O Pequeno Hans
Nas páginas seguintes proponho descrever o curso da doença e o restabelecimento de um paciente bastante jovem. O caso clínico, estritamente falando, não provém de minha própria observação. É verdade que assentei as linhas gerais do tratamento e que numa única ocasião, na qual tive uma conversa com o menino, participei diretamente dele; no entanto, o próprio tratamento foi efetuado pelo pai da criança, sendo a ele que devo meus agradecimentos mais sinceros por me permitir publicar suas observações acerca do caso.
Hans, menino que possuía o nome Herbert Graf, era filho de Olga Graf e Max Graf, os quais não eram estranhos para Freud. Os pais participavam regularmente das reuniões da Sociedade Psicanalítica até o ano de 1913. Desde 1906, quando “Hans” tinha menos de 3 anos, Max transmitia a Freud as observações que fazia sobre seu filho.
Freud esteve com Hans uma única vez. O livro a seguir, contará essa história...
Dr.Freud Hans Family Max Hanna Hans
Olga
O cavalo
Aquisição do “Complexo de castração”, anota Freud. Este é o fato fundamental do surgimento da fobia. Noutra ocasião, ele estava olhando insistentemente sua mãe despida, antes de ir para a cama. ‘Para que você está olhando para mim desse modo?’, ela perguntou.
Hans: ‘Eu só estava olhando para ver se você também tem um pipi.’ Mãe: ‘Claro. Você não sabia?’ Hans: ‘Não. Pensei que você era tão grande que tinha um pipi igual ao de um cavalo.’
Essa expectativa do pequeno Hans merece ser lembrada; ela terá importância mais tarde.
O grande evento na vida de Hans quando tinha 3 anos e meio: o nascimento de sua irmã Hanna. Atribui o nascimento a chegada da cegonha, ao mesmo tempo em que começa a duvidar disso.
Hans tem muitos ciúmes de Hanna e quando alguém a elogia costuma dizer, com desprezo, que “ela ainda não tem dentes”. Ao observar sua irmã de sete dias tomar banho: “Mas o pipi dela ainda é bem pequenininho”, acrescentando, à guisa de consolo - “Quando ela crescer, ele vai ficar bem maior.” Demonstra a recusa de aceitar a diferença sexual.
Fase fálica. Tudo gira em torno do pipi (4anos e 3 meses). Nessa manhã a mãe de Hans lhe deu seu banho diário, como de hábito, secando-o e aplicando-lhe talco. Quando a mãe lhe passava talco em volta do seu pênis, tomando cuidado para não tocá-lo, Hans lhe disse:
“Por que é que você não põe seu dedo aí?” ‘Mãe: “Porque seria porcaria.” ‘Hans: “Que é isso? Porcaria? Por quê?” ‘Mãe: “Porque não é correto.” ‘Hans: (rindo) “Mas é muito divertido.” ‘Desenhei uma girafa para Hans... (o pai escrevendo para Freud) Ele . me disse: “Desenhe também o fazpipi dela.” “Desenhe você mesmo”, respondi; ao que ele acrescentou essa linha à minha figura.
Aos quatro anos Hans passa a observar uma vizinha de 8 anos e tem curiosidade em vê-la se despir para confirmar a presença de seu pipi.
Seu interesse por pipis levou-o a inventar um jogo especial, entrava em um armário de madeira. “Vou para o meu banheiro.” Hans brincava com seu pipi.
Ocasionalmente Hans dormia na cama de seus pais. Deitar na cama com seu pai e sua mãe era, para Hans, uma fonte de sentimentos eróticos, do mesmo modo que para qualquer outra criança.
’Meu caro Professor: estou-lhe enviando mais alguma notícia a respeito de Hans, só que desta vez, lamento dizê-lo, se trata de material para um caso clínico. Como o senhor verá, nesses últimos dias ele vem apresentando um distúrbio nervoso que nos tem preocupado muito, a mim e minha esposa”. Hans ( 4 anos e 9 meses) começou a ter sonhos de ansiedade e tinha muito medo de ficar sem a mãe. Certa vez, quando passeava com a babá começou a chorar e pediu para voltar dizendo que queria “ mimar” junto da sua mãe. Minha esposa decidiu levá-lo para passear, a fim de observar o que é que o atormentava. De novo ele começou a chorar, não queria sair e estava assustado. De volta, disse a sua mãe, depois de intensa luta interior: Eu estava com medo de que um cavalo me mordesse.” “
Ele receia que um cavalo vá mordê-lo na rua, e esse medo parece estar de alguma forma relacionado com o fato de ele vir-se assustando com um grande pênis. Conforme o senhor soube, por um relato anterior, já em uma idade deveras precoce ele havia notado como são grandes os pênis dos cavalos, e nessa época deduziu que sua mãe, por ser tão grande, deveria ter um pipi como o do cavalo.
Interpretação de Freud: a afeição pela mãe deve ter-se tornado fortemente intensa. Na sua condição, era este o fenômeno fundamental. Em apoio a essa teoria, podemos recordar suas duas tentativas de seduzir sua mãe, datando a primeira delas do verão, ao passo que a segunda (um simples elogio feito ao seu próprio pênis) ocorreu no momento imediato que precedeu a irrupção de sua ansiedade na rua.
“Foi esse aumento de afeição por sua mãe que subitamente se transformou em ansiedade, a qual, diga-se de passagem, sucumbiu à repressão. A ansiedade se tornou medo ao se ligar a figura do cavalo.” ’
O cavalo funciona como um substituto do pai de Hans, que é muito amável e tem uma grande dificuldade de interditar a dupla mãe/filho. O fato de Hans colocar a mão no pipi e ter fantasias incestuosas com sua mãe remete à punição por quem comete esse tipo de crime: a castração.
O cavalo é o que interdita: Onde o cavalo está, Hans não pode estar. Ele não pode ocupar o lugar do pai.
Há uns meses atrás - na primavera de 1922 - um rapaz se apresentou a mim e me informou de que ele era o `pequeno Hans’, cuja neurose infantil tinha sido o tema do artigo que publiquei em 1909. Fiquei muito contente em vê-lo de novo, pois, cerca de dois anos depois do fim da sua análise, eu o tinha perdido de vista e não tinha tido notícias dele por mais de dez anos. O pequeno Hans era agora um forte rapaz de dezenove anos. Declarou que estava perfeitamente bem e que não sofria de nenhum problema ou inibição.
O Pequeno Hans Escrito por: Heslei Jéssica Tays Vanessa Raphael