TFG_CORAÇÃO_DE_NEGRO_COMPLEXO_ESCOLAR_QUILOMBOLA_2019

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UNIVERSIDADE TIRADENTES

VANESSA DOS ANJOS COSTA

CORAÇÃO DE NEGRO: COMPLEXO ESCOLAR QUILOMBOLA

Aracaju 2019


VANESSA DOS ANJOS COSTA

CORAÇÃO DE NEGRO: COMPLEXO ESCOLAR QUILOMBOLA

Trabalho Final de Graduação apresentado Universidade Tiradentes como um dos pré-requisitos para obtenção do grau de bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Prof.° Ma. Colette Dulce Dantas Gomes

Aracaju 2019


VANESSA DOS ANJOS COSTA

CORAÇÃO DE NEGRO: COMPLEXO ESCOLAR QUILOMBOLA

Trabalho Final de Graduação apresentado Universidade Tiradentes como um dos prérequisitos para obtenção do grau de bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovada em: ___/___/___ Banca Examinadora

________________________________________ Prof.° Ma. Colette Dulce Dantas Gomes Orientadora – UNIT

________________________________________ Prof.° Me. Leonardo Ribeiro Maia Avaliador Interno – UNIT

________________________________________ Prof.° Ma. Shirley Carvalho Dantas Avaliadora Externa


Dedico esse trabalho a minha família e amigos por todo amor, paciência e zelo. Ao movimento político de esquerda e em especial ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que possibilitou a filha de uma agricultora rural alcançar melhorias de vida através da educação. Sem as políticas públicas democráticas do seu governo eu não teria chegado até aqui. Dedico a vocês essa conquista com eterna gratidão.


AGRADECIMENTOS

Agradeço a todas as forças e energias do universo que conspiram a favor dos caminhos que me trouxeram até aqui. A vida é contornada por infinitas experiências que nos conduzem para a construção do ser humano que nos tornamos, por isso sou grata por todas as fases vivenciadas e lutas continuas para alcançar meus objetivos. A vida imita a arte e como todo objeto construído na arquitetura, nada na vida se mantém de pé sem um arranjo estrutural resistente. A minha vida não teria sentindo sem as pessoas que eu amo, elas foram a fonte de inspiração todos os dias para que eu pudesse acreditar um pouco mais nos meus sonhos. Vocês são o meu alicerce. Sou eternamente grata pela mãe que me conduziu para o ser humano que eu sou, a sua força, apoio e amor me fortaleceram todos os dias da minha vida para que eu pudesse acreditar e lutar um pouco mais por mim e por aquilo que acredito. Agradeço aos meus irmãos maternos pelo apoio e em especial a Adriano, Denis e Denilza por serem meu ponto de apoio, quando solicitados. Agradeço as minhas primas Patrícia e Geane pelo apoio, desde criança fui incentivada por vocês a acreditar na educação. Obrigada por me auxiliarem nas escolhas que fiz desde o dia em que cogitei a possibilidade de entrar no IFS. Saibam que nunca esquecerei dos bons conselhos e me ajudaram a traçar caminhos mais assertivos. Sou muito grata pelos amigos que fiz no decorrer da minha jornada, mas principalmente aos amigos irmãos que o IFS me presenteou, obrigada Crislaine, Daniela, Isabela, Franciele, Rose, Jamille, Kely e Romário, pois mesmo distantes fisicamente, vocês continuam sendo meus bons e velhos amigos para os dias ensolarados e chuvosos. Aos amigos que a Universidade Tiradentes me trouxe, obrigada Jonathas, Edyvan, Vinicius, Keila, Werley, Monique, Crislene e Tainara e em especial a Adriano, Fernanda, Haroldo, Amanda, Leonardo Rezende, Leonardo Guimarães, Felipe e Márcio por estarem presentes

e

suportarem

meus

estresses

e

perfeccionismos,

grata

pela amizade,

companheirismo, conselhos e auxílios, eu nem sei o que seria de mim sem vocês do meu lado nos últimos cinco anos. Sou muito grata a todas as pessoas que formam a COGEDURB, vocês abriram os braços e me receberam como uma filha nessa experiência de estágio final no curso. Agradeço especialmente a Lucíola, Dauanne, Diego, Cristiane, Heloísa e Renatha por serem tão parceiros e compreensivos. Sou feliz por ter conhecido pessoas como vocês e guardarei cada um carinhosamente em meu coração.


Agradeço todos os mestres que me auxiliaram durante a minha jornada acadêmica, em especial aos professores de Arquitetura e Urbanismo, Fernando Marinho, Gabriel, Rooseman, Dora, Lygia, Rogério e em último Édulo Lins, mestre que clareou meus horizontes quando me sentia perdida para a profissão que escolhi, você não sabe o quanto sou grata, entendo que você foi um instrumento essencial para a construção do meu olhar para a arquitetura... Talvez o impacto que você causou em mim como professor, seja um dos motivos para eu gostar tanto de projetos escolares e refletir um pouco mais sobre a relação desses espaços com os usuários. As mulheres arquitetas e urbanistas que são fonte de inspiração para a minha vida, Shirley Dantas e Marianna Albuquerque, a sensibilidade de vocês me anima a acreditar ainda mais no quanto somos importantes para o cenário da Arquitetura e Urbanismo, sou eternamente grata a vida por ter me permitido conhece-las. Agradeço a minha orientadora Colette Dantas, pela paciência e calma nesse período tão difícil e solitário que vivenciei nos últimos meses. Entendo que esse trabalho não teriam a mesma liberdade conceitual sem o seu olhar livre e artístico. Guardo em meu coração todas as experiências trocadas com você, a sua energia grita para mim a todo o momento que preciso ser mais livre e observar um pouco mais a paisagem ao meu redor. Grata também ao membro interno da banca desse trabalho Leonardo Maia, sei bem que todos os seus conselhos são positivos para melhoramento do meu trabalho. Permito-me dizer que sei que acredita bastante em meu potencial, por isso sempre tenta estimular um pouco mais a minha percepção para a profissão que escolhi, guardo com carinho e atenção todos os bons conselhos. E por fim agradeço a comunidade quilombola de Sitio Alto, que me acolheu com tanto carinho, principalmente a Dona Josefa e sua filha Maria, mulheres quilombolas que possuem uma força da natureza e um coração de negro gigantesco. Eu vou carregar todas as lembranças que tenho de vocês com um olhar positivo de que tudo pode ser superado, tudo pode ser visto com um pouco mais de sorriso no rosto e a dança no pé mesmo nos tempos difíceis. Paciência, fé, força, resiliência e felicidade são as palavras que definem o olhar que tenho diante de vocês.


Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso de muito para ser muito. Lina Bo Bardi


RESUMO

O presente trabalho apresenta um estudo sobre um complexo escolar desenvolvido para a comunidade quilombola de Sitio Alto, Simão Dias – SE. Trata-se de uma escola voltada para atender crianças de 0 a 14 em período integral, que auxilie para manutenção dos requisitos socioculturais da comunidade. A teoria de aprendizagem utilizada para desenvolvimento do projeto foi a sociointeracionista de Vygotsky, em que o aprendizado é baseado na troca de saberes através das relações sociais entre os indivíduos. O objetivo é que através do conceito e partido arquitetônico possa haver uma maior conexão entre os usuários e o espaço escolar projetado, dispondo de um programa arquitetônico que auxilie as práticas da comunidade e consequentemente estabeleça um maior vínculo com a identidade dos usuários. A proposta arquitetônica tem como objetivo atingir a função social do projeto escolar, como um objeto de valor que agregado aos aspectos culturais da comunidade, possa auxiliar o processo educativo dos usuários com reafirmação e permanência cultural. Palavras chave: Complexo escolar, comunidade quilombola, projeto arquitetônico


ABSTRACT This paper presents a study about the school complex developed for the quilombola’s community in Sitio Alto, Simão Dias - SE. It is a school designed to serve children aged 0 to 14 years enrolled as a full-time students, which helps to maintain the community’s sociocultural requirements. The project was based at the social interactionist theory of Vygotsky, which learning is the exchange of knowledge through the social relations between individuals. The goal is to create a greater connection between users and the school space through the architectural concept and party, whereas the architectural program assists in community’s practices and establish bonds with the users identity. The architectural proposal aims to achieve social function of the school project as an object of value that added to community’s cultural aspects should help the user’s educational process with reaffirmation and cultural permanence. Keywords: school complex, quilombola's community, architectural project.


LISTAS

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Espaço escolar da pedagogia tradicional .............................................................. 22 Figura 2 – Espaços escolares da teoria sociointeracionista .................................................... 23 Figura 3 - Escolas públicas situadas nas zonas rurais do município de Novo Lino - Alagoas 26 Figura 4 – Escola Municipal Coronel Dom João da Mata de Amaral, Ibirajuba –Pernambuco ............................................................................................................................................ 26 Figura 5 – Escola Municipal de São Francisco, Ibirajuba –Pernambuco ............................... 26 Figura 6 – Estruturas físicas da Escola Municipal São João Monte Santo-Tocantins ............. 27 Figura 7– Escola Municipal São João, Monte Santo-Tocantins ............................................. 27 Figura 8 – Vila das crianças, Canuanã-Formoso do Araguaia-Tocantins ............................... 30 Figura 9– Planta de situação, Vila das crianças..................................................................... 30 Figura 10– Planta baixa pavimento térreo, Vila das crianças ................................................ 31 Figura 11– Dormitórios, Vila das crianças............................................................................ 31 Figura 12 – Planta baixa pavimento superior, Vila das crianças ............................................ 32 Figura 13 – Pátios e circulações, Vila das crianças ............................................................... 32 Figura 14 – Salas de estudo, Vila das crianças ...................................................................... 33 Figura 15 – Áreas recreativas no pavimento superior, Vila das crianças ............................... 33 Figura 16 – Vista interna do pátio para os dormitórios, Vila das crianças ............................. 34 Figura 17 – Vista interna do pátio para os dormitórios, Vila das crianças ............................. 34 Figura 18 – Corte AA, Vila das crianças .............................................................................. 35 Figura 19 – Corte BB, Vila das crianças ............................................................................... 35 Figura 20– Elevação Frontal, Vila das crianças .................................................................... 35 Figura 21 – Elevação esquerda, Vila das crianças ................................................................. 35 Figura 22 – Pátios cobertos e descobertos, Vila das crianças ................................................ 35 Figura 23– Pátio da Escola em Chuquibambilla, Peru .......................................................... 37 Figura 24 – Planta baixa, Escola em Chuquibambilla ........................................................... 37 Figura 25 – Corte AA, Escola em Chuquibambilla ............................................................... 38 Figura 26– Elevação, Escola em Chuquibambilla ................................................................. 38 Figura 27 – Percursos sombreados, áreas de convivência, Escola em Chuquibambilla .......... 38 Figura 28 – Período de execução de projeto - Escola em Chuquibambilla............................. 39 Figura 29 – Corte bioclimático, Escola em Chuquibambilla ................................................. 39 Figura 30 – Sala de aula, Escola em Chuquibambilla ........................................................... 40 Figura 31 - Localização da comunidade Sítio Alto ............................................................... 44 Figura 32 - Mapa de localização da comunidade Sitio Alto, Simão Dias - SE ....................... 44 Figura 33 – Delimitação do território e vista da comunidade Sitio Alto ................................ 45 Figura 34 - Moradias antigas da comunidade Sítio Alto ....................................................... 46 Figura 35 - Apresentação da dança de roda na comunidade .................................................. 48 Figura 36 - Raspagem de mandioca com ajuda dos vizinhos................................................. 49 Figura 37 - Armazenamento de sementes crioulas da comunidade ........................................ 50 Figura 38 - Unidade básica de sáude, casa das sementes e casa de farinha ............................ 51 Figura 39 - Escola Maria Heloisa dos Santos, área frontal e anexo ....................................... 52 Figura 40 - Creche no espaço alugado .................................................................................. 53 Figura 41 - Quadra de terra .................................................................................................. 53 Figura 42 - Antigo Memorial do Sitio Alto........................................................................... 55


Figura 43 - Antigo barracão cultural, em palha e madeira ..................................................... 55 Figura 44 - Feira União quilombola...................................................................................... 56 Figura 45 – Localização do território de implantação do complexo escolar........................... 57 Figura 46 - diagrama informando os acessos e equipamentos existentes .. em toda comunidade ............................................................................................................................................ 58 Figura 47 – Diagrama do entorno imediato do terreno59 Figura 48 – Quintais vizinhos do entorno ............................................................................. 59 Figura 49 – A norte da gleba, com vista do ponto da feira e UBS ......................................... 60 Figura 50 - Vista dos pontos marcantes no entorno do terreno .............................................. 60 Figura 51 - Vista das configurações das edificações no entorno ............................................ 60 Figura 52 - Condições de acessos da comunidade................................................................. 61 Figura 53 - Estudo de caracterização dos fluxos de pedestres e acessos ................................ 61 Figura 54 – Condições de acessos do terreno........................................................................ 62 Figura 55 – Estudo de arborização e influências do entorno ................................................. 62 Figura 56 - Quadra de terra e caminhos pré-existentes no terreno ......................................... 63 Figura 57 - Localização dos elementos existentes ................................................................. 63 Figura 58 – Dimensões gerais do terreno e demarcação do corte topográfico........................ 64 Figura 59 – Corte longitudinal esquemático do terreno ......................................................... 64 Figura 60 – Maquete topográfica do terreno ......................................................................... 65 Figura 61 – Análise topográfica ........................................................................................... 65 Figura 62 - Temperaturas médias e gráfico de chuvas .......................................................... 66 Figura 63 - Mapa mental dos usuários correlacionados ao espaço escolar em estudo ......... 68 Figura 64 – Diagrama de análise do usuário I ....................................................................... 69 Figura 65 – Diagrama de análise do usuário II...................................................................... 70 Figura 66 - Diagrama de análise dos usuários III .................................................................. 72 Figura 67 - Diagrama de análise dos usuários IV .................................................................. 73 Figura 68 – Diagrama do usuário V...................................................................................... 74 Figura 69 – Diagrama do usuário VI .................................................................................... 75 Figura 70 – Diagrama do usuário VII ................................................................................... 77 Figura 71- Árvore coração de negro e localização na comunidade ........................................ 80 Figura 72 – Maquete física do complexo escolar quilombola................................................ 81 Figura 73 – Implantação geral do complexo escolar quilombola .......................................... 82 Figura 74 – Setorização do complexo escolar ....................................................................... 84 Figura 75 – Fundação em pedra calcaria............................................................................... 85 Figura 76 – Croqui de nivelamento da edificação em relação a topografia ............................ 85 Figura 77 – Eucalipto roliço tratado ..................................................................................... 86 Figura 78 – Bloco de solo-cimento ....................................................................................... 86 Figura 79 – Aplicação da taipa de pilão ................................................................................ 86 Figura 80 – Telhados em estruturas de eucalipto tratado com peão central e telhado com madeiramento em maçaranduba ........................................................................................... 87 Figura 81 – Croqui de corte da proposta dos telhados em piaçava ........................................ 87 Figura 82 – Telhado em piaçava e telha cerâmica ................................................................. 88 Figura 83 – Maquete física do completo escolar coração de negro ........................................ 88 Figura 84 – Planta baixa do pavilhão da creche .................................................................... 89 Figura 85 – Desenho de representação volumétrica, pavilhão da creche ............................... 90 Figura 86 – Planta baixa pavilhão maternal .......................................................................... 90 Figura 87 – Desenho de representação volumétrica do pavilhão do maternal ........................ 91 Figura 88 Planta baixa pavilhão de exposições, setor administrativo e docente ..................... 91 Figura 89 - Desenho de representação volumétrica do pavilhão de exposições, setor administrativo e docente....................................................................................................... 92


Figura 90 – Planta baixa e desenho volumétrico, pavilhão cultural ....................................... 92 Figura 91 - Planta baixa pavilhão para o ensino fundamental I ............................................. 93 Figura 92 - Planta baixa pavilhão para o ensino fundamental II ............................................ 93 Figura 93 – Desenho da representação volumétrica dos pavilhões do ensino fundamental I e II. ......................................................................................................................................... 94 Figura 94 – Croqui de corte, pavilhão escolar do fundamental .............................................. 94 Figura 95 – Planta baixa, pavilhões independentes de aprendizagem .................................... 95 Figura 96 – Planta baixa, módulo independente.................................................................... 95 Figura 97 – Desenho da representação volumétrica do módulo independente de aprendizagem ............................................................................................................................................ 96 Figura 98 – Croqui de vistas e esquemas dos módulos independentes de aprendizagem....... 96 Figura 99 – Planta baixa, pavilhão de refeitório e serviços ................................................... 97 Figura 100 - Desenho da representação volumétrica do pavilhão de refeitório e serviços ...... 97


LISTAS LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Quantidade de alunos na escola do Sítio Alto para ensino infantil e fundamental (2019) .................................................................................................................................. 52 Tabela 2– Quantidade de alunos na escola do Sítio Alto para ensino de Jovens e Adultos -EJA (2019) .................................................................................................................................. 52


LISTAS LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Resumo do programa arquitetônico e dimensionamento da creche ..................... 69 Quadro 2 - Pré-dimensionamento do maternal ...................................................................... 71 Quadro 3 - Resumo do programa arquitetônico e dimensionamento dos espaços para ensino fundamental ......................................................................................................................... 72 Quadro 4 - Resumo do programa arquitetônico e dimensionamento das áreas para a comunidade.......................................................................................................................... 74 Quadro 5 – Resumo do programa arquitetônico e dimensionamento do setor administrativo 75 Quadro 6 - Resumo do programa e dimensionamento do setor de serviços ........................... 77


LISTAS LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Comparativo de serviços e infraestrutura disponíveis nas escolas das áreas urbanas e rurais no Brasil ..................................................................................................... 28 Gráfico 2 – Quantidade de habitantes por sexo e faixa etária em Sítio Alto (2017) ............... 49


SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 16 2 ARQUITETURA ESCOLAR E O MEIO RURAL ....................................................... 18 2.1 ESPAÇOS ESCOLARES............................................................................................. 18 2.1.1 As interferências das teorias de aprendizagem e linhas pedagógicas nos espaços escolares.............................................................................................................................. 21 2.2 ARQUITETURA ESCOLAR INTEGRADA AO ESPAÇO RURAL ........................ 24 3 REFERENCIAS PROJETUAIS DE ESCOLAS INSERIDAS NO ESPAÇO RURAL 29 3.1 COMPLEXO ESCOLAR VILA DAS CRIANÇAS .................................................... 29 3.2 ESCOLA EM CHUQUIBAMBILLA .......................................................................... 36 4 COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SITIO ALTO, SIMÃO DIAS-SE ..................... 41 4.1 COMUNIDADES REMANESCENTES QUILOMBOLAS ....................................... 41 4.2 HISTÓRICO E OCUPAÇÃO...................................................................................... 43 4.3 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E SOCIOCULTURAIS .................................. 47 4.3.1 Solidarização e vida em comunidade ........................................................................ 48 4.3.2 População e meios de sobrevivência ......................................................................... 49 4.4 EQUIPAMENTOS DISPONÍVEIS NA COMUNIDADE .......................................... 50 4.4.1 A Escola Municipal Maria Heloísa Batista............................................................... 51 4.4.2 A carência de equipamentos e a busca por melhorias na vida em comunidade ...... 54 5 CORAÇÃO DE NEGRO - PROPOSTA DE UM COMPLEXO ESCOLAR PARA A COMUNIDADE RURAL QUILOMBOLA DE SITIO ALTO, SIMÃO DIAS-SE ......... 57 5. 1 DIAGNÓSTICO DO TERRITÓRIO E CONDICIONANTES AMBIENTAIS ....... 57 5.2 CONDICIONANTES DOS USUÁRIOS FATORES NORTEADORES PARA PROGRAMA ARQUITETÔNICO ................................................................................... 67 5.2.1 Usuários e programa arquitetônico .......................................................................... 67 5.3 CONCEITO, PARTIDO ARQUITETÔNICO E DIRETRIZES PROJETUAIS DE INTERVENÇÃO ............................................................................................................... 79 5.3.1 Fundamentação do conceito e relação com o partido .............................................. 80 5.3.4 Diretrizes do partido arquitetônico .......................................................................... 82 5.4 ESPAÇOS DO COMPLEXO ESCOLAR CORAÇÃO DE NEGRO ......................... 89 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 98 REFÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................................... 99


APÊNDICE A – IMPLANTAÇÃO GERAL, PLANTA DE COBERTURA E VOLUMES DO COMPLEXO ESCOLAR CORAÇÃO DE NEGRO ............................................... 101


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1 INTRODUÇÃO

A educação é uma necessidade básica do ser humano e o projeto do ambiente de ensino precisa estar ligado as características e necessidades de cada lugar, isso se torna um instrumento fundamental na construção social humana de cada indivíduo. Compreender o edifício escolar é ter o entendimento da complexidade da função social da arquitetura escolar, e o impacto que ela desempenha no lugar em que está inserida. Quando se trata de função social, tem-se os objetivos teóricos materializados na linguagem do projeto, abordando as necessidades dos usuários, como eles vivem e interagem com o ambiente e a forma arquitetônica. É essencial que a inserção desse objeto, seja em um bairro ou comunidade funcione de acordo com a identidade do território/lugar, absorvendo costumes, características do clima, relações e interfaces dos usuários que vão conviver no ambiente de ensino. Porém, a grande problemática que envolve a arquitetura escolar é, principalmente, a padronização projetual. Prática comum nas instituições públicas consideradas de interesse social. Embora seja considerado uma boa alternativa para suprir as grandes demandas de estudantes, nem sempre são analisadas as características locais ou interação com os usuários. Dessa forma, não compreende suas necessidades e anseios, interferindo, principalmente, nas relações entre usuário/ambiente e de conforto

ambiental. As áreas rurais são

proporcionalmente as mais afetadas por essas padronizações, pois possuem grupos socialmente diferenciados, com costumes, vivências, hábitos e realidades que diferem do contexto das áreas urbanas. Mesmo nos centros urbanos, a arquitetura escolar já funciona de forma padronizada, no meio rural a situação apresenta maior agravo, pois são locais historicamente negligenciados pelo olhar público, sendo sempre considerado como um lugar atrasado e com poucos recursos de infraestrutura para a educação. A partir do olhar de que cada lugar é único e possui especificidades que precisam ser levadas em consideração na produção do espaço escolar, foi identificado no contexto da cidade de Simão Dias – SE a comunidade quilombola rural de Sitio Alto. Localidade ocupada por um grupo socialmente diferenciado das demais comunidades da região e que utiliza um espaço escolar que não condiz com as suas necessidades e aspectos culturais fortemente presentes nas relações do povoado. Pensando nesses aspectos foi identificado a necessidade de elaborar uma proposta arquitetônica de um projeto escolar, que atenda a demanda educacional e sociocultural da comunidade, ampliando as oportunidades no campo


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educacional, através de um espaço escolar com maior interação entre a arquitetura, usuário e território de inserção para essa edificação. Para alcançar esse objetivo o trabalho foi subdividido em 4 capítulos. Dentre esses, o segundo capítulo discorre sobre os espaços escolares e problemáticas que implicam o tema, bem como a relação da arquitetura escolar com as teorias de aprendizagem. O terceiro trás estudos referenciais de caso, para aprofundar entendimento do espaço escolar e como pode ser melhor trabalhado, para interação com a comunidade/usuário. O quarto capítulo versa sobre a comunidade de Sitio Alto e a caracterização do território, ressaltando desde o período da fundação da comunidade até os dias atuais. Destacando costumes, hábitos e manifestações, os meios de sobrevivência, números e quantitativos da comunidade. Assim como, informações que foram consideradas pertinentes para o desenvolvimento do projeto escolar. No quinto e último capítulo serão apresentados os resultados obtidos no decorrer do desenvolvimento desse trabalho, as propostas e diretrizes para implantação de um complexo escolar de ensino integral para a comunidade, correlacionando a intervenção arquitetônica, com o papel social que a escola desempenha estando inserida no território, ao ponto que colabora para atenuar as necessidades da comunidade através da função social da arquitetura escolar.


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2 ARQUITETURA ESCOLAR E O MEIO RURAL

Os ambientes escolares passaram por diversas transformações em seu processo evolutivo. Essas mudanças se conectam ao processo histórico, conceitos e abordagens pedagógicas. Os fatores socioeconômicos e socioculturais também são interferências que agem de forma direta na produção do espaço escolar, atribuindo a conceitos e partidos arquitetônicos que agem permanentemente na educação escolar. Por meio dos espaços escolares adotados é possível disseminar mensagens, fazendo com que a reflexão em torno desse objeto continue em pauta, fomentando a necessidade de entender a interferência dos mesmos nas relações entre usuários e espaço projetado. Suas atribuições, incentivos e linguagens relacionadas as instituições de ensino desempenham interferências fundamentais na construção do indivíduo, que promove transformações por meio do seu papel social e dialoga através das linguagens atribuídas ao espaço com construção da educação.

2.1 ESPAÇOS ESCOLARES

Moreira (2000), afirma que a escola é fruto do estágio de desenvolvimento econômico, político e social de um país, cabe a ela a universalização do saber para que este possa ser utilizado na formação e conscientização da sociedade. O pensamento social está relacionado as características e necessidades de cada momento vivenciado, sendo capaz de estimular diversas transformações sociais e políticas educacionais que refletem nos espaços escolares. A linguagem percebida no edifício escolar afirma a construção social de cada período, ou seja, a estrutura escolar reflete o desenvolvimento socioeconômico e sociocultural do meio ao qual a escola pertence.

Compreender a construção escolar significa visualizar uma quantidade de prédios representativos de sua época e identificar sua linguagem à condição e à cultura que representa. Em cada fase da luta pela educação nacional constroem-se escolas cuja arquitetura reflete, talvez melhor do que qualquer outra categoria de edifícios, as passagens mais empolgantes de nossa cultura artística, os recursos técnicos que tivemos à disposição, as ideais culturais e estéticas dominantes. Tudo condicionado a um projeto nacional de desenvolvimento. (ARTIGAS, 1970 apud MOREIRA, 2000, p. 59)

Para Azevedo (2002), a importância e a representação social do prédio escolar para a comunidade e contexto inserido, vão confundi-lo com o próprio significado da instituição


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escolar, refletindo o momento histórico-cultural das sociedades e as oscilações das políticas educacionais. Entender a arquitetura escolar, é também compreender o desenvolvimento da educação e ao contexto que a sociedade vivencia, pois estes são indissociáveis e um reflete no outro as suas características. As linguagens, relações, cultura e valores são a base em favor na construção do conhecimento. Kowaltowski (2011), afirma que a educação é uma necessidade social, que se cumpre para assegurar a continuidade social. Por ser um processo natural e social, a educação é o meio de grupos humanos manterem e transmitirem suas crenças, ideias e conhecimento. A educação não é um processo que se restringe ao professor e aluno, quem educa é o clima cultural que envolve a comunidade em geral, o espaço é parte integrante da disseminação e desenvolvimento do conhecimento. A escola torna-se o instrumento socializador do indivíduo, sendo que toda a organização arquitetônica desse espaço é parte importante do ambiente que educa (BUFFA E PINTO, 2002). A arquitetura escolar funciona como um cenário, que incorpora esses elementos tornando os espaços escolares, um agente que auxilia na construção do conhecimento, troca de saberes e reflexões. O processo de socialização que ocorre nesse meio, precisa estar conectado a realidade do usuário. Sendo que o projeto escolar, precisa ser o resultado de uma série de analises acerca da comunidade/usuário, refletindo através da sua materialidade e soluções espaciais todos os aspectos que caracterizam o objeto de estudo. Portanto a escola ideal não se resume em único aspecto, mas ao conjunto multidisciplinar, que engloba o objeto arquitetônico, pedagogia, bem como o caráter social (KOWALTOWSKI, 2011). De acordo com Souza (2018) a arquitetura escolar tem o compromisso de refletir as necessidades tanto individuais, quanto coletivas de interação com seus usuários. No entanto, a padronização de projetos, que propicia a redução de custos, facilidade e rapidez de execução e supre grande demandas, resulta em ambientes escolares desfavoráveis, pois não se trabalha e entende as condicionantes climáticas, físico espaciais, socioeconômicos e socioculturais das situações locais especificas (KOWALTOWSKI, 2011, pag. 101). Geralmente há preocupação muito grande em atender a demanda de vagas, nem sempre priorizando a qualidade dos edifícios, o que pode levar à replicação de soluções sem evidência da sua eficiência e as vezes pouco compatíveis com o contexto: acesso, vizinhança, bem como forma e característica do terreno. (SOUZA, 2018 p. 75)

Além dos problemas de conforto ambiental e físico espaciais citados por Kowaltowski e Souza, pode-se incluir também problemas ligados a identificação e integração


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do usuário e comunidade com esse edifício. Azevedo, (2002) pontua como a identificação e a integração física do prédio com seu entorno imediato irão facilitar o envolvimento da escola com a vida na comunidade. Quando se compreende a comunidade, suas condicionantes e aspectos em que essa edificação vai se inserir, possibilita um maior processo de identidade entre o usuário, comunidade e edifício.

A valorização do caráter social da instituição escolar vai ser reforçada a partir da possibilidade de interação. A comunidade pode participar na definição do programa de necessidades, na metodologia de ensino de uma escola, no seu tamanho e no melhor lugar para a sua implantação. Argumenta-se que o projeto padrão tem a obsolescência embutida.” (KOWALTOWSKI, 2011, p. 109).

Há também a problemática relacionada ao processo educativo e as novas necessidades do mundo contemporâneo. Como aborda Moreira (2000), atualmente a educação passa pela necessidade de revisão dos seus valores culturais, destacando as grandes questões que o mundo vivencia, a contradição de qual o tipo de educação escolar a ser adotado frente ao atual progresso tecnológico (saber e máquina. O modelo tradicional de educação tende a negligenciar os aspectos da inter-relação homem x espaço e a arquitetura escolar tradicional reflete essa influência para desenvolver seus espaços (KOWALTOWSKI, 2011). Portanto assim como a educação, o ambiente físico programado somente para as aulas expositivas – condicionando aos sistemas educacionais tradicionais precisam acompanhar as transformações advindas dessa nova ordem mundial. (AZEVEDO, 2002). Os espaços precisam dialogar com a evolução tecnológicas e a maneira que os indivíduos se relacionam, auxiliando-os no processo evolutivo das novas práticas de ensino e aprendizagem. Sabe-se que no Brasil a maior parte das edificações escolares segue o modelo tradicional de ensino. Característica que impede, diante das novas propostas de ensino e aprendizagem, a exploração do espaço escolar que permita promover com qualidade a valorização da diversidade, das aptidões e das potencialidades de cada indivíduo que compõe esse meio. Portanto é necessário que novos conceitos sejam trabalhados nos espaços escolares para acompanhar a evolução do ensino (DELIBERADOR, 2016 apud SOUZA, 2018). Azevedo (2002) e Souza (2018) destacam dois motivos para enfatizar a importância de trabalhar a relação mais próxima entre o usuário e o espaço escolar: a) por possuir um caráter de uso público, a edificação recebe um grande número de pessoas, que passam boa parte da vida em contato com o espaço; e b) trata-se dos seus significados, assim como todas as edificações, que conduzem uma forte imagem ao observador e possuem características simbólicas que modificam muitas das vezes as atitudes e comportamentos.


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Azevedo, (2002), afirma que a discussão atual sobre os novos conceitos de educação, que visam a formação de um ser humano integral, que esteja apto a solucionar problemas e dinâmico adaptar a um contexto globalizado, exige uma maior reflexão sobre a relevância do prédio escolar no processo de construção do conhecimento. Portanto a política educacional e a pedagogia que cerca a filosofia da escola possuem um papel fundamental para o desenvolvimento de uma arquitetura escolar coerente, já que a política educacional determina ações que causam impacto na organização física dos edifícios escolares seja na organização da rede de escolas, seja na organização do próprio edifício (MOREIRA, 2000, p. 29).

2.1.1 As interferências das teorias de aprendizagem e linhas pedagógicas nos espaços escolares

Para compreender como a arquitetura pode intervir na prática educacional, é preciso compreender as teorias, suas conexões com as pedagogias e atividades desenvolvidas nos espaços escolares em prol do processo de ensino e aprendizagem. As teorias trazem informações sobre como o comportamento dos indivíduos se desenvolvem e relacionam seus processos com o ambiente, mostrando que o desenvolvimento do conhecimento e habilidades não se dá de maneira totalmente independente. Existem sempre conexões entre o meio que se relacionam com o indivíduo através de fatores emocionais, neurológicos, sociais e ambientais (SOUZA, 2018). Assim como afirma Souza, (2018) as teorias dizem respeito as motivações humanas, o pensamento e memoria, percepção, sonhos e comportamento, estabelecendo um conjunto de ideias, onde a partir de estudos elas evoluem e caminham para a mesma finalidade. Embora não exista uma maneira errada para se adquirir conhecimento, cada teoria desenvolve seus métodos e estratégias, através das defesas de suas filosofias para o processo de ensino e aprendizagem escolar. Por meio dessa compreensão cada teoria segue uma linha de defesa e as escolas põe em prática através da sua pedagogia educacional. Essa linha de raciocínio e compreensão se reflete então nos espaços escolares, requerendo compreensão do arquiteto, pois é através da sua sensibilidade, que as características e projetos dos edifícios escolares estarão condizentes com a filosofia escolar seguida (Souza, 2018; KOVALTOWSKI, 2011). As interpretações espaciais concebidas pelos arquitetos serão reconstruídas a partir das premissas pedagógicas e do conhecimento das necessidades dos usuários e do seu imaginário coletivo ⎯ considerando valores e expectativas daqueles que vivenciam o espaço (AZEVEDO, 2002, p. 201).


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Nesse estudo foi analisado a teoria de aprendizagem denominada como Behaviorismo, que atualmente é trabalhada na Escola Municipal Maria Heloísa Batista situada na comunidade de Sitio Alto, Simão Dias-SE descrita no capítulo 3. Essa teoria é fundamentada pelos teóricos John B. Watson (1878 – 1958), Edward Thomdike (1874 – 1949) e Burrhus F. Skinner (1904 – 1990), em que a pedagogia tradicional se baseia. A mesma preocupa-se com aspectos observáveis do comportamento, que respondem a um estimulo trabalhados com objetivo especifico. Isso quer dizer que, o professor transfere o conhecimento, que é objetivo, factual e absoluto, sendo transmitido através de palestras, simulações e instruções programadas. Os espaços destacam o foco no professor, com salas de aula com pouca flexibilidade e dispostas ao longo de corredores de um edifício único com um ou mais pavimentos (figura 1), (SOUZA, 2018).

Figura 1 – Espaço escolar da pedagogia tradicional

Fonte: Souza, 2018

Em contrapartida a teoria Behaviorismo, destaca-se a teoria sociointeracionista, que será abordada nos espaços escolares elaborados no final desse trabalho, fundamentada pelo teórico Lev Vygotsky (1896 - 1934), onde ele afirma que o cérebro é a base biológica, e suas peculiaridades definem limites e possibilidades para o desenvolvimento humano, pois as funções psicológicas superiores, por exemplo, linguagem e memória, são construídas ao longo da história social do homem, em sua relação com o mundo (Kowaltowski, 2011). Em quê: A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, em constante processo de recriação e reinterpretação das informações, conceitos e significações. O processo de internalização é fundamental para o desenvolvimento do funcionamento psicológico humano, por envolver uma atividade externa, que deve ser modificada para tornar-se uma atividade interna: é interpessoal e torna-se intrapessoal. [...] O pensamento origina-se na motivação, no interesse, na necessidade, no impulso, no afeto e na emoção. A interação social e a linguagem são decisivas para o desenvolvimento (KOWALTOWSKI, 2011, p. 28, grifo nosso).

O aluno passa a ser o sujeito que aprende junto ao outro, junto ao que seu grupo social produz. Valores culturais, linguagens e o próprio conhecimento são adquiridos através


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da interação. Vygotsky destaca bem o papel do contexto histórico e cultural nos processos de desenvolvimento e aprendizagem, chamando-o de sociointeracionista. Este por sua vez ressalta as contribuições da cultura, interação social e dimensão histórica do desenvolvimento mental. Portanto os espaços que partem dessa teoria levam o indivíduo a observação e imersão social, interagindo com atividades constantes em grupo. O espaço precisa ser um facilitador a observação, dos trabalhos em grupo e interação social. Funciona como salaescola, com espaços abertos, que permitam atividades diversas ao mesmo tempo. Realizados em grupos grandes ou pequenos e até mesmo individuais, que garantem observação de um pelo outro, bem como maior socialização (figura 2).

Figura 2 – Espaços escolares da teoria sociointeracionista

Fonte: Souza, 2018

O papel do docente nesse caso é de provocar avanços nos alunos, permanecendo em uma zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que é a intermediação. O aluno aprende juntamente ao seu grupo social, pois: A formação de conceitos espontâneos, ou cotidianos, desenvolvimentos no decorrer das interações sociais, diferenciam-se dos conceitos adquiridos pelo ensino. A aprendizagem é fundamental ao desenvolvimento dos processos internos, para interação com outras pessoas. Ao observar a zona proximal, o educador pode orientar o aprendizado e adiantar o desenvolvimento potencial de uma criança. Nesse momento o ensino passa do grupo para o indivíduo (KOWALTOWSKI, 2011, p. 29).

É nisso que o socio-interacionismo consiste, ele funciona como um processo de funções ainda não amadurecidas pelo indivíduo, mas que estão em desenvolvimento e são potencialmente atingíveis. Sendo através da potencialidade que o indivíduo tem em aprender interagindo socialmente com outros indivíduos, que ele desenvolve a sensibilidade cognitiva


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para avanço no processo particular de aprendizagem. A partir daí o ensino passa a ser do grupo social, para o indivíduo. Analisando a importância da interpretação dos espaços escolares e como as teorias e filosofias que cercam o processo de aprendizagem influenciam nessa prática, faz-se necessário também entender qual o cenário externo que gira em torno do processo de aprendizagem, em que circunstâncias o edifício escolar está inserido, o que diariamente o indivíduo lida e convive, qual arquitetura existente que vem concebendo os espaços nas escolas para realização da prática educacional equitativa para nas comunidades rurais. Pretende-se então discorrer sobre essa temática no item a seguir.

2.2 ARQUITETURA ESCOLAR INTEGRADA AO ESPAÇO RURAL

O reflexo da arquitetura escolar rural no Brasil, está condicionada a visão que a sociedade enxerga as populações do meio rural, como um lugar atrasado, desprovido de educação e conhecimento intelectual. Considerando os fatores de desenvolvimento socioculturais e econômicos e como eles influenciam nos aspectos de desenvolvimento, a população do campo, sempre foi constantemente colocada as margens do acesso as políticas públicas, e quando se trata de acesso à educação, pode-se considerar tardio, ocorrendo de forma extremamente precária (LEITE, 2002). Segundo Júnior e Netto (2011) a educação no meio rural, foi historicamente relegada a espaços marginais nos processos de elaboração e implementação das políticas educacionais na realidade brasileira, sendo uma das possíveis causas marcadas pelas construções e pensamentos culturais do meio urbano que se prolonga a inferiorizar, estereotipar e segregar as identidades e subjetividades do meio rural. Como complementado por Buffa e Pinto (2002), sobre o acesso à educação para as classes populares, eles consideram que a estrutura socioeconômica de base escravista e uma construção política que concentrava o poder nas mãos das elites tenderam sempre a alimentar essa segregação e concretizar o impedimento do acesso à educação para a classe popular. Portanto o descaso com as populações segregadas do campo, a falta de acesso as políticas públicas e serviços públicos em geral é refletido nos espaços escolares da zona rural, que em poucos casos se estabelece um critério de valorização. Leite (2002), afirma que as transformações sócio-políticas, com base no capitalismo liberal dos pós II Guerra Mundial, ocasionaram rupturas na sociedade campesina, entre elas alterações no processo educacional rural, urbanizando-o em função de uma nova ordenação


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econômica. Essa ruptura estimulou ainda mais os problemas na educação voltado para o meio rural, pois segundo Junior e Netto (2011) as escolas rurais, têm dado ênfase aos direitos básicos da cidadania e, portanto, de uma vida digna, reduzida as limites geográficos e culturais da cidade, negando-se a reconhecer o campo como um espaço social e de constituição de identidade e sujeitos. Em função da urbanização dos valores e dos comportamentos, a prática escolar rural foi abandonada, buscando nas escolas urbanas se novo referencial didático pedagógico, fazendo refletir, desse modo, os objetivos massificadores liberais do consumo e da aceleração produtiva. (LEITE, 2002, p. 111).

Partimos do pressuposto que as vertentes ideológicas urbanizantes e desenvolvimentistas foram grandes responsáveis pelas transformações ocorridas no sistema escolar rural, ocasionando a perda de sua identidade sociocultural e consequentemente o seu enfraquecimento como elemento agregador da práxis campesina. Ou seja, a escola rural perdeu seu “espaço” como referencial de valor para a sociedade do campo. (LEITE, 2002, p. 14).

O prédio escolar rural público geralmente é reduzido as salas de aula, sendo subdimensionadas as demais dependências de apoio, normalmente os sanitários são localizados fora do corpo da principal da escola, fazendo com que o aluno se desloque muitas vezes por áreas sem cobertura para alcançá-lo. Por não possuir uma arquitetura definida, suas funções são organizadas em espaços improvisados, com áreas que não condizem muitas vezes a um programa de necessidades realmente adequado para a realidade escolar. Sua aparência e concepção podem ser geralmente, identificadas com construções feitas por partes, sem preocupação estética, sem conforto ambiental e sem preocupação com a segurança do usuário, (MOREIRA, 2000, p. 90). A seguir são demonstrados alguns exemplos de escolas públicas trazidas numa reportagem feita pelo G1 em 2015, sobre o Brasil Urbano x Brasil rural, a falta de planejamento e infraestrutura adequada ficam evidentes, diante das dificuldades apresentadas nas imagens dos prédios escolares públicos analisados da zona rural nos estados de Alagoas, Pernambuco e Tocantins. As más condições de acesso e salas de aula com espaço reduzido, mobiliários ultrapassados e superdimensionados para os estudantes (figura 3), são realidades. A falta de infraestrutura das salas de aula agregada aos mobiliários danificados também presentes, prejudica a aprendizagem, a interação entre os estudantes, como também desestimula os usuários a usufruírem do espaço escolar. A falta de acessibilidade é um ponto crucial da


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estrutura física dessas escolas (figura 4), tendo em vista a dificuldade de acesso nos dias de chuva e a ineficácia da manutenção das escolas no espaço rural.

Figura 3 - Escolas públicas situadas nas zonas rurais do município de Novo Lino - Alagoas

Fonte: G1, 2015 Figura 4 – Escola Municipal Coronel Dom João da Mata de Amaral, Ibirajuba –Pernambuco

Fonte: G1, 2015

Muros que segregam a comunidade, e falta de estruturação nas escolas (figura 5), precariedade dos ambientes e falta de ambientes adequados para realização de atividades, (figura 6), são constantes que contemplam os espaços escolares rurais em Pernambuco e Tocantins. Figura 5 – Escola Municipal de São Francisco, Ibirajuba –Pernambuco

Fonte: G1, 2015, editado pela autora


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Figura 6 – Estruturas físicas da Escola Municipal São João Monte Santo-Tocantins

Fonte: G1, 2015

Escolas improvisadas em fazendas (figura 7), com espaços sem possibilidade de contemplar ambientes de aprendizagem, bem como edificações com espaços reduzidos que comportam atividades escolares sem possibilidade de apropriação e envolvimento entre usuário/ambiente. A identidade dos indivíduos é deixada as margens, refletindo-se essa conclusão através dos espaços marginalizados, que não condizem em nada com as necessidades do usuário. Sem planejamento, investimentos ou estudos que priorizem a qualidade da arquitetura escolar inserida no meio rural.

Figura 7– Escola Municipal São João, Monte Santo-Tocantins

Fonte: G1, 2015

A arquitetura escolar rural brasileira reflete inúmeros déficits quando comparadas as escolas das áreas urbanas. Na mesma reportagem é trazido um comparativo do censo escolar realizado em 2014 pelo Ministério da Educação, que denotam o quanto as escolas públicas rurais são precárias, principalmente quando abordadas nos recursos de infraestrutura básica como apresentadas nos dados do gráfico 1:


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Gráfico 1 – Comparativo de serviços e infraestrutura disponíveis nas escolas das áreas urbanas e rurais no Brasil 120% 100% 80% 60% 40% 20% 0%

Urbana

Rural

Fonte: elaborado pela autora, 2019

A falta de acesso a recursos básicos, como saneamento básico e infraestrutura adequadas que comportam atividades escolares como bibliotecas, espaços para prática de esportes e espaços sem acessibilidade, são a maior falha, o que potencialmente prejudica o aprendizado, desestimula os estudos. A falta de incentivo a vida e vivencias na zona do campo também é uma falha, que em decorrência desses aspectos, o indivíduo passa a sofrer uma perda de identidade cultural, os costumes e manifestações aos poucos vão se dissolvendo. (Moreira, 2000; Leite, 2002; Junior e Netto, 2011). As populações da zona rural vivem se forma mais isolada e possuem a necessidade de encontrar-se para promover a socialização, além de as crianças da zona rural terem a disponibilidade de contato direto com a natureza, o que auxilia na exploração das sensações. Texturas, cores, meandros, paisagens e espaços dinâmicos são comuns em seu meio. Assim, recomenda-se que a escola rural enfatize essas características na sua prática escolar e na concepção do edifício, através de espaços que apoiem a comunidade, no campo da educação permanente e atividades culturais. (MOREIRA, 2000). Ao levar em consideração todas as disparidades reconhecidas através das abordagens desse tópico, bem como as já apresentadas sobre as necessidades que permeiam o projeto escolar público da zona rural, foram selecionados dois projetos para estudo de caso referentes a projetos escolares situados na zona rural, sendo então apresentados no item a seguir.


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3 REFERENCIAS PROJETUAIS DE ESCOLAS INSERIDAS NO ESPAÇO RURAL

Para compreensão desses projetos, foram analisados o conceito e o partido integrado aos espaços, soluções, implantação e comunicação com o entorno.

O primeiro estudo

apresentado é o projeto de um conjunto escolar de moradias infantis em Formoso do Araguaia, Tocatins. O segundo trata-se de uma escola rural situada na região de Chuquibambilla, Peru. Ambos possuem características similares relacionadas ao tema projetual, por meio do conceito e partido adotado conseguem integrar a comunidade. Isso faz com que o eixo significativo entre a arquitetura social escolar e usuário se comuniquem reafirmando a identidade local, promovendo através um equipamento escolar, uma ferramenta essencial de transformação e integração social.

3.1 COMPLEXO ESCOLAR VILA DAS CRIANÇAS

Esse projeto foi executado no povoado de Canuanã, zona rural de Formoso do Araguaia, Tocantins, como uma intervenção arquitetônica para acolher 800 estudantes provenientes das proximidades e zonas mais afastadas, onde não há acesso à educação, sendo que boa parte deles precisavam ser abrigados nos períodos letivos. Antes as crianças eram atendidas no espaço da Fazenda Canuanã, situada nas imediações do povoado. O projeto escolar de Canuanã está implantando em meio a campos de cultivo de arroz, milho, soja e melancia do povoado (figura 8). Aliando o conceito baseado nas relações entre a arquitetura desenvolvida e a identidade da comunidade, surgindo um projeto de incentivo e transformação social na zona rural para as crianças de Canuanã (Archdaily Brasil, 2017 e Barbosa, 2018). Eleito como a melhor nova obra arquitetônica do mundo, pelo prêmio internacional RIBA de 2018, o projeto tem a colaboração dos arquitetos Gustavo Utrabo, Pedro Duschenes do escritório Aleph Zero, e a participação de Adriana Benguela e Marcelo Rosenbaum do escritório de arquitetura e design Rosembaum. O lugar de inserção do projeto é marcado pelo trabalho manual com a lavoura, em que as pessoas possuem uma relação muito forte com a natureza indígena, o que torna um marco característico da comunidade.


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Figura 8 – Vila das crianças, Canuanã-Formoso do Araguaia-Tocantins

Fonte: Archdaily – Leonardo Finotti, 2018

A proposta é dispor uma forma que facilite a organização das áreas, separando-se em dois blocos, sendo um feminino e outro masculino (figura 9). A comunicação com o entorno é um ponto marcante, em que trabalha com uma disposição espacial que auxilia na relação com o processo de aprendizagem. As novas vilas foram então setorizadas em pontos estratégicos do terreno, que guiam o novo conhecimento da fazenda, organizando o território e possibilitando uma melhor leitura espacial e funcional da escola (Archdaily Brasil, 2017). Figura 9– Planta de situação, Vila das crianças

Fonte: Archdaily - editado pela autora, 2018


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Cada bloco possui 45 unidades dormitórios para 6 alunos cada uma, dispondo esses espaços no pavimento térreo da edificação (figura 10), no total atende 540 crianças e jovens de 13 a 18 anos que frequentam a escola em regime de internato.

Figura 10– Planta baixa pavimento térreo, Vila das crianças

Fonte: Archdaily - editado pela autora, 2018

Como maioria dos alunos vêm de áreas remotas do estado e passam dias longes dos familiares, a maior responsabilidade dos arquitetos era de garantir que o projeto se aproximasse dos usuários, integrando ao espaço a identidade e sensação de pertencimento aos estudantes (figura 11) (Barbosa, 2018). Anteriormente os dormitórios eram dispostos em grandes espaços com cerca de 20 beliches, contudo o novo arranjo de com 3 beliches e 6 crianças pro quarto, permite melhorias principalmente no aumento da qualidade de vida do estudante, onde auxilia na individualidade de cada indivíduo.

Figura 11– Dormitórios, Vila das crianças

Fonte: Fonte: Archdaily – Leonardo Finotti, 2018


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Assim como foram também incluídos no programa espaços variados de convívio como salas de TV, espaços para leitura, varandas, pátios, redários, entre outros, organizados no segundo e último piso da edificação (figura 12). Figura 12 – Planta baixa pavimento superior, Vila das crianças

Fonte: Archdaily, 2018

As relações de pertencimento no projeto, é atribuído ao conceito que respeita o entorno e os traços culturais preexistentes, permite o acolhimento e preservação da identidade dos usuários. Possui uma linguagem que funciona como um agente de transformação, de resgate cultural local e incentivo as técnicas construtivas locais. Os saberes indígenas dialogam com a construção para transmitir a sensação de pertencimento necessárias para o desenvolvimento das crianças na escola. O programa foi estudado em conjunto com a comunidade escolar, permitindo que os alunos se tornassem participativos no processo de a planejamento, disseminando assim o sentimento de pertencimento aos estudantes da escola. Desprendendo-se da imagem escolar de somente espaço de aprendizagem, mas também como território, casa e valor aos usuários (figura 13), (Archdaily, Brasil 2017). Figura 13 – Pátios e circulações, Vila das crianças

Fonte: Archdaily – Leonardo Finotti, 2018


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As salas de estudos possuem mobiliários diferenciados (figura 14), permitindo estudos em grupos maiores e menores, ou mesmo de formas individuais. São formas que quebram a relação tradicional dos mobiliários escolares. Embora não possa afirmar qual a pedagogia adotada para a escola, é possível analisar que a disposição do layout e tipologias dos mobiliários, bem como organização espacial se caracteriza como uma teoria que funciona com maior interação e comunicação entre os usuários, permitindo sociabilidade, vivências e aprendizados coletivos, diferente da pedagogia tradicional de ensino.

Figura 14 – Salas de estudo, Vila das crianças

Fonte: Archdaily – Leonardo Finotti, 2018

A obra dispõe de espaços fluidos que podem abrigar múltiplas atividades, estimulando a autoestima das crianças, criando áreas interativas e espaços livres, que promovem maior liberdade e relação entre os usuários (figura 15). Figura 15 – Áreas recreativas no pavimento superior, Vila das crianças

Fonte: Archdaily – Leonardo Finotti, 2018

Por meio da utilização de elementos construtivos e técnicas locais, o projeto cria uma forte relação entre as técnicas vernaculares e os novos modelos contemporâneos das


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construções. O uso de madeira e BTC (bloco de terra comprimida) remetem a utilização do uso da terra como matéria prima construtiva, comum nas edificações do entorno. Dessa forma estabelece uma relação entre elementos e a técnica construtiva já aplicada, com adaptação e melhoramentos tecno-construtivos, que auxiliam no conforto ambiental do espaço escolar, como os exemplos indicados na (figura 16), sendo a madeira laminada, BTC e cobogós. Figura 16 – Vista interna do pátio para os dormitórios, Vila das crianças

Fonte: Archdaily – Leonardo Finotti, 2018

Nas portas de cada dormitório (figura 17), se estampam símbolos das tribos as quais os alunos pertencem, reafirmando a identidade cultural interagindo com o novo espaço projetado. Figura 17 – Vista interna do pátio para os dormitórios, Vila das crianças

Fonte: Archdaily – Leonardo Finotti, 2018

A escala da edificação também é um ponto importante, já que os estudantes passam por uma transição forte na permanência e nos usos dos espaços durantes vários anos da sua vida. Para isso a comunicação com a comunidade foi um trabalho importante, para relacionar as ideias de desenvolvimento do projeto, com as necessidades dos usuários. Permitindo criar espaços com escalas e funções condizentes com as necessidades e usos (figuras 18 a 21).


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Figura 18 – Corte AA, Vila das crianças

Fonte: Archdaily, 2018 Figura 19 – Corte BB, Vila das crianças

Fonte: Archdaily, 2018 Figura 20– Elevação Frontal, Vila das crianças

Fonte: Archdaily, 2018 Figura 21 – Elevação esquerda, Vila das crianças

Fonte: Archdaily, 2018

As relações de pátios presentes no projeto também desempenham um forte papel diante dos espaços da vila escolar, estes permitem a socialização entre os indivíduos e a troca de experiências. Grandes pátios cobertos e descobertos projetados denunciam a vida em comunidade que é possível se ter nos espaços escolares (figura 22). Figura 22 – Pátios cobertos e descobertos, Vila das crianças

Fonte: Archdaily – Leonardo Finotti, 2018

A materialidade, linguagem e identidade local fazem parte de todo o processo de soluções para que se crie um forte traço de reafirmação cultural para a comunidade de


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Canuanã. As técnicas vernaculares associadas a uma arquitetura contemporânea, com espaços que se integram e se conectam, garantem que as necessidades dos estudantes sejam uma prioridade nas soluções espaciais, sem deixar de lado as raízes culturais do lugar. Essas são as principais características do projeto, que de forma sublime e fluida, com uma beleza que se torna extremamente sensível diante da produção do espaço escolar.

3.2 ESCOLA EM CHUQUIBAMBILLA

A escola está localizada na comunidade nativa de Chuquibambilla, na alta selva peruana. Caracteriza-se por ser a zona produtora de café mais importante da parte oriental do distrito de Pangoa, sendo o centro cultural da região. A comunidade não possui eletricidade, água potável e nem sistema de esgoto. A escola foi projetada para atender uma população infantil de aproximadamente 250 crianças, sendo que alguns deles têm que percorrer longas distâncias para ter acesso à educação. Trata-se de uma comunidade nativa indígena, seus habitantes vivem de acordo com sua cultura e costumes, se dedicando a agricultura, a caça e a pesca. Estas são as condicionantes, que norteiam o desenvolvimento do projeto escolar de Chuquibambilla (Archdaily Brasil, Gabriel Pedrotti, 2017). Com uma área de 985m² a escola em Chuquibambilla é uma obra com grande responsabilidade social, onde a comunidade fez parte do processo de decisões no projeto. Para isso foram realizados workshops com os alunos, oficinas com os professores, jornadas de trabalho com voluntários e a população, sendo os principais instrumentos para identificar e compreender as necessidades e carências dos usuários, entorno e terreno. Esse foi o principal método de aproximação da comunidade culturalmente distinta com as ideias dos arquitetos Paulo Afonso, Marta Maccaglia, Ignacio Bosch e Borja Bosch para realizar a intervenção. A partir das especificidades contextuais e locais, foi desenvolvido um espaço que abriga um lugar de ensino nas horas escolares, além de ser um espaço de desenvolvimento e intercâmbio para toda a comunidade, onde é possível pais, alunos e professores e encontrarem, estudarem e se divertirem (figura 23), (Archdaily Brasil, Gabriel Pedrotti, 2017).


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Figura 23– Pátio da Escola em Chuquibambilla, Peru

Fonte: Archdaily - Paulo Afonso / Marta Maccaglia, 2018

O programa arquitetônico é composto por três módulos escolares e um módulo residencial organizados em torno do pátio central. Estes módulos contém as salas de aulas tradicionais, área de administração e professores, uma sala multifuncional (biblioteca, oficinas, etc), uma sala de informática e a residência para estudantes, sendo apresentados nas plantas baixa, de corte e elevação (figuras 24 a 26). Figura 24 – Planta baixa, Escola em Chuquibambilla

Fonte: Archdaily editada pela autora, 2018


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Figura 25 – Corte AA, Escola em Chuquibambilla

Fonte: Archdaily, 2018 Figura 26– Elevação, Escola em Chuquibambilla

Fonte: Archdaily, 2018

Os espaços da escola se organizam em amplas áreas abertas que se integram através das áreas dos pátios cobertos e descobertos livres e com escalas variadas. Abriga espaços que possibilitam a socialização e conexão com a natureza, possibilitando o desenvolvimento de atividades que conectam os alunos à natureza e suas tradições: aulas ao ar livre, oficinas de arte, de argila, artesanato, agronomia, criação de animais, cultivos, etc. Os espaços estão conectados por percursos que possibilitam encontros e usos para a comunidade. O exterior e o interior se integram e criam espaços que conectam o entorno através dos espaços púbicos (figura 27), (Archdaily Brasil, Gabriel Pedrotti, 2017). Figura 27 – Percursos sombreados, áreas de convivência, Escola em Chuquibambilla

Fonte: Archdaily, Paulo Afonso / Marta Maccaglia, 2018

A materialidade do projeto abrange uma arquitetura que mescla materiais vernaculares adaptados a técnica contemporânea, trazendo uma solução construtiva moderna


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por meio da materialidade local. A mão de obra da aldeia foi implementada no processo executivo, que permite maior inclusão e transferência de conhecimento através das experiências da comunidade. O sentido é de criar um pertencimento entre os usuários e inspirar um processo de manutenção permanente do entorno. Incluindo a comunidade de várias maneiras, tanto as soluções materiais como espaciais (figura 28), (Archdaily Brasil, Gabriel Pedrotti, 2017). Figura 28 – Período de execução de projeto - Escola em Chuquibambilla

Fonte: Archdaily, Paulo Afonso / Marta Maccaglia, 2018

As soluções para resolver a problemática quanto ao conforto ambiental climático, foi de utilizar sistemas passivos, com atenção particular ao controle de insolação, ventilação e iluminação natural, reduzindo a necessidade de energia elétrica ao mínimo, (figura 29 e 30), (Archdaily Brasil, Gabriel Pedrotti, 2017). Figura 29 – Corte bioclimático, Escola em Chuquibambilla

Fonte: Archdaily, 2018


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Figura 30 – Sala de aula, Escola em Chuquibambilla

Fonte: Archdaily, Paulo Afonso / Marta Maccaglia, 2018

Os projetos acima discutidos foram escolhidos como referenciais de caso principalmente pelas atribuições materiais, soluções arquitetônicas e comunicação com a comunidade. A arquitetura transmitida por meio da materialidade e técnicas construtivas denunciam a composição local, assim como um programa que atende os usuários como um todo, permitindo a socialização, vivências, necessidades e troca de saberes entre a comunidade de modo geral. O respeito as tradições locais, costumes e saberes e entorno são inspirações que auxiliaram no entendimento e funcionamento do espaço escolar. A clareza do conhecimento técnico/arquitetônico que respeita as necessidades do entorno, terreno, clima e cultura local, baseado nas problemáticas e necessidades do lugar de inserção das obras, serviram de inspirações para as diretrizes projetuais apresentadas no capítulo 5. No próximo capítulo serão apresentadas informações pertinentes a comunidade quilombola de Sitio Alto, Simão Dias -Se, local de intervenção arquitetônica desse trabalho final de graduação. Foi possível demonstrar as peculiaridades do povo pertencente a comunidade, identificar seus costumes, tradições e necessidades e por meio dessa compreensão, aliado ao conhecimento adquirido nos discursões anteriores, promover as diretrizes do projeto escolar apresentado no capítulo 5.


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4 COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SITIO ALTO, SIMÃO DIAS-SE

Entender os sujeitos que habitam as zonas rurais é compreender suas características e relações diante do espaço rural. Estes sujeitos são indivíduos que estabelecem uma intima relação com a terra, pois utilizam os recursos naturais disponíveis como meios de vida e sobrevivência. Além desses atributos, elas podem se caracterizar como agrupamentos que possuem comportamentos, manifestações culturais e variadas formas de vida, que se diferem em relação ao lugar, tempo, espaço e relações sociais. Sendo que essas comunidades que habitam o espaço rural podem ser definidas como comunidades tradicionais, sendo: “[...] grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (BRASIL, 2007)”.

Os grupos podem ser formados por agricultores familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da Reforma Agrária, quilombolas, caiçaras, indígenas entre outras comunidades. Esse trabalho aborda os agrupamentos quilombola, para tanto serão apresentadas informações pertinentes a comunidade de estudo que dizem respeito ao histórico e ocupação, caracterização dos habitantes e condicionantes ambientais da comunidade quilombola de Sitio Alto, Simão Dias – SE. A comunidade quilombola estudada no processo de desenvolvimento deste trabalho, será compreendida enquanto a sua organização social, vida em comunidade e como estes elementos regem suas raízes e identidade.

4.1 COMUNIDADES REMANESCENTES QUILOMBOLAS

É caracterizado como comunidades remanescentes quilombolas, os grupos étnicos que descendem de escravos fugitivos normalmente das fazendas no período da escravidão. Normalmente sua população é predominantemente negra, com relações, costumes, hábitos e saberes que se diferenciam das demais comunidades. Ocupavam áreas mais isoladas para se refugiarem e estabelecerem vivencias com pouco contato com indivíduos que não pertenciam ao grupo quilombola. Porém, tratando-se desta temática, é imprescindível não se prender ao conceito ancestral das comunidades quilombolas, Silva (2017) comenta que:


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Ao mencionar o nome Quilombo, surge para muitos a imagem de um local habitado apenas por negros e associados aos escravos fugitivos das fazendas no período da escravidão. Mas o fato é que nem sempre as comunidades remanescentes quilombolas apresentam tais características. Como todo grupo, os remanescentes quilombolas estão sujeitos a transformações. Tiveram a possibilidade de construírem suas trajetórias, formando suas identidades diversas, seja étnica ou cultural e a partir de suas experiências reproduzem o passado de seus ancestrais (SILVA, 2017).

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA define ainda as comunidades quilombolas como grupos étnicos predominantemente constituídos pela população negra rural ou urbana, que se auto definem a partir das relações específicas com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias. Quanto as definições das comunidades e demarcações dos territórios quilombolas, o INCRA é o órgão competente federal que garante a titulação do território como áreas remanescentes quilombolas, assim como definidos pelo Decreto presidencial 4.887/2003 que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o Art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. O decreto define entre outras atribuições o seguinte: Art. 2o Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. Vide ADIN nº 3.239. § 1o Para os fins deste Decreto, a caracterização dos remanescentes das comunidades dos quilombos será atestada mediante autodefinição da própria comunidade. § 2o São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural.

Portanto a definição de comunidades quilombolas ficou atribuído a auto identificação dos grupos, tornando-se o principal critério para titulação e reconhecimento federal das comunidades remanescentes. Embora necessitem cerca de seis etapas para a regularização e garantia do território aos remanescentes o decreto facilitou a reivindicação dos direitos as posses das terras pertencentes as comunidades.

Essa reformulação nos procedimentos para a certificação das comunidades quilombolas foi bastante significativa, visto que até dezembro de 2003 o processo de reconhecimento era regulado pelo Decreto nº 3.912, de 10/09/2001, em que o Governo Federal exigia comprovação documental da descendência de escravos fugidos e da posse histórica ininterrupta sobre o território (SILVA, 2017).


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Segundo o INCRA, é estimado que existam mais de três mil comunidades quilombolas no Brasil. Somente em Sergipe são 5.438 famílias autointituladas como remanescentes quilombolas. No total, o estado possui 31 comunidades identificadas pela FCP - Fundação Cultural Palmares1, algumas com processos mais avançados, chegando nas etapas finais para demarcação do território. Dentre essas comunidades auto reconhecidas como quilombolas, encontra-se a comunidade de Sitio Alto em Simão Dias-SE com o processo iniciado em 2015. Atualmente a população possui a Certidão de Auto Reconhecimento emitido pela FCP, faltando às demais etapas para que haja a demarcação e titulação territorial pelo INCRA. Os relatos sociais e imagens descritas, são de experiências e vivências na comunidade Sitio Alto pela autora, observações e interações, entrevistas realizadas com habitantes do povoado e profissionais que estabelecem um convívio diário na comunidade. Os dados técnicos foram obtidos junto às secretarias de Assistência Social do Município e a Secretaria de Educação. Além de leituras de produções acadêmicas relacionadas a comunidade em estudo.

4.2 HISTÓRICO E OCUPAÇÃO

Simão Dias é um município situado na região centro-sul do estado de Sergipe. Possui uma população de 40.364 habitantes das quais 48,5% vivem na zona rural (IBGE, 2014). Ocupando uma área de 969,2 Km², podendo se caracterizar geograficamente por possuir regiões de serras, cavernas, vales e matas na zona rural do município. Entre essas serras existentes, encontra-se a comunidade quilombola tradicional rural de Sitio Alto, localizada a aproximadamente uma distância de 8km da sede do Municipal (figura 31 a 33).

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Instituição pública criada pelo Governo Federal voltada para a promoção e preservação da arte e da cultura afro-brasileira.


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Figura 31 - Localização da comunidade Sítio Alto

Fonte: Silva (2017), editado pela autora Figura 32 - Mapa de localização da comunidade Sitio Alto, Simão Dias - SE

Fonte: Google Earth – editado pela autora, 2019


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Figura 33 – Delimitação do território e vista da comunidade Sitio Alto

Fonte: Google Earth, editado pela autora e acervo da autora, 2019

Por meio de pesquisas realizadas em campo pela autora, conversas com moradores direcionadas as memórias coletivas, foi possível perceber que eles passaram a se reconhecer fisicamente e socialmente diferenciados das demais comunidades, principalmente pelos seus hábitos e costumes. A principal figura que auxiliou na descrição do cenário desta comunidade foi dona Josefa, líder comunitária e personagem essencial na valorização e melhorias de vida dentro do povoado. Através das memórias alçadas nas histórias refletidas pelo povo do Sitio Alto, foi possível se perceberem e se auto reconhecerem como uma comunidade formada a partir do reduto quilombola pré-existente. Cabe salientar que o interesse pelo reconhecimento quilombola é recente, iniciado a partir de 2010, pois até então os habitantes não eram cientes da existência de uma legislação especifica e nem dos seus direitos a serem reconhecidos como uma comunidade socialmente diferenciada das demais. A população não sabe ao certo informar quando foi iniciada a ocupação do território, sabe-se, porém, que os primeiros habitantes a ocuparem a comunidade eram oriundos de uma fazenda das proximidades chamada “Rio dos negros”, que eram antigos escravos até o fim do século XIX. Existem afirmações de outras origens da ancestralidade do povoado, sendo oriundo de migrações de outros municípios das redondezas. Desde a origem da comunidade, a história do Sitio Alto é atrelada a diversas dificuldades, principalmente pela falta de infraestrutura para a população, serviços básicos


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como alimentação e acesso a água eram escassos, bem como as condições de saúde eram precárias. A população encontrava os meios para se alimentar e sobreviver nas vegetações das matas mais próximas, quando não havia produção agrícola de subsistência suficiente nos períodos de seca. Os habitantes eram segregados socialmente, a distinção da cor, costumes, práticas da religião umbandista e precárias condições de vida eram motivos de separação social das demais comunidade dos arredores. Os moradores locais se envergonhavam em dizer que moravam na comunidade, Dona Josefa afirma que por muitos anos os habitantes do Sitio Alto se intitulavam como moradores das comunidades mais próximas. O povoado recebeu o nome definitivo em 18 de março de 1995, quando houve a fundação da Associação de Proteção Comunitária da comunidade. Por se localizar em uma ocupação no alto de uma serra, passou-se a considerar como Povoado Sitio Alto. Tornando-se líder desta associação, dona Josefa intensificou as buscas por melhorias dentro da comunidade, auxílios que de alguma forma pudessem trazer algum progresso para vida dos habitantes. As principais mudanças foram as substituições das moradias antigas por edificações de alvenaria de blocos e telhas cerâmicas em 2002 por projetos governamentais do período. As primeiras casas eram executadas com estruturas de madeiras retiradas das matas locais, taipa de sopapo e coberturas de palha de taboa2 retiradas dos brejos e riachos ou telhas cerâmicas de reuso (figura 34). Eram moradias extremamente precárias e insalubres, que apresentavam várias deficiências quanto a suas condições de infraestrutura. Não pela materialidade (madeira e barro), assim afirma a própria líder, mas pela falta de estrutura adequada que garantissem maior conforto, saúde e privacidade aos habitantes. Figura 34 - Moradias antigas da comunidade Sítio Alto

Fonte: Acervo pessoal de Dona Josefa

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Taboa -Typha domingensis é o nome popular de uma planta aquática típica de áreas de brejos, manguezais e várzeas.


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Outro avanço consideravelmente importante para a comunidade foi o acesso à energia elétrica em 1996 e acesso a água potável com maior qualidade e acessibilidade. Antes os primeiros habitantes utilizavam água de riachos e nascentes, depois que estes secaram passaram a utilizar águas de açudes e barreiros ou “bogó” como até hoje é conhecido. As primeiras cisternas para armazenamento de água foram construídas no governo de João Alves, no projeto Chapéu de couro (2003) e em 2018 a comunidade passou por um processo de encanação de água dos chafarizes locais, o que promoveu ainda mais o acesso a água, diminuindo os problemas com a seca e a escassez de alimentos.

4.3 ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS E SOCIOCULTURAIS

Por muito tempo os habitantes do Sitio Alto se sentiram oprimidos pelos preconceitos sofridos por contas dos seus hábitos e costumes. A extrema pobreza e a descendência escravocrata, eram motivos de segregação e isolamento a ponto de poucas vezes descerem a serra para se comunicar com outras comunidades mais próximas. Para romper com as adversidades a comunidade de Sitio Alto sempre manteve os laços ligados aos costumes enraizados em sua remanescência quilombola, seus saberes e fazeres, principalmente em suas manifestações culturais, o reisado e essencialmente a dança de roda que é o símbolo mais forte da comunidade se mantém presentes até hoje. Segundo Dona Josefa, todos os problemas da comunidade eram resolvidos na dança. A dança e musicalidade dos versos eram a cura para todas as dores atreladas a vida na comunidade. Com versos que narram a história da cultura local a dança de roda era o refúgio das pessoas curarem as feridas abertas pela fome, cansaço da vida sofrida ou até mesmo para paquerar e se divertir. “Antigamente o povo passava muita fome, quando via as panelas vazias que não tinha nada pra comer nóis ia brincar roda, quando tinha uma moça ou um rapaz interessado, nóis ia brincar roda, quando tinha briga em casa “nóis” ia brincar roda. Nóis ia chamando um vizinho e outro se juntava no terreiro e tudo era resolvido na roda.” (Dona Josefa).

A música servia para desabafar os rancores e as dores da alma, cravejadas no silencio da fome, da seca, da pobreza e dos preconceitos sofridos. A dança de roda (figura 35), é um instrumento de suma importância dentro da preservação e permanência cultural na comunidade de Sitio Alto, foi através dela que se permitiu dar continuidade às tradições do plantio e manejo com a roça, como se reuniam para comemorar a produção rural, os


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casamentos, costumes existente na comunidade desde a sua fundação, que foi passado de pai para filho até os dias de hoje. Os moradores relatam que mesmo muito pequenos já aprendiam a brincar roda, e que era sempre essa a diversão dentro da comunidade. Os versos ainda permanecem sendo cantados nas danças de roda da comunidade, refletindo a vida no campo, as brincadeiras das paqueras, a falta do que comer, a seca, os costumes e hábitos da população. Figura 35 - Apresentação da dança de roda na comunidade

Fonte: Fotos cedidas por Roberto Lacerda, 2018

Segundo dona Josefa as práticas de Umbanda anteriores no povoado também disseminavam e se manifestavam através da dança, porém com o passar dos anos, com o envolvimento e influência da igreja católica e evangélica dentro da comunidade, o preconceito por ser considerado o envolvimento com a religião coisa do “demônio” a prática se extinguiu por completo, permanecendo predominantemente as religiões católicas e evangélicas extinguindo esse tipo de manifestação.

4.3.1 Solidarização e vida em comunidade

Os símbolos atrelados a comunidade são refletidos também na solidarização, que é uma das características mais relevantes do Sitio Alto, além da receptividade curiosa e ao mesmo tempo feliz, as vivencias em comunidade se estendem para o campo das necessidades de um ajudar o outro. Desde as primeiras ocupações, quando era iniciado a construção dos barracos, as construções eram feitas em batalhões3, os vizinhos se organizavam e cada um ficava responsável pelas atividades do processo construtivo, enquanto alguns trabalhavam

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Termo utilizado pelos moradores na comunidade para se referir a reunião de pessoas para realizarem a atividade, entende-se como mutirões.


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para cortar madeira nas matas, outros ficavam responsáveis para erguer a construção. Depois de erguidas eles distribuíam as casas de taipa ou sopapo para os novos moradores, dessa maneira coletiva o Sitio Alto foi sendo erguido. As mulheres ajudavam principalmente na preparação das comidas e bebidas. Após encerrada as construções eles começavam a dança de roda para comemorar o trabalho terminado. Essa maneira solidaria de conviver é presente também nas raspagens de mandioca (figura 36), para fazer farinha e beijú, entre outras atividades coletivas dentro do povoado, que permitem a alegria, versos, danças, conversas e socialização. Figura 36 - Raspagem de mandioca com ajuda dos vizinhos

Fonte: Acervo de dona Josefa

4.3.2 População e meios de sobrevivência

A comunidade de Sitio Alto compõe um povoado com atualmente 150 famílias e um número de aproximadamente 640 habitantes distribuídos pelas faixas etárias apresentadas no gráfico 2:

Gráfico 2 – Quantidade de habitantes por sexo e faixa etária em Sítio Alto (2017)

Fonte: Informações obtidas através da Prefeitura Municipal de Simão Dias por Silva, 2017 (fevereiro de 2017), gráfico produzido pela autora.


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As condições financeiras do povoado eram bem difíceis, principalmente por conta da substituição do trabalho manual dos homens pelo maquinário no campo. As poucas melhorias que houveram partiram das políticas governamentais de distribuição de renda, segundo dados do Centro de Referência da Assistência Social do município, cerca de 120 famílias recebem o benefício do bolsa família, com renda média de R$ 280,00, mensal. É justificado também pela estrutura familiar, com uma taxa de natalidade consideravelmente alta, existindo muitas famílias com um número de mais de 10 filhos, principalmente as famílias mais antigas. Os meios de sobrevivência sempre estiveram principalmente ligados a agricultura e praticamente cada residência possui criações de galinhas de quintal, porcos e ovelhas, além dos cultivos de subsistência em seus quintais como arvores frutíferas, plantações de mandioca, hortaliças, além de cultivos de sementes crioulas de feijão, milho e fava (figura 37). Figura 37 - Armazenamento de sementes crioulas da comunidade

Fonte: Imagens cedidas por Roberto Lacerda, 2018

Podendo salientar a ausência no uso de agrotóxicos ou fertilizantes. Hoje os hábitos continuam os mesmos, porém diminuiu por conta da falta de espaços nos quintais, com o crescimento populacional das famílias. Embora tenha havido a redução das áreas de cultivo, é possível perceber o quanto os habitantes do Sitio Alto são fortemente conectados com a terra, pois é o elemento essencial para garantia e melhorias na qualidade de vida, sustento e saúde das famílias.

4.4 EQUIPAMENTOS DISPONÍVEIS NA COMUNIDADE

A comunidade possui poucos equipamentos que suprem suas demandas para atividades relacionadas a cultura, saúde, educação, geração de renda, esporte e lazer. Não


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possui praças e nem parques e os acessos são estradas de terra batida e piçarra4, assim como maioria dos povoados da zona rural no município. O acesso à água encanada é também recente. O povoado conta com as cisternas para armazenamento de água das chuvas, além de não possuir rede de esgoto, utilizam fossas sépticas e a coleta de lixo ocorre somente uma vez por semana. Em termos de infraestrutura local, o povoado conta somente com uma unidade básica de saúde - UBS, que assim como referido, atende as necessidades básicas de saúde da comunidade, uma casa das sementes, que pertence a associação, onde as pessoas guardam suas sementes crioulas para o plantio e reprodução todos os anos, mantendo a subsistência local. Conta também com uma casa de farinha de forno a lenha, onde os habitantes se reúnem e usam para a feitura da farinha e beiju de tapioca através da mandioca, (figura 38).

Figura 38 - Unidade básica de sáude, casa das sementes e casa de farinha

Fonte: Acervo da autora, 2019

4.4.1 A Escola Municipal Maria Heloísa Batista

O Sitio Alto também possui uma escola, que é o equipamento mais antigo existente na comunidade. Atualmente a Escola Municipal Maria Heloísa Batista funciona como creche e escola de ensino fundamental primário durante o dia, além de funcionar no turno da noite para a educação de jovens e adultos no campo, assim como especificado nas tabelas 2 e 3: 4

Mistura feita com pedra, areia e terra, seria o mesmo que cascalho, sendo um material utilizado para revestir estradas.


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Tabela 1 – Quantidade de alunos na escola do Sítio Alto para ensino infantil e fundamental (2019)

Série Creche Maternal Pré escolar A Pré escolar B 1° ano 2° ano 3° ano 4° ano 5° ano

Horário integral manhã tarde tarde manhã manhã tarde manhã tarde

Idade 0-3 3-4 4 5 6 7 - 13 8 - 14 9- 14 10 - 14 Total

N° de alunos 15 20 20 14 13 33 19 16 18 168

Fonte: Informações obtidas através da Diretora Nancy Alexandre da Cruz da Escola Municipal Maria Heloisa dos Santos (janeiro de 2019). Tabela 2– Quantidade de alunos na escola do Sítio Alto para ensino de Jovens e Adultos -EJA (2019)

Série

Horário

Idade

N° de alunos

1° fase Turma A 1° fase Turma B 2° fase Turma A 2° fase Turma B

noite noite noite noite

18 - 73 18 - 73 18 - 73 18 - 73 Total

44 24 26 18 112

Fonte: Informações obtidas através da Diretora Sr. Nancy Alexandre da Cruz da Escola Municipal Maria Heloisa dos Santos (janeiro de 2019).

Dona Josefa conta que a escola foi fundada em 1988, sendo o primeiro prédio construído por partes. A área proposta inicial foi construída com duas salas, um pátio pequeno coberto, a cozinha e a sala do diretor com secretaria, depois do aumento da necessidade por mais áreas, acrescentaram-se mais duas salas anexas (figura 39). Figura 39 - Escola Maria Heloisa dos Santos, área frontal e anexo

Fonte: Acervo da autora, 2019

Como a taxa de natalidade é crescente no povoado, foi necessário a implantação de uma creche, em que a prefeitura alugou uma casa próxima a escola para suprir a necessidade do povoado (figura 40).


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Figura 40 - Creche no espaço alugado

Fonte: Acervo da autora, 2019

Desde o auto reconhecimento como remanescentes quilombolas, o trabalho pedagógico passou a ser mais adaptado a realidade local nas práticas escolares, promovendo atividades mais relacionadas aos costumes locais, no entanto o espaço é bastante deficiente. A diretora Nancy Alexandre da Cruz afirma que a instituição passa por diversas dificuldades espaciais, até para execuções de atividades simples, a escola não dispõe de espaços adequados. As salas de aulas são quentes, os banheiros não possuem ligação direta ao corpo da escola, o pátio é muito pequeno, não dispõe de áreas para as crianças brincarem, nem áreas para a prática de esporte, não possui refeitório, entre outras diversas vulnerabilidades que estão atreladas ao espaço escolar inserido na comunidade. Quando há atividades que carecem de espaços, a comunidade escolar se desloca para as áreas livres do povoado, como a quadra de terra, que se localiza aos fundos da escola, (figura 41), ou até mesmo os terreiros5 das casas vizinhas, assim como a própria comunidade faz para realizar as suas manifestações culturais. Embora esse seja um hábito nas vivências da comunidade, a necessidade de um espaço que disponibilize infraestrutura adequada e abrigue as manifestações culturais é essencial diante da realidade do Sítio Alto. Figura 41 - Quadra de terra

Fonte: Acervo da autora, 2019 5

Nesse caso, trata-se das áreas livres aos redores das casas.


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A educação dentro da comunidade é recurso recente, principalmente para a população mais velha que nunca foi alfabetizada. Muitos jovens abandonavam os estudos logo nos anos iniciais do ensino para trabalhar na roça. As professoras da escola salientam também a dificuldade que as crianças têm de estudar, pois a maioria dos pais, por não terem estudado, não se sentem preparados para auxiliar os filhos nas atividades escolares, o que, por ventura, desestimula os estudantes ao aprendizado. Como a escola só funciona até o 5º ano do ensino fundamental, alguns alunos iam desistindo, pois necessitavam se deslocar para outras comunidades. A escola Municipal Genésio Chagas localizada no Povoado Cumbe, é que supre a demanda de alunos para a segunda etapa do ensino fundamental até o 9° ano e, posteriormente, cursar o ensino médio nas escolas estaduais localizadas na sede municipal.

4.4.2 A carência de equipamentos e a busca por melhorias na vida em comunidade

Diante da ausência de espaços para a realização de atividades coletivas, a presidente da associação comunitária buscou subsídios junto aos programas governamentais e associações que auxiliam no desenvolvimento das comunidades, sendo possível construir uma edificação que poderá funcionar como um centro comunitário multifuncional. Foram projetados espaços para reuniões da associação do povoado, bem como espaços para aplicações de cursos pela associação, espaços para a realização de atividades que possam gerar renda para a comunidade. Como nunca houve nenhum recurso direcionado para esse tipo de construção, as reuniões e danças eram realizadas nos terreiros e casas da comunidade, principalmente a de dona Josefa, que até hoje seu terreiro é palco das mais diversas reuniões e eventos do povoado. Observa-se, porém, que para as necessidades culturais da comunidade este centro supre em partes as carências do lugar, pois o projeto do centro comunitário contará com espaços reduzidos para execução de todas as atividades culturais existentes, principalmente a dança de roda entre outros festejos costumeiros. A preservação da memória do povoado também é simbolizada pelas ações da comunidade diante da falta de infraestrutura no povoado desde a sua fundação. A permanência dos saberes e costumes ancestrais são refletidos, por exemplo, na construção do antigo Memorial do Sitio Alto. Segundo dona Josefa a pequena edificação havia sido construída para funcionar como um museu, que seriam expostos antigos utensílios utilizados nas roças e nas atividades domesticas pelas famílias, além das antigas correntes dos escravos


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ou quaisquer objetos que de alguma forma tivessem lembranças dos saberes e fazeres ancestrais (figura 42). Figura 42 - Antigo Memorial do Sitio Alto

Fonte: Imagens cedidas por Roberto Lacerda, 2018

A edificação trazia o sistema construtivo e a materialidade utilizada nas primeiras construções do povoado. Segundo dona Josefa, a utilização da taipa e palha foi proposital, pois se trata de mais reafirmação a memória da construção da comunidade, a preservação dos saberes construtivos ancestrais.

A edificação foi demolida para a construção do centro

comunitário multifuncional. Dona Josefa afirma ter a intenção de reconstruí-lo o ao lado do centro comunitário, com as mesmas técnicas construtivas adotadas na edificação antiga como meio de manutenção da preservação da memória coletiva. Embora as manifestações culturais como o reisado, a dança de roda, as comemorações católicas e festas em datas comemorativas no povoado sempre fizeram em espaços improvisados, a comunidade sempre se valeu de vários métodos para realizações dos eventos, como a exemplo o barracão cultural que se localizava, onde hoje se encontra o prédio da UBS (figura 43), com uma estrutura adaptada com peças de madeira retiradas da mata e palha, como nos hábitos construtivos ancestrais.

Figura 43 - Antigo barracão cultural, em palha e madeira

Fonte: Acervo de dona Josefa


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No último ano o envolvimento com projetos voltados para o campo dentro da comunidade possibilitou a fundação da 1 ° Feira Semanal Comunitária União Quilombola em setembro de 2018. A feira continuou acontecendo nas manhãs de domingo (figura 44). Nessa feira são comercializados produtos da terra cultivados sem nenhum tipo de agrotóxicos, apenas com estercos de compostagens feitos pelos próprios agricultores.

Figura 44 - Feira União quilombola

Fonte: Acervo de dona Josefa

A partir das vivencias em comunidade da autora, torna-se possível pontuar sobre a responsabilidade social atrelada ao povoado, o cuidado e zelo pela permanência e memória do Sitio Alto. Por meio das práticas tradicionais e preservação dos costumes é perceptível a importância para os habitantes toda a conjuntura cultural ao qual eles pertencem. Em que as informações abordadas neste capítulo foram de suma importância para a construção das diretrizes projetuais apresentadas a seguir, entender quem são e suas necessidades, os hábitos e costumes, como as pessoas vivem e se relacionam, bem como relacionar e conectar a função social que a arquitetura escolar desempenha para as necessidades da comunidade. Aliar o processo de reafirmação da identidade do usuário através da arquitetura, é criar uma relação mais intima entre o espaço projetado e o usuário, pois ao olhar da autora entende-se que a arquitetura cumpre sua função quando os elementos vazios entre o indivíduo e o espaço são preenchidos. A arquitetura em sua essência é o prolongamento da identidade do usuário. Compreender o espaço e qual a função dele diante das necessidades dos indivíduos é essencial para alcançar o estágio de equilíbrio na intervenção arquitetônica. No capitulo a seguir serão apresentados o diagnóstico do solo em estudo, assim como a descrição das diretrizes de intervenção projetual para o complexo escolar quilombola. Para a concepção projetual serão abordados aspectos da identidade local estudados até aqui, como também a importância do espaço escolar para a construção do indivíduo como um ser social na vida em comunidade.


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5 CORAÇÃO DE NEGRO - PROPOSTA DE UM COMPLEXO ESCOLAR PARA A COMUNIDADE RURAL QUILOMBOLA DE SITIO ALTO, SIMÃO DIAS-SE

A partir de estudos dos espaços escolares, entendendo seus usos e funções, atribuído aos estudos obtidos da comunidade e descritos no capitulo 4, foi proposto um projeto escolar a ser implantado na comunidade de Sitio Alto. Diante de suas consonâncias e particularidades ligadas as interpretações da autora, obtida nas vivências em comunidade, unindo-se a sensibilidade do olhar técnico, pretende-se alcançar o objetivo de transpor e reunir no objeto arquitetônico, os sentidos arraigados a função social escolar, bem como conceber uma linguagem projetual que descreva a comunidade/usuário a quem esse projeto pertence. O sentido de pertencimento ancestral, a identidade e a união contribuíram nas principais vertentes desse projeto. Além da relação com a realidade social do povoado, a ligação com o alimento advindo da terra, através da a agricultura familiar e a vida conectada ao espaço rural. A arquitetura escolar a ser pensada aqui abrange aspectos dessa relação comum entre comunidade e relação com o campo, educação e relação com a comunidade, espaço escolar humano/social e conexão com os aspectos identitários dos usuários.

5. 1 DIAGNÓSTICO DO TERRITÓRIO E CONDICIONANTES AMBIENTAIS

O território escolhido para implantação do projeto é o único terreno localizado na área central da comunidade, com configurações suficientes e disponíveis para construção do complexo escolar (figura 45).

Figura 45 – Localização do território de implantação do complexo escolar

Fonte: Google Earth - editado pela autora, 2019


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A localização da gleba está situada próximo ao cume da comunidade, seu entorno é delimitado pelos principais equipamentos, como também maior números de residências. No diagrama da (figura 46), foi pontuado sua localização e relação com os demais equipamentos e acessos da comunidade. Figura 46 - diagrama informando os acessos e equipamentos existentes em toda comunidade

Fonte: Google Earth - edições da autora, 2019

I – Casa de dona Josefa, líder da comunidade. Sua casa e quintais são palcos de diversas manifestações culturais do povoado; II – Árvore coração de negro, marco significativo para a comunidade e elemento conceitual do projeto; III – Nova edificação para funcionamento do centro comunitário multifuncional; IV – Unidade básica de saúde; Casa das sementes; Campinho de areia da comunidade. V – Escola Municipal Maria Heloísa dos Santos e anexo da creche; VI – Casa de farinha comunitária. Seu entorno imediato possui diversas características que precisam ser levadas em consideração para a implantação do projeto, principalmente por estar situado em uma área central da comunidade (figura 46).


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Figura 47 – Diagrama do entorno imediato do terreno

Fonte: Produção da autora, 2019

Todos os vizinhos confrontantes projetam seus quintais para visualização interna do terreno (figura 48), sendo necessário criar barreias visuais. Figura 48 – Quintais vizinhos do entorno

Fonte: Acervo da autora, 2019

A Unidade básica de saúde (UBS) e a feira situada no acesso norte do terreno é um dos principais aspectos que precisam ser pontuados, pois ambas são essenciais para a comunidade e geram fluxos pontuais, já que a UBS nos dias de atendimento possui maior movimentação, bem como o fluxo da feira gerado aos domingos.


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Figura 49 – A norte da gleba, com vista do ponto da feira e UBS

Fonte: Acervo da autora, 2019

Os eixos visuais também são traços marcantes do entorno, justificado pelas variações topográficas da comunidade em geral e comunidades vizinhas, configurando bonitos enquadramentos. A seguir paisagens da direção leste do terreno (figuras 50). Figura 50 - Vista dos pontos marcantes no entorno do terreno

Fonte: Acervo da autora, 2019

Os gabaritos do entorno são pouco acentuados, com edificações de 1 pavimento (varia de 3 a 4 metros) e telhados cerâmicos de duas águas, com quintais e varandas nos arredores (figura 51). Além da relação da habitação com o terreno, sempre reservando pequenas áreas de cultivo.

Figura 51 - Vista das configurações das edificações no entorno

Fonte: Acervo da autora, 2019

Os acessos do terreno assim como os da comunidade são de estradas vicinais e sem calçadas, maioria deles possuem grande declividade e que nos períodos chuvosos a locomoção se torna mais difícil.


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Figura 52 - Condições de acessos da comunidade

Fonte: Acervo da autora, 2019

Grande parte das locomoções dentro da comunidade são realizadas a pé ou utilizando bicicleta, animais e motocicletas. Em alguns casos existe tráfego de automóveis, porém com pouca frequência. No estudo apresentado na (figura 53 e 54), é analisado os eixos de maior movimentação de pessoas, bem como estruturas de acesso ao terreno.

Figura 53 - Estudo de caracterização dos fluxos de pedestres e acessos

Fonte: Produção da autora, 2019


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Figura 54 – Condições de acessos ao terreno

Fonte: Acervo da autora, 2019

No entorno existem muitas árvores frutíferas (figura 55), principalmente nos quintais das residências, podendo ressaltar que as edificações e as árvores do entorno pouco interferem na relação de sombreamento. Não existe quaisquer barreiras de ventilações, ou visuais que provoquem grandes influências no solo, principalmente pelas áreas descampadas e sem construções nos arredores. A predominância do entorno é de áreas verdes com ruídos caracterizados pelos sons da natureza e barulho da própria população nos afazeres do dia-adia.

Figura 55 – Estudo de arborização e influências do entorno

Fonte: Produção da autora, 2019


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Não existem elementos construídos a demolir e nem arborização dentro do sitio de estudo, porém o terreno possui uma quadra de terra utilizada pela comunidade e caminhos, provavelmente contornados pelos moradores que atravessam o sitio para acessar as outras áreas da comunidade (figuras 56 e 57).

Figura 56 - Quadra de terra e caminhos pré-existentes no terreno

Fonte: Acervo da autora, 2019 Figura 57 - Localização dos elementos existentes

Fonte: Acervo da autora, 2019


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O terreno possui aproximadamente 6.738 m² e dimensões apresentadas na (figura 58):

Figura 58 – Dimensões gerais do terreno e demarcação do corte topográfico

Fonte: Produzido pela autora, 2019

Sua topografia possui um relevo acentuado, como visto no corte esquemático da (figura 59) e maquete física (figura 60). As curvas apresentadas nas plantas decaem a cada 1 metro e variam as dimensões de acordo com cada área do terreno, como apresentados na análise na (figura 61).

Figura 59 – Corte longitudinal esquemático do terreno

Fonte: Elaborado pela autora, 2019


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Figura 60 – Maquete topográfica do terreno

Fonte: Produção da autora, 2019

Figura 61 – Análise topográfica

Fonte: Produção da autora, 2019


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Em termos de condicionantes climáticas, as temperaturas são altas no semiárido sergipano, os termômetros chegam a 34° C ou mais nos meses de outubro a abril, já entre o fim de maio a agosto, os termômetros caem para até 18 ° C ou menos. Em relação aos volumes de chuvas, os meses entre agosto e fevereiro são considerados os mais secos (período de seca no semiárido), com chuvas espaças de verão. Já entre os meses de março a julho, os invernos são bem rigorosos e com bastante chuva (período de plantio), (figura 62). Figura 62 - Temperaturas médias e gráfico de chuvas

Fonte: weatherspark, 2019

Não existe nenhuma legislação municipal que verse sobre a área que o terreno está situado na zona rural. A partir de consultas a prefeitura e órgãos competentes, ficou esclarecido que nenhum município do estado de Sergipe possui quaisquer legislações específicas relacionado às áreas onde este projeto será estudado. Portanto serão adotadas estratégias projetuais que respeitem as condições preestabelecidas nas construções das edificações locais. Aspectos quanto aos recuos, gabaritos de alturas e maneira como é ocupado o terreno serão analisados e incorporados ao estudo, permitindo áreas com maior permeabilidade. Requisitos de infraestrutura básica necessária para a zona rural nesse caso: - Prever reservatórios e sistemas de captação e armazenagem de água das chuvas; - Prever fossas sépticas para esgotamento sanitário; - Prever sistema de poço artesiano para abastecimento da edificação e infraestrutura geral do espaço escolar.


67

5.2

CONDICIONANTES

DOS

USUÁRIOS

FATORES

NORTEADORES

PARA

PROGRAMA ARQUITETÔNICO

O complexo escolar apresentado a seguir é caracterizado como uma estrutura escolar de ensino integral, que inclui desde a creche até a o ensino fundamental completo. O ensino que a escola precisa desempenhar deve ser de acordo com Resolução n° 8, de 20 de novembro de 2012 que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Essa estabelece que o ensino ministrado nas instituições educacionais das comunidades quilombolas precisam fundamentar-se na memória coletiva, línguas reminiscentes, marcos civilizatórios, práticas culturais, territorialidade, tecnologias e formas de produção do trabalho, acervos e repertórios orais, festejos, usos, tradições e demais elementos que conformam o patrimônio cultural das comunidades quilombolas de todo o país. Portanto, a estrutura escolar deve levar em consideração os costumes e manifestações culturais para auxiliar no reconhecimento, valorização e continuidade da identidade que a comunidade pertence. No espaço escolar se estuda, educa, dorme, come, bebe, aprende, ensina, troca saberes, socializa, brinca, descansa e passa maior parte do tempo. Por isso o programa arquitetônico levará em consideração essas atribuições, bem como enxergar a escola como espaço humano, acolhedor que funciona como a segunda casa para o usuário.

5.2.1 Usuários e programa arquitetônico

Os estudantes analisados para o desenvolvimento do programa arquitetônico parte do levantamento da Escola Municipal Maria Heloisa Batista com dados quantitativos de usuários, aplicações de analise pós ocupação com poema dos desejos nos alunos, entrevistas com colaboradores da escola, como também entrevistas realizadas com a população da comunidade, identificando suas necessidades e buscando entender o funcionamento e o papel da escola dentro do povoado. Sendo possível apresentar o seguinte resultado: Alunos – 248 bebês 0 – 3, crianças de 4 – 10 anos, adolescentes de 11 – 14 anos, podendo ser estudantes portadores de necessidades especiais; Professores – 20


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2 cuidadoras para a creche, 3 para o maternal e pré-escolar, 5 para o ensino fundamental primário, 10 para o ensino fundamental secundário; Funcionários de atendimento a comunidade escolar - 5 1 psicólogo, 1 psicopedagogo, 1 orientador pedagógico, 1 enfermeiro; Funcionários (administrativos) – 5 1 diretora, 1 secretária, 1 coordenadora, 2 auxiliares administrativos Funcionários de serviços gerais - 6 2 faxineiros, 1 zelador, 1 jardineiro, 2 cozinheiros; Turmas Turmas de até 20 alunos 13 turmas integrais, incluindo creche e maternal. Período de funcionamento da escola: matutino e vespertino Comunidade externa Familiares e comunidade como um todo; Quando ocorre intercâmbio entre as comunidades vizinhas, existe também a possibilidade de usuários externos usufruírem desse espaço escolar. Pensando de acordo com todas as condicionantes e informações organizadas e apresentadas até aqui, tem-se uma leitura do espaço escolar através do seguinte mapa mental (figura 63). Figura 63 - Mapa mental dos usuários correlacionados ao espaço escolar em estudo

Fonte: Produzido pela autora, 2019


69 Estabelecendo uma cronologia em relação a faixa etária, o estudo do programa arquitetônico foi iniciado a partir dos usuários da creche (usuário I, crianças de 0 – 3), para isso foram elaborados diagramas de análise dos usuários (figura 64). Esses diagramas levam em consideração as atividades dos bebês, bem como os ambientes e mobiliários que serão adotados para realização dessas atividades. Figura 64 – Diagrama de análise do usuário I

Fonte: Produção da autora, 2019

A partir da elaboração do diagrama foi possível obter os resultados para o programa arquitetônico e dimensionamento das áreas para cada espaço (Quadro 1 e fluxograma 1.1).

Quadro 1 – Resumo do programa arquitetônico e dimensionamento da creche

Creche - (Máx. 20 bebês de 0 – 3 anos) Espaço Quantidade Área total estimada Recepção 1 10 m ² Espaço para recreação, multiuso 1 40 m² Espaço de ninar 1 25m² Lactário e cozinha 1 15 m² Fraldário e área de banho com 1 sanitários adaptados infantis 20 m² Área de descanso das cuidadoras 1 12 m² Lavanderia 1 5 m² Fonte: Produção da autora, baseado em Neufert, 2019


70 Fluxograma 1.1 RECEPÇÃO

LACTÁRIO E COZINHA

ESPAÇO DE DESCANSO DAS

ÁREA DE

ESPAÇO DE

CUIDADORAS

RECREAÇÃO

NINAR

FRALDÁRIO E ÁREA DE BANHO

LAVANDERIA

O segundo diagrama foi elaborado pensando nas crianças do maternal com idades de 3 a 5 anos, suas atividades se diferenciam dos usuários I, por já estarem em uma fase mais evoluída e possuírem mais independência, portanto o programa arquitetônico se diferencia em muitos aspectos, como demonstrados na (figura 65). Figura 65 – Diagrama de análise do usuário II

Fonte: Produção da autora, 2019

Os resultados obtidos através da análise seguem no resumo final do programa do (quadro 2 e fluxograma 1.2).


71

Quadro 2 - Pré-dimensionamento do maternal

Maternal e pré-escolar (Máx. 15 crianças por turma de 3, 4 e 5 anos) Espaço Quantidade Área total estimada Ambiente de aprendizagem e atividades 3 90 m² Espaço multiuso de recreação e 1 50 m ² socialização e descanso Cozinha de apoio 1 12 m² Sanitários 2 20 m² Fonte: Produção da autora, baseado em Neufert, 2019

Fluxograma 1.2 ESPAÇO DE RECREAÇÃO E

ESPAÇO DE

SOCIALIZAÇÃO

DESCANSO

PARQUINHO E JARDIM

ÁREA DE

COZINHA DE

APRENDIZAGEM

APOIO

BANHEIROS ADAPTADOS

O terceiro diagrama analisa os usuários do ensino fundamental I e II, com idades entre 6 a 14 anos. As áreas de pátios e socialização são de grande importância nesse caso, pois são os espaços onde os usuários mais se relacionam, além dos ambientes de aprendizagem. Embora existam transições a serem consideradas em relação as fases dos usuários, no desenvolvimento do programa foi pensado em deixar espaços recreativos que possam integrar e as crianças tenham liberdade para escolher onde e como realizar suas atividades, dessa forma eles interagem com maior frequência independente das idades.


72 Figura 66 - Diagrama de análise dos usuários III

Fonte: Produção da autora, 2019

Os resultados obtidos através da análise seguem no resumo final do programa do (quadro 3 e fluxograma 1.3).

Quadro 3 - Resumo do programa arquitetônico e dimensionamento dos espaços para ensino fundamental

Ensino Fundamental primário e secundário (Máx. 20 crianças de 6 a 14 anos por turma)

Espaço Ambientes de aprendizagem convencionais Espaço de mídias e informática Biblioteca Sala de vídeo e projeções Ateliê de artes Sanitários Espaço para oficinas com marcenaria, artesanato costura, cerâmica e palha

Quantidade

Área total estimada

7 1 1 1 1 2

280m² 50 m ² 50 m² 50m² 40 m ² 60 m²

1

50m²

Espaço atividades com agricultura

1

40 m²

Produção agrícola Espaço de atividades físicas Banheiros com vestiários

1 1 2

500 m² 400 m² 80 m²

Fonte: Produção da autora, baseado em Neufert, 2019


73 Fluxograma 1.3 SALA DE MIDIAS E VIDEO

ESPAÇO DE CRIAÇÃO, MÚSICA E DANÇAS

BIBLIOTECA

ÁREA DE APRENDIZAGEM

PRAÇAS E JARDINS

BANHEIROS

REFEITÓRIO

COZINHA ÁREA PARA AT. FÍSICAS

OFICINA DE MARCENARIA E MANEJO COM A TERRA

HORTA

O quarto diagrama foi elaborado para analisar as atividades da comunidade e como o programa arquitetônico da escola pode corresponder as necessidades comunidade. Nessa análise foram incluídas as pessoas que vivem no entorno e os pais dos estudantes (figura 67).

Figura 67 - Diagrama de análise dos usuários IV

Fonte: Produção da autora, 2019

Os resultados obtidos através da análise seguem no resumo final do programa do (quadro 4 e fluxograma 1.4).


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Quadro 4 - Resumo do programa arquitetônico e dimensionamento das áreas para a comunidade

Área Cultural (comunidade externa) Espaço Quantidade Área total estimada Área Cultural/eventos 1 200 m² Pátio/memorial 1 100 m ² Banheiros com vestiários 2 80 m² Depósito de mobiliários 1 15 m² Fonte: Produção da autora, baseado em Neufert, 2019

Fluxograma 1.4 MEMORIAL

ESPAÇO CULTURAL

BANHEIROS COM VESTIÁRIOS

COPA DE APOIO

OFICINA DE MARCENARIA E MANEJO COM A TERRA

HORTA

Os usuários analisados nos diagramas V e VI são aqueles que compõe a estrutura administrativa e acadêmica da escola. Foram consideradas atividades como atendimento externo aos pais e atendimento aos estudantes relacionados as atividades acadêmicas, bem como as atividades administrativas e o corpo docente da escola.

Figura 68 – Diagrama do usuário V

Fonte: Produção da autora, 2019


75 Figura 69 – Diagrama do usuário VI

Fonte: Produção da autora, 2019

Os resultados obtidos através da análise dos dois diagramas seguem no resumo final do programa do (quadro 5 e fluxograma 1.5 e 1.6). Quadro 5 – Resumo do programa arquitetônico e dimensionamento do setor administrativo

Corpo acadêmico e técnico Administrativo - (Total de funcionários ( 20 professores, 1 psicólogo, 1 psicopedagogo, 1 orientador pedagógico, 1 enfermeiro, 1 diretora, 1 secretária, 1 coordenadora, 2 auxiliares administrativos)

Espaço Recepção/espera Secretaria Diretoria Almoxarifado Espaço de reuniões/equipe Enfermaria Coordenação pedagógica Área de descanso com copa Sanitários pessoal tec. Adm

Quantidade 1 1 1 1 1 1 1

Área estimada 30 m² 15 m² 9 m² 7 m² 20 m² 9 m² 20m²

1 2

15m² 20m²

Fonte: Produção da autora, baseado em Neufert, 2019


76 Fluxograma 1.5

ORIENTADOR PEDAGÓGICO BANHEIROS COM VESTIÁRIOS

ÁREA DOS PROFESSORES ÁREA DE PSICOLOGIA ESPAÇO DE ESPERA

ÁREA DE DESCANSO

ENFERMARIA COPA ÁREA PARA PSCOPEDAGOGO

ÁREA PARA REUNIÕES

Fluxograma 1.6

DIREÇÃO

SECRETÁRIAS

ESPAÇO DE ATENDIMENTO EXTERNO

AUXILIARES ADMINISTRATIVOS

BANHEIROS

ÁREA DE DESCANSO

COPA ALMOXARIFADO

Os usuários analisados no diagrama VII correspondem aos funcionários dos serviços gerais e seus respectivos espaços para execução das suas atividades desempenhadas no corpo da escola. As áreas técnicas para funcionamento da escola também são consideradas.


77 Figura 70 – Diagrama do usuário VII

Fonte: Produzido pela autora, 2019

Os resultados obtidos através da análise dos dois diagramas seguem no resumo final do programa (quadro 6 e fluxogramas 1.7).

Quadro 6 - Resumo do programa e dimensionamento do setor de serviços

Serviços Gerais - (2 cozinheiras, 1 zelador, 1 jardineiro, 2 faxineiros) Espaço Quantidade Área total estimada Cozinha (40% da superfície do refeitório) 1 40 m² Refeitório com capacidade para 80 1 100 m ² estudantes Despensa 1 7 m² Área de serviço 1 9 m² Depósito de material de limpeza 1 8 m² Depósito de lixo inorgânico 1 8 m² Depósito de gás 1 3 m² Banheiros com vestiários 2 20m² Área de descanso com copa 1 15 m² Área para zelador e jardineiro 1 10 m² Depósito de materiais e instrumentos 1 8 m² Área para zelador e jardineiro 1 12 m² Casa de bombas e máquinas 1 3 m² Fonte: Produção da autora, baseado em Neufert, 2019


78 Fluxograma 1.7.1

BANHEIROS COM VESTIÁRIOS

ÁREA DE DESCANSO FUNCIONÁRIOS

ÁREA DE SERVIÇO

COZINHA ÁREAS TÉCNICAS

REFEITÓRIO

DÉPOSITO DE MATERIAL DE LIMPEZA

Fluxograma – cozinha 1.7.2 REFEITÓRIO

EMPRATAMENTO E

COCÇÃO E

REFRIGERAÇÃO

LIBERAÇÃO

PREPARO

DOS ALIMENTOS

DESPENSA ARMARZENAGEM E LIMPEZA DE LOUÇAS

HIGIENIZAÇÃO E SEPARAÇÃO DOS ALIMENTOS

RECEBIMENTO DE ALIMENTO

Fluxograma – Áreas técnicas 1.7.3

HORTAS

DEPÓSITO DE MOBILIÁRIO ESCOLAR

DEPÓSITO E ALMOXARIFADO

ESPAÇO PARA ZELADOR E JARDINEIRO

OFICINA DE MARCENARIA E TERRA

CASA DE BOMBAS E MÁQUINAS


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Diante das informações apresentadas foi possível obter o fluxograma geral do projeto apresentado a seguir:

Fluxograma geral do projeto 1.8

ENTRADA CONVIDATIVA

ÁREA DE EVENTOS CULTURAIS

ESPAÇO PARA CRECHE PÁTIOS CONEXÕES

ADMINISTRAÇÃO

MATERNAL E PRÉ ESCOLAR CORPO DOCENTE

REFEITÓRIO

ESPAÇO DE ARTES, MÚSICAS E EXPRESSÕES CORPORAIS

ÁREAS DE APRENDIZAGEM COZINHA

SERVIÇOS GERAIS

ÁREA PARA ATIV. FÍSICAS

ÁREAS TÉCNICAS HORTA E PRODUÇÃO AGRÍCOLA

ESPAÇO PARA ESTUDOS AGRÍCOLAS E MARCENARIA

5.3 CONCEITO, PARTIDO ARQUITETÔNICO E DIRETRIZES PROJETUAIS DE INTERVENÇÃO

As diretrizes projetuais adotadas foram inspiradas na ligação da comunidade Sitio Alto com suas raízes ancestrais e costumes. A conexão com os recursos naturais como meios de sobrevivência e o respeito a natureza do entorno, foram os principais pontos de apoio que


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alicerçaram a construção da ideia para intervenção arquitetônica no sitio. O entremeio da vida no campo junto a permanência cultural guiou o processo criativo desse projeto para o sentido da valorização e reafirmação da identidade através da arquitetura adotada.

5.3.1 Fundamentação do conceito e relação com o partido

O projeto surge de um conceito baseado na formologia orgânica da árvore coração de negro, situada na extremidade da comunidade de Sitio Alto (figura 71). A existência dela se dá antes da povoação da comunidade, segundo os moradores. Figura 71- Árvore coração de negro e localização na comunidade

Fonte: Acervo da autora, 2019

Boa parte dos habitantes da comunidade possuem a crença de que o coração de negro tem o poder de iluminar e aliviar o sofrimento dos que usufruem da sua sombra, tornando-os mais resistentes nas lutas diárias. A árvore com o passar do tempo passou a ser um marco territorial para os moradores e para quem passa pela estrada onde ela está situada. Ela também é um ponto de encontro para as manifestações culturais do povoado, além de ter sido sempre utilizada pelos moradores como um lugar de descanso quando retornavam do trabalho antes de chegar em suas casas. A crença da proteção e a simbologia da força atrelada ao coração de negro rememoram as suas raízes ancestrais e a sua identidade, enfatizando o ciclo da resistência,


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valorização e respeito a natureza, visto que a partir da articulação e união da comunidade foi possível estabelecer a permanência das gerações no povoado. A implantação do projeto arquitetônico (figura 72), denota a forma orgânica da árvore, ressaltada inicialmente pela sua copa circular, que através da geometrização do desenho vai ganhando características e desdobra-se em novas formas orgânicas. A distribuição do programa arquitetônico foi pensada com vários elementos separados que acompanham a alternância do relevo no sítio, promovendo uma comunicação através de eixos de circulação que funcionam como emaranhados, similar ao movimento das raízes e galhos da árvore, que em seus encontros criam nós. Esses nós são os pátios que integram e promovem maior união e vida em comunidade entre os quilombolas.

Figura 72 – Estudos em croqui de implantação para o complexo escolar quilombola

Fonte: Produzido pela autora, 2019

As formas circulares, hexagonais e octogonais auxiliam na afirmação do sentido de união e vida em grupo tão presentes na comunidade quilombola de Sitio Alto. A principal manifestação cultural da comunidade, que é a dança de roda também enceja a forma circular, alcançando a aproximação entre o conceito arquitetônico e as tradições e costumes dos usuários. A implantação do complexo escolar (figura 73) está configurada por elementos pontuais com formas orgânicas que dialogam criando raízes e conexões entre cada pavilhão implantado, o encontro dessas raízes formam os nós do projeto. Através das circulações internas no sítio essas raízes vão escrevendo relações de pátios pela topografia, sejam eles


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cobertos ou descobertos, em que abraçam a funcionalidade dos pátios para relações de vivencias coletivas. Figura 73 – Implantação geral do complexo escolar quilombola

Fonte: Produção da autora, 2019

5.3.2 Diretrizes do partido arquitetônico

As diretrizes projetuais que guiam a distribuição do programa arquitetônico no sítio, parte da premissa inicial de adaptação das edificações de acordo com as hierarquias dos usos, elementos pré-existentes e as atribuições das funcionalidades do corpo escolar. O terreno permaneceu com os três acessos pré-existentes, demarcados no diagrama de setorização (figura 74). Porém, os acessos a sul do terreno foram particularizados aos usos dos pedestres, enquanto que o acesso norte foi estabelecido como a faixa de serviços junto ao acesso de


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veículos no sítio. Toda a extensão territorial da escola, excluindo a faixa de serviços é acessada somente por pedestres. A feira pré-existente foi um elemento considerado, pois como ela já cria um fluxo de serviços a norte do terreno, a decisão foi de permanência dessa característica. O primeiro pavilhão visualizado pela entrada principal para pedestres é o da creche (1), sua localização inserida com comunicação direta com a via principal da comunidade é para garantir maior facilidade de acesso para os pais quando forem deixar os bebês. O espaço para o maternal (9) situa-se a leste da creche e eles se conectam através dos jardins, em que as crianças que usam o maternal e a creche são livres pra brincar entre si. O espaço de exposição e memorial (2) funciona como a entrada atrativa da escola. Trata-se de uma área com maior fluxo para atendimento ao público externo, pois administração e área do corpo docente (3 e 4) possui acesso direto para esse pátio, ele funciona como um ponto de apoio para as demais áreas do complexo, podendo haver exposições dos trabalhos dos estudantes e manifestações que possuem significados para a comunidade. O espaço cultural (8) está situado no centro do território, ele funciona como o coração pulsante da escola, possui acessos diretos para todas as edificações da implantação, que auxilia na comunicação com a escola, sua localização auxilia também no uso da comunidade externa, pois mesmo com as áreas funcionais da escola desativadas, o centro cultural pode ser utilizado para realização das manifestações culturais dos usuários. Os pavilhões do ensino fundamental (5) são dispostos em duas edificações, em que elas possuem pátios internos cobertos e suas conexões criam uma outra relação de pátio descoberto externo (6), o que auxilia na interação e socialização entre os usuários, possuindo maior liberdade entre os eixos de circulação do sítio. É interessante pontuar sobre a relação visual que esse pátio externo possui, pois o eixo visual leste apresenta uma relação sensorial com o entorno através dos ângulos visuais desenhados pelos relevos que estão próximos. Os ambientes de aprendizagem externos (7), situam-se na extremidade sudeste do território, sua implantação se desenvolve em 3 ambientes de aprendizagem que possuem conexão direta para o visual leste do entorno, estabelecendo uma relação sensorial com a vida campesina. O pavilhão (8) é a área de refeitório e serviços da comunidade escolar, sua implantação é proposital por dois motivos: primeiro, por estar conectada diretamente a faixa de serviços da escola, o que facilita a carga e descarga para a cozinha e serviços da comunidade; e segundo, pelo eixo de comunicação que motiva a reflexão sobre a relação do alimento com a terra e o processo de sustentabilidade para a segurança alimentar da comunidade. Essa atribuição é explicada através da implantação da horta comunitária escolar


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(12) e o ciclo reprodutivo da geração do biogás, bem como o processo de compostagem junto ao cultivo do alimento. O campinho (16) foi redimensionado e implantado na mesma localização da quadra de terra pré-existente junto aos vestiários e depósitos de equipamentos (10), essas estruturas suprem as necessidades dos usuários que utilizam a área de atividades físicas bem como o pavilhão cultural.

Figura 74 – Setorização do complexo escolar

Fonte: Produção da autora, 2019


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Quanto aos aspectos da materialidade adotados, foram incorporadas soluções arquitetônicas que remetem aos materiais e métodos construtivos na ancestralidade da comunidade. A relação com a terra e a conexão com a vitalidade dos quilombolas foi trabalhado por meio da materialidade com elementos que valorizem os recursos disponíveis e abundantes na natureza. Para as fundações serão adotadas estruturas de alicerces executados com pedra calcária (figura 75), material abundante no solo do povoado e argamassa de cal e areia ou barro.

Figura 75 – Fundação em pedra calcaria

Fonte: Coisasdaarquitetura, 2019

Como o relevo possui desníveis acentuados, foi adotado a estrutura de pedra para alcançar o nível necessário e nivelar a edificação em relação a topografia. Depois de nivelada, a fundação será recoberta com terra, alcançando dessa forma o nível necessário para a implantação das edificações (figura 76).

Figura 76 – Croqui de nivelamento da edificação em relação a topografia

Fonte: Acervo da autora, 2019

Serão adotados pilares aparentes em todas as edificações do projeto em estrutura de madeira de reflorestamento do tipo eucalipto roliço tratado (figura 77).


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Figura 77 – Eucalipto roliço tratado

Fonte: gaivota madeiras, 2019

As paredes serão vedadas em bloco de terra comprimida tijolo de solo-cimento (BTC) e taipa de pilão. O BTC que é um tijolo composto por solo (areia argilosa), água, um pouco de cimento, podendo ser fabricado por meio do adensamento da mistura em moldes através da compactação ou prensagem (figura 78). Figura 78 – Bloco de solo-cimento

Fonte: Google imagens, 2019

A taipa de pilão consiste em prensar ou comprimir camadas de terra quase seca dentro de formas, geralmente feitas com madeiras (a forma deve ser reforçada). Pode ser empregada em paredes estruturais e de fechamento (figura 79).

Figura 79 – Aplicação da taipa de pilão

Fonte: recriarcomvoce, 2019


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Para as estruturas dos telhados serão utilizados a madeira maçaranduba, material resistente e muito utilizado na região e a madeira de reflorestamento da espécie eucalipto tratado. A estrutura adotada no projeto acompanha as configurações demonstradas na estruturação dos telhados (figura 80). Não serão adotados pilares centralizados nas estruturas das coberturas, os vínculos de estabilidade estrutural serão colocados nas exterminadas, junto as alvenarias. Os casos que exijam grandes vãos a vencer, serão adotadas estruturas com peões centrais, para manter as áreas de convívio com maior liberdade estrutural (figura 81). Figura 80 – Telhados em estruturas de eucalipto tratado com peão central e telhado com madeiramento em maçaranduba

Fonte: Google imagens, 2019 Figura 81 – Croqui de corte da proposta dos telhados em piaçava

Fonte: Produção da autora, 2019

O peão central será somente utilizado para os pavilhões que necessitarem vencer grandes vãos em diâmetro, as estruturas que possuírem vão menores, será com estrutura mais simplificada sem a adição do peão central. Para as coberturas serão utilizadas a piaçava que é uma espécie de palmeira, cujas fibras são utilizadas no recobrimento de edificações e as telhas cerâmicas (figura 82). Sendo essa, uma das mais antigas e acessíveis opções de telhados, popularmente conhecido e muito


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utilizado na região. Será empregada nesse partido com a função principal de capitação de água das chuvas. Figura 82 – Telhado em piaçava e telha cerâmica

Fonte: Google imagens, 2019

Para melhor compreensão das coberturas e volumes foi elaborado a maquete física do complexo escolar (figura 83). Onde foi possível perceber a implantação geral do projeto e relação com o conceito e partido adotado.

Figura 83 – Maquete física do completo escolar coração de negro

Fonte: Produzido pela autora, 2019


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5.4 ESPAÇOS DO COMPLEXO ESCOLAR CORAÇÃO DE NEGRO

Pavilhão Creche - A comunidade precisava de uma edificação que possuísse maior infraestrutura para atender os bebês da creche Maria Heloisa dos Santos. O pensamento das conexões que envolvem o projeto é contemplado na produção dos espaços da escola. A conexão geométrica entre três hexágonos forma um espaço com a área recreativa coletiva como ponto central. Suas paredes serão erguidas em BTC com estrutura de pilares em eucalipto tratado, na cobertura terá uso de telha cerâmica para captação de águas pluviais e estrutura em madeira maçaranduba. Esse espaço foi pensando para ser ocupado por 15 crianças em período integral (figuras 84 e 85). Ele contempla aspectos como maior estruturação para as necessidades dos discentes e conta com um espaço central multiuso para as atividades recreativas. Foi reservado também uma área de jardim a leste da edificação para que as crianças com a faixa etária aproximada possam compartilhar brincadeiras com maior frequência.

Figura 84 – Planta baixa do pavilhão da creche

Fonte: Produção da autora, 2019


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Figura 85 – Desenho de representação volumétrica, pavilhão da creche

Fonte: Acervo da autora, 2019

Pavilhão maternal - O espaço para o maternal também possui conexões por meio do seguimento da geometrização dos elementos circulares. Os hexágonos se repetem na formologia orgânica desses espaços. Os ambientes de aprendizagem possuem fluidez direta com a área externa (a oeste da edificação) e o pátio de recreação coberto (figura 85 e 86). Com essa fluidez a criança possui liberdade para brincar e aprender ao mesmo tempo, por meio de ambientes mais integrativos. Os materiais pensados foram os mesmos utilizados no pavilhão da creche. Figura 86 – Planta baixa pavilhão maternal

Fonte: Produção da autora, 2019


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Figura 87 – Desenho de representação volumétrica do pavilhão do maternal

Fonte: Acervo da autora, 2019

Pavilhão de exposições, setor administrativo e docente - A sua forma se dá em octógonos conectados, propositalmente situado em uma área de acesso principal do complexo. Esse pavilhão foi pensado como a entrada de acolhimento as pessoas que iam até a escola, funciona como uma entrada atrativa, com um pátio de exposições /memorial sobre temas relacionados a comunidade e atividades escolares (figura 88 e 89). É a área também de atendimento a comunidade externa, os pais quando visitam as escolas para tratar de assuntos relacionados a educação dos filhos poderá ver através desse pátio a valorização da educação dos filhos e da cultura local. Sua materialidade é em BTC, com pilares em eucalipto tratado e cobertura em estrutura de maçaranduba. Seu recobrimento será em piaçava. Figura 88 - Planta baixa pavilhão de exposições, setor administrativo e docente

Fonte: Produção da autora, 2019


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Figura 89 - Desenho de representação volumétrica do pavilhão de exposições, setor administrativo e docente

Fonte: Acervo da autora, 2019

Pavilhão cultural - O pavilhão cultural, é de longe o cenário mais espirituoso projetado para o complexo. Trata-se de um vão circular único que possui sua formologia enraizada a estruturação da árvore coração de negro. Esse espaço foi pensando atender usos diversos. O uso da comunidade é atribuído as manifestações culturais, mas cabe também utilizar como área de eventos e intercâmbio cultural com outras comunidades, festas e reuniões escolares. Sua estrutura é toda em eucalipto tratado e cobertura em piaçava. Intercalando entre pilares, foi pensando em estruturar proteções em folhas de palha que desenham os acessos ao centro da edificação (figura 89).

Figura 90 – Planta baixa e desenho volumétrico, pavilhão cultural

Fonte: Acervo da autora, 2019

Pavilhão escolar ensino fundamental I e II – Ambos possuem a mesma forma, segmentada a partir da copa da árvore. Possui um pátio central e áreas de aprendizagem ao


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redor. Seus programas arquitetônicos se complementam e formam as áreas de aprendizagem para o ensino fundamental. São dois pavilhões que se conectam através do pátio descoberto na área central do terreno. Esses pátios livres foram inseridos no programa para se ter áreas de maior liberdade coletiva (figuras de 91 a 94). Sua materialidade é em BTC, com pilares em eucalipto tratado e cobertura em estrutura de maçaranduba. Seu recobrimento será em piaçava. Figura 91 - Planta baixa pavilhão para o ensino fundamental I

Fonte: Produção da autora, 2019

Figura 92 - Planta baixa pavilhão para o ensino fundamental II

Fonte: Produção da autora, 2019


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Figura 93 – Desenho da representação volumétrica dos pavilhões do ensino fundamental I e II.

Fonte: Acervo da autora, 2019 Figura 94 – Croqui de corte, pavilhão escolar do fundamental

Fonte: Produção da autora, 2019

Pavilhões independentes de aprendizagem – Os ambientes de aprendizagem indenpentes foram projetados para possuir maior conexão sensorial com o entorno, ele possui aberturas com ligações direta para as áreas de jardim e com vistas para as planicies e relevos da direção leste do sitio escolar (figura 95 a 98). Sua materialidade é em BTC, com pilares em


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eucalipto tratado e cobertura em estrutura de maçaranduba. Seu recobrimento será em piaçava. Figura 95 – Planta baixa, pavilhões independentes de aprendizagem

‘ Fonte: Produção da autora, 2019 Figura 96 – Planta baixa, módulo independente

Fonte: Produção da autora, 2019


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Figura 97 – Desenho da representação volumétrica do módulo de aprendizagem

Fonte: Acervo da autora, 2019

Figura 98 – Croqui de vistas e esquemas dos módulos de aprendizagem

Fonte: Produção da autora, 2019


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O pavilhão de refeitório e serviços foi projetado próximo a área de produção agrícola que remete ao ciclo vivo da alimentação. Sua materialidade será com uma grande parede curva em taipa de pilão, com estrutura de pilares e coberturas em eucalipto tratado, recoberto com piaçava. Sua forma dispõe de uma grande área livre para a área de refeições, com visual externo para as hortas e relevos da região leste do sitio escolar.

Figura 99 – Planta baixa, pavilhão de refeitório e serviços

Fonte: Produção da autora, 2019 Figura 100 - Desenho da representação volumétrica do pavilhão de refeitório e serviços

Fonte: Acervo da autora, 2019

Quanto ao restante do programa arquitetônico, foram disponibilizados nas proximidades da quadra e centro cultural vestiários e depósitos de mobiliários para ambos os espaços. A arborização implantada será de árvores frutíferas, assim como as existentes na comunidade. Foi inserida no programa uma área para implantação de um biodigestor e junto a área de produção agrícola, sendo reservado um espaço para compostagem. Próximo as áreas de serviços foram também implantadas um depósito de lixo inorgânico.


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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das análises da arquitetura escolar e sua relação com o usuário, foi proposto um projeto de um complexo escolar para a comunidade rural quilombola de Sitio Alto, Simão Dias -Se. Foi possível compreender através desse trabalho a complexidade da relação entre o espaço escolar e como ele influência da construção da identidade do usuário. Foi percebido que a comunidade precisava de um equipamento escolar que suprissem as demandas escolares, mas também pudesse ser pensado com uma relação mais intimas com as particularidades existentes no território. Foi entendido suas necessidades, anseios e como a arquitetura poderia auxiliar no processo de reconhecimento da identidade dos usuários. Os aspectos culturais ancestrais da comunidade foram identificados através das visitas, interações e vivencias com os usuários. Em que por meio dos conhecimentos obtidos no decorrer da graduação em Arquitetura e Urbanismo, foi possível pensar em uma intervenção arquitetônica escolar mais democrática para os usuários, com um programa e características ligadas à sua identidade, costumes e territorialidade. A escolha não poderia ter sido mais engrandecedora e feliz. Pensar a arquitetura de uma forma social é entender que os espaços projetados não partem somente de uma condição plástica. Pensar a arquitetura como função social é entender que a arquitetura quando inserida no espaço possui uma condição política. Que através da democratização dos espaços, garanta maior qualidade de vida aos usuários respeitando seus anseios. Através das decisões projetuais o profissional da arquitetura tem o domínio de promover uma arquitetura mais confortável e justa para os usuários, difundindo a força que cada individuo possui.


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REFÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS AZEVEDO, Giselle Arteiro Nielsen. Arquitetura Escolar e educação: Um Modelo Conceitual de Abordagem Interacionista. 2002 (Dissertação de Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro - COPPE, Rio de Janeiro. BRASIL. 2003. Decreto Federal Nº 4.887 de 20/11/2003. Regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. BRASIL. 2007. Decreto Federal N° 6.040 de 7/02/2007. Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n° 8, de 20 de novembro de 2012. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=11963rceb0 08-12-pdf&category_slug=novembro-2012-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 29 de março de 2019. BUFFA, Ester; PINTO, Gelson de Almeida. Arquitetura e educação: organização do espaço e propostas pedagógicas dos grupos escolares paulistas, 1893-1971. São Carlos, SP: EdUFSCar, 2002. 174 p. JÚNIOR, Astrogildo Fernandes da Silva; NETTO, Mário Borges. Por uma educação do campo: percursos históricos e possibilidades. Entrelaçando – Revista Eletrônica de Culturas e Educação, Caderno temático: Cultura e Educação do Campo. N° 3, p. 45-60, Ano 2 (Nov/2011). ISSN 2179.8443. Disponível em: <https://www.2.ufrb.edu.br/revistaentrelacando/component/photodownload/category/119?don wload=125> Acesso em: 11 de novembro de 2018 KOWALTOWSKI, D. C. C. K. Arquitetura escolar: o projeto do ambiente de ensino. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. 270 p. LEITE, Sérgio Celani. Escola rural: urbanização e políticas educacionais. São Paulo: Cortez, 2002. 120 p. MOREIRA, Nanci Saraiva. Construção escolar: desenvolvimento, políticas e propostas para a escola rural visando à democratização do campo. 2000 (Dissertação de Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo. SILVA, Daniela Santos. Sítio Alto: entre dança, história e etnicidade. 2017 (Dissertação de Mestrado em Sociologia) – Universidade Federal de Sergipe – São Cristovão. SOUZA, Larissa Negris de. Arquitetura Escolar, parâmetros de projeto e modalidades de aprendizagem. 2018 (Dissertação de Mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, São Paulo. Fontes digitais:


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APÊNDICE A – IMPLANTAÇÃO GERAL, PLANTA DE COBERTURA E VOLUMES DO COMPLEXO ESCOLAR CORAÇÃO DE NEGRO


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