Livro biodiversidade vol 2 nead uespi 2016

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Universidade Estadual do PiauĂ­



Organizadores: Arnaldo Silva Brito Simone Mousinho Freire Tereza Maria Alcântara Neves Vinícius Alexandre da Silva Oliveira

Educação, saúde e meio ambiente: diversidade biológica em foco. VOLUME 2

FUESPI 2016


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Educação, saúde e meio ambiente: diversidade biológica em foco / Organizado por Arnaldo Silva Brito … [et al.]. - Teresina: FUESPI, 2016 426p ; v.2 ISBN 978-85-8320-169-4 Artigos apresentados ao Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual do Piauí – NEAD/UESPI, 2016. 1. Meio Ambiente. 2. Diversidade Biológica. I. Freire, Simone Mousinho (Org.). II. Neves, Tereza Maria Alcântara. (Org.). III. Oliveira, Vinícius Alexandre da Silva (Org.). IV. Título CDD: 577

Ficha elaborada pelo Serviço de Catalogação da Biblioteca Central da UESPI


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Presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Vice-presidente da República _ Ministro da Educação José Mendonça Bezerra Filho Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Diretor de Educação a Distância CAPES/MEC Jean Marc Georges Mutzig Governador do Piauí José Wellington Barroso de Araújo Dias Secretária Estadual de Educação e Cultura do Piauí Rejane Ribeiro Sousa Dias Reitor da FUESPI – Fundação Universidade Estadual do Piauí Nouga Cardoso Batista Vice-reitora da FUESPI Bárbara Olímpia Ramos de Melo Pró-reitora de Ensino e Graduação – PREG Ailma do Nascimento Silva Coordenador da UAB-FUESPI Arnaldo Silva Brito Coordenador Adjunto da UAB-FUESPI Vinícius Alexandre da Silva Oliveira Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP Geraldo Eduardo da Luz Junior Pró-reitor de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX Raimundo Dutra de Araújo Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD Benedito Ribeiro da Graça Neto Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN Raimundo Isídio de Sousa Coordenadora do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação

Simone Mousinho Freire

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Edição UAB - FNDE - CAPES UESPI/NEAD

Revisão Raimundo Isídio de Sousa Teresinha de Jesus Ferreira

Diretor do NEAD Arnaldo Silva Brito

Capa Marcelo Andrade Cruz

Diretor Adjunto Vinícius Alexandre da Silva Oliveira Coordenadora do Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação Simone Mousinho Freire

UAB/FUESPI/NEAD NEAD/UESPI, Rua João Cabral, 2231, bairro Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150, Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182 Web: ead.uespi.br E-mail:eaduespi@hotmail.com


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PREFÁCIO Em tempos onde as discordâncias ideológicas se apresentam em meio aos mais diversos contextos e cenários de discussão, poucos assuntos assumem a condição de unanimidade, a exemplo da biodiversidade. Destaca-se, neste contexto, a necessidade iminente de identificação de novas formas de relacionamento sustentável com o planeta, sob pena de provocamos prejuízos irremediáveis à nossa fauna e flora, consequentemente, a nossa sobrevivência. Compreende-se que, pesquisas e estudos nesse campo precisam ser intensificados, ao passo, em que novos profissionais necessitam ser formados enquanto sujeitos de capazes de colaborar com o planejamento de ações de enfrentamento e de induzir mudanças comportamentais. Nesse sentido, o Núcleo de Educação a Distância (NEAD), da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) desenvolve o curso de pós graduação, Latu Senso, Biodiversidade e Conservação. Tal curso, que foi ofertado em 8 polos, com 9 turmas e 295 alunos, proporcionou a formação de uma massa crítica no interior do estado do Piauí, que encontra-se preparada para atuar, no setor público e privado, para assegurar processos de desenvolvimento, que sejam sustentáveis e que considerem a diversidade biológica. Nesta pós graduação, importantes contribuições foram deixadas, por meio dos seus trabalhos de conclusão de curso, que na sua maioria, apresentam projetos de intervenção, com forte capacidade de implementação nas realidades, nas quais foram idealizados. Entre as produções textuais, existem trabalhos que abordam o manejo de agroecossistemas sustentáveis – temática importante em realidades de plantios de subsistência; artigos que, abordam a discussão e prevenção de crimes ambientais; existem ainda, trabalhos que, tratam do tema da educação ambiental – importante estratégia de ação no interior das escola e de diálogo com a comunidade; além de textos que discutem aspectos ligados à higiene e à condições favoráveis de propagação de doenças em populações vulneráveis. Consequentemente, dada a multiplicidade e o valor das produções apresentadas nesta pós, a ideia de selecionar e publicar os melhores artigos nos pareceu ser o mais lógico a fazer. Cria-se assim, mais uma oportunidade para a UESPI, especialmente, para o NEAD, difundir resultados relevantes, frutos do seu modelo organizacional, que valoriza os mais distintos atores, que fazem a educação a distancia no estado, e que tem objetivo muito claro que é preparar cidadãos para um mundo competitivo, mas sem que deixem de relacionar-se, com responsabilidade, com o mundo em que vivemos. É este o contexto que enquadra a problemática que vai ser abordada neste livro, e que se pode resumir em três questões centrais: Qual o potencial de intervenções de educação ambiental bem planejadas? Podem as novas técnicas de exploração e produção sustentáveis contribuir para melhorar a relação com o meio ambiente? Como está a universidade em meio a estes novos cenários? Fica feito então o convite para aproximação de experiências que propõem entendimento, mudança e inovação acerca de um tema tão caro a humanidade, que é a Biodiversidade e Conservação. Vinícius Alexandre da Silva Oliveira Coordenador Adjunto da UAB-FUESPI 7



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APRESENTAÇÃO

O livro “Educação, saúde e meio ambiente: diversidade biológica em foco” foi idealizado pela coordenação do Curso Latu sensu de Biodiversidade e Conservação do NEAD/UESPI/ UAB para que os resultados dos trabalhos de TCC desenvolvidos pelos alunos do curso não ficassem restritos apenas ao ambiente da academia, mas que pudessem ser difundidos para toda a sociedade e desta forma contribuir com resultados e quem sabe soluções para as inúmeras problemáticas envolvendo a nossa biodiversidade. A obra está versada em dois volumes e 85 capítulos, e os autores dos respectivos capítulos são do melhor nível intelectual e científico, com titulação de mestres, doutores e especialistas, e com grande experiência nos assuntos de que tratam. Agradecemos a direção do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual do Piauí pois desde o início, acreditaram neste ideal e patrocinaram esta obra. Igualmente parabenizo aos organizadores desta coletânea, e a Universidade Estadual do Piauí como um todo, pelo lançamento deste livro, que mais que uma coletânea de artigos, é a concretização de um sonho e a esperança de podermos gerar discussões que possam contribuir para a sustentabilidade do nosso planeta e assim vivermos em um mundo melhor. Simone Mousinho Freire Professora Adjunto I da Universidade Estadual do Piauí Coordenadora do Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação NEAD/ UESPI/UAB

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SUMÁRIO Capítulo 1 A Disseminação da Espécie Exótica Invasora Algaroba (Prosopis Juliflora) no Bioma Caatinga do Nordeste Brasileiro: Um Estudo De Revisão .......................................................................15 Capítulo 2 Etnobotânica, Manejo E Conservação De Plantas Medicinais Com Potencial De Utilização Da Comunidade Chafariz, Parnaíba, Pi – Brasil.............................................................................25 Capítulo 3 Avaliação Do Estado De Conservação Das Nascentes Do Rio Corrente, Piauí, Brasil...........35 Capítulo 4 A Abordagem Da Educação Ambiental Como Ferramenta De . Conscientização E Preservação Do Meio Ambiente Na Escola Coronel Justino Cavalcante Barros, Corrente, Piauí.............43 Capítulo 5 Importancia Da Carnaúba (Corperniciapruniferamiller) Miller)Na Comunidade Do Alto Do Meio Em Campo Maior, Piauí, Brasil........................................................................................51 Capítulo 6 A Importância Da Biodiversidade Vegetal Piauiense Como Fonte De Fitoterápicos Na Atenção Primária À Saúde.......................................................................................................................63 Capítulo 7 Diversidade Cromossômica Em Peixes Do Gênero Astyanax: Revisão Bibliográfica............73 Capítulo 8 Levantamento Do Acesso Ao Tratamento De Esgoto Sanitário Na Cidade De Parnaíba-Piauí....81 Capítulo 9 A Importância Das Lagoas Do Litoral Do Piauí No Turismo .Sustentável E Na Conservação Da Biodiversidade: Uma Proposta De Ampliação Da Apa Delta Do Parnaíba ������������������������������89 Capítulo 10 Estudo Da Percepção Sobre O Uso Dos Recursos Hídricos E Suas Consequencias No Município De Eliseu Martins-Pi............................................................................................................97 Capítulo 11 Qualidade Da Água Potável Em Comunidades Rurais Do Município De Corrente-Pi..........105

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Capítulo 12 O Conhecimento Popular Das Plantas Medicinais Em Uma Comunidade No Município De Canto Do Buriti-Pi...................................................................................................................113 Capítulo 13 A Utilização De Frutos Da Carnaúba (Copernicia Prunifera) . Como Recurso Alimentar Por Melanerpes Candidus Em Uma Área De Ecótono, Norte Piauiense.......................................123 Capítulo 14 Perspectivas Dos Estudantes De Eliseu Martins Sobre Os. Problemas Relacionados À Água: Soluções Para Conservação.....................................................................................................131 Capítulo 15 Análise Da Qualidade Das Águas Do Rio Parnaíba Por Meio De Parâmetros Microbiológicos............................................................................................................................................137 Capítulo 16 Implantação De Viveiro Nativo De Plantas Em Guadalupe-Pi: Vigua-Ceepru ����������������������147 Capítulo 17 Destino Dos Resíduos Sólidos Urbanos No Município De Canto Do Buriti, Estado Do Piauí....159 Capítulo 18 Coleta Seletiva: A Importância Da Coleta Do Lixo No Bairro Aeroporto. ����������������������������167 Capítulo 19 Atividades Agrícolas E Degradação Ambiental No Rio Gurgueia - Colonia Do Gurgueia-Pi...177 Capítulo 20 O Desmatamento Da Caatinga No Município De Canto Do Buriti, Estado Do Piauí: Indicadores E Ações Conservacionistas......................................................................................................183 Capítulo 21 Padrões De Atividade Reprodutiva E Ocupação Temporal De Anuros Em Duas Áreas Do Complexo De Campo Maior, Piauí..................................................................................................189 Capítulo 22 Variedades De Plantas Arbóreas No Entorno Do Açude Água Branca No Município De Água Branca, Piauí............................................................................................................................199 Capítulo 23 Percepção Ambiental De Alunos Do 3º Ano De Canto Do Buriti-Pi Acerca Da Importância Do Saneamento Básico Para A Qualidade Ambiental...................................................................209 Capítulo 24 Impactos Ambientais Causados Pelo Tráfico Ilegal De Animais Silvestres ���������������������������217 Capítulo 25 Diversidade De Especies Das Formigas (Insecta, Hymenoptera) No Municipio De Parnaiba,


Piaui, Brasil..............................................................................................................................225 Capítulo 26 Mosquitos (Diptera: Culicidae) Diurnos Em Fragmento .De Mata Atlântica, Macaíba, Rn ....235 Capítulo 27 Educação Ambiental: O Conhecimento Da Problemática A. mbiental Do Lixo Na Visão Dos Alunos Do 6º Ano Do Ensino Fundamental Em Parnaíba – Pi...............................................243 Capítulo 28 Trilha Ecológica Do Cavalo Marinho Em Barra Grande-Pi, Brasil: Impactos Ambientais.....255 Capítulo 29 Sementes Utilizadas No Artesanato Comercializado Na Cidade De Parnaíba, Piauí...............263 Capítulo 30 Caracterização Dos Impactos Ambientais Do Rio Piauí No Perímetro Urbano Do Municipio De São Raimundo Nonato-Pi........................................................................................................275 Capítulo 31 Biodiversidade De Plantas Alimenticias Não Convencionais Na Comunidade Malhada Bonitano Municipio De Arraial-Piaui.................................................................................................283 Capítulo 32 Parque Natural Municipal Da Floresta Fóssil Do Rio Poti – Teresina – Piauí: Uma Proposta De Reflorestamento.......................................................................................................................293 Capítulo 33 Análise Da Variabilidade De Espécime Do Gênero Caryocar (Pequi) Existente Na Chapada Ruberlândia No Município De Matões-Ma.............................................................................305 Capítulo 34 Utilização De Agrotóxicos E Seus Riscos À Saúde E Ao Meio Ambiente Em Assentamentos Da Reforma Agrária Nos Municípios De Angical E Palmeirais Do Piauí: Estudo De Caso.........313 Capítulo 35 Percepção Ambiental Em Relação À Flora Urbana Do Município De Teresina - Pi..............323 Capítulo 36 Uso De Agrotóxicos Na Agricultura - Uma Revisão Bibliográfica.........................................333 Capítulo 37 Mata De Cocais: Consequências Das Ações Antrópicas........................................................343 Capítulo 38 Práticas De Educação Ambiental Na Gestão De Bens Públicos:. Desafios De Uma Administração Pública Sustentável............................................................................................................351


Capítulo 39 Percepção Ambiental Sobre A Preservação Da Planta Triplaris Guardneriana Wedd Na Comunidade Folha Larga, Município De União-Pi...........................................................................363 Capítulo 40 A Importância Da Responsabilidade Social Empresarial Para O Desenvolvimento Sustentável.............................................................................................................................................373 Capítulo 41 Educação Ambiental: Reutilização De Pneus E Garrafas Pet Na Escola Ginásio Municipal Antônio Inácio De Oliveira...........................................................................................................383 Capítulo 42 Levantamento Floristico E Caracterização Das Espécies Utilizadas Na Arborização Da Praça Do Conjunto Planalto Uruguai No Bairro Vale Quem Tem Zona Leste De Teresina...............397 Capítulo 43 Ferramentas Moleculares Para Estudo Da Biodiversidade Microbiana Do Solo: Uma Revisão............................................................................................................................................415


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A DISSEMINAÇÃO DA ESPÉCIE EXÓTICA INVASORA ALGAROBA (Prosopis juliflora) NO BIOMA CAATINGA DO NORDESTE BRASILEIRO: UM ESTUDO DE REVISÃO Luziene da Cunha Santos1 Tereza Maria Alcantra Neves2 Simone Mousinho Freire3 Shirliane de Araújo Sousa4 RESUMO Apesar de a temática das espécies exóticas invasoras ser recente no meio científico e praticamente desconhecida pela sociedade, a invasão biológica desencadeada por elas é a segunda maior causa de perda da biodiversidade no planeta. Quando introduzidas em novos ambientes, elas se adaptam e ocupam agressivamente o espaço de espécies nativas, produzindo desequilíbrios muitas vezes irreversíveis. A metodologia do presente trabalho consistiu de um estudo de revisão de literatura, consultando-se os principais periódicos que relatam a ocorrência e os impactos da P. juliflora no bioma caatinga. Este estudo teve como objetivos: compreender o comportamento invasor da P. juliflora, descrever a competição desta espécie com plantas nativas do bioma caatinga e propor soluções de manejo para essa espécie. Conclui-se que P. juliflora forma densos maciços populacionais e compete com as espécies nativas, afetando a florística, a diversidade e a estrutura das comunidades invadidas, mas que um controle biológico, adequado através de um manejo bem estabelecido, pode controlar a competição da algaroba com a vegetação nativa e manter os benefícios proporcionados por esta planta para a população. Palavras-chave: Prosopis juliflora. Espécies invasoras. Biodiversidade Algarobeira

1 INTRODUÇÃO

Invasão biológica é o processo de introdução e adaptação de espécies que não fazem parte, naturalmente, de um dado ecossistema, mas que se naturalizam e passam a provocar mudanças em seu funcionamento. Uma espécie é considerada exótica, ou introduzida, quando situada em um local diferente da sua distribuição natural por causa de introdução mediada por ações humanas, de forma voluntária ou involuntária. Se a espécie introduzida consegue se reproduzir e gerar descendentes férteis, com alta probabilidade de sobreviver no novo hábitat, ela é considerada estabelecida (LEÃO et. al., 2011; ZILLER, 2000). Caso a espécie estabelecida aumente sua distribuição no novo hábitat, ameaçando a 1 Graduada em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Pós Graduando em Biodiversidade e Conservação pelo NEAD da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail luizialuizadavi@hotmail.com 2 Mestre em Saúde da Família: e-mail: teresaàlcantra@yahoo.com / UESPI 3 Doutora em ciência animal/ e-mail: simonemousinho@gmail.com / UESPI. 4 Mestre em Zoologia/ e-mail: shirlianearaujo@hotmail.com / UESPI.. 15


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biodiversidade nativa, ela passa a ser considerada uma espécie exótica invasora. Espécies exóticas invasoras são consideradas uma das maiores ameaças à biodiversidade, à saúde humana, aos bens e recursos humanos. E, por isso, seu manejo envolve uma ampla gama de instituições (OLIVEIRA, 2010; LEÃO, 2011). As invasões biológicas são consideradas a segunda causa da perda de biodiversidade, pois podem alterar os ciclos ecológicos e homogeneizar a biota. O impacto causado pelas espécies invasoras evidencia a ineficiência na prevenção das invasões, bem como na detecção e no controle dos casos diagnosticados. Apesar dos vários estudos sobre invasões biológicas, a falta de diretrizes para elaboração de programas de manejo, que conciliem a teoria ecológica e a prática conservacionista, tem impedido a efetivação das ações de manejo (BYERS, et al. 2002). Um exemplo de espécie exótica e invasora é a Prosopis Juliflora. Esta espécie é extremamente agressiva, sendo sugerida sua introdução somente em locais de intensa aridez, para evitar danos à natureza. A espécie tem invadido extensas áreas baixas (planícies aluviais) da Caatinga, em vários estados do semiárido brasileiro, formando densos povoamentos, mostrando que está adaptada e estabilizada nesta região, o que pode comprometer a sobrevivência de espécies nativas, principalmente quando em competição (LIMA et al. 2002). A caatinga, que ocupa uma área de 800.000 km2, possui vegetação heterogênea, com fitofisionomias e florísticas diferentes de outros biomas variando de aspecto em uma mesma região. Apresenta um relevante grau de endemismo com 932 espécies de plantas vasculares e 318 espécies lenhosas endêmicas e, portanto, sua conservação é importante para a conservação Brasil, possuindo menos de 2% da área protegida como unidades de conservação integral e com aproximadamente 41% e 80% da área, respectivamente, não amostrada e subamostrada (GIULIETTI ET AL., 2004; TABARELLI, VICENTE, 2004). Afirmar que o bioma Caatinga é um ecossistema pobre, que abriga poucas espécies endêmicas, e que, portanto, possui baixa prioridade para conservação, é uma afirmação errônea. Esse mito se extingue à medida que estudos são realizados na região e novas espécies endêmicas de plantas e animais são constantemente descritos. Cerca de 327 espécies animais são endêmicas (exclusivas) da Caatinga; como por exemplo: 13 espécies de mamíferos (o gato-do-mato - F. tigrinus, o macaco prego - Cebus Apella); 23 de lagartos; 20 de peixes e 15 de aves (bico torto da caatinga - Megaxenops parnaguae, pica pau - Picuminus pigmaeus, e jacu - Penelope jacucaca) (TABARELLI, VICENTE, 2004). Ao longo de sua ocupação, a Caatinga tem sido bastante modificada pelo homem. Além disso, os problemas ambientais são agravados pela ocorrência de longos períodos de seca que frequentemente atingem o Sertão. As características climáticas, associadas à ação humana, tornam ainda mais frágil o equilíbrio ecológico, com implicações negativas para os recursos ambientais e, consequentemente, para a qualidade de vida dos habitantes. Desmatamento, extrativismo, agricultura, pecuária, mineração e construção de barragens estão entre as principais atividades que causam danos à Caatinga (KIILL et al, 2007). Nesse cenário de degradação da biodiversidade da caatinga, surge a algarobeira, Prosopis 16


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juliflora (Leguminosae: Mimosoidae), espécie exótica, conhecida também como “alfarroba/ algarrobo” em espanhol, “mesquite” em inglês e “mesquitobaum” em alemão (GOMES, 1973). Essa espécie vegetal foi introduzida no Brasil em 1942, em Serra Talhada-PE, a partir de sementes procedentes do Peru (AZEVEDO, 1961; GOMES, 1961) para fins de suplementação alimentar do gado (NOBRE, 1982). A dispersão de P. juliflora na caatinga ocorreu no ano de 1951 (AZEVEDO, 1982b), distribuídas para técnicos, produtores e prefeitos da região semiárida do nordeste brasileiro, para fomento da produção animal (AZEVEDO, 1961). Além da importância na alimentação animal, os frutos de P. juliflora, se prestam para vários fins na alimentação humana, a partir da confecção de farinha, bolos, biscoitos, café, geléia, licor, cachaça, vinagre (AZEVEDO, 1982a; MENDES, 1987). Participa também como produtos madeireiros (mourões, estacas para cercas), e como energéticos na forma de lenha e carvão, os quais são muito utilizados nas propriedades rurais e, mais recentemente, nos setores que trabalham com fonte energética vegetal (padarias, pizzarias, churrascarias) do semi-árido brasileiro. Algumas espécies de Prosopis podem ser pioneiras, colonizadoras ou invasoras, devido à sua capacidade de penetrar e ocupar a vegetação nativa ou mesmo substituí-la na medida em que é modificada pelo homem (ROIG, 1993). As espécies mais comuns de algarobeira nos trópicos secos são P. juliflora e P. pallida, enquanto que nos subtrópicos são P. glandulosa e P. velutina (PASIECZNIK, 2002). A falta de manejo e a cria­ção extensiva de gado (que atua como disper­sor das sementes) fizeram com que a algaroba invadisse vastas áreas da caatinga, competindo com outras espécies e transformando-se, se­gundo alguns pesquisadores, em problema am­biental e social para os agricultores familiares (FARIAS SOBRINHO et al, 2005; ANDRADE, 2004; LIMA, 1985, 1999; CASTRO, 1985). Desta forma, a geração de conhecimentos sobre o comportamento invasor de P. juliflora e suas conseqüências sobre a comunidade de espécies vegetais nativas são informações importantes que podem oferecer subsídios para o manejo dessa planta nesses ambientes. Sabendo disso, o objetivo deste trabalho é promover um estudo de revisão sobre a disseminação da espécie exótica invasora algaroba (Prosopis juliflora) no bioma caatinga no nordeste brasileiro; compreender o comportamento invasor da P. juliflora no bioma; descrever a competição de P. julifora com plantas nativas da caatinga; e listar os danos que a espécie invasora P. juliflora causa para as plantas nativas do bioma caatinga, propondo soluções de manejo para a espécie P. juliflora. 2 METODOLOGIA Esta pesquisa consiste de um estudo de revisão de literatura, onde serão consultados os principais periódicos que estudem o tema: Periódicos Capes, Scielo e Acta Botânica Brasílica. As palavras chaves utilizadas para a busca de periódicos serão: Prosopis juliflora, 17


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espécies invasoras, biodiversidade, algarobeira. Neste estudo utilizaremos periódicos nacionais publicados entre os anos de 2000 a 2015. Dentre os periódicos encontrados, serão selecionados 08, de acordo com a relevância sobre o tema (avaliado pelo autor), para a composição desse estudo de revisão. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO As invasões biológicas podem causar impactos em diversos níveis, incluindo efeitos sobre indivíduos (morfologia, comportamento, mortalidade, crescimento), efeitos genéticos (alteração de padrões de fluxo gênico, hibridização), efeitos sobre a dinâmica de populações (abundância, crescimento populacional, extinção), de comunidades (riqueza, diversidade, estrutura trófica) e de processos do ecossistema (disponibilidade de nutrientes, produtividade e regime de perturbações) (PARKER et al., 1999). Neste cenário, aparece a algarobeira (Prosopis juliflora), em que a maioria das espécies do gênero Prosopis apresentam comportamento invasor, podendo sobreviver em áreas com baixa precipitação e períodos prolongados de seca (PASIECZNIK et al. 2001). A maioria das plantas do gênero Prosopis pode sobreviver em áreas com baixa precipitação e períodos prolongados de seca, o que facilita seu estabelecimento em locais inóspitos (PASIECZNIK et al., 2001). Prosopis juliflora é considerada uma espécie extremamente agressiva, sendo sugerida sua introdução somente em locais de intensa aridez, para evitar danos à natureza (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCE, 1980). Essa planta tem invadido extensas áreas de “baixios” da caatinga nos Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Bahia e Piauí (REIS, 1985), formando densos povoamentos. Isto mostra que P. juliflora está adaptada e estabilizada nessas regiões (LIMA et al., 2002), o que pode comprometer a sobrevivência de espécies nativas. Neste estudo, selecionamos 08 trabalhos relacionados à temática citada, de acordo com o critério de inclusão prestabelecidos (data e palavras-chave). Os trabalhos analisados foram: Almeida et al (2007), Nascimento (2008), Pegado et al 2006), Ribaski et al (2009), Cunha et al (2012), Lima et al (2005), Oliveira (2010) e Franco (2008). Almeida et al (2007) asseguram que a presença da Prosopis juliflora, no bioma caatinga, é atualmente um fato que altera a biodiversidade e a estabilização das espécies nativas desse bioma. Os autores sugerem que sejam estabelecidas metas de ação para controle da espécie em locais de risco a contaminação biológica irreversível. Nascimento (2008) corrobora o trabalho de Almeida et al (2007); ambos caracterizam a algaroba como uma das espécies exóticas e invasoras mais perigosas, pois ela compete diretamente com as plantas nativas do bioma caatinga. Mas Nascimento fornece sugestões de manejo. Afirma que o controle pode ser feito por meio de poda de árvore, capina, coleta manual das vargens maduras, cerco das áreas invadidas para evitar o pastejo direto dos animais e controle biológico. 18


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Segundo Pegado et al. (2006), a P. juliflora é extremamente agressiva, domina o ambiente (bioma caatinga) e reduz drasticamente a participação das espécies nativas, seja eliminando-as por competição, seja impedindo que muitas delas se estabeleçam. Posição diferente é apresentada por Ribaski et al. (2009), para quem a invasão da algaroba ocorre principalmente em áreas de­gradadas nos ambientes de planície aluvial, não havendo invasão em ambientes com vegeta­ção em estágio avançado de sucessão, ou seja, áreas de mata nativa não seriam ameaçadas pela competição com P. juliflora, o que seria uma evidência de que a algaroba não irá invadir a caatinga de forma indiscriminada. Cunha et al. (2012) afirmam que a algaroba pode ser uma ameaça aos recursos naturais existente no bioma caatinga se não houver o manejo adequado desta espécie. Mas havendo um manejo adequado da algaroba no bioma caatinga, ela se torna um ele­mento importante nas redes sociais e econômi­cas dessa região. Lima et al (2005) observam que a P. juliflora reduz a biodiversidade nativa, seu crescimento desordenado em áreas da caatinga, denota invasão biológica da espécie, pondo em risco a conservação da biodiversidade do bioma caatinga. Ainda afirmam que a erradicação desta planta, depois de ela ter se estabelecido na caatinga é impossível, havendo necessidade de sua exploração racional, como uma fonte de recurso natural. Oliveira (2010) assegura que as espécies exóticas invasoras constituem uma das maiores ameaças à biodiversidade. Devido a sua agressividade, faz necessária uma política pública de manejo das espécies exóticas e invasoras. Para Franco (2008), a algaroba apesar de ser considerada uma praga, não deve ser extinta do bioma caatinga, pois constitui em uma fonte de alimentos para os rebanhos que vivem na caatinga e, no caso de extinção, é necessário ser feita a substituição por outras culturas que possam servir de alimentos para os animais. Todos os trabalhos analisados concordam que a algaroba - P. juliflora é uma espécie exótica invasora, que pode causar alguns danos a vegetação nativa por competir habitat diretamente com elas. Os resultados obtidos sobre o estudo de competição mostram que ela foi capaz de reduzir o crescimento em área foliar, diâmetro e altura e de aumentar a mortalidade das plantas nativas em ambientes com disponibilidade de água, sugerindo-se, também que, além da competição, os efeitos podem estar relacionados à alelopatia de P. juliflora sobre as espécies nativas. Por isto, determinados sítios úmidos da caatinga, como as baixadas sedimentares e os solos aluviais das planícies ribeirinhas (PEGADO et al., 2006) se constituem em ambientes favoráveis para a invasão de P. juliflora, de tal maneira que as primeiras árvores de P. juliflora que se estabelecem criam “ilhas de sucessão” promovendo a melhoria das condições ambientais locais, favorecendo o aumento do número de plantas, com a estabilização desse ecossistema ao longo do tempo (ARCHER, 1995). Isto pode explicar por que P. juliflora é capaz de se estabelecer em ambientes degradados, onde, normalmente, outras espécies de plantas não conseguem ou têm dificuldade para se estabelecerem. 19


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Quanto aos meios naturais de dispersão da algarobeira disponíveis nos trabalhos analisados, observamos que as vagens de algarobeiras não são totalmente digeridas por caprinos, bovinos e muares, sendo o tempo médio de passagem das sementes pelo trato digestivo semelhante para os três animais, que dispersam as sementes pelas fezes por até 10 dias após ingestão, com pico máximo por volta do terceiro dia após alimentação. O percentual médio de sementes, geralmente nuas, aptas para germinação foi de 14,8% para bovinos, 9,3% para os caprinos e 37,3% para os muares. Assim, os animais podem ser vetores de dispersão da algarobeira no semiárido brasileiro se as vagens forem consumidas “in natura”. Apesar da competição, aparentemente descrita sobre a algaroba em relação às plantas nativas, observamos que esta não pode ser extinta totalmente, pois, com um manejo adequado, a algaroba no bioma caatinga, torna-se um ele­mento importante nas redes sociais e econômi­cas da região, servindo de fonte de alimentação animal, onde os frutos de P. juliflora se prestam para vários fins na alimentação humana (farinha, bolos, biscoitos, café, geleia, licor, cachaça, vinagre) (AZEVEDO, 1982; MENDES, 1987), como produtos madeireiros (mourões, estacas para cercas) e como energéticos na forma de lenha e carvão. Destacamos ainda que a melhor solução é que esta planta seja manejada adequadamente, seguindo as medidas de manejo adequadas, como as propostas por Nascimento (2008): poda da árvore, capina, coleta manual das vargens maduras, cerco das áreas invadidas para evitar o pastejo direto dos animais e controle biológico, entre outras. Essas medidas evitarão que a algaroba ameace as plantas nativas e não impede que possamos desfrutar dos benefícios que a mesma pode proporcionar. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Estudos de revisão de literatura sobre temas diversos são importantes para redimensionarmos nossos esforços para lacunas encontradas em problemas que já foram diagnosticados, mas, apesar de estudados, ainda não foram resolvidos. São estes estudos que reforçam nossas atenções para as problemáticas atuais, evitando esforços repetidos e esclarecendo quais medidas funcionais devem ser adotadas a partir de então. Neste estudo de revisão, observamos que a algaroba - P. juliflora é uma planta exótica e invasora que se adaptou bem às condições extremas da região semiárida do Brasil e que esta planta realmente compete com espécies nativas; entretanto essa competição pode ser controlada por meios de controle biológico com um manejo adequado, pois os benefícios nutricionais proporcionados pela algaroba são importantes e se fazem necessários principalmente como complementação alimentar humana e animal das populações do nordeste brasileiro. Sugerimos, então, que os esforços de pesquisas voltadas para esse tema sejam voltados para o aprimoramento e padronização de técnicas efetivas para o manejo adequado e funcional da algaroba, garantindo assim o controle da espécie em determinada região e a manutenção das espécies nativas e os benefícios ofertados pela presença da mesma. 20


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ETNOBOTÂNICA, MANEJO E CONSERVAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS COM POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DA COMUNIDADE CHAFARIZ, PARNAÍBA, PI – BRASIL Maria Janete Cardoso Neves1

RESUMO: A etnobotânica é o ramo da ciência que estuda a relação entre pessoas e plantas em sistemas dinâmicos. O objetivo deste trabalho érealizar um estudo etnobotânico sobre o conhecimento tradicional, assim como a utilização e a conservação das plantas medicinais existente na comunidade Chafariz em Parnaíba-PI. Aplicou-se questionários estruturados a 20 moradores, contendo questões relativasà utilização e finalidade das plantas medicinais, forma de preparo dos fitoterápicos e o perfil sociodemográficos dos participantes. Identificou-se 20 espécies de plantas medicinais, distribuídas em 14 famílias botânicas, com maior representatividade para a família Lamiaceae. As plantas mais citadas foram: malva (Plectranthus amboinicus(Lour. Spreng.), boldo (Plectranthus barbatus Andrews), hortelã (Mentha x villosa Huds.), erva-cidreira (Lippiaalba (Mill.) N. E. Brown.) e mastruz. (Chenopodium ambrosioides L.). As partes mais utilizadas foram as folhas, sendo o chá o modo de preparo mais usual. As doenças mais citadas foram gripe, inflamação e dores de barriga. Assim, estudar o conhecimento e a importância do uso tradicional das plantas medicinais leva a resgatar o patrimônio cultural tradicional das comunidades ribeirinhas, assegurando sua perpetuação às futuras gerações, otimizando os usos populares, desenvolvendo remédios caseiros de baixo custo e também utilizando o conhecimento popular nos processos de desenvolvimento tecnológico.

Palavras-chave: Preservação, Uso tradicional,Fitoterápicos.

INTRODUÇÃO A etnobotânica é um ramo da ciência que tem como objetivo a investigação da relação entre pessoas e plantas em sistemas dinâmicos (ALCORN,1995; HANAZAKI,2004). Segundo Albuquerque (2004),a etnobotânica é considerada a chave para a bioprospecção, no qual buscam de maneira racional novos fármacos de origem vegetal e constitui-se uma fonte entre o conhecimento tradicional e o científico, onde estimula o resgate do conhecimento, a conservação dos recursos vegetais e o desenvolvimento sustentável. Para Martin (1995), em ambientes transformados ambiental e socialmente a etnobotânica contribui para o registro de informações relacionadas à inter-relação entre pessoas e plantas, evitando que tais informações sejam perdidas frente a novos contextos. Esta ciência visa compartilhar o conhecimento gerado, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das populações. Conforme Albuquerque (2005) é através dos estudos etnobotânicos que podemos levantar informações sobre substâncias de origem vegetal e suas aplicações médicas e farma1

Bióloga graduada pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). E-mail: mariajanete3@hotmail.com 25


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cológicas, sobre formas de manejo e conservação, além das que são cultivadas e manipuladas tradicionalmente. Entende-se como planta medicinal, toda espécie vegetal que administrada ao homem ou animal, por qualquer via ou forma, exerça alguma ação terapêutica (SANTOS et al., 2008), ou seja,são usadas em comunidades tradicionais, como remédios caseiros, cuja matéria-prima é usada na fabricação de fitoterápicos e outros medicamentos (ALMEIDA, 2011), na prevenção e cura de doenças (MORAES; SANTANA, 2001).A grande diversidade biológica de plantas medicinais existente em nosso país, conta com um vasto acervo cultural de saberes tradicionais, sendo usado por populações que vivem longe dos grandes centros urbanos,devido o alto custo dos medicamentos, o difícil acesso a consultas medicas e/ou pela dificuldade de locomoção dessas comunidades(ALBUQUERQUE, 2005). Segundo Calixto e Ribeiro (2004), também é importante reconhecer a relevância da sabedoria tradicional na utilização dessas plantas com fins terapêuticos, se faz necessária a sua preservação a fim de proteger esse conhecimento, que deve ser repassado ao longo das gerações. Essa prática demanda a realização de pesquisas para a obtenção de informações constituindo-se em uma estratégia de educação ambiental, tendo em vista a necessidade de preservação e manejo sustentável das espécies de interesse ecológico e social (AMOROZO, 1996; VENDRÚSCOLO; MENTZ 2006). É percebido que as plantas medicinais têm contribuído de modo significativo na questão socioeconômica de populações rurais e urbanas, com a redução de gastos com medicamentos sintéticos (RIBEIRO, 2004), no desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas por meio de seus metabólitos secundários, sendo conhecidos por atuar de maneira direta ou indireta no organismo (CALIXTO, 2005).Necessitando assim, de pesquisas para o esclarecimento e confirmação da veracidade das informações sobre as ações das plantas, no qual visa minimizar os efeitos colaterais e toxicológicos (GERBER,1988; SOUZA, SILVA, 1992; ALMASSY JUNIOR et al., 2005). A presente pesquisa foi realizada na comunidade Chafariz, localizada a margem do rio Igaraçu, no município de Parnaíba, Piauí. Diante do exposto, objetivou-se fazer um estudo etnobotânico sobre o conhecimento tradicional, a utilização e a conservação das plantas medicinais;dada a relevância do tema abordado, necessitando de um estudo mais aprofundado, principalmente nas comunidades ribeirinhas do litoral piauiense, visando assim,obter mais informações sobre o uso de plantas medicinais e a prática sustentável dos recursos naturais.

METODOLOGIA Tipo de pesquisa Trata-se de uma pesquisa que utiliza métodos quantitativos e qualitativos, conforme Garlet (2000); Vendrúscolo & Mentz (2000), onde são realizados somatórios, porcentagem sim26


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ples dos resultados obtidos e análise minuciosa do conteúdo. Utilizaram-se entrevistas informais, abertas e semiestruturadas, com listagem livre das plantas.A identificação das amostras foi realizada utilizando bibliografia especializada, utilizando como Sistema de classificação APG III (2009). A nomenclatura das espécies foi confirmada no IPNI (2012).Os dados foram tabulados no programa Microsoft Office Excel 2010 e elaboradas tabelas e figuras. Área de estudo A comunidade Chafariz está localizada no município de Parnaíba-PI. A mesma limita-se ao norte com Rio Igaraçu; ao sul com Aeroporto Internacional João Silva Filho; a leste com local denominado Pau d´Arco; ao Oeste com a localidade denominado Sossego. (IBGE, 2000). A comunidade possui saneamento básico e nos últimos anos água potável. Possui serviços públicos como: energia elétrica, visita de assistência social do Programa Saúde da Família- PSF duas vezes por mês,uma escola de ensino fundamental, uma congregação Evangélica e transporte escolar pra sede do município. Coleta e análise dos dados A coleta de dados foi realizada no período de março a abril de 2016, as informações foram obtidas através de questionários semiestruturado completadas por entrevistas livres e conversas informais com 20 pessoas da comunidade, semelhante à pesquisa realizada por (SANTOS et al., 2012). Antes das entrevistas foi explicado o objetivo da pesquisa e solicitado à permissão pelos entrevistados para registrar as informações fornecidas. A preferência por este meio para obtenção dos dados é devido à entrevista estruturada representar uma forma de coleta de dados que permite o entrevistado a responder perguntas previamente estabelecidas, independentemente de ter havido contato anterior com a população a ser estudada. Isto exige do pesquisador total domínio das questões mais relevantes a serem exploradas (ALBUQUERQUE et al., 2004).O questionário foi constituído de questões relativas a dados pessoais, informações sobre as plantas medicinais utilizadas, bem como a finalidade do uso, a parte utilizada e a forma de preparo. Não houve coleta de plantas, somente registro fotográfico.

RESULTADOS E DISCUSSÕES Dados sociodemográficos dos entrevistados Do total de entrevistados 18 foram mulheres e dois homens, com faixa etária variando entre 18 a 81 anos de idade.O nível de escolaridade é relativamente baixo, com 50% possuindo o ensino fundamental incompleto e apenas 20% tem o ensino médio completo; quanto ao ensino 27


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fundamental completo, os não escolarizados, cursando ensino médio e com ensino médio incompleto totalizaram 30% (sendo 10%, 10%, 5% e 5% respectivamente). A pesca é a principal fonte de renda da comunidade. Etnobotânica Foram registradas 14 famílias botânicas e 20 espécies de plantas medicinais utilizadas na comunidade Chafariz. As famílias mais representativas em número de espécies foram Lamiaceae (30%) e Rubiaceae (10%), e as demais famílias totalizaram (60%), conforme a figura 1. A família Lamiaceae foi a mais representativa encontrada em trabalhos de (VÁSQUEZ et al, 2014; CAVALCANTE; SILVA, 2014; NASCIMENTO et al., 2015). O motivo que leva as plantas da família Lamiaceae serem largamente utilizadas esta relacionada a distribuição cosmopolita, grande importância terapêutica e riqueza em óleos essenciais, o que atribui a estas espécies propriedades aromáticas e medicinais(DISTASI et al., 2002; PINTO et al., 2006). Com relação a obtenção de plantas medicinais, 60% responderam que conseguem no quintal do vizinho, 15% em seu próprio quintal, 10% em seu quintal/quintal do vizinho e 15% não responderam. Alguns moradores afirmaram que já tiveram plantas medicinais em seus quintais, mas a criação de animais inviabiliza o cultivo, por isso, a comodidade de sempre procurar no vizinho, mas mostraram interesse de cultivá-las novamente. Em caso de doenças 50% recorrem primeiramente as plantas, assim como também foi averiguado por Arnous et al. (2005) e Nery (2013); 30% buscam somente auxilio médico, 10% médico/farmacêutico, 5% ao médico/plantas e 5% não responderam. Quanto a eficácia na utilização das plantas, 70% responderam que sempre é satisfatória, 15% são duvidosos quanto a eficácia das plantas medicinais, 5% afirmaram não terem resultado com o uso das plantas e 10% não responderam. A alta porcentagem de satisfação com o uso das plantas medicinais evidência sua importância para as pessoas entrevistadas mediante resultados positivos obtidos. Em relação à parte da planta mais utilizada, 85% foram unânimes em afirmar que utilizam as folhagens, 5% utilizam apenas a folha e o fruto e 10% não responderam (Tabela 1). Autores observaram que a parte mais utilizada são as folhas por concentrarem geralmente grande 28


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parte dos princípios ativos das plantas, estando esses achados compatíveis com os dados obtidos (CAVALCANTE;SILVA, 2014;VÁSQUEZ et al., 2014;CUNHA;BORTOLOTTO, 2011). Foram relatadas 14 etnoespécies que são utilizadas principalmente na forma de chá, três etnoespécies usadas para lambedor e duas na forma de suco. Resultados similares foram encontrados nos estudos de Lorenz i& Matos (2008), Amorozo (2002) e Freitas et al. (2012).O chá muito utilizado pela comunidade é preparado pela extração do princípio ativo utilizando a água, através de temperaturas elevadas e tempo decorrido. O lambedor por sua vez é uma preparação normalmente feita a partir de plantas com açúcar, que ao ser levada a altas temperaturas transforma-se em um melaço, utilizada para problemas respiratórios. O suco é obtido espremendo-se ou triturando uma planta medicinal fresca num pilão, liquidificador ou centrífuga. (ZUANAZZI et al ,2000). Tabela 1. Nomes Científicos, nome popular, hábito, parte utilizada, indicações e forma de uso das plantas medicinais encontradas na Comunidade Chafariz - Parnaíba-PI-Brasil. Família/Espécie

Nome popular

Hábito

Parte usada

Indicações

Forma de uso

Mastruz

Her

folha

inflamação, gripe, verme, dor nas articulações

suco com leite, chá

Milindro

Her

folha

problema no coração

chá

Boldo folha miúda

Her

folha

contra ressaca

chá

Corona

Her

folha

febre alta, gripe, inflamação

chá, lambedor

Erva-cidreira

Her

folha

dor de barriga, pressão alta, calmante

chá

Vick

Her

folha

gripe, garganta

chá

Amaranthaceae Chenopodiumambrosioides L. Apiaceae Apiumonfeniculum Asteraceae Vernoniacondensate Baker Crassulaceae Bryophyllumpinnatum (Lam.) Kurz Lamiaceae Lippiaalba (Mill.) N. E. Brown. Menthaarvensis L. Menthaxvillosa Huds. Ocimumbasilicum Plectranthusamboinicus (Lour.) Spreng. Plectranthusbarbatus Andrews

Hortelã

Her

folha

dor de barriga, gripe, verme

chá, lambedor

Manjericão folha miúda

Her

folha

resfriado, tosse

chá

Malva-do-reino

Her

folha

inflamação, gripe, descongestionante

chá, lambedor

Boldo

Her

folha

dor de barriga, má digestão

chá

Babosa

Her

folha

pneumonia, queimadura

lambedor

Romã

Sub-arb

fruto, casca

garganta inflamada

chá

Eucalipto

Arv

folha

Gripe

chá

Liliaceae Aloevera Lithraceae Punicagranatum L. Myrtaceae Eucalyptusglobulus Labill. Nyctaginaceae

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Mirabilisjalapa L.

Jalapa

Arv

folha

Constipação

chá

Maracujá

Lia

fruto

Calmante

chá

Quebra-pedra

Her

raiz

para os rins

chá

Capim-limão

Her

folha

calmante, febre, má digestão

chá

Nôni

Arv

fruto

gastrite, diabetes, próstata, inflamação

suco

Vassourinha

Her

raiz

dor de urina

chá

Gengibre

Her

raiz

antiinflamatório, garganta

chá

Passifloraceae Passifloraedulis Sims Phyllanthaceae Phyllanthusniruri L. Poaceae Cymbopogoncitratus (DC.) Stapf Rubiaceae Morindacitrifolia L. Spermacoce verticillata L. Zingiberaceae Zingiberofficinale

Fonte: Neves, M.J.C. 2016.

As etnoespécies medicinais mais citadas pela comunidade Chafariz foram a malva (Plectranthusamboinicus (Lour.) Spreng.),boldo (Plectranthusbarbatus Andrews), hortelã(Menthaxvillosa Huds.), erva-cidreira (Lippiaalba (Mill.) N. E. Brown.) e mastruz.(Chenopodiumambrosioides L.), figura 2. Estas etnoespécies foram bastante representativas no trabalho de Lima et al (2011) em um levantamento etnobotânico de plantas medicinais utilizadas na cidade de Vilhena, Rondônia.Estas etnoespécies também foram consideradas importantes nos estudos de Giraldi & Hanazaki (2010) e foram mencionadas pelo valor expressivo de citações com fins terapêuticos(SOUSA et al., 2012;NASCIMENTO, 2014). Os entrevistados citaram um total de 38 doenças e sintomas que podem ser tratadas com plantas medicinais. As indicações terapêuticas mais citadas foram gripe, inflamação e dores de barriga. Em área de caatinga, as doenças do aparelho respiratório também aparecem com a maioria das indicações de tratamentos (SILVA; FREIRE, 2010; ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002; ALMEIDA; ALBUQUERQUE, 2002). Estudos em outros biomas com plantas exóticas apresentaram resultados semelhantes, como os de Amorozo & Gély (1988), no Amazonas, e Silva-Almeida &Amorozo (1998), em Mato Grosso. Destacando, assim, a predominância de plantas herbáceasjá consagradas ao longo do tempo como medicinais.

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CONCLUSÃO A utilização e a conservação de plantas medicinais pela comunidade Chafariz, vêm ao longo do tempo perdendo seu significado, em função do processo de urbanização caracterizado pelo fluxo instantâneo de informações sobre a eficácia dos medicamentos industrializados. Essa perda cultural esta associada a supervalorização da cultura urbana que se sobrepõe as tradições, apesar dos moradores mais velhos resistirem a esse avanço tecnológico. Estudar o conhecimento e a importância do uso tradicional das plantas medicinais nos leva a resgatar o patrimônio cultural tradicional das comunidades ribeirinhas, assegurando sua perpetuação as futuras gerações. Dessa forma, podem-se otimizar os usos populares, desenvolvendo remédios caseiros de baixo custo e também utilizar o conhecimento popular nos processos de desenvolvimento tecnológico.

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AVALIAÇÃO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DAS NASCENTES DO RIO CORRENTE, PIAUÍ, BRASIL Marco Antônio Jacobina dos Reis1 Tereza Maria Alcântara Neves 2 Simone Mousinho Freire3 Shirliane de Araújo Sousa 4 RESUMO Uma das questões mais preocupantes para o mundo, na atualidade, é a quantidade de água disponível tanto para a vida e atividades do homem, quanto para a manutenção de ecossistemas animal e vegetal. No Brasil, a água disponível para o nosso consumo, além de ser distribuída de forma irregular, ainda é utilizada negligentemente, e o desperdício desse bem vem provocando prejuízos como a escassez do mesmo em muitas regiões do país. Nas últimas décadas, o desmatamento de encostas, das matas ciliares e o uso inadequado dos solos têm contribuído para a diminuição dos volumes e da qualidade da água, um bem natural insubstituível na vida do ser humano. Os cuidados devem se iniciar com a preservação das nascentes, pois são as origens dos rios que abastecem nossas casas. O rio Corrente é a fonte principal de abastecimento da cidade, suas nascentes e o curso de seus afluentes devem ser preservados, pois, além da questão conservacionista, as consequências podem atingir drasticamente o abastecimento de água na cidade de Corrente, localizada no extremo sul do Piauí. O objetivo deste estudo é avaliar a preservação das nascentes do Rio Corrente, identificar e enumerar as possíveis ameaças e problemas ambientais que ameacem a integridade das mesmas. Este trabalho consiste de um estudo de caso de caráter descritivo, em que avaliamos a situação das nascentes do rio Corrente sob uma perspectiva conservacionista. O plano de execução desse trabalho foi dividido em três etapas: na primeira etapa, foi feito um levantamento de literatura; na segunda etapa foi realizada uma visita nos órgãos ambientais responsáveis e, na terceira etapa, foram feitos o estudo de campo e a aplicação de questionários com a população ribeirinha. Entre os principais problemas ambientais observados na visita de campo, listamos os seguintes: desmatamento, queimadas, poluição das águas com lixo, falta de fiscalização. Observamos que a situação das nascentes do rio corrente está mais grave do que o previsto e necessita de atenção urgente dos órgãos competentes, juntamente com a elaboração de um plano de ação que possa utilizar a percepção da comunidade local na preservação e manutenção da área, pois somente a fiscalização não é o suficiente para a manutenção das medidas conservacionistas. Palavras-chave: Nascente. Rio Corrente. Preservação ambiental. 1 INTRODUÇÃO A água é uns dos recursos naturais indispensáveis à manutenção da vida em nosso planeta, e a agua doce, própria para o consumo humano, apresenta-se em pequena proporção relacionada à água salgada, somente 2%, e boa parte aparece retida, na forma de gelo, em 1 Engenheiro Agrônomo graduado pela Universidade Estadual do Piauí, e-mail: marcojacobina1@outlook.com 2 Mestre em Saúde da família – UNINOVAFAPI. 3 Doutora em Ciência Animal – UFPI; Mestre em Ciência Animal – UFPI; Especialista em zoologia- UFPI, Graduada em licenciatura plena em ciências biológicas-UESPI 4 Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI; Especialização em Libras com docência no Ensino Superior – FACIME; Mestrado em Zoologia pela Universidade Federal do Pará. E-mail shirlianearaujo@hotmail.com.

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calotas polares ou então na forma de águas subterrâneas. Isso significa que apenas 0,44% da água do planeta Terra aparece em disponibilidade para os seres vivos (IBAMA 2010). Uma das questões mais preocupantes para o mundo, na atualidade, é a quantidade de água disponível tanto para a vida e atividades do homem, quanto para a manutenção de ecossistemas animal e vegetal. No Brasil, a água disponível para o nosso consumo, além de ser distribuída de forma irregular, ainda é utilizada negligentemente, e o desperdício desse bem vem provocando prejuízos como a escassez do mesmo em muitas regiões do país (CONAMA, 2008). A diminuição das chuvas (períodos de estiagem prolongados), com as constantes mudanças climáticas, a falta de saneamento com a consequente poluição de rios, o uso clandestino dos recursos hídricos, a poluição dos lençóis freáticos, e devastação das nascentes dos rios são motivos que vêm ajudando a diminuir a disponibilidade de água própria para o consumo e piorando a situação de abastecimento de água no nosso país. Bacia hidrográfica é uma área onde ocorre a drenagem da água das chuvas para um determinado curso de água (geralmente um rio). Com o terreno em declive, a água de diversas fontes (rios, ribeirões, córregos, etc.) deságua num determinado rio, formando assim uma bacia hidrográfica. A bacia hidrográfica é usualmente definida como a área na qual ocorre a captação de água (drenagem) para um rio principal e seus afluentes devido às suas características geográficas e topográficas (Castro, Lopes, 2001). Nas últimas décadas, o desmatamento de encostas, das matas ciliares e o uso inadequado dos solos têm contribuído para a diminuição dos volumes e da qualidade da água, um bem natural insubstituível na vida do ser humano. Os cuidados devem se iniciar com a preservação das nascentes, pois, são as origens dos rios que abastecem nossas casas. Elas são manifestações superficiais de água armazenadas em reservatórios subterrâneos, chamados de aquíferos ou lençóis, que dão início a pequenos cursos d’água, que formam os córregos, se juntando para originar os riachos e dessa forma surgem os rios (CALHEIROS, 2004). O Rio Corrente nasce na chapada das mangabeiras e deságua no Rio Paraim, seu leito tem um percurso de aproximadamente 72 km, recebendo água de trinta (30) pequenos afluentes. Esse rio é perene, e a sua nascente faz parte do Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba. O rio Corrente abastece o município de Corrente-PI por onde passa com os mais diversos usos de abastecimento humano e agropecuário (AGUIAR, GOMES, 2004). Como o rio é a fonte principal de abastecimento da cidade, suas nascentes e o curso de seus afluentes devem ser preservados, pois, além da questão conservacionista, as consequências podem atingir drasticamente o abastecimento de água na cidade de Corrente, localizada no extremo sul do Piauí. O objetivo deste estudo é avaliar a preservação das nascentes do Rio Corrente, identificar e enumerar as possíveis ameaças e problemas ambientais que ameacem a integridade das mesmas, e elaborar técnicas através da ferramenta da educação ambiental para despertar a importância da preservação dos Recursos Hídricos e mata da ciliar que contorna as nascentes do rio Corrente junto à população local. 36


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2 MATERIAIS E MÉTODOS Este trabalho consiste de um estudo de caso de caráter descritivo, em que avaliamos a situação das nascentes do rio Corrente (localizado na cidade de Corrente, extremo sul do estado do Piauí) sob uma perspectiva conservacionista. O plano de execução desse trabalho foi dividido em três etapas, que foram realizadas entre os meses de dezembro a março (2015/2016), as etapas serão descritas a seguir (Figura 1 e 2). Figura 1. Mapa da localização do município de Corrente, Piauí, Brasil

Fonte: piauímesomunicip.org

Figura 2. Imagem da nascente do Rio Corrente, cedida pela (SUMAR) Superintendência de meio Ambiente e Recursos Renováveis

Fonte: SUMAR (2015)

Na primeira etapa, foi feito um levantamento de literatura prévio (livros, artigos e trabalhos técnicos), como o objetivo de obter mais informações sobre a região e sobre a localização e situação do rio Corrente. Na segunda etapa, foi realizada uma visita nos órgãos ambientais responsáveis (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e SUMAR - Superintendência do meio Ambiente e Recursos Renováveis) e de cunho conservacionistas da região, como o objetivo de obter mais informações sobre o tema e confrontar os encontrados na literatura 37


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Na terceira etapa, foram feitos o estudo de campo e a aplicação de questionários com a população ribeirinha, com o objetivo de identificar em loco a situação das nascentes do rio Corrente, verificar quais os problemas ambientais que as acometem, e assim lista-los, além de entender qual a percepção da população sobre a importância das nascentes e preservação da mesma. Foram aplicados 10 questionários aos moradores que vivem próximo a nascente do Rio Corrente. Os questionários possuíam questões abertas, fechadas e mistas, para uma compreensão mais ampla de cada caso relatado. As respostas foram analisadas descritivamente, e os resultados confrontados com as informações obtidas com a visita de campo e com os dados fornecidos pelos órgãos ambientais visitados, e a literatura disponível sobre a temática. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O questionário aplicado com a população local (ribeirinha) era composto por questões de conhecimento geral e específico sobre o tema, como por exemplo: a localização das nascentes, seus status de conservação, as principais ameaças a conservação da mesma, as atividades que eram executas próximas as nascentes, às ações e o suporte conservacionista oferecidos pelos órgãos ambientais responsáveis, e a percepção dos habitantes sobre a atual situação do rio Corrente e sua nascente. De acordo com o resultado do questionário, constatamos que 40% das pessoas entrevistadas vivem próximas as nascentes do Rio Corrente a mais de 10 anos, os outros 60% são morados entre 5 a 10 anos. Ao perguntarmos sobre conceitos gerais, como o conceito de bacia hidrográfica, a maiorias das pessoas (90%) entrevistadas não tinham conhecimento sobre este conceito, e a minoria (10%) afirmava que bacia hidrográfica era um rio. Ao perguntarmos se os entrevistados tinham conhecimento do conceito de mata ciliar e sua importância para a preservação do rio, a maioria (90%) também afirma nunca ter ouvido este termo, e a minoria (10%) associou o termo com o conceito geral de vegetação. Esse desconhecimento do conceito de mata ciliar e sua importância, por parte dos habitantes entrevistados, é muito preocupante, pois não podemos conservar aquilo que não conhecemos e não sabemos da importância. Segundo Botelho (2006), mata ciliar é um tipo de cobertura vegetal nativa, que fica às margens de rios, igarapés, lagos, nascentes e represas. O nome “mata ciliar” vem do fato de serem muito importantes para a proteção de rios e lagos tal como são os cílios para nossos olhos. As matas ciliares também são conhecidas como mata de galeria, vegetação ribeirinha ou vegetação ripária. As matas ciliares são fundamentais para o equilíbrio ecológico, oferecendo proteção para as águas e o solo, reduzindo o assoreamento e a força das águas que chegam aos rios, lagos e represas, mantendo a qualidade da água e impedindo a entrada de poluentes para o meio 38


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aquático. Formam, além disso, corredores que contribuem para a conservação da biodiversidade; fornecem alimento e abrigo para a fauna; constituem barreiras naturais contra a disseminação de pragas e doenças da agricultura; e, durante seu crescimento, absorvem e fixam o dióxido de carbono, um dos principais gases responsáveis pelas mudanças climáticas que afetam o planeta (ICMBIO, 2010). Além disso, as matas ciliares são de fundamental importância para a qualidade das aguas dos rios, evita o controle do regime hídrico, a redução da erosão das margens dos rios, a manutenção da fauna e flora, com o aumento da oferta de pescado e a melhoria dos aspectos paisagísticos. (BOTELHO 2006). Ao perguntarmos sobre a localização do rio, local da nascente e desembocadura, percebemos que os entrevistados tinham conhecimento desse percurso banhando pelo rio Corrente, apenas 10% dos entrevistados não sabiam informar sobre isso. Ao perguntamos sobre a usabilidade do rio pelos habitantes, todos afirmaram que esta era a principal fonte de abastecimento de água da região, e que o rio era fundamental para o desenvolvimento de atividades antrópicas como a agricultura (irrigações), pecuária, e desenvolvimento de pequenas hortas. Mota (2005) afirma que a água de rios é a principal fonte de sobrevivência para a maioria das populações ribeirinhas, e movimenta todas as atividades executas por elas, como: abastecimento humano e industrial, irrigação, recreação estético pastoril, preservação da flora e fauna, geração de energia, transporte, diluição e afastamento de despejos, mas, apesar de tamanha importância, chama à atenção para o uso sustentável desse recurso e a preservação do mesmo. De acordo com as respostas dos entrevistados, a maioria reconhece que a atividade que oferta maior dano a área de proteção permanente das nascentes e do rio como um todo, são a agricultura e pecuária; pois ambas realizam do desmatamento e das queimadas, como métodos prévios para a instalação de pastos e cultivares. Esse relato foi confirmado nas visitas de campo e ao órgão ambiental responsável (SUMAR), no qual foram fornecidas fotografias que ilustram o relatado pelos habitantes e o observado em loco (Figura 2). Figura 2. Imagem de atividades realizadas próximo as nascente do Rio Corrente A. Desmatamento para a construção de pasto. B. Queimadas para a instalação de cultivares. C. Atividade pecuária. Fonte: SUMAR (2015) A B C

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Quando questionados sobre quais as medidas que poderiam ser tomadas para ajudar na preservação das nascentes e do rio, e sobre as ações dos órgãos competentes sobre isso na região habitada por eles, as respostas foram semelhantes em todos os entrevistados. Todos responderam que a melhor medida para preservar as nascentes seria o reflorestamento, mas os mesmo responderam não executar essa medida na área, visto que eles próprios são responsáveis por tais impactos ambientais. O reflorestamento é uma ação ambiental que visa repovoar áreas que tiveram a vegetação removida pelas forças da natureza (incêndios, por exemplo) ou ações humanas (queimadas, exploração de madeira, expansão de áreas agrícolas, queimadas). E é uma das principais medidas para a recuperação de áreas impactadas e para se evitar a erosão dos solos (IBAMA, 2010). Os entrevistados afirmaram também que é quase inexistente a presença de trabalhos de educação ambiental na área, por parte dos órgãos responsáveis. A maioria afirma que os órgãos atuam somente no trabalho de fiscalização. Este relato contradiz o afirmado pela superintendência de meio Ambiente e Recursos Renováveis (SUMAR), segundo eles além do serviço de fiscalização, ainda executam conscientizam da população ribeirinha sobre os principais problemas que mais degradam o rio, juntamente com outros órgãos, como o IBAMA e ICMBio. De acordo com o questionário aplicado e a visita de campo, podemos observar que a população é muito carente com relação a uma maior assistência dos órgãos conservacionistas competentes. A maioria sabe que estão causando impactos irreparáveis nas áreas de APP (área de proteção permanente) das nascentes e do rio, mas afirmam depender dessas atividades para sua sobrevivência, e não sabem como poderiam executar um trabalho sustentável na região. Entre os principais problemas ambientais observados na visita de campo, concordamos com os relatos dos entrevistados e dos órgãos ambientais, em listar os seguintes: desmatamento, queimadas, poluição das águas com lixo, falta de fiscalização. Observamos que a situação das nascentes do rio corrente está mais grave do que o previsto, e necessita de atenção urgente dos órgãos competentes, juntamente com a confecção de um plano de ação que possa utilizar a percepção da comunidade local na preservação e manutenção da área; pois somente a fiscalização não é o suficiente para a manutenção das medidas conservacionistas. É necessário conscientizar e deixar claro para a população a importância da preservação do rio para a manutenção de suas atividades e sua própria subsistência. 4 CONCLUSÃO Para a conservação de nascentes e mananciais em propriedades rurais, podem ser adotadas algumas medidas de proteção do solo e da vegetação, que vão desde a eliminação das práticas de queimadas até o enriquecimento das matas nativas. Além disso, outros cuidados também são importantes para a preservação delas. Por exemplo, evitar a construção de currais, chiqueiros, galinheiros e fossas sépticas nas proximidades acima das nascentes, pois, com 40


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a chuva, os dejetos podem contaminá-las. Da mesma maneira, o desmatamento no entorno das nascentes e o acúmulo de lixo nas regiões próximas a elas também precisam de atenção (PENSAMENTOVERDE.COM). O desmatamento e a ocupação irregular do solo devastam as áreas de cabeceira ou de recarga, responsáveis pelo reabastecimento dos lençóis freáticos, aquíferos e nascentes, o que contribui em grande parte com a redução da quantidade e da qualidade de água disponível no planeta. Essas localidades são cruciais para o reabastecimento dos lençóis freáticos, aquíferos, das nascentes e, consequentemente, dos rios. Algumas nascentes do rio Corrente se encontram totalmente degradadas e outras ainda resistem à ação do homem, pois a maioria dos ribeirinhos retira seu sustento de atividades sustentadas pelo fornecimento dessas águas e da região das nascentes. Na concepção de ambientalista da região, por exemplo, Raimundo Brito, que realizou um documentário sobre “as nascentes do rio Corrente”, deveria existir um incentivo por parte do poder público, proporcionando alternativas e realizando trabalhos de conscientização para a população que habita a região das nascentes como um todo, isso evitaria a ocorrência de medidas impactantes nas nascentes e esclareceriam a comunidade sobre a importância do conceito de preservação e sustentabilidade. REFERÊNCIAS ÁGUA: Manual de irrigação. Para que a fonte não seque. 2010. Guia Rural. São Paulo: Editora Abril, 1991. 170p. AGUIAR, ROBÉRIO BÔTO; GOMES, JOSÉ ROBERTO DE CARVALHO. Projeto Cadastro de Fontes de Abastecimento por Água Subterrânea Diagnóstico do Município de Sebastião Barros Estado do Piauí. Março, 2004 CASTRO, P. S.; LOPES, J. D. S. Recuperação e conservação de nascentes. Viçosa: Centro de Produções Técnicas, 2001. 84p. (Série Saneamento e Meio -Ambiente, n. 296) CONAMA. Legislação ambiental. Disponível em http://www.mma.gov.br/conama. Acesso em 31 de outubro de 2008. MOLCHANOV, A. A. Hidrologia florestal. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1963. 419 p RODRIGUES, R.R.; SHEPHERD, G. Fatores condicionantes da vegetação ciliar. In: RODRIGUES, R.R.; LEITÃO FILHO, H. F. (Eds.). Matas ciliares: conservação e recuperação. São Paulo: USP/FAPESP, 2000. cap. 6. p. 101-107. SANCHAZ, L.E Avaliação de impacto Ambiental: conceitos e métodos. Editora oficina de textos. 2. edição, São Paulo, 2008.Disponivel em<http.bonito.pa.gov.br/sites/9400/9475/pro postadoplanodemanejodabaciahidrograficadoriuPeixe-Boi.pdf/>acesso em: junho 2015 41


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A ABORDAGEM DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FERRAMENTA DE CONSCIENTIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE NA ESCOLA CORONEL JUSTINO CAVALCANTE BARROS, CORRENTE, PIAUÍ Odete Rosa Barbosa Batista1 Tereza Maria Alcântara Neves 2 Simone Mousinho Freire3 Shirliane de Araújo Sousa4 RESUMO A educação ambiental é de grande importância atualmente para a formação do indivíduo, pois o ser humano vai-se preparando para utilizar os recursos naturais de forma consciente, inserindo na sociedade, por meio de atitudes, uma nova conduta, e assim obedecendo às leis que são impostas para serem cumpridas em favor do meio ambiente. Este trabalho trata-se de uma pesquisa de campo de caráter descritivo que foi executada na Escola Estadual Coronel Justino Cavalcante Barros. Como instrumento da pesquisa, foi aplicado um questionário com os professores das disciplinas de ciências humanas e da natureza, contendo 15 perguntas algumas abertas, fechadas e mistas, com o objetivo de obter mais informações sobre o tema proposto, além de confrontar a diversidade de opinião da comunidade escolar como um todo. Os resultados foram avaliados descritivamente, expostos e discutidos sobre a forma de gráficos construídas no programa Microsoft Office Excel 2010. Nesta pesquisa, foram 11 os colaboradores que responderam às perguntas: sete professores, dois diretores e dois coordenadores. Observamos que a escola, apesar de trabalhar o tema educação ambiental em suas disciplinas, encontra dificuldade com a execução de atividades mais elaboradas, ou por falta de verbas destinadas para isso por parte da escola, ou por falta de uma formação mais específica dos professores. A maior parte dos professores entrevistados possui outras graduações e não tiveram, durante sua formação, muita informação acerca da temática ambiental, fato que dificulta inserir e criar atividades mais didáticas sobre esse tema em sala de aula. Para que este trabalho efetivamente aconteça, é preciso que a Educação Ambiental abordada na escola seja primeiramente discutida com toda a comunidade e que a discussão e o planejamento façam parte do cotidiano escolar. Palavras-chave: Educação ambiental. Problemas ambientais. Meio ambiente.

1 INTRODUÇÃO O nosso planeta passa por uma crise ambiental. Os ciclos naturais estão sendo alterados devido à ação humana. Dentre os principais problemas ambientais, podemos citar os seguintes: o desmatamento, as queimadas, poluição das águas, lixo e esgoto (CAMARGO et. al, 2004). Os problemas ambientais causados pela negligência do homem e falta de uma percepção sustentável, tem causado danos irreparáveis em ecossistemas inteiros, perda de hábitats 1 Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Pós Graduando em Biodiversidade e Conservação pelo NEAD da Universidade Estadual do Piauí – UESPI. E-mail odeterbatista@ gmail.com. 2 Mestre em Saúde da família – UNINOVAFAPI. 3 Doutora em Ciência Animal – UFPI; Mestre em Ciência Animal – UFPI; Especialista em zoologia- UFPI, Graduada em licenciatura plena em ciências biológicas-UESPI 4 Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI; Especialização em Libras com docência no Ensino Superior – FACIME; Mestrado em Zoologia pela Universidade Federal do Pará. E-mail shirlianearaujo@hotmail.com. 43


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e extinção de espécies. Diante desse cenário, a Educação Ambiental, vem tornando-se uma ferramenta alternativa para contornar esses problemas e impactos que atingem a vida do homem e do meio ambiente (ANDRADE, 2001; ANTUNES, 2004). A educação ambiental tem como objetivo principal tornar palpável a percepção da conservação, da preservação do meio ambiente e a busca pelo uso sustentável dos recursos naturais. Nela está depositada a responsabilidade de desenvolver a consciência da necessidade de preservar, e munir o homem do conhecimento, para que possa adotar as atitudes adequadas para o uso dos recursos naturais, de modo que possa satisfazer suas necessidades, desenvolverse social e economicamente, respeitando os limites de exploração e o ciclo da natureza (CANTINHO, SILVA, 2015). Para Reigota (1991, p. 9), os objetivos da Educação Ambiental são:  Consciência: ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem uma consciência e uma sensibilidade acerca do meio ambiente e dos problemas a ele associados.  Conhecimento: ajudar os grupos sociais e os indivíduos a ganharem uma grande variedade de experiências.  Atividades: ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem um conjunto de valores e sentimentos de preocupação com o ambiente e motivação para participarem ativamente na proteção e melhoramento.  Competência: ajudar os grupos sociais e os indivíduos a adquirirem competências para resolver problemas ambientais.  Participação: propiciar aos grupos sociais e aos indivíduos uma oportunidade de se envolverem ativamente, em todos os níveis, na resolução de problemas relacionados com o ambiente. (1991)

De acordo com os PCNs, o tema “meio ambiente” deve ser tratado no ensino formal como um tema transversal, assim o professor junto com a escola tem que ter conhecimento globalizado para trabalhar temas diversificados nas disciplinas, pois a Educação Ambiental não tem uma disciplina específica. Segundo Cantinho e Silva (2015), as metodologias utilizadas na Educação Ambiental serão mais significativas se a atividade estiver adaptada concretamente às situações da vida real da cidade, do meio, do aluno e do professor. Na lei 9.795/99 da educação ambiental (Art.11), a dimensão ambiental deve constar nos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas, mas a inserção da educação ambiental em algumas licenciaturas ainda não contempla o trabalho com a temática da educação ambiental, ou é feito de forma insatisfatória (GUIMARÃES, 2009). A educação ambiental não é uma ciência isolada; ela funciona em conjunto com aspectos indissociáveis, como os aspectos políticos, sociais, econômicos, científicos, éticos, culturais e os ecológicos. Dessa forma, a educação ambiental deve reorientar e articular diversas disciplinas 44


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e experiências educativas que facilitem a visão integrada do meio ambiente, proporcionando inoculação mais estreita entre os processos educativos e a realidade. Devem-se, ainda, estruturar as atividades exercidas em torno dos problemas da comunidade em que se localiza a escola, de modo globalizador e interdisciplinar. Segundo Guimarães (1995), o conteúdo escolar é a apreensão sistematizada (conhecimento) de uma realidade. Se, em uma aula, o educador restringir-se apenas ao conteúdo pelo conteúdo, não o relacionando com a realidade, estará descontextualizando esse conhecimento, afastando-o da realidade concreta, tirando-lhe o significado e alienando-o. A escola pode auxiliar no processo de transformação equilibrada da vida, por intermédio da participação ativa da comunidade escolar e, posteriormente, com o envolvimento de outras parcelas da sociedade, de forma a alcançar melhorias da infraestrutura comunitária, dos serviços públicos e, consequentemente, a valorização da qualidade de vida. Sabendo da importância da escola no processo formador da percepção ambiental do indivíduo na sociedade, o objetivo desse estudo foi avaliar como é feita a abordagem de temáticas da educação ambiental, como ferramenta de conscientização e preservação do meio ambiente na Escola Coronel Justino Cavalcante Barros, localizada na cidade de Corrente, no Estado do Piauí. 2 METODOLOGIA Esta pesquisa de campo de caráter descritivo foi executada na Escola Estadual Coronel Justino Cavalcante Barros, localizada no município de Corrente, localizada a aproximadamente 900 km de Teresina, capital do Piauí. Esta escola oferta o ensino fundamental do 6º ao 9º ano, durante os turnos da manhã e tarde, além da Educação de Jovens e Adultos à noite. A comunidade escolar é composta por 26 (vinte e seis) professores (entre diretores e pedagogos) e 250 (duzentos e cinquenta) alunos. O espaço físico é composto por 06 (seis) salas de aula, um laboratório de informática, uma sala de professores, uma sala de direção e coordenação, uma secretaria, uma cantina, 03 banheiros e uma biblioteca improvisada. Para a coleta de dados, foi aplicado um questionário com os professores das disciplinas de ciências humanas e da natureza (Ciências, Geografia e História), contendo 15 perguntas algumas abertas, fechadas e mistas, com o objetivo de melhor avaliar o relato dos educadores entrevistados. Também foi aplicado com outros membros da comunidade escolar (diretora, pedagoga e demais integrantes do corpo administrativo da escola), com o objetivo de obter mais informações sobre o tema proposto, além de confrontar a diversidade de opinião da comunidade escolar como um todo. Os resultados foram avaliados descritivamente, expostos e discutidos sob a forma de gráficos, com o auxílio do programa Microsoft Office Excel 2010.

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3 RESULTADO E DISCUSSÃO Os questionários foram aplicados com 11 representantes da comunidade escolar: 07 (sete) professores, 02 (dois) diretores e 02 (dois) coordenadores. Foram feitas perguntas que abordavam temas desde a formação do professor e sua área de atuação, até temas mais específicos relacionados à temática estudada. Os entrevistados possuem o seguinte perfil: 64% eram mulheres e 36% eram homens, já em Moreira, Silva e Luz (p. 18) em ambas as escolas “100% dos professores que participaram da pesquisa são do sexo feminino, demonstrando assim a predominância desse sexo nos professores de Ensino fundamental”.; as idades variavam entre 20 (36%), 30 (27%), e 40 anos (37%), também segundo Moreira, Silva e Luz (p. 19) em uma escola pesquisada eram 37% e na outra 40% dos entrevistados possuem mais de 40 anos de idade, o que “pode indicar um nível de maturidade maior”. Todos possuem formação superior e pós graduação (especialização) em áreas afins a sua formação; 55% possuem mais de 10 anos de experiência profissional, e os outros 45% possuem de 2 a 5 anos, de acordo com Moreira, Silva e Luz (p. 20), mais da metade do professores atuam há mais de 10 anos. Pelo perfil observado, percebemos que a escola é composta por um conjunto de educadores jovens, experientes e bem qualificados para as competências que exercem na escola. Quando questionamos sobre a formação específica e a área de atuação de cada um, obtivemos que 37% dos entrevistados são formados em Ciências Biológicas (e também em outras graduações) e atuam na sua área de formação; 27% têm formação em Pedagogia e todos são coordenadores de alguma área; 18% têm formação em Língua Portuguesa, alguns fazem parte da direção da escola; 9% são formados em História e Geografia; e os outros 9% são formados em Língua Inglesa, além de também fazer parte da direção. O fato de os professores possuírem uma formação adequada de acordo com a área que atuam é muito importante, pois o bom desenvolvimento do aprendizado e a forma como este será ministrado em sala de aula depende diretamente disso. Temáticas relacionadas à educação ambiental foram trabalhadas nas disciplinas durante a formação acadêmica de 55% dos entrevistados, e algumas delas foram: Ecologia I e II, psicologia e LDB5, Trabalho de Conclusão de curso, entre outras. No entanto, é possível entender a Educação Ambiental como uma educação política, como afirma Reigota (2006), no sentido de que ela reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza Quando foram indagados sobre o conhecimento do conceito de Educação Ambiental, 91% afirmaram que conhecer, enquanto no trabalho de Moreira, Silva e Luz (p. 21-22) nas duas escolas 100% dos docentes o conhecem. Segundo estes, o conceito pode ser sintetizado como: “é a preservação e o uso sustentável dos recursos naturais ou aquilo que está ligado ao meio ambiente”. Apenas 9% dos entrevistados não conheciam o conceito de educação ambiental. 5 46

Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional


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Muitos não souberam identificar a educação ambiental como uma ferramenta, como afirma Cantinho e Silva (2015, p. 19): “educação ambiental é uma ferramenta da educação que tem como objetivo principal conscientizar a conservação do meio ambiente e a busca pelo uso sustentável dos recursos naturais”. A implantação da temática ambiental nas disciplinas da educação básica é considerada importante por todos os participantes. Os entrevistados citaram que esta contribuiria para a conscientização e preservação do nosso planeta. Esta importância está de acordo com o que está previsto na Constituição Federal art. 225, Inciso VI: “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino [...]”. 91% dos professores desenvolvem, com seus alunos, pequenos projetos ou atividades ambientais dentro da disciplina que ministram, ou em projetos paralelos da escola; dentre estas, podemos destacar: a coleta seletiva do lixo e a produção de lixeira para coleta do lixo usando materiais recicláveis (estes são realizados em várias datas de ano e principalmente em datas comemorativas como dia do meio ambiente). É uma atividade interessante para ser desenvolvida, pois os alunos participam diretamente do processo, em Moreira, Silva e Luz (p. 21-22), em uma escola 91% e 100% da outra consideram que a escola desenvolve projetos. Os docentes (73%) também disseram que, nos livros didáticos, existem conteúdos que contemplam o tema Educação Ambiental e citaram como exemplo os seguintes temas: os tipos de poluição, a questão do lixo, reciclagem e aquecimento global. 27% disseram que, nos livros de suas disciplinas, não existem conteúdo relacionado com esta temática. De acordo com os dados, está claro que ainda faltam, em algumas áreas, livros que possuam conteúdos que deem suporte para os professores desempenharem a temática da educação ambiental em sala de aula. Esse percentual é de 100% nas duas escolas segundo Moreira, Silva e Luz (p. 21-22). Dentro do estudo das questões ambientais, é de grande relevância trabalhar com os discentes a realidade da comunidade local onde estão inseridos, pois esta é uma maneira destes jovens tomarem consciência da importância de preservar e cuidar do meio em que vivem; mas somente 45% fazem este trabalho, e as atividades desenvolvidas são: o conhecimento de áreas degradadas, passeios nas margens e limpeza do rio. Este percentual é muito baixo, pois a LDB recomenda em seu art.3º, inciso X, a “valorização da experiência extra-escolar”. Segundo os educadores, vários são os meios utilizados pela escola, para desenvolver atividades com os alunos sobre educação ambiental (EA), como: vídeos, palestras, coleta seletiva de lixo, passeios e painéis educativos são os mais comuns, mas também desenhos, debates e música, teatro, cartilhas e brincadeiras. Consideramos estes meios muito interessantes e funcionais, principalmente porque os alunos participam diretamente destas práticas. Isso pode explicar o motivo de 91% dos estudantes que demonstraram interesse pela EA, apesar de apenas 55% destes demonstrarem consciência e preocupação com a preservação do meio ambiente no dia a dia. No quesito área disponível para atividades recreativas, a escola tem uma grande área desocupada que poderia ser usada para atividades práticas, como a construção de mudas de 47


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plantas, mas não foi observada nenhuma atividade do tipo (Figura 01). Figura 01- Área do entorno da escola.

Fonte: Autoria Própria

Quanto à existência de verba para visitas de campo pelos alunos, 91% dos entrevistados afirmaram não haver tais incentivos por parte da escola. Com os dados citados, é grande as necessidades de conhecimento com a realidade diversas. De acordo com os entrevistados, os problemas ambientais mais frequentes e recorrentes na região de Corrente são: o lixo, a poluição e assoreamento do rio, a falta de saneamento básico, o desmatamento e as queimadas. Sabendo disso, somente 18% dos professores entrevistados desenvolveram algum trabalho de EA sobre esses problemas locais na escola. Quando perguntamos sobre processos de formação continuada oferecidos pelas escolas sobre a temática desta pesquisa, 82% dos entrevistados responderam que a escola nunca ofertou cursos (ou feiras) de capacitação que envolvesse a temática educação ambiental. Mas “não basta somente criar leis que regulamentem a Educação Ambiental nas escolas, é necessário criar condições para que a EA seja um processo contínuo e participativo, onde o aluno possa assumir o papel de elemento central do processo de ensino/aprendizagem, perceber a realidade e ter uma visão integral do mundo em que vive para cuidar melhor dele” (SOUSA, 2007). Segundo Dias (2002), a educação Ambiental pode ajudar a tornar mais relevante a educação geral, a começar pelo ensino fundamental. Esta pode ser considerada como uma base na qual se desenvolvam novas maneiras de viver sem destruir o meio ambiente, ou seja, um novo estilo de vida. É possível disseminar entre crianças e os jovens uma nova consciência e atitudes com relação ao cuidado com o planeta que habitamos, começando pela nossa casa, escola, bairro e cidade, pois a Educação Ambiental caracteriza-se por incorporar as dimensões éticas, socioeconômicas, políticas, culturais e históricas no processo de Ensino e de Aprendizagem. Os professores da Escola Coronel Justino Cavalcante Barros possuem um corpo docente bem capacitado, mas estes necessitam de maiores incentivos por parte do governo e da gestão 48


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escolar para o desenvolvimento de atividades que envolvam a temática da educação ambiental. Uma boa alternativa seria o desenvolvimento de cursos de capacitação de curta duração, para incentivar e valorizar a importância da formação continuada destes docentes. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com os resultados encontrados, percebemos que existe a necessidade de uma maior participação dos professores sobre a temática ambiental em sala de aula, visto que o tema, aparentemente, ainda não faz parte do cotidiano e do planejamento escolar. Verifica-se a carência de materiais que retratem a realidade local e que sejam direcionados para a faixa etária em questão, dificultando a abordagem do tema nas séries iniciais. Para que este trabalho efetivamente aconteça, é necessário que a Educação Ambiental abordada na escola seja primeiramente discutida com toda a comunidade e que a discussão e o planejamento façam parte do cotidiano escolar. REFERÊNCIAS ANDRADE, Sueli A. de. Educação Ambiental: curso básico à distância: questões ambientais, conceitos, história, problemas e alternativas. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2001. 5v. 2ª Edição ampliada ANTUNES, Marco A. M. Importância da Educação Ambiental. Instituto Teotônio Vilela, 2004. BRASIL. Constituição (1988). Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2011. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. LDB. Brasília-DF. 201 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais – 5ª a 8ª série. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução Conama nº 001, de 23 de janeiro de 1986. Brasília, 1986. CANTINHO, Klégia Maria Câncio Ramos; SILVA, Gabriella Cynara Minora. Ensino de educação ambiental. Teresina, FUESPI, 2015. CAMARGO, A.; CAPOBIANCO, J.P.R.; OLIVEIRA, J.A.P. (Org) Meio ambiente Brasil: avanços e obstáculos pós-Rio-92. 2. ed. rev. São Paulo: Estação Liberdade: Instituto Sociombiental; Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2004. DIAS, G. F. Pegada Ecológica e Sustentabilidade. São Paulo: Gaia, 2002. LUSTOSA, Ana Helena Mendes; CARDOSO, Maria Izolda Monte; MOURA NETO, Deolindo. Legislação Ambiental: orientações básicas. Teresina: IBAMA, 2007. MOREIRA, Paulo Afonso Arrais de Morais; SILVA, Leandro Morais e; LUZ, Marta Pereira 49


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da. Educação ambiental na escola: a realidade do setor público e privado – estudo de caso. Disponível em http://www.pucgoias.edu.br/ucg/prope/cpgss/ArquivosUpload/36/file/ EDUCA%C3%87%C3%83O%20AMBIENTAL%20NA%20ESCOLA%20-%20A%20 REALIDADE%20DO%20SETOR%20P%C3%9ABLICO%20E%20PRIVADO%20-%20 ESTUDO%20DE%20CASO. Acesso em 17 de março de 2016. REIGOTA, M. (Org.) Verde Cotidiano, o meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP & A, 2006. SOUSA, M. F. 2007. Educação Ambiental. Disponível em www.ambientebrasil.com. br > acesso em: 08 setembro 2008.

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IMPORTANCIA DA CARNAÚBA (CorperniciapruniferaMiller) MILLER)NA COMUNIDADE DO ALTO DO MEIO EM CAMPO MAIOR, PIAUÍ, BRASIL Patrícia Brito Cantuário1 Edivar Ximenes de Aragão Junior2 Kelly Polyana Pereira dos Santos3 Nayara Danielle Costa de Sousa4 RESUMO A carnaúba (Coperniciaprunifera) tem contribuído para a diminuição da pobreza, constatou-se que a carnaúba, conhecida como a “árvore da vida”, é de extrema relevâncias socioeconômica no meio rural, A exploraçãoenvolve um conjunto de atividades distinguidas pela utilização das folhas, do caule, do talo, da fibra, do fruto e das raízes para a fabricação de produtos artesanais e industriais. A produção do pó a partir das folhas da carnaúba tem sido a atividade econômica mais representativa, todavia, poucas inovações foram observadas ao longo dos anos nessa atividade.A pesquisa objetiva analisar a importância da carnaúba para as famílias da comunidade do Alto do Meio Campo Maior-PI, na valorização da Carnaúba. Os dados foram obtidos por entrevista semi-estruturada, e de pesquisa in loco, no período de novembro de 2015 a abril de 2016. Os resultados mostraram que a produção da carnaúba absorve um número significativo de trabalhadores, fornecendo um incremento em suas rendas. Todavia, as condições de trabalho são precárias, gerando um posto de trabalho pouco atrativo para novas gerações no campo. Por outro lado, a renda proveniente dessa atividade complementa e sustenta as famílias, mitigando a pobreza. A cera que é considerada seu produto mais nobre.

Palavras-Chaves: Preservação, Palmeira e Extrativismo.

.INTRODUÇÃO

A carnaúba (Coperniciaprunifera), também chamada carnaubeira e carnaíba, é uma árvore da família Arecaceae, endêmica do semiárido da Região Nordeste do Brasil. É conhecida como «árvore da vida», pois oferece uma infinidade de usos ao homem como: as raízes têm uso medicinal; os frutos são um rico nutriente para a ração animal; o tronco é madeira de qualidade para construções; as palhas servem para a produção artesanal, adubação do solo e extração de cera (cera de carnaúba), um insumo valioso que entra na composição de diversos produtos industriais, tais como cosméticos, cápsulas de remédios, componentes eletrônicos, produtos alimentícios, ceras polidoras e revestimentos (TBS CONSULTORIA, 2015).O extrativismo aliado ao uso sustentável dos recursos de produtos florestais não madeireiros, como ceras e folhas, tem sido considerado uma alternativa para a conservação da biodiversidade, ajudando a proteger as áreas naturais contra usos destrutivos da terra, como o desmatamento e a agropecuária (WADT et al.,2005). Além disso, contribui para a melhoria da qualidade de 1 Pós-Graduanda em Biodiversidade e Conservação – Universidade Estadual do Piauí – Núcleo de Educação a Distancia – NEAD/UAB/UESPI. Email:patrícia-cantuario@hotmail.com 2 Graduando em Cirurgião dentista-UNB.Email:edivarjunior30@gamil.com 3 Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente-UFP. Email: kellypolyana@hotmail.com4. Orientadora. 4 Doutoranda em Biotecnologia-RENORBIO/UFPI. Email: nayaradanielle@gmail.com 51


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vida de muitas comunidades rurais, que passam a incrementar a sua renda com a venda dos produtos coletados, sendo que o papel desses produtos é ainda maior nas comunidades mais carentes (TICKTIN, 2004). Por tratar-se de uma planta adaptada ao clima semiárido, a carnaúba oferece grandes possibilidades de uso em atividades econômicas, mesmo durante o período de estiagem, tratando-se, portanto, de importante alternativa na composição da renda familiar das comunidades rurais. Os carnaubais formam florestas que têm predominância nas planícies aluviais dos principais rios do Ceará, Piauí, Maranhão, Rio Grande do Norte e Bahia, cumprindo importantes funções para a manutenção do equilíbrio ecológico da região, como a conservação dos solos, fauna, cursos d’água e mananciais hídricos (OLIVEIRA, 2006). Na comunidade do Alto do Meio, localizada na cidade de Campo Maior, Piauí, possui grande diversidade de carnaúbas, e como já observado, a carnaúba é um recurso natural de grande potencial, frente aos diferentes valores de uso que possui, satisfazendo necessidades diversas da população. Em função disso, é de fundamental importância a conscientização das pessoas que praticam o extrativismo da carnaúba, quanto à necessidade de conservação dessa palmeira, e das áreas onde essa espécie se faz presente, a fim de garantir a manutenção da atividade, contribuindo para um ambiente natural equilibrado. Entre os usos econômicos da carnaúba, o aproveitamento do pó cerífero, contido nas folhas possui maior evidência, já que concentra elevado número de trabalhadores e proporciona complemento de renda significativo e por meio deste, os trabalhadores possuem uma melhor qualidade de trabalho. Visa também esclarecer mais sobre a Carnaúba, para outros pesquisadores de diversas áreas. A questão ambiental tornou evidente a existência de um limiar na capacidade do planeta atender as pressões sociais sobre os recursos naturais, e o “movimento ambientalista”, se estruturou como índice do início de uma construção da consciência ambiental. Frente a toda a questão e crise ambiental que vivemos hoje, onde há a implementação de grandes reuniões mundiais para tratar do meio ambiente, por exemplo, Rio +20, é de suma importância o cuidado com o meio ambiente e a consciência que a sociedade deve ter frente a isso. Nisso é de essencial, dentre outros, o conceito de Sustentabilidade, que alia Produção, Meio Ambiente e Conservação, sendo que esta consciência, apesar de ter uma base incipiente e segmentada, alavancou mudanças no cenário social ao longo dos anos, criando o paradigma da sustentabilidade que, insere as premissas de responsabilidade social e ambiental, fontes de perpetuação e expansão de mercado. Portanto, o movimento ambientalista seria a fundamentação inicial da inserção da variável ambiental nas empresas, pois desde a Primeira Revolução Industrial, que ocorreu no fim do século XVIII e início do século XIX o meio ambiente fonte de matéria prima dos produtos industrializados para o consumo humano. O fato da carnaúba ser uma das principais fontes de renda leva a acreditar que é de suma importância a preservação da mesma e também um extrativismo sustentável. Na região estudada, existe uma indústria responsável pela manufatura na palha da carnaúba, recebendo a palha como matéria prima e extraindo a cera como recurso final, que possui diversos usos industriais. 52


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O artigo tem como objetivo aumentar o nível de conhecimento de como praticar o extrativismo correto da carnaúba, contribuir para o fortalecimento da cadeia produtiva da carnaúba; mostrar a importância da carnaúba para a comunidade e melhorar o nível de manipulação dos produtores de baixa renda, com vista à melhoria da produtividade e rentabilidade do agronegócio da carnaúba na comunidade. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo O estudo foi realizado na comunidade do Alto do Meio, localizada 10 km da cidade de Campo Maior. Como mostra (Figura 1). A comunidade apresenta clima sub úmido seco, com moderado déficit hídrico, portanto, é um espaço geográfico quente e úmido com características de tropical chuvoso. A precipitação média anual é de 1 272mm concentrada em curto período, geralmente entre dezembro e junho. O período seco atinge cerca de 8 meses e as temperaturas variam de 35°C a 28°C. Os recursos hidrográficos inserem-se o rio Longá, Surubim e Jenipapo.A vegetação é cerrado/caatinga e cerrado/ mata, com vegetação caducifólia e sub-caducifóliaestacionais. (IBGE, 2016). As condições naturais de Campo Maior, associadas aos processos sociais ali estabelecidos, tornaram a comunidade, uma grande produtora de pó de carnaúba ao longo dos anos.

Figura 1. Extensão territorial do Estado do Piauí, com destaque para a cidade de Campo Maior. Fonte: Wikipedia (2016).

Método de pesquisa Utilizou-se na pesquisa dados secundários para pesquisas realizadas com dados coletados e primários onde foram coletados dados que ainda não foram coletados. Fez-se levantamento na literatura sobre a Carnaúba e sua importância para a sociedade local e também dentro da economia.A pesquisa objetivou “explicar o problema da exploração da Carnaúba sem que haja a sustentabilidade a partir de referências teóricas tomadas como base e publicadas em documentos já realizados” (CERVO; BERVIAN, 1996, p. 48), ou seja, desenvolver resposta para os problemas enfrentados pelos produtores. O estudo foi composto por duas etapas. Primeiramente, coleta de informações in loco foi feita por entrevista, visita de campo e levantamento de pesquisa em literatura. A pesquisa foi de caráter qualitativo e quantitativo. O questionário foi formado por 19 questões com perguntas fechadas visou uma maior objetividade, no período de 03 de janeiro a 10 de março de 2016, a 53


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análise dos dados foi realizada em uma abordagem descritiva. Foram 20 entrevistados pessoas que trabalham diretamente com a palmeira, o critério de escolha desses entrevistados foi o local que mais concentra esses trabalhadores. RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram realizadas 20 entrevistas, 14 homens (70 %), e apenas 6 mulheres (30%). Em relação a faixa etária, como mostra a (Figura 2). 13 (65%) possuem até 30 anos, 4 (20 %) entre 30 a 50 anos, 2 (10%) de 50 a 70 anos e 1 (5%) mais de 70 anos (Figura 2). Obteve diagnóstico sobre a importância socioeconômica da carnaúba para a comunidade do Alto do Meio e suas principais utilidades para desenvolvera economia da região, bem como, a identificação de Figura 2.Faixa etária dos entrevistados da Comunidade do áreas com ações de exploração da carnaúba. Alto do Meio, Campo Maior – PI, período janeiro a marDepois da coleta dos dados, foram elabora- ço/2016. Fonte: PRÓPRIA, 2016. dos resultados. Em relação a escolaridade (Tabela 1), o perfil dos entrevistados se distribuiu com a maioria sendo analfabetos (14 pessoas), 3 pessoas com ensino fundamental incompleto, 1 pessoa com ensino fundamental completo, 1 com ensino médio incompleto, e 1 com ensino médio completo. Tabela 1. Nível de escolaridades dos trabalhadores. ESCOLARIDADE Analfabeto

QUANTIDADE 14

% 70%

Ensino fundamental incompleto

3

15%

Ensino fundamental completo

1

5%

Ensino Médio Incompleto

1

5%

Ensino Médio Completo

1

5% Fonte: PRÓPRIA, 2016.

O extrativismo é no sentido mais básico, um modo de produzir bens na qual os recursos naturais úteis são retirados diretamente da sua área de ocorrência natural sem que haja influência de sexo, idade e escolaridade. (Drummond,1996). 54


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Ao serem perguntados se trabalham diretamente com a carnaúba, 85% responderam que sim. Estes, afirmaram ainda que possuem outras pessoas da família que ajudam na extração da carnaúba, onde os filhos têm maior representatividade com 40%; os demais membros representantes são irmãos (30%), e outros membros da família (10%), tais como: genro, nora, sogro e sobrinhos. Quando perguntado se eles dependiam da carnaúba para sobreviver, 60% responderam que dependem só da carnaúba e 40% dos entrevistados, disseram ter outras rendas para complementação do sustento. Segundo Schneider e Fialho (2000), numa sociedade capitalista, a satisfação das necessidades individuais requer, necessariamente, o acesso aos recursos monetários que permitem o pagamento pelo direito de uso ou consumo de qualquer mercadoria. Dessa maneira, a posse de renda se constitui em fator crucial de garantia do indivíduo ao acesso de bens e serviços e, a partir de então, faculta-lhe a sua reprodução social. Em vista a isso, é de suma importância a necessidade do trabalhador de renda suficiente para sobreviver, sendo que esta renda adquirida é estritamente ligada a carnaúba. Carvalho e Gomes (2005) enfatizam que a noção de pobreza econômica baseada no estabelecimento de uma linha de pobreza, isto é, de um nível crítico de renda baseado no custo estimado para aquisição das necessidades básicas, tem acarretado discussões na academia no que diz respeito aos critérios de definição dessa linha (por ex. salário mínimo, custo de vida, custo de alimentação). Carvalho e Gomes (2006) reconhecem que as remunerações dessa mão-de-obra poderiam ser maiores tendo em vista a extensa jornada de trabalho, esforço físico, enfim as precárias condições de trabalho. Mas isso não ocorre em parte devido a subordinação do rendeiro e do arrendatário do carnaubal aos comerciantes de pó e/ou aos industriais, que na maioria das vezes, financiam a extração do pó de carnaúba. Quando perguntados sobre medidas de preservação dos carnaubais, 12 pessoas (60%) disseram que realizam estas medidas, e 8 pessoas (40%), responderam que não realizam estas medidas. Já em relação a importância socioeconômica que a carnaúba tem, 80% disseram que é muito importante, ou seja, 16 entrevistados, 3 (15%) importante, 1 (5%) achou razoável e nenhum respondeu que não era importante. Perante a isso, é estritamente necessário manter a preservação e mobilizar os que não contribuem com a preservação, fazendo com que a utilizem de forma sustentável, conservando de maneira adequada para que geração futuras possam usufruir dessa palmeira que é de suma importância para a economia e meio ambiente. O extrativismo da carnaúba tem longa história na região Nordeste e tem contribuído para o sustento de inúmeras famílias pobres que, ano a ano, no período da seca dedicam-se a essa atividade. O grande potencial econômico da carnaúba, advindo de suas múltiplas utilidades, requer especial atenção à sua conservação, de modo a garantir a continuidade de sua exploração. Além da contribuição socioeconômica direta, a carnaúba ainda possui expressivo valor ambiental, participando da manutenção dos ciclos ambientais, como o ciclo da água e dos nutrientes. Deve-se ressaltar ainda que grande totalidade dos carnaubais piauienses, é nativa, isto é, não cultivados, e estão presentes nas diferentes unidades geoambientais do Estado (LIMA; ARAÚJO, 2006). 55


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Tomando como referência os benefícios que as carnaúbas lhes proporcionam, 53% melhorar de vida, 42% ajuda o sustento da família, 5% responderam outros como: ocupar o tempo ganhando um dinheiro extra. Quanto a função que os trabalhadores desempenham, 2% proprietários de carnaubal que não exploram, 1% proprietários que exploram, 5% proprietários/ arrendatários, 5% arrendatários, 3% rendeiros, 48% trabalhadores, 15% donos da máquina de bater palhas, 21% artesãos. As relações de produção precárias, como a não legalização, baseando-se em acordos verbais, condições de trabalho insalubres, entre outras, foram identificadas por Gomes, Carvalho e Garcia (2006), como um dos fatores críticos da cadeia produtiva da cera de carnaúba, na medida que os agentes econômicos envolvidos na extração do pó cerífero da carnaúba desempenham funções variadas, de acordo com a seguinte descrição: 1) proprietários de carnaubal que não exploram: possuem terras com áreas de carnaubal, mas não o tem como principal fonte de renda; 2) proprietários que exploram: proprietários de pequenos ou médios carnaubais, que exploram somente seus carnaubais, como fonte complementar de renda; 3) proprietários/arrendatários: proprietários de carnaubais que têm a atividade extrativa da carnaúba como principal fonte de renda. Exploram o seu carnaubal e arrendam os carnaubais de proprietários que não os exploram; 4) arrendatários: possuem recursos próprios e/ou adquirem financiamentos das indústrias ou dos armazéns para explorar carnaubais que são arrendados; 5) rendeiros: são trabalhadores rurais contratados pelos arrendatários para administrar uma turma de trabalhadores para realizarem a exploração do carnaubal; muitas vezes também participa do processo produtivo. 6) trabalhadores: são trabalhadores rurais que vendem sua força de trabalho para os rendeiros ou diretamente aos arrendatários dos carnaubais; 7) donos da máquina de bater palhas: são os próprios arrendatários, comerciantes de pó ou industriais, que fazem a “batição” das palhas para a extração do pó ou alugam a máquina, comprando o pó por um preço em que é imediatamente descontado o valor da “batição”. Foi perguntado aos entrevistados de os mesmos costumavam avaliar a época de floração e de frutificação da carnaúba, 69% disseram sim, 20% disseram não, 10% não acha interessante avaliar e 1% não sabe para que serve. Perguntou-se também qual a parte da planta que costuma ser mais explorada para a produção. 70% responderam a folha, 20% o fruto e 10% a raiz. Ficou constatado que existe uma grande importância na renda local dos produtos derivados da carnaúba, como a cera de carnaúba e produtos artesanais, pois 100%dos entrevistados disseram que o extrativismo da carnaúba apresenta importância na renda local, como extração do pó e artesanato. As figuras representam alguns dos artesanatos que a comunidade produz, existem inúmeros objetos que eles fazem além da vassoura, chapéus e cestas (Figura 3).

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Figura 3.Artesanatos da comunidade Alto do Meio, Campo Maior, Piauí.A-Vassoura, B-cesta, C- chapéu.

Fonte: Juarez Morais (2016). 58% disseram que existem subsídios através de cooperativas da região, para a produção de produtos derivados da carnaúba para o artesanato, 20% não existe subsidio e 22% não souberam responder. Quanto a parte da carnaúba que costuma-se explorar para produção: FOLHA: 10% comestível, 90% artesanal e nenhum respondeumedicinal. FRUTO: 85% comestível, 15% artesanal e nenhum responderam medicinais. RAIZ: 0% comestível, 0% artesanal 100% medicinal, CAULE: 0% comestível, 0% artesanal, 0% medicinal e 100% usado em construção. A carnaubeira é uma palmeira de múltiplos usos derivados de seu aproveitamento integral. Suas folhas fornecem inúmeros produtos: após secas, servem para cobertura de casas, além de servirem para a fabricação de chapéus, esteiras, vassouras, cestas e outros utensílios, tendo em vista que dos materiais, a folha foi a teve maior destaque de utilidade (Tabela 2). Tabela 2. Parte da carnaúba mais utilizada na comunidade Alto do Meio - Piauí.

PARTE DA PLANTA FOLHA

PESSOAS 14

% 70%

FRUTA

3

13%

RAIZ

1

2%

CAULE

2

15%

TOTAL

20

100% Fonte: PRÓPRIA, 2016.

Da fibra retirada das folhas, confeccionam-se redes, espanadores e cordas; e, dos talos, fabricam-se gaiolas, jiraus e cercas. Esse artesanato a partir das folhas da carnaúba vem adquirindo importância, garantindo renda para muitos artesãos, seguida 15% caule que é utilizado em construções, fruto 13% que é utilizado para alimentação animal, e 2% raiz que têm propriedades depurativas e diuréticas. O caule pode ser utilizado como madeira na construção civil, na forma de caibros, ripas, calhas e moirões. A extração do pó cerífero contido nas folhas da carnaubeira 57


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é a atividade de maior representatividade econômica. Esse pó consiste na matéria-prima básica da cera de carnaúba, principal subproduto da carnaubeira, com aplicações em diversos ramos industriais, como por exemplo, na indústria de informática. Foi perguntado aos entrevistados se ao explorar a carnaúba cortaram tudo ou deixam um pouca da palmeira: 10% corta tudo, 72% deixam um pouco, nenhum disse que não costuma explorar e 18% só retiram quando precisam. Constatou-se que sempre deixam as folhas mais novas, pois tem grande importância para a conservação da espécie e que precisam dela para fornecer o pó, que é a principal matéria-prima da cera de carnaúba, também utilizada na cobertura de casas e para confecção de peças de artesanato. É de suma importância, a criação que os governantes da região criem um evento que tenha como tema principal a Carnaúba. Neste evento deverá ocorrer mostras de produtos a base da carnaúba e também é necessário haver campanhas e palestras de conscientização sobre o uso consciente dos carnaubais e com tema também na importância de um desenvolvimento sustentável que implica numa harmonia econômica e ecológico. As imagens mostram os trabalhadores retirando e carregando as palhas para fazer retirada do pó (Figura 4). Figura 4.Extrativismo da palha de carnaúba.A. Trabalhador retirando a palha; B. Carregando as palhas.

Fonte: Juarez Morais (2016). Verifica-se, portanto, a existência de uma especialização informal do trabalho no processo de extração da carnaúba, que depende basicamente da habilidade dos trabalhadores. Conforme Carvalho e Gomes (2006), o trabalho de extração do pó de carnaúba, em todas as suas etapas de execução é eminentemente braçal, e o grau de instrução formal dos trabalhadores, a priori, não influencia na produtividade da extração do pó, configurando, por conseguinte, em trabalho não qualificado, por qual exige apenas habilidade manual e esforço físico para sua execução. Foi perguntado, se ao explorar a carnaúba, é utilizado algum equipamento de proteção, como por exemplo, óculos de proteção para os olhos: 40% responderam que sim, 56% respon58


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deram que não e 4% não souberam responder. A exploração da carnaúba oferece grandes riscos por se tratar de uma atividade que usa materiais cortantes e perfurantes (foice, espinho e etc.). Relatou-se que poucos utilizam os equipamentos adequados, e foram registrados alguns objetos, como: botas, chapéu, óculos calça e camisa manga longa. Entretanto muitos desprezam o uso dos equipamentos. Já em relação a produção de mudas, 2% responderam que já plantaram e 98% não plantou. E em relação ao seu crescimento, quanto tempo demora a crescer, 0% dias, 0% meses e 100% disseram que leva anos. Ao serem perguntados se hoje em dia há mais ou menos carnaúba do que havia em tempos mais antigos, 30% responderam que existem mais carnaúba, 55% existem menos carnaúba e 15% não souberam responder. Eles afirmaram que em tempos passados possuíam mais, sendo as pastagens, desmatamento, queimadas e atividade agrícola como uma das principais causa da diminuição da existência da espécie, ocorrendo de dificuldade de regeneração e propagação natural, em virtude da presença de animais domésticos, principalmente, bovinos, caprinos, ovinos e suínos, criados extensivamente nas áreas de carnaubais, que destroem os frutos em germinação ao revolverem a terra a procura de alimentos (notadamente suínos), consumirem os frutos maduros encontrados sobre o solo ou as plântulas já “nascidas”, quando do pastejo extensivo, de forma geral; também dificuldade de regeneração e propagação natural, em virtude de queimadas sucessivas praticadas de forma indiscriminada nas áreas dos carnaubais, que eliminam as plantas, principalmente mais jovens, pelo profundo dano em seus tecidos ou por não possuírem reserva nutricional suficiente para recuperar-se, ocasionando um raleamento gradativo do carnaubal a cada ano. Esses PIA’S (Pontos de Impactos Ambientais) acarretam em conjunto ou isoladamente, impactos negativos à proliferação da carnaúba e ao ambiente em que está inserida, tornando em pouco tempo,a atividade extrativista da carnaúba potencialmente insustentável para essa comunidade, sob o ponto de vista ambiental, quebrando a barreira da produção sustentável. Oliveira (2005), também demonstra sua preocupação com a conservação das carnaúbas, quando constata que mesmo sendo uma árvore que reúne em si tantos valores (simbólico, econômico, social), ainda existem pessoas que tomadas pela ambição exacerbada, dizimam importantes áreas onde a carnaúba ocorre. Conforme a autora, é fundamental conter a destruição dos carnaubais, que, na medida em que perdem para a concorrência de outras práticas econômicas menos comprometidas com o ambiente, passam a ser varridos da paisagem do semi-árido nordestino fato já notório nos Estados onde existem carnaubais nativos. Quanto às medidas de preservação eles responderam que, 60% se preocupam em preservar tomando algumas atitudes simples como: deixar as folhas mais novas e 40% respondeu que não toma atitudes de preservação da carnaúba. A quase totalidade dos carnaubais são nativos, e devem receber o manejo adequado para que as áreas não sejam degradadas, como a exemplo do que vem acontecendo. É estritamente necessário tomar medidas como: evitar o corte indiscriminado, que é proibido por lei; manter os frutos durante a retirada das palhas, e não atear fogo no material proveniente de roço e poda. 59


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O corte da palha da carnaúba é feito por um vareiro, que com a ajuda de uma vara comprida com uma foice bem amolada presa na ponta, corta o talo da folha. Ele precisa ser habilidoso para que a palha ao cair não lhe machuque, nem aos seus companheiros. Não se devem cortar todas as folhas novas da carnaúba, pois pode matar a planta. A equipe de corte geralmente é composta de cinco homens, um vareiro e mais quatro auxiliares. Em média eles cortam entre 35 e 40 palhas por carnaubeira. Em um dia é cortado de 10 a 12 milheiros de palha, ou seja, 300 carnaubeiras. As palhas adultas (verdes) são separadas das palhas novas (olho). Portanto dentre os diversos usos da carnaúba, a extração do pó cerífero e a confecção do artesanato são as atividades com maior impacto econômico, pois geram maior renda para os trabalhadores que ali desempenham suas atividades. Todavia, existe uma carência no desenvolvimento de inovações nesses dois segmentos, que se deve pela ausência de cultura empreendedora das pessoas que praticam a atividade, como melhores condições de trabalho. CONCLUSÃO A extração da carnaúba é uma atividade desenvolvida há várias décadas em Campo Maior, mantendo sua importância socioeconômica na geração de ocupação e renda no município, especialmente no estado do Piauí. Considerando que as oportunidades de ocupação no meio rural são praticamente escassas no período de estiagem, a carnaúba contribui de maneira eficaz para a fixação do homem no campo. Os entrevistados da comunidade demonstram possuir conhecimentos sobre a espécie C.prunifera em relação à extração e utilização múltipla dos carnaubais. Considerando que a carnaúba possui grande importância cultural e econômica para os habitantes da comunidade, os dados apresentados nesse trabalho contem informações relevantes na elaboração de planos de manejo, conservação e no sustento das famílias da comunidade do Alto do Meio. O presente estudo mostrou ainda a necessidade de investimentos em tecnologias voltadas para os processos de extração e beneficiamento dos produtos C.prunifera, com o objetivo de reduzir os desperdícios do pó no processo de extração e do manejo adequado da planta. A geração de empregos nessa atividade vem acompanhada da geração de renda para os trabalhadores rurais. Pode-se inferir que essa atividade contribui para a superação da pobreza econômica na comunidade Alto do Meio, justamente no período onde os alimentos comumente produzidos através da agricultura familiar, passam a demandar recursos financeiros para serem adquiridos. Diante do valor econômico, social, ambiental, cultural, estético e paisagístico da carnaúba para a sociedade como o todo, verificou-se a importância de sua conservação. A insuficiência de uma legislação incisiva, que garanta a efetiva proteção dos carnaubais, e melhores condições de trabalho é um dos entraves a sua conservação e aumento de produtos extraídos da carnaúba. É necessário que haja empenho da associação para garantir melhores condições de trabalho, bem como contribuir para a valorização da atividade na região.

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REFERÊNCIAS CARVALHO, J. N. F; GOMES, J. M. A. Indicadores socioeconômicos dos trabalhadores da extração do pó cerífero da carnaúba. GOMES. J. M. A; SANTOS, K. B; SILVA, M. S (Orgs). Cadeia produtiva da cera de carnaúba: diagnóstico e cenários. Teresina: EDUFPI, 2006. p119-129. ___________________. A pobreza nos carnaubais piauienses. VI Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (ECOECO), 2005, Brasília-DF. Anais... Brasília: 2005. CD ROM. CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica. 4ª ed. São Paulo: Makron Books,1996. DRUMMOND, J. A. A extração sustentável de produtos florestais na Amazônia Brasileira. Estudos Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro, v. 6, p. 116-137, 1996. GOMES, J. M. A; CARVALHO, J. N. F; GARCIA, S. M. M. L. Os fatores críticos e cenários para a cedia produtiva da cera de carnaúba. GOMES. J. M. A; SANTOS, K. B; SILVA, M. S (Orgs). Cadeia produtiva da cera de carnaúba: diagnóstico e cenários. Teresina: EDUFPI, 2006. p. 181-185. HIRONAKA, G. M. F. N. O extrativismo como atividade agrária. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 42, jun. 2000. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1667>. Acesso em: 05 abril. 2016. IBGE. Disponível em:http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em: 10/05/2016. LIMA, A. S; ARAÚJO, J. L. L. Geoambientes e as atividades agropecuárias consorciadas e associadas nas áreas dos carnaubais. GOMES. J. M. A; SANTOS, K. B; SILVA, M. S (Orgs). Cadeia produtiva da cera de carnaúba: diagnóstico e cenários. Teresina: EDUFPI, 2006. p.35-47. OLIVEIRA, S. Carnaúba: a árvore que arranha. Fortaleza: Tempo D’Imagem, 2005. OLIVEIRA, A. M. S. Comércio da Cera de Carnaúba e Meio Ambiente: Barreiras e Vantagens Mercadológicas. Teresina, 2006. SCHNEIDER, S; FIALHO, M. A. V. Pobreza rural, desequilíbrios regionais e desenvolvimento agrário no Rio Grande do Sul. Teoria e Evidência Econômica. Passo Fundo-RS, v. 8, n. 15, p. 117-149, 2000. TBS Consultoria. Carnaúba, árvore de grande beleza, importância biológica e potencial econômico: 2015. Disponívelem: http://www.tsbconsultoria.com/acessoem: 02/04/2016. TICKTIN, T. The ecological implications of harvesting nom-timber forest products. Journal of Applied Ecology , v. 41, n. 1, p. 11-21. 2004. WADT, L. H. O.: KAINER, K. A.: GOMES-SILVA, D. A. P. Population structure and nut yield of a Bertholletia excels stand in Southwestern Amazonia. Forest Ecologyand Management, v. 211, n. 1, p. 371-384.2005. 61


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A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE VEGETAL PIAUIENSE COMO FONTE DE FITOTERÁPICOS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE REYNALDO RODRIGUES DE SOUSA1 SIMONE MOUSINHO FREIRE.2 TEREZA MARIA ALCÂNTARA NEVES3 AMANNDA MENEZES DE OLIVEIRA 4 RESUMO A fitoterapia é a terapêutica que utiliza medicamentos preparados exclusivamente com plantas e/ou derivados vegetais, que possuem propriedades reconhecidas de cura e prevenção de doenças. Diante disso, objetivou--se discutir aspectos relevantes e os desafios sobre o uso da biodiversidade piauiense na forma de fitoterápicos, relacionando com a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos como meio de ampliar a oferta de medicamentos para a atenção primária à saúde. O estudo foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa, baseada nos pressupostos da análise de conteúdo e nos preceitos da revisão de literatura em banco de dados, arquivos documentais públicos e artigos científicos. Os dados obtidos evidenciaram a fitoterapia como uma excelente ação estratégica para a transformação das práticas assistencialista na Atenção Primária â Saúde. Além disso, mostraram que se deve discutir os aspectos que visam à integração entre os diversos órgãos de governo e as instituições públicas e privadas de pesquisas na construção das políticas públicas de saúde e projetos que regulem o acesso e o uso sustentável da biodiversidade utilizada na produção de novos medicamentos fitoterápicos. Palavras – chaves: Plantas Medicinais. Saúde Pública. Etnofarmacologia.

INTRODUÇÃO A utilização da natureza para fins terapêuticos é tão antiga quanto a civilização humana e, por muito tempo, produtos minerais, vegetais e animais foram fundamentais para a área da saúde. Historicamente, as plantas medicinais são importantes como fitoterápicos e na descoberta de novos fármacos (BRASIL, 2012). Suas substâncias isoladas têm sido uma rica fonte para obtenção de moléculas para serem exploradas terapeuticamente na indústria farmacêutica. A combinação da biodiversidade com o conhecimento tradicional de seu uso concede ao Brasil 1 Bacharel em Fisioterapia pela UFPI; Pós-graduando em Biodiversidade e Conservação (UESPI). E-mail: reynaldophb@gmail.com 2 Doutora em Ciência Animal. Chefe do Laboratório de Zoologia e Biologia Parasitária (UESPI). e-mail: coordbiodiversidade@gmail.com 3 Cirurgiã-dentista pela UFPI, Mestre em Saúde da Família (UNINOVAFAPI) e-mail: tereza_alcantara@yahoo.com.br 4 Orientadora. Bióloga, Tecnóloga em Gestão Ambiental pelo IFPI; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. E-mail: amannda.menezes@gmail.com 63


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uma posição privilegiada para o desenvolvimento de novos medicamentos. No entanto, apesar de o Brasil possuir quase um terço da flora mundial representada nos diversos e complexos biomas brasileiros o uso dos fitoterápicos ainda não é uma realidade ampla no âmbito do Sistema Único da Saúde - SUS. Atualmente, doze medicamentos fitoterápicos, são oferecidos pela rede pública (FIRMINO; BINSFELD, 2013). O termo fitoterapia é dado à terapêutica que utiliza medicamentos preparados exclusivamente com plantas e/ou derivados vegetais, que possuem propriedades reconhecidas de cura, prevenção, diagnóstico ou tratamento sintomático de doenças, validadas em estudos etnofarmacológicos (ARNOUS et al., 2005). No Brasil as comunidades, por meio de seus curadores e do uso autônomo, acumularam uma ampla experiência a seu respeito. Todavia, as realizações científicas das últimas décadas e sua ampla socialização incentivaram a monocultura do saber científico nas práticas dos profissionais de saúde aos saberes locais na Atenção Primária à Saúde (ANTONIO et al, 2013); (ROSA; CÂMARA; BIÉRIA, 2011). A medicina popular brasileira, não está limitada apenas a comunidades tradicionais, como os grupos indígenas ou quilombolas, mas é praticada também por moradores da zona rural e outras comunidades que habitam os biomas brasileiros, em especial nas regiões Norte e Nordeste. Nesse sentido, o conhecimento empírico de muitas comunidades rurais sobre a utilização de recursos naturais tem despertado grande interesse acadêmico por conservarem valiosos conhecimentos e espécies potenciais na flora brasileira (ALVES; POVH, 2013). Este conhecimento têm sido estimulados, baseando em algumas variáveis sociais e características desejáveis como sua eficácia, baixo risco de uso, assim como sua reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Um vez que grande parte da população brasileira ou por não ter acesso ao atendimento primário da saúde ou por preferir, utilizam terapias alternativas, como forma de tratamento (CARVALHO et al., 2010). No entanto, é importante frisar que no processo de produção dos fitoterápicos sejam levados em conta alguns pontos para sua formulação e distribuição e consumo, necessitando do trabalho multidisciplinar, com ênfase na estimulação ao conhecimento da biodiversidade local para que a espécie vegetal utilizada seja selecionada corretamente, o cultivo seja adequado, a avaliação dos teores dos princípios ativos seja feita e para que a manipulação e a aplicação na clínica médica ocorram, além da necessidade da orientação quanto ao uso indiscriminado de algumas espécies (VEIGA JR et al., 2005). Nesse sentido, a ampliação da cobertura da Atenção Primária à Saúde nas diversas regiões e biomas, em especial a predominante no território piauiense denota potencial para o desenvolvimento de ações com plantas medicinais e fitoterapia nos serviços de saúde, nos diversos níveis de complexidade em que a fitoterapia pode ser ofertada (BRASIL, 2009). Com a finalidade propor ações estratégia capazes de subsidiar o aproveitamento racional da biodiversidade vegetal piauiense na produção de medicamentos fitoterápicos na Atenção Básica contribuindo para o seu crescimento de forma sustentável, este estudo objetiva discutir aspectos relevantes e os desafios sobre o uso da biodiversidade piauiense na forma de fitoterápicos, 64


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relacionando com a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos como meio de ampliar a oferta de medicamentos para a atenção primária à saúde. MATERIAIS E MÉTÓDOS Para atender aos objetivos deste estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa, baseada nos pressupostos da análise de conteúdo e nos preceitos da revisão de literatura em banco de dados, arquivos documentais públicos e artigos científicos em base de dados na Scielo, Capes, IBD, Ecocert Brasil. Seguindo a classificação proposta por Gil (2010), a pesquisa bibliográfica é elaborada com base em material já publicado com o objetivo de analisar posições diversas em relação a determinado assunto. Os artigos foram pesquisados na língua portuguesa, publicados no período compreendido entre os anos 1995 e 2015, que abordavam a importância da biodiversidade piauiense e a legislação que rege sua utilização na produção de medicamentos fitoterápicos no Brasil. Para efeito do estudo foram utilizados os seguintes descritores: biodiversidade vegetal piauiense, fitoterápicos, plantas medicinais e atenção básica. Foram descartados os artigos que não atendiam aos critérios de inclusão determinados pelo objetivo do trabalho. A partir da análise realizada, foi possível identificar as perspectivas para plena implementação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicas, bem como seus impactos socioeconômicos, agregando valores importantes para o desenvolvimento de políticas públicas no que se refere ao uso sustentável da biodiversidade vegetal piauiense, que deram sustentação ao estudo de revisão. RESULTADOS E DISCUSSÃO A região Nordeste caracteriza-se por apresentar uma combinação de diferentes ecossistemas, demonstrando um contexto de paisagens variadas. Entre os estados, o Piauí está situado numa área de tensão ecológica, com vegetação de transição. Devido à elevada heterogeneidade espacial e ambiental, sua cobertura vegetal é um componente de grande relevância para o seu equilíbrio ambiental (SANTOS FILHO, 2009). O estado apresenta-se como um complexo mosaico de variabilidade de espécies, que vão desde as adaptadas ao ambiente mais secos até os mais úmidos. Entretanto, a despeito de sua extrema importância enquanto área de transição ambiental entre cerrados marginais e a caatinga, o estado apresenta uma rara fisionomia vegetal e uma ampla biodiversidade (FEITOZA et al, 2015). A Caatinga como bioma predominante no Piauí cobre cerca de 37% da área do Estado e apresenta grande parte de seu domínio preservado. Possui a maior parte de seu território ocupado por uma vegetação xerófila, de fisionomia e florística variada. Fitogeograficamente, a caatinga 65


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ocupa cerca de 11% do território nacional, representando cerca de 800.000 km², abrangendo os estados nordestinos da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, além do estado Minas Gerais situado no Sudeste brasileiro (MENDES, 2003). Sua cobertura vegetal é constituída, especialmente, de espécies lenhosas e herbáceas, de pequeno porte, geralmente dotadas de espinhos, sendo, geralmente, caducifólias, perdendo suas folhas no início da estação seca, e de cactáceas e bromeliáceas. Fitossociologicamente, a densidade, frequência e dominância das espécies são determinadas pelas variações topográficas, tipo de solo e pluviosidade (DRUMOND et al., 2000). Apesar de sua rica diversidade vegetal, foi apenas na década de 70 que surgiram os primeiros estudos com iniciativas de classificação da vegetação no estado, com a vinda de pesquisadores que realizaram longas excursões de caráter científico-exploratório. Os quais classificaram a vegetação do Piauí dispondo-a em sete grupos com características marcantes, atrelados à disposição geográfica: florestas, cocais (carnaubais, babaçuais e buritizais), cerrado, caatinga, carrasco, vegetação campestre e vegetação litorânea (FERNANDES et al., 1996). Esse imenso patrimônio genético da flora piauiense, tem na atualidade um inestimável valor econômico-estratégico em várias atividades, mas é no campo do desenvolvimento de novos medicamentos onde reside sua maior potencialidade. A razão dessa afirmação é facilmente comprovada quando se analisa o número de medicamentos obtidos direta ou indiretamente a partir de produtos naturais brasileiros (CALIXTO, 2003). A utilização de plantas com poderes medicinais tem recebido incentivos da Organização Mundial de Saúde - OMS, que reafirmam sua importância nos cuidados com a saúde, recomendando entre outros aspectos a criação de programas globais para a identificação, validação, preparação, cultivo e conservação das plantas medicinais utilizadas na medicina tradicional, bem como assegurar o controle de qualidade da produção dos fitoterápicos e outros medicamentos. (FIRMINO; BINSFELD, 2013). É importante frisar que fitoterápicos são medicamentos preparados exclusivamente com plantas ou partes de plantas medicinais (raízes, cascas, folhas, flores, frutos ou sementes), que possuem propriedades reconhecidas de cura, prevenção, diagnóstico ou tratamento sintomático de doenças, validadas em estudos etnofarmacológicos. Com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia as plantas medicinais estão tendo seu valor terapêutico pesquisado e ratificado pela ciência e vem crescendo sua utilização recomendada por profissionais de saúde. (BRASIL, 2009). No Piauí, o uso de plantas medicinais está relacionado à sua posição geográfica e aos diferentes tipos de clima e de solo e no baixo custo associado à terapêutica vêm despertando a atenção dos programas de assistência à saúde e de profissionais, pois se configura uma forma eficaz de atendimento primário à saúde, complementando o tratamento medicamentoso usualmente empregado pela população carente. Entre as diversas espécies dos biomas que predominam na região piauiense são notoriamente consideradas como medicamentosas de uso popular e com certificação científica destacam-se a aroeira (adstringente), araticum 66


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(antieméticos), quatro-patacas (catártica), pau-ferro (antiasmática e antisséptica), catingueira (antieméticos), marmeleiro (antitérmico), angico (adstringente), juazeiro (analgésico), jericó (diurético), entre outras (CARVALHO; CONCEIÇÃO, 2015). Arnous et al. (2005), afirma que o conhecimento e uso das plantas medicinais têm sido estimados, baseando em algumas variáveis sociais. Algumas características desejáveis das plantas medicinais são sua eficácia, baixo risco de uso, assim como reprodutibilidade e constância de sua qualidade. Entretanto, devem ser levados em conta alguns pontos para formulação dos novos fitoterápicos, necessitando que a espécie vegetal seja selecionada corretamente, o cultivo seja adequado, a avaliação dos teores dos princípios ativos seja feita e para que a manipulação e a aplicação na clínica médica possa ocorrer de forma segura. No entanto, apesar do crescente avanço das pesquisas relacionadas ao uso terapêutico da biodiversidade, ainda existem determinados problemas que dificultam o seu aproveitamento para o desenvolvimento de novos fitoterápicos. O que inclui a falta de leis específicas para o acesso à biodiversidade e pouca biblioteca de compostos naturais estão disponíveis na literatura. Essas dificuldades tem levado ao consumo desacerbado dessa diversidade biológica, sendo muitas vezes, explorada de forma não sustentável, causando danos ambientais irreversíveis, afetando diretamente o bioma local (VELOSO; LARROSA, 2011). Figueiredo (2014) destacam que o desconhecimento ou o conhecimento deturpado a respeito do uso de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos ocorre não apenas entre profissionais de saúde e os gestores, mas também em parcelas dos usuários. Apesar do largo uso das plantas medicinais e da extensão do conhecimento popular, de forma individualizada, há imprecisões, principalmente no que diz respeito à forma como são feitas as preparações caseiras, as indicações das plantas e o alcance do uso da Fitoterapia. Tais imprecisões podem acarretar o fracasso do tratamento, criando um comportamento de recusa a usar as plantas medicinais em determinadas situações de adoecimento. Diante dessa vertente e seguindo as recomendações da OMS, a cultura e a biodiversidade existentes no Brasil, assim como a complexidade que envolve a fitoterapia, o governo federal criou a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF) instituída por meio do Decreto da Presidência da República nº. 5.813, de 22 de junho, da Portaria 198, de fevereiro de 2004, pelo Ministério da Saúde, que objetiva a ampliação do acesso a plantas medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados à fitoterapia, voltada para a segurança, eficácia, qualidade e integralidade da atenção à saúde dos brasileiros, além do desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional (BRASIL, 2006b). Para que essas habilidades sejam adquiridas por meio das políticas de saúde, viu-se a necessidade de ampliar o mercado para a produção de novos fitoterápicos, aproveitando a disponibilidade da biodiversidade no Brasil, pois, grande parte da população brasileira ou por não ter acesso ao atendimento primário da saúde, prefere utilizar terapias alternativas, como forma de tratamento, entre as quais as plantas medicinais atuam como medicamentos. Seguindo esta justificativa, muitos municípios brasileiros nas duas últimas décadas vêm incorporando, 67


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programas de fitoterapia na atenção primária à saúde, com o objetivo de ampliar as opções terapêuticas e suprir carências medicamentosas de suas comunidades e, assim, melhorar a atenção à saúde ofertada aos usuários da rede pública (MATSUCHITA; MATSUCHITA, 2015) Seguindo essa perspectiva, a biodiversidade piauiense apresenta-se como uma proposta de ação estratégica capaz de contribuir para a transformação das práticas assistenciais, além de apontar como oportunidade de crescimento para a indústria farmacêutica brasileira na busca de novos insumos, numa visão finalmente mais vinculada à preservação e sustentabilidade, como estratégia para a soberania sobre os recursos naturais do país, além de e empreendendo um trabalho de destaque no cenário mundial na produção de medicamentos fitoterápicos, um mercado que cresce percentualmente mais do que o mercado de medicamentos (CZERMAINSK, 2009). A implementação da fitoterapia no Sistema único de Saúde representa, além da incorporação de mais uma terapêutica ao arsenal de possibilidades de tratamento à disposição dos profissionais de saúde, o resgate de uma prática milenar, que se imbricam o conhecimento científico e o conhecimento popular e seus diferentes entendimentos sobre o adoecimento e as formas de tratá-lo. Pelo fato de o uso da fitoterapia se embasar nesses dois tipos de conhecimento, aparentemente divergentes, resultam entendimentos diferentes sobro seu uso (FIGUEREDO, 2014) . Contudo, para que haja uma maior efetividade e eficiência do sistema faz-se necessário um amplo entendimento e cooperação entre os atores envolvidos para garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos fitoterápicos e promoção do uso racional da biodiversidade, além de integrar à discussão da assistência farmacêutica convencional, hegemônica, colocando a questão da planta medicinal como insumo nas políticas setoriais, tanto quanto como alvo de pesquisa de novos fármacos. Sendo uma das principais diretrizes da PNPMF é o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de plantas medicinais e de fitoterápicos, priorizando a biodiversidade do país (BRASIL, 2006a; BRASIL, 2006b). Portanto, ressalta-se que a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos deve ser concebida como um processo contínuo de atualização e construção do conhecimento dos diversos segmentos existentes no setor saúde, estimulando reflexões críticas sobre as práticas de atenção, possibilitando mudanças nos processos assistencialistas e uma melhor articulação dentro e para fora das instituições públicas de saúde atendendo às necessidades da população assistida (BRASIL, 2006c). Assim, a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos estabelece uma proposta que visa à transformação da política assistencialista em saúde, estimulando a atuação crítica, compromissada e tecnicamente eficaz, garantindo maior agilidade no atendimento assistencialista do sistema de saúde, no que diz respeito a terapia medicamentosa fazendo com que o tratamento de diversas patologias possa ser utilizado de forma mais abrangente, fazendose necessário a participação multiprofissional na temática, através da interdisciplinaridade, promovendo a integração do conhecimento popular e científico, contribuindo para a promoção 68


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da saúde e garantia de acesso a serviços terapêuticos, prevenção de agravos e preservação do meio ambiente. CONSIDERAÇÕES FINAIS A grande diversidade biológica piauiense tem se tornado nos ´últimos anos referência como uma das possíveis fontes de vantagem competitiva para o Brasil, sendo na indústria farmacêutica o maior potencial para seu aproveitamento, pois, atualmente existe uma tendência no meio industrial que é a substituição de produtos sintéticos, por produtos naturais, principalmente de origem vegetal na produção de medicamentos. No entanto, apesar da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmar que 80 por cento da população dos países em desenvolvimento recorrem à farmacopeia natural para o tratamento de diversas doenças, no Brasil a inclusão da fitoterapia na Atenção Primária â Saúde enquanto política propulsora do desenvolvimento de práticas integrativas e complementares no Sistema Único de Saúde pautadas na conscientização crítica dos profissionais de saúde e na mudança de comportamento da comunidade frente aos seus benefícios demonstrou a complexidade de sua implantação no contexto da saúde pública diante de sua heterogeneidade. Apesar de alguns avanços na ciência e tecnologia, ainda é incipiente a conscientização de que a relação custo/benefício dos produtos naturais é melhor do que os produtos industrializados. Por serem mais baratos que os medicamentos alopáticos e possuir a mesma eficácia, os medicamentos fitoterápicos pode ser utilizados como uma solução eficiente para o Brasil tanto em termos ecológicos como também econômicos e sociais. Os medicamentos fitoterápicos podem proporcionar, além dos benefícios à saúde individual e coletiva, uma grande economia às políticas de saúde pública do país. Verificou-se que um das maiores dificuldades enfrentadas atualmente, é que grande parte das espécies nativas brasileiras principalmente no Nordeste possuem poucos estudos e/ ou são desconhecidas. Muitas dessas espécies são usadas empiricamente, sem nenhum respaldo cientifico quanto à eficácia e segurança, o que demonstra a enorme lacuna entre a biodiversidade e as poucas pesquisas na literatura. Desta forma, considera-se este um fator de grande incentivo ao estudo das espécies vegetais, visando sua utilização como fonte de recursos terapêuticos, pois a biodiversidade vegetal piauiense representa, em virtude da pouca quantidade de espécies estudadas, um vasto celeiro de princípios ativos a serem descobertos. Dentro deste aspecto, cabe ainda ressaltar a necessidade de uma atuação multidisciplinar na elaboração de estudos, incluindo desde o ponto de vista fitoquímico, até estudos abordando os aspectos biotecnológicos e etnofarmacológicos, de tal forma que esta integração possa propiciar uma ampliação nas possibilidades na busca de novas matérias-primas. Nesse sentido é importante que seja realizado a estruturação dos centros de pesquisas na região, para que seja possível a extração racional das espécies promovendo a sustentabilidade.

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Assim, a implementação da fitoterapia na saúde pública brasileira constitui uma excelente ação estratégica para a transformação das práticas assistencialista na Atenção Primária â Saúde promovendo ações que objetiva assistir a comunidade em consonância com as demandas da sociedade contemporânea. É importante ainda, que seja discutidos os aspectos que visam à integração entre os diversos órgãos de governo e as instituições públicas e privadas de pesquisas na construção das políticas públicas de ciência e saúde e projetos que regulem o acesso e o uso sustentável da biodiversidade utilizada na produção de novos medicamentos fitoterápicos. REFERÊNCIAS 1. ALVES, G.SP; POVH, J.A. Estudo etnobotânico de plantas medicinais na comunidade de Santa Rita, Ituiutaba – MG. Revista Biotemas, 26 (3), setembro de 2013. 2. ANTONIO, G. D; TESSER, C. D; MORETTI-PIRES, R. O. Contribuições das plantas medicinais para o cuidado e a promoção da saúde na atenção primária. Interface (Botucatu), vol.17, n.46, pp. 615-633, 2013. 3. ARNOUS, A. H.; SANTOS, A. S.; BEINNER, R. P. C. Plantas medicinais de uso caseiro - conhecimento popular e interesse por cultivo comunitário. Revista Espaço para a Saúde, v. 6, n. 2, p. 1-6, 2005. 4. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica. Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 5. _____., Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS. Série B. Textos Básicos de Saúde. 92p, Brasília, 2006b. 6. _____.Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Práticas integrativas e complementares: plantas medicinais e fitoterapia na Atenção Básica/Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2012. 7. _____.Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica. A Fitoterapia no SUS e o Programa de Pesquisas de Plantas Medicinais da Central de Medicamentos. Série B. Textos Básicos de Saúde. 148p, Brasília, 2006a. 8. _____.Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica. Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Série B. Textos Básicos de Saúde. 60p, Brasília, 2006c 9. CALIXTO, J. B.. Biodiversidade Como fonte de Medicamentos. Cienc. Cult.. 2003, vol.55, n.3, pp. 37-39 10. CARVALHO, A. P. S.; CONCEIÇÃO, G. M.. Utilização de Plantas Medicinais em Uma Área da Estratégia de Saúde da Família, Caxias, Maranhão. Enciclopédia Biosfera, 70


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Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.21; p. 2015. 11. CARVALHO, L.M; COSTA, J.A.M; CARNELOSSI, M.A. Qualidade em plantas medicinais. Disponível em <http://www.cpatc.embrapa.br/publicacoes_2010/doc_162.pdf > Acesso em: 10 nov.2015. 12. CZERMAINSKI, S. B. C. A política nacional de plantas medicinais e fitoterápicos: um estudo a partir da analise de políticas públicas [dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2009 Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/ handle/10183/19068>. Acesso: 13.03.2016. 13. DRUMOND, M. A; KIILL, L. H. P;LIMA, P. C. F; OLIVEIRA, M. C;OLIVEIRA, V. R;ALBUQUERQUE, S. G;NASCIMENTO, C. E. S; CAVALCANTI, J. Estratégias para o Uso Sustentável da Biodiversidade da Caatinga. 2000. Disponível em: < https://www.infoteca. cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/134000/1/usosustentavel.pdf>. Acesso em: 10 de março de 2016. 14. FEITOZA, L.L.; MARTINS, L.V.; PEREIRA, C. S.; NETO, J.A.; MOURA, T.T.D.; LOPES, A.C.A.; CARVALHO, R. Citogenética de plantas do Parque Nacional de Sete Cidades (PNSC), Piauí, Brasil. In: II Simpósio da Rede de Recursos Genéticos Vegetais do Nordeste, 2015, Fortaleza. Anais do II Simpósio da RGV Nordeste. Fortaleza, Embrapa Agroindústria Tropical, 2015. 15. FERNANDES, A.G.; LOPES, A.S.; SILVA, E.V.; CONCEIÇÃO, G.M.; ARAÚJO, M.F.V. IV – Componentes biológicos: Vegetação. In: CEPRO, Macrozoneamento Costeiro do Estado do Piauí: relatório geoambiental e socioeconômico. Teresina: Fundação CEPRO. 1996. p. 43-72. 16. FIGUEREDO, C. A.; GURGEL, I. G. D.; GURGEL JUNIOR, G. D.. A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos: construção, perspectivas e desafios. Physis, vol.24, n.2, pp.381-400. 2014. 17. FIRMINO, F.C. BINSFELD, P.C. A biodiversidade brasileira como fonte de medicamentos para o SUS. Disponível em:<http://www.cpgls.ucg.br> Acesso em: 10 nov.2015. 18. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010. 19. MATSUCHITA, H. L. P.; MATSUCHITA, A. S. P.. A Contextualização da Fitoterapia na Saúde Pública. Uniciências, v.19, n.1, p.86-92, 2015. 20. MENDES, M. R. A. Florística e fitossociologia de um fragmento de caatinga arbórea, São José do Piauí, Piauí. Recife: UFPE. 2003. 110p. Dissertação (Mestrado em Biologia Vegetal). Universidade Federal de Pernambuco, 2003. 21. ROSA, C.; CÂMARA, S.G.; BÉRIA, J.U. Representações e intenção de uso da fitoterapia na atenção básica à saúde. Ciências e Saúde Coletiva, v. 16, n. 1, p. 311-8, 2011. 22. SANTOS-FILHO, F. S. Composição florística e estrutural da vegetação de restinga do Estado do Piauí. 2009. 124 f. Tese (Doutorado em Botânica) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2009. 71


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23. VEIGA JR., V.F., PINTO, A.C., MACIEL, M.A.M.. Plantas medicinais: cura segura? Quím. Nova, vol.28 n.3, 2005. 24. VELOSO, C. P.; LARROSA, C. R. R.. Biodiversidade Brasileira Como Fonte de Medicamentos Fitoterápicos; 2011; Monografia; (Aperfeiçoamento/Especialização em Pós Graduação Lato Senso em Vigilância Sanitária) - Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2011.

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DIVERSIDADE CROMOSSÔMICA EM PEIXES DO GÊNERO ASTYANAX: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ROSEANE CÁSSIA GALENO OLIVEIRA1 AMANNDA MENEZES DE OLIVEIRA2 RESUMO Peixes do gênero Astyanax pertencentes à família Characidae caracterizam-se como um grupo que possui uma grande diversidade cariotípica. Os espécimes deste gênero são amplamente distribuídos na Região Neotropical, são caracterizados por seu pequeno porte, pois apresentam tamanho reduzido geralmente inferior a 15 cm de comprimento. A pesquisa objetivou analisar a diversidade cromossômica de peixes do gênero Astyanax com ênfase nas espécies A. fasciatus e A. bimaculatus, levando também em consideração outras espécies que tem notável variabilidade no número de cromossomos,por meio da análise de artigos, periódicos e dissertações. Após o levantamento de dados dos trabalhos analisados conclui-se que exemplares do gênero têm uma alta variabilidade cariotípica relacionada com o número diploide, devido à localização dos genes cromossômicos e a presença ou ausência do cromossomo B, a distribuição geográfica dos mesmos e a presença de “complexo de espécies” em pelo menos três grupos. Palavras-chave: Diferenças cariotípica.Cromossomos. Gênero.

INTRODUÇÃO Peixes do gênero Astyanax, conhecidos popularmente como piabas na região Nordeste e lambaris nas regiões Sul e Sudeste. De acordo com FINK e FINK, (1981) citado por DOMINGUES, (2005) pertencem à família Characidae, uma das maiores e mais complexas dentro da ordem Characiformes, representando 55% desta ordem. Segundo FERNANDES (2006), os espécimes deste gênero estão amplamente distribuídos na América do Sul, no Brasil existe uma notável diversidade ictiológica cujos espécimes são importantes no equilíbrio ecológico em seus habitats.São considerados peixes de pequeno porte, pois apresentam tamanho reduzido, geralmente inferior a 15 cm. Têm corpo prateado e nadadeiras coloridas cujos tons variam de espécie para espécie, por exemplo: A. bimaculatus tem cauda amarela, A. cf. lacustris conhecida popularmente como piaba-do-rabo-amarelo (SILVA, 2008); A. fasciatus e A. scabripinnis têm cauda vermelha. Apesar de haver semelhanças externas entre diferentes espécies podendo ser diferenciadas por características visíveis como a coloração da cauda, numa mesma espécie pode ter muitas variações seja em número ou estrutura cromossômica 1

Graduada em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI e-mail: roseaneoliveira12@hotmail.com

2 Orientadora. Bióloga,Tecnóloga em Gestão Ambiental peloIFPI; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. E-mail:amannda.menezes@gmail.com

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(TORRES-MARIANO e MORELLI, 2006), tornando assim necessário o desenvolvimento de estudos para análise da variabilidade cariotípica dentro de uma mesma espécie. Há um crescente uso da citogenética de peixes neotropicais para esclarecer os mecanismos de diversificação de espécies, procurando assim respostas mais consistentes (VICARI, 2010), uma vez que a mesma nos fornece dados importantes sobre os cromossomos tais como: a morfologia, organização, variação e evolução podendo assim proporcionar um maior conhecimento do espécime estudado (GUERRA,1986). Já que os espécimes são bem parecidos entre si é necessário estudos mais detalhados sobre a composição do gênero e assim permitir a conservação dos mesmos. Sabendo que o gênero Astyanax tem uma grande diversidade cromossômica tornam-se necessários estudos para detalhar esta diversidade, o principal objetivo da pesquisa foi um levantamento dos principais trabalhos relatando a grande variabilidade cromossômica em peixes do gênero Astyanax, foi identificado as mudanças que ocorrem de uma espécie à outra por meio de um levantamento bibliográfico. Os dados obtidos na pesquisa contribuíram para reconhecer a biodiversidade deste gênero. O que influencia muito na variação do número diplóide e fórmulas cariotípicas de espécimes deste gênero são os chamados grupos em “complexo de espécies” nos quais são descritos três grupos: o complexo de Astyanax scabripinnis, Astyanax fasciatus e Astyanax altiparanae ou Astyanax bimaculatus (KAVALCO, 2008).De acordo com Kavalco, (2008) é observado um alto grau de variabilidade tanto no número diploide na macroestrutura cariotípica e presença ou ausência de cromossomos supranuméricos em exemplares de A. scabripinnis e A. fasciatus, já espécimes de A. altiparanae a diversidade cromossômica está relacionada somente à macroestrutura cariotípica. A pesquisa é uma compilação de trabalhos que relatam a alta taxa de variabilidade cariotípica existente em espécimes do gênero Astyanax. Eautores como Sandra Morelli, Karine Kavalco, Carlos Fernandes entre outroscitam a necessidade de mais estudos neste grupo uma vez que ainda são desconhecidos dados em algumas bacias brasileiras. Portanto a realização da pesquisa torna-se importante, pois demonstra as diferenças existentes entre uma espécie e outra tornando possível um maior reconhecimento da biodiversidade de peixes do gênero Astyanax. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Observou-se grande diversidade cariotípica entre as espécies de peixes pertencentes ao gênero Astyanax com o número diploide variando entre 2n= 36 cromossomos em Astyanax schubart (MORELLI et al., 1983)a 2n= 50 cromossomos em A. scabripinnis, A. altiparanae (FERNANDES, 2006) e Astyanax bimaculatus. A diversidade cromossômica ocorre tanto inter como intra-específica, quando acontece em indivíduos da mesma espécie são consideradas como complexo de espécies como no complexo scabripinnis cujos números diploides variam de 2n=46 a 2n=50 cromossomos (FER74


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NANDES e MARTINS-SANTOS, 2005), no complexo fasciatus o número cromossômico varia de 2n=45 a 2n= 50 cromossomos (CENTOFALANTE et al, 2003). Vários autores descrevem populações de A. fasciatus com número diploide de cromossomos que variam de 45 a 48, espécimes coletadas no Rio Mogi-Guaçu-SP apresentam 2n=46 (MORELLI et al. 1983), o número diploide detectado em A. fasciatus na calha do Rio Araguari-MG foi de 2n=46 cromossomos (TORRES-MARIANO e MORELLI, 2006), numa análise de espécimes coletados da bacia do alto rio Paraná foi detectado um número diploide de 2n=46 cromossomos em A. fasciatus e populações da bacia do rio São Francisco é de 2n= 48 cromossomos (FERNANDES, 2006). Em exemplares coletados no Rio Juquiá-SP de Astyanax aff. fasciatus tinham algumas mudanças na posição do centrômero a partir do 8º cromossomo e os mesmos eram isolados reprodutivamente dos A. fasciatus do Rio Mogi-Guaçu citados anteriormente de 2n= 46 cromossomos, podem ou não ser A. fasciatus por isso foram colocados como A. aff. fasciatus, neles foram encontrados um número diploide de 2n=48 cromossomos (MORELLI et al., 1983). De acordo com Fernandes (2006) a análise de três populações de Astyanax scabripinnis do Córrego Tatupeba mostraram espécimes com número diploide 2n=46, 2n=48 e 2n= 50 cromossomos corroborando assim com dados e estudos anteriores que as mesmas se encontram num complexo de espécies. Um estudo realizado por Abel et al. (2006) mostrou em uma análise comparativa que o complexo de espécies de A. scabripinnis na bacia do rio Paranapanema foi detectada por meio da técnica FISH as sondas de DNA satélite As51 foi encontrado nas extremidades braços acrocêntricos e sub telocêntricos e um par de cromossomos submetacêntricos, mostrando assim que as Bandas C não são pericentroméricas, esta localização cromossômica do DNA satélite As51 é semelhante ao de A. fasciatus, enquanto a população do Viveiro de Mudas as Bandas C encontravam-se todas presentes na região pericentroméricas dos cromossomos. Este se trata de um dado – a diversificação do DNA satélite As 51- que reforça a hipótese de que espécimes de Astyanax scabripinnis se encontram em um complexo de espécies. Exemplares de Astyanax aff fasciatus coletados na bacia do rio São Francisco município de Januária-Mg, apresentou um número diploide de 2n=48 cromossomos, a heterocromatina que é constituída de DNA satélite estava distribuída nas regiões pericentroméricas de alguns cromossomos (PENTEADO et al., 2013) diferente dos resultados encontrados por (ABEL et al., 2006). Em um estudo realizado por (MEDRADO et al., 2012) em duas populações simpátricas de peixes Astyanax sp. e Astyanax aff fasciatus da bacia do Médio rio das Contas-Ba demonstrou que as duas espécies possuíam um número diploide de 2n=48 cromossomos diferindo apenas na morfologia cromossômica que em Astyanax sp. tinha o número fundamental (FN)= 84 e Astyanax aff fasciatus com FN = 92. Fava (2008) analisou sete populações de A. bimaculatus em Minas Gerais todos com = 50 cromossomos, apresentando grande diversidade nos padrões de heterocromatina que foi 75


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interpretada como variação intra-específica, e quanto à estabilidade no número cromossômico é devido o isolamento geográfico. Segundo a análise citogenética realizada por (PAMPONET et al., 2008), em três populações de Astyanax aff. bimaculatusque ocupavam bacias hidrográficas localizadas no Estado da Bahia demonstraram cariótipos semelhantes entre os exemplares com o número modal de 2n=50 cromossomos, e as NORs (Região Organizadora de Nucléolos) tinha variação numérica intra e inter – individual com o número de Ag-NORs de um a quatro sinais situados nos braços curtos de até dois pares cromossômicos. A fórmula cariotípica das populações de Astyanax aff. bimaculatusencontradas na Bahia é diferenciada em relação a outras bacias do Brasil indicando assim uma alta variabilidade cromossômica no grupo (PAMPONETE et al., 2008). Estudos anteriores destacam que a análise citogenética no complexo de espécies Astyanax bimaculatus, tem mostrado grandes variações cariotípica que não afetam o número diploide de 2n=50 (FAVA, 2008). De acordo com (FERNANDES e MARTINS-SANTOS, 2004) análises citogenéticas feitas em A. bimaculatus de diferentes locais, mostra que apesar de serem regiões afastadas os espécimes apresentam um número diploide igual a 50 cromossomos e fórmula cariotípica diferente. METODOLOGIA A pesquisa desenvolvida foi de cunho teórico e bibliográfico, na qual foram consultados artigos disponíveis no site da Scielo, em periódicos da CAPES que abordavam o tema em estudo, foram utilizadosartigos nacionais e internacionais. Foram utilizadas dissertações de mestrado disponíveis online, publicadosentre osanos 2005 e 2008, teses de doutoradoentre 2006 e 2008, e ainda livros de citogenética. Utilizou-se como critério para a seleção dos artigos: autores reconhecidos que realizaram trabalhos importantes sobre o tema, pesquisas que relatavam as principais características do grupo. A obtenção de dados e respostas para a pesquisa foi a partir da análiseda bibliografia selecionada. RESULTADOS E DISCUSSÃO Estudos citogenéticos são essenciais para observar a rica diversidade cariotípica do gênero Astyanax. O trabalho foi realizado com o intuito de verificar as diferenças morfológicas e cromossômicas de espécimes de A.fasciatus, A. scabripinnis e A. bimaculatus de estudos feitos em diferentes bacias hidrográficas brasileiras e com a análise dos dados foi possível verificar a existência de uma alta variabilidade cromossômica. A maior tentativa de explicação para esta alta variabilidade cromossômica é que os espécimes são encontrados em “complexo de espécies” e apresentam diversidade no número modal 76


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de cromossomos (FERNANDES e MARTINS-SANTOS, 2005), os dados obtidos corroboram com todos os trabalhos analisados que o gênero Astyanax têm uma alta diversidade cariotípica. Segundo Kavalco, (2008) é observado dentro do gênero um modelo evolutivo de peixes neotropicais em todas as espécies estudadas o que demonstra ser pertencentes ao “complexo de espécies” e por isso ter um alto grau de variabilidade cariotípica. Com a análise dos trabalhos percebeu-se que a grande diversidade cariotípica entre as espécies de peixes pertencentes ao gênero Astyanax com o número diploide variando entre 2n= 36 cromossomos a 2n= 50 cromossomos, e essas variações são porque as espécies estão no que chamam “complexo de espécies”. No complexo fasciatus a variação no número cromossômico vai de 2n=46 a 2n=50 cromossomos, numa análise de espécimes da bacia do alto rio Paraná foi detectado um número diploide de 2n=46 cromossomos em A. fasciatus e em populações da bacia do rio São Francisco é de 2n= 48 cromossomos (FERNANDES, 2006). Percebe-se que a mesma espécie dependendo do local de coleta podem mostrar números diploides diferentes. De acordo com Yano (2011) em um estudo realizado na bacia do Alto rio Paraná nos riachos Pindorama e Lopei espécimes de Astyanax fasciatus apresentaram um número modal de 50 cromossomos em ambos os riachos. Com mudanças nas fórmulas cariotípicas, no riacho Pindorama (8m+18sm+10st+14a) e no riacho Lopei foi (8m+14sm+12st+16a), também foram observadas variações interindividuais nas RONs múltiplas das duas populações. Já no complexo scabripinnis três populações coletadas no mesmo local Córrego de Tatupeba, foram identificados três cariótipos diferentes de 2n= 46, 2n=48 e 2n=50 cromossomos (FERNANDES, 2006). Houve diversidade cromossômica intra-específica apesar de não ter ocorrido mudanças no local de coleta, demonstrando que estes espécimes se encontram realmente no complexo de espécies, uma vez que são caracterizados assim por conter espécimes semelhantes na forma e diferentes geneticamente. Um trabalho realizado por Kavalco et al.(2011) em populações de Astyanax aff. bimaculatuse Astyanax altiparanae de quatro bacias hidrográficas do Rio de Janeiro e São Paulo, a análise citogenética de todas as populações coletadas apresentaram o mesmo número diplóide 2n=50 cromossomos, no entanto com formas cariotípicas diferentes, como por exemplo no número e na posição das Regiões Organizadoras de Nucléolo (NORs). Exemplares de Astyanax bimaculatus coletados em diferentes bacias demonstrou um número modal constante de 2n= 50 cromossomos com mudanças na localização do cromossomo B, e nos padrões de distribuição de heterocromatina. Demonstra também que apesar da espécie ser coletada em diferentes locais elas apresentam o mesmo número cromossômico, mas apresentam mudanças em outros padrões, concluindo que estes espécimes se encontram em um “complexo bimaculatus”. Portanto a distribuição geográfica em Astyanax bimaculatus não apresenta diferenças significantes quanto a mudança na variabilidade do número de cromossomos. Estes dados possibilita constatara complexidade que o gênero Astyanax se encontra, 77


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uma vez que autores citam que há variação no número cromossômico em peixes numa mesma região, e outros trabalhos descrevem a diferença cromossômica somente em espécimes que se encontram em regiões diferentes, e quando estes tem o mesmo número cromossômico, pertencem a regiões diferentes possuem uma modificação em algo como: na localização do cromossomo B ou nos padrões de distribuição de heterocromatina, variação no número e localização das Regiões Organizadoras de Nucléolo – NORs. Com relação ao comportamento migrador dos peixes deste gênero existem vários trabalhos como o realizado por Vicentine et al., (2004) relatando que os espécimes sempre procuravam um local favorável para seu descanso por exemplo em regiões próximas à parede do canal. CONSIDERAÇÕES FINAIS A biodiversidade está em crescente ameaça principalmente pela ação antrópica e por isso atualmente há grande interesse para que se conheçam as espécies existentes. Sabendo que peixes do gênero Astyanax são essenciais para o bom funcionamento de um ecossistema, uma vez que fazem parte das cadeias alimentares atuando como consumidores primários, secundários ou terciários, pois são onívoros, eles servem de alimento e se alimentam de muitos outros animais mantendo assim o equilíbrio ecológico, torna-se necessário então o estudo mais detalhado deste grupo. Há programasde pesquisas sendo desenvolvidos para verificar a abundância e a distribuição das espécies nas áreas de ecologia, genética e sistemática com o intuito de conhecer melhor o grupo. A citogenética de peixes traz dados importantes quanto a organização e estrutura dos cromossomos, tem grande relevância pois espécimes do gênero Astyanax caracterizam-se como um grupo bastante diversificado quanto a estrutura cromossômica, portanto verifica-se a importância deste trabalho. Os dados analisados indicam que no gênero é encontrada uma alta variabilidade genética devido à evolução cariotípica de forma não conservativa, no qual em uma mesma espécie podem ser encontrados números cromossômicos diferentes o que caracteriza uma mudança intra-específica. E que em espécimes de Astyanax bimaculatus a distribuição geográfica não altera o número modal embora ainda seja encontrada uma variação nos padrões de distribuição da heterocromatina no número e localização das Regiões Organizadoras de Nucléolos - RONs. A variabilidade citogenética encontrada em peixes do gênero Astyanax pode estar relacionada à vários fatores como: o hábito de vida sazonal dos espécimes, ampla distribuição geográfica, habitar diferentes ecossistemas tais como: rios, riachos, lagos, reprezas entre outros o que os leva a um processo de diferenciação cariotípica dentro do grupo.

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LEVANTAMENTO DO ACESSO AO TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO NA CIDADE DE PARNAÍBA-PIAUÍ. TÁSSIA VASCONCELOS DE ARAÚJO1 AMANNDA MENEZES DE OLIVEIRA2

RESUMO A falta da rede de esgotamento sanitário contribui para a degradação do meio ambiente. A água sempre será essencial à vida do homem, mas precisa ser convenientemente tratada, caso isso não ocorra, ao ser ingerida pode ser responsável pela transmissão de doenças. O artigo teve o intuito mostrar como está a implantação do esgoto sanitário na cidade de Parnaíba-Piauí, fazendo um levantamento de como anda o acesso da população ao tratamento de esgoto sanitário na cidade. O desenvolvimento desse trabalho ocorreu pelo método de pesquisa e consulta ao órgão público estadual – Água e Esgotos do Piauí (AGESPISA), a área de estudo foi no município de Parnaíba, estado do Piauí, e foi realizada no ano de 2016, nas datas de 05/04/2016, 10/04/2016, 12/05/2016 e 13/05/2016. A AGESPISA dividiu os bairros em 25 bacias sanitárias. Das Bacias, nos bairros do município, em que a AGESPISA se responsabilizou em construir estão faltando apenas 14% do total para a liberação da rede de esgoto, por volta de 84% já estão funcionado, sendo que esse término acontecerá em julho de 2016. Já a Prefeitura Municipal não tem previsão para o inicio da obra de esgotamento sanitário de suas três bacias. A realidade do esgotamento sanitário em Parnaíba - Piauí tem se concretizado aos poucos, algumas bacias que coletam os esgotos domésticos já estão em funcionamento e outras com um prazo para começarem a funcionar. Palavras-chave: Água, Esgoto doméstico, Tratamento, Construção. INTRODUÇÃO O tratamento do esgoto sanitário no Brasil é essencial à proteção da saúde pública e do meio ambiente. A falta ou a inadequação do tratamento do esgoto sanitário causa inúmeras doenças (NUVOLARI, 2003). Segundo dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (ONS) (2008), afirma que o destino inadequado dos dejetos humanos causa várias moléstias como leptospirose, amebíase, hepatite infecciosa, diarreias, disenterias, cólera, giardíase, dentre outras. A falta da rede de esgotamento sanitário contribui para a degradação do meio ambiente, Fundação Nacional de Saúde (FUNASA, 2004). Segundo a (OMS), o tratamento de esgoto sanitário nada mais é do que o controle de todos os fatores do meio físico do homem. De outra 1

Graduada em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí – UFPI e-mail: tassia.vasconcelos@hotmail.com

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Gestora Ambiental, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente e-mail :amannda.menezes@gmail.com 81


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forma, pode-se dizer que ele caracteriza-se como um de conjunto de ações socioeconômicas que tem por objetivo alcançar salubridade ambiental. A Lei Federal de Saneamento Básico 11.445 (BRASIL, 2007), “dispõe que os serviços de abastecimento público de saneamento básico são baseados, dentre outros princípios, na integralidade e universalização do acesso, o que garante a oferta de água potável, de coleta, do tratamento e disposição final adequada dos esgotos sanitários, além da limpeza urbana e do manejo dos resíduos sólidos, devendo ser adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente.” Em 2006, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento instituiu oito objetivos, porém, em especial, o sétimo visa garantir a sustentabilidade ambiental e para isso têm-se a seguinte meta “reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população sem acesso permanente e sustentável a água potável segura” (PNUD, 2006). A água sempre será essencial à vida do homem, mas precisa ser convenientemente tratada, caso isso não ocorra, ao ser ingerida pode ser responsável pela transmissão de doenças como leptospirose, amebíase, hepatite infecciosa, diarreias etc. (Instituto de Comunicação e Informação Cientifica e Tecnológica em Saúde, 2010). Aproximadamente 71,8% dos municípios não possuíam, em 2011, uma política municipal de saneamento básico principalmente o de tratamento e coleta do esgoto sanitário. A falta de coleta e tratamento de esgoto atinge quase 100 milhões de brasileiros, acarretando a contaminação dos solos, e isso é fonte de graves doenças, responsáveis por 30% de mortalidade. Do esgoto coletado, o Brasil trata apenas 10% o resto vai direto para os rios, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE, 2011). O investimento em saneamento básico sempre foi historicamente negligenciado pelo poder público. Um levantamento feito Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB), no ano de 2013, mostrou essa triste realidade do país. O Piauí aparece na terceira colocação entre os estados com a pior cobertura de esgotamento sanitário. Com vista nessa informação um dos municípios do Piauí que já está disponível a rede de tratamento do esgoto sanitário é o de Parnaíba, mas ainda é precária em alguns bairros. A solução seria a implantação e o acesso desse sistema para toda a população. Uma pesquisa do IBGE (2004) revelou que pouco mais da metade das moradias urbanas brasileiras (55,3%) informaram utilizar o serviço de esgotamento sanitário por rede geral. Essa rede geral incluiu as fossas sépticas, fossas que constituem alternativas significativas para o sistema de esgotamento sanitário dos domicílios brasileiros (44,7%). Um município com esgotamento sanitário precário, na prática, se traduz na deposição inadequada dos efluentes líquidos, muitas vezes diretamente no aquífero (fossas negras escavadas até o nível freático) trazendo contaminação aos lençóis freáticos por nitrato e microrganismos patogênicos. Logo, este trabalho teve o intuito de mostrar como está a implantação do esgoto sanitário na cidade de Parnaíba-Piauí. Fazendo um levantamento de como anda o acesso da população ao tratamento de esgoto sanitário na cidade, contribuindo assim para uma visão geral de como está 82


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às condições desse processo, quais os locais já têm o acesso a esse saneamento e as contribuições ambientais da rede de esgoto. METODOLOGIA O desenvolvimento do artigo ocorreu pelo método de pesquisa e consulta ao órgão público estadual – Água e Esgotos do Piauí (AGESPISA). A área de estudo foi no município de Parnaíba, estado do Piauí, realizada no ano de 2016. A população município de Parnaíba-Piauí, em 2015, foi estimada em 149.803 mil/habitantes, segundo dados do IBGE. As entrevistas ocorreram com a técnica social do Saneamento Básico, funcionária da AGESPISA, nas datas de 05/04/2016, 10/04/2016, 12/05/2016 e 13/05/2016, nessas datas foram feitos levantamentos por entrevista e também por observações de imagens gráficas da cidade de Parnaíba, contidas em computadores da empresa. Nas entrevistas foram abordados temas sobre: quais bairros já têm o acesso à coleta e ao tratamento de esgoto sanitário e qual a perspectiva de implantação em todos os bairros do sistema. Durante o desenvolvimento da pesquisa ocorreram observações em mapas dos quais a própria AGESPISA disponibilizou em seu sistema, a finalidade dessas observações foi fazer uma ilustração em forma de mapa da cidade de Parnaíba, e posteriormente foram evidenciados nessa ilustração todos os locais com e sem a implantação de esgoto sanitário, o custo dessa implantação aos moradores e consequentemente os benefícios da rede de tratamento de esgoto doméstico ao meio ambiental. Dessa forma, foi possível ter o diagnóstico de como anda a construção sistema de esgotamento na cidade de Parnaíba-Piauí. RESULTADOS E DISCUSSÃO O município de Parnaíba-Piauí, em 2015, tem população estimada em 149.803 mil/ habitantes, segundo dados do IBGE. Os recursos financeiros para a realização desta obra de tratamento do esgotamento sanitário na cidade de Parnaíba esta sendo custeada pelo poder público, com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e Caixa Econômica Federal. A implantação do esgoto sanitário na cidade de Parnaíba-Piauí teve inicio com a elaboração do projeto no ano de 2005, sendo aprovado em 2007. O inicio da implantação da construção da rede de coleta de esgoto sanitário e tratamento ocorreu em 2009. A Agespisa dividiu os bairros em 25 bacias sanitárias que são áreas a serem esgotadas, contribuinte por gravidade num mesmo ponto do interceptor. Tais bacias, em sua maioria, já estão disponíveis para a coleta de esgoto doméstico. Apenas seis dessas bacias não estão liberadas para fazer a instalação dos seus esgotos domésticos à rede de coleta, mas a obra física de três dessas seis bacias que faltam já está finalizada. A figura 1 mostra as 25 bacias de coleta da rede de esgoto sanitário. 83


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As bacias dos bairros que não estão liberadas para a instalação da rede de esgoto são as bacias do Bebedouro, Joaz Sousa, Baixa da Carnaúba, Ceará, Universidade Federal e São Judas Tadeus. A liberação da rede de esgoto sanitário está prevista para o mês de julho de 2016, sendo que a Agespisa não é responsável pelas bacias do Bebedouro, Joaz Souza e Baixa da Carnaúba essas ficaram a reponsabilidade da Prefeitura Municipal de Parnaíba-Piauí, que até o momento não tem previsão de data para a liberação do esgoto Sanitário. (Gráficos 01 e 02).

Os esgotos atualmente são classificados em esgotos sanitários e industriais. O esgoto sanitário é constituído essencialmente de despejos domésticos, tendo características bem definidas, provém principalmente de residências, edifícios comerciais, instituições ou quaisquer edificações que contenham instalações de banheiros, lavanderias, cozinhas ou qualquer dispositivo de utilização da água para fins domésticos, sendo compostos essencialmente da água de banho, urina, fezes, papel, restos de comida, sabão, detergentes e águas de lavagem. Os 84


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esgotos industriais são resultados das águas para fins de indústrias, e adquirem características próprias em função do processo de industrialização empregado (JORDÃO, 2009). Assim sendo, no município do estudo, o tratamento desses dois tipos de esgotos são realizados separadamente, cada indústria deverá se responsabilizar pelo tratamento de seus efluentes. O poder público apenas tratará os oriundos de residências, edifícios comerciais e outras instituições que não sejam industriais. A rede de esgotamento sanitário no município terá um preço acessível a toda população, pois, só será cobrada uma taxa de 50% sobre a conta para imóveis e residências. Já para as escolas e empresas o valor passará a ser de 80%. Essas porcentagens de cobrança do esgoto sanitário para quem utiliza serão calculadas sobre a conta mensal de água consumida, ou seja, pelo consumo mensal cobrado pela AGESPISA. Do valor total da obra do Sistema Esgoto Sanitário, cerca de 1% é destinado a projetos de trabalho técnico social, que visam incentivar a participação da população beneficiária, por meio de ações socioeducativas, informativas e de capacitação, voltadas para as questões ambientais e sanitárias, de organização comunitária, envolvendo os beneficiários do sistema de esgotamento sanitário. Das Bacias, nos bairros do município, em que a AGESPISA se responsabilizou em construir estão faltando apenas cerca de 14% do total para a liberação da rede de esgoto, por volta de 86% já estão funcionado, sendo que esse término acontecerá em julho de 2016 (Gráfico 03). Já a Prefeitura Municipal não tem previsão para o inicio da obra de esgotamento sanitário de suas três bacias, o que equivale a 100% das bacias sem funcionamento (Gráfico 04).

Gráfico 03- Rede de esgotamento-AGESPISA

Gráfico 04- Rede de esgotamento - Prefeitura Municipal de Parnaíba

O déficit de acesso ao tratamento de esgoto sanitário nessa cidade está sendo ocasionado, em grande parte, pela “fragmentação das responsabilidades e dos recursos federais, indefinições regulatórias e irregularidades contratuais” (SAIANI, 2007, p. 262). A rede de esgoto da cidade de Parnaíba está sendo coletada e tratada na ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), localizada no bairro Tabuleiro na cidade de Parnaíba-Piauí. O esgoto tratado (figura 02) será lançado ao rio Igaraçu. A coleta e o tratamento de resíduos das atividades

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humanas têm várias vantagens. Dentre as principais é prevenir a poluição das águas de rios, mares e outros mananciais, garantir a qualidade da água utilizada pelas populações para consumo, bem como seu fornecimento de qualidade, além do controle de vetores. IncluemFigura 02- Esgoto tratado na ETE se ainda no campo de atuação do saneamento a Fonte: Acervo da AGESPISA, 2015. drenagem das águas das chuvas, prevenção de enchentes e cuidados com as águas subterrâneas. (CAVINATTO, 1992). Quando se constrói um sistema de esgotos sanitários em uma cidade atingem-se vários objetivos como o afastamento rápido e seguro dos esgotos, o tratamento e disposição adequada dos esgotos tratados. Essa construção tem a intenção de atingir benefícios como conservação dos recursos naturais; melhoria das condições sanitárias locais; eliminação de focos de contaminação e poluição; eliminação de problemas estéticos desagradáveis; redução dos recursos aplicados no tratamento de doenças; diminuição dos custos no tratamento de água para abastecimento (LEAL, 2008). CONSIDERAÇÕES FINAIS A implantação do esgotamento Sanitário nos bairros do município de Parnaíba-Piauí é de grande importância tanto na prevenção de doenças quanto na preservação do meio ambiente. A incorporação desse projeto representa um avanço significativo, em termos de legislação, mas é preciso criar condições para que os serviços de tratamento do esgoto sanitário sejam implantados e acessíveis a todos – a denominada universalização dos serviços, princípio maior do marco regulatório do saneamento básico no Brasil, a Lei 11.445/2007. A realidade do esgotamento sanitário em Parnaíba - Piauí tem se concretizado aos poucos, algumas bácias que coletam os esgotos domésticos já estão em funcionamento e outras com um prazo para começarem a funcionar. As vantagens imediatas da rede de tratamento do esgoto sanitário já se podem perceber que são diminuição dos custos de tratamento da água para abastecimento – que antes eram mais poluídos e os custos para tratamento eram mais caros; melhoria da saúde da população e redução dos recursos aplicados no tratamento de doenças. Em contrapartida é lamentavelmente que três das 25 bacias dos bairros ainda não foram construídas e os responsáveis pela obra não tenha nenhuma previsão para a construção. Visto que a falta do esgotamento sanitário causa a degradação ecológica, os rios continuaram sendo poluídos, peixes morrendo, dengue, cólera, esquistossomose e epidemias diversas. A lei do saneamento básico está em vigor, aprovada pelo Congresso e sancionada pelo Presidente da República, mas a execução do orçamento depende dos governantes e dos gestores do município. A coleta e tratamento de esgoto, entretanto, ainda caminho é longo e que futuramente espera-se que seja alcançado os 100% de toda a população parnaibana. 86


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A IMPORTÂNCIA DAS LAGOAS DO LITORAL DO PIAUÍ NO TURISMO SUSTENTÁVEL E NA CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE: UMA PROPOSTA DE AMPLIAÇÃO DA APA DELTA DO PARNAÍBA TÍCYLLI NATASHA PEREIRA DO NASCIMENTO¹ SIMONE MOUSINHO FREIRE ² TEREZA MARIA ALCÂNTARA NEVES³ AMANNDA MENEZES DE OLIVEIRA 4

RESUMO A temática amparo, resguardo e valorização dos locais em que existem paisagens no segmento do turismo é uma necessidade e um pensamento que deve ser dominante diante das áreas naturais. Desse modo, o artigo teve como objetivo principal focar nas lagoas e analisar sua importância para a biodiversidade e o turismo sustentável da APA Delta do Parnaíba. A metodologia foi de cunho qualitativo por meio de instrumentos de coleta de dados, e sujeitos investigados; resultados de uma observação sistemática diante de uma analise ambiental, para se chegar às considerações finais. Conclui-se que as lagoas são de grande importância para o turismo e para a biodiversidade e com a união do órgão ambiental, empresários e a comunidade, juntos podem auxiliar na inclusão das lagoas às aéreas de conservação e garantir a biodiversidade. Há de ressaltar que foi detectado um investimento na sensibilização e na conscientização dos moradores das localidades de Portinho e Sobradinho, bem como seus visitantes e usuários, na intenção de preservar a área de uso comum. Palavras Chaves: Lagoa do Portinho. Lagoa do Sobradinho. Turismo sustentável. Biodiversidade. APA Delta do Parnaiba.

INTRODUÇÃO A busca incessante ao lazer transformou o turismo em uma das atividades econômicas mais importantes do mundo contemporâneo, principalmente nos países emergentes que buscam nesta atividade uma alternativa econômica lucrativa e de custo relativo mais baixo. Aliado a isso, no mundo globalizado, em que o indivíduo tem jornadas cansativas em seu trabalho, o lazer e o turismo, aparecem como produto da necessidade de recuperação das energias psicológicas e físicas. O crescimento da atividade turística assim como outras atividades precisa de um ordenamento a fim de minimizar os impactos negativos e potencializar os pontos positivos. Portanto se faz necessário o uso do Desenvolvimento Sustentável visando à utilização do uso consciente do meio ambiente (COMISSÃO MUNDIAL PARA O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO, 1987) ______________________ 1 Turismóloga graduada pela Universidade Federal do Piauí – UFPI em Bacharelado em Turismo, Pósgraduanda em Biodiversidade e conservação. Graduanda de engenharia civil, ticylli_natasha@hotmail.com.

2 Bióloga, Doutora em Ciência Animal e-mail: coordbiodiversidade@gmail.com 3 Cirurgiã-dentista, Mestre em Saúde da Família e-mail: tereza_alcantara@yahoo.com.br 4 Orientadora. Gestora Ambiental, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente e-mail :amannda. menezes@gmail.com 89


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Nesse caso, o conceito de desenvolvimento sustentável surge no âmago dessa questão. De acordo com a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (1987), também conhecida como Comissão de Brundtland, o conceito de desenvolvimento sustentável pode ser definido como uma tentativa de satisfazer as necessidades do presente, sem comprometer as das futuras gerações. “As APAs têm como objetivo proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais”. Cabe ao Instituto Chico Mendes estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público. “Elas podem ser federais, estaduais ou municipais.” (ICMBio, 2008). Nesse sentido, as Unidades de Conservação têm a função de salvaguardar a representatividade de porções significativas e ecologicamente viáveis das diferentes comunidades, habitats e ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, preservando o patrimônio biológico existente. Além disso, garantem às populações tradicionais o uso sustentável dos recursos naturais de forma consciente e ainda propiciam às comunidades do entorno o desenvolvimento de atividades econômicas sustentáveis. “Biodiversidade é a grande variedade de formas de vida animais e vegetais que são encontradas nos mais diferentes ambientes. A palavra biodiversidade é formada da união do radical grego “bio” que significa vida mais a palavra “diversidade” que significa variedade.” (RUSCHMANN, 2010, p 36) O trabalho versa sobre viabilidade de ampliação da APA Delta do Parnaíba para o desenvolvimento do turismo sustentável e conservação da biodiversidade na paisagem das lagoas do litoral piauiense e os objetivos propostos foram: a) analisar a viabilidade da ampliação da APA Delta do Parnaíba como incentivo ao desenvolvimento do Turismo Sustentável no litoral do Piauí e consequente conservação da biodiversidade local; b) fazer um panorama da biodiversidade das lagoas; c) verificar a importância do Plano de Manejo e da ampliação da APA Delta do Parnaíba; d) Identificar a viabilidade do Planejamento Turístico Sustentável. A economia das comunidades no entorno das lagoas está baseada em atividades relacionadas ao veraneio, mas sem um Plano de Manejo e um Planejamento Turístico Sustentável há riscos de danos à paisagem, constata-se assim que a ampliação da APA e o Turismo Sustentável se fazem importante para o desenvolvimento ordenado das comunidades, tendo em vista o grande potencial turístico das Lagoas, sua beleza rara, bem como sua cultura local, podendo ser feito um uso consciente do meio ambiente e seus recursos naturais. (NASCIMENTO, 2013) METODOLOGIA A pesquisa foi de cunho qualitativo realizada por meio de coleta de dados, leitura bibliográfica, aplicação de entrevistas semi-estruturadas contemplando 8 questões a respeito da APA Delta, do turismo sustentável, e das lagoas. Para Manzini (1991, p. 54), a entrevista semiestruturada está focalizada em um assunto sobre qual confeccionamos um roteiro com assuntos principais, complementados com outras 90


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questões inerente ás circunstância a entrevista. Além de coletar as informações básicas como um meio para o pesquisador organizar e para o processo de interações com o informante. As entrevistas foram realizadas com a coordenadora da APA Delta do Parnaíba e também da RESEX APA Delta, com a coordenadora da Secretaria de Meio Ambiente de Recursos Hídricos de Parnaíba, com os presidentes das Associações de moradores do Portinho, Sobradinho e de artesanato. A finalidade das entrevistas foi de coletar informações recentes das lagoas, saber a atual situação da APA, da biodiversidade local e fluxo de turistas. Houve coleta de dados também por meio de conversas informais com moradores, proprietários de empreendimentos das lagoas, imagens fotográficas e diário de campo. Segundo seu documento de criação, APA foi criada por solicitação de ambientalistas e ecologistas visando proteger o ecossistema costeiro formado por mangues, dunas e restingas. É uma importante área da zona costeira brasileira por formar o único delta em mar aberto das Américas, com mais de 75 ilhas e ser um santuário de reprodução de diversas espécies de peixes, caranguejos, lagostas e camarões. Embora a APA Delta do Parnaíba englobe uma faixa que vai do Ceará, passando pelo Piauí até o Maranhão, para esta pesquisa será delimitada a área compreendida entre os municípios de Parnaíba e Luís Correia uma área de grande importância e potencial para a biodiversidade do litoral piauiense. Atualmente a APA Delta do Parnaíba não engloba o sistema de lagoas, sendo estas: Lagoa do Portinho e do Sobradinho. Desta maneira a presente pesquisa versa sobre a viabilidade de ampliação da APA Delta do Parnaíba para englobar as lagoas citadas, havendo assim o aumento da atividade turística na região e conservação da biodiversidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Lagoa do Portinho, figura 1, é cercada por dunas que se movimentam com a ação do vento, o local é ideal para o lazer e a prática esportiva, passeios de barco e caminhada, a lagoa fica na divisa entre Parnaíba e Luís Correia e o acesso se dá por meio da rodovia BR-343. No local, existe uma colônia de férias que dispõe de hospedagem, alimentação, entretenimento, além de passeios de barco No momento está sendo realizado um projeto na Lagoa do Portinho que consiste em abrir os canais por onde entrava a água que ia para a lagoa em períodos sazonais, pois a movimentação das dunas fez com que esses canais desaparecessem, deixando a lagoa seca em alguns locais. Esse projeto está sendo realizado por empresas privadas, professores, e moradores da comunidade, pois o poder público nada fez com relação a seca da lagoa. A área do Portinho é composta por ambientes marinho-costeiros: manguezais, restingas, dunas fixas e móveis, planícies flúvio-marinhas e lacustres, além da caatinga e áreas de carnaubal. Já na Lagoa do Sobradinho, figura 02, existem, atualmente, dois bares e um restaurante à beira da lagoa que abrem apenas nos finais de semana devido ao baixo fluxo de turistas na localidade. Esses pontos comerciais servem refeições típicas da região como galinha ao molho, pescados variados e carne suína. 91


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Figura 01: Lagoa do Portinho, pesquisa direta. Fonte: NASCIMENTO, 2014.

Figura 02: Lagoa do Sobradinho. Fonte: Nascimento, 2013.

A movimentação constante das dunas por meio da ação do vento está fazendo com que estas avancem para a comunidade, já houveram casos das dunas soterrarem algumas casas da comunidade há alguns anos atrás inclusive a casa de sobrado que deu nome à localidade. A associação juntamente com alguns moradores voluntários faz a contenção das dunas plantando vegetações a fim de conter as dunas, mas sem um bom inverno isso não é possível. Há de se ressaltar que a comunidade da lagoa de Sobradinho é possuidora de uma Fundação Ecológica Lagoa do Sobradinho – FELSO que, de acordo com seu documento de criação, seu objetivo geral é “promover na esfera administrativa e junto ao Ministério Público e Poder Judiciário a defesa de bens e direitos sociais, coletivos e difusos relativos ao meio ambiente, ao patrimônio ambiental e ecológico sob todos os seus aspectos, ao patrimônio cultural, aos direitos humanos e dos povos.” Aliado a isso, foi criada a Área de Proteção Ambiental Municipal – o lago de Sobradinho, que tem como objetivo a preservação, proteção, defesa e uso de forma sustentável dos recursos naturais e das potencialidades da lagoa visando a conciliação do uso e ocupação com a preservação ambiental, mas não está em vigor. Os moradores questionam muito o próprio limite da APA, quando foi criada em 1996, o porquê que as lagoas não entraram no decreto, a área urbana hoje consolidada, é até interessante não estar dentro da APA, mas as áreas que não estão consolidadas que vai da área entre o Arrombado e a Carnaubinha que se junta também com a lagoa do Sobradinho e as Dunas do Portinho. De acordo com a gestora da APA delta do Parnaíba que também questiona: “o motivo da não inserção das lagoas na criação da APA, e a informação que se tem é que na época, o município de Luis correia não achava interessante, por ser uma área muito visada e de grande especulação imobiliária na região das lagoas”. Segundo a gestora, as questões dos atrativos em si as lagoas já tem, são áreas de preservação permanente de grande importância pra região principalmente pra própria biodiversidade em termos de pesca por que é importante para algumas espécies de peixes que se utilizam das lagoas costeiras pra reprodução. De acordo com a gestora da APA Delta, a intensa movimentação de dunas fechou 92


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os canais deixando as lagoas sujeitas à sazonalidade de chuvas, interrompendo assim a reprodução de algumas espécies de peixes costeiro marinho, se houver um planejamento conjunto do uso dessas áreas podemos garantir a preservação Figura 03: Volume de água e biodiversidade. Fonte: Nascimento, da biodiversidade, sendo que as 2016. lagoas são bonitas e com grande potencial turístico. Com a falta de chuvas e o mau uso das águas as lagoas já estiveram em estado crítico chegando a ter em 2015 apenas 30% de sua capacidade de água, a maior reclamação por parte dos moradores se deve às fazendas com criações de peixes e camarão, que retiram água inadequadamente das lagoas por meio de bombas. A conseqüência da irresponsabilidade humana ocasiona diversos impactos ambientais e às vezes as respostas, da natureza às constantes agressões são violentas. Embora desastres aconteçam naturalmente o grau de intensidade e o curto espaço de tempo em que elas vêm acontecendo tem chamado bastante atenção, e verificouse que o homem tem interferido bastante com essas mudanças ambientais. No entanto, o produto turístico só encontra desenvolvido na lagoa do Portinho, no Sobradinho não se observa tal desenvolvimento, tem baixa infraestrutura devido à falta de apoio do governo e os poucos recursos que os residentes ali próximos dispõem para oferecer um produto turístico de qualidade, isso principalmente pela falta de capacitação dos donos dos bares e restaurantes para o desempenho desta atividade e pela falta de cooperativismo local. O artesanato local é bem rico, a comunidade faz trabalhos com palhas, crochês, renda, bijuterias utilizando o coco geralmente feito pelas mulheres para aumentar a renda da família. A proposta para a inserção das lagoas na área de conservação contribui para a preservação, proteção, defesa e uso de forma sustentável das áreas naturais e suas potencialidades visando conciliar uso e ocupação, com a preservação ambiental. Os benefícios seriam proteger os recursos hídricos; melhorar a qualidade de vida das populações residentes, mediante orientação e disciplina das atividades econômicas locais; fomentar o turismo ecológico e a educação ambiental e preservar as culturas e as tradições locais. Alguns animais dependem de água doce para sobreviver como, por exemplo, o peixe-boi animal ameaçado de extinção, é encontrado em nossa região. Bem como espécies de peixes, e plantas, por isso esse trabalho se faz importante a fim de minimizar os impactos existentes Para que as lagoas se tornem áreas de preservação, falta apenas o projeto que precisa ser aprovado, que haja a liberação de verba, união, apoio e força de vontade dos moradores e gestores públicos e privados para que o ICMBio faça seu devido trabalho, mantendo a área sob observação 93


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Existe a proposta de criação de uma unidade Proteção Integral no parque estadual no Portinho, a SEmar juntamente com o estado, está iniciando uma discussão interna de criar o parque estadual pegando parte do município de Parnaíba e parte do município de Luis Correia , atualmente o ICMBio está numa situação bem delicada em relação a recurso financeiro. CONCLUSÃO A inclusão das Lagoas na APA Delta do Parnaíba, ou a criação de uma nova APA contemplando essas áreas são muito importantes pra manutenção da biodiversidade local, visto que há animais e plantas que dependem dessas regiões lacustres. O estudo da importância das lagoas do litoral do Piauí no turismo sustentável e na conservação da biodiversidade: revelou que o planejamento turístico sustentável será importante para o desenvolvimento ordenado das lagoas, tendo em vista o seu grande potencial turístico, bem como sua cultura local, podendo ser feito um uso consciente do meio ambiente e seus recursos naturais. O Plano de Manejo vem como ferramenta importante para orientar os limites de estudos para a elaboração de pesquisa dos meios biológicos, físicos e antrópicos para subsidiar uma proposta de gestão e planejamento da APA Delta. Dessa forma, os principais fatores para a viabilidade do Planejamento turístico sustentável como alternativa local para as lagoas foram: a proteção ambiental, conscientização comunitária e o empreendedorismo. Já os que impedem esta viabilidade trataram-se da falta de geração de emprego, falta de incentivo e a exploração de seus recursos naturais. Logo, algumas modalidades de turismo alternativo menos nocivo ao meio ambiente vem se desenvolvendo e ganhando bastante espaço. Este trabalho sugere ainda investir na sensibilização e na conscientização dos moradores das localidades ao redor de Portinho e Sobradinho, bem como seus visitantes e usuários, na intenção de preservar a área de uso comum. Dessa forma, conclui-se que o ICMBio e a comunidade têm o poder de realizar e auxiliar na inclusão das Lagoas às áreas de conservação da APA Delta do Parnaíba ou criar uma nova área de preservação incluindo- as , desde que motivados e conscientes do seu papel como coadjuvantes juntamente com o apoio de órgãos e empresas na execução de um desenvolvimento turístico, planejado visando contribuir com as localidades de Portinho e Sobradinho ambientalmente, culturalmente e economicamente, pois o turismo enquanto atividade social e econômica se encontra em grande expansão.

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ESTUDO DA PERCEPÇÃO SOBRE O USO DOS RECURSOS HÍDRICOS E SUAS CONSEQUENCIAS NO MUNICÍPIO DE ELISEU MARTINS-PI Samira Pereira de Sousa1 Maria Jaqueline Mesquita2

RESUMO Atualmente com o crescimento acelerado da população brasileira, o desenvolvimento industrial e tecnológico, as poucas fontes disponíveis de água doce estão comprometidas ou correndo risco de escassez. Este artigo, que tem como objetivo principal analisar como o município de Eliseu Martins-PI tem conduzido processo de gestão dos recursos hídricos e quais as consequências desse processo, visando adotar soluções no uso da água nas diferentes necessidades e na conversação do meio ambiente. Foi necessária a utilização de suportes teóricos. Constatou-se, assim, que as atividades agropecuárias, a poluição dos mananciais, o desmatamento o assoreamento dos rios, o uso inadequado de irrigação e a impermeabilização do solo têm ameaçado esse bem natural e contribuído para piorar este quadro. Palavras-Chave: Águas superficiais. Águas subterrâneas. Planejamento. Ações.

INTRODUÇÃO A água é um recurso natural de grande importância para a sustentação de nossas vidas e do meio ambiente. A água desempenha um importante papel no processo de desenvolvimento econômico e social de qualquer país, sendo um dos principais recursos limitantes para o crescimento econômico e populacional, (DAGNINO,2002). No entanto, seria difícil pensar na sobrevivência dos seres vivos sem a água, independentemente do que somos, onde estamos ou o que fazemos todos nós dependemos da Água. Assim, para preservar os corpos hídricos e garantir o acesso a eles, o Brasil precisa de uma gestão de recursos hídricos eficiente, que integre uma série de iniciativas com o objetivo de regular, controlar e proteger os recursos hídricos sobnormas da legislação vigente e que busque a equalização inter-regional e intertemporal da água. (FREITAS, 1999).

1 Aluna da Pós-graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância – NEAD. Email: 2 Professora Orientadora da Pós-Graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância - NEAD 97


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Deve ser destacado o crescente papel da educação ambiental para os programas de saneamento, porque havendo a inserção da população esses programas irão ter êxito com maior facilidade. O conhecimento das condições do meio pertinente a saúde como saneamento e moradia é de grande relevância para se estabelecer medias de melhoria de qualidade de vida. Segundo o IBGE (2010), emEliseu Martins-PI as formas de abastecimento de água vêm da rede distribuidora AGESPISA e dos poços ou nascentes que atende as classes de consumidores: residencial, comercial, industrial e público. A população da cidade também é atendida com serviços de esgotamento sanitário. Porém, a pergunta que norteou esta pesquisa foi a seguinte: Os recursos hídricos do Município de Eliseu Martins-PI têm sido conservados pela a população? Diante desse questionamento, objetivou-se analisar a percepção sobre o uso e importância dos recursos hídricos, onde buscou saber se os habitantes estão atentos aos problemas ambientais causados pela má utilização da água.. MATERIAL E MÉTODOS Tipo de estudo Para coleta dos dados foi realizada uma pesquisa bibliográfica em livros, revistas, apostilhas, internet que se apoiou em teóricos, como: Freitas (1999), Rebouças (2002), Machado (2007), entre outros. Seguidamente foi feito uma investigação de campo onde se observou de perto a realidade que se procurou conhecer. Segundo afirma Gil (2002, p. 54) esse tipo de pesquisa “consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento”. A observação no campo é de grande importância, devido à aproximação do observador e do pesquisado. Caracterização do campo de pesquisa A presente pesquisa foi realizada no município de Eliseu Martins que foi criado em 30 de junho de 1957 e foi emancipado do município de Jerumenha e instalado em 20 de outubro do mesmo ano. O povoado que se chamava Furquia teve sua origem graças à feira do bagaço, que reunia um grande número de pessoas durante os sábados. Depois, esse povoado passou a se chamar Jacaré. O município Eliseu Martins tem uma população de 4.667 habitantes e fica no sul do estado do Piauí, tem como coordenadas geográficas: latitude 8° 5› 27›› ao Sul, longitude: 43° 39› 42›› a Oeste e altitude 259m acima do nível do mar. O clima característico é tropical com estação seca. A cidade tem como cidades circunvizinhas Colônia do Gurguéia, Manoel Emídio e situa-se a 79 km a Norte-Oeste de Canto do Buriti (IBGE, 2010). Procedimento de Coleta e análise dos dados Comoferramenta de coleta de dados foi aplicado um questionário para quarenta moradoresdo município de Eliseu Martinscontendo as seguintes questões semiestruturadas, e também 98


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uma entrevista com o secretáriode agricultura e meio ambiente do município de Eliseu Martins. As informações colhidas com os questionários e a entrevista foram apresentadas em forma de gráficos desenvolvidos no programa Microsoft Excel, a partir do método estatístico simples e analisado de forma descritiva. RESULTADO E DISCUSSÃO Os dados apresentados aqui nesta análise são referentes à caracterização da situação dos recursos hídricos e do saneamento no município de Eliseu Martins-PI. Os resultados dos questionários propostos serão apresentados a seguir, todas as questões foram elaboradas para traçar um diagnóstico partindo do problema desta pesquisa. O primeiro questionamento foi feitoindagações para aos moradores do município em pesquisa; consistiu em saber sobre qual dos problemas que eles consideravam mais grave para o meio ambiente.Dos problemas ambientais questionados aos 40 participantes, o mais grave apontado por 85% dos entrevistados foi à falta de água.10% responderam a poluição do ar, e 5% apontaram o desmatamento como o problema mais grave e para o meio ambiente (figura 1). Sobre esta questão afirma (SETTI,2001): A água é um recurso que supre as necessidades básicas humanas para que este se mantenha em equilíbrio, o problema da sua escassez em muitas regiões está relacionado ao crescimento populacional que por consequência aumenta sua demanda. A escassez se torna um dos problemas mais grave para o planeta porque é o único recurso natural que tem a ver com todos os aspectos da civilização humana; desenvolvimento agrícola, industrial, valores culturais e religiosos. Figura 1: Problema mais grave para o meio ambiente

Fonte: Pesquisa direta No segundo questionamento está relacionadoao grau de importância que estes acreditam que os recursos hídricos possam ter; 95% responderam que é de suma importância, e 2% 99


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disseram ter pouca importância e 3% não soube responder. Neste viés, a Companhia de Pesquisas e Recursos Naturais-CPRM afirma que o Piauí é muito rico em recursos hídricos, especialmente em águas subterrâneas, porém, existe uma necessidade de expansão do acesso a água para abastecimento humano. Para resolver tal problema, 37 poços na região do Vale do Gurguéia foram estudados, com isso, surgiu um projeto para a construção de uma adutora entre as cidades de Cristino Castro e Eliseu Martins. A iniciativa beneficia cerca de 500 mil habitantes de 51 municípios da região semiárida do Piauí. A ideia já foi exposta na Assembleia Legislativa, na Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba), clara demonstração de que as águas subterrâneas podem ser bem aproveitadas com responsabilidade Figura 2: Grau de importância dos recursos hídricos. Fonte: Pesquisa direta (SEMAR, 2015). Quando perguntados sobre qual seria o setor que mais desperdiça água no município de Eliseu Martins; 87% responderam que eram as residências, 10% responderam a agricultura e 3% responderam outros setores. Neste contexto (GOMES, 2009) ratifica: A disponibilidade de água doce é uma questão ambiental intensamente Figura 3: Setor que mais desperdiça agua no município. Fonte: Pesquisa direta debatida por se constituir uma substancia essencial a vida animal e vegetal, por este recurso tem sido considerado de forma errônea como finito e tal interpretação é causa de seu mau uso e desperdício. A figura 4 revela que ao serem indagados se consideravam ser necessário que os habitantes de Eliseu Martins mudassem suas atitudes cotidianas referentes ao mau uso da água; 97% responderam que sim e apenas 3% responderam que não. Neste contexto, (PORTAL BRASIL, 2015). Relata que é importante assegurar que mudar alguns costumes minimizam os impactos provocados ao meio ambiente. Figura 4: Mudanças nas atitudes cotidianas. Fonte: Pesquisa Embora esse tipo de mudança não direta 100


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seja fácil, algumas atitudes simples (tomar banhos rápidos, não deixar a torneira aberta ao escovar os dentes, não lavar calçadas com a mangueira entre outros) podem contribuir bastante para um melhor uso dos recursos naturais oferecidos pelo planeta. Em relação ao Gráfico 05,Osparticipantes em sua maioria representada por 95%, afirmaram que a grande parte da população de Eliseu Martins tem muito interesse e se preocupa bastante com o desperdiço de água, eles Figura 05: População se preocupa com o desperdício de água. Fonte: deram exemplos de ações Pesquisa direta. vividas no cotidiano. Segundo ( FREITAS, 2000), a água é um bem de domínio público e que a população tem consciência que a água pode acabar, a grande maioria faz a economia da água contribuindo para o meio ambiente e sobrevivência. No intuito de complementar e acrescentar informações acerca do tema tratado no presente estudo, foi realizado também uma entrevista com osecretário de agricultura e meio ambiente do município de Eliseu Martins, onde este foi indagado para dar sua opinião sobre as pessoas que moram e produzem às margens do rio Gurguéia, afirmando que estas moradias são todas irregulares e por não existir saneamento adequado, resulta na perda de capacidade de absorção da água pelo solo, ocasiona também a poluição do rio através do descarte de lixo doméstico, com o tempo este lixo vai se acumulando, provocando o assoreamento do rio e contaminação da água. Outras informações obtidas por meio da entrevista com o secretário de agricultura e meio ambiente em exercício, foi que além dos problemas de loteamentos perto das nascentes e perto da margem do rio Gurguéia, também existe a criação de animais, onde o rebanho bovino danifica o solo com a compactação através do pisoteio, e ainda observou-se outro fator agravante encontrado que foi o desmatamento das matas ciliares para a formação de pastagem. Neste contexto, (LIMA, 2012) afirma: As matas ciliares são essenciais para o equilíbrio do meio e devem ser vistas com atenção para haver desenvolvimento sustentável, sua recuperação aliados à práticas de conservação e manejo do solo irá garantir a preservação da água, recurso natural mais importante. Sobre as irrigações, respondeu o secretário de Agricultura e meio ambiente que em Eliseu Martins são feitas através de aspersão que se desloca em meio terrestre com sistema de propulsão próprio, de fácil manuseio porque os maquinários podem ser deslocados para outra área, e requer um alto volume de água. O outro modo é a irrigação com Pivot Central, que possibilita uma maior produção, através de mais de um plantio por ano; demanda de um menor volume de água, mas por ser um equipamento de alto custo não é muito utilizado. 101


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O Gráfico 6 aponta, que o tipo de irrigação mais utilizada pelos agricultores de Eliseu Martins é autopropelido, só que a irrigação por Pivô permite aplicar, de maneira precisa, a quantidade necessária de água e fertilizantes em cada cultura, reduzindo os custos Figura 6: Tipos de irrigações mais utilizadas no Rio Gurguéia. operacionais e de mão de obra, e FONTE: Dados da pesquisa. dando resultados excelentes para o produtor. Sobre isto, conforme Reichardt (1996) o procedimento de irrigação é a forma pela qual a água pode ser aplicada às culturas. A razão pela qual há muitos tipos de sistemas de irrigação é devido à grande variação de solo, clima, culturas, disponibilidade de energia e condições socioeconômicas para as quais o sistema de irrigação deve ser adaptado. Ouso indevido e ecologicamente incorreto do rio Gurguéia, pelos moradores que vive arredor, tem causado impacto no ambiente e cada vez mais ele vem perdendo suas águas. Segundo Benakouche e Cruz (1999) a degradação ambiental está afetando negativamente o crescimento econômico e, portanto, o bem-estar das populações, há risco de desequilíbrio irreversível dos ecossistemas e, portanto, do planeta terra. CONCLUSÃO Ao longo desta pesquisa foi observado que embora seja de suma importância para os seres vivos, a ação humana vem fazendo com que a água se torne cada vez mais escassa no planeta terra. Porém, é importante buscar critérios que permitam o atendimento às necessidades múltiplas dos usuários deste recurso sem tantos desperdícios, foi observado que os moradores atribuíram a responsabilidade pela morte e contaminação das águas, ao o crescimento das atividades agropecuárias, a poluição dos mananciais, o desmatamento, o assoreamento dos rios, o uso inadequado de irrigação e a impermeabilização do solo, entre outras ações humana. Observou-se também que o estado do Piauí é muito rico em águas subterrâneas, e que existem projetos para distribuição dessas águas para abastecimento da população. Outras medidas devem ser tomadas como campanhas para promover a educação ambiental é importante, porque reflete problemas sociais, suas causas e resoluções; pois não adianta as nossas políticas protecionistas modernas, sua propagação em larga escala do assunto; se não houver se a consciência cidadã de proteger e conservar limpos as fontes de água dos rios, lagos e mares.

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QUALIDADE DA ÁGUA POTÁVEL EM COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE CORRENTE-PI Cleuber Sebastião da Silva Guimarães1 Adriane Camila Batista de Sousa2 Anangela Ravena da Silva Leal3 RESUMO A qualidade da água de consumo está intimamente ligada à saúde humana. A disponibilidade de água subterrânea, a facilidade de perfuração de poços, o baixo custo de captação e tratamento e a menor susceptibilidade a contaminação vêm aumentando a quantidade de poços em sistemas de abastecimento públicos. Assim, este estudo visou avaliar a qualidade da água de 17 poços tubulares profundos de abastecimento público rural do município de Corrente-Piauí em comunidades mais populosas do município, por meio de análises de parâmetros básicos de potabilidade no ano de 2015. Análises pontuais foram realizadas e os resultados foram satisfatórios para os padrões de potabilidade vigentes (Portaria Nº518/2004-MS) em 90% das amostras. Os dados foram obtidos a partir do SISAGUA-Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano do Ministério da Saúde. Palavras-chave: Água. Potabilidade. Poço. Parâmetros

1 INTRODUÇÃO A água tem influência direta sobre a saúde, qualidade de vida e o desenvolvimento do ser humano (GONZAGA, 1996). A água doce líquida que circula em muitas regiões do mundo já não pode ser considerada recurso renovável, em função da degradação de sua qualidade, pela disposição de efluentes, resíduos domésticos e industriais sem tratamento ou tratamento inadequado. Diante disso, a água subterrânea vem assumindo papel relevante como fonte de abastecimento, pois diminui os custos com captação, adução e tratamento (CAPUCCI et al., 2001). Do ponto de vista da saúde humana, a água é primordial para a qualidade de vida, onde o abastecimento satisfatório em, pelo menos, seus parâmetros básicos, deve estar disponível a todos. Estima-se que nos últimos 60 anos a população mundial duplicou, enquanto o consumo de água multiplicou-se por sete. Tudo em função do crescimento populacional, do desperdício, da contaminação e do crescente uso na agricultura. O recurso natural água torna-se cada vez mais escasso para atender as crescentes demandas das cidades (BRASIL, 2009). Normalmente, 1 Pós-graduando em Biodiversidade e Conservação/cleubera_ssg@yahoo.com.br.UAB/ UESPI, Polo Corrente-PI. 2 Colaboradora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Graduada em Ciências Biológicas. Mestranda em Ciência Animal – acbs@gmail.com/ UESPI - NEAD 3 Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Graduada em Ciências Biológicas. Mestre em Ciência Animal – anangelaravena@gmail.com/ UESPI - NEAD 105


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as populações que residem na área rural não são contempladas com serviços de saneamento, e sofrem constantemente diante das condições precárias de abastecimento de água, esgotamento sanitário e disposição de resíduos sólidos (FUNASA, 2006). De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2013), ainda existe cerca de 1,1 bilhões de pessoas sem acesso a água potável e 2,4 bilhões de pessoas sem acesso a serviços de saneamento básico. A Fundação Nacional de Saúde - FUNASA, é responsável pela implementação das ações de saneamento em áreas rurais de todos os municípios brasileiros, inclusive no atendimento às populações remanescentes de quilombos, assentamentos rurais e populações ribeirinhas (FUNASA, 2013). Segundo Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil cerca de 29,9 milhões de pessoas residem em localidades rurais, em aproximadamente 8,1 milhões de domicílios (IBGE, 2010). Os serviços de saneamento prestados para as populações apresentam elevado déficit de cobertura. Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD, 2009), apenas 32, 8% dos domicílios nas áreas rurais estão ligados a redes de abastecimento de água com ou sem canalização interna. O restante da população (67,2%) capta água de chafarizes e poços protegidos ou não, diretamente de cursos de água sem nenhum tratamento ou de outras fontes alternativas geralmente insalubres. Isso pode contribuir direta e indiretamente para o surgimento de doenças de veiculação hídrica, parasitoses intestinais e diarreicas. As ações de saneamento em áreas rurais visam reverter este quadro (FUNASA, 2013). Corrente é um município brasileiro, situado no extremo sul do estado do Piauí. Encontrase a 890 km da capital do estado Teresina. Corrente limita-se a norte com os municípios de São Gonçalo do Gurguéia e Riacho Frio, a sul com Cristalândia do Piauí e Sebastião Barros, a leste com Parnaguá e Sebastião Barros e, a Oeste, com Barreiras do Piauí e o Estado da Bahia. Segundo Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013), a área total do município é de 3.051,161 km², com altitude média de 438 metros acima do nível do mar. Sua população, de acordo com Censo Demográfico do IBGE de 2010, é de 25.407 habitantes, sendo a urbana 12.552 habitantes. Tendo em vista a situação atual do município de Corrente-PI em relação a escassez de água, bem como a má distribuição e qualidade da água para consumo humano, sobretudo nas comunidades da zona rural, este estudo visou avaliar a qualidade da água de 17 poços tubulares profundos de abastecimento público rural do município de Corrente-Piauí em comunidades mais populosas do município, por meio de análises de parâmetros básicos de potabilidade no ano de 2015. 2 MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido em 17 comunidades da zona rural do município de Corrente, região Sul do Estado do Piauí. Esta pesquisa é um estudo transversal de coleta e análise de dados sobre a qualidade da água para consumo humano em 17 localidades da zona rural do 106


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município de Corrente-PI.

Figura 1 – Localização dos Poços analisados

Foram selecionados 17 poços tubulares profundos de abastecimento público da zona rural do município de Corrente, estado do Piauí, onde, com o auxílio da ferramenta de georreferenciamento GPS (Global Position System), a partir de um aparelho receptor para GPS, do fabricante GARMIN, modelo GPSmap 60CSx, os poços foram localizados geograficamente. O sistema de coordenadas geográficas adotado no levantamento foi o UTM (Universal Transverso Mercator). Os poços artesianos em estudo abrangem as localidades de Campo Alegre, Santa Marta, Santa Luzia, Pastores, Calista, Serra Dourada, Caxingó, Barroca, Araticum, Angico, Bela Vista, Palmira, Mariana, Caatinga Grande, Guanabara, Fazenda de Cima e Catingueiro. A coleta de amostras de água foi realizada na saída de cada poço, sendo instaladas torneiras. A assepsia das mãos foi realizada com água e sabão. As torneiras foram higienizadas com algodão embebido em álcool 70%. A torneira foi aberta de 1 a 2 minutos; em seguida, lavada com hipoclorito de sódio a 2,5% para desinfecção. A torneira foi novamente aberta, sendo recolhida a amostra de água. As amostras foram acondicionadas em frascos de plástico de 500 ml, cada frasco foi devidamente identificado e posteriormente acondicionado em caixa térmica com gelo. O tempo de coleta e a realização das análises não excederam 24 horas. Os dados foram obtidos a partir do banco de dados do SISAGUA-Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano do Ministério da Saúde, no ano de 2015. 3 RESULTADOS E DICUSSÕES Considerando a qualidade da água em suas características físicas, espera-se que esta seja transparente, sem cor, cheiro e sabor, para estar adequada ao consumo humano. Os parâmetros químicos são os mais importantes para se caracterizar a qualidade da água, pois permitem 107


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classificá-la por seu conteúdo mineral, determinar o grau de contaminação, caracterizar picos de concentração de poluentes tóxicos e as possíveis fontes e avaliar o equilíbrio bioquímico que é necessário para a manutenção da vida aquática (MACÊDO, 2001). Os poços foram escolhidos por abrigarem as maiores porcentagens de pessoas abastecidas, conforme dados registrados no ano de 2014 pelo Sistema de Informações de Vigilância de Água para Consumo Humano (SISAGUA). Todos os poços artesianos em estudo foram perfurados por empresas contratadas pelo município, que possuem maquinário adequado, para dar solução alternativa coletiva aos moradores de cada localidade no tocante a água para consumo humano. O manual prático de análise de água, da Fundação Nacional de Saúde (2006), utiliza as seguintes definições: pH O termo pH representa a concentração de íons hidrogênio em uma solução, o qual pode ser determinado através de aparelhos denominados de potenciômetros ou calorímetros. Na água, este fator é de extrema importância, principalmente nos processos de tratamento. Na rotina dos laboratórios das estações de tratamento, ele é medido e ajustado sempre que necessário para melhorar o processo de coagulação/floculação da água e também o controle da desinfecção. Abaixo de 7, a água é considerada ácida e acima de 7, alcalina. Água com pH 7 é neutra. Quadro 01- Resultado para o parâmetro pH nas localidades LOCALIDADE Campo Alegre Santa Marta Santa Luzia Pastores Calista Serra Dourada Caxingó Barroca Araticum Angico Bela Vista Palmira Mariana Caatinga Grande Guanabara Fazenda de Cima Catingueiro

pH 6,7 6,5 7,7 7,5 8,1 8,1 7,3 6,2 7,1 7,7 7,3 8,5 7,9 6,7 8,3 8,5 7,3

Na comparação dos resultados entre os poços, observa-se que os poços apresentam um valor médio de 7,5. No geral, os valores encontram-se dentro da legislação vigente que preconiza 108


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a faixa de 6,0 a 9,0 como apto ao consumo humano. Conforme Moura et al (2009), o pH das águas de poços geralmente varia de 5,5 a 8,5. Em estudo realizado com águas do município de Pelotas, foram obtidos resultados que oscilaram entre 6 e 7. Resultados semelhantes foram obtidos por Silva e Riffel (2009), que avaliaram águas de poços artesianos do sistema integrado Guarani – Serra, na região da fronteira com o Uruguai, cujos valores de pH em geral ficaram abaixo de 7,0 e alguns com valores em torno de 7,5. Diferenças significativas foram evidenciadas nos resultados obtidos por Gerber et al (2009), que avaliaram águas de poços artesianos em três propriedades rurais no município de Pelotas, apresentando valores na faixa de 5,2 a 7,4, e de Rheinheimer e Souza (2000), que avaliaram águas de poços de diferentes municípios do estado do Rio Grande do Sul, nos quais a variação do pH de 65% das amostras foi na faixa de 6,1 a 7,5 e 15% do montante apresentaram valores acima de 8,0. Valores extremos também foram obtidos por Casali (2008), que avaliou águas de poços artesianos no município de Santa Maria, que abastecem escolas e comunidades rurais, obtendo valores que foram desde 4,2 a 8,3. Oscilações ainda forma evidenciadas por Chaves (2007), que avaliou amostras de 20 poços do município de São Luiz Gonzaga, apresentando resultados de pH entre 5,3 a 9,5. Turbidez A turbidez da água é devida à presença de materiais sólidos em suspensão, que reduzem a sua transparência. Pode ser provocada também pela presença de algas, plâncton, matéria orgânica e muitas outras substâncias, como o zinco, ferro, manganês e areia, resultantes do processo natural de erosão ou de despejos domésticos e industriais. Quadro 02- Resultado para o parâmetro Turbidez dividido por localidade. LOCALIDADE Campo Alegre Santa Marta Santa Luzia Pastores Calista Serra Dourada Caxingó Barroca Araticum Angico Bela Vista Palmira Mariana Caatinga Grande Guanabara

Turbidez 0,14 uT 0,10 uT 0,10 uT 0,10 uT 0,25 uT 0,10 uT 0,10 uT 0,13 uT 0,10 uT 0,10 uT 2,42 uT 0,10 uT 0,22 uT 0,10 uT 0,10 uT

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Fazenda de Cima 0,10 uT Catingueiro 0,10 uT A turbidez indica a presença de sólidos suspensos na água, que atuam diminuindo a sua transparência. Para água de poço, a legislação admite como máximo o valor de 1,0 UT. No entanto, conforme Brasil (2004), esse parâmetro pode variar até no máximo 5 UT. Observa-se que todos os poços, exceto o da localidade Bela Vista, atendem a esse parâmetro. Em amostras de poços artesianos analisados por Moura et al (2009), os resultados de turbidez variaram entre 1,6 e 2,1. Para um total de 102 amostras analisadas, Casali (2008) obteve resultados semelhantes, e apenas 5,9% de resultados de turbidez maiores que 5 UT, cuja variação foi de 0,0 a 30. Já em um estudo conduzido por Souza et al (2004), os valores de turbidez oscilaram 0,3 a um máximo de 31 UT, sendo que, do total de 23 poços tubulares, apenas 2 apresentaram valor acima do estabelecido pela legislação e, de um total de 19 poços escavados, foram obtidos 8 resultados acima de 5 UT. A turbidez tem sua importância no processo de tratamento da água, pois em turbidez elevada e dependendo de sua natureza, forma flocos pesados, que decantam mais rapidamente do que água com baixa turbidez. Também tem suas desvantagens, como no caso da desinfecção, que pode ser dificultada pela proteção que pode proporcionar aos microorganismos no contato direto com os desinfetantes. É um indicador sanitário e padrão de aceitação da água de consumo humano. Cor aparente A cor da água é proveniente da matéria orgânica como, por exemplo, substâncias húmicas, taninos e também por metais, como o ferro e o manganês e resíduos industriais fortemente coloridos. A cor, em sistemas públicos de abastecimento de água, é esteticamente indesejável. A sua medida é de fundamental importância, visto que água de cor elevada provoca a sua rejeição por parte do consumidor e o leva a procurar outras fontes de suprimento muitas vezes inseguras. Quadro 03: Resultados do parâmetro Cor aparente apresentado por localidade. LOCALIDADE Campo Alegre Santa Marta Santa Luzia Pastores Calista Serra Dourada Caxingó Barroca Araticum Angico

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Cor aparente 0,0 uH 0,0 uH 0,0 uH 0,0 uH 0,0 uH 0,0 uH 0,0 uH 0,0 uH 0,0 uH 0,0 uH


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Bela Vista Palmira Mariana Caatinga Grande Guanabara Fazenda de Cima Catingueiro

2,0 uH 0,0 uH 0,0 uH 0,0 uH 0,0 uH 0,0 uH 0,0 uH

Em relação à cor, todas as amostras apresentaram valor zero, exceto a da localidade Bela Vista, o que indica que a água está em ótima qualidade neste parâmetro. Valores semelhantes foram encontrados por Moura et al (2009) e por Casali (2008). Este último, no entanto, obteve 14,7% das amostras com valores acima de 15 UH. A cor e a turbidez podem ser relacionadas, pois os dois parâmetros indicam presença de material sólido em suspensão, podendo ser um indício de presença de matéria orgânica e outros compostos, que podem servir de nutriente para o desenvolvimento de microrganismos. Segundo Casali (2008), estes parâmetros podem ser corrigidos por meio de tratamentos convencionais de água com filtros de areia ou pela limpeza e manutenção das fontes, poços e das caixas de armazenamento de água. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise da qualidade da água de poços artesianos na zona rural do município de Corrente-PI, no tocante a potabilidade para consumo humano foi satisfatória, com qualidade na grande maioria dos poços analisados, onde apenas um poço teve padrões não satisfatórios, o da localidade Bela Vista. A maioria dos resultados obtidos na análise destas águas enquadra-se dentro dos parâmetros estabelecidos pela legislação específica. Entende-se ainda, que os órgãos responsáveis têm a necessidade de ajustar o sistema de cloração, visto que a água não passa por qualquer tipo de desinfecção preventiva. Sugere-se uma coleta em pontos diversificados para avaliação da rede de distribuição, bem como a análise dos demais poços quanto ao comportamento desse parâmetro.

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Dissertação em Ciência do solo - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio FUNASA. Manual de Saneamento. 3. ed. rev. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2006. FUNASA. Saneamento Rural. 2013. Disponível em: . Acesso em: 05 abr. 2013. GONZAGA, A. S. M. Clorador por difusão: avaliação de desempenho e de parâmetro de projeto. Dissertação de mestrado. Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFMG, Belo Horizonte. 1996. 72 p. LIMA, J. E. F. W; FERREIRA, R. S. A; CHRISTOFIDIS, D. O uso da irrigação no Brasil. In: Estado das águas no Brasil – 1999: Perspectivas de gestão e informação de recursos hídricos. SIH/ANEEL/MME; SRH/MMA. 1999, p. 73-82. VILAS, Andres Troncoso. Racionalização do uso da água no meio rural, CGEE, Brasília, p.94, 2003. WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. Water supply, sanitation and hygiene development. 2013. Disponível em: http://www.who.int/water_sanitation_health/hygiene/en/. Acesso em 31 mar. 2013. ZANATTA, L. C. & COITINHO, J. B. L. Utilização de poços profundos no aqüífero guarani para abastecimento público em Santa Catarina. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS, 12., 2002, Florianópolis-SC. Anais.... Florianópolis: ABAS, 2002. ZOBY, J. L. G. & MATOS, B. Águas subterrâneas no Brasil e sua inserção na Política Nacional de Recursos Hídricos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS, 12., 2002, Florianópolis-SC. Anais.... Florianópolis: ABAS, 2002. ZAPOROZEC, A.; MILLER, J. C. Ground-Water pollution. International Hydrological Programme, Paris: UNESCO, 2000, p.24.

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O CONHECIMENTO POPULAR DAS PLANTAS MEDICINAIS EM UMA COMUNIDADE NO MUNICÍPIO DE CANTO DO BURITI-PI VILMA RIBEIRO DOS SANTOS SILVA1 MARIA JAQUELINE MESQUITA2 RESUMO O presente estudo verificou o conhecimento popular sobre as plantas medicinais utilizadas por uma comunidade do centro do município de Canto do Buriti, investigando seus usos e aplicações. Foram entrevistadas 40 famílias informantes as quais citaram o nome das plantas que utilizavam as partes da planta, as formas de preparo e para quais doenças eram utilizadas. Trinta e nove espécies diferentes foram citada sendo a maioria pertencente à família Lamieceae. As folhas foram a parte da planta mais utilizada e os chás foram o modo de preparo mais citado. Compreender o uso de plantas com fins medicinais pela população pode contribuir com estudos mais aprofundados acerca do tema, bem como para a preservação da cultura e do meio ambiental através da educação e valorização dos saberes tradicionais. Palavras-chave: Saber popular. Etnobotânica. Educação Ambiental. ___________________ Aluna da Pós-graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância – NEAD. E-mail: viribeiro98@gmail.com Professora Orientadora da Pós – graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância – NEAD. E-mail: mmesquita32@yahoo.com.br 2

INTRODUÇÃO O conhecimento das plantas e seu uso como medicamentos têm acompanhado o homem através dos tempos. Contudo, os primeiros sinais de desenvolvimento tecnológico, relegaram de certa forma ao esquecimento, a utilização das plantas medicinais. Entretanto, nos últimos anos vem ocorrendo um retorno a essa utilização, ganhando espaço no mercado que havia sido dominado por produtos de base sintética (SOUSA et. al., 2011). Nas últimas décadas também vem se observando um acentuado aumento nas pesquisas de caráter interdisciplinar, objetivando documentar o conhecimento sobre a utilização das plantas como remédio, por parte das comunidades tradicionais e entre as populações do interior (LIMA, 2006). De acordo com Sousa et al. (2011) os estudos etnobotânicos na atualidade registram o uso de plantas medicinais dando como grande dimensão a conscientização através de modelos e uso empírico da fitoterapia entre comunidades e seu povo. O uso de plantas medicinais no Brasil emerge como uma alternativa terapêutica, consideravelmente influenciada pela cultura indígena, pelas tradições africanas e pela cultura europeia trazida pelos colonizadores. 113


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O conhecimento sobre ervas medicinais simboliza muitas vezes o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos, e dessa forma, usuários de plantas medicinais de todo o mundo, mantém a prática do consumo de fitoterápicos, tornando válidas informações terapêuticas que foram sendo acumuladas durante séculos, apesar de nem sempre terem seus constituintes químicos conhecidos (MACIEL et. al., 2002). O interesse em realizar um estudo sobre o conhecimento do uso das plantas medicinais pela população residente no município de Canto do Buriti-PI surgiu em decorrência das práticas relacionadas ao uso popular de plantas medicinais pela população visto que as mesmas são utilizadas como alternativas viáveis para o tratamento de doenças e ou manutenção de saúde. O presente estudo tem por objetivo verificar o conhecimento popular e realizar uma listagem das plantas medicinais utilizadas pela população residente na região do centro do município de Canto do Buriti-Piaui. MATERIAL E METODOS Tipo de estudo Foi realizada uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa. Caracterização do local da pesquisa O município de Canto do Buriti está localizado na região centro-sul do estado do Piauí, em uma região de clima semiárido, com vegetação predominante da caatinga e tem como base econômica a agropecuária. Canto do Buriti tem uma população de 20.603 habitantes e limita-se ao Sul com o município de Guaribas, ao norte com os municípios de Pavussu/Pajeú do Piauí, a oeste Cristino Castro/Colônia do Gurguéia/Eliseu Martins e ao leste Figura 1: Mapa de localização do município de Canto do BuTamboril do Piauí/Brejo do Piauí (Figura 1) (IBGE, 2014). riti no estado do Piauí. Fonte: www.google.mapas.com.br

Instrumentos e Procedimentos de coleta de dados Foi realizada uma pesquisa descritiva com abordagem quantitativa que foi desenvolvida em uma comunidade do centro, fica localizada na área urbana do município de Canto do BuritiPiauí. O estudo aconteceu no período de janeiro a março de 2016. Foram realizadas 40 entrevistas semiestruturadas, contendo um conjunto de questões previamente definidas, composta por perguntas abertas e fechadas. Esse tipo de entrevista é muito utilizado quando se deseja delimitar o volume das informações, obtendo assim um direcionamento maior para o tema. 114


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As análises dos dados obtidos foram feitas por meio da confecção de gráficos e tabelas utilizando o programa Windows Excel onde foram analisadas as frequências e proporções dos dados. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com a tabela 1 das 40 famílias entrevistadas acerca do uso de plantas medicinais 80% são do sexo feminino e 20% são do sexo masculino. Com relação a idade dos entrevistados temos a faixa etária de 43 a 53 anos com o maior percentual cerca de 22,5% seguida das faixas etárias de 21 a 31 anos, 54 a 64 anos e 65 a 75 anos ou 17,5% do total respectivamente. A faixa etária 32 a 42 anos aparece com 15% do total de entrevistados e a faixa etária 76 a 85 anos com 10% do total. Considerando o Estatuto do Idoso (Lei nº. 10.741 de 1º. de outubro de 2003), são idosos todos com idade igual ou superior a 60 anos (BRASIL, 2003). Acredita-se que esse perfil seja favorável aos estudos que abordam a utilização de plantas medicinais no cuidado da saúde do ser humano, uma vez que, possivelmente são as pessoas idosas as detentoras de um maior conhecimento acerca dessas práticas complementares de cuidado à saúde, que em sua maioria, foram adquiridas ao longo dos anos, de geração para geração, ou construídas no decorrer de sua própria vivência (BADKE, 2008). Tabela 1: Distribuição dos participantes entrevistados sobre plantas medicinais quanto ao sexo e faixa etária. Canto do Buriti, 2016. Sexo

Idade Total

Feminino Masculino 21 a 31 anos 32 a 42 anos 43 a 53 anos 54 a 64 anos 65 a 75 anos 76 a 85 anos Fonte: Pesquisa direta

80% 20% 17,5% 15% 22,5% 17,5% 17,5% 10% 100%

Na figura 2 temos os resultados relacionados ao nível escolar dos entrevistados onde 13% possui pós-graduação, 10% ensino superior, 20% ensino médio, 20% ensino fundamental II e 25% ensino fundamental I, dos entrevistados apenas 12% não possuem nenhum nível de escolaridade. Tais resultados contrariam o conceito existente de que somente pessoas com pouca escolaridade sejam as que mais utilizam plantas medicinais. Acredita-se que atualmente, a busca por produtos naturais e de qualidade, isentos de agrotóxicos, seja uma exigência constante na população mais esclarecida que procura por uma vida mais saudável (KRUPEK, 2014)

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Figura 2: Nível escolar dos entrevistados da pesquisa sobre plantas medicinais Fonte: Pesquisa direta

De acordo com a figura 3, quando os entrevistados foram perguntados se faziam uso de plantas medicinais para o tratamento de doenças 80% responderam que sim, 5% responderam que não e 15% responderam as vezes. Estudos relacionados a essa questão do uso de plantas medicinais ressalta que o conhecimento sobre ervas medicinais simboliza muitas vezes o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos, acrescentando que o usuário de plantas medicinais mantém a prática do consumo de fitoterápicos, tornando válidas informações terapêuticas que foram sendo acumuladas durante séculos (LACERDA et al., 2013). Figura 3: Frequência do uso de plantas medicinais no tratamento de doenças. Fonte: Pesquisa direta

Tabela 2: Listagem de espécies citadas nas entrevistas sobre plantas medicinais. Canto do Buriti, 2016. Legenda: NP= Nome popular; NC1 = Número de citações; NC2=Nome cientifico IP= Indicação popular. NP Hortelã Malva do reino

NC1 12 12

Boldo

12

116

NC2 Mentha sp Plectranthus amboinicus Plectranthus ornatus Codd

IP Ação digestiva. Tosse, rouquidão e inflamações na boca e garganta. Azia

Familia Lamiaceae Lamiaceae Lamiaceae


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Capim santo

10

Erva cidreira

10

Quebra-pedra

10

Alecrim

10

Babosa

10

Folha de laranja

10

Citrus aurantium L.

Romã

10

Alho

9

Punica granatum L. Allium sativum

Limão

9

Citrus limon

Erva doce

8

Novalgina

8

Sementes de coentro Anador

8

Pau de rato

8

Camomila

7

8

Cymbopogon cirutus Melissa officinalis L Phyllanthus niruri L Rosmarinus officinalis Aloe arborescens

Cólicas uterinas e intestinais, e nervosismo. Calmante, expectorante,

Poaceae Labiatae

Cálculos renais, ardência ao urinar. Distúrbios digestivos.

Euphorbiaceae Labiatae

Inflamações e tumores, queimaduras da pele. Anti-inflamatória; calmante; digestiva; relaxante.

Asphodelaceae Rutaceae

Inflamações da boca e garganta. Previne infecções e cura resfriados, bronquite, gripe. Gripes, resfriados, problemas respiratórios

Punicaceae.

Foeniculum vul- Cólicas intestinais, calmante, gare Mill hipertensão. Achillea millefoDores em geral, febre. luim Lc Coriandrum Sa- Acne, dores articulares, constivum tipações, insônia. Problemas respiratórios e ciJusticia pectocatrizante de feridas ralis Caesalpinia pyra- Infecções catarrais e intestimidalis nais. Digestivo, sedativo. Chamomilla recutita (L.)

Umbelliferae

Liliaceae Rutaceae

Compositae Apiáceas Acanthaceae Leguminosae Compositae

Fonte: Pesquisa direta Como observado na tabela 2 foi possível através da realização das entrevistas uma listagem com as principais espécies de plantas medicinais citadas pelos moradores. Observa-se que as plantas mais citadas são aquelas utilizadas no tratamento de doenças como: doenças respiratórias (gripe, bronquite e tosse); digestivas (mal-estar do estômago, intestino), anti-inflamatórias, indicada principalmente em casos de problemas respiratórios e como cicatrizante de feridas. As famílias entrevistadas no estudo citaram no mínimo 4 espécies de plantas medicinais diferentes, e foram citadas ao todo 39 tipos de plantas medicinais conhecidas, sendo que as 18 mais citadas foram: a hortelã ,malva do reino e boldo que foram citadas 12 vezes, o alecrim, capim santo, erva cidreira, folha de laranja e romã foram citadas 10 vezes, o alho e limão 9 117


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vezes, o coentro, anador, e o pau de rato foram citadas 8 vezes, e a camomila foi citada 7 vezes (Figura 4). Comparando o resultado da tabela 2 com o trabalho de Arnous et al., (2005), que avaliaram a utilização de plantas medicinais em Datas/MG, foram citadas as plantas Hortelã, Boldo e Erva Cidreira entre as plantas mais conhecidas. Figura 4: Fotografias das espécies de plantas medicinais citadas durante as entrevistas com os moradores. Legenda: A= hortelã, B= malva do reino, C= capim santo ,D= babosa, E= alho poró, F= anador, G= tansagem , H= casca de laranja , I= cebola , J= malva santa.

Fonte: Elaborado pelo autor

Percebe-se também que o uso combinado de plantas diferentes é bastante frequente, assim como a utilização de outros ingredientes, como o limão e o alho, na preparação dos remédios. Uma mesma planta pode ser usada para tratar diferentes doenças. De acordo com a figura 5 quando os entrevistados foram questionados sobre as formas de aquisição das plantas medicinais mais utilizadas 30% responderam que utilizavam a forma cultivada, 55% responderam que adquirem de forma coletada e apenas 15% comprada. Tal resultado demonstra que a forma efetiva de conservar essas plantas e os conhecimentos ligados a elas é pelo uso. Ao resgatar, valorizar e preservar o conhecimento sobre plantas medicinais está se preservando um patrimônio cultural das populações utilizado durante séculos. A preservação deve partir do resgate e da valorização do conhecimento local e popular. Observou-se que várias famílias cultivam as plantas medicinais em canteiros e até mesmo em caqueiros para utilização para medicamentos de várias doenças. A pesquisa revela também que o cultivo destas plantas é bem comum e os entrevistados afirmam adquirir as plantas medicinais no seu próprio quintal e também com os seus vizinhos. Essa integração com os vizinhos tem a ver com a declaração de Morim (2001) quando reforça que a cultura reproduzida em cada indivíduo mantém a identidade humana naquilo que têm de Figura 5: Formas de aquisição das plantas medicinais utilizadas pelos especifico como identidades entrevistados. Fonte: Pesquisa direta sociais. 118


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De acordo com a figura 6 os entrevistados informaram que parte das plantas medicinais eles utilizam para consumo sendo que 50% responderam que usam as folhas verdes 23 % as folhas secas, 10% as sementes 15% as cascas e 2 % dos entrevistados utilizam outras partes das plantas. Provavelmente a explicação para o uso das folhas pode estar associada ao fato da colheita ser mais fácil e estarem disponíveis a maior parte do ano. Em alguns casos, diferentes partes de uma mesma planta foram mencionadas para diferentes usos. Este fato ressalta a importância do registro da parte da planta utilizada, pois diferentes partes podem possuir diferentes componentes químicos (SANTOS, 2003). Figura 6: Partes das plantas medicinais utilizadas pelos entrevistados

Fonte: Pesquisa direta Ao serem questionados em relação à forma de preparo das plantas medicinais citadas 70% faziam uso do chá, 10% faziam uso de xarope, 7% de lavagem, 8% de gargarejo e 2% usavam as plantas para banho. Vale destacar ainda que estes dados são similares aos encontrados por Arnous et al., (2005), Pinto et al., (2006), Brasileiro et al., (2008), Silva et al., (2008), Rutkanskis e Silva (2009), Oliveira et al., (2011) uma vez que os entrevistados destes trabalhos citaram o chá por infusão como a principal forma de preparo das plantas medicinais consumidas. Figura 7: Formas de preparo das plantas medicinais utilizadas pelos entrevistados

Fonte: Pesquisa direta De acordo com a figura 8 quando os entrevistados foram perguntados sobre a forma como adiquirem conhecimentos sobre o uso das plantas medicinais, 95% responderam que 119


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era através da cultura familiar, 3% atraves de livro/ internet/Tv e 2% dos entrevistados relataram outros. Observa-se que o conhecimento advindo da cultura familiar ainda é bem valorizado, sabendo-se que desFigura 8: Formas de como os entrevistados adquirem conhecimentos sobre as plantas medicinais. Fonte: Pesquisa direta de a antiguidade as plantas têm sido um recurso natural que se encontra ao alcance do ser humano permitindo-lhe o acréscimo de conhecimentos e aprendizado empírico de informações sobre o ambiente por meio da observação constante dos elementos naturais com o intuito de aperfeiçoar as qualidades de alimentação e cura das moléstias, evidenciando, uma inter-relação fartamente estreita em meio ao uso de plantas e a sua própria evolução (LUSTOSA, 2012). Na figura 9 observamos o resultado de quando os entrevistados foram perguntados se obtiveram cura de suas enfermidades fazendo uso das plantas medicinais, sendo que 85% dos entrevistados responderam que sim, 5% disseram que não e 10% responderam às vezes. Isso demonstra que a população tem procurado contra balançar, modos mais naturais de cuidar da saúde, o que provocou o aumento da demanda pelas plantas medicinais, apesar de alguns medicamentos não poderem ainda ser substituídos pela medicina alternativa e plantas medicinais. Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que os fitoterápicos serem mais acessíveis e mais baratos, além de sua disponibilidade no quintal. Segundo a ocorrência de estudos ecológicos ou que abordem a preservação de plantas medicinais evidenciam a preocupação com a conservação de espécies vegetais que apresentam valor terapêutico. Além disso, alguns trabalhos reforçam o enfoque no cultivo das plantas medicinais, porque muitas das espécies vegetais utilizadas na medicina alternativa são obtidas por extrativismo, devido à falta de informação e muitas vezes dificuldade para cultivo (SILVA e FREIRE, 2010).

Figura 9: O uso das plantas medicinais causou cura nas enfermidades dos entrevistados. Fonte: Pesquisa direta

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CONCLUSÃO A listagem das espécies de plantas medicinais citadas no estudo demonstra um amplo conhecimento popular dos entrevistados sobre o tema, sendo que as 40 famílias entrevistadas citaram o nome das plantas que utilizavam as partes da planta, as formas de preparo e para quais doenças eram utilizadas. Trinta e nove espécies diferentes foram citada sendo a maioria pertencente à família Lamieceae. As folhas foram a parte da planta mais utilizada e os chás foram o modo de preparo mais citado. A análise do conhecimento popular das plantas medicinais pela população residente no centro do município de Canto do Buriti-PI mostrou que as plantas medicinais são bastante utilizadas e valorizadas pela população entrevistada, por se tratar de uma alternativa barata e eficaz, passada de geração em geração ao longo dos anos terapêutica de uma planta medicinal. No presente estudo observou-se, que se faz necessário resgatar ou preservar os conhecimentos culturais do cultivo das plantas medicinais e que a mesma é uma alternativa viável e sustentável para a promoção da saúde, e útil para a comunidade. A valorização das plantas é um grande passo para poder conservá-las. Passar o conhecimento medicinal aos seus descendentes é exercer a Educação Ambiental por estar associada à manutenção e preservação das mesmas. A presente pesquisa servirá de base para novas pesquisas relacionadas às questões de plantas medicinais no município. Nesta perspectiva, é preciso fomentar o planejamento de políticas públicas abrangentes para que possam ser trabalhadas temáticas sobre o uso de plantas medicinais, e a forma de como pode ser consumida e quais seus benefícios e malefícios.

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A UTILIZAÇÃO DE FRUTOS DA CARNAÚBA (COPERNICIA PRUNIFERA) COMO RECURSO ALIMENTAR POR MELANERPES CANDIDUS EM UMA ÁREA DE ECÓTONO, NORTE PIAUIENSE Geice Maria Pereira dos Santos1 Anderson Guzzi2 Rafael Reinaldo Calaça da Silva3 Simone Mousinho Freire4 Tereza Maria de Alcântara Neves5 Weslany de Oliveira Dantas6 RESUMO Os frutos da carnaúba (Copernicia prunifera) são utilizados como recurso alimentar por Melanerpes candidus em uma região de ecótono, norte piauiense. O pica-pau-branco Melanerpes candidus, também chamado Birro, ocorre no Brasil desde a Amazônia oriental, no entanto, pouco se sabe sobre seus hábitos. O presente trabalho apresenta a ingestão dos frutos da carnaúba (Copernicia prunifera) como recurso alimentar por Melanerpes candidus em uma área de ecótono, norte piauiense. O registro ocorreu no Município de Nossa Senhora de Nazaré/PI. A espécie foi caracterizada e seu hábito alimentar foi observado e comparado aos demais hábitos alimentares dos indivíduos da mesma família. Como o fato de se alimentar de Copernicia prunifera ainda não tinha sido registrado, pretende-se contribuir para o conhecimento dos hábitos alimentares desta espécie.

Palavras-chaves: Melanerpes candidus. Copernicia prunifera. Ecótono. Norte do Piauí. 1 INTRODUÇÃO O Brasil é um dos países com maior diversidade de aves do mundo, possuindo um total de 1.901 espécies (CBRO, 2011), incluindo tanto aves que residem no país, ou seja, aves que se reproduzem aqui, quanto aves visitantes. Essa riqueza corresponde a 17% de todas as espécies conhecidas no mundo (SICK, 1997) ou aproximadamente 57% das aves conhecidas na América do Sul (Silva, 2007). ______________________________

1 Graduada em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas – Universidade Federal do Piauí - UFPI/Pós-graduada em Docência do Ensino Superior – Faculdade São Judas Tadeu e Pós-graduanda em Biodiversidade e Conservação – UESPI.geicemps@gmail.com 2 Doutor em Zoologia pela UNESP/Botucatu; Graduação em Biologia pela UNESP/Botucatu, e-mail: guzzi@ ufpi.edu.br 3 Graduado em Licenciatura Plena em Ciências Biológicas – Universidade Federal do Piauí – UFPI, e-mail: rafaelreinaldo97@hotmail.com 4 Bióloga, Doutora em Ciência Animal, Mestre em Ciência Animal e Especialista em Zoologia pela Universidade Federal do Piauí: simoneuespi@gmail.com 5 Mestre em Saúde da Família pela UNINOVAFAPI. Graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí, Especialização em Odontopediatria pela Associação Brasileira de Odontologia, Especialização em Saúde da Família pela NOVAFAPI: tereza_alcantara@yahoo.com.br 6 Orientadora. Graduada em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí, Especialista em Saúde Pública e Mestre em Clínica Odontológica, professora do curso de Biodiversidade e Conservação NEAD/UESPI. e-mail: weslanywes@yahoo.com.br 123


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A avifauna brasileira é rica em número de espécies representando 20% das 9.000 espécies existentes no mundo, sendo a segunda em diversidade de aves, atrás apenas da Colômbia (BENCKE, 2006). Dentre as aves presentes no Brasil, podemos citar os pica-paus que são populares em todo o mundo, graças à sua capacidade de perfurarem o duro lenho das árvores, à procura de larvas e ovos de insetos ou quando escavam seus ninhos. O Brasil é especialmente rico em espécies de pica-paus graças à vastidão de suas florestas (SIGRIST, 2009). As aves pertencentes à família Picidae são, em sua maioria, cosmopolitas, sendo ausentes na Austrália, Nova Guiné, Madagascar e Nova Zelândia, possuem características comuns entre as espécies, como bico forte e reto, em forma de escopro, outra particularidade da família é a mobilidade da maxila, sendo reduzida nas espécies de grande vigor no golpear (SICK, 1997). De forma geral, os Picidae procuram seu alimento em árvores que contenham os mais variados tipos de insetos e suas larvas (SICK, 1997), constituem como alimentos favoritos os coleópteros, himenópteros, lepidópteros e vespas (SCHUBART et al., 1965). Os pica-paus, quando encontram nas árvores um local propício a ter insetos, começam a martelar com o bico perfurando a casca para poder explorar a cavidade com sua língua pegajosa (SICK, 1997). O pica-pau-branco Melanerpes candidus (Otto 1796), ave pertencente à ordem Piciformes, família Picidae, também chamado Birro, é uma espécie bastante comum, que ocorre da Amazônia oriental a todo o resto do Brasil (SICK, 1997). Trata-se de uma espécie campestre, embora arborícola, não costumando vir ao solo como fazem, por exemplo, as oito espécies do gênero Colaptes. Copernicia campestris, do Brasil, e Copernicia auratus, da América do Norte e Central (Short, 1982). Frequentemente é encontrado em árvores isoladas em cerrados, palmares e pomares, geralmente em pequenos grupos (SICK, 1997). Melanerpes candidus normalmente desce ao solo para capturar formigas ou então fica a predar vespeiros arborícolas ou ninhos de Meliponidae, como abelha, irapuã ou ainda cupinzeiros arborícolas (SIGRIST, 2009). Pouca coisa se sabe sobre seus hábitos reprodutivos, exceto que realiza voos de exibição (SICK, 1997), e que se reproduz de setembro a novembro no sul do Brasil, sendo que as populações do Piauí podem-se reproduzir de agosto a novembro com postura de 3 a 4 ovos, chocados por ambos os adultos (SHORT, 1982). O presente trabalho tem como objetivo documentar o primeiro registro da ingestão de frutos de Copernicia prunifera por Melanerpes candidus, contribuindo assim para o conhecimento dos hábitos desta espécie e também para futuros planos de manejo e conservação.

2 MATERIAL E MÉTODOS Local de Estudo O município de Nossa Senhora de Nazaré está situado na região Meio Norte piauiense, 124


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a uma latitude de 04º37’50”S e longitude de 42º10’22” W. Faz divisa com os municípios de Boqueirão do Piauí, Campo Maior, Cabeceiras e Cocal de Telha (Figura 01), a 113,2 Km da capital via BR 343 GOOGLE MAPS (2016). Possui uma área de 356 km² a uma altitude média de 40 metros (IBGE, 2010). A cidade de Nossa Senhora de Nazaré faz parte das áreas de transição que cobrem cerca de 19% da área total do Estado do Piauí, onde há um tipo vegetacional denominado de Complexo de Campo Maior, que faz parte das áreas consideradas de tensão ecológica (RIVAS, 1996), que compõem o maior domínio fitoecológico da bacia hidrográfica do Rio Parnaíba. A maior concentração desta fisionomia vegetal está situada nas unidades geoambientais do Vale do Gurguéia, Tabuleiros do Parnaíba e Baixada de Campo Maior, que está sujeito a frequentes inundações, apresentando caráter de transição tendendo para instável (FARIAS & CASTRO, 2004). A Figura 01 mostra a localização do município de Nossa Senhora de Nazaré no Piauí. O ponto corresponde ao local do registro alimentar do Melanerpes candidus. O mapa foi feito no programa ArcMap para melhor representar o local de estudo e registro.

Figura 01: representação visual da localização de registro no Município de Nossa Senhora de Nazaré no Estado do Piauí. Mapa desenvolvido no programa ArcMap. Fonte: Geice Santos.

3 RESULTADO E DISCUSSÃO Em 22 de Novembro de 2012, no período da manhã às 10h 45min, foram realizados registros fotográficos de indivíduos da espécie Melanerpes candidus alimentando-se de frutos de Corpenicia prunifera, no município de Nossa Senhora de Nazaré (Figura 02 e 03). Os primeiros registros fotográficos foram realizados em uma área de mata ciliar onde predomina elementos de carnaúba (Copernicia prunifera), estendendo-se ao longo do rio, sendo o município cortado pelos rios Longá e pelos riachos Vertentes e Titara, que fazem parte 125


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do rio Parnaíba. Na produção agrícola, tem destaque o cultivo de arroz, cana de açúcar, feijão, mandioca e milho (MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA, 2005). A vegetação é variada, entre dois tipos vegetacionais, a caatinga e o cerrado, com floresta ciliar de carnaúba (Copernicia prunifera) e caatinga de várzea, com predominância de hiperxerófila e cerrado subcaducifólia. O pica-pau-branco Melanerpes candidus é uma espécie campestre alvinegra, cujo macho apresenta em seu dorso a pelagem escura com tons entre o preto e o marrom, semelhante a um manto e a parte inferior que cobre todo seu peito é branco. As demais partes inferiores, como, ventre, garganta, crisso geralmente são brancos, mais pode variar para um leve brancocreme. No inferior da barriga apresenta uma pecha amarelada e no inferior das asas é marromacinzentada e suas coberteiras pretas. Sua nuca apresenta predominância da cor branca, com uma leve mancha amarela e em volta dos seus olhos o amarelo bem aparente se apresenta. O formato do bico é em cinzel, reto, longo e forte e a lista preta na cabeça bem definida. A base do bico é pálida e seu comprimento em geral é preto. Seus olhos variam entre o branco e o amarelo pálido e seus pés são cinza (WIKIAVES, 2016). A fêmea apresenta suas plumagens semelhantes ao macho, entretanto a fêmea não possui a mancha amarela na nuca e sua lista preta na cabeça é menos aparente, apresenta coloração amarelada apenas no ventre (SICK, 1997), e o juvenil apresenta a coloração um pouco mais marrom escuro do que o preto característico dos adultos, com a plumagem menos vistosa (brilhante). As áreas brancas são tingidas de bege, e a mancha amarela na barriga é mais diluída. Os olhos são cinza com anel periocular azulado. O jovem macho tem as penas da cabeça amareladas que se estende desde a nuca até a coroa, enquanto que a jovem fêmea não apresenta a faixa amarela na nuca (WIKIAVES, 2016). A Copernicia prunifera popularmente conhecida como carnaúba é uma palmeira que pertence à família Arecaceae, podendo atingir de 10 a 15m de altura e 15 a 25cm de diâmetro (Henderson et al., 1995). Apresenta significativa importância econômica, paisagística e artesanal, sendo seu tronco empregado na construção de casas, e da folha retira-se a cera e produz artesanatos. Os frutos são empregados como complemento da dieta de bovinos, caprinos e suínos, sendo consumidos maduros ou verdes (MEDEIROS & COSTA, 1982). O tronco é coberto pelas bases das folhas, com folhas com disposição helicoidal se dispondo em sentido dextrogiro ou levogiro. As folhas são palmadas, arredondadas, coberta de cera em ambas as faces; seu pecíolo contém espinhos denteados. Com inflorescência interfoliar variando de 1,5 a 3cm. O fruto da carnaúba é ovoide, com aproximadamente 3cm de comprimento de tom verde-oliva arroxeados quando maduro (MEDEIROS & COSTA, 1982; LORENZI et aI., 1996).

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Figura 02: Melanerpes candidus alimentando-se dos frutos de carnaúba (Copernicia prunifera). Fonte: Rafael Reinado Calaça da Silva.

Figura 03: Melanerpes candidus retirando frutos de carnaúba (Copernicia prunifera). Fonte: Rafael Reinado Calaça da Silva.

Apesar de possuir dieta diversificada, composta por insetos e larvas xilófagas da madeira, carne seca estendida ao Sol e frutos (SIGRIST, 2009), ainda não havia sido registrado e documentado a ingestão de frutos de Copernicia prunifera por Melanerpes candidus. Sick (1997) e Winkler & Christie (2002) mencionam que os pica-paus (Picidae) se alimentam principalmente de artrópodes e suas larvas. No entanto, apesar da maioria das espécies consumirem apenas invertebrados, outras se podem alimentar de outros recursos vegetais, tais como frutos e néctar (SICK, 1997; ROCCA et al., 2006; SIGRIST, 2009). O consumo de frutos tem sido relatado com frequência para pica-paus neotropicais, pertencentes aos gêneros Celeus, Melanerpes, Campephilus e Veniliornis (SCHUBART et al., 1965; KATTAN, 1988; SICK, 1997; RUIZ et al., 2000; CAZETTA et al., 2002; DE LA PEÑA & PENSIERO, 2003; PIZO, 2004; SIGRIST, 2009; TUBELIS, 2007). Alguns autores afirmam que as espécies do gênero Melanerpes apresentam conduta oportunista, como é caso de Sousa (1983), que observou que Melanerpes lewis se alimenta de insetos, principalmente na época de colheita (SNOW, 1965; BOCK, 1970). Os mesmos autores ainda afirmam que as presas e a variação das mesmas refletem sua disponibilidade estacional. Estes autores indicam também para esta espécie a incorporação de frutos, bagas e sementes durante o verão. Outro comportamento alimentar diferenciado é o de Melanerpes cactorum que se alimenta com seiva em ambientes áridos durante o inverno quando há escassez de outros recursos. Para Short (1982), o gênero Melanerpes é mais frugívoro que qualquer outro gênero da família Picidae. A preferência Melanerpes candidus por Copernicia prunifera está relacionada ao habitat em que se encontra esta espécie vegetal, visto que esta é adaptada às áreas abertas, o que, segundo Thompson & Wilson (1978), espécies frutíferas de áreas abertas e de bordas ou de fragmentos florestais apresentam geralmente taxas de remoção de frutos mais elevadas que as espécies do interior. Outro fator que provavelmente aumente a predileção de frutos por aves seja a frutificação 127


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em períodos de escassez de outros recursos alimentares (SNOW, 1965). Fato também observado por Mckey (1989), que afirma que muitas espécies vegetais que produzem frutos (aquênios), podem frutificar em qualquer época do ano, o que aumenta a possibilidade de servirem como fonte alternativa de alimento, principalmente para as aves em época de escassez de outros recursos, caso das espécies do gênero Ficus e espécies de outros gêneros como Copernicia prunifera, cuja frutificação se inicia de Novembro à Março (SAMPAIO et al., 2005), sendo que os dois meses iniciais coincidem com a época de menor disponibilidade de recursos, devido à baixa precipitação pluviométrica. A predileção das aves por características específicas dos frutos têm importantes implicações para a evolução do comportamento das aves e das características dos frutos (AlvesCOSTA & LOPES, 2001). Assim provavelmente a opção por determinado tipo de fruto esteja diretamente relacionada com certas características de frutos, tais como: cor, tamanho, forma, qualidades nutritivas, tipo de fruto ou infrutescência, abundância, tipo de habitat e distância entre as plantas que estão frutificando (MURRAY et al., 1993; ALVES-COSTA & LOPES, 2001; GALETTI et al., 2003). As compreensões de como as aves adotam estes fatores para escolha dos frutos é algo muito complexo, e ainda sem uma resposta lógica (LEVEY et al., 1994). No entanto, um fato chama a atenção, que a maioria dos frutos consumidos por aves geralmente são pequenos, esféricos, de coloração conspícua e sem odor, características esta que se assemelha ao fruto discutido no presente estudo que possui formato esférico e sem odor, diferindo apenas quanto à coloração conspícua, já que se trata de um fruto de coloração discreta. 4 CONCLUSÃO O registro do consumo de frutos de Copernicia prunifera por Melanerpes candidus é apresentado pela primeira vez neste estudo, ajudando a descrever o hábito alimentar dessa discreta espécie de ave. Da mesma forma, este trabalho poderá contribuir para ações direcionadas ao manejo e conservação dessa espécie. REFERÊNCIAS ALVES-COSTA, C. P. & LOPES, A. V. 2001. Using artificial fruits to evaluate fruit selection by birds in the field. Biotropica, 33(4): 713-717. BENCKE, G. A. et al. 2006. Áreas importantes para a conservação das aves no Brasil: parte 1 – estados do domínio da Mata Atlântica. São Paulo, SAVE Brasil. BOCK, C. E. 1970. The ecology and behavior of the Lewis woodpecker (Asyndesmuslewis). University of California Publication in Zoology, 91: 1-100. CAZETTA, E., RUBIM, P., LUNARDI, V. O., FRANCISCO, M. R. & GALETTI, M. 2002. Frugivoria e dispersão de sementes de Talauma ovata (Magnoliaceae) no sudeste brasileiro. Ararajuba, 10(2): 199-206. 128


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PERSPECTIVAS DOS ESTUDANTES DE ELISEU MARTINS SOBRE OS PROBLEMAS RELACIONADOS À ÁGUA: SOLUÇÕES PARA CONSERVAÇÃO Glaura Pereira de Brito1 Simone Mousinho Freire2 Teresa Maria Alcântara Neves3 Fernanda Samara Barbosa Rocha4

RESUMO O desperdício da água, no Brasil, tem atingido níveis críticos, sendo a educação ambiental nas escolas é uma forma eficaz de minimizar essa degradação. Com o objetivo de propiciar aos alunos conhecimento sobre a importância dos cuidados que devemos ter com a água, estimular o entendimento sobre sua importância e propor métodos para evitar o desperdício, foi aplicado aos alunos e professora de Ciências um questionário semiestruturado com o objetivo de verificar o entendimento destes quanto a importância da água para os seres vivos e quais as consequências por seu uso indiscriminado, na Escola Nova Educandário localizada na cidade de Eliseu Martins, PI. O estudo revelou que os entrevistados conhecem a problemática da água e as soluções para a conservação, apesar de não colocarem em prática tais ações.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Escolas. Preservação Recursos hídricos. 1 INTRODUÇÃO A superfície do planeta terra é coberta por aproximadamente 70% de água, líquido essencial à vida, além de ser um componente fundamental da paisagem e do meio ambiente, são inúmeras as utilidades da água para a sociedade: como abastecimento doméstico e industrial, produção de alimentos e fibras, para saciar a sede de animais, geração de energia, transporte de pessoas, cargas, recreação, para a higiene corporal,limpeza das nossas casas e cidades dos resíduos gerados pelos homens (TAMAKI, 2005). A água potável é um bem indispensável para o desenvolvimento de atividades diárias, sendo louvável lembrar que este recurso além de finito é mal distribuído. De acordo com Tomaz (2003), no mundo, 97,5% da água é salgada, apenas 2,5%corresponde à água doce e 68,9% desta água doce encontram-se congeladas em calotas polares do Ár1 Graduada em Licenciatura Plena em Letras Português-Pós-graduando do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação, pela Universidade Estadual do Piauí / Universidade Aberta do Brasil, Polo de Apoio Presencial de Canto do Buriti – PI. glaura.pb@hotmail.com /UESPI 2 Doutora em Ciência Animal. Chefe do Laboratório de Zoologia e Biologia Parasitária /UESPI – simoneuespi@ gmail.com/ 3 Coordenadora da Disciplina TCC - Curso de Especialização em Biodiversidade. Especialista e Mestre em Saúde da Família - teresa_alcantara@yahoo.com / UESPI – NEAD 4 Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Especialista em Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos e Mestranda em Ciência Animal – fernandarochavetufpi@gmail.com / UESPI - NEAD 131


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tico, Antártica e nas regiões montanhosas. 29,9% corresponde a águas subterrâneas do volume total de água doce do planeta, somente 0,266% da água doce representa toda a água dos lagos, rios e reservatórios, significa 0,007% do total de água doce e salgada existente no planeta. O conhecimento dos problemas ambientais é importante, pois reflete problemas sociais, suas causas e resoluções. A disponibilidade da água doce é uma questão ambiental intensamente debatida por constituir uma substância essencial à vida. Tal interpretação é a causa de seu mau uso e desperdício, desta forma, para Gomes (2009), o uso irracional da água tem ocasionado a sua escassez, e com isto, submetido às pessoas, empresas, órgãos públicos a estabelecer uma nova forma de pensar e agir com maior consciência ambiental, promovendo diversas ações de conservação e uso racional da água através da implantação de programas de conservação para garantir o atendimento das diferentes demandas pela água e motivado o desenvolvimento de novas práticas e pesquisas, principalmente em seu uso racional. Algumas preocupações relacionadas a seu uso têm crescido de forma proporcional ao aumento de sua demanda pela sociedade, pois sem água, e de boa qualidade, não existe futuro para os núcleos sociais, sejam eles rurais ou urbanos.Certamente é o recurso mais precioso que a humanidade dispõe, embora haja tanta negligência e falta de visão com relação a este recurso. Cuidar dela é importante para todos nós e para as gerações futuras. O risco de faltar este recurso está cada vez maior em todas as regiões brasileiras, o município de Eliseu Martins não enfrenta este problema, porém isto não significa que futuramente não venha a faltar. O presente trabalho tem como objetivo contribuir para o conhecimento dos alunos da Escola Novo Educandário Paraíso em Eliseu Martins, Piauí sobre tema de investigação dos problemas relacionados à água na cidade, e prevenir oseu desperdício por promover a conscientização ambiental. 2 MATERIAIS E MÉTODOS A metodologia adotada para a realização do trabalho foi o estudo de caso, por entender que apresenta melhor aderência ao objetivo e às questões que nortearam a pesquisa, pois este visa à descoberta, enfatiza a interpretação em contexto, busca relatar a realidade de forma completa e profunda, usa uma variedade de fontes de informações, revela experiências vicárias, além de utilizar uma linguagem e uma forma mais acessível. Optou-se por fazer um estudo de caso de caráter qualitativo, por ser um meio de pesquisa compreendido como uma metodologia de estudo definida pelo interesse de investigação de casos específicos. Nesta perspectiva, Yin (2005) afirma que a preferência pelo estudo de caso deve estar em estudo de situações contemporâneas, onde é possível fazer observações diretas, seu objetivo é explorar, descrever e explicar. Através do estudo de caso, foi feito um levantamento de informações sobre as perspectivas dos alunos a respeito do desperdício de água em uma escola do município de Eliseu Martins – PI. Foram realizadas visitas, utilizando alguns instrumentos para a coleta de dados, 132


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estudo de campo, entrevistas semiestruturadas com uma professora e alunos da instituição. A coleta de dados se caracterizou pelo contato direto com os entrevistados, de forma espontânea, sem interferências. A Escola Nova Educandário Paraíso (Figura 1) está localizada na rua Fernando Silva, S/N, Centro de Eliseu Martins. Foram entrevistados 15 discentes de diferentes séries do Ensino Fundamental Maior, de faixa etária entre 11 a 15 anos; 2 do 6º ano, 3 do 7º, 5 do 8º e 9º ano, e uma professora em atividade da disciplina Ciências que responderam sobre a utilização e conservação da água, buscando assim a compreensão sobre estes problemas relacionados e soluções para sua conservação.

Figura 1 – Escola Novo Educandário Paraíso. Fonte: Próprio autor (2016).

Figura 2 – Laboratório de Ciências (a) e de Informática (b) Fonte: Própria do autor (2016).

3 RESULTADO E DISCUSSÃO Com relação ao gênero, constatamos que 60% das turmas são compostas pelo sexo feminino, enquanto que 40% são do sexo masculino, o que demonstra que a escola conta com uma grande participação das mulheres no seu corpo discente. A primeira pergunta referia-se a utilidade da água, os entrevistados relataram ter conhecimento de como a utiliza de forma consciente, e cada um apresentou exemplos como, para o consumo dos seres vivos, higiene e limpeza doméstica, para cozinhar alimentos e também na agricultura. Como evidenciado por Sanches (2002), a água potável é necessária à saúde é a sobrevivência do ser humano. Além da água de beber, o homem a utiliza para sua higiene pessoal, preparação de alimentos, limpeza; ela está presente em quase todos os momentos da nossa vida. O segundo questionamento tinha por objetivo conhecer como os alunos fazem e podem fazer para preservar a água. Os alunos citaram que atitudes como fechar a torneira quando estiver passando o sabonete no corpo, escovando os dentes, lavando a louça, não dar descarga no vaso sanitário sem necessidade, não utilizar água limpa para lavar calçadas é importante para evitar o desperdício d’água. Um deles comentou também sobre o reuso da água da máquina de lavar roupas que deveria ser aproveitada para lavar a casa, carros calçadas e molhar plantas. Nesse contexto relatado pelo discente, diz Oliveira (2005) que as práticas conservacionistas como o uso eficiente e o reuso da água, constituem uma maneira inteligente de se poder ampliar o número de usuários de um sistema de abastecimento, sem a necessidade de grandes investimentos na ampliação ou a instalação de novos sistemas de abastecimento de água.

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Ao serem questionados sobre a importância de estudar a água e sua preservação, os 15 alunos responderam que sim e que era fundamental, pois ela faz parte de nossas vidas sendo preciso saber seu valor; 12 alunos ainda complementaram que faz bem para nossa saúde, para as plantas e os animais, que é importante preservá-la, mantê-la saudável e longe de qualquer tipo de contaminação para que assim não adoeça os seres humanos e que todos necessitam de água para viver, como descrito por Derisio (1992), a água é um componente essencial e indispensável, para a realização de tarefas humanas, como beber, se alimentar, fazer higiene corporal transformação de insumos. Quando aplicado o questionário para professora, a primeira pergunta referia-se as principais contribuições da água para a vida do ser humano, a mesma respondeu que antes de tudo é sempre bom lembrar que sem água não haveria vida em nosso planeta, sendo de extrema importância para todos os seres vivos. Embora esta seja encontrada em abundância em nosso planeta, 70% é composto por água na superfície, somente 4% da água é doce, própria para o consumo. Acrescentou ainda que a população mundial atual é de sete bilhões de habitantes e continua crescendo, por este motivo, torna-se fundamental que o ser humano busque formas racionais de usar a água e como economizá-la para que não falte no futuro, afirmou também que este é o grande desafio ambiental deste milênio. Neste contexto, Neutzling (2004) afirma que as atividades humanas são utilizadas 2,5 vezes mais água do que a quantidade naturalmente disponível em todos os rios do planeta. Quando questionada se a Educação Ambiental contribui para a preservação da água, a professora respondeu que sim, é importante estar inserida nos currículos da Educação Nacional, por ser um componente essencial e permanente da educação devendo estar presente de forma articulada, organizada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal, ainda conclui dizendo que a escola é o alicerce para a construção de cidadãos conscientes e comprometidos com as questões ambientais e que serão os herdeiros do futuro. Em concordância com isso, Gonçalves (1990) argumenta que a Educação Ambiental não deve ser entendida como um tipo especial de educação, pois é um processo que requer tempo e continuidade de ações aprendidas; consiste em uma filosofia de trabalho participativo em que todos, família, escola e comunidade, devem estar envolvidos. O processo de aprendizagem de que trata a Educação Ambiental deve ser gradativo e contínuo, não pode ficar restrito exclusivamente à transmissão de conhecimentos, à herança cultural do povo, às gerações mais novas ou à simples preocupação com a formulação integral do educando, inserido em seu contexto social. O terceiro questionamento está relacionado ao uso da água na agricultura. A professora afirma ser necessário haver a otimização deste recurso para produção de alimentos; a utilização da agricultura irrigada consciente é uma alternativa para evitar o desperdício de água e práticas pertinentes, como a verificação das tubulações que conduzem a água da fonte aos plantios. Nesta perspectiva, Cardoso afirma que o manejo adequado da água na agricultura não pode ser considerado uma etapa independente no processo de produção agrícola, devendo ser 134


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analisado dentro de um contexto de um sistema integrado.É importante que se use somente a quantidade de água que a cultivo necessita, de acordo com o conhecimento técnico e os equipamentos recomendados (CARDOSO et.al, 1998). A última questão voltada para a professora referia-se a mudança da qualidade da água; sua opinião sobre este questionamento foi que a sua qualidade não mudou, a mudança ocorre na quantidade em algumas regiões, fruto do desperdício humano pois é um dos recursos naturais que possui grande importância para a sustentação da vida no meio ambiente, todos os povos e culturas utilizam e precisam deste recurso para sobreviver,assim afirma Melbourne (2002), a água se tornou também um símbolo de igualdade social, pois sua crise é sobre tudo, de distribuição, conhecimentos e recursos, e não de escassez absoluta. Para isso, devem-se levar em conta comportamentos éticos na tomada de decisões relativas aos recursos hídricos, já que as estratégias a serem tomadas envolvem o problema de acesso e privação.

4 CONCLUSÃO Pode-se concluir que todos os envolvidos na pesquisa conheciam a importância da água para suas vidas, que este recurso é necessário a várias atividades desenvolvidas pelo homem, sendo sua potabilidade o fator de maior importância para os seres humanos, por ser um recurso não renovável, deve haver uma mudança rápida e eficaz nos hábitos de seu uso para não que haja escassez. Demonstraram muito interesse em aprender mais sobre a importância da água tirando dúvidas referente a sua irregularidade da distribuição no planeta, a importância da sua potabilidade para evitar doenças relacionada a ingestão de água contaminada como a esquistossomose, cólera, leptospirose além de esclarecimentos feitos pelos 5alunos no 9º ano sobre o processo de dessalinização que consiste em transformar água salgada em água doce, assunto aprendido na disciplina Ciência no final do ano 215. . Foi constatado que as respostas dos alunos as indagações feitas foram também boas sugestões para diminuir o consumo de água que será essencial para a sua preservação. Algumas pessoas não estão vendo o perigo em relação à escassez dos recursos hídricos, porém os alunos da Escola Novo Educandário Paraíso se mostraram muito informados e interessados sobre o assunto de que é necessário se preocupar hoje com relação ao uso e poluição deste recurso para que no futuro não afete a sociedade como um todo. Esta pesquisa possibilitou também constatar que os alunos percebem que a educação ambiental é um dos principais fatores preventivos contra o desperdício e as possíveis consequências da má gestão da água, portanto é uma ferramenta indispensável à educação e estímulo à proteção do meio ambiente.

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ANÁLISE DA QUALIDADE DAS ÁGUAS DO RIO PARNAÍBA POR MEIO DE PARÂMETROS MICROBIOLÓGICOS GLEIDIANY DA COSTA MOREIRA1 SIMONE MOUSINHO FREIRE2 TEREZA MARIA ALCÂNTARA NEVES3 CÍCERO QUIRINO DA SILVA NETO4 RESUMO A água desempenha um papel muito importante na vida de todos os seres vivos do planeta, pois através dela é possível que as sociedades se desenvolvam e se ampliam. No entanto, sua qualidade vem sendo afetada a cada dia. Dessa forma, esta pesquisa tem como objetivo avaliar a qualidade microbiológica das águas do Rio Parnaíba no perímetro urbano do município de Floriano, através de técnicas microbiológicas para coliformes fecais e totais e Escherichia coli. A metodologia aplicada utilizou-se do sistema Colillert como também da leitura do Número Mais Provável (NMP) pela técnica dos tubos múltiplos em meios de cultura. Os resultados demonstraram que as águas do Rio Parnaíba não atendem aos padrões pré-estabelecidos, pois apresentou em alguns pontos índices iguais e superiores a 1100 NMP. Com isso, conclui-se que, devido à contaminação do rio é necessária a tomada de medidas para a melhoria das condições do local, unindo políticas públicas e participação da população para a preservação desse ecossistema. Palavras-Chave:Agentes Biológicos. Biodiversidade. Conservação. _______________________ 1 Aluna da Pós-graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância – NEAD. Email: gleidycosta1@hotmail.com. 2 Doutora em Ciência Animal. Chefe do Laboratório de Zoologia e biologia parasitária/ UESPI. Email: simonemousinho@yahoo.com.br. 3 Coordenadora de TCC da Pós-graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância – NEAD. Email: tereza_alcantara@yahoo.com.br. 4 Professor Orientador da Pós-Graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância – NEAD. Email: cquirino07@hotmail.com.

INTRODUÇÃO A fartura de água no planeta Terra gera uma falsa impressão de ser ela um produto inesgotável. No entanto, somente 0,147% estão apropriados para o consumo, e encontra-se em lagos, nascentes e em lençóis subterrâneos (PUPILE; CARVALHO; MONTEIRO, 2010).Mesmo estando em pequenas proporções no ambiente terrestre, à água doce na sua forma líquida é fundamental para a manutenção da vida na Terra. Com isso, é necessário que os seres humanos reflitam sobre suas ações sobre este precioso elemento (DOZZO, 2011). No entanto, ação antrópica tem causado impactos ambientais, um dos principais é a destruição dos ecossistemas 137


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aquáticos, em especial os de água doce, gerando uma diminuição e perda da qualidade e quantidade da água e de sua diversidade biológica (HAMADA, 2004 e MILLER, 2007). Por ser a principal fonte de água para abastecimento da maior parte das cidades, os rios deveriam receber uma atenção dobrada em relação a sua qualidade, no entanto, em muitos deles, a água encontra-se contaminada, pelo fato receberem grande carga de poluentes, principalmente aqueles que atravessam perímetros urbanos, os quais tem relação mais próxima com a população local (MADRUGA et al., 2008 e CALISTTO et al., 2002). Contudo, eles desempenham um importante papel no abastecimento das cidades e são importantes na vida dos seres vivos, pois através deles é possível que as sociedades se desenvolvam e se ampliem (BUZANELLO, 2008 e SOUZA et al. 2014) além de agir como propriedade reguladora de temperatura, diluindo sólidos e transportando nutrientes e resíduos por vários órgãos que a torna indispensável para a vida (DOZZO, 2011). Dessa forma, a provisão de água doce de boa qualidade é necessária para os seres humanos como também dos animais e vegetais (SIQUEIRA; APRILE; MIGUÉIS, 2012). Segundo Sousa (2014), a qualidade da água é aspecto imprescindível para o abastecimento humano, pois, este tem sofrido restrições importantes provenientes das ações naturais e antrópicas, que resultam na alteração dos aspectos de qualidade e quantidade de água disponível para o uso dos seres vivos em geral. A maioria dos rios está sofrendo degradação através do assoreamento, da retirada da mata ciliar e da poluição de suas águas por meio do lançamento de esgotos e galerias não tratadas (BRASIL, 2013 e SANTOS, 2008). Além do acelerado crescimento populacional que tem gerado ocupação de espaços impróprios para a implantação de moradias, ocasionando como consequência a redução da qualidade da água dos rios e mananciais (RIBEIRO, 2009) como também por processos naturais, dos quais podem ser citados: o aumento da densidade populacional, a influência de marés e a precipitação pluviométrica em certas épocas do ano (CUNHA et al., 2004). Esta pesquisa faz-se necessária por possuir relevância econômica, social e cultural para a população local, pois, resultará em dados importantes sobre a qualidade da água, sendo que estes poderão contribuir na viabilização de políticas públicas que venha favorecer a preservação desse ecossistema. Além disso, ela objetiva avaliar a qualidade microbiológica das águas do Rio Parnaíba no perímetro urbano do município de Floriano, através de técnicas microbiológicas para coliformes fecais e totais e Escherichia coli. MATERIAL E MÉTODOS Tipo de pesquisa Trata-se de um estudo observacional, quantitativo e transversal que adotou uma pesquisa descritiva de caráter exploratório, pois segundo Cervo e Bervian (2002) nesse tipo de pesquisa observam-se, analisam-se e correlacionam-se os fatos sem que haja uma modificação destes. 138


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Área de estudo O campo de pesquisa consistiu em três pontos do Rio Parnaíba localizados no perímetro urbano do município de Floriano/PI, a uma latitude 60º46’01” sul e longitude 43º01’21” oeste (IBGE, 2008)(Ponto 1- Local de balnearidade 2 km do Cais da Beira Rio; Ponto 2 Cais da Beira Rio; Ponto 3-Ponte Floriano/Barão de Grajaú). Estes foram escolhidos por serem pontos de balnearidade e por terem galerias sendo lançadas próximo a eles. Amostra As amostras de água foram obtidas através de duas coletas efetuadas conforme recomendações técnicas e com assepsia, a primeira delas utilizou-se o sistema Colillert e a segunda foi feita com a técnica de meios de cultura (Caldo Lactosado; Caldo Verde Brilhante; Ágar EMB e Ágar MacConkey). Na primeira coleta foram usados 3 frascos de plástico esterilizados, um para cada ponto (Ponto 1- Local de balnearidade 2 km do Cais da Beira Rio; Ponto 2 Cais da Beira Rio; Ponto 3-Ponte Floriano/Barão de Grajaú) e na segunda coleta foram utilizados 9 erlenmeyer de vidro autoclavável onde foram usados 3 erlenmeyer para cada ponto (os mesmos pontos da primeira coleta). Instrumentos e Procedimentos de Coleta de Dados O processo de trabalho iniciou com a parte descritiva e exploratória da pesquisa, em seguida foram feitas as coletas. A primeira coleta de amostras ocorreu no final do período seco (mês de outubro de 2015), em três pontos específicos do rio, e a segunda ocorreu no início das primeiras chuvas (mês de janeiro de 2016). Após o processo de coleta das amostras, foi adicionado em cada frasco o reagente Colilert (sistema patenteado por IDEXX Laboratories) em seguida, as amostras foram acondicionadas em isopor com gelo e levadas ao laboratório, onde foram colocadas em uma estufa bacteriológica por 24 horas à 35º C. Após esse período, foi observada a coloração de cada frasco para detectar a presença ou ausência de coliformes totais através da coloração amarela e E. coli através da característica de fluorescência na presença de luz ultravioleta a 365 nm. Iniciadas as primeiras chuvas foi realizada a segunda coleta, onde coletaram-se 9 amostras em erlenmeyer (3 em cada ponto) em seguida foram levados ao laboratório para realização da técnica para a análise microbiológica. Iniciou-se com o teste presuntivo, onde foram inseridos 1 ml da amostra nos tubos contendo caldo lactose pela técnica de tubos múltiplos. Em seguida, os tubos foram incubados na estufa durante 24-48 horas e, passado esse tempo, foi observado quantos apresentaram reação positiva através do aspecto turvo ou pela formação de gás nos tubos de Durhan e negativa se não houver modificação. 139


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Logo após foi realizado o teste confirmativo, onde o material dos tubos contendo Caldo Lactose foi inserido nos tubos contendo Caldo Verde Brilhante, depois foram levados para estufa por 48 horas, em seguida, foi determinado o NMP pela combinação formada pelo número de tubos positivos. Para o teste seletivo e determinação de Escherichia coli, foi inserida com o auxílio da alça de platina amostras dos tubos positivos com o Caldo Verde Brilhante em placas de Petri, contendo Ágar EMB e Ágar MacConkey, as quais foram acondicionadas na estufa por 48 horas, depois foi verificada a formação de colônias. Depois desse processo, iniciou-se o preparo e coloração das lâminas bacteriológicas. Após preparadas, as lâminas foram observadas ao microscópio óptico nas objetivas de 40X e 100X. Procedimentos de Análise dos Dados Mediante as observações ao microscópio óptico, foram analisados os seguintes aspectos: a cor (sendo que a gram positiva são as que apresentarem coloração azul ou violeta e gram negativa para as que apresentam coloração vermelha), o formato (sendo as de formato de bastão são os bacilos e as arredondadas são os cocos) e o arranjo das bactérias presentes nessa amostra. Todos os processos de preparação e análise foram realizados nos laboratórios de saúde da Faculdade de Ensino Superior de Floriano- FAESF.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados da primeira coleta foram positivos tanto para coliformes totais quanto para Escherichia coli, pois nas amostras contendo o sistema Colilert (sistema patenteado por IDEXX Laboratories), após 24 horas de incubação a 35º C, foi observada mudança de coloração. A amostra produziu uma reação de cor amarelo visível (Figura 1), que é considerada como reação positiva para coliformes totais (IDEXX, 2016). Figura 1- Amostras contendo Colilert, com coloração amarelada

Fonte: Dados empíricos relacionados à pesquisa (2016) 140


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Ao serem examinados com fluorescência usando lâmpada de ultravioleta de longo comprimento de onda (365nm), observou-se uma característica de fluorescência (Figura 2), determinando positividade para presença de E. coli (IDEXX, 2016). Figura 2- Amostras contendo Colilert, submetida à luz ultravioleta

Fonte: Dados empíricos relacionados à pesquisa (2016) A água poluída é considerada aquela em que se observa a presença de substâncias tóxicas, detritos, ou agentes causadores de doenças, e dessa forma, não se encontra propicia para o consumo humano (PUPILE; CARVALHO; MONTEIRO, 2010). Pesquisas mostram que o lançamento de esgotos é uma das formas mais comuns de poluição dos rios e tem como consequências a contaminação microbiológica do ecossistema afetado, além de alteração da biodiversidade, gerando também a eutrofização e a deposição de resíduos, o que pode causar enfermidades nos seres vivos que de alguma forma tem contato com essa água (MARTINS; FROEHNER, 2008). Por meio dos resultados, foi possível determinar o NMP através das amostras coletadas nos pontos 1, 2 e 3 localizados no perímetro urbano do Rio Parnaíba, alguns destes encontram-se igual e acima do limite aceitável de contaminação, ou seja, > 1100 (Tabela 1). Tabela 1- Distribuição de Números Mais Prováveis (NPM) de micro-organismos encontrados nas amostras das águas do Rio Parnaíba no perímetro urbano de Floriano – PI Amostras

Número de tubos positivos Volume do produto por tubo (ml)

NMP por ml da amostra

10-1

10-2

10-3

P1

3

3

1

460

P2

3

3

2

1100

P3

3

3

3

> 1100

Fonte: Dados empíricos relacionados à pesquisa (2016) 141


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Comparando os índices de NMP/100 ml obtidos nas amostras dos três pontos, observou-se que em todos os pontos há presença de coliformes fecais. Os resultados obtidos no ponto 1 apresentou quantidades inferiores ao limite máximo permitido, o fato pode ser explicado por não haver despejo de galerias próximas ao local como acontece nos outros pontos analisados. Em contrapartida, os pontos 2 e 3 obtiveram índices que se igualaram e superaram 1.100 coliformes fecais/100 ml respectivamente, contagem máxima admitida pela Resolução nº 357 do CONAMA para balnearidade. A elevada presença de coliformes nas amostras pode ser justificada pelo fato de que esses pontos consistem em locais do despejo de duas galerias de efluentes domésticos e hospitalar. A qualidade da água é a combinação de muitos processos que ocorrem ao longo do curso da água. As contaminações nesses ambientes se proliferaram não só pela transformação das sociedades urbano-industriais, mas também na produção de bens de consumo, o que, consequentemente, gera destruição e produção de lixo (PEREIRA; LIMA, 2007). Os ecossistemas aquáticos são geralmente contaminados por efluentes e lixo industrial ou doméstico, esses transportam uma série de microrganismos patogênicos ou não que são utilizados como indicadores de poluição, podendo ser classificados em coliformes totais e coliformes fecais, bem como bactérias heterotróficas (DOZZO, 2011). Dessa forma, a água consumida deve estar dentro dos padrões de potabilidade adequados, sendo essa uma questão relevante pelo fato de que através disso pode se constituir uma ação eficaz na prevenção de doenças veiculadas pela água (ALMEIDA et al, 2004). Diversos problemas de saúde têm sido associados ao consumo de água contaminada por agentes biológicos ou físico-químicos. Assim, algumas epidemias têm como fonte de infecção a água contaminadas, tendo muitas delas uma elevada taxa de mortalidade em indivíduos com baixa resistência, especialmente em idosos e crianças menores de cinco anos (SILVA; ARAÚJO, 2003). Uma pesquisa feita por Castro (2012) também no Rio Parnaíba, mostrou que nos pontos analisados, as amostras tiveram o número de coliformes fecais/100ml maiores que o permitido e também foi observado a presença da Escherichia coli. Resultados acima do limite permitido foram encontrados em estudos realizados com água de outros rios brasileiros. Nesse sentido, Moura et al., (2009), ao monitorarem microbiologicamente a água do Rio Cascavel (PR), também demonstraram altas taxas de contaminação por coliformes totais e coliformes termotolerantes. Rodrigues et al., (2009), analisando 18 amostras de água do Rio Piracuama, em Pindamonhangaba (SP), encontraram índices elevados de contaminação para coliformes totais e termotolerantes. Além desses pode-se citar também Almeida et al., (2004) no Córrego Ribeirão dos Porcos (ES), onde foram feitas 24 amostras de água de 6 pontos distintos, sendo feitas 4 coletas de cada ponto, em duplicatas, suas análises microbiológicas indicaram níveis elevados de coliformes fecais e totais, ele observou os maiores índices de poluição com coliformes fecais, nos pontos localizados na zona urbana, onde o córrego recebe efluentes domésticos e industriais; 142


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Buzanello et al., (2008) em um Lago Municipal de Cascavel (PA) também demonstrou resultados elevados para coliformes fecais e totais. Nas amostras de água do Rio Parnaíba também foi observado o crescimento microbiano em placas de Ágar EMB através de colônias pequenas e esverdeadas, com brilho metálico e geralmente com centros mais escuros (Figura 3). Esse resultado, de acordo com critérios definidos por Ribeiro et al., (2009), é indicativo de presença de Escherichia coli. Além disso, na avaliação por microscopia óptica foi evidenciada a presença de inúmeros bastonetes e cocos tanto gram-negativos quanto gram-positivos. Figura 3- Crescimento microbiano em placas contendo Ágar EMB

Fonte: Dados empíricos relacionados à pesquisa (2016) Os resultados encontrados neste estudo demonstram que a água do Rio Parnaíba está imprópria para consumo, pois de acordo com a portaria nº 518 do Ministério da Saúde, a água para o consumo humano deve estar livre de Escherichia coli ou coliformes fecais, com ausência em 100 ml ou positividade de no máximo 5% para coliformes totais. Ademais, os resultados indicam que provavelmente as residências e os estabelecimentos comerciais e hospitalares, que são fontes poluidoras do rio não atendem aos padrões de lançamento de efluentes previstos no artigo 24, do capítulo IV, da Resolução nº 357/05 do CONAMA. Essa institui que os efluentes de qualquer fonte poluidora devem passar por um tratamento, obedecendo às condições, padrões e exigências dispostas nessa mesma resolução, antes de ser lançados direta ou indiretamente nos corpos de água. Um projeto coordenado pela professora de Microbiologia da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) Francisca Lúcia de Lima na Cidade de Teresina, mostrou que Rio Parnaíba esta infestado de bactérias resistentes a desinfetantes oriundas da rede hospitalar de Teresina, que são despejadas diretamente no rio pela rede de esgoto sem nenhum tratamento (LIMA, 2011). Outra pesquisa no Rio Parnaíba mostra por meio de seus resultados que suas águas necessitam de medidas urgentes que visem melhorias no tratamento dos efluentes lançados ao rio, assim como na fiscalização das estações de tratamento das indústrias localizadas no meio 143


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urbano da cidade de Teresina-PI, pois algumas alterações foram encontradas em parâmetros essenciais, como E-Coli e outros (CARVALHO, 2012). Corroborando com esses resultados, em outras pesquisas as águas de rios analisadas também sofriam fortes impactos em relação à qualidade pelo grande lançamento de esgotos domésticos que aumentam a presença de coliformes totais e fecais nesses ecossistemas. Nesse contexto, Oliveira et al., (2002) na cidade de São Lourenço do Sul-RS e Vasconcelos et al., (2006) também na cidade de São Lourenço demonstraram que o NMP de coliformes termotolerantes aumenta à medida que o manancial recebe efluentes. CONCLUSÃO O presente trabalho consistiu em um diagnóstico preliminar sobre as condições microbiológicas das águas do Rio Parnaíba no perímetro urbano do município de Floriano. Através deste, foi possível demonstrar em hipótese inicial que as águas do Rio Parnaíba em determinados pontos não atendem aos padrões pré-estabelecidos, pois apresentou índices superiores ao limite mínimo permitido para coliformes fecais e totais, o que caracteriza a água como imprópria para o consumo. Os dados obtidos mostram que o Rio Parnaíba vem sofrendo impacto em suas águas em decorrência da entrada de efluentes não tratados, pois através de análises laboratoriais foi comprovada a contaminação de coliformes totais e fecais, como também E. coli. Dentro desse contexto, é necessário preservar as fontes de água, evitando a entrada de esgotos sem tratamento, como também por meio de implantação de técnicas de tratamento de efluentes na cidade, bem como a busca e a cobrança de desenvolvimento de políticas públicas que visem ao monitoramento e a fiscalização para que haja preservação dos ecossistemas aquáticos. Além disso, trabalhar com a educação ambiental buscando a participação da população para a preservação desse ecossistema. REFERÊNCIAS 1 ALMEIDA, R. M. A. A. et. al.. Qualidade Microbiológica do Córrego “Ribeirão dos Porcos” no Município do Espírito Santo do Pinhal – SP. Eng. Ambiental, Espírito Santo do Pinhal, v.1, n.1, p. 051-056, jan./dez., 2004. 2 BRASIL, FUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE E O ECOTURISMO DO ESTADO DO PIAUÍ – FUNPAPI. 2013. Disponível em: http://www.mma.gov.br, acesso em: 02/11/15. 3 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Resolução nº 357, de 17 de março de 2005. http://www.mma.gov.br Acesso em: 05/01/2016. 4 ________. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico. 144


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Brasília: IBGE, 2008. Disponível em: //www.ibge.gov.br, acesso em: 05/01/16. 5 ________. Ministério da Saúde. Portaria MS n.º 518/2004. Disponível em: http://bvsms. saude.gov.br. Acesso em: 05/01/2016. 6 BUZANELLO; E. B. et al. “Determinação de Coliformes Totais e Termotolerantes na Água do Lago Municipal de Cascavel, Paraná”. Revista Brasileira de Biociências. Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 59-60, 2008. 7 CALISTTO, M; FERREIRA, W. R; MORENO, P; GOULART, M.; PETRUCI, M. Aplicação de um protocolo de avaliação rápida da diversidade de habitats em atividades de ensino e pesquisa (MG-RJ). Acta Limnológica Brasileira. v.14. p. 91-98, 2002. 8 CARVALHO, VICTOR FABRÍCIO MAGALHÃES. Análise da Qualidade das Águas do Rio Parnaíba no Meio Urbano da Cidade De Teresina-PI, Anais do XV Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 2012. Disponível: http://sis.ufpi.br. Acesso em: 02/04/2016. 9 CASTRO, EMÍLIO FRANNY COELHO. ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS E MICROBIOLÓGICAS DO RIO PARNAÍBA NO PERÍODO CHUVOSO - EM FLORIANO/PI. 2012. 35 f. Monografia (Conclusão do Curso de Bacharel em Farmácia) – Faculdade de Ensino Superior de Floriano – FAESF. Floriano-PI. 2012. 10 CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. 11 CUNHA, A. C,;CUNHA, H. F. A,;JÚNIOR, A. C. P. B,; DANIEL, L. A.; SCHULZ, H.E. Qualidade microbiológica da água em rios de áreas urbanas e periurbanas no baixo amazonas: o caso do Amapá. Engenharia Sanitária e Ambiental. v. 9, p. 322-328, 2004. 12 DOZZO, A. D. P. Análise Microbiológica da Qualidade de Água para Consumo Animal. 2011. 74 f. Dissertação (Mestrado em Produção Animal Sustentável)- Instituto de Zootecnia. Nova Odessa-SP. 2011. 13 HAMADA, E., MEDEIROS, G. A., FILIZOLA, H. F. et al. Workshop sobre Água, Agricultura e Meio Ambiente no Estado de São Paulo: relatos e considerações. Engenharia Ambiental: pesquisa e tecnologia, Espírito Santo do Pinhal, v. 1, n. 1, p. 77-84, 2004. 14 IDEXX LABORATORIES. Disponível em:www.idexx.com. Acesso em 05/01/ 2016. 15 LIMA, FRANCISCA LÚCIA. Reportagem: Águas do Parnaíba contaminadas por bactérias resistentes a desinfetantes. Sapiência. ISSN: 1809-0915. Teresina-PI, Setembro de 2011 • Nº 28 • Ano VIII. Disponível em: http://www.fapepi.pi.gov.br. Acesso em: 02/04/16.. 16 MADRUGA, F. V., REIS,F. A. G. V., GIORDANO, L. C.; MEDEIROS, G. A. Avaliação da influência do Córrego dos Macacos na Qualidade da Água do Rio Mogi Guaçu, no município de Mogi Guaçu–SP. Engenharia Ambiental. v. 5, p. 152-168, 21 17 MARTINS, R. F.; FROEHNER, S. Avaliação da composição química de sedimentos do Rio Barigüi na região metropolitana de Curitiba. Química Nova. v. 38, p. 2010-2020, 2008. 18 MILLER, G. T. Ciência Ambiental. 11 ed. São Paulo: Cengage Learning, 2007. p. 02-12 e 111-112. 145


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19 MOURA, A. C.; ASSUMPÇÃO, R. A. B.; BISCHOFF, J. Monitoramento físico-químico e microbiológico da água do Rio Cascavel durante o período de 2003 a 2006. Arquivos do Instituto Biológico. v. 76, n. 1, p. 17-22, 2009. 20 OLIVEIRA, M. D. et.al. Qualidade da água em corpos d´água urbanos das cidades de Corumbá e Ladário e no rio Paraguai, MS. Circular Técnica, Corumbá, n.36, p.3- 5, 2002. 21 PEREIRA, P. de A.; LIMA, O. A. L. Estrutura elétrica da contaminação hídrica provocada por fluidos provenientes dos depósitos de lixo urbano e de um curtume no município de Alagoinhas, Bahia. Revista Brasileira de Geofísica, v. 25, n. 1, 2007. 22 PUPILE, T.; CARVALHO, E. M.; MONTEIRO, P. L. A. Parâmetros Microbiológicos da Água de Escolas do Município de Rio Brilhante (MS), Segundo a Portaria n° 518. Interbio. v. 4, n.1, p. 41-47. 2010. 23 RIBEIRO, C.M.; BEZ-BATTI, E. C.; YAMANE, A.T.; BRUZAMOLIN, R. H.; PASTORIO, S. C.; CHIAMOLERA, L.; FREITAS-LIDANE, K. C. Análise Microbiológica do Rio Belém, Curitiba-PR. Cadernos da Escola de Saúde. Curitiba. v. 02. p. 1-11, 2009. 24 RODRIGUES, J. R. D. D.; JORGE, A. O. C.; UENO, M. Avaliação da qualidade das águas de duas áreas utilizadas para recreação do rio Piracuama-SP. Revista Biociências, Taubaté, v. 15, n.2, p. 88-94, 2009. 25 SANTOS, O. I. B. Identificação e Análise dos Impactos Locais e Regionais da Introdução da Produção de Biodisel no Estado. 2008. 128 f. Dissertação (Mestrado em Agronegócios)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Campos de Porto Alegre, RS. 2008. 26 SILVA, R. C.; ARAÚJO, T. M. Qualidade da água do manancial subterrâneo em áreas urbanas de Feira de Santana (BA). Ciência & Saúde Coletiva. v. 8, n. 4, p. 1019-1028, 2003. 27 SIQUEIRA, G. W.; APRILE, F.; MIGUÉIS, A. M. Diagnóstico da qualidade da água do rio Parauapebas (Pará – Brasil). Acta Amazônica. V. 42, n. 3, p. 413 – 422, 2012. 28 SOUZA, A. V. V.; OLIVEIRA, S. M. L. Análise da qualidade da água do rio vermelho em mato grosso: no período de cheia no ano de 2014. Biodiversidade. v.13, n. 2, p. 115-126, 2014. 29 SOUZA, J. R.; MORAES, M. E. B.; SONODA, S. L.; SANTOS, H. C. R. G. Artigo a Importância da Qualidade da Água e os seus Múltiplos Usos: Caso Rio Almada, Sul da Bahia, Brasil. Revista Eletrônica do Prodema, v.8, n.1, p. 26-45, 2014. 30 VASCONCELOS, F. C. S.; IGANCI, J. R. V.; RIBEIRO, G. A. Qualidade microbiológica da água do rio São Lourenço, São Lourenço do Sul, Rio Grande do Sul. Arquivos do Instituto Biológico, v. 73, n. 2, p.177-181, 2006.

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IMPLANTAÇÃO DE VIVEIRO NATIVO DE PLANTAS EM GUADALUPE-PI: VIGUA-CEEPRU HÉLVIA DE ALMEIDA SANTOS¹ CÍCERO QUIRINO DA SILVA NETO² RESUMO Viveiros nativos ou florestais são áreas com um conjunto de benfeitorias e utensílios, emque se empregam técnicas visando obter o máximo da produção de mudas. A produção de mudas e seu manejo adequado tornam-se, portanto de extrema importância, uma vez que é através dessas mudas que se terá uma floresta no futuro, seja qual for a finalidade. Sua importância acompanha a qualidade de vida da população e a diminuição os problemas ambientais. O objetivo da realização deste trabalho foi a implantação de um viveiro de mudas florestais nativas exóticas para a recuperação de áreas degradas na cidade de Guadalupe-PI, bem como a arborização local. A área escolhida para implantação do viveiro está localizada na escola (Centro Estadual Educacional Profissional Rural Frei José Apicella (CEEPRU). A produção de mudas tanto para reflorestamento e recuperação de áreas degradadas como para arborização urbana, vem sofrendo um aumento crescente em sua demanda devido à preocupação mundial com a preservação do meio ambiente. Palavras-chave: viveiros; recuperação de área ;produção de mudas. __________________________ 1 Bióloga Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI. Especialista em Administração Municipal Ambiental- CESPI/FAPI, Psicopedagoga Institucional e Clinica- Fadesb, Email: helviaalmeida@hotmail.com 2 Biólogo Especialista em Biodiversidade e Conservação pela Universidade Estadual do Piauí, – UESPI. Email: cquirino07@hotmail.com 3 Mestre e Especialista em Saúde da Família-UNINOVAFAPI. Email: teresa_alcantara@yahoo.com 4 Doutora em Ciências Animal-UFPI. Email: coordbiodiversidade@gmail.com

INTRODUÇÃO A consciência a respeito da problemática ambiental cresceu significativamente nos últimos anos. Assim, questões como desmatamento, manejo sustentável e conservação de florestas passaram a ter grande destaque, inclusive na mídia internacional (NARDELLI, 2001). Desse modo, houve valorização dos plantios florestais comerciais, pois se constituem em alternativa sustentável ao fornecimento de madeira, em vista de fornecerem produtos de qualidade e com grande produtividade, para diferentes usos. Porém, como outras atividades antrópicas, os plantios florestais comerciais causam impactos ambientais negativos. Assim, segundo Accacio 147


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et al. (2003), deve-se reconhecer que, quando provocarem principalmente substituição e, ou, fragmentação de habitats nativos, os maciços florestais estarão contribuindo para acelerar taxas de extinção de populações e, consequentemente, de espécies, dadas as perturbações criadas. A conservação da biodiversidade representa um dos maiores desafios do final do século. A falta de conscientização da população sobre as problemáticas ambientais e suas consequências gradativas, tem ocasionando uma redução drástica das espécies arbóreas nativas do cerrado, prejudicando mananciais com a degradação. As maiores partes dos remanescentes florestais se encontram na forma de fragmentos isolados, poucos conhecidos e poucos protegidos (VIANA; PINHEIRO, 1998). Os programas de reflorestamento dão especial atenção para espécies nativas para recomposição da cobertura vegetal, pois, contribuem para conservação da biodiversidade regional, protegendo e/ou expandindo as fontes naturais da diversidade genética da flora e fauna para perpetuação das espécies. Pois é enorme a diversidade de ambientes, bem como as características de autoecologia das espécies utilizadas, aliadas às condições abióticas locais, como precipitação, temperatura e umidade (CORTES, 2012). A produção de mudas nativas é uma atividade empresarial rentável e cada vez mais surgem viveiros com perfil comercial buscando conquistar esse mercado (LEMOS & MARANHÃO, 2008). Atualmente o principal uso das mudas nativas está voltado à recuperação e restauração de áreas degradadas e reflorestamento, tanto em áreas urbanas quanto rurais e em menor escala utilizam-se mudas nativas para ornamentação e arborização de espaços urbanos. A operacionalização de um viveiro para produção de mudas de espécies nativas, requer um planejamento prévio, as espécies geralmente possuem um sistema radicular bem desenvolvido, isso significa que estas espécies não podem permanecer por muito tempo no viveiro, podendo resultar no processo de mama, que muitas vezes prejudica o desenvolvimento da muda após o plantio definitivo. Diante disso, essa pesquisa tem como objetivo a implantação de um viveiro de mudas florestais nativas exóticas para a recuperação de áreas degradas bem como a arborização local.

MATERIAL E MÉTODOS Área de Implantação Guadalupe é um município brasileiro do estado do Piauí. Localiza-se à latitude 06º47’13 sul e à longitude 43º34’09” oeste, estando à altitude de 177 metros. Possui área territorial de 1019.645 km². Localização: A área escolhida para implantação do viveiro está localizada na escola (Centro Estadual Educacional Profissional Rural Frei José Api148

Figura 1: Centro Educacional onde o projeto foi desenvolvido. Fonte: dados da pesquisa 2016.


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cella (CEEPRU), como mostra a figura 1, a escola fica localizada na BR 135 a 8 Km da cidade de Guadalupe. O viveiro detém uma área total de Aproximadamente 10 m2sendo este de área útil dos canteiros e o restante compreendendo. O processo de produção de plantas segue diversas etapas que estão interligadas. Descrição do sistema de preparo e produção dos viveiros Armação e montagem Escritório: Onde serão armazenadas todas as informações referentes á produção e distribuição das mudas. Depósito para armazenamento de ferramentas e equipamentos: onde será guardado as ferramentas e equipamentos utilizados no viveiro. Ripadas: com finalidade de proporcionar base para os sombrites, construção muito simples são duráveis e tem um baixo curto. Substratos: material natural, orgânico que vai proporcionar condições favoráveis para o desenvolvimento do sistema radicular. O substrato exerce a função do solo, fornecendo a planta, sustentação nutrientes, água e oxigênio.O substrato vai ter várias origens animais minerais, humos restos de vegetal, e de boa drenagem, retenção de umidade. A semeadura será feita direta no recipiente.Esse processo é usado, principalmente para espécies de germinação rápida, feita em sacos plásticos, e de fundo aberto para facilitar drenagem e formação da muda impedindo o enovelamento das raízes.Uma vez germinadas e formadas as mudas, passará por uma seleção, onde serão retiradas as mudas defeituosas e dentes. Irrigação: será feita por aspersão, onde os fertilizantes serão adicionados a água, e direcionados a área plantada, por meio de micro aspersores. A irrigação visa, sobretudo, suprir as necessidades hídricas das plantas. Não funciona em separado, mas integrada outras práticas agrícolas de forma a beneficiar a cultura e o produtor em particular. É necessária em regiões onde o regime pluvial não atende às necessidades das plantas durante todo o seu ciclo ou em parte dele, permitindo ampliar o tempo de exploração, o número de colheitas ou ainda melhorar a produção já existente (Simão, 2002). Conforme Wendling (2002), as instalações e os equipamentos utilizados em um viveiro florestal variam de acordo com a tecnologia utilizada, local, espécies a serem produzidas, tamanho do viveiro etc. Entretanto, os mais comuns são: - Ferramentas e utensílios: Pás (quadrada e de concha), sacho, machado, enxada, enxadão, foice, facão, serrote, martelo, alicate, torquês, tesoura de poda e podão, chaves de boca, de fenda, de cano, ancinho, lima, regadores, baldes, mangueira plástica, peneiras. - Máquinas e equipamentos: Carrinho-de-mão, balança comercial, conjunto moto-bomba, pulverizador costal máquina para encher tubetes, máquina lavadora de tubetes, máquina para semeadura e misturador de substratos. 149


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- Outros materiais: Sistemas para irrigação, defensivos agrícolas registrados para uso, depósito de sementes, madeira para confecção de caixas, plásticos e sombrites para cobertura, grampos, pregos, arames, barbantes, adubo mineral e orgânico. Descrição das espécies O viveiro produzirá 10 espécies florestais diferentes que caracterizam pela melhor adaptação ao clima da região. As espécies foram: Jatobá, Pequi, Cajuí, Murici, Nim, Oití, Ipê, Amargoso, Aroeira, Angico como mostra a figura 2. Figura 2: Espécies florestais melhores adaptadas ao clima da região.

Fonte: dados da pesquisa 2016. Jatobá/ hymenea: Com altura entre quinze e trinta metros é um tronco que pode ultrapassar um metro de diâmetro.Suas folhas têm dois folíolos brilhantes com seis á quatorze centímetros. O fruto é um legume indeiscente, de casca bastante dura, com 3 sementes cada preenchendo por uma massa verde/amarelada. Pequi/ caryocar brasileiro: Árvore de até 10 m de altura com tronco tortuoso de casca áspera e rugosa as folhas pilosas são formadas por 3 folíolos com as bordas recortadas.Flores grandes amareladas que surgem durantes os meses de setembro. Os frutos são usados na culinária sertaneja, do pequi retira, se o ajeito os frutos consumidos cozidas. Cajuí/ Anacardium: O cajueiro é uma planta nativa do Brasil, que pertence à família Anacardium e ao gênero Anacardium. Esse gênero é constituído por 22 espécies encontradas principalmente nos biomas Amazônia, cerrado e catinga.A copa pode atingir 20m de altura sendo, mas comum entre 8 e 15m de altura com diâmetro de copa.O anão de precoce caracteriza-se pelo porte baixo raramente ultrapassa 5 a 8 metros.Do caju fabrica doces, sucos, vinho fermentado, polpas, caldos, geleias, xarope, refrigerante. Murici/ Brysonimacrossífolia: Sua altura média e de 6 a 16m suas folhas são simples lisos em torno de 13 cm. Suas flores em forma de cachos amarelos, seu fruto e pequeno, em torno de 0,8cm em cacho porem continuam de com verde.Suas sementes de cor marrom clara, esta árvore e frequentes regiões úmidas, usada em paisagismos. O fruto é pequeno e comestível de 150


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sabor ácido, fruta nativa do Nordeste brasileiro, regiões serranas e próximo ao litoral ao litoral foi descoberta em 1570 pelos indígenas, por saber e cheiros. Oití/ Licamia tomentosa: Espécie originária Mata Atlântica, é muito utilizada na arborização de várias cidades brasileiras, como o Rio de janeiro. O seu fruto é uma drupa elipsóide ou fusiforme, de casca amarela de verde quando madura, com cerca de doze a dezesseis centímetros de comprimento de polpa pastosa, pegajosa, amarelada, de com volumoso e oblongo. Nim/ AzadirachtaIndaca: São árvores de grande porte podendo atinge 30 m de altura e 2,5 diâmetros. Nativa de todo o subcontinente indiano, e resistente a seca.Seus frutos, folhas, sementes, casca e madeira tem diversas aplicações, tanto como fonte de matérias usados pela medicina, veterinária, cosmética, como na produção de adubos e no controle de pragas. Excelente no controle biólogo de diversas pragas de pragas e doenças que atacam plantas e animais do campo. Ypê/TaberbuiaCharysotricha: Com altura 30 metros, tronco reto ou levemente tortuoso e comprido possuído corpo alongado e alargado na base.Com folhas opostas, e de superfície verde escura e face interior acinzentadas, com folíolos em número de 5 a 7, possuindo de 7 de 18 em comprimento por 2 a 6 cm de largura. Armagoso/VataíraMacrocarpa: A madeira é indicada para construção civil, moveis, batentes, janelas, esquadrias, carvão, as flores são apícolas, a casca tem valor medicinal. A árvore extremamente ornamental quando em flor, pode ser empregada para arborização. Aroeira/SchinusMolle: É uma árvore pequena, que pode chegar a sete metro de altura, com caule tortuoso e casca vermelha escura. Flores verde amareladas, pequenos.E sua madeira pode ser utilizada para confecção de mourões, estios, trabalhos, obras hidráulicas e na construção cível. Angico Vermelho/ Parapiptadenia: Normalmente são árvore de média a grande porte, comuns de áreas abertas, no inverno perdem totalmente as folhas, sua madeira usada para construção civil, e compacta bastante dura, pouca elástica muito resistente e de grandes durabilidades sobre condições naturais.Tronco de 60-110cm de diâmetro com casca dura com ritidoma escamoso sementes achatadas, as plantas possuem características ornamentais que a recomenda para paisagismo. Descrição do processo de produção Obtenção de sementes:A semente é o principal fator no processo de produção de mudas nativas, esta representa um pequeno custo, observando-se o valor final da muda e tem importância fundamental, pois este é o primeiro passo para que um viveiro florestal possa construir um empreendimento de sucesso e, portanto uma atenção especial deve ser dada na escolha das sementes (MACEDO, 1993). Durante as etapas de coleta e beneficiamento ocorrem os maiores riscos das sementes sofrerem danos, perdendo a sua viabilidade (NOGUEIRA & MEDEIROS, 2007). Desta forma, 151


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torna-se necessário um planejamento abrangendo o momento certo para a realização da coleta de sementes e a escolha de um método de coleta e de extração de maior eficácia a fim de se obter sementes de boa qualidade e em quantidade suficiente. A falta de planejamento nos trabalhos de coleta de sementes também pode resultar na baixa diversidade de espécies no plantio. Canteiros: O canteiro é o local dentro do viveiro onde são colocadas as mudas em recipientes, até que estejam com tamanho suficiente para serem levadas para a rustificação (LEMOS & MARANHÃO, 2008). Características e composição do substrato: Segundo Lemos & Maranhão (2008), um substrato de qualidade deve ter boa drenagem, apresentar quantidade suficiente de matéria orgânica, e livre de agentes patógenos, como fungos e nematoides. Além destas Dias et al. (2006) também citam outras características desejáveis e necessárias para o desenvolvimento eficiente das mudas que o substrato deve reunir, entre elas estão: a retenção equilibrada de água, boa aeração e leveza, o substrato deve ter um nível baixo a médio de fertilidade, apresentar homogeneidade, capacidade de absorção de água e nutrientes, facilidade de manuseio, ser de fácil aquisição e não deve conter substâncias tóxicas às plântulas. O mesmo autor também relata que a escolha e o preparo do substrato são decisões importantes e difíceis de tomar, principalmente por não haver um substrato que seja ótimo e adequado às necessidades de todas as espécies. Manejo e produção de mudas: As mudas, sobretudo as menores devem ser manuseadas com todo cuidado, procurando segurá-las pelo recipiente não pela planta, já as mudas que estejam mais crescidas podem ser manuseadas, segurando-as pela base da planta (LEMOS & MARANHÃO, 2008) como mostra a figura 3. Para o transporte das mudas no viveiro utiliza-se o carrinho de mão, o que dinamiza bastante as atividades. Pode-se observar durante o estágio que atenção e cuidado são essenciais em todas as A B C D 46 operações de manuseio Figura 3: Produção das mudas. Fonte: dados da pesquisa 2016. das mudas para evitar que danos sejam causados às plantas. Semeadura: É quando a semente entra em contato com o solo, ou substrato que tem por objetivo para prover a germinação (LEMOS & MARANHÃO, 2008). Na figura 4 é mostrada a semente já germinando.

Figura 4; germinação das Sementes. Fonte: dados da pesquisa 2016. 152


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Preparo da área: Na escola do local para momento de instalação de canteiro devesse preparar a área para melhorar as propriedades física do solo. Para isso área será arado e gradeado. Fertirrigação:Afertirrigação consiste na fertilização combinada com a irrigação, isto é, os adubos minerais são injetados na água de irrigação para formar “água de irrigação enriquecida” (VITTI et al., 1994). No Brasil, a fertirrigação vem firmando-se como uma técnica muito promissora, principalmente entre os proprietários de sistemas de irrigação por métodos pressurizados (aspersão e localizada), porque, por meio deles, a água é conduzida e aplicada através de condutos fechados e sob pressão, permitindo melhor controle da aplicação (LEITE JÚNIOR, 2003). Rustificação das mudas: Antes do plantio definitivo, as mudas devem passar pela rustificação, trata-se de um processo de adaptação às condições adversas que as plantas vão encontrar no campo (LEMOS & MARANHÃO, 2008). A rustificação das mudas é necessária para se obter um alto índice de sobrevivência das mudas após o plantio em campo. No referido local de estágio utiliza-se a movimentação das mudas no viveiro e o corte gradual da irrigação no período que antecede o plantio para se conseguir a rustificação das mudas, devido aos seus custos e praticidade. Plantio das Mudas: A muda estará pronta para o plantio quando apresentar a haste e a região do colo com diâmetro do caule adequado, o que indica presença de substâncias de reserva nos tecidos internos da planta, que facilitará o início de seu estabelecimento em campo e formação de raízes rapidamente (DIAS et al., 2006). DISCUSSÃO A atual ameaça à biodiversidade decorre principalmente da expansão populacional humana e o aumento de consumo dos recursos naturais. Felizmente, em conjunto, podemos tomar medidas para proteger nossa rica biodiversidade (ALONSO et. al., 2001). Nesse sentido, criou-se a ciência da Biologia da Conservação, que foi desenvolvida em resposta à crise com a qual a diversidade biológica se confronta atualmente. O viveiro se caracteriza como um canteiro ou recinto próprio para semear vegetais ou cereais que depois serão transplantados (FERREIRA, 1986). Entretanto, alguns autores atribuem nas suas definições o verbo selecionar, pois creditam aos viveiros o fato de selecionarem vegetais com características superiores 1 e confiabilidade. Wendling e Gatto (2001) definiram os viveiros de mudas como locais capacitados a produzirem mudas de alta qualidade vegetal, oferecendo as condições necessárias de propagação e cultivo. São áreas destinadas à produção, manejo e proteção das mudas, proporcionando ao vegetal um bom local de desenvolvimento até o plantio definitivo. Para Gomes e Paiva (2006), os viveiros podem ser definidos como uma superfície de terreno, com características próprias, destinada à produção, ao manejo e à proteção das mudas, 153


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até que tenham idade e tamanho para que sejam transportadas ao local de plantio definitivo. Os autores afirmam ainda que somente desta forma torna-se possível fornecer às sementes e às mudas os cuidados especiais de que necessitam. O primeiro passo para que um viveiro florestal possa constituir um empreendimento de sucesso é a atenção especial na escolha das sementes. De acordo com Nogueira (2007), a produção de sementes de alta qualidade é muito importante para qualquer programa de produção de mudas voltado para plantios comerciais, restauração de áreas degradadas e conservação dos recursos genéticos. As sementes devem ser de boa qualidade genética e fisiológica. Devem ser colhidas em talhões com uma qualidade superior, representativos da espécie, com todas as técnicas de beneficiamento e armazenamento adequadas. Entretanto, a importância dos viveiros florestais não está apenas no seu caráter ambiental, ou seja, na produção de mudas utilizadas nos plantios, mas também tem seus reflexos econômicos e sociais, uma vez que esta atividade requer mão-de-obra, consequentemente, há geração de empregos e movimenta grandes valores no mercado financeiro, principalmente quando se trata dos viveiros mantidos pelas indústrias de papel e celulose (RODRIGUES; MOSCOGLIATO; NOGUEIRA, 2004) Em relação à sua classificação, os viveiros florestais distinguem-se quanto à propriedade, objetivo e longevidade (GOMES; PAIVA, 2006). • Quanto à propriedade: (i) Viveiros privados: pertencentes a um indivíduo, associação ou corporação; e (ii) Viveiros públicos: pertencentes às agências governamentais e instituições de ensino, que podem ser municipais, estaduais e federais. • Quanto ao objetivo: (i) Viveiros gerais: são aqueles que apostam na diversificação de espécies ou técnicas de propagação; e (ii) Viveiros específicos: neste caso há especialização de espécies ou técnicas. • Quanto à longevidade: (i) Viveiros florestais temporários: são aqueles que produzem mudas para determinada área, em curto período. Normalmente, são de menores dimensões, com instalações provisórias e rústicas, muitas vezes localizadas dentro da área a ser plantada; e (ii) Viveiros florestais permanentes: são destinados à produção de mudas durante longo período, tendo instalações definitivas, mais sofisticadas e onerosas. Uma infraestrutura básica para suporte da produção deve conter: escritório; banheiros (feminino e masculino); cozinha ou cantina; almoxarifado e área coberta em cima e dos lados para o trabalho em dias chuvosos; cômodo para guardar ferramentas; galpão para armazenamento de recipientes e adubos; e galpão para armazenamento de agrotóxico. E, ainda, dependendo do porte, do grau de sofisticação e da especificidade do viveiro, poderá ter estufas de enraizamento de estacas; casa de sombra para semeadura e posterior repicagem, ou aclimatação de espécies; pequeno laboratório para quebra de dormência em sementes, pesagem de adubos e defensivos e preparo de hormônios; laboratório para micro propagação; sementeiras, caixas de enraizamento; e sistema de irrigação (IEF, 2000).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Para Schafer e Dornelles (2000), a importância dos viveiros florestais não está apenas no seu caráter ambiental como “berçários florestais”, como demonstram Rodrigues, Moscogliato e Nogueira (2004), tampouco somente em sua importância econômica, como visto nas estatísticas do Mapa (2009). Sua importância reside ainda no conjunto econômico, ambiental e também social, uma vez que esta atividade gera empregos e possibilidade de renda, seja ela fixa ou sazonal, que induzem processos de desenvolvimento em suas comunidades. A produção de mudas e seu manejo adequado tornam-se, portanto de extrema importância, uma vez que é através dessas mudas que se terá uma floresta no futuro, seja qual for a finalidade.Com o acompanhamento no crescimento das mudas e o que se pôde concluir é que tudo que se refere ao cultivo exige cuidado. É necessário o cuidado diário das plantas e do viveiro, observando a germinação das sementes semeadas, verificando a umidade e insolação nas sementeiras. Verificar o desenvolvimento das plântulas repicadas. Verificar se há casos de herbívora e/ou doenças no viveiro. Retirar as plantas daninhas que crescem junto as mudas no mesmo recipiente. Verificar o sistema de drenagem e irrigação em está funcionando corretamente. A implantação de um viveiro de mudas nativas no município de Guadalupe é indispensável para sanar os danos causados pelo crescimento socioeconômico neste município , bem como fornecer as futuras gerações a oportunidade de conhecer a flora local que se encontra em processo de extinção. REFERÊNCIAS 1 ACCACIO, G. M. et al. Ferramentas biológicas para avaliação e monitoramento de habitats naturais fragmentados. In: RAMBALDI, D. M.; OLIVEIRA, D. A. S. (Orgs.). Fragmentação de ecossistemas: causas, efeitos sobre a biodiversidade e recomendações de políticas públicas. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2003. p.367-390 2ALONSO, A. et al. Biodiversity: Connecting with the Tapestry of Life. Washington, 2001, 32 p. 3 AMBIENTE BRASIL. Viveiros e Produção de Mudas. Disponível em: <http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./florestal/index.html&conteudo=./florestal/viveiros. html> Acesso em outubro de 2015. 4 BORTOLETO, S. Inventário Quali-quantitativo da Arborização Viária da Estância de Águas de São Pedro-SP. Piracicaba, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP, 2004. 99 p. (Dissertação de Mestrado). 5 CORTES, J. M. Desenvolvimento de espécies nativas do cerrado a partir do plantio de mudas e da regeneração natural em uma área em processo de recuperação, Planaltina – DF. 2012. 89 f, il. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) – Universidade de Brasília, 2012. 155


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6 DIAS, E. S.; KALIFE, C; MENEGUCCI, Z. R. H.; SOUZA, P. R. Produção de mudas de espécies florestais nativas: manual. Série rede sementes do pantanal. Campo Grande, ed. UFMS, 2006, p. 59. 7 FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. 8 FRISCH, J. D.; FRISCH, C. D. Aves Brasileiras e Plantas que as Atraem. 3. ed. São Paulo: DalgasEcoltec. 2005. 477 p. 9 GOMES, J. M.; PAIVA, H. N. de. Viveiros florestais (Propagação Sexuada). 3. ed. Viçosa: UFV, 2006. (Caderno didático, n. 72). 10 IEF- Instituto Estadual de Florestas. Diretoria de desenvolvimento florestal sustentável: viveiros florestais. Disponível em <http:// www.ief.mg.gov.br>. Acesso em 23 out. 2000. 11 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Cidades@. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em outubro de 2015. 12 LEITE JÚNIOR, J.B. Fertirrigação por gotejamento e seu efeito na cultura do café em formação. 2003. 108 f. Dissertação (Doutorado em Irrigação e Drenagem) - Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2003. 13 LEMOS, G. N.; MARANHÃO, R. R. Viveiros educadores: plantando vida. Brasília, DF, Ministério do Meio Ambiente, 2008. 14 LORENZI, H. Árvores Brasileiras. Nova Odessa: Plantarum, 1992. 368 p. 15 LORENZI, H. Árvores Brasileiras: Manual de Identificação e Cultivo de Plantas Arbóreas do Brasil. 2. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002. v. 2. 384 p. 16 LORENZI, H. B. Arvores brasileiras. Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas no Brasil. Nova Odessa: Ed. Plantarum, 1992. 360p. 17 MACEDO, A. C. Produção de mudas em viveiros florestais: espécies nativas. In: Paulo Y. Kageyama, Luiz G. S. da Costa. São Paulo, SP, Fundação Florestal, 1993. 18 MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Indicadores e estatísticas.Brasília, 2009. Disponível em: <www.agricultura.gov.br>. Acesso em: 27 jan. 2016. 19 MELLO, A. S. et. Al. Práticas em Botânica com Base na Vegetação de Porto Alegre, Morro São Pedro – Poa/RS. Porto Alegre. 2006. 55 p. 20 MENEGUETTI, G. I. P. Estudo de Dois Métodos de Amostragem para Inventário da Arborização de Rua dos Bairros da Orla Maritma do Município de Santos-SP. Piracicaba, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP, 2003. 115 p. (Dissertação de Mestrado). 21 MONICO, I. M. Árvores e Arborização Urbana na Cidade de Piracicaba-SP: Um Olhar Sobre a Questão à Luz da Educação Ambiental. Piracicaba, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP, 2001. 184 p. (Dissertação de Mestrado). 22 MURPHY, D. D. Desafios à Diversidade Biológica em Áreas Urbanas. In: NORTON, B. Mercadoria, Comodidade e Moralidade: os Limites da Quantificação na Avaliação da Biodiversidade. In: WILSON, E. O. Biodiversidade. Tradução Marcos Santos. Ed. Rio de Janeiro: 156


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Nova Fronteira, 1997. 635 p., il. Título Original: Biodiversity. 253-260 p. 23 NARDELLI, A. M. B. Sistemas de certificação e visão de sustentabilidade no setor florestal brasileiro. 2001. 121f. Tese (Doutorado em Ciência Florestal) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2001. 24 NOGUEIRA, A. C.; MEDEIROS, A. D. S. Extração e beneficiamento de sementes florestais nativas. Embrapa Florestas. Circular técnica, v.131, 2007. 25PAVLOVIC, N. B. Disturbance-dependent Persistence of Rare Plant: Anthropogenic Impacts and Restoration Implications.In: BOWLES, M. L.; PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da Conservação. Londrina, 2001. 328 p. 26 REITZ, R.; KLEIN, R. M.; REIS, A. Projeto Madeira do Rio Grande do Sul. Itajaí: Sellowia, 1983. 54 p. (Anais Botânicos do Herbario “Barbosa Rodrigues” N° 34-35). 27 RAY, G. C. Diversidade Ecológica em Zonas Costeiras e Oceanos. In: SILVA, L. F. da. Situação da Arborização Viária e Proposta de Espécies para os Bairros Antônio Zanaga I e II, da Cidade de Americana-SP. Piracicaba, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP, 2005. 81 p. (Dissertação de Mestrado). 28 RODRIGUES, E. R.; MOSCOGLIATO, A. V.; NOGUEIRA, A. C. Viveiros “Agroflorestais” em assentamentos de reforma agrária como instrumentos de recuperação ambiental: um estudo de caso no Pontal do Paranapanema. Cad. biodivers. v. 4, n. 2,dez. 2004. 29 SCHAFER, G.; DORNELLES, A. L. C. Produção de mudas cítricas no Rio Grande do Sul: diagnóstico da região produtora.Ciência Rural, Santa Maria, v. 30, n. 4, p. 587-592, 2000. 30 SIMÃO, A. H. Influência da percentagem de área molhada no desenvolvimento da cultura da bananeira irrigada por microaspersão. Viçosa – M. G., 2002 80p. Tese (Mestrado em Engenharia Agrícola) Universidade Federal de Viçosa, 2002. 31 VITTI, G.C.; BOARETO, A.E.; PENTEADO, S.R. Fertilizantes e fertirrigação. In: VITTI, G.C.; BOARETO, A.E. Fertilizantes fluidos. Piracicaba: Potafos, 1994. p.261- 281. 32 WENDLING, I.; GATTO, A. Planejamento e Instalação de Viveiros. Viçosa: Aprenda Fácil, 2001. 120 p. 1 v. 33 WIKIPEDIA. Viveiro. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Viveiro_(plantas)> Acesso em outubro de 2015. 34 WILSON, E. O. Biodiversidade. Tradução Marcos Santos. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. 635 p., il. Título Original: Biodiversity.

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DESTINO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE CANTO DO BURITI, ESTADO DO PIAUÍ Hérlia Maria da Silva1 Fernanda Samara Barbosa Rocha2 RESUMO Este artigo apresenta uma pesquisa desenvolvida em seis bairros, um hospital e seis Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Canto do Buriti/PI. A pesquisa tem uma abordagem qualitativa e quantitativa com alcance descritivo, tendo como objetivo identificar a atual situação da destinação dos resíduos sólidos no município. Para alcançar esse objetivo, utilizouse como procedimento o questionário semiestruturado para esclarecer sobre como ocorre à destinação dos resíduos nos locais entrevistados. Este estudo informa a população sobre os impactos ambientais provocados pela má disposição destes resíduos e as possíveis soluções para este problema. Constatamos que a falta de conscientização e educação ambiental da população acaba poluindo toda região, provocando assim vários problemas como a atração de vetores que podem transmitir doenças, contaminação do solo e dos lençóis freáticos, alagamentos e inundações em períodos de chuva, prejuízos ao turismo local, aumento dos gastos públicos com limpeza urbana entre outros fazendo com que não só o meio ambiente seja prejudicado, mas também a saúde da própria população. Palavras-chave: Coleta. Doenças. Lixo. Reciclagem.

1 INTRODUÇÃO Um dos maiores problemas ambientais da sociedade é o destino final do lixo, o qual traz graves consequências ao homem tanto em relação à saúde pública quanto ao meio ambiente devido ao descarte incorreto que é feito com o mesmo (COSTA; RODRIGUES, 2014). O descarte incorreto do lixo está diretamente ligado à falta de consciência ambiental da população, sendo importante a implantação da educação ambiental para a formação do cidadão. De acordo com Amorim (2010), o principal destino dos resíduos sólidos é o lixão (local a céu aberto onde o lixo é disposto de qualquer maneira e sem tratamento), o qual apresenta inúmeros riscos devido à produção de chorume, líquido que pode levar a contaminação dos recursos hídricos, proliferação de animais parasitas e odores causados pela sua fermentação. Além disso, o deposito de lixo a céu aberto traz graves danos às comunidades próximas, pois pode ocasionar em malefícios a saúde pública. Segundo Silva (2014), resíduo sólido são os materiais originados de atividades 1 Graduada em Ciências Biológicas. Pós-graduanda do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação, pela Universidade Estadual do Piauí / Universidade Aberta do Brasil, Polo de Apoio Presencial de Canto do Buriti – PI. E-mail: herliamaria@hotmail.com 2 Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Especialista em Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos e Mestranda em Ciência Animal – fernandarochavetufpi@ gmail.com / UESPI - NEAD 159


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industriais, comerciais, agrícolas e da comunidade, excetuando-se materiais líquidos e gasosos. A autora cita ainda que a maior quantidade de material produzido por estes locais são constituídos de material orgânico, que poderia ser utilizado em processos de biodegradação, como a compostagem para produção de adubo para a agricultura. Assunção (2010) afirma que não cabe apenas aos órgãos públicos o cuidado com o meio ambiente, cada indivíduo deve colaborar junto aos órgãos de saúde pública, para manutenção do ambiente. Avaliar como acontece o gerenciamento dos resíduos e focar na conscientização ambiental da comunidade é meio extremamente importante para melhoria na qualidade de vida da população e do meio em que esta vive (KLEIN, 2014). Portanto a conscientização é de fundamental importância para que haja comprometimento e responsabilidade da população nas ações de saneamento e saúde, o que mostra que é possível evitar o acúmulo de resíduos e assim reduzir os impactos ambientais. Nesse contexto, o principal objetivo deste artigo é identificar a atual situação da destinação dos resíduos sólidos no município de Canto do Buriti e propor medidas que contemplem a sustentabilidade ambiental e social da região. 2 METODOLOGIA O presente estudo foi desenvolvido em seis bairros, um hospital e seis Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Canto do Buriti/PI, no período de fevereiro a abril de 2016. Foram aplicados 10 questionários em cada bairro, um no hospital local e um para cada unidade de saúde. As questões versaram sobre escolaridade dos entrevistados, caracterização e destinação do lixo produzido nestes ambientes, coleta seletiva, reciclagem etc. A pesquisa teve um enfoque quantitativo com um alcance descritivo. O procedimento adotado para a realização da coleta de dados foi o questionário com nove perguntas específicas para residências e outro com dez perguntas para as unidades de saúde. Todos os entrevistados foram informados do objetivo da pesquisa através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e que as informações como nome da pessoa e os nomes das respectivas unidades de saúde e hospital assim como o nome dos moradores pesquisados seriam mantidos em sigilo. Após a coleta de dados foram realizadas a identificação, interpretação e análise das respostas dos entrevistados, e os resultados foram dispostos em forma de gráficos, produzidos no software Microsoft Office Excel 2007. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO Em relação à pesquisa feita nas residências 20% das pessoas pesquisadas são do sexo masculino e 80% são do sexo feminino. No que diz respeito ao grau de escolaridade dos entrevistados, a maioria, ou seja, 25% são alfabetizados e apenas 3% possuem especialização. De acordo com Souza (2015), é por meio da escolaridade do indivíduo que este é capaz de se tornar um agente crítico e responsável, comprometido com a sustentabilidade do meio em que 160


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vive influenciando assim suas ações no mesmo. Quando questionados sobre o que é a coleta seletiva, 89% dos entrevistados afirmaram que não sabem do que se trata este termo, enquanto apenas 11% disseram saber que se refere ao tratamento de separação e coleta de resíduos sólidos. Segundo Coelho (2008), a coleta seletiva é o recolhimento de materiais orgânicos e inorgânicos que foram previamente separados pelos seus produtores e que podem ser reciclados ou reutilizados. Ao serem perguntados sobre a maior quantidade de lixo produzido em suas residências, 63% argumentaram que produzia em maior quantidade o lixo inorgânico, sendo o restante, 37% lixo orgânico. Ao serem indagados se reutilizavam o lixo de sua residência, 42% disseram que sim e 58% disseram que não. O desperdício causado pela não reciclagem do lixo decorre do desconhecimento de seu valor econômico, de sua viabilidade para ser reaproveitado como matéria prima bem como das deficiências de políticas públicas voltadas para a implementação e gestão de resíduos (OLIVEIRA et al., 2005). Quanto à percepção do conhecimento dos entrevistados sobre os problemas que o descarte incorreto do lixo pode causar, 93% disseram que sabem indicar alguns dos problemas e 7% disse não saber. Dentre os problemas causados pelo lixo descartado de maneira incorreta, 15% informaram que causa a dengue e 2% afirmaram causar o aquecimento global, como mostra a Figura 1. Sene et al. (2012) afirmam que os lixões são locais de alimentação e reprodução de animais transmissores de doenças como dengue, malária e outros. Figura 1. Problemas causados pelo lixo descartado incorretamente.

Fonte: SILVA (2016) Pediu-se para os entrevistados escolherem uma das opções a seguir aquela que seria mais bem empregada na resolução dos problemas ocasionados com acúmulo de lixo da região, as 161


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quais seriam: coleta seletiva, usina de compostagem ou aterro sanitário. As opções mais citadas foram: usina de compostagem com 75% e coleta seletiva com 22% ficando aterro sanitário com apenas 3% das citações. Os entrevistados afirmaram que se tratava de um meio ineficiente, por, segundo os entrevistados, ocasionar a contaminação do lençol freático da região. O manejo adequado dos resíduos é uma importante estratégia de preservação do meio ambiente, assim como de promoção e proteção da saúde. Uma vez acondicionados em aterros, os resíduos sólidos podem comprometer a qualidade do solo, da água e do ar, por serem fontes de compostos orgânicos voláteis, pesticidas, solventes e metais pesados, entre outros (GOUVEIA, 2012). Quando indagados sobre a melhor solução para o acúmulo de lixo na região, 75% responderam que seria mais viável a construção de uma usina de compostagem, 22% gostariam que tivesse coleta seletiva e apenas 3% relataram que a melhor solução seria um aterro sanitário, como se encontra Figura 2. Melhor solução para o acúmulo de lixo na região exposto na Figura 2. relatada pelos pesquisados. Fonte: SILVA (2016) Ao que se referir à aparência do bairro, 87% disseram achar boa, e as opções regular e ruim somaram 13% do total. Quando perguntados se gostariam que o bairro tivesse coleta seletiva, 83% disseram que sim e 17% disseram que não, como mostra a Figura 3. Figura 3. O bairro se tornaria melhor com coleta seletiva

Fonte: SILVA (2016)

Com relação à pesquisa feita nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e no Hospital local, tivemos 93% dos entrevistados nas UBS que responderam que faziam a separação dos resíduos comuns (sobras do preparo de refeições; fraldas e papel de uso sanitário, absorventes; papéis, e outros) e 7% disseram que não realizam a separação de resíduos. Já no hospital local, 162


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foi dito que todo esse material é separado e acondicionado em local adequado até ser coletado pelo órgão responsável. De acordo com Otenio (2013), a separação dos resíduos deve ser feita de acordo com as características físicas, químicas e biológicas evitando assim que os resíduos infectantes contaminem os resíduos comuns. Quando perguntados com que frequência é feito o recolhimento dos resíduos, tanto os entrevistados das UBS como do hospital foram unânimes em dizer que acontece diariamente. Quando questionados se os funcionários possuíam treinamento qualificado ao manuseio do lixo hospitalar, todos mencionaram que não. Todos os entrevistados responderam que não tinham nenhum conhecimento da legislação sobre gerenciamento de resíduos dos serviços de saúde. Esta resposta contrapõe-se ao argumento de Gareis (2014), uma vez que os trabalhadores envolvidos no manuseio dos resíduos gerados em ambientes hospitalares devem ser capacitados. Quando perguntados sobre os riscos à saúde humana e ao meio ambiente causados pelo manuseio e destinação incorretos dos resíduos dos serviços de saúde (RSS), todos disseram que sabiam quais problemas a má conservação dos mesmos podem causar. Todos os pesquisados, quando questionados de como faziam o transporte interno dos resíduos, responderam que colocavam em sacos plásticos e depositavam em lixeiras para o carro responsável pelo recolhimento destes resíduos recolhê-los. O transporte interno dos resíduos de saúde deve ocorrer em horários de menor fluxo de pessoas, evitando assim riscos adicionais de acidente (MOZACHI; SOUZA, 2005). Ao serem indagados sobre como é realizado o armazenamento dos resíduos, já separados até a chegada do transporte externo, 80% respondeu que possui um depósito destinado para colocar o lixo produzido na repartição, porém utilizam este local para colocar objetos com defeito e apenas 20% responderam que utilizam o local construído para armazenar o lixo até a caçamba passar e recolher. Gareis (2014) relata que os resíduos devem ser armazenados em ambiente apropriado com acesso facilitado para os veículos coletores e que estes sejam construídos para esta finalidade apresentando condições físicas estruturais adequadas, evitando ação do sol, chuva e vento. No que se referem aos veículos que buscam estes resíduos todas as instituições de saúde, disseram que acontece por meio de caçambas sem identificação e que a disposição final dos resíduos é feitas em lixões. De acordo com Almeida et al (2012), as falhas ocorridas na disposição final desses resíduos ocasionam problemas ambientais e sanitários, que põem em risco a saúde humana e o meio ambiente. Portanto, podemos observar que a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos em agosto de 2010 representou o início de uma época histórica para a área ambiental e de saneamento básico no Brasil. Nesse cenário, é necessário que tenhamos atitudes quem demonstrem ser fundamentais para se definir campanhas de conscientização ambiental que contemplem a sustentabilidade socioambiental da região.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio dos resultados desta pesquisa, pode-se concluir que a falta de conscientização e educação ambiental da população acaba poluindo toda região, provocando assim vários problemas como a atração de vetores que podem transmitir doenças, contaminação do solo e dos lençóis freáticos, alagamentos e inundações em períodos de chuva, prejuízos ao turismo local, aumento dos gastos públicos com limpeza urbana entre outros fazendo com que não só o meio ambiente seja prejudicado, mas também a saúde da própria população. A solução para este problema seria a conscientização socioambiental da população sobre o manejo destes resíduos, os quais adquirem valor comercial uma vez que podem ser reutilizados como fonte de matéria-prima ou insumos para novos produtos ao serem utilizados em formas de novas matérias primas ou insumos, além de gerar emprego e renda e diminuir os impactos ambientais provocados pela má disposição dos mesmos. A participação voluntária também é muito importante para a melhoria da qualidade de vida de toda a população local. É preciso também que haja um incentivo do poder público local em busca de parcerias que possam trazer progresso para o município em relação a esta problemática. O incentivo ao processo de reciclagem seria um meio pelo qual se pouparia recursos naturais e ao mesmo tempo haveria a preservação do meio em que vivemos. Para o lixo orgânico, o ideal seria seu retorno ao solo na forma de adubo, já para o lixo inorgânico seria melhor reaproveitá-lo dando novas utilidades para eles. Com relação aos resíduos produzidos nas instituições de saúde do município, é necessário que sejam realizados treinamentos com os funcionários com a finalidade de evitar possíveis acidentes e, além disso, a construção de locais apropriados para o depósito e destinação final destes resíduos é indispensável ao manejo ambiental do lixo produzido na cidade, contribuindo para a diminuição da problemática atual dos lixões.

REFERÊNCIAS ALMEIDA, Vitória de Cássia Félix de et al. Gerenciamento dos resíduos sólidos em unidades de saúde da família. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste-Rev Rene, v. 10, n. 2, 2012. AMORIM, Aline Pinto et al. Lixão municipal: abordagem de uma problemática ambiental na cidade do Rio Grande–RS. AMBIENTE & EDUCAÇÃO-Revista de Educação Ambiental, v. 15, n. 1, p. 159-178, 2011. COELHO, MRF. Coleta seletiva na escola, no condomínio, na empresa, na comunidade, no município. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo.2008. COSTA, Kelly Beatriz Maia; RODRIGUES, Micaías Andrade. A Educação Ambiental e o lixo: um estudo de caso realizado em uma escola pública de Teresina (PI). Revista Brasileira 164


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de Educação Ambiental (RevBEA), v. 9, n. 2, p. 344-363, 2014. GAREIS, D. C.; FARIA, R. O. Avaliação dos resíduos de saúde em laboratórios de análises clínicas. Saúde, v. 2, n. 4, 2014. GOUVEIA, N. Resíduos sólidos urbanos: impactos socioambientais e perspectiva de manejo sustentável com inclusão social. Ciência & Saúde Coletiva, 17 (6), 2012. KLEIN, F. E. Diagnóstico sobre o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos no município de Peritiba-SC. Trabalho de conclusão de curso (especialização), 2014. Disponível em: http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/4520/1/MD_ GAMUNI_2014_2_37.pdf. Acesso em 13.08.2016 OLIVEIRA, A. B.; ALENCAR, P. S. L.; SILVA, R. P.; SOARES, S. Educação Ambiental: Lixo uma questão social. Brasília, Monografia (Especialização), centro universitário de Brasília – UNICEUB, 2005. 41p. disponível em:< http://repositorio.uniceub.br/ bitstream/235/6684/1/40300182.pdf> acesso em 14.08.2016 OTENIO, M. H. et al. Relatório-Monitoramento dos resíduos biológicos na Embrapa Gado de Leite. Juiz de Fora (MG), Embrapa Gado de Leite, p. 27, 2013. SENE, I.G.; SOUZA, J.; FALCÃO, M. T. Avaliação dos impactos socioambientais causados à população do entorno do lixão no município do Caroebe/RR. Norte Científico, v. 7, n. 1, p. 16, 2013. SILVA, G. C. Coleta seletiva e percepção ambiental em alunos do ensino fundamental no município de Monteiro Lobato-SP. Medianeira: Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2015. SOUZA, C. M. R. Lixo: uma questão além do contexto reciclável., Monografia (especialização) - Universidade Federal do Paraná, 2015.

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COLETA SELETIVA: A IMPORTÂNCIA DA COLETA DO LIXO NO BAIRRO AEROPORTO. IARA ALVES MACHADO1 CÍCERO QUIRINO DA SILVA NETO2

RESUMO É muito importante que a população dos municípios saiba o destino dos lixos que são produzidos pela comunidade, pois a problematização dos resíduos sólidos é um dos mais complexos da atualidade e a coleta do lixo adequada é uma das alternativas capaz de minimizar essa situação. Assim o objetivo nesse trabalho é analisar a coleta do lixo no bairro aeroporto e a importância da participação dos moradores na separação do lixo de forma adequada preservando o meio ambiente e a saúde da comunidade. O presente trabalho utilizou-se de pesquisa bibliográfica em livros e artigos, além de uma pesquisa de campo que foi utilizando de técnicas de coleta de dados através da aplicação de um (01) questionário com o Secretário de Obras do município e nove (09) questões aos moradores do bairro em estudo. Os resultados apontaram que o município não realiza reciclagem dos resíduos sólidos e que o lixo é jogado em lixões, a coleta é realizada diariamente no bairro, porém não há campanhas de conscientização para que a comunidade não jogue lixo nos terrenos baldios ou nas ruas. Demonstrando a necessidade de ações por parte do governante, para realizar campanhas para assim melhorar a qualidade de vida da comunidade do Bairro Aeroporto, ao que se refere a um ambiente limpo e sem degradação ao meio ambiente. Palavras chaves: Resíduos Sólidos. Meio ambiente. Comunidade. Saúde.

INTRODUÇÃO A coleta seletiva de lixo é de extrema importância para a sociedade. Além de gerar renda para centenas de pessoas e economia para as empresas, também significa uma grande vantagem para o meio ambiente. Dessa maneira possibilitamos o maior aproveitamento do resíduo, que antes era descartado e como consequência do seu não aproveitamento aumentaria a quantidade de lixo causando grandes problemas ambientais (SATO, 2003, p. 76). A coleta de lixo define-se como um processo pela qual consiste em separar e recolher os resíduos descartados pelas pessoas e por empresas. É um importante passo para fazer com que vários tipos de resíduos sigam seu caminho para reciclagem ou destinação final ambientalmente correta, pois o resíduo separado corretamente deixa de ser lixo como: papéis, plásticos, metais e vidros, sendo reaproveitado tudo o que for possível e enviados para reciclar. Existem indústrias que reutilizam estes materiais para a fabricação de matéria-prima ou até mesmo de outros produtos (CRUS, 2001, p. 23). 1 Pós Graduação do Curso de Biodiversidade pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância – NEAD, Universidade Aberta do Brasil – UAB. E-mail:Iara.alvesmachado@outlook.com

2 Biólogo Especialista em Biodiversidade e Conservação pela Universidade Estadual do Piauí, – UESPI. Email: cquirino07@hotmail.com 167


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Dessa forma, quando abrimos uma bala ou outro produto que vamos ingerir rapidamente na rua, temos o hábito de jogar a embalagem no chão acreditando que não fará diferença. Daí começa o acumulo do lixo, pois mesmo essa pequena embalagem, junta-se ao final do dia um considerável número. Dessa forma, o lixo possui como diversas outras questões, situação social e cultural das pessoas que residem em uma determinada comunidade, ou seja, o lixo e o que as pessoas produzem em sua casa e despejam de qualquer forma nas ruas (GOMES, 2005, p. 76). Para termos uma ideia da situação, no Brasil é produzido cerca de 230 mil toneladas de lixo diariamente, e apenas 60% é jogado nos lixões, em depósitos a céu aberto sem haver nenhum tratamento, 38% vão para aterros sanitários e uma parcela muito pequena equivalente a 2% são reciclados, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010). O Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM. 2001), coloca que a origem do lixo é o principal elemento para caracterização dos resíduos sólidos, onde os classificam em cinco classes: Lixo doméstico ou residencial: resíduos gerados nas residências das pessoas; Lixo comercial: resíduos gerados pelos comércios; Lixo público: resíduos gerados pelos logradouros públicos; Lixo domiciliar especial: compreende os entulhos de obras de construção civil; Lixo de fontes especiais: lixo industrial, aeroportos e terminais rodoferroviários etc. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004), “define ainda lixo, como sendo os resíduos das atividades humanas, considerados inúteis,l, indesejáveis ou descartáveis pelos seus geradores. Em Canto do Buriti todo o lixo produzido é jogado em lixões a céu aberto sem nenhum tratamento adequado, ficando a 5 (cinco) quilômetros do centro urbano da cidade Secretaria de obras de Canto do Buriti (2015). Nesse contexto questiona-se, como é realizada a coleta do lixo e o que é feito para conscientizar os moradores a preservarem o meio ambiente separando e depositando o lixo em locais adequados no Bairro Aeroporto? Isso pode estar ocorrendo devido à falta de coleta seletiva do lixo pelo órgão responsável de forma adequada. A falta de conhecimento por parte da comunidade, percebe-se que há muitos resíduos jogados nos terrenos e nas ruas que poderiam ser separados adequadamente. Assim, a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, disposta na Lei 12.305, de 2010, regulamentada pelo Decreto Lei 7404/10, estabelece a responsabilidade compartilhada, que corresponde ao conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados. Percebese que objetivo visa reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental, decorrentes do ciclo de vida dos produtos, onde alguns produtos levam até centenas de ano para se decompor como é o caso dos plásticos. A referida lei também determina a implementação da coleta seletiva e da logística reversa no âmbito empresarial, além de exigir que todos os municípios brasileiros construam aterros sanitários, até o ano de 2014, sob pena de redução das verbas federais recebidas. Com todos esses comandos, a legislação dá sua contribuição em busca de uma gestão ambiental eficaz e socialmente justa. Coleta de lixo é uma melhora na limpeza urbana, diminuindo o acumulo nas ruas o 168


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que causa um problema a sociedade. Desde 1990, as iniciativas mais bem sucedidas de coleta seletiva no Brasil são aquelas nas quais as administrações municipais estabeleceram parcerias com catadores organizados em associações ou cooperativas (RIBEIRO & BESEN,2007, p. 14). Segundo alguns estudiosos, como Waite, (1995) “a reciclagem é o processo de reaproveitamento de material orgânico e inorgânico do lixo. “Através da reciclagem diminui o uso da matéria prima para extração preservando a natureza e o meio ambiente, por exemplo, uma lata já usada se transforma em nova, o que é muito melhor que “uma lata a mais”. Além disso, já tem em algumas cidades brasileiras comum, programa de coleta seletiva implantado. Separar todo resíduo sólido possível de ser reaproveitado e encaminhá-lo aos pontos de coleta de material reciclável, contribui para que vários elementos da natureza sejam poupados e haja economia e racionalidade no consumo dos mesmos. Rodrigues e Cavinatto (1997, p.10) afirmam que: No decorrer deste século, a população mundial dobrou de tamanho, porém a quantidade de lixo produzido no mesmo período aumentou numa proporção muito maior”. A concentração populacional e o processo de industrialização trouxeram, a partir do século XX, aumento da quantidade de lixo e também mudanças na sua composição. Ao lixo, que até então era formado por restos de alimentos, cascas e sobras de vegetais e papéis, foram sendo incorporados novos materiais como vidro, plásticos, isopor, borracha, alumínios entre outros de difícil decomposição.

É necessário que todas as indústrias tenham um programa de reciclagem para diminuir a poluição. Um exemplo que pode ser citado é a cidade de São Paulo, onde há bairros em que a coleta seletiva é feita pelo próprio LIMPURB, outros por Cooperativas de Catadores e há até condomínios que vendem seu lixo reciclável para reverter em benefícios. Os benefícios são muitos: economia de energia, redução da poluição, geração de empregos, melhoria da limpeza e higiene da cidade, diminuição do lixo nos aterros e lixões, diminuição da extração de recursos naturais, combate à destruição de florestas nativas, entre outros (Molina, 2001, p. 57). Em Canto do Buriti só ocorre através da Secretaria de Obras do Município. A Coleta Seletiva deve ser encarada com planejamentos individuais, ou seja, pela pessoa onde a maior parte do lixo é doméstico. Os elos são Educação Ambiental, Logística e Destinação e seu planejamento deve ser realizado partindo-se da destinação, passando pela logística para, por último, elaborar as estratégias para o programa de educação ambiental. Alguns exemplos: aproveitar os alimentos integralmente e aprenda a fazer compostagem: além de reduzir a emissão de metano produzido pelo lixo doméstico, você terá um jardim saudável e bonito, comprar produtos a granel, comprar produtos reciclados, especialmente papel, cuja produção economiza energia, polui menos e poupa florestas, levar de casa para o trabalho sua xícara e seu copo: evite sempre que puder utilizar-se de material descartável, manter em casa dois recipientes para separação: um, com o saco preto, para lixo úmido e rejeitos e outro, com saco azul, para o lixo seco: plástico, metal, vidro e papel, todos devidamente lavados e/ou limpos e secos (RUSSO, 2003). Buscou-se com este trabalho, compreender qual é o papel do município e da comunidade frente coleta seletiva do lixo no Bairro Aeroporto. Para isso foi definido como objetivos, analisar 169


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a coleta seletiva do lixo e a importância da participação dos moradores na separação do lixo de forma adequada preservando o meio ambiente e a saúde da comunidade: Identificando alguns problemas que estão relacionadas ao lixo e a degradação do meio ambiente; verificando como é realizada a coleta do lixo pelo município e o destino dos resíduos coletados; analisando se as pessoas fazem a separação do lixo de maneira adequada para reciclagem. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi desenvolvido em duas etapas, sendo a primeira através de uma pesquisa bibliográfica em livros e artigos científicos de autores pesquisadores, pesquisa em internet e em revista do gênero para um melhor entendimento do tema. A segunda etapa foi uma pesquisa de campo com aplicação de dois questionários: sendo um ao Secretário de Obras do município de Canto do Buriti, com seis (06) questões de múltipla escolha para saber o destino dado aos resíduos sólidos e um questionário aplicado a cinquenta (50) moradores do Bairro Aeroporto com nove (09) questões de múltipla escolha relacionado a coleta do lixo. A coleta de dados ocorreu de forma interativa com os sujeitos envolvidos no estudo, sendo importante destacar que, os mesmos foram esclarecidos da natureza deste trabalho: o que propiciou um clima de respeito e cooperação por parte de todos os envolvidos, onde todos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os resultados destes questionários serão utilizados na formatação por meio de programas computacionais (Excel e BioStat) de tabelas e gráficos para uma melhor compreensão dos dados obtidos na pesquisa. 2.1 Questionário aplicado ao Secretário de Obras do município de Canto do Buriti – PI Segundo o Secretário de Obras de Canto do Buriti, a coleta do lixo no bairro Aeroporto ocorre diariamente, porém coloca que alguns dias por motivo de manutenção dos caminhões essa coleta não é realizada. E a coleta é realizada por empresas terceirizadas, pois o município não dispõe de mão de obra de funcionários concursados para suprir a necessidade da coleta do lixo dos bairros e o centro da cidade de Canto do Buriti. No momento o município não realiza a reciclagem dos lixos produzidos pela comunidade e nem dispõe no momento de recursos para enviar às empresas que realizam tal processo. Por esse motivo não há campanhas de conscientização para comunidade do bairro, onde o único destino dado ao lixo produzido são os lixões. Um exemplo que pode ser citado e a cidade de São Paulo, onde há bairros em que a coleta seletiva é feita pelo próprio LIMPURB, outros por Cooperativas de Catadores e há até condomínios que vendem seu lixo reciclável para reverter em benefícios. Segundo a pesquisa coordenada pelo UNICEF (1997 apud Tenquini e Freire, 2001), em 88% das cidades do País, o lixo é despejado em locais abertos. De acordo com dados 170


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do IBGE (1999), 76% do lixo urbano vai para o lixão, 13% para aterros controlados e 10% para aterros sanitários. De acordo com o secretário o município tem ideia da quantidade de lixo em (T) tonelada mensalmente que é produzido pelos moradores de Canto do Buriti. Porém não foi dado o valor numérico, apenas ressaltou que é para ter uma ideia do acumulo de resíduos e o do espaço que é ocupado nos lixões. 2.2 Questionários aplicado aos moradores do Bairro Aeroporto referente a coleta do lixo no município de Canto do Buriti – PI. O segundo momento da pesquisa de campo foi com os moradores residentes no Bairro Aeroporto, onde inicialmente foi questionado há quantos anos residem no bairro. De acordo com as respostas dos moradores 50% a mais de três anos, 30% três anos, 10% dois anos e 10% um ano (figura 01). Percebe-se que a maioria dos pesquisados residem de três anos ou mais. Isso é muito importante pois conhecem bem a realidade de como é realizada a coleta do lixo pelo município nos últimos anos. Figura – 1: Há quantos anos residem no Bairro Aeroporto.

10%

um ano 10% 10%

50%

dois anos 10% três anos 30%

30%

mais de três anos 50%

Fonte: autora da pesquisa 2016. Perguntou-se aos moradores se sabem o conceito de coleta seletiva. Todos responderam que não. Fica claro que realmente não há campanhas realizadas pelo município a respeito da coleta do lixo, na qual a mesma consiste em separar e recolher os resíduos descartados pelas pessoas e por empresas da cidade. Pediu-se que enumerassem quantos dias por semana são realizados a coleta do lixo no seu bairro. A maioria 80%, responderam diariamente e 15% responderam seis vezes e apenas 5% responderam cinco vezes por semana, as demais opções não foram marcadas (Tabela 01). Verifica-se nas respostas dos moradores que a coleta do lixo ocorre diariamente. Porém confirma a resposta dada pelo Secretário de Obras que quando não é realizada em determinado dia como coloca os moradores que responderam de cinco a seis dias é devido a problemas de manutenção nos caminhões que realizam a coleta. 171


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Tabela -1: Número de dias por semana é realizado a coleta do lixo no bairro. Dias da semana

Valor absoluto

%

Uma vez

0

0,0

Duas vezes

0

0,0

Três vezes

0

0,0

Quatro vezes

0

0,0

Cinco vezes

2

5,0

Seis vezes

8

15,0

Diariamente

40

80,0

Total

50

100%

Fonte: Autora da pesquisa 2016. Indagou-se com os moradores se sabem o destino final do lixo produzido no seu bairro. Todos responderam que sim. Logo pode-se deduzir que é devido ser o único destino dado aos resíduos produzidos pelas pessoas do município que é o lixão. Questionou se a prefeitura realiza campanhas para conscientizar a separar o lixo de acordo com tipo de resíduo solido e somente jogar nos depósitos adequados colocados pela prefeitura para coleta do lixo. Todos responderam que não. Novamente confirmando a resposta anteriormente realizada com o Secretário de Obras, que não realiza devido não ter como realizar a reciclagem atualmente no município. Em seguida perguntou, se mesmo sem campanhas se tem o hábito de separação do lixo de acordo com o tipo de resido solido em sua casa. 10% responderam que sim, 90% que não (Figura – 02). Verifica-se que mesmo sem participarem de campanhas pelo município em seu bairro, alguns moradores realizam a separação do lixo, pode-se atribuir hipoteticamente as campanhas realizadas pela mídia ou devido a conscientização que é realizada nas escolas com os filhos ou no programa (EJA) Educação de Jovens e Adultos. Figura – 2: Hábitos separação do lixo de acordo com o tipo de resido solido. 0% 10%

sim 10% não 90% as vezes 0%

90%

Fonte: autora da pesquisa 2016. 172


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Pediu-se que enumerassem os principais problemas em sua comunidade em relação ao lixo. 10% responderam que é o lixo nas ruas, e 90% lixo a céu aberto, as demais opções não foram marcadas (Figura – 03). Observa-se nas respostas dos moradores que mesmo com a coleta do lixo sendo realizada diariamente, há necessidade de campanhas para conscientizar os moradores dos problemas ambientais que são causados pelo lixo nas ruas ou acumulo em terrenos baldios. Claro que o município deve disponibilizar tambores ou recipientes adequados e suficientes nas ruas para os moradores depositarem seu 10% 0% lixo a céu aberto 90% lixo para serem recolhidos. lixo nas ruas 10% fezes de animais 0% outros 0% 90%

Figura – 3: Principais problemas em sua comunidade em relação ao lixo. Fonte: autora da pesquisa 2016.

Indagou se no bairro Aeroporto, há tambores ou recipientes de coletas de lixo colocados pela prefeitura, para comunidade utilizar como deposito dos seus resíduos sólidos diariamente. Todos responderam que não. Entende-se que esse pode ser um dos motivos que algumas pessoas do bairro jogam lixos em terrenos baldios ou nas ruas. Porém o motivo de não ter tambores ou recipientes para depositar os resíduos pela prefeitura, não tira a responsabilidade de cada morador em separar seu lixo em sacolas ou em lixeiras particulares colocadas nas calçadas de cada casa. Para finalizar a entrevista com os moradores questionou se tem observado algum problema que está relacionado ao lixo e a degradação do meio ambiente no bairro. 80% responderam que é o acumulo de lixo no solo, e 20% mau cheiro (Figura – 04). Observa-se que essas respostas vêm em consonância com a anterior, onde os moradores apontaram que alguns resíduos são jogados em terrenos baldios ou até mesmo nas ruas.

Figura – 4: Problemas relacionados à degradação e o meio ambiente. Fonte: autora da pesquisa 2016.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluiu-se nesse trabalho sobre a coleta do lixo no Bairro Aeroporto na cidade de Canto do Buriti, que a mesma ocorre diariamente, porém há ainda a falta de conscientização dos moradores sobre a importância de separar o lixo e de não joga-lo nas ruas ou em terrenos baldios. Acredita-se que uma das alternativas, seja projetos voltados a todos os moradores da cidade, para preservarem o meio ambiente, separando e depositando o lixo em locais adequados. Também, pode-se perceber o papel do município e da comunidade frente coleta seletiva do lixo, onde a mesma é responsável e cabe a ela participar diretamente de atividades para resolver os problemas do acumulo do lixo. Assim o objetivo foi alcançado, onde foi debatido sobre a participação do gestor do município, o destino dos resíduos coletados e da participação de cada pessoa que reside no bairro fazendo a separação do lixo de maneira adequada. Enfim, espera-se que esse trabalho sobre a coleta seletiva, sirva para um olhar ainda mais eficiente e eficaz das autoridades, onde tem que haver o comprometimento do gestor municipal (prefeitura), em colocar tambores e recipientes nas ruas para que os moradores coloquem seus resíduos sólidos e futuramente buscar parceria com empresas para realizar a reciclagem das matérias depositadas pela comunidade Canto-buritiense.

REFERÊNCIAS 1 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 10.004:Resíduos Sólidos: Classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. 2 BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE. Disponível em: <http:// www.censo2010.ibge.gov.br/dados_divulgados/index.php?uf=25> Acesso em: 24 NOV. 2015. 3 CRUZ, R. Introdução a Geografia do Turismo. São Paulo: Roca, 2001. 4 GOMES E CARVALHO, J. Vida e Lixo: A Situação de Fragilidade dos Catadores de Material Reciclável em Marília e os Limites de Reciclagem, 2005. 5. INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL – IBAM. 2001. Manual gerenciamento integrado de resíduos sólidos. Instituto Brasileiro de Administração Municipal - IBAM, Rio de Janeiro. 6 MOLINA, S. E. Turismo e Ecologia. Bauru: Edusc, 2001. 7 RIBEIRO, H; BESEN, G. Panorama da coleta seletiva no Brasil: desafios e perspectivas a partir de três estudos de caso. Revista InterfaceHS - Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente, v. 2, n. 4, p. 1-18, agosto de 2007 8 RODRIGUES, L. CAVINATTO, V. Lixo: de onde vem? Para onde vai? São Paulo: Moderna, 1997 (Coleção Desafios). 9 RUSSO, Mário Augusto Tavares. “O aterro sanitário na base de uma gestão integrada de resíduos sólidos”. VI SILUBESA, Florianópolis, Brasil, 2003. 174


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10 SATO, M. Educação Ambiental. São Carlos: Ri Ma, 2003. 11 UNICEF - Fundo das Nações Unidas para Infância - Jornal Em Ação. Rio de Janeiro: Mai. 2005. 12 WAITE, R., Household Waste Recycling, Earthscan Publications, Ldt. Londres. 1995.

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ATIVIDADES AGRÍCOLAS E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NO RIO GURGUEIA COLONIA DO GURGUEIA-PI Idalina Alves da Silva1 Fernanda Samara Barbosa Rocha2 RESUMO A bacia do rio Gurgueia, a mais importante do sul do estado do Piauí, vem sofrendo profundas transformações que estão diretamente relacionadas à ação antrópica. Por conta do desmatamento e das queimadas realizadas pelos pequenos produtores rurais, o rio Gurgueia é vítima de grandes impactos. Este artigo tem o objetivo de analisar os fatores que contribuem para a degradação ambiental do Rio Gurgueia. Para tanto, realizou-se inicialmente uma visita à área pesquisada e entrevista com 20 agricultores da região com o intuito de colher informações sobre as práticas agrícolas e as técnicas mais utilizadas por eles. Também foram feitas pesquisas bibliográficas acerca de degradação em corpos hídricos para assim dá mais suporte a pesquisa. Observou-se que, a prática do desmatamento da vegetação natural, bem como o uso exagerado e inadequado de agrotóxico, são os principais fatores que impactam o rio Gurgueia. Constatou-se que, embora alguns agricultores tenham consciência dos impactos gerados pela degradação do rio, eles não tinham alternativas, pois eram dependentes desse tipo de atividade e, como não possuíam assistência técnica, acabavam degradando esse grande corpo hídrico. Palavras-chave: Assoreamento. Pequenos produtores. Práticas agrícolas. 1 INTRODUÇÃO As atividades desenvolvidas pelo homem têm provocado consequências que podem se tornar um grande problema ambiental. Assim, a preocupação com o meio ambiente vem aumentando a cada dia, principalmente pela escassez dos recursos naturais que é um dos problemas que intriga grande parte da sociedade (SILVA, 2014). Dentre os impactos ambientais provenientes do desenvolvimento do Brasil, está o desaparecimento da cobertura vegetal original do país. Com a utilização dos recursos naturais, o país obteve bons resultados econômico, porém essa exploração não aconteceu de modo sustentável. Um dos principais problemas, com graves consequências é a supressão das matas ciliares ao redor dos cursos d’água acarretando na redução da biodiversidade local, assoreamento e queda na qualidade da água dos rios (MARTELLI et al., 2013). 1 Pós-graduanda do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação, pela Universidade Estadual do Piauí / Universidade Aberta do Brasil, Polo de Apoio Presencial de Canto do Buriti – PI. E- mail: idalinaa13@hotmail.com 2 Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Especialista em Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos e Mestranda em Ciência Animal – fernandarochavetufpi@gmail.com / UESPI - NEAD 177


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As matas ciliares constituem um importante elemento de manutenção do equilíbrio ambiental das áreas em que se localizam, pois conferem proteção ao solo, à fauna, a flora e aos ambientes aquáticos (MONTEIRO; OLIVEIRA, 2016). Mesmo protegidas por lei, as matas ciliares vêm sendo destruídas por meio das ações antrópicas (madeireiros, agricultores, pecuaristas, indústrias) que as desmatam para a utilização da madeira, queimam para a geração de energia, implantam roças e pastagens. A agricultura praticada as margens do rio Gurgueia é a agricultura tradicional na qual se utilizam técnicas rudimentares de produção transmitidas a cada geração de agricultores. Os agricultores da comunidade Aliança utilizam ainda as técnicas da retirada da vegetação às margens do rio e as queimadas para preparar a terra para o plantio. A agricultura convencional provoca diversos desequilíbrios na natureza, tendo em vista que esta agricultura contraria o pensamento de sustentabilidade sendo o assoreamento dos rios é uma das principais consequências desta atividade. (BARROS; SILVA, 2010) O rio Gurgueia é vítima de vários impactos causados por atividades agrícolas. Um dos principais fatores são desmatamento e as queimadas realizadas pelos pequenos produtores rurais que, por não contarem com assistência técnicas e não serem informados dos impactos gerados degradam áreas próximas ao rio, causando assim assoreamento. Objetiva-se identificar as causas do assoreamento do rio Gurgueia e analisar as consequências que esses impactos podem trazer para a biodiversidade local buscando assim alternativas que possam contribuir para minimizar tamanhos impactos. 2 MATERIAL E MÉTODOS Tipo de pesquisa O estudo trata-se de uma pesquisa de campo e pesquisa bibliográfica, seguido da aplicação de questionários com 12 questões a 20 agricultores familiares da comunidade Aliança município de Colônia do Gurgueia-PI. O questionário buscou investigar as principais culturas vegetais produzidas, as técnicas mais utilizadas nas lavouras e as consequências que a atividade agrícola pode ocasionar ao ambiente da área de estudo. Foi realizado um levantamento fotográfico com o objetivo de conhecer melhor as áreas mais afetadas. Logo em seguida, foi feito uma análise dos dados coletados, para melhor compreender a visão dos agricultores acerca da questão da degradação das áreas próximas ao rio Gurgueia.

Área de estudo A pesquisa foi realizada em um trecho do rio Gurgueia próximo à ponte que divide a comunidade Aliança da cidade de Manoel Emídio- PI 178


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Figura 1. Área da pesquisa.

Fonte: Google earth, 2008 3 RESULTADO E DISCUSSÃO Dos entrevistados para a realização desse trabalho, 18 são do sexo masculino e apenas 2 são de sexo feminino. Com idade entre 45 a 65 anos, todos residentes na comunidade Aliança e com um grau de escolaridade entre (1° e 5°) ano do ensino fundamental. O grau de escolaridade pode ter influenciado no comportamento desses agricultores com relação à preservação do rio Gurgueia. O pouco conhecimento acerca da questão ambiental e de suas consequências contribui para a degradação do rio. As técnicas utilizadas pelos agricultores são muitas vezes inadequadas, pois são conhecimentos transmitidos a cada geração. A grande maioria dos agricultores não sabe ler ou escrever, e isso pode se tornar uma barreira, pois com o nível de escolaridade baixa fica difícil adquirir um conhecimento sobre as questões ambientais podendo contribuir para o aumento da degradação. (SILVA e RIOS, 2013). Com relação à renda familiar mensal, verificou-se que 70% dessas famílias possuem uma renda mensal menor que um salário mínimo somando com algum tipo de benefício do governo, e os outros 30% recebe até um salário mínimo, necessitando assim da prática da agricultura as margens do rio como forma de complementação á renda familiar. A análise de perfil dos agricultores tem revelado que a maioria dos pequenos produtores familiares da região vive exclusivamente da agricultura de subsistência, utilizando-se da prática do desmatamento da vegetação natural e das queimadas, por não conhecer alternativas de produção agrícola.

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Os agricultores pesquisados afirmaram que anteriormente as terras às margens do rio Gurgueia eram consideradas boas para o plantio por serem mais produtivas, o que atualmente não pode ser constatado, obrigando-os a buscarem novas Figura 2: (a)Prática das queimadas e alternativas de sustento além do (b) Agricultor da comunidade. Fonte: SILVA (2016) cultivo agrícola. Sabemos que esse grupo de pequenos produtores sem nenhum tipo de assistência técnica acaba por fazer uso inadequado do solo, com as práticas das queimadas afetam a vegetação e o uso exagerado e inadequado de agrotóxico provoca o envenenamento do solo, das águas, e plantas causando danos ao meio ambiente. Todas essas práticas realizadas por eles contribuem para a perda de nutrientes do solo e da cobertura vegetal das áreas próximas ao rio. Em entrevista com agricultores da área, percebe-se que mais da metade não tem nenhuma noção quanto aos danos causados ao rio. O resultado Figura 3 – (a) Área do Rio Gurgueia em processo de de tudo isso implica na dinâmica da assoreamento. Figura 4 (b) Curso d’água coberto por biodiversidade local, e ocasiona a vegetação e lixo. Figura 3: SILVA (2016) degradação. A falta de conhecimento e de manejo adequado dos pequenos agricultores, além das queimadas e desmatamentos em áreas próximas da bacia, acelera os processos de degradação dos solos o que consequentemente influencia na Figura 5 – (a) Trecho do leito do rio Gurgueia assoreado. demanda de nutrientes que são carregados para os cursos d’águas. E isso tudo afeta a cobertura do solo, que por essa razão causa o assoreamento do rio Gurgueia (Figura 5). Estudos realizados na Bacia do Gurgueia como o trabalho de Silva (2015) detectou que atividades como agricultura familiar com uso de queimadas para a exploração de atividades como culturas anuais e pastagens, deixa a mata ciliar bastante fragmentada. Embora alguns agricultores percebam que suas práticas poderão ocasionar problemas ao rio Gurgueia a situação vivenciada por eles obrigavam a praticar, pois na época a única 180


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atividade capaz de gerar renda para as famílias era a agricultura, e como nunca tiveram uma assistência técnica em suas propriedades contribuíram para a degradação desse corpo hídrico. A maioria dos agricultores hoje vê o rio como morto comparando há alguns anos. Espécies de peixes que existiam antes desapareceram e tudo isso são consequências de atividades realizadas no passado. Todos esses problemas vêm aumentando a cada dia, pois o que se pode notar é que o poder público pouco tem investido nessa questão. Nesse contexto, é de fundamental importância que ocorra intervenções nessas áreas degradadas com técnicas de manejo, reflorestamento da vegetação visando à conservação e manutenção para que evite a perda total da biodiversidade. 4 CONCLUSÃO Baseado nos dados obtidos nesse estudo, conclui-se que o a bacia do Rio Gurgueia está passando por grande transformação, pois é vítima de vários impactos causado basicamente pela atividade agrícola. A maioria dos agricultores vivia da agricultura às margens do rio, porém por não contarem com apoio especializado contribuem ativamente para a degradação do rio, causando assim o assoreamento. Toda essa degradação no rio Gurgueia é consequência de atividades realizada no passado. Hoje os agricultores realizam atividades agrícolas naquela área, mas de forma bem mais reduzida. A maioria dos agricultores da comunidade Aliança hoje já possui outras atividades para suprir partes das necessidades das famílias, mas na época eles viviam basicamente da agricultura. Alguns agricultores, hoje já podem notar essas transformações ocorridas no rio, mas na época eles não percebiam que suas práticas poderiam ocasionar num problema futuro. A maioria dos agricultores que participou deste estudo está sensibilizada quanto aos problemas ocasionados ao rio Gurgueia pela atividade agrícola inadequada. O poder público nas esferas do estado e municípios deve tomar decisões e buscar solucionar os problemas enfrentados por esse grande corpo hídrico que já foi fonte de renda para muitas famílias e que abriga várias espécies.

REFERÊNCIAS DA SILVA, Dalva Damiana. Identificação dos impactos ambientais negativos no Açude Padre Ibiapina no município de Princesa Isabel, Paraíba. Revista Verde (Pombal – PB Brasil), v 9. , n. 1, p. 326 - 332, jan-mar, 2014 DA SILVA, Dalva Damiana Estevam; DE ASSUNÇÃO RIOS, Fábio Remy. Degradação ambiental: uma análise sobre a agricultura no Semiárido Nordestino. Revista Brasileira de 181


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Gestão Ambiental, v. 7, n. 2, p. 01-06, 2013. J. D. de S.; SILVA, M. de F. P. da. Práticas agrícolas sustentáveis como alternativas ao modelo hegemônico de produção agrícola. Revista Sociedade e Desenvolvimento Rural, v.4, n.2, p. 89-103, 2010. DA SILVA, L. S. Florística, Estrutura e Sucessão ecológica de um remanescente de mata ciliar na Bacia do Rio Gurguéia-PI. Nativa, v. 3, n. 3, p. 156-164, 2015. MONTEIRO, M.; OLIVEIRA. Propriedades rurais nas margens dos rios Parnaíba e Poti (zona norte de teresina-pi) e seus reflexos na manutenção da mata ciliar. Revista Geonorte, v. 5, n. 20, p. 442-445, 2016. MARTELLI, A.; GARDINALI, L.P.; CARDOSO, M.M.; MATHIAS, D.A.; BARBOSA JÚNIOR, J.; BUENO, D. M. ; SIGNORETI, R. O. S. Reconstrução da mata ciliar de uma área das margens do Ribeirão da Penha município de Itapira- SP e minimização da ação antrópica local. Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 10, n. 2, p. 131-142, mar./abr. 2013.

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O DESMATAMENTO DA CAATINGA NO MUNICÍPIO DE CANTO DO BURITI, ESTADO DO PIAUÍ: INDICADORES E AÇÕES CONSERVACIONISTAS James Santos Sobreira1 Fernanda Samara Barbosa Rocha2

RESUMO O bioma Caatinga é o único exclusivamente nacional, estando limitado aos estados do nordeste brasileiro, que contém fauna e flora exclusiva, clima semiárido, chuvas irregulares e períodos de estiagem prolongados. Um dos grandes problemas do bioma na atualidade tem sido a exploração dos recursos vegetais. Para entender as causas do desmatamento no município de Canto do Buriti-PI, foram realizadas visitas em duas comunidades rurais, uma que trabalha com projetos conservacionistas e desenvolvimento sustentável (comunidade A) e outra que mantém modelo tradicional de produção (comunidade B). A análise de dados mostrou que os moradores da comunidade A em sua maioria tem preocupação com a questão ambiental, já alguns residentes da comunidade B não se mostraram muito preocupados com a temática, sendo por isso necessário a adoção da educação ambiental para que possa modificar o pensamento de seus habitantes. Palavras-chave: Conservação. Degradação. Educação ambiental. Semiárido. 1 INTRODUÇÃO O Brasil possui uma grande diversidade vegetal que se difere em cada uma de suas regiões. Na atualidade, os biomas brasileiros vêm sofrendo com o processo de desmatamento que tem causando a diminuição de grande parte de suas coberturas vegetais. É sabido que a mídia e grupos atuantes no processo de conservação se fazem presentes em regiões afetadas como a Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Cerrado, fazendo com que as autoridades competentes mantenham fiscalização presente. Segundo Evangelista (2011), o bioma caatinga não tem recebido os mesmos cuidados que os citados acima sendo um dos mais explorados na atualidade, chamando a atenção das autoridades para que as mesmas possam ser mais atuantes no bioma. O bioma Caatinga é exclusivamente nacional situado nos estados do nordeste brasileiro e contém fauna e flora endêmicas com clima semiárido, chuvas irregulares e períodos de estiagem prolongados, o que torna difícil a convivência na região. A maioria das comunidades 1 Pós-graduando do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação, pela Universidade Estadual do Piauí / Universidade Aberta do Brasil, Polo de Apoio Presencial de Canto do Buriti – PI. E-mail: jamessantos87@hotmail.com. 2 Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Especialista em Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos e Mestranda em Ciência Animal – fernandarochavetufpi@gmail.com / UESPI – NEAD 183


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pratica a agricultura de subsistência com a derrubada e a queima das matas nativas para o plantio de milho, feijão e mandioca, culturas agrícolas praticadas pela maioria das comunidades rurais do nordeste brasileiro. Segundo Evangelista (2012), essas cultivares tem sido alvo de perdas nos últimos anos, pois são dependentes do regime de chuvas que vem enfraquecendo ao longo do tempo, fazendo com que a população nordestina fique insatisfeita com a convivência no semiárido e migram para os grandes centros urbanos. O estado do Piauí possui 157.985km² de caatinga que corresponde a 63% de seu território sendo o bioma mais expressivo do estado. A caatinga tem grande potencial econômico com atividades voltadas para fins agrosilvopastoris e industriais, principalmente nas seções farmacêutica, de cosméticos, químicos e de alimentos (MMA 2010), no entanto, a economia do estado está atrelada fortemente a agricultura e pecuária que destroem vastamente as matas nativas. Segundo Araújo (2010), essas são as maiores geradoras do desmatamento do bioma na contemporaneidade. Um dos fatores que justifica o índice elevado do desmatamento no estado é a mecanização da agricultura. O município de Canto do Buriti – PI tem uma extensão de 4.335,62km², clima semiárido, desenvolveu se com a exploração da maniçoba árvore típica da região e nos dias atuais a monocultura do melão é tida como base econômica do município. Porém, nos últimos anos, há um constante desmatamento na região. Segundo Soares (2013), o município de Canto do Buriti é responsável por 1% da produção nordestina de melão com 4.410 toneladas em uma área plantada de 210 hectares que tende a aumentar. Berrios (2015) atenta para a questão da monocultura, pelo fato da mesma fazer uso de agrotóxicos que podem danificar severamente a qualidade do solo e contaminar os corpos d´águas, sendo um fator preocupante, pois põe a saúde da população local em risco. A monocultura está gerando amplos prejuízos à cobertura vegetal do município de Canto do Buriti - PI, porém não é a única responsável pelo estrago da flora local, pois, muitos moradores da zona rural colocam fogo nas matas durante o período de estiagem para formar pastagens destruindo uma extensa parte dos recursos vegetais. Por esse motivo, é indispensável à adoção da educação ambiental nas comunidades afim, de conscientizar os residentes a trabalhar a sustentabilidade. Segundo MMA (2010), é importante manter as características vegetativas da caatinga, para que ocorra a manutenção da economia local, mas para isso modelos conservacionistas devem ser seguidos pelos habitantes locais. Diante dos problemas causados pela devastação do meio ambiente e a drástica redução dos recursos naturais do bioma Caatinga, o estudo sobre o desmatamento no município de Canto do Buriti faz- se necessário, pois a população local deve ser conhecedora dos riscos e procurarem alternativas de convivência no bioma de maneira sustentável. Nesse contexto, a avaliação da percepção da população sobre a temática e orientação quanto a pratica de formas de convivência sustentável torna-se ações fundamentais para preservação do bioma caatinga.

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2 METODOLOGIA A pesquisa foi realizada em duas comunidades rurais do município de Canto do Buriti – PI, uma que trabalha com projetos conservacionistas e desenvolvimento sustentável – comunidade A (Figura 1), e outra que não trabalha com práticas conservacionistas e mantém o modelo tradicional de produção agrícola - comunidade B (Figura 1). Com o objetivo de entender como as comunidades se posicionam diante dos problemas ambientais de desmatamento e

Figura 1- Fotos Comunidade A: a) Vegetação nativa, b) Projeto de reflorestamento da comunidade A. Comunidade B: c) Desgaste do solo e consequente desertificação, d) Área de regeneração natural.

queimadas, além de verificar as formas de produção sustentáveis adotadas. Para o desenvolvimento da pesquisa, foram realizadas visitas às comunidades no período de março a abril de 2016, momento em que foram aplicados questionários semiestruturados com nove questões que versavam sobre a temática, desmatamento e desenvolvimento sustentável. Participaram um total de 40 moradores das duas comunidades com a finalidade de verificar o interesse e conhecimento dos moradores sobre a questão ambiental. Após a coleta das informações, foi realizada a tabulação dos dados coletados no programa Excel 2010. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO Com base na pesquisa realizada na comunidade A e B foi verificado que 75% dos participantes eram do sexo masculino e 25% do sexo feminino, com uma média de idade de 30 anos. Na análise, foi percebida uma diferença entre o grau de escolaridade das comunidades, isso se deve ao fato da comunidade A, ser um assentamento que possui uma escola estadual de nível fundamental e médio. Diante disso, muitos estudantes que concluem o nível médio têm a oportunidade de fazer um curso técnico ou superior nas cidades polos ou na capital Teresina-PI fazendo com o índice de escolaridade aumente. A comunidade B foi fundada por um grupo familiar e segue as regras tradicionais de subsistência, há uma pequena escola onde funciona somente o 3° ano do ensino fundamental e para estudar as crianças se deslocam para as comunidades próximas em transportes mantidos pela prefeitura do município, a comunidade tem uma economia fragilizada sendo a principal fonte de sustento a agricultura familiar e os programas sociais. A falta de interesse devido à cultura local faz com que os jovens formem família preciosamente interrompendo os estudos, motivo esse que justifica o reduzido grau de escolaridade da comunidade B em relação à comunidade A como pode ser observado na tabela 1. 185


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Tabela 1. Grau de escolaridade dos pesquisados, na comunidade A e B do município de Canto do Buriti/PI Grau de escolaridade Superior completo Superior incompleto Ensino médio completo Ensino fundamental completo Alfabetizados Nunca estudou Total

Comunidade A 10% 15% 45% 20%

Comunidade B 0,0% 0,0% 10% 30%

10% 0,0% 100%

40% 20% 100% Fonte: SOBREIRA (2016).

Questionados sobre o que causa a maior parte do estrago da vegetação na região às queimadas ocupou a primeira posição nas duas comunidades, sendo citada por 65% dos moradores na comunidade A e 70% dos residentes na comunidade B. 15% dos entrevistados da comunidade A e 10% da B responderam que a agricultura é a grande responsável pela degradação do ambiente, enquanto a extração da madeira foi confirmada por 20% e 10% das comunidades A e B, respectivamente, como causadora da degradação ambiental local. Para Alves (2013), as atividades humanas como fogo, a pecuária extensiva, o sistema agrícola e extrativismo vegetal são os maiores responsáveis pelas transformações que o bioma caatinga tem sofrido. Ao abordar a questão ambiental 90% dos residentes da comunidade A, manifestaram notório interesse, isso se deve ao fato da comunidade trabalhar projetos de cunho conservacionista onde os moradores produzem alimento orgânico e tem apoio técnico na realização de suas atividades rurais. Quando aos entrevistados da comunidade B 65% acharam importante o tema abordado, mostrando assim que a temática ambiental não se limita a partes isoladas, mas se mostra importante para a sociedade como um todo. Para Barros (2012) a falta de conhecimento tem sido um dos maiores indicadores da degradação do bioma caatinga. Dessa forma fica nítido que se adotado um projeto sustentável na comunidade B o índice de favoráveis a questão ambiental tende aumentar. Quando questionados sobre a preservação das matas nativas os residentes da comunidade A afirmaram em 95% que é essencial para a região manter a vegetação nativa visto que estas são de grande valia para manutenção da vida silvestre. O elevado índice de aceitação da comunidade A se deu, porque os moradores são conhecedores e praticantes de sustentabilidade. Para Silva (2015), a maioria das famílias que vivem exclusivamente da agricultura de subsistência não é conhecedora de alternativas sustentáveis de produção. Isso fica claro visto que 40% dos residentes da comunidade B não se mostraram favoráveis à prevenção da vegetação. Em relação ao replantio de mudas nativas em áreas degradadas nas comunidades, a comunidade A mostrou se favorável em 80% visto que na localidade já existe uma área cercada 186


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destinada ao reflorestamento, porém 20% não se mostraram interessados alegando o processo muito trabalhoso. O índice aceitação da comunidade B quanto à temática abordada foi de 45% relativamente baixo quando comparado a comunidade anterior e 55% não satisfatórios mostrando grandes divergências entre as duas localidades. Para Toaldo & Mayine (2013), a educação ambiental continua pode formar consciências ecológicas crítica das pessoas da comunidade e melhorar essa mentalidade da comunidade B. Quando questionados sobre as espécies de árvores mais usadas na localidade os entrevistados da comunidade A, responderam que as plantas mais usadas para fins energéticos são: angico (Anadenanthera colubrina cebil) 75%,marmeleiro (Croton sonderianus), 20% e catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul) 5%, sendo que esta última aponta pela comunidade para fins medicinais. 70% dos entrevistados da comunidade B citaram angico (Anadenanthera colubrina cebil) com utilidades energéticas e medicinais, 30% do marmeleiro (Croton sonderianus), usada na comunidade como lenha. Segundo Köhler (2014), o manejo sustentável como forma de geração de renda para a comunidade é interessante fator para preservar os recursos vegetais. 4 CONCLUSÃO A adoção de práticas conservacionistas ligada ao desenvolvimento econômico e intelectual das comunidades situadas no município de Canto do Buriti é uma forma de conter um dos maiores problemas ambientais da atualidade, o desmatamento e as queimadas que tem aumentado nos últimos anos pela falta de conhecimento ou de opção de renda dos moradores das comunidades tem levado a devastação de vastas áreas do bioma Caatinga na região. São muitos os desafios para conter a retirada da cobertura vegetal nativa da região. A inclusão de projetos de conservação ambiental, sem o devido conhecimento técnico não é a solução para os problemas enfrentados pela comunidade B, pois para que se obtenham resultados consideráveis é importante trabalhar projetos que beneficiem toda a comunidade chegando aos objetivos desejados.

REFERÊNCIAS ARAUJO, Kallianna Dantas et al. Levantamento florístico do estrato arbustivo-arbóreo em áreas contíguas de caatinga no Cariri Paraibano. Revista Caatinga, v. 23, n. 1, 2010. ALVES, José Jakson Amâncio. Caatinga do cariri paraibano. Revista Geonomos, v. 17, n. 1, 2013. BARROS, José Deomar de Souza. Mudanças climáticas, degradação ambiental e desertificação no semi-árido. POLÊM! CA, v. 10, n. 3, p. 476 a 483, 2012. BERRÍOS, Rolando. Planificação e planejamento ambiental no Brasil. Terra Livre, n. 3, 2015. DA SILVA, João Batista Lopes et al. EVOLUÇÃO TEMPORAL DO DESMATAMENTO NA BACIA DO RIACHO DA ESTIVA, PIAUÍ/TEMPORAL EVOLUTION OF DEFORESTA187


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PADRÕES DE ATIVIDADE REPRODUTIVA E OCUPAÇÃO TEMPORAL DE ANUROS EM DUAS ÁREAS DO COMPLEXO DE CAMPO MAIOR, PIAUÍ João Paulo de Sousa Vasconcelos1 Maria BeatrizDias Coutinho2 NayaraDanniele Costa de Sousa3 Simone Mousinho Freire4 Kelly Polyana Pereira dos Santos5 RESUMO O estudo sobre os anfíbios no nordestino vem aumentando atualmente, mais é um ramo de pesquisa relativamente atual, inicialmente composto por informações pontuais (RODRIGUES, 2000). Até o momento o biomaCaatinga possui uma riqueza de 48 espécies de anfíbiosanuros distribuídos entre sete famílias (RODRIGUES, 2000). Objetivando Caracterizar a composição e diversidade da fauna de anfíbios do Complexo de Campo Maior, Piauí, a partir de um inventário exaustivo de espécies avaliar os padrões de riqueza e abundância relativa das espécies. Uma análise dos padrões de atividade reprodutiva e ocupação temporal de anuros foi realizada no complexo de Campo Maior (04º49’40” S e 42º10’07” O), no município de Campo Maior, Estado do Piauí, Brasil, analisando a distribuição espacial e período da atividade de vocalização das espécies registradas em áreas temporariamente empoçadas.O trabalho de campo nos três pontos açude estrela, torrões e açude grande foi realizado entre setembro de 2015 e fevereiro de 2016. Para amostragem das espécies, diferentes ambientes foram investigados intensivamente por procura ativa. Das 16espécies registradas no complexo de campo maior, 14 foram encontradas em atividade de vocalização. A família mais abundante foi Leptodactylidae, com 5 espécies inventariadas (L. fuscos, L. Latrans, L. pustulatos, L.troglodytes, L. vastus), seguido pela família Hylidae, com 4 espécies (DendropsophusaffNanus, Dendropsophus minutes, Hypsiboasraniceps, Scinax x-signatus). A família Microhylidae (GÜNTHER, 1858) foi representada por apenas uma espécie (Elachistocleispiauiensis).A realização desse trabalho pode corroborar com informações importantes para execução de políticas favoráveis para conservação da diversidade local.1

Palavras-Chave:Reprodutiva, Distribuição, Abundância e Leptodactylidae. INTRODUÇÃO Os padrões de diversidade e riqueza de espécies compõem determinados aspectos mais ressaltantes na preparação de estratégias para a conservação de ecossistemas (MMA 2002, 2006). A carência de subsídios detalhados sobre riqueza, abundância e distribuição de espécies têm sido estimadas como a principal justificativa para extensivos programas de pesquisas em ecologia e sistemática com a sugestão básica de mapear a distribuição de espécies (DINIZFILHO et al. 2005). No Cerrado, que juntamente com a Mata Atlântica é considerado como ‘hotspot’ 1 Licenciado em Ciências Biológicas graduado pela Universidade Estadual do Piauí – UESPI e-mail: joaopaulosv2011@hotmail.com 2,3 Bióloga.Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente – UFPI. 4 Doutora em Ciência Animal.Chefe do Laboratório de Zoologia e Biologia Parasiária da UESPI 5 Orientadora. Bióloga. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente – UFPI 189


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mundial de biodiversidade (MYERS et al. 2000; MITTERMEIERET al. 2005), com o grande aumento da atividade agropecuária, imensas áreas vêm sofrendo alterações ou até mesmo sendo destruídas pela expansão desse tipo de atividade (RATTERET al. 1997; KLINK & MOREIRA,2002), implicando em uma perda de espécies raras e endêmicas (SALA et al. 2000; MYERS et al. 2000; SILVA & BATES 2002; STUART et al. 2004). O conhecimento sobre a composição dos grupos de vertebrados de uma área é de importância primordial em projetos para a sua conservação (SILVANO &Segalla 2005). Entre os grupos de vertebrados do cerrado se pode citar os anfíbios que apresentam um alto grau de endemismo (DINIZ- FILHO et al. 2007), devido a estratificação horizontal do bioma, isto é, a complexidade e heterogeneidade achada em suas fisionomias (EITEN,1972; 1994), que concebem habitats diferentes para as espécies (COLLIET al. 2002) e que, juntamente com a influência dos biomas vizinhos, indicam a existência de padrões de distribuição geográfica ligadas a estas formações (BRANDÃO & ARAÚJO,2001; COLLIET al. 2002). A despeito disso, os padrões de riqueza e de endemismo das espécies de anfíbios no bioma Cerrado podem ser relevantes para constituir estratégias e medidas para sua conservação e, a partir da ampliação de esforços de amostragem nas áreas ao norte do bioma, podem-se identificar habitats disponíveis das espécies, medir parâmetros de populações e metapopulações, expandir distribuições geográficas e, ainda, descobrir novas espécies (DINIZ- FILHO et al. 2007). O Maranhão se encontra numa região que se localiza na porção norte do bioma do cerra a qual apresenta uma alta riqueza na fauna de esquama dos (lagartos e serpentes), sendo que a maior parte das áreas nativas deste bioma encontra-se nesta região(COSTA et al. 2007). O estado do Piauí também se enquadra parcialmente dentro deste cenário, com suas áreas remanescentes de Cerrado localizados ao norte do bioma, e necessitando de informações a respeito da diversidade de sua fauna, especialmente de anfíbios. A deterioração dos ecossistemas naturais tem sido avaliada como o fator responsável pelos declínios de populações em escala global, levando a alteração ou eliminação completa dos microambientes específicos explorados pelo, necessitando de estratégias urgentes para maximizar os esforços de conservação nestas populações, especialmente em regiões em que poucos dados de diversidade, abundância e distribuição estão disponíveis (BEEBEE,1996; SILVANO & SEGALLA,2005). Dessa forma, o estudo das particularidades ecológicas dos anfíbios revela-se decisivo para o sucesso de ações de conservação da biodiversidade (HEYERET al. 1994), já que podem ser um grupo indicador para estabelecer, com grande eficiência, a preservação da biodiversidade do bioma, uma vez que várias espécies possuem ampla distribuição e potencialmente podem servir como espécies-chave para avaliar longas mudanças geográficas ou globais no ambiente (DINIZ-FILHO et al. 2005; 2007). Além disso, aspectos sobre sua sistemática, ecologia e biogeografia podem atender a demandas específicas quanto ao incremento de coletas em áreas prioritárias e ao delineamento de estratégias efetivas para maximizar propostas de conservação para suas populações, especialmente em regiões com poucos dados sobre diversidade, abundância e distribuição de espécies, como nas áreas de 190


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Cerrado localizadas no estado do Piauí. O presente trabalho objetiva-se caracterizar a composição e diversidade da fauna de anfíbios do Complexo de Campo Maior, Piauí, a partir de um inventário exaustivo de espécies, assim avaliando também os padrões de riqueza e abundância relativa das espécies, examinando a contribuição das espécies locais registradas com listas de espécies de biomas adjacentes para averiguar se a distribuição das espécies locais é congruente com as áreas de ocorrência das mesmas, e assim diagnosticando o status de conservação das espécies de anfíbios no Complexo de Campo Maior – raras, endêmicas, abundantes – de forma delinear estratégias de conservação para a região. MATERIAIS E MÉTODOS No estado do Piauí, as formações vegetais sofrem a influência de diferentes domínios, como o Amazônico, o do Planalto Central e o do Nordeste, caracterizando-se por apresentar grande diversidade de ecossistemas, dentre eles o bioma Cerrado, que ocupa as porções centronorte e sudeste do estado (5,6 % do Cerrado do Brasil), dos quais 70,4 % em sua área de domínio e 29,6 % em sua área de transição (CEPRO, 1992, 1996). Nas áreas de mudança há um tipo de vegetação que se denomina de Complexo de Campo Maior que compõem estas áreas consideradas de tensão ecológica (RIVAS,1996), que faz parte de um maior domínio fitoecológico da bacia hidrográfica do Rio Parnaíba (FARIA & CASTRO, 2004). As coletas foram realizadas mensalmente em 6 pontos amostrais no município de Campo Maior, que representa Complexo de Campo Maior, em que esses pontos foram selecionados de acordo com a ação antrópica sob esses determinados pontos de coletas. A procura de anfíbios foi realizada com lanternas, nos microambientes disponíveis para reprodução. Buscas diurnas também foram realizadas para procura de espécies diurnas e abrigos utilizados habitualmente pelas espécies. Em cada área, riqueza e abundância foram estimadas, pelas vocalizações dos machos, possibilitando a determinação das espécies mais representativas de cada microambiente, e pela observação direta, a partir do número de indivíduos de cada espécie em cada área. O esforço amostral e a taxa de encontro de anfíbios foram medidos em horas de procura visual (MARTINS & OLIVEIRA, 1998). A avaliação da eficiência de amostragem foi obtida pela média de 10.000 aleatorizações dos dias de coleta como esforço amostral com o programa EstimateS v. 7.5 (COLWELL,2005). O estimador de riqueza, baseado em abundância ‘abundance-base coverageestimator’ (ACE) foi utilizado para avaliar a riqueza esperada pela comunidade (COLWELL&CODDINGTON, 1994; COLWELL, 2005) e, com os dados obtidos, construída uma curva de acumulação de espécies, pelo software IgorPro 4.1. A contribuição da anurofauna na composição regional foi avaliada pela Compilação de listas de espécies de biomas adjacentes disponíveis na literatura, e foram comparadas com a lista elaborada no presente estudo. Posteriormente, foram submetidas a uma análise de agru-

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pamento com o método UPGMA (UnweightedPair-GroupsMethodusingarithmeticAverages), utilizando o coeficiente de similaridade de Sørensenpara dados de presença e ausência de espécies, calculado pelo programa MVSP 3.01 (Krebs 1999). Os valores abióticos – temperatura, precipitação e umidade relativa do ar – foram obtidos diariamente, pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) (http://www.inmet.gov.br/), e a influência dos parâmetros climáticos sobre riqueza e abundância foi verificada pelo coeficiente de correlação de Spearman (ZAR, 1999). RESULTADOS E DISCUSSÃO Das 16espécies registradas no complexo de campo maior, 14 foram encontradas em atividade de vocalização, em 3 (três) pontos amostrais no município de Campo Maior, Piauí: P1-Açude estrela, P2-torrões e P3-Açude grande. A maioria das espécies apresentou atividadepredominantemente noturna, com exceção de Pseudopaludicolamystacalisque foi encontrado também durante o dia, vocalizando a partir das 16:00 h. Machos da maioria das espécies vocalizaram no período de dezembro de 2015 a Fevereiro de 2016, caracterizado como estação chuvosa, durante a noite. Nos meses de agosto a novembro de 2015, que foram os meses mais secos, foi registrado menor número de espécies com machos vocalizando onde se pode observar na (tabela I). De acordo com o período de vocalização, as espécies foram sendo classificadas em: 1) prolongado – espécies que vocalizaram durante seis ou mais meses do ano (Rhinella granulosa, R. jimi, Hypsiboasraniceps, Scinax x-signatus, Leptodactylusfuscus, L. gr. latrans, L. pustulatus, L. troglodytes, L. vastus); 2) oportunístico – espécies em atividade de vocalização de quatro a cinco meses (Physalaemuscuvieri, Pleurodemadiplolister, Elachistocleis piauienses); e 3) explosivo – espécies ativas em até três meses (Eupemphixnattereri). A família mais abundante foi Leptodactylidae, com 5 espécies inventariadas (L. fuscos, L. Latrans, L. pustulatos, L.troglodytes, L. vastus), seguido pela família Hylidae, com 4 espécies (Dendropsophusaff. Nanus, Dendropsophus minutes, Hypsiboasraniceps, Scinax x-signatus). A família Microhylidae foi representada por apenas uma espécie (Elachistocleispiauiensis). A família Leptodactylidae foi a que apresentou maior riqueza de espécies, um padrão comum em inventários na região neotropical (DUELLMAN 1988; ACHAVAL& OLMOS 2003; STRANECK et al. 1993), e em diversos biomas do Brasil, como relatado em (HADDAD & SAZIMA, 1992), (BRANDÃO & ARAÚJO, 1998), (BERNARDE& MACHADO,2001), (IZECKSOHN& CARVALHO E SILVA, 2001) e Pombal & Gordo (2004). Essa família tem a facilidade de se adaptar-se facilmente a áreas degradadas e alteradas pelo homem, sendo frequentemente encontrada em ambientes urbanos (IUCN et al. 2007). Entretanto, somente o conhecimento, em diferentes graus de fatores históricos e ecológicos para cada espécie em particular poderia elucidar essas questões (VUILLEUMIER&SIMBERLOFF,1980). Tabela I-Espécies inventariadas no município de Campo Maior, PI, entre setembro 2015 e 192


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Fevereiro 2016, em cada localidade amostrada. (V) –indivíduo coletado vocalizando; (C) –indivíduo coletado sem vocalizar. Família/espécie

Pontos amostrais Pt.1-Açude estrela

Pt.2-torrões

Pt.3-Açude grande

Rhinellajimi (STEVAUX, 2002)

V

-

V

Rhinella granulosa (SPIX, 1824)

V

-

V

Dendropsophusaff. nanus(BOULENGER, 1889)

C

C

-

Dendropsophusminutus(PETERS, 1872)

V

V

V

Hypsiboasraniceps(COPE, 1862)

V

V

V

Scinax x-signatus(SPIX, 1824)

V

V

V

Leptodactylusfuscus(SCHNEIDER, 1799)

V

V

-

Leptodactyluspustulatus(PETERS, 1870)

V

V

V

Leptodactylustroglodytes(LUTZ, 1926)

V

V

-

Leptodactylusvastus(LUTZ, 1930)

V

V

C

Leptodactylusgr. latrans(STEFFEN, 1815)

C

C

C

Physalaemuscuvieri(FITZINGER, 1826)

V

V

-

Pleurodemadiplolister(PETERS, 1870)

V

-

-

Pseudopaludicolaaff. mystacalis(COPE, 1887)

V

V

V

V

V

V

BUFONIDAE GRAY, 1825

HYLIDAE RAFINESQUE, 1815

LEPTODACTYLIDAE WERNER, 1896

LEIUPERIDAE BONAPARTE, 1850

MICROHYLIDAE GÜNTHER, 1858 Elachistocleispiauiensis(CARAMASCHI E JIM, 1983)

Em relação ao modo reprodutivo das espécies, foram registrados quatro modos (Tab. 193


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II). O modo 1 com ovos e girinos exotróficos se desenvolvendo em corpos d’água lênticos foi o mais comum, ocorrendo em oito espécies (50%) nas famílias Bufonidae, Hylidae e Microhylidae. O modo 11, em que os ovos são depositados em ninhos de espumas flutuando em corpos d’águas lênticos, onde os girinos exotróficos se desenvolvem, foi o segundo em representatividade, sendo representado por quatro espécies (25%). Quatro modos reprodutivos foram registrados (DUELLMAN&TRUEB 1994, PRADO et al. 2002, HADDAD & PRADO 2005): (1) ovos e girinos exotróficos depositados em ambientes lênticos –este modo é o menos especializado e encontrado em um maior número de espécies, sendo considerado o mais primitivo (DUELLMAN&TRUEB, 1986; HÖDL,1990); (11) ovos em ninho de espuma na água e girinos exotróficos em ambientes lênticos –o ninho de espuma protege os ovos e girinos em estágios iniciais contra a dessecação; (30) ninho de espuma com ovos em primeiro estágios larvais em ninhos subterrâneos; (13) ovos depositados em ninhos de espuma flutuando em “panelas” construídas e girinos exotróficos com desenvolvimento nas poças. Essa pequena variedade de modos reprodutivos é esperada em ambientes não-florestados, uma vez que a diversidade de modos reprodutivos é mais um reflexo das características ambientais do que relações filogenéticas (DUELLMAN&TRUEB 1994). Tabela II–Sítios de vocalização e modos reprodutivos das espécies observadas nos três pontos de coletas no município de Campo Maior, PI,segundo classificação de (HADDAD & PRADO 2005) e (VIEIRA et al. 2009). Família/espécie

SÍTIOS DE VOCALIZAÇÃO

MODO REPRODUTIVO

Rhinellajimi (STEVAUX, 2002)

Corpo parcialmente submerso em águas rasas

1

Rhinella granulosa (SPIX, 1824)

Sobre o solo

1

Dendropsophusaff. nanus(BOULENGER, 1889)

Empoleirados e/ou sobreo solo

1

Dendropsophusminutus(PETERS, 1872)

Empoleirados na vegetação

1

Hypsiboasraniceps(COPE, 1862)

Sobre o solo e/ou empoleiradas na vegetação

1

Scinax x-signatus(SPIX, 1824)

Sobre galhos caídos no solo

1

BUFONIDAE GRAY, 1825

HYLIDAE RAFINESQUE, 1815

LEPTODACTYLIDAE WERNER, 1896 194


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Leptodactylusfuscus(SCHNEIDER, 1799)

Sobre o solo

30

Leptodactyluspustulatus(PETERS, 1870)

Sobre o solo e/ou corpo parcialmente submerso

11

Leptodactylustroglodytes(LUTZ, 1926)

Sobre o solo

30

Leptodactylusvastus(Lutz, 1930)

Corpo parcialmente submerso

13

Leptodactylusgr. latrans(STEFFEN, 1815)

Sobre o solo

30

Physalaemuscuvieri(FITZINGER, 1826)

Flutuando na água

11

Pleurodemadiplolister(PETERS, 1870)

Flutuando na água e/ou sobre o solo

11

Pseudopaludicolaaff. mystacalis(COPE, 1887)

Sobre o solo e/ou corpo parcialmente submerso

1

Sobre o solo

1

LEIUPERIDAE BONAPARTE, 1850

MICROHYLIDAE GÜNTHER, 1858 Elachistocleispiauiensis(CARAMASCHI E JIM, 1983)

CONCLUSÃO A realização desse trabalho pode corroborar com informações importantes para execução de políticasfavoráveis para conservação da diversidade local. Onde poderia aumentar investimento de estudos anurofaunísticos por períodos mais prolongados nas regiões semi-áridas pode acarretar no registro de outras espécies. O método de levantamento em sítios de reprodução eficiente, porém evidenciou-se a importância de empregar-se métodos integrantes, para a amostragem de espécies de reprodução explosiva. A distribuição temporal das espécies foi influenciada tanto pelo regime de chuvas, quanto pela temperatura: macho da maioria das espécies vocalizaram no período mais chuvoso e quente do ano.

REFERÊNCIAS

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198


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VARIEDADES DE PLANTAS ARBÓREAS NO ENTORNO DO AÇUDE ÁGUA BRANCA NO MUNICÍPIO DE ÁGUA BRANCA, PIAUÍ

José Gilmar Nunes Pereira1 Francisca Lucélia Santos2

Fernanda Samara Barbosa Rocha3

RESUMO Este artigo tem objetivo de realizar um estudo sobre a diversidade florística no entorno do açude Água Branca no município de Água Branca/PI, localizado na microrregião do Médio Parnaíba, a 97,1km da capital Teresina, onde foram identificados 70 vegetais arbóreos, destacando-se plantas frutiferas e lenhosas no qual a família Fabaceae apresentou maior quantidade de especies, demonstrando que a área de estudo apresenta uma grande variedade de plantas arbóreas, que se fazem necessário a sua preservação. Após realização estudo, observou-se a destruição da vegetação no entorno do mesmo, sendo que o poder público deverá tomar medidas, como: a análise dos aspectos físicos, químicos e biológicos do açude, sensibilização da população quanto aos problemas ambientais, cursos de capacitação em educação ambiental nas escolas da rede pública, recuperação e replantio das margens do açude visando uma melhor qualidade de vida para a população em geral visto que atualmente o açude possui grande importância para o município. Palavras-chave: Desenvolvimento. Diversidade. Preservação. Qualidade de vida.

1 INTRODUÇÃO O meio ambiente vem sendo afetado por ações antrópicas, e isso reflete no ambiente natural bem como na própria sociedade onde vivemos. Problemas de erosão, assoreamento, alargamento, enchentes dos corpos hídricos, dentre outros, são gerados a partir da diminuição da vegetação às margens de açudes, rios e lagos (SOUSA, 2004). Segundo Nappo e Frota (2012), os vegetais desenvolvem um papel de bastante importância em relação à conservação dos solos principalmente porque eles diminuem o impacto direto da chuva, fazem também com que a água escoe lentamente retendo os resíduos sólidos, contribuindo no processo de lixiviação e diminuindo a perda de nutrientes por erosão. Por isso as plantas são eficientes, pois reduzem as perdas de solo por erosão. 1 Graduado em Ciências Biológicas - gilmarnp2013@bol.com.br /UESPI 2 Colaboradora - Especialista em Língua Inglesa/ - luellenester100@hotmail.com / ISEPRO 3 Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Especialista em Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos e Mestranda em Ciência Animal -fernandarochavetufpi@ gmail.com / UESPI - NEAD 199


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O uso e ocupação desordenada do solo também têm levado muitos ecossistemas à degradação, inclusive as formações vegetais que acompanham os cursos d’água ou lagos. A recuperação de uma área ciliar ou mata riparia é sem dúvida essencial para harmonização de um bioma, porém não é um processo simples, ele requer um estudo detalhado da área que se deseja recuperar e para tanto é fundamental observar alguns passos importantes. Primeiramente identificar os fatores que causam a degradação de uma mata ciliar, em seguida retirar esses fatores e na sequência promover um eficiente e criterioso estudo florístico e fitossociológico das espécies nativas existentes e por último decidir que o modelo adotar no projeto de recuperação. A degradação de uma área, independentemente da atividade implantada, é verificada quando a vegetação e, por consequência, a fauna, são destruídas, removidas ou expulsas ou a camada fértil do solo é perdida, removida ou coberta, afetando a vazão e qualidade ambiental dos corpos superficiais e/ou subterrâneos de água. Quando isso ocorre, reflete-se na alteração das características físicas, químicas e biológicas da área, afetando seu potencial socioeconômico (CRISPIM, et al., 2013, p. 2).

A erosão pode ocorrer naturalmente de forma lenta e gradual, mas o maior causador são as ações antrópicas, onde podemos citar: desmatamentos, atividades agropecuárias e manejo inadequado do solo (NUNES et al., 2011). Na região Nordeste, esse processo se agrava muito por ser uma região onde as chuvas ocorrem com bastante intensidade num curto período de tempo (MARTINS et al., 2010). Este estudo teve como locus o entorno do açude Água Branca, localizado no município de Água Branca-PI, onde a área de estudo apresenta uma grande variedade de plantas arbórea que se faz necessária a preservação. O açude é uma fonte de renda para filiados à Colônia de Pescadores que, no dia 29 de março de 2016, fizeram o repovoamento de 40 mil alevinos nativos das espécies curimatã, pacu, piau e matrinxã. É uma iniciativa da Secretaria de Meio Ambiente do município, que visa fazer a melhoria da biodiversidade das espécies de peixes recompondo a ictiofauna do açude, proporciona para a população: lazer, prática de atividades físicas, passeio de moto aquática dentre outros. Neste podemos observar que existe a destruição do meio ambiente é um problema que posteriormente pode afetar o município de Água Branca, por isso a preservação ambiental dos recursos naturais faz com que sejam desenvolvidas pesquisas voltadas à identificação das principais causas e consequências da degradação do meio ambiente, e uma das consequências que encontramos na área de estudo é a erosão. Atualmente o município de Água Branca-PI tem buscado melhorias para o açude, onde foram plantadas aproximadamente 300 mudas de plantas, dentre elas Ipês (Tabebuia roseoalba e Tabebuia impetiginosa), Jambo (Syzygium malaccense L.O), Mangueiras (Mangifera indica), Nim (Azadirachta indica A. Juss), embora uma boa quantidade tenha sido removida para construção de passeio de pedestres, e revitalização da orla do açude, mas as restantes poderão contribuir bastante. Por esse motivo, mostramos a importância de podermos preservar a vegetação no entorno do açude, conscientizando a população e gestores do município de Água Branca/PI através de palestra sobre o referido conteúdo, no intuído de tornar este local em um parque ambiental. Objetivamos realizar um estudo sobre a variedade florística no entorno do açude Água Branca que servirá de subsídio para a formulação de políticas públicas ambientais para os recur200


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sos hídricos do município de Água Branca- PI e de maneira especifica identificar representantes da flora do entorno do Açude de Água Branca, reconhecer a importância ecológica da flora e orientar a população, através de palestra. 2 METODOLOGIA Caracterização da área de estudo Água Branca que foi criado pela Lei Estadual Nº 979, de 30 de abril de 1954. Localizase entre as coordenadas 05°53’32’’ e 42°38’10’’ na microrregião do Médio Parnaíba, a 97,1 km da capital Teresina. Limita- se ao Norte Lagoinha do Piauí, Sul com São Gonçalo e Hugo Napoleão, Leste com Olho D’Água do Piauí e Oeste com Agricolândia e São Pedro do Piauí. 9940 8859 O município tem 16.461 habitantes e 97,041km² (IBGE, 2010). O clima é o Tropical, alternadamente úmido e seco, com duração do período seco de seis meses, temperaturas médias entre 26°C a 37°C. O Bioma é a Caatinga. É considerada a capital econômica da região, sendo o comércio a sua principal atividade econômica (CEPRO, 2000). O açude Água Branca está localizado entre as coordenadas 05°53’32’’ e 42°38’10’’ na microrregião do Médio Parnaíba, a 97,1km da capital Teresina. O Açude de Água Branca (Figura 1) está localizado no município do mesmo nome, criado em 1930, com a finalidade de proporcionar emprego na agricultura, pois eram cultivadas culturas tais como o feijão, milho e arroz dentro de um baixão, que posteriormente se chamou de Açude de Água Branca.

Figura 1 - Imagem de satélite do Açude de Água Branca, localizado em Água Branca- PI, onde se observa todo o seu perímetro, com a vegetação marginal e área urbanizada.

Fonte: CARVALHO, 2013. 201


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De acordo com as informações de moradores idôneos, como o senhor José de Morais Filho, neto de um dos fundadores do município, a construção do açude foi manual, sendo que o material sedimentar transformado em adobo que foi usado na construção do muro do Cemitério São José. Com a retirada do barro ficou um buraco, facilitando o acúmulo de água pelo Riacho das Pedras, que tem sua nascente no município de São Pedro do Piauí. Posteriormente na gestão do Prefeito Joaquim Gomes Calado Neto (1983/1989), foi construída uma barragem para o represamento da água (NUNES et al., 2014, p. 4).

O açude Água Branca possui uma área de 16,64 ha, atualmente é considerado um importante balneário da cidade, sendo utilizado para pesca, lazer, atividades físicas, como caminhada e ciclismo. Identificação do material botânico Foram coletadas, no entorno do açude Água Branca, plantas arbóreas, onde foi feita a identificação taxonômica das espécies vegetais (Figura 2) com ajuda de pessoas que conhecem as plantas pelo nome vulgar que logo após foram pesquisadas em fontes bibliográficas disponíveis e colocadas seus nomes científicos.

Figura 2 - Imagem da identificação das plantas no entorno do Açude de Água Branca, localizado em

3 RESULTADO E DISCUSSÃO Foram identificados 70 espécimes arbóreos, destacando-se plantas frutiferas e lenhosas. Encontramos a familía Fabaceae que apresentou maior quantidade de especies (Tabela 1), demonstrando que a área de estudo apresenta uma grande variedade de plantas arbóreas, que se fazem necessário à sua preservação, pois o açude além de ser uma fonte de renda para filiados à Colônia de Pescadores proporciona para a população: lazer, prática de atividades físicas e passeio de moto aquática. Tabela 01 – Espécies arbóreas identificadas no entorno do açude Água Branca localizado no município de Água Branca-PI. Científico NOME VULGAR Abacateiro Acerola

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Persea americana Malpighia emarginata

FAMÍLIA Lauraceae Malpighiaceae


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Algodoeiro Angico Aroeira Assa Peixe Ata Azeitona Babaçu Bambu Bananeira Burdão de Velho Buriti Cachorro Pelado Cafeeiro Cajá Cajueiro Carambola Carnaúba Cedro Coco Coité Condeça Embaúba Espinheiro Preto Eucalipto Fedegoso Frei Jorge Genipapo Goiabeira Grão De Galo Graviola Ingazeiro Jaqueira Jambo Jatobá Laranjeira Limoeiro Mamoeiro Mamona Mandacarú Mangaba Mangueira Marfim Maria Mole

Gossypiums sp. Anadenanthera colubrina Schinus molle L Vernonia polyanthes Less. Annona squamosa Vismia brasiliensis Orbignya speciosa Bambusavulgaris Musa paradisíaca L. Stryphnodendron polystachium Mauritia flexuosa Euphorbia tirucalli Coffea arábica Spondias mombim Anacar diumoccidentale L. Oxalidaceae Copernicia prunifera Cedrela brasiliensis Cocos nucifera L. Crescentia cujete Anona reticulada Cecropia pachystachya Acacia glomerosa Benth. Eucalyptus globulus Senna trachypus Cordia goeldiana Huber Genipa infundibuliformis Psidium guajava Abuta grandifolia (Mart.) Anona muricato Ínga edulis (Mar)t. Artocarpus heterophylla Syzygium jambos Hymenaea stigonocarpa Citrus sinensis L. Citrus limon Carica papaya Ricinus communis Cereus jamacaru Hancornia speciosa Mangifera indica Balfourodendron riedellianum Guapira nítida

Malvaceae Fabaceae Anacardiacea Asteraceae Annonaceae Guttiferae Arecaceae Poaceae Musaceae Mimosaceae Palmae Euphorbiaceae Rubiaceae Anacardiaceae Anacardiaceae Averrho carambola Arecaceae Meliaceae Arecaceae Bignoniaceae Annonaceae Cepropiaceae Legum. Mimosoideae Myrtaceae Legum. Cesalpiniáceas Boraginaceae Rubiaceae Myrtaceae Menispermaceae Annonaceae Legum. Mimosoideae Moraceae Myrtaceae Fabaceae Rutaceae Rutaceae Caricaceae Euforbiácea Cactáceaes Apocynaceae Anacardiaceae Rutaceae Nyctaginaceae 203


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Moreira Mufumbo Mutamba Nim None Pajaú Pata de VacaMororó Pau Darco amarelo Pau Darco Branco Pau Ferro Pereira Pitomba Quebra Machado Romãzeira Sabueiro Seriguela Sete Folha Tamarindo Tangerineira Taturubá Timbó (Venenoso) Umbu Unha De Gato Violeta Chichá

Maclura tinctoria

Bauhinia forficata

Moraceae Combretaceae Sterculiaceae Meliaceae Rubiaceae Poligoniáceas Fabaceae

Tabebuia vellosoi

Bignoniaceae

Tabebuia roseo-alba Caesalpinia férrea Platycyamus regnellii Talisia esculenta

Bignoniaceae Fabaceae (Leguminosae) Fabaceae-Papilionoideae Sapindaceae Meliaceae

Cnidoscolus quercifolius Guazuma ulmifolia Azadirachta indica A. Juss Morinda citrifolia Triplaris pachau.

Trichilia clausseni Punica granatum Sapindus saponaria L. Spondias purpúrea Zygia latifólia Tamarindus indica L. Citrus reticulata Pouteria macrophylla (Lam.) Magonia pubescens Spondias tuberosa Mimosa paraibana Viola odorata Sterculia chicha

Lythraceae Sapindaceae Anacardiaceae Fabaceae- Mimosoideae Fabaceae Rutáceas Sapotaceae Sapindáceas Anacardiáceaes Fabacea- Mimosoidea Fabáceas Sterculiaceae

Observamos que houve um desmatamento ocorrido ao longo do tempo(Figura 3), a margem direita foi construída uma orla com vias duplas de 7m de largura, pista para pedestres, acessibilidade, pousadas, recebeu também iluminação pública caís, kiosques e um canteiro central de 2m de Figura 3 – Margem direita no entorno do Açude de largura, com mudas de ipê, jambo, manÁgua Branca, localizado em Água Branca-PI. Fonte: gueiras e niim muito próximo á margem PIMENTEL, 2016. do açude destruindo totalmente a vegetação nativa, na mesma margem na parte superior do açude existem muitos quintais que chegam até o açude, prejudicando o acesso a população e ao mesmo tempo poluindo o mesmo,onde estes são constituídos por vegetais exóticos e plantas frutíferas dos mais diversificados tipos: 204


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(caju, manga, acerola cajá, carambola, ata, coqueiro, jaca, pitomba, etc.), e na parte inferior recebeu a ampliação da ponte. Já,na margem esquerda, a vegetação nativa foi quase que totalmente destruída (Figura 4) restando apenas algumas espécies como por exemplo: Angico (Anadenanthera colubrina), Aroeira (Schinus molle L), Babaçu (Orbignya speciosa), Carnaúba (Copernicia prunifera), Jatobá (Hymenaea stilbocarpa), Pau D’arco amarelo (Tabebuia vellosoi), Violeta (Viola odorata) e outros. Figura 4 - Imagem onde observa- se o desmatamento no entorno do Açude de Água Branca, localizado em Água Branca- PI.

Fonte: PEREIRA (2016) Dentre os estudos que estão relacionados com a vegetação do entorno de ambientes aquáticos, principalmente em açudes, podendo-se citar França et al. (2003) que realizou estudos em seis açudes no município de Feira de Santana e Anguera, onde foram listadas 121 espécies distribuídas, em 46 famílias. As famílias mais representativas foram: Cyperaceae, com 18 espécies (14,9%), Poaceae, com 13 (10,7%), Asteraceae, com 10 (8,3%), Scrophulariaceae e Fabaceae, com 6 (5,0%). As espécies que ocorreram em todos os açudes foram Pistia stratiotes L (Araceae), Echinochloa colona (L.) Link (Poaceae), Nymphaea ampla (Salisb.) DC. (Nymphaeaceae) e Oxycarium cubense (POEPP. &KUNTH.) Lye (Cyperaceae). Silva et al. (2003) realizaram pesquisa sobre a cobertura vegetal da bacia hidrográfica do açude Namorado, no Cariri Oriental Paraibano, identificando 33 espécies lenhosas, sendo Caesalpinia pyramidalis, Aspidosperma pyrifolium, Pilosocereus gounellei, Croton sonderianus e Jatropha mollissima as mais abundantes e de baixíssima densidade as arbóreas típicas de caatinga. Este estudo foi realizado no intuito de mostrar a importância de preservarmos a vegetação no entorno do açude Água Branca, visto que podemos encontrar diversas espécies de plantas e sua destruição poderá causar vários danos ao açude e a própria população que vivem às margens, provocando erosão e posteriormente o assoreamento, alargamento e enchentes. 205


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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após realizar estudo sobre a variedade florística no entorno do açude Água Branca, constatamos a destruição da vegetação no entorno do mesmo, sendo que o poder público deverá tomar medidas, como: a análise dos aspectos físicos, químicos e biológicos do açude, sensibilização da população quanto aos problemas ambientais, cursos de capacitação em educação ambiental nas escolas da rede pública, recuperação e replantio das margens do açude visando uma melhor qualidade de vida para a população em geral, visto que atualmente o açude possui grande importância para o município, como fonte de renda para os pescadores, ponto turístico e área de lazer para a comunidade. Com isso, espero que este possa contribuir para o desenvolvimento do nosso município. REFERÊNCIAS CRISPIM, D. L.; LEITE, R. P.; CHAVES, A. D. C. G.; MARACAJÁ, P. P.; SILVA. L. A. Proposta de recuperação da mata ciliar do açude do bairro santo amaro em Pombal – PB. Revista Brasileira de Gestão Ambiental GVAA – Grupo Verde de Agroecologia e Abelhas– Pombal – PB – Brasil,V. 7, N. 2, P. 20 - 23, Abr - Jun, 2013. DIAGNÓSTICO SÓCIO ECONÔMICO DO MUNICÍPIO DE ÁGUA BRANCA-PI. Disponível em: http://www.cepro.pi.gov.br/download/201102/CEPRO16_ba5a098f56.pdf. Acesso: 22.02.2016 às 13: 30h. FRANÇA F.; MELO, E.; NETO, A. G.; ARAÚJO, D.; BEZERRA, M. G.; RAMOS, H. M.; CASTRO, I.; GOMES, D. Flora vasculares de açudes de uma região do semiárido da Bahia, BRASIL. Acta Botânica Brasílica, v. 17, p. 549-559, 2003. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em: <http://cod. ibge.gov.br/15D3>. Acesso: 22. 02.16às 17h. MARTINS, S. G.; AVANZI, J. C.; SILVA, M. L. N.; CURI, N.; NORTON, L. D.; FONSECA, S. Rainfall erosivity and rainfall return period in the experimental watershed of Aracruz, in the Coastal plain of Espirito Santo, Brazil. Revista Brasileira de Ciências do Solo, v. 34, p. 999-1004, 2010. NAPPO, M. E; FROTA, P. Processo erosivo e a retirada da vegetação na bacia hidrográfica do açude Orós-CE. Revistageonorte, v. 4, p. 1472-1481, 2012. NUNES, A. N.; ALMEIDA, A. C.; COELHO, C. O. A. Impacts of land use and cover type on 206


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runoff and soil erosion in a marginal area of Portugal. Applied Geography, v. 31, p. 687-699, 2011. NUNES, J. G. P; SANTOS, G, S; CONCEIÇÃO, G, M. Aspecto Socioeconômico e Ambiental do Açude Água Branca em Água Branca-PI. Revista Agrarian Academy, 2014. SILVA, A. P. P.; CHAVES, I. B.; SAMPAIO, E. V. S. B. Cobertura vegetal da bacia hidrográfica do Açude Namorado no cariri oriental paraibano. Revista Agropecuária Técnica, Areia, v. 24, p. 47-59, 2003. SOUZA, M. N., Degradação e recuperação ambiental e desenvolvimento sustentável. UFV-Viçosa, dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Viçosa, 2004. Disponível em:<http://www.riopomba.ifsudestemg.edu.br/portal/sites/default/files/arq_paginas/3tese_ final_mauricio_novaes.pdf>acesso em 14 de agosto de 2016.

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PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DO 3º ANO DE CANTO DO BURITI-PI ACERCA DA IMPORTÂNCIA DO SANEAMENTO BÁSICO PARA A QUALIDADE AMBIENTAL Jucimara Barros Brito1 Simone Mousinho Freire 2 Teresa Maria Alcântara Neves3 Fernanda Samara Barbosa Rocha 4 RESUMO Preservar a natureza e oferecer melhores condições ambientais a nosso planeta significa melhorar a qualidade de vida. Sabendo que a qualidade de vida e ambiental depende de medidas de saneamento básico, propusemo-nos a analisar a percepção de alunos do 3º ano do ensino técnico do Centro Estadual de Educação Profissional Maria Chaves (CEEP) de Canto do Buriti-PI acerca da importância do saneamento básico para a qualidade de vida e ambiental, utilizando como instrumento aplicação de questionário. Para a análise dos dados, utilizamos a perspectiva qualitativa, com traço quantitativo, estatístico e descritivo. Por meio da pesquisa, percebemos que os alunos têm uma visão simplista a respeito do significado de meio ambiente. Em relação às doenças transmitidas pela água, os alunos mostraram ter conhecimento sobre tais, outros ao contrario citaram Dengue, Chikungunya e Zika. Com relação à água, muitos disseram não economizar na hora de escovar os dentes. A respeito dos resíduos sólidos, eles têm uma visão mais aberta sobre essa questão, separando lixo orgânico, do inorgânico, não jogando lixo na rua ou em rios e realizando limpeza onde moram.

Palavras-chave: Discentes. Percepção. Saneamento básico. ABSTRACT

Preserve nature and provide better environmental conditions to our planet means improving the quality of life. Knowing the quality of life and depends on environmental sanitation measures. We set out to analyze the perception of students of the 3rd year of technical education in the State Center of Mary Keys Professional Education (CEEP) of Canto do Buriti, PI about the importance of sanitation to the quality of life and environmental, using as application tool questionnaire. To analyze the data we used qualitative perspective with a quantitative trait and descriptive statistics. Through research, we realized that students have a simplistic view about the meaning of the environment. In relation to waterborne diseases showed the students have knowledge of such, unlike other cited Dengue Chikungunya and Zika virus. With regard to water, many said they did not save time to brush your teeth. Regarding the solid waste they have a more open view on this issue, separating organic waste, inorganic, not throwing garbage on the street or in rivers and performing cleaning where they live.

Keywords: Students. Perception. Basic sanitation. 1 Graduada em Ciências Biológicas Pós-graduanda do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação, pela Universidade Estadual do Piauí / Universidade Aberta do Brasil, Polo de Apoio Presencial de Canto do Buriti – PI. - jucibbrito@hotmail.com / UFPI 2 Doutora em Ciência Animal. Chefe do Laboratório de zoologia e biologia Parasitária/ UESPI – simoneuespi@gmail.com/ UESPI Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Especialista em Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos e Mestranda em Ciência Animal – fernandarochavetufpi@gmail.com / UESPI – NEAD. 3 Coordenadora da Disciplina TCC - Curso de Especialização em Biodiversidade. Especialista e Mestre em Saúde da Família - teresa_alcantara@yahoo.com / UESPI - NEAD 4 Orientadora - Curso de Especialização em Biodiversidade. Especialista em Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos e Mestranda em Ciência Animal – fernandarochavetufpi@ gmail.com / UESPI – NEAD. 209


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1 INTRODUÇÃO Preservar a natureza e oferecer melhores condições ambientais a nosso planeta significa melhor qualidade de vida para todos nós (EMBRAPA, 2012). Dessa forma, cada indivíduo, inserido no meio ambiente, percebe, reage, age e responde diferentemente às ações no e sobre o ambiente, tornando-se de grande importância estudos sobre percepção ambiental (BRAGA; MARCOMIN, 2008). Devido à ação antrópica nos últimos anos, vários são os problemas ambientais que têm nos assolado e as drásticas transformações pelas quais tem passado o planeta. Dessa forma, tornase necessário trabalhar a Educação Ambiental, uma relevante ação educacional contemporânea, que vem sendo desenvolvida mundialmente (REIGOTA, 2004). Segundo Marques et al. (2012), saneamento básico compreende-se a forma de controlar os fatores que afetam o meio ambiente, trazem prejuízos à saúde e, em consequência, reduzem o desenvolvimento de uma comunidade. De acordo com Ribeiro e Rooke (2010), dentre as principais atividades de saneamento estão: a coleta e o tratamento de resíduos das atividades humanas tanto sólidos quanto líquidos (lixo e esgoto), prevenir a poluição das águas de rios, mares e outros mananciais, garantir a qualidade da água utilizada pelas populações para consumo, bem como seu fornecimento de qualidade, além do controle de vetores. A qualidade de vida das pessoas depende dessas medidas de saneamento. A qualidade de vida de uma população depende de suas condições de existência, do seu acesso a certos bens e serviços econômicos e sociais: emprego e renda, educação básica, alimentação adequada, acesso a bons serviços de saúde, saneamento básico, habitação, transporte de boa qualidade etc. (ADRIANO et al. 2000, p. 54)

Contudo, trabalhar a percepção ambiental acerca do saneamento básico é de suma importância, principalmente junto aos jovens para que haja uma mudança de atitude em relação às questões ambientais. Pois segundo Oliveira e Corona (2008), o estudo da percepção ambiental, nesse contexto, pode se tornar uma ferramenta importante da educação ambiental e dos órgãos responsáveis pela elaboração das políticas ambientais. A escola desenvolve papel fundamental na formação da consciência ambiental, por meio de um ensino ativo e participativo, capaz de superar as dificuldades vividas de modo geral pela escola na atualidade calçada em modos tradicionais, os jovens ainda são treinados para ignorar as consequências ecológicas de seus atos (CASTOLDI; BERNARDI; POLINARSKI, 2009). Dessa forma o desenvolvimento de atividades que colaborem com a educação ambiental nas escolas é importante, e para isso é necessário analisar a percepção que os alunos têm de meio ambiente, para auxiliar os educadores. Sendo assim, esta pesquisa foi desenvolvida, objetivando analisar a percepção de alunos do 3º ano do ensino técnico do Canto do Buriti – PI sobre a importância do saneamento básico para a qualidade ambiental, identificando e estudando os problemas ocasionados por falta de 210


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saneamento e sensibilizando os mesmos frente a essas questões e com isso fornecer subsídios para a implantação de projetos e ações com relação à educação sanitária e ambiental nessa cidade. 2 METODOLOGIA Área de estudo Canto do Buriti está localizado na microrregião de São Raimundo Nonato, compreendendo uma área de 4.400km2, tendo como limites ao norte os municípios de Pavussu e Pajeú do Piauí, ao sul Guaribas, a leste Tamboril do Piauí e Brejo do Piauí, e a oeste Cristino Castro, Colônia do Gurguéia e Eliseu Martins. A sede municipal tem as coordenadas geográficas de 08o06’36” de latitude sul e 42o56’38” de longitude oeste de Greenwich e dista 405 km de Teresina (AGUIAR; GOMES, 2004). Método A pesquisa possui uma abordagem qualitativa e certo traço quantitativo por meio da estatística descritiva que, conforme Bertolo (2010), envolve a coleta, a organização, a descrição dos dados, o cálculo e a interpretação de coeficientes. Para a coleta dos dados, foi utilizado como instrumento um questionário baseado nos 3 domínios (Relação indivíduo/ambiente; Ações individuais em favor do ambiente e Hábitos pessoais e ambiente) abordado por Villar et al. (2008). O questionário foi aplicado aos alunos do 3º ano do ensino técnico do Centro Estadual de Educação Profissional Maria Chaves (Figura 1) para investigar percepção destes a respeito da importância do saneamento básico para a qualidade de vida e Figura 1. Vista Panorâmica do Centro Estadual de ambiental. Para a aplicação do questionário, Educação Maria Chaves. Fonte: BRITO (2016) foi selecionado aleatoriamente 5 alunos de três turmas de 3º ano. A escola foi selecionada por ser uma escola de destaque na cidade pela qualidade do ensino oferecido a população de Canto do Buriti- PI. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO O público alvo da pesquisa foram alunos do 3º ano do Centro Estadual de Educação Profissional Maria Chaves. Dos alunos entrevistados 10 eram do sexo masculino e 5 feminino. O questionário aplicado era composto de duas questões abertas e quatro fechadas. Inicialmente os alunos foram questionados acerca do significado de meio ambiente, pôde-se perceber que são muitas as definições citadas sobre o tema (Tabela 1), a maioria define o meio ambiente como o local onde moramos e executamos nossas ações. Segundo Branco (2009), meio ambiente é considerado como todo e qualquer espaço de ação humana. 211


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Tabela 1 - Definição de meio ambiente dada pelos alunos do 3º ano do ensino técnico do Centro Estadual de Educação Profissional Maria Chaves do Município de Canto do Buriti “Área que vive todos os reinos e onde vivemos” “O local aonde se vive ou trabalha em fim, é todo local que seja frequentado por você” “É o espaço natural onde vivemos e nos socializamos uns com os outros” “É tudo o que existe no planeta terra” “Meio ou local onde se habita” “É o local onde vive os seres humanos e os animais, etc.” “Ciência que estuda os processos da natureza e suas transformações. Ex: aquecimento global. O profissional do meio ambiente é ambientalista que defende o meio ambiente” “Significa o mundo em que todo ser vivo habita” “É o meio em que vivemos” “Tudo aquilo que faz parte da natureza, ou seja, o meio natural em que vivemos” “É tudo que compõe o meio em que vivemos bem como, solo, plantas (vegetação) e animais” “É todos os organismos presentes em nosso planeta, como plantas, solos, animais e águas” “Área em que moramos, ambiente onde devemos limpar, cuidar” “Ar puro, cuidado com ar, árvores, rios limpos, saneamento...” “É o local em que vivemos onde estamos em contato com a fauna e a flora”

Fonte: BRITO (2016) Quando questionado sobre as doenças que podem ser transmitidas pela água, os alunos mostraram ter conhecimento sobre tais, conforme o descrito na tabela 2. Entretanto também foram citadas doenças como a Dengue, Chikungunya e Zika que mesmo não sendo transmitida pela água, são doenças que para se proliferar necessita de água, isso pode ter sido um dos motivos pelo qual estas doenças também foram citadas. Tabela 2 - Doenças transmitidas pela água citadas pelos alunos do 3º ano do ensino técnico do Centro Estadual de Educação Profissional Maria Chaves do Município de Canto do Buriti. Definições Leptospirose Esquistossomose Hepatite Diarreia Dengue, Chikungunya e Zika Vírus

Número de citações 5 4 2 2 6

Fonte: BRITO (2016) A respeito das ações individuais em favor da área ambiental, quando perguntados se escovam os dentes com a torneira aberta, 94% responderam que sim e apenas 6% responderam que não. Dessa forma, podemos perceber que a maioria dos alunos considera correto esse tipo de ação, não se atendo que esta ação gera desperdício de água, provocando grandes prejuízos ao meio ambiente. 212


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Nessa perspectiva, torna-se necessário mudar nossas ações com relação ao meio ambiente. Conforme Saraiva, Nascimento e Costa (2008), essas iniciativas dependem em muito de uma política que torne efetivas as ações que partam desse pressuposto. Sobre isso, é preciso salientar que a água é o bem mais precioso da natureza, sendo esta indispensável à vida e deve ser preservada. Nesse sentido, Poleto (2010) diz que a água é um recurso finito, podendo ser escassa ou não, dependendo da sua localização no globo e de como está sendo gerenciada. Contudo, não é mais segredo que os recursos hídricos do planeta estão se esgotando gradativamente e que, além da poluição dos rios e dos mananciais, o consumo irresponsável e sem fundamentação sustentável no desenvolvimento econômico é um fator relevante na redução da água (DETONI; DONDONI; PADILHA, 2007). Quando questionados “você separa lixo orgânico (comida) do inorgânico (vidro, jornais, plástico) na hora de jogá-lo fora?” a maioria disse que sim (Figura 2), sendo que a separação do lixo é importante para a qualidade ambiental. Nesse sentido, Felix (2007) aponta “dentre os diversos problemas ambientais mundiais, a questão do lixo é das mais preocupantes e diz respeito a cada um Figura 2: Se separa lixo orgânico do inorgânico na hora de jogá-lo fora. Fonte: BRITO (2016) de nós”. A respeito dos hábitos pessoais e ambientais, quando perguntados sobre jogar lixo na rua ou em rios, a maioria disse não ter essa atitude (Figura 3) dando destino adequado aos resíduos produzidos. Lunard e Lunard (2008) apontam que com o advento da era industrial, houve um aumento do poder aquisitivo e a mudança do perfil do consumidor, o que proporcionou uma produção maior de resíduos provenientes dos produtos industrializados que são jogados em ambientes naturais e não em locais adequados. Com relação à limpeza do ambiente Figura 3 – Se joga lixo na rua ou em rios. Fonte: BRITO (2016) em que moram 93% disseram que realizam a limpeza sistematicamente e 7% disseram não. Sobre essa questão é importante apontar que a falta de saneamento básico tem consequências graves para a qualidade de vida da população, principalmente àquelas mais pobres distribuídas em pequenas vilas e bairros e até em comunidades rurais (MARQUES et al., 2012). Torna-se necessário lembrar que existe uma lei, a Lei Federal nº 11. 445, de 05 de janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico. Esta lei, em seu 213


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artigo 20, inciso III, cita alguns serviços públicos de saneamento básico como: abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente. Contudo, para os efeitos desta lei, considera-se saneamento básico conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do objetivo e análise dos resultados, é possível perceber que os alunos possuem percepção ambiental a respeito de meio ambiente e resíduos sólidos, pois se mostraram conscientes sobre esses temas. Nos dias atuais, trabalhos sobre percepção ambiental são muito importantes, pois a maioria das pessoas ainda tem uma visão simplista acerca das questões ambientais. Sendo que o melhor local para se tratar essas questões é a escola, pois ela tem o papel de provocar discussões e reflexões a respeito dos problemas ambientais. Contudo, podemos concluir que trabalhos desse cunho são de extrema importância para sensibilizar as pessoas a respeito de que o saneamento básico contribuindo decisivamente para a qualidade de vida e ambiental. REFERÊNCIAS ADRIANO, J. R; WERNECK, G. A. F; SANTOS, M. A; SOUZA, R. C. A construção de cidades saudáveis: uma estratégia viável para a melhoria da qualidade de vida? Ciência & Saúde Coletiva, v. 5, p. 53-62. 2000. AGUIAR, R. B.; GOMES, J. R. C. Projeto Cadastro de Fontes de Abastecimento por Água Subterrânea no Estado do Piauí – Diagnóstico do Município de Canto do Buriti. Ministério de Minas e Energia, Secretaria de Desenvolvimento Energético / Secretaria de Minas e Metalurgia, Programa Luz Para Todos, Programa de Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios – PRODEEM, Serviço Geológico do Brasil – CPRM, Diretoria de Hidrologia e Gestão Territorial, 23 p. Fortaleza, Março, 2004. BRAGA, R. N.; MARCOMIN, F. E. Percepção Ambiental: uma análise junto a moradores do entorno da Lagoa Arroio corrente em Jaguaruna, Santa Catarina. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 21, p. 239, 2008. BRASIL. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. EMBRAPA MEIO AMBIENTE. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Educação ambiental para o desenvolvimento sustentável. p. 346, 2012. BRASIL. Politica Federal de Saneamento Básico. Brasília, 2007. Disponível em: http:// www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm. Acesso em: 12 de Novembro de 2015. BRANCO. S. Atividades com temas transversais. São Paulo: Cortez, 2009. 214


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IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO TRÁFICO ILEGAL DE ANIMAIS SILVESTRES Maria Laurentina de Brito Veras1 Simone Mousinho Freire2 Tereza Maria de Alcântara Neves3 Weslany de Oliveira Dantas4 RESUMO O Brasil, por possuir grande biodiversidade, é um dos países mais afetados com o tráfico ilegal de animais silvestres representando um dos maiores problemas mundiais atualmente. Objetivou-se relatar, por meio de revisão bibliográfica, o impacto ambiental causado pelo tráfico de animais silvestres, analisando o histórico dessa atividade ilícita e discutir as causas que levam à esta prática, bem como seu efeito para a biodiversidade. A metodologia utilizada no trabalho baseou-se na pesquisa bibliográfica, por meio de artigos, da observação de dados oficiais da ONG Renctas, buscas realizadas em páginas na internet (teses, anais, congressos e revistas eletrônicas) e dados do IBAMA. É uma atividade ilegal que só beneficia os traficantes de animais, por se tratar de um comércio lucrativo. Os motivos mais comuns que incentivam esta prática são a biopirataria, uso de animais para petshops e uso de produtos e subprodutos. A classe aves é a mais afetada, devido à beleza de suas penas e pelo seu canto. É necessário adotar campanhas educativas e aumentar consideravelmente a fiscalização, conscientizar a população através da educação ambiental é um elemento essencial ao combate do tráfico de animais silvestres. Palavras-chave: Fauna. Impacto ambiental. Comércio ilegal.

1 INTRODUÇÃO Segundo Sick (1997a), as espécies de animais silvestres como mamíferos, aves, répteis, anfíbios e até insetos eram utilizadas na alimentação dos índios. Além da alimentação, as aves eram utilizadas na ornamentação indígena, pois suas penas coloridas enfeitavam flechas, cocares, braçadeiras, colares e outros itens (SICK, 1997b) e as penas de araras serviam de arte plumária (SANTOS 1990). Os índios se preocupavam em manter a alimentação correta de cada animal e tinham perfeito conhecimento do modo de vida das espécies (SICK, 1997b). A utiliza1 Graduada em Licenciatura em Biologia-UFPI/Pós-graduada em Gestão, Coordenação, Planejamento e Avaliação Escolar-INTA-FID. Pós-graduanda em Biodiversidade e Conservação. E-mail: paulaveras09@hotmail. com 2 Bióloga, Doutora em Ciência Animal, Mestre em Ciência Animal e Especialista em Zoologia pela Universidade Federal do Piauí. simoneuespi@gmail.com ³ Mestre em Saúde da Família pela UNINOVAFAPI. Graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí, Especialização em Odontopediatria pela Associação Brasileira de Odontologia, Especialização em Saúde da Família pela NOVAFAPI. Email: tereza_alcntara@yahoo.com.br 4 Orientadora. Graduada em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí, Especialista em Saúde Pública e Mestre em Clínica Odontológica. Professora do Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação NEAD/UESPI. weslanywes@yahoo.com.br 217


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ção da fauna silvestre pelos índios era realizada com alguns critérios como o fato de não abater fêmeas grávidas ou animais em idade reprodutora, sem ameaçar a sobrevivência das espécies (MUSITI, 1999). O Brasil encontra-se entre os países de maiores riquezas de fauna do mundo, chegando a ocupar primeiro lugar no número total de espécies (MITTERMEIER et al., 1992). No entanto, estima-se que o tráfico de animais silvestres movimente aproximadamente 2 bilhões de dólares por ano, sendo responsável por 10% dos 20 bilhões que circulam em razão de tal prática, e consequentemente na terceira atividade clandestina que mais movimenta dinheiro no mundo (OLIVEIRA, 2012). De acordo com a Rede Nacional de Combate ao tráfico de animais silvestres (RENCTAS), aproximadamente 60% dos animais traficados são comercializados ou destinados a pesquisa cientifica de forma ilegal (biopirataria), e os 40% são destinados para o exterior a colecionadores. Segundo o IBAMA (2006), traficar animais silvestres é retirar os espécimes da natureza para que elas possam ser vendidas no mercado interno brasileiro ou para o exterior e, para Norberto (2009), o tráfico de animais silvestres é a atividade que retira, de modo ilegal, os espécimes da natureza para serem comercializados. Animais silvestres são aqueles que pertencem às espécies nativas de uma determinada região, sendo migratórias, aquáticas ou terrestres, que tenham a sua vida ou parte dela ocorrendo naturalmente dentro dos limites do Território Brasileiro e suas águas jurisdicionais (IBAMA, 2006).De acordo com a Lei de Crime ambiental, Lei n.º 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, art. 29, matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida gera pena de detenção de seis meses a um ano (BRASIL, 1998). Dados do primeiro Relatório Nacional sobre Tráficos de Animais Silvestres (RENCTAS, 2001), produzido pela Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente no ano de 2005, mostram que, cerca de 5% a 15% do total mundial do tráfico de animais silvestres correspondem a espécies brasileiras. Estima-se que, para cada produto animal comercializado, são mortas pelo menos três espécies. Para Renctas (2011), o tráfico de animais é considerado a terceira maior atividade ilegal no mundo, perdendo apenas do tráfico de armas e de drogas. Cabe ao IBAMA, entre outras atribuições, exercer o gerenciamento, controle, proteção e preservação das espécies silvestres brasileiras da fauna e da flora (AVELINE & COSTA, 1993; IBAMA, 2000a). Porém, às vezes se torna difícil ou praticamente impossível fiscalizar áreas de fronteiras como o pantanal e a região Amazônica (LE DUC, 1996). No Piauí, o Cetas (Centros de Triagem de Animais Silvestres) recebeu no ano de 2011 um total de 1.609 animais silvestres, sendo que a classe mais afetada foi Aves, em seguida os répteis e por último os mamíferos (MOURA et al., 2011). Segundo Machado et al. (2008), o Piauí possui 18 espécies de animais silvestres ameaçadas de extinção. O estado também é rota de passagem para a realização do tráfico ilegal de animais vindos da região Norte, destinados 218


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aos grandes centros consumidores localizados da região Sudeste (RENCTAS, 2001). Apesar de esta prática ser proibida, ainda é fácil encontrar animais a venda, bem como suas partes e produtos para serem comercializadas (ROCHA, 1995). A feira de Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro, é considerada a maior do país em relação a essa prática (SICK, 1972). Além dessa, ainda no Estado do Rio, existem mais cem feiras comercializando animais ilegalmente (BRAGA et al., 1998). Portanto, a história do tráfico de animais silvestres é um desrespeito a Lei e também uma devastação bastante cruel à fauna. Com base nessas informações, objetivou-se relatar por meio de revisão bibliográfica o impacto ambiental causado pelo tráfico de animais silvestres, bem como analisar o histórico dessa atividade ilícita e discutir as causas que levam à prática deste tráfico, bem como seu efeito para a biodiversidade. 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Tipo de Pesquisa Trata-se de uma pesquisa bibliográfica realizada por meio de artigos em língua portuguesa e alguns traduzidos, da observação de dados oficiais da ONG Rede Nacional de Combate ao tráfico de animais silvestres (RENCTAS), buscas realizadas em páginas na internet (teses, anais, congressos e revistas eletrônicas), no órgão do Ministério do Meio ambiente (IBAMA), a fim de encontrar dados concernentes à temática em questão. Além disso, foram utilizados 29 textos da literatura para a execução deste trabalho. Os Descritores utilizados foram: Fauna. Impacto ambiental. Comércio ilegal. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO O tráfico de vida silvestre é um crime extremamente lucrativo com consequências graves, penas relativamente pequenas e poucos processos instaurados (WASSER et al, 2008). De acordo com Renctas (2010), existem quatro razões que incentivam o comércio ilegal de vida silvestre, que são animais para zoológicos e colecionadores particulares, animais para uso científico/biopirataria, animais para petshops e, por fim, animais para produtos e subprodutos. Isso contribui para o desaparecimento de muitas espécies, pois segundo o Ministério do Meio Ambiente- MMA (BRASIL, 2003), o comércio gerado pelo tráfico já contribuiu para a extinção de algumas das espécies do Brasil, como a ararinha-azul e muitas outras. Os produtos de fauna silvestre são muito utilizados para fabricar adornos e artesanatos. As espécies envolvidas variam ao longo dos tempos, de acordo com os costumes e os mercados da moda. Normalmente, se comercializam couros, peles, penas, garras, presas, além de artefatos confeccionados com borboletas e suas asas, dentes, garras, plumas e pelos (ISAURALDE et al., 2010). No Brasil, conforme descrito por Giovanini (2000) e Souza (2007), a maior parte dos animais silvestres comercializados ilegalmente provém da Região Norte, principalmente nos Estados Amazonas e Pará, do Nordeste, nos Estados Bahia, Piauí, Pernambuco e Maranhão 219


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e do Centro-Oeste do país, dos Estados que compõem o Pantanal. Dados do Ibama mostram que, no Brasil há em média 28 rotas do tráfico, onde diferentes meios de transporte como rodoviário, terrestre e aquático são utilizados (IBAMA, 2001a). Freitas et al. (2004) cita que os grandes compradores estão em Miami nos Estados Unidos, em Bruxelas na Bélgica, Amsterdã na Holanda, Frankfurt na Alemanha, Taipe em Formosa e Cingapura (Cingapura). Por existir pouca fiscalização em nosso país, esta prática se torna cada vez mais comum (RENCTAS, 2006). Além disso, segundo Marinho (2010), a impunidade é um fator que agrava a situação, pois há penas muito brandas previstas para os traficantes que se utilizam desta prática, uma vez que a lei o equipara àquele que apreende um passarinho para criar em casa. Segundo Isauralde et al., (2010), apesar de existir uma legislação rigorosa, o tráfico de animais continua aumentando cada vez mais devido a falta de informações, falta de conhecimento, dificuldade que as autoridades fiscalizadoras enfrentam na identificação dos animais apreendidos e a total falta de consciência da população sobre os problemas que o tráfico pode causar a natureza. De acordo com Renctas (2006), a maioria dos animais traficados, provenientes da Mata Atlântica, é enviada para as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde são vendidos em feiras livres ou lojas especializadas. Muitos desses animais são exportados através dos portos e aeroportos dessas cidades e das regiões onde elas se localizam para os Estados Unidos, alguns países da Europa e o Japão. De acordo com Renctas (2001), as aves são as classes de animais mais atingidas pelo tráfico de animais silvestres. O impacto mais significativo gerado pelo tráfico de animais é o desequilíbrio populacional entre as espécies, já que a captura excessiva é a segunda principal causa da redução populacional, perdendo apenas para a degradação e perda de habitat provocada pelo desmatamento (MARINI & GARCIA, 2005). De acordo com a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS, 2010), aproximadamente 60% dos animais traficados são comercializados ou destinados a pesquisa cientifica, de forma ilegal, e os 40% restantes são destinados ao exterior para colecionadores. Dessa forma, quando ocorre uma redução no número de espécies, consequentemente, não haverá desempenho ecológico, vindo a preocupação de que quantas espécies serão prejudicadas ou se terá outra que irá desempenhar as mesmas funções da espécie que foi extinta (CALOURO & LOPES, 2000). Estatísticas apontam que 90% dos animais traficados morrem antes de chegar ao seu destino final devido às condições inadequadas em que são transportados em ônibus ou carros particulares (ISAURALDE et al., 2010). Esta prática se torna cruel para os animais e perigosa à saúde dos seres humanos, pois, como as espécies não recebem os devidos cuidados acabam adquirindo doenças que podem até ser fatais, devido ao convívio com pessoas (ISAURALDE et al., 2010). Segundo a Rede Nacional de Combate do Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS, 2010), de cada dez animais capturados, apenas um sobrevive, sendo que as aves correspondem a 82% das espécies traficadas devido a sua beleza em cores e canto. Embora sejam numerosas e catastróficas as consequências do tráfico, é possível agrupá-las em três ramificações. Primeiro tem a questão sanitária, uma vez que animais ilegais são 220


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vendidos sem nenhum tipo de controle sanitário e podem transmitir doenças graves, inclusive doenças desconhecidas, para as pessoas e criações (RENCTAS, 2010). Em seguida, a parte econômica e social, uma vez que o tráfico movimenta quantias incalculáveis de recursos financeiros sem que impostos sejam recolhidos aos cofres públicos (RENCTAS, 2010), e por último, não sendo menos importante, a parte ecológica é bastante afetada, uma vez que a captura na natureza, feita sem critérios, acelera o processo de extinção das espécies, causando danos às interações ecológicas e perda de herança genética. Segundo Rocha (2005), na classe aves, os papagaios são as aves mais comercializadas no País e no exterior, destacando-se o Papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea). Borges et al., (2006) também encontrou em seu estudo realizado em Juiz de fora, Minas Gerais, contabilizou a classe aves como a mais afetada. Os mamíferos para animais de estimação, peles e couros para o mercado da moda e pesquisas científicas (RENCTAS, 2001). Nos répteis, o que mais interessa para os traficantes e consumidores é a sua pele, onde o couro é considerado fino, tendo um alto valor comercial gerando lucros no comércio. Além disso, são utilizados como animais de estimação e na pesquisa biomédica (RENCTAS, 2001). Na classe dos répteis, as tartarugas, jacarés, lagartos e algumas serpentes se destacam entre os mais procurados (ROCHA, 1995).

4 CONCLUSÃO O Brasil, por possuir grande biodiversidade, é um dos países mais visados e afetados com o tráfico ilegal de animais silvestres, representando um dos maiores problemas mundiais atualmente. O risco de extinção é bastante grande, já que a maioria dos animais morre e outros novos são capturados para repor os que morreram. O tráfico de animais além de prejudicar o ecossistema também pode prejudicar a saúde humana, pois muitos animais silvestres são hospedeiros de vírus que causam doenças em humanos. Além disso, todos os animais passam por maus-tratos nas mãos dos traficantes e sofrem muito com compradores que não possuem informações necessárias para sua criação devidamente correta. Durante o processo cruel de retirada da natureza a maior parte dos animais morre devido ao modo como são transportados, seu manejo e má alimentação. Tornou-se claro e evidente através deste estudo que o tráfico ilegal de animais prejudica bastante a biodiversidade. Os únicos beneficiados são traficantes de animais, por ser um comércio muito lucrativo, e os colecionadores das espécies. Além disso, a falta de informação, a falta de conhecimento e a falta de consciência das pessoas que participam dessa prática acabam contribuindo para este tipo de comércio. Diante de tal problemática, é necessário adotar medidas que minimizem este tipo de ação. Adotar campanhas educativas é importante, mas há necessidade de um trabalho permanente e contínuo sobre essa questão e acima de tudo aumentar consideravelmente a fiscalização. Conscientizar a população, apesar de ser um processo difícil e demorado, porém, é crucial, pois 221


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a educação ambiental é reconhecida no mundo todo como um elemento essencial ao combate dos problemas ambientais, entre eles o tráfico de animais silvestres.

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DIVERSIDADE DE ESPECIES DAS FORMIGAS (INSECTA, HYMENOPTERA) NO MUNICIPIO DE PARNAIBA, PIAUI, BRASIL. LEANDRA MARIA DOS SANTOS CARDOSO¹ EUDES FERREIRA LIMA2 EDSON DE LIMA BRITO3 RESUMO Trabalhos sobre levantamentos de espécies de formigas são de grande relevância por reunirem dados sobre determinada região. No Estado do Piauí existe uma escassez de trabalhos sobre a mirmecofauna urbana, existência desse fator tem-se como objetivo principal levantar dados para mostrar a representatividade de espécies de formigas existentes em domicílios no município de Parnaíba-PI. A área de estudo sucedeu-se na cidade de Parnaíba no período compreendido por 12 meses, com amostragens bimensais, iniciando-as em Janeiro e finalizando-as em dezembro de 2012. As coletas foram realizadas em quatro bairros da respectiva cidade, denominados Pindorama, Rodoviária, Piauí e São Francisco, executado em cinco residências por bairro, escolhidas aleatoriamente. Os dados foram tabulados e cálculos das frequências relativa e absoluta das espécies encontradas foram realizados. Foram coletados 10.234 espécimes distribuídos entre as espécies Tapinoma melanocephalum (73,59%), Pheidole megacephala (10,2%), Solenopsis sp(10,22%), Paratrechina longicornis (4,18%), Monomorium sp(1,24%), Camponotus arboreus (0,49%), Crematogaster sp (0,08%). Portanto esses resultados são corroborados com levantamentos realizados em outros estados do Brasil.

Palavras-chave: Bairros. Domicílios. Formigas. Urbanização.

INTRODUÇÃO De acordo com Kurenthal; Matthes; Renner (1986), existem 854.000 espécies de formigas, sendo que na Ordem Hymenoptera apenas 100.000.A morfologia é bastante importante na identificação das espécies, por ser o principal instrumento para chegar ao nome da espécie, onde de acordo com Hölldobler & Wilson (1999); Caetano et al (2002)apud Soares (2005) morfologicamente: 1.

As formigas são formadas por cabeça, mesossoma (tronco), pecíolo (cintura) e gáster, apresentando grande diversidade de forma, cor, pilosidade e tamanho dentro de um mesmo gênero. A cabeça possui duas antenas, responsáveis pelo tato altamente desenvolvido. Algumas espécies possuem, na extremidade posterior da gáster, um ferrão que funciona como estrutura de defesa, para inoculação de veneno em seus inimigos (HÖLLDOBLER & WILSON, 1990; CAETANO et al., 2002apud Soares,2005).

As formigas são insetos altamente sociais, com comportamento altruísta, onde tudo se baseia em prol do bem-estar da colônia e de todos os indivíduos que ali residem caracterizados também pela presença de inúmeras gerações dentro do mesmo ninho, divisão de trabalho 225


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e cuidado com a prole tanto rainhas, machos e operárias. Além de possuírem um sistema de comunicação totalmente instintivo com substância química denominada Feromônio. Segundo Dawkins:

Uma colônia de insetos sociais é uma enorme família, geralmente todos descendentes da mesma mãe. As operárias, que raramente ou nunca se reproduzem, freqüentemente estão divididas em várias castas distintas, incluindo operárias pequenas e grandes, soldados e castas altamente especializadas como nas formigas nutridoras[...]. As fêmeas reprodutivas são chamadas rainhas. Os machos reprodutivos são algumas vezes chamados zangões ou reis (DAWKINS, 1941, p.300)

Por seres insetos sociais dominantes na maioria dos ecossistemas terrestres, com exceção dos polos, são encontradas em associação com o homem, causada principalmente pelo processo de urbanização, sucesso este, que está provavelmente relacionado com sua alimentação e hábitos, por serem onívoras e também por explorarem espaços pequenos, tais como fendas e buracos, sendo assim, bioindicadores de variação em ambientes terrestres. Segundo Vasconcelos (1998) “estudos de conservação da biodiversidade e degradação ou recuperação de ambientes terrestres, estão sendo dirigidas para o uso de formigas como indicadores biológicos pela facilidade de coleta e identificação e terem sensibilidade à variações ambientais”. Campos-Farinha et al. (2002) através de referencial teórico, reuniu dados para mostrar a diversidade de formigas urbanas no Brasil e destacam algumas espécies dos gêneros:Brachymyrmex, Camponotus, Crematogaster, Dorymyrmex, Paratrechina, Pheidole e Solenopsis. As principais espécies de formigas urbanas, de acordo com Bueno & Campos-Farinha (1998) foram Tapinoma melanocephalum, Paratrechina longicornis, Camponotus spp., Solenopsis spp., Monomorium pharaonis, Pheidole spp., Wasmania auropunctata, Crematogaster spp. e Linepithema humile. A diversidade de espécies determinada pelo índice de Shannon- Weaver mostra o quanto está próximo do clímax aquela população. Assim, determina o grau de estabilidade na faixa normal de operação das espécies no nicho.O presente trabalho objetivou determinar em locais urbanos do município de Parnaíba, a diversidade de espécies de formigas. 2. METODOLOGIA 4.1 Área de estudo A área de estudo está localizada no município de Parnaíba (02° 54’ 17” S e 41° 46’ 36” W)no estado do Piauí, localizado à 318 Km da capital Teresina, e abrange uma área irregular de 435,573 m2, sendo delimitada à norte o município de Ilha Grande e o Oceano Atlântico, ao sul Buriti dos Lopes e Cocal, a leste Luís Correia, e a oeste o estado do Maranhão. Possui cerca de 145.705 habitantes, com uma densidade demográfica de 334,51 hab/Km2. Formação geológica recente de aproximadamente 23,5x106 anos, formada por arenitos e conglomerados, com intercalações de siltitos e argilitos. O município de Parnaíba (com cerca de 0,5 m acima do nível do

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mar, na sede) apresenta um clima caracterizado quente e úmido, além de possuir duas estações uma estação úmida (inverno) nos meses de janeiro à junho e estação seca (verão) de julho à dezembro (AGUIAR, 2004; IBGE). 4.2 Metodologia de coleta O período de coleta compreendeu 12 meses, com amostragens bimensais, iniciando-as em Janeiro e finalizando-as em dezembro de 2012. As coletas foram realizadas em quatro bairros de Parnaíba, denominados Pindorama, Rodoviária, Piauí e São Francisco, conforme a figura 01, Executado em cinco residências por bairro, escolhidas aleatoriamente, totalizando 20 residências. As coletas foram realizadas somente no turno matutino. Utilizaram-se iscas atrativas, dispostas em pontos estratégicos das residências, e em três cômodos (sendo, duas iscas na sala e na cozinha e uma no banheiro). As iscas foram introduzidas em canudos de 2 cm de comprimento, fixadas com fita adesiva, recolhidas após 2 horas de exposição e colocadas em tubos de eppendorf com álcool 70% para uma melhor conservação das espécimes. 4.3. Identificação do material O material coletado durante todo o estudo foi levado ao laboratório de Zoologia da Universidade Federal do Piauí para triagem e identificação das espécimes. A identificação das formigas ao nível de gênero, foi realizada com o auxílio Estereomicroscópio e das chaves entomológicas de Campos-farinha e Bueno 1999 (adaptado de holldobler & Wilson, 1990), Baccaro (2006) e Bolton 1994 ou específica, além da colaboração de especialistas da área. Todo o material foi quantificado em números totais de indivíduos coletados para cada espécie encontrada. A identificação foi realizada ao nível de morfoespécie de acordo com suas principais características até chegar ao nome específico do gênero e espécie de cada indivíduo. 4.4. Representatividade das espécies em todos os pontos de coleta Após, usou-se o índice de diversidade de espécies de Shannon-Weaver (1949) utilizado por Limeira (1998) com o seguinte mediador:

Onde H’ = índice de diversidade Pi = Frequência de cada espécie O índice determina a estabilidade do ecossistema, de acordo com Margalet (1994); Mcintos (1966); Osnborne; Davis; Linton (1980) e Kiameper (1984): A diversidade de espécies de acordo com o índice de Shannon-Weaver mostrou o seguin227


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te: Áreas 01 (Pindorama) 02 (Rodoviária) 03 (Piauí) 04 (São Francisco)

Índice de diversidade 0, 0168 0,0167 1, 5864 0,0147

A estação com maior índice de diversidade mostra maior estabilidade ecológica, portanto esta mais próxima do clímax. Isso mostra que a diversidade de espécies na Área 03 ( Bairro Piauí) sendo maior que na área 02 ( Bairro Pindorama) determina que nas áreas 02 ( Bairro Rodoviária) e 04 (Bairro São Francisco) possui menor diversidade, portanto menor estabilidade ecológica e isso determina que Área 03 ( Bairro Piauí) e 02 ( Bairro Pindorama) possuem maior numero de espécies ou maior população ou frequência e, portanto menor interferência humana proporcionando menor desiquilíbrio ecológico. A estação com maior desiquilíbrio ecológico localiza-se no bairro São Francisco onde há maior frequência populacional humana e maior poder aquisitivo.

Figura 1A: Frequência relativa total das espécies no período compreendido entre os meses de Janeiro a novembro de 2012 de todos os bairros coletados, tanto na época seca como na chuvosa. Frequência das espécies coletadas no período 228


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de Janeiro a Novembro de 2012 nos bairros Figura 1B: Pindorama; 1C:Rodoviária; 1D: Piauí e 1E: São Francisco. 3.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O município de Parnaíba mostrou se com uma pequena diversidade de gêneros, mas uma grande quantidade de indivíduos de mesma espécie. Essa mirmecofauna pouco diversificada é pertencente somente a três subfamília dentre elas: Myrmicinae, Formicinae e Dolichoderinae, sendo 4 espécies da subfamília Myrmicinae: Crematogaster sp, Pheidole megacephala, Solenopsis sp e Monomorium sp; 2 da subfamília Formicinae: Camponotus arboreus e Paratrechina longicornis e 1 da subfamília Dolichoderinae: Tapinoma melanocephalum. Foram coletadas 10.234 espécimes em toda a área de coleta sendo 5 residências por bairro totalizando 20 residências nos bairros: Pindorama 01, Rodoviário.02, Piauí .03 e São Francisco .04. As espécies coletadas e identificadas foram Tapinoma melannocephalum 73,59%;Pheidole megacephala 10,2%;Solenopsis sp 10,22%;Paratrechina longicornis 4,18%;Monomorium sp 1,24%;Camponotus arboreus 0,49% eCrematogaster sp 0,08% (Fig. 1A). Os gêneros Tapinoma, Solenopsis, Pheidole e Paratrechina foram encontrados em todos os bairros, mas o gênero Camponotus foi encontrado somente nos bairros Rodoviário, Piauí e São Francisco, enquanto que os gêneros Monomorium e Crematogaster se mostraram presente somente no bairro Rodoviário com um número bastante reduzido de espécimes cerca de 3,55% e 0,25% respectivamente (Fig. 1B, 1C, 1D e 1E). A espécie Tapinoma melanocephalum mostrou-se bem predominante,pois esteve presente em todos os bairros e com uma grande quantidade de espécimes, isso se dá por serem indivíduos bem pequenos e mostrando que existe uma enorme quantidade de espécimes na colônia que são responsáveis pela atividade forrageira. No Bairro Pindorama 01, ocorreu apenas 4 espécies dentre as 7 encontradas em toda a pesquisa, houve a predominância da espécie Tapinoma melanocephalum com cerca de 73,49%, seguido pela espécie Solenopsis sp com 20,03%, Pheidole megacephala 5,88% e Paratrechina longicornis 0,6% , estando ausente as espécies Camponotus arboreus, Crematogaster sp e Monomorium sp (Fig.1B). No bairro Rodoviário 02 predominou todos os 7 gêneros, onde Tapinoma melanocephalum foi representado por 81,58% e todos os outros com uma pequena percentagem de indivíduos sendo Pheidole megacephala 5,82%; Solenopsis sp 4,75%; Paratrechina longicornis 3,80%; Camponotus arboreus 0,25%; Monomorium sp 3,55% e Crematogaster 0,25%, sendo que os gêneros Monomorium e Crematogaster se mantiveram intrínsecas à esse bairro (Fig. 1C). O Bairro Piauí predominou Tapinoma melanocephalum com 82,67%, logo após Pheidole megacephala 8%; Solenopsis sp 6,65%; Camponotus arboreus 1,46% e Paratrechina longicornis 1,22%(Fig. 1D). Já o bairro São Francisco houve uma diferença de todos os outros, pois predominou Tapinoma melanocephalum com 42,29% e Pheidole megacephala 35,14% seguido de Paratrechina longicornis 17,49%, Solenopsis sp 3,58% e Camponotus arboreus 1,5% (Fig. 1E). 229


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Na distribuição sazonal não houve grande variação na quantidade de espécies, mas vale ressaltar as variações ocorridas no decorrer do trabalho, Tapinoma melanocephalum houve uma variação durante toda a coleta entre 62,24 % e 81,08 %, afirmando que foi a mais abundante (Fig.3). Algumas espécies se mostraram presentes em poucas coletas e em determinados meses do ano, por exemplo: Monomoriumsp apareceu somente no mês de janeiro e somente no Bairro Rodoviário em uma única residência, a espécie Cremastogaster sp., também foi encontrada somente no mês de Julho e no Bairro Rodoviária. O gênero Camponotus, uma espécie encontrada com grande quantidade onde existe a presença de áreas verdes. Esse gênero foi encontrado nos bairros Rodoviária, Piauí, e São Francisco, e sem espécimes coletadas no Bairro Pindorama. Pheidole megacephala apresentou grande variações na quantidade de espécimes coletadas onde iniciou-se com 1,66% em Janeiro, continuando com 12, 81% em Maio; 8,78 %; Julho 10,87%; Setembro 3,6% e Novembro 29,44%, Sendo uma variação de 1,66% a 24,44%. Solenopsis sp, apresentou uma grande diferença nas coletas realizadas nos meses de coletas Janeiro, Março, Maio, Julho, Setembro e Novembro, variando entre 4,72 e 25,02%. Paratrechina não houve uma grande diferença no número de indivíduos coletas 8,57% e 0,37% . De forma geral a espécie que teve maior quantidade de espécimes coletadas foi Tapinoma melanocephalum, seguida de Pheidole megacephala e Solenopsis sp, Paratrechina longicornis, Monomorium sp, Camponotus arboreus e Crematogaster sp. A espécie mais coletada em número de espécimes e pontos de ocorrência foi Tapinoma melanocephalum, ela está distribuida em grande parte do mundo, sendo comprovado por Wetterer (2009). Campos-Farinha et al.,(2002) destacaram algumas espécies em ambientes urbanos no Brasil, esta revisão bibliográfica citava espécies tais como:Tapinoma melanocephalum, Paratrechina longicornis, Camponotus spp, Solenopsis spp, Monomorium pharaonis, Pheidole spp, Crematogaster spp e Linepithema humile. A espécie Tapinoma melanocephalum apresentou 7.530 espécimes coletadas, distribuida em 131 pontos de ocorrência, estando ausente em apenas duas residências. Esta espécie foi encontrada em outros levantamentos com grande número de ocorrências, como citados por Delabie (1995), onde estava presente em 48% das residências, sendo que foi utilizado uma amostragem de 100 domicílios. Soares et al., (2006) mostrou em seu trabalho que Tapinoma melanocephalum predominou como espécie mais coletada. Vale resaltar as várias características que propicia a esta espécie uma grande quantidade de espécimes coletadas, dentre elas podemos citar seu tamanho bastante reduzidoe grande número de operárias responsáveis pela atividade de forrageio. Solenopsis sp. se manteve presente em todos os bairros de coleta, com 1.046 espécimes coletadas em 22 pontos de ocorrência. Piva (2011) encontrou Solenopsis sp. com maior número de ocorrência em áreas externas e gramados, enquanto que, nesta pesquisa esta espécie se manteve presente em ambiente internos. 230


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Pheidole megacephala apresentou 1.044 indivíduos coletados em 56 pontos de ocorrência, foi encontrada em todos os 4 bairros de coleta, mas somente no Bairro São Francisco teve grande quantidade de indivíduos cerca de 35,14%. Soares et al., (2006) relacionou a presença de espécies e o grau de conservação das casas e demonstrou que o gênero Pheidole esteve mais presente com grande quantidade de espécimes onde predominava intensa atividade comercial com pouca área verde sendo em Bairros antigos . Paratrechina longicornis apresentou 426 indivíduos em apenas 9 residências, tendo um número razoavelmente baixo com 4,18% nessa pesquisa. Esta espécie tem sido bastante encontrada e principalmente associada a ambientes urbanos no Brasil, tanto em residências e comércios quanto em ambientes hospitalares (BUENO e CAMPOS-FARINHA, 1999; OLIVEIRA e CAMPOS-FARINHA, 2005; SOARES et al., 2006; FARNEDA et al., 2007), causando assim grande incômodo. Soares (2005) descreveParatrechina longicorniscomo mais freqüente em construções mal conservadas ou precárias, sendo talvez justificado pela presença de fendas encontradas no chão das residências, paredes ou tetos, favorecendo assim o aquecimento na estrutura física. Camponotus arboreus foi encontrada nesse trabalho, mas em número bem reduzido de indivíduos representado por 51 indivíduos em somente 4 residências em três bairros, domicílios esses onde predominava áreas bem próxima de jardins. Oliveira e Campos-Farinha (2005) encontrou o gênero Camponotus com maior frequência no município de Maringá-PR, destacando Camponotus arboreus, que foi encontrada na maioria das vezes circulando em área externa em varandas, muros, jardins e paredes externa das casas. Monomorium sp apresentou poucas espécies em todas as coletas cerca de 127 indivíduos em somente 2 pontos de coletas e somente numa única residência. Soares (2009) constatou em seu trabalho que Monomorium sp foi mais frequênte em locais com melhor estado de conservação, devendo estar relacionado ao fato dessa espécie nidificar no interior das residências em pequenas cavidades. A espécie Crematogaster sp teve o menor número de indivíduos coletados apenas 9 espécimes em 1 ponto de coleta no Bairro Rodoviário e somente no mês de junho. Não houve nenhuma mudança na quantidade de indivíduos coletados em todo o período de coleta, visto que permaneceram constantes. Vale ressaltar que algumas espécies como Monomorium sp só foi encontrada no mês de janeiro e Crematogaster sp apenas no mês de julho, mas não foram por fatores decorrente à sazonalidade. Segundo Adis et al.(1987) apud Bacarro (2006), “existirá pouca variação em termos de abundância entre a época seca e chuvosa”. 4. CONCLUSÃO As formigas exploram os mais diversos ambientes, e na medida em que a urbanização se intensifica, as condições para a sua sobrevivência aumentam acarretando danos em residências e em vários objetos de uso doméstico. Atuam também como agentes veiculadores de microor231


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ganismos patogênicos e bioindicadores de urbanização. Por serem indivíduos unicoloniais, isto é, são caracterizadas pela ausência de comportamento agressivo entre indivíduos,são caracterizados como insetos sociais, onde todos descendem da mesma mãe e possuem comportamento altruísta. Devido às variadas características que propiciaram o sucesso evolutivo da ordem Hymenoptera e serem encontradas em todo o ambiente terrestre geram assim grande contato com o ser humano no ambiente terrestre. Diante de várias espécies encontradas faz-se necessária estudos mais aprofundados sobre visando conhecer a composição faunística dos ambientes tanto na área urbana quanto na zona de vegetação nativa em Parnaíba-PI, principalmente quando a ação antrópica está com grande intensidade na natureza. Esses estudos entomológicos são de primordial importância por facilitarem a tomada de decisões sobre o controle de formigas em todos os ambientes. Após o conhecimento sobre a mirmecofauna, acarretará em uma tomada decisão mais fácil, barata e uma ampla eficiência, além de ser específico à cada infestação presente. REFERÊNCIAS BROWN JUNIOR., W.L. Diversity of ants. In: AGOSTI, D.; MAJER, J.D.; ALONSO, L.E.; SCHULTZ, T.R. (Eds.). Ants: standard methods for measuring and monitoring biodiversity. Washington: Smithsonian InstitutionPress, 2000. p.45-79. BUENO O. C.; CAMPOS- FARINHA A. E. C. Formigas urbanas: comportamento das espécies que invadem as cidades brasileiras. Vetores & Pragas, São Paulo, ano I, n. 2, p. 13-16, 1998. BUENO, O.C.;FOWLER, H.G. Exotic ants and native ant fauna of brazilian hospitals. In: Exotic ants: biology, impact, and control of Introduced Species (Williams, D.F. Ed.), Boulder, Westview Press, p.191-198,1994. CAMPOS-FARINHA, A.E. DE C.; BUENO, O.C.; CAMPOS, M.C.G.; KATO, L.M. As formigas urbanas no Brasil: retrospecto. Biológico, 64:129-133, 2002. CAMPOS –FARINHA, A. E. C.; JUSTI, Jr. J.; BERGMAN, E. C.; ZORZENON, F. J.; NETTO, S. M. R. Formigas urbanas.Boletim Técnico – Instituto Biológico, São Paulo, n. 8, p. 1-20, 1997. COURCEIRO, A. P. M. R. Avaliação do potencial das formigas como vetores mecânicos de micobactérias em hospital especializado na assistência de pacientes de tuberculose do estado de São Paulo. Ed. USP: 2012 138p. DELABIE, J.H.C.; DO NASCIMENTO, I.C.; PACHECO, P.; CASIMIRO, A.B. Community Structure of House-Infesting Ants (Hymenoptera: Formicidae) in Southern Bahia Brazil. Florida Entomologist, 78: 264-270, 1995. FARNEDA, F. Z.; LUTINSKI, J. A.; GARCIA, F. R. M. Comunidade de formigas (HYMENOPTERA: FORMICIDAE) na área urbana do município de pinhazinho, Santa Catarina, Brasil. Revista de ciências ambientais. v.1 n.2: 56-66, 2007. 232


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MOSQUITOS (DIPTERA: CULICIDAE) DIURNOS EM FRAGMENTO DE MATA ATLÂNTICA, MACAÍBA, RN Mário Sérgio Duarte Branco Weslany de Oliveira Dantas Julieth de Oliveira Sousa3 Renata Antonaci Gama4 RESUMO Foi realizado breve levantamento da fauna de culicídeos de fragmento de mata atlântica localizado no município de Macaíba no Rio Grande do Norte e a relação com sua importância epidemiológica. O método de coleta utilizado foi isca humana, sendo realizado no período da manhã logo ao alvorecer. Os resultados demonstraram 4 espécies divididas em 4 gêneros, sendo Coquillettidia albicosta e Wyeomyia mystes/finlayi registrados pela primeira vez no estado. Aedes scapularis foi a única espécie de importância médica, porém todos os gêneros encontrados possuem espécies incriminadas como vetores, demonstrando que a área é susceptível a circulação de arboviroses. O estudo mostra que a área necessita de mais estudos de importância taxonômica e epidemiológica com vistas a se obterem dados mais consistentes. Neste trabalho, buscou-se realizar levantamento da fauna de mosquitos (Diptera: Culicidae) diurnos em fragmento de Mata Atlântica do município de Macaíba-RN e verificar a existência de mosquitos incriminados como vetores de patógenos, relacionando à importância epidemiológica. Palavras-chave: Culicídeos. Arboviroses. Biodiversidade. Conservação. Rio Grande do Norte

1 INTRODUÇÃO Existem em torno de 3600 espécies de Culicidae distribuídas globalmente. No Brasil, são estimadas 500 espécies, sendo 20 de importância epidemiológica comprovada (NEVES, 2005). Os aspectos biológicos tornam estes insetos eficazes disseminadores de doenças, onde uma vez infectados permanecem assim ao longo de sua vida (MARCONDES, 2001). Outra característica que tem tornado os mosquitos importantes vetores é a introdução em ambientes urbanos, principalmente devido a desmatamentos e à constante antropização de ambientes silvestres, havendo o maior contato humano com estes insetos (TAIPE-LAGOS; NATAL, 2003), além disso, a biodiversidade é afetada devido a estas alterações, modificando a dinâmica das populações de mosquitos (MONTES, 2005; GOMES, 2007; PAULA; GOMES, 2007). 1 Mestre em Medicina Tropical, Biólogo graduado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, exerce o cargo de Biólogo na UFPI/CMRV, e-mail: mariosdbranco@hotmail.com 2 Graduada em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí, Especialista em Saúde Pública e Mestre em Clínica Odontológica.weslanywes@yahoo.com.br 3 Doutoranda em Sistemática e Evolução, Graduada em Biologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Assistente de Laboratório na UFRN. e-mail: julieth.oliveira.sousa@hotmail.com 4 Doutora em Parasitologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, Professora Adjunta da UFRN e-mail: antonaci@cb.ufrn.br 235


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Outro fator de grande relevância são as infecções de caráter acidental, em que o ser humano ao entrar em ambientes silvestres se insere em um ciclo que é preferencialmente zoonótico (FE, 2003). Pesquisas sobre vetores potenciais de doenças em áreas de Mata Atlântica são escassas, mas fornecem embasamento para a compreensão de relevantes aspectos epidemiológicos (GUIMARÃES, 2000)Brasil. I - Distribuição por habitat</title><secondary-title>Revista de Saúde Pública</secondary-title></titles><periodical><full-title>Revista de Saúde Pública</ full-title></periodical><volume>34</volume><number>3</number><dates><year>2000</ year></dates><urls></urls></record></Cite></EndNote>. Áreas de mata preservada em condições semelhantes à situação original em áreas urbanas podem propiciar condições à manutenção de espécies de mosquitos através da oferta de criadouros e fontes de alimentação para os adultos. Dentre os criadouros, podemos destacar os do tipo fitotelmata, os quais são explorados principalmente por espécies com caráter silvestre, além daqueles introduzidos pela atividade antrópica, multiplicando potencialmente a diversidade de recipientes a serem explorados pelos imaturos de culicídeos. O bioma Mata Atlântica apresenta regiões de mata fragmentadas que, muitas vezes, estão inseridas em grandes centros urbanos(REIS et al., 2010)2010. O conhecimento taxonômico dos vetores, assim como sua biologia e ecologia, são imprescindíveis para medidas de controle eficazes no combate a várias doenças, por meio do bloqueio ou a redução de transmissão dos patógenos pelo vetor.Contudo, doenças cujos agentes etiológicos são veiculados por vetores biológicos continuam sendo problemas em saúde pública em áreas urbanas. Espécies exóticas como Aedes (Stegomyia) aegypti (Linnaeus 1762), Ae. (Ste.) albopictus (SKUSE 1894) e Culex (CULEX) quinquefasciatus Say 1823 devido às suas implicações epidemiológicas tem sido amplamente estudadas no Brasil. Entretanto, pouco se conhece a respeito dos culicídeos urbanos autóctones, possivelmente porque as espécies nativas registradas nas cidades não têm sido incriminadas como transmissoras de patógenos à população. Tal condição não exclui a possibilidade dessas espécies apresentarem competência e capacidade vetorial para disseminar agentes patogênicos(MEDEIROS-SOUSA et al., 2013)2013. A proximidade destes insetos hematófagos com a população humana permite um maior contato entre mosquitos e pessoas, aumentando o risco da emergência de doenças infecciosas, particularmente as causadas por arbovirus. Devido a este cenário epidemiológico, é muito importante a correta identificação das espécies de mosquitos nestes locais, para a determinação de sua capacidade vetorial. Além disso, a investigação entomológica da composição de espécies de Culicidae em parques urbanos e fragmentos florestais antropizados, ajudam a elucidar a importância da manutenção destas áreas e seu correto manejo com vistas à conservação, demonstrando sua riqueza biológica(PAULA et al., 2015)2015. O presente trabalho teve como objetivo realizar levantamento da fauna de mosquitos (Diptera: Culicidae) diurnos em fragmento de Mata Atlântica do município de Macaíba - RN e verificar a existência de mosquitos incriminados como vetores de patógenos, relacionando à importância epidemiológica. 236


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2 MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo O projeto foi realizado no terreno pertencente à Escola Agrícola de Jundiaí – EAJ, situada no Município de Macaíba, Rio Grande do Norte (figura 1), distando aproximadamente 18km da capital. A temperatura é elevada durante todo o ano, com chuvas no outono e inverno, a precipitação média anual é de 1200 mm e a temperatura do ar varia em torno dos 26 °C (CESTARO; SOARES, 2004). As coletas foram realizadas em um fragmento de Mata Atlântica que possui estado precário de conservação devido à pressão antrópica. Figura 1: Local onde o trabalho foi realizado, demonstrando o município de Macaíba (à esq.) e a Escola Agrícola de Jundiaí (à direita).

Trabalho em campo, triagem e identificação Foram realizadas sete coletas distribuídas em um período de um mês, iniciando no dia 24 de outubro e finalizando no dia 27 de novembro de 2010. As coletas tiveram início às 6h, tendo duração de duas horas e meia, quando o calor tornava inviável a coleta por não haver maior atividade dos mosquitos. O trabalho foi realizado por dois coletores. A coleta de mosquitos adultos foi feita através de buscas ativas, com o capturador de Castro e através da utilização de isca humana. Após coletados, os mosquitos foram mortos em câmara mortífera com acetato de etila e em seguida transferidos para tubos individualizados com algodão e naftalina. Em laboratório, o material coletado foi identificado com auxílio de chaves de identificação dicotômica retiradas de Consolie Lourenço de Oliveira (1994), Lane (1953) e Forattini (2002) foi utilizada lupa para visualização de estruturas. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO No total, foram capturados 46 culicídeos (Tabela 1). Os insetos foram identificados em 4 gêneros e sendo 4 espécies distintas. Por terem sido realizadas no período matutino e em ambiente silvestre, as coletas obtiveram uma maior proporção do gênero Wyeomyia, cujos adultos têm maior tendência de estarem ativos neste horário e neste ambiente, quando comparados as outras espécies encontradas. 237


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Wyeomyia mystes/finlayi (figura 2) foi a espécie predominante. O gênero em questão possui poucos estudos taxonômicos, sustentados mais recentemente por estudos filogenéticos baseados em caracteres morfológicos e aloenzimáticos (MOTTA; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 2005; MOTTA et al., 2007)2007, sendo assim, um táxon ainda em processo de estudo aprofundado e minucioso. É o primeiro registro de Wyeomyia mystes/finlayi para o estado do Rio Grande do Norte, porém os mosquitos identificados a nível desta espécie tratam-se de uma variação da espécie já descrita ou até mesmo de uma espécie nova. De acordo com Lane (1953), a única literatura disponível, a descrição da espécie não confere com os exemplares coletados, havendo a necessidade de coletas de exemplares machos para averiguação de outros caracteres e a confirmação taxonômica dos exemplares. Tabela 1 Quantidade de mosquitos coletados em área de Mata Atlântica, na escola Agrícola de Jundiaí, entre o período de 24 de Outubro a 27 de Novembro de 2010.

Espécies Aedes scapularis Coquillettidia albicosta Culex (Microculex) sp. Wyeomyia (Spilonympha) mystes/finlayi Total

Total 3 15 1 27 46

% 6,5% 32,6% 2,2% 58,7% 100,0%

Figura 2: Exemplar de culicídeo da espécie Wyeomyiamystes/finlayi

Coquillettidi aalbicosta (figura 3) representa a segunda espécie mais predominante e, de certa forma, confirmando as características atribuídas ao gênero, sendo mosquitos de hábito noturno e crepuscular, porém bastante agressivos e oportunistas, justificando o grande aparecimento mesmo em período matutino. Esta espécie também nunca havia sido registrada para o estado do Rio Grande do Norte. 238

Figura 3: Exemplar de culicídeo da espécie Coquillettidia albicosta


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Culex (Microculex) sp. foi coletado de forma acidental quando estava em repouso, sendo inclusive um exemplar macho e o que sustenta possuir atividade noturna. Os Microculex criam-se em bromélias e preferem picar animais de sangue frio.(LOURENÇO-DE-OLIVEIRA et al., 1986)1986. Figura 4 Exemplar de culicídeo da espécie Aedes scapularis

Aedes scapularis (figura 4) possuiu discreta ocorrência, talvez devido a sua atividade ser mais intensa no período crepuscular e noturno, além de sua densidade estar diretamente relacionada ao período de chuvas (CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994). A presença desta espécie indica certo grau de antropização da região, que se caracteriza por fragmento de mata atlântica já bastante degradada pela ação do homem, sendo o Aedes scapularis bastante favorecido por esta situação, pois possui grande adaptação a ambientes desmatados e florestas secundárias (FORATTINI; GOMES, 1988; FORATTINI et al., 1995; TAIPE-LAGOS; NATAL, 2003) Em relação à importância epidemiológica das espécies coletadas, destaca-se o Aedes scapularis, o qual já foi encontrado infectado naturalmente com pelo menos 15 arbovírus, entre eles o vírus da Febre Amarela, Encefalite Equina Venezuelana, Caraparu, Ilheus, Mucambo, Melão, Maguari, Kairi. Esta espécie também foi considerada vetor da Wuchereria bancroftii(RACHOU, 1956)1956 e é provável transmissor da Dirofilaria immitis (MACEDO et al., 1998)1998, além de ter sido considerado suspeito de transmitir a encefalite Rocio, que causou epidemias em São Paulo em 1975 e 1976 (MITCHELL; FORATTINI, 1984). Considerando as características ecológicas e epidemiológicas descritas para esta espécie, estes mosquitos podem ser uma potencial ponte entre arbovírus selvagens e a população humana nesta região, devido ao estado atual da área de estudo, estando cada vez mais com mudanças antrópicas (SANTOS et al., 2015)2015. As outras espécies ainda não foram encontradas infectadas naturalmente por nenhum tipo de patógeno, mas vale salientar que os gêneros aos quais pertencem, possuem registros de transmissão de arboviroses, no caso de Wyeomyia e Coquillettidia. Para Culex, além de arboviroses, por exemplo, o vírus Mayaro, também existe a transmissão de filarioses (SEGURA; CASTRO, 2007; SERRA et al., 2016)2016. Alguns culicídeos encontrados apresentam um comportamento diferenciado quanto às 239


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relações com ambiente de floresta primitiva e amplamente modificados pela ação antrópica, levando em conta que a Escola Agrícola de Jundiaí ainda mantém diversidade de condições ambientais, tem permitido a manutenção de espécies que possuem caráter silvestre em contato estreito com ambiente alterado. A fauna de culicídeos abrigada pela Escola pode representar, no futuro, um risco para a população humana presente ao entorno da mesma. Estudos mais aprofundados em busca de mosquitos infectados com arboviroses, helmintoses e protozooses e um monitoramento constante são necessários diante da riqueza de espécies de Culicidae na área e a sua proximidade com habitações humanas (REIS et al., 2010)2010. 4 CONCLUSÃO Como conclusão, podemos inferir que a área estudada representa ambiente propício à manutenção e disseminação, principalmente, de arboviroses, além de possuir mosquitos relacionados também com a transmissão de filarioses. Apesar da pouca diversidade encontrada, o local mostrou-se bastante importante taxonomicamente, apresentando espécies nunca registradas para o Rio Grande do Norte. Todos estes fatores sustentam a necessidade da continuidade de estudos na região, para que se obtenham dados mais consistentes, já que o presente estudo teve pouco tempo hábil para um trabalho mais completo.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O CONHECIMENTO DA PROBLEMÁTICA A MBIENTAL DO LIXO NA VISÃO DOS ALUNOS DO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL EM PARNAÍBA – PI JEFFERSON BRUNO PEREIRA AMARAL FRANCISCO MARQUES DE OLIVEIRA NETO RESUMO O lixo, atualmente, tem se tornado um dos maiores responsáveis pela poluição ambiental. Nessa perspectiva, a escola, utilizando a educação ambiental, busca minimizar as intervenções negativas do lixo no meio ambiente, estimulando os alunos a terem concepções e posturas cidadãs. O presente trabalho objetivou-se identificar as formas de percepções e concepções que os alunos do 6ºano apresentam sobre a problemática do lixo e o impacto dele no meio ambiente. A pesquisa foi desenvolvida com alunos da rede pública estadual, utilizando um questionário semiaberto composto por 10 questões. Os dados obtidos foram analisados de forma quali-quantitativa. A maioria apresentou uma visão do tipo naturalista, para o conceito de meio ambiente, eles também demonstraram ter conhecimento quanto aos problemas ambientais. Já quanto a questão do lixo, fica evidente um déficit, pois foram poucos os alunos que responderam sobre o que seria lixo e coleta seletiva. Quanto à reciclagem e reutilização, grande parte dos alunos ouviram falar do tema e o consideram importante, destacando a televisão e a escola como os principais meios de informação. A maioria demonstrou ter conhecimentos quanto aos materiais básicos que podem ser reaproveitados ou reciclados, ainda que não saibam conceituar reciclagem e reutilização. Através da educação ambiental, propomos a escola a trabalhar com os alunos os conhecimentos relacionados ao lixo e a implantação de uma coleta seletiva, que irá proporcionar aos alunos uma vivencia sobre a reutilização e reciclagem do lixo produzido por eles.

Palavras-chave: Resíduos sólidos. Educador ambiental. Reaproveitamento.

INTRODUÇÃO O problema do lixo Nos dias de hoje, a população mundial tem demonstrado grande preocupação em vista aos problemas ambientais. A mídia cotidianamente tem noticiado, muitas vezes de forma genérica, grandes catástrofes ambientais, naturais ou provocadas pela ação humana. E o atual modelo de desenvolvimento econômico tem contribuído para o agravamento desta situação (MORADILLO & OKI, 2003). A crescente concentração populacional urbana, o processo de industrialização, e o incentivo ao consumo são características básicas da sociedade moderna (SIQUEIRA & MORES, 2009), o que tem feito com que o lixo, atualmente, torne - se um dos maiores responsáveis pela poluição ambiental (SANTOS, 2000). O lixo produzido pela humanidade poderia, através dos ciclos naturais de decomposição e reciclagem da matéria, ser reaproveitado pelo meio ambiente, mas devido a sua quantidade e a sua complexidade, este sobrecarrega esse mecanismo natural, acumulando-se na natureza (SANTOS, 2005). 243


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O lixo é definido, em geral, como o resíduo sólido descartado pela população. O conceito de lixo torna-se algo subjetivo, pois cada indivíduo estabelece um critério para o que é material útil e inútil. Boa parte das cidades brasileiras não possuem uma infraestrutura adequada para o processamento de tais resíduos, logo, a maior parte do lixo é disposta em áreas a céu aberto, os lixões, o que traz serias consequências ambientais como a contaminação do solo e dos recursos hídricos (SANTOS, 2005). Uma solução viável: a educação ambiental Nessa perspectiva, a temática ambiental passa a ocupar novos espaços, deixando de ser uma discussão restrita a especialistas e ao movimento ambientalista, tendo a educação como parte essencial nesse processo, causando uma mudança significativa na mentalidade das pessoas em busca de novos valores e de uma nova ética para reger as relações sociais (ANDRADE, 2008). Como parte integrante desse processo educativo na busca de cidadania tem-se a Educação Ambiental (EA), como um caminho possível na busca da conscientização e da sustentabilidade. Buscando minimizar as intervenções negativas ao meio ambiente e implementando novas concepções acerca da relação homem/meio ambiente (ANDRADE, 2008). Diante disso, a escola torna-se um espaço privilegiado para estabelecer conexões e informações, criando condições e alternativas que estimulam os alunos a terem concepções e posturas cidadãs, cientes de suas responsabilidades e, principalmente, percebendo-se como integrantes do meio ambiente (LIMA, 2004). Em vista do exposto, sobre as discussões para se trabalhar a vinculação entre meio ambiente, lixo e educação, tendo a Educação Ambiental como principal meio para se alcançar esse fim, o presente trabalho objetivou-se identificar as formas de percepções e concepções que os alunos do 6º ano do ensino fundamental apresentam sobre a problemática do lixo e o impacto dele no meio ambiente, tendo em vista que esse tema encontra-se centrado dentro do meio ambiente, sugerido pelos PCN’s ( Parâmetros Curriculares Nacionais) como tema transversal, que deve ser trabalhado em sala de aula, por todos os professores integrando-se a todas as disciplinas, contribuindo assim, para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidir e a atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida. METODOLOGIA Sujeito da pesquisa A pesquisa foi desenvolvida, entre os meses de março a abril, na Unidade Escolar Edson da Paz Cunha, escola pública estadual, que compreende as seguintes etapas de ensino: ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos (EJA), localizado na cidade de Parnaíba, norte do Piauí, tendo como público alvo os alunos de 6º ano do Ensino Fundamental. 244


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Coleta de Dados Para levantar e analisar os conceitos e conhecimentos dos alunos foi proposto um questionário semiaberto composto por 10 perguntas, abordando os seguintes temas: meio ambiente, tipos de poluição, lixo, coleta seletiva do lixo, lixo reaproveitado, lixo reciclável, os meios de informação sobre reciclagem e reutilização do lixo e a importância da reciclagem para o meio ambiente. Segundo Barbosa (1998), os questionários caracterizam-se por uma técnica com custo razoável, que apresentam as mesmas questões para todas as pessoas, garantindo, assim o anonimato. As questões podem ser específicas para cada pesquisa e de acordo com suas finalidades. Analise dos dados Os dados obtidos foram analisados de forma quali-quantitativa. Foram feitos o somatório e a porcentagem simples dos resultados obtidos. A análise qualitativa envolveu: análise de conteúdo. Foram definidos temas e categorias de respostas. As respostas das questões foram agrupadas em categorias, de acordo com as semelhanças existentes nas opiniões expressas pelos alunos. Para Neves (1996), os métodos de investigação quantitativos e qualitativos não se excluem. Devendo ao pesquisador optar por um ou outro. O pesquisador pode, ao desenvolver o seu estudo, utilizar os dois, usufruindo, por um lado, da vantagem de poder explicitar todos os passos da pesquisa e, por outro, da oportunidade de prevenir a interferência de sua subjetividade nas conclusões obtidas. RESULTADO E DISCUSSÃO Obteve-se um total de 43 questionários respondidos entre os alunos do 6º ano. Os alunos entrevistados apresentavam uma faixa etária que varia dos 10 aos 14 anos, onde 51% pertencem ao sexo feminino (Figura 1 e 2). Quando questionados sobre o que seria o meio ambiente, 56% dos alunos o relacionaram a natureza e como este dever ser cuidado e mantido limpo, sem lixo, 14% fizeram uma relação direta ao lugar onde os seres vivos vivem e 7% o acham apenas importante, 23% não souberam responder ou deixaram em branco (Figuras 3).

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O conceito de meio ambiente é algo ainda em construção. Existem diferentes definições dadas por diferentes ciências. Por não haver um consenso sobre o significado de meio ambiente na comunidade científica, este, não se configura como um conceito científico e sim uma representação social. Assim, torna-se de essencial importância entender as diferentes concepções sobre meio ambiente para que se possa compreender melhor tanto as inter-relações entre o homem e o ambiente como também suas expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas (REIGOTA, 2007). Quando os alunos foram abordados sobre o que entendem sobre o meio ambiente, a grande maioria relacionaram-no diretamente com a natureza, apresentando assim uma visão do Naturalista (Figura 3). Nestes casos, a natureza é apreciada pela beleza cênica, demonstrando certa dose de religiosidade e romantismo e deve ser preservada por ser provedora de recursos sobre os quais temos o direito de uso, tal visão, para Costa et al (2012) separa o ser humano do meio ambiente, colocando-o como mero observador, sem laços de pertencimento e responsabilidade. Tal resultado coincide com outros estudos realizados sobre a percepção de meio ambiente dos alunos. Um estudo desenvolvido por Martinho e Talamoni (2007), com alunos da quarta série, onde 70% dos alunos apresentavam visão naturalista do ambiente. Garrido e Meirelles (2014) em um estudo com alunos das series iniciais do ensino fundamental, observaram que ao representar o meio ao seu redor, os alunos o faziam com representações de algo relacionado a flora, sugerindo assim uma percepção também naturalista do meio. Uma das principais causas da degradação ambiental tem sido identificada por vivermos sob uma ética antropocêntrica em que predomina o pensamento de que os humanos são separados da natureza; não só são separados, mas donos dela (SANTOS, 2005). Esses resultados decorrem da formação acadêmica, pois, segundo Sato (1997), os modelos tradicionais de educação ainda persistem e negligenciam as explicações das relações humanas com o ambiente. Para esse quesito os alunos poderiam marcar mais de uma objetiva, já que o mesmo aluno poderia considerar dois ou mais problemas ambientais ditos como graves. Os problemas ambientais que mais obtiveram destaque entre as respostas marcadas foram poluição dos rios (28%), desmatamento e queimadas (25%), poluição por lixo (22%) e poluição do ar (22%), a poluição sonora e visual, dos 43 questionários respondidos, apareceu apenas em 3% deles (Figura 4). Segundo Jacobi (2003), é de grande prioridade, nos dias atuais, termos uma educação ambiental forte, convergente e multirreferencial, pois a mesma irá articular de forma incisiva a necessidade de se enfrentar concomitantemente a degradação ambiental e os problemas sociais. Nesse universo complexo precisa ser situado o aluno, cujos conhecimentos pedagógicos devem ser amplos e interdependentes, visto que a questão 246


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ambiental é um problema híbrido, associado a diversas dimensões humanas. Sendo assim, o conhecimento torna-se fundamental, para que através dele, possa ser feita uma leitura crítica da realidade na busca de formas concretas par atuar sobre os problemas ambientais (SORRENTINO et al 2005). Como pode ser notado as formas de degradação que mais se destacaram foram as que são mais perceptíveis aos nossos sentidos, diante disso Santos (2005), esclarece que as degradações ambientais, tais como, a poluição das águas, a poluição atmosférica, e a poluição por lixo são as mais perceptíveis pelos sentidos humanos, pois as mesmas são evidenciadas pela mudança de cor, pela poeira, pelos odores e pela fumaça que expelem e que as consequências de certos tipos de poluição tal como a sonora agem tão sutilmente que a população em geral não preveem facilmente os seus efeitos negativos, pois apenas são percebidas quando atingem um alto grau, tornando as vezes o processo irreversível. 25% das respostas destacam o desmatamento e as queimadas (Figura 4) que para Rocha (2010), são as responsáveis por alterar drasticamente o meio ambiente, pois essas atividades têm contribuído para a poluição e destruição dos leitos dos rios e mananciais, em decorrência disso, percebe-se que em vários lugares do mundo há escassez de água, o ar também tem se alterado devido as temperaturas elevadas da terra, por causa disso há problemas respiratórios, alergias, entre outros que são causados pelo calor intenso. Dessa maneira, de acordo com o regulamento do Programa nacional de Educação Ambiental (PRONEA) de 2005, as ações humanas têm se tornado um fator determinante para a qualidade de vida. Quando questionados sobre o que seria lixo, 26% dos discentes relacionaram lixo a restos de alimentos, embalagens plásticas e sujeiras em geral, 23% responderam que lixo é aquilo que polui o meio ambiente e não deve ser jogado no chão ou na rua, 12% escreveram que lixo é aquilo que as pessoas não querem e que é jogado fora, 9% disseram que é aquilo que faz mal à saúde e 2% a algo que pode ser reaproveitado, 28% deixaram em branco ou não souberam responder (Figura 5). Para 26% e 12% por cento dos alunos, lixo está relacionado a algo que não presta, que deve ser descartado, jogado fora, como podemos ver, ainda se atribui ao lixo uma característica de algo que não serve mais e que deve ser descartado (Figura 5). Alencar (2005), em um trabalho realizado com alunos do 1º ano obteve um resultado semelhante, onde as definições mais usadas pelos alunos sobre o que seria lixo estavam ligadas a algo não utilizado e que deve ser descartado, até o dicionário Aurélio (2010) em sua definição para lixo traz algo relacionado a isso, segundo ele: lixo, é o que se varre da casa e em geral é tudo o que não presta e se deita fora; cisco; imundície. Para Monteiro (2001), resíduos sólidos ou lixo é todo material sólido ou 247


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semissólido indesejável e que necessita ser removido por ter sido considerado inútil por quem o descarta. O atual modelo econômico gerou para a sociedade moderna um estilo de vida, cujo padrão e conforto basearam-se no excesso de consumo e de desperdício de recursos naturais (SANTOS, 2000). Sendo assim, o lixo gerado pelas cidades tornou-se um dos grandes problemas urbanos (SCARLATO & PONTIN, 1992). Por não ter uma destinação adequada em muitos lugares, o mesmo fica armazenado em lixões, pouco ainda se conhece sobre os riscos à saúde humana, que esse descarte pode causar (REGO et al 2002). Atualmente, percebe-se que a interação da sociedade com o ambiente tem sido conflituosa, onde os aspectos econômicos têm se sobreposto a qualidade de vida coletiva, logo, analisar, refletir e propor novos modelos de interação devem fazer parte do cotidiano e a escola é um dos espaços para tal atividade (SILVA & CALIXTO, 2013). Quando abordados sobre o que entendem sobre coleta seletiva 91% das respostas ficaram em branco ou não foram satisfatórias, 7% responderam que são todos os materiais reaproveitados que são enviados para a reciclagem, 2% relacionam a coleta seletiva aos profissionais que coletam o lixo nas ruas (Figura 6).

Trata-se como coleta seletiva, o recolhimento dos materiais recicláveis: papéis, plásticos, vidros, metais e orgânicos, previamente separados na fonte geradora e que podem ser reutilizados ou reciclados. É uma operação que facilita o reuso, o reaproveitamento e a reciclagem dos materiais presentes no lixo (SEMA, 2001; MONTEIRO, 2001). Como viu-se apenas uma pequena parcela dos alunos associaram a coleta seletiva com o reaproveitamento de materiais recicláveis, a grande maioria deixou em branco ou não soube responder (Figura 6). De acordo com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) do ano de 2001, o reaproveitamento de materiais é considerado uma etapa muito rica para estimular a criatividade, para rever conceitos e encarar preconceitos. E que durante a vivência na escola a coleta seletiva pode servir como instrumento de educação ambiental, agindo no trabalho de conscientização, mostrando como os modos de produção e de consumo têm tornado os recursos 248


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naturais cada vez mais escassos, colocando em risco a sobrevivência da nossa geração e das futuras. 93% dos alunos já ouviram falar em reciclagem ou reutilização (Figura 7). Foram perguntados a esses alunos onde obtiveram tais informações a respeito de reciclagem e reutilização do lixo (como abordado no quesito sobre problemas ambientais os alunos poderiam marcar mais de uma resposta, já que o mesmo aluno poderia ter obtido tais informações em mais de um meio de comunicação), a televisão obteve o maior percentual como fonte de informações aparecendo com 37%, em segundo veio a escola que apareceu com 34%, os livros com 17%, o rádio com 5% e 3% obtiveram tais informações com os Pais ou na Rua (Figura 8). Em trabalhos feitos por Oliveira (2007) e Santos (2005), referente a temas ligados a educação ambiental, pode-se notar que a televisão se destaca como o meio de comunicação por onde mais se ouve falar em assuntos ligados a esses temas. O que para o autor reflete em algo grave, já que muitas vezes essas informações chegam de forma confusa ou incompleta à população, e, consequentemente, ao aluno.

Em contrapartida, a escola ganhou destaque aparecendo com uma fatia de trinta e quatro por cento, isso evidência a participação fundamental da escola em informar sobre temas relacionados a reciclagem do lixo. Desempenhando assim, um papel importante na conscientização dos alunos e da comunidade em geral para conservação do meio ambiente. Como menciona Freitas (2011), a escola é o ambiente mais próximo onde o jovem pode aprender a exercer a sua cidadania, desenvolvendo habilidades, competências e responsabilidades que contribuam para a criação de um ambiente sustentável. Quando questionados sobre o que se entendem de reciclagem de materiais, 61% não souberam responder, 23% disseram ser o reaproveitamento do lixo, 16% relacionaram a colocar o lixo na lixeira para não poluir o meio ambiente (Figura 9). Quanto a importância que os alunos conferem a reciclagem, 93% a consideram de fundamental importância (Figura 10). Como podemos ver grande parte dos alunos não soube responder ou deixou em branco, quando perguntados sobre o que seria reciclagem (Figura 9). Para Monteiro, (2001) é de suma importância o conhecimento sobre os programas de reciclagem, pois estes estimulam o desenvolvimento de uma consciência ambiental e dos princípios de cidadania por parte da população 249


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envolvida. Segundo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente - SEMA (2001), a reciclagem caracteriza-se por operações industriais de transformação de certos materiais, como os plásticos, vidros, papéis e metais, em matéria-prima para a produção de coisas novas. Enquanto que a Reutilização, não necessariamente precisa de um processo de transformação, já que, um determinado produto para ser reutilizado não sofre qualquer alteração física, modificando ou não o seu uso original. As embalagens retornáveis são, nesse sentido reutilizáveis, enquanto que as sem retorno são potencialmente recicláveis (ALENCAR, 2005).

Quanto aos materiais que podem ser reciclados ou reutilizados (Para esse quesito usou-se o mesmo método que no quesito problemas ambientais, onde os alunos poderiam marcar mais de uma objetiva, já que o mesmo aluno pode julgar mais de um objeto como reciclável), 27% dos questionários trazem as garrafas plásticas, enquanto que as latinhas de refrigerante ou de cerveja aparecem em 20% dos questionários, papeis enquadram-se nos 18% dos questionários, os pneus em 15%, os vidros em 14% , e as pilhas em 6% dos total (Figura 11). A maioria dos alunos mostrou conhecimentos quanto aos materiais básicos que podem ser reaproveitados ou reciclados tais como, garrafas plásticas, latinhas de refrigerante e cerveja, papeis, pneus e vidro (Figura 11). Uma pequena fração dos alunos classificou a pilha como um objeto que pode ser reaproveitado ou reciclado (Figura 11), como mencionado as pilhas e baterias não fazem parte dos materiais básicos para reciclagem, abordado muitas vezes nas escolas, por possuírem, segundo Cardoso (2013), várias substâncias químicas responsáveis pelo armazenamento da carga elétrica, podendo conter materiais como cádmio, altamente nocivo ao meio-ambiente e tóxico para humanos. Por possuir materiais com valor comercial, os compostos das pilhas são reaproveitados por empresas especializadas e usados, por exemplo, na pigmentação da cor de fogos de artifício, pisos cerâmicos, vidros e tintas. 250


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Quando questionados se já haviam participado de trabalho de reciclagem na escola 53% não participaram (Figura 12). A escola é uma das principais formadoras do ser humano, tem um papel articulador dos conhecimentos nas diversas disciplinas (LIMA, 2012), sendo assim, a mesma não pode ser apenas um lugar fechado e desconectando do mundo lá fora, onde os alunos vão estudar conceitos e fatos descontextualizados da realidade local e habilidades mecânicas (SANTOS 2005). Isso, segundo Costa et al.(2012), faz com que a escola seja apenas local de reprodução, impedindo que os alunos possam tornar-se cidadãos questionadores de sua própria realidade capazes de lutar pelas transformações sociais e ambientais. O papel do educador também é essencial nas transformação dos valores e das práticas sociais, para isso, os mesmos precisam refletir e superar a visão fragmentada da realidade escolar atual, por meio da construção e reconstrução do conhecimento ligado a Educação Ambiental (LIMA, 2012), obtendo assim, um papel estratégico e decisivo na inserção da educação ambiental no cotidiano escolar, pois os mesmos tornam-se responsáveis, pelas transformações de hábitos e práticas sociais, na formação de uma cidadania ambiental que mobilize os alunos para a questão da sustentabilidade em seu significado mais abrangente (JACOBI, 2005). CONCLUSÃO Diante do que foi exposto, é notável que a maior parte dos alunos conceitua o meio ambiente como um lugar de belas paisagens com natureza exuberante, onde vivem os seres vivos, não incluindo o homem como parte integrante desse meio ambiente, sendo assim, apresentam ainda uma visão do tipo naturalista, apresentando uma compressão de meio ambiente apenas voltada para natureza intocada que deve ser preservada. Quanto aos problemas ambientais, fica evidente que a grande maioria dos alunos demonstram conhecimento sobre os mesmos, destacando como mais graves a poluição dos rios, os desmatamento e queimadas, a poluição por lixo e poluição do ar. Sobre o conceito de lixo, boa parte dos alunos deixaram a resposta em branco ou não souberam responder, fato que demonstra um grande déficit quanto ao conhecimento sobre essa problemática, das respostas obtidas a maioria relacionou lixo a restos de alimento, embalagens descartáveis, sujeira em geral, aquilo que é prejudicial à saúde, poucos o relacionaram a algo que pode ser reaproveitado. Apenas uma pequena parcela dos alunos, associou coleta seletiva ao recolhimento dos materiais recicláveis, separados para serem reutilizados ou reciclados, a grande maioria não soube responder a esse quesito. 251


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Embora a grande parte dos alunos já tenham ouvido falar em reciclagem ou reutilização, sendo a televisão e a escola os principais meios de obtenção de tais informações, e até a considerem importante, grande parte dos alunos não souberam responder o que seria os mesmos, ainda assim é notório que, mesmo que não saibam conceituar reciclagem e reutilização, eles demonstram ter conhecimentos quanto aos materiais básicos que podem ser reaproveitados ou reciclados tais como, garrafas plásticas, latinhas de refrigerante e cerveja, papeis, pneus e vidro. Em vista do que foi analisado, verificou-se a necessidade de se trabalhar com os alunos os conhecimentos relacionados ao lixo, tais como, lixo, coleta seletiva, reciclagem e reutilização, para isso, os professores poderão utilizar-se da educação ambiental, pois ela, possibilitará a incorporação destes conhecimentos através dos processos curriculares ou na construção de caminhos pedagógicos alternativos na escola, tais como, oficinas, semanas ambientais, palestras, entre outros. Sabendo que o ambiente escolar, em decorrência da grande quantidade de alunos, produz, como lixo, grandes quantidades de papeis e embalagens descartáveis e restos de alimentos, propõem-se a escola, a implantação de uma coleta seletiva, que irá proporcionar aos alunos uma vivência sobre a reutilização e reciclagem do lixo produzido por eles, como também, até a implantação de uma horta orgânica, mantida com a compostagem, produzida através dos restos de merenda escolar. REFERÊNCIAS ALENCAR, M. M. M. Reciclagem de lixo numa escola pública do município de salvador. Candombá – Revista Virtual, v. 1, n. 2, p. 96 –113, 2005. ANDRADE, A. C. Educação Ambiental no ensino superior: disciplinaridade em discussão. 2008. 166p. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2008. BARBOSA, E. F. Instrumentos de Coleta de Dados em Projetos Educacionais. Instituto de Pesquisas e Inovações Educacionais- Educar, 1998. CARSOSO, M. M. Materiais recicláveis. Sorocaba: Unesp, 48p, 2013. COSTA, J. R; SOARES, J. E. C; TÁPIA-CORAL, S; MOTA, A. M. A percepção ambiental do corpo docente de uma escola pública rural em Manaus (Amazonas). Revbea,v. 7, p. 63-67, 2012. FERREIRA, A. B. H. Miniaurélio século XXI: O minidicionário da língua portuguesa. 5 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 872p, 2001. FREITAS, S. B. Educação ambiental na escola. 2010. 19p. Produção didática (Monografia), Universidade Estadual de Ponta Grassa, Ponta Grassa. 2010. GARRIDO, L. S;MEIRELLES, R. M. S. Percepção sobre meio ambiente por alunos JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p. 189 – 205, 2003. 252


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TRILHA ECOLÓGICA DO CAVALO MARINHO EM BARRA GRANDE-PI, BRASIL: IMPACTOS AMBIENTAIS Sabrina Nayara de Araújo Val1 Simone Mousinho Freire2 Tereza Maria de Alcântara Neves3 Weslany de Oliveira Dantas4 RESUMO

Neste trabalho, foi realizada uma pesquisa de campo avaliando o potencial turístico da trilha do cavalo marinho e os possíveis impactos ambientais causados pela exploração desta atividade. Para melhor entender os elementos relacionados à gestão de atrativos ecoturísticos, foi realizada uma análise prévia dos conceitos de turismo, de impactos ambientais, trilhas e cavalo marinho. Nesse sentido, o presente estudo teve por objetivo identificar os impactos ambientais provenientes da atividade turística na trilha do Cavalo Marinho em Barra Grande/PI, evidenciando dessa forma, vantagens e desvantagens do potencial desta atividade. Para atender ao objetivo, optou-se pela coleta e análise de informação bibliográfica (regional e local); trabalho de campo com utilização das técnicas de observação direta envolvendo pesquisa e questionários que foram aplicados aos turistas e condutores da trilha, envolvidos diretamente na atividade. Observamos que quando a implantação de trilhas é feita de forma planejada, envolvendo todos os agentes, tende a ser uma atividade de grande importância para se melhorar a qualidade de vida tanto da população local, das suas regiões periféricas e também do meio ambiente que as cerca. Palavras-Chave: Cavalo-marinho. Impactos ambientais. Turismo

1 INTRODUÇÃO O turismo está presente na região de Barra Grande/PI através de atividades executadas por praticantes de esportes radicais, além do fluxo de turistas que procuram a localidade para a prática dos mesmos, o número de pessoas que procuram a trilha do cavalo marinho somente para contemplar a espécie aumentou significativamente. (CARVALHO, 2010). Conforme Andrade (2003), atualmente, uma das principais atividades de ecoturismo é a caminhada em trilhas e suas variantes, que oferece aos visitantes a oportunidade de lazer, relaxamento e de familiaridade com o meio natural. Neste aspecto a relação do turismo com o meio ambiente se dá, através das trilhas. Estas oferecem aos visitantes a oportunidade de desfrutar de uma área de maneira tranqüila e alcançar maior familiaridade com o meio natural. Trilhas bem construída e devidamente mantida protegem o ambiente do impacto do uso, e ainda asseguram aos visitantes maior conforto, segurança e satisfação. 1 Graduada em Licenciatura em Biologia-UESPI/ Pós-graduanda em Biodiversidade e Conservação.e-mail: sabrina-nayara@hotmail.com 2 Bióloga, Doutora em Ciência Animal, Mestre em Ciência Animal e Especialista em Zoologia pela Universidade Federal do Piauí. coordbiodiversidade@gmail.com 3 Mestre em Saúde da Família pela UNINOVAFAPI. Graduação em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí, Especialização em Odontopediatria pela Associação Brasileira de Odontologia, Especialização em Saúde da Família pela NOVAFAPI. Email: tereza_alcantara@yahoo.com.br

4 Orientadora. Graduada em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí, Especialista em Saúde Pública e Mestre em Clínica Odontológica. Professora do Curso de Especialização em Biodiversidade e Conservaçaõ NEAD/UESPI. weslanywes@yahoo.com.br 255


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No entanto, quando o meio ambiente é o principal produto do turismo, é preciso que se faça um planejamento ordenado dos espaços, equipamentos e da atividade em si, pois o meio ambiente é frágil e bastante vulnerável, apresentando seus limites próprios, que se ultrapassados podem acabar com a sustentabilidade, colocando em risco a própria atividade turística (ANDRADE, 2003). A proposta de estudar o potencial turístico da Trilha do Cavalo Marinho e sua possível ameaça a espécie Hippocampus, decorre ao fato de Barra Grande/PI apresentar condições para se transformar em um pólo de ecoturismo, além de possuir uma diversidade abrangente de aspectos naturais, que se expressam pela existência de paisagens diferenciadas com elevada beleza cênica. Desta maneira, a sustentabilidade dos atrativos e seu manejo resultam elementos prioritários na gestão turística. Como a região de Barra Grande possui áreas de Manguezais e estas são originalmente ecossistemas frágeis, é necessário um manejo adequado da atividade para evitar o desequilíbrio ambiental. A partir dessas questões, a presente pesquisa visa analisar se a atividade realizada na trilha do cavalo marinho em Barra Grande/PI atende aos propósitos das unidades de conservação, que é a manutenção de seus atributos ecológicos, a preservação das riquezas naturais de uma determinada região ou ecossistema e principalmente, se a trilha está de acordo com a proposta de desenvolvimento sustentável, em que todos saem ganhando: ambiente natural, população local e turista. 2 MATERIAL E MÉTODOS Tipo de Pesquisa A localidade Barra Grande, no município de Cajueiro da Praia/PI, localiza-se a uma latitude de 02º55’40’’ Sul e longitude de 41º24’40’’ Oeste de Greenwich, compreende a parte setentrional do Estado do Piauí, possuindo uma faixa de praia com 4 km de extensão. (PIAUÍ, 2012). A metodologia utilizada no presente trabalho baseou-se na pesquisa descritiva, de campo, documental e bibliográfica por meio de artigos, da observação de dados oficiais, buscas realizadas na internet (artigos e revistas eletrônicas), no órgão do Ministério do Meio ambiente (IBAMA). A pesquisa terá caráter qualitativo a qual trabalha utilizando-se de várias ferramentas como, a observação de atividades do grupo a ser estudada, a realização de entrevistas, com a finalidade de interpretar os comportamentos dos sujeitos e colher suas explicações. Os sujeitos da pesquisa foram os condutores da Trilha do Cavalo Marinho, os turistas e o Prof. Dr. Eudes Ferreira Lima- Biólogo do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Piauí/UFPI, que nos deu seu parecer técnico sobre a atividade.

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Caracterização dos Entrevistados Foi realizada uma entrevista coletiva com 10 Condutores da Trilha em questão e constatou-se que 100% são do sexo masculino, entre a faixa etária dos 21 a 30 anos. Quanto ao grau de escolaridade, identifica-se que os condutores na sua maioria não concluíram o ensino médio. A discussão foi coordenada a partir de questões gerais semi-estruturadas relacionadas aos questionamentos do trabalho, porém os participantes puderam expressar livremente suas opiniões sobre o assunto. Houve também entrevistas individuais com os turistas com uma amostra de 40 visitantes da Trilha. Pode-se observar no que tange ao sexo, uma notável discrepância entre a quantidade de mulheres e homens entrevistados. A maioria dos entrevistados possui entre 25 e 36 anos de idade. Foi realizada também uma entrevista com o prof. Dr. Eudes Ferreira Lima, a fim de avaliar sua opinião técnica sobre a atividade desenvolvida. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO 3.1 Turismo O turismo está em constante evolução e o seu crescimento é um fator importante para expandir atividades diferenciadas e potenciais a serem explorados. É a atividade econômica que mais cresce no mundo e, por sua complexidade, possui distintos conceitos e interpretações, criados por vários autores, porém não há um consenso entre eles. Dentre estas definições, destaca-se o da Organização Mundial de Turismo (OMT, 2001) que define o turismo como um conjunto de atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e estadas em lugares distintos a seu entorno habitual por um período de tempo inferior a um ano, com fins de lazer, negócios e outros motivos não relacionados com a prática de uma atividade remunerada no lugar visitado. O espaço consolidado para o turismo da região está concentrado na faixa litorânea, constituída principalmente por Cajueiro da Praia, Barrinha e Barra Grande, cada uma dessas praias com suas características peculiares, que no conjunto formam uma rota de ecoturismo diferencial na região. A Organização Mundial do Turismo-OMT (2001, p. 06) afirma que “para que o turismo constitua de fato uma estratégia econômica benéfica tem que ser também dedicado à melhoria da qualidade de vida daqueles que vivem e trabalham na comunidade e à proteção do ambiente”. Por isso, é expresso na pesquisa que os condutores conhecem as possibilidades de melhorias advindas do turismo, ainda a OMT evidencia que para atingir tais objetivos o turismo precisa considerar a conservação e a preservação dos recursos naturais. Em relação à estrutura receptiva ao turista, Barra Grande apresenta muitas deficiências. Pode-se observar no que tange ao sexo, uma notável discrepância entre a quantidade de 257


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mulheres e homens entrevistados. Sobre isso, foi possível perceber, durante a aplicação de questionários e entrevistas, que o baixo número de visitantes do gênero feminino no local se deve, principalmente, ao aspecto de segurança conforme turistas abordados, por esse motivo, não foi possível encontrar visitantes mulheres desacompanhadas de uma presença masculina. 3.2 Impactos Ambientais Os impactos do turismo referem-se à gama de modificações ou a sequência de eventos provocados pelo processo de desenvolvimento turístico nas localidades receptoras. (RUSCHMANN, 1997). Com relação ao termo impacto ambiental, vale destacar o Artigo 1º da Resolução CONAMA (CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE) n° 1 (CONAMA, 1986) que o define como: a alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, provocada por qualquer forma de matéria ou energia, resultante de atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem: a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e a qualidade dos recursos ambientais. As modificações ou a sequência de eventos provocados pelo processo de desenvolvimento da atividade turística nas localidades receptoras constituem o que denominamos impacto, podendo ser benéfico ou não para a comunidade. Os impactos ambientais podem afetar os componentes bióticos (como a fauna e a flora), abióticos (como a água, a atmosfera e o solo) e antrópicos (compreende os fatores sociais, econômicos e culturais da sociedade humana), podendo ser classificados quantitativa e/ou qualitativamente segundo alguns critérios, como tempo da ocorrência, duração e significância. (RUSCHMANN, 1997). A avaliação de impactos já causados por determinada ação ou a elaboração de planejamento para minimizar os impactos negativos não é simples. Isso tem relação com uma possível carência em determinar a capacidade de carga e quais os impactos envolvidos na visitação, além de uma dificuldade em encontrar indicadores específicos que permitam uma avaliação constante dos impactos negativos e positivos que a visitação pode provocar. (PAGANI, 1998). O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, através da resolução 001/86 de 23 de janeiro de 1986, instituiu o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) como um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente. Assim, atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas de significativo potencial de degradação ou poluição dependerão do EIA/RIMA para o licenciamento ambiental. Porém na atividade turística este instrumento é pouco utilizado. A dificuldade encontrada para a utilização de instrumentos de determinação de capacidade de carga e minimização de impactos ocorre porque, segundo Pires (apud CHINAGLIA, 2007), há grande subjetividade implícita neste setor, dificultando a definição de padrões que sejam válidos para qualquer 258


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situação ambiental ou sócio-cultural. Não é mais possível a intervenção humana na natureza sem o devido planejamento através de medidas que minimizem ou eliminem possíveis impactos ambientais negativos. Como qualquer atividade econômica, em especial aquela desenvolvida em áreas naturais, o turismo pode produzir impactos positivos e negativos. Um grave problema apontado por Ruschmann (1997) ocorre porque muitas vezes os impactos positivos ou os benefícios da atividade são valorizados excessivamente, enquanto as conseqüências indesejáveis e o custo são deixados de lado. Para os estudos de impacto, é relevante que sejam feitas análises das situações e de aspectos específicos, de forma isolada, a fim de se obter resultados mais precisos. Posteriormente, é ideal que seja feita uma análise cruzando-se todas as informações obtidas. Na perspectiva dos condutores, quando questionados sobre o entendimento em relação ao cuidado com o meio ambiente, as informações por eles expressas têm caráter apenas proibitivo, destacando o que é ou não permitido. Entretanto, apesar de acreditarem ser correto não exercer práticas poluidoras, alguns não colocam isso em prática. Os principais motivos e objetivos, por eles expostos, pelos quais realizam essa atividade, deve-se a questões financeiras, uma vez que esta pode gerar oportunidades e distribuição melhor de renda. Melhoria de vida da comunidade por meio do turismo também foi citada. Desse modo, pode-se constatar que o entendimento desses sujeitos está mais próximo de uma lógica econômica. 3.3 Trilhas Segundo a EMBRATUR (1994, p. 9), “as trilhas são corredores de circulação bem definidos dentro da área protegida e através dos quais os visitantes são conduzidos a locais de grande beleza natural para observação da natureza.” O aumento do número de pessoas buscando o convívio direto com a natureza através de atividades ao ar livre faz com que a discussão dos impactos causados pela visitação em áreas naturais seja, atualmente, de extrema importância. Porém, se mal planejadas poderão resultar em problemas de maior amplitude como compactação e erosão dos solos, assoreamento dos rios, degradação da vegetação, entre outros (PAGANI, 1998). No tocante às potencialidades, na percepção dos turistas, a trilha do cavalo marinho foi considerada um dos principais atrativos, mas os mesmos enfatizaram que é preciso que os condutores sejam mais bem qualificados para o acompanhamento do passeio, pois estes só enfatizam a questão da espécie e não da paisagem como um todo. 3.4 Cavalo Marinho Os cavalos-marinhos são peixes ósseos com morfologia e biologia singulares. São particularmente vulneráveis à exploração pelo homem, devido a algumas de suas características, tais como mobilidade limitada, tamanho da prole reduzido, baixa densidade populacional e formação de pares monogâmicos na maioria das espécies. (Foster & Vincent 2004). Encontram-se fortemente ameaçados por sua grande exploração comercial e pela degradação 259


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de seus hábitats, estando o gênero Hippocampus entre os muitos que possuem uma história de vida única, dada a sua esparsa distribuição, baixa mobilidade, pequenas áreas vitais, baixa fecundidade e longo cuidado parental. (Foster & Vincent 2004). Em todos os oceanos existem 32 espécies de cavalos-marinhos, todas pertencentes ao gênero Hippocampus (família Syngnathidae). Infelizmente, quase todas estão listadas na categoria Vulnerável da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas de Extinção da (União Internacional para a Conservação da Natureza)-IUCN, inclusive, as duas espécies ocorrentes no Brasil: Hippocampus erectus e Hippocampus reidi que habitam estuários (especialmente manguezais) e regiões litorâneas. (Foster & Vincent 2004). Devido ao pequeno tamanho no nascimento, os cavalos marinhos são presas fáceis para todos os animais carnívoros que habitam os manguezais. A pesca para o comércio interno ou exportação, associada à degradação ambiental, tem colocado os cavalos-marinhos sob ameaça de extinção. A degradação dos ambientes de mangues e estuários em geral, tem comprometido bastante as populações de cavalos marinhos, que naturalmente, já ocorrem em baixa densidade. Os cavalos-marinhos são peixes relativamente frágeis e não suportam fortes variações químico-físicas no ambiente. (FOSTER & VINCENT, 2004). No que tange aos aspectos físicos, estruturais e ambientais de acordo com o parecer do Professor Dr. Eudes Ferreira Lima, o Biólogo participante de nossa pesquisa, Constatou-se que o manuseio da espécie, utilizado na atividade, sobretudo devido à grande quantidade de visitas, é estressante para o peixe e pode levá-lo à morte. No que tange aos aspectos ambientais, constatou-se que a atividade desenvolvida pode prejudicar a espécie, pois o Hippocampus apresenta uma taxa de sobrevivência natural, extremamente baixa, situa-se em torno de 3% (FOSTER & VINCENT, 2004). 4 CONCLUSÃO Verificamos que a implantação de trilhas não é uma atividade simples de ser desenvolvida, é uma atividade complexa e multidisciplinar, que envolve várias áreas do conhecimento. Após a realização desses estudos, podemos concluir que quando a implantação de trilhas é feita de forma planejada, envolvendo todos os agentes, tende a ser uma atividade de grande importância para se melhorar a qualidade de vida tanto da população local, das suas regiões periféricas e também do meio ambiente que as cerca. Quando à exploração turística que ocorre utilizando-se dos recursos naturais, devese considerar o impacto que esse processo irá acarretar, atenuando ao máximo os prejuízos ambientais e calculando-se a capacidade suporte do ambiente, a fim de se evitar seu irremediável comprometimento. Analisando a importância do potencial turístico da trilha do cavalo marinho em Barra Grande, podemos constatar que, mesmo os entrevistados considerando a possibilidade de impactos negativos derivados do turismo na região, é perceptível que não conseguem dimensionar a gravidade destes impactos e que demonstram interesse apenas pelo lazer que a 260


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trilha oferece e pelo benefício econômico que é gerado e que podem ser provocados pelo uso inadequado do meio ambiente, onde percebemos o interesse apenas por benefícios econômicos. REFERÊNCIAS ANDRADE, W.J. Implantação e Manejo de Trilhas. In: Manual de Ecoturismo de Base Comunitária: ferramentas para um planejamento responsável. Ed. da WWF – Brasil. Org. Silvia W. Mitraud. Brasília – DF. 2003. CARVALHO, S. M. S. Possibilidades e limitações do desenvolvimento sustentável do turismo no município de Cajueiro da Praia (PI). 2010, 164f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) - Universidade Federal do Piauí. Teresina, 2010. CHINAGLIA, C. R. Desenvolvimento sustentável, participação e ecoturismo. Castellano, E. G.; Figueiredo, R. A.; Carvalho, C. L. (Org). (Eco) Turismo e Educação Ambiental: diálogo e prática interdisciplinar. São Carlos: Rima 2007. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução 001, de 23 de janeiro de 1986. FOSTER, S. & VINCENT, A.C.J. 2004. The life history and ecology of seahorses, Hippocampus spp.: implications for conservation and management. J. Fish Biol. 65:1-61. INSTITUTO BRASILEIRO DE TURISMO – EMBRATUR. Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo. Ministério da Indústria, Comércio e Turismo. 1994. OMT - ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO TURISMO. Desenvolvimento de turismo sustentável: Manual para Organizadores locais. 2. ed. Taguatinga Sul: Bárbara Bela, 2001. PAGANI, M. I.– As trilhas interpretativas da natureza e o ecoturismo. In: LEMOS, A. I. G. (org). Turismo impactos sócio ambientais. São Paulo: ed. Hucitec,1998. PIAUÍ. Piauí Turismo - PIEMTUR. Disponível em: http://www.piemtur.pi.gov.br. Acesso em: 20 novembro 2015. RUSCHMANN, D. V. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente.Campinas SP: Papirus, 1997. VERGARA ,Sylvia Constant. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração/Sylvia Constant Vergara. 4.ed. São Paulo : Atlas, 2003.

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SEMENTES UTILIZADAS NO ARTESANATO COMERCIALIZADO NA CIDADE DE PARNAÍBA, PIAUÍ Samara Oliveira da Silva1 Weslany de Oliveira Dantas2 RESUMO O meio ambiente cede uma infinita diversidade de recursos naturais à humanidade, que os utiliza para a produção de bens de consumo. O artesanato é um exemplo desse tipo de produção. Um dos recursos naturais comumente utilizados no artesanato é a semente, estrutura vegetal responsável pela perpetuação da espécie. Assim, torna-se importante o conhecimento sobre as espécies que contribuem para essa prática e a importância de sua conservação para a natureza e para o desenvolvimento socioeconômico de uma população. Este trabalho tem como objetivo o levantamento das sementes utilizadas no artesanato comercializado na cidade de Parnaíba, Piauí e de conhecimentos relacionados a elas. Este trabalho está baseado em pesquisas bibliográficas e pesquisas de campo. A pesquisa bibliográfica foi feita principalmente a partir de fontes eletrônicas. O trabalho de campo foi realizado no município de Parnaíba, por meio de visitação às lojas de artesanato. No levantamento, foram encontradas 19 espécies, distribuídas em 4 famílias, porém, algumas sementes com potencial para o artesanato, oriundas de espécies encontradas na região, praticamente não são utilizadas no artesanato de Parnaíba. Palavras-chave: Artesanato. Biodiversidade. Natureza. Semente.

1 INTRODUÇÃO É notório que o Brasil é um país com grande biodiversidade e culturalmente influenciado por tradições que resultaram em um rico artesanato. Segundo Brasil (2012), o artesanato compreende toda a produção resultante da transformação predominantemente manual de matérias-primas, por indivíduo que detenha o domínio total de uma ou mais técnicas, aliando criatividade, habilidade e valor cultural. Uma amostra do artesanato que utiliza a biodiversidade das florestas brasileiras são as biojoias confeccionadas ou produzidas com recursos naturais como sementes, bambu, madeira, casca de coco e outros materiais provenientes da natureza. (NOGUEIRA, 2008). A semente é definida como o óvulo desenvolvido após a fecundação, o qual pode conter ou não reservas nutritivas, protegido pelo tegumento (VIDAL; VIDAL, 2003) e tem como papel biológico a conservação e a propagação da espécie (DEMINICIS et al, 2009). Apesar desse papel, as sementes são utilizadas para outros fins, entre eles, os artesanais. 1 Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí. E-mail: samaraholis@hotmail.com 2 Graduada em Odontologia pela Universidade Federal do Piauí, Especialista em Saúde Pública e Mestre em Clínica Odontológica. . E-mail:weslanywes@yahoo.com.br. 263


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O artesanato brasileiro, relacionado às sementes naturais, manifesta a possibilidade de extrair da natureza a matéria-prima para muitos produtos de uso pessoal, principalmente, relacionados à moda (LEÃO, 2010). Uma das vantagens do uso da semente no artesanato, em comparação com outros materiais, decorre do fato de poderem sofrer modificações em suas estruturas físicas, Isso permite a criação de peças únicas, agregando valor ao produto final (VALLE, 2008). Existem, atualmente no Brasil, muitos projetos, oficinas e cursos de artesanato com uso de recursos naturais, que ajudam a promover uma sensibilização dos participantes em relação à natureza e contribuem para a melhoria na qualidade de vida dessas pessoas (NOGUEIRA, 2008). Além da importância socioeconômica, esse tipo de artesanato possibilita uma positiva mudança de paradigma que se reflete especialmente no meio-ambiente, uma vez que a preferência das sementes à madeira proporciona uma redução nos impactos ambientais (MATOS; RODRIGUES, 2007). A Lei Nº 10.711, de 5 de agosto de 2003, que institui o Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM), estabelece que todas as pessoas físicas e jurídicas que exerçam as atividades de produção, beneficiamento, embalagem, armazenamento, análise, comércio, importação e exportação de sementes e mudas ficam obrigadas à inscrição no RENASEM (Registro Nacional de Sementes e Mudas) (SENA, 2008). No entanto, a biopirataria ainda é um problema que acentua o esgotamento das fontes de matéria-prima da biodiversidade brasileira, pondo em risco a existência de diversas espécies raras, como a jarina, considerada como o “marfim brasileiro” (MATOS; RODRIGUES, 2007). Este trabalho tem como objetivo o levantamento das sementes utilizadas no artesanato comercializado na cidade de Parnaíba-PI e de conhecimentos relacionados a essas sementes e às implicações da atividade artesanal com o uso de sementes na conservação da biodiversidade. Esse conhecimento é relevante, pois permite informar sobre a contribuição da flora local e nativa para o desenvolvimento socioeconômico da cidade e a importância da conservação dessas espécies, bem como fornece subsídios para trabalhos posteriores. 2 MATERIAIS E MÉTODOS No Piauí, o artesanato é visível em qualquer loja de variedades ou acessórios de moda. Na cidade de Parnaíba, há lojas especializadas em artesanato, localizadas principalmente no Porto das Barcas, área comercial da cidade, onde podem ser encontrados muitos produtos confeccionados com matéria-prima proveniente da biodiversidade, como peças feitas de sementes: colares, pulseiras, anéis, brincos e objetos de decoração. Este trabalho está baseado em pesquisas bibliográficas e pesquisas de campo. A pesquisa bibliográfica foi feita principalmente a partir de fontes eletrônicas, com a finalidade de reunir conhecimentos a respeito do nome científico das espécies, bem como informações sobre a origem delas, a sua importância para o artesanato, métodos de coleta e as implicações do uso destas sementes para a preservação da biodiversidade. 264


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A pesquisa de campo foi conduzida no município de Parnaíba, que apresenta uma população de 145.729 habitantes e está localizado no extremo Norte do Estado do Piauí, a uma distância de 339 km da capital, Teresina. (IBGE, 2010). Essa etapa do trabalho foi feita por meio de visitação às lojas de artesanato situadas no município, onde na ocasião foram feitas observações, anotações e registros fotográficos das peças confeccionadas com sementes. Essa etapa do estudo teve início no dia 26 de fevereiro de 2016 e foi finalizada em 16 de abril de 2016. Nesse período, foram visitadas 10 lojas de artesanato, situadas na região central da cidade de Parnaíba-PI.Foram obtidas também informações por meio de conversas informais com os comerciantes a respeito do nome popular das espécies e a forma como as sementes são obtidas. A identificação das sementes foi feita por meio da comparação com fotos e informações obtidas por meios bibliográficos e eletrônicos. 3 RESULTADO E DISCUSSÃO No levantamento, foram encontradas 19 espécies, distribuídas em 4 famílias. Em duas dessas espécies, foi possível apenas identificar o gênero (Tabela 1). Tabela 1. Relação de espécies de sementes identificadas no artesanato na cidade Parnaíba-PI NOME POPULAR

NOME CIENTÍFICO

FAMÍLIA

Açaí Coco-da-bahia

Euterpe sp. Cocos nuciferaL.

Arecaceae Arecaceae

Olho-de-boi(mucunã) Coco-tucum

Dioclea grandiflora Mart. Astrocaryum aculeatum Meyer

Fabaceae Arecaceae

Tento-carolina

Adenanthera pavonina L.

Fabaceae

Flamboyant Jupati

Delonix regia Rafim. Raphia taedigeraMart.

Fabaceae Arecaceae

Jarina Murumuru

Phytelephas macrocarpa Ruiz e Pav. Astrocaryuum murumuru Mart.

Arecaceae Arecaceae

Coco – babaçu Girassol

Orbignya speciosa Mart. Helianthus annuus L.

Arecaceae Asteraceae

Leucena Paxiúba

Leucaena leucocephala Lam. Socratea exorrhiza Mart.

Fabaceae Arecaceae

Jequitiri Matapasto

Abrus precatorius L. Senna sp.

Fabaceae Fabaceae

Buriti Carnaúba

Mauritia flexuosa L.f. Copernicia prunifera (Miller) H. E. Moore.

Arecaceae Arecaceae

Saboneteira

Sapindus saponaria L.

Sapindaceae

Jatobá

Hymenaea courbaril L.

Fabaceae

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As sementes identificadas neste levantamento apresentam como principal característica em comum a dureza. As do açaizeiro (Euterpe sp.), além de duras, apresentam formato arredondado. Já as sementes de buriti (Mauritia flexuosa), que também são duras, apresentam formato oval. A paxiúba (Socratea exorrhiza) é esférica, dura e recoberta por fibras. O coco-tucum (Astrocaryum aculeatum) é extremamente duro, possui forma oval e coloração castanha-enegrecida. As sementes de jatobá (Hymenaea courbaril) são grandes, com formato ovoide e de cor marrom-avermelhada. As de leucena (Leucaena leucocephala) são achatadas e de coloração marrom. O coco-babaçu (Orbignya speciosa) apresenta formato ligeiramente oval. As sementes tento-carolina (Adenanthera pavonina) são arredondadas em forma discoide, duras e apresentam coloração vermelha bastante vistosa. As sementes de jequitiri (Abrus precatorius) apresentam a mesma cor dos tentos-carolina, porém são menores, arredondadas e com região hilar escura. As saboneteiras (Sapindus saponaria) são esféricas, lisas e de coloração escura brilhante. As jarinas (Phytelephas macrocarpa) são sementes grandes e de coloração clara. A jupati (Raphia taedigera) tem coloração marrom com diversas estrias. A semente de carnaúba (Copernicia prunifera) também é marrom e apresenta estrias escuras que percorrem toda a sua superfície. A mucunã (Dioclea grandiflora) apresenta tom marrom, é rígida, lisa e possui uma área hilar que a circunda parcialmente. As sementes de girassol (Helianthus annuus) naturais encontradas nas peças apresentam coloração escura e com listras. As de flamboyant (Delonix regia) são ovaladas de coloração marrom também com algumas listras. Já as de matapasto (Senna sp.) são bem pequenas, achatadas, com coloração marrom e formato oval. A maioria das peças artesanais que levam açaí (Euterpe sp.), jarina (P. macrocarpa), paxiúba (S. exorrhiza), jupati (R. taedigera), saboneteira (S. saponaria) buriti (M. flexuosa) e carnaúba (C. prunifera) em sua produçãosão colares ou brincos oriundos de estados da região amazônica eadquiridos por meio de compra. Outras peças, tais como objetos de decoração, cintos, bolsas e detalhes em roupas, confeccionadas com tento-carolina (A. pavonina), coco-da-bahia (C.nucifera), mucunã (D. grandiflora), girassol (H. annuus), matapasto (Senna sp.), babaçu (O. speciosa), coco-tucum (A. aculeatum), flamboyant (D. regia), leucena (L. leucocephala), jequitiri (A. precatorius) e jatobá (H. courbaril) são provenientes do artesanato da própria cidade. Segundo os artesãos, algumas dessas sementes são compradas, como mucunã e girassol, e outras coletadas manualmente nas praças, onde são muito comuns as espécies A. pavonina (tento-carolina) e D. regia (flamboyant),utilizadas na arborização, e na zona rural ou na circunvizinhança da cidade como as sementes de jatobá (H. courbaril), jequitiri (A. precatorius), coco-da-bahia (C .nucifera), leucena (L. leucocephala), matapasto (Senna sp.), coco-tucum (A. aculeatum), babaçu (O. speciosa). Esperávamos encontrar, em todos os estabelecimentos, peças feitas com sementes de espécies comuns da região e de fácil aquisição, tais como buriti (M. flexuosa), carnaúba (C. 266


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prunifera), girassol (H. annuus), coco-tucum (A. aculeatum), coco-da-bahia (C. nucifera) e tento-carolina (A. pavonina). No entanto, apenas três foram encontradas em uma quantidade considerável de estabelecimentos: coco-da-bahia (C. nucifera), coco-tucum (A. aculeatum) e tento-carolina (A. pavonina). Em poucas lojas, foram encontradas peças feitas com algumas espécies comuns no estado do Piauí, como as palmeiras Buriti (M. flexuosa) e Carnaubeira (C. prunifera), que apresentam sementes com potencial para o artesanato. As espécies encontradas na maioria dos estabelecimentos foram: açaí (Euterpe sp.), em 8 lojas; coco-da-bahia (C. nucifera) em 7 lojas; olho-de boi ou mucunã (D. grandiflora) em 5 lojas;coco-tucum (A. aculeatum), tento-carolina (A. pavonina) e flamboyant (D. regia) e jupati (R. taedigera) em 4 lojas. As porcentagens referentes à quantidade de estabelecimentos estão representadas no gráfico 1. Gráfico 1. Quantidade de estabelecimentos em que cada semente foi encontrada.

No que concerne à frequência das famílias, podemos observar que as Arecáceas e Fabáceas são consideravelmente mais utilizadas nessa prática em comparação com as outras duas famílias identificadas (Gráfico 2). Gráfico 2. Número de espécies identificadas no artesanato de Parnaíba-PI por família

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Foram encontradas no levantamento várias peças confeccionadas com sementes, dentre elas objetos relacionados à moda e à decoração: colares, brincos cintos, quadros, oratórios, imãs de geladeira e vários outros (Figura 1). Figura 1. Artesanatos de Parnaíba. Piauí com a utilização de sementes.

A. Colares feitos com sementes de açaí (Euterpe sp.) e de buriti (Mauritia flexuosa). B. Colares feitos com sementes de açaí(Euterpe sp.) e coco-da-bahia (C. nucifera). C. Objeto de decoração feito com coco-da-bahia (C. nucifera). D. Cintos feitos com coco-da-bahia (C. nucifera). E. Objetos de decoração feitos com semente de mucunã (D. grandiflora.). F. Cintos feitos com coco-tucum (A. aculeatum). G. Quadro feito com sementes de flamboyant (D. regia), mucunã (D. grandiflora.) e tento-carolina (A. pavonina). H. Objeto de decoração feito tento-carolina (A. pavonina). I. Colar feito com coco-tucum (A. aculeatum), semente de jupati (Raphia taedigera) e de carnaubeira (P. prunifera). J. Colares feitos com sementes de açaí (Euterpe sp.) e murumuru (A. murumuru). L. Colar feito com semente de açaí (Euterpe sp.), paxiúba (S. exorrhiza) e jarina (P. macrocarpa). M. Imãs de geladeira feitos com jequitiri (A. precatorius). Fonte: Arquivo pessoal.

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Das espécies identificadas, muitas são nativas, de origem ou ocorrência amazônica e/ou do nordeste brasileiro e outras são exóticas, provenientes dos continentes asiático e africano e da América do Norte. Alguns exemplos de sementes oriundas de árvores amazônicas, levantadas neste estudo, são: Euterpe sp., R. taedigera, Phytelephas macrocarpa, M. flexuosa, Astrocaryum murumuru, Astrocaryum aculeatum, Socratea exorrhiza e Sapindus saponaria (MENDONÇA; DEL BIANCHI,2014; CARRERO, 2014; LORENZI, 2000; SHANLEY ; MEDINA, 2005;SOUZA, 2012;VALE et al, 2014). A espécieCopernicia prunifera é nativa do Nordeste brasileiro (SILVA et al, 2012). Outras como Hymenaea courbaril, Mauritia flexuosa e Orbignya speciosa ocorrem em várias regiões do Brasil.Entre as exóticas, estão a A. pavonina, endêmica do Sul da China e da India, D. regia, originária de Madagascar (África), Leucaena leucocephala, originária das Américas (do Texas, EUA, até o Equador, e concentrando-se no México e na América Central), e Helianthus annuus, que é uma planta norte-americana (CARRERO, 2014; CASTRO et al, 1997; RIBEIRO, 2010; SOLER et al, 2007). Apesar de algumas dessas espécies serem nativas de outros países ou da região amazônica, algumas são encontradas na região nordeste, como o coco-tucum (A. aculeatum), o tento-carolina (A. pavonina) e o flamboyant (D. regia). Esses dois últimos muito utilizados na arborização de praças públicas na cidade de Parnaíba-PI. O coco-babaçu (O. speciosa) também é encontrado na região nordeste, assim como o matapasto (Senna sp.) que tem ocorrência nos biomas caatinga, cerrado, floresta amazônica e pantanal, a Dioclea grandiflora nobioma caatinga e o Cocos nucifera, espécie difundida por todo o mundo(DRUMOND, 2010; SILVA et al, 2012; SOLER et al, 2007; CASTRO; CAVALCANTE, 2011;MARTINS; JUNIOR, 2010). Entre as sementes encontradas, uma chamou a atenção por ser uma espécie tóxica, a Abrus precatorius, pertencente à família Fabaceae, conhecida popularmente como jequiriti. Essa espécie é uma trepadeira comum em regiões tropicais e no Brasil, ocorrendo nas regiões norte, nordeste e leste (KISSMANN; GROTH, 1999apud NOGUEIRA, 2008). A exploração de sementes, que são consideradas Produtos Florestais Não-Madereiros (PFNM), em comparação com outras práticas, como criação de gado ou o monocultivo em grandes áreas, é uma alternativa para exploração das florestas por gerarem renda para sem causar grande impacto à natureza. Todavia, é importante o conhecimento do nível de exploração que cada espécie é capaz de suportar sem prejudicar seus processos de reprodução e regeneração (NUNES; VIVIAN, 2011). As sementes florestais possuem grande potencial para uso comercial e ambiental, porém muitas pesquisas ainda são necessárias para que possam ser utilizadas de forma sustentável e para que os benefícios dessa utilização sejam maximizados (ZANI et al, 2013) A preservação das sementes é essencial para a manutenção da biodiversidade e do equilíbrio ecológico. Para garantir a sustentabilidade econômica e ecológica do extrativismo e promover a conservação associada à geração de renda, é necessário conhecer as formas de manejo empregadas, a biologia da espécie e os efeitos dessa prática (SCHMIDT, 2005). 269


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A coleta é um tipo de extrativismo que mantém intacta integridade da planta matriz geradora do recurso, desde que a taxa de recuperação cubra a taxa de degradação, assegurando uma extração ad infinitum (HOMMA, 2015).As sementes podem ser coletadas por meio de vários métodos que variam desde os mais simples, como coleta de sementes ou frutos no chão aos mais avançados, tais como máquinas para sacudir a árvore, guindaste acoplado a um cesto, material de montanhismo, balão ou helicóptero (NOGUEIRA; MEDEIROS, 2007). Pelo fato de as sementes permitirem a perpetuação da espécie, é necessário evitar a coleta de todas as sementes produzidas pelas árvores matrizes (aquelas que apresentam características superiores às demais) para que a espécie possa continuar disseminando-se de forma natural e assim, garantir a sobrevivência dos outros seres vivos que delas se alimentam, sem alterar o equilíbrio ecológico (SENA, 2008). Uma vez que a semente passa a ser utilizada para outra função, como para compor peças artesanais, ela deixaria de ser semente. Isso se tornaria importante no sentido de limitar a biopirataria, porém técnicas eficientes de inviabilização das sementes teriam que ser desenvolvidas antes de serem disponibilizadas para o comércio (VALLE, 2014). 4 CONCLUSÃO Apesar do potencial que a cidade tem para o artesanato de sementes, essa prática ainda é pouco desenvolvida, uma vez que muitas peças são compradas prontas de outras regiões do país, como as que levam em sua produção as sementes de açaí. Independe desse fator, a utilização de sementes em peças artesanais na cidade de Parnaíba-PI foi considerável na maioria das lojas. Porém, algumas sementes com potencial para o artesanato, oriundas de espécies encontradas na região, praticamente não são utilizadas. Assim, seria necessário adotar medidas de estímulo à atividade, como a oferta de treinamentos, para adoção de técnicas adequadas de coleta de sementes nativas ou de grande ocorrência na região e agregação de valor aos produtos, possibilitando sustentabilidade e o desenvolvimento econômico. Ficou evidente que as sementes têm sua contribuição na atividade artesanal parnaibana e são uma alternativa para o uso de outros materiais uma vez descartados causariam danos ao meio ambiente, porém é necessário o conhecimento da diversidade e características das espécies exploradas. Esses são, portanto, conhecimentos essenciais para melhorar a relação entre biodiversidade e desenvolvimento econômico.

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CARACTERIZAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DO RIO PIAUÍ NO PERÍMETRO URBANO DO MUNICIPIO DE SÃO RAIMUNDO NONATO-PI SORAIA DIAS DE BRITO E SILVA1 MARIA JAQUELINE MESQUITA2 TEREZA MARIA ALCANTARA NEVES3 RESUMO O presente trabalho tem por objetivo realizar um levantamento dos fatores de degradação ambiental do rio Piauí no perímetro urbano do município de São Raimundo Nonato. Foi realizada uma prospecção ambiental no leito do rio onde buscou-se evidenciar fatores de degradação ambiental como: lixo doméstico, lixo industrial, esgoto, possível invasão do território do rio pela instalação de currais e lixo hospitalar. Os resultados encontrados apontaram para o péssimo estado de conservação e preservação do rio Piauí no perímetro urbano estudado. Portanto se faz necessário rever a postura acerca do estado conservação e preservação do rio Piauí a fim de promover ações que revertam esse quadro de degradação ambiental a médio e a longo prazo. Palavras-chave: Gestão ambiental. Rios. Mananciais.

INTRODUÇÃO Os mananciais são de grande importância para o desenvolvimento das sociedades humanas, eles propiciam o desenvolvimento das atividades agrícolas, industriais e seu consumo pela população em geral. A necessidade de construir ferramentas para um melhor gerenciamento dos recursos hídricos urge do intuito de garantir o uso constante e manutenção ao longo prazo da água dos recursos hídricos. O uso desenfreado e sem planejamento dos recursos hídricos pode contribuir para gerar um desequilíbrio ambiental, ocasionando consequências catastróficas para as sociedades humanas e a natureza, ambos necessitam da água para se desenvolver (PIEROTE FILHO, 2005; DIAMOND, 2006). O rio Piauí é um importante manancial para o município de São Raimundo Nonato fazendo parte da bacia hidrográfica do Estado do Piauí e contribui para o crescimento do município, como uma reserva de água potável ou como uma fonte de alimentos, constituindo o principal manancial da barragem Petrônio Portela que abastece vários municípios da região, inclusive São Raimundo Nonato. 1 Aluna da Pós-graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância - NEAD. Email: soraya_britto@hotmail.com 2 Professora Orientadora da Pós-Graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância – NEAD. Email: mmesquita32@yahoo.com.br 3 3 Coordenadora de TCC da Pós-graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância – NEAD. Email: tereza_alcantara@yahoo.com.br 275


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Com o passar dos anos, o rio Piauí no perímetro urbano está passando por processo de degradação ambiental contínua, pois se tornou uma drenagem de esgoto urbano, suas margens foram invadidas por construções irregulares e o sendo utilizadas como depósito de lixo e entulho industrial, concluindo o local do rio se tornou um grande lixão urbano (OLIVEIRA, 2012). No que concerne aos impactos ambientais, a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA, 001/86 art. 1°) [...] o define como sendo qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas da ambiência, causadas por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota e as condições estéticas e sanitárias da ambiência e a qualidade dos recursos ambientais.

Os impactos ambientais são oriundos das atividades antrópicas, que podem ser positivas ou negativas, geralmente são ocasionadas no decorrer da execução de empreendimentos de pequeno à grande porte, necessitando um acompanhamento ambiental especializado, destarte, são relacionados com mudanças biológicos, químicas e físicas que alteram o equilíbrio ambiental, podendo causar prejuízos as sociedades humanas e o meio ambiente (UNOPAREAD B, 2014). Por isso, não só a identificação dos principais impactos ambientais é importante, mas, sobretudo, as medidas mitigadoras passíveis de serem aplicadas na área impactada. Diante disso, o presente estudo tem por objetivo realizar um levantamento dos fatores de degradação ambiental do rio Piauí no perímetro urbano do município de São Raimundo Nonato. MATERIAL E MÉTODO Tipo de estudo O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa de campo, realizando uma prospecção ambiental no perímetro urbano do município de São Raimundo Nonato, mais especificamente na Avenida dos Estudantes, objetivando encontrar as seguintes variáveis: (a) lixo doméstico; (b) lixo hospitalar; (c) invasão das margens do leito do rio; (d) lixo industrial; (e) presença de drenagem de esgoto doméstico a partir da coleta e análise das amostras de água no local, oriundos do rio Piauí. Caracterização da área de estudo O município de São Raimundo Nonato está localizado na região Sudoeste do Piauí, há 576 km da capital do Estado Teresina e sendo fundado no ano de 1912. É uma cidade típica do interior do estado, com uma população 32.327 habitantes, IDH-M 0,661 (OLIVEIRA, 2012). As principais atividades econômicas do município são agricultura, pecuária, serviços, mais especificamente o turismo oriundo do Parque Nacional Serra da Capivara, considerado um patrimônio cultural da humanidade devido as suas riquezas arqueológicas e paleontológicas, 276


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com a presença mais recuada dos grupos no continente americano (OLIVEIRA, 2007). O rio Piauí tem sua origem na Serra das Confusões no município de Caracol, sendo um afluente do rio Canindé e tendo uma extensão de 400 km. Seus principais afluentes na margem direita são: Canário, São Lourenço, Cavalheiro, Tanque Novo, Lajes, Mulungu, Pedra Branca, Itacoatiara, São Domingos, Socorro, Fidalgo, Defuntos; seus principais afluentes na margem esquerda são: Olho d´Água, Mulungus, Santo Antônio, Bom Jesus, Caché, Brejinho, Nova Olinda, Fundo, São João, Trempes, Cachoeira, Gameleira, Carnaíbas, Cajazeiras, Mucaitá, Cajueiro, Macacos, Tucuns (BATISTA, 1974). Nessa presente pesquisa conduziu-se da seguinte forma: foi realizada uma prospecção em um segmento do rio Piauí no perímetro urbano, mais especificamente na Avenida dos Estudantes (figura 1). Essa prospecção buscou-se evidenciar fatores de degradação ambiental como: lixo doméstico, lixo industrial, esgoto, possível invasão do território do rio pela instalação de currais e lixo hospitalar. A atividade de prospecção consiste em uma caminhada por uma área que se deseja obter informações acerca do meio, tanto de natureza ambiental quanto de natureza arqueológica (OLIVEIRA, 2014). O total da distância percorrida na atividade de prospecção foi 1,2 quilômetros (ver Mapa 1). Figura 1: Mapa do percurso prospectado do rio Piauí no perímetro urbano.

Fonte: Google Earth e alterada pela autora. Procedimentos de coleta de dados Para identificar e descrever os impactos ambientais no local do estudo realizaram-se 277


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10 visitas “in loco”, com duração aproximada de 4 horas cada visita, todas feitas no mês de janeiro a abril de 2016. Somaram-se registros fotográficos da área pesquisada e o registro das informações em uma caderneta de anotações, posteriormente as fotos tiradas foram analisadas e filtradas depois do Trabalho de campo e sintetizados nesse trabalho. RESULTADOS E DISCUSSÃO O gerenciamento dos recursos hídricos no mundo e no Brasil é um assunto em evidência dentro do contexto ambiental, a água é um bem essencial para a sustentação da vida no planeta (UNOPAREAD, 2014 B). Dentro do contexto, o Estado do Piauí está inserido dessa conjuntura econômica, ambiental, social e cultural. O rio Parnaíba é o segundo maior manancial presente na região Nordeste, perdendo apenas para o rio São Francisco (UNOPAREAD A, 2014). Os rios Poti e Parnaíba estão passando por um processo de deterioração de suas condições ambientais, devido ao processo de assoreamento de suas margens e poluição do seu leito e contaminação de suas águas pelo lançamento de resíduos sólidos e líquidos (CALVACANTE, 2014). Um estudo realizado no rio Poti no perímetro urbano em Teresina constatou que a poluição de suas águas está causando uma diminuição no volume da atividade pesqueira, prejudicando dezenas de famílias de pescadoras na região (CABRAL; SILVA; LEITE, 2014). Os principais mananciais são utilizados para o consumo humano, animal, agricultura, indústria e mineração pesada, assim, observa-se os problemas relativos à poluição como despejos de resíduos sólidos e líquidos nesses mananciais (UNOPAREAD B, 2014). Um levantamento realizado pelo técnico da Fundação Nacional de Saúde Luiz Paes Landim constatou o lançamento de esgoto sem tratamento no leito do rio Piauí, causando sérios transtornos para a população que sofre constantemente com a falta de água (PORTAL DIA 2016). Os principais problemas encontrados durante a prospecção no rio Piauí foram: deposição de lixo doméstico, industrial e entulho; problemas de limites entre as propriedades próximas do rio e o uso do rio como uma drenagem de esgoto doméstico (OLIVEIRA, 2012). A figura 2 ilustra a deposição de lixo no leito do rio e a presença de cercas de arames dentro do espaço do rio Piauí, sendo os rios pertencentes à União, demonstrando a invasão de um espaço público. Observarse a existência de currais privados nas margens e dentro do rio Piauí, evidenciando o desrespeito às legislações vigentes e a inoperância do poder público. Figura 2: Situação do rio Piauí embaixo da ponte da Avenida dos Estudantes. Fonte: a autora (2016). 278


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A figura 3 aponta para a presença de deposição de lixo industrial, um pneu de motocicleta e outros itens de peças automotivas, provavelmente oriundos das oficinas de motos próximas de uma das pontes do rio Piauí. Figura 3. Lixo industrial nas margens do rio Piauí na Avenida dos Estudantes. Fonte: a autora (2016).

Na figura 4, nota-se a presença de um curral na margem e adentrando o rio Piauí, é necessário a aplicação do código de postura do município, o plano diretor do município de São Raimundo e as legislações estaduais e federais sobre a proteção dos mananciais. Um espaço público pode estar sendo utilizado para fins privados, provocando danos ao rio Piauí.

Figura 4. Presença de currais nas margens do rio Piauí. Fonte: a autora (2016).

A figura 5 ilustra bem a deposição de lixo doméstico no rio Piauí, ao longo da prospecção foi observada a presença de lixo, em especial próximo dos bares da Avenida do Estudante. O lixo em geral era constituído por garrafas pet de refrigerante, latinhas vazias de cerveja, copos descartáveis, garrafas de vidro quebradas, restos de cigarros, embalagens plásticas de biscoitos (ver figura 6) e Figura 5: Deposição de lixo doméstico na margem do rio Piauí. Fonte: a autora (2016). indícios de queima de materiais (ver figura 7).

Figura 6: Deposição de lixo próximo dos bares da Figura 7. Queimadas às margens do rio Piauí. Fonte: a Avenida dos Estudantes. Fonte: a autora (2016). autora (2016). 279


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A deposição de entulho foi um fato observado durante a prospecção, o rio se tornando um depósito de restos de materiais de construção (ver figura 8). Isso é fato preocupante, tendo em vista que os entulhos de construções podem formar barreiras para a passagem da água, assim aumentando os efeitos de cheia do rio, gerando inundações nos pontos mais baixos do curso do rio, trazendo uma série de transtornos para a população de São Raimundo Nonato. Figura 8. Deposição de restos de materiais de construção. Fonte. a autora (2016).

Duas amostras de água foram coletadas no dia 8 de abril de 2016 pelo técnico da Agespisa e biólogo responsável Evandro (ver ponto de coleta na figura 1), no intuito de realizar uma análise físico-química de número 217/2016 e bacteriológica de número 145/2016 da água no rio Piauí no trecho Figura 9. Coleta de amostras de água do rio Piauí para analise referente à avenida dos estudantes (ver em laboratório. Fonte: a autora (2016). figura 9). Os resultados apresentaram o seguinte diagnóstico: 1) do ponto de vista físico apresentou uma coloração 1,2 Ph, sendo quando o recomendado é entre 6 a 9,5 Ph; turbidez de 7,2, sendo o recomendado é de 5,0; 2) do ponto de vista químico apresentou a presença de coliformes totais na amostra, demonstrando sua inutilização para o consumo humano e animal e/ou atividade agrícola. O laudo do laboratorio concluiu que a água coletada do rio Piauí: “Não atende aos Padrões Físico-Químicos de Potabilidade”; “Não atende aos padrões microbiológicos de Potabilidade”; “Presença de coliformes totais”; “V.M.P. para o grupo os Cloretos: 250 mg/l Cl.” e “V.M.P. para Dureza: 500mg/l.”. CONCLUSÃO A presente pesquisa aponta para o péssimo estado de conservação e preservação do rio Piauí no perímetro urbano observado no município de São Raimundo Nonato. Os principais problemas ambientais são: a) deposição de lixo doméstico; b) possível invasão dos limites do território do rio, a presença de currais; d) deposição de lixo industrial; e) presença de esgoto doméstico, em decorrência dos resultados das amostras de água em laboratório. Um fato positivo é ausência de lixo hospitalar de qualquer natureza durante o trajeto, evitando a disseminação de algumas doenças. Foi constatada a partir das análises das amostras de que água é inapropriada para o consumo humano e\ou animal, sendo um possível vetor de contaminação e propagação de doenças. 280


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O diagnóstico atual demonstra que as autoridades públicas deveriam estar planejando e efetivando políticas ambientais que visem uma boa gestão ambiental do rio Piauí, em especial o poder municipal. Concluindo, é interessante a Foto 10. Enchente no perímetro urbano de São Raimundo população civil organizada junto solicite Nonato. Fonte. saoraimundo.com (2010). as autoridades publicas algumas ações para reverter esse quadro de degradação do rio Piauí no perímetro urbano do município de São Raimundo Nonato como: 1) a elaboração de um plano de revitalização do rio, assim contribuindo para diminuição da sensação térmica em períodos quentes do ano; 2) o reuso do rio como um espaço de lazer para a cidade; 3) obras de saneamento básico para evitar proliferação de doenças oriundas de lixo e esgoto depositados indevidamente, com o intuito de reduzir os efeitos das enchentes do rio Piauí sobre os bairros próximos das margens, em especial o centro de São Raimundo Nonato durante o período de cheia do rio (ver foto 10). REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao34 .htm. Acesso em: 15 jun. 2012. BRASIL. Constituição (1967). Disponível: << http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/Constituicao67.htm>>. Acesso em. 6, nov. 2014. CABRAL, F.C.R.; SILVA, C.V.R.; LEITE, A.C.A. A poluição no rio Poti no perímetro urbano de Teresina (PI): uma experiência na escola pública considerando os diferentes contextos da educação ambiental. Disponível:<< http://enalic2014.com.br/anais/ anexos/7856.pdf>>. Acesso: 19 de maio. 2016. CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução CONAMA 01, de 23 de janeiro de 1986. Dispõe sobre procedimentos relativos a Estudo de Impacto Ambiental PIEROTE FILHO, O. A proliferação de aguapés no rio Poti, bioindicador da condição sanitária do ecossistema fluvial. (Monografia de Especialização em Gestão de Recursos Hídricos e Meio Ambiente). UFPI, Teresina, 2005 BAPTISTA, J.G. Geografia Física do Piauí. Teresina: COMEPI, 1974. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Manole. 2004. CAVALCANTE, A. Qualidade das águas do Rio Poti está comprometida por causa da poluição. PORTAL DIA. Disponível: << http://www.portalodia.com/noticias/piaui/qualidadedas-aguas-do-rio-poti-esta-comprometida-por-causa-da-poluicao-229403.html>>. Acesso: 19 281


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de maio. 2016. DIAMOND, J. Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. Trad. Alexandre Raposo. Rio de Janeiro: Record, 2006. Lei das Águas - Lei 9.433/97. Disponível em: << http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9433.htm>>.Acesso 4,nov.2014. PROJETO DO PLANO DE DIRETOR DO MUNICIPIO DE SÃO RAMUNDO NONATO – PI. FUMDHAM: São Raimundo Nonato, 2007. PINKYS, Jaime. As primeiras civilizações. 18ª Edição São Paulo. Atual, 1998. PORTAL DIA. Esgoto do município estaria sendo lançado no Rio Piauí Disponível: <<http://www.portalodia.com/municipios/sao-raimundo-nonato/esgoto-domunicipio-estaria-sendo-lancado-no-rio-piaui-260075.html>>. Acesso: 19 de maio. 2016. OLIVEIRA b, G. F. O povoamento do continente americano pelos seres humanos: os discursos de Niède Guidon e Pedro Paulo Funari. 2007. 86 f. Monografia (Graduação em História), UESPI. Teresina. 2007. OLIVEIRA, G.F. As pinturas rupestres dos Sítios arqueológicos Toca do Martiliano, Toca da Boca do Sapo e Toca da Invenção no Parque Nacional Serra da Capivara - PI: um estudo de caso. 2014. 150 f. Dissertação (Mestrado em Arqueologia). Programa de Pós-graduação em Arqueologia, Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2014. OLIVEIRA, Jaime. S. São Raimundo Nonato, um projeto de emancipação política. 85 f. Monografia (Graduação em História). Universidade Estadual do Piauí. São Raimundo Nonato. 2012. SÃO RAIMUNDO.COM. Enchente no município de São Raimundo Nonato. Disponível: <<www.sãoraimundo.com/>>, Acesso: 1 de maio. 2010. UNOPAREAD A. Planejamento e o uso racional da água. MBA em Gestão Ambiental. Londrina: UNOPAREAD, 2014. UNOPAREAD B. Degradação e perda da qualidade ambiental. MBA em Gestão Ambiental. Londrina: UNOPAREAD, 2014.

282


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BIODIVERSIDADE DE PLANTAS ALIMENTICIAS NÃO CONVENCIONAIS NA COMUNIDADE MALHADA BONITANO MUNICIPIO DE ARRAIAL-PIAUI OZIVANIA SIQUEIRA BUENO1 MARIA JAQUELINE MESQUITA2 RESUMO Foi realizado um estudo com o objetivo de conhecer as plantas alimentícias não convencionais nativas da comunidade Malhada Bonita do município de Arraial-Piauí. Foi realizada uma entrevista com 22 moradores da comunidade que mencionaram 43 etnoespécies existentes na região. As famílias mais representativas citadas foram, Anacardiaceae, Arecaceae. A parte da planta mais utilizada foi o fruto. Dos hábitos citados os que mais se destacaram foram o arbóreo e o arbustivo. O valor de uso das plantas variou entre 0,045 a 0,95. Ao realizar a pesquisa pôde-se observar a importância de espécies alimentícias não convencionais disponíveis na localidade, citadas como úteis na alimentação e assim mostrar o quanto a comunidade é rica em plantas alimentícias, cujas partes das plantas representam uma significativa fonte alimentar.

PALAVRAS-CHAVE: Utilidade. Alimento. Diversidade.

INTRODUÇÃO São consideradas plantas alimentícias, aquelas que possuem uma ou mais partes que podem ser utilizados na alimentação humana, como: raízes, tubérculos, rizomas, talos, folhas, brotos, flores, frutos e sementes, ou que seja usado para obtenção de óleos e gorduras comestíveis. Incluindo espécies condimentares e aromáticas, as que são usadas como substitutas do sal, como amaciantes de carne, corantes alimentares e também as utilizadas na fabricação de bebidas (KINUPP; BARROS, 2007). Estudos ambientais realizados na última década têm evidenciado que o grande desafio da atualidade consiste na utilização do potencial biótico e abiótico existente, munido de sabedoria suficiente, para garantir que as decisões de hoje não venham afetar de forma negativa as gerações futuras (CHAVES e BARROS, 2009). Na história da alimentação humana há modificações temporárias e a alimentação sofre influências da mídia e dos interesses econômicos. Assim o homem optou pela especialização ao invés da diversificação alimentar. Muitas espécies atualmente denominadas “daninhas” por alguns vêm servindo de alimento para populações. No Brasil existem poucos trabalhos sobre plantas comestíveis alternativas, sejam inços ou nativas (KINUPP e BARROS, 2004). As regiões que se encontram com maior número de espécies úteis, são as que vêm sofrendo muito com a destruição ambiental. E este fator aliado a inclusão de novos elementos 1 Aluna da Pós-graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância - NEAD. Email:ozivaniasb@gmail.com 2 Professora Orientadora da Pós-Graduação de Biodiversidade e Conservação, Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Núcleo de Educação a Distância – NEAD. Email: mmesquita32@yahoo.com.br 283


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ás culturas tradicionais, ameaçam o acervo do conhecimento tradicional das gerações futuras (VIEIRA et al,2009). Estima- se que anualmente são uma a duas toneladas de hectares de recursos vegetais que podiam ser utilizados para alimentação, enquanto muitas pessoas estão morrendo de fome no mundo, estas plantas alimentícias poderiam estar sendo usadas para combater a fome dessas pessoas (ERICE,2011). Diante disso o presente estudo tem como objetivo conhecer as plantas alimentícias não convencionais nativas da comunidade Malhada Bonita do município de Arraial-Piauí, posteriormente calcular o valor de uso das plantas mencionadas. MATERIAL E METODO Tipo de estudo Foi realizado um estudo descritivo com abordagem quantitativa. Caracterização da área de estudo O município de Arraial (Figura 1), foi uma aldeia de índios Acoroás e Guegueses. O nome da cidade foi dado devido a mesma se encontrar as margens do rio Arraial. A cidade possui uma população de 4.688 habitantes, uma área de 682, 760 km², seu bioma é a caatinga. Possuí clima tropical com estações de inverno seca, as condições de clima associadas às variáveis de latitude e altitude tornam a região mais propicia ao predomínio de temperaturas elevadas, geralmente chegam aos 37 °C entre os meses de setembro e outubro. Já as temperaturas mínimas giram em torno de 24,3 °C. Sua localização é a uma latitude 06º39’17”sul e a uma longitude 42º31’54” e oeste, estando a uma altitude de 338 metros.Encontra-se a 75 km da cidade de Floriano-PI e a 217 km da capital Teresina (IBGE, 2010). Figura 1: Mapa da localização do municí- Fonte:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Arpio de Arraial no estado do Piauí raial#/media/File:Piaui_Municip_Arraial> acesso em: <21/03/2016

A área escolhida para a realização do estudo foi a comunidade Malhada Bonita que se localiza a 9 Km do município de Arraial, estado do Piaui. A comunidade é composta por uma população de 22 famílias, onde a maioria possui baixa renda. As casas da comunidade são feitas de adobo e cobertas de telha e todas possuem água encanada e energia elétrica. 284


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A localidade possui uma pequena escola e uma igreja. O nome da comunidade foi escolhido porque no local antes de haver moradores existia uma malhada onde muitos gados deitavam juntos ao final da tarde, e a paisagem era muito bonita, por isso os moradores que foram viver lá deram o nome malhada bonita aquele local. Procedimentos de coleta e análise de dados Na coleta de dados foi realizada uma entrevista semiestruturada (composta de questões objetivas e subjetivas). Primeiramente, realizaram-se visitas informais na comunidade, para que se estabelecesse um vínculo de confiança e uma relação amistosa com os possíveis entrevistados, onde alguns informantes, com idade igual ou superior a 18 anos, foram convidados a participar das entrevistas. Após conhecerem todos os objetivos da pesquisa,os interessados em participar receberam um convite para assinar um termo de consentimento prévio, reafirmando um compromisso ético do pesquisador para com a pessoa envolvida na pesquisa, cedendo a permissão para a realização da pesquisa. ALBUQUERQUE e et al. (2010). A coleta dos dados foi realizada no período de março de 2016, foram feitas duas visitas a comunidade no mês para se realizar as entrevistas.Para realização da pesquisa utilizou-se um informante por casa ou a pessoa responsável pela casa no momento da entrevista. Os formulários continham perguntas que abordavam aspectos socioeconômicos dos entrevistados perguntando as seguintes informações: nome, idade, estado civil, profissão, renda mensal, grau de escolaridade e tempo de residência no munícipio.O formulário também abordava os aspectos relacionados as plantas alimentícias contendo as seguintes questões: quais plantas nativas usadas como alimento? Existe contraindicação para consumo? Como se prepara? Ainda é encontrada em abundancia na região? Qual período se encontra com mais facilidade inverno ou verão?Quais as partes das plantas são consumidas? Como se prepara? Utiliza-se como fonte de renda? Posteriormente com o auxílio de um informante da comunidade foi percorrida parte de uma área na mata e realizado registro fotográfico de algumas plantas por meio de câmera digital, adicionalmente, anotadas as informações em caderno de campo a respeito dos caracteres vegetativos. Utilizou-se o termo etnoespécie, que de acordo com Medeiros e Albuquerque (2012), significa “um ser vivo enquadrável em nível terminal ou subterminal de uma taxonomia folk”. As etnoespécies foram identificadas por meio de literatura confiáveis como trabalhos científicos realizados no Sul do Piauí e livros com imagens de algumas espécies, e algumas foram coletadas e identificadas com a ajuda de especialistas na área da botânica, algumas não foram identificadas porque não foi possível realizar a coleta nem registro fotográfico das mesmas. Com base nas informações obtidas pelos informantes sobre as indicações das espécies, foram agrupados nas categorias de uso proposta por Lima et al. (2000). Para cada planta citada calculou-se o valor de uso atribuído ás espécies, utilizando a fórmula adaptada por Rossato et 285


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al. (1999), através da formula VU= ∑U/n, sendo VU= valor de uso; U= número de citações da espécie por informante e n= número total de informantes. RESULTADOS E DISCUSSÃO Aspectos socioeconômicos da comunidade Foram entrevistados na comunidade 22 informantes sendo 14 do sexo feminino e 8 do sexo masculino, que eram conhecedores das espécies alimentícias nativas da região e de seus respectivos usos e formas de preparo. As idades dos mesmos variaram entre 19 e 62 anos para os homens e 23 e 68 para as mulheres. A renda familiar variava de menos de um salário mínimo até três salários mínimos, sendo a maioria detentora de uma renda mensal entre um a três salários mínimo (12), e os demais de menos de um salário mínimo (10).Quanto a profissão, estes se dividiam em lavrador(8), dona de casa(12) e professor(2). Aspectos relacionados as plantas alimentícias Foram citadas43 plantasalimentícias nativas de interesse econômico regional na comunidade Malhada Bonita.Das plantas citadas 34foram distribuídas em 18 famílias, que foram Anacardiaceae (6), Arecaceae(5), Myrtaceae (3), Solanaceae (2), Fabaceae (2), Malvaceae (2), Rubiaceae (2), Fabaceae/Caesalpinoideae (2), Caryocaraceae (1), Malpighiaceae (1), Passifloraceae (1), Cucurbitaceae (1), Fabaceae/ Mimosidae (1), Boraginaceae (1), Bromeliaceae (1), Apocynaceae (1), Sapindaceae (1), Bignoniaceae (1) conforme o (quadro 1). No que diz respeito a parte das plantas usadas na alimentação pelos entrevistados, os frutos foram os mais utilizados, pois das plantas mencionadas, os frutos de todas são comestíveis (43) porémtambém foram relatadaspelos entrevistados o uso do caule (2) e das folhas (2). ETNOESPÉCIES Araçá

FAMÍLIA/ ESPÉCIE Myrtaceae

PU Fruto

FU In natura

NCT 6

VU 0,27

HÁB Arbu

Fruto

In natura

5

0,22

Arbu

Fruto

In natura

7

0,31

Psidiumsp Ata Buriti

Buritirana

Arecaceae Mauritia flexuosa L.

Suco,

Arecaceae

Doce, In natura

Fruto

5

0,22

Arbó Arbó

11

0,5

Arbu

Suco, Doce, Bruto

286

Fruto

Dindinho In natura


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Cagaita

Myrtaceae

Fruto

In natura

6

0,27

Arbu

Fruto

In natura,

8

0,36

Suco In natura,

10

0,45

Arbó Arbó

10

0,45

Arbó

Eugenia dysenterica. DC Cajá

Anacardiacea Spondiaslutea. L.

Cajú

AnacardiaceaAnacrdiumOci- Fruto dentale. L.

Suco,

Doce,

Cajuí

Castanha In natura

Canapú

Anacardiaceae

Fruto

AnacardiumPumilum.St.Hil.

Suco

Solanaceae

Fruto

Doce In natura

2

0,09

Herb

Physolisangulata L. Carnaúba

Arecaceae

Fruto

In natura

10

0,45

Arbó

Chichá

Coperniciaprunifera (Mill) H.E,Moore Malvaceae

Fruto

In natura

2

0,09

Arbó

Coco-babaçu

SterculiastriataMart et Zucc Arecaceae

Fruto e caule

In natura

21

0,95

Arbó

Fruto

Leite do coco In natura

10

0,45

Arbu

Orbignyaphalerata(Mart.)

Azeite Palmito Dindinho

Croáta

Bromeliaceae BromelialaciniosaMart.

Farinha seca

Bignoniaceae

Fruto

In natura

1

0,04

Arbó

Genipapo

Rubiaceae

Fruto

In natura, suco

2

0,09

Arbó

Grão de galo

Genipa americana L. Boraginaceae

Fruto

In natura

6

0,27

Arbu

Guabiraba

Cordiarufesscen. DC. Myrtaceae

Fruto

In natura

6

0,27

Arbó

Ingá

Campomanesia aromática (Aubl) DC. Fabaceae/ Mimosoideae

Fruto

In natura

4

0,18

Arbó

Jatobá

ÍngaedulisMart Fabaceae/ Caesalpinioideae

Fruto

In natura

6

0,27

Arbó

Hymenaea sp.

287


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Jatobá de vaqueiro

Fabaceae/ Caesalpinioideae

Fruto

In natura

4

0,18

Arbó

Maxixe

Cucurbitaceae

Fruto

Cozido

12

0,54

Herb

Manga

CucumisAnguriaLinn. Anacardiaceae

Fruto

In natura, Suco

9

0,40

Arbó

Mangifera indica L. Mangaba

Apocynaceae

Fruto

In natura

1

0,04

Arbó

Marmelada

Hancorniaspeciosa Fabaceae

Fruto

In natura

1

0,04

Arbó

PassifloraceaePassiflora cincinnataMart.

Fruto

In natura,

2

0,09

Trep

Rubiaceae

Fruto

Suco In natura

16

0,72

Arbu

Fruto

In natura

16

0,72

Arbu

Fruto

In natura

12

0,54

Herb

Fruto

In natura

5

0,22

Arbu

Fruto Fruto

In natura In natura

1 3

0,04 0,13

Arbu Arbu

Fruto

In natura

5

0,22

Fruto

In natura, cozido

17

0,77

Arbó

Pinha

Fruto

In natura

5

0,22

Sub

Puçá

Fruto

In natura

4

0,18

Arbu

Fruto

In natura

6

0,27

Arbó

Fruto e folha

In natura

1

0,04

Arbó

Fruto

In natura

1

0,04

Fruto e olha

In natura,

8

0,36

DipteryxlacuniferaDucke. Maracujá do mato Maria preta

Alibertia edulis (Rich) A.Rich.in DC. Murici Melancia da praia

Malpighiaceae ByrsornimacorreaefoliaA.Jose Solanaceae Solanumcapsicoides

Massaranduba Muta Mutamba

Myrtaceae

Olho de boi Pequi

Caryocaraceae Caryocarcoriaceum Wintm.

Pitomba

Sapindaceae TalisiaesculentaRaddlk.

Seriguela

AnacardiaceaeSpondias .purrea.L

Sete capa Tamarindo

Fabaceae Tamarus indica

288

Suco, Dindinho

Arbó


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Tucum

Arecaceae AstrocarvumvulgareMart.

Fruto e Caule

Umbu

AnacardiaceaeSpondias tuberosa Arr.Cam

Fruto

Vinagreira

Malvaceae

Fruto e folha

H.sabdariffa L.

In natura

16

0,72

Arbó

4

0,18

Arbó

In natura, refogada 2

0,09

Sub

Azeite Palmito In natura

Quadro 1: Listagem das etnoespécies informadas pelos entrevistados na comunidade Malhada Bonita, Arraial-PI. Legenda: PU= parte usada; FU=forma usada; NCT= número de citações total; Valor de uso (VU) Hábito (HÁB):Arbó= arbóreo, Arbu= arbustivo, Sub=subarbustivo, Herb= herbáceo, Trep= trepadeira. Fonte: BUENO.O,S, (2016).

Como visto no quadro 1 as plantas foram distribuídas nos respectivos hábitos: arbóreo, arbustivo, subarbustivo, herbáceo e trepadeira sendo que os hábitos quemais se destacaram foram o arbóreo com 23 espécies listadas seguido do arbustivo com 12 espécies listadas. O habito subarbustivo apresentou apenas 2 espécies listadas, o herbáceo apresentou 3 espécies listadas e a trepadeira apenas 1 espécie listada. Quanto as formas de uso das frutas, a maioria dos informantes relataram que fazem uso do fruto in natura seguida da forma de suco. É notório que o maior destaque da parte usada das plantas deu-se pelo consumo dos frutos, pois 100% dos frutos são utilizados. Estes dados corroboram com os da pesquisa de Chaves e Barros (2008), onde também o que mais se destacou no foram os frutos 61%, tendo como forma de consumo preferencial os frutos in natura 55 %, seguido por sucos 37%. Martins, et al. (2005) onde no seu estudo a parte vegetal mais utilizada foi o fruto na forma de suco ou in natura. Para todas as espécies citadas durante as entrevistas pelos informantes, calculou-se o valor de uso (VU) que variaram entre 0,045 a 0,95 (Quadro 1). Dados similares foram apresentados no trabalho de Vieira, et al. (2009), ao estudar a utilização dos recursos vegetais por comunidades quilombolas no Piauí onde a maioria das espécies o VU variou de 0,05 a 0,50, Baptistel et al. (2014) no seu trabalho entre 0,03 a 1,59. Das plantas estudadas cinco espécies mantiveram destaque por apresentarem VU mais elevado, foram elas o Coco-babaçu (Orbignyaphalerata(Mart.)) vu= 0,95, Pequi (CaryocarcoriaceumWinttm.) vu= 0,77, Maria preta (Alibertiaedulis (Rich) A.Rich.in DC.) vu=0,72, Murici (ByrsornimacorreaefoliaA.Jose) vu= 0,72, Tucum (AstrocarvumvulgareMart.)vu=0,72, , esses valores indicam que essas plantas podem ser as mais utilizadas na região e que futuramente elas podem a vim a entrar em extinção, pois quanto mais próximo de 1 o VU pode significar que a planta está sendo muito utilizada, já que foi a mais citada. Estes dados são similares aos VU obtidos por Baptistel et al. (2014), no qual destacou-se nove espécies por apresentarem o VU maior ou igual a 1. O presente trabalho apresenta uma enorme variedade das plantas alimentícias quando comparado a outras pesquisas, como a de Martins et al. (2005) que na sua pesquisa na Ilha 289


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do Cambu, Belém-PA identificou 19 espécies com uso alimentar que foram representadas em 13 famílias e 18 gêneros, e ao de Roque, (2009) em Laginha/RN, no qual registrou apenas 8 espécies na categoria alimentícia. E similares a outras pesquisas como a de Chaves e Barros (2009) que ao estudar as plantas de uso alimentício no semiárido piauiense; citou 54 espécies de interesse econômico e distribuídas em 25 famílias. Baptistel et al. (2014), que na sua pesquisa realizado na Comunidade Santo Antônio, Currais, Sul do Piauí, registraram 50 espécies de uso alimentício onde se dividam em plantas alimentícias convencionais e não convencionais. Vieira (2009) no seu trabalho na comunidade Quilombolas no Piauí descreveu 225 etnoespécies, distribuídas em 62 famílias e 58 espécies fizeram parte da categoria alimentícia que correspondia a 25,77%. Das plantas citadas pelos entrevistados foi dito que as mesmas não possuem contraindicação, eles apenas relataram por meio de conhecimento popular que a manga não deve ser consumida após tomar café porque provoca dor de cabeça e se estiver com febre porque provoca dor de barriga, relataram que o caju e o cajuí não se pode comer após comer ovo, porque também provoca dor de barriga, o croata não pode ser consumido se estiver com algum tipo de inflamação ou ferida porque coça o local da lesão, e este conhecimento eles adquiriram com os mais velhos. Ainda foi relatado e observado pelos entrevistados que as plantas já não são mais encontradas em abundancia como antes e que as plantas que os moradores da região utilizam são encontradas próximo às suas casas e outras são encontradas na mata da localidade. Os informantes entrevistados disseram que algumas das plantas citadas são muito difíceis de serem encontradas e o principal fator que explica esse fato foi a falta de chuva que tem se mostrado bastante reduzida nos últimos anos na região. Outro fator citado pelos entrevistados foi a destruição de habitats naturais das plantas principalmente por meio das queimadas e da destruição da mata para plantio e retirada de madeira, e também com a construção da PI 120 que passa na localidade, que provocou muito desmatamento. A grande maioria das plantas citadas pelos entrevistados é de período chuvoso chamado por eles de inverno, poucas são perenes só o coco-babaçu, as demais são de período seco chamado por eles de verão. Na comunidade em estudo, das espécies citadas a maioria são utilizadas apenas para consumo próprio, ou seja, para sua própria subsistência, não sendo utilizados como fonte renda, apenas o Coco-babaçu, algumas mulheres utilizam como fonte de renda, fazem o azeite e vendem. E o conhecimento adquirido sobre as plantas foi através dos mais velhos como pais ou avós dos mesmos. CONCLUSÃO Diante dos dados observados pode se concluir que os moradores da Comunidade da Malhada Bonita demonstraram um importante conhecimento sobre plantas alimentícias não 290


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convencionais, onde foi encontrada uma grande variedade de plantas, cujas partes podem representar uma significativa fonte de nutrientes principalmente o fruto que se manteve em destaque. O uso alimentício de tais vegetais, além ser essenciais a vida da fauna silvestre local, é importante para a alimentação da população local. É importante também que se preserve essas plantas nativas, pois todas elas têm um grande valor na natureza. Vale ressaltar que ainda há poucos estudos etnobotânicos com plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil e principalmente na região do Nordeste e do Piauí, tornando-se necessários mais estudos nessa área.

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PARQUE NATURAL MUNICIPAL DA FLORESTA FÓSSIL DO RIO POTI – TERESINA – PIAUÍ: UMA PROPOSTA DE REFLORESTAMENTO ADÃO PEREIRA DA SILVA¹ AMANNDA MENEZES DE OLIVEIRA² RESUMO A Floresta Fóssil do rio Poti é um sítio natural de origem Paleozoica (Período Permiano), localizada dentro do perímetro urbano de Teresina, capital do Piauí, às margens direita e esquerda do rio Poti. Devido a sua importância no ano de 2013 foi elaborado seu Plano de Gestão, Conservação e Manejo, apesar disso o parque encontra-se subutilizado e degradado por ação antrópica, destacando-se o desmatamento. Com o objetivo propor ações de reflorestamento do local, realizou-se visitas de campo no qual foram mapeadas as áreas que devem ser reflorestadas. Verificou-se que as principais áreas passíveis de reflorestamento são as margens do rio, o perímetro do parque e o campo de futebol. Foi observado que seguindo as técnicas de reflorestamento será possível o plantio de mais de 800 árvores. Conclui-se que o presente trabalho servirá como auxilio para qualquer projeto futuro de recuperação e preservação do parque e está em consonância com seu plano de manejo.

Palavras-chave: Adaptadas. Arborização urbana. Espécies nativas.

___________________________________ ¹ Biólogo graduado pela UFPI, Pós-graduado em Gestão Ambiental pela CEUT, Pós-graduando em Biodiversidade e Conservação pela UESPI. e-mail: adaorei@yahoo.com.br ² Gestora Ambiental, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, e-mail: amannda.menezes@gmail.com

1 INTRODUÇÃO Segundo Caldas et al (1989), a Floresta Fóssil do rio Poti é um sítio natural de origem Paleozóica (Período Permiano), localizada dentro do perímetro urbano de Teresina, capital do Piauí, às margens direita e esquerda do rio Poti, afluente do rio Parnaíba. Abrange uma área com mais de 33 ha, em que troncos permineralizados permanecem em posição vertical (posição de vida), fazendo parte dos sedimentos que constituem a formação geológica denominada Pedra de Fogo. Em 08 de janeiro de 1993 foi criado o Parque Municipal da Floresta Fóssil, pelo Decreto Municipal nº 2.195, tendo seus limites definidos pelo Decreto Municipal nº 7.444/2007. Em 16 de março de 1998 foi realizado o tombamento estadual da Floresta Fóssil, por meio do Decreto Estadual nº 9.885. O tombamento federal da área ocorreu por meio do Processo de Tombamento nº 1510-T-03, em 11 de setembro de 2008, durante a reunião do Conselho Consultivo do IPHAN, realizada no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. Os cientistas acreditam que a floresta, por sua antiguidade, preexistiu aos grandes répteis que habitaram a Terra. As plantas pteridófitas lá encontradas pertencem a um 293


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gênero extinto antes do surgimento dos dinossauros. O sítio destaca-se também por ser um exemplo de grande raridade pela posição de vida da maioria dos seus troncos (na vertical), caso único na América Latina, só havendo outro similar no Parque Yellowstone, nos Estados Unidos. (IPHAN, 2013; p 10).

O Parque Natural Municipal da Floresta Fóssil do rio Poti vem a cada ano perdendo sua cobertura vegetal devido a ação de seus frequentadores (caçadores, pescadores, vazanteiros, usuários de drogas e jogadores amadores), por meio do desmatamento causado pela retirada de lenha para produção de carvão vegetal, fogueiras para o preparo de alimentos e aquecimento no período noturno e principalmente pelas queimadas criminosas feitas como objetivo de limpar o terreno para o plantio de subexistência (milho, quiabo, cana-de-açucar, mandioca, banana, mamão e etc). Segundo Pivetta e Silva Filho (2002), a vegetação urbana desempenha funções muito importantes nas cidades, as árvores por suas características naturais, proporcionam muitas vantagens ao homem que vive na cidade, sob vários aspectos: bem estar psicológico ao homem; melhor efeito estético; sombra para os pedestres e veículos; protegem e direcionam o vento; amortecem o som, amenizando a poluição sonora; reduzem o impacto das águas das chuvas e seu escorrimento superficial; auxiliam na diminuição da temperatura, pois absorvem os raios solares e refrescam o ambiente pela grande quantidade de água transpirada pelas folhas, melhoram a qualidade do ar (microclima); preservam a fauna silvestre. Diante do exposto acima, o presente trabalho tem como objetivos: a) propor ações de reflorestamento das áreas desmatadas do referido parque; b) contribuir com o aumento do número de árvores; c) incentivar o crescimento da diversidade de espécies arbóreas; d) auxiliar com o aumento e proteção da fauna local. 2 MATERIAL E MÉTODO A área de tombamento federal da Floresta Fóssil do Rio Poti corresponde a um polígono único, conforme descrição a seguir: Tendo como partida o ponto de intersecção das projeções das ruas Miguel Arcoverde e Adolfo Alencar, no bairro dos Noivos, segue-se pela Avenida Raul Lopes por 885 metros na direção noroeste, até a cerca de delimitação entre o Parque Municipal da Floresta Fóssil e o Parque da Potycabana (ponto 4 - UTM 23M E 745085,998 N 9437305,763 - datum WGS 1984). Parte-se deste ponto em direção à margem direita (à jusante) do rio até à margem esquerda (ponto 5 - UTM 23M E 745027,612 N 9437056,336), prolongando-se até encontrar a Avenida Marechal Castelo Branco, perfazendo 284 metros. Segue-se margeando esta avenida na direção sudeste, incluindo seu prolongamento, que passa frente à entrada do Parque Ambiental da Ilhotas (ponto 7 - UTM 23M E 745256,738 N 9436896,478), e vai até à rua (sem nome) que passa entre as Quadras H e I do Conjunto Murilo Resende do Bairro Ilhotas (ponto 8 - UTM 23M E 745429,571 N 9436732,471), em um total de 513 metros. Deste ponto, retorna-se ao ponto inicial do cruzamento das projeções das ruas Miguel Arcoverde e Adolfo Alencar, fechando-se o perímetro (IPHAN, 2013; p 13).

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Incluídos na área de tombamento federal incluem-se: a área de tombamento estadual, o Parque Municipal da Floresta Fóssil, o Parque Urbano Ilhotas e o Parque Regional dos Noivos. Toda essa área apos resolvidas as pendências legais entre União, Estado e Município para determinar a quem cabe a gestão do parque, como sugerido pelo plano de manejo passará a ser uma Unidade de Proteção Integral com a denominação de Parque Natural Municipal do rio Poti, pois segundo o IPHAN cabe a Prefeitura Municipal de Teresina a responsabilidade pela gestão do mesmo. Abaixo imagem do parque (figura 01) segundo a proposta do IPHAN para seu plano de manejo, unificando os três parques: Parque Floresta Fóssil, Parque dos Noivos e Parque da Ilhotas como Parque Natural Municipal da Floresta Fóssil do rio Poti. Figura 01: Localização do Parque Natural Municipal da Floresta Fóssil do rio Poti

Fonte: IPHAN (2013)

A abordagem utilizada no estudo foi quali-quantitativa com quatro visitas de campo compreendidas entre os dias 02 e 04 de abril de 2016, nas quais foram feitas o levantamento das espécies arbóreas existentes no local, registros fotográficos dos possíveis locais para o reflorestamento nas áreas mais desmatadas e no local sugerido para implantação da cerca-viva, também verificou-se os principais impactos ambientais que ocorrem no parque. Durante as visitas de campo foi percorrido as trilhas já existentes e também foram abertas picadas para facilitar o acesso as margens do rio Poti. Os recursos utilizados durante a pesquisa foram: fotos de satélite retiradas do programa Google Earth, fotos com máquina fotográfica digital, GPS Garmin Etrex Legend, faca de campo e fação. 295


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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante as visitas foi observado que os principais pontos desmatados são os campos de futebol, as margens do rio e a área próxima ao prolongamento da Av. Marechal Castelo Branco, sendo o lado leste o mais preservado e o lado norte o mais degradado, também foi verificado a necessidade da substituição da cerca de arame existente em alguns locais do perímetro do parque por uma cerca-viva como sugerida no seu plano de manejo. Para o reflorestamento das áreas no interior do parque é sugerido o uso de espécies arbóreas não encontradas no local, para as margens do rio o uso de espécies já existentes e de uma nova espécie e para a cerca-viva o uso da espécie sugerida no plano de manejo. As espécies sugeridas para o reflorestamento são: Quadro 01: Espécies sugeridas para o reflorestamento Nome vulgar Buriti Caneleiro Embaúba Gonsalo Alves Jatoba Oiti Pau d’água Sabia

Nome científico Mauritia flexuosa Cenostigma macrophyllum Cecropia pachystachya Astronium fraxinifolium Hymenea courbaril Licania tomentosa Terminalia triflora Mimosa caesalpiniifolia

Família Arecaceae Caesalpiniaceae Cecropiaceae Anacardiaceae Caesalpiniaceae Chrysobalanaceae Combretaceae Mimosaceae

Fonte: Autor (2016) As espécies sugeridas para o reflorestamento do parque são todas nativas regionais do bioma cerrado e principalmente da região de Teresina, ou seja, perfeitamente adaptadas ao clima da cidade, conforme quadro 02, além disso quase todas são cultivadas nos viveiros mantidos pela Prefeitura Municipal de Teresina, pois são utilizadas em projetos de arborização urbana da cidade, sendo plantadas em canteiros das avenidas, praças e parques. Moura (2010) em sua pesquisa realizada em doze praças do centro de Teresina catalogou 66 espécies de árvores e palmeiras, num total de 1.523 indivíduos, com destaque para a espécie oiti no qual foram catalogados 323 indivíduos. Das espécies sugeridas para o reflorestamento neste artigo, apenas duas não foram encontradas por Moura nas praças do centro da cidade, sendo elas: buriti e sabia. Machado et al (2006) considera que a participação das espécies arbóreas nativas na arborização urbana de Teresina é boa, pois as mesmas são encontradas não apenas nos parques ambientais, mas tem significativa participação na arborização geral da cidade, principalmente nas praças e canteiros centrais das avenidas. Infelizmente, Teresina em trabalhos mais recentes de arborização urbana em praças e avenidas está perdendo parte de sua cobertura vegetal nativa para espécies exóticas, principalmente para o Nim (Azadirachta indica), foi o que constatou Barbosa et al (2015) em pesquisa 296


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realizada na av. dep. Ulysses Guimarães no bairro Promorar, que passou por uma reforma recentemente feita pela prefeitura da cidade, onde parte das árvores nativas encontradas no canteiro central foram substituídas pela citada espécie arbórea exótica. Quadro 02: Espécies sugeridas para o reflorestamento Espécie Buriti

Características Palmeira que pode atingir até 35m de altura e habita os terrenos baixos alagáveis, as margens de rios e igarapés, formando os característicos buritizais. Possui elevado valor paisagístico, sendo seus frutos bastante apreciados pela fauna, principalmente roedores e aves psitaciformes.

Caneleiro

Espécie de crescimento lento, podendo chegar a 20m de altura, copa bem distribuída, fechada, dando sombra aprazível, seus frutos são bastante apreciados pela fauna local. Possui elevado valor paisagístico, por sua beleza cênica. É a árvore símbolo de Teresina. É uma espécie pioneira, colonizadora de clareiras e de rápido crescimento, muito importante na regeneração de áreas degradadas pelo fato de atrair animais dispersores de sementes e melhorar as propriedades do solo, propiciando condições favoráveis ao estabelecimento de outras espécies. Espécie pioneira, de crescimento rápido, tronco ereto, podendo chegar a 30m de altura. Recomendada para arborização de praças e parques. na lista oficial das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção, a espécie está classificada como: Espécie da Flora Brasileira com Deficiência de Dados.

Embaúba Gonsalo Alves

Jatobá

Árvore de porte elevado, podendo chegar a 25m de altura, crescimento lento. Copa alta, muito galhada e frondosa, fornece excelente sombra e serve a arborização de praças e parques. Produz frutos bastante apreciados pela fauna. Oiti Árvore com porte elevado, chegando a 20m de altura, copa fechada, arredondada com folhagem densa, conferindo-lhe excelente sombra. Flores pequenas, frutos atrativos para a fauna, adaptada a regiões quentes e ensolaradas. Pau d’água Espécie arbórea com até 15m de altura, crescimento lento, produz excelente sombra sendo muito utilizada na arborização urbana de praças e parque da cidade. Ocorre em ambientes úmidos e/ou molhados, sempre próximo a corpos d’água como: rios, lagos, riachos ou nascentes. Sabia Espécie de porte médio, chegando a 10m de altura, crescimento rápido, seu tronco é dotado de acúleos (espinhos). Ocorre tanto em formações primárias como secundárias, onde é comum ou frequente nas capoeiras.

Fonte: Machado et al (2006) O perímetro do parque foi totalmente percorrido durante as visitas em que foram observadas as áreas mais degradadas e consequentemente os locais com maior necessidade de reflorestamento. Com base em autores especializados em trabalhos de arborização urbana como: Pivetta (2002), Dantas e Sousa (2004) e o manual de arborização da CEMIG (2011) que geralmente usam o espaçamento de 3,0 x 3,0 ou às vezes 5,0 x 5,0 e para cerca-viva o espaçamento de 2,0 x 2,0 ou menos. Como o parque possui um perímetro aproximado de 2.018 metros (sem a área do rio), para a cerca-viva é sugerido o espaçamento 2,0 x 2,0, então será necessário aproximadamente 820 árvores: as margens somadas possuem mais de 1.400 metros e para seu reflorestamento é sugerido o espaçamento 3,0 x 3,0 podendo ser utilizada mais de 600 árvores para recompor a mata ciliar e no campo de futebol com o espaçamento também de 5,0 x 5,0 é possível o plantio de aproximadamente 40 árvores, dessa maneira facilmente o reflorestamento necessitará de mais de 1400 árvores para sua implantação. Em estudos realizados por Coelho et al (1989) no entorno da cidade de Palmas – TO 297


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com espécies do Cerrado e características semelhante as sugeridas neste artigo (buriti e jatobá constam do trabalho em Palmas) chegaram aos seguintes resultados: as espécies são indicadas para recuperação de áreas degradadas, avenidas com canteiros largos, jardins e praças, afastados de residências e rede elétrica. Essas características são semelhantes as características das espécies sugeridas (caneleiro, jatobá, oiti e Gonsalo Alves) para o plantio em algumas áreas do parque em Teresina. Devido ao porte grande da copa, aos frutos produzidos e suas raízes alcançarem grandes espaços, essas espécies não são recomendadas para calçadas, canteiros de ruas e avenidas estreitos (menos de 2,0 m de largura), estacionamentos e próximas a residências, ou seja, precisam de grandes espaços, como encontrados no parque da Floresta Fóssil (que é uma grande área afastada de residências e da rede elétrica, permitindo o plantio de árvores de elevado porte, com formação de grande copa e produção de frutos grandes e atraentes para a fauna). De acordo com o mapa, foi constatado que os pontos localizados às margens do rio Poti e em áreas abertas, como campo de futebol, conforme demonstrado na imagem 02 são as que apresentam os principais índices de degradação. Devido a esse fato sugere-se que sejam os locais a receberem maior intervenção do processo de reflorestamento. Constatou-se que o desmatamento dessas áreas é causado por frequentadores do parque, cujo objetivo não é a observação dos fósseis, feito apenas por pesquisadores e acadêmicos das universidades públicas da capital ou por professores e estudantes em aula/passeio. Os demais em sua maioria, infelizmente praticam o desmatamento para terem acesso ao rio ou fazer fogueiras (pescadores e usuários de drogas), limpeza das margens para o plantio de subsistência (vazanteiros), limpeza de alguns locais para extração de areia e produção de carvão vegetal (carvoeiros), captura de animais (caçadores) e na área do campo para a prática de esporte (jogadores). As queimadas são a prática mais danosa para o parque porque desmatam grandes áreas do mesmo causando a morte de muitos animais. Isso ocorre devido as mesmas serem feitas sem planejamento e acompanhamento, acontecendo principalmente no período mais quente de Teresina conhecido popularmente por B-R-O-BRÓ, quando a vegetação baixa e a serra-pilheira estão secas. Imagem 02: mapa com os pontos do GPS

Fonte: Autor (2016) 298


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A degradação oriunda destas ações tem causado prejuízo ao parque, afastando visitantes devido a insegurança do local; afugentando a fauna local por conta da perda de abrigos, alimentos e perseguição; provoca erosões no solo, principalmente nas margens, causando o alargamento da calha e reduzindo a profundidade do rio, e consequentemente prejudicando a fauna aquática, tornando-a mais exposta à ação dos ventos, chuvas e raios solares. A parte do solo que compreende o campo de futebol encontra-se totalmente compactada, sendo necessária uma ação de escarificação do mesmo antes do plantio de qualquer espécie vegetal (gramínea, arbustiva ou arbórea). Os limites do parque eram protegidos por cercas de arame, que não restringia o acesso ao mesmo, partes da cerca foram roubadas por marginais ou destruídas em acidentes automobilísticos, principalmente no lado leste (fotos 01e 02), no lado norte ainda resta uma pequena parte da cerca. Devido a esses acontecimentos o Plano de Manejo sugere a substituição do método atual de isolamento por cerca- viva feita com o plantio da espécie sabiá, tal escolha é adequada a essa função por ser uma espécie de crescimento rápido e bastante utilizada em trabalhos de recuperação de áreas degradadas. Em pesquisas realizadas por Ribaski et al (2003) na região sudeste do Brasil com o sabia foi constato o uso da espécie como cerca-viva e/ou quebra-vento em sítios, fazendas, industrias, loteamentos e áreas de mineração (na mineração tem a função de minimizar o impacto visual e a poeira). Ficou comprovado a sua eficácia como muro-verde oferecendo proteção contra a entrada de pessoas estranhas e de animais, impossibilitando a visualização do empreendimento, além do aspecto paisagístico. Foto 01: Local da cerca-viva lado leste

Fonte: Autor (2016)

Foto 02: Local da cerca-viva lado norte

Fonte: Autor (2016)

Para a implantação da cerca-viva não há a necessidade da derrubada de outras árvores presentes, pois há espaço suficiente entre os limites do parque e as ruas próximas ao mesmo, bastando apenas a limpeza do local. A escolha da cerca-viva em substituição a antiga cerca de arame, além da função paisagística, mantem também a função de barreira, restringindo o acesso ao parque que deverá ser feito apenas por seus portões de entrada (fotos 03 e 04). 299


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Foto 03: Portão de acesso lado leste

Fonte: Autor (2016)

Foto 04: portão de acesso lado norte

Fonte: Autor (2016)

Segundo o Plano de Manejo, a prática do futebol é incompatível com as finalidades proposta pelo mesmo. Para o local do campo de futebol (fotos 05 e 06) sugere-se o plantio de caneleiro, jatobá, Gonçalo Alves e oiti por serem espécies que possuem copa frondosa produzindo muita sombra, seus frutos serem apreciados pela fauna local, elevado porte chegando a mais de 20 metros (devido ao tamanho necessitam de áreas livres ou afastadas da rede elétrica) e por não serem encontradas no parque e todas possuírem elevado valor paisagístico. Foto 05: Campo de futebol lado leste

Fonte: Autor (2016)

Foto 06: Campo de futebol lado norte

Fonte: Autor (2016)

Em relação às margens do rio Poti (fotos 07 e 08), para compor a mata ciliar existente no local, sugere-se o plantio das espécies buriti, embaúba e pau d’água por serem espécies adaptadas a ambientes úmidos e/ou alagados, dessa maneira não serão afetadas pela dinâmica das águas do rio Poti. As espécies embaúba e pau d’água estão presentes no parque principalmente no lado leste e são espécies pioneiras. O buriti, que não existe no local, deve ser utilizado por produzir frutos apreciados pela fauna local e por sua beleza paisagística.

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Foto 07: Margem do rio Poti lado leste

Fonte: Autor (2016)

Foto 08: Margem do rio Poti lado norte

Fonte: Autor (2016)

Myriam Seixas (2010) sugere para o reflorestamento da mata ciliar do rio do Bananal o uso de espécies pioneiras de rápido crescimento junto com espécies não pioneiras (secundárias tardias e climáticas) e atrativas à fauna; respeitando a tolerância das espécies à umidade do solo, isto é, plantando espécies adaptadas a cada condição de umidade do solo. Seguindo esta orientação é sugerido o plantio do buriti na primeira linha mais próxima das margens do rio por ser mais tolerante a inundações, na segunda linha o plantio da embaúba por ser uma espécie pioneira e tolerante a inundações temporárias e na terceira linha o plantio do pau d’água por ser uma espécie secundária de crescimento lento, mas tolerante a inundações temporárias; mesmo estando em linhas diferentes deve haver alternância de espécies, com o espaçamento entre árvores na mesma linha e entre as linhas de 3,0 x 3,0 metros. Do ponto de vista da Paleontologia, a erosão das margens do rio é favorável ao surgimento de novos fósseis, porém o reflorestamento tem por finalidade barrar ou reduzir a erosão e seus efeitos discutidos anteriormente, por isso o plantio deverá ser feito em comunhão com os locais dos fósseis, que não deverão ser retirados de suas áreas originais por causa do reflorestamento. 6 CONCLUSÃO Mesmo com a elaboração do Plano de Manejo do Parque da Floresta Fóssil do rio Poti foi observado que o mesmo encontra-se subutilizado devido o abandono por parte do poder público municipal. Foi encontrado no local muito lixo, extração de madeira e areia, armadilhas de caça e pesca, pontos de uso de entorpecentes e as margens do rio em processo de erosão. Apesar de ser uma área localizada dentro do perímetro urbano da cidade, parte da cobertura vegetal encontra-se preservada, porem será necessário o reflorestamento das áreas desmatadas como proposto neste artigo. Para o referido reflorestamento foram sugeridas espécies arbóreas nativas de Teresina, com elevado valor paisagístico, apreciadas pela fauna local pela produção de abrigos e alimentos e também fáceis de serem cultivadas, ou seja, podem ser encontradas na 301


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natureza ou em viveiros públicos ou particulares. Diante do exposto acima, conclui-se que os objetivos do presente trabalho foram alcançados, pois a sugestão de reflorestamento do Parque Natural Municipal da Floresta Fóssil do rio Poti não irá interferir nos estudos dos fósseis existentes no local e nem na descoberta de novos fósseis, nas visitas de campo buscou-se preservar os locais dos citados fósseis (maioria localizada as margens do rio). O reflorestamento irá melhorar a beleza cênica do parque, aumentar a quantidade e diversidade da vegetação arbórea, multiplicar a oferta de alimentos e abrigos para a fauna local e favorecer o desenvolvimento do turismo em Teresina. REFERÊNCIAS AGEITEC – AGÊNCIA EMBRAPA DE INFORMAÇÕES TECNOLÓGICAS. https://www. agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/milho/arvore/CONTAG01_72_59200523355.html. Acesso em: 18/02/2016. BARBOSA et al. Arborização da Avenida Deputado Ulysses Guimarães, Bairro Promorar, zona Sul de Teresina – PI. Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana – REVSBAU. vol.10, num. 02, p 78-89. Piracicaba – SP, 2015. CALDAS, E. B. et al. Nota sobre uma floresta petrificada de idade permiana Teresina-PI. Boletim. IG-USP, São Paulo, 7: 69-87, 1989. (Publicação Especial). COELHO. A.C, CARDOSO. J.R, BÁCCARO. R.S, Cruz. R.L.O. Potencial Paisagístico de Algumas Plantas Nativas do Cerrado no Entorno da Cidade de Palmas – TO. Faculdade Católica do Tocantins, 2009. Companhia Energética de Minas Gerais-CEMIG. Manual de Arborização. Fundação Biodiversitas: Belo Horizonte - MG, 2011. DANTAS. I.C, Souza. C.M.C. Arborização Urbana na Cidade de Campina Grande – PB: Inventário e suas espécies. São Paulo: Revista de Biologia e Ciências da Terra, vol. 04, num. 02. 2004. IPHAN-PI. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Superintendência do IPHAN no Piauí. Plano de Gestão, Conservação e Manejo da Floresta Fóssil do rio Poti: Proposta para aplicação intergovernamental. Encarte I, II e III. Teresina, 2013. MACHADO. R.R.B, JACQUELINE. I.M.M, Silva. J.A, Castro. A.A.J.F. Árvores Nativas para Arborização de Teresina, Piauí. São Paulo: Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, vol. 01, num. 01. 2006. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. LISTA OFICIAL DAS ESPÉCIES DA FLORA BRASILEIRA AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO (Instrução Normativa Nº 06, de setembro de 2008 – IBAMA). Brasília - DF; 2008. MOURA. I.R. Arborização Urbana: Estudo das Praças do Bairro Centro de Teresina. Universidade Estadual Paulista. Rio Claro - SP, 2010. MYRIAM SEIXAS. F.L. Projeto de Reflorestamento da Mata Ciliar do rio Bananal no 302


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ANÁLISE DA VARIABILIDADE DE ESPÉCIME DO GÊNERO CARYOCAR (PEQUI) EXISTENTE NA CHAPADA RUBERLÂNDIA NO MUNICÍPIO DE MATÕES-MA ALBERT ALVES MELO1 AMANNDA MENEZES DE OLIVEIRA2 RESUMO O Pequi é uma espécie arbórea nativa encontrada em áreas de cerrado no Nordeste brasileiro. Moradores próximos à chapada mantém seu sustento por meio da atividade extrativista do pequi. Esse fruto tem grande valor econômico, sendo muito utilizado pela culinária local. Além disso, sua polpa pode servir para ração de animais e a amêndoa para produção de óleo que é utilizado na medicina popular. A pesquisa teve como objetivo o de analisar espécimes de ocorrência na região da Chapada Ruberlândia, fazer o levantamento de espécimes nativas existentes na região explorada pela população local e buscar informações sobre o bioma de ocorrência do gênero Caryocar para conservação. Utilizando um GPS foram selecionados três pontos aleatórios para área amostrada com significativa presença da flora marcado quadrado de 100m x 100m em cada ponto de referência para contagem para estudo. Foram analisadas no total 25 amostras nas três estações de coletas na Chapada Ruberlândia e de acordo com a chave de identificação, foi constatada a presença de uma única espécie explorada na região, o Caryocar coriaceum, a frequência de ocorrência em cada estação é 100% classificada como constante. A presença de animais dispersores de sementes, como a cutia e a paca, contribuem para a propagação de uma única espécie de pequizeiro, a C. coriaceum, na região da Chapada. Apesar da baixa variabilidade genotípica na população de pequizeiro estudada na região da chapada a espécie C. coriaceum apresenta grande importância econômica para os extrativistas na região no município de Matões-MA.

Palavras-Chave: Caryocar coriaceum. Pequi. Cerrado.

INTRODUÇÃO O Cerrado é um dos maiores biomas brasileiros, com cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados de área, ou 22% do território nacional, sendo 85% localizada no Planalto Central e o restante da área nos estados do Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima e Sergipe (OLIVEIRA, 2009). A região que envolve Matões há uma transição entre o Cerrado e Mata dos Cocais. Este bioma é conhecido pela sua riqueza e diversidade, sendo ainda cortado pelas três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (GONÇALVES, 2007). Apesar do reconhecimento da riqueza deste bioma, as negligências quanto às leis de proteção ambiental, as queimadas desenfreadas, a expansão das fronteiras agrícolas e sua exploração, assim como o desconhecimento e o uso irracional dos recursos naturais têm provocado impactos irreversíveis aos 1

Biólogo graduado pela Universidade Estadual do Piauí, Pós-graduando em Biodiversidade e Conservação pela UESPI; e-mail: albertmelo@hotmail.com 2 Gestora Ambiental graduada pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Piauí; e-mail: amannda.menezes@gmail. com 305


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ecossistemas do Cerrado, pondo em risco de extinção espécies vegetais e animais e a sustentabilidade do ambiente (RODRIGUES, 2005). O gênero Caryocar, possui 25 espécies, sendo que 13 são encontradas no território brasileiro (FRANCO et al., 2004). A espécie de maior presença no Cerrado do Planalto Central é C. brasiliense Camb., dividida em duas subespécies: C. brasiliense subsp. Brasiliense, de porte arbóreo e com ampla distribuição, e o C. brasiliense subsp. Intermedium, de porte arbustivo, com ocorrência restrita a algumas partes desse ecossistema (Silva et al., 2001). Dentre as espécies do gênero Caryocar, destacam-se no Brasil: C. brasiliense, C, villosum, C. coriaceum e C. glabrum (PRANCE; SILVA, 2006). As áreas de ocorrência do C. coriaceum estão a oeste da Bahia, Tocantins, Pará, Maranhão, Piauí e Ceará (LORENZI, 2009). O pequizeiro floresce e frutifica anualmente, iniciando a produção de frutos a partir do oitavo ano (Araújo, 1994). A florescência do pequizeiro ocorre no período de setembro a novembro na região de Matões-MA. É uma árvore protegida por lei (Portaria Nº. 54 de 03.03.87- IDBF), que impede seu corte e comercialização em todo o território nacional. O Pequi é uma espécie arbórea nativa encontrada em áreas de cerrado no Nordeste brasileiro. Moradores próximos à chapada mantém seu sustento por meio da atividade extrativista do pequi. Esse fruto tem grande valor econômico, sendo muito utilizado pela culinária local (FIGUEIREDO et al., 1989; GONÇALVES, 2008). Além disso, sua polpa pode servir para ração de animais e a amêndoa para produção de óleo que é utilizado na medicina popular, juntamente com mel de abelha, no tratamento de enfermidades como gripes, bronquites e infecções bronco-pulmonares, configurando assim um importante recurso na farmacologia popular (AGRA et al., 2007). A polpa do pequi é rica em vitaminas E e B, por isso o fruto é muito utilizado contra gripes e resfriados. O óleo extraído da polpa é usado para preparar sabão caseiro. O óleo da amêndoa é usado na culinária regional e como medicinal no tratamento das afecções das vias respiratórias como coqueluche, asma e bronquite (SILVA e MEDEIROS FILHO, 2006; GONÇALVES, 2008). De acordo com Pozo (1997), a polpa de pequi também é rica em vitamina A e em minerais, especialmente P, Ca, Cu e Fe. O estudo tem o objetivo de analisar as espécimes de ocorrência na região da Chapada Ruberlândia, fazer o levantamento de espécimes nativas existente na região explorada pela população local e buscar informações sobre o bioma de ocorrência do gênero Caryocar para conservação. MATERIAL E MÉTODOS Para a coleta das amostras do pequizeiro foi realizado um levantamento na Chapada Ruberlândia região do município de Matões (MA) de maior ocorrência do espécime frutífera estudada. Utilizando um GPS foram selecionados três pontos aleatórios, conforme mostra a tabela 1, para área amostrada com significativa presença da flora para estudo das espécimes. Com a ajuda de uma trena foi marcado quadrado de 100m x 100m em cada ponto de referência para 306


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contagem em cada um dos povoamentos identificados e registrados dos dados in loco, analisar a variação do número e quantas espécies forma a área estudada. Tabela 1. Coordenadas geográficas das Estações de amostragem.

Estação de Coleta

W

Coordenadas

S

Ponto 1

43º12’54.3’’

5º32’14.4’’

Ponto 2

43º12’46.4’’

5º32’14.3’’

Ponto 3

43º12’38.3’’

5º32’16.0’’

Em seguida ocorreu a coleta dos galhos contendo amostras de folhas, floração e fruto para taxonomia vegetal utilizando chave de identificação. A partir do material coletado, foi construída uma chave indentada numérica baseada em caracteres vegetativos para o cerrado “sensu lato”. Tal chave foi baseada naquelas de MANTOVANI et al. (1985), LORENZI (2009) e BATALHA et al. (1999). Foram utilizadas características observadas em espécimes adultos, evitando-se variações nas plântulas e indivíduos jovens. Os termos empregados na elaboração da chave seguiram os conceitos de FERRI et al. (1969). Utilizou-se a frequência expressa à relação entre o número de amostras ou estações na qual uma determinada espécie está presente e o número total de amostras realizada com a presença de gráficos estatísticos (VALENTIN, 2000, ROSSO, 1996):

onde: FA = frequência da espécie A. PA = número de amostras ou estações nas quais a espécie A está presente. P = número total de amostras ou estações. sendo: F 50% .................................... sp constante 10% F 49% ........................ sp comum F 10% .................................... sp rara

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Figura 01: Região da Chapada Ruberlândia - Matões-MA.

Fonte: Google Maps, 2016. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram analisadas, no total, 25 amostras nas três estações de coletas na Chapada Ruberlândia, de acordo com a tabela 2. Tabela 2. Traxóns registrados nas estações de amostragem.

Família/Espécie Caryocaraceae Caryocar coriaceum

ESTAÇÕES DE COLETA Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

06

11

08

De acordo com a chave de identificação, baseadas em MANTOVANI et al. (1985), LORENZI (2009) e BATALHA et al. (1999), foi analisadas amostras de folhas, floração e fruto no local da pesquisado e constatou a presença de apenas uma espécie no gênero Caryocar, a espécie C. coriaceum, sendo a frequência de ocorrência em cada estação de 100% classificada como constante. Informações dos coletores contam que a região sempre foi abundante. A fitofisionomia típica da Chapada Ruberlância é o cerrado de chapada onde em faixas mais elevadas (chapadas) que se alongam em diversas direções e são separadas por vales intermediários (Magalhães, 1966). Em virtude de suas características geográficas com clima mais úmido e chuvoso em relação a outras áreas, a Chapada Ruberlândia se apresenta como uma região favorável para a produção do pequi. A presença de animais dispersores de sementes, como a cutia e a paca, 308


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contribuem para a propagação da espécie C. coriaceum, na região da Chapada da Ruberlândia. Estudos sobre a variabilidade do pequi da região Meio Norte há presença da espécie C. coriaceum nos municípios de Timon, Caxias e Afonso Cunha no estado do Maranhão e em Barras, Jose de Freitas e Alto Longá no estado do Piauí (RAMOS, 2010) na qual o município de Matões está inserido. Porém, relatos de catadores de pequi mostra uma queda na coleta do fruto nos últimos anos em consequência do clima. Em algumas árvores houve pouca produtividade devido à falta de chuvas, fator que contribui para uma baixa frutificação, influenciando na renda dos catadores que dependem do fruto. Pozo (1997) cita que a produção do pequizeiro inicia a partir dos oito anos e sua vida útil é de 50 anos, aproximadamente. A atividade extrativista deve ser feita de forma racional, apesar das oscilações na produção, pois mudanças no uso e exploração do extrativismo podem significar uma rápida escassez levando até a extinção da espécie local. Deve-se buscar o melhoramento genético da espécie para aumentar a eficiência produtiva do pequizeiro, utilizando as técnicas de seleção e cruzamento. É necessário também o reconhecimento dos catadores que promovem a sustentabilidade econômica e ambiental da exploração desse fruto, com vistas à elevação do padrão social, econômico e ambiental da região. Observou-se a inexistência de cooperativas de catadores de pequi que poderia melhorar organização, o manejo integrado e ampliar os ganhos com a exploração econômica do pequizeiro, desenvolvendo uma extensa linha de derivados do pequi agregando valor ao produto como a polpa e caroço em conserva, a comercialização do óleo dentre outros, até então coletado e vendido para atravessadores. CONCLUSÃO Constatou uma baixa variabilidade genotípica na população de pequizeiro estudada, sendo para espécie Caryocar coriaceum presente na região da Chapada Ruberlância na região de Matões-MA em que o bioma é o cerrado de chapada. O município citado está inserido na região do Meio Norte em que há relatos da espécie em alguns municípios do Maranhão e Piauí. O estudo mostrou a importância da espécie C. coriaceum para os extrativistas na região da chapada contribuindo para a fonte de renda familiar. Apesar de a região sofrer interferência antrópica, e alterações na precipitação pluviométrica na região que decorre em oscilações na produção, observou-se o cuidado e o respeito pelo pequizeiro com o manejo de forma sustentável, indicando uma relação entre o uso do recurso e a organização do modo de vida das pessoas. Formas de coleta e comercialização certamente otimizará a atividade de extração do fruto, buscando o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida dos catadores gerando renda com inclusão social, segurança alimentar e respeito ao saber tradicional assim como formas de conservação, preservação e melhoramento genético do pequi.

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UTILIZAÇÃO DE AGROTÓXICOS E SEUS RISCOS À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE EM ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRÁRIA NOS MUNICÍPIOS DE ANGICAL E PALMEIRAIS DO PIAUÍ: ESTUDO DE CASO CLEIDIANE MARIA PEREIA MARQUES SANTOS1 AMANNDA MENEZES DE OLIVEIRA2 SHARLLA SANTANA LOPES 3 RESUMO Muitos produtores rurais utilizam agrotóxicos nas suas lavouras, ouso incorreto e frequente desses produtos podem contaminar os solos agrícolas, as águas superficiais e subterrâneas, os alimentos, apresentando, consequentemente, riscos de efeitos negativos em organismos terrestres e aquáticos e de intoxicação humana pelo consumo de água e alimentos contaminados. O presente trabalho foi realizado com o objetivo de conhecer se os agricultores dos assentamentos dos municípios de Angical- PI e Palmeirais PI fazem uso de agrotóxicos em suas plantações e se os utilizam de forma adequada. Para isso foram escolhidos de forma aleatória 3 assentamentos de cada município, a amostra foi composta por 60 assentados, que foram entrevistados. Durante a entrevista verificou-se que a maioria dos assentados dos municípios estudados utiliza agrotóxicos em seus sistemas agrícolas, e que muito não utilizam equipamentos de proteção individual, não sabem diferenciar quanto a toxicidade, não leem o rótulo das embalagens e não dão o destino correto a elas.Os resultados dessa pesquisa mostram um alto grau de risco e intoxicação dos assentados dos municípios de Angical e Palmeirais do Piauí. Os agricultores recebem poucas ou nenhumas informações sobre a utilização de agrotóxicos e nem sabem das consequências do seu uso indiscriminado.

Palavras – chave: Assentamentos. Agrotóxico, Contaminação.

INTRODUÇÃO Para tentar compensar a perda de produtividade provocada pela degradação do solo e controlar o aparecimento de doenças, os produtores rurais utilizam agrotóxicos, que é um nome genérico dado aos venenos utilizados na agricultura sob o pretexto de exterminar pragas e doenças (MORO, 2008). Muitas vezes, a utilização dos agrotóxicos é feita de forma inadequada, sem o conhecimento das reais necessidades do solo e das plantas (VEIGA, 2006). Um dos fatores que está relacionado com a utilização desses produtos pelos agricultores familiares é a facilidade de acesso, e o seu uso diverso. 1

Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal do Piauí – UFPI; Pós graduanda em Biodiversidade e Conservação na Universidade Estadual do Piauí – UESPI, e-mail: clei18diane@hotmail.com

²Gestora Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí –IFPI; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, e-mail: amannda.menezes@gmail.com 3 Especialista em Biologia Parasitária e em Análises Clínicas. Tutora à distância do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação/NEAD/UESPI. Email: sharllalopes@hotmail. com 2 313


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De acordo com um estudo feito sobre utilização de agrotóxicos e os riscos de contaminação num assentamento de reforma agrária no norte Fluminense, verificou-se que os agrotóxicos estão sendo utilizados primeiramente para diminuir a carga de trabalho dos assentados no controle de ervas daninhas e pragas agrícolas (PEDLOWSKI et al, 2006). Segundo Spadotto et al (2004) o uso incorreto e frequente desses agrotóxicos podem contaminar os solos agrícolas, as águas superficiais e subterrâneas, os alimentos, apresentando, consequentemente, riscos de efeitos negativos em organismos terrestres e aquáticos e de intoxicação humana pelo consumo de água e alimentos contaminados, assim como o risco de intoxicação ocupacional de trabalhadores e produtores rurais. A agricultura é um ciclo familiar, todos expõem-se diretamente aos agroquímicos utilizados, por participarem do cultivo, adubagem, combate às pragas e colheita. O não cumprimento da legislação que controla a comercialização dos agrotóxicos a fragilidade das políticas de fiscalização e acompanhamento técnico possibilita o acesso indiscriminado a esses produtos e a possibilidade de contaminação, com prejuízos à saúde e ao meio ambiente, aspectos também passíveis de intervenção local (CASTRO, FERREIRA e MATTOS, 2011). MORO (2008)em um estudo realizado no município de Jacinto Machado –SC em produções de fumo verificou que o maior efeito dos agrotóxicos sobre o meio ambiente e toda a sociedade é a falta de informação, constatou ainda que quando questionados sobre o termo agrotóxico os agricultores agiam de forma natural sem preocupação. Devido a esses fatores que comprometem a vida do agricultor familiar e da população em geral foi realizado este estudo, com o objetivo de saber se agricultores dos assentamentos dos municípios de Angical- PI e Palmeirais-PI utilizam agrotóxicos em suas plantações e se os utilizam de forma adequada. METODOLOGIA A presente pesquisa foi realizada em assentamentos do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), nos municípios de Angical-PI e Palmeirais-PI. O Programa é desenvolvido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio da Secretaria de Reordenamento Agrário (SRO). O município de Angical – PI está localizado na microrregião do Médio Parnaíba Piauiense, compreendendo uma área de 211 km², tendo como limites os municípios de Palmeirais e São Pedro do Piauí ao norte, ao sul Amarante, Regeneração e Jardim do Mulato, a leste Santo Antônio dos Milagres e Jardim do Mulato, e a oeste Amarante ( CPRM, 2004). Já o município de Palmeirais - PI está localizado na microrregião do Médio Parnaíba Piauiense tendo como limites os municípios do estado do Maranhão e Teresina ao norte, ao sul o estado do Maranhão e Amarante, a leste São Pedro do Piauí, Angical e Curralinhos, e a oeste o estado do Maranhão. (CPRM, 2004). A atividade econômica básica desenvolvida pelas as famílias assentadas desses muni314


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cípios é a agricultura com cultura de subsistência (feijão, arroz, milho, mandioca, abóbora), plantio de oleirículas, frutíferas e pequenas criações de animais. Esse tipo de agricultura vem sendo passado de geração a geração. Os assentamentos dentro dos municípios foram escolhidos de forma aleatória, sendo 3 no município de Angical e 3 no município de Palmeirais. A amostra foi composta por 60 assentados 30 de cada municípios. No município de Angical foram escolhidos os assentamentos Piranhas que conta com 35 famílias assentadas, Pitombeira com 15 e São Joaquim com 45, no município de Palmeirais foram escolhidos os assentamentos Água Branca com 19 famílias assentadas, Serra do Burro com 15 e Castelo com 30. Foram feitas 10 entrevistas semiestruturadas em cada assentamento em que combinam perguntas abertas e fechadas, o entrevistado teve possibilidade de discorrer sobre o assunto proposto. Antes de começar as entrevistas foi feita uma reunião com o grupo presente para explicar de que se que tratava a pesquisa. Durante esse momento inicial percebeu-se que nem todas as famílias residem nos assentamentos, muitas delas residem na sede do município mais próximo, isso acontece devido alguns assentamentos serem distantes do município, não terem energia elétrica, estradas em péssimo estado de conservação dentre outros. Por esse motivo foram escolhidos para responderem a entrevista somente aqueles que residem no assentamento, que são maiores de 18 anos de idade, ambos os sexos e que estão sempre cultivando a terra. Todas as entrevistas foram respondidas voluntariamente. As entrevistas foram feitas entre os meses de fevereiro à abril de 2016 e continham um número de 10 perguntas compostas, das quais objetivavam adquirir informações sobre o conhecimento dos agricultores rurais em relação ao uso de agrotóxicos nas plantações, utilização de EPIs, classificação toxicológica, dosagem, manuseio das roupas, preparação da calda, destinação das embalagens e posto de recolhimento. Durante a aplicação dos questionários foram tiradas muitas dúvidas dos assentados e feitas orientações baseadas nas perguntas realizadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Verificou-se que 75% dos assentados entrevistados situam-se na faixa etária entre 30 a 59 anos de idade (Tabela 1).Quanto ao nível de escolaridade o que se destacou foi o ensino fundamental incompleto 63,3% seguido pelos analfabetos 25%, segundo Borges, Fabbro E Júnior (2004) esses indicadores caracterizam a baixa escolaridade dos assentados. Em ambos os municípios mais de 70% dos entrevistados referiram usar agrotóxicos em seus sistemas agrícolas, sendo 80% no município de Angical (Tabela 1), resultado parecido com o encontrado no trabalho de Leite e Torres (2008), ao entrevistar trabalhadores rurais do assentamento Catingueira Baraúna-RN em que 71% dos assentados disseram fazer o uso frequente de agrotóxico nas suas plantações.

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Tabela 1. Faixa etária, escolaridade e utilização de agrotóxicos segundo assentamentos de Angical e Palmeirais do Piauí, 2016. Municípios Variáveis Faixa etária 18 – 29 30 – 39 40 – 49 50- 59 +60 Escolaridade Analfabeto Fun. Incompleto Fun. Completo Med. Completo Med.incomple Utiliza agrotóxico Sim Não

Palmeirais %

Angical %

2 6 5 11 6

Total Nº

6,7 20 16,7 36,6 20

2 9 10 4 5

6,7 30 33,3 13,3 16,7

4 15 15 15 11

6,7 25 25 25 18,3

12 16 0 2 0

40 53,3 0 6,7 0

3 22 1 3 1

10 73,4 3,3 10 3,3

15 38 1 5 1

25 63,3 1,7 8,3 1,7

20 10

66,6 33,4

24 6

80 20

44 30

73,3 26,4

%

Fonte: próprio autor De acordo com a pesquisa os agrotóxicos mais utilizados pelos assentados são os herbicidas, utilizados para o controle das ervas daninhas. Segundo Leite e Torres (2008) esse grupo tem tido uma utilização crescente na agricultura nas últimas duas décadas. Os assentados relataram que fazem uso dos herbicidas porque economizam tempo. Pedlowskiet al (2006) no resultado da sua pesquisa verificou que os agrotóxicos estão sendo utilizados primeiramente para diminuir a carga de trabalho dos assentados no controle de ervas daninhas e pragas agrícolas. Os assentados que utilizam outros tipos de agrotóxicos contaram que o uso dos mesmos é regulado pela incidência de pragas, estas ocorrem geralmente no período chuvoso e de plantio das culturas temporárias. Resultados estes também encontrados por Castro, Ferreira e Mattos (2011) ao entrevistar assentados da reforma agrária no município de Russas (Ceará, Brasil). Sobre o uso de EPIs, dos 44 assentados entrevistados que afirmaram utilizar agrotóxicos em suas plantações, 75% fazem sem o uso de equipamentos de proteção individual, por não saberem da importância do mesmo, pois a maioria dos assentamentos não possuem assistência técnica e alegaram também não ter dinheiro para adquirir. Esses resultado também foi observado numa pesquisa realizada com agricultores da comunidade Baixa do Juá, Santana de Mangueira – PB verificou-se que eles não fazem o uso de EPIs (PEREIRA, JESUS E SILVA, 2015). Apenas 25% disseram utilizar os EPIs (gráfico01), porém não utilizam de forma completa. 316


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Gráfico01: Utilização de EPIs pelos agricultores.

Ao entrevistar agricultores familiares no assentamento Aroeira no município de Santa Terezinha-PB (SANTOS, SANTOS, DANTAS, 2012) verificou que 86,37% não usam os EPIs, mas, tem amplo conhecimento sobre eles. E afirmam que essa realidade pode ser explicada pelo baixo poder aquisitivo e pela falta de uma assistência técnica eficiente. Ao serem questionados sobre classificação toxicológica, se sabem diferenciar quando o agrotóxico é extremamente tóxico, altamente tóxico, mediamente tóxico e pouco tóxico, 81,2% responderam que não sabem diferenciar, sendo 85% no município de Palmeirais e 18,8% disseram saber diferenciar pela cor da tarja do rótulo (gráfico02). Assim como encontrado no estudo sobre a utilização de agrotóxicos e seus riscos na produção do fumo no município de Jacinto Machado/ SC, em que devido a intoxicação em membros da família, passaram a diferenciar a etiqueta do rótulo pela cor, extremamente tóxico pela cor vermelho vivo; altamente tóxico pela cor amarelo intenso, mediamente tóxico pela cor azul intenso e, pouco tóxico coloração verde ( MORO, 2008). Gráfico02: Diferenciação quanto a classificação toxicológica dos agrotóxicos.

Na en317


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trevista foi questionado aos assentados se liam o rótulo das embalagens para saber o que estão aplicando, 63,6% disseram não ler o rótulo, número muito alto se comparado aos resultados de Bohner, Araújo, Nishijima (2013) ao entrevistar trabalhadores rurais do município de Chapecó – SC em que 17% dos entrevistados disseram não ler o rótulo. Um índice de36,4% disseram que leem pois se preocupam em saber o que estão aplicando(Figura 3). Já no trabalho de Santos, Santos, Dantas (2012) observou-se que a minoria dos entrevistados 13,64% os leem, mas não seguem as instruções por não compreenderem o que está escrito. Gráfico 03: Leitura do rótulo das embalagens.

Quando questionados sobre o que fazem com as roupas usadas após a aplicação do agrotóxico,70,4% disseram dá uma atenção especial a estas roupas e 29,6% disseram que lavam junto com as demais (gráfico 04). Os que lavavam junto com as demais alegaram não saber que as roupas usadas na hora da aplicação dos agrotóxicos poderiam contaminar as roupas limpas. Gráfico 04: Manuseio das roupas após serem utilizadas na aplicação dos agrotóxicos.

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Com relação a quem aplica o agrotóxico, os assentados foram questionados, se além deles mais alguém da família aplicava o agrotóxico, 63,6% disseram que não, somente eles aplicam agrotóxicos e 36,4% disseram que sim (gráfico 5), que outras pessoas da família também aplicam principalmente os filhos. Em um estudo realizado sobre a utilização de agrotóxicos e seus riscos na produção do fumo no município de Jacinto Machado/ SC, 40% dos entrevistados disseram que só eles manuseavam os agrotóxicos, pois tinham medo que outros não colocassem o produto de forma correta, e com isso viessem a ter algum tipo de prejuízo (MORO, 2008). Gráfico 5. Aplicação do agrotóxico por outra pessoa da família.

Os assentados foram questionados também se quando estão preparando a calda do agrotóxico, costumam afastar as crianças os animais e as pessoas estranhas do ambiente, 95,4% disseram que sim, sendo 100% no município de Angical, pois preparam a calda já no local em que vai ser aplicada e somente 4,6% disseram não afastar (gráfico6). Figura 06. Quanto a preparação da calda.

Ao serem questionados a respeito se utilizam à dosagem recomendada, 84% dos assentados responderam que utilizam a dosagem recomendada, porém não tem orientação na hora da aplicação. Os 16% alegaram não utilizar a dosagem recomendada, disseram que utilizam a dosagem de acordo coma incidência da praga(gráfico 7). 319


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Gráfico 07: Utilização da dosagem recomendada de agrotóxico.

Em relação ao que fazem com as embalagens após serem usadas, 59% responderam que queimam e 7% enterram, na pesquisa de Castro, Ferreira e Mattos (2011) 80% dos entrevistados responderam que enterravam ou queimavam as embalagens. Ainda 24% descartam a céu aberto, sendo 40% no município de Palmeirais, 5% guardam em local separado e 5% devolvem para o local onde adquiriram o produto (gráfico 8).Diferente dos resultados encontrados por Bohner, Araújo, Nishijima (2013), onde 83,3% sempre devolvem. Uma análise feita por Castro et al (2011) sobre o uso de agrotóxico em dois assentamentos de reforma agrária em Russas, os autores verificaram que a maior parte dos entrevistados armazena os agrotóxicos em suas residências ou depositava fora, junto a outros materiais, sem definir uma distância mínima de segurança. Gráfico 8. Descarte de embalagens após o uso.

Nenhum dos dois municípios possui posto de recolhimento de embalagem de agrotóxico. Segundo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias - INPEV no Piauí somente os município de Bom Jesus, Uruçuí e a capital Teresina possuem postos de recolhimento de embalagens. 320


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5 CONCLUSÕES Em síntese, conclui-se que em ambos os municípios mais de 70% dos entrevistados referiram usar agrotóxicos em seus sistemas agrícolas. Os resultados mostram um alto grau de risco e intoxicação dos assentados dos municípios de Angical e Palmeirais do Piauí. Os agricultores recebem poucas ou nenhumas informações sobre a utilização de agrotóxicos e as consequências do seu uso indiscriminado. Também foi possível concluir que o conhecimento dos agricultores em relação ao uso de agrotóxicos nas plantações, utilização de EPIs, classificação toxicológica, dosagem, manuseio das roupas, preparação da calda, destinação das embalagens e posto de recolhimento é inadequada. Diante desses resultados é necessário conscientizar os agricultores, instruí-los e alertá-los a cerca dos riscos de intoxicação que eles estão correndo e pondo em risco a população e o meio ambiente ao fazer o uso de agrotóxico de forma incorreta. REFERÊNCIAS BORGES, J. R. P; FABBRO, A. L. D; JÚNIOR, A. L.R Percepção de riscos socioambientais no uso de agrotóxicos – o caso dos assentados da reforma agrária paulista. p 8, set. 2004. BOHNER, T. O. L.; ARAÚJO, L. E. B.; NISHIJIMA, T. O. impacto ambiental do uso de agrotóxicos no meio ambiente e na saúde dos trabalhadores rurais. Revista Eletrônica do Curso de Direito, v. 8, edição especial, p. 329 – 341, 2013 CASTRO, M. G. G. M.; FERREIRA, A. P; MATOS, I. E.; Uso de agrotóxicos em assentamentos de reforma agrária no município de Russas ( Ceará, Brasil): um estudo de caso. Epidemiologia e Serviços de Saúde v. 20 n. 2 Brasília jun. 2011. CPRM – SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, diagnóstico do município de Palmeirais. Disponível em: <http:// www.cprm.gov.br/publique/media/Hidrologia/mapas_publicacoes/Atlas_Digital_RHS/piaui/ relatorios/010.pdf > acesso em 03 mai 2016. CPRM – SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL. Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea, diagnóstico do município de Palmeirais. Disponível em: <http:// www.cprm.gov.br/publique/media/Hidrologia/mapas_publicacoes/Atlas_Digital_RHS/piaui/ relatorios/147.pdf> acesso em 03 mai 2016. INSTITUTO NACIONAL DE PROCESSAMENTO DE EMBALAGENS VAZIAS. Disponível em <http://www.inpev.org.br>,. Acesso em: 10 de abril de 2016. LEITE, K. C; TORRES, M. B. T O uso de agrotóxicos pelos trabalhadores rurais do assentamento Catingueira Baraúna – RN, Revista verde( Mossoró –RN – Brasil) v.3, n.4, p. 06-28 out – dez, 2008. MORO, Bráz Pereira. Um estudo sobre a utilização de agrotóxicos e seus riscos na produção do fumo no município de Jacinta Machado, SC. Criciúma, jun 2008. 321


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PEDLOWSKI, M. A.; AQUINO, S. L.; CANELA, M. C.; SILVA, I. L. A.;Um Estudo sobre a Utilização de Agrotóxicos e os Riscos de Contaminação num Assentamento de Reforma Agrária no Norte Fluminense, J. Braz. Soc. Ecotoxicol. 2006, v. 1, n. 2, 2006, 185-190 PEREIRA, J. A.; JESUS, J. F.V.; SILVA, N.C.,Uso de agrotóxico pelos agricultores de Baixa do Juá, Santana de Mangabeira – PB,Revista verde( Pombal – PB - Brasil) v.10, n.2, p. 126 – 131, abr - jun, 2015. SANTOS, M.E.; SANTOS, H.C.; DANTAS,H.J. O uso indiscriminado de agrotóxico na agricultura familiar no assentamento Aroeira no município de Santa Terezinha-PB. VII CONNEPI-VII Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, 2012. SPADOTTO, C. A.; GOMES, M. A. F.; LUCHIN, L. C.; ANDRÉA, M. de. Monitoramento do risco ambiental de agrotóxicos: princípios e recomendações: Embrapa Meio Ambiente, 2004.29p. (Embrapa Meio Ambiente Documentos, 42). VEIGA, M. M.; SILVA, D. M.; VEIGA, L. B. E.; FARIA, M. V. C. Análise descontaminação dos sistemas hídricos por agrotóxicos numa pequenacomunidade rural do Sudeste do Brasil. Caderno de Saúde Pública.vol.22 n°.11 Rio de Janeiro, Nov/2006.

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PERCEPÇÃO AMBIENTAL EM RELAÇÃO À FLORA URBANA DO MUNICÍPIO DE TERESINA - PI DANÚBIA REJANE SILVA BRITO1 AMANNDA MENEZES DE OLIVEIRA2 SHARLLA SANTANA LOPES 3 RESUMO O desenvolvimento urbano gera impacto ao meio ambiente, como por exemplo, a retirada da vegetação par dar espaço às construções físicas. As manutenções de ambientes arborizados nas zonas urbanas proporcionam melhor qualidade de vida, e tem valor do ponto de vista ambiental e social, uma vez que garante a preservação de espécies da flora e fauna, bem como disponibiliza a sociedade, locais agradáveis. Com isso esta pesquisa objetiva realizar levantamento bibliográfico sobre trabalhos que abordam a paisagem urbana presente em espaços públicos do município de Teresina – PI, de modo a descrever o foco das principais pesquisas. Metodologicamente foi adotado como base de estudo, uma revisão bibliográfica voltada a artigos científicos, e também outras bases científicas que abordem este tema, como: trabalhos de conclusão de curso, livros e resumos. Com base na bibliografia consultada, foi possível determinar quais as espécies vegetais mais encontradas nos ambientes públicos, como praças, avenidas e outros ambientes, deste município, de modo a especificar os nomes populares, científico e sua origem. Foi verificado também pesquisas que abordavam outra temática em relação a arborização urbana, como por exemplo: a supressão da vegetação para dar espaço à urbanização, e a alteração climática proveniente deste processo; conflitos existentes entre a arborização viária e ambientes construídos; a importância do planejamento da arborização em ambientes urbanos. Assim é possível concluir que existem pesquisas com objetividade diversificada quanto a este tema, para este município, mas o que os pesquisadores ressaltam é a importância de manter locais arborizados nas cidades, de forma que haja planejamento e preocupação em manter a realidade ambiental de cada região.

Palavras-Chave: Arborização urbana. Planejamento paisagístico. Urbanização.

INTRODUÇÃO O conceito de arborização urbana é exatamente toda vegetação, seja lenhosa ou herbácea que está dentro do ambiente urbano. Pode ser dividida em arborização de rua e áreas verdes, do ponto de vista técnico, em que a arborização de rua seria o plantio de árvores de maneira linear, em calçadas. E as áreas verdes possuem indivíduos vegetais de porte variado e que são acompanhadas de outros componentes paisagísticos (água, estátuas, bancos, entre outros), o que encontramos em praças, parques, bosques e outros locais (BIONDI, 2008, p. 33). 1

Engenheira Florestal pela Universidade Federal do Piauí – UFPI; Mestre em Ciências Florestais pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG; Pós graduanda em Biodiversidade e Conservação na Universidade Estadual do Piauí – UESPI, e-mail: danubiarejane@hotmail.com

2 Gestora Ambiental pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí –IFPI; Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, e-mail: amannda.menezes@gmail.com 3 Especialista em Biologia Parasitária e em Análises Clínicas. Tutora à distância do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação/NEAD/UESPI. Email: sharllalopes@hotmail.com 323


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O desenvolvimento dos grandes centros urbanos provoca alterações ambientais, sociais e econômicas. Do ponto de vista ambiental esta modificação tem início com a retirada da vegetação nativa destes ambientes, para dar espaço às construções físicas, como: prédios, pontes, pavimentação das vias urbanas, entre outras. E resulta no impacto ambiental e cênico característico de cada região. Para Abreu et al. (2012a, p.1) o processo de urbanização de Teresina – PI ocorreu rapidamente e afetou a vegetação existente, por ser necessário reduzir as áreas verdes para dar espaço a construção de áreas edificadas. Estes autores ressaltam que o desenvolvimento urbanístico das cidades garante poucos espaços destinados a arborização urbana. A demanda por espaço no meio urbano é crescente, e com isso a retirada de espécies vegetais é feita de forma acelerada e às vezes sem planejamento. É necessário ressaltar a importância de manter áreas verdes preservadas nas cidades, pois estes ambientes guardam informações culturais, matem espécies da flora e fauna em áreas nativas, proporcionam conforto térmico, entre outras vantagens. Para Feitosa (2010, p. 16) a supressão da vegetação proveniente da urbanização provocou modificações climáticas em Teresina – PI, em que a temperatura do ar aumentou, e a perceptível pela população por conta do calor que faz na cidade. Além de ressaltar a importância de manter áreas verdes preservadas em ambientes urbanos, é necessário atentar-se ao planejamento adequado para a manutenção desses espaços. Coletto, Müller e Wolski (2008, p. 112) falam que a falta de planejamento podem trazer problemas como: espécies vegetais exóticas que podem apresentar característica de planta invasora, o espaçamento inadequado pode interferir no trânsito de pedestres ou até mesmo no desenvolvimento da planta, caso não haja atenção no porte arbóreo da planta em sua fase adulta, esta pode vir a danificar calçadas e necessitar de podas rigorosas em sua copa; e com isso a arborização que é tida como elemento benéfico pode se tornar ponto conflitante nas cidades. Esta pesquisa teve como objetivo realizar levantamento bibliográfico sobre trabalhos que abordam a paisagem urbana presente em espaços públicos do município de Teresina – PI, de modo a descrever o foco das principais pesquisas.

MATERIAL E MÉTODOS Tipo de pesquisa Esta pesquisa trata-se de uma revisão bibliográfica baseada na literatura que aborda sobre a arborização urbana, e também em estudos paisagísticos urbanos realizados no município de Teresina – PI. O material de consulta foi preferencialmente pesquisas científicas que relatam sobre a arborização urbana de Teresina – PI, em que artigos científicos foram a base na coleta de dados que para esta pesquisa. Foram coletadas informações de trabalhos de conclusão de curso, livros sobre arborização urbana e também de resumos publicados em anais de congressos.

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Área de estudo A área de estudo desta pesquisa é o município de Teresina, que está localizado nas coordenadas 05º05’21” S e 42º48’07” W, com área aproximada de 1.392 km², e representação de 0,55% da área territorial do estado, em que 17% corresponde a área urbana e 83%, rural, dado que caracteriza este município com maior área de território rural, entre as capitais nordestinas. Faz divisas territoriais com: União e José de Freitas, ao Norte; Palmeirais, Demerval Lobão, Monsenhor Gil e Curralinhos, ao Sul;Altos, Pau d’Arco do Piauí, a Leste; e Timon(MA), a Oeste (SEMPLAN, 2015). RESULTADOS E DISCUSSÃO Com base na bibliografia consultada, foi possível determinar quais as espécies vegetais mais encontradas nos ambientes públicos, como praças, avenidas e outros ambientes, deste município, de modo a especificar os nomes populares, científico e sua origem. Foi verificado também pesquisas que abordavam outra temática em relação a arborização urbana, como por exemplo: a supressão da vegetação para dar espaço à urbanização, e a alteração climática proveniente deste processo; conflitos existentes entre a arborização viária e ambientes construídos; a importância do planejamento da arborização em ambientes urbanos. Pesquisas sobre arborização urbana são realizadas a cada dia, no intuito de descrever sobre a situação das cidades do ponto de vista ecológico. Os trabalhos mais realizados são aqueles que abordam sobre a quantidade estimada de árvores encontradas no meio urbano, de acordo com o objetivo de cada pesquisa, e esta identificação é complementada com o nome científico, popular e local de origem destas espécies identificadas. Ferreira e Amador (2013, p.63) afirmam que a arborização deve apresentar caráter diversificado, de modo a garantir melhor qualidade estética, preservar a fauna e a diversidade vegetal. A arborização urbana pode ser considerada como um sinônimo de qualidade de vida. Para Golçalves e Paiva (2013, p. 10) a observação feita sobre a arborização urbana, na literatura corrente, é de que a atenção é mais voltada ao ambiente viário, como as calçadas urbanas. Estes autores relatam que cerca de 70% dos trabalhos que discutem sobre arborização urbana tem estes locais como foco para a obtenção de dados. Mas além de calçadas, como local de manter áreas arborizadas em ambientes urbanos existem outros locais que podem ser utilizados para esta finalidade; e como alternativas de manter áreas verdes dentro das cidades, tanto o poder público como a sociedade em geral devem estar empenhadas, pois os espaços destinados para este fim vão desde os quintais residenciais, como canteiros de avenidas, parques ambientais, praças, e outras áreas de lazer. Para Machado et al. (2006, p.17) a arborização pública no município de Teresina-PI apresenta características boas, em relação a utilização de espécies vegetais nativas, pelo fato de demonstrar que a presen-

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ça da flora regional não se concentrar apenas nos parques ambientais, mas também em praças e canteiros centrais de avenidas. Trabalhos que discutem esse tema levantam a importância de preservar a flora regional, por isso é importante além de determinar a existência ou não de áreas verdes, se estas áreas estão compostas por representantes da flora regional ou não. Biondi e Lima Neto (2011, p.13) afirmam, com base a censos ou inventários amostrais, que a existência de espécies exóticas encontradas nas cidades brasileiras é considerada em altos percentuais, cerca de 70%. A manutenção de espécies nativas em ambientes urbanos irá manter preservada a flora regional, com isso é necessário alertar tanto o poder público como a comunidade local sobre a importância de se utilizar espécies vegetais nativas, e reduzir a introdução de espécies exóticas. Alvarez et al. (2012, p. 10) alerta que a área alterada no bioma Caatinga proveniente de atividades antrópicas é superior a 50%, estes autores ainda ressaltam que a utilização de flora exótica em ambientes urbanos agrava o processo de degradação de fragmentos nativos próximos às cidades. Ao falar em conservar da flora regional por meio da arborização urbana é importante atentar-se ao fator de endemismo, pois existem espécies com características de manutenção e preservação particulares a determinados ambientes, e caso não ocorra atenção a este fator algumas espécies podem ser perdidas. Alves e Xavier (2013, p.21) ressaltam o potencial das plantas nativas do Cerrado para utilização no paisagismo urbano. Estas autoras alertam sobre a importância de utilizar as espécies provenientes deste bioma, por estas serem consideradas em sua maioria, endêmicas; e por consequência do crescimento e desenvolvimento urbano estão sendo perdidas. A manutenção de áreas arborizadas também garante outros benefícios. Para Roppa et al. (2007, p. 14) ambientes arborizados amenizam os microclimas mais quentes, eleva a umidade do ar, o reflexão da luz solar que incide nas calçadas é reduzido, há uma redução na poluição sonora, visual e do ar, permite melhor drenagem da água das chuvas e é refúgio para a fauna, em sua grande maioria, os pássaros. Gonçalves e Paiva (2013, p. 13) citam como benefícios da manutenção de árvores no ambiente urbano: ser controladora das condições climáticas (sombreamento, temperatura, ventilação, umidade do ar), promove melhor infiltração das águas provenientes da chuva, preservar espécies ameaçadas de extinção, e priorizar a utilização de espécies nativas para garantir a fisionomia local. E em relação aos estudos referentes a arborização urbana no município de Teresina, as pesquisas encontradas possuem uma ampla objetividade, como por exemplo: a determinação de espécies vegetais presentes em um determinado local, a percepção da sociedade em relação a algumas questões voltadas a este tema, e também estudos que observam alteração climática em decorrência da supressão de áreas verdes. Barbosa et al. (2015, p. 83) em sua pesquisa, realizada no município de Teresina – PI, quantificou o total de indivíduos inventariados na área de estudo, em que foi feito a descrição 326


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dos nomes científicos, comum, família e origem. Em geral foi possível determinar que 23 espécies, sendo que 12 eram nativas e 11 eram exóticas, e mesmo apresentando uma maior quantidade de espécies nativas em relação às exóticas, do total de 284 indivíduos arbóreos, 196 eram de origem exótica e 88 de origem nativa. As espécies com maiores representatividade foram: a espécie exótica Azadirachta indica A. Juss (Nim), com 32% dos indivíduos inventariados e a espécie nativa Handroanthuschrysotrichus (Mart. Ex DC.) Mattos, com 14%. É preciso atentar-se a grande utilização de espécies exóticas, pois estas podem gerar algum tipo de supressão ou comprometer o estabelecimento de outras espécies. É necessário que haja um planejamento adequado na escolha das espécies a serem utilizadas nas áreas verdes, principalmente para que estas não venham a ameaçar remanescentes de fragmentos florestais (BIONDI e LIMA NETO, 2011, p.14). Moura (2010, p. 60) também fez um levantamento de indivíduos presentes em ambientes urbanos no município de Teresina – PI, sua pesquisa foi realizada em doze praças, em que foi possível quantificar 66 espécies arbóreas, e que a maioria das árvores inventariadas é de espécies nativas, com destaque a espécie Licania tomentosa, com 323 indivíduos. Além de determinar os indivíduos arbóreos presentes nas praças públicas, Moura (2010, p. 103) também fez a descrição das principais funções destas áreas (estética ambiental, descanso, comércio, encontro, esporte, lazer e cultura); determinou o nível de sombreamento nestes ambientes; buscou informações sobre o perfil dos frequentadores destes locais e o ponto de vista destes, em relação a utilização de árvores nas praças. A arborização de vias públicas é importante do ponto de vista social e ambiental, pois além de contribuir ecologicamente, agrega valor à sociedade, pois mantém a cultura local viva, e é uma maneira simples de manter a sociedade atenta sobre a importância de preservar os recursos naturais. E ainda pensando na questão social, a manutenção de áreas arborizadas nos centros urbanos é uma garantia a mais de lazer para a sociedade, pois ambientes naturais atraem algumas pessoas que buscam fugir da rotina urbana, e estes ambientes podem ser utilizados como ponto de encontro e descanso, pelo fato de oferecer conforto térmico e beleza cênica. Em pesquisa realizada por Costa e Machado (2009, p. 40) em uma universidade no município de Teresina – PI foi feito o registro de 46 espécies, e a que apresentou maior representatividade foi a Mangifera indica Linn (mangueira), com 186 indivíduos correspondendo a 23,5% do total. Nesta pesquisa as autoras além de determinar as espécies mais encontradas, quais as famílias, nome comum, origem e percentual amostral, também é feito uma sugestão para o manejo adequado e o monitoramento da arborização, para este local da pesquisa. A arborização deve ser planejada e a manutenção e monitoramento dos indivíduos arbóreos devem fazer parte deste planejamento. Na pesquisa feita por Costa e Machado (2009, p. 42), a espécie que apresentou maior destaque apresenta grande porte arbóreo, sistema radicular que pode ocasionar danos estruturais, e por ser uma frutífera pode a vir trazer outros danos, com isso é fundamental que haja planejamento na introdução de espécies como esta. Para que a arborização traga os benefícios esperados, é necessário que haja planeja327


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mento em relação a escolha das espécies vegetais utilizadas para arborizar qualquer ambiente. É preciso determinar o espaçamento utilizado, bem como conhecer o do desenvolvimento das espécies utilizadas. Segundo Rossetti, Pellegrino e Tavares (2010, p. 15) só haveria zonas de conforto urbano proveniente da arborização caso as árvores propiciem mitigação ou alteração na interação de fatores, como: temperatura e movimentação do ar, umidade, e radiação solar. Em trabalho feito por Machado et al. (2006, p. 13) o objetivo foi identificar quais as espécies arbóreas nativas são encontradas na arborização urbana de Teresina, e como resultado os pesquisadores observaram 48 espécies, e a família Caesalpiniaceae foi a que apresentou maior representatividade. Neste trabalho os autores fizeram a descrição botânica das principais espécies recomendadas na utilização para fins paisagísticos. O que ressalta a importância da pesquisa bibliográfica como base no planejamento da implantação na arborização urbana. Teresina apresenta em seu perímetro urbano uma área considerável de ambientes arborizados, na busca por qualidade estética e ambiental, pois esta capital é conhecida por apresentar elevadas temperaturas a maior parte do ano, e os bairros com maior preservação do verde são aqueles mais antigos. Mas o aumento no desmatamento e o crescimento no número de construções, unidos ao uso indevido do solo contribuem para a redução destas áreas verdes, o que vem a ocasionar impactos ao meio como um todo (MACHADO; PEREIRA; ANDRADE, 2010, p. 102). O crescimento populacional e a expansão urbana provocam impactos ambientais que podem gerar um desequilíbrio na natureza. O microclima é afetado pelas alterações feitas nas formas de ocupação do solo, que interfere nos elementos meteorológicos. Fatores como a impermeabilização do solo, a utilização no meio urbano de materiais que conduzem energia elétrica, a poluição do ar, o crescimento no número de edificações, e a redução da vegetação, causam desequilíbrio ambiental (FEITOSA, 2010, p.16). Ainda segundo esta autora o processo de urbanização observado nas capitais, e demais cidades, contribuem para as alterações no clima, especialmente nas áreas pouco arborizadas e com maior quantidade de construções. Ao se abrir espaço para as edificações é preciso suprimir a vegetação presente no local, e ao fazer isso as alterações não serão apenas ambientais, pois influenciará também o fator social. A antropização tem provocado desequilíbrios nos ecossistemas ambientais, do ponto de vista da dinâmica natural. Segundo Santos e Aquino (2015, p. 2) a cobertura vegetal é um dos elementos da paisagem que se destaca por fornecer proteção aos mais variados tipos de solo. A cobertura vegetal garante qualidade física, química e biológica, do solo, auxilia no melhor aproveitamento da água proveniente da chuva, entre outros benefícios. O crescimento populacional gera uma pressão sobre as áreas naturais, em que há a necessidade de se abrir novos espaços, e consequentemente retirar a vegetação presente naquele local. Em Teresina não diferente de outros centros urbanos é perceptível a alteração no grau de urbanização, e com ocupação populacional estimada em 2010 de 767.777 habitantes. Para Feitosa et al. (2011) uma das contribuições da supressão da cobertura vegetal é a alteração do 328


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clima, o que pode ser percebido nas cidades, e essa redução de áreas verdes modifica o solo e eleva a condutividade térmica e pode gerar uma diferença de temperatura superior a 10,0 ºC entre a cidade e o campo. Estudar as alterações climáticas decorrentes da urbanização e supressão de áreas verdes foi outra pesquisa realizada na capital Teresina, o que mostra o interesse de pesquisas com foco em outras questões relacionadas a arborização urbana. Para Feitosa (2010, p. 17) Teresina apresenta boa representatividade de áreas verdes, ao compará-la a outras cidades do Brasil. Em pesquisa realizada por Feitosa et al. (2011, p. 72) foi verificado que ao longo de 20 anos, período analisado, houve aumento de temperatura do solo em locais com grande quantidade de áreas construídas, o que pode ter como justificativa a supressão da vegetação, e nas áreas que apresenta áreas verdes mais preservadas, que é a região das periferias da capital, as temperaturas são mais amenas. Nesta pesquisa é possível observar que o objetivo foi estudar o efeito que a arborização tem sobre alguns aspectos ambientais, como a variação da temperatura local. E de forma a complementar os resultados observados, os autores acima citados relatam que a área urbanizada no município de Teresina – PI, em 1989, apresentava temperaturas mais amenas, quando comparada aos dados obtidos em 2009, em que eles afirmam que o crescimento da urbanização causou uma redução nas áreas verdes e como consequência aumentou as áreas aquecidas. É possível verificar o interesse de outros pesquisadores por estudos referentes a consequência da urbanização sobre a cobertura vegetal da área urbanizada. Machado et al. (2010, p. 97) fez uma avaliação temporal da paisagem urbana do município de Teresina, em período compreendido entre os anos de 2000 e 2006, e estes pesquisadores observaram uma redução de 13 Km² aproximadamente, de cobertura vegetal. Teresina recebeu a denominação de “cidade verde” por apresentar considerável quantidade de áreas verdes. Mas para a pesquisadora Lima (2002, p. 4) ainda existe a necessidade de realizações de estudos estatísticos sobre a área verde ocupada na cidade, pois mesmo existindo muitos parques ambientais e muitas praças, o ritmo do crescimento urbano influenciou a dinâmica natural destes espaços verde públicos. As regiões centrais das cidades são as que apresentam maior área edificada, e com isso os bairros mais periféricos são aqueles que vêm a apresentar maior nível de arborização. A capital piauiense apresenta em seus bairros mais antigos uma maior área verde, mas no geral Teresina consegue manter o verde como forte referência a sua identidade. A redução desta área verde vem sendo abalada pela construção acelerada e desordenada, o desmatamento e o uso indevido do solo (MACHADO; PEREIRA; ANDRADE, 2010, p. 102). Para Machado et al. (2010, p. 110) Teresina possui índices adequados de cobertura vegetal, mas existe a necessidade de realizar planejamento, entre as ações de urbanização com a preservação de elementos naturais, para que estas ações não venham a interferir no verde da cidade. Sousa e Aquino (2007, p. 67) consideram os parques ambientais como “ilhas de florestas” em que o equilíbrio à natureza será garantido. 329


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Além do planejamento prévio da arborização urbana é necessário atentar-se a manutenção destas áreas arborizadas. Abreu et al (2012b, p. 8) em pesquisa feita em Teresina, verificou que existiu uma falta de planejamento da arborização, na área estudada, em que as mudas foram distribuídas de forma desordenada e sem critério de seleção de espécie, em que a maior representatividade são de origem exóticas, o que pode resultar em prejuízos futuros, proveniente do conflito entre as espécies vegetais presentes e a estrutura física daquele local. Ainda ressaltando a importância do planejamento na arborização urbana foi observado em pesquisa realizada por Lima et al (2014, p. 7) que os conflitos entre vegetação e equipamentos urbanos são provenientes do plantio indiscriminado de espécies vegetais, que danificam estruturas, por possuírem sistema radicular superficial, e também os danos causados pela copa de árvores na rede elétrica, o que mostra a necessidade de realização constante de podas CONCLUSÃO As pesquisas científicas realizadas no município de Teresina – PI em relação a arborização urbana apresentam diversos objetivos, pois além de determinar quais espécies são encontradas nos ambientes públicos fazendo a caracterização das espécies inventariadas, demonstram também a importância da interação da sociedade com estes locais, de modo a buscar das pessoas o nível de importância e a função que as árvores tem tanto para a sociedade como para o meio ambiente. Existem as pesquisas que enfatizam a importância do planejamento e manutenção da arborização pública, para que não venham a ter problemas futuros. Foi possível encontrar trabalhos que orientam na tomada de decisões diante um projeto de implantação de áreas verdes urbanas; e também as pesquisas que mostram o efeito do desenvolvimento urbano para o ambiente natural, por meio de retirada da vegetação para a abertura de espaços, destinados às edificações. Assim é possível concluir que existem pesquisas com objetividade diversificada quanto a este tema, para o município de Teresina – PI, e o que os pesquisadores ressaltam é a importância de manter locais arborizados nas cidades, de forma que haja planejamento e preocupação em manter a realidade ambiental de cada região. REFERÊNCIAS ABREU, Emanoele Lima; MOURA, Handerson Fernando Nunes; LOPES, Danilo Sousa; BRITO, Jacqueline dos Santos. Análise dos índices de cobertura vegetal arbórea e sub-arbórea das praças do centro de Teresina – PI. Anais. III Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental. Goiânia – GO. 2012a. ABREU, Emanoele Lima; MOURA, Handerson Fernando Nunes; LOPES, Danilo Sousa; BRITO, Jacqueline dos Santos. Inventário da arborização urbana do edifício David Solano 330


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USO DE AGROTÓXICOS NA AGRICULTURA - UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Elis Regina Alves de Oliveira1 Yanez André Gomes Santana2 Melina da Conceição Macedo da Silva3 Resumo A alimentação segura do ponto de vista biológico é condição essencial para o pleno desenvolvimento integral dos seres humanos. A relação agricultura e saúde sempre foram intensas, e a agricultura é uma das principais fontes de alimentação para as pessoas. Através deste trabalho pretende-se fazer uma investigação sobre o uso de agrotóxicos na alimentação e os perigos que ele representa para a saúde humana. Trata-se de uma pesquisa desenvolvida com base na revisão da literatura em que foram utilizados como instrumentos livros, artigos, monografias, teses e consultas a sites confiáveis para fundamentação teórica desta investigação correspondendo a uma pesquisa narrativa sem a pretensão de esgotar a temática abordada. O uso de agrotóxicos deve ser reduzido e algumas medidas para minimizar seus efeitos devem ser adotadas tanto pelos produtores quanto pelos consumidores, a fim de se garantir a promoção da saúde. É necessária a investigação aprofundada da temática de modo a se produzir a pesquisa de campo com o auxílio de práticas investigativas laboratoriais para futuras investigações que possam concordar ou refutar sobre os aspectos que abordam a prática de alimentação segura. Palavras-chave: Pesticidas. Alimentos. Segurança alimentar

1 Introdução A alimentação segura do ponto de vista biológico é condição essencial para o pleno desenvolvimento integral dos seres humanos. Com isso, o conhecimento do manuseio dos alimentos desde o início da cadeia produtiva é importante para a compreensão dos principais agrotóxicos que são utilizados na agricultura. É notável saber que a relação agricultura e saúde sempre foram intensas, e a agricultura é uma das principais fontes de alimentação para as pessoas, seja para subsistência seja para o comércio e, por isso, uma das fornecedoras de alimentos em potencial. Contudo, esta forma de produção pode apresentar alguns transtornos em decorrência de fatores ambientais e o uso de substâncias químicas para sanar possíveis ameaças (VEIGA, 2007). A escolha para o estudo do tema deve-se ao amplo consumo de hortaliças como um dos alimentos ricos em nutrientes e que tem alterado suas propriedades devido ao agentes a elas adicionadas o que torna a temática relevante para a Ciência, uma vez que, o uso indiscriminado de agrotóxicos tem causado grandes problemas à saúde dos comensais e dos manipuladores desses produtos o que resulta na necessidade da integração dos saberes de várias áreas do conhecimento em torno de uma reflexão sobre os alimentos que são ofertados. 1 Licenciada em Pedagogia e Bacharel em Nutrição; Professora substituta da rede municipal de Teresina. E-mail: elis.aniger@gmail.com 2 Doutor em Ciência Animal – Universidade Federal do Piauí. 3 Doutoranda em Ciência Animal – Universidade Federal do Piauí. 333


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Desta forma, a sociedade sai ganhando na medida em que são articulados esses estudos a fim de se conseguir a obtenção das melhores formas de promoção da saúde através de ajustes no consumo de alimentos contaminados por agrotóxicos, o que resulta na diminuição dos custos com a saúde oriundas do excesso de pesticidas nos alimentos, na água, no solo e no próprio organismo dos manipuladores. Nesse sentido, o estudo dos agrotóxicos é um fator determinante para aprendizagens de valores e atitudes comportamentais frente à qualidade de vida e ao desenvolvimento sustentável. Objetivou-se fazer uma investigação sobre o uso de agrotóxicos na alimentação e os perigos que ele representa para a saúde humana, considerando a segurança dos alimentos cada vez mais exigida pelos comensais. 2 Revisão de Literatura 2.1Segurança alimentar e segurança do alimento A alimentação é uma das necessidades básicas para o desenvolvimento integral do ser humano. Essa necessidade é enfatizada através dos conceitos de segurança alimentar e segurança do alimento que as define como a garantia de se oferecer alimentos que atenda as necessidades bem como que sejam livres de perigos químicos, físicos e biológicos, sem comprometer as demais necessidades (SOBRAL, 2010). A segurança alimentar é uma questão de crescente interesse social, uma vez que todos os cidadãos, como consumidores, estão expostos a substâncias tóxicas ou substâncias potencialmente tóxicas em comida, e afetados por práticas usado na produção, transformação, preparação, conservação e gestão dos alimentos. Nos últimos anos, um número de eventos causados​​ por dioxinas, hidrocarbonetos Policíclicos aromáticos, biotoxinas, etc., têm demonstrou claramente os riscos relacionados com contaminação de alimentos (CAMÉAN, 2006). Ainda segundo a autora, a crescente presença destes poluentes, o uso de aditivos nos alimentos e consequente fixação da sua ingestão máxima permitida na dieta, os problemas relacionadas com alergias alimentares, a introdução de alimentos cuja produção incluiu técnicas em que são usados ​​o termo “modificação genética”, etc., fazem com que atualmente tenha um profundo significado um estudo sistemático de substâncias tóxicas ou potencialmente tóxico encontrados em alimentos a partir das análises toxicológicas. Assim sendo, a segurança alimentar tem sido bastante discutida em virtude das diferentes formas de apresentação à sociedade. Para que haja o oferecimento de alimentos de qualidade e quantidade, os cuidados com os alimentos devem iniciar na cadeia produtiva, a partir da manipulação de matérias primas (ORGANIZAÇÃO PAN- AMERICANA DE SAÚDE, 2006). Segundo esta organização os possíveis efeitos das atividades de produção primária sobre a segurança e a adequação dos alimentos devem sempre ser considerados, em especial, devem ser identificados todos os pontos específicos dessas atividades em que possa existir um risco elevado de contaminação dos alimentos, possibilitando a adoção de medidas específicas para reduzir ao mínimo tal risco. 334


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O consumidor está bastante exigente no que diz respeito à alimentação equilibrada e isenta de resíduos que possam comprometer a sua saúde, o que pressupõe alimentos livres de riscos biológicos. Como se pode perceber, eles não mais se contentam em comprar frutas e hortaliças com boa aparência física (cor, aparência, ausência de defeitos), organolépticas (sabor, odor) e nutricionais (conteúdos de macro e micronutrientes), mas, sobretudo, desejam o padrão de segurança aceitável quanto à origem desses alimentos (SOBRAL, 2010). Desse modo, postula-se que é direito das pessoas terem a expectativa de que os alimentos que consomem sejam seguros e adequados para consumo. As doenças e os danos provocados por alimentos são desagradáveis, e/ou, fatais, além de trazerem outras consequências que afetam outros setores da vida, pois, os surtos por doenças de origem alimentar podem prejudicar o comércio e o turismo, gerando perdas econômicas, desemprego e conflitos (ORGANIZAÇÃO PAN- AMERICANA DE SAÚDE, 2006). A alimentação saudável é requisito essencial para o pleno funcionamento do organismo, o que deve ser obtido por meio de uma alimentação equilibrada com a participação dos macronutrientes como carboidratos, proteínas e lipídios e dos micronutrientes como vitaminas, sais minerais e água, nutrientes estes comumente encontrados em hortaliças cultivadas pelos agricultores (FILGUEIRA, 2003). Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, 2006, para a compreensão da problemática do uso de agrotóxicos as possíveis fontes de contaminação devem ser consideradas. Assim, a produção primária dos alimentos não deve ocorrer em áreas onde a presença de substâncias potencialmente perigosas pode resultar em um nível inaceitável de tais substâncias no alimento. O que se vê é que a prática de alimentação segue dois procedimentos: os alimentos orgânicos, nos quais os alimentos são totalmente isentos de substâncias químicas e os alimentos convencionais, facilmente encontrados na agricultura como os produzidos em hortas comunitárias. Entretanto, o modelo agrícola adotado no país atualmente é dependente de adubos químicos e grandes cargas de agrotóxicos (ALMEIDA et al,2009). Entende-se por agrotóxicos os produtos químicos utilizados para erradicar agentes indesejáveis na agricultura e no solo. Interessante notar que muitos estudos indicam que os alimentos absorvem boa parte dos pesticidas, o que representa grandes riscos para o consumidor que muitas vezes não tem como identificar a presença desses materiais indesejáveis no ato de compras ou ingestão dos produtos alimentícios (SPADOTTO, 2006). Neste caso, os pesticidas apresentam uma série de riscos, trazendo consequências como dores de cabeça e náuseas ou até mesmo problemas mais graves como o câncer, lesões no sistema reprodutivo e alterações endócrinas, anos mais tarde após a exposição. O grau de toxicidade para mamíferos varia de compostos sendo muito tóxicas, como alguns organofosforados e os compostos submetidos a carbamatos de baixa toxicidade aguda, que conferem um potencial importante para a produção de efeitos em longo prazo, enquanto que os fungicidas os compostos são praticamente não tóxicos (CAMÉAN, REPETTO, 2006). 335


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Quanto ao número de transtornos provocados pelo contato com essas substâncias, as citadas autoras estimam que mundialmente ocorram 3 milhões de intoxicações agudas por agrotóxicos, o que resulta em cerca de 220.000 mortes por ano, número este bastante elevado, considerando-se o desconhecimento que o uso indiscriminado pode causar ao organismo. No Brasil, a intoxicação por agrotóxicos corresponde à segunda causa de intoxicação, perdendo apenas para a intoxicação medicamentosa. As intoxicações provocadas por estes agentes tóxicos resultam da sua má utilização, da exposição acidental aos mesmos, e também da sua ingestão. Desta forma, a morte das pessoas ocorre com maior incidência em pessoas que estiveram em contato com essas substâncias, especialmente os compostos organofosforados e herbicidas (ANVISA, 2009). 2.2 O uso indiscriminado de agrotóxicos na agricultura Diante do uso de novas tecnologias que tem como princípio o uso extensivo de agentes químicos pode-se notar o aumento do número de uso dos agrotóxicos como forma de aumentar a produtividade dos alimentos através do controle de pragas e proteção contra insetos e outras pragas que atingem a agricultura (RIBAS; MATSUMURA, 2009). Nos últimos anos tem havido uma preocupação crescente em relação à presença de resíduos de pesticidas nos alimentos devido aos seus possíveis efeitos adversos à saúde dos seres humanos. Por isso, para proteger a saúde dos consumidores existe na União Europeia (UE) uma série de atos na legislação que regulam a presença de resíduos de pesticidas nos alimentos. A legislação referente aos pesticidas colocados no mercado encontra-se descrita na Directiva 91/414/CEE, transposta pelo Decreto de Lei 98/94. Tem como objetivo assegurar a harmonização da homologação dos pesticidas utilizados na agricultura, regulamentar a reavaliação dos pesticidas existentes, e a autorização de novos pesticidas de modo a reduzir os riscos (BARBOSA, 2012). No que diz respeito à legalização dessas substâncias, o uso de agrotóxicos no Brasil é regulamentado pela lei n° 7.802/1998. Esta regulamentação normatiza as diferentes utilidades dos agrotóxicos. No que se refere ao controle dos agrotóxicos ele é compartilhado por instituições tanto do setor saúde, da agricultura quanto do meio ambiente e é realizada mediante análise laboratorial das amostras previamente coletados (COSTA, 2009). Cada um desses órgãos é responsável pelo controle do uso de agrotóxicos, portanto, compete ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento avaliar a eficácia econômica, ao Ministério da Saúde executar a avaliação e classificação toxicológica e ao Ministério do Meio Ambiente a avaliação e classificação do potencial de periculosidade ambiental (PERES; MOREIRA, 2003). O uso indiscriminado dos agrotóxicos pode causar uma série de transtornos que vão desde intoxicações a anomalias genéticas, tumores e câncer. O impacto de exposição a essas substâncias são muito grandes para a saúde humana. As consequências do uso dessas substâncias 336


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na agricultura podem ser justificadas pelo fato de que ela afeta não só o alvo a que se destina, mas também aos alimentos, o solo, o ar e a água comprometendo toda a diversidade (RIBAS; MATSURA, 2009). 2.3 O controle de pesticidas em alimentos Para amenizar os problemas decorrentes do uso de agrotóxicos nas práticas agrícolas, a Anvisa criou em 2001 o PARA - Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimento com o objetivo de sinalizar para a criação e implementação de medidas regionais de controle sobre o uso de agrotóxicos, sejam elas de natureza fiscal, educativa ou informativa. Suas ações de destinam à coleta de amostras de frutas, legumes e verduras em supermercados que, posteriormente, são encaminhadas a laboratórios credenciados, onde a presença de agrotóxicos é detectada e quantificada (ANVISA, 2009). Ainda segundo a Anvisa, a divulgação destes resultados para a sociedade também tem sido importante para informar a população sobre a presença de agrotóxicos nos alimentos que são consumidos e sobre os perigos a eles associados e tem como objetivo melhorar a qualidade e a segurança dos alimentos. Em2009, o programa monitorou 20 alimentos entre eles cita-se abacaxi, alface, arroz, banana, batata, cebola, cenoura, feijão, laranja, maçã, mamão, manga, morango, pimentão, repolho, tomate, uva, couve, beterraba e pepino. Os casos que mais se destacaram foram os do pimentão, uva, pepino e morango, que apresentaram irregularidades no número de amostras, porcentagem de agrotóxicos não autorizados para a cultura e resíduos acima do limite permitido. Um dado alarmante entre os resultados foi que em 15 das 20 culturas analisadas foram encontrados agrotóxicos que, além de não serem autorizados para as respectivas culturas, estão em processo de reavaliação toxicológica junto à Anvisa devido aos efeitos negativos para a saúde humana (LONDRES, 2011) . Nesta situação, a citada autora chama a atenção para a grande quantidade de amostras de pepino e pimentão contaminadas com endossulfam, de pimentão, tomate, alface e cebola contaminadas com metamidofós e de cebola e cenoura contaminadas com acefato. O endossulfan já teve o processo de reavaliação concluído pela Anvisa, sendo que em 16 de agosto de 2010 foi publicada a resolução que determina a sua retirada programada do mercado brasileiro no prazo de três anos pelo fato de provocar problemas reprodutivos e hormonais. A reavaliação do metamidofós também já foi encerrada, pois a Anvisa determinou, em 14 de janeiro de 2011, a proibição da utilização do produto a partir de 30 de junho de 2012, concluindo que ele pode provocar neurotoxicidade, imunotoxicidade e efeitos nocivos sobre os sistemas endócrino e reprodutor e sobre o desenvolvimento embriofetal.

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2.4 Tipos de agrotóxicos A questão dos agrotóxicos é certamente uma discussão que desperta paixões. Quase todo o setor produtivo considera indispensável a utilização dos agrotóxicos para garantir o rendimento de suas lavouras e a oferta de mais alimentos para a população. Por outro lado os consumidores cobram cada vez mais a responsabilidade do governo na monitoração dos níveis de segurança desses produtos em alimentos, uma vez que a sociedade se tornou cada vez mais consciente da problemática do uso indiscriminado de agrotóxicos (ANVISA, 2006). No Brasil, em pesquisa realizada por Mentem sobre o registro das empresas no ramo dos agrotóxicos (2008), foi constatado que havia cerca de 33 fabricantes de produtos técnicos, sendo que destes representantes, 7 eram formadas por indústrias multinacionais produtoras de agrotóxicos, com 475 princípios ativos representados em 537 produtos comerciais. Os pesticidas são definidos genericamente como um vasto grupo de compostos químicos sintéticos ou naturais utilizados para eliminar pragas e outras ameaças biológicas que atacam culturas agrícolas. Os pesticidas englobam uma série de substâncias de natureza química diversa, com diferentes funções e ações biológicas e que, por isso, podem ser classificados segundo diferentes critérios (BARBOSA, 2012). Assim, os tipos de agrotóxicos são classificados como pesticidas, raticidas, fungicidas, entre outros. Tem largo emprego na agricultura e sabe-se que em alguns fungicidas inorgânicos como os cúpricos podem ser encontrados seus resíduos mesmo após décadas de sua exposição no solo (RIBAS; MATSMURA; 2009). Segundo as citadas autoras, os agrotóxicos podem ser classificados de acordo com sua especificidade, sendo os fungicidas utilizados para o controle de fungos, inseticidas (controle de insetos), herbicidas (controle de plantas invasoras), desfolhantes (controle de folhas indesejáveis), fumigantes (controle de bactérias do solo), raticidas (controle de roedores/ratos), nematicidas (controle de nematoides) e os acaricidas (controle de ratos). É interessante esclarecer que as substâncias utilizadas nos praguicidas frequentemente são usadas em formulações que contêm diversos compostos nos quais os diversos princípios ativos acompanhados de outros se misturam, diluem e facilitam a aplicação e estabilidade, o que pressupõe que deve ser averiguado por agricultores e agentes fiscalizadores para que seja assegurado que esses compostos não representem riscos à saúde, diante dessas novas interações. 2.5 Mudanças no cultivo de alimentos O grande aumento no uso de agrotóxicos tem trazido transtornos e modificações para o meio ambiente tanto pela contaminação do homem como pela sua acumulação nos componentes bióticos e abióticos do ecossistema (ar, água, solo, plantas, etc.), o que gera problemas ambientais e de saúde pública em aspectos muito mais amplos (RIBAS; MATSMURA, 2009). Os citados autores apontam que o uso de agrotóxicos deve ser reduzido e algumas me338


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didas para minimizar seus efeitos devem ser adotadas tanto pelos produtores quanto pelos consumidores, a fim de se garantir a promoção da saúde, com atitudes que promovam a sustentabilidade dos recursos naturais utilizados na agricultura. Recentemente tem havido um esforço em minimizar a utilização de pesticidas com utilização de novos meios de luta (culturais, biológicos, genéticos e biotecnológicos) para controlar as pragas, doenças e infestantes. Contudo, o uso de pesticidas continua a ser o meio de controlo mais comum (BARBOSA, 2012). Segundo Stopelli (2008), para uma melhor política de segurança alimentar associada ao controle do uso de agrotóxicos no Brasil, o país deve desenvolver estratégias para segurança alimentar e minimização de impactos negativos para o produtor e consumidor, tais como: a) maior fiscalização da fabricação, importação, exportação e qualidade, assim com das vendas de produtos; b) maior fiscalização sobre o uso, incluindo a correta destinação final das embalagens vazias e dos resíduos; c) mudanças no modelo de produção e de trabalho, dentre outros. A garantia de alimentos promotores de saúde, como o caso das hortaliças, passa por uma abordagem voltada essencialmente à ação direta em que o Estado Brasileiro passa a agir, por meio de políticas públicas voltadas para a garantia da oferta segura de alimentos. Dessa forma, ignorar a contaminação desse grupo de alimentos e os reflexos disso não só no ambiente, mas também nos trabalhadores e consumidores, consiste numa atitude política equivocada e inaceitável frente ao atual contexto de exigências da sociedade (ALMEIDA, CARNEIRO, VILELA, 2009). Assim, é consenso que sejam incentivados práticas mais limpas utilizando-se de produção orgânica, manejo integrado bem como da utilização de agentes de controle biológico para a redução de danos ao campo e assim, garantir a alimentação de qualidade isento de resíduos que prejudicam os processos vitais e a constituição física do ser humano. 3 Metodologia O presente artigo tem como objeto de estudo a verificação dos produtos utilizados em alimentos que tem como fim de eliminar as pragas e vetores que interferem de forma negativa na agricultura, sendo um estudo voltado para a área das ciências biológicas. De acordo com as ideias abordadas e considerando as especificidades do meio em que foi estudado trata-se de uma pesquisa de natureza básica em que os procedimentos adotados foram a revisão da literatura que quanto aos objetivos contou com caráter descritivo e exploratório e com o tipo de abordagem qualitativo em que foram utilizados como instrumentos livros, artigos, monografias, teses e consultas a sites confiáveis como o Medline e Google acadêmico para fundamentação teórica desta investigação. A literatura analisada para a realização da pesquisa é composta por 9 (nove) artigos, 7 (sete) livros e 1 (uma) tese , perfazendo um total de 17 obras selecionadas e que estavam de acordo com assunto e, portanto, se mostraram satisfatórios para a fundamentação da pesquisa. 339


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A amostra da pesquisa corresponde a temas relacionados ao uso de agrotóxicos na alimentação, tendo como critério de inclusão aqueles temas que contemplam o conteúdo e como critério de exclusão aqueles que não abordam este tema. Os artigos foram pré-selecionados pelos títulos e teor do conteúdo envolvendo a descrição da presença de agrotóxicos em alimentos contendo os descritores pesticidas, alimentos e segurança alimentar. A análise dos dados foi feita de acordo com a análise de conteúdo das obras em estudo correspondendo a uma pesquisa narrativa sem a pretensão de esgotar a temática abordada, uma vez que as informações coletadas alcançaram o objetivo da pesquisa. Os dados relevantes da pesquisa foram organizados para a elaboração de um artigo cientifico. 4 Conclusão O uso de agrotóxicos na agricultura se faz cada vez mais presente na produção primária, motivado pelo incentivo da indústria química, necessidade de aumentar a oferta de alimentos a uma população crescente e ainda pelo desconhecimento dos aspectos legais para uso dessas substâncias por parte dos agricultores. Essa realidade fica evidenciado nos estudos apresentados que apontam a presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos analisados por órgão fiscalizadores como a Anvisa, por exemplo. Assim, acredita-se que na agricultura estão sendo utilizados diversos tipos de agrotóxicos, alguns não liberados para uso no país, o que predispõem o consumidor aos riscos oriundos dessas substâncias. Contudo, é necessário que sejam realizadas estudos mais aprofundados dessa temática de modo a se produzir a pesquisa de campo com o auxílio de práticas investigativas laboratoriais considerando a produção desde os pequenos agricultores até a distribuição ao consumidor final para futuras investigações que possam concordar ou refutar sobre os aspectos apresentados neste estudo, para se obter informações precisas sobre a segurança dos alimentos oferecidos.

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Educação, saúde e meio ambiente

MATA DE COCAIS: CONSEQUÊNCIAS DAS AÇÕES ANTRÓPICAS Romulo Freire Barbosa1 Simone Mousinho Freire2

RESUMO O presente artigo possui como objetivo avaliar como o extrativismo vegetal pode contribuir para a conservação das Matas dos Cocais em Teresina- PI. O estudo foi realizado nos meses de Dezembro a maio. Foram feitas consultas bibliográficas e efetuado um questionário com pessoas que dependem do extrativismo do babaçu (Attalea speciosa). O questionário continha 12 questões, 11 objetivas e uma subjetiva. As consultas foram feitas em sites, em livros que tratam do assunto. Os entrevistados moravam no bairro Monte Verde, povoados Anajás e São Geraldo. Foi observado que na parte urbana da pesquisa vem ocorrendo queimadas frequentes que ocasionam as mudanças nos cocais e na parte rural o agronegócios e a urbanização modificam a mata. O azeite e o carvão são os produtos mais utilizados pelas comunidades entrevistadas, tanto para uso doméstico como para venda. Estes produtos permitem alimentação e fonte de renda extra, porém essa mata está perdendo parte de área para o agronegócio, empreendimento imobiliários e desenvolvimento urbano e muitos jovens não tem interesse com o extrativismo vegetal devido à baixa remuneração e o trabalho extenuante. As pessoas que necessitam das Mata dos Cocais podem contribuir com a manutenção desse ecótono, pois convivem em um ecossistema que vem sendo alterado pela urbanização, desmatamento e queimadas.

Palavras-Chave: Hortaliças. Quebradeiras de coco. Cadeia produtiva.

1 INTRODUÇÃO O babaçu (Attalea speciosa) é uma angiosperma da família Arecaceae, é encontrada disseminada em várias partes do país, desde Amazônia até o estado de São Paulo (Lorenzzi, 2004). É visto com frequência em áreas degradadas sendo considerada uma espécie pioneira dominante. Em vegetações primárias apresenta baixa densidade, mas em vegetações secundárias pode se tornar uma formação monoespecífica (MITJA E FERRAZ, 2011). As principais ocorrências dessa palmeira no Brasil estão localizadas nos estados do Mato Grosso, Maranhão, Piauí, Pará, Tocantins e algumas áreas isoladas do Ceará, Pernambuco e Alagoas (Lorenzzi, 2014). Segundo o MIQCB (Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu) no estado do Piauí há 1.977.600 hectares de ocorrência de babaçu. Este tipo de vegetação é conhecido como Mata dos Cocais, sendo que há várias espécies de palmeiras como carnaúbas (Copernicia prunifera), buritis, designação comum as plantas pertencentes aos gêneros Mauritia, Mauritiella, Trithrnax e 1 Biólogo formado pela UFPI em Licenciatura em Ciências Biológicas e-mail: romulofreirebarbosa@gmail.com 2 Doutora em Ciência Animal, Laboratório de Zoologia e Biologia Parasitária- ZOOBP UESPI. 343


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Astrocarvum, oiticicas (Licania rigida). A fauna contém vários animais dos biomas Amazônico e Cerrados, como cotias (gênero Dasyprocta), preás (Cavia aperea), cuandus (Coendou prehensilis), tatus (mamíferos da família Dasypodidae), diversos invertebrados. A Mata dos Cocais é responsável pela sobrevivência de várias pessoas que vivem próximas a mata, pois dela retiram alimento e o sustento com a venda de produtos extrativistas ou com o artesanato. Da Attalea speciosa utilizam-se várias partes, como folhas que são usadas nas coberturas de casas, construção de peças de artesanato, cercas que envolvem as casas. Do caule também usado na construção de casa, adubo, os frutos têm diversos fins como, azeite, leite de coco, carvão, farinha, óleos, sabonetes, biodiesel, remédios caseiros. Os babaçuais já foram de grande importância econômica no Brasil. O óleo do babaçu era um dos principais produtos de exportação, mas com a concorrência com a soja e outros óleos como o palmiste a cadeia produtiva vem diminuindo progressivamente. As exportações são comercializadas com apelo social e ambiental para empresas dos Estados Unidos e Europa. O babaçu é uma importante fonte de renda e alimento de comunidades tradicionais, principalmente dos estados do Maranhão e Piauí. Nestas regiões as mulheres autodenominadas quebradeiras de coco originaram duas organizações sociais, o MIQCB e a Associação das mulheres Trabalhadoras Rurais (AMTR) (Albiero et al. 2007). Mas, muitas comunidades ficam afastadas dos movimentos sociais que defendem e promovem o babaçu Mata dos Cocais é responsável pela sobrevivência de várias pessoas que vivem próximas a mata, pois dela retiram alimento e o sustento com a venda de produtos extrativistas ou com o artesanato. Mas essa vegetação vem sendo degradada através do agronegócio, pecuária, queimadas, investimentos imobiliários e a população rural que contribui com a conservação on farm, é muitas vezes, impedida de extrair daí o seu sustento. Com isso muitos acabam migrando para outras regiões a procura de uma vida melhor. Com a perda da Mata dos Cocais há perda de biodiversidade, degradação do solo, poluição do ar e rios, há prejuízo social para muitas famílias que retiram seu sustento do coco babaçu, da carnaúba, do buriti. Em Teresina-PI, ainda existe Mata dos Cocais, mas esta vem sofrendo alterações na sua que estrutura a qual comprometem a flora, a fauna local e as comunidades que necessitam das palmeiras do coco babaçu para complementar a alimentação e a renda. Então, há uma necessidade de se identificar maneiras de convivência com as Matas dos Cocais sem prejudicar o meio ambiente. Desta forma este trabalho tem como objetivo demonstrar a importância do extrativismo do babaçu para a manutenção das Matas dos Cocais. . 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Local do Estudo O trabalho foi desenvolvido em Teresina - PI no Bairro Monte Verde (latitude 4°59’49.1” longitude 42°49’19.9”W), e nos povoados de São Geraldo (latitude 4°56’33.1”S longitude 42°46’07.8”W) e Anajás (latitude 4°56’32.0”S longitude 42°46’03.4”). Estes locais 344


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dispõem de estruturas diferentes. O Bairro Monte Verde contém ruas pavimentadas, escolas e creches próximas, hospitais, fica localizado na área urbana. Nos povoados há uma escola próxima, não há pavimentação nas ruas com exceção da PI-112. Esse Bairro e os povoados estão circundados pelas Mata dos Cocais. 2.2 Aplicação dos questionários Foram aplicados 13 (doze) questionários, sendo 7 no bairro Monte Verde, 4 São Geraldo e 2 Anajás com todas as pessoas maiores de 18 anos diretamente envolvidas com o extrativismo do babaçu. Os questionários continham questões abertas e fechadas, versando sobre questões como: renda da família, uso do babaçu, forma de extração, destino do produto, mudanças nos cocais. Os entrevistados tinham de 35 a 79 anos, que viviam em moradias de alvenaria utilizavam o coco para consumo próprio ou para comercialização. 2.3 Estatística A análise estatística foi feita por meio de frequência simples. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas regiões observadas verificou-se a participam de pessoas acima de 35 anos no trabalho com o coco babaçu. Dessas 77% eram mulheres e 23% eram homens, maridos dessas mulheres. Em nenhum dos bairros entrevistados foi encontrado jovens com idade menor que 35 anos na lida com o coco. Todos os entrevistados aprenderam desde de criança com os pais a lidar com a Attalea speciosa, fazem azeite para vender ou para uso domiciliar. Nenhum participou de cooperativas ou fez algum curso da cadeia produtiva dessa palmeira. Foi observado que apenas 23,1% dos entrevistados tinham como única fonte de renda o babaçu, os demais (76,9%) tinham outras fontes complementares como roça, hortas, aposentadoria, fretes com carroça. Nenhum dos entrevistados faz roça dentro da Mata da Cocais. A seguir, a tabela 1 expõe as semelhanças e diferenças socioeconômicas e culturais entre o Bairro (Monte Verde) e os povoados (Anajás e São Geraldo). Observou-se que tanto no bairro como nos povoados a atividade extrativista é uma fonte complementar de renda e que é realizada desde criança com os pais ensinando.

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Tabela 1- Perfil socioeconômico e cultural dos entrevistados dos Bairros Monte Verde, povoado São Geraldo e Anajás em Teresina, PI. Bairros ou povoados Monte Verde Anajás São Geraldo Perfil socioeconômico n % n % n % Fonte da Renda Apenas extrativismo 2 28,6 1 25 Extrativismo e aposentadoria 1 14,3 1 50 3 75 Extrativismo e roça 3 42,8 Extrativismo, aposentadoria e 1 14,3 1 50 roça Sexo dos entrevistados Homens Mulheres

2 5

28,6 71,4

1 1

50 50

4

100

Coleta babaçu desde Criança Adolescente Adulto

6 -

100 -

2 -

100 -

3 1 -

75 25 -

Aprendeu a extrair o babaçu Com os pais Em cooperativas

6 -

100 -

2 -

100 -

1 -

100 -

A tabela 2 sintetiza como é realizado o extrativismo no bairro (Monte Verde) e povoados (Anajás e São Geraldo). Foi observado que nos bairros a coleta é feita principalmente dos frutos do chão e nos povoados, do chão e da palmeira. Como na zona urbana as ações antrópicas são mais acentuadas que na rural a palmeira acaba se tornando quase monoespecífica o que facilita a coleta do coco. Em áreas rurais como a interferência humana não é tão acentuada a competição interespecífica acaba diminuindo o número de palmeiras fazendo que as comunidades extrativistas para terem mais cocos derrubem os dos cachos. O local da coleta é principalmente em terrenos alheios. Não é feito a roça junto com as palmeiras. Dentro da cidade a principal mudança da mata é ocasionada pelo processo de urbanização, desmatamento e queimadas. Segundo os entrevistados do bairro Monte Verde o número de amêndoas por coco babaçu vem diminuindo, eles citam as queimadas como fator de diminuição. Mesmo sendo resistente ao fogo devido as queimas constantes a Attalea speciosa está diminuindo o número de amêndoas por coco O Processo de urbanização e o agronegócio são os principais fatores responsáveis pelas mudanças nos cocais dos povoados pesquisados. Como as queimadas vem consumindo as palmeiras os entrevistados do bairro Monte Verde relatam que estão coletando cocos em outras localidades. 346


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Segundo os entrevistados os cocais vem sofrendo mudanças por conta da urbanização, desmatamentos, agronegócio e queimadas contínuas que impossibilitam a recuperação desse ecossistema. Foi relatado por um orador do bairro Monte Verde que a falta de incentivo por parte do governo é a maior dificuldade para trabalhar com o coco, no São Geraldo a cerca que os donos dos terrenos colocam e o trabalho de extração do azeite. Por ser um trabalho árduo e de pouca remuneração os mais jovens preferem outras atividades econômicas que o extrativismo do coco. A tabela 2 Extrativismo dos Bairros Monte Verde, povoado São Geraldo e Anajás em Teresina, PI. Bairros ou povoados Monte Verde Anajás São Geraldo Extrativismo n % n % n % Coleta do coco Do chão 4 57,1 1 25 Da palmeira Do chão e da palmeira 3 42,9 2 100 3 75 Usos babaçu Apenas azeite Azeite, carvão Azeite, carvão e mesocarpo

1 4 2

14,3 57,1 28,6

2 -

100 -

3 1

75 25

Local da coleta do coco Terreno próprio Terreno alheio

7

100

2

100

2 2

50 50

Faz roça nos cocais Sim Não

7

100

2

100

4

100

Houve mudanças nas Matas dos Cocais Sim 7 Não -

100 -

2 -

100 -

4 -

100 -

Mudanças que ocorreram nas Matas dos Cocais Desmatamento/ urbanização 3 Queimadas apenas 3

42,9 42,9

-

-

-

347


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Urbanização apenas 1 Perda da Mata para o agrone- gócio Não houve mudanças -

14,2 -

2 -

100 -

1 2

25 50

-

-

-

1

25

4 CONCLUSÃO A Mata dos Cocais é um ecótono formado pela transição das floresta úmida da Amazônia e o cerrado brasileiro. A maior parte dessa formação vegetal está entre os estados do Maranhão e Piauí. Mas distribui-se também pelos estados do Ceará, do Rio Grande do Norte, Tocantins e Pará. Concentrando o maior número de plantas oleaginosas do mundo, sendo também fonte da maior produção extrativista vegetal do país (Lima, 2006). Os climas onde estão as Matas de Cocais são Equatorial úmido, Tropical semiúmido e Tropical semiárido. Os babaçuais são classificados como florestas secundárias que predominam principalmente em regiões que sofreram ações antrópicas como desmatamento, queimadas. As palmeiras de babaçu possuem grande poder de invasão em áreas conturbadas, ocupando florestas e o cerrado (LORENZI, 2004). Esse bioma é de grande importância ecológica e econômica, pois nele podem ser encontrados seres do bioma Amazônico, Cerrados e das Caatingas. Em relação a economia as comunidades locais utilizam o extrativismo vegetal como fonte de renda complementar. Dos babaçuais a madeira é usada como adubo, construção de casas, as folhas como armação para cobrir casas, cercas, dos frutos faz-se artesanatos, carvão vegetal, as fibras apresentam inúmeras utilidades nas indústrias, da semente se extrai o óleo que pode ser usado na culinária, na indústria de cosméticos ou como biodiesel, ainda pode -se extrair o palmito e fazer vinho da seiva. No Piauí, a maior ocorrência do babaçu está em ambiente de floresta subúmida em solos arenosos e de elevado grau de umidade. A área de maior ocorrência de babaçu no Piauí está entre o Baixo e Médio Parnaíba e abrange 19.776 km2, correspondendo aproximadamente a 8% do território piauiense (NARITA; LIMA; FONTELES, 1980). Os grandes problemas encontrados para a conservação da Mata de Cocais é o desmatamento, a pecuária, a produção de eucaliptos, a urbanização e queimadas. Para muitas famílias o extrativismo é a única fonte de renda e a diminuição da área dos cocais torna a vida das comunidades rurais que dependem dos babaçuais inviáveis. Essas famílias para sobreviverem fazem migrações para os centros urbanos a procura de empregos e de uma vida mais digna. Com a perda dessa floresta secundária há diminuição da biodiversidade e aumento de problemas sociais e econômicos. Movimentos como o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) que lutam pela sustentabilidade e dignidade da categoria das profissionais (quebradeiras de coco) são essenciais par manter a biodiversidade e permitir que as pessoas possam viver com melhores condições sociais sem serem ameaçadas por agropecuários ou para valorizar o trabalho tão duro de pessoas muito humildes. A partir das informações obtidas com essa investigação foi possível concluir que as Matas dos Cocais contribuem para alimentação e renda das populações entrevistadas e que estas contribuem de maneira significativa para a qualidade da mata. 348


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O conhecimento identificado na maioria das populações demonstra que as pessoas que usam o babaçu convivem de forma harmoniosa com a vegetação, não coletando todos os cocos deixando aqueles com maior umidade no chão, estes poderão ser comidos pela fauna local ou poderão germinar dando origem a novas palmeiras. O babaçu é uma palmeira resistente ao fogo e suas sementes germinam após queimadas, mesmo assim os agricultores não fazem roça dentro da mata (um dos entrevistados afirmou que as hortaliças não resistem a competição com a palmeira). O usos do babaçu são transmitidos de pais para filhos desde criança. Porém por ser uma atividade de baixa remuneração e muito desgastante os mais jovens não participam mais dessa atividade procurando outras fontes de renda. Como há pouca informação sobre os uso do babaçu pelas comunidades locais esse recurso é pouco explorado, se restringindo ao azeite, carvão e poucos usam a farinha do mesocarpo como fitoterápicos. Não foi comentado nenhuma associação de quebradeiras por parte dos entrevistados, o que pode ser o motivo para pouca exploração do babaçu. A Mata dos Cocais é uma formação vegetal importante em vários estados do Brasil. A palmeira do coco babaçu (Attalea speciosa) apresenta potencial econômica sendo usada na construção de casas, na alimentação animal, como adubo, no artesanato, na alimentação humana, como fitoterápico, na produção de energia, na indústria, pois o óleo de babaçu é rico em ácidos láuricos, estes são usados na indústria de saponificação, cosméticos e na alimentação, porém a extração do babaçu é feita de forma rudimentar e extrativista, o que se torna muito oneroso para as indústrias que preferem o óleo de palmiste, também conhecido como óleo de palma. O azeite do babaçu é o principal produto do extrativismo dessa palmeira, sendo extraído para consumos próprios ou para pequena comercialização. Nas comunidades entrevistadas esse óleo era o principal produto para comercialização. Mas essa atividade vem sofrendo declínio devido à dificuldade de coletar os cocos e extrair o azeite e por ser uma atividade em que o retorno financeiro é pequeno. A mata vem sofrendo mudanças dentro da cidade ou na zona rural por conta do crescimento urbano, desmatamento e queimadas. REFERÊNCIAS ARRUDA, Joari Costa de, SILVA, Carolina Joana da, SANDER, Nilo Leal. Conhecimento e uso do babaçu (Attalea speciosa Mart) por quilombolas em Mato Grosso. Fragmentos de Cultura, Goiânia, v. 24, n. 2, p. 239-252, abr./jun. 2014. CAMARGO, Ana Luiza de Brasil. Desenvolvimento sustentável: dimensões e desafios. Campinas. São Paulo: Papirus,2003. CUNHA, Gustavo Daniel da Silva Miranda, DUARTE, Lorena Hayla dos Santos, SERVIO JÙNIOR, Emanuel Marques. A necessidade de brigadas de prevenção e combate a incêndios florestais nas áreas cobertas pela Mata dos Cocais. ibeas.org.br 349


Educação, saúde e meio ambiente

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PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DE BENS PÚBLICOS: DESAFIOS DE UMA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA SUSTENTÁVEL FRANCISCA ROSÂNGELA BORGES DA CUNHA1 SHARLLA SANTANA LOPES2 JOSÉ CÂNDIDO DE ALMENDRA GAYOSO NETO3

RESUMO:

A preservação do meio ambiente é uma das maiores preocupações em todo o mundo, na atualidade, por isso, este trabalho tem como objetivo analisar as contribuições da educação ambiental para a gestão de bens e recursos das instituições públicas, identificando leis e projetos que abordem a questão ambiental e a forma como eles são aplicados nos órgãos públicos. A metodologia usada foi à pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa, abordando, inicialmente, o embasamento legal da Educação Ambiental, e posteriormente, identificando ações e projetos já implantados na Administração Pública. A legislação foi pesquisada no acervo digital do Palácio do Planalto e os artigos revisados publicados entre 2007 e 2015 e armazenados em repositórios digitais de variadas instituições públicas. Como resultado foram escolhidas 5 leis que estão relacionadas ao assunto e 6 trabalhos, sendo 5 artigos científicos e 1 monografia. Podese concluir que a Educação Ambiental envolve o desenvolvimento de programas de capacitação dentro do ambiente de trabalho e, desta forma, torna-se ferramenta indispensável para despertar nos servidores e funcionários a importância socioambiental e a participação dos mesmos como protagonistas neste processo. O Brasil possui uma das legislações ambientais mais avançadas do mundo, no entanto, para que ela seja respeitada é necessário que a população seja educada para tal, pois, como foi observado, muitos servidores têm até consciência de que é importante a preservação do meio ambiente, no entanto, suas ações ainda não refletem essa conscientização.

PALAVRA-CHAVE: Legislação Ambiental. Gestão Pública. Sustentabilidade.

INTRODUÇÃO A gestão socioambiental vem ao longo do tempo tornando-se fator essencial na Administração Pública como item relacionado ao respeito às questões ambientais, e também para atender dispositivos legais que vêm sendo instituídos pelos governos na crescente busca do termo sustentabilidade. Isso ocorre pelo fato de os bens públicos ainda serem mal utilizados na maioria das vezes, principalmente, por parte dos próprios servidores que, ao desenvolverem as atividades administrativas, diariamente, desconhecerem a temática apresentada neste trabalho e, como também, a crescente escassez dos recursos naturais que obriga os gestores públicos a repensarem o modo como utilizam os materiais. 1 Educadora Física formada pela Universidade Federal do Piauí, pós-graduanda em Biodiversidade e Conservação/NEAD/UESPI. e-mail: f.rosangelabc@gmail.com 2 Especialista em Biologia Parasitária e em Análises Clínicas. Tutora à distância do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação/NEAD/UESPI. Email: sharllalopes@ hotmail.com 3 Docente da Universidade Federal do Piauí, Mestre em Atividade Física e Saúde pela Universidade Católica de Brasília, e-mail: jcandidoneto@yahoo.com.br 351


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O servidor público no desempenho de suas funções administrativas, sempre deve fazêlas pensando no bem comum da sociedade. Para Carvalho (2016) a Administração Pública é a função voltada para o bem de toda a coletividade, desenvolvida pelo Estado com a intenção de privilegiar a coisa pública e as necessidades do corpo coletivo. Ao realizar as atividades do dia a dia, deve sempre desenvolvê-las buscando a otimização dos recursos, seja na prestação de serviços ou no uso dos bens materiais. Mas, para que isso ocorra, é necessário que ele seja educado para tal prática, e uma das ferramentas que pode auxiliar nesta questão é a Educação Ambiental. E segundo Palma (2005) a Educação Ambiental tem como principal objetivo promover a mudança de comportamento do sujeito, em sua relação cotidiana e individualizada com o meio ambiente e com os recursos naturais, promovendo hábitos ambientalmente responsáveis no meio social. No Brasil, as questões relacionadas ao meio ambiente possuem legislações específicas para a regulação da matéria, tendo como destaque a Lei 9795/1999, que trata da Política Nacional de Educação Ambiental, estabelecendo em seu art. 1º que a Educação Ambiental é o processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente e promoção de uma qualidade de vida sadia para o desenvolvimento da sustentabilidade ambiental. Outra lei que merece destaque é a lei nº 12.305/2010, a qual institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, estabelecendo em seu art. 5º que ela deve articular-se com a Política Nacional de Educação Ambiental, regulada pela lei 9.795/1999, pois, é a partir da educação que começa o processo de mudança de hábitos, juntamente com a Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, que estabelece as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, responsabilizando, penalmente, os delitos cometidos por pessoa jurídica. Dentre os programas encontrados pode-se citar a Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), uma recomendação do Ministério do meio Ambiente (MMA) que tem o objetivo de sensibilizar os gestores públicos a desenvolverem ações e atitudes voltadas para a questão ambiental, trabalhando a orientação de cinco eixos temáticos, a saber: uso racional de recursos naturais e bens públicos; gestão adequada dos resíduos gerados; qualidade de vida no ambiente de trabalho; sensibilização e capacitação e licitações sustentáveis. Dessa forma, neste trabalho objetiva-se analisar as contribuições da Educação Ambiental para a gestão de bens e recursos das instituições públicas, identificando leis e projetos que abordem a questão ambiental e a forma como eles são aplicados nos órgãos públicos. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa caracteriza-se por ser uma revisão bibliográfica. A legislação foi pesquisada no acervo digital do Palácio do Planalto, e os artigos científicos foram pesquisados utilizandose a expressão sustentabilidade na administração como palavra-chave, o que resultou na escolha inicial de um total de quarenta publicações. 352


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A etapa seguinte foi à leitura dos resumos, a partir do qual foram selecionados vinte e seis trabalhos, os outros foram descartados pelo fato de não se relacionarem com o objetivo do artigo. Dentro desta amostra foi encontrada uma cartilha publicada pelo Ministério do Meio Ambiente denominada Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), e a partir de então, foi realizada uma nova busca com os seguintes descritores: administração pública e A3P. Foram analisados quinze trabalhos e escolhidos seis, sendo cinco artigos e uma monografia, os demais descartados por não estarem relacionados à temática proposta. As publicações identificam órgãos que implementaram o programa A3P e quais os resultados foram alcançados nestas instituições. Os trabalhos científicos encontram-se nos repositórios digitais das seguintes instituições: Ministério do Meio Ambiente (MMA), Roca da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Reget da Universidade Federal de Santa Maria campus Cascavel (UFSM), Pró-reitora de Pesquisa e Inovação (PROPI) do Instituto Federal do Tocantins (IFTO) e Revista Brasileira de Gestão, Negócios e Tecnologia da Educação (Revista Empírica) do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). RESULTADOS E DISCUSSÃO Após levantamento e estudo bibliográfico da legislação específica, foram escolhidas cinco leis que estão relacionadas ao assunto com relevância destacada de acordo com os critérios de seleção já descritos. Para melhor entendimento, os resultados são dispostos em duas partes: a primeira, abordando o embasamento legal, e a segunda, a análise das práticas de gestão ambiental nas instituições públicas. 1.

Embasamento Legal

A Educação Ambiental foi criada como um princípio e um instrumento de política ambiental. A lei 6.938 de 31/08/1981 que institui a política nacional do meio ambiente, possuindo o objetivo de preservar, melhorar e recuperar a qualidade ambiental, propiciando melhor qualidade de vida, garantindo, assim, condições ao desenvolvimento socioeconômico do país, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. O artigo 2º, inciso X assegura que ela deve ser ofertada em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, com o objetivo de capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente. Já Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225 institui que: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações.

Na tentativa de assegurar o cumprimento da legislação ambiental, a Constituição 353


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Federal determina ao Poder Público, no art. 1º inciso VI a promoção da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente, ratificando aquilo que já tinha sido proposto na lei 6.938. Dessa forma, Estado e a sociedade compartilham da competência para a preservação do meio ambiente onde cada um assume sua parcela de responsabilidade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), apesar de estabelecer as diretrizes da educação no país faz pouca referência à Educação Ambiental, citando-a apenas no artigo 32, inciso II no qual se exige, para o ensino fundamental, a compreensão ambiental natural e social do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade”; e no artigo 36 § 1º, o qual estabelece que os currículos do ensino fundamental e médio deve abranger, obrigatoriamente, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil Ministério da Educação (2007). Além destas, que podem ser consideradas as norteadoras, existem legislações específicas que regulamentam as questões relacionadas ao meio ambiente e dentre elas, a Lei 9795/1999, que trata da Política Nacional de Educação Ambiental e estabelece em seu art. 1º que a educação ambiental deve ser entendida como o processo por meio dos qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, desenvolvendo uma sadia qualidade de vida e contribuem para a sustentabilidade do país. Segundo Nascimento (2012), o artigo 3°, inciso V, desta Lei delega às empresas, às entidades de classe e às instituições públicas e privadas a incumbência de promover programas de capacitação aos seus trabalhadores, visando o efetivo controle do meio ambiente do trabalho e suas repercussões no processo produtivo. Assim como a lei nº 12.305/2010, que é a lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que em seu art. 5º, estabelece que esta política deve articular-se com a Política Nacional de Educação Ambiental, regulada pela lei 9.795/1999, pois é a partir da educação que começa o processo de mudança de hábitos. Outra Lei que merece destaque é a Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1988, que estabelece as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, além de responsabilizar penalmente os delitos cometidos por pessoa jurídica. Em seu art. 3º, ela prevê também a penalidade civil, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade. A sessão V da referida Lei destaca as penalidades para os crimes praticados contra a Administração Ambiental (Quadro 1).

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Quadro 01: Condutas e penalidades dos crimes contra a administração ambiental. CONDUTA Fazer o funcionário público afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental.

PENA Reclusão, de um a três anos, e multa.

Conceder o funcionário público licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público.

Detenção, de um a três anos, e multa.

Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental.

Detenção, de um a três anos, e multa.

Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões ambientais

Detenção, de um a três anos, e multa.

Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão.

Reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

Fonte: Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1988. Da mesma forma, o capítulo VI desta lei trata das penalidades correspondentes à infração administrativa ambiental, que é toda ação ou omissão que viola as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente. Como penalidades são expostas: advertência; multa simples; multa diária; apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; destruição ou inutilização do produto; suspensão de venda e fabricação do produto; embargo de obra ou atividade; demolição de obra; suspensão parcial ou total de atividades e restritiva de direitos. Vale ressaltar, que na aplicação das penalidades, deverão ser observados os critérios dispostos no art. 6º: I - A gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente; II - Os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental; III - A situação econômica do infrator, no caso de multa.

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2.

Análise das Práticas de Gestão Ambiental nas Instituições Públicas

Não há dúvidas que para a proteção do meio ambiente as leis são mecanismos de extrema importância. No entanto, para que elas sejam cumpridas e respeitadas faz-se necessário que a população seja informada e educada, com intuito de assumir os cuidados do meio em que vivem. As instituições públicas devem estimular a mudança de hábitos e atitudes de seus colaboradores, promovendo uma cultura de combate ao desperdício, ao mesmo tempo em que devem adotar novos procedimentos para as compras públicas, levando em consideração critérios mais sustentáveis de consumo, como por exemplo, a compra de materiais de empresas socioambientalmente responsáveis. Neste sentido, a Administração Pública Federal publicou a Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P). De acordo com Cogo (2011), em 1999 a Administração Pública Federal iniciou a conscientização da sustentabilidade em suas atividades administrativas através da Agenda Ambiental na Administração Pública, identificada com A3P, cujos princípios são a inserção dos critérios ambientais, que vão desde uma mudança nos investimentos, compras e contratação de serviços pelo governo, até uma gestão adequada dos resíduos gerados e dos recursos naturais. É importante ressaltar que a adoção desses novos hábitos, dentre outros, além de gerar economia dos recursos públicos, na medida em que eles são gastos com mais eficiência, beneficiam diretamente o meio ambiente com menores emissões de CO2, o que faz com que o país seja atuante na busca dos compromissos assumidos durante as conferências que tratam da questão ambiental. Cogo (2011) destaca os eventos ocorridos durante a criação da Agenda Ambiental na Administração Pública: 1. 1999: Elaboração e aprovação do Programa Nacional de Educação Ambiental pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) que previu a construção de agendas ambientais por um processo participativo que possibilitasse o aprendizado das questões ambientais. 2. A partir de agosto de 1999 o Ministério do Meio Ambiente (MMA) criou uma Comissão Permanente, composta por representantes de suas unidades. Essa comissão, junto com servidores voluntários, identificou problemas e propôs ações básicas para solucionálos, assim como, cada representante de unidade ficou responsável por procedimentos que considerasse peculiar ao ambiente de seu local de trabalho, num processo de multiplicação e incorporação de atitudes próprias e saudáveis. 3. A partir de setembro de 2000, o Programa A3P passou a ser incluído nas ações de competência da Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável, que estabelece a ligação com as ações administrativas que buscam a ecoeficiência governamental. 4. Entre o ano de 1999 e 2000, 16 reuniões visaram distribuir tarefas, realizar diagnósticos, colher sugestões junto aos servidores, caracterizar e quantificar os resíduos 356


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gerados e identificar materiais alternativos. Visaram ainda avaliar a inclusão de critérios ambientais nos processos licitatórios, dando preferência aos parceiros com os mesmos princípios ambientais. Ao longo da implantação nos órgãos públicos a A3P foi desenvolvendo trabalho de grande relevância e obtendo resultados tão positivos que, em 2002, foi reconhecida pela UNESCO e ganhou o prêmio “O melhor dos exemplos” na categoria Meio Ambiente, e, a partir de 2007, com a reestruturação do Ministério do Meio Ambiente, passou a integrar o Departamento de Cidadania e Responsabilidade Socioambiental (DCRS) da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental (SAIC) Ministério do Meio Ambiente (2009). Dessa forma, a Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P) possui o seguinte conceito: “A A3P é um programa que busca incorporar os princípios da responsabilidade socioambiental nas atividades da Administração Pública, através do estímulo a determinadas ações que vão, desde uma mudança nos investimentos, compras e contratações de serviços pelo governo, passando pela sensibilização e capacitação dos servidores, pela gestão adequada dos recursos naturais utilizados e resíduos gerados, até a promoção da melhoria da qualidade de vida no ambiente de trabalho.” (Ministério do Meio Ambiente, 2009, pág. 32)

Segundo BRITO (2014) a A3P é dividida em cinco eixos temáticos: 1. Uso racional de recursos, em síntese, significa empregá-los de forma econômica e racional, evitando desperdícios como os de energia elétrica, água, copo descartável, papel, dentre outros materiais de expediente. 2. Gestão de resíduos que é a correta destinação dos resíduos sólidos. O art. 1º, inciso I da Resolução CONAMA Nº 5 expõe o conceito de resíduos sólidos: I - Resíduos Sólidos: conforme a NBR- nº 10.004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT - “Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia disponível”.

3. Sensibilização e capacitação dos servidores é a conscientização, enquanto cidadão que atua de forma permanente e contínua em relação às questões socioambientais. O processo de capacitação envolve o desenvolvimento de competências individuais e institucionais que promovam mudanças de hábitos e atitudes que culminarão num melhor desempenho das atividades dos trabalhadores. 4. Qualidade de vida no ambiente de trabalho permite o desenvolvimento pessoal e profissional do 357


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trabalhador, buscando facilitar e satisfazer as necessidades dele, como uso e desenvolvimento de capacidades; integração social e interna; respeito às normas e legislações e condições de saúde e segurança no trabalho. 5. Licitações sustentáveis possibilitando que aAdministração Pública promova a responsabilidade socioambiental na aquisição de seus bens. Licitações sustentáveis possibilitam uma melhor relação custo/benefício a médio ou longo prazo quando se compara ao critério menor preço. Desde sua criação, a A3P vem sendo implantada em vários órgãos e instituições públicas, das três esferas do poder. Os grandes desafios incluem as mudanças de comportamento, pois ela demanda engajamento individual e coletivo. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), até 16 de fevereiro de 2016, 687 instituições haviam confirmado adesão à A3P. Para esta revisão bibliográfica foi escolhido trabalhos realizados em 6 instituições públicas do território brasileiro, buscando a verificar de que forma os resultados alcançados contribuíram para a mudança de atitudes e de ações dos servidores de cada uma delas. Durante a análise dos trabalhos, observou-se que, apesar de os servidores públicos possuírem conhecimentos relacionados às questões ambientais, pouco são as aplicações nas práticas das tarefas diárias do ambiente de trabalho. Costa (2015), a exemplo, constatou que mesmo servidores públicos policiais trabalhando num órgão ambiental, desconheciam a A3P, mas adotariam o programa pelo fato do mesmo existir dentro do pelotão ambiental, numa preocupação em usar os recursos de forma racional, pelo fato de a maioria entender que eles provêm de fonte esgotável. Fato semelhante foi comprovado por Fabris e Begnini (2014), os quais concluíram que a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural do município de Chapecó possui adesão parcial às recomendações propostas pela A3P, assim como, foi possível perceber o pouco envolvimento, e até mesmo certa resistência de alguns funcionários em participar da pesquisa, dificultando o comprometimento do sucesso da gestão ambiental. Conti (2012) ao investigar as práticas de responsabilidade ambiental no âmbito interno da Superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) do Rio Grande do Sul, comprovou a dicotomia existente entre o que os agentes públicos conhecem sobre a temática relacionada, pois eles elaboram análises críticas e apresentam sugestões sobre o assunto, e a efetivação de práticas relacionadas ao tema. No entanto, foi possível identificar também, que é necessário investir num trabalho contínuo de educação ambiental para consolidar esta prática até que a responsabilidade ambiental seja incorporada no cotidiano da Superintendência. Uma questão que chama a atenção é o comprometimento demonstrado pelos gestores dos órgãos, como comprovado por Santos (2013) ao analisar a implementação do programa A3P no Instituto Federal do Tocantins (IFTO), onde os gestores demonstram comprometimento para a realização de ações relacionadas às questões ambientais, por Camelo e Monteiro (2015), que comprovaram ao mensurar o nível de consciência ambiental dos gestores sob a ótica da A3P no Instituto Federal do Rio Grande do Norte. Dentre os trabalhos analisados, apenas Melo (2007) ao pesquisar o nível de conhecimento individual dos servidores da Câmara dos Deputados do 358


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DF concluiu que eles possuem bom nível de percepção ambiental relacionado à importância do uso racional de água, energia, materiais de expediente e redução de geração de resíduos, demonstrando que o programa está alcançando resultados satisfatórios. CONCLUSÃO A Educação Ambiental vai além da economia de água, energia elétrica e papel nas Instituições. Ela envolve também o desenvolvimento de programas de capacitação dentro do ambiente de trabalho e desta forma, torna-se ferramenta indispensável para despertar nos servidores e funcionários a importância socioambiental do projeto e a participação dos mesmos como protagonistas neste processo. Para que isso aconteça precisamos mudar alguns paradigmas, repensar nosso modo de vida e começarmos uma revolução de dentro para fora. O Brasil possui uma das legislações mais avançadas do mundo. No entanto, para que elas sejam realmente cumpridas e respeitadas é necessário que a população seja educada para tal, pois como foi observado, muitos servidores até têm consciência de que é importante a preservação do meio ambiente, no entanto, suas ações ainda não ocorrem na prática diária de suas atividades. E neste sentido, com o surgimento da Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), a administração pública busca rever os padrões de produção e consumo e estimular a adoção de hábitos que promovam a sustentabilidade nas instituições públicas, como forma de sensibilizar os servidores públicos a desenvolver novas atitudes que contribuam para instituições públicas mais sustentáveis. Reduzir o consumo não é consumir só o necessário, mas é bem possível eliminar supérfluos, reutilizar tudo que é possível e o que não for disponibilizar para a reciclagem. Todos sabem como reduzir o consumo de energia, água, papel, alimento tanto em casa como no trabalho, precisamos apenas praticar isso. REFERÊNCIAS BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Brasília, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ ConstituicaoCompilado.htm > acessado em 09/12/2015. ______. Lei n. 6938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a educação ambiental. Política Nacional de Educação Ambiental. Brasília, 1981. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/leis/L6938.htm > acessada em: 23/03/2016. ______. Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Resolução n° 5, de 05 de agosto de 1993. Dispõe sobre o gerenciamento de resíduos sólidos gerados nos portos, aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários. Brasília, 1993. Disponível em: <http://www. mma.gov.br/port/conama/res/res93/res0593.html> acessada em: 23/03/2016. _____. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ 359


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PERCEPÇÃO AMBIENTAL SOBRE A PRESERVAÇÃO DA PLANTA TRIPLARIS GUARDNERIANA WEDD NA COMUNIDADE FOLHA LARGA, MUNICÍPIO DE UNIÃO-PI GEORGIA MANNUELA NUNES DA SILVA NEVES1 SHARLLA SANTANA LOPES2

RESUMO A biodiversidade pode ser definida como a variabilidade de todos os organismos vivos, compreendendo os diversos ecossistemas que interagem entre si e são interdependentes. O Brasil é considerado um dos países mais ricos em variedade de espécies e possui biomas importantíssimos como a Floresta Amazônica, o Cerrado e a Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro. Apesar de o homem depender da natureza para sua sobrevivência, algumas ações suas afetam o equilíbrio nos ecossistemas. O presente trabalho tem por objetivo avaliar a percepção ambiental da comunidade Folha Larga, município de União-PI e identificar possíveis impactos causados à espécie de Triplaris guardneriana Wedd, popularmente conhecida como Pajaú, na região, verificando como a exploração dos recursos oferecidos por essa espécie vegetal interferiu em sua conservação na comunidade. Após a pesquisa, realizada com 20 famílias da comunidade, observou-se que os entrevistados possuíam idades entre 24 e 65 anos, em sua maioria eram lavradores, moravam na comunidade a 20 anos ou mais e possuíam baixa escolaridade. Quanto à preservação da Pajaú na região, 60% dos entrevistados relataram notar a redução do vegetal no ambiente, associando esta redução com o desmatamento e as queimadas realizadas. Dentre os usos listados pelos moradores, foram citados a utilização da folha para conserva de cereais, produção de chá e de peças artísticas, do fruto para consumo alimentar e da madeira para carvão. Grande parte dos entrevistados afirmou preocupar-se com a proteção do meio ambiente. Diante dos dados, concluise que houve na região uma redução da planta Pajaú, associado à ação antrópica, sendo resultante principalmente do desmatamento da região para fins diversos.

PALAVRAS-CHAVES: Diversidade. Percepção ambiental. Equilíbrio.

INTRODUÇÃO A biodiversidade pode ser descrita como a variedade biológica das espécies, bem como a variação genética entre os indivíduos de uma mesma espécie, estabelecida em uma determinada área geográfica, cuja existência está interligada entre si em uma complexa cadeia de ligações, de modo que todos os indivíduos necessitem uns dos outros para sobrevivência. Desde a conferência da ONU no Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecida como RIO-92, a conservação da biodiversidade é um objetivo fundamental 1 Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí e pós graduanda em Biodiversidade e Conservação/NEAD/UESPI. Email: georgiapuk@hotmail.com. 2 Especialista em Biologia Parasitária e em Análises Clínicas. Tutora à distância do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação/NEAD/UESPI.Email: sharllalopes@hotmail.com 363


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de diversos programas e atividades ambientais internacionais (ZIEGENHAGEN e SCHOLZ, 2002). Sabendo-se que a natureza está intrinsecamente relacionada ao homem, seja porque é fonte de alimento, energia, oxigênio, e ainda matéria-prima que pode ser transformada em artigos utilitários e comercializáveis, é também inspiradora de elementos que compõe os aspectos culturais e espirituais, portanto, indispensável à vida do homem. Porém, algumas ações desenvolvidas terminam afetando o equilíbrio nos ecossistemas como a poluição, a superexploração dos recursos, e o desmatamento que fragmenta os habitats e diminui as espécies. Segundo Neto e Cruizo (2015) esse é um fator relevante que contribui para o risco de extinção, pois espécies com baixa densidade populacional e isoladas podem não se adaptar a mudanças ambientais bem como diminuir sua variabilidade genética. O Brasil é considerado um dos países mais ricos em variedade de espécies, e possui biomas importantíssimos como a Floresta Amazônica, o Cerrado, Pantanal, com destaque para a Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro com riqueza de fauna e flora. Segundo Pimentel et al. (2015), a baixa pluviosidade, altas temperaturas e características do solo favorecem o surgimento de “florestas secas e arbustivas”. Nesse bioma, que abrange a parte centro-norte, faixa leste e sudeste do estado do Piauí, figura uma espécie vegetal conhecida popularmente como Pajaú (Triplaris guardneriana Wedd) que dada sua abundância na zona rural do município de União deu nome à localidade Folha Larga. Pajaú é uma árvore de 5 a 9 m de altura de ramas consideráveis e que possuem boa capacidade de rebrotar (PEREIRA, 2012). As flores masculinas e femininas são separadas e os frutos são facilmente disseminados pelo vento. A exuberância da floração atrai abelhas e outros insetos polinizadores. As folhas podem chegar a 18 centímetros sendo duras e ásperas, uma adaptação ao clima semiárido da Caatinga. Dentre o uso medicinal desta planta é relatado que suas folhas são empregadas para tratar hemorroidas e sua casca e raiz são usadas no tratamento da blenorragia e leucorreia. Também é uma planta pioneira, sendo, portanto, indispensável em programas de reflorestamento. Com sua boa capacidade de adaptação favorece a chegada de outras espécies tanto vegetais como animais, melhorando o aspecto do ambiente local, sendo necessária à sua conservação pela comunidade (CASTRO, 2010). Localizada no município de União-PI, a comunidade Folha Larga recebeu esse nome há cerca de 50 anos devido a considerável largura da folha da Pajaú, presente em abundância no território da comunidade à época. Porém, nos dias atuais, percebe-se uma significativa redução da população desse vegetal ocasionando certa dificuldade para o encontro de um exemplar. Diante do exposto, o presente trabalho tem por objetivo avaliar a percepção ambiental dos moradores da comunidade de Folha Larga, município de União-PI sobre a preservação da planta Pajaú (Triplaris guardneriana Wedd) e identificar os possíveis impactos causados pelos habitantes para a população desta espécie vegetal na região.

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MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo A Comunidade Folha Larga está localizada na zona rural do município de União-PI no limite com a cidade vizinha José de Freitas-PI e possui atualmente cerca de 24 famílias com a atividade econômica predominante da agricultura familiar, como o cultivo de feijão, milho, arroz mandioca e melancia, além da criação de animais e exercício de trabalhos autônomos. Os alimentos produzidos são fornecidos para a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), prefeitura, consumo interno e comunidades adjacentes. A comunidade conta ainda com a Associação dos Agropecuaristas, fundada em 2004, adquirida através de crédito fundiário, isto é, onde os moradores pagam anualmente uma quantia até o encerramento da dívida. Atualmente doze famílias são sócias e residem em uma área de 241 hectares. Conforme registros orais da senhora Maria dos Remédios Rodrigues, filha do primeiro morador, a comunidade foi fundada em fevereiro de 1959 e era denominada inicialmente como Alto da Folha Larga devido à abundância da planta Triplaris guardneriana Wedd conhecida popularmente como Pajaú. Tipo de pesquisa O presente estudo trata-se de uma pesquisa de natureza descritiva, com abordagem quantiqualitativa, para análise da percepção ambiental dos moradores da comunidade Folha Larga sobre a preservação da planta Pajaú (Tripllaris guardneriana Wedd) na referida comunidade. O instrumento utilizado para coletar os dados foi um questionário semiestruturado, com perguntas abertas e fechadas, no qual constavam dados relativos às condições socioeconômicas e conhecimentos sobre a planta em questão na região. O questionário aplicado aos moradores da comunidade Folha Larga, União-PI, abordava questões sobre existência e o quantitativo da planta Pajaú (Tripllaris guardneriana Wedd) na comunidade, a importância dela para a população e noções de conservação do meio ambiente A coleta dos dados ocorreu no mês de março de 2016, durante visita realizada em três momentos distintos, onde foram visitadas todas as famílias moradoras da comunidade, entretanto, quatro famílias estiveram ausentes durante as visitas. O questionário era aplicado ao responsável pela residência no momento da visita, e ao final da pesquisa foram entrevistadas um total de 20 famílias, a partir do qual foi feita a análise estatística dos dados usando frequência simples. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram entrevistadas 20 pessoas na comunidade Folha Larga, União-PI, sendo cada entrevistado um representante de uma das famílias visitadas. 365


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Durante a pesquisa observou-se que a idade dos entrevistados variou entre 24 e 65 anos de idade, sendo 8 homens e 12 mulheres. Quanto à profissão a maioria dos entrevistados, 75%, afirmou ser lavradores, no entanto, pode-se perceber, mesmo que apenas um indivíduo, a ocorrência de outras profissões como ajudante de pedreiro, auxiliar de britados, auxiliar de serviços gerais e agente de saúde. No tocante aos aspectos econômicos, 90% afirmam possuir uma renda de até um salário mínimo. Com relação ao tempo de moradia, nota-se que a maioria dos habitantes, 65%, residem na comunidade a um período de tempo superior a 20 anos (Gráfico 1). Gráfico1- Tempo de moradia na localidade Folha Larga, União-PI.

Com relação a escolaridade, 25% dos entrevistados relataram possuiro ensino médio completo, 70% o ensino fundamental incompleto e 5% relatam ser analfabetos. Salgado e Guido (2013) observaram números próximos de escolaridade (65%) para o nível fundamental, no entanto para as comunidades rurais a escolaridade não influencia diretamente nas informações sobre o manejo da planta, já que estes conhecimentos são transmitidos através da oralidade, de uma geração para outra. Do ponto de vista social, vale ressaltar que o baixo índice de escolaridade pode estar relacionado com as dificuldades ao acesso a escolas, principalmente para os residentes de área rural. A baixa escolaridade da comunidade pode ser uma evidência da falta de conhecimentos mais aprofundados sobre educação ambiental, conservação e manejo de espécies, podendo resultar na exploração exaustiva das espécies, vegetais e animais, de interesse à população, ocasionando problemas no equilíbrio ambiental da região (PEDRO, 2007). Sobre o reconhecimento da planta Pajaú pelos moradores,85% atestaram conhecer a planta, enquanto apenas 15% afirmaram não conhecer o vegetal pesquisado. Observou-se que o perfil daqueles que disseram não conhecer a Pajaú é predominantemente composto por mulheres com idade entre 24 e 28 anos. Isto pode estar ao fato de serem jovens mães e culturalmente estarem restritasàs atividades domésticas. Liporacci e Simão (2013) também perceberam que os homens, geralmente de idades diversificadas, possuem maior conhecimento sobre plantas nativas, enquanto apenas as mulheres mais idosas dispunham deste saber. 366


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Quanto a percepção da variação da quantidade de plantas na região, 60% dos entrevistados relataram que perceberam a diminuição da quantidade da planta na região nos últimos anos, enquanto que 15% acreditam que a quantidade aumentou e outros 15% afirmam que a quantidade desta planta na região permanece inalterada, e 10 % não souberam responder (Figura 2). Figura 2- Percepção da variação na quantidade da espécie.

Essa relação de conhecimento entre os habitantes de uma dada comunidade e as espécies vegetais com sua importância e benefícios é um dos enfoques da etnobotânica. Segundo Oliveira et al. (2009) o estudo etnobotânico atualmente alia o conhecimento cultural sobre o aproveitamento das plantas e as informações ambientais, algumas dessas práticas foram observadas durante o desenvolvimento desta pesquisa. As atividades citadas como fatores contribuintes para a diminuição da espécie foram: desmatamento e queimadas para o cultivo de cana-de- açúcar em escala industrial, construção de casas, roça, doença, pasto, curral e chiqueiros. Entre os que acreditam que a quantidade de Pajaú aumentou, é apontado o inverno como principal responsável por esse acréscimo na população da planta. Segundo Nurir (2008), a fragmentação de habitats, o desflorestamento para apropriação de terras, são apenas alguns impactos que podem causar desde a redução de algumas populações até a extinção de espécies e ecossistemas. Uma das formas para a conservação apontada pelo autor, seria o planejamento bioregional, ou seja, refere-se a uma especial atenção aos ecossistemas presenetes em um determinado espaço geográfico que compreende desde a topografia, cobertura vegetal à cultura e história dos habitantes locais. Percebe-se que os valores culturais e questões ambientais andam em conjunto. De acordo com dados do Segundo dados do Ministério da Agricultura (2010) a maior parte do cultivo de cana (Saccharum officinarum) no Brasil é destinada para a produção de açúcar, etanol e outras finalidades como alimentação animal. De acordo com o decreto 6961 de 2009 alguns critérios precisam ser observados para que se diminua o impacto ao meio ambiente; como o não plantio em áreas com cobertura vegetal nativa ou reflorestamento, áreas de remanescentes florestais, dentre outros. 367


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Conforme Ramos e Junior (2009), qualquer atividade agrícola que faça uso dos recursos naturais como água e defensivos agrícolas impactam o meio ambiente, mas esses podem ser minimizados através de ações como o planejamento da área plantada, ocupação do solo e formas de conservação para a cultura de uma dada região. Entre as desvantagens desse cultivo no meio ambiente é citada a redução da biodiversidade, pois há destruição das espécies nativas, que resulta na fragmentação da área, para possibilitar o cultivo, geralmente de uma monocultura de interesse econômico. Há uma tendència da produção industrial avançar cada vez mais sobre ecossistemas naturais, ou seja, áreas antes ocupadas por espécies nativas dão lugar ao cultivo da monocultura para atender a escala de produção global (PETERSEN et al.,2009). Entre as questões sobre partes da planta de interesse à populaçaõ e seu uso, a parte da planta mais citada entre os entrevistados foi a folha, 90% dos moradores destacaram seu benefício para conservar alguns cereais como farinha, goma, arroz, feijão e milho em cestos forrados com as folhas da Pajaú, mantendo assim as propriedades organolepticas dos alimentos. Fato semelhante foi observado nos trabalhos de Alves e Povh (2013) e Liporacci e Simão (2013), onde as folhas foram a parte da planta mais citada. Pode-se dizer que de certa forma as folhas funcionavam para os moradores da comunidade Folha Larga como embalagem. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), embalagem pode ser definido como “Acondicionamento que está em contato direto com o produto e que pode se constituir em recipiente(...)destinado a envasar ou manter, cobrir ou empacotar matérias-primas, produtos semielaborados ou produtos acabados”. Estas acompanham o ser humano desde a descoberta da necessidade de se transportar mercadorias. Inicialmente os cestos eram feitos de galhos, raizes até a produção de vasos de cerâmica e as demais formas artísticas e variáveis de materiais que temos hoje (SANTOS, 2010). Apenas um morador citou a importância da folha para a preparação de chá, indicando seu uso para o tratamento de enxaqueca, e também uma única moradora mencionou a utilização em trabalhos artísticos, no qual se aplica pintura e confecciona jarros. Isso comprova o que comenta Salgado e Guido (2008), que o conhecimento popular varia dentro dos grupos sociais inclusive até mesmo no seio da própria família e entre sexos, onde indivíduos podem variar o nível do seu conhecimento dependendo da exposição a atividades que exercem. Outra parte também citada como benefício é o fruto, que no passado era bastante consumido pelas pessoas da região. Essa utilização foi citada por dois moradores que apontavam o consumo em tempos de grande escassez de alimentos,não sendo essa prática verificada nos dias de hoje. A madeira também foi identificada como útil para a produção de pequenos reparos como portal, cabos para enxadas, e ainda para carvão, embora não de alta qualidade. Esses conhecimentos foram adquiridos através da transmissão cultural de pai para filhos por meio da observação e oralidade.

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Fig 3.Importância do vegetal na visão da comunidade

Sobre a permanência da utilização da Pajaú nos dias atuais 50% dos entrevistados responderam que a folha não é mais utilizada para guardar farinha, pois poucas pessoas produzem esse alimento e quando acontece utilizam outras tecnologias como o ensacamento. Novos conhecimentos são introduzidos nas comunidades e como são transmitidos oralmente estão bastante suscetíveis a rápidas mudanças (HANAZAKI, 2015). Com o desenvolvimento da tecnologia nas embalagens, novos materiais foram surgindo como sacolas plásticas que possuem além das funções de resguardar, facilidade de acesso no manuseio, como de apresentação do produto no caso de comercialização. O surgimento de sacolas e a diminuição da produção de farinha local, foi apontado pelos moradores mais antigos como a causa da perda quase total do uso da folha da folha da Pajaú para guarda de alimento, ficando mais restrita a algumas pessoas mais idosas na conserva principalmente da farinha, goma e feijão. Quanto aos cuidados com o meio ambiente, 85% declararam-se preocupados com a preservação da natureza e admitem que a responsabilidade de proteção dos recursos naturais é de todos, demonstrando estarem conscientes da importância de sua participação junto às ações para preservação do meio ambiente. Quando perguntados sobre quais atitudes praticavam para conservar os recursos naturais observou-se algumas variações na compreensão desses conceitos.As respostas foram diversificadas tais como: “limpa o terreno queimando lixo”, “cuida de plantas ornamentais”, “evita cortar carnaúbas novas”, “retira carnaúba que tem broto”, “não queima restos de poda, mas deixa servindo de adubo”, “corte de carnaúba deixando um espaço para brotar”, “faz enxerto de plantas frutíferas”. Percebe-se portanto, uma variação do nível de conhecimento sobre a conservação do meio ambiente. Apesar da exploração de recursos como a carnaúba e o não plantio de mudas, percebeu-se a preocupação em manter plantas jovens, e ainda na exploração de madeira para a fabricação de mourões e caibros utilizadando-se apenas de plantas que já se reproduziram. Isso 369


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reflete a opção para que as espécies se renovem de maneira natural, por que a rebrota e a germinação em solo adequado fazem parte do sistema de regeneração, permitindo a continuidade da espécie (LIMA, 2005). Ainda assim, nota-se predominantemente a ideia de exploração da natureza com poucas alternativas para conservá-la. No entanto, pode-se perceber pensamentos de sustentabilidade como nas palavras de uma moradora que ao observar abundância de frutos de jatobás sem uso abandonado no solo resolveu testar a possibilidade de se fazer carvão, bem como a análise da qualidade do fogo, percebendo que fornecia um ótimo carvão, a moradora passou a utilizá-lo em seu cotidiano. Esse é um dos grandes desafios da atualidade aliar o desenvolvimento humano à conservação da biodiversidade da flora, da fauna, da água, dentre outros recursos que propiciam a existência da vida. A diversidade biológica constitui-se todas as formas de vida e segundo Sousa e Navegantes (2015) são desde bactérias, protistas, plantas, animais e fungos onde ocorrem interaçãoes entre os seres formando o ecossistema, sendo, portanto, necessária sua conservação.A extinção de uma única planta pode ocasionar desequilíbrio nas outras formas de vida como formigas, pássaros que dela dependem. A poluição, introdução de espécies exóticas, fragmentação de habitats através do desmatamento, dentre outros fatores, ameaçam a biodiversidade (NETO; CRUIZO, 2015). Estes dois últimos foram bem perceptíveis durante a pesquisa, ainda de acordo com os autores, o desmatamento seja para fins agrícolas ou habitacionais constitui-se como um fator de risco, pois reduz a população devido a perda de habitat diminuindo a capacidade de adaptação a mudanças ambientais, tornando-se vulneráveis a extinção. Entende-se com isso que o conhecimento sobre a utilização dos recursos bem como ideias de cuidados e conservação do meio ambiente ainda precisam ser melhor divulgadas e internalizadas pela comunidade. CONCLUSÕES Através deste trabalho pode-se verificar que houve diminuição da planta Pajaú (Triplaris Guardneriana Wedd) e a causadeu-se não pelo uso superexploratório desse vegetal, mas pelo desmatamento em terrenos geralmente arrendado para a plantação da cana. Esta atividade cresceu muito nos últimos anos para cultivo dessa monocultura em terrenos antes conservados, com predominância de carnaubais e também habitat natural da planta em questão. Outra causa para o desmatamento foi a instalação de projetos habitacionais para a comunidade. Percebe-se que a ação antrópica ainda é um dos principais fatores que contribuem para a dimininuição das espécies, nesse caso a diminiuição da Pajaú é bastante perceptível tendo em vista sua abundância há cerca de 50 anos, e hoje encontra-se apenas alguns exemplares. Com essa redução nota-se que elementos culturais também vão se dispersando. Co370


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nhecimentos são dinâmicos e a cada dia novas tecnologias também chegam nas comunidades rurais, mas que não devem apagar a história e memória de um povo; essas informações precisam ser repassadas para ampliação e até mesmo geração de novos conhecimentos por meio da pesquisa científica. Entende-se que a vida humana está intrinsecamenta ligada à natureza incluindo suas características culturais que podem ser alteradas ou até perdidos pela pouca valorização das informações nativas acrescidas de uma ação antrópica sem planejamento que culmina no desequilíbrio do meio, das várias formas de vida, e consequentemente das comunidades que ali habitam. REFERÊNCIAS ALVES, Glaucieli; POVH, Juliana. Estudo etnobotânico de plantas medicinais na comunidade de Santa Rita, Ituiutaba – MG. Revista Biotemas, 26 (3), setembro de 2013 ISSNe 2175-7925. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/biotemas/article/viewFile/21757925.2013v26n3p231/25322> Acesso em abril 2016. BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Biodiversidade. Disponível em: <http://www.mma. gov.br/biodiversidade/convencao-da-diversidade-biologica> Acesso em abril de 2016. Ministério da agricultura, pecuária abastecimento. Portaria nº 280, de 20 de agosto de 2010. Disponível em:<http://sistemasweb.agricultura.gov.br/sislegis/action/detalhaAto.do?method=visualizarAtoPortalMapa&chave=1901090458> Acesso em abril 2016. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Conceito de embalagem. Disponível em: <http:// www.anvisa.gov.br/medicamentos/glossario/glossario_e.htm> Acesso em maio de 2016. CASTRO, Antônio Sérgio; CASTRO, Arnóbio Cavalcante. Flores da Caatinga Campina Grande: Instituto Nacional do Semiárido, 2010. HANAZAKI, Natália. Comunidades, conservação e manejo: o papel do conhecimento ecológico local. UAB, 2015. JUNIOR, Pereira et al. Espécies da Caatinga como Alternativa para o Desenvolvimento de Novos Fitofármacos. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/floram/v21n4/aop_floram_024212.pdf> Acesso em outubro 2015. LIPORACCI, H. S. N; Simão, D. G. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais nos quintais do Bairro Novo Horizonte, Ituiutaba, MG.Rev. bras. Plantas med. vol.15 no.4 Botucatu 2013. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-05722013000400009>Acesso em maio 2016. MACEDO, Sousa Kelle Sandra. Estudo químico e avaliação da atividade Biológica in vitro de Triplaris guardneriana Wedd (Poligonaceae). Disponível em:http://www.cpgrnsa. univasf.edu.br/uploads/7/8/9/0/7890742/disserta%C3%87ao_sandra_kelle_souza_macedo. pdf2015 Acesso em abril 2016.

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A IMPORTÂNCIA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL HERMES DE ARAÚJO FREITAS1 SHARLLA SANATANA LOPES2 RESUMO A relação empresa e meio ambiente vem construindo numa parceria, ao longo do tempo, havendo convivência baste conflitante. Portanto, os debates que ocorrem sobre a temática são de fundamental importância para o fortalecimento desse relacionamento e a cultura tem sido uma poderosa arma em favor do engrandecimento sobre o debate ambiental, visto que as pressões políticas advêm dos egressos sem o mínimo de responsabilidade, sociais e econômicas, cada vez mais, resultando em uma modificação no comportamento ambiental das empresas. Nesse conjunto, o direito ambiental vem nascendo como um formidável aliado para a obtenção de um novo procedimento e cultura ambiental empresarial, tendo exercito o papel de regulador, no processo de gestão ambiental da empresa. Urge aos novos empresários mentalizarem a necessidade de vivência comutativa entre o capital e o meio ambiente, visto que ambos necessitam sempre um do outro na sobrevivência humana. Venho no presente artigo fazer uma reflexão à consideração da seriedade da legislação ambiental para a melhora da inclusão da variável ambiental, nas táticas dos aparelhamentos, ressaltando a obrigatoriedade dos aspectos legais como um princípio básico a ser atendido pelas empresas, no caminho por uma gestão ambiental efetiva. A visão global dos problemas ambientais na maioria das vezes é muito simplista. É preciso entender quais as relações das empresas e quais os agravamentos dos mesmos. O meio sofre mudanças, mas ele também condiciona. Estamos em processo de mudanças de era, e isso ocorre (sempre) ao longo de toda a formação e envelhecimento do planeta.

PALAVRAS-CHAVE: Comportamento Ambiental. Cultura Ambiental Empresarial. Gestão Ambiental. Legislação Ambiental.

INTRODUÇÃO Um dos maiores desafios da atualidade gira em torno de encontrar soluções para questões no âmbito da problemática ambiental e para interferência do homem no meio ambiente e na sociedade, cada vez mais objetos de preocupação, interesse e de cuidados. O cenário que nos é apresentado é cheio de risco em sua esfera global, portanto, é necessário rever a educação ultrapassada de querer viver somente o momento econômico que tem regulado os padrões de desenvolvimento contemporâneos. Salienta-se a necessidade de mudar nossa consciência acerca do meio ambiente, aumentar e fortalecer o debate ambiental para reformular conceitos, não somente provocar pressões, e sim incitar novas atuações sociais e econômicas a respeito dos âmbitos empresariais para que estes alterem seu jeito de se incluir com o meio ambiente, 1

Analista de Sistema pela Universidade Federal do Piauí-UFPI, Bacharel em Sistema de Informação pela Faculdade Piauiense de Processamento de Dados-FPPD, e-mail: hermesafreitas@gmail.com.

2 Especialista em Biologia Parasitária e em Análises Clínicas. Tutora à distância do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação/NEAD/UESPI. Email: sharllalopes@hotmail. com

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evidenciando um maior empenho socioambiental por meio de medidas de gestão e domínio ambiental com evidência em táticas preventivas. Estudos ambientais apresentam dados que demonstram a necessidade de que uma nova postura seja adotada e cobrada das empresas, novas ações que primam pela integridade do meio em questão, e ações eficazes voltadas para a responsabilidade ambiental que sejam encaradas como uma questão de sobrevivência. Donaire (1999) alude que os agentes que alentam as empresas para operarem na proteção ambiental são: definição da incumbência ecológica, condições legais, preservação da empresa, figura, amparo do pessoal, aperto do mercado, condição de vida e lucro. O Princípio do Direito Ambiental aparece como um instrumento que gerência, participação no apoio à gestão ambiental e validação jurídica das atividades desses setores e na construção do processamento entre humano-ambiente visando uma relação harmoniosa resultando em sustentabilidade ambiental. O compromisso com o meio ambiente, a legislação ambiental também permite a melhoria sócio-econômica dos meios de comunicação social nessas áreas de acesso. O cumprimento das regras contidas na legislação ambiental como um meio eficaz de acesso à busca da sustentabilidade ambiental e económica do sector. Constituir gradativamente o debate sobre o tema e a consonância que a legislação ambiental torna-se, cada vez mais, primordial para as empresas que admitem um caráter responsável diante o meio ambiente, como configuração de retribuírem aos anseios da sociedade e da própria sobrevivência concorrente a partir do debate. A política ambiental ajusta evolução, sobretudo, no campo institucional - empresas governamentais de meio ambiente e legislação ambiental. No Brasil, existe um estruturalismo de leis ambientais adiantadas, contudo, de nada prosseguirá esse avanço legal se o próprio não for desempenhado desse modo, para isso é preciso reconhecer que há um disparate no aprendizado entre o direito instituído e o direito exercido, que se ajuíza negativamente a respeito da condição da gestão e da proteção ambiental. Esse desacordo na aplicação das leis ambientais e suas múltiplas causalidades é, sem equívoco, um dos fundamentais desafios na ação à degradação ambiental no país. Contudo, em um “cenário ideal” é importante ressaltar que o objetivo final das empresas não deveria se restringir apenas ao atendimento às exigências legais, e sim configurar o objetivo inicial, o ponto de partida para que se possa atingir um senso de responsabilidade. Dessa maneira, o atual artigo busca debater, a partir de uma revisão da literatura da área, os apoios da legislação ambiental para as alterações que têm sucedido na afinidade empresa e meio ambiente, procurando ressaltar o valor do cumprimento legal assim como um fator primordial na direção do procedimento de gestão ambiental. METODOLOGIA O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica. A primeira etapa para elaboração deste trabalho foi constituída pela pesquisa de publicações que abordassem os temas 374


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da gestão ambiental e responsabilidade social empresarial. Nessa pesquisa bibliográfica foram consultadas várias fontes referentes ao assunto em questão, bem como, artigos publicados na internet que possibilitaram construir a fundamentação desse trabalho. Após a pesquisa inicial, realizou-se uma triagem dos trabalhos onde foram selecionados aqueles que contivessem os dados referentes às seguintes abordagens: • Aspecto da legalidade dos atos em referência a biodiversidade e conservação do meio; • Conteúdos de conscientização de proteção e conservação do meio onde as empresas buscam o lucro sem prejudicar o meio; • Atos punitivo aos infratores; • Empresas detentoras de certificados e fomentadoras de atitudes sustentáveis. A etapa seguinte constituiu-se da análise dos trabalhos selecionados. Esta análise esteve focada em avaliar e confrontar dados a respeito do comprometimento das empresas quanto à educação e preservação do meio ambiente, que é de fundamental importância para o fortalecimento do relacionamento entre ambos. RESULTADOS E DISCUSSÃO 1.1 EMPRESAS E DIREITO AMBIENTAL Constituindo o meio ambiente a origem da humanidade e de todas as formas de vida, indispensável é a sua defesa e amparo. Prontamente, o Estado, como domínio e regulador social, necessita propiciar elementos para administrar as afinidades entre a sociedade, o meio ambiente e à economia. (OLIVEIRA, 2006). O empresário brasileiro na atualidade vem demonstrando mais consciência sobre a importância do planejamento e tomada das ações de sustentabilidade ambiental, inclusive para sobrevivência do seu próprio negócio. Há indicadores que demonstram que as empresas, de forma geral, estão mais fortemente educadas e se estruturando visando não apenas o lucro, mas também a sua sustentabilidade (OLIVEIRA, 2006). Entretanto, o processo de conscientização ambiental, como as transformações educativas e culturais, não acontece de forma imediata, demanda tempo e maturidade. Perante essa conjuntura contrária, surge o direito ambiental, espremido entre a urgência de modificação das atitudes e a demora das ações de mudança (ROCCO, 2009). Nessa situação, um dos óbices principais dessa obstinação das corporações aos aprendizados da gestão ambiental é a coerência do capitalismo empresarial, basear-se no imediatismo, na competitividade e no lucro máximo, que não vê a seriedade e os proveitos da adoção de comportamentos ambientais responsáveis, uma vez que o meio ambiente é visto como um gasto adicional desnecessário e os insumos como valor zero (ROCCO, 2009). 375


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Todavia, a lógica empresarial visa simplesmente à transferência do ônus da poluição para a coletividade, tudo isso vem sendo crescentemente repelido no cenário atual, a crise ambiental fomentada por cientistas, ambientalistas, legisladores e princípios de gestão ambiental envolvidos com a criatividade. A partir de uma visão difícil da questão, os debates atuais têm ratificado que é o ajustado das externalidades, máximos ou mínimas, que produzem as grandes e os graves conflitos ambientais que vivencia a sociedade (GONÇALVES, 2007). É esperado que as empresas mudem de conduta para que se torne possível, a partir de pressões junto aos órgãos legais e institucionais, introduzir a variável ambiental. Portanto, a partir dessas aquisições sociais de colisão global, as empresas, variavelmente em todas as partes do mundo, serão pressionadas a colocar a pauta ambiental em suas composições organizacionais, como se adaptar à legislação ambiental de seus atinentes países. Seguramente, esse é o ponto primeiro para a motivação de atos ambientais nos setores empresariais, porém, é indispensável ir além do mero cumprimento da lei, como pontuado por Gonçalves (2007), ao garantir que “o Direito Ambiental deve ser aproveitado como uma ferramenta de gestão empresarial, o qual possa originar também o bem-estar social, na ocasião e no ambiente, visando atingir a sustentabilidade”. As atuações, com tanta frequência das empresas, quanto da sociedade e, ainda, do Poder Público, com analogia às ações ambientais, encontram, na época presente, decidido apoio no Direito Ambiental, não só precisado à rica legislação disponível, porém, além disso, pelo acontecimento dos usuários dessa nova área do Direito reunir qualidades de trabalhar de forma preventiva, agindo inteiramente no procedimento de gestão das organizações, o que faz do empreendimento elemento do Direito Ambiental (GONÇALVES, 2007). 1.2 O MEIO AMBIENTE CONFORME A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA Atualmente, a maioria dos países, independentemente de situação econômica, possui uma legislação ambiental. Porém, as relações entre sociedade/natureza não são consideradas para formulação de políticas públicas (GONÇALVES; ALVES, 2003). A respeito da criação de leis ambientais brasileiras, fora os registros coloniais, a literatura tem como base o período Vargas, instituindo-se no Brasil, em 1934, os Códigos: de Florestas, de Águas e o de Minas, todos abordando as finalidades prioritários de conduzir o ingresso e uso dos recursos naturais, fazendo cenário aos procedimentos de industrialização e urbanização da coletividade brasileira (CUNHA; COELHO, 2008; MONOSOWSKI, 1989). A temporada pós 70, que marca a presente questão ambiental no Brasil, oferece a formulação de um corpo legal mais preparado e, apesar de ainda marcado pelas motivações desenvolvimentistas, apresenta outros alcances provenientes do debate ambiental interno e universal que então se assegurava e desenvolvia (OLIVEIRA, 2006). Igualmente, a empresa, fundamentada em princípios constitucionais e necessariamente éticos, precisa agir de modo a exercer influência sobre as estruturas sociais, políticas, econômi376


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cas e ambientais de uma sociedade possuindo, desse modo, uma função socioambiental estabelecida na Constituição (OLIVEIRA, 2006). Para Rocco (2009), as políticas públicas ambientais brasileiras editadas nos últimos períodos, especialmente após a vigência da Constituição Federal de 1988, assinalam para um padrão descentralizado de gestão ambiental, nele compreendidos no governo, sociedade e grupos econômicos. Outra normatização ambiental respeitável é a Lei de Crimes Ambientais de 1998 (Lei n° 9.605), que, segundo Kleba (2003) “contém uma decorrência preservar de extrema importância”. O Código das Cidades de 2001 e a atual Política Nacional de Resíduos Sólidos, ratificada em 2010, igualmente fazem parte desse amplo aparato jurídico. De certa maneira, a legislação ambiental brasileira surge crescentemente se modernizando com a finalidade de completar os espaços viventes e contribuir para a redução dos impactos ambientais (SAMPAIO, 2010). A empresa tem o compromisso além do fazer, deve transparência ao seu grupo de Stakeholders (acionistas, clientes, famílias, governo, investidores, sindicatos, em meio a outros). Toda empresa é constituída de homens que se responsabilizam pelas suas decisões de como utilizar os recursos naturais na produção econômica, porém essas ações afetam a vida de diferentes homens que estão sujeitos dos recursos naturais à sua subsistência, de forma repetitiva o homem que investir contra a natureza advém a ser vítima de sua conveniente decisão. Em relação à organização, muitas empresas não se adaptaram às ações ambientais sugeridas, pois muitos administradores ainda não se deram conta de que o amparo ao meio ambiente é um objetivo empresarial importante a ser alcançado. A empresa para que tenha uma gestão eficiente, deve ter entre suas metas reconhecer que a questão ambiental está entre as prioridades fundamentais da empresa e constituir políticas, programas e aprendizados na ampliação das operações que sejam apropriados ao meio ambiente. 1.3 EMPRESA E MEIO AMBIENTE Por muito tempo um forte desejo de fazer a agenda pública nacional e internacional e, especialmente, para se concentrar nas constituições dos Estados democráticos constitucionais uma lição de cidadania perante a preservação do meio ambiente e os seres humanos expressam seu direito de viver e desfrutar de um ambiente verdadeiramente saudável e limpo (HERMANNS, 2005). Assim, a preservação do meio ambiente e da cidadania carece da articulação de um conjunto de atividades e agentes sociais que incluem a educação em seus diferentes significados: o meio ambiente, ética e a política; governo e empresa privado de gestão ambiental e planejamento, informação e meios de comunicação, política e pesquisa científica, sistemas de produção e consumo, e desenvolvimento como uma coordenação multidimensional de um projeto nacional um acordo entre todos os setores da vida de um país (OLIVEIRA, 2006). Este conjunto de ações vai determinar a participação democrática e a colaboração das áreas sociais que represen377


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tam o estado, a sociedade civil e do setor produtivo (THEODORO, 2004). A importância da crise ambiental, o poder do Estado e do crescimento de movimentos sociais levaram à institucionalização das leis e constituições administrativas. Neste contexto, existem leis ambientais como instrumentos apropriados que orientam à adequação empresarial para preservação da natureza, de modo a evitar o desgaste dos recursos naturais e redução de impactos negativos ao ambiente (MIRANDA, 2010). Embora a legislação ambiental de hoje tenha um papel claro na transição de um ambiente reativo é um código positivo, prevenção progressiva e comportamento voluntário de outras forças além das leis que atuaram, a adoção de medidas protetivas à natureza é hoje uma vantagem competitiva para as empresas. No entanto, a legislação ambiental será sempre um passo essencial no processo do ambiente de negócios de gestão, as empresas proativamente consideradas como agindo (SOUSA, 2002). Dado o tema e o grau de dificuldade, no entanto, eles não tendem a uma projeção futura de complacência. Em vez disso, deve-se monitorar o grau de participação nas indústrias e empresas, tendo em conta os progressos na capacidade de regulação governamental ambiental, os custos para os movimentos de consumidores e sociais, as práticas de eficiência publicidade corporativa e sua própria diferenciação interna em pequenas, médias e grande porte, nacionais e multinacionais. A terra é um recurso finito, então a abordagem unidimensional não é sustentável. A necessidade de se compreender que os recursos naturais não são bens infinitos é importante para garantir as condições de sobrevivência de ambos os aparelhamentos e para todos os seres. CONCLUSÃO Pode-se concluir que a legislação ambiental é um meio adequado e eficaz para reduzir os conflitos entre a empresa e meio ambiente, mas não o suficiente. A partir do exposto, é necessário mudar a cultura corporativa para que a dimensão ambiental possa ser verdadeiramente integrada. Este processo de transformação é influenciado por diversos fatores, interno e externo, incluindo entre eles o direito ambiental, que ocupa uma posição de destaque. Através dos dados levantados é possível perceber que o senso da responsabilidade social empresarial está cada vez mais presente nas organizações e, além disso, torna-se cada vez mais notado e requerido ou solicitado com retidão e rigor pela sociedade. Salienta-se que para a empresa não deve bastar apenas o lucro econômico, é necessário atentar para o todo: acionistas e demais partes interessadas, empregados, clientes, fornecedores, mídia, sindicatos e governo, pois haverá uma maior exigência do mercado que busca a transparência social das organizações.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: REUTILIZAÇÃO DE PNEUS E GARRAFAS PET NA ESCOLA GINÁSIO MUNICIPAL ANTÔNIO INÁCIO DE OLIVEIRA KARLIANE MARIA ALVES DE SOUSA1 SHARLLA SANTANA LOPES2

RESUMO Os problemas de poluição do ar, da água, o aumento de resíduos sólidos como pneus e garrafas PET e as doenças que o acúmulo desses materiais no meio ambiente podem causar, sensibilizam cada vez mais as pessoas, as empresas e até mesmo os governos para os efeitos do uso indevido de produtos que causem danos à natureza. Os custos para recuperação de áreas ambientalmente degradadas são elevados e torna-se mais barato preservar do que regenerar danos ambientais. Pensando nisso observou-se a necessidade da implantação do projeto “Pintando o sete” onde foram feitas oficinas de reciclagem de pneus e garrafas PET para a produção de um parque-jardim ecológico na escola Ginásio Municipal Antônio Inácio de Oliveira, Altos-PI, através da coleta de pneus e garrafas PET sem uso. Um total 80 estudantes participaram do projeto Pintando o Sete. Como resultado do questionário aplicado antes do projeto, a maioria dos estudantes não sabia o que significava garrafa PET, quais os impactos gerados por ela quando descartada incorretamente ou o que era reutilização de garrafas PET. Apenas 10% já havia feito algum objeto reutilizado com garrafas PET, enquanto que em relação aos pneus, esse percentual foi de 100%. Após a realização da oficina observou-se que os estudantes consideram relevantes as atividades propostas, visto que 99% deles responderam ser muito importante a reutilização das garrafas PET para o meio ambiente e para uma vida sustentável. O projeto Pintando o Sete proporcionou aos estudantes a visualização dos malefícios resultantes da destinação incorreta de resíduos e a valorização da prática de reutilização, assim o projeto contribuiu para a formação dos alunos na escola enquanto cidadãos sustentáveis.

PALAVRAS-CHAVES: Pneus. PETs. Meio Ambiente. Reciclagem.

INTRODUÇÃO A preocupação das autoridades e das grandes indústrias com a destinação de pneus e de garrafas PET vem aumentando ao passar dos anos em função da pressão da sociedade e da definição legal de que as unidades produtoras sejam as responsáveis pela destinação adequada dos resíduos gerados. É necessário encontrar maneiras ambientalmente corretas para que não ocorra o descarte indevido dos resíduos, assim é de suma importância a reutilização e a reciclagem destes, fazendo com que não ocorra uma destinação indevida e a degradação do meio ambiente. No Brasil, o gerenciamento adequado dos resíduos sólidos urbanos constitui um dos grandes desafios enfrentados pelos municípios devido aos aspectos sanitários, ambientais e econômicos envolvidos (CIMINO; ZANTA, 2005). Para a sociedade apesar de ser bastante útil desde sua geração o pneu é um problema para o meio ambiente, somente nos anos 90 após o aumento cada vez mais crescente das frotas de automóveis foi que o Brasil tomou conta dos impactos ambientais causados pelo descarte inadequado desse tipo de resíduo. Quando atingi seu desgaste total o pneu torna-se inservível e 1 Bióloga graduada na UESPI, pós graduada em Gestão e Educação Ambiental pela ECOSERVE e-mail: karlianeal-

ves91@gmail.com 2 Especialista em Biologia Parasitária e em Análises Clínicas. Tutora à distância do curso de Especialização em Biodiversidade e Conservação/NEAD/UESPI. Email: sharllalopes@hotmail.com 383


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por ser um material de demorado processo de decomposição ele não pode e ser descartado de forma inadequada no meio ambiente no meio ambiente. Visto isso já há uma grande preocupação das autoridades, pois além de danos ambientais a disposição aleatória no meio ambiente em geral causa problemas de saúde pública, já que os pneus são abrigos perfeitos para o desenvolvimento de mosquitos causadores de vários tipos de doenças endêmicas, como a dengue. As Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente traz alguns procedimentos e metas para os pneumáticos inservíveis, tais como prazos e quantidades para coleta e disposição final (CONAMA, 2009). A grande parte dos pneus atuais é feita de 10% de borracha natural (látex), 30% de petróleo (borracha sintética) e 60% de aço e tecidos (como a lona) que serve para aumentar e fortificar ainda mais a sua estrutura. Os pneumáticos foram inventados em 1845, após o processo de vulcanização da borracha ser descoberto pelo norte-americano Charles Goodyear após ele deixar cair enxofre e borracha no fogão. Os pneumáticos substituíram as rodas de ferro e madeira, usadas em carruagens e carroças. A borracha é mais resistente e durável, absorve melhor os impacto das rodas com o solo, o que tornou o transporte mais confortável e funcional. (CAMARGO, 2008). A borracha usada na fabricação de pneus, é obtida da seiva da seringueira, uma árvore amazônica, que ganhou o mundo, pois tem uma acelerada adaptação. A seringueira foi plantada com sucesso nas florestas tropicais da Ásia. No Brasil, grande maioria da borracha produzida de forma industrial é utilizada para fabricação de pneus, cerca de 70% da produção. Ela pode também ser utilizada para a produção de calçado, luvas cirúrgicas e preservativos, instrumentos cirúrgicos, como tubos, seringas e vários outros produtos farmacêuticos. Para sua extração são feitos pequenos cortes superficiais no caule da árvore, através dos quais o látex é captado. Depois de sua coagulação e secagem, este material é aquecido e posteriormente processado com outras substâncias químicas, transformando-se em borracha. (CLAVELARIO, 2012). Em um estudo feito pela Universidade de Vrije, na Holanda, foi descoberto que diariamente fabrica-se 2 milhões de novos pneus no mundo Segundo Camargo (2008) O que gera uma produção anual de 730 milhões de pneus (janeiro/1999). E hoje são transformados em sucata 800 milhões de unidades por ano. Outro material que tem impactado negativamente o meio ambiente é o politereftalato de etileno, ou PET, um polímero termoplástico criado em 1941 pelos químicos britânicos John Rex Whinfield e James Tennant Dickson. Em 1973, Nathaniel Wyeth desenvolveu a primeira garrafa PET com o advento do processo de injeção e sopro. No Brasil, as embalagens PET começaram a ser usadas pela indústria apenas a partir da década de 1980 (CARVALHO, 2004). A garrafa PET demora cerca de 400 anos para decompor de forma natural no meio ambiente, sem interferência humana A reutilização ou reciclagem evita que ela seja dispensada de forma inadequada no meio ambiente, pois quando descartada inadequadamente causa impactos como a poluição de rios, demais corpos hídricos e do solo, além da possibilidade de sobre carregar aterros sanitários (PINTO, 2012). 384


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De um modo geral a preocupação com a reciclagem não se trata de uma novidade. A Resource Conservationand Recovering Act (RCCA), que em português significa: Lei de Recuperação e Conservação dos Recursos. Já existe nos Estados Unidos, desde o final da década de 60, que é uma política nacional para a administração correta e reciclagem de resíduos sólidos, no Brasil infelizmente o Programa Nacional de Reciclagem ainda não saiu do papel, segundo a lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, que prevê que até 2015, 20% dos resíduos sejam reaproveitados (JURAS, 2005). Atualmente há a necessidade de preservação e conservação do meio ambiente, visto que a partir da reutilização de materiais e educação ambiental, é possível desenvolver uma sociedade sustentável. A reutilização seja de pneus ou de PETs como de vários outros materiais gera uma série de importantes benefícios sociais. Em primeiro lugar, trata-se de um comportamento que aumenta a consciência ecológica na comunidade formando cidadãos e promovendo o desenvolvimento sustentável, além de se tratar de atitudes simples, como por exemplo, o trabalho voluntário de coleta seletiva em uma comunidade, aproximando cidadãos. A reutilização do PET para produção de hortas e objetos decorativos tem sido totalmente viável, visto que os materiais produzidos são de boa qualidade e de fácil confecção para os participantes do projeto, apesar de serem apenas crianças e adolescentes (CARVALHO, 20004; MARSURA e SILVEIRA, 2010; SOUSA, 2012). A educação é fundamental para mudanças nos seres humanos, mesmo que de forma lenta e inconsciente a sua consequentemente na humanidade é de estrema importância para manter o planeta com recursos para as gerações futuras. Observa-se a importância do desenvolvimento de trabalhos e projetos que abordem a temática da educação ambiental e sustentabilidade no ambiente escolar. Philippi Jr (2004) indaga que a educação é a transformação do indivíduo que ao transformar-se, transforma o seu redor, e para Castro e Canhedo Jr. (2005), considera a parte mais importante da educação ambiental o revolvimento de problemas ambientais do entorno dos alunos como elemento de maior importância na construção da sociedade sustentável. Diante do exposto, executou-se este trabalho com o objetivo de realizar o projeto Pintando o Sete, a fim de reduzir os resíduos sólidos (pneus e garrafas PETs) descartados de forma inadequada, pela população do entorno da escola Ginásio Municipal Antônio Inácio de Oliveira em Altos-PI e das famílias dos alunos, reutilizando garrafas PET e pneus de borracharias próximas a escola para a produção de um parque-jardim ecológico na escola, além de incentivar a cultura da reutilização de materiais e levar para a comunidade através de oficinas e palestras um modo de vida sustentável. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo O estudo foi realizado na escola Ginásio Municipal Antônio Inácio de Oliveira, localizado no bairro Conjunto Ludgero Raulino, BR 343, município de Altos-PI, nos meses de março e 385


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abril 2016. A escola não possuía nenhum programa voltado exclusivamente para a reutilização dos resíduos sólidos. Em seu entorno existe um grande número de borracharias que descartam de forma inadequada os pneus ditos como improdutíveis ou inutilizáveis estes acabavam sendo descartados de forma inadequada juntamente com outros resíduos podendo causar prejuízos enormes a saúde pública, como epidemias de doenças, e ao meio ambiente. Além do trabalho com pneus descartados, optou-se no projeto por trabalhar também com a reutilização de garrafas PET, visto que na cidade observa-se que seu descarte é feito de forma inadequada. Tipo de Pesquisa e Público alvo Trata-se de uma pesquisa experimental, no qual foi desenvolvido um projeto chamado Pintando o Sete, juntamente com outros professores da escola e com os alunos nas disciplinas de artes e ciências do 6º e 9º ano, do turno da manhã, somando um total de 80 alunos envolvidos. O projeto Pintando o Sete é um trabalho de reciclagem e reutilização de pneus e garrafas PET abordando os princípios contidos na resolução CONAMA 199 e da educação ambiental sobre resíduos, onde os alunos coletaram garrafas e pneus no entorno da escola e em suas residências e, com a ajuda dos professores, produziram um parque ecológico na escola Ginásio Municipal Antônio Inácio de Oliveira. Etapas do projeto Pintando o Sete O projeto se formulou em sete etapas. Na abordagem qualitativa realizou-se as seguintes etapas, expostas na Tabela 1, levando em consideração o planejamento, processo e o produtor a ser adquirido. Tabela 1- Etapas do projeto Pintando o Sete da escola Ginásio Municipal Antônio Inácio de Oliveira em Altos-PI.

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Levantamento bibliográfico e revisão de literatura

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Planejamento

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Seleção das turmas

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Aplicação de questionários para os alunos

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Aulas expositivas dialogadas

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Coleta do material

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Realização de oficina e montagem do parque ecológico e aplicação do segundo questionário Fonte: SOUSA, 2016.


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Primeiramente, para que fossem confeccionados produtos de qualidade, foi realizada uma pesquisa mais aprofundada sobre a constituição e resistência dos materiais que seriam utilizados. Em seguida, aplicou-se um questionário com o objetivo de diagnosticar o que, desde já, era de conhecimento dos alunos sobre os materiais objeto do projeto e sobre meio ambiente. Após identificar as problemáticas foi realizado um ciclo de aulas e palestras com os alunos sobre a importância da reciclagem da garrafa PET e dos pneus para o meio ambiente e para as gerações futuras. Após esta sensibilização dos alunos, estes foram orientados a coletar as garrafas e os pneus em suas residências e áreas próximas à escola para armazenamento de todo o material obtido e organização de uma oficina de montagem e para a produção de um parque-jardim ecológico na escola. Na parte prática das oficinas foram apresentados aos alunos diversos objetos que podem ser confeccionados com a reutilização das garrafas PET e de pneus. Foi então realizado o resgate de pneus em borracharias e/ou pneus jogados em terrenos, na natureza ou disponível nas casas dos alunos (Figura 1). Após a coleta, eles foram limpos e realizou-se furos nestes para evitar o acumulo de água. Quanto às garrafas PET, foi solicitado aos alunos que levassem e armazenassem o material coletado na sala dos professores na escola. No dia anterior à oficina, os alunos foram orientados a levarem para a escola materiais como tesouras, areia e madeira. As tintas foram compradas pela professora, anteriormente foi pedido aos alunos uma contribuição de dois reais /aluno para a compra de tintas e pinceis (Figura 2).A etapa seguinte foi a pintura, realização de recortes e o preenchimento dos pneus com terra, permitindo o plantio de flores e mudas de verduras.

Figura 1- Pneus de automóveis e motocicletas coletados nas borracharias do entorno da escola

Figura 2- Materiais utilizados para a pintura dos pneus e garrafas PET do parque ecológico

Fonte: SOUSA, 2016. Após o planejamento do local onde ficaria o parque-jardim ecológico na escola, o mesmo começou a ser montado. Criando um espaço acolhedor e revitalizado para os alunos e bastante valorizado já que foram eles que fizeram. No parque-jardim foi criado um jardim, uma horta e alguns brinquedos com pneus e garrafas PET. Para diagnosticar qual foi o impacto que as oficinas causaram na vida destes alunos e a impressão destes em relação à reutilização de garrafas PET e dos pneus através da confecção

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dos objetos, foram aplicados questionários, antes e depois da oficina, a todos os alunos que participaram do projeto Pintando o Sete. O questionário anterior à oficina continha três questões fechadas, com alternativas de sim ou não, com as seguintes perguntas: • Você sabe o que significava PET? • Você sabe o que é reutilização de garrafas PET? • Você já havia feito algum objeto reutilizado de pneus ou garrafas PET? Depois da oficina de reutilização e reciclagem de PETs e pneus, aplicou-se um novo questionário formado com três questões fechadas, com as seguintes perguntas: • Você considera importante reutilizar garrafas PET e pneus? • Você gostou dos parques ecológicos produzidos com PET e pneus? • Você aprendeu alguma coisa importante com a oficina de reciclagem de pneus e garrafas PET? Após a aplicação dos questionários, foi feita a consolidação das respostas e a análise estatística usando frequência simples. RESULTADOS E DISCUSSÃO No total 80 estudantes responderam ao questionário. Na avaliação antes da oficina, a grande maioria dos estudantes, 80%, não sabia o que significava garrafa PET e quais os impactos gerados por ela quando descartada incorretamente (Gráfico 1), enquanto somente 20% dos alunos responderam que conheciam alguma forma de impacto causado ao meio ambiente gerados por estes materiais. Gráfico 1- Porcentagem de alunos e o conhecimento do significado do termo PET

Fonte: SOUSA, 2016 388


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A disposição inadequada de pneus em desuso pode resultar em consequências preocupantes para a população e para o ambiente, entre eles o acúmulo de água parada, contribuindo para a criação de foco de mosquitos transmissores de doenças, e a poluição do ar quando realizada a queima deste material. A garrafa PET pode causar poluição de diversas formas e nos mais diversos ambientes, dependendo da maneira que é descartada, podendo ser facilmente observados em acúmulos nas ruas, terrenos baldios, leitos de rios, valas, encosta de morros e outros locais impróprios, prejudicando a população local e o próprio espaço habitado (FINCO, 2005). Os plásticos podem ser classificados de acordo com as características que apresentam; o PET é considerado termoplástico e é extremamente usado. É, visivelmente, o mais encontrado nas garrafas de refrigerante. Esse plástico alcançou grande espaço nos projetos ambientais devido ao seu material ser maleável, de fácil acesso, podendo ser trabalhado nas diversas classes sociais, e a facilidade de reutilização do material por completo, podendo ser reutilizado desde o fundo da garrafa até a tampa (SOUSA et al., 2012). Quando questionado aos estudantes se eles sabiam o que era reutilização de garrafas PET, 15% deles responderam que sim e 85% responderam que não (Gráfico 2). O conceito de reciclagem é extremamente amplo e não pode ser considerada apenas uma forma de reuso (PINTO, 2012). Gráfico 2- Porcentagem de alunos quanto ao conhecimento sobre a reutilização de garrafas PET

Fonte: SOUSA, 2016.

O PET é o melhor e mais resistente plástico para fabricação de garrafas, frascos e embalagens, pois proporciona alta resistência mecânica e química. Cerca de 40% desse material é reciclado, mas muitas vezes vão parar em lugares inapropriados (ABIPET, 2010). Segundo Marsura e Silveira (2010) o reaproveitamento ou a reutilização consiste na transformação de certo material já beneficiado em outro. Esta reutilização é uma das formas de minimizar os impactos causados pela excessiva quantidade de garrafas PET descartadas no 389


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meio ambiente, ajudando a garantir o que o artigo 225 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1998 estabelece: “Todos têm direito ao meio ambiente, ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988). A minoria dos estudantes, apenas 10%, já havia feito algum objeto reutilizado com garrafas PET, enquanto que em relação aos pneus, 100% dos estudantes afirmaram nunca ter feito reutilização de pneus usados (Gráfico 3). Gráfico 3- Porcentagem de alunos quanto à reutilização de garrafas PET e pneus

Fonte: SOUSA, 2016.

Depois da oficina de reciclagem pode-se perceber que a grande maioria dos estudantes considerou relevante a reutilização das garrafas PET, pois 99% dos estudantes responderam ser muito importante a reutilização das garrafas PET para o meio ambiente e para uma vida sustentável e somente 1% dos alunos responderam que não a reutilização não era importante (Gráfico 4). Mundialmente, hoje, temos um grande problema, devido à sociedade moderna estar mais voltada aos produtos industrializados/prontos, resultando no acúmulo de lixos excessivos de lixo em lugares impróprios: depositados nas ruas, avenidas, rios e lagos, sem a menor coleta e seleção, ou seja, separação dos materiais potencialmente recicláveis. Infelizmente esses lixos podem geram uma série de problemas ambientais relacionados ao comprometimento da saúde da população. Tais problemas podem acontecer devido à contaminação do solo, do ar e da água; proliferação de agentes que provocam doenças; enchentes; degradação ambiental; entupimento de redes de esgoto, entre outros. (PIATTI, 2005).

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Gráfico 4- Porcentagem de alunos quanto à importância da reutilização de garrafas PET e pneus

Fonte: SOUSA, 2016.

Trabalhar o conceito dos 3Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) e a importância de internalizar tais conceitos adotando-os em nossa vida é imprescindível na formação de cidadãos ambientalmente conscientes. Os 3Rs implicam em: • Reduzir: estimular o cidadão a reduzir a quantidade de resíduos que gera através do reordenamento dos materiais utilizados no seu cotidiano, combatendo o desperdício que resulta em um ônus ao poder público e consequentemente para o contribuinte. • Reutilizar: reaproveitar os mesmos objetos para diversos fins. • Reciclar: transformar os materiais inúteis em novos produtos ou matérias primas de forma a diminuir a quantidade de resíduos, poupar energia e recursos naturais valiosos. De acordo com Mano et. al (2010), antes do descarte do lixo, deve- se avaliar o seu potencial de redução, reutilização e reciclagem, pois seguindo esta sequência o resultado alcançado será inevitavelmente a redução dos resíduos gerados, e somente através de um monitoramento e da adoção de medidas que visem a redução do impacto ambiental gerado por estes resíduos é que o meio ambiente se beneficiará estaremos um passo mais próximo do conceito de sustentabilidade. Diversos objetos foram confeccionados para a produção do pequeno parque-jardim ecológico na escola, o que proporcionou aos alunos além do desenvolvimento de habilidade manuais e artísticas, eles também aprenderam com a oficina de reciclagem Pintando o Sete a valorizar a natureza e o ambiente em que vivem, tendo sido relatado por eles vantagens proporcionadas pelo projeto como: melhoria do mundo, a limpeza do meio ambiente, produção de objetos/brinquedos e menos poluição. O que mostra que conseguiram absorver o conhecimento passado durante a oficina, onde começaram a visualizar os malefícios resultantes da destinação incorreta dos resíduos e a valorizarem este quando utilizado corretamente, especialmente a partir da prática de reutilização (Figuras 3 e 4). 391


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Figura 3- Etapas de produção do Parque ecológico da escola Ginásio municipal Antônio Inácio de Oliveira em Altos-PI. Fonte: SOUSA, 2016.

Figura 4 - Horta vertical de garrafas, jardins de pneus, estacionamento de bicicletas, regador e amarelinha do jardim ecológico produzidos por alunos escola Ginásio Municipal Antônio Inácio de Oliveira em Altos-PI

Fonte: SOUSA, 2016.

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O conhecimento pode vir de várias formas, como através de palestras, oficinas e projetos, que envolvam os alunos com temas atuais e de importância para sua vida, pois é papel da sociedade em geral, mas principalmente da escola a formação do indivíduo para a preservação/ conservação ambiental e sustentabilidade. As escolas devem introduzir a sustentabilidade na educação dos jovens como uma maneira diferente de olhar para o planeta e para o futuro, de uma forma mais consciente. Ao realizar projetos que visam o desenvolvimento sustentável, a educação formal compromete-se com o meio ambiente, a sociedade e com o futuro. A ideia é que, desde pequenos, as crianças aprendam a valorizar os recursos naturais e um modo de vida com hábitos mais saudáveis. De acordo com os resultados observados durante o desenvolvimento do projeto e após a conclusão do mesmo, constataram-se a viabilidade e a relevância da reutilização/reciclagem de materiais, como garrafas PET e pneus, como estratégia para se abordar assuntos referentes à educação ambiental, promovendo a criação de novos bens de consumo e evitando o descarte de materiais que a princípio iriam para ao lixo. CONCLUSÃO O projeto Pintando o Sete, que promoveu a revitalização da área de lazer da escola Ginásio Municipal Antônio Inácio de Oliveira, contribuiu para a formação dos alunos da escola enquanto cidadãos sustentáveis, e a formação de multiplicadores de conhecimento dentro de seu meio de convívio, atingindo outras pessoas e as incentivando a praticar ações sustentáveis. A reutilização de PET e pneus pode ser utilizado como alternativa de educação ambiental, integrando alunos de séries e idades variadas, bem como professores de áreas distintas na realização de um projeto interdisciplinar e com uma abordagem voltada para a educação ambiental, resultando em uma interação positiva durante as oficinas e no comprometimento dos alunos com a conservação da natureza.

REFERÊNCIAS ABIPET - Associação Brasileira de Indústria do PET. Resina PET - O que é PET?Disponível em:<http://www.abipet.org.br/index.html?method=mostrarInstitucional&id=81> Acesso em 23 de março de 2016. BRASIL.CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, de5 de outubro de 1988. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1990. CAMARGO, M. Y. Processo de Fabricação do Pneu. Disponível em: <http://www.ebah. com.br/content/ABAAAAH98AJ/processos-fabricacao-pneu> Acesso em12 de abril de 2016. CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004. 393


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LEVANTAMENTO FLORISTICO E CARACTERIZAÇÃO DAS ESPÉCIES UTILIZADAS NA ARBORIZAÇÃO DA PRAÇA DO CONJUNTO PLANALTO URUGUAI NO BAIRRO VALE QUEM TEM ZONA LESTE DE TERESINA LAILTON DA SILVA FREIRE1 SHARLLA SANTANA LOPES2 RAFAEL MARQUES DA SILVA³ RESUMO

O reconhecimento das espécies vegetais urbanas é importante para o plano de arborização que valorize os aspectos paisagísticos e ecológicos com a utilização principalmente de espécies nativas. Dessa forma esta pesquisa teve por objetivo realizar o levantamento florístico e caracterizar as espécies utilizadas na arborização da praça do conjunto Planalto Uruguai no bairro Vale Quem Tem zona leste de Teresina. Foi realizado o inventário arbóreo das espécies estabelecendo a classificação botânica quanto à família e espécies exóticas e nativas local de estudo através do senso total. A maioria das árvores catalogadas nessa pesquisa foi plantada pela própria população utilizando espécies de copas frondosas e produtoras de frutos comestíveis. A espécie Manguifera indica representou a maioria (34,93%) dos exemplares arbóreos, seguidas da Anacardium occidentale (15,06%) e da Azadirachta indica A. Juss. (7,54%). Houve predominância de espécies de origem nativa da família Fabaceae. A maioria das espécies caracterizadas nessa pesquisa por suas características botânicas são recomendadas na arborização urbana e na recuperação de áreas degradadas.

Palavras-chave: Arborização Urbana. Levantamento Florístico. Espécies Nativas.

1 INTRODUÇÃO O crescimento desordenado dos centros urbanos gerou uma condição de artificialidade em relação às áreas verdes naturais e com isso acarretando vários prejuízos à qualidade de vida dos habitantes. Porém, parte desses prejuízos pode ser evitada pela legislação e controle das atividades urbanas e outra parte amenizada pelo planejamento urbano, ampliando-se qualitativa e quantitativamente a arborização de ruas e as áreas verdes. O planejamento da arborização urbana, sobretudo em praças públicas é fator preponderante para o desenvolvimento humano uma vez que é acessível à grande parcela da população (LIMA NETO et al., 2007). Nessa condição é imprescindível o estudo e reconhecimento das espécies vegetais urbanas, a fim de realizar o inventario das espécies visando um plano de arborização que valorize os aspectos paisagísticos e ecológicos com a utilização, principalmente, de espécies nativas. 1

Licenciado em Geografia e Especialista em Gestão Ambiental pela Universidade Estadual do Piaui; Especialista e Biodiversidade e Conservação. Tecnólogo em Alimentos pelo Instituto Federal do Piaui. Mestrando em Alimentos e Nutrição pela Universidade Federal do Piaui. E-mail: lailton.f@hotmail.com. ² Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí – UFPI; Especialista em Biologia Parasitária e em Análises Clínicas.

2 ³ Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Piauí, Especialista em Gestão e Educação Ambiental. 397


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É sabido que a arborização apresenta uma série de benefícios socioambientais capaz de melhorar a qualidade de vida da população seja na saúde física ou metal. Arborizar uma cidade é mais que apenas plantar árvores, a arborização passa a ser vista como importante elemento natural reestruturador do espaço urbano aproximando condições ambientais da relação habitante meio urbano (RIBEIRO, 2009). Arborização urbana é toda cobertura vegetal de porte arbóreo presente nas cidades e ocupa três espaços distintos: as áreas de livre circulação pública e potencialmente coletivas, as áreas particulares e o acompanhamento do sistema viário (EMBRAPA, 2000). Além das funções paisagísticas a arborização urbana proporciona benefícios como a purificação do ar pela fixação de poeiras e gases tóxicos presente nas cidades, pela reciclagem de gases através da fotossíntese, melhoria do microclima, retenção de umidade do ar e do solo e pela geração de sombra evitando incidência direta dos raios solares, redução da velocidade dos ventos, influencia no balanço hídrico, abrigo para a fauna, propiciando uma variedade maior de espécies, o que influencia positivamente ao ambiente, pois propicia maior equilíbrio das cadeias alimentares e diminuição de pragas e agentes vetores de doenças e amortecimento de ruídos (EMBRAPA, 2000). Diante dos benefícios advindos da arborização urbana, a função de atenuação da temperatura e melhoria na sensação térmica tem sido talvez a mais importante principalmente na cidade de Teresina onde as características geográficas naturais desse sítio urbano como proximidade com a linha do equador (onde é grande a incidência de raios solares durante todo o ano), baixas cotas altiméticas e por estar a barlavento da serra da Ibiapaba (que dificulta ou impede a passagem de grande quantidade de ar úmido vindo do litoral leste da região nordeste do Brasil) tem proporcionado uma temperatura naturalmente elevada. E como se não bastasse as características geográficas da cidade, há também as intervenções humanas como a impermeabilização do solo com calçamento, asfaltamento e concretagem, a verticalização dentre outros motivos responsáveis pela elevação mais ainda da temperatura. Esses fatores são sem dúvida o reflexo do crescimento e desenvolvimento econômico das cidades. Portanto mais do que nunca a arborização e a presença de maior número de áreas verdes em Teresina é uma forma imediata para amenização da sensação térmica na cidade bem como suas diversas outras importâncias. É de suma importância discutir e analisar o papel da arborização urbana para um melhor aproveitamento dos espaços não edificados da cidade, melhorando assim a qualidade de meio ambiente. Para tanto, se faz indispensável à efetivação da política de pesquisar e estudar como a arborização das vias, praças e parques urbanos pode preencher corretamente o espaço da cidade, para depois se proporem medidas adequadas à melhoria funcional e estética destas áreas. A questão da arborização urbana é sempre o reflexo da relação entre o homem e a natureza, e pode ser vista como uma tentativa de ordenar o seu entorno com base em uma paisagem natural. O modo como ela é projetada e construída reflete uma cultura, que é o resultado da observação que se tem do ambiente e também da experiência individual ou coletiva com relação a ele (BONAMETTI, 2001). 398


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Diante desses pressupostos, o objetivo geral dessa pesquisa foi realizar o levantamento florístico e caracterizar as espécies utilizadas na arborização da praça do conjunto Planalto Uruguai no bairro Vale Quem Tem, zona leste de Teresina. Para tanto foi realizada o inventário arbóreo das espécies utilizadas no local da pesquisa, estabelecendo a classificação botânica quanto à família e em espécies exóticas ou nativas, bem como caracterizando algumas espécies encontradas partindo das necessidades encontradas para planejar uma arborização que se ajuste ao clima e aos espaços físicos disponíveis e adequados a essa finalidade. 2 METODOLOGIA 2.1 Descrição da área de estudo O estudo foi realizado na praça do conjunto planalto Uruguai no bairro Vale Quem Tem, zona leste de Teresina. Teresina, capital do Piauí, está localizada na região Norte do estado, situado no Nordeste do Brasil. A sede do município tem coordenadas geográficas 05º05’ de latitude Sul e 42º48’ de longitude Oeste. Possui altitude média de 74,4 m acima do nível médio do mar (BASTOS; ANDRADE JÚNIOR, 2008) e ocupa uma área territorial de 1.756 km² população aproximada de 900.000 habitantes conforme senso demográfico de 2008. (IBGE, 2009). O clima de Teresina é caracterizado como subúmido seco, megatérmico, com excedente hídrico moderado no verão (BASTOS; ANDRADE JÚNIOR, 2008). As primeiras referências sobre arborização urbana datam da década de 1930, época da construção das praças históricas, surgindo a partir de então a construção das grandes vias públicas, novas praças e parques (MACHADO, 2001). Figura 01 – Bairro Vale Quem Tem, conjunto e praça Planalto Uruguai. Fonte: Adaptado pelos autores. SEMPLAN – Teresina. Secretaria Municipal de Planejamento de Teresina O conjunto planalto Uruguai (Figura 01) está localizado no bairro Vale Quem Tem, zona leste de Teresina, e constitui área de expansão da cidade. Em 2010 a população do bairro Vale Quem Tem representava 2,62% da cidade de Teresina e ocupava a 6ª posição do bairro mais populoso. 2.2 Delineamento experimental e Inventário florístico Essa pesquisa tratou-se de um estudo transversal, descritivo-observacional com abordagem qualitativa e quantitativa. O procedimento metodológico adotado para o levantamento e coleta dos dados foi o censo total, ou seja, todos os indivíduos arbóreos foram amostrados e para a identificação dos indivíduos arbóreos foi utilizado à metodologia usual 399


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taxonômica e consulta bibliográfica baseado em Lorenzi, (1992); Lorenzi, (2000); Lorenzi, (2002); O levantamento florístico, foi realizado entre os meses de janeiro a abril de 2016. As partes da planta como raiz, caule, folhas, flores, frutos e conformação da copa foram fotografadas para se comparar com os exemplares florísticos disponíveis na literatura especializada na tentativa de diminuir erros no momento de classificação das espécies encontradas. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Equipamentos urbanos da Praça do Planalto Uruguai No ano de 2011 a prefeitura municipal de Teresina deu início ao projeto de construção da praça do centro esportivo do conjunto Planalto Uruguai. As obras custaram investimentos da caixa econômica federal e da própria prefeitura chegando à custa R$ 542 mil reais. A praça foi construída em pedra portuguesa com rampas de acesso, estacionamento, banco em ferro e madeira além de algumas iluminações. Em 2012 o centro esportivo passa por revitalização onde mais estruturas passaram a ser construídas onde o total da obra passou para 1,1 milhão enquanto outro aporte orçamentário foi destinado à iluminação e cobertura das quadras de esportes. Foram construídos ainda seis quiosques para substituir os antigos trailers que permaneciam na praça além de banheiros, área administrativa, entre outras intervenções. O campo de futebol é cercado por alambrado, traves e bancos de ferro e madeira. O centro esportivo é composto por pista de cooper, campo de futebol gramado, campo de futebol em areias e ginásio poliesportivo. Durante a implementação do projeto da quadra de esporte no local, diversas árvores foram retiradas do local o que causou descontentamento aos moradores devido à atitude da remoção das arvores. A polícia ambiental foi rapidamente acionada pelos próprios moradores no qual solicitou a licença ambiental da obra suspendendo a continuidade do empreendimento, no entanto as espécies já haviam sido removidas do local (OLIVEIRA, 2015). Apesar do grande investimento na infraestrutura do local e um melhoramento geral do ambiente, as obras estão atualmente paradas e inacabadas, mostrando o desperdício de investimento e o descaso com as obras públicas. 3.2 Inventário arbóreo Teresina ainda possui razoável índice de áreas verdes, se comparada a muitas cidades brasileiras. No verde ainda encontra-se a identidade da capital teresinense apesar da redução destas áreas, a cidade de preocupa em manter a vegetação para as questões paisagísticas e pelo principal fator de sua existência na cidade – amenizar o calor. Teresina possui uma área verde muito grande em seu perímetro urbano principalmente nos bairros mais tradicionais onde o 400


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verde está sendo conservado. No entanto, a construção sem controle, o desmatamento, o uso indevido do solo, contribui drasticamente para a redução do verde nessa capital. No caso da praça do conjunto Planalto Uruguai, a maiorias das árvores encontradas foi plantado pela própria população, principalmente os moradores que residem nas ruas que delimitam esse local. As árvores foram subjetivamente cultivadas utilizando espécies de copas frondosas que proporcionasse um melhor sombreamento e consequentemente melhor sensação térmica na área adjacente. Das árvores utilizadas na arborização da praça do conjunto Planalto Uruguai as maiores e já desenvolvidas foram plantadas pela população residente e só recentemente a prefeitura municipal de Teresina iniciou o plantio de outros exemplares arbóreos sendo esses ainda pequenos. No geral foram encontrados 146 exemplares arbóreos, onde foi possível identificar 25 espécies, conforme listado na Tabela 01. Tabela 01 – Inventário das espécies arbóreas da praça do conjunto Planalto Uruguai 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

Nome Popular Acácia Azul Algodoeiro Amendoeira Amoreira Angico Branco Cajazeira Cajueiro Caneleiro Embaúba Fícus Gonçalo Alves Jatobá Jucá Mangueira Mirimdiba Munguba Nim Oitizeiro Pata de Vaca Pau Ferro Tamarindeira Não Identificada 1 Não Identificada 2 Não Identificada 3 Não Identificada 4

Nome Científico Clitoria fairchildiana R.A.Howard. Gossypium hirsutum L. Terminália catoppa L. Morus nigraL. Anadenanthera colubrina Spondia mombin L. Anacardium occidentale Cenostigma macrophyllum Tul Pseudobombax grandiflorum Ficus benjamina L. Astronium fraxinifolium Hymenaea courbarilL. Caesalpinia ferrea Mart. Manguifera indica L. Terminalia brasiliensis Cambess. Pachira aquatica Azadirachta indica A. Juss Licania tomentosa (Benth) Fritsch. Bauhinia forficata Link Caesalpinia leiostachya Tamarindus indica L. Total

N 02 02 08 01 01 01 22 03 02 02 02 05 01 51 05 07 11 02 01 07 02 05 01 01 01 146

% 1,36 1,36 5,48 0,69 0,69 0,69 15,06 2,06 1,36 1,36 1,36 3,43 0,69 34,93 3,43 4,80 7,54 1,36 0,69 4,80 1,36 3,43 0,69 0,69 0,69 100

Família Fabaceae Malvaceae Combretaceae Moraceae Fabaceae Anacardiaceae Anacardiaceae Leguminosae Bombacaceae Moraceae Anacardiaceae Fabaceae Fabaceae Anacardiaceae Combretaceae Bombacaceae Meliaceae Chrysobalanaceae Fabaceae Fabaceae Fabaceae -

Origem Exótica Exótica Exótica Exótica Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Exótica Nativa Nativa Nativa Exótica Nativa Nativa Exótica Nativa Exótica Nativa Exótica -

Legenda: N: Numero de Exemplares Arbóreos. Fonte: Pesquisa Direta, (2016); Lorenzi, (1992); Lorenzi, (2000); Lorenzi, (2002); A espécie Manguifera indica representou a maioria (34,93%) dos exemplares arbóreos, seguidas da Anacardium occidentale (15,06%) e da Azadirachta indica A. Juss. (7,54%). Das espécies analisadas, 6 delas possuem frutos convencionalmente utilizadas na alimentação humana. Resultados semelhantes foram encontrados por Feitosa, Sousa e Calisto (2013) ao realizar o diagnóstico qualitativo e quantitativo da arborização da central de abastecimento do Piauí localizado em Teresina, que encontrou também a Manguifera indica L. (26,73%) como espécie predominante na arborização desse local e a espécie Terminalia catappa L. a terceira mais frequente com 7,92%. Esse resultado pode ser explicado pelo fácil cultivo dessas espécies além da formação de excelente sombreamento fornecido por essas plantas. Conforme Milano e Dalcin (2000) cada espécie arbórea não deve ultrapassar 15% do 401


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total de indivíduos para o bom planejamento arbóreo urbano. Nessas condições a mangueira e o cajueiro representaram uma porcentagem acima deste valor, contrariando o recomendado, isso se deve para se evitar a propagação de pragas devido à predominância de poucas espécies. Já para Santamour Junior (1990) a maior biodiversidade arbórea nas cidades é necessária para amenizar problemas de pragas e doenças recomendando, portanto que não se ultrapasse 10% de uma mesma espécie, 20% do mesmo gênero e 30% da mesma família. Embora exista a participação de órgãos governamentais e de grande parcela da população frente à arborização urbana, muitos são os problemas advindos desta devido à falta de técnicos especializados que orientem o plantio de espécies adequadas a cada local. Por isso, é de competência do poder público municipal o projeto de arborização urbana (BONONI, 2006). A escolha da espécie a ser plantada no ambiente urbano é o aspecto mais importante a ser considerado em um projeto de arborização urbana. 3.3 Famílias Botânicas encontradas na área de estudo Na praça do conjunto Planalto Uruguai em Teresina foram encontradas espécies pertencentes a 9 famílias botânicas, conforme Figura 03: Figura 03 – Porcentagem das famílias por espécies inventariadas

Fonte: Pesquisa Direta, (2016). A família com maior número de espécies foi a Fabaceae com 28% das espécies arbóreas encontradas seguidas da família Anacardiaceae com 16%. Resultados semelhantes foram alcançados por Braga e Machado (2012) encontraram em sua pesquisa de um total de 41 espécies vegetais, 8 delas eram da família das Fabaceae e 3 espécies Anacardiaceae. Conforme Lorenzi (1992) a família Fabaceae possui tradicionalmente três subfamílias: Caesalpinioideae, Faboideae e Mimosoideae. A Caesalpinioideae possui folhas bipinadas, paripinadas ou bifolioladas, flores diclamídeas ou raramente monoclamídeas, corola com 402


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prefloração imbricada ascendente ou carenal, dialipétala, estames geralmente em número duplo ao das pétalas, raramente em menor número, geralmente livres entre si e não vistosos, sementes com pleurograma. A Faboideae (Papilionoideae): folhas imparipinadas, trifolioladas ou unifolioladas, flores diclamídeas, corola com prefloração imbricada descendente ou vexilar (as carenas são sobrepostas pelas alas que são sobrepostas pelo vexilo), dialipétala, estames geralmente em número duplo ao das pétalas, sendo frequentemente nove estames unidos entre si e um livre (androceu diadelfo) ou todos unidos (androceu monadelfo), não vistosos, sementes sem pleurograma, mas com hilo bem desenvolvido. A Mimosoideae: folhas geralmente bipinadas, exceto Inga (paripinada), flores acnomorfas, diclamídeas, corola com prefloração valvar, frequentemente gamopétala, estames em número igual, duplo ao das pétalas ou numerosos, vistosos, sementes com pleurograma (LORENZI, 1992). 3.4 Origem ecológica das espécies encontradas na área de estudo Na praça do conjunto Planalto Uruguai em Teresina foram encontradas espécies exóticas e nativas conforme Figura 04: Figura 04 – Porcentagem da origem das espécies inventariadas

Fonte: Pesquisa Direta, (2016). A maioria das espécies levantadas foi de espécies nativas 48%, enquanto as espécies exóticas corresponderam a 36%, resultados próximos aos determinados por Dantas e Souza (2004) quando encontraram valores mais equilibrados ao verificar que na determinação das espécies da arborização urbana 48,8% das árvores eram nativas enquanto 51,2 % exótica mostrando um inventário com a maioria das espécies exóticas que foram valores próximos aos encontrados por Lundgren, Silva e Almeida (2013) ao verificar a influência das espécies exóticas arbóreas urbanas na área de cobertura da cidade de Serra Talhada – PE, quando encontraram 49% de espécies nativas do Brasil e 51% de espécies exóticas. 403


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Já Rossato, Tsuboy e Frei (2008) estudando de forma quantitativa a arborização urbana na cidade de Assis-SP, em relação ao número de espécies as plantas exóticas representaram a maioria com 61,8%, e na pesquisa de Blum, Borgo e Sampaio (2008) sobre a vegetação utilizada na arborização das vias públicas de Maringa-PR, esse valor aumentou consideravelmente para 75,9% para espécies exóticas. Conforme a Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica (CDB, 1992) a espécie exótica ou introduzida é aquela situada em local diferente da sua distribuição natural devido à introdução voluntária ou involuntariamente por motivos humanos. Se a espécie exótica se reproduzir e sobreviver em novo habitat considera-se essa como estabelecida, mas caso essa se expanda colocando em risco a diversidade biológica nativa passa a ser considerada como exótica invasora. Vive-se momento de perda da biodiversidade no planeta devido a conversão de habitat natural destruído ou transformado por ações antrópicas e pela invasão de espécies exóticas em ambiente onde ela não ocorre naturalmente (GISP, 2005). O recomendável seria a maior biodiversidade arbórea por motivos estéticos, preservação da avifauna e pela perpetuação da cultura regional. A priore deve-se utilizar as plantas nativas, no entanto espécies exóticas também podem ser utilizadas como complementaridade como foi recomendado por (MACHADO et al., 2006) na participação de espécies nativas na arborização e isso vem ocorrendo na capital Teresina. 3.5 Caracterização das espécies arbóreas da Praça do Conjunto Planalto Uruguai Para a arborização urbana deve-se conhecer muito bem as características particulares das espécies utilizadas para essa finalidade a fim de se reconhecer se a espécie tem potencial para ser utilizado junto a um aglomerado de pessoas. Segundo Pivetta e Silva Filho (2002) as características desejáveis para a boa escolha das espécies no planejamento arbóreo são: resistência a pragas e doenças, evitando o uso de produtos fitossanitários desaconselhados em vias públicas; velocidade de desenvolvimento média para rápida; a árvore não deve ser do tipo que produz frutos grandes, entretanto, quanto ao fato destes frutos servirem de alimentos para os pássaros, há um consenso, pois, é uma forma de preservar o equilíbrio biológico; os troncos e ramos das árvores devem ter lenho resistente, para evitar a queda na via pública, bem como, serem livres de espinhos; as árvores não podem conter princípios tóxicos ou de reações alérgicas; a árvore deve apresentar bom efeito estético; as flores devem ser preferencialmente de tamanho pequeno; não devem exalar odores fortes e nem servirem para vasos ornamentais; a planta deve ser nativa ou, se exótica, deve ser adaptada; a folhagem dever ser de renovação e tamanho favoráveis. A queda de folhas e ramos, especialmente as de folhas caducas, que perdem praticamente toda folhagem durante o inverno, podem causar entupimento de calhas e canalizações, quando não, danificar coberturas e telhados; a copa das arvores devem ter forma e tamanho adequados. 404


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Árvores com copa muito grande interferem na passagem de veículos e pedestres e fiação aérea, além de sofrerem danos que prejudicam seu desenvolvimento natural o sistema radicular deve ser profundo, evitando-se, quando possível, o uso de árvores com sistema radicular superficial que pode prejudicar as calçadas e as fundações dos prédios e muros. (PIVETTA; SILVA FILHO, 2002) Grande parte dos exemplares arbóreos utilizados é de espécies frutíferas e convencionalmente utilizado na alimentação humana, outras são até adequadas, seja na arborização de cidades, seja na recuperação de áreas degradadas. Apesar de múltiplos usos das espécies arbóreas, a identificação e caracterização de cada uma delas são necessárias para o manejo, a conservação, estudos ecológicos e educação ambiental. A seguir demonstrou-se as características mais marcantes de algumas espécies encontradas durante a realização dessa pesquisa. A Astronium fraxinifolia conhecida popularmente como Gonçalo Alves, é uma espécie arbórea do cerrado que está ameaçada de extinção (IBAMA, 1992). É uma espécie pioneira, seletiva e heliófita da família da Anacardiaceae que floresce nos meses de agosto a setembro e desenvolve-se em solo rochoso e seco. Essa espécie possui grande importância econômica devido à qualidade de sua madeira que é pesada, compacta, rígida e resistente a condições naturais bastante utilizadas na construção civil e naval. Tem porte que varia de 25 a 30 m com troco cilíndrico, casca externa de cor acinzentada a azulada. Suas folhas são compostas, pinadas com folíolos opostos (MACHADO, et al., 2006). Possui potencial paisagístico devido ao seu médio porte e beleza de sua copa (LORENZI, 1992). Ainda possui possibilidade na utilização em projetos de reflorestamento e arborização urbana de praças e parques (FEITOSA et al., 2011; MACHADO, et al., 2006). O fícus (Ficus benjamina L.) do gênero Ficus L é o maior gênero da família Moraceae que compreende uma média de 800 espécies, destas 76 são espécies nativas do Brasil. O Fícus benjamina é caracterizado principalmente por apresentar porte arbóreo hemiepifitico, possuidora de uma seiva leitosa semelhante ao látex em todas as partes dessa planta (PELISSARI; ROMANIUC NETO, 2013). Suas raízes grandes, parte das vezes são superficiais, podem provocar estragos a calçadas e outros locais pavimentados. Sendo assim, o fícus deve ser plantado em locais de grande espaço para sua propagação devido à extensão de suas raízes e sua copa (FRORENTIN; THOMÉ, 2011). O plantio do fícus é apropriado para praças e jardins desde que possua espaço suficiente para o desenvolvimento de suas raízes e copa sem que haja degradação de pavimentos públicos (CARVALHO, et al., 2013).

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Figura 05 – Levantamento florístico das espécies arborização - I

Legenda: Da esquerda para a direita: Astronium fraxinifolia, Ficus benjamina L, Azadirachta indica A. Juss. e Pachira aquática. Fonte: Pesquisa Direta, (2016).

O nim, por vezes chamada de amargosa (Azadirachta indica A. Juss.), é originário da Ásia, sobretudo da Índia e de Myanmar. É uma árvore de grande interesse para a sociedade devido à utilização de diversos produtos por ela oferecido. O mais reconhecido talvez seja a capacidade inseticida que faz dessa espécie a mais estudada do planeta quando se trata de repelente natural (MARTINEZ, 2002). Utilizada desde a antiguidade como controle de pragas fungos e bactérias, é uma espécie arbórea que possui um rápido crescimento chegando até 15 m de altura, dependendo das condições climáticas e do tipo de solo pode chegar a 25 m de altura. Suas raízes por vezes chegam a atingir 15 m de profundidade. Sua madeira avermelhada é dura e resistente. Da família Meliaceae, é conhecida por ser uma árvore frondosa com copa exuberante que pode ser utilizada no reflorestamento e no paisagismo (NEVES; OLIVEIRA; NOGUEIRA, 2003). A Munguba, também conhecida como castanheira-do-Maranhão ou cacau-selvagem (Pachira aquática) é uma espécie arbórea da família Bombacaceae comumente encontrada desde a Amazônia até o Maranhão. É uma árvore perenifólia, heliófita, higrófita característica de terrenos úmidos e alagadiços, apesar dessa característica, também pode desenvolver-se muito bem em terreno seco. Podendo chegar até 14 m de altura, possui tronco circular chegando até 40 cm de diâmetro. Produz um fruto grande com capsula lenhosa deiscente com sementes grandes (LORENZI, 2002). Foi introduzida em arborização urbana a partir da segunda metade do século XIX pelo botânico e paisagista francês Glaziou. Em São Paulo e Rio de Janeiro Robert Burle Marx utilizou-se dessa espécie em seus trabalhos paisagísticos nessas cidades já na década de 60 (LORENZI, 1992). Pode produzir excelente sombra onde é aproveitada para arborização em cidades. Suas flores de grande beleza exalam aroma agradável. O caneleiro (Cenostigma macrophyllum Tul.), espécie arbórea da família da Caesalpiniaceae tem porte que varia de 6 a 16 m de altura por vezes chegando até 20 m quando 406


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no seu habitat natural. Seu troco é dotado de sulco, ereto e cilíndrico com casca acinzentado alternada com cores escuras. Sua copa é piramidal, fechada e intensamente ramificada. As folhas são alternadas, compostas e pinadas com folíolos opostos coriáceos. Suas flores geralmente de cor amarela reunidas em inflorescência são distribuídas por toda sua copa. Seu fruto está protegido por uma vargem caracterizando uma leguminosa de formato achatado, deiscente, contem de duas a quatro sementes. O caneleiro é recomendado para arborização urbana sendo utilizada em carteiros centrais (com mais de 4 m de largura), em praças, jardins e sombreamento de estacionamentos (MACHADO, et al., 2006). A Pata de vaca (Bauhinia forficata Link) é uma árvore caducifólia da família Caesalpiniaceae é nativa da região sul do Brasil compreendendo também áreas do Paraguai, Argentina e Uruguai. Com aproximadamente 6 m de altura, pode ser encontrada na forma de arvore ou arbusto. Seu nome popular se deve ao formato de sua folha composta de dois folíolos unidos na base de forma ovadas, coriáceas bilobadas que lembra a pata de vaca. Possui lamina foliar lisa, com face superior brilhante. Possui tronco tortuoso, curto e delgado com casca externa cinza-escuro, lisa e fissurada. Suas flores são brancas com inflorescência com pétalas de 9 cm com dez estames floridos (CARVALHO, 2003). Essa espécie por suas características de médio porte, paisagísticas recomendadas para a arborização urbana. Pelo seu porte, folhas grandes e flores de aspectos admiráveis (ROSA et al., 2008). Figura 06 – Levantamento florístico das espécies arborização - II

Legenda: Da esquerda para a direita: Cenostigma macrophyllum Tul., Bauhinia forficata Link, Caesalpinia ferrea Mart. ex. Tul e Pseudobombax grandiflorum.. Fonte: Pesquisa Direta, (2016). Jucá (Caesalpinia ferrea Mart. ex. Tul.) tem sua origem no Brasil com áreas de ocorrência do Piauí até São Paulo, na floresta pluvial da encosta atlântica. É uma espécie arbórea classificada como secundária inicial como boa regeneração em floresta muito comum em praças, parques e 407


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ruas do País, a árvore jucá é facilmente identificada na descrição de suas características físicas. Chega a atingir um porte de até 20 m de e altura. Possui tronco liso de cor claro com manchas irregulares escuras devido seu descascamento. Seu fruto carnoso e indeiscente é da classe dos legumes com cor variando de tonalidade do preto ao avermelhado (LORENZI, 2000). O jucá é bastante utilizado na arborização de parques e praças (LENHARDet al., 2013). No campo apresenta crescimento rápido sendo ainda indicada no reflorestamento e recuperação de áreas degradadas. A Embauba ou embiruçu (Pseudobombax grandiflorum), espécie arbórea da família Bombacaceae mede de 15 e 25 m de altura. É uma árvore decídua perdendo totalmente sua folhagem em entre os meses de junho a setembro seu tronco cilíndrico e largo pode chegar até 80 cm de diâmetro. Apesar do seu caule imponente, sua madeira é muito leve de textura grossa de baixa durabilidade natural, comumente empregada no fabrico de caixas e miolo de compensados. Suas flores apresentam cor branca com logos estames. É originário do Brasil com ocorrência natural nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul e floresta semidecídua da bacia do Paraná sobre áreas de vales úmidos e em florestas densas e também na mata pluvial Atlântica. O embiruçu é uma arvore ornamental comumente utilizada no paisagismo e também muito indicada para o plantio de páreas degradadas e de preservação permanente. É uma árvore ornamental, comum em paisagismo, de fácil aplicação e tolerante à insolação direta. É indicada ainda para plantio de áreas degradadas de preservação permanente (LORENZI, 2000). A tamarindeira (Tamarindus indica L.) é uma espécie arbórea da família das Fabaceae, com centro de dispersão a África Tropical. No Brasil tem se adaptado muito bem encontrada em plantações diversas como ocorre na região nordeste onde a tamarindo é um fruto típico (SOUSA, et al., 2010). É uma arvore maciça, de crescimento lento, porém de longa vida. Seu porte pode alcançar a uma altura de 30 m e circunferência do tronco de 7,5 cm. É muito resistente a rajada de ventos por possuírem ramos fortes, grandes e flexíveis. Tem casca-escura, áspera e com fissuras em todo seu tronco. A sua folhagem é composta por folhas pequenas compostas, pinadas, alternadas com 10 a 18 pares de folíolos oblongos as quais se dobram a noite. As flores rosadas são agrupadas em montes de cachos irregulares no ápice dos ramos de seus galhos. Seu fruto, a tamarindo, possui poupa de cor marrom escuro e revestido por uma casca amarronzada, possui sabor bastante azedo (GROLIER, 1988). No Brasil, essa espécie é comumente utilizada como planta ornamental e compõe a arborização de muitas cidades brasileiras.

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Figura 07 – Levantamento florístico das espécies arborização - III

Legenda: Da esquerda para a direita: Tamarindus indica L., Spondiasmombin L., Anacardium occidentale e Terminalia catappa L. Fonte: Pesquisa Direta, (2016). A Cajazeira (Spondiasmombin L.) pertencente à família anacardiácea é uma espécie arbórea perenifólia, semidecídua, heliófila e seletivamente higrófila. Desenvolve-se muito bem nas Regiões norte e nordeste do Brasil, resistente a longos períodos de seca devido àtúberas nas raízes que fornecem água e nutrientes para a planta em época de estiagem (LORENZI, 1992). A cajazeira é uma arvore ereta de aspecto imponente podendo atingir facilmente os 20 m de altura. Seu caule acinzentado de aspecto rugoso a essa espécie uma característica peculiar. Suas folhas são caracterizadas por apresentarem alternadas e imparipenadas, compondo-se de 7 a 17 folíolos alongados opostos e serreadas (SILVA; SILVA, 1995). As flores são brancas amareladas dispostas em panículas terminais. Seus frutos denominados cajá, são comestíveis apresentandose de forma elipsoide ou globosos, com aroma bem pronunciado e mesocarpo carnoso de cor amarelo com sabor variando de um agridoce ou azedo (BARROSO, et al., 1999). O cajueiro (Anacardium occidentale), pertence à família Anacardiacea compreende 400 a 600 espécies. Apenas três das vinte e uma espécies de cajueiro não são encontradas no Brasil. Compõe-se de uma espécie arbórea perene de ramificação baixa e médio porte médio. É uma planta andromonóica, sendo hermafrodita e masculina numa mesma flor. Possui pseudofruto comestível denominado de caju. O fruto da planta cajueiro é uma amêndoa protegida por um aquênio reniforme possuidor de dois cotilédones carnoso e oleoso pendente do pedúnculo floral superdesenvolvido. O pedúnculo floral denominado de caju é um pseudofruto carnoso e suculento bem palatável e com grande valor nutritivo (LIMA, 1998). Os padrões comportamentais ecológicos e a utilização pelo homem sugerem que o Brasil é o centro de origem e dispersão da espécie (BARROS, 2002). A amendoeira, castanhola ou chapéu-de-sol (Terminalia catappa L.) é uma espécie arbórea decídua da família da Combretaceae originárias de regiões litorâneas da Malásia 409


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(TANG, 2012). Desenvolve-se alcançando de 6 a 12 m de altura podendo chegar facilmente aos 20 m (BARATELLI, 2006). Seu crescimento é rápido com uma média de 1,5 a 2 m ao ano. Suas folhas são coriáceas, caducas, alternas, grandes e ovalada de cor verde que muda de amarelo ao vermelho no outono. Sua copa possui uma peculiaridade incomum formando uma folhagem horizontal que lembra um telhado, agrupado em níveis diferentes até o topo. A árvore começa a produzir frutos logo em seus três primeiros anos de idade. Seus frutos são em forma de drupa comestíveis de forma elipsoide apresentando dois ângulos sendo de cor amarela a roxa quando maduras (BARATELLI, 2006). Essa espécie é comumente encontrada no nordeste do Brasil sendo bastante utilizada na arborização de cidade principalmente por suas qualidades ornamentais e em reflorestamento de áreas degradadas. São bastante utilizadas em quintais de residências, ruas e estacionamentos. A mangueira (Manguifera indica) é uma espécie vegetal arbórea de médio a grande porte apresentando grande copa arredondada e frondosa. As folhas lanceoladas de textura coriácea possuindo face superior plana e pecíolo curto. Medem de 15 cm a 40 cm de comprimento apresentando coloração que varia do verde claro ao amarronzado. O fruto da espécie denominado de manga é uma drupa bastante variável em tamanho, peso e coloração apresentando casca coriácea e macia que envolve a poupa e um caroço com aspecto fibroso apresentando formas semelhantes diferindo-se em tamanha de acordo com os cultivares. As flores da mangueira são pequenas, rosada, hermafroditas possuindo androceu com quatro a seis estames, dos quais um ou dois estames são férteis (CASTRO NETO; CUNHA, 2000). O Algodoeiro (Gossypium hirsutum L.) faz parte da família das malváceas. Caracterizado geralmente por ser uma planta ereta e perene com caule herbáceo ou lenhoso com estatura variável dotado de ramos vegetativos. As folhas pecioladas são geralmente cordiforme de consistência coriácea inteira recortada ou possuindo de três a nove lóbulos. As flores são hermafroditas, auxiliares, isoladas ou não com coloração creme. Seus frutos são capsulares deiscente denominada de maças quando verde e de capulhos quando se abrem, possui de três a cinco lóculos podendo compor de 6 a 10 sementes que são revestidas por fibra (SEAGRI, 2016). A Mirimdiba (Terminalia brasiliensis Cambess.), da família Combretaceae, é uma espécie tipicamente do cerrado brasileiro apresenta de moderado a rápido crescimento com porte médio alcançando de 8 a 15 m de altura. Seu tronco apresenta casca com sulcos de cor parda a acinzentada. Sua madeira é pesada e densa de boa qualidade. Sua folhagem é simples, com formatos ovais, glabras, brilhantes com bordas onduladas. Apesar de rústica a Mirindiba possui copa arredondada com folhagem e floração decorativa. No paisagismo a Mirindiba pode ser utilizada na arborização urbana podendo ser plantada em ruas desprovidas de fiação elétrica e em parques e praças. Também é recomendada na recuperação de áreas degradadas. Seu uso na recuperação de áreas degradadas é explicado por outros fatores pelo fato de que ela atrai e alimenta a fauna silvestre importante para o equilíbrio ecológico. Depois de 6 a 7 meses após o plantio, essa arvore pode ser transplantada para um local definitivo (LORENZI, 2000). O Angico Branco (Piptadenia colubrina (Vell.) Benth) é uma espécie arbórea nativa 410


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desde o maranhão ao nordeste do Paraná, minas Gerais e Goiás, encontrado geralmente na caatinga e em mata semidecíduas. É uma espécie perenifólia e semicaducifólia podendo se desenvolver a uma altura de 10 a 20 m podendo atingir até 35 m na idade adulta. Seu tronco mais ou menos reto quase cilíndrico no qual sua casca é pouco rugosa (CARVALHO, 2002). Suas folhas são bipinadas de folíolos opostos que variam de 15 a 20 jugas. As flores são brancas em inflorescência do tipo panículas e espigas globosas. Os frutos estão em vargem compridos, achatados, rígido, deiscentes de cor marrom contendo de 5 a 10 sementes lisas de cor escura. A árvore é fornecedora de boa madeira para construção civil e para lenha e carvão (LORENZI; ABREU MATOS, 2008). Figura 08 – Levantamento florístico das espécies arborização - IV

Legenda: Da esquerda para a direita: Terminalia brasiliensis Cambess, Piptadenia colubrina (Vell.) Benth, Licania tomentosa e Hymenaea courbaril L.. Fonte: Pesquisa Direta, (2016). O Oitizeiro (Licania tomentosa) é uma espécie arbórea da família da comumente encontrada na mata atlântica é heliófila, perenifólia e frutífera. Desenvolve-se chegando de 8 a 15 m de altura e de 30 a 50 cm de diâmetro. Possui troco com fissuras e de pequenas descamações. Sua madeira é dura, resistente e de longa durabilidade. Suas folhas são simples, alternadas elíptico-lanceoladas. Flores pequenas, brancas com espigas ramosas. Seu fruto é uma drupa, oval pegajosa e fibrosa. O oitizeiro possui copa fechada com folhagem densa conferindo boa sobra (MACHADO, et al., 2006). Por formar ótimas sombras o oiti é utilizado na arborização de praças, jardins e passeios públicos em geral. O Oiti é por demais utilizadas também na produção de madeira e de recuperação de áreas degradadas (LORENZI, 2008). O jatobá (Hymenaea courbaril L.) da família das fabaceas é uma espécie arbórea com porte que varia de 15 a 25 m, possui tronco reto e cilíndrico, com casca cinzenta clara com textura lisa ou áspera e com presença de fissuras superficiais. Suas folhas são alternadas, com folíolos brilhantes com copa alta, frondosa e bastante galhada. Suas flores são hermafroditas 411


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de cor branca. Os frutos são comestíveis em forma de legume indeiscente com casca dura e de cor marrom-brilhante. Sua copa alta e com grande folhagem fornece bom sombreamento, e recomendado para arborização de praças e parques (MACHADO, et al., 2006). Por meio do conhecimento e da caracterização das espécies pode-se percebe que a maioria dos exemplares encontrados no local de estudo estão em conformidade com Pivetta e Silva Filho (2002) a se tratarem de espécies adequadas a arborização urbana e recuperação de áreas degradadas. Como já sugerido anteriormente, a maioria das espécies nativa propicia a adequação correta na arborização urbana em um contexto socioambiental e paisagístico do espaço urbano. 5 CONCLUSÃO A maioria das espécies encontradas foi de origem nativa ressaltando a importância da utilização das espécies estudadas. Grande parte dos exemplares encontrados no local de estudo foi plantada pela própria população sendo as espécies mais encontradas A espécie Manguifera indicada representou a maioria dos exemplares arbóreos, seguidas da Anacardium occidentale e da Azadirachta indica A. Juss. As famílias botânicas com maior número de espécies foram a Fabaceae e Anacardiaceae. A maioria das espécies caracterizada nessa pesquisa por suas características botânicas são recomendadas na arborização urbana e na recuperação de áreas degradadas. Essa pesquisa veio de encontro ás preocupações ambientais urbanas e pode contribui para a adequação de um manejo ambiental adequado da área de estudo bem como reavaliar e reorientar possível problemas acarretados com a utilização das espécies que ocorrem nessa localidade. REFERÊNCIAS BARATELLI, T.G. Estudo das propriedades alelopáticas vegetais: investigação de substâncias aleloquímicas em Terminalia catappa L. (Combretaceae). 199p. Tese (Doutorado em Química de Produtos Naturais). Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006. BARROS, L.M (ed). Caju-Produção: aspectos técnicos. Agroindústria Tropical. Serie frutas do Brasil. Brasília: Embrapa, 2002. BARROSO, G. M.: MORIM, M. P.; PEIXOTO, A. L. ICHASO, C. L. F. Frutos e sementes: morfologia aplicada à sistemática de dicotiledôneas. Viçosa: Universidade Federal do viçosa, 1999. BLUM, C. T.; BORGO, M.; SAMPAIO, A. C. F. Espécies exóticas invasoras na arborização de vias públicas de Maringá-PR, Rev. SBAU, v.3, n.2, jun. 2008, p.78-97. BONAMETTI, J. H. Arborização Urbana. Revista Terra e cultura, v. 19, n. 36, p. 51-55. 2001. 412


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FERRAMENTAS MOLECULARES PARA ESTUDO DA BIODIVERSIDADE MICROBIANA DO SOLO: UMA REVISÃO LEONARDA BESERRA MAGALHÃES1 GEORGIA BRENDA BARROS ALVES2 RESUMO A biodiversidade do solo exerce funções e características essenciais para a manutenção da capacidade produtiva e o funcionamento sustentável de todo o ecossistema. Informações relacionadas à diversidade microbiana em amostras ambientais são restritas, devido à dificuldade de isolamento de diversos micro-organismos. As técnicas moleculares têm possibilitado novos avanços sendo consideradas promissoras, e permitindo novas pesquisas e descobertas sobre a biodiversidade do solo. Objetivou-se com este trabalho conhecer as principais técnicas moleculares utilizadas para pesquisas da biodiversidade microbiana do solo. Foi realizado um levantamento bibliográfico, utilizando estudos publicados em plataformas de pesquisa nos últimos anos, a fim de reunir informações atualizadas acerca do assunto. Os resultados das pesquisas mostram que as técnicas biotecnológicas disponíveis hoje oferecem subsídios para análise da diversidade, conservação e melhoramento da biodiversidade microbiana do solo, tendo em vista a crescente demanda global nesses setores, e aliada à importância da preservação das florestas nativas e da biodiversidade local. A adoção de estratégias biotecnológicas permite uma análise genética mais específica, oferecendo maiores possibilidades de pesquisa e melhorias da biodiversidade do solo e da biodiversidade num contexto mais amplo. Palavras-Chave: PCR. PCR em Tempo Real. DGGE. Sequenciamento Metagenômico.

INTRODUÇÃO Atualmente, a proteção da biodiversidade nos diferentes ecossistemas vem sendo debatida, principalmente, visando à preservação do meio ambiente, uma vez que a biodiversidade, juntamente com os fatores abióticos, é responsável pela manutenção do equilíbrio e da estabilidade dos ecossistemas sendo considerada uma fonte inestimável de recursos econômicos (ARAÚJO, 2015). A biodiversidade dos solos exercem funções e características essenciais para a manutenção da capacidade produtiva e o funcionamento sustentável de todo o ecossistema. Dentre estes, incluem-se: a formação e estruturação de solos; a decomposição da matéria orgânica; a ciclagem de nutrientes; e a formação dos gases componentes da atmosfera terrestre (LAMBAIS et al., 2005). Dessa forma, a manutenção da biodiversidade do solo tem extrema importância 1 Professora Licenciada pela Universidade Estadual do Piauí em Ciências Biológicas e-mail: leonarda.magalhaes@gmail.com 2 Doutora em Ciência Animal-UFPI; Mestre em Ciência Animal- UFPI; Médica Veterinária graduada na UFPI. 415


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para o funcionamento adequado dos ecossistemas, por isso torna-se essencial seu estudo aprofundado. Uma técnica tradicional para avaliar a diversidade microbiana é a técnica de cultivo, com a utilização de meios de cultura, e a contagem direta dos microrganismos do solo. Entretanto, a diversidade conhecida, por meio desta técnica, é extremamente baixa uma vez que menos que 5% dos microrganismos são cultiváveis (JOHNSEN et al., 2001). Durante as últimas duas décadas, uma grande variedade de ferramentas moleculares baseada na caracterização dos ácidos nucléicos (DNA e RNA) extraídos do solo, tem sido desenvolvida e vem ganhando uma relevância considerável na área de ecologia molecular, por oferecer um grande potencial para investigar a vasta população microbiana não cultivável do solo (CRECCHIO et al., 2004). Por meio de ferramentas moleculares, pode-se estudar a biodiversidade de maneira abrangente, não apenas no que se refere ao número e distribuição das espécies presentes no solo, mas também quanto a sua diversidade funcional (MOREIRA, 2006). Diante disso, torna-se importante estudar e conhecer técnicas moleculares para fins de conhecimentos da biodiversidade microbiana do solo, principalmente pela imensurável importância que os microrganismos oferecem, possibilitando diversos avanços, no campo biotecnológico, como por exemplo, na pesquisa de fármacos, corantes, enzimas, ácidos orgânicos e muitos produtos ainda inexplorados e também no controle biológico de doenças e pragas da agricultura. Objetivou-se com esse estudo conhecer as principais técnicas moleculares utilizadas para pesquisa da biodiversidade microbiana do solo. O presente trabalho apresenta a seguinte estrutura formal: Resumo, Abstract, Introdução, Metodologia, Resultados e Conclusão, o qual foi formatado de acordo com as normas da Revista Interfaces e será encaminhado para publicação. METODOLOGIA O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica. Para a construção do trabalho foram selecionados os principais artigos científicos publicados em periódicos indexados, dissertações, e teses doutorais publicados nos últimos 10 anos em base de dados na internet. Alguns trabalhos com data de publicação mais antiga foram considerados importantes e serviram de fonte de estudo. A pesquisa foi realizada em banco de dados Periódicos Capes utilizando-se as palavras-chave PCR, biologia molecular, solo, microrganismo, DGGE, metagenômica. Desse modo, pesquisaram-se sobre as principais técnicas moleculares utilizadas na pesquisa de microrganismos do solo, as quais serviram como fonte e foram utilizados para a construção deste trabalho. RESULTADOS Importância do uso de ferramentas moleculares em estudos de diversidade do solo A diversidade microbiana do solo ainda é pouco explorada apesar de sua grande im416


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portância para a sustentabilidade do solo, para o funcionamento de diferentes ecossistemas, e como uma importante ferramenta de auxílio para os agricultores. No entanto, a capacidade de qualificar o solo e identificar suas propriedades que servem como indicadores de boa qualidade são dificultados pela multiplicidade de fatores químicos, físicos e biológicos que controlam os processos biogeoquímicos e suas variações no espaço e no tempo (ARAUJO, 2015). O solo é considerado a base de sustentação dos sistemas agrícolas, garantido através dos indicadores a qualidade do solo, que se refere à sua capacidade de funcionar dentro dos limites do ecossistema para sustentar a produtividade biológica, manter a qualidade do meio ambiente e promover a sanidade das plantas e animais. As técnicas tradicionais para identificação e classificação de microrganismos do solo são baseadas em características morfológicas e fisiológicas, porém, essas metodologias fornecem informações limitadas, o que demanda muito tempo, muito trabalho e oferece resultados não conclusivos (MESQUITA, 2011). Várias metodologias têm sido propostas para estudos que envolvem a ecologia microbiana do solo tais como as técnicas moleculares. Entretanto, ao estudar a diversidade microbiana do solo, importantes considerações devem ser feitas, não apenas no que se refere ao número e distribuição das espécies, mas quanto a sua diversidade funcional. Assim, o uso da biologia molecular possibilita esse estudo mais abrangente e torna-se uma importante ferramenta para o estudo, sendo cada vez mais frequentemente utilizada. As principais técnicas utilizadas neste âmbito serão citadas e discutidas nesta revisão de literatura. 1.1 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) O surgimento da técnica da PCR nos diferentes estudos de ecologia e diversidade microbiana tem sido muito importante. Poucas tecnologias nos últimos anos provocaram um impacto tão profundo na biotecnologia quanto a PCR. Essa técnica tem como princípio a replicação in vitro do DNA, cujo sucesso reside na capacidade de amplificar uma sequência precisa de DNA, aliada à sua simplicidade, rigor, elevada sensibilidade e especificidade (OLIVEIRA, 2013). Outra vantagem é que não é necessário isolar o DNA que se pretende amplificar, mesmo que se encontre misturado com DNA de outras espécies, uma vez que a especificidade da PCR é dada pelos primers que são fitas complementares de DNA, sendo assim considerada uma técnica rápida, de baixo custo e segura. Segundo Saiki et al. (1985), essa técnica permite amplificar pequenos e específicos fragmentos do genoma-alvo, permitindo a obtenção de várias cópias de determinada região do DNA-alvo. Devido à reação ser específica, pode-se obter a amplificação de sequências de nucleotídeos-alvo mesmo em uma amostra que tem grande diversidade de sequências, permitindo a detecção de organismos específicos em misturas heterogêneas. Para a execução da técnica da PCR é preciso que se tenha conhecimento prévio da sequência do ácido nucléico que se deseja amplificar, dita “sequência-alvo.” A partir disso, desenham-se dois iniciadores (primers) para dar partida ao processo de síntese em um local 417


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específico. Um primer serve para sintetizar a sequência-alvo no sentido 3’- 5’e outro para o sentido inverso, isto é, 5’-3.’ O primer é uma pequena sequência de nucleotídeos que hibridiza no início da sequência-alvo que se quer amplificar e da qual ele é complementar. Ao reconhecer o “primer,” a polimerase sintetiza uma cópia complementar, obedecendo à informação contida na sequência de DNA que será replicada, ou seja, sintetizada. A reação de PCR ocorre em três ciclos: a 1ª etapa (1º ciclo) é do anelamento, parte que habilita os primers a se anelarem à fita simples desnaturada, com duração de 30-45 segundos; na 2ª etapa (2º ciclo) ocorre a extensão, onde a Taq polimerase age para estender o molde, essa enzima é responsável por esta polimerização, tendo sido isolada a partir da bactéria termofílica Thermus aquaticus que vive em elevadas temperaturas, é essencial que a enzima usada seja estável ao calor, uma vez que os ciclos de PCR ocorrem em temperaturas situadas entre os 64ºC e 95ºC. Na 3ª etapa (3º ciclo) ocorre a desnaturação da molécula de DNA formado, servindo como molde para o próximo ciclo. A Figura 1 ilustra em resumo as etapas acima descritas da técnica de PCR. Para executar estes ciclos, usa-se um termociclador, que faz variar de forma rigorosa o tempo e a temperatura ao longo da reação. Normalmente são repetidos cerca de 30 ciclos, o que demora algumas horas. Assim, duas novas cadeias são sintetizadas a partir da cadeia-molde em cada ciclo completo de PCR, logo se dá um crescimento exponencial, havendo ao fim de n ciclos 2n vezes mais cópias do que no início. Figura 1. Representação esquemática do principio da técnica de Reação em Cadeia de Polimerase - PCR.

Fonte: http://depto.icb.ufmg.br/dmor/pad-morf/pcr2.htm . 418


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Os produtos da PCR permitem analisar a diversidade da comunidade microbiana total, e analisar a variação existente entre as sequências do DNA extraído do solo (MOTA et al., 2005). Muitas metodologias utilizam os produtos da amplificação em técnicas moleculares para determinados fins, nesse sentido, a aplicação das técnicas moleculares que utilizam os produtos da PCR, surge como uma grande alternativa para descrever a diversidade microbiana do solo contemplando em uma mesma análise informações taxonômicos e funcionais presentes na comunidade microbiana, além de gerar uma cobertura ecológica necessária para se inferir de forma concreta sobre a composição e a resposta dessas comunidades frente a diferentes condições ambientais estudadas (GANDRA et al., 2008). COSTA et al, 2013 utilizaram o DNA amplificado por PCR convencional para identificar a diversidade genética de bactérias isoladas de nódulos de feijão‑caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp) cultivado em solos do Cerrado piauiense, onde entre as 15 estipes selecionadas para o sequenciamento do gene 16S rRNA estão as quatro que nodularam o feijão‑caupi. Estas foram identificadas, com 99% de similaridade, como pertencentes aos gêneros Bradyrhizobium, Rhizobium sendo estas provenientes de nódulos de feijão-caupi e as do gênero Paenibacillus e Bacillus geralmente classificadas como bactérias endolíticas de nódulos. A PCR apresenta algumas variações, dentre as quais se encontra a real-time conhecida como PCR em tempo real, ou PCR quantitativo (qPCR), que se baseia na detecção e quantificação de compostos fluorescentes (fluorocromos), a exemplo de intercalantes como SYBR® Green ou sondas, como a TaqMan®, e difere da PCR convencional por monitorar o produto recém-sintetizado ao final de cada ciclo (OLIVEIRA, 2010). A Terra preta antropogênica é considerada um dos solos mais férteis do mundo e recebe essa denominação por ser originada da ação antropogênica, provavelmente de populações pré-colombianas que viveram nesses sítios arqueológicos. O crescente aumento por agricultura sustentável torna a utilização de bactérias produtoras de antibióticos uma alternativa de controle para doenças de plantas. Wong (2011), estudou a identificação e a quantificação do gene pirrolnitrina (prnD) em Terra Preta Antropogênica da Amazônica utilizando entre outros a PCR quantitativa em tempo real. Os DNAs totais das amostras de solo extraídos foram usados como molde nas reações de PCR quantitativo em tempo real para verificar a abundância do gene prnD nas amostras de solo, assim também foi quantificado o gene 16S rRNA. A analise filogenética do gene prnD mostrou que a maioria das sequências obtidas desse estudo não agruparam com as sequências do banco de dados do GenBank indicando que há diversidade do gene prnd nos isolados de solos amazônicos e que podem ser distintos dos descritos anteriormente. Apesar da Técnica de PCR em Tempo Real possibilitar muitos avanços nas pesquisas microbiológicas do solo, poucos experimentos foram realizados no Brasil e no mundo, segundo a literatura pesquisada. Sugere-se que essa técnica seja mais utilizada em estudos em virtude de seus pontos positivos já descritos, podendo gerar mais melhorias na agricultura e gerar conhecimentos que servirão de fonte para novas pesquisas.

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1.2 Eletroforese em Gel de Gradiente Desnaturante (DGGE) A técnica de DGGE consiste na eletroforese de fragmentos do gene 16S rRNA (componente da pequena subunidade ribossômica utilizado em reconstruções filogenéticas por possuir um alto grau de conservação e presença de regiões variáveis entre as espécies) amplificados por PCR, onde cada um dos iniciadores apresenta uma região rica em grampo GC – bases nitrogenadas Guanina e Citosina que visa impedir a total desnaturação da dupla fita do DNA durante a eletroforese em gel de poliacrilamida, contendo um crescente gradiente de desnaturante (ureia e formamida) que rompe as pontes de hidrogênio entre os nucleotídeos, possibilitando a separação de fragmentos do mesmo tamanho, mas com composição nucleotídica diferente. A separação na DGGE é baseada na mobilidade eletroforética da molécula de DNA parcialmente desnaturada no gel de poliacrilamida. As variações nas sequências dos diferentes fragmentos de DNA de uma amostra irão parar de migrar no gel em posições diferentes, gerando um padrão de bandas característico de cada comunidade estudada (MUYZER et al., 1993). Para que a DGGE aconteça é necessário que o DNA seja extraído de uma mistura, nesse caso, amostra de solo contendo DNA de várias espécies. Sucessivamente a mistura é usada como produto para amplificações por PCR de regiões variáveis de DNA de interesses taxonômico, obtendo um produto que é uma mistura de amplificações das espécies presentes, todos estes de mesmo tamanho, mas com sequências diferentes e que podem ser usados pela DGGE (FERREIRA, 2007). O resultado final é um fingerprint (impressão digital) que é especifico da amostra analisada e que contém uma série de bandas relativas às espécies microbianas presentes na amostra. A identificação destas espécies pode ser encontrada pela purificação e sequenciamento das bandas do perfil gerado pela DGGE ou, ainda como uma alternativa ao sequenciamento pode ser construído um marcador molecular, usando os amplificadores dos genes marcadores das espécies isoladas. Essa identificação é realizada pela comparação da distância de migração dos amplificadores no gel de DGGE com aquelas linhagens presentes na identificação dos primers, como observado no esquema simplificado na Figura 2.

Figura 2. Fluxograma para aplicação do Fringerprint de DGGE. Fonte: Adaptado de Ferreira (2007). 420


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A DGGE pode ser utilizado para análise de qualquer grupo de genes amplificados por PCR, no entanto, para estudos sobre a diversidade estrutural de comunidades microbianas, o gene 16S rRNA é especialmente útil por apresentar as características já citadas anteriormente, como alto grau de conservação e presença de regiões variáveis entre as espécies. Porém, se o objetivo do estudo é acompanhar a dinâmica populacional de grupos específicos de microrganismos, o desenho e a aplicação de primers que permitam a amplificação de fragmentos particulares do gene do 16S rRNA ou outros genes relacionados especificamente a esses microrganismos é o mais apropriado ( MARZORATI, 2008). Essa técnica está bem estabelecida como ferramentas moleculares para estudos de microbiologia ambiental, permitindo o estudo da complexidade e do comportamento das comunidades microbianas em grande número de amostras, de maneira rápida, com baixo custo e reproduzível (COUTINHO et al., 2006). Babujia et al., 2014 avaliaram a diferença na diversidade microbiana do solo sob Plantio Direto (PD) e Plantio Convencional (PC), em diferentes profundidades. Para isso, foram avaliadas as comunidades bacteriana (16S rDNA) e fúngica (18S rDNA) através da eletroforese em gel com gradiente desnaturante (DGGE). Os resultados revelaram baixa similaridade (28%) na profundidade de 0-5 cm para as comunidades bacterianas entre o sistema de PD e PC. A diversidade bacteriana foi superior no PD em todas as profundidades, quando comparado ao PC. Em relação às comunidades fúngicas, a maior diversidade foi detectada no sistema de PC, especialmente na profundidade de 0-5 cm. Os resultados indicam que as comunidades fúngicas podem ser mais tolerantes a estresses ambientais relacionados com a perturbação do solo que as bactérias. Maior ênfase deve ser dada para compreender os processos que afetam a diversidade dos microrganismos em solos agrícolas, com particular destaque para os sistemas de preparo do solo. Pereira, 2013 estudou a estrutura da comunidade microbiana do solo utilizando a DGGE em áreas com retirada da cobertura vegetal no semiárido nordestino, onde observou que esse processo de retirada da camada natural afeta as propriedades químicas e biológicas do solo em um curto espaço de tempo, alterando também a estrutura da comunidade fúngicas do solo. Foram analisados os padrões de bandas dos géis que demonstrou diferença na estrutura das comunidades microbianas ao longo dos períodos amostrais, visto que formaram bandas bem distintas. Esses resultados corroboram com a ideia de que a diminuição da diversidade de plantas pode levar a mudanças na comunidade fúngica do solo, visto que maior diversidade de plantas poderia promover maior riqueza de espécies na comunidade microbiana, devido às interações que ocorrem na rizosfera e entre plantas e micro-organismos. 1.3 Sequenciamento Metagenômico Atualmente a Metagenômica vem proporcionando uma nova abordagem de avaliação detalhada de genomas inteiros presentes em amostra de solo, propiciando a determinação da complexa microbiota do solo e fornecendo dados suficientes para compreender a diversidade 421


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da comunidade microbiana. É uma área que se encontra em um acelerado desenvolvimento e está gerando uma grande quantidade de informações biológicas, o seu sucesso depende de uma combinação de seleção de amostras adequadas, métodos eficazes de extração de DNA, a clonagem, as estratégias de seleção e as abordagens necessárias para o sequenciamento (KAKIRDE et al., 2010). O termo metagenômica foi utilizado pela primeira vez por Handelsman, em 1998, em que meta vem do grego que significa “além” caracterizando assim a expressão literal “ estudo que vai além de um único genoma”, em suma, a metagenômica é o conjunto de genomas trazendo um advento para biotecnologia (GOULART et al.,2013). A metodologia emprega técnicas moleculares clássicas (purificação e clonagem de DNA) e microbiológicas (perfil fisiológico), que juntas são ferramentas poderosas para trazer a luz o desconhecido e tornar possível a prospecção biotecnológica (SIMON, 2010). A fim de obter cópias de fragmentos de DNA oriundos de amostras ambientais, a metagenômica emprega em princípio a construção de uma biblioteca, além de servi como meio de identificação e categorização de microrganismo do solo. Os processos para construir uma biblioteca metagenômica incluem-se os processos de obtenção de DNA dos microrganismos do solo, ligação em vetores específicos, transformação em célula competente e cultivo dos clones e por fim o sequenciamento, de acordo o esquema mostrado na Figura 3. Figura 3. Esquema representativo das principais etapas de construção de uma biblioteca metagenômica oriunda de amostra de solo.

Fonte: Adaptado de Goulart et al. (2013). 422


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A exploração de amostras ambientais pela aplicação da metagenômica tem sido a técnica mais apropriada para desvendar um nicho ecológico (GORDON, 2007). O Solo é um ambiente de impressionante riqueza, o que aumenta o interesse na sua exploração, porém muitos microrganismos ainda são pouco caracterizados, o número de diferentes genomas procarióticos tem sido estimado na ordem de 2.000 a 18.000 genomas por grama de solo. Estes números podem estar subestimados, pois os genomas representam espécies raras e ocultas que podem estar sendo excluídas destas análises (SLEATOR et al., 2008). GOULART et al., 2013 estudou o perfil metagenômico de solo sob cultivo de cana-de-açúcar com perspectivas na produção de bioenergia, seu trabalho teve como objetivo avaliar o potencial funcional e biotecnológico da comunidade microbiana por meio da metagenômica WGS (whole genome sequencing) e caracterizar os principais grupos presentes no solo através da WGA (whole genome amplification). E apresentou como resultados o domínio de maior destaque as Proteobacteria, apontada como atuante principal dos diversos processos ecológicos. O estudo possibilitou também a construção de uma árvore de distância genética dos principais gêneros de bactérias, o que possibilitou estimar a relação dos grupos procarióticos obtidos. A biblioteca metagenômica construída possui pouco mais de 17 mil clones, sendo identificados três clones com atividade hidrolítica em meio contendo carboximetilcelulose como única fonte de carbono. A análise da estrutura química da palhada confirmou a importância da mesma na permanência do solo, contendo alto teor de carbono, influenciando o sequestro de carbono pela microbiota do solo. A análise por meio da plataforma Illumina possibilitou identificar diversas categorias funcionais presentes nas sequencias de DNA metagenômico dos microrganismos do solo sob cultivo de cana-de-açúcar. Foram identificados diversos genes dentre eles várias ATP binding, hidrolases, oxidoredutases e outros tabelados no material suplementar deste trabalho. Os autores afirmam que os resultados obtidos nesses estudos foram promissores e abrem novas perspectivas para ampliar os estudos na elucidação dos grupos funcionais identificados. SILVEIRA et al.(2006) compararam e estimaram a diversidade bacteriana de comunidades simpátricas em solos de duas áreas: uma floresta nativa (NFA) e outra adjacente com arboreto de eucaliptos (EAA). Os Oligonucleotídeos iniciadores foram utilizados para amplificar o gene 16S rDNA metagenômico do solo, o qual foi clonado usando pGEM-T e sequenciado para determinar a diversidade bacteriana. Foram analisados 134 clones do solo NFA e 116 clones do solo EAA. As sequências foram comparadas às depositadas no GenBank. Análises filogenéticas revelaram diferenças entre os tipos de solos e alta diversidade em ambas as comunidades. No solo de arboreto de Eucalyptus spp. foi encontrada maior diversidade bacteriana em comparação com o solo da área de floresta nativa. O Quadro 1 resume as principais técnicas moleculares para análise de microrganismos do solo. Quadro 1. Principais técnicas moleculares baseadas na amplificação de material genético utili423


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zada para determinar a diversidade microbiana do solo. Técnicas moleculares PCR convencional

PCR em Tempo Real

Finalidade • Amplificação do DNA

Referências Oliveira, 2013

• Seu produto permite analisar a diversidade da comunidade microbiana do solo. • Identificação e quantificação de gene em tempo real.

DGGE - Eletroforese em Gel de Gradiente Desnaturante

• Método de fingerprint (impressão digital)

Sequenciamento Metagenômico

• Avaliação detalhada de genomas. • Construção de uma biblioteca metagenômica.

Mota et al., 2005 Costa et al., 2013 Wong, 2011 Oliveira, 2010 Babujia et al., 2014 Pereira, 2013 Goulart et al., 2013 Silveira et al., 2006

Fonte: Autoria própria, 2016. CONCLUSÃO O estudo da diversidade microbiana do solo foi limitado durante muito tempo por tratar apenas pelos métodos tradicionais. Entretanto, após o surgimento das técnicas moleculares, algumas respostas sobre a diversidade dos micro-organismos e a funcionalidade das comunidades microbianas ambientais têm sido evidenciadas, visto que, a escolha da técnica molecular a ser empregada em um estudo irá depender do objetivo do trabalho, pois cada técnica molecular mencionada tem um princípio e uma finalidade diferenciados. Assim, as técnicas biotecnológicas disponíveis hoje oferecem subsídios para análise da diversidade, conservação e melhoramento da biodiversidade microbiana do solo, tendo em vista a crescente demanda global nesses setores, aliada à importância da preservação das florestas nativas e da biodiversidade, tornou essencial a adoção de estratégias biotecnológicas, as quais permitem uma análise genética mais apurada, contribuindo dessa forma, na indicação de metodologias para ações de manejo e recuperação de áreas degradadas. REFERÊNCIAS ARAÚJO, A. S. F.; EISENHAUER, N.; Nunes, L.A.P.L ; LEITE, L. F. C. ; CESARZ, S. . Soil Surface-Active Fauna in Degraded and Restored Lands of Northeast Brazil. Land Degradation & Development, v. 26, p. 1-8, 2015. BABUJIA, C.L.; SILVA, P.A.; NOGUEIRA, A.M.; HUNGRIA, M. Microbial diversity in an 424


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