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The Screwtape Letters

INDISPENSÁVEL

UMA CORRESPONDÊNCIA PRIVADA DE PROPORÇÕES INFERNAIS

THE SCREWTAPE LETTERS

C. S. Lewis

por Daniel Gomes

Poucas obras são testemunhos da essência e da habilidade criativa dos seus autores como The Screwtape Letters, talvez o mais engenhoso e subestimado livro de ficção de C. S. Lewis. Com uma perspicácia aguçada e sátira inteligente, Lewis usa a correspondência imaginária entre dois demónios para expôr virtudes e defeitos na fé cristã, assim como para interpretar várias questões teológicas a partir do ponto de vista do Adversário.

Quando pensamos que o criador de Nárnia e autor de Cristianismo Puro e Simples e A Viagem já não nos podia surpreender, eis que chega uma correspondência postal para nos espantar e maravilhar: The Screwtape Letters, também conhecida como Vorazmente Teu, Cartas do Inferno e Cartas de um Diabo a Seu Aprendiz. Um verdadeiro exemplo da visão e versatilidade de Lewis, as Cartas são a correspondência privada entre um demónio mais velho, Screwtape (“Escritorpe” ou “Fitafuso”), e o seu sobrinho Wormwood (“Absintox” ou “Vermebile”), uma vez que o último quer provar o seu valor corrompendo um jovem britânico durante a Segunda Guerra Mundial.

Nestas cartas absurdamente hilarantes, Lewis descreve o mundo moderno e a fé cristã pelos olhos de Screwtape, utilizando habilmente o ponto de vista do demónio para exaltar e criticar. A partir da perspetiva do Adversário, o autor fala da espiral descendente moral do mundo secular e da hipocrisia grotesca que se encontra na Igreja. Logo no prefácio, Lewis explica que “há pensamentos ansiosos tanto no Inferno como na Terra”, e que até as avaliações do demónio nem sempre estão corretas; no entanto, e para nosso próprio desgosto, essas trágicas avaliações estão quase sempre certas.

A linguagem utilizada por Lewis é também exemplo da sua atenção ao detalhe. As coisas mais simples, neste caso, são as que criam maior impacto: expressões utilizadas pelos personagens demónios como “o Inimigo” e “Nosso Pai lá de Baixo” em referência a Deus e ao Diabo, respetivamente, melhoram o encanto imersivo destas cartas. As personalidades traiçoeiras dos demónios e as suas opiniões escandalosas sobre a humanidade revelam-se de forma natural, lembrando-nos dos nossos defeitos.

Apesar da sua obscuridade, The Screwtape Letters motivou a criação de várias obras similares e merece ser devidamente reconhecido pelo seu brilhantismo. Na era pós-moderna em que vivemos, presos no materialismo e egocentrismo, uma segunda opinião sobre o nosso mundo e sobre nós mesmos pode nos ser beneficial - mesmo que venha na forma da correspondência privada de um demónio arrogante.

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