Ayres: "Atual modelo de gestão se esgotou"

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GERAL

QUARTA- FEIRA 23 de outubro de 2013

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Gazeta do Sul

ELEIÇÕES NA UNISC

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À frente da chapa Unisc Acima de Tudo, atual chefe do Departamento de Letras abre série com os reitoráveis

Ayres: “Atual modelo de gestão se esgotou” , pedro.garcia@gazetadosul.com.br

Gazeta do Sul – Na sua visão, qual o principal problema da Unisc hoje e, portanto, o principal desafio que a nova gestão terá que enfrentar? Carlos Ayres – O grande desafio de nossa universidade é tornar-se de fato uma universidade da comunidade. Temos que buscar juntos respostas para as demandas da região dos Vales, mas também para as localidades em que estamos apenas com oferta de cursos e não inseridos na sociedade como poderíamos estar. Também precisamos buscar novas alternativas para a universidade. Essa gestão que está aí deixou de fazer coisas no seu tempo. Estamos hoje pensando um parque tecnológico, o que é fantástico, mas estamos com dez anos de atraso. Outras instituições já produziram respostas à altura dos novos tempos e a Unisc não conseguiu fazer isso, especialmente pela visão de gestão que está mantida até o momento. Entendemos que esse modelo de gestão se esgotou. Por isso um dos grandes desafios também é buscar novas lideranças, comprometidas com os projetos que a Unisc precisa gestar e produzir como respostas à sua coletividade. Gazeta – O senhor fala em fortalecer a democracia na instituição. Como isso se faz, na prática? Ayres – Precisamos recuperar a importância dos conselhos. Nós temos vários conselhos que, aos poucos, foram se esvaziando em discussões importantes. Não que não tenhamos feito, mas muitas coisas já vêm pré-definidas em gabinete, em pequenos grupos da gestão superior. E não pode ser assim em uma universidade que é de todos nós. É preciso que a coletividade participe de todas as etapas dos projetos. Outra forma de fazer democracia é por meio da avaliação da gestão. Ao longo desses 20 anos, não tivemos avaliação da gestão superior, por exemplo. Coordenadores de pró-reitorias, pró-reitores, reitor e vice-reitor jamais foram avaliados, assim como chefes de departamento e coordenadores de setores. Queremos criar um princípio democrático em todas as instâncias da universidade. E precisamos viver isso com tranquilidade. Gazeta – Como vocês avaliam a gestão do professor Vilmar Thomé? Qual foi o maior acerto e o maior erro? Ayres – Os acertos foram frutos de trabalho coletivo. Quanto aos erros, penso que os principais ocorreram em 2003 e 2004, quando pensávamos projetos maiores em termos de absorção de uma nova mantida no cenário da Apesc (a compra do Hospital Santa Cruz). Sabíamos quais eram as implicações, sabíamos que havia a necessidade de investimentos e que a universidade vivia um momento em que não havia crescimento, então não estávamos com aquela fortaleza toda para enfrentar grandes projetos e mesmo assim grandes projetos foram enfrentados. Então, houve a transferência da solução de um problema de gestão para os sujeitos que fazem a universidade no dia a dia, os professores e técnicos, com cortes de salários e custos. Outro problema foi o silenciamento das pessoas: se as pessoas têm medo de falar porque têm medo de perder o emprego, é a maior sequela que se pode deixar para uma instituição comunitária. Não houve uma escuta qualificada e respeitosa, apesar do efeito de paz aparente. Tanto é que a própria gestão rachou. Se isso não fosse verdadeiro, não haveria a ci-

de fazer pesquisa e extensão e queremos praticar isso de verdade.

Rodrigo Assmann

Pedro Garcia

Gazeta – Duas demandas antigas dos alunos são o restaurante universitário e a moradia universitária. São projetos viáveis ou não? Ayres – Fomos bem sinceros quando estivemos no DCE. Qualquer coisa que pensarmos terá impacto na mensalidade. Mas não podemos concordar que aquele aluno que já paga subsidie o outro. Então tem que ser um projeto responsável. Temos que pensar conjuntamente no que estamos chamando de refeição acadêmica, mais barata, e subsidiá-la talvez com isenção, com aluguéis mais baratos ou buscando parceiros. Da mesma forma, temos que encontrar alternativas para a moradia estudantil, nos articulando com o governo e sem transferir a conta para o aluno que paga a mensalidade. Não podemos cobrar mensalidades exorbitantes para pagar projetos que vão atender apenas a alguns segmentos.

■ ■ Ayres

(dir.) e Leonardo Fetter defendem que Unisc tenha maior inserção comunitária

são do grupo que está aí há quase 20 anos. Isso mostra a fragilidade de um modelo de gestão que não soube produzir lideranças.

piores do Estado. Gazeta – A cada vestibular, acompanhamos cursos com dificuldades de fechar turmas, especialmente dentre as licenciaturas. Já se ouviu sugestões de que alguns cursos fossem fechados. O que vocês pensam? Leonardo Fetter – Não se pode falar em universidade pensando como faculdade e nem ter um raciocínio apenas econômico. É preciso pensar nessa universalidade de cursos. Alguns vão ter mais demanda, outros menos. Os que tiverem menos demanda vão ser suportados pelos que têm mais demanda. Isso é universidade, é integração. Não podemos abrir mão desses cursos. Vamos, sim, investir neles, senão a ideia de universidade desaparece.

Gazeta – Existe, ao mesmo tempo, demanda por ampliação do número de bolsas, manutenção do valor da mensalidade dentro da inflação e investimentos de grande porte. Como equilibrar isso, financeiramente? Ayres – Para equacionar, é preciso crescimento e gestão qualificada. O problema maior tem sido falta de planejamento. O nosso Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) traz a perspectiva de vários cursos que ainda precisam ser estudados profundamente na possibilidade de implantarmos ou não implantarmos. Precisamos de um estudo mais sério, mais competente na Candidato de oposição, questão do planejamento. Gazeta – Fala-se em cresSe queremos diversificar Carlos Ayres diz que cimento da universidade, receitas, para não deixar é preciso recuperar a em investimentos de grantodo o peso da sustentade porte, mas temos uma ção da instituição apenas importância dos conselhos realidade posta ou ao mena receita da graduação, da universidade nos uma forte tendência temos que nos somar na que é o esgotamento da busca de recursos exterinfraestrutura do campus. nos, criar novas alternatiComo contornar isso? vas para a graduação e alavancar recursos Ayres – O que nós precisamos é de um para pós-graduação e pesquisa. planejamento sério e responsável. Até agora nós temos apenas atendido a proGazeta – O senhor disse que novos cursos jetos emergenciais e bastante pontuais. precisam ser bem avaliados. O que imagina Não pode ser assim. Temos que pensar os em termos de expansão de cursos para a sua próximos dez, 20 anos. Estão sendo consgestão? O foco deve ser na graduação, no truídos vários pequenos prédios em vários lato sensu, nos mestrados e doutorados, na locais do campus, o que faz com que a área sede ou fora? de superfície de terreno vá sendo tomada. Ayres – Muito mais do que apenas ofere- Chegou o momento de nos preocuparmos cer, temos que oferecer com diferenciais. com o futuro e temos que ser criativos. Por Temos, na verdade, que ter a preocupação exemplo, hoje nós temos grandes áreas de de não criar áreas de sombreamento en- estacionamento que podem ser mantidas tre os cursos que já existem. Temos que como estacionamento no térreo e, dali para ser bastante perspicazes em avaliar quais cima, serem transformadas em prédios versão os nichos em que ainda não atuamos ticais. e podemos atuar, atendendo às expectativas das nossas comunidades. Precisamos Gazeta – Além da sede, a Unisc possui outros avaliar o que os estudantes de ensino mé- quatro campi. Na sua opinião, ainda é modio necessitam em termos de formação e mento de se pensar em expansão para outros o que estão buscando em outras institui- municípios? ções. Para isso, também temos que avaliar Ayres – Entendemos que é momento de as possibilidades instaladas e pensar em consolidar. Nós apenas atendemos a dicorpo docente. Hoje, temos dificuldade em mensão ensino nos outros campi. Temos atrair professores com titulações de nível que fazer com que a universidade esteja de mestrado e doutorado. É preciso revisar presente enquanto universidade nesses loo nosso plano de carreira, que é um dos cais. Temos a obrigação regimental e legal

Gazeta – Se o senhor for eleito, provavelmente vai assumir a presidência da Apesc, que tem dentre as suas responsabilidades o Hospital Santa Cruz. No final do ano, serão retomadas as negociações com a Prefeitura em torno do PA. Como o senhor acompanha isso? Ayres – Temos que trabalhar de forma bastante integrada com a administração pública. Nós oferecemos um serviço de qualidade, que precisa ser avaliado, e o retorno em termos de aporte financeiro do município tem que ser compatível com o gasto que nós temos. Nossa proposta é sentarmos juntos e abrirmos as contas. É preciso que essa negociação seja transparente. O agente público precisa entender o processo como acontece para que, de fato, haja o equilíbrio entre o que se apresenta em termos de manutenção dos serviços e o aporte de recursos que o município deve garantir. O que não podemos fazer, em hipótese alguma, é transferir para o nosso aluno a conta pelo serviço de saúde. Gazeta – Até agora, as negociações não têm sido muito tranquilas. A relação com o governo municipal o preocupa? Ayres – No nosso grupo, não há projetos políticos pessoais. A universidade é politizada, mas é apartidária e os gestores não podem ter preferências ideológicas. Nós temos condições de trabalhar com qualquer força política, porque a nossa bandeira é a Unisc. Gazeta – E internamente? Essa eleição acabou revelando um cenário inédito de divisão política interna. Se o senhor for eleito, como imagina que será administrar isso? Ayres – A universidade vai sair melhor do que entrou dessa discussão democrática. Estamos aprendendo muito. Estamos exercitando alguns dos nossos valores, que são o pluralismo e a democracia. Depois, findo o pleito, vamos ter pessoas trabalhando para todos. Não temos bancada partidária internamente, então não vamos ter oposição que vai dificultar processos e projetos. O que tenho certeza é que, daqui para a frente, jamais vamos deixar de discutir. Dessa conquista não vamos abrir mão.

A SÉRIE Quarta-feira: Carlos Renê Ayres Quinta-feira: Carmen Lúcia de Lima Helfer Sexta-feira: João Pedro Schmidt ■


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