Livro - Espírito Brasileiro

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Patrocínio | Sponsor

Realização | Executive Production


The Brazilian Spirit

Humberto Capai

Textos / Texts Eliza Capai | José Arrabal | Luiz Guilherme Santos Neves | Viviane Mosé | Walter Firmo

Vitória 2012


FICHA TÉCNICA Credits Realizacão e Producão | Executive Creative Production

Usina de Imagem

Traducão | Translation

Fernanda Hott, Sandlei Moraes, Sandra Vargas B. Prates e Lillian DePaula

Patrocínio | Sponsor

Shell Brasil Petróleo Ltda

Revisão de texto | Text revision

Organizacão do projeto e coordenacão editorial Project organization and editorial coordination

Humberto Capai/Usina de Imagem

Herbert Farias Tratamento de imagem e finalizacão de imagem Image edition and final image edition

Pablo Carneiro/Usina de Imagem

Fotografias e edição de imagem Photographs Image Editing

Humberto Capai/Usina de Imagem Textos | Texts

Eliza Capai, José Arrabal, Luiz Guilherme Santos Neves, Viviane Mosé e Walter Firmo Projeto gráfico | Graphic Design

Luiza Aguirre Larica | Indesign Comunicações Flávia Carvalhinho de Oliveira | Indesign Comunicações

Digitalizacão das imagens | Image digitization

Marcelo Gomes Ribeiro/Usina de Imagem Catalogação e supervisão editorial Editorial supervision and cataloguing

Adjane Laia/Usina de Imagem Impressão e acabamento | Printing and art work

GSA Gráfica e Editora

FICHA CATALOGRÁFICA Capai, Humberto C236e

Espírito Brasileiro / Humberto Capai ; texto Walter Firmo ... [et al] ; tradução Sandlei Moraes ... [et al] ; Revisão Herbert Farias – Vitória: Usina de

Imagem, 2012. 256 p. : il. – Color. ; 21 cm

Texto bilíngue, português e inglês ISBN: 978-85-65967-00-6

1. Fotografia – Espírito Santo. 2. Identidade – Espírito Santo - Brasil. 3. Diversidade – Espírito Santo – Brasil. I. Capai, Humberto . II. Firmo, Walter. III. Capai, Eliza. IV. Arrabal, José. V. Mosé, Viviane. VI. Neves, Luiz Guilherme Santos. CDD: 770.4


Sumário Content

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Agradecimentos Acknowledgements

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Patrocinador Sponsor

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Espírito Brasileiro | Humberto Capai The Brazilian Spirit

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Muito além de uma galeria de arte | Luiz Guilherme Santos Neves Far beyond an art gallery

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Espírito Santo, amém | Walter Firmo Espírito Santo, amen

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Entrelaçamentos | Eliza Capai Intertwined

33

Melhor é impossível | José Arrabal Good as it gets

37

Identidade ou diferença? | Viviane Mosé Identity or difference?

42

Verdes Green (s)

66

Amarelos Yellow (s)

100

Azuis Blue (s)

130

Brancos White (s)

156

Brasis Brazil (s)

228

Versão em inglês English version


Agradecimentos Este trabalho foi desenvolvido ao longo de décadas de minha

Neves, Renato Pacheco, Paulo Cesar Nascimento, André Alves,

vida, vividas também em função do amor, do carinho e do res-

Mauricio Simonetti, Gilberto Sudré, Tom Boechat, Simone Nei-

peito de muitas pessoas. Algumas já não poderão apreciá-lo,

va, Joelma Consuelo e Marcos Arzua.

mas sua contribuição está aqui presente. A elas, com grande risco de ser traído pela memória, em alguns casos, agradeço e dedico este livro. Aos meus pais Humberto Capai e Luci Derci Capai, às minhas filhas Maria e Eliza Ribeiro Capai, a José Arrabal, Maria Célia Chaves Ribeiro, Nestor Tavares Allemand Filho e Maria Lúcia Schiavo Allemand, José Alencar, André e Leila Valente, Luiz Fernando Chaves Ramos, Marcelo Sá Correa, André Teixeira, Carlos Fidelis, Márcia Leite, Scheila Silva Rasch, Laércio Ferraciolli e Carmen Viana, Joca Simonetti e Andréa Grijó. Também agradeço ao Marco Antonio Louzada e a Luciana Borges, Maria

Aos colegas e alunos da Universidade Federal do Espírito Santo, que compartilham e incentivam meu trabalho fotográfico também como atividade educativa. Aos que se permitiram fotografar e autorizaram a publicação de suas fotos: Arcelino dos Santos, Maria Laurinda Adão, Mestre Bochecha ( Jocimar Nunes), Mestre Ducinio Gasparelo, Mestre Reginaldo, Paulo Denis Falqueto, Scheila Silva Rasch, Tatantim Rua-Retée, Virgílio Lambert Tomazi, Jove Paste e Mestre Figo. Também àqueles que, no anonimato, contribuíram para a feitura das fotos aqui presentes.

Helena Amaral, Márcia Gaudio, Glaucia Batista, Fernando Be-

Aos que ajudaram a estruturar a Usina de Imagem e, em espe-

tarelo e Gleice Grassi.

cial, a Pablo Carneiro e Adjane Laia, pela solidariedade e pa-

Àqueles que, pela fotografia, chegaram à minha vida e nela permaneceram com grande amizade: Lula e Ângela Rodrigues, Henrique Bucher, Rogério Medeiros, Luiz Guilherme Santos

ciência na conclusão deste trabalho. Também aos amigos que com carinho ajudaram na edição de imagens. À Shell, pela confiança depositada e pelo patrocínio deste livro.


Acknowledgements The collection of photographs in this book is the result of many

Santos Neves, Renato Pacheco, Paulo Cesar Nascimento, André

decades of my life, a life also lived thanks to the love, warmth

Alves, Mauricio Simonetti, Gilberto Sudré, Tom Boechat, Simone

and the respect of many people. Some are no longer here, but

Neiva, Joelma Consuelo and Marcos Arzua.

our appreciation of their contribution is noted herein. To these, running the risk of, in some cases, having a failing memory, I thank and dedicate this book.

Espírito Santo, who have shared and supported my photographic work also as the educational activity it is.

For my parents Humberto Capai and Luci Derci Capai, for my daughters Maria and Eliza Ribeiro Capai, for

José Arrabal,

Maria Célia Chaves Ribeiro, Nestor Tavares Allemand Filho and Maria Lúcia Schiavo Allemand, José Alencar, André Valente, Luiz Fernando Chaves Ramos, Marcelo Sá Correa, André Teixeira, Carlos Fidelis, Márcia Leite, Scheila Silva Rasch, Laércio Ferraciolli and Carmen Viana, Joca Simonetti and Andréa Grijó. I also thank Marco Antonio Louzada and Luciana Borges, Maria Helena Amaral, Márcia Gaudio,

For my colleagues and students from the Universidade Federal do

Glaucia Batista, Fernando

Betarelo and Gleice Grassi. For those who, through photograhy, came to my life and with a high allowance of friendship there stayed: Lula and Ângela Rodrigues, Henrique Bucher, Rogério Medeiros, Luiz Guilherme

For those who allowed me to photograph them and later authorized their publications: Arcelino dos Santos, Maria Laurinda Adão, Mestre Bochecha (Jocimar Nunes), Mestre Ducinio Gasparelo, Mestre Reginaldo, Paulo Denis Falqueto, Scheila Silva Rasch, Tatantim Rua-Retée, Virgílio Lambert Tomazi, Jove Paste and Mestre Figo. And also to those who, in anonymity, collaborated in the makings of the pictures herein. To those who helped organize Usina de Imagem and, especially, to Pablo Carneiro and Adjane Laia, for their solidarity and patience during the makings of this book. Also to those friends who helped in the edition of the photographs. For Shell, for the trust given in sponsoring this book.

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Patrocinador Às vésperas de completar cem anos no país, a parceria da Shell com o Brasil transcende a contribuição econômica. Por meio do diálogo e de diversas iniciativas nas áreas social, cultural e ambiental, temos buscado estreitar os laços e trazer uma efetiva contribuição à sociedade. Por isso, é grande a satisfação de apoiar esta publicação, que reverencia a identidade brasileira através de seu mais expressivo símbolo: a bandeira nacional. Este conjunto fotográfico, costurado a partir de imagens captadas no estado do Espírito Santo, apresenta a riqueza histórica, étnica, geográfica e econômica dessa região, que reflete a grande diversidade cultural tão própria deste país. Finalmente, gostaria de dizer que não existe forma mais eloquente de reconhecer um povo do que valorizar a sua cultura, porque ela reflete a própria identidade. Ao apoiar uma publicação como Espírito Brasileiro, a Shell celebra o povo brasileiro, suas histórias e cores.

André Araujo Presidente da Shell Brasil Petróleo Ltda.

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Sponsor As Shell is about to celebrate 100 years in Brazil, its partnership with this country transcends mere economic contribution. Thanks to constant interaction and to the many initiatives in social, cultural and environmental areas, we strengthen our ties and bring meaningful contributions to society. Therefore, with great satisfaction we sponsor this publication, one that honors Brazilian identity through its most expressive symbol: the national flag. This collection of photographs, sown together with images from the State of Espírito Santo, offers us a rich historic, ethnic, geographic and economic account of the region, reflecting the cultural diversity unique to this country. Finally, I would like to say that the most eloquent way of acknowledging the people of Brazil is by valuing their culture, since a nation’s culture will mirror its identity. By promoting a book such as “The Brazilian Spirit”, Shell celebrates the Brazilian people, their stories, and their colors.

André Araujo President, Shell Brasil Petróleo Ltda.

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Espírito Brasileiro Humberto Capai

A estruturação deste projeto nasceu em abril de 2006, durante os preparativos para a Copa do Mundo e o início dos debates para a eleição presidencial. Exercícios intensos, individuais e coletivos, de paixão e desejos políticos nacionais. Milhões depositando fé e esperança em uns poucos escolhidos para representá-los. Para o gramado, um processo de escolha que envolve milhões e milhões de dólares em poder de uns poucos, à revelia dos milhões de torcedores. Para a representação política, a escolha, também apaixonada, mas através do debate duramente conquistado, para que uns poucos administrem e destinem ou neguem milhões e milhões de dólares para a felicidade de milhões de cidadãos. Nesse cenário pulsante, aparece a vontade de nos fazermos presentes através da fotografia, expressão reveladora de paixões e desejos, com seus traços de realidade, mas também com sua capacidade de provocar interpretações e até mesmo transformações da realidade. Assim o fizemos no Congresso Internacional das Cidades, em que a célula menor da cidadania foi discutida em escala mundial. Apresentamos um enorme painel, na verdade uma bandeira brasileira com fotos em tons verdes, amarelos, azuis e em preto e branco alocados nas áreas correspondentes a essas cores em nossa bandeira. Para editá-la, percorri o universo de mais de 50.000 imagens de 20 fotógrafos do banco de imagens da Usina de Imagem. Lá estava nossa bandeira, estampando a diversidade da nossa cultura, da natureza, da economia e tantos outros aspectos presentes em nossa terra e em corações e mentes daqueles fotógrafos. Esse processo revelou algo instigante e desafiador para mim: descobri que grande parte das fotos que havia feito e das quais gostava eram tonalizadas em verde, amarelo ou azul. Mais surpreendente ainda foi descobrir que grande quantidade delas era composta nas cores verde, amarela, azul e branca juntas na mesma foto.

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A surpresa veio de uma total falta de intenção de minha parte em buscar essas cores ao fotografar. Ainda maior a minha surpresa, por ter vivido e combatido por um longo período de minha vida a ditadura militar, e rejeitado o ufanismo e a apropriação dogmática do “ame-o ou deixe-o” dos ditadores também em torno dessas cores. Surpresa agradável: quase deixei mas não deixei, continuei a amar e ajudei a conquistar a capacidade de enxergarmos e nos expressarmos com liberdade, vendo e mostrando quantos verdesamarelos quisermos, onde quisermos e para quem quisermos. Junto com o desejo de expor esse conjunto de fotografias, veio também o anseio de apresentar algumas ideias que trago em minhas convicções. Ao expor através de fotos, apresento a limitação e a grandiosidade do que tenho a dizer. Abro possibilidades de dialogar, através de concordâncias ou discordâncias, ou de ambas, com esses com quem partilho minha existência no planeta. Compartilhar, trabalhar e produzir junto com o outro é, para mim, uma das maravilhas de ser humano. E a limitação do que as fotos tinham a dizer me levou a buscar outros discursos, presentes na história, na mitologia, na filosofia e no jornalismo. Assim foi que, com grande honra e gratidão, consegui trazer as pessoas queridas e, no meu entender, apaixonadas e competentíssimas no que fazem, para compor os artigos que integram este livro. Todas embarcaram no primeiro convite, sem que tivéssemos ainda nenhuma possibilidade concreta de fazer o trabalho. Ânimo maior não pode haver. Temos o que dizer e com quem dizer e, sobretudo, dizer algo que pode interessar a quem queremos dizer. Ao trazer as fotos e os textos através das cores da nossa bandeira, sem nenhuma pretensão acadêmica, queremos contrapor a ideia de pertencimento à de propriedade. São nossas crenças, gostos e desejos que nos impulsionam a produzir individual e coletivamente tudo o que a vida nos oferece, inclusive questionar, transformar e gerar. Lá estava o filtro no olhar capaz de gerar novas realidades, novas leituras, e provocar novas percepções. Somos apenas portadores das coisas deste mundo – como se intitulam os mestres de nossa cultura popular – e como tal, nos dispomos a compartilhá-las para aprendermos e evoluirmos nessa troca. Não são de nossa propriedade nem tampouco as utilizamos como mercadoria para obter lucros. Outra ideia aqui presente é a de que, nesta contemporaneidade marcada – e bota marcas nisso – por uma globalização de dogmas oriundos de interesses de lucro e de poder, está presente o universal que existe em cada um de nós e que constitui a nossa

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singularidade. Não precisamos, nem muito menos devemos ser iguais, mas nos estruturamos e nos transformamos pelas nossas diferenças e semelhanças. Há verdes-amarelos nas mais diversas situações e nos mais diferentes tons de verdes-amarelos. Está aí nossa diversidade cultural a esbanjar as possíveis identidades que nos constituem. O título deste livro, Espírito Brasileiro, traz uma provocação, uma pergunta: qual é ele? A pretensão é que o próprio livro ajude a compor uma resposta que acredito ser sempre provisória, mutante. Resposta que começa a partir da negativa que, milhões que somos, já fizemos quando – apesar de tantas ditaduras políticas, religiosas e midiáticas, que pretendem e conseguem algum sucesso em nos impor um jeito de ser, individual e coletivo – seguimos nossos rumos, recusando muitas daquelas pressões e opressões que nos impõem. Neste livro estão fotos feitas no estado do Espírito Santo, essa pequena porção do território nacional, mas que poderiam ser de qualquer parte do Brasil. São territórios que se expandem e se contraem com demarcações que mudam. Coisa que só espírito que busca ser livre pode conceber e estruturar. As 180 fotos que estão neste livro partiram de um universo de aproximadamente 20.000 fotos. Como critérios, as de que eu gostava e as que seguiam as cores de nossa bandeira. Nosso poeta Drummond disse que escrever é cortar palavras. Admitindo parcialmente o dito popular, cada imagem retirada corresponderia a mil palavras. Cheguei a umas mil fotografias, desesperei-me quando atingi por volta de 400 e pedi ajuda a amigos para chegar à edição semifinal. Esse exercício reafirmou para mim como são nocivas as dicotomias de bem e de mal, de bom e de ruim. Pela singularidade, pelo conjunto e pelo contexto, algumas imagens não cabem ou não são as mais apropriadas. O que não as torna boas ou ruins, piores ou melhores, apenas inadequadas para este ou aquele contexto. Não são o dogma, o sectarismo e suas regras derivadas que dizem o que deve ser. Não se exclui a partir daí, mas busca-se incluir segundo o contexto melhor e mais adequado a cada um e ao coletivo. Assim foi feita a edição de imagens e creio que assim se deve buscar ser em sociedade. Uma pedra ou o mesmo prédio aparece em dois ou mais capítulos. Horários diferentes e enquadramen-

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tos díspares do mesmo fotógrafo trazem narrativas totalmente outras. Não há o certo e o errado, e sim o mais e menos adequado, dependendo do contexto e dos critérios de quem vê. Nossa diversidade cultural nos ensina isso, apesar de a indústria cultural e alguns autonomeados guardiões da cultura insistirem em separar o que é e o que não é cultura, e em classificar a melhor e a pior. Os portadores de nosso folclore e de nossa cultura a desenvolvem a partir de suas crenças e sua vontade de compartilhá-la com os outros. O bem e o mal, assim como o bom e o ruim, não estão em questão. O que importa é fazer o melhor para si e para apresentar ao outro. Harmonia de contrastes e diferenças. Pulsação possível e presente em nossas ruas e em um número cada vez maior de locais públicos, inclusive na internet. A participação conjunta de promotores e participantes é o grande espetáculo e o contraponto às grandes produções espetaculares. Não há cordões de isolamento e de segurança. A grande segurança é não isolar, é participarmos juntos na alegria e no prazer de até mesmo fazermos juntos. Professor e pretenso educador há mais de 30 anos, aproveito este espaço textual para expressar mais uma convicção. O primeiro negativo preto e branco já trazia a possibilidade de se produzir, a partir dele, centenas de fotos em preto e branco e também fotos coloridas à mão. Todo negativo, no meu entender, era então tratado por um photoshop mais artesanal, que era o laboratório. O recurso do tratamento sempre esteve ao alcance do fotógrafo, que sempre o usou para expressar como via o mundo. Ao selecionar uma área da cena, um detalhe do rosto, a luz de determinado horário, faz-se uma opção a partir de convicções próprias. O mesmo ocorre ao aumentar ou diminuir o contraste e saturar mais ou menos os tons. Convicções que vêm de formações sociais e culturais, que trazem as singularidades de quem produziu a imagem e do que se quis expressar. Recortes de identidades e expressão de uma identidade multifacetada reveladas numa pequena fração de espaço-tempo para tempo e espaço indefinidos. Assim vejo a fotografia. E deixo aqui depositada minha convicção, nesta época em que quase todos podem não somente praticá-la, como também divulgá-la e compartilhá-la. Possível exercício de cidadania, em que expresso, narro o que vejo – presentes no meu

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olhar meus sentimentos – e com isso posso gerar e provocar adesões, discussões, posicionamentos e também ações. Formações que expandimos e apreendemos para configurar uma sociedade mais participativa e diretora de seus destinos. Ao alcance de todos está a possibilidade de desfraldar retângulos com cores e tons que falem de si e do mundo que nos cerca. Ao nosso alcance está, e este livro o demonstra, o poder de, como cidadãos, levantarmos bandeiras. Bandeiras que tenham o amor como princípio, meio e fim, e que apontem para a organização de um país cada vez mais solidário, plural e alegre. Potencialidades que o espírito – se santo ou não, há controvérsias – solto na aventura da busca de uma vida mais feliz, individual e coletivamente, encarna. Pode ser o brasileiro?

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