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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

O Testamento Vanda Ferreira O Testamento

I Edição Gráfica e Editora Brasília Ltda Campo Grande – MS 2010

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Proibida reprodução para comercialização. Todos os direitos reservados à autora.

L8641 Ferreira, Vanda O Testamento/Vanda Ferreira. Campo Grande:Gráfica e Editora Brasília, 2010 123p. ISBN 978-85-63387-02-6 1.

Romance CDD B869.3

Contato com a autora: vandaferreirabugrasarara@gmail.com

Editado e impresso na Gráfica e Editora Brasília Ltda WWW.graficabrasilia.com

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Para todos os seres que enternecem- me os sentidos . Vanda Ferreira

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Prefácio Vanda Ferreira, conhecida como Bugra Sarará, apresenta neste oitavo livro de sua autoria, um romance escrito de forma peculiar. Temos em mão, o testemunho do envolvimento entre um homem e uma mulher, onde o elenco é formado por influentes elementos que provocam encontros, desencontros, reencontros e profundas reflexões. Com riqueza poética, a autora produziu uma série de crônicas, iniciada com “O primeiro encontro”. A sequência das fases do romance, segue em capítulos permeados pela fé para suportar os desencontros e sobrevivência do romance diante das intempéries que naturalmente se apresentam como verdades para fortalecer o amor. O testamento é uma bela e excelente proposta para analisarmos eventos sentimentais e a importância do respeito para a edificação do bem, para promoção da aliança decorrente do verdadeiro amor entre um homem e uma mulher. O livro discorre em figura de linguagem, sobre o simples e comum, a esperança, saudade, valores afetivos, a cumplicidade, a amizade, como se fossem os demais

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“personagens” atuando ludicamente e figurando com certos poderes, para compor “O testamento”. A história envolve crenças místicas, naturalísticas, religiosas, e constante ação do homem em comunhão com a natureza e harmonia entre todos os seres. Paixão, separação, pactos, tristezas e dores, alegrias e extases são constantes que encontramos na narrativa espetacular que surpreende pela inovação literária e rompe com a mesmice comumente encontrada nos clássicos romances.

O Editor.

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Primeiro Encontro

“Encanto adormece... Dorme embalado no verde desejo de uma rede tecida com fibras de Esperança”. Vanda Ferreira

O primeiro encontro aconteceu sob o luar. As luzes de ambos, brilhantes estavam.

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Os esplendorosos lumes que o desconhecido casal emitia, pairavam sobre suas figuras; cada qual era um ser envolto por aura cintilante. Os dois exibiram o mesmo olhar comprido e penetrante. A infinidade do alcance dos olhares atingia a misteriosa profundidade oceânica humana, através das janelas escancaradas no rosto de ambos. Havia uma multidão. Havia mil olhos e olhares. Infinitas estrelas no céu e na terra. Variados sons, sorrisos, gargalhadas, canções. Nada os atraiu, além do brilho de seus olhares. Tudo se resumiu, somente, em lua e sol, terra e céu, encontro eclipsar, chuva e terra árida, céu transbordante e terra ansiando enxurrada. E assim se seduziram. Seduziram um ao outro, faiscantes de paixão. Eletrificaram-se, como condutores elétricos em perfeição de par. Na plenitude do parâmetro de polo positivo e negativo. Milagre dos deuses, nem mesmo ainda invocados? Ritual mágico e solene de caminheiros, peregrinos da emoção? Certamente que o momento era resultado do trajeto inocente de dois bandeirantes em busca sutil de um tesouro sabido e nunca 8


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demarcado. Porém, alheios a qualquer mapa, caçavam o ponto X. Assim andarilhos, seguindo por estradas não traçadas, tendo o sabor como atração, qualquer raio de luz como ponto de partida e o belo, como sinal determinante de direção, assim no ziguezague da trilha do sentir a luz do amor, cruzaram-se pela primeira vez. O destino foi o deus, a fada, o cupido. E a noite, a varinha de condão, a flecha, a declamação da prece. O momento sagrado para o advir da nova era.

Na madrugada, houve confirmação, chancela de código especial. E quando o dia nasceu, trouxe uma nova luz, provou o encanto e mostrou o horizonte de cores fervorosas. Mostrou o campo florido e, sob teto celestial, pacíficas pétalas oferecendo-se ao frescor da brisa. E, então, houve o desvendar de uma estrada sagrada e a iluminação de uma trilha secreta. E, então, abriu-se um mar, virgem de vida, e sentiramse, ambos, embarcados numa mesma nave de mil botões. Nave voadora direcionada a navegar para o

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norte, para sul, para o leste e oeste. Para cima e também para baixo. E o encanto adormeceu... Dormiu embalado no verde desejo de uma rede tecida com fibras de esperança.

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Segundo Encontro

“Em despedida, faz-se trocas...” Vanda Ferreira

O número mágico “7” contou os meses. O mesmo número mágico, sete, contou, após os sete meses, o sétimo dia da semana. E aí, choveu o céu. Abençoados pelos deuses, anjos, arcanjos, serafins, santos e todos os mistérios 11


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somados à bruxaria do “7”, eles marcaram o segundo encontro. Após passados sete meses do primeiro encontro, exatamente no sétimo dia da semana, chovia. Fezse a umidade genuína, que germina, floresce e frutifica. Fez-se brisa fresca e perfumada. Fez-se noite encantada e, na madrugada de celestiais véus, fez-se o segundo encontro. Novamente eles se viram. Desta vez, ele se encontrava em um quente ninho, afogado em única cor, em único cheiro. Ela levoulhe o frescor do vento e regou aquele ninho, e mostrou-lhe sua pele de cor lisa, despida de estampas do passado. Sentiram-se as texturas e entrelaçaram-se nas luzes das quais eram envoltos. Daquele ninho reluziram especiarias nobres, composições medievais para exclusivisar a contemporaneidade do ouro da aliança para o amanhecer daquela madrugada. E eles provaram, da madrugada, o açúcar. E adoçaram-se. E, então, doces, na horizontal, contemplaram a alvorada celeste. Assistiram a mágica da maestria dos deuses, cujas instantâneas 12


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pinceladas, tingiram o preto com as exclusivas nuanças da cor azul. Novo dia rasgou o azul encoberto do escuro noturno. Novo dia nasceu de um parto encantado, feito naturalmente. Ele a esmagou com deslumbramento; ela o fuzilou com o trio de sentidos localizado em seu rosto totalmente aberto. Vencidos pelo amor, rezaram, na mesma voz, o credo, a ladainha, para a divindade chamada destino. Louvaram o ponto de fuga e sentiram saudade do amanhã. Então, colocaram no horizonte as benditas linhas cruzadas. A despedida foi o afago morno. Na despedida fez-se uma troca. Ela ficou com ele e ele se foi com ela. Ambos pactuaram a reciprocidade. Ela prometeulhe, a lembrança endeusar. Ele ofereceu-lhe o aconchego de seu ninho e entregou-lhe a chave da tenda e ela agendou madrugadas e alvoradas douradas.

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Terceiro Encontro

“A boca dialoga, os olhos falam; a pele e o coração também.” Vanda Ferreira

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No terceiro encontro eles se fizeram amigos. Ataram-se em laços de dignidade. Ele lambeu-lhe os lábios. Falaram-se. Sentimentalmente, conversaram. Falaram da vida já vivida até então. Falaram do prosseguir enveredando na desvendada estrada. Conversaram usando de palavras, olhares e movimentos. Falaram-se em especial linguagem. Em mímica da musculatura facial. E suas bocas dialogaram, e seus olhos falaram e suas peles e seus corações, também falaram. Não chovia. Não era madrugada, nem crepúsculo. O instante foi de estranha mágica, colocou nobre e novo sentimento e estabeleceu a saudade para parceria do casal. Nesse encontro, plantaram euforia. Um caco de sol em cada coração e uma nesga de lua em cada alma. Dividiram-se, por fim, em duas bandas de estrela e decidiram juntá-las em um dia do futuro, talvez, em um jardim de algum vale encantado, em solenidade com cerimonial dos anjos. Na despedida, se fez o querer. A hora de desejos é tocada somente em despedidas. Então, hastearam a

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bandeira de resistente fibra de linho, tingida de elegante verde esperança. Na despedida se fez o querer. A hora de desejos é tocada somente em despedidas. Então hastearam a bandeira de resistente fibra de linho, tingida de elegante verde esperança.

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ntre - encontros

“Saudade provoca vislumbramento do futuro” Vanda Ferreira

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Nesse intervalo de distância, ela se incendiou de saudade. Seu pensamento se pôs a falar, gritar, urrar. Ela selvagemente abriu a boca, para lançar a voz que mira o amor. Dores agudas, lembranças prazerosas, vislumbramento de futuro, tudo se enroscou e se arrochou, e houve convulsão, e houve implosão. Houve um exorcismo e a explosão de mistos elementos quentes, velozes e agressivos. E tudo foi exteriorizado. Tudo foi transferido para a palidez de uma folha de papel. Uma folha carente, virgem, imaculada e sagaz tomou aquele transbordamento. E aquela folha de papel tornou-se maculada, imprimindo uma fotografia. Em pergaminho, um retrato colorido da mais bela impregnação dos traços, cores e aromas intrínsecos, emocionais.

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Quarto Encontro

“Há degustação com a visão.

Olha-se com o tato; e aprecia-se com o paladar da pele” Vanda Ferreira

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Tal qual os pássaros, após a revoada ao entardecer, saudosos e saudantes, eles se encontraram no acolhimento do ninho. E fez-se a felicidade do reencontro. Água batendo em pedras, crepúsculo no horizonte oceânico Nesse encontro, descobriram a carne sob a pele. E após amarem a pele, amaram a carne. E se amaram demoradamente. Degustaram-se com a visão; olharam-se com o tato e apreciaram-se com o paladar de suas peles. E, então, seus corpos trovejaram, relampejaram até chover torrencialmente. E fez-se um exclusivo céu de saltitantes cores; salvaram a tranqüilidade do riacho, nadaram em águas quentes e sedativas. Um bebeu na boca do outro a poção mais gostosa. Das experimentadas, a mais inebriante, o absinto mais embriagante. E, assim, banquetearam. Assim, sem vinho, sem peixe, sem champanhe. E se sentiram fartos. Entrelaçaram-se as mentes e construíram um altar, onde ela ofertou uma flâmula com o verso: “QUANDO EU ESTOU AQUI, EU VIVO ESTE MOMENTO LINDO!”* 20


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Ambos apreciaram aquela flâmula e o antigo e famoso verso de Roberto Carlos*2 era o mais atual, o inédito, o mais profundo e mais vivo.

* Emoções (Roberto Carlos) pag.92

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Quinto Encontro

“Sábias são as raízes de velhas árvores” Vanda Ferreira

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No quinto encontro, ao primeiro contato, se olharam. Emudecidos, ficaram se olhando num demorado ritual de reconhecimento, da identificação de senha para a abertura de divinais luzes. E, então, se beijaram. Beijaram-se aqui, ali, lá e acolá; apertaram-se em abraços de amor. Do amor que afaga mornamente e aninha a alma. Tatearam-se e mergulharam em carícias e palpitaram, em mesmo ritmo, os dois corações. Embarcaram na mesma emoção e um mesmo sonho, sonharam. Viajaram na cumplicidade um do outro e fizeram pouso em um mesmo jardim; apreciaram as flores sob a repousante sombra das tranqüilas árvores velhas, de sábias raízes. Deitados no deleite da divina realidade, de mãos dadas com a graça do amor, ele a olhou demoradamente e lhe disse de tantas coisas secretas... Também lhe falou: - Tenho vontade de dizer “te amo” 23


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E naquele transe, naquele envolvimento que liquidifica todos os bons sentimentos para gerar o vitaminado amor e unificar o querer, ele disse versos:

- Viramos frase, montanha de letras. Quebra coração, desmancha mesmice.

Assim, descobriram ao mesmo tempo, a mesma história real. E assumiram, ao mesmo tempo, o mesmo presságio de uma futura sede, uma futura ganância, uma futura fome. Assumiram o mesmo desejo de uma futura outra vez, de uma certa chuva celeste, um encontro no mundo do amanhã. Sim, porque em cada encontro, se descobriam, e cada prova era de sabor inédito. Ambos eram famintos e sedentos e almejavam, em mesma intensidade, o sentir de mistérios. E nova despedida se fez. Então, despediram-se. 24


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Ele a postou na parede, como se lá fosse o monte sagrado de um suntuoso paraíso único; admirou-lhe o rosto transbordante de felicidade. Afogou ambas as mãos no calor de seus cabelos despenteados, estendeu-os à esquerda e à direita e, na imaginária cruz, crucificou-a com longos beijos. Ali, ela foi coroada com ternura áurea e se fez luz de amor contagiante; e reluziu o brilho da felicidade. Ela se foi levando, dele, seu coração e deixando, de si, a luz de seu olhar apaixonado.

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assado Algum Tempo

“Há mistério celeste que esconde o sol e oculta a lua para “o brilhar” de outra preciosidade.” Vanda Ferreira

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Certa madrugada chuvosa, de vento muito frio soprando forte, o romantismo instalou-se. Na pretura celeste desenhou-se o rosto dela. E, ele fixou-se naquela amada imagem do semblante do amor bailando sua luz nos mistérios celestes, que escondia o sol e ocultava a lua. No céu, somente uma preciosidade, somente um fôlego a lhe dar clareza vital. E, mesmo na frieza da chuva em negrura noturna, o secreto horizonte se evidenciou. Algo fervilhou. Algo ardente o inquietou e dele emanava ansiedade, impossibilitando-lhe a meditação. Então, o barco sentiu o mar revolto, e a maré se fez de borbulhas bravias. Perfurante saudade se fez de cenário e não era de cor saborosa. Tinha cara de injúria, desassossego, arrocho estrangulador. Foi quando uma fenomenal sintonia aconteceu entre eles. Suas mentes tatearam-se e seus corações incendiaram-se ao mesmo tempo e sentiram o mesmo ardor vermelho quente. E, à distância, entoaram a oração do propiciar. Rogaram aos deuses a graça para a demolição da desgraçada muralha, socialmente construída para os separar.

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Suplicaram ao céu o retorno da lua, com meiguice feminina vestida de manto brando. Com humildade interiorizada, pediram o dourado da alvorada, desenvolvido com a beleza do luar para compor o amanhecer de seus sonhos. E, então, cada qual adormeceu em sagrado sono, construído de fé.

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Sexto Encontro

“O entardecer é o mais perfeito e divino transe da natureza.” Vanda Ferreira

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Era dia e o sol brilhava. No céu imperava limpidez equilibrada e no horizonte a mais bela das estampas primaveris. Havia um extenso gramado, macio e aconchegante. Também majestosas árvores e pequenos arbustos floridos, distribuídos decorativamente pelo campo. As sombras da vegetação formavam interessantes desenhos e o sol ia alternando-os, em arabescos vanguardistas, conforme a brisa abria brechas para o foco de luz solar. Ali eles se encontraram. Ela, descalça, chegou vestida em leveza de tecido rosado. Um pedaço de pano dengoso, despojadamente envolvia-lhe o corpo. Era flor única! Exclusiva flor de matiz saboroso. Ele, nativista, em folgada calça pescador, estava calçado de sandália trançada, modelo discípulo de São Francisco. Figurou-se a harmoniosidade celeste. Como santo em altar, em prontidão para reverência, postado diante do altar edificado no portal do Édem. Então, estenderam-se as mãos, avistaram-se as auras e sentiram-se em trocas. Fizeram-se cúmplices na arte de caminhar. Puseram-se a andar 30


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sobre a maciez verde, em comunicação de pele, em textura de emoção. E pediram arrego ao tapete vegetal. Lá, se deitaram. Meditaram em culto ressuscitado. Rastejantes na relva, ritualizaram-se em processo amoroso e, habilidosos, adoraram-se. No reino ao ar livre, ela rainha do paraíso, ele nobreza majestosa, quietinhos, acomodaram-se no êxtase, e entorpecidos ouviram o sorriso cardíaco de seus consagrados corações. Quando o astro-rei serenou e tudo foi tingido do mesmo tom, eles assistiram o louvar dos pássaros, na revoada do entardecer. Então, o bendito crepúsculo, o primeiro de suas vidas unificadas, aconteceu. E, ele disse a ela: - O entardecer é o mais perfeito e divino transe da natureza.

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o Transcorrer do Tempo

“No transcorrer do tempo,há estrada longa, desconhecida e farta de surpresas” Vanda Ferreira

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Passava o tempo para caminhá-lo em uma longa estrada, desconhecida e farta de surpresas. Aos dois caminheiros faltava algo. Talvez uma ponta de malícia. Talvez galgar mais um degrau da intuição... Talvez, pelo poder da preponderância do acaso, as bandas de estrela prosseguiram em trilhas paralelas para novo encontro acontecer, proporcionado por algum mistério de futuras luas cheias. Ninguém ousou dogmatizar. Nem ele, nem ela. Quem sabe, talvez os deuses, sim. E o tempo passou em noite após dia e dia após noite... No percorrer do tempo, se fizeram os sinais de todos os mistérios, segredos, surpresas e profecias ocultas. Houve dias, madrugadas, alvoradas e entardeceres. A fatalidade era destinada infalivelmente a eles. Muitos sóis e luas decidiam por eles o padecimento, em inestimável percurso nas paralelas do desconhecido itinerário, distantes da terra santa. E os deuses alojaram-se no reino dos seus secretos céus. Ela seguiu caminheira, andarilha, peregrina de seu destino. Ele, bandeirante, bravio, valente devastador. Ela, marinheira, navegante, ansiando

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ancorar na terra nova que descobrira e habitara acasalada. Procurava, ela, pelo trilheiro, para chegar ao aconchego da tenda energizante, onde certamente veria o dourado da madrugada, exclusivo céu onde brilharia seu lado de estrela, porque se unificaria com sua banda extraviada por mistério sideral. E, ele... Ele subiu montanhas, escalou alturas inimagináveis, atravessou oceanos, ancorou e partiu. Mil vezes, partiu. Mil vezes, ancorou. E, então, viu cair mansa chuva em certa madrugada, e agitá-lo feito tempestade. Sua alma vagueou a esmo, em campo de dolorosos bombardeios. E, então, dilacerado, sentiu sede e não havia mina. Andarilhantes, prosseguiram ao encontro que não houve. Então, ambos sofreram a maldita saga da saudade. Ambos sangraram a cor carmim da dor profunda. E experimentaram o gosto amargo da venenosa solidão. E, seccionadas, as duas bandas de estrela prosseguiram nas paralelas da longa estrada, toda sinalizada em códigos de feitiçaria.

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S

olitário caminhar

“As paralelas, no oceano se encontram.” Vanda Ferreira

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E, então, houve especial brilho solar, após esplêndida beleza de céu em sol nascente. Imponente luz banhou a estrada. Ela fez pausa num parque e se pôs a caminhar por entre seu particular bosque da recordação. Untou-se com as ervas santas, guardadas em seu cofre de memórias. Ele penteou os fios rebeldes da sobrancelha, retornou à mansidão de sua tenda e se refez guru. Lá, se aprofundou na cor lembrada dos olhos dela. Então, se vestiu de vestígios e foi ao altar. Reviu a cruz imaginária, revolveu nos segredos da parede e decifrou os tantos códigos. Temperou-se de preces, devotou-se e descobriu o antro de luz. Perambulante, foi passear na sinuosidade de seu particular vale sentimental e confessou-se com as águas do riacho. E, assim, ele desvendou a vida. Descobriu, no marulhar de uma sanga, que qualquer caminho leva ao mar; todo céu tem estrelas; toda vida vê no sol luz calorosa. Deduziu que seremos sal espumando. E concluiu que as paralelas, no oceano se encontram; o horizonte é marítimo engole a noite e mastiga o dia, em suas infalíveis ondas. 36


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Tomado dessa sabedoria, descobriu a real cor da esperança e a cor verde do sangue de um filho da mãe natureza.

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O

Sétimo Encontro

“O amor se declama em passos rimados, pés, mãos, pele, lábios e olhos.” Vanda Ferreira

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No recôndito da magia, sorriu o número sete. Benigno sorriso para sancionar o reencontro. Seria o sétimo encontro. Premeditadamente, no céu, nuvens negras se formaram. Um vento forte varreu o infinito, fez revoada de nuvens para encaixarem-se umas nas outras. A mesma ventania juntou pó de energia e se fez uma duna de coesão. Estruturou o monte sagrado, o ponto de partida, o ponto de chegada, o porto ancoradouro. Ele, lá; ela, acolá. Ambos, em arrepios de ardência, febre de desejo clamando por arrebatação. Ele, mago-bem-feitor, vestiu-se de túnica carismática. Ela, bruxa esmerada, enrolou-se em manto de mistérios ciganos, soltou os cabelos para que o vento os penteasse com aromas florais. Ele, atravessou a floresta, cortou com valentia os estorvos do trilheiro. Catou cordão-de-te-amo e colheu sementes genuínas. Ela, viajou por entre o bosque, tal qual borboleta. Sugou o mel das flores escolhidas e o guardou na garganta. 39


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E, então, fez-se no templo, o reencontro. O sétimo encontro; fez-se sinfonia cálida. E eles dançaram ritmo cigano. E cortejaram-se num demorar de rito; em passos rimados, pés, mãos, pele, lábios e olhos, declamaram a profecia do amor. Ele lhe colocou no pescoço um colar tecido com as sementes genuínas e o cordão-de-te-amo, colhidos pelo caminho que desbravara. Ela lhe adoçou a boca com o mel-floral, guardado em sua garganta. Daquela cerimônia providencial, explodiu a cor vermelha sedutora da paixão, na explícita cara do amor. Recomeçaram a mesma saga. Agora lavados de luz. Desenvolveram, no mesmo ritmo, o mesmo maravilhoso cerimonial; ouviram tambores, violões, chocalhos, harpas e flautas. Ela o fascinava, em evolutiva conquista, com o poder mágico das pupilas em coração e seu busto de porcelana casta desfilando o colorido do colartroféu. Com sorriso no rosto, ele, deslumbrado, tomou em suas pupilas os dois corações dos olhos dela. Ela se espelhou naquele homem. A imagem da felicidade 40


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invadiu-a e ela o idolatrou e o chamou de seu. Uma, duas, e muitas vezes. O eco fortemente ressoou.

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M

últiplas formas

“De camaleão caminhe, pause no casulo; E, então, ressurja borboleta.” Vanda Ferreira

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E as lenhas continuaram a queimar. Superabundante fonte de fogo, a labareda era fogueira de ardência inesgotável. Aquela dupla de seres humanos era, então, um casal de servos coordenados pelos instintos. Seus impulsos feriram os costumes sócio-humanos pré-concebidos. Eles foram quase que selvagens, desprendendo-se em tempo relapso de suas almas. Provaram da potência carnal e na forma concreta, figuraram-se animalescos amantes. Muitas descobertas eles fizeram. Curiosos e inescrupulosos, mergulhavam em redoma, cada vez mais profundamente, de impulsos estranhos, extrapolando qualquer razão, transbordando-se em esfomeados caçadores, como se selvagens fossem. Sem limites, expressaram-se alucinados um pelo outro. E, então se tornaram maculados e rumavam ao precipício, guiados por uma quase-total cegueira. Indecente fio do desequilíbrio cravou o paraíso. Estremeceram o céu e a terra. Estremeceram a tenda, a flâmula, o colar de sementes, e as pupilas dos olhos. A beleza da história foi abalada pelo feio da magia negra.

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E eles avistaram os danos no altar, nas vestimentas sagradas e perceberam a ausência dos deuses e anjos. Então, pararam diante de um gigante ponto de interrogação. Através de frestas contemplaram as estrelas em longínquo céu, e miraram a lua cheia de mistérios brancos, rogando a todos os deuses a real visão herdada do reino divino, agora recostada em algum além. Reclamaram suas ressurreições e, milagrosamente, em resposta àquele martírio, ouviram um coro, em uma só voz:

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“De camaleão caminhem! Passem pelo casulo, onde refugiar-se-ão. Então ressurjam borboletas; façam uso da liberdade e tendam à suprema felicidade! Bebam da peregrinação; saibam da vontade: a luta, os fins travados em múltiplas formas! Guardem especiarias amorosas, patentes cancioneiras, aromas camponeses de vales primaveris! Louvem o céu, a terra, e todas as formas de vida!”

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D

ivindade Campestre

“Eu te amo, ressoa.” Vanda Ferreira

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Marcados... Cravejados de emoções, mesclados da sabedoria desvendada pelos deuses, prosseguiram no perambular inevitável. O caminhar era vital. E o tempo passava. O tempo passou num oferecer de variados fenômenos. Enfim, caminhavam juntos! Destinos atrelados, enroscados no ponto de encontro das paralelas. Durante um certo caminhar na trilha de carinhos, depararam-se com um banquete de flores e frutas, e águas surrantes de canções, e árvores majestosas, e revôos e pios de passarinhos. Então, lá se assentaram. Ele enfeitou sua amada com flores. Trançou coroas e coroou-a. Coroou-lhe a cabeça, as pernas, os braços e a cintura. Aí, parou para adorá-la, como se ela fosse uma deusa. Ela tomou das frutas e serviu-o. Serviu-lhe as frutas de forma especial. Com gestos nobres, ensaiados em sagrados rituais, serviu-lhe as frutas como a alimentar um ser divino. Ele degustou daquelas frutas, a cor, o sabor, o cheiro. Houve um misto de muitos prazeres, que lhe saciou a carne e o espírito. Ela se fez de sua serva e 47


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ele se sentia um rei, e seu trono era uma rocha de felicidade. Ali, experimentaram a divindade campestre. Ali não havia o fruto proibido, não havia a cor do pecado. Nem serpente tentadora; porque ali era um lugar ofertado pelos deuses, no qual eles adentraram com ingressos únicos, exclusivos, confeccionados também pelos deuses. Ali era um templo passível e deslumbrante e aos deslumbrados cabia toda a simplicidade de viver através dos sentidos, porque ali era um santuário da profecia benigna. Ali, dormitaram e levitaram. E houve o ressoar de “eu te amo”, houve o retumbar de “eu te quero”. E eles eram o casal de abençoados, o par de seres bentos.

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D

uas esteiras

“A esperança dorme, para despertar no verde primaveril.” Vanda Ferreira

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Abriram-se, surpreendentemente, duas esteiras. Ele cravou-lhe o âmago com o brilho de seu olhar e ela adentrou-se em seu amado, penetrando-lhe os olhos com fachos de amor luzente. Cada qual, com os olhos fixos um no outro, embarcou nas respectivas oferecidas trilhas. Não houve choro soluçante. Houve, sim, fluidez genuína para regar o afastamento e manter o verde que dormiria, para despertar em alguma inédita primavera da reserva do futuro.

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antasma

“Esquinas são marcos livres, que demarcam acasos de andanças!” Vanda Ferreira

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Esquinas são construídas propositadamente, para realizar encontros. São marcos livres que demarcam o acaso de andanças. E nas esteiras nas quais eles embarcaram separadamente, havia uma esquina premeditada para promover o encontro dos dois. Certamente que houve a ação dos deuses para milimetrificar os passos do casal e coincidir a chegada de ambos em mesmo tempo naquela esquina. Então, lá se reviram. Saudosos e emocionados, abraçaram-se voluptuosamente. Ambos tinham fome e sede. Os dois desejavam por uma ceia sagrada. Em momento consagrado, no qual alimentar-se-iam, surgiu uma terceira figura. Um vulto feminino fez-se sombra e turvou o alto astral que até então reinava, regando a mesa de refeição. A sedutora silhueta desprendeu veneno. Soprou-o e tingiu o ambiente com a cor do pecado. Ele aspirou o veneno, que se alastrou em sua fragilidade carnal; então, perdeu sua luminosidade. E se fez a perturbação, ele perdeu seu olhar de bruxo bemfeitor. Instantaneamente, ele se tornou um estranho.

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Então, boiando em ondas de desespero, ela tentou, por longo tempo, resgatar daquele rosto, já tão tateado, o brilho de deus uno terrestre. Insistentemente, teimou para reencontrar a familiar textura da reciprocidade. Na transparência do enfeitiçamento pelo veneno da fantasma, ela cobrou-lhe tal estranheza, e ele confessou-se reprovado em crucial prova. Confessou-se preso na maldita armadilha, talvez traçada pelos deuses em prol de previsões para seus futuros. Ela entristeceu-se profundamente e deixou transbordar, de si, a fé. Juntos, discutiram o lado bom do elo que os unia. Juntos, buscaram finalidade para suas unificações. E, juntos, investigaram a tangente daquela ligação. Em tempo relapso percorreram as emoções proporcionadas um ao outro... Descobertas foram feitas. E desvendado foi o grau de reciprocidade entre ambos. Ela, demoradamente, olhou-o em seu interior, através das janelas dos olhos. Assim, olhos nos olhos, jurou retribuir-lhe toda e qualquer emoção que lhe fosse proporcionada por ele.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Dentro dessa possibilidade real, ele teve ímpetos de lhe proporcionar somente gostosas emoções; e então lhe declarou amor. Ao declarar amor, uma lenta metamorfose se desenvolveu. Um lento processo foi pincelando-o, até coroar com aura de benignidade aquele ser que quase se tornara criminoso. Ela reviu em seus olhos, o renascer da luz dos deuses, e seus cabelos, angelicais voltaram a ser. Sua pele porejou felicidade e se instalou a consciência do bem-estar da unidade.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

O

tempo é redondo...

“A seiva da verdade brota sem pedir licença.” Vanda Ferreira

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

De conformidade com o natural, o tempo rolou. Passou o tempo no ciclo do sol e da lua. Ela tinha, por inseparável amigo, o vento. E ele, o vento, ia constantemente beijar-lhe e contar-lhe das ocorrências temporais. O céu, a chuva, a vida. Tudo jubiloso. Porém algo a inquietava. Fervilhava a ansiedade em sua alma. Uma sensação crepitante, uma emoção esgotante, processo de esvaziamento progressivo; algo estranhamente estrangulador e de sabor amargo; um frio intenso, uma fome mortal, uma sede loucamente desesperadora, um desejo incontrolável. Algo profundamente dolorido que dilacerava-lhe o coração, que lhe feria a alma, a pele e a carne. Então ela descobriu a liberdade de entristecer-se e mergulhou nas profundezas de águas fétidas, tingidas com venenoso líquen de um poço escuro e fundo, do qual a mina depreciadora era seu próprio coração. Aquele abstrato precipício a abocanhou monstruosamente, e, com crueza, se personalizou a saudade. Totalmente imersa em sofrimento, ela, tal qual o céu, trovejou, relampejou, contraiu-se e explodiu 56


O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

num chover torrencial. Naquele instante, fluiramlhe lágrimas bentas. A seiva da verdade brotava sem pedir licença. E as águas cristalinas misturaram limpidez às águas turvas, e estas se fundiram, para a vitória do bem. O derramar sentimental filtrou todo o tormento venenoso e aquele poço tornou-se uma redoma de limpidez, onde a pureza se estampou para o transparecer de um sentimento real, nobre, bonito e benigno. Assim, ela viu a cor do amor, sua textura e temperatura; descobriu que amor é palpável, que é concreto através de sua carne; que o abstracionismo está na respiração. Viu a realeza de seu elo com aquele homem amado, com o qual dividira tantas bênçãos. Então, sentiu-se desfalcada. Sentiu-se metade e pôs-se a meditar. Embriagada de verdades, meditou. Vislumbrou seu deus terrestre e sentiu-se sem altar, sem trono, sem coroa. Descobriu-se! Descobriu que, sem seu mago, não era fada. Uma estrela não é como a lua. Uma estrela não brilha em quarto minguado, nem crescente. Uma estrela, para reluzir, tem que estar una, intacta, inteira, cheia. E, mais: uma estrela, para brilhar depende da

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

permissão do sol, das nuvens, da superioridade do complexo celeste. Totalmente despida, mostrou ao horizonte sua cara apaixonada e seus olhos de humildade. Mostrou sua pele nua, descoberta de artifícios, despida de lã, sem manto de paz. E assim, devassadamente desvendou seu íntimo, sua verdade, ao relento companheiro, onde se lavou, expurgando o ardor. E abriu uma profunda fenda em seu peito e entregou-se à sangria, até o alívio total, até atingir novamente sua integridade. Então, colou o “por” no “que” para registrar o segredo de sua experiência, porque tudo é transbordante, tudo se sacode. O céu chove, o vulcão, um dia, explode após a implosão. A maré sobe, a lua cresce. Tudo se eleva. A fé, a noite, o dia. E tudo finda no estado do êxtase. Tudo muda de pulsação, é a lei da gradatividade. Tudo é um só círculo. Não importa os recortes côncavos ou convexos. Tudo é de forma esférica, composto de instantes. Infinidades de instantes, gigantes ou anos infinitos, até o início de um outro instante, que simplesmente prossegue o anterior. Os instantes são finitos.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

C

éu estrelado

“No céu, há escancarado mapa dos atalhos.” Vanda Ferreira

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Certa vez, ela serviu-se de licor embriagador. Bebeu, sugando até o cálice secar. Bebeu ao relento, sentindo a noturnidade. Era uma bela noite fria. Céu estrelado e vento soprando alegria de aromas. A brisa lambia-lhe a pele com sedução. Ela, da brisa, sentiu o íntimo gosto de orvalho eternizando-se no céu de seu paladar. Havia algo mágico. Uma plenitude litúrgica que ditava palavras, sacramentos, sinais exteriores e símbolos sobre a beleza da vida, sobre a graça do amor. Um mapa no céu mostrava atalhos, canais, confluências. Sua alma fértil de amor, emanava luz única. O coração apaixonado ditava lei iluminadora de passos. Desvendava trilhas para fascinantes encontros. O coração que ama, encontra-se com o belo em universo largo e úmido, encharcado de bons quereres. E, então, mais uma vez, houve o espalmar das mãos dos deuses que profetizam o amor. E houve sintonia na meditação, dela e dele. Ela, solitária na noite, no silêncio de seu deserto, no marulhar de sua areia.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Ele, em sua tenda, em louvor às carícias da fresca brisa. Ele, lá; ela acolá. Algo regurgitou. Bênçãos à profecia. Ordens ocultas evoluíram em poder, até a total abrangência de ambos. E, então, então pelo Mestre, pelo Profeta do Afeto, promoveu-se a aliança de pele, fez-se o encontro dos dois. Nesse encontro, eles se fizeram refletores de luzes sentimentais. O reencontro aconteceu por força do destino. E houve o encontro de almas. E houve o encontro de corpos. E ilharam-se no porvir do amor.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

V

éu de tristeza

“Há planos para vôos prováveis e de impossíveis navegações.” Vanda Ferreira

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

m um certo encontro, ela tinha olhos turvados. Semblante de lamento, de ausência, de distância, de afastamento. Não tinha olhar, os órgãos de sua visão estavam acortinados, foscos, embaçados por estranho escuro. Um véu de tristeza cobria-lhe a luz facial, a aura luminosa. Os olhos sem brilhantismo, sem vida, cravejavam o rosto cerrado do corpo morno. Os músculos tensos, formados por fibras de fragilidade, pareciam distorcidos pilares de aço... Sua cor apresentava um tom cinza, total entrelaçamento das neutralidades. Nesse encontro, falaram-se um ao outro da vida, da rede tecida com fibra de esperança, da coroa de ápices de ouro e tantas outras coisas. Falaram da liberdade. Da dimensão desconhecida das asas da liberdade. Dos mistérios atingíveis ou não. Falaram dos planos para vôos prováveis e dos de impossíveis navegações. Falaram de realeza, da impraticável penetração nas alturas celestes. Nesse encontro, havia um sopro de vento diferente. Um prenúncio de velório. Um cheiro de hospital e flores de defunto.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Nesse encontro, ela não exalava nenhuma luz. E, então, saiu da tenda, desta vez sem olhar em seus olhos, deixando um rastro leve, sem patente.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

R

efúgio

“O não acontecer, é um acontecimento!” Vanda Ferreira

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Então ela leprou, acometida de tristeza, ela petrificou-se; cessou sua andança. Sua pele tornouse fria. Convertida a ermitã, foi refugiar-se em selva de grutas. Instalou-se no vale da saudade e aprofundou-se na solidão do resguardo. A esmo, naquele campo de nostalgia, sua alma ficou a vaguear em noite e dia, dia e noite, intercalados por madrugadas. Leprosa, ela decidiu-se por não contagiá-lo. Para preservar o amado, abandonou o trono e a coroa de ápices de ouro. Deixou tudo depositado naquela rede tecida com fibras de esperança. Egoisticamente, decidira pelo afastamento. Privarase da chama para a troca de energia. Deixou tudo à disposição do verde adormecido, para despertar no advir da beleza primaveril. Na frieza daquele campo, ela pensava nele. Somente nele ela pensava. Resignada, resolveu extrair de si o caco de sol, a banda de estrela, a lasca de lua. Tudo foi colocado na tenda, junto ao trono, ao lado da rede com a coroa de ápices reluzentes.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Abnegada, parou no tempo da espera. Instalada no impasse, ofertou aos deuses a proclamação da certeza de um novo processo fenomenal, que ungisse os corpos e as luzes quando metades, ao se encontrarem, se enlaçassem em mágico abraço para a formação do todo poderoso. Formam o ponto inicial do novelo de instantes, o marco que propõe o eterno recomeço do inédito. Ela permaneceu isolada. Assim, sem trocas, sem luzes, sem flores, nem frutas. Não havia rede, nem trono. Não havia passarinho, nem tambores, nem chocalhos. Ela ficou ali, a contemplar recordações... Mergulhada em quietude, descobriu-se orando no pico alto do ouvir e do sentir o vazio; do ver a ausência das cores em uma estação não estabelecida no calendário da terra. E... Não mais sentia dores! Foi uma descoberta divina. Porque tudo é mesmo belo! A experimentação, o degustar, o vivificar... Simplesmente estar respirando... Tudo é mesmo lindo! Ela descobriu que a saudade é de esmerada beleza. Sentimento sincero que explicita pureza. E banhouse. Lavou-se em poção de sentimentos nostálgicos. A imersão em pureza sarou-lhe as feridas, 67


O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

revitalizou-lhe a pele frugal e retornou-lhe a beleza de deusa. Ressurgiu iluminada pela força misteriosa, que estabelece a luz vital. Em sua secreta gruta de pedras frias, um fio a mais surgiu, morno e luminoso. A voz de seu homem amado infiltrou-se como perfume floral que invade a noite e reina como único aroma agradabilíssimo. A voz de seu amado infiltrou-se como punhal, rasgando o véu negro, criando fendas para a travessia da luz na escuridão; seu refúgio inundouse do mais belo clarão. Aquela voz tão íntima, de tons graves e agudos exclusivos e únicos, incidiu em movimento diluente, cobrando-lhe a cabeça para suporte da coroa que ele havia preservado. Também informando que havia construído uma muralha para salvaguardar o trono, o caco de sol, a banda de estrela, a lasca de lua e a rede tecida com fibras de esperança. A voz doce e aveludada informou que havia sido suspensa aquela dança que juntos desenvolviam. A voz de seu amado penetrou no campo de recolhimento como se fosse um hino louvando a vida, a luz, o amor. Aquela voz, naquele momento, foi a chama ascendente de milagrosa intromissão,

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

cicatrizando-lhe as chagas carnais e ofertando-lhe a renovação da visão.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

O

Portal

“O amor tem peito aberto, com o coração exposto.” Vanda Ferreira

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

E então, ela enxergou! Avistou o portal fumegante de beleza. Olhou para si e aos seus pés viu um pequeno lago feito da solidão derretida. Em sua terra, a cicatriz de uma poça, imitação do leite derramado que não se junta jamais. Despediu-se ali da certa dor da separação, que tanto lhe arrochou a carne e os olhos... Viu-se limpa de amargor, de sentimentos pobres e prisioneiros. Sentiu-se rica! Milionária, poderosa. Naquele momento, pulsou-lhe no peito a fortaleza do amor, e o que era vislumbre, tornou-se nítida visão no único horizonte, bem à sua frente, com a figura de seu amado. Naquele momento, bendito momento, ela sentiu por ele adoração eterna. Enunciada, fez-se uma sinfonia no vento, trazendolhe, num lento cavalgar, a visita do reflexo verdadeiro. A seus pés, aos seus olhos, às suas mãos, à sua alma, aos seus desejos: uma estrada belamente colorida com flores perfumadas, sob céu divinamente azul, com lua e sol evidenciados. Uma estrada e o portal fumegantes de beleza, ali à sua frente, à sua espera. E lá, ele, seu deus terrestre, um paradoxo de rei e discípulo. Com semblante de missionário, ele lhe estendia as mãos. Convidativo, alongava os braços em atraente 71


O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

acolhimento ao seu corpo carente. Seus braços portavam uma manta. Protetora, terna e calorosa manta. E tinha ele peito aberto, com o coração exposto. Em impetuosos anseios, eles se olharam. Ela exibia a pele fresca, delicada e clamante por vida. O aroma das flores revoava sobre suas cabeças. Pureza divina pincelava seus rostos. Eles entraram em transe de diluição, em eternidade de inédito. Em poesia de pele, de alma; renasceu o romance de ternura poética. E o mundo fez-se um livro sagrado, expressão da liturgia construtiva. Eles, então, somaram-se no entrelaçamento de suas luzes. Somente um sentimento imperou entre eles, naquele momento: o amor. O mesmo sentir, na mesma intensidade. Igualmente sentiam-se amados um pelo outro, e ela lhe sussurrou ao ouvido: - Neste momento, eu te amo com amor eterno! E ele lhe disse do amor. Disse-lhe que o amor é sentimento único, é uno, e sua unidade é feita do rol de todos os bons sentimentos. O amor é o ponto

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

central do bem e é dele que derivam todos os outros bons sentimentos.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

E

figurou o amor

“No encontro de dois cacos de sol, duas bandas de estrela, duas nesgas de lua, forma-se um reino.” Vanda Ferreira

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Eles continuaram a se amar. O processo era de descobertas. Plantio de sementes de euforia, para germinar emoções que atam a florescência de laços de dignidade. Assim, tantos encontros se fizeram. E assim, tanta afetividade se instalou nos dois corações, que num transe de emoções, em sintonia de olhos e de peles, figurou o amor e tudo se tornou exclusivo. E formou-se um reino. Um reino formou-se, por ventura. Formou-se o reino do encontro dos dois cacos de sol, das duas bandas de estrela, das duas nesgas de lua. E, em circuito sideral, o amor acontecia na tenda pacífica, em ritual de luzes, em liturgia de sentimentos, em comunicação de pele. E ela se sentia flor, cor, praia. E ele era a gaivota a revoar. E ele era onda marítima que beijava incessantemente.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

E

formou-se um reino

“Envolvimento singra momentos que se eternizam...” Vanda Ferreira

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Prosseguiram eles. Assim, num envolvimento que singrava momentos que se eternizavam, sob sol, chuva. Sob luar ou refletores quaisquer. Sentindo que o pulsar da vida se resume em momentos; e os rótulos sociais, se resumem na feiúra da mesquinhez. Descobriram que a verdade está em movimento espontâneo. Que ensaio social é o processo estúpido que acoberta pureza e naturalidade. Descobriram que o treino é animalesco, é fictício! A disciplina é medíocre; a certeza, hipócrita e desumana. Descobriram que tudo tem sua característica própria e o acontecer é processo natural que expõe sinceridade. Descobriram que a explosão acontece independentemente de provocações. Tudo acontece, simplesmente acontece. O tudo é uma série de características próprias e individuais. Tudo naturalmente acontece. Assim como o verão, o inverno, a noite e o dia. O não acontecer é um acontecimento!

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

A

pele tem sede

“O amor é o ponto-central do bem e é dele que se derivam todos os outros bons sentimentos.”

Vanda Ferreira

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

No rito da continuidade, caminharam eles. Estrada devassada, beleza exposta, galeria de cores e aromas. Em certo dia, o sol intensificado se implantou no eixo do céu. Muita luz emanava do azul indefinível do mundo celeste. Um calor se instalou para concretizar a quentura ambiental. Era verão. Suas peles tiveram sede de águas frescas e descobriram a abundância que corre nos leitos de terra; foram ao rio. Ele a lavou. Banhou-a, como se ela fosse uma frágil pétala cor-de-rosa de Amor-perfeito. Cuidadosa e delicadamente, ele banhou sua pele, como se lavasse uma delicada porcelana, relíquia do império antigo descoberto por ele. E a troca se fez. Ela o lavou naquele rio, como se o batizasse. Lavou-lhe as mechas dos cabelos. Uma a uma. Lavou-lhe a individualidade dos poros. Mediulhe a aura e a textura das cores que o coroavam. Exibiram seus semblantes de seres felizes e abençoados. E ela comparou-o a uma figura mágica, encantadora figura. E ele, era o particular alquimista de sua ficção realizada. E ele, era o ser de sopro vital, que lhe dera a vida. 79


O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Sentiu-se ela uma estrela e ele, o exclusivo céu do qual era dependente para exalar seu brilho. Céu do qual dependia para despertar sua luz. Para ela, nele estava a totalidade de seu espaço, de seu tempo, de sua liberdade para metamorfosearse. Para ele, nela estava o ar, o sabor, o aroma, a cor.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

E

volução

“Árvores, arbustos, rios e riachos são testemunhas da história.”

Vanda Ferreira

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

No transcorrer do tempo, iam eles sendo lapidados por alguma profecia. Talvez a profecia de sentir emoção... Talvez estivessem sendo lapidados pela sabedoria dos deuses... Ou bruxaria do “sete”. Ou mesmo pela simples e natural proposta do amor, que conduz à evolução humana. Alguma profecia os guiava, os impulsionava, os dirigia. Direcionava-os alguma profecia e eles se entregavam às emoções, experimentavam sensações, alheios às suas condições de passividade. Seguiam entregando-se às conseqüências de seus pulsares. Prosseguiam mergulhados profundamente no ventre gerativo da alquimia. Albergados no seio do amor, entranhados em atraente destino, seguiam alimentados de luz. Evoluíam sem questionamentos. Nem mesmo questionavam o amanhã, nem um herdeiro, nem testamento, nem mesmo uma patente para a história. Seguiam cultivando belas flores e polindo a verdade. Seguiam testemunhados por árvores, arbustos, rios e riachos. Estradas e tantos amanheceres, testemunharam a caminhada.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Duendes os assistiam em suas vestes gloriosas, para alimentar os olhos do revestimento dourado da reciprocidade do casal. Era inverno. Uma calma se instalou no céu e na terra. Fez-se a comunhão de todos os seres. O planeta estava consagrado para a meditação, diuturnamente. O abraço tinha, então, um significado a mais: reproduzia segredos. Traduzia a pele, o sangue escondido sob a carne. E eles descobriram o valor do calor humano. A troca de valores que promove o bem-estar da humanidade. A importância de viver o respeito por todo o processo do planeta.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

R

ecíproca sedução

“No campo do destino, há incontáveis desabrochares.”

Vanda Ferreira

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Eles viram tantos espetáculos! Observaram incontáveis desabrochares no campo onde seus destinos foram unificados. Assistiram reviradas celestes e madrugadas. Testemunharam a aliança do sol com a lua. Viram, o verão fazer-se outono e viajaram juntos nas rajadas do vento fresco, até pousarem na mansidão da chuva primaveril. Embarcaram no hálito fresco do inverno e refugiaram-se em sensualidade discreta, em emoção invernal de pele quente e vento frio. Seguiram, prosseguindo com sensações vegetarianas. Experimentavam do gosto da liberdade ao relento, acariciados com a constância do vai-e-vem do vento. Acomodados em recíproca sedução, mantinham a lucidez da cumplicidade de seus vôos em rotas deslumbrantes. Assim, formaram o par, o casal, o elo de ouro, o par aliançado de luz, a dupla ungida de felicidade, o casamento do bem. Deslumbrados, assistiram o campo transformar-se em colorido floral, onde borboletas festavam saudantes aos sabores de saltitantes flores; e beija-flores alegres beijavam as delícias bucólicas. 85


O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Assentaram-se na verdejante chapada. Estenderam a rede tecida de fibras de esperança e deitaram-se no sorriso da verdade. Repousaram na variada composição de sublimidade. E assim, aprazeiraramse em afagos sedosos. Era primavera, e a vida era cor!

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

P

rimavera

“O amor é processo de evolução humana!”

Vanda Ferreira

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Ela, como flor, preparou-se para o desabotoar, sorvendo, do orvalho, os nutrientes. Aprofundando suas raízes, atravessou os milímetros de noites serenadas. E, como flor, cresceu arribada, ungida por mistérios. Então, quando o sol se fez presente, ela se fez flor ao seu estio. Desabrochou tingida pela energia da luz solar. E colorida primaveril, tingida pelos fios luminosos do astro-rei, abriu-se em pétalas de matizes alardeados, para exalar seu perfume. Ele, desse perfume se reluziu. Montou seu horizonte dourado de esplendores e desvendou o caminho para o castelo construído de doçura, em antiga quimera.

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

A

liança

“Paz é troca enriquecedora, para imperar o bem entre todos os seres!”

Vanda Ferreira

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

No outono, fazia-se o esparramar do romantismo. Dela, transbordava o bom cheiro de raras flores. Nela havia impregnado o aroma floral absorvido de vales e jardins, por onde passara em sua andança. Tinha, ela, guardado na garganta, o néctar sugado de selecionadas flores, na última primavera. Tinha, ela, pele de textura frugal, de frescas e saudáveis frutas colhidas na hora da frutificação de coloridos pomares varonis. Tinha, ela, um semblante carnal do amor, espargindo ternura. Ele... Ele, em constante realeza, tinha o ouro campestre nos olhos. Olhos de douradas pupilas, mel espargindo doçura. Tinha, ele, o enlace temperamental, ungido das estações anuais, dos quartetos cíclicos de que se repetiram infalivelmente em sua caminhada. Tinha, ele, a temperatura que ela desejava. Tinha, ele, o abraço para temperar e equilibrar o clima, fosse qual fosse o momento. Portava, ele, raios do sol de espetaculares verões, para enviesar nas brechas do chuvoso outono de suas histórias. Transportava, ele, a luz para 90


O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

penumbrar a ausência do sol e propagar o romantismo no vento refrescante das madrugadas outonais. Perambulavam abraçados, entregues à carinhosa cumplicidade da brisa boêmia, e conversa sábia e profana. Muito se falavam. Conversavam sobre a paz. Falavam da reciprocidade arraigada; da troca enriquecedora entre todos os seres e coisas; Falavam das mútuas doações que os alicerçaram. Falavam em dialeto próprio, fulcrado na gratidão. Apreciavam o companheirismo em qualquer estação do ano, em qualquer situação ou momento. No amanhecer ou no anoitecer. No banho de lavagem carnal, no banho que purifica a alma. Enfim, formou-se o elo de ouro, o par aliançado de luz, a dupla ungida de felicidade, o casamento do bem. Enfim, formou-se a dupla que almejava eternizar o “estar - junto”. E, então, continuaram juntos. Juntos continuaram, irmanados na mesma devoção, adeptos dos deuses e do tempo, filhos da mãenatureza.

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ROBERTO CARLOS BRAGA Conhecido simplesmente por Roberto Carlos, ou ainda Rei Roberto Carlos, é um cantor e compositor brasileiro , sendo um dos principais representantes do movimento “Jovem Guarda” (década de 60). É o cantor brasileiro que mais vendeu discos, mais de 120 milhões de cópias no mundo inteiro. A música “Emoções”, composição em parceri com Erasmo Carlos, foi gravada em 1981, e faz parte do DVD “Para sempre: Ao vivo Pacaembu”, gravado em 2004.

Fonte: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre.moções

Emoções Roberto Carlos Composição:Erasmo Carlos/Roberto Carlos “Quando eu estou aqui Eu vivo esse momento lindo. ...”

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O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

Vanda Ferreira Campo Grande – Mato Grossso do Sul - Brasil

http://wwwbugra.blogspot.com http://rocadeprosa.blogspot.com http://vandaferreira.com.br vandabugra@hotmail.com 93


O TESTAMENTO – VANDA FERREIRA

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