Zine Usineiras

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USINEIRAS

Vem à luz o 1º zine da Usina Feminista! Zine ou fanzine é esse material que tu estás lendo, confeccionado entre técnicas artesanais e digitais, de fácil impressão para poder chegar até o maior número de pessoas. A Usina Feminista, que tornou-se ONG em 2020, convidou a amiga artivista Mucha Basura para compor este zine, aprendendo do punk e do Anarquismo Feminista como estética e como estratégia de mídia popular e independente. Convidou também mulheres próximas ao grupo para compor os materiais aqui reunidos. O lançamento do "zine usineiro" é uma da nossas ações junto ao grupo 8M Pelotas (grupo dos coletivos e entidades feministas da cidade) na campanha dos 21 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, que ocorre entre os dia 20 de novembro até 10 de dezembro. Assim, pensamos neste zine como uma forma segura de compartilhar informação com outras mulheres durante a pandemia. O outro fator é que este ano, a Usina Feminista mudou de sede para o bairro Dunas, estamos no CDD (Comitê de Desenvolvimento Dunas) junto a outros projetos que já existem no espaço, e por isso este zine é dedicado especialmente às mulheres deste bairro, com quem queremos nos conectar, fazer rede de ação, conversar, acolher, oferecer cursos e oportunidades. Esperamos que aproveitem a leitura, compartilhem este material com mais mulheres e somem esforços na luta por um mundo mais justo para ti, para elas, para nós, para todas as mulheres. Boa leitura!

Pelotas, dezembro de 2021.






@francinelemosii (bailarina e coreógrafa de hip hop)

@projetocafofo.homestaging @filhasdetereza @ana_terra ceramica @soualinemaciel @maureen_nogueira (produtora cultural) (joalheria contemporânea) (arquitetura e home stage) (artesã) (teatro)

@lazuli.veg @janetemilhão @oliparamim (culinária veggie) (musicista, poeta e artista visual) (música e produção cultural) @brizolaradaniela (música)

@alasobmedida (ateliê de costura)

@josioficial (música)

@nairibei (dança afro e culinária)

@cintialangie (realizadora audiovisual)

@dani_xu @renatapinhatti (produtora cultural) (fotógrafia e vídeo)

@vanessa.rsilveira (comunicadora social)

@okimthalita (DJ)

@marta.bonow.r @evagmsantos (ativista social e crocheteira) (arqueóloga e produtora cultural)

@potieriaentrega (culinária veg)

@camilascopia (realizadora audiovisual)

@nannabueno (psicóloga)

@hecateciclops (profa yoga e performer) @usinafeminista (cultura e renda para mulheres)

@ninagarimpa @djhelooficial @kuraie (moda e brechó) (DJ e radialista) (saúde mental e psicodélicos)

@xanagallo @lauracardosoadv @sarasvatiileao @s4rr4hmarcal (advogada) (profa yoga e bailarina/performer) (realizadora audiovisual) (música)

@brunabrittoart (tatuadora)

@carla_negretto (artesã)

@lelevelofood (culinária)

@winniebueno (iyalorixá, pesquisadora e influencer)

@iya.sandrali (iyalorixá e psicóloga)

@luisaplanella (fotografia)

@mell_bodypiercer @bellabruxa @rampopachamama (body piercing) (produtos místicos) (culinária vegana) @veganodeliverypel (culinária vegana)

@salviacoletiva (arte, intervenção urbana)

@______assma (artista visual)

TRAMPO DAS MINA

@saboaria.minhavofazia @plampazzi (sabão artesanal) (artista visual, restauradora, designer, ilustradora)

@luziagarcialeon (culinária)

@eusouabart @stephanegonaa @dasminaprodutora (rapper, poeta, produtora) (trancista, poeta, slammer, artista) (produção cultural)

@graziellebessa @bah.ia.pelotas @slamdasminaspelotas @colibriisa @eusatturna (bailarina e performer) (rap de minas) (artista, poeta, taturadora) (cantora, compositora, designer) (culinária baiana)

@doidadaespanha @pamfogacalopes (costureira e figurinista) (atuadora, performer)

@jessicaporciuncula.br @camilahein.art @a.donapitanga @anacarinapedrosoda (artista visual e performer) (artista visual e fotógrafa) (artesã de acessórios) (culinária)

@oateliepsicotico @lashechicerasveg @julianacharnaud @dolarecords (artes digitais e bordados) (designer, DJ, beatmaker) (culinária vegana) (fotógrafa) @bruna.oh (produtora cultural e bailarina) @anaju_fortuna (artesã e produtora cultural)

@cesta.de.que (artesanato e culinária) @carolinaco.design (designer) @art.valemendes (ilustradora) @carla_avila_1981 (pesquisadora social)

@nanyatescorecorte (cabeleireira)

@carolportela_producoes @taisgalindo @alimeporto (produtora de artes cênicas) (arte educadora, artista de teatro, performer) (artista visual)

@marieldabarcellosmedeiros @inaciorafaela @insalubridades (pesquisadora em antropologia e ativista (artista visual, tatuadora e ilustradora) (tatuadora e ilustradora) social) @jaque.machado.silva @anap.gonzalez @robertatasilva (advogada) (profa de yoga, designer e fotógrafa) (tricoteira, crocheteira, costureira)

@analangone.art @beijaflornaturalarte @luvetitum @raquel_couto_moreira (designer e editora audiovisual) (artesanato) (culinária veggie) (advogada e produtora cultural)

@ediane_oliv @casalasvulvas @camcuqui (espaço e produção cultural) (comunicadora social e produtora cultural) (música, artista visual e tatuadora)


Algumas pessoas podem pensar que o feminismo é um movimento que começou lá nos idos do séc. XIX com as sufragistas, as mulheres que reivindicaram o direito ao voto feminino, no Reino Unido... Outras pessoas vão lembrar que o feminismo tem a ver com as mulheres que foram queimadas numa fábrica em Nova York, em 1911, porque se organizavam contra governos e patrões por melhores condições de trabalho. Mas o que é o feminismo, afinal? Feminismo é a luta das mulheres por equidade entre os gêneros! Não tem nada a ver com mulheres mal amadas, feias e lésbicas que odeiam homens... Isso é uma invenção de quem quer manter a exploração das mulheres e de muitas outras pessoas prá tirar proveito próprio! O feminismo existe e existiu sempre! É uma forma de identificação com as lutas por direitos sociais, direitos coletivos! Só não tinha esse nome... E a gente fala em Feminismos! Sim, Feminismos! Porque essas lutas que as mulheres encabeçam há tanto tempo assumem diferentes modos de acontecer. A historiadora Silvia Federici conta que as mulheres campesinas costumavam se reunir e discutir formas de organização que permitissem defender as terras comunais, como eram chamadas as terras compartilhadas pela gente comum, a fim de manter as suas comunidades unidas e criar suas proles. E foram perseguidas, sofreram violências, foram mortas e ainda as denominaram “bruxas” para poder se apropriar de suas terras e destituí-las de seus saberes. As mulheres negras foram pioneiras nas lutas por direitos civis e participação política, lutando contra o apartheid, um sistema racista extremamente segregador e violento que proibia as pessoas negras de ocupar os mesmos espaços que as pessoas brancas. Mas também pelo reconhecimento das mulheres negras como seres humanos! Um importante discurso foi proferido por Sojourner Truth, nos EUA, que questionou o conceito de “mulher” como construção social, assim como Simone de Beauvoir, na Europa, há sete décadas


atrás, em outros espaços de lutas de mulheres. Um grande exemplo de mulher em luta é Angela Davis, feminista negra e escritora que até hoje permanece ativa, fazendo palestras e discutindo a questão racial e a participação das mulheres nas decisões políticas. As mulheres que foram escravizadas foram protagonistas nas lutas por liberdade, tornando possível um projeto coletivo de liberdade que, muitas vezes, não incluía a sua liberdade, mas a de seus parentes e filhos, ainda que o seu próprio corpo fosse utilizado como “moeda de troca” para o êxito desse projeto. E com as mulheres indígenas a história não é diferente. Até hoje elas tomam à frente as lutas pela autodeterminação dos povos e a defesa das florestas e do Meio Ambiente, como Sonia Guajajara aqui no Brasil. E a gente tá falando apenas das mulheres que nos parecem mais próximas! As mulheres do outro lado do globo também fazem suas lutas, como Malala, garota paquistanesa que enfrentou o governo pelo direito das meninas de estudar e frequentar escolas. E são muitas as mulheres e suas lutas. Somos muitas! Somos feministas mesmo sem sabê-lo! Somos feministas quando escrevemos sobre as mulheres e para as mulheres, quando desenvolvemos na nossa prática diária o cuidado com as outras. Quando acolhemos nossa avó que está cansada, ou quando nossa avó cuida de nossos filhos e filhas prá gente poder estudar e/ou trabalhar! Somos feministas quando reivindicamos salário justo e também creche para nossas crianças. Somos feministas quando nos colocamos na disputa por cargos políticos para que isso possa abrir novas possibilidades para outras mulheres. E sou feminista também quando me permito amar sem censura e sem censurar os outros corpos que também se permitem amar! Sou feminista na luta coletiva, na resistência, na rua, entre tantas, e sou feminista também num pequeno gesto ou olhar... Sou feminista quando entendo que sou única e coletiva ao mesmo tempo, que tenho um passado e um presente, e persigo ardentemente um futuro. Mas, acima de tudo, sou feminista quando respeito e reconheço as tantas companheiras que fazem possível a minha existência! Sou feminista quando entendo que só sou porque outras foram! Texto de Kátia dos Santos Pereira.










Esse zine reuniu o trabalho das “usineiras” e de artistas e escritoras parceiras da Usina. Esperamos que tenha levado um conteúdo importante pra quem leu, e que tenham gostado. Queremos abrir caminhos junto a outras mulheres através do trabalho, dos saberes coletivos, mas também através de redes de contato, criação e expressão cultural e política de cunho feminista. Nós estamos interessadas naquilo que as mulheres precisam dizer, saber, fazer e conseguir ao longo de sua trajetória para terem uma vida digna. Também por isso, a Usina Feminista mudou sua sede para o Dunas. É no bairro que a atuação feminista tem mais potência, pois encontra mulheres que carregam muitos saberes, mas às vezes têm poucas oportunidades. Ao longo desse ano preparamos o novo espaço da Usina Feminista no CDD, local que já atende a comunidade reunindo serviços, projetos e coletivos. Nosso carro-chefe é o ateliê de costura e moda (primeiro curso oferecido às às mulheres em ainda em 2019) e produções em crochê. A partir de 2022, ativaremos o ateliê e novos espaços e atividades que estarão à disposição da comunidade, como a biblioteca feminista Mestra Griô Sirley Amaro, ateliê de serigrafia, aula de dança, rodas de conversa, etc. Colaboramos também com as ações que ocorrem no CDD, principalmente as ações de soberania alimentar encabeçadas pelas ONGs CDD e Uniperiferia. Então se tu gostou da proposta, procura nossas redes e fala conosco, fica ligada nas ações desde já. O mais breve possível estaremos juntas nas atividades presenciais!

E se tu gostou do zine, mostra para outras mulheres também.




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