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Revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto, Nº 22, II Série, Agosto de 2015, 2.5 Euros
INOVAÇÕES QUE ENSINAM A ENSINAR, Pág. 16 EDUARDO AIRES: UM PONTO BASTOU PARA REINVENTAR O PORTO, Pág. 08 NOVA ESTRATÉGIA PARA A EMPREGABILIDADE, Pág. 12 AVANÇOS NA REGENERAÇÃO CELULAR, Pág. 22 ENTREVISTA A NUNO PORTAS, Pág. 26 UM (RENOVADO) PLANETÁRIO 5 ESTRELAS, Pág. 32 CICAP:DOTURBILHÃO REVOLUCIONÁRIOÀ PACATEZ DASAULAS, Pág.36 OS POUCO CONVENCIONAIS LIKEARCHITECTS,Pág.40
Homenagem Figura Eminente 2015
Junho 2015 — Dezembro 2015
Manuel Duarte Baganha [1922-2004]
Faculdade de Economia
Contabilidade e Cálculo de Custos
“Não há nada com mais interesse prático do que uma boa teoria”
O Economista O Professor Uma magistratura de influência na academia e fora dela
“Há sempre [um aluno] que está diante de nós que é melhor do que nós.”
8 outubro, 18h30 ConFErênCia ManuEl DuartE Baganha: o aCaDéMiCo Faculdade de Economia da Universidade do Porto — 22 outubro, 18h30 ConFErênCia ManuEl DuartE Baganha: o EConoMista Local a confirmar —
6 novembro, 18h30 ConFErênCia ManuEl DuartE Baganha: a intErvEnção CíviCa Local a confirmar — 20 novembro, 18h30 ConFErênCia ManuEl DuartE Baganha: a visão Do MunDo Local a confirmar —
27 novembro, 14h30 MEsa rEDonDa os DEsaFios Da rEvisão DE Contas Faculdade de Economia da Universidade do Porto — 27 novembro, 17h00 MEsa rEDonDa os DEsaFios Da ContaBiliDaDE Faculdade de Economia da Universidade do Porto —
14 dezembro, 18h00 sEssão DE FECho Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto —
1º semestre 2016 aprEsEntação livro DE hoMEnagEM a ManuEl DuartE Baganha — 2º semestre 2016 rEEDição artigos puBliCaDos por ManuEl DuartE Baganha soBrE sistEMas DE CustEio —
Comissária da homenagem Maria de Fátima Brandão
figuraeminente .up.pt/2015
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U
ma instituição universitária que pretenda estar na vanguarda da formação superior tem que manter em permanência uma atitude e uma ação de inovação pedagógica, algo que exige muito da comunidade universitária, em particular dos seus órgãos de governo, a todos os níveis, e dos seus professores. Não estou a falar em alterar a matriz fundamental. Para lá da muito cantada “ligação à prática”, que em “dose equilibrada” deve estar presente de forma evolutiva na oferta formativa, os estudantes devem adquirir ao longo da sua formação um conhecimento sólido dos princípios fundamentais associados às suas áreas de estudo. Devem desenvolver uma visão holística dos fenómenos e das perceções, de forma a prepararem-se para o estudo que necessariamente irão continuar ao longo das suas vidas. Falo, sim, da adaptação do ambiente de estudo e aprendizagem que a universidade deve proporcionar, de adequá-lo às vivências e motivações das novas gerações e aos meios tecnológicos disponíveis em cada época. A inovação pedagógica implica, pois, mudanças qualitativas nas metodologias de ensino e aprendizagem, o que significa promover ações, práticas e projetos que sejam inovadores em
relação aos modelos educativos em vigor, com o intuito de incrementar a qualidade da aprendizagem e a subida das taxas de sucesso escolar. Como se pode constatar pela leitura do tema em destaque neste número da revista, a U.Porto tem em curso uma estratégia determinada de promoção da inovação pedagógica. Com esta estratégia, pretendemos valorizar a componente pedagógica dos docentes, otimizar os modelos educativos dos cursos/unidades curriculares, promover a interdisciplinaridade do conhecimento, promover o uso de tecnologias digitais, fomentar a aprendizagem centrada no trabalho do estudante e fomentar a ligação entre a aprendizagem e a investigação. Este é o caminho para a melhoria contínua da qualidade do nosso ensino, aferida pelos padrões internacionais. Este é o caminho para o reforço da nossa reputação, forma única de competir, interna e externamente, pelos melhores estudantes e docentes. É no quadro desta política que a U.Porto atribui anualmente o Prémio de Excelência Pedagógica. A intenção é distinguir docentes que desenvolvam atividades ou projetos de inovação pedagógica. Neste número da revista podemos conhecer alguns dos vencedores deste prémio, que nos explicam, na secção Em Foco, os seus novos métodos pedagógicos e os resultados que produzem. Durante este mandato, e tal como propus na minha candidatura a reitor, iremos aprofundar os métodos de “educação sem fronteiras e sem paredes”, com recurso às tecnologias digitais, um tema em grande desenvolvimento nas principais universidades internacionais. É claro que todos estes instrumentos pedagógicos promovem a autoaprendizagem, estimulam a cooperação entre parceiros distantes, tornam os conteúdos pedagógicos mais cati-
vantes e, no fim da linha, são agentes de aumento da produtividade do trabalho. Contudo, esta é uma área que exige gradualismo. Não se mudam métodos educativos e sobretudo mentalidades da noite para o dia. Em termos tecnológicos, já estamos preparados para dar um salto qualitativo no ensino aberto e à distância, mas ainda temos um caminho a percorrer em termos de massa crítica, de lideranças, de garantia de qualidade e de formação docente. Torna-se, pois, necessário apostar fortemente em ações de formação na área das novas tecnologias de educação, dirigidas à nossa comunidade académica. Só assim seremos capazes de protagonizar uma evolução sólida nas metodologias pedagógicas. Ora é essa, justamente, a ação que temos em curso. Este é tempo de fim de ano letivo. Resta-me desejar a todos umas boas e certamente que merecidas férias.
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Sebastião Feyo de Azevedo
Reitor da Universidade do Porto
EDITORIAL
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Notícias sobre a comunidade académica da U.Porto, como a inauguração do Parque da Quinta de Lamas, as comemorações da Figura Eminente 2015, a acreditação da Universidade para a prestação de serviços a PME, a reabertura do Pavilhão de Exposições da FBAUP ou a aprovação do Plano de Ação do reitor.
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APOIO MULTIMÉDIA TVU DIRETOR Sebastião Feyo de Azevedo
UPorto Alumni Revista dos Antigos Estudantes da Universidade do Porto Nº 22, II Série
EDIÇÃO E PROPRIEDADE Universidade do Porto Gabinete do Antigo Estudante Serviço de Comunicação e Imagem Praça Gomes Teixeira • 4099-345 Porto Tel: 220408210 ci@reit.up.pt
REDAÇÃO Anabela Santos Paulo Gusmão Guedes Pedro Rocha Raul Santos Ricardo Miguel Gomes Tiago Reis
SUPERVISÃO REDATORIAL Ricardo Miguel Gomes
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4 IMPRESSÃO MultiPonto
PERIODICIDADE Bianual DESIGN Rui Guimarães
TIRAGEM 73.000 FOTOGRAFIA Egídio Santos
ICS 5691/100
DEPÓSITO LEGAL 149487/00
Maria Manuela Santos (FDUP) Mariana Pizarro (ICBAS) Noémia Gomes (FAUP) Olga Magalhães (FMUP)
NO CAMPUS
COLABORAÇÃO REDATORIAL Conselho Coordenador de Comunicação: Ana Caldas (FPCEUP) Carlos Oliveira (FEUP) Cristina Claro (FADEUP) Elisabete Rodrigues (FCUP) Fátima Lisboa (FLUP) Felicidade Lourenço (FMDUP) Gabinete de Marketing e Comunicação (FEP) Joana Cunha (FBAUP) Joana Macedo (FFUP) Mafalda Ferreira (Porto Business School) COORDENAÇÃO EDITORIAL Ricardo Miguel Gomes
EM FOCO
PERCURSO Era ainda imberbe quando ganhou o seu primeiro prémio. E ganhou-o lá fora, no período em que viveu na Alemanha ocidental. E ganhou-o num concurso de desenho, levando para casa uma bicicleta. Talvez fosse já augúrio dos vários e prestigiados prémios internacionais que, em três décadas de carreira, Eduardo Aires conquistaria na área do design de comunicação.
PORTO CIDADE REGIÃO O desemprego jovem é um drama social ao qual já nem os diplomados escapam. Para enfrentar esta situação, a U.Porto gizou uma estratégia de promoção da empregabilidade. Estratégia, essa, que passa pela reconfiguração do Observatório do Emprego da Universidade, pelo reforço da oferta de formação em competências transversais e pela realização de uma feira de emprego.
O século XXI trouxe novos desafios para o interior das salas de aula da U.Porto. Para lhes dar reposta, a Universidade vem promovendo um conjunto alargado de experiências de ensino e aprendizagem inovadoras. Para conhecer esta nova realidade, fomos participar num parto simulado com bonecos, descobrir os mais complexos conceitos da engenharia com a ajuda do Youtube e aprender a desenhar no interior de uma galeria de arte virtual.
EMPREENDER Fazem parar, pensar e, talvez, agir. O convite é provocatório. Os materiais que usam são improváveis. As cores, inusitadas. Até a conceção de tempo não é a habitual para arquitetos… Se pensarmos que uma construção pode levar anos a erguer… As deles são efémeras. Estes não são arquitetos convencionais. Incubada no UPTEC, a startup LIKEarchitects nasceu em 2012.
As lesões na espinal medula, assim como as doenças neuro-degenerativas, parecem querer testar os limites do conhecimento humano sobre o seu próprio corpo e também a capacidade de intervenção das ciências da saúde. Em dois institutos da U.Porto (IBMC e INEB), diversos grupos de investigadores procuram conhecer os mecanismos regenerativos e desenvolver técnicas que permitam aplicações terapêuticas.
CULTURA O cinema imersivo chegou à cidade do Porto! Com uma cúpula nova, compatível com os modernos sistemas de projeção digital fulldome, e um investimento de cerca de 500 mil euros, o Planetário do Porto leva-nos numa viagem por dentro da “Vida - uma história cósmica”. Trata-se, aliás, do maior planetário digital em funcionamento no país.
VIDAS E VOLTAS
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INVESTIGAR
Professor Emérito da U.Porto e investigador da FAUP, Nuno Portas reflete sobre as políticas habitacionais, a “cidade extensiva”, as áreas metropolitanas e a regionalização. Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo durante o PREC, o arquiteto que liderou politicamente o SAAL não vê hoje esse programa de realojamento como “a política da Revolução” nem como uma “experiência arquitetónica”.
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FACE A FACE
No dia 3 de outubro de 1975, o Centro de Instrução de Condução Auto do Porto do Exército Português é encerrado. A ordem, emanada do comandante da Região Militar Norte, Pires Veloso, pretendia pôr fim à “insubordinação coletiva” dos militares daquela unidade. Esta decisão deu origem a um dos episódios de maior tensão do PREC no Porto, mas fortaleceu a presença da Universidade no centro da cidade.
DESPORTO Mais de duas mil pessoas, na sua grande maioria da comunidade académica da U.Porto, estão a “mexer-se” com o UPFIT, o programa do CDUP-UP que, desde 2013, trabalha para melhorar a qualidade de vida de docentes, estudantes, alumni e colaboradores. De resto, com o cartão UPFIT é possível participar em nove sessões à escolha.
NO CAMPUS
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U.Porto inaugura parque para a cidade
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A U.Porto inaugurou, no dia 2 de julho, a 1.ª fase do Parque da Quinta de Lamas, um espaço verde com aproximadamente 3 hectares, situado entre as faculdades de Engenharia e de Economia (gaveto das ruas Roberto Frias e D. Frei Vicente da Soledade e Castro), no Polo da Asprela. Cofinanciado ao abrigo do Convénio de Cooperação entre a U.Porto e o Banco Santander Totta, o primeiro parque urbano de uso público da Universidade teve um custo total de cerca de 1,1 milhões de euros e demorou quase um ano a ficar concluído. Antes de ser alvo da intervenção coordenada pelo arquiteto paisagista e professor associado da FCUP Paulo Farinha Marques, o conjunto de terrenos em causa (na sua maioria propriedade da U.Porto) incluía baldios, áreas cultivadas, edifícios rurais (quase todos devolutos e em avançado estado de degradação), edifícios universitários, ruínas de uma antiga viela, um parque de estacionamento improvisado e uma ribeira encanada.
A somar a este cenário de baixa qualidade ambiental e paisagística, havia ainda problemas de ordenamento territorial, como a generalizada falta de unidade e congruência do espaço urbano e a necessidade de uma nova via que acomodasse a circulação automóvel e pedonal e organizasse o estacionamento. Por outro lado, sendo uma zona de grande concentração humana, em particular de estudantes, tornava-se gritante a carência de um espaço de recreio e lazer ao ar livre. Para atalhar este estendal de problemas ambientais, paisagísticos e urbanísticos, a anterior equipa reitoral e as anteriores direções das faculdades de Engenharia e Economia definiram, em conjunto com a equipa de projetistas (na sua maioria da FCUP e da FEUP), um programa de requalificação urbana com as seguintes prioridades de intervenção: projetar uma mancha verde unificadora e promotora da qualidade ambiental e paisagística da zona; estabelecer uma ligação explícita (física e visual) entre a FEP e a FEUP; construir um novo arruamento e organizar o estacionamento; proporcionar oportunidades de recreio em espaço verde (desporto informal, percursos pedonais e cicláveis, zonas de socialização); maximizar a área permeável revestindo-a com vegetação adequada ao uso público; ‘na-
turalizar’ a Ribeira da Asprela; redesenhar os espaços exteriores a partir de uma estrutura arbórea; e adotar materiais com valor ecológico, económico e estético. Com base nestas premissas, nasceu agora um parque urbano sobre os antigos terrenos de uma quinta setecentista, propriedade do Solar de Lamas. Parque, esse, no qual sobressaem uma grande clareira relvada, envolvida por uma orla arbórea. Destaque ainda para uma alameda larga, ensaibrada e flanqueada por dois alinhamentos paralelos de árvores. Há também um novo arruamento, unindo equipamentos e edifícios e regularizando o espaço de estacionamento. Além disto, a Ribeira da Asprela passou a correr a céu aberto, com leito e margens naturalizados.
Fotos Egído Santos
Objetivos que se enquadram na estratégia de abertura à cidade, de interação com a comunidade e de promoção do desenvolvimento local que está a ser seguida pela U.Porto. E foi também animada por estes propósitos que, durante a cerimónia, a Universidade assinou um protocolo de colaboração com a CM Porto, a Águas do Porto, o IPP e a Porto Lazer tendo em vista a concretização da 2.ª fase do parque. Também o Banco Santander Totta se associou a esta iniciativa, contribuindo para a componente de financiamento da empreitada que cabe à U.Porto. RMG
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A vegetação do novo parque é extensa e predominantemente arbórea. Para se ter uma ideia, a área semeada atingiu os 18.300 m2 e foram plantadas cerca de 700 árvores e arbustos. Dominam as espécies nativas, embora também existam espécies ornamentais não invasoras. Refira-se ainda a instalação na alameda de um passadiço amplo, de estrutura metálica e piso em madeira. E há também a salientar a construção de muretes‐banco em betão e de muros em alvenaria de pedra, refazendo a tipologia vernácula dos muros existentes na Quinta de Lamas. Com este parque, a U.Porto está a proporcionar à cidade um polo de recreio ao ar livre, a promover a qualidade ambiental do campus da Asprela e a conferir unidade espacial, coerência urbanística, valor estético e mobilidade acrescida a uma zona de forte concentração urbana.
NO CAMPUS
3 milhões de euros para fomentar Erasmus
A U.Porto viu aprovados três projetos no âmbito do programa Erasmus, totalizando 3 milhões de euros. Desta forma, a Universidade obteve apoio financeiro da Comissão Europeia (CE) para fomentar a mobilidade internacional de estudantes de todo o mundo, objetivo que anima o programa Erasmus. Os três projetos aprovados foram o “Erasmus Tradicional”, para estudantes da U.Porto que pretendam estudar dentro da Europa, o “Mobile+: International Credit Mobility”, para mobilidade fora da Europa, e o “Work+”, um consórcio para estágios em empresas sedeadas na Europa. Recorde-se que, só ao longo deste ano, a U.Porto recebeu cerca de 1.900 estudantes de mobilidade, que se juntaram aos mais de 1.600 estudantes e investigadores internacionais que estão já na Universidade a realizar um curso completo ou a desenvolver atividades científicas. Importa acrescentar, a propósito, que, segundo o último relatório da CE, a U.Porto é a 24.ª universidade europeia mais procurada pelos estudantes estrangeiros que participam no programa Erasmus. A comunidade académica da U.Porto é hoje constituída por 124 nacionalidades, continuando a ser o Brasil, a Espanha e a Itália os países mais representados numa longa lista onde constam também o Bangladesh, o Camboja, o Irão, Porto Rico ou o Senegal, por exemplo. PR/RMG
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Manuel Baganha é a Figura Eminente 2015
Manuel Baganha (1922-2004) é a Figura Eminente 2015 da U.Porto, sendo por isso alvo de um conjunto de iniciativas de homenagem, até ao final do ano. Do programa de eventos constam conferências, debates, edições de livros, exposições, entre outras ações que celebram a vida e a obra do insigne economista. Natural do Porto, Manuel Baganha frequentou a primeira licenciatura da FEP entre 1953 e 1958. Começava aí uma ligação à U.Porto que se reforçaria a partir de 1961, quando o economista integrou o corpo docente da Faculdade. Até à sua jubilação, em 1993, participou na Comissão de Reestruturação da Licenciatura em Economia da FEP (1977-1978), foi Presidente do Conselho Diretivo da Faculdade (1985-1993) e desenvolveu importantes trabalhos científicos nos domínios da Contabilidade de Custos, da Gestão de Empresas e do Cálculo de Custos. O economista distinguiu-se ainda pela sua intensa participação cívica e cultural. Esteve ligado ao Círculo de Cultura Teatral, ao Orpheon Portuense e aos Amigos do Coliseu, para além de ter assumido a presidência da Assembleia Municipal do Porto entre 1990 e 2002. Contribuiu também para o desenvolvimento curricular de outras instituições do ensino superior e participou na formação e desenvolvimento de várias organizações profissionais. Foi distinguido com o grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito, em 1995, e com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 1999.
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PR / RMG
U.Porto acreditada para serviços de apoio a PME
A U.Porto integra a bolsa de entidades acreditadas para a prestação de serviços no âmbito dos Vales de Internacionalização, Inovação e Empreendedorismo do Portugal 2020. O novo quadro comunitário prevê um conjunto de vales de desconto até 15 mil euros para incentivar as PME a contratarem serviços especializados nos domínios da inovação, empreendedorismo, internacionalização e I&D. Vales, esses, que funcionam como cheques ou vouchers, financiando até 75% a fundo perdido despesas elegíveis com um limite máximo de 20 mil euros. Antes de beneficiarem dos serviços de consultoria da U.Porto, as empresas devem concorrer aos vales através do Balcão 2020 (www.portugal2020.pt) e até março de 2016. Para se candidatarem, as empresas têm de apresentar uma situação líquida positiva, identificar o problema a solucionar e demonstrar que os serviços a contratar contribuirão efetivamente para a sua rápida resolução. A criação de postos de trabalho e a data de entrada da candidatura podem ser critérios de desempate na atribuição dos vales. Para aceder aos serviços de consultoria da U.Porto nas áreas de empreendedorismo, inovação e internacionalização, pode ser usado o contacto upin@reit.up.pt. RMG
Desde 18 de maio que os estudantes da FBAUP têm um espaço próprio para exporem os seus trabalhos e a cidade do Porto um local para descobrir o acervo da escola que formou artistas como Ângelo de Sousa, José Rodrigues, Júlio Resende ou Nadir Afonso. Trata-se do reabilitado Pavilhão de Exposições, uma sala de um único piso com 280 m2 de superfície e 4,50 m de altura. Após uma intervenção orçada em 400 mil euros, o Pavilhão de Exposições foi ajustado às necessidades e expectativas atuais, introduzindo melhores condições de conforto, segurança e controlo ambiental. No entanto, o projeto respeitou e repôs as singulares características do espaço expositivo original. Refira-se que o Pavilhão beneficia de luz natural proveniente de uma ampla janela na parede norte e da cobertura envidraçada ao longo de toda a galeria, controlada por um sistema de lâminas ajustáveis. O edifício encontra-se agora reabilitado para os fins a que fora inicialmente destinado: dar a conhecer o acervo do Museu da FBAUP e revelar os trabalhos produzidos pelos estudantes da Faculdade. Para assinalar a abertura deste novo espaço expositivo da cidade do Porto, foi inaugurada a exposição “520 Horas”, que reuniu obras do acervo do Museu da FBAUP e esteve patente até 31 de julho. RS / RMG
Novo portal da U.Porto Mais acessível, funcional e direcionado para a promoção da instituição a nível nacional e internacional, o novo portal da Universidade nasce para facilitar a interação com os públicos com quem ela se relaciona, mas também para reforçar o valor da marca U.Porto. Na prática, esta aposta traduz-se na disponibilização de duas formas de navegação. A primeira está sustentada em torno das sete áreas de informação que compõem a estrutura principal de conteúdos do site: Universidade, Ensino, Investigação, Inovação, Internacional, Cultura e Viver. Uma outra forma de navegação passa pelas gateways, através das quais os diferentes públicos-alvo da U.Porto (pré-universitários, estudantes, estudantes internacionais, alumni, profissionais e empresas) podem aceder rapidamente a um conjunto de informações relacionadas com os seus interesses específicos. Uma versão otimizada para dispositivos móveis e uma versão integral em inglês, a estética cuidada do webdesign e a aposta em conteúdos multimédia (ainda não implementada na plenitude, mas que passará pela inserção regular de infografias e conteúdos vídeo) são outras das mais-valias do portal. Suportado pelo sistema de informação SIGARRA, o portal integra ainda uma segunda dimensão (nível organizacional), que assegura o acesso a conteúdos informativos de natureza transversal a toda a comunidade da U.Porto. TR
Conselho Geral aprova Plano de Ação do reitor
O Conselho Geral, órgão de governo da U.Porto, aprovou o Plano de Ação apresentado pelo reitor, Sebastião Feyo de Azevedo, para o seu mandato. Recorde-se que este documento propõe um total de 179 medidas a implementar até final do presente mandato, em 2018. Medidas, essas, que contemplam 12 domínios de intervenção, desde a formação e inovação pedagógica às relações com as empresas, inovação e empreendedorismo, passando pela cultura, desporto e relações externas. O Plano de Ação reafirma o desígnio proposto pelo reitor no seu programa de candidatura: “Tornar a U.Porto uma instituição mais moderna, sustentável, competitiva e internacional; uma instituição que cumpra de forma exemplar a sua missão em prol do desenvolvimento de Portugal e do fortalecimento das relações entre os povos”. O Conselho Geral aprovou ainda a continuação do regime fundacional, decorrido que está o período experimental de cinco anos estabelecido por lei para avaliação deste modelo de governação pelas universidades constituídas em fundações públicas de direito privado. A decisão foi transmitida ao secretário de Estado do Ensino Superior, José Ferreira Gomes, pelo presidente do Conselho Geral, Alfredo de Sousa, que solicitou a tomada das providências necessárias para a extensão do regime fundacional na U.Porto. RMG
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FBAUP reabre Pavilhão de Exposições
PERCURSO
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“Quem conta um conto acrescenta um ponto” Provérbio popular
O DESIGNER QUE ACRESCENTOU UM PONTO AO PORTO
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RICARDO MIGUEL GOMES
E
ra ainda imberbe quando ganhou o seu primeiro prémio. E ganhou-o lá fora, no período em que viveu na Alemanha ocidental. E ganhou-o num concurso de desenho, levando para casa uma bicicleta. Talvez fosse já augúrio dos vários e prestigiados prémios internacionais que, em três décadas de carreira, Eduardo Aires conquistaria na área do design de comunicação. Os últimos galardões foram arrebatados porque ao Porto acrescentou um ponto, como quem conta um conto. Esgravatando nos recônditos da memória, Eduardo Aires atribui a origem do seu enlevo pelo design às visitas que o banco público alemão, o Sparkasse, fazia à sua escola primária na Renânia do Norte, então na República Federal Alemã (RFA) – país onde os seus pais ensinavam Português para escaparem às agruras da ditadura, no início da década de 1970. “Sempre tive um fascínio por aquela marca [do Sparkasse]. Aquilo [um “S” semelhante ao do Super-Homem mas com um ponto em cima. Novo augúrio?] encantava-me. Acho que, a partir daí, percebi que a minha relação com o design era muito forte”, recorda o designer nascido no Cartaxo em 1963. Na verdade, independentemente do poder gráfico daquele “S”, Eduardo Aires era já um puto constantemente reclinado sobre um bloco de papel, rabiscando desenhos como se não houvesse amanhã. Não é por isso de estranhar que, com menos de 10 anos, tenha ganho um prémio de desenho num concurso organizado por um desses bancos alemães que peregrinavam pelas escolas levando a boa nova da frugalidade e temperança teutónicas. “Ainda hoje a minha terapia é o desenho. Para mim, o desenho é uma espécie de templo onde me encontro e tenho tempo para a reflexão”, diz.
A passagem pela Alemanha, onde concluiu a escola primária, permitiu-lhe “viver na antecipação”. “Era uma sociedade mais organizada e eu beneficiei com isso. Quando regressei, sentia-me, não superior, mas mais à frente em relação aos meus colegas. Recordo-me de muito cedo andar de avião sozinho. E se nos primeiros tempos era uma coisa terrífica, depois passou a funcionar ao contrário, ou seja, aumentou imenso a minha confiança, a minha mobilidade, a minha capacidade de comunicar com as pessoas”. Além disso, “visitava museus e viajava muito com os meus pais pelo centro da Europa. E isso deu-me mundo”. O regresso a Portugal dá-se em meados dos anos 70, quando Eduardo Aires já se sentia um verdadeiro alemão, ao ponto de, em 1974, ter vindo para a rua celebrar a conquista do Campeonato do Mundo de Futebol pela seleção capitaneada por Franz Beckenbauer. Arribou então em Coimbra, onde tinha os avós tanto do lado paterno como materno. Os pais, esses, ficaram na RFA até ver no que é que o PREC dava. Dois ou três anos depois, Eduardo Aires já administrava sozinho a casa dos pais, ainda que com os avós à ilharga. Isso “reforçou muito a minha autonomia. Comecei a ter consciência da gestão da casa e da vida de uma forma muito precoce”. ESBAP: uma “história bonita” No liceu, não vacilou ao escolher a área curricular que lhe permitia o ingresso num curso superior de Design. À época, finais dos anos 70, o design vivia ainda num relativo obscurantismo mas os pais acataram a decisão pacificamente. Assim, findo o ensino secundário, Eduardo Aires despede-se de Coimbra para ingressar, em 1982, na Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), que, dez anos depois, deu origem à Faculdade de Belas Artes (FBAUP). Da ESBAP, que escolheu por ser a escola mais próxima da sua área de interesse, o design de comunicação, guarda “memórias muito fortes”. Destaca, a propósito, a “prática de um espírito ‘bauhausiano’ de integração das artes. Os estudantes de Arquitetura, Design, Pintura e Escultura sempre conviveram entre si e tinham aulas
em comum. E isso fazia um caldo químico extremamente interessante”. Por outro lado, “a Faculdade ainda hoje tem um campus lindíssimo, com um jardim muito bonito”. Ora, “quando somos poucos a viver intensamente um sítio belo, com muitos amigos, a história tem de ser bonita”. E mais bonita se revelou graças ao escol de artistas que então lecionava na ESBAP, do qual Eduardo Aires destaca Fernando Pernes, Joaquim Matos Chaves, Dario Alves, Domingos Pinho e Gustavo Bastos. “Só tive um professor designer: Jorge Afonso, que foi um dos meus pilares, juntamente com Dario Alves. São as minhas grandes referências: Jorge Afonso mais ligado à componente de projeto, mais cerebral, mais racional; Dario Alves mais ligado à emoção, à componente mais poética e utópica da criação. A fusão dos dois fez-me muito bem”, sublinha. Nos primeiros anos de curso, Eduardo Aires amodorrava nos jardins da ESBAP em transe artístico-boémio. Mas nos 4.0 e 5.0s anos despertou da letargia e entregou-se furiosamente aos estudos, obtendo uma série de vintes. “Tive um aha! moment. Passei a focar o meu interesse exclusivamente na Faculdade. Jogava râguebi e futebol e deixei de o fazer. Apaixonei-me pela situação”. Mais assisado, Eduardo Aires descobriu, através de Jorge Afonso, a “Escola Suíça, o racionalismo e o funcionalismo no design. Uma componente muito cerebral do projeto, em que tudo é pensado ao detalhe de uma forma estratégica”, como é patente no trabalho de Emil Ruder e de Josef Müller-Brockmann. “Por outro lado, tinha as influências do Dario Alves: o chamado late modern americano, com os Push Pin Studios e Milton Glaser, Seymour Chwast…”. Hoje, Eduardo Aires vai “beber a um outro mentor, Kenya Hara, que é o designer da Muji”.
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Fotos Egído Santos
Ver vídeo em: http://tv.up.pt/premiums/54
PERCURSO
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Painel com a nova identidade visual da cidade do Porto, nos Paços do Concelho.
O brilhantismo demonstrado no curso, que concluiu em julho de 1987, valeu-lhe o convite para participar num concurso para docente da ESBAP. Entrou e em outubro estava a dar aulas. “Não me revejo na ideia do mestre glorificado e endeusado, mas tenho gosto em dar aulas. O prazer maior é perceber que contribui para que um aluno pense o design de uma forma diferente. E acho de facto que consigo ensiná-los a pensar, perante um projeto, qual a metodologia que devem aplicar”. A respeito da docência, sublinha ainda que “é um processo dialético”. “Eu dou mas também recebo muito dos meus estudantes. Esta interação é extremamente gratificante. Quando estou com os meus alunos, desligo completamente da minha vida profissional. E isso torna o ato de ensinar um momento muito especial. Saio espremido das aulas. Às vezes apetece-me ir ver o Beira-Mar – Campomaiorense de 1987 só para seguir a bola e não ter mais em que pensar”. No entanto, “não trabalho em função do título de mestre. Gosto, sim, de sentir que sou um professor amigo, que ajuda, que é sensível”.
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Ateliê multipremiado Feito o tirocínio na vida académica, Eduardo Aires abalançou-se no mercado como designer. Primeiro com António Modesto, seu colega na FBAUP.
Alugaram uma sala de trabalho, “sem estatuto de ateliê”, ressalva, em que António Modesto criava ilustrações e ele dedicava-se ao design de comunicação. Depois, já nos anos 90, avançou finalmente para um ateliê, o Quatro Cores, em Gaia, que juntava cerca de 20 profissionais, entre eles os designers Mário Moura, Miguel Carvalhais e Rui Trindade. “Era um ateliê muito vocacionado para a componente editorial”, dado que “praticamente só fazíamos livros”. Contudo, “percebi que não era o meu modelo de trabalho. Comecei a sentir algum incómodo e depois entrei num registo de trabalho só com uma pessoa, num ateliê multidisciplinar chamado Eduardo Aires Design”, conta. Mas ainda não era este o modelo ideal, por isso decidiu, no final da década de 1990, mudar o nome do ateliê para White Studio. “Percebi que faria mais sentido ter uma nomenclatura neutra, que fosse buscar conceitos com os quais eu estava mais ligado. Para mim, white is a starting point”. Como gosta de “ciclos na vida”, sentiu de novo a “necessidade de mudar de ares e de equipa”, que agora conta com cinco elementos. Assim, em 2013, deslocalizou da seleta Foz para a trendy mas mais barata Baixa. O seu novo estúdio está localizado junto ao Mercado do Bolhão, num edifício cuja recuperação foi distinguida com o Prémio João de Almada, atribuído pela CM Porto. E, não contente, abriu ainda um escritório em Santiago do Chile e encontrou parceiros em Londres e Paris. “Ao longo da minha vida, fui estabelecendo relações de amizade com muitas pessoas e essas relações deram origem a parcerias. Há um misto de aproveitamento dos canais que já tinha com a situação económica [portuguesa] e a capitalização dos prémios”, explica. Com esta internacionalização, o estúdio “ganhou visibilidade e proximidade”, assegura. “Um inglês tem alguma curiosidade mas também alguma relutância em contactar um estúdio português, sobretudo pela língua e pela distância. Tendo estes parceiros, tornámo-nos mais acessíveis e as pessoas contactam-nos mais facilmente”. Tanto assim que o White Studio é já bastante consultado para projetos internacionais, como desenhar a revista de bordo da Swissair ou o packaging de um perfume francês. De resto, estão atualmente a trabalhar na Alemanha e tiveram pedidos de colaboração nos EUA. Eduardo Aires admite, contudo, que “o volume de
Nova “Ribeira Negra”? Apesar dos inúmeros projetos marcantes de que foi autor, a criação da nova identidade visual da cidade do Porto é o trabalho mais conhecido e premiado de Eduardo Aires. Selecionada num concurso de ideias promovido pela autarquia, a marca apresenta, como assinatura, a palavra Porto rematada com um ponto final. A ladear a assinatura surge um conjunto de ícones alusivos à cidade: Torre dos Clérigos, Casa da Música, caves de vinho do Porto, edifício da câmara, Sé Catedral… Tudo isto em branco e azul. “O Porto por si próprio tem caráter; afirma-se como uma cidade única. De tal forma que bastou acrescentar um ponto ao Porto. Levámos ao máximo a ideia de síntese”, explica Eduardo Aires, não deixando de revelar outros pormeno-
Logotipo da Sparkasse, que fascinou Eduardo Aires durante a infância vivida na RFA.
res sobre o processo de branding: “Na fase de discussão aqui no estúdio, por mais voltas que dessemos sobre o que era uma ideia de Porto, nós sempre dizíamos: ‘Eh pá, o Porto é o Porto e já está’. Deixem-se de tretas: o Porto justifica-se por si próprio. Não é preciso adjetivar”. Por isso, “o ‘Porto.’ é só e apenas a definição do caráter de uma cidade”. Quanto aos ícones, o designer esclarece que “fazem parte de uma gramática do Porto”, ao mesmo tempo que “refletem a cidade na sua diversidade. O Porto de Campanhã é diferente do Porto da Foz. O Porto do Primavera Sound é um Porto diferente do Porto do futebol. O Porto expressa-se por diferentes ícones”. Aliás, a campanha começou com cerca de 20 ícones mas já vai em mais de 100. Trata-se “de um sistema aberto, que permite a entrada de novos ícones”. De resto, “a câmara está recetiva a propostas de novos ícones, se devidamente fundamentadas. Ainda há pouco tempo pediram-nos para desenhar o [Estádio do] Dragão e o coração de D. Pedro”. Tudo isto porque “o ‘Porto.’ não é um Porto monolítico: é um Porto plural”. A marca “Porto.” foi quase unanimemente bem recebida por uma cidade que, amiúde, se revela conservadora e relutante à mudança. Para Eduardo Aires, “as pessoas foram surpreendidas pela capacidade de síntese que aplicámos e tivemos a coragem de apresentar. Foi como se, de repente, alguém que foi gordo toda a vida se apresentasse magro, atlético e super bem vestido”. Na opinião do designer, “as pessoas cada vez mais se revêm e sentem que fazem parte do processo [de branding], e também se querem apropriar dele. Ao ponto de empresas querem adotar a imagem para elas. Já há um sentimento de pertença”, garante. Mais: Eduardo Aires admite mesmo que a marca possa vir a tornar-se uma espécie de “Ribeira Negra” (painel de Júlio Resende) do século XXI. Internacionalmente, a marca “Porto.” também tem suscitado interesse e admiração, tendo até sido distinguida com alguns dos mais importantes prémios de design do mundo, como o D&AD (Lápis 2014), o Brandemia Award (Melhor Marca 2014) e o ED Awards 2014 (distinção “Ouro”). “Tenho tido contacto fora de portas e apercebo-me de que há um certo fascínio pela forma como a cidade foi caracterizada O modelo proposto para caracterizar a cidade é considerado realmente pioneiro. Fomos à essência e a partir da essência começámos a crescer”, explica. 11
trabalho [no exterior] ainda não é significativo”. Mas, “a médio prazo, vai haver frutos. Não quero esgotar energias numa corrida de 100 metros”, salienta, para logo acrescentar: “Isto [o White Studio] não é uma grande empresa: é um estúdio que eu quero que cresça sempre pequeno. Não é o dinheiro que me motiva. É sempre o crescimento, que não tem a ver necessariamente com o crescimento económico mas sim com o crescimento em termos de valorização pessoal e com a procura de novas relações”. No ínterim do seu trabalho no White Studio, Eduardo Aires tornou-se o primeiro doutorado em Design da FBAUP, em 2006. A tese que apresentou tinha por título “A estrutura gráfica das primeiras páginas dos jornais O Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro e Jornal de Notícias”. O objeto de estudo deve-se a uma “paixão muito grande pela componente editorial, que desenvolvi durante o curso”, esclarece. “Acho que a edição é o verdadeiro laboratório para a prática do design de comunicação. É onde tudo se conjuga: texto, imagem e suporte. E também há a adrenalina própria da publicação: projetamos hoje e amanhã está impresso. Este ciclo muito curto de produção é uma das particularidades do design e alimenta muito o nosso ego”. O White Studio reúne um vasto e prestigiante portfólio de projetos, alguns deles premiados internacionalmente (Graphis, Red Dot Communication, Pentawards, D&AD, etc.). Para se ter uma ideia, o ateliê desenvolveu trabalhos para entidades tão idóneas como as Águas do Douro e Paiva, a Casa de Mateus, a CM Porto, os CTT, o Esporão, a Fundação Gulbenkian, a Imprensa Nacional-Casa da Moeda, a Porto Editora ou a Fundação de Serralves. Para estas empresas e instituições, foram prestados serviços ao nível da direção de arte, da identidade corporativa, da edição, da infografia, do design de interiores, do packaging, da sinalética, da filatelia, da rotulagem e do webdesign.
O desemprego jovem é um drama social ao qual já nem os diplomados escapam, como mostram as estatísticas oficiais e a recente emigração de recursos qualificados. Para enfrentar esta situação, a U.Porto gizou uma estratégia de promoção da empregabilidade. Estratégia, essa, que passa pela reconfiguração do Observatório do Emprego da Universidade, pelo reforço da oferta de formação em competências transversais e pela realização de uma feira de emprego.
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ensino superior na integração profissional dos seus diplomados, a U.Porto tem um curso uma estratégia de promoção da empregabilidade. Estratégia, essa, que passa, desde logo, pela reconfiguração do Observatório do Emprego e da Trajetória Profissional dos Diplomados da U.Porto, organismo a quem compete cumprir a obrigação legal de dar a conhecer o nível de empregabilidade dos diferentes cursos da Universidade. A reformulação do Observatório implicou novos métodos, novas formas de intervenção e sobretudo novos protagonistas. Uma das grandes inovações foi, justamente, a abertura do Observatório a entidades externas à U.Porto, nomeadamente ordens profissionais (advogados, engenheiros, arquitetos, etc.), associações socioprofissionais, organismos públicos (IEFP, IPDJ, INE, AICEP,
dos com dados que existem noutras entidades”, e ainda “estabelecer um quadro de cooperação mais alargado”. Desta forma, acrescenta, o Observatório está também a “aproximar-se das empresas, que são as destinatárias principais dos nossos diplomados”. O mesmo responsável acrescenta que “é importante ter a sensibilidade do mercado [de trabalho], porque muitas vezes ela escapa e sobretudo porque ela muda muitas vezes. Há 15 ou 20 anos, as competências exigidas para uma profissão eram bastantes diferentes das de hoje. Hoje assistimos, por exemplo, a empresas a contratarem licenciados em Filosofia ou em Psicologia para atividades de gestão”. Fontes de Carvalho ressalva ainda que se trata de um “processo dinâmico”. “Estamos abertos a fazer parcerias com quais-
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Banco de Portugal, etc.), associações empresariais (AEP e no futuro a ANJE), instituições bancárias, órgãos de soberania (Assembleia da República e Forças Armadas), entre outras organizações com relevância no processo de empregabilidade. Segundo o pró-reitor da U.Porto responsável pela área da empregabilidade, Manuel Fontes de Carvalho, a abertura do Observatório a organizações externas permite “ter um feedback mais correto da realidade do emprego, cruzando os nossos da-
RICARDO MIGUEL GOMES
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m Portugal, o desemprego jovem (até aos 25 anos) é superior a 33%, quando no conjunto dos 28 Estados-membros da UE se quedava, em março de 2015, pelos 20,9%. Acresce que, de acordo com o relatório Education Policy Outlook 2015 da OCDE, o desemprego entre os diplomados portugueses é o dobro do que se regista nos restantes países desta organização internacional: 10,5% contra uma média de 5%. Mais: o estudo Hays Global Skills Index 2014, realizado pela consultora de recrutamento Hays em parceria com a Oxford Economics, revela que Portugal é um dos quatro países do mundo com um maior grau de desfasamento entre as necessidades das empresas em termos de competências profissionais e os perfis disponíveis no mercado. Perante um cenário tão complexo, e considerando a especial responsabilidade das instituições do
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quer entidades representativas e que nos possam interessar”, garante. Com este novo perfil de banda larga, o Observatório procedeu, em primeiro lugar, a uma reestruturação do inquérito dirigido aos recém-diplomados da U.Porto para aferir o seu nível de acesso ao emprego. Na opinião de Fontes de Carvalho, o referido inquérito “era demasiado longo em termos de questionário, o que limitava o número de respostas. As pessoas acabavam por tomar uma posição de alheamento face ao inquérito, porque este se tornava exaustivo demais”. Por conseguinte, houve necessidade de “simplificar e focar o inquérito”, tarefa realizada em conjunto com os representantes das entidades parceiras. Após várias reuniões, chegou-se a um formulário de inquérito consensual entre todos. “Não foi fácil, porque há particularidades que cada uma das organizações gostaria de ver contempladas”, diz. Agora, o Observatório prepara-se para realizar um novo inquérito, desta feita dirigido às empresas. “O objetivo é ter o feedback das empresas relativamente ao entendimento delas sobre a adequação, ou não, dos currículos universitários à sua realidade e às suas necessidades. Isto é um desafio para a Universidade. E uma vez mais estamos a ser pioneiros”, salienta Fontes de Carvalho. “Os conselhos científicos das Faculdades necessitam de ter uma informação correta sobre aquilo que podem fazer no sentido de adaptarem a realidade dos cursos ao mercado de trabalho, de uma maneira transversal e horizontal. Se assim não for, teremos muita dificuldade para que alguns cursos se sustentem”, acrescenta.
Formação em soft skills Para além da dinamização do Observatório, a estratégia de promoção da empregabilidade da U.Porto contempla ainda a realização, em parceria com consultoras de recrutamento, de ações de formação que potenciem a integração profissional. Referimo-nos quer a cursos pós-laborais de línguas estrangeiras, quer a workshops versando a gestão de carreira, as técnicas de procura ativa de emprego, o coaching, o marketing pessoal, entre outros temas relacionados com a empregabilidade. Assim, para lá da qualificação especializada conferida nas faculdades, a U.Porto espera desta forma que, a jusante, os seus diplomados dominem técnicas essenciais para atrair os empregadores, ganhem competências transversais (soft skills) e melhorem o seu conhecimento do mercado de trabalho. Workshops intitulados “Como fazer o CV”, “Como promover a imagem” ou “Como falar em público”, por exemplo, conheceram forte adesão dos estudantes nas primeiras edições. “Pensamos que é importante, independentemente da formação de base, desenvolver competências transversais, que são hoje muito valorizadas pelo mercado de trabalho. As empresas valorizam, por exemplo, as experiências de mobilidade internacional e de voluntariado. São áreas que desenvolvem a inserção das pessoas no meio”, sublinha Fontes de Carvalho. Para este pró-reitor, “os estudantes estão muito focados na ideia de que o mais importante, para se ter acesso ao emprego, é a nota final do curso. Isso é muito importante, naturalmente. Mas pode não ser
esse o fator decisivo. Uma empresa é capaz de contratar um indivíduo que tenha tido 10 ou 11 valores [de média final de curso] em detrimento de quem teve 17 ou 18 apenas porque se mostrou, na entrevista, muito mais capaz”. Há ainda outras iniciativas deste cariz a salientar, como um projeto-piloto para proporcionar a estudantes selecionados a gravação de um CV vídeo, sessões informais de apresentação de estudantes a empresas e o programa Acredita-te. Esta última iniciativa “oferece aos estudantes a oportunidade de acompanharem um profissional (mentor) no seu dia a dia de trabalho”, conforme se pode ler na apresentação institucional do programa. “Ao participar neste programa, o estudante (mentorado) tem a oportunidade de discutir as suas perspetivas de carreira profissional com o mentor, beneficiando do conhecimento, experiência e rede profissional daquele, mas também de entender a formação e as competências necessárias para o exercício da sua profissão, em contexto real”. Refira-se ainda que o programa Acredita-te prevê a organização de cinco workshops de curta duração e decorre durante cinco dias, de segunda a sexta-feira, entre as 8h00 e as 20h00. 1.ª edição da FINDE.UP A grande novidade é, porém, a realização da 1.a edição da FINDE.UP – Feira Internacional do Emprego da U.Porto, que vai ter lugar nos dias 3 e 4 de novembro, entre as 10h00 e as 19h00, no Centro de Congressos da Exponor, em Matosinhos. O certame é dirigido quer a estudantes de todas as instituições do ensino superior, quer a profissionais que desejem ingressar no mercado de trabalho ou valorizar as suas carreiras, quer a empresas que pretendam recrutar diplomados, quer ainda a consultoras de recrutamento. Neste sentido, vão estar representadas empresas que procurem capital humano qualificado (nacionais e internacionais), organismos públicos de apoio ao emprego, instituições bancárias e agências de recursos humanos. “Para os empregadores, a feira é uma oportunidade de recrutamento qualificado. Para os estudantes e diplomados, é uma possibilidade de encontrar ofertas no mercado de trabalho, de acordo com as suas formações diretas e indiretas obtidas na Universidade”, nota Fontes de Carvalho. De resto, está prevista a edição de um guia
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da FINDE.UP com informação relevante sobre as empresas: as áreas onde operam, as vagas de emprego de que dispõem e os profissionais que procuram. Os preços para as empresas e instituições participantes variam entre 350 e 400 euros, consoante a data de inscrição. A médio prazo, a intenção é “evoluir para uma feira de emprego em permanência on-line”, revela Fontes de Carvalho. “Isso seria o desejável, e não apenas dois dias por ano. O que não quer dizer que não se continue a fazer a feira física”, que “é importante até para o contacto direto entre as pessoas”. Mas, “se conseguirmos ter uma feira em permanência, articulando as necessidades de empregadores e diplomados, então atingimos o nosso objetivo. A dinâmica está criada”, conclui o mesmo responsável. Por opção dos organizadores, não estão previstos muitos eventos paralelos à FINDE.UP. Contudo, existe a possibilidade de realização, nas mesmas datas, no Porto, de mais uma edição da Conferência Nacional Primeiro Emprego, organizada pela revista Forum Estudante. Realizada anualmente em estabelecimentos do ensino superior de cidades diferentes, a iniciativa destina-se, em particular, a estudantes finalistas, a profissionais de recursos humanos, a técnicos de gabinetes de saídas profissionais de universidades/politécnicos e à comunidade académica em geral. O programa assenta num modelo de conferência com painéis temáticos, em que alguns dos maiores especialistas nacionais debatem o tema do emprego jovem. Importa acrescentar que será montado um serviço de transporte para os estudantes, o qual assegurará ligações diretas de autocarro entre as diferentes faculdades e a Exponor. Para que este serviço cumpra os seus objetivos, os organizadores da FINDE.UP contam com o apoio das associações de estudantes e da Federação Académica do Porto, entidades que, aliás, participam no Observatório do Emprego. Será também pedida às direções das faculdades “alguma flexibilização dos horários das aulas”, revela Fontes de Carvalho, para que os estudantes possam visitar a feira.
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ESTÁ EM MARCHA UMA REVOLUÇÃO PEDAGÓGICA
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Fotos Egído Santos
Partos simulados com bonecos, estudar engenharia no Youtube, aulas de desenho numa galeria de arte virtual… Estas são algumas das inovadoras experiências de ensino e aprendizagem que estão a trazer o século XXI às salas de aula da U.Porto. Fomos desvendar o futuro às nossas faculdades e, no caminho, descobrimos com quem e como se está a fazer a “revolução pedagógica” na Universidade. Um admirável mundo novo liderado pelas unidades orgânicas e apoiado pela Pró-Reitoria para a Inovação Pedagógica.
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ão 11 da manhã quando o alarme soa para o início do trabalho de parto. Mede. Puxa. Desata. Corta. Cose. Tudo se precipita em poucos minutos, o tempo necessário até o recém-nascido se revelar por entre as batas brancas que se encavalitam nervosamente à volta da marquesa. Foi rápido. Demasiado rápido. “Na vida real pode demorar várias horas”, alerta o obstetra Diogo Ayres de Campos, segurando na mão um Nenuco de última geração e medindo com a outra o pulso aos estudantes do 5.0 ano da cadeira de Ginecologia e Obstetrícia. Estamos na sala de partos do Centro de Simulação Biomédica (CSB) da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), espaço onde os futuros médicos aprendem diariamente a entubar, a anestesiar, a realizar manobras de suporte básico de vida, mas também a trabalhar em equipa, entre outras “habilidades” adquiridas com a ajuda de bonecos e simuladores. Medicina de brincar?
T I AG O R E I S / RAU L SA N TOS
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Salazar) já recebeu mais de 3.200 estudantes. Juntos, protagonizam uma parte importante da história de sucesso que a FMUP tem vindo a escrever na última década. A ideia é tão simples quanto ambiciosa: aplicar o que de mais inovador se faz ao nível da aprendizagem médica, numa lógica que, segundo Maria Amélia Ferreira, pretende “envolver cada vez mais os estudantes num processo de ensino e aprendizagem ativa”, integrando “competências que durante muito tempo não foram consideradas primordiais”. Quais? “Saber pensar, saber usar a informação e saber comunicar”. Não é fácil definir o movimento que, saindo por momentos da sala de partos da FMUP, se expande hoje para as restantes faculdades da U.Porto e se enraíza na nova matriz de ensino e aprendizagem que a Universidade vem procurando concertar. Esqueça (quase) tudo o que sabe sobre o ensino marcado a giz, acetatos mo-
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Nada disso. Pela terceira vez no CSB, Hélder Teixeira realça que “participar nestas simulações é fundamental para experimentar situações que, por muito que se treine na teoria, só na prática é que conseguimos vivenciar”. Mais: “Aqui pode-se treinar as decisões de forma o mais real possível e de modo a reduzir o erro médico. Estamos a falar de competências que podem fazer a diferença entre a vida e a morte”, defende a diretora da FMUP, Maria Amélia Ferreira. A sentença ecoa ao longo de 300 m2 distribuídos por consultórios, salas de simulação avançada, uma sala para treino de situações de emergência, entre outras valências apetrechadas como se de um hospital real se tratasse. Desde a sua criação, em 2003, o primeiro centro de simulação constituído por uma escola médica portuguesa (hoje existem oito, um dos quais no ICBAS – Instituto de Ciências Biomédicas Abel
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O Reitor da U.Porto ladeado pelos vencedores do Prémio Excelência Pedagógica 2014/2015.
nocromáticos e anfiteatros sonolentos. Neste admirável mundo novo dominam os simuladores, os quadros telecomandados, as salas de aula online e uma nuvem de conceitos como e-learning, blended learning ou soft skills. A maior mudança vive-se, contudo, nos protagonistas. “O grande desafio que enfrentamos hoje, e que Bolonha ajudou a evidenciar, passa por transformar o nosso modelo de aulas num modelo de ensino e aprendizagem cada vez mais centrado no estudante. Eu hoje, quando tenho de dar uma aula, não estou preocupado com o que vou dar, mas com o como vou dar a aula, de forma a atrair o interesse dos estudantes“, sintetiza Fernando Remião, pró-reitor da U.Porto para a Inovação Pedagógica.
PREMIAR A EXCELÊNCIA
Não faltam exemplos da “revolução pedagógica” que se vive na U.Porto, mas as melhores práticas são reconhecidas anualmente com o Prémio de Excelência Pedagógica, um galardão – no valor de cinco mil euros – instituído pela Reitoria no ano letivo 2012/2013 para distinguir as experiências educativas de excelência desenvolvidas pelos docentes da Universidade. Na edição deste ano, o Prémio foi partilhado por dois projetos que ajudaram a melhorar os resultados dos estudantes de primeiro ano nas faculdades de Engenharia (FEUP) e de Economia (FEP). Quando Paulo Vasconcelos e Sofia Castro Gothen assumiram a tutela da unidade curricular Matemática I do primeiro ano de Gestão da FEP, esta era uma das mais “temidas” cadeiras do curso.
Em vez de resignarem às tradicionais dificuldades no ensino da Matemática, os dois professores optaram por reformular as estratégias pedagógicas, de forma a motivar e a tornar os estudantes parte essencial da sua aprendizagem. Para cumprir esse desígnio, recorreram a uma estratégia de blended learning, onde as aulas e os períodos de orientação tutorial são complementados com materiais de leitura, exercícios e fóruns de debates no Moodle. A nova estratégia rapidamente deu frutos e, nos últimos três anos letivos, período em que foi colocada em prática, a unidade curricular registou uma taxa de aprovação de 88% entre os estudantes avaliados. Um sucesso premiado pela U.Porto que é partilhado por Armando Jorge Sousa e Manuel Firmi-
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Na FMUP, a estratégia montada pelo Departamento de Educação e Simulação Médica define-se logo à entrada do estudante na faculdade, com a indicação de um professor/tutor que assegura a sua integração no curso. E prossegue nos anos seguintes, num modelo de ensino que privilegia o contacto próximo com a realidade clínica, por via da resolução de casos clínicos reais ou das visitas regulares ao vizinho Centro Hospitalar de São João, a integração dos estudantes em atividades de investigação logo nos primeiros anos do curso ou a possibilidade de assumirem o papel de monitores em disciplinas básicas. Pelo meio, podem participar em formações sobre gestão de ansiedade ou de stress. Nada é feito ao acaso. “Cada atividade nasce numa lógica de investigação-ação e resulta de avaliações que permitem identificar e corrigir os pontos fracos do curso”, refere Maria Amélia Ferreira. Ao chamamento da diretora acorre “toda a facul-
no Torres, pelo trabalho desenvolvido no “Projeto FEUP”. A completar dez anos de existência, esta é provavelmente uma das unidades curriculares mais singulares da Universidade: conta com mais de 1.000 estudantes todos os anos, faz parte do currículo de todos os cursos da FEUP e a primeira semana do primeiro ano é-lhe inteiramente dedicada. O propósito do “Projeto FEUP” é precisamente ajudar a integração dos estudantes recém-chegados à faculdade, através de um conjunto de atividades pedagógicas que dão a conhecer os principais serviços disponíveis e prestam formação inicial nas soft skills (trabalho em equipa, comunicação, entre outros) necessárias ao percurso académico e profissional dos estudantes.
dade”. Dos departamentos aos estudantes, sem esquecer os não docentes, aos quais está reservado o papel de doentes simulados num programa que visa “recriar situações clínicas que o estudante tem que enfrentar, como, por exemplo, dizer a alguém que o filho tem uma leucemia aguda e vai morrer”. E os professores, a quem a FMUP disponibiliza um conjunto de métodos e práticas de ensino e avaliação adaptados ao seu perfil. “Cerca de 80% dos nossos docentes são médicos e quem está a implementar estas atividades são pares que conhecem as suas necessidades. Por outro lado, há a perceção de que o que está ser feito lhes proporciona uma maior qualidade no trabalho”. Primeira lição a reter sobre inovação pedagógica: todos ficam a ganhar. Luzes, câmara, ação… Foi essa convicção que, há dois anos, levou a Faculdade de Engenharia (FEUP) a “transferir” as
APOSTAR NA FORMAÇÃO PEDAGÓGICA tadas já este ano na organização do I Congresso Doutoral Português de Engenharia. A tudo isto junta-se o site do LEA, “uma janela para o ensino na FEUP” que reúne mais de uma centena de publicações produzidas pelos docentes na área da Educação em Engenharia. Dali, a paisagem revela muito mais do que o labirinto de blocos modulares que servem o campus da faculdade. Para isso concorre “uma cultura muito própria de exigência mas também de proximidade entre docentes e estudantes”. À dimensão humana, Paulo Garcia soma “o aspeto tecnológico, que é muito desenvolvido na FEUP e está associado a grande parte da inovação que é hoje feita no ensino, muito mediado pelo computador e por plataformas a que os estudantes se ligam para ver vídeos, consultar os conteúdos dados nas aulas ou fazer exercícios”. Estudantes ao poder! Nos antípodas do mundo binário da FEUP, Sílvia Simões aplica a receita tecnológica para inovar a dinâmica das aulas de Desenho da Faculdade de Belas Artes (FBAUP). “O que acontece na prática artística é que os estudantes, em contexto de ateliê, partilham as suas imagens e todos veem o que é feito. Mas quando vamos para a parte teórica, cada um fica fechado a trabalhar na sua área”. Solução? “O que eu faço é criar um banco de imagens dinâmico em que os estudantes podem partilhar os seus portfólios online, assim como imagens de artistas que eles acham que podem ter interesse para a disciplina. O facto de poderem colocar imagens deles e dos artistas de quem eles gostam é muito mais motivador do que se forem
Aprender a trabalhar com o Moodle, a colocar a voz ou a manter uma postura correta nas aulas. Desde o passado mês de maio, estes são apenas alguns dos motivos que têm levado os professores da U.Porto de volta aos bancos da Universidade, através de um programa diversificado de formações pedagógicas organizado pela Unidade de Melhoria do Ensino e Aprendizagem (MEA) da U.Porto. Com esta iniciativa pretende-se ajudar os docentes a renovar as suas práticas de ensino, permitindo-lhes contactar com novas abordagens pedagógicas (metodologias de dinamização das aulas, mecanismos de avaliação, aplicação das novas tecnologias, etc.) e trabalhar competências pessoais essenciais dentro da sala de aula. Logo os primeiros cursos contaram com lotação esgotada, revelando uma “resposta excelente” que, para o pró-reitor Fernando Remião, é apenas um primeiro passo. “Temos que caminhar num sentido em que não haja ninguém que seja professor na Universidade sem ter tido formação pedagógica. Ou, pelo menos, que lhe seja muito desconfortável não ter esse tipo de competências”. 19
salas de estudo para… o Youtube. O pretexto foi o Vincere, um projeto dinamizado pelo Laboratório de Ensino e Aprendizagem (LEA) da FEUP e apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, que desafiou os docentes da faculdade a produzirem pequenos vídeos educativos sobre conceitos diversificados da engenharia. Desde o lançamento, em agosto de 2013, o canal do projeto já acolheu 107 vídeos, aos quais o estudante pode aceder quando quiser para, em poucos minutos, aprender a calcular o máximo divisor comum a partir do Algoritmo de Euclides, ou estudar as leis de Newton com a ajuda de animações tridimensionais. Mais de 150 mil visualizações depois, os resultados “mostram que quem ganha mais com estas ferramentas são os estudantes mais fracos”, revela Paulo Garcia, coordenador do LEA. A palavra “laboratório” não podia assentar melhor no organismo criado em 2008, em parceria com o Centro de Investigação e Intervenção Educativa da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação (FPCEUP), para desenvolver e promover as boas práticas pedagógicas na FEUP. Lição n0 2: “A inovação pedagógica existe enquanto há ensino. O que nos deve interessar é fazer coisas que tenham suporte científico, associando a isso uma cadeia de conhecimento e de eficácia”. Na prática, a máquina do LEA inclui o apoio a atividades letivas desenvolvidas pelos docentes, como é exemplo o premiado Projeto FEUP (ver caixa). Na equação entra ainda a organização de eventos, projetos e formações para professores, mas também para estudantes dos programas doutorais da FEUP, com quem o laboratório vem trabalhando um portfólio de competências transversais tes-
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ENTREVISTA
“Se não fizermos esta revolução, daqui a 10 anos seremos irrelevantes” Pró-reitor da U.Porto para a Inovação Pedagógica e Desporto desde 2014, Fernando Remião é um dos rostos da revolução em marcha no ensino da Universidade. Em pouco mais de um ano, liderou a criação da Unidade para a Melhoria do Ensino e Aprendizagem (MEA), um grupo que junta professores, investigadores, técnicos e estudantes na promoção de projetos que contribuam para a excelência pedagógica da Universidade. O investimento na formação de professores e o reconhecimento das boas práticas são outros eixos desta estratégia.
Porquê esta preocupação com a inovação pedagógica? Ela nasce da constatação de que a exigência de um docente perante a sala de aula é hoje muito maior do que há 10 ou 20 anos. O mundo mudou, os estudantes mudaram e os excelentes professores de antigamente, hoje, poderiam não ser tão excelentes quanto isso. Isto obriga-nos a encarar a pedagogia como um pilar estratégico da Universidade, à semelhança do que se fez há 20 anos com a componente científica. Como é que Pró-Reitoria para a Inovação Pedagógica se enquadra nessa estratégia? Nós não queremos inventar nada, mas sim desenvolver ações que até já podem existir a nível local, nas faculdade, dar-lhes visibilidade e torná-las em algo transversal dentro da Universidade.
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conteúdos impostos pelos professores”. A gestão da galeria virtual é apenas uma das razões pelas quais o computador da também presidente do Conselho Pedagógico da FBAUP raramente encerra. O grande culpado é o Moodle, uma plataforma online de gestão de aprendizagem adotada pela U.Porto desde 2006 e que oferece aos docentes diversas funcionalidades para melhorar a prática pedagógica. O “menu”, que só em 2014/2015 foi aplicado em 1.886 unidades curriculares da Universidade, inclui também a possibilidade de partilhar documentos, receber e comentar os trabalhos dos estudantes, aplicar testes com correção instantânea, ou comunicar com a turma através de fóruns e referendos. “Faço quase tudo online”, atira Sílvia Simões, remetendo o resto para “um acompanhamento muito individualizado do estudante, dentro e fora da sala de aula”. Foi também com a ajuda do Moodle que Pedro Moreira descobriu parte do “segredo” para motivar os estudantes da cadeira de Alimentação e Nutrição Humana da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP). Ali não basta ouvir o professor e tirar apontamentos para o exame. Em vez disso, opta-se por “dar ao estudante a autonomia e o gozo de descobrir por si a história que até aqui era o professor que contava”. Como? “Num processo clássico de aula teórica eu posso contar uma história em 20 segundos. Em alternativa, propomos um modelo em que é dado um problema ao estudante e depois vamo-lo conduzindo até à descoberta da resposta”, explica o diretor da FCNAUP.
Que desafios é que traz esta mudança de paradigma? O grande desafio passa por transformar o modelo de aulas que temos num modelo de ensino e aprendizagem cada vez mais centrado nos estudantes e adaptado às suas necessidades. O estudante tipo que entra na Universidade vem habituado a que o docente debite os conhecimentos que vai depois reproduzir no exame final. Mas depois temos os estudantes mais velhos e outros que estão na aula com um computador a checkar tudo o que o professor diz. Promover a autonomia neste quadro de diversidade é um dos maiores desafios que se colocam aos nossos professores. Por outro lado, isto obriga-nos a desenvolver outras competências importantes para a formação dos estudantes, que é uma área em que a Universidade tem de
A metodologia, implementada nas aulas teóricas e práticas, inclui a participação dos estudantes em estudos de caso e discussões em grupo, a resolução de exercícios sob pressão, privilegiando ainda aspetos como a comunicação ou o trabalho em equipa. O trabalho feito dentro da sala é complementado pelo envolvimento em atividades de investigação e projetos extracurriculares promovidos pela faculdade. O resto passa pelo computador, de onde o estudante pode aceder a filmes sobre a informação dada nas aulas, interagir com especialistas de todo o mundo por videoconferência e aceder a ferramentas de blended learning (combinação do ensino presencial com o ensino à distância). Contas feitas, “o estudante que se preocupa em aprofundar este processo ganha competências de autoaprendizagem e de pensamento crítico, o que nos conduz a uma realidade em que o mais importante não é o saber mas a aprendizagem pelo saber fazer”, sentencia Pedro Moreira. A máxima, aprovada pelos estudantes através dos inquéritos pedagógicos promovidos anualmente pela U.Porto, expande-se “de uma maneira natural” ao resto da faculdade. Estará a revolução consumada? “Se esta estratégia resulta num processo de grande beleza, é também muito mais exigente na medida em que implica uma perda de protagonismo do docente”, trava Pedro Moreira, para quem “é preciso vários anos para interiorizar esta mudança de paradigma”. Lição n0 3: a revolução não se faz da noite para o dia. No caso da U.Porto passa também por…
Que papel cabe aos docentes neste processo? Os professores têm que se aperceber que há soluções diferentes de ensinar, que passam por exemplo pela integração das tecnologias educativas. Os estudantes hoje em dia nascem agarrados a um telemóvel ou a um tablet. Imagino o que seja alguém entrar daqui a 5 ou 10 anos na Universidade e ter um professor
que não sabe trabalhar com estas ferramentas. Por outro lado, se virmos os currículos dos docentes, geralmente há 90 páginas para a componente científica e dez, se tanto, para a pedagógica. Isto tem e está a mudar, até porque o que acontece é que temos cada vez mais currículos científicos excelentes e onde se começa a ver a diferença é na questão pedagógica. O que está a ser feito para mobilizar os professores? Os professores têm que sentir que este esforço é reconhecido pela Universidade e é fundamental para responder aos desafios que enfrentam diariamente. A esse nível, temos vindo a lançar um conjunto de formações diversificadas para professores [ver caixa]. Temos o Prémio de Excelência Pedagógica [atri-
Inovar em rede Um ensino focado no estudante, liderado por professores mais preparados e enriquecido com tecnologias que prolongam a aprendizagem para lá da sala de aula. O “manual” de inovação pedagógica da U.Porto vai ganhando forma mas não fica completo sem o apelo que chega da Reitoria. “A ciência evoluiu como evoluiu na Universidade porque as pessoas começaram a colaborar. Temos que fazer o mesmo em termos pedagógicos e a esse nível já há vários exemplos interessantes que temos de transformar numa bola de neve”, desafia Fernando Remião. A resposta traduz-se hoje na oferta formativa da U.Porto, preenchida por dezenas de cursos resultantes da colaboração entre várias faculdades. Ou então em iniciativas como o “Par em Par”, um programa iniciado em 2010, cujo conceito – já exportado para outras universidades – assenta na criação de grupos de docentes de diferentes faculdades que assistem e avaliam as aulas uns dos outros. Entretanto, a bola de neve “ameaça” o resto da Universidade. Na FMUP prepara-se o lançamento do mestrado em Educação Médica e Clínica, fruto de uma parceria pioneira que envolve também a FCNAUP, a FPCEUP, as faculdades de Medicina Dentária, Desporto, Farmácia e o ICBAS. Mas há também “casamentos” improváveis, como o que decorre no âmbito do Laboratório de Gestão de Projetos (LGP), uma unidade curricular da FEUP que todos os anos junta estudantes do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação e da licenciatura em Design de Comunicação da FBAUP na criação de aplicações informáticas
buído desde 2013] e um site (http://inovacaopedagogica.up.pt) onde registamos as ações de formação que os docentes fazem. E depois há o reconhecimento dos estudantes, através dos inquéritos pedagógicos, que são uma ferramenta importante para avaliarmos o que está a ser feito e o que pode ser melhorado. E aqui importa dizer que se tem vindo a desmontar o mito de que só são premiados os docentes mais facilitadores ou populares. Hoje os estudantes valorizam a exigência e a inovação.
Pró-reitor da U.Porto, Fernando Remião
Qual é o risco desta estratégia falhar? O preço a pagar é a Universidade tornar-se irrelevante daqui a dez anos em termos pedagógicos, como se teria tornado a nível científico se continuasse a ter as mesmas competências de há vinte anos.
para empresas. “Num contexto em que os estudantes são muito mais exigentes na escolha da universidade, a U.Porto só tem a ganhar quando há uma resposta que envolve o melhor que existe nas faculdades”, destaca Paulo Garcia. Habituada a partilhar as técnicas do Desenho com médicos, cientistas e arquitetos, Sílvia Simões nota, porém, que “a Universidade ainda é muito fechada e faltam mais espaços de diálogo”. Para a docente da FBAUP, esse não é o único obstáculo a erguer-se na frente de batalha: “Não podemos pensar num modelo de ensino único para todas as faculdades. Esta revolução só faz sentido se houver diversidade e respeito pela diferença”. O recado é partilhado por Maria Amélia Ferreira da FMUP, para quem o futuro terá de passar pela “valorização da atividade docente” e pela coabitação de “ grandes investigadores ao lado de grandes pedagogos”. Ao caldeirão de inovação, Pedro Moreira junta a necessidade de se “democratizar o ensino” através da aposta no ensino à distância, área que, já em 2015/2016, será enriquecida com o lançamento global do primeiro Curso Online Aberto e Massivo (MOOC) da U.Porto. Curso, esse, que pode ser frequentado através da internet a partir de qualquer parte do mundo, com gestão própria de horários e de forma gratuita. Enquanto o futuro se vai desenhando no horizonte, Maria Amélia Ferreira deixa a sentença: “A Universidade tem que se afirmar como uma instituição de aprendizagem e, a esse nível, a inovação pedagógica constitui uma oportunidade muito grande”. O mote está lançado. A revolução, essa, segue dentro de momentos… 21
dar passos largos. Falamos de competências sociais, que podem ser trabalhadas através da participação em programas de voluntariado. Falamos da prática desportiva, que é importante para promover o bem-estar do estudante. Falamos de competências ao nível da liderança, do empreendedorismo e ainda das competências científicas, em que já tem havido um grande investimento nos últimos anos.
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M
ónica Sousa, bioquímica, lidera o grupo de Regeneração Nervosa do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC). Depois ter trabalhado sobre doenças neuro-degenerativas do sistema nervoso periférico, o seu grupo tem-se dedicado à investigação do sistema nervoso central, tomando como modelo as lesões na medula espinal. As suas explicações sobre o contexto biológico em que exerce o seu trabalho são claras e precisas; damos-lhe a palavra: “Durante o desenvolvimento embrionário, os neurónios começam por ser células esféricas, simétricas, que a dado momento desenvolvem um prolongamento – o axónio. Este filamento nervoso, por sua vez, entrará em contacto com outras células para receber ou transmitir informação. Mas, no sistema nervoso central (SNC) adulto, quando o axónio já está formado, essa capacidade de desenvolvimento deixa de existir”. Assim, não surpreende que qualquer lesão ou doença que afete este sistema se revele de tão difícil recuperação. E aponta uma possível solução: “Se conseguirmos perceber o que acontece no desenvolvimento embrionário, saberemos que fatores têm de ser induzidos ou reprimidos para que o crescimento axonal, após uma lesão ou uma doença, volte a ser possível”. De forma contrária, o sistema nervoso periférico (SNP) mantém a sua capacidade regenerativa. Foi, aliás, um dos trabalhos de investigação do grupo de Regeneração Nervosa que revelou um mecanismo deste processo. “Se olharmos para a estrutura neuronal, com o seu corpo celular esférico e o prolongamento axonal, notamos que todas as proteínas, todos os sinais são produzidos na esfera, sendo depois transportados até pontos distantes do axónio; nós observámos que,
no SNP, após uma lesão, o transporte de organelos e proteínas ao longo do axónio aumentava muito”. Este transporte de componentes celulares indicia mecanismos de reparação que não se verificam em axónios do SNC, “que parecem não ter a mesma capacidade de sentir e responder a uma lesão”. Inibição Mónica Sousa nota que “o ambiente extracelular no SNC é muito hostil: a bainha de mielina [substância isolante fundamental para a transmissão do impulso nervoso] que envolve o axónio é altamente inibitória do processo de regeneração. Após uma lesão, a mielina sela o ambiente e funciona como uma barreira física e química ao crescimento do axónio”. Cumulativamente, na terminação nervosa, grandemente pela ação de astrócitos – células inflamatórias –, forma-se uma cicatriz, a cicatriz glial, “que é outra barreira que isola o local da lesão. No SNP, também existe mielina, mas as proteínas que a compõem não são tão inibitórias quanto as do SNC, permitindo a regeneração neuronal”. Fundamentalmente, os trabalhos do grupo de Regeneração Nervosa – e será talvez essa a principal importância desta descoberta – permitiram perceber que não é só o ambiente extracelular que é diferente, mas que o próprio neurónio responde de forma diversa conforme seja do SNC ou do SNP. Ora, para além dos problemas provocados por lesões nervosas, existem várias doenças neuro-degenerativas que estão relacionadas com problemas de transporte axonal, pelo que os dados do grupo de Mónica Sousa “contribuem para fortalecer a hipótese de que, se conseguirmos identificar alvos relacionados com este transpor-
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As lesões ao nível da espinal medula, assim como as doenças neuro-degenerativas, com o seu alto grau de incapacitação funcional, parecem querer testar os limites do conhecimento humano sobre o seu próprio corpo e também a capacidade de intervenção das ciências da saúde. Se alguns investigadores se dedicam ao desenvolvimento de complexos – e dispendiosos – sistemas de movimentação artificial, outros procuram soluções mais orgânicas que se baseiam na capacidade humana de autorreparação. Em dois institutos da U.Porto (IBMC e INEB) diversos grupos de investigadores procuram conhecer os mecanismos regenerativos – nesse processo revelando a complexidade funcional do sistema nervoso – e desenvolver técnicas que permitam aplicações terapêuticas.
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Neurónio sensorial em cultura (foto IBMC)
02 Ana Paula Pêgo 03 Meriem Lamghari
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04 Mónica Sousa
te, poderemos potenciar a forma como as proteínas e os organelos são transportados ao longo do axónio, agindo sobre a capacidade de regeneração neuronal”. Outra das descobertas importantes deste grupo liga-se ao funcionamento do esqueleto celular – o citoesqueleto –, responsável pela forma das células e por auxiliar o seu movimento. “A secção terminal de um axónio em desenvolvimento chama-se cone de crescimento, e tem uma forma que faz lembrar uma mão; esta extremidade tem que ser muito dinâmica, sentindo e interpretando de forma continuada o ambiente para determinar a direção do seu crescimento. Esta sinalização é dada por moléculas-guia de carga negativa e positiva, sendo o citoesqueleto muito importante para as interpretar”. Entre os componentes do citoesqueleto encontramos os microtúbulos, que, continua Mónica Sousa, “são a estrutura que ‘empurra’ o axónio para a frente. Até há pouco tempo, defendia-se que os microtúbulos tinham de ser uma estrutura muito estável. E, efetivamente, no axónio esta estrutura é estável. Mas nós demonstrámos que no cone de crescimento esta estabilidade não se pode manter e que só em cones de crescimento com microtúbulos muito instáveis é que o crescimento acontece de uma forma ótima”. A intervenção sobre os mecanismos de crescimento destes microtúbulos poderá ser uma das formas de permitir ultrapassar a barreira formada pelo ambiente inibitório extracelular e pela cicatriz glial. O âmbito da atuação do grupo de Regeneração Nervosa situa-se claramente no da investigação fundamental: afinal, a compreensão dos mecanismos finos que permitem ou potenciam o crescimento neuronal. Contudo, isto não significa que a aplicação terapêutica do que descobrem esteja excluída dos seus horizontes; pelo contrário, é procurada ativamente na colaboração com outros grupos de investigação. Materiais guia Ana Paula Pêgo orienta o grupo de Biomateriais para Neurociências do Instituto de Engenharia Biomédica (INEB). A sua formação de engenheira orienta-a para a construção de soluções eficientes, e a ligação do seu grupo a projetos conjuntos com o grupo de Regeneração Nervosa é entendida como uma relação de complementaridade. Candidamente, Mónica Sousa reflete: “Eu quero
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perceber coisas mais pequeninas e ela quer intervir. O trabalho conjunto dos dois grupos é mais competitivo, mais visível”. Tal como os seus colegas, o grupo de Biomateriais para Neurociências tem vindo a deslocar a sua atenção do sistema nervoso periférico para o sistema nervoso central, particularmente para processos de regeneração de lesões sofridas na medula espinal. “O nosso grande contributo tem sido na área do desenvolvimento de biomateriais que permitam simultaneamente guiar o crescimento neuronal, criar um ambiente favorável a esse crescimento e servir de suporte para a administração de fármacos, de ácidos nucleicos para terapia genética e, até, para o transplante de células estaminais neurais para a medula espinal”. É, sem dúvida, um programa ambicioso, mas Ana Paula Pêgo está confiante: “Se bem que a nossa ação ainda esteja num nível pré-clínico – ou seja, testamos estas estratégias em modelos animais –, estou convicta de que no futuro este tipo de intervenção será mais comum”. O tipo de materiais com que o grupo trabalha “são materiais poliméricos, constituídos ao nível molecular por unidades de repetição de compostos que temos no nosso corpo, de forma que não sejam rejeitados e se degradem, por exemplo, em água, dióxido de carbono ou, no caso dos materiais específicos que temos vindo a utilizar, ácido caproico. São elementos que podem ser processados pelo corpo humano sem impacto negativo, tornando desnecessária uma segunda intervenção para retirar o dispositivo que se implantou”. Outra característica importante destes materiais é a flexibilidade: um dos trabalhos do grupo demonstrou a existência de uma rigidez ótima para o crescimento do axónio. Ana Paula Pêgo faz notar que “as propriedades mecânicas de cada material não são indiferentes para a resposta a nível celular. No tecido nervoso, a própria matriz cicatricial tem propriedades mecânicas diferentes dum tecido normal, o que faz com que a resposta celular seja negativa. Daí a importância de desenvolver materiais com propriedades que se adequam ao tecido que estamos a tratar”. Ainda em fase de preparação de publicação, um dos recentes trabalhos in vivo do grupo ilustra a sua forma de abordar o problema: depois de ter sido efetuada uma transecção completa da medula espinal de um ratinho, tornando-o paraplégico, procedeu-se à implantação de um tubo guia onde foram transplantadas células estaminais neurais num meio de hidrogel, para garantir um ambiente favorável. Os resultados foram encorajantes: “Aquilo que observámos foi a existência de regeneração nervosa ao longo desse tubo, e que ela ultrapassa a zona da lesão quer no sentido descendente quer ascendente. E registámos
Células do sistema nervoso sensorial (vermelho) em co-cultura com células ósseas (verde) recorrendo a tecnologia microfluídica (foto INEB)
Questões e esperanças Os problemas relacionados com a formação da cicatriz glial e a hostilidade do meio extracelular à regeneração neuronal no SNC estão certamente longe de estar ultrapassados, mas podem ter razões para existir. O que explica, afinal, o diferente comportamento do SNP? Porque é que a capacidade regenerativa que existe num sistema é biologicamente negada ao outro? Mónica Sousa reflete que “há muitas teorias sobre a razão pela qual se terá evoluído para um sistema deste tipo. Mas a impossibilidade da regeneração pode ser um benefício, porque uma regeneração anormal pode ter consequências negativas, como a existência de dor e de disfunções de vários tipos. Será este mecanismo uma salvaguarda contra a introdução do erro nestas células altamente especializadas? Não sabemos”. Por outro lado, mesmo admitindo que – recorrendo a biomateriais e a terapias combinatórias – seja possível ultrapassar a zona da lesão e promover o crescimento axonal, conseguir-se-á uma verdadeira recuperação funcional? O crescimento orientado por estímulos – o tropismo – que se verifica durante o desenvolvimento embrionário poderá ter a mesma tradução em sistemas adultos? Por isso mesmo, adverte Ana Paula Pêgo, “a reabilitação é tão crítica: em lesionados, o músculo não se movimenta porque não tem inervação e, logo, não está comandado. Ora, o movimento do músculo cria sinais de tropismo para o crescimento axonal. Por outro lado, tendo em atenção a extensão que um só neurónio pode atingir, promover o crescimento nesta distância é certamente um desafio muito grande. Mas uma pequena regeneração pode fazer uma grande diferença. Por exemplo, conseguir que um paciente controle a sua bexiga, permitindo a redução da incidência de infeções urinárias. Não estamos, aqui, a falar apenas de uma questão de qualidade de vida, mas de situações que põem em risco a própria vida do doente”.
Entre o osso e o sistema nervoso Quando, após uma fratura ou outra patologia, o osso entra em processo de regeneração, existe uma vascularização da zona afetada, fornecendo nutrientes e células necessários para a reparação óssea, mas também se verifica um padrão específico de inervação. “De facto”, explica Meriem Lamghari, líder do grupo de Neuro-osteogénese do INEB, “o tecido ósseo liberta fatores que vão orientar o crescimento das fibras nervosas”. Estas, por sua vez, são fundamentais para que a regeneração óssea se faça corretamente. “Para conseguirmos perceber esta complexa interação, desenvolvemos um sistema de cultura que a mimetiza e analisamos as moléculas expressas pelas células. Temos dedicado particular atenção ao recetor celular Y1 – de que se conhecia a função no sistema nervoso, mas não no osso – e descobrimos que o seu bloqueio provoca o aumento da massa óssea”.
Depois de alguns períodos isolados – com alguma incidência nos cenários pós guerra – de renovação do interesse na investigação em regeneração do sistema nervoso central ou em outras terapias que permitam alguma recuperação funcional de lesionados, o estado atual da situação ainda espelha a dificuldade de intervir nesta área. A nível clínico, “continua a não se oferecer muito a uma pessoa que chegue ao hospital com uma lesão deste tipo. Executa-se um programa de reabilitação, basicamente de fisioterapia, que permite preservar o tecido muscular, mas que não fará muito mais, dependendo da gravidade da lesão”, comenta Mónica Sousa. Pelo seu lado, Ana Paula Pêgo adverte que “se as expectativas relativamente a esta área científica por parte dos cidadãos podem ser as de que se venha a proporcionar uma recuperação total, quem nela trabalha não vê exatamente assim o cenário, mas antes a possibilidade de melhorias funcionais mais limitadas. Do ponto de vista clínico, as lesões na espinal medula são muito variáveis e podem ocorrer a diferentes níveis: o tipo de lesão, a sua extensão e a altura a que se situa fazem com que cada paciente seja um caso”. Combinações de futuro Independentemente do que sejam os desenvolvimentos nesta área, existe certamente um consenso: ninguém isoladamente descobrirá o Santo Graal, como Mónica Sousa bem coloca: “Qualquer estratégia futura será sempre uma estratégia combinatória, usando alvos que diminuirão a capacidade inibitória do meio extracelular, por um lado, e outros alvos intrínsecos do neurónio, aumentando a sua capacidade regenerativa, por outro”. Ana Paula Pêgo expande esta ideia: “No campo da medicina regenerativa estamos a falar de três mundos que se juntam – materiais, células e fármacos – e devemos incorporar também as estratégias de reabilitação que já se utilizam. Precisamente porque num só produto terapêutico teremos várias componentes, as questões da regulamentação para ensaios clínicos assumem uma particular relevância”. E remata: “Saber que o sistema nervoso central tem capacidade regenerativa abre muitas portas, mesmo a nível das doenças neuro-degenerativas. Muitos dos trabalhos atuais podem vir a ter translação e colocar desafios adicionais a outros níveis. Mas ainda temos de dar muitos passos.” 25
melhorias funcionais no animal. Se bem que este modelo de transecção completa não seja clinicamente provável – raras vezes se assistirá à completa remoção de 4 mm da medula espinal –, assim tivemos a certeza de que qualquer regeneração seria efetivamente resultado do nosso material e do ambiente permissivo que criámos”.
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Fotos EgĂdo Santos
FACE-A-FACE
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“QUANDO SE FALA DO SAAL, ACHO SEMPRE QUE SE ESTÁ A EXAGERAR ALGUMA COISA”
Está atualmente patente no Centro Canadiano de Arquitetura, em Montreal, a exposição “SAAL: Arquitetura ou Revolução?”. Porque é que, mais de 40 anos depois, o SAAL continua a despertar interesse não só em Portugal mas também internacionalmente? [Longa pausa] A razão pela qual isto reaparece agora não sei muito bem qual é. Mas o SAAL não era “a política da Revolução”, e coisas assim que foram inventadas. Era uma forma de, imediatamente, aproveitar o momento de transição política, em 1974, para experimentarmos outras formas de tratar a habitação social. Uns cinco ou seis anos antes do 25 de Abril, eu e outros colegas que trabalhávamos nestas questões, sobretudo no Laboratório Nacional de Engenharia Civil [ingressou no LNEC em 1962, tendo coordenado o Núcleo de Pesquisa de Arquitetura, Habitação e Urbanismo], tínhamos feito coisas que, de certo modo, já preparavam o SAAL.
Este interesse pela habitação social decorria de uma consciência política, designadamente de contestação ao regime? Não se atacava de caras o regime com a questão da habitação. Até porque a habitação avançou com arquitetos e gente com outras formações que eram todos contra o regime. Esses bairros dos anos 60 não foram feitos por pessoas reacionárias.
Antes da Revolução já havia a consciência de que o país necessitava de uma experiência social deste género? Em 1968/69, houve muitas mudanças na Europa e também em Portugal. Percebia-se que a guerra [colonial] tinha de acabar, mais cedo ou mais tarde, e era preciso preparar o país para um outro período. De resto, nos anos 60, mesmo com falta de dinheiro fez-se muita coisa na habitação social, embora de uma forma convencional. Nós começámos, então, a perceber os aspetos negativos do que se chamava a arquitetura moderna de habitação social. As habitações eram convencionais mas de expressão moderna. Eu próprio fiz projetos nessa altura, com o arquiteto Nuno Teotónio Pereira e outros. Tinha essa experiência pessoal e, quando fui para o LNEC, chamei alguns sociólogos, alguns engenheiros, um grupo que pudesse fazer um inquérito às habitações que se estavam a construir.
Não acreditava que fosse possível reformar o país com o contributo da arquitetura? Relativamente. Digo relativamente porque havia, na política, questões muito mais sérias do que a habitação. Os bairros de Chelas, dos Olivais ou daqui do Porto não eram as razões principais para a mudança política. Mas havia problemas de habitação na altura… Com a guerra colonial, o dinheiro público desapareceu, o que limitava os próprios bairros. E o problema da habitação só não foi pior porque houve uma enorme saída de portugueses, não apenas para a guerra mas também para outros países da Europa. Um milhão de pessoas foi-se embora.
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RICARDO MIGUEL GOMES
É um dos maiores especialistas portugueses em urbanismo e o seu nome está ligado ao SAAL (Serviço Ambulatório de Apoio Local), um programa de habitação popular implementado durante o processo revolucionário de 1974-75 e que, agora, está a ser recordado numa exposição no Canadá. Nuno Portas (Vila Viçosa, 1934) era, à época, secretário de Estado da Habitação e Urbanismo e, por isso, conduziu politicamente esse conjunto de intervenções de construção, requalificação e realojamento desenvolvido em estreita articulação com os moradores. Mais de 40 anos volvidos, o arquiteto não vê o SAAL como “a política da Revolução” nem como uma “experiência arquitetónica”. Tratou-se, diz, de “dar poder às pessoas que estavam interessadas na operação”. Professor Emérito da U.Porto e investigador da FAUP, Nuno Portas reflete ainda sobre as políticas habitacionais de hoje, a “cidade extensiva”, as áreas metropolitanas e a regionalização.
FACE-A-FACE
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“Há uma ideia de que o SAAL era uma questão dos arquitetos. De facto, eu chamei arquitetos de boa qualidade, de uma forma geral. Mas não era isso que caracterizava o SAAL”.
Portanto, quando chega a secretário de Estado da Habitação e Urbanismo, nos três primeiros Governos Provisórios de 1974-75, já tinha os estudos feitos e foi só avançar com o SAAL. Tínhamos esse dossier. E sabíamos que a questão principal não era arquitetónica. Há uma ideia de que o SAAL era uma questão dos arquitetos. De facto, eu chamei arquitetos de boa qualidade, de uma forma geral. Mas não era isso que caracterizava o SAAL. Havia uma outra questão muito mais delicada: a de saber qual era o papel, na habitação futura, das pessoas que precisavam de casa. Já nos inquéritos dos anos 60 tínhamos perguntado as pessoas como é que se sentiam nas suas próprias casas. Não era saber como se vivia nas barracas ou nas ilhas. Queríamos saber junto daqueles que já tinham casas novas, construídas pelos nossos arquitetos, se essas casas deviam ser assim ou de outra forma. Se deviam, no fundo, ter outras características. Tratava-se de fazer o ajustamento entre a casa e os que viviam na casa, até para melhorar os projetos seguintes. Portanto, [o SAAL] não era uma questão revolucionária. Foi considerada como tal.
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Urbanismo mais perto das ciências humanas
Não deu para resolver os problemas da habitação social… Claro. Não se podia esperar que se construíssem milhares de casas melhores, mais baratas… Houve um certo exagero na questão do SAAL.
Porque é que, depois de ter projetado obras importantes com o arquiteto Nuno Teotónio Pereira – como a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, que vos deu o Prémio Valmor em 1975 –, decidiu tornar-se urbanista em meados dos anos 60? Esta mudança foi feita com a cumplicidade do Teotónio Pereira, que é um homem de uma generosidade incrível. A certa altura, ele achou que eu devia ir para a investigação no LNEC. E também achava que eu devia ir para o ensino. As principais coisas que fiz na minha vida foram um bocado empurradas pelo Teotónio Pereira, que tem mais 11 anos do que eu. A investigação começou pela habitação e depois passou para o crescimento das cidades, numa fase em que esse crescimento era visto como um problema cada vez menos dos arquitetos e mais das ciências humanas. Antes, o urbanismo era uma super arquitetura. Mas, em meados dos anos 60, já não era um problema de arquitetura: era também um problema de arquitetura. Fui-me apercebendo de que o urbanismo era multifacetado e que cada vez mais as ciências humanas são importantes para o urbanismo, mais até do que a arquitetura. E foi isto que me levou a concentrar-me [no urbanismo]; não foi para ser secretário de Estado.
Uma certa utopia? Não era utopia nenhuma. Era uma tentativa de melhorar os critérios, os projetos, o modo de distribuição das casas pela população – que era um problema social.
Voltando ao SAAL. Nos dias de hoje, faz sentido uma experiência parecida com o SAAL? Nos dias de hoje, o problema é que há casas vazias a mais porque as pessoas não as puderam pagar ou comprar. É totalmente diferente.
Apesar de tudo, o SAAL foi uma experiência que ficou aquém dos objetivos propostos. Foi um período muito curto: durou dois anos. Foi o tempo que se levou a estudar as questões urbanas, a ver a população a realojar, a fazer os projetos… Mesmo assim acelerou-se muito. Tanto que, quando me fui embora, já havia as primeiras obras. Mas as pessoas que ficaram no meu lugar estavam contra [o SAAL]. Portanto, não ajudaram nada.
“Queríamos saber junto daqueles que já tinham casas novas, construídas pelos nossos arquitetos, se essas casas deviam ser assim ou de outra forma. Se deviam, no fundo, ter outras características”.
Esse é o principal legado do SAAL? Quando se fala na questão do SAAL nesta altura, acho sempre que se está a exagerar alguma coisa. Nem o SAAL era uma alteração radical, nem era uma certeza – era uma experiência. E não era uma experiência arquitetónica. Essa já estava feita por arquitetos bastante bons, antes do 25 de Abril. Era uma experiência para perceber como deviam ser as relações entre os futuros moradores e os que estavam a estudar as novas casas. Deviam entender-se, claro. [No fundo], a novidade do SAAL foi procurar saber se os moradores dos bairros de lata ou das ilhas, que tinham de ser realojados, estavam interessados em participar nesse processo [de realojamento], podendo, inclusivamente, intervir nas relações com os técnicos das entidades públicas que pagavam as obras. Era [uma forma de] empowerment: dar poder às pessoas que estavam interessadas na operação.
Falou há pouco das ilhas. O Executivo Municipal do Porto está a preparar um programa de intervenção nas ilhas privadas da cidade, financiado por fundos comunitários. Acha que vale a pena recuperar as ilhas, mesmo tendo em conta o espírito comunitário que nelas se gera? Não sei bem o que se está a pensar fazer. Na maior parte dos casos, as ilhas não podem ser recuperadas, porque são mínimas em todas as condições. As ilhas estão no interior de umas casas burguesas e esse interior já é muito apertado. Talvez se pudesse fazer, em algumas ilhas, habitações para estudantes estrangeiros, para estadias de curta duração. Mas já estou a inventar… O que não me parece é que a solução normal seja recuperar as ilhas. Qual deve ser, então, a política de habitação social atual? O problema já não é tanto fazer casas novas, mas sim readaptar os edifícios e fazer a mobilidade das pessoas. Há casas com pessoas sozinhas, outras com casais que já não têm lá os filhos… Portanto, há que realojar tendo em conta estas situações. E temos também de adaptar os edifícios à realidade de hoje, porque as famílias diminuíram e têm outras características. É preciso, se calhar, deitar algumas paredes abaixo… Em alguns casos é melhor demolir, como se fez com as torres do Aleixo? Não. O Aleixo é o pior dos exemplos. Foi feito para a classe média. E por responsabilidade minha, já que foi o Fundo de Fomento que financiou as torres do Aleixo. As torres ainda não tinham sido entregues [aos moradores] e foram utilizadas para a operação Ribeira/Barredo. Senão, não se podiam fazer aquelas obras. Era preciso deslocar essa população [da Ribeira/Barredo] para outro sítio, por algum tempo. Foi isso que se fez, mas as pessoas ficaram lá. Já não quiseram vir para a Ribeira/Barredo, [cuja recuperação] levou mais tempo do que se pensava.
A demolição não foi, portanto, uma boa solução. A demolição das torres foi uma pura operação de limpeza. Encontraram uma solução dupla: por um lado, desalojava-se um conjunto de pessoas que estariam a fazer mal ao conjunto do bairro; e, por outro, passava-se [o terreno] para pessoas que podiam pagar mais e que podiam estar naquele sítio magnífico em frente ao rio. As torres do Aleixo podiam ser melhoradas. Há dezenas e dezenas de torres do Aleixo, e estão a ser limpas, arranjadas, modernizadas. São edifícios bons. Portanto, o Aleixo é uma história mal contada. Hoje já não se sabe o que fazer àquilo…
Ver vídeo em: http://tv.up.pt/premiums/54
No Porto, à semelhança de muitas outras cidades portuguesas, os bairros de habitação social estão apartados do centro, particularmente os de Campanhã. O que é que se pode fazer para integrar esses bairros na cidade? Não lhe posso dizer, concretamente, o que acontece naquela área. Mas há pouco tempo tive uma reunião muito interessante com gente de lá [Campanhã], que tem feito um bom trabalho social e está muito bem. Aparentemente, as razões não são as que parecem. Por outro lado, os bairros podem ser melhorados outra vez e servir para outras famílias. Mesmo num contexto de dificuldades financeiras das entidades públicas? Das entidades públicas e também das pessoas, que não podem pagar as rendas. Há problemas muito sérios para pagar as rendas. As pessoas precisam de casas mas não têm dinheiro para as pagar, mesmo as sociais. Embora também haja casos em que as pessoas já podiam pagar muito mais e outros em que se mantêm as casas fechadas, para alguém que querem pôr lá. É muito difícil a gestão destes bairros. [Mas] alguns destes bairros já foram melhorados, e não foi só a fachada. Reforçar as áreas metropolitanas
No Porto, como em Lisboa, assistimos a um processo de reabilitação urbana na Baixa, em parte motivado pelo turismo. Depois da desertificação não estamos a assistir à gentrificação da Baixa portuense? [Risos] Mas o problema é saber se se podem alterar estas tendências. À medida que vão desaparecendo as pessoas da minha idade, obviamente que há gentrification, com os [estudantes] Erasmus e outras pessoas que gostam de viver nos bairros antigos, por exemplo. E também há muitos city users, como lhe chamam os sociólogos. São utilizadores da cidade, mas não são de lá nem são turistas. Vão lá trabalhar e depois regressam a casa. [Mas] as pessoas não são necessariamente expulsas dos centros das cidades: querem é ir para outro sítio. Não querem a confusão e o custo de vida das áreas centrais.
“Há problemas muito sérios para pagar as rendas. As pessoas precisam de casas mas não têm dinheiro para as pagar, mesmo as sociais”.
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Então, que política é que deve ser seguida para ultrapassar este problema? Isso é um problema que não tem nada que ver com os arquitetos, pois as casas, melhor ou pior, já estão construídas. Em todo o caso, devia haver uma organização cooperativa, como houve nessa altura [do SAAL], para ver como é que as pessoas podem voltar às casas que lhes foram retiradas pelos bancos. Acho estranho que não haja este trabalho de ver se as pessoas podem ou não podem [regressar às casas]. Neste caso, até se poderia aproveitar alguma coisa do SAAL. Uma espécie de SAAL sem arquitetos.
FACE-A-FACE
“As cidades sempre andaram a mudar. Gostaria que as cidades tivessem populações mistas, mas é preciso alguns esforços para manter o valor das rendas, à medida que as pessoas de idade morrem ou se vão embora”.
Esta gentrificação não descaracteriza as cidades? As cidades sempre andaram a mudar. Gostaria que as cidades tivessem populações mistas, mas é preciso alguns esforços para manter o valor das rendas, à medida que as pessoas de idade morrem ou se vão embora. Quem ocupa essas casas reabilitadas [no centro] não são só estrangeiros ricos, são também casais novos… Mas com elevado poder de compra. Sim, não são os mais pobres. Mas esses também têm direito, não são só os pobres. Também tem de se pensar nos “remediados”, como antes se chamava. As intervenções da SRU (Sociedade de Reabilitação Urbana), no Porto, têm resultado num parque habitacional bastante caro. Por isso, muitas casas estão ainda por vender… Até que apareça quem compre. Em Lisboa já estão a comprar muito. E no Porto também. Há muitas pessoas aqui [FAUP] que estão a fazer muito trabalho de reabilitação de casas, o que supõe pô-las mais caras do que estavam antes. O problema, para mim, está sobretudo nos jovens das classes médias ou submédias. Como não são todos ricos, o Estado teria, aí sim, de dar alguma ajuda, para poder atrair uma população mais jovem e mais perto da classe média.
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O Programa Eleitoral do PS, de que é militante, prevê a aplicação de 10% do Fundo de Estabilidade da Segurança Social na aquisição e reabilitação de fogos devolutos para criar um mercado de arrendamento a preços acessíveis. Parece-lhe uma boa ideia? Há que experimentar. A ideia é boa. É uma forma de ir mantendo uma espécie de equilíbrio entre cidade rica/cidade pobre, para que as pessoas não sejam expulsas. Em princípio, é possível. De resto, a razão principal da discussão não é a solução ser boa ou má. É por causa de se ir buscar um dinheiro que está parado e que pode ser utilizado assim [na reabilitação urbana], para depois voltar para o mesmo sítio. Não vejo aqui nenhum inconveniente, desde que esteja garantido que, se falhar alguma coisa, o problema das pensões é resolvido.
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Um conceito que lhe é caro é o da “cidade extensiva”. O que é isso da “cidade extensiva”? É a cidade que se está a fazer entre as cidades. Este termo não foi inventado por mim. É um termo de um professor alemão, que acha que a grande novidade da segunda metade do século passado e deste que estamos agora é o nascimento de uma cidade entre as cidades que já estavam feitas. Nos últimos 50 anos, cresceu mais o que está entre as cidades do que as cidades antigas. Essas começaram a crescer, a crescer e, a certa altura, já não eram cidades antigas. Só eram antigas na Baixa. Dado que os empregos estão, cada vez mais, fora da cidade antiga, as pessoas são tentadas a viver nas casas entre as cidades. Donde, há uma nova cidade entre as cidades. É uma cidade contínua. E como é que se gere essa cidade contínua, tendo em conta que atravessa vários municípios? Claro [que atravessa]. Por isso é que há certas atividades que não pertencem a nenhum município, como os transportes. Logo, devem ser estudadas pelo conjunto das áreas metropolitanas… Mas as áreas metropolitanas têm pouca capacidade de decisão. Não têm capacidade, não têm meios, não têm nada. Portanto, há que rever tudo. E eu também tive culpa, porque trabalhei na lei das áreas metropolitanas e pensava que aquela solução era a boa. Uma solução soft, que não tirava valor aos municípios. Neste momento, há que ressuscitar a área metropolitana como cidade em si mesma, que vai tratar das questões transversais. Nas cidades de Lisboa e Porto, e talvez no Algarve, pode ser uma solução melhor para os transportes, saúde, escolas, bombeiros, polícia, entre outras coisas que não deviam ser tratadas pelos municípios em si mesmos. Há que ter uma gestão de conjunto, porque são três milhões à volta do Porto e outros três milhões à volta de Lisboa. Em Inglaterra, há muitos anos que é assim. Mas nos países latinos há uma grande resistência a estas alterações. Em Portugal, assistimos a uma duplicação de equipamentos e serviços entre municípios vizinhos. A racionalização de recursos passaria pelas áreas metropolitanas? Exatamente. Nos países nórdicos, as decisões transversais são tomadas por um governo local “esticado”, digamos assim.
“Há que ter uma gestão de conjunto, porque são três milhões à volta do Porto e outros três milhões à volta de Lisboa. Em Inglaterra, há muitos anos que é assim. Mas nos países latinos há uma grande resistência a estas alterações”.
Dúvidas sobre a regionalização
O reforço de poderes das áreas metropolitanas é compatível com o modelo de regionalização que defende? Eu sempre achei que as regiões eram necessárias mas que as áreas metropolitanas constituíam um caso à parte, porque seis milhões vivem à volta do Porto e de Lisboa. Sobre as regiões, escrevi um par de artigos há muito tempo. Defendi as regiões como mini Estados, votadas autonomamente e com competências genéricas. Mas a regionalização continua a ser pertinente hoje em dia? Acho que sim, por causa sobretudo do Interior. A questão mais difícil é criar uma estrutura pesada para as áreas metropolitanas e pôr-lhes ainda em cima uma região. Já começa a ser muita coisa: governo central, regiões e áreas metropolitanas. Era um excesso de administração, de burocracia, de despesismo… Mas, para as zonas mais pobres [do país], interessava a regionalização. Era uma forma de dar força à interioridade. Houve tempos em que tinha muitas certezas sobre esta questão. Hoje, acho que se devem tentar várias hipóteses e ir vendo se funcionam ou não. Não desisti [da regionalização] mas tenho menos certezas. Mas alguma coisa se tem de fazer… E a fusão de municípios, como a que se chegou a aventar para Porto e Gaia? Isso não vale a pena: é brincar. Mas porque não com Matosinhos? Ou com a Maia? Porque é que há de ser com Gaia? Nunca quis ser vereador do Porto, porque em Gaia [foi vereador do Urbanismo deste município entre 1990 e 1994] é que era preciso fazer um equilíbrio. Dar-lhe uma possibilidade de responder bem à evolução. Para um urbanista, Gaia era um desafio; o Porto um dejà vu. Já se sabia como era, as receitas já estavam dadas. Esse equilíbrio foi alcançado em Gaia? Em alguma coisa, sim. Mexemos em tudo o que se podia, antes dos dinheiros de Bruxelas. Quando vieram os dinheiros de Bruxelas, eu já lá não estava. Infelizmente, não foram bem utilizados. Centraram tudo no rio e nas praias, abandonando a Gaia pobre. Isso eu já não faria. Deixámos muitas coisas feitas, como o Plano Diretor [Municipal]. Fizemos o PDM em quatro anos, quando às vezes leva 10 ou 12 anos a fazer e a ser aprovado.
Como acha que têm evoluído, em Portugal, os mecanismos de regulação urbanística, designadamente os PDM? Esse é o meu trabalho aqui na escola [FAUP] e a razão que me levou a ir para Gaia. Queria perceber a prática destas coisas por dentro. Era uma experiência que eu precisava de ter como professor, para depois dizer aos meus alunos como fazer. Por outro lado, fui autor dos PDM com mais dois ou três colegas do LNEC, em 1978. A minha ideia era que esses planos fossem muito flexíveis. E toda a gente pensou logo: “então, isto é a bandalheira”. Mas a bandalheira é capaz de ser o fingir que eles [os PDM] são rígidos e depois alterá-los às escondidas. Isso é que é o problema. Como devem, então, ser os PDM? Os planos têm de ser relativamente elásticos para que se possa, com uma boa gestão, ir alterando as cidades. Em quatro ou cinco anos não sabemos o que se vai construir. Não há capacidade de previsão. As coisas mudam muito rapidamente: aparece este acontecimento, aparece esta política de Bruxelas… Por isso, os planos não podem ter a segurança de outros tempos. Tem de se fazer um jogo muito cuidadoso entre aquilo que só deve ser alterado em casos muitos especiais e aquilo que pode se alterado com toda a facilidade. Ora, os planos não têm este grau: é tudo ou sim ou não. Tem de se mudar esta prática dos municípios. Até porque, hoje, as pessoas já acham que alterar uma regra [do PDM] não é uma aldrabice. De que forma é que as instituições do ensino superior, em particular a FAUP, podem contribuir para um melhor planeamento urbano em Portugal? Eu fiz, com o Fernandes de Sá, a Teresa Andresen, o Abílio Cardoso, cursos entre escolas para formação de gente para trabalhar nas câmaras. Fizemos isso durante muito tempo. Umas 300 ou 400 pessoas foram aqui [FAUP] formadas, já depois de serem diplomados. Uma boa parte dos técnicos dos municípios aqui à volta passaram por estes cursos. Era um mestrado em Urbanismo, de dois anos, comum a várias escolas: Engenharia, Paisagismo, Arquitetura, Direito... Foi muito interessante mas depois caiu. E faz falta aqui no Norte.
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“Sobre as regiões, escrevi um par de artigos há muito tempo. Defendi as regiões como mini Estados, votadas autonomamente e com competências genéricas”.
CULTURA
Já não é preciso roubar os anéis de Saturno
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Da próxima vez eu me mando Que se dane meu jeito inseguro Nosso amor vale tanto Por você vou roubar os anéis de Saturno Rita Lee
O cinema imersivo chegou à cidade do Porto! Com uma cúpula nova, compatível com os modernos sistemas de projeção digital fulldome, e um investimento de cerca de 500 mil euros, o Planetário do Porto leva-nos numa viagem por dentro da “Vida - uma história cósmica”. Vamos ficar a perceber por que é que partilhamos todos (Homem, animal, planta) a mesma origem. E ser partícula? Que se projeta para qualquer ponto no espaço? Este é o maior planetário digital em funcionamento no país. Se quer oferecer uma viagem pelos anéis de Saturno… Saiba que já não é preciso roubar.
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A N A B E L A SA N TOS
O
Francisco tem nove anos e veio com os avós. Gostou mais da parte em que a Terra começou e se desenvolveu. “Parecia que éramos formigas no meio da floresta”. Também ficou a achar que “era giro estudar Biologia”. E voltar ao Planetário, onde se atira a cadeira para trás e se fica de costas na horizontal e nariz espetado para… o que vier da cúpula. Quando se apagam as luzes somos “elevados” à condição de partícula. Que pode ser projetada para qualquer ponto no Universo. Depois descemos, em câmara lenta, até ao planeta Terra. Até… até sobrevoar a cidade do Porto. Já voltamos a falar sobre todo este céu, mapeado. Entretanto, começam os primeiros sinais da “Vida - uma história cósmica”. Em segundos ficamos rodeados de troncos muito altos. São sequoias. Os ramos passam pela direita do nosso corpo, raspou no ombro? Ouvem-se pássaros. O som tamborila na pele. Aproximamo-nos das folhas, não… são elas que se aproximam de nós. E as formigas, a passear nas folhas, deslizam pelo canto do olho… e estamos já dentro dos poros das folhas. A chegar à célula. Viajamos até ao núcleo da célula de uma sequoia. O interior da fábrica da fotossíntese. E do ADN. Tapeçaria da vida da qual fazemos parte. Partilhamos a mesma origem. Somos parentes. “A vida começou com células simples”, diz-nos a voz de Diogo Infante. Seria a de Jodie Foster, se mantivéssemos a versão original. E lá vamos nós! Recuamos 13 mil milhões de anos até… até depois do Big Bang. Até à origem do carbono, “elixir da vida”. Ainda vamos ter tempo de dar um saltinho acima da
Daniel Folha, diretor do Planetário
rão de 2014, o Planetário encerrou para iniciar um processo de remodelação….
Planetário do Porto, um equipamento fundamental para divulgar a ciência entre a comunidade e, em especial, junto dos mais novos.
Maior planetário digital em funcionamento no país O equipamento instalado já tinha mais de 30 anos, com tecnologia descontinuada e que começava a levantar inúmeros problemas de manutenção. Nos últimos anos, o Planetário foi perdendo funcionalidades. “O sistema de projeção da Zeiss era muito bom, mas datava dos anos 70. No início dos anos 90 começaram a surgir sistemas digitais e era necessário, para continuar a fazer o trabalho de divulgação de forma adequada, mudar”. O que implicou, acrescenta Daniel Folha, a instalação de um sistema digital de projeção, com técnicas de software atuais, que permitem construir novas sessões e viajar no Universo. “É a evolução natural da ciência, também nos Planetários”. O Planetário do Porto está, agora, equipado com uma cúpula compatível com os modernos sistemas de projeção fulldome. “O novo sistema de projeção digital é um sistema de vídeo imersivo, com uma resolução de 2.560 pixeis”. Mas afinal, o que é isto de projeção fulldome? “Ao contrário da televisão ou do cinema, que tem um ecrã pla33
nossa galáxia. Onde surgem novas estrelas. Para mergulhar, logo a seguir, até ao leito oceânico. E ver os continentes a ganhar forma… Mas, por agora, fazemos “pause”. Aonde estamos? Estamos no “novo planetário” do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP). Tem uma cúpula nova, compatível com os modernos sistemas de projeção digital fulldome, ou sistema de vídeo imersivo. É a versão moderna de uma história que começou, diz-nos o diretor do Planetário, Daniel Folha, “antes mesmo do Planetário existir”. O CAUP, criado em 1989, sempre achou, desde cedo, que a divulgação científica era prioritária e foi assim que se investiu na compra de um planetário insuflável. “Era uma bola insuflável e as crianças achavam muita piada…”. Foi assim que o Planetário começou por ir às escolas. “Tinha uma ventoinha, que o mantinha insuflado, e um sistema que projetava o céu noturno”. E contavam-se histórias acerca do céu noturno, ensinava-se e captava-se a atenção dos miúdos para a Astronomia e para o imaginário que a Astronomia acarreta. “Era uma forma de fazer divulgação de ciência”. O que permitiu, ao Núcleo de Divulgação do CAUP, ganhar experiência para o que veio a ser o Planetário do Porto. Abriu portas em 1998 e, até hoje, já recebeu mais de 450 mil visitantes. Estava equipado com um sistema clássico ótico mecânico da Zeiss, que reproduzia o céu estrelado visto da Terra. Tinha 22 projetores de diapositivos e dois projetores de vídeo que complementavam a projeção das estrelas. No ve-
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O sistema de projeção da Zeiss.
no, a projeção é feita numa cúpula hemisférica. Basta pensar em metade de uma esfera, a projeção é feita nessa metade. Por cima das nossas cabeças e à nossa volta. Dá a sensação de ser 3D, não o sendo. É um sistema de projeção imersivo, sentimos como se estivéssemos dentro do filme. Temos a sensação de estar a viajar e não sentados numa cadeira. O nosso cérebro interpreta a informação que recebe como estando em movimento. Tem 95 cadeiras e é o maior planetário digital em funcionamento no país. É difícil de explicar, mais vale vir cá”. A cúpula também foi substituída. “A anterior era a original, construída nos finais dos anos 80 para a projeção das estrelas. Com a crescente utilização de imagens de grande formato, as junções da cúpula começaram a tornar-se evidentes”. Recorrendo a outra tecnologia e tratamento, as junções tornam-se praticamente impercetíveis, mesmo com níveis elevados de iluminação. Toda esta “renovação”, com o novo sistema de projeção que inclui os projetores e o software, que permite obter a informação tridimensional do Universo e viajar nele, assim como a instalação da nova cúpula de projeção, custou cerca de 500 mil euros. Aproveitando um concurso nacional no âmbito do QREN “Promoção da Cultura Científica – Ações materiais”, o Planetário apresentou uma proposta de renovação do Planetário com cofinanciamento a 60%.
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Viajar pelos anéis de Saturno E que tal ver de perto (de muito perto, atravessar, aliás, para sermos mais exatos), os anéis de Saturno? Percorrer as luas de Júpiter? Viajar até nebulosas distantes (nuvens de poeira, hidrogénio, hélio ou plasma), observar a nossa Galáxia de fora…. Ou visitar um exoplaneta (que orbita uma estrela que não o sol e, por isso, pertence a um sistema planetário distinto do nosso). O Planetário do Porto dispõe, agora, de um supercomputador com uma extensa base de dados. Está
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lá todo o Universo conhecido. Tudo “mapeado” com informação científica atualizada. “Toda a informação é rigorosa do ponto de vista científico”, acrescenta Daniel Folha, “com base nos dados e observações obtidas pelos diversos observatórios pelo mundo fora e no espaço”. Um sistema que tem, na sua base de dados, os planetas extrassolares conhecidos. “Podemos sair da terra, passar pelo sistema solar, viajar por entre as estrelas e chegar a um sistema planetário extrassolar”. É depois desta viagem pelo Universo que começa a “Vida - uma história cósmica”. São vinte e cinco minutos a testemunhar acontecimentos chave para o desenvolvimento da vida, dirigidos ao público em geral. Para lá da biologia, da química, da física, da geologia, das artes… Recuamos milhares de milhões de anos, até à origem dos elementos. Até à altura em que o jovem Universo era constituído, principalmente, por matéria escura que arrastou hidrogénio e hélio, levando à formação das primeiras estrelas. Foi nas várias gerações de estrelas que o carbono e os elementos mais pesados, necessários aos organismos vivos, tiveram origem… E a viagem continua com um mergulho na Via Láctea, tal como era há milhares de milhões de anos. Aproximamo-nos de uma região de estrelas em formação, onde está um disco protoplanetário a envolver o recém-nascido sol. Depois mergulhamos em direção ao jovem planeta Terra. Os primeiros microrganismos terrestres enriqueceram a atmosfera em oxigénio, e talvez tenham despoletado uma idade do gelo global, que quase congelou a vida na Terra… Damos um salto em frente no tempo; assistimos ao movimento dos continentes e à alteração das condições ambientais até ao estado atual do planeta. E chega a altura de fazer a revisão da matéria dada. E perceber que, se foi através dos fósseis que chegamos a muito do que compreendemos acerca da evolução das espécies, a história evolutiva também se pode recriar através do estudo
da vida que nos rodeia. A nível molecular, todos os seres vivos partilham um antepassado e uma química comum. E é no momento em que esta evidência se instala que surgem, em catadupa, de todos os lados da sala, imagens de animais, plantas, múltiplos organismos numa espécie de distribuição tridimensional pelo espaço. As imagens são agrupadas em forma de hélice, uma hélice dupla de filamentos de ADN que nos envolve e engole. Sentimos, à flor da pele, que fazemos parte desta representação da estrutura fundamental da vida, tal como a conhecemos. Por tudo isto, não se admire se se levantar da cadeira com vontade de saber mais sobre … tudo. Sobre nós e absolutamente tudo o que nos rodeia. Este sistema digital permite projetar filmes produzidos por diversas produtoras internacionais e após uma pesquisa, entre tantos documentários, foi escolhido este. Porquê? “O estudo da vida é feito na terra, mas a origem da vida, embora um pouco desconhecida, tem como base a história do Universo”. Este documentário, explica Daniel Folha, “conta-nos a história da vida, na medida do que é conhecido, desde a formação das estrelas iniciais, dos elementos fundamentais, como se terão juntado, e os blocos que constituem a vida tal como a conhecemos”. Tem uma forte componente interdisciplinar e é muito abrangente do ponto de vista científico, o que constitui “uma mais-valia para o público em geral, assim como para as escolas, já que é uma faceta importante na formação dos jovens”. “O Espantoso Telescópio” Para o diretor do CAUP, João Lima, “esta adaptação à tecnologia digital vai captar novos públicos e potenciar possibilidades de projeção de filmes de alta qualidade técnica e científica. Continuaremos a trabalhar na produção de novas sessões, sempre com ligação à investigação feita na instituição para o fornecimento de dados técnicos
O CAUP foi criado em 1989. É uma associação científica e técnica privada, sem fins lucrativos que, através da investigação, da formação e da divulgação de ciência, apoia e promove a Astronomia. A investigação científica organiza-se em duas grandes equipas, cuja atividade se centra nos seguintes tópicos: origem e evolução de estrelas e planetas e galáxias e cosmologia observacional. Recentemente, e no sentido da consolidação da investigação e do reforço da participação nacional em grandes projetos internacionais na área das Ciências do Espaço, o CAUP e o Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa criaram o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço. Trata-se de uma nova estrutura de investigação, com dimensão nacional, para o desenvolvimento da Astronomia, Astrofísica e Ciências Espaciais em Portugal. Engloba mais de dois terços de todos os investigadores ativos em Ciências Espaciais em Portugal e é responsável por uma fração ainda maior da produtividade nacional em revistas internacionais ISI nesta área. De resto, as Ciências Espaciais são a área científica com maior fator de impacto relativo (1,65 vezes acima da média internacional) e o campo com o maior número médio de citações por artigo para Portugal.
Ver vídeo em: http://tv.up.pt/premiums/54
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Mais de 25 anos ao serviço da Astronomia
atualizados sobre a pesquisa de novos planetas que se encontrem fora do sistema solar”. Aliando o carater apelativo ao conteúdo científico rigoroso. “Não é apenas divulgação, mas também conhecimento de ponta”. Mais para ver: “O Espantoso Telescópio”. Embora dirigido para o público em geral, este está mais diretamente ligado à Astronomia. Começou com Galileu, diz-nos Daniel Folha, “quando resolveu apontar um telescópio para o céu”. Observou a lua, observou Vénus, Júpiter e… “Produziu uma revolução. Foi o início do fim do sistema geocêntrico, em que se pensava que a Terra era o centro do universo”. Produzido no âmbito do Ano Internacional da Astronomia, em 2009, é um filme sobre a importância do telescópio na abertura de novos horizontes. Outro documentário é sobre os 25 anos do Hubble, em específico. O desafio foi lançado pela Agência Espacial Europeia, por altura dos 25 anos do lançamento, a 24 de abril último. Aproveitando o facto de disporem de um sistema digital e vários anos de experiência na produção de sessões, o Planetário estabeleceu uma parceria com as faculdades de Engenharia e de Belas Artes da U.Porto e embarcou na aventura de produzir um mini filme sobre os 25 anos do Hubble. Mas então, que novo Planetário do Porto é este? É o local onde se faz divulgação e promoção da cultura científica e tecnológica, enquanto se oferece uma experiência sensorial. “Sensações únicas. É fascinante”, acrescenta o reitor da U.Porto, Sebastião Feyo de Azevedo, após a sessão de apresentação. “E vai ser importantíssimo para a divulgação de ciência”. Uma estrutura que se quer alavancada numa estratégia museológica da U.Porto. “Iremos ter a Galeria da Biodiversidade e o Museu de Ciência e de História Natural que, com o Planetário, irão constituir um contributo da Universidade do Porto para o conhecimento, para a cultura, para a cidade e para o país. Juntamente com os museus das faculdades de Belas Artes, de Medicina e de Engenharia… Isto é uma rota do conhecimento, toda uma dinâmica, um caminho que se cria e que vai dar frutos. Em união com a dinâmica da cidade”. Ir ao Planetário não é só ir ver o céu noturno ou o Universo, sublinha Daniel Folha, “é uma experiência nova para a maior parte do público. É participar deste ambiente imersivo que nos faz sentir uma partícula do Universo. Vai espantar quem vier”. Para quem preferir, é bom saber que há sessões ao fim de semana. É só consultar os horários em http://planetario.up.pt/visita/.
VIDAS E VOLTAS
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No dia 3 de outubro de 1975, o Centro de Instrução de Condução Auto do Porto do Exército Português é encerrado. A ordem, emanada do comandante da Região Militar Norte, brigadeiro António Pires Veloso, pretendia pôr fim à “insubordinação colectiva” dos militares daquela unidade. Se esta ação deu origem a um dos episódios de tensão mais elevada do período revolucionário no Porto, também teve como resultado permitir o aumento da presença da Universidade no centro da cidade.
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edifício histórico da U.Porto, na Praça de Gomes Teixeira, com o seu perfil neoclássico, é certamente o símbolo mais visível da presença da instituição no centro da cidade. Mas a austera fachada do edifício da Rua de D. Manuel II, que acolheu a Reitoria durante quase 30 anos, é o mais evidente testemunho – e legado – duma altura em que o país debatia apaixonadamente os modelos sociais e políticos que substituiriam o meio século de ditadura que o isolou das principais correntes de transformação da Europa ocidental do pós-guerra. Em outubro de 1976, menos de um mês antes de abandonar o cargo de vice-reitor, que exercia em funções de reitor interino, José Morgado iniciava o processo de transferência dos serviços da Reitoria para as instalações do Centro de Instrução de Condução Auto do Porto, encerradas no ano anterior por ordem do comandante da Região Militar Norte para que o quartel fosse “oportunamente reestruturado”. Pretendia o brigadeiro António Pires Veloso pôr fim a um episódio de “insubordinação colectiva” dos militares daquela
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unidade, mas, repercutindo-se num meio político radicalizado, esta ação deu origem a um dos episódios de tensão mais elevada do período revolucionário na cidade do Porto. No centro das atenções estava, afinal, uma zona ocupada por edifícios militares desde pelo menos o século XVIII, marcando nessa altura o final da área urbana do Porto, na estrada que se dirigia para a Foz e para Matosinhos, já em ambiente predominantemente rural. Na Rua dos Quartéis, depois do Triunfo (após o Cerco do Porto), hoje de D. Manuel II, pontuava o Quartel da Torre da Marca, que albergou, já no século XIX, tropas tão diversificadas quanto as dos invasores franceses ou as dos exércitos liberais que defenderam o Porto antes de conseguirem conquistar o país. Durante o século XX, aquele espaço militar foi várias vezes reorganizado, beneficiado e ampliado: se, no início do século, se perderam alguns terrenos para permitir a regularização da Rua do Triunfo e, nos anos 30, se permutaram terrenos a nascente por terrenos a sul (os primeiros incorporaram-se no horto de Alfredo Moreira da Silva, os
Encerramento por Pires Veloso Apesar da importância desta unidade militar, as circunstâncias da sua rápida alienação são explicáveis pela conjuntura revolucionária de Abril. Os resultados das eleições de abril de 1975 para a Assembleia Constituinte tinham revelado que a influência dos setores de esquerda comunista nos acontecimentos políticos era desproporcional às opções políticas da maioria da sociedade portuguesa. No seio do Movimento das Forças Armadas (MFA), o confronto das diferentes fações – extrema-esquerda, pró-Partido Comunista, moderada – é simultâneo com a exigência de protagonismo dos partidos políticos de inspiração parlamentar europeia. No início de um agosto que se adivinha ‘quente’, o Documento dos Nove, manifesto dos elementos moderados do Conselho da Revolução, orienta a ação deste setor e propicia o fim do governo de Vasco Gonçalves, próximo do Partido Comunista. Os acontecimentos de 25 de novembro de 1975 provocarão o afastamento dos setores de esquerda comunista do MFA, predominando a ação dos moderados na definição do rumo político nacional. Mas, até lá, estamos no período em que a agitação chega ao rubro, uma vez que diversos eventos, como o juramento de bandeira revolucionário no Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS) e as manifestações da organização Soldados Unidos Vencerão (SUV), demonstram a popularidade das ideologias de esquerda comunista – e particularmente de extrema-esquerda – no seio das forças militares. Estamos num tempo em que as estratégias políticas, para além de rapidamente variáveis con-
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segundos constituíam a Quinta da Bandeirinha), nos anos 40 foram expropriadas sete propriedades particulares para ampliação do quartel, que na altura albergava o Batalhão de Metralhadoras N.0 3. O aspeto atual do edifício de comando, que continua a dominar o troço poente da Rua de D. Manuel II, é resultado de obras conduzidas entre 1949 e 1958. No início dos anos 60, executam-se novas obras de melhoramento, ao mesmo tempo que se incorporam definitivamente no quartel os terrenos autónomos da Quinta da Bandeirinha e da Horta da Infantaria 6 (1), dando-lhe uma forma aproximadamente retangular. Nesta altura, a superfície do quartel ascendia a 34.466 m2, uma área generosa que permitiu que aí se instalasse o Centro de Instrução de Condução Auto N.0 1 (ou do Porto), cuja sigla é ainda hoje usada para referir aquele complexo: CICAP.
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Notas: Todas as citações no texto não identificadas são retiradas das edições do Jornal de Notícias dos dias 3 a 9 de outubro de 1975. (1) O Regimento de Infantaria N.º 6 ocupou o Quartel da Torre da Marca no decorrer do séc. XIX. A Horta de Infantaria 6 era primitivamente administrada por este regimento, “que dizia pertencer-lhe por disposição testamentária, para benefício das praças do Regimento”. Em 1915, a horta foi incorporada no património do Estado. Foram, aliás, maioritariamente estes terrenos que foram cedidos quer para regularização do traçado da Rua do Triunfo, em 1902, quer, em 1931, na permuta efetuada com Alfredo Moreira da Silva. Fonte: Tombo do Prédio Militar N.º 19 / Porto, Direção do Serviço de Fortificações e Obras Militares, 3.ª Repartição – Património, 1963. (2) Declarações de António Pires Veloso a Carlos Pinto Coelho, programa Conversa Maior, 2010. Esta entrevista pode ser acedida a partir de http://www.rtp.pt/ rtpmemoria/. (3) Assembleia representativa própria de cada unidade militar com capacidade para “analisar a evolução política da vida nacional e da sua unidade ou órgão e sobre a mesma emitir pareceres”. Definição constante da Portaria do Conselho da Revolução 453/75, de 24 de julho, neste caso relativa à Força Aérea. (4) O Agrupamento Militar de Intervenção foi uma estrutura operacional criada a 25 de setembro de 1975 pelo Conselho da Revolução para intervir em casos de ordem pública, com o intuito de reduzir a dependência do Comando Operacional do Continente (COPCON) de Otelo Saraiva de Carvalho, afeto à extrema-esquerda.
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(5) REIS, António, 1994 – O processo de democratização, in “Portugal 20 anos de democarcia”, coord. de António Reis. Lisboa: Círculo de Leitores.
forme as conjunturas, são indissociáveis das personalidades que, com as suas ações – com sensível grau de autonomia – marcam os eventos. O brigadeiro António Pires Veloso será uma dessas figuras. Em setembro de 1975, Pires Veloso – aliás, antigo aluno da U.Porto, onde esteve inscrito nos Cursos Preparatórios Militares da Faculdade de Ciências antes de seguir para a Academia Militar – tinha sido nomeado Comandante da Região Militar do Norte (RMN) pelo general Carlos Fabião, em substituição de Eurico Corvacho, ligado ao setor gonçalvista do Conselho da Revolução. Vindo de S. Tomé e Príncipe, onde tinha acompanhado, como governador e depois alto-comissário, o processo de descolonização, Pires Veloso colhia o consenso do setor moderado. Nas suas próprias palavras, era contra o comunismo (2) e vinha com a clara ideia de colocar ordem num exército em que a obediência hierárquica e a disciplina militar tradicionais não seriam, certamente, as características mais visíveis. Numa tentativa de reduzir a influência de elementos de esquerda no seio do CICAP – embora justificando-a na altura com motivos funcionais –, o Comando da RMN ordenara no início de outubro a transferência de dois oficiais e cinco soldados. A ‘assembleia da unidade’ (3), reunida no dia 3 de outubro, opõe-se ao “saneamento” dos seus camaradas. A resposta do Comando da RMN não se fará esperar: na madrugada de 4 de outubro, determina o imediato encerramento do CICAP, que acusa de “insubordinação colectiva”. Na noite desse mesmo dia, uma unidade do Agrupamento Militar de Intervenção (4) ocupa o quartel. Durante toda a noite, no exterior, manifestantes contra o encerramento do CICAP são dispersados com tiros para o ar e gás lacrimogéneo. No dia 6, os SUV, apoiados por diversas forças de extrema-esquerda e pelo Partido Comunista, organizam uma manifestação de apoio aos soldados do CICAP que o Jornal de Notícias descreve como “uma enorme multidão, constituindo certamente um dos maiores cortejos que já desfilaram no Porto”. Entre as vozes de ordem, aqui nasce a célebre frase “o CICA é do povo, não é do Veloso”. Ao mesmo tem-
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po, uma manifestação do Partido Popular Democrático (mais modesta, mas convocada para a mesma hora), encabeçada por Francisco Sá Carneiro, apoia as medidas de Pires Veloso. Felizmente, não se encontram. A manifestação dos SUV tomará lugar em frente ao quartel e, mais uma vez, durante a noite, existirão confrontos, desta vez com a Polícia de Segurança Pública, com os inevitáveis cassetetes, gás lacrimogéneo e, mesmo, alguns tiros (um dos manifestantes dá entrada no hospital com uma ferida de bala no abdómen). Nos dias seguintes, o conflito – em crescendo – será transferido para o Regimento de Artilharia da Serra do Pilar, com a ocupação da unidade por militares de diversas proveniências, que a engalanarão com bandeiras vermelhas. Esta situação de instabilidade – afinal, de confronto entre os diversos setores de esquerda e setores mais moderados, agravada no Norte pela ação dos radicais de direita – é ainda mais candente em Lisboa, onde se vive a “psicose do golpe de Estado” (5). Talvez por isso não surpreenda tanto que no comunicado emitido na madrugada de 4 de outubro pelo comandante da RMN não se fale apenas de reestruturação do CICAP e do licenciamento de todos os milicianos, mas também, e logo, da possibilidade de alienação do edifício: “prever o possível aproveitamento das instalações do C.I.C.A.P. para um estabelecimento de ensino, permitindo, deste modo, a concretização de uma tarefa revolucionária de valorização do povo, que neste momento o C.I.C.A.P não está em condições de realizar”. Portanto, se a unidade se revelou incapaz de cumprir a sua função, deveria ser utilizada para fins que servissem o povo. Este discurso, que nos poderá surpreender hoje, é, contudo, uma marca que atravessa todas as correntes políticas do período revolucionário: as ações são justificadas, antes de mais, pela perceção que cada um tem do que é o interesse popular (neste caso, a noção das necessidades das instituições civis). Outra característica desse tempo é a autonomia revelada pelo brigadeiro Pires Veloso nesta decisão, mas cujo conteúdo de alguma forma prenuncia a reorganização das forças armadas
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que se efetuará paulatinamente após o 25 de novembro de 75, levando à redução e concentração das unidades militares. Não será, aliás, o CICAP o único caso, uma vez que, por exemplo, se ensaiará também a transferência do Quartel das Taipas (parte do convento de S. Bento da Vitória), onde funcionava o tribunal militar territorial e uma dependência da cooperativa militar, para a posse da U.Porto. Embora o destino específico do edifício do CICAP não estivesse logo determinado, a Reitoria, instalada em condições precárias e incapaz de dar resposta ao crescimento acelerado da procura estudantil, manifesta em setembro de 1976 a vontade de se transferir das suas exíguas instalações no edifício da Praça de Gomes Teixeira para o ex-complexo militar. Efetivamente, iniciará a transferência dos seus serviços ao longo do mês de outubro. Mas o CICAP será também importante para o Hospital de Santo António, particularmente após o incêndio da sua ala norte em 1976, permitindo-lhe aí a instalação de diversos serviços; em março de 1977, um protocolo estabelece a divisão dos espaços entre as duas entidades, mas só em janeiro de 1980 será lavrado o auto de cessão às secretarias de Estado do Ensino Superior, por um lado, e da Saúde, por outro. No caso da U.Porto, estabelece-se aí a finalidade de instalação do Instituto Superior de Educação Física e de uma cantina universitária. A cantina foi instalada, e a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física (hoje mais simples e elegantemente denominada de Faculdade de Desporto) também esteve no CICAP, mas temporariamente e por mero acaso, uma vez que alguns serviços que estavam instalados no edifício do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) aí foram acomodados após o incêndio na ala sul deste edifício, em 1992.
Instalação da Reitoria A Reitoria ocupará a maior parte do CICAP até ao seu regresso ao edifício da Praça Gomes Teixeira, mas pouco alterará as infraestruturas existentes: os diferentes edifícios do velho quartel ainda seriam reconhecíveis para quem lá entrasse. Pelo contrário, o projeto que se executa após a sua saída – as novas instalações da Faculdade de Farmácia e do ICBAS – provocará uma profunda transformação daquele espaço. No que diz respeito às instalações universitárias, a continuidade do edifício de comando mantém a memória da presença militar, ao mesmo tempo que oculta o restante complexo; mas do quartel mais nada ficará, e o profundo desmonte alterará definitivamente a configuração daquela elevação sobre o rio. Não será exagerado afirmar que os novos edifícios universitários, a que devemos adicionar o Centro Materno-Infantil do Norte, constituem sob o ponto de vista urbanístico a maior intervenção pública no centro do Porto no período pós-Capital da Cultura. Por outro lado, a inauguração deste complexo (agora) universitário, a 20 de janeiro de 2012, no mesmo dia de idêntica cerimónia no Centro de Investigação Médica da Faculdade de Medicina, tem outro valor simbólico, marcando o final do ciclo de expansão das infraestruturas de ensino da U.Porto iniciado nos anos 80. E, finalmente, as duas faculdades da U.Porto que voluntariamente partilham as mesmas infraestruturas, numa perspetiva de racionalização de recursos e de interação académica, estão em mais do que uma união de conveniência: fazem parte de um projeto mais vasto de desenvolvimento de um polo de saúde no centro da cidade, articulando as suas áreas formativas e de investigação com a prática clínica do Centro Hospitalar do Porto. Certamente que o general António Pires Veloso, falecido no ano passado, não teria capacidade de prever, naquele outono em brasa, os resultados do seu legado. Mas é certo que este se tornou uma peça fundamental para o desenvolvimento da Universidade, que por isso lhe deve estar grata.
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Interferem no espaço público. Ou podemos dizer que dão respostas em forma de pontos de interrogação. Lançam anzóis que nos prendem a roupa, quando vamos, rotineiros, pela rua fora. Fazem parar, pensar e, talvez, agir. O convite é provocatório. Os materiais que usam são improváveis. As cores, inusitadas. Até a conceção de tempo não é a habitual para arquitetos… Se pensarmos que uma construção pode levar anos a erguer… As deles são efémeras. Estes não são arquitetos convencionais. Incubada no UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto, a startup LIKEarchitects nasceu em 2012. O período de incubação está a acabar… É preciso olhar em frente. E ainda bem.
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s termómetros marcam 370 C, numa tarde de verão, em Guimarães. Apetece uma piscina… E se for uma fonte pública, mesmo no centro da cidade? Ficar com água pelo joelho e deitar numa espreguiçadeira às riscas amarelas… Mergulhar o corpo todo também é opção. Ou, então, ficar sentadinho, por baixo do guarda-sol, também às riscas, com os pés molhados, a jogar às cartas? Vai saltar para a água e fazer o que nunca fez, ou calar o corpo e seguir em frente? “Fountain Hacks”, projeto dos LIKEarchitects, foi apresentado durante a Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura. A propor ritmos na atmosfera, nem sempre suaves, desde 2012, a história desta gente da “Escola de Arquitetura do Porto” começou antes de serem LIKE. No início eram três. Diogo Aguiar e João Jesus cruzaram-se durante um estágio curricular na Holanda. Foi a distância que os cruzou. E aproximou. Regressaram ao Porto, à Faculdade de Arquitetura da U.Porto para defender a tese, em
2007, e depois rumaram em direção a Lisboa. Já eram três: Diogo, João e Teresa Otto. Entre a entrega da tese e a viagem para Lisboa, ainda tiveram tempo de apresentar uma candidatura para a realização de um bar para a Queima das Fitas do Porto. A necessidade do nome surge quando a Universidade do México os convida para dar um workshop. Criaram e registaram a marca em 2010 e, logo no ano seguinte, agarram um desafio clássico para qualquer arquiteto: trabalhar a luz. O Museu do Design e da Moda de Lisboa, em parceria com a Câmara Municipal, lançou um concurso que convocava ateliês de arte, design e arquitetura a propor instalações efémeras de luz para substituir as convencionais iluminações de Natal. Os LIKE venceram. Trouxeram a iluminação para o chão e criaram relações espaciais de proximidade. Tinham percebido, com o bar que fizeram para a Queima das Fitas, as potencialidades do plástico para a difusão da luz. “Absorve e expande. Com menos luz conseguimos ter um impacto maior. Não queríamos colunas opacas, mas sim etéreas. Transparentes”. Recorreram a dispensadores de sacos plásticos. A ideia venceu. “Acabou por ser a peça ideal. Definimos uma função e procuramos o objeto que melhor desempenhasse essa função”. Assim nasceram as “Frozen Trees”. “Quando cheguei a casa, nesse Natal, o presépio era feito com dispensador de sacos plásticos”, recorda Diogo Aguiar. Em 2012, foi a vez de a IKEA os procurar com uma proposta: fazer a promoção das lâmpadas led. A resposta foi: “LEDscape”, instalação que esteve nas imediações do Centro Cultural de Belém. As lâmpadas iam acendendo à medida que se ia percorrendo um determinado trajeto. “Per-
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cebemos que havia mercado para este tipo de ações de marketing, menos convencionais e mais ligadas à experiencia”. O projeto (finalista do Prémio Fomento de las Artes y del Diseño - FAD – 2013 e distinguido na Bienal Ibero americana de Desenho de 2014) “falava por si e foi fundamental para percebermos o nosso posicionamento”, explica Diogo Aguiar. “Alguns arquitetos têm pudor em desenvolver determinadas áreas, nomeadamente a publicidade e o marketing, mas a arquitetura pode ter essa vertente: aproximar das marcas e trabalhar o espaço de forma a que seja mais interessante para todos”. O projeto mostrou “que não precisamos de ser ‘pornográficos’, ou impositivos na publicidade à marca. Às vezes, o impacto é maior se a coisa não for assim”. Arte e Arquitetura, o statment da ambiguidade Ainda em 2012, depois de terem ganho o concurso Performance Architecture, para a Guimarães 2012, com “Fountain Hacks”, e o concurso para o Circuito Aberto de Arte Pública de Paredes, avançaram para a criação da empresa no UPTEC. O âmbito de ação é, desde o início, transversal. Amplo. Intencionalmente ambíguo. “É arquitetura ou é arte?” É essa a identidade que apresentam e é “esse posicionamento ambíguo” que os leva a angariar o cliente certo. “Esse statment, de que a arquitetura pode ser outras coisas, faz com só
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“Frozen Trees”
02 “Fountain Hacks” 03 “Kinematix” 04 João Jesus e Diogo Aguiar (da esq. para a dir.)
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nos procure quem tem ideias loucas, quer fazer coisas esquisitas, ou quer ser provocado com respostas que não estava à espera”, esclarece Diogo Aguiar. Todo o processo de investigação sobre materiais e espaços, toda a linguagem que têm desenvolvido já modelou o cliente e o tipo de projeto a que se propõem. “No espaço público criamos um pensamento, uma pergunta, um sentimento ou diversão”, explica João Jesus. “Provocar a discussão. Acontece… E acontece uma conversa saudável sobre…”. Outro projeto esclarecedor deste processo de intervenção no espaço público foi o “Museu Andy Warhol”, que criaram no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, em 2013. Para expor as obras do pai da pop art, automaticamente associado a imagens como a da lata de sopa Campbell’s ou aos retratos da atriz Marilyn Monroe ou do cantor Mick Jagger (que também lá estavam), os LIKEarchitects reagiram de acordo com o contexto. “Claro que, para [Henri] Matisse, não seria o pavilhão indicado. Há um diálogo entre a estrutura expositiva e as obras expostas”. O corpo que resultou deste raciocínio [finalista do prémio International Space Design Award – Idea Tops 2013 – Exhibition (China) 12/2013] era totalmente constituído por latas e permitia diferentes níveis de leitura. “Um crítico de arte pode levantar a questão sobre o que é expor Andy Warhol num espaço que não é neutro, mas que é tão extravagante quanto a obra. Num espaço que reflete o observador, podem levantar-se várias questões”. Em 2013, chegou o convite do Museu da Presi41
EMPREENDER
OLHARES
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dência da República para iluminar os jardins da instituição. “A escala era vasta e o orçamento curto”. Tinham de “interferir num jardim barroco de forma delicada”. Não queriam ser impositivos, mas a intervenção teria de ter escala. Concebida para ser vista à noite, teria de ter impacto durante o dia. “Criamos arcos de luz”. E assim se formou “Conste.llation”. A seguir concorreram ao Amsterdam Light Festival. E venceram. O concurso “tinha a ver com união e solidariedade. Estávamos a criar uma constelação, uma união de pontos para a união de pessoas”, justifica João Jesus. E a instalação seguiu para Amesterdão. “O contexto permitia utilizar a mesma instalação, ou princípio. Procuramos projetos em que o fator protótipo e de experimentação esteja consolidado e damos passos de otimização, o que nos permite estar com mais segurança. Avançamos para um território desconhecido com elementos que já dominamos”. Cá dentro, mote para performances, encontros inesperados e, até, pensamentos cruzados com Escher, “Tripod” é outro projeto que seguiu a mesma lógica de projeção. Trata-se de uma espécie de escadaria com varanda pública que, durante o primeiro período de vida, esteve, lilás, no Largo São Domingos, no Porto. Integrado na Locomotiva, iniciativa de dinamização do Centro Histórico do Porto concebido pela empresa municipal Porto Lazer, estará exposto durante o período de verão, agora em amarelo, na Rua Chã. As varandas, explica Diogo Aguiar, “muito visíveis no espaço público, são espaços privados. Queríamos dar a possibilidade, aos turistas por exemplo, de estarem à altura de uma varanda e verem o espaço público desse ponto”. Depois quiseram explorar a questão do acesso à varanda. “Provoca novas intimidades. Enquanto uma pessoa está a descer, outra está a subir e encontram-se num espaço pequenino. Existe esse constrangimento”. Subimos para ver mas, na verdade, estamos a ser vistos. “E não sendo nada é tudo ao mesmo tempo: houve corridas de degraus, um jantar (em parceria com um restaurante local), artes performativas, concertos, funcionou de play ground para crianças”. A ausência de uma função específica originou uma multiplicidade delas.
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“Funcionou bem esse contraste de uma peça tão pequena poder confundir a mente”, acrescenta João Jesus. 01
“Museu Andy Warhol”
02 Equipa da LIKEarchitects 03 “Fountain Hacks” 04 “Conste.llation” 05 “Tripod”
Proposta pode ser convencional, a resposta não A lista de prémios e distinções é longa, para tão curto tempo de existência, e o próximo projeto impõe que se puxe do galardão “logo à cabeça”. Foi distinguido entre mais de quatro mil propostas oriundas de 35 países, concorrentes aos conceituados prémios chineses que todos os anos celebram a arquitetura e o desing de interiores a nível mundial. Já foi publicado em diversas revistas da especialidade, como a Domus, Blueprint ou Le Moniteur Architecture. O “Kinematix” venceu o Prémio Internacional IDEA - Tops 2014, na categoria de Best Design of Office Space. É um projeto irreverente desenhado para um espaço de trabalho, com um sistema articulado de portões (como os de garagem), permitindo múltiplas reconfigurações formais. O recurso a elementos modulares móveis e o caráter interativo e versátil foram as caraterísticas destacadas pelo júri. O cliente, uma empresa de microtecnologia que estava a sair da UPTEC, desafiou-os a redesenhar o interior de um espaço que já existia (nas Galerias Lumiére, no Porto). Vinha à procura de uma proposta inovadora. “Trabalhamos um conceito que introduzisse flexibilidade e compartimentasse o espaço de acordo com as necessidades do cliente, daí a colocação das portas de correr”. O ensino e a proximidade às escolas é uma outra vertente, talvez menos mediática, do trabalho que os LIKEarchitects desenvolvem. Foi o caso do projeto que implementaram em Almada (com o ISCTE) e do qual resultou uma peça temporária, num bairro de construção não legalizada. Tema que começa agora a ser trabalhado e estudado
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pelas escolas, diz-nos Diogo Aguiar. “Não é o território de ação ideal para o arquiteto de há uns anos, mais convencional, mas hoje começa a ver-se a arquitetura preocupada em dar dignidade a estes espaços”. Neste bairro de Almada, que tinha uma lixeira numa zona de entrada e onde não havia espaços de usufruto público, um workshop de duas semanas, com os habitantes locais, serviu para traçar o diagnóstico e fazer o desenho do projeto. Desenharam uma mesa comunitária, com mais de cinco metros, com placas de OSB oferecidas por uma empresa. “Achamos interessante transformar aquela lixeira num jardim e ponto de encontro”. Balanço feito, podem não ter feito vingar a ideia de que aquele espaço já não era uma lixeira, porque dois anos depois voltou a assumir a antiga função, mas da pertinência de um local de união pública já ninguém quis prescindir. A mesa foi protegida e deslocada para outro espaço que foi transformado pelos habitantes locais em praça pública. Internacionalização da empresa Em breve vão deixar de ser startup. E assumir outras responsabilidades. E então, daqui para a frente, o que se segue? Segue-se uma viagem até Praga, para participar em mais uma quadrienal de artes performativas em espaço público. Vão fazer um workshop com alunos de várias nacionalidades e explorar diferentes utilizações da fita-cola em espaço público. Já está esgotado. Segue-se Macau, para desenvolver outro workshop com estudantes de várias universidades. O objetivo é construir uma peça em espaço público. Vai chamar-se “Place Out”. As “Frozen Trees”, que após a primeira aparição no Rossio, em dezembro de 2011, aterraram em Londres, foram uma espécie de cavalo de Troia no mercado internacional. Depois foi a vez de “Conste.llation”, em Amesterdão, e, este ano, já receberam outra encomenda para fazer instalações de luz a seguir ao Natal. Nos Alpes. Também voltaram a vencer o concurso para o pavilhão expositivo do Shopping Colombo, o que quer dizer que, ainda este ano, voltam a reinventar uma estrutura para aquele espaço. Mais a norte, vão fazer um bar temporário na
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praia do Castelo de Queijo. Será uma estrutura efémera acoplada a outra já existente. Ainda no Porto, para a Rua da Picaria, estão a desenhar uma cervejaria com dois pisos e uma guest house com três. “Vamos explorar o diálogo entre as estruturas contemporâneas e o existente. Há que perceber muito bem essa tenção entre o que é novo e o que sempre existiu”, explica Diogo Aguiar. No fundo, é deixar que o edifício conte a história do que sempre foi e assuma o que é novo. Um pouco à semelhança do que está a acontecer em todo o centro da cidade. “Vamos procurar explorar os contrastes, de uma forma um pouco provocatória, mas respeitosa do edifício”. Em Aveiro, estão a desenvolver o projeto de uma cervejaria com um hostel. Outro cliente que já sabia ao que vinha. “Veio à nossa procura. Sabia o que fazíamos e desafiou-nos. E nós queremos o melhor para o projeto, sendo que o melhor para o projeto é o melhor para o cliente”. A startup vai deixar de o ser em março de 2016, mas a proximidade do calendário não assusta. A relação que têm com o tempo também é peculiar. Enquanto os projetos mais convencionais de arquitetura demoram anos a concretizar, a dinâmica dos LIKE é outra. “Os nossos projetos começam hoje para estarem prontos daqui a três meses e têm quinze dias de vida”. Daí que março de 2016 esteja, aonde está, no calendário do próximo ano. “Não vemos com grande preocupação”, diz Diogo Aguiar. O crescimento sustentado da empresa permite dar o corpo ao manifesto do futuro. “Temos uma visão empresarial que não tínhamos quando entramos, temos uma rede de clientes mais constante e já conhecemos os fluxos ou cadência de solicitações, o que permite antever o estado da empresa”, resume Diogo Aguiar. E saber, acrescenta João Jesus, “aonde ir buscar clientes e comunicar os projetos”. Os sete, agora são sete, embora sem Teresa Otto, partilham um gabinete de janelas amplas para a rua. E se há coisa que já perceberam é que é isso que querem manter: luz natural a entrar e as pessoas a passar lá fora na rua. “Achamos saudável essa interação”. Também começa a fazer falta mais espaço. “Às vezes, sentimos a necessidade de encostar tudo para o lado e transformar o espaço em oficina”, confessa Diogo Aguiar. Resumindo, é chegado “o momento de charneira. Está na hora de dar o passo”. 43
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MÉRITO
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Conselho de Curadores tem novos membros e presidente
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Cinco anos após o início do seu mandato, o Conselho de Curadores da U.Porto alterou a sua composição. Os três membros que cumpriram por completo o mandato – Paulo Azevedo, Carlos Tavares e Maria Amélia Cupertino de Miranda – foram substituídos por outras três personalidades de relevo nacional. No âmbito das suas competências, ouvido o Reitor, o Conselho Geral da U.Porto convidou para integrarem o Conselho de Curadores Eugénia Aguiar Branco (licenciada em História pela FLUP e diretora-geral da Fundação Eng. António de Almeida), Manuel Ferreira de Oliveira (licenciado em Engenharia Eletrotécnica pela FEUP, antigo professor catedrático desta Faculdade e ex-CEO da Galp Energia) e Miguel Cadilhe (licenciado em Economia pela FEP e antigo ministro das Finanças). Este último (na foto) foi, mais tarde, eleito pelos seus pares presidente do Conselho de Curadores. Os dois curadores que permaneceram em funções, por ainda não terem completado o mandato, são Odete Patrício (diretora-geral da Fundação de Serralves) e José Manuel Fernandes (presidente do Conselho de Administração da Frezigest).
Honoris Causa para Jorge Sampaio
A U.Porto atribuiu o título de Doutor Honoris Causa ao ex-Presidente da República Jorge Sampaio, reconhecendo, desta forma, o seu notável percurso de intervenção cívica, política e intelectual que teve início na oposição à ditadura, no dealbar dos anos 60, e prosseguiu com o desempenho de relevantes cargos partidários e de soberania, depois do 25 de Abril de 1974. Após cumprir dois mandatos como chefe de Estado (1996-2006), Jorge Sampaio dedicou-se a missões de apoio humanitário internacional, assumindo os cargos de Enviado Especial do Secretário-Geral da ONU para a Luta Contra a Tuberculose (2006-2007) e de Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações (2007-2013). Foi distinguido com o Grande-Colar da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e da Ordem da Liberdade, sendo ainda Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. A cerimónia de atribuição do título teve lugar a 24 de fevereiro e contou com a participação de Alexandre Quintanilha, como padrinho do doutorando, e de José Madureira Pinto, como elogiador do mesmo.
João Ribeiro é o novo pró-reitor da U.Porto
João Ribeiro é desde 1 de junho o novo pró-reitor da U.Porto para as áreas do Planeamento Estratégico e das Participações Empresariais. O professor auxiliar da FEP foi o escolhido pelo reitor para substituir no cargo Patrícia Teixeira Lopes – que assumiu o cargo de vice-dean da Porto Business School –, “atendendo aos vastos conhecimentos e larga experiência nos domínios em apreço”. Licenciado em Economia pela FEP, mestre e doutorado em Contabilidade e Finanças pelo UMIST/Universidade de Manchester, João Ribeiro, de 41 anos, é docente na FEP desde 1996, tendo centrado a sua atividade de docência e investigação nas áreas do Controlo de Gestão e da Contabilidade Financeira, as quais, segundo o próprio, “assumem especial relevância” nas funções que exerce na Reitoria. O mais recente membro da equipa reitoral apresenta também uma extensa experiência de gestão universitária: entre 2006 e 2009, foi o primeiro diretor do Programa de Doutoramento em Ciências Empresariais com componente escolar da FEP e, atualmente, dirige o Mestrado em Gestão/ Master in Management.
O espanhol Ramon O’Callaghan é, desde 4 de maio, o novo presidente da Direção da Porto Business School. O atual dean da escola de negócios da U.Porto, que sucede a Nuno de Sousa Pereira, conta com uma extensa experiência em cargos de direção de escolas de negócios na Europa e Ásia Central. Foi já diretor da TIAS Business School (Universidade de Tilburg, Holanda), da Deusto Business School (Espanha) e da Nazarbayev University Graduate School of Business (Cazaquistão). Licenciado em Engenharia pela Universitat Politècnica de Catalunya, O’Callaghan tem ainda um MBA pelo IESE Business School e um DBA pela Harvard Business School. Especialista em gestão estratégica, tecnologia e inovação, O’Callaghan lecionou em programas de formação para executivos na INSEAD, na London Business School, no MIT Sloan, na Purdue University e na Solvay Brussels, por exemplo. O novo dean acumula também experiência na área empresarial, graças à sua atividade de consultor em empresas como a IBM, KPMG, Philips, Pricewaterhouse-Coopers ou Shell.
A U.Porto ascendeu à 7.ª posição do SIR IBER (The Ibero-American SCImago Institutions Ranking), cuja edição de 2015 resultou da análise da produção científica das instituições de ensino superior iberoamericanas (América Latina, Caraíbas e Península Ibérica) entre 2009 e 2013. Publicado pelo Grupo SCImago e tendo como fonte a base de dados Scopus, este ranking resulta de uma análise comparativa da atividade científica de todas as instituições do espaço iberoamericano, de acordo com indicadores bibliométricos como o número de publicações, o impacto, o fator de qualidade, o índice de especialização, a liderança científica ou a excelência das publicações. A U.Porto sobe três lugares em relação a 2014, sendo a única do “top 10” a melhorar a sua classificação. No total, a Universidade contabiliza 17.783 artigos publicados no período em estudo, mais 2.000 do que os 15.750 registados em 2014 (relativos ao período entre 2008 e 2012) e 5.000 face à edição 2013 (12.904 artigos publicados entre 2007 e 2011). Regista ainda um fator de impacto (citações por publicação) de 1.16, o que significa que é citada cerca de 16% acima da média mundial.
Um estudo liderado pela investigadora do Ipatimup Sónia Melo, já publicado na Nature, demonstrou que as células tumorais do pâncreas produzem exossomas com a proteína glypican-1 (GPC1). Mais: a presença destes exossomas no sangue permite distinguir entre indivíduos sem doença ou com doença benigna do pâncreas e doentes com cancro do pâncreas. Num modelo experimental foi possível demonstrar que a deteção de exossomas positivos para GPC1 se correlaciona com a presença de lesões pancreáticas iniciais não detetáveis por ressonância magnética. Por conseguinte, este modelo pode ser utlizado quer como ferramenta de diagnóstico não invasiva (pois os exossomas com estas características são percetíveis numa análise ao sangue), quer como ferramenta para detetar fases iniciais de cancro do pâncreas. Licenciada em Bioquímica pela FCUP, Sónia Melo concluiu o Programa GABBA e fez um pós-doutoramento na Harvard Medical School e no MD Anderson Cancer Center. Este ano foi distinguida na 11.ª edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência.
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Ramon O’Callaghan é o novo dean da PBS
U.Porto sobe três lugares na investigação iberoamericana
Sónia Melo descobre método de deteção precoce de cancro do pâncreas
DESPORTO
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Mais de duas mil pessoas, na sua grande maioria da comunidade académica da U.Porto, estão a “mexer-se” com o UPFIT, o programa do Centro de Desporto da Universidade (CDUP-UP) que, desde 2013, trabalha para melhorar a qualidade de vida de docentes, estudantes, alumni e colaboradores. De resto, com o cartão UPFIT é possível participar em nove sessões à escolha entre uma grande variedade de atividades físicas e modalidades desportivas.
ão 18h30, aproxima-se o final de um autêntico dia de verão mas hoje é dia de treino e ainda falta passar pela Faculdade de Desporto da U.Porto (FADEUP). Motivo? Uma aula de ginástica rítmica, uma das 17 atividades diferentes ligadas ao fitness que é possível praticar na Universidade. As participantes chegam a conta-gotas à sala da aula disponibilizada pela FADEUP. Pouco tempo depois, a aula avança já a bom ritmo. “Um libertar de energia acumulada ao longo do dia”, é a forma que Sara Cristóvão, funcionária da Faculdade de Engenharia, encontra para descrever estas aulas. A atividade já vai a meio mas continua com força ou não fosse conduzida pela instrutora mais “antiga da casa”, a experiente Raquel Queirós, que coordena aulas deste tipo desde 2004 e é a responsável por motivar e treinar as “tropas”. “A vontade e a motivação parte das alunas, o que procuro é recebê-las bem, integrá-las e mantê-las motivadas para a prática desportiva”, diz. Mas, acima de tudo, confidencia que procura sempre “que todas as participantes saiam da aula com um sorriso”. Este parece ser um lema que resulta, já que Raquel Queirós tem sempre as suas aulas bem preenchidas (só nesta estavam 20 mulheres) – ela que, para além da ginástica rítmica, já passou também pelo cardiolocal, aeróbica, musculação e localizada. Vantagens do Programa UPFIT Para esta instrutora, o programa UPFIT é “uma opção económica e excelente para a prática correta de desporto”. O preço, a flexibilidade do horário e a motivação incutida pelos professores são algumas das razões apontadas por Sara Cristóvão para frequentar estas aulas praticamente desde que apareceram na FADEUP. Já Shirley Batista, estudante de doutoramento da mesma faculdade, é outra participante no UPFIT que confessa que tem vindo paulatinamente a ganhar “qualidade de vida, força, resistência e a combater o sedentarismo”. Mas não só de bem-estar físico vive o desporto. Para Shirley, a aula de ginástica rítmica ajudou também a “conhecer muita gente nova num país diferente do meu”, como nos confidenciou. Já Sara Cristóvão admitiu que “já trouxe pessoas que trabalham comigo, o que ajudou a criar espírito de equipa e de grupo e melhorou bastante o ambiente profissional”.
PEDRO ROCHA
O DESPORTO ESTÁ MESMO A AGITAR O CAMPUS S
minton, a escalada, a esgrima medieval, o judo, o karaté, o karaté kids, o kung fu, o taekwondo, o tai-chi & qi gong e o tiro com arco. O preço do cartão UPFIT varia entre os 20 (estudante) e os 25 euros (externo). A modalidade do cartão musculação dá para utilizar durante nove sessões, com preços entre os 15 (estudante) e os 25 euros. Mais informação sobre os horários e os preços do programa pode ser encontrada em http:// www.cdup.up.pt.
U.Porto coorganizou melhor mundial universitário de 2014 Nem só de desporto informal vive a Universidade. O CDUP-UP é também responsável por representar a U.Porto no desporto universitário de competição. Ora, em junho, o Mundial Universitário de Voleibol de Praia 2014, organizado conjuntamente pela U.Porto, Instituto Politécnico do Porto e Federação Académica do Porto, foi reconhecido pela Federação Internacional de Desporto Universitário como o “Melhor Campeonato Universitário do Mundo” do ano passado. Esta distinção é, para o reitor da Universidade, Sebastião Feyo de Azevedo, “o coroar de uma grande organização desportiva, que trouxe ao Porto estudantes de todo o mundo”.
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Esta é apenas uma das aulas incluídas no Programa UPFIT do Centro de Desporto da U.Porto (CDUP-UP), que engloba também sessões de fitness, sessões de musculação e treinos de modalidades em diferentes instalações desportivas, como a FADEUP, o Pavilhão Luís Falcão, o CDUP-Boa Hora e o Estádio Universitário. No total, há desporto de segunda a sábado e com todas as opções de horário. Estão previstas, por exemplo, aulas de musculação a arrancarem às 7h30, na FADEUP, ou uma aula de tiro com arco, às 22 horas, no Estádio Universitário. Por isso, já não há mesmo desculpa para não se fazer desporto na Universidade. Este é mesmo o mote deixado pelo diretor do CDUP-UP, Bruno Almeida: “Sejam ativos, estejam envolvidos, sejam U.Porto!”. Refira-se a propósito que, com o cartão UPFIT, a comunidade académica e não só podem participar em nove sessões à escolha. As atividades que compõem o Programa UPFIT são o fit, o cardiolocal, o combat & abs, a djembel dance, as danças de salão, a ginástica GAP, o gymfit, a ginástica localizada, a hidroginástica, a musculação & cardiofitness, a natação (avançada, adultos, kids e adaptada), os pilates, o powerfit, o step, a yoga, o TRX e a zumba. Já as modalidades são o bad-
Dias temáticos e solidariedade O CDUP-UP tem também apostado nos dias temáticos, que dão a oportunidade a potenciais utilizadores de experimentarem novas modalidades ou, simplesmente, de verem como se faz e testarem noutros dias. São exemplos disso, o megacircuito realizado no Dia Mundial da Atividade Física, que juntou mais de 60 pessoas a fazerem gymfit e pilates com aconselhamento nutricional e avaliações físicas, a Halloween Party ou a UPFit Summer Party. Já nos dias da família (da mãe, pai e criança), o CDUP-UP convidou os pais a participarem na aula de Natação Kids, que reuniu cerca de 30 crianças com os respetivos progenitores a acompanharem e a participarem ativamente na aula. Desde o Natal de 2013 que o CDUP-UP tem dinamizado a semana desportiva solidária com a comunidade académica e o público em geral, na qual se pode trocar um bem alimentar ou de higiene pessoal por uma hora de exercício físico saudável. São mais de 17 aulas diferentes, que contam com a solidariedade de várias pessoas. Ao longo de uma semana, nos quatro espaços desportivos da U.Porto (Estádio Universitário, Pavilhão Luís Falcão, FADEUP e CDUP-Boa Hora) são entregues mais de 100 produtos, que posteriormente chegam à Associação Protetora da Criança. Incentivar e sensibilizar a comunidade académica da U.Porto para a necessidade de contribuir com um pequeno gesto para a melhoria da qualidade de vida das crianças é o grande objetivo desta campanha.
MONTRA DE LIVROS
O PANO DA TERRA
A TRADUÇÃO PARA EDIÇÃO
DIANA FERREIRA
JOANA SEQUEIRA
JORGE ALMEIDA E PINHO
Da Grande Pirâmide de Gizé ao Museu Guggenheim, sem esquecer o Mosteiro dos Jerónimos ou a Torre Eiffel, este livro analisa a herança de mais de 20 exemplares arquitetónicos representativos da criação humana. Uma viagem pelo tempo para mostrar a evolução da arquitetura, assinalada por expoentes de diferentes culturas. Pensada para entendidos ou leigos mas, essencialmente, para estudantes da área da História da Arquitetura, esta obra nasce de uma lacuna sentida pela própria autora ao longo do seu percurso académico. Diana Ferreira é licenciada em História da Arte pela Faculdade de Letras da U.Porto e mestre em Museologia em Espanha, tendo trabalhado na Galleria Nazionale d’Arte Moderna di Roma e na direção da Galleria dos Uffizi, em Florença. Foi professora responsável pela disciplina de História da Arte no Porto e atualmente leciona Introdução à História da Arte, Iconografia e História da Arquitetura na Academia de Arte em Florença.
“Pano da terra” é uma expressão que surge nos documentos medievais para distinguir o tecido fabricado localmente daqueles que vinham de fora. Joana Sequeira lança esta investigação para, por um lado, mostrar as raízes dessa produção local e, por outro, combater a ideia feita de um reino português que dependia totalmente dos panos estrangeiros para se vestir. Em Portugal produzia-se principalmente linho, lã e seda, que eram transformados pelas mãos de artesãos mouros, judeus e cristãos. Um domínio técnico sedimentado ao longo de séculos permitiu que as diferentes regiões do país fossem capazes de criar tecidos com marca de origem, os quais conquistariam um lugar próprio no mercado. Alguns desses panos cruzaram as fronteiras, alimentando o comércio português com a Europa e com África. É este caminho que Joana Sequeira pretende esclarecer nesta obra. Doutorada em História, em 2012, na Faculdade de Letras da U.Porto e na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, em regime de cotutela, a autora especializou-se na área da História Económica Medieval e tem publicado estudos sobre a produção e o consumo de têxteis.
O livro e os Estudos do Livro são o mote para uma viagem ao território dos Estudos de Tradução, com perspetivas sobre estudos internacionais fulcrais e a prática da tradução em diferentes culturas e contextos. A partir de um ângulo sociológico e literário, sustentado em factos recolhidos e na análise de diversas obras, é possível ver uma descrição fundamentada do atual estado da tradução para edição em Portugal. Analisa-se a intervenção dos tradutores junto das casas editoras e as suas condições de formação e reconhecimento público. É uma jornada de conhecimento sobre a interdependência e a interligação da tradução com vários sistemas socioculturais. Uma expedição em que o tradutor continua a ser muitas vezes um explorador invisível. Jorge Manuel Costa Almeida e Pinho é doutorado em Estudos Anglo-Americanos – Tradução pela U.Porto, em cuja Faculdade de Letras fez toda a sua formação de nível universitário. Docente do ensino superior desde 1991, na área da Língua Inglesa e, em especial, dos Estudos de Tradução nas suas múltiplas vertentes, tem desempenhado funções diversas de coordenação e direção nas instituições onde tem lecionado. Enquanto académico e investigador tem publicado vários artigos na área da Sociologia da Tradução e sobre o papel e posição do tradutor na sociedade contemporânea.
GUIA DOS TESOUROS ARQUITETÓNICOS CHIADO EDITORA
PEDRO ROCHA
U P O RT O A L U M N I 2 2
PRODUÇÃO TÊXTIL EM PORTUGAL NOS FINAIS DA IDADE MÉDIA U.PORTO EDITORIAL
VIAGEM AO MUNDO DE TRADUTORES E EDITORES EM PORTUGAL (1974-2009) U.PORTO EDITORIAL
Universidade do Porto Uma das 100 melhores instituição de ensino e investigação científica da Europa. 3 14 1 2 286 1 542 30 066 8 713 5 573 12 544 241 3 236 3 282 129 1 709 514 222 678 35 18 141 15 93 376 4 160 7 630 1,83 51 9 27 15 23,1% 3 861 15 746 16 864 324 18 999 1 707 067
Campus universitários Faculdades Business School Docentes e investigadores (1 707 ETI) (cerca de 80% doutorados) Não docentes (1 569,7 ETI) Estudantes Estudantes de 1º ciclo Estudantes de 2º ciclo / Mestrado Estudantes de Mestrado Integrado Estudantes de Especialização Estudantes de 3º ciclo / Doutoramento Estudantes estrangeiros (10% do total) Países Estudantes em programas de mobilidade Diplomados estrangeiros (5%) Docentes e investigadores estrangeiros Programas de Formação em 2013/14 Cursos de 1º ciclo / Licenciatura Cursos de Mestrado Integrado Cursos de 2º ciclo / Mestrado Especialização e estudos avançados Cursos de 3º ciclo / Doutoramento Cursos de Formação Contínua Vagas disponíveis em 2013/14 Candidatos em primeira opção Número de candidatos por vaga Unidades de Investigação Laboratórios Associados Unidades avaliadas com “Excelente” e “Muito Bom” Unidades avaliadas com “Bom” Papers indexados na Web of Science Artigos publicados em 2013 Artigos publicados no quinquénio 2009-2013 Bibliotecas Títulos de monografias Publicações periódicas disponíveis on-line Downloads de artigos científicos
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Estudantes Bolseiros
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