RECONHECIMENTO MEC DOC. 356 DE 31/01/2006 PUBLICADO EM 01/02/2006 NO DESPACHO 196/2006 SESU
LEONARDO GODINHO NUNES
SALVAÇÃO EM ROMANOS 3:21-26
Cachoeira 2006
LEONARDO GODINHO NUNES
SALVAÇÃO EM ROMANOS 3:21-26
Trabalho revisado, editorado e formatado no segundo semestre de 2006. Arquivo nº 06059
Cachoeira 2006
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SUMÁRIO Introdução..................................................................................................................4 1.1 Perícope........................................................................................................4 1.2 Análise das Versões .....................................................................................4 1.3 Análise Textual .............................................................................................5 1.3.1 Análise Gramatical.................................................................................5 1.3.2 Palavras-Chave .....................................................................................6 1.4 Contexto Histórico-Social e Bíblico-Teológico ..............................................6 1.4.1 Contexto Histórico-Social.......................................................................7 1.4.2 Contexto Bíblico-Literário.......................................................................7 1.5 Idéia Exegética .............................................................................................7
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INTRODUÇÃO
O texto de Romanos 3:21-26 foi escolhido para a presente exegese porque é o centro da teologia paulina acerca da Justiça de Deus. É uma das mais abarcantes e completas explicações sobre a Justiça de Deus em uma quantidade pequena de versos. Por isso a exegese desses versos é crucial para uma compreensão ampla da soteriologia bíblica. 1.1 PERÍCOPE
A perícope que consiste dos versos 21 a 26 do livro de Romanos capítulo 3 encerra uma idéia completa em si mesma, pois o verso 21 inicia uma nova seção em resposta a problemática apresentada nos capítulos anteriores sobre “não há um justo, nem um sequer” (v. 10). Por sua vez o verso 26 encerra a explicação sobre o assunto da justiça, falando da apropriação que o crente, através da fé, pode ter dessa justiça. E os versos seguintes abordam temas como jactância, lei, obras, etc., que estão ligados ao anterior, mas não fazem parte do coração do tema explanado nos versos 21 a 26. Por isso a análise dessa perícope é suficiente para compreendermos satisfatoriamente o assunto sobre a Justiça de Deus. 1.2 ANÁLISE DAS VERSÕES
Quanto à comparação das versões, a tradução não traz problema, existindo apenas uma questão quanto à tradução do verso 25, entre as versões portuguesas, em relação à palavra grega pa,resij. Por exemplo: em português, de acordo com a versão Almeida Revista e Atualizada (ed. 1993), o texto encontra-se assim: “a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes (pa,resij) os pecados anteriormente cometidos;” (ARA) A versão Almeida Corrigida Fiel (ed. 1753) traz: “Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão (pa,resij) dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus;” (ACF). Na versão Almeida Revista e Corrigida (ed. 1969) o texto versa: “ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão (pa,resij) dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus;” (ARC) Na tradução inglesa Kings James Version (ed. 1611) aparece: “Whom God hath set forth to be a propitiation through faith in his blood, to declare his righteousness for the remission (pa,resij) of sins that are past, through the forbearance of God;” (KJV). O texto em grego versa assim:
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o]n proe,qeto o` qeo.j i`lasth,rion dia. Îth/jÐ pi,stewj evn tw/| auvtou/ ai[mati eivj e;ndeixin th/j dikaiosu,nhj auvtou/ dia. th.n pa,resin tw/n progegono,twn a`marthma,twn Portanto, ao se fazer a análise textual, a palavra grega pa,resij receberá atenção, para assim poder se obter uma melhor tradução, se remissão ou deixar impune. 1.3 ANÁLISE TEXTUAL
Depois das considerações feitas anteriormente, faz-se necessário um estudo da gramática e palavras-chave, do texto em análise, para termos uma melhor compreensão da mensagem divina acerca da Justiça de Deus. 1.3.1 Análise Gramatical
Romanos 3:21-26, como já foi comentado, não contém problemas quanto a sua tradução, a não ser por uma pequena diferença do verso 25 quanto a uma melhor tradução da palavra pa,resij. Na versão ARA encontra-se “deixar impune”, nas versões ARC e ACF bem como na tradução inglesa King James encontra-se a palavra “remissão”. A versão grega traz apenas uma única palavra – pa,resij (como visto anteriormente) e não uma locução verbal como aparece na versão Almeida Revista e Atualizada. É interessante notar também que a palavra pa,resij significa: passar por cima, deixar ir, não levar em conta, deixar passar, deixar ir sem castigo, não tomar conhecimento, omitir, negligenciar, contemplar de cima, deixar ir sem punição dos pecados. Portanto com essa gama de significados e nuances não é recomendável traduzir pa,resij por um dos significados apenas (deixar impune), mas deve-se usar a palavra que possa descrever melhor toda a idéia contida nesse vocábulo. Para elucidar o significado desta palavra, é importante relembrarmos da história da décima praga, em que o anjo passou por cima dos primogênitos hebreus, porque o sangue do cordeiro que havia sido sacrificado em lugar do primogênito, fora colocado nos umbrais da porta da casa, mostrando que o sacrifício de morte já havia acontecido, a pena já fora paga, e por isso o primogênito daquele lar poderia viver. (Êxodo 11-13) Por conseguinte, o que melhor traduz pa,resij é a palavra “remissão”, que em português significa: misericórdia, clemência, perdão, indulgência, tolerância, falta ou diminuição do rigor, alívio, livrar da pena, tirar do cativeiro, libertar de um cativeiro pagando o ônus, resgatar, satisfação, salvação de pecados por meio de expiação. Faz-se necessário ver também se a tradução da locução “fé em Jesus” que aparece nas traduções portuguesas, está de acordo com o texto grego, e assim ter uma melhor compreensão do relacionamento entre a fé e Jesus. A KJV traz: faith of Jesus (fé de Jesus), já a ARA, a ARC e a ACF trazem fé em Jesus. O texto grego diz: pi,stewj VIhsou/ Cristou/ onde as três palavras estão no genitivo, ablativo. Isso significa que a melhor tradução seria fé de Jesus (no genitivo: fé do tipo da de Jesus; no ablativo: fé que vem de Jesus)
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1.3.2 Palavras-Chave
Analisemos agora algumas palavras importantes, para que se tenha uma compreensão mais abarcante do texto. A palavra pa,resij já foi analisada anteriormente, por isso agora veremos as outras três palavras, dikaio,w (justificar), avpolu,trwsij (redenção), i`lasth,rion (propiciação), que juntamente com pa,resij formam a idéia do que significa Justiça de Deus. dikaio,w – colocar em relacionamento correto com Deus, declarar e considerar como justo. O verbo dikaio,w aparece na forma dikaiou,menoi (nom. pl. masc. partic. pres. pass.) significando ação contínua e o objeto sofrendo a ação quanto ao ato de justificar (porque o verbo está no presente, passivo) avpolu,trwsij – originalmente indicava o preço pago para comprar de volta um escravo ou cativo, tornando-o livre pelo pagamento de um resgate. Ou seja livramento mediante pagamento de resgate. O substantivo avpolu,trwsij aparece na forma avpolutrw,sewj (subst. gen. fem. sing.) significando que a redenção tem um senhor (por estar no genitivo) que é Cristo Jesus, e ninguém mais. i`lasth,rion – apagar, cancelar, fazer expiação (i`la,skomai), ser misericordioso, assento de misericórdia (Hebreus 9:5) Cada uma dessas palavras mostra, de um foco distinto, a justiça de Deus, apresentada em Romanos 3:21-22 e repetida no verso 26. Portanto a justiça de Deus se apresenta na justificação, redenção, propiciação e remissão, onde a união dessas palavras e seus significados dão a idéia do que é justiça de Deus. É importante analisar também a palavra pi,stij, porque é do seu correto entendimento que podemos ver a verdadeira forma de se receber a justiça de Deus na vida do crente. pi,stij – não é mera asserção intelectual, não é filosofia apenas, mas confiança nos méritos de Cristo e entrega total a Ele, que resulta em obediência à Sua vontade. Fé é entregar-se a alguém. Depois dessas considerações é imperativo observar agora o contexto histórico-social e bíblico-teológico.1 1.4 CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL E BÍBLICO-TEOLÓGICO
Para uma compreensão adequada do texto em análise, faz-se necessário um estudo do seu contexto, tendo em vista que nenhuma revelação divina foi dada no vazio, pelo contrário, as mensagens bíblicas foram direcionadas a um público primário específico, em um contexto primário também específico.2 1
As subdivisões Análise Gramatical e Palavras-Chave, tiveram como fontes o CD Bible Works, The Analytical Greek Lexicon e Apostila de Exegese aos Romanos 2 Para uma melhor compreensão ver Jack Blanco, “Revelation/Inspiration, Church, and Culture,” JATS (Volume 5, Number 1, Spring 1994), 106-130.
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1.4.1 Contexto Histórico-Social
Essa é indiscutivelmente uma epístola paulina devido a várias marcas de autoria presentes no texto. Esta carta foi endereçada, como diz Ozéas Caldas Moura, a igreja de Roma, que era composta de judeus e gentios convertidos ao cristianismo, que viviam em litígio por várias causas. No capítulo 1-3 dá a entender que um se achava melhor que o outro. Nos capítulos 14-15 notamos que eles viviam em contenda por opiniões diferentes quanto à comida e dias de festas do ritual judeu e gentio. A epístola foi escrita desde a cidade de Corinto, entre os anos 57-58 DC, durante o reinado do imperador Nero. O povo do império romano vivia em descrédito quanto à lei romana (antinomismo), viviam sem esperança, pois a filosofia de vida era desesperadora, sem perspectiva de futuro, sem crença na ressurreição, a morte como algo terrível e tinham como slogan: “comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1 Coríntios 15:32).3 1.4.2 Contexto Bíblico-Literário
Os capítulos 1-3 tratam, logo após a introdução, saudações e ação de graça, acerca da pecaminosidade do homem, tanto dos gentios, como do moralista e do judeu. A suma dessa parte é que todos pecaram (3:23), não há um justo sequer (3:10), não ninguém que faça o bem (3:12), por isso ninguém pode alcançar uma vida justa através de suas próprias obras, “nenhuma carne será justificada pelas obras que vêm da lei” (3:20). É nesse contexto que Romanos 3:21-26 está inserido. A solução divina para o problema da humanidade, a Justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo (3:22). Justiça essa que tem quatro principais aspectos: justificação, redenção, propiciação e remissão. E Paulo, para resolver completamente o problema do pecado, não apenas mostra o que é a Justiça de Deus, mas indica como o pecador pode recebê-la em sua vida: através da fé em Jesus (3:26) Paulo, no capítulo 4, mostra como a Lei e os Profetas atestam que a justificação não é realizada pelas obras do homem, mas recebida gratuitamente pela fé em Deus. O capítulo 5 e 6 falam do resultado da Justiça de Deus na vida do pecador. Primeiro a reconciliação (cap. 5), em que não somos mais considerados pecadores, e sim filhos adotivos; depois a santificação (cap. 6) onde o filho é chamado a viver em novidade de vida, não mais servindo ao pecado, mas demonstrando o fruto de uma vida restaurada e transformada. 1.5 IDÉIA EXEGÉTICA
Todos pecaram e por isso não podem mais ter justiça própria, que vem da lei. Deus, então, outorgou a Sua Justiça, que, recebida pela fé em Cristo Jesus, resolve o 3
Quanto ao contexto histórico-social, as fontes utilizadas foram: Hendriksen, W. Romanos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001; Bruce, F. F. Romanos: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova/ Mundo Cristão, 1981.
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problema do pecado.
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