Eu casarão: crônicas da (des)construção de um ginásio
Alunos de Jornalismo da UniSociesc Organização: Marta Brod e Gisele Baumgarten Rosumek
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Alunos de Jornalismo da UniSociesc Organização: Marta Brod e Gisele Baumgarten Rosumek
Eu casarão: crônicas da (des)construção de um ginásio
Autores: Eduarda Loregian Lucas Lemes Gavião Bruna Gabriela Ziekuhr Larissa Segatte Alan Gonçalves Olga Helena de Paula Eduarda Prawucki Tamara Sedrez Imagem de capa: Viviane Pasta Diagramação: Amanda Louise Kaestner Ana Carolina Metzger Bruno César Inácio Júlia Gabriela Dias Pereira Kamile Karolina Bernades Lucas Roedel Manoella V. R. T. Naumann Marlos Alfonso Glatz Tailã Weidmann Leite Viviane Pasta
_____________________________________________________________________ B864e
Brod, Marta; Rosumek, Gisele Baumgarten (orgs.)
Eu casarão: Crônicas da (des)construção de um ginásio [e-book] /
organizado por Marta Brod e Gisele Baumgarten Rosumek. – Blumenau: s.n., 2021. 60 p. : il. 1. História de Blumenau. 2. Memórias. 3. Crônicas CDD B869.301 _____________________________________________________________________
Ficha Catalográfica elaborada por Rosália Maria Senger CRB14/628
Aos alquimistas da mente, devotos do conhecimento: vivem atemporais os professores da Escola Pedro II. Com troféus de muita tradição, cultura e conhecimentos, os alunos venceram o jogo da vida ao cruzarem destinos com cada um de vocês. Com suas particularidades inesquecíveis, bagagens que alimentaram o subconsciente e presença imponente, que perpetuam há mais de um século, cada professor que nesta terra pisou deixa sua marca na alma, em pegadas que a metafísica não explica por completo... Mas que a história conta E o coração sente. Com admiração, celebramos suas conquistas neste e-book.
Foto: Arquivo Histórico de Blumenau
Ilustração: Amanda Louise Kaestner .
Prefácio Invariavelmente, todos nós recebemos heranças dos nossos antepassados. Nem sempre são bens. Herdamos as características físicas, o temperamento e, muitas vezes, sem perceber, desenvolvemos os mesmos hábitos daqueles que nos antecederam e passaram adiante costumes e valores. A cultura de uma sociedade é transmitida por repetições, por gestos e por símbolos. A história nos permite conhecer os caminhos trilhados no passado e então reconhecer os reflexos de outrora no presente. Há uma razão para que Blumenau se destaque na prática de esporte amador. Ainda antes da emancipação política da cidade, enquanto se venciam os enormes desafios para a sobrevivência na colônia, no ano de 1873 imigrantes europeus se reuniram para fundar uma associação destinada à prática coletiva de esporte: a “Turnverein Blumenau”. Além de imprimir em nosso DNA o amor pelo esporte, a Turnverein Blumenau nos deixou um imponente personagem cultural edificado, o primeiro ginásio coberto do Estado, inaugurado em 1924. Ao longo dos anos foi palco das maiores celebrações esportivas de Santa Catarina. Injustamente expropriado e fechado pelo regime de Getúlio Vargas, o imponente ginásio está lá, presente em nossa paisagem urbana, insistindo em sobreviver e nos lembrar da história, atraindo a nossa curiosidade sem nos deixar esquecer de quem nós somos. Mais que um bem herdado, é um ícone negligenciado da nossa própria história que precisa voltar a brilhar. Sylvio Zimmermann Neto Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Empreendedorismo Novembro/2021
Foto: Viviane Pasta
Apresentação Se você nunca viajou no tempo anteriormente, prepare-se para adquirir essa experiência a partir da leitura das crônicas a seguir. O intuito deste e-book, realizado colaborativamente por alunos e alunas de Jornalismo da UniSociesc de Blumenau, é “abrir as portas” do casarão situado em frente a instituição de ensino superior, para todos aqueles que desejam mergulhar em seu passado. “Casarão” nada mais é que o apelido dado pelos estudantes ao primeiro ginásio coberto de Santa Catarina, que por trás das paredes descascadas, transborda cultura regional, arte, esporte, educação e história. Esta obra fala sobre uma construção que presenciou desde fascinantes práticas esportivas até as angústias provocadas pela Segunda Guerra Mundial. O casarão é parte da história de Blumenau e foi sede de incríveis eventos, aulas, jogos e apresentações antes do tempo deixar suas marcas e fazer com que esse patrimônio histórico fosse esquecido pela cidade. Um lugar responsável por ser palco para as paixões das gerações antigas, hoje passa despercebido aos olhos dos jovens que transitam pela rua Pandiá Calógeras, distraídos demais para reparar em uma casa antiga. Porém, este e-book é uma tentativa de mudar isso. Sendo assim, caro (a) leitor (a), convidamos a viajar no tempo e a imergir no que o casarão tem para contar. Deixe-se atrair pela riqueza histórica que habita as memórias dele, permita que ele se apresente. Seja, durante essa leitura, como os atletas, artistas, professores e alunos que ali viveram coisas incríveis; seja a plateia, as luzes, a torcida, e se apaixone por cada fragmento que nasceu e floresceu naquele local. As lembranças desse antigo ginásio merecem ser preservadas, assim como a própria construção.
Esperamos que através do poder nostálgico dessas crônicas, você nunca mais passe por um casarão antigo sem observá-lo. Desejamos que daqui em diante, inspirado pelo nosso amigo casarão, você sempre devaneie pensando em quantos momentos, sonhos e histórias aconteceram por trás da carcaça de uma velha construção. Histórias que, se depender de nós, estão bem longe de serem esquecidas ou terem um fim.
Sumário 1 - Um casarão de 1924 repleto de histórias ......... .... 13 2 - Treinar hoje, amanhã e depois ............................. 17 3 - Um sonho em ser ginasta ...................................... 21 4 - A escalada .............................................................. 25 5 - O 7x1 de Blumenau em 1911 e a carruagem do inimigo........................................... 29 6 - A hora mais esperada: a aula de educação física ............................................ 35 7 - Tempos de guerra .................................................. 39 8 - Mais de 90 anos de preservação .......................... 43 Conclusão .................................................................... 47
Foto: Viviane Pasta
Parte 1
Um casarão de 1924 repleto de histórias Redação por: Eduarda Loregian Diagramação por: Kamile Bernardes
“Eu tenho a natureza, a arte e a poesia, e se isso não for o suficiente, o que é?” - Vincent Van Gogh
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Um casarão de 1924 repleto de histórias
Três de agosto de 1924 foi quando abri meus olhos pela primeira vez. Pessoas entravam e saiam do meu interior com roupas extravagantes.
Conheça aqui um pouco sobre o início da história de Blumenau, quais eram povos que habitavam o local antes da chegada dos colonizadores e como se deu a fundação do município.
Pude observá-las passeando pelas minhas entranhas, observando minhas salas e andando no cômodo principal, que descobri ser considerado um ginásio, e comemorando o meu nascimento. Ouvi pessoas referindo-se a mim como um grande marco para a cidade, a terceira ação pioneira dos chamados blumenauenses que ali viviam desde 1850. Com passos curtos, os seres animados se juntavam de dois em dois e acompanhavam juntos o ritmo do som que tocava do lado de dentro.
Veja a imagem da ação nº 202, emitida pela Associação de Ginástica Blumenau, em 1º de julho de 1923.
Aos poucos fui entendendo e descobrindo quem eu era. A sede da Associação Ginástica da cidade e o primeiro ginásio coberto de Santa Catarina. Soube que meus pais eram apaixonados por esportes. Eles tinham cerca de 70 anos quando eu nasci. Juntos escalavam morros, jogavam futebol, praticavam ginástica, natação e atletismo.
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Eduarda Loregian
Com tudo isso, eles passaram a sonhar e a planejar a minha chegada. Em 1917 adquiriram o terreno onde eu ficaria, uma área com 11.383 metros quadrados e que anos mais tarde pude chamar de lar. Eles sonharam e planejaram tanto a minha existência que em 1921 deram uma grande festa popular para arrecadação de fundos. A festa rendeu cerca de mil e quinhentos réis. Em 1922 meu projeto foi posto no papel e em outubro do mesmo ano fui fecundada com o lançamento da pedra fundamental. Foram 22 meses de gestação, oops... construção.
João Pandiá Calógeras é reconhecido também por ter sido o primeiro e único civil a comandar o extinto Ministério da Guerra do Brasil.
Nasci na rua que ainda seria chamada Pandiá Calógeras, em homenagem a um engenheiro, geólogo e político brasileiro. Nunca o conheci, mas soube que o pobre homem morreu dez anos depois do meu nascimento, em um sanatório de Petrópolis (SP). Dizem que o tal Calógeras teve grande influência política e por isso, como prêmio, ganhou a eternidade no nome de mais ou menos 36 ruas pelo país, entre elas a rua onde nasci. Graças ao meu nascimento meus criadores tiveram um lugar próprio para praticar suas paixões e eu, fiquei muito feliz em poder ajudar.
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Assista este vídeo e descubra como está o interior do casarão depois de quase um século da data em que foi construído. (vídeo de 2019)
Foto: Viviane Pasta
Parte 2
Treinar hoje, amanhã e depois Uma cultura física na cidade Redação por: Lucas Lemes Gavião Diagramação por: Manoella Naumann
“Esporte é isso: é superação, dedicação e acima de tudo confiança.” - Diego Hypólito
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Treinar hoje, amanhã e depois - Uma cultura física na cidade
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Turnverein Blumenau: também conhecida como Associação de Ginástica Blumenau foi fundada em 5 de outubro de 1873 e inaugurado seu salão em 3 de agosto de 1924
Foto: Arquivo Histórico de Blumenau
cidade crescria em uma velocidade difícil até mesmo de acompanhar. Blumenau era mato. E do mato, aos poucos, emergiam belas obras da arquitetura germânica. Pelo menos, era o que meu pai dizia em todo lugar por onde a gente passava. Eu não conheci a cidade que veio do mato, mas todos os dias acompanho a ascensão deste lugar. Eram umas cinco horas da manhã e eu tinha acabado de me levantar. Desço as escadas e cumprimento meus pais. Seu Willy já estava pronto para a caminhada até a sede da Turverein, e já se aquecera por quinze minWutos. Desde pequeno foi atleta. É membro de lá há pelo menos 20 anos e um grande competidor que sempre acreditou muito no papel da associação. Eu conheço o Seu Willy como pai. Um pai que sempre fez muito bem o seu papel e sempre teve amor pela sua família e, além disso, integrava a família à sua outra paixão: a Associação Ginástica. A manhã de hoje é um grande exemplo disso. Sempre tive bastante força e um bom condicionamento físico graças a meu pai. Treino desde os dez anos de idade por incentivo, ou até uma quase exigência, dele. Sinto que muita coisa muda com o passar dos anos. Outras nem tanto. Blumenau ainda é uma criança. Se eu sou
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Lucas Lemes Gavião
jovem aos 21, imagine uma cidade aos 75. Porém, velhos hábitos ainda têm força. Ainda bem. É por causa de um destes hábitos que hoje sou o que sou. O lema era “treinar hoje, amanhã e depois”. A ideia ia muito além da competição. Precisamos nos manter fortes e nos sentir bem e dispostos, até porque nunca se sabe o dia de amanhã. Quando meu pai era apenas um garoto, muitos jovens padeciam com doenças que não conhecíamos direito. Outros simplesmente não se cuidavam um mínimo. Era fatal. Isso mudou por conta dos exercícios e da época dos meus avós, que passaram isso ao meu pai e, consequentemente, para mim. Seu Willy conta que Blumenau seguiu a tendência europeia. Meu pai não chegou a morar lá. Ele é brasileiro. Teuto-brasileiro, assim como eu. Mas meus avós lhe contaram tudo sobre as tendências dos novos tempos. Todos eram incentivados a treinar e a praticar exercícios para se manterem saudáveis, afinal, eram tempos de mudança e de grandes avanços. Indústrias, fábricas e novas empresas. É… o avanço chegou. E com ele, novas sociedades. Meu pai conta que, em parte, a Turnverein existe quase que como um agente que promove a saúde pública, motivando as pessoas a se tornarem membros e a praticarem exercícios. Tudo começou com o Schützenrein Blumenau, o clube de caça e tiro. Depois, as coisas foram tomando outras proporções e outros clubes e associações foram surgindo. A população cresceu, precisa trabalhar e não pode ficar doente. Honestamente, nunca liguei muito para isso. Eu gosto da ginástica e me sinto bem com minha práticas. Porém, hoje pela manhã, vendo meu pai se preparado para sair de casa com aquele brilho no olhar, toda essa história veio a minha mente novamente. Quem sabe, se não fosse por tudo isso, eu talvez nem seria atleta. Meu pai e eu chegamos antes de começarem os treinos. Este final de semana tem competição. Tenho mais três dias para me preparar. Acho que vou adotar o velho lema do meu pai: “treinar hoje, amanhã e
depois”.
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Schützenverein Blumenau - primeiro clube de caça e tiro de Blumenau que surgiu na cidade em 1859 através dos colonos alemães Os clubes de caça e tiro (originários dos países germânicos), preservam costumes e tradições trazidos na bagagem pelos imigrantes, e possuem um relevante papel social, cultural, político e recreativo.
* Nota: os nomes e personagens tratados nesta crônica são fictícios.
Foto: Arquivo Histórico de Blumenau
Parte 3
Um sonho em ser ginasta Redação por: Bruna Gabriela Ziekuhr e Larissa Segatte Diagramação por: Marlos Alfonso Glatz
"A fé sincera é ginástica do espírito. Quem não a exercitar de algum modo, na Terra, preferindo deliberadamente a negação injustificável, encontra-se-à mais tarde sem movimento." - Chico Xavier
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Um sonho em ser ginasta
E Primeiro ginásio coberto de Blumenau. Em 1938, por conta da campanha de nacionalização do governo Getúlio Vargas, o Turnverein passou a se chamar Associação Ginástica de Blumenau.
* Nota: os nomes e personagens tratados nesta crônica são fictícios.
u tinha apenas 17 anos quando comecei a me interessar pela ginástica. Minha família é alemã, e como tal, ao chegar em Blumenau, viu-se na obrigação de preservar os seus costumes, hábitos e tradição. Foi assim que nasceu, em 1873, a Associação Gymnastica Blumenau, chamada de Turnverein Blumenau, que mais do que difundir a ginástica olímpica, esporte e jogos em geral, também tinha o objetivo de preservar a cultura alemã. Como a minha família fez parte da fundação do Turnverein Blumenau, era quase certo que eu, Peter*, fosse me apaixonar pelo esporte, no caso, a ginástica. Os tempos eram bons. A ginástica era bem mais do que praticar exercícios físicos. Tratava-se de um movimento que ajudava a formar cidadãos, estimulava o trabalho em equipe, a confiança, além de preservar a nossa cultura em meio a uma nova terra: a cultura germânica. Parecia loucura fazer aquela série de movimentos, exigindo força, flexibilidade e coordenação motora, utilizando os aparelhos que causavam um certo estranhamento na maioria das pessoas. Argolas, cavalo com alças, barras fixas e paralelas, trave e barras de equilíbrio e assimétricas. Equipamentos que por muitos anos, me fizeram companhia na Associação. Meu grupo e eu desempenhávamos atividades como correr, saltar, lançar, puxar, levantar, transportar, lutar, além de praticar exercícios de equilíbrio. Porém, para que pudéssemos fazer tudo isso, era necessário muita preparação, postura e resistência. Então, o treinamento e o comprometimento eram indispensáveis, e isso tudo me fascinava. Em 1924, fomos pioneiros. O primeiro ginásio coberto de Santa Catarina foi construído bem aqui, em Blumenau. Muitas coisas mudaram para melhor. O espaço era amplo, arejado, as janelas permitiam que entrassem os raios de sol e tinha todos os equipamentos necessários para praticar nossas atividades. Lá, os grupos de teatro, dança, esportes, especialmente o punhobol, praticavam suas atividades, incluindo nós, o clube de ginástica. Para mim, a melhor sensação era fazer aquilo. O topo da pirâmide não é nada comparado ao nível que desejo chegar. Desde os 17 anos, meu sonho
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Bruna Gabriela Ziekuhr e Larissa Segatte
era estar aqui em cima, e agora, estou entre os maiores grupos e participo de competições em todo o estado. O meu sonho se tornou em realidade. Espero que este esporte acompanhe gerações e ajude a mudar a vida de milhares de pessoas, assim como mudou a minha. As atividades da associação cessaram durante a Segunda Guerra Mundial e o espaço foi cedido para o Conjunto Educacional Pedro II, sendo hoje responsabilidade do Governo do Estado.
Foto: Arquivo Histórico de Blumenau.
A ginástica está na minha vida. Nunca saiu da minha vida. Eu sou muito grato, aos meus pais que me colocaram no esporte, e aos meus treinadores que me ajudaram a me desenvolver e aperfeiçoar as minhas técnicas ao longo dos anos. A ginástica é boa para tudo. Era como se fosse um parque de diversões para a gente. A gente estava lá se divertindo. Trazia muita alegria para todos. Quando lembro da minha história como atleta da Turnverein Blumenau, me recordo da chuva de aplausos com cada apresentação. As acrobacias despertavam o interesse das pessoas, que ficavam sem acreditar no que podíamos fazer durante a apresentação. Cada conquista era celebrada por todos os membros da associação. Lembro como se fosse ontem quando, em 1923, todos ficaram alvoroçados com a chegada dos novos equipamentos vindos da Alemanha. Uma barra-fixa desmontável, paralela e o cavalo com alças. Tantos anos para termos os nossos equipamentos novinhos em folha. Foram anos de trabalho árduo até que pudéssemos usufruir de algum retorno. Quem sabe, quando meu filho crescer, ele possa treinar com os mesmos equipamentos que um dia eu treinei.
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Foto: Viviane Pasta
Parte 4
A Escalada Redação por: Eduarda Loregian Diagramação por: Júlia Gabriela Dias Pereira
“Nas montanhas da verdade, você nunca pode escalar em vão: ou você alcançará um ponto mais alto hoje ou estará treinando seus poderes para poder escalar mais alto amanhã” - Friedrich Nietzsche
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A Escalada
“N Spitzkopf - É uma montanha com 914 metros de altitude, localizada no Parque Nacional da Serra do Itajaí, em Blumenau. Confira a localização.
Serraria Schadrack Ferdinando Schadrack montou a serraria Schadrack em 1907. Nesse tempo, o corte de árvores e a caça era algo natural e comum. Após seu falecimento, em 1932, seu filho Udo Schadrack encerrou as atividades da serraria e passou a combater os caçadores, e a preservar a flora e fauna da região, preparando o local para ponto turístico. Confira a história completa da serraria.
ão aguento mais!”, exclamou um dos ginastas enquanto subia um morro com sua equipe de escalada em um 3 de outubro de sol forte. O ano era de 1908, e a equipe que caminhava com ele fazia parte da Turnverein, a primeira Associação de Ginástica de Blumenau.
O anúncio saiu dias antes, o grupo subiria o “Spitzkopf”, à 15 quilômetros do Centro da cidade, e daria sinal de luz quando chegassem lá no alto, sinalizando para os blumenauenses que ficaram na cidade. Foram 24 atletas. Quando propuseram a atividade, o grupo não imaginava quão desafiador seria cumprí-la. Na época funcionava, mais abaixo do morro, a serraria Schadrack, onde os atletas deixaram seus carros Ford Model T e iniciaram a subida a pé. A caminhada de subida, que hoje leva cerca de três horas, naquela época, levou quase seis, afinal o estado das trilhas não era nada bom; pois o local ainda era pouco visitado. A primeira visita recebida pelo Spitzkopf aconteceu em 1872, quando o comandante das Guarda de Batedores do Mato, Friedrich Deeke, escalou o morro. Entre Deeke e o grupo da Turnverein, o morro foi escalado somente em 19 e 20 de julho de 1892 pelos excursionistas Otto Wehmuth, Christian Imroth, Fritz Alfarht e outros amigos. A caminhada iniciou por uma picada no morro, chamada na época de Carabemba. Pelo caminho os atletas encontravam cachoeiras e córregos. Às 17h , os seis quilômetros de subida entre galhos e pedras foram vencidos, e eles chegaram ao topo do Spitzkopf, que traduzido do alemão significa “cabeça pontuda”. Cansados mas satisfeitos com a conquista, os atletas soltaram a tão prometida luz vermelha. Os sinais de luz tão esperados transformaram-se em uma queima de fogos de bengala de luz vermelha e verde, que sinalizava a chegada dos atletas ao topo do morro aos que ficaram na cidade. Após a comemoração
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Eduarda Loregian
os atletas prepararam a comida e pernoitaram no topo do morro com cabanas à luz da lua. Ao amanhecer eles puderam ver a paisagem do alto, morros que hoje conhecemos como Morro do Baú e Morro do Cachorro e as cidades litorâneas, até o mar. Depois de presenciarem tamanha beleza, os atletas iniciaram a descida de retorno, rumo a novas descobertas e aventuras. Vista do alto do Spitzkopf / Foto: Divulgação
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Morro do Baú e Morro do Cachorro - eles têm respectivamente 819 e 857 metros de altura, sendo o último um dos pontos mais altos de Blumenau. Eles são conhecidos pela prática de esportes e suas belezas naturais. Localização do Morro do Baú e do Morro do Cachorro.
Foto: Viviane Pasta
Parte 5
O 7x1 de Blumenau em 1911 e a carruagem do inimigo Redação por: Alan Gonçalves Diagramação por: Amanda Louise
“Você não pode colocar um limite em nada. Quanto mais você sonha, mais longe você chega.” - Michael Phelps
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O 7x1 de Blumenau em 1911 e a carruagem do inimigo
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Uma breve compilação do futebol em Blumenau, citando o jogador Franz Blohmann (Almanaque do futebol- 2011l) um museu virtual retratando as relíquias de época
história que conto fala um pouco sobre esporte em Blumenau, e do jogador Franz Blohmann. Tudo começou em 1873, quando a sociedade Turnverein Blumenau (Associação Gymnastica Blumenau) iniciou seu grupo de ginástica, no dia 5 de outubro daquele ano. Foi um evento que chamou muita atenção na época. Porém, a Associação Gymnastica Blumenau, só foi oficialmente registrada no dia 1º de agosto de 1904. Nos anos seguintes outros grupos esportivos foram surgindo como o futebol e os tradicionais clubes de caça e tiro, presentes até os dias de hoje. A galera que fazia parte era da alta sociedade, para se integrar na diretoria do clube. Franz, amante assíduo do futebol pagou com uma jóia de dois a cinco mil réis para entrar no clube. Um dos requisitos que pediram para que Franz pudesse se associar, era ter idade a partir dos 14 anos e ser considerado “imaculado”, (isso seria muito polêmico nos dias de hoje). Mas esses requisitos eram balelas, tanto que assim como Franz, só pessoas acima de 21 anos integraram a diretoria. As reuniões ocorreram no antigo Hotel Gross, que ficou localizada na Rua XV de Novembro ao lado da loja Secos e Molhados de Hermann Hering. Hermann foi um dos dois irmãos alemães que fundaram em 1880 a companhia Hering na cidade. Franz o conheceu naquela época e admirava o admirava muito. O Hotel Gross onde se reuniu os diretores, era uma combinação de hotel e pensão, casais se hospedavam e geralmente permaneciam no local, inclusive o jogador Franz. O hotel oferecia um espaço social com um bar e uma área externa, com uma mesa reservada (O famoso Stammtisch) onde Franz se reuniu os diretores graduados da Companhia Hering, numa terças-feira, alí combinaram para trazer a Blumenau a primeira partida de futebol. De origem alemã Franz e todos ali conversavam em alemão, mais tarde com a Campanha de Nacionalização após a primeira guerra mundial, foi proibido o uso da língua alemã no país, extinguindo de vez essas reuniões no Hotel Gross. O departamento no clube voltado para o futebol
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Alan Gonçalves
aconteceu 40 anos após a inauguração da sociedade. Foi coordenado pelos irmãos Bruno e Oswaldo Hindelmeyer. Os jogos não oficiais, ou popularmente “peladas”, que aconteciam em um pátio do histórico Hotel Holetz, sempre foram frequentados por Franz. O Hotel havia sido aberto em 1º de novembro de 1902 na esquina da Alameda com Rua XV. Franz e a diretoria em março de 1911 decidiram. “No dia 25 de vamos agendar a chegada de uma embarcação com marinheiros e oficiais alemães, vamos convidá-los a jogar conosco e mostrar a eles como se joga futebol no Brasil”, disse Bruno todo empolgado. Neste dia a embarcação da Imperial Esquadra Alemã, o Cruzador Von Der Tann chegou em terras catarinenses e ancorou-se no porto da cidade de Itajaí. Franz ficou assustado quando neste dia mais de 500 marinheiros chegaram ao estado com o objetivo de conhecer as colônias e terras colonizadas além de laser. Durante o trajeto, que Franz fez questão de acompanhar, passaram pela cidade de Blumenau indo até a região que na época chamava-se Hansa-Hamônia que hoje é a cidade de Ibirama. Andaram, conversaram e trocaram presentes. Durante esta passagem Bruno fez o convite para que realizassem uma partida de futebol contra o time blumenauense do clube, mas não qualquer partida, mas sim a primeira da cidade e a primeira contra um time do exterior. O pedido foi aceito prontamente pelo capitão do navio e agendaram para o dia 26 de março, o dia seguinte. Chegado o tão aguardado dia, os times saem para se preparar. Era um domingo e estava ensolarado, o clima estava agradável e tudo estava perfeito para acontecer aquela partida histórica. Franz se reuniu com seu time no vestuário onde com o seu capitão decidiram os últimos detalhes estratégicos. Apesar do clima amigável entre os times, tanto Franz como os demais almejavam trazer a vitória a Cidade de Blumenau. A galera veio
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O 7x1 de Blumenau em 1911 e a carruagem do inimigo
chegando para assistir, o público foi lotando o humilde espaço utilizado como arquibancada para o evento. O campo próximo ao Grande Hotel foi todo improvisado, os travessões eram de madeira, e tão pouco estavam nas dimensões oficiais. As demarcações no chão foram precariamente cravadas ao solo mas mesmo com essas adversidades o jogo aconteceu. Quando chegou o time alemão, contavam com apenas com dez jogadores. “Infelizmente um de nossos jogadores precisou ficar a bordo para comandar a tropa”, gritou o capitão do time adversário. Mas... há controvérsias nessa história, acontece que após o passeio do dia anterior, os tripulantes participaram de uma festança regada a uma boa bebida e muita dança. “Ele está passando mal e vomitando muito” comentou outro jogador com seu colega ao lado. Para os jogadores do time blumenauense, esses detalhes teoricamente os favoreciam, pois enfraquecem o time adversário, assim como a familiaridade com o gramado que eles não tinham. Bola rolou, muitos gritos pra lá e prá cá (gritos em alemão em sua maioria), e o resultado? 5 a 2, para os alemães. Sim, nosso primeiro jogo de futebol na Cidade de Blumenau, foi uma goleada de um time estrangeiro.
Foto: Arquivo Histórico de Blumenau
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Alan Gonçalves
A carruagem do inimigo O poderoso Von Der Tann O Von Der Tann foi um cruzador de batalha ou seja, um tipo de navio de guerra, encouraçado e amplamente blindado e equipado com armamento de alto calibre e de longa distância. Este tipo de embarcação surgiu na metade do século XX introduzido pela Marinha Real Britânica. Von Der Tann foi o primeiro navio de grande porte, movido por poderosas turbinas à vapor e construído pela Marinha Imperial Alemã. O cruzador foi considerado na época, o mais veloz do mundo na sua categoria (dreadnought),e possuía a capacidade de atingir velocidades acima de 21 nós. Foi construído no estaleiro naval Blohm & Voss na cidade de Hamburgo, segunda maior cidade da alemanha. Sua construção foi uma resposta à frota britânica, que contava com navios cruzadores da classe Invincible, que também eram navios de guerra. Von Der Tann atuou em algumas investidas militares, onde na primeira guerra mundial foi um dos protagonistas na Batalha da Jutlândia, a maior batalha naval onde encouraçados alemães e britânicos se enfrentaram em 31 de Maio a 1 de Junho de 1916. Na ocasião, o navio destruiu em minutos o cruzador britânico HMS Indefatigable e foi atingido várias vezes tendo que ser ausentado por um período para a manutenção. Ambas tropas saíram com grandes prejuízos, embora de um ponto de vista estratégico, os britânicos continuaram com a permanência do mar. Em 21 de junho de 1919, Ludwig von Reuter que era o contra-almirante ordenou que Von Der Tann fosse afundado juntamente com toda a frota de Scapa Flow, temendo que os navios fossem para a marinha britânica através de acordos após a primeira guerra mundial.
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SMS Von der Tann o primeiro cruzador de batalha construído em 1907 para a marinha alemã Kaiserliche , bem como o primeiro grande navio da Alemanha movido a turbina. Ilustrações e curiosidades sobre a produção e estrutura da embarcação.
Batalha da Jutlândia ocorreu em meio Primeira Guerra Mundial foi palco do maior e mais feroz confronto naval da história.
Foto: Viviane Pasta
Parte 6
A hora mais esperada: a aula de educação física Redação por: Eduarda Prawucki Diagramação por: Ana Carolina Metzger
“Quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana.” - Marguerite Yourcenar.
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A hora mais esperada: a aula de educação física
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ó lembranças boas. Resultado de muito esforço e dedicação somado com diversão, esses foram os dois anos de magistério de Valnira Rossi, que hoje está na plenitude de seus 51 anos de idade. Na época, não existia ensino médio em uma escola próxima de casa, por isso, Valnira precisava se deslocar todos os dias mais de 25 quilômetros. “Mas não havia lamentação, tinha que ir e pronto”, afirma. O casão, como é conhecido hoje, mas que na época era chamado de ginásio, era sinônimo de coisas boas. Toda aula de educação física era esperada com muita ansiedade pelos alunos. Essa é a afirmação da Valnira, pela sua vivência de estudante de magistério que frequentou a escola Pedro II de 1984 a 1986. “Tínhamos aulas de educação física no ginásio, o casarão estava em condições de uso e não aparentava necessidade de uma reforma. A pintura estava conservada e os materiais que utilizávamos na aula eram íntegros”, lembra Valnira.
Magistério é um curso profissionalizante realizado junto ao Ensino Médio, que teve início lá nos anos 1970. Conta com disciplinas voltadas à didática, metodologia de ensino, fundamentos da educação e alfabetização. Após a conclusão do Ensino Médio, os formandos estão aptos para atuar tanto na Educação Infantil como nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Foto: Arquivo Pessoal
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Eduarda Prawucki
Os alunos do ensino médio não tinham mais a disposição das crianças do ensino fundamental, mas a aula de educação física é sempre a mais esperada pelos alunos e em 1984 não era diferente. Vaninha, como é chamada pelos íntimos, lembra que aprendia dinâmicas que poderíam ser utilizadas com seus futuros alunos do ensino primário. “Fazíamos aula de teatro, jogos, brincadeiras e danças. Havia uma sala lateral que permitia que os professores guardassem as bolas, fitas e balaios que utilizávamos nas atividades”, conta a ex estudante. Vaninha lembra que o bairro Centro, de Blumenau, era muito diferente, nada asfaltado, poucas construções, mas comparado ao interior, ele já fazia seus olhos brilharem, pois tinham muitos comércios e era movimentado. Na época a empresa que cuidava do transporte coletivo de Blumenau era a Glória, que disponibilizava uma linha que permitia saltar do ônibus onde hoje é o Colégio Sagrada Família para chegar até a Escola Pedro II. “Lembro como hoje, nós utilizávamos os tickets de papel picotado para pagar a passagem do ônibus”, lembra a ex aluna. “Hoje está muito diferente do que era em 1984, eu não estudava na área construída do outro lado da rua do casarão, minhas aulas eram na parte superior, atrás do ginásio tinha uma rua com escadas que davam na escola, lá em cima do morro, onde hoje não é utilizado para nada pela escola”, conta Vaninha. Na época, havia a opção de fazer magistério, contabilidade, farmácia ou redação em conjunto com o Ensino Médio, por isso a escola era sempre cheia de alunos. “Tenho uma lembrança muito feliz do casarão, aprendi muito e meus professores foram sempre pessoas muito positivas. Lembro bem do palco que servia para apresentações, no qual eu tive a oportunidade de ter um registro com a turma de 1986. Muito alegre em poder relembrar de tudo isso”, suspira Vaninha, olhando as fotos da época com um sentimento nostálgico.
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Em 1984 aconteceu a 1ª edição da Oktoberfest, em Blumenau. Confira alguns dos registros desse momento, incluindo fotos do desfile que já eram realizados no bairro Centro “nada asfaltado”, conforme menciona Vaninha. No arquivo, também constam fotografias da Oktoberfest de 1985 (2ª edição).
Foto: Viviane Pasta
Parte 7
Tempos de Guerra Redação por: Olga Helena de Paula Diagramação por: Lucas Roedel
“Nunca se deve deixar que aconteça uma desordem para evitar uma guerra, pois ela é inevitável, mas, sendo protelada, resulta em tua desvantagem.” - Maquiavel
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Tempos de Guerra
F Hermann Bruno Otto Blumenau. Quer entender o que o Brasil passou durante a Segunda Guerra Mundial? Aprenda em meia hora com o podcast “História em Meia Hora”, episódio “Brasil Na Segunda Guerra”.
oi um alemão, Hermann Bruno Otto Blumenau, que em 1850 desembarcou do Rio Itajaí Açu, para a cidade que mais tarde levaria seu nome. Com colonização germânica, Blumenau sempre foi o refúgio para os imigrantes vindos do país europeu. As casas, tradições, comidas e vestimentas, eram todas heranças dos alemães. Por isso, quem vivia na cidade se sentia confortável ao falar seu idioma nativo em solo brasileiro. Mas isto estava prestes a mudar. Albert Muller, era apenas um rapaz de vinte e poucos anos, quando aprendeu da pior forma o que a guerra significava para os descendentes de imigrantes alemães. Professor no Turnverein (Associação Gymnastica Blumenau), um clube de ginástica e dança, ele lecionava na língua alemã. O que em 1939 passou a ser visto com maus olhos pelo Governo e sociedade brasileira. O Turnverein (Associação Gymnastica Blumenau), era um local com uma área de 11.383 metros quadrados, onde crianças e jovens praticavam diversas modalidades esportivas como: futebol, ginástica artística, escalada, natação, atletismo entre outras.
Foto: Poder Aéreo.
Persona em Evidência: Martin Drewes foi um aviador e piloto durante os tempos de guerra. A ele, são creditadas 52 vitórias aéreas, das quais 43 foram durante a noite, principalmente contra bombardeiros e quadrimotores britânicos. Martin serviu a Alemanha nazista, e acabou morrendo na cidade de Blumenau.
Foto: Arquivo Histórico de Blumenau
Em 1939, o medo e a insegurança se espalharam por todos os cantos do planeta. Se iniciava um dos confrontos mais sangrentos e cruéis da história, a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, as marcas desse embate só chegaram em 1942 quando submarinos do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) atacaram navios da marinha mercante brasileira, deixando milhares de mortos, que o oceano tratou de sepultar. Após esse ataque, o Governo brasileiro, se
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Olga Helena de Paula
posicionou contra os países do Eixo, de modo que imigrantes alemães e até mesmo os nascidos em solo brasileiro, passaram a ser perseguidos e acusados de espionagem. Assim, falar alemão nesta época não era uma boa ideia. A decisão do Governo de cortar relações com os países aliados aos nazistas, impactou diretamente a cidade de Blumenau, que em 1939 possuía menos de 100 anos. E o idioma alemão ainda era muito presente nos lares e também em escolas e clubes da região. Em 1942, Albert e outros professores do clube receberam uma notícia devastadora. A Associação iria fechar as portas por ordem do Governo. A estrutura que antes abrigava centenas de alunos e sócios, passou a abrigar a sede do Exército Brasileiro de Blumenau. Foi a forma que o Estado encontrou para calar aqueles que sequer tinham culpa das ações dos nazistas. E como em um julgamento sem direito a defesa, aqueles que antes trabalhavam seus corpos e mentes foram sentenciados à forca. E, simples assim a associação encerrou suas atividades para nunca mais voltar. A estrutura que antes era tão festejada e cheia de alegria e estudantes, hoje exibe rachaduras, vidros quebrados e pichações por toda a construção. Pois é, quem sabe a culpa disso tudo é mesmo dos espiões em Blumenau.
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Em 2021, completaram-se 76 anos da vitória de Blumenau contra os nazistas e fascistas durante a Segunda Guerra Mundial (8/5/21). A cadência dos gritos de vitória de Blumenau ainda ecoam nos dias atuais. Escute e veja.
Espiões nazistas em Blumenau? Confira a edição de 7 de abril de 1942 do jornal o Estado e se informe como se você estivesse vivendo os tempos de guerra.
Foto: Arquivo Histórico de Blumenau
Foto: Viviane Pasta
Parte 8
Mais de 90 anos de Preservação Arquitetônica Redação por: Tamara Sedrez Diagramação por: Viviane Pasta
“Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito.” - Oscar Niemeyer
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Mais de 90 anos de Preservação Arquitetônica
D As enchentes que marcaram a história de Blumenau ocorreram entre os anos de 1983 e 1984. As águas chegaram a alcançar 15,46 metros. Mais tarde, em 2008, a cena se repetia. Desta vez, 60 cidades foram afetadas pela correnteza e 135 pessoas morreram.
esde o início da minha existência, em 1924, até os dias atuais, em 2019, muita coisa mudou. Eu vi enchentes devastarem a cidade que chamo de lar. Enquanto a água tomava conta de outros prédios parecidos comigo, pessoas ficavam sem teto. Presenciei conflitos, novidades, ruínas e recuperações. Esta cidade tem muito a contar, e eu também. As rachaduras nas minhas paredes são uma pequena demonstração de tudo o que eu passei. Enquanto estruturas caíam e outras eram construídas, eu estive aqui. A cidade cresceu, as cores mudaram e tudo está mais moderno, mas eu continuo, intacto, ocupando o meu espaço. É claro, passei por restaurações, como qualquer objeto ou ser que tem vida. Afinal, todos somos feitos para sermos transformados. Eu conservo o estilo arquitetônico brasileiro dos anos 20 e tanto o meu exterior quanto o meu interior tem elementos que comprovam isso, mas com a pressa na qual os humanos vivem imersos, tornou-se raro o momento em que alguém dirige um olhar atento a mim. Os arcos das minhas janelas já não são tão vistos nos imóveis contemporâneos. Meus detalhes foram, aos poucos, sendo deixados para trás. Já não se vêem mais paredes com detalhes como os que eu possuo e a tinta que descasca da minha estrutura tem marcas de que muita coisa foi vivida aqui. Existem pessoas, até mesmo arquitetos, que não prezam por prédios históricos como eu. Alguns pedem por demolição pois querem dar lugar a algo novo. No entanto, ainda há quem goste de um casarão velho. A arquitetura evoluiu e criou novas possibilidades, mas ainda tem o mesmo objetivo: planejar e erguer estruturas que sejam capazes de ganhar vida com suas formas e cores; transformar linhas desenhadas no papel em alicerce para a vida, para que dentro de um espaço aconchegante, possa permanecer a cumplicidade e a proteção, a mágoa e a inquietação, a insanidade e a extravagância. Eu
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Tamara Sedrez
ainda estou aqui para isso. Posso ser consertado caso minhas rachaduras ofereçam riscos, mas, aparentemente, não tenho sido notável, mesmo que minha preservação tenha mais de 90 anos. Eu fui construído antes mesmo da nova e atual Prefeitura de Blumenau, aquele prédio lindo em estilo enxaimel que os blumenauenses e os turistas tanto amam. Ela foi inaugurada em 1982, e 58 anos antes, eu já existia. Se eu possuísse o poder de falar, com certeza eu gritaria aos quatro ventos “Olhem para mim! Eu estou aqui! Eu conservo a história desta cidade. Muita coisa aconteceu sob o meu teto”. Mas, infelizmente, nada disso chegará ao conhecimento da comunidade por meio de palavras pronunciadas por mim, eu só posso esperar que alguém faça isso em meu nome.
Considerado um símbolo da cultura alemã, o estilo Enxaimel é uma técnica de construção utilizando vigas de madeira na horizontal, vertical e até na diagonal, e as paredes são preenchidas com tijolos à mostra.
Foto: Arquivo Histórico de Blumenau
O estilo minimalista e moderno de vocês é incrível, mas jamais vai me deixar para trás. Como disse o mestre Oscar Niemeyer, “A vida pode mudar a arquitetura. No dia em que o mundo for mais justo, ela será mais simples”. Eu espero que um dia o mundo alcance a justiça merecida, para que a minha simplicidade seja mais vista.
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Foto: Viviane Pasta
Conclusão
Um casarão de 1924 repleto de histórias Redação por: Eduarda Loregian Diagramação por: Tailã Weidmann Leite
“A cultura de um povo é o seu maior patrimônio Preservá-la é resgatar a história, perpetuar valores, é permitir que as novas gerações não vivam sob as trevas do anonimato”. - Nildo Lage
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Um casarão de 1924 repleto de histórias
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Às vezes recebo alguns visitantes, mas eles raramente respeitam a minha estrutura. Tenho desenhos e manchas que essas pessoas e também o tempo me proporcionaram. Às vezes apenas queria desaparecer, mas sigo com fé de que um dia apareça alguém para me ajudar a preservar tudo o que sei. É triste, mas ao mesmo tempo me alegro de ter presenciado tanto.
Foto: Viviane Pasta
Em sua página na internet o ex-vereador Sylvio Zimmermann comenta: “Tenho uma preocupação com o patrimônio histórico de Blumenau. Eu lembro, quando criança, de usar muito esse prédio. Fiz teatro e aula de educação física. E esse patrimônio, que faz 95 anos em 2019, está inutilizado.”
oje, apesar de tudo o que fiz e presenciei, fui abandonada. Vejo muita movimentação a minha volta, mas o mais perto que chegam de mim é para utilizar os cantos de minhas paredes como apoio.
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Eduarda Loregian
Sylvio fala também que enviou ao Governo do Estado e à Fundação Catarinense de Cultura, requerimentos pedindo a restauração do prédio da antiga Associação Ginástica de Blumenau. O casarão se localiza atualmente na Rua Pandiá Calógeras, no centro de Blumenau. Leia aqui a matéria completa.
Foto: Eduarda Loregian
Conheci pessoas que nem posso contar e vi tantas mudanças que se fosse falar de todas daria mais do que uma sequência de crônicas reportagens. Hoje, tudo o que me resta são esses alunos de jornalismo (acho que eles não tem muito o que fazer), despertaram através de mim a curiosidade de saber mais, e os ajudei no que pude. Sozinhos eles não podem fazer muito, mas pelo menos se este for o meu fim, terei algumas de minhas memórias registradas nestas crônicas. Agradeço aos meus pais que já se foram a muito tempo e onde quer que estejam gostaria que soubessem que os amei por me colocarem neste mundo.
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Foto: Viviane Pasta
Posfácio
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screver crônicas é um exercício interessante. Por vezes, também é bastante divertido. Descrever uma situação rotineira em poucos parágrafos, destacar as nuances de certos momentos, ressaltando detalhes que passariam despercebidos, e transformar horas, minutos ou até mesmo segundos em texto traz aquele desafio de criar uma narrativa que prenda o leitor e o faça querer chegar ao final daquele breve relato.
Em 2019, estávamos no oitavo e último semestre do curso de Jornalismo. Confesso que não me recordo em que momento que a professora Marta propôs para a nossa turma a construção de um livro-reportagem, na disciplina que levava o mesmo nome, sobre o notável e misterioso “Casarão” que fica em frente à UniSociesc. Essa era a ideia inicial. Então, fomos em busca do que precisávamos. Inicialmente, tivemos um pouco de dificuldade para descobrirmos o que, de fato, era aquela construção. Depois de um tempo de pesquisa, parecia que ainda estávamos no início. Até que encontramos o que seria uma de nossas principais fontes para a produção deste conteúdo: um texto escrito pelo jornalista Carlos Braga Mueller sobre a Turnverein Blumenau – Associação Gymnastica Blumenau, postado no blog do Adalberto Day. Descobrimos, então, que o tal “Casarão” não apenas serviu como sede para a antiga Associação Ginástica, como também foi o primeiro ginásio esportivo coberto de Santa Catarina. A partir daí, tivemos acesso a uma breve cronologia que começava com a criação da Turnverein Blumenau, em 1873, passando pelos marcos e eventos que levaram à fundação do ginásio, em 1924, até o encerramento das atividades da própria associação, em 1942. Entretanto, as informações acerca da Sociedade Ginástica não iam muito além disso. Sobre o ginásio em si, muito menos. Eis que minha grande amiga Bruna conseguiu acesso ao que seria a nossa segunda grande fonte para a produção deste trabalho: um acervo de fotos digitalizadas da Associação Gymnastica Blumenau,
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que nos foi gentilmente cedido pelo então vereador Sylvio Zimmermann. Foi aí que, em comum acordo com nossa professora, resolvemos alterar a proposta do projeto em vista da escassez de informações que nos impedia de transformar a ideia original em um produto de qualidade. Em meio a trancos e barrancos, TCCs, projetos experimentais, eventos universitários, e outras atividades em que estávamos envolvidos, o livro-reportagem deu lugar às Crônicas do Casarão. Utilizando o acervo de fotos e as informações que tínhamos coletado até aquele momento sobre o prédio e a Turnverein Blumenau, produzimos o conteúdo que preenche as páginas deste e-Book, contando estas supostas narrativas de personagens fictícios que protagonizam essas fotos em diferentes períodos dos 69 anos de existência da associação. Por fim, quero lembrar que este trabalho somente foi possível graças à dedicação de meus colegas e amigos da turma do 8º semestre de Jornalismo daquele ano. Reservo este final para agradecê-los nominalmente: Alan Carlos Gonçalves, Bruna Gabriela Ziekuhr, Eduarda Lúcia Loregian, Eduarda Prawucki, Larissa Segatte e Tamara Sedrez. Registro também meu muito obrigado à querida professora Marta, que nos propôs o desafio e estruturou este projeto, ao nosso grande professor Eumar Francisco da Silva, que nos cedeu espaço para publicarmos as crônicas no blog Acta Diurna, que desenvolvemos em sua disciplina, e aos acadêmicos do atual 2º e 4º semestre de Jornalismo que reuniu nossas crônicas na presente peça. Lucas Lemes Gavião Dezembro/2021
Foto: Viviane Pasta
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Linha do Tempo
Os arredores do Casarão Diagramação por: Bruno César
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Agradecimentos Provavelmente seria injusto não mencionar, logo de início, os principais responsáveis pelo desenvolvimento desse material. Ainda que não estejam mais nesse plano, é impossível não agradecer àqueles que deram início a história desse Casarão. Em determinado momento do último século, alguém decidiu criar o primeiro ginásio coberto de Santa Catarina e é por isso que, hoje, em 2021, esse e-book também ganhou vida. Aos fundadores da sede da Associação Ginástica de Blumenau, o nosso muito obrigado. Vocês fizeram história e, através dessa conquista, também permitiram que a geração atual continue buscando formas de manter a memória do Casarão viva. Além disso, para diagramar um e-book, é necessário que se tenha o conteúdo em mãos. E não há dúvidas de que Eduarda Loregian, Lucas Lemes Gavião, Bruna Gabriela, Larissa Segatte, Alan Gonçalves, Tamara Sedrez, Eduarda Prawucki e Olga Helena de Paula, alunos do 8º semestre de jornalismo de 2019, souberam produzir as crônicas do Casarão com maestria. Toda a emoção depositada em cada palavra escrita transformaram o e-book em um material que nos proporciona ainda mais orgulho e transmite exatamente o que nós, estudantes de jornalismo do 2º, 4º e 8º semestres de 2021, sentimos ao conhecer a história do ginásio. Um agradecimento especial também ao Lucas que se disponibilizou a elaborar o posfácio do e-book e colaborar mais um tanto na produção desse material. Ao Sylvio Zimmermann que, além de já ter contribuído para a criação das crônicas em 2019, se envolveu mais uma vez, neste ano, com a escrita do prefácio deste
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e-book. Nosso mais sincero agradecimento por viabilizar que essa parte específica do material fosse escrita por uma pessoa tão ligada à história do Casarão e disposta a lutar pela preservação da estrutura do ginásio. Todo esse projeto também não teria sido desenvolvido durante esse período se não fosse pela iniciativa das professoras Gisele Baumgarten Rosumek e Marta Brod. Não é nenhuma novidade que, mais uma vez, essas profissionais acertariam em cheio na proposta para o segundo semestre de 2021. Vocês nos inspiram, diariamente, a produzirmos trabalhos dos quais sentiremos muito orgulho no final e, principalmente, nos motivam a fazer a diferença. São ensinamentos que ultrapassam as paredes da UniSociesc e, certamente, serão levados para toda a vida. Por fim, mas não menos importante, gostaríamos de prestar o nosso agradecimento ao próprio Casarão. Não é qualquer lugar que presencia tantos momentos e conhece inúmeras pessoas com o passar dos anos. A sua história faz parte de tantas outras, inclusive da nossa. Por isso, esse e-book também não deixa de ser uma homenagem a esse ginásio que sobreviveu ao tempo e luta para continuar presente. Ainda que, algum dia, o Casarão não se encontre mais na rua Pandiá Calógeras, sua história permanecerá viva na memória de todos aqueles que puderam se relacionar, de alguma forma, com o lugar. O ginásio já está eternizado em nossos corações e, através desse e-book, certamente continuará encantando muitos outros leitores.
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Índice remissivo AAssociação Ginástica / Turverein - Parte 1, 2, 3, 5, e 7 BBlumenau - Parte 2 EEnxaimel - Parte 8 GGlória - Parte 6 HHermann Bruno Otto Blumenau - Parte 7 MMorro do Baú; Morro do Cachorro - Parte 4 PPedro II - Parte 6 RRio Itajaí Açu - Parte 7 SSchützenrein Blumenau - Parte 2 Spitzkopf - Parte 4 VVon Der Tann - Parte 5
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