmantelamento da produção cinematográfica nacional, os anos 1990 começaram com quase nada de longas brasileiros. Exibir o que então em um festival, se o cinema brasileiro entrara em hibernação? A solução encontrada foi franquear a tela para produções internacionais –­ e Gramado passou a falar também em espanhol, italiano, francês e português lusitano. Felizmente, o primeiro encontro desse namoro arranjado terminou em lua de mel: em 1992, Gramado trocou o “Brasileiro” por “Ibero-Americano” no nome e trouxe ótimos filmes de diversos países e grandes diretores e atores estrangeiros. Concorreram títulos como o espanhol De Salto Alto, de Pedro Almodóvar, o português A Nuvem, o chileno La Frontera, o venezuelano Atirem para Matar. Desfilaram pela Serra a atriz espanhola Marisa Paredes, o cineasta argentino Fernando Solanas (que se tornaria um habitué do certame), acompanhando seu filme A Viagem, o colombiano Sérgio Cabrera – o primeiro latino a vencer o festival com o excelente Técnicas de Duelo. * ROGER LERINA é jornalista, editor desde maio de 1999 da coluna Contracapa (artes, cultura e entretenimento), publicada diariamente no Segundo Caderno do jornal Zero Hora. Repórter cultural do caderno de variedades de ZH, é crítico de cinema. Apresenta na TVCOM o Programa do Roger.

Festival de Cinema de GRAMADO

55

ROGER LERINA

Opinião


ROGER LERINA

O movimento ousado de Gramado foi bem sucedido: enquanto o cinema brasileiro lutava para ressurgir das cinzas – o marco zero da chamada Retomada é considerado o filme Carlota Joaquina, Princesa do Brazil, de 1995 –, o festival gaúcho voltavase para fora das fronteiras e assumia a vocação do Estado de relacionarse com os hermanos vizinhos. Na busca de um perfil próprio, Gramado foi além do continente e mesmo da Península Ibérica: honrando o “Latino” que adotou no título a partir de 1993, mantido até 2006, o Festival de Cinema exibiu filmes da Itália, da França, do Canadá. Por um lado, essa abertura descortinou espaço para cinematografias de países latinoamericanos com escassa presença nas telas brasileiras e amplificou a presença por aqui de cinemas regionais mais tradicionais, como o argentino, o uruguaio e o mexicano. A vinda regular de filmes e realizadores transformou Gramado em uma privilegiada porta de entrada no Brasil para a produção audiovisual da América Latina, pavimentando ao longo dos anos uma ponte cultural que hoje é tão imprescindível ao festival quanto a presença de obras brasileiras. Porém, no afã de garantir a vinda de bons filmes estrangeiros ao Palácio dos Festivais, o evento ensaiou durante os anos 1990 uma internacionalização ambiciosa que esbarrou na falta de recursos e de foco da programação. A presença de filmes europeus em Gramado se dava via de regra por intermédio de distribuidoras cinematográficas, levando para a competição títulos que eventualmente lançariam em breve no circuito comercial. Assim, o festival serrano contou com a presença de boas produções de cineastas respeitáveis como os franceses Bertrand Tavernier (A Isca), André Téchiné (Minha Estação Preferida) e Coline Serreau (A Crise), os espanhóis Fernando Trueba

56

Festival de Cinema de GRAMADO

(Sedução - Belle Époque), Bigas Luna (Ovos de Ouro) e Vicente Aranda (Intruso e A Paixão Turca), os italianos Franco Zeffirelli (Sonho Proibido) e Paolo e Vittorio Taviani (As Afinidades Eletivas). No entanto, os diretores desses filmes não compareciam ao evento – no máximo, algum nome do elenco borboleteava pela Serra. Durante a premiação, não era incomum portanto assistirmos a um desfile constrangedor de representantes de empresas distribuidoras agradecendo os Kikitos recebidos por seus clientes ausentes. A partir da virada dos 1990 para os 2000, porém, Gramado afinou a seleção internacional, assumindo um corte

ibero-americano, e desde 2001 separa em competições distintas os longas brasileiros dos estrangeiros. Acompanho como espectador o Festival de Cinema de Gramado desde a adolescência; como jornalista, tenho trabalhado em todas as edições da mostra desde 1999. Alguns dos momentos mais memoráveis que guardo dessa longa relação com o festival quarentão estão relacionadas com esses filmes, diretores e astros de outros países, que dividem a atenção na Serra com o cinema brasileiro e com nossos artistas. Ainda hoje me emociono ao lembrar que o italiano Michelangelo Antonioni (1912 - 2007) esteve entre nós: uma das maiores lendas da história do


cinema, o realizador da célebre “Trilogia da Incomunicabilidade” (A Aventura, A Noite e O Eclipse) recebeu uma homenagem em 1994 e foi ciceroneado pelo diretor brasileiro Walter Hugo Khouri. O saudoso crítico de cinema Tuio Becker contava que um dia Antonioni, na época com 82 anos, praticamente mudo e com os movimentos comprometidos por causa de um derrame, circulava pelo hotel amparado pela mulher e assistente quando deparou com uma exposição de fotos nos corredores. O mestre parou, olhou uma das fotografias e pronunciou uma das únicas palavras saídas de sua boca em Gramado: “Bruta!” (“feia”, em português).

(1995), Pantaleão e as Visitadoras, do peruano Francisco Lombardi (2000), e Whisky, dos uruguaios Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll (2004), entre tantos outros, o certame tornou-se uma janela privilegiada no Brasil para conhecermos melhor o cinema feito aqui do lado. Entre 2006 e 2011, a seleção de títulos estrangeiros ganhou ainda mais importância e qualidade graças à curadoria de José Carlos Avellar e Sérgio Sanz, íntimos da produção cinematográfica latino-americana contemporânea. Títulos como os mexicanos O Violino, de Francisco Vargas Quevedo, e Perpetuum Mobile, de Nicolás Pereda, os argentinos Nascido e Criado, de Pablo Trapero, e Medianeras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual, de Gustavo Taretto, o colombiano Perro Come Perro, de Carlos Moreno, os uruguaios O Banheiro do Papa, de Enrique Fernández e César Charlone, e Gigante, de Adrián Biniez, o peruano A Teta Assustada, de Claudia Llosa, e o mexicano-dominicano Jean Gentil, de Israel Cárdenas e Laura Amelia Guzmán, comprovaram a sintonia com o cinema mais instigante feito no continente. Felizmente, o novo trio de curadores que assumiu o leme artístico do Festival de Gramado desde 2012 (José Wilker, Marcos Santuario e Rubens Ewald Filho) parece sensível à importância da mirada latina no evento. Prova disso é um ineditismo na seleção deste ano: pela primeira vez na história da competição, uma coprodução entre Brasil e Argentina dirigida por um brasileiro vai concorrer na mostra estrangeira. Rodado boa parte na fronteira da Argentina com o Chile, o drama romântico A Oeste do Fim do Mundo tem direção de Paulo Nascimento e conta com elenco e equipe formados por brasileiros, argentinos, uruguaios e chilenos. Definitivamente, o Festival de Gramado caiu no mundo.

Festival de Cinema de GRAMADO

57

ROGER LERINA

Edison Vara/Pressphoto

Acompanho como espectador o Festival de Cinema de Gramado desde a adolescência; como jornalista, tenho trabalhado em todas as edições da mostra desde 1999. Alguns dos momentos mais memoráveis que guardo dessa longa relação com o festival quarentão estão relacionadas com filmes, diretores e astros de outros países, que dividem a atenção na Serra com o cinema brasileiro e com nossos artistas.

Khouri, aliás, também está ligado à vinda da voluptuosa italiana Eva Grimaldi, que honrou a tradição de starlets sensualizando no festival e fazendo a alegria dos fotógrafos. De seios fartos e olhar penetrante, La Grimaldi era estrela de Forever, filme dirigido por Khouri e exibido fora de competição na edição de 1993. A atriz não se furtava a fazer caras e bocas para as câmeras, não dispensando o ar de femme fatale nem quando posou ao lado do jovem ator Salvatore Cascio, o pequeno Totó de Cinema Paradiso, que veio divulgar o longa italiano Um Sopro de Vida. Por sinal, 1993 foi uma das edições mais glamourosas do festival: o evento recebeu também naquele ano a linda atriz espanhola Maribel Verdú, de Sedução - Belle Époque, e a fogosa mexicana Claudette Maillé, que reviveu em Gramado uma das cenas do filme Como Água para Chocolate. No longa de Alfonso Arau, Claudette foge nua no lombo de um cavalo para se juntar ao exército revolucionário de Pancho Villa. Pois não é que um grupo de fotógrafos conseguiu convencer a moça a tirar a roupa e cavalgar pelada no frio serrano? A imagem da Godiva mexicana ganhou as capas dos jornais e entrou para a história iconográfica do Festival. A Serra foi visitada ainda por outras estrelas, como a italiana Gina Lollobrigida (1995) e os norteamericanos Faye Dunaway (1996) e Elliott Gould (1997). Porém, se o sonho de cristalizar Gramado como tapete vermelho de astros de celebridade planetária parece ainda distante, o festival pode se orgulhar de ter amadurecido seu olhar para a produção cinematográfica do continente. Exibindo e premiando obras como Um Lugar no Mundo, do argentino Adolfo Aristarain (em 1993), Morango e Chocolate, dos cubanos Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío (1994), O Beco dos Milagres, do mexicano Jorge Fons


GOVERNO DO ESTADO

Gramado é essencial para o cinema gaúcho, diz secretário da Cultura 58

Festival de Cinema de GRAMADO

Ele é um dos principais expoentes culturais do Rio Grande do Sul. Escritor. E no Governo Tarso Genro, responde pela Secretaria de Estado da Cultura (Sedac). Nesta entrevista, Luiz Antonio de Assis Brasil fala sobre as políticas da pasta para o audiovisual e define o Festival de Cinema de Gramado como fundamental para a produção gaúcha.


Como o Governo tem incentivado a produção audiovisual? Este governo tem feito muito pelo audiovisual, seja através de editais específicos, cujos resultados animam os produtores locais e são visíveis nas telas brasileiras, seja pela relevância que damos ao Instituto Estadual de Cinema, responsável, junto com nossos parceiros, pelo renascimento das atividades do setor. Qual a importância social e cultural de incentivar a produção local? É também uma questão de circulação e acesso da população ao cinema? O grande nó de qualquer produção

artística é a sua circulação. Isso acontece com o livro, com as artes plásticas, com o teatro e, inclusive, com a produção audiovisual. A Sedac, porém, tem trabalhado no sentido de fazer chegar ao maior número de pessoas o “produto” artístico, cada qual em seu perfil próprio. Como o senhor avalia o papel do Festival de Gramado para o fomento do cinema gaúcho? Trata-se de uma importância central, essencial, e isso só cresce com o tempo. Como o senhor avalia iniciativas como a parceria de Gramado com o

Festival de Cinema de Havana para a promoção do cinema gaúcho? Temos de procurar parceiros idôneos e criativos, e com experiência na área. Cuba, como se sabe, entre seus pontos de excelência, o cinema ocupa um lugar de destaque. E como é o envolvimento da Secretaria de Cultura com o Festival de Cinema de Gramado? Esse envolvimento é antigo e este governo tem, na medida do possível, estado presente no Festival, com incentivos fiscais, apoios diretos e participação de mostras nãocompetitivas.

Festival de Cinema de GRAMADO

59

Edison Vara/Pressphoto

GOVERNO DO ESTADO Secretário Luiz Antonio de Assis Brasil participou da abertura oficial do evento em 2012


FILME FLORES RARAS

Flores Raras

Bruno Barreto volta a Gramado para estreia

de longa Novo filme do diretor de Dona Flor e Seus Dois Maridos foi o escolhido para abrir a 41ª edição do Festival de Cinema.

60

Festival de Cinema de GRAMADO


Festival de Cinema de GRAMADO

61

Fotos: Divulgação

FILME FLORES RARAS

Glória Pires e Miranda Otto interpretam a arquiteta carioca Lota de Macedo Soares e a poetisa norteamericana Elizabeth Bishop


FILME FLORES RARAS

Gramado dialoga com o mundo em Flores Raras

N

a década de 1970, o diretor Bruno Barreto foi um dos destaques do Festival de Cinema de Gramado. Seu filme Dona Flor e Seus Dois Maridos conquistou os Kikitos de melhor diretor, melhor trilha sonora e um prêmio especial do júri, em 1977, entrando também para a história do cinema nacional. Até 2010, foi o filme nacional de maior bilheteria nos cinemas do país. De lá para cá, Barreto dirigiu outros longas de grande sucesso, como O Que é Isso, Companheiro?,indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1998, Bossa Nova e Última Parada 174. Em 2013, o diretor volta a Gramado para apresentar seu novo trabalho. Flores Raras será o filme exibido na abertura do Festival. É o seu 19º longa-metragem, estrelado por Glória Pires (Se eu Fosse Você) e Miranda Otto (O Senhor dos Anéis). O roteiro é de Carolina Kotscho e Matthew Chapman, baseado em fatos reais. Recria o Rio de Janeiro das décadas de 50 e 60 do século passado para contar o amor entre a poetisa norte-americana Elisabeth Bishop, vencedora do Prêmio Pulitzer em 1956, e a arquiteta carioca Lota de Macedo Soares, idealizadora e supervisora da construção do Parque do Flamengo, durante a ditadura militar. Segundo Marcos Santuario, curador do Festival de Gramado ao lado de José Wilker e Rubens Ewald Filho, a escolha de Flores Raras respeita o mesmo critério do filme de abertura do evento em 2012, 360, de Fernando Meirelles: “Tanto 360

62

Festival de Cinema de GRAMADO

Sinopse Elisabeth Bishop, emocionalmente frágil, alcoólatra e que passava a vida em viagens, sem família e residência fixa, torna-se cada vez mais forte à medida que sofre diversas perdas em sua vida. Lota de Macedo Soares, otimista, autoconfiante e empreendedora, torna-se cada vez mais fraca quando vê ameaçado o grande amor de sua vida e o controle de seu maior projeto, o Parque do Flamengo.

quanto Flores Raras representam um diálogo do Brasil com o mundo. Em 2013, resolvemos dar continuidade a essa proposta. O filme é praticamente todo em inglês e sua exibição em Gramado, no dia 09 de agosto, contará com a presença do diretor, da atriz Glória Pires e de outros membros da equipe de produção. O roteiro é baseado no livro “Flores

Raras e Banalíssimas”, de Carmem Lucia de Oliveira. Barreto explica que não se trata de um filme sobre homossexualidade, embora revele sensibilidade em relação ao tema. “Eu nunca quis fazer um filme de nicho, de segmento, para uma plateia restrita – por exemplo, apenas para lésbicas. Era preciso buscar uma ressonância universal. Por isso, o filme


FILME FLORES RARAS

Divulgação

Reprodução

Divulgação

A norte-americana Elizabeth Bishop nasceu em Massachusetts, em 08 de fevereiro de 1911, e morreu 68 anos depois, em Boston. Viveu no Brasil durante 15 anos, aproximadamente, quando escreveu a maioria de seus poemas.

Reprodução

Ficha Técnica FLORES RARAS (Reaching For Thr Moon) Brasil, 2013. 118 min. Drama Direção: Bruno Barreto Roteiro: Matthew Chapman e Julie Sayres, baseado no roteiro de Carolina Kotscho, AC, inspirado no livro Flores Raras e Banalíssimas, de Carmem Lucia de Oliveira

Primeiras exibições Flores Raras teve suas primeiras exibições na Sessão Panorama do 63º Festival de Berlim, em de fevereiro de 2013, e foi selecionado para o tradicional Festival de Tribeca, em Nova York. No festival alemão, o filme teve recepção positiva do público em todas as sessões, e foi um dos mais aplaudidos do evento. Em votação realizada com mais de 30 mil pessoas, o longa de Bruno Barreto obteve a segunda maior nota entre os 58 concorrentes da Sessão Panorama.

Fotografia: Mauro Pinheiro Jr., ABC Montagem: Letícia Giffoni

Lota de Macedo Soares nasceu em Paris, em 1910, mas seus pais eram cariocas. Faleceu aos 57 anos, em 1967, na cidade de Nova York.

Direção de arte: José Joaquim Salles Figurino: Marcelo Pies Produção de elenco - Brasil: Márcia Andrade Produção de elenco - EUA: Avy Kaufman Produção: Paula Barreto

Lisa Graham

não é uma cinebiografia de Bishop ou Lota. É uma história sobre perda, na qual Lota e Bishop são apenas os personagens”, diz o diretor, referindose às protagonistas.

Diretor Bruno Barreto afirma que o fato de as personagens principais serem homossexuais não é o mais importante do filme

Festival de Cinema de GRAMADO

63


FILMES SELECIONADOS

LONGAS BRASILEIROS A Bruta Flor do Querer (2013) - SP Direção: Andradina Azevedo e Dida Andrade Classificação indicativa: 16 anos / 80’

A Coleção Invisível (2012) - BA Direção: Bernard Attal Classificação indicativa: 14 anos / 89’

Um Passeio de Bicicleta (2009) e Os Magníficos (2010), um documentário para a TV Brasil. Juntos, os filmes participaram de mais de cem festivais ao redor do mundo.

Até Que a Sbórnia nos Separe (2013) - RS Direção: Otto Guerra e Ennio Torresan Jr. Classificação indicativa: livre / 83’ Diego, um recém-formado em cinema, se vê obrigado a trabalhar como câmeraman de casamentos. Enquanto luta para realizar seu primeiro filme e ser visto como diretor, ele tenta sobreviver ao seu maior medo e objeto de desejo: as mulheres.

Ficha técnica Empresa Produtora: Filmes da Lata Produtor Executivo: Andradina Azevedo, Dida Andrade e Bia Vilela Roteiro: Andradina Azevedo e Dida Andrade Elenco: Diana Mota, Dida Andrade, Andradina Azevedo, Danilo Grangheia, João Federici, Arua Maroni, Sue Nhamandu, Daniele Rosa, Clara Andrezzo, Catarina Balbino e Fernanda Galvão Direção de Fotografia: Gallo Rivas Direção de Arte: Mariana Barauna Trilha Musical: Marcelo Rivas Montagem: Pedro Silva

Perfil dos diretores Juntos, Andradina Azevedo e Dida Andrade produziram três curtas entre 2008 e 2012 e ganharam 23 prêmios, além de terem participado de 74 festivais nacionais e internacionais. Estiveram presentes duas vezes no Festival de Cinema de Gramado com seus curtas-metragens.

64

Festival de Cinema de GRAMADO

Para resolver a crise financeira da loja de antiguidades de sua família, Beto se aventura no interior da Bahia em busca de uma coleção de gravuras raras. Ali ele encontra Samir, o colecionador, e a sua família arruinados pela decadência das plantações de cacau. O encontro o fará mergulhar na sua própria história familiar e mudar sua visão do mundo.

Ficha técnica Empresa Produtora: Santa Luzia Filmes Produtor Executivo: Diana Gurdel Roteiro: Bernard Attal, Sérgio Machado e Iziane Mascarenhas Atores: Vladimir Brichta, Walmor Chagas, Ludmila Rosa, Paulo Cesar Pereio, Frank Menezes, Conceição Senna e Clarisse Abujamra Direção de Fotografia: Matheus Rocha Direção de Arte: Joazito Pereira Trilha Musical: Tîe e Fabio Montagem: Karen Harley Trilha Sonora Original (Compositor): Silvain Vanot Equipe (outros integrantes): Waldir Xavier, Ricardo Cutz e Nicolas Hallet (som)

Perfil do diretor Dirigiu três curtas-metragens, 29 Polegadas (2005), Ilha do Rato (2006),

O que acontece quando o muro que separa um pequeno país chamado Sbórnia do resto do mundo cai acidentalmente? Tranquilo e parado no tempo, o povo da Sbórnia é agora atingido pelos ventos da modernidade vindos da cidade grande. Os conflitos causados pelo violento choque cultural bagunçam a vida dos protagonistas Kraunus e Pletskaya, dois conhecidos músicos sbornianos. Como consequência da interferência continental nos arraigados hábitos da Sbórnia, alguns nativos fazem acordar velhas crenças adormecidas e se põem a resgatar sua identidade como sbornianos. O filme é baseado no espetáculo teatro-musical Tangos & Tragédias, criado por Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, e que tem sido apresentado pelos palcos do mundo com grande sucesso pelos últimos 20 anos, tendo sido visto por mais de 1 milhão de pessoas.

Ficha técnica Empresa Produtora: Otto Desenhos Animados Ltda


Perfil dos diretores Otto Guerra realiza filmes de animação há 35 anos. Este é seu terceiro longa-metragem. Ennio Torresan Jr. trabalha na Dreamworks como artista de storyboard há 10 anos.

assassinado. Ela e o irmão quase morrem, mas são salvos pelo Pastor Naldo da Igreja Evangélica do Éden. Karine carregará consigo o conflito de buscar a salvação na religião evangélica ou no nascimento do filho.

Ficha técnica Empresa Produtora: TB Produções / Greengo Films Produtor Executivo: Jan Roldanus Roteiro: Antonia Pellegrino, Bruno Safadi Elenco: Leandra Leal, João Miguel, Julio Andrade, André Ramiro, João Zappa e Cristina Lago Direção de Fotografia: Lula Carvalho Direção de Arte: Lulu Continentino Trilha Musical: Guilherme Vaz Montagem: Rodrigo Lima Figurino: Gabriela Campos Maquiagem: Auri Alex Direção de Produção: Leonardo Pirovano e Tiago Melo

Perfil do diretor Bruno Safadi, nascido em 1980, natural do Rio de Janeiro, escreveu, produziu e dirigiu quatro longasmetragens: Meu nome é Dindi (2007), Belair (2009), Éden (2012) e O Uivo da Gaita (2013).

Éden (2013) - RJ Direção: Bruno Safadi Classificação indicativa: 12 anos / 75’

Rio de Janeiro, 2012. Karine, 30 anos, grávida de 8 meses, perde seu marido,

gestos cotidianos, se redescobrir.

Os Amigos (2013) - SP Direção: Lina Chamie Classificação indicativa: 12 anos / 89’ Não há escuridão que resista à luz. Um dia na vida de Théo, um arquiteto em São Paulo. A partir do momento em que o sol nasce até o novo nascer do sol no dia seguinte. Um dia, um tanto especial. Pela manhã Théo vai ao funeral de um querido amigo de infância. Durante o dia Théo vai lembrar-se do amigo e quem sabe, através dos pequenos

Ficha técnica Empresa Produtora: Girafa Filmes / Dezenove Som e Imagens Produção Executiva: Sara Silveira e Maria Ionescu Roteiro: Lina Chamie Elenco: Marco Ricca, Dira Paes, Caio Blat, Alice Braga, Rodrigo Lombardi, Fernando Alves Pinto, Sandra Corveloni, Teka Romualdo, Otávio Martins, Edgar Castro, Rodrigo Fregnan, Giulio Lopes, Lucas Zamberlan, David Galdeano, Natan Felix, Matheus Restiffe, Gregório Mussatti Cesare, Maria Manoella, Martha Nowill, Julia Weiss e Lais Machado Dias Direção de Fotografia: Jacob Solitrenick, ABC Direção de Arte: Mara Abreu Trilha Musical: Camille Saint-Saens, Edvard Grieg e Benjamin Britten Montagem: Karen Harley 1ª Assistente de Direção: Inês Mulin Direção de Produção: Ronald Kashima Assistente de Produção Executiva: Vinícius Pardinho Preparação de Elenco: Diogo Mattos Produção de Elenco: Patrícia Faria Figurinista: Joana Porto Som Direto: Tide Borges e Lia Camargo Edição de Som: Pedro Noizyman

Festival de Cinema de GRAMADO

65

FILMES SELECIONADOS

Produção Executiva: Marta Machado Roteiro: Rodrigo John e Tomas Creus Atores (animação – vozes): Hique Gomez, Nico Nicolaiewsky, Otto Guerra, André Abujamra, Arlete Salles e Fernanda Takai Direção de Arte: Eloar Guazzelli e Pilar Prado Trilha Musical: André Abujamra, Nico Nicolaiewsky e Hique Gomez Montagem: Pedro Harres, Ennio Torresan Jr. e Otto Guerra Trilha Sonora Original (Compositor): André Abujamra Direção de Animação: Fabiano Pandolfi Animação 3D Adicionais: Marco Arruda e Vera Bertoni Artista de Storyboard: Ennio Torresan Jr Edição e Mixagem de Som: Armando Torres Jr., Eduardo Virmond, Tiago Bello e Alessandro Laroca Animação: Hermes Barboza e Wesley Rodrigues


FILMES SELECIONADOS

LONGAS BRASILEIROS Perfil da diretora A cineasta Lina Chamie dirigiu os premiados longas-metragens Tônica Dominante (2001) e A Via Láctea (2007), que teve sua estréia mundial no Festival de Cannes, Santos - 100 Anos de Futebol Arte (2012) e São Silvestre (2013).

Primeiro Dia de Um Ano Qualquer (2012) - RJ Direção: Domingos Oliveira Classificação indicativa: 14 anos / 81’ O filme começa com o amanhecer e termina com o último raio de sol que se esconde na montanha durante um primeiro dia do ano numa rica casa de campo nos arredores do Rio. Cruzam-se muitos personagens, todos em crise, enfrentando as mais variadas finitudes e limitações, terminando por ter certeza: a vida continua e o mundo não vai acabar. Uma comédia comovente e engraçada, um filme panorâmico onde os muitos personagens buscam um sentido para viver.

Ficha técnica Empresa Produtora: Teatro Ilustre Produções Artísticas LTDA Produção Executiva: Tereza Gonzalez Roteiro: Domingos Oliveira Elenco: Maitê Proença, Dedina Bernadelli, Domingos Oliveira, Ricardo Kosovski, Alexandre Nero, Orã Figueiredo, Fernando Arze, Guilherme Fiúza, Marcelo Pio, Alexandre Freitas, Argus Caruso, Priscilla Rozenbaum, Sara Antunes, Clarice Falcão, Clarisse Derziè Luz, Tammy Dicalafiori, Duaia Assumpção, Teresa Bernadelli, Nina Luz, Ana Vitória Bastos, Júlia Portes e Ney Matogrosso (participação especial) Direção de Fotografia: Alexandre Ramos Direção de Arte: Maitê Proença

66

Festival de Cinema de GRAMADO

Montagem: Tina Saphira

Perfil do diretor Seu nome é diretamente vinculado – como autor, diretor, ator, produtor, cantor, pensador – a mais de cento e trinta títulos nas três mídias: Teatro, Cinema e TV.

Tatuagem (2013) - PE Direção: Hilton Lacerda Classificação indicativa: 16 anos / 110’

Revelando Sebastião Salgado (2012) - RJ Direção: Betse de Paula Classificação indicativa: não informada / 75’

Revelando Sebastião Salgado é o primeiro documentário brasileiro sobre um dos mais importantes e mais respeitados fotógrafos contemporâneos, reconhecido por seu estilo único de fotografar.

Ficha técnica Empresa Produtora: BPP Produções Audiovisuais LTDA Produção Executiva: Patrícia Chamon Roteiro: Betse de Paula e Juliano Salgado Direção de Fotografia: Jacques Cheuiche, ABC Trilha Musical: Naná Vasconcelos Montagem: Dominique Pâris Edição de Som: Virgínia Flores Câmeras: Jacques Cheuiche, Juliano Ribeiro Salgado, Bacco Andrade e Betse de Paula Produtora Associada: Vera de Paula Assistência de Direção: Gabriela Lins e Silva

Ano de 1978. No Brasil, a ditadura militar, ainda atuante, mostrava sinais de superação. Um teatro/ cabaret de fundo anarquista, o Chão de Estrelas, que reunia intelectuais e artistas, junto a seu tradicional público de homossexuais, ensaiava a resistência pelo deboche e pela anarquia. Clécio, 32 anos, é o líder dessa trupe. Sua personalidade forte e imperativa garante-lhe autoridade. Sua vida muda ao conhecer Fininha, apelido do soldado Arlindo, 18 anos. Recruta do interior e que serve ao exército na capital, é cunhado de um dos membros da trupe. Clécio inicia com Fininha um romance em que as relações de poder se estabelecem de forma enviesada. O amor que germina desse encontro é pautado pelo conflito entre os dois mundos.

Ficha técnica Empresa Produtora: REC Produtores Associados Produção Executiva: João Vieira Jr. e Nara Aragão Roteiro: Hilton Lacerda Elenco: Irandhir Santos, Jesuíta Barbosa, Rodrigo García, Sílvio Restiffe e Sylvia Prado Direção de Fotografia: Ivo Lopes


Técnico de Som: Danilo Carvalho Edição de Som: Waldir Xavier Mixagem: Ricardo Cutz

Perfil do diretor Hilton Lacerda, premiado roteirista

dos filmes Baile Perfumado, Amarelo Manga, Baixio das Bestas e A Festa da Menina Morta, entre outros, lança seu primeiro longa de ficção, em que assina, além do roteiro, a direção da obra.

LONGAS ESTRANGEIROS A Oeste do Fim do Mundo (2013) – Argentina/Brasil Direção: Paulo Nascimento Classificação indicativa: não informada / 100’

Argentina. Um velho posto de gasolina perdido na imensidão da antiga estrada transcontinental é o refúgio do introspectivo Leon (César Troncoso). De poucas palavras, poucos gestos e nenhum amigo, sua solidão só é quebrada por um ou outro caminhoneiro eventual que passa por ali para abastecer. Ou pelas visitas sempre bem humoradas do sarcástico Silas (Nelson Diniz), um motociclista com ares de hippie aposentado. O tempo passa devagar nas margens da velha estrada. Até o dia em que a enigmática e inesperada chegada de Ana (Fernanda Moro) transforma radicalmente o cotidiano de Leon e Silas. Aos pés da imponente Cordilheira dos Andes, segredos que pareciam estar bem enterrados vêm à tona, reabrindo antigas feridas e mudando para sempre a vida dos protagonistas.

Ficha técnica Empresa Produtora: Accorde Filmes Produção Executiva: Leonardo Machado e Marilaine Castro da Costa Roteiro: Paulo Nascimento Elenco: Cesar Troncoso, Fernando Moro e Nelson Diniz Direção de Fotografia: Alexandre Berra Diretor de Arte: Voltaire Danckwardt Trilha Musical: Renato Muller Montagem: Marcio Papel Direção de Produção: Monica Catalane Coprodutor Argentino: Martin Viaggio Coprodutor Brasileiro: Beto Rodrigues

Perfil do diretore Este é o quinto longa-metragem de Paulo Nascimento, que também é roteirista da TV Globo e já participou de três edições do Festival de Cinema de Gramado.

Cazando Luciérnagas (2013) – Colômbia Direção: Roberto Flores Prieto Classificação indicativa: não informada / 100’

de um árido ponto perto do oceano. Nesse emprego, ele encontrou uma desculpa para se isolar de um mundo com o qual não se importa. Entretanto, a aparição extraordinária de um cachorro pedigree que gosta de caçar vagalumes e a inesperada aparição de Valéria, sua filha de 12 anos até então desconhecida, darão a esse homem a oportunidade de reencontrar a alegria de viver.

Ficha técnica Empresa Produtora: Kymera Producciones Produção Executiva: Roberto Flores Prieto Roteiro: Carlos Franco Esguerra Elenco: Marlon Moreno e Valentina Abril Direção de Fotografia: Eduardo Ramírez González Direção de Arte: Sara Millán Trilha Musical: José Carlos María e Oliver Camargo Montagem: Andrés Rojas Florez Som: Miguel Vargas Mejía Produção: Diana Lowis

El Padre de Gardel (2013) – Uruguai Direção: Ricardo Casas Classificação indicativa: livre / 75’

Manrique é o homem encarregado de supervisionar os resquícios de abandonadas minas de sal no meio

Documentário sobre a vida de Carlos Escayola, que, entre 1860 e 1890, dominou a vida política e cultural de Tacuarembó, no interior do Uruguai.

Festival de Cinema de GRAMADO

67

FILMES SELECIONADOS

Araújo Direção de Arte: Renata Pinheiro Trilha Musical: DJ Dolores Montagem: Mair Tavares Figurino: Chris Garrido Maquiagem: Donna Meirelles


FILMES SELECIONADOS

LONGAS ESTRANGEIROS Foi fazendeiro e chefe político, construiu um teatro, conquistou muitas mulheres e deixou um grande segredo: um escândalo familiar que até hoje a cidade se recusa a comentar.

Ficha técnica Empresa Produtora: Guazú Media (Montevideo) / Casa de Cinema de Porto Alegre Produção Executiva: Yvonne Ruocco e Nora Goulart Roteiro: Ricardo Casas Direção de Fotografia: Diego Varela Trilha Musical: Carlos da Silveira Montagem: Giba Assis Brasil Som direto: Pablo Benedetto Edição de Som e Mixagem: Kiko Ferraz Studios Finalização de imagem: Letícia Birck

Perfil do diretor Ricardo Casas estudou cinema no Uruguai e exterior entre 1974 e 1982. Foi coordenador da Cinemateca Uruguaya de 1998 a 2004. Realizou diversos curtas e o longa documental Palabras Verdaderas (2004), sobre o escritor Mario Benedetti.

Puerta de Hierro – El Exilio de Perón (2012) – Argentina Direção: Dieguillo Fernández e Víctor Laplace Classificação indicativa: não informada / 100’ Uma casa. Uma casa a 10 mil quilômetros de distância de Buenos Aires, na qual convergem os interesses políticos de todo um país. Uma casa habitada por um ex-presidente deposto e exilado, por sua esposa e futura presidente e por seu secretário que criará a selvagem Triple A. Uma casa visitada por líderes montoneros, sindicalistas, militares da oposição

68

Festival de Cinema de GRAMADO

e amigos, turistas e estudantes do mundo todo, que foi o coração e o cérebro da resistência e da luta de todo um povo, e que abrigou o cadáver de Eva Perón, sequestrado durante quase duas décadas. Uma casa que foi testemunha do cotidiano do líder argentino mais importante do século XX, de seu mundo privado e de sua amizade com uma jovem mulher que o conheceu como ninguém: Sofía. Simplesmente, uma casa.

O jovem guerrilheiro Eduardo Leite “Bacuri” morre em 1970 nas mãos da ditadura militar brasileira. Sua companheira Denise Crispim, perseguida e presa durante sua gravidez, consegue fugir do país, depois do nascimento de Eduarda. Hoje, depois de quarenta anos vividos entre Itália e a Holanda, Denise e Eduarda receberam Anistia e Reparação do Brasil. A verdade sobre o passado abre caminho para um futuro mais justo.

Ficha técnica

Ficha técnica Empresa Produtora: Valga S.R.L. Zarlek Produção Executiva: Cecilia Diez e Luis Sartor Roteiro: Víctor Laplace e Leo Dagostino Elenco: Víctor Laplace, Victoria Carreras, Fito Yanelli, Manuel Vicente, Javier Lombardo, Federico Luppi e Natalia Mateo Direção de Fotografia: Diego Poleri Direção de Arte: Adriana Maestri Trilha Musical: Damián Laplace Montagem: Marcela Saenz

Empresa Produtora: Comissão de Anistia, Instituto Via BR, Ana Petta, Minie Ferrara, Agustí Camps e Maria de Medeiros Produção Executiva: Vanessa Stropp e Ana Petta Roteiro: Maria de Medeiros, com a colaboração de Ana Petta Direção de Fotografia: Bruno Pozzitrev Trilha Musical: Maria de Medeiros Montagem: Manoel de Souza e Maria de Medeiros

Venimos de Muy Lejos (2012) – Argentina Direção: Ricardo Piterbarg Classificação indicativa: não informada / 105’

Repare Bem (2012) – BRASIL/ITÁLIA/FRANÇA/ESPANHA Direção: Maria de Medeiros Classificação indicativa: 10 anos / 95’

Venimos de Muy Lejos documenta a dramatização da chegada à Argentina dos imigrantes do início do século XX, que o grupo de teatro comunitário Catalinas Sur vem apresentando desde 1990; e apresenta ficcionalmente a vida


Ficha técnica Empresa Produtora: Trivial Media srl Catafilma srl Roteiro: Ricardo Piterbarg, Vanina Sierra e Paula Pasnanky Elenco: Elenco de Grupo de Teatro Comunitario Catalinas Sur y la

comuinidad del barrio Catalinas Sur Direção de Fotografia: German Costantino Direção de Arte: Omar Gasparini Montagem: Roly Rauwolf Trilha Sonora Original (Compositor): Gonzalo Dominguez

CURTAS BRASILEIROS A Navalha do Avô (2013) - SP Direção: Pedro Jorge Classificação indicativa: livre / 23’

A vida de José está mudando. Seu neto Bruno começa a perceber.

Ficha técnica Empresa Produtora: Confeitaria de Cinema e Massa Real Filmes Produção Executiva: Angelo Ravazi Roteiro: Francine Barbosa e Pedro Jorge Elenco: Jean-Claude Bernadet, Kauê Telloli, Sônia Guedes, Luiz Serra, Carlos Baldim, Fernão Lacerda, Ester Laccava, Eliana Bolanho e Thaís Medeiros Direção de Fotografia: Otávio Pupo Direção de Arte: Camila Tarifa Montagem: Pedro Jorge Trilha Sonora Original (Compositor): Rodrigo Monteiro e Paulo Kishimoto Som Direto: Gustavo Zysman Nascimento

A Voz do Poço (2013) - SP Direção: Patrícia Black Classificação indicativa: não informada / 22’52’’

Ensaio poético que busca um retrato do universo infantil e assombrado da família Espíndola. Através da figura central de um poço, o filme se arremessa para dentro das incertezas das memórias de infância, em uma crescente queda do imaginário. A palavra que se faz crença, em um universo em que a figura do boi se faz mítica.

Ficha técnica Empresa Produtora: Independente (Patricia Black) Roteiro: Patricia Black Direção de Fotografia: Patricia Black e Martin Buzolin Montagem: Patricia Black Trilha Sonora Original (Compositor): Adriano Magoo Edição de som: Juliana Lopes Mixagem: Eric Ribeiro Assistente de produção Pantanal: Maíra Cessa

Acalanto (2013) - MA Direção: Arturo Saboia Classificação indicativa: livre / 23’

Uma senhora analfabeta busca amenizar a saudade do seu filho ao solicitar a um conhecido que leia diversas vezes a mesma velha e única carta enviada há dez anos por seu filho. Através dessas leituras, uma bonita amizade e cumplicidade é criada entre os dois.

Ficha técnica Empresa Produtora: 8Comunicação Produtor Executivo: Cassia Melo Roteiro: Arturo Saboia Elenco: Luiz Carlos Vasconcelos e Léa Garcia Direção de Fotografia: Ale Samori Direção de Arte: Rogério Tavares Montagem: Beto Matuck Trilha Sonora Original (Compositor): Luiz Oliviéri

Arapuca (2012) - SP Direção: Hélio Villela Nunes Classificação indicativa: livre / 18’ Apaixonado pelo sabor de uma fruta, um menino planta a semente na terra e passa a vida cuidando para que a árvore cresça. Muitos anos se passam. Esse menino agora é um velho que construiu sua casa próximo à árvore.

Festival de Cinema de GRAMADO

69

FILMES SELECIONADOS

dos filhos e netos daqueles imigrantes que se integraram em sua diversidade, com o mesmo espírito empreendedor e solidário, para construir um bairro, uma escola, uma quadra de futebol, uma praça, um grupo de teatro e, hoje, realizar este filme.


FILMES SELECIONADOS

CURTAS BRASILEIROS Sozinho e amargurado, seus dias são iguais até que, um dia, ele encontra um menino em cima de sua árvore. Furioso, ele faz de tudo para que esse menino vá embora, mas ele insiste em sempre voltar. A vida do velho começa a desmoronar até que o confronto entre as duas personagens chega a um dramático final.

Um homem ciumento considera as ofertas especiais de uma operadora de telemarketing.

Ficha técnica Empresa Produtora: Dominio Público, Uhu Filmes e Flow Filmes Produção Executiva: Rodrigo Luna Roteiro: Rodrigo Luna (livremente baseado no conto We Can Get Them for You Wholesale, de Neil Gaiman) Elenco: Narcival Rubens e Andréa Elia Direção de Fotografia: Jeronimo Soffer Direção de Arte: André Cruz (Da 20) Trilha Musical: Luisão Pereira Montagem: Renato C. Gaiarsa

Composição e Interpretação de Paragradar Produção Local: Arquimedes da Silva Machado Som Direto: Felipe Dutra Rodrigues Pesquisa: Cássio Santos, Júlio Lucena, Nilton Ferreira e Victor Luiz dos Santos Produção: Jozielle Martins

Colostro (2013) - SP Direção: Cainan Baladez e Fernanda Chicolet (codireção) Classificação indicativa: 14 anos / 15’

Ficha técnica Empresa Produtora: Primo Filmes Produção Executiva: Matias Mariani e Joana Mariani Roteiro: Hélio Villela Nunes Elenco: Cacá Amaral, João Guilherme de Ávila Correia e Márcio André de Morais Direção de Fotografia: Alexandre Samori Direção de Arte: Carolina Bertier Trilha Musical: Bruno Palazzo Montagem: Paula Mercedes Trilha Sonora Original (Compositor): Bruno Palazzo

Perfil do diretor Hélio Villela Nunes fez o Curso Superior de Audiovisual na Escola de Comunicação e Artes da USP. Atua especialmente nas áreas de direção, roteiro e montagem.

Arremate (2012) - BA Direção: Rodrigo Luna Classificação indicativa: não informada / 8’

70

Festival de Cinema de GRAMADO

Carregadores de Monte Serrat (2012) - SP Direção: Cassio Santos e Julio Lucena Classificação indicativa: livre / 11’

Colostro é a primeira secreção da mama após o parto. Rita adota uma bebê e tenta produzir esse leite em seu seio. Mas o líquido que sai é vermelho. Monte Serrat, cidade de Santos. No lugar de ruas, 402 degraus. Como subir com compras, eletrodomésticos e materiais de construção? Essa difícil tarefa fica à cargo dos “Carregadores do Monte”.

Ficha técnica Empresa Produtora: Instituto Oficinas Querô Roteiro: Coletivo Direção de Fotografia: Altair Alves, Cássio Santos, Júlio Lucena e Nilton Ferreira Trilha Musical: Pra Ontem Carregadores Montagem: Cassio Santos e Nilton Ferreira Trilha Sonora Original (Compositor): Composição de Zinho Cavaco /

Ficha técnica Empresa Produtora: Arte In Vitro Filmes Produção Executiva: Mario Monteiro, Cainan Baladez e Fernanda Chicolet Roteiro: Cainan Baladez e Fernanda Chicolet Elenco: Fernanda Chicolet, Romulo Braga, Melissa Sanches, Doró Cross, Cida Baú e Josefa Alves Direção de Fotografia: André Luiz de Luiz Direção de Arte: Laura Carvalho Trilha Musical: Eric Ribeiro Montagem: André Bomfim

Perfil do diretor Cainan Baladez graduou-se na Escola de Comunicações e Artes da USP, em 2006. É sócio da produtora Arte In


Faroeste: Um Autêntico WesterN (2013) - GO Direção: Wesley Rodrigues Classificação indicativa: 10 anos / 18’25’’

ilustrador e animador. Atualmente, produz a HQ Imaginário Coletivo, vencedora do 1º Prêmio Barba Negra Rio Comicon de histórias em quadrinhos brasileiras, e dirige a animação Viagem na Chuva.

Merda! (2013) - MG Direção: Gilberto Scarpa Classificação indicativa: livre / 16’

Matador profissional. Quinze anos consecutivos como o número um de Porto Alegre. Até a chegada de Assunção.

Ficha técnica

Logo ao nascer, Maverick vê sua família ser vitimada pela violência, habituando-se a ela desde o princípio de sua vida. Na idade adulta, torna-se líder de uma gangue criminosa, espalhando medo e terror por onde passa.

Ficha técnica Empresa Produtora: Armoria Estúdio e MMarte Produções Produção Executiva: Márcia Deretti e Márcio Júnior Roteiro: Wesley Rodrigues Elenco: Sandro Freitas, Éverson Cândido, Wesley Rodrigues, Thiago Moura, Alinne Mendes e Izabelle Eleonora Direção de Arte: Wesley Rodrigues Trilha Musical: Dênio de Paula Montagem: Wesley Rodrigues, Márcio Jr e Márcia Deretti Desenho de Som: Mandra Filmes Técnico de Som: Thiago Camargo Tratamento de Roteiro: Rafael Ferreira Franco e Márcio Júnior

Perfil do diretor Formado em design gráfico pela Universidade Federal de Goiás, é

Três atores em busca da dignidade perdida.

Ficha técnica Empresa Produtora: Ateliê 22 Arte e Cultura Produção Executiva: Gilberto Scarpa e Alessandro Torino Roteiro: Gilberto Scarpa Elenco: Renato Parara, Geraldo Carrato, Nivaldo Pedrosa e Gérman Milich Direção de Fotografia: Vagner Jabour Direção de Arte: Ayres Armando Maneira Trilha Musical: Senhor Clôde e Dom Esteves Montagem: Gilberto Scarpa e Vinícius Gotardelo Edição de som: Alexandre Martins

Perfil do diretor Gilberto Scarpa estreou no cinema em 2008 com o curta Os filmes que não fiz. Em 2009, lançou o curta O filme mais violento do mundo e, em 2010, Um U.R.S.O na minha rua.

O Matador de Bagé (2012) - RS Direção: Felipe Iesbick Classificação indicativa: livre / 14’55’’

Empresa Produtora: Universidade do Vale do Rio dos Sinos Produção Executiva: Bruna Tedeschi Roteiro: Felipe Iesbick Elenco: João França, Elena Schuck e Marcello Crawshaw Direção de Fotografia: Fernanda Kern Direção de Arte: Giordano Gio e Fran Pothin Trilha Musical: Frank Jorge Montagem: Isabel Cardoso Assistência de Direção: Daniel Miragem e Roberto Valduga Jr. Som: William Soares e Roberto Valduga

Perfil do diretor Cursando o último ano de Realização Audiovisual na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, sendo O Matador de Bagé seu primeiro projeto como diretor e roteirista. * Este curta-metragem também concorre na Mostra Gaúcha - Prêmio Assembleia Legislativa.

Os Filmes Estão Vivos (2013) - RS Direção: Fabiano de Souza e Milton do Prado Classificação indicativa: livre / 25’ Enéas de Souza, crítico de cinema, viaja a Paris todos os anos para se certificar que lá os filmes estão vivos.

Festival de Cinema de GRAMADO

71

FILMES SELECIONADOS

Vitro Filmes, que já recebeu inúmeros prêmios no Brasil e exterior pelos filmes Aphasia e Animador.


FILMES SELECIONADOS

CURTAS BRASILEIROS Durante seis dias de janeiro de 2013, ele assiste a um filme por dia e revê sua relação com o cinema e a cidade.

Ficha técnica Empresa Produtora: Rainer Cine Ltda Produtor Executivo: Fabiano de Souza e Milton do Prado Roteiro: Fabiano de Souza e Milton do Prado Elenco: Enéas de Souza Direção de Fotografia: José Bodalo Direção de Arte: Jean Sylvain Bailly Trilha Musical: Sergio Karam e Geraldo Fischer Montagem: Vicente Moreno Som: Angel Alvarez * Este curta-metragem também concorre na Mostra Gaúcha - Prêmio Assembleia Legislativa.

Ficha técnica Empresa Produtora: ViaTV Comunicação e Cultura Produção Executiva: Thais Fujinaga, Gustavo Maximiliano e Renato Sakata Roteiro: Thais Fujinaga Elenco: Recardo Mai, Luis Mai, Benedito Lisboa, Cheng Me, July Hsu, Thais Rangel e Juliana Grace Wu Direção de Fotografia: André Luiz de Luiz Direção de Arte: Dicezar Leandro Montagem: André Bomfim Codireção: Alexandre Taira

Contato da diretora Thais Fujinaga graduou-se no curso superior do Audiovisual da ECAUSP em 2008. Seus roteiros foram selecionados em diversas edições de editais lançados por órgãos como a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e o Ministério da Cultura.

Direção de Fotografia: Gabriel Martins e Bruno Risas Direção de Arte: Tati Boaventura Montagem: Gabriel Martins Captação de Áudio: Bruno Vaconcelos Designer: Maurílio Martins

Perfil do diretor Formado em história pela PUC Minas. Diretor dos curtas Fantasmas, Domingo e Uma Homenagem a Aluízio Netto e do longa-metragem Estado de Sítio. Juntos, foram selecionados em mais de 50 festivais e ganharam mais de 20 prêmios em festivais do Brasil e do mundo.

Sanã (2013) - MG Direção: Marcos Pimentel Classificação indicativa: livre / 18’

Pouco Mais de Um Mês (2013) - MG Direção: André de Novais Oliveira Classificação indicativa: livre / 23’

Os Irmãos Mai (2013) - SP No interior do estado do Maranhão, um menino e suas buscas pela imensidão da paisagem.

Direção: Thais Fujinaga Classificação indicativa: livre / 20’

Ficha técnica

Ihhh, sô. No começo é assim mesmo.

Ficha técnica Dois irmãos de origem chinesa saem pelo centro da cidade em busca de um presente para a sua avó. Quanto mais eles caminham, mais longe parecem estar de seu objetivo.

72

Festival de Cinema de GRAMADO

Empresa Produtora: Filmes de Plástico Produção Executiva: André Novais Oliveira e Thiago Macêdo Correia Roteiro: André Novais Oliveira Elenco: André de Novais Oliveira e Élida Silpe

Empresa Produtora: Tempero Filmes e Lume Filmes Produção Executiva: Luana Melgaço Roteiro: Marcos Pimentel e Ivan Morales Jr. Elenco: Sanã Direção de Fotografia: Matheus Rocha Montagem: Ivan Morales Jr. Produtor de Campo: Frederico Machado Som Direto: Pedro Aspahan Edição de Som e Mixagem: David Machado


Documentarista formado pela Escuela Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de los Baños (EICTV – Cuba) e especializado em Cinema Documentário pela Filmakademie Baden-Württemberg, na Alemanha.

Simulacrum Praecipiti (2013) - SP Direção: Humberto Bassanelli Classificação indicativa: 16 anos / 25’

Direção de Arte: Rafael Terpins Trilha Musical: Paulo Penov Montagem: Tatiana Lohmann Trilha Sonora Original (Compositor): Paulo Penov Produção: Alessio Ortu e Humberto Bassanelli

Perfil do diretor Humberto Bassanelli é diretor de fotografia e documentarista. Profissional de cinema desde 1995. Fotografa séries e programas de TV para os canais NatGeo Channel, ESPN Brasil, Discovery Channel e TV Cultura. Em 2013, dirige seu primeiro filme.

Tomou Café e Esperou (2013) - RS Direção: Emiliano Cunha Classificação indicativa: 12 anos / 13’

Acompanhando o trabalho do fotógrafo Alessio Ortu pelos labirintos da cracolândia paulistana, revela-se sua procura de enxergar, nos semblantes devastados pelos efeitos do crack, não só os fantasmas que os devoram, mas também os vestígios de uma humanidade em estado de emergência. Mitológica e literalmente, o fotógrafo desce às zonas infernais, conduzindo consigo o documentarista – uma alusão ao Inferno de Dante quando o poeta Virgílio conduz Dante ao inferno.

Ficha técnica Empresa Produtora: ID_AV Identidade Audiovisual Produção Executiva: Fábio Leme Cavalheiro Roteiro: Tatiana Lohmann Elenco: Alessio Ortu Direção de Fotografia: Humberto Bassanelli

Carlos vai até a cozinha e prepara um café. O tempo que separa o ontem do agora.

Ficha técnica Empresa Produtora: Tokyo Filmes, Gogó Conteúdo Sonoro e Avante Filmes Produtor Executivo: Emiliano Cunha Roteiro: Emiliano Cunha Elenco: Milton Mattos, Vilma Loner, Marcos Verza e Ana Maria Mainieri Direção de Fotografia: João Gabriel de Queiroz

Direção de Arte: Valéria Verba Trilha Musical: Gogó Conteúdo Sonoro Montagem: Bruno Carboni Trilha Sonora Original (Compositor): Felipe Puperi Direção de Produção: Paola Wink Assistência de Direção: Richard Tavares Som Direto: Marcos Lopes da Silva e Sergio Kalil Desenho de Som: Tiago Bello, Marcos Lopes e Rita Zart Mixagem: Tiago Bello Finalização: Bruno Carboni Foquista: Marcos de Souza Operador de Câmera e Steady-cam: Rodrigo Ramos Produtor de Set: Henrique Schaefer Produção de Alimentação e Still: Filipe Matzembacher e Márcio Reolon Assistente de Produção: Lucas Cassales Eletricista: Mano Salvaterra Assistente de Elétrica: Tiago Alves Assistente de Som Direto e Microfone: Sergio Guidoux Kalil Produção de Fotos: Ana Gusson Produzido por: Emiliano Cunha, Filipe Matzembacher, Henrique Schaefer, Lucas Cassales, Márcio Reolon, Paola Wink, Richard Tavares (Talent Campus Buenos Aires), Rita Zart e Tiago Bello (Berlinale Talent Campus)

Perfil do diretor Formado em cinema pela PUCRS, já dirigiu os curtas Fonemas (Prêmio de Melhor Filme Festival do Minuto), O Cão e Lobos (codireção com Abel Roland), e o longa Cinco Maneiras de Fechar os Olhos (direção coletiva). * Este curta-metragem também concorre na Mostra Gaúcha - Prêmio Assembleia Legislativa.

Festival de Cinema de GRAMADO

73

FILMES SELECIONADOS

Perfil do diretor


FILMES SELECIONADOS

CURTAS GAÚCHOS Armada (2012) Direção: Filipe Ferreira Classificação indicativa: não informada – 15’ – Caxias do Sul/ Porto Alegre Brasil, 1971. Os anos de chumbo lançam seu véu negro sobre o Rio Grande do Sul e o resto do país. Em Caxias do Sul, o jornalista Pedro acorda em um porão sombrio, rodeado de desconhecidos. Um deles, o soturno policial civil Nunes, está determinado a arrancar de Pedro informações acerca de um levante armado que se dará em solo caxiense. Preso e acuado no misterioso local, Pedro alega desconhecer a referida “armada”, mas Nunes se valerá de métodos dolorosos para tirar a verdade de seu prisioneiro.

Ficha técnica Empresa Produtora: Arquivo Morto e Canal 3 Produtor Executivo: Leandro Foscarini Roteiro: Édnei Pedroso Elenco: Davi de Souza e Jorge Valmini Direção de Fotografia: Luciano Paim Direção de Arte: Caroline Michelon Trilha Musical: Fausto Prado Montagem: Rogério Mottin Trilha Sonora Original (Compositor): Fausto Prado

filme de ficção mais antigo do Brasil, do qual ainda restam fragmentos.

Ficha técnica Empresa Produtora: Curso de Cinema UFPel Produtor Executivo: Cíntia Langie Roteiro: Cíntia Langie Elenco: Daniel Furtado, Nadir Bandeira e Rodrigo Varela Direção de Fotografia: Cíntia Langie Direção de Arte: Bianca Dornelles Trilha Musical: Eduardo Varela Montagem: Cíntia Langie Finalização: Thiago Rodeghiero Finalização de áudio: Lauro Maia Design: Paula Langie Animação: Bruna Thaís de Paula

Perfil da diretora Cíntia Langie é diretora e montadora, além de professora no curso de Cinema da UFPel.

Catalogárgula (2013) Direção: Lucas Neris e Luan Salce Classificação indicativa: não informada – 5’30’’ – Pelotas Hélio é um homem peculiar que tira fotos de tudo à sua volta, dando uma conotação própria e estranha aos objetos que o cercam.

Codinome Beija-Flor (2012) Direção: Higor Rodrigues Classificação indicativa: livre 20’ – São Leopoldo

Viver é correr riscos. Com os relacionamentos, aprendemos a viver. Há marcas que são levadas para o resto da vida.

Ficha técnica Empresa Produtora: Unisinos Roteiro: Higor Rodrigues e Matheus Heinz Elenco: Junior Alceu Grandi, Beatriz Pacheco, Mirian F. de Moura e Marcos A. Magesque Direção de Fotografia: Ariane Scotta Montagem: Matheus Heinz Produção: Francisco Mazzuca Editor de Som: Eduardo Teixeira e João Thomas

Perfil do diretor Diretor de Os Batedores (2008) e Nove e meia (2012).

As Memórias do Vovô (2013) Direção: Cíntia Langie Classificação indicativa: livre – 19’ – Pelotas Documentário que reúne relatos sobre a vida e obra de Francisco Santos, pioneiro do cinema no Brasil e realizador de Os óculos do vôvô, o

74

Festival de Cinema de GRAMADO

Ficha técnica Empresa Produtora: Cinema e Audiovisual UFPel Produtor Executivo: Lucas Neris, Gabriel Paixão, José Tiago e Luan Salce Roteiro: Gabriel Paixão Elenco: Gabriel Paixão, Caio Mazzilli (voz), Pretinha, Luciana Montebello, Maurício Castro, José Tiago, Aline Neves, Luan Salce, Nahiara Badinni, Pedro Lorenzetti e Lucas Silva Direção de Fotografia: Lucas Neris Direção de Arte: Gabriel Paixão Montagem: José Tiago

Contrato de Amor (2012) Direção: Camilo Rodriguez, Leonor Jiménez e Thais Fernandes Classificação indicativa: livre – 3’30’’ – Porto Alegre Em uma praça de Santiago de Cali, Colômbia, ainda é possível encomendar palavras de amor.

Ficha técnica Empresa Produtora: Thais Fernandes ME Produtor Executivo: O Coletivo


Quatro homens com as vidas marcadas pela presença de uma mulher contam suas histórias para um entrevistador. Qual o efeito da presença de uma mulher inesquecível na vida de cada um?

Ed (2013)

Ficha técnica

Direção: Gabriel Garcia Classificação indicativa: 12 anos – 13’55’’ – Porto Alegre Conheça a extraordinária vida de Ed. Cinquenta anos de uma trajetória inesquecível. Muitos amores, aventuras e histórias marcantes. O que ninguém imagina é porque Ed quer acabar com tudo isso.

Ficha técnica Empresa Produtora: hype.cg Produtor Executivo: Mauricio Santos da Silva Roteiro: Gabriel Garcia e Leo Garcia Elenco: Animação 3D Direção de Fotografia: Bruno Polidoro Direção de Arte: Ralph Damiani Trilha Musical: Gogó Conteúdo Sonoro Montagem: Gabriel Garcia

Entrevista (2012) Direção: Gabriel Horn Classificação indicativa: 12 anos – 10’07’’ – Porto Alegre

Em um futuro no qual a natureza não é mais acessível, Al, pesquisador do surgimento, finalmente tira férias.

Ficha técnica Empresa Produtora: Brava Filmes Produtor Executivo: Alexandre Meurer e Juarez Didio Roteiro: Gabriel Horn Elenco: Fábio Rangel, Rafael Guerra, Cassiano Ranzolin, Alexandre Cardoso e Daniela Aquino Direção de Fotografia: Juliano Lopes Direção de Arte: Luize Cidade Montagem: Gabriel Horn Trilha Sonora Original (Compositor): Jinga Diretor de produção: Beto Picasso Figurino: Coletivo Veludo Azul Maquiagem: Xico Leiria Color Gradig: Paulo Dorneles

Perfil do diretor Gabriel Horn é publicitário. Já atuou como assistente de direção e continuista em curtas e longasmetragens. Atua como diretor de cena em produções publicitárias, curtas, documentários e videoclipes.

Férias (2012) Direção: Iuli Gerbase Classificação indicativa: livre – 8’43’’ – Porto Alegre

Empresa Produtora: Tokyo Filmes e Sofá Verde Filmes Produtor Executivo: Paola Wink Roteiro: Iuli Gerbase Elenco: Frederico Vittola, Rossendo Rodrigues, Lauro Ramalho, Fernando Efron, Renata de Lélis e Luciana Rossi Direção de Fotografia: Arno Schuh Direção de Arte: Pedro Karam Trilha Musical: Augusto Stern e Fernando Efron Montagem: Bruno Carboni Direção de Produção: Marília Garske Assistente de Produção: Henrique Schaefer Assistente de Direção: Lucas Cassales Assistente Câmera: Davi Pretto Assistente de Arte: Ana Musa Técnico de Som: Marcos Lopes

Perfil da diretora Formada em Cinema pela PUCRS, Iuli trabalhou como assistente de direção em curtas-metragens, séries de televisão e longas-metragens. Dirigiu e roteirizou cinco curtas. Atualmente, está trabalhando no roteiro de seu primeiro longa-metragem.

Kassandra (2012) Direção: Ulisses da Motta Costa Classificação indicativa: 14 anos – 24’ – São Leopoldo

Festival de Cinema de GRAMADO

75

FILMES SELECIONADOS

Roteiro: Camilo Rodriguez, David González, Leonor Jiménez e Thais Fernandes Elenco: Diego Torres, Dorian González Martinez, Ivan Cano e Hernan Martinez Direção de Fotografia: Camilo Rodriguez e Thais Fernandes Montagem: Thais Fernandes Supervisão de Som: Kiko Ferraz e Chrístian Vaisz Finalização de Imagens: Daniel Dode


FILMES SELECIONADOS

CURTAS GAÚCHOS Rodado inteiramente em preto-ebranco e praticamente sem falas, Kassandra é a história de uma jovem com distúrbios psiquiátricos que vive só num velho apartamento. Sem conseguir falar, Kassandra é constantemente assediada e ameaçada pelo mundo exterior e pelas estranhas pessoas e visões que a cercam. Com locações em Porto Alegre e São Leopoldo (RS), o filme obteve seus recursos através de editais públicos e de financiamento coletivo.

set), Jo Fontana (chefe de elétrica) Leandro Lefa (foley artist e edição de som), Lígia Tiemi Sumi (finalização de imagem e cor), Marcelo Santos (assistente de câmera), Marina Cardozo (2ª assistente de direção), Paulo Mezzomo (assistentes de produção), Pedro Miranda (som adicional) Ramona Barcellos (produção), Raoni Ceccim (assistente de montagem), Roberto Coutinho (engenharia de som e mixagem de som), Thiago Falkenberg (logger), Ulisses da Motta Costa (argumento e produção) e Victor Fiúza (assistente de direção e fotografia adicional)

Perfil do diretor Ulisses da Motta Costa dirigiu os curtas O Gritador (2006) e Ninho dos Pequenos (2009). Ministra oficinas de cinema para alunos do ensino médio desde 2006, é crítico e comentarista de cinema e fez parte do Júri Popular no 37º Festival de Gramado.

Ficha técnica Empresa Produtora: Ampli Produtora Produtor Executivo: Roberto Coutinho Roteiro: Roger Monteiro Elenco: Renata Stein, Maico Silveira, Leandro Lefa, Luis Franke, Suzana Witt e Ingrid Bonini Direção de Fotografia: Pablo Chasseraux Direção de Arte: Ana Gusson Montagem: Alfredo Barros Trilha Sonora Original (Compositor): Chico Pereira Efeitos Visuais: Carlos Porto Publicidade: Daniel Coutinho Figurino e Maquiagem: Giulia De Cesero Assistentes de Produção: Henrique Santos, Isabela Boessio (figurino e maquiagem), Jackson Ritter (maquiagem especial e produção de

76

Festival de Cinema de GRAMADO

Produtor Executivo: Eduardo Souza Roteiro: Diego Urrutia Elenco: Diego Urrutia (narração) Diretor de Fotografia: Diego Urrutia Diretor de Arte: Diego Urrutia Trilha Musical: Eduardo Souza Trilha Sonora Original (Compositor): Vinicius Marques Montagem: Diego Urrutia

Perfil do diretor Diego Urrutia, graduando em cinema de animação na UFPel, com ingresso em 2010. Como animador, trabalhou na empresa Gestum de Pelotas (2008 a 2010) e na Otto Desenhos Animados (2011). Hoje é educador e produtor cultural em Pelotas - RS.

Logo Ali ao Sul (2013) Direção: Marcio Kinzeski Classificação indicativa: 12 anos – 12’45’’ – Capivari do Sul

L’anime (2012) Direção: Diego Urrutia Classificação indicativa: livre – 4’26’’ – Pelotas Um documentário em animação sobre as histórias trocadas por diversos animadores com o diretor do filme, além de experiências pessoais.

Momentos de inquietude na vida de uma família camponesa desestruturada. Isolados em uma plantação de arroz, com as míninas condições, o inesperado está por acontecer.

Ficha técnica Ficha técnica Empresa Produtora: Eduardo Souza

Empresa Produtora: Zeski Filmes Produtor Executivo: Marilaine


Perfil do diretor Iniciou com curta-metragem em super-8 na cidade de Pelotas. Trabalhou para emissoras de TV. Este é o seu terceiro curta e primeiro em digital.

Notícias Tuas (2013) Direção: Vicente Moreno Classificação indicativa: livre – 6’ – Porto Alegre

Direção de Fotografia: Matheus Massochini Montagem: Vicente Moreno Som Direto: Gabriela Bervian

Perfil do diretor Formado em cinema, é professor de direção na Unespar e de montagem na Unisinos. Dirigiu curtas, programas para TV e o longa-metragem Absoluto, que bateu o recorde mundial de maior exibição de cinema ao ar livre, com 27.276 espectadores.

A Princesa (2013) Direção: Rafael Duarte e Taísa Ennes Marques Classificação indicativa: 14 anos – 19’45” – Porto Alegre Uma mulher não deve ser inteligente demais. Não deve ser ciumenta ou desagradável. Deve ser pura, sem jamais se entregar às tentações do corpo. Mais que tudo, ela deve ser sempre linda, impecável. Como uma princesa.

Marques Elenco: Aline Jones Direção de Fotografia: André Wofchuk Direção de Arte: Sheila Marafon e Carolina Pereira Trilha Musical: Rafael Duarte Montagem: Taísa Ennes Marques Trilha Sonora Original (Compositor): Rafael Duarte Direção de Produção: Marlova Vieira Assistentes de Produção: Sheyla Paladini, Eduardo Marchant, Bruna da Rosa, Paula Vieira, Gisele Moser, Roberto Paladini Produtor de Objetos: Paulo Marques Desenho de som: Rodrigo Messias e Guilherme Philomena Assistente de direção: Naiá Giúdice Assistente de Foto: Ariel Artur Efeitos Especiais: Ricardo Ghiorzi Figurino e Maquiagem: Lívia Sombrio e Shana Torres Modelagem e Animação 3D: Guilherme Pace Finalização e cor: Rafael Duarte Modelo do comercial: Lays Piccini Eletricista: Alexandre Nunes (Alemão)

Perfil dos diretores Rafael Duarte: Formado em Comunicação Social pela UFRGS, escreveu e co-dirigiu o curtametragem Noite Um em 2011. Taísa Ennes Marques: formada em Realização Audiovisual pela Unisinos, co-dirigiu Noite Um em 2011.

Roda Gigante (2012) Direção: Julia Barth Classificação indicativa: 12 anos – 15’52’’ – Porto Alegre

Em uma manhã vazia e preguiçosa, Francine recebe uma carta.

Ficha técnica Empresa Produtora: Ponto Cego Produtor Executivo: Vicente Moreno Roteiro: Vicente Moreno Elenco: Francine Mendes Moreno

Ficha técnica Empresa Produtora: Gira Produtora Cultural Produção Executiva: Marco Prates Roteiro: Rafael Duarte e Taísa Ennes

Paula e Rafael caminham. Camila quer algodão-doce. Marina, Leo e Cachaça esperam. O Palhaço não é engraçado. Em uma roda gigante de situações, todos se encontram no parque.

Festival de Cinema de GRAMADO

77

FILMES SELECIONADOS

Quintanilha Roteiro: Iasmin Costa e Marcio Kinzeski Elenco: Eduardo Souza, Franciele Aguiar, Jorge Nunes, Thainá Pacheco e Thiago Epifânio Direção de Fotografia: Aline Kendrabowski Direção de Arte: Cíntia Famer Trilha Musical: Nora Nunes Montagem: Vitor Liesenfeld Direção de Produção: Gabriel Pinheiro Som Direto: Leonardo Campos Assistente de Produção: Danilo Nunes


FILMES SELECIONADOS

CURTAS GAÚCHOS O Boneco de Neve (2013) Direção: Diego Müller Classificação indicativa: não informada – 13’25” – Santa Cruz do Sul As lembranças de uma jovem e a descoberta do amor em meio a um último verão repleto de revelações e perdas.

Ficha técnica Ficha técnica Empresa Produtora: PUCRS Roteiro: Julia Barth Elenco: Antônio Carlos Falcão, Lufe Bollini, Eduardo Normann, Liegi Massi, Vera Bertoni, Fernanda Woetmann, Carina Dias e Lisandro Belloto Direção de Fotografia: Alessandro Deretti Direção de Arte: Carolina Pereira e Vitória Tadiello Trilha Musical: Space Rave Montagem: Roney Bezerra e Fábio Baltar Trilha Sonora Original (Compositor): Alcalóides Direção de Produção: Marilia Cadore Assistente de Direção: José Augusto Junior e Petci Pedron Assistente de Fotografia: Ariel Artur e Olavo Kuhn

Empresa Produtora: GM/2 FILMES Produção Executiva: Pablo Muller e Beto Picasso Roteiro: Diego Müller Elenco: Naddine Oliveira, Guilherme Kury e Simone Butelli Direção de Fotografia: Fernando Vanelli Direção de Arte: Raiza Antunes Trilha Musical: Chango Spasiuk e Shana Müller Montagem: Jônatas Cacequi Direção de Produção: Geraldo Borowski Figurino: Beta Abrantes e Bruno Padjem Maquiagem: Baby Marques Assistente de direção: Carolina Silvestrin Produção de elenco: Simone Butelli Continuista: Pedro Hahn Técnico de som: Gabriela Bervian e Tiago Zuguinho Mayer

Perfil do diretor Diego Müller é diretor, roteirista e produtor e O Boneco de neve é seu terceiro curta-metragem. Sua estréia na direção foi em 2008 com Cortejo Negro, filme premiado em Festivais do Brasil e exterior. Em 2009 dirigiu A Invasão do Alegrete, que recebeu os Kikitos de Melhor Roteiro e Melhor Ator, para Miguel Ramos, no 37º Festival de Cinema de Gramado. Em 2011 produziu Corneteiro não se mata, curta dirigido por seu irmão Pablo Müller e que venceu o Los Angeles Brazilian Film Festival - LABRFF 2012, sendo escolhido melhor filme pelo júri internacional. Como 1º Assistente de Direção trabalhou em produções de destaque como os recentes O Carteiro, de Reginaldo Faria e O Tempo e o Vento, de Jayme Monjardim. Atualmente Diego Müller é Assistente de Direção da TV Globo de Televisão.




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.