Livro biodiversidade neaduespi vol 1

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Universidade Estadual do PiauĂ­



Organizadores: Arnaldo Silva Brito Simone Mousinho Freire Tereza Maria Alcântara Neves Vinícius Alexandre da Silva Oliveira

Educação, saúde e meio ambiente: diversidade biológica em foco. VOLUME 1

FUESPI 2016


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Educação, saúde e meio ambiente: diversidade biológica em foco / Organizado por Arnaldo Silva Brito … [et al.]. - Teresina: FUESPI, 2016 436p ; v.1 ISBN 978-85-8320-168-7 Artigos apresentados ao Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual do Piauí – NEAD/UESPI, 2016. 1. Diversidade Biológica. I. Freire, Simone Mousinho. II. Neves, Tereza Maria Alcântara. III. Oliveira, Vinícius Alexandre da Silva. IV. Título. CDD: 577

Ficha elaborada pelo Serviço de Catalogação da Biblioteca Central da UESPI


Presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Vice-presidente da República _ Ministro da Educação José Mendonça Bezerra Filho Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Diretor de Educação a Distância CAPES/MEC Jean Marc Georges Mutzig Governador do Piauí José Wellington Barroso de Araújo Dias Secretária Estadual de Educação e Cultura do Piauí Rejane Ribeiro Sousa Dias Reitor da FUESPI – Fundação Universidade Estadual do Piauí Nouga Cardoso Batista Vice-reitora da FUESPI Bárbara Olímpia Ramos de Melo Pró-reitora de Ensino e Graduação – PREG Ailma do Nascimento Silva Coordenador da UAB-FUESPI Arnaldo Silva Brito Coordenador Adjunto da UAB-FUESPI Vinícius Alexandre da Silva Oliveira Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP Geraldo Eduardo da Luz Junior Pró-reitor de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX Raimundo Dutra de Araújo Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD Benedito Ribeiro da Graça Neto Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN Raimundo Isídio de Sousa Coordenadora do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação

Simone Mousinho Freire


Edição UAB - FNDE - CAPES UESPI/NEAD

Revisão Raimundo Isídio de Sousa Teresinha de Jesus Ferreira

Diretor do NEAD Arnaldo Silva Brito

Capa Marcelo Andrade Cruz

Diretor Adjunto Vinícius Alexandre da Silva Oliveira Coordenadora do Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação Simone Mousinho Freire UAB/FUESPI/NEAD NEAD/UESPI, Rua João Cabral, 2231, bairro Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150, Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182 Web: ead.uespi.br E-mail:eaduespi@hotmail.com


PREFÁCIO

Em tempos onde as discordâncias ideológicas se apresentam em meio aos mais diversos contextos e cenários de discussão, poucos assuntos assumem a condição de unanimidade, a exemplo da biodiversidade. Destaca-se, neste contexto, a necessidade iminente de identificação de novas formas de relacionamento sustentável com o planeta, sob pena de provocamos prejuízos irremediáveis à nossa fauna e flora, consequentemente, a nossa sobrevivência. Compreende-se que, pesquisas e estudos nesse campo precisam ser intensificados, ao passo, em que novos profissionais necessitam ser formados enquanto sujeitos de capazes de colaborar com o planejamento de ações de enfrentamento e de induzir mudanças comportamentais. Nesse sentido, o Núcleo de Educação a Distância (NEAD), da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) desenvolve o curso de pós graduação, Latu Senso, Biodiversidade e Conservação. Tal curso, que foi ofertado em 8 polos, com 9 turmas e 295 alunos, proporcionou a formação de uma massa crítica no interior do estado do Piauí, que encontra-se preparada para atuar, no setor público e privado, para assegurar processos de desenvolvimento, que sejam sustentáveis e que considerem a diversidade biológica. Nesta pós graduação, importantes contribuições foram deixadas, por meio dos seus trabalhos de conclusão de curso, que na sua maioria, apresentam projetos de intervenção, com forte capacidade de implementação nas realidades, nas quais foram idealizados. Entre as produções textuais, existem trabalhos que abordam o manejo de agroecossistemas sustentáveis – temática importante em realidades de plantios de subsistência; artigos que, abordam a discussão e prevenção de crimes ambientais; existem ainda, trabalhos que, tratam do tema da educação ambiental – importante estratégia de ação no interior das escola e de diálogo com a comunidade; além de textos que discutem aspectos ligados à higiene e à condições favoráveis de propagação de doenças em populações vulneráveis. Consequentemente, dada a multiplicidade e o valor das produções apresentadas nesta pós, a ideia de selecionar e publicar os melhores artigos nos pareceu ser o mais lógico a fazer. Cria-se assim, mais uma oportunidade para a UESPI, especialmente, para o NEAD, difundir resultados relevantes, frutos do seu modelo organizacional, que valoriza os mais distintos atores, que fazem a educação a distancia no estado, e que tem objetivo muito claro que é preparar cidadãos para um mundo competitivo, mas sem que deixem de relacionar-se, com responsabilidade, com o mundo em que vivemos. É este o contexto que enquadra a problemática que vai ser abordada neste livro, e que se pode resumir em três questões centrais: Qual o potencial de intervenções de educação ambiental bem planejadas? Podem as novas técnicas de exploração e produção sustentáveis contribuir para melhorar a relação com o meio ambiente? Como está a universidade em meio a estes novos cenários? Fica feito então o convite para aproximação de experiências que propõem entendimento, mudança e inovação acerca de um tema tão caro a humanidade, que é a Biodiversidade e Conservação.



APRESENTAÇÃO

O livro “Educação, saúde e meio ambiente: diversidade biológica em foco” foi idealizado pela coordenação do Curso Latu sensu de Biodiversidade e Conservação do NEAD/UESPI/ UAB para que os resultados dos trabalhos de TCC desenvolvidos pelos alunos do curso não ficassem restritos apenas ao ambiente da academia, mas que pudessem ser difundidos para toda a sociedade e desta forma contribuir com resultados e quem sabe soluções para as inúmeras problemáticas envolvendo a nossa biodiversidade. A obra está versada em dois volumes e 85 capítulos, e os autores dos respectivos capítulos são do melhor nível intelectual e científico, com titulação de mestres, doutores e especialistas, e com grande experiência nos assuntos de que tratam. Agradecemos a direção do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual do Piauí pois desde o início, acreditaram neste ideal e patrocinaram esta obra. Igualmente parabenizo aos organizadores desta coletânea, e a Universidade Estadual do Piauí como um todo, pelo lançamento deste livro, que mais que uma coletânea de artigos, é a concretização de um sonho e a esperança de podermos gerar discussões que possam contribuir para a sustentabilidade do nosso planeta e assim vivermos em um mundo melhor. Simone Mousinho Freire Professora Adjunto I da Universidade Estadual do Piauí Coordenadora do Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação NEAD/ UESPI/UAB



SUMÁRIO Capítulo 1 As Condições de Saneamento Básico das Famílias Cadastradas no Sistema de Informação da Atenção Básica (Siab) do Distrito De Alto Lindo, Ibiapina-Ce.................................................13 Capítulo 2 Os Impactos Ambientais e Seus Efeitos Degradativos Causados pela a Pecuária de Gado Leiteiro em São José Do Divino- Pi................................................................................................... 23 Capítulo 3 Análises Sobre o Tratamento do Lixo na Cidade de Capitão De Campos – Pi.........................35 Capítulo 4 Plantio de Árvores Frutíferas em Locais Públicos no Município de São José do Divino-Pi.......45 Capítulo 5 Queimadas Urbanas: um Estudo de Caso na Cidade de Piripiri - Piauí.....................................59 Capítulo 6 Levantamento Floristico em Três Diferentes Coberturas Vegetais da Floresta Nacional do Araripe- Apodi.................................................................................................................................79 Capítulo 7 Diversidade de Frutos do Cerrado com Potencial Alimentício Utilizados por Moradores de Simões-Pi..................................................................................................................................... 89 Capítulo 8 Educação Ambiental, Responsabilidade de Todos: Um Estudo de Caso na Escola...................99 Capítulo 9 Uma Abordagem Teorica Sobre a Lei 12.305/10 e a Importância da Sua Prática Para os Municípios....................................................................................................................................107 Capítulo 10 A Prática do Turismo em Unidades de Conservação...............................................................115 Capítulo 11 Importância da Educação Ambiental na Conservação do Parque Nacional de Sete Cidades em Piracuruca-Pi...........................................................................................................................125 Capítulo 12 Relato de Moradores Sobre as Espécies Animais em Risco de Extinção na Zona Rural de Simões-Pi....................................................................................................................................139


Capítulo 13 O Conhecimento Sobre a Pressão de Uso das Espécies Vegetais da Localidade Curralinho Município de Simões-Pi................................................................................................................147 Capítulo 14 Estudo Etnofarmacologico na Cidade de Campo Grande do Piauí-Pi .................................155 Capítulo 15 Educação Ambiental e Implantação de Horta Escolar Reutilizando Materiais na Unidade Escolar João José Ramos, em Campo Grande do Piauí-Pi........................................................167 Capítulo 16 Estratégias e Recursos Didáticos no Ensino de Ciências e Biologia, em Duas Escolas de Curral Novo-Pi ..................................................................................................................................177 Capítulo 17 Conhecimento Etnobotânico de Plantas Medicinais na Comunidade Capim no Município de Queimada Nova-Pi .................................................................................................................187 Capítulo 18 Sustentabilidade: Uso da Água de Forma Consciente na Escolinha Aquarela da Cidade de Simões – Pi ................................................................................................................................197 Capítulo 19 A Prática da Educação Ambiental nas Escolas, Como Forma de Exercício da Cidadania.......205 Capítulo 20 Fauna Helmintológica em Rupornis Magnirostris (Gmelin, 1788) Apreendido pelo Cetas/ Ibama de Teresina-Pi ..............................................................................................................213 Capítulo 21 Educação Ambiental no Contexto Escolar um Estudo de Caso com os Alunos do 2º Ano da Unidade Escolar Cel. Agostinho Valente ................................................................................219 Capítulo 22 Desmatamento e Perda na Biodiversidade no Município de Eliseu Martins-Pi .....................227 Capítulo 23 Levantamento Bibliografico de Plantas Medicinais no Estado do Piauí, Brasil......................241 Capítulo 24 Caracterização do Comércio de Plantas Medicinais em Floriano-Pi ......................................253 Capítulo 25 Conhecimento Etnoornitológico dos Moradores da Comunidade Rural Jardineira, Município de Nossa Senhora de Nazaré-Pi, Brasil ...................................................................................263 Capítulo 26 A Importancia da Reutilização de Resíduos Sólidos na Construção Civil em Parnaíba – Piauí .................................................................................................................................................279


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Capítulo 29 Estudo da Percepção Sobre A Arborização Urbana dos Moradores do Entorno da Avenida Aluisio Portela, em Campo Maior-Pi .............................................................................................287 Capítulo 30 Avaliação dos Fatores Condicionantes de Parasitoses Intestinais em Alunos de uma Escola Pública do Municipio de Parnaíba- Piauí ....................................................................................295 Capítulo 31 Percepção Ambiental Sobre a Utilização dos Recursos Hídricos nas Comunidades do Entorno do Rio Surubim em Altos - Pi ...............................................................................................307 Capítulo 32 Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica de Direito Privado em Crimes Ambientais no Município de Corrente-Pi ............................................................................................................319 Capítulo 33 Conscientização de Alunos do 9º Ano Quanto à Reciclagem Ambiental ...............................331 Capítulo 34 Sedimentação das Dunas Móveis no Espaço Costeiro da Cidade de Luís Correia, Piauí ......341 Capítulo 34 Parâmetros Morfométricos de Manjubas Provenientes do Rio Parnaíba ...............................349 Capítulo 35 Ensino de Educação Ambiental: Concepções de Professores em Canto Do Buriti - Pi ..........357 Capítulo 36 Recuperação de Áreas Degradadas: Ações Realizadas para Conservaçãodas Matas Ciliares do Rio Corrente, Piauí Rio Corrente: A Importância da Conservação das Matas Ciliares ..........365 Capítulo 37 A Biodiversidade de Mamíferos Brasileiros: Avaliação com Alunos do Ensino Fundamental.............................................................................................................................................371 Capítulo 38 Flora Arbórea - Etnobotânica em uma Comunidade Ribeirinha, Rio Igaraçu, Litoral Piauiense, Brasil ......................................................................................................................................383 Capítulo 39 Diagnóstico da Fauna Silvestre Depositada no Centro de Triagem de Animais Silvestres, Ibama- Pi – Uma Análise do Tráfico de Animais Silvestres no Estado .......................................395 Capítulo 40 Influência da Biodiversidade e da Educação Ambiental nas Escolas Públicas Municipais da Cidade de Campo Maior/Pi .....................................................................................................403

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Capítulo 41 Impactos Causados pela Construção da Barragem de Atalaia, Piauí, Brasil ..........................417 Capítulo 42 Análise Comparativa de Espécie da Entomofauna em Dois Sistemas de Olericultura Agroecológica no Município de Corrente – Pi ....................................................................................427

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AS CONDIÇÕES DE SANEAMENTO BÁSICO DAS FAMÍLIAS CADASTRADAS NO SISTEMA DE INFORMAÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA (SIAB) DO DISTRITO DE ALTO LINDO, IBIAPINA-CE. Francisco Antônio de Sousa1 Kelly Poliana Pereira dos Santos2 Maria Beatriz Dias Coutinho3 RESUMO O presente estudo representa uma possibilidade de se evidenciar o acesso aos serviços saneamento básico da população do distrito de Alo Lindo, Ibiapina- CE. O objetivo principal deste trabalho é analisar as condições de Saneamento Básico das famílias cadastradas no distrito de Alto Lindo, Ibiapina-CE, a partir do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB). Realizou- se uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa por meio de pesquisa documental dos relatórios da Ficha A do SIAB, além de ser fundamentada nas ideias e concepções de teóricos como Dutra (2009), Abicalil (2002), Bovolato (2010), Miranda (2002) e Orrico & Gunther (2002), entre outros. Com isso concluiu- se que a cobertura dos serviços de saneamento básico na localidade encontra-se precária favorecendo a incidência de contaminação das águas, solo e disseminado doenças como diarreia, cólera e helmintíases, principalmente, entre as crianças. Palavras-chave: Saneamento Básico. Famílias cadastradas. SIAB.

1 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como tema as condições de saneamento básico das famílias cadastradas no Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) do distrito de Alto Lindo, Ibiapina- CE representando uma possibilidade de se evidenciar o acesso aos serviços de saneamento básico daquela população como condição de promoção de saúde e prevenção de determinadas enfermidades que se pode prevenirpela adequada oferta de saneamento básico. As ações de saneamento básico atuam diretamente no ambiente e, principalmente na qualidade de vida e saúde da população, além de agirem diretamente na saúde pública. Por todos esses impactos, o saneamento básico no Brasil está marcado por uma grande irregularidade de distribuição e acesso, tanto em relação ao esgotamento quanto ao abastecimento de água, destacando-se o atendimento dessas condições á população de baixa renda (RADIS, 2015). Quando ocorre a baixa oferta ou ausência de saneamento sanitário diversas pessoas vivem em ambientes insalubres e expostos a diversos riscos que podem comprometer a sua saúde. Esses riscos são aumentados quando o indivíduo acaba por consumir água não potável, more

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em local sem coleta de lixo, drenagem de água e sistema de coleta e tratamento de esgotos; ausência de local adequado para destino de fezes e urina. O acesso ao saneamento básico faz toda diferença para afastar determinadas doenças que superlotam o sistema de saúde, muitas vezes necessitando de hospitalização, como afetam as crianças, vítimas do descaso político (RADIS, 2015). Desta forma, apresentamos como principal questionamento da pesquisa o seguinte problema: Quais as condições de saneamento básico das famílias cadastradas no Sistema de Informação da Atenção Básica- SIAB do distrito de Alto Lindo, Ibiapina-CE? Diante disso, o objetivo principal deste estudo é analisar as condições de Saneamento Básico das famílias cadastradas no distrito de Alto Lindo, Ibiapina-Ce, a partir do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), e com o intuito de atingir o objetivo geral tiveram-se os seguintes objetivos específicos: a) Determinar a proporção de famílias que contam com abastecimento de água; b) Determinar a proporção de famílias que contam com destino de lixo; c) Determinar a proporção de famílias que contam com destino para fezes/ urina; d) Determinar a proporção de famílias que contam com tratamento de água no domicílio; e) Descrever os impactos na saúde das famílias quando da inadequação do saneamento básico; e f) Identificar as doenças mais frequentes decorrentes da ausência de saneamento básico. É sabido que as condições de saneamento básico devem ser ofertadas a toda população, entretanto, não é o que se ver com frequência em certas cidades e regiões do país. Certos municípios não contam com o mínimo necessário, já outros a tem de forma precária, o que contribui para a presença frequente de certas doenças, muitas vezes evitáveis por uma simples situação de saneamento, doenças essas que acometem principalmente as crianças, estando as doenças diarreicas como as mais comuns (RADIS, 2015).

Este é o cenário que motivou a realização do presente estudo, pois atualmente o que se percebe é uma forma de desleixo das autoridades com um assunto de crucial importância para a saúde da população (especialmente as menos favorecidas economicamente), qualidade de vida das pessoas e salubridade ambiental.

2 SANEAMENTO BÁSICO, MEIO AMBIENTE E SAÚDE De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2004), saneamento básico é o conjunto de ações socioeconômicas que visam alcançar a salubridade ambiental, ou seja, uma condição de saúde normal. É uma condição indispensável á promoção da saúde. O Saneamento Básico é denominado como: “(...) o conjunto de ações socioeconômicas que tem como objetivo alcançar Salubridade Ambiental, por meio de abastecimento de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, promoção da disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças transmissíveis e demais serviços e obras especializadas com a finalidade de proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural”. (FUNASA, 2001 p.36). 16


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A oferta de saneamento básico inclui os seguintes serviços: esgotamento sanitário, abastecimento de água com qualidade, limpeza urbana, drenagem de águas pluviais e manejo dos resíduos sólidos (RADIS, 2015). Contudo, sabe-se que ainda há milhões de pessoas que não possuem esse direito de acesso ao saneamento básico garantido, apesar de saber que o mesmo é questão de saúde pública. Segundo RADIS (2015), no Brasil apenas 64% dos domicílios tem acesso ao sistema de esgotamento, o que ajuda a acentuar as desigualdades, uma vez que, os mais pobres são mais expostos a essa falta de salubridade. Os serviços de saneamento são fundamentais para a vida, á preservação da saúde, ao meio ambiente, além de proporcionar bem estar e qualidade de vida ás pessoas. No Brasil observa- se que esses serviços são irregulares e não universais, apesar de existir uma política que garante o acesso a esses serviços, constituindo risco á saúde pública (RADIS, 2015). Para Abicalil (2002), a prestação dos serviços de saneamento é uma obrigação do Estado, que pode ser realizada diretamente ou através de concessão ou permissão. O Capítulo VI da Constituição Federal do Brasil é dedicado ao Meio Ambiente, garantindo acesso a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à qualidade de vida sadia, cabendo ao poder público e a sociedade preservá-lo, para as gerações atuais e futuras. (BRASIL, 1988). Sabemos que existe uma estreita relação entre saúde e meio ambiente, pois a maioria das doenças está relacionada com a vida em sociedade, as condições físico-ambientais, a disponibilidade de água potável, alimentos, entre outros. A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2015) divulgou estudo que revela que 28 mil pessoas morrem por ano no Brasil em decorrência de doenças provocadas por água contaminada, condições sanitárias precárias e falta de higiene. Existem diversas doenças infecto-parasitárias que tem sua transmissão através de condições inapropriadas de higiene e saneamento, um exemplo disso são as diarreias, leptospirose, hepatite A e cólera; afetando diretamente as crianças menores de 5 anos, sobretudo em países em desenvolvimento onde o número de internações de crianças com diarreias é elevado (DUTRA, 2009). A água potável é aquela considerada apropriada para o consumo humano, entendida como um elemento essencial á vida no planeta, assim o homem necessita de um abastecimento de água eficiente para poder atender a s suas necessidades, para proteção de sua saúde e desenvolvimento econômico. O sistema de esgotamento sanitário também é essencial para afastar o contato de dejetos humanos com a população, diminuir a poluição ambiental, com as águas de abastecimento e com vetores de doenças e alimentos. A coleta do lixo é outro serviço que está incluído nas ações de saneamento básico. O 17


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lixo nada mais é que os resíduos oriundos da atividade humana. Quando o lixo é disposto de forma inadequada, em locais a céu aberto, por exemplo, gera problemas ambientais e de saúde; atraindo animais e vetores de diversas doenças. Além disso, podem poluir o ar, o solo e as águas superficiais e subterrâneas (DUTRA, 2009). O sistema de drenagem de águas facilita a vida urbana prevenindo formações de poços de água em vias públicas e possíveis focos de proliferação de vetores de doenças. O controle de vetores é outro serviço que se insere na política de saneamento básico constituindo meio de evitar que certos animais possam estar transmitindo doenças aos seres humanos (RADIS, 2015). 3 METODOLOGIA Caracterizamos o presente trabalho, de acordo com seus objetivos, como do tipo descritivo, com abordagem quantitativa, desenvolvida através de pesquisa documental, onde os dados serão obtidos da análise documental dos relatórios da Ficha “A” do Sistema de Informação da Atenção Básica- SIAB. A pesquisa descritiva de acordo com Gil (2006, p.46) “têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”. Foram utilizadas as fichas ‘“A”, que são fichas de cadastramentos das famílias utilizadas pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACSs) e preenchidas no momento das visitas domiciliares e servem para conhecer as características da população, como sexo, idade, tipo de moradia, nível de escolaridade, doenças dos clientes e informações sobre abastecimento de água no domicílio, destino do lixo, destino de fezes/urina e tratamento de água no domicílio, de todo o período do ano de 2015 e realizada a média aritmética dos dados referente a cada quesito condicionante inserido nas ações e serviços de saneamento básico, posteriormente, foram postos os dados em quadros para melhor compreensão. Foram analisadas as 12 fichas “A” do ano de 2015 consolidadas mensalmente com as informações colhidas pelos 05 ACSs da área de abrangência da Estratégia de Saúde da Família (ESF) de Alto Lindo, localizado na zona rural do município de Ibiapina- CE. O número de famílias cadastradas sob responsabilidade da ESF de Alto Lindo é de 639, perfazendo o total de 2.091 pessoas, o que corresponde a 100% dos moradores do local, sendo que possui uma microárea sem cobertura por ACS. As fichas “A” são instrumentos de coletas de dados do SIAB padronizadas e distribuídas aos municípios pelo Ministério da Saúde. A análise dos dados ocorreu a partir da comparação da análise estatística (média) descritiva das informações obtidas pelas fichas “A” referentes aos indicadores de condições de saúde (saneamento) e de acesso dos indicadores ambientais da população referida. As fichas “A” apresentam outras informações, porém, para a realização do trabalho, somente foram utilizados os indicadores referentes a saneamento básico. Para o alcance dos objetivos deste estudo, o levantamento e a revisão das publicações 18


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relacionadas ao tema, foram feitos em banco de dados impressos, revistas, livros, dissertações e instrumentos eletrônicos (Lilacs, Bireme, Scielo). A partir daí, foram feitas leituras, releituras e anotações em fichas catalográficas e de anotações pessoais daqueles conteúdos mais pertinentes à temática. A elaboração do trabalho foi fundamentada nas ideias e concepções de teóricos como Dutra (2009), Abicalil (2002), Bovolato (2010), Miranda (2002) e Orrico&Gunther (2002), entre outros. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados relacionados na construção dos indicadores de saúde foram os que trouxeram dados a respeito dos serviços ligados diretamente ao saneamento básico como, por exemplo, abastecimento de água dos domicílios, destino do lixo, destino de fezes e urina e tratamento de água no domicílio foram extraídos da ficha A do SIAB.

4.1 ABASTECIMENTO DE ÁGUA Água em quantidade e qualidade é essencial para a qualidade de vida humana, sendo um elemento essencial á vida, Bovolato (2010, p.12) nos ratifica isso dizendo: A água constitui elemento essencial à vida vegetal e animal. O homem necessita de água de qualidade adequada e em quantidade suficiente para atender as suas necessidades, para proteção de sua a saúde e para propiciar o desenvolvimento econômico.

A disponibilidade de água adequada para o consumo é uma questão de saúde e apresenta sua acessibilidade e portabilidade em constante questionamento nas zonas rurais. No distrito de Alto Lindo a maior parte da população conta com um sistema de abastecimento de água por conta da Rede Pública. Na Figura 01 observa-se que 95,60% da população do distrito estudado utilizam fonte de água canalizada e 4,4% dessas famílias ainda recorrem á poços ou nascentes e outros tipos de fonte para obtenção de água. Segundo a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE (BRASIL, 1994 apud BRASIL, 2003, p.18), essas outras fontes de abastecimento de água correspondem a “domicílio abastecido com água de chuva, carro-pipa, ou apanhada em fonte pública, poço, ou bica, fora do domicílio ou peridomicílio.” Todavia, isso não significa que essa água fornecida seja de boa qualidade, uma vez que a água distribuída na maioria das comunidades rurais é extraída de poços comunitários que ficam por conta da responsabilidade da comunidade local, inclusive seu tratamento com cloração, o qual ocorre de forma não confiável. Além do mais, alguns desses poços podem ser perfurados próximos a fossas sépticas, o que pode causar a contaminação in locudas redes de águas com coliformes fecais, fora a contaminação no decorrer da distribuição e armazenamento aumentando o risco de desenvolver doenças, especialmente em crianças; e nem sempre o fornecimento 19


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de água é contínuo, que acaba por obrigar as famílias a armazenarem a água em outros locais que geram riscos de contaminação. Corroborando para isso, Orrico&Gunther (2002) afirmam que as comunidades rurais são as que mais sofrem na busca de fontes alternativas de água o que aumenta as possibilidades de poluição ambiental e adoecimento.

4.2 DESTINO DO LIXO Referente às formas de destinação do lixo gerado pelas famílias do distrito de Alto Lindo apenas 36,98% das famílias contam com coleta pública, 36,14% das famílias jogam seu lixo a céu aberto e 26,88% realizam a queima ou enterram o lixo, como podemos observar na Figura 02. A coleta do lixo no distrito é feito em média por três dias e os locais de destinação dos resíduos não são adequados e há locais onde as casas ficam distantes dos pontos de coletas o que impossibilita a chegada do carro coletor. Diante dessa situação preocupante vemos que os riscos á saúde por conta destinação inadequada do lixo é uma questão que gera a contaminação dos solos, atrai insetos e roedores potencialmente transmissores de doenças, além do que as queimadas de lixos podem provocar poluição atmosférica e ambiental, desencadear e agravar doenças respiratórias em idosos e crianças. 4.3 DESTINO DE FEZES E URINA (DEJETOS HUMANOS) O destino do esgotamento sanitário (fezes e urina) é de suma importância na prevenção e disseminação de doenças em uma comunidade. Em relação à destinação de fezes/urina por parte da comunidade estudada, podemos observar que 12,48% das famílias ainda depositam em céu aberto (na rua, no quintal, em rios), gerando contaminação de fontes de água e doenças diarreicas provocadas por vírus e bactérias presentes nas fezes/urina. (Figura 03). Como podemos observar 87,38% das famílias fazem uso de fossa, porém nem todas essas fossas são feitas adequadamente o que torna o serviço precário, principalmente nas áreas rurais, agravando para o risco de diarreias por conta da contaminação do solo e dos lençóis freáticos como aponta Miranda (2002) em seus estudos relatando a relação entre casos de diarreias e helmintíases com a precariedade da oferta de redes de esgotamento sanitário.

4.4 TRATAMENTO DE ÁGUA NO DOMICÍLIO Quanto às formas de tratamento da água utilizadas pelas famílias os dados não mostram uma preocupação estatística, visto que 75,76% fazem uso da filtração da água antes do consumo e 21,99% fazem uso da cloração, ou seja, utilizam o hipoclorito de Sódio 2,5% distribuído pelos 20


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Agentes Comunitário de Saúde (ACSs), Figura 04. Essa ação favorece a prevenção e promoção da saúde ao atuar como uma barreira na ocorrência de enfermidades de transmissão hídrica para os adultos, crianças e idosos. Sabemos que o índice de doenças de transmissão por via hídrica é altíssimo quando não se faz o tratamento adequado da água a ser consumida. Essa realidade é mais visível nas regiões mais pobres do país pela ocorrência precarizada da cobertura de saneamento básico onde as crianças com idade de até 5 anos são as mais atingidas por essa falta. Dutra (2009, p. 76) nos mostra que mesmo as famílias tendo acesso à água encanada os riscos de contaminação ainda existem no momento do fornecimento. Esse tipo de estudo nos traz o alerta para o fato de que o tratamento da água no domicílio possui ligação direta com a saúde das pessoas, e mesmo na possibilidade de acesso ao serviço de abastecimento público de água os riscos ainda persistem frente à possibilidade de contaminação no percurso. (DUTRA, 2009, p.76).

5 CONCLUSÃO Perante o que foi analisado, ver-se que apesar da maioria das famílias terem acesso ao sistema de fornecimento de água por meio da rede pública, sabe-se que não se pode confiar na qualidade da água, pois o sistema de captação, tratamento e distribuição é aparentemente precário e não satisfaz as recomendações sanitárias, pondo em risco a saúde da população estudada, a saber, as crianças. Isso se confirma pela presença de estudos universais e clássicos relativos a casos de diarréia e helmintíases nessa faixa etária. Assim existe a necessidade de melhorar o sistema de fornecimento de água da comunidade. 21


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Outra preocupação diz respeito à forma de destino do lixo no distrito onde, mais da metade das famílias queimam/enterram os resíduos e jogam a céu aberto o que gera a poluição ambiental e gatilha crises respiratórias em idosos e crianças. No que diz respeito à destinação dos dejetos humanos (fezes e urina) a localidade apresenta um dado preocupante já que é baixíssimo o número de famílias que têm acesso a sistema de esgoto; eliminando suas necessidades a céu aberto (no quintal, rua e rios) mostrando risco de adoecimento ás pessoas e potencial fonte de contaminação dos lençóis subterrâneos e a maioria conta com o sistema e fossas, que muitas fezes são feitas de forma irregular e inadequada. É válida também a realização de uma investigação relacionada ao impacto ambiental causado pelo destino inadequado dos dejetos humanos e do lixo produzido, bem como sobre um estudo que analise a qualidade da água de consumo fornecida aos moradores no distrito.

Porém, diante das formas de tratamento de água no domicílio as famílias apresentam uma boa cobertura através do uso de filtros e cloração, o que contribui para minimizar os impactos gerados pela ineficiência do sistema de saneamento básico do distrito. Assim, é visível a necessidade de melhoramento e ampliação dos serviços de saneamento básico em decorrência da estreita relação da ocorrência de certas doenças, como diarreia, cólera, hepatite A e helmintíases em que as mesmas atuam como principais doenças ocasionadas pela falta de condições de Saneamento básico adequadas, sem falar dos impactos ambientais gerados. REFERÊNCIAS ABICALIL, M. T. Uma Nova Agenda para o Saneamento. In: O Pensamento do Setor Saneamento No Brasil: Perspectivas Futuras, v. 16, Série Modernização do Setor Saneamento, pp.115-135, 2002. BOVOLATO, Luís Eduardo. Saneamento Básico e Saúde. 2010. Disponível em:<http://revista.uft.edu.br/index.php/escritas/article/view/1145/8039>. Acesso em 18 mar. 2015. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. SIAB: Manual do sistema de Informação de Atenção Básica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 1. ed., 4.ª reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2003. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. 22


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DUTRA, Carla Daiane Costa. Saneamento, saúde infantil e indicadores epidemiológicos na Bahia: uma perspectiva de análise através de sistemas de informação. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente), Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Estadual de Santa Cruz- UESC, Ilhéus, Bahia. 2009. FUNASA, Fundação Nacional de Saúde. Manual de Saneamento. Brasília: FUNASA,2001. GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos e Pesquisa. 4º ed. São Paulo, Atlas S.A, 2006. MIRANDA, D.C. Inter-relação entre Saúde Pública e Saneamento no Município de Vitória. Trabalho apresentado no VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. Disponível em:<http://www.bvsde.paho.org/bvsacd/sibesa6/cclxiii. pdf> Acesso em 30. mai. 2008. ORRICO, S. R. M; GUNTHER, W. M. R. Saneamento e Morbidade em Comunidades do Nordeste do Brasil. Trabalho apresentado no XXVII Congresso Interamericano de IngenieriaSanitariay Ambiental. Cancun, México. 2002. Disponível em http://www.upb.org.br/pdf/IDH2006.pdf>. Acesso em 01 dez. 2007. RADIS. Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro. Saneamento é básico,nº 154, jul. 2015. WHO. World Health Organization. Child Health and diseases related to poor sanitation. Disponível em: <http://www.who.int/ith/en/> Acesso em 12 jan. 2015. WORLD HEALTH ORGANIZATION – Water, Sanitation and Hygiene Links to Health. November, 2004.

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Ficha A- Verso

ANEXO IV

CARTA DE ACEITE DE ORIENTAÇÃO

ANEXO II

Ficha A - Frente

ANEXO III

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OS IMPACTOS AMBIENTAIS E SEUS EFEITOS DEGRADATIVOS CAUSADOS PELA A PECUÁRIA DE GADO LEITEIRO EM SÃO JOSÉ DO DIVINO- PI

VERÔNICA DE SOUSA MACHADO1 KELLY POLYANA PEREIRA DOS SANTOS2 MARIA BEATRIZ DIAS COUTINHO3

RESUMO Este estudo foi realizado na cidade de São José do Divino-PI, por ser um dos maiores produtores do estado do Piauí. Com um grande rebanho de 10.492 bovinos. Dai surgiu a necessidade de um estudo para evidenciar os impactos ambientais causados pela criação de gado leiteiro. Portanto, este artigo tem o objetivo de conhecer os principais impactos ambientais causados pela pecuária leiteira em São José do Divino e seus efeitos degradativos. Mesmo sendo uma atividade atribulada, é de extrema importância para a humanidade e para região, portanto se trata de um bem alimentício que gera muitos benefícios socioeconômicos. A metodologia utilizada para o estudo foi uma pesquisa de campo, com aplicação de entrevistas e questionário e averiguações de documentos, artigos e revista do município. Os resultados comprovam que os impactos ambientais existem, assim como em outras atividades econômicas, os pecuaristas por fazerem mau uso dos recursos da natureza, causa empobrecimento do solo, a erosão, a contaminação das águas, o rebaixamento dos lençóis freáticos, diminuição da biodiversidade entre outro. Por isso, a importância de despertar o interesse dos pecuaristas leiteiro, são-joseense em conservar e respeitar o meio ambiente e de não só buscar o lucro da produção. No que diz respeito aos recursos naturais, todos têm de ter consciência que são bens coletivos, de uso de toda sociedade e garantido por lei que eles têm de ser preservados para que possamos usufruir de um ambiente sadio. Palavras-chave: Fazendeiros. Produção leiteira. Degradação. Recursos naturais. Preservação. 1 INTRODUÇÃO Criar gado é uma prática que faz parte da cultura de São José do Divino-PI, pois traz benefícios para a economia, no entanto os produtores não refletem sobre os malefícios que foram surgindo ao meio ambiente com a prática dessa atividade, os recursos naturais foram sendo degradados com o decorre dos anos. 1 Professora graduada em Geografia e Arte Visual e pós-graduada Educação ambiental e Gestão Escolar, e-mail: veronicasmachado@hotmail.com 2 Mestre em Desenvolvimento em Meio Ambiente –UFPI 4 Mestre em Desenvolvimento em Meio ambiente-UFPI 25


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Mesmo a região tendo disposição para produção leiteira por conta das características ambientais favorecidas pelos os fatores com: bom solo, luminosidade, temperatura, disponibilidade de água em razão dos rios Piracuruca, Jacareí e o Longá, contribuindo para boas pastagens, que é um alimento constante dos animais. Ainda que seja uma prática destruidora do ambiente é também uma a atividade de valor expressivo para a economia no município. Segunda a revista da Festa do Leite de São José do Divino (2015, p. 10) o montante do leite produzido em um mês equipara-se ao repasse mensal do Fundo de Participação do Município, que é a principal fonte de renda do município. A pecuária leiteira não pode ser extinta, na região apesar dos impactos causados, é uma fonte de renda de boa parteda população e alimentos de muitos, em nosso meio social. No decorrer dos anos a criação de gado leiteiro é exercida no município por homens que alteram o equilíbrio do meio ambiente, sem respeitar os limites dos recursos naturais, os produtor não se preocupam com preservação da natureza, o que lhe interessam é o aumento da produtividade. Portanto os pecuaristas acham queinvestimentos no meio ambiente aumentariam o trabalho e os custos sem trazer aumento proporcional da produção e do lucro. Segundo Machado (2002), os recursos naturais existentes entre céu e terra devem satisfazer as necessidades de todos os seres vivos desde que não infrinja os direitos do meio ambiente. A saúde do homem e do meio ambiente deve levar em conta o estado dos elementos naturais, como: água, solo, ar, flora, fauna, e paisagens em geral. É de fundamental relevância a conscientização dos pecuaristas e da população de São de José do Divino, da necessidade e da urgência de discutir o assunto proposto neste artigo, a fim de que sejam apresentados ao nosso meio rural social e acadêmico os impactos ambientais que a criação de gado leiteiro como atividade econômica e financeira pode causar a natureza, quando não é planejada e desenvolvida de maneira sustentável. Esse trabalho tem como objetivo conhecer os principais impactos que a pecuária leiteira de São José do Divino causao meio ambiente. Visto que só os fazendeiros conhecendo os impactos que causaram poderão se sensibilizarem para colocarem em pratica ações que contribuam como medidas de prevenção e defesa dos recursos naturais.

2 DADOS DA PRODUÇÃO LEITEIRA SÃOJOSEENSE A cidade de São José do Divino está localizada ao norte do Piauí, na Microrregião Litoral Piauiense, possui uma população segundo o (IBGE, 2010) de 5.148 habitantes, em uma área territorial de 319,128 km2 e está situada a 18 km da BR 343, ligado a esta pela PI 111. O município é denominado de maneira informal por muito “Terra do leite”, como forma de homenagear ou fazer menção à grande produção de leite que faz do município um dos maiores produtores do estado do Piauí. 26


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A principal característica da produção do leite de são José do Divino é que a atividade é denominada por pequenos produtores. Mas somando, os pequenos produtores são os responsáveis pela segunda maior produção de leite do Estado, ficando atrás apenas da cidade de Parnaíba, o maior produtor, e á frente de municípios como Luiz Correia e Teresina, quem vêm logo atrás de São José do Divino. (São José do Divino Perfil Municipal-2013, p.33). Segundo da Revista Festa do Leite de São José do Divino(2015, p.10) um levantamento feito pela Associação de Produção de Leite (ASPROLE), onde reuniu os criadores de São José do Divino, revela que a região conta com cerca de 150 produtores. Destes, o maior percentual produz em sua maioria a média de 200 a 300 litros de leite por dia. Os que produzem acima de 500 litros são na faixa de seis produtores. Apenas dois conseguem produzir acima de 800 litros/ dia. Tendo o município uma produção leiteira em média de 15 a 16 mil litros diária.

Segunda a Agência de Defesa Agropecuária do estado do Piauí (ADAPI), no município de São José do Divino existem 223 fazendas registradas, pois as mesmas correspondem 70% das terras do lugar, com predominância dos estabelecimentos pequenos. Com um rebanho que totaliza 10492 cabeças de gado e para sustentar um rebanho deste porte e fazer que cada dia a produção crescer, faz-se necessário aumentar a demanda por recursos da natureza. Com isso crescer os impactos ambientais nas fazendas do município. 2.1 OS IMPACTOS AMBIENTAIS DA PECUÁRIA LEITEIRA DE SÃO JOSÉ DO DIVINO As evidências de desarmonia entre os homens e a natureza têm sido crescente em todo o planeta. Desde que os recursos naturais têm sido utilizados pelo homem de maneira exagerada os impactos ambientais se espalham por todo o planeta, vindo a comprometer a sustentabilidade. Segundo a definição trazida pela Resolução n.º 001/86 do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), Artigo 1º, o impacto ambiental é: Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia re27


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sultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota; IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais. Todo produtor rural tem o direito de usar sua propriedade livremente, porém observam-se alguns princípios intrínsecos a esse direito, diz Ribeiro (2001). Então, o proprietário deve utilizar a propriedade como bem entender, sendo necessário que ele respeite os recursos naturais existentes. Portanto, como se diz que o proprietário rural pode usar livremente sua propriedade, achar que a mesma é apenas o solo superficial e a vegetação e os animais que ali nasce, mas não faz parte da propriedade o subsolo, o ar e as nascentes os lençóis freáticos, esses recursos citados pertencem à União e aos Estados, independentemente de estar dentro ou fora da propriedade. A atividade bovinocultura leiteira de São José do Divino constantemente vê acarretando lesões ambientais ao município. Muitos destes danos não são compreendidos e nem são levados a sério pelos pecuaristas, entretanto a maioria não tem consciência de que os recursos naturais são de necessidades vitais para o ser humano e para os demais seres vivos, sem ar, sem água e sem solo não há vida. Portanto, a produção da pecuária leiteira deve ser de maneira sustentável, sem que nenhuma das partes perca. Nesse processo de criação de bovinocultura leiteira, os produtores alargam a degradação com a intensificação dos fatores impactantes a natureza com o emprego de máquinas agrícolas, promoção do desmatamento de grandes áreas para a formação de pastagens ou para o cultivo e fabricação de rações, o pó emitido para atmosfera na fabricação das rações, monocultura de milho e capim, irrigação, implemento de matéria orgânica ao solo, queimadas em pastagens e florestas, poluição por dejetos animais com acúmulo de fezes e urina nos curais, pisoteio intenso dos animais, mata ciliar destruída, uso intensivo deagrotóxicos, pastagens sem utilização do devido descanso da área, perfuração de muitos poços tubulares, descarte inadequada de embalagem de agrotóxicos, de remédios e vacinas, geração de resíduos líquidos com altas concentrações de carga orgânica o leite e o soro da coalhada que possibilita a proliferação de moscas e mosquitos, podem causar poluição direta nas fazendas. A construção dos espaços das fazendas é o resultado das profundas transformações do ambiente para ajustar às necessidades do rebanho, e esses lugares estão se transformando em áreas degradadas. Falta-nos, entretanto definir a natureza das relações essenciais do ambiente. Necessitamos racionalizar o uso dos recursos naturais, pois são bens de uso comum do povo, essencial á sadia qualidade de vida das presentes e futuras gerações sendo, portanto, um direito transgeracional, pois depende de quem ainda não nasceu, impondo a responsabilidade pela a manutenção, prevenção ambiental para todos, Poder Público, Empresas Privadas e a sociedade de maneira geral. 28


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3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Tipos de pesquisa A metodologia adotada neste trabalho foi uma pesquisa de campo, por meio de questionário e entrevistas orais com criadores de gado de São José do Divino. A mesma caracteriza-se como descritiva exploratória de caráter qualitativo, utilizando-se a entrevista e a observação como procedimentos de coleta de dados. Os dados coletados foram analisados e avaliados todo o conteúdo. Logo em seguida as analises das respostas dos fazendeiros foram identificados os principais impactos ambientais das fazendas da região. Com os dados em mãos, todas as respostas foram transcritas e pautadas em posicionamento de teóricos para que se possam propor ideias ou até mesmo promover discussões sobre o tema que venha favorecer no desenvolvimento de conceitos, valores e atitudes que forme conhecimentos necessários para que os mesmos adquiram um bom relacionamento com o meio ambiente e cheguem a uma pecuária sustentável. Depois das análises dos resultados apresentação para toda comunidade. 3.2 Áreas de estudo O estudo foi desenvolvido emfazendas de São José do Divino, por ser intensa a pecuária leiteira e com grande produtividade, também os impactos ambientais são enormes e visíveis os efeitos em todas as estâncias. 3.3 Perfil do produtor A pesquisa foi realizada com 30 fazendeiros todos residentes em São José do Divino e do sexo masculino, com faixa etária em media de 35 a 55 anos, todos com pouco estudo a maioria só sabem assinar o nome. Quase todos já atuam nessa atividade aproximadamente 20 anos. Outra característica importante é que todos são proprietários de suas fazendas e são pequenos produtores com a produção media de 0 a 200 litros/dias. 3.4 A aplicação do questionário e como está organizado A primeira etapa elaboração do questionário com 18 questões subjetivas em seguida aplicadas a 30 fazendeiros da região. Os mesmos foram respondidos de forma individual e suas respostas foram transcritas no tópico de resultados e discussão dos dados. 4- RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir dos dados coletados dos questionários e das observações feitas nas visitas das fazendas pela a pesquisadora, pode-se constatar que as informações foram relevantes para conhecer e identificar os impactos ambientais da pecuária leiteira de São José do Divino.O posi29


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cionamento dos fazendeiros foram o seguinte: • 100% dos fazendeiros entrevistados têm suas terras desmatadas; • 90% fazem queimadas no período da limpeza do pasto; • 100% também usam agrotóxicos para limpeza de novas áreas de pastagem ou no manejo das já existentes; • 100% responderam que o descartes das embalagens dos agrotóxicos, das vacinas e remédios usados são jogados na fazenda a céu aberto ou enterrados; • 80% disseram que tem área irrigadanas fazendas a irrigação é direta de rio ou é de poços tubulares; • 80% perfuraram poços tubulares em suas fazendas; • 100% praticam em suas fazendas a monocultura de milho e capim, as duas produções é costada na máquina forrageira e misturada com a ração que é comprada ou usada para fazer silagem; • 100% falaram que as fezes e as urinas são acumulo nos currais e dispersas por toda a fazenda • 30% dos fazendeiros poluem as águas dos rios, por a região ficar entre três rios Piracuruca, Jacareí e Longá; • 20% de outros impactos.

Observando o gráfico a cima é possível identificar os principais impactos ocasionados pela pecuária leiteira de São José do Divino: desmatamento, queimadas, usa de agrotóxicos, descarte inadequado de embalagens agrotóxicas, vacinas e remédios, irrigação, perfuração de poços tubulares, prática de monocultura, acúmulos de fezes e urina, poluição das águas dos rios e outros. Conforme os dados analisados no gráfico 2, percebe-se que cinco impactos ambientais se 30


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repetem em todas as fazendas que o proprietário foi entrevistado desde as grandes propriedades até as pequenas. Dos impactos citados no gráfico 2, dois foram considerados como mais preocupantes pelo os entrevistados o desmatamento e a grande perfuração de poços tubulares. Oprimeiro impacto o desmatamento que corresponde a 75% das terras fazendas, trazendo consequência preocupante como transformação das paisagens, aumento da velocidade do vento, rápida escoamento da água, compactação do solo, redução da fertilidade do solo, redução dos mananciais de água, erosão, desertificação, diminuição da biodiversidade da área.Além de está matando a natureza o desmatamento está comprometendo a continuidade futura da pecuária leiteira da região. (Ver no gráfico 3).

O segundo impacto ambiental é a perfuração do grande número de poços tubularesno município em quase todas as fazendas existe um poço, em algumas até dois, poisde acordo comos entrevistados cada vez mais necessita de uma profundidade maior de metros cavados para se encontrar água.Em 2011 encontrava-se água de 20 a 50 metros de profundidade, hoje essa profundidade aumentou para mais de 120metros, isso mostra que está havendo um rebaixamento dos lençóis freáticos da região.(Verno gráfico 4).

O município de São José do Divino, por ser uma das maiores bacias leiteira da região Norte do estado do Piauí, apresenta sérios impactos ambientais que foram apresentados no grá31


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fico2. Esses impactos são decorrentes de diversos fatores que vão desde a falta de informação até a ambição dos produtores por quererem produzir sempre mais não se importando com as consequências ocasionadas por essa prática econômica. Mesmo diante de todos esses danos nas fazendas, a resposta da última questão do questionário é preocupante, pois 90% dos fazendeiros estão preocupados com o aumento da produção e que as agressões à natureza sãonecessárias para produzir.Apenas 10% responderam que se preocupavam, mas que não podem fazer nada para amenizar essa situação. Isso comprova que o mais importante para eles é o aumento da produção. Portanto é de responsabilidade do ser humano ter cuidados permanentes com o ambiente e adquirir conhecimento, habilidades, valores e determinação que nos tornem capazes de agir individualmente ou coletivamente na busca de soluções para os problemas ambientais presentes e futuros. 5- CONSIDERAÇÕES FINAIS A prática da atividade agropecuária provoca grandes benefícios mais também malefícios devidos uma grande demanda pelos recursos naturais, para sustentar a produção leiteira de São José do Divino. A falta de conhecimento e o descaso por parte dos produtores causam enormes danos ao meio ambiente que por si só não consegue retornar o equilíbrio indispensável para um ambiente sadio. Este artigo atingiu o objetivo de conhecer e demonstrar os impactos causados pela criação de gado da região. Se de um lado há a pressão pelo aumento da produtividade e, do outro, esse aumento provoca a destruição do meio ambiente, é necessário, então, que sejam aplicadas técnicas de produção que minimizem os impactos e gerem retorno financeiro para serem atrativas ao produtor. Precisa-se buscar conhecimento para desenvolvimento sustentável desta atividade para que possa beneficiar não apenas o meio ambiente, mas também a sociedade como um todo é de extraordinária importância. A realidade atual exige uma reflexão cada vez menos unidimensional, e isto se produz na inter-relação dos saberes e das práticas coletivas que criam identidades e valores comuns e ações solidárias diante da apropriação da natureza, numa perspectiva que privilegia o diálogo entre saberes. Precisa conscientizar os produtores a respeito da importância da preservação do meio ambiente e com auxílio técnico, financeiro e social dos órgãos governamentais para que se reduzam os danos ambientais que a bovinocultura leiteira vem causando ao meio ambiente. Portanto, apesar do risco eminente de que o crescimento econômico prejudica o meio ambiente, uma vez que ele aumenta a pressão sobre os recursos ambientais, é fundamental que todas as nações se unam para estabelecer políticas públicas que levem a um desenvolvimento sustentável. 6- REFERÊNCIAS 32


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ADAP, Agência de Defesa Agropecuária do estado do Piauí. (Arquivo), São José do Divino, 2016. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente - MMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Resolução CONAMA nº 001/1986, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre critérios básicas e diretrizes gerais para a avaliação de impacto ambiental. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 jan. 1986. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/ res0186.html>. Acesso em: 22: 10h de 27/06 /2016. GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006. http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/areaterritorial/area.php?nome=%acessado dia 1104-2016 as 16;15h. http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=23 acessado 20:01 de 18/04/2016. IBAMA. Curso de Gestão Ambiental – Instrumentos Aplicados ao Licenciamento (Apostila). Brasília: 2002. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Populacional 2010. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 10. ed. São Paulo: Malheiros,2002. PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DO DIVINO, São José do Divino: Perfil Municipal, 2013. RIBEIRO, Augusto. A Produção Agropecuária e o Meio Ambiente. DBO Rural, a revista denegócios do criador, São Paulo, Ano 20, nº 254. Dez.2001 p.137.. SABINO, Aleidiano. Festa do Leite (Revista).2ª.ed.São José do Divino, PI: Editora Silar Gráfica, 2015.

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QUESTIONÁRIO REALIZADO COM OS PRODUTORES DE LEITE DE SÃO JOSÉ UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI DO DIVINO UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL – UAB NOME ___________________________________________________ SEXO: masculino NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEAD IDADE: media 35 a 55DO anos COORDENAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM BIODIVERSIDADE E CONSERVAÇÃO 1-Qual o nome de sua fazenda? CARTA DE ACEITE DE ORIENTAÇÃO 2- A sua fazenda tem quantos hectares de terra? 3- Qual a produção diária de leite na sua fazenda? 4- Qual é a quantidade do rebanho? Como um dos requisitos para aprovação na disciplina de SEMINÁRIO II do Curso de 5-Quantos hectares em média têm desmatado em sua fazenda? Pós-graduação em Biodiversidade e Conservação , informo que o Trabalho de Conclusão de Curso/Artigo do(a) das aluno(a) Verônica Sousa n°2004995, 6-É feito a limpeza pastagens comde fogo? SãoMachado, realizadasmatrícula outras atividades comdo Polo Piracuruca título, os impactos ambientais e seus efeitos degradativos causados pela a pecuária fogocujo na fazendas? de gado leiteiro em São José do Divino-PI, está AUTORIZADO para submissão à avaliação 7-Sua se localiza próximo de algum manancial hídrico como rio, açude junto afazenda Banca Examinadora . ou morro? Teresina 2016 8-O que 18,maio é plantado na fazenda. Quantos hectares por ano?

9-Quantos hectares de terras irrigados e de onde vem a água? 10-É feito algum tipo de ração nas fazendas? _____________________________________ 11-Há poço perfurado na sua fazenda? Foram cavados quantos metros para da água? Assinatura do Orientador 12-Qual é o tamanho do curral de sua fazenda e o que é feito com as fezes e urina do curral? 14-Há correção do solo nas fazendas ou uso de fertilizantes e agrotóxicos? 15-Como é tratado o rebanho? É vacinado todos os anos? 16- como é feita o descarte das embalagens, dos remédios, vacinas e NOME COMPLETO DO ORIENTADOR:Maria Beatriz Dias Coutinho Agrotóxicos? TITULAÇÃO: Mestre em Desenvolvimento em Meio Ambiente 17-Qual é a sua preocupação maior é com aumento da produção leiteira ou a destruição da natureza? GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ ANEXOS EMAIL:coutinhobiaa@yahoo.com.br

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ANÁLISES SOBRE O TRATAMENTO DO LIXO NA CIDADE DE CAPITÃO DE CAMPOS – PI Suany Rocha Rodrigues3 Maria Beatriz Dias Coutinho4 Kelly Polyana Pereira dos Santos5 RESUMO

O presente trabalho buscou problematizar questões relacionadas ao lixo produzido na cidade de Capitão de Campos – PI, buscando evidenciar os problemas ocasionados pela falta de serviços relacionados ao tratamento dos resíduos sólidos. A pesquisa teve como objetivo discutir sobre o problema do lixo na cidade de Capitão de Campos-PI. Além disso, buscou analisar o perfil dos entrevistados sobre a percepção que eles apresentam sobre o lixo. Para atingir o nível de análise pretendido foi utilizada como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica destacando alguns autores que trabalham sobre essa temática, e a pesquisa de campo, essa foi desenvolvida a partir de um trabalho de investigação que contou com a observação direta além da aplicação de um conjunto de questionários aplicados com uma amostra formada por vinte moradores. As análises permitiram compreender que embora as pessoas colaborem com a limpeza dos espaços urbanos, ainda é necessário uma maior mobilização dos moradores em parceria com o poder público para que a população não seja atingida pela forma inadequada em que o lixo é depositado. Diante os resultados alcançados com a pesquisa concluiu-se que o lixão precisa de mais investimentos, ou seja, a forma como o mesmo é utilizado oferece sérios problemas para todos, pois não há uma fiscalização que possa impedir a entrada de animais como porcos, e com isso oferecendo sérios riscos a saúde humana e também para o meio ambiente. Palavras-chave: Lixo Urbano. Meio Ambiente. Saúde. 1.

INTRODUÇÃO

Observa-se que a problemática do lixo é uma das maiores causas que trazem danos ao planeta Terra. A destinação inadequada do lixo provoca sérios problemas ao meio ambiente e isso contribui para o surgimento de doenças, poluição dos rios, do solo entre vários outros efeitos negativos. Desse modo trata-se de um problema socioambiental. Diante dessa realidade percebe-se que ainda há pouca conscientização da sociedade e dos órgãos competentes para ajudar a minimizar esse problema que afeta a vida de todos os 3 4 5

Graduada em Geografia pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Mestre em Desenvolvimento em Meio Ambiente – UFPI. Mestre em Desenvolvimento em Meio Ambiente – UFPI. Tutora EAD. 35


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seres vivos. Vale ressaltar que a problemática do lixo não está presente apenas nos grandes centros, pois nos pequenos núcleos urbanos é notável pontos negativos ocasionados principalmente pelos maus costumes e hábitos culturais que as pessoas têm em relação a coleta e ao tratamento do lixo. Muitos são os fatores que contribuem para o desgaste do planeta, e a problemática do lixo é um ponto de fundamental importância para ser estudado, pois é necessário que a população tenha conhecimento adequado sobre o tema para que possa tomar atitudes que ajudem a resolver esse problema. Outro ponto negativo, não apenas do município de Capitão de Campos, mas de muitos municípios brasileiros é a falta de um aterro sanitário, por isso que em muitos lugares o lixo é depositado de forma inadequada, pois geralmente eles são colocados em depósitos a céu aberto, ou seja, os lixões. Na cidade de Capitão de Campos, muitas pessoas desconhecem se no local onde vivem existe algum tipo de tratamento do lixo, além disso, não sabem informaro que é feito com o lixo que é coletado das suas casas, assim como seu destino final. O presente trabalho pretende, de forma geral, discutir sobre o problema do lixo na cidade de Capitão de Campos-PI, para isso, será analisado fatores como a percepção dos moradores a respeito do lixo urbano na área de estudo eo destino dado ao lixo urbano da cidade de Capitão de Campos. Para a execução dessa pesquisa, optou-se por utilizar os seguintes procedimentos metodológicos: de início foi feito o aprofundamento teórico com autores que trabalham essa temática, em seguida foi realizado um questionário com os moradores da cidade em estudo, após esses procedimentos foram realizadas reflexões baseadas nas contribuições teóricas e nas respostas obtidas nos questionários. O trabalho está estruturado da seguinte forma: o primeiro tópico trás uma abordagem sobre o tema em apreço, nessa parte do trabalho foi realizado um diálogo a partir dos teóricos que discorrem sobre a importância da coleta e tratamento do lixo, discutindo osprincipais impactos ambientais provocados pelo acúmulo de lixo, depois desse levantamento foram apresentados os resultados encontrados na pesquisa de campo,no último tópico foram realizadas reflexões baseadas no confronto entre as contribuições teóricas e a realidade encontrada na pesquisa, e por fim as conclusões obtidas após o desenvolvimento da pesquisa. Em relação aos impactos ambientais conclui-se que muitos deles são causados pelo próprio ser humano. Mesmo necessitando de todos os recursos naturais presentes na natureza as pessoas nem sempre se preocupam com as consequências provocadas por atitudes irresponsáveis que impossibilita e dificulta o desenvolvimento dos recursos presente na Terra.

2.

METODOLOGIA O estudo foi de caráter qualitativo, na perspectiva da pesquisa participante. O objetivo

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principal dessa investigação foi discutir sobre o problema do lixo na cidade de Capitão de Campos-PI, além disso, buscou-se tecer algumas reflexões sobre essa temática pautada na realidade que se manifesta no local de estudo. Esse tipo de investigação permitiu, conforme aponta Ricardson, (1999) descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos. Além da revisão bibliográfica que serviu de suporte para o desenvolvimento da pesquisa foi realizado uma visita de campo no lixão localizado na zona rural de Capitão de Campos. O contato direto com a realidade contribuiu para analisar de que forma acontece o tratamento do lixo e também conhecer os impactos presentes no terreno em que é destinado o lixo. O campo de pesquisa desse trabalho abrangeu a cidade de Capitão de Campos-PI, para a realização do estudo foram entrevistados 20 moradores. O critério de escolha foram os funcionários da escola Educandário Pré-Vida, devido os mesmos residir em bairros diferentes e com isso ter uma visão mais ampliada sobre o conhecimento de cada participante sobre a questão do lixo. O estudo visou mostrar essa realidade na cidade de Capitão de Campos, a atual realidade encontrada em relação aos serviços oferecidos a população como também o destino que o lixo recebe após ser recolhido, apresentando os pontos positivos e negativos presentes na cidade.

3. CONSIDERAÇÕES SOBRE A IMPORTÂNCIA DA COLETA E DO TRATAMENTO DO LIXO Atualmente o planeta Terra vem passando por vários problemas ocasionados pela falta de consciência da população. Muitos são os impactos que afetam a vida de todos os sérios vivos, porém ainda são poucas as atitudes tomadas pela população para amenizar os riscos ao nosso planeta e com isso prejudicando e alterando muitos ambientes. Em virtude disso, é cada vez maior o número de pesquisassobre os impactos socioambientais ocasionados pela deposição e o tratamento incorreto do lixo nas grandes, médias e pequenas cidades. Propor uma abordagem conceitual sobre o problema do lixo, envolvendo desde a coleta à destinação final, configura-SE como uma proposta salutar no âmbito dessa pesquisa. Sobre o conceito de lixo, Soares afirma que: O lixo, tecnicamente chamado de resíduo sólido, pode ser considerado como qualquer material que seu proprietário ou produtor não considera mais com valor suficiente para conservá-lo. Por outro lado, o lixo resulta da atividade humana, sendo, por isso, considerado inesgotável, além de diretamente proporcional à intensidade industrial e ao aumento populacional (SOARES, et. al. 2007).

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O tratamento e a deposição de resíduos sólidos provenientes da atividade urbana têm preocupado atualmente, tanto as autoridades do município, como os demais grupos da sociedade interessados em refletir sobre essas questões. Mas na grande parte dos municípios brasileiros considerados pequenos, as prefeituras limitam a apenas em varrer os logradouros e recolher lixo domiciliar (Alexandre, 2014, p. 5). No que se refere à temática do lixo urbano no Brasil, há de se considerar que mais de 70% dos municípios brasileiros possuem menos de 20 mil habitantes, ou seja, são municípios pequenos, e que a concentração urbana da população no país ultrapassa a casa dos 80%. Isso reforça as preocupações com os problemas ambientais urbanos e, entre estes, o gerenciamento dos resíduos sólidos, cuja atribuição pertence à esfera da administração pública local (Monteiro, et. al. 2001). As pessoas consomem diversos tipos de produtos descartáveis, devido à correria do cotidiano é mais fácil utilizar esses tipos de produtos porque são mais práticos e ajudam as pessoas a ganharem mais tempo devido a simplicidade. Esses tipos de produtos ajudam a aumentar ainda mais a quantidade de lixo presente nos lixões, jogados nas ruas, nas lixeiras e em outros locais que nem sempre são adequados para serem despejados. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o lixo produzido no Brasil é composto majoritariamente por 52% de lixos orgânicos; 26% de papel ou papelão; 3% de Plásticos; 2% de metais e 2% de vidros, entre outros de menores proporções. (BRASIL, 2013). Para Siqueira e Semensato, existe uma grande carência de gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, isso implica dizer, que o tratamento dos resíduos deve ser melhorado desde a etapa de geração até a disposição final, ou seja, em toda a trajetória do lixo. Para os autores “é importante buscar a inovação das atividades de planejamento, procedimentos e processos aplicados ao tratamento dos resíduos de modo a garantir a qualidade ambiental” (2012, p.4). O lixo que é armazenado de maneira inadequada pode ocasionar sérios problemas para o meio ambiente contribuindo para que tanto o solo como a água seja contaminado, além disso, o surgimento de organismos que geram doenças atribui uma dimensão, além de ambiental, social para essa discussão.

Entre os impactos ambientais negativos que podem ser originados a partir do lixo urbano produzido estão os efeitos decorrentes da prática de disposição inadequada de resíduos sólidos em fundos de vale, às margens de ruas ou cursos d’água. Essa práticas habituais podem provocar, entre outras coisas, contaminação de corpos d’água, assoreamento, enchentes, proliferação de vetores transmissores de doenças, tais como cães, gatos, ratos, baratas, moscas, vermes, entre outros. Some-se a isso a poluição visual, mau cheiro e contaminação do ambiente (MUCELIN, et. al. 2008, p. 113).

Segundo Grippi (2006), as situações são bem diferentes de municípios para municípios, 38


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porém pode-se garantir que, frente aos recursos humanos e materiais atualmente existentes e disponíveis em cada administração pública, as suas dificuldades serão evidentes. Outro ponto negativo em relação ao lixo é a falta de tratamento, pois a maneira adequada seria o aterro sanitário. Porém a maneira mais utilizada são os lixões a céu aberto, nesse local tanto o lixo domiciliar, hospitalar, industrial entre outros tipos são jogados no mesmo lugar sem receber nenhum tipo de tratamento.Segundo o Ministério do Meio Ambiente: Diante de um orçamento restrito, como ocorre em grande número das municipalidades brasileiras, o sistema de limpeza urbana não hesitará em relegar a disposição final para o segundo plano, dando prioridade à coleta e à limpeza pública. Por essa razão, é comum observar nos municípios de menor porte a presença de “lixões”, ou seja, locais onde o lixo coletado é lançado diretamente sobre o solo sem qualquer controle e sem quaisquer cuidados ambientais, poluindo tanto o solo, quanto o ar e as águas subterrâneas e superficiais das vizinhanças (BRASIL, 2001, p. 149).

Além da falta de consciência da população, outro ponto que contribui para o aumento do lixo é a negligência do poder público, pois as medidas destinadas a resolver tais problemas não conseguem reduzir os impactos de maneira significativa. No Brasil, o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos é de responsabilidade das Prefeituras Municipais. Ainda é bastante reduzido o número de municípios que possuem um bom gerenciamento de resíduos sólidos, com sistemas adequados de coleta, tratamento e disposição final dos resíduos. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada pelo IBGE em 2000, 64% dos municípios brasileiros depositam seus resíduos em lixões. Apenas 14% possuem aterros sanitários e 18% possuem aterros controlados (BRASIL, 2005, p. 121).

Com as mudanças ocorridas na sociedade moderna, o aumento na produção mercadorias e o acelerado crescimento da população resultam na deposição de resíduos sólidos em lugares inadequados sem que haja qualquer tipo de tratamento ou reciclagem. Esses fatores se tornam ainda mais evidentes nas cidades de pequeno porte. Embora muitas campanhas aconteçam e medidas sejam tomadas, muito tem que ser feito ainda para ajudar a evitar a degradação no meio ambiente. A cada dia, mais lixos são produzidos pela população e a medida que sua quantidade aumente mais difícil fica para encontrar uma solução ou um meio que minimize os prejuízos causados pelo lixo. Autores como Morais (2015), relacionam o aumento dos resíduos sólidos com o desenvolvimento do sistema capitalista de produção, pois as pessoas estão se adaptando a um modelo consumista através do modismo, ou seja, muitos sentem a necessidade de possuir produtos novos, mais modernos, além disso, o aumento do uso de produtos descartáveis que geram uma maior quantidade de lixo diariamente. 39


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O crescimento do volume de resíduos sólidos, em decorrência desse consumo [provocado elo capitalismo] agride de diversas formas o ambiente, como por exemplo, a poluição visual, natural, atmosférica, causando doenças, e ajudando na proliferação de mosquitos e outros agentes transmissores de doenças perigosas. Os resíduos sólidos são uma característica comum do meio urbano contemporâneo, não só de grandes metrópoles como também de pequenos municípios (DIAS, et. al. 2013, p. 3).

Segundo o caderno de gestão ambiental, a ocupação urbana desordenada que vem ocorrendo em nossos dias tem causado acúmulo de grande quantidade de lixo, representando fatores de riscos crescentes à saúde e à vida da população (Penteado, 2011, p. 43). A concentração demográfica nos centros urbanos e principalmente o aumento do consumo de bens materiais são alguns dos fatores que contribuíram para que surgissem impactos no espaço urbano como também nas localidades onde o lixo é despejado.Muitos municípios brasileiros apresentam deficiências na oferta de serviços relacionados a limpeza do local. 4.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O lixo produzido pelos moradores de Capitão de Campos é coletado duas vezes por semana e depois é despejado em um lixão que fica localizado na área rural do município. O terreno que compreende a área do lixão é bastante extenso e possui grande quantidade de lixo e animais que se alimentam diariamente do lixo que é despejado no local.Durante o percurso que liga a área urbana até o lixão percebe-se que em alguns pontos há materiais jogados na estrada. Quando o caminhão que recolhe o lixo passa, consequentemente muito cheio acaba deixando materiais na estrada, pois conforme a velocidade e quantidade de resíduos sólidos presentes no transporte acabam caindo no caminho. Outro ponto negativo no local é a quantidade de porcos que se alimentam no lixão. Ao chegar ao terreno é notável um grande número de suínos se alimentando nas proximidades e dentro do lixão.Percebe-se que não há nenhum impedimento em relação à entrada desses animais, pois não há fiscalização e também os donos dos porcos não se preocupam em prendê-los evitando que eles se alimentem dos restos jogados no lixão. Além dos riscos à saúde que os animais perigosos que surgem com o aumento do lixo representam , as pessoas também podem sofrer sérios riscos ao ingerir a carne dos porcos que se alimentam constantemente nessa área. A entrada dos animais é de fácil acesso, embora o local seja cercado há uma parte da cerca derrubada que facilitada à entrada dos suínos e também o portão que serve de entrada para o caminhão fica aberto.

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Imagem 01– Consequência do despejo de lixo a céu aberto à vida animal.

Fonte: Pesquisa Direta, 2016.

Ao analisar essa realidade encontrada no município, percebe-se que o lixo não afeta apenas o meio ambiente, pois muitas pessoas desconhecem o fato e por vezes acabam se alimentado desse tipo de carne, onde a animal come restos provenientes de diversos lugares. Nesse sentido, obtêm-se uma maior reflexão a respeito do lixo urbano, pois de nada adianta ser recolhido pelos caminhões coletores para depois ser depositado de forma inadequada afetando ainda mais o meio natural e também a saúde das pessoas. Retirar o lixo da área urbana para depositá-lo em um terreno que não fique tão visível para a população não é a melhor opção, ou seja, de forma direta ou indireta o acúmulo do lixo acaba prejudicando toda a população. No local há um grande número de sacolas, alumínios, entre outros materiais que demoram muitos anos para se decompor. Seria interessante se no município tivesse um local destinado para a reciclagem, pois com essa opção além de gerar lucros também ajudaria a diminuir a quantidade de materiais que podem ter algum tipo de utilidade para o nosso dia a dia. Em alguns pontos do terreno foram feitos buracos para depositar o lixo, porém quando chove o mesmo acumula água, com isso facilitando ainda mais a permanência dos porcos nessa área. Verifica-se que a questão do lixo apresenta diversos problemas abrangendo temas ambientais, sociais, econômicos entre outros. Por isso, que o acúmulo desses dejetos devem ser evitados pela população e também a falta de fiscalização e tratamento no local deve ser denunciada, principalmente em relação o fato de o lixão servir de moradia para os porcos. Além de evidenciar alguns pontos a respeito do destino que é dado ao lixo de Capitão de Campos, foram aplicados questionários com alguns moradores da cidade. São de suma importância a coleta e o tratamento do lixo para que minimize os problemas que ele pode trazer para a 41


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saúde humana como também para o meio ambiente, por isso surge a necessidade de saber como a população participa desse processo. Nesse sentido procurou-se conhecer sobre o que os entrevistados fazem com o lixo produzido em sua residência. Dos 20 entrevistados que participaram da pesquisa 60% responderam que costuma colocar em sacolas plásticas para que seja levado pelo caminhão do lixo, porém 30% relataram que queimam para evitar acúmulo de lixo no quintal e 10% revelaram jogar em terrenos baldios que ficam próximos de suas moradias. Conforme os resultados obtidos, compreende-se que a maioria dos que participaram da pesquisa estão agindo de forma correta, pois na cidade de Capitão de Campos o poder público disponibiliza de uma caminhão para coletar o lixo. É de fundamental importância esse tipo de serviço, porém o mesmo só acontece duas vezes por semana, por isso alguns moradores acabam queimando o lixo para evitar lixo nos quintais ou em frente às residências.

Para muitos moradores a melhor atitude é a queima dos resíduos sólidos, mas essa prática é imprópria porque além de contribuir para a poluição do ar também prejudica o solo. Devido tais consequências, a queima de lixo se constitui em um crime ambiental estabelecido pela Lei (n° 9605/1998). No entanto, existem pessoas que preferem queimar mesmo sabendo que há serviços para transportar o material descartado. Muitos moradores desconhecem para onde o lixo é levado, pois coloca nas cestas destinadas ao lixo residencial para que o caminhão possa recolher. Cuidar da limpeza das moradias, das ruas não se trata apenas da estética do local e sim questão de saúde. A questão do lixo é um tema sério que traz graves problemas para todos, porque existem muitas maneiras do lixo prejudicar o meio ambiente. Percebe-se que a população compreende os riscos oferecidos pelo lixo, e também conhecem os reflexos negativos que ele oferece a sociedade. Conscientizar, praticar ações que ajudem a melhorar esse quadro é um desafio para a sociedade moderna, pois não se trata de uma questão simples, porque é preciso a participação de todos para que se tenha um controle ambiental e principalmente melhorias no destino final do lixo, evitando o surgimento de doenças e prejuízos para a natureza. 42


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A produção do lixo é um dos malefícios gerados principalmente na área urbana. Na cidade há uma maior quantidade de habitantes e com isso aumenta ainda mais o número de embalagens de plásticos, vidros, papéis que são jogados diariamente. Para 100% dos entrevistados, a limpeza das ruas é de responsabilidade do poder público em parceria com a população, mesmo assim há situações em que ambos deixam a desejar, sendo que há moradores que não se preocupam em selecionar o lixo para que o caminhão possa coletar, como também o poder público não está agindo de maneira correta depositando os resíduos sólidos no lixão. Buscou-se investigar sobre o que é feito com os materiais que podem ser reaproveitados. Dos entrevistados 30% relataram que não reaproveita, devido considerar que o lixo não possui nenhuma utilidade, e 70% costumam reaproveitar alguns materiais como caixas, plásticos, entre outros. Nesse quesito verifica-se que maior parte tem a preocupação em reutilizar os materiais e assim evitar maior acúmulo de resíduos sólidos. Sobre a limpeza da cidade de Capitão de Campos, 40% dos entrevistados consideram péssima, devido ter muito lixo na rua, 50% relataram que a limpeza da cidade está regular, porém 10% consideram ótima, porque as pessoas contribuem de forma significativa para a limpeza das ruas. Alguns pontos da cidade estão precisando de mais cuidados e limpeza. De acordo com a imagem acima verifica-se que no Centro da cidade não existe uma maior preocupação da população sobre o lixo que é despejado fora da lixeira como também sobre os trabalhadores responsáveis pela coleta do lixo .

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O reaproveitamento de sacolas, garrafas pets, papéis são exemplos de materiais que podem ter outras utilidades. Usando a criatividade, as pessoas podem até gerar renda, contribuir para o meio ambiente, entre outros benefícios. Vários são os impactos causados ao ambientem devido ao acúmulo do lixo e para que se tenham bons resultados é necessário que toda a população trabalhe de forma coletiva visando melhorias para o bem estar de todos. Nesse sentido, buscou-se investigar quais as possíveis atitudes que os entrevistados sugerem como forma de ajudar a reverter essa situação.

Várias foram as contribuições a respeito desse problema que afeta todas as cidades brasileiras, principalmente as de grande porte, onde a produção do lixo é maior e consequentemente os impactos são mais elevados. Ao verificar os dados obtidos percebe-se que a população conhece os problemas que causam alterações no ambiente físico e biológico. Infelizmente a problemática ambiental gerada pelo lixo ainda é um tema que gera muitos transtornos devido nem todos participarem com ações que poderão minimizar os prejuízos que afetam a natureza constantemente. No caso de Capitão de Campos, mesmo sendo uma cidade de menor porte verifica-se que existem perigos em relação a disposição final do lixo e também há pessoas que não possuem hábitos corretos que contribuam para a limpeza do local e principalmente para o meio ambiente. Muitas atitudes devem ser tomadas para que não apenas diminua a poluição visual e o mau cheiro causado pelos resíduos sólidos, mas para que as pessoas possam viver melhor, sem riscos a saúde e também não sejam prejudicadas pelas agressões causadas ao meio natural e social.

5.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para compreender a problemática do lixo é necessário conhecer os principais fatores que ajudaram na sua expansão. Ao longo dos anos, o crescimento populacional nas cidades contribuiu de forma exagerada para o aumento do lixo, além disso, o sistema capitalista através 44


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da expansão do sistema de produção e o aumento do consumismo favoreceram para que essa temática gerasse prejuízos ao meio ambiente. Analisando o perfil adotado pelos moradores de Capitão de Campos verifica-se que estamos precisando melhorar nossos hábitos em relação ao lixo produzido no cotidiano, além disso, a ausência do poder público nessa questão faz com que gere ainda mais impactos negativos em virtude do local inadequado para a disposição final dos resíduos sólidos. Nesse sentido, percebe-se que Capitão de Campos, necessita de mais recursos para melhorar a coleta e tratamento do lixo urbano. Para evitar a queima ou despejo do lixo o mais viável seria que o caminhão que recolhe esses tipos de materiais passasse mais dias por semana, dessa forma as pessoas não precisariam passar tanto tempo com lixo em frente suas residências, evitando o surgimento de animais causadores de doenças e também diminuiria o mau cheiro. Sobre o local em que o lixo é destinado é necessário que se tenha maiores cuidados. O local deveria ser cercado por muro evitando a entrada dos animais que se alimentam dos restos que são depositados, o portão que dar acesso ao lixão deveria ser fechado para evitar que os porcos, por exemplo, não façam do lixão a sua moradia. Conscientizar e alertar os donos desses animais, sobre os riscos que eles oferecem para as pessoas que poderão se alimentar desse tipo de carne, pois além dos porcos, cabras e bois também costumam visitar o local para se alimentar. Vale ressaltar sobre as agressões presentes na vegetação e também no solo, pois esses elementos foram e são alterados de acordo com o aumento do lixo no local. Analisar a atual situação dessas ações é uma forma de chamar a atenção da população, despertando interesse em conhecer como acontece todo o processo que envolve esse tema, pois a limpeza das ruas não se limita apenas em retirar os dejetos, é necessário que se tenha compromisso com o local onde ele é despejado, evitando impactos e também problemas que afetam a saúde da população. Contudo, seja na análise crítica da realidade, pautadas no confronto entre a própria realidade e a teoria, a pesquisa aponta à necessidade de maior investimento por parte do poder público e também é preciso que a população participe e ajude na limpeza da cidade, não visando apenas a estética do local, mas principalmente tentando diminuir os possíveis impactos ao meio natural.

REFERÊNCIAS

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ISBN 85-87166-73-5, 160 p. Brasília, 2005. DIAS, A. C. H. et. al. Problemas Ambientais Causados pelos Resíduos Sólidos Urbanos no Município de Iracema/Ce: Uma Aplicação do Pressão - Estado – Resposta (Per). XXXIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção – ENEP. Salvador, BA, Brasil, 2013. GRIPPI, Sidney. Lixo, reciclagem e sua história: guia para as prefeituras brasileiras. 1. Ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2001. MONTEIRO, J. H. P. et al. Gestão integrada de resíduos sólidos: Manual de gerenciamento integrado de resíduos sólidos. p. 200, Rio de Janeiro: IBAM, 2001. MORAIS, C. O. O lixo nas cidades, desdobramentos da política nacional de resíduos sólidos. 2015, 67 f. (monografia) – Universidade de São Paulo/ Departamento de geografia, São Paulo, 2008. MUCELIN, C. A e BELLINI, M. Lixo e Impactos Ambientais Perceptíveis no Ecossistema Urbano. Sociedade & Natureza, Uberlândia, p. 11-124, jun. 2008. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pddf/sn/v20n1/a08v20n1.pdf. acesso em: 15 de abril de 2016. PENTEADO, M. J. Cadernos de Educação Ambiental: Guia Pedagógico do Lixo. São Paulo (Estado) Secretaria do Meio Ambiente/ Coordenadoria de Educação Ambiental. Guia Pedagógico do Lixo. 6ª edição (revista e atualizada). ISBN 978.85.62251 – 01 – 6, São Paulo, 2011. RICHARDSON, Roberto Jerry: Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. SIQUEIRA, A. A; SEMENSATO, L. R. Resíduos Sólidos: Problemas e Desafios. Revista Saber Eletrônico, Vol. 3, num. 03, Ago.-Dez./2012. Disponível em: < http://www.unifaj.edu.br/ revista_unifaj.asp?secao=artigos>acesso em: 11 de abril de 2016. SOARES, L. G. da C; SALGUEIRO, A. A E GAZINEU, M. H. P. Educação ambiental aplicada aos resíduos sólidos na cidade de Olinda, Pernambuco – um estudo de caso. Revista Ciências & Tecnologia.n 1. julho – dezembro, 2007. Disponível em: <http://web – resol.org/ textos/artigo5.pdf >acesso em: 15 de abril de 2016.

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PLANTIO DE ÁRVORES FRUTÍFERAS EM LOCAIS PÚBLICOS NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DO DIVINO-PI

Maria Machado de Cerqueira Neta De Aguiar6 Maria Beatriz Dias Coutinho2 Kelly Polyana Pereira dos Santos3 . RESUMO O estudo justifica-se pela comprovação de que a importância da realização desse projeto no município está relacionada ao fato de que possa vir futuramente, contribuir com uma alimentação orgânica de qualidade e melhorar a climatização desses espaços. Pressupõe-se que este trabalho representa um esforço na conscientização e responsabilidade de preservação do meio ambiente. Autores renomados como Almeida (2014), Manica (1997), Santos (2001) e Teixeira (2001) foram consultados para enriquecer a bibliografia desse estudo. O mesmo tem como objetivo analisar a importância da implantação de áreas verdes nas vias públicas do município a partir do plantio de árvores frutíferas. Tendo como objetivos específicos: Refletir sobre espécies de árvores frutíferas típicas da região; Contribuir com o desenvolvimento sustentável. Os resultados sugerem que as espécies frutíferas seguem um padrão de escolha devido à tradição e também pela qualidade. Constatou-se, que com a produção desses frutos será elevada, pois os maiores beneficiados do cultivo dessas árvores serão as pessoas e diversas espécies de animais que se alimentam destas. Palavras-chave: Arborização. Frutas. Cuidados. Diversidade. Preservação ambiental.

1 INTRODUÇÃO O território brasileiro foi abençoado com uma enorme diversidade de árvores frutíferas em sua natureza; são frutas das mais variadas espécies e sabores tão comuns encontradas nos campos e mais recentemente encontradas próximas às calçadas e praças públicas de áreas urbanas.Essa questão é extremamente cultural, muitas árvores possuem frutos pequenos que não atrapalham em momento algum o funcionamento da infraestrutura 6 Professora graduada em Ciências Biológicas e Pós-graduada em Gestão e Docência do Ensino Superior. E-mail: netadeaguiar@gmail.com ² Mestre em Desenvolvimento em Meio Ambiente –UFPI 3Mestre em Desenvolvimento em Meio ambiente-UFPI 47


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urbana, o que pode beneficiar o equilíbrio do meio ambiente. Santos e Teixeira (2001) analisam que as árvores frutíferas em vias públicas terão efeito ornamental, além de atrair a fauna local através de seus frutos. Nesse entendimento, para que elas sejam cultivadas, deve-se ter noção sobre o limite de tamanho que a árvore poderá atingir, pois há espécies que produzem frutos grandes e estes podem sujar as vias e até mesmo cair sobre alguns transeuntes. Este estudo tem como objetivo analisar a importância do cultivo de árvores frutíferas no município de São José do Divino – PI visando à preservação ambiental e sua sustentabilidade a partir do plantio de árvores frutíferas.Tendo como objetivos específicos: Entender quais espécies de árvores frutíferas típicas da região devem ser cultivadas; Contribuir com o desenvolvimento sustentável; Desenvolver hábitos de alimentação saudável a partir da introdução de frutas na alimentação. O problema norteador refere-se ao seguinte questionamento: Quais benefícios que o cultivo de árvores frutíferas da região pode trazer para a comunidade local e para o equilíbrio da natureza? O estudo justifica-se pela comprovação de que a comunidade deve despertar para a responsabilidade de preservação do meio ambiente tornando-se consciente dos benefícios da implantação de árvores frutíferas em espaços públicos urbanos.Para melhor compreensão, o artigo foi dividido em tópicos. 2 A importância do plantio de árvores frutíferas em áreas urbanas As cidades estão cada vez mais cinzas, dessa forma a arborização de áreas verdes tende a dar uma nova dinâmica às cidades cobertas por afasto e poluição de diferentes formas.Muito tem sido dito sobre a importância do estudo e conservação do meio ambiente nas cidades. A importância da presença de áreas não se dá apenas pela paisagem, mas, pelo fornecimento de frutos produzidos por árvores espalhadas nas vias publicas das cidades. Complementam Silva, Andrade e Carvalho (2010) que a alimentação se caracteriza como uma questão mundial, pois afeta as pessoas em todo mundo não importando a classe social, uma vez que não abrange apenas a falta de alimentos, mas, outros problemas relacionados à utilização de agrotóxicos ou a forma como é consumido o alimento gerando riscos à saúde humana. Segundo o Ministério da Saúde (2002) e Madaleno (2000) as árvores que produzem frutos comestíveis são de suma importância para alimentação podendo ajudar no metabolismo fisiológico humano, além de oferecer sombra para aqueles que ficam próximos a ela. As arvores plantadas em uma cidade não só melhora a aparência da paisagem urbana, mas fornecem uma série de benefícios para seus habitantes, pois abafam densidade de ruído e sons irritantes, servem como uma barreira que impede a dispersão de partículas de ar, como poeira, fumaça e fuligem. 2.1 As árvores em ambiente urbano As cidades se constituem na mais artificial dos ambientes e paisagens. Essa é uma clara indicação do grau de modificação que pode chegar a um habitat criado pelo homem, em comparação com o ambiente rural circundante, em temperatura ambiente urbano, nebulosidade, precipitação são mais elevados, enquanto a velocidade do vento e umidade relativa diminui. Segundo Almeida (2014), um local com mais incidência de verde remete conforto e tranquilidade aqueles que apreciam a natureza. Nesse sentido, são muitos os benefícios que as 48


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árvores proporcionam, o conhecimento limitado que se tem sobre a importância das árvores frutíferas em áreas urbanas tem gerado a necessidade de se pensar em maneiras inteligentes para o seu desenvolvimento. Winkler Prins (2002, p. 16) afirma que “na Amazônia, os quintais residenciais são de grande importância tanto na vida rural como na urbana, quase sempre expressando um ‘contínuo rural-urbano’”. É importante ter em conta a influência do meio ambiente urbano sobre a vegetação que está exposta, há vários fatores que podem ser decisivos para a presença ou não desta. Entre os principais fatores que podem incluir o seguinte: a diminuição no abastecimento de água como resultado de pavimentação de ruas, calçadas cobertura e drenagem de águas pluviais, a diminuição da radiação e tempo de exposição solar, redução vital para o desenvolvimento das raízes e folhagem espaço, corte intermitente de raízes por obras públicas para a introdução de tubos e tubulações subterrâneas, ações como vandalismo, acidentes de carro, afundamentos, destruição, dentre outros. 2.2As espécies de árvores frutíferas mais utilizadas em vias públicas urbanas Sem árvores, a cidade é uma paisagem estéril, feita de tijolo, aço e asfalto. As mesmas tornam as comunidades mais habitáveis ​​para as pessoas, acrescentam beleza e criar um ambiente benéfico para a saúde mental. A árvore urbana ideal não existe, é necessário escolher uma espécie ideal e, que a mesma esteja em concordância com a função esperada e o local a ser estabelecido não cause nenhum transtorno. Muitas vezes são plantadas em cidades, sem planejamento adequado, sem preparo do solo, sem seleção adequada de espécies, etc. Como resultado, as árvores nascem fracas e doentes, ocorrem quedas por serem mal colocadas no chão, danificando o mobiliário urbano e a manutenção se torna cara. Milano (2000) e Soares (1998) desaconselham a utilizar árvores com frutos comestíveis que sujem a pavimentação; essas árvores podem ter melhor aproveitamento se forem cultivadas em áreas rurais principalmente na alimentação do gado. Dessa forma, a melhor maneira seria buscar frutos que fossem mais fácil de colhe-las para que as mesmas não recaiam sobre as calçadas. Manica (1997), Santos e Teixeira (2001) concordam em relação ao plantio de árvores cujos frutos são de tamanho grande, como o abacateiro e a mangueiras devem ser plantadas em locais onde não ocorra trânsito de pessoas ou veículos. Os autores afirmam que árvores de grande porte podem causar problemas, ou por quedas abruptas ou até mesmo interferir no funcionamento da rede de energia elétrica, podendo ser plantadas em locais de espaço maior como praças ou parques. [...]já é hora de lutar-se por uma arborização mais racional, sem ter eternamente presente à carência de educação ambiental do povo brasileiro. Há chances de obterem-se bons resultados, até porque já se teve oportunidade de se presenciar algumas iniciativas de particulares nesse sentido. (SANCHOTENE, 1985, p. 111)

Entende-se, que por mais danos que certas árvores podem causar, é importante o seu plantio, pois as mesmas contribuem para o equilíbrio da umidade e temperatura no planeta. Complementa Mascaró (2002, p. 200) sobre uma experiência positiva de plantio em Belém-PA: “Em ruas centrais foram plantadas mangueiras que, além de proporcionarem uma excelente 49


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sombra, fornecem frutos muito apreciados pela população local”. Considerando as árvores não apenas pela questão visual, mas, pela sua adaptação aos pequenos espaços, há espécies que se adéquam melhor às calçadas, como: o limoeiro, as pitangueiras, cerejeiras, dentre outras, pois produzem pequenos frutos.Os plantios de árvores frutíferas no Brasil acontecem de maneira artesanal, espontânea e sem nenhum planejamento, cabe assim a “tarefa de planejar e implantar uma arborização urbana racional e equilibrada, especialmente com árvores que florescem e frutificam, formando belos frutos” (MANICA, 1997, p.17). Cada município possui sua própria legislação ambiental, com espécies e restrições que vão de acordo com o clima do local e o seu impacto com a natureza. Qualquer pessoa pode plantar uma árvore frutífera em espaços urbanos, mas, sabendo escolher local adequado observando a legislação vigente e, tomando todos os cuidados necessários para que a árvore tenha vida longa e a população a preserve. Segundo Manica (1997, p. 34) “Em muitas ruas, avenidas e praças de Valência, na Espanha, desfruta-se da presença de muitas espécies de árvores frutíferas tais como, caquizeiro, [...], laranjeira-doce, laranja-azeda [...]”. Essa experiência de cultivo na Europa é visto com bons olhos, uma vez que Alguns centros urbanos espalhados pelo mundo acabam sacrificando sem escrúpulos grandes árvores frutíferas para construir obras e melhorar a infraestrutura. Sem dúvida, o aspecto mais controverso da gestão da arborização urbana é a política poda de árvores nas ruas. Raramente há um planejamento real e coordenado sobre esta questão. O ideal seria que cada município deveria dispor de um plano de conservação, onde pudessem incluir um inventário de todas as árvores existentes nos espaços públicos e privados e, incluir a política de poda a fim de manter a saúde das árvores para que possam ser usufruídos pelos cidadãos. 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 Tipo de pesquisa Este estudo tem como objetivo desenvolver uma pesquisa-campo. Os entrevistados para elucidar os questionamentos foram selecionados a participarem do processo de amostragem de forma espontânea e voluntária a afim avaliar a importância do plantio de árvores frutíferas em locais públicos na cidade de São José do Divino – PI. Para que esse estudo respondesse às indagações do pesquisador, o trabalho passou por algumas fases: a elaboração de um questionário semiestruturado e sua respectiva aplicação com intenção de relacionar os comportamentos de cada entrevistado. 3.2 Área de estudo O estudo foi desenvolvido no município de São José do Divino, nesse aspecto, a cidade apresenta enorme potencial de plantio de árvores frutíferas em sua área urbana. 3.3 Participantes Diante do caráter desse estudo, o mesmo foi realizado a partir de dados coletados numa amostra composta por 10 pessoas que residem no município estudado, sendo a maioria formada 50


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por 6 pessoas do sexo feminino e 4 pessoas do sexo masculino. O critério para a inclusão dos participantes nesse estudo foi: Residir na cidade onde foi realizada a pesquisa e dar o consentimento para a realização do mesmo através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram coletados entre os meses de março e abril de 2016 de forma voluntária. A idade dos pesquisados variam entre 18 a 50 anos.

3.4 Instrumentos e procedimentos de coleta e análise de dados Em primeiro momento, foi elaborado um questionário semiestruturado. Em segundo momento se deu pela escolha dos participantes de forma aleatória. Foi elaborado e encaminhado aos entrevistados um termo de consentimento para que os mesmos pudessem participar desse estudo. A escolha do questionário se deu pela facilidade de aplicação a partir de uma pequena amostra, com ampla quantidade de informações sobre o tema a ser pesquisado. O questionário contou com 6 questões com múltipla escolha e, em determinadas categorias os mesmos poderão relatar algumas sobreposições. Com os dados coletados, as respostas foram transcritas sem nenhuma alteração, ou seja, a opinião dos entrevistados durante o trabalho foi suficiente na elucidação de alguns questionamentos propostos na entrevista.Os questionários foram respondidos de forma individual e, suas respostas foram transcritas no tópico dos resultados e discussão dos dados.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Diante da leitura a partir da coleta dos dados obtidos através do questionário semiestruturado, pode-se constatar que as informações foram relevantes para a discussão acerca da importância da cultura de plantio de árvores frutíferas em vias urbanas do município de São José do Divino e a sua relação com a melhoria nutricional, ambiental e social local. A partir da tabulação dos dados do questionário, os sujeitos da pesquisa em sua maioria são compostos por mulheres num total de 60% e 40% totalizam a participação de homens, todos residem no município pesquisado. Ficou constatado nesse estudo a importância de se plantar árvores em vias urbanas no município estudado bem como em quintais urbanos. Ao se investigar, em primeiro momento quais seriam os benefícios que o cultivo de árvores frutíferas poderia trazer para a comunidade local, nesse aspecto foi possível sistematizar os dados a partir da opinião dos entrevistadose serão visualizado no gráfico abaixo:

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Diante do gráfico acima, notou-se pelo posicionamento dos entrevistados sobre o cultivo de árvores frutíferas nas áreas urbanas, o plantio das mesmas geram muitos benefícios, pois os frutos estão livres de agrotóxicos, evitando futuramente problemas de saúde.Em primeiro lugar, 50% dos entrevistados por sua vez afirmaram que a população local será a mais beneficiada, pois muitas frutas compradas nos mercados possuem diversos agrotóxicos. Em segundo lugar, 20% dos entrevistados acreditam que a cidade fica mais bonita; os outros 20% acreditam que o clima tende a melhorar quando as arvores são cultivadas nas áreas urbanas. Cerca de 10% dos entrevistados entendem que as pessoas podem se proteger do calor através da sombra das árvores e nenhum dos entrevistados optou pela opção “Outros”. Conforme Almeida (2014) as frutas servem como alimento para a fauna urbana. Nesse sentido, as árvores também fornecem além de frutos, abrigo para animais como aves e insetos, bem como um valor estético e psicológico, porque o verde produz tranquilidade. No questionário, foi solicitado aos participantes que ordenassem os fatores ou benefícios a partir do plantio de árvores frutíferas em vias urbanas, em suas falas os mesmos discorreram que: Além da influência benéfica ao clima, restabelecimento da relação entre o homem e o meio natural, proteção contra a proteção ao calor do sol e dos raios ultravioletas. Por fim, todos os participantes acreditam fidedignamente que as árvores só trazem benefícios à população. As respostas dos mesmos comungam de mesmo entendimento acerca dos benefícios obtidos pelo plantio de árvores fornecedoras de frutos. Em segundo momento, foi investigado o posicionamento dos entrevistados sobre a importância da conscientização da população para o aproveitamento das árvores frutíferas locais na melhoria da qualidade de vida. Os entrevistados deram sua opinião que poderá visualizada no gráfico abaixo:

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Diante do que está exposto no gráfico, é importante observar para um dado significativo: todos os entrevistados afirmaram que a conscientização é importante porque gera valor, aumenta a consciência na preservação ambiental. A maioria dos entrevistados, ou seja, 40% admitem que a redução da poluição é uma tarefa de todos e, corroboram que a as pessoas devem se conscientizar dos benefícios das árvores não apenas no meio urbano, mas com a preservação de florestas e matas; além da melhoria do clima a partir do benefício da sombra. Os 30% dos entrevistados afirmaram que se devem buscar as frutas locais e os seus benefícios e, daí partir para o cultivo delas. Os outros 30% analisam que comercialmente o cultivo de árvores frutíferas em pequenos pomares pode ser uma boa fonte de renda, principalmente no seguimento 52


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de indústrias que produzem polpas e doces, mercado esse crescente na região norte do Estado. Os autores Coltro e Miranda (2007) afirmam que não basta apenas plantar árvores, antes de tudo é necessário adequado planejamento e manutenção frequente. Esse cuidado deve ser direcionado aos administradores municipais e comunidade em geral, pois com esse esforço mútuo haverá significativo aumento da qualidade ambiental de árvores frutíferas. Os dados do Gráfico 2 foram confrontados com a análise das entrevistas e foi possível observar que na fala dos entrevistados que:“a população de uma comunidade precisa conhecer os tipos e espécies de árvores frutíferas de sua área local bem como os benefícios ligados a cada um para poder despertar o interesse pelo uso desses produtos ou recursos naturais”, “o cultivo de árvores frutíferas melhora significamente a qualidade nutritiva da alimentação e a saúde de modo geral”, “outro fator importante observado nas árvores frutíferas é o valor econômico e comercial que pode ser explorados em pequenos quintais da comunidade”. E “Poderá está sendo utilizada como fonte de renda e contribuirá numa alimentação saudável”, “A população terá frutas livres de agrotóxicos e de graça” e “Conhecer grande variedade de árvores frutíferas e seus benefícios nutricionais”. Notou-se no discurso dos entrevistados que eles veem o cultivo das árvores como uma saída para melhoria de toda a população a ser abastecida com frutas de alto teor nutricional como também poderá servir futuramente como fonte de sustento através da comercialização das mesmas.É necessário ressaltar que a visão dos entrevistados na análise das entrevistas não apresentou uma significativa oscilação de posturas durante suas falas e, foi possível identificar algumas vezes na fala dos mesmos praticamente o mesmo posicionamento. Diante do olhar dos entrevistados foi levantada aos mesmos a questão de quais ações individuais e coletivas que poderiam contribuir para a expansão de árvores frutíferas regionais nos diferentes espaços na cidade, os mesmos responderam e, suas opiniões serão visualizadas no gráfico abaixo:

Mediante a relevância do posicionamento dos entrevistados, para 60% dos sujeitos investigados o aspecto mais visível está na ajuda mútua da preservação e,acreditam que individualmente e coletivamente as pessoas devem adotar políticas de preservação, embora que de forma amadora, as pessoas devem ter consciência que as árvores são patrimônio da cidade e de todas as pessoas que ali vivem. Os entrevistados dividiram o mesmo posicionamento ao afirmarem que devem ser feitos reparos rotineiros nas árvores. Os 30% dos entrevistados concordam que as árvores frutíferas devem cultivadas nos a partir de uma variedade de frutos, pois as mesmas irão ajudar na alimentação e os 10% dos entrevistados por sua vez ponderam que a criação de cooperativas tende a ser uma boa opção para a expansão de árvores frutíferas. A opção “Pomares coletivos” não pontuou nesse gráfico.

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Entende Ferreira (1985) que a maior parte dos problemas enfrentados na plantação de árvores nas cidades está o desconhecimento sobre as mesmas. Complementa Velasco (2003) que é recomendável a utilização de árvores que suportem bem as podas. Ao selecionar determinadas espécies deve-se estudar sobre as mesmas e atentar para a sua preservação. Ao analisar a entrevista foi possível conhecer a opinião dos entrevistados a cerca das ações e contribuições para a expansão do cultivo de árvores frutíferas, de acordo com a fala de alguns dos entrevistados que de forma individual discorreram sobre a melhor saída é: “o plantio de árvores frutíferas” e coletivamente “montar cooperativas para ajudar no sustento local” e “Hortas comunitárias”.Observa-se pelas respostas que a maioria dos entrevistados de posicionaram de forma unilateral quanto ao plantio ou montagem das cooperativas, isso significa que as pessoas estão tornando-se conscientes da inúmeras possibilidades que as árvores e seus frutos podem fazer para uma sociedade, desde a alimentação até uma maneira de aumentar a renda mensal. Os entrevistados foram interpelados a darem o seu posicionamento acerca de quais espécies frutíferas existentes na comunidade local seriam importantes no consumo da população, as respostas dos mesmos foram reproduzidas no gráfico abaixo:

Conforme apresentado no gráfico acima, a escolha por determinadas árvores a serem cultivadas e sua preferência se dá pela presença das mesmas na região o que tornaria o seu cultivo mais fácil, sem gastar muito. De acordo com o posicionamento de 50% dos entrevistados acreditam que entre a maioria das árvores existentes destacam-se a presença das goiabeiras, aceroleiras e cajueiros tão comumente encontrados nos quintais da população. Entre 40% dos entrevistados preferem todas as espécies frutíferas e observam que o diferencial dessas frutas é o seu potencial vitamínico no tratamento e prevenção contra a gripe e outras doenças. Por outro lado, 10% dos entrevistados pontuaram a preferência por manga, carambola e laranja. Nenhum dos entrevistados assinalou a opção “seriguela, araçá e azeitona”, talvez devido ao seu crescimento em longo prazo o que dificultaria a população de se alimentar com as mesmas. Roppa (2007, p. 16) pontua que “quanto à presença de frutos nas árvores, observa-se um ganho ambiental e econômico, pois serve de atrativo e muitas vezes de refúgio”. Entende-se que muitas árvores frutíferas não precisam ser cultivadas apenas em pomares isolados, como também devem ser integradas à paisagem urbana. Com a análise do questionário em mãos, pode-se observar quanto à presença de frutos, conforme as respostas dos questionários, observa-se ainda há muitas outras frutas na região e que podem perfeitamente serem cultivadas e produzidas como: limão-doce, tangerina, ata, abacate, graviola e jaca, de acordo com a opinião dos sujeitos investigados. Ainda, é necessário observar que o cultivo delas gera menos despesas, pois os frutos podem se reverter em polpas a serem consumidas e/ou vendidas, como também complementarão o consumo familiar 54


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e ajudarão a desenvolver a economia local. Muitas dessas frutas citadas pelos munícipes acreditam que muitas árvores têm o seu crescimento acelerado quando as mesmas são cuidadas. Os entrevistados foram consultados a responder sobre como as árvores frutíferas que são cultivadas nas áreas urbanas do município poderão de certa forma causar algum transtorno, atrapalhar o transito de pessoas ou ocasionar possíveis acidentes. O posicionamento dos entrevistados pode ser visto no gráfico a seguir:

Diante do gráfico acima 90% dos entrevistados possuem mesmo posicionamento, eles afirmam que o cultivo dessas árvores no meio urbano não tende a prejudicar o trânsito e tampouco os transeuntes, no entanto, é necessário ficar atento para algum problema que a árvore venha apresentar em sua estrutura e os 10% acreditam que os acidentes podem ocorrer de outra forma, mas, que é algo muito difícil de acontecer, mas, consideram que algumas espécies de árvores não devem ser cultivadas de qualquer forma em meio a áreas urbanas, pois, elas podem quebrar calçadas devido ao crescimento de suas raízes ou a sua poda seja realizada de maneira irregular causando algum tipo de dano. A opção “Sim, poderá trazer transtornos” não foi escolhida e, portanto, não teve pontuação. Santos e Teixeira (2001, p. 19) analisam que “a frutificação das espécies poderá representar um efeito ornamental e servir de atrativo para a fauna local”. Conforme os autores não são aconselhados o cultivo de espécies de árvores de frutos grandes como o abacateiro, a jaqueira ou mangueira, pois estes podem sujar as calçadas e vias urbanas e causar acidentes, as árvores ideais a serem plantadas deve respeitar o espaço das vias públicas. Ao analisar a entrevistas, ficou claro que o entrevistado tem posicionamento firme a respeito do posicionamento das árvores em vias públicas, pois, “Se comparando aos benefícios que elas vão trazer para a população seus transtornos são mínimos”, “Fazer o plantio de somente de árvores que não atrapalhe a circulação do transito e pedestre”. “[...] nem todos os tipos de árvores frutíferas devem ser cultivados nos meios urbanos, pois muitas podem ocasionar acidentes ou até mesmo, suas raízes destruírem calçadas” e “a população devem cultivar plantas cujos frutos não causem acidentes e arvores que não ocupem muito espaço e com isso não atrapalhem os pedestres”, “o correto é que haja uma fiscalização e dessa forma ter cuidado com as árvores” e “a prevenção é o melhor caminho”. Assim, é necessário um diagnóstico parcial do estado de conservação de cada árvore, da via pública e, a elaboração de um projeto paisagístico que envolva a administração pública no sentido de fomentar um plano de ação no tocante à inclusão de árvores em vias públicas sem gerar desequilíbrio ambiental. Diante do questionamento sobre como a população deve fazer para conservar as árvores 55


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frutíferas e como consequência tenha aumento na produção e a qualidade desses frutos na cidade, os entrevistados puderam responder à indagação e a mesma pode ser vista no gráfico abaixo:

É possível observar que 100% dos entrevistados afirmaram que é muito bem-vinda a ajuda na manutenção das árvores, pois hoje em dia as mesmas têm um papel muito importante já que produz frutos e deve receber cuidados, senão a comunidade deixa de receber sombra, frutas, dentre outros benefícios. As opções “Utilizar água e adubos naturais” e a “De outra forma” não obtiveram pontuação/preferência dos entrevistados. Amir & Misgav (1990) apud Filho (2005) acreditam que “a conscientização da população a respeito da importância da arborização e sua participação como co-responsável no processo, é instrumento fundamental para o sucesso e o estabelecimento dos indivíduos arbóreos”. Complementa Santos e Teixeira (2001) que “a árvore é um elemento estruturador de espaços, responsável por qualidades estético-visuais e de bem-estar, mas passa a constituir um problema urbano decorrente de planos ineficientes, [...] falta de conscientização da população”. É importante que os usuários finais da arborização percebam que a importância dessas árvores nas vias urbanas, essas árvores são símbolos sociais presentes como um elo que aproxima pessoas nos centros urbanos. Ainda conforme a entrevista, os sujeitos da pesquisa mostraram que é possível a ajuda de todos que fazem parte da comunidade cuidar das árvores ao explicitar que “As árvores de modo geral, contribuem para o bem estar da população fornecendo, sombra, frutos e, a população deve sempre cuidar, podar quando for necessário e não deixar que as mesmas sejam destruídas”, “As pessoas devem levar em consideração que as árvores frutíferas ajudam o homem na sua alimentação diária e, nada melhor que as mesmas sejam conservadas”, “Cultivando bons hábitos”, “[...] não jogando lixo perto delas”, “Ajudando na sua podação”, “[...] na manutenção e manejo adequados”. Em vista dos posicionamentos dos entrevistados, se faz necessário repensar os caminhos no qual a comunidade e demais agentes devem se guiar para que haja o cuidado com o meio ambiente como um todo, é importante que criem leis municipais que determinem a responsabilidade pelo cuidado das árvores através do poder público. O grau de importância no cultivo de árvores que dispõe frutos nas vias públicas em são Jose do Divino sugere a associação direta com a renda da população residente no município. Ainda não há projetos que viabilizem a criação de comércio de pequena escala como alternativa de melhoria da renda local, no entanto, urge a criação de projetos que melhorem a vida da população da cidade. A variedade de árvores e frutos na região desperta para o cultivo necessário permitindo a colonização em novas áreas e tornaria a cidade mais bela e agradável. 56


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A suplementação alimentar na comunidade irá acontecer devido à diversificação de espécies aptas a produzir frutos com alto valor nutritivo, principalmente a vitamina C presente na acerola e goiaba e, que são mais cultivadas em quintais e pomares devido o seu rápido crescimento, como também o seu sabor de fácil assimilação humana e não necessitando de muitos cuidados no seu cultivo. Muitas destas frutas nativas da região são apreciadas pela população desde tempos remotos e sua introdução em locais públicos vai intensificar seu consumo e despertar a curiosidade de quem ainda não as degustou. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Todo trabalho de pesquisa exige paciência seja qual for o seu objetivo. A importância do trabalho está em responder alguns questionamentos. Nesse sentido, o estudo trouxe à tona a importância da arborização em vias públicas do município de São José do Divino. Foi observado que a população da cidade de São José do Divino tem preferência por árvores frutíferas em calçadas das vias públicas e em pomares nos quintais das casas e, mantém esse cultivo em áreas que a administração pública não desenvolve um projeto que planeje o cultivo dessas árvores em diversas áreas do município. Os resultados sugerem que as espécies frutíferas como a goiaba, a acerola e manga encontradas em pomares caseiros e em vias públicas seguem um padrão de escolha nessas espécies devido à tradição e também pela qualidade na produção de seus frutos. Percebeu-se que a produção desses frutos é elevada, gerando muitos benefícios para a comunidade, como a colheita desses frutos estarem ao alcance de pessoas que transitam pelas calçadas além de fornecer néctar a pequenos animais, principalmente os pássaros. Assim, elencam-se inúmeras qualidades sobre o cultivo dessas árvores que vão desde a formação e um ambiente mais equilibrado e mais verde como o fornecimento de alimentos para a população, dessa forma a natureza se torna mais próxima da sociedade. Dessa forma, tudo o que foi exposto nessa pesquisa teve o seu objetivo: contribuir sobre o entendimento da suplementação alimentar garantida pelo cultivo de árvores que proporcionam frutos, sombra e uma aproximação maior entre as pessoas.

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1 – Em sua opinião quais benefícios que o cultivo de árvores frutíferas poderá trazer para a comunidade local? ( ) Amenização do clima ( ) Melhora na qualidade da alimentação da população ( ) Melhora na qualidade ambiental restabelecendo o elo Homem Natureza ( ) Melhora a paisagem da cidade ( ) Outros: _____________________________________________________________ 2 – Na sua concepção qual a importância da conscientização da população para o aproveitamento das árvores frutíferas locais na melhoria da qualidade de vida? ( ) Geração de renda para inúmeras famílias ( ) Qualidade nutritiva e consequentemente melhoria na saúde ( ) Ajuda na redução da poluição atmosférica ( ) Outros: _______________________________________________________________ 3 – Que ações que podem contribuir para a expansão de árvores frutíferas regionais nos diferentes espaços na cidade? ( ) Plantação de espécies frutíferas no seu quintal ( ) Pomares coletivos ( ) Todos ajudando na preservação e manutenção das árvores ( ) Criação de cooperativas para o beneficiamento das frutas. 4 – O conhecimento das espécies frutíferas locais e seus benefícios nem sempre é conhecida pela população, quais espécies frutíferas existentes na comunidade local seriam importantes no consumo da população? ( ) Goiaba, Acerola, Caju ( ) Manga, Carambola, Laranja ( ) Seriguela, Araçá e Azeitona ( ) Todas

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5 – As árvores frutíferas sendo cultivadas nas áreas urbanas do município poderão de certa forma causar algum transtorno, atrapalhar o trânsito de pessoas ou ocasionar possíveis acidentes? ( ) Sim, as árvores frutíferas expostas em vias urbanas poderão trazer transtornos. ( ) Não, pois a conscientização e preservação da população é a melhor forma de evitar acidentes. ( ) Outra forma:_____________________________________________________________ 6 – Como a população pode conservar as árvores frutíferas e como consequência tenha aumento na qualidade e produção desses frutos na cidade? ( ) Utilizar água, adubos nas árvores frutíferas nos quintais ( ) Ajudando na manutenção e manejo adequados das árvores ( ) De outra maneira:_____________________________________________________


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QUEIMADAS URBANAS: UM ESTUDO DE CASO NA CIDADE DE PIRIPIRI - PIAUÍ

Miciane dos Santos Cardoso7 Maria Beatriz Dias Coutinho8

RESUMO Todos os anos às queimadas atingem proporções gigantescas que vêm afetando de forma negativa a biodiversidade do meio ambiente, a qualidade do ar, do solo e prejudicando a sociedade, principalmente com relação à saúde. As queimadas urbanas são consideradas um dos problemas ambientais graves presentes no cotidiano dos habitantes da cidade de Piripiri- PI, principalmente, nos meses de seca que o fogo rapidamente se espalha e agrava a situação do local. Nosso trabalho objetivou analisar os impactos na saúde da população residente no munícipio de Piripiri em decorrência da fumaça produzida pelas queimadas. Quanto à metodologia utilizada foi baseada na pesquisa qualitativa com entrevista semiestruturada e aplicação de questionários com os moradores. Nos resultados ás consequências das quei-

madas na saúde da população observou-se que 42% responderam que são doenças respiratórias, tosse, asma, bronquite, e 30% que causam muita irritação nos olhos e apenas 28%, náuseas e vômitos. Conclui-se que a população sofre pelas consequências das queimadas, mas que deve haver mais sensibilização por parte da gestão do município. palavras-chave: queimadas; problemas ambientais; saúde. INTRODUÇÃO As queimadas todos os anos atingem proporções gigantescas que vêm afetando de forma negativa a biodiversidade do meio ambiente, a qualidade do ar, do solo e prejudicando a sociedade, principalmente com relação à saúde. As queimadas urbanas são consideradas um dos problemas ambientais graves presentes no cotidiano dos habitantes da cidade de Piripiri- PI, principalmente, nos meses de seca que o fogo rapidamente se espalha e agrava a situação do local. O ser humano é o principal agente transformador do meio, pois mesmo com as leis e as sanções criadas para reduzir a prática criminosa das queimadas, existe o lado cultural tão arraigado no brasileiro que somado com atitudes irresponsáveis comprometem áreas enormes de terras. Os incêndios podem ocorrer de forma natural ou criminosa, mas na maioria das vezes 7 Aluna da Especialização em Biodiversidade e conservação NEAD – UESPI. Graduada em Ciências Biológicas pela UFPI. Pós-graduada em Docência Superior. Email: micianecardoso@hotmail.com 8 Orientadora. Graduada em Ciências Biológicas. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. E-mail: coutinhobiaa@yahoo.com.br. . 61


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ocorrem pela irresponsabilidade do ser humano que insistem em colocar fogo no lixo nos quintais de suas residências ou mesmo em algum terreno baldio, além dessa atitude jogam baganas de cigarro em qualquer lugar que caso tenha lixo, folhas secas, mato pode provocar queimadas e alastrar pelo local. Outro caso que a maioria da população desconhece é que as queimadas podem ser provocadas pelos objetos refletores de raios solares, como por exemplos, vidros. Segundo o IBAMA (2009), as fumaças provocadas pelas queimadas podem emitir gases tóxicos com propriedades cancerígenas, além de aumentar as doenças respiratórias. A queima também contribui para o aquecimento global, influindo diretamente nas condições climáticas, alterando, principalmente, a qualidade e o período das chuvas. Desta forma, nosso trabalho objetivou analisar os impactos na saúde da população residente no munícipio de Piripiri em decorrência da fumaça produzida pelas queimadas. Tendo com objetivos específicos: Observar os hábitos e as atitudes da população do município com relação às queimadas; Identificar o papel dos órgãos competentes no município de Piripiri; Identificar os principais focos das queimadas no município de Piripiri-Piauí. A realização deste projeto se justifica na possibilidade de analisar os impactos na saúde da população residente no munícipio de Piripiri - PI em decorrência da fumaça produzida pelas queimadas, na perspectiva de melhorar a qualidade de vida dos residentes, bem como prevenir o meio ambiente desse desastre ecológico para a biodiversidade em geral com a intensa fiscalização por partes dos órgãos competentes para inibir esta prática de queimadas entre a população.

2 QUEIMADAS URBANAS As queimadas na zona urbana do município de Piripiri, Piauí, em geral, ocorrem pela queima do lixo domésticos no fundo do quintal da população, pelo fato desta não ter paciência de esperar o carro de lixo passar, pois existe a coleta de lixo na Cidade. E, consequentemente, o que era para ser uma simples limpeza do lixo acaba provocando fogos altos que não se consegue o controle, alastrando-se e provocando poluição do solo, do ar, e problemas de saúde a população. Conforme Silva (2007) descreve as principais consequências das queimadas são: impacto na atmosfera, impacto no solo, perda da biodiversidade, desequilíbrio ecológico, impacto na fauna, impacto na saúde humana, problemas com tráfego aéreo e prejuízo financeiro. A cidadania ecológica, contudo, somente se solidificará quando for possibilitado o acesso à informação ambiental, ou seja, é preciso antes de tudo conhecer a realidade do meio ambiente e as leis que regulamentam o Direito Ambiental. Sem estas premissas fundamentais não há como exigir da sociedade que interfira nas questões que envolvem o meio ambiente e sua preservação. A necessidade de tutelar o meio ambiente pelo Direito é imprescindível, segundo Milaré (2004, p. 112) 62


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Devido à intensidade das queimadas e incêndios, originados tanto por fenômenos naturais quanto pelo Homem, em 10 de abril de 1989, o governo federal criou o Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PREVFOGO), através do Decreto 97635, que atribui ao IBAMA a competência de coordenar as ações necessárias à organização, implementação e operacionalização das atividades relacionadas à educação, pesquisa, prevenção, controle e combate aos incêndios florestais e queimadas. (RAMOS, 1995). A Constituição Federal (1988) garante que as queimadas prejudicam a natureza e saúde pública, e todo ato que prejudica a saúde pública, assim como o meio ambiente é crime. Portanto, a queimada além de ser criminosa, ocasiona vários problemas à humanidade, principalmente no que se refere às doenças respiratórias, através da produção de gases nocivos à saúde humana. É notório que o ser humano vem prejudicando o meio ambiente quando resolvem praticar esse crime de colocar fogo, principalmente, nesse período de seca em que a umidade do ar está alta, e consequentemente o fogo irá se espalhar e causar danos que podem ser irreversíveis para o município. O fato é que deve ter uma intensa fiscalização por parte dos órgãos competentes nesse período de estiagem, e aplicar a lei para aqueles que desrespeitá-la. Para Malcom (1975) dependendo da intensidade do fogo são gerados efeitos devastadores. A intensidade e os efeitos posteriores do fogo dependem, por sua vez, da frequência e do tempo de duração do incêndio. Portanto, sempre se deve analisar na execução de uma queimada, a possibilidade de o fogo ultrapassar a linha permitida, gerando focos nos terrenos vizinhos, ou que escape à capacidade de controle do pessoal envolvido na operação. Segundo Radojevic (1998) cita que os principais sintomas das doenças causadas pelas queimadas são: infecções do sistema respiratório superior, asma, conjuntivite, bronquite, irritação nos olhos e garganta, tosse, falta de ar, nariz entupido, vermelhidão e alergia na pele, e desordem cardiovasculares. A fumaça das queimadas provoca efeitos sérios na saúde do ser humano, uma vez que existem ainda aquelas pessoas alérgicas a fumaça que nesse período de seca sofrem bastantes com essas queimadas intensas. Para Milaré (2004) o meio ambiente é o conjunto de elementos abióticos e bióticos, organizados em diferentes ecossistemas naturais e sociais em que se insere o homem, individual e socialmente, num processo de interação que atenda ao desenvolvimento das atividades humanas, à preservação dos recursos naturais, dentro das leis da natureza e de padrões de qualidade definidos. A população é responsável pelos seus atos, então praticou um crime deve parar e se colocarem no lugar do próximo no que diz respeito às queimadas e a fumaças que causam prejuízos não só ao município, mas toda a sociedade, os gastos são altos. E existe várias formar de prevenir as queimadas, cabem aos órgãos competentes sensibilizar mais ainda seu publico.

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METODOLOGIA DA PESQUISA Tipo de pesquisa A análise dos dados é de cunho qualitativo que envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes (LUDKE e ANDRÉ, 1986), sendo que o pesquisador é motivado a se voltar atentamente para os dados da pesquisa e sobre estes, deleitar-se exaustivamente a fim de evitar conclusões superficiais e equivocadas. Área de estudo O estudo foi feito no município de Piripiri, localizado no estado do Piauí, apresenta uma área de 1. 408,928 km², uma população de 62. 600 habitantes e fica a 160 km da capital do Piauí. O município tem como pontos turísticos principais: Açude Caldeirão, Complexo Turístico Nossa Senhora dos Remédios, Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios, e dentre outros. Coleta de dados Para coleta de dados foi feito um questionário com perguntas abertas e fechadas que foi aplicado 30 (trinta) moradores residentes nos arredores dos pontos mais próximos aos focos de queimadas, e uma entrevista semiestruturada com o superintendente do Meio Ambiente do município de Piripiri, além dos dados disponíveis, na secretaria do meio ambiente do município e no IBAMA. Os critérios utilizados para escolha da amostra foram os pontos estratégicos em que se observaram intensas queimadas de acordo com os sites da cidade de Piripiri (Piripiri Repórter, Repórter 10) os quais destacam os arredores do Horto Florestal, nas margens da Br-343, canto das palmas e dentre outros. RESULTADOS E DISCURSSÕES Propomos aqui apresentar, bem como discutir os resultados dos questionários respondidos por habitantes da cidade de Piripiri, além da entrevista semiestruturada com o superintendente da Secretaria de Meio Ambiente da cidade. Em entrevista com o Superintendente do Meio Ambiente de Piripiri, ele relata: “que às queimadas ocorrem principalmente em terrenos baldios e que os pontos mais críticos mesmo é nas mediações da Br-343 e que são ocasionadas por limpeza do terreno para fazer roças, baganas de cigarros, e que muitas vezes são de forma proposital, mas que ainda não pegaram de fato, apenas especulações porque não existe uma fiscalização eficaz para vistoriar essas áreas de maiores casos” 64


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Segundo (Pereira, 2012) a Lei Complementar nº 140/11, qualquer pessoa legalmente identificada, ao constatar infração ambiental decorrente de empreendimento ou atividade utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores, pode dirigir representação ao órgão a que se refere o caput, para efeito do exercício de seu poder de polícia. Quando foi perguntado sobre o que a secretaria faz para sensibilizar a população, nos respondeu: “que tem parcerias com algumas escolas da cidade e com associação de moradores para ajudarem nesse processo. Sempre ocorrem palestras no Horto Florestal de Piripiri, que é uma área onde há muitas queimadas e que estava praticamente abandonada pelos órgãos responsável, mas que já existem muitos projetos, além do que já fizeram vários mutirões nesse local, e que há um projeto sendo discutido de revitalização desse local e implementar também uma trilha de ciclismo, já que essa prática é muito apreciada pelos moradores da cidade” O que se observou que a secretaria tem no papel vários projetos, mas que a prática não se vê isso porque o Horto, por exemplo, está abandonado por parte da gestão. Que projetos escolares mesmo são vários, algumas escolas até ganharam prêmios quando se falam no Horto, mas as autoridades não levam o projeto à frente, sempre param pelo meio do caminho. Como afirma Silva e Silva (2006) dizem, que “cabe às autoridades competentes, desenvolver campanhas educativas de conscientização da população, quanto aos possíveis problemas que as queimadas ocasionam, trabalhando juntamente com as escolas, no desenvolvimento de atividades de educação ambiental, visando à conscientização da população no geral, mas principalmente jovens e crianças, com objetivo de conservar o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida”. E com relação à Secretaria ser acionada quando acontecem queimadas na cidade? “já procuraram a gente, mas que o máximo que procuramos fazer foi ligar para brigada que fica no Parque Nacional de Sete Cidade, localizada na cidade vizinha Piracuruca-PI, já que nossa cidade não possui corpo de bombeiros ou mesmo uma brigada para atende-la nessa ocasião, mas sempre contam com a ajuda da população e da policia da cidade que enfrenta o fogo para tentar minimizá-lo. Observa-se que o papel da secretária nesse momento é bem restrito, pois a cidade não possui um corpo de bombeiros que minimizem a situação, mas já existe a possibilidade de atuação de uma brigada com cinco pessoas para o mês de agosto desse ano 2016 que ficará no Parque da Conceição para atender toda redondeza junto com a de Sete Cidades, mas é necessário, ainda que a população faça sua parte para proteger o meio ambiente, como está na Constituição que todos têm o direito de um meio ambiente equilibrado. O superintendente ainda nos fala que: “nos períodos que mais acontecem às queimadas são setembro e outubro, no período de outubro a cidade sempre recebe o Corpo de Bombeiros da capital Teresina que vem auxiliar nos festejos, e consequentemente, é acionada para combater o fogo nesse período”, sendo assim, une-se o útil ao agradável, pois nesse período é justamente o de maior descaso na cidade, época muito seca na região. 65


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O superintendente relata que: “o principal foco das queimadas nesses pontos, principalmente na Br-343 é devido a baganas de cigarros que os motorista jogam e que fica difícil o controle das queimadas, que chegam a se lastrar por vários dias, mas que são focos de queimadas pequenos não chegam a proporções altas não”. Isso leva em consideração a falta de responsabilidade para com o meio ambiente por parte dos motoristas que passam por essa via. Resultados dos questionários respondidos pela população resultados Após a coleta dos dados os mesmos foram tabulados e apresentados em forma de gráficos e tabelas para auxiliar na análise das informações obtidas sobre as queimadas na cidade de Piripiri, Piauí. Ao observarmos o sexo dos moradores nos arredores dos locais com focos de queimadas na cidade de Piripiri, Piauí, foi possível observar que 50% dos entrevistados pertencem ao sexo masculino, enquanto 50% compõem o sexo feminino. Gráfico 1 – Idades

Fonte: Cardoso, 2015.

Os entrevistados apresentam diferentes faixas etárias (gráfico 1). Sendo que 23% dos moradores responderam que estão na faixa de 1 a 20 anos; 34% estão na faixa de 20 a 40 anos; 23% afirmam estar na faixa de 40 a 60 anos; 20% possuem mais de 60 anos. Observa-se que a maioria dos pesquisados estão na faixa de 20 a 40 anos. Tabela 1 – Queimadas e a saúde Consequências Doenças respiratórias, tosse, asma, bronquite Irritação nos olhos Náuseas e vômitos Nada causam Outros 34 Fonte: Cardoso, 2015. 66

(%)

42,00 30,00 28,00 0,00 0,00 100,00


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Analisando a questão sobre as consequências das queimadas na saúde da população observou-se que 42% responderam que são doenças respiratórias, tosse, asma, bronquite, e 30% que causam muita irritação nos olhos e apenas 28% náuseas e vômitos (Tabela 1), sendo assim a fumaça que fica é muito prejudicial a saúde da população que tem que conviver com essa questão que a gestão nada faz para amenizar a situação do seu povo levando a problemas sérios. Sabe-se que nas queimadas são liberados vários poluentes (CO, HC), além de substâncias tóxicas, e esse efeito fica restrito a população circunvizinha ás queimadas e consequentemente seu efeito pode ser desde asfixia até a morte. Na questão sobre o que você faria se visse seu vizinho colocando lixo num terreno baldio, as respostas foram variadas: “ denunciava para secretaria e esta para a policia” “entraria em discursão com o atuante, falando o mal que que isso iria fazer para sua saúde e para todos que estavam ao seu redor, mas isso não resolveria o problema” “pediria que não fizesse mais, pois esta poluindo o ar e fazendo mal a nossa saúde” “pediria para ele não fazer isso explicando os problemas que isso causaria a saúde não só dele mais da população e ao meio ambiente, se isso não resolvesse, eu acionaria o ministério publico para que resolvesse” “pediria que utilizasse a coleta municipal para descartar seu lixo” “reclamava que não pode porque faz mal a saúde dos velhos”

Diante das falas da população, fica claro que todos tomariam uma atitude cabível, pois se trata da sua saúde e do meio ambiente, estes que são muito importante para continuarmos a nossa trajetória nessa vida. De acordo com Brandão et al. (2, p. 8), as queimadas não se constituem apenas em simples ato de desrespeito a legislação urbanística e ambiental, mas também a falta de respeito a saúde própria e a do próximo, e esses atos advêm de um a falha nas políticas públicas que não possuem nenhum tipo de trabalho voltado a essa questão. Gráfico 3 – Maneiras de tratar o lixo produzido em residências Queimando no quintal

40% 60%

Jogando no terreno baldio e depois colocar fogo armazenar de forma correta para que o carro do lixo passe e leve-o Jogar no meio da rua

Fonte: Cardoso, 2015.

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Questionando sobre como se deve ser tratado o lixo produzido nas residências, 60% da população responderam que armazenaria de forma correta para que o carro do lixo passe e leve-o, sendo que 40% responderam que queimam no quintal (Gráfico 3). Diante disso, percebe-se que a população ainda não entende o perigo de queimar o lixo no quintal, pois muitos responderam que praticam esse ato, mas que mais da metade da população estão agindo de forma correta, e consequentemente ajudam o meio ambiente. Tabela 2 – Maneiras para discutir sobre queimadas Maneiras Palestra Nas escolas Conversas com seus vizinhos Outros Total

(%)

33,00 37,00 30,00 0,00 100,00

Fonte: Cardoso, 2015.

A população foi questionada sobre qual a melhor maneira de discutir sobre as queimadas, 37% responderam que seria nas escolas, 33% com palestras e 30% em conversas com seus vizinhos (Tabela 2). Nas escolas da cidade de Piripiri sempre se ouvem falar nos projetos desenvolvidos pelas as mesmas em se tratando de questões ambientais. Como afirma Cabral et al. (2002) a educação ambiental deve, portanto acontecer por meio do envolvimento dos alunos em atividades que analisam e investigam a realidade vivida, contribuindo para uma correlação entre a forma correta de tratar o meio ambiente, e as ações atribuídas à falta de informação e conhecimento, onde estes passarão a ser capazes de promover interação sobre a forma correta de ação, que vise ao cuidado e novas formas de agir, sem causar danos ao meio ambiente do qual este mesmo aluno faz parte. Tabela 3 – Motivos que levam a queimar o lixo Motivos Limpar o terreno Por acidente Diminuir o lixo Outros Total

(%) 37,00 20,00 20,00 23,00 100,00

Fonte: Cardoso, 2015.

Em se tratando dos motivos que levam a população a queimar o lixo, 37% responderam para limpar do terreno, 20% por acidente, 20% diminuir o lixo, e 23% outros. Verifica-se que a prática de limpar o terreno é frequente na cidade, mas que a população tivesse uma consciência do real prejuízo que fazem com essa prática, diminuiriam mais.

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CONCLUSÃO A intenção do trabalho foi realizar uma pesquisa com a população de Piripiri, Piauí para saber os impactos na saúde da população residente no munícipio em decorrência da fumaça produzida pelas queimadas que ocorre na cidade, principalmente no período de agosto a outubro, período esse mais quente na cidade. No planeta Terra, a temperatura está aumentando a cada dia, devido às ações de irresponsabilidade do ser humano, em que fazem suas travessuras, e consequentemente não querem que o meio ambiente não reaja as suas ações. Conclui-se, portanto, que a população sofre pelas consequências das queimadas, mas que deve haver mais sensibilização por parte da gestão do município, da secretária do meio ambiente, pois mesmo com tantos meios de comunicação, noticiários, a população ainda é carente nos reais problemas ocasionados tanto no meio ambiente como na saúde da população da cidade. REFERÊNCIAS BRANDÃO, R.; CARVALHO, J. A. S.; CORTEZ, L. S. L; SANTOS, M. J. D. Implicações Ambientais Decorrente das Queimadas no Bairro Olímpico de Boa Vista/RR. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA, 1., Anais..., 2010. CABRAL, C. F. B; PELICIONI, M. C. F. Agenda 21 em casa e na escola: da teoria à prática. In: PHILIPPI JR., A.; PELICIONI, M. C. F. (Eds.) Educação ambiental: desenvolvimento de cursos e projetos. São Paulo: Signus, 2002, p.68-75.

IBAMA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Problemas causados pelas queimadas. Disponível em < www.ibama.gov.br>. Acesso em 29.11.2009. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MALCOM, G.A. Fire and the australian flora: A review. Aust. For., 38(1):4-25, 1975. MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina-Jurisprudência-Glossário. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. PEREIRA, Henrique Albino. Competência para fiscalizar na Lei Complementar nº 140/11. Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3363, 15 set. 2012.

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RADOJEVIC, M. Burning issues. Chemestry in Britain, v. 34, n. 12, p. 38-42, 1998. RAMOS, P. C. M. Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais. I Fórum Nacional sobre Incêndios Florestais e III Reunião Conjunta IPEF/FUPEF/SIF sobre Incêndios Florestais. Piracicaba, 1995. SILVA, A. S.; SILVA, M. C. Práticas de queimadas e as implicações sociais e ambientais na cidade de Araguaina, TO. Caminhos da Geografia (revista on line), v.7, n.18, p.8-16, jun.2006. SILVA, S. Queimadas, Perguntas e Respostas. Ed. Aprenda Fácil. Viçosa – MG, 2007. pág. 29-32.

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EU CUIDO, EU FAÇO PARTE DESTE MEIOPERCEPÇÕES E PRÁTICAS SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO INFANTIL

Maria Suele Ribeiro De Sousa. ¹ Maria Beatriz Dias Coutinho ²

RESUMO Este trabalho abordará questões referentes como o meio ambiente está sendo mudado de acordo com o crescimento populacional e tecnológico do homem, visto que esse processo e acelerado pela necessidade que o ser humano tem durante sua história de criar novas tecnologias e melhorar sua qualidade de vida. Mas nesses processos fauna e flora são destruídas e aos poucos o que sobrou vai se esvaindo aos poucos da natureza, pois as diversas poluições por vezes vencem a força de regeneração do meio ambiente. Na época em que vivemos nunca foi tão importante para o desenvolvimento do homem saber dosar os impactos ambientais, pois as mudanças climáticas do planeta estão sendo aceleradas por efeito do desenvolvimento do homem e nós ainda dependemos muito dos insumos da natureza, é preciso conscientizar a todos da importância da preservação para nosso futuro. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Ambiente. Problemas sociais.

_________________________________________ 1. Maria Suele Ribeiro de Sousa é aluna do Curso de Pós-Graduação em Biodiversidade. E-mail: suellenribeiro2@hotmail.com 2. Maria Beatriz Dias Coutinho e orientadora NEAD/UESPI.

INTRODUÇÃO Atualmente, a questão ambiental é um dos grandes focos das discussões mundiais. Toda a sociedade sente que é uma questão de necessidade, de sobrevivência. Sabemos que zelar pelo meio ambiente é zelar pela própria existência, mas o sistema de vida da sociedade atual tem resultado num crescente agravamento dos problemas ambientais. Diante de tudo o que foi explicado sobre o Meio Ambiente, surgir a seguinte problemática: O que poderíamos fazer para ajudar no processo de desenvolvimento da conscientização ambiental nos alunos?

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O objetivo deste trabalho é espertar nos alunos a consciência para que possam não apenas agir corretamente no processo de preservação do meio ambiente, como também ser um colaborador dessa consciência junto à sua família e a comunidade. É corriqueiro constar, nos meios de comunicação, notícias de catástrofes ambientais em todos os lugares. Há em todo o mundo a preocupação com o meio ambiente, pois a cada dia que passa temos observado e testemunhado que o nosso planeta está ameaçado pela poluição, desmatamento e outros desastres. Somos nós, seres humanos, os responsáveis por esse grande dano. Diante da situação na qual nos encontramos, a Educação Ambiental assume uma importante missão, a de promover possibilidades de conscientização a que venham resultar numa mudança na forma de compreendemos e de nos relacionarmos com o meio ambiente, tornando-se essencial a sua atuação em todos os setores da sociedade, inclusive na instituição Escola. Compreendemos que, ao se tratar de meio ambiente, é importante enfatizarmos que o ser humano também faz parte dele e estabelece com ele relações sócias, econômicas e culturais, na época em que vivemos precisamos saber lidar com nosso desenvolvimento evitando ao máximo os impactos ambientais, pois tudo que possa vir a mudar o meio onde vivemos e a natureza nos afeta direta e indiretamente. Esse projeto justifica-se na necessidade que há em se repensar a ação humana ao relaciona-se com o meio ambiente (desenvolvimento insustentável), e esse novo modo de pensar deve ser construído desde a infância, sendo que a escola é uma instituição que tem o papel de promover essa mudança. A criança deve perceber-se como parte do meio ambiente e deve compreender que seus atos têm impactos sobre a natureza e sobre as outras pessoas e por fim sobre as futuras gerações que colherão os maus frutos da geração passada. 1 O HOMEM E AS MUDANÇAS EM SEU MEIO Havia um tempo em que a natureza era mais forte que o homem e afetava, mas do que era afetada, as variações naturais que ocorriam mudavam corriqueiramente o modo de vida do homem, um exemplo bem comum dessas mudanças são as estações do ano, que ao longo da história influenciaram o povoamento e a mudança de hábitos das mais diversas civilizações humanas, nessa questão podemos destacar população do Egito que no inverno diante do rigoroso clima trabalhavam para colher e estocar comida para sobreviver ao verão árido no deserto. Aos poucos, com a revolução industrial no século XVIII, veio o desenvolvimento, surgiram às cidades e a sociedade capitalista e com ela as máquinas a vapor iniciando assim a era do combustível fóssil, pois a partir de então as mais variadas máquinas construídas pelo homem eram movidas pela queima de carvão e madeira, dessa forma o homem começa progressivamente a contribuir para o processo de aceleração de mudanças climáticas, pois a revolução industrial também ajudou a aumentar a população local, pois os mais diversos locais de traba72


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lho precisavam de muitas pessoas para trabalho, essas pessoas por si só precisavam de casas para morar e suas casas foram construídas hoje onde eram no passado mata nativa com fauna e flora virgens. Tozoni Reis (2004, p.03) confirma: Desde a Revolução Industrial, a atividade interventora e transformadora do homem em sua relação com a natureza vem tornando-se cada vez mais predatória. A década de 1960 pode ser considerada uma referência quanto á origem das preocupações com as perdas da qualidade ambiental.

Assim, de acordo com a autora, a Revolução Industrial desencadeou um crescimento populacional urbano estarrecedor de uma forma que não havia preparo estrutural para suportar tamanhas proporções. Como consequências, o homem passa a explorar a natureza de forma descontrolada e exploratória, considera-se superior ao mundo natural, como se não dependesse deste para sua sobrevivência. Deste então essa exploração passa a ser depredatória. Com a revolução industrial muitos anos depois nasceu a tendência do capitalismo, que é algo muito agressivo até hoje para a natureza, o capitalismo desde sua emancipação pelo mundo piorou bastante a relação homem versus natureza, pois o acumulo de riquezas tem feito com que o homem utilize de maneira inadequada os meios naturais e explore de forma rápida os recursos naturais esgotáveis e essenciais para a sua vida diária, um exemplo dessa ação é a poluição de rios e lagos, a poluição humana destrói os mananciais, mata os peixes e transforma rios em ambiente propensos a doenças e reduza água doce disponível para consume, pois como se sabe a porcentagem de água doce disponível devidamente para consumo é mínima para o homem. 1.1 Atitudes concretas de preservação ambiental O Brasil é um pais mundialmente conhecido pelas suas riquezas naturais e pelas suas leis que são referência na proteção e manutenção de suas riquezas naturais, tanto que elas são usadas e copiadas para uso em outras nações. Mesmo assim, o desmatamento que ocorre principalmente na Mata Atlântica e na Amazônia legal brasileira é intenso, principalmente para geração de áreas de pasto para os animais de porte para abate e obtenção de carne e produção e extração de madeira para móveis e utensílios. Durante a colonização do Brasil o mesmo sofreu uma exploração em massa de recursos naturais por parte dos portugueses, e nessa exploração até mesmo os índios foram explorados eles foram escravizados para obtenção de mão de obra para trabalho e por destino o índio brasileiro sem ter a devida consciência colaborou sem recusa nessa época para o enriquecimento dos portugueses através, muitas vezes das suas produções de trabalho, ou seja os filhos da terra não usufruíam mais do meio de vida que tinham, mas o exploravam pra que outros detivessem o controle da extração e enriquecessem. 73


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Em alguns pontos do país, a destruição só não é maior devido, a nesses pontos houver reservas indígenas e quilombos, aonde índios e negros são protegidos por leis federais, e, portanto, existe uma demarcação, de território que é um perímetro onde a mata é preservada para a vida desses povos e utilizada para sua sobrevivência, dessa forma estes pontos ficam livres da ação do homem moderno impedindo que eles trabalhem com extração desordenada de insumos naturais do meio ambiente. Com o passar do tempo os desastres ecológicos começam a repercutir como consequência dessa exploração demasiada, muitas vezes o homem não detém o controle necessário sobre suas atividades extrativista e pode agravar uma situação que já é péssima para o ambiente de convívio de sua atividade. Depois de muitos desastres, começa a surgir por todo o mundo um sentimento de valorização pelo meio ambiente, pois quando falamos em desastres ambientais não são fatores pequenos são ações do homem que levará a natureza a passar muito tempo para ser recuperar por completa em determinada região. Começam a serem organizados movimentos políticos – sociais em prol das causas ambientais, surgindo assim à educação ambiental, hoje em dia já existem até mesmo partidos e ONGS, que trabalham com conscientização e medidas para melhorar a preservação do meio ambiente. Entre as ONGS mais conhecidas podemos destacar, a SOS Mata Atlântica, O Instituto Akatu, a ECOAR e a WWF, que lutam pela melhoria da preservação do meio ambiente e uso adequado dos recursos auferidos pela natureza. 2 O DESPERTAR DO INTERESSE PELA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL A educação ambiental é uma prática educativa dinâmica, continua transversal e transformadora, que integra um conjunto de relações sociais que se constitui em torno da preocupação com o meio ambiente (CARVALHO, 2008). O ensino a preservação do meio ambiente nas escolas públicas ainda é muito delimitado, na situação atual em que vivemos é preciso ampliar a visão das crianças, não vivemos a mesma situação de anos atrás a degradação ao meio ambiente hoje é muito maior, essas crianças precisão aprender que no futuro elas serão as responsáveis por cuidar e manter essas riquezas naturais, seus filhos, netos e assim sucessivamente. No Brasil, o conceito legal de meio ambiente encontra-se disposto no art. 3º, I, da Lei nº. 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, que diz que meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Trata-se de um conceito restrito ao meio ambiente natural, sendo inadequado, pois não abrange de maneira ampla todos os bens jurídicos protegidos. (SILVA 2009 p. 02).

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No Brasil, durante o século XX, foram instalados muitos projetos de educação ambiental nas escolas, mas embora eles fossem uma forma de conscientizar as pessoas a sua atuação foi pequena diante do dilema da preservação da natureza, mas foi um grande passo para o que hoje, nós temos de concreto para preservação de nossas riquezas naturais. Em 1988, na nova constituição federal, teve um capítulo inteiro dedicado apenas ao meio ambiente, um fato notável e importante para nossa evolução social, esse desfecho teve até um impacto positivo na economia, esse capitulo da constituição promove a proteção do meio ambiente através de inúmeras leis, auxiliares sendo que ao longo dos anos algumas dessas leis foram reformuladas devido as necessidades de crescimento do país, essas leis diminuíram a incidência de empresas que possuem alto teor de produção de poluição em curto prazo, prevenindo, assim a proliferação de doenças contagiosas, manutenção de rios e afluentes e empresas de grande porte que produzem agentes tóxicos ao ambiente ser humano. De acordo com a lei n.9.795/99, art.1º, entende-se por Educação Ambiental:

Os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial á sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999).

Trata-se, portanto, de um processo de construção de valores, que refletirão nas atitudes dos cidadãos, praticadas no âmbito individual e coletivo, em prol do meio ambiente, sendo reconhecida sua importância para preservação da vida. No contexto escolar, muito é ensinado sobre formas de se proteger o meio ambiente, mas não se ensina como se fazer ainda para esse processo se tornar eficaz fora da escola. Não se aborda esse tema para as crianças, e nem a lei de proteção e educação ambiental é explicada, repassada, ensinada, como deveria ser o que normalmente acontece é que só se repassa em sala o nome da lei e o que ela protege e sugere, mas não se dá atenção ao fato de ensiná-la e repassar copias para os alunos dessa lei, não se ensinam os incisos que a regulamentam ou sequer as mudanças que a mesma sofreu. 2.1 Melhorias para o meio ambiente

Os Parâmetros Curriculares Nacionais, elaborados pelo MEC (Ministério da Educação e do Desporto), no objetivo de contribuir e estimular iniciativas em torno da questão ambiental diz que: A perspectiva ambiental oferece instrumento para que o aluno possa compreender problemas que afetam a sua vida, a de sua comunidade, a de seu país e a do planeta. Para que essas informações os sensibilizem e provoquem o início de um processo de mudança de comportamento, é preciso que o aprendizado seja significativo isto é, os 75


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alunos possam estabelecer ligações entre o que aprendem e a sua realidade cotidiana e o que já conhecem. (...) nesse sentido, o ensino deve ser organizado de forma a proporcionar oportunidades para que os alunos possam utilizar o conhecimento sobre o meio ambiente, para compreender a sua realidade e atuar sobre ela, por meio do exercício da participação em diferentes instancias. (BRASIL, 1997, p.48)

O trabalho pedagógico com a temática ambiental não pode se restringir apenas à explanação em sala de aula deve ser uma prática articulada com a realidade para que a criança tenha uma aprendizagem significativa. Os parâmetros curriculares precisam de melhorias por fato de que estão começando a se tornar um pouco ultrapassados de acordo com nossa atualidade de ensino, precisam ser precisamente remodelados para melhor atender as necessidades das crianças no ensino. O aluno necessita estar conscientizado dos problemas ambiental que afeta sua comunidade, um exemplo simples é que em algumas cidades onde há extração de pedra preciosas as escolas não repassam o fato da degradação e proteção o que elas repassam é a importância da riqueza material da cidade para que essas crianças se orgulhem do que a cidade possui de diferente da demais. A sensibilização é a única forma pela qual possa surgir oportunidade de mudança de comportamento. É papel da escola trabalhar no objetivo de facilitar essas oportunidades de sensibilização e conscientização. No Brasil há muitas campanhas motivacionais de combate a degradação do meio ambiente, mais as mesmas não são campanhas de longo prazo, são de curto, problemas a serem combatidos como a preservação do meio ambiente requerem medidas mais árduas e duradouras dentro da sociedade. Nem sempre no país houve leis que protegesse o patrimônio e a riqueza nacional; a fauna e a flora, antes a produção de bens era exacerbada e não havia órgão com tanta eficiência como em nossos dias atuais para fazer um controle de extração de recursos naturais, evoluiu-se muito no Brasil em alguns pontos na preservação, mas em outros por exemplo o tráfico de animais nativos das florestas brasileiras para venda em outros países é uma realidade negativa, não só animais mas plantas também, um bom exemplo é a produção de borracha através da seringueira. A seringueira sendo uma planta nativa do Brasil foi levada para fora e cultivada em outros países e houve a desvalorização e quase extinção nacional do ciclo da borracha, se ante o Brasil era o líder na produção de borracha, hoje já não está nem entre os 10 primeiros. 3 -METODOLOGIA Na perspectiva de procurar compreender os fatos que se referem à temática abordada, este estudo compreendeu elementos da pesquisa qualitativa, que, segundo Gil (2009), busca abranger um dado específico em profundidade, e trabalha preferencialmente com descrições, 76


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comparações e interpretações. Segundo o mesmo autor, a pesquisa qualitativa é um processo de análise sistemático e compreensível, mas não rigoroso, tendo como principal ferramenta intelectual a comparação de dados. Apesar de haver a preocupação com a descrição, a ênfase maior é colocada na profundidade e não na precisão, o que leva o pesquisador a preferir a utilização de depoimentos e entrevistas com níveis diversos de estruturação. Em função dos objetivos supracitados neste projeto, o estudo empregou como instrumentos de coleta de dados a observação sistemática e a realização de uma oficina. Segundo Gil (2009, pág.104), a observação sistemática é utilizada em pesquisas que têm como objetivo descrever precisamente os fenômenos, e o pesquisador sabe quais os aspectos do grupo que são significativos para alcançar os objetivos pretendidos. Nas pesquisas desse tipo, precisa-se elaborar um plano prévio do que deve ser observado, em que momentos, bem como a forma de registro e organização das informações. Atos, atividades, significados, participação, relacionamentos e situações foram analisados durante a observação para que fosse possível obter os dados almejados. Portanto, manteve-se uma postura não participativa, mas apenas para presenciar os fatos, e, sendo de caráter sistemático, pois seguiu a um plano elaborado previamente. A observação se deu de forma consciente, dirigida e ordenada para um determinado fim. Para alcançar o objetivo de apreender as percepções de meio ambiente e Educação Ambiental adquirida pelas crianças, optou-se pela realização de uma oficina com as mesmas, na qual elas teriam a oportunidade de expressar suas subjetividades através de desenhos e da própria fala após serem estimuladas pela pesquisadora com um ambiente propício e uma historinha envolvendo o tema. Optou-se por essa metodologia, pois se considerou uma atividade adequada para trabalhar com crianças nessa faixa etária, onde lhes é dada total liberdade para, a qualquer momento, expressarem suas opiniões. 3.1 Caminhos percorridos No primeiro momento, realizou-se uma pesquisa bibliográfica da literatura existente sobre a temática abordada, que é o primeiro passo para a construção do referencial teórico e a análise dos resultados. No segundo momento da pesquisa, iniciaram os trabalhos realizados em campo. Primeiramente realizou-se o período de observação da sala de aula e sua rotina durante uma semana, na perspectiva de detectar as formas que a professora aborda temas relacionados ao meio ambiente. Observou-se a rotina escolar, seguindo um roteiro escrito previamente estabelecido, que pontuava aspectos a serem observados. No terceiro momento, selecionou-se um grupo de oito crianças da mesma sala observada, quatro meninas e quatro meninos, para a realização de uma pequena oficina. Este trabalho tinha como objetivo averiguar as percepções relativas ao meio ambiente que as mesmas têm formado durante o período pré-escolar. As crianças foram convidadas a se dirigir a uma sala específica dentro da escola, na qual foi criada um ambiente propício à concentração e comodidade. Primeiramente, foram feitas apresentações para logo depois dar início a conversas rela77


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cionadas à natureza, preservação e perspectivas de futuro dentro da temática. Seguindo a socialização inicial, foi lhes contada uma história criada pela pesquisadora que abordava a questão da Educação Ambiental. Após a história, disponibilizaram-se papel e giz de cera, e as crianças foram solicitadas a desenhar o que seria para elas Meio Ambiente e Educação Ambiental. Nos momentos finais, cada uma relatava à pesquisadora explicações sobre seu respectivo desenho. 3.2 Caracterização do lócus da pesquisa A pesquisa foi realizada em uma Unidade Escolar pública municipal situada na zona urbana da cidade de Piracuruca, norte do Estado do Piauí. A referida instituição atende do maternal ao 2° ano, sendo cinco turmas no turno matutino e quatro no turno vespertino, totalizando 184 alunos divididos em nove turmas. O corpo pedagógico de funcionários é composto por uma diretora, uma coordenadora e oito professoras. Optou-se pela referida escola devido estar localizada no mesmo bairro da pesquisadora, portanto compreendemos que seria mais significativo para a mesma adentrar na realidade mais próxima. 3.3 Sujeitos da pesquisa A referida pesquisa realizou-se com uma professora e alunos do pré II, Educação Infantil. A observação foi feita com a professora e os dezoito alunos, com faixa etária entre cinco e seis anos. A oficina foi executada com apenas oito dentre estas dezoito crianças, sendo quatro meninas e quatro meninos. Justifica-se a escolha dessa turma pelo fato das crianças do pré II terem melhor desenvoltura de expressão do que as séries anteriores da Educação Infantil. O projeto procurou ser aplicado de forma lúdica, criativa e inovadora para que as crianças compreendam de forma mais efetiva a importância de zelar pelo meio em que vivem e para que os mesmos sintam como coparticipantes desse processo de interdependência entre homem e natureza.

CONCLUSÃO Esse trabalho através de pesquisas bibliográficas mostrou o quanto é importante a conscientização do homem perante a preservação da natureza, mesmo com toda a tecnologia atual o homem não pode-se desfazer da natureza ,pois ele precisa dela para gerenciamento de sua vida, hoje em dia mesmo ainda com pontos negativos na manutenção do meio ambiente no Brasil proteção do mesmo é algo de grande importância, tanto para o pais como para o mundo, apelidado de “celeiro do mundo” o Brasil alimenta não só ele mesmo, mas outros países através da produção e vendas dos mais diferenciados alimentos que aqui são plantados e revendidos para fora. O Brasil poderia sim melhorar a qualidade de ensino e proteção do meio ambiente atualmente, mas leva-se em conta o fato de que algumas áreas sugerem mudanças de forma ine78


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ficaz na proteção de recurso naturais que são ensinados na escola, devemos lembrar que quando falamos em meio ambiente nãos estamos falando de um, mas de todas e de seus mais variados recursos naturais extraídos para nossa vida e manutenção social. Mesmo como tantos problemas o desenvolvimento do processo de ensino sobre a preservação do meio ambiente está mudando e absorvendo melhorias estruturais, sendo debatido de forma mais ampla dentro das escolas, agora já temos influência e somos influência de outros e para outros países que assim como nós tentam proteger o patrimônio nacional para manutenção e conservação para as futuras gerações, por isso que hoje há muitas indagações sobre a questão de que “O que será deixado para as próximas gerações!? O que você deixará para as próximas gerações!? A cada dia estão se trabalhando novas maneiras e métodos para ajudar a minimizar de forma eficaz este tipo de estorvo ao ensino e proteção de nossas riquezas naturais, talvez nunca se tenha dada tanta atenção a esse problema social quanto hoje em nosso dia a dia. Precisamos dar mais ênfase escolar no apoio e ajuda a esses ensinamentos, para que no futuro essas crianças saibam a importância de se viver de forma consciente consumindo e vivendo de forma a reduzir impactos ambientais. A escola, mesmo com tantos problemas, está melhorando o desenvolvimento de construção tanto do conhecimento empírico como do cientifico para os alunos, assim está se melhorando consecutivamente a qualidade dos processos de reflexão social. Quando se está protegendo o meio ambiente, não se está protegendo só para si, mas para todos, pois não só nos dessa geração precisaremos do meio ambiente, nossos filhos e demais sucessores precisaram do mesmo para manutenção de suas vidas.

REFERÊNCIAS BRASIL. Governo Federal. Lei n°9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e das outras providencias, Brasília, 1999. ______. Secretaria de Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais –PCN’s.Brasília: MEC/ SEF, 1997. CARVALHO, IsabelCristina de Moura; Educação Ambiental no BRASIL. Salto para o futuro, boletim 01; TV escola, mar.2008. SILVA, Thomas de Carvalho. O meio Ambiente na Constituição Federal de 1988. 2009. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4873/O-meio-ambiente-na-Constituicao-Federal-de-1988>. TOZONI REIS, Marília Freitas de Campos. Educação Ambiental: natureza, razão e história. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. 79



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LEVANTAMENTO FLORISTICO EM TRÊS DIFERENTES COBERTURAS VEGETAIS DA FLORESTA NACIONAL DO ARARIPE- APODI Anderson Ramon dos Santos Gonçalves1 Kitawann Tayrone de Sousa Cardoso2 RESUMO A floresta nacional do Araripe-Apodi representa uma biodiversidade muito importante para a região do Araripe, pois seus ecossistemas contribuem para a sustentabilidade hidrológica, ecológica do Complexo Sedimentar do Araripe, Torna-se imprescindível a preservação e conservação dessa biodiversidade para a Região do Araripe e a continuidade da vida desse ecossistema. Objetivando conhecer melhor esses diferentes extratos vegetais da Flona AraripeApodi foi realizado um levantamento florístico nas diferentes coberturas vegetais separando três áreas de 200m2 em cada parte da floresta, foram considerados apenas indivíduos arbóreos com DAP superior a 7 cm, obtendo como resultados 199 indivíduos de 32 espécies distribuídos em 15 famílias. Foram obtidos os valores médios de: Diâmetro a Altura do Solo (DAS): 41,77612 cm ; Diâmetro a Altura do Peito (DAP): 32,17612;. Utilizou-se o índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) através do software FitoPac 2 que fez a analise de vários parâmetros das parcelas em estudadas a fim de complementar o conhecimento da floristica sendo encontrados os seguintes resultados para o índice de diversidade de Shannon-Wiener iguais à H’: 0,9433 , H’: 0,9932, H’: 0,8644, respectivamente P1, P2, P3, evidenciando uma baixa diversidade de espécies nas áreas estudadas. Entretanto, como é um estudo preliminar, se faz necessário a continuidade de pesquisas na área para melhor conhecimento dos efeitos de borda deste sistema ecológico. PALAVRAS CHAVE: Biodiversidade, Chapada do Araripe, floresta, Diversidade.

Professor, graduado em Ciências Biológicas pela Faculdade de Formação de Professores de Araripina (FAFOPA). Email: Ramon.xt@hotmail.com 2 Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), mestre em Ciências Animal, Pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Email: kitawanntayrone17@hotmail.com 1

INTRODUÇÃO

A floresta nacional do Araripe Apodi representa uma biodiversidade muito importante para a região do Araripe, pois seus ecossistemas contribuem para a sustentabilidade hidrológica, ecológica da região do Araripe e principalmente para a região do Cariri. Torna-se imprescindível a preservação e conservação dessa biodiversidade para a Região do Araripe e a continuidade da vida desse ecossistema. Sendo assim estudos mais detalhados sobre a florística desse local 81


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devem ser realizados para que seja possível manter as diversas atividades realizadas nessa região que são: O extrativismo vegetal, as pesquisas científicas e atividades voltadas para a sustentabilidade, como o ecoturismo gerando ações educativas para a população do entorno da floresta e a sociedade em geral, pensando em sua conservação. A FLONA Araripe/Apodi foi a primeira de sua categoria criada no Brasil criada no dia 02 de maio de 1946, mas foi apenas regulamentada como unidade de conservação nacional após a aprovação do Código Florestal de 1965 (Lei 4.771, de 15 de setembro de 1965). Localiza-se entre as latitudes 07°11’42’’ e 07°28’38’’ Sul e longitudes 39°13’28” e 39°36’33” Oeste, na Chapada do Araripe. Possui uma área de 39.919,42 ha, abrangendo os municípios cearenses de Barbalha, Crato, Jardim, Santana do Cariri, Missão Velha. (MMA, 2004 p. 2). São encontrados três diferentes extratos vegetais na Floresta Nacional do Araripe/ Apodi, que são: Mata Úmida (Floresta Úmida Semi-Perenifólia ), Cerradão atualmente nomeada como (Floresta Subcaducifólia Tropical Xeromorfa) e Carrasco (Caatinga). Mata Úmida (Floresta Úmida Semi-Perenifólia) é constituída por vegetação lenhosa de médio porte, com alguns elementos alcançando uma altura de 11 a 15 metros, fuste retilíneo, ramificações altas, apresentando um sub-bosque composto pela regeneração natural, muito densa. Cerradão (Floresta Subcaducifólia Tropical Xeromorfa) é apresenta uma vegetação formada por maciços intercalados por grandes clareiras, com solo descoberto ou sob uma cobertura rala de gramíneas. Estes maciços apresentam árvores tortuosas de médio e pequeno porte, bastante esgalhados, com cascas rugosas e fendilhadas e um sub-bosque arbustivo denso. Apresenta como principais representantes o pequi, o cajuí e o visgueiro. Carrasco (Caatinga) é formado por uma vegetação arbóreo-arbustiva de pequeno porte, densa, apresentando um xeromorfismo acentuado com espécies caducifólias que alcançam uma altura máxima de 5 metros. (MMA, 2004 p.78) Os levantamentos florísticos são métodos qualitativos que fornecem a identificação das espécies ocorrentes em uma determinada área. Portanto, fornecem informações básicas para o desenvolvimento de diversos outros estudos da vegetação visando técnicas mais adequadas para sua conservação, manejo ou restauração (BRITO e SOARES, 2006 p.13). Os resultados obtidos nos estudos florísticos e fitossociológicos possibilitam o conhecimento da vegetação através da identificação das espécies, incluindo espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, além de analisar a estrutura das populações vegetais e suas relações com diversas variáveis ambientais. Assim, podem subsidiar futuros projetos de gestão ambiental, planos de manejo, restauração de áreas degradadas e políticas públicas (BRITO e SOARES 2006 p.1). Um levantamento florístico é de extrema importância de para o manejo de áreas verdes, levando-se em conta que os responsáveis pelo seu planejamento e manutenção, quase sempre, não dispõe de informações seguras para traçá-lo. A descrição florística é considerada, atualmente, como condição essencial para que se possam estabelecer divisões fitogeográficas e, para isto, os dados disponíveis sobre as matas brasileiras são ainda escassos (LEITÃO-FILHO, 1981 p. 197) Nessa pesquisa foi realizado um levantamento florístico de três diferentes coberturas vegetacionais existentes na floresta nacional do Araripe/Apodi. Objetivando conhecer melhor 82


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esses diferentes extratos vegetais, esse estudo identificou as principais espécies existentes em cada ecossistema e foi realizado análises de alguns parâmetros como DAP (diâmetro a altura do solo) que foi medido a 3cm solo e DAS (diâmetro a altura do peito) medido a 1,30m. Cada arvore foi etiquetada e identificada, para a avaliação diversidade da cobertura vegetal utilizouse o índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) através do software FitoPac 2 que fez a analise de vários parâmetros das parcelas em estudo. Afim de complementar o conhecimento da floristica da FLONA do Araripe/Apodi que é fundamental para entender a diversidade do ecossistema como um todo, visando a valoração ambiental e orientar medidas de manejo adequados, pois estudos como esse fornecem uma visão básica sobre a composição arbórea do ecossistema.

MATERIAIS E METODOS Caracterização da Área de Estudo Este trabalho foi desenvolvido na floresta nacional do Araripe-Apodi, localizada no altiplano da chapada do Araripe nas latitudes 07°11’42’’ e 07°28’38’’ Sul e longitudes 39°13’28” e 39°36’33” Oeste, que possui uma área de 38.919,47 hectares ha, abrangendo os municípios cearenses de Barbalha, Crato, Jardim, Santana do Cariri, Missão Velha. a precipitação pluviométrica nessa região está em torno de 1000 mm por ano. Coleta de Dados O levantamento florístico foi realizado através de pesquisa de campo, com a seleção de pequenas áreas de mata da Floresta Nacional do Araripe que apresentam diferentes tipos de cobertura vegetal. O espaço que foi pesquisado teve dimensões de 10x20m totalizando (200 metros quadrados) divididos em pequenas parcelas de 20m2 que se encontram nas três distintas coberturas florísticas totalizando uma área de 600m2 de floresta com diferentes fisionomias vegetais que foram identificados como P1, P2, P3. Após essa marcação as áreas escolhida foram georeferenciadas através de um aparelho de GPS Garmim Etrex 30 e tirada as suas coordenadas geográficas. A parcela P1 está localizada na latitude 7°14’54.0”S e 39°29’42.7”W, é uma área próxima a casa sede do ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade e Conservação) e apresenta poucas alterações antropicas, formada pela parte úmida da floresta identificada como Floresta Úmida Semi-Perenifólia. A parcela P2 esta localizada nas latitudes 7°15’13.7”S 39°30’13.0”W que apresenta a fisionomia vegetal Cerradão conhecida cientificamente como Floresta Subcaducifólia Tropical Xeromorfa. E a parcela P3 nas latitudes 7°18’09.6”S 39°32’10.1”W que se encontra em uma área de transição que predomina a caatinga ou carrasco como popularmente conhecida. Após a demarcação e o georeferenciamento as arvores em cada parcela foram marcadas e identificadas pelo seu nome vulgar com a ajuda de um mateiro da região, sendo consideradas apenas plantas vivas com altura com altura ≥2m. Os parâmetros para coleta foram: Diâmetro 83


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a Altura do Solo (DAS) a 3,0 cm, Diâmetro a Altura do Peito (DAP) 1,30m de acordo com a metodologia de (RODAL et al.,1992). Para a identificação dos nomes científicos das plantas foi utilizados livros da flora da caatinga e do cerrado e o plano de manejo da unidade de conservação que apresenta diversos levantamentos com nomes de espécimes encontradas na UC, e diversos sites contendo listas de espécies das diversas fisionomias estudadas. Os indivíduos encontrados que apresentam valor econômico e medicinal serão georreferenciados. Não foram coletadas partes de plantas, pois todas as espécies encontradas foram identificadas por seus nomes científicos. Foi utilizado o software fitopac2 para calcular o índice de diversidade ShannonWiener (H’) que avalia a diversidade de espécies presente nas parcelas em estudo RESULTADOS E DISCUSSÕES No total foram encontrados 199 indivíduos que estavam distribuídos em 32 espécies e 15 famílias. As famílias mais representativas foram, Lauraceae com 48 indivíduos que representa 24,1% das espécies estudadas, Fabaceae (16%), Myrtaceae (13%), Malpighaceae 11%. As espécies mais representativas foram, Ocotea sp. (42 indivíduos) , Byrsonima verbascifolia rich (21), Eugenia aurata (12), Croton sonderianus Müll. Arg (11), Erythroxylum squamatum (11). Tabela 1: Relação de espécies e freqüência nos fragmentos em estudo. NOME VULGA

Louro Murici Murta Marmeleiro Pimentinha Visgueiro Pau terra Pau touceira Velame Grão de galo Almecega C. de veado Espinheiro Janaguba Caraíba Canafistula Imbiriba- preta São João Pequi Copaiba Jurema preta 84

NOME CIENTIFICO

Ocotea sp Byrsonima verbascifolia rich Eugenia aurata Croton sonderianus müll. Arg Erythroxylum squamatum Parkia platycephala Qualea grandiflora mart Blepharocalyx salicifolius Croton heliotropiifolius Cordia superba Protium heptaphyllum Casearia decandra Mimosa arenosa Himatanthus articulatus Tabebuia caraiba Senna spectabilis Guatteria schomburgkiana Senna macranthera Caryocar coriaceum pequi Capaidera langsdorfii desf Mimosa tenuiflora

FREQÜÊNCIA

48 21 12 11 11 7 7 7 6 6 5 5 5 4 4 4 4 4 3 3 3


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C. de velho Pau de óleo Mucunã Sucupira Gargauba Mangaba Facheiro Fava Danta Mandacaru Carrasco Gabiroba Fonte (GONÇALVES, 2016).

Miconia albicans Copaifera langsdorffii Mucuna pruriens Bowdichia virgilioides kunth Cordia toquevi aubl Hancornia speciosa Pilosocereus pachycladus Dimorphandra gardineriana Cereus jamacaru Cordia superba cham Ampomanesia Lineatifolia Total

3 3 2 2 2 2 1 1 1 1 1 199

FIGURA 1: Familias mais representativas no levantamento.

Fonte: (GONÇALVES 2016)

As parcelas apresentaram um índice de diversidade de Shannon-Wiener iguais à H’: 0,9433 , H’: 0,9932, H’: 0,8644, respectivamente P1, P2, P3 . Valores baixos segundo ( URAMOTO, 2005), que considera 1,547 como intermediário e segundo (BURNETT et al., 1998) a riqueza e diversidade de árvores e apresentaram-se significativamente altas em sítios com alta heterogeneidade geomorfológica ou seja, que exibiam poucas mudanças no terreno ou condições do solo e a riqueza, a diversidade e a dominância de espécies estão associadas com a heterogeneidade das propriedades abióticas. Entretanto (SAMPAIO et al, 2011) em sua pesquisa realizada próximo ao acampamento de coletores de pequi (Caryocar brasiliensis), apresentou um valor igual a H’= 0,102132, valor próximo ao encontrado. É possível que as espécies que foram mais incidentes na região apresentem maior adaptação ao meio em função da predominância dos outros indivíduos tanto no estrato arbustivo como arbóreo. Em relação aos resultados individuais das parcelas estudas a primeira parcela (P1) localizada na latitude 7°14’54.0”S e 39°29’42.7”W, é uma área próxima a casa sede do ICMBIO, mas que apresenta poucas alterações antrópicas, formada pela parte úmida da floresta identificada como Floresta Úmida Semi-Perenifólia, nela foram levantados 68 indivíduos, distribuídos entre 12 espécies, sendo todas arbóreas. A espécie mais representativa dessa 85


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primeira parcela foi ao Louro (Ocotea sp. ) sendo verificados 25 indivíduos que corresponde a 36,7% da população encontrada na área estudada. Outras espécies representativas foram o Murici (Byrsonima verbascifolia Rich), que representou 20,5% dos indivíduos da parcela. FIGURA 2: Espécies mais representativas na parcela (P1)

Fonte: (GONÇALVES 2016)

FIGURA 3: Números de ocorrências das espécies em (p1).

Fonte: (GONÇALVES, 2016

Foram medida a DAS (diâmetro a altura do solo) e a DAP ( diâmetro a altura do peito) das arvores encontradas nas parcelas (P1), (P2),(P3) , onde a espécie que apresentou a maior media dos diâmetros foi Parkia platycephala (Visguiro), seguida pela Caryocar coriaceum ( pequi). Muitas das espécies encontradas apresentam um porte lenhoso muito grande uma característica das florestas úmidas, que são encontradas na parcela P1 e P2, como se trata de uma área de preservação, com poucas ou nenhumas alterações antrópicas, essa característica se confirma. A parcela P3 localizada em uma área de caatinga conhecida popularmente como carrasco apresenta um porte arbustivo e muito inferior às outras áreas estudadas como pode ser observado na figura 2 todas as espécies localizadas com (DAS) e (DAP) entre 0 e 20cm estão localizadas nessa área com exceção do Cereus jamacaru (mandacaru), que se apresenta com o diâmetro um pouco maior.

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Figura 4: Diâmetro a altura do solo (DAS) e diâmetro a altura do peito (DAP) do estudo.

Fonte: (GONÇALVES, 2016)

A parcela (P2) está localizada nas latitudes 7°15’13.7”S 39°30’13.0”W que apresenta a fisionomia vegetal conhecida cientificamente como Floresta Subcaducifólia Tropical Xeromorfa conhecida popularmente como Cerradão. Onde foram catalogados 72 indivíduos de 16 espécies diferentes todas de espécies arbóreas, onde a mais representativa foi a Octea sp., representando 30% da população da parcela estudada, outras espécies com representatividade foram a Murta (Eugenia aurauta) 12,5% e o Murici (Byrsonima verbascifolia rich) 12,5% da população da parcela estudada. A pesar de (P2) está localizada em uma área muito distante da parcela (P1) as espécies mais representativas foram às mesmas, evidenciando assim que estão muito bem adaptadas a região. A parcela P3 nas latitudes 7°18’09.6”S 39°32’10.1”W que se encontra em uma área de transição predominantemente da caatinga ou carrasco como popularmente conhecida, essa área ocupa apenas, foram inventariados 58 indivíduos de 12 espécies diferentes, essa área é muito diferente das parcelas estudadas anteriormente, pois ao analisar a composição florística dessa parcela foi encontrado como espécie predominante o Marmeleiro (Croton sonderianus) com 18,9% da composição da parcela e a Pimentinha (Erythroxylum squamatum) representando 18,9% da população. Nessa parcela foi evidenciado que a Flona Araripe é formada por diferentes coberturas vegetais apresentando uma parte de floresta transacional entre Mata Úmida e Cerradão, e outra parte que apresenta a Carrasco que é classificada como bioma Caatinga que 87


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apresenta pequenas arvores tortuosas e predominantemente retorcidas, que caem todas as folhas no período de estiagem. FIGURA 5: Frequência de espécies na parcela (P2)

Fonte: (Gonçalves, 2016)

FIGURA 4: Frequência de espécies na parcela (P2)

Fonte: (Gonçalves, 2016)

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CONSIDERAÇOES FINAIS A floresta nacional do Araripe é uma importante reserva do patrimônio natural da região do Araripe e a expansão dos conhecimentos a cerca de sua diversidade florística é de grande valia para servir como embasamento teórico e metodológico para a implementação de ações de manejo sustentável na UC (Unidade de conservação). Contudo essa pesquisa identificou que as áreas estudadas apresentam uma baixa diversidade biológica de espécies vegetais, segundo o índice de Shannon-Wiener. Contudo esse é um estudo preliminar que precisa, portanto de muitos outros estudos desta natureza na FLONA do Araripe/Apodi para complementar seus dados que no futuro servirão para a elaboração de estratégias para manejos adequados dos recursos da região. Uma vez que a Floresta Nacional do Araripe apresentou significativa diferença entre três fisionomias vegetais encontradas e em cada uma delas existem espécimes adaptadas as características da região. Evidenciando assim o nível de preservação que essa unidade de conservação se encontra temos que ressaltar a sua importância para a região do Araripe, pois seus ecossistemas contribuem para a sustentabilidade hidrológica e ecológica do Complexo Sedimentar do Araripe, Torna-se imprescindível a preservação e conservação de sua biodiversidade para a continuidade da vida desse ecossistema.

REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, U.P.; ANDRADE, L.H.C. Conhecimento botânico tradicional e conservação em uma área de caatinga no estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil. Acta Botanica Brasilica, v.16, n.3, p.273-85, 2002a. ALBUQUERQUE, U.P.; et al . CAATINGA BIODIVERSIDADE QUALIDADE DE VIDA. Recife Pernambuco. Editora Ufrpe. 2010 BEZERRA, C. O et al. Quantificação Arbórea-Arbustiva de Fragmentos da Floresta Nacional do Araripe/Apodi. In: VI CONNEPI, Natal-RN, 2011. BRITO, E.R. & SOARES, T.S. 2006. Valores econômicos, sociais e pessoais dos estudos descritivos da vegetação. Revista Científica Eletrônica de Engenharia Florestal, FAEF 4:113. BURNETT, M. R. et al.1998; The influence of geomorphological heterogeneity on biodiversity - I. A patch-scale perspective. Conservation Biology, v.12, n.2, p.363-370. 1998 GONÇALVES, A.R.S; 2016. PESQUISA DE CAMPO NA FLORESTA NACIONAL DO ARARIPE. FEVEREIRO A MAIO DE 2016. LEITÃO FILHO, H. F. Aspectos taxonômicos das florestas do Estado de São Paulo. In: CONGRESSO NACIONAL DE ESSENCIAS NATIVAS, 1., Anais. Silvicultura em São

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Paulo, volume 16 A, pt. 1, p. 197-206, 1982.. MMA, 2004. Plano de Manejo da Floresta Nacional do Araripe-Apodi. Disponível em : www.icmbio.gov.br/...planos-de-manejo/flona_araripe_pm_diag3.pdf acesso:01/01/2016 SAMPAIO, N. L. M et al. Levantamento Da Flora Arbórea-Arbustiva Da Flona Do Araripe/Apodi. In: VI CONNEPI, Natal-RN, 2011.

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DIVERSIDADE DE FRUTOS DO CERRADO COM POTENCIAL ALIMENTÍCIO UTILIZADOS POR MORADORES DE SIMÕES-PI ELOURDIANE COELHO SERIO1 KITAWANN TAYRONE DE S.N. CARDOSO2

RESUMO O bioma Cerrado é um dos mais ricos em biodiversidade e endemismo de espécies vegetais, porém figura entre os mais ameaçados do planeta. Nessa região, encontra-se grande diversidade de espécies de frutos. Esses alimentos trazem grandes benefícios para o nosso corpo e é uma peça fundamental numa alimentação saudável que deve ser consumida diariamente. Mas, muitas vezes, não temos a consciência do que eles são e qual sua importância alimentícia. Os frutos do Cerrado são muito desconhecidos ainda pela população brasileira. Este trabalho apresenta um diagnóstico a respeito do conhecimento dos frutos do Cerrado utilizados por moradores de Simões-PI, com foco no consumo desses frutos pela população dessa região. A pesquisa levantou dados de origem quantitativa referente às frutas mais conhecidas e consumidas, sendo aplicados questionários, seguidos por análise das respostas obtidas. Palavras-chaves: Biodiversidade. Espécies. Endemismo. Nativo. ________________ 1 Graduada em Ciências Biológicas pela FAFOPA, EMAIL: e.lour.diane@hotmail.com 2 Mestre em Ciência Animal /UFPI; Biólogo graduado na UESPI, EMAIL: kitawanntayrone17@ hotmail.com

INTRODUÇÃO O Brasil apresenta uma variedade de características de acordo com sua divisão geográfica, de forma que alguns lugares apresentam características mais favoráveis às chuvas, com clima ameno, outros apresentam pouca chuva em certo período e outro mais seco, solo arenoso, relevo ondulado, causando baixa fertilidade e baixa capacidade de armazenamento de água no subsolo, que é o caso do Cerrado. Apesar de tudo isso, o Cerrado tem se mostrado uma região de grande potencial em sua variedade de espécies de planta, havendo entre elas uma grande variedade de plantas frutíferas nativas que têm se mostrado de grande importância para a manutenção dos ecossistemas e para a sobrevivência do homem da região do Cerrado, bastante explorada, mas ainda pouco conhecida, pouco pesquisada, guardando certamente muitos segredos e muitas riquezas em seus mistérios. E por tudo isso sujeita a extinção, já que há a exploração predatória incontrolada pelo próprio homem, as queimadas e o desmatamento, colocando em risco fruteiras do Cerrado e a sobrevivência do próprio ser humano (PEIXOTO e MORIM 2003). No nosso país, existe uma grande diversidade de espécies de frutos, e uma grande parte dessas espécies estão distribuídas pelo Cerrado embora esta seja uma região considerada difícil 91


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de clima quente solo pobre pouco fértil muitas vezes causando desesperança aos agricultores da região. Contudo, apesar das poucas chuvas e das muitas limitações consideradas entraves para o crescimento e desenvolvimento dessa região com relação às espécies frutíferas e mesmo com as características citadas a respeito do solo e da situação climática, o Cerrado surpreende a cada dia com uma variedade de espécies frutíferas. (PEIXOTO e MORIM, 2003). Essa variedade de fruta do Cerrado era até pouco tempo desconhecida e mesmo hoje ainda se conhece pouco a respeito e é menos ainda valorizada, pois essa região de pouca chuva, de solo grosseiro, de clima quente não mostrava possibilidade de plantio e cultivo de plantas, assim os agricultores se limitavam a criação de gado e o cultivo de algodão e atividades de subsistência que incluíam o cultivo de milho, feijão, abóboras e criação de galinhas apenas para o consumo. Muito depois é que se percebeu um grande potencial da região do Cerrado e a disposição de frutos existentes na flora passando a conhecer uma série de frutos nativos que vieram a enriquecer a gastronomia e a qualidade de vida dos moradores da região do Cerrado (MORAES, 2001). Assim, o melhor caminho é ter em atenção que a sua saúde começa pela boca, ou seja, a alimentação é a melhor forma de prevenir preocupações futuras. Com base nas evidências apresentadas pelo Relatório Mundial da Saúde 2003, estima-se que até 2,7 milhões de vidas poderiam ser salvas anualmente em todo o mundo, se o consumo de hortaliças e frutas fosse adequado. (GOMES, 2007).

Pouco se têm visto estudos, pesquisas, leis e fiscalizações e pouco se sabe a respeito do potencial alimentício e nutritivo desses frutos. Pensando nisso, despertamos para a necessidade de uma pesquisa a partir do tema “Diversidade de Frutos do Cerrado com Potencial Alimentício utilizados por moradores de Simões-PI”. Objetivando conhecer a diversidade de frutos comestíveis nativos do Cerrado que são utilizados pelos moradores de diferentes regiões de Simões-PI; Investigar o conhecimento da comunidade escolar campo de estágio sobre os tipos de frutos originários do Cerrado com potencial alimentício; Reconhecer a importância dos frutos com potencial alimentício para a população de Simões-PI; e catalogar as espécies encontradas. O trabalho ainda se propõe a divulgar a catalogação destas frutas comestíveis, indicando inclusive algumas comidas e bebidas produtos das frutas do Cerrado, acreditando que com o conhecimento da importância das mesmas para a gastronomia, o homem ganhará consciência e interesse em preservar e cultivar o plantio de árvores frutíferas que servem para alimento, e que tais frutas vão contribuir para melhorar a culinária e através dela a saúde e qualidade de vida das pessoas dessa região. De acordo com a necessidade de cada pessoa, estudos científicos demonstram que o consumo de pelo menos 3 porções de frutas diariamente contribuem com a promoção da saúde e prevenção das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) e na manutenção do peso. É importante consumir diferentes tipos de fruta. A fruta é uma peça fundamental numa alimentação saudável que deve ser consumida diariamente. (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003 apud GOMES, 2007). Pesquisas indicam que o consumo 92


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adequado de frutas poderia melhorar a qualidade de vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Consideramos que o trabalho é de grande relevância por ser oportunidade para disseminar conhecimento e despertar o conhecimento de agricultores e familiares da comunidade e da região, além de servir a outros pesquisadores e estudantes interessados no assunto, pois sendo este um assunto abrangente com necessidade de pesquisa, o nosso trabalho fica aberto para estudos posteriores, em que se pode surpreender com novas descobertas sobre o tema. MATERIAIS E MÉTODOS Local de estudo O estudo foi realizado nas turmas do 6º, 7º e 8º ano da escola Estadual Luís Lopes dos Reis, na cidade de Simões-PI, localizada a 417 km de Teresina, capital do Estado. Figura 1. Município de Simões Piauí

Fonte: Google maps Figura 2. Fachada da escola

Fonte: (SERIO, 2016) 93


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Tipo de pesquisa O referido projeto de pesquisa que visa conhecer os frutos comestíveis nativos da região do Cerrado utilizado por moradores de Simões-PI, foi realizado de forma investigativa a partir de questionários aplicados para crianças de uma escola Estadual de Ensino Fundamental. A partir do questionário, foi elaborado um estudo a fim de conhecer, identificar e classificar as diversidades dos frutos originárias do Cerrado com potencial alimentício e que são utilizados pelos moradores de Simões-PI. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da aplicação dos questionários, foi possível conhecer um pouco sobre o nível de conhecimento da população entrevistada, quais os frutos mais conhecidos e consumidos por eles e a importância desses frutos na alimentação, entre outros aspectos. Dentre os 50 alunos entrevistados, segue abaixo os resultados: Tabela 01 – Frutos da região de Simões -PI, mais citados.

NOME POPULAR

NOME CIENTÍFICO

Araticum

Annona crassiflora

Babaçu

Attalea SSP

Buriti

Mauritia vinífera

Caju

Anacardium occidentale L

Jatobá

Hymenaea stigonocarpa

Macaúba

Acrocomia aculeata

Mangaba

Hancornia speciosa

Pequi

Caryocar brasiliense

Pitomba

Talisia esculenta

Umbu

Spondias tuberosa

Fonte: (SERIO, 2016)

A tabela 01 mostra a quantidade de frutos citados na pesquisa, sendo que dos 50 entrevistados foram relatados um total de 10 espécies de frutos nativos do Cerrado utilizados por moradores de Simões-PI. Foi observado que muitos não tinham conhecimento sobre as espécies frutíferas da região. As árvores frutíferas ocupam lugar de destaque no ecossistema do Cerrado e seus frutos já são comercializados em feiras e com grande aceitação da população. Esses frutos apresentam grandes fontes de vitaminas, minerais e proteínas e podem ser consumidos na forma de sucos, licores, sorvetes, geléias etc. Atualmente, esses frutos têm sido verdadeiros tesouros 94


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culinários, utilizados nas mais variadas técnicas e adaptações realizadas pelo homem. Tabela 2. Características e classificação das espécies de frutos citadas por alguns moradores da região de Simões-PI.

IMAGENS

CARACTERÍSTICAS ARATICUM Nome popular: Araticum, anona; pinha-doCerrado; coração de boi; cabeça-de-negro; bruto, marolo Nome científico: Annona crassiflora Família botânica: Annonaceae Vegetação de ocorrência: Cerrado, Cerradão e Campo Rupestre

BABAÇU Nome popular: Babaçu, baguaçu; coco-demacaco; coração de boi; cabeça-de-negro; bruto, marolo Nome científico: Orrbignya speciosa Família botânica: Palmae Vegetação de ocorrência: Brasil - Região amazônica e Mata Atlântica na Bahia BURITI Nome popular: Buriti, mirití, palmeirados-brejos Nome científico: Mauritia vinífera Família botânica: Palmae Vegetação de ocorrência: Mata de Galeria e Veredas

CAJU Nome popular: caju, anacardo, acaju, acajuíba, caju-manso, cajueiro; Nome científico: Anacardium occidentale Família botânica: Anacardiaceae Vegetação de ocorrência: Cerrado, campo sujo e cerradão

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JATOBÁ Nome popular: Jatobá-do-Cerrado, jataí e jutaí. Nome científico: Hymenaea stigonocarpa Família botânica: Leguminoseae Vegetação de ocorrência: Cerrado e Cerradão

MACAÚBA Nome popular: Macaúba, bocaiúva, cocobab ão, macaiba Nome científico: Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. Família botânica: Palmae Vegetação de ocorrência: Mata de Seca e Cerradão

MANGABA Nome popular Mangaba, mangabeira, mangabiba, mangaíba, mangaiba-uva, mangabeira-de-minas.; Nome científico: Hancornia speciosa Família botânica: Apocynaceae Vegetação de ocorrência: Cerrado e caatinga, tabuleiros arenosos e chapadas

PEQUI Nome popular: pequi, pequi-doCerrado Nome científico: Caryocar brasiliense Família botânica: Caryocaceae Vegetação de ocorrência: Cerrado, Cerradão e Mata Seca

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PITOMBA Nome popular: Pitomba, olho-de-boi ou caruiri Nome científico: Talisia esculenta Família botânica: Sapindaceae Vegetação de ocorrência: Cerrado, Cerradão

UMBU Nome popular: Umbu; Umbuzeiro; Ambu; Giqui; Imbu; Imbuzeiro; Ombuzeiro; Tapereba; Nome científico: Spondias tuberosa Família botânica: Anacardiaceae Vegetação de ocorrência: Cerrado, chapadões semiáridos do Nordeste brasileiro

Fonte: www.cerratinga.org.br Gráfico 01 – Frutos do Cerrado mais consumidos por moradores de Simões-PI.

Fonte: (SERIO, 2016)

O gráfico 01 apresenta os frutos do Cerrado utilizados pelos entrevistados na alimentação. Observa-se que 48 dos 50 entrevistados citaram mangaba, caju e umbu como principais frutos utilizados na alimentação, enquanto que 3% citaram pitomba, buriti e araticum, e uma pequena parte dos entrevistados, cerca de 1% citando frutos de outras regiões. No decorrer da realização dos questionários foi possível observar o quanto é consideravelmente importante a utilização de frutos no consumo alimentício de muitas pessoas da região dando ênfase ao grande potencial de espécies vegetais frutíferas encontradas nas diversas localidades 97


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do nosso Cerrado. A flora do Cerrado possui diversas espécies frutíferas com grande potencial de utilização agrícola, que são tradicionalmente utilizadas pela população local. Os frutos, em geral, são consumidos in natura ou na forma de sucos, licores, sorvetes, geléias e doces diversos (ALMEIDA, 1998a; SILVA et al., 2001). Os frutos do Cerrado apresentam sabores sui generis e elevados teores de açúcares, proteínas, sais minerais, ácidos graxos (SILVA et al., 2001), vitaminas do complexo B e carotenóides (AGOSTINI-COSTA & VIEIRA, 2000). Gráfico 02 – Frutos citados como mais importante na alimentação.

Fonte: (SERIO, 2016)

O gráfico 02 mostra a questão da importância dos frutos para alimentação, sendo que 44% dos entrevistados consideram a mangaba como fruto mais importante para o consumo alimentício, outros 36% classificam o caju como mais importante e 16% já citam o umbu como principal fruto da alimentação. 4% dos entrevistados não responderam ou não souberam opinar. Segundo ORNELLAS (2001), são as frutas, segundo o Velho Testamento, o primeiro alimento de que se serviu o homem e por não necessitar preparação alguma, ou seja, ingeridas ao natural, nada perdem do seu valor nutritivo. São excelentes fontes de vitaminas, minerais, fibras, compostos bioativos e os glicídios são de fácil digestão. Os frutos das espécies nativas do Cerrado oferecem um elevado valor nutricional, além de atrativos sensoriais como, cor, sabor e aroma peculiares e intensos, ainda pouco explorados comercialmente (AGOSTINI-COSTA E VIEIRA, 2005). Durante a execução da pesquisa, foi questionado aos participantes quanto à importância de se conhecer os frutos do Cerrado. Observou-se que muitos dos entrevistados mesmo não conhecendo as espécies cientificamente, classificam com grandes potenciais tanto na alimentação como na culinária, comércio, medicinal, fonte de renda, etc. 98


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Gráfico 03 – Frutos listados como ação medicinal.

Fonte: (SERIO, 2016)

O gráfico 03 relata a importância medicinal dos frutos para os moradores da região. 48% dos entrevistados classificam o pequi como principal fruto com ação medicinal, já outros 26% citam o caju com esse potencial enquanto que 12% e 10%, respectivamente, classificam o umbu e o jatobá como frutos também utilizados para fins medicinais. 4% dos entrevistados citaram frutos de outras regiões. De acordo com os relatos, a polpa do pequi é rica em vitamina A e C, tornando o fruto um aliado no combate e prevenção de algumas doenças. Mas os benefícios vão além: sua amêndoa é utilizada na fabricação de um rico óleo que possui ação antiinflamatória, cicatrizante e gastroprotetora. O caju é rico em vitamina C, cálcio, fósforo e ferro. Dentre os benefícios para a saúde, a haste carnosa é indicada para o combate do reumatismo e eczemas de pele. O umbu possui consideráveis propriedades nutricionais, sendo rico em vitamina C, além de ainda possuir propriedades medicinais antidiarreicas. A polpa do jatobá é rica em ferro e é indicada para pessoas que apresentam alto grau de anemia. A casca também é aproveitada para chá. CONCLUSÃO Conclui-se que a importância da rica diversidade frutífera do Cerrado contribui para promover possibilidades de crescimento e de melhoria da qualidade de vida dos moradores da região de Simões-PI, a partir da dieta equilibrada e saudável com grandes diversidades de frutos. Apesar do pequeno número amostral, foi possível conseguir informações sobre o tema 99


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pesquisado, informações estas que responderam adequadamente às questões, trazendo as pistas sobre o conhecimento da diversidade das frutas dessa região e sua importância nutricional e medicinal, contribuindo para compreender a dinâmica alimentar com o aproveitamento dos frutos dessa região e que é fonte de emprego e renda para muitos dos entrevistados.

REFERÊNCIAS ALMEIDA, S.P. Cerrado: aproveitamento alimentar. Planaltina: Embrapa-CPAC, 1998a. 188p. AGOSTINI-COSTA, T.; VIEIRA, R.F. Frutas nativas do Cerrado: qualidade nutricional e sabor peculiar, 2000. Capturado em: 25 fev. 2005. GOMES, F. S. Frutas, legumes e verduras: recomendações técnicas versus constructos sociais. Revista de Nutrição, Campinas, v.20, n.6, p.18-24, nov./dez. 2007. MORAES (2001), O negócio do Cerrado: inclusões e exclusões (ou dos impactos da modernização agrícola nos Cerrados piauienses). XXXIX Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. ANAIS... Recife: SOBER, (Cd Rom). ORNELLAS, L. H. Técnica Dietética: seleção e preparo de alimentos. 7ª ed. São Paulo: Atheuneu Editora, 2001. 330 p. PEIXOTO, A.L.; MORIM, M.P. Coleções botânicas: documentação da biodiversidade brasileira. Cien. Cult. v. 55, n.3, p.21-24, 2003. SILVA, D.B. et al. Frutas do Cerrado. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2001. 179p. World Health Organization. Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. report of a joint WHO/FAO expert consultation. Geneva; 2003. (WHO-Technical Report Series, 916). www. cerratinga.org.br/ Espécie Nativas do Cerrado e Caatinga, acesso em: 29/04/2016 http://www.goolle.com.br/maps

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL, RESPONSABILIDADE DE TODOS: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA. Rosalina Silva Mesquita1 Maria Beatriz Dias Coutinho2

RESUMO: Este artigo trata de uma preocupação crescente sobre como estamos tratando o meio ambiente e quais ações podemos realizar para reduzir os efeitos negativos da ação do homem. A Educação ambiental é a ferramenta para sensibilizar e conscientizar as pessoas. Tem comoobjetivo saber se a escola Patronato Irmãos Dantas trabalha a educação ambiental com seus discentes, e quais áreas disciplinares se envolvem com essa educação. É um trabalho elaborado de forma bibliográfica, qualitativa descritiva, que atende a um estudo de caso. Para a coleta de dados, buscaram-se respostas através de uma pesquisa com a coordenadora pedagógica da escola, por meio de um questionário com perguntas abertas e fechadas. Os dados foram analisados de forma qualitativa e como resultados, podemos dizer que a Educação ambiental é trabalhada na referida escola, existe projetos, mas nem todas as disciplinas curriculares se envolvem com essa educação. Concluímos que a Educação Ambiental é desenvolvida na Escola, porém, os professores devem buscar estratégias para possibilitar que a Educação Ambiental faça parte da realidade dos alunos, que esses sejam colaboradores e divulgadores de práticas positivas com respeito ao Meio Ambiente sadio para a manutenção da vida com qualidade agora e para futuras gerações.

Palavras Chaves: Meio ambiente. Conscientização. Qualidade de vida ___________________________________________________________________________ Rosalina Silva Mesquita – Aluna da especialização em Biodiversidade – UESPI-NEAD, graduada em Licenciatura Plena em Educação Física pela UESPI; Técnica em Enfermagem. 1

Maria Beatriz Dias Coutinho – Mestre em Desenvolvimento em Meio Ambiente – UFPI.

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INTRODUÇÃO Este trabalho de pesquisa tem como tema Educação Ambiental: Responsabilidade de Todos, que tem como abordagem o fato de que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo este um bem de uso comum do povo e essencial para uma qualidade de vida saudável. Há muito tempo o homem vem degradando o meio ambiente, e somente há poucos anos é que as pessoas despertaram para as problemáticas ambientais e sua relação com a vida na terra. O consumismo, o desperdício de alimentos, o uso inconsciente da água podem levar à degradação ambiental, na produção de lixo, a urgência em mudanças de atitudes com respeito ao meio ambiente. E a busca por qualidade de vida agora e para futuras gerações. A partir dessa 101


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afirmação, como os seres humanos podem contribuir para amenizar os efeitos negativos da ação do homem com o ambiente? O objetivo em pauta é adquirir conhecimentos sobre se a escola Patronato irmãos Dantas trabalha a Educação Ambiental com seus discentes, e que houvesse mudanças de atitudes com relação ao meio ambiente. Assim, como proporcionar conceitos básicos sobre o meio ambiente, estimular a mudança de valores e atitudes, oferecer maneiras de agir diante de problemas ambientais, bem como permitir uma visão crítica que leve a tomadas de ações positivas com respeito à natureza. A Educação ambiental é a ferramenta para sensibilizar e conscientizar as pessoas sobre seu papel como parte integrante do meio ambiente, sendo necessária a tomada de medidas urgentes para reverter ou amenizar os danos ambientais, como desmatamentos, queimadas, produção de lixo, uso abusivo dos recursos naturais, bem como o desperdício e a poluição da água.

METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa descritiva que atende aos pré-requisitos de um estudo de caso. E o estudo de caso é utilizado para contribuir com o entendimento dos fenômenos individuais, grupais, sociais, organizacionais, políticos e relacionados (YIN, 2010). A princípio realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre o tema Educação Ambiental para fundamentar os objetivos pleiteados neste artigo. Dentro do tema pesquisado, foram buscados assuntos como um breve histórico da Educação ambiental, as leis que reforçam a introdução da EA na grade curricular, pelo Ministério de Educação e Cultura, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais- PCN’s e da Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA e como ela é abordada nas escolas. Para coleta de dados, buscaram-se respostas através da coordenadora pedagógica da escola Patronato Irmãos Dantas, onde foi explicado o objetivo da pesquisa e solicitado à autorização da pesquisa para a mesma, só assim, foi realizada uma pesquisa com um tipo de questionário com perguntas abertas e fechadas. O questionário, segundo Gil (1999, p.128) pode ser definido “como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.”As questões contidas no questionário eram sobre se a Escola trabalhava com a educação ambiental, se havia projetos nesta área, quais disciplinas curriculares se envolviam com este tipo de projeto, se havia na escola lixeiras seletivas. Após a coleta de dados, estes foram analisados de forma qualitativa. Para esse trabalhado, ancoramos nossas pesquisas em estudo de REIGOTA (2012,1994), SATO (2002,2001), CARVALHO (2008,2004) e LOUREIRO (2012,2010) para fazer análise 102


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sobre as informações. Sendo elaborado de forma bibliográfica, qualitativa descritiva; a pesquisa se faz necessário que o ensino de educação ambiental seja compreendido por sua finalidade para que este processo passe a fazer sentido no ambiente escolar, admitindo o seu verdadeiro significado educativo.

RESULTADOS E DISCUSSÕES “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, cabendo ao poder público o dever de defendê-lo e à coletividade o dever de preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (caput do artigo 225 da Constituição de 1988).Desde os primeiros registros da utilização do termo “Educação Ambiental” por volta de1948, muita coisa já aconteceu, acordos foram feitos, conferências realizadas, tratados foram assinados, em prol da Educação ambiental buscando formar sociedades sustentáveis, onde todos seriam participativos voltados para a recuperação, conservação e melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida. No entanto, a instituição da educação ambiental no Brasil só acontece em 1999, através da Lei Nº 9.795 de 27 de abril do referido ano e regulamentada pelo Decreto Nº 4.281 de 25 de junho de 2002. Esta lei define a educação ambiental como “os processos por meio dos quais o individuo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, hábitos, atitudes e competências voltados para a conservação do meio ambiente uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e a sua sustentabilidade” (BRASIL, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2000, pág 6). Como relata Reigota (1994, p.10), “uma resolução importante da Conferência de Estocolmo foi a de que se deve educar o cidadão para a solução dos problemas ambientais”. Podemos então considerar que aí surge o que se convencionou chamar de Educação Ambiental. E foi em 1972 que a Conferência de Estocolmo destacou o ser humano como o principal protagonista na manutenção do planeta. Em dezembro de 2002 foi aprovada uma proposta pelas Nações Unidas que proclamou a Década Internacional da Educação para o Desenvolvimento Sustentável para o período 2005-2014. Seu principal objetivo é o de integrar os princípios, os valores e as práticas do desenvolvimento sustentável a todos os aspectos da educação e da aprendizagem. De acordo com a pesquisa realizada com a coordenadora pedagógica da escola, ela vê a Educação Ambiental como um processo por meio dos quais o individuo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente. Acreditamos que a educação ambiental é o instrumento que pode sim levar à sustentabilidade, que o progresso e o desenvolvimento não serão afetados, se os recursos forem utilizados de forma sensata e racional, pois hoje,esses são utilizados em demasia devido ao consumismo. 103


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E que a mesma já participou de alguma atividade sobre educação ambiental e que contribui com a conservação do meio ambiente por evitar o consumo exagerado do que não é necessário, evita o desperdício de alimentos, reaproveita materiais, direciona o lixo de forma correta.Assim a educação ambiental se faz necessária, pois as políticas públicas voltadas para a preservação e conservação do Meio Ambiente por si só não podem fazer muita coisa, se não houver uma sensibilização e envolvimento de toda a sociedade em reconhecer seu dever de defender e preservar o meio ambiente, ou seja, é necessária uma mudança cultural nas pessoas, com base em suas necessidades materiais, nos padrões de produção e consumo com o uso dos recursos naturais, para que haja respeito e valorização do nosso habitat. Acreditamos que por participar da Educação formal dos alunos ela pode fazer muito mais ações que envolvam a coletividade, embora já contribua muito evitando o desperdício, pois este no Brasil chega a 40 mil toneladas por dia, segundo pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Anualmente, a quantia acumulada é suficiente para alimentar cerca de 19 milhões de pessoas diariamente. De acordo com o estudo, a maior parte dos alimentos é desperdiçada durante o preparo das refeições (REDE BRASIL ATUAL, 2014). A coordenadora afirma que a escola trabalha com atividades que envolvem a Educação Ambiental e lista o nome do projeto como Água e Terra e Reciclando o lixo, e que o público participante são alunos, professores e comunidade. Podemos notar em uma visita à escola que realmente ela se preocupa com a questão da educação ambiental, pois a escola toda é bem arborizada como mostra a figura 01 e a figura 02 logo abaixo.

FIGURA 01 Área arborizada Fonte:

Dados

da

pesquisa

FIGURA 02 Área arborizada 2016

Fonte:

Dados

da

pesquisa

2016

Quando perguntado sobre quais disciplinas curriculares se envolviam com esse tipo de projeto na escola, ela atestou que apenas geografia, educação física, artes e ciências. Com base nesta informação, ficamos refletindo sobre o porquê de as outras disciplinas não se envolverem, visto fazer parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais e ser uma área que há muito vem 104


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sendo abordada, ainda sentimos que as pessoas que deveriam estar mais engajadas neste tipo de educação, não mostram preocupação e nem interesse sobre as questões ambientais. Elas perdem grandes oportunidades de tentarem fazer com que o público alvo, seus alunos, mudar de atitudes e valores, se como educadores, fornecessem conhecimentos e atividades que levassema conscientização e mudanças desde agora para alunos e estes levassem para suas famílias, para que se reduzissem a degradação no ambiente. Devemos concordar com Reigota (2012, p. 500) que, ao apresentar a ideia de que a Educação Ambiental ainda é um campo emergente, anota que não há um consenso sobre a área, mas diversas linhas de pesquisa, várias perspectivas epistemológicas, por vezes até conflitantes... daí a ideia de um coletivo que possa atuar para que essa possa se desenvolver nas escolas com a participação de todos. A Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA, instituída pela lei nº 9.795 de1999, e regulamentada pelo decreto nº 4.281 de 2002, representou grandes avanços legais para o campo da Educação Ambiental trazendo em seu bojo princípios que definem que a educação ambiental deve ser permanente e continuada, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, dentro e fora da escola. Quando perguntado à coordenadora se a escola dispunha de lixeiras seletivas, ela respondeu que sim. Sabemos da importância da coleta seletiva do lixo, pois ajuda a aumentar a conscientização da população em relação ao consumo sustentável e a preservação do meio ambiente, bem como, todos os resíduos são devidamente descartados e evitam a poluição do solo e lençóis freáticos, além de evitar a poluição das ruas e esgotos que podem causar enchentes, grandes prejuízos aos cofres públicos e aos moradores das cidades. Constatamos que na escola realmente existem as lixeiras seletivas como mostra a figura 03, e observando seu estado, podemos dizer que elas já existem por um bom tempo.

FIGURA 03Lixeiras seletivas da escola FONTE: Dados da pesquisa 2016

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Por último, foi perguntado para a coordenadora se atualmente a escola tinha desenvolvido algum projeto voltado para a Educação Ambiental. Novamente ela respondeu que sim e que o nome do projeto era Reciclando o lixo. A escola está, portanto, exercendo o seu papel social, pois à medida que se recicla, estamos contribuindo para o meio ambiente e dando oportunidades de trabalho para outras pessoas que se utilizam desses materiais para vender ou produzir artesanatos. E Através da reciclagem, o lixo passa a ser visto de outra maneira, não como um final, mais como o início de um ciclo em que podemos preservar o meio ambiente, a participação consciente e a transformação de hábitos (MARODIN E MORAIS, 2004, p.3).

CONCLUSÃO Com base nos achados pesquisados, concluímos que a Educação Ambiental é desenvolvida na Escola Patronato Irmãos Dantas, por professores, alunos e sociedade geral. As disciplinas que se envolvem com esse tipo de educação são artes, geografia, educação física e ciências. Recentemente a Escola desenvolveu um projeto chamado Água e Terra. Diante dessa situação nos perguntamos o que deveria ser feito para que essa Educação seja inserida no cotidiano das escolas e nas práticas pedagógicas dos professores? Os professores devem buscar estratégias para possibilitar que a Educação Ambiental faça parte da realidade dos alunos, que esses se tornem sujeitos críticos, capazes de atuarem diante dessas problemáticas ambientais, que sejam colaboradores e divulgadores de práticas positivas com respeito ao Meio Ambiente sadio para a manutenção da vida com qualidade agora e para futuras gerações. Dessa forma SATO (2001) afirma que a produção do conhecimento que se constrói deve ser validada e apropriada pelos grupos sociais (Sato, 2001). Os seres humanos podem contribuir para amenizar os efeitos negativos da ação do homem com o ambiente, com ações simples que cada pessoa pode estar realizando, como a reciclagem de papel, a utilização consciente da água, a reciclagem do lixo, o desperdício de alimentos, diminuir o consumo de coisas, objetos e roupas, reduzir o a utilização demasiada dos recursos naturais, a substituição das fontes de energias sujas por fontes de energias limpas. Embora a Constituição defina várias ações de conservação que são de responsabilidade do governo. No entanto, todos devem agir de forma a defender e preservar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras, porque estamos intrinsicamente ligados ao meio ambiente, e como parte deste, devemos zelar por sua qualidade, se queremos que a vida na terra continue.

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REFERÊNCIAS CARVALHO, Isabel Cristina de Moura; Educação Ambiental no BRASIL. Salto para o futuro, boletim 01; TV escola, mar.2008. CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Editora Cortez, 2008.256p. CARVALHO, I.C. Educação, meio ambiente e ação política. In: ASCELARD, H. (Org) Meio Ambiente e Democracia. Rio de Janeiro: IBASE, 1992. Pág.40. EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Aprendizes de sustentabilidade. Brasília-DF. março de 2007. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. p128. LOUREIRO, C. F. B. Educação ambiental no licenciamento: uma análise crítica de suas contradições e potencialidades. Sinais Sociais, Rio de Janeiro, v. 5, n. 14,setembro/dezembro de 2010. LOUREIRO. Carlos Frederico B. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006. MARODIN, V. S, MORAIS, G. A. Educação Ambiental com os temas geradores lixo e água e a confecção de papel reciclável artesanal. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. Belo Horizonte. UEMS. www.ufmg.br/congrext/educa/.Acesso em 03 maio de 2016. PROGRAMA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL (PRONEA). Brasília- DF -2005, 3ª edição. REDE BRASIL ATUAL – RBA. 2014. Brasil desperdiça 40 mil toneladas de alimentos todos os dias. Disponível em www.redebrasilatual.com.br › Ambiente › 2014.acesso em 03 de maio de 2016. REIGOTA, Marcos Antonio dos. Educação ambiental: a emergência de um campo científico. Perspectiva, Florianópolis, v. 30, n. 2, p. 500, maio/ago. 2012. REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental. São Paulo. Editora Brasiliense, 1994. P10,31-34. SATO, Michèle. Apaixonadamente pesquisadora em educação ambiental. In: Educação Teoria e Prática, Rio Claro, v. 9, n. 16/17, p. 24-35, 2001. SATO, Michele. Educação Ambiental. São Carlos: Rima, 2002.p24. YIN, R. Estudo de caso: Planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2010. 107



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UMA ABORDAGEM TEORICA SOBRE A LEI 12.305/10 E A IMPORTÂNCIA DA SUA PRÁTICA PARA OS MUNICÍPIOS ROSIMEIRE LUIZA DO NASCIMENTO ANANGELA RAVENA DA SILVA LEAL ADRIANECAMILA BATISTA DE SOUSA

RESUMO

Objetivou-se realizar uma abordagem teórica sobre a importância do conhecimento e da necessidade de pôr em prática a Lei Federal 12.305/2010 tanto no âmbito municipal como na esfera legislativa e educacional, e a sua contribuição para assegurar o gerenciamento dos resíduos sólidos. A pesquisa foi realizada através de um estudo da Lei orgânica municipal, analise dos Projetos de Lei do município, das biografias Resíduos Sólidos, Tratado sobre Resíduos Sólidos, Gestão, Uso e Sustentabilidade, Direito Ambiental Brasileiro, LDB/1996, Parâmentos Curriculares da Educação Básica e Projeto Político Pedagógico (PPP),incluindo assim, aplicação de questionário a um grupo de professores da educação básica e a um grupo de legisladores do município de Simões-PI. Os resultados revelaram o descumprimento da Lei federal no que compete ao município de Simões-PI dentro da esfera legislativa e a pouca relevância dos educadores municipal e estadual, na participação da formação de cidadãos conscientes de sua responsabilidade com um meio ambiente saudável e qualidade de vida. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos. Município. Qualidade de vida.

_________________________________ Professora da rede estadual de ensino graduada pela Universidade Estadual do Piauí- UESPI em Ciências Biológicas, Bióloga, Conselho Regional de Biologia da 5º Região- CRBio-5, nº 99.858/05-D - e-mail: rose.like7@hotmail.com Colaboradora. Graduada em Ciências Biológicas. Mestre em Ciência Animal anangelaravena@gmail. com / UESPI-NEAD 2

Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Graduada em Ciências Biológicas. Mestranda em Ciência Animal – acbsbio@gmail.com / UESPI - NEAD 3

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INTRODUÇÃO A lei 12.305/2010 trata da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, a qual, aborda um dos maiores desafios em termos ambientais: políticas públicas voltadas para a minimização dos índices de poluição e degradação do meio ambiente. A contaminação do solo e das águas, a poluição atmosférica e visual, desperdício de materiais cada vez mais escassos e de espaços urbanos, são alguns dos problemas gerados pelos resíduos, o que explica a crescente conflitualidade social em torno de aterros e lixões, instalações de incineração e centrais de compostagens (GUERRA,2012). De acordo com a referida lei, em seu Art. 3º, Inciso X, a definição do gerenciamento de resíduos sólidos compreende um conjunto de ações exercidas, de modo indireto ou direto, nas etapas de coleta, transporte, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos, incluindo, a etapa da disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, em conformidade com o plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com o plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigido nessa lei (BRASIL, 2010 a ). Esta lei ainda faz alusão à gestão integrada de resíduos sólidos, como: um conjunto de ações que visam às soluções para os resíduos sólidos, considerando-se as dimensões econômicas, ambiental, política, cultural e social, com controle social e desenvolvimento sustentável. Sendo assim, no âmbito municipal, conforme Art. 18, § 1º, Inciso I, da Lei Federal nº 12.305/2010, acerca dos planos de gestão integrada de resíduos sólidos, fomenta-se a busca por soluções consorciadas, priorizando os consórcios de municípios no acesso aos recursos da União. Ainda de acordo com essa lei, Art. 18, §1º, Inciso II, são priorizados também os municípios que implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis (BRASIL, 2010a) Nos planos municipais devem ser identificadas e indicadas medidas mitigadoras para os possíveis danos ambientais produzidos entre outros, de áreas contaminadas, inclusive lixões e aterro controlados, assim como de empreendimentos sujeitos a elaboração de planos de gerenciamentos de resíduos sólidos (BARROS, 2012). Desta forma, percebe-se a importância da realização de um estudo teórico da Lei Federal 12.305/2010 e a sua contribuição para assegurar o gerenciamento dos resíduos sólidos, considerado hoje um dos principais problemas ambiental enfrentados no âmbito municipal, estadual e federal.

MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa consistiu na aplicação de questionário a um grupo de professores da educação básica nas escolas de Ensino médio e Fundamental II, Raul Sérgio e José Bento de Carvalho Filho, respectivamente, e ao quadro de legisladores, na Câmara Municipal de Simões-PI. A análise da lei orgânica municipal e da Lei federal 12.305/2010, da Lei de Diretrizes e Bases/96, 110


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Parâmetros Curriculares Nacionais e o Projeto Político Pedagógico foram a base bibliográfica que fundamentaram as questões levantadas nesse trabalho. Os dados foram organizados e analisados. A rede estadual de educação básica do município de Simões - PI, é composta pelas escolas José Bento de Carvalho filho e Luís Lopes, na modalidade de ensino fundamental II, do 6º ao 9º e EJA Educação para Jovens e Adultos, 5º , 6º e 7º etapa e pelas escolas Raul Sérgio e Silvia Coutinho na modalidade ensino médio, os professores entrevistados, foram aqueles que revezam nas escolas citadas para completarem sua carga horário de 20 ou 40h aulas, sendo que desses 55% são do quadro efetivo e 45% temporários. A entrevista foi realizada no período de novembro a dezembro de 2015, os mesmos assinaram um termo e foram solicitados a responder ao questionário cientifico sobre a Lei Federal 12.305/2010.

RESULTADOS E DISCUSSÃO O legislativo de Simões – PI é composto por nove vereadores, dos quais: 88,9% são do sexo masculino e 11,1% do sexo feminino, 55% com idade superior a 30 anos e inferior a 40 e 45% estão entre as idades superior a 50 anos e inferior a 60 anos, 22,2% são especialista, 22,2% são de nível superior completo, 11,1% superior incompleto, 33,3% ensino médio completo e 11,1% ensino médio incompleto, 88,9% afirmaram ter conhecimento da lei e 11,1% preferiu não opinar. Quando indagados sobre ações que gerencie de forma ecologicamente adequada os resíduos sólidos produzidos pela população, 67% dos entrevistados confirmaram que essas ações acontecem e 33 % afirmaram a ausência das mesmas. Dos 67% que confirmam a existência destas ações, 77% citam como um exemplo, a existência do aterro sanitário municipal, e 33% afirmaram a existência da coleta não seletiva. Vale ressaltar que, os rejeitos são denominados “lixo” apenas quando não são passiveis de reaproveitamento ou reutilização, ou seja, são inservíveis, ao passo que os resíduos sólidos, pelo contrário, podem ser submetidos a técnicas de tratamento e regressar à cadeia produtiva, na forma de um novo produto ou matéria-prima, motivo pelo qual estes últimos não podem ser chamados de lixo (GUERRA, 2012). O aterro sanitário consiste em uma técnica de disposição dos resíduos sólidos sem causar danos ou risco à saúde pública,minimizando os impactos ambientais, em que, estes são separados do lixo orgânico, como por exemplo: papeis, plásticos, metais e vidros, sendo assim, ressaltando assim a importância da coleta seletiva para esse processo(BARBOSA,2014). Levando em consideração a participação da comunidade local no gerenciamento de seus resíduos sólidos: 77,8% afirmam que a comunidade municipal não gerencia seus resíduos

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sólidos, não existindo desta forma, um destino ecologicamente adequado dos mesmos e 22,2% desconhece a participação da comunidade local. Figura1 - Participação da comunidade no Gerenciamento dos Resíduos Sólidos segundo a Lei 12.305/2010

Para Guerra (2012), o fato é que até a edição da Lei 12.305/10, o Brasil apresentava sua gestão de resíduos pautada por ações pontuais do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), atualmente, o assunto passou a ter uma dimensão relevante no tocante à distribuição das responsabilidades entre os atores: cidadão, setor comercial e poder público. Indubitavelmente que, ao tratar do assunto de maneira integrada, os resultados acerca das implicações provenientes dos resíduos (produção, gestão e eliminação) serão melhores, configurando a Política Nacional de Resíduos Sólidos em um instrumento essencial para definir os direitos e as obrigações dos setores públicos e privados, bem como dos consumidores sobre a gestão dos resíduos. Outro aspecto questionado ao legislativo foi se o mesmo tem conhecimento de projetos educacionais realizados pelas escolas públicas estaduais e municipais, onde 66,7% afirmaram a existência dos mesmos, 22.2% afirmaram que não e 11,1% desconhecem esse tipo de ação nas escolas. Dentre os 66,7% que confirmam a existência destes projetos, 33,3% relataram que as escolas públicas municipais e estaduais do município realizam trabalhos de orientações e sensibilização dos alunos e comunidade, orientando – os na prática da higiene, limpeza e coleta de lixo. Barros (2012) afirma que de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL,2012a) e o Art. 78 do Decreto nº 7.404/2010 (BRASIL, 2010b), que a regulamenta, a condição para que os Estados tenham acessos aos recursos da União, ou por ela controlados, destinados a empreendimento e serviços relativos ao gerenciamento de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais de créditos ou fomento para tal finalidade constitui-se na elaboração, também em condições para que o Distrito federal e os municípios tenham acesso aos mesmos recursos, na elaboração de plano 112


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municipal de gestão integrada de resíduos sólidos. Neste contexto, quando questionados sobre a existência de um plano municipal de gerenciamento dos resíduos sólidos (Figura 2), 77,8% confirmaram que não existe um plano de gestão integrada de resíduos sólidos, 11,1% desconhece e 11,1% não quiseram opinar. Figura2 - Existência de um Plano Municipal de Gerenciamento de Resíduos Sólidos

Para Machado (2015), os municípios são responsáveis pela elaboração dos planos de gestão integrada dos resíduos sólidos nos respectivos territórios, nos quais, indicam meios a serem utilizados para o controle e fiscalização, no âmbito local, da implementação e operacionalização dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos de que trata o art.20 e dos sistemas de logística reversa do art.33 (art.19, XVI, da Lei 12.305/2010). Portanto, o mau funcionamento desses serviços públicos ou sua inexistência acarretam a responsabilidade civil, penal e administrativa dos prefeitos municipais e dos vereadores integrantes das Câmaras Municipais. Barros (2012) afirrma que esses planos devem ser identificados e indicadas medidas saneadoras para os possíveis problemas ambientais, dentre outros, de áreas contaminadas, inclusive lixões e aterros, assim como, de empreendimentos sujeitos à elaboração de planos de gerenciamento de resíduos sólidos. Quando argumentado ao legislativo municipal se o município de Simões- PI, enquadrava-se no Decreto Federal nº 7.404/2010, no seu art. 51, pois o mesmo apresenta uma população inferior a 20 mil habitantes, 77,8% não opinaram, 11.1% afirmam que o município não se enquadra e 11,1% afirmam que o município de Simões – PI se enquadra ao Decreto Federal 7.404/2010. Segundo o mesmo, o Município de Simões não se enquadra, pois possui uma população de aproximadamente 14 mil habitantes. Quando questionados, que a Lei Federal 2.305/2010 emerge como ferramenta norteadora para o destino ecologicamente adequado dos resíduos sólidos77,8% dos entrevistados afirmam que sim e 22,2% preferiram não opinar. Dos professores entrevistados: 21,4% estão entre 20 a 30 anos, 28,6% de 30 a 40 anos, 113


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35,7% de 40 a 50 e 14, 3% de 50 a 60 anos, 79% são do sexo feminino e 21% do sexo masculino, 57% são especialistas e 43% têm nível superior completo. A figura 3 nos revela o conhecimento dos professores acerca da Lei Federal 12.305/2010 Figura 3 - Conhecem a Lei Federal 12.305/2010

Ao serem questionados sobre a existência de atividades didáticas trabalhadas com a comunidade estudantil sobre o descarte de resíduos sólidos, 86% dos professores afirmaram que não existem, contrapondo o que diz a Lei Federal 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB) que em seu art. 26 no parágrafo 7 afirma: os currículos do ensino fundamental e médio devem incluir os princípios da proteção e defesa civil e a educação ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios, por outro lado, 14 % dos professores afirmam que essas atividades existem, como: palestras e visitas(Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012). Considerando a importância da coleta seletiva no destino final dos resíduos sólidos, os professores foram questionados se a mesma é vivenciada no ambiente de trabalho, 71% dos professores afirmam que não, contrapondo 29% dos mesmos que afirmam ser uma prática vivenciada nas escolas. Indagados que a educação é um direito assegurado a toda sociedade e requisito fundamental para a formação de cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres, 93% dos professores concordam que a mesma surge como ferramenta indispensável para uma reeducação ecologicamente adequado no uso dos recursos naturais com a afirmação.

CONCLUSÃO A Lei Federal 12.305/2010 institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, a mesma determina que todas as administrações públicas municipais, indistintamente do seu porte e localização, devem construir aterros sanitários e encerrarem as atividades dos lixões e aterros controlados, no prazo máximo de quatro anos, substituindo-os por aterros sanitários ou in114


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dustriais, onde só poderão ser depositados resíduos sem qualquer possibilidade de reciclagem e reaproveitamento, obrigando também a compostagem dos resíduos orgânicos. Sendo assim compete os diversos seguimentos sociais e toda comunidade a responsabilidade pelo lixo passa a ser compartilhada, com obrigações que envolvem os cidadãos, as empresas, as prefeituras e os governos estaduais e federal. Vale ressaltar que o município de Simões, de acordo com o levantamento de dados obtidos acerca dos seguimentos entrevistados: Legislativo municipal e funcionários da educação básica sobre a Lei Federal 12.305/2010 e a sua pratica no que institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos é muito tímida ou quase inexiste. A essa discussão é indubitavelmente necessária uma participação mais ativa da comunidade local do seu papel como autores do cumprimento e fiscalização da Lei Federal aqui citada.

REFERÊNCIAS Barbosa, Rildo Pereira, Resíduos sólidos: impactos, manejo e gestão ambiental. Rildo Pereira Barbosa, Francini Imene Dias Ibrahin. – 1.ed. São Paulo: Érica, 2014. Barros, Regina Mambeli, Tratado sobre resíduos sólidos: gestão, uso e sustentabilidade. Regina Mambeli Barros – Rio de Janeiro: Interciência; Minas Gerais: Acta, 2012. Brasil. Lei Federal 12.305/2010, Política Nacional de Resíduos Sólidos. Brasília, 2 de agosto de 2010; 189o da Independência e 122o da República. Brasil. Lei Darcy Ribeiro (1996). Lei de diretrizes e base da educação. – 7. ed. – Brasília: Senado Federal, subsecretaria de Edições Técnicas, 2011. El-Deir, Soraya Giovanetti, Resíduos sólidos: perspectivas e desafios para a gestão integrada / Soraya Giovanetti El-Deir. -- 1. ed. -- Recife :EDUFRPE, 2014.393 p. : il. Guerra, Sidney, Resíduos sólidos: comentários à Lei 12.305/2010 – Sidney Guerra. – Rio de Janeiro: Forense, 2012. Hempe & Noguera, Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental.v(5), n°5, p. 682 - 695, 2012.

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A PRÁTICA DO TURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Helvia Cristine Moreira Cruz Alves1 Antônio Gomes da Silva Neto2 RESUMO O presente trabalho traz um estudo realizado no Parque Nacional de Sete cidades onde foi realizado para tal estudo uma pesquisa que traz como objetivo geral analisar se a prática do turismo em Parques ambientais interfere na biodiversidade, sendo também possível relacionar os aspectos positivos e negativos frequentemente associados ao turismo no Parque. Para alcançar os resultados obtidos foi realizada uma entrevista com o gestor do local, através de pesquisa qualitativa, com uma entrevista com questões abertas de como o local está sendo gerido e quais as ações futuras para o seu melhoramento, além de pesquisa quantitativa, onde foram aplicados questionários contendo dez perguntas aos turistas, para identificar como souberam da existência do local e os motivos que os levaram à visitação.A pesquisa mostrou que o Parque possui uma boa estrutura para visitação, porém necessita algumas melhorias, o tornará o Parque mais acessível. Palavras-chave: Ecoturismo. Impacto Ambiental. Biodiversidade. Parque Nacional de Sete Cidades.

INTRODUÇÃO São várias as definições sobre impacto ambiental, mas o principal conceito encontra-se na resolução do CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de 1986, que através do artigo 48 do decreto nº 88.351, de 01 de junho de 1983 considera a necessidade de se estabelecer as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para o uso e implementação da avaliação do impacto ambiental como um dos instrumentos da Politica Nacional do Meio Ambiente, resolve: Art 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetam: I. II.

A saúde, a segurança e o bem-estar da população; As atividades sociais e econômicas ;

III.

A biota

IV.

As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V.

A qualidade dos recursos ambientais.

Os impactos do turismo são ocasionados por alguns fatores condicionantes relativos aos visitantes e aos destinos visitados, (TRIGO,2005). Com isso nota-se que diversos impactos ambientais podem estar vinculados acarretando consequências de larga escala, comprometendo a qualidade ambiental do local. Segundo Ding (2000 apud Lohmann, 2008) os impactos ambientais positivos e negativos do tu1 Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Piauí e-mail: helvinhacruz@hotmail.com 2 . Graduado em Ciências Biológicas (UEPB), Mestre em Ecologia e Conservação e-mail:antonniogomess@hotmail.com. 117


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rismo relacionam-se com os aspectos físicos biológicos, econômicos ou culturais. Os impactos ambientais são em geral, cumulativos, e reconhecer esses impactos ambientais é fundamental para melhorar o desenvolvimento do turismo e corrigir seus impactos negativos. Com o crescente aumento da procura pela prática do turismo emáreas naturais, nota-se que, quando na falta de estrutura de apoio adequado para uso turístico, essas áreas sofrem impactos ambientais, tornando-as vulneráveis à presença humana, fazendo com que haja aumento da degradação do meio, destruição da fauna e flora, entre outros. Baseado nestes impactos causados por esse tipo de turismo esse estudo buscou identificar quais os possíveis impactos ambientais causados pelo turismo no Parque Nacional de Sete Cidades. Um estudo dos impactos ambientais do turismo é importante na região, pois há estudos que indicam que o mau uso de um atrativo natural implicará no seu desaparecimento, pois tais impactos ambientais são cumulativos e reconhecer os mesmos é fundamental para corrigi-los (LOHMANN,2008). O Parque Nacional de Sete cidadesvem sendo um dos espaços turísticos mais visitados do Piauí, localizado na porção meio-norte do estado que tem como um dos seus principais atrativos as varias formações rochosas existentes no local onde existem várias lendas sobre as mesmas (RAMOS,2014). Os impactos do turismo são ocasionados por alguns fatores condicionantes relativos aos visitantes e aos destinos visitados (TRIGO, 2005). Com isso nota-se que diversos impactos ambientais podem estar vinculados, acarretando consequências de larga escala, comprometendo a qualidade ambiental do local. Nessa perspectiva esse estudo buscou identificar quais os possíveis impactos ambientais causados pelo turismo no Parque Nacional de Sete Cidades. O objetivo geral desse estudo foi analisar se a prática do turismo em Parques ambientais interfere na biodiversidade, onde também foi possível Relacionar os aspectos positivos e negativos frequentemente associados ao turismo no Parque Nacional de Sete Cidades. Vale ressaltar que a preservação do atrativo natural acarreta em um o desenvolvimento do turismo bem estruturado propiciando a conservação do Parque ambiental. METODOLOGIA Metodologicamente, o estudo se desenvolveu segundo uma perspectiva dedutiva que segundo Jung(2003) o método dedutivo propõe resolver problemas justificando o contexto da descoberta através da própria razão. O método dedutivo é o símbolo do racionalismo moderno. Ao ser identificado o problema o pesquisador começa a conjeturar sobre possíveis soluções que poderiam explicá-lo. Inicia a dedução sobre o problema maior para chegar a conclusões particulares. Foi realizada uma pesquisa exploratória onde é aplicada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado por sua natureza de sondagem, não comporta hipóteses que, todavia, poderão surgir durante ou ao final da pesquisa (VERGARA 2000, p 47).Os métodos utilizados resumem-se em pesquisas bibliográficas e de campo para conter as informações e os dados necessários no sentido de estabelecer proposições e estratégias para os objetivos proposto. Também foi realizada uma pesquisa bibliográfica com o intuito de caracterizar a área a qual é objeto de estudo. A pesquisa bibliográfica é um trabalho de pesquisa diferenciando-se do levantamento de campo porque busca informações e dados disponíveis em publicações, livros, teses e periódicos realizados por outros pesquisadores (RODRIGUES, 2007 p.29) Para a pesquisa de campo, o que foi utilizado para o levantamento dos dados necessá118


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rios foram questionários semiestruturados aos visitantes sendo aplicados no período de janeiro a março de 2016 durante os finais de semana realizados pela pesquisadora in loco. A pesquisa aconteceu dentro das normas regulamentadoras de pesquisa que envolve seres humanos da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que de acordo com os aspectos éticos implica em consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo.Os dados obtidos foram analisados quantitativamente, que de acordo com Rodrigues (2007), traduzem em números as opiniões e informações para serem classificadas e analisadas utilizando-se de técnicas. Essa análise servirá como instrumento de base para o desenvolvimento de um turismo sustentável que atenda à preservação e conservação do atrativo natural, mas também às necessidades da atividade turística da região. RESULTADOS E DISCUSSÕES Para descrever com clareza a realidade do Parque Nacional de Sete Cidades, a melhor forma de busca sobre os devidos temas abordados anteriormente foi o contato direto com os turistas e coordenador do local. Com uma entrevista feita através de perguntas abertas ao coordenador e um questionário com perguntas fechadas aos turistas obteve-se os seguintes resultados, os quais contribuem para entender as escolhas da prática de ecoturismo no local e como o mesmo é ofertado ao público relacionando se tais atividades causam ou não impactos ambientais no local. Em primeiro lugar, pôde-se verificar o perfil dos turistas, como pode ser visto nas tabelas seguintes: Quadro01- Avaliação do Sexo dos Entrevistados

Sexo Total

Feminino 26

Masculino 24

Total 50

Os questionários aplicados com os turistas mostram através da tabela que referente ao sexo há um equilíbrio entre a quantidade de homens e mulheres, já que em um total de 50 pessoas que responderam, a metade era do sexo feminino e ao outra metade do sexo masculino. Subtende-se então que de forma geral o total de visitantes de ambos os gêneros buscam está em contato com a natureza e a prática do ecoturismo. A faixa etária também é um fator de relevância importante, pois para atender a todos as faixas etárias, o Parque tem que possuir uma infraestrutura que conceda, ou melhor, possibilite um mínimo de conforto e segurança, além disso, a idade do visitante é levada em consideração devido sua consciência de preservação ambiental. Assim independente da idade, todos podem usufruir do local e sem maiores consequências, por falta de uma organização ou de esclarecimentos sobre o ambiente visitado.

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Quadro 02- Avaliação da Faixa Etária dos Entrevistados Faixa Etária 15 à 25 26 à 35 36 à 45 46 à 55 Acima de 55 Total

Feminino 03 10 06 04 03 26

Masculino 04 05 07 04 04 24

Total 07 15 17 08 07 50

Pôde-se perceber através dos resultados que a maior parte dos entrevistados pertence a uma faixa etária dos 26 aos 45 anos. Foi realizada a entrevista como coordenador do Parque, o mesmo é membro do Instituto Chico Mendes que é a instituição responsável por gerir o Parque onde se pôde perguntarde que forma é trabalhada a coordenação e manutenção do Parque Nacional de Sete Cidades? O mesmo respondeu que: “O Instituto Chico Mendes administra todas as unidades de conservação do Brasil, e que no ultimo senso de unidades de conservação foram contabilizadas300 unidades de uso direto e indireto, o Parque faz parte da categoria de uso indireto onde são desenvolvidas praticas educativas, recreativas e de lazer. Assim como os outros Parques é regido pela leinº 9985/2000, esta lei institui o sistema nacional de unidades de conservação SNUC. A fiscalização é realizada pelo IBAMA e pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente.” Diante da resposta pôde-se perceber que a administração dos Parques é realizada de forma muito genérica, não focando para realidade da região, o que de certa acaba por deixando que ocorram muitas falhas na administração do Parque, por depender de tudo da gestão maior. Em relação aos turistas foi perguntado o que motivou os mesmos à escolher o Parque como destino turístico, onde podemos visualizar através do gráfico abaixo, que 15% dos entrevistados fazem a visita motivado por estudos tendo em vista que o Parque oferece estrutura para pesquisas ,14%buscaram o Parque apenas por lazer, 12% frisaram que o motivo de visitação é a prática do ecoturismo, 5%incentivo dos amigos e 4% da família. Gráfico 01 – Motivação da Visita

A escolha do destino se deu por vários motivos se destacando o motivo educacional que onde os visitantes buscaram o Parque para estudos em segundo lugar os que buscaram o Parque apenas para lazer, outros por incentivo da família e amigos, se destacando também os praticantes habituais do ecoturismo. 120


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Também foi direcionada aos turistas no questionário uma pergunta sobre qual foi à fonte de informação pelo qual souberam da existência do Parque, os resultados obtidos na pesquisa foi que 18% ficaram sabendo da existência do Parque através da internet, 13% indicação de amigos, 12% através da televisão, 4% informação de familiares e 3% através de outros meios. Gráfico 02: Fonte de Informação sobre o Parque Nacional de Sete Cidades

Nessa perspectiva notou-se que é possível aferir que qualquer disponha de algum desses meios e comunicação pode ter acesso ao Parque para fazer uma visitação, nessa mesma temática foi direcionada ao coordenador do Parque uma pergunta sobre como é feita a visibilidade do Parque, ou seja, de que forma a maioria dos turistas obtém informações sobre o local, o mesmo salientou que:“Todas as unidades de conservação são muito pouco divulgadas, e que a maioria da divulgação é feita pelo próprio turista que visita a unidade, que hoje tem uma média de 20.000 visitantes por ano, esses são os grandes propagandistas da unidade, a propaganda de mídia vai muito além ao Instituto Chico Mendes.”. Outro questionamento realizado aos visitantes foi relacionado à facilidade de acesso ao Parque, obtendo como resultado da pesquisa que 32% dos entrevistados concordaram que o Parque é de fácil acesso em contrapartida 11% concordaram parcialmente, pois encontraram uma pequena dificuldade para chegar até o Parque, 5% não concordaram parcialmente com a facilidade de acesso ao Parque e 2% relataram que não concordam. Gráfico 03: Facilidade de acesso ao Parque Nacional de Sete Cidades

Diante dos dados obtidos, observa-se que há sim uma facilidade de acesso ao Parque, o que é um fator de suma importância para o crescimento da visitação ao local. Em ralação a infraestrutura do Parque foi questionado aos turistas sobre a qualidade da mesma, 24 dos entrevistados concordaram que sim o Parque apresenta uma boa infraestrutura, 19 concordaram parcialmente , 3 não concordaram que o Parque oferece uma boa infraestrutura e 4 não concordaram parcialmente, como pode ser visto no gráfico a seguir. 121


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Gráfico 04:Qualidade da infraestrutura de apoio aos turistas no Parque Nacional de Sete Cidades

Assim, percebemos que a infraestrutura do local é boa já que maioria dos entrevistados manifestou satisfação no quesito, sobre a mesma temática foi questionado ao coordenador do Parque se o mesmo dispõe da maioria de equipamentos necessários para sua manutenção, o gestor nos respondeu que “A logística do Parque é muito boa em relação à recursos humanos, transporte, edificações e a conservação da biodiversidade propriamente dita”. Durante a pesquisa, pôde-se perceber que o Parque realmente apresenta uma boa estrutura para os visitantes, pois é bem sinalizado em relação as trilas ecológicas, possuindo também um centro de visitantes com auditório para receber grupos de turistas e passar todas as informações necessárias para visitação. Na perspectiva de capacidade de carga, foi questionado ao coordenador sobre quais as maiores dificuldades de gerir o Parque , quando este está com sua capacidade de carga máxima de visitantes e sabendo que se tem de ter o controle da situação para que não venham acontecer problemas em sua conservação, o mesmo nos respondeu que “Dentro do plano de manejo de unidades de conservação existe a capacidade máxima de trezentas pessoas, tendo que haver o manejo da população no centro de visitação para evitar o processo erosivo na área de visitação.”Sabe-se que o cálculo de Capacidade de Carga é de extrema importância para o manejo de áreas turísticas ao ar livre, pois assim proporciona a preservação do ambiente visitado. Em relação aos aspectos motivacionais que levaram o turista a buscar o Parque nacional de sete cidades foi colocado aos mesmas opções como as formações rochosas, pinturas rupestres, vegetação e fauna, onde a maioria dos entrevistados citou as formações rochosas como atrativo principal do Parque como podemos ver no gráfico a seguir. Gráfico 05: Aspectos Motivacionais para visitação ao Parque Nacional de Sete Cidades

O Parque dispõe de vários atrativos naturais, porém o que tem maior visibilidade turística são ascomposições geológicas que formam o Parque que de acordo com Fortes (1996) é composta por uma área de sedimentação antiga da região do Meio Norte do Brasil, com camadas horizon122


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tais ou quase horizontais de rochas arenosas, principalmente arenitos avermelhados de origem continental.As diversas histórias e lendas relacionadas às “Sete Cidades de Pedra” tornam-se colaborativas à experiência turística vivenciada no local. Nessa perspectiva levamos ao coordenador um questionamento a respeito de como a prática de ecoturismo é desenvolvida de forma geral no Parque, para que os turistas se sintam completos com relação de aproximação com a natureza. O mesmo nos relatou que “há praticas do turismo ecológico, que é uma prática onde o turista interage com a natureza acompanhado com o condutor que faz a parte interpretativa do cenário natural, e também a parte de educação ambiental.” Seguindo essa linha de pensamento questionamos também como é realizada a capacitação dos condutores para realização da visita com os turistas nas cidades de pedra. Então ele nos informou que “ os condutores passam por um processo de capacitação teórica e prática com conteúdos relacionados a legislação ambiental, relações humanas, receptividade, primeiros socorros entre outros.” A visitação dos turistas ao Parque é realizada com guias locais que conduzem os visitantes pelas sete cidades de pedra, o percurso dura em torno de duas horas quando realizado de carro. No questionário aplicado aos turistas foi perguntado se os condutores de visitação passam segurança tanto na hora de passar informações, como nos cuidados com o bem estar dos visitantes, o resultado está representado no gráfico a seguir: Gráfico 06: Sobre a satisfação dos turistas em relação aos condutores da visitação

A grande maioria dos entrevistados avaliou positivamente o trabalho realizado pelos guias do Parque, onde os mesmos prestam as informações históricas, geológicas e também as lendas que existem sobre o Parque, também são bastante capacitados no quesito primeiros socorros caso seja necessário. Para pesquisa adquirir mais informações sobre a prática do Ecoturismo no local, foi exposta uma pergunta a respeito da preservação da fauna e flora local. Gráfico 07- Avaliação da preservação da fauna e flora no Parque pelos entrevistados

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Os dados da pesquisa mostram a concordância dos entrevistados em relação ao Parque onde 42 entrevistados concordou que está tendo preservação da fauna e da flora e apenas 06enfatizam que concorda parcialmente. Sobre o grau de satisfação dos visitantes em relação às trilhas oferecidas como acesso as cidades de Pedra, os mesmos responderam se acham de forma na qual não gere grandes danos ao ambiente local. A grande maioria concorda que a mesma é colocada de forma que não gera grandes danos ao meio ambiente como se pode visualizar no gráfico a seguir: Gráfico 08 - Avaliação dos entrevistados da conservação e cuidados com trilhas para que não gerem grandes danos ao ambiente local

Em relação à avaliação dos entrevistados acerca da conservação e cuidados das trilhas 42 dos entrevistados acham que são colocadas de forma que não gera muitos danos ao meio ambiente. Gráfico 09- Avaliação da prática do Ecoturismo nas unidades de conservação pelos entrevistados

Boa parte dos entrevistados acredita que a prática do Ecoturismo em unidades de conservação é sim uma forma de conscientizar e preservar o meio ambiente se utilizando do lazer, a porcentagem de entrevistados de concordou parcialmente preocupa-se apenas com a conscientização desses visitantes que praticam o ecoturismo tendo em vista que podem ocorrer danos ao Parque durante as visitações. Gráfico 10: Avaliação do grau de satisfação da visitação ao Parque Nacional de Sete Cidades pelos entrevistados

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A maioria dos entrevistados avaliou como ótimo a visita ao Parque Nacional de Sete Cidades que, apesar de alguns percalços, se mostra ser um bom local para visitação e prática do Ecoturismo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do que foi exposto e face aos resultados adquiridos através do estudo realizado sobre a prática de turismo em unidades de conservação constatou-se que a prática do turismo em unidades de conservação tem se mostrado em desenvolvimento devido a pratica de ecoturismo que é uma das formas de estar em contato com a natureza e fazer a vinculação das pessoas com o meio ambiente, de forma conscientizada e proporcionando um bem estar aos turistas que procuram os Parques nacionais para visitação. O local é bastante agradável para contemplação, pratica de ecoturismo e desenvolvimento de outras atividades voltadas à preservação e conservação do meio ambiente, já que o Parque oferece estrutura adequada para tais atividades. O Parque é organizado de forma que possa proporcionar uma boa visitação se causar grandes danos à unidade de conservação. A infraestrutura em especial recebe uma maior visibilidade, pois mesmo havendo muitas dificuldades para adquirir melhorias, os organizadores fazem o possível para manter o Parque com qualidade. Na busca por uma melhor qualidade na visitação e preservação do meio ambiente a primeira providencia a ser tomada para continuar essa boa relação atrativo-turista, é um estudo de capacidade de carga como forma de orientação as ações futuras que vierem a ser desenvolvidas no Parque, frisamos que esse estudo é essência em unidades de conservação tendo em vista que visa sua melhor preservação. Apesar da estrutura do Parque ser boa salientamos a necessidade de uma adequação das trilhas para que possa possibilitar o acesso a pessoas com dificuldade de locomoção, visando a inclusão social.Também se sugere que seja realizado um estudo sobre os impactos ambientais causados pela visitação. Após esse estudo, pode-se concluir que a prática de turismo em unidades de conservação existente no Parque Nacional de Sete Cidades é importante para o turismo local tendo em vista o fluxo intenso, mas para que essa visitação possa vir a aumentar se faz necessário algumas melhorias no local e como o mesmo é gerenciado por um órgão federal, em algumas ocasiões a burocracia para a conquista de melhorias no Parque dificulta bastante o melhoramento e manutenção do Parque, mas os gestores locais fazem o possível para passar um bom serviço as visitantes.

REFERÊNCIAS CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – CONAMA. Resolução nº 01, de 23 de janeiro de 1986.Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=23. Acesso em 20/12/2015. FORTES, F.P. Geologia de Sete Cidades. Teresina: Fundação Monsenhor Chaves, 1996. JUNG, C. G. Cartas I. Petrópolis: Vozes, 2003.

LAKATOS E MARCONI. Fundamentos da Metodologia Científica. -6ed. – 3. reimpr.-São 125


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Paulo: Altas,2006. LOHMANN, Guilherme. Teoria do Turismo: Conceitos Modelos e Sistemas / Alexandre Panosso Neto. – São Paulo: Aleph, 2008. Série Turismo. RAMOS, R.G.; Paixão, L.C.P. Práticas ecoturísticas no Parque Nacional de Sete Cidades (PI) na perspectiva do turismo sustentável. Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.7, n.1, fev 2014/abr, 2014, pp.28-43. RODRIGUES, Wiliam Costa, Metodologia Cientifica. Faetec /Inst, Paracambi, 2007. TRIGO, Luis Gonzaga Godoi, Análises Regionais e Globais do Turismo Brasileiro, Co – editores Alexandre Panosso Netto, Marina Aldrigui Carvalho, Paulo Santos Pires- São Paulo: Roca, 2005. VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

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IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA CONSERVAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DE SETE CIDADES EM PIRACURUCA-PI FRANCISCO ANTONINO SAMPAIO SOUSA1 ANTONIO GOMES DA SILVA NETO 2 RESUMO Este estudo teve como objetivo discutir a influência da Educação Ambiental na conservação dos recursos naturais de parques nacionais, dando ênfase ao Parque Nacional de Sete Cidades, em Piracuruca-PI. Trata-se de uma revisão bibliográfica baseada na literatura especializada através de consulta a artigos científicos em sites de periódicos, livros e afins que tratam do tema em questão. Os estudos sobre o tema apontaram que a Educação Ambiental tem influência positiva na preservação dos recursos naturais das Unidades de Conservação, devendo ser aliada à fiscalização pelos órgãos competentes e pela comunidade em geral. Falta incentivo para mais ações de ecoturismo no parque, devido a sua variedade de atrativos, além de melhor utilização de seus espaços em atividades que envolvam Educação Ambiental. Poucos estudos nos últimos 10 anos foram encontrados sobre o tema, o que indica que ainda é necessária mais pesquisa nessa área. Palavras-chave: Educação Ambiental. Conservação. Parques Nacionais. INTRODUÇÃO

As Unidades de Conservação – UCs representam “áreas instituídas pelo poder público para a proteção da fauna, flora, microrganismos, corpos d´água, solo, clima, paisagens, e todos os processos ecológicos pertinentes aos ecossistemas naturais” (MMA, 2008). A conservação in situ em UCs é essencial, pois abrigam espécies das mais variadas, por vezes endêmicas, que constituem parte da biodiversidade de uma região. A primeira assim chamada Unidade de Conservação surgiu com a criação do Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos, em 1872, com o fim de preservar atributos cênicos, históricos e potencialidades de lazer (DIEGUES 1994 apud MUHLE, 2012, p. 1). O sistema que rege as diversas UCs no Brasil é regido pela Lei Federal 9.985/2000 e divide-as em dois grupos: Unidades de Conservação de Proteção Integral, subdivididas em 5 categorias: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre e Unidades de Conservação de Uso Sustentável, subdivididas em 7 categorias: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta 1

Professor nas redes Municipal e Estadual em Piracuruca-PI, licenciado pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI em Ciências Biológicas e em Matemática (em conclusão), licenciado pela Universidade Federal do Piauí – UFPI em Química, pós-graduando em Ensino de Química pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.E-mail: franciscomarilda@hotmail.com. 2 Biólogo, graduado pela Universidade Estadual da Paraíba – Licenciatura e Bacharelado. Mestre em Ecologia e Conservação. E-mail: antonniogomess@hotmail.com. 127


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Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural (BRASIL, 2000). O Parque Nacional de Sete Cidades está situado nos municípios de Piracuruca e Brasileira, criado pelo decreto 50.744 de 08 de Junho de 1961 (BRASIL, 1961), abriga espécies vegetais e animais de estimado valor ecológico, além de esculturas de pedras formadas com o tempo de beleza cênica inestimável. A visitação ao parque ocorre durante todo o ano, por turistas de todo o mundo, sendo utilizado para pesquisas de campo por algumas universidades. Infelizmente ainda ocorrem casos de queimadas, caça ilegal, dentre outras irregularidades nas imediações do parque. O Parque foi criado com o objetivo de preservar ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação, interpretação ambiental, turismo ecológico e recreação em contato com a natureza (ICMBio, 2015). A Educação Ambiental visa preparar o indivíduo para viver sua cidadania, permitindo-lhe uma participação mais efetiva em processos sociais, culturais, econômicos e políticos, vislumbrando uma sociedade democrática. A Educação Ambiental formal é desenvolvida em escolas.

No ensino formal a educação ambiental é especificada e desenvolvida nos currículos das instituições públicas e privadas vinculadas aos sistemas federais, estaduais e municipais de ensino. Deve ser desenvolvida como prática educativa contínua, permanente, inter e transdisciplinar em todos os níveis e modalidades educacionais. A educação básica, especial, profissional, EJA e superior deveriam adotar conteúdos relacionados ao ambiente e à formação de hábitos e atitudes pessoais e coletivas que preservem a qualidade de vida e os recursos naturais. Os conteúdos formais relacionados ao ensino fundamental e médio estão nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), onde se encontram especificados os objetivos e as metas que a educação ambiental deve atingir para os estudantes destes níveis (HENDGES, 2010).

Também há outras modalidades de Educação Ambiental, a saber: informal e não-formal. A informal diz respeito àquela adquirida pelo convívio social, na família, não havendo a necessidade de horários pré-determinados para aprender. E a educação não-formal se refere ao ensino promovido também em escolas, mas que não oferece graus ou diplomas oficiais, incluindo ensino de línguas e de especificidades técnicas ou artísticas, em escolas presenciais ou a distância. O presente trabalho objetiva apresentar uma revisão bibliográfica do tema em questão, a fim de verificar se há influência positiva da Educação Ambiental realizada nas regiões internas e próximas ao parque na conservação do mesmo.

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MATERIAL E MÉTODOS O estudo realizado foi feito através de revisão da literatura disponível sobre o tema, que contemplou livros, revistas, artigos científicos, dissertações de mestrado e teses de doutorado, sendo alguns pesquisados na plataforma de periódicos Capes, compreendendo o período de até 10 anos, ou seja, entre 2006 e 2016. Foi feito um levantamento da produção científica analisada com relação ao trabalho de Educação Ambiental realizado na região que compreende o Parque Nacional de Sete Cidades. Os trabalhos que tinham mais relevância e continham dados mais recentes foram usados neste artigo. Além da revisão bibliográfica, foram realizadas duas entrevistas, sendo uma com um guia turístico do ParNa de Sete de Cidades e outra com uma representante do Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental – APA Serra da Ibiapaba, ambas as entrevistas são encontradas anexas. Após a seleção do material, foram distribuídos em três categorias: Parques Nacionais – ParNa de Sete Cidades, Educação Ambiental e Educação Ambiental para Conservação de Parques Nacionais. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Parques Nacionais – ParNa de Sete Cidades Os Parques Nacionais fazem parte das Unidades de Conservação de Proteção Integral. O Parque Nacional de Sete Cidades apresenta uma coleção impressionante de monumentos naturais, sobre afloramentos de rochas do Neodevoniano (FAVERA, 1999). Localizado na região norte do Estado do Piauí, figura 1, o ParNa de Sete Cidades está dividido em sete agrupamentos, chamados cidades (figura 3). Na figura 2 se observa as áreas limítrofes do ParNa de Sete de Cidades e dos Municípios os quais faz parte. Figura 1. Mapa de localização do Parque Nacional de Sete Cidades e possibilidades de acesso (FAVERA, 1999).

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Figura 2. Área limítrofe do ParNa de Sete Cidades em vermelho e dos Municípios de seu entorno em azul. Fonte: Google Earth.

O Parque apresenta fauna e flora típicas de Cerrado e de Caatinga, caracterizando-se como um ecótono (IBDF, 1979). Com relação a sua fauna, verifica-se a ocorrência da suçuarana (Felis concolor), gato-do-mato (Leopardus tigrinus); cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), paca (Agouti paca), mocó (Kerodon rupestris), camaleão (Chamaeleo chamaeleon) e as serpentes peçonhentas, como jararaca (Bothrops jararaca) e cascavel (Crotalus durissus terrificus). A sua flora possui plantas importantes como fontes alimentares para a fauna selvagem, tais como a mangabeira (Hancornia speciosa) a guabiroba (Campomanesia xanthocarpa), o pequizeiro (Caryocar brasiliense) e o bacurizeiro (Platoniainsignis). Do ponto de vista florístico, ocorrem na área, entre outras, as juremas (Mimosa tenuiflora), o xiquexique (Pilosocereus gounellei) e ipê amarelo (Tabebuia serratifolia) (IBAMA, 2011). Se plano de manejo foi elaborado em 1979, tendo sido o primeiro do Brasil e nunca foi revisado. Apresenta desde 2003 uma estação meteorológica informatizada, instalada pela Universidade Federal do Piauí, que é pouco utilizada pela falta de profissionais que saibam manusear e interpretar os dados (MMA, 2015).

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Figura 3. Localização das “cidades” dentro do parque (números dentro de quadrados). Em cinza, afloramentos rochosos. Em círculos: 1) Fonte tépida; 2) Canhão; 3) Jardim suspenso; 4) Arco do Triunfo; 5) Biblioteca; 6) Mirante; 7) Castelo; 8) Lagartos; 9) Inscrições; 10) Archette; 11) Inscrições; 12) Gruta do índio; 13) Gruta do Pagé; 14) Capela; 15) Portal; 16) Inscrições. (FAVERA, 1999).

A visitação média do parque é de 40 mil pessoas/ano, com distribuição de visitantes exposta no gráfico 1, sendo mais frequente o fluxo de pessoas nos finais de semana e durante as férias escolares (RAMOS, 2014, p. 39). É administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, sendo sua área de visitação corresponde a 9% (ou 490 ha.) de sua extensão. Gráfico 1. Distribuição de turistas que visitam o ParNa Sete Cidades.

Dentre suas estruturas próprias para o turismo se destacam as trilhas, um mirante, espaços para camping e pousada. No que diz respeito ao turismo em áreas naturais, há atividades contemplativas e de interação com a natureza, com potencial para o cicloturismo, trekking, banhos e birdwatching. Com relação ao turismo contemporâneo, há potencial para o geoturismo, 131


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além de inscrições rupestres, com destaque para a pintura da mão de seis dedos e do lagarto. A limpeza do parque assim como toda a manutenção é feita por empresa terceirizada, por meio de processo licitatório. (RAMOS, 2014, p. 35). Alguns dos atrativos são mostrados na figura 4.

Figure 4. Alguns atrativos/ formações rochosas encontradas no PN7C (a. archete; b. mapa do Ceará; c. cabeça de Dom Pedro; d. inscrições rupestres) (RAMOS, 2014, p.36).

Os principais problemas ambientais que apresenta o parque são a caça predatória e as queimadas que ocorrem tanto no parque como em seu entorno. Têm ocorrido vários incêndios no entorno e no próprio parque, destaques para os ocorridos nos anos 1991 e 1996, tendo como possíveis causas queimadas de roças no entorno próximas ao parque, fogueiras feitas por caçadores no entorno e transeuntes do BR 222 (MMA, 2015). Educação Ambiental A Educação Ambiental é de fundamental importância para dirimir tais problemas. No Brasil a Lei nº 9795 de 27 de Abril de 1999 define a Educação Ambiental como: Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial a qualidade de vida e sustentabilidade (BRASIL, 1999).

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As Unidades de Conservação têm sofrido pressões das populações que vivem em seu entorno, e a Educação Ambiental se faz necessária nesse âmbito para diminuir tais pressões. Para Santos, Schettino e Bastos (2013, p. 5), A Educação Ambiental (EA) pode ser abordada de diferentes maneiras. As diferentes abordagens são: a crítica, a emancipatória ou transformadora, a ecopedagogia, a educação no processo de gestão ambiental e também a alfabetização ecológica. Tais abordagens, apesar de diferentes quando aplicadas são muito benéficas não somente ao meio ambiente, mas também às comunidades envolvidas.

Para se fazer um processo de Educação Ambiental em uma UC tão visitada como o Parque Nacional de Sete Cidades é importante considerar principalmente as pessoas diretamente envolvidas com a visitação, como os guias turísticos e também com os moradores do entorno. A educação formal, através de projetos transdisciplinares de Educação Ambiental pode contribuir no processo de conservação da biodiversidade em Unidades de Conservação. (REIS, et al, 2012, p.50). Isso é o que se pretende comprovar através dessa pesquisa. Segundo Reigota (2004, p. 13), dentre os principais acontecimentos que desencadearam o desenvolvimento da Educação Ambiental em âmbito mundial se destacam: • 1968 – Rachel Carson lança o livro Primavera Silenciosa, alertando sobre os efeitos de ações antrópicas sobre o meio ambiente; • 1968 – Conclusões do Clube de Roma, em que cientista de países desenvolvidos discutiram o consumo e as reservas dos recursos naturais relacionando ao crescimento da população mundial, com a publicação do livro Limites do Crescimento; • 1972 – I Conferência Mundial de Meio Ambiente Humano realizada em Estocolmo, Suécia. Dos principais temas, destacou-se a poluição ocasionada principalmente pelas indústrias. Nessa conferência se pode dizer que surge a Educação Ambiental. Nesse evento foi criado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA; • 1975 – Carta de Belgrado, proveniente da reunião em Belgrado, antiga Iugoslávia, de especialistas em Educação, Biologia, Geografia e História, contendo os objetivos da Educação Ambiental; • 1977 – I Congresso Mundial de Educação Ambiental em Tibilisse, Geórgia, onde foram apresentados trabalhos desenvolvidos em vários países; • 1979 – Seminário de Educação Ambiental para América Latina realizado na Costa Rica pela UNESCO e PNUMA; • 1987 – II Congresso Mundial de Educação Ambiental em Moscou, Rússia, realizado

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pela UNESCO/PNUMA; • 1987 – Lançamento do livro Nosso Futuro Comum (Our Common Future), fruto de reuniões promovidos pela primeira ministra norueguesa Gro-Brundtland em várias cidades do mundo, onde se discutiam os problemas e soluções ambientais. O conceito de desenvolvimento sustentável ficou conhecido por meio desse livro; • 1992 – II Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente (Eco-92) realizada no Rio de Janeiro, onde se debateu muito sobre desenvolvimento econômico e sustentável. Um dos frutos dessa conferência foi a Agenda 21, instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis; • 1997 – Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade, realizada em Thessaloniki, na Grécia. Onde perceberam insuficiente a Educação Ambiental desenvolvida 5 anos após a Eco-92. • 2002 – Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio + 10), em Johannesburgo, África do Sul. No âmbito brasileiro, ainda segundo Reigota (2004, p.50), o primeiro marco histórico da Educação Ambiental foi a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente no início da década de 70, órgão vinculado ao Ministério dos Transportes. Aparece o primeiro curso de pós-graduação em Ecologia do país na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na década de 80 o Ministério da Educação e Cultura – MEC apresenta pareceres indicando a necessidade de incluir conteúdos ecológicos nos cursos da 1º e 2º graus. Após tímidas práticas de educação ambiental realizadas por escolas, parques, clubes e associações de bairros, em 1984 em Sorocaba-SP ocorre o I Encontro Paulista de Educação Ambiental. Em 1988 a Constituição da República Federativa do Brasil dedicou o Capítulo VI ao Meio Ambiente, onde determina a promoção da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino. No mesmo ano é realizado o I Congresso Brasileiro de Educação Ambiental no Rio Grande do Sul. Em 1991 portaria 678/91 do MEC determina que a Educação Ambiental deve ser incluída nos currículos de todos os níveis e modalidades de ensino. Em 1995, pela resolução nº 11, de 10 de outubro de 1995, foi criada a Câmara Técnica temporária de Educação Ambiental no Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA (MMA, 1995). Em 1999 é promulgada a Lei nº 9.795/99 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999). Um marco importante para a Educação Ambiental foi a morte do seringueiro Francisco Mendes Alves Filho (Chico Mendes) em 1988, por defender o uso sustentável dos seringais na Amazônia. Após esses fatos houve vários encontros em cidades brasileiras com o foco ambiental.

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Educação Ambiental para Conservação de Parques Nacionais A maioria das unidades de conservações pode ser considerada “ilhas naturais”, cercadas de aglomerações humanas, ou áreas rurais, sofrendo pressões de ordem econômica, social, cultural e política (WELLS et al. 1992 apud MUHLE, 2012, p. 7). A Educação Ambiental aparece nesse contexto de modo a mediar a solução desses conflitos que envolvem a relação sociedade-natureza. Existem várias ações no âmbito da Educação Ambiental que visam a preservação das Unidades de Conservação, que vão desde palestras, guias ecológicos até a formação de conselhos de fiscalização. No Parque Nacional de Sete Cidades são realizadas ações que visam a conscientização da população no que diz respeito à preservação do meio ambiente. O Parque conta atualmente com 09 técnicos do IBAMA, além de 08 funcionários nos portões de entrada, sendo 04 no portão norte que dá acesso a Piracuruca e 04 no portão sul que dá acesso à BR 222. Existem ainda no parque 18 guias turísticos, que fazem um excelente trabalho no quesito conscientização, sendo permitida a visita, apenas acompanhado de um ou mais guia, dependendo da quantidade de pessoas. O foco maior das ações realizadas situa-se em torno de um raio de 10 km no entorno do parque, a chamada Zona de Amortecimento – ZA, com campanhas educativas e fiscalizações (informação verbal3).

Figura 5. Área que compreende a APA Serra da Ibiapaba em verde, eu inclui o ParNa Sete Cidades. Fonte: ICMBio Disponível em: http://mapas.icmbio.gov.br/i3geo/icmbio/mapa/externo/home.html?34jgdas7gbr6mead77k6rimeu0

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Entrevista concedida por MONTEIRO, O. A. [abr. 2016]. Entrevistador: Francisco Antonino Sampaio Sousa. Piracuruca, 2016.

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Existe um Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental – APA Serra da Ibiapaba, que inclui a região em verde no mapa da figura 5, organizado pelo ICMBio, formado por entidades não governamentais, setor público, poder legislativo, poder judiciário e sociedade civil, com a finalidade de fiscalizar e fomentar ações sociais que visem dirimir os problemas locais, principalmente dos moradores do entorno (informação verbal4). São realizadas visitas periódicas de escolas, universidades, além da sociedade em geral, pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Recentemente estão sendo realizadas anualmente gincanas em alusão ao aniversário do parque com escolas das cidades que o circundam, a saber: Piracuruca, Piripiri e Brasileira, que propiciam conhecimentos ligados ao meio ambiente e à sua preservação, com excelentes resultados. A figura 6 apresenta uma montagem de imagens de gincanas realizadas no parque com autoridades dos municípios citados.

Figura 6. Gincanas alusivas ao aniversário do ParNa Sete Cidades. Fonte: <http://www.brasileiracity.com.br/ noticias/parque-de-sete-cidades-comemora-53-anos-de-existencia> Acesso: 23/04/2016.

CONCLUSÃO Os parques nacionais, como Unidades de Conservação permanentes que são, constituem um dos principais elementos para as ações de preservação e conservação de seus recursos naturais diante do desenvolvimento urbano e industrial. O Parque Nacional de Sete Cidades apresenta grande potencial turístico, para estudos 4

Entrevista concedida por BRITO, M. T. S. C. [abr. 2016]. Entrevistador: Francisco Antonino Sampaio Sousa. Piracuruca, 2016. 136


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de fauna e flora regionais de cerrado e caatinga e áreas ecotonais, de estruturas geológicas e paleontológicas, além de lazer com trilhas ecológicas, piscinas naturais e cachoeira. Percebe-se a necessidade de um estudo para verificar a capacidade de carga do parque, pois já são encontrados estragos em formações rochosas e em pinturas rupestres. Há estruturas no parque como o anfiteatro que poderia ser utilizado para educação ambiental de visitantes, especialmente para grupos de alunos que visitam o parque. Não há estruturas para proteção das pinturas rupestres que acabam por serem degradadas pelos visitantes. Com relação à acessibilidade, não há estruturas adequadas para cadeirantes em nenhuma trilha. Faltam incentivos ao ecoturismo no parque por parte dos órgãos competentes com divulgação dos atrativos do local, de modo a intensificar a prática da sustentabilidade. A Educação Ambiental é uma ferramenta essencial na preservação e conservação do meio ambiente. A aproximação através das ações de Educação Ambiental dentro das Unidades de Conservação e no seu entorno possibilitam maior consciência na população devido aos conhecimentos adquiridos. Apenas a Educação Ambiental deveria ser suficiente para garantir a conservação dos recursos naturais das unidades de conservação. Deveria, porém infelizmente não é o que se observa, sendo necessária fiscalização por parte dos órgãos competentes e da sociedade em geral, para impedir a degradação desses recursos nos locais de preservação. Percebeu-se com a pesquisa que existe pouca bibliografia relacionada ao tema em questão, sendo este, portanto de grande contribuição para o parque. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: Informação edocumentação – citações em documentos – apresentação. Rio de Janeiro, 2002b. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação edocumentação – referências – elaboração. Rio de Janeiro, 2002a. BRASIL. Decreto no 50.744/61. Cria o Parque Nacional de Sete Cidades. Brasília: 1961. BRASIL. Lei no 9.795/99. Estabelece a Política Nacional de Educação Ambiental. Departamento de Educação Ambiental. Brasília: 1999. BRASIL. Lei no 9.985/00.Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Brasília: 2000. BRITO, M. T. S. C. Entrevista II. [abr. 2016]. Entrevistador: Francisco Antonino 137


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Sampaio Sousa. Piracuruca, 2016. FAVERA, J. C. D. Parque Nacional de Sete Cidades: Magnífico monumento natural. Disponível em <www.sigep.cprm.gov.br/sitio025/sitio025.htm>. Acesso em 01/12/2015. HENDGES, A. S. Educação Ambiental no Ensino Formal e Não Formal, Lei 9.795/1999. Ecodebate cidadania e meio ambiente, 2010. Disponível em: <http://www.ecodebate.com.br/2010/09/13/educacao-ambiental-no-ensino-formal-enao-formal-lei-9-7951999-artigo-de-antonio-silvio-hendges>. Acesso em: 01/12/2015. IBAMA. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos Hídricos. Parque Nacional de Sete Cidades. Disponível em <http://www.ibama.gov.br/revista/ 7cida/texto_7cida.htm> . Acesso em 01/12/2015. ICMBio. Parque Nacional das Sete Cidades. Disponível em <http://www.icmbio.gov.br/portal/o-que-fazemos/visitacao/unidades-abertas-avisitacao/208-parque-nacional-das-sete-cidades.html>. Acesso em 01/12/2015. Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF. Plano de Manejo Parque Nacional de Sete Cidades. Brasília: 1979. LOPES, L. S. O. L. Geoconservação e Geoturismo no Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí. 2011. 123 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) – Universidade Federal do Piauí. Teresina. 2011. MARCATTO, C. Educação ambiental: conceitos e princípios. Belo Horizonte: FEAM, 2002. 64 p. MMA. Cartilha: Unidades de conservação: Conservando a vida, os bens e os serviços ambientais. São Paulo: 2008. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/pda/_arquivos/prj_mc_061_pub_car_001_uc.pdf>. Acesso em 01/12/2015. _____. Plano Operativo de prevenção e combate aos incêndios do Parque Nacional de Sete Cidades. Piracuruca: 2015. Disponível em <http://www.ibama.gov.br/ phocadownload/category/44-p?download=2346>. Acesso em 01/12/2015. _____. Resolução no 11/1995. Criação da Câmara Técnica Temporária de Educação Ambiental. Brasília: 1995. MONTEIRO, O. A.Entrevista I. [abr. 2016]. Entrevistador: Francisco Antonino

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Sampaio Sousa. Piracuruca, 2016. MUHLE, R. P. Ações de educação ambiental em unidades de conservação estaduais do Rio Grande do Sul. 2012. 46 p. Monografia de Especialização em Biodiversidade e Conservação da Fauna – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre-RS. 2012. PADUA, S. M. A importância da educação ambiental na proteção da biodiversidade do Brasil. Disponível em <http://dc.itamaraty.gov.br/imagens-etextos/revista-textos-do-brasil/portugues/revista9-mat7.pdf>. Acesso em 11/11/2015. PEDRINI, A. G. A Educação Ambiental com a Biodiversidade no Brasil: um Ensaio. Ambiente & Educação. Rio Grande. v. 11. n. 1. p. 63-77. 2006. Disponível em <http://www.seer.furg.br/ambeduc/article/viewFile/768/265>. Acesso em: 11/11/2015. RAMOS, R.G.; Paixão, L.C.P. Práticas ecoturísticas no Parque Nacional de Sete Cidades (PI) na perspectiva do turismo sustentável. Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.7, n.1, fev 2014/abr, 2014, pp.28-43 REIGOTA, M. O QUE É EDUCAÇÃO AMBIENTAL. 2004. Ed. Brasiliense, 63 p. REIS, L. C. L., et al. Conscientização Ambiental: da Educação Formal a Não Formal. Revista Fluminense de Extensão Universitária. Vassouras. v. 02, n. 1, p47-60, janjun/2012. SANTOS, M. A. SCHETTINO, S. C. BASTOS, I. A. H. Educação Ambiental em Unidades de Conservação: o caso da área de proteção Morro do Urubu. Ambivalências – Revista do Grupo de Pesquisa “Processos Identitários e Poder” – GEPPIP. v. 01, n. 1, jan-jun/2013. VALENTI, M. W. Educação ambiental e biodiversidade em unidades de conservação: mapeando tendências. 2010. 99 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Recursos Naturais) – Universidade Federal de São Carlos. São Paulo. 2010.

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RELATO DE MORADORES SOBRE AS ESPÉCIES ANIMAIS EM RISCO DE EXTINÇÃO NA ZONA RURAL DE SIMÕES-PI ELIAS GERMANO SERIO1 KITAWAN TAYRONE DE SOUSA N. CARDOSO2 RESUMO As espécies Animais do município de Simões Piauí ao longo dos tempos vêm deixando de habitar na região e isso nos faz questionar quanto aos fatores que causam esse problema como analisar se existe risco de extinção da nossa fauna. Com o objetivo de buscar relatos de moradores da região sobre o risco de extinção sofrido pela fauna local, foi realizado entrevista com 60 moradores de diferentes localidades do município para relatassem as espécies que julgam como desaparecidas ou em risco de serem extintas. Observou-se que foram citadas 24 diferentes espécies sendo que 41,67% dos entrevistados acreditam ser o desmatamento o principal motivo desse desaparecimento enquanto os demais citam queimadas, escassez de chuvas e caça predatória, como fator responsável. Observou-se também que 63,33% dos moradores acreditam terem contribuído para esse problema de extinção das espécies. Concluise que mesmo não estando provado cientificamente o desaparecimento destes animais, os moradores das diversas localidades relatam que por causa de problemas provocados pelo próprio homem, muitas espécies antes existentes na região hoje não existem mais. Palavras-Chave: desaparecimento, desmatamento, fauna ________________ 1 Graduado em Ciências Biológias pela UESPI, graduando em Ciências da Natureza pela UFPI email: eliasgermano@yahoo.com.br 2 Kitawann Tayrone de Sousa Nunes CardosoTITULAÇÃO Graduado em Ciencias Biologicas, EMAIL: kitawanntayrone17@hotmail.com INTRODUÇÃO A vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê- lo e preservá-lo para Constituição Federal (1988) em seu art. 225 dispõe: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de as presentes e futuras gerações.De acordo com Lévêque (1999) “A conservação da biodiversidade não pode se limitar à conservação de algumas espécies ou meios de interesse patrimonial”. Com isso a questão da biodiversidade é um aspecto a ser considerado, pois é o meio em que vivemos e este engloba toda a biodiversidade, ou diversidade de espécies que existem na face do planeta Terra, por isso nós, seres humanos, devemos ter o comprometimento sério com a preservação dessa vasta biodiversidade. Muitas são as causas do desaparecimento das espécies, por exemplo, o tráfico de animais, o desmatamento, as queimadas, a construção de hidrelétricas, a caça predatória, a poluição, entre outros. Tais fatores afetam diretamente os animais ou o seu habitat, reduzindo suas chances de sobrevivência. Segundo estudos, o Brasil lidera o ranking de espécies de aves em extinção sendo a Indonésia o segundo país. Para isso, a “União Internacional para a Conservação da 141


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Natureza e dos Recursos Naturais” (IUCN), criou em 1963 um inventário com o intuito de sistematizar o estado de conservação das espécies biológicas ameaçadas, de animais, plantas, fungos e protistas. Segundo Lévêque (1999) as espécies estão extinguindo-se de várias maneiras, entre elas tem-se o grau de degradação da biodiversidade, o que causa a extinção das espécies, devido ao desperdício de certo elemento natural do habitat dessa espécie. Também se tem o tempo que uma espécie leva para extinguir-se, pois existem espécies que estão conseguindo se adaptar aos usos inadequados da biodiversidade, aos danos causados aos seus habitats e a ocupação urbana. De acordo com a WWF Brasil: O patrimônio natural da Terra é composto por plantas, animais, terra, água, a atmosfera e os seres humanos. Juntos, fazemos todos parte dos ecossistemas do planeta, o que equivale a dizer que, se houver uma crise de biodiversidade, nossa saúde e meios de subsistência também entram em risco.

Uma das principais causas da perda da biodiversidade está diretamente relacionada com a fragmentação de habitats naturais, causando, além da diminuição da variabilidade genética, a extinção de muitas espécies endêmicas. Outro fator que também pode causar esse problema, é a caça predatória que a cada dia aumenta nas comunidades brasileiras. (SILVA e TABARELLI, 2000).Segundo, (PRIMACK; RODRIGUES, 2001; WILSON, 2002,) As transformações que ocorrem no clima mundial comprometendo as qualidades de água e ar, provoca de certa forma um desequilíbrio ambiental que reduz os habitats naturais e como conseqüência, a alteração da grande diversidade biológica. Para que haja conservação de espécies animais faz-se necessário que os seres humanos busquem preservar, entendendo que também somos considerados parte dessa biodiversidade e que ao tempo que esta evolui algumas foram se extinguindo, mas novas outras espécies foram surgindo. Nesse contexto, Helene e Marcondes (1996, p.15) afirmam “... ao mesmo tempo em que novas espécies vão surgindo em resposta às modificações do ambiente, outras já existentes vão desaparecendo por inadequação a essas modificações.” As agressões aos habitats das espécies animais se tornam cada vez mais constantes e o homem que, na maioria das vezes, não se preocupa muito com a questão de preservação, vem ocupando espaço, desmatando, promovendo caça clandestina e tráfico de espécies nativas, causando com isso, um grande risco de desaparecimento total dessas espécies. Diante o exposto têm-se tornado necessário buscar um estudo de fatores que venham a causar esse problema bem como procurar listar e divulgar para a comunidade local, as principais espécies animais citadas como risco de extinção. Nesse sentido, este trabalho objetivou investigar através de relatos de moradores, os fatores que venham ameaçar as espécies animais da zona rural de Simões a risco de extinção de forma a conhecer o histórico de animais considerados extintos da região buscando conscientizar as populações locais sobre práticas que venham a ameaçar essas espécies animais. MATERIAIS E MÉTODOS Local da pesquisa Esta pesquisa foi realizada cidade de Simões-PI, um município brasileiro do estado do Piauí. Situa-se na microrregião do Alto Médio Canindé, localizada a 417 km de Teresina, capital do estado. 142


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Figura 1- localidade de Alto Médio Canindé

Fonte: (GOOGLE MAPS, 2016)

Tipo de pesquisa Durante os meses de Março e Abril de 2016, foram realizados 60 questionários com moradores da zona rural nas Localidades, João de Sousa, Curralinho, Maria Preta e Serra dos Cláudios, zona rural de Simões-PI, questionando sobre espécies animais que os entrevistados julgavam como risco de extinção, as possíveis causas que levavam a esses riscos, o nível de contribuição dos mesmos para o aumento do problema bem como aquelas espécies que já consideravam como extintas. Para coleta de dados que serviram de base para obtenção dos resultados da pesquisa, os participantes foram escolhidos de forma aleatória entre as citadas localidades. As informações coletadas na entrevista/questionário foram utilizadas como base para a pesquisa bibliográfica científica a fim de catalogar e classificar taxonomicamente as espécies encontradas com as características que objetivaram este estudo, bem como conhecer cientificamente as espécies relatadas pela comunidade como em risco de extinção. RESULTADO E DISCUSSÃO Foram relatadas, pelos moradores, durante a pesquisa, 24 espécies de animais consideradas como risco de extinção, sendo 09 delas pertencentes à classe das aves, 02 da classe dos Répteis e 13 mamíferos. Foi observado que o nome popular de algumas espécies varia de uma região para outra, mas as mesmas serão representadas com seus referidos nomes populares e científicos. Tabela 01 – Espécies animais da região relatadas como em risco de extinção

NOME POPULAR

NOME CIENTÍFICO

Asa Branca

Patagioenas picazuro

Caititu ( porco do mato)

Tayassu tajacu

Canário

Serinus canaria

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Corduniz

Coturnix coturnix

Gato de Mancambira

Leopardus tigrinus

Guaxinim

Procyon cancrivorus

Guiguirra (Periquito da Caatinga)

Eupsittula cactorum

Jacú

Penelope purpurascens

Jibóia

Boa constrictor

Juriti

Leptotila verreauxi

Lobo Guará

Chrysocyon brachyurus

Macaco

Sapajus apella

Mocó

Kerodon rupestris

Onça

Panthera onca

Papagaio

Psitacus erithacus

Raposa

Vulpes vulpes

Rolinha fogo-apagou

Columbina squammata

Sabiá

Turdus rufiventris

Sagüi

Saguinus spp

Saruê

Didelphis aurita

Tamanduá

Mirmecofaga tridactila

Tatu

Tolipeutes matacus

Teiú

Tupinambis merianae

Veado

Cervus elaphus

Fonte: (SERIO, 2016)

Na (Tabela 02) mostra os nomes populares dos animais relatados pelos moradores, seguido do nome científico de cada referida espécie. Observa-se que mesmo com o pouco nível de conhecimento científico de muitos moradores, a maioria já percebe o grande aumento da perca natural da fauna da região, alguns já classificam algumas práticas como fatores responsáveis pelo aumento do problema. Provavelmente, outras espécies animais podem ter sido esquecidas nos relatos dos entrevistados. 144


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Espécies que possam realmente já ter sido extintas da região e outras que podem estar a ponto de sofrer risco de desaparecimento. Figura 02 – Fatores relatados como motivos o desaparecimento destes animais

Fonte: (SERIO, 2016)

O gráfico 02 mostra a classificação dos entrevistados quanto aos fatores que podem ser considerados como principais responsáveis pelos possíveis riscos de extinção das espécies animais acima citadas. Observa-se que 41,67% dos entrevistados consideram que o desmatamento é o principal motivo que tem levado a fauna local a risco de extinção. Já 25% consideram as queimadas constantes que ocorrem na região como fator causador do problema. Outros 21,67% e 8,34% já elencam, respectivamente, a caça predatória e a escassez de chuvas como causa principal do risco e 3,32% consideram outros fatores ou não souberam opinar. De acordo com MORRIS (1990), as caçadas para sobreviver transformaram-se em caça por esporte, capaz de gerar altas cifras e extinguir populações Na realidade existem diversos outros fatores não citados que também podem ter contribuído para colocarem os animais em risco de extinção. As mudanças climáticas e o aquecimento global, por exemplo, são considerados em muitas regiões do país e/ou do mundo um fator consideravelmente levado em conta na questão da preservação de animais nativos. Contribuição para o aumento do risco de extinção das espécies animais Quando foram questionados quanto a terem contribuído para crescimento dos riscos de extinção de algumas espécies da fauna local de suas respectivas regiões 68,33% dos entrevistados responderam que sim, que têm contribuído de alguma forma, mesmo que inconscientemente, para o aumento do problema, enquanto que os 31,67% acreditam que não contribuíram de forma alguma para tal situação.

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Figura 3- Área de degradação município de Simões

Fonte: http://ecosimoes.blogspot.com.br/

Figura 4- Produção de carvão

Fonte: http://ecosimoes.blogspot.com.br/

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Figura 5- Área de degradação município de Simões

Fonte: http://ecosimoes.blogspot.com.br/

Segundo Primack e Rodrigues (2001), Evolutivamente, a extinção de espécies é um evento natural, porém 99% das que ocorrem na atualidade, são atribuídas às atividades humanas. CONCLUSÃO Após a realização da pesquisa e análise de dados, conclui-se que mesmo não estando provado cientificamente o desaparecimento destes animais, os moradores das diversas localidades relatam que por causa de problemas provocados pelo próprio homem, muitas espécies antes existentes na região hoje não existem mais e, muitos moradores das diversas regiões do município se consideram contribuintes com o aumento do desaparecimento da fauna local. REFERÊNCIAS INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS. Portaria no 6-N, de 15 de janeiro de 1992. Lista Oficial da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção. HELENE, Maria Elisa Marcondes; MARCONDES, Beatriz. Evolução e biodiversidade: o que nós temos com isso? São Paulo: Scipione, 1996. LÉVÊQUE, Christian. A biodiversidade. Bauru, SP: Editora da Universidade do Sagrado Coração, EDUSC, 1999. MORRIS, Desmond. O contrato animal. Editora Record. Rio de Janeiro. 1990.

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PRIMACK; Richard B.; RODRIGUES, Efraim. Biológica da conservação. Londrina. Midiograf, 2001 TABARELLI, M., SILVA, J.M.C (Org). Atlas da Biodiversidade de Pernambuco. Recife: Editora Massangana e SECTMA, 10p, 2002. https://www.google.com.br/maps

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O CONHECIMENTO SOBRE A PRESSÃO DE USO DAS ESPÉCIES VEGETAIS DA LOCALIDADE CURRALINHO MUNICÍPIO DE SIMÕES-PI JOSEFA GENILDA DE MORAIS1 KITAWANN TAYRONE DE SOUSA N. CARDOSO2 RESUMO A caatinga vem sendo explora de forma insustentável, fato esse talvez devido ao desconhecimento da população a respeito desse bioma e de como explora-lo de forma sustentável, tendo em vista que essa exploração tem se dado sem nenhuma preocupação com a manutenção dessa biodiversidade. O objetivo desse trabalho foi conhecer quais as espécies vegetais mais utilizadas pelos moradores da localidade Curralinhos município de Simões-PI, além de compreender a importância dessas espécies para a população local e identificar as eventuais consequências que a pressão de uso dada a essas espécies tem causado ao meio ambiente. Durante a realização da pesquisa foram realizadas entrevistas por meio de questionários, onde foram possível constatar que as espécies de Aroeira e Angico são as mais utilizadas pelos moradores, mas que existem outras espécies como Jurema Preta, Pereiro e Marmeleiro que também são muito exploradas na região. Palavras chave: Exploração da caatinga; Caatinga; Importância da caatinga. ________________ 1 graduada em ciências biológica pela Faculdade de Formação de Professores de Araripina-PE – FAFOPA. E-mail: morais.genilda@outlook.com 2 Kitawann Tayrone de Sousa Nunes CardosoTITULAÇÃO Graduado em Ciencias Biologicas, EMAIL: kitawanntayrone17@hotmail.com

INTRODUÇÃO A caatinga, predominante no Nordeste brasileiro apresenta-se como um bioma rico em variedade de espécies e composta por uma vegetação típica de regiões semiáridas que perdem a folhagem durante a estação seca, mas que voltam a florescer durante o período de chuvas. É o que afirma (SILANS et al. . 2006) a pesar da aparência árida e pobre, a caatinga se revela como um ecossistema complexo, pela capacidade de adaptação de seus seres vivos a acentuada aridez do território. Essa vegetação chega a ocupar a maior parte do território nordestino no Brasil, sobre as áreas abrangidas estende-se por Estados como Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio grande do norte, Ceará, Piauí, e uma parte de minas gerais. Uma boa parte do território ocupado pela caatinga é rica em águas subterrâneas, mas seus rios possuem geralmente quantidades de água limitada.

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Para (MENEZES et al. 2005), os sistemas de uso da terra nos agrossistema semiáridos tem que ser baseados em espécies vegetais que se desenvolvam aproveitando o mais eficiente e rapidamente possível esses pulsos de fertilidade do solo e posterior mente, mantenha-se em espera até as condições tornarem-se novamente favoráveis. As regiões ocupadas pela caatinga apresentam períodos de chuva que normalmente são irregulares, com isso principalmente os agricultores precisão adaptar-se a essas irregularidades para que não percam o período de produção. Ultimamente a baixa quantidade de chuvas associado a outras características adversas desse bioma a região nordeste apresenta problemas estruturais em relação a produção de alimentos, uma vez que os agricultores tem produzido menos, isso tem feito com que o homem passe a explorar de forma extrativista a vegetação, no intuito de tirar dali o sustento familiar, através do desmatamento para uso da madeira em diversas atividades.Segundo (MMARHAL 1997), tradicionalmente a produção de lenha era um subproduto da abertura de áreas para o plantio na agricultura itinerante, mas, com seu declínio, começa a ser uma atividade independente. O autor esclarece que com a queda na quantidade de chuvas e conseqüentemente na produção de alimentos os agricultores que antes utilizavam como lenha apenas madeira retirada dos campos de para o plantio, hoje faz dessa atividade uma fonte de renda para a família. Mas é importante ressaltar que não é apenas atividades relacionadas ao uso da madeira que tem provocado a diminuição da vegetação nativa da caatinga. O cultivo agrícola que ainda é praticado na região como o algodão, milho, feijão, mandioca e algumas outras espécies que representam certa importância econômica, também têm colaborado para a retirada de arvores, mesmo que em níveis menos acelerados. De acordo com (SAMPAIO 2002), as áreas de cultivo representam uma redução das populações das espécies nativas e podem ter apenas um pequeno impacto negativo na diversidade, mas podem também significar a eliminação de muitas delas. A atividade agrícola pode não é tida como a principal responsável pelo desmatamento, mas também tem sua parcela de contribuição. Tendo isso em vista a questão a ser abordada aqui, é a forma como está se dando o uso das espécies vegetais existentes na Localidade Curralinho no município de Simões do Piauí, procurando identificar quais delas são mais conhecidas e usadas pela população na localidade, pretende-se ainda investigar as eventuais consequências que a pressão dada a essas espécies tem causado ao meio ambiente na região, e mostrar a sociedade, as instituições e grupos responsáveis pela conservação do meio ambiente, os impactos ambientais que podem ser causados com a derrubada de arvores. Percebe-se que a exploração de madeira nessa região não segue manejos adequados para a extração, e os exploradores não possuem informações necessárias a respeito das consequências que essa pratica poderá trazer ao ecossistema local, pois como ressalta (SAMPAIO 1998) na caatinga é muito lenta a regeneração da população de algumas espécies. Sendo que se a exploração for feita de forma inadequada sem uma orientação técnica pode ocorrer a extinção 150


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de muitas espécies por conta do desconhecimento de como extrair de forma adequada e sem causar grandes danos. A vegetação da caatinga apresenta-se como uma região de espécies de pequeno porte e de grade utilidade quando utilizada como lenha que associado a falta de fiscalização constante na retirada das arvores, pode tornar mais preocupante ainda a sobrevivência da flora na região. Como é afirmado por (MENEZES e SAMPAIO 2000) a pratica de deixar arvores nos campos é bastante frequente no semiárido e faz sentido do ponto de vista de aproveitamento de recursos. Em algumas situações, é constatado que são deixadas algumas árvores durante o desmatamento, fato esse que pode ajudar no reflorestamento natural. O nordeste brasileiro é uma região de rica e imensa biodiversidade, onde as espécies vegetais têm sido exploradas e utilizadas pelos habitantes da região, para diferentes finalidades. Assim faz-se evidente a necessidade da realização de um estudo em que seja posto em evidencia a atual situação da flora regional, procurando a pontar causas e consequências, além de propor meios para tornar a exploração das espécies vegetais menos prejudiciais ao meio ambiente. Esse trabalho tem como objetivo, Conhecer quais as espécies vegetais mais utilizadas na localidade Curralinho município de Simões-PI, além de tentar compreender a importância dessas espécies para a população da localidade. METODOLOGIA Local da pesquisa A pesquisa foi realizada na localidade do povoado de Curralinho, situada na zona rural do município de Simões-PI a 18 km da sede. O município fica localizado a 417Km da capital Teresina. A região onde foram desenvolvidos os trabalhos de pesquisa é composta por cerca 1500 habitantes divididos em 150 famílias de acordo com dados fornecidos pelos os agentes comunitários de saúde que cobrem a região. Essas famílias dependem economicamente, principalmente de recursos extraídos da natureza, seja na produção de lenha, no desmatamento para a produção agrícola, produção de pastagens para animais, produção de cercados e outras atividades que provocam diretamente a perda da cobertura da mata nativa predominante na região. A vegetação que recobre a área estudada é a caatinga, onde apresenta sinais de degradação.

Coleta de dados Esse trabalho foi realizado durante os meses de janeiro a junho, utilizando como principal meio de pesquisa a confecção de questionários aplicados na localidade de Curralinho município de Simões-pi, com vista em relatar e Conhecer quais as espécies vegetais mais utilizadas na região e como são usadas. Foram aplicados 50 questionários com questões objetivas e subjetivas 151


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aos moradores que residem e trabalham na região, com a faixa etária entre 18 e 60 anos de idade, de ambos os sexos e abrangendo todos os níveis de escolaridade. RESULTADOS E DISCUSSÕES Com base nos dados coletados a partir das entrevistas, foi possível identificar quais espécies de plantas que se mostram mais incidentes na região onde foi realizada a pesquisa. Como podemos ver na (tabela 01), foi questionadoaos moradores quais as espécies de maior abundancia na região. Dentre os entrevistados (80%) concordaram quando afirmaram que o marmeleiro e a favela são as formas arbóreas mais encontrados na área em analise sendo possível encontrar essas espécies em diversos ambientes ou espaços diferentes dessa localidade, os moradores relataram que apesar do marmeleiro principalmente ser muito utiliza tanto na produção de lenha como na construção de cercados é uma planta que pode ser encontrada com muita facilidade e em boa quantidade em relação a outras espécies. Aroeira e Jurema preta foram apontadas por (10%) das pessoas também como umas das espécies muito encontradas na localidade, representando assim umas das mais presentes no local, sendo que a incidência dessas duas espécies não é tanta como as citadas anteriormente, mas que também podem ser encontradas sem muita dificuldade e em diferentes partes da região. São arvores muito utilizadas principalmente na confecção de estacas para a produção de cercados alem de serem muito empregadas como lenha para uso domésticos e na construção de casas. Tiveram ainda (06%) que indicaram o angico e o juazeiro como espécies de fácil localização, sendo que os mesmos são visto em menor quantidade, segundo os entrevistados, isso se deve a grade pressão de uso que é dada sobre os mesmos tanto na construção de cercados, de casas e na produção de lenha no caso do angico, como também o juazeiro que é muito utilizado como lenha, tomando como base os relatos dos entrevistados. Os outros (04%) ressaltaram ainda que pereiro e umbuzeiro também são espécies que aparecem em quantidade relevante, sendo a primeira muito utilizada na produção de cercados e lenha, e a segunda que talvez por ter um certo potencial alimentício em muitos casos é poupada durante a derrubada de arvores. Essas foram relacionadas entre muitas outras inúmeras espécies que também são pertencentes à caatinga e que são encontradas na região onde foram desenvolvidos os trabalhos de pesquisa, mas que não foram colocadas entre as mais abundantes.

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TABELA 01: Espécies vegetais abundantes na região da localidade de Curralinhos município de Simões-PI.

Constatou-se também que (62%) do desflorestamento praticado nessa região, é devido a grande produção de lenha, que é usada tanto no consumo domestico como são vendidas para regiões diferentes e que são utilizadas em outros tipos de atividades. Na região uma das principais atividades que provoca o uso da lenha é a produção de carvão vegetal, sendo que são muitas as espécies que a população utiliza nessa atividade. A construção de cercados vem logo em seguida colocada pelos moradores como conseqüência para (30%) do desmatamento ocorrido na região, os dados mostram que na construção de cercados são utilizadas diferentes tipos de espécies, mas que as principais apontadas são: Aroeira, Angico, marmeleiro, jurema preta pereiro e algumas outras que também são citadas com um potencial de uso muito grande nessa atividade. Sendo assim, constatou-se que a produção de lenha e a construção de cercados são as duas praticas que desmatam com maior intensidade segundo o estudo, com isso fica uma grande preocupação com relação a sobrevivência da mata nativa, uma vez que essas atividades exigem cortes bem rasos que pode provocar a extinção de espécies. E de acordo (Garda 1996) somente a presença das vegetações adaptadas das caatingas tem impedido a transformação do nordeste brasileiro num imenso deserto. O autor afirma que a vegetação nativa da caatinga deve ser preservada para que a região não sofra uma desertificação. Existem ainda outras atividades que tem provocado a escassez de algumas espécies nativas, como por exemplo, a medicina popular que foi apontada como responsável por (2%) do desmatamento e a retirada de madeira para a construção de casa, responsável por mais (2%) como é mostrado na figura (2). 153


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TABELA 02: Qual atividade tem provocado com mais intensidade o uso de espécies vegetais na região.

A pesquisa aponta ainda que, entre os vegetais mais utilizados na produção de lenha na região que é apontada como a atividade que mais desmata, a Aroeira aparece como a mais utilizada com (40%), o Angico com (30%),essas duas espécies, que já tinham sido apontadas com um grande potencial de uso na construção de cercados e de casas é tida também como o preferido dos moradores para a produção de lenha, a Jurema preta com (20%) e o Marmeleiro com (10%) também entram na classificação dos vegetais que são mais procurados para essa atividade. Já na construção de cercados, que representa a segunda atividade que mais provoca o desmata na localidade a Aroeira representa (30%) do desmatamento provocado por essa atividade, o Angico (30%), o Marmeleiro (25%) e o pereiro (15%). Com isso, nota-se claramente que a Aroeira e o angico vêm sofrendo uma grande pressão de uso causada tanto pela produção de lenha como pela construção de cercado, uma vez que essas duas espécies são apresentadas pela pesquisa como as mais utilizadas, tanto na produção de lenha como na construção de cercado, as duas atividades mostradas como responsáveis pelo maior índice de desmatamento no local investigado. As consequências causadas pelo desmatamento Em relação às consequências causadas pelo desmatamento, a falta de chuva foi citada por (54%) da população como o maior efeito causado pelo desflorestamento, segundo os moradores a chuva na região vem ficando cada vez mais extinta com o passar do tempo, os agricultores reclamam que o período de chuvas que é a época do plantio, vem se tornando a cada tempo mais 154


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irregular provocando um declínio na produção de alimentos, e isso tem feito com que em vês de desmatar para a formação de campos de plantio, a população tem desmatado para vender a madeira, tornando essa como uma opção para o sustento das famílias. Em segundo a extinção de espécies é colocada por (26%) dos moradores como uma das conseqüências do desmatamento. Alguns agricultores são conscientes de que alem de provocar a falta de chuva o desmatamento pode provocar também a extinção de espécies. Os (14%) acreditam que a desertificação é uma conseqüências mais preocupantes causadas pelo desmatamento, sendo que a para eles a extinção de espécies vem acontecendo em ritmo acelerado. Essa visão dos moradores em relação a desertificação é justificadas pelos mesmo, pelo fato de não ser possível encontrar com facilidade, algumas espécies que antes eram vistas com facilidade como algumas utilizadas na medicina e as grades faixas de terras que apresentam a penas uma vegetação rasteira que aparecem no período chuvoso. Cerca de (06%) dos entrevistados apontaram outros efeitos causados pelo desmatamento alem dos que foram apontados anteriormente. TABELA 03: Quais as consequências que o desmatamento tem causado para a região?

Sendo assim a falta de chuva e a extinção de espécies é vista pela população local como as principais causas do desmatamento desordenado da região. As informações sobre o clima normalmente chega a população local em âmbito regional e difundida para extensas áreas pelos órgãos de mídias. Como nem todos os entrevistados possuem uma alfabetização formal adequada, pode se afirmar que o desconhecimento das representações amplia um pouco a distancia dessas informações.

155


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CONCLUSÕES Com isso, conclui-se que as espécies vegetais como Aroeira e Angico mesmo não sendo elas apontadas pela população como as mais abundantes na região, são elas que vêm sofrendo maior pressão de uso provocado por atividades como a produção de lenha e a construção de cercados, no entanto espécies como jurema preta, pereiro e o Marmeleiro, que é apontado como a espécie mais abundante na região, são muito utilizados pelos moradores. Entende se ainda que são necessários mais estudos para alerta a população sobre a tomada de decisões a respeito da exploração dos recursos naturais da caatinga. Há necessidade de uma orientação técnica aos habitantes da região para mostrá-los quais as melhores técnicas para a exploração dos recursos naturais da localidade e de aproveitarem melhor os recursos naturais. REFERÊNCIAS MENEZES R.S.C e SAMPAIO, E. V. S. B. 2000. Agricultura Sustentável no semi-Árido nordestino. P. 20 – 46. In: Oliveira T.S. ; Romero, R. E. ; Jr., R.N.; Silva, J.S.C.S (eds). Agricultura, Sustentabilidade e o semi-Árido. Fortaleza, Sociedade brasileira de Ciências do solo/ Universidade Federal do Ceara. MMARHAL.1997. Os ecossistemas brasileiros e os princípios macrovetores do desenvolvimento. Subsídios ao planejamento da gestão ambiental. Brasília, Ministério do Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Amazônia Legal. 188 P. SAMPAIO, E.V.S.B. 2002. Uso das Plantas da Caatinga. In: Sampaio, E.V.S.B.; Giulietti, A.M.; Vírginio, J.; Gamarra-Rojas, C.F.L. (eds). Vegetação e Flora da caatinga. Recife, PNE / CNPI. P. 49-90. SAMPAIO, E.V.S.B. ; Araújo L.E.; Salcedo, I.H.; Tiessen, H. 1998. Regeneração da vegetação da caatinga após corte e queima em Serra Talhada, PE. Pesquisa Agropecuária Brasileira 33: 621-132. GARDA, E.C. 1996. Atlas do Meio Ambiente do Brasil. Editora Terra Viva, Brasília. SILVA, F.M.; PASSERAT DE SILANS, A.M.B.; PAZ, A.R.; GOMES, R.S. e SOUZA, E.E. Estudo experimental da interação solo vegetação atmosfera na região do Cariri. In: SIMPOSITO DE RECURSOS HIDRICOS DO NORDESTE, 5., Natal, 2000. Anais. Natal, Nov. 2000. CD-ROM.

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ESTUDO ETNOFARMACOLOGICO NA CIDADE DE CAMPO GRANDE DO PIAUÍ-PI Majela Maria Leal1 Kitawann Tayrone de Sousa Nunes Cardoso22 RESUMO A humanidade utiliza as plantas medicinais para alivio e cura das suas afecções desde o seu surgimento. Realizou um Levantamento sobre plantas medicinais na zona urbana da cidade de Campo grande do Piauí-PI. Utilizou ferramentas para quantificar e qualificar os resultados como o índice de concordância de uso principal (CUP) e corrigido (CUPc) também o Valor de uso da espécie (Vus). Foram entrevistadas 231 pessoas e identificadas 151 plantas diferentes por 1750 citações e 456 formas de usos diferentes. Dos dados socioeconômicos a maioria em gênero, feminina (83,98%);grau de escolaridade, o ensino médio completo (25%); estado civil, casados (55%); renda da família, menos de um salário mínimo (46,75%). O CUPc maior que 20% foram: Hortelã (Mentha spp), Erva cidreira (Lippia alba (Mill) NE. Br), Boldo (Plectranthus barbatus.), Capim Santo (Cymbopogon citratus Stapf), Eucalipto (Eucalyptus spp.), Erva doce (Foeniculum vulgare Miller ) e Camomila (Chamomilla recutita L.). Representa as espécies com potencial farmacológico. Os maiores valores para o valor de uso foram: Hortelã (Mentha spp), Erva cidreira (Lippia alba (Mill) NE. Br), Erva doce (Foeniculum vulgare Miller), Boldo(Plectranthus barbatus.), Capim Santo (Cymbopogon citratus Stapf), Camomila (Chamomilla recutita L.), Malva Santa (N.I.), Eucalipto (Eucalyptus spp), Romã (Punica granatum L.), Coentro (Coriandrum sativum L) 0,06. Palavras-chave: Caatinga, semiárido, levantamento, fitoterápico. INTRODUÇÃO A natureza na sua imensa grandeza sempre foi a origem de tudo que temos desde abrigo a cura das nossas enfermidades. Data-se desde os primórdios o uso de plantas como fonte terapêutica, tanto como fonte de alimentação (ALMASSY JUNIOR et al., 2005). Para muitas comunidades e grupos étnicos o conhecimento sobre as plantas medicinais representava o único recurso terapêutico (MACEDO et al., 2007). O conceito mais utilizado para fitoterápicos é o da resolução da diretoria colegiada nº 48/2004 da agência nacional de vigilância sanitária (BRASIL, 2004), onde fitoterápicos são medicamentos preparados exclusivamente com plantas ou partes de plantas medicinais. Assim em 2006 criou-se a política nacional de plantas medicinal e fitoterápico- PNPMF (2006) que tem como objetivo garantir à população brasileira o acesso seguro e racional das plantas medicinais e dos fitoterápicos além da valorização, valoração e preservação do conhecimento tradicional associado das comunidades tradicionais e indígenas manifestadas no programa nacional de 1 Farmacêutica-bioquímica pela Universidade Federal do Maranhão email: majelaleal@ hotmail.com 2 2 Mestre em Ciência Animal /UFPI; Biólogo graduado na UESPI.

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plantas medicinais e fitoterápicos (BRASIL, 2009). O Brasil, país de dimensões continentais, detentor de uma enorme diversidade biológica e cultural, mas que desde seu descobrimento esta diversidade está ameaçada, precisa ser preservada (VENDRUSCOLO e MENTZ, 2006). Regiões como o semiárido brasileiro riquíssimo em biodiversidade comparado a outras regiões semiáridas do mundo (LOIOLA; ROQUE; OLIVEIRA, 2012). O semiárido se diferencia principalmente pelo baixo índice pluviométrico e a má distribuição das chuvas, alto grau de insolação constante e temperaturas elevadas durante todo o ano, além do alto grau de insolação constante (PERLATTI, 2009). Diante dessas condições os vegetais se apresentam como caducifólias, em que as folhas caem na época de seca em resposta à escassez de água, sendo assim chamada de “Caatinga” que significa “mata-branca” no tupi-guarani (LOIOLA; ROQUE; OLIVEIRA, 2012). Essas condições climáticas tornam as plantas ricas em metabolitos pouco encontrados em outras regiões. Os nordestinos demonstram largo conhecimento dos recursos naturais e da sistemática particular de classificação desses recursos (MARTINS, 2012). O conhecimento empírico sobre as plantas medicinais, como seu uso e eficácia promovem a propagação das virtudes terapêuticas vegetais, mesmo que não apresentem constituintes químicos conhecidos (FEIJÓ et. al., 2013 citado por MACIEL et. al., 2002). Atualmente se tem registro de 1510 espécies (ARAÚJO e QUEIRÓZ, 2012). Esses números são pequenos diante de tanta diversidade. Assim, fazem-se necessárias continuidades e novos estudos para a preservação de espécies medicinais (OLIVEIRA e NETO MENINI, 2012 citado por FONSECA e SÁ, 1997) que trarão impactos para a sociedade e desenvolvimento para a região. O mundo caminha incessantemente para o aperfeiçoamento das ciências, buscando sempre melhores produtos e serviços. Neste contexto investigar o potencial da flora da Caatinga, proporcionando maior desenvolvimento pautado nas necessidades ambientais e sociais impulsionará o desenvolvimento da região. Os Objetivos do trabalho é estudar o conhecimento empírico sobre a flora da Caatinga com moradores da zona urbana de Campo Grande do PiauíPI. Avaliar o potencial medicinal, conhecido pela comunidade. METODOLOGIA Estudo qualitativo e quantitativo, descritivo e exploratório a cerca do conhecimento popular sobre a flora do município de Campo Grande do Piauí. Cidade localizada a 360 Km de Teresina, capital do estado. A cidade tem população total de 5.592 habitantes e população urbana de 1569 habitantes (IBGE, 2010).

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Figura 1: Município de Campo Grande do Piauí-

Fonte: Google Maps

Levantamento de dados ocorreu em visita pessoalmente as residências, onde era explicado o objetivo do estudo e, após concordância voluntária e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido era entrevistado a cerca do conhecimento popular sobre a flora da região. Com base nos dados do IBGE (2010) a população total é de 5592 habitantes destes 1569 habitantes mora na zona urbana, área de interesse do estudo. Assim, a amostra necessária para o estudo é de 231 moradores para estudo com nível de com nível de significância de 90% e erro amostral de 10%. Para delimitar a área a ser estudada buscaram-se dados nos órgãos de referência que apresentou poucas informações, assim utilizaram-se imagens de satélite como referência para calcular a área urbana e dimensionar a área de estudo. A área urbana tem total é de 10,84 Km². Para o estudo dividiu-se a urbana em quatro grupos, o bairro São Domingos com área de 98.027,07m² ; o centro da cidade, área mais povoada dividiu-se em dois grupos ao Norte da BR 316 com área de 61.017,32 m² e ao sul ocupando uma área de 141.960,06m² e por fim o bairro Novo Horizonte com área de 81.701,95m². A partir da área povoada fez-se analise proporcional para o numero de questionários aplicados em cada grupo, tem-se 25,6%, 15,09%, 37,09%, 21,35% respectivamente. Elaborou-se um formulário (Apêndice) aplicado nas entrevistas foi estruturado com questões de âmbito socioeconômico e questões sobre o conhecimento empírico do entrevistado sobre as propriedades medicinais da flora da região. Os entrevistados eram incluídos por serem residentes em Campo Grande do Piauí-PI, maiores de 18 anos em claras condições cognitivas de responder a entrevista. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa CAAE 50071515.9.0000.5209 (CEP) da Universidade Estadual do Piauí (UESPI). A partir do estudo com a comunidade foi possível identificar as espécies com potencial para o estudo. As plantas que tiverem mais citações foram selecionadas para aprofundamento do estudo. Estas serão identificadas em termos taxonômicos através de levantamentos e comparações realizados na Farmacopéia Brasileira e outras literaturas (artigos científicos, jornais, livros e revistas), estes foram selecionados tendo como critério regional, estudos em 159


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locais próximo ao semiárido piauiense. Para a análise estatística dos dados, buscou-se utilizar o valor de uso da espécie (Vus) que se calcula pela razão entre o somatório das citações de uso para uma determinada espécie e o número total de informantes através da seguinte fórmula (LIMA et al., 2012), como se ver na formula abaixo:

Onde VUs = Valor de uso da espécie ; Us = número de usos mencionados por cada informante para a espécie s; n = número total de informantes (n= 231). Para as espécies citadas por até vinte informantes, calculou-se a porcentagem de Concordância quanto ao Uso Principal da espécie (CUP) através dos os seguintes cálculos (PINTOet al., 2006): CUP = (ICUP/ ICUE) × 100 Onde: ICUP = número de informantes citando o uso principal da espécie e ICUE = número total de informantes citando o uso da espécie. Utilizou-se o fator de correção (FC) para cada espécie, proporcionando a extração de valores de importância relativos à espécie mais citada pelos informantes (CUPc). (PINTO et al., 2006) FC = ICUE/ICEMC CUPc = CUP × FC Onde: ICEMC = número de informantes que citaram a espécie mais citada. As demais análises estatísticas foram efetuadas de forma descritiva, ou seja, foram efetuados gráficos e tabelas de frequência das variáveis analisadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos entrevistados (194 mulheres e 37 homens) sua maioria tem cidade de origem no Piauí (93,94%). A faixa etária e o grau de escolaridade entre os entrevistados ficaram bem distribuída entre suas respectivas categorias, como se observa na (tabela 1). Tendo entre 26 a 34 anos (23,34%) a maioria dos entrevistados e quanto ao grau de escolaridade à maioria apresenta o ensino médio completo (25%). Os entrevistados são majoritariamente casados (55%) e suas famílias são formadas em sua maioria de três pessoas (37%). A renda da maioria é menor que um salario mínimo (46,75%) a baixa renda pode ser atribuída a principal ocupação que é a agricultura (36,63%), que em uma região de intempéries as chances de boa safra é limitada. Como os entrevistados em maioria eram mulheres outra importante atividade é de dona de casa (26,41%). Todos os dados socioeconômicos esta apresentado na tabela 1 abaixo.

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Tabela 1. Apresenta os dados socioeconômicos dos entrevistados no levantamento realizado na zona urbana da cidade de Campo Grande do Piauí (N= numero de entrevistados na categoria; N. SALARIAL= nível salarial das famílias; T. FAMILIAS= tamanho das famílias; E.F.=Ensino Fundamental). SEXO

N

%

Feminino

194

83,98

Masculino

37

16,02

IDADE

N

18|---26

N

%

Piauí

217

93,94

Outros

14

6,06

%

OCUPAÇÃO

N

%

35

15,15

Agricultor (a)

80

34,63

26|---34

54

23,38

Aposentado (a)

27

11,69

34|---42

51

22,08

Atendente de caixa

3

1,30

42|---50

36

15,58

Autônomo (a)

23

9,96

50|---58

23

9,96

Cabeleireiro (a)

1

0,43

58|---66

14

6,06

Dona de casa

61

26,41

66|---74

9

3,90

Empresário

3

1,30

74|---82

7

3,03

Funcion. (a) Publico

30

12,99

82|---90

2

0,87

Pedreiro

3

1,3

N. SALARIAL

N

%

ESTADO CIVIL

N

%

1 salario

87

37,66

Casado (a)

127

54,98

2 salários

28

12,12

Divorciado (a)

9

3,90

3 salários

2

0,87

Solteiro (a)

70

30,30

108

46,75

União estável

13

5,63

Não informou

6

2,60

Viúvo (a)

12

5,19

T. FAMILIAS

N

%

ESCOLARIDADE

N

%

2 pessoas

25

10,82

Analfabeto

34

14,72

3 pessoas

86

37,23

E. F. II incompleto

18

7,79

4 pessoas

57

24,68

E. F.I incompleto

17

7,36

5 pessoas

33

14,29

E. F. I completo

47

20,35

6 pessoas

10

4,33

E. F II completo

11

4,76

7 pessoas

1

0,43

Médiocompleto

58

25,11

1 pessoas

7

3,03

Médio incompleto

14

6,06

Superior

29

12,55

Superior incompleto

3

1,30

Inferior1 salario

NATURALIDADE

Fonte: (LEAL, 2016)

161


Educação, saúde e meio ambiente

O Levantamento das plantas medicinais apresentou 1750 citações no total, distribuídas por 151 plantas diferentes e 456 formas de uso diferentes. Selecionou as espécies que foram citadas até 20 vezes pelos entrevistados para discussão, apresentadas na figura 2. Diante de 456 espécies medicinais o hortelã (Menthaspp), Erva Cideira (Lippia alba (Mill) NE, Capim Santo (CymbopogoncitratusStapf), Eucalipto (Eucalyptus spp.), Malva do reino (Malva Sylvestris) foram citadas por mais de 100 pessoas ou seja, 50% ou mais utilizam ou pelo menos as reconhecem como plantas medicinais, demonstrando a grande importância destas espécies para a comunidade (Figura 2 e tabela 2). Figura 2. As vinte espécies consideradas medicinais mais citadas pelos moradores da zona urbana de Campo Grande do Piauí, Piauí, Brasil no levantamento realizado.

Fonte: (LEAL, 2016)

Dos 231 entrevistados 58,87% cultivam em casa pelo menos uma das espécies que citou e 67,08% dão preferência a produtos naturais em detrimentos aos industriais. Assim, podemos inferir que esta comunidade detém largo conhecimento de plantas medicinais, comunidade potencial para estudos de etnofarmacologia. Na tabela 2, descrevemos os principais usos terapêuticos, parte das plantas, como é preparada e administração, mas é importante ressaltar que a maioria destas plantas apresentaram diversas formas de uso, preparo e de administração. Dentre todas as 456 espécies citadas as que apresentaram maior variedade de uso/preparo/administração em ordem decrescente foram: Mastruz (ChenopodiumambrosioidesL.) com 20 variedades; Imburana de Cheiro (Amburana cearenses AC Smith) com 15 variedades, Malva Santa (N.I.) com 12 variedades; Babosa (Aloe vera (L.) Burm.f.) com 11 variedades. 162


Educação, saúde e meio ambiente

Pinto et. al.(2006), em um levantamento com comunidades rurais de Itabuna-BA encontrou resultados semelhante, o mastruz (ChenopodiumambrosioidesL.) e a erva-cidreira (Lippiaalba(Mill) N.E. Br.) foram as plantas mais citadas e também as que apresentaram maior número de usos terapêuticos. Tabela 2. Espécies em ordem decrescente de maior citadas no levantamento realizado com moradores da zona urbana de Campo Grande do Piauí, Piauí. Os usos referidos na tabela são os usos considerados principais. Os usos estão citados de forma literal como assim, foi citado pelos entrevistados.Fonte taxonômica: 1FRANCO e BARROS, 2006; 2FERRAZ et. al., 2006; 3ROQUE et. al., 2010; 4PINTO et. al.,2006; 5OLIVEIRA, 2008. (n=numero informantes que citou a espécie; VO= via oral; V.V= varias vezes ao dia; SOS= administrada ao sentir sinais e sintomas).

Nome Popular

Nome Científico

HORTELA

Mentha spp.4

ERVA CIDEIRA

n

Uso principal

Partes

Preparo

Administração

172 Gripe

Folha

Chá

VO, V.V

Lippia alba (Mill) NE. Br.1,4

147 Calmante

Folha

Chá

VO, SOS

CAPIM SANTO

CymbopogoncitratusStapf.1,4

116 Calmante

Folha

Chá

VO, SOS

EUCALIPTO

Eucalyptus spp. 1

110 Gripe

Folha

Chá

VO, VV

MALVA DO REINO

Malva Sylvestris L. 1

103 Tosse

Caule e folha

Lambedor

VO, 1 colher 3x/ dia

BOLDO

Plectranthusbarbatus3,5

89 Má digestão

Folha

Chá

VO, SOS

ERVA DOCE

FoeniculumvulgareMiller.4

67 Calmante

Semente

Chá

VO, SOS

MASTRUZ

ChenopodiumambrosioidesL1,3

59 Infecção

Folha

Cozido ao leite

VO, V.V

IMBURANA DE CHEIRO

Amburana cearenses AC Smith2,5

49 Gripe

Casca

Chá

VO, 1 colher 3x /dia

CANILINHA

N. I.

44 Gripe

Casca

Chá

VO, 1 colher 3x/ dia

MALVA SANTA

N.I.

40 Infecção

Folha

Chá

VO, 1 colher 3x/ dia

163


Educação, saúde e meio ambiente

AMEIXA

Ximenia americana L.1,2,3

38 Ferimento

Casca

Molho por 12hs

VO, 1 copo/dia e lava o local afetado

CAMOMILA

ChamomillarecutitaL.2

35 Calmante

Todas

Chá

VO, SOS

ARRUDA

RutagraveolensL.1,4

28 Cólica

Folha

Chá

VO, SOS

LARANJA

Citrus aurantium L. 1

26 Dor de bar-

Casca do fruto

Chá

VO, SOS

NOZ-MOSCADA

MyristicafragansHoutt.4

26 Hipertensão

Fruto

Chá

VO, SOS

ROMÃ

Punica granatum L.1

26 Garganta

Casca do fruto

Seca

Mastigara vontade

BABOSA

Aloe vera (L.) Burm. f.4

23 Ferimento

Gel

in natura

Aplicar no local afetado

COENTRO

Coriandrumsativum L.5

21 Dor de bar-

Semente

Chá

VO, SOS

LIMÃO

Citruslimonum L. 1

20 Gripe

Fruto

Sumo

VO, 1colher de sumo com mel, 3x dia.

riga

riga

Fonte: (LEAL, 2016)

Observa-se que majoritariamente os principais usos atribuídos às plantas mais citadas são transtornos menores. Que numa definição simplificada são afecções agudas, que não impede o doente de realizar suas atividades normais, se não, por um curto período de tempo. Portanto, pode ser uma porta para consumo inadequado de substancias que podem ser nocivas ao longo do tempo. Como objetiva-se identificar promissoras espécies medicinais. Plantas que apresentam uso terapêutico divergente podem ser plantas que apresentam um potencial para ações múltiplas ou nenhuma, visto que as pessoas não concordam em seu uso. Para minimizar esse risco utilizase o índice de concordância (CUP e CUPc). Quanto maior o valor da porcentagem de Concordância Corrigida quanto aos usos principais para cada uma das espécies (CUPc), maior é o número de informantes que citou o uso principal para a espécie, portanto com maior concordância da população na indicação deste uso. O CUPc é um índice de fidelidade quanto ao uso principal referido pelos informantes para a espécie, ele pode indicar quais as espécies mais promissoras para a realização de estudos farmacológicos relativos aos usos indicados pela população. 164


Educação, saúde e meio ambiente

Os valores percentuais de concordância corrigida quanto aos usos principais para cada uma das espécies (CUPc) maiores que 20% em ordem decrescente são: Hortelã (Menthaspp), 85,5%; Erva cidreira (Lippia alba (Mill) NE. Br), 62,8%; Boldo (Plectranthusbarbatus), 40,7%; Capim Santo (CymbopogoncitratusStapf), 33,7%; Eucalipto (Eucalyptus spp.), 24,4; Erva doce (FoeniculumvulgareMiller ), 21,5% e Camomila (ChamomillarecutitaL.), 20,3%. Resultado semelhante encontrado por Aguiar e Barros, 2012 em um estudo com comunidades rurais de Demerval Lobão, Piauí, onde a espécies com maior CUPc foi o Boldo (Plectranthusbarbatus.). Observa-se na (figura 3) que a Camomila (Chamomilla recutita L) apresenta 100% de CUP e cai para 20,3% CUPc. Esta apresentou apenas um uso/preparo/administração, o CUP tem por objetivo conhecer dentre as citações da espécie qual é predominante, no caso a camomila atingiu o máximo, pois esta só foi indicação como calmante na forma de chá, via oral ao sentir sinais e sintomas (Figura 1). Já o CUPc corrigido confronta cada espécie com a espécie mais citada, ao ser confrontada com o numero de citações do Hortelã (Menthaspp) (Figura 3). A camomila (ChamomillarecutitaL.) que foi citada 35 vezes caiu considerando o Hortelã (Menthaspp.)172 vezes citado (tabela 2). Figura 3. Espécie mais citadas no levantamento na cidade de Campo Grande do Piauí, Piauí, Brasil. CUP=valor de concordância; CUPc= valor de concordância corrigido.

Fonte: (LEAL, 2016)

O índice de Valor de Usopara as espécies tem foco na importância das espécies para a comunidade local. Diferente do CUP, aqui se considera a razão de cada espécie, porem para com o total de entrevistados. Quanto maiores índices mais pessoas a citaram e por tanto, mais importante. Os valores de uso variaram de 0,66 a 0,02. Os maiores valor de uso foram para: Hortelã (Menthaspp), 0,63; Erva cidreira (Lippiaalba(Mill) NE. Br), 0,46; Erva doce (FoeniculumvulgareMiller), 0,3; Boldo(Plectranthusbarbatus),0,25; Capim Santo (CymbopogoncitratusStapf), 0,18; Camomila (ChamomillarecutitaL.), 20,3%; Malva Santa 165


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(Malva Sylvestris L.), 0,15; Eucalipto (Eucalyptusspp), 0,14; Romã (Punica granatum L.), 0,10; Coentro (Coriandrumsativum L) 0,06. As duas espécies que apresentaram maiores índices de CUPc também apresentaram maiores valores para o VU e maiores citação dos informantes. No entanto algumas espécie podem apresentar valor de CUPc adversos de VU, como é o caso de Romã (Punica granatum L.) com VU alto (0,10) e valor de CUPc baixo (8,4%) também a Malva Santa (NI) com VU alto 0,15 e o CUP baixo 6,97%. Figura 4. Índice de valor de uso para as espécies mais citadas no levantamento realizado na Cidade de Campo grande do Piauí, Piauí, Brasil.

Fonte: (LEAL, 2016)

Estas espécies apresentam importante valor para a comunidade sendo muito utilizada porem, para diversos fins, apresentando pouca concordância de uso. Pode não apresentar-se um índice de fidelidade que a justificara como promissoraplanta medicinal por apresentar baixa concordância quanto ao uso, por ter múltiplos usos ou não ter de fato ação nenhuma já que a concordância é mínima. A Caatinga é um bioma exclusivo do Brasil e é um dos biomas ameaçados de extinção. Ressaltando que a população deste bioma, na maioria, depende dos recursos naturais para o sustento das suas famílias e mesmo assim pouco se faz para direcionar estudos para região (ROQUE et.al., 2010). Das espécies citadas nas entrevistas identificou-se a(Amburana cearenses var. acreana) e tambéma Aroeira (Myracrodruon urundeuva)que estão na lista das espécies ameaçadas de extinção (BRASIL, 2008). Assim, apartir do Vus nota-se a importância destas espécies para a comunidade e reforça a necessidade de preserva-las.

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CONCLUSÃO Para esta região, há poucos trabalhos publicados, portanto, este sem duvida será um ponto de partida para futuros estudos sobre as espécies regionais. Através de CUPc e Vus percebemos o consentimento de uso de plantas com finalidade de cura ou alivio de doenças, isso implica em maior segurança quanto à relativa eficácia do uso proposto, relevantes para estudos farmacológicos e sua importância para a comunidade, sendo relevante trabalhos em prol de melhorar o cultivo destas. Demonstramos que as principais indicações são os transtornos menores. A partir da RDC 586/2013 compete também aos farmacêuticos, indicação para tais transtornos, para tanto é de suma importância que esta classe busque conhecer as espécies medicinais sua eficácia e indicação para melhor orientar a população quanto ao uso. Assim como vários estudos mostram usos abusivos dos MIP (medicamentos isentos de prescrição médica). Principal classe alopática para os transtornos menores, as plantas medicinais podem ser utilizadas também de forma abusiva pelas comunidades sem que ao menos se perceba, pois, os riscos podem ser pelo uso prolongado. REFERÊNCIAS 1. AGUIAR, L.C.G.G.; BARROS, R.F.M. Plantas medicinais cultivadas em quintais de comunidades rurais no domínio do cerrado piauiense (Município de Demerval Lobão, Piauí, Brasil). Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.14, n.3, p.419-434, 2012. 2. ALMASSY, A.A., LOPES, R.C., SILVA, F., ARMOND, C., CASALI, V.W.D. Folhas de chá – plantas medicinais na terapêutica humana, Editora UFV, 2005. 233p. 3. ARAÚJO, F. P. de; QUEIROZ, M. A. Enriquecimento da caatinga com plantas de umbuzeiro, 2012.p. 311-320. 4. BRASIL. Conselho Federal de Farmácia. Resolução n° 586, de 29 de agosto de 2013. Dispõe da regulamentação da prescrição farmacêutica e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília-DF, ago. 2013. 5. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo demográfico 2010. 2010. Disponível em:<http://www.cidades.ibge.gov.br> acesso em: nov/2015. 6. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Piauí: Campo Grande do Piauí. 2010. Disponível em:<http://www.cidades.ibge.gov.br> acesso em: nov/2015. 7. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Resolução RDC n° 48, de 16 de março de 2004. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos. Diário Oficial da União, Brasília-DF, mar. 2004. 7p. 8. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde. Brasília- DF, 59p. 2006. Disponível em: <http://www.saude.gov.br/bvs> acesso em: jun /2015. 9. BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde. Brasília- DF, 135p. 2009. Disponível em: <http://www.saude.gov.br/bvs> acesso em: jun/2015. 10. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Instrução Normativa nº 6, de setembro de 2008. 167


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EDUCAÇÃO AMBIENTAL E IMPLANTAÇÃO DE HORTA ESCOLAR REUTILIZANDO MATERIAIS NA UNIDADE ESCOLAR JOÃO JOSÉ RAMOS, EM CAMPO GRANDE DO PIAUÍ-PI Maria da Paz de Carvalho Leal1 Adriane Camila Batista de Sousa 2 Anangela Ravena da Silva Leal3 Simone Mousinho Freire4

RESUMO O presente trabalho teve como objetivo promover a educação ambiental dos alunos e da comunidade escolar através da produção de uma horta escolar reutilizando materiais na Unidade Escolar João José Ramos, em Campo Grande do Piauí-PI. O projeto foi desenvolvido com 48 alunos das turmas do EJA (III, IV, VI e VII etapas) e os gestores e professores da escola, colaboradores do projeto. Durante a execução do projeto trabalharam- se os conceitos de conservação do meio ambiente, reutilização de materiais, produção de hortaliças em pequenos espaços, produção de alimentos saudáveis e nutritivos sem utilização de agrotóxicos, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Após a realização das oficinas de educação ambiental foi feito a implantação da horta escolar a partir da reutilização de materiais como garrafas pets e pneus. O interesse e experiência relacionados ao labor com hortaliças foram positivos, além disso, a importância da educação ambiental na escola como uma forma de transmitir conhecimentos para a comunidade ficou bem clara, pois ao incentivar e produzir hortaliças saudáveis e nutritivas reutilizando materiais que iriam para o lixo, reduz-se a quantidade do mesmo e se transmite de forma sólida e envolvente a ideia da importância do desenvolvimento sustentável para a vida das pessoas nos diasatuais. Palavras-chave: Hortaliças, garrafas pets, pneus, conservação do meio ambiente e sustentabilidade

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Graduada em Agronomia – cmariadapaz@yahoo.com.br/ UESPI

2 Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Graduada em Ciências Biológicas. Mestranda em Ciência Animal - UFPI – acbsbio@gmail.com / UESPI - NEAD

3 Colaboradora. Graduada em Ciências Biológicas. Mestre em Ciência Animal anangelaravena@gmail.com / UESPI - NEAD 4 Coordenadora da especialização em Biodiversidade e Conservação. Doutora em Ciência Animal – simoneuespi@gmail.com / UESPI

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INTRODUÇÃO A horta escolar é um meio de tornar as aulas mais dinâmicas e proporcionar novas aprendizagens, onde os alunos aprendem a produzir seu próprio alimento e a conservar o meio ambiente a partir da reutilização de materiais a fim de confeccionar vasos para cultivo das hortaliças (BORBA, et al., 2013). Para Fernandes et al, 2013, a horta pode ser um laboratório vivo, que integra diferentes atividades didáticas, configurando assim um espaço em que o professor relaciona diferentes conteúdos, colocando em prática a interdisciplinaridade. Para Clemente e Haber (2012), as hortaliças podem ser produzidas em vasos confeccionados de garrafas pets e pneus usados, em espaços ociosos das casas, produzindo alimentos saudáveis e nutritivos, sem o uso de agrotóxicos, as mesmas, são pobres em calorias e ricas em água, fibras, vitaminas, minerais e fitoquímicos, substâncias bioativas que auxiliam na redução do risco de doenças como o câncer e doenças docoração. Segundo a Prefeitura Municipal de São José dos Campos (2008), uma horta em casa proporciona para quem a cultiva, satisfação em produzir seu próprio alimento, redução de gastos na produção de alimentos, reutilização de latas, garrafas pets e outras embalagens transformando-as em vasos e sementeiras, diminuindo a produção de lixo, e aproveitamento de espaços ociosos em varandas, quintais ejardins. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 em seu artigo 26 e § 7º, dispõe que os currículos do ensino fundamental e médio devem incluir a Educação Ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios (BRASIL, 1996). Cantinho e Silva (2015) descrevem a Educação Ambiental como uma filosofia de vida, em que o indivíduo tem consciência do uso dos recursos naturais e suas consequências para as demais espécies, diminuindo o desperdício dos recursos e mudando os hábitos usuais. O estudo teve como objetivo promover a educação ambiental dos alunos e da comunidade escolar através da produção de uma horta escolar reutilizando materiais.

MATERIAL EMÉTODOS Áreas de estudo

A presente pesquisa foi realizada na Unidade Escolar João José Ramos, escola da rede estadual de ensino, localizada no Bairro Km 80, em Campo Grande do Piauí-PI, no período de 14 de março a 25 de abril de 2016, com a gestão escolar, professores e com 48 alunos do turno noturno, das turmas do EJA (III, IV, VI e VII etapas) Os gestores e professores da escola foram colaboradores do projeto e participaram 170


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de todas as etapas e muito contribuíram para o desenvolvimento dele. Participaram da pesquisa a supervisora da rede estadual de ensino da cidade, o diretor titular, diretor adjunto e 8 professores da escola. Execução Os recursos necessários para realização do projeto foram: garrafas pet, pneus usados, arame, tesouras, regador confeccionado com materiais reutilizados, sementes e mudas de hortaliças, terra, esterco bovino curtido, pá, enxada, balde de plástico de 5 litros, copos descartáveis, rolos de papel higiênico e bandejas de ovos. Descrição das Etapas de Aplicação doProjeto •

Primeira Etapa – Visita na escola para conhecer sua estrutura física, observando se a mesma apresentava condições para a realização doprojeto.

Segunda Etapa – Reunião com os professores e funcionários da escola para apresentar o projeto, expondo os objetivos e a importância do mesmo para a conservação do meio ambiente, em seguida, um espaço para críticas e sugestões dos professores e funcionários que foram colaboradores do projeto foiaberto.

Terceira Etapa – Consistiu na apresentação do projeto aos alunos e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos participantes da pesquisa. Nesta etapa, foram realizadas também as oficinas, abordando temas como: a importância da conservação do meio ambiente, reutilização de materiais, produção de hortaliças em pequenos espaços, importância de se produzir alimentos saudáveis e nutritivos sem utilização de agrotóxicos, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, conforme as Figura 1 e Figura2.

Quarta Etapa – Consistiu na confecção dos vasos e suportes para a produção de hortaliças a partir da reutilização de materiais, implantação da horta vertical com garrafas pet e da horta no chão usando pneus, preparo do substrato para semear ou transplantar as mudas. Nesta etapa, os participantes da pesquisa conheceram os cuidados diários que eles devem ter para o adequado desenvolvimento da horta, dentre outras atividades envolvidas no processo de implantação da horta. As Figuras 3, 4, 5, 6, 7 e 8 ilustram algumas atividades desenvolvidas na implantação dahorta.

Quinta Etapa – Consistiu na aplicação de questionários, um exclusivo para os alunos e outro para a gestão escolar e os professores, a fim de avaliar o nível de aprendizagem e satisfação dos participantes para com oprojeto.

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Figura 1 - Oficina sobre produçãodehortaliças Figura 2 - Oficina sobresustentabilidadee empequenos espaços e desenvolvimentosustentável

Fonte:LEAL, 2016

Fonte: LEAL,2016

Figura 3- Produção de mudasdehortaliças

Figura 4 - Preparo dosubstrato

Fonte:LEAL, 2016

Fonte: LEAL,2016

Figura 5 - Confecção dahortavertical

Figura 6 - Horta vertical de garrafaspet

Fonte: LEAL,2016

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Fonte: LEAL,2016


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ra 7-Transplantio das mudas paraahorta Fonte:LEAL, 2016

Figura 8 - Irrigação dahorta

Figu-

Fonte: LEAL,2016

RESULTADOS E DISCUSSÃO Percebeu-se durante a execução das atividades relacionadas ao projeto o interesse da comunidade escolar para com os temas das oficinas de educação ambiental e a participação ativa destes em todas as etapas de implantação da horta escolar. Os participantes do projeto adquiriram novos conhecimentos e transmitiu a experiência que eles têm em sua bagagem cultural, havendo a interação entre pesquisadora e participantes do projeto. Analisando-se as respostas do questionário aplicado aos alunos, observou-se que 92% dos alunos preferem se alimentar de hortaliças, 6% preferem se alimentar de produtos industrializados e 2% se alimentam tanto de hortaliças e quanto de produtos industrializados. Assim, como se pode notar é do gosto de 94% dos entrevistados ter uma alimentação composta por hortaliças em suamesa. Em relação ao projeto ter despertado o interesse dos alunos para a produção de hortaliças em casa para o próprio consumo, 92% dos alunos afirmaram que querem produzi- las em suas moradas; e, para 8% dos alunos, o projeto não despertou o interesse deles em produzir as hortaliças em suas casas, como observado no Gráfico 1.

Gráfico 1 – Despertou o interesse dos alunos em produzir hortaliças para próprio consumo em casa? Fonte: LEAL, 2016 173


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Fernandes et al. (2013) realizaram uma pesquisa sobre a influência da horta escolar na vida de crianças entre 3 e 10 anos em uma escola de rede particular de ensino de Uberlândia-MG, em que os pais, ao serem questionados em relação ao interesse dos alunos em implantar uma horta em casa, responderam majoritariamente de forma positiva e 77% deles afirmaram que as crianças quiseram fazê-la. A implantação de hortas é uma empresa interessante; não somente para crianças, que são essencialmente curiosas. Neste trabalho, cujos alunos entrevistados foram jovens e adultos, o interesse e experiência relacionados ao labor com hortaliças também foram positivos. De acordo com as respostas do questionário, 81% dos respondentes afirmaram que já plantou ou planta algum tipo de hortaliça para próprio consumo, sendo que as hortaliças mais produzidas por eles em casa foram: coentro, pimentão, pimenta, tomate, alface, cebolinha, feijão, abóbora e melancia. Quando questionados se já tinham reutilizado algum material em sua casa, 75% dos alunos responderam que sim. Dos alunos que participaram da pesquisa, 60% afirmaram que já reutilizaram materiais para o plantio de hortaliças nos espaços ociosos de sua casa (Gráfico 02).

Gráfico 2 – Já plantou hortaliças em recipientes feitos de materiais reutilizados nos espaços ociosos de sua casa? Fonte: LEAL, 2016

Além disso, 81% dos alunos que participaram da pesquisa disseram que a falta de conhecimento é responsável pela degradação do meio ambiente, como observado no Gráfico 2. A Educação Ambiental é uma poderosa ferramenta para a conservação dos recursos naturais e deve ser trabalhada em todas as modalidades de ensino. A Lei 9.795/99 estabelece que a educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal (BRASIL,1999).

Gráfico 3 – A falta de conhecimento é responsável pela degradação do meio ambiente? Fonte: LEAL, 2016

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Outro benefício apresentado pelo projeto foi o reconhecimento de 98% dos alunos se sentirem responsáveis pela conservação do meio ambiente (Gráfico 04). Para Pessoa et al., (2014), a horta escolar proporciona uma ligação mais direta com o meio ambiente, onde a natureza é compreendida como um todo dinâmico, tendo suas interações e sendo o ser humano parte integrante e agente das transformações do mundo em que vive.

Gráfico 4 – Você se sente responsável pela conservação do meio ambiente? Fonte: LEAL, 2016

O projeto conseguiu atender às expectativas dos alunos, conforme visualizado no Gráfico 5. Zborowskiet al. (2014), em seu trabalho: “Educando com a horta”, constaram que a importância de se reutilizar os materiais que muitos consideram lixo e cultivar o seu alimento é um grande aliado na educação e formação dos jovens da sociedade, ensinando-lhes os valores de preservação, conservação esustentabilidade.

Gráfico 5 – O projeto escolar reutilizando materiais correspondeu às expectativas dos alunos? Fonte: LEAL, 2016

Todos os colaboradores foram unânimes em afirmar que a horta escolar contribuiu para a melhoria da aprendizagem escolar, por meio do desenvolvimento de técnicas de produção, cuidados essências com a qualidade dos produtos e consumo dos alimentos. Os colaboradores também foram unânimes em assegurar que a horta escolar é um meio de tornar as aulas mais dinâmicas e incentivar a troca de experiências e interação entre os indivíduos. Todos os colaboradores também afirmaram que preferem se alimentar de hortaliças ao invés de se alimentar de produtos industrializados. Pimenta e Rodrigues (2011) obtiveram resultados significativos em seu Projeto Horta Escola, pois os mesmos perceberam a contribuição no ensino e aprendizagem a partir da implantação da horta, tanto para inserção ao consumo das hortaliças como para uma consciência ambiental e sustentável, ficando o educador responsável por buscar informações específicas e executar as atividades práticas com os alunos. 175


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Quando questionados sobre o interesse em produzir hortaliças em casa para consumo próprio, 91% dos colaboradores responderam que sim, conforme no Gráfico 6.

Gráfico 6 – Despertou o interesse dos colaboradores em produzir hortaliças para próprio consumo em casa? Fonte: LEAL, 2016 Para 64% dos colaboradores, o cultivo de hortaliças não é novidade, pois os mesmos afirmam que já haviam plantado ou planta algum tipo de hortaliças para próprio consumo em sua casa, dentre todas, as mais produzidas por estes colaboradores foram: coentro, cebolinha, alface, tomate, pimenta, pimentão, abóbora e melancia. A produção de hortaliças é uma atividade prazerosa e saudável, pois o produtor sabe que está consumindo um alimento saudável e nutritivo, livre de agrotóxicos. Segundo Clemente e Haber (2012), a alimentação saudável é um dos fatores determinantes do envelhecimento saudável, reduzindo o risco de adoecer e proporcionando elevada função física e mental e uma vidaativa. Dos colaboradores, 82% já reutilizam algum material em sua casa, sendo que destes, 45% já reutilizou material para servir de recipientes para a produção de hortaliças nos espaços ociosos de sua casa. Além disso, 91% dos colaboradores mencionaram que a falta de conhecimento é responsável pela degradação do meio ambiente, sinalizando que eles estão valorizando atividades de educação ambiental na escola e acreditam no poder da conscientização para a melhoria do meio ambiente. Buratto et. al. (2011) trabalharam com hortas em garrafas pets com alunos no Ensino Fundamental em Pato Branco, Paraná, e obtiveram impactos positivos na formação dos alunos tanto no setor ambiental quanto educacional com a reutilização de materiais recicláveis reduzindo assim a degradação do meio ambiente. Quanto ao assunto sobre a conservação do meio ambiente, todos os colaboradores afirmaram se sentir responsáveis pela conservação do meio ambiente. Porém, quando questionados se o projeto horta escolar reutilizando materiais correspondeu a suas expectativas, os colaboradores tiveram opiniões distintas, como observado no Gráfico 7. Borba et al. (2013), afirmam que a Educação Ambiental desenvolvida na escola envolve estratos como educação, escola e sociedade, podendo se propagar na sociedade, dependendo das estratégias utilizadas pelos interventores. 176


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Gráfico 7 – O projeto horta escolar reutilizando materiais correspondeu às expectativas dos colaboradores? Fonte: LEAL, 2016

CONCLUSÃO O projeto foi de grande valia, pois não somente os alunos se conscientizam com as questões ambientais, mas todos os envolvidos, que se sentiram responsáveis pela conservação do meio ambiente e por buscar o desenvolvimento sustentável. A horta implantada não tem retornos financeiros, pois as hortaliças produzidas são destinadas à merenda escolar; no entanto, o projeto se mostrou vantajoso, uma vez que os participantes dele serão multiplicadores de ideias. E, nesse sentido, os que fizeram parte deste projeto, se tornaram aptos a disseminar as técnicas de produção das hortaliças entre os familiares e pessoas próximas de sua comunidade. A importância da educação ambiental na escola como uma forma de transmitir conhecimentos para a comunidade ficou bem clara. Assim, ao incentivar e produzir hortaliças saudáveis e nutritivas reutilizando materiais que iriam para o lixo, reduz-se a quantidade de lixo produzido e transmite-se de forma sólida e envolvente a ideia da importância do desenvolvimento sustentável para a vida das pessoas nos dias atuais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORBA, S. N. S.; et al.Promovendo a educação ambiental e sustentabilidade através da prática da agricultura de base ecológica. 2013. Disponível em: <http://periodicos. ufsm.br/revistadireito/article/view/8390/5080#.VzaBA1Lp_bo> Acesso em: 10 de mai. 2016 BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 28 abr. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em: 02 de nov. 2015. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 20 Dez. 177


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1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 07 de dez. 2015. BURATTO, A. P.; et al. Hortas em garrafas pet: uma alternativa para a educação ambiental e sustentabilidade. Disponível em: <http://revistas.utfpr.edu.br/pb/index.php/SysScy/article/view/1205/835> Acesso em: 10 de nov. 2015. CANTINHO, K. M. C. R.; SILVA, G. C. M. Ensino de Educação Ambiental. Teresina: FUESPI, 2015. CLEMENTE, F. M.T.V.; HABER, L. L. Hortas em Pequenos Espaços. Brasília: Embrapa, 2012. FERNANDES, M. O.; et al. Horta na escola: incentivando hábitos saudáveis de alimentação em uma escola de Uberlândia-MG. Em Extensão, Uberlândia, v.12, n. 2, p. 75-83, jul. / dez. 2013 PESSOA, E. B.; et al. Contribuição da Horta na Escola no Processo de Ensino Aprendizagem. 2014. Disponível em: <http://editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/Modalidade_2datahora_22_05_2014_16 _09_33_idinscrito_876_d313d05a55b179a839fd8008397027a7.pdf> Acesso em: 10 de mai. 2016 PIMENTA, J. C.; RODRIGUES, K. S. M. Projeto Horta Escola: ações de educação ambiental na escola centro promocional todos os santos de Goiânia (GO). In: SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E TRANSDISCIPLINARIDADE, 2. Anais...UFG/IESA/NUPEAT, 2011 Goiânia, p 8-9 PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS. Hortas Urbanas. 2008. Disponível em: <http://www.sjc.sp.gov.br/media/179424/cartilha_hortas_urbanas_out2010_alt.pdf> Acesso em: 03 de dez. 2015 ZBOROWSKI, C. A.;et al. Educando com a horta: Plantando a semente do amanhã. 2014. Disponível em: <http://eventoscientificos.ifsc.edu.br/index.php/sepei/sepei2014/paper/viewFile/769/574> Acesso em: 10 de mai. 2016

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ESTRATÉGIAS E RECURSOS DIDÁTICOS NO ENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA, EM DUAS ESCOLAS DE CURRAL NOVO-PI NAIANE DO NASCIMENTO CARVALHO1 ANANGELA RAVENA DA SILVA LEAL 2 SIMONE MOUSINHO FREIRE 3 ADRIANE CAMILA BATISTA DE SOUSA 4

RESUMO Diante da importância de se ter um ensino-aprendizagem de qualidade, e tendo em vista o mundo globalizado em que estamos inseridos, surge a necessidade de inovar e renovar a cada dia as estratégias metodológicas, procurando utilizar as novas tecnologias, cada vez mais acessíveis, com recursos didáticos que venham beneficiar esse processo de ensino-aprendizagem. Do contrário, correremos o risco de sermos atropelados pela modernização. Partindo dessa realidade, o presente trabalho visa investigar as estratégias e os recursos didáticos utilizados pelos professores de Ciências e Biologia das duas escolas da Cidade de Curral do Piauí, procurando entender a diversidade dessas ferramentas e sua importância dentro da prática pedagógica. Para tal, estes professores foram entrevistados através de um questionário com perguntas sobre sua rotina de trabalho em sala de aula, incluindo recursos e metodologias utilizadas. Observou-se que os professores costumam utilizar as estratégias mais tradicionais de ensino, como aula teórica, seminários e atividades escritas. E que, apesar das escolas oferecerem os recursos didáticos necessários para que o professor possa dinamizar suas aulas, e que os mesmos reconheçam que os recursos áudio visuais são grandes aliados para uma aula mais satisfatória e eficiente, nem todos os professores utilizam os recursos oferecidos pela escola para tal. Palavras chaves: ensino- aprendizagem, metodologia e prática pedagógica. 1

Formada em Ciências Biológicas, pela UFPI. naianne_fagner@hotmail.com

Colaboradora. Graduada em Ciências Biológicas. Mestre em Ciência Animal anangelaravena@ gmail.com / UESPI - NEAD / UESPI – NEAD 2

Doutora em Ciência Animal. Chefe do Laboratório de Zoologia e Biologia Parasitária – simoneuespi@gmail.com/ UESPI 4 Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Graduada em Ciências Biológicas. Mestranda em Ciência Animal / UFPI – acbsbio@gmail.com / UESPI – 3

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INTRODUÇÃO A qualidade do processo ensino aprendizagem vem sendo alvo de debates e pesquisas, tendo em vista sua importância na formação de cidadãos preparados para atuar ativamente na sociedade. Dentro dessa perspectiva as estratégias e ferramentas utilizadas pelos agentes desse processo são imprescindíveis e determinantes para qualidade ou fracasso do mesmo, pois em tempos de informação globalizada que impõe a qualidade do ensino, se faz necessária que o profissional docente esteja sempre inovando. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 2006), diversas são as estratégias que propiciam um relacionamento dialógico em sala de aula, e entre elas, podem-se destacar algumas, como: experimentação, estudo do meio, desenvolvimento de projeto, jogos, seminários, debates e simulação. A palavra “estratégias” está estreitamente relacionada com o ensino. Ensinar é uma arte e o professor precisa envolver o aluno fazendo-o encantar pelo saber, além de despertar a curiosidade e a criatividade, objetivando sempre a aprendizagem do aluno (PETRUCCI E BATISTON, 2006. P. 263). Já os recursos didáticos, são todos os materiais utilizados para auxiliar no ensino aprendizagem dos conteúdos didáticos à serem aplicados (SOUZA, 2007). Lecionar Ciências e Biologia é um desafio a ser superado a cada dia, o professor deve estar preparado para trabalhar conteúdos específicos que abrange varias áreas de ciências, trabalhar a interdisciplinaridade, buscando atingir os verdadeiros objetivos de se ensinar Ciências e Biologia. Além disso, o professor precisa enfrentar as crenças religiosas que confrontam a Ciência, a precariedade do ambiente escolar, principalmente em escolas públicas de pequenas cidades onde não existe um laboratório de Ciências, além do desinteresse do aluno. Esse professor é desafiado a despertar no alunado o interesse pelos conteúdos abordados, tornandoos participativos, investigadores e construtores do seu próprio conhecimento. No ensino de Ciências e Biologia, muitas vezes visto como meros conteúdos extensos, obrigatórios dentro da sala de aula e dissociado do cotidiano, esse “professor inovador” aliado às novas tecnologias tem o desafio de mudar a visão dos aprendizes em relação aos conhecimentos de Ciências e Biologia, buscando relacionar o conhecimento científico e realidade do seu alunado, despertando-os assim, para o verdadeiro objetivo desse ensino. Para Moura e Vale (2003), os professores devem realizar atividades que valorizem espontaneidade dos alunos e seus conceitos cotidianos, permitindo que os mesmos construam noções necessárias para compreensão da Ciência. O professor pode utilizar estratégias bastante simples, mas que exijam a participação efetiva do aluno (PCN, 2006). Partindo dessas considerações procurou-se investigar as práticas pedagógicas dos professores de Ciências e Biologia da cidade de Curral Novo do Piauí, as estratégias e os recursos didáticos utilizados pelos mesmos. Buscando-se conhecer melhor a prática pedagógica desses profissionais, suas dificuldades e necessidades, e os instrumentos que são utilizados no desenvolvimento de seu trabalho. 180


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O objetivo desse trabalho é investigar as práticas pedagógicas dos professores, destacando as estratégias e os recursos didáticos utilizados no ensino de Ciências e Biologia. MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa realizada é de natureza qualitativa e quantitativa. Sendo considerada qualitativa a pesquisa que busca compreender um fenômeno específico, através de descrições, comparações e interpretações, ao invés de estatísticas, regras ou outras generalizações. Nesse tipo de pesquisa observa-se uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não se pode traduzir em números (MINAYO, 2007). Enquanto que a pesquisa quantitativa requer o uso de recursos e técnicas estatísticas como percentagem, média, mediana e etc. Os resultados precisam ser replicados (MINAYIO 2007; LAKATOS et al 1986). A pesquisa foi realizada nas Unidades Escolares: São Francisco de Assis e José Cícero de Morais. A U. E. São Francisco de Assis fica localizada na Rua 7 de setembro S/N, centro, Curral Novo do Piauí e oferece o Ensino Médio (nas modalidades regular e EJA). A U. E. José Cícero de Morais localiza-se na Avenida Boa Esperança S/N, centro, Curral Novo do Piauí, e oferece o Ensino Infantil, Ensino Fundamental (1º ao 9º ano) e a EJA. O público alvo da pesquisa foram professores que atuam nas áreas de Ciências e Biologia dessas duas escolas. Como instrumento de pesquisa adotou-se um questionário com quatorze (14) questões objetivas e descritivas, aplicado a oito (8) professores que atuam nas áreas de Ciências e Biologia, sendo seis do ensino fundamental do 6º ao 9º ano e dois que lecionam no ensino médio. Para Freitas et. al. (2008. p.1), quando se elabora um questionário, fabrica-se um captador, uma ferramenta que nos coloca em contato com aquele que responde. A pesquisa também foi fundamentada em referências teóricas relacionadas às práticas pedagógicas no ensino de Ciências e Biologia. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os gráficos a seguir mostram os meios e as ferramentas utilizados pelos professores de Ciências e Biologia, de duas escolas da cidade de Curral Novo do Piauí, no desenvolvimento de suas aulas, assim como a diversidade dos recursos que as escolas dispõem para dar suporte ao trabalho desses profisionais.

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Educação, saúde e meio ambiente

Figura 1. Estratégias usadas pelos professores das duas escolas de Curral NovoPI no desenvolvimento de suas aulas

Estratégias de ensino Estratégias de ensino 8 7 6 5 4 3 2 1 0 atividades escritas

aula teórica

aula prática

debates

seminários

aula de campo

Fonte: próprio autor.

Figura 2 - Recursos didáticos que as duas escolas de Curral Novo-PI disponibilizam

Recursos didáticos que a escola dispõe 8 7 6 5 4 3 2 1 0 data show

quadro acrílico

Fonte: próprio autor.

182

livro didático

TV

DVD

aparelho de som


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Figura 3 - Recursos didáticos que os professores das duas escolas de Curral Novo-PI costumam utilizar em suas aulas

Recursos didáticos utilizados 8 7 6 5 4 3 2 1 0 data show

quadro acrílico

livro didático

TV

aparelho de som

DVD

outros

Fonte: próprio autor. Quando perguntados sobre a qualidade dos recursos didáticos disponibilizados pela escola, 6 professores responderam que consideram bons e 2 professores consideram razoáveis. Quadro 1: Os recursos audiovisuais melhoram a qualidade de sua aula? Professor A

Sim, torna a aula mais atrativa despertando a curiosidade do educando.

Professor B

Sim, como eles tornam as aulas mais dinâmicas e atraentes, despertam mais o interesse dos alunos pelos conteúdos abordados, o que facilita a compreensão dos mesmos.

Professor C

Com certeza. Além da atenção geral e o leque de informações, a aprendizagem é facilitada. A aula fica mais atrativa e a qualidade eficaz.

Professor D

Sim.

Professor E

Sim. Ajuda no conhecimento e desempenho do aluno nas atividades escolares.

Professor F

Sim.

Professor G

Sim. Torna a aula mais atrativa e chama mais a atenção dos alunos, por isso melhora a qualidade do ensino.

Professor H

Sim. Chama mais a atenção do aluno ajudando-o a assimilar melhor o que está sendo estudado.

Fonte: próprio autor

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Educação, saúde e meio ambiente

Quando perguntados, sobre a qualidade do livro didático adotado pela escola, 7 professores responderam que consideram bom e apenas um considera razoável. Foi perguntado aos professores quais as principais dificuldades que enfrentam no ensino de Ciências e Biologia, suas respostas estão no quadro abaixo. Quadro 2 - Principais dificuldades que enfrentam no ensino de Ciências e Biologia Professor A

Desinteresse dos alunos e os conflitos do ensino de Ciências com a cultura religiosa local, acarretando descredibilidade da disciplina.

Professor B

Principalmente o desinteresse dos alunos pelos estudos, seguido da falta de estrutura pedagógica como capacitação específica, laboratório de ciências e etc.

Professor C

Falta de recursos didáticos, desinteresse dos alunos, falta de um laboratório para expandir a curiosidade dos alunos em aulas práticas. Isso com certeza despertaria o alunado como um todo.

Professor D

Alunos desinteressados e salas superlotadas.

Professor E

Falta de um laboratório de Ciências.

Professor F

Falta de um laboratório de Ciências.

Professor G

Desinteresse dos alunos e falta de recursos.

Professor H

Falta de um laboratório de Ciências e falta de acompanhamento da família.

Fonte: próprio autor. Em se tratando das ações que a escola desenvolve para melhorar o trabalho dos professores, 2 professores da escola Estadual disseram que a única ação desenvolvida são os encontros pedagógicos. Já os 6 professores da Escola Municipal disseram que a escola desenvolve encontros pedagógico e palestras de auto estima. Todos os professores entrevistados (100%), afirmaram que o planejamento em sua escola é realizado a cada dois meses, ou seja, o planejamento é bimestral. O quadro abaixo mostra a justificativa dos professores quanto a considerarem importante o planejamento.

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Quadro 3 - Importância do planejamento Professor A

Sim, pois orienta e direciona as atividades em sala de aula, mantendo o nível de organização do profissional.

Professor B

Sim, planejar com antecedência o que vai ser trabalhado tem muito mais chances de dar certo do que quando é improvisado, ou quando simplesmente segue o livro didático.


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Professor C

Sim, principalmente quando focamos as dificuldades em determinadas salas e a troca de experiência nos ajuda a conter e manter o controle necessário.

Professor D

Sim. Pois organizam o nosso trabalho.

Professor E

Sim. São muito importantes para o sucesso do nosso trabalho.

Professor F

Sim. Ajudam na organização pedagógica do professor, há interação com os colegas de trabalho.

Professor G

Sim, porque o planejo junto com outros professores da mesma área e debatemos idéias e trocamos experiências e listamos os conteúdos a serem trabalhados no bimestre.

Professor H

Sim. É através dele que organizamos nossas atividades e buscamos a melhor forma desenvolve-las.

Fonte: próprio autor. Metade dos professores entrevistados planeja suas aulas semanalmente, enquanto a outra metade as planeja diariamente. Sabe-se que quando o conteúdo didático pode ser mostrado para os alunos na prática, eles conseguem assimilá-lo melhor, porque é visto como algo inserido no seu cotidiano. Os professores de Ciências e Biologia da cidade de Curral Novo do Piauí, no desenvolvimento de seu trabalho usam basicamente de estratégias mais tradicionais, como aula teórica e seminários, já aulas práticas e de campo, que são estratégias importantes para o ensino de Ciências e Biologia levando os alunos a entender que os processos biológicos não estão distantes de sua realidade, são as estratégias menos adotadas pelos professores. É certo que as escolas não contam com o auxílio de um Laboratório, mas de acordo com os PCNs (2006), “mesmo que a escola não disponha de um Laboratório é possível realizar atividades relacionadas às experimentações”. E quanto às aulas de campo os PCNs (2006) afirmam: “O uso de espaços além da sala de aula é interessante para o aprendizado de Biologia... podendo conduzir uma maior efetividade do aprendizado”. Os recursos didáticos são instrumentos de trabalho importantes que auxiliam os professores no desenvolvimento de suas atividades escolares, e, portanto a escola tem a obrigação de disponibilizar para esses profissionais recursos diversificados e de qualidade. No que diz respeito a esses instrumentos pode-se observar que as escolas oferecem pelo menos o mínimo de recursos didático possíveis para instigar o professor a inovar e desenvolver sua criatividade dentro de suas aulas. Esses recursos vão desde os tradicionais como quadro e livro didático, a os audiovisuais como data-show, TV, DVD e também aparelho de som. Mas ainda é notório que o uso de recursos tradicionais supera os demais, o que pode tornar as aulas monótonas e pouco prazerosas, chegando muitas vezes a não atingir os verdadeiros objetivos a serem 185


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alcançados. Como afirma Pinho (2005), o ensino “enciclopédico”, de simples memorização não traz significado para a criança ou adolescente e, em consequência, não promove a construção do conhecimento. O trabalho docente é uma atividade complexa e sistemática que não se restringe à sala de aula e um ponto crucial dentro dessa complexidade é o planejamento escolar, pois todas as demais atividades giram em torno do mesmo. Sendo assim, o planejamento escolar é uma tarefa do professor que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua organização e coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino (LIBÂNIO, 1994, p. 221). Todos os professores que participaram da pesquisa consideram importante o planejamento escolar, concordando com as palavras de Libânio (1994), que diz: “O planejamento é um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social.” CONCLUSÃO De acordo com os resultados obtidos na pesquisa, conclui-se que as estratégias tradicionais, como aula teórica, seminários e atividades escritas, são utilizados por todos os professores entrevistados. Já aula prática, debates e aula de campo não são adotados por todos os eles. As duas escolas, participantes da pesquisa, disponibilizam pelo menos o mínimo de recursos didáticos necessários para que o professor possa inovar e dinamizar suas aulas. Os recursos didáticos utilizados por todos esses professores são o quadro acrílico e o livro didático, o data show é utilizado apenas por 5 desses professores, e a TV, DVD e aparelho de som é usado apenas por 3 deles. Apesar dos avanços tecnológicos e de concordarem que os recursos áudio visuais são grandes aliados para uma aula mais satisfatória e eficiente, nem todos os professores utilizam de todos os recursos oferecidos pela escola. REFERÊNCIAS SOUZA, S. E. O Uso de recursos didáticos no ensino escolar. I encontro de pesquisa em educação, IV jornada de Prática de Ensino, XIII semana de Pedagogia na UEM. KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia, 4ª Edição, Editora USP, São Paulo, 2004. KRASILCHIK, M. O Professor e o Currículo das Ciências. São Paulo. EPU e EDUSP, 1987. FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam, 45ª edição, Editora Cortez, São Paulo, 2003. 186


Educação, saúde e meio ambiente

LIBÂNIO, J. C. Didática. São Paulo. Editora Cortez, 1994. PILLETI, C. Didática Geral. São Paulo, Ática, 1986. MOURA, G. R. S; VALE J. M. S. do. O ensino de Ciências na 5ª e na 6ª séries da escola fundamental. In: NARDI, R. (Org.). Educação em Ciências da pesquisa a prática docente. 3. Ed. São Paulo: Escrituras, 2003. p. 135 – 143. PINHO, K. E. P. e LEPIENSKI. L. M. Recursos didáticos no ensino de Biologia e Ciências. (online). D` AMBRÓSIO, U. Educação Matemática: da Teoria à Pratica. Campinas: Papirus, 2001. MORAN, J. M; O Vídeo na Sala de Aula; Artigo publicado na revista Comunicação & Educação. São Paulo, ECA-Ed. Moderna, [2]: 27 a 35, jan./abr. de 1995. PLÁCIDO, M. E. dos S. et.al; Educação, Cidadania e Identidade: A Inserção dos Recursos Tecnológicos no Contexto Educacional: Desafios e Perspectivas do Professor no Mundo da Leitura; Conferência Internacional: Educação, Globalização e Cidadania: Novas Perspectivas da Sociologia da Educação; João Pessoa: 2008 BRASIL. PCN+. Ensino Médio: Orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Vol. Ciências da natureza , matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC/semtec 2002. DE FARIA, N. IN: LABES EMERSON MOSÉIS, questionário: do planejamento à aplicação na pesquisa. Ed. Grifos, Chapecó, 1998, p. 12. MAYER, R. The promise of multimedia learning: using the same instructional design methods across different media. Learning and Instruction 13 (2003), 125–139, Pergamon. BRASÍLIA : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. 135 p. (Orientações curriculares para o ensino médio ; volume 2).Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias / Secretaria de Educação Básica. PETRUCCI, V. B. C; BATISTON, R. R. Estratégias de ensino e avaliação de aprendizagem em contabilidade. In: PELEIAS, I. R. (Org.) Didática do ensino da contabilidade. São Paulo: Saraiva, 2006.

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Educação, saúde e meio ambiente

CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO DE PLANTAS MEDICINAIS NA COMUNIDADE CAPIM NO MUNICÍPIO DE QUEIMADA NOVA-PI ODINEY BRITO DE SOUSA ANANGELA RAVENA DA SILVA LEAL ADRIANE CAMILA BATISTA DE SOUSA

RESUMO O uso de plantas medicinais por comunidades tradicionais constitui a principal forma de populações tratarem diversas enfermidades. Este estudo teve por objetivo realizar o levantamento das espécies medicinais que são utilizadas pela população da Comunidade rural Capim, em Queimada Nova – PI. Para a pesquisa houve a aplicação de15questionários semiestruturados, com questões sobre as espécies, indicações terapêuticas, partes utilizadas e formas de uso.Identificadas pelo nome científico e separadas por famílias botânicas, foram citadas 24 espécies distribuídas em 14 famílias botânicas. Houve predomínio das famílias Fabaceae, 20%das espécies e Lamiaceae com 10%.Nas formas de preparos citadas, o chá se destaca com a decocção (16 spp.) e infusão (13 spp), sendo a parte mais utilizada para preparo fitoterápico a casca (44%). A busca por conhecimento etnobotânico, principalmente em comunidades tradicionais, se faz fundamental para elaboração de estratégias voltadas para a conservação da diversidade biológica.

PALAVRAS-CHAVE: Conhecimento tradicional. Plantas medicinais. Biodiversidade.

INTRODUÇÃO O conhecimento tradicional e o uso de plantas para as mais variadas utilidades, desde o uso medicinal até a produção de energia, é algo presente na vida do homem desde os seus primórdios, principalmente em comunidades rurais, onde o conhecimento cultural é transmitido oralmente de gerações a gerações. Esse conhecimento popular, herdado culturalmente é utilizado no dia-a-dia das pessoas. A esse saber do povo, essa relação com plantas de forma empírica é denominada etnobotânica (PASA E ÁVILA, 2010). Essa se caracteriza pelo estudo das inter-relações entre humanos e plantas em sistemas dinâmicos(SOLDATI, 2013). Apesar de ser uma disciplina nova, tem sido praticada por muitos cientistas, que a valorizam e a reconhecem como tendo um papel relevante no desenvolvimento dos povos (HAMILTON et al., 2003). Segundo Hanazaki (2006), “abordagens etnobotânicas podem fornecer respostas importantes tanto para problemas de conservação biológica como para questões direcionadas para o desenvolvimento local”. Portanto, o conhecimento tradicional por parte dos indivíduos de comunidades tradicio189


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nais serve como enriquecimento para o estudo da biodiversidade e conservação e também o uso sustentável de espécies identificadas por meio de estudo etnobotânicos (BORGES E PEIXOTO, 2009). O registro de conhecimentos de plantas medicinais é fundamental para a perpetuação desse conhecimento na comunidade, assim como uma forma de resguardar espécies usadas para esse fim, conservando-as e preservando-as. O conhecimento tradicional pode contribuir para a conservação da variedade biológica (HANAZAKI E GIRALDI, 2010). A existência de poucos trabalhos voltados para o conhecimento tradicional e etnobotânico no Brasil e, principalmente no estado do Piauí foi a inspiração maior dessa pesquisa. Novas abordagens para o conhecimento da biodiversidade botânica do estado, sobretudo voltado para plantas medicinais, é o caminho para possíveis estratégias de conservação dessa biodiversidade no bioma caatinga. Este, apresenta uma grande variedade de fisionomias e uma boa diversidade biológica (MMA, 2002). Em virtude disso, o levantamento de espécies vegetais importantes na vida das comunidades será incentivo para estudos que visem à conservação de toda a diversidade biológica encontrada no Piauí, no seu principal bioma: a caatinga. Estudos etnobotânicos no semi-árido brasileiro, caracterizado pela vegetação e climas típicos da Caatinga, são ainda muitos escassos, o que reflete a grande falta de interesse pelas florestas secas, deixando de lado um grande acervo biológico (ALBUQUERQUE E ANDRADE, 2002). O presente estudo teve por inspiração a tentativa de enriquecer esse campo de pesquisa, identificando espécies utilizadas como medicinais por moradores da comunidade rural Capim no munícipio de Queimada Nova do Piauí, a fim de fomentar outros estudos nessa área.

MATERIAL E MÉTODOS Caracterização da área de estudo A pesquisa foi realizada na comunidade Capim (8°20’41.3”S 41°25’43.2”W), localizada a 36 km da sede do município a qual corresponde: Queimada Nova, estado do Piauí, (Figura 1). O município possui uma população estimada de 8.796, sendo mais de 7600 da zona rural, aproximadamente 87% dos habitantes. Com densidade demográfica de 6,32 hab/km2. (IBGE, 2010). O solo da região é classificado como Latossolo Vermelho-amarelo associados a solos litólicos e podzólicos vermelho-amarelo eutróficos (IBGE, 2002). O território apresenta um clima tropical semiárido quente, com duração do período seco de sete a oito meses baixo índice pluviométrico e vegetação típica da caatinga, do tipo arbórea

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Educação, saúde e meio ambiente

e arbustiva (IBGE, 2002). Figura 1 -Localização da área de estudo

Fonte: http://www.cidadeverde.com/vivapiaui/queimadanova/. Acesso em 10 de abril de 2016.

Coleta e Análise de dados Foram realizadas entrevistas através do método de Begossi et al. (2009), por residência, questionando aqueles acima de 18 anos que se dispuseram a pesquisa, podendo obter um maior número de resultados. 30 pessoas participaram da pesquisa, de ambos os sexos, com idades entre 25 e 74 anos. As informações coletadas consistiram no: uso, conhecimento, partes utilizadas, indicação de uso e modo de preparo das mesmas. A identificação das plantas se deu com o auxílio de literatura voltada para a área de etnobotânica, como Almeida Neto et al. (2015) e Silva e Freire (2010).

RESULTADOS E DISCUSSÃO 30 moradores se dispuseram a entrevista, 18 mulheres e 12 homens. A idade mínima de 25 anos entre os entrevistados representa o domínio pelo conteúdo abordado apenas entre os mais velhos, sendo donos de casa e chefes de famílias. O uso pelas plantas se faz efetivo por partes de todos os participantes da pesquisa, constituindo a importância da natureza para essas pessoas. O conhecimento tradicional se dá oralmente, através da cultura local transmitida dos mais velhos aos mais jovens, perpetuando esse conhecimento na comunidade. 191


Educação, saúde e meio ambiente

Neste estudo, os entrevistados citaram 35 espécies de plantas usadas como medicinais, distribuídas em 21 famílias botânicas (Tabela 1).Das famílias catalogadas, as que apresentaram maior número de espécies foram: Fabaceae (20%), Lamiaceae (10%) e Anacardiaceae (7%), conforme mostra a figura 2.Tais famílias também se apresentaram como as mais representativas nos trabalhos etnobotânicos de Oliveira et al. (2010), de Baptistel et al. (2014) e Almeida Neto et al. (2015).No entanto, há trabalhos que destacam a família Lamiaceae como a mais citada: Christo et al. (2006), Teixeira e Melo (2006) e Costa e Mayworm (2011). A família Fabaceae se destaca pelo fato da predominância da mesma na região, como sugere estudos nordestinos e em especial nas áreas de caatinga (RIBEIROet al.,2014). E é nessa família que está a espécie mais citada entre os entrevistados: Anadenanthera colubrina, popularmente conhecida como Angico. Planta bastante presente na caatinga, no nordeste brasileiro. Quase todos a citaram devido a sua riquíssima capacidade de combate a qualquer tipo de inflamação. Entre as indicações terapêuticas citadas pela população local destacam-se:infecção, inflamação, pressão alta, transtornos digestivos e sintomas gripais (Tabela 1). Observaram-se 08 modos de preparo (Fig. 3), com destaque para as preparações em forma de chá: decocção (16 spp.), o cozimento da parte vegetal em água e, infusão (13 spp.), que consiste na submersão da parte vegetal em água, logo após a fervura desta. Outros trabalhos sobre plantas medicinais citam o chá como principal modo de preparo (BARBOSA et al., 2012; FREITAS et al., 2012). A parte vegetal mais utilizada é a casca (fig. 4), com 44% e logo em seguida a folha, com 31%. Resultado semelhante foi citado por Almeida Neto et al. (2015), e Silva & Freire (2010). Para alguns autores, a preferência maior por casca no bioma caatinga se caracteriza justamente por estas partes estarem disponíveis durante todo o ano, em detrimento às folhas que caem durante a seca (FRANCO E BARROS, 2006). Tabela 1 - Plantas medicinais citadas na comunidade Capim, município de Queimada Nova-PI. Família/Espécie (Nome Vulgar)

Indicação

Parte Utilizada

Formas de Uso

Dor nos ossos, inflamação, gripe, pneumonia

Folhas

Suco ou sumo

Verme, gripe, pressão alta

Fruto

Infusão

Infecção

Casca

Infusão

Amaranthaceae Chenopodium ambrosioides L. (Mastruz) Amaryllidaceae Allium sativum L. (Alho) Anacardiaceae Anacardium occidentale L. (Cajú)

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Myracrodruon urundeuva Allemão (Aroeira)

Inflamação

Casca

Infusão

Spondias tuberosa Arruda (Umbú)

Cicatrização de ferimentos

Casca

Decocto

Folhas

Decocto

Infecção

Casca

Infusão

Gripe

Raíz

Xarope

Croton conduplicatus Kunth. (Quebra-faca)

Infecção intestinal

Casca

Decocto

Croton sonderianus Muell.Arg. (Marmeleiro)

Gripe

Raíz, Casca

Xarope

Asteraceae Achyrocline satureioides (Lam.) DC. Indigestão (Marcela) Burseraceae Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillett. (Imburana de Cambão) Cleomaceae Cleome spinosa L.(Mussambê) Euphorbiaceae

Fabaceae Amburana cearensis A. C. Smith. (Imburana de Cheiro)

Indigestão, gastrite, Semente, casca gripe

decocto, Infusão

Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan (Angico)

Inflamação

Casca

Infusão

Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. var. Afta, coluna, rins, tontura, problema férrea. (Pau-ferro) intestinais

Fruto

Infusão

Caesalpinia pyramidalis Tul. (Catin- Dor de barriga, Indigestão, inflagueira) mação

Casca

Decocto

Mimosa tenuiflora (Mart.) Benth. (Jurema preta)

Inflamação

Casca

Infusão e banho

Piptadenia moniliformis Benth. (Quipé)

Inflamação

Casca

Infusão

Tamarindus indica L. (Tamarindo)

Verme, problemas intestinais, dor nos dentes

Fruto

Decocto

Vachellia farnesiana (L.) Wight & Arn (Coronha)

Derrame

Fruto

Decocto

Melissa officinalis L. (Erva-cidreira) Calmante, pressão alta

Folhas

Decocto

Mentha spicata. L. (Hortelã)

Folhas

Decocto

Lamiaceae

Dor de barriga, gripe

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Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng. (Malva-doreino)

Gripe, inflamação

Folhas

Decocto

Plectranthus barbatus Andr. (Malva-santa)

Cicatrização de ferimentos

Folhas

Cataplasma

Febre, gripe

Casca

Decoct

Inflamação, tosse, gripe

Fruto

Lambedor

Infecção, próstata, coluna

Casca

Infusão

Dor de barriga

Folhas, casca

Decocto, infusão

Pedra nos rins

Casca, folhas, raíz Decocto

Pressão alta

Folhas

Decocto

Saccharum officinarum L. (Cana-de- Pressão alta -açúcar)

Folhas

Decocto

Casca

Infusão

Câncer, inflamação

Fruto

Vinho-medicinal

Infecção

Casca

Infusão

Gripe

Raíz

Xarope

Folhas

Decocto

Loganiaceae Strychnos pseudo-quina St. Hil. (Quina-quina) Lythraceae Punica granatum L. (Romã) Malvaceae Pseudobombax simplicifolium A. (Embiratanha) Myrtaceae Psidium guajava L. (Goiaba) Phyllanthaceae Phyllanthus niruri L. (Quebra-pedra) Poaceae Cymbopogon citratus (DC) Stapf. (Capim-santo)

Polygonaceae Triplaris gardneriana Wedd. (Pajaú) Problemas intestinais Rubiaceae Morinda citrifolia. L. (Noni) Sabiaceae Meliosma itatiaiae Urb.(Ameixa) Solanaceae Solanum aethiopicum. L. (Jiló) Verbenaceae Lippia origanoides Kunth. (Alecrim) Pressão alta Xanthorrhoeaceae Aloe vera (L.) Burm. f. (Babosa)

Câncer, problemas Folhas intestinais, queimaduras Fonte: Pesquisa Direta.

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Cataplasma, lambedor


Educação, saúde e meio ambiente

Figura 2 -Famílias com maior representatividade de espécies citadas pelos entrevistados na comunidade Capim, Queimada Nova-PI

Figura 3 - Formas de preparos das plantas medicinais na comunidade Capim, Queimada Nova-PI.

Figura 4 - Partes das plantas medicinais utilizadas pelos entrevistados na comunidade Capim, Queimada Nova- PI.

CONCLUSÃO De acordo com o conhecimento do uso de plantas medicinais encontrado na comunidade Capim, concentrado nas 35 espécies, usadas inteiras ou em partes em 08 formas diferentes, citadas para o tratamento de diversas doenças, a importância de se estudar e investigar espécies, principalmente nativas, é de suma importância para a elaboração de estratégias de conservação e preservação do meio ambiente no bioma caatinga. 195


Educação, saúde e meio ambiente

Faz-se fundamental a realização de mais estudos que cataloguem o conhecimento associado ao uso das plantas medicinais em comunidades rurais, especialmente em biomas ameaçados como a Caatinga, visto que o resgate desse conhecimento pode propiciar elementos que colaborem para a conservação da biodiversidade.

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SUSTENTABILIDADE: USO DA ÁGUA DE FORMA CONSCIENTE NA ESCOLINHA AQUARELA DA CIDADE DE SIMÕES – PI Roméria Mercedes Nonato1 Adriane Camila Batista de Sousa2

RESUMO Com a escassez da água, o recurso natural mais essencial para a sobrevivência do homem e a intensidade dos impactos ambientais, surge a preocupação com o meio ambiente e a responsabilidade social. A conscientização ambiental é de extrema importância para todos e fundamental para o meio ambiente, por esse motivo torna-se relevante esse estudo sobre o uso da água de forma consciente. Nesse contexto, foi abordado, sob o ângulo da sustentabilidade e do consumo consciente, de que forma a água está sendo utilizada nas tarefas domésticas de residências, analisando perspectivas para seu reaproveitamento, sugerindo assim, boas práticas para uso consciente da mesma. Esta pesquisa permitiu conhecer o grau de conscientização ambiental de alunos, professores e quadro de funcionários em geral da comunidade escolar Escolinha Aquarela da cidade de Simões – PI. Caracteriza-se como pesquisa exploratória, com abordagem quantitativa, a partir da utilização de um questionário como instrumento de pesquisa, a fim de obter o grau de consciência ambiental dos entrevistados composto de 18 questões. O tema discutido foi à preocupação com o desperdício da água. Palavras-Chave: Conscientização, Escassez, Água, Sustentabilidade.

INTRODUÇÃO

O Professor de Geografia Roberto Giansanti, 2015, ao site Nova Escola, afirma que ao lado da Biodiversidade e do aquecimento global, a disponibilidade de água está se tornando uma das principais questões socioambientais atualmente. Inúmeras regiões do planeta já estão marcadas pela escassez e pelo estresse hídrico - desequilíbrio entre demanda e oferta de água, causado, entre outros fatores, pela contaminação dos recursos. Esse quadro vem gerando disputas e conflitos. 1 Pós Graduanda pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI em Biodiversidade e Conservação. E-mail: romeriamercedes_2013@hotmail.com 2 Orientadora – Curso de Especialização em Biodiversidade. Graduada em Ciências Biológicas. Mestranda em Ciência Animal – acbsbio@gmail.com / UESPI – NEAD 199


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De acordo com o artigo escrito por João Silva ao Site Jovens Repórteres para o Ambiente em 26 de Maio de 2015: Vários problemas afetam a qualidade da água e agravam o seu desperdício. No campo, as técnicas inadequadas de irrigação e o uso abusivo de produtos químicos afetam o meio ambiente. O problema se agrava com o desmatamento e remoção de áreas de vegetação e matas ciliares que protegem os rios. Nas cidades, o lançamento de lixo e esgoto sem tratamento pode poluir os mananciais que abastecem a região. Sem contar ações cotidianas, como fechar a torneira enquanto escovar os dentes, economizar o tempo no banho, ensaboar a louça com a torneira fechada, entre outra (CUNHA, 2014).

Segundo o professor Eneas Salati, 2014, autor de vários livros e artigos sobre o tema, a vida nos apresenta vários casos reais que comprovam a relação entre crescimento da população, degradação ambiental e escassez de água. Em todos os exemplos fica clara a responsabilidade do homem diante da amplificação deste problema e as nefastas consequências que a população já sente. Diante dessa realidade, devemos tomar uma posição consciente, agindo de acordo com a sustentabilidade, ou seja, procurando meios de evitar o risco desse recurso faltar no futuro. O Guia de Boas Práticas para o servidor do IBGE, 2010, p 14 afirma que, Economizar água é uma atitude ambientalmente correta, pois poupa um recurso natural estratégico de inestimável valor para a sobrevivência humana. No ambiente de trabalho, evitar o desperdício de água é também uma atitude socialmente correta, pois evita o gasto desnecessário de recursos públicos.

Ainda de acordo com o Professor Eneas Salati, 2014, o desperdício de água em vários níveis, e as poucas práticas de tratamento e reutilização dos recursos hídricos, formam uma perigosa bomba relógio que pode fazer implodir o equilíbrio socioeconômico e ambiental do planeta. Emerson Falkevicz – Acadêmico de Direito Mafra, SC, em artigo publicado ao site Click RioMafra em 08 de Dezembro de 2014 afirma: O que se acreditava ser um recurso natural inesgotável está se esgotando, graças à ignorância e imprudência de uma sociedade consumista e despreocupada que por muitos anos se preocupou apenas em satisfazer seus gostos e suas necessidades abusando dos recursos naturais, e somente de uns anos para cá começou a entender que se não tomar cuidado, vai acabar sem água.

Portanto, em função da complexidade do problema é de fundamental importância a ampliação do conhecimento, elevando nossa responsabilidade para uma dimensão universal. Percepção e entendimento sobre os fatores que fazem da água um fator limitante para a sustentabilidade, pode ser capaz de trazer soluções na busca do equilíbrio ambiental. O presente estudo tem como objetivo geral proposto identificar o grau de conscientização de estudantes e funcionários da Escolinha Aquarela da cidade de Simões - PI. 200


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A partir do objetivo geral, foram delimitados os seguintes objetivos específicos: identificar o perfil dos entrevistados; mensurar o grau de conscientização ambiental por parte da comunidade escolar; verificar o que tem sido proposto pela Escola para enfatizar a conscientização dos alunos sobre o uso consciente da água; sugerir a adoção de boas práticas para o uso consciente da água; apontar formas de reutilização da água.

METODOLOGIA O referido estudo consistiu na aplicação de um questionário dirigido a gestores, professores, alunos, enfim, todos que fazem parte da comunidade escolar Escolinha Aquarela da cidade de Simões, rede privada de ensino, com o intuito de perceber de que forma são conscientizados a respeito do uso consciente da água. Para realizar esta pesquisa, foi feita leitura de trabalhos de cunho bibliográfico e reflexivo, como revistas e artigos científicos entre outras fontes geradoras de significativas posições, o que facilitou no momento da elaboração do questionário como também no levantamento de informações, objetivando encontrar respostas para as questões propostas. Para realização dessa pesquisa foi aplicado um questionário contendo 18 questões, referentes a pequenas ações cotidianas relacionadas ao uso da água, a comunidade escolar em geral da referida escola, após recolhido o questionário os dados foram analisados e representados em forma de gráficos. Definiu-se como problema: alertar os estudantes e funcionários em geral de uma comunidade escolar acerca da importância da conscientização ambiental, focando no uso consciente da água, evitando desperdícios. Nesse contexto, será abordado aqui, sob o ângulo da sustentabilidade e do consumo consciente, de que forma a água está sendo utilizada nas tarefas domésticas de residências, analisando perspectivas para seu reaproveitamento, sugerindo assim, boas práticas para o seu uso de forma consciente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Perfil dos entrevistados Para podermos entender melhor quem são os entrevistados para esse trabalho, destacamos que 32,8% são do gênero masculino e 67,2% são feminino. Dos entrevistados, 56,9% são alunos do Ensino Fundamental I, entre 8 e 15 anos, 36,2% são professores, entre 18 e 30 anos, e 6,9% se classificaram na opção outro, onde abrange direção, auxiliares de limpeza e vigia, com mais de 30 anos.

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No banheiro: É o lugar onde mais se consome água em uma residência, e ao serem questionados sobre o cuidado de se fechar a torneira enquanto escova os dentes, faz a barba ou ensaboa as mãos 60,3% disseram ter sim esse cuidado, 25,9% disseram não ter esse cuidado e 13,8% apenas as vezes tem esse cuidado.

Evitar banhos muito demorados, limitando ao máximo a seis minutos, e manter o chuveiro fechado enquanto se ensaboa no banho são atitudes que se deve ter também ao usar o banheiro. Segundo Cortez (2010), o mau uso da água gera desperdícios. Tarefas como escovar os dentes com a torneira aberta consomem 12 litros e apenas 1 litro com a torneira fechada. Na lavanderia Os trabalhos domésticos são atividades que consomem muita água. Na hora de lavar roupas, por exemplo, deve-se ter muito cuidado para não gastar muito além do necessário. Ao serem questionados se em suas residências costumam deixar acumular muita roupa suja para lavar, ou se lava sempre que tem peças sujas 55,2% afirmaram lavar sempre que tem peças sujas e 44,8% deixa acumular.

Nesse caso, o correto é deixar acumular e lavar tudo de uma só vez, dessa forma estará economizando água, além de ter sempre o cuidado de fechar a torneira enquanto ensaboa e esfrega as roupas, e reaproveitar a água da máquina de lavar para a realização de outras atividades. Alguns especialistas apontam que a crise da água está ocorrendo devido ao mau 202


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gerenciamento, entretanto para outros, a crise é decorrente de um conjunto de problemas ambientais agravados com outros problemas relacionados à economia e ao desenvolvimento social (TUNDISI, 2008). Na cozinha Segundo a ONG Ação Triângulo que recolhe óleo vegetal em casas e empresas, um litro de óleo contamina 1 milhão de litros de água - o suficiente para uma pessoa usar durante 14 anos. Em relação a isso foi questionado sobre o hábito de jogar óleo de frituras ou restos de comida em pias ou na privada, 44,8% jogam sim óleo de frituras em pias ou na privada, 37,9% não fazem isso e 17,2% às vezes sim.

Outras atitudes que se deve ter na cozinha é manter a torneira fechada enquanto ensaboar a louça, e deixar as verduras em água com um pouco de vinagre por alguns minutos antes de lavar, além de ser um hábito saudável fará com que se utilize menos água.

No jardim, no quintal, ou na calçada Outra atividade que consome bastante água é lavar o carro, por isso é necessário procurar formas de não esbanjar muita água ao realizar essa atividade, e uma forma de economizar é usando o balde com pano em vez de mangueira, porém apenas 56,9% dos entrevistados utilizam esse método, os outros 43,1% afirmaram usar mangueira.

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Lavar o carro com frequência aumenta ainda mais o desperdício, por isso se deve reduzir ao máximo a quantidade de lavadas, principalmente em épocas de seca. Regar as plantas em excesso ou com mangueira também é um fator que causa desperdício, usar um balde ou um regador minimiza a situação. 43,1% dos entrevistados afirmaram usar balde, 29,3% usam mangueira e 27,6% usam o regador. O horário em que as plantas são regadas também influencia, o correto é regá-las nas horas mais frias, pois nas horas mais quentes do dia, ou quando está ventando muito há perda de água pela rápida evaporação. Quanto ao limpar a calçada, deve-se usar vassoura ao invés de mangueira, e quando necessário usar um balde no final da limpeza. 60,3% dos entrevistados afirmaram usar vassoura na realização dessa tarefa, e 39,7% usam a mangueira.

Urban (inNeutzling, 2004, p.100) ao tratar sobre o uso da água alerta que:

As atividades humanas utilizam aproximadamente 2,5 vezes mais água do que a quantidade naturalmente disponível em todos os rios do planeta. Considerando-se a relação entre a quantidade total de água doce em rios e lagos, 126.200 Km3, e o volume anual utilizado, 2900 Km3, o tempo de demanda da circulação da água é de 44 anos, bastante inferior ao tempo de sua renovação natural em escala global, indicando uma clara tendência à escassez e forte pressão sobre reservatórios subterrâneos.

Aproveitar a água das chuvas é uma atitude consciente que faz muita diferença, porém nem todos têm essa consciência, apenas 55,2% afirmaram aproveitar essa água de alguma forma para alguma finalidade, 29,3% apenas às vezes fazem isso e 15,5% não aproveitam de jeito nenhum. As pessoas são, acima de tudo, responsáveis pela preservação do meio ambiente, para isso devem está acompanhadas de uma forte educação ambiental. Para Minc (2005, p. 72): Educação ambiental bem-ensinada e bem aprendida tem de ter relação com a vida das pessoas, o seu dia a dia, o que elas vêem e sentem, o seu bairro, a sua saúde, as alternativas ecológicas. Caso contrário, é artificial, distante e pouco criativa.

Percebeu-se nesse estudo que grande parte dos entrevistados estão conscientes sobre a forma correta de se utilizar a água evitando o desperdício, porém outra parte significativa não tem essa preocupação. Então fica evidente a necessidade de se fazer uma maior conscientização, 204


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Pois, por mais que os meios de comunicação sejam utilizados para dar ênfase ao assunto, e campanhas publicitárias são usadas diariamente com a intenção de conscientizar, deve-se continuar batendo na mesma tecla sempre até alcançar uma conscientização geral. A adaptação de palestras nas escolas também trará grandes benefícios. A conscientização é importante, mas, é essencial, o desenvolvimento da educação ambiental na população, para sensibilização de todos. CONCLUSÃO

Mesmo com uma considerável preocupação com os cuidados com a água, ainda há muito a se fazer. O estudo comprova a importância da preservação do recurso natural mais essencial à sobrevivência humana, pois, por mais que esse recurso esteja ameaçado e que as ações individuais para sua preservação, ainda seja diminuta, há uma preocupação ambiental por parte dos entrevistados. Algumas práticas de preservação ambiental podem fazer toda diferença, tais como as que foram citadas na pesquisa. Entende-se que por meio de ações conjuntas é que haverá a minimização do gasto excessivo da água. Porém, deve haver uma mudança de pensamento e de hábitos de toda a população para que seja possível a preservação desse recurso natural tão essencial para a nossa sobrevivência. REFERÊNCIAS CUNHA, Carolina - Falta de água: com alto consumo, problema afeta a geração de energia. Publicado em 18 de Março de 2014. Disponível em: < http://vestibular.uol.com.br/resumodas-disciplinas/atualidades/falta-de-agua-com-alto-consumo-problema-afeta-a-geracao-deenergia.htm> Acesso em: 16 de Setembro de 2014. Click RioMafra - Por Emerson Falkevicz – Acadêmico de Direito Mafra, SC - A água é o recurso natural mais importante para a nossa sobrevivência Publicado em 08/12/2014. Acesso em: 14/05/2016. CORTEZ, Henrique. Cidadania ambiental: água. São Paulo: Baraúba, 2010. Eugênio Müller - Meio Ambiente. Água e o desenvolvimento Sustentável - Professor Eneas Salati - autor de vários livros e artigos sobre o tema - Disponível em: <http://www.vivaitabira. com.br/viva-colunas/index.php?IdColuna=334> Acesso em: 16 de Setembro de 2014. GIANSANTI, Roberto - Professor de Geografia, autor de livros didáticos para Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos e consultor educacional - Série sobre a água - A água no cotidiano. Guia de boas práticas para o Servidor do IBGE - MUDANÇA DE HÁBITO: ECONOMIZAR PARA GASTAR MELHOR - Rio de Janeiro, Novembro de 2010. Instituto Triângulo – Sustentabilidade na Prática - “Mobilizando e incorporando atitude 205


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A PRÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS, COMO FORMA DE EXERCÍCIO DA CIDADANIA. ILCA DE ALMEIDA DAMASCENO¹ ANTÔNIO GOMES DA SILVA NETO² RESUMO A Educação Ambiental (EA) é um tema a ser desenvolvido e vivenciado de diversas maneiras, e deve abordar metas para a construção do desenvolvimento e do progresso, sobretudo nas escolas, onde o ambiente é propício para a aprendizagem, o conhecimento e a mudança de comportamento. Este artigo tem como objetivo demonstrar a partir de atitudes simples a importância da implementação da educação ambiental nas escolas para formação de cidadãos conscientes. Este trabalho baseou-se em pesquisas bibliográfica de publicações que abordaram o tema EA nas escolas públicas, procurando identificar a melhor forma de exercê-la nas escolas, no intuito de formar pessoas para uma relação mais harmoniosa e sustentável com o meio onde estão inseridas.As mudançasna área educacional em relação ao meio ambiente devem partir não só do aluno, como também do poder público, há ainda a necessidade de estimular professores a abordarem a temática em sala de aula inserindo atitudes de vida sustentável no ambiente escolar, formulando uma educação ambiental crítica e inovadora, promovendo o crescimento da consciência ambiental, como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza. A Educação Ambiental deve ser trabalhada de forma contextualizada, pois a fragmentação do tema impossibilitará ênfase do processo educativo. Infelizmentea EA ainda enfrenta fortes dificuldades,para ser executada nas escolas, modificandoo pensamento e o comportamento das pessoas que interagem com o meio ambiente.

Palavras- chave: meio ambiente; práticas educativas; conscientização. ¹Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas (UESPI) de Campo Maior - Heróis do Jenipapo. E-mail: ilcadam@hotmail.com ²Graduado em ciências biológicas (UEPB). Mestre em ecologia e conservação. E-mail: antonniogomess@hotmail. com

INTRODUCÃO Os problemas ambientais apesar de serem bastante debatidos pela mídia ou por órgãos governamentais, não são tratados com a grande relevância com a qual devem ser trabalhados. A Educação Ambiental (EA) vai muito além de desenvolver trabalhos relacionados à natureza, este tema deve ser desenvolvido e vivenciado de diversas maneiras, e deve abordar metas para a construção de um futuro pensado e vivido numa lógica de desenvolvimento e progresso,sobretudo nas escolas, onde o ambiente é propício para a aprendizagem, o conhecimento e a mudança de comportamento. 207


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Dias (2004) remete a importância de termos Educação Ambiental visando a obtenção de um ambiente saudável e sustentável: De nada adianta termos desenvolvimento econômico, sem termos desenvolvimento social. Também de nada adianta termos os dois, sem que tenhamos um ambiente saudável, ecologicamente equilibrado. Este é o novo paradigma: desenvolvimento sustentável – um modelo de desenvolvimento que permita à sociedade e a distribuição dos seus benefícios econômico-sociais, enquanto se assegura a qualidade ambiental para as gerações presentes e futuras. Atualmente o objetivo central da EA é a promoção do desenvolvimento sustentável (mais especificamente, de sociedades sustentáveis) (DIAS, 2004, p. 119).

s princípios e objetivos da Educação Ambiental estão em consonância com os princípios O gerais da Educação contidos na Lei 9.394, de 20/12/1996 (LDB - Lei de Diretrizes e Bases) que, em seu artigo 32, assegura que o ensino fundamental terá por objetivo a formação básica do cidadão mediante: (...) II – a compreensão do ambiental natural e social do sistema político, da tecnologia das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade, desta forma fica clara a dimensão da importância da efetiva atuação da EA no ambiente escolar, uma vez que está previsto pela constituição. A relevância deste estudo situa-se na compreensão de que a Educação Ambiental deve ser trabalhada de forma contextualizada, abrangendo assim um público maior e com vários direcionamentos que levam a um único propósito, o de transformar a realidade do nosso alunado, no que diz respeito ao meio ambiente. Com isso esta pesquisa visa estimular os professores a abordarem questões como, a preservação do meio ambiente, busca também conscientizar os alunos sobre a importância de se cuidar, preservar e conservar o ambiente em que vivem e de ações que devem ter hoje para que as gerações futuras não sofram consequências deixadas pelas gerações atuais. Brito & Oliveira (2014) remetem o papel do professor para a Educação Ambiental ter relevância: O papeldo educador (a) é de suma relevância, para a efetivação da EA, a fim depromover mudanças que inicialmente devem atingir o campo cognitivo, elevar o sujeito a uma reflexão crítica de suas atitudes, para queposteriormente possa pensar e planejar ações sustentáveis a ser aplicadas,primeiro no ambiente micro do qual faz parte, para que em seguida possaatingir o ambiente macro, a fim de contribuir para uma perpetuação dosespaços ambientais e das relações entre os seres que habitam nosdiversos tipos de ambientes que encontramos no Planeta Terra (Brito & Oliveira, 2014, p. 209).

Este estudo tem como objetivo demonstrar a partir de atitudes simples a importância da implementação da educação ambiental nas escolas para formação de cidadãos conscientes. Estimular a mudança prática de atitudes e a formação de novos hábitos com relação à utilização dos recursos naturais. METODOLOGIA Esta pesquisa de natureza bibliográfica baseou-se em publicações sobre o tema EA nas escolas públicas, no intuito de mostrar a melhor forma de se abordar Educação Ambiental nas escolas, procurando identificar a melhor forma de exercê-la, identificando as dificuldades para se adotá-la, e relevância não só para a comunidade escolar, mas para toda a sociedade. Para coleta de dados foi realizada uma busca eletrônica para as revisões bibliográficas,estas foram executadas através de livros e artigos e revistas publicados na internet.Este projeto realizou-se no período entre os meses de julho a novembro do ano de 2015 através de revisões bibliográfi208


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cas de livros e artigos publicados na internet em sites confiáveis disponíveis em banco de dados Online, entre os anos de 2003 a 2014. Estes trabalhos científicos foram estudados com intuito de levantar dados que esclarecessem o tema, e destacou-se a importância de seu papel nas escolas principalmente de forma interdisciplinar para alcançar com êxito todos os objetivos propostos.As informações foram coletadasmediante o levantamento de produções cientificas que tratam do tema Educação Ambiental nas escolas e como forma de cidadania. Para um melhor desempenho do trabalho registrou-se ao longo do projeto os ideais de autores que estão em consonância e melhor abordaram em seus trabalhos a Educação Ambiental principalmente nas escolas. Para a seleção do material de pesquisa, foram registrados somente artigos escritos e publicados em língua portuguesa, de preferência em datas recentes. Para a análise e interpretação dos resultados, iniciou-se com o trabalho de leitura, posteriormente seleção dos trabalhos mais claros e objetivos ao tema e por fim adoção do texto de interesse ao trabalho. RESULTADOS E DISCUSSÃO Papel da Educação Ambiental Conforme Baggio & Barcelos (2008) Apud Chagas & Andrade(2014) a EA é um ramo da educação que marca a história e redefine os rumos da humanidade e do planeta, resgatando valores de cidadania para o respeito dos seres humanos com seus semelhantes e com os diferentes seres da biodiversidade terrestre, desta forma podemos perceber claramente que não há outra forma de se trabalhar com êxito questões ambientais, tanto na sala de aula como fora dela, se não houver conceitos científicos e valores que levem a uma cidadania em conjunto com o meio ambiente, e estes são alguns dos aspectos repassados pela Educação Ambiental. A educação ambiental assume um papel difícil que o de saber lidar com uma crise que enfrentamos em diversos âmbitos, mas se agrava pela falta de compromisso e pouca importância com o qual nossa sociedade trata questões ambientais, ao mesmo tempo que vivemos uma desigualdade social, praticamos uma apropriação inadequada dos recursos, tais fatos estimulam da EA aplicação de atitudes de mudanças de valores, comportamentos e atitudes, que devem estar voltadas a todo território nacional, de forma permanente e contínua. Necessita-se de uma educação que possibilite o respeito à diversidade biológica, cultural, étnica, e além disso de uma sociedade consciente da adoção de um modelo de relação Homem Meio, saudável que reflita no modo de exercício de cidadania (UNESCO, 2007). Para Leff (2008) Apud Chagas & Andrade (2014) as instituições educacionais e a universidade pública enfrentam políticas econômicas que orientam o apoio à educação, à produção de conhecimentos e à formação profissional, em função de seu valor no mercado. Isto tem criado obstáculos à transformação do conhecimento nas instituições educacionais para incorporar o saber ambiental à formação de recursos humanos que sejam capazes de compreender e resolver os problemas socioambientais atuais, a intenção de se trabalhar EA não esta voltada a economia, ao lazer social, ou qualquer outra questão que não reflita em benefícios ao meio ambiente e a nossa convivência com ele. Como trabalhar a Educação Ambiental em sala de aula 209


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Segundo Almeida e Pastre, (2004) para que seja eficaz, que é o que procuramos fazer ao desenvolver um projeto voltado a prática escolar, um programa de educação para o meio ambiente deve desenvolver, de maneira simultânea, os conhecimentos, as atividades e as habilidades necessárias, para que a comunidade possa compreender o seu ambiente e desenvolver atitudes que alterem os comportamentos das pessoas envolvidas no processo. Caso seja desenvolvido de forma compartimentada poderá dissociar os objetivos a serem alcançados aumentando as chances de não serem atingidos. A educação independente da temática abordada, e do público alvo, sempre se estabelece em eixos norteadores, procuramos sempre segui-los para alcançar êxito na atividade proposta. Propomos a abordagem da EA nas escolas como uma forma de cidadania, desenvolver ao mesmo tempo os conhecimentos, as atividades e as habilidades,práticas que levem a uma atitude eficiente, acessível a todos, desta forma é mais provável que possamos chegar a um objetivo concreto (ALMEIDA, PASTRE, 2004). Na visão de Dias (2004), a Educação Ambiental na escola não deve ser conservacionista, ou seja, aquela cujos ensinamentos conduzem ao uso racional dos recursos Naturais e à manutenção de um nível ótimo de produtividade dos ecossistemas Naturais ou gerenciados pelo Homem, mas aquela educação voltada para o meio ambiente que implica uma profunda mudança de valores, em uma nova visão de mundo, o que ultrapassa bastante o estado conservacionista. Desta forma, a Educação Ambiental repassa condutas a serem desenvolvidas que vão muito além de medidas a serem tomadas no dia a dia visando o equilíbrio entre natureza e homem,mudança de valores induzem a mudanças de um conjunto de características e regras de convivência em sociedade, estamos falando de conscientização, essa é a forma de Educação que pode mudar todo um contexto, toda via, vale ressaltar que ensinar a conservar não se trata de uma educação errada ou inadequada, a EA conservacionista deve sim ser abordada nas entrelinhas da abordagem de sala de aula como mudanças de atitudes (DIAS, 2004). A relevância da mudança de atitude em relação ao meio ambiente A Educação Ambiental é conteúdo e aprendizado, é motivo e motivação, é parâmetro e norma. Vai além dos conteúdos pedagógicos, interage com o ser humano de forma que a troca seja uma retroalimentação positiva para ambos. Educadores ambientais são pessoas apaixonadas pelo que fazem. E, para que o respeito seja o primeiro sentimento motivador das ações, é preciso que a escola mude suas regras para se fazer educação ambiental de uma forma mais humana (CARVALHO, 2006). É sabido que a importância da escola é transparecida no papel que o educador exerce, este é mediador deste processo, portanto as habilidades e normas repassadas pelos profissionais da educação devem ser motivadas pela a instituição ou se esta já o fizer, cabe ao educador se caso necessário, demostrar total interesse pelo papel a desempenhar além de zelar por um bom ensino, deixando claro que sentimentos e apoio fazem a diferença no desempenho de suas funções. O Educador ambiental sem dúvidas terá mais objetividade e será melhor compreendido ao exercer seu trabalho (CARVALHO, 2006). É notória a importância de se trabalhar a Educação Ambiental, visto que esta permite ao aluno perceber-se enquanto parte do meio ambiente, assim como possibilita meios para o desenvolvimento de uma educação voltada para a cidadania consolidando o conceito de que o aluno deve atuar na cidadania como um todo, e não enquanto parte isolada e fragmentada, uma vez que cada indivíduo deve ser entendido como o principal responsável pela defesa da quali210


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dade de vida. (CARDOSO, 2011). Para o aluno pode não ser tão clara a importância da abordagem de temas ambientais, esta seria apenas mais uma disciplina inclusa no currículo, que demanda notas aprovativas assim como as demais. No entanto é comum a todas as disciplinas que o educando adquira valores na escola enquanto cidadão, na EA não seria diferente, muito pelo contrário, esta disciplina tem caráter ambientalista e ao mesmo tempo ético, comportamentalista e voltada a cidadania.Mas infelizmente ainda há um abismo no entendimento desta proposta pedagógica até mesmo no ensino superior, nível mais elevado dos sistemas educativos que inclui normalmente estudos, investigação, e atividades sociais. O gráfico a seguir éreferente à opinião dos entrevistados no que diz respeito a importância de aspectos ambientais no ensino superior na formação do aluno como cidadão (BALBINO, OLIVEIRA, 2013). Gráfico1: A importância da Educação Ambiental para o aluno cidadão

Fonte: Balbino e Oliveira 2013 Principais fatores que dificultam a aplicação da Educação Ambiental como disciplina curricular Segundo Cardoso (2011) a Educação Ambiental representa um instrumento essencial em busca de meios que promovam a superação dos impactos negativos que tanto prejudicam o meio ambiente e afligem a sociedade como um todo. Diante da situação ambiental em que se encontra o nosso planeta é inegável reconhecer que precisamos adotar estratégias que visam mudança de comportamento da sociedade. Portanto, a educação ambiental como prevista na Constituição Federal deve ser inserida em todos os níveis de ensino, para que futuramente possam se ter pessoas conscientes da importância de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Devido essa grande preocupação com o meio ambiente é que se acredita que a Educação Ambiental é a única estratégia para uma mudança efetiva (LOPES, BISPO, CARVALHO, 2009). Mas se analisarmos o apoio político e social do poder público chegaremos a uma conclusão um tanto não satisfatória para a prática da EA. Não estamos falando de leis a serem cumpridas apesar de haver essa necessidade, mas há uma necessidade maior, que é a de podermos trabalhar com o amparo governamental, os aspectos que regem a aplicação do currículo em sala de aula, devem levar o aperfeiçoamento deste com a extensão para o cumprimento de atividades 211


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sócio ambientais (LOPES, BISPO, CARVALHO, 2009). Em função da grande resistência em relação às análises ambientais e à falta de capacitação dos docentes, há a necessidade de inserir a educação ambiental no ambiente escolar, de maneira que todos se mobilizem de forma efetiva para a melhoria da qualidade de vida. Diante dos problemas ambientais do mundo, é muito importante que as novas gerações possam ter em seus currículos escolares a dimensão ambiental. (CUBA, 2010). Podemos dizer que os fatores positivos da Educação ambiental muitas vezes não são percebidos na prática adotada pelos professores, porque na maioria dos casos falta para estes uma base metodológica para que possa abordar com mais clareza a EA. O docente independente de sua vontade não pode adotar questionamentos sócio ambientais em suas aulas, pois lhe faltou ainda na vida acadêmica amparo metodológico para esta prática e não sabe qual a melhor forma de trabalhar a EA.O gráfico abaixo refere-se a uma pesquisa realizada em 2013 com professores, sobre a forma como abordavam, se abordavam, o tema Meio Ambiente em sala. Gráfico 2: Forma de abordar o Tema Meio Ambiente em sala

Fonte: Silva e Medeiros (2013).

CONCLUSÃO A pesquisa realizada para o desenvolvimento deste artigo mostra incontestáveis fatores esperançosos que conduzem a um perfil estudantil e consequentemente social relevante, para o convívio com o meio ambiente, no entanto EA ainda enfrenta fortes dificuldades,para ser executada nas escolas, de forma que possa modificar o pensamento e o comportamento das pessoas que interagem com o meio ambiente. Os problemas ambientais que enfrentamos ainda não são compreendidos com total empenho e dedicação com o qual deve ser trabalhado. Além disso, foi possível compreender que algumas das dificuldades enfrentadas pela Educação Ambiental existem pelo fato de muitos professores não terem embasamento necessário para se trabalhar esse tema em suas aulas, e ainda se trabalham a EA a fazem de forma isolada o que acaba por fragmentar a ideia norteadora deste tema, sabemos que a descentralização da temática resulta em um obstáculo para o alcance dos objetivos propostos o que pode ocorrer em algumas propostas pedagógicas que tratam de meio ambiente. Podemos observar que ainda há um desamparo dos governantes em relação projetos voltados ao meio ambiente, pois estes não se cumprem na forma da lei, não existem projetos 212


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efetivos ou se existem ainda precisam ser expandidos alertando a comunidade não só escolar, mas no geral, sobre problemas decorrentes da falta de conscientização ambiental, falta-nos mudanças de valores, de atitudes, de convivência, muitas vezes o público alvo, nosso alunado não compreende e absorve da forma como deve ser compreendido e absorvido os debates ambientais. A Educação Ambiental não é disciplina obrigatória do currículo o que fragiliza a sua execução, no entanto é a forma mais coesa de aplicar conhecimentos sobre o meio ambiente e sua importância. Muitas vezes formação profissional é voltada a interesses econômicos destorcendo assim o propósito da aplicação de temas ambientais. Podemos perceber que a sociedade como um todo não só alunos, na maioria das vezes não conseguem absorver o real sentido das atividades propostas seja pela EA seja informalmente sem base metodológica, desta forma não conseguem perpetuar valores da Educação Ambiental. REFERÊNCIAS ALCÂNTARA, L. A. SILVA, M. C. A. NISHIJIMA, T. Educação Ambiental e os sistemas de gestão ambiental no desafio do desenvolvimento sustentável. Santa Maria-RS: junho de 2012. ALMEIDA; L. M. PASTRE; I.A. Implantação de projetos em educação ambiental nas escolas da rede. São Paulo, 2004. BALBINO, M.L.C;OLIVEIRA, L.L.V.A interdisciplinaridade na educação ambiental e sua aplicação no ensino superior. Minas Gerais, 2013. BRASIL, Lei de Diretrizes e B. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. BRITO, R. A. ; OLIVEIRA, G. F.A prática dialógica - argumentativa nas aulas de educação socioambiental . Revista AMBIENTE & EDUCAÇÃO. vol. 19. Rio Grande, 2014.disponível em: https://www.seer.furg.br/ambeduc/article/view/4733. Acesso em: 06 abr. 2016. CARDOSO, K. M. M. Educação ambiental nas escolas. Brasília, 2011. CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2006. CHAGAS, F. B.; ANDRADE, V. Z. COMPREENDENDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: contribuição do processo de ensino-aprendizagem de Biologia na escola. Revista AMBIENTE & EDUCAÇÃO. vol. 19. Rio Grande, 2014. Disponível em: https://www.seer.furg.br/ambeduc/article/view/3918.Acesso em: 05 abr. 2016 CUBA, M. A. Educação ambiental nas escolas. ECCOM, v. 1, n. 2, p. 23-31, jul./dez., 2010. DIAS, Genebaldo. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 9.ed. São Paulo: Gaia, 2004. EFFTING T. R. Educação ambiental nas escolas públicas: realidade e desafios. Marechal Cândido Rondon, 2007. JACOBI P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 213


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118, p. 189-205. São Paulo, 2003. JACOBI, P. R; TRISTÃO,M; CORREA FRANCO,M. I. G. A função social da educação ambiental nas práticas colaborativas: Participação e engajamento. Campinas, vol. 29, n. 77, p. 63-79, jan./abr. 2009. LOPES; BISPO; CARVALHO. Educação ambiental nas escolas: uma estratégia de mudança efetiva. P. 1- 15. Tocantins: 2009. MARILIZE D. Viagem aos 4 cantos da Terra : guia de estratégias do professor (Solução Educacional Tempo Integral – Cidadania, Sustentabilidade e Criatividade). Positivo, Curitiba. 2013. PLICAS, L. M. A. ; FERTONANI, I. A. P. Implantação de projetos em Educação Ambiental nas escolas da Rede Pública de São José do Rio Preto. In: Sheila Zambello de Pinho; José Roberto Corrêa Saglietti. (Org.). UNESP - Escola - Núcleos de Ensino. 1ed. v. 1, p. 160-171. São Paulo: Unesp, 2006. RIBEIRO, L. L.; SILVA, J. B. Uma concepção sobre educação ambiental e meio ambiente com alunos de 8 e 9 anos: primeiras impressões e considerações acerca dos saberes ambientais na escola estadual anexa a SUPAM.Rev. Eletrônica de Geografia, v.4, n.12, p. 128-143, Minas Gerais, 2012. SILVA, A.M; MEDEIROS, D.C.M. Educação Ambiental nas Escolas Municipais de Fortaleza-Ceará. Rio de Janeiro, 2013. UNESCO, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, Departamento de educação ambiental. Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental nas escolas. Brasília, 2007.

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FAUNA HELMINTOLÓGICA EM Rupornis magnirostris (GMELIN, 1788) APREENDIDO PELO CETAS/IBAMA DE TERESINA-PI

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO ESCOLAR UM ESTUDO DE CASO COM OS ALUNOS DO 2º ANO DA UNIDADE ESCOLAR CEL. AGOSTINHO VALENTE ANDREIA DE OLIVEIRA CRUZ 1 SIMONE MOUSINHO FREIE² TEREZA MARIA ALCÂNTARA NEVES3 CÍCERO QUIRINO DA SILVA NETO4 RESUMO A escola é o espaço social e o local em que o aluno dará sequência ao seu processo de socialização, comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática no cotidiano da vida escolar contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis. Trabalhar a educação escolar no âmbito escolar possibilita cooperação, responsabilidade, solidariedade, respeito pela vida é possível compreender a Educação Ambiental como um processo de construção de valores sociais, de conhecimentos e atitudes voltados para a conservação do ambiente pela coletividade, visando à consolidação da cidadania a partir de conteúdo vinculado ao cotidiano e aos interesses da maioria da população. Nesse contexto, o presente artigo trata do processo ensino/aprendizagem no âmbito da educação ambiental com enfoque nas crianças e adolescentes, levando em conta que a conscientização para a preservação do meio ambiente, tem como objetivo verificar a existência de ações de Educação Ambiental desenvolvidas com os alunos do 2º ano da Unidade Escolar Cel. Agostinho Valente. Palavras-chave: Educação. Conservação. Conscientização INTRODUÇÃO A questão ambiental é tema importantíssimo, a maneira mais sensata de inibir a destruição do planeta e, consequentemente de todas as espécies vivas, é através da educação para o meio ambiente. O professor deve criar situações que desafiem o aluno intelectualmente, diante das situações ocorridas no nosso dia a dia. 1

Aluna da Pós-graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância - NEAD. E-mail: deia_oliveira10@hotmail.com

Doutora em Ciência Animal. Chefe do Laboratório de Zoologia e Biologia Parasitária ZOOBP/ UESPI .Email: simonemousinho@yahoo.com.br 2

3Mestre e Especialista em Saúde da Família-UNINOVAFAPI. Email: teresa_alcantara@yahoo.com 4Biólogo Especialista em Biodiversidade e Conservação pela Universidade Estadual do Piauí, – UESPI. Email: cquirino07@hotmail.com

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A Lei nº 9795/1999, em seu artigo 1º, coloca que: Artigo 1º: Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999)

O tema é bastante abrangente e são inúmeras as definições e conceitos sobre natureza e educação que relação existe entre elas. O conceito de Educação Ambiental (EA), na sala de aula, necessita ser trabalhado. Educação pode ser entendida como uma pratica social que tem por objetivo desenvolver o homem para isso ela se vale dos diferentes saberes em cada cultura encontramos um modo diferente de educar. Aprender é partilhar de uma base comum de conhecimento. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder público e a coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações – Constituição Federal de 05 de outubro de 1988, art. 225. Os educadores têm uma função estratégica e fundamental na inserção da educação ambiental no cotidiano escolar, qualificando os alunos para um posicionamento crítico. Os alunos precisam saber que eles podem preservar com atitudes simples. O objetivo deste trabalho foi promover, por meio da Educação Ambiental, uma maior conscientização dos alunos em relação à conservação e preservação do meio ambiente, tendo como ponto de partida a problemática do “lixo” que provoca graves danos ao meio ambiente e comprometer a saúde e o bem-estar da população. MATERIAIS E MÉTODOS Para a realização deste trabalho, foi fundamental a leitura, compreensão e entendimento dos termos referentes à Educação Ambiental. Buscaram-se definir as escolas para a realização da pesquisa. A seguir, realizam-se o levantamento bibliográfico, o fichamento das bibliografias selecionadas e a construção do referencial teórico, fazendo um breve histórico da Educação Ambiental. Realizado no município de Canto do Buriti que é um município brasileiro do estado do Piauí. Localiza-se a uma latitude 08 06’36” sul e a uma longitude 42 56’40” oeste, estando a uma altitude de 269 metros(CEPRO, 2001). De acordo com o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE (2010), a cidade Canto do Buriti – PI conta uma população residente de 20.020 habitantes, a maior parte da população é urbana, veja a na a seguir figura 1.

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Figura1: População urbana e rural

Fonte: IBGE,Censo demográfico (2010)

As pesquisas adotadas serão as descritivas e estudadas (exploradas). Para a realização da pesquisa exploratória foram pesquisados, livros, monografia de graduação e internet relacionados a Educação Ambiental. Segundo Santos (2002), a pesquisa exploratória é tipicamente a primeira aproximação de um tema e visa criar familiaridade em relação a um fato ou fenômeno, a pesquisa exploratória é quase sempre feita como levantamento bibliográfico e entrevista com profissionais que estudam e atuam na área. O autor aponta ainda que as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideais, tendo em vista, a formulação de problemas. A presente pesquisa foi realizada no mês de abril de 2016. Para a obtenção dos dados, foram entrevistados os alunos do 2º ano da Unidade Escolar Cel. Agostinho Valente, na cidade de Canto do Buriti Piauí, consiste na conscientização dos alunos e envolvendo a comunidade escolar com a problemática dos resíduos sólidos, implantando a coleta diferenciada: lixo, como um instrumento de formação de novos valores e atitudes, quanto aos danos que o lixo causa. Segundo Travassos (2004), a educação ambiental deve estar voltada para uma nova forma de integração entre a sociedade e a natureza, uma nova dimensão que não seja apenas a preocupação com a possibilidade de destruição dos ecossistemas. Além disso, a educação para o meio ambiente deve estimular a ética do relacionamento econômico, político e social. Uma vez que promove a conscientização e ações de engajamento da comunidade escolar, na defesa de um meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à qualidade de vida. Foram elaborados e aplicados questionários ANEXO A e redações aos alunos, visando levantar sua percepção ambiental sobre sua escola e sua comunidade. As questões foram respondidas através de entrevistas diretas com os estudantes (Figura 2)

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Figura 2: Alunos 2º ano da Unidade Escolar Cel. Agostinho Valente, respondendo o questionário.

Fonte: a autora

Os dados levantados foram tratados e os resultados foram apresentados em gráfico e tabela para possibilitar uma melhor visualização do atual perfil da Educação Ambiental dentro da escola. RESULTADOS E DISCUSSÃO A prática da Educação Ambiental pode ser transmitida de diversas formas,cabe ao docente organizar e mediar o conteúdo ensinado, cativando aluno para que o mesmo se aproprie e transforme o conhecimento. Layrargues (2005) afirma que a questão do lixo vem sendo apontada pelos ambientalistas como um dos mais graves problemas ambientais da atualidade, a ponto de ter-se tornado objeto de proposições técnicas para seu enfrentamento e alvo privilegiado de programas de educação ambiental. De acordo com Silva (2007): O lixo é um elemento presente na vida de qualquer pessoa, sendo um ótimo tema a ser trabalhado com os alunos, de forma interdisciplinar, objetivando a conscientização e a mudança de atitudes dentro e fora da sala de aula.Assim, a educação ambiental na escola assume um papel preponderante para a formação do sujeito e sua inserção social, propiciando-lhe um agir com consciência e atitude perante os problemas do meio ambiente.(SILVA ,2007, p. 11):

É fundamental o aluno conhecer melhor o contexto onde vive,refletindo seu papel como sujeito no mundo e que tem o dever de preservá-lo. 224


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Do ponto de vista educacional, pode-se dizer que muitas vezes a definição correta de um determinado tema serve como ponto de partida para sua abordagem específica. Assim, entende-se que uma informação que esclareça ao usuário qual o significado do tema abordado pode facilitar a compreensão inicial e favorecer o entendimento de assuntos específicos relacionados ao tema. Figura 3: Respostas dos alunos: O que você faz com o lixo que você produz na escola?

Fonte: a autora

Após a aplicação do questionário, através da avaliação prévia com 36 alunos, do 2° ano, verificou-se que os alunos necessitam de muitas informações no que se refere a EA . Tabela 1 - Questionário dos alunos

Q1 Q4 Q5 Q6 Q7 Q9 Q11 Q12 Q13 Q14

Você sabe o que é lixo? Você sabe o que é coleta seletiva? Você separaria o lixo da sua casa para reciclagem em seu município? Quando você vai às compras, se preocupa em escolher produtos que agridam menos o meio ambiente? Você sabe separar corretamente o lixo para reciclagem? Você se preocupa com as questões ambientais? Você sabe o que é lixo hospitalar? Você sabe o que é chorume? Você sabe qual é o destino do lixo do seu município? Você sabe o significado de reciclar, reutilizar e reaproveitar?

Sim

Não

36 29 20

0 7 16

20

16

36 36 36 18 17 36

0 0 0 18 19 0

Fonte: a autora

As respostas dos alunos nos levam a refletir que precisamos trabalhar com a questão ambiental e que eles notam que algo precisa ser feito com urgência. Os alunos possuem certo 225


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conhecimento sobre o tema e que o relacionam. Observa-se assim o grau de conscientização de alguns estudantes em relação à importância de se preservar o meio ambiente, bem como a influência do homem sobre os problemas existentes. Seguiu a fase da análise de todos os dados obtidos durante a pesquisa. Buscou-se dessa forma, distribuir graficamente. Figura 4: Respostas dos alunos sobre reutilizar algum tipo de material que vai para o lixo

Fonte: a autora

De acordo com Mattos (2005), são diversas as vantagens quando se recicla o lixo, de tal forma que no mundo inteiro surgem iniciativas através do governo, empresários, e também a sociedade organizada; Em função de disso, indústrias se readaptam para reciclar, empresas desenvolvem novas tecnologias para aproveitar resíduos de todos os tipos, organizam-se cooperativas e associações de catadores. Surge oficina de arte que aproveitam o lixo, dentre inúmeras outras iniciativas. (MATTOS,2003, p.50)

Através da análise dos questionários aplicados, que contém questões simples e diretas sobre os tópicos e/ou assuntos que são tratados durante as atividades da exposição. Diante do exposto, pesquisas dessa natureza devem ser desenvolvidas com maior frequência nas escolas, uma vez que possibilitam a realização de atividades práticas de Educação Ambiental, foi

possível verificar que na Unidade Escolar Cel. Agostinho Valente precisa de um projeto que sensibilize os alunos em relação à Educação Ambiental.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje em dia não basta dizer que se faz EA. Também é importante expressar à qual orientação teórica e metodológica ela está inserida, muito ainda há de ser feito, tanto na escola, quanto na comunidade. O trabalho desenvolvido até o presente momento serviu para tornar visível muitos aspectos que devem ser aprofundados. Atividades sócias educativas de conscientização ambiental sobre a importância da coleta seletiva convidando aos alunos a refletirem sobre ações cotidianas que precisam ser transformadas, estimulando o combate ao desperdício e a separação correta dos resíduos sólidos. Segundo Pilon v(2005), “somente com a aproximação e o conhecimento acerca do meio ambiente será possível a sua preservação” e neste contexto o projeto aproxima o público-alvo de seu papel junto à natureza e assim promove formação de consciência ambiental. A ausência de uma visão integrada por parte docente, que contemple uma prática pedagógica para a construção necessária do conhecimento em Educação Ambiental, prejudica o trabalho de alguns educadores que tentam praticar a Educação Ambiental na escola com projetos a serem desenvolvidos. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática, no cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis. Temos que acrescentar que a falta de recursos financeiros e a falta de material também prejudicaram nosso trabalho.É necessário que todos os seguimentos da sociedade: (pais, professores, alunos e comunidade em geral) se envolvam e participem em prol de um objetivo comum. Durante o desenvolvimento da pesquisa conclui que quanto ao destino do lixo existe uma série de dificuldades como a falta de aterro sanitário em nosso município e, o mais grave é a falta de conscientização da população em relação á preservação ambiental e os malefícios causados pelos resíduos sólidos quando acondicionado de maneira errada. REFERÊNCIAS

1 BRASIL.Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em 05 de outubro 1988. 2 BRASIL, Constituição (1999). Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Capítulo I da Educação Ambiental. Brasília, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9795.htm> Acesso em: 25 abril. 2016. 3 CEPRO. Diagnostico socioeconômico. 2001. Disponivel em: http://www.cepro.pi. gov.br/download/201102/CEPRO16_337a89dde9.pdf, acessado em: 17/05/2016. 4 DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 8. ed. São Paulo: Gaia, 2003. p.63,67,95 5 LAYRARGUES, P. P.; CASTRO, R. S. (Orgs.). Educação Ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2005 6 MATTOS, Neide Simões de; GRANATO, Suzana Facchini. Lixo: Problemas Nosso de Cada Dia: Cidadania, Reciclagem e uso Sustentável. São Paulo: Saraiva, 2005 227


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7 PILON, A. F. Ocupação Existencial do Mundo: Proposta Ecossistêmica. In: PHILIPPI JR., A.; PELICIONI, M. C. F. Educação Ambiental e Sustentabilidade. Barueri: Manole, 2005. 8 SEARA FILHO,G.Apontamentos de introdução à educação ambiental. Revista Ambiental, ano 1, v. 1, p. 40-44, 1987. 9 SILVA, D. T. S. Educação Ambiental: Coleta Seletiva e Reciclagem de Resíduos Sólidos na Escola. Cachoeirinha-RS: FASB, 2007. 10 TRAVASSOS, Édson Gomes. A prática da EA nas escolas. Porto Alegre: Mediação, 2004.

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DESMATAMENTO E PERDA NA BIODIVERSIDADE NO MUNICÍPIO DE ELISEU MARTINS-PI Maria das Dores Pereira da Silva¹ Martinair Santana da Silva² Resumo Atualmente, o desmatamento é um dos principais problemas ambientais e ameaça os recursos naturais, o meio ambiente e o equilíbrio ecológico do planeta. Pensando nisso, escolheu-se a temática deste artigo que tem como objetivo geral analisar os conhecimentos sobre as causas de desmatamento e perda da biodiversidade de Eliseu Martins, município brasileiro que fica no Sul do estado do Piauí. Este estudo teve como instrumento de coleta de dados dois tipos de pesquisas: A primeira feita através de uma pesquisa bibliográfica que teve como suportes teóricos, estudiosos como: Barbosa (2000), Young (2004), Abrão (2008), entre outros. Já a segunda foi uma pesquisa de campo realizada na Secretaria de Agricultura e na comunidade Chupeiro. O combate ao desmatamento e a perda da biodiversidade deve ser feito através de adoção de medidas em diferentes escalas, do individual ao governamental, ou seja, cada cidadão deve fazer sua parte. __________________________________________________________________________________ Maria das Dores Pereira da Silva¹ aluna do Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação da Universidade Estadual do Piauí – UESPI/NEAD. Martinair Santana da Silva² professora orientadora da Universidade Estadual do Piauí – UESPI.

Palavras-chave: Desmatamento. Biodiversidade. Problemas ambientais. Combate.

1 Introdução No Brasil, o desmatamento é a maior causa da perda de biodiversidade e um dos grandes problemas ecológicos ambientais que o país enfrenta atualmente. Em conformidade com Barbosa (2000), “a perda da diversidade biológica como um problema contemporâneo, é um dos temas mais importantes da atualidade política, social, econômica e cultural”. Segundo o autor, ao afrontar esse problema e buscar a preservação da diversidade biológica, de fato, estamos lutando pela nossa sobrevivência. O desmatamento tem afetado os quatro principais biomas brasileiros, que são: A Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica e o Pantanal. Young (2004) destaca alguns dos fatores comuns que levaram ao desflorestamento, como: a existência de um excedente estrutural de mão de obra rural, a luta por estender direitos de propriedade da terra e as pressões governamentais para converter florestas em áreas de cultivo ou pastagens. Outros fatores que ameaçam a biodiversidade não só do Brasil, mas do planeta são: a mudança do clima, a poluição do ar e da água, a desertificação, a erosão, a caça e a pesca predatória. No entanto, Abrão (2008) afirma que, sem dúvida, o desmatamento pode ser considerado uma das mais, se não a mais, forte ameaça para 229


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a extinção de espécies e perda da diversidade biológica, especialmente em nosso país. A pergunta que norteou este trabalho foi a seguinte: Por que, segundo o Atlas dos municípios da Mata Atlântica, Eliseu Martins-Pi uma cidade tão pequena com um pouco mais que 7 (sete) mil habitantes lidera o ranking de desmatamento do bioma entre 2013-2014 e, aparece em primeiro na lista com 4.287 hectares (ha) devastado? Diante de tal questionamento, evidenciou que a extensão territorial para a exploração agropecuária e a demanda por alimentos foram alegados por alguns munícipes da área investigada como alguns dos motivos que levaram os desmatamentos e a perda da biodiversidade do município de Eliseu Martins-Pi. No entanto, cabe dizer que a situação em que o desmatamento é indispensável para aumentar a produção agropecuária, gerar renda, empregos e impostos, não é considerável, uma vez que, segundo a Embrapa “é possível dobrar ou triplicar a produção agropecuária brasileira sem derrubar árvores. Para isso, seria necessário aumentar a produtividade das áreas já desmatadas, principalmente nos 100 milhões de hectares de pastos degradados no país”. Seria bem mais fácil aproveitar o que já está desmatado, só que, geralmente, é mais barato e mais lucrativo desmatar novas áreas do que investir no aumento da produtividade das áreas já desmatadas, essas são falhas de políticas públicas e do mercado. (BARRETO, 2009). O objetivo principal deste artigo foi analisar os conhecimentos sobre as principais causas de desmatamento e perda da biodiversidade de Eliseu Martins, município brasileiro que fica no Sul do estado do Piauí. Seguido dos objetivos específicos em propor métodos para evitar o desmatamento, conscientizar a população de que a água potável é um recurso limitado e estimulá-los a entenderem que o equilíbrio e o futuro do nosso planeta dependem da preservação da natureza. Este trabalho foi dividido em introdução, seguida de tópicos com apresentação dos quatro principais biomas brasileiros e um tópico sobre desenvolvimento sustentável e biodiversidade. Após, vem a metodologia em que foi utilizada uma pesquisa bibliográfica e feita uma pesquisa de campo. Depois, vem análise dos resultados e, por fim, a conclusão. 2. Principais biomas brasileiros afetados pelo desmatamento Para se entender melhor sobre o que é um bioma, nesta parte do trabalho serão apresentados e destacados os quatro principais biomas do Brasil que são frequentemente afetados pelo desmatamento: a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica e o Pantanal. A palavra bioma significa vida em grupo (bio= vida e oma= massa ou grupo) e foi definida por Clements (1916), ecologista norte-americano como “comunidade de plantas e animais, geralmente de uma mesma formação, comunidade biótica”. Por existirem várias definições de biomas de variados autores, não é possível saber quantos há no mundo. Mas, de certo são considerados em geral onze que variam de acordo com o clima, são eles: florestas tropicais úmidas, tundras, desertos árticos, florestas pluviais, subtropicais ou temperadas, bioma mediterrâneo, prados tropicais ou savanas, florestas temperadas de coníferas, desertos quentes, prados temperados, florestas tropicais secas e desertos frios. (INFOESCOLA, 2006). 230


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2.1 O desflorestamento na Amazônia O processo de desmatamento vem afetando a Floresta Amazônica considerada como “pulmão” do mundo, pois é a maior floresta tropical do planeta. Estende-se por nove países da América do Sul que são: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname, Guiana Francesa e Brasil, onde está situada a maior parte da floresta, distribuindo-se por nove estados brasileiros e recobrindo cerca de 40% do território nacional. A floresta Amazônica possui uma grande diversidade de seres vivos. O clima é quente com umidade elevada durante todo o ano, o que beneficia a sobrevivência da cobertura vegetal com árvores de grande porte e folhas sempre verdes. Essa diversidade biológica tem além de seu valor inerente, valor ecológico, genético, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético. Mas o ser humano vem desmatando de forma desenfreada, desvalorizando sua importância, pensando só em bens lucrativos e ocasionando problemas ambientais. No entanto, são necessárias medidas urgentes para diminuir essa devastação, pois, é preciso evitar para que o equilíbrio e estabilidade do ecossistema sejam mantidos. (BRASIL, 1999, p.44). De acordo com cálculos do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial-INPE, a área desmatada na Amazônia até o ano de 2002 era superior ao tamanho do território francês. E os fatores apontados como as principais causas do desmatamento foram principalmente a extração de madeira e a atividade agropecuária. Pesquisas do Ministério do Meio Ambiente, constataram que 80% da extração da madeira na Amazônia ocorre de forma ilegal. (INPE, 2002). Enfim, a principal consequência do desflorestamento na Amazônia é a perda de biodiversidade que gera imenso desequilíbrio natural do planeta. Essa instabilidade é totalmente irreversível porque é impossível trazer de volta espécies extintas. Por isso, devemos preservá-la.

2.2 O rico cerrado brasileiro e o desmatamento O cerrado, de acordo com Borlaug (2002), é o segundo maior bioma brasileiro, sendo superado em área apenas pela Amazônia. Ocupa 21% do território nacional e é considerada a última fronteira agrícola do planeta. Também é estimado como um dos biomas do Brasil mais ricos em biodiversidade, que se estende por grande parte da região Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste do país. Em suas características apresenta o clima tropical continental, em razão da ocorrência de duas estações bem definidas – uma úmida (verão) e outra seca (inverno) - tem uma vegetação com árvores e arbustos de pequeno porte, troncos retorcidos, casca grossa e, geralmente, caducifólia (as folhas caem no outono). Em sua fauna encontram-se: capivaras, lobos-guarás, tamanduás, antas, seriemas entre outros. (BRASIL, 2004).

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A perda de biodiversidade no Cerrado por causa do desmatamento no bioma envolve a extinção de algumas espécies animais e vegetais, gera impacto sobre o leito de muitos rios importantes para o Brasil, como, por exemplo, o São Francisco que terá com essa devastação cada vez menos nascentes. Enfim, devido a sua importância o Cerrado, assim como os outros biomas, necessitam ser preservados. Sua devastação precisa ser urgentemente interrompida, para que, em um futuro próximo, ao menos algumas partes de sua vegetação sejam reflorestadas e recuperadas. (PENA, 2016).

2.3 A Mata Atlântica corre risco de extinção

O bioma Mata Atlântica que se estende por dezessete estados brasileiros e vai do Rio Grande do Sul ao Piauí está desaparecendo. Devido à sua localização na faixa litorânea do país, enorme parte de sua vegetação original foi devastada para ceder lugar à intensa ocupação do litoral. As características desse bioma eram praticamente as mesmas da Floresta Amazônica: com diferentes tamanhos, latifoliada (folhas largas e grandes) e perene (folhas que não caem). A fauna da Mata Atlântica já foi praticamente extinta e era constituída por micos-leões, lontra, onça-pintada, tatu-canastra, arara-azul e outros. (BRASIL, 1999). Embora tenha ocorrido tamanha destruição na Mata Atlântica, ainda existem cerca de 261 espécies de mamíferos, 1020 de pássaros, 197 espécies de répteis, 340 de anfíbios, 350 de peixes e cerca de 20 mil espécies vegetais, mas estão seriamente ameaçadas. Portanto, pensando em preservar o que restou desse bioma, foram criadas diversas Unidades de Conservação (áreas de preservação previstas em Lei), totalizando 860 unidades. A maior delas é o Parque Estadual da Serra do Mar. Com o mesmo intuito, foi aprovada a Lei da Mata Atlântica (Lei nº 285/99) em 2006, que acaba com as controvérsias acerca de sua extensão e características principais, além de definir medidas de preservação. (INFOESCOLA, 2015).

2.4 O Pantanal e o desmatamento

O Pantanal é um bioma brasileiro que se estende pelos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. É muito influenciado pelos regimes dos rios presentes nesses lugares, pois, durante o período chuvoso (outubro a abril), a água do pantanal alaga grande parte da planície da região. Quando o período chuvoso acaba, os rios diminuem o seu volume d’água e retornam para os seus leitos. Por essa razão, a vegetação e os animais precisam adequar-se a essa movimentação das águas. A fauna é constituída por várias espécies de aves, peixes, mamíferos, répteis etc. (BRASIL, 1999, p.43). 232


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De acordo com Teixeira (2010), ministra do Meio Ambiente nesse período, entre os principais fatores que causam a degradação no bioma Pantanal estão: a produção de carvão vegetal, a expansão de áreas para pastagem e o avanço na área de investidores externos. Já segundo os dados levantados pela Organização Não Governamental-ONG apontam que a pecuária, a plantação de culturas exóticas e as carvoarias são as principais causas da destruição de 17% da cobertura vegetal desse ecossistema. A importância do Pantanal foi reconhecida mundialmente em 2001, quando a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu esse bioma como um patrimônio natural da humanidade. Mesmo assim, é um dos biomas brasileiros menos protegidos, apesar da importância e da singularidade desse ecossistema. Vale ressaltar que todos os biomas brasileiros correm risco de extinção caso sejam mantidos os mesmos padrões de exploração. Assim, é relevante mencionar que o Cerrado e a Mata Atlântica já se encontram na lista mundial de Hotsposts, ou seja, áreas com grande diversidade que se encontram ameaçadas de extinção. Outro dado assustador e que precisa ser bastante respeitado é que, além deles, estima-se que a Amazônia brasileira desaparecerá em 40 anos, caso sejam mantidos os índices de desmatamento atuais. (OLÍMPIA, 2009).

3. Desenvolvimento sustentável e biodiversidade

A principal definição sobre o desenvolvimento sustentável é que, “ele atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”, ou seja, permite que a pessoa, no presente momento e no futuro, alcance uma condição suficiente de desenvolvimento social, econômico, humano e cultural, utilizando os recursos naturais e, ao mesmo tempo, preservando o planeta. No entanto, para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de idealização e da consideração de que os recursos naturais são finitos. (TAYRA, 2008).

De acordo com Santos (2008), a tática do desenvolvimento sustentável propõe gerar um consenso entre as pessoas e a natureza. Assim, a atividade econômica, o meio ambiente e o bem-estar da sociedade se correlacionam e desenvolvem o tripé fundamental no qual se sustenta o conceito de desenvolvimento sustentável. Portanto, torna-se necessário demonstrar a importância da participação de movimentos sociais, constituídos principalmente na forma de ONGs (Organizações Não- Governamentais), no desenvolvimento sustentável do planeta, na procura por melhores condições de vida agregadas à preservação do meio ambiente e a uma condução da economia adequada a tais exigências. (ECO, 1992). -A sustentabilidade ambiental: trabalha na conservação dos elementos que formam os ecossistemas assegurando que permaneçam viáveis, adequados para que se autorreproduzam e ha-

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bituem-se às transformações para manter a sua biodiversidade. -A sustentabilidade econômica: são métodos e ações políticas que tendem incorporar a importância da conservação do meio ambiente, por meio de preocupações e conceitos ambientais e sociais. -A sustentabilidade sociopolítica: é dirigida para o desenvolvimento humano e vê as pessoas não como objeto, mas sim como objetivo do desenvolvimento. Ele participa na formação de políticas que o afetam, decide, controla e executa decisões. -A sustentabilidade cultural: analisa como as pessoas encaram os seus recursos naturais, especialmente como são construídas e tratadas suas relações com outras pessoas em um tempo curto ou em longo prazo, buscando um mundo mais sustentável a todos os níveis sociais.

4 Metodologia Para a composição deste artigo foram adotados dois tipos de pesquisas embasadas nas temáticas sobre o desmatamento e a perda da biodiversidade. A primeira foi uma investigação bibliográfica em que foram pesquisados livros, sites, apostilas e textos de autores que discorressem sobre o tema pesquisado. A pesquisa bibliográfica auxiliou na escolha de um método mais acertado, ajudou em um conhecimento das variáveis e deu autenticidade a este trabalho. Segundo Cervo e Bervian (1976, p. 69), qualquer tipo de pesquisa em qualquer área do conhecimento, supõe e determina pesquisa bibliográfica antecedente, quer para o levantamento da situação em questão, quer para a fundamentação teórica ou ainda para justificar os limites e contribuições da própria análise. Em seguida, foi realizada uma pesquisa de campo, na comunidade Chupeiro, que fica localizada na área rural do município de Eliseu Martins-PI. Esse tipo de investigação segundo Lakatos e Marconi (1996, p. 75), observa e coleta os dados diretamente no próprio local em que se deu o fato em estudo, caracterizando-se pelo contato direto com o objeto em estudo, sem interferência do pesquisador, pois os dados são observados e coletados tal como ocorrem espontaneamente. Os sujeitos da pesquisa foram 50 moradores da comunidade Chupeiro e três funcionários da Secretaria de Agricultura de Eliseu Martins. Para a coleta de dados foram feitas perguntas através de um questionário com questões de fácil entendimento, permitindo que os sujeitos envolvidos permanecessem à vontade, para que se pronunciassem acerca de suas ideias, angústias, dificuldades encontradas e perspectivas em relação à importância da conservação da biodiversidade.

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Foram dois tipos de questionários. Um para três dos funcionários da Secretaria de Agricultura, sendo dois técnicos e um secretário da agricultura em atividades. E o outro para cinquenta moradores da comunidade Chupeiro, buscando assim a compreensão de como se dá o desmatamento e a perda da biodiversidade nessa região. O questionário voltado para os funcionários da Secretaria de Agricultura continha quatro perguntas abertas e fechadas. A primeira foi: Como é feito o desmatamento no município de Eliseu Martins-PI? A segunda: Quais os principais processos responsáveis pela perda de biodiversidade? A terceira pergunta: Preservar a biodiversidade constitui uma das condições básicas para manter os ambientes sadios no nosso planeta? A quarta e última pergunta foi: É necessário algum documento para o agricultor praticar o desmatamento na área do Chupeiro? O segundo questionário foi direcionado aos cinquenta moradores da comunidade Chupeiro. Para eles foram feitas três perguntas sobre as consequências encontradas devido ao desmatamento. A primeira pergunta: Quais as causas levavam o desmatamento na comunidade? A segunda: Quais as consequências do desmatamento? A terceira: Como contribuir para preservar a biodiversidade? Abaixo serão apresentados os resultados intercaladamente daquilo que foi perguntado na Secretaria de Agricultura e aos representantes da comunidade Chupeiro, como também o que foi observado no decorrer de todo o processo de confecção do presente artigo.

5 Discussão dos resultados Os resultados encontrados estão de acordo com o tema apresentado: desmatamento e perda da biodiversidade no município de Eliseu Martins-PI. Para conhecer a opinião dos técnicos e do secretário da agricultura em atividade da cidade campo desta investigação, primeiramente foi questionado como é feito o desmatamento no município de Eliseu Martins-PI. TÉCNICO 1: O desmatamento é feito de forma desenfreada, sem controle ambiental, mas nós da equipe da Secretaria de Agricultura estamos tentando conscientizar os moradores de que precisam conservar o ambiente.

TÉCNICO 2: O desmatamento nessa área é feito principalmente pelos moradores da zona rural, que desmatam para fazer plantações, carvoaria ou criar gados no local desmatado.

SECRETÁRIO: O desmatamento na cidade de Eliseu Martins-PI é feito pelos agricultores, eles desmatam para atividades agropecuárias e carvoaria. Mas o município também teve um grande desmatamento para abrir estrada na construção da ferrovia Transnordestina, obra inacabada até o momento.

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Com base na resposta dos três participantes funcionários da Secretaria de Agricultura, o desmatamento no município de Eliseu Martins-PI é praticado principalmente para atividades agropecuárias e carvoaria. O Secretário acrescenta que na zona rural da cidade, por conta da construção da ferrovia Transnordestina, houve um grande desmatamento na área. Sobre desmatamento, o Atlas dos municípios da Mata Atlântica lançado pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mostra que municípios do Piauí lideram o ranking de desmatamento do bioma entre 2013 e 2014 e Elizeu Martins, a 489 km, que fica no Sul do Piauí, aparece em primeiro na lista com 4.287 hectares (ha). (SOS Mata Atlântica, 2015). Por ser um município com um pouco mais de sete mil habitantes, considerado pequeno segundo o IBGE, essa colocação de Eliseu Martins-PI nessa lista de primeiro no ranking do maior desflorestador do bioma Mata Atlântica causou transtorno e a população contesta que as imagens da devastação feitas pelo o satélites do Atlas dos municípios são pertencentes a cidade de Pavussu. A seguir a foto 1. Veja a lista dos dez municípios que mais desmataram em 2013 e 2014.

FOTO 1.

FONTE: SOS Mata Atlântica, 2015.

Dando continuação, foi perguntado aos três funcionários da Secretaria de Agricultura de Eliseu Martins-PI, sobre quais os principais processos responsáveis pela perda de biodiversidade dessa área? TÉCNICO 1: Os processos responsáveis pela a perda de biodiversidade no município de Eliseu Martins-PI, são a destruição do ambiente, a exploração excessiva de plantas e animais, contaminação do solo e poluição dos rios dessa região. TÉCNICO 2: Os principais processos responsáveis pela perda de biodiversidade aqui em Eliseu Martins, são as queimadas, o desflorestamento e a poluição dos rios.

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SECRETÁRIO: Os principais processos responsáveis pela perda de biodiversidade no município de Eliseu Martins-PI se dão pela ação humana que pratica as queimadas, a poluição dos rios, a contaminação do solo, a destruição do habitat, a caça e o desmatamento.

Os três funcionários que responderam, incluindo o secretário, afirmaram que a perda da biodiversidade acontece principalmente pela destruição do habitat, exploração excessiva de espécies de plantas e animais; a contaminação do solo, água, desmatamento e queimadas. Sobre esse aspecto apontam-se três motivos para que se evite perda na diversidade biológica, que são: primeiro porque é uma das propriedades básicas da natureza, responsável pelo equilíbrio e estabilidade dos ecossistemas. Segundo porque a diversidade biológica representa um imenso potencial de uso econômico e terceiro porque se acredita que a diversidade biológica esteja se perdendo, com aumento da taxa de extinção de espécies, devido aos impactos que a natureza vem sofrendo. (BIODIVERSIDADE, 2007). Os três funcionários da secretaria de agricultura foram questionados ainda sobre: Preservar a biodiversidade constitui uma das condições básicas para manter os ambientes sadios no nosso planeta? Para esse questionamento ambos responderam que sim, que preservar a biodiversidade é importante e estabelece qualidades para conservar os ambientes saudáveis. Nesse contexto, Santos (2008) afirma que: “Sem a biodiversidade conservada não existe um ambiente sadio, não há garantia de sobrevivência da grande maioria das espécies de animais e vegetais, e, consequentemente, não poderá haver um desenvolvimento sustentável”. Portanto, é importante cuidar do ambiente em que nos encontramos e buscar desenvolver métodos e ações concretas para a conservação da sua biodiversidade. Para finalizar as perguntas aos funcionários da Secretaria de Agricultura, foram questionados se é necessário algum documento para o agricultor praticar o desmatamento na área do Chupeiro? Ambos responderam que não, que o agricultor praticava o desmatamento sem supervisão nenhuma e que é um grave problema ambiental. Segundo o IBAMA (2014), o desmatamento é um dos mais graves problemas ambientais da atualidade, e vem sendo muito praticado de forma ilegal e desenfreada. A ação humana vem devastando as florestas e os recursos naturais, comprometendo assim o equilíbrio do planeta em seus diversos elementos, incluindo os ecossistemas, afetando gravemente também a economia e a sociedade. Dando seguimento, foram feitas perguntas para cinquenta moradores da comunidade Chupeiro que fica na zona rural do município de Eliseu Martins-PI. A primeira pergunta foi: Quais as principais causas que levavam ao desmatamento na comunidade? As respostas serão apresentadas no gráfico 1 a seguir:

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GRÁFICO 1. Principais causas do desmatamento na comunidade Chupeiro.

FONTE: Dados da pesquisa.

A maioria dos entrevistados, ou seja, 43 deles responderam que a agropecuária seria a principal causa de desmatamento naquela comunidade, afirmaram que as matas são substituídas por pastagens, campos agrícolas ou áreas rurais à espera de valorização financeira. Já 04 dos participantes responderam que outro aspecto é o crescimento da comunidade, as áreas verdes são removidas para a construção de moradias. O presidente comenta sobre a ferrovia que é localizada na comunidade, a empresa responsável pela a construção desmatou uma grande área, iniciou as atividades e não concluiu. Com esse desmatamento a comunidade sente muito com o aumento da temperatura e com a diminuição de alguns animais silvestres. Sobre esse aspecto, Geist e Lambin (2001) asseguram que as causas dos desflorestamentos são combinações de vários fatores que favorecem a degradação ambiental, tais como: a interação entre a expansão agrícola, o comércio de madeiras, crescimento populacional e a construção de estradas, governança pública, que podem interagir de maneira diferente, dependendo da dinâmica temporal e espacial de cada região. Em seguida, os moradores da comunidade Chupeiro foram questionados sobre quais as consequências do desmatamento. Veja as respostas no Gráfico 2 a seguir: GRÁFICO 2: Consequências do desmatamento na comunidade Chupeiro.

FONTE: Dados da pesquisa.

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Dos 50 moradores participantes desta pesquisa, a maioria, ou seja, 39 deles responderam que a perda da biodiversidade seria consequência do desmatamento. Já 09 moradores falaram que o desmatamento trazia como consequência a erosão no solo e 02 disseram que afetava o clima do lugar. Rodrigues (2002) afirma que uma das consequências do desmatamento é a perda da biodiversidade e que a destruição das florestas levará diversas espécies à extinção. Muitas espécies podem ajudar na cura de doenças, podem ser usadas na alimentação ou como novas matérias-primas, são desconhecidas do homem, correndo o risco de serem destruídas antes mesmo de conhecidas e estudadas. Outras consequências que também agravam o desmatamento é o progresso dos processos de erosão do solo, a degradação dos ecossistemas nativos e a dispersão de espécies exóticas consideradas como as maiores e mais amplas ameaças à biodiversidade. Para finalizar os questionamentos feitos aos moradores da comunidade Chupeiro foi perguntado como eles contribuem para preservar a biodiversidade do local. As respostas serão apresentadas no Gráfico 3 a seguir. GRÁFICO 3: Contribuição dos moradores do Chupeiro para preservar a biodiversidade.

FONTE: Dados da pesquisa.

A maioria (27) dos moradores participantes responderam que evitam a caça de animais classificados como em risco de extinção. Já (19) afirmam que estão desmatando apenas quando necessariamente é preciso e (04) disseram que a economia de água ajuda bastante a preservar a biodiversidade. Portanto, nesse mesmo contexto, conforme o Ecodebate (2012), um método eficiente para contribuir com a preservação da biodiversidade é aumentar a conscientização pública sobre questões ambientais e sobre a importância do meio ambiente para vida dos seres vivos. A educação da população é um requisito eficaz, pois, assim terão consciência que conservando o ecossistema do planeta, ele terá suporte para sustentar as gerações futuras.

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6. Conclusão Conclui-se aqui, diante do que foi exposto, que o desmatamento é o principal fator que contribui na perda da biodiversidade do planeta. Este artigo teve a finalidade de analisar os conhecimentos sobre as principais causas de desmatamento e perda da biodiversidade principalmente de Eliseu Martins, município brasileiro que fica no Sul do estado do Piauí. A partir das estimativas realizadas conclui-se que o município foi considerado pelo SOS Mata Atlântica, entre 2013 e 2014 como o que mais desmatou. As causas dos desmatamentos são variadas e vão desde a prática da atividade agropecuária que é considerada como a principal causa de desmatamento naquela área, onde os agricultores desmatam para fazer plantações e criar gados e também para construção de casas, estradas e carvoarias. Constatou-se também, durante a pesquisa, que os quatro principais biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal vêm sofrendo corriqueiramente um desmatamento desenfreado e ilegal. Dois desses biomas (Cerrado e a Mata Atlântica), já se encontram na lista mundial de Hotsposts, ou seja, áreas com grande diversidade que estão ameaçadas de extinção. Mas, para sanar ou amenizar alguns desses problemas ambientas e definir medidas de preservação foram criadas ONGs e diversas Unidades de Conservação (áreas de preservação previstas em Lei). Observou-se ainda que o desmatamento feito pelos moradores da comunidade Chupeiro é realizado sem supervisão, isso tem causado uma perda bastante acentuada na biodiversidade do lugar, muitos animais já foram extintos como, por exemplo: o jacu e o caititu. Portanto, é preciso que sejam implantados programas de controle voltados para o meio ambiente da comunidade. Precisa-se urgentemente de medidas que contribuam na preservação da diversidade biológica. É importante frisar que a principal ameaça à biodiversidade é a ação humana e a perda da biodiversidade pode ser totalmente irreversível, porque sempre é possível recuperar o solo, os corpos d’água e ciclagem de nutrientes utilizando sistemas ecológicos simplificados, mas é impossível trazer de volta espécies extintas. Portanto, as perguntas e as respostas desenvolvidas neste trabalho serviram como um alerta, pois a transformação do meio ambiente é feita pelo ser humano que, para melhorar sua condição de vida na terra, precisa destruir o meio ambiente. É importante ressaltar que a perda da biodiversidade acarreta diversos danos, afeta diretamente a teia alimentar e provoca o desequilíbrio dos ecossistemas. Por isso, devemos preservar o ambiente e essa preservação ambiental depende de cada um de nós. Se começarmos a agir agora mesmo, o nosso planeta tem chance de sobreviver e todos sairão ganhando.

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7. Referências ABRÃO, Maria Bárbara Soares. Ciências Biológicas. Universidade de Uberaba, 2008. BARRETO, Paulo. O desmatamento é desnecessário. Pesquisador sênior do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) Folha de S.Paulo, 2009. BORLAUG, N. E. Alimentando um mundo de 10 bilhões de pessoas: o milagre à frente. O aquecimento global. Competitive Enterprise Institute, Roseville, EUA 2002. GEIST, H. J. e LAMBIN, E. F. O que impulsiona a desflorestação tropical. LUCC série relatório n º 4. Uso da terra e a terra cobrem mudança, programa internacional da geosfera-biosfera. 2001. IBAMA: Desmatamento na Amazônia é o segundo menor da série histórica: Disponível em <http://www.ibama.gov.br/publicadas/desmatamento-na-amazonia-e-o-segundo-menor-daserie-historica> Acesso em: 25 abri. 2016. INFOESCOLA< www.infoescola.com/geografia/biodiversidade> Acesso em: 12 abri. 2016. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS – INPE. Disponível em: <http:// www.obt.inpe.br/prodes/index.html>. Acesso em: 12 abri. 2016. OLÍMPIA Thamires .S. Principais biomas brasileiros.Mundo Educação Geografia Física do Brasil. RJ, 2009. RODRIGUES, W. Tecnologias agrícolas sustentáveis no Cerrado. Coleção Centro-Oeste de Estudos e Pesquisas. 13. Ministério da Integração Nacional & Universidade Estadual de Goiás, Brasília 2002. SANTOS, A. S. R. dos. Biodiversidade, bioprospecção, conhecimento tradicional e o futuro da vida. Universidade Federal do Pará, 2008. SOS Mata Atlântica <https://www.sosma.org.br/projeto/viva-a-mata/viva-mata-2015/>. Acesso em 21 de março de 2016. YOUNG, C.E.F. Economia do Extrativismo em áreas de Mata Atlântica. Sustentável Mata Atlântica. A exploração de seus recursos florestais. São Paulo: Editora SENAC, 2002. TAYRA, F. O conceito do desenvolvimento sustentável. São Paulo 2008.

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LEVANTAMENTO BIBLIOGRAFICO DE PLANTAS MEDICINAIS NO ESTADO DO PIAUÍ, BRASIL. JOSÉ DARLAN ALVES DA SILVA FRANCISCO MARQUE DE OLIVEIRA NETO2 SAMIA MAROUF ABDEL JALIL3 MARLUCIA OLIVEIRA LIMA4

RESUMO A pesquisa Etnobotânicas cresceu visivelmente nas últimas décadas em muitas partes do mundo, em especial na América Latina e, particularmente, em países como o México, Colômbia e Brasil.A utilização das plantas como medicamento no estado do Piauí tem sido uma prática comum que vem sendo transmitida de geração a geração.Objetivou-se realizar um levantamento de estudos Etnobotânicos de plantas medicinais desenvolvido no estado do Piauí, Brasil; visando discutir as famílias mais utilizadas, indicações fitoterápicas, conhecimentos tradicionais, perfil socioeconômico das comunidades estudadas e contribuir na comunidade científica.O universo amostral dos informantes levantado dentro dos artigos está compreendido em uma larga faixa etária entre 30 a 70 anos. Grande parte dos entrevistados, em vários estudos no Estado do Piauíé analfabeta. A família que teve maior representação nas indicações medicinais foi a Leguminosae. Das partes das plantas mais utilizadas para fins medicinais se destaca a folha em todos os trabalhos levantados. Além de demonstrar a riqueza de conhecimento sobre plantas medicinais, este estudo indica também que o Piauíé um estado do nordeste brasileiro onde os recursos financeiros para tratamento de doenças e o funcionamento do sistema público de saúde é bastante precário, torna-se fundamental estudar o potencial medicinal dos recursos vegetais do estado.

Palavras-Chave: Plantas medicinais, conhecimento tradicional, Etnobotânica

INTRODUÇÃO

A grande importância de pesquisas Etnobotânica no Brasil é dada pela sua alta diversidade cultural e biológica, as quais se encontram ligadas. O Brasil apresenta centenas de povos indígenas e milhares de comunidades quilombolas, de pescadores artesanais, agricultores familiares, sertanejos, ribeirinhos, dentre outras, e detém cerca de 22% de todas as espécies de plantas descritas no mundo. Essas espécies são fontes de recursos materiais, genéticos, simbólicos e econômicos para subsistência e reprodução sociocultural desses povos e comunidades (Albuquerque & Lucena, 2004). _________________________________________________________________________________________ 1Discente do Programa de Pós- Graduação em Recursos Naturais- PGRN – UEMS-Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, E-mail: darlan-phb@hotmail.com. 2Orientador: Msc. Francisco Marque de Oliveira Neto- Universidade Estadual do Piau´-UESPI, E-mail: aracnomarques@yahoo.com.br . 3Discente do Programa de Pós- Graduação em Recursos Naturais- PGRN – UEMS-E-mail: samia_jalil@hotmail. com 4Msc. Docente da Universidade estadual do Piauí- UESPI, E-mail: marlucialyma@hotail.com. 243


Educação, saúde e meio ambiente

A pesquisa Etnobotânica cresceu visivelmente na última década em muitas partes do mundo, em especial na América Latina e, particularmente, em países como o México, Colômbia e Brasil (Hamilton et al., 2003). O trabalho de Martínez-Alfaro, (1994) ilustra o interesse que o tema vem despertando na comunidade científica latino-americana. Segundo Oliveira (2009), 52% dos artigos publicados em periódicos internacionais foram desenvolvidos na América Latina por pesquisadores norte-americanos, ingleses e franceses, tendo a América do Sul produzido 41% dos estudos de toda a América Latina, e a maior parte deles foram desenvolvidos por pesquisadores nacionais dos seguintes países: Uruguai (100%), Argentina (90%), Chile (78%), Brasil (67%) e Paraguai (61%). No contexto do Brasil e de outros países em desenvolvimento, a construção e a transformação da Etnobotânica acontece em um cenário de diversidade cultural envolvendo os conhecimentos e práticas de seus habitantes e de diversidade biológica. Esse é um patrimônio de imenso valor potencial, incluindo plantas de interesse e potencial de mercado que podem ser possíveis fontes de geração de renda com sustentabilidade ambiental (Oliveira, 2009). O Brasil possui uma área geográfica de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, distribuídos em vários biomas (Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, Amazônia e Caatinga), apresenta uma grande diversidade de solos e climas que favorece a riqueza e variedade de tipos de vegetação e espécies de flora, distribuídos nos diversos ecossistemas brasileiros (Dias, 1995). Atualmente, são reconhecidas 43.491 espécies da flora brasileira (Forzza, 2010). Diante da grande diversidade de espécies, apareceram grandes e importantes discussões diante da proteção da biodiversidade, em que se destaca o importante papel da convenção sobre a diversidade biológica (CDB), “Instrumento de direito internacional, acordado e aberto a adesões durante a reunião das nações Unidas realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992” (Cunha, 1999). Esse acordo teve como objetivo, mostrar o direito e os deveres das comunidades, diante das unidades de conservações. Foi o primeiro acordo multilateral a regular a conservação e o acesso aos recursos genéticos e a conhecer o papel das comunidades tradicionais nas áreas protegidas (Zanirato & Ribeiro, 2007). As espécies de uso medicinal são ainda poucas consideradas quanto a sua presença na pesquisa e produção agrícola. Sabe-se que menos de 1% da nossa flora já foi estudada cientificamente visando comprovar sua eficácia (Silva, 2002). A indústria farmacêutica é uma grande interessada no estudo das espécies medicinais. A importância em descobrir novos fármacos a partir de substâncias totalmente sintéticas pode custar de US$ 100 a 300 milhões, representando cerca de 15% do faturamento dessas indústrias (Scrip, 1993). Os medicamentos originados de plantas medicinais são originados em menor tempo e com custos inferiores aos obtidos sinteticamente (Ferreira, 2001). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 85% da população mundial utiliza 244


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alguma planta e seus princípios ativos nas composições medicamentosas e dessas 80% dependem ou fazem uso de algum tipo de medicina tradicional para suas necessidades básicas de saúde (Akerele,1991). Dentre os trabalhos Etnobotânicos realizados no estado do Piauí, podem ser citados: um dos primeiros trabalhos a utilizar este enfoque, foi realizado por Jenrich (1989), que fez o levantamento da vegetação nativa nas regiões de altiplano em Amarante, Oeiras e áreas vizinhas, observando a utilização da vegetação para diversas finalidades de uso, principalmente, madeireira e medicinal. Oliveira (1996) que realizou o levantamento das plantas forrageiras na bacia do rio Parnaíba; Abreu (2000) estudou a diversidade vegetal no cerrado, na comunidade quilombola denominada mimbó, município de Amarante; Franco (2005) levantou as espécies úteis da comunidade Quilombola de Olho da água dos Pires, no Município de Esperantina; Franco et al.(2007), verificaram o uso, a diversidade de plantas do cerrado utilizados pelos Quilombolas de Olho da Água dos Pires, Esperantina; Santos Barros & Araújo (2007) identificaram a diversidade de plantas medicinais e forrageiras do cerrado de Monsenhor Gil; Chaves e Barros (2008; 2012); Oliveira (2008); Amorim (2010) ; Aguiar e Barros (2012) e Baptistel et al (2014). Para o litoral piauiense podem ser citados os trabalhos de Meireles (2012) que realizou estudo Etnobotânico e a caracterização da pesca na comunidade Canária, Delta do Parnaíba; Sousa (2010),realizou estudo etnozoológico nas comunidades pesqueiras, Barra Grande e Morro da Mariana, situada na APA do Delta do Parnaíba, como forma de preservar e valorizar a biodiversidade e a cultura tradicionais e Sousa (2010b) investigou a Etnobotânica das comunidades pesqueiras, Barra Grande e Morro da Mariana na APA do Delta do Parnaíba, como modo de contribuir na valorização e preservação da biodiversidade e da cultura local. Diante da grande importância em conhecer e preservar o conhecimento tradicional sobre plantas medicinais e contribuir para o conhecimento da diversidade biológica no estado do Piauí, objetivou-se realizar um levantamento de estudos Etnobotânicos de plantas medicinais desenvolvidos no estado do Piauí, Brasil visando discutir as famílias mais utilizadas, indicações fitoterápicas, conhecimentos tradicionais, perfil socioeconômico das comunidades estudadas e contribuir com a comunidade científica. MATERIAL E MÉTODOS Trata-se de uma revisão bibliográfica em que os dados do presente trabalho foram coletados em livros específicos e também na internet, nos principais sites de busca de artigos científicos, tais como o Scielo e portal Capes, incluindo trabalhos publicados em revistas indexadas, monografias, dissertações e teses científicas que continham dados sobre a utilização de plantas medicinais dando importância para estudos realizados no Piauí em seu contexto geral, com o objetivo de obter um maior domínio e conhecimento sobre o assunto. Como critérios de exclusão, adotaram-se artigos que não apresentassem nenhum aspecto do tema proposto. 245


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RESULTADOS E DISCUSSÃO Características dos entrevistados Idade e sexo dos entrevistados O universo amostral dos informantes levantado dentro dos artigos, está compreendido em uma larga faixa etária entre 30 a 70 anos. Oliveira (2008), realizou um estudo sobre conhecimento tradicional em comunidades rurais do semiárido piauiense, onde selecionou 20 entrevistados, sendo 13 homens e 7 mulheres. Constatou que as mulheres possuem um maior conhecimento sobre plantas medicinais. Colaborando com esses dados, Oliveira (2010) também diagnosticou que o conhecimento sobre plantas medicinais está mais concentrado entre as mulheres na sua pesquisa desenvolvida em comunidades rurais de Oeiras-PI. No universo dos entrevistados, 35% mulheres e 65% homens, no qual as mulheres mostraram mais conhecimentos sobre plantas medicinais. Através dos números de citações, a faixa etária encontrada dos entrevistados foi 70% entre 55 e 70 anos e 30% estão entre 35 e 54 anos. Resultado semelhante sobre faixa etária foi encontrado por Chaves e Barros (2012) na Área de proteção AmbientalAPA da Serra da Ibiapaba, em que 87,5% dos informantes estavam entre 50 e 70 anos. Trabalhos de Babtistel (2014); Aguiar e Barros (2012) e Barbosa (2014) variaram entre 43 a 85 anos.

Escolaridade dos entrevistados Oliveira (2010), em seu estudo em comunidades rurais de Oeiras Piauí, obteve no mundo amostral dos seus entrevistados, 55% não são alfabetizados, 40% possuem Ensino fundamental e apenas 5% concluiu o Ensino Médio. Corroborando os resultados, Barbosa (2014) que pesquisou sobre o conhecimento Etnobotânico tradicional de moradores do município de Corrente, Piauí, também obteve o resultado de que cerca de 55% não são alfabetizados. Já Oliveira (2008), realizou um estudo sobre conhecimento tradicional em comunidades rurais do semiárido piauiense, obteve apenas 8% não alfabetizada. Chaves e Barbosa (2012); Aguiar e Barros (2012) e Oliveira (2008), a maioria dos seus entrevistados são alfabetizados. Os resultados mostrados pelos estudos indicam que as pessoas que possuem o maior conhecimento sobre plantas medicinais são aquelas que não possuem um nível de escolaridade muito elevado.

Característica Econômica dos Entrevistados Franco e Barros (2006), descreveram que as principais atividades econômicas no Quilombo Olho d´água dos Pires, Esperantina, Piauí é a agricultura familiar, criação de pequenos animais e extrativismo e a quebra do coco babaçu para consumo e comercialização. A renda familiar dos entrevistados encontra-se entre um e dois salários mínimos. Corroborando os resultados, Chaves e Barros (2012)na APA da Serra da Ibiapaba, Piauí, Nordeste do Brasil cons246


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tataram que 52% dos entrevistados têm renda familiar maior que um e menor que dois salários mínimos, 25% somam entre dois e três salários, 12% percebem mensalmente valores inferiores a um salário mínimo e apenas 10% referiram rendas superiores a três salários mínimos. Meireles (2012), em estudo na comunidade Canárias, reserva extrativista marinha do Delta do Parnaíba, Nordeste do Brasil, seus entrevistados relataram que a renda de suas famílias varia entre um e dois salários mínimos, devido à produção pesqueira e outras atividades primárias econômicas. Estudo conduzido por Oliveira (2010), cerca de 75% dos seus entrevistados relataram que sua renda familiar atinge no máximo um salário mínimo, 25% têm renda inferior a um salário e apenas 5% têm renda de dois salários mínimos. Diante dos dados econômicos encontrados nos artigos, nota-se que a renda familiar de maior expressão é de um salário mínimo, isso pode se caracterizar pelos tipos de atividades econômicas que as comunidades desenvolvem ou por falta de outras atividades comerciais (figura 1).

Levantamentos Botânicos Segundo Oliveira (2010), em seu estudo sobre o uso de plantas medicinais em comunidades rurais de Oeiras, semiárido piauiense, em entrevistas identificou 167 espécies empregadas como fitoterápicos. Elas estão distribuídas em 143 gêneros e 59 famílias botânicas. Oliveira (1990), efetuou o levantamento das plantas forrageiras nos municípios de Jaicós, Valencia do Piauí e Oeiras, identificando 98 espécies, distribuídas em 63 gêneros e 25 famílias. Abreu (1996), pesquisou os raizeiros de Teresina, registrando 60 espécies usadas na medicina popular, distribuídas em 28 famílias botânicas. Abreu (2000), analisou o uso e a diversidade dos recursos vegetais utilizados pela comunidade Quilombola Mimbó em Amarante, listando 73 espécies vegetais úteis, distribuídas em 22 famílias. Campos (2004) em levantamento de plantas medicinais cultivadas em nove hortas comunitárias, registraram a ocorrência de 27 espécies, com destaque para a babosa (Aloe vera L), mastruz (Chenodium ambrosioides L.) e capim santo (Cymbopogom citratus (DC.) Stapf). Franco (2005) em levantamento quali-quantitativo no Quilombo de Olho D`água dos Pires, no município de Esperantina, evidenciou a ocorrência de 177 etnoespécies, distribuídas em 58 famílias botânicas e 131 gêneros. 247


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Chaves, Barros e Sérvio Junior (2006) avaliaram as potencialidades da vegetação do carrasco, município de Cocal e identificaram 60 etnoespécies, distribuídas em 25 famílias e 50 gêneros. Torquato (2006), em pesquisa na comunidade Quilombola Olho D`água dos Pires registrou a ocorrência de 93 espécies com potencial melitófilo, distribuídas em 74 gêneros e 34 famílias botânicas. Franco, Barros e Araújo (2007), ao pesquisarem o uso e diversidade de plantas utilizadas pelos Quilombolas de Olho D`água dos Pires em Esperantina/ PI, catalogaram 177 etnoespécies, pertencentes a 71 gêneros e 39 famílias. Santos, Barros e Araújo (2007), ao estudarem a diversidade de plantas medicinais e forrageiras no município de Monsenhor Gil, evidenciaram a ocorrência de 70 espécies, distribuídas em 32 famílias. Vieira (2008), em pesquisa desenvolvida na comunidade quilombola dos Macacos, município de São Miguel do Tapuio, constatou a ocorrência de 225 etnoespécies, distribuídas em 13 categorias de uso, das quais a medicinal (74), a forrageira (62) e a alimentícia (58) foram as mais representativas. Santos, Barros e Araújo (2008), em levantamento Etnobotânico e de diversidade dos recursos vegetais úteis no município de Monsenhor Gil, mostraram 112 espécies, distribuídas em 83 gêneros e 42 famílias. Tabela 01. Números de família, gênero e etnoespécies encontradas por cada autor em seus respectivos locais de estudos

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AUTOR/ANO

CIDADE

Nº FAMILIA

Nº GENERO

NºETNOESPECIE

Abreu (1990)

Teresina

28

nd

nd

Abreu (200)

Amarante

22

nd

73

Campos (2004)

Teresina

nd

nd

27

Franco (2005)

Esperantina

58

131

nd

Chaves et al (2005)

Cocal

25

50

nd

Torquato (2006)

Esperantina

34

74

93

Franco et al (2007)

Esperantina

39

71

177

Santos et al (2007)

Monsenhor Gil

32

71

177


Educação, saúde e meio ambiente

Vieira (2008)

S. Miguel do Tapuio

nd

nd

13

Santos et al (2008)

Monsenhor Gil

42

83

112

Nd= Não foi descrito pelo autor.

Em levantamento florístico, Vieira (2008) encontrou através de entrevistas 225 etnoespécies distribuídas em 62 famílias destacando, Leguminosae (38), Euphobiaceae e Poaceae (15), Apocynaceae (9), Bignoniaceae e Convolvulaceae (8), Cucurbitaceae, Lamiaceae e Malvaceae (70), Anacardiaceae e Combretaceae (6). Resultados semelhantes foram encontrados por Abreu (2000), em que identificou 57 espécies de plantas na Comunidade de Nimbó, na Cidade de Amarante-PI, distribuídas em Leguminosae (17), Compretaceae (5), Apocynaceae e Anacardiaceae (4). Franco & Barros (2006), no Quilombo Olho D’água dos Pires, município de Esperantina; por Chaves (2005) em Cocal e por Vieira (2008), no Quilombo dos Macacos em São Miguel do Tapuio, também encontraram a maior representação nas famílias Leguminosae e Euphobiaceae. Resultados diferentes foram obtidos por Araújo (2015), em que as famílias botânicas que apresentaram o maior número de espécies citadas foram: Fabaceae (13,11%), Lamiaceae (8,19%), Euphorbiaceae (6,55%), Anacardiaceae, Myrtaceae e Rutaceae (com 4,91%). Oliveira (2010), em seu levantamento de Plantas medicinais utilizadas em comunidades rurais de Oeiras/PI obteve as partes da planta indicadas para fins medicinais a folha (31,5%), a casca (16,3%), a raiz (14,8%), a flor (10,9%), o fruto (7%), a semente (6,5%), a planta inteira (4,6%),o látex (3,9%) e os caules: aéreo (3,1%) e subterrâneo (1,4%). Resultado análogo para as folhas observou-se nos trabalhos Chaves (2005) em Cocal/ PI;Amorozo (2002); Coelho et al. (2005);Aguiar e Barros (2012) e Babtistel (2014). As espécies que tiveram maior valor de uso, no trabalho de Araújo (2015) foram Aristolochia triangularis, Petiveria alliaceae e Stachytarpheta cayennensis. Aguiar e Barros (2012) obteveramXimenia americana, Chenopodium ambrosioides; Phyllanthus amarus; Plectranthus barbatus e Operculina alata. Babtistel (2014) encontrou Amburana cearensis (Allemao) A. C. Sm (imburana) (1,59), Lippia alba (Mill) N. E. Brown (erva cidreira) (1,43), Operculina sp. (batata de purga) (1,40), Lafoensia replicata Pohl. (mangabeira) (1,34), Lippia gracillis H. B. K. As formas de preparo mais utilizadas encontrada por Araújo (2015) em Estudo Etnobotânico sobre plantas medicinais na comunidade de Curral Velho, Luís Correia, Piauí, Brasil, foi o chá em forma de decocção que teve maior indicação (27%), seguido da maceração (23,11%) e da infusão (17,51%). Colaborando com os resultados, Oliveira (2010) tendo como a decocção (32,2% dos casos), infusão (23,8%), garrafada (9,9%), suco (7,5%), lambedor (6,5%) e uso tópico (4,9%). O chá por decocção foi a forma de preparo mais indicada dentre as medicinais, 249


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com 58% das indicações, seguida pela garrafada e sumo (7% cada), emplastro, in natura e látex (6% cada), xarope (5%), óleo e suco (2% cada) e banho (1%) encontrado por Aguiar e Barros (2012) estudo realizado em comunidades no Município de Demerval Lobão, Piauí, Brasil. O maior número de espécies medicinais foi indicado em Olho D’água dos Pires para sintomas e sinais relativos ao sistema respiratório (26,7%), tais como gripe, sinusite, inflamação na garganta, pneumonia, asma, tosse, dentre outras. O mesmo foi observado por diversos autores como Amoroso & Gély (1988), Silva-Almeida & Amoroso (1998), Schardong & Cervi (2000) e Silva (2003). CONCLUSÃO

O universo amostral dos informantes levantado dentro dos artigos está compreendido em uma larga faixa etária entre 30 e 70 anos. Caracterizando que esse conhecimento tradicional está concentrado nas pessoas mais velhas dentro das comunidades estudadas. Assim, pode-se concluir que esse conhecimento não está sendo repassado para os mais jovens, podendo ser perdido ao longo do tempo. Grande parte dos entrevistados em vários estudos no Estado do Piauí é composta por analfabetos. A família que teve maior representação nas indicações medicinais foi a Leguminosae. Com relação às partes das plantas mais utilizadas para fins medicinais se destaca a folha em todos os trabalhos levantados, o que pode ocorrer por apresentar maior abundância na planta e expressar efeitos positivos. Ao se resgatar os conhecimentos terapêuticos locais, podem-se fornecer relevantes contribuições para a conservação da diversidade biológica e do rico acervo cultural concernente às práticas extrativistas e ao manejo de recursos naturais.Além de demonstrar a riqueza de conhecimento sobre plantas medicinais. O Piauí é um estado do nordeste brasileiro onde os recursos financeiros para tratamento de doenças e o funcionamento do sistema público de saúde é bastanteprecário, dessa maneira torna-se fundamental estudar o potencial medicinal dos recursos vegetais do estado.

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CARACTERIZAÇÃO DO COMÉRCIO DE PLANTAS MEDICINAIS EM FLORIANO-PI EVANDO FILISMINO FERREIRA DE BRITO1 CÍCERO QUIRINO DA SILVA NETO²

RESUMO As plantas medicinais são as que possuem atividade biológica, com a presença de princípios ativos úteis à saúde humana, sendo assim um importante recurso terapêutico desde os primórdios da antiguidade até nossos dias. Essa evolução culminou com a introdução das plantas medicinais ao comércio em mercados e feiras livres, esses locais são espelho da cultura local como também da biodiversidade da fauna e flora. O objetivo deste trabalho é caracterizar o comércio de plantas medicinais na cidade de Floriano-PI, no Mercado Público Municipal Isael Almeida (MPMF) e feira livre que o circunda procurando detalhar o ambiente de comercialização de plantas medicinais, as espécies comercializadas, as partes da planta mais comercializadas e o perfil socioeconômico dos vendedores. Para obtenção desses dados, além de revisão bibliográfica,foram realizadas entrevistas semiestruturadas com aplicação de formulários a três vendedores. O comércio de plantas medicinais possui 26 espécies de plantas medicinais comercializadas, em 73% a parte comercializada é a casca. Foram encontradas 25 doenças em que são utilizadas plantas medicinais como alternativa terapêutica, dividida em 11 transtornos à saúde. A prática de comercialização de plantas medicinais no MPMF é predominantemente como método de complementação de renda e realizada por vendedores com média de idade de 68 anos. Os locais de vendas são rústicos sem cuidados gerais com a higiene. Palavra-chave: conhecimento popular. Etnobotância. Etnobiologia. Medicina popular.

INTRODUÇÃO Plantas medicinais podem ser definidas como plantas que possuem atividade biológica, com um ou mais princípios ativos úteis à saúde humana (FERREIRA, 1998). As plantas medicinais têm sido um importante recurso terapêutico desde os primórdios da antiguidade até nossos dias. “Durante milhares de anos, os conhecimentos adquiridos foram repassados de geração para geração e acumulados por séculos” Di Stasi (1996). Entende-se então que o uso das plantas para fins medicinais ou terapêuticos acompanha a própria evolução do homem desde a própria origem das civilizações com experiências de uso e desuso, erro e acerto.

1 Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí, email: ev_brito@hotmail.com Biólogo Especialista em Biodiversidade e Conservação pela Universidade Estadual do Piauí, – UESPI. Email: cquirino07@hotmail.com 2

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Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 85% da população mundial utiliza produtos de origem natural. No Brasil, pesquisas demonstram que 91,9% da população fizeram uso de alguma planta medicinal, ABIFISA (2013) e o uso medicinal de plantas pelos brasileiros ocorre até mesmo antes de sua “descoberta”, com a utilização de ervas pelas comunidades nativas como os índios, que foram um dos principais pioneiros dessas atividades seguidos por europeus e africanos. O Brasil possui uma farmacopeia popular muito diversa, baseada em plantas medicinais, resultado de uma miscigenação cultural envolvendo africanos, europeus e indígenas, com introdução de espécies exóticas pelos colonizadores e escravos. Além disso, o país possui a maior diversidade vegetal do planeta, aproximadamente 55 mil espécies de plantas superiores (ENGELKE, 2003).

O conhecimento dos vegetais vem tendo avanços cada vez maiores com ciências como botânica e Etnobotânica. Isso acarreta estudos cada vez mais bem elaborados e descobertas de toda uma diversidade de plantas que são utilizadas para tratamentos de enfermidades e tais estudos vêm dando ênfase aos conhecimentos tradicionais da população local que tem seu conhecimento embasado no tradicionalismo que foi impregnado através de várias gerações que aprenderam a utilizar seu meio para encontrar soluções para seus problemas.Um deles está na pauta deste trabalho em destaque, as plantas medicinais. Hoje toda essa sabedoria acumulada através das gerações por membros de comunidades com pronunciada sabedoria e experiência sobre o conhecimento e uso de plantas com finalidades medicinais como “Erveiros” (comercializam e detêm profundo conhecimento dos produtos) e “Doutores Raiz” (pessoas que receitam e vendem plantas medicinais) definições destacadas por Araújo (2004) apud Albuquerque et al (2008) está cada vez mais sendo crucial para as populações das cidades, através de produtos que são comercializados nos mercados tradicionais das cidades.A diversidade de produtos de plantas que são utilizadas para fins medicinais é vasta como as raízes, cascas, elixires, frutas e sementes. Porém, o conhecimento dos produtos deve ser bem fundamentado pelo erveiro e direcionado ao tipo de eficácia que se espera dele. Por essa razão, necessita-se também saber a cadeia produtiva dessas plantas, a forma de coleta, armazenamento, produção e transporte. A comercialização de plantas medicinais então depende de fatores diversos que necessitam de uma compreensão realista e prática. Os mercados possuem um conhecimento rico, visto que as informações são trocadas com frequência entre os vendedores, até a indicação de procura em outra barraca, de produtos não encontrados em sua barraca. Os mercados praticados por esses atores sociais são melhor definidos assim: Mercados são lugares públicos destinados à venda de vários produtos, ao mesmo tempo em que são espaços de trocas e informações culturais. Esses espaços são marcantes de uma determinada cultura ou sociedade por reproduzirem, em uma pequena dimensão, a diversidade cultural e biológica de uma região. Nesses mercados pode-se encontrar setores específicos que comercializam plantas medicinais e animais para fins medicinais, reunindo, mantendo e difundindo o saber empírico de diferentes origens sobre tais recursos (ALBUQUERQUE & et al. 2007).

Para Almeida & Albuquerque (2002) em tais mercados pode-se obter informações sobre a flora e fauna exóticas e nativas de uma região, podendo subsidiar planos de conservação dos recursos comercializados. A utilização desses produtos fora da zona rural é uma tarefa não muito fácil, pois necessita de todo trabalho árduo de coleta, processamento, preparo para colocá-lo à venda. Observando-se a valoração do produto e sua real eficácia, sem esquecer de não gerar danos ao meio ambiente. Se o custo está relacionado à dificuldade de encontrar o produto ou em seu cultivo ou até mesmo ao tempo de sua produção pela natureza respeitando os ciclos e safras. 256


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Tendo em vista esse panorama, este estudo objetivou identificar e caracterizar o comércio de plantas medicinais do município de Floriano (Piauí), registrar seus devidos usos indicados, identificar partes vegetais comercializadas e o perfil socioeconômico dos vendedores. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado na cidade de Floriano no interior do Piauí, nordeste do Brasil. Sua população, segundo o mais recente censo do IBGE (2010), é composta de 57.690 habitantes, ocupando uma área de 3.410 km², localizada às margens do Rio Parnaíba, fronteira com Barão de Grajaú – MA, em uma altitude de 140 m e a 253 km da capital do estado do Piauí, Teresina, localizada geograficamente dentro de uma formação vegetacionalecotonal entre os biomas Cerrado e Caatinga. Possui clima tropical e a temperatura situada entre mínima de 29ºC e máximas de 39ºC (CPRM, 2004). Sua economia está consolidada como um grande polo educacional, atendendo os níveis fundamental, médio normal e profissionalizante, bem como o ensino superior de qualidade, através de universidades públicas e particulares, abrangendo mais de 30 cidades circunvizinhas. Possui um hospital regional, um particular e clínicas, além de maternidades e hospitais particulares que estão em construção. O Mercado Público Municipal Vereador Isael Almeida de Floriano-PI(MPMF) localizase no centro da cidade no qual ocorre maior movimentação de pessoas, as quais em grande parte são de cidades circunvizinhas, que vêm à cidade fazer compras, etc. A área do mercado concentra-se em uma diversidade de produtos desde eletrônicos, produtos alimentícios, utensílios domésticos e insumos agrícolas para pequenos agricultores, como plantas medicinais. Além disso, possui a seção (região em que se concentram vendedores) de comércio de plantas medicinais com aproximadamente quatro comerciantes de ervas medicinais “erveiros”. Comercializam principalmente cascas e materiais secos de plantas. Para aquisição dos dados foram utilizados formulários semiestruturados, complementados com entrevistas livres e informais conforme Albuquerque, Lucena e Cunha (2010). As questões continham perguntas sobre as espécies comercializadas, quais partes utilizadas, quais doenças são indicadase a forma de obtenção da planta, informações sobre o tempo na atividade de venda de plantas medicinais, além da idade dos mesmos foram adquiridas para a caracterização dos comerciantes. Figura 1- Localização do município de Floriano, em destaque na imagem, estado do Piauí, nordeste do Brasil. (Fonte: Google Imagens)

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RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização do Ambiente A caracterização foi feita através e visitas ao mercado e feira livre de Floriano. O comércio de plantas medicinais da cidade de Floriano-PI delimita-se no mercado central da cidade, abrangendo também a feira livre que o circunda (Figura 2). Figura 2-Vista aérea do Mercado Público Isael Almeida e Freira Livre da cidade Floriano, estado do Piauí, nordeste do Brasil

FONTE: Google Earth – Imagem 2016)

As bancas são dispostas pelas ruas de forma que ocorra a interação com o produto como manipulação da mercadoria pelo cliente comprador (Figura 3). Figura 3- Imagens do Mercado Público Isael Almeida (MPMF) e Feira Livre, Floriano, Piauí, Nordeste do Brasil. A: Vista posterior do MPMF, B: Vista frontal do MPMF, C: Vista da Feira Livre em dia de comércio, D: Vista da feira Livre durante as entrevistas

Fonte: Figuras A e B Google Earth – Imagem 2016; Figuras C e D, E. F. F. de Brito, 2016.

As bancas também são de madeira e cobertas por lonas quando não estão expostas 258


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para o comprador (Figura 4). Figura 4- Banca de venda de plantas medicinais.

Fonte: E. F. F de Brito, 2016.

Caracterização dos Vendedores Foram encontrados cinco vendedores de plantas medicinais que utilizam esse método como complementação da renda. Apenas três vendedores demonstraram interesse em participar da pesquisa, sendo que dois vendem no mercado público e um vende na feira livre. Os três vendem além de plantas medicinais produtos alimentícios naturais, como frutas, legumes, mel e também cachaça. Dois dos vendedores são homens e uma é mulher com idades de 63 (mulher), 69, 74 (homens), com média de 68,6 anos, resultado similar foi encontrado por Alves et al (2007) com relação ao sexo dos entrevistados, em que os erveiros, em sua maioria, pertencem ao sexo masculino. Porém, difere em relação à faixa etária, que variou de 33 a 81 anos, com média de 49,7 anos. Dois são analfabetos e um possui ensino fundamental incompleto; dois declaram-se negros e um declarou-se branco. Dois dos vendedores entendem e conhecem para quais doenças cada planta é indicada e outro referiu que apenas vende os produtos, porém desconhece a indicação, sendo que a venda é feita exclusivamente pelo nome da planta, forçando assim que o vendedor tenha, no mínimo, o conhecimento morfológico da planta (casca). Todos conhecem os produtos que comercializam por nome e identificam visualmente as partes das plantas comercializadas. Diversidade e Caracterização dos Produtos Foram coletadas, por meio de entrevistas, informações de 26 plantas ou produtos referidos comercializados. Sendo as mais vendidas, segundo os vendedores, as seguintes: Ameixa (Prunus domestica), Pra-Tudo (Pfaffiairesinoides (Kunth.) Spreng), Pau de Rato, Inharé e Mangabeira. Entre os óleos o mais vendido é o Óleo de Buriti. Já entre as partes das plantas a mais encontrada neste MPMF estudo foram 73% em forma de casca, 10% são raízes, 7% em forma de extratos (óleos), 3% folhas, 1% tronco, 2% para fruto seco, sementes e talo. Ver figura 5. 259


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Figura 5- Partes da planta que compõem o mercado e feira livre do município de Floriano, estado do Piauí, Nordeste do Brasil Fonte: E. F. F de Brito, 2016.

O resultado foi equivalente ao que Alves et al (2007) encontrou em Campina Grande, estado da Paraíba, Nordeste do Brasil em que se verificou 25 espécies de plantas comercializadas como medicinais, citadas pelos vendedores. Porém, diferentemente dos resultados de pesquisas como de Albuquerque et al (2007) que encontrou em mercados e feiras livres de Recife-PE 136 espécies de plantas medicinais. Já Parente et al (2001), em sua pesquisa no município de Barra do Piraí-RJ, encontrou 101 espécies de plantas comercializadas como medicinais na feira livre da cidade o que condiz com Alves et al (2007). Observa-se neste trabalho a importância pois a similaridade nos resultados dos estudos do nordeste de Albuquerque (2010), e a diferença dos estudos no sudoeste, que pode estar relacionado à diferença entre os biomas do nordeste onde predomina a caatinga, uma parte do ano as plantas perdem suas folhas (período da escassez) limitando assim a oferta de folhas para o comércio, diferente das regiões de mata atlântica que predomina na região sudoeste, ofertando assim folhas por mais tempo nessa região. As plantas medicinais são embaladas em molhos (pacotes feitos de cascas das plantas com tamanho e peso rudimentarmente padronizado, apenas visualmente) que, segundo os vendedores, são assim adquiridas pelos próprios atravessadores. Todos os vendedores relataram que obtêm os produtos por meio de atravessadores, que relatam ser de comunidades rurais e até mesmo de cidades vizinhas, informação também coletada por Alves et al (2008) e que, segundo os entrevistados em sua pesquisa, a maioria dos recursos medicinais é fornecida por atravessadores responsáveis pelo abastecimento de feiras livres e mercados. Os produtos que predominam nas barracas de plantas medicinais são as cascas das plantas, havendo também em minoria folhas e extratos como óleos. Os vendedores relatam que o estoque é reposto semanalmente e conforme a venda. Todas das plantas vendidas como medicinais no mercado público de Floriano-PI e feira livre são provenientes de plantas nativas advindas de fragmentos florestais das áreas rurais do município, coletadas por meio de extrativismo, o que não acontece na feira livre da cidade de Barra do Piraí-RJ, em que apenas 25% das espécies comercializadas são obtidas do extrativismo, conforme mostra o trabalho de Parente et al (2001). Figura 6

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demonstra a principal forma encontrada de comércio das plantas medicinais no MPMF que é molho de cascas das plantas. Figura 6- Forma de comércio predominante das plantas medicinais comercializadas no MPMF, Floriano, Piauí, Nordeste do Brasil.

Fonte: E. F. F de Brito, 2016.

O fato de que boa parte das plantas comercializadas serem provenientes de extrativismo reside no fato de serem, em grande parte, composta de cascas de troncos. Esse padrão de uso de plantas medicinais já é bem documentado por outros trabalhos. Segundo Albuquerque (2010), populações rurais do Nordeste do Brasil fazem uso de recursos vegetais que estejam sempre ofertados durante os períodos de sazonalidade climática da Caatinga e de outros ecossistemas próximos, devido a isso, a casca é uma das fontes preferenciais de coleta e, portanto, de comercialização. Forma de comércio predominante das plantas medicinais comercializadas no MPMF, Floriano, Piauí, Nordeste do Brasil. A diversidade de plantas, seus usos e formas de comércio estão descritas na Tabela 1, ver a seguir. Tabela 1: Lista de plantas medicinais comercializada no Mercado Público Municipal Vereador Isael Almeida e feira livre, município de Floriano, Estado do Piauí, Nordeste do Brasil.

Planta Alecrim Angico Angico Verdadeiro Aroeira Ameixa

Parte usada Talo e Folhas Casca Casca Casca Casca

Barbatimão Batata de Purga Buriti Caninana Catinga de Porco

Casca Raiz Óleo Casca Casca

Enfermidade Descarrego Anemia Dores, quebradura Gripe, Inflamação Inflamação de Mulher, gastrite, desmantelo Não sabe Estomago, Intestino Curativo, dor de ouvido Diabetes Estomago, Intestino 261


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Catuaba Cipó de Escada Fava Danta Imburana Inharé

Casca Tronco Semente Casca Casca

Jatobá Mamona Mangabeira Pau D’arco Pau de Leite

Casca Óleo Casca, Folha Casca Casca

Pau de Rato Pequi Pra-Tudo Sabucaia Soita Cavalo Unha de Gato

Casca Óleo Raiz Fruto seco Casca Casca

Fonte: E. F. F de Brito, 2016.

Nervos Coluna Não sabe Menstruação Curativo, Anemia, Afinar o sangue Anemia Laxante Pressão Alta, Rins Banho, coceira Inflamação, desmantelo, gripe Intestino Não sabe Diabetes, dores Diabetes Desmantelo, sangue Banho

Doenças tratadas por plantas medicinais comercializadas no MPMF. As doenças tratadas com plantas medicinais vendidas no mercado e feira livre de Floriano-PI são diversificadas abrangendo onze transtornos de sistemas como: hematopoiético, digestivo, doenças de pele, para cura de feridas e transtornos do sistema sensitivo, geniturinárias, do sistema nervoso além de doenças não definidas. Desses onze transtornos foram citadas 25 doenças a saúde, resultado inferior aos 39 transtornos encontrados por Alves et al (2007). As doenças mais citadas pelos comerciantes que podem utilizar a medicina terapêutica oferecida pelo comércio de plantas medicinais de Floriano são as doenças intestinais e estomacais, a diabetes, a anemia e inflação. Os transtornos de saúde e os usos das plantas estão relacionados na figura 7 a seguir. Figura 7: Número de espécies associadas às indicações terapêuticas segundo os respectivos Sistemas Corporais (OMS) citadas em entrevistas com comerciantes de mercados e feiras livres de Floriano (Piauí) Nordeste do Brasil.

Legenda: Transtornos do Sistema Digestivo (TSD); Transtornos do Sistema Respiratório (TSR);Doenças do Sistema Osteomuscular e Tecido Conjuntivo (TSOTC); Doenças do Sangue e Órgãos Hematopoiéticos (TSOH); Transtornos do Sistema Geniturinário (TSGU); Transtornos do Sistema 262


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Sensorial (ouvidos) TSS(ouvidos); Transtornos do Sistema Circulatório (TSC); Doenças da Pele e Tecido Celular Subcutâneo (TPTCS); Transtornos do Sistema Nervoso (TSN); Doenças das Glândulas Endócrinas, da Nutrição e do Metabolismo Afecções (TENM); Afecções não definidas (TND). Fonte: WHO – World Health Organization

CONCLUSÃO O comércio de plantas medicinais de Floriano-PI é realizado no seu Mercado público Municipal e feira livre que o circunda. Os locais de vendas são rústicos sem cuidados gerais como higiene e/ou conservação, porém, os produtos são bem selecionados e processados (forma de arranjo dos molhos) e bem visíveis em meio a tantos outros produtos pela forma de organização das cascas, o que aparentemente parece ser uma organização do comércio de plantas medicinais em Floriano. A maior parte das plantas comercializadas possuem o uso oral, sendo com preparados ou simplesmente colocando a casca de molho e bebendo a água curtida (com concentração dos princípios ativos). A casca é a parte do vegetal mais comercializada. Dominado por vendedores idosos que possuem baixo grau de escolaridade e utilizam o seu saber adquirido através das gerações para entenderem os usos e formas de comércio das plantas e servem para saberem como melhor comercializar suas mercadorias. A venda de plantas medicinais é considerada como uma atividade de complementação de renda para seus comerciantes visto que todos possuem outras atividades comerciais no mercado, o que deixa claro o baixo interesse entre os comerciantes sobre essa atividade socioeconômica de grande importância para a cidade de Floriano. É importante ressaltar que essa atividade deve ser preservada visto que são dos produtos naturais que são extraídas as novas tecnologias medicamentosas que auxiliam a saúde da população. REFERÊNCIAS 1 ALBUQUERQUE, U. P et al. Métodos e Técnicas de Pesquisa Etnobotânica. 2 ed. Revisada, atualizada e ampliada. Recife:COMUNIGRAF, CAP 7, 145-160. 2008. 2 ALBUQUERQUE, U. P. et al. Medicinal andmagicplantsfrom a publicmarket in northeasternBrazil. Editora Elsevier V. 110, PP-76-9, 2007. 3 ALBUQUERQUE, U. P.; LUCENA, R. F. P.; CUNHA, L. V. F. C. (orgs.). Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica e etnoecológica. Recife: NUPPEA, 2010. 4 ALMEIDA, C. F.C. B. R.; ALBUQUERQUE, U. P. Uso e conservação de plantas e animais medicinais no estado de Pernambuco (Nordeste do Brasil): um estudo de caso. Interciência 27: 276-285, 2002. 5 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DO SETOR DE FITOTERÁPICOS, SUPLEMENTO ALIMENTAR E DE PROMOÇÃO DA SAÚDE – ABIFISA. Disponível em: <http://www.abifisa.org.br/noticias_ver.asp?news=254>; < Acesso em: 04 de Setembro de 2013. 6 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DO SETOR DE FITOTERÁPICOS, SUPLEMENTO ALIMENTAR E DE PROMOÇÃO DA SAÚDE – 263


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ABIFISA. Disponível em: <http://www.abifisa.org.br/noticias_ver.asp?news=2887>. Acesso em: 04 de Setembro de 2013. 7 CPRM. Serviço Geológico do Brasil. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea. Estado do Piauí. Diagnóstico do município de Floriano, 2004 8

DI STASI, L. C. Arte, Ciência e Magia. São Paulo: Editora UNESP, p. 15-21, 1996.

9 ENGELKE, F. Fitoterápicos e Legislação. Jornal Brasileiro de Fitomedicina. 2003. 1(1): 10-15. 10 FERREIRA, S.H. Medicamentos a partir de plantas medicinais no Brasil. ABC. 142p. 1998. 11 FUZÉR, L.; SOUZA, I. IBAMA dá início a núcleo de plantas medicinais. Bionotícias. Rio de Janeiro: Conselho Regional de Biologia 2° Região RJ/ES (CRBio-2), n. 57,.p. 6-7. 2013. 12 IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) <http://www.ibge.gov.br/ cidadesat/painel/painel.php?codmun=220390> acesso em 24.02.2013 13 PARENTE, C. E. T.; ROSA, M. M. T. Plantas comercializadas como medicinais no Município de Barra do Piraí, RJ.Rodriguésia 52(80): 47-59. 2001 14 PEREIRA, R. C. et al. Plantas utilizadas como medicinais no município de Campos de Goytacazes – RJ. RBF, V. 14, supl. 01, p. 37-40, 2004. 15 PORTALAGROPECUÁRIO <http://www.portalagropecuario.com.br/plantasmedicinais/cultivo-plantas-medicinais-comercio/ > Acesso em 10 de Set 2013 16 RODRIGUES, V.E.G.; CARVALHO, D.A. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais no domínio dos cerrados na região do Alto Rio Grande - Minas Gerais. RBPM, v.9, n.2, p.17-35,2007.

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CONHECIMENTO ETNOORNITOLÓGICO DOS MORADORES DA COMUNIDADE RURAL JARDINEIRA, MUNICÍPIO DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ-PI, BRASIL JOSÉ AUGUSTO ARAGÃO SILVA1 MARIA BEATRIZ DIAS COUTINHO2 SIMONE MOUSINHOFREIRE 3 KELLY POLYANA PEREIRA DOS SANTOS4 RESUMO: Esta pesquisa teve por objetivos avaliar conhecimentos locais sobre a avifauna da comunidade rural Jardineira, município de Nossa Senhora de Nazaré-PI, registrar critérios de identificação e nomenclatura utilizados pelos moradores e produzir uma lista das etnoespécies de aves que fazem parte do cotidiano dos entrevistados a partir de suas narrativas. A pesquisa foi realizada no período de dezembro de 2015 a maio de 2016, utilizando-se uma abordagem qualitativa e quantitativa, investigando aspectos do conhecimento popular, significados da cultura local e relação do conhecimento empírico com o conhecimento científico. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com quatorze indivíduos da comunidade, sete de cada sexo. As respostas foram categorizadas e analisadas. Os entrevistados relataram acerca de aspectos da biologia das aves, como: comportamento, reprodução, habitat, hábitos alimentares. Os critérios mais utilizados para nomear as aves foram os morfológicos (cor, forma e tamanho) e comportamentais. Os entrevistados citaram 71 etonoespécies comuns de aves, distribuídas em 40 famílias. As etnoespécies mais citadas pelos moradores foram: Rolinha fogo-apagou(Columbina squammata, Lesson, 1831), Sabiá-laranjeira(Turdus rufiventris, Vieillot, 1818),Bem-te-vi(Pitangus sulphuratus, Linnaeus, 1766), Juriti(Leptotila verreauxi, Bonaparte, 1855), Galinha d’água (Aramides cajanea,Statius Muller, 1766)e Papagaio-verdadeiro(Amazona aestiva, Linnaeus, 1758). Os informantes apresentaram um amplo conhecimento relacionado à morfologia, habitat e alimentação das aves da região. Para eles,as aves são usadas como animais de estimação, recurso alimentar, bem como personagens nas crendices locais. As informações obtidas nesta pesquisa demonstram que os moradores da comunidade Jardineira possuem um vasto conhecimento sobre as aves, que vem se perdendo pela falta de transmissão cultural, o que pode resultar no seu desaparecimento, sendo fundamental preservá-los e valorizá-los. Palavras-chaves: Etonobiologia. Aves. Conhecimento popular. Etnotaxonomia.

1

Graduação em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí – UFPI.E-mail: j.augusto89@hotmail.com

2 Biólogas, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente – UFP 3 Doutora em Ciência Animal. Chefe do Laboratório de Zoologia e Biologia Parasitária (UESPI) 4 Orientadora. Biólogas, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente – UFPI. 265


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INTRODUÇÃO A etnobiologia é o ramo da ciência que estuda a forma como determinadas sociedades humanas, chamadas comunidades tradicionais, classificam, identificam e nomeiam os seres vivos e a natureza ao seu redor. Para Toledo (1992), a etnobiologia é um campo interdisciplinar que trabalha as interações entre os seres humanos e os componentes vegetais, animais e microbiológicos do seu ambiente. A etnozoologia é definida como um estudo da relação entre populações humanas e animais, inseridos no ambiente que as cercam, investiga o modo como o homem percebe, classifica e utiliza os animais, levando em consideração perspectivas culturais de cada grupo humano (Campos, 1994). Mesmo sendo ainda pouco explorada, a etnozoologia desperta interesse no meio acadêmico,pois aproximam a comunidade científica das comunidades locais (HAVERROTH, 2010). Entre as chamadas “etnociências” que conhecemos, a etnoornitologia vem se destacando nos últimos anos no Brasil. Para Farias & Alves (2007) a etnoornitologia é a ciência que aborda o conhecimento popular sobre as aves, descreve e analisa os conhecimentos e as práticas das populações locais, permitindo uma compreensão das relações entre humanos e aves. Podemos considerar a etnoornitologia como o campo que busca estudar e compreender as relações cognitivas, comportamentais e simbólicas existentes entre os seres humanos e as aves. Atualmente, os estudos em etnoornitologia constituem um campo de cruzamentos de conhecimentos, nos mais diversos contextos culturais e ecológicos. A importância da avifauna silvestre para várias comunidades espalhadas pelo Brasil tem estimulado a realização de pesquisas etnoornitológicas que vêm investigando as formas de interação das aves com populações urbano-rurais. Conhecer a relação dos seres humanos com as aves é um passo fundamental para que se obtenham ferramentas para o desenvolvimento de ações conservacionistas das espécies locais. Dessa forma, o presente trabalho avaliou o nível de conhecimento etnoornitológico dos moradores da comunidade rural Jardineira, município de Nossa Senhora de Nazaré-PI, de modo a investigar como percebem, nomeiam e classificam a avifauna local, afim de produzir uma lista com as etnoespécies de aves que fazem parte do cotidiano dos entrevistados a partir de suas narrativas. MATERIAL E MÉTODOS Área e População de Estudo O município de Nossa Senhora de Nazaré está situado na região Meio Norte Piauiense, a uma latitude de 04º37’50”S e longitude de 42º10’22” W, faz divisa com as cidades de Boqueirão do Piauí, Campo Maior, Cabiceiras e Cocal de Telha. Sua população estimada em 2015 era 4.747habitantes. Possui uma área de 356, 264 km² e a uma altitude média de 40 metros (IBGE CIDADES, 2016).O município está localizado numa área de transição, que cobre cerca de 19% da área total do Estado do Piauí, formada por um tipo vegetacional denominado de Complexo de Campo Maior que faz parte das áreas consideradas de tensão ecológica, que compõe o maior domínio fitoecológico da bacia hidrográfica do Rio Parnaíba(RIVAS, 1996). A presente pesquisa foi realizada no período de dezembro de 2015 a maio de 2016, na comunidade rural Jardineira do município de Nossa Senhora de Nazaré-PI, trata-se de uma típica localidade rural, composta por 06famílias e 21 moradores no total(Figura 1). Possui energia 266


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elétrica, uma pequena igreja, um pequeno campo de futebol e uma escola pública, atualmente funcionando nas modalidades ensino infantil e fundamental menor (1º ao 5º ano). A comunidade inclui vários moradores nascidos e criados na região, que mantém um contato diário com os ambientes naturais da área em estudo. A agricultura baseia-se na produção sazonal de arroz, cana de açúcar, feijão, mandioca e milho. Figura 1. Localização do município de Nossa Senhora de Nazaré-PI e da comunidade rural Jardineira, escolhida como área de estudo.

Fonte: IBGE (2010), (Silva, 2016).

Procedimentos A pesquisa foi realizada no período de dezembro de 2015 a maio de 2016, utilizando-se uma abordagem qualitativa e quantitativa, investigando-se aspectos do conhecimento popular, significados da cultura local e relação do conhecimento empírico com o conhecimento científico. Primeiramente, foram estabelecidos contatos prévios com a população da área para obtermos informações acerca dos hábitos e costumes locais.Na pesquisa em campo, as capacidades de empatia e de observação por parte do investigador e a aceitação por parte do grupo estudado são fatores fundamentais para a realização do estudo etnobiológico, sendo o estabelecimento do rapport (confiança mútua entre pesquisador-pesquisado) uma condição essencial (MONTENEGRO, 2002) Esses contatos foram facilitados por um agente comunitário de saúde da região local que nos orientou e introduziu na comunidade. 267


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Entrevistas semiestruturadas foram aplicadas (MINAYO, 1993), auxiliadas por meio de um roteiro padronizado.As informações obtidas nas fases da pesquisa foram categorizadas e analisados a partir dos princípios etnobiológicos propostos por BERLIN (1992). O questionário foi aplicado com quatorze informantes maiores de 18 anos, sete de cada sexo que espontaneamente participaram da pesquisa. Para garantir o sigilo quanto à identidade dos informantes, foram conferidos pseudônimos a cada um. Os entrevistados foram escolhidos de modo aleatório, considerando critérios como: origem rural e com pelo menos 10 anos de residência na áreade estudo, não possuir conhecimentos científicos sobre aves e disposição em colaborar com o estudo. Tais entrevistas foram realizadas mediante permissão dos entrevistados através de aceite, conhecimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em duas vias, uma pertencente ao entrevistado e outra ao pesquisador. RESULTADOS E DISCUSSÃO Aspectos socioeconômicos Quanto ao aspecto socioeconômico a comunidade em estudo caracteriza-se por ser carente e bastante simples. É formada por uma significativa parcela de moradores com baixo nível de escolaridade que não tiveram acesso permanente à escola, devido às dificuldades de acesso da época e à necessidade de trabalhar muito cedo no campo, o que pode ser constatado quanto ao grau de instrução dos indivíduos entrevistados(Tabela 1). Tabela 1. Perfil Socioeconômico do grupo pesquisado na comunidade rural Jardineira, Nossa Senhora de Nazaré-PI. Entrevistado(a)

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Sexo

Idade

Ocupação

Escolaridade

Tempo de moradia

A1 A2 A3 A4 A5 A6

M M M M M M

67 65 77 18 55 81

NE NE NE EFC EFI ESC

60 anos 60 anos 05 anos 18 anos 12 anos 19 anos

A7 B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7

M F F F F F F F

72 30 41 68 47 39 35 55

Lavrador Lavrador Aposentado Estudante Lavrador Engenheiro Aposentado Lavrador Professora Dona de Casa Lavradora Lavradora Merendeira Dona de Casa Dona de Casa

EFI ESI EFC NE EFI EMC ESC NE

25 anos 30 anos 24 anos 13 anos 12 anos 24 anos 4 anos 15 anos

Fonte: (Silva, 2016).


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Legenda: (NE) Nunca Estudou, (EFI) Ensino Fundamental Incompleto, (EFC) Ensino Fundamental Completo, (EMC) Ensino Médio Incompleto, (ESI) Ensino Superior Incompleto, (ESC) Ensino Superior Completo. Em relação à ocupação profissional constata-se que a maioria dos entrevistados são lavradores e donas-de-casa, trabalham na própria comunidade, sobrevivendo da agricultura,produzindo alimentos de subsistência para servir a própria família, como arroz, cana de açúcar, feijão, mandioca e milho. Quanto à moradia, as casas da comunidade rural são construídas com tijolos e cobertura de telhas de cerâmica e tem chão cimentado, não possuem esgotamento e tem um sistema de poço artesanal em suas casas. Etnoornitologia Os moradores da comunidade Jardineira mostraram conhecer diversos aspectos da biologia e ecologia de aves. Quanto ao horário em que mais ouvem ou veem as aves,09 entrevistados (64,3 %) relataram uma maior frequência delas no período da manhã: Pela manhã cedo a partir das cinco horas (Dona B6,35 anos);De manhazinha (Dona B1, Figura 2. Horários em que entrevistados mais ouvem e veem as aves. 30 anos)e 05 (35,7 %) reFonte:(Silva, 2016) lataram que veem e ouvem mais as aves nos horários da manhã e ao fim da tarde:Elas cantam de manhazinha,às cinco horas já tão cantando e à tardinha das cinco horas em diante (Seu A5, 55 anos), Aracuã canta seis horas da manhã e seis horas da tarde (Seu A7, 72 anos).(Figura 2). Outro aspecto verificado junto aos moradores foi quanto à época do ano em que as aves mais parecem, sendo que 07 dos entrevistados (50 %) relataram observá-las mais na época do Inverno: no período chuvoso, quando caçam comida (Dona B6, 35 anos), no inverno porque é o tempo em que elas se reproduzem (Seu A4, 18 anos). Outros seis (42, 8 %) disseram avistá-las mais Figura 3. Gráfico com a representação da época do ano em que as aves mais aparecem, segundo os entrevistados da comunidade rural Jardineira, na época do Verão: Aparecem NossaSenhora de Nazaré-PI. Fonte: (Silva, 2016) no verão, pois têm mais sede e vêm procurar água e comida (Dona B7, 55 anos); Verão quando as águas ficam poucas eles aparecem para beber (Seu A3, 77 anos) e 01 (7, 2%) não souberam especificar (Figura 3). 269


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Quando perguntados sobre comoconseguem identificar os “tipos” de aves, relataram que conseguem identificá-las pela coloração (n=10), canto (n=10), tamanho (n=4) e comportamento (n=2)(Figura 4). Constatou-se que a cor e o canto foram os critérios mais citados como se pode observar nas citações a seguir: A cor delas é diferente (Dona B1, 30 anos). As aves são diferentes, cada uma tem um estilo, uma cor e um canto(Seu A4, 18 anos).Pelas cores, bem-te-vi tem o papo amarelo e o cabeça-de-bode é branco com a cabeça vermelha (Dona B4, 47 anos). Segundo Sick (1986), ao nomear uma ave, as pessoas procuram relacioná-las com o colorido, a forma do bico, a alimentação,entre outros atributos marcantes, como a vocalização que é considerada um instrumento importante para a identificação de espécies, como também para confirmação das espécies locais por meio da correspondência com espécies científicas (HUNN, 1992); FARIAS; ALVES, 2007c; FORTH, 2010; GALVAGNE-LOSS et al., 2014) Figura 4. Critérios nomenclaturais utilizados para identificar os diferentes tipos de aves segundo os moradores da comunidade rural Jardineira, Nossa Senhora de Nazaré-PI.

Fonte: (Silva, 2016). O conhecimento popular sobre a reprodução das aves também foi detalhado, referindo-se à época reprodutiva e à prole. Para os entrevistados, a época reprodutiva das aves ocorre em diferentes momentos: “na quaresma de março a abril”, “no verão (rolinha fogo-apagou) ”, “durante o ano todo”, “no inverno porque elas fazem mais ninhos”, “começo do período chuvoso, quando tem mais comida para alimentar seus filhotes”. As atividades reprodutivas são condicionadas pela fartura de alimento, o que facilita o cuidado com a prole. No início da estação chuvosa há aumento de insetos e no fim da seca há maior abundância de frutos. Assim, a época reprodutiva das aves no Brasil é geralmente indicada como sendo de setembro a janeiro (SICK, 1997). Em termos de habitats foram relatados diversos ambientes onde as aves podem ser vistas: Gostam de estar no terreiro de casa, onde tem frutas (Dona B6, 35 anos).Em todos os locais e ambientes, se a gente vai para o rio elas tão lá (Dona B4, 47 anos).Nas matas fechadas, nos terreiros as rolinhas, sabiá, canário aparecem para comer junto com as galinhas (Dona B7, 55 anos). De fato, as aves são encontradas em paisagens abertas, brejos e quintais que se ajustam aos centros urbanos (ANDRADE, 1997, HOFLING & CAMARGO, 1999). Segundo os entrevistados, a alimentação das aves é bastante diversificada, sendo representados por frutas como: manga, acerola, caju, “multa”, mamão, etc. variados tipos de sementes,insetos, minhocas. Além disso, é específica para cada espécie, diversificados, incluin270


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do: frugívoro, insetívoro, granívoro e carnívoro assim: Sabiá gosta de “multa”(Seu A5, 55 anos).O bico-de-brasa come o caju (Dona B3, 68 anos) Sabiá come minhocas e lagartas (Seu A4, 18 anos).Canário gosta de capim (Seu A2, 65 anos).Gavião pega e come pinto (Seu A7, 72 anos). Comparando-se as descrições alimentares apresentadas pelos moradores com as que se encontram na literatura, verifica-se uma acentuada correlação entre o conhecimento popular apresentado e o científico (SANTOS, 1979, 1997; SICK 1997)(Tabela 2). Tabela2. Comparação entre o comportamento alimentar popular com dados científicos da literatura, segundo moradores da comunidade rural Jardineira, Nossa Senhora de Nazaré-PI. Etnoespécie Rolinha fogo-apagou (Columbina squammata,Lesson, 1831) Juriti (Leptotila verreauxi, Bonaparte, 1855)

Etnodescrição alimentar pelos entrevistados

A rolinha come e cata arroz no terreiro (Dona A7, 72 anos); A rolinha come o que ela cata no chão(Seu A5, 55 anos). A juriti come arroz e milho (Dona B4, 47 anos); Juriti, corrupião e papacebo fura os frutos (Dona B4, 47 anos).

Descrição científica do comportamento alimentar Os columbídeos são granívoros e frugívoros, descem ao solo pra comer sementes e frutos caídos (SICK, 1986). Os columbídeos são granívoros e frugívoros, descem ao solo pra comer sementes e frutos caídos (SICK, 1986).

Sabiá-papo-amarelo (Turdus rufiventris, Vieillot,1818)

Sábia come fruto do mato (Seu A5, 55 anos); Sabiá comer lagartas (Seu A5, 55 anos); Sabiá come minhocas (Seu A4, 18 anos).

Canário-amarelo

Canário gosta de arroz (Seu A2, 65 Alimentam-se de sementes anos). ou insetos no chão (SIGRIST, 2009).

(Sicalis flaveola, Linnaeus, 1766) Pássaro-preto (Gnorimopsar chopi, Vieillot, 1819) Bem-te-vi (Pitangus sulfuratus, Linnaeus, 1766) Gavião

Beija-flor Gralha cancã (Cyanocorax cyanopogon, Wied, 1821)

Chico-preto come bastante legume na roça (Dona B7, 55 anos). O bem-te-vi come cascudo e insetos (Dona B4, 47 anos).

Gavião come pintinho (Seu A5, 55 anos); O gavião é perverso, pega e come pinto (Seu A3, 77 anos). O beija-flor chupa a flor (Dona B4, 47 anos) Canção come os ovos de galinha (Seu A6, 81 anos)

Onívoros, comem tanto insetos e aranhas. Além de frutas e sementes, consomem insetos e retiram minhocas do solo úmido no tempo das chuvas (SIGRIST, 2009).

Bando de pássaros pretos destroem arrozais O bem-te-vi possui dieta onívora consome desde frutas e sementes até cadáveres pequenos de vertebrados e artrópodes (SICRIST, 2009). Gaviões alimentam-se de lagartos, ratos, cobras, pererecas, pequenas aves e peixes (SIGRIST, 2009). A base de sua alimentação é o néctar. Fura até ovos de galinha para ingeri-los

Fonte: SANTOS (1979), SICK (1986) e ANDRADE (1997). 271


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Ornitoáugues Algumas histórias populares correspondem às características realmente existentes nas espécies consideradas e outras não passam de fruto da imaginação das pessoas. MARQUES (1998) chama de ornitoáugures os sons emitidos pelas aves e interpretados culturalmente, dividindo-os em cinco categorias que, talvez, sejam universais: ornitoáugures funéreos (prenunciam morte), ornitoáugures funestos (pronunciam desgraça), ornitoáugures societários (prenunciam visitas, encontros, etc.), ornitoáugures meteóricos (pronunciam mudanças de tempo e clima) e ornitoáugures fantásticos (pronunciam contatos com o sobrenatural). Na comunidade estudada foram observadas ornitoáugures meteóricos: Sabiá canta adivinhachuva (Dona B4, 47 anos); Galinha-d´água no mês de dezembro começou a cantar é porque vai chover(Seu A5, 55 anos). João-de-barro quando faz o ninho com a boca para a nascente vai chover pouco, se ele faz a boca para o poente é porque vai chover muito (Seu A2, 65 anos). Exemplos de ornitoáugures funestos e funéreos: Aracuã quando canta é sinal que vai morrer alguém (seu A1, 67 anos).Cauã quando canta é porque uma pessoa irá morrer (seu A7, 72 anos); Pássaro entrar e sair de dentro de casa é sinal de coisa ruim.Rasga-mortalha quando ela canta é porque vai morrer gente (Dona B2, 41 anos).Rabo-de-tesoura passou vai morrer gente nesses dois dias (Dona B6, 35 anos).Anu-preto é ave de mau-agouro(Seu A6, 81 anos). Os demais tipos de ornitoáugures não tiveram citações pelos moradores. Lendas, mitos e histórias populares envolvendo animais são tão comuns que é difícil encontrar suas origens (BERLIN, 1973). Segundo Sick (1997), “a voz de muitas aves é considerada pelo povo como um prenúncio de chuva”. O referido autor enfatiza que essa relação pode ser feita no caso de algumas espécies, nas quais fatores climáticos, sobretudo a umidade, exercem considerável influência tanto sobre a atividade reprodutora quanto sobre o canto. O acauã (Herpetotheres cachinans), ou coan é considerada uma ave de mau-agouro, sendo o seu canto associado com o infortúnio (Santos, 1979). Corujas, por serem de vida noturna, tornaram-se misteriosas e temidas, recebendo a fama de agourentas (Sick, 1997). A suindara (Tyto alba) é considerada áugure pela população do baixo São Francisco, pesquisada por Marques (1998). Sua manifestação acústica é como “um aviso de morte inevitável e iminente”. Segundo Forth (1998), vários animais noturnos, inclusive corujas, são classificados como po e todos são considerados augurais, enquanto os diurnos não o são. Assim, o fato da coruja cantar quatro vezes representaria um mau presságio para a população, enquantoo cantar cinco vezes seria um sinal de agouro para“outra população”; ainda, conforme o chamado da ave, opresságio seria para a mulher ou para o homem. Etnotaxonomia Os entrevistados relataram 71 etnoespécies de aves, distribuídas em 40 famílias diferentes. As etnoespécies citadas foram identificadas com o nome conhecido localmente pelos moradores e também com o nome científico de acordo com a lista de aves do Brasil (CBRO, 2015), (Tabela 3).

272


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Tabela 3. Lista das etnoespécies de aves citadas pelos moradores da comunidade rural Jardineira, município de Nossa Senhora de Nazaré-PI. Família

Nome Popular

Tinamidae

(Etnoespécie) Nambu

Anatidae

Marreca-comum Marreca-verdadeira

Anatinae

Paturi-preto

Cracidae

Aracuã Jacu

Podicipedidae

Mergulhão-pequeno

Ciconiidae

Jaburu/Cabeça-seca

Ardeidae

Socó-boi

Cathartidae

Garça-vaqueira Garça-branca-grande Urubu-de-cabeça-preta

Accipitridae

Falconidae

Aramidae

Gavião-vermelho/Gavião-caboclo Gavião-pega-pinto/Gavião-carijó Gavião-pedrêz Carcará Acauã/Acaã Carão Galinha-d´água Frango-d’água-azul

Charadriidae Jacanidae

Quero-quero Jaçanã

Nome Taxonômico*

Quantidade de Citações

Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) Dendrocygna autumnalis (Linnaeus, 1758) Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) Netta erythrophthalma (Wied, 1832) Ortalis superciliaris (Gray, 1867) Penelope superciliaris (Temminck, 1815) Tachybaptus dominicus (Linnaeus, 1766) Mycteria americana (Linnaeus, 1758) Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) Bulbucus ibis (Linnaeus, 1758) Ardea alba (Linnaeus, 1758) Coragyps atratus (Bechstein, 1793) Heterospizias meridionalis (Latham, 1790) Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) Buteo nitidus (Latham, 1790) Caracara plancus (Miller, 1777) Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758) Aramus guarauna (Linnaeus, 1 1766) Aramides cajanea (Statius Muller, 1776) Porphyrio martinica (Linnaeus, 1766) Vanellus chilensis (Molina, 1782) Jacana jacana (Linnaeus, 1766)

6 1 2 1 6 5 1 1 4 2 2 2 3 5 1 1 2

9 1 2 2

273


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Columbidae

Psittacidae

Crotophaginae Strigidae Nyctibiidae Caprimulgidae Trogonidae Alcedinidae Galbulidae Bucconidae

Ramphastidae Picidae

Thamnophilinae Furnariinae

274

Rolinha-roxa/Sangue-de- Columbina talpacoti (Temminck, -boi 1811) Fogo-apagou Columbina squammata (Lesson, 1831) Juriti-pupu Leptotila verreauxi (Bonaparte, 1855) Avoante/Pomba-de-ban- Zenaida auriculata (Des Murs, do 1847)

Diopsittaca nobilis (Linnaeus, 1758) Curica/Periquito-rei Eupsittula aurea (Gmelin, 1788) Periquito-pequeno/Tuim Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) Papagaio-verdadeiro Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) Anu-preto Crotophaga ani (Linnaeus, 1758) Anu-branco Guira guira (Gmelin, 1788) Caburé Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) Coruja-buraqueira Athene cunicularia (Molina, 1782) Rasga-mortalha/MãeNyctibius griseus (Gmelin, 1789) -da-lua Bacurau Hydropsalis albicollis (Gmelin, 1789) Dorminhoco Trogon curucui Linnaeus, 1766 Martim-pescador Chloroceryle amazona (Latham, 1790) Bico-de-agulha Galbula ruficauda (Cuvier, 1816) Mané-besta Nystalus maculatus (Gmelin, 1788) Bico-de-brasa Monasa nigrifrons (Spix, 1824) Tucano Ramphastos toco (Statius Muller, 1776) Pica-pau-anão-pintado Picumnus pygmaeus (Lichtenstein, 1823) Pica-pau-do-campo Colaptes campestris (Vieillot, 1818) Pica-pau-de-cabeçaCeleus flavescens (Gmelin, 1788) -amarela Pica-pau-de-cabeça-ver- Campephilus melanoleucos melho (Gmelin, 1788) Choró-boi Taraba major (Vieillot, 1816) João-de-barro Furnarius figulus (Lichtenstein, 1823) Maracanã-pequena

5 12 10 3

1 7 1 8 4 2 1 4 1 3 1 1 1 2 3 4 1 1 1 4 1 3


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Synallaxiinae

Casaca-de-couro

Todirostrinae

Caroço-de-milho

Tyranninae

Trivina/Suiriri Bem-te-vi

Corvidae

Cancão

Hirundinidae

Andorinha-serradora

Troglodytidae

Garrincha/Corruíra-de-casa

Turdidae

Mimidae

Sabiá-branca/sabiá-parda Sabiá-laranjeira/Sabiá-do-papo-amarelo Papacebo

Icteridae

Japu/Rescongo

Thraupinae

Diglossinae Sporophilinae

Xexéu Corrupião Pássaro preto/Chico-preto Casaca/Asa-de-telha-pálido Cabeça-de-bode/Galo-de-campina Sanhaço-cinzento/Pipira-azul sanhaço-do-coqueiro/ Pipira-verde Canário-da-terra Bigodinho Coleirinho

Cardinalidae

Azulão Fim-Fim/Vim-Vim

Pseudoseisura cristata (Spix, 1824) Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 11 1766) Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821) Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) Troglodytes musculus (Naumann, 1823)

Turdus leucomelas (Vieillot, 1818) Turdus rufiventris (Vieillot, 1818) Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) Psarocolius decumanus (Pallas, 1769) Cacicus cela (Linnaeus, 1758) Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) Agelaioides fringillarius (Spix, 1824) Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758) Tangara sayaca (Linnaeus, 1766) Tangara palmarum (Wied, 1821) Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766 Sporophila lineola (Linnaeus, 1758) Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823) Cyanoloxia brissonii (Lichtenstein, 1823) Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766)

1 1 1

5 4 2

8 12 7 1 3 7 7 6 8 2 1 7 1 1 2 1

Fonte: (Silva, 2016) e *(CBRO, 2015).

275


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Entre as etnoespécies mais citadas pelos informantes destacam-se: Rolinha fogo-apagou (Columbina squammata), Sabiá-do-papo-amarelo (Turdus rufiventris), Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), Juriti-pupu (Leptotila verreauxi), Galinha-d´água (Aramides cajanea), Papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), Sabiá-branca (Turdus leucomelas) e Galo-de-campina (Paroaria dominicana). Geralmente, as espécies mais citadas pelas comunidades locais são aquelas que desempenham um maior significado e importância seja cultural, trófica ou econômica (COOKE, 1884; DINIZ et al., 2012). A nomeação das etnoespécies pelos entrevistados baseou-se primeiramente em aspectos morfológicos como: coloração (“anu branco”, “canário amarelo”), forma e tamanho também foram utilizados na nomenclatura (“gavião minhudo”, “bigode”), seguidos de hábitos comportamentais como: vocalização (“bem-te-vi”, “vim-vim”), alimentação (“beija-flor”), reprodução (“joão-de-barro) e hábitat (“galo-de-campina”, “coruja-de-estrada”) (Tabela 4). Aspectos esses encontrados em diversos estudos (BERLIN et al., 1981; COSTA-NETO; RODRIGUES, 2006; COSTA-NETO 2008; HERBST; HANAZAKI, 20012; COSTA-NETO, 2013; GONÇALVES-LOSS et al., 2013;2014). Tabela 4: Critérios nomenclaturais utilizados pelos moradores da comunidade Jardineira, zona rural de Nossa Senhora de Nazaré, Piauí, Brasil, para designar as etnoespécies de aves. Critério Nomenclatural Aspectos Morfológicos Cor

Tamanho Forma do corpo (Morfologia) Aspectos Comportamentais Comportamento Hábitat Alimentação Reprodução

276

Etnoespécies Anu-preto (Crotophaga ani), Anu-branco (Guira-guira), Rolinha-branca (Columbina squammata), Rolinha-sangue-de-boi (Columbina talpacoti), Tucano-do-bico-amarelo (Ramphastos toco), Chico-preto (Gnorimopsar chopi), Canário-amarelo (Sicalis flaveola), Sabiá-amarela (Turdus rufiventris), Pica-pau-da-cabeça-vermelha (Campephilus melanoleucos), Pipira azul (Thraupis sayaca), Pipira-verde (Tangara palmarum), Sabiá-cinzento (Turdus leucomelas), Bico-de-brasa (Monasa nigrifrons), Azulão (Cyanocompsa brissonii) Pica-pau-anão (Picuminus pygmaeus), Gavião minhudo (Rupornis magnirostris), Garça-grande (Ardea alba) , Socó grande (Tigrisoma lineatum) Bico-de-agulha (Galbula ruficauda),Bigode (Sporophila lineola), Coleiro (Sporophila caerulescens)

Mané-besta (Nystalus maculatus),Coruja-buraqueira (Athene cunicularia) Galo-de-campina (Paroaria dominicana), Galod´água (Porphyrio martinica), Canário-da-terra (Sicalis flaveola), Coruja-de-estrada (Hydropsalis albicollis) Beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura), Gavião-pega-pinto (Rupornis magnirostris), Martim-pescador (Chloroceryle americana), Garça-carrapateira (Bulbucus ibis) João-de-barro (Furnarius rufus)


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Vocalização

Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), Rolinha fogo-pagô (Columbina squammata), Vim-vim (Euphonia chlorotica), Quero-quero (Vanellus Chilensis), Acauã (Herpetotheres cachinnans), Alma-de-gato (Piaya cayana), Cancão (Cyanocorax cyanopogon)

Fonte: (Silva, 2016)

A maioria dos entrevistados utilizou apenas um nome para as etnoespécies, o que está associado ao fato da nomenclatura local ter como base nomes genéricos (“avoante”, “garça”, “marreco”, “canção”, “curica”, “jacu”). As espécies de garças: Garça-vaqueira (Bulbucus ibis) e garça-grande (Ardea Alba) foram reconhecidas como “garças”, já o anu-preto (Crotophaga ani) e o anu-branco(Guira guira)foram separados com os seus respectivos adjetivos. Quando perguntados sobre a primeira “coisa” que observam em uma ave foram relatadas diferentes características morfológicas e comportamentais presentes nesses animais como: “as penas”, “as cores”, “asas”, “o canto”, a “beleza” e “alegria”. Para a discriminação dos “tipos” de aves, foram relatados cores, tamanhos e cantos. Machos e fêmeas foram diferenciados pelo tamanho do corpo: O macho é maior e a fêmea é menor (Dona B5, 39 anos); A fêmea é mais baixinha grossa e o macho é comprido (Dona B4, 47 anos). A cor também foi destacada: O canário macho é amarelo e a fêmea é parda (Seu A2, 65 anos). Além disso, relataram conseguir identificar um do outro quando estão no tempo reprodutivo: diferencio quando estão no ninho, a fêmea choca os ovos (Dona B2, 41 anos).No próprio acasalamento, o macho é mais eufórico (Seu A5, 55 anos). Os informantes relataram ainda que os filhotes podem ser diferentes dos adultos quanto à plumagem: Nascem pelados, são roxos quando jovens e quando adultos mudam as cores (Seu A5, 55 anos). O padrão de coloração na plumagem é discriminante nas aves como dimorfismo sexual (ANDRADE, 1997). A maioria das aves nasce nua, sendo coberta, dias depois, por uma penugem e só mais tarde pelas penas definitivas, que podem vir após uma segunda ou terceira plumagem (SICK, 1997). Etnoconservação Para a metade dos indivíduos entrevistados (50%), as aves têm diminuído na região nos últimos tempos devido à caça predatória e ao fato de muitas delas serem utilizadas na própria alimentação: Tem pessoas que matam para se alimentar (galinha d’água, juriti e avoante), e quando fazem roça destroem sua moradia (Dona B6, 35 anos). Aracuã tem pouca e foi muito explorado, o galo-de-campina está pouco, o chico-preto está quase extinto, papagaio-verdadeiro diminuiu muito (Seu A7, 72 anos). Para ANDRADE (1997) são fatores que ameaçam a avifauna, entre outros, a contaminação do solo por agrotóxicos; a contaminação dos rios e lagos por dejetos, resíduos químicos, plásticos, vidros, latas, pneus e outros objetos e a caça. Esses fatores podem determinar tanto a redução de habitat quanto a perda de sua qualidade. Nessa comunidade, nota-se que a caça está ligada tanto a questões culturais como a questões socioeconômicas. As espécies da família Columbidae e Cracidae sofrem pressão de caça, apesar de se tratar de espécies de pequeno e médio porte, geralmente ocorrem em abun277


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dância e boa parte da massa dos indivíduos é constituída pela musculatura peitoral o que a torna em uma fonte de proteína de fácil acesso. Os gaviões e falcões membros das famílias Accipitridae e Falconidae, respectivamente, sofrem pressão de caça, não como fonte de proteína, mas sim sendo abatidos como troféu ou pela aversão causada devido à associação dessas espécies a prejuízo na criação de animais, sobretudo de aves, (e.g., Rupornis magnirostris), popularmente citado como gavião-pega-pinto pelos moradores. A exemplo desse, a seriema (Cariama cristata), ave típica dos cerrados do Brasil, foi relatada como praticamente extinta na comunidade, devido à caça descontrolada que fez com que praticamente não seja mais vista na região atualmente. Por outro, entrevistados consideraram que a caça diminuiu na região, sendo um aspecto positivo na recuperação de algumas espécies: A destruição e matança diminuíram e assim elas têm aumentado em número (Seu A2, 65 anos);têm aumentado, pois reproduzem muito e agora são menos exploradas (Dona B7, 55 anos).Aumentaram porque antes matavam mais para comer, hoje estão mais conscientes da não realização da caça predatória (Seu A5, 55 anos). Tivemos que 65% (n=09) dos entrevistados não contam as histórias que conhecem sobre as aves para seus filhos e/ou netos. Esse é um fato preocupante, pois evidencia que os conhecimentos populares sobre a avifauna relatado pelos informantes, certamente uma pequena parcela do etnoconhecimento acumulado ao logo das gerações, tende a desaparecer, assim reforçamos a necessidade de constantes intervenções que possam resgatar essa cultura. CONCLUSÃO Os moradores da comunidade rural Jardineira apresentaram um amplo conhecimento acerca dos aspectos biológicos da avifauna local. As aves foram identificadas por critérios morfológicos (cor, forma e tamanho) e nomeadas, principalmente,a partir dos cantos e comportamentos. O conhecimento popular sobre as aves relatado pelos moradores nos permite aferir que as etnoespécies mais conhecidas pelos moradores geralmente são aquelas mais presentes no seu convívio. A relação que as pessoas mantêm com as aves em seu convívio é muito importante para entender o modo como esses animais são percebidos pela comunidade local. A falta de transmissão cultural desses conhecimentos pode resulta no seu desaparecimento, sendo fundamental preservá-los e valorizá-los.

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A IMPORTANCIA DA REUTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL EM PARNAÍBA – PIAUÍ

Anderson Soares Brito 1 Marlúcia Oliveira Lima2 RESUMO A construção civil atravessa nos últimos anos um considerável aquecimento em suas atividades. O imenso deficit habitacional observado no Brasil, atinge de forma severa grande parte das famílias brasileiras. Esses dados motivam e atribuem significativa importância às realizações das ações pertinentes a esse ramo da economia. Consequentemente, há justificativa para o desenvolvimento do setor, o que gera paralelamente grandes quantidades de resíduos sólidos. A presente pesquisa teve como objetivo analisar a importância da reutilização dos resíduos sólidos produzidos por uma empresa privada, a Construtora Estrela da Manhã - Ltda, além de buscar compreender os métodos adotados pela empresa, para o reaproveitamento dos resíduos no próprio canteiro de obras. A pesquisa foi realizada através de levantamento bibliográfico relacionado ao tema, atribuindo relevância à gestão, reaproveitamento e manuseio das sobras de materiais na construção civil. Logo depois, foi feito um levantamento acerca da reutilização dos resíduos sólidos, através de observação e consulta ao programa de controle de gestão de resíduos sólidos da referida empresa. Constatou-se que a organização empresarial preserva, de maneira sustentável e consciente todo o ambiente que envolve sua obra, levando em consideração o reaproveitamento de resíduos sólidos dentro de seu canteiro. Palavras-chave: Construção civil. Resíduos sólidos. Natureza. Reaproveitamento.

INTRODUÇÃO Desde os primórdios das civilizações e em todo o processo histórico da vivência humana, a produção de resíduos sólidos aparece como consequência da realização de suas respectivas atividades e tem se apresentado como um problema quanto ao seu destino, mesmo em épocas remotas quando ainda não havia uma preocupação com o seu fim, já existiam seus acúmulos. Intencionalmente ou não, o homem em seu cotidiano descarta objetos que não utiliza mais, no entanto, o crescimento das demandas ambientais da sociedade exige dos setores produtivos respostas eficientes aos problemas causados por tais acúmulos (ALCANTARA, 2005). Fundamentado no que concerne à economia de toda e qualquer sociedade desenvolvida que busca e se ampara na produção (e no consumo) de bens e serviços, retirados da natureza (insumos, matéria-prima) e devolvidos modificadamente, resultando em um impacto preocupante no meio ambiente, estão surgindo normas e diretrizes para minimizarem e educarem os responsáveis pelas gestões públicas e privadas, no trato com os resíduos sólidos urbanos. Por conseguinte, os resultados negativos do lançamento de resíduos sólidos, especialmente os urbanos no meio ambiente são responsáveis em fazer a sociedade e seus representantes, através de políticas de preservação do meio ambiente, olharem com mais afinco para um problema que é de responsabilidade de toda a sociedade, o destino adequado dos resíduos sólidos. 1

Graduado em Licenciatura Plena em geografia pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI, e-mail: andersonsb2012@gmail.com

2 Especialista em Gerenciamento de Recursos Ambientais/IFPI; Química graduada pela Universidade Federal do Piauí - UFPI - e-mail: marlucialyma@gmail.com

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Frente ao crescimento vertiginoso da construção civil no Brasil nos últimos anos, que foi acentuado com a execução de programas habitacionais que propagaram e favoreceram a construção de milhares de imóveis, com o intuito de suprir a necessidade de milhões de brasileiros sem moradia digna, o setor da construção civil viveu um momento áureo. E na mesma proporção com que inúmeras pessoas foram beneficiadas com a realização do sonho da casa própria, o lançamento de resíduos sólidos da construção civil no meio ambiente cresceu significativamente. Com isso, torna-se pertinente levantar a problemática acerca da reutilização dos resíduos sólidos na construção civil, em particular na Construtora Estrela da Manhã LTDA, de que modo é possível reutilizar os excessivos do canteiro de obras de maneira que haja consciência sustentável neste reaproveitamento? Com o crescimento populacional, as cidades estão recebendo cada vez mais pessoas. Esse acréscimo impulsiona a construção civil que é, reconhecidamente, uma das mais importantes atividades econômicas e sociais. No entanto, é também responsável por um grande volume de resíduos liberados na natureza, afetando seu equilíbrio, já que, em muitas cidades, não há um destino adequado para grandes quantidades, formando assim, entulhos a céu aberto, o que gera a importância em tratar de um assunto tão relevante, pois o cuidado com o meio ambiente é uma das maiores preocupações humanas, refletindo diretamente no futuro de todos. Diante disso, este trabalho tem como objetivo geral apresentar a importância da reutilização desses resíduos produzidos por uma empresa privada, a Construtora Estrela da Manhã LTDA. Além da realização de um levantamento bibliográfico exploratório sobre a importância da diminuição sobre o impacto ambiental provocado pela construção civil, bem como analisar de que forma a redução do impacto ambiental traz benefícios para o meio urbano e para a própria natureza, através das políticas de afirmação e avaliar o reaproveitamento de resíduos sólidos provenientes da construção civil em Parnaíba-Piauí. Esse estudo justifica-se incipiência no estabelecimento de políticas públicas para aplacar um grande problema urbano, principalmente em grandes centros. MATERIAL E MÉTODOS Tipo de pesquisa Trata-se de uma pesquisa do tipo explicativa, utilizando-se do método observacional, de maneira qualitativa e levantamento bibliográfico, no qual foram consultados livros, e artigos disponibilizados na internet, relacionados à gestão de resíduos sólidos e ao seu reaproveitamento, como também, medidas em gerenciar sobras de materiais na construção civil, de forma que haja reutilização ou reciclagem. Foi realizada no período de 22 de abril a 13 de maio do ano de 2016. O processo de observação foi desenvolvido durante quinze dias, no período vespertino de trabalho. Área de estudo Este trabalho teve como cenário a empresa privada Construtora Estrela da Manhã LTDA, com sede localizada em Teresina – PI, na Avenida Dom Severino, 647, Bairro de Fátima. No entanto, a observação, como instrumento de pesquisa, foi realizada em um canteiro de obras de sua filial, localizada na Avenida Doutor João Silva Filho, Bairro Conselheiro Alberto Silva, município de Parnaíba-Piauí.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO A Normatização dos Resíduos Sólidos no Brasil Rotular Resíduos Sólidos de lixo como algo irrisório na atualidade é cometer um grave pecado, em um planeta que clama por resoluções sustentáveis. Um dos fatores-chave para o entendimento de como proceder com este tema é, inicialmente, conhecer sua definição. Para a Norma Brasileira ABNT NBR 10.004/2004 o conceito de Resíduos Sólidos, de maneira geral é: Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. (ABNT NBR, p. 07, 2004)

Viver em sociedade requer o cumprimento de obrigações e deveres, firmados em direitos, normatizações e diretrizes que norteiam o produtor de resíduos sólidos quanto ao seu manuseio e seu destino final, sendo passivo de penalidades ou não. Um importante passo foi dado rumo ao controle destes resíduos no país, com a promulgação da Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010, que institui a Política de Nacional de Resíduos Sólidos. Baseado nesta Lei, Art. 1º Esta lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. § 1º Estão sujeitas à observância desta lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos. (POLITICA NACIONAL DE RESÍDUOS SOLIDOS, p. 09, 2010)

Pode-se notar a responsabilidade do poder público em apresentar as normatizações e cobrar, por meio de fiscalização, que tais normativos estejam sendo cumpridos, para que o alcance de resultados positivos possam refletir em longo prazo no meio ambiente, na sociedade e no setor econômico do país. Muitas cidades brasileiras, sobretudo aquelas que apresentam processos acelerados de urbanização, sofrem graves impactos ambientais provocados pela inadequada gestão dos resíduos da construção civil, desde a sua geração e manejo até a disposição final. O município de Parnaíba-PI, por estar em crescente desenvolvimento social e econômico, é um grande canteiro de obras (domiciliares, reformas) e, assim como os demais municípios brasileiros, tem seu dever acordado pela Constituição Federal onde diz no artigo 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à co283


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letividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, p. 129, 2003)

Os representantes buscam alinhar as políticas públicas de preservação do meio ambiente e a qualidade de vida do homem com a responsabilidade que este tem em manter, ao menos, uma baixa onerosidade no cumprimento de deveres que são essenciais à vida. É de suma relevância mencionar acerca da Resolução 307, de 05 de julho de 2002, que através do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), “estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos sólidos da construção civil” e reza em seu Artigo 2º, Art. 2º Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições: I - Resíduos da construção civil: são os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha; II - Geradores: são pessoas, físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, responsáveis por atividades ou empreendimentos que gerem os resíduos definidos nesta Resolução; III - Transportadores: são as pessoas, físicas ou jurídicas, encarregadas da coleta e do transporte dos resíduos entre as fontes geradoras e as áreas de destinação; IV - Agregado reciclado: é o material granular proveniente do beneficiamento de resíduos de construção que apresentem características técnicas para a aplicação em obras de edificação, de infraestrutura, em aterros sanitários ou outras obras de engenharia; V - Gerenciamento de resíduos: é o sistema de gestão que visa reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos e recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao cumprimento das etapas previstas em programas e planos. (CONAMA, 2002)

É fundamental o entendimento dessa resolução a fim de que cada gestor, público ou privado, compreenda a essencialidade de uma boa gestão desses materiais, pois quando mal utilizados, ou simplesmente lançados como entulhos, o meio, a sociedade, a economia e o futuro são ameaçados. A Reutilização dos Resíduos Sólidos na Construção Civil É evidente que o crescimento urbano promove um avanço econômico e social, com construções de imóveis e reformas que deixam a economia mais aquecida, em contrapartida, quando as “sobras” dessas obras são descartadas clandestinamente em locais inadequados como, terrenos baldios, logradouros, áreas de preservação ambiental, afetam diretamente o bem-estar do homem e o ambiente. Um dos modos sustentáveis de evitar ou minimizar uma possível agressão ao meio e ao ecossistema é a reciclagem, para tanto é válido pincelar alguns conceitos. Como o lançamento de resíduos em locais inapropriados afeta o solo, a água e seres vivos (já que depende do lugar de descarte), faz-se necessário a definição de ecossistema, ou seja, Organismos vivos e seu ambiente não-vivo (abiótico) estão inseparavelmente inter-relacionados e interagem entre si. Chamamos de sistema ecológico ou ecossistema qualquer unidade (biossistema) que abranja todos os organismos que funcionam em conjunto (a comunidade biótica) numa dada área, interagindo com o ambiente físico 284


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de tal forma que um fluxo de energia produza estruturas bióticas claramente definidas e uma ciclagem de matérias entre as partes vivas e não-vivas. (ODUM, p. 09, 2010)

Esses organismos vivos inseridos em seu ambiente não-vivo devem estar em perfeita harmonia, portanto, quando há uma ofensa, isto é, quando são lançados resíduos em locais impróprios, afetam diretamente essa harmonia. Para que o homem não se prenda à negligência de afetar o meio, no caso da construção civil e de outras atividades, a reciclagem e/ou o reaproveitamento de matérias é fundamental. “A reciclagem é executada por diversos processos regenerativos, alguns dos quais físicos, ou químicos, outros biológicos” (RICKLEFS, 2010). Isso implica dizer que o remanejo dos resíduos da construção civil evita degradações e poluições. Partindo do pressuposto de que o homem tem que se responsabilizar pelo que lança ou deixa de lançar no meio ambiente, a regulamentação de normas e diretrizes a serem seguidas pela sociedade em geral é intensa ao explanar, definindo os tipos de resíduos e classificando-os, bem como orientando o proceder com esses materiais. Quanto à classificação dos resíduos sólidos no setor da construção civil é relevante elucidá-la quanto ao Artigo 3º da Resolução 307 do CONAMA que rege, Art. 3º Os resíduos da construção civil deverão ser classificados, para efeito desta Resolução, da seguinte forma: I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras; II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros; III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso; IV - Classe D - são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros. (CONAMA, 2002)

A partir dessa classificação dos resíduos sólidos na construção civil e, remetendo para a empresa observada, notou-se que os materiais que mais abundam são os da classe A e a madeira da classe B, estes sendo reciclados e reutilizados dentro do canteiro. A reutilização dos resíduos sólidos na Construtora Estrela da Manhã LTDA Com o intuito de demonstrar o destino dos resíduos sólidos produzidos por uma empresa privada, torna-se relevante a exposição do que foi observado na Construtora Estrela da Manhã LTDA acerca da gestão dos resíduos sólidos. É pertinente pincelar acerca de sua história, a fim de contextualizá-la nesta pesquisa. Há mais de 30 anos na área da construção civil, atualmente, a empresa conta com um quadro de 135 funcionários para execução de um residencial de 50 unidades habitacionais. Segundo a gestão dessa empresa sua política de qualidade é: construir edificações com qualidade, primando pela satisfação do cliente, tendo os fornecedores como parceiros, e cola285


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boradores como importantes ferramentas no empreendimento, mantendo o compromisso de aprimorar os processos, respeitando a natureza e melhorando sempre. Ao observar o canteiro de obras é impactante a organização e a ausência de entulhos, facilitando o trânsito por parte de todos os envolvidos nos processos de edificações. O que for reaproveitável é reutilizado no cotidiano das atividades executadas pelos operários. Através do processo observacional das atividades realizadas pelos operários da Construtora Estrela da Manhã LTDA, constatou-se que o processo de seleção e reutilização dos resíduos sólidos produzidos inicia-se com o recolhimento, por parte desses operários, do resíduo, sejam eles telhas ou tijolos quebrados, ou pedras e areia retirados da terraplanagem, ou madeira de refugo (esta é encaminhada para as padarias locais para serem utilizadas nos fornos). Em seguida, esse material é separado, ou nas proximidades da obra ou em locais isolados para a seleção do que é reaproveitável. Após essa triagem, os resíduos são reconduzidos ao canteiro de obras para sua reutilização, seja para aterrar (início do processo de edificação), seja para a construção de sumidouros, isto é, tanque enterrado para recepcionar dejetos sanitários, impedindo que o solo seja contaminado. Para otimizar esse entendimento, a figura 1 abaixo retrata o processo de triagem, de um tipo de resíduo, o tijolo quebrado:

Figura 1: Tijolos quebrados prontos para serem reutilizados

Fonte: Brito, 2016

O primordial é a não agressão ao meio ambiente, evitando despejar seus resíduos em terrenos baldios próximos à construtora, bem como minimizar suas despesas com compras de insumos que podem ser facilmente encontrados nos resíduos da obra, como por exemplo, cascalhos, pedras, telhas, dentre outros. E isso é feito mediante um planejamento criado pela própria empresa através de um gerenciamento integrado dos resíduos sólidos urbanos, em concordância com as leis vigentes. Primeiramente, são separados os resíduos sólidos da construção civil em um local isolado ou próximo ao canteiro, como já mencionado, quanto aos que não são reutilizados, estes são coletados por transportes da própria organização empresarial e levados ao local indicado pelo gestor, logicamente essa zona é onde o poder púbico orienta ou exige que sejam despejados os sobejos de construções e outros resíduos. Como pode ser observado na figura 2, o material que pode ser reutilizado dentro do canteiro, como madeira, tijolos e telhas quebradas, e também, sobejos de argamassas, são separados de forma específica. Essa separação Figura 2: Separação de resíduos sólidos Fonte: Brito, 286

2016


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é realizada por pessoas treinadas e devidamente protegida com os equipamentos de segurança, evitando assim, o lançamento desses resíduos na natureza. No canteiro de obras da empresa observada, diariamente sobejam cacos de telhas, pedaços de cerâmicas e madeiras que são reciclados e utilizados na elaboração de sumidouros. Outros pedaços maiores de madeira são utilizados para fabricação de bancos e mesas para a própria construtora e de galpões auxiliares, como se pode observar na figura 3. A areia e sobejos de pedras são separados em locais mais isolados e reutilizados na melhoria da topografia das ruas do conjunto habitacional, como pode ser observado na figura 4:

Figura 3: Madeira de refugo. Fonte: Brito, 2016

Figura 4: Resíduos para reaproveitamento em aterros. Fonte: Brito, 2016

Portanto, é de suma importância a fase do planejamento do destino desses resíduos, no sentido de se identificá-los e quantificá-los e, dessa forma, balizar redução, reutilização, reciclagem e a destinação final dos resíduos, pois uma destinação incorreta pode levar a empresa ao pagamento de multa e, em alguns casos, até a perda da autorização para trabalhar no setor. E o mais grave, agredir o meio ambiente de maneira que comprometa as gerações futuras, não apenas do homem, mas de animais e plantas. As etapas para o reaproveitamento dentro do próprio canteiro da Estrela da Manhã LTDA, se dão no sentido cíclico para os de classe A e classe B, ou seja, os insumos entram na obra, são utilizados normalmente, seus resíduos são separados de forma que não embaraçam o andamento da obra, são então reutilizados, otimizando, assim, a gestão financeira, a consciência por parte do colaborador ao reciclar e reaproveitar o que poderia ter sido negligenciado e a sustentabilidade do meio, pois, após triagem dos resíduos, é realizada a limpeza dos locais que os receberam. A organização e um planejamento estratégico prévio de como os resíduos poderiam beneficiar a empresa e o meio ambiente ficam claros quando se entende que essa rotina é padronizada com intuito de controlar, qualitativamente, o uso desses resíduos. Para esse momento, o controle “deve estar sob a orientação de um grupo de indivíduos especializados” (DIAS, 2011).

CONCLUSÃO Sabe-se que a ação antrópica, no intuito de promover o desenvolvimento, inevitavelmente terá efeitos ambientais. Todavia, um pensamento de gestão ambiental ou conscientização por meio de políticas públicas voltadas ao tema que buscam um controle e monitoramento de impactos ambientais provocados por uma atividade econômica qualquer, apresenta-se com o intuito de, no decorrer de determinada ação realizada pelo ser humano, poder identificar oportunidades de melhorias que venham reduzir os impactos ambientais dessas mesmas atividades sobre o meio ambiente. 287


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Considerando que o objetivo geral desta pesquisa, visava elucidar a importância da reutilização de resíduos produzidos por uma empresa privada, a Construtora Estrela da Manhã LTDA, foi possível constatar que ela contribui de forma significativa tanto para a diminuição de impactos ambientais, causados pelo lançamento de resíduos na natureza, como para a afirmação de um pensamento sobre a importância da sustentabilidade no setor da construção civil. Implicando afirmar que esta pesquisa é de utilidade relevante, no sentido de buscar um consumo mais consciente, produzindo menos resíduos, isto é, reaproveitando os excedentes, evitando assim que sejam simplesmente dispensados no meio ambiente. Portanto, na perspectiva de que os resíduos sólidos provenientes da construção civil devem ser reutilizados dentro do próprio canteiro de obras, e, reafirmando a eficiência na execução desse processo pela construtora observada, o meio ambiente sofre menos impactos com os entulhos que poderiam comprometer ainda mais as gerações futuras. Desse modo, esta pesquisa é recomendada aos estudiosos da área da construção civil no tocante à questão da sustentabilidade, bem como aos profissionais que buscam estar regulamentados quanto à destinação de resíduos sólidos e aos interessados na conservação ambiental. REFERÊNCIAS ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Disponível em: <http://www.abrelpe.org.br/>. Acesso em: 22 abr. 2016. ALCANTARA, Cícero Alves de. Reutilização de resíduos sólidos da construção civil. Trabalho de conclusão de curso apresentado à Universidade Anhenbi Morumbi: São Paulo, 2005. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: Resíduos sólidos Classificação. Rio de Janeiro, 2004. BRASIL, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – CONAMA. Resolução no 307, de 05 de julho de 2002. Disponível em: <http:// www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30702.html>. Acesso 21 abr. 2016 DIAS, Marco Aurélio P. Administração de materiais: princípios, conceitos e gestão. 6ª Edição. São Paulo: Atlas, 2011. ODUM, Eugene P. Ecologia. [supervisão da tradução Ricardo Iglesias Rios; tradução Christopher J. Tribe]. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. Política nacional de resíduos sólidos. 2. ed. – Brasília : Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012. Disponível em: <http://fld.com.br/catadores/pdf/politica_residuos_solidos. pdf>. Acesso em: 20 abr. 2016 RICKLEFS, Robert E. A economia da natureza. [tradutor Pedro P. de Lima-e-Silva; revisora técnica e coordenadora da tradução Cecília Bueno]. 6ª Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

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ESTUDO DA PERCEPÇÃO SOBRE A ARBORIZAÇÃO URBANA DOS MORADORES DO ENTORNO DA AVENIDA ALUISIO PORTELA, EM CAMPO MAIOR-PI Lucas Oliveira Ribeiro1 Maria Beatriz Dias Coutinho2 Nayara Dannielle Costa de Sousa3 Kelly Polyana Pereira dos Santos4

RESUMO A arborização urbana se torna componente essencial de uma gestão do meio ambiente urbano. Na cidade de Campo Maior, Piauí, Brasil, a construção da Avenida Aluisio Portela promete facilitar a mobilidade urbana. Ela está em fase de conclusão e a arborização ainda está em seu início. Diante da importância do planejamento na arborização urbana, o presente trabalho teve como objetivo principal avaliar a percepção ambiental dos moradores do entorno da Avenida Aluisio Portela, a fim possibilitar dados acerca dos anseios, atitudes, crenças, valores e comportamento dos moradores, em questões voltadas à temática da arborização urbana e, portanto, tornar esse conhecimento aliado ao planejamento da arborização. O presente trabalho foi desenvolvido, utilizando-se questionários, que foram aplicados nas residências vizinhas à Avenida, posteriormente, foram tabulados todos os dados coletados e alocados em gráficos. Ao mesmo tempo, procurou-se averiguar as espécies adotadas na arborização da avenida e confrontaram-se as informações obtidas com as sugestões dos próprios moradores. Os resultados mostram que algumas espécies citadas estão sendo adotadas para a arborização da avenida, como o nim indiano (Azadirachta indica A. Juss) e a carnaúba (Copernicia prunifera). Ao fim deste trabalho, recomendou-se a elaboração de um plano municipal de arborização urbana para a cidade de Campo Maior. Palavras-chave: Meio Ambiente. Percepção ambiental. Arborização urbana. INTRODUÇÃO Na história humana, é recente a sua fixação em um único local, deixando a sua condição nômade e formando as primeiras cidades. Com o crescimento da população e as migrações do campo para a cidade, houve o inchamento dos centros urbanos ao mesmo tempo em que se perdeu o convívio com o meio natural. Durante esse rápido crescimento, a arborização urbana era, por muitas vezes, esquecida e, consequentemente, a qualidade de vida também era afetada, já que a arborização tem um importante papel frente à saúde e ao bem-estar da população, além de influenciar no quesito estético, psicológico e cultural de um lugar. Conceitualmente, arborização urbana compreende toda vegetação arbórea e/ou arbustiva existente na cidade. Caracterizando-se, principalmente, pelo plantio de árvores em praças, parques, canteiros centrais e calçadas. 289


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A Avenida Aluisio Portela, construída para facilitar a mobilidade urbana na cidade de Campo Maior-PI, está em processo de finalização. A arborização da avenida é pensada como uma parte da obra, servindo não só para a harmonia paisagística como também para a construção de uma cidade mais sustentável. Compreendendo a importância da arborização urbana para a população dentro de um município, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a percepção ambiental dos moradores do entorno da Avenida Aluisio Portela, a fim de possibilitar a coleta de dados acerca dos anseios, atitudes, crenças, valores e comportamento dos moradores, em questões voltadas à temática da arborização urbana e, portanto, tornar esse conhecimento aliado ao planejamento da arborização para a referida avenida. Ao mesmo tempo, procurou-se averiguar as espécies adotadas na arborização da avenida, e confrontaram-se as informações obtidas com as sugestões dos próprios moradores. METODOLOGIA Área e População de Estudo A cidade de Campo Maior, no estado do Piauí, está localizada entre os municípios de Cabeceiras do Piauí, Nossa Senhora de Nazaré e Cocal de Telha, ao sul Alto Longá, Coivaras e Novo Santo Antônio, a leste Cocal de Telha, Jatobá do Piauí e Sigefredo Pacheco e a oeste José de Freitas, Altos e Coivaras (CPRM, 2004). Possui uma altitude na sede de 125 m do nível do mar, apresenta temperaturas mínimas de 28 °C e máximas de 35 °C, com clima quente tropical. A precipitação pluviométrica média anual de 1.305 mm, sendo os meses de fevereiro, março e abril os mais úmidos (IBGE, 1977, apud CPRM, 2004). Segundo o censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Campo Maior possui uma população de 45.177 habitantes. Os setores de comércio, agricultura, pecuária (principalmente ovinos e caprinos) e extrativismos constituem-se como as atividades mais expressivas do município. Campo Maior está classificada como pertencente ao Complexo de Campo Maior, que possui aspectos fisionômicos de campos, cerrados, caatingas e matas (Barros, 2005). A Avenida Aluisio Portela, local onde ocorrerá a arborização, foi projetada como mecanismo para facilitar a mobilidade da cidade. Dividindo os dois sentidos, há o canteiro central. Até o período da pesquisa, o projeto de construção da avenida e sua pavimentação estão quase finalizados, faltando ainda iluminação. A arborização do local está em sua primeira fase, onde está ocorrendo o Figura 1- Área de Estudo. Fonte: Adaptado do Google Earth Pro, plantio de carnaúbas no canteiro 2016. central, segundo informações da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Campo Maior (SEMMARH). Na Figura 1 temos a área em estudo. As imagens são do Google Earth para o ano de 2013. 290


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Nota-se que a avenida Aluisio Portela, foi construída bastante próxima ao Rio Surubim, daí o motivo dos munícipes se referirem ao local como Avenida Surubim. Levantamento e Análise dos Dados Através da aplicação de questionários padronizados com 26 pessoas que residem no entorno da Avenida Aluísio Portela, e da tabulação e posterior organização em gráficos, conseguiu-se um estudo situacional acerca do processo de arborização da avenida. Buscou-se revisar bibliograficamente acerca de temas como a arborização urbana e a percepção ambiental a fim de dar embasamento ao estudo. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Campo Maior (SEMMARH) foi consultada a fim de se obter informações acerca do projeto de arborização da Avenida Aluisio Portela. Posteriormente, foram aplicados 26 formulários aos moradores que residem próximos à Avenida Aluisio Portela, nos bairros Nossa Senhora de Lourdes e Centro, com questões abertas e fechadas que buscassem as características socioeconômicas dos entrevistados e percepção ambiental acerca da arborização urbana. As ruas visitadas foram a Aldemar Mendes, Pergentino Lobão, Luís Augusto Paz, Francisco Conrado e Emídio Lima. RESULTADOS E DISCUSSÃO Processo de Arborização Adotado para a Avenida Aluisio Portela Na cidade de Campo Maior, o setor responsável pelo cuidado com a arborização urbana é a SEMMARH. O órgão foi consultado a fim de se obter informações sobre o processo de arborização que será adotado para a Avenida Aluisio Portela. Segundo a SEMMARH, a primeira fase de arborização está concluída. O canteiro central recebeu as mudas de carnaúba (Copernicia prunifera). Segundo Machado et al. (2006), a carnaúba pode atingir de 10 a 20 metros de altura, possui excelente adaptabilidade para o clima da região e recomendam o seu uso para canteiros centrais com dois metros de largura e também para praças e jardins. Agora está sendo preparada a segunda fase, que ocorreu no dia 28 de abril do ano em curso, quando as áreas laterais receberam espécies como o Caneleiro (Cenostigma macrophyllum Tul), o Ipê-amarelo (Tabebuia chrysotricha), o Angico-branco (Anadenanthera colubrina), o Caneleiro (Anadenanthera colubrina) e o Brasileirinho (Euonymus japonicus), sendo que a maioria são espécies nativas da região. Tais espécies se adaptam bem ao clima e solo da região. No entanto, é recomendado que se verifique o espaço disponível para o crescimento de ambas as espécies que podem atingir grandes alturas e diâmetro de copa, devendo-se realizar o plantio de forma intercalada. Percepção Ambiental dos Moradores do Entorno da Avenida Aluisio Portela Das vinte e seis pessoas entrevistadas 69% foram do sexo feminino e 31% do sexo masculino, isso pode ser justificado pela disponibilidade demonstrada pelas mulheres para a entrevista. Com relação ao grau de escolaridade dos entrevistados 4% são alfabetizados; 46% possuem Ensino Fundamental Incompleto, este é o grupo mais representativo da amostra; 8% possuem o Ensino Fundamental Completo; 15% possuem Ensino Médio Incompleto e na mesma proporção de 15% estão os entrevistados que possuem o Ensino Médio Completo; 12% 291


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dos entrevistados possuem Ensino Superior Completo. Quando perguntadas o que achavam sobre a arborização de sua rua, 23 % a consideravam muito arborizada, 38% classificaram a rua como razoavelmente arborizada e 39%, a maioria, rotularam como pouco arborizada. Perguntou-se aos moradores se eles consideravam a arborização importante. A grande maioria, 92%, respondera “sim” à pergunta contra apenas 8% cuja resposta foi “não”. Para averiguar o porquê dessa importância para o entrevistado, questionou-se qual o fator mais positivo da arborização urbana. As respostas podem ser visualizadas no gráfico 1. Gráfico 1-Fator positivo da arborização urbana

Fonte: Pesquisa direta, 2016. O fator mais apontado foi o fornecimento de sombra e amenização do calor. Isso pode ser explicado por Campo Maior ser uma cidade caracterizada por clima quente e com grande insolação ao longo do ano. Segundo Shams, Ciacomeli, Sucumine (2009), a arborização proporciona estabilidade microclimática através da redução das amplitudes térmicas, redução da insolação direta, ampliação das taxas de evapotranspiração e redução da velocidade dos ventos, melhorando assim o conforto térmico de uma região. A redução da poluição sonora e atmosférica é a segunda mais apontada, representando 19% das respostas. A poluição sonora é reduzida, pois a copa das árvores funciona como uma espécie de amortecedor. Nesse caso, a poluição atmosférica foi o fator que mais levou os entrevistados a escolher essa opção. Segundo a Prefeitura Municipal de Goiânia (2016), a arborização urbana traz contribuições significativas na melhoria da qualidade do ar urbano, pois há a promoção da purificação do ar através da fixação de poeiras e gases tóxicos e pela reciclagem de gases através dos mecanismos fotossintéticos. O bem-estar físico e psíquico também foi apontado, embora com menos representação. As árvores trazem esse benefício ao proporcionar beleza e suavidade nas linhas duras de uma cidade. Além disso, de acordo com a Prefeitura Municipal de Goiânia (2016), a árvore em frente a uma residência proporciona a ela uma identidade particular o que leva a um contato direto do morador com um elemento natural significativo. A pesquisa mostrou que são vários os fatores negativos trazidos pela arborização (Gráfico 2).

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Gráfico2- Fator negativo da arborização urbana

Fonte: Pesquisa direta, 2016. Problemas como esses podem ser perfeitamente evitados se houver um planejamento anterior ao plantio da muda, considerando todos esses fatores como a espécie da planta, a presença ou não de fiação elétrica e telefônica no local ou de encanamentos subterrâneos, o espaço disponível para a passagem do pedestre, entre outros. Muitas vezes, quando o planejamento não é utilizado, nos deparamos com esses tipos de conflitos e, então, o gestor da arborização urbana local ou o morador da casa da qual a espécie foi plantada se vê na obrigação de realizar podas drásticas, prejudicando a saúde da planta ou, em casos mais extremos, a retirada completa. Vale destacar mais uma vez a importância do planejamento no manejo da arborização de uma cidade. No gráfico 3 é possível observar a sugestão de espécies vindas dos moradores para a arborização da Avenida Aluisio Portela. Gráfico 3- Espécies sugeridas pelos moradores para a arborização da Avenida Aluisio Portela

Fonte: Pesquisa direta, 2016. É interessante notar a grande participação do nim indiano nas respostas, com 50%, mostrando a popularidade dessa espécie entre os entrevistados. Essa é uma planta introduzida na cidade há pouco tempo, mas que já possui larga presença em calçadas, praças e outros locais. Além disso, é uma espécie bastante utilizada na arborização promovida pela própria SEMMARH. Nessa segunda fase, a espécie não estará presente na Avenida Aluisio Portela. 293


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A carnaúba ficou em segundo lugar, com 32%. Os moradores gostavam de lembrar que é uma planta símbolo da cidade e que, portanto, deveria estar na avenida, como de fato já está ocorrendo. As árvores frutíferas também foram lembradas, embora com menor representação, cerca de 7%, resultado igual à menção do ipê-amarelo nas respostas dos moradores. Interessante considerar que o ipê-amarelo foi utilizado na arborização da Avenida, isso em função dessa espécie ser nativa, com grande valor paisagístico. E, 4% dos moradores disseram que não deveria haver o plantio de nenhuma espécie. CONCLUSÃO A arborização urbana se mostrou de grande importância para os moradores da região, sendo a atenuação do calor o fator mais apontado para tamanho valor. O nim indiano se destaca na arborização urbana da cidade e mostra-se como preferido entre os entrevistados, no entanto, a planta pode produzir alguns problemas nos aparelhos urbanos e construções do entorno. Isso reflete na necessidade de uma melhor consideração sobre o uso dessa espécie ou não em determinados locais. A carnaúba também possui presença marcante na percepção dos moradores por ser considerada a árvore símbolo do município e detentora de grande valor estético. Há a necessidade de maior valorização das espécies nativas da região para a arborização urbana da cidade. Isso parece ser algo percebido por aqueles que mencionaram a carnaúba e o ipê-amarelo como espécies que poderiam ser utilizadas na Avenida Aluisio Portela. Diante do exposto, fica clara a necessidade da elaboração de um plano municipal de arborização urbana para a cidade de Campo Maior, a fim de garantir um melhor planejamento, eficiência na escolha de espécies a ser inseridas e, como conseqüência futura, uma melhoria significativa da qualidade de vida da população campomaiorense. Além disso, também é necessário um programa de educação ambiental eficiente, que vise orientar efetivamente a população quanto à correta arborização urbana com vistas a evitar alguns problemas devido à falta de planejamento. REFERÊNCIAS BARROS, J. S. Compartimentação geoambiental no Complexo de Campo Maior, PI: uma área de tensão ecológica. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente). 2005. Universidade Federal do Piauí ─ UFPI. Teresina, PI. 249 p. BRASIL. Estatuto da cidade. Lei No 10.257, de 10 de Julho de 2001. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso em: 22 jan. 16. CARVALHO JUNIOR, Domingos A. de. Um pouco de planta e muita história: elementos que compõe a paisagem dos jardins históricos de Campo Maior-Piauí. XIV Simpósio de Produção Científica e XIII Seminário de Iniciação Científica. Livro de Resumos. ISBN: 978-85-8320075-8 - v.1, n.1, 2014. Disponível em: <http://www.uespi.br/prop/ckfinder/userfiles/files/SIC_ SPC_2014/Resultado_final_simposio_2014.pdf >. Acesso em: 23 jan. 2016. CASCO, Maria T. B.; SANTIAGO, Alina G. Critérios de arborização urbana. Estudo de caso: cidade de foz do Iguaçu – PR. Universidade Federal de Santa Catarina – PR. Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo.Disponível em: <http://posarq.ufsc.br/files/2010/08/ ARTIGO-CRIT%C3%89RIOS-DE-ARBORIZA%C3%87%C3%83O-URBANA-.pdf>. Acesso em: 22 jan. 16. 294


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AVALIAÇÃO DOS FATORES CONDICIONANTES DE PARASITOSES INTESTINAIS EM ALUNOS DE UMA ESCOLA PÚBLICA DO MUNICIPIO DE PARNAÍBAPIAUÍ LUÍZA ALVES DA SILVA1 SIMONE MOUSINHO FREIRE2 RESUMO Estudos recentes apontam associação de caráter positivo entre condições de higiene, fatores socioeconômicos e as enteroparasitoses. Diversos fatores bióticos como alterações no meio ambiente, população concentrada em maior número nas periferias e falta de higiene são apontados como condições favoráveis para propagação do parasito associado a uma população vulnerável. Com objetivo de obter informações referentes ao nível de conhecimento dos alunos de uma escola pública sobre a temática parasitoses, este trabalho usou a metodologia de questionário direto, com um total de 50 alunos de 15 a 19 anos. Observou-se, de modo geral, a carência de conhecimento dos alunos sobre a temática, mostrando a necessidade do desenvolvimento de atividades dentro do ambiente escolar, buscando melhor orientação dos alunos. Conclui-se que atividades de educação em saúde mostram-se como medidas necessárias e efetivas, consolidando a formação de atitudes e valores que levam os alunos ao comportamento independente, revertendo em benefício à sua saúde e daqueles que estão à sua volta. Palavras-Chave: Educação em Saúde. Enteroparasitoses. Escolares.

1 INTRODUÇÃO O momento em que o homem passou do hábito nômade para a vida sedentária, em habitações fixas, foi um marco decisivo no avanço da qualidade de vida (MALTA, 2005). A saúde pública teve seu início quando os homens, no seu hábito sedentário, vivendo em comunidades resultavam perigos especiais para a saúde dos indivíduos e foi descobrindo, consciente e inconscientemente, meios de reduzir e evitar esses perigos. Em contrapartida, o hábito sedentário trouxe algumas influências negativas como as relacionadas com as enteroparasitoses (HELLER, 1997). Diversos estudos têm reportado a associação positiva entre o enteroparasitos e as condições sanitárias e socioeconômicas em comunidades menos favorecidas (ANDREAZZI et al., 2007). Nesse sentido, pode ser observada a disseminação que eleva a incidência das parasitoses, provavelmente, pelas alterações ambientais, elevada concentração populacional e a falta de higiene que são condições propícias para multiplicação do parasito junto a uma população suscetível (FERREIRA et al., 2006). 1 2

Bióloga graduada pela Universidade Federal do Piauí – UFPI. E-mail: luizaalves.silva83@gmail.com Doutora em Ciência Animal. Chefe do Laboratório de zoologia e biologia parasitária/UESPI. 297


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As parasitoses são um grave problema de saúde pública no Brasil, principalmente em regiões com nível socioeconômico mais baixo e sem saneamento básico, sendo que são mais frequentes entre crianças que podem apresentar sintomas como: dores abdominais, anemia, prurido anal, diarreia crônica e perda de apetite (SILVA E SANTOS, 2001). Elas são responsáveis pela diminuição da qualidade de vida da população causando grandes perdas econômicas, diminuição de sua produtividade, dificuldade de aprendizado, prejuízo da função de alguns órgãos vitais, além de contribuir para o aumento da desnutrição (MALTA, 2005). As parasitoses intestinais são doenças cujos agentes etiológicos são helmintos ou protozoários, sendo que os parasitos em pelo menos uma das fases do ciclo evolutivo localizam-se no sistema digestivo do homem, podendo gerar diversas alterações patológicas. (BAPTISTA et al 2006). Costa et al (2009) relatam que as helmintoses intestinais humanas ocupam lugar de destaque entre as doenças parasitárias, destacando-se: Ascaridiose, Tricuríase, Enterobiose, Ancilostomose e Estrongiloidose. No Brasil, os helmintos têm uma vasta distribuição geográfica, sendo encontrados em zonas rurais e urbanas, com intensidade variável, segundo o ambiente e espécie parasitária, prevalecendo, na maioria das vezes, em níveis elevados onde são precárias as condições socioeconômicas da população. Dentre as doenças causadas por protozoários, destaca-se a Giardíase, frequentemente encontrada na infância e a Amebíase encontrada também nas populações de alto nível socioeconômico. Segundo Ferreira e Marçal Junior (1997), as parasitoses intestinais estão entre os principais problemas de saúde pública no Brasil, porém as investigações parasitológicas são precárias ou inexistentes. Como fatores de risco associados às altas taxas de prevalência os autores destacam o comportamento humano. A transmissão das parasitoses intestinais normalmente ocorre por via oral-fecal, pela ingestão de ovos de helmintos e cistos de protozoários presentes em alimentos ou água contaminados ou até mesmo por algum objeto contaminado com fezes. Esses parasitos são capazes de contaminar o solo, a água, o ar e os mais variados tipos de alimentos. (BELLIN; GRAZZIOTIN, 2011). As parasitoses são apontadas como um indicador do desenvolvimento socioeconômico de um país, afetando principalmente os indivíduos jovens que estão em fase escolar, desencadeando desde problemas de saúde, até baixo nível de rendimento nas atividades de aprendizagem (SIQUEIRA; FIORINI, 1999). Condições precárias de higiene, dificuldades econômicas e desconhecimento sobre medidas preventivas são fatores que contribuem para que as populações menos favorecidas e, em especial, as crianças, se tornem o alvo preferido para a proliferação das parasitoses intestinais, o que constitui um dilema nacional cuja solução se torna difícil por envolver variáveis como o ambiente, condições sociais, econômicas e culturais dos afetados (MUNHOZ et al.,1990)

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Uma das desordens que mais afetam crianças são as infecções parasitárias e exercem alarmantes efeitos no desenvolvimento escolar, estado nutricional e crescimento pôndero-estatural. Os países subdesenvolvidos são os mais afetados por essas infecções, pois suas condições sanitárias são inferiores se comparadas às dos países desenvolvidos (PRADO et al., 2001). O grau de conhecimento da atual situação das enteroparasitoses em crianças pré-escolares de comunidades menos favorecidas também é muito baixo (COSTA-MACEDO et al., 1998). O controle das enteroparasitoses, ao contrário de uma série de medidas técnicas para esse fim, não tem, nos países subdesenvolvidos, atingido o êxito obtido por aqueles de economia mais avançada. Uma série de fatores complexos, principalmente o custo financeiro de medidas técnicas – a exemplo de saneamento e uso de quimioterápicos – e questões pertinentes à participação da comunidade nos programas oficiais, têm contribuído para esse insucesso (OMS, 2003). No complexo ciclo das parasitoses intestinais, a comunidade representa a ligação mais importante deste ecossistema. Por isso, nos programas de controle, a população deve não só ser informada, mas principalmente participar do processo de forma dinâmica “conscientemente aliciada no planejamento, implementação, monitoração e avaliação” (OMS, 2003). Como frisado por pesquisadores que trabalharam não apenas no controle das parasitoses intestinais, mas em outros tipos de parasitoses, ações educativas conduzidas de forma concreta constituem instrumento simplificador da participação. (OMS, 2003; BIZERRA et al. 2005; OGUNMEKAN, 2005; HAYASHI et al., 2006; DUNN, 2007; JANCLOES et al. 2008). A educação em saúde no meio escolar envolve a formação de atitudes e valores que levam o estudante ao comportamento independente, revertendo em benefício à sua saúde e daqueles que estão à sua volta. Nesse sentido, a educação não se limita a dar conhecimentos; preocupa-se em motivar o aprendizado, o checkup e a avaliação de fontes de informações e torná-lo capaz de adotar práticas comportamentais com base no conhecimento (MARCONDES, 2005). Educação em Saúde é entendida como qualquer combinação intencional de experiências de aprendizagem com objetivo de facilitar medidas comportamentais ou ações sobre os determinantes sociais da saúde a serem adotadas por pessoas ou comunidades. Seu processo se distingue de qualquer outro que contenha experiências acidentais de aprendizagem. Na prática, a educação em saúde constitui apenas parte das atividades técnicas voltadas para a promoção da saúde, sendo seu objetivo específico a organização lógica do componente educativo de programas que se desenvolvem na escola, no local de trabalho, no ambiente clínico e na comunidade, entendida aqui como contendo populações alvo que não se encontram nas três outras extensões (CANDEIAS, 1997). Na compreensão educacional, saúde é um dos temas transversais explicitados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o qual recomenda que esse tema seja abordado de forma ampla com a construção permanente individual e coletiva e não como uma imagem adicional da doença (BRASIL, 1998; FERNANDES et al, 2004). Assim, a escola que é reconhecida como sendo a instituição voltada ao ensino formal é elevada ao papel de contribuinte da formação de 299


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sujeitos capazes de participar de decisões relativas à saúde individual e coletiva (FERNANDES et al., 2004; LEONELLO e L’ ABBATE, 2006). Uma vez que à escola se deva a atribuição de realizar a educação em saúde, primeiramente faz-se necessário o entendimento do conceito de educação em saúde em sua totalidade prognóstica uma análise profunda dos significados atribuídos aos seus dois componentes. Como a maioria das doenças transmitidas por alimentos está ligada aos hábitos precários de higiene pessoal e doméstica dos manipuladores, à limpeza e ao controle ambiental, dentre outros, a educação em saúde, em especial na fase escolar, assume posição de destaque. Algumas maneiras utilizadas para se garantir a qualidade higiênico-sanitária dos alimentos são a realização de programas de educação continuada para os manipuladores de alimentos, a realização semestral de exames coproparasitológicos desses indivíduos e o fortalecimento do sistema de vigilância sanitária para fiscalização de alimentos oferecidos para a população, incluindo uma legislação adequada. No Brasil, apesar do destaque e da atualidade do problema, são poucos os trabalhos avaliando enteroparasitoses em manipuladores de alimentos (NOLLA e CANTOS, 2002).

2 MATERIAL E MÉTODOS Este estudo teve uma abordagem quantitativa a qual buscou identificar o nível de conhecimento dos alunos de uma escola pública sobre enteroparasitoses, através da aplicação de questionário, com perguntas fechadas sobre a temática parasitoses intestinais, conhecimento dos hábitos de higiene quando relacionados às práticas alimentares, sanitárias e profiláticas relacionadas ao tema.

2.1 PARTICIPANTES Os participantes da pesquisa foram alunos do Ensino Médio com faixa etária entre 1519 anos da Unidade Escolar Jeanete Sousa do município de Parnaíba– Piauí que estavam regularmente matriculados. A coleta de dados foi realizada no período de janeiro a fevereiro de 2016. Foram excluídos desta pesquisa, os alunos que não pertenciam às séries indicadas para a execução do projeto. Um total de 50 alunos atenderam aos critérios de inclusão.

2.2 ANÁLISES DOS DADOS A análise estatística dos dados foi realizada usando frequência simples.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO As enteroparasitoses são doenças altamente prevalentes em países subdesenvolvidos. Diversos estudos realizados em diferentes regiões do país e do mundo, atestam a ocorrência de tal patologia, que afeta principalmente as crianças acarretando atraso no seu desenvolvimento físico e intelectual.(PINHEIRO, 2011). Essas doenças são responsáveis pela diminuição da qualidade de vida da população, causando perdas econômicas, dificuldades de aprendizado, diminuição de sua produtividade, prejuízo da função de alguns órgãos vitais, além de contribuir para o aumento da desnutrição (MALTA, 2005). De acordo com Berenguer (2006), ao estudar uma parasitose qualquer, é sempre importante conhecer a frequência com que ela afeta uma determinada população. Em nossos estudos observamos que os participantes da pesquisa são, 52% do sexo masculino e 48% do sexo feminino. A faixa etária entre 15-16 anos totaliza 56% enquanto que os adolescentes de 17-18 anos compõem 44% dos entrevistados. A maioria (92%) dos participantes são de famílias que possuem renda de no máximo três salários mínimos. Estudos sugerem que, em populações de baixo nível socioeconômico e cultural, a transmissão dos microrganismos pode ser facilitada por precárias condições de higiene. No Brasil, mais da metade de crianças pré-escolares e escolares encontram-se parasitadas (FERREIRA; ANDRADE, 2005). Quando questionados se a residência em que habitam fica em rua asfaltada 65% responderam que sim e 35% que não. Relacionando os fatores e condições socioeconômicas levantadas nesta pesquisa, podemos afirmar que muitas famílias, sobrevivem com uma renda familiar de até 3 salários mínimos, moram em ruas que não são asfaltadas e habitam em residências que, em sua maioria, possuem quintais totalmente de terra, vivendo assim com poucos recursos financeiros, o que pode interferir nas condições de higiene favorecendo aparecimento de parasitoses (NEVES et al.,1995). Os alunos também foram questionados sobre as condições físicas do quintal existente em sua residência. Do total, 4% afirmaram não ter quintal em sua residência, 8% afirmam ter quintal parcialmente de terra, 16% têm quintal em sua residência totalmente de cimento e 72% afirmaram ter quintal totalmente de terra. As condições ambientais associadas aos fatores anteriores irão favorecer e definir a ocorrência de infecção e doença. Os alunos relataram apresentar sintomas ligados à patologia estando relacionados com os hábitos de higiene, saneamento ambiental precário ou que não atenda às necessidades da demanda local, cuidado não adequado com a água que vai ser consumida e o pouco acesso às informações ligadas a ações educativas relacionadas à prevenção de parasitoses. Quando os alunos foram indagados se tiveram algum tipo de diarreia ou dor abdominal intensa nos últimos seis meses, 60% afirmaram que sim e 40% afirmaram que não (Figura 1). Segundo Rey (2001), as manifestações clínicas ocorrem das formas mais diversas, desde for301


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mas assintomáticas até disenterias, hemorragia intestinal, apendicite amebiana, cólicas e outras. Na maioria dos indivíduos infectados é assintomática, a infecção sintomática pode apresentar-se de forma aguda ou crônica, sendo o quadro clássico de diarreia, cólica e dor abdominal (REY, 2001).

Figura 1 . Presença de diarreia ou dor abdominal intensa nos últimos seis meses nos alunos da Unidade Escolar Jeanete Sousa em Parnaíba-PI.

Quando questionados sobre o uso da água utilizada para consumo, 44% dos estudantes afirmaram utilizar água de poço artesiano, 36% água filtrada , 10% utiliza água tratada e apenas 10% utiliza água mineral (Figura 2) .

Figura 2. Tipo de tratamento de água consumida para beber ou cozinhar relatado por alunos da Unidade Escolar Jeanete Sousa em Parnaíba-PI.

Apenas uma pequena parte dos participantes da pesquisa responderam que fazem uso de água encanada tratada para o consumo, o que implica a necessidade de que seja realizado um tratamento adicional para que a água possa ser consumida. Os dados relatados no presente estudo, corroboram o estudo realizado por Clasen (2006) que mostra o benefício da filtração domiciliar na prevenção de diarreia em todas as faixas etárias, ressaltando a importância de se adotarem medidas de Saúde Pública e ações de educação para a saúde que visem à utilização de filtros de água em todas as residências, nas quais o tratamento público inexista ou apresente falhas. Em relação à higiene das mãos antes do consumo de alimentos foi perguntado aos alunos se todos os membros da residência realizam a lavagem das mãos antes das refeições. Do total, 42% afirmaram que todos na residência lavam as mãos antes das refeições e 58% responderam que nem todos lavam as mãos antes das refeições. As parasitoses intestinais são mais comumente transmitidas por via oral-fecal , com a ingestão de alimentos ou água contaminados com ovos embrionados ou cistos, remetendo as-

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sim a um cenário precário na área de saneamento básico e higiene. Assim, fica claro que é de suma importância para a população o desenvolvimento de pesquisas que evidenciem essa relação e, mais do que isso, possam apontar medidas para que o problema das parasitoses seja ao menos amenizado, melhorando a qualidade de vida dessas pessoas (COSTA-MACEDO,1998; ALVES,2003) Entre as principais causas de doenças de origem microbiana veiculadas por alimentos está a manipulação inadequada (ORLANDI,2002). Portanto, as pessoas que manipulam alimentos desempenham uma função importante na preservação da higiene, pois podem representar uma importante fonte de transmissão de vários patógenos. (Silva, 2005) A precariedade sanitária e maus hábitos de higiene proporcionam o desenvolvimento de infecções parasitárias. Grande parte da população de países em desenvolvimento está exposta a contaminações por parasitas intestinais devido à ausência de saneamento, contribuindo para o aparecimento de ambientes propícios à disseminação de parasitoses. Os números prevalentes de enteroparasitoses representam um grande problema de saúde pública. (FREITAS, 2004; LUDWIG,1999; OLIVEIRA, 1992; SOARES, 2005) Todos os alunos responderam à pergunta “Qual dos sintomas te faz suspeitar que você tenha tido algum tipo de parasitose intestinal? ” Para esta pergunta, 30% relataram dor de barriga, 23% manchas claras pelo corpo, 17% diarréia,11% cansaço, 10% febre e apenas 9% fome exagerada (figura 3). Quadros de diarreia persistente podem estar associados à baixa absorção de nutrientes, o que pode comprometer o crescimento e desenvolvimento de uma população, formada principalmente por crianças em idade escolar, normalmente de baixa renda, onde a ingestão de alimentos saudáveis não é frequente. De acordo com a Who (2012) quadros diarreicos são a segunda principal causa de morte em crianças menores de cinco anos de idade, e é responsável pela morte de 1,5 milhão de crianças a cada ano. Figura 3. Possíveis sintomas relacionados à verminose relatados por alunos da Unidade Escolar Jeanete Sousa em Parnaíba-PI.

Quando questionados quanto aos métodos que são utilizados como medida profilática de parasitoses intestinais, obtivemos diversos tipos de respostas, tais como: 25% lavar as mãos antes das refeições, 23% higiene íntima correta, 22% lavar as mãos após o uso do banheiro, 18% manter as unhas curtas e 12% lavar as mãos após as refeições. Para Tavares (2001), infecções intestinais causadas por parasitas, têm relação com padrões inadequados de higiene pessoal e de alimentos, por serem fatores que oferecem mais riscos de contaminação. Ainda segundo ele, medidas de caráter simples como lavagem das mãos e alimentos com água e sabão, são medidas eficientes no combate a contaminação por parasitos. 303


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Para Barbosa (2009), torna-se fundamental a prática de medidas dentro do contexto familiar com relação às parasitoses, no que diz respeito à manipulação, ao armazenamento e ao reparo dos alimentos. Ainda segundo ele, o conhecimento sobre esse tipo de agravo à saúde, possibilita ao indivíduo mudar de comportamento para promoção da saúde.

4 CONCLUSÃO Este estudo, mostra de forma geral a necessidade eminente de implementação de programas de educação em saúde nas escolas, levando em consideração os fatores culturais e sociodemográficos que conduzem a comunidade. Mudanças comportamentais são necessárias para desenvolver o senso crítico dos alunos, principalmente dentro do ambiente escolar. Uma alternativa para a solução desse deficit de conhecimento, seria a implementação de projetos e ações que contem com a participação da comunidade, alunos e professores, uma vez que o trabalho educativo é um dever, uma ação continuada, visando à melhoria da qualidade de vida de todos os envolvidos . As ações de estratégia em saúde são de baixo valor financeiro e atingem uma ampla gama de indivíduos, caracterizando medida eficaz no controle de parasitoses intestinais.

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PERCEPÇÃO AMBIENTAL SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NAS COMUNIDADES DO ENTORNO DO RIO SURUBIM EM ALTOS - PI LARISE ALMEIDA SILVA1 MARIA BEATRIZ DIAS COUTINHO2 KELLY POLYANA PEREIRA DOS SANTOS3 RESUMO Objetivou-se a compreensão das formas de percepção ambiental dos moradores das comunidades Santa Luzia e Surubim, localizadas no entorno do Rio Surubim em Altos/Piauí com enfoque à utilização dos recursos hídricos. Os dados foram obtidos a partir de entrevistas semiestruturadas, observação direta e registro fotográfico e com posterior tratamento estatístico. O Rio Surubim é bastante influenciado pelas atividades antrópicas, pois situa-se em região urbana ou próximo a ela. A partir desse trabalho conclui-se que a percepção ambiental dos moradores em relação à qualidade do rio é classificada como regular por 50% dos entrevistados e 63,3% consideraram como boa a qualidade ambiental da comunidade em que vivem. Em relação ao rio Surubim, 93,3 % afirmaram desconhecer o local da nascente e 96,7% desconheciam onde o rio desemboca. Cerca de 80% dizem não serem afetados por nenhuma atividade no entorno de suas propriedades.A diminuição do volume de água foi apontada por 45,5%como o principal problema enfrentado pelo rio. A população não realiza ações colaborativas para amenizar os problemas ambientais presentes e nunca participaram de qualquer atividade de educação ambiental. O local dos roçados feitos pelos lavradores fica a uma distância média de 320 metros do rio, estando dentro do limite estabelecido pela legislação.Sobre quais atividades eram mais prejudiciais à comunidade, as exercidas na roça (queimada e desmatamento) foram as mais comuns. Em torno de46,7% realizam o plantio de árvores e consideram isso uma ação favorável ao meio ambiente. Quando perguntados sobre quem deveria resolver os problemas do meio ambiente,a maioria (93,3%) considerou que todos somos responsáveis.Constatou-se que o nível de informação a respeito das questões ambientais não é satisfatório. A insuficiência de infraestrutura de saneamento básico e a falta de assistência técnica para a agricultura são as principais dificuldades enfrentadas pelos moradores dessas comunidades. Palavras-Chave:Meio Ambiente. Gestão Hídrica. Educação Ambiental.

1

Bióloga (UFPI), Tecnóloga em Gestão Ambiental (IFPI), Pós-graduanda em Biodiversidade e Conservação (UESPI). E-mail:larisesilva@hotmail.com

2 Bióloga. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPI) 3Orientadora. Bióloga.Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPI). e-mail: kellypolyana@ hotmail.com/coutinhobiaa@yahoo.com.br

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INTRODUÇÃO Para Machado (2004), a água constitui um recurso natural muito importante do ponto de vista econômico, social e político, assumindo papel estratégico preponderante para o desenvolvimento e a qualidade de vida da maioria dos países em desenvolvimento. O enorme e rápido crescimento da população humana em todo o mundo leva a uma necessidade crescente do aumento da produção de bens de consumo e consequente uso dos recursos naturais, causando danos ao meio ambiente e a saúde da população.Nessa perspectiva, o meio ambiente está em constante mudança, e como aponta Guimarães (2013), o aumento populacional aliado ao desordenado uso dos recursos hídricos, com o inadequado uso e ocupação do solo e a retirada das matas ciliares têm provocado degradação das bacias hidrográficas, criando riscos à manutenção da quantidade e qualidade dos recursos hídricos e perda da biodiversidade. A expansão urbana sem um adequado planejamento ambiental traz impactos relevantes, por desconsiderar a capacidade natural de suporte do meio. Para Rocha et al. (2000),a bacia hidrográfica passou a ser usada como unidade de planejamento nas pesquisas e na gestão dos corpos d’água a partir da percepção de que os ecossistemas aquáticos se relacionam entre si e com os ecossistemas terrestres adjacentes estando sujeitos a impactos resultantesdos diferentes usos do solo e das atividades antrópicas nele desenvolvidas. O rio Surubim constitui uma fonte de recursos indispensável ao desenvolvimento da flora e fauna da região, além de assumir um papel de referência cultural, histórica e econômica para a população que se desenvolveu ao longo das margens do mesmo. Para compreender melhor as relações entre o homem e ambiente, o estudo sob o enfoque da percepção ambiental se torna um importante indicador da qualidade ambiental, pois como destaca Couto (2006), o diagnóstico das ideias de um grupo ou pessoas que vivem em uma áreapossibilita o conhecimento da realidade e aponta elementos norteadores para a implementação de ações que atendam àsnecessidades locais. Com o objetivo de conhecer a percepção ambiental nos moradores do entorno do rio Surubim, acerca do conhecimento do nível de informação dos mesmos sobre os recursos hídricos do ambiente rural onde vivem, o estudo torna-se relevante uma vez que servirá como subsídio para o planejamento e a gestão ambiental. Além disso, a pesquisa visa contribuir com conhecimento acadêmico, incentivo a novos estudos, e sensibilização da sociedade civil e poder público para a busca de alternativas para recuperação e proteção das áreas alteradas e degradadas, por meio da recuperação da diversidade biológica florestal na mata ciliar do Rio Surubim, além de buscar meios de desenvolver atividades voltadas à educação ambiental. MATERIAL E MÉTODOS Tipo de pesquisa Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, com suportes de elementos quantitativos. Área e população de estudo O rio Surubim integra a bacia hidrográfica do rio Longá e segundo Araújo e Sousa (2009), a mesma teve importante papel no povoamento da região norte do Piauí em virtude da disponibilidade de recursos naturais como, águas subterrâneas e superficiais, e rica biodi310


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versidade em fauna e flora, constituindo fator preponderante para a instalação dos primeiros habitantes da região. O rio Surubim nasce no município de Altos e segue seu curso até desaguar no Rio Longá no município de Campo Maior,abrangendo tanto o perímetro urbano como rural. Possui regime intermitente e foi nas suas margens que se desenvolveram as cidades de Altos e Campo Maior. O estudo foi realizado em duas comunidades tradicionais de Altos/PI (Figura 1), a primeira trata-se da comunidadeSanta Luzia, onde residem43 indivíduos, e a segunda, da comunidade Surubim, com 78 moradores. A área distancia-se aproximadamente 4 km do centro urbano de Altos e localiza-se em propriedade particularpertencente a uma família tradicional do município. A ocupação da região teve início por volta do ano de 1930, e quando as primeiras famílias se instalaram no local, as terras apresentavam uma vantagem local (proximidade do rio Surubim)para o abastecimento de água, facilitando dessa forma, o desenvolvimento de atividades como agricultura e criação de animais. Figura 1 - Mapa de Localização das comunidades Santa Luzia e Surubim nomunicípio de Altos, Piauí.

Fonte:IBGE (2013);ANA (2016). Adaptado por SILVA,J. V. A. e, 2016.

Levantamento e Análise dos Dados A coleta de dados foi realizada com o auxílio de formulário padronizado com questões abertas e fechadas, através de entrevistas semiestruturadas, observação direta, conversas informais e registro fotográfico. Tais entrevistas foram realizadas mediante permissão dos entrevistados através de aceite, conhecimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em duas vias, uma pertencente ao entrevistado e outra ao pesquisador.

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Foi realizada pesquisa bibliográfica e documental, pelas quais foi possível obter informações para caracterizar a área e fundamentar a pesquisa. As coletas de dados ocorreram entre os meses de novembro amaio de 2016.As entrevistas foram transcritas em laboratório em conjunto com os dados referentes às conversas informais registradas em diário de campo. Os dados obtidos foram analisados de acordo com propostas qualitativas e quantitativas. O tamanho da unidade amostral foi calculada segundo BARBETTA(2006), realizou-seuma amostrade 36%para este estudo, totalizando 30 entrevistas, levando em consideração apenas as pessoas maiores de 18 anos. Para obter uma melhor compreensão e interpretação dos dados, ao tratamento estatístico foi criado um banco de dados no programaExcel 2010 e, em seguida, construídos gráficos e tabelas. RESULTADOS E DISCUSSÃO A comunidade Santa Luzia e a comunidade Surubim distanciam aproximadamente 1 km entre si ejuntas, possuem um total de 83 indivíduos maiores de 18 anos.Utilizou-se a delimitação utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015): jovens (18 a 24 anos), adultos (25 a 59) e idosos (a partir dos 60). O número de entrevistados foi de 30 pessoas que corresponde a 36% da população adulta. Dos moradores entrevistados,a idade variou de 18 a 68 anos, com média de 38,3 anosde acordo com a faixa etária definida pelo IBGE(2015), distribuíram-se em seis jovens de 18 a 24 anos, sendo (quatro homens e duas mulheres – 20%); 23 pessoas adultas de 25 a 59 anos (sete homens e dezesseis mulheres – 77%) e idosos a partir de 60 anos, uma pessoa (um homem– 3%). A escolaridade dos indivíduos entrevistados (Tabela 1) aponta para um índice baixo. A comunidade é caracterizada por indivíduos que não tiveram acesso permanente a escola, situação também referida por Farias (2010), Lucena (2010), Alves (2012) eGuimarães (2013). Tabela 1 -Nível de escolaridade por gênero dos moradores das comunidades Santa Luzia e Surubim em Altos/PI. Escolaridade SE EFI EMI EMC ESI ESC TOTAL DE ENTREVISTADOS

312

Total Quantidade 5 14 2 7 2 0

16,7% 46,7% 6,7% 23,3% 6,7% 0

30

100%

Sexo masculino Quantida% de 3 25% 4 33% 0 0% 5 42% 0 0% 0 0 12

Fonte: Pesquisa direta, 2016.

Sexo feminino % 2 10 2 2 2 0

11% 56 % 11% 11% 11% 0 18


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No que diz respeito aotempo de moradia na comunidade, constatou-se a permanência mínima de 2 anos euma máxima de 68 anos, apresentando uma média de 31 anos. O maiorpercentual foi o de 17 até 30 anos, com40,3%, sendo poucos (3,3%) os indivíduos pertencentes à faixa de superior a 62anos. Desse modo, na maioria dos casos, o tempo de moradia na região se deu desde o nascimento. Quanto ao estado civil, em mais da metade(63,3%)dos casos, eram casadose tinham pelomenos umfilho.A média de filhos dos entrevistados foi de 2,3 e, geralmente, apresentam famílias com uma composição média de 3,7 indivíduos por domicílio. As condiçõessanitárias (Figura 2) sãoprecárias uma vez que cerca de 73,3% das casas dos moradores não possuem banheiro, sendo os excretas e as águas residuais despejados a céu aberto.Esses dados são semelhantes aos obtidos porLucena (2010) durante um estudo em uma comunidade rural de Laginhas/RN. A água do rio Surubim não é mais utilizada para consumo humano pelas duas comunidades em estudo. Como mostra a Figura 2, grande parte(83,3%) dos entrevistadostem acesso à água encanada e 93,3% possuem filtros para o tratamento doméstico da água. A comunidade Santa Luzia, possui um poço tubular, onde água é armazenada em uma caixa d’agua e distribuída para as residências. Alguns também utilizam água de poços artesianos localizados geralmente nos quintais das casas. Cabe lembrar que nenhum dos entrevistados relatou casos de doenças associadas à contaminação de água. Figura 2–A: Filtro utilizado para tratamento de água; B: Caixa d’agua de poço tubular na Comunidade Santa Luzia; C: Poço artesiano no quintal de residência. Fonte: Pesquisa direta, 2016. As duas comunidades em estudo dispõem de luz elétrica, provavelmente devido à proximidade com o centro da cidade, mas o sinal da rede telefônica captado na comunidade Surubim é muito ruim. Todo o lixo produzido é destinado para a queima, feita geralmente no quintal da residência, uma vez que a comunidade não é atendida pelo sistema de coleta pública. Caldas (2005) constatou que apesar da comunidade ribeirinha rio Magu/MA, possuir sistema de coleta pública, a queima do lixo também foi verificada como a prática mais comum de disposição dos resíduos sólidos. Quanto ao perfil profissional, as comunidades estão distribuídas conforme a Figura 3, a seguir: Figura 3 –Perfil profissionaldos moradores das comunidades Santa Luzia e Surubim em Altos/PI. Fonte: Pesquisa direta, 2016.

Aproximadamente 40% dos moradores são contemplados com benefícios do governo para o complemento darenda familiar, destes,metade são aposentadose a outra metade dispõe de Bolsa Família.Mediante os dados obtidos, pode-se observar que a maioria dos indivíduos 313


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amostrados possuía rendimento salarial abaixo de um salário mínimo,com uma renda mensal em torno de R$ 422,6.No geral, 66,7% afirmaram não pertencer a nenhuma associação ou sindicato rural ou de pescadores. Um total de 93,3% dos entrevistados construíram suas residências, mas não são donos de fato da propriedade, pois não possuem documentação legal.O tamanho das propriedades varia entre menos de 10 a 600 hectares e 23% dos entrevistados afirmaram não saber o tamanho das propriedades em que residem. Em torno de 93,3% dos moradoresem estudo declararam fazer algum cultivo em suas propriedades representam e a área média utilizada pelos lavradores para o cultivo é de apenas 0,5 hectares (5000 m2), pois a produção é destinada apenas para o consumo familiar. No que se refere às atividades produtivas desenvolvidas nas propriedades, destaca-se a agricultura familiar, com o plantio de culturas em cercados, sendo os principais o feijão (Vignaunguiculata(L.) Walp.), o milho(ZeamaysL.), arroz (Oryza sativa L.), mandioca (ManihotesculentaCrantz), abóbora (Cucurbita pepoL.), melancia (CitrullusvulgarisSchrad) e maxixe (Cucumisanguria) uma vez que são muito importantes na dieta alimentar. Dentre eles, o feijão éa cultura realizada por 100%dos lavradores entrevistados, seguida pelo milho(96,4%) e mandioca (75%). Outras culturas como abóbora, melancia e maxixe somam umpercentual de 42,9%. O arroz, apesar de ser um cultivo alimentar de grande importância nutricionalé realizado apenas por uma minoria (21,4%,). Para o preparo da roça ou do cercado, adota-se o corte e queimada como forma de realizar a “limpeza” do terreno.Após a queimada, os detritos médios não consumidos pelo fogo são empilhados em longas filas e o solo é então preparado para receber os cultivos(Figura 4). Figura 4 –A: Plantio de roça; B: Feijão colhido, em residência visitada; C: Cultivo de milho na Comunidade Surubim; D: Plantação de abóbora em quintal na Comunidade Santa Luzia.

Fonte: Pesquisa direta, 2016. 314


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No que diz respeito ao investimento na agricultura, todos os moradores entrevistados relataram que não recebem assistência técnica de manejo nas propriedades, o que reflete a dificuldade em diversificar as culturas. O solo da região não oferece as condições adequadas paradeterminadas espécies crescerem, pois de acordo com CPRM(2004), tratam-se de plintossolosálicos de textura média, solos arenosos essencialmente quartzosos, profundos, drenados, desprovidos de minerais primários, de baixa fertilidade.Dessa forma, o manejo e preparo do solo é considerada umadas etapas indispensável ao bom desenvolvimento das culturas, uma vez utilizadas de maneiracorreta traz grandes benefícios tal como a alta produtividade. O local dos roçados feitos pelos lavradores das comunidades Santa Luzia e Surubim fica a uma distânciamédia de 320 metros do rio Surubim. De acordo com onovo Código Florestal Brasileiro (Lei n° 12.651/12) as faixas mínimas a seremmantidas e preservadas nas margens dos cursos d’água (rio, nascente, vereda, lago ou lagoa), sendo considerado não apenas a conservação da vegetação, mas também a característica e a largurado curso d’água, independente da região de localização, em área rural ou urbana.No caso do rio Surubim, com largura aproximada de 30 metros, a Área de Preservação Permanente (APP)regularserá de 50 (cinquenta) metros, pois este é o limite estabelecido para os cursos d’água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura. Desse modo, a prática das atividades agrícolas está dentro dos limites estabelecidos pela legislação ambiental, considerando ainda que nenhum dos entrevistados faça uso de agrotóxicos nas lavouras. Cerca de 90 % dos entrevistados, possuem animais e dentre os mais utilizados para a criação foram citados aves (81,5%),porcos (66,7%) e jumentos (7,4%).Os bois presentes nas propriedades são criados livres e não pertencem aos lavradores entrevistados, mas sim ao proprietário das terras. Quando perguntados em que bacia hidrográfica está inserida a suapropriedade, 93,3% responderam que não sabiam. Isso pode ser atribuído ao desconhecimento do termo técnico “bacia hidrográfica” devido ao nível de escolaridade que a maioria dos moradores possui.Em relação ao rio Surubim, 93,3 % afirmaram desconhecer o local da nascente e 96,7% desconheciam onde o rio desemboca. De acordo com os moradores, apesar de não utilizarem a água do rio Surubim para beber ou para usos domésticos, consideram como sendo um recurso hídrico importante para os animais e plantas da região. Em Braga (2008) é abordada a questão do vínculo afetivo desenvolvido por moradores no entorno de lagoas ou mesmo rios, devido à história e às experiências vividas no local, sendo que 53% dos questionados, apontam a grande importância por ser um reservatório de água, 17,6% para realização de atividades de lazer eoutros 17,6% consideram importante para a manutenção da biodiversidade.Atualmente, na comunidade Santa Luzia, são poucos os banhistas que frequentam o local em busca de lazer, ainda queno período chuvoso. Cerca de 70 % dos moradores identificaramproblemas ambientais presentes em suas comunidades (Figura 5) observa-se que dentre as respostas dos entrevistados, as exercidas na roça (como queimada ou desmatamento) foram atividades mais comunse que causam mais prejuízos à natureza. Figura 5 - Principais problemas ambientais relatados pelos entrevistados. Fonte:Pesquisadireta,2016.

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Quando questionados se suas propriedades eram prejudicadas por algumaatividade no entorno delas, 20% dos entrevistados responderam positivamente, relatando a presença de uma granja localizada a aproximadamente 300 metros da comunidade Surubim.Os moradores afirmam que o forte odor oriundo dos galpões de frangos traz muito incômodo. Segundo Oliveira (2013) esses odores resultamda degradação microbiana de uma variedade de compostosorgânicos da cama dos frangos (constituída por fezes, urina, penas, descamações da pele das aves, restos de alimento)produzindo a amônia, gás que pode provocar sérios riscos à saúde. Se não forem tratados adequadamente os resíduos desses barracões de frango provocam acontaminação do solo e/ou rios e nascentes, no caso de localizarem-se próximos destes últimos. Quando perguntado sobre a qualidade ambiental local, 63,3% consideraram como boa e 16,7% como ótima. Sendo assim, dentre os entrevistados, a maioria avalia as condições em que vivem como satisfatórias. Porém, reclamam falta de assistência à saúde e de escolas, pois quando precisam de algum desses serviços básicos, é necessário o deslocamento para o centro da cidade.Guimarães (2013) constatou também problemas de oferta e acesso de qualidade dos serviços públicosaosprodutores rurais do Assentamento Amaralina, em Vitória da Conquista (BA). Em relaçãoàs alterações sofridas pelo rio Surubim (Figura 6),apopulação entrevistada apontou alguns problemas como diminuição do volume de água (45,5%), poluição das águas (22,7%), assoreamento (18,2%) e desmatamento das margens (9,1%). Braga (2008) descreve em seu estudo, que 64,7% dos moradores do entorno da Lagoa Arroio Corrente, no município de Jaguaruna/SC, consideram a influência antrópica como elemento mais negativo. Destes, 45,4% consideram o lixo como o de maior gravidade, embora influências como desmatamento (9,1%), pesca (9,1%), redução do nível da água (18,2%), agrotóxicos das plantações (9,1%), falta de respeito às leis ambientais e falta de fiscalização (9,1%) também tenham sidos citados. Figura 6 - Alterações observadas pelos moradores no entorno do rio Surubim em Altos/PI. Fonte: Pesquisa direta, 2016.

Os moradores da Comunidade Surubim relataramas várias situações, onde a água do rio era retirada por caminhões-pipatransportada a outros locais para ser utilizada na construção civil. Alguns moradores acreditam que essa prática resulta naredução do nível da água do rio. Cabe lembrar que para retirar água de um rio sem prejuízo é preciso respeitar a sua curva de permanência – que é a metade do menor volume hídrico já registrado em 95% das vazões analisadas. Esse seria o limite para manter o ecossistema funcionando. Segundo o art. 12, inciso V, da Lei 9.433/97 que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, “estão sujeitos a outorga pelo Poder Público o direito a “outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água”.Metade dos entrevistados considera a situação do rio Surubim regular, enquanto 40% avaliaram como boa, 6,7% ótima e 3,3% péssima. Dos 30 entrevistados, 90% consideram que tomam atitudes que visam à preservação dos bens naturais, mencionando: limpezadas residências, plantio de árvores, não jogar lixo, não desmatar muito próximo do rio, pesca em épocas certas, preservar as árvores nativas. Para queproblemas do rio fossem solucionados, alguns entrevistados sugeriram uma maior fiscalização 316


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dos órgãos públicos e mudança de atitude das pessoas.No entanto para que esses problemas sejam resolvidos é necessária à colaboração de todos. Quando perguntados sobre quem deveria resolver os problemas do meio ambiente,a 93,3% considerou que todos são responsáveis, enquanto 6,7%afirmaram não saber. Isso revela que de algum modo, os entrevistados, em sua maioria, percebem que os bens naturais são muito importantes para nosso bem-estar e a atividade humana causa impactos ao ambiente. Nenhum dentre os 30 entrevistados, tem qualquer conhecimento sobre leis ou instrumentos normativos de proteção das águas. Fernandes et al. (2008), destaca em pesquisa relacionada à percepção, pela sociedade, dos pontos mais importantes da legislação ambiental, que a populaçãonão possui um adequado nível de conhecimento da Legislação Ambientalbásica e poucos percebemque as mudanças ocorrem com uma maior conscientização da sociedadeo que a leva aoaprimoramentodo nível de cidadania ambiental. Assim, enfatiza que a falta de informaçãoe aplicabilidade do conhecimento, é resultado de um conjunto de fatores,político, econômico, cultural e tecnológico. A população das comunidades Santa Luzia e Surubim não realiza ações colaborativas para amenizar os problemas ambientais presentes e nunca participaram de qualquer atividade de educação ambiental, o que os deixa mais inseguros em como lidar com os assuntos dessa natureza, fato observado também por Guimarães (2013).Para isso, visando contribuir com a formação de um processo de sensibilização e educação ambiental é de fundamental importância considerar os aspectos destacados por Souza (2005) e Carvalho (2004), dentre os quais se apontam para os aspectos físicos da área; histórico da comunidade; aspectos econômicos, destacando a condição de vida e de trabalho da população; aspectos políticos, culturais e sociais. Nesse contexto, é fundamental a implantação de projetos de educaçãoambiental, como sugerem Lucena (2010)e Alves (2012), pois servirão para orientar a população das Comunidades Santa Luzia e Surubim e a compreenderem melhoro espaço em que vivem e comopodem preservar os recursos hídricos. CONCLUSÃO A investigação da percepção ambiental dos moradores da comunidade Santa Luzia e comunidade Surubimrevelaqueapesar de atualmente não utilizarem a água do rio Surubim para beber ou para fins domésticos, consideram como sendo um importante recurso hídrico, assumindo um papel de identidade no processo histórico da formação social desse grupo, uma vez que a maioria nasceu e cresceuna região. Os moradores reconhecem a influência das atividades antrópicas, e nesse caso a redução do nível de água, como sendo a principal alteração percebida por eles. No entanto verificou-se que o nível de informação a respeito das questões ambientais não é satisfatório, fato este constatado pelo grau dedificuldadeem se expressar nas questões do tipo aberta, evidenciado principalmente nos entrevistadoscom baixo grau de escolaridade. Não há dúvidas que o ambiente escolar é o maior meio de transmissão de informação sobre o meio ambiente em qualquer grau de instrução ou ocupação, seguida pelo papel exercido pelas diferentes mídias. A questão da insuficiência de infraestruturade saneamento básico evidencia problemas de política pública e desigualdade quanto à gestão dos recursos para saúdee saneamento para a região. Constatou-se ainda, uma carência de conhecimento dos moradores sobre os riscos e impactos que a ausência de saneamento básico traz à qualidade de vida dos mesmos. A falta de assistência técnica éum grande problema enfrentado pelos agricultores dessas 317


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comunidades. Segundo relatos dosmesmos, não são atendidos com visitas naspropriedades.É preciso que os órgãos públicos, garantam uma assistência técnica de qualidade que oriente e fortaleça a agricultura familiar resultando em uma melhoria da produtividade e benefícios para o agricultor e por consequência da própria comunidade. Os conhecimentos identificados no presente estudo servirão para direcionar futuros projetos e ações de educação ambiental nas comunidades Santa Luzia e Surubimcom enfoque, necessariamente, nos aspectos socioeconômicos, no processo de informação e formação de conhecimentos a respeito do ecossistema local e quegarantam um processo permanente e contínuo de sensibilização que visem à melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem no entorno do rio Surubim e região. REFERÊNCIAS AGUIAR, R. B.; GOMES, J. R. C. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, estado do Piauí: Diagnóstico do município de Altos - PI. Fortaleza: CPRM - Serviço Geológico do Brasil, 2004. ALVES, P. S. Percepção ambiental como instrumento para ações educativas e políticas públicas: o caso do pico do Jabre, Paraíba, Brasil. 2012. 84 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais). Universidade Federal de Campina Grande, Patos, Paraíba. 2012. ARAÚJO, J. L. L.; S, A. R.P.. O rio Longá e o povoamento do Norte do Piauí. História Revista, v. 14, n. 2, p. 8, 2009. BARBETTA, P. A. Estatística aplicada às Ciências Sociais, Ed. da UFSC, 6º Ed. 2006. BRAGA, R. N.; MARCOMIN, F. E. Percepção Ambiental: uma análise junto a moradores do entorno da Lagoa Arroio Corrente em Jaguaruna, SantaCatarina.Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 21, p. 236-257, 2008. BRASIL. Lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012. Institui o novo Código Florestal Brasileiro. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 2012. Disponível em http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em maio de 2016. ______. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/L9433.htm. Acesso em: maio de 2016. CALDAS, A. L. R.; RODRIGUES, M. do S. Avaliação da percepção ambiental: estudo de caso da comunidaderibeirinha da microbacia do Rio Magu. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, RioGrande, v. 15, p. 181-195, jul./dez. 2005. CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004, p. 256. COUTO, M. Percepção Ambiental de Grupos representativos da Comunidade de Itaoca, São Gonçalo – RJ. Dissertação de Mestrado. PPGCA/UFF. Niterói, 2006. FARIAS, R. L. As Representações Sociais do Parque Municipal da Boa Esperança, em Ilhéus, Bahia, pela comunidade do seu entorno. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente). 2010. 143 f. PRODEMA, Universidade Estadual de Santa Cruz: Bahia, 2010. 318


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RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO EM CRIMES AMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DE CORRENTE-PI Ana Flávia Fonseca Araújo1 Adriane Camila Batista de Sousa2 Anangela Ravena da Silva Leal3 RESUMO Atualmente a preocupação com o meio ambiente vem-se tornando cada vez mais importante para a preservação dele. O presente trabalho busca compreender a responsabilidade penal da pessoa jurídica de direito privado em crimes ambientais no município de Corrente-PI, por meio de pesquisas nos órgãos de fiscalização estabelecidos no município, confrontando doutrinas e fazendo menção à Lei 9.605/98, que dispõe sobre as sanções penais derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e ao artigo 225, da Constituição Federal de 1988. Demonstra-se, através da pesquisa realizada por meio de entrevistas e em materiais bibliográficos, a análise e a comparação de doutrinas referentes ao tema e análise da evolução do direito ambiental e da legislação pertinente, buscando assim chegar a uma conclusão acerca da responsabilidade penal da pessoa jurídica de direito privado em crimes ambientais. Apesar de insuficiente a criminalização das pessoas jurídicas de direito privado no município de Corrente, faz-se necessário tal estudo para o conhecimento e prevenção de futuros crimes ambientais. Ao final, após análise das diversas correntes, reconhece-se a pessoa jurídica como agente causador de dano ambiental e acredita-se que tal pensamento contribui para a melhoria e a recuperação do meio ambiente. Palavras-chave: Meio ambiente. Crime ambiental. Responsabilidade penal. Pessoa jurídica. 1 INTRODUÇÃO Na atual sociedade em que vivemos, a preocupação com o meio ambiente e a preservação da biodiversidade vem-se tornando cada vez mais importante. É por meio da biodiversidade que se garante o equilíbrio do meio ambiente. A biodiversidade brasileira é uma das mais importantes da biosfera com um papel fundamental no bem-estar e na saúde do homem. A conservação da biodiversidade envolve a participação de toda a comunidade objetivando que as futuras gerações possam usufruir de um mio ambiente ecologicamente equilibrado. O meio ambiente recebeu uma nova proteção jurídica a partir do advento da Constituição Federal de 1988, com a introdução de um capítulo dedicado à matéria e o estabelecimento 1 Graduada em Ciências Biológicas e Bacharel em Direito/ e-mail: anaflavia2006bd@hotmail.com/UESPI 2 Colaboradora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Graduada em Ciências Biológicas, Mestranda em Ciência Animal – acbs@gmail.com/UESPI - NEAD 3 Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Graduada em Ciências Biológicas, Mestre em Ciência Animal – anangelaravena@gmail.com/ UESPI - NEAD 321


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de um estatuto fundamental de proteção e preservação do meio ambiente, tornando-se, pois, o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito de todos e um dever do Estado e da coletividade. Assim, uma grande inovação na proteção constitucional do meio ambiente foi a introdução da responsabilidade penal por danos ambientais, regulamentado pela Lei Federal n. 9.605/1998. Atualmente percebemos o esforço de grande parte da doutrina, bem como da jurisprudência em dar aplicabilidade à lei nº. 9.605/1998, no entanto há um grande embate ainda concernente à teoria da responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais, por isso pergunta-se qual a efetiva aplicabilidade das penas impostas às pessoas jurídicas de direito privado no ordenamento jurídico vigente? Como combater os crimes praticados por tais pessoas jurídicas? Esse estudo buscará responder a esses e outros problemas acerca do tema. Este trabalho também visa analisar algumas questões sobre o meio ambiente, o direito e a responsabilidade penal das pessoas jurídicas de direito privado, com enfoque na cidade de Corrente-PI, a partir dos princípios fundamentais do meio ambiente. O tema é importante para a conscientização e a educação ambiental da população, que, bem informada acerca das questões ambientais, é indubitavelmente uma ferramenta de defesa e proteção de todo o ecossistema contra empresas poluidoras e que desrespeitam o meio ambiente. Objetivou-se, através da obtenção de dados, pesquisa bibliográfica, análise e comparação de doutrinas referentes ao tema e obras que tratam de assuntos correlatos, analisando a evolução do direito ambiental e da legislação pertinente, buscar uma conclusão acerca da responsabilidade penal da pessoa jurídica de direito privado, na ótica do direito ambiental e como essa responsabilização penal é aplicada no município de Corrente.

2 MATERIAL E MÉTODOS Tipo de pesquisa Trata-se de um estudo bibliográfico juntamente com levantamento de dados acerca do tema. Inicialmente foi feito um estudo por meio de doutrinas que abordam a temática sobre responsabilidade penal ambiental (livros de Direito Ambiental e sobre Meio Ambiente, artigos científicos e leis que tratam do assunto) com clareza e precisão, abordando os conceitos referentes ao meio ambiente e seus princípios, a responsabilidade penal da pessoa jurídica e sua origem no ordenamento jurídico brasileiro, bem como o estudo da aplicação do artigo 225 da Constituição Federal de 1988 e os dispositivos da Lei nº. 9.605/1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas, referentes à prática de ilícito ambiental. Após a pesquisa bibliográfica acerca do tema, foi realizado um levantamento de dados através de entrevistas com aplicação de um questionário a fim de obter informações junto aos órgãos de fiscalização local e regional (Superintendência de Meio Ambiente e IBAMA - Ins-

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tituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).A Superintendência de Meio Ambiente do município de Corrente é competente para fiscalizar pessoas jurídicas de pequeno e médio porte (incluindo: postos de combustíveis, fábricas, indústrias, serralherias, metalúrgicas, laboratórios de análises clínicas, hotéis, parcelamentos do solo, dentre outros). Já o IBAMA, órgão federal, age na fiscalização de fazendas e empresas de médio a grande porte. Pessoas jurídicas de grande por, como fazendas e carvoarias, são fiscalizadas pelo órgão estadual: Secretaria de Meio Ambiente, com sede em Teresina. Área de estudo O estudo sobre a responsabilidade penal das pessoas jurídicas de direito privado foi realizado no município de Corrente-PI, sendo entrevistados dois especialistas da área, o Sr. Augusto Elias Nogueira, analista ambiental do IBAMA, e a Sra. Suele Nogueira, gerente de análise técnica da Superintendência de Meio Ambiente no município de Corrente-PI. Ambos foram questionados sobre crimes ambientais praticados no município de corrente-PI por pessoas jurídicas de direito privado, bem como as sanções aplicadas a tais pessoas, os projetos que visam à proteção do meio ambiente no município, dentre outras questões pertinentes ao assunto.

3 RESULTADO E DISCUSSÃO Os entrevistados responderam às perguntas sobre crimes ambientais praticados por pessoas jurídicas de direito privado. Ao serem questionados se havia um banco de dados sobre o quantitativo de crimes ambientais cometidos por pessoas jurídicas de direito privado no município de Corrente, ambos afirmaram que não há nenhum banco de dados. Segundo o analista do IBAMA, o banco de dados é regional e se localiza apenas em Teresina. Segundo a gerente de análise técnica da Superintendência de Meio Ambiente, não há um banco de dados físico, mas há monitoramento em toda a área do município, conforme a necessidade ou caso haja alguma denúncia. Segundo a Lei nº 9.605/98, os crimes ambientais são classificados em: crimes contra a fauna; contra a flora; poluição e outros crimes ambientais; contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural; e contra a administração ambiental. No município de Corrente, os crimes mais cometidos, segundo os entrevistados, são: contra a fauna, a flora, poluição, e contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural, tais como: desmatamento, desrespeito às Áreas de Proteção Permanente-APPs, extração ilegal de madeira, retirada de material para a construção de estradas, contaminação do solo e do rio por meio do uso indiscriminado de agrotóxico, extravasamento de resíduos sólidos, descarte ilegal de lixo e abate de animais de forma inadequada (supermercados), descarte ilegal de material perfuro-cortante proveniente de clínicas médicas e laboratórios de análises clínicas. Os entrevistados também foram questionados sobre quais as sanções aplicadas às pessoas jurídicas que cometem crimes ambientais. De forma geral, as penas aplicáveis às pessoas 323


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jurídicas, conforme Milaré (2005) são: multa, restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade. A Sra. Suele disse que, no município de Corrente, o órgão fiscalizador municipal aplica em sua maioria advertências/notificações/autuações preventivas a fim de que o responsável pela pessoa jurídica possa corrigir e parar de cometer eventual crime ambiental. Se o responsável não sanar o crime, são aplicadas multas baseadas nas leis federais e municipais. O Sr. Augusto afirmou que o IBAMA aplica, no município de Corrente, advertências preventivas para regularização, além de multas (se for desmatamento, a multa é de acordo com o hectare; se for poluição, a multa é de acordo com o grau da poluição), além de embargo de empresas até serem regularizadas e penas restritivas de direito e apreensão de mercadorias. Em muitos casos, também é aplicado o princípio do poluidor-pagador, segundo o qual quem polui de alguma forma tenta ressarcir o meio ambiente pelo dano causado, seja de forma pecuniária ou tentando recuperar a área degradada. Questionados sobre as consequências que esses crimes estão acarretando no município, os entrevistados mencionaram que as consequências são muitas vezes irreversíveis, como erosão, seca de mananciais e contaminação dos rios Corrente e Paraim, além de causar danos à saúde humana. Segundo Ferreira Neto (2012), umas das principais causas da degradação ambiental é o fato de o ser humano viver sob a égide de uma visão antropocêntrica. Tal concepção trouxe a convicção ao homem de que ele possui a natureza ao seu dispor, como algo que existe para ser explorado e para satisfazer as necessidades do ser humano. Até então o homem não se considerava parte da natureza, mas nas últimas décadas este tem sofrido consequências diretas e desastrosas pela exploração indevida dos recursos naturais. Sobre as formas de se reverter os danos causados ao meio ambiente, a Sra. Suele ressaltou que deve haver intensificação da fiscalização e mais trabalho conjunto entre os órgãos de fiscalização ambiental, e o Sr. Augusto enfatizou que monitoramento devia ser mais constante, mas, por falta de verbas, muitas vezes ele tem se tornado insuficiente. Perguntados sobre a emissão de alvarás de funcionamento, licença e/ou autorização ambiental de pessoas jurídicas que possam causar algum dano ambiental, a Sra. Suele disse que as mesmas são feitas pela Superintendência de Meio Ambiente quando for empresas de pequeno e médio porte, pois as empresas de grande porte são feitas pelo órgão estadual, fugindo à competência do município. Segundo o Sr Augusto, o IBAMA é um órgão que apenas fiscaliza as pessoas jurídicas, juntamente com os órgãos estadual e municipal, conforme dispõe a Lei nº 7.735/1989 que elenca suas funções, sendo, portanto, um órgão executor e fiscalizador, não emitindo alvarás, licenças e autorizações ambientais. Segundo Sirvinskas (2014, p. 228), a licença ambiental é a outorga concedida pelo Poder Público a quem pretende exercer uma atividade potencialmente nociva ao meio ambiente. Assim, todo aquele que pretender construir, instalar, ampliar e colocar em funcionamento 324


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estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, deverá requerer perante o órgão público competente a licença ambiental.

Destarte, qualquer empreendimento que use recursos ambientais e possui potencialidade nociva ao meio ambiente, deve ter prévio licenciamento ambiental para funcionamento. Quanto à periodicidade das fiscalizações nas pessoas jurídicas de direito privado estabelecidas no município de corrente, ambos os entrevistados afirmaram que tais pessoas jurídicas são fiscalizadas de acordo com a necessidade e se houver alguma denúncia de irregularidades, ou de prática de crime ambiental. Sobre as medidas adotadas para evitar a ocorrência de crimes ambientais no município de Corrente, ambos os entrevistados responderam que tanto o IBAMA quanto a Superintendência de Meio Ambiente utilizam de palestras e cursos para evitar a ocorrência de mais crimes no município de Corrente. A Superintendência ainda atua ao lado da Secretaria de Educação na realização de conferências na semana do meio ambiente, caminhadas ecológicas, mutirões de limpeza dos rios Corrente e Paraim, doação de mudas e reflorestamentos das matas ciliares. Os entrevistados também foram perguntados se existe algum projeto de conscientização sobre a importância da preservação do meio ambiente que englobe as pessoas jurídicas estabelecidas no município de Corrente. Tais projetos são importantes para a disseminação de conhecimento acerca do assunto, bem como a conscientização da comunidade na proteção do meio ambiente. Todavia, o Sr. Augusto disse que não há nenhum projeto específico para essa área. A Sra. Suele afirmou que, devido à insuficiência de recursos para investir nessa área, não há nenhum projeto de conscientização voltado para pessoas jurídicas no município de Corrente, apenas para a comunidade de forma geral, porém de forma insuficiente. Conforme o entendimento de Milaré (2005), a consciência ambiental surge para responsabilizar a presente geração pela manutenção, para as vindouras, de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Equilíbrio ecológico é a capacidade de um ecossistema compensar as variações devidas a fatores exteriores e de conservar suas propriedades naturais, permitindo a existência, a evolução e o desenvolvimento do homem e dos outros seres vivos. Por fim, foram questionados sobre como a comunidade correntina poderia ajudar os órgãos de fiscalização a combater os crimes ambientais praticados por pessoas jurídicas. Ambos foram enfáticos ao dizer que a comunidade precisa ser mais participativa, fazendo valer mais o princípio da participação da comunidade em busca de seu bem estar e na questão do meio ambiente, através de denúncias anônimas, dando sugestões e participando do Conselho Municipal de Meio Ambiente. A Lei 6.938/1981, que é responsável pela Política Nacional do Meio Ambiente, emana as políticas responsáveis por valorizar a participação da comunidade nos atos que são concernentes ao meio ambiente, como maneira de reafirmar a democracia no Brasil. Todavia a participa325


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ção da comunidade correntina é insuficiente, bem como as fiscalizações e monitoramentos nas pessoas jurídicas, visto que não há recursos suficientes e nem projetos liberados pelo Ministério do Meio Ambiente que possam contribuir para a proteção do meio ambiente e assim evitar que ocorram mais crimes ambientais no município de Corrente.

3.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA CONCEITO DE MEIO AMBIENTE O conceito de meio ambiente é unitário, sendo regido por inúmeros princípios, diretrizes e objetivos que compõem a Política Nacional do Meio Ambiente. A Lei n. 6.938/81 (Lei de Política Nacional do Meio Ambiente) em seu artigo 3º, I, define meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. O meio ambiente pode ser subdividido em quatro tipos: meio ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho. Assim, o meio ambiente possui, pelo conceito estabelecido pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente e da Constituição Federal de 1988, em especial o artigo 225, uma conotação múltipla, tendo em vista a classificação estabelecida, cada qual com seu aspecto de diferenciação específica. O meio ambiente natural é conceituado por Fiorillo (2011, p. 19) como aquele que existe por si só, independentemente da influência do homem. É constituído pela atmosfera, biosfera, água, flora, fauna, solo e subsolo. Concentra o fenômeno da homeostase, consistente no equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e o meio em que vive. O meio ambiente natural encontra-se protegido no caput do art. 225 da Constituição Federal e por seu §1º, I, II, III e VII. Fiorillo (2011, p. 20) ainda diferencia o meio ambiente natural do artificial, que é aquele decorrente da ação humana, compreendido pelo espaço urbano construído, consistente no conjunto de edificações e pelos equipamentos públicos, estando diretamente ligado ao conceito de cidade. Todavia, mesmo que se localize no meio de uma mata, por exemplo, será considerado parte do meio ambiente artificial, visto que decorre de intervenção humana no meio ambiente natural. Este conceito de meio ambiente recebe tratamento constitucional não apenas no art. 225 da CF/88, mas também nos arts. 182, ao iniciar o capítulo referente à política urbana; 21, XX, que prevê a competência material da União Federal de instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transporte urbano, 5º, XXIII, dentre outros. Silva (2003, p. 33) ressalta que o meio ambiente cultural é integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que, embora artificial, em regra, como obra do homem, difere do anterior (que também é cultural) pelo sentido de valor especial. O meio ambiente do trabalho constitui o local onde as pessoas desempenham suas ati326


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vidades laborais relacionadas à sua saúde. Constitui o complexo de bens imóveis e móveis de uma empresa ou sociedade. Este conceito de meio ambiente é tutelado pela Carta Magna de 1988 em seu art. 200, VIII. A proteção ao meio ambiente do trabalho busca salvaguardar a saúde e a segurança do trabalhador no ambiente onde desenvolve suas atividades. O conceito jurídico contratual de trabalho compreende qualquer atividade caracterizada pelo componente de subordinação, desde que passível de valoração econômico-social (SILVA, 2003).

PRINCÍPIOS AMBIENTAIS A doutrina e a jurisprudência brasileiras consideram que os princípios constituem as ideias centrais de um determinado sistema jurídico. São eles que dão ao sistema jurídico um sentido lógico, coerente, harmônico e racional. A análise dos princípios fundamentais de qualquer sistema jurídico, de qualquer ramo do Direito, tem acima de tudo indiscutível relevância concreta de suas normas (MILARÉ, 2005). O princípio do desenvolvimento sustentável está incluso no art. 225 da CF/88, fixando o dever do Poder Público e da coletividade de defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado. Antunes (2006, p.28) leciona que o princípio do desenvolvimento está intimamente ligado à erradicação da pobreza e que a proteção ao meio ambiente está fadada ao insucesso se não houver um acréscimo dos níveis de renda da população brasileira e uma melhoria substancial de sua distribuição. O princípio do poluidor-pagador encontra-se previsto no art. 225, §3º da CF/88, segundo o qual os poluidores ou usuários de recursos naturais, sejam estas pessoas físicas ou jurídicas, estão sujeitos às sanções penais administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. O princípio da precaução incide nas hipóteses de incerteza científica sobe se dada conduta pode ou não causar um dano ao meio ambiente, além de se preocupar com os possíveis riscos que podem ocorrer em decorrência da degradação ambiental. Assim, entende-se que é melhor prevenir o dano do que remediá-lo, mas, para isso, é necessária uma consciência ecológica desenvolvida através de políticas de Educação Ambiental (FIORILLO, 2011). Diferentemente, o princípio da prevenção incide naquelas hipóteses em que se tem certeza de que dada conduta causará um dano ambiental. Este princípio sustenta-se na prioridade que deve ser dada à medidas que evitem o nascimento de atentados ao ambiente, de modo a reduzir ou eliminar as causas de ações suscetíveis de alterar a sua qualidade. O princípio da participação prima pela atuação da comunidade na proteção e preservação do meio ambiente, sendo princípio abordado no caput do art. 225 da Carta Magna. A Constituição Federal de 1988 consagra o princípio da responsabilidade objetiva e da reparação integral no artigo 225, § 1º, I, V, § 2º e 3º. Por meio desse artigo, o princípio impõe o dever de qualquer pessoa responder integralmente pelos danos que vier a causar no meio ambiente, 327


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independentemente de prova de culpa ou dolo. O escopo primeiro da responsabilidade ambiental é a não-ocorrência do dano e, em seu segundo momento, o de restabelecer a integridade do ambiente danificado e subsidiariamente o pagamento em dinheiro.

O DEVER CONSTITUCIONAL DE DEFESA AO MEIO AMBIENTE O papel norteador do meio ambiente na Constituição Federal de 1988 é exercido no artigo 225 devido a seu complexo teor de direitos, mensurado pela obrigação do Estado e da Sociedade na garantia do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Importante salientar que a Constituição ao longo de vários outros artigos trata do meio ambiente e das imposições legais para preservá-lo. A vontade do legislador brasileiro em relação à proteção ao meio ambiente está marcada na Constituição Federal através da distribuição da competência em matéria ambiental que passou a ser comum entre União, Estados e Municípios, conforme o artigo 23, que dispõe: “VIproteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII-preservar florestas, a fauna e a flora”. Ao analisar o § 1° do artigo 225, CF/88, verifica-se que, para assegurar a efetividade desse direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, compete ao Poder Público preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas. Os incisos IV e V, art. 225, da CF/88, complementam a responsabilidade do Poder Público. Também é responsabilidade do mesmo exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental a que se dará publicidade (IV). Além disso, ao Poder Público cabe controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente (V). Conforme Silva (2003, p. 46), “as Constituições Brasileiras anteriores à de 1988 nada traziam especificamente sobre a proteção do meio ambiente natural”. A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a tratar de forma explícita do assunto ambiental, preocupando-se sobremaneira com a questão do meio ambiente, que, além de dedicar um capítulo específico para tratar do tema (Capítulo VI), elencou o meio ambiente em diversos artigos. O preceito traduzido no artigo 225 da Carta Magna convoca não somente o poluidor a proteger e/ou reparar o meio que foi degradado, mas também, o Poder Público e toda a coletividade, pois é necessária a manutenção do meio ecologicamente equilibrado no presente, para que se alcance o desenvolvimento sustentável para as futuras gerações. Assim, entende-se que, no texto constitucional, a proteção ao meio ambiente e ao meio ambiente equilibrado é considerada direito fundamental, sendo que a concretização dos mes328


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mos é uma diretriz, um balizamento, uma determinação, uma responsabilidade do Poder Público que deve implementá-las notadamente através da adoção de Políticas Públicas Estatais, no caso ambientais (SOUZA, 2009).

A RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICADE DIREITO PRIVADO EM MATÉRIA AMBIENTAL Conforme leciona Capez (2010), a penalização da pessoa jurídica, em especial na esfera privada, foi um dos avanços trazidos pela Constituição Federal de 1988. Este avanço ocorreu na medida em que se constatava que as grandes degradações ambientais não ocorriam por conta de atividades singulares, desenvolvidas por pessoas físicas. Elas apresentavam-se de forma corporativa. Com isso, fez-se necessário a sua responsabilização. O direito ambiental é de suma importância, visto que é um direito fundamental, bem de uso comum do povo. Assim, o legislador infraconstitucional elaborou a Lei n. 9605/1998, a qual disciplinou os crimes ambientais atento ao preceito trazido pelo art. 5º, XLI, da Constituição Federal que aduz o seguinte: “XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”. Assim, fez-se com que a tutela do meio ambiente fosse implementada por uma forma mais severa: pela tutela penal. Além disso, a referida lei inovou o ordenamento jurídico penal, pois, em conformidade com o art. 225, §3º, da Constituição Federal de 1988, trouxe a possibilidade da penalização da pessoa jurídica de direito privado. Conforme entendimento de Capez (2010), a pessoa jurídica de direito privado, criada para perseguir fins lícitos previamente idealizados pelos seus membros pode, através de seus órgãos e no desempenho de seus fins institucionais, lesar bens jurídicos, como o meio ambiente e, portanto, merecer atenção da ordem jurídica nacional. Independente se for por meio de multas, suspensão de atividades e outras sanções semelhantes, o fato é que o objetivo maior a ser almejado é a proteção do meio ambiente, pois a degradação e a necessidade de proteção deste, amplamente lesado por pessoas jurídicas, é um fato que merece preocupação.

- Teoria da ficção X Teoria da personalidade real Capez (2010) menciona que, na Teoria da Ficção, a pessoa jurídica de direito privado não comete delitos, sustentando também que os entes coletivos faltam: capacidade de ação no sentido estrito do direito penal, capacidade de culpabilidade e capacidade de pena. A Lei n. 9.605/98 (Crimes e infrações administrativas contra o Meio Ambiente) abandonou a chamada teoria da ficção, criada por Savigny e tradicional em nosso sistema penal. Na realidade, as decisões da pessoa jurídica são tomadas pelos seus membros, pessoas naturais, que por uma ficção legal consideram-se como sendo da pessoa jurídica. Os delitos a ela imputados, por consequência, são praticados por seus membros ou diretores, de modo que pouco importa que o interesse da pessoa jurídica tenha servido de motivo ou fim para o delito. 329


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Ao contrário do que leciona a teoria da ficção, o legislador brasileiro filiou-se à Teoria da Realidade ou da Personalidade Real, preconizada por Otto Gierke. Nessa teoria, a pessoa jurídica não é um ser artificial, criado pelo Estado, mas sim um ente real, independente dos indivíduos que a compõem. Sustenta que a pessoa coletiva possui uma personalidade real dotada de vontade própria, com capacidade de ação e de praticar ilícitos penais. É, assim, capaz de dupla responsabilidade: civil e penal. Essa responsabilidade é pessoal, identificando-se com a da pessoa natural (CAPEZ, 2010, p. 76).

- Sanções penais aplicáveis à pessoa jurídica Capez (2010) explana que a pena é uma sanção imposta pelo Estado em decorrência da prática de uma ação ou omissão contrária ao ordenamento jurídico, visando sempre prevenir, ou seja, evitar que novos delitos aconteçam. As penas aplicáveis às pessoas jurídicas, de acordo com Milaré (2005) são: multa, restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade. Cabe ao legislador adequar as penas às suas finalidades, para que na prática haja a efetiva subsunção entre a previsão abstratamente prevista e o fato ocorrido. A Lei Ambiental estabelece três modalidades de penas a serem aplicadas à pessoa jurídica: multa, pena restritiva de direitos e prestação de serviços à comunidade. Todavia pode-se considerar a pena de prestação de serviços à comunidade como um tipo de pena restritiva de direitos, podendo ser aplicadas alternativa ou cumulativamente (SILVA, 2003). As penas pecuniárias são aquelas que atingem o patrimônio da empresa, impondo uma diminuição material do ente coletivo. Assim, há muito tempo já se estabelece um pensamento de que a parte frágil das pessoas sejam elas físicas ou jurídicas é o bolso, e aqui se encontra uma das sanções de melhor feição na seara da responsabilidade penal da pessoa jurídica (CAPEZ, 2010). A multa será aplicada conforme a situação econômica do infrator (art. 6º, III, da Lei 9.605/98), sendo que esta é calculada segundo os critérios do Código Penal. Conforme o art. 22 do Código Penal, as penas restritivas de direito da pessoa jurídica são: suspensão parcial ou total de atividades (inciso I). De acordo com o §1º, a suspensão das atividades será aplicada quando estas não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares relativas à proteção do meio ambiente; interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade (inciso II). A interdição será plicada quando o estabelecimento, obra ou atividade estiver funcionando sem a devida autorização, ou em desacordo com a concedida, ou com violação de disposição legal ou regulamentar (§ 2º); proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações (inciso III). Essa proibição não poderá exceder o prazo de 10 anos (BRASIL, Decreto-Lei nº 2.848/40). As modalidades de prestação de serviços à comunidade pela pessoa jurídica, de acordo com o art. 23, são: custeio de programas e de projetos ambientais; execução de obras de 330


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recuperação de áreas degradadas; manutenção de espaços públicos; contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas. A pena de dissolução da pessoa deve ser reservada às infrações mais graves, já que determina a liquidação da pessoa jurídica. A pessoa jurídica constituída ou utilizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a prática de crime definido nesta Lei, terá decretada sua liquidação forçada, seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor do Fundo Penitenciário Nacional. Assim preleciona o artigo 24 da Lei 9.605/98.

4 CONCLUSÃO Ao longo do presente trabalho, percebeu-se que a proteção do meio ambiente é primordialmente relevante, em vista da fragilidade do ecossistema, meio absolutamente imprescindível ante a própria existência da vida, perante as ações humanas. No município de Corrente, a criminalização de pessoas jurídicas pela prática de ilícitos ambientais ainda é muito deficiente, visto que os recursos para a fiscalização e monitoramento são escassos tanto no IBAMA quanto na superintendência de Meio Ambiente, o que prejudica o trabalho dos servidores e contribui para que vários crimes praticados por pessoas jurídicas de direito privado sejam impunes. Ante o exposto, conclui-se que a discussão acerca da imputabilidade penal à pessoa jurídica em matéria ambiental vai além da promulgação de leis que visam defender o meio ambiente e punir os crimes ambientais, estendendo-se aos órgãos de fiscalização que devem aplicar tais leis e também à Administração Pública, que deve resguardar o direito na proteção do meio ambiente, além de conscientizar a população e fazendo com que a mesma contribua de forma positiva com os órgãos fiscalizadores do município. REFERÊNCIAS ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 20 mar. 2016. _______. Decreto-Lei nº 2.848/40. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em 22 mar. 2016.

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_______. Lei n. 6.938/81 - Lei de Política Nacional do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm>. Acesso em: 20 mar. 2016. _______. Lei nº 9.605/88 – Crimes e infrações administrativas contra o meio ambiente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm>. Acesso em: 22 mar. 2016. _______. Lei nº 7.735/89. Criação do IBAMA. Disponível em: <http//http://www.planalto. gov.br/CCIVIL_03/leis/L7735.htm>. Acesso em 02 mai. 2016. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: legislação penal especial: vol. 4, 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. CONSTANTINO, Carlos Ernani. Delitos ecológicos: a lei ambiental comentada artigo por artigo. São Paulo: Atlas, 2012. FERREIRA NETO, Mário. Desmatamentos e queimadas: ineficácia da responsabilização administrativa e penal da lei ambiental. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3420, 11nov.2012. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/22987>. Acesso em: 9 maio 2016. FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 12. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2011. MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: Doutrina – Jurisprudência – Glossário. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional Ambiental. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 12. ed. Editora: Saraiva. São Paulo, 2014. SOUZA, Jorge Henrique de Oliveira. Tributação e Meio Ambiente. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.

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CONSCIENTIZAÇÃO DE ALUNOS DO 9º ANO QUANTO À RECICLAGEM AMBIENTAL Angélica Ferreira do Nascimento1 Simone Mousinho Freire2 Adriane Camila Batista de Sousa3 Anangela Ravena da Silva Leal⁴ RESUMO Com a situação de crescente degradação do meio ambiente causada pelo ser humano, a educação ambiental e a reciclagem têm sido algumas das formas encontradas para minimizar esses impactos. Com o objetivo de instruir os estudantes e torná-los cidadãos atuantes, a presente pesquisa foi realizada na escola Coronel Justino Cavalcante Barros, no município de Corrente-PI ao longo de dois meses com a aplicação de questionários, realização de palestras e oficinas de reciclagem que fizeram com que os alunos pudessem perceber as consequências dos seus atos para a natureza. Ao final da intervenção, houve a exposição dos materiais confeccionados, tais como cofres, mandalas e porta-canetas, para as demais turmas do colégio, de materiais reciclados confeccionados em sala, bem como paródia e roupas. Conclui-se que, com a educação ambiental, as ações dos estudantes diminuíram principalmente a quantidade de lixo que antes seria jogado fora e passaram a ser reciclados. Palavras-chave: Meio Ambiente. Impactos. Educação Ambiental.

1 INTRODUÇÃO ‘‘A reflexão sobre as práticas sociais em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, cria uma necessária articulação com a produção de sentidos sobre a educação ambiental’’ (JACOBI, 2003). A Educação Ambiental é um tema que vem tendo bastante destaque atualmente, pois com a real situação do planeta estamos tendo que nos preocupar mais com ele, devemos nos conscientizar cada vez mais sobre as consequências de nossas atitudes para a natureza, pois as ações do homem em longo prazo causarão muita degradação ao meio ambiente. Na medida em que a degradação ambiental cresce, aumenta a preocupação dos diversos 1 Graduada em Ciências Biológicas /UESPI, e-mail: angelicabioferreira@hotmail.com 2 Coordenadora da especialização Biodiversidade e Conservação. Doutora em Ciência Animal – simoneuespi@gmail.com/ UESPI 3 Colaboradora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Graduada em Ciências Biológicas. Mestranda em Ciência Animal – acbs@gmail.com/ UESPI - NEAD 4 Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Graduada em Ciências Biológicas. Mestre em Ciência Animal – anangelaravena@gmail.com/ UESPI - NEAD 333


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setores da sociedade também. Eles estão buscando cada vez mais adotar medidas que visem conscientizar para melhorar a qualidade ambiental e que isso reflita na tomada de decisões, nas ações a serem tomadas (RUY, 2004), visto que a população é a principal causadora de degradação ao meio ambiente. Uma das principais formas de minimizar esses impactos é fazer a conscientização dos mesmos, para que eles possam refletir sobre as consequências dos seus atos e que, a partir dessa reflexão, possam agir de maneira consciente, diminuindo os impactos causados à natureza, visando a uma melhoria da qualidade ambiental. Para Dias (1992), as escolas funcionam como meios essenciais para a difusão de conhecimentos ambientais, visto que elas são o principal meio de inserção da Educação Ambiental e que devem estar sempre fazendo reflexão acerca das relações existentes entre os seres, enfocando sempre a relação do ser humano com os demais seres, pois o homem é o principal modificador da natureza. As escolas têm diversas maneiras de inserir a Educação Ambiental em seu currículo, tanto em atividades em sala de aula como atividades em campo, colocando-a de maneira interdisciplinar, para que, a partir da prática, os alunos possam difundir e praticar ações que visem proteger o ambiente, mobilizando assim a sociedade em que vivem, tornando-se cidadãos críticos e atuantes. A forma de o ser humano ver a natureza e fazer uso dela definirá como o homem vai sobreviver nos próximos anos. Para isso, é necessário que haja uma educação que vise à conscientização, tanto dos presentes quanto das futuras gerações, fazendo-se necessária a compreensão do ciclo da vida por parte do ser humano, atuando de maneira consciente e sustentável (LOPES; BISPO; CARVALHO, 2009). Sabendo que, a degradação é causada pelo homem, então a preservação deve partir dele. Alencar (2005) afirma que o tempo que o lixo jogado na natureza leva para se decompor é longo demais para que tenhamos que esperar a natureza absorvê-lo. Então, seria muito mais vantajoso e benéfico, não só ao meio ambiente, mas também ao ser humano financeiramente, que fosse feita a reciclagem, pois, além de diminuir a quantidade de lixo jogado na natureza, economizaria matéria-prima para produção de novos produtos, o que faria com que diminuíssem os custos com uma série de materiais, bem como a destinação final, do plástico, por exemplo, nos aterros sanitários e lixões. Objetivou-se instruir os alunos do 9º ano quanto à reciclagem e à reutilização dos resíduos sólidos gerados por eles, bem como analisar a percepção dos mesmos antes e depois da intervenção na escola, tendo como base uma Educação Ambiental Transformadora, que busca a preservação do meio ambiente para as presentes e as futuras gerações e sabendo que o ser humano é o principal causador da degradação do meio ambiente, cabendo a ele zelar pelo bem estar e pela qualidade ambiental.

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2 MATERIAL E MÉTODOS Tipo de pesquisa Esta é uma pesquisa-ação, de caráter exploratório e qualitativo em que há ação dos pesquisadores e participantes, para a resolução do problema, no caso a questão dos resíduos gerados pelos estudantes da escola em questão e a reciclagem dos mesmos. Área de estudo O trabalho foi aplicado na cidade de Corrente no estado do Piauí, situada ao sul do Estado e possui segundo o IBGE (2015), uma população estimada de 26.084 habitantes. A escola escolhida foi a Coronel Justino Cavalcante Barros, situada na Rua Juscelino Kubitschek, bairro Primavera, funciona nos turnos da manhã, tarde e noite. A turma selecionada para o desenvolvimento do mesmo o 9º ano do ensino fundamental do período vespertino, essa turma contém 37 alunos. Desenvolvimento Com visitas de 15 em 15 dias, durante dois meses, foi aplicado um questionário com perguntas objetivas sobre a temática ambiental, antes e depois das atividades realizadas, para saber se a percepção dos alunos havia mudado. No primeiro momento, foi feita a aplicação do questionário e posteriormente foram realizadas palestras ressaltando a importância da educação ambiental e da reciclagem para o ‘‘bom funcionamento’’ do planeta Terra, visando conscientizar os alunos quanto aos impactos causados pelo lixo gerado pelo ser humano se descartado a forma incorreta. No segundo momento, foram realizadas oficinas de reciclagem com a confecção de materiais que posteriormente serão utilizados no dia-a-dia dos alunos, para que a quantidade de lixo gerada pelos mesmos seja reduzida. E, no terceiro momento, realizou-se a exposição dos materiais, ocasião em que os alunos puderam apresentar os materiais confeccionados em sala para toda a escola, bem como da paródia e desfile de roupas recicladas. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO O gráfico da Figura 1 mostra que ainda temos na cidade de Corrente poucos trabalhos relacionados à reciclagem. Para Jacobi (2003), a educação para a cidadania, bem como as fontes de informação da sociedade atual representam algumas 335


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das principais formas de mobilizar as pessoas para melhorar a qualidade de vida. Nesse sentido, a Educação Ambiental se comporta de maneira transformadora para que seja alcançado o desenvolvimento sustentável. Percebeu-se que, mesmo sem muitos projetos relacionados ao tema, uma parte significativa dos alunos sabe o que é Educação Ambiental. Vejamos os resultados antes e depois do projeto no que diz respeito à Educação Ambiental na Figura 2. Figura 2 - Percepção dos alunos sobre o tema educação ambiental, na pergunta: Você sabe o que é educação ambiental?

Após a intervenção na escola através das palestras e das outras atividades, alguns alunos puderam aumentar os conhecimentos sobre a educação ambiental e outros adquiriram, pois nesse primeiro momento foram abordados diversos temas relacionados à temática ambiental para que houvesse uma maior instrução. O tema educação ambiental tem sido bastante difundido nos últimos anos, fato esse que pode ter influenciado a percepção dos alunos acerca do mesmo, bem como a legislação referente à Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9795/99) que, em seu Art. 10, institui que a educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal. A Educação Ambiental surgiu com o intuito de instruir a população acerca da real situação de degradação do planeta. Com o consumo crescendo constantemente, a quantidade de lixo produzido é um problema que gera inúmeras preocupações, pois o consumo não vai parar e, não se sabe ao certo o que fazer com todo o lixo produzido. E para isso suprir essa problemática, ocorreu o incremento de políticas para a Educação Ambiental, para conscientizar a sociedade, para que possam preservar a natureza. (OLIVEIRA et al., 2012). A Figura 3 mostra os hábitos dos alunos em relação ao lixo produzido antes e depois da pesquisa respectivamente:

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Figura 3 Destinação final do lixo produzido pelos alunos antes e depois da intervenção no colégio.

Fonte: Pesquisa direta.

A maior parte dos alunos joga o lixo produzido no lixo. O relato deles com relação à separação para coleta seletiva é que eles não separam porque, quando coletado, é levado para o mesmo lugar, não há o tratamento adequado. E a separação para produção de artesanato, mesmo que, para poucos, já começou a ser feita, pois os discentes, nas oficinas de reciclagem, aprenderam a como reciclar alguns produtos e até mesmo reutilizar, para reduzir a quantidade de lixo produzida, visto que, antes da intervenção no colégio, alguns alunos ainda jogavam lixo na rua; ao final da pesquisa, a quantidade de alunos que faziam isso foi nula. Segundo Trindade (2011), a escola deve estimular os alunos a praticarem ações que estejam relacionadas à proteção do meio ambiente, deve criar cidadãos conscientes e comprometidos com a Educação Ambiental, em que os educadores têm uma função essencial nesse processo. Mas, como mostra Castro (2008), a Educação Ambiental na teoria deve ter enfoque interdisciplinar, mas na prática não é levada tão a sério, pois ela é muitas vezes só para cumprir o calendário escolar. Ao responder à pergunta: na sua casa, é reaproveitado algum tipo de material como vidro de maionese, café, sacolas de supermercado? Veja na Figura 4 o que os alunos responderam: Figura 4. Quantidade de alunos que reutilizam materiais como vidros e sacolas em casa antes e depois da pesquisa.

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O número de alunos que já praticavam isso em casa foi aparentemente grande e satisfatório e só reafirmou que, mesmo antes da pesquisa, os alunos já tinham uma noção básica de Educação Ambiental, reciclagem e reutilização, conceitos esses que eles levarão para a vida toda e os ajudarão a preservar o meio ambiente para presentes e futuras gerações. Alencar (2005) estipula uma diferença entre reciclar e reutilizar. Reutilizar é reaproveitar determinado objeto sem alterar suas características físicas e, na reciclagem, o produto sofre alguma alteração, seja ela industrial ou artesanal. No Quadro 1, podemos ver as respostas dos alunos nas demais perguntas realizadas através do questionário. Quadro 1. Respostas dos alunos nas demais perguntas do questionário

Perguntas Você sabe o que acontece com o lixo da sua cidade? Você sabe quais problemas causados pelo lixo? Você saberia separar corretamente o lixo para a reciclagem? Você considera importante um projeto de reciclagem?

Antes da Pesquisa Sim Não

Depois da pesquisa Sim Não

15

15

28

02

28

02

29

01

23

07

29

01

30

0

30

0

Fonte: PESQUISA DIRETA.

Considerando que o lixo produzido nem sempre tem a destinação correta, temos que intensificar a preocupação com a quantidade produzida. Para Oliveira etal. (2012), lixo é o material que é descartado a partir da atividade humana e, muitas vezes, por não ter uma destinação correta gera muitos transtornos não só ao homem, mas principalmente ao meio ambiente. A partir dessa problemática, o homem deve preocupar-se mais com as consequências das suas ações para o meio ambiente.

Os três momentos em que a pesquisa foi dividida foram: palestras (Figura 5), confecção de materiais reciclados (Figura6) e exposição de materiais e roupas confeccionadas para toda a comunidade escolar (Figura 7).

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Figura 5. Realização de palestras sobre a importância da reciclagem

Figura 6. Confecção de objetos através de materiais reciclados

Fonte: Nascimento (2016)

Figura 7. Exposição de materiais e roupas confeccionadas pelos alunos. Fonte: Nascimento (2016)

Uma das formas de alertar as pessoas sobre as consequências dos seus atos é a instrução, que pode ser feita de várias formas, inclusive com projetos. Os projetos de reciclagem são de suma importância para a preservação do meio ambiente.

A reciclagem é altamente viável para reduzir a quantidade de lixo nos aterros sanitários, pois trata o lixo como matéria-prima a ser reaproveitada para fazer novos produtos e traz vários benefícios para a população, como: diminui o consumo de energia e de poluição; contribui para a limpeza da cidade e gera mais empregos. Adotar esse programa significa assumir um novo comportamento diante do ambiente, conservando o máximo possível e passando a ver o lixo como algo que pode ser útil, e não como uma ameaça (ALENCAR, 2005, p. 108).

Segundo Leite e Medina (2001), a educação ambiental tem como uma de suas funções conservar a natureza a partir de processos educativos que visem melhorar tanto a qualidade de vida quanto o meio ambiente. 339


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4 CONCLUSÃO A pesquisa realizada na Escola Estadual Coronel Justino Cavalcante Barros mostrou a importância de um projeto de educação ambiental e reciclagem, pois,se as pessoas tiverem consciência dos seus atos, não mudarão a situação e não resolverão o problema. Sendo assim, a educação ambiental tem um papel fundamental no processo de conscientização da comunidade escolar, pois ela pode-se reduzir os impactos causados pelo homem ao meio ambiente, reduzindo os resíduos jogados na natureza, tudo isso sabendo que objetivo de qualquer iniciativa de conscientização ambiental é atingir a toda comunidade. Ao final da pesquisa, pôde-se perceber que o presente projeto pode vir a melhorar a diminuir a situação de degradação do meio ambiente, numa perspectiva que priorize os processos de destinação final dos resíduos sólidos, enfatizando uma mudança no quadro de crescente degradação ambiental. REFERÊNCIAS ALENCAR, M. M. M. Reciclagem de lixo numa escola pública do município de salvador. Candombá revista virtual, Salvador, v. 1, n. 2, p. 96–113, jul./set. 2005. Disponível em: <http://revistas.unijorge.edu.br/candomba/2005-v1n2/pdfs/MarileiaAlencar2005v1n2.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2016. BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, DF: Senado Federal, 1999. CASTRO, M. A. C. A reciclagem no contexto escolar. 2008. Disponível em: http://www. diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/448-4.pdf. Acesso em: 20 fev. 2016. DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. São Paulo: Gaia, 1992. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA – IBGE. Estimativa da população 2015. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/tabelas_pdf/total_populacao_piaui.pdf>. Acesso em 20 fev. 2016. JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 118, mar./2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/n118/16834.pdf>. Acesso em 20 fev. 2016. LEITE, A. L. T. A; MEDINA, N. M. Educação ambiental: curso básico de educação e educação ambiental II. Brasília: MMA, 2001. 5 v. 2 edição ampliada. 340


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SEDIMENTAÇÃO DAS DUNAS MÓVEIS NO ESPAÇO COSTEIRO DA CIDADE DE LUÍS CORREIA, PIAUÍ Ana Raquel Galeno de Sousa1 Angela Piauilino Campos2 RESUMO Este artigo discute acerca de um tema de extrema importância para nossa atualidade: a sedimentação das dunas móveis no espaço costeiro da cidade de Luís Correia. As dunas, especificamente as móveis, caracterizadas pelo acúmulo de sedimentos (grãos de areia) que se deslocam pela ação dos ventos, podem ser encontradas nas formas de dunas fixas ou semifixas, fósseis e falésias. Elas são caracterizadas pela ausência de vegetação, o que aumenta os efeitos da ação eólica; no Brasil, estão presentes do estado do Amazonas ao Rio Grande do Norte e, na região nordeste, concentra-se a maior parte. O estado do Piauí é composto por dunas móveis e fixas, divididas entre os municípios de Ilha Grande, Parnaíba, Luís Correia e Cajueiro da Praia. As dunas contribuem para: a beleza das praias; o equilíbrio do espaço costeiro; ajudam na absorção dos aquíferos subterrâneos e, devido ao solo permeável, permitindo a infiltração das chuvas. As dunas são consideradas Áreas de Preservação Ambiental (APPs), protegidas por lei. A legislação da preservação ambiental passou por diversas transformações até a atual lei federal nº 12.651/2012, conhecida como o novo Código Florestal. Os estados Brasileiros, em conformidade com a legislação vigente devem agir em prol de seus estados e contam com sua própria legislação ambiental. O objetivo geral deste artigo é investigar o processo de sedimentação das dunas móveis no município de Luís Correia – PI, buscando a revisão de alguns trabalhos publicados sobre o tema, com a intenção de conscientização da população, em especial turistas que visitam a cidade, mostrando os impactos caudados pelas construções de imóveis em áreas de preservação, vistoa importância desse ecossistema para as futuras gerações. A construção do trabalho se deu por revisões de trabalhos publicados e pesquisas bibliográficas sobre o tema. Os resultados do trabalho trazem a problematização da sedimentação das dunas no espaço costeiro, uma vez que elas são de extrema relevância para o meio ambiente. Palavras-chave: Dunas móveis. Sedimentação. Espaço costeiro. 1 INTRODUÇÃO O Brasil abrange ecossistemas distribuídos em toda sua extensão, dentre eles estão: floresta amazônica, mata atlântica, cerrados, caatinga, campos, pantanal, restingas e manguezais e dunas. As dunas são caracterizadas pelo acúmulo de sedimentos (grãos de areia),os quais são removidos da praia e depositados costa a dentro por ação dos agentes eólicos (ventos predominantes). São divididas em móveis, fixas e semifixas, fósseis e falésias. As dunas móveis são caracterizadas pela ausência de vegetação ou pela fixação de um revestimento pioneiro, o qual detém ou atenue os efeitos de dinâmica eólica, responsável pela 1 Graduação em Ciências Biológicas. Universidade Estadual do Piauí, Brasil. 2 Doutora em Ciência Animal, Universidade Federal do Piauí. Professora do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação, Núcleo de Educação a Distância, Universidade Estadual do Piauí. 343


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migração (PINHEIRO, 2009). Tem papel fundamental no equilíbrio das zonas costeiras ao fornecer sedimentos para rios e praias, além de proteger a costa nos momentos de maior energia e nas ressacas, servindo de barreira natural à invasão de água do mar (PINHEIRO, 2009). Durante o verão (meses de julho a dezembro), há um significativo acréscimo da precipitação e concomitante de dunas,que favorecem a sua expansão. Os ventos auxiliam nessa sedimentação, uma vez que tem a capacidade de carregar as partículas que compõe a camada superficial do solo e depositá-los a grandes distâncias, modificando os ecossistemas, como ocorrem nos litorais arenosos. Esse ecossistema pode ser encontrado no estado do Amazonas ao Rio Grande do Sul, percorrendo todo o litoral Brasileiro, tendo em sua maior extensão o estado do Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão e Piauí. O litoral brasileiro possui formações geológicas distintas, com parte apresentando a formação de barreiras, na qual são encontrados desde falésias com praias estreitas (PEREIRA, ARAÚJO, 2000) até extensas planícies arenosas (material de origem quaternária resultados das regressões marinhas recentes) com dunas móveis, às vezes, elevados, formados pelas atividades eólicas (OLIVEIRA FILHO; CARVALHO, 1993; MATIAS; NUNES, 2001) e ainda afloramento rochosos, na forma de escarpos do complexo cristalino pré-cambriano (CESAR; MONTEIRO, 1995; ARAÚJO, 2005). O nordeste brasileiro se estende das proximidades da Baía de São Marcos até a Baía de todos os Santos, dividido em macro compartimentos. A costa semiárida norte compreende parte do Maranhão, Piauí e parte do Ceará (SILVEIRA, 1996). O litoral piauiense está classificado em áreas territoriais, sendo dividido em quatro municípios: Ilha Grande, Parnaíba, Luiz Correia e Cajueiro da Praia (CEPRO, 1996). Em parte todo litoral, compreende um plano arenoso e faixas de sedimentos recentes, associado a uma série de ilhas, bacias e canais que acompanham toda a linha da costa, estando presentes cordões arenosos, dunas, mangues e algumas falésias. Elas ocorrem principalmente do litoral e avançam em direção ao continente, até à distância de 50km da costa. As dunas que aparecem afastadas da linha da praia apresentam-se fixadas e possuem formas alongadas, cujo comprimento maior orienta-se na direção (BRASIL, 1973). O município de Luís Correia possui belíssimas praias que formam o litoral piauiense; esse tem 66 km de extensão e é composto por um vasto número de dunas móveis. Esse ecossistema é considerado área de preservação permanente e de extrema importância, pois estabelecem equilíbrio às zonas costeiras ao fornecer sedimentos para rios e praias (PINHEIRO, 2009). Além disso, contribuem para absorção dos aquíferos subterrâneos, por causa da grande permeabilidade que permite a infiltração da chuva, mantendo o equilíbrio dinâmico das praias (PINHEIRO, 2009). Portanto, esse trabalho tem como objetivo fazer uma revisão de literatura sobre a sedimentação das dunas móveis no espaço costeiro da cidade de Luís Correia. 2 FORMAÇÃO DAS DUNAS MÓVEIS As correntes litorâneas são os verdadeiros agentes transportadores de areia na zona litorânea imersa, constituindo-se como um dos mais importantes agentes de remobilização de 344


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sedimentos, sendo responsável pelo transporte de material ao longo da costa a partir de uma fonte, tal como um rio ou praia (TESSLER; MAHIQUES, 2003). A areia é levada pela ação dos ventos e depositada na faixa da praia. As dunas móveis são formadas a partir de sedimentos, sobremaneira grãos de areia, os quais são removidos da face de praia e depositados em costa adentro por ação dos agentes eólicos (ventos predominantes) (PINHEIRO, 2009; MOURA-FÉ, 2008). A falta de vegetação rasteira aumenta a ação dos ventos sobre areia, possibilitando-as que sejam levadas e depositadas em outros lugares. Dependendo das condições climáticas e granulométricas intrínsecas, a areia poderá ser movimentada pela ação eólica, normalmente por saltação ou arraste. Logo, quando os ventos sopram acabam levando as areias em direção ao continente, desenvolvendo sob diferentes padrões de velocidade os campos de dunas, os quais terão sua orientação retratando a direção dos ventos dominantes na região costeira (VILLWOCK et al., 2005). Os corpos dunares ganham contornos distintos, os quais se definem através de diferenciações estreitamente relacionadas à direção do vento dominante e o clima da região, à granulometria dos sedimentos, à conformação da superfície percorrida pelos sedimentos desde sua exposição na faixa de praia, à ação dos ventos na faixa de praia e à localização dessas dunas dentro do segmento costeiro (PINHEIRO, 2009). Em algumas dessas formações dunares, existem participação do homem, como quando são retirados por completo os sedimentos, são desmontadas ou mesmo quando fixadas artificialmente (MOURA-FÉ; PINHEIRO, 2013). A dinâmica da migração dos sedimentos (grãos de areia) são de extrema importância, visto que eles proporcionam o equilíbrio das praias de todas as formas. As praias são consideradas fontes de sedimentos, conceituada como zona perimetral de um corpo aquoso (seja uma lagoa, mar ou oceano), composta de material inconsolidado, em geral arenoso, ou mais raramente composta de cascalhos, conchas de moluscos, entre outros, que se estende desde o nível de baixa-mar média até a linha de vegetação permanente (limite de ondas de tempestade) ou onde há mudança na fisiologia, como as zonas de dunas ou de falésias (SUGUIO, 1998). O Nordeste do Brasil possui a maior extensão de dunas móveis. Sua sedimentação eólica vem do quaternário da América do Sul, dos estados do Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí. O litoral Piauiense, em grande parte, corresponde a uma faixa de sedimentos recentes associados a uma série de ilhas, bacias e canais, acompanhando toda a linha da costa, estando presentes cordões arenosos, dunas, mangues e algumas falésias (CEPRO, 1996). Estudos demonstram que geomorfologicamente essa origem apresenta sinais de agrupamentos de origem eólicos, flúvio-marinho e marinha, depositadas sob a influência das condições ambientais variáveis durante o quaternário (BITTENCOURT et al., 2003). A análise do mapa geológico do estado do Piauí (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2006) demonstra que parte significativa do litoral apresenta a formação geológica barreiras cobrindo área considerável do litoral, nos limites entre as áreas litorâneas de Luiz Correia e Cajueiro da Praia, na foz do rio Camurupim, denominado por Baptista (1981) como parte do anel e popularmente conhecida como praia do Macapá. 345


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2.1O QUE A LEGISLAÇÃO FALA SOBRE AS DUNAS MÓVEIS Em 1934, foi criado no Brasil o Código Florestal que buscava ordenar os diversos interesses envolvidos na utilização das terras. O Estado brasileiro vem regulamentando o uso e ocupação do solo por meio de promulgação de leis, decretos e resoluções, desde a década de 1930 (MARCHIOR et al., 2010). O Código Florestal de 1934(Decreto pela Lei n 23.793/1943) demonstrou grande interesse na preservação ambiental, ao criar a figura das florestas protetoras para garantir a qualidade ambiental de rios e lagos e a estabilidade de áreas de risco, encostas íngremes e dunas (BRASIL, 2012b). Posteriormente, a lei acabou conceituando e originando as áreas de preservação ambiental. Foi criada a lei Federal nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 que trouxe em seu parágrafo único os seguintes conceitos sobre dunas: I- dunas móveis: deslocam-se pela ação dos ventos, dirigindo-se para a faixa de praia; II- dunas fixas e semifixas: dotadas de revestimento vegetal que impede ou reduz seu deslocamento por ação dos ventos; III- dunas fósseis: são corpos isolados ou contínuos, de origem consistência endurecidas, constituídas por areia de dunas cimentadas por carbonato de cálcio. IV- falésias: formas de relevo abrupto ou escarpadas, resultados da erosão marinha. A Lei 15 de setembro de 1934 n 23.793\1934 trouxe o novo código florestal da época que estabelecia 50% de reserva legal na Amazônia e 20% no restante do país (artigo 16) e definia a localização das áreas de preservação permanente (artigos 2 e 3) (BRASIL, 1965). As APPs foram definidas em margens de cursos d’água, lagos, lagoas e reservatórios artificiais, topos de morros e encostas com declividade elevada cobertas ou não por vegetação nativa, com função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, e de proteger o solo e assegurar o bem-estar da população humana (BRASIL, 1965). A Lei Federal nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, mesmo conceituando as dunas, ainda não as consideravam como APPs, mas sim como ambientes preservados apenas quando possuíam em seu entorno as restingas. Com o passar do tempo houve a criação do CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente, órgão consultivo deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e foi instituída pela Lei n 6.938/81 (BRASIL, 1981), que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo Decreto 99.274/90 (MMA, 2012a). O conselho é um colegiado representativo de cinco setores, a saber: órgãos federais, estaduais e municipais, setor empresarial e sociedade civil. Em março de 2002 o CONAMA publica a resolução de n 303 (MMA, 2012b), que dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente, trazendo de forma pioneira, as dunas móveis enquanto APPs. No ano posterior, o CONAMA nº 341/2003 acresentou,em sua resolução, dispositivo sobre as dunas: 346


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Considerando a função fundamental das dunas na dinâmica da zona costeira, no controle dos processos erosivos e na formação e recarga de aquíferos; (considerando acrescentado pela resolução n 341\03); [...] Considerando a excepcional beleza cênica e paisagística das dunas, e a importância da manutenção dos seus atributos para o turismo sustentável; (considerando acrescentado pela Resolução n 341\03); [...]

Desta forma, como estabelecimento das áreas de dunas móveis os casos de utilidade pública ou interesse como áreas de preservação permanente, esse ambiente estaria protegido legalmente do uso e ocupação, visto que o regime de proteção das APPs é bastante rígido, sendo admitida apenas nos casos de utilidade pública ou interesse social legalmente previsto dentro dos limites da lei (ARAÚJO, 2002). Até o inicio dos anos 80, ainda não havia uma legislação de proteção ao Meio Ambiente no Brasil. A Constituição Federal Brasileira de 1988 (BRASIL, 1988),além da preservação ambiental, ainda definiu as competências dos órgãos federativos,que veio descentralizar a proteção do meio ambiente e passando não só a União, mas os estados e municípios e o Distrito Federal a ter total liberdade para gerir todas suas competências em favor do meio ambiente. Sendo assim, os estados passaram a legislarem em regime de complementaridade em relação à legislação federal, devendo ser tão quanto ou mais restritivos, criando os seus projetos de lei, tornando-se importante que além da conscientização, as leis sejam válidas em todo território Brasileiro (Lei Federal nº 6.938/1981, CONAMA). A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, fixou os princípios gerais em relação ao Meio Ambiente e estabeleceu, nas condutas e nas atividades lesivas ao Meio Ambiente, os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, ficaram sujeitos às sanções penais e administrativas e, além disso, independente da obrigação de reparar o dano causado(GOMES,2008). Na constituição Federal de 1988, o direito a um meio ambiente sadio ficou consagrado como um direito fundamental do homem, uma vez que é considerado um bem de uso comum e assim, essencial para a qualidade de vida (GOMES, 2008). Resumidamente, até a presente, foram promulgados aproximadamente 36 projetos buscando a revogar o Código Florestal. Apesar das inúmeras pressões e diversas discussões sobre as dunas áreas de preservação, foi sancionada no Brasil a Lei Federal n 12.651/2012, conhecida como o novo código florestal. O estado do Piauí, em conformidade com a Lei nº 4.854 de 10 de julho de 1996, que dispõe sobre a Política de Meio Ambiente do Estado do Piauí (PIAUÍ, 1996) nada cita sobre as APPs, tampouco sobre as dunas, ecossistema encontrado em todo litoral. Comparando-se com outros estados da região Nordeste, o Piauí é o único que não conta com uma política que assegure esse ambiente tão diversificado, diferentemente do que ocorre nos estados do Maranhão e Ceará, que dispõem de políticas organizadas incluindo, em suas constituições estaduais as restingas, dunas e as paisagens notáveis. 347


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O município de Luís Correia até o presente ano ainda não dispõe de uma lei orgânica que contemple as dunas, sejam elas móveis ou fixas, como ambientes frágeis, que necessitam de uma atenção especial, visto que além de todas suas contribuições ao meio ambiente já citado no presente artigo, ainda é uma das principais atrações turísticas sustentáveis dentro do estado. 2.2 SEDIMENTAÇÃO DAS DUNAS MÓVEIS NO MUNICÍPIO DE LUÍS CORREIA, ESTADO DO PIAUÍ Sedimentação é um processo pelo qual substâncias minerais, rochosas ou de origem orgânica se depositam em ambiente aquoso ou aéreo (DICIONÁRIO UNESP, 2011). Esse processo de sedimentação das dunas móveis da cidade de Luís Correia aumenta a cada ano principalmente quando se inicia o verão. O artigo faz uma revisão sistemática com o objetivo de mostrar a importância desse ecossistema e contribuir com esclarecimentos sobre as dunas móveis e sua sedimentação no espaço costeiro no município de Luís Correia, Piauí. A degradação das dunas pela também a busca da conscientização da população em especial dos moradores da região e turistas, sobre os impactos ambientais causados pelas construções de imóveis em áreas de preservação. A degradação das dunas pela ocupação desordenada com a construção de casas, pousadas, hotéis entre outros contribuem para a remobilização das areias dessas dunas em lugares impróprios, muitas vezes causando a erosão marinha. A retirada dessas dunas pela população, muitas vezes sem informação, leva prejuízos para o meio ambiente. Dunas são Áreas de Preservação Permanente (APPs) que têm como principal intuito a preservação do meio ambiente. As APPs foram criadas para proteger o ambiente natural, o que significa que não são áreas apropriadas para a alteração de uso de terra (CASTELANI; BATISTA, 2007). Mesmo sendo regido por lei, o problema persiste no município de Luiz Correia, onde algumas dunas continuam sofrendo com a interferência antrópica. Como exemplo, têm-se alguns corpos dunares que se sedimentam principalmente nos meses que antecedem o verão, recobrindo a estrada que liga a zona urbana à zona rural do município de Luís Correia. A pouca precipitação na região aliada à ação conjunta da falta de vegetação rasteira que impeça essa ação, e os ventos oriundos da costa aumentam o fluxo de sedimentos trazidos das praias até a pista. Essa série de ações possibilita o acúmulo de sedimentos oriundo das praias, formando grandes campos dunares que podem chegar a 2 metros de altura, impossibilitando o trafego de veículos sobre todo seu entorno. Nos meses de julho a dezembro, as dunas são retiradas com auxílio de tratores e às vezes levadas para outro lado da rodoviaou até mesmo retiradas de seu ambiente natural até outro destino. A prefeitura do município é responsável pela retirada da areia das rodovias, mas não utiliza de seu órgão competente para busca da amenização do problema, sendo que nessas áreas a fiscalização é pouca ou até ausente. O estado do Piauí não possui uma lei específica que trata as dunas como APPs tampouco o município de Luís Correia, tornando esse ambiente costeiro tão desprotegido. 348


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A retirada desses sedimentos da costa implica em crime ambiental como traz a resolução do CONAMA nº 341/2003(MMA, 2012a). Sobre a proteção desse ecossistema, a Constituição Federal de 1988 relata que os municípios podem e devem adquirir e agir em prol da proteção do meio ambiente, sendo a atuação de tais indivíduos fundamental para a proteção do patrimônio ambiental local (BRASIL, 2012). O problema da sedimentação toma maior impacto nos meses que antecedem o verão, que são de julho a dezembro. Nessas épocas, além do impedimento do tráfego de veículos por conta da deposição de areia nas estradas, a falta delas interfere na dinâmica das marés. A praia do Macapá, por exemplo, tem sofrido nos últimos anos com o aumento do nível do mar, efeito esse que gera grandes problemas para a comunidade. Os litorais são considerados ambientes sensíveis, por vezes áreas particularmente instáveis a uma série de mudanças, mesmo que a interferência humana seja pequena (PINHEIRO, 2009). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo é uma revisão de matérias que falam do ecossistema dunar, buscando contribuir literalmente sobre o tema, que poderá servir de fonte para trabalhos futuros dentro das disciplinas que tratem da conservação da biodiversidade. Excetuando-se o estado do Ceará, estado vizinho ao Piauí, poucos são os trabalhos publicados dentro do tema. Assim, busca-se a visualização do problema da sedimentação, pelo estado e município, com outros olhos a fim de trazer estudantes, universidades, ONGs para uma conscientização coletiva entre moradores, turistas e a própria prefeitura do município estudos sobre a degradação desse ambiente, o que tornaria todos cientes de como a retirada desses (grãos de areia), sedimentos de grande relevância para as praias, uma vez retirados contribuiria para de fato uma degradação. O artigo busca cobrar dos gestores do município a criação de uma lei orgânica que impossibilitasse a retirada ilegal das dunas do seu espaço de origem, uma vez que as mesmas contribuem para o dinamismo das praias. Nos meses de julho a dezembro, as dunas com ajuda da ação ventos acabam formando enormes morros que podem chegar a alguns metros e assim impossibilitando o trafego de veículos na rodovia. O que não se pode deixar de ser levado em conta é que o homem é um dos principais contribuintes dessa problematização, uma vez o consumismo exagerado acaba levado ao aumento dos bens de consumo que são um fator negativo. A exemplo disso, temos a construção de casas desordenada no espaço costeiro, contribuindo para esses que esses grãos de areia sejam levados para fora da praia, ocasionando o acúmulo dessas dunas em s lugares inadequados. Diante disso, torna-se necessário que o município de Luís Correia, em conformidade como o estado do Piauí, crie seu projeto de lei que auxilie na preservação das dunas, uma vez que os municípios e os estados têm autonomia para criar essas leis que fiscalizem. Elas garantem a preservação do meio ambiente e tudo que lhes rodeiam.

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PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS DE MANJUBAS PROVENIENTES DO RIO PARNAÍBA

Andrescia Ferreira de Carvalho Simone Mousinho Freire 2 Ângela Piaulino Campos3 RESUMO A ordem Clupeiformes se divide em quatro famílias Clupeidae, Engraulidae, Elopidae e Albulidae. A família Engraulidae abrange vários tipos de manjubas. Este é considerado um peixe marítimo, que prefere estuário, ou seja, ambientes de baixa salinidade, podendo ser encontrado no curso de rios. A coleta dos animais foi realizada durante todo o dia no Rio Parnaíba nas proximidades da ponte José Sarney, que liga a capital Teresina, Piauí à cidade maranhense, Timon. Foram analisados 29 animais provenientes do mercado de pescadores ribeirinhos que vendem próximo ao rio Parnaíba. O estudo morfométrico foi baseado nos padrões e medidas adotadas por Cunha (2000) e essas medidas foram feitas com a ajuda de um paquímetro de 150mm. Foram adotadas as seguintes medidas: comprimento total (CT), comprimento padrão (CP), comprimento da cabeça (CCa), comprimento do focinho (CFo), comprimento da maxila superior (CMs), diâmetro do olho (DO), distância pré-dorsal (DDo), distância préventral (DVe), distância pré-peitoral (DPe), distância pré-anal (DAn), altura do corpo (AC) e espaço interorbital ósseo (EIo). Foram determinados, também, os valores máximo (XM), mínimo (xm), média e desvio padrão (DP) e calculadas as relações lineares. O valor máximo de comprimento total encontrado foi 9,5cm. Quanto aos caracteres morfométricos, observou-se que, no intervalo de comprimento padrão (CP) considerado (5 a 7,3 cm), o comprimento da cabeça variou entre 1,1 a 1,8cm, correspondendo a uma média de 24,6% de CP. Quanto às variáveis DVe e DAn, notou-se que estas têm o mesmo sentido da correlação, ou seja, possuem correlação positiva bastante evidente.

Palavras-chave: Manjuba. Medidas morfométricas. Rio Parnaíba

1 INTRODUÇÃO Os Acnoptérígios são denominados peixes verdadeiros, pois possuem esqueleto ossificado. Essa classe encontra-se subdividida em duas ordens, Clupeioides e Osteoglossoidea. A ordem Clupeiformes se divide em quatro famílias Clupeidae, Engraulidae, Elopidae e Albulidae. A primeira abrange as sardinhas e a segunda os vários tipos de manjubas (SANTOS, 1982). As sardinhas e manjubas ainda são confundidas por possuírem tamanhos e características parecidas, porém se diferenciam principalmente pelo formato da boca. Sardinha possui 351


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boca pequena e terminal e a manjuba é inferior e ampla com saliência evidente na parte anterior do focinho. Além disso, são mais esguias que as sardinhas, possuindo de 7 a 25cm de comprimento (SANTOS, 1982). Mesmo a manjuba sendo considerado um peixe marítimo, essa espécie prefere estuário, ou seja, ambientes de baixa salinidade, podendo ser encontrada no curso de rios (SOARES, 2014). É considerado de grande importância para pescadores do Sul do estado de São Paulo, onde a colheita é feita dentro das normas de uma gestão adaptativa, um método integrado e multidisciplinar utilizado para gerir os recursos naturais, no qual foi observado um aumento significativo na produção pesqueira após a implantação deste método, objetivando a conservação e eficiência na produtividade da manjuba (MENDONÇA, 2013). Algumas espécies de manjubas também foram encontradas no rio Parnaíba e observadas, em grandes quantidades, no Rio Bacanga, Maranhão, sendo importante para pesca costeira do estado (SOARES, 2014). Em um inventário realizado no estuário da bacia do Rio Parnaíba, foi possível identificar seis espécies diferentes de membros da família Clupeidae (OLIVEIRA, 1974). A bacia do rio Parnaíba possui uma grande e variada ictiofauna, conjunto de peixes de uma região. Ramos (2014) foi capaz de identificar 58,9% das espécies encontradas em seu estudo e consideradas endêmicas. Esse número pode ser considerado maior, pela pequena quantidade de trabalhos que abordam esse assunto. Além disso, a ictiofauna encontrada no citado trabalho indica características de bioma caatinga. Em decorrência da grande similaridade morfológica entre as espécies da família Engraulidae e da pequena quantidade de estudos relacionados à caracterização morfológica desses peixes, viu-se a necessidade de ampliar trabalhos envolvendo esse tema, bem como de identificar as espécies encontradas no Rio Parnaíba, Piauí. O objetivo deste trabalho foi realizar a caracterização morfométrica de manjubas presentes no Rio Parnaíba.

2 MATERIAL E MÉTODOS Tipo de pesquisa O estudo terá uma abordagem quantitativa e transversal na qual se buscou correlacionar entre seus parâmetros morfométricos de manjubas presentes no rio Parnaíba. Área de estudo A Região Hidrográfica do Parnaíba configura-se como uma das mais importantes da Região Nordeste do Brasil, ocupa uma área de 331.441 Km², abrangendo os estados do Piauí, Ceará e Maranhão. Suas águas atravessam diferentes biomas, como o Cerrado, no Alto Parnaí352


Educação, saúde e meio ambiente

ba, a Caatinga, no Médio e Baixo Parnaíba, e o Costeiro no Baixo Parnaíba, tornando diferenciadas as características hidrológicas de cada uma destas regiões (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2006).

Figura 1. Mapa do Rio Parnaíba, abrangendo parte da região urbana de Teresina, Piauí e Timon, Maranhão. FONTE: https://www.google.com.br/maps/search/mapa+ponte+da+amizade+rio+parnaiba/@-5.1516312,-42.8175296,6703a,20y,40.49t/data=!3m1!1e3. Acesso em: 09 jun 2016.

Coleta das amostras Foram amostrados 29 peixes provenientes do mercado de pescadores ribeirinhos que vendem próximo ao rio Parnaíba. A coleta dos animaisfoi realizada no mês de maio durante todo o dia, no Rio Parnaíba nas proximidades da Ponte José Sarney, que liga a capital Teresina, Piauí à cidade de Timon, Maranhão (Figura 1). Os peixes coletados foram acondicionados individualmente em sacos plásticos contendo as informações de data, hora e local da coleta, posteriormente armazenados em isopor com gelo e realizado o estudo morfométrico. As manjubas são capturadas pelos pescadores quando usada rede de arrasto para a pesca de outras espécies de peixe que são comercializadas no Mercado do Peixe. Segundo os pescadores, o melhor período para a pesca da manjuba é durante o mês de julho. Caracterização morfométrica O estudo morfométrico foi baseado nos padrões e medidas adotadas por Cunha (2000). Essas medidas foram tomadas com a ajuda de um paquímetro de 150mm.Para o estudo da morfometria, foram adotadas as seguintes medidas: comprimento total (CT), comprimento padrão (CP), comprimento da cabeça (CCa), comprimento do focinho (CFo), comprimento da maxila superior (CMs), diâmetro do olho (DO), distância pré-dorsal (DDo), distância pré-ventral (DVe), distância pré-peitoral (DPe), distância pré-anal (DAn), altura do corpo (AC) e espaço interorbital ósseo (EIo) (Figura 2). 353


Educação, saúde e meio ambiente

Para cada item, foram determinados os valores máximo (XM), mínimo (xm), média e desvio padrão (DP) e calculadas as relações lineares. Figura 2. Medidas morfométricas adotadas por Cunha(2000).

FONTE: Cunha (2000, p. 145)

Análise estatística A análise estatística foi realizada no programa ASSISTAT 7.7 beta. Foi utilizada correlação simples em variáveis adotando o nível de significância de 5%.

3 RESULTADO E DISCUSSÃO Na tabela 1, estão apresentados os valores máximo (XM), mínimo (xm), média e desvio padrão (DP) das medidas morfométricas dos espécimes coletados. Tabela 1. Valores máximo (XM), mínimo (xm), média (X) e desvio padrão (DP) das medidas morfométricas emcm. FONTE: Coleta de dados. Comprimento Total

9,5

6,1

6,8793

0,726

Padrão

7,3

5

5,562

0,567

Cabeça

1,8

1,1

1,4172

0,1814

Focinho

0,5

0,3

0,3483

0,0619

Maxila superior

0,5

0,25

0,3603

0,0588

0,6

0,4

0,4759

0,0636

3,3

1,6

2,74655

0,3082

Pré-ventral

5,8

2,1

2,65172

0,65335

Pré-peitoral

1,85

1

1,43276

0,1718

Diâmetro do olho Distância Pré-dorsal

354


Educação, saúde e meio ambiente

Pré-anal

5,7

3,1

3,684483

0,573695

Altura do corpo

2,5

1,5

1,90345

0,25563

Espaço interorbital ósseo

0,55

0,3

0,463793

0,059607

O valor máximo de comprimento total encontrado, 9,5cm, foi abaixo do encontrado por Szpilman(2000) 13cm, assim como o valor médio, 6,9 cm no presente trabalho e 8cm em exemplares de Anchoviellalepidentostole, espécie pertencente à família Engraulidae. Sousa (2009) e Gurguel(2012) descreve a manjuba com corpo comprido e comprimido lateralmente com pequenas áreas das nadadeiras, possui comprimento aproximado entre 9 e 14cm, sendo as fêmeas sempre maiores que os machos. Tem coloração branca brilhante apresentando uma faixa lateral que se inicia estreita na proximidade dos opérculos, alargandose sensivelmente no meio do corpo, estreitando-se novamente próximo a cauda. Esta tem a base branca-prateada, a parte central amarelada e as bordas escuras. É um peixe de pequeno porte com escamas, habita águas pelágicas, costeiras e águas rasas, migra do mar para o rio, alimenta-se depequenas partículas animal, vegetal e mineral. Quanto aos caracteres morfométricos (Tabela 1), observou-se que, no intervalo de comprimento padrão (CP) considerado (5 a 7,3 cm), o comprimento da cabeça variou entre 1,1 a 1,8cm, correspondendo a uma média de 24,6% de CP. Tabela 2. Coeficiente de correlação dos parâmetros morfométricos. Parâmetros

CT

CP

CCa

CFo

CMs

DO

DDo

DVe

DPe

DAn

AC

CT

---

CP

0.9525 **

---

CCa

0.7081**

0.5792**

---

CFo

0.3369

ns

0.2318

0.3207ns

--

CMs

0.1641 ns

0.1139ns

0.2671ns

0.6910**

--

DO

0.5230 **

0.5456**

0.2543ns

-0.0109ns

0.0926ns

--

DDo

0.6543**

0.6426**

0.5568**

0.2709ns

0.2531ns

0.2782ns

--

DVe

0.8738**

0.7970**

0.5527**

0.4347*

0.3341

0.4741**

0.5082**

--

DPe

0.5800 **

0.4538 *

0.8293**

0.4501*

0.5043**

0.1485

0.4289*

0.5221**

--

Dan

0.9496 **

0.9088**

0.6770**

0.2128

0.0764

0.4693*

0.6168**

0.8688**

0.5670**

AC

-0.1632ns

-0.1591ns

0.1989ns

0.3275ns

0.5082**

-0.3135ns

0.2087ns

-0.2492ns

0.3348ns -0.2200ns

Elo

0.2380ns

0,1533ns

0.7039**

0,3454ns

0.3911*

-0.1914ns

0.3283ns

0.1873ns

0.6780** 0.2859ns 0,5944**

ns

ns

ns

ns

ns

Elo

---

Comprimento total (CT), comprimento padrão (CP), comprimento da cabeça (CCa), comprimento do focinho (CFo), comprimento da maxila superior (CMs), diâmetro do olho (DO), distância pré-dorsal (DDo), distância pré-ventral (DVe), distância pré-peitoral (DPe), distância pré-anal (DAn), altura do corpo (AC) e espaço interorbital ósseo (EIo).ns - Coeficiente de determinação não significante (P>0,05); ** Coeficiente de determinação significante a P>005; * Coeficiente de determinação significante a P>0,01.

As correlações das características analisadas foram consideradas lineares na significância de P < 0,05, ou seja, apresentam uma relação entre duas variáveis, onde estas estão diretamente ligadas (Tabela 2).

355

--


Educação, saúde e meio ambiente

Entre as variáveis de distância pré-dorsal (DDo) e pré-anal (DAn), ocorreu correlação positiva, ou seja, esses valores estão interligados positivamente. Em decorrência disso, uma das principais formas de caracterizar as espécies de Engraulidae é a relação de barbatana dorsal e anal, no qual essa última é inserida posterior à primeira (SILVA, 2010). Na figura 2, sobre as variáveis DVe e DAn, nota-se que estas têm o mesmo sentido da correlação, ou seja, possuem correlação positiva significativa bastante evidente.

Figura 2. Correlação linear entre distância Pré-ventral e distancia pré-anal FONTE: os autores.

Os resultados das medidas morfométricas apontam que o uso de comprimento padrão (CP) pode impactar a distância pré-dorsal (DDo), pré-ventral (DVe), pré-peitoral (DPe) e préanal (DAn)dos animais, de forma mais acentuada que as demais características. Houve dificuldade de coleta no rio de espécimes de Engraulidae, possivelmente em decorrência da variação temporal e do horário da coleta. Santos (2015) relata que o melhor período para encontrar quatro espécies diferentes de manjuba, Cetengraulisedentulus, Lycengraulisgrossidens, AnchoviellalepidentostoleeAnchoaspinifera, foi no período de chuva e no turno da noite.

4 CONCLUSÃO Os vários parâmetros morfométricos utilizados em espécimes de manjuba presente no Rio Parnaíba apresentaram correlação positiva linear, no qual foi possível relacioná-los e enfatizar a importância da sua utilização para a biodiversidade e conservação das espécies.

REFERÊNCIAS CUNHA, F. E. de A., FREITAS, J. E. P., FEITOSA, C.V., MONTEIRO-NETO, C. Biologia e biometria da Palombeta, Chloroscombrus chrysurus (Linnaeus, 1766) (Teleostei: Carangidae), em Fortaleza, Ceará, Brasil. Arq. Ciên. Mar, Fortaleza, 2000, 33: 143-148 356


Educação, saúde e meio ambiente

GURGUEL. T.A.B., OLIVEIRA, M. R., BRASIL, D.F., CHELLAPPA, S. Peixes marinhos das águas costeira de Ponta Negra, Rio Grande do Norte, Brasil. Biota Amazônia,Macapá, v.2, n. 1, p. 83-97, 2012. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e estatística. 2003. In: MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Caderno da região hidrográfica do Parnaíba. Secretaria de Recursos Hídricos. – Brasília: MMA, 2006. 184p. MENDONÇA, J. T., SOBRINHO, R. P. Management of fishing of the Broadband Anchovy (Anchoviella lepidentostole) (Fowler, 1911), in south São Paulo State, Brazil. Braz. J. Biol., 2013, vol. 73, no. 4, p. 691-697 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Caderno da região hidrográfica do Parnaíba. Secretaria de Recursos Hídricos. – Brasília: MMA, 2006. 184 p. OLIVEIRA, A. M. E. de. Ictiofauna das águas estuarinas do Rio Parnaíba (Piauí). Arq. Ciên, 1974, Fortaleza. RAMOS, T.P.A., RAMOS, R.T.C., RAMOS, S.A.Q.A. Ichthyofauna of the Parnaı bariver Basin, Northeastern Brazil. Biota Neotropica., 14(1): 1–8, 2014 SANTOS, E. Nossos Peixes Marinhos: vida e costume dos peixes do Brasil. Itatiaia, Belo Horizonte. V. 1, p. 32, 1982. SILVIA, A. C. G., SEVERI, W., CASTRO, M.F. de. Morphological development of Anchoviella vaillanti (Steindachner, 1908) (Clupeiformes: Engraulidae) larvae and early juveniles. Neotropical Ichthyology, 8(4):805-812, 2010 SILVA, F. de A. S. e. &AZEVEDO, C. A. V. de. Principal Components Analysis in the Software Assistat-Statistical Attendance. In: WORLD CONGRESS ON COMPUTERS IN AGRICULTURE, 7, Reno-NV-USA: American Society of Agricultural and Biological Engineers, 2009. SOUZA, C.E., BARRELLA, W. Atributos ecomorfológicos de peixes do Sul do Estado de São Paulo. Revista Eletronica de Biologia, Volume 2 (1):1-34, 2009 SOARES, F. D. B., CUTRIM, M. V. J., SILVEIRA, P. C. A. Diversidade de larvas de peixes da Bacia Hidrográfica do Rio Bacanga (Maranhão – Brazil). Revista de CiênciasAmbientais, Canoas, vol 8, n. 2, 2014. SZPILMAN, M. Peixes Marinhos do Brasil: guia prático de identificação. Rio de Janeiro: Mauad editora Ltda, 2000.

357



Educação, saúde e meio ambiente

ENSINO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES EM CANTO DO BURITI - PI

Eroilton de Sousa e Silva1 Simone Mousinho Freire2 Tereza Maria Alcântara Neves3 Jéssica Pereira dos Santos4

RESUMO Diante dos atuais problemas ambientais vividos pela sociedade contemporânea, inúmeras iniciativas buscam minimizar os impactos da ação antrópica sobre o meio ambiente. Nesse contexto, a educação ambiental surge com a finalidade de promover a sensibilização da população sobre a importância da conservação do meio. O presente estudo teve por objetivo identificar as concepções de professores sobre o ensino de Educação Ambiental em escolas públicas do município Canto do Buriti – PI, Brasil. Participou do estudo um total de 13 professores selecionados aleatoriamente em três escolas públicas do município, que atuassem nas áreas afins de Ciência. A coleta dos dados foi realizada entre fevereiro e março de 2016, por meio de um questionário composto por questões abertas e fechadas, relacionadas aos conceitos, abordagens e desenvolvimento de atividades que envolvam educação ambiental. A análise dos dados demonstrou que maioria dos professores possui uma longa experiência profissional na educação, no qual 92,3% utilizam o livro didático como metodologia de ensino. Temáticas relacionadas à reciclagem foi o tipo de ação de Educação Ambiental mais citada pelos entrevistados. Ficou evidenciado o pouco envolvimento das escolas em relação à execução de projetos ambientais, e algumas dificuldades dos professores em abordar temáticas relacionadas à EA. Diante disso, conclui-se que analisar o entendimento de Educação Ambiental por parte dos professores é uma forma de aproximá-los das discussões em torno de questões ambientais do cotidiano dos alunos, contribuindo assim para inserção da EA em suas práticas pedagógicas. Palavras-chave: Ensino. Meio Ambiente. Ciências. 1 INTRODUÇÃO Diante dos atuais problemas ambientais vividos pela sociedade contemporânea, inúmeras iniciativas buscam minimizar os impactos da ação antrópica sobre o meio ambiente (ABREU et al 2008). Nesse contexto, a educação ambiental surge com a finalidade de promover a sensibilização da população sobre a importância da conservação do meio (NETO et al 2011). No Brasil, a oficialização da Educação Ambiental ocorreu por meio da Lei Federal de nº 6.938 de 1981, que criou a Política Nacional do Meio Ambiente (CARVALHO, 2004). Em 1 Biólogo graduado pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI. Email:eroilton2pac@ hotmail.com 2 Doutora e Mestre em Ciência Animal. Especialista em Zoologia. 3 Coordenadora da disciplina TCC – Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação, NEAD-UESPI; Especialista e Mestre em Saúde da Família. 4 Especialista em Gestão Ambiental pelo Instituto de Educação Superior São Judas Tadeu; Bióloga graduada pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. 359


Educação, saúde e meio ambiente

1996, foi decretada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (Lei 9.394/96), que preconiza a abordagem de temas que propiciem a reflexão, percepção e compreensão do meio ambiente numa perspectiva interdisciplinar (BRASIL, 1996). Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Educação Ambiental deve ser trabalhada com o objetivo de auxiliar os alunos na construção da conscientização das problemáticas ambientais. Ainda nesse mesmo contexto, foi criada a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795/99) que torna obrigatório a educação ambiental em todos os níveis de ensino e modalidades, seja ele de caráter formal e não formal. No ensino formal, ou seja, na educação escolar, a Educação Ambiental deve ser desenvolvida nos currículos das instituições de ensino público e privado, desde a educação básica (educação infantil, ensino fundamental) até a média, educação superior, especial, profissional, educação de jovens e adultos; através de uma prática integradora, contínua e permanente, não podendo ser implantada como disciplina específica, salvo alguns casos, como nos cursos de pós-graduação e no ensino não formal (KIST, 2010). A importância da Educação Ambiental esta se tornando cada vez mais perceptível, devido ao uso inconsciente dos recursos ambientais, colocando em risco a manutenção da vida. De acordo com Leff (2001), é de suma importância construir uma racionalidade social para alcançar a sustentabilidade, tendo em visto que o processo de racionalização norteia os indivíduos, deixando-os cientes do porque e pra que se deve preservar/conservar o meio ambiente (GUIMARÃES; TOMAZZELO, 2003). Fica evidente a importância de se educar os alunos para que venham agir de modo responsável frente às questões ambientais, procurando contribuir positivamente para a melhoria e conservação do meio. Nesse processo, a figura do professor desempenha um importante papel, pois as experiências vivenciadas na escola poderão influenciar a vida dos estudantes em suas atitudes futuras, principalmente em atitudes ecologicamente corretas. O educador tem a função de mediador na construção desse conhecimento e deve saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza (JACOBI, 2003). Com isso, o presente estudo teve por objetivo identificar as concepções de professores sobre o ensino de educação ambiental em escolas públicas do município Canto do Buriti – Piauí, Brasil. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Caracterização da área de estudo Canto do Buriti é um município brasileiro do Estado do Piauí, localizado a uma latitude 08º06’36”sul e a uma longitude42º56’40” oeste. Compreende uma área de aproximadamente 4.326 km2, com uma população de estimada de 20.700 habitantes (IBGE, 2015). Para a realização do trabalho foram selecionadas de forma aleatória três escolas públicas estaduais do município, que foram: a Unidade Escolar Beija Valente, Unidade Escolar Nonato Valente e Unidade Escolar Lúcia Maria Oliveira e (Figuras1A, B e C). A

B

Figura 1. Escolas participantes do estudo. Unidade Escolar Beija Valente (A). Unidade Escolar Nonato Valente (B). 360


Educação, saúde e meio ambiente

B

Unidade Escolar Lúcia Maria Oliveira (C).

Coleta e análise dos dados A coleta dos dados foi realizada entre fevereiro e março de 2016, por meio de um questionário composto por questões abertas e fechadas, relacionadas aos conceitos, abordagens e desenvolvimento de atividades que envolvam educação ambiental na escola. Participou do estudo um total de 13 professores selecionados aleatoriamente nas três escolas, que atuassem nas áreas afins de Ciência. As informações obtidas foram tabuladas em planilha eletrônica (Excel) e as frequências absolutas das respostas foram calculadas e transformadas em porcentagem, através de frequência simples. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO De acordo com as informações obtidas, observou-se que 53,8% dos professores entrevistados eram do sexo feminino e 46,2% do sexo masculino. Dados semelhantes foram relatados por Costa et al (2016) e Marques et al (2013). Segundo Gatti e Barreto (2009), a maioria dos professores que atuam no magistério é formada por mulheres. Quanto à formação acadêmica, 76,9% dos professores eram habilitados em Biologia/Ciências, 15,5% em Química, 7,6% em Física, conforme demonstrado no Gráfico 1. Em relação ao tempo de atuação na educação, 53,8% dos professores já atuam a mais de 10 anos, 23% estão na carreira entre 5 a 10 anos, 15,5% trabalham na educação entre 2 a 5 anos e somente 7,7% ingressaram no magistério 0 a 2 anos. Diante desses dados, observa-se que maioria dos professores possui uma longa experiência profissional na educação. Quando foram indagados sobre a metodologia utilizada para o ensino de Educação Ambiental, 92,3% dos professores relataram que usam o livro didático, ao passo que 7,7% dos professores informaram que aborda os conteúdos relacionados à Educação Ambiental por meio da utilização de mídias (vídeos). Resultados semelhantes foram descritos por Saraiva et al (2008), 361


Educação, saúde e meio ambiente

em que 66% dos professores relataram que desenvolvem o ensino de educação ambiental através da passagem de conteúdos do livro. Conforme descrito nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os conteúdos sobre o Meio Ambiente devem ser abordados de forma transversal para que a prática educativa crie uma visão geral das questões ambientais. E cada professor deve adequar o tratamento dos conteúdos para contemplar o Tema Meio Ambiente e os demais Temas Transversais (BRASIL, 2001). De acordo com Pereira et al (2013), a metodologia de ensino é um aspecto fundamental da ação educativa e cabe ao educador escolher a melhor opção para cada situação. Trabalhar com Educação Ambiental é promover reflexões e ações que auxiliem de atitudes voltados para o fortalecimento da cidadania. O desenvolvimento de atividades diferenciadas, tais como debates, oficinas, sessões de vídeos, dramatizações, produções textuais, desenhos, leitura de imagens e paródias também são possíveis alternativas que o educador ambiental pode utilizar. Em relação aos tipos de ações de Educação Ambiental desenvolvido com os alunos, foi evidenciado que 53,8% dos professores relataram que frequentemente desenvolvem ações sobre reciclagem, 38,5% dos professores preferem ações como a apresentação em feiras de ciências, e 7,7% dos professores relataram que realizam visitas em parques, lixões e aterros sanitários, conforme demonstrado no gráfico 2. De acordo com Oliveira et al (2007), as ações envolvendo a problemática do lixo são bastante frequentes nas atividades desenvolvidas pelos professores. No entanto, ao trabalhar com a questão do lixo, os professores enfatizam os processos de coleta seletiva e reciclagem como a melhor solução para amenizar o problema. Dessa forma, deixam de refletir sobre questões como a educação do consumo/desperdício e da reutilização dos produtos.Segundo Costa et al (2016), a educação ambiental é um fator de grande importância e a escola pode exercer um papel fundamental, através de práticas pedagógicas, tais como, palestras, oficinas e aulas práticas capazes de proporcionar aos alunos reflexões importantes sobre a preservação ambiental. No entanto, para que isso ocorra, é necessária à utilização de ferramentas que despertem o interesse dos alunos para motivá-los a cuidar do meio em que estão inseridos. Os educadores devem utilizar uma linguagem simples, além de estabelecendo a relação entre a prática e teoria, através de aulas de campo, em zoológicos, parques, até mesmo no pátio arborizado da escola. Na sala de aula, a educação ambiental deve ser trabalhada em um contexto interdisciplinar, com a finalidade de construir valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, sendo fundamental a aquisição de conhecimento e informação por parte dos docentes. Em relação à existência de algum programa de educação ambiental, foi evidenciado que maioria dos professores informou que as escolas não possuem nenhum programa de educação ambiental, conforme demonstrado no Gráfico 3. De acordo com Dias (1992), as escolas são espa362


Educação, saúde e meio ambiente

ços privilegiados na execução de atividades que propiciem reflexões acerca dos problemas ambientais, no entanto, para alcançar esse objetivo é necessária a realização de atividades que influenciem nas atitudes corretas dos alunos para a preservação e conservação do meio ambiente. Em um trabalho realizado por Vendruscolo et al (2013), muitos professores relataram que a escola em estudo utiliza a metodologia de projetos, destacando que a escolha desta metodologia pode oferecer uma formação mais ampla, rompendo com o ensino tradicional e tornando o conhecimento como produção coletiva.Segundo Matos (2009), a metodologia de projetos faz com que o educando tenha uma participação ativa no processo de ensino-aprendizagem, onde o professor é o agente facilitador e o estudante reconstrói seus conceitos a cada etapa do projeto (MATOS, 2009). Na visão dos professores, em relação às dificuldades existentes para trabalhar a Educação Ambiental nas escolas, observou-se que 46,2% relataram que consideram um tema difícil de ser trabalhado. Todas as dificuldades citadas pelos professores estão agrupadas na Tabela 1 abaixo. Tabela 1 – Dificuldades relatadas pelos professores ao trabalhar temas sobre Educação Ambiental nas escolas do município Canto do Buriti – PI.

Dificuldades relatadas

Nº de citações

%

Desinteresse dos alunos

7

53,8%

Utilização de metodologias diferenciadas

9

69,2%

Complexidade dos temas sobre Educação Ambiental

6

46,1%

Falta de recurso escolar para desenvolvimento de atividades Abordagem irregular nos livros didáticos utilizados pela escola

10

76,9%

4

30,8%

Segundo De Oliveira et al (2007), a deficiência que se verifica no contexto educacional, e particularmente no ensino de educação ambiental, se justifica, muitas vezes, por não haver uma clareza do que sejam meio ambiente e educação ambiental.Sato (2004) estabelece a importância do uso de diferentes procedimentos metodológicos para tratar a temática ambiental, em diferentes espaços formais e não formais. No entanto, é necessário o uso da criatividade na busca de novas metodologias, dependendo dos conceitos de meio ambiente e educação ambiental por parte dos professores. De acordo com Guimarães (2004), é sabido a dificuldade de se encontrar, nas escolas, o desenvolvimento de atividades de forma transversal e interdisciplinar. Ainda segundo o autor, esta dificuldade é reflexo do resultado da fragmentação das concepções pedagógicas utilizadas pelos professores. Com isso, o desenvolvimento de atividades e ações isoladas e pontuais, descontextualizadas da realidade socioambiental em que a escola está inserida, se torna cada vez mais frequente. Mininni (1994) aponta várias dificuldades para o desenvolvimento da educação ambiental no ensino formal, tais como: fragmentação do conhecimento em disciplinas separadas; formas tradicionais de ensino dando prioridade a conhecimentos teóricos e abstratos; falta de recursos econômicos, resistência às mudanças e problemas na estrutura interna e organizacional das escolas, dentre outras. 363


Educação, saúde e meio ambiente

4 CONCLUSÃO Os dados obtidos indicam que os professores possuem uma longa experiência profissional na educação. No entanto, para a maioria dos entrevistados, o livro didático consiste na metodologia mais utilizada para o ensino de Educação Ambiental. Percebe-se ainda pouco envolvimento das escolas em relação à execução de projetos ambientais, e algumas dificuldades dos professores em abordar temáticas relacionadas à EA. Essas dificuldades demonstram a importância do desenvolvimento de ações relativas à EA. Diante disso, é indiscutível a importância da Educação Ambiental para o processo de tomada de decisão em benefício de um desenvolvimento sustentável e de mudanças de atitudes individuais.

Analisar o entendimento de Educação Ambiental por parte dos professores é uma forma de aproximá-los das discussões em torno de questões ambientais do cotidiano dos alunos, contribuindo assim, para inserção da EA em suas práticas pedagógicas. REFERÊNCIAS ABREU, DG de et al. Educação ambiental nas escolas da região de Ribeirão Preto (SP): concepções orientadoras da prática docente e reflexões sobre a formação inicial de professores de química. Química. Nova, v. 31, n. 3, p. 688-693, 2008. MATOS, M.A.E. A metodologia de projetos, a aprendizagem significativa e a educação ambiental na escola. Ensino, Saúde e Ambiente, v.2 n.1, p 22-29, 2009. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasil: Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 2001. CARVALHO, I. C. M.Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo:Cortez, 2004. COSTA, L. T.; GOMES, A. L. S. Concepções dos professores de ciências no ensino fundamental sobre a educação ambiental. Revista Areté: Revista Amazônica de Ensino de Ciências, v. 8, n. 17, 2016. DE OLIVEIRA, A. L; OBARA, A. T.; RODRIGUES, M. A. Educação ambiental: concepções e práticas de professores de ciências do ensino fundamental. REEC: Revista electrónica de enseñanza de lasciencias, v. 6, n. 3, p. 471, 2007. DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas SP: Gaia, 1992. GATTI, B; BARRETTO, E. S. Sá. Professores no Brasil: impasses e desafios.Brasília: UNESCO, 2009. GUIMARÃES, M. Educação ambiental crítica. In: LAYRARGUES, P. P. (Coord.). Identidades da educação ambiental brasileira. Brasília: Ministério do Meio Ambiente / Diretoria de Educação Ambiental, 2004. P. 25-34. GUIMARÃES, S. S. M.; TOMAZZELO. M. G. C. A formação universitária para o ambiente: educação para a sustentabilidade. In: questões ambientais e educação: a multiplicidade de abordagens. Revista de Educação Ambiental da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), v. 8, p. 55-71, 2003. JACOBI, P. et al. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de pesquisa, v. 118, n. 3, p. 189-205, 2003. 364


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RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS: AÇÕES REALIZADAS PARA CONSERVAÇÃODAS MATAS CILIARES DO RIO CORRENTE, PIAUÍ Raimundo Brito dos Santos1 Leyde Nayane Nunes dos Santos Silva2

RESUMO É perceptível a necessidade de estudo sobre a recuperação e preservação do rio Corrente que atualmente se encontra em estado grave no tocante à conservação e à preservação. Neste artigo, questiona-se se as políticas públicas de preservação e recuperação da mata ciliar estão sendo realmente eficazes para combater o problema. Partindo dessa premissa, o trabalho foi proposto com o intuito de analisar as políticas de preservação e recuperação das matas ciliares do rio Corrente por meio da coleta dados com a aplicação do questionário na Superintendência de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (SUMAR) sobre as ações que estão sendo realizadas para a revitalização das matas ciliares do rio. A pesquisa foi de cunho bibliográfico e de campo e tem natureza qualitativa. Após o estudo, conclui-se que existem ações realizadas pelas instituições de Ensino Superior e instituições privadas em parceria com a prefeitura da cidade, que visam solucionar o problema de revitalização para recuperação e preservação da mata ciliar do rio Corrente. Estas ações servem para conscientizar a população e os próprios discentes envolvidos na iniciativa além servirem de exemplo para a conservação da flora nas margens do rio que tem tanta importância para a população. Palavras-Chave: Conservação. Política pública. Revitalização. Corrente-PI

1 INTRODUÇÃO As florestas nativas, compostas por diferentes biomas, são importantes ecossistemas que há tempos são explorados de forma degradatória. Esse processo de supressão das florestas resultou em conjunto de problemas ambientais, como a extinção de várias espécies da fauna e flora, mudanças climáticas locais, erosão dos solos, eutrofização e assoreamento dos cursos d’água (FERREIRA; DIAS, 2004). De acordo com Alvarenga (2004), mata ciliar é definida como formações vegetais do tipo florestal que se encontram associadas aos corpos d’águas, ao longo dos quais podem estender1 Acadêmico da especialização em Biodiversidade e Conservação (Universidade Estadual do Piauí-UESPI), Especialista em Docência do Ensino Superior (UESPI), Especialista em Meio Ambiente- FAETE), Bacharel em Engenharia Agronômica (UESPI) e Licenciado em Ciências Biológicas (Universidade Federal do Piauí-UFPI). 2 Leyde Nayane Nunes dos Santos Silva, professora orientadora da especialização em Biodiversidade e Conservação (Universidade Estadual do Piauí-UESPI), Licenciada em Ciências Biológicas (UESPI), Mestre em Botânica (Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC) e Doutoranda em Botânica (Universidade de São Paulo-USP). leydenayane@gmail.com.

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se por dezenas de metros a partir das margens e apresentar marcantes variações na composição florística e composição comunitária. As matas ciliares atuam como barreira física, regulando os processos de troca entre os ecossistemas terrestres e aquáticos e desenvolvendo condições propícias à infiltração (KAGEYAMA, 1986; LIMA, 1989). Segundo Martins (2001), além do processo de urbanização, as matas ciliares sofrem pressão antrópica também por uma série de fatores como construção de hidrelétricas, abertura de estradas e implantação de culturas agrícolas e de pastagem. A urbanização fez com que as matas ciliares se tornassem alvo de exploração e consequente degradação, pois muitas cidades foram formadas as margens dos rios eliminando todo tipo de vegetação ciliar, provocando assim poluição, doenças, modificação da paisagem e o assoreamento dos cursos da água. Na região do Piauí, as matas ciliares assim como as nascentes vêm sofrendo um processo de desmatamento acentuado, provocando o assoreamento dos rios e consequentemente traz prejuízo à população (SEMAR, 2005). O rio Corrente encontra-se atualmente em um estado grave no tocante à conservação de suas matas ciliares que é fundamental para a preservação do seu bem maior que é a água. A devastação das matas ciliares tem sido tema bem debatido pelos ambientalistas e no município de Corrente não poderia ser diferente, visto que essa realidade é confrontada diariamente pela população. A partir deste pressuposto, surge um questionamento: as políticas públicas de preservação e recuperação das matas ciliares estão realmente sendo eficazes para combater esse problema?Para responder a essa pergunta, o presente trabalho analisou as políticas de preservação e recuperação das matas ciliares do rio Corrente, levando-se em consideração as políticas públicas adotadas pela gestão municipal local, quais ações vêm sendo desenvolvidas para conter os avanços dessa devastação e como o poder público vem atuando no processo de recuperação das matas ciliares do rio.

2 MATERIAL E MÉTODOS Foi realizada uma pesquisa do tipo qualitativa, de cunho bibliográfico, na qual foram analisados diversos materiais sobre a temática em questão nos mais diversos formatos, tanto impressos, quanto online, publicações institucionais e particulares. Foram realizadas visitas de análises constantes ao viveiro de mudas no período de 15 de março a 05 de maio de 2016 com os professores e estagiários das instituições parceiras (IFPI – UESPI), para coletar os dados da pesquisa. O rio corrente forma um curso d’água perene, é um rio de arrasto de pequenas proporções que nasce na chapada das mangabeiras no entorno do parque das nascentes do rio Parnaíba no município de Corrente. Segundo a Organização não governamental, Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Corrente (ASPAC), ele desempenha um papel importantíssimo na dinâmica econômica e social do nosso município. 368


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O rio Corrente é a principal fonte de água que abastece a cidade bem como muitas localidades pertencentes ao nosso município. Ele promove água e alimento para aqueles que dele usufrui. Em um passado recente, o nível de suas águas era bastante elevado e muitos olhos d’água o abastecia. Destes já secaram e hoje o que se vê nos leitos dos rios é incontáveis bancos de areia e lixo acumulado em função da falta de suas matas ciliares, acentuando ainda mais o problema da diminuição do volume d’água. A técnica de coleta de dados constituiu-se de entrevista com dois integrantes da Superintendência de Meio Ambiente e Recursos Renováveis - SUMAR do município de Corrente-PI, sendo o primeiro entrevistado o gerente de viveiro de mudas municipal e o segundo entrevistado a gerente de análise técnica.

3 RESULTADO E DISCUSSÃO Têm-se relatos obtidos através de entrevista com ribeirinhos das gerações passadas, que, nos anos de 1950, existiam mais de trinta afluentes do rio Corrente, muitos deles perenes. Atualmente existe apenas um afluente perene denominado de “Pubas” que não durará muito, os outros são temporários e muitos já não existem ou foram mortos pelo assoreamento violento provocado pelo desflorestamento de suas margens. O rio Corrente forma um curso d’água permanente que possuem suas nascentes dentro do município de Corrente desaguando no rio Paraim. Juntos eles formam o afluente da lagoa de Paranaguá, cidade circunvizinha do nosso município. Constata-se, através de fotos obtidas na década de 70, especificamente no ano de 1974, que o rio Corrente possuía uma vazão extraordinária no qual era opção de lazer nos finais de semana para a maioria da população da cidade de Corrente. Sabe-se que nesse período a comunidade ribeirinha utilizava suas águas para beber, tomar banho, lavar roupas e pescar. A partir doa resultados da entrevista com integrantes da Superintendência de Meio Ambiente e Recursos Renováveis do município de Corrente-PI, chegaram-se a algumas constatações referentes à mata ciliar do rio Corrente. Os resultados mostram que têm sido realizadas algumas ações para recuperar a mata ciliar conforme expressado pelos entrevistados. Constatou-se que há uma consciência sobre as consequências da ausência da mata ciliar no rio (Figura 1A) apontando o assoreamento (Figura 1B), a diminuição da lâmina d’água, contaminação, e o desbarrancamento como causadores do entupimento do rio. De acordo com Andrade et al (2005), a destruição desta vegetação acarreta em muitas alterações ambientais entre elas o assoreamento dos rios e a diminuição da qualidade da água. A mata ciliar funciona protegendo as margens, promovendo-lhe a sustentabilidade e, assim, evitando o desbarrancamento dessa área para dentro do rio, bem como a penetração de materiais carreados pelas enxurradas para o seu leito (lixo). As consequências mais visíveis são assoreamento, contaminação que resulta em uma série de problemas para população em geral, 369


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uma vez que este rio fornece água para consumo em toda a cidade de Corrente. Quanto às ações do poder público para recuperação e preservação da Mata Ciliar no Rio Corrente, observou-se a criação do viveiro para a produção de mudas nativas através do projeto “Viveiro de Mudas” (Figura 1 C) com finalidade de recuperação de áreas degradadas e revitalização da mata ciliar do rio mais importante da cidade, como alternativa de revitalização dessa vegetação ciliar e criação da equipe técnica com formação específica na área de meio ambiente que atuam no monitoramento, fiscalização, análise e licenciamento ambiental. O viveiro é o local onde as mudas são produzidas, dispostas de forma regular, abrigadas em ambiente favorável, observados os critérios técnicos de instalação, visando obter material botânico de qualidade para plantação em local definitivo (GOES, 2006). As duas ações criadas pelo poder público municipal demonstram a preocupação da gestão para a preservação e conservação do rio Corrente. Figura 1- Etapas de recuperação de área degradada no rio Corrente. A) Margem do rio Corrente totalmente sem a presença da vegetação ciliar. B) Assoreamento ocasionado pela ausência da mata ciliar do rio Corrente.C) Vista frontal do viveiro de mudas municipal.D) Levantamento da área de APP do rio Corrente para posterior recuperação. E) Professora e alunas do IFPI e UESPI fazendo mudas para o viveiro municipal. F) Plantio de mudas às margens do rio Corrente.

Quanto à atuação da Superintendência do Meio Ambiente para evitar a retirada da mata ciliar no rio, observaram-se ações como a Educação Ambiental nas comunidades realizadas por meio de palestras, distribuição de folders e apresentação de vídeos educativos. Essas ações levam à conscientização ambiental junto às comunidades ribeirinhas que usufruem do rio Corrente como fonte de sobrevivência. Com relação às parcerias no desenvolvimento do projeto em questão, o poder público 370


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municipal recebe um reforço de peso de duas grandes e importantes instituições de ensino local, o Instituto Federal do Piauí - IFPI e a Universidade Estadual do Piauí - UESPI, ambas disponibilizam professores com excelente conhecimento voltado para a área ambiental, muitos deles com graduação em Gestão Ambiental, Agronomia, Biologia, especialistas na área de meio ambiente, mestres e doutores com vasto domínio na área ambiental, sem esquecer-se da classe de alunos pertencentes aos cursos de Gestão ambiental, tecnólogos em meio ambiente (IFPI) cursistas dos cursos de Biologia, Agronomia, Zootecnia, Direito (UESPI), todos empenhados trabalhando em harmonia em prol do meio ambiente primando pelas mais diversificadas ações ambientais (Figura 1D) ocorrente no nosso município na qual podemos destacar a revitalização das matas ciliares do rio Corrente.O trabalho realizado pela Superintendência de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (SUMAR) é de primordial importância quando se refere à informação, por meio da conscientização dessas comunidades, pois somente pela educação, seja ela em qualquer âmbito, é que podemos transformar o mundo e o Meio Ambiente faz parte desse contexto. O Código Florestal estabelece áreas de preservação permanente, ao longo dos cursos d’água (margens de rios, lagos, nascentes e mananciais em geral), que ficam impedidas de qualquer uso. Essas áreas se destinam, em princípio, à vegetação ou mata ciliar especialmente importante para garantir a qualidade e a quantidade das águas, prevenindo assoreamento e contaminação. A Constituição brasileira impõe, também, a preservação do meio ambiente da Serra do Mar, da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica, do Pantanal Mato-Grossense e da Zona Costeira (CÓDIGO FLORESTAL, ART. 225, § 4°). Quanto à punição em caso de desobediência a legislação ambiental municipal com relação à preservação mata ciliar do rio Corrente, constatou-se primeiramente atuação com o programa de educação ambiental no sentido de orientar a forma correta de manejo sustentável do rio, em alguns casos de reincidência faz se a notificação e em alguns casos multa. O licenciamento ambiental no município é algo novo para o conhecimento da maioria dos que se beneficiam desta área de exploração, entretanto, a ação da SUMAR, de acordo com a Gerente de análise técnica, é realizar um trabalho de conscientização, não sendo impedida de atuar nos casos de reincidentes, inclusive com a participação efetiva do Ministério Público, quando necessário. As ações realizadas pela SUMAR em parcerias com o IFPI e UESPI para recuperação das áreas degradadas do rio Corrente foram à realização do cadastramento dos imóveis dos proprietários que margeiam o rio Corrente que necessitam de recuperar as suas áreas de mata ciliar, confecção de mudas no viveiro municipal (Figura 1E) para o plantio das áreas degradadas do rio Corrente, plantio de mudas nas áreas necessitadas de recuperação (Figura 1F) e monitoramento constante do plantio realizado.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se que as autoridades competentes estão preocupadas com a recuperação das áreas degradadas no município de Corrente e que atuam por meio de planos elaborados pelos técnicos da Superintendência de Meio Ambiente – SUMAR. O projeto do viveiro de mudas municipal tem como finalidade a produção de mudas para a recuperação de áreas degradadas do nosso município e, consequentemente, a revitalização da mata ciliar do rio Corrente, visa também à conscientização dos moradores ribeirinhos e não ribeirinhos primando pelo desenvolvimento sustentável e o resgate da vida socioambiental.

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RIO CORRENTE: A IMPORTÂNCIA DA CONSERVAÇÃO DAS MATAS CILIARES Tânia Mara Pereira Bembem1 Leyde Nayane Nunes dos Santos Silva2 RESUMO A mata ciliar é uma das formações vegetais mais importantes para a preservação da vida e da natureza. Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo analisar a situação atual das matas ciliares às margens do rio corrente e conhecer as estratégias desenvolvidas pela Secretaria de Meio Ambiente para sua conservação, destacando assim, a importância de sua conservação para a sobrevivência do rio Corrente. Para a realização desta pesquisa, foi necessário fazer um levantamento bibliográfico, uma entrevista com o Secretário de Meio Ambiente e um questionário com moradores próximo às margens do rio Corrente. Percebeu-se que, ao longo dos anos, a mata ciliar próximo ao rio Corrente foi passando por muitas transformações devido aos processos, como o desmatamento para construções de moradias e plantação de pastagens. Com efeito, nota-se que ações como a criação de um viveiro de mudas e o plantio de mudas nativas estão sendo realizados pelo poder público em parceria com o ICMBIO, IFPI, UESPI e Colégio Mercedário São José em prol da conservação e preservação da mata ciliar do rio corrente. Palavras chave: Meio Ambiente. Plantas nativas. Conservação 1 INTRODUÇÃO De acordo com Rizzo (2007), matas ciliares são as formações vegetais, localizada nas margens dos rios, córregos, lagos, represas e nascentes. Considerada pelo Código Florestal Federal como “área de preservação permanente”, com diversas funções ambientais, devendo respeitar uma extensão específica de acordo com a largura do rio, lago, represa ou nascente. De acordo com a Lei Nº 771/65, essa área deve-se manter intocada e, caso esteja degradada, deve-se prever a imediata recuperação. Segundo Durigan (1999), a importância da existência de florestas ciliares ao longo dos rios, ao redor de lagos e reservatórios, fundamentam-se no amplo espectro de benefícios que este tipo de vegetação traz ao ecossistema exercendo função protetora sobre os recursos naturais bióticos e/ou abióticos. De acordo com Piolli et al. (2004), as margens dos rios são extremamente vulneráveis à erosão, o que pode causar danos gravíssimos, como assoreamento e perdas de solo para agricultura. Na natureza, ao longo dos anos, a instalação de uma vegetação nas margens dos rios foi fundamental para a estabilização e permanência desses cursos d’água. Sua ação especifica está ligada à proteção das margens de rios, lagos, igarapés, cursos de água e nascentes contra desbarrancamentos e assoreamentos, mantendo a capacidade original de escoamentos de leitos; além 1

Professora graduada em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí -UESPI. E-mail: tania-bembem@hotmail.com

2 Doutoranda em Ciências (Botânica); Mestre em Botânica (anatomia e morfologia vegetal) e Licenciada em Ciências Biológicas. 373


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disso, controla o aporte de nutrientes, de produtos químicos tóxicos e de outros sedimentos aos cursos de água, diminuindo a eutrofização das áreas ou, ainda, atuando na preservação da fauna, da flora local, além de facilitar a infiltração da água das chuvas do solo (EMBRAPA, 2003). Martins (2001) cita que as matas ciliares sofrem pressão antrópica pelo processo de urbanização na construção de hidrelétricas, na abertura de estradas, assim como para a implantação de culturas agrícolas e de pastagens. Este processo de degradação das formações ciliares, além de desrespeitar a legislação, que torna obrigatória a preservação das mesmas, resulta em vários problemas ambientais. Nesse sentido, será que a população correntina tem consciência da importância da preservação da mata ciliar próxima ao rio? Reconhece que a conservação das matas ciliares do rio é fundamental para sobrevivência do seu bem maior que é o rio Corrente. Atualmente a população está fazendo a sua parte pra a conservação do rio corrente. O município de Corrente é o maior prejudicado com essa problemática, e o mesmo está desenvolvendo ações para minimizar ou evitar maiores problemas no futuro. Dessa forma, o presente trabalho objetivou verificar a situação atual da mata ciliar às margens do rio Corrente, assim como as ações que estão sendo realizadas pelo órgão competente em prol de sua conservação. 2 METODOLOGIA O tipo de pesquisa abordada neste trabalho é de natureza aplicada e desenvolvida por meio de uma abordagem qualitativa de cunho bibliográfico a partir da leitura de livros e de artigos publicados na internet sobre o tema conservação das matas ciliares, também foi aplicado um questionário com quinze moradores próximos ao rio Corrente na área urbana. O questionário é composto de 10 perguntas, que abordam questões sobre o conhecimento do rio Corrente. Foi consultado ainda Secretário Municipal de Meio Ambiente do município, que relatou as ações realizadas e planejadas pela secretaria em prol da preservação e conservação das matas ciliares do rio.

3 RESULTADO E DISCUSSÃO Figura 1- Comparativo da situação do rio Corrente na década de 70, à esquerda e atualmente.

Fonte: SANTOS, R. B. 374


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Ao realizar a entrevista com o Secretário de Meio Ambiente, foram destacados alguns pontos relevantes. Percebeu que a mata ciliar próximo às margens do rio encontra-se extremamente desgastada devido às ações errôneas aplicadas pelo ser humano ao longo dos anos. Nota-se que vários fatores contribuíram para essa problemática como as queimadas para retirada de madeira e o desmatamento para plantações e pastagens (Figura 1). O secretário relata que a conservação da mata ciliar de um rio é tão importante quanto os cílios para os olhos das pessoas, pois as mesmas têm a função de protegê-los. Segundo o secretário, várias ações voltadas para a conscientização, preservação e conservação das matas ciliares do rio Corrente estão sendo realizadas pelo município em parceria com o IFPI, UESPI e Colégio Mercedário São José. Dessa forma, destaca também que já foram realizadas ações como visitas ao rio, limpeza de sua margem, recolhimento de lixo, plantações de mudas de plantas nativas, construção de um viveiro de mudas entre outras. Nesse sentido, foi necessário aplicar um questionário com os moradores ribeirinhos para que se pudesse verificar se os mesmos reconhecem a importância de se preservar a mata ciliar de um rio. Portanto, foi possível verificar que os mesmos moram, há mais de trinta anos, às margens do rio Corrente. Da amostra (Gráfico 1), constituída de 15 moradores às margens do rio Corrente foi possível constatar que a maioria já perceberam ao longo dos anos uma grande transformação na paisagem local e a minoria (20%) concorda que participou dessa mudança de forma ativa. Gráfico 1: Porcentagens dos moradores que perceberam a mudança nas margens do rio Corrente no decorrer dos anos.

Fonte: BEMBEM, T. M. P.

Martins (2001) cita que as matas ciliares sofrem pressão antrópica pelo processo de urbanização na construção de hidrelétricas, na abertura de estradas, assim como para a implantação de culturas agrícolas e de pastagens. Este processo de degradação das formações ciliares, além de desrespeitar a legislação, que torna obrigatória a preservação das mesmas, resulta em vários problemas ambientais. 375


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Com relação à adoção de algumas práticas de recuperação das matas ciliares, um bom exemplo a ser citado é o projeto Margem Viva em Mossoró (IDEMA, 2008), que foi elaborado com vistas a recuperar a mata ciliar do rio Mossoró-RN, no trecho urbano desse município, com espécies nativas, visando à recuperação da estrutura e da função da faixa de proteção do rio. O projeto alerta para a questão da ocupação da Área de Preservação Permanente – APP do rio Mossoró, com a criação de gado, cavalos, suinocultura, plantio de capim e culturas agrícolas, o que impede o estabelecimento da regeneração natural e causa danos a qualquer plantio de recuperação. Como medida de recuperação, o projeto recomendou o isolamento com cerca de arame farpado composta por 05 fios, com estacas de madeira a cada 3,0m, contendo ainda placas indicadoras da recuperação, nos locais mais degradados. Nas áreas onde forem constatados passivos ambientais, o estudo propôs acordos para que os proprietários construam as cercas para evitar o acesso de animais. Foi sugerida a realização de trabalhos geoecológicos construindo-se terraços e implantando-se paliçadas para a estabilização dos taludes, em função da existência de pontos de erosão nas margens do rio.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi possível notar a importância da conservação das matas ciliares para sobrevivência do rio Corrente, uma vez que o mesmo é a única fonte de abastecimento d’água do município. As iniciativas por parte das instituições em criar o viveiro de mudas para plantar na própria margem do rio e alertar sobre os problemas causados ao rio também tem importância não só para a população como para o próprio rio que há muito tempo vem sendo degradado de forma desordenada. REFERÊNCIAS CÓDIGO FLORESTAL - Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Disponível em: http:// presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/91627/codigo-florestal-lei-4771-65.Acesso em 20 de maio de 2016. DURIGAN, G.; SILVEIRA, E. R. Recomposição de mata ciliar em domínio de cerrado. Assis, SP. Scientia Florestalis, São Paulo, n. 56, p. 135-144, dez. 1999. EMBRAPA – EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Práticas de Conservação do Solo Recuperação de Áreas Degradadas. Rio Branco: MDA, 2003, 32p. LIMA, T. B. C.; LUIS, G. V. C.; JUCIANO, S. F.; GEORGE, S. G. Projeto Margem Viva projeto de recuperação do rio Apodi-Mossoró: Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Rio Grande do Norte – IDEMA, 2008. MARTINS, S. V. Recuperação de Matas Ciliares. Viçosa: Editora Aprenda Fácil, 2001. PIOLLI, A. L.; CELESTINI, R. M.; MAGON, R. Planeta Água– Associação de Defesa do Meio Ambiente. Serra Negra – SP. 2004. RIZZO, M. R. Matas ciliares um bem natural que deve ser preservado In. Revista Jurídica FAMA. Iturama. MG: FAMA, nº. 3. 2007. 376


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A BIODIVERSIDADE DE MAMÍFEROS BRASILEIROS: AVALIAÇÃO COM ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL.

INGRID CYNARA DA COSTA VIEIRA 1 MARLÚCIA OLIVEIRA LIMA2 RESUMO Sabemos que o Brasil possui a maior biodiversidade do mundo, isso devido a seu grande território que propicia vários tipos de ambiente. Assim, abrigando entre 15% e 20% do número total de espécies do planeta, mas devido à ocupação desordenada dos seres humanos, a natureza vem sofrendo grandes impactos e com isso perdemos muitas espécies. A biodiversidade está passando por uma crise e o meio mais rápido de passar informação para a população é através das escolas, pois serão os alunos de hoje, os futuros cidadãos. O propósito deste estudo é investigar o conhecimento dos alunos do ensino fundamental em relação à importância da biodiversidade dos mamíferos existente no Brasil. De acordo com o ICMBio, a biodiversidade brasileira é enorme, onde atualmente existe 734 espécies de mamíferos, e que muitos dessas espécies não são conhecidos popularmente. O presente estudo visa investigar como está o conhecimento dos alunos sobre os mamíferos brasileiros, identifica as dificuldades de assimilação das informações em relação ao assunto e verificar se os alunos conhecem a fauna próximo a eles. A pesquisa foi realizada na Unidade Escolar Padre Raimundo José Vieira, localizada na cidade de ParnaíbaPiauí, nos dias 12 e 15 de abril de 2016, onde tivemos como colaboradores os alunos do oitavo ano do Ensino Fundamental, sendo uma pesquisa quantitativa feita através de questionários. A partir dos dados obtidos na pesquisa observou-se que os alunos do oitavo ano do Ensino Fundamental sabem pouco sobre a grande diversidade de mamíferos existente no nosso país, sendo que alguns animais que reconhecia eram através de desenhos e filmes que viram na televisão. Notou-se que os discentes ficaram em dúvidas em relação à existência de algumas espécies no Brasil. Palavras-Chave: Fauna. Diversidade. Espécies. INTRODUÇÃO Sabemos que o Brasil possui a maior biodiversidade do mundo, isso devido a seu grande território que propicia vários tipos de ambiente. Estima-se que exista até 100 milhões de diferentes espécies vivas, abrangendo toda a variedade de espécies da flora, fauna e microorganismos, que são responsáveis pela estabilidade dos ecossistemas, pelos processos naturais e produtos fornecidos por eles e pelas espécies que modificam a biosfera (MMA, 2016). Segundo Barbieri (2010), a biodiversidade refere-se à variedade de vida na Terra, incluindo as variações genéticas dentro das populações e entre as espécies, também a variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos os organismos nos ecossistemas. 1

Graduada em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí email:Ingrid_ vieira013@hotmail.com

2 Especialista em Gerenciamento de Recursos Ambientais/IFPI; Química graduada pela Universidade Federal do Piauí - UFPI - e-mail: marlucialyma@gmail.com 377


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De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (2016), o nosso país abriga entre 15% e 20% do número total de espécies do planeta, além de ocupar quase a metade da América do Sul e abarcar várias zonas climáticas. Evidentemente, essas diferenças climáticas levam a grandes variações ecológicas, formando zonas biogeográficas distintas ou biomas: a Floresta Amazônica, o Pantanal, o Cerrado, a Caatinga, Campos dos Pampas e a Mata Atlântica. Devido à ocupação desordenada dos seres humanos em ambientes que antes eram naturais, a natureza vem sofrendo grandes impactos e com isso perdemos muitas espécies, que migram para outros locais ou vão desaparecendo com o tempo, já que o local onde viviam não tem mais alimento e abrigo. Como cita Andreoli et al. (2004), a fauna vem sofrendo consequências agravantes devido à degradação dos ecossistemas e o número de espécies ameaçadas vem aumentando em ritmo acelerado. Atualmente a natureza, principalmente as espécies que habitam nesse ambiente, está passando por uma crise, em que muitas delas estão em declínio. Os governantes estão reunindo esforços globais para combater a perda da biodiversidade mundial, ocorrida pelo aumento das atividades antrópicas. O meio mais rápido de passar informação para a população é através da educação ambiental nas escolas, pois serão os alunos de hoje, os futuros cidadãos que irão desfrutar da diversidade existente no nosso país. Os alunos do ensino fundamental estão aprendendo a conhecer a biodiversidade existente no Brasil, através dos livros didáticos. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação a Biodiversidade - ICMBio, a biodiversidade brasileira é enorme e atualmente existem 734 espécies de mamíferos, e que muitos dessas espécies não são conhecidas popularmente. E sendo de grande importância para os ecossistemas a preservação desses animais, deve-se conhecer melhor a biodiversidade brasileira. Diante das considerações abordadas, o presente estudo tem o propósito de investigar como está o conhecimento dos alunos sobre os mamíferos brasileiros, identificar as dificuldades de assimilação das informações em relação ao assunto e verificar se conhecem a fauna próximo a eles. MATERIAL E MÉTODOS Tipo de pesquisa O método utilizado neste estudo foi uma abordagem quantitativa descritiva, visto que quantificar os dados e generalizar os resultados da amostra para a população alvo. Para Portela (2004), os dados são métricos e as abordagens são experimental, verificatório, hipotéticodedutivo. A pesquisa possibilita uma aproximação e um entendimento da realidade a investigar, como um processo permanentemente inacabado. Ela se processa através de aproximações sucessivas da realidade, fornecendo subsídios para uma investigação no real (FONSECA, 2002). As informações foram obtidas através da aplicação de questionários, sendo composto de perguntas fechadas, limitando a resposta do informante. De acordo com Gil (1999), o questionário é apresentado “como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos de questões, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.” Área de estudo

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A pesquisa foi realizada na Unidade Escolar Padre Raimundo José Vieira, localizada na cidade de Parnaíba-Piauí, na qual funciona o Ensino Fundamental nos turnos manhã e tarde, Ensino Fundamental (supletivo) no turno da noite. A pesquisa foi realizada nos dias 12 e 15 de abril de 2016, e tivemos como colaboradores os alunos do oitavo ano do Ensino Fundamental. Participaram da pesquisa 58 alunos, de duas turmas do turno da manhã. A escolha dessa escola foi aleatória, como também das turmas participantes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Aqui são apresentados os resultados da pesquisa e análise dos dados obtidos dos questionários aplicados com os alunos da Unidade Escolar Padre José Raimundo Vieira, lembrando que todas as questões são objetivas. Como podemos observar no gráfico 01, os alunos acertaram a maioria dos nomes dos animais, mas muitos deles confundiam alguns animais, como “boto cor de rosa e golfinho”, “lobo guará e raposa”, “capivara e porco espinho”, “tamanduá bandeira e raposa”, “tatu bola e jabuti”, “preguiça e macaco”, e “peixe-boi e leão-marinho”. Percebemos que alguns são espécies parecidas e outras bem diferentes. Os animais que todos os alunos acertaram foram citados por eles como “aparecem nos desenhos de animais”, e assim percebemos que a televisão tem grande influencia na parte visual. Os livros didáticos também têm seu papel fundamental, pois vêm expondo muitas espécies de animais. Bizerril et al. (2007), cita a importância na divulgação das imagens das espécies na formação das concepções dos alunos, assim como a força dos meios de comunicação em atribuir valores morais às espécies. Apesar do avanço da tecnologia no Brasil, o livro didático continua sendo uma das principais fontes de aprendizagem, tendo em vista que outras fontes de estudos como revistas científicas que disponibilizam conteúdos inovadores, auxiliando no conhecimento da diversidade biológica (ROSA; ROSA, 2012). Gráfico 01: Reconhecimento da espécie.

Fonte: VIEIRA, 2016.

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Quando questionados sobre a existência dessas espécies no Brasil, percebemos que a maioria marcou “sim”, sendo a espécie “panda” grande parte marcaram que não existia no Brasil, como podemos observar no gráfico 02. De acordo com Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio as únicas espécies que não Gráfico 02: Existência no Brasil. Fonte: VIEIRA, 2016. têm ocorrência no Brasil, são o panda, o leão e o canguru. No nosso país só existe leão em zoológicos, sendo que, de acordo com União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), essa espécie tem ocorrência mais na savana africana e está ameaçada de extinção devido à caça. O panda só existe na China e é uma espécie ameaçada de extinção. A população de pandas vem sofrendo um declínio nos últimos anos. E o canguru é nativo da Austrália. Esses animais aparecem como exemplo nos livros didáticos, assim os alunos logo reconheceram. É importante que os livros didáticos não contenham apenas linguagem textual, e sim elementos informativos que facilitem a atividade do professor, levando compreensão do tema ao aluno e subsidiando a aprendizagem (SOUZA et al., 2012), podendo assim conciliar as informações com as imagens presente no texto. Em relação ao questionamento que diz respeito ao fato de eles responderem se achavam esses animais perigosos, podemos observar no gráfico 03 que o único animal que eles marcaram como perigoso foi o leão, em segundo lugar o lobo-guará. As outras espécies foram consideradas pelos alunos como espécies não perigosas. Gráfico 03: Periculosidade. Fonte: VIEIRA, 2016

De acordo com IUCN, além do leão são consideradas “espécies perigosas” o panda e o canguru. Sabemos que qualquer espécie pode se tornar perigosa, pois quando os animais se sentem ameaçados podem atacar a outra espécie. Para Bizerril et al. (2007), o desconhecimento científico sobre a biodiversidade possibilita que outras fontes de informações, distintas da educação científica formal e o imaginário popular sejam ainda as principais fontes de conhecimento sobre espécies nativas. Sabemos que muitas informações sobre algumas espécies aprendemos com os mais velhos, principalmente em comunidades pequenas onde as informações passam de geração para geração. Essas informações ainda são de grande importância, aumentando assim a aprendizagem do aluno na escola, possibilitando uma conversação. Já quando indagados sobre o risco de extinção das espécies, as respostas foram bem equilibradas, como podemos observar no gráfico 04, de acordo com ICMBio (2016), as espécies boto-cor-de-rosa, lobo-guará, capivara, tamanduá-bandeira, tatu- bola, preguiça e peixe-boi estão 380


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na lista de animais em risco de extinção (lista vermelha). O que confirma também IUCN para a espécie de leão que está em extinção devido ao aumento da caça. Para se caracterizar a diversidade de espécies de um determinado local, a maneira mais simples é contar ou listar as espécies existentes (ANDREOLI et al., 2014). Como corrobora Bizerril et al. (2007) destaca a necessidade de conciliar os Gráfico 04: Risco de Extinção. Fonte: VIEIRA, 2016. conteúdos obrigatórios com os demais, abordando as variações locais, sendo necessário também aumentar o uso de exemplos nacionais, tendo assim uma visão ampla de espécies existentes e a importância de cada uma. A questão que perguntava sobre a existência das espécies no estado do Piauí, os alunos marcaram para a maioria das espécies que não existia no nosso estado, como podemos observar no gráfico 05. Percebemos então a falta de informação dos discentes. Já que nosso estado tem vários projetos de proteção de algumas espécies como, por exemplo, o “projeto pesca solidária” em que uma parte do projeto visa à proteção do peixe-boi-marinho de uma localidade do norte do Piauí. Outra espécie que ficou famosa na televisão foi o tatu-bola, pois foi escolhido como a mascote da Copa do Mundo de 2014. Assim, notamos a falta de informações sobre espécies mais próximas dos alunos, podendo o professor interligar os assuntos abordados nos livros didáticos com conteúdos locais através de pesquisas, palestras, visita nos projetos. Para Iglesias et al. (2015), os alunos do Ensino Fundamental têm aprendido o conhecimento das ciências naturais, pertinentes ao tratamento do tema conservação da biodiversidade de maneira fragmentada. Outro ponto que observado é que a única espécie que teve mais “sim” para existência no Piauí foi o tatubola que, de acordo com ICMBio Gráfico 05: Existência no Piauí. Fonte: VIEIRA, 2016. (2016), a espécie tem ocorrência no nosso estado. CONCLUSÃO Após análise dos resultados, observou-se que os alunos do oitavo ano do Ensino Fundamental sabem pouco sobre a grande diversidade de animais que existe no nosso país. Percebemos que muitos erram os nomes mesmo existindo no local onde moram, por meio de vários projetos de proteção para algumas espécies no Piauí. A escola é um espaço onde se pode trabalhar a temática biodiversidade em amplos conceitos, e de diferentes formas, interagindo 381


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não só os discentes como os docentes da escola. Observamos também que a televisão é a mídia onde mais os alunos veem os animais e os reconhecem pela sua imagem. Das imagens expostas na sala, sete animais existem no Brasil que são: boto-cor-de-rosa, lobo-guará, capivara, tamanduá-bandeira, tatu-bola, bicho-preguiça e peixe-boi, e somente três espécies que não existem no nosso país que são: canguru, leão e o urso panda. Notou-se que os discentes ficaram em dúvidas em relação à existência desses animais no nosso país. Sabemos que não só os mamíferos, mas os outros animais estão sofrendo ameaça de extinção, e o ponto forte para ajudar na conservação das espécies é conhecê-las, pois quanto mais informações tivermos mais podemos contribuir na preservação desses animais. A escola poderia trabalhar mais com projetos que envolvem espécies nacionais, focando nas espécies locais. Palestras também são positivas para contribuir com o aprendizado do aluno, ou até mesmo visitas em projetos da região. Sempre pensando em integrar os alunos com a diversidade do nosso país.

REFERÊNCIAS

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FLORA ARBÓREA - ETNOBOTÂNICA EM UMA COMUNIDADE RIBEIRINHA, RIO IGARAÇU, LITORAL PIAUIENSE, BRASIL Alessandra Souza dos Santos1 Maria Gracelia Paiva Nascimento2 Ângela Piauilino Campos3 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo etnobotânico sobre a flora arbórea usada pela comunidade Chafariz, Rio Igaraçu, no município de Parnaíba. A coleta de dados ocorreu nos meses de março e abril de 2016 com 20 entrevistados através de questionários semiestruturados. Também foi realizado o registro das árvores conhecidas e usadas, classificação das etnoespécies em categoria de uso e avaliação da distribuição do conhecimento etnobotânico entre os membros da comunidade. Foram mencionadas 28 etnoespécies arbóreas, pertencentes a 24 gêneros, distribuídas em 15 famílias botânicas. Quanto à riqueza de espécies, foram: Fabaceae com sete (25%), Anacardiaceae com cinco (18%) e Annonaceae com três (11%). Quanto ao número de citações por família, Anacardiaceae totalizou 38, seguida por Olacaceae, Fabaceae e Arecaceae (20, 16 e 9 citações, respectivamente). A flora arbórea é usada, sobretudo, para fins medicinais (43%) e alimentares (39%). Observou-se que a parte da planta mais usada pelos ribeirinhos foi o fruto (56%), seguida da casca com (15%). Portanto, conclui-se que a necessidade da realização de práticas de conscientização das populações ribeirinhas, bem como a integração de entidades competentes para haja o manejo integrado de ações visando à conservação das espécies vegetais arboríferas. Palavras-chave: Comunidade tradicional. Conhecimento popular. Árvores

1 INTRODUÇÃO O saber tradicional está ancorado na percepção empírica do homem do campo sobre a natureza, baseado na tríade que rege os princípios de inter-relação entre o homem e o meio em que está inserido (LITTLE, 2002). Enquanto para Diegues & Arruda (2001, p.31) o “conhecimento tradicional pode ser entendido como o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural, transmitido oralmente, de geração em geração e somente pode ser corretamente interpretado dentro do contexto cultural em que é gerado”, onde se insere os estudos voltados à Etnobiologia. A etnobotânica é um ramo da etnobiologia responsável por investigar a inter-relação do homem com os vegetais (AMOROZO, 2002), com o intuito de investigar e resgatar os saberes botânicos tradicionais ligados ao uso dos recursos florestais 1

Graduada em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Piauí. Autora correspondente: alessantos. bio@hotmail.com

2 Bióloga, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal do Piauí. 3 Doutora em Ciência Animal, Universidade Federal do Piauí. Professora do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação, Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual do Piauí.

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(PASA, 2011). Esta etnociência também colabora na análise do conhecimento empírico das populações sobre os métodos usados, enfatizando que este conhecimento acumulado não deve ser desprezado, agregando valor à ciência moderna (DIEGUES, 2000). A diversidade de conhecimentos e os usos das plantas podem ser afetados pela disponibilidade da biodiversidade que, por sua vez, resulta no aumento ou diminuição gradual da biodiversidade que é mantida ou extinta, conforme destacam Hanazaki et al. (2000). De acordo com Cardel et al. (2012), a diminuição da biodiversidade está relacionada à degradação dos recursos hídricos e do solo e, por sua vez, os conhecimentos e práticas tradicionais sobre os recursos naturais (fauna e a flora), se fragmentam e se dispersam. O uso dos recursos naturais, associado às exigências culturais e biológicas da sociedade humana, requer conhecimentos mais apurados sobre os diversos ecossistemas para promover resultados mais eficazes no manejo da flora (SOUZA, 2002). Sendo assim, é importante conhecer as espécies de um ecossistema, para desenvolver mecanismos, estabelecer estratégias de conservação e manejo da flora (FRAGA, 2000). Os estudos etnobotânicos fornecem informações sobre o uso das plantas, de modo que se pode traçar o perfil de uma comunidade conforme seus costumes e peculiaridades (MARTINS et al., 2005). O uso dos recursos naturais pelos povos tradicionais se deve ao conhecimento que detêm sobre a floresta (MARTÍNEZ et al., 2010), para suprir suas necessidades – alimento/ abrigo (RAMOS et al., 2010). Cortez (2010) afirma que as populações tradicionais podem ser importantes aliadas quando se trata da conservação dos recursos naturais. O grande potencial das árvores tem sido mostrado em diversos estudos sobre o uso dos recursos madeireiros (MEDEIROS, 2010). Vários estudos ressaltam a importância da preservação e do manejo adequado, além de tratar dos saberes e uso da flora arbórea por comunidades tradicionais ribeirinhas, além dos potenciais fitoterápicos: Pedroso et al. (2007); Reis; Bellini (2007); Chaves; Manfredi (2010); Oliveira et al. (2010); Silva; Franco (2010); Sousa et al. (2010); Souza M. et al. (2010); Souza, C. (2010); Duque-Brasil et al. (2011); Lima et al. (2011); Pasa et al. (2011); Aguiar, et al. (2012); Cardel et al. (2012); Meireles (2012); Trindade (2013); Lunelli (2014); Nascimento (2014); Vásquez et al. (2014); Gonçalves; Pasa (2015); Neto et al. (2015) e Silva et al. (2015). Dessa maneira, é importante entender os mecanismos envolvidos na conservação, diversidade e ecologia das espécies vegetais nos diversos ambientes (BAPTISTA-MARIA et al., 2009) e conhecer como os recursos madeireiros são empregados por estas populações, para garantir que os recursos florestais sejam usados de maneira sustentável (LIMA et al., 2011). O presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo etnobotânico sobre a flora arbórea usada pela comunidade Chafariz, Rio Igaraçu, no município de Parnaíba, Piauí. 2 MATERIAL E MÉTODOS Tipo de pesquisa Trata-se de uma pesquisa de cunho exploratório e quali-quantitativa. Para obtenção dos dados, os entrevistados foram questionados quanto: Obtenção dos conhecimentos etnobotânicos; Plantio de alguma árvore que se encontrava na mata; Se o corte da madeira usada era total ou parcial e Árvores que não se encontram na mata ou que precisam ir mais longe para obter os insumos. Também foi realizado o registro das árvores conhecidas e usadas pela comunidade Chafariz, classificação das etnoespécies em categoria de uso e avaliação da distribuição do conhecimento etnobotânico entre os membros da comunidade, para conhecer a relação da comunidade local com as espécies relatadas. 386


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Área de estudo O município de Parnaíba localiza-se na microrregião litorânea do Piauí, abrangendo uma área com cerca de 431 km2 (AGUIAR, 2004), onde está inserida a comunidade Chafariz, situada às margens do Rio Igaraçu e próximo ao Aeroporto Internacional de Parnaíba, nas coordenadas geográficas 2°53’12,4” latitude Sul e 41°43’53,4” longitude Oeste. De acordo com a classificação de Köppen o clima da região é tropical quente e úmido (AW’) com alto índice pluviométrico que varia de janeiro a junho (SOUSA; RODRIGUES NETA, 1996). Possui transições da vegetação de caatinga e cerrado caducifólio, floresta ciliar de carnaúba e caatinga de várzea, fase de caatinga hiperxerófila - cerrado e carrasco. Caracteriza-se por solos aluviais (álicos, distróficos e eutróficos, de textura indiscriminada) e arenosos (quartzosos, profundos, drenados, ausente em minerais primários, com baixa fertilidade) (AGUIAR, 2004). Coleta e análise dos dados A coleta dos dados foi realizada nos meses de março e abril de 2016. A comunidade é relativamente pequena, sendo visitadas todas as casas, no entanto, apenas 20 aceitaram participar da pesquisa. Após explicar o propósito da pesquisa, os moradores que aceitavam participar voluntariamente assinavam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e posteriormente dava-se início à coleta dos dados. Na pesquisa os dados obtidos foram tabulados quali-quantitativamente (ALBUQUERQUE et al. 2008) utilizando o software Excel®, por meio de entrevistas semiestruturadas e identificação taxonômica das espécies (COMBESSIE, 2004; ALBUQUERQUE; LUCENA, 2004). A identificação das plantas citadas pelos entrevistados baseou-se em trabalhos locais já realizados, através de pesquisas bibliográficas e trabalhos especializados (LORENZI et al., 2006; LORENZI; MATOS, 2008; SOUSA et al., 2010; MEIRELES, 2012; NASCIMENTO, 2014) e acesso ao site da flora do Brasil 2016 (http://floradobrasil.jbrj.gov.br). A classificação, a verificação da nomenclatura e a análise da origem das espécies nativas e exóticas foram realizadas conforme o Angiosperm Phylogeny Group III (APG III, 2009), a base de dados do The International Plant Names Index (IPNI, 2015) e na lista de plantas nativas do continente Americano (PRANCE; NESBITT, 2005), respectivamente. As plantas medicinais usadas na comunidade foram categorizadas conforme as indicações fitoterápicas proposta pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2007) para Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO Breve histórico da comunidade Chafariz Dados obtidos com uma das moradoras mais antigas da comunidade (nascida e residente no local – M.R.O., comunicação pessoal) mostram que alguns residentes vieram de outros locais, nascendo assim uma vila de pescadores e somente depois de vários anos surgiu a Fazenda Testa Branca, tornando-se propriedade privada e onde está inserida a área de estudo. O direito de morar no local só foi conseguido através do processo de aforamento. Dados dos entrevistados Foram entrevistados 20 moradores ribeirinhos da comunidade Chafariz, sendo 18 do sexo feminino e 2 do sexo masculino, com faixa etária variando entre 18 a 81 anos (Tabela 387


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1). Quanto à escolaridade 50% dos entrevistados, não concluiu o ensino fundamental e 20% possuem o ensino médio completo. A figura materna é a principal fonte de compartilhamento dos saberes acerca dos recursos vegetais, sendo mencionada por 58% dos entrevistados (SOUSA et al., 2010; NASCIMENTO, 2014). Tabela 1. Dados sociodemográficos da Comunidade Chafariz, Parnaíba, Piauí. Brasil. 2016. Características Sexo Faixa etária

Escolaridade

Obtenção do conhecimento sobre as plantas

Categorias Feminino Masculino 18 – 30 anos 31 – 40 anos 41 – 50 anos 51 – 60 anos 61 – 70 anos < 70 anos Não escolarizado Ensino fundamental completo Ensino fundamental incompleto Ensino médio completo Ensino médio (cursando) Ensino médio incompleto Com a avó parteira/pai Com morador mais idoso Com mãe Com a mãe e conhecidos Com conhecidos

FA 18 2 5 7 2 1 3 2 2 2 10 4 1 1 1 1 11 4 1

FR (%) 90% 10% 25% 35% 10% 5% 15% 10% 10% 10% 50% 20% 5% 5% 5% 5% 58% 21% 5%

Legenda: FA: Frequência Absoluta; FR: Frequência Relativa. Fonte: Autores.

Conhecimento etnobotânico e florística A distribuição do conhecimento etnobotânico por faixa etária foi baseada e adaptada na classificação usada por Sousa (2010), adultos (de 30 a 59 anos), jovens (de 15 a 29 anos) e idosos (a partir dos 60 anos). Os adultos citaram mais árvores que idosos e jovens, sendo citadas 54 (50%), 31 (29%) e 23 (21%), respectivamente. A amplitude de saberes dos adultos está relacionada à maior proximidade com os insumos florestais no entorno e à menor regularidade de acesso à unidade básica de saúde. Já os jovens, fazem menos uso ainda, porém, detêm um significativo saber sobre a flora, vivenciam outra realidade, buscando a informação e aos estudos (SOUSA, et al., 2010), demonstrando que a perda do saber tradicional está intimamente ligada aos avanços tecnológicos e facilidades capitalistas. Foram registradas 28 etnoespécies arbóreas, pertencentes a 24 gêneros, distribuídas em 15 famílias botânicas. Dentre as famílias mais representativas quanto à riqueza de espécies, tem-se: Fabaceae com sete (25%), Anacardiaceae com cinco (18%) e Annonaceae com três (11%). Quanto ao número de citações por família, Anacardiaceae totalizou 38, seguida por Fabaceae, Olacaceae e Arecaceae (20, 16 e 9, respectivamente), conforme Figura 1. 388


Educação, saúde e meio ambiente

Figura 1. Famílias botânicas, classificadas quanto à riqueza de espécies e citações na comunidade ribeirinha Chafariz, município de Parnaíba, Piauí.

Da flora utilizada pelos entrevistados, 18 espécies (64%) são consideradas nativas do Brasil e 10 são exóticas (36%), conforme demonstrado na Tabela 2. Dentre as espécies endêmicas encontradas, destacam-se a cajá-imbu (Spondias venulosa), o juazeiro (Ziziphus joazeiro), o jucá (Libidibia ferrea) e o puçá (Mouriri pusa) (FLORA DO BRASIL, 2016). Foram amostradas seis espécies arbóreas nativas cultivadas nos quintais: caju (Anacardium occidentale L.); cajá-imbu (Spondias venulosa (Engl.) Engl.); araticum (Annona coriaceae Mart.); graviola (Annona muricata L.); juá (Ziziphus joazeiro Mart.) e imburana-decheiro (Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm). O uso de espécies de árvores nativas também foi mais expressivo nos trabalhos de Pasa (2004), Oliveira et al. (2010), Sousa et al. (2010), Lunelli (2014) e Silva et al. (2015). Em um estudo com árvores medicinais Duque-Brasil et al. (2011) concluiu que as comunidades tradicionais também podem atuar na conservação da biodiversidade, sendo os quintais, um ambiente propício para refugiar as espécies nativas, endêmicas e/ou ameaçadas de extinção. No entanto, a introdução de espécies exóticas implica na diversificação de espécies e potenciais usos, e não necessariamente significa a perda de conhecimento e aculturação (ALENCAR et al., 2010). Tabela 2. Plantas arbóreas citadas pelos moradores da comunidade ribeirinha do Chafariz, Parnaíba/PI. Legenda: (NP - Nome popular, OR - Origem, N - Nativa, E - Exótica, NC - Número de citações, PU - Parte usada, Uso: A - Alimentação, M - Medicinal). Família/Espécie Anacardiaceae Anacardium occidentale L. Mangifera indica L. Myracrodruon urundeuva Fr. All. Spondias purpurea L. Spondias venulosa (Engl.) Engl. Annonaceae Annona coriacea Mart. Annona muricata L.

NP

OR

NC

PU

Uso

Caju Manga Aroeira Ciriguela Cajá-imbu

N E N E N

15 5 12 4 2

fruto, casca fruto casca fruto fruto

A, M A M A A

Araticum Graviola

N N

2 1

fruto fruto

A A 389


Educação, saúde e meio ambiente

Annona squamosa L. Apocynaceae Plumeria drastica (Mart.) Plumel Arecaceae Cocos nucifera L. Burseraceae Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B. Gillett Combretaceae Terminalia catappa L. Fabaceae Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm. Caesalpinia pyramidalis Tul. Hymenaea courbaril L. Hymenaea stigonocatpa Mart. ex Hayne Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz Tamarindus indica L. Vachellia farnesiana (L.) Wight and Arn. Melastomataceae Mouriri pusa Gardner Myrtaceae Syzygium cumini (L.) Skeels Nyctaginaceae Mirabilis jalapa L. Olacaceae Ximenia americana L. Rhamnaceae Ziziphus joazeiro Mart. Rubiaceae Morinda citrifolia L. Tocoyena formosa (cham. & schlecht.) Schum. Rutaceae Citrus limon (L.) Burm. Sapindaceae Talisia esculenta (Cambess.) Radlk.

Ata

E

2

fruto

A

Janaguba

N

3

casca, látex

M

Coco

E

9

fruto

A

Imburana-de-espinho

N

1

casca

M

Almenda

E

1

fruto

A

Imburana-de-cheiro Catingueira Jatobá Jatobá-de-porco Jucá Tamarindo Coronha

N N N N N E N

3 3 6 3 3 1 1

casca flor fruto, casca fruto fruto, casca fruto folha

M M A, M A, M M A M

Puçá

N

2

fruto

M

Azeitona

E

1

fruto

A

Jalapa

E

1

folha

M

Ameixa

N

16

casca

M

Juá

N

4

folha, casca

M

Nôni Genipapinho

E N

4 1

fruto látex

A, M M

Limão

E

1

fruto

A, M

Pitomba

N

1

fruto

A

As plantas relatadas duas categorias de uso predominaram: medicinais, incluindo 12 etnoespécies (43%) e 11 alimentícias (39%), outras categorias (inclui as duas anteriores, 18%). Das medicinais, a ameixa (Ximenia americana L.) e a aroeira (Myracrodruon urundeuva Fr. All.) foram as mais citadas (16 e 13 citações cada) e como fonte de alimento, o coco (Cocos nucifera L.) e a manga (Mangifera indica L.), 9 e 5 cada. Segundo Roque (2009), Cardel et al. (2012), Trindade (2013), espécies como Myracrodruon urundeuva, Amburana cearensis e Ximenia americana também são usadas com frequência por populações tradicionais na cura e tratamento de doenças. A ameixa e a manga também foram as mais citadas por pescadores na Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba, conforme analisado por Nascimento (2014). Observouse que a parte da planta mais usada pelos ribeirinhos foi o fruto (56%), em segundo lugar a casca (15%), o fruto e a casca (11%) e a categoria outros com aproximadamente (20%) incluindo a casca e o látex, a folha, a folha e a casca, a flor e o látex. Os dados obtidos nesta 390


Educação, saúde e meio ambiente

pesquisa corroboram com Oliveira et al. (2010) que destaca a atribuição de diversas finalidades fitoterápicas para as plantas usadas no tratamento ou cura de enfermidades (Tabela 3). Tabela 3. Atribuições fitoterápicas das espécies arbóreas por categorias de doenças segundo WHO (2016) citadas em 20 entrevistas na Comunidade Chafariz, Parnaíba/PI. Total de citações (n=79). (Adaptada pelas autoras) Categorias

Indicações terapêuticas

Espécies

Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas

Diabetes

Morinda citrifolia

Doenças do sistema circulatório

Afinar sangue

Myracrodruon urundeuva

Doenças do sistema digestório

Dor de estômago, dor Mouriri pusa, Myracrodruon urundeuva, de barriga, diarreia, Plumeria drastica gastrite

Doenças do sistema geniturinário

Regular a menstruação

Doenças do sistema respiratório

Gripe, resfriado

Doenças da pele e tecido subcutâneo

Corte, ferimento, cicatrizante

Myracrodruon urundeuva Caesalpinia pyramidalis, Citrus limon, Hymenaea courbaril, Hymenaea stigonocatpa, Morinda citrifolia, Mouriri pusa, Ziziphus joazeiro Amburana cearenses, Anacardium occidentale, Libidibia ferrea, Tocoyena formosa, Vachellia farnesiana, Ximenia americana, Ziziphus joazeiro

Verificou-se que para obtenção da casca (uso medicinal) houve unanimidade, ao afirmarem que cortam somente o necessário para consumo. Além disso, muitos expuseram ainda, que o uso de madeiras como fonte de combustível (lenha) já não se faz necessário devido à praticidade que se tem hoje em dia e que as casas são construídas em alvenaria. Atualmente algumas variedades arbóreas tipicamente nativas são difíceis de serem encontradas no entorno da comunidade ou requer que se percorra longas distâncias para encontra-las, como: ameixa (Ximenia americana); aroeira (Myracrodruon urundeuva); coronha (Vachellia farnesiana); genipapinho (Tocoyena formosa); imburana-de-cheiro (Amburana cearensis); janaguba (Plumeria drastica) e jatobá-de-porco (Hymenaea courbaril), sendo que as duas primeiras também já foram mensionadas no trabalho de Neto et al. (2015) realizado na cidade Campo Maior. Entretanto, ainda que a comunidade estudada faça uso das árvores como fornecedoras de insumos alimentares e medicinais em pequena escala, é fundamental priorizar a conservação destas espécies, tendo em vista o seu valor de uso e papel ecológico na natureza (RIBEIRO et al., 2013). As comunidades tradicionais que vivem próximas às margens dos rios detêm de um vasto conhecimento etnobotânico e experiências empíricas que foram adquiridos ao longo de várias décadas de contato com a natureza (GONÇALVES; PASA, 2015). Porém, estes saberes estão comprometidos, sendo necessário conscientizar todos os envolvidos no uso da flora, incluindo as populações de áreas próximas que também utilizam os recursos existentes no entorno da área de estudo de maneira exacerbada e exploratória. 391


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Em um estudo sobre a flora da região litorânea do Piauí, Andrade et al. (2012) evidenciaram a necessidade da realização de práticas de conscientização e educação ambiental das populações ribeirinhas. No entanto, devem-se incluir também as comunidades próximas, bem como integrar entidades competentes para haja o manejo integrado de ações locais atentando para a conservação das espécies vegetais arbóreas que compõem a flora nativa. A diminuição e a escassez gradativa dos recursos vegetais e áreas naturais utilizados pelas comunidades ribeirinhas tem sido constantemente evidenciada pelo desmatamento das planícies fluviais (GOULDING et al., 1996; REIS; BELLINI, 2007). Desta forma, é necessário tomar medidas envolvendo a coleta e manuseio das espécies com vulnerabilidade local mencionadas neste estudo, de modo que suas populações não sejam totalmente afetadas (RIBEIRO et al., 2013). Nitidamente, o atual modelo de desenvolvimento e urbanização insustentável juntamente com a falta de planejamento também tem ocasionado diversas mudanças no cotidiano das populações ribeirinhas, provocando a perda e/ou diminuição do saber local envolvendo o uso dos recursos vegetais (ROQUE, 2009; VÁSQUEZ et al., 2014). Ainda conforme Roque (2009), é com base nos resultados de estudos etnobotânicos acerca do saber tradicional que se podem traçar planos para recuperação e conservação de áreas devastadas, com propostas de práticas de manejo da vegetação, de modo que, estes recursos também possam ser usufruídos pelas futuras gerações. 4 CONCLUSÃO Verificou-se que o uso de espécies arbóreas pela comunidade ribeirinha é composto principalmente por espécies nativas, incluindo-se as endêmicas e exóticas, em menor número e que a relação da mesma com as plantas se deve ao uso medicinal e alimentício. Atualmente, espécies nativas com menor abundância como: ameixa (Ximenia americana); aroeira (Myracrodruon urundeuva); coronha (Vachellia farnesiana); genipapinho (Tocoyena formosa); imburana-de-cheiro (Amburana cearenses); janaguba (Plumeria drástica) e jatobá-de-porco (Hymenaea courbaril) relatadas pela comunidade evidenciam a necessidade de conservação e do manejo adequado na localidade. A influência das novas tecnologias e o desenvolvimento tem mudado perceptivelmente a maneira como as populações veem e fazem uso dos recursos florestais, de modo que os saberes antes repassados aos mais jovens já não ocorre com tanta frequência afetando a sabedoria sobre o uso da flora. Dessa forma, o presente trabalho fornece subsídio para proteção da flora arbórea nativa, servindo como literatura acerca dos costumes tradicionais e de fomento para promover ações públicas locais de conservação dos recursos naturais. REFERÊNCIAS A.P.G. Angiosperm Phylogeny Group III. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG III. Botanical Journal of the Linnean Society, v, n. 161, p. 105-121, aug. 2009. AGUIAR, M.D.; SILVA, A.C.; HIGUCHI, P.; NEGRINI, M.; NETO, J.F. Potencial de uso de espécies arbóreas de uma floresta secundária em Lages, Santa Catarina. Revista de Ciências Agroveterinárias. Lages, v. 11, n. 3, p. 238-247, out. 2012. AGUIAR, R.B. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, 392


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DIAGNÓSTICO DA FAUNA SILVESTRE DEPOSITADA NO CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRES, IBAMA- PI – UMA ANÁLISE DO TRÁFICO DE ANIMAIS SILVESTRES NO ESTADO EGLÉSIA RODRIGUES LEITE1 DIEGO FERNANDES DOS SANTOS SILVA2 TERESA MARIA ALCÂNTARA NEVES3 SIMONE MOUSINHOFREIRE 4 HERMESON CASSIANO DE OLIVEIRA5 RESUMO A fauna brasileira apresenta uma grande quantidade de espécies e representa cerca de 10% de todas as espécies animais existentes no mundo.No presente trabalho são apresentados os dados referentes ao inventariamento qualitativo e quantitativo das espécies depositadas no CETAS, do IBAMA-PI, provenientes de buscas, apreensões, entregas voluntárias e resgates. Durante esse período foram depositadas 2.339 animais, sendo que 2.022(87%), formam a classe das aves, 173(7%) espéciesda classe de répteis e 144(6%) da classe dos mamíferos. Entre os três grupos faunísticos, a classe das aves obteve maiores percentuais no CETAS, apresentando 87% dos resultados ente os anos de 2012 a 2015. A espécie de aves de maior ocorrência foi a Sporophilalineola(bigode,) seguida de Sicalisflaveola (canário-da-terra), Paroaria dominicana (galo da campina), Amazona aestiva(papagaio-verdadeiro) e Cacicus cela (xexéu). Em relação aos répteis, o de maior acolhimento foram o Chelonoidiscarbonaria(jabuti), seguido porBoa constrictor(jiboia), Phrynopsgeoffroanus(cágado-de-barbicha), Iguana iguana(iguana) e Bothrops jararaca (jararaca). Dentre os mamíferos, as espécies mais citadas foram as seguintes:Callithrixjacchus(soim), seguido pela Dasyproctaprymnolopha (cutia), Cebusapella(macaco-prego), Mazama americana (veado) e Dazypusnovemcinctus (tatu- verdadeiro). Ainda existe no estado do Piauí, uma intensa cultura de criação de animais silvestres domiciliados, necessitando de maiores fiscalização pelos órgãos competentes para assim, diminuir os danos ao meio ambiente causado pelo tráfico e consumo exacerbado desses animais. Palavras-Chave: Fauna silvestre. Tráfico. CETAS INTRODUÇÃO A fauna consiste no conjunto de espécies animais de um determinado país ou região, tanto selvagens como domesticados. A fauna silvestre não quer dizer exclusivamente aquela a ser encontrada na selva, mas é a vida em liberdade, fora do cativeiro, e mesmo que em uma 1 2

Bióloga graduada pela Universidade Estadual do Piauí- UESPI e-mail: eglesia_rodrigues@hotmail.com Químico graduado pela Universidade Federal do Piauí- UFPI 3 Coordenadora do Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação-UESPI 4 Doutora em Ciência Animal. Chefe do Lboratório de zoologia e Biologia parasitária da UESPI (ZOOBP) 5 Orientador. Professor Doutor do Curso de Biologia da Universidade Estadual do Piauí, Campus Heróis do Jenipapo. 397


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espécie já haja indivíduos domesticados, nem por isso os outros dessa espécie, que não o sejam, perderão o caráter de silvestre (MACHADO, 1998; LIMA,2007) O conceito de animal silvestre não engloba o de animal nativo, apesar da semelhança entre os termos, esse mais usado pelos criadores, e que refere-se aos animais que nasceram em ambiente doméstico, que apesar de terem sua origem na fauna silvestre, não tiveram nenhum estágio de suas vidas fora do cativeiro e nem apresentam função ecológica no ecossistema, estando adaptados a conviver com o homem. Já o conceito de animal silvestre, legalmente definido pela Lei de Proteção à Fauna (Lei nº 5.197/67), define animal silvestre como sendo aquele que vive naturalmente fora do cativeiro, ou que tenha vivido algum estágio de sua vida nessa condição. (BUBIAK,2008) A fauna brasileira apresenta uma grande quantidade de espécies e representa cerca de 10% de todas as espécies animais existentes no mundo. Contudo, vem sendo explorada de modo desordenado e predatório desde os tempos coloniais (SANTOS; CÂMARA, 2002, PREUSS&SCHAEDLER, 2011). A fauna silvestre sempre foi considerada um elemento de grande valor cultural no Brasil, fato este que tem sua origem nas tribos indígenas brasileiras, e que através das atividades de pesca, caça e coleta para o consumo alimentar, baseando-se em peixes, animais silvestres, coleta de mel, raízes, larvas, frutos silvestres etc (JÚNIOR, 1980; PADRONE,2004). A perda da biodiversidade, devido a atividades humanas tem alcançado taxas elevadas. Pode se observar essa perda com o aumento da extinção de espécies (IUCN, 2010; DIAS JÚNIOR, 2010). A fauna silvestre brasileira, que era até então utilizada como forma de alimentação de subsistência para os indígenas, passou a ser explorada sem nenhum critério, com objetivo principal o lucro comercial (PADRONE,2004). O comércio da fauna silvestre interfere na existência e função de várias espécies e inclui centenas de espécimes e espécies de animais, para diversos fins que vão desde a obtenção doméstica de animais, até a um vasto número de produtos derivados, como couro e regalias, alimentação e produtos medicinais (LIMA, 2007; PREUSS& SCHAEDLER, 2011). O trabalho tem por objetivo analisar o tráfico de animais silvestres no estado do Piauí, diagnosticando o grupo e as espécies de maior ocorrência no CETAS nos últimos quatro anos. MATERIAL E MÉTODOS Tipo de pesquisa A pesquisa será realizada a partir da análise quantitativa dos registros documentais de entrada de animais silvestres, apreendidas, recolhidas pelos Órgãos de Fiscalização, Policia Ambiental ou entregues voluntariamente pela população em todo o estado, na unidade do Centro de Triagem de Animais Silvestres, CETAS, situada na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Ibama, em Teresina-PI, no período de janeiro de 2009 a janeiro de 2015. Os espécimes de aves foram identificados de acordo com o Comitê ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer, Goiânia, v.8, n.15; p. 1 7 5 0 2012 Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO, 2010), os de mamíferos segundo o (CATALOGUE OF LIFE, 2012) e os de répteis a partir da Lista Brasileira de Répteis (BÉRNILS & COSTA, 2011).

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Área de estudo A presente pesquisa foi desenvolvida no CETAS-PI, localizado na cidade de Teresina-PI, o qual é responsáveis pelo manejo dos animais silvestres que são recebidos de ação fiscalizatória, resgate ou entrega voluntária de particulares. Os CETAS possuem a finalidade de receber, identificar, marcar, triar, avaliar, recuperar, reabilitar e destinar esses animais silvestres, além de realizar e subsidiar pesquisas científicas, ensino e extensão. A solicitação de pesquisa deverá ser formalizada na Superintendência do IBAMA. É o único no estado, e recebe animais, principalmente, a partir de ações de seu setor de fiscalização e do Batalhão de Policiamento Ambiental. Cada espécime, ao ser depositado ou entregue voluntariamente no CETAS, é identificado e registrado. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados coletados a partir dos registros de entradas, entre os anos de 2012 a 2015, totalizou em 2.339 animais depositados no CETAS IBAMA-PI, sendo que 2022 formam a classe das aves, 173 espécies da classe de répteis e 144da classe dos mamíferos. Entre os três grupos faunísticos, a classe das aves obteve maiores percentuais no CETAS, apresentando 87% dos resultados ente os anos de 2012 a 2015. Gráfico 1. O resultado da análise qualitativa demonstrou que, assim como nos estudos de Preuss (2011) & Renctas (2001) em âmbito nacional, a maior parte da classe do grupo de fauna apreendida é composta por aves, o que demonstra a preferência local por aves. Assim como Moura (2012) já havia demonstrando no ano de 2011. A queda do número de aves, répteis mamíferos comparando os anos de 2012 a 2015, pode ser explicado pela publicação da lei com- Gráfico 1- Tabela de distribuição dos plementar 140/2011, que descentraliza a repon- grupos silvestres faunísticos entre os anos sabilidade do IBAMA para outros órgãos com- de 2012 a 2015. Fonte: IBAMA-PI petentes, (BRASIL,2011) como por exemplo o Batalhão de polícia ambiental do estado, como a captura, resgate, apreensões e doações de animais silvestres no estado do Piauí. Portanto o registro de animais desde 2012, não estará apenas vinculado ao Ibama, mas como também aos demais órgãos. A espécie de aves de maior ocorrência foi a Sporophilalineola(bigode,) seguida de Sicalisflaveola (canário-da-terra), Paroaria dominicana (galo da campina), Amazona aestiva(papagaio-verdadeiro) e Cacicus cela (xexéu). Tabela 1

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TABELA 1. Relação das principais espécies de aves com nome popular, cientifico e número de indivíduos recebidos pelo CETAS IBAMA-PI no ano de 2012 a 2015. ______________________________________________________________________

Espécie

Nome popular

2012 2013

2014 2015

______________________________________________________________________ Sporophilalineola Sicalisflaveola

bigode

canário de Terra

36

304

10

16

3

149

19

50

Paroaria dominicana

galo da campina

87

3

18

56

Amazona aestiva

papagaio-verdadeiro

57

21

8

17

Cacicus cela

xexéu

46

1

4

5

1

-

-

Scaphiduraoryzivora chico preto

42

Turdusrufiventris

sabiá laranjeira

33

1

4

15

Sporophilanigricollis

papa capim

31

-

5

7

6

8

2

13

10

6

Aratingaaurea

periquito estrela

Columbina squammata

19

rolinha fogo apagou

3

______________________________________________________________________ Fonte: IBAMA-PI

De acordo com Lustosa (2002) &Rodrigues (2007) as espécies mais capturadas no Estado do Piauí, e que representam maiores possibilidades de lucro aos traficantes são as diversas espécies de pássaros (curiós, bigodes, galos-de-campina, marrecas e corrupiões), além dos psitacídeos (araras, papagaios, jandaias e periquitos) que ocorrem em praticamente todos os ecossistemas do Estado (cerrado, floresta semi-decídua, áreas de transição e caatinga). O valor expressivo de canários no ano de 2014, se deu por uma única apreensão realizada pelo IBAMA em feiras e comércio ilegais. Segundo Rodrigues (2007), as espécies mais comercializadas no Piauí são o galo-de-campina (Paroaria dominicana), curica (Pionopsittasp.), sabiá (Turdussp.), casaca (Sericossyphalaricata). Em relação aos répteis, o de maior acolhimento foram o Chelonoidiscarbonaria(jabuti), seguido pela Boa constrictor(jiboia), Phrynopsgeoffroanus(cágado-de-barbicha), Iguana iguana(iguana) e Bothrops jararaca (jararaca), demonstrado na Tabela 2

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TABELA 2. Relação das principais espécies de repteis com nome popular, cientifico e número de indivíduos recebidos pelo CETAS do IBAMA-PI no ano de 2012 a 2015. ______________________________________________________________________

Espécie

Nome popular

2012 2013

2014 2015

______________________________________________________________________ Chelonoidiscarbonaria

jabuti

71

14

10

23

Boa constrictor

jiboia

18

3

-

2

Phrynopsgeoffroanus cágado-de-barbicha

8

5

3

2

Iguana iguana

4

-

2

-

2

-

1

-

-

1

iguana

Bothrops jararaca

jararaca

Micruruslemniscatus cobra coral

2

-

Crotalusdurissus cascavel 1 - - Eunectesmurinus

sucuri - 1 - -

______________________________________________________________________ FONTE: IBAMA-PI

A situação do tráfico de répteis se torna ainda mais preocupante, pois jabutis, serpentes e lagartos têm se tornado muito populares entre criadores que buscam atributos relacionados à beleza e a menor necessidade de atenção quanto à alimentação, espaço e frequência de limpeza, o que gera um risco de entrada de variados patógenos nas residências, especialmente de enterobácterias.(SHIAU et al, 2006 e MOURA, 2012).Os répteis podem transmitir principalmente micobacterioses atípicas e salmoneloses (FOWLER & MILLER, 1999; MOURA,2012). No Brasil, essa espécie de jabuti é a mais comercializada ilegalmente graças a atributos como beleza, mansidão, adaptabilidade e fácil reprodução em cativeiro, além da forma de transporte (empilhados em densidades elevadas), (LOPES, 1991), além de, serem bastantes procurados para a criação doméstica devido à crença de que esses podem promover a cura de doença respiratória (PIMENTEL & SANTOS, 2009). O grande número de registro de jibóias se deve ao fato destes animais ocorrerem naturalmente em áreas urbanas de cidades piauienses, demandando recolhimento e translocação. Além disso, há os casos em que esses animais são mantidos ilegalmente em cativeiro doméstico, como animais de estimação e, às vezes, são apreendidos. Dentre os mamíferos, as espécies mais citadas foram as seguintes:Callithrixjacchus(soim)é predominante, seguido pela Dasyproctaprymnolopha (cutia), Cebusapella (macaco-prego), Mazama americana (veado) e Dazypusnovemcinctus (tatu- verdadeiro), é o que mostra a Tabela 3

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TABELA 3.Relação das principais espécies de reptéis com nome popular, cientifico e número de indivíduos recebidos pelo CETAS do IBAMA-PI no ano de 2012 a 2015. ______________________________________________________________________ Espécie

Nome popular

2012 2013

2014 2015

______________________________________________________________________ Callithrixjacchus

soim

15

9

3

5

Dasyproctaprymnolopha

cutia

22

-

-

7

Cebusapella

macaco-prego

5

6

1

1

Mazama americana

veado

8

-

2

2

1

Dazypusnovemcinctus tatu- verdadeiro

9

2

-

-

Tamanduatetradactyla tamaduá mirim

6

-

1

2

5

-

1

Bradypusvariegatus

preguiça

Euphractussexcinctus tatu-peba

3

-

2

2

Cuniculus paca

3

-

2

-

1

-

1

1

paca

Pseudalopexvetulus

raposa do mato

______________________________________________________________________ FONTE: IBAMA-PI

Os resultados corroboram com Franco (2012), sobre um levantamento em Minas gerais o onde o número significativo de saguis ocorreu, possivelmente, por ser uma das espécies de maior preferência pela população local como animal de estimação, devido ao seu pequeno porte e à facilidade de ser encontrado na mata ou peridomicílio, assim como fazerem parte das principais espécies usadas para pesquisas biomédicas (RENCTAS, 2001). A cutia, tatu e veado são exemplos animais muito utilizados para o consumo na região, sendo muito apreciados como alimento, sendo facilmente capturados, com a utilização de cães especialmente treinados para a caça. CONCLUSÃO De acordo com os resultados, nota-se que as atividades de fiscalização e reabilitação de fauna no Piauí precisam urgentemente ser normatizada, baseada em conceitos conservacionistas, pois a cultura de criação de animais silvestres é bastante expressiva no estado, para variados fins, onde é necessário a conscientização sobre a proteção ambiental, através de palestras, cursos, panfletagens, dentre outros, sendo de responsabilidade política, social e cultural. Para a análise aprofundada do tráfico, seu comércio ilegal, e das espécies de maior preferência no estado do Piauí, é necessário somar os dados do CETAS-IBAMA aos demais órgãos competentes no estado.

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REFERÊNCIAS 1. BÉRNILS, R. S.; COSTA, H. C. (Org.). Brazilian reptiles – List of species, 2011. Disponível em:<http://www.sbherpetologia.org.br/>. Sociedade Brasileira de Herpetologia. Acesso em: 3 de maio de 2016. 2.BIASI, B. N. P. ; JESUZ, C. R. ; SOUZA, M. P. ; SILVA, W. M. S. ; LIMA, Y. E. S. . Fauna Sinantrópica no Bairro Santa Cruz em Cuiabá. VI Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental Porto Alegre/RS, 2015. 3.BUBIAK, F. R. R. A Criação de Animais da Fauna Silvestre: Polêmicas. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia Ambiental) - União Dinâmica de Faculdades Cataratas. Foz do Iguaçu, 2008. 4. BRASIL. Lei complementar n° 140, 8 dezembro de 2011. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 22 de Julho. 2008. Disponivel em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp140.htm Acesso em: 10 de maio de 2016. 5.CBRO – COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROS ORNITOLÓGICOS. Lista das Aves Brasileiras. 9. ed. nov. 2010, 36 p. Disponível em: <http://www.cbro.org.br/CBRO/listabr.htm>. Acesso em: 4 de maio de 2016. 6.DIAS-JÚNIOR, M. B. F. Fauna Silvestre ex situ no Estado do Amapá: utilização, apreensão e destinação. 2010. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do. Amapá/ UNIFAP, Macapá, 2010. 7. FOWLER, M. E; MILLER, R. E. Zoo and wild animal medicine: current therapy. Philadelphia: W. B. SaundersCompany. 4. ed. p. 151-156. 1999. 8.FRANCO, M. R.; CÂMARA, F. M.; ROCHA, D. C. C.; SOUZA, R. M.; OLIVEIRA, N. J. F. Animais silvestre apreendidos no período de 2002 a 2007 na macrorregião de Montes Claros, Minas Gerais. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v.8, N.14; p. 1007, 2012 9. JÚNIOR, M.D. Etnias e Culturas no Brasil. Biblioteca do Exército, Rio de Janeiro, 1980. 10.LIMA, G.G.B.Conservação da fauna e da flora silvestres no Brasil: a questão do tráfico ilegal de plantas e animais silvestres e o desenvolvimento sustentável. Rev. Jurídica, Brasília, DF, v. 9, n. 86, p.134-150, ago./set., 2007. 11. LOPES, P. R. D. Comércio de animais silvestres. Biokos. v. 5, n.1, p. 49-56, 1991. 12. LUSTOSA, A. H. O tráfico de animais silvestres no Piauí. Teresina: NEA/IBAMA, 2002. 13. MACHADO, P. A. L. Direito ambiental brasileiro. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 645-646. 14.MOURA, S. G. de. Animais Silvestres Recebidos pelo Centro de Triagem do IBAMA no Piauí no ano de 2011. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v.8, N.15, p. 1752, 2012. 15.PADRONE, J. M. B. 2004. O comércio ilegal de animais silvestres: avaliação da questão ambiental no estado do Rio de Janeiro. 114 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) – Instituto de Biociências. Universidade Federal Fluminense, Niterói. 2004. 16. PIMENTEL, P. C. B; SANTOS, J. M.; Diagnóstico do tráfico de animais silvestres no 403


Educação, saúde e meio ambiente

estado da bahia: identificação, quantificação e caracterização das espécies-alvo. Diálogos & Ciências - Revista da Rede de Ensino FTC. Ano III, n. 8, março de 2009. 17. PREUSS, F. J.; SCHAEDLER, P. F. Diagnóstico da fauna silvestre apreendida e resgatada pela polícia militar ambiental de São Miguel do Oeste, Santa Catarina, Brasil. Unoesc & Ciência – ACBS, Joaçaba, v. 2, n. 2, p. 141-150, jul./dez, 2011. 18.RENCTAS. 1° Relatório nacional sobre o tráfico de fauna silvestre. Brasília: Rede Nacional Contra o Tráfico Silvestre, 2001. 19.RODRIGUES, A. M. D., CARVALHO, A. S. DE, BRITO, J. S.; Análise do comércio de animais silvestres em Teresina –PI. João Pessoa: II GONNEPI, 2007. 20. SANTOS, T. C. C.; CÂMARA, J. B. D. Geo Brasil 2002: perspectivas do meio ambiente no Brasil. Brasília, DF: IBAMA, 2002.

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INFLUÊNCIA DA BIODIVERSIDADE E DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS MUNICIPAIS DA CIDADE DE CAMPO MAIOR/PI.

ELIANA MACÊDO COSTA1 HERMESON CASSIANO DE OLIVEIRA2 RESUMO O estudo realizado sobre a educação ambiental nas escolas públicas municipais da cidade de Campo Maior-PI partiu do seguinte problema: Que tipo de orientações ou ações pedagógicas sobre os conhecimentos da biodiversidade e desenvolvimento sustentável das escolas públicas municipais da cidade de Campo Maior/PI são socializadas nas escolas de modo a auxiliar na formulação de uma consciência pública de valorização dos bens biológicos da região? Constituise como uma pesquisa qualitativa, realizada no âmbito da escola, que teve como objetivo geral: Verificar a socialização dos conhecimentos sobre biodiversidade e desenvolvimento sustentável nas escolas, com vistas a auxiliar na formulação de uma consciência pública de valorização dos bens, e como objetivos específicos: identificar a compreensão dos educadores sobre a Educação Ambiental nos anos iniciais do ensino fundamental; conhecer as Práticas Curriculares desenvolvidas pelas escolas relacionadas à Educação Ambiental com vistas à Biodiversidade; diagnosticar as dificuldades encontradas pelas escolas em implementar ações sistemáticas sobre a educação ambiental dentro da escola . Assim, pretende-se com a presente pesquisa o debate sobre como a Educação Ambiental está sendo desenvolvida no currículo das escolas por meio das concepções e práticas do núcleo gestor, dos pedagogos e professores das referidas escolas municipais de Campo Maior-PI, contribuindo assim, para uma educação de qualidade. Foi desenvolvida pesquisa bibliográfica e de campo, na qual foram aplicados questionários com quatro professoras, quatro pedagogas e quatro gestoras das escolas pesquisadas. Percebeu-se que o trabalho com a prática da educação ambiental ainda é tímida e apresenta muitas dificuldades, precisando assim, de novas metodologias e conscientização de professores, pedagogos e gestores. Palavras-Chave: Desenvolvimento Sustentável; Consciência; Metodologia.

INTRODUÇÃO A educação ambiental, hoje constitui uma prática de cidadania em que a escola e seu currículo devem estar preparados para orientar os educandos sobre as indagações a respeito da educação ambiental, na busca da conscientização sobre as questões ambientais e da sustentabilidade do planeta terra, visto que, o desenvolvimento sustentável tem um componente educativo formidável: a preservação do meio ambiente depende de uma consciência ecológica e a formação da consciência depende da educação. 1 Pedagoga graduada pela Faculdade Piauiense-FAP em Pedagogia Eliana Macêdo Costa, Graduada em Pedagogia. zdemacedo@yahoo.com.br 2 2 Professor Orientador, Universidade Estadual do Piauí-UESPI, Campus Heróis do Jenipapo. 405


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O surgimento e desenvolvimento da Educação Ambiental como método de ensino está diretamente relacionado ao movimento ambientalista, surgindo assim a necessidade de se educar no sentido de preservar o meio ambiente, pois sem uma educação sustentável, a Terra continuará apenas sendo considerada como espaço de nosso sustento e de domínio técnicotecnológico, objeto de nossas pesquisas, ensaios e, algumas vezes, de nossa contemplação. Mas não será o espaço de vida, o espaço do aconchego, de cuidado (BOOF,1999). Os anos iniciais do ensino fundamental são vistos como a principal etapa da Educação Básica, onde é abordada a educação ambiental como um processo educativo, tendo por finalidade o desenvolvimento integral da criança, abrindo assim novos conhecimentos, complementando a ação da família e da comunidade. Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN’s, (1997), incorporam a Educação Ambiental como tema transversal nas disciplinas convencionais, relacionando-as à realidade de cada região do Brasil, lembrando que cada sala de aula, cada aluno e cada escola tem suas realidades distintas. A intenção foi trazer uma nova possibilidade de trabalho pedagógico que permitisse o engajamento político-social com o conhecimento, ampliando a responsabilidade do educador com a formação voltada à cidadania. É necessário ter claro que a Educação Ambiental não deve estar presente no currículo escolar como uma disciplina, porque ela não se destina a isso, mas sim como um tema que permeia todas as relações e atividades escolares, buscando desenvolver-se de maneira interdisciplinar, conforme preconiza o Plano Nacional de Educação Ambiental - Lei 9.795/99. A partir das práticas ambientais, pretende-se adquirir um desenvolvimento sustentável com base em um desenvolvimento social, econômico e de uma preservação ambiental. O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente, sem que as gerações futuras sejam comprometidas por atos das gerações passadas, melhorando assim, a qualidade de vida humana dentro das capacidades que o natural proporciona.

MATERIAL E MÉTODOS A presente pesquisa consiste em um debate sobre a Educação Ambiental aliada à biodiversidade sendo desenvolvida no currículo das escolas por meio das concepções e práticas do núcleo gestor, dos docentes e alunos das referidas escolas municipais de Campo Maior-PI, contribuindo para uma educação de qualidade. Foram utilizados como instrumentos de coleta de dados neste trabalho a pesquisa de campo com visitas a escolas, questionário, a observação das práticas ambientais do professor, aluno e currículo escolar da referida escola, como também documentos, sites de internet, arquivos públicos e particulares. O tipo de pesquisa que utilizamos foi a pesquisa qualitativa e o método será o método de abordagem dedutivo, para obter informações mais precisas a respeito da educação ambiental em 406


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ação no currículo, cujo universo pesquisado envolverá gestores, coordenadores e professores pertencentes a quatro escolas públicas municipais em Campo Maior-PI. Por isso, apresentou-se um estudo em quatro escolas da rede pública municipal de ensino da cidade de Campo Maior-PI, realizado no período de Março de 2016 através de uma abordagem direta, com aplicação de questionários, previamente elaborados e aplicados aos professores, gestores e pedagogos das escolas. Decidindo-se trabalhar com 4 (quatro) professores, 4 (gestores) e 4 (quatro) pedagogos. Com relação à formação: Dos quatro professores questionados, dois possuem especialização e todos com mais de 6 anos na área; dos quatro gestores, dois possuem especialização em gestão escolar e supervisão e todos com mais de 6 anos na área, dos quatro pedagogos; dois possuem especialização e todos com mais de 6 anos na área. Assim, seguiu-se a descrição das quatro escolas da pesquisa: A primeira instituição a ser descrita é a escola pública CAIC – Centro de Atenção Integral à Criança, que pertence à rede pública municipal de ensino e é órgão integrante de estrutura da Secretaria Municipal de Educação – SEMED. Oferece o ensino infantil, fundamental e a Educação de Jovens e Adultos. O CAIC (Centro de Apoio Integrado a Criança) foi construído na década de 90 e no início de 2000 foi cedido ao município para o funcionamento da Escola Municipal “CAIC”. Sendo que a mesma atende quase 390 alunos da Educação Infantil ao 9º ano do ensino fundamental e EJA – Educação de Jovens e Adultos, A escola CAIC iniciou suas atividades no dia 18 de fevereiro de 2000, na administração do prefeito Antônio Lustosa, é a única escola da rede municipal que possui estrutura física neste padrão, está localizada, localizado na Rua Niterói, s/n no Bairro Fripisa, a escola está situada à 3km do centro da cidade de Campo Maior/PI. A segunda instituição a ser descrita é a Escola Municipal Vida Verde, que também pertence à rede pública municipal de ensino e é órgão integrante de estrutura da Secretaria Municipal de Educação - SEMED. Oferece o ensino infantil e o ensino fundamental (1º ao 5º ano). A escola Vida Verde foi inaugurada no dia 16 de abril de 1997, na administração do prefeito Antônio Lustosa, está localizada onde funcionou o Hotel Tirol ao leste da cidade próximo ao açude grande de Campo Maior no bairro de Fátima, tem aproximadamente 450 alunos e é composta por quase 70 funcionários. A escola possui estrutura física satisfatória e, é composta de 20 salas de aulas, 05 banheiros que necessitam de reparos, 01 sala destinada para o preparo e distribuição do lanche escolar, 01depósito onde é armazenado o lanche escolar e outros utensílios, uma única e exclusiva sala que funciona como direção, secretaria, coordenação e sala de professores.

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A terceira instituição a ser descrita é a Escola Municipal Mariema Paz, que também pertence à rede pública municipal de ensino e é órgão integrante de estrutura da Secretaria Municipal de Educação. A Escola Municipal Mariema Paz foi inaugurada no dia 29 de março de 1999 e já têm 13 anos de serviços prestados à população campomaiorense, está localizada no centro da cidade, mais precisamente na Rua Sete de Setembro s/n. Têm aproximadamente 400 alunos e é composta por 63 funcionários. Possui uma estrutura satisfatória e com acessibilidade. A escola oferece ensino de qualidade do ensino infantil, ensino fundamental (1° ao 9º ano). A quarta instituição a ser descrita é a Escola Municipal Milton Soldani, que pertence à fundação Dr. Milton Soldani em parceria com a rede pública municipal de ensino e é órgão integrante da Secretaria Municipal de Educação – SEMED. Escola Municipal Dr. Milton Soldani foi inaugurada em 08 de agosto de 2001, na gestão do prefeito Raimundo Nonato Bona Carbureto. A escola está localizada na Rua Avenida Francisco Pedro Barros, S/N no Bairro Cidade Nova. A escola leva o mesmo nome da fundação e representa a virtude de um grande homem desprendido que mesmo sem conhecer a cidade de campo maior criou essa instituição para ajudar as pessoas necessitadas. A escola possui cerca de 380 alunos, matriculados no ensino fundamental de (1º ao 9º ano) e Educação de Jovens e Adultos – EJA. A Fundação Dr. Milton Soldani é uma organização não governamental sem fins lucrativos que presta relevantes serviços a nossa cidade e tem por finalidade, suprir as deficiências do município no atendimento às necessidades da população, numa relação conjunta, possui cerca de 200 anos entre 1º e 5ºano e 6º e 9º ano do ensino fundamental. Foi inaugurada na escola municipal Dr. Milton Soldani afonso a sala de atendimento de Alunos com necessidades Educacionais Especiais (AEE). A sala faz parte de um projeto MEC e Secretaria Municipal de Educação com o objetivo de atender aos alunos especiais, como mais uma proposta da educação inclusiva. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com bases nos estudos realizados sobre a educação ambiental e o ensino fundamental, buscou-se perceber como ela é trabalhada no cotidiano real vivenciado na escola por professores, alunos, gestores e pedagogos. Com o objetivo de conhecer esta realidade e desenvolver uma metodologia através das quais a comunidade escolar possa construir o conhecimento voltado para uma educação ambiental que permita transformar a escola em um local onde se exerça cidadania. Sabemos que no mundo atual, a problemática meio ambiente está cada vez mais relevante nos meios de comunicações e no dia a dia, cabe ao educador procurar uma abertura para trabalhar de forma correta nos campos da aprendizagem, com o objetivo de desenvolver

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novas metodologias capazes de transformar a escola em local propicio para a aprendizagem crítica voltada para uma aprendizagem significativa. Nesta primeira categoria enveredou-se por questionamentos sobre a concepção de educação ambiental para os sujeitos. Seguem as respostas: Quadro 1: A Educação Ambiental e a Formação Cidadã O que é você entende por Biodiversidade aliada à Educação Ambiental? Professora A, B, C e D

É uma educação voltada para as questões ambientais, onde o indivíduo será levado a refletir que ele é parte integrante do meio ambiente e como tal deverá desenvolver atitudes de preservação.

Diretora AeD

É melhorar a educação, partindo de uma educação ambiental, através de ações que possam fazer do mundo um lugar sustentável.

Diretora B Diretora

É conscientizar o ser humano da importância da preservação do meio ambiente em que vivemos. É uma postura de respeito e amor à criação de Deus.

C Pedagoga A eC

É uma ação educativa permanente pelo qual a comunidade tem a tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de relação que os homens estabelecem entre si e com a natureza.

Pedagoga B

É preservar o meio ambiente levando-o de lixos, preservando-o sempre para termos uma vida saudável.

Pedagoga D

É o estudo da interação do homem com o meio ambiente. Fonte questionário: março/2016

Todos os sujeitos manifestaram o conceito de Biodiversidade aliada à Educação Ambiental como uma educação voltada para as questões sociais, onde na medida em que modifica seu comportamento e interage melhor com seu cotidiano. A partir das respostas foi possível observar que as respostas estão direcionadas a conscientização do meio ambiente, chamando atenção para a responsabilidade de toda a humanidade em aprender a cuidar do meio ambiente como princípio fundamental da qualidade de vida. É notório na fala dos sujeitos que os cuidados com o meio ambiente é uma questão de educação. Com relação à finalidade da Educação Ambiental Dias afirma que: A Educação Ambiental teria como finalidade promover a compreensão da existência e da importância da interdependência econômica, política, social e ecológica da sociedade; proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir conhecimentos, o sentido dos valores, o interesse ativo e as atitudes necessárias para proteger e melhorar a qualidade ambiental, induzir novas formas de conduta nos indivíduos, nos 409


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grupos sociais e na sociedade em seu conjunto, tornando-a apta a agir em busca de alternativas de soluções para os seus problemas ambientais, como forma de elevação da sua qualidade de vida. (DIAS, 2004, P. 83).

Portanto, a educação ambiental aliada à Biodiversidade requer uma mudança profunda nos modos de vida para que se atinja a qualidade de vida, que está diretamente ligada com o nosso cotidiano, com os valores, atitudes e ações que desempenhamos em relação ao bem estar do ser humano natureza e a qualidade do ambiente que interagimos. Nesta segunda categoria foi questionado aos sujeitos os projetos que a escola desenvolve voltados para a educação ambiental. Seguem as respostas:

Quadro 2: Projetos de Educação Ambiental em parceria com a comunidade e demais instituições A escola desenvolve projetos voltados para a Educação Ambiental? Quais. Professora A

Sim, embora não tenha realizado o projeto este ano, mas existe no PPP da escola o projeto “Cidade Limpa, Cidade Linda”.

Professora B, C e D

Sim, na semana do meio ambiente escola promove parcerias com outras instituições, comunidade entre outros trabalhos em geral como: palestras quando necessário, participação de fórum, aulas voltadas para o tema e conscientização do aluno na questão seletiva do lixo.

Diretora

A escola promove apenas parcerias com outras escolas e juntamente com a comunidade para desenvolver algumas ações na semana do meio ambiente.

A Diretora BeD Diretora C Pedagoga A, B e C Pedagoga D

Sim, a escola promove atividades ligadas ao meio ambiente a partir de projetos relacionando-os com as diversas disciplinas como o projeto “Cidade Limpa, Cidade Linda”. Sim, projetos relacionados à coleta de lixo no espaço escolar e a conscientização de manter o espaço escolar agradável. Sim, projetos “Cidade Limpa, Cidade Linda, além de atividades como participação em fórum, aulas voltadas para o tema e conscientização dos alunos para a questão seletiva do lixo entre outros. Sim, são organizados diversos projetos como: Água bem da humanidade, Cidade Limpa, Cidade Linda”. Fonte questionário: março/2016

Todos os sujeitos manifestaram a presença de projetos dentro da escola sendo desenvolvidos com os alunos de forma dinâmica, objetivando a parceria da escola com os demais membros da comunidade, contribuindo assim, para uma efetiva conscientização ecológica de atitudes individuais a partir de ações coletivas para que possamos atingir uma preservação ambiental. A partir das respostas foi possível observar que os sujeitos estão direcionados ao compromisso de desenvolver os projetos juntamente com a comunidade para a conscientização do meio ambiente, chamando atenção para a responsabilidade de todos para em resgatar no ambiente escolar o envolvimento

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dos alunos, professores e comunidade para uma educação ambiental participativa.

Conforme explicita os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s, o trabalho com o tema Meio Ambiente deve ser: Desenvolvido visando-se proporcionar aos alunos uma grande diversidade de experiências e ensinar-lhes formas de participação, para que possam ampliar a consciência sobre as questões relativas ao meio ambiente e assumir de forma independente e autônoma atitudes e valores voltados à sua proteção e melhoria. (BRASIL, 1997, p. 71). Com isso, no desenvolvimento das práticas voltadas para a EA devem conter os principais aspectos, valores, competências que podem nortear os caminhos intelectuais dos alunos e, é nesse momento que a educação ambiental deve estar viva e sendo de fato trabalhada com os alunos. Nesta terceira categoria foi questionado aos sujeitos sobre o papel da interdisciplinaridade desenvolvido com os alunos sobre Educação Ambiental. Seguem as respostas: Quadro 3: A interdisciplinaridade na Educação Ambiental Quais são as atividades didático-pedagógicas que são desenvolvidas com os alunos sobre Educação Ambiental? Professora Diálogo em sala de aula sobre o meio ambiente, redações sobre a opinião de cada um a respeito do meio ambiente, palestras e etc.. A Professora Aula passeio, discussões, palestras, plantio de mudas de plantas, desenhos que BeD expressam o meio ambiente. Professora Seleção de lixo, vídeos, aulas expositivas, roteiros de estudo, reciclagem, C oficinas. Diretora A Diretora B Diretora CeD Pedagoga

Atividades pedagógicas transversais e interdisciplinares de educação ambiental em sala de aula, saída de estudo a campo, atividades educativas nas unidades pedagógicas de Educação Ambiental, atividades internas de formação dos docentes. Aula passeio, oficinas para a construção de materiais a partir da reciclagem, palestras para alunos e comunidade. Gincanas, coleta coletiva do lixo da escola, redações sobre o tema meio ambiente, palestras. Atividades pedagógicas na sala de aula, saída de estudo a campo, oficinas, vídeos.

AeD Pedagoga B

Reciclagem, seleção de lixo, vídeos, aulas expositivas, diálogo em sala de aula e atividades diversificadas.

Pedagoga

Palestras, trabalhos educativos, mutirão de limpeza.

C

Fonte questionário: março/2016 411


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Todos os sujeitos manifestaram a presença da interdisciplinaridade durante as aulas das diversas disciplinas, sendo que a EA é trabalhada em diversas atividades que possibilitam a compreensão e a conscientização do meio ambiente com perspectivas de preservação. As atividades extraclasses propiciam aos alunos uma fonte de informação significativa, onde os mesmos, vão vivenciar na prática, como preservar, cuidar e conscientizar a sociedade dos problemas enfrentados pelo meio. A partir das respostas foi possível observar que existe por partes dos sujeitos o compromisso de realização da interdisciplinaridade dentro do conteúdo programático da proposta curricular de ensino das suas instituições. Com relação à educação ambiental e sua relação com a transversalidade e a interdisciplinaridade cabe aqui fazer referência às autoras, Menezes e Santos sobre a diferença entre transversalidade e interdisciplinaridade que vem a ser: A transversalidade se difere da interdisciplinaridade porque, apesar de ambas rejeitarem a concepção de conhecimento que toma a realidade como um conjunto de dados estáveis, a primeira se refere à dimensão didática e a segunda à abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento. Ou seja, se a interdisciplinaridade questiona a visão compartimentada da realidade sobre a qual a escola se constituiu, mas trabalha ainda considerando as disciplinas, a transversalidade diz respeito à compreensão dos diferentes objetos de conhecimento, possibilitando a referência a sistemas construídos na realidade dos alunos. (MENEZES E SANTOS, 2002). Portanto, no viés transversal em que são sugeridos os temas transversais e, neste caso em particular, o tema meio ambiente, o ponto de partida são as questões sociais em sua complexidade, fazendo assim uma disciplina ou um conteúdo tratar de forma dinâmica da conscientização dos alunos, tornando-os sujeitos críticos e conhecedores da Educação Ambiental em qualquer disciplina escolar. Nesta quarta categoria enveredou-se por questionamentos sobre a mudança de atitudes dos alunos sobre a forma de se relacionar com o meio ambiente. Seguem as respostas: Quadro 4: A Educação Ambiental e a Mudança de Atitude dos Alunos

Você tem percebido mudança de atitudes nos alunos sobre a forma de se relacionar com o meio ambiente? Justifique. Professora Não. A Professora Sim, Diminuição do lixo jogado no pátio da escola, atitudes deles dentro da escola, atitudes de preservação demonstradas durante as aulas. D

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Diretora A Diretora B Diretora CeD Pedagoga

Sim, através de suas atitudes, preservando e conservando o seu meio ambiente, fazendo cada um se questionar sobre o seu papel. Sim, em relação ao lixo no pátio, as atividades ambientais que antes não eram valorizadas, hoje são. Participam das aulas práticas. Sim, passaram a participar das atividades ambientais com uma consciência maior. Sim, através de suas atitudes, preservando e conservando o seu ambiente,

A Pedagoga B

Sim, eles cuidam melhor das plantas da escola, adoram fazer objetos a partir de materiais recicláveis.

Pedagoga C

Sim, colocam o lixo nos locais apropriados, mantêm as torneiras dos bebedouros fechadas, conservam as plantas da escola.

Pedagoga

Sim, através da conservação da sala de aula e do pátio limpos, ajudam uns aos outros, sempre trabalham no coletivo e em favor do meio ambiente.

D

Fonte questionário: março/2016 Todos os sujeitos manifestaram uma mudança de grande valia na maneira de observar o meio ambiente. Os alunos passaram a questionar e levar para casa novas ideias e experiências sobre o cuidado com o meio ambiente, buscando solucionar os problemas e mudar as atitudes. A partir das respostas foi possível observar que os sujeitos estão direcionados a uma possível mudança de atitudes e a conhecer a verdadeira raiz da Educação Ambiental. O professor, enquanto mediador do ensino aprendizagem deve proporcionar questionamentos diários sobre os valores estabelecidos pela sociedade, permitindo que o educando construa seus próprios valores. Com relação ao que afirma Moreira: Nas escolas não se aprendem apenas conteúdos sobre o mundo natural e social; adquire-se também consciência, disposições e sensibilidades que comandam relações e comportamentos sociais do sujeito e estrutura sua personalidade. (MOREIRA,1995, p. 50).

Nesse sentido, na escola deve haver mais do que integração entre as disciplinas, ela precisa envolver conhecimentos do cotidiano dos alunos e que lhes traga significado. Por isso, a Educação Ambiental precisa fazer parte do cotidiano escolar e pessoal do aluno. Nesta quinta categoria os sujeitos foram questionamentos sobre os referenciais teóricos que sirvam de embasamento para a prática docente e o ensino da Educação Ambiental. Seguem as respostas: 413


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Quadro 5: Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental e a Educação Ambiental

Quais são os referenciais teóricos da temática Educação Ambiental que subsidiam a prática docente na escola? Professoras Os PCN’s, cursos de capacitação, livros didáticos e paradidáticos. AeB Professoras Os PCN’s, livros, vídeos educativos. CeD Diretora A, B e D Diretora C Pedagoga

Os PCN’s, livros sobre a temática, revistas que tragam informações sobre o tema. As temáticas relacionadas ao destino do lixo dentro da sala de aula, descarte de objetos adequadamente nas lixeiras, a não queima do lixo da escola e sim o incentivo a coleta.

AeC

Os parâmetros Curriculares Nacionais que propõe temáticas transversais, seminários de capacitação profissional sobre a temática, reportagens sobre o tema.

Pedagoga

A participação em campanhas envolvidas com o tema Educação Ambiental.

B Pedagoga D

Livros didáticos, paradidáticos, revistas, PCN do tema transversal meio ambiente. Fonte questionário: março/2016

Todos os sujeitos da pesquisa manifestaram vários referenciais teóricos que servem para direcionar o trabalho com EA, mas como sempre, os PCN’s garantem destaque por serem Parâmetros Nacionais e que traz a tema Meio Ambiente como um aspecto transversal de intima ligação com o ensino aprendizagem no ensino fundamental. Nesta sexta categoria os sujeitos foram questionamentos sobre a existência de metas na proposta pedagógica voltadas para a preservação do meio ambiente. Seguem as respostas: Quadro 6: A Proposta Pedagógica da Escola Voltada para a Preservação do Meio Ambiente Quais são as metas contidas na Proposta Curricular sobre a sustentabilidade do planeta, com base em uma Educação Ambiental? Professora Trazer a educação ambiental dentro de um conceito de cidadania, promover ações A de curto e longo prazo em benefício dos alunos, funcionários e comunidade em geral. Professora Conscientizar os alunos e todos que fazem parte da escola sobre a preservação do BeD meio ambiente, executar projetos que visem mudanças de atitudes nos sujeitos, promover aulas sobre o meio ambiente de forma programada e coletiva. 414


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Professora Conscientização da importância do meio ambiente, resgate dos valores como: C respeito, harmonia, cuidado e outros. Realização de projetos interdisciplinares sobre a temática. Diretora A Diretora BeD Diretora C

Trazer a educação ambiental para o dia a dia do aluno, promover ações longas em benefício da comunidade escolar e extraescolar para se chegar até o fortalecimento da cidadania e sustentabilidade em comunidade. Conscientizar os alunos e toda equipe escolar, planejar e executar ações que propiciem mudanças de atitudes em relação ao meio ambiente. Orientar para que não ocorram poluições dos rios, desmatamentos das florestas, queimadas e principalmente, ações que visem o aproveitamento do lixo.

Pedagoga AeC

Promover uma educação ambiental dentro de um conceito de cidadania. Promover projetos que possibilitem o resgate dos sujeitos para o bem estar do meio ambiente a qual os mesmos, pertencem.

Pedagoga B

Preservar, conservar e respeitar sempre o meio ambiente em que vivemos. Evitar queimadas, desmatamentos, reutilizar sempre que possível o lixo a partir da reciclagem.

Pedagoga

Uma conscientização da situação do meio em que vivem, favorecer a participação responsável e eficaz de todos para garantir as gerações futuras a qualidade do meio natural, social e culturas. Fonte questionário: março/2016

D

Todos os sujeitos da pesquisa manifestaram com sinal positivo, a preocupação da escola com o meio ambiente inserido no currículo do aluno. Pois, as crianças precisam de uma preparação efetiva para garantir a atuação favorável com o meio ambiente. A partir das respostas foi possível observar que os sujeitos estão direcionados a uma real preocupação com a evolução do conhecimento dos alunos desde o ensino fundamental e está baseado no que a proposta da escola realmente quer atingir. pois a mudança pode acontecer, a partir do momento que cada um desempenhe sua função, tanto como professor, aluno e membro da sociedade preocupado com a sustentabilidade da terra. Conforme explicita os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s, o trabalho com o tema Meio Ambiente deve ser: Desenvolvido visando-se proporcionar aos alunos uma grande diversidade de experiências e ensinar-lhes formas de participação, para que possam ampliar a consciência sobre as questões relativas ao meio ambiente e assumir de forma independente e autônoma atitudes e valores voltados à sua proteção e melhoria. (BRASIL, 1997, p. 71)

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Na proposta pedagógica da escola devem conter os principais aspectos, valores, competências que podem nortear os caminhos intelectuais dos alunos e, é nesse momento que a educação ambiental deve estar viva e sendo de fato trabalhada com os alunos. Nesta sétima categoria os sujeitos foram questionados sobre a dificuldade de realizar as atividades sobre Educação familiar e o apoio da família e de órgãos públicos. Seguem as respostas: Quadro 7: A Educação Familiar e a Falta de Parcerias como dificuldades na Educação Ambiental Quais as dificuldades enfrentadas para realizar as atividades referentes à Educação Ambiental na escola? Professora Dificuldades financeiras, dificuldades de formar parcerias com os órgãos públicos, dentre outras. A Professora A falta de consciência familiar do aluno sobre o meio ambiente, falta de recursos e apoio do poder público. B Professora A falta de cooperação por parte de alguns alunos, da comunidade e até do poder CeD público. Diretora

A dificuldade maior é a financeira para a realização de cursos de capacitação.

A Diretora

Falta de apoio familiar, falta de apoio por parte do poder municipal.

B Diretora C Diretora D Pedagoga

A dificuldade está na educação trazida de casa, em sempre descartar papéis, sacolas e demais materiais no meio ambiente. Queimar o lixo caseiro e assim, fica difícil para a escola conter esses problemas que já vem de casa. A falta de vontade do aluno com as questões ambientais e a capacitação de professores com relação à temática meio ambiente e o apoio familiar.

A

A dificuldade é a financeira para a realização de cursos de capacitação para os professores, gincanas ecológicas com atividades pedagógicas para divulgar as ações dos alunos em relação à temática meio ambiente e etc..

Pedagoga BeC

A falta de conscientização do educando no que diz respeito à preservação do meio ambiente.

Pedagoga

O desrespeito de alguns alunos com o meio ambiente, falta de apoio dos pais e o próprio desinteresse dos alunos com as questões ambientais.

D

Fonte questionário: março/2016 Todos os sujeitos da pesquisa manifestaram a falta de compreensão dos próprios alunos com relação às questões ambientais. Pois, os mesmos trazem de casa concepções errôneas sobre EA e assim cria-se certa dificuldade em trabalhar e continuar com êxito todos aqueles hábitos adquiridos pelas crianças sobre EA na escola. A escola diz uma coisa, quando a criança chega em casa, o contexto ambiental é muito diferente e assim, fica difícil a EA na escola. 416


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A partir das respostas foi possível observar que os sujeitos estão direcionados a uma dificuldade de grande porte em implementar ações sistematizadas sobre a Educação Ambiental e fazer com que as ações não fiquem apenas dentro das escolas, mas dentro do laço familiar. A lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, foi a percusora/geradora da maior parte do que atualmente compõem o sistema brasileiro de gestão ambiental, e tem por objetivo à preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos por princípios, como o seguinte princípio, contido também na lei 6.938, de 31 de agosto de 1981 que diz: Incentivos ao estudo e á pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; Acompanhamento do estado da qualidade ambiental; Recuperação de áreas degradadas; Proteção de áreas ameaçadas de degradação; Educação ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-lo para participação ativa na defesa do meio ambiente.

Portanto, a Educação Ambiental deve der vista como uma ação significativa para a proteção do meio ambiente, partindo de estudos e incentivos públicos ou privados para que se atinja de fato, uma qualidade ambiental.

CONCLUSÃO Segundo os dados obtidos com o estudo, conclui-se que as escolas trabalham de forma que possam diagnosticar as concepções dos professores quanto à educação ambiental e associar estas concepções à melhoria do ensino aprendizagem dos alunos. Através desta pesquisa constatou-se que as escolas trabalham ainda de forma tímida e com muitas dificuldades a temática meio ambiente. No entanto, ao relacionar a temática meio ambiente com os alunos deve-se perceber todo o percurso de vida, experiências pessoais, interpessoais e uma diversidade de conhecimentos prévios que cada aluno trás de sua realidade. E as práticas curriculares desenvolvidas pelas escolas com relação à educação ambiental são realizadas de forma prática e através de palestras, aulas voltadas para o tema, fóruns, parceria entre escola e comunidade com o objetivo de possibilitar que os alunos visualizem na prática uma visão holística e consciente da importância de se conservar o meio ambiente. Constatou-se diante da problemática apresentada, que as dificuldades encontradas pelos professores e pelas escolas em implementar ações sistemáticas sobre educação ambiental 417


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dentro da escola são várias, dentre elas a falta de interesse dos alunos, indisciplina, falta de apoio da família, falta de recursos financeiros, porém a escola trabalha com projetos pedagógicos na tentativa de melhorar a qualidade do ensino. Conclui-se que durante o processo ensino-aprendizagem dos alunos é preciso que a escola com a ajuda dos professores, alunos, funcionários e comunidade extraescolar busquem trabalhar o caráter interdisciplinar do tema, atendendo as necessidades dos alunos, sempre aprimorando as reflexões acerca da educação ambiental.

REFERÊNCIAS

BOFF, L. Saber cuidar. Petrópolis: Vozes, 2004. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e Saúde. Brasília: MEC/SEF, 1997. _______. Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. Brasília: MEC/SEF, 1997. _______. Ministério do Meio Ambiente. Lei n. 9.795/1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=321>. Acesso em 29/02/2016. _______. Ministério do Meio Ambiente. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Política Nacional do Meio Ambiente. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938. htm. Acesso em: 15/03/2016. DIAS. G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São Paulo: Gaia, 2004. MENEZES, E. T. de; SANTOS, T. H. dos.”Transversalidade” (verbete). Dicionário Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix Editora, 2002. Disponível em www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionário.asp?id=70. Acesso em 25/02/2016. MOREIRA, A . F. Currículos e Programas no Brasil. Campinas: Papirus, 1995.

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IMPACTOS CAUSADOS PELA CONSTRUÇÃO DA BARRAGEM DE ATALAIA, PIAUÍ, BRASIL Ionara Cristiane Barros Rocha1 Tereza Maria Alcântara Neves 2 Simone Mousinho Freire3 Shirliane de Araújo Sousa4 RESUMO Barragem é uma barreira artificial, feita geralmente para retenção de grandes quantidades de água, para serem utilizadas no abastecimento de residências, agricultura, indústria, produção de energia elétrica, dentre outras funções. Dentre as vantagens apresentadas pela construção da barragem de Atalaia, está o desenvolvimento regional. Como um dos grandes problemas da região é a escassez da água, o que causa prejuízo para a agricultura e pecuária. Com a construção da barragem, esse problema irá diminuir e/ou acabar, pois uma das vantagens é a existência de uma rede de abastecimento de água com qualidade e em grande quantidade, permitindo assim um aumento de produtividade, consequentemente através da irrigação, existindo maior diversificação delas. O objetivo do trabalho foi identificar os impactos ambientais causados pela construção da barragem de Atalaia, localizada na região de Corrente e Sebastião Barros, bem como as vantagens e desvantagens de sua construção. Esta pesquisa trata-se de um estudo de caso, de caráter descritivo. A construção da barragem de Atalaia tem como objetivo o controle da vazão do rio Paraim, com vistas a contribuir na regularização da vazão do rio Gurgueia, propiciando condições de aproveitamento do potencial agrícola existente na sua bacia com uso da irrigação, bem como suprir, com abastecimento d’água, a população dos municípios de Corrente, Sebastião Barros e circunvizinhos. Percebemos um descaso com a situação da obra por parte dos responsáveis e a falta de percepção ambiental por falta dos moradores da região; necessitando a região de uma maior fiscalização. Palavras-chave: Barragem, impacto ambiental, meio ambiente.

1 INTRODUÇÃO O homem desenvolve tecnologias e as utilizam no uso de energias renováveis, principalmente hídricas, gerando conflitos entre indivíduos e grupos sobre questões ambientais. O problema da água em nosso país vem de épocas remotas, e uma das formas de sanar tais problemas foi a construção de barragens. 1 Graduada em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Pós-Graduando em Biodiversidade e Conservação pelo NEAD da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail luizialuizadavi@hotmail.com 2 Mestre em Saúde da Família: e-mail: teresaàlcantra@yahoo.com / UESPI 3 Doutora em ciência animal/ e-mail: simonemousinho@gmail.com / UESPI. 4 Mestre em Zoologia/ e-mail: shirlianearaujo@hotmail.com / UESPI. 2 419


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Barragem é uma barreira artificial, feita geralmente para retenção de grandes quantidades de água, para serem utilizadas no abastecimento de residências, agricultura, indústria, produção de energia elétrica, dentre outras funções construção (GARBRECHT, 1986). Desde o início da história da humanidade, a construção de barragens foi fundamental para a espécie humana. A construção dessas estruturas visa, sobretudo, combater a escassez de água no período seco, onde elas funcionam como eficientes reservatórios de água. Com a Revolução Industrial, houve o crescimento e a necessidade da construção de um grande número de barragens, o que permitiu o progressivo aperfeiçoamento das técnicas de projeto e construção dessas estruturas (GARBRECHT, 1986). As barragens são feitas de forma a acumularem o máximo de água possível, tanto através da chuva como também pela captação da água remanescente do rio existente. Toda a zona onde ela encontra-se e sua área circundante são afetadas pela vazão de água. Por isso, que, antes da sua construção, deve-se fazer o Estudo de Impacto Ambiental (EIA), para que se faça toda a locomoção, de forma sustentável e menos ariscada, da fauna e flora ali presente, bem como dos moradores da região onde será inundada (CRUZ; KUYBIDA, 2008). Segundo Cláudia Regina Osório de Oliveira (2004, p. 12): O principal problema que técnicos e especialistas de diversos países tentam solucionar, refere à redução dos impactos negativos das barragens que devem ser amenizados otimizando os custos, os benefícios na área social e nos meios biótico e físico.

No estado do Piauí, localizado no nordeste do Brasil, assim com os outros estados de regiões semiáridas, a construção de barragens tem sido a melhor forma de assegurar o abastecimento de água para a população sertaneja, principalmente em período de estiagem severa, como atualmente tem ocorrido. No extremo sul do estado, nas proximidades da cidade de Corrente e municípios circunvizinhos, a situação é bem semelhante. A construção da barragem de Atalaia, localizada no extremo sul piauiense, entre as cidades de Corrente e Sebastião Barros, segundo o EIA - RIMA (Relatório de Impacto Ambiental) feito, justifica-se em função do grande potencial hídrico que existe na região, que abrange a bacia do rio Gurguéia. A construção desta barragem tem como objetivo o controle da vazão do rio Paraim, com vistas a contribuir na regularização da vazão do rio Gurgueia, propiciando condições de aproveitamento do potencial agrícola existente na sua bacia, como o uso para irrigação, bem como suprir o abastecimento de água da população dos municípios de Corrente, Sebastião Barros e vizinhos. Essa obra irá acumular um volume d’água de aproximadamente 211 (duzentos e onze) milhões de metros cúbicos, o que garante atingir os objetivos para os quais está sendo projetada 420


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a sua construção. Visando minimizar os conflitos que surgiram com a construção da barragem e regulamentar o controle dos seus impactos, foram criadas leis, decretos e portarias que fazem partem do Licenciamento Ambiental. Os impactos são analisados sobre os aspectos: físico, biológico e socioeconômico. O objetivo deste estudo é avaliar os impactos ambientais causados pela construção da barragem de Atalaia, e enumerar as vantagens e desvantagens da sua construção; avaliando se esta construção está sendo realmente um empreendimento necessário e funcional para a região.

2 MATERIAIS E MÉTODOS Tipo de Pesquisa Esta pesquisa trata-se de um estudo de caso, de caráter descritivo, relacionado à construção de barragens e seus impactos. Foram analisados os impactos causados pela construção da barragem de Atalaia, localizada na cidade de Corrente e Sebastião Barros-PI. Os dados utilizados para esta análise foram obtidos pelos resultados oriundos de um trabalho de estudos de impacto ambiental (EIA/RIMA), realizado como pré-requisito para a construção da barragem pela empresa WR Consultoria e Planejamento Ltda. Os resultados deste estudo serão confrontados com informações obtidas na literatura, sendo analisados periódicos relacionados à temática. Foram utilizados, como critério de inclusão, periódicos que possuíssem as seguintes palavras-chave: barragem, impacto ambiental e meio ambiente, selecionados aqueles com maior relevância em relação ao tema pesquisado. Para confirmar as informações obtidas no EIA/RIMA analisado, foram feitas visitas de campo ao local de construção da barragem, onde os dados obtidos foram anotados e utilizados nas análises descritivas dos resultados do trabalho. Foram coletadas informações sobre os impactos causados com a construção de barragens, bem como os benefícios que poderão trazer para a região.

Descrição da área da barragem e seu entorno Segundo as pesquisas realizadas pela WR Consultoria e Planejamento Ltda., ao realizar o EIA (Estudo de Impacto Ambiental) da Região, a barragem Atalaia interceptará o rio Paraim, afluente do Rio Gurguéia, na localidade Barra do rio, que fica entre os municípios de Corrente e Sebastião Barros, extremo sul do estado do Piauí, com o objetivo principal de abastecimento d’água das cidades circunvizinhas, além de irrigação e piscicultura (EIA WR, 2009). O local proposto para o barramento fica a aproximadamente 38km da cidade de Corrente, percorrendo a rodovia PI-255, que liga essa cidade à Parnaguá, entrando cerca de 3 km à direita (EIA WR, 2009). 421


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Ainda de acordo com o EIA (2009), inicialmente correndo paralelo ao Rio Corrente, um de seus principais afluentes pela margem esquerda, o Rio Paraim tem como contribuintes de maior “vulto” pela margem direita os riachos da Prata, do Brejo, Suçuapara e Seco; além dos rios Palmeiras e Riachão, todos a montante da Lagoa de Parnaguá. Pela margem esquerda, afora o Rio Corrente, destacam-se as veredas da Lagoa de Cima e do Jacaré e os riachos Grande, do Meio e do Araçá, também a montante da lagoa. O resultado desse levantamento identificou que, na área da bacia hidráulica, existem casas habitadas pertencentes a pequenos agricultores rurais, que utilizam as terras para o cultivo agrícola de subsistência, bem como para a criação de animais. (EIA WR, 2009) Constatou-se, ainda, a dificuldade de obtenção de água na região para consumo humano, considerando as condições hidrogeológicas da área. Tal situação se agrava no período da seca, devido à limitação de água nos mananciais de superfície existente na região. (EIA WR, 2009).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A construção da Barragem de Atalaia, que é de responsabilidade do Ministério da Integração Nacional, através do PAC, tendo como órgão executor o Governo do Estado do Piauí, se prolonga desde 2012 até os dias atuais sem chegar a sua fase final. Em setembro de 2012, o engenheiro responsável pela obra, bem como o Governador vigente na época, Wilson Martins, que visitou o local, constatou que 50% da obra havia sido concluída. Segundo o engenheiro responsável pela obra, Alisson Gomes, a construtora que venceu a licitação para construção da barragem estaria executando as seguintes etapas: execução da parede, escavação do sangradouro, bem como a tomada d’água. No entanto, a construção desta obra se encontra inacabada até os dias atuais. Para Viana (2003), esse problema torna-se grave por causa do longo período de gestação dos projetos de barragens (alguns deles duram décadas). Associada à questão do tempo está a incerteza da população que não sabe quando e se, de fato, a barragem será construída, quantas casas e propriedades serão inundadas, quem será ou não elegível para compensação e qual será o valor da compensação A visita de campo permitiu uma breve caracterização do perfil da localidade onde está sendo construída a barragem, caracterizado por apresenta vegetação típica do cerrado, apresentando, árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas e ainda com fisionomia de Cerradão, caracterizada por apresentar plantas de porte elevado. Existe nas proximidades do rio Paraim a presença de mata ciliar, pouco devastada. Nesta região encontramos uma concentração maior de espécimes vegetais de porte arbóreo, e com formação de um dossel relativamente elevado.

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De acordo com o EIA, realizado pela empresa de consultoria, WR Consultoria e Planejamento Ltda (2009), essa descrição se confirma, onde é destacada a presença de espécies que apresentam xilopódios (órgãos subterrâneos perenes) que permitem a rebrota em caso de queimada. Como principais impactos ambientais ocasionados pela construção da barragem, observados na visita de campo, podemos citar os seguintes: o surgimento de obstáculos transversais no curso de água e que inevitavelmente alteram as características ecológicas e ambientais da região; degradação parcial da área, com frequentes eventos de erosão do solo, formando grandes buracos e voçorocas, o que pode comprometer a qualidade e continuidade da construção; a alteração do fluxo da água também altera a morfologia e estrutura das margens dos rios e a vegetação; e a falta de correnteza natural está proporcionando o aparecimento de uma grande população de água pés, o que compromete o equilíbrio do ambiente aquático (FIGURA 01).

Figura 01. Impactos ambientais ocasionados pela construção da barragem Atalaia: A. aparecimento de uma grande população de água pés; B. Formação de buracos e voçorocas. A.

B.

Fonte: Autoria própria.

Esses impactos não são previstos no EIA Rima feito na área. Este relatório trata apenas que, para a execução do desmatamento racional da área de um reservatório, deve ser elaborado, a princípio, um diagnóstico florístico e faunístico da área, visando, não só a identificação e caracterização destes recursos, como a verificação da necessidade de adoção de medidas que minimizem os impactos potenciais incidentes sobre estes. Mas o relatório afirma que, na área da barragem, não se observa a necessidade de tal estudo, pois os recursos florísticos e faunísticos são reduzidos e comuns na região, não apresentando grandes perdas ecológicas e ambientais para o bioma local. Segundo Abes (1987, apud, OLIVEIRA, 2004, p.13), as ações do homem podem causar impactos positivos e negativos. Consideram-se impactos positivos quando a interferência no

423


Educação, saúde e meio ambiente

meio ambiente resulta em melhorias na qualidade de vida de uma população ou fator ambiental. Impactos negativos acontecem quando a ação resulta em algum dano no fator ambiental. Este diagnóstico duvidoso contradiz o que foi observado nas visitas de campo. De acordo com a caracterização da área observada in loco e pelo relatório, a área apresenta a fitofisionomia de Cerradão; este tipo de fitofisionomia típica do Cerrado oferece abrigo para várias espécies de animais e vegetais (e alguns níveis de endemismo), por apresentar um porte arbóreo elevado, conservando um ambiente com maior umidade e oferecendo um ambiente mais propício para a manutenção da vida de organismos no meio de áreas com clima predominantemente semiárido. A baixa diversidade encontrada atualmente na área pode já ser consequências dos impactos sofridos pelos ecossistemas locais com o início da construção da obra (NAVEGANTES; SOUSA, 2014). A Barragem Atalaia deverá inundar uma área de aproximadamente 2.513,54 hectares, cuja cobertura vegetal predominante se caracteriza por um cerrado com presença de espécies da caatinga hiperxerófila arbórea, onde atualmente, cerca de 30% da cobertura vegetal da área total da bacia hidráulica já se encontra desprovida de vegetação nativa, devido ao uso antrópico das áreas por cultivos agrícolas e nas construções de moradias. Por meio da visita de campo, foi possível perceber também que a maior preocupação dos moradores da região afetada pela construção da barragem é o pagamento das indenizações, fato que causa desacordo entre os responsáveis pela construção da barragem e os habitantes da região, devido aos baixos valores acordados. A população não está preocupada com os prejuízos que esta construção ocasionará para a biota local, pois os mesmos não possuem conhecimento e conscientização ambiental sobre o tema. De acordo com Martins e Almeida (2007), a construção de barragens permite não somente acumular o máximo de água através dos caudais de rios, mas também da água proveniente da chuva, e sua construção de maneira adequada pode minimizar impactos indesejados na área da construção. A construção da barragem Atalaia, em seu plano de execução, busca também esse objetivo, fato este que seria feito com o estudo de EIA RIMA proposto antes da construção da barragem, mas que aparentemente não resultou nos objetivos esperados. Dentre as vantagens apresentadas pela construção da barragem de Atalaia, estão: o abastecimento regular de água, o desenvolvimento regional com o turismo (presença de bares e balneários), a utilização da água para movimentar as atividades agrícolas e econômicas, mesmo no período de chuvas escassas e estiagem rigorosa. Mesmo sabendo das vantagens com construção de uma barragem, nesta região do extremo Sul do Piauí, que sofre com grandes problemas de escassez de água e abastecimento da mesma durante os grandes períodos de estiagem, a população não está completamente satisfeita com este feito. Segundo os moradores, as terras que serão alagadas por conta das obras são 424


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muito produtivas, e a população teme não conseguir retomar sua rotina economicamente e culturalmente, pois o valor das indenizações ainda é motivo de discordância entre o governo e a população. Com um orçamento inicial já ultrapassando o estimado, o término da barragem ainda está indefinido, e os materiais provenientes do início das construções encontram-se abandonados as margens do rio Paraim, causando o desperdício de dinheiro público, a deterioração das margens do rio, o acúmulo de lixo, e a abertura contínua de voçorocas (Figura 02).

Figura 02. A. Obras da barragem paradas; B. A abertura contínua de voçorocas A.

B.

Fonte: Autoria própria.

Percebemos um descaso com a situação da obra por parte dos responsáveis e a falta de percepção ambiental por falta dos moradores da região, necessitando a região de uma maior fiscalização.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como um dos grandes problemas da região é a escassez da água, o que causa prejuízo para o desenvolvimento da agricultura e pecuária da região, a construção da barragem tem o objetivo de sanar esse problema, pois uma das vantagens é justamente a existência de uma rede de abastecimento de água com qualidade e funcionalidade. Isto irá permitir o aumento da produtividade local. Analisando-se a atual situação da barragem, os impactos ambientais causados e a relação disso com a população residente, observamos que o interesse dos moradores com as questões ambientais é mínimo, fato este que pode ser relacionada a fatores culturais, econômicos e sociais. A maioria dos moradores está mais preocupada com os prejuízos econômicos. A falta de percepção e a preocupação com o meio ambiente poderiam ser resolvidas através de uma ação coletiva de educação ambiental por parte dos órgãos responsáveis por essas competências 425


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na região, a SEMAR, ICMBIO, SUMAR e Escolas Municipais e Estaduais. Estes poderiam realizar palestras e oficinas com a população, esclarecendo conceitos e informações importantes sobre a conservação da integridade do rio, além de fiscalizar e cobrar mais compromisso e responsabilidade por parte da construtora responsável pelas obras de construção da Barragem Atalaia. REFERÊNCIAS AEE – Departamento de Água e Energia Elétrica, 2004. Disponível em site www.daee.gov. br. (Acesso em 30/11/ 2015). ANGHER, Anne Joyce. org. Vade Mecum Rideel. Concursos e OAB. São Paulo: Editora Rideel, 2014. AZAMBUJA, C. et al. Barragem e Meio Ambiente: São Paulo, 2000. Disponível em www. cm-grandola.pt.Marisol Ferreira. Acesso em (04/11/ 2015.) BELCHIOR, Germana Parente Neiva; Leite, José Rubens Morato. Riscos e danos ambientais na jurisprudência brasileira do STJ: um exame sob a perspectiva do Estado de Direito Ambiental. CEDOUA, in URI:http://hdl.handle.net/10316.2/8835 (acessado em 30/11/2015) BRETAS, E. M. (2012). Desenvolvimento de um modelo de elementos discretos para o estudo de barragens gravidade em alvenaria, Tese de Doutoramento, Universidade do Minho, Braga. CARVALHO, L. H. Curso de Barragens de Terra, Fortaleza: Ministério do Interior – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, 1984. CBDB – Comitê Brasileiro de Barragens. Cadastro de Barragens, 2004. Disponível em: www.cbdb.org.br. (Acesso em 04 de novembro de 2015. CBGB, Comitê Brasileiro de Grandes Barragens. Barragens, Reservatórios e o Meio Ambiente, 1979 CRUZ, Frederico e KUYBIDA, Artem. Impactos na Construção de Barragens. 2008. Disponivel em http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/geologia/11_impacto_contr_ barragens.htm. Acesso em 08/12/2015) DNOCS – Departamento Nacional de Obras contra as Secas – Barragens- do nordeste do Brasil – Experiência do DNOCS em barragens na região semi-árida – Fortaleza, 1982. GRANJA, Cicero Alexandre. O Direito Ambiental e a responsabilidade civil pelo dano ocasionado, 2012. HAMMERSCHMIDT. Denise. O risco na sociedade contemporânea e o princípio da precaução no Direito Ambiental, Disponível em www.ambito-juridico.com.br/site/?n_ link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11625. Acesso em (10/11/2015) IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Alterações no Meio Físico, Decorrentes de Obras de Engenharia, São Paulo, 1992.

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ANÁLISE COMPARATIVA DE ESPÉCIE DA ENTOMOFAUNA EM DOIS SISTEMAS DE OLERICULTURA AGROECOLÓGICA NO MUNICÍPIO DE CORRENTE – PI Jeremias Marques de Sousa1 Tereza Maria Alcântara Neves 2 Simone Mousinho Freire3 Shirliane de Araújo Sousa 4 RESUMO Os sistemas de produção agroecológica têm como base as colunas da sustentabilidade (ecológica, econômica, social). Desta feita, a agroecologia restabelece as relações harmônicas entre o homem e seu espaço natural, minimizando o impacto das atividades agrícolas no ambiente e ampliando os benefícios da agricultura para além do espaço rural. No entanto, a atividade tem como inimigo a entomofauna, que assola muitas vezes as plantações, principalmente, a olericultura familiar. Realiza-se uma análise comparativa da entomofauna de dois sistemas de olerículas com produção agroecológica no município de Corrente – PI, verificando os principais danos causados por estas pragas, juntamente com a percepção dos produtores desses dois sistemas agroecológicos. A metodologia empregada foi a visitação periódica (quinzenais) nas duas áreas da pesquisa e a realização da inspeção nos diferentes órgãos (caule, folha e fruto) das plantas, levando em consideração que deveriam ser produzidas nas duas áreas para possibilitar a comparação dos resultados. A identificação da entomofauna em níveis de espécies ou morfologia aconteceu apenas de acordo com a literatura. Foram identificados 909 insetos/ pragas nos dois sistemas de pesquisa a partir das observações diretas realizadas, sendo 53 (5,83%) moscas-branca (Aleyrodidae: Bemisia tabaci), 170 (18,7%) pulgões (Brevicóryne brássicae), 451 (49,61%) cochonilhas (Coccus viridis e Coccus hesperidium), 205(22,55%) lagartas (Pieris brassicae) e 30 (3,3%) vaquinhas (Macrodactylus pumilio). Foram observados um total de 88 (9,7%) indivíduos infestando hortaliças da família Asteraceae (Alface), 375 (41,25%) na família Brassicaceae (Couve), 424 (46,64%) na família Solanaceae (jiló e pimentão) e 22 (2,42%) infestando a hortaliças da família Alliaceae (Cebolinha). Os resultados obtidos entre os dois sistemas não destoaram quanto às quantidades e aos danos resultantes da infestação da entomofauna. Palavras- chave: Agroecologia. Entomofauna. Pragas agrícolas. 1

Graduado em Ciências Biológicas – UESPI. E-mail: professorjeremias03@gmail.com Mestre em Saúde da Família: e-mail: teresaàlcantra@yahoo.com/ UESPI 3 Doutora em Ciência animal/ e-mail: simonemousinho@gmail.com/ UESPI. 4 Mestre em Zoologia/ e-mail: shirlisousa@gmail.com / UESPI. 2

2

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1 INTRODUÇÃO No Brasil, a produção de hortas agroecológicas, olericultura, é voltada e impulsionada principalmente e parcialmente à agricultura familiar. No nordeste brasileiro, em especial no Estado do Piauí, o cenário não destoa do restante do país, com a produção agrícola realizada principalmente em escala familiar. No município de Corrente, localizado na região do extremo sul do Piauí, a agroecologia é também impulsionada pela agricultura familiar, com grande parte da área ocupada por produção agrícola, sendo esse o meio de muitas famílias obterem sua renda. Na agricultura familiar, o desafio da segurança alimentar prende-se com a definição das estratégias para garantir às famílias um rendimento mínimo que lhes permitam aceder aos bens essenciais. No município de Corrente, para algumas famílias, a produção e a comercialização de produtos hortícolas constituem a única fonte de renda. O consumo de produtos hortícolas provenientes da produção própria contribui para melhorar de forma significativa a dieta alimentar, o que de outra forma não conseguiriam devido ao baixo nível de rendimento de muitas famílias. A promoção e o apoio ao setor da olericultura, sobretudo a olericultura familiar, representam assim uma estratégia para minimizar os riscos e a vulnerabilidade alimentar, que muitas famílias rurais enfrentam devido à situação de pobreza e, sobretudo, à fraca produtividade da agricultura de subsistência, que cobre apenas uma pequena parte da necessidade alimentar (SILVA, 2009). A prática dos sistemas agroecológicos está mais intensificada por agricultores familiares em diversas regiões do país, numa tentativa de valorizar a diversificação da agricultura e a conservação dos recursos naturais, a partir de práticas endógenas que buscam alcançar a inserção do modelo agrícola com baixo uso de agroquímicos defendendo a internalização de princípios da sustentabilidade. De acordo com Guzmán (2006), a agroecologia pode ser definida como o manejo ecológico dos recursos naturais através de formas de ação social coletiva que apresentam alternativas a atual crise de modernidade, mediante propostas de desenvolvimento participativo. Caporal e Costabeber (2000) definem a agroecologia como o estudo de fatos ecológicos que ocorrem no domínio dos cultivos e em sua relação predador-presa, o que demonstra significativo potencial de aproveitamento deste campo de conhecimento para solucionar questões tecnológicas na agricultura favorecendo assim o desenho e a gestão de agroecossitemas sustentáveis. Já para Gliessman (2009), a agroecologia é definida como a aplicação de conceitos e princípios ecológicos no manejo de agroecossistemas sustentáveis, pois é uma estratégia que proporciona o conhecimento e o método necessários para desenvolver uma agricultura que é ambientalmente consistente, altamente produtiva e economicamente viável. Na olericultura, a ocorrência de problemas fitossanitários é notável. As hortaliças estão sujeitas a uma série de doenças e pragas que causam danos às plantas. Algumas causam danos diretos, como lagartas e besouros, que atacam folhas, frutos, raízes e tubérculos, outros são vetores de doenças, como tripes (Thysanoptera), pulgões (Brevicoryne brassicae) e mosca430


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branca (Aleyrodidae: Bemisia tabaci), que podem transmitir viroses. No Brasil, a cultura de hortaliças pode ser atacada por cerca de 45 espécies de insetos considerados pragas, sendo os afídeos (pulgões - Brevicoryne brassicae) os mais estudados. O ataque de tripes, moscasminadoras e lagartas desfolhadoras, podem levar à perda total da produção. Fatores climáticos ou condições específicas do agroecossistema podem favorecer o crescimento da população de pragas e doenças. A presença de organismos fitófagos com densidade populacional acima de nível causa danos econômicos. Os insetos causam danos diretos, atacando o produto a ser colhido, ou indiretos, quando atacam parte das plantas, que não é destacada para ser comercializada, mas alteram processos fisiológicos, com reflexos na produção. Alguns insetos também atuam como transmissores de patógenos vegetais, principalmente vírus, ou facilitando a proliferação de bactérias e o desenvolvimento de fungos (fumagina) e outros patógenos. Os insetos fitófagos podem causar efeitos nas plantas como a diminuição no crescimento e produção, a planta pode compensar estes danos afetando a produção, ou os danos causados pelos insetos podem ativar o desenvolvimento maior do que seria sem o ataque (SILVA et al., 2001; ZACHÉ, 2009). Uma das teorias mais aceitas para explicar, em parte, o ataque de pragas e doenças é a Teoria da Trofobiose desenvolvida por Francis Chauboussou. A teoria baseia-se na quantidade dos tipos de substâncias presentes nos órgãos das plantas. Caso estejam presentes mais substâncias simples (aminoácidos), que são mais desejadas pelos microrganismos patogênicos e pragas, ocorre maior ataque das pragas; por outro lado, se existirem substâncias mais complexas (proteínas), as pragas causarão menos danos (PERUCH, 2014). Diversas são as práticas agrícolas desenvolvidas para o plantio seguro que elimina o uso de agrotóxicos e mantém a terra conservada e produtiva. Souza, França e Silva (2011) afirmam que mistura de diferentes espécies de plantas ou variedades pode retardar o surto de doenças, reduzirem à disseminação de esporos infectados e modificar as condições ambientais. A necessidade de ter uma boa alimentação é uma necessidade humana primária. Essa é a condição essencial para toda a atividade humana e qualquer definição ou processo de desenvolvimento SILVA (2009). A olericultura é vista como meio importante de melhorar as condições de vida da população e de promover a segurança alimentar e nutricional. Tamanha é a importância das hortaliças na alimentação, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) coloca o baixo consumo de hortifrutícolas entre os cinco principais fatores de risco para carga global de doenças e mortalidade devido a uma alimentação inadequada (MACHADO, SIMÕES, 2008). No município de Corrente, as hortaliças são comercializadas em supermercados e feiras livres, e a busca por produtos de qualidade e a boa aparência são quase inevitáveis. Sendo assim, é de grande importância a necessidade de um levantamento e monitoramento da entomofauna no município, principalmente aquelas com ocorrência nas olericulturas. Esse conhecimento trará benefícios aos produtores, permitindo uma possível identificação e o acesso ao conhecimento dos danos causados por pragas e inimigos naturais; além disso, com base nas informações obtidas, o produtor pode priorizar condições para o equilíbrio das plantas e o combate natural das pragas, possibilitando a não utilização de agrotóxicos, visto que essa atividade é a principal 431


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fonte de renda da comunidade rural do município - Simplício. Sabendo disso, este trabalho objetiva realizar uma análise comparativa da entomofauna de dois sistemas de olerículas com produção agroecológica no Município de Corrente – PI, verificando e tentando identificar os principais danos causados por estas pragas, além de fazer um paralelo entre o conhecimento científico com o popular, através de um questionário, sendo avaliado o conhecimento dos produtores sobre o tema pesquisado.

2 MATERIAL E MÉTODO A pesquisa foi conduzida no período de dezembro 2015 a janeiro de 2016, em dois sistemas de produção agroecológicos, na localidade Simplício, zona rural do município de Corrente, que fica localizado na região do extremo sul do Piauí.

Foram realizadas visitas periódicas (quinzenais) nos dois sistemas de olericultura da pesquisa e realizada a inspeção nos diferentes órgãos das plantas (folhas, ramos, frutos), com exceção das raízes, devido à preservação da integridade dos cultivares dos produtores, as quais foram previamente escolhidas de forma aleatória, levando em consideração as hortaliças simultaneamente encontradas nos dois sistemas pesquisados, possibilitando assim, a comparação dos resultados. As informações a respeito da composição da entomofauna dos sistemas foram anotadas em um caderno de campo. Os danos e pragas encontradas foram fotografados para posterior identificação e montagem de um portfólio, a qual foi realizada durante todo o período da pesquisa, sendo organizadas, no mesmo, as fotos das principais pragas, bem como os danos causados por estas. Além disso, foram listadas informações referentes às imagens, às famílias botânicas e aos organismos encontrados, bem como aqueles que possam ser relevantes para 432


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este estudo. Todos os dados foram tabulados e incorporados aos resultados. A entomofauna foi identificada com auxílio de literatura específica. Foi realizada uma avaliação por meio de um questionários submetido aos produtores da região, com perguntas referentes aos seguintes temas: nomes populares das pragas, os cultivares mais susceptíveis a essas pragas e os períodos de maior incidência. O objetivo desse questionário é confrontar o conhecimento popular com resultado obtido na pesquisa na literatura. 3 DISCUSSÃO E RESULTADOS Foram identificados 909 insetos/pragas nos dois sistemas de pesquisa a partir das observações diretas realizadas, sendo 53 (5,83%) moscas-branca (Aleyrodidae: Bemisia tabaci), 170 (18,7%) pulgões (Brevicóryne brássicae), 451 (49,61%) cochonilhas (Coccus viridis e Coccus hesperidium), 205(22,55%) lagartas (Pieris brassicae) e 30 (3,3%) vaquinhas (Macrodactylus pumilio). Foram observados um total de 88 (9,7%) indivíduos infestando hortaliças da família Asteraceae (Alface), 375 (41,25%) na família Brassicaceae (Couve), 424 (46,64%) na família Solanaceae (jiló e pimentão) e 22 (2,42%) infestando a hortaliças da família Alliaceae (Cebolinha) (Tabela 1). Tabela1- Número de hortaliças infestadas por pragas nos dois sistemas de olericultura da pesquisa.

Família

Espécie Botânica

Nome Científico

Nº pragas

%

88

9,7

Asteraceae

Alface

Lactuca sativa

Brassicarace

Couve

Brassica oleracea

375

41,25

Solanaceae

Jiló

396

43,56

Pimentão

Solanum aethiopicum Capsicum annum

28

3,1

Cebolinha

Allium fistulosum

22

2,42

909

100

Alliaceae

Total Fonte: Autoria própria.

Não houve diferença significativa no número de insetos entre os dois sistemas de olericultura. Nos dois sistemas de produção analisados, a couve foi a planta hospedeira com maior índice de infestação. Entre as principais espécies de pragas comuns em olericulturas, encontramos nas áreas analisadas um maior número de pulgões (Brevicoryne brassicae), (120 espécimes), fato confirmado pelos produtores da região, onde a quantidade de pulgões infestando couve é sempre maior que as demais pragas, seguido por cochonilha (Coccus viridis 433


Educação, saúde e meio ambiente

e Coccus hesperidium) (90 espécimes), lagartas (Pieris brassicae) (85 espécimes), moscas-

branca (Aleyrodidae: Bemisia tabaci) (53 espécimes) e vaquinhas (Macrodactylus pumilio) (13 espécimes). Apesar da capacidade de dispersão das moscas-branca, 100% dos indivíduos foram observadas infestando a couve. O pulgão-da-couve, (Brevicoryne brassicae) tem sido considerado uma importante praga associada com Brassica spp., encontrando-se amplamente distribuído nas regiões temperadas e subtropicais do mundo (ELLIS, SINGH, 1993). Em nosso país, é considerada praga-chave da cultura da couve, fato confirmado na presente pesquisa, sendo a praga mais abundante na cultura, nos dois sistemas de produção (SALGADO, 1983). O baixo índice pluviométrico na região no período da pesquisa pode justificar o maior número de pulgões, visto que esses insetos têm preferência por períodos menos chuvosos. Em levantamentos para verificação da flutuação populacional de pulgões em couve na região de Jaboticabal, verificou-se que o fator meteorológico apresentou correlação significativa e negativa. Portanto, a maior precipitação, observada no campo 2, pode ter diminuído a densidade populacional de B. brassicae (CIVIDANES, 2003). A segunda família botânica com maior quantidade de praga foi a Solanaceae que inclui o jiló (Solanum aethiopicum) e o pimentão (Capsicum annuum); no entanto, ambas tiveram em comum apenas lagartas (Pieris brassicae) que também esteve presente nas demais culturas. O jiló apresentou uma alta quantidade de cochonilha (Coccus viridis e Coccus hesperidium de dois tipos, cochonilha de carapaça (Coccus hesperidium) (60 espécimes) e cochonilha de farinha (Coccus viridis) (311 espécimes); essa alta quantidade de indivíduos infestando o jiló levou à perda total da cultura. A infestação na área 1 ocorreu com as plantas adultas onde houve o atrofiamento e o amarelamento total das folhas e posterior morte. Já na área 2, a infestação ocorreu ainda em plantas jovens, pouco tempo depois do replantio das mudas. Nas duas situações, foi observado que houve a requeima da folhagem. Por se tratar de uma produção agroecológica, não houve nenhuma intervenção com produtos químicos e também não houve realização de nenhum controle biológico durante o período da pesquisa (Tabela 1). Cochonilhas são insetos sugadores de seiva e, como os demais indivíduos da subordem Sternorrhyncha, apresentam uma disposição singular de seu tubo digestivo, que consiste na presença da “câmara filtro”. Esta característica permite que o excesso de líquido sugado passe imediatamente e quase totalmente, da porção anterior do tubo digestivo a porção terminal, sendo expelida pelo ânus. Assim, é possível a sucção contínua de seiva pelo inseto, aproveitando um suco alimentar concentrado, de fácil absorção. Com base no exposto, confirma-se o que foi observado no experimento, visto que a alta infestação por parte desses indivíduos levou à morte das plantas, devido à sucção constante da seiva por parte das cochonilhas (BELLOTTI et al., 2002; GALLO et al., 2002).

434


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Tabela 2- Espécies de pragas encontradas nas hortaliças presente nos dois sistemas de olericultura analisados Espécie

Alface (Lactuca sativa)

Couve (Brassica oleracea)

Jiló (solanum aethiopicum

Pimentão (Capsicum annum)

Cebolinha allium fistulosum

Abundância

Mosca-branca (Aleyrodidae: Bemisia

0

53

0

0

0

0,11

Pulgão (Brevicóryne brássicae)

21

134

15

0

0

18,7

Cochonilha (Coccus viridis e Coccus hesperidium)

0

90

361

0

0

0,11

Lagartas (Pieris brassicae)

52

85

20

11

22

0,11

Vaquinhas (Macrodactylus pumilio)

0

13

0

17

0

0,11

Total

88

375

396

28

22

tabaci)

Fonte: Autoria própria.

O período da pesquisa (dezembro/2015 a março/2016) compreendeu o período caracterizado como chuvoso na região e também, segundo os produtores, e depois confirmado com a pesquisa, como o período de maior aparecimento de pragas na produção. O mês de janeiro foi o mais chuvoso na região e foi diretamente proporcional ao aumento das populações de pragas que ocorreram nos dois sistemas de produção. DANOS Santos (2009) define praga agrícola ou florestal como sendo uma população de organismos capazes de causar danos às plantas, seus produtos e subprodutos. Os danos dessas pragas podem afetar o rendimento do produto ou sua qualidade, através do consumo direto dos tecidos ou órgãos da planta, frutos ou sementes, sucção de seiva, transmissão de doenças, competição por espaço e por nutrientes. E os cultivares de hortaliças são os mais sujeitos a uma série de doenças e pragas que causam danos às plantas. Os microrganismos patogênicos (bactérias, fungos, nematoides e vírus) que causam doenças, quando encontram condições favoráveis, tornam-se muito ativos e as plantas, quando em condições desvantajosas, ficam sujeitas a eles. O pequeno olericultor deve procurar proporcionar condições que favoreçam as plantas, buscando, ao mesmo tempo, desfavorecer as doenças e as pragas. No caso específico das doenças, é importante ter em mente 435


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que a ocorrência delas depende da exigência de um ambiente favorável (clima, solo, sistema de irrigação etc.), de uma planta susceptível às doenças, da presença dos microrganismos e, em alguns casos, de um vetor (transmissor) (PERUCH, 2014). Os danos mais comuns e visíveis causados por agentes da entomofauna nas hortaliças são: consumo de folhagem: reduz fotossíntese, induz crescimento compensatório, faz poda seletiva, interrompe translocação de seiva, transmite doenças; sucção de seiva: perturba o fluxo de seiva, interfere nos produtos de fotossíntese, causa efeitos toxicogênicos, transmite doenças; brocas de hastes: enfraquece o suporte da planta, interrompe o fluxo de seiva e poda de raízes: menor assimilação, enfraquece o sistema de suporte. Os danos observados variam de acordo com a espécie infestadora. Em plantas de jiló (Solanaceae), (foto 1 em anexo) devido à presença de cochonilha de carapaça (Coccus hesperidium), a infestação agressiva e não combatida pelo produtor resultou na morte da planta. No mesmo tipo de planta (foto 2), os danos são amarelamento e mudanças na morfologia das folhas isso devido à alta infestação de cochonilhas farinha (Coccus viridis). As lesões cometidas pelas lagartas (Pieris brassicae) seguem os mesmos padrões em todos os vegetais encontrados nos dois sistemas analisados: folhas cortadas lateralmente, que dependendo do estágio de crescimento da planta. Esses insetos podem consumi-la em pouco tempo. No caso das cultivares onde a folhagem é a parte destinada ao consumo humano, como a couve, alface e cebolinha, os danos causados pelas lagartas afetam diretamente a comercialização e consequentemente o faturamento dos produtores. CONHECIMENTO POPULAR Com o objetivo de comparar o conhecimento dos produtores, com o fornecido pela literatura sobre as pragas agrícolas, foram feitos alguns questionamentos aos produtores. A primeira pergunta foi: “Quais pragas são mais registradas nos cultivares?” O produtor do sistema de produção 1 respondeu: “As principais pragas são os pulgões (Brevicoryne brassicae) – que atacam quase todas as hortaliças cultivadas, exceto a cebolinha; e as cochonilhas (Coccus viridis e Coccus hesperidium) – que são notadas principalmente nas culturas de jiló e tomate”. Os produtores relataram também que a presença da mosca branca (Aleyrodidae: Bemisia tabaci) e os danos manifestados por sua presença são bastante comuns em todos os tipos de sistemas olerículas ali realizados. Essa informação é confirmada por Gallo et al., (2002). Segundo esse produtor, há grandes prejuízos por conta das lagartas em certos períodos do ano em todos os cultivares, apesar de o cultivo de couve apresentar uma composição de infestação em quantidade maiores pelos pulgões segundo essa pesquisa. Os produtores relatam que as lagartas não restringem seus ataques apenas em determinada época do ano, o que as tornam os insetos vilões dessa olerícula.

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Os produtores entrevistados ainda afirmaram que, entre os insetos e pragas mais prejudiciais aos sistemas olerículas, encontram-se as lagartas (Pieris brassicae), pois estas representam grandes prejuízos nos cultivares por não apresentarem uma época definida de ocorrência e infestação, assumindo um perigo maior que os pulgões (Brevicoryne brassicae), que representam as maiores pragas no cultivo de couve. Essa forma de ocorrência e infestação durante todo o ano é confirmada por Gallo et al. (2002). As mesmas perguntas foram feitas a produtores do sistema 2 e foram obtidos e confirmados os mesmos relatos. O produtores do sistema 2 acrescentaram ainda o relato da presença de vaquinhas (Macrodactylus pumilio). Eles informaram que esta praga ataca todos os tipos de plantação nas hortas, mas preferem infestar hortaliças que apresentam características morfológicas “moles”, como o alface e o pepino. Ao serem perguntados sobre o período do ano mais propício para a infestação destas pragas, ambos os produtores dos dois sistemas confirmaram que este é o verão, caracterizado na região por apresentar clima quente, úmido e com chuvas irregulares. Essas informações também foram confirmadas pela literatura específica (ALTIERI, 2009). Apesar das áreas analisadas corresponderem a dois sistemas agroecológicos diferentes, o perfil da entomofauna, a incidência de pragas e os danos ocorrem de maneira semelhante. Ao analisar o relato dos produtores e comparar com as informações disponíveis nas literaturas específicas, pudemos concluir, que estes, mesmo que informalmente, possuem conhecimentos específicos e funcionais sobre as principais pragas e os respectivos danos causados por elas nos cultivares das olerículas. 4 CONCLUSÃO A prática dos sistemas agroecológicos está bastante intensificada por agricultores familiares, na microrregião do município de Corrente (Simplício), numa tentativa de valorizar a diversificação da agricultura e a conservação dos recursos naturais, a partir de práticas endógenas que buscam alcançar a inserção do modelo agrícola com baixo uso de agroquímicos, e defendendo a internalização de princípios da sustentabilidade. A abundante ocorrência de possíveis pragas agrícolas nesses sistemas agroecológicos, como as identificadas nesse trabalho, deve-se ao fato de estes sistemas não utilizarem, ou utilizarem em baixa quantidade, o uso de agroquímicos, o que em contrapartida deixa as hortaliças mais naturais e atraentes pelo modo artesanal e orgânico da produção. Nos dois sistemas agroecológicos analisados, os principais insetos/pragas encontrados foram: moscas brancas (Aleyrodidae: Bemisia tabaci) Pulgões (Brevicóryne brássicae), cochonilhas (Coccus viridis e Coccus hesperidium), lagartas (Pieris brassicae) e vaquinhas (Macrodactylus pumilio). As principais hortaliças infectadas fora: indivíduos infestando hortaliças da família Asteraceae (Alface), na família Brassicaceae (Couve), na família Solanaceae (jiló e pimentão) e infestando a hortaliças da família Alliaceae (Cebolinha). 437


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Observamos que, mesmo sem possuir um conhecimento científico ou mais qualificado sobre as pragas e seus danos, os produtores são capazes de entender como acontece e informar quais são os principais vetores de infestações em olerículas; mas é necessário que os mesmos tenham um treinamento ou oficinas que possam lhes qualificar melhor sobre esta temática. É necessário também um estudo mais minucioso, com um inventário mais detalhado sobre a entomofauna da região, para que possam ser elaboradas estratégias de manejo e controle biológico das principais pragas de sistemas agroecológicos, sem perder a produtividade e qualidade dos cultivares desses sistemas.

REFERÊNCIAS ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 5. ed. – Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2009. ANAPA. Comércio de hortaliças. Disponível em: http://revistagloborural.globo.com/ Noticias/Agricultura/Hortifruti/noticia/2013/12/comercio-de-hortalicas-rende-r-55-bilhoesem-2013.html. Acesso em:10/03/2016 FIGUEIREDO, I. C. R.; JAIME, P. C.; MONTEIRO, C. A. Fatores associados ao consumo de frutas, legumes e verdura em adultos da cidade de São Paulo. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v.42, n.5, p.30-36, out.2008. GLISSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura susentável. 4. ed. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2009. GOMES, F. S. Frutas, legumes e verduras: recomendações técnicas versus constructos sociais. Revista de Nutrição, Campinas, v.20, n.6, p.18­24, nov./dez. 2007. GUILHOTO J.J.M.; JOAQUIM J.M. GUILHOTO; SILVIO M. ICHIHARA; FERNANDO GAIGER SILVEIRA; BERNARDO P. CAMPOLINA DINIZ; CARLOS R. AZZONI; GUILHERME R.C. MOREIRA. A importância da agricultura familiar no Brasil e em seus estados. GUILHOTO, J. J. M. Agricultura familiar contribuindo para a riqueza nacional (Family Agriculture: Contributing to the Brazilian National Wealth). MPRA, p. 15. 2011. GUZMÁN, E. S. La Agroecologia como estrategia metodológica de transformación social. Disponível em < http://www.agroeco.org/brasil/material/ EduardoSevillaGuzman.pdf>. Acesso em: 05/03/2016 438


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